crónica do fim do império - pÚblico
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CRISTINA FERREIRA
deteno para interrogatrio neste Vero do ex-presidente do BES, Ricardo Sa
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PUB (PUBLI
A histria inclui tambm um
psicodrama: um procurador a reunir
os fios das vrias meadas; um Banco
de Portugal (BdP) hesitante em atacar
eficazmente os problemas que iam surgindo;
e um governo que para escapar s crticasassociadas nacionalizao do BPN se
mostrava desinteresasdo em intervir; e um
primeiro-ministro e uma ministra das
Finanas que, ao no actuarem a tempo com
as armas todas por no perceberem ou por
no quererem perceber , no evitaram a falncia de um grupo
de expresso internacional ancorado no segundo maior banco
privado.
O castelo de cartas desmoronou-se. Mas o que levou ao colapso
no foi a guerra entre primos, as falhas de regulao ou a
ausncia de empenho do executivo. Foram os erros de gesto, as
irregularidades, a falta de compreenso, por parte de Ricardo
Salgado, hoje com 70 anos, de que o tempo mudara com a crise
e j no tinha dinheiro para preservar a influncia. Atrs de siarrastou a maior operadora de telecomunicaes, com gestores
apanhados na rede dos interesses do accionista BES e no nos
da empresa. uma histria com diferentes leituras e muitos
protagonistas a tentarem fazer passar as suas verses. Que se
conta pelos detalhes.
Para perceber como se gerou uma bola de neve que ningum
conseguiu controlar, a Revista 2 ouviu vrias personalidades,
coligiu muitos dados e consultou mltiplos documentos. E todas
as informaes deste texto tm por base testemunhos directos e
verificveis recolhidos junto de fontes, que aceitaram
identificar-se ou no. Ricardo Salgado declinou falar com a
Revista 2 e no respondeu s questes que lhe foram dirigidas
por email, por estarem em segredo de justia. Jos Maria
Ricciardi escusou-se a ser entrevistado. O Banco de Portugalremeteu para declaraes pblicas onde explica que tudo fez
para garantir a sustentabilidade do sistema financeiro.
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economia cresce, o processo de privatizaes do sector
financeiro chega ao fim, os mercados internacionais
revelam dinamismo. Mas o novo sculo ir colocargrandes desafios: a moeda nica europeia estava a rolar,
a China j no era um drago adormecido, o preo do petrleo
iniciara uma trajectria de subida imparvel. E Portugal estava
prestes a ficar anmico.
7 de Junho de 1999. O grupo espanhol Santander anuncia que
vai comprar 40% da holding seguradora Mundial Confiana
(BPSM/CCP/Totta), dominada por Antnio Champalimaud,
sem ter a autorizao prvia do Governo que a lei exigia. O
ministro das Finanas Sousa Franco acusa o banco espanhol de
se ter articulado com o industrial para enganar o Estado
portugus e veta a operao.
18 de Junho. O brao-de-ferro entre Sousa Franco e Emilio
Botn, presidente do Santander, abre espao a um ataque doBCP, ento liderado por Jorge Jardim Gonalves, que lana uma
OPA sobre o grupo de Champalimaud. Ao bater-se pela partilha
do esplio do industrial, o BCP, que j absorvera o Banco
Portugus do Atlntico e o Banco Melo, pretende garantir o
primeiro lugar do ranking da banca privada. Conta-se que o
presidente do BES, Ricardo Salgado, estava em Lausanne num
encontro familiar e, ao ser informado, se sentiu mal. O passo
exige-lhe uma aco. E num contacto com Artur Santos Silva,
presidente do BPI, abordaram uma fuso.
17 de Janeiro. Na sala do Hotel Ritz para onde entram RicardoSalgado e Artur Santos Silva, o ambiente no de festa, apenas
cordial. A concentrao bancria pode mudar a configurao do
sector. Se vingar, o BES e o BPI passaro a deter,
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respectivamente, 59% e 41% do denominado BES.BPI, que ser
lder.
Em processos de concentrao, a tendncia irresistvel: cada
uma das partes pensa que pode dominar a outra. O BES
confiava que ia amarrar o BPI pois era maior, enquanto o BPI,
por se julgar mais profissional, acreditava que ia influenciar econdicionar a sua estratgia. Quando as equipas dos bancos j
estavam no terreno a ultimar a fuso, surgiram os primeiros
equvocos.
6 de Maro.Em declaraes aoDirio de
Notcias, Ricardo Salgado d a entender que
a designao BPI para cair: A marca
BPI jovem, no tem a notoriedade doBES. A frase gera mau clima no parceiro.
Trs dias depois, a 9 de Maro, o
vice-presidente do BPI, Fernando Ulrich,
reage em entrevista ao PBLICO: No
estou disponvel para um projecto Esprito
Santo. Considero, alis, que a fuso pode
trazer muito mais valor para os dois gruposdo que um projecto apenas Esprito Santo. Mas uma famlia
como a Esprito Santo dificilmente aceitaria acrescentar outro
nome ao seu. Ento, numa segunda ronda negocial, Salgado e
Santos Silva acordam dar mais poder ao BPI, o que no vai ser
aceite pelo Grupo Esprito Santo (GES).
26 de Maro. Um domingo. A famlia Esprito Santo foi
sempre uma estrutura de aritmtica difcil e o seu conselho
superior, que rene os cinco ramos, uma caixa negra. Salgado
adepto da fuso, mas ter o poder absoluto? Com a entrada de
investidores, como o Banco Ita e o La Caixa, no universo do
GES, os primos deixavam de ser dominantes. H outra questo:
o estilo de governao teria de mudar. O que, na prtica, se
traduzir, entre muitas outras coisas, na alterao do esquema
remuneratrio generoso (dividendos e salrios) que protege osmembros Esprito Santo. No dia seguinte, Salgado, indicado
para ser o CEO, telefona a Santos Silva (que colocava reticncias
concentrao), que ficaria chairman, e diz-lhe: o BES no
(http://imagens9.publico.pt/imagens.aspx
/880089?tp=UH&db=IMAGENS)
Salgado e Santos Silva no dia do encontrono RitzADRIANO MIRANDA
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assina o acordo.
Na opinio do ex-ministro das Finanas Eduardo Catroga,
colega de Salgado na Faculdade de Economia do Quelhas, em
Lisboa, a aproximao do BES ao BPI no s visava contrariar
o peso crescente do BCP, mas tambm libertar o banco e os
negcios da presso da famlia e da dependncia dos seusinteresses. Na altura, diz, j era possvel detectar deficincias
no modelo de governao, pela escolha dinstica do chairman
do GES [Antnio Ricciardi, hoje com 90 anos], que quem deve
representar o equilbrio do poder. Por isso, o actual chairman
da EDP (Catroga) defende que no possvel compreender o
que se passou sem olhar a dois factores estruturais: o facto de o
GES ter renascido no estrangeiro depois do 25 de Abril,
associado credibilidade do nome, e ter-se endividado para
comprar o BES e a Tranquilidade. Trinta anos depois, o peso da
dvida continuar a persegui-los.
Foi a partir de 2000 que Salgado iniciou uma estratgia
tentacular junto do poder poltico e econmico? Catroga
responde: Essa viso redutora. No passa de umfeeling. Mas
a verdade que esse foi o ano que marcou a ascenso dobanqueiro. E tambm o fim de um grupo com quase 150 anos.
29 de Maro.Para ganhar quota de mercado e esgotada a via
da fuso, o banqueiro tem agora pela frente um caminho
estreito: o crescimento orgnico. O que exige mudanas nas
estruturas de governao do BES, que passam a integrar uma
maioria de gestores e directores independentes recrutados fora
da famlia. Data da poca a criao de um gabinete de imprensa
que vai ser muito til para a afirmao pessoal do banqueiro.
Nos anos seguintes, Salgado conquistar crescentemente uma
aura de infalibilidade que o tornar uma figura dominante na
sociedade portuguesa. O estilo de exerccio do poder ajuda:
raramente levanta a voz; os nos so em regra suaves. E ainda
por cima apresentar-se- com xito.
Vero de 2000. Remonta a Agosto o primeiro grande
confronto com Pedro Queiroz Pereira (P.Q.P.), presidente da
Semapa. O industrial accionista do GES e lana uma oferta
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pblica de aquisio (OPA) sobre a Cimpor e, em vez de
procurar financiamento junto do BESI, foi ter com o Santander.
A equipa de Salgado leva a mal e vai ajudar a que a cimenteira
fosse antes parar Teixeira Duarte. Ora, o industrial tem o seu
feitio e os insultos aparecem.
A disputa est ao rubro quando Patrick Monteiro de Barros,administrador da Esprito Santo Financial Group (ESFG)
(holding da famlia com a posio directa no BES), oferece uma
recepo na Quinta Patino, pertena do GES. Conta quem
assistiu: A certa altura, o Pedro [P.Q.P.] entrou e vendo o Ia
[como Ricciardi conhecido entre os amigos] foi falar com ele:
Vocs [ES] so inconcebveis! O ainda administrador do BESI
argumenta: No altura para discusses. Mas o industrial
teima: Sim porque vou vender a minha posio no grupo.
Ricciardi rebate: p vende, vende O que aquece o dilogo:
Esse [Salgado] um No tinha completado a frase, j o
outro estava a protestar: p no fao aqui mais nada para no
estragar a recepo do Patrick e nunca mais te dirijo a palavra
at me pedires desculpa. Quem presenciou lembra que o Ia
abandonou o recinto de cabea perdida e o Pedro no se calava.
Antes de sair, Ricciardi comenta para um amigo: Vou-meembora com o estmago a dar voltas.
