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ASSUNTO: CPEP Marrocoos 2007 De Pasmo em Surpresa Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Carlos Cordeiro 30-04-07 Pág. 1 CPEP Marrocos 2007 De Pasmo Em Surpresa “É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir”. Foi assim que José Gomes Ferreira escreveu em “Aventuras de João Sem Medo”. Seja qual for o contexto, a frase é lapidar. Eu uso-a frequentemente para mim, sobretudo quando constato que a surpresa me anima a vida. Desta viagem, guardo de novo essa sensação mágica.

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CPEP Marrocos 2007

De Pasmo Em Surpresa

“É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir”.

Foi assim que José Gomes Ferreira escreveu em “Aventuras de JoãoSem Medo”. Seja qual for o contexto, a frase é lapidar. Eu uso-afrequentemente para mim, sobretudo quando constato que a surpresame anima a vida. Desta viagem, guardo de novo essa sensaçãomágica.

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Éramos vinte e um, 15 homens e 6 mulheres. Portugueses, semdúvida. Eles eram mais Josés, 3, elas mais Marias, 4. Motos, eramcatorze, 11 STX e 3 STs.

Dispúnhamos de 1 representante dos anos 70, 4 dos anos 60, 10 dosanos 50, 6 dos anos 40. Deixámos o yé-yé de lado e foi muito Rock &Roll.

Lisboa “ ru les” como capital de partida, com 5 representantes, Trofa eAveiro com 3. Depois, Massamá, Beja, Quarteira, Porto, Portalegre,Coimbra, Leiria.

A saúde e a gestão são as profissões mais representadas, seguidas daadvocacia, do ensino, e do comércio.

Saímos da AS de Alcochete com meia hora de atraso, deixando o JoséEduardo entregue apenas à expectativa de notícias. Em Loulé,garantíamos o mesmo atraso, mas já acompanhados por maisparticipantes e por um grupo de 4L’s portuguesas que tinha o mesmodestino, Marrocos. Na inexistência da AS La Florida, parámos naúltima área de serviço da AE Sevilha-Cádiz, na dúvida, depoisdissipada, de que estariam algumas Pans na primeira AS dessa AE.

De Jerez a Algeciras, a via rápida deixou-nos inexplicavelmente nocaminho por Tarifa. Curvas agradáveis ao longo de uma falésiadelicada, não comprometeram a hora de chegada ao porto deembarque. À nossa espera, estava a Trofa. O grupo estava completo.Compra de bilhetes, entrada no ventre da nau, motos amarradas,subida para as butacas. África estava do outro lado, Marrocos aliperto.

Após a relativa modernidade de Ceuta, surge a caótica fronteiramarroquina. Estava calor, muita gente na fila e a habitual azáfamados arvorados assessores de comunicação marroquinos.

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Preenchimento do documento de identificação individual, e restantespapéis para a pasta. Surge o Moamed. Por qualquer coisa, trata detudo. Lá foi, connosco, posto a posto, fazer o que d issera. Duas horasdepois, ainda andávamos a recuperar carimbos de passaportes quenão tinham sido apostos, registos de saída esquecidos. Surgia oprimeiro pasmo de burocracia que nos abafava a vontade de seguir.

Em Tetouan já era de noite. Na primeira rotunda, alguns não viraramà direita. Parámos à beira de uma loja de mobílias para su ltões, àespera deles, mesmo no coração da mais andaluz cidade deMarrocos. Seguimos meia hora depois e, próximo de Checfchaouen,voltámos a juntar-nos, após mais de uma hora de estrada estreita,sinuosa, alguns camiões de frente, e encandeamentos quanto baste.

Checfchaouen, no Rif.

Checfchaouen é uma Covilhã marroquina. Trepa pelo Rif, até ficarpróximo de duas agulhas de pedra quase inacessíveis. As vielas, aoinvés de pedra, são caiadas em branco e anil, d izem, para afastar osmosquitos. É uma sensação de frescura que compensa o alcantiladoda urbe. Recantos e mais escaninhos, lojas e hostais precários,delicados ou exóticos. Não há ainda adobe nas paredes.

