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UMA HISTORIA DA HISTORIA DE JESUS Hélcion Ribeiro 1 RESUMO: O artigo se propõe a delinear como foi sendo construída a história da compreensão de Jesus. Outra vez, sua origem narrada nos evangelhos, a racionalidade dos discursos – notadamente os helênicos, que levaram à composição dos dogmas ou, ainda, as devoções. Os dogmas e as devoções são as duas grandes realidades que permeiam a história humana na relação com Jesus Cristo. Privilegiou-se, na Igreja, a memória do discurso racional sobre Jesus. A memória devocional é mais volátil e contém menos documentação. Os textos escritos por intelectuais são mais duradouros; a memória popular perde-se mais rapidamente por causa de suas mudanças. Os chamados “concílios de ouro da cristologia” marcaram o primeiro milênio. (????) Finalmente, não havendo grandes inovações teológicas, surgiram diversificadas devoções, especialmente “as doloristas” e as eucarísticas. Estes dois modelos marcam o lugar de Jesus na história da fé. PALAVRAS-CHAVE: Compreensão sobre Jesus; Racionalidade dos discursos; Dogmas; Devoção. ABSTRACT: This article aims to outline how the story was constructed understanding of Jesus. Meanwhile also, the origin of Jesus narrated in the Gospels, the rationality of the speeches - especially the Hellenes, which led to the composition of dogmas, or even the devotions. The dogmas and devotions are the two great realities that has permeated the human history in relationship with Jesus Christ. We privilege in the Church, the memory of rational discourse about Jesus. The memory devotional is more volatile and contains less documentation. The texts written by scholars are more durable. The popular memory is lost faster because of the constant changes. The so- called "golden councils of Christology" marks the first millennium (????). Finally, as there was no great theological innovations emerged diversified devotions, 1 Mestre e doutor em Missiologia, pós doutor em Antropologia Teológica, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e professor do Studium

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UMA HISTORIA DA HISTORIA DE JESUS

Hélcion Ribeiro1

RESUMO: O artigo se propõe a delinear como foi sendo construída a história da compreensão de Jesus. Outra vez, sua origem narrada nos evangelhos, a racionalidade dos discursos – notadamente os helênicos, que levaram à composição dos dogmas ou, ainda, as devoções. Os dogmas e as devoções são as duas grandes realidades que permeiam a história humana na relação com Jesus Cristo. Privilegiou-se, na Igreja, a memória do discurso racional sobre Jesus. A memória devocional é mais volátil e contém menos documentação. Os textos escritos por intelectuais são mais duradouros; a memória popular perde-se mais rapidamente por causa de suas mudanças. Os chamados “concílios de ouro da cristologia” marcaram o primeiro milênio. (????) Finalmente, não havendo grandes inovações teológicas, surgiram diversificadas devoções, especialmente “as doloristas” e as eucarísticas. Estes dois modelos marcam o lugar de Jesus na história da fé.

PALAVRAS-CHAVE: Compreensão sobre Jesus; Racionalidade dos discursos; Dogmas; Devoção.

ABSTRACT: This article aims to outline how the story was constructed understanding of Jesus. Meanwhile also, the origin of Jesus narrated in the Gospels, the rationality of the speeches - especially the Hellenes, which led to the composition of dogmas, or even the devotions. The dogmas and devotions are the two great realities that has permeated the human history in relationship with Jesus Christ. We privilege in the Church, the memory of rational discourse about Jesus. The memory devotional is more volatile and contains less documentation. The texts written by scholars are more durable. The popular memory is lost faster because of the constant changes. The so-called "golden councils of Christology" marks the first millennium (????). Finally, as there was no great theological innovations emerged diversified devotions, especially those “of the Passion” and the Eucharist. These two models mark the place of Jesus in the history of faith.

KEY WORDS: Understanding about Jesus; Rationality speeches; Dogmas; Devotions "of the Passion" and Eucharistic.

1 Mestre e doutor em Missiologia, pós doutor em Antropologia Teológica, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e professor do Studium

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Algumas observações iniciais

Este é um artigo de síntese. Síntese sempre indica uma (nova) posição (tese) sujeita à críticas (antíteses). Então, uma síntese é sempre algo dinâmico e provisório, mas não diz tudo. Não é um resumo. Um resumo está baseado em algo pronto e dele não se sai. A síntese se abre para dizer novas coisas- que se tornarão velhas um dia.

Escrever sobre a história do que disseram de Jesus é um processo arriscado. Para uns, faltará isto ou aquilo. Outros poderão dizer que não é bem assim. Então o artigo, que é provisório, torna-se também provocador. E disto o autor está consciente e, de modo algum, pretende ser dogmático ou definitivo.

O artigo não tem como objetivo primeiro escrever sobre Jesus. Não é uma “jesuologia”. Mas, também e muito menos é uma “cristologia”. É tão somente uma (tentativa de) caracterização de como interpretaram Jesus na história. O peso, pois, está na história, não dele, mas do que fizeram dele, de como o conceberam – o que, inclusive, serviu para assim justificar atitudes de poder, piedade, exclusão/inclusão, pecado/graça etc.

“Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai...” (Mt. 11,27). Esta afirmação joanina já é suficiente para indicar a provisoriedade de todo conhecimento sobre Jesus; mas, ao mesmo tempo, é a possibilidade real e histórica de conhecer Jesus, o que revela o Pai. Conhecer Jesus é um ato de fé. Porém nem tudo que se conhece de Jesus é uma questão de fé. 2

Jesus nas várias explicações do Novo Testamento e dos primeiros Santos Padres

A fonte normativa primária para saber como se conhece Jesus é a Bíblia Sagrada, prioritariamente o Novo Testamento. Mas, ninguém pode conhecê-lo sem o suporte revelatório do Antigo Testamento. Convém dizer, logo no início, que para a compreensão eclesial de Jesus, a dogmática cristológica é integrativa da fé professada – mesmo que o dogma, no caso, decorra da explicitação do que se encontra na Bíblia.

Foi S. Paulo quem por primeiro escreveu sobre Jesus. Toda tradição bíblica que possuímos confirma isto. Só depois vieram os evangelhos. Primeiros os evangelhos sinóticos, depois o de João. Os apócrifos – que também têm algum valor, mesmo que não canônico – vieram bem mais tarde. Eles têm sido valorizados em muitos ambientes religiosos e teológicos atuais

2 Veja-se, por exemplo, toda a discussão sobre Jesus histórico, promovida pelo Jesus

Seminar.