Dias depois, Ricciardi janta num restaurante em Cascais,
quando entra P.Q.P., que se lhe dirige. S que o administrador
do BESI via ainda em Salgado um mentor e deixa-o de brao
estendido. O episdio repete-se outra vez, noutra ocasio. Como
os dois so impulsivos e da mesma gerao, no fazemcerimnia. Ricciardi volta-se para o industrial e diz: p ainda
no percebeste? que eu no te falo, no te falo mesmo. Vo
passar trs anos at que o diferendo fique sanado.
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2 de Novembro. O tenente-coronel Lus Silva vende a
participao de 58% na Lusomundo [que possua oDirio de
Notcias, oJornal de Notcias, a TSF, 170 salas de cinema]
Portugal Telecom (PT). A PT classifica o negcio de estratgico e
paga 267 milhes de euros. A venda assessorada pelo BESI e
nela participam Manuel Serzedelo, presidente, e Salgado. Logoa j se ouve muito sururu, pois o valor de compra classificado
como absurdo, dado o interesse reduzido que o activo tinha
para a PT.
31 de Dezembro.Atravs da Esprito Santo Control, onde os
ramos da famlia esto representados, o grupo domina, com
recurso a um esquema de cascata de holdings, as duas reas:
financeira (BES e Tranquilidade) e no financeira (Comporta,
Portuglia, Hotis Tivoli, propriedades na Amrica Latina). Esta
estrutura permite controlar a jia da coroa (o BES) com uma
reduzida posio (5%) face ao efectivo poder que tm no banco.Para aliviar o esforo da famlia em termos de endividamento,
todos os anos so atrados para as holdings novos accionistas. O
BES vai aumentar o capital em 500 milhes.
(http://imagens3.publico.pt/imagens.aspx/880083?tp=UH&db=IMAGENS)
Jos Maria Ricciardi, presidente do BESIMIGUEL MANSO
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Pouco depois, Margarida Queiroz Pereira, em guerra com os
irmos, Pedro e Maude Queiroz Pereira, assumiu cerca de 3% da
ESFG (dona do BES), parte com crdito do banco e parte com o
fruto da venda das suas aces da Semapa a trs offshores
representadas pelo BES. O episdio foi j revelado pela Revista
2 [22/12/2013]: ao manter segredo sobre a real titularidade das trs
sociedades, que sempre pertenceram ao GES, Salgado vai alimentar umcaldo de desconfiana entre parceiros. E, em 2013, culminar na sada
do GES da Semapa e da Semapa da ESFG.
Este o ano em que o BES cria uma extenso financeira a
Angola: o BESA. A aposta bvia seria Carlos Silva, mas Salgado
optou por entregar a presidncia [do BESA] ao lvaro Sobrinho.
Os dois so tecnicamente muito bons, no h dvida. Mas o
Sobrinho e o Salgado tinham as suas agendas que convergiram
durante anos, recorda um ex-colaborador do BESA, onde
Sobrinho, Carlos Silva e Ricardo Salgado so accionistas a ttulo
individual. O actual vice-presidente do BCP, Carlos Silva, hoje frente do angolano Banco Privado Atlntico, ser considerado,
em 2014, peloJornal de Negcioso 34. mais poderoso da
economia portuguesa. J Sobrinho est a braos com problemas
na justia.
27 Maro. Joo Rocha, ex-presidente do Sporting e ex-quadro
do BES, anda s turras com Salgado. E escreve uma carta aos
accionistas do banco e aos da PT Multimdia (de que era
investidor) a chamar a ateno para operaes pouco
transparentes resultantes de financiamentos mistrio de 7,5
milhes de euros a trs companhias nas ilhas Caimo, com um
capital ridculo de cerca de 30 mil euros. O BES argumenta que
os movimentos decorrem ao abrigo da superviso do Banco de
Portugal (BdP).
Por detrs das disputas, esto sempre interesses. Neste caso,
est um emprstimo antigo concedido pelo BES para Rocha
comprar um palacete na Rua de So Bernardo Lapa, em
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Lisboa. O banco reclama um crdito de 2,97 milhes de euros,
mas o sportinguista contrape com 1,665 milhes de euros. O
desacordo arrasta-se e, a dada altura, Rocha foi ter com Joe
Berardo, cliente e accionista do BES: Podes arbitrar um acordo
com o Salgado? O amigo indaga: Qual o teu preo? De
seguida, Berardo procura o banqueiro: Isto uma chatice para
vocs. Mas, para o Rocha retirar as providncias cautelares[sobre o banco], compram-lhe as aces do BES e incluem no
negcio a dvida da casa. Ao PBLICO, Berardo confirmou que
foi intermedirio, mas nada mais pode dizer por estar sujeito
a confidencialidade.
Enquanto o acordo no assinado, Rocha bombardeia o BdP e a
CMVM com informao a queixar-se de que o BES se recusa a
explicar os contornos pouco transparentes do negcio de
compra e venda dos prdios do Marqus de Pombal, assinado
com a Iberviso, que se supe ser do senhor Vtor Santos, o
construtor benfiquista com o petit nom Bibi, scio de Jos
Neto, gestor do Banco Internacional de Crdito (BIC), do BES.
Sempre houve grande vizinhana entre a
indstria de beto e o BES, que chega a teruma agncia no Saldanha dedicada apenas a
servir clientes construtores das zonas de
Lisboa e de Sintra. A ligao vai acentuar-se
nos anos seguintes e revela-se, alis, com a
crise econmica, um detonador dos problemas financeiros do
grupo. Em 2013, o banco foi obrigado a registar 1,423 milhes
de euros de provises para fazer face s imparidades de crdito(perdas potenciais por financiamentos na rea imobiliria).
Esta uma poca de caadas em herdades alentejanas, como a
do construtor Jos Guilherme, que juntam alguns banqueiros,
advogados, polticos, dirigentes de clubes de futebol. Ricardo
Salgado participa, pois o seu relacionamento com Jos
Guilherme era de casa. Tambm vo Jos Neto, Jos Manuel
Esprito Santo, administrador do BES, ou o sportinguista SousaCintra e o benfiquista Lus Filipe Vieira.
6 de Abril. Jos Manuel Duro Barroso eleito para chefiar o
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Governo. O que remete para uma cena ocorrida trs anos antes.
hora de almoo, no restaurante Pabe, em Lisboa, coincidiram
na mesma sala, por mero acaso, jornalistas do PBLICO, da SIC
e de O Independente. E ainda donos de duas agncias de
comunicao. O ex-ministro das Finanas Sousa Franco estava
acompanhado do ex-director-geral do Tribunal de Contas Jos
Farinha Tavares e andava irritado com Antnio Guterres que osubstitura por Pina Moura, na sequncia do veto venda do
controlo da Mundial Confiana ao Santander.
Sousa Franco era surdo de um ouvido, falava alto e tinha o seu
qu de extrovertido. Depois de classificar o governo
remodelado de Guterres como o pior desde o de Dona Maria,
considerou com desdm: Duro Barroso o homem do BES de
quem recebe uma avena [e ainda carro e motorista] e foi s
custas do banco que foi para os EUA tirar o doutoramento que
nem concluiu. O Independente fez manchete da conversa.
10 de Julho. O BES anuncia que investiu dois milhes de euros
para patrocinar o Benfica, o Porto e o Sporting. A deciso foi
precedida de um debate na comisso executiva do BES volta
do posicionamento no negcio futebolstico que , por natureza,meditico. O ex-gestor Jos Manuel Esprito Santo relata a um
grupo de amigos: A rea de comunicao do banco quis apostar
no futebol, mas estavam todos contra por ser muito caro e
porque teriam de patrocinar o Sporting, o Benfica e o Porto. O
director contraria-os: Os benefcios de imagem vo ultrapassar
em muito os custos, quando passarmos a patrocinar a seleco
nacional. Ento, Salgado delibera: Ou apoiamos todos ounenhum. E apoiaram todos. Em 2013, os analistas admitiam
que a dvida ao BES dos trs principais clubes de futebol
(Benfica, Sporting e Porto) era de 215 milhes de euros.
Final de 2002. Quando a CMVM comea a investigar o
ex-presidente do BESI, Manuel Serzedelo, por participao em
negcios paralelos ao banco, Ricciardi, ainda administrador, v
uma aberta para o substituir. Mas Salgado defende Serzedelo.Um ex-quadro do BESI lembra-se que Ricciardi, ainda
administrador do BESI, foi pedir a ajuda de um amigo com
pontes na comunicao social. Verso que este nega. Seja como
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for, o tema chega s primeiras pginas dos jornais.
17 de Janeiro. Uma sexta-feira. OIndependenteavana queSerzedelo, que tambm administrador da PT e do BES, deu
ordens de compra de meio milho de aces da PT Multimdia.
O negcio gera uma mais-valia de cerca de 1,5 milhes de euros
ao vendedor, a Companhia de Cervejas Estrela, de que Serzedelo
accionista e tambm gestor. Na sequncia da polmica,
Serzedelo anuncia que se afasta de todas as empresas, e Jos
Maria Ricciardi eleito presidente do BESI.
PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP
Janeiro. O BES estava a tornar-se um plo de atraco de
interesses empresrios, financeiros, polticos. E os centros de
poder geram conivncias e laos de solidariedade. O mandato
presidencial de Jorge Sampaio vai concluir-se a 9 de Maro de
2006 e nos corredores polticos correm rumores de que SantanaLopes planeia avanar. tempo de encontrar um candidato.