A entrada no hotel Parador foi apoteótica, quer pela d inâmica quecriou à volta da pequena praça que fica praticamente no centro dalocalidade, quer por eu ter deixado cair a moto, quando o asfalto mefaltou debaixo da bota. A tampa do óleo, que um mecânico medissera estar rachada, partiu . Nada que uma rolha de cortiça nãoresolvesse.

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Chefchaouen. Praça central

Reunimo-nos à volta da mesa ao jantar, contagiados pela animaçãoque a novidade nos proporcionara até ali, mais que não fosse peladegustação da primeira tajine da jornada. Mas não tardou que anegociação surgisse sob a forma de uma conta, onde eu , por ser oguia, não pagaria, mas que, sendo pago naquele d ia, ad judicaria umdesconto agradável a todos. Assim foi, após meia hora de d iscussão.Sonhei com a factura mais esmiuçada e armadilhada da viagem.

Conhecêramos o Amed na noite anterior. Fruto de um contactoanterior do Zé Eduardo, este homem sem idade e com uma filosofiade vida que balança entre uma boa cerveja e o destino que temtraçado, guiou-nos pelos meandros das lojas, das passagens baixas

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entre casas, dos túneis, dos hostais, da nascente e do lavadouro, paraterminar a manhã com um dos chás mais caros da jornada.

Almoçámos num segundo andar de um restaurante panorâmico deonde dominávamos meia cidade, bem por cima da praça central.Aqui entrámos em contacto com outra surpresa típica: não há “ nãos”em Marrocos! Tudo se combina, tudo está bem, “ trankilo” , tudo sefaz, tudo se consegue. Não é bem assim. Não é mesmo assim …

Chefchaouen. Interior do restaurante

Raro é o que está tabelado. Mesmo o que está, é forçoso ser alvo denegociação. Nem tudo está inclu ído, aliás, bebidas nunca estão.Cerveja e vinho são caros. O Corão parece que não os contemplousob o tecto das suas raras permissões. Refeição agradável e mais meiadúzia de ruas para percorrer até meio da tarde, quando, subitamente,

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o Amed deu por findo o périplo. A partir daí, cada um perdeu-secomo quis.

“ Portugal” !, “ Cascais” !, “ Batata frita” !, “ Fixe” !, “ Porto!” , já faziamparte do vocabulário dos locais. Reproduziam a verborreia como senão houvesse amanhã, numa espécie de pregão misturado comsaudação de boas-vindas. É fácil perceber a faixa etária, as regiões, eos interesses dos protagonistas que legaram aquele léxico …

Chefchaouen. Uma das ruas

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A caminho de Midelt: a chuva e a neve por companhia

No dia seguinte o destino era Midelt, Meknes e Volubilis objectivosde visita, e dois Col os pontos de paragem da jornada, não fosse otecto do mundo quase ter desabado sobre nós. E foi avisado, uma vezque o alarme do Carlos Mariano não se calou até Midelt. Saímos deChecfchaouen sob chuva, que nos acompanhou durante quase todo odia.

Percorremos algumas estradas que me fizeram lembrar o Minho ouTrás-os-Montes, entre montes ainda verdes que espremiam ribeirosbaixos e tranquilos. E como a chuva não parava, parámos nós emVolubilis, o maior complexo de ruínas romanas em Marrocos, masonde apenas nos acolhemos sob um telheiro que dava acesso às casasde banho. À partida, um pórtico, ao longe, envolvido numa neblinade humidade, deitou-nos um olhar sereno de séculos, a convidar-nosa regressar.

Em Meknes não foi d ifícil dar com o hotel Íbis, para onde eu tinhamandado 2 faxes, mas dos quais não havia recebido resposta.Receberam-nos com simpatia, malgrado a piscina de água destiladaque deixámos no lobby do restaurante. Aqui, o ânimo recompôs-se.