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São Paulo interessou-se pelo Cristo crucificado. Mas, o crucificado é o ressuscitado (1Cor 2,2) . Dele que vem a fé. S. Paulo, porém, – que de modo algum se detém sobre a história de Jesus – procura, antes e, sobretudo, entender o significado de Jesus como Cristo de Deus. É claro, além do fato histórico da morte, Paulo também afirma ser Ele nascido de mulher (Gal 4,4)3. Certamente as interpretações paulinas são fundamentais para compreender Jesus como o Filho Unigênito, o Primogênito de toda criatura, o Filho de Deus nascido segunda a carne da estirpe de Davi e constituído em virtude como Filho de Deus, segundo o espírito de santidade (Rom.1,3ss). É ele o Filho de Deus, enviado a nós para que, por sua morte, nós fossemos salvos, i. é: todos os homens fossem salvos não importando se judeus ou pagãos (Rom 3,24; 6,22; 1Tim 2,6 etc.). É aquele que se humilhou em sua divindade para fazer-se um homem e ainda mais, em sua humilhação, fez um escravo que foi crucificado (cf. Fil 2, 6-11).

De modo mais ordenado, pode-se dizer que Paulo, na fase inicial, vê Jesus, através de sua ressurreição, como o futuro salvador escatológico (1-2Ts; 1Cor 15). Depois, enfatizando o Crucificado-Ressuscitado, o encontra como aquele que opera, desde já, a salvação (cf 1-2 Cor, Gl, Rm). Por fim, para Paulo, Jesus ocupa todo o centro do plano de Deus, desde o início da criação até sua consumação. É o Cristo cósmico.4

A reflexão paulina considera Jesus em seu mistério a partir de Deus e a partir de sua missão escatológica. O apóstolo certamente não ignora a vida de Jesus vivida na carne, mas ele amplia o significado histórico, embasado no Primeiro Testamento e nas suas visões pessoais de Jesus (cf. caps. 9, 22 e 26), para os significados cósmico e escatológico. É a partir daí que ele compreende quem foi Jesus.

Os evangelhos sinóticos surgiram para assentar a revelação de Deus sobre Jesus e foram escritos à luz da ressurreição. Consequentemente nem pretendem ser uma biografia de Jesus tal qual nós entendemos hoje. Aliás, tampouco foram escritos para ser um relato fiel e imediato da vida e obras de Jesus. Antes, foram escritos em função das necessidades da fé das comunidades primitivas que já não mais conheciam pessoalmente Jesus. Mesmo assim, é o que de mais próximo e autoritativo que se tem da vida dele. As poucas referências da literatura judaica5 e romana são ainda muito mais insuficientes, tanto por serem poucas quanto por serem quase sempre uma referência indireta ou complementar.

Foi assim que Marcos6 escreveu para mostrar, sempre à luz da ressurreição, que Jesus era verdadeiramente o Filho de Deus7. O texto foi escrito depois dos anos 40 e antes da destruição de Jerusalém, em função da catequese das comunidades gentio-

3 - Paulo não diz que ele nasceu de Maria. Convém lembrar aqui que Paulo foi fervoroso judeu e mesmo tendo dito que depois de Cristo não há mais judeu ou grego prosélito ou pagão

4 Jesus é Deus, para S. Paulo? – Bem, esta é outra discussão de cuja oportunidade não se ocupa este texto

5 Aqui se incluem também as de Flávio Josefo, sempre mais tidas como glosa de cristãos no texto do historiador)

6 O texto de Marcos é mais antigo que possuímos, mesmo que se fale de algum texto mais primitivo, não conhecido hoje

7 Cf. no início: 1, 1; no meio: 9,29 e, no final,:15,39.

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cristãs; i. é : de cristãos “convertidos do paganismo” que formaram comunidades estabelecidas e que não conheciam suficientemente os costumes judeus.

Marcos descreve as atividades de Jesus antes de sua ressurreição – que é o mesmo pregado como ressuscitado e o juiz do mundo, o Filho de Deus. Constrói um Jesus com a misteriosidade de messias: o Filho de Deus. Titulo, aliás, evitado por Jesus, que inclusive proíbe a divulgação de seus feitos messiânicos (os chamados “os segredos messiânicos”). Mas, o título se torna conveniente aos “ouvintes descrentes” – e a todos os pósteros – tanto por causa do fim trágico de Jesus quanto da revelação de sua messianidade. O evangelista, em seu esquemático texto, apresenta Jesus não como um “homem divino”, um super homem, ou um semideus glorioso e triunfante, realizador de fatos e causas extraordinários. Antes, a filialidade e a messianidade de Jesus são mostradas pelo sofrimento e morte na cruz: ele deu a vida pela nossa salvação e nele se cumpriram as promessas messiânicas de Deus, já feitas no AT.

O Jesus de Mc é aquele que está no meio do povo. É o que prega, cura enfermos, expulsa demônios, faz refeições com os pecadores (i.é: os excluídos), instrui seus discípulos e o povo em geral. Ele discute as tradições judaicas e se vê acuado pelos fariseus, por Herodes e outras autoridades judaicas. Por fim, ele vê sua própria morte aproximar-se de modo violento. Mesmo assim, não deixa de ser crítico da sociedade estabelecida, agindo sobretudo como um messias de Deus. Aprisionado, julgado e condenado, morre na cruz para ser ressuscitado depois do sábado da Preparação.

Mateus – cujo escrito foi o segundo a ser produzido, apesar de o texto oficial da Bíblia vir como primeiro – foi escrito por volta do ano 85, para as comunidades judaica-cristãs que, não só se distanciaram das sinagogas, mas também viverem em tensão com os judeus – agora considerados como um povo que abandonou Deus. O Jesus mateano é o novo Moisés, o libertador e nele se realizam as inúmeras profecias veterotestamentárias sobre o messias prometido8. Ele é o filho de Davi, verdadeiro filho de Abraão. É quem escolhe doze apóstolos que simbolizam as novas doze tribos de Israel. Os apóstolos encabeçarão o novo Israel que haverá de escutar os novos ensinamentos do “reino dos céus” (cf. Mt. 4, 23; 24,14) e aceitará a nova Lei de Jesus, que já o velho Israel rejeitará mais e mais tais ensinamentos e tal Lei.

Mateus escreve ao novo e verdadeiro Israel, a Igreja, e evidencia Jesus como “Filho de Deus”, em quem se cumprem e se projetam as realidades da imprevisível e insuperável vinda de Deus. Assim Jesus é, definitivamente, o Cristo, o Emanuel (1, 22), o que estará sempre conosco (29,18-20) e a quem será dado todo poder no céu e na terra (26, 54-56). Todavia sua vida está constantemente ameaçada no antigo Israel. São constantes as intrigas e ciladas até ser rejeitado e levado à morte, pelas forças históricas – que na verdade são as forças do mal recusando a Deus. Mas, o sangue da nova aliança, derramado por muitos para a remissão dos pecados (26,28), será ocasião expiatória que levará à exaltação do Filho de Deus, por quem vem chegando o Reino dos Céus.