Quem melhor do que o ex-colaborador do banqueiro, Duro
Barroso, agora em So Bento, para debater o tema? Ento,
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Salgado convida o ainda primeiro-ministro e a mulher,
Margarida Sousa Uva, para um jantar na casa de Cascais, que
estende a mais dois casais: Anbal e Maria Cavaco Silva e
Marcelo Rebelo de Sousa e Rita Amaral Cabral, que viria a ser
administradora no executiva do BES. Salgado justifica o
encontro como um jantar privado de casais com laos de
amizade.
15 de Janeiro.As multinacionais e as grandes empresas tm
uma prtica de oferecer viagens aos media, o que gera um
ambiente informal favorvel a passar mensagens que
interessam. Entre Salgado e a comunicao social sempre houve
uma empatia recproca. Salgado gostava de falar atravs dos
jornalistas, os jornalistas viam nele o poder. Se necessitava de
enviar recados, o banqueiro promovia encontros em locais
inesperados. Um deles decorre em Megve, nos Alpes franceses,
onde fala da tentativa de concentrao com o BPI: No se
concretizou devido ao grande peso que o La Caixa (16%) tinha.
No somos ingnuos e percebemos o risco. Observaes
reproduzidas na imprensa do dia seguinte.
Ora, Fernando Ulrich, do BPI, no tinha, evidentemente,digerido a reviravolta da fuso com o BES e, de Lisboa, replica:
Foi o BES, e no o BPI, que rompeu as negociaes. Nem
temos nada a aprender com o dr. Ricardo Salgado em matria
de independncia da gesto, de apoio a centros de deciso
nacional e de obteno de mais-valias por vendas a
estrangeiros. Salgado e Ulrich vo nos anos seguintes
protagonizar fortes embates pblicos.
Mas o dado relevante decorreu margem do encontro com os
jornalistas. Trs anos depois da zanga, em Lisboa, P.Q.P. est ao
telefone com Ricciardi, em Megve. O industrial quer pedir-lhe
desculpa pelo episdio ocorrido na Quinta Patino e reatar
relaes. Dias depois, j em Lisboa, frente a frente, o presidente
do BESI intui uma coisa extraordinria: Apesar de o meu
primo [Salgado] saber do que levara ao corte, continuou a falarcom o Pedro como se nada fosse.
10 de Fevereiro. Chega a hora de a gerao na casa dos 40
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anos (entre muitos outros, o ministro da Economia Antnio
Pires de Lima, Jos Maria Ricciardi, Fernando Ulrich) disputar
o topo das empresas. Organizam, ento, uma iniciativa
meditica no Convento do Beato, a que do o nome
Compromisso Portugal. O evento neoliberal marca o incio do
discurso poltico que passa a veicular a tese de que o interesse
pblico se esgota no interesse dos contribuintes.
Maro. Neste ms, o novo presidente do BESI tem o seu
primeiro embate com o primo direito, ambos filhos das duas
irms herdeiras de Ricardo Esprito Santo Silva: Salgado tem 59
anos, Ricciardi 49. O choque d-se logo que o mais novo aparece
a conceder a sua primeira entrevista como sucessor de
Serzedelo. questo colocada pelo PBLICO como v o
facto de o seu nome ser referido como sucessor de Salgado?
responde em linguagem futebolstica: Como gosto muito de
futebol, digo que em equipas ganhadoras no se mexe. Temos
um grande presidente [Salgado], [] se no mesmo o melhor
banqueiro do grupo desde sempre, tendo elevado o BES ao mais
alto nvel []. Espero, por isso, que ele se mantenha frente do
grupo durante muitos anos.
No dia seguinte, Salgado chama-o a sua casa, em Cascais: p,
no sei se sabes que o Z Neto presidente do BIC, o Z Manuel
do BES Espanha, e nenhum deles d entrevistas, apesar de
serem presidentes. A nica pessoa aqui que concede entrevistas
sou eu. Tu no podes comear a dar entrevistas. Ricciardi
contra-ataca: Podes ter a certeza de que vou continuar a dar
entrevistas. E sabes porqu? Porque as pessoas querem saber aminha opinio sobre os problemas do pas, no s sobre o BES
ou o BESI. Ricciardi reclama junto do PBLICO por lhe ter
sido atribudo, erradamente, 50 anos se tinha 49.
Num contacto com o PBLICO, pouco depois, Ricciardi envia
ao chefe novo recado: Nesta famlia sempre houve grande
colegialidade e escrutnio, e as pessoas quando chegam a uma
certa idade o que querem que os mais novos os substituam,puxando por eles e motivando-os. E vo fazer aquilo de que
mais gostam, o que visto como um prmio.
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Angola cresce a dois dgitos. Salgado quer apostar no BESA, mas
a estratgia gera atritos, pois a parceria histrica do GES com
a Escom, com sede nas Ilhas Virgens Britnicas, onde detm
67% do capital. A empresa presidida por Hlder Bataglia (33%)
tem influncia e notoriedade e -lhe concedida a condio de
canal diplomtico entre Angola e China.
Em 2004, o consultor Miguel Horta e Costa anda entretido a
estudar o tema das contrapartidas: ajudar os vendedores de
equipamento militar a estruturar as ofertas ao Estado
portugus. E foi ter com o irmo, Lus Horta e Costa, gestor da
Escom. Para o convencer, diz-lhe: H aqui um bom nicho de
mercado.
21 de Abril. E mal o ministro da DefesaPaulo Portas valida a compra dos dois
submarinos para a Marinha portuguesa
empresa alem German Submarine
Consortium, j a Escom, do GES, aparece a
assessorar o consrcio alemo, cobrando
cerca de 3% sobre o valor total da venda dos
submarinos: 769 milhes de dlares. A comisso serclassificada como excessiva, dado o trabalho prestado pela
Escom. H outra iniciativa simultnea de Portas a gerar rudo: o
Governo assina um contrato de financiamento (para o Estado
pagar os submarinos aos alemes) com um consrcio bancrio
formado pelo Credit Suisse e pelo BES. O GES est, deste modo,
dos dois lados do negcio. Os alemes impem ainda que o
contrato seja carimbado com uma entidade europeia, o queobriga a Escom a criar a Escom UK. Esta transaco vai levar a
prises na Alemanha e, em Lisboa, a uma polmica comisso de
inqurito parlamentar, encerrada, em Outubro de 2014, de
forma apressada pelos dois partidos do Governo: PSD e PP.
17 de Julho. Duro Barroso substitudo por Santana Lopes
como primeiro-ministro, o que vai dar origem a um perodo de
grande turbulncia. A partir daqui, o director Amlcar MoraisPires recrutado para a comisso executiva do BES e assume-se
como brao direito de Salgado com o pelouro financeiro. O que
deixa para trs o at a CFO, Manuel Pinho (menos permevel a
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Salgado), chutado para o BESI, onde j era vice-presidente no
executivo. Ora, Pinho reage encostando-se poltica e aparece
no PS com a proposta do plano tecnolgico, o que, falta de
ideias partidrias, depressa se torna a bandeira.
A meio da dcada, no no BES, mas no BCP que se concentra o
verdadeiro ncleo do poder financeiro e poltico. O presidenteJardim Gonalves no gosta do economista Antnio Borges,
sentimento partilhado por Ricardo Salgado, a quem Borges
lana farpas em pblico. O episdio que se conta em seguida a
prova de como, muitas vezes, difcil ir contra a opinio de um
banqueiro.
A Caixa Geral de Depsitos o principal banco portugus e o
poder do seu presidente grande. Se o Governo deixa e a gestoquer, a CGD pode ser o farol em termos de disciplina e de boas
prticas. Um moderador da concorrncia. O ministro lvaro
Barreto, em nome de Santana Lopes, convida Borges para
presidir CGD, que responde: O convite atrai-me
profissionalmente.
Setembro. Borges est em Bruxelas quando Barroso, jpresidente da Comisso Europeia, o avisa: Vai ter uma surpresa
assim que chegar a Lisboa, eles [Governo] no vo confirmar o
convite para a CGD. Semanas depois, Borges vai jantar ao BES
a pedido de Salgado, que o informa de que os membros da
Associao Portuguesa de Bancos se opem ida dele para a
CGD, incluindo o BES. O banqueiro no precisava de ter dito
nada, mas fez questo de mostrar uma posio.
25 de Setembro. Pouco depois de ser eleito secretrio-geral do
PS, Jos Scrates indica Manuel Pinho como porta-voz para a
Economia e confia-lhe a elaborao do programa eleitoral. O
vice -presidente do BESI comunica a Salgado a inteno de
aceitar, mas este diz-lhe: melhor no. Arrepende-se. noite,
o banqueiro liga-lhe de volta e d-lhe fora para avanar. Ao
mesmo tempo, no PSD, as funes de porta-voz da Economiatinham sido entregues ao deputado Miguel Frasquilho, do
gabinete de estudos ES Research, e subordinado de Pinho. Os
dois trocavam informaes nos corredores do BESI, recorda
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quem ali trabalha ainda. O grupo sai sempre vencedor.
3 de Outubro,um domingo. Com muitas polmicas a rodear a
aco de Santana Lopes, as intervenes de Marcelo Rebelo de
Sousa na TVI so de terra-queimada, o que incomoda o chefe do
Governo. Marcelo critica a deciso do executivo de dar
tolerncia de ponto aos funcionrios pblicos, por reflectir opior do pior de Antnio Guterres. Foi a gota de gua que
entornou o copo de Santana, que pede ao ministro dos Assuntos
Parlamentares, Rui Gomes da Silva, que elabore consideraes
sobre o comentador.
4 de Outubro. Gomes da Silva declara publicamente estar
revoltado com um comentador que tem um problema e
apontou para o facto de sob a capa de comentrio polticotransmitir sistematicamente um conjunto de mentiras sobre
Santana com desfaatez e sem qualquer vergonha.
