corpo e beleza em diferentes períodos históricos

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Corpo e beleza em diferentes perodos histricos

Sculo IV a.C. - Vnus de Cnido PADRES DE BELEZA NO TEMPO, por Tatiana Bonum Matria publicada Revista Cultura (ed. 25 de agosto de 2009) citando as influncias das artes plsticas na transformao dos conceitos de belo ao longo da histria. "Se voc perguntar para um grupo de 30 pessoas quem cada uma indicaria como uma cone da beleza atual, ouvir nomes previsveis como Gisele Bndchen e Naomi Campbell, mas tambm outros mais ousados como Danielle Souza, conhecida por Mulher Samambaia. Todas elas com o aval miditico. Para a ala masculina, mesma disparidade, que flutuar de George Clooney ao cantor Latino, passando por jogadores de futebol e milionrios rabes. Quando o assunto beleza, no h unanimidade. Na construo da concepo de belo participam desde aspectos socioculturais e pessoais at questes ligadas ao religioso e financeiro, sempre permeados pelo pano de fundo histrico. Um exemplo? Vernica Stigger, crtica de arte, tem um exemplo na ponta da lngua: As argolas de bronze que as mulheres de certas tribos tailandesas colocam em torno do pescoo, deformando o ombro e fazendo com que o pescoo parea mais longo, so belas para essas tribos, mas uma aberrao para outras. Isso s para mencionar alguns elementos racionais e concretos sobre referncias estticas. Porm, h tambm outras questes mais subjetivas e atemporais que participam da percepo do que atraente. preciso notar que a noo de beleza um conceito abstrato e mutvel, diretamente relacionado eterna busca da perfeio, que possibilitaria ao homem aproximar-se do transcendental, acrescenta Helosa Dallari, professora de arte na FAAP (Fundao Armando Alvares Penteado SP). Por todos esses motivos, no raro coexistem em uma mesma fase padres de beleza contraditrios e igualmente aceitos, o que torna a discusso ainda mais instigante. Esse ser um dos temas discutidos na Semana da Beleza e Sade, que acontecer na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em So Paulo, de 24 a 27 de agosto, com palestras de especialistas da rea (confira programao completa no site da Cultura). Entretanto, pode-se dizer que, grosso modo, possvel identificar uma definio de belo predominante em cada poca. Acompanhe a evoluo cronolgica desse conceito. Rita Hayworth como " Gilda": padro contemporneo que persegue a juventude

ANTIGUIDADE A beleza, at o sculo VI a.C um conceito subjetivo e abstrato, ganhou uma percepo lgica com o filsofo grego Pitgoras. Ele aplicou a matemtica ao conceito de belo e preconizou que um corpo e um rosto bonito deveriam ser simtricos e proporcionais. O parmetro serviu de referncia para pintores e escultores, que passaram a perseguir esses ideais. Ao olhar uma figura bela na Antiguidade, tinhase a impresso de ordem, harmonia e de medidas exatas. Muito comuns eram o nariz desenhado, o perfil perfeito e os cabelos ondulados. Alguns exemplos de obras: escultura de Apolo no templo de Delfo e a escultura Fauno Barberine (200 a.C). IDADE MDIA No h preocupao com a beleza fsica. Ela entendida apenas como consequncia de uma boa alma e de comportamento devoto. Isso sim poderia transparecer na fisionomia, resultando em um rosto angelical, puro e cheio de piedade, ou seja, belo para a poca, como explica Marcus Vincius de Morais, mestre em Histria Cultural pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas -SP). Bocas muito pequenas e lbios finos simbolizavam fragilidade e ausncia de desejos carnais, por isso, eram valorizados, comenta o cirurgio plstico Maurcio de Maio. Em relao ao corpo, o bonito era o bitipo longilneo (e no mais necessariamente proporcional), ombros estreitos e levemente cados, seios pequenos e o ventre proeminente. Exemplos de obras: Madonna da Humildade, de Masolino, Judith e Venus, de Lucas Cranach. RENASCIMENTO A exata medida volta tona como ideal de beleza. Desta vez, retomada por Leonardo da Vinci, que estuda profundamente a anatomia e a aplica em suas obras. Seu mestre inspirador foi o romano Marcos Vitrvio, que viveu no sculo I a.C e elaborou a teoria do Homem Vitruviano, que demonstra a sequncia desejada de propores do corpo e do rosto humanos. A escultura David, de Michelangelo, um exemplo deste aspecto do perodo. Porm, diferentemente da Antiguidade, ao observar uma obra renascentista, impossvel no notar a forte presena de realidade no retratar os corpos, em especial, os femininos. No Renascimento, h a soma dos critrios de proporcionalidade do perodo clssico ao advento do naturalismo: os corpos so rolios, os ombros largos, o busto

