crónica do fim do império - pÚblico

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  • 7/25/2019 Crnica Do Fim Do Imprio - PBLICO

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    CRISTINA FERREIRA

    deteno para interrogatrio neste Vero do ex-presidente do BES, Ricardo Sa

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    PUB (PUBLI

    A histria inclui tambm um

    psicodrama: um procurador a reunir

    os fios das vrias meadas; um Banco

    de Portugal (BdP) hesitante em atacar

    eficazmente os problemas que iam surgindo;

    e um governo que para escapar s crticasassociadas nacionalizao do BPN se

    mostrava desinteresasdo em intervir; e um

    primeiro-ministro e uma ministra das

    Finanas que, ao no actuarem a tempo com

    as armas todas por no perceberem ou por

    no quererem perceber , no evitaram a falncia de um grupo

    de expresso internacional ancorado no segundo maior banco

    privado.

    O castelo de cartas desmoronou-se. Mas o que levou ao colapso

    no foi a guerra entre primos, as falhas de regulao ou a

    ausncia de empenho do executivo. Foram os erros de gesto, as

    irregularidades, a falta de compreenso, por parte de Ricardo

    Salgado, hoje com 70 anos, de que o tempo mudara com a crise

    e j no tinha dinheiro para preservar a influncia. Atrs de siarrastou a maior operadora de telecomunicaes, com gestores

    apanhados na rede dos interesses do accionista BES e no nos

    da empresa. uma histria com diferentes leituras e muitos

    protagonistas a tentarem fazer passar as suas verses. Que se

    conta pelos detalhes.

    Para perceber como se gerou uma bola de neve que ningum

    conseguiu controlar, a Revista 2 ouviu vrias personalidades,

    coligiu muitos dados e consultou mltiplos documentos. E todas

    as informaes deste texto tm por base testemunhos directos e

    verificveis recolhidos junto de fontes, que aceitaram

    identificar-se ou no. Ricardo Salgado declinou falar com a

    Revista 2 e no respondeu s questes que lhe foram dirigidas

    por email, por estarem em segredo de justia. Jos Maria

    Ricciardi escusou-se a ser entrevistado. O Banco de Portugalremeteu para declaraes pblicas onde explica que tudo fez

    para garantir a sustentabilidade do sistema financeiro.

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    economia cresce, o processo de privatizaes do sector

    financeiro chega ao fim, os mercados internacionais

    revelam dinamismo. Mas o novo sculo ir colocargrandes desafios: a moeda nica europeia estava a rolar,

    a China j no era um drago adormecido, o preo do petrleo

    iniciara uma trajectria de subida imparvel. E Portugal estava

    prestes a ficar anmico.

    7 de Junho de 1999. O grupo espanhol Santander anuncia que

    vai comprar 40% da holding seguradora Mundial Confiana

    (BPSM/CCP/Totta), dominada por Antnio Champalimaud,

    sem ter a autorizao prvia do Governo que a lei exigia. O

    ministro das Finanas Sousa Franco acusa o banco espanhol de

    se ter articulado com o industrial para enganar o Estado

    portugus e veta a operao.

    18 de Junho. O brao-de-ferro entre Sousa Franco e Emilio

    Botn, presidente do Santander, abre espao a um ataque doBCP, ento liderado por Jorge Jardim Gonalves, que lana uma

    OPA sobre o grupo de Champalimaud. Ao bater-se pela partilha

    do esplio do industrial, o BCP, que j absorvera o Banco

    Portugus do Atlntico e o Banco Melo, pretende garantir o

    primeiro lugar do ranking da banca privada. Conta-se que o

    presidente do BES, Ricardo Salgado, estava em Lausanne num

    encontro familiar e, ao ser informado, se sentiu mal. O passo

    exige-lhe uma aco. E num contacto com Artur Santos Silva,

    presidente do BPI, abordaram uma fuso.

    17 de Janeiro. Na sala do Hotel Ritz para onde entram RicardoSalgado e Artur Santos Silva, o ambiente no de festa, apenas

    cordial. A concentrao bancria pode mudar a configurao do

    sector. Se vingar, o BES e o BPI passaro a deter,

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    respectivamente, 59% e 41% do denominado BES.BPI, que ser

    lder.

    Em processos de concentrao, a tendncia irresistvel: cada

    uma das partes pensa que pode dominar a outra. O BES

    confiava que ia amarrar o BPI pois era maior, enquanto o BPI,

    por se julgar mais profissional, acreditava que ia influenciar econdicionar a sua estratgia. Quando as equipas dos bancos j

    estavam no terreno a ultimar a fuso, surgiram os primeiros

    equvocos.

    6 de Maro.Em declaraes aoDirio de

    Notcias, Ricardo Salgado d a entender que

    a designao BPI para cair: A marca

    BPI jovem, no tem a notoriedade doBES. A frase gera mau clima no parceiro.

    Trs dias depois, a 9 de Maro, o

    vice-presidente do BPI, Fernando Ulrich,

    reage em entrevista ao PBLICO: No

    estou disponvel para um projecto Esprito

    Santo. Considero, alis, que a fuso pode

    trazer muito mais valor para os dois gruposdo que um projecto apenas Esprito Santo. Mas uma famlia

    como a Esprito Santo dificilmente aceitaria acrescentar outro

    nome ao seu. Ento, numa segunda ronda negocial, Salgado e

    Santos Silva acordam dar mais poder ao BPI, o que no vai ser

    aceite pelo Grupo Esprito Santo (GES).

    26 de Maro. Um domingo. A famlia Esprito Santo foi

    sempre uma estrutura de aritmtica difcil e o seu conselho

    superior, que rene os cinco ramos, uma caixa negra. Salgado

    adepto da fuso, mas ter o poder absoluto? Com a entrada de

    investidores, como o Banco Ita e o La Caixa, no universo do

    GES, os primos deixavam de ser dominantes. H outra questo:

    o estilo de governao teria de mudar. O que, na prtica, se

    traduzir, entre muitas outras coisas, na alterao do esquema

    remuneratrio generoso (dividendos e salrios) que protege osmembros Esprito Santo. No dia seguinte, Salgado, indicado

    para ser o CEO, telefona a Santos Silva (que colocava reticncias

    concentrao), que ficaria chairman, e diz-lhe: o BES no

    (http://imagens9.publico.pt/imagens.aspx

    /880089?tp=UH&db=IMAGENS)

    Salgado e Santos Silva no dia do encontrono RitzADRIANO MIRANDA

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    assina o acordo.

    Na opinio do ex-ministro das Finanas Eduardo Catroga,

    colega de Salgado na Faculdade de Economia do Quelhas, em

    Lisboa, a aproximao do BES ao BPI no s visava contrariar

    o peso crescente do BCP, mas tambm libertar o banco e os

    negcios da presso da famlia e da dependncia dos seusinteresses. Na altura, diz, j era possvel detectar deficincias

    no modelo de governao, pela escolha dinstica do chairman

    do GES [Antnio Ricciardi, hoje com 90 anos], que quem deve

    representar o equilbrio do poder. Por isso, o actual chairman

    da EDP (Catroga) defende que no possvel compreender o

    que se passou sem olhar a dois factores estruturais: o facto de o

    GES ter renascido no estrangeiro depois do 25 de Abril,

    associado credibilidade do nome, e ter-se endividado para

    comprar o BES e a Tranquilidade. Trinta anos depois, o peso da

    dvida continuar a persegui-los.

    Foi a partir de 2000 que Salgado iniciou uma estratgia

    tentacular junto do poder poltico e econmico? Catroga

    responde: Essa viso redutora. No passa de umfeeling. Mas

    a verdade que esse foi o ano que marcou a ascenso dobanqueiro. E tambm o fim de um grupo com quase 150 anos.

    29 de Maro.Para ganhar quota de mercado e esgotada a via

    da fuso, o banqueiro tem agora pela frente um caminho

    estreito: o crescimento orgnico. O que exige mudanas nas

    estruturas de governao do BES, que passam a integrar uma

    maioria de gestores e directores independentes recrutados fora

    da famlia. Data da poca a criao de um gabinete de imprensa

    que vai ser muito til para a afirmao pessoal do banqueiro.

    Nos anos seguintes, Salgado conquistar crescentemente uma

    aura de infalibilidade que o tornar uma figura dominante na

    sociedade portuguesa. O estilo de exerccio do poder ajuda:

    raramente levanta a voz; os nos so em regra suaves. E ainda

    por cima apresentar-se- com xito.

    Vero de 2000. Remonta a Agosto o primeiro grande

    confronto com Pedro Queiroz Pereira (P.Q.P.), presidente da

    Semapa. O industrial accionista do GES e lana uma oferta

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    pblica de aquisio (OPA) sobre a Cimpor e, em vez de

    procurar financiamento junto do BESI, foi ter com o Santander.

    A equipa de Salgado leva a mal e vai ajudar a que a cimenteira

    fosse antes parar Teixeira Duarte. Ora, o industrial tem o seu

    feitio e os insultos aparecem.

    A disputa est ao rubro quando Patrick Monteiro de Barros,administrador da Esprito Santo Financial Group (ESFG)

    (holding da famlia com a posio directa no BES), oferece uma

    recepo na Quinta Patino, pertena do GES. Conta quem

    assistiu: A certa altura, o Pedro [P.Q.P.] entrou e vendo o Ia

    [como Ricciardi conhecido entre os amigos] foi falar com ele:

    Vocs [ES] so inconcebveis! O ainda administrador do BESI

    argumenta: No altura para discusses. Mas o industrial

    teima: Sim porque vou vender a minha posio no grupo.

    Ricciardi rebate: p vende, vende O que aquece o dilogo:

    Esse [Salgado] um No tinha completado a frase, j o

    outro estava a protestar: p no fao aqui mais nada para no

    estragar a recepo do Patrick e nunca mais te dirijo a palavra

    at me pedires desculpa. Quem presenciou lembra que o Ia

    abandonou o recinto de cabea perdida e o Pedro no se calava.