5 de Outubro. O comentador sem vergonha remete para
domingo a resposta ao ministro. Marcelo Rebelo de Sousa e Rita
Cabral vo, nesta noite, jantar a casa de Salgado com o
presidente do Bradesco, accionista do BES. Quando Marcelosaiu, o banqueiro j sabe que ele se prepara para romper com a
TVI. S desconhecia o timing. Os acontecimentos vo
precipitar-se.
As conversas nos bastidores polticos ajudam a compreender
como se movem interesses. No dia seguinte, Salgado est em
So Bento a debater com Santana Lopes o negcio de venda da
Galp, disputado pelo GES. Pelo meio, o banqueiro avisa-o de
que Marcelo pode estar de sada da TVI, o que deixa Santana to
nervoso que lhe pede que se torne o facilitador do consenso
entre os dois. Mas enquanto decorre a conversa, j Marcelo
batera com a porta da TVI. E com estrondo. Santana ser
acusado de interferncia nos media.
22 de Dezembro. Jorge Sampaio convoca eleies legislativaspara 20 de Fevereiro. E a 29, a Escom UK recebe o primeiro
pagamento de 24 milhes de euros da Man Ferostaal [do
consrcio alemo que vendeu os submarinos ao Estado].
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Nas vsperas da passagem de ano, ocorre um episdio que se
converte numa saga judicial com vrios incidentes interligados.
A lei exige s entidades bancrias que comuniquem operaes
suspeitas. Seguindo esta orientao, um gestor de agncia do
BES participa ao Ministrio Pblico ter detectado 115 depsitos
em numerrio no valor de pouco mais de um milho de euros. O
cliente que os movimentara era o responsvel pelas finanas doCDS-PP, o empresrio Abel Pinheiro, que a partir dali fica sob
escuta. E contamina um grupo alargado de interlocutores,
muitos deles do CDS-PP, como Lus Horta e Costa, da Escom, e
o ento ministro do Ambiente e do Ordenamento do Territrio,
Nobre Guedes. Os trs falam muito e com muita gente.
No incio deste ano, o caso das contas-fantasma de Augusto
Pinochet abertas no BES Miami e no BES Caimo est na
agenda do Senado norte-americano. Washington queixa-se de
que o BES coloca dificuldades ao acesso informao pedida
sobre os movimentos do ditador chileno. As queixas incendeiamo discurso da esquerda portuguesa, que reclama transparncia
na divulgao dos dados.
16 de Fevereiro. O Governo j no est em funes plenas
quando um despacho conjunto dos ministros da Agricultura,
Pescas e Florestas (Costa Neves), do Ambiente e do
Ordenamento do Territrio e do Turismo (Telmo Correia)
reconhece a imprescindvel utilidade pblica de um
empreendimento turstico na Herdade da Vargem Fresca, a
executar pela Portucale, do GES. A deciso possibilita empresa
o abate de 2605 sobreiros e potenciar o investimento.
24 de Fevereiro.Jos Scrates eleito
com maioria absoluta. Manuel Pinho quer
ser ministro. De preferncia das Finanas.Se h uma parte genuna no desejo, por
acreditar que as suas ideias fazem a
diferena, h tambm um entusiasmo de
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principiante. E depois de Scrates o
sondar para tutelar a Economia, Pinho
comunica ao presidente do BES a deciso.
Aps renunciar ao Governo, Pinho
regressa ao BES em 2009 como no
executivo e com um ordenado mensal
superior a 35 mil euros. Salgado pragmtico: sabe desenvolveruma agenda convergente com o poder poltico. O Governo vai
precisar de financiamento e de apoio para levar por diante os
seus projectos e o BES arranja solues, no coloca problemas.
vida de banqueiro.
10 de Maio. Na sequncia da denncia do gerente do BES, o
Ministrio Pblico desencadeia buscas Escom e tropea numa
minuta do despacho ministerial a caucionar o abate de
sobreiros. O documento est em cima da secretria de Lus
Horta e Costa e foi-lhe entregue por Abel Pinheiro. O que faz
adensar as suspeitas de que a deciso do governo PSD-CDS
PP foi negociada fora do Ministrio do Ambiente. Nobre
Guedes, Horta e Costa e Abel Pinheiro so constitudos
arguidos. Ao rol de dvidas das autoridades somam-se maisduas: a comisso milionria cobrada pela Escom ao consrcio
alemo que vendeu os dois submarinos ao Estado portugus
ter servido para pagar a polticos envolvidos na deciso? Os
depsitos em numerrio de Abel Pinheiro, tesoureiro do PP e
que desencadearam o processo Portucale , esto relacionados
com esta pista? As investigaes vo prosseguir durante os
prximos anos e dar ainda muito que falar. Por enquanto, noh concluses conhecidas.
20 de Maio. O tema Portucale est no centro do debate. O
PBLICO edita um trabalho onde desenvolve um retrato do
GES, nas suas vrias implicaes, polticas, empresariais e
financeiras. Um grupo capaz de influenciar os decisores na
aprovao de projectos que est a desenvolver, referindo-se ao
caso Portucale. E dedica na mesma edio uma pgina Escom,com o ttulo: A empresa instrumental do GES para os negcios
que no esto na praa pblica. Sem conhecimento prvio, na
mesma edio, o suplemento satrico Inimigo Pblico [estrutura
(http://imagens4.publico.pt/imagens.aspx/880084?tp=UH&db=IMAGENS)
Manuel Pinho d luz verde TAP paracomprar a Portuglia, a companhia area
do GES historicamente deficitriaDANIEL
ROCHA
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autnoma do jornal] faz manchete: Sobreiros foram torturados
antes de serem abatidos. No interior disserta: Quem sabe
sabe. Mas o BES no sabe nada. Preveja o seu futuro com o
BES Plano Poupana Cadeia. A equipa de Salgado v ali uma
concertao para ferir o bom nome do grupo e reclama junto da
administrao do jornal.
5 de Julho.A Escom UK recebe a ltima tranche, de 1,2
milhes, do bolo de 24 milhes de euros da comisso paga pelo
consrcio alemo. Para alm dos pagamentos a Bataglia, Pedro
Neto, Lus e Miguel Horta e Costa, a Escom transfere cinco
milhes para cinco contas pessoais abertas num banco na Sua.
Incio de Agosto. No Brasil,
investigam-se subornos a deputados.Depois de Miguel Horta e Costa (primo do
consultor da Escom), ex-presidente da PT e
vice-presidente do BESI, e de Antnio
Mexia, na qualidade de ministro das Obras
Pblicas, chegava a vez de Salgado ser
infectado pelo caso Mensalo, o maior
escndalo de corrupo do Brasil. Oempresrio Marcos Valrio conta que
organizou reunies com o BES Brasil e a PT
para libertar verbas para financiar o Partido dos Trabalhadores
(PT) no poder. Os gestores portugueses desmentem, o que no
evita esclarecimentos justia brasileira, que os ilibar anos
depois.
17 de Outubro. Elementos da Direco Central de Investigao
e Combate Criminalidade Econmica e Financeira da Polcia
Judiciria e da Inspeco-Geral de Finanas entram em quatro
bancos BES, BPN, BCP e Finibanco e nas instalaes do
GES na zona franca da Madeira. Est em curso nova
investigao do DCIAP, a que se d o nome de Operao
Furaco ainda a correr e que identifica uma fraude fiscal
superior a 280 milhes de euros, com 30 arguidos e 70processos.
Porm, a aco no constitui uma verdadeira surpresa para os
(http://imagens6.publico.pt/imagens.aspx/880076?tp=UH&db=IMAGENS)
Miguel Horta e Costa quando, em
Setembro, foi ouvido pela comisso deinqurito s contrapartidasMIGUEL MANSO
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quatro bancos. O presidente do BPN, Oliveira Costa, foi avisado
antecipadamente e no fim-de-semana anterior convocou
quadros para empacotar documentao relacionada com o
Banco Insular (ainda desconhecido das autoridades e que servia
para o BPN esconder prejuzos) e retir-la do banco. No
contexto do seu julgamento, o inspector tributrio Paulo Jorge
Silva, testemunha arrolada pelo Ministrio Pblico, consideraque a fuga de informao atrasa em dois anos a descoberta da
megafraude que j lesou o Estado em pelo menos 3000 milhes
de euros (a verba pode chegar ultrapassar 5000 milhes).
aqui que as vidas do procurador Rosrio Teixeira e do juiz
Carlos Alexandre se vo entrelaar com a de Ricardo Salgado.
Num prdio de Lisboa funciona a Esger, especializada em
servios de consultoria e suspeita de ajudar clientes do BES a
ocultarem um esquema de facturas falsas. O circuito atrai
pequenas e mdias empresas, nomeadamente construtoras, e
apanhado pela rede da Operao Furaco. A Esger pertence ao
BES, em parceria com o BIC e dois scios individuais: Ricardo
Salgado e Jos Manuel Esprito Santo Silva, ambos da comisso
executiva do BES. O BdP no v ali problema.
Portugal vive um quadro de crise, mas no a banca, que tem
acesso aberto aos mercados internacionais e compra o
dinheiro barato. Ter capacidade de emprestar dinheiro
essencial para um banco. E quanto maior o flego, maior a
disponibilidade para alargar a esfera de aco, em especial se a
economia (empresas e Estado) estiver descapitalizada. Um
banqueiro dispe de um trunfo: apoiar a empresa ou o Estado,ou negar a ajuda e criar obstculos.
entrada do ano, o BES j surfava na crista da onda com lucros
de 281 milhes a dispararem 85% face ao ano anterior. Salgadotornara-se um banqueiro superstar. Um dia recebe o presidente
de uma pequena e mdia empresa da rea da construo, no
outro senta-se ao lado de Scrates a promover os seus projectos
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ou anuncia um investimento numa grande empresa.
