representaÇÕes do pampa nas paisagens rurais e culturais · a análise da obra que contempla...

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 REPRESENTAÇÕES DO PAMPA NAS PAISAGENS RURAIS E CULTURAIS ZAMBERLAN DOS SANTOS, NARA REJANE (1); ZAMBERLAN DOS SANTOS, NASTAJA CASSANDRA (2); CERETTA, CAROLINE CILIANE (3) 1. Unipampa campus São Gabriel Rua Antônio Trilha 1847- São Gabriel/RS [email protected] 2. UnilaSalle Av Vitor Barreto 2288-Canoas/RS [email protected] 3. Universidade Federal de Pelotas [email protected] RESUMO O Pampa estende-se por vastas áreas de planícies recobertas por gramíneas, pontuadas por capões e entremeadas por grandes propriedades onde se desenvolvem a lida campeira, se perpetua os costumes e tradições, os bolichos para convivência e para contação de causos. As estâncias, sede das propriedades ostenta seu passado de glória onde os proprietários se apropriaram das paisagens estépicas e lhe deram destinação própria para a pecuária. Estas propriedades evidenciam características arquitetônicas regionais e mobiliário e objetos artísticos que imprimem o poderio outrora destes locais, mas principalmente, registram a própria história não só familiar, mas política, social e econômica. A pouca predisposição dos municípios em incentivar a manutenção deste patrimônio rural, direcionar novas ruralidades, propor políticas que agreguem valor as mesmas com destinações adicionais ao proprietário além de divulgar estes sítios históricos e culturais subsidiou uma breve discussão do tema com o objetivo de averiguar os registros e estudos realizados no município de São Gabriel, RS, bem como as políticas públicas relacionadas com o tema. A pesquisa de cunho exploratório qualitativo foi desenvolvida através de análise bibliográfica e documental. Os resultados apontaram que a localização destes imóveis na região denominada Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul, área economicamente deprimida contribui para o decréscimo de investimentos por parte dos proprietários ou o esvaziamento das famílias, dando sinais de uma ocupação exógena que busca a utilização das terras por compra ou arrendamento sem um vínculo histórico e/ou afetivo com o lugar. Por outro lado, as políticas públicas de inventariar tais locais, resgatar dados históricos, partilhar estes conhecimentos com a população é mínima, havendo poucos registros de intenção de fazê-lo, a exemplo do Plano Diretor que apresenta uma proposta de uma rota Histórica Cultural na zona rural com dez pontos turísticos, mas não faz alusão a vinte e seis sedes de antigas estâncias constantes no mesmo documento. Não seriam estes locais objeto de estudo sobre sua autenticidade, potencialidade e recuperação histórica? Quanto ao registro das propriedades através de livros e documentários o mesmo teve início com publicação de obra específica do tema, porém não houve continuidade das ações. A análise da obra que contempla aspectos históricos aponta duas propriedades na sede do município, oito estâncias no distrito de Vacacaí, dezessete no distrito de Batovi, quinze no distrito de Suspiro, três em Cerro do Ouro, cinco em Catuçaba, dezoito no distrito de Tiarajú, e dezesseis no distrito de Azevedo Sodré. Destaque também para as estâncias históricas, antigas e tradicionais de Santa Margarida do Sul (ex-distrito de São Gabriel) com doze propriedades rurais. A peculiaridade de se tratar de um município de cunho rural justificaria toda e qualquer proposta de preservação deste patrimônio cultural material embreado de uma cultura imaterial traduzida pelas lidas, gastronomia e lendas. Palavras-chave: estâncias; patrimônio cultural; investimentos campeiros; resgate histórico.

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

REPRESENTAÇÕES DO PAMPA NAS PAISAGENS RURAIS E

CULTURAIS

ZAMBERLAN DOS SANTOS, NARA REJANE (1); ZAMBERLAN DOS SANTOS, NASTAJA CASSANDRA (2); CERETTA, CAROLINE CILIANE (3)

1. Unipampa campus São Gabriel Rua Antônio Trilha 1847- São Gabriel/RS

[email protected]

2. UnilaSalle Av Vitor Barreto 2288-Canoas/RS

[email protected]