    Antes de sair, Ricciardi comenta para um amigo: Vou-meembora com o estmago a dar voltas.

    Dias depois, Ricciardi janta num restaurante em Cascais,

    quando entra P.Q.P., que se lhe dirige. S que o administrador

    do BESI via ainda em Salgado um mentor e deixa-o de brao

    estendido. O episdio repete-se outra vez, noutra ocasio. Como

    os dois so impulsivos e da mesma gerao, no fazemcerimnia. Ricciardi volta-se para o industrial e diz: p ainda

    no percebeste? que eu no te falo, no te falo mesmo. Vo

    passar trs anos at que o diferendo fique sanado.

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    2 de Novembro. O tenente-coronel Lus Silva vende a

    participao de 58% na Lusomundo [que possua oDirio de

    Notcias, oJornal de Notcias, a TSF, 170 salas de cinema]

    Portugal Telecom (PT). A PT classifica o negcio de estratgico e

    paga 267 milhes de euros. A venda assessorada pelo BESI e

    nela participam Manuel Serzedelo, presidente, e Salgado. Logoa j se ouve muito sururu, pois o valor de compra classificado

    como absurdo, dado o interesse reduzido que o activo tinha

    para a PT.

    31 de Dezembro.Atravs da Esprito Santo Control, onde os

    ramos da famlia esto representados, o grupo domina, com

    recurso a um esquema de cascata de holdings, as duas reas:

    financeira (BES e Tranquilidade) e no financeira (Comporta,

    Portuglia, Hotis Tivoli, propriedades na Amrica Latina). Esta

    estrutura permite controlar a jia da coroa (o BES) com uma

    reduzida posio (5%) face ao efectivo poder que tm no banco.Para aliviar o esforo da famlia em termos de endividamento,

    todos os anos so atrados para as holdings novos accionistas. O

    BES vai aumentar o capital em 500 milhes.

    (http://imagens3.publico.pt/imagens.aspx/880083?tp=UH&db=IMAGENS)

    Jos Maria Ricciardi, presidente do BESIMIGUEL MANSO

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    Pouco depois, Margarida Queiroz Pereira, em guerra com os

    irmos, Pedro e Maude Queiroz Pereira, assumiu cerca de 3% da

    ESFG (dona do BES), parte com crdito do banco e parte com o

    fruto da venda das suas aces da Semapa a trs offshores

    representadas pelo BES. O episdio foi j revelado pela Revista

    2 [22/12/2013]: ao manter segredo sobre a real titularidade das trs

    sociedades, que sempre pertenceram ao GES, Salgado vai alimentar umcaldo de desconfiana entre parceiros. E, em 2013, culminar na sada

    do GES da Semapa e da Semapa da ESFG.

    Este o ano em que o BES cria uma extenso financeira a

    Angola: o BESA. A aposta bvia seria Carlos Silva, mas Salgado

    optou por entregar a presidncia [do BESA] ao lvaro Sobrinho.

    Os dois so tecnicamente muito bons, no h dvida. Mas o

    Sobrinho e o Salgado tinham as suas agendas que convergiram

    durante anos, recorda um ex-colaborador do BESA, onde

    Sobrinho, Carlos Silva e Ricardo Salgado so accionistas a ttulo

    individual. O actual vice-presidente do BCP, Carlos Silva, hoje frente do angolano Banco Privado Atlntico, ser considerado,

    em 2014, peloJornal de Negcioso 34. mais poderoso da

    economia portuguesa. J Sobrinho est a braos com problemas

    na justia.

    27 Maro. Joo Rocha, ex-presidente do Sporting e ex-quadro

    do BES, anda s turras com Salgado. E escreve uma carta aos

    accionistas do banco e aos da PT Multimdia (de que era

    investidor) a chamar a ateno para operaes pouco

    transparentes resultantes de financiamentos mistrio de 7,5

    milhes de euros a trs companhias nas ilhas Caimo, com um

    capital ridculo de cerca de 30 mil euros. O BES argumenta que

    os movimentos decorrem ao abrigo da superviso do Banco de

    Portugal (BdP).

    Por detrs das disputas, esto sempre interesses. Neste caso,

    est um emprstimo antigo concedido pelo BES para Rocha

    comprar um palacete na Rua de So Bernardo Lapa, em

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    Lisboa. O banco reclama um crdito de 2,97 milhes de euros,

    mas o sportinguista contrape com 1,665 milhes de euros. O

    desacordo arrasta-se e, a dada altura, Rocha foi ter com Joe

    Berardo, cliente e accionista do BES: Podes arbitrar um acordo

    com o Salgado? O amigo indaga: Qual o teu preo? De

    seguida, Berardo procura o banqueiro: Isto uma chatice para

    vocs. Mas, para o Rocha retirar as providncias cautelares[sobre o banco], compram-lhe as aces do BES e incluem no

    negcio a dvida da casa. Ao PBLICO, Berardo confirmou que

    foi intermedirio, mas nada mais pode dizer por estar sujeito

    a confidencialidade.

    Enquanto o acordo no assinado, Rocha bombardeia o BdP e a

    CMVM com informao a queixar-se de que o BES se recusa a

    explicar os contornos pouco transparentes do negcio de

    compra e venda dos prdios do Marqus de Pombal, assinado

    com a Iberviso, que se supe ser do senhor Vtor Santos, o

    construtor benfiquista com o petit nom Bibi, scio de Jos

    Neto, gestor do Banco Internacional de Crdito (BIC), do BES.

    Sempre houve grande vizinhana entre a

    indstria de beto e o BES, que chega a teruma agncia no Saldanha dedicada apenas a

    servir clientes construtores das zonas de

    Lisboa e de Sintra. A ligao vai acentuar-se

    nos anos seguintes e revela-se, alis, com a

    crise econmica, um detonador dos problemas financeiros do

    grupo. Em 2013, o banco foi obrigado a registar 1,423 milhes

    de euros de provises para fazer face s imparidades de crdito(perdas potenciais por financiamentos na rea imobiliria).

    Esta uma poca de caadas em herdades alentejanas, como a

    do construtor Jos Guilherme, que juntam alguns banqueiros,

    advogados, polticos, dirigentes de clubes de futebol. Ricardo

    Salgado participa, pois o seu relacionamento com Jos

    Guilherme era de casa. Tambm vo Jos Neto, Jos Manuel

    Esprito Santo, administrador do BES, ou o sportinguista SousaCintra e o benfiquista Lus Filipe Vieira.

    6 de Abril. Jos Manuel Duro Barroso eleito para chefiar o

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    Governo. O que remete para uma cena ocorrida trs anos antes.

    hora de almoo, no restaurante Pabe, em Lisboa, coincidiram

    na mesma sala, por mero acaso, jornalistas do PBLICO, da SIC

    e de O Independente. E ainda donos de duas agncias de

    comunicao. O ex-ministro das Finanas Sousa Franco estava

    acompanhado do ex-director-geral do Tribunal de Contas Jos

    Farinha Tavares e andava irritado com Antnio Guterres que osubstitura por Pina Moura, na sequncia do veto venda do

    controlo da Mundial Confiana ao Santander.

    Sousa Franco era surdo de um ouvido, falava alto e tinha o seu

    qu de extrovertido. Depois de classificar o governo

    remodelado de Guterres como o pior desde o de Dona Maria,

    considerou com desdm: Duro Barroso o homem do BES de

    quem recebe uma avena [e ainda carro e motorista] e foi s

    custas do banco que foi para os EUA tirar o doutoramento que

    nem concluiu. O Independente fez manchete da conversa.

    10 de Julho. O BES anuncia que investiu dois milhes de euros

    para patrocinar o Benfica, o Porto e o Sporting. A deciso foi

    precedida de um debate na comisso executiva do BES volta

    do posicionamento no negcio futebolstico que , por natureza,meditico. O ex-gestor Jos Manuel Esprito Santo relata a um

    grupo de amigos: A rea de comunicao do banco quis apostar

    no futebol, mas estavam todos contra por ser muito caro e

    porque teriam de patrocinar o Sporting, o Benfica e o Porto. O

    director contraria-os: Os benefcios de imagem vo ultrapassar

    em muito os custos, quando passarmos a patrocinar a seleco

    nacional. Ento, Salgado delibera: Ou apoiamos todos ounenhum. E apoiaram todos. Em 2013, os analistas admitiam

    que a dvida ao BES dos trs principais clubes de futebol

    (Benfica, Sporting e Porto) era de 215 milhes de euros.

    Final de 2002. Quando a CMVM comea a investigar o

    ex-presidente do BESI, Manuel Serzedelo, por participao em

    negcios paralelos ao banco, Ricciardi, ainda administrador, v

    uma aberta para o substituir. Mas Salgado defende Serzedelo.Um ex-quadro do BESI lembra-se que Ricciardi, ainda

    administrador do BESI, foi pedir a ajuda de um amigo com

    pontes na comunicao social. Verso que este nega. Seja como

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    for, o tema chega s primeiras pginas dos jornais.

    17 de Janeiro. Uma sexta-feira. OIndependenteavana queSerzedelo, que tambm administrador da PT e do BES, deu

    ordens de compra de meio milho de aces da PT Multimdia.

    O negcio gera uma mais-valia de cerca de 1,5 milhes de euros

    ao vendedor, a Companhia de Cervejas Estrela, de que Serzedelo

    accionista e tambm gestor. Na sequncia da polmica,

    Serzedelo anuncia que se afasta de todas as empresas, e Jos

    Maria Ricciardi eleito presidente do BESI.

    PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP

    Janeiro. O BES estava a tornar-se um plo de atraco de

    interesses empresrios, financeiros, polticos. E os centros de

    poder geram conivncias e laos de solidariedade. O mandato

    presidencial de Jorge Sampaio vai concluir-se a 9 de Maro de

    2006 e nos corredores polticos correm rumores de que SantanaLopes planeia avanar. tempo de encontrar um candidato.