6 Janeiro.O BES apresenta-se como o novo accionista
estratgico da EDP. Dois dias antes, Manuel Pinho confirma
Mexia (seu colega no BESI) como presidente. O que leva
Salgado a avanar com uma estratgia tentacular em sectores
onde o Estado tem presena? Para alm dos dividendos,impunha o BES como o banco da empresa e o grande
intermedirio do Governo. A EDP e a PT do esse poder.
6 de Fevereiro.A Sonae lana a OPA sobre a PT e Salgado
ope-se. E foi procurar peas de xadrez. Dois jovens consultores
da Heidrick & Struggles, Nuno Vasconcelos (cunhado de um
quadro do BES, Bernardo Esprito Santo) e o espanhol Rafael
Mora, sabem bem onde esto os plos do novo poder e soatrados para a rbita do GES. A conjugao de vontades vai
unir Salgado a Vasconcelos e Mora numa aliana produtiva. A
ascenso meterica. E de pouca durao.
13 de Abril. Na sequncia da guerra accionista no BCP para
afastar Jardim Gonalves e do falhano da OPA hostil lanada
por este banco sobre o BPI, instala-se um grupo de bloqueio nomaior grupo financeiro privado portugus. Destacam-se os
nomes de Vasconcelos e de Mora. O ento CEO do BCP, Teixeira
Pinto, que ambos apoiam, e que se ope ao fundador, empresta
Ongoing 400 milhes para aumentar a posio na PT. O BES
disponibiliza 280 milhes. Houve quem interpretasse a
desestabilizao no BCP como uma forma de o BES ter poder
sobre o seu rival. Hoje, oito anos depois, Filipe Pinhal, ento da
equipa de Jardim Gonalves, assiste ao colapso BES com ironia:
Quem tudo fez para afundar o BCP e partilhar os despojos est
agora em risco de ver o BCP partilhar os despojos do BES.
A meio de 2006, a empresa do GES em
Angola era um pequeno estado dentro de
um Estado, com interesses em vrios
domnios: petrleo, diamantes, construo.E os projectos eram financiados pelo BESA,
de que Bataglia era administrador. A
Revista 2 apurou que, por essa altura, a
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pedido do presidente do BES, o construtor Jos Guilherme
adquire Escom, por 7 milhes de dlares, cerca de 30% das 3
Torres de Luanda em fase de construo. Mais tarde, e pouco
antes de a Escom comear a comercializar os andares, Jos
Guilherme revende empresa a sua posio, agora por 34
milhes. O nome de Jos Guilherme chega ao domnio pblico
quando Salgado divulgou que recebeu do construtor umacomisso presente, o que o levou a trs correces declarao fiscal
de 2011.
31 de Outubro.O Governo, atravs do ministro Mrio Lino
(que tutelava a Portugal Telecom e a TAP), aparece a dar luz
verde TAP para comprar por 140 milhes de euros a
Portuglia, a companhia area do GES historicamente
deficitria. A transaco vista pela oposio como tendo
tambm a mo do ministro da Economia, Manuel Pinho, e um
sinal do grande entendimento que se estabelecera, entretanto,
entre o banqueiro e o primeiro-ministro, Jos Scrates.
2 de Novembro. Quando a Guarda Civil espanhola, de coletes
fluorescentes, entra nas instalaes do BES Espanha, as
televises j l estavam. O raide visa apurar se proporcionaraaos clientes mecanismos financeiros para branqueamento e
evaso fiscal: o dinheiro ia para a filial do banco na Madeira e
regressava a Espanha, limpo, atravs de Frana e do
Luxemburgo. Os documentos na posse do juiz Baltazar Garzn
apontam para clientes recrutados na sociedade espanhola e a
aco policial mediatizada por o BES ser conhecido pelo
relacionamento com a famlia real.
7 de Maio.O ex-executivo da Union des Banques Suisses
(UBS) Bradley Birkenfeld declara-se culpado de conspirao
para defraudar os Estados Unidos, ajudando clientes do banco afugir ao fisco. Na sequncia, Birkenfeld torna-se informador das
autoridades e contribui para desmontar o mega esquema. A
aco ter, em breve, impacto em Portugal.
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Setembro.A crise de crdito espalha-se. Quem lhe d
importncia? Os mercados no se auto-regulam e no
funcionam na base da boa vontade e da tica. Nas cities
fazem-se investimentos imprudentes e h bancos com
dificuldades em saldar os compromissos. Com 150 anos, o
respeitado Lehman Brother de rating slido (AAA) afinal um
gigante com ps de barro, pois os gestores manipularam osnmeros para ocultar prejuzos e excesso de dvida. O filme
conhecido: o banco faliu. E em Portugal, entre Novembro e
Dezembro, o BPN e o BPP declaram-se insolventes e pedem
ajuda ao Estado. Scrates deixa cair o BPP e nacionaliza o BPN,
o que gera ondas de choque na oposio, que faz campanha
contra a deciso. A estatizao dever implicar um custo para o
Estado superior a 5 mil milhes de euros.
A crise financeira globaliza-se e alastra economia real. Esta a
poca em que Salgado apresentado como um gnio da
Finana. Aquele que reergueu e recuperou o prestgio de um
grupo centenrio. A ideia formatara-se na maioria dos cerca de
(http://imagens0.publico.pt/imagens.aspx/880090?tp=UH&db=IMAGENS)No meio da crise global, Ricardo Salgado apresentado como gnio da FinanaENRIC
VIVES-RUBIO
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400 membros da famlia, o que d ao chefe grande poder, poder
esse que a partir de certa altura pode ter exorbitado. Mas quem
liga? Os resultados iam chegando. E os primos dizem:
Ricardo, tu que sabes. E brincam: Ele [Salgado] gosta de
trabalhar, no tem passatempos e quando chega a sexta-feira
noite entra em depresso porque vai comear o fim-de-semana.
O banqueiro est habituado ao convvio social, mas, um
ex-colaborador de Ricardo Salgado observa que chegava ao
banco cedo e saa muitas vezes noite dentro, raramente era visto
fora do 15. andar, onde tomava as refeies. Mas no lhe
conhecem grandes distraces. O que no acontece com o primo
direito Ricciardi, que tambm vive em Cascais. No jardim,
construiu um lago onde cria carpas e tem gaiolas para procriar
canrios de competio. Um vcio de criana, que diz tirar-lhe o
stress, o que o remete para 1977, a viver no Brasil, quando
desfilou pela escola de Samba da Portela, entre operrios e
sapateiros.
A banca portuguesa apostara no financiamento em larga escala
aos seus clientes, contando com o fcil acesso aos mercados
interbancrio e de emisso de dvida, e de baixas taxas de juro.Mas o ciclo terminara. Em 2009, mais de metade da carteira de
crdito do sector estava sustentada em dvida contrada junto de
credores internacionais. O BES revela o maior desequilbrio na
relao crdito/depsitos (192%), logo a seguir ao Santander Totta
(215%). O Banco de Portugal recomenda um rcio no superior a 120%.
O tempo esgota-se para o cl Esprito Santo.
O BES tem pela frente um perodo crtico
que introduz uma exigncia de mudana
nos mtodos de gesto. Havia outras
solues, mas Salgado escolhe a fuga em
frente. O contgio dos interesses da famlia
ao BES acentuam-se depois de 2007, com a
crise financeira, quando deixou de ser
possvel manter o modelo de financiamentosustentado em dvida que seria paga com a
venda de activos, salienta Catroga, para quem Salgado
raciocinou sempre numa ptica patrimonial, em que o grupo se
Eduardo Catroga
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pode endividar, pois em certo momento vai fazer mais-valias
significativas e paga as dvidas. Mas devia ter privilegiado uma
perspectiva de rendimento e de libertao de fundos. Ainda
assim, defende que durante 20 anos teve sucesso e transformou
o BES num banco com uma quota de mercado significativa,
seguindo at crise financeira critrios rigorosos de gesto e de
solidez do balano.
A parte no financeira do GES fazia uma enorme presso para
continuar a expandir-se e, ainda que Ricardo procurasse pr
travo, no conseguiu, evidencia agora um quadro do BES que
declinou identificar-se. O Amlcar Morais Pires (ento CFO do
BES) passou a delfim e deixou-se envolver numa relao
promscua com o GES, adianta. Onde estava o pecado? No
excesso de dvida que foi sendo acumulada e nas operaes
ruinosas que engendravam para permitir esconder as
dificuldades. O grupo passa a ser jogador de casino: perde 10,
joga mais 10 para recuperar o investido e, depois de perder o
que tinha colocado, volta a pr em cima mais 10 E a certa
altura perde tudo. Parecia ter aderido ao esquema Ponzi
(investimentos em pirmide).
Por esta altura, j os operacionais das holdings do GES, que
reportam directamente a Salgado, se tinham dado conta da
embrulhada. H facturas por pagar. As contas da ESI vo ser
manipuladas para ocultar a situao descontrolada (a 30 de
Setembro de 2013 o passivo era de 5600 milhes). Em
entrevista aoJornal de Negcios(22/5/2014), Salgado remete as
culpas para o contabilista Machado da Cruz: O comissaire aux comptes
assumiu a responsabilidade dos erros. Perdeu o p no meio da situao.