8 Diz-se que ao todo há 118 profecias a respeito de Jesus, no AT..

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O terceiro evangelista escreve, pelos anos 80, para os cristãos vindos do helenismo. O evangelista evidencia a misericórdia de seu Mestre para com os pecadores. Insiste na ternura de Jesus para com os humildes, marginalizados e excluídos, com as crianças e mulheres, com doentes e pobres, sem perder a justa condenação aos soberbos de corações, aos folgazões da vida – apesar de que no fundo Jesus é o que até espera a conversão deles à causa do reino. Em seu primeiro livro, Lucas relata com delicadeza e sensibilidade os acontecimentos com Jesus, dentro dos mistérios do Deus amoroso, sob a ação do Espírito. Jesus, o que vence o tentador (4,1-11) é o portador da luz e da salvação, inclusive para os pagãos (2, 32.30), mesmo se rejeitado pelos seus (2,34). Ele ensina a seus discípulos conhecê-lo mais profundamente, em meio a contradições e situações pequenas. Ao mesmo tempo, ensina o povo, a quem é dado conhecer os mistérios de Deus (8,10). Devotado aos seus, ao povo e a Deus, demonstra o Reino como serviço de Deus, do qual é ele o primeiro servidor, até mesmo no martírio exemplar. Ele, na verdade lucana, é de fato o Filho de Deus como salvador de todos, especialmente dos pequenos, dos pecadores e dos pagãos. É ele o mestre de vida, tanto no acolhimento quanto na dor.

No mais teológico dos quatro evangelhos, Jesus vem apresentado no embate entre Deus e o mundo, cuja aparente vitória do mundo é na verdade o gesto de amor maior daquele que dá a vida pelos seus. O Filho encarnado, pré-existente a tudo quanto existe, veio morar entre os seus. Ele é o revelador do Pai e da vida eterna que passa pela sua cruz, pela sua glorificação. Os fatos e as palavras de Jesus são sempre sinais maiores que compõem uma “história qualitativa” só possível a quem nascer de novo. É o Espírito que faz perceber isto. Entrar para seu círculo é entrar em comunhão com seu Pai, que faz brilhar a glória do Filho na paixão e ressurreição, conhecido na fé e no dom do Espírito. Esse Jesus, relativamente misterioso, é capaz de soerguer o mundo, afastando o mal ao chegar a sua hora, pois é ele quem revela e comunica a salvação como enviado do Pai – com quem mantém um relacionamento singular, a ponto de poder dizer: “eu e o Pai somos um”, “faço as obras que vejo meu Pai fazer”. Esse Jesus joanino – que avoca o testemunho do Pai sobre si – é capaz também de dizer: “eu sou” o pão da vida, o bom pastor, a porta das ovelhas, a água da vida, a ressurreição etc. Todas essas realidades indicam as necessidades profundas da alma humana, e ele pode, por isso mesmo, dizer que é “o caminho, a verdade e a vida” (14,16; cf. 11,25)

Quanto mais tempo passava, mais a lembrança viva de Jesus se perdia; não só iam morrendo os que conviveram com ele, mas também as gerações que se sucediam iam esquecendo os fatos narrados, em geral, oralmente. Por outro lado, os “seguidores do Caminho” – que começaram a ser chamados de cristãos, pela primeira vez na Antioquia, pelo ano 43, passaram a criar novas comunidades e levando a mensagem e o jeito de ser cristão para outras culturas.

Além dos discípulos de Jesus, os judeus que se foram convertendo, constituíam comunidades de vida, perseverando na oração, na fração do pão, na leitura e memória

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da Palavra de Deus. Adotavam modos de vida comunitários. Uns ajudavam os outros, a ponto de venderem os bens e pôr o resultado da venda em caixa comum. Tais judeus convertido, junto com os apóstolos, eram um só coração e chamavam a atenção pelo modo de viver. “Vede como se amam”, diziam os outros. 9

Esses primeiros adeptos de Jesus, após a ressurreição seguiam seus ensinamentos, procurando pô-los na vida diária, e, em meio aos adeptos do judaísmo, tinham seu modo próprio de vida. Também tiveram um modo bem plural de compreender Jesus, a quem seguiam. A pluralidade de interpretar Jesus e os modos de seguí-lo se deve às diversas possibilidades contextuais de interpretá-lo e compreendê-lo. Nenhuma por si só era oniabrangente, mesmo com o referencial comum, pois não era nem o modo de seguí-lo nem o modo de interpretá-lo que o criaram: antes, “aquele que passara pelo mundo fazendo o bem” (At. 10, 38), que morto fora ressuscitado pelo Pai, era tão plural que nenhum grupo poderia apreender toda sua “plenitude” (cf. Ef. 4,13).

Todavia, “a estrutura básica comum consiste na indissolúvel vinculação da revelação de Deus à pessoa e obra de Jesus de Nazaré: por meio dele, Deus e sua salvação tornam-se insuplantavelmente válidos (escatológicos) e são comunicados de maneira universal”.10 Esse Jesus foi “aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, que Deus operou por meio dele entre vós... que vós o matastes e Deus o ressuscitou (...) e o constituiu Senhor e Cristo” (At. 2, 22.32.36). Esse Jesus não provinha “de nenhum grupo ou tendência determinada do judaísmo. Ele as conhece, envolve-se com seus questionamentos, mas não se deixa dominar por nenhuma delas. Ele não é um homem da ordem, nem um revolucionário político; com grande liberdade passa por cima dos esquemas. Os dois únicos particularismos que ele pratica de modo muito engajado são: considerar Deus como seu Pai e agir em defesa das pessoas desprezadas, débeis, sem oportunidade e pecadores: de resto, ele se dirige ao povo todo e o chama à conversão (também os piedosos)” 11. Ele se ateve a Deus como centro de sua vida e ao projeto do Reino de Deus, a ponto de dar sua vida.

Assim, os primeiros crentes – ainda dentro do judaísmo – foram percebendo o papel histórico-salvífico de Jesus, enfatizando o homem concreto, mas escolhido de Deus (“Deus o exaltou”). À medida que – quer por pressões internas do judaísmo, quer por questões da dominação romana que pressionava com exílio e/ou “correntes migratórias” – os seguidores de Jesus foram entrando em contato especialmente com novas cultura, se viram obrigados a explicar quem eram e a quem seguiam com elementos alheios a sua origem. Se a pureza originária ia sendo perdida na inculturação, abriam-se também perspectivas novas.

9 É encantadora a descrição de um texto antigo: alias o mais antigo que descreve a vida dos primeiros cristãos depois das anotações de Paulo, Lucas e outros textos neotestamentarios: DIDAQUÈ.

10 KESSLER, Hans. Cristologia in SHNEIDER, Th. (org.) Manual de dogmática, Vol. I. Petrópolis: Vozes², pg.291

11 Idem, pg. 240

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Já desde o início, após a morte e a ressurreição de Jesus, sua riqueza multifacética, que era de boa conivência, também gerou tensões. À medida do distanciamento dos fatos iniciais, os diversos grupos passavam a criar suas interpretações e modos de vida, os quais nem sempre eram os mais concordes com os ensinamentos e a vida de Jesus. A Didaqué e os textos joaninos indicam tensões bem evidentes. Aí estão presentes gnósticos, ebionitas, monarquianos, docetas etc. As discussões vão se centrar ora na redução ou contestação da divindade de Jesus, ora na redução ou contestação de sua humanidade.