3. Universidade Federal de Pelotas [email protected]

RESUMO O Pampa estende-se por vastas áreas de planícies recobertas por gramíneas, pontuadas por capões e entremeadas por grandes propriedades onde se desenvolvem a lida campeira, se perpetua os costumes e tradições, os bolichos para convivência e para contação de causos. As estâncias, sede das propriedades ostenta seu passado de glória onde os proprietários se apropriaram das paisagens estépicas e lhe deram destinação própria para a pecuária. Estas propriedades evidenciam características arquitetônicas regionais e mobiliário e objetos artísticos que imprimem o poderio outrora destes locais, mas principalmente, registram a própria história não só familiar, mas política, social e econômica. A pouca predisposição dos municípios em incentivar a manutenção deste patrimônio rural, direcionar novas ruralidades, propor políticas que agreguem valor as mesmas com destinações adicionais ao proprietário além de divulgar estes sítios históricos e culturais subsidiou uma breve discussão do tema com o objetivo de averiguar os registros e estudos realizados no município de São Gabriel, RS, bem como as políticas públicas relacionadas com o tema. A pesquisa de cunho exploratório qualitativo foi desenvolvida através de análise bibliográfica e documental. Os resultados apontaram que a localização destes imóveis na região denominada Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul, área economicamente deprimida contribui para o decréscimo de investimentos por parte dos proprietários ou o esvaziamento das famílias, dando sinais de uma ocupação exógena que busca a utilização das terras por compra ou arrendamento sem um vínculo histórico e/ou afetivo com o lugar. Por outro lado, as políticas públicas de inventariar tais locais, resgatar dados históricos, partilhar estes conhecimentos com a população é mínima, havendo poucos registros de intenção de fazê-lo, a exemplo do Plano Diretor que apresenta uma proposta de uma rota Histórica Cultural na zona rural com dez pontos turísticos, mas não faz alusão a vinte e seis sedes de antigas estâncias constantes no mesmo documento. Não seriam estes locais objeto de estudo sobre sua autenticidade, potencialidade e recuperação histórica? Quanto ao registro das propriedades através de livros e documentários o mesmo teve início com publicação de obra específica do tema, porém não houve continuidade das ações. A análise da obra que contempla aspectos históricos aponta duas propriedades na sede do município, oito estâncias no distrito de Vacacaí, dezessete no distrito de Batovi, quinze no distrito de Suspiro, três em Cerro do Ouro, cinco em Catuçaba, dezoito no distrito de Tiarajú, e dezesseis no distrito de Azevedo Sodré. Destaque também para as estâncias históricas, antigas e tradicionais de Santa Margarida do Sul (ex-distrito de São Gabriel) com doze propriedades rurais. A peculiaridade de se tratar de um município de cunho rural justificaria toda e qualquer proposta de preservação deste patrimônio cultural material embreado de uma cultura imaterial traduzida pelas lidas, gastronomia e lendas.

Palavras-chave: estâncias; patrimônio cultural; investimentos campeiros; resgate histórico.

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1 INTRODUÇÃO

O solo gaúcho foi cenário de disputa entre Portugal e Espanha e palco de revoluções.

A paisagem plana típica do Pampa, com planícies cobertas por gramíneas foi sendo

apropriada com a inserção da pecuária, iniciando-se a construção das grandes estâncias,

onde proprietários e peões lutavam por amor a terra e mantinham laços mais próximos,

estabelecendo costumes, contando causos e criando uma identidade própria.

Em todo o território brasileiro as estâncias ou fazendas representam a relação com ciclos

econômicos e reproduzem estilos e costumes das diferentes épocas, e no Rio Grande do Sul

é notória a importância do ciclo do charque.

O município de São Gabriel, panorama da Revolução Farroupilha e de batalhas como a do

Caiboaté e do Cerro do Ouro recebeu a corte portuguesa por algumas vezes e, em suas

propriedades pastoris nasceram vultos da história local e nacional.

As estâncias históricas e antigas de São Gabriel são bens materiais, sujeitos a deterioração,

ao abandono e a venda subordinados apenas as medidas preventivas dos proprietários sem

qualquer interesse pelo poder público em documentá-las, inventariá-las e fazer constar no seu

acervo de patrimônio local.

O Plano Diretor (Lei Complementar Nº002/08, de 02 de junho de 2008) (São Gabriel, 2008)

apresenta perspectivas sobre esta matéria com a proposição de rotas para Turismo Rural que

incluem locais históricos e somente sinalizam as propriedades rurais históricas, porém

concretamente nada foi implementado.

O Turismo Rural por definição do Ministério do Turismo (Brasil, 2010), não se correlaciona,

perfeitamente, com a proposta apresentada.

Diante da potencialidade de cunho histórico, cultural e arquitetônico destas estâncias e dada

a pouca importância apresentada pelos instrumentos legais o objetivo do presente trabalho é

avaliar a disponibilidade de dados relativos as estâncias antigas e históricas nos municípios

de São Gabriel e Santa Margarida do Sul, a fim de promover reflexões e ações em relação a

estes bens que relatam a história e o desenvolvimento pastoril do município.