OExpresso revelar em 2014 uma carta de Machado da Cruz a
garantir que Salgado, Jos Castella (controller financeiro),
Manuel Fernando Esprito Santo (Rioforte, holding no
financeira) e Jos Manuel Esprito Santo (BES) sabiam desde
2008 que parte do passivo (na altura 1300 milhes) no estava
nas contas, ainda que desconhecessem o valor. O recado claro. E Machado da Cruz foi recambiado para o Brasil.
Mas, para fora, o grupo ganha sempre. O que ajuda a mascarar
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os problemas. Se os prejuzos assustam, activavam-se os
veculos no financeiros Eurofins (onde estavam parqueados
negcios ruinosos), com sede na Sua, usados como banco
virtual (uma espcie de Banco Insular do BPN). A auditora
KPMG considerou, j este ano, que estas sociedades
sustentaram um esquema de financiamento fraudulento entre
as empresas do GES, o que levou o BdP a pedir esclarecimentoss autoridades helvticas. A suspeita que, via endividamento
da ESI junto de clientes do BES, possam ter sido desviados
fundos de 800 milhes de euros para tapar o buraco dos
Eurofins. Esta uma das matrias por esclarecer.
2 de Abril.ONew York Timesanuncia que os EUA esto a
investigar mais de 100 clientes da UBS por fuga ao fisco. O
banco chama alguns quadros a quem comunica que deixara de
haver condies para se manterem na instituio, mas
continuaro a trabalhar na sua esfera. No grupo esto Michel
Canals e Nicolas Figueiredo, gestores de conta de Salgado na
UBS, com quem Catarina Salgado (administradora do Banque
Prive), a filha do banqueiro, trabalhou na Sua.
Os dois suos reinventam-se rapidamente e criam uma novasociedade gestora de fortunas para se focar, nomeadamente, no
mercado africano. Nasce a Akoya com vrios scios: Canals
(20%), Figueiredo (15%), Hlder Bataglia (22,5%), lvaro
Sobrinho (22,5%), Jos Pinto (15%) e a advogada Ana Bruno
(5%). Como a conduo das operaes est centrada em Canals
e Figueiredo, quer Sobrinho, quer Bataglia, este agraciado em
2007 com a Ordem do Infante Dom Henrique, levam tempo adescobrir que Salgado e Morais Pires so clientes da Akoya. E
estes, por seu turno, desconhecem que h outros scios na
gestora para alm de Canals e Figueiredo. A ignorncia
possibilita a todos operarem sem reservas.
Setembro.As escutas desencadeadas em Dezembro de 2004 a
Abel Pinheiro continuam a produzir inquritos. A partir da
certido retirada do processo Portucale, o Ministrio Pblicoabre duas novas frentes: uma associada a facturas falsas
relacionadas com as contrapartidas dos submarinos; outra para
determinar quem so os titulares das cinco contas abertas na
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Sua na sequncia do negcio.
Ora a presso para encerrar investigaes
complexas, que exigem cooperao de
praas offshores, pode revelar-se prejudicial
se a tarefa apurar os factos. E vai comear
para o Ministrio Pblico uma saga depedidos s autoridades suas. Aos quais
no so dadas respostas, pois os advogados
dos receptores do dinheiro metem recursos
sucessivos para travar os esclarecimentos. E instalam-se novas
dvidas: esconderiam pagamentos ilcitos a polticos? Os
gabinetes de advocacia envolvidos na complexa transaco
receberam comisses e repassaram-nas para terceiros?
O que tem de to terrvel o segredo? As cinco contas abertas na
Sua, para onde a Escom transferiu cinco milhes de euros, da
comisso de 24 milhes, que recebeu do vendedor alemo dos
submarinos, pertencem aos cinco membros do conselho
superior do GES. S que Antnio Ricciardi, Salgado, Manuel
Fernando Esprito Santo, Jos Maria Esprito Santo e Mrio
Mosqueira do Amaral resistem a assumir a sua titularidade, algoque s faro, alis, j no Vero de 2013. Na altura, Salgado
reconhece ter havido um desvio para uma sexta entidade, fora
do universo do grupo, associada ao dossier, mas no divulga o
nome. Deixa apenas o sinal.
Outubro.O BES no um simples banco. uma espcie de
caixa de socorro. Na sua rbita gravitam pequenos grupos
familiares que formam uma rede de interajuda. E quando o
passivo da Ongoing se torna excessivo, 831 milhes, para
permitir rolar a dvida, o Montepio Geral empresta 50 milhes e
a PT mais 75 milhes. O BES, j se sabe, tinha uma relao
privilegiada com a empresa e ajudava quando era preciso.
Vasconcelos e Mora (administrador da PT) no esto dispostos a
ficar na fila de trs. E acham que vo dominar o mundo. Criamficheiros sobre pessoas, onde misturam fico com realidade.
Vem filmes a mais. Vou ao 15. falar com o Salgado, dizia o
presidente da Ongoing (com 2% da ESFG). Um dia, Vasconcelos
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foi almoar ao Ritz com um director de uma agncia de
comunicao e um gestor do Santander, a quem pede reforo de
financiamento. O administrador questiona: Qual a exposio
da Ongoing banca? Como no o convence, Vasconcelos
observa: Se voc me ajudar, eu deixo-o fazer parte do projecto
que tenho para o pas.
Dezembro.Cerca de 30 economistas assinaram um manifesto
a aconselhar Scrates a rever os grandes projectos de
investimento. Entre os signatrios, est Catroga. O curso de
1969 do ISEG celebra 40 anos com um jantar no Salo Nobre do
Quelhas, onde tem lugar uma conversa que ajuda a
compreender o que vai na cabea do banqueiro. Salgado convida
Catroga a sentar-se sua mesa e a meio envolvem-se num
debate acalorado. A crise o tema. Catroga menciona a
trajectria galopante do endividamento e defende que Scrates
deve suspender as grandes obras pblicas: TGV, novo aeroporto,
Parcerias Pblico-Privadas.
Salgado reage em defesa do Governo socialista: L ests tu com
essas teses tecnocrticas e contabilsticas. O Japo tem maior
nvel de endividamento do que ns. Catroga conta queargumentou: Mas o Japo deve aos japoneses, no dvida
externa. E ns corremos o risco de um dia os nossos credores
fecharem a torneira e temos aqui um problema de tesouraria.
8 de Maro. Quando responde s perguntas dos jornalistas,
Ricardo Salgado acaba as frases com um arrastar da voz: T, t
beeem? O PBLICO arrancava assim com novo trabalho sobre
a network de 400 empresas do GES e o seu poder excessivo.
De Salgado, Joe Berardo dizia: um banqueiro que tambm
um homem de negcio, que compreende muito bem os clientes
se lhe dizem que esto apertados [a necessitar de financiamentoou de renegociar a dvida] e percebe que as coisas no correm
sempre como se espera. O que hoje repete ao PBLICO:
Tenho grande considerao, at se provar que culpado. E no
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h dvida de que ele ajudou muito a indstria e as empresas.
28 de Julho.A PT vende 50% do capital
da operadora brasileira Vivo Telefonica
por 7500 milhes. O BES (incluindo
dividendos) encaixa 206 milhes de euros e
a CGD 151 milhes. Scrates exige umasoluo alternativa Vivo para garantir um
operador luso-brasileiro para o espao
lusfono. Braslia sugere a Oi, com
necessidades de consolidar uma estrutura
accionista que est muito endividada junto
do banco estatal brasileiro.
30 de Setembro.A PT aplica 4500milhes (do valor que sobra da venda da
Vivo Telefonica depois de fechar o negcio
da OI) pelos bancos accionistas: CGD e BES.
Ter cash uma prioridade para qualquer
banqueiro, sobretudo se carrega um grupo
endividado. E o grosso da tesouraria da PT
canalizado para a esfera do GES: 3118 milhes de euros (50,9%do total). Destes, 250 milhes foram para comprar ttulos de
dvida na ESI (onde j est nesta altura o buraco que vai
rebentar com o grupo). O presidente da PT, Zeinal Bava,
contraria assim pela primeira vez a prtica das aplicaes em
depsitos do banco.
Em Portugal as ms notcias sucedem-se. Os juros da dvida
pblica escalam os 7%. A banca est sem recursos para melhorar
os capitais prprios e cumprir o rcio de solidez de 9% at final
de 2011, que no BES rondava 8,1 % e tornava urgente novo apelo
aos accionistas (GES). A famlia est curta de capital e a vendada Escom avaliada pelo GES em 500 milhes de euros passa a
ser uma prioridade.
(http://imagens5.publico.pt/imagens.aspx/880055?tp=UH&db=IMAGENS)
Joe Berardo, um dos accionistas do BES
DANIEL ROCHA
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Salgado comunica a deciso a Hlder Bataglia (presidente e
accionista minoritrio da Escom), que abre conversaes com o
Estado angolano. Mas, como gosta de ter o controlo da
informao e de perceber tudo, afastou o Hlder das
conversaes, apesar de ser ele quem dominava o tema de
Angola e com boas relaes com o Governo, explicou uma fonte
ligada ao dossier. A parte angolana [o Estado] nunca foi aSonangol. O Estado tinha decidido comprar, mas no nomeou o
comprador. E Salgado esteve sempre espera que fosse
indicado um nome. S que o banqueiro j no pode esperar.
Como as dvidas da Escom ao BES j se cifram em mais de 500
milhes, a venda crucial, pois permite-lhe ir ao BdP dizer que
o vnculo Escom se eliminou. O que ter um efeito: reduzir as
necessidades de capital do BES.