    Quem melhor do que o ex-colaborador do banqueiro, Duro

    Barroso, agora em So Bento, para debater o tema? Ento,

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    Salgado convida o ainda primeiro-ministro e a mulher,

    Margarida Sousa Uva, para um jantar na casa de Cascais, que

    estende a mais dois casais: Anbal e Maria Cavaco Silva e

    Marcelo Rebelo de Sousa e Rita Amaral Cabral, que viria a ser

    administradora no executiva do BES. Salgado justifica o

    encontro como um jantar privado de casais com laos de

    amizade.

    15 de Janeiro.As multinacionais e as grandes empresas tm

    uma prtica de oferecer viagens aos media, o que gera um

    ambiente informal favorvel a passar mensagens que

    interessam. Entre Salgado e a comunicao social sempre houve

    uma empatia recproca. Salgado gostava de falar atravs dos

    jornalistas, os jornalistas viam nele o poder. Se necessitava de

    enviar recados, o banqueiro promovia encontros em locais

    inesperados. Um deles decorre em Megve, nos Alpes franceses,

    onde fala da tentativa de concentrao com o BPI: No se

    concretizou devido ao grande peso que o La Caixa (16%) tinha.

    No somos ingnuos e percebemos o risco. Observaes

    reproduzidas na imprensa do dia seguinte.

    Ora, Fernando Ulrich, do BPI, no tinha, evidentemente,digerido a reviravolta da fuso com o BES e, de Lisboa, replica:

    Foi o BES, e no o BPI, que rompeu as negociaes. Nem

    temos nada a aprender com o dr. Ricardo Salgado em matria

    de independncia da gesto, de apoio a centros de deciso

    nacional e de obteno de mais-valias por vendas a

    estrangeiros. Salgado e Ulrich vo nos anos seguintes

    protagonizar fortes embates pblicos.

    Mas o dado relevante decorreu margem do encontro com os

    jornalistas. Trs anos depois da zanga, em Lisboa, P.Q.P. est ao

    telefone com Ricciardi, em Megve. O industrial quer pedir-lhe

    desculpa pelo episdio ocorrido na Quinta Patino e reatar

    relaes. Dias depois, j em Lisboa, frente a frente, o presidente

    do BESI intui uma coisa extraordinria: Apesar de o meu

    primo [Salgado] saber do que levara ao corte, continuou a falarcom o Pedro como se nada fosse.

    10 de Fevereiro. Chega a hora de a gerao na casa dos 40

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    anos (entre muitos outros, o ministro da Economia Antnio

    Pires de Lima, Jos Maria Ricciardi, Fernando Ulrich) disputar

    o topo das empresas. Organizam, ento, uma iniciativa

    meditica no Convento do Beato, a que do o nome

    Compromisso Portugal. O evento neoliberal marca o incio do

    discurso poltico que passa a veicular a tese de que o interesse

    pblico se esgota no interesse dos contribuintes.

    Maro. Neste ms, o novo presidente do BESI tem o seu

    primeiro embate com o primo direito, ambos filhos das duas

    irms herdeiras de Ricardo Esprito Santo Silva: Salgado tem 59

    anos, Ricciardi 49. O choque d-se logo que o mais novo aparece

    a conceder a sua primeira entrevista como sucessor de

    Serzedelo. questo colocada pelo PBLICO como v o

    facto de o seu nome ser referido como sucessor de Salgado?

    responde em linguagem futebolstica: Como gosto muito de

    futebol, digo que em equipas ganhadoras no se mexe. Temos

    um grande presidente [Salgado], [] se no mesmo o melhor

    banqueiro do grupo desde sempre, tendo elevado o BES ao mais

    alto nvel []. Espero, por isso, que ele se mantenha frente do

    grupo durante muitos anos.

    No dia seguinte, Salgado chama-o a sua casa, em Cascais: p,

    no sei se sabes que o Z Neto presidente do BIC, o Z Manuel

    do BES Espanha, e nenhum deles d entrevistas, apesar de

    serem presidentes. A nica pessoa aqui que concede entrevistas

    sou eu. Tu no podes comear a dar entrevistas. Ricciardi

    contra-ataca: Podes ter a certeza de que vou continuar a dar

    entrevistas. E sabes porqu? Porque as pessoas querem saber aminha opinio sobre os problemas do pas, no s sobre o BES

    ou o BESI. Ricciardi reclama junto do PBLICO por lhe ter

    sido atribudo, erradamente, 50 anos se tinha 49.

    Num contacto com o PBLICO, pouco depois, Ricciardi envia

    ao chefe novo recado: Nesta famlia sempre houve grande

    colegialidade e escrutnio, e as pessoas quando chegam a uma

    certa idade o que querem que os mais novos os substituam,puxando por eles e motivando-os. E vo fazer aquilo de que

    mais gostam, o que visto como um prmio.

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    Angola cresce a dois dgitos. Salgado quer apostar no BESA, mas

    a estratgia gera atritos, pois a parceria histrica do GES com

    a Escom, com sede nas Ilhas Virgens Britnicas, onde detm

    67% do capital. A empresa presidida por Hlder Bataglia (33%)

    tem influncia e notoriedade e -lhe concedida a condio de

    canal diplomtico entre Angola e China.

    Em 2004, o consultor Miguel Horta e Costa anda entretido a

    estudar o tema das contrapartidas: ajudar os vendedores de

    equipamento militar a estruturar as ofertas ao Estado

    portugus. E foi ter com o irmo, Lus Horta e Costa, gestor da

    Escom. Para o convencer, diz-lhe: H aqui um bom nicho de

    mercado.

    21 de Abril. E mal o ministro da DefesaPaulo Portas valida a compra dos dois

    submarinos para a Marinha portuguesa

    empresa alem German Submarine

    Consortium, j a Escom, do GES, aparece a

    assessorar o consrcio alemo, cobrando

    cerca de 3% sobre o valor total da venda dos

    submarinos: 769 milhes de dlares. A comisso serclassificada como excessiva, dado o trabalho prestado pela

    Escom. H outra iniciativa simultnea de Portas a gerar rudo: o

    Governo assina um contrato de financiamento (para o Estado

    pagar os submarinos aos alemes) com um consrcio bancrio

    formado pelo Credit Suisse e pelo BES. O GES est, deste modo,

    dos dois lados do negcio. Os alemes impem ainda que o

    contrato seja carimbado com uma entidade europeia, o queobriga a Escom a criar a Escom UK. Esta transaco vai levar a

    prises na Alemanha e, em Lisboa, a uma polmica comisso de

    inqurito parlamentar, encerrada, em Outubro de 2014, de

    forma apressada pelos dois partidos do Governo: PSD e PP.

    17 de Julho. Duro Barroso substitudo por Santana Lopes

    como primeiro-ministro, o que vai dar origem a um perodo de

    grande turbulncia. A partir daqui, o director Amlcar MoraisPires recrutado para a comisso executiva do BES e assume-se

    como brao direito de Salgado com o pelouro financeiro. O que

    deixa para trs o at a CFO, Manuel Pinho (menos permevel a

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    Salgado), chutado para o BESI, onde j era vice-presidente no

    executivo. Ora, Pinho reage encostando-se poltica e aparece

    no PS com a proposta do plano tecnolgico, o que, falta de

    ideias partidrias, depressa se torna a bandeira.

    A meio da dcada, no no BES, mas no BCP que se concentra o

    verdadeiro ncleo do poder financeiro e poltico. O presidenteJardim Gonalves no gosta do economista Antnio Borges,

    sentimento partilhado por Ricardo Salgado, a quem Borges

    lana farpas em pblico. O episdio que se conta em seguida a

    prova de como, muitas vezes, difcil ir contra a opinio de um

    banqueiro.

    A Caixa Geral de Depsitos o principal banco portugus e o

    poder do seu presidente grande. Se o Governo deixa e a gestoquer, a CGD pode ser o farol em termos de disciplina e de boas

    prticas. Um moderador da concorrncia. O ministro lvaro

    Barreto, em nome de Santana Lopes, convida Borges para

    presidir CGD, que responde: O convite atrai-me

    profissionalmente.

    Setembro. Borges est em Bruxelas quando Barroso, jpresidente da Comisso Europeia, o avisa: Vai ter uma surpresa

    assim que chegar a Lisboa, eles [Governo] no vo confirmar o

    convite para a CGD. Semanas depois, Borges vai jantar ao BES

    a pedido de Salgado, que o informa de que os membros da

    Associao Portuguesa de Bancos se opem ida dele para a

    CGD, incluindo o BES. O banqueiro no precisava de ter dito

    nada, mas fez questo de mostrar uma posio.

    25 de Setembro. Pouco depois de ser eleito secretrio-geral do

    PS, Jos Scrates indica Manuel Pinho como porta-voz para a

    Economia e confia-lhe a elaborao do programa eleitoral. O

    vice -presidente do BESI comunica a Salgado a inteno de

    aceitar, mas este diz-lhe: melhor no. Arrepende-se. noite,

    o banqueiro liga-lhe de volta e d-lhe fora para avanar. Ao

    mesmo tempo, no PSD, as funes de porta-voz da Economiatinham sido entregues ao deputado Miguel Frasquilho, do

    gabinete de estudos ES Research, e subordinado de Pinho. Os

    dois trocavam informaes nos corredores do BESI, recorda

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    quem ali trabalha ainda. O grupo sai sempre vencedor.

    3 de Outubro,um domingo. Com muitas polmicas a rodear a

    aco de Santana Lopes, as intervenes de Marcelo Rebelo de

    Sousa na TVI so de terra-queimada, o que incomoda o chefe do

    Governo. Marcelo critica a deciso do executivo de dar

    tolerncia de ponto aos funcionrios pblicos, por reflectir opior do pior de Antnio Guterres. Foi a gota de gua que

    entornou o copo de Santana, que pede ao ministro dos Assuntos

    Parlamentares, Rui Gomes da Silva, que elabore consideraes

    sobre o comentador.

    4 de Outubro. Gomes da Silva declara publicamente estar

    revoltado com um comentador que tem um problema e

    apontou para o facto de sob a capa de comentrio polticotransmitir sistematicamente um conjunto de mentiras sobre

    Santana com desfaatez e sem qualquer vergonha.