Aproveitámos uma aberta e pudemos rodar secos até à Medina.Apanágio da boa relação existente com a polícia marroquina, foi apermissão das 14 motos pisarem um traço contínuo para, depois,estacionarmos frente à Porta Mansour, um dos expoentes artísticos deMeknes.

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A saída da cidade foiescoltada por um carroda polícia, privilégio degrande u tilidade,embora o acesso ànacional não sejacomplicado.

Nunca cheguei a saber opreço da refeição, umavez que todos sequotizaram para pagar aminha parte e a daJulieta.

Meknes. Na Bab Mansour

Como fiquei sem palavras, ju lgo que todos perceberam que o gestome surpreendeu de forma significativamente agradável.

Assim sendo, obriguei-me a não me irritar mais do que uma vez naviagem, sendo que essa possibilidade, a acontecer, seria simulada.Porém, não consegui. Aliás, pouco mais à frente, foi com oselementos naturais que a arrelia sobreveio. O ar gelava à medida quesubíamos o Médio Atlas, acompanhado por uma chuva frígida quenos paralisava mãos e pés.

A partir da passagem pelo famoso bosque de cedros que fica naregião de Azrou, as pingas de chuva engrossaram, a formar neve. Aágua que se acumulava nos vidros e nas viseiras gelou. Quandoparámos, algumas placas de gelo, renderam-se ao deslizar pelascarenagens caindo no chão como guilhotinas. Os campos tinhamalguns palmos de neve e os cedros estavam carregados de espessasmantas brancas. Nós estávamos quase congelados.

Não quase. A Julieta quis registar em foto aquele ambiente e tirouuma luva para carregar no botão de d isparo da máquina.

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Na Floresta de Cedros, a nevar

Conseguiu , masdeixou cair a luva.Alguém a apanhoumas, quando a calçou,ju lgou que tinhaperdido os dedos, tãogelados que estavam.A neve deixou-nosapós meia hora demontanha.

Chegámos a Midelt em pânico, menos porém do que o expresso pelorecepcionista quando foi preciso saber onde estava quem, uma vezque havia quartos duplos onde estavam singles, triplo ocupados porduplos, três pessoas em duplos … Após meia hora de engenharia, láfoi possível assegurar alojamento a todos e tomar um banho a ferverpara repor a circulação sanguínea.

Nessa noite, surgiu o Omar, após eu ter perguntado por ele ao irmão,Ali. Seria o nosso guia nos próximos dois d ias. O Ali estava com umgrupo de turistas algures, pelo que seria o seu irmão Omar acontrolar a nossa estadia no deserto. "Tudo bem!", “ trankilo!” , “ fixe!” .O léxico liceal já chegara ao deserto. Porém, tudo estava preparado,assegurava. De facto, aquela noite, não paguei. Dormi sossegado.

Pela manhã, foi um cenário de bonança que nos acordou. O solaproximava-se do Atlas, relaçando já os cumes nevados e a aridezque circundava o Kasbah Asmma Hotel, situado a cerca de 3quilómetros de Midelt.

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A caminho do sul: o deserto como destino.

De manhã, o guarda doparque mostrou um belosorriso à vista da“ proprina” que lhedeixava. Saímos tarde. Ajornada era curta, poucomais de 400 quilómetros.

Com o alarme da motodo Carlos Marianodomado por umespecialista local, ogrupo seguiu em A neve em redor de Midelt

caravana atrás do jipe do Omar, sob uma temperatura retemperadorae auspiciosa. O mau tempo havia dado lugar a um céu azul e ao soldespido de nuvens. O adobe das casas surgia agora mais frequente.Estávamos a caminho do sul.

Vale do Ziz

Seguimos o Omar,num ritmo queenfadou alguns,sequiosos de deserto.A uma média de 80,vagueámos pelo valee oásis do Ziz, emestrada seca e deperfil tentador.

Parámos à vista dooásis, ainda entaladoentre falésias quefaziam

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lembrar as “ mesas” texanas e mexicanas. Quando passámos ERRachidia, sentiu-se o odor do deserto a aproximar-se, à medida queas palmeiras e as tamareiras se juntavam à beira da estrada.