2 ESTADO DA ARTE

2.1 Aspectos históricos

A colonização luso-brasileira do Rio Grande do Sul, segundo Luccas (2006) ocorreu com uma

defasagem de quase dois séculos do restante da costa brasileira, tendo como atrativo a

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exploração econômica da pecuária, em criatórios extensos denominados estâncias que

surgiram a partir da existência de pastagens qualificadas, povoadas pelo gado xucro,

abundantes remanescentes dos empreendimentos jesuíticos.

Ainda, no século XVIII, segundo Cesar (1980) ocorria a indefinição das fronteiras do Rio

Grande do Sul e, somente em 1750 foi firmado o Tratado de Madrid, quando Portugal perdeu

a Colônia do Sacramento para a Espanha e recebeu em contrapartida a região do Sete Povos.

Com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso (1777), o Rio Grande do Sul incorporava a

porção oriental do estado e intensificava a concessão de sesmarias aos militares que se

destacaram em combates originando-se desta forma a aristocracia rural gaúcha dando início

ao regime das estâncias.

A hegemonia social, econômica e política regional, durante o século XIX, é considerada por

Maestri (2008), a responsável pela manutenção dos grandes criadores os quais elaboraram

as representações tanto originais como dominantes, sobre a formação regional rio-grandense.

Assim, para Freitas e Silveira (2004), a nação gaúcha é uma formação discursiva que surgiu

atrelada a uma história regional do Rio Grande do Sul, a qual seleciona e narra algumas das

lutas ocorridas no território sul-riograndense, além de descrever a região, seus aspectos

físicos, geográficos e humanos, como se fossem transcendentes.

A figura mítica do gaúcho, passou por uma evolução de definições fruto da imposição do

próprio meio.

Assim para Lamberty:

embora rude, o gaúcho era extremamente gentil para com as mulheres e destemido na defesa da honra dos indefesos. As constantes carneações, o churrasco meio cru, sua familiarização à lida campeira constante, o contato com o sangue, tornava-o sempre preparado para a guerra. (...) Na descendência telúrica encontramos as razões para um ser tão rude, forte e corajoso, ligado profundamente à terra, que chamou, carinhosamente, de Torrão (LAMBERTY, 2000, p. 16).

Este mito do gaúcho demonstra a dualidade da rudez e gentileza, do amor a terra e de sua

coragem e bravura.

2.2 Pampa e sua ocupação

Os Campos da Região Sul do Brasil são denominados como “Pampa”, termo de origem

indígena para “região plana”, entretanto, esta denominação corresponde somente a um dos

tipos de campo, encontrado ao sul do Rio Grande do Sul, atingindo o Uruguai e a Argentina

(Figura1).

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Figura 1- Localização do Bioma Pampa no estado do Rio Grande do Sul.

Fonte: Instituto Brasileiro de Florestas (2016).

Para Pillar et al. (2006), dentre as razões para a valoração dos campos e dos grupos que

neles habitam, podemos destacar a conservação da biodiversidade, dos serviços

ecossistêmicos, das paisagens, da beleza natural, e aspectos culturais e socioeconômicos.

De acordo com Ribeiro (2009, p. 108), as estâncias a partir da exploração pastoril, passaram

a definir a posse das áreas de conflito no estado, a posse do gado e a estabelecer as relações

capitalistas com o assalariamento de capatazes e peões. A pecuária era um fator que

determinava a posse da terra, ou seja, quanto mais cabeças de gado, mais terras poderiam

ser ocupadas, garantindo a posse do território.

No final do século XVIII, com a criação das primeiras charqueadas no RS, a importância do

gado aumentou ainda mais (SPENNER, 2013). A partir de então, o gado se constituiu na base

da economia gaúcha e, segundo Pesavento (1997) o grande responsável pela apropriação da

terra.

O desenvolvimento rural na perspectiva da etnoconservação envolve as territorialidades e o

território trata o Pampa gaúcho, como um espaço construído e transformado por meio da

historicidade, da constituição da agricultura e da pecuária familiar (CAMEJO PEREIRA, 2014).

Para Dreys (1990, p.90) denomina-se estância no Rio Grande do Sul,

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Uma circunscrição dada das campinas do país, povoada de gado, cavalos e mulas e, em certas porções, partes de carneiros; tem ordinariamente a extensão de uma sesmaria, às vezes de duas, de três e mais; os animais multiplicam-se nelas na razão da quantidade inicial, da vastidão do território e da bondade dos pastos (DREYS, 1990, p.90).