    5 de Outubro. O comentador sem vergonha remete para

    domingo a resposta ao ministro. Marcelo Rebelo de Sousa e Rita

    Cabral vo, nesta noite, jantar a casa de Salgado com o

    presidente do Bradesco, accionista do BES. Quando Marcelosaiu, o banqueiro j sabe que ele se prepara para romper com a

    TVI. S desconhecia o timing. Os acontecimentos vo

    precipitar-se.

    As conversas nos bastidores polticos ajudam a compreender

    como se movem interesses. No dia seguinte, Salgado est em

    So Bento a debater com Santana Lopes o negcio de venda da

    Galp, disputado pelo GES. Pelo meio, o banqueiro avisa-o de

    que Marcelo pode estar de sada da TVI, o que deixa Santana to

    nervoso que lhe pede que se torne o facilitador do consenso

    entre os dois. Mas enquanto decorre a conversa, j Marcelo

    batera com a porta da TVI. E com estrondo. Santana ser

    acusado de interferncia nos media.

    22 de Dezembro. Jorge Sampaio convoca eleies legislativaspara 20 de Fevereiro. E a 29, a Escom UK recebe o primeiro

    pagamento de 24 milhes de euros da Man Ferostaal [do

    consrcio alemo que vendeu os submarinos ao Estado].

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    Nas vsperas da passagem de ano, ocorre um episdio que se

    converte numa saga judicial com vrios incidentes interligados.

    A lei exige s entidades bancrias que comuniquem operaes

    suspeitas. Seguindo esta orientao, um gestor de agncia do

    BES participa ao Ministrio Pblico ter detectado 115 depsitos

    em numerrio no valor de pouco mais de um milho de euros. O

    cliente que os movimentara era o responsvel pelas finanas doCDS-PP, o empresrio Abel Pinheiro, que a partir dali fica sob

    escuta. E contamina um grupo alargado de interlocutores,

    muitos deles do CDS-PP, como Lus Horta e Costa, da Escom, e

    o ento ministro do Ambiente e do Ordenamento do Territrio,

    Nobre Guedes. Os trs falam muito e com muita gente.

    No incio deste ano, o caso das contas-fantasma de Augusto

    Pinochet abertas no BES Miami e no BES Caimo est na

    agenda do Senado norte-americano. Washington queixa-se de

    que o BES coloca dificuldades ao acesso informao pedida

    sobre os movimentos do ditador chileno. As queixas incendeiamo discurso da esquerda portuguesa, que reclama transparncia

    na divulgao dos dados.

    16 de Fevereiro. O Governo j no est em funes plenas

    quando um despacho conjunto dos ministros da Agricultura,

    Pescas e Florestas (Costa Neves), do Ambiente e do

    Ordenamento do Territrio e do Turismo (Telmo Correia)

    reconhece a imprescindvel utilidade pblica de um

    empreendimento turstico na Herdade da Vargem Fresca, a

    executar pela Portucale, do GES. A deciso possibilita empresa

    o abate de 2605 sobreiros e potenciar o investimento.

    24 de Fevereiro.Jos Scrates eleito

    com maioria absoluta. Manuel Pinho quer

    ser ministro. De preferncia das Finanas.Se h uma parte genuna no desejo, por

    acreditar que as suas ideias fazem a

    diferena, h tambm um entusiasmo de

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    principiante. E depois de Scrates o

    sondar para tutelar a Economia, Pinho

    comunica ao presidente do BES a deciso.

    Aps renunciar ao Governo, Pinho

    regressa ao BES em 2009 como no

    executivo e com um ordenado mensal

    superior a 35 mil euros. Salgado pragmtico: sabe desenvolveruma agenda convergente com o poder poltico. O Governo vai

    precisar de financiamento e de apoio para levar por diante os

    seus projectos e o BES arranja solues, no coloca problemas.

    vida de banqueiro.

    10 de Maio. Na sequncia da denncia do gerente do BES, o

    Ministrio Pblico desencadeia buscas Escom e tropea numa

    minuta do despacho ministerial a caucionar o abate de

    sobreiros. O documento est em cima da secretria de Lus

    Horta e Costa e foi-lhe entregue por Abel Pinheiro. O que faz

    adensar as suspeitas de que a deciso do governo PSD-CDS

    PP foi negociada fora do Ministrio do Ambiente. Nobre

    Guedes, Horta e Costa e Abel Pinheiro so constitudos

    arguidos. Ao rol de dvidas das autoridades somam-se maisduas: a comisso milionria cobrada pela Escom ao consrcio

    alemo que vendeu os dois submarinos ao Estado portugus

    ter servido para pagar a polticos envolvidos na deciso? Os

    depsitos em numerrio de Abel Pinheiro, tesoureiro do PP e

    que desencadearam o processo Portucale , esto relacionados

    com esta pista? As investigaes vo prosseguir durante os

    prximos anos e dar ainda muito que falar. Por enquanto, noh concluses conhecidas.

    20 de Maio. O tema Portucale est no centro do debate. O

    PBLICO edita um trabalho onde desenvolve um retrato do

    GES, nas suas vrias implicaes, polticas, empresariais e

    financeiras. Um grupo capaz de influenciar os decisores na

    aprovao de projectos que est a desenvolver, referindo-se ao

    caso Portucale. E dedica na mesma edio uma pgina Escom,com o ttulo: A empresa instrumental do GES para os negcios

    que no esto na praa pblica. Sem conhecimento prvio, na

    mesma edio, o suplemento satrico Inimigo Pblico [estrutura

    (http://imagens4.publico.pt/imagens.aspx/880084?tp=UH&db=IMAGENS)

    Manuel Pinho d luz verde TAP paracomprar a Portuglia, a companhia area

    do GES historicamente deficitriaDANIEL

    ROCHA

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    autnoma do jornal] faz manchete: Sobreiros foram torturados

    antes de serem abatidos. No interior disserta: Quem sabe

    sabe. Mas o BES no sabe nada. Preveja o seu futuro com o

    BES Plano Poupana Cadeia. A equipa de Salgado v ali uma

    concertao para ferir o bom nome do grupo e reclama junto da

    administrao do jornal.

    5 de Julho.A Escom UK recebe a ltima tranche, de 1,2

    milhes, do bolo de 24 milhes de euros da comisso paga pelo

    consrcio alemo. Para alm dos pagamentos a Bataglia, Pedro

    Neto, Lus e Miguel Horta e Costa, a Escom transfere cinco

    milhes para cinco contas pessoais abertas num banco na Sua.

    Incio de Agosto. No Brasil,

    investigam-se subornos a deputados.Depois de Miguel Horta e Costa (primo do

    consultor da Escom), ex-presidente da PT e

    vice-presidente do BESI, e de Antnio

    Mexia, na qualidade de ministro das Obras

    Pblicas, chegava a vez de Salgado ser

    infectado pelo caso Mensalo, o maior

    escndalo de corrupo do Brasil. Oempresrio Marcos Valrio conta que

    organizou reunies com o BES Brasil e a PT

    para libertar verbas para financiar o Partido dos Trabalhadores

    (PT) no poder. Os gestores portugueses desmentem, o que no

    evita esclarecimentos justia brasileira, que os ilibar anos

    depois.

    17 de Outubro. Elementos da Direco Central de Investigao

    e Combate Criminalidade Econmica e Financeira da Polcia

    Judiciria e da Inspeco-Geral de Finanas entram em quatro

    bancos BES, BPN, BCP e Finibanco e nas instalaes do

    GES na zona franca da Madeira. Est em curso nova

    investigao do DCIAP, a que se d o nome de Operao

    Furaco ainda a correr e que identifica uma fraude fiscal

    superior a 280 milhes de euros, com 30 arguidos e 70processos.

    Porm, a aco no constitui uma verdadeira surpresa para os

    (http://imagens6.publico.pt/imagens.aspx/880076?tp=UH&db=IMAGENS)

    Miguel Horta e Costa quando, em

    Setembro, foi ouvido pela comisso deinqurito s contrapartidasMIGUEL MANSO

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    quatro bancos. O presidente do BPN, Oliveira Costa, foi avisado

    antecipadamente e no fim-de-semana anterior convocou

    quadros para empacotar documentao relacionada com o

    Banco Insular (ainda desconhecido das autoridades e que servia

    para o BPN esconder prejuzos) e retir-la do banco. No

    contexto do seu julgamento, o inspector tributrio Paulo Jorge

    Silva, testemunha arrolada pelo Ministrio Pblico, consideraque a fuga de informao atrasa em dois anos a descoberta da

    megafraude que j lesou o Estado em pelo menos 3000 milhes

    de euros (a verba pode chegar ultrapassar 5000 milhes).

    aqui que as vidas do procurador Rosrio Teixeira e do juiz

    Carlos Alexandre se vo entrelaar com a de Ricardo Salgado.

    Num prdio de Lisboa funciona a Esger, especializada em

    servios de consultoria e suspeita de ajudar clientes do BES a

    ocultarem um esquema de facturas falsas. O circuito atrai

    pequenas e mdias empresas, nomeadamente construtoras, e

    apanhado pela rede da Operao Furaco. A Esger pertence ao

    BES, em parceria com o BIC e dois scios individuais: Ricardo

    Salgado e Jos Manuel Esprito Santo Silva, ambos da comisso

    executiva do BES. O BdP no v ali problema.

    Portugal vive um quadro de crise, mas no a banca, que tem

    acesso aberto aos mercados internacionais e compra o

    dinheiro barato. Ter capacidade de emprestar dinheiro

    essencial para um banco. E quanto maior o flego, maior a

    disponibilidade para alargar a esfera de aco, em especial se a

    economia (empresas e Estado) estiver descapitalizada. Um

    banqueiro dispe de um trunfo: apoiar a empresa ou o Estado,ou negar a ajuda e criar obstculos.

    entrada do ano, o BES j surfava na crista da onda com lucros

    de 281 milhes a dispararem 85% face ao ano anterior. Salgadotornara-se um banqueiro superstar. Um dia recebe o presidente

    de uma pequena e mdia empresa da rea da construo, no

    outro senta-se ao lado de Scrates a promover os seus projectos

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    ou anuncia um investimento numa grande empresa.