Janeiro.Ento, perante o impasse, Salgado vai ter com lvaro
Sobrinho, do BESA, a quem pede ajuda para formalizar o
acordo. E anuncia publicamente que a Escom deixou de ter uma
relao accionista com o GES, ainda que continue a ser apoiada
pelo banco. No revela nem montantes nem o nome do
comprador. Para dar credibilidade, o BES deixa escapar que o
adquirente a Sonangol.
O contrato de promessa compra e venda assinado, no
escritrio de Lisboa da advogada Ana Bruno (scia da Akoya),
que representa a Newbrook, detida por Sobrinho. Na sala esto
Salgado, Bataglia e Manuel Vicente, o actual vice-presidente de
Angola, que estava frente da Sonangol, que no se associa a
nenhuma entidade. Semanas depois, saem de uma conta daNewbrook, no BESA (de que lvaro Sobrinho era presidente e
Bataglia administrador), cerca de 85 milhes de euros para
sinalizar o negcio da Escom. A partir daqui no foi realizado
mais nenhum pagamento. O negcio entrou em agonia e a
Escom em banho-maria.E vai criar confuso.
Fevereiro.No s com Salgado que Sobrinho se dava. Com o
presidente do BESI, cruzava-se no clube de Alvalade. Ricciardi,que leva a srio a paixo pelo Sporting, uma figura central com
influncia nos conclaves leoninos. Aps nova derrota frente ao
Paos de Ferreira, o ento presidente do Sporting, Jos Eduardo
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Bettencourt, recrutado no ncleo de Ricciardi, demite-se. O
vazio vai levar alguns sportinguistas (Ricciardi, Dias Ferreira,
Paulo Abreu, Filipe Soares Franco, Miguel Ribeiro Teles) a
reunir para encontrar substituto.
Nos clubes de futebol predominam grupos de poder que
determinam, muitas vezes, quem vai ser o presidente. Tm forae dinheiro. E quando Godinho Lopes, o engenheiro e dirigente
responsvel pelas construes do novo estdio e da academia,
foi ao BESI dizer que queria ser presidente, Ricciardi acha-o
vlido para o cargo.
22 de Fevereiro.Ricciardi declara na imprensa desportiva o
apoio ao candidato e valoriza o seu perfil e credibilidade junto
das instituies financeiras. Acredito que leve o Sporting a bomporto. []. importante que o clube no cometa mais erros,
porque j esticou a corda. E lana directas a Bettencourt (que
o destino ps agora no Novo Banco, como chefe de gabinete de
Stock da Cunha), pelo mau uso do dinheiro ao seu dispor.
29 de Maro.A entrada da troika est por dias. Em Londres, a
propsito de uma operao financeira do BESI, Ricardo Salgadoe Jos Maria Ricciardi participam num almoo com jornalistas
onde o presidente do BES presta declaraes sobre a situao
econmica do pas, beira do resgate. Mas interrompido
quando os jornalistas se voltam para Ricciardi e lhe pedem um
comentrio sobre a vitria de Godinho Lopes, o que remete
Salgado para um silncio incmodo. Quanto mais procurava
travar o tsunami de perguntas a Ricciardi, mais este se
debruava com entusiasmo sobre a equipa de Alvalade. Um
discurso acompanhado de toques na mesa: [o Sporting] Tem de
ser grande e bater-se de igual com os outros dois grandes
rivais.
Assim que Salgado consegue interromper o tema sportinguista,
lana avisos aos polticos a sugerir que avaliem as consequncias
que certas decises tm nos mercados, pois ningum sabe aocerto onde poderemos chegar. Mas, poderemos ganhar tempo
at s eleies. E talvez seja possvel evitar a interveno do
FMI. A 6 de Abril, Portugal ajoelha-se e pede ajuda externa.
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Nesta fase, Ricciardi comeou a olhar para o primo direito como
um chefe centralizador que resiste a largar o poder. Ou encontra
uma maneira de co-existirem, ou segue o seu caminho. Pensa
para si: Este tipo vai ficar aqui at aos 100. Um dia, enche-se
de coragem e foi falar com ele: Quero fazer um grupo
internacional a partir do BESI, tipo Rothschild de raiz
portuguesa, que trabalhe e desenvolva a actividade nasprincipais praas financeiras e em muitos mercados
emergentes. Remata: Ou me ajudas ou vou minha vida O
chefe anuiu: Sim, estou de acordo. Se tem outra opinio, no a
ter dado. Esta apenas a verso de Ricciardi.
31 de Agosto.Ainda mal tinha tomado posse, j o Governo
colocara venda 21,35% da EDP. E contrata, sem concurso
pblico, o que a lei impede, a sociedade norte-americana Perella
para prestar a assessoria financeira ao Estado neste negcio. A
inteno do ministro das Finanas, Vtor Gaspar, podia ser a de
introduzir um independente no circuito, mas a soluo gera
controvrsia. Depois de convidar a Perella, o Governo percebe
que cometera um erro e d instrues para ser a CGD a assinar o
contrato com os norte-americanos, partilhando o trabalho.
O que Gaspar no imagina que o afastamento do BESI e a
adjudicao directa Perella est a colocar Ricciardi em rbita,
que dispara com queixas, nomeadamente, junto de quem
manda: Miguel Relvas, ex-ministro adjunto, e do prprio
primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, como do conta as
escutas feitas na altura ao banqueiro. Passos ter dito: Bom,
vou ver o que se passa.
Dias depois, Jorge Tom, da CGD (tambm escutado), d os
parabns a Ricciardi: o BESI est na operao. Tom estava
afinal equivocado, pois a Perella no aceita partilhar com um
terceiro os 16 milhes de comisses que o Estado vai pagar aos
assessores financeiros. Quando a ex-secretria de Estado, agora
ministra, convoca Ricciardi ao ministrio na Praa do Comrcio,
confirma as suspeitas: o BESI no ia auxiliar o Estado naprivatizao. Ento porqu?, pergunta Ricciardi. A secretria
de Estado ter explicado: o BES accionista da EDP e h um
conflito de interesses. Tese que o interlocutor rejeita: Se
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estivssemos do lado do comprador, at podia haver, pois quem
compra quer comprar o mais barato possvel, j o vendedor quer
fazer subir o preo. E quanto mais alto o Estado vender, melhor
para o BES. O banqueiro continua: Concorda que nas
privatizaes h dois grandes momentos, a venda e a avaliao?
Como foi o BESI que avaliou a EDP para ser vendida, como
que nesse caso no houve conflito de interesse e h paraassessorar o Estado na venda?
Excludo dos 16 milhes, havia que encontrar novo cliente.
Ricciardi foi China sondar investidores. No final de 2011, o
BESI surge a apoiar a Three Gorges, mas a luta est renhida pois
h nota de telefonemas insistentes de Angela Merkel para
Passos. Na corrida est a alem Eon.
Ao contrrio dos ocidentais, os chineses, por razes culturais,
no estabelecem grandes dilogos, o que deixa os banqueiros
inseguros, pois nunca sabem o que pensam. Quem esteve
envolvido no dossier conta que a Three Gorges ouvia-nos e
ia-se embora, e evitava sentar mesma mesa o BESI e o Credit
Suisse, ambos a apoiar a empresa. Como sabia da propenso do
Governo para aceitar a oferta da Eon, Ricciardi sugere ThreeGorges um preo no intervalo entre 3,50 e 3,75 euros.
Por telefone, o presidente do BESI troca impresses com
Salgado e Morais Pires, sem desconfiar que do outro lado da
linha esto os escutas do procurador Rosrio Teixeira. Depois de
os ouvirem dizer preciso fazer os chineses subir o preo, para
ganharmos o negcio, os investigadores do Ministrio Pblico
tero concludo: Aquela malta est toda feita. O que Ricciardi
tambm no sabia que enquanto fala com Salgado e Morais
Pires, os dois compravam aces da EDP para o seu portflio
pessoal. A 22 de Dezembro, a Three Gorges garante o controlo
de 22% da empresa portuguesa.
A vida de polcia cheia de coincidncias.
Na sequncia da Operao Furaco, iniciadaem 2005, o Ministrio Pblico abre um
novo dossier, a que designa Monte Branco.
No contexto das investigaes relacionadas
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com uma rede de branqueamento de capitais
e fraude fiscal, que tem no centro Francisco
Canas (Z das Medalhas), com escritrio na
Rua do Ouro, Rosrio Teixeira esbarra numa
engrenagem complexa. A sociedade de Canals, Figueiredo,
Bataglia e Sobrinho usa a empresa de Medalhas como biombo
para disfarar outro esquema de transferncias de verbas para oexterior. E, assim, no intervalo de alguns meses, a Akoya
continua os seus movimentos, mas vigiados.
Foi justamente quando decorria a privatizao da EDP que o
Ministrio Pblico apura que Salgado comprara 2 milhes de
aces da EDP por 3,4 milhes de euros e que o dinheiro tinha
chegado via Akoya. Meses depois, em Julho de 2012, a Caixa BI,
o BESI e a Parpblica (entidade pblica de gesto de
participaes em empresas em processo de privatizao) sero
alvo de buscas policiais. A Procuradoria-Geral da Repblica, que
anda atrs dos fundos desviados pela Akoya, informa que a sua
aco derivara da Operao Monte Branco. Comea a abrir-se a
caixa de pandora.