Todavia, houve grupos não especulativos que mantiveram um equilíbrio simétrico entre a divindade e a humanidade, como por exemplo os Padres pós-apostólicos e antignósticos. Sto. Inácio de Antioquia (+ 117) exemplifica bem este comportamento ao escrever suas diversas cartas aos magnésios, aos efésios, aos romanos etc. “Deus é um”, afirma Inácio, mas vai acrescentando, de modo muito natural que o Cristo é o “nosso”, o “seu” Deus”, ou ainda ”Deus no ser humano” , a verdadeira “gnose de Deus” (Aos Efésios 7.2; 17,2). Mais tarde, Sto. Irineu (+205) enfatizará o significado salvifico de Jesus Cristo, Deus e ser humano, um e o mesmo (Adv. Haer.III 16, 2.8; I. 9,2), segundo sua substancia, capaz de mediar e reunir, de aproximar os homens de Deus (III, 18,7). Ainda Irineu vai explicar a larga que em Jesus, Deus se fez homem para que os homens se tornasse divinos.

Idéia esta enfatizada em Tertuliano (+ após 220), com modificações evidentes: Jesus, homem e Deus, com duas naturezas que se unem, mas não se confundem. Isto só se torna possível à medida, como faz Irineu, que se identifica o Deus criador como o Deus redentor e vice versa. Para Tertuliano –e daí em diante isto se vai fixando, até caracterizar toda a sotereologia do segundo milênio – Deus se fez homem, em Jesus, para restabelecer, por meio de sua morte redentora, a ordem perturbada pelo pecado. A morte é a verdadeira finalidade da encarnação, “verdadeiro fundamento do Evangelho e da nossa salvação” (Adv. Marc. III, 8,5).

A discussões dos intelectuais, bispos e teológos

A passagem para a cultura helênica, sobretudo sob a ótica do platonismo médio, vai exigir dos intelectuais cristãos desde II e III séculos, uma diferenciação metafísica entre a divindade invisível e a força de sua presença visível no cosmo. Na realidade surge a questão: como o Deus uno e transcendente poderia manifestar-se (multiplicar-se) em Jesus? A tensão entre o Uno e o Múltiplo passa a ser contemplada nos escritos dos apologistas cristãos do século II – Justino (+ 165) é um dos mais importantes - para resolver a questão da preexistência do Cristo gerado pelo Pai, antes de todas as criaturas.

Na verdade, a entrada no mundo intelectual helênico levou os cristãos a abandonarem a concretude da linguagem semita e a buscar conceitos filosóficos exatos e definidos, que levaram à grande construção da dogmática cristã, sobretudo entre os

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séculos IV e VIII de nossa era. Há alguns marcos que não se pode omitir, pois eles fazem parte integrante da fé, ao lado da normatividade constituída pelas escrituras sagradas do A. e do N. Testamentos.

Questões como o relacionamento do Logos-Filho com Deus-Pai levaram os bispos, pressionados pelo imperador Constantino ( 274-337) que visava à unidade do império, a declarar a divindade do Pai e a do Filho, sepultando teorias tipo: subordinacionismo, modalismo, adocianismo etc. Surge do Concilio de Nicéia (325) um credo que enfatiza mais a essência da realidade intradivina, calcada em princípios mais metafísicos que na realidade histórico-salvífica. Então a Igreja passou a entender e crer ”num só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus (preexistente e eterno), gerado/nascido do Pai como unigênito, isto é, da substancia (ousia) do Pai (...), Deus verdadeiro do Deus verdadeiro (...) gerado/nascido, não feito, de uma só substancia como o Pai (homousios) pelo qual foram feitas todas as coisas (...); o qual, por nós homens e para a nossa salvação, desceu do céu e se encarnou, se fez homem, sofreu e ressuscitou ao terceiro dia”. (DZ 125/155).

Sem ter como outro objetivo que esclarecer a fé em Jesus, os bispos e teólogos conciliares introduziram uma nova linguagem (a helênica), embora pretendendo manter a realidade redentora de Jesus – doravante enriquecida para além dos textos imediatos dos evangelhos que narravam a história singular do homem Jesus: ele é salvador porque é Deus com o Pai e como o Pai.

Estava claro, sem mais discussões: Jesus é verdadeiramente Deus como o é o Pai. Um concílio, o de Constantinopla (381) complementou a discussão de Niceia declarando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são verdadeiramente um único e não três deuses, apesar de suas diferenças: uma é a substância de Deus, mas três são suas realizações ou expressões (como Pai, como Filho e como Espírito divino). E ainda mais: Jesus é verdadeiro homem. Só assim seria o nosso salvador.

As discussões dos grandes não pararam aí. Surgiam novas dúvidas, em meio a interesses e esforços de mediação, que encontraram respostas no Concílio de Éfeso (431): Jesus, Deus verdadeiro e homem verdadeiro (integral, completo) é uma só pessoa. Tudo o que se diz do homem Jesus se deve dizer do Verbo Divino, porque ele é um só. O homem e Deus não estão unidos nele como algo misturado, mas ele é um só e o mesmo, com dimensões humanas e divinas; por isso Maria também é a mãe do Deus, o que se encarnou, viveu, sofreu e morreu por nós e para a nossa salvação e, por fim, ressuscitou e foi constituído Senhor e Cristo.

A dogmatização proposta pela Igreja praticamente se afirmou no Concilio de Calcedônia (451), quando se chegou a um consenso em que se compôs uma fórmula doutrinária capaz de unir as afirmações dos concílios anteriores com a expressão: “um e o mesmo”. Assim tudo o que se diz de Deus em Jesus se afirma ao mesmo tempo do homem Jesus: o mesmo verdadeiro Deus e homem, o mesmo consubstancial a Deus e à humanidade, o mesmo nascido (gerado) por Deus antes dos séculos e de Maria, conhecido em duas naturezas que não se confundem e nem se mudam, mas também não

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se dividem e nem se separam. Tudo isso veio a ser conhecido como a “união hipostática”.12

Terminadas as grandes discussões cristológicas, a Igreja se volta para outras questões que, neste artigo, não nos são importantes. Todavia, no início do século XII, surge o texto de um grande bispo teólogo, que vai estabelecer bases para um novo modo de compreender quem era de Jesus, ou melhor, qual o seu papel. Anselmo de Cantuária (de Aosta, para outros), conhecido também como Sto. Anselmo (+1109) escreveu um livrinho para dialogar com judeus e muçulmanos, sobre o porquê Deus se encarnou (Cur Deus homo?13). O livrinho teve uma influência muito grande em todo o cristianismo, sobretudo durante todo o segundo milênio. As idéias aí expressas praticamente se tornaram “a” resposta cristã: Deus se fez homem porque só alguém proveniente de Deus mesmo, por causa de sua dignidade, pudesse sacrificar sua vida, em nosso lugar, morrendo na cruz; só assim se conseguiria de obter o perdão de Deus sobre nossos pecados. Deste modo, a encarnação de Jesus estava voltada para a morte redentora.