    6 Janeiro.O BES apresenta-se como o novo accionista

    estratgico da EDP. Dois dias antes, Manuel Pinho confirma

    Mexia (seu colega no BESI) como presidente. O que leva

    Salgado a avanar com uma estratgia tentacular em sectores

    onde o Estado tem presena? Para alm dos dividendos,impunha o BES como o banco da empresa e o grande

    intermedirio do Governo. A EDP e a PT do esse poder.

    6 de Fevereiro.A Sonae lana a OPA sobre a PT e Salgado

    ope-se. E foi procurar peas de xadrez. Dois jovens consultores

    da Heidrick & Struggles, Nuno Vasconcelos (cunhado de um

    quadro do BES, Bernardo Esprito Santo) e o espanhol Rafael

    Mora, sabem bem onde esto os plos do novo poder e soatrados para a rbita do GES. A conjugao de vontades vai

    unir Salgado a Vasconcelos e Mora numa aliana produtiva. A

    ascenso meterica. E de pouca durao.

    13 de Abril. Na sequncia da guerra accionista no BCP para

    afastar Jardim Gonalves e do falhano da OPA hostil lanada

    por este banco sobre o BPI, instala-se um grupo de bloqueio nomaior grupo financeiro privado portugus. Destacam-se os

    nomes de Vasconcelos e de Mora. O ento CEO do BCP, Teixeira

    Pinto, que ambos apoiam, e que se ope ao fundador, empresta

    Ongoing 400 milhes para aumentar a posio na PT. O BES

    disponibiliza 280 milhes. Houve quem interpretasse a

    desestabilizao no BCP como uma forma de o BES ter poder

    sobre o seu rival. Hoje, oito anos depois, Filipe Pinhal, ento da

    equipa de Jardim Gonalves, assiste ao colapso BES com ironia:

    Quem tudo fez para afundar o BCP e partilhar os despojos est

    agora em risco de ver o BCP partilhar os despojos do BES.

    A meio de 2006, a empresa do GES em

    Angola era um pequeno estado dentro de

    um Estado, com interesses em vrios

    domnios: petrleo, diamantes, construo.E os projectos eram financiados pelo BESA,

    de que Bataglia era administrador. A

    Revista 2 apurou que, por essa altura, a

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    pedido do presidente do BES, o construtor Jos Guilherme

    adquire Escom, por 7 milhes de dlares, cerca de 30% das 3

    Torres de Luanda em fase de construo. Mais tarde, e pouco

    antes de a Escom comear a comercializar os andares, Jos

    Guilherme revende empresa a sua posio, agora por 34

    milhes. O nome de Jos Guilherme chega ao domnio pblico

    quando Salgado divulgou que recebeu do construtor umacomisso presente, o que o levou a trs correces declarao fiscal

    de 2011.

    31 de Outubro.O Governo, atravs do ministro Mrio Lino

    (que tutelava a Portugal Telecom e a TAP), aparece a dar luz

    verde TAP para comprar por 140 milhes de euros a

    Portuglia, a companhia area do GES historicamente

    deficitria. A transaco vista pela oposio como tendo

    tambm a mo do ministro da Economia, Manuel Pinho, e um

    sinal do grande entendimento que se estabelecera, entretanto,

    entre o banqueiro e o primeiro-ministro, Jos Scrates.

    2 de Novembro. Quando a Guarda Civil espanhola, de coletes

    fluorescentes, entra nas instalaes do BES Espanha, as

    televises j l estavam. O raide visa apurar se proporcionaraaos clientes mecanismos financeiros para branqueamento e

    evaso fiscal: o dinheiro ia para a filial do banco na Madeira e

    regressava a Espanha, limpo, atravs de Frana e do

    Luxemburgo. Os documentos na posse do juiz Baltazar Garzn

    apontam para clientes recrutados na sociedade espanhola e a

    aco policial mediatizada por o BES ser conhecido pelo

    relacionamento com a famlia real.

    7 de Maio.O ex-executivo da Union des Banques Suisses

    (UBS) Bradley Birkenfeld declara-se culpado de conspirao

    para defraudar os Estados Unidos, ajudando clientes do banco afugir ao fisco. Na sequncia, Birkenfeld torna-se informador das

    autoridades e contribui para desmontar o mega esquema. A

    aco ter, em breve, impacto em Portugal.

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    Setembro.A crise de crdito espalha-se. Quem lhe d

    importncia? Os mercados no se auto-regulam e no

    funcionam na base da boa vontade e da tica. Nas cities

    fazem-se investimentos imprudentes e h bancos com

    dificuldades em saldar os compromissos. Com 150 anos, o

    respeitado Lehman Brother de rating slido (AAA) afinal um

    gigante com ps de barro, pois os gestores manipularam osnmeros para ocultar prejuzos e excesso de dvida. O filme

    conhecido: o banco faliu. E em Portugal, entre Novembro e

    Dezembro, o BPN e o BPP declaram-se insolventes e pedem

    ajuda ao Estado. Scrates deixa cair o BPP e nacionaliza o BPN,

    o que gera ondas de choque na oposio, que faz campanha

    contra a deciso. A estatizao dever implicar um custo para o

    Estado superior a 5 mil milhes de euros.

    A crise financeira globaliza-se e alastra economia real. Esta a

    poca em que Salgado apresentado como um gnio da

    Finana. Aquele que reergueu e recuperou o prestgio de um

    grupo centenrio. A ideia formatara-se na maioria dos cerca de

    (http://imagens0.publico.pt/imagens.aspx/880090?tp=UH&db=IMAGENS)No meio da crise global, Ricardo Salgado apresentado como gnio da FinanaENRIC

    VIVES-RUBIO

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    400 membros da famlia, o que d ao chefe grande poder, poder

    esse que a partir de certa altura pode ter exorbitado. Mas quem

    liga? Os resultados iam chegando. E os primos dizem:

    Ricardo, tu que sabes. E brincam: Ele [Salgado] gosta de

    trabalhar, no tem passatempos e quando chega a sexta-feira

    noite entra em depresso porque vai comear o fim-de-semana.

    O banqueiro est habituado ao convvio social, mas, um

    ex-colaborador de Ricardo Salgado observa que chegava ao

    banco cedo e saa muitas vezes noite dentro, raramente era visto

    fora do 15. andar, onde tomava as refeies. Mas no lhe

    conhecem grandes distraces. O que no acontece com o primo

    direito Ricciardi, que tambm vive em Cascais. No jardim,

    construiu um lago onde cria carpas e tem gaiolas para procriar

    canrios de competio. Um vcio de criana, que diz tirar-lhe o

    stress, o que o remete para 1977, a viver no Brasil, quando

    desfilou pela escola de Samba da Portela, entre operrios e

    sapateiros.

    A banca portuguesa apostara no financiamento em larga escala

    aos seus clientes, contando com o fcil acesso aos mercados

    interbancrio e de emisso de dvida, e de baixas taxas de juro.Mas o ciclo terminara. Em 2009, mais de metade da carteira de

    crdito do sector estava sustentada em dvida contrada junto de

    credores internacionais. O BES revela o maior desequilbrio na

    relao crdito/depsitos (192%), logo a seguir ao Santander Totta

    (215%). O Banco de Portugal recomenda um rcio no superior a 120%.

    O tempo esgota-se para o cl Esprito Santo.

    O BES tem pela frente um perodo crtico

    que introduz uma exigncia de mudana

    nos mtodos de gesto. Havia outras

    solues, mas Salgado escolhe a fuga em

    frente. O contgio dos interesses da famlia

    ao BES acentuam-se depois de 2007, com a

    crise financeira, quando deixou de ser

    possvel manter o modelo de financiamentosustentado em dvida que seria paga com a

    venda de activos, salienta Catroga, para quem Salgado

    raciocinou sempre numa ptica patrimonial, em que o grupo se

    Eduardo Catroga

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  • 7/25/2019 Crnica Do Fim Do Imprio - PBLICO

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    pode endividar, pois em certo momento vai fazer mais-valias

    significativas e paga as dvidas. Mas devia ter privilegiado uma

    perspectiva de rendimento e de libertao de fundos. Ainda

    assim, defende que durante 20 anos teve sucesso e transformou

    o BES num banco com uma quota de mercado significativa,

    seguindo at crise financeira critrios rigorosos de gesto e de

    solidez do balano.

    A parte no financeira do GES fazia uma enorme presso para

    continuar a expandir-se e, ainda que Ricardo procurasse pr

    travo, no conseguiu, evidencia agora um quadro do BES que

    declinou identificar-se. O Amlcar Morais Pires (ento CFO do

    BES) passou a delfim e deixou-se envolver numa relao

    promscua com o GES, adianta. Onde estava o pecado? No

    excesso de dvida que foi sendo acumulada e nas operaes

    ruinosas que engendravam para permitir esconder as

    dificuldades. O grupo passa a ser jogador de casino: perde 10,

    joga mais 10 para recuperar o investido e, depois de perder o

    que tinha colocado, volta a pr em cima mais 10 E a certa

    altura perde tudo. Parecia ter aderido ao esquema Ponzi

    (investimentos em pirmide).

    Por esta altura, j os operacionais das holdings do GES, que

    reportam directamente a Salgado, se tinham dado conta da

    embrulhada. H facturas por pagar. As contas da ESI vo ser

    manipuladas para ocultar a situao descontrolada (a 30 de

    Setembro de 2013 o passivo era de 5600 milhes). Em

    entrevista aoJornal de Negcios(22/5/2014), Salgado remete as

    culpas para o contabilista Machado da Cruz: O comissaire aux comptes

    assumiu a responsabilidade dos erros. Perdeu o p no meio da situao.