Enquanto tudo isto se passa em Portugal, a mais de seis milquilmetros de distncia, em Luanda, o BESA montara um
mega-carrossel. Ao contrrio do resto do sector, cuja principal
fonte de financiamento so os depsitos dos clientes, o BESA
tinha acesso a uma linha directa do BES, e sem prazo. O que
permite grande latitude na aco, nomeadamente ao sector da
construo: o BESA empresta verbas ao construtor do imvel a
prazos longos que depois repassa para o comprador do andar,que, por sua vez, o arrenda a preos que possibilitam pagar o
servio da dvida. A questo que o banco aceita
automaticamente a transferncia para terceiros sem referncias
sobre a capacidade de honrar a dvida e sem conhecer o nome
do novo devedor. Havia outro mtodo: o BESA financia o
construtor, que pe de p o projecto e antes de o comear a
comercializar vende-o, como uma mais-valia, ESAF, a gestora
de fundos de investimento do BES. Sem risco.
16 de Novembro.O poder de lvaro Sobrinho no BESA
imenso e o banqueiro apenas reporta a Salgado, de quem
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copiara a tecnologia. S que o pagamento (500 milhes)
acordado na venda da Escom Newbrook no chega ao GES, o
que complica as contas de Salgado. E, desconhecendo ainda que
Sobrinho scio da Akoya (e, portanto, com acesso a
informao sensvel), pediu ao seu CFO (Morais Pires), com o
pelouro internacional, que juntasse peas para se queixarem do
presidente do BESA ao BdP. O que teve duas consequncias:Sobrinho d-lhes um chega para l e autonomiza-se das
amarras de Lisboa, deixando de prestar contas ao BES. Em
2011, o BESA tem lucros de 260 milhes de euros, que salvam o
BES de divulgar prejuzos.
Ao ler noExpresso, em Novembro de 2011,
que o Tribunal Central de Instruo
Criminal o chamara para prestar
declaraes e que sara com uma cauo de
meio milho de euros por suspeita de
branqueamento de capitais no valor de 3,3
milhes de euros, o banqueiro angolano
conclui que foi a trupe de Salgado a passar a
informao.
Hoje, circulam teorias. Quem priva com
Sobrinho conta que ele desenvolveu uma averso a Salgado, a
quem culpa de estar na origem dos problemas com a justia e,
como controlava tudo e todos queria grelh-lo em lume
brando. A zanga vai ser fratricida.
Entre os executivos do BES, no havia apenas adeptos do
Sporting. Morais Pires era um aficionado do Benfica. Os
jantares na sede do banco entre Morais Pires e o presidente do
clube da Luz, Lus Filipe Vieira, eram normais. O CFO tinha
uma torneira aberta para o universo empresarial do dirigente
benfiquista com crditos no BES, em 2012, de largas centenas
de milhes de euros (fala-se em 600 milhes). Morais Pires
reestruturou a dvida e colocou-a em fundos do BES Vida e da
ESAF, o que permitiu a Lus Filipe Vieira deixar de constar nalista dos grandes devedores ao BES. Em 2013, do financiamento
global (215 milhes) concedido pelo BES aos trs grandes clubes
(Porto, Sporting, Benfica), cerca de 114 milhes destinaram-se
(http://imagens8.publico.pt/imagens.aspx/880088?tp=UH&db=IMAGENS)
lvaro Sobrinho, presidente BES Angola
RAQUEL ESPERANA
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SAD benfiquista (com dvidas banca de 283,3 milhes).
As consequncias da crise financeira longa e complexa no GES,que desenvolvia a actividade sustentada em dvida e
investimentos especulativos e de risco, tornam-se visveis a
partir deste ano. O programa de ajustamento rigoroso da troika
e as novas regras europeias de superviso mais estritas ajudam a
acentuar os problemas. So, portanto, tempos difceis. E no 15.
andar da Avenida da Liberdade j se vive a correr contra o
tempo e o dinheiro sempre a pingar para o BESA. Os aumentos
de capital nas holdings accionistas fazem-se a custos cada vez
maiores.
A convivncia entre a famlia Esprito Santo e os accionistas do
GES, recrutados fora do seu crculo, tem o seu ponto alto a meio
do ano, quando chegam a Lausanne, sede das holdings do
grupo. Nessa altura, h um jantar em que Salgado atrai os mais
recentes accionistas para a mesa-redonda a que, habitualmente,preside. Na manh seguinte, todos vo assistir a uma
conferncia no Centro de Convenes. O encontro inaugurado
por Antnio Ricciardi, o presidente no executivo, mas Salgado
fala pela rea financeira e Manuel Fernando Esprito Santo pela
no financeira. Ningum faz perguntas. Em 2012, o ambiente
era ainda de aparente normalidade. Uma paz prestes a
eclipsar-se.
Neste ano, Salgado considerado peloJornal de Negcioso
terceiro mais poderoso da economia portuguesa. E tem um
gesto de que se vai arrepender. O poder no GES estava, at a,
concentrado nos representantes dos cinco ramos da famlia com
assento na cpula, onde h interesses divergentes. Mas h uma
deciso de abrir o conselho superior do GES gerao seguinte
Jos Maria Ricciardi, Manuel Fernando Esprito Santo, PedroMosqueira do Amaral e Ricardo Esprito Santo Abecassis , que
passa a participar nas reunies sem direito a voto. Salgado, que
no nomeou segunda linha, no sabe at que ponto tem o apoio
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dos mais novos. A deciso vai revelar-se uma bomba ao
retardador.
Maio.Michel Canals e Nicolas Figueiredo so duas peas vitais
da engrenagem arquitectada para ajudar a transferir verbas para
fora do pas. E ao serem detidos no Porto, durante um torneio
de golfe, ao seu lado tinham os computadores pessoais e
documentao. Apesar dos sinais de evidncia de que atravs da
Akoya saa dinheiro para o exterior, o que se traduz em menos
impostos para o Tesouro, falta o mais importante: a lista global
dos movimentos dos clientes. Ao analisar os ficheiros, os
investigadores deparam com mltiplas transferncias,
nomeadamente associadas a Ricardo Salgado, Morais Pires,Bataglia, irmos Horta e Costa, Pedro Neto e Sobrinho. Havia
outros clientes de peso, como Duarte Lima.
17 de Maio.O procurador Rosrio Teixeira tem poucos meios,
mas investiga quem pode. Ao esbarrar com 12 transferncias de
27,3 milhes que circularam pela Akoya, passando pelo Credit
Suisse e por duas offshores do Panam, a Savoices (detida porSalgado) e a Allanite (detida por Morais Pires) , fica com as
antenas no ar. Na sequncia, chama Morais Pires, ainda CFO do
BES, a quem solicita esclarecimentos.
(http://imagens7.publico.pt/imagens.aspx/880077?tp=UH&db=IMAGENS)
Antnio Ricciardi, presidente no executivo do GESRUI GAUDNCIO
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Para amenizar os efeitos de uma potencial suspeita de fuga ao
fisco, e aproveitando a amnistia concedida pelo Estado
portugus a quem estava em situao de incumprimento,
Morais Pires vai regularizar a sua situao fiscal. E, entre Agosto
e Outubro de 2012, o CFO paga 1,1 milhes de euros de imposto
a mais do que o declarado em Maio, referente ao IRS de 2011.
18 de Dezembro.Este o dia em que Salgado comea a
frequentar outras instncias menos glamorosas do que a alta
finana. Durante a tarde, vai ao DCIAP prestar depoimentos no
mbito da Operao Monte Branco. Para se antecipar, o BES faz
sair um comunicado: Aps uma vaga de notcias baseadas em
rumores especulativos, informa-se que [Ricardo Salgado] se
prontificou voluntariamente a prestar os esclarecimentos.
Antes de ser chamado pelo procurador Rosrio Teixeira, o
banqueiro, que tinha tambm a sua situao fiscal em
incumprimento, faz trs rectificaes declarao de IRS, o que
resulta na liquidao de imposto em mais 4,3 milhes de euros
face colecta inicial de Maio (apenas 183 mil euros).
a partir daqui que comea a circular a tese de que o presidente
do BES cobrou uma comisso de 8,5 milhes ao cliente JosGuilherme por aconselhamentos na ida do construtor para
Angola. E estava aqui a razo da correco da declarao de
rendimento. O que produz uma nova dvida a quem investiga: o
banqueiro assinou um contrato fictcio com Jos Guilherme
para sustentar a tese da comisso?
OSol e oi, entretanto adquiridos por lvaro Sobrinho, vo
ajudar a divulgar o que se passa: Morais Pires est indiciado no
caso Monte Branco por ter comprado aces da EDP e da REN
durante a privatizao; Salgado recebera uma comisso de 8,5
milhes do construtor Jos Guilherme que o levou a corrigir portrs vezes a declarao fiscal. Aps as notcias, o presidente do
BES veio garantir: Nunca fugi aos impostos. Momentos
depois, aparece a PGR a esclarecer que Salgado no era
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suspeito, nem havia indcios data para lhe imputar prtica de
ilcito fiscal.
Proena de Carvalho, advogado de Salgado, tenta evitar
surpresas. E, para se precaver das perguntas do supervisor sobre
a comisso paga por um cliente do BES, enviou para o BdP uma
interpretao: afinal, os fundos que deram origem correcofiscal no derivam de uma comisso, mas de uma liberalidade,
ou seja, de um presente oferecido pelo construtor. Tese que o
advogado passou a repetir.
4 de Fevereiro.No BdP, o tema esvaziava-se. Dado que
Salgado liquida as dvidas ao fisco, deixa de haver potencial
crime de evaso fiscal. Um banqueiro a receber comisses de
clientes? O PBLICO vai revelar neste dia que o supervisorpediu explicaes a Salgado e que a questo incomoda quadros
da instituio para quem as trs correces fiscais constituam
uma possvel confisso de que sistematicamente omitiu de
forma deliberada os juros e as mais-valias apuradas no exterior
espera das amnistias fiscais que acabaram por ser decretadas.
O BdP toma, ento, uma iniciativa surpreendente. Par