A arquitetura rural da pecuária rio-grandense constituiu um conjunto formal heterogêneo sob

aspectos construtivos, plásticos e de distribuição interior. O extenso período de hegemonia

econômica da atividade – quase dois séculos – é um dos fatores responsáveis pela

diversificação dessa produção. Um segundo fator pode ser atribuído às diferenciações

geográficas e culturais existentes dentro do território gaúcho (LUCCAS, 2006).

Na paisagem plana de campos limpos, de produção pecuária tradicional ou nas colinas suaves

destacam-se as estâncias tanto como centros de produção cultural e econômica ou como

cenário histórico e político.

2.3 Cultura, Paisagem e Patrimônio

A cultura é observada por Silva (2000, p. 133-134), como um campo de produção de

significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em posições diferenciais de poder,

lutam pela imposição de seus significados à sociedade mais ampla. A cultura é, nesta

concepção, um campo contestado de significação. O que está, centralmente, envolvido nesse

jogo é a definição da identidade cultural e social dos diferentes grupos.

A principal contribuição que se pode concluir da relação entre os valores culturais e a

formação da imagem de um destino é, segundo Barreto (2010) que, sabendo que a cultura é

algo único de cada localidade e que todos os indivíduos possuem atitudes, costumes e valores

do lugar e que, com isso, cada um possui uma maneira particular de perceber a realidade na

qual está inserido, o que se refletirá na percepção e formação da imagem nesse contexto.

Para Berque:

[...] a paisagem é uma marca, pois expressa uma civilização, mas é também uma matriz porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja que canalizam, em um certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, a paisagem do seu ecúmeno (BERQUE, 1998, p.84-85).

Ao se referir ao patrimônio histórico Choay (2001) salienta que a expressão designa um bem

destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias,

constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por

seu passado comum.

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Por sugestão de Varine-Bohan (1974), uma divisão do Patrimônio Cultural foi proposta de

maneira a contemplar três grupos distintos, porém indissociáveis, sendo o primeiro formado

por recursos que constituem o ambiente natural, o segundo refere-se ao conhecimento,

técnicas e saberes, considerados como elementos não-tangíveis e por fim, o terceiro grupo

refere-se à interação do homem com o meio.

3 METODOLOGIA

A pesquisa se caracteriza como qualitativa documental e foi realizada mediante análise

bibliográfica com base na obra de Rieth (2010), além do Plano Diretor (PDDUA) de São

Gabriel e do site oficial dos municípios envolvidos.

O recorte da pesquisa se baseou na análise de algumas características das estâncias

históricas e antigas do município de São Gabriel, localizado na região Centro-Oeste do Rio

Grande do Sul. Foram incluídas propriedades de Santa Margarida do Sul, pois este município

outrora pertencia a São Gabriel, sendo emancipado em 1996.

Foi estruturado um instrumento para selecioná-las por distrito/município, classificação, uso

atual e fatos históricos.

No estudo foi observada a divisão territorial baseada nos distritos e subdistritos de São

Gabriel, conforme Figura 2.

Figura 2-Divisão Administrativa-Estruturação e Ordenamento do Território de São Gabriel, RS. Fonte: PDDUA (2008).

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O município de São Gabriel possui cinco distritos e três subdistritos enquanto, Santa

Margarida do Sul foi considerada a integridade do seu território.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A paisagem deve ser entendida como um patrimônio numa versão integrada e em seu

conjunto histórico, cultural, natural, mesmo que sob diferentes leituras que devem considerar

a diversidade de valores e atributos.

O Plano Diretor (PDDUA) de São Gabriel, Lei Complementar Nº 002/08, de 02 de junho de

2008, em seu capítulo VI, Seção II do Programa de Preservação Cultural da Zona Rural de

São Gabriel, em seu Art.85 tem como objetivo o reconhecimento e a preservação do

Patrimônio Cultural da Zona Rural. Já em seu Art.86 consta como diretrizes específicas do

Programa de Preservação Cultural da Zona Rural de São Gabriel:

I - realizar ações que promovam o reconhecimento e a valorização da zona rural de São Gabriel como depositário privilegiado de marcos históricos, especialmente relativos à disputa pela conquista e preservação das fronteiras brasileiras e à disputa entre Portugal e Espanha pelo continente americano;

II - identificar, divulgar e qualificar as tradições sazonais e permanentes da zona rural do Município, com especial atenção para a Semana Farroupilha;

III - identificar, mapear, qualificar e divulgar aspectos culturais característicos como o percurso dos carreteiros, os locais onde se desenrolaram batalhas de importantes conquistas da soberania geográfica nacional, as sedes das antigas estâncias e os espaços e edificações que vinculam o gaúcho são gabrielense aos ritos religiosos, aos ritos políticos e às diferentes fases do desenvolvimento econômico, cultural e social do Município;

IV - desenvolver na zona rural projetos comunitários específicos para valorização e criação de uma identidade cultural que reconheça os importantes feitos históricos de São Gabriel (SÃO GABRIEL, 2008).