    OExpresso revelar em 2014 uma carta de Machado da Cruz a

    garantir que Salgado, Jos Castella (controller financeiro),

    Manuel Fernando Esprito Santo (Rioforte, holding no

    financeira) e Jos Manuel Esprito Santo (BES) sabiam desde

    2008 que parte do passivo (na altura 1300 milhes) no estava

    nas contas, ainda que desconhecessem o valor. O recado claro. E Machado da Cruz foi recambiado para o Brasil.

    Mas, para fora, o grupo ganha sempre. O que ajuda a mascarar

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  • 7/25/2019 Crnica Do Fim Do Imprio - PBLICO

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    os problemas. Se os prejuzos assustam, activavam-se os

    veculos no financeiros Eurofins (onde estavam parqueados

    negcios ruinosos), com sede na Sua, usados como banco

    virtual (uma espcie de Banco Insular do BPN). A auditora

    KPMG considerou, j este ano, que estas sociedades

    sustentaram um esquema de financiamento fraudulento entre

    as empresas do GES, o que levou o BdP a pedir esclarecimentoss autoridades helvticas. A suspeita que, via endividamento

    da ESI junto de clientes do BES, possam ter sido desviados

    fundos de 800 milhes de euros para tapar o buraco dos

    Eurofins. Esta uma das matrias por esclarecer.

    2 de Abril.ONew York Timesanuncia que os EUA esto a

    investigar mais de 100 clientes da UBS por fuga ao fisco. O

    banco chama alguns quadros a quem comunica que deixara de

    haver condies para se manterem na instituio, mas

    continuaro a trabalhar na sua esfera. No grupo esto Michel

    Canals e Nicolas Figueiredo, gestores de conta de Salgado na

    UBS, com quem Catarina Salgado (administradora do Banque

    Prive), a filha do banqueiro, trabalhou na Sua.

    Os dois suos reinventam-se rapidamente e criam uma novasociedade gestora de fortunas para se focar, nomeadamente, no

    mercado africano. Nasce a Akoya com vrios scios: Canals

    (20%), Figueiredo (15%), Hlder Bataglia (22,5%), lvaro

    Sobrinho (22,5%), Jos Pinto (15%) e a advogada Ana Bruno

    (5%). Como a conduo das operaes est centrada em Canals

    e Figueiredo, quer Sobrinho, quer Bataglia, este agraciado em

    2007 com a Ordem do Infante Dom Henrique, levam tempo adescobrir que Salgado e Morais Pires so clientes da Akoya. E

    estes, por seu turno, desconhecem que h outros scios na

    gestora para alm de Canals e Figueiredo. A ignorncia

    possibilita a todos operarem sem reservas.

    Setembro.As escutas desencadeadas em Dezembro de 2004 a

    Abel Pinheiro continuam a produzir inquritos. A partir da

    certido retirada do processo Portucale, o Ministrio Pblicoabre duas novas frentes: uma associada a facturas falsas

    relacionadas com as contrapartidas dos submarinos; outra para

    determinar quem so os titulares das cinco contas abertas na

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  • 7/25/2019 Crnica Do Fim Do Imprio - PBLICO

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    Sua na sequncia do negcio.

    Ora a presso para encerrar investigaes

    complexas, que exigem cooperao de

    praas offshores, pode revelar-se prejudicial

    se a tarefa apurar os factos. E vai comear

    para o Ministrio Pblico uma saga depedidos s autoridades suas. Aos quais

    no so dadas respostas, pois os advogados

    dos receptores do dinheiro metem recursos

    sucessivos para travar os esclarecimentos. E instalam-se novas

    dvidas: esconderiam pagamentos ilcitos a polticos? Os

    gabinetes de advocacia envolvidos na complexa transaco

    receberam comisses e repassaram-nas para terceiros?

    O que tem de to terrvel o segredo? As cinco contas abertas na

    Sua, para onde a Escom transferiu cinco milhes de euros, da

    comisso de 24 milhes, que recebeu do vendedor alemo dos

    submarinos, pertencem aos cinco membros do conselho

    superior do GES. S que Antnio Ricciardi, Salgado, Manuel

    Fernando Esprito Santo, Jos Maria Esprito Santo e Mrio

    Mosqueira do Amaral resistem a assumir a sua titularidade, algoque s faro, alis, j no Vero de 2013. Na altura, Salgado

    reconhece ter havido um desvio para uma sexta entidade, fora

    do universo do grupo, associada ao dossier, mas no divulga o

    nome. Deixa apenas o sinal.

    Outubro.O BES no um simples banco. uma espcie de

    caixa de socorro. Na sua rbita gravitam pequenos grupos

    familiares que formam uma rede de interajuda. E quando o

    passivo da Ongoing se torna excessivo, 831 milhes, para

    permitir rolar a dvida, o Montepio Geral empresta 50 milhes e

    a PT mais 75 milhes. O BES, j se sabe, tinha uma relao

    privilegiada com a empresa e ajudava quando era preciso.

    Vasconcelos e Mora (administrador da PT) no esto dispostos a

    ficar na fila de trs. E acham que vo dominar o mundo. Criamficheiros sobre pessoas, onde misturam fico com realidade.

    Vem filmes a mais. Vou ao 15. falar com o Salgado, dizia o

    presidente da Ongoing (com 2% da ESFG). Um dia, Vasconcelos

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    foi almoar ao Ritz com um director de uma agncia de

    comunicao e um gestor do Santander, a quem pede reforo de

    financiamento. O administrador questiona: Qual a exposio

    da Ongoing banca? Como no o convence, Vasconcelos

    observa: Se voc me ajudar, eu deixo-o fazer parte do projecto

    que tenho para o pas.

    Dezembro.Cerca de 30 economistas assinaram um manifesto

    a aconselhar Scrates a rever os grandes projectos de

    investimento. Entre os signatrios, est Catroga. O curso de

    1969 do ISEG celebra 40 anos com um jantar no Salo Nobre do

    Quelhas, onde tem lugar uma conversa que ajuda a

    compreender o que vai na cabea do banqueiro. Salgado convida

    Catroga a sentar-se sua mesa e a meio envolvem-se num

    debate acalorado. A crise o tema. Catroga menciona a

    trajectria galopante do endividamento e defende que Scrates

    deve suspender as grandes obras pblicas: TGV, novo aeroporto,

    Parcerias Pblico-Privadas.

    Salgado reage em defesa do Governo socialista: L ests tu com

    essas teses tecnocrticas e contabilsticas. O Japo tem maior

    nvel de endividamento do que ns. Catroga conta queargumentou: Mas o Japo deve aos japoneses, no dvida

    externa. E ns corremos o risco de um dia os nossos credores

    fecharem a torneira e temos aqui um problema de tesouraria.

    8 de Maro. Quando responde s perguntas dos jornalistas,

    Ricardo Salgado acaba as frases com um arrastar da voz: T, t

    beeem? O PBLICO arrancava assim com novo trabalho sobre

    a network de 400 empresas do GES e o seu poder excessivo.

    De Salgado, Joe Berardo dizia: um banqueiro que tambm

    um homem de negcio, que compreende muito bem os clientes

    se lhe dizem que esto apertados [a necessitar de financiamentoou de renegociar a dvida] e percebe que as coisas no correm

    sempre como se espera. O que hoje repete ao PBLICO:

    Tenho grande considerao, at se provar que culpado. E no

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    h dvida de que ele ajudou muito a indstria e as empresas.

    28 de Julho.A PT vende 50% do capital

    da operadora brasileira Vivo Telefonica

    por 7500 milhes. O BES (incluindo

    dividendos) encaixa 206 milhes de euros e

    a CGD 151 milhes. Scrates exige umasoluo alternativa Vivo para garantir um

    operador luso-brasileiro para o espao

    lusfono. Braslia sugere a Oi, com

    necessidades de consolidar uma estrutura

    accionista que est muito endividada junto

    do banco estatal brasileiro.

    30 de Setembro.A PT aplica 4500milhes (do valor que sobra da venda da

    Vivo Telefonica depois de fechar o negcio

    da OI) pelos bancos accionistas: CGD e BES.

    Ter cash uma prioridade para qualquer

    banqueiro, sobretudo se carrega um grupo

    endividado. E o grosso da tesouraria da PT

    canalizado para a esfera do GES: 3118 milhes de euros (50,9%do total). Destes, 250 milhes foram para comprar ttulos de

    dvida na ESI (onde j est nesta altura o buraco que vai

    rebentar com o grupo). O presidente da PT, Zeinal Bava,

    contraria assim pela primeira vez a prtica das aplicaes em

    depsitos do banco.

    Em Portugal as ms notcias sucedem-se. Os juros da dvida

    pblica escalam os 7%. A banca est sem recursos para melhorar

    os capitais prprios e cumprir o rcio de solidez de 9% at final

    de 2011, que no BES rondava 8,1 % e tornava urgente novo apelo

    aos accionistas (GES). A famlia est curta de capital e a vendada Escom avaliada pelo GES em 500 milhes de euros passa a

    ser uma prioridade.

    (http://imagens5.publico.pt/imagens.aspx/880055?tp=UH&db=IMAGENS)

    Joe Berardo, um dos accionistas do BES

    DANIEL ROCHA

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    Salgado comunica a deciso a Hlder Bataglia (presidente e

    accionista minoritrio da Escom), que abre conversaes com o

    Estado angolano. Mas, como gosta de ter o controlo da

    informao e de perceber tudo, afastou o Hlder das

    conversaes, apesar de ser ele quem dominava o tema de

    Angola e com boas relaes com o Governo, explicou uma fonte

    ligada ao dossier. A parte angolana [o Estado] nunca foi aSonangol. O Estado tinha decidido comprar, mas no nomeou o

    comprador. E Salgado esteve sempre espera que fosse

    indicado um nome. S que o banqueiro j no pode esperar.

    Como as dvidas da Escom ao BES j se cifram em mais de 500

    milhes, a venda crucial, pois permite-lhe ir ao BdP dizer que

    o vnculo Escom se eliminou. O que ter um efeito: reduzir as

    necessidades de capital do BES.