O livro de Sto. Anselmo está datado num tempo de senhores feudais e absolutistas que tinham domínio pleno sobre a vida e a morte de seus servos. E mesmo que esta teologia tenha se tornado hegemônica, convém recordar que a Igreja não dogmatizou uma sotereologia e nem mesmo a desenvolveu muito se comparado com a cristologia. A posição anselmiana foi muito estudado por grandes teólogos; mas, nem todos lhe dão razão total. Sto. Tomás(+1274) , por exemplo, assinala a morte de Jesus como uma expressão absoluta de seu amor por nós e por Deus, mais que uma necessidade de perdão por nossos pecados.

Por causa das teorias de Freud (sadismo, masoquismo, complexos etc.), muitos teólogos de hoje discordam da posição de Anselmo por fazer de Deus alguém vingativo, justiceiro e sem amor, enquadrado nos critérios e limites das questiúnculas humanas desatento ao que é divino.

Místicos, adoradores e penitentes

As posições teológicas acima são as dos cristãos intelectuais (bispos e teólogos). E não deixa de ser a grande tradição da Igreja. Mas, terá sido assim e, sempre assim, a postura dos cristãos leigos e, porque não, até de clérigos?

– A adesão cotidiana dos fiéis cristãos (católicos) a Jesus passa por outros canais. Por vezes até bem distantes da ortodoxia doutrinária, sem ser necessariamente contra ela.

12 Depois deste concilio, surgiram ainda algumas outras questões como quantas vontades

Jesus teria? O que na verdade o movia? Qual a mais importante? etc.

13 ANSELMO, Sto. Porque Deus se fez homem? São Paulo: Editora Cristã Novo Século 2003

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Acima fizemos a referencia a dois textos (Atos dos Apóstolos e Didaqué) sobre a vida dos primeiros cristãos, de como eles se posicionavam enquanto crentes fiéis e como viviam o que criam.

Ser cristão para eles, bem como para os de todos os tempos, é um estilo de vida. Ser cristão não comporta fragmentar a vida pessoal. O estilo de vida é global, holístico. É a partir deste “ser cristão” que se vai pensar a economia, a política, o casamento, a paternidade ou a filialidade, o estudo, enfim a vida e a morte. É óbvio que em todas estas realidades – entremisturadas de graça e pecado – há uma gradualidade. Assim, não é por ser bem intelectualizado nas “coisas da fé” que um será mais cristão que outro, que aderirá mais a Jesus que outro, que viverá uma práxis mais intensa que um outro. Também é importante perceber que a vivencia religiosa está constantemente condicionada à educação recebida. Alguém que foi instruído a viver a fé pela fidelidade aos sacramentos, sem a preocupação com o seguimento de Jesus, é quase óbvio que não se preocupará (muito) com a justiça social. Um que é introduzido na fé pela ênfase na adoração eucarística, dificilmente entenderá a necessidade de um real seguimento de Cristo. Ou aquele que recebe só a introdução à vida sacramental, certamente não chegará à maturidade da fé. Nisso, transparece a importância (educadora) da comunidade de fé.

Na história da evangelização, porém, há – por muitos motivos – comunidades inteiras que não conseguiram ou não conseguem viver a integralidade da fé por não ter quem as ensine (cf Rom 10,14) e nem lhes confira o Espírito Santo.

A memória história sobre a relação de Jesus e seus fiéis não se limita às questões teóricas da teologia. Ela também passa por outras possibilidades, sempre cercadas de várias nuances.

Assim, é válido perguntar como as primeiras comunidades cristãs, a partir da expansão missionária, seja entre os judeus seja entre os “pagãos”, entendiam quem é Jesus? Reuniam-se eles para prestar culto a ele, adorando-o? Ou para se auto-esclarecerem sobre quem era Jesus? Ou ainda, buscarem razões a fim de imitá-lo? Ou se reuniam para, fortificando-se entre si, tornarem-se suas testemunhas? Ou enfim, tudo isto junto?

Os relatos são muitos e bem variados. Atualmente, na Inglaterra, discute-se sobre se os primeiros cristãos prestavam culto a Jesus, o Cristo, enquanto Deus. Duas linhas se sobrepõem. Uma capitaneada por Larry W. Hurtado.14 A outra é liderada por J. G. D. Dunn15

Para Hurtado, o culto a Jesus tem início em algo como uma explosão simultânea em várias comunidades primitivas, logo após a morte e ressurreição de

14 Cf. HURTADO, Larry, W. Lord Jesus Christ. Devotion to Jesus in Earliest Christianity. Michigan Wn B. Eedmans, 2003. Também em espanhol: Señor JesuCristo. La devoción a Jesús en el cristianismo primitive. Salamanca: Sigueme, 2008

15 DUNN, J.G. D. Did the Firsdt Christians Worship Jesus? The New Testament. London: SPCK, 20119. Também em espanhol: Dieron culto a Jesus los primeros cristianos. Estella (Navarra): Ed. Verbo Divino, 2011.

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Jesus, que incluía os próprios apóstolos e discípulos. Esses cristãos proclamavam e adoram Jesus como Deus, vivendo e morrendo por ele, bem antes do desenvolvimento dos credos e das doutrinas, do início de século II. Foi a devoção a Jesus como Senhor à direita de Deus (Pai) a fonte propulsora do culto binário a Deus – que incluía Jesus. Os problemas desta assertiva não estavam na divindade de Jesus, mas no compreender, em sua devoção, a verdadeira dimensão humana e o significado de Deus. Dado o pressuposto da divindade, decorriam os cultos, os ritos e as devoções que alimentavam a certeza tão rapidamente difundida: ele era Deus, como o Pai e, por isso, se lhe prestava culto. A devoção a Jesus e o reconhecimento de sua divindade não é, para Hurtado, o resultado de uma processo, mesmo que rápido, mas a explosão de sentimentos religiosos desde sua ressurreição.

Dunn defende a idéia de que os primeiros cristãos estavam convencidos de que em Jesus se havia aberto uma porta nova e definitiva na relação recíproca entre Deus e os seres humanos. Os títulos divinos atribuídos a ele tinham uma função paradoxal: ao mesmo tempo revelavam sua identidade, mas impediam os cristãos de porem, a seu capricho, o mistério insondável e abissal de Deus nele revelado. Jesus não abre totalmente o mistério, tampouco o fecha; antes, o entre-abre. Ele é o sentinela do ser de Deus e do ser do homem. O Deus único(o Pai), e só Ele, recebe a adoração – mesmo que seja por meio de Jesus na força do Espírito.