Almoçámos numa espécie de riad - ao estilo turismo de habitaçãoportuguês - já não havia pachorra para cheirar o fumo do escape dojipe. Estávamos próximo de Rissani, onde deixaríamos as motos nocurral da Maison Tuareg e embarcaríamos em 4 naves do deserto,Land Rovers, que nos acompanhariam durante todo o tempo em queestivemos no deserto.

Muitas pistas, muito pó, muita terra batida, mais areia, e surgem asdunas. Estávamos no Erg Chebbi. Ao longe, um albergue, algumastendas, e um lago, um lago no deserto! Do outro lado, dunas, e maisdunas. Deste, um grupo de músicos gnawa dava-nos as boas-vindas.Não tardou que o Arlindo - o nosso especialista em dança gnawa - ossurpreendesse …

Distribuíram-se as tendas. Eu fiquei entre duas que meteram … areia,fru to de uma brisa suave mas insistente, que se esgueirava poralguns buracos na lã. Anedotas, um sentar à borda do lago, maisanedotas, e duas uruguaias a surpreender (ou ser surpreendidas)pelos mais noctívagos.

Antes, porém, o jantar foi pantagruélico. Após algumas tajines parapartilhar, chegou um cabrito que nos sobressaltou o apetite. E, sealguma relu tância pareceu surgir, não ficaram mais do que ossospara recordar o repasto.

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Músicos nas tendas do Erg Chebbi

Isto, sempre ao ritmoda música, que fluíaentre o gnawa e acapoeira, com algunsbatuques e solos deuma espécie de violinoa d inamizar o ritmo danoite.

Na manhã do d ia seguinte, foi a vez de circundar o deserto a bordodos 4 jipes. O “ pequeno” deserto, de um amarelo-torrado que seavermelha à proximidade, é bastante concorrido. Tem mais turistas,do que tuaregues. Aliás, visitámos a tenda da única família queparece ainda viver naquele sítio, daquele exíguo modo de vida.

Aqui, ao contrário do adobe que impera nas construções sedentáriasdo deserto, é a lã que domina como material de construçãodas tendas dos nómadas.

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Acompanhámos a silhuetado relevo montanhosoargelino a caminho das“ minas” de fósseis.Entretanto, pudemosdisfru tar de imagensrefrescantes de lagos quemudavam de posição aoavanço do jipe. Miragens,e muito bem feitas, porsinal ...

Poço tuaregue defendido por um pneu de camião.

Na "mina", o Joaquim Soares afastou-se e apanhou um ou doisfósseis, sabemos agora com alguns milhares de anos. Pouco depois,sentámo-nos numa casa comprida, propriedade de uma cooperativamusical, onde escutámos, de novo, ritmos gnawa, numa aldeia quetambém parece estar no circuito turístico dos guias da região.

Depois, conhecemos o Lago dos Flamingos, já no deserto de pedra,uma longa extensão de água onde apenas faltavam … os flamingos.Aqui, não havia miragens. A meia dúzia de vendedores queapareceram do nada, não tardaram a acocorar-se e a abrir asrespectivas “ lojas” .

Andámos a caminho do almoço, uma gostosa pizza de Rissani,elaborada com pão e carne, um dos melhores pratos marroquinos quetivemos o prazer de degustar. Como sobremesa extra, o convite paravisitar a Maison Tuaregue, trazia areia no bico. A costumeira mostrade tapetes não passou d isso mesmo. A certo ponto, os própriosvendedores devem ter percebido que não conseguíamos arrumar umlenço nas malas, quanto mais um tapete …

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Daí a pouco, estávamos no mausoléu de um monarca da d inastiavigente, salvo erro avô de Hassan II. Estranhamente, apenaspudemos visitar o claustro, uma vez que não demos qualquer"propina" a um jovem que introduziu um casal de espanhóis na zonaproibida, mas foi prontamente invectivado pelo segurança.