O Patrimônio Cultural na Zona Rural do Município constante no PDDUA é apresentado na

Figura 3 onde constam a localização de cenários históricos como os locais das Batalhas de

Azevedo Sodré, do Caiboaté e do Cerro do Ouro e destaca três Estâncias (Batovi, do Meio e

Inhatium).

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Figura 3- Localização de cenários de batalhas e algumas estâncias no município de São Gabriel, RS.

Fonte: PDDDUA (2008)

A possibilidade da implantação de Turismo Rural proposta pelo PDDUA (2008) determinou

uma Rota Histórica Cultural (Figura 4) e propõem 10 atrativos que incluem 1- As paredes de

pedras no Corredor do Suspiro; 2- Monumento da Batalha do Cerro do Ouro; 3- Cota do Batovi

2º Distrito e Estância do Batovi; 4-Tapera do Félix; 5- Passo usado por Felix de Azzara; 6-

Estância do Meio; 7- Passo de São Borja; 8- Estância da Boa Vista e, 9-Sitio Arqueológico.

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Figura 4- Proposição de pontos de interesse turístico na zona rural de São Gabriel/RS. Fonte: PDDDUA (2008).

As destinações apresentadas inserem-se no meio rural, mas não significam que a introdução

do Turismo Rural baseadas nas Diretrizes governamentais venha atender alguns itens como

a diversificação da economia regional, pelo estabelecimento de micro e pequenos negócios;

geração de novas oportunidades de trabalho e renda; incorporação da mulher ao trabalho

remunerado; agregação de valor ao produto primário; diminuição do êxodo rural; e, melhoria

dos equipamentos, dos bens imóveis e das condições de vida das famílias rurais.

Corrobora nesta posição Seabra (2012), ao diferenciar o turismo rural de base comunitária e

o turismo no espaço rural propriamente dito.

No turismo rural comunitário os turistas são recepcionados pelas famílias campesinas e usufruem da vida cotidiana, conhecendo a cultura local e se utilizando dos equipamentos rurais simples, para acomodação e lazer. Por outro lado, o turismo no espaço rural tem como principal produto as empresas rurais, onde os turistas são recebidos e acompanhados pelos funcionários da empresa e acomodados em unidades hoteleiras. Nestes hotéis-fazendas são oferecidos aos visitantes demonstrações de algumas atividades rurais, como criatório animal, áreas de cultivo e atividades não rurais de lazer, como jogos, pescarias, passeios de barcos e curtas caminhadas monitoradas (SEABRA, 2012,p.31).

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As fazendas históricas e antigas poderiam ser exploradas como rotas culturais e,

eventualmente, desenvolver turismo de viés rural. Para tanto há a necessidade de inventários

e, principalmente, detectar a percepção dos proprietários sobre a possibilidade de exploração

com cunho econômico, representando novas ruralidades ou serão fontes de informações e

cultura, atendendo itens da Lei Complementar Nº 002/08 (São Gabriel, 2008) como a

interiorização do turismo; conservação dos recursos naturais e do patrimônio cultural;

promoção de intercâmbio cultural e enriquecimento cultural; bem como a integração das

propriedades rurais e comunidade local.

A definição da potencialidade do atrativo e de sua possível exploração não parece nítido no

documento (PDDUA, 2008). As rotas culturais na zona rural não se configuram somente como

Turismo Rural, mas sim de apropriação de um patrimônio histórico cultural assentado no meio

rural no qual se somam as paisagens, os costumes e a tradição.

Levantamento realizado por Rieth (2010), dão conta além das Estâncias mencionadas

de mais 96 propriedades rurais históricas e antigas no município de São Gabriel e 10 no

município de Santa Margarida do Sul.

A fim de classificar as estâncias do município, a autora em sua obra determinou que

as estâncias ditas antigas seriam as construídas antes de 1930, enquanto as históricas foram

assim denominadas pelo fato de terem recebido vultos históricos ou ainda que pertenceram a

personagens do município ou palco de fatos da história.