Dunn historia o significado evolutivo do fato Jesus, afirmando que no cristianismo primitivo foram sendo assentadas todas as variáveis para confirmar a devoção a Jesus. De modo óbvio, tal devoção não tem os parâmetros e a sofisticação atuais. Mas, lá estão configuradas as crenças, as convicções fundamentais, as possibilidades do desenvolvimento doutrinal (e dogmático) e a prática devocional, que levarão a entendê-lo mais tarde como Deus mesmo. Apesar de que alguns tenham afirmado que a devoção surgiu para contrapor a outras divindades epocais, é fato que a proto-ortodoxia foi estabelecendo bases teóricas para uma nova compreensão do significado de Deus a fim de melhor entender Jesus. Tal processo foi um crescendo nos círculos judeucristãos, inclusive da diáspora, gentios e helenistas em geral. Isto daria fundamento ao sentido de Jesus como salvador e Deus mesmo.

Esse história da origem da compreensão de Jesus como Deus desde os primeiros dias após sua morte ou a partir do período da dogmatização, é em boa parte é desconhecida da maioria dos cristãos hodiernos que o professam, em geral, como Deus desde a anunciação (Maria sabia que seu filho era Deus) sobretudo na celebração do natal: nasceu o menino-Deus...

Bem outra é a história da história de Jesus no inicio da implantação do cristianismo na capital do imperio. Os primeiros cristãos em Roma foram progressivamente penetrando, o tecido social da cidade, a partir dos pobres, como eles, e dos judeus. Para chegar a isto, convém não esquecer as querelas iniciais entre cristãos e judeus migrantes na capital imperial, as perseguições especialmente de Nero, a

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culpabilização dos cristãos pelo incêndio de Roma, os martírios constantes. Como ser seguidor de Jesus neste contesto? E como compreendê-lo? Como foi a compreensão dessa história?

A vida de fé foi vivida, durante muitas décadas nas casas e nos cemitérios/catacumbas. Alguns cristãos também se manifestavam de modo mais público, mesmo sob as constantes ameaças. Roma viveu, no inicio do cristianismo, uma “psicose” de martírio e de perseguição Os martírios, que passaram a ser freqüentes, tornavam-se fonte de encorajamento e testemunho para viver o seguimento de Jesus. É provável que os cristãos fossem notados por seus comportamentos públicos e pessoais cheios de ética, que fossem exemplares na vida familiar e social, que se distinguissem pela ação caritativa entre os pobres: mas por serem considerados ateus - não prestavam culto ao imperado - tinham uma “religião ilícita”, dizia-se. Em certa ocasião (ano 111) o próconsul de Bitínia, Plínio, o Jovem (62-113), consultou o imperador Trajano sobre o que fazer com os cristãos – que eram homens bons, apesar de serem supersticiosos e entoarem hinos a um certo Cristo como a um deus.

Têm-se poucos documentos deste período para compreender como eles apresentavam Jesus, a quem seguiam pelo modo de viver no cotidiano, nos cultos e nas artes. Aliás, as raras pinturas e imagens de Jesus encontradas, até hoje, nas catacumbas, mostram Jesus como o Bom Pastor, como um peixe ou pescador ou como homem orante.

Uns três séculos após a ressurreição de Jesus, os cristãos tinham se tornado dezenas de milhares na capital, a ponto de o imperador Constantino fazer do cristianismo a religião oficial, certo de que – até independentemente de seu significado religioso intrínseco – dava o melhor passo para a união e manutenção do império.

Após a legalização do culto e a oficialização da religião, sem dúvida, a grande maioria dos cristãos continuou firme em sua fidelidade a Jesus. E a ele tributavam o sentido de suas ações, de suas vidas. Mas, o cristianismo, agora transformado em religião do império, deu as bases cristãs ao Estado, que progressivamente transformou-se no “Imperium Christianorum”, primeiro como Império Bizantino, depois Carolíngio e, por fim, Sacro Império Romano. Neste processo, muitos cristãos, “sepultados na vida como velhos homens, e renascidos como homens novos pelo batismo” (cf. Rom, 64) se afastavam dos hábitos e estruturas do “velho” mundo, deixando comércio, açougues, teatros, arte e literatura pagãs, serviço militar, certos esportes, cultos e banhos públicos. À medida que aumentava a estabilidade cristã do império, a progressiva conversão dos povos românicos, celtas, germânicos e eslavos, passaram a surgir mosteiros que iriam orientá-los, dando-lhes conhecimentos e indicações da prática cristã.

É de se supor que se a religião do rei, do príncipe, era a religião do povo, então à medida que os governantes adotavam o cristianismo iam se entremisturando também a fé culta e pura com as superstições pagãs, gerando sincretismo cristão entre todos os

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povos. Por outro lado, a escassez de missionários e de mosteiros, não apenas deixava o povo abandonado, mas também pouco instruído. A Igreja, já antes do início do segundo milênio, tinha se tornado uma força político-religiosa estendida por todo o ocidente. Assumiu e transformou circunstancias histórico-sociais e religiosas das culturas, sobretudo, romana e anglo-germânica, para criar uma cultura de cristandade.

Como se compreendia, então, quem era Jesus Cristo, em tempos que eram raríssimos os letrados e um grande número de monges e padres era composto de analfabeto, inclusive muitos mal sabendo latim – consequentemente quem conheceria a Bíblia? Tudo era ou por ouvir dizer ou pela visualização nas “chamadas bíblias dos pobres” (os vitrais das igrejas).

Pode-se dizer que no segundo milênio, especialmente no medievo, se encontrariam, facilmente, quatro grandes grupos de cristãos que se tornaram significativos para a compreensão de Jesus neste período: os místicos, os adoradores, os penitentes e os artistas, entre esses os poetas e dramaturgos também.

Como acreditar que a grande conquista intelectual dos séculos de ouro da cristologia (a dogmática) pudesse fazer parte da compreensão e vivencia dos subordinados aos senhores feudais, dos camponeses e das mulheres (mães, principalmente), se até mesmo nos mosteiros e conventos havia tanta ignorância? Que cristologia haveria de passar por estes tempos? – Como estas perguntas não podem ser diferentes para outros tempos, anteriores e posteriores, convém situar a vida cristã na história, outra vez.