A seguir, passámos ao kasbah de Rissani, muito semelhante (emconfiguração, não em dimensão) à medina de Fes, já que era fechadopor cima e estava escorado em grande parte do percurso. Estavapraticamente abandonado, embora ainda não fosse ru ína. Aliás,vislumbrámos bastantes, sobretudo desde Erfoud. Há muitasconstruções que, quer pelas condições climatéricas mais agressivas,quer pela degradação, vão sendo abandonadas. A propósito, um dosalbergues do Erg Chebbi, tinha sido alvo de uma tempestadetremenda e estava já em ruínas …

Pouco depois, ala para o deserto, a caminho do Hotel Kasbah. Penafoi que o “ hotel” fosse um albergue, que tenhamos ficado a meia horade jipe das motos, que os quartos duplos fossem quádruplos, que osindividuais que nos queriam destinar tivessem casa de banho noexterior, que a água quente tenha acabado quando fu i tomar banho.Exigências dali, cedências daqui, e meia hora depois estava eu atentar coelhos da cartola entre o salve-se quem puder que pairousobre os mais apavorados. A magia veio então da agilidade dos queperceberam não ser fúnebre partilhar uma divisória num quádruplo.

Mas, dentro em pouco, estávamos quase todos no topo de uma dunacatita, aguardando o sol desaparecesse lá para os lados deMarraquexe. Entretanto, recebemos algumas motos 4 na “ nossa”duna, tripuladas por elementos do Clube GoldWing espanhol, cu jacaravana apanharíamos no trajecto para Casablanca e para Arzila.

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Um deserto concorrido

Deixámos escapar ofim do d ia com umasensação de devercumprido, masigualmente comuma serenidadeprópria daqueleambiente quieto esilencioso, onde aarquitectura delinhas suaves dasdunas deve ter umpapel apaziguador erelaxante.

O deserto é um local privilegiado para fazer o elogio do silêncio eatender aos detalhes. Foi aqui que peguei na máquina fotográfica eguardei imagens de todos os que estavam ali, com vontade de lhesreproduzir a alma.

Mas não foi apenas a sensação das formas que serviu de terapêutica àexcitação provocada pela "imprevisível" redistribuição dealojamentos no "hotel". Um discurso ortopédico permitiu corrigiruma ou outra deformação adquirida, tratar vestígios de subtistraumatismos, e repor os níveis de ansiedade que, também eu, haviaexcedido, embora de forma dissimulada, como é permitido …

A noite ofereceu-nos mais música gnawa e d isseram-me que a festapuxou mais dos nossos para a “ pista” . Entretanto, eu arrematava ocusto do deserto, que cumpriu irrepreensivelmente o que estavaestipulado em termos de números. Assim fossem as condiçõescontratadas e acreditaríamos que tudo é “ fixe!” , fica “ trankilo” … ! Oalbergue dos homens azuis ficaria mais como ponto negro do quecomo alvo cartão de visita do Erg Chebbi.

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Rumo a Marraquexe: sobre tempestade de areia

Pela manhã, confirmámos que as motos ainda estavam no redil.Despedi-me do Omar com a sensação de que o acaso não conseguiriavencer nem o espanto nem a surpresa. A seguir, passámos por váriasaldeias pobres que a estrada para Tinejade liga, numa sucessão derectas e oásis.

Com a proximidade de Boulmalne du Dades, o Atlas foi-semostrando à caravana. As montanhas mais elevadas do norte deÁfrica, erguiam-se à nossa d ireita, encrespando-se áridas para oesteaté se esbranquiçarem de neve lá para os 2500 metros de altitude. EmBoulmalne, bebemos um cafezinho num restaurante panorâmico,logo após a entrada da povoação.