Neste trabalho optou-se por acrescentar mais duas classificações baseado em

Figueiredo (2006), como estâncias tradicionais que representam construções mais recentes,

mas seguem a tradição da arquitetura colonial portuguesa desenvolvendo atividades

agropastoris e, lendárias são aquelas que mesmo antigas e/ou históricas são povoadas de

lendas e crenças.

As características das estâncias mediante as classificações expostas são apresentadas por

distritos e subdistritos componentes do município de São Gabriel e criados pela Lei 720 de 29

de dezembro de 1944 (São GabrieL,1944), sumarizados nos Quadros de 1 a 9.

Quadro 1- Estâncias na Sede do município de São Gabriel/RS. Quantidade Classificação Propriedade Observação

02 02 Antigas 01 município 01 particular

Uma desativada e outra com atividades

agropecuárias

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

O reduzido número de propriedades rurais na sede do município deve-se ao fato que a

fundação de São Gabriel inicia no Batovi, posteriormente tendo a vila queimada e onde se

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situavam as maiores extensões de terras e a presença de estâncias. A sede foi a terceira São

Gabriel que foi elevada a cidade em 1859 (Figueiredo, 2006) e, possivelmente deveu-se ao

processo de urbanização que se instalava à época o afastamento das propriedades rurais que

tinham a necessidade de extensas áreas para as atividades pastoris.

Quadro 2- Estâncias no Distrito de Vacacaí, município de São Gabriel/RS.

Quantidade Classificação Destinação Observação

08 4 Antigas 3 Históricas 1 Tradicional

07 particulares 01 Incra

Dentre as particularidades

observa-se a presença de

banheiras circulares para gado, cercas de

pedras e pisos de pranchões de

madeira.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

Dentre as oito estâncias, a Santa Marta sobressai por ter sido a sede da primeira charqueada

do município (Charqueada do Vacacaí), em 1885, ano que coincide com a chegada da estrada

de ferro (São Gabriel, 2013), e o destaque é um túmulo de pedras de cantaria que se alcança

por uma escadaria.

Em relação as charqueadas, conforme São Gabriel, (2013) o município apresentou a partir da

Estância Santa Marta mais cinco charqueadas, a saber Santa Brigída, de Azevedo Sodré,

Boa Ventura Ferreira da Silva e Cia e Tiarajú que entraram em decadência com o advento

dos frigoríficos, a partir de 1910.

A Estância Campestre apresenta a sede em arquitetura alemã com telhados enfeitados com

guirlandas (lambrequins) afastando-se do tradicional estilo português colonial e a ênfase do

empreendimento é que possuía cédulas próprias equivalentes a um câmbio paralelo. A época

também se destacava pela presença de um banheiro para animais de nado circular. Foi toda

reformada e manteve sua originalidade.

A Estância do Céu, ocupada durante a Revolução de 23, no ano de 2000 foi o primeiro local

de invasões no município pelos movimentos sociais e a partir de 2005 passou a constituir um

assentamento do Incra.

É conhecida como o local da “Conquista do Caiboaté”.

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Quadro 3- Estâncias no Subdistrito de Batovi, município de São Gabriel/RS. Quantidade Classificação Destinação Observação

17 7 Antigas 6 Históricas

2 Tradicionais 2 Lendárias

16 particulares 01 Empresa de reflorestamento

Todas as particulares

desenvolvem atividades

agropecuárias.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

Neste distrito encontram-se as estâncias mais antigas do município, como a Estância do

Batovi construída em 1687, local onde já existia uma povoação jesuítica pelo Visconde de

São Gabriel e notabilizou-se pela criação de gado. O Tratado de Santo Ildefonso (1777)

determinou o cerro onde se encontra a propriedade como linha de limite.

Esta propriedade ostenta uma capela que conforme Luccas (1997) estiveram presentes nas

propriedades mais abastadas, eventualmente isoladas do corpo da casa como é o caso da

Estância do Batovi.

Algumas foram palco dos combates da Revolução Farroupilha, a exemplo da Estância do

Meio que pertencia ao Barão de São Gabriel e já existia antes de São Gabriel ser elevada a

vila, pois foi construída em 1832, a Estância Boa Vista de propriedade do Barão de São

Gabriel e a Estância Santa Clara que pertenceu ao maior laçador e pelaedor do Rio Grande

do Sul, Manuel Bento Pereira (Maneco Pereira), o homem que laçava com o pé

(FIGUEIREDO, 2006).

Somado ao Distrito de Tiarajú este é o Subdistrito que ostenta o segundo lugar em termos de

número de estâncias no município com ênfase as antigas, históricas e lendárias, como a

Estância das Paredes povoada de lendas e superstições a respeito de dinheiro enterrado,

assombrações, entre outras.