Enquanto a herança e o desenvolvimento das culturas predominantes, greco-romana e anglossaxônica, ocorriam nos grandes centros urbanos, e aí, nos círculos dos nobres, intelectuais e ricos; sobravam as “migalhas” do cristianismo para o povo (a plebe). E quem era Jesus para eles? Lembremos: por causas dos medos dos inimigos, dos invasores, dos animais ferozes, das doenças e pestes, no tempo do feudalismo se vivia apinhado nos morros ao redor dos castelos, subservindo ao monarca – que era o patrocinador, inclusive da religião. Aos medos dos feudais eram acrescentados – desde os tempos fortes dos monges de Cluny, motivadores das confissões auriculares - os medos do pecado, por causa do inferno. Daí em diante, passou-se a desenvolver uma cultura cristã em torno do Crucificado e de um dolorismo cheio de Vias Sacras, Mater Dolorosa, almas do purgatório, autos da paixão, culpabilizações da morte do Senhor pelos pecados da humanidade, de jejum, penitência, auto-flagelação etc., ao lado das situações, cheias de ternura, do Menino Jesus do presépio.

Para “fugir do mundo”, muitos homens se recolheram aos mosteiros, como o de S. Bento de Núrsia (480-547) – recriando os antigos monaquismos do romano Pacômio (292-346) na oriental Tebas (Egito), de Atanásio no ocidente (durante seu exílio em Tréveris (340-346), de Basílio Magno (330- 379) na Igreja Bizantina. Ao redor destes mosteiros europeus desenvolveu-se uma vida de penitência e sacrifico em meio à doenças e pestes, fomes e vida pesada. Ganhava espaço uma piedade centrada na paixão e morte do Senhor: algo para ser contemplado, amado e chorado. A devoção a

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tudo que girava em torno da cruz de Jesus e de suas dores se complementava com a vida crucificado dos povos e pessoas que se identificavam com Ele.

Multiplicadas as “devoções doloristas” centradas na paixão e morte do Senhor, tornava-se fácil o surgimento de penitentes tanto individuais quanto em grupos, tendo à frente, místicos e santos (de profunda espiritualidade), que geravam seguidores nos mais diversos graus de “santidade e loucura”. Esses penitentes se prolongam ainda hoje naqueles que se auto-flagelam nas sextas-feiras santas, com em Manila, na Espanha e América espanhola, além de outros lugares.

O segundo milênio construiu-se entre a cruz e o desprendimento, entre a autoflagelação e os misticismos, entre o desprezo ao mundo e a santidade interior, ora num processo devocional intenso ora na contemplação em meio à “noite escura”.

Mas, nem tudo esteve ligado apenas ao Cristo sofredor. Neste tempo, foram desenvolvidas muitas devoções centradas em outras dimensões de Jesus. Adoradores e adoradoras do Santíssimo Sacramento apareceram por toda a Europa. Místicos e beatos, com suas visões, criavam o gosto pela adoração e devoção à Sagrada Eucaristia (Como não lembrar a festa do Corpus Chisti?). Na França, Alemanha, Espanha, Países Baixos, Itália etc., foram fundadas centenas de ordens e congregações – masculinas e femininas - dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus. Apareceram inúmeros livros de piedade que incentivam uma comunhão mística com o Senhor, dos quais o mais famoso é a “Imitação de Cristo”.16

Artistas plásticos produziram expressivas imagens para sustentar esta piedade, incluindo uma expressividade tal que raiava a uma projeção de imagens que pareciam falar, gemer e chorar. Algumas pinturas do rosto de Jesus se tornaram célebres; mas, não se pode esquecer a face dele nos populares “santos sudários”, dos quais o mais famoso é o de Turin, e o do Véu de Verônica. A eles devem ser somados os poetas e dramaturgos, com seus autos, que expressam em seus textos esta mesma espiritualidade dolorista e/ou de uma mística tão elevada a ponto de quase materializar o mistério.

Quem foi então Jesus no segundo milênio senão aquele que devia ser adorado, amado, chorado e imitado? Quem foi Jesus no segundo milênio senão que aquele que era conhecido e “divulgado” pelo clero e autoridades eclesiásticas – os únicos que tinham acesso ao Evangelho, mas eram extremamente versados na dogmática – e, sobretudo, pelos pais/mães e pregadores ambulantes?

O Brasil e a América Latina,durante cinco séculos, foram evangelizados à sombra do Crucificado (veja-se o valor da Sexta-feira Santa, dos crucifixos, das Via-sacras e correlatos), da devoção ao Santíssimo Sacramento e do Sagrado Coração de Jesus (veja-se a devoção das primeiras Sextas-Feiras do mês, da força do Apostolado da Oração, do número de igrejas dedicados ao Coração Santo reparador dos pecados

16 Atribui-se a Thomas de Kempis a autoria de “Imitação de Cristo, que em português é feita nova edição todos os anos pela Vozes, de Petrópolis. Sabe-se que este livrinho estava na cabeceira do papa João João Paulo I, por ocasião de sua morte, em 1978

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humanos.). De modo muito intenso, no crucificado se via o Deus crucificado por nós; nas devoções à eucaristia, o Deus presente na hóstia consagrada e no culto ao Sagrado Coração, o divino que em chamas de amor age por nós e por quem se deve reparar os pecados no mundo. No fundo para valorizar Deus, se desvalorizava, na prática, o homem Jesus. A piedade popular pode facilmente incorrer num docetismo camuflado.

Daí decorrem a força e a fraqueza da fé entre nós, na compreensão de quem é Jesus. Por um lado, imagens do Cristo Redentor (do Corcovado no Rio de Janeiro e inúmeros outros lugares, é a expressão simbólica de um Cristo docético... distante... que diz quase nada, pois se tornou menos ainda que uma fonte de adoração e de imitação. Por outro lado, há uns “Jesus” da coluna, do bairro ou do lugar tal, ao lado de outras devoções tão enfraquecidas ou despersonalizadas como algumas que se percebe já a primeira vista ser apenas “o espírito mais aperfeiçoado dentre todos os homens” (que nem precisa ser Deus e muito menos libertador/salvador). Em algumas ocasiões paralitúrgicas, Jesus “no ostensório que passeia no meio do povo” serve para abençoar todos os objetos tocados por ele (como mais um objeto de devoção)17. As comoventes encenações na paixão, cada vez mais popularizadas, originalmente eram ocasiões paroquiais para despertar a fé e a piedade; todavia desde que passaram a ser espetáculos públicas e midiáticos – e desligados de um processo evangelizador – se tornam apenas um elemento cultural que fomenta religiosidades descomprometidas com a verdade de Jesus e o anúncio de seu Reino.

Alguém já chamou a atenção que no Brasil, popularmente, chegou-se a algumas posturas que podem assim ser sintetizadas: o Cristo morto, o Cristo distante, o sem poder, o que não inspira respeito e/ou o desencarnado.18 A esta lista, pode-se falar do Cristo milagroso, de Jesus santo entre outros santos, do Jesus sofredor ou da Paixão. Imagens do “doce e amado” Jesus, “meigo redentor”, “grande amado”, “bom amigo” indicam dimensões muito subjetivas, que tendem ao individualismo (católico e protestante), capazes de construir um Jesus intimista, “meu salvador e redentor”, num clima de familismo.