    Janeiro.Ento, perante o impasse, Salgado vai ter com lvaro

    Sobrinho, do BESA, a quem pede ajuda para formalizar o

    acordo. E anuncia publicamente que a Escom deixou de ter uma

    relao accionista com o GES, ainda que continue a ser apoiada

    pelo banco. No revela nem montantes nem o nome do

    comprador. Para dar credibilidade, o BES deixa escapar que o

    adquirente a Sonangol.

    O contrato de promessa compra e venda assinado, no

    escritrio de Lisboa da advogada Ana Bruno (scia da Akoya),

    que representa a Newbrook, detida por Sobrinho. Na sala esto

    Salgado, Bataglia e Manuel Vicente, o actual vice-presidente de

    Angola, que estava frente da Sonangol, que no se associa a

    nenhuma entidade. Semanas depois, saem de uma conta daNewbrook, no BESA (de que lvaro Sobrinho era presidente e

    Bataglia administrador), cerca de 85 milhes de euros para

    sinalizar o negcio da Escom. A partir daqui no foi realizado

    mais nenhum pagamento. O negcio entrou em agonia e a

    Escom em banho-maria.E vai criar confuso.

    Fevereiro.No s com Salgado que Sobrinho se dava. Com o

    presidente do BESI, cruzava-se no clube de Alvalade. Ricciardi,que leva a srio a paixo pelo Sporting, uma figura central com

    influncia nos conclaves leoninos. Aps nova derrota frente ao

    Paos de Ferreira, o ento presidente do Sporting, Jos Eduardo

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  • 7/25/2019 Crnica Do Fim Do Imprio - PBLICO

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    Bettencourt, recrutado no ncleo de Ricciardi, demite-se. O

    vazio vai levar alguns sportinguistas (Ricciardi, Dias Ferreira,

    Paulo Abreu, Filipe Soares Franco, Miguel Ribeiro Teles) a

    reunir para encontrar substituto.

    Nos clubes de futebol predominam grupos de poder que

    determinam, muitas vezes, quem vai ser o presidente. Tm forae dinheiro. E quando Godinho Lopes, o engenheiro e dirigente

    responsvel pelas construes do novo estdio e da academia,

    foi ao BESI dizer que queria ser presidente, Ricciardi acha-o

    vlido para o cargo.

    22 de Fevereiro.Ricciardi declara na imprensa desportiva o

    apoio ao candidato e valoriza o seu perfil e credibilidade junto

    das instituies financeiras. Acredito que leve o Sporting a bomporto. []. importante que o clube no cometa mais erros,

    porque j esticou a corda. E lana directas a Bettencourt (que

    o destino ps agora no Novo Banco, como chefe de gabinete de

    Stock da Cunha), pelo mau uso do dinheiro ao seu dispor.

    29 de Maro.A entrada da troika est por dias. Em Londres, a

    propsito de uma operao financeira do BESI, Ricardo Salgadoe Jos Maria Ricciardi participam num almoo com jornalistas

    onde o presidente do BES presta declaraes sobre a situao

    econmica do pas, beira do resgate. Mas interrompido

    quando os jornalistas se voltam para Ricciardi e lhe pedem um

    comentrio sobre a vitria de Godinho Lopes, o que remete

    Salgado para um silncio incmodo. Quanto mais procurava

    travar o tsunami de perguntas a Ricciardi, mais este se

    debruava com entusiasmo sobre a equipa de Alvalade. Um

    discurso acompanhado de toques na mesa: [o Sporting] Tem de

    ser grande e bater-se de igual com os outros dois grandes

    rivais.

    Assim que Salgado consegue interromper o tema sportinguista,

    lana avisos aos polticos a sugerir que avaliem as consequncias

    que certas decises tm nos mercados, pois ningum sabe aocerto onde poderemos chegar. Mas, poderemos ganhar tempo

    at s eleies. E talvez seja possvel evitar a interveno do

    FMI. A 6 de Abril, Portugal ajoelha-se e pede ajuda externa.

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    Nesta fase, Ricciardi comeou a olhar para o primo direito como

    um chefe centralizador que resiste a largar o poder. Ou encontra

    uma maneira de co-existirem, ou segue o seu caminho. Pensa

    para si: Este tipo vai ficar aqui at aos 100. Um dia, enche-se

    de coragem e foi falar com ele: Quero fazer um grupo

    internacional a partir do BESI, tipo Rothschild de raiz

    portuguesa, que trabalhe e desenvolva a actividade nasprincipais praas financeiras e em muitos mercados

    emergentes. Remata: Ou me ajudas ou vou minha vida O

    chefe anuiu: Sim, estou de acordo. Se tem outra opinio, no a

    ter dado. Esta apenas a verso de Ricciardi.

    31 de Agosto.Ainda mal tinha tomado posse, j o Governo

    colocara venda 21,35% da EDP. E contrata, sem concurso

    pblico, o que a lei impede, a sociedade norte-americana Perella

    para prestar a assessoria financeira ao Estado neste negcio. A

    inteno do ministro das Finanas, Vtor Gaspar, podia ser a de

    introduzir um independente no circuito, mas a soluo gera

    controvrsia. Depois de convidar a Perella, o Governo percebe

    que cometera um erro e d instrues para ser a CGD a assinar o

    contrato com os norte-americanos, partilhando o trabalho.

    O que Gaspar no imagina que o afastamento do BESI e a

    adjudicao directa Perella est a colocar Ricciardi em rbita,

    que dispara com queixas, nomeadamente, junto de quem

    manda: Miguel Relvas, ex-ministro adjunto, e do prprio

    primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, como do conta as

    escutas feitas na altura ao banqueiro. Passos ter dito: Bom,

    vou ver o que se passa.

    Dias depois, Jorge Tom, da CGD (tambm escutado), d os

    parabns a Ricciardi: o BESI est na operao. Tom estava

    afinal equivocado, pois a Perella no aceita partilhar com um

    terceiro os 16 milhes de comisses que o Estado vai pagar aos

    assessores financeiros. Quando a ex-secretria de Estado, agora

    ministra, convoca Ricciardi ao ministrio na Praa do Comrcio,

    confirma as suspeitas: o BESI no ia auxiliar o Estado naprivatizao. Ento porqu?, pergunta Ricciardi. A secretria

    de Estado ter explicado: o BES accionista da EDP e h um

    conflito de interesses. Tese que o interlocutor rejeita: Se

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    estivssemos do lado do comprador, at podia haver, pois quem

    compra quer comprar o mais barato possvel, j o vendedor quer

    fazer subir o preo. E quanto mais alto o Estado vender, melhor

    para o BES. O banqueiro continua: Concorda que nas

    privatizaes h dois grandes momentos, a venda e a avaliao?

    Como foi o BESI que avaliou a EDP para ser vendida, como

    que nesse caso no houve conflito de interesse e h paraassessorar o Estado na venda?

    Excludo dos 16 milhes, havia que encontrar novo cliente.

    Ricciardi foi China sondar investidores. No final de 2011, o

    BESI surge a apoiar a Three Gorges, mas a luta est renhida pois

    h nota de telefonemas insistentes de Angela Merkel para

    Passos. Na corrida est a alem Eon.

    Ao contrrio dos ocidentais, os chineses, por razes culturais,

    no estabelecem grandes dilogos, o que deixa os banqueiros

    inseguros, pois nunca sabem o que pensam. Quem esteve

    envolvido no dossier conta que a Three Gorges ouvia-nos e

    ia-se embora, e evitava sentar mesma mesa o BESI e o Credit

    Suisse, ambos a apoiar a empresa. Como sabia da propenso do

    Governo para aceitar a oferta da Eon, Ricciardi sugere ThreeGorges um preo no intervalo entre 3,50 e 3,75 euros.

    Por telefone, o presidente do BESI troca impresses com

    Salgado e Morais Pires, sem desconfiar que do outro lado da

    linha esto os escutas do procurador Rosrio Teixeira. Depois de

    os ouvirem dizer preciso fazer os chineses subir o preo, para

    ganharmos o negcio, os investigadores do Ministrio Pblico

    tero concludo: Aquela malta est toda feita. O que Ricciardi

    tambm no sabia que enquanto fala com Salgado e Morais

    Pires, os dois compravam aces da EDP para o seu portflio

    pessoal. A 22 de Dezembro, a Three Gorges garante o controlo

    de 22% da empresa portuguesa.

    A vida de polcia cheia de coincidncias.

    Na sequncia da Operao Furaco, iniciadaem 2005, o Ministrio Pblico abre um

    novo dossier, a que designa Monte Branco.

    No contexto das investigaes relacionadas

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    com uma rede de branqueamento de capitais

    e fraude fiscal, que tem no centro Francisco

    Canas (Z das Medalhas), com escritrio na

    Rua do Ouro, Rosrio Teixeira esbarra numa

    engrenagem complexa. A sociedade de Canals, Figueiredo,

    Bataglia e Sobrinho usa a empresa de Medalhas como biombo

    para disfarar outro esquema de transferncias de verbas para oexterior. E, assim, no intervalo de alguns meses, a Akoya

    continua os seus movimentos, mas vigiados.

    Foi justamente quando decorria a privatizao da EDP que o

    Ministrio Pblico apura que Salgado comprara 2 milhes de

    aces da EDP por 3,4 milhes de euros e que o dinheiro tinha

    chegado via Akoya. Meses depois, em Julho de 2012, a Caixa BI,

    o BESI e a Parpblica (entidade pblica de gesto de

    participaes em empresas em processo de privatizao) sero

    alvo de buscas policiais. A Procuradoria-Geral da Repblica, que

    anda atrs dos fundos desviados pela Akoya, informa que a sua

    aco derivara da Operao Monte Branco. Comea a abrir-se a

    caixa de pandora.