proeminente e os quadris amplos e arredondados, comenta a professora de arte Helosa Dallari. Nesse contexto, celulites, gordura localizada, pneuzinhos e ondulaes no corpo eram retratadas mais como sinais de volpia e nobreza, j que a ostentao alimentcia no era para todos. Ser gordo, encorpado, ter braos rolios, hoje considerados motivos de vergonha, eram indcios de status social. possvel observar esses traos nas obras Hlne Fourment como Afrodite, de Peter Paul Rubens, e As trs Graas, de Rubens. BARROCO E MANEIRISMO Inquietao, subjetividade e mais espontaneidade so elementos associados ao conceito de beleza. Esses dois movimentos rompem com os parmetros clssicos, ainda fortes no Renascimento, para propor ideias mais particulares e menos estagnadas do que belo. A beleza no uma qualidade das prprias coisas; existe apenas no esprito de quem as contempla e cada um percebe uma beleza diversa, define David Hume, filsofo e historiador escocs. Agora, para ser bonito, no basta ter proporo e simetria, preciso tambm possuir graa e formosura, dois conceitos menos concretos e palpveis, que abraam tambm elementos como espiritualidade, o fantstico e as emoes. A complexidade valorizada e h um refinamento evidente nas obras. Exemplos: Melancolia I, de Albrecht Drer, e Retrato de Madame Rcamier, de Jacques-Louis David. ROMANTISMO Funde caractersticas aparentemente contraditrias: ingnuo e fatal, selvagem e sofisticado, harmonioso e assimtrico. A mistura desses contrapontos resulta no conceito do belo intenso e emocional, muitas vezes pendendo para o mgico, o desconhecido e o catico. Ser bonito pode incluir tambm o disforme, o extico e o mrbido. Uma mulher atraente pode ser plida e apresentar olheiras, ter lbios carnudos e avermelhados, ostentar uma cabeleira volumosa e indomvel, orgulhar-se de veias aparentes. O aspecto saudvel bvio demais para ser admirado, excessivamente sem mistrio. H uma intrigante noo perversa na esttica. Obras: Aurlia, de Rossetti, Safo, de Charles- Auguste Mengin, e Oflia, de John Everett Millais

MODERNISMO

A ideia do ser perfeito se dilui, se distancia das referncias to trabalhadas nos perodos anteriores. No expressionismo e no cubismo, a figura humana pode se deformar e at mesmo desaparecer, como na abstrao, observa Veronica Stigger, escritora e crtica de arte. A esttica adquire forte aspecto geomtrico, pode lanar mo da descontinuidade e da fragmentao, mas sobretudo, chama ateno pela provocao de corpos e rostos instigantes, mas, ainda assim, cheios de graa. Exemplos: Les demoiselles dAvignon, de Pablo Picasso, e A negra, de Tarsila do Amaral.

CONTEMPORANEIDADE A era Barbie, que persegue a juventude, a magreza e a alegria constante. A beleza entra na ditadura da felicidade e passa a ser um instrumento para alcan-la. a senha para o sucesso profissional, o reconhecimento social e o entendimento amoroso, opina Marcus Vincius de Morais, da Unicamp. Como tudo, se transforma num objeto de consumo e pode ser adquirida com cosmticos, procedimentos estticos ou cirurgias. A tecnologia avana no sentido de atender esta demanda social, nunca to valorizada em nenhum outro perodo histrico.