No entanto, convém chamar a atenção que na história da história de Jesus entre nós, no Brasil e na América Latina, nas últimas cinco décadas tem houve um grande incremento na práxis e na teorização sobre Jesus libertador. Milhares de comunidades e grupos, com centenas de assessores, discutiram e rezaram, aprofundaram a vivência espiritual e encaminharam seus projetos e trabalhos pastorais à luz da cristologia libertadora. Nunca se vira isto antes nesta América meredional e que, no entanto, agora vai dando lugar no presente à devoção e adoração eucarísticas.

17 Não quero afirmar que todos os cultos e bênçãos eucarísticos sejam isto ou

só isto.

18 Cf. ARAUJO, João Dias. Imagens de Jesus Cristo na cultura do povo brasileiro, in BOFF, L et alii. Quem é Jesus no Brasil? São Paulo: ASTE, 1974, os 39 ss.

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A história da história de Jesus é um processo bimilenar que pervade toda a cultura do ocidente, desde os antigos povos europeus, tão cheios de outros deuses ricos de tradições, mitos e magias, até os povos novos – como os da América Latina – também cheios de sincretismo, a ponto de envolver espiritualidades afro, espíritas, indígenas com folclores e lendas. Nem sempre os cristãos têm conseguido o equilíbrio melhor entre a devoção, a adoração e a penitência, com o compromisso, o testemunho e o seguimento.

Nas apresentações de Jesus na história devem ser recordadas também as dimensões da “burguesia moderna” provenientes da Europa ocidental, mesmo com certos pressupostos filosóficos, como os de Lessing (+1781), Kant +1804), Marx ( +1883), que propuseram Jesus como “o pedagogo”, “o mestre”, “o filantropo”, “o libertador político”, em síntese “o melhor e o mais perfeito dos homens”. Tais imagens geraram, no meio do povo, concepções que levaram ao encontro do “menino Jesus com cabelos loiros e olhos azuis”. Ou ainda, seja no âmbito católico ou protestante, construíram-se imagens subjetivas do “meu Jesus”, o que perdoa meus pecados, pois por mim morreu na cruz.

Nestes tempos, percebe-se um novo movimento na vida eclesial católica. Muitos dizem ser ele de um retorno. Parece que das concretudes e proposta de Jesus sobre o Reino que já está próximo (cf. Mc. 1,15), quer-se reencontrar (quase de modo agressivo) Jesus na Eucaristia, para ser amado e adorado. Entretanto, alguns conseguem lembrar que ele deve ser imitado. Enquanto outros o lembram como libertador que deve ser testemunhado como o que veio revelar quem é Deus e implantar seu Reino de Justiça e de verdade. Quem ousasse perguntar quem é Jesus entre nós poderia criar um certo embaraço para a resposta, pois Jesus não tem uma dimensão só. Ele é bem mais rico que o dogma do clero, que as narrativas dos simples, que a devoção (por vezes, devocionismo) de grupos. Suas múltiplas faces estão interligadas e devem interagir na vivência da fé. Ele deve ser amado, adorado, imitado, tanto quanto testemunhado e seguido. Ele é e continua sendo sempre o caminho para Deus e para o irmão. Nós o conhecemos, primordialmente, pelos evangelhos no contexto bíblico; depois, pela ampliação intelectualizante dos grandes Concílios cristológicos, pela compreensão contextualizada da fé, pontualizado pelo magistério e pelo “sensum fidelium”. Jesus, em quem cremos e queremos seguir e testemunhar, é alguém do nosso mundo e do mundo de Deus, sempre maior que nós.

Jesus é plural

É interessante observar até mesmo a cristologia do papa Bento XVI, insatisfeito com as idéias desenvolvidas sobre o Jesus histórico. O teólogo papa propôs-se à tarefa de retraçar uma figura contemporânea de “Jesus de Nazaré” desde o inicio de

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sua vida pública19 até (alguns esboços sobre a) ressurreição20, prometendo um terceiro volume sobre a infância de Jesus. A preocupação do papa teólogo não foi a tradicional reafirmação do dogma, certamente por estar convencido que muitos já não entendem esta linguagem e outros não se importariam com ela. Ratzinger buscou, desde os evangelhos em primeiro lugar, apresentar convincentemente (o seu) Jesus para o homem de hoje (sobretudo europeu culto e de primeiro mundo, mesmo com a pretensão de universalização). É certo que o papa Ratzinger escreveu seu “Jesus de Nazaré” não pelo simples prazer de teologizar sobre o tema; mas para pontualizar a nova questão cristológica (Jesus histórico) evidenciando, em meio a um crescente “analfabetismo religioso”, a necessidade de apresentar outra vez Jesus, porém tendo como ponto de partida a revelação bíblica.

Recuperar o Jesus “bíblico”, no contexto do séculoXXI, sem perder as grandes intuições do passado, é uma tarefa a que muitos vem se propondo. Muitos na América Latina, ao invéz de partir de um Jesus ontologizado, têm preferido fazer uma cristologia descendente ou seja: do Verbo que se fez carne e habitou entre nós: ele é Jesus o Cristo. Outros tem buscado uma cristologia ascendente, procurando descobrir Deus no homem de Nazaré, pois tão humano assim só poderia ser Deus entre nós.

Se na história de Jesus, durante muitos séculos, o seu nome e a sua pessoa, foram suficientes, parece que hoje torna-se igualmente importante a consciência de seu papel salvífico. Ao lado de uma cristologia, rica e milenar, faz-se necessária uma abertura para superação da sotereologia tão “precária” destes dois milênios de história.

É importante lembrar ainda que também a sotereologia é plural desde o NT. Ela, a partir de Tertuliano foi se fixando na necessidade de restabelecer a ordem perturbada pelo pecado, portanto de voltar às origens antes do pecado. A morte de Jesus seria a finalidade de sua vinda ao mundo. Posição esta bem diferente da de Sto. Irineu que encontrava o significado sotereológico na elevação e consumação da humanidade, e a morte de Jesus como um momento de sua trajetória no grande processo da realização do plano salvador de Deus21.

Ninguém e nenhum grupo algum pode dizer: “sou dono dele ou de sua história”. Ao contrario, Ele é o Senhor nosso e só Ele é o Senhor de todos. Assim, a histórica plurissemia, tanto intelectual quanto popular-devocional, não esgotam a história da história de Jesus e nem mesmo o seu significa. O que vale, é ele mesmo Deus entre nós, como um Deus que nos ensina a caminhar seu Caminho de Verdade e Vida e nos conduz à plenificação junto do Pai.

19 Ratzinger, J./ Bento XVI. Jesus de Nazaré. Do batismo no Jordão até a transfiguração. S. Paulo: Ed. Planeta do Brasil, 2007

20 RATZINGER, J/ Bento XVI. Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até a ressurreição. S. Paulo: Ed. Planeta, 2011 (no prelo) .

21 KESSLER, Hans. Op.cit. pg.302

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