    Enquanto tudo isto se passa em Portugal, a mais de seis milquilmetros de distncia, em Luanda, o BESA montara um

    mega-carrossel. Ao contrrio do resto do sector, cuja principal

    fonte de financiamento so os depsitos dos clientes, o BESA

    tinha acesso a uma linha directa do BES, e sem prazo. O que

    permite grande latitude na aco, nomeadamente ao sector da

    construo: o BESA empresta verbas ao construtor do imvel a

    prazos longos que depois repassa para o comprador do andar,que, por sua vez, o arrenda a preos que possibilitam pagar o

    servio da dvida. A questo que o banco aceita

    automaticamente a transferncia para terceiros sem referncias

    sobre a capacidade de honrar a dvida e sem conhecer o nome

    do novo devedor. Havia outro mtodo: o BESA financia o

    construtor, que pe de p o projecto e antes de o comear a

    comercializar vende-o, como uma mais-valia, ESAF, a gestora

    de fundos de investimento do BES. Sem risco.

    16 de Novembro.O poder de lvaro Sobrinho no BESA

    imenso e o banqueiro apenas reporta a Salgado, de quem

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    copiara a tecnologia. S que o pagamento (500 milhes)

    acordado na venda da Escom Newbrook no chega ao GES, o

    que complica as contas de Salgado. E, desconhecendo ainda que

    Sobrinho scio da Akoya (e, portanto, com acesso a

    informao sensvel), pediu ao seu CFO (Morais Pires), com o

    pelouro internacional, que juntasse peas para se queixarem do

    presidente do BESA ao BdP. O que teve duas consequncias:Sobrinho d-lhes um chega para l e autonomiza-se das

    amarras de Lisboa, deixando de prestar contas ao BES. Em

    2011, o BESA tem lucros de 260 milhes de euros, que salvam o

    BES de divulgar prejuzos.

    Ao ler noExpresso, em Novembro de 2011,

    que o Tribunal Central de Instruo

    Criminal o chamara para prestar

    declaraes e que sara com uma cauo de

    meio milho de euros por suspeita de

    branqueamento de capitais no valor de 3,3

    milhes de euros, o banqueiro angolano

    conclui que foi a trupe de Salgado a passar a

    informao.

    Hoje, circulam teorias. Quem priva com

    Sobrinho conta que ele desenvolveu uma averso a Salgado, a

    quem culpa de estar na origem dos problemas com a justia e,

    como controlava tudo e todos queria grelh-lo em lume

    brando. A zanga vai ser fratricida.

    Entre os executivos do BES, no havia apenas adeptos do

    Sporting. Morais Pires era um aficionado do Benfica. Os

    jantares na sede do banco entre Morais Pires e o presidente do

    clube da Luz, Lus Filipe Vieira, eram normais. O CFO tinha

    uma torneira aberta para o universo empresarial do dirigente

    benfiquista com crditos no BES, em 2012, de largas centenas

    de milhes de euros (fala-se em 600 milhes). Morais Pires

    reestruturou a dvida e colocou-a em fundos do BES Vida e da

    ESAF, o que permitiu a Lus Filipe Vieira deixar de constar nalista dos grandes devedores ao BES. Em 2013, do financiamento

    global (215 milhes) concedido pelo BES aos trs grandes clubes

    (Porto, Sporting, Benfica), cerca de 114 milhes destinaram-se

    (http://imagens8.publico.pt/imagens.aspx/880088?tp=UH&db=IMAGENS)

    lvaro Sobrinho, presidente BES Angola

    RAQUEL ESPERANA

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    SAD benfiquista (com dvidas banca de 283,3 milhes).

    As consequncias da crise financeira longa e complexa no GES,que desenvolvia a actividade sustentada em dvida e

    investimentos especulativos e de risco, tornam-se visveis a

    partir deste ano. O programa de ajustamento rigoroso da troika

    e as novas regras europeias de superviso mais estritas ajudam a

    acentuar os problemas. So, portanto, tempos difceis. E no 15.

    andar da Avenida da Liberdade j se vive a correr contra o

    tempo e o dinheiro sempre a pingar para o BESA. Os aumentos

    de capital nas holdings accionistas fazem-se a custos cada vez

    maiores.

    A convivncia entre a famlia Esprito Santo e os accionistas do

    GES, recrutados fora do seu crculo, tem o seu ponto alto a meio

    do ano, quando chegam a Lausanne, sede das holdings do

    grupo. Nessa altura, h um jantar em que Salgado atrai os mais

    recentes accionistas para a mesa-redonda a que, habitualmente,preside. Na manh seguinte, todos vo assistir a uma

    conferncia no Centro de Convenes. O encontro inaugurado

    por Antnio Ricciardi, o presidente no executivo, mas Salgado

    fala pela rea financeira e Manuel Fernando Esprito Santo pela

    no financeira. Ningum faz perguntas. Em 2012, o ambiente

    era ainda de aparente normalidade. Uma paz prestes a

    eclipsar-se.

    Neste ano, Salgado considerado peloJornal de Negcioso

    terceiro mais poderoso da economia portuguesa. E tem um

    gesto de que se vai arrepender. O poder no GES estava, at a,

    concentrado nos representantes dos cinco ramos da famlia com

    assento na cpula, onde h interesses divergentes. Mas h uma

    deciso de abrir o conselho superior do GES gerao seguinte

    Jos Maria Ricciardi, Manuel Fernando Esprito Santo, PedroMosqueira do Amaral e Ricardo Esprito Santo Abecassis , que

    passa a participar nas reunies sem direito a voto. Salgado, que

    no nomeou segunda linha, no sabe at que ponto tem o apoio

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    dos mais novos. A deciso vai revelar-se uma bomba ao

    retardador.

    Maio.Michel Canals e Nicolas Figueiredo so duas peas vitais

    da engrenagem arquitectada para ajudar a transferir verbas para

    fora do pas. E ao serem detidos no Porto, durante um torneio

    de golfe, ao seu lado tinham os computadores pessoais e

    documentao. Apesar dos sinais de evidncia de que atravs da

    Akoya saa dinheiro para o exterior, o que se traduz em menos

    impostos para o Tesouro, falta o mais importante: a lista global

    dos movimentos dos clientes. Ao analisar os ficheiros, os

    investigadores deparam com mltiplas transferncias,

    nomeadamente associadas a Ricardo Salgado, Morais Pires,Bataglia, irmos Horta e Costa, Pedro Neto e Sobrinho. Havia

    outros clientes de peso, como Duarte Lima.

    17 de Maio.O procurador Rosrio Teixeira tem poucos meios,

    mas investiga quem pode. Ao esbarrar com 12 transferncias de

    27,3 milhes que circularam pela Akoya, passando pelo Credit

    Suisse e por duas offshores do Panam, a Savoices (detida porSalgado) e a Allanite (detida por Morais Pires) , fica com as

    antenas no ar. Na sequncia, chama Morais Pires, ainda CFO do

    BES, a quem solicita esclarecimentos.

    (http://imagens7.publico.pt/imagens.aspx/880077?tp=UH&db=IMAGENS)

    Antnio Ricciardi, presidente no executivo do GESRUI GAUDNCIO

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    Para amenizar os efeitos de uma potencial suspeita de fuga ao

    fisco, e aproveitando a amnistia concedida pelo Estado

    portugus a quem estava em situao de incumprimento,

    Morais Pires vai regularizar a sua situao fiscal. E, entre Agosto

    e Outubro de 2012, o CFO paga 1,1 milhes de euros de imposto

    a mais do que o declarado em Maio, referente ao IRS de 2011.

    18 de Dezembro.Este o dia em que Salgado comea a

    frequentar outras instncias menos glamorosas do que a alta

    finana. Durante a tarde, vai ao DCIAP prestar depoimentos no

    mbito da Operao Monte Branco. Para se antecipar, o BES faz

    sair um comunicado: Aps uma vaga de notcias baseadas em

    rumores especulativos, informa-se que [Ricardo Salgado] se

    prontificou voluntariamente a prestar os esclarecimentos.

    Antes de ser chamado pelo procurador Rosrio Teixeira, o

    banqueiro, que tinha tambm a sua situao fiscal em

    incumprimento, faz trs rectificaes declarao de IRS, o que

    resulta na liquidao de imposto em mais 4,3 milhes de euros

    face colecta inicial de Maio (apenas 183 mil euros).

    a partir daqui que comea a circular a tese de que o presidente

    do BES cobrou uma comisso de 8,5 milhes ao cliente JosGuilherme por aconselhamentos na ida do construtor para

    Angola. E estava aqui a razo da correco da declarao de

    rendimento. O que produz uma nova dvida a quem investiga: o

    banqueiro assinou um contrato fictcio com Jos Guilherme

    para sustentar a tese da comisso?

    OSol e oi, entretanto adquiridos por lvaro Sobrinho, vo

    ajudar a divulgar o que se passa: Morais Pires est indiciado no

    caso Monte Branco por ter comprado aces da EDP e da REN

    durante a privatizao; Salgado recebera uma comisso de 8,5

    milhes do construtor Jos Guilherme que o levou a corrigir portrs vezes a declarao fiscal. Aps as notcias, o presidente do

    BES veio garantir: Nunca fugi aos impostos. Momentos

    depois, aparece a PGR a esclarecer que Salgado no era

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    suspeito, nem havia indcios data para lhe imputar prtica de

    ilcito fiscal.

    Proena de Carvalho, advogado de Salgado, tenta evitar

    surpresas. E, para se precaver das perguntas do supervisor sobre

    a comisso paga por um cliente do BES, enviou para o BdP uma

    interpretao: afinal, os fundos que deram origem correcofiscal no derivam de uma comisso, mas de uma liberalidade,

    ou seja, de um presente oferecido pelo construtor. Tese que o

    advogado passou a repetir.

    4 de Fevereiro.No BdP, o tema esvaziava-se. Dado que

    Salgado liquida as dvidas ao fisco, deixa de haver potencial

    crime de evaso fiscal. Um banqueiro a receber comisses de

    clientes? O PBLICO vai revelar neste dia que o supervisorpediu explicaes a Salgado e que a questo incomoda quadros

    da instituio para quem as trs correces fiscais constituam

    uma possvel confisso de que sistematicamente omitiu de

    forma deliberada os juros e as mais-valias apuradas no exterior

    espera das amnistias fiscais que acabaram por ser decretadas.

    O BdP toma, ento, uma iniciativa surpreendente. Par