Em baixo,vislumbrava-seuma vasta área deoásis, o maisextenso eurbanizado destepériplo, que nosobrigou a rodarcom muita atençãoe paciência,limitadossistematicamentepelo tal traçocontínuo que nos Kasbah de Ouarzazate

escoltava desde a fronteira …

Espanto foi quando, alguns quilómetros depois, uma ventania,daquelas que têm mesmo vento, arrastava areia consigo, fazendo-nosrodar à vela na meia centena de quilómetros que nos separavam de

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Ouarzazate. Lá, tinha eu aprazado o almoço para as 13:00, sob umapositiva salvaguarda do Said : “ venham que está reservado!” . Estava.Mas a ventania também havia dominado a agilidade dos cozinheiros,pelo que aquele almoço demorou mais do que estava previsto ecomprometeu a chegada d iurna a Marraquexe.

Aliás, o vento voltaria a acompanhar-nos nos próximos 50quilómetros. Em “ Ait Benadou” , o mais famoso kasbah de Marrocos,que pretendíamos visitar, estava envolto em areia, que teimava emnão deixar passar ninguém pelo acesso do rio que não usassecapacete.

Ait Benadou envolto em areia

Desistimos de entrar,à excepção doEduardo que, comoportucalenseconvicto, invectivoupela fortaleza mourasem apelo nemagravo. Voltámos àestrada paraenfrentar, de novo, osopro de um Eoloirascível.

Grupos de autocaravanas, jipes e motos, foram quase uma constantenesta jornada. Pouco antes de Ouarzazate, foi a vez de nos cruzarmoscom a caravana da MotoMil, um grupo formado sobretudo porBMWs GS, mas onde também participavam algumas KLT e umaPaneuropean. Antes, havíamos deixado outra comitiva, espanhola,numa estação de serviço, que devia juntar cerca de 40 motos.

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Foi com uma falsa sensação de alívio que abordámos as primeirascurvas do Atlas. Pensámos que na montanha o vento desaparecesse.Enganámo-nos. A cerca de 2200 metros de altitude, o ventoempurrava as motos como se fossem folhas de árvores. Nem a saídaagitada dos comerciantes do Tizi N Tichka nos demoveu de partir omais rápido possível, assim que pusemos as mangas dos blusões parafora das luvas.

A temperatura baixa, aliada à ameaça de chuva e ao vento forte quese fazia sentir, partiram a caravana Paneuropean em vários grupos.Não mais parámos nas exíguas e alcantiladas lojas de artesanato damontanha, nem sequer numa das aldeias serranas que mais parecemKatmandus marroquinas.

Eu tentei encontrar o caminho nocturno para o hotel, mas comoentrámos por outro lugar, não insisti. Foi preciso recorrer a váriassugestões dos locais, até que, pouco antes da hora de jantar, o JoséMenau conseguiu dar com o Hotel Amalay. Já próximo, foi a vez deperdermos uma garrafa de água, que rebentou no chão da rotundaantecedente, após ter caído da mochila que levava por cima do sacode topo. Não seria a única bagagem a desaparecer …

Na Meca do comércio marroquino

Com um nome daqueles, o hotel não augurava grande coisa.Cumpriu . Era longe da Praça Fna, e os quartos tinham casas debanho estranhas e exíguas. Havia greve dos “ petit-taxi” . Socorremo-nos da iniciativa privada, a bordo de um velho Golf marroquino,para aceder à praça, que é também o coração de Marraquexe e emcujas artérias corre uma actividade comercial exótica, d ivertida,colorida, delicada e aprazível. Deixámos a respectiva exploração parao d ia seguinte.

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Tendo as motos enfileiradas à porta do hotel, muitos decid iram partirem autocarro turístico para conhecer Marraquexe.

Fiquei com pena,quando lá passei, deque não tivéssemosconseguido lugar noHotel de la Menara,onde ainda tentei,d ias antes, reservara nossa estada, massem êxito. A cidadeestava cheia degente de fora.

Pela hora de almoço, O colorido das lojas

estávamos na praça Fna. Depois, foi um “ ver se te avias” pelas vielas,onde transitam burros, reboques, motorizadas e, até pessoas, entrelojas estreitas e baixas, de onde se apela constantemente aos clientes.O Carlos Mariano sobreviveu-nos ao tempo de passeio e de entradanas lojas, mas não consegui acompanhar o ritmo de fundo com queestávamos. Só nos revimos à noite, já todos estavam à mesa de jantarno hotel.