Quadro 4- Estâncias no Distrito de Suspiro, município de São Gabriel/RS. Quantidade Classificação Destinação Observação

15 12 Antigas 01 Histórica

01 Tradicional 01 Lendária

14 particulares 01 Empresa de reflorestamento

Treze das propriedades particulares

desenvolvem atividades

agropecuárias. Uma está

abandonada.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

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Neste Distrito outras estâncias merecem destaque a exemplo da Estância do Suspiro que hoje

apresenta somente os alicerces sendo sua área utilizada com povoamentos de eucaliptos.

Destaca-se que os proprietários deram origem as famílias mais tradicionais de São Gabriel.

A Estância da Vigia situa-se em um dos pontos mais altos ao longo do Rio Vacacaí e servia

de observação durante a Revolução Farroupilha.

Elementos como o moinho para trigo e milho movido a água e a existência de lençóis com

água alcalina localizados pelo Ministério de Minas e Energia caracterizam a Estância do

Sobrado, enquanto as extensões de cercas de pedra são encontradas nas Estâncias do Cerro

e de Jaguari. Esta última propriedade, mesmo reduzida a sete quadra de esmarias se constitui

nas ultimas grandes propriedades da região (FIGUEIREDO, 2015).

Quadro 5- Estâncias no Subdistrito de Cerro do Ouro, município de São Gabriel/RS. Quantidade Classificação Destinação Observação

03

01Antiga 02 Lendárias

0 particulares 01 abandonada 01 Empresa de Reflorestamento

A particular

desenvolvem a pecuária.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

Estas três propriedades possuem suas particularidades como a Estância ou “Castelo” do

Panorama que pertenceu ao Gal. Ptolomeu Assis Brasil, grande pesquisador e geógrafo. Tida

como um local assombrado a mesma encontra-se abandonada, pois reza a lenda que a praga

de uma escrava fez com nenhum proprietário se fixasse no local.

A Estância Cerro do Ouro recebeu esta denominação devido a presença de pepitas de ouro

e as formações rochosas presentes no local (Cerro da Cuenca). Um fato que também a

notabiliza foi a instalação de água encanada e energia elétrica através de uma cata-vento

importado dos Estados Unidos.

A Estância do Tarumã era uma das maiores da região localiza-se na localidade de Von Bock

e conforme Figueiredo (2015), hoje são apenas ruínas de uma propriedade que passou por

diversos donos e que apresenta uma paisagem com enormes figueiras e carrega uma serie

de lendas.

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Quadro 6- Estâncias no Subdistrito de Catuçaba, município de São Gabriel/RS. Quantidade Classificação Destinação Observação

05 05 Antigas

Todas particulares

Todas desenvolvem atividades

agropecuárias.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

A Estância do Boqueirão foi a primeira a fazer parceria com 26 famílias de empregados que

tinham direito a plantações de subsistência. Este fato vem de encontro as colocações de

Barcellos (1955), que defendia que fazendeiros e peões fraternizavam na labuta do campo

ocorrendo aproximação de classes, devido a quase ausência da escravidão.

A Estância São Expedito deu pouso ao governador do estado, Borges de Medeiros e a Posto

Queimado sempre foi ponto de encontro de políticos, mantendo sua arquitetura original. A

Estância Nova Era distingue-se das demais construções por apresentar estilo inglês, em plena

paisagem do Pampa.

Contando com paredes de 0,30m de largura feitas de torrões a Estância Canto do Galo

mantem suas características desde 1857.

Quadro 7- Estâncias no Distrito de Tiarajú, município de São Gabriel/RS. Quantidade Classificação Destinação Observação

18 11 Antigas 04 Histórica

03 Tradicional

17 Particulares 01 Empresa de reflorestamento

Todas as particulares

desenvolvem atividades

agropecuárias.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras.

A Estância da Caieira sediou a capital da Republica Riograndense (1841), bem como

recepcionou Dom Pedro II e organizou uma festa campeira sendo considerada a primeira festa

tradicional do Rio Grande do Sul, assim como a do Pau Fincado recepcionou o monarca. Hoje,

estas propriedades não existem mais sendo considerado mais de 200 anos de sua fundação

dando lugar as plantações de eucaliptos. O Barão de Candiota (Luiz Gonçalves das Chagas)

mantinha também as propriedades Santa Lorena, Espinilho e a Mascarenhas. A Estância

Santa Fé apresenta arquitetura com linhas de influência germânica apresentava quadra de

tênis e pista de aviões quando ocorreu um acidente (1960). As ruínas de olaria abasteciam a

cidade sendo considerados os pioneiros na motomecanização da cultura do arroz.