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Na Praça Fna

Eu entreguei algunspistachos a pedido desaltimbancos, mas fuiassediado por ummúsico que até mebeijou para assegurarmais alguns daquelesaperitivos. De um modogeral, os vendedoresforam simpáticos, algunsforam mesmo divertidos,tornando as comprasnuma actividade castiça.

Voltaremos a Chefchaouen, onde a simpatia e serenidade doscomerciantes suplantou os de Marraquexe, mas, aqui, o fervilhar domercado é mais atractivo, a d iferença é mais acentuada, a Medinamais cativante.

A energia da Praça faz o resto. Macacos amestrados, cobrasadormecidas, dentistas improvisados, aguadeiros decorativos,cantores, contadores de histórias, actores, vendedores d isto e daquilo,bancas de sumo de laranja, doces, espremem-nos os sentidos.Ficamos com saudade. É bom.

Marraquexe-Arzila: a etapa mais longa.

A jornada seguinte era ambiciosa. Havia-o d ito ao José Eduardo,confirmámo-lo no terreno. O trânsito da nacional até Settat obriga,como já antes havia acontecido, a pisar o traço contínuopermanentemente, esse traço contínuo que parece começar nafronteira e dar a volta a Marrocos connosco. Foi na AE, que liga Settat

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a Casablanca, que os cartuchos de pistachos e de tâmaras, seescapuliram das “ aranhas” traseiras.

Era a vez de entrar em Casablanca para visitar a mesquita Hassan II,a maior da Marrocos e a única visitável por não crentes. Verificou-seque, devido à celebração em curso, nem sequer nos pudemosaproximar da mesquita, quanto mais visitá-la. Não sei se ficará paraoutra ocasião, em que, com tempo, possamos estar lá e integrar ahora correcta de visita. Não fosse o passeio pela marginal, lideradopelo Menau, ficaria com ideia de que Casablanca era a Mesquita eque, por tal, não valeria a pena lá voltar ...

Percebemos também que o trânsito na cidade ombreia com os pioresdias de Lisboa ou do Porto. Tal como em Portugal há 40 anos, asbuzinas parecem estar junto do coração, que bate ao ritmo daabertura dos semáforos. Demorámos quase duas horas para almoçarpeixe, num restaurante de cozinha francesa. A saída de Casablancaprocessou-se com lentidão, de tal ordem que, na AE, foi precisoandar mais depressa do que o habitual.

Arzila. No interior das muralhas

Apanhámos a hora desaída laboral - em quealguns precisam deatravessar a AE pararegressarem a casa -alcançámos a caravanaGoldWing espanhola -que rolava lenta -rodámos uma centenade quilómetros à noite.

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Finalmente, chegámos ao hotel de Arzila, cu jos quartos foram dosmelhores da jornada. Conduzidos por duas motorizadas, ficámosalojados em frente da Protecção Civil da cidade. Estávamos seguros… Entretanto, soubemos que o Armando, a Teresa e o Eduardohaviam conseguido passar por Rabat, destino que havíamosdescartado devido ao adiantado da hora.

Arzila. N aporta de armas da fortaleza

Como ficámos perto do castelo erigido pelos Portugueses em milquatrocentos e pouco, foi para lá que fomos esticar as pernas depoisde jantar, registar algumas imagens do que foram algumas das obrasportuguesas do século XV em Marrocos. Porém, não gostei doambiente nocturno de Arzila. Não fosse a simpatia dos 2 ou 3comerciantes da Medina que ainda tinham as lojas abertas, ficariacom a ideia de que o lugar junta gente pouco recomendada.

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A caminho de casa

De manhã, o pneu traseiro da moto do Armando rendera-se. Tinhaum furo e a respectiva calvície não inspirava confiança. Tivesse defazer os 20 kms em estrada de obra, não resistiria até Ceuta. Mudou-se em Tanger, tal como uma das lâmpadas de médios da minha ST,que não paguei …

Aquecemos naquela manhã fria a empurrar a moto do Zé Marquesque deve ter passado a noite destapada. Com sete ou oito mãos natraseira, a STX não resistiu à impulsão e bufou de novo. Saímos comquase 1 hora de atraso de Arzila.

Passámos à estrada que liga Tanger a Ceuta, entre montes e vales,estrada esburacada ou pista larga abrasiva. Ainda conseguimosvislumbrar um cartaz que anunciava que a Expo 2012 é em Marrocos,provavelmente em Tanger. Dali, daquelas colinas, a vista édeslumbrante, quer para a serra, quer para a costa espanhola,d istinguindo-se facilmente o rochedo de Gibraltar.

Chegámos praticamente ao mesmo tempo à fronteira. Desta vez, apassagem para Ceuta foi mais fácil e menos demorada. Os papéis docostume, uma pequena fila, tempo para carimbar, e eis nos do ladoeuropeu. Quem não gostou muito da quebra da chave das malas foi oAntónio Carvalho, que não conseguiu retirar de lá o bilhete deregresso. Eu não levei uma tampa de substitu ição, mas tinha chavesde reserva …

No barco, começou a aflorar-se a hipótese de nos reunirmos um diadestes para ver as imagens que captámos da viagem. Tambémsupunha que sairíamos em grupo do barco de modo a seguirmosjuntos até à ú ltima AS antes de Sevilha. Como fui o ú ltimo a sair,ju lguei que todos estavam à minha frente. Porém, haviam optadopela estrada rumo a Tarifa e não pela A381, uma via rápida que levadirectamente a Jerez.

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Ainda esperei pelo Jorge na AS El Fantasma, mas como ele parou naportagem, continuei. Acabei por estar à frente de todos e chegar acasa por volta das 9 da noite. Como praticamente não havia trânsito,a velocidade passou para os cento e “ entas” , controlandofrequentemente a traseira para não ser surpreendido, como o Porscheque estava a ser fotografado pela polícia na AS de Almodôvar …

De facto, as surpresas da chuva no Rif, da neve no Médio Atlas, datempestade de areia desde antes de Ouarzazate até à serra, do frio noAtlas, dos lagos do deserto, do faz que não faz marroquino, damarabunta de turistas, dos hotéis mais ou menos “ exóticos” , dotrânsito caótico de Casablanca, foram suficientes para apaladar aviagem, espantando-me sobretudo com a d iversidade de situações ede paisagens.

Continuarei, evidentemente, adepto da expressão e da prática de que“ é proibida a entrada a quem não andar espantado de existir” . Ora,para existir não basta pensar, é preciso ser reconhecido, socialmente éclaro. Por isso, continuarei a surpreender-me sobretudo por existiremoutros que tão bem sabem partilhar momentos de vida.

Uma palavra especial de apreço a todos os participantes revela que asinflamações simuladas foram em número adequado e que a boadisposição e o companheirismo imperou. Fiquei muito agradado porpartilhar convosco uma semana catita que não se estimava fácil. Essadestreza só aconteceu porque em geral não se complicaram asdúvidas, nem se exaltaram anseios. Aliás, houve gente que se reveloumuito d ivertida, cooperante, organizada e, além disso, simpática.

Um agradecimento particular ao José Menau e à Isabel, “ obrigados” anavegar à popa, enquanto garantes de que ninguém ficava para trás,e também pela d isponibilidade de nos orientarem pelas ruas deMarraquexe e Casablanca, assim como sempre que era necessáriotraduzir ou entender árabe. Ao José Barriga, por ter sido o outro pólode controlo, à proa da caravana.

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Uma palavra final de apreço para o José Eduardo, incansável noscontactos, no auxílio logístico e no assegurar da produção dos pólos.Foi ele, especialmente, que faltou no grupo.

Com as saudações do costume

C.