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Quadro 8- Estâncias no Distrito de Azevedo Sodré, município de São Gabriel/RS.

Quantidade Classificação Destinação Observação

16 13 Antigas 02 Histórica

01 Tradicional

15 Particulares 01 Empresa de reflorestamento

Todas 15 particulares

desenvolvem atividades

agropecuárias.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras

A Estância Inhatium ostenta arquitetura colônia portuguesa com influência mineira e também

recebeu a visita de Dom Pedro II quando condecorou os proprietários (Sr. e Sra. Borges

Fortes) com os títulos de Comendador da Ordem Brasileira de Cristo e da Rosa e Dama do

Paço, respectivamente. A Estância Estrela pertenceu a Tunuca Silveira, intendente de São

Gabriel. Na Estância São Filipinho aconteceu o Combate de mesmo nome em 1840 e hoje

não existe mais.

A Estância Velha ostenta as paredes externas de pedra e as internas de pau-a-pique com

reboco. Pertencente a Baronesa de Batovi (enterrada no cemitério da estância) é considerada

uma das mais lendárias do município, pois foi encontrado um tacho com moedas de ouro

entre duas figueiras.

Quadro 9- Estâncias no município de Santa Margarida do Sul/RS. Quantidade Classificação Destinação Observação

12 07 Antigas 04 Histórica

01 Tradicional

11 Particulares 01 Empresa de reflorestamento

Particulares desenvolvem atividades agropecuárias.

Fonte: Rieth (2010) adaptado pelas autoras

O site oficial do atual município de Santa Margarida do Sul enfatiza as duas estâncias

históricas como a do Sobrado, também conhecida como o "Sobrado da Cambaí", a Estância

do Capão (históricas) e a Estância da Figueira (antiga) (SANTA MARGARIDA DO SUL, 2016).

Consta que o monarca D. Pedro II foi recebido em duas ocasiões na Estância do Sobrado e

da Figueira (considerada uma das primeiras estâncias gaúchas) concedendo ao seu

proprietário, por serviços prestados na Guerra do Paraguai o título de Barão de Cambaí. Na

mesma oportunidade na Estância Vista Clara escravos foram presentados à corte para

participar do Exército Imperial.

Um dos pontos mais conhecidos é a Estância do Capão construída em 1866, pelo Barão do

Cambaí. No local encontra-se a Tapera da Genoveva que são ruínas da casa onde nasceu

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Plácido de Castro (Libertador do Acre). No local existe um monumento mais visitado pelo povo

acreano do que pela população local (SANTA MARGARIDA DO SUL, 2016).

Taperas são definidas por De Davi (2014) como lugares abandonados que povoam o

imaginário da população e testemunham um tempo em que as relações com a terra estavam

impregnadas de afetividade.

A análise destas propriedades reforça a ideia da paisagem como manifestação da sociedade,

porém as informações levantadas até então não atende as dinâmicas de construções de

lugares, com ênfase a aspectos construtivos e plásticos, a distribuição dos cômodos e

mobiliários presentes, presença de senzalas, atafonas (casa de moagem de grãos),

cemitérios, os sítios preferenciais para as construções bem como os costumes e as lidas

campeiras que constituíam o cotidiano deste povo.

Segundo Bonesio (2011), a paisagem reflete o grau de realização da cultura com o lugar

natural pensadas como um patrimônio a ser transmitido de modo integral.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vocação agropastoril do município de São Gabriel/RS induz a necessidade do resgaste dos

bens localizados no meio rural e que foram protagonistas de fatos históricos e culturais. A

importância das estâncias recai no pioneirismo de conquista e apropriação das terras, cultivos

e criação animal interligada a construção da própria história do estado e do município.

A figura do gaúcho se molda no ambiente rural onde se criou uma figura mítica envolta de

uma identidade própria e, fortemente, relacionada com o ambiente arraigada as suas

tradições, costumes.

Os distritos de São Gabriel apresentam uma riqueza de construções que passaram de

geração a geração e que foram palco de grandes eventos históricos e que continuam no

imaginário popular através de lendas e crenças.

A atual conjuntura econômica, a redução e distanciamento das famílias e uma feição imposta

as paisagens do Pampa faz com que muitos locais se descaracterizem, sendo alguns

adquiridos por elementos exógenos dispostos na busca de retornos financeiros e não

culturais/históricos.

Cabe ao poder público resgatar estes dados, fatos, costumes e genealogia para permitir que

as futuras gerações tenham o direito de conhecer a sua própria história, origens e o patrimônio

deste “pago”.

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