coradini, lisabete. confissoes antropologicas [artigo]

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  • 7/26/2019 CORADINI, Lisabete. Confissoes Antropologicas [Artigo]

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    Confisses antropolgicas

    Para os meus alunos

    Lisabete Coradini

    A conscincia e a valorizao de uma individualidade singular, baseada em uma memriaque d consistncia biografia, o que possibilita a formulao e conduo de projetos. Portanto, sea memria permite uma viso retrospectiva mais ou menos organizada de uma trajetria e biografia,o projeto a antecipao no futuro dessas trajetrias e biografias, na medida em que busca, atravs

    do estabelecimento de objetivos e fins, a organizao dos meios atravs dos quais esses podero seratingidos(VELHO, 1994,101).

    GUISA DE APRESENTAO

    Antes de comear a escrever este ensaio, pensei muito, li e reli vrios textos

    etnogrficos. Li e reli tambm alguns trabalhos que realizei, dos quais, alguns foram

    publicados e outros ainda esto na gaveta da escrivaninha. Essa situao de ter que escrever

    um ensaio me levou, tambm, a pensar na minha prpria trajetria individual.

    apenas uma reflexo sobre as inquietaes que a Antropologia vem provocando em

    mim desde a graduao em Cincias Sociais, notadamente no que diz respeito questo

    metodolgica, um desafio colocado para o antroplogo que estuda a sua cidade. O tema no

    nem to novo e nem to velho e nem tampouco superado. Minhas inquietudes hoje em dia

    permanecem, embora busquem novos ngulos e novos horizontes.

    COMEANDO A ESCREVER...

    Las fronteras de un libro nunca son bien definidas: por detrs del titulo, de las primeras

    lneas y del ltimo punto final, por detrs de su configuarcin interna y de su forma autnoma, l se

    queda preso em um sistema de referencias a otros libros, otros textos, otras frases: es nico dentro de

    uma red. Michel Foucault.

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    Enquanto estudante do Curso de Cincias Sociais, para entender a minha prpria

    cultura, foi importante a leitura do ensaio de Roberto da Matta (1978) intitulado

    AnthropologicalBlues, em que ele trata do duplo ofcio do etnlogo, qual seja: transformar o

    extico em familiar e o familiar em extico. Foi atravs desta leitura que percebi que estamos

    o tempo todo pressupondo familiaridades e estranhamentos. 1

    Alis, o meu primeiro desafio, durante o trabalho de campo, foi o da distncia e

    proximidade do investigador com relao ao seu objeto. Tarefa nada trivial e nem sempre bem

    sucedida, como alertam alguns antroplogos. Transitar por caminhos to prximos sem

    enxergar as diferenas to prximas2.

    Este olhar sobre o diferente me fez perceber a dificuldade de desnaturalizar noes,

    categorias, classificaes que constituem minha viso de mundo. Como nos ensina o

    antroplogo Gilberto Velho (1994), a possibilidade de nosso empreendimento ser bem

    sucedido vai depender das peculiaridades da prpria trajetria dos pesquisadores, que podero

    estar mais inclinados ou aptos a trabalhar com maior ou menor grau de proximidade com seu

    objeto.

    Hoje em dia a Antropologia, ao lado de muitas realizaes, desafiada a recriar seu

    objeto e seus procedimentos, submetendo muito do conhecimento acumulado crtica e

    avanando para novos horizontes.

    instigante pensar que, neste exato momento, novas questes so postas, novos

    questionamentos so gerados, em diferentes locais e em diferentes lnguas. Como disse Ianni

    (1998), h toda uma biblioteca de babelformada com livros e revistas de Cincias Sociais,conformando uma viso mltipla, polifnica, bablica ou fantstica com as mais variadas

    formas de autoconscincia, compreenso, explicao, imaginao e fabulao, e tratando de

    entender o presente, repensar o passado e imaginar o futuro.

    1Eu li este texto na Graduao como sugesto de meu orientador para auxiliar na pesquisa de campo, j que setratava de um lugar aparentemente bastante familar. Trata-se de um trabalho monogrfico intitulado Desvio na

    praa, sobre a Praa da Alfndega em Porto Alegre, RS. Obrigado, Jorge. Salve, Jorge!2Roberto da Matta e Gilberto Velho concordam com a afirmao de que o que familiar pode ser estranho. VerDa Matta (1978;1981) e Velho (1978;1980).

  • 7/26/2019 CORADINI, Lisabete. Confissoes Antropologicas [Artigo]

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    Lembro-me de um trabalho escrito por Claude Lvi-Strauss (1962) no incio dos anos

    sessenta, quando, refletindo sobre o desaparecimento das sociedades primitivas, anunciou um

    outro entendimento para a cincia antropolgica. A proposta do reconhecido antroplogo

    francs se insere em um contexto em que novas concepes epistemolgicas so geradas no

    mundo cientfico ocidental.

    E, como diz Mariza Correa, da em diante os nativos deixaram de ser primitivos e se

    transformaram nos outros, por etapas, sucessivamente, at concluso de que agora somos

    todos nativos (Geertz,1983).

    A Antropologia mudou muito, depois da grande poca das investigaes de campo.Hoje, os antroplogos (pelo menos alguns deles) se interrogam acerca de sua disciplina,

    perguntando-se que tipo de cincia . Se uma cincia explicativa ou interpretativa, se

    objetiva ou subjetiva, se ocupa de eventos ou de representaes.

    Outro questionamento atual se a Antropologia tem um objeto de estudo, tal como as

    outras cincias, e se comparte com estas os mesmos mtodos, j que o antroplogo est

    inserido numa tradio que, numa primeira etapa, faz descries, para depois passar generalizao e explicao. A descrio, por exemplo, serve para mostrar, tornar visveis as

    coisas, mas no simplesmente como elas so e sim em suas representaes. Assim o

    antroplogo toma como ponta de partida um acontecimento, observa-o e descreve-o para

    depois interpret-lo.

    Mas, se a compreenso de um fenmeno passa pela descrio, poderamos dizer que a

    Antropologia assemelha-se a uma cincia natural, embora difira desta porque o que observano so fenmenos naturais seno o homem e sua prtica cotidiana, o homem e suas aes. O

    homem estudado por outras cincias, como a Biologia, a Medicina, a Filosofia, mas o

    homem do ponto de vista antropolgico um ser da cultura.

    Para Aug (1999), a Antropologia trata do sentido que os homens e a coletividade do

    sua existncia. Falar do sentido neste contexto falar do sentido social. Todo indivduo se

    define tanto em relao com os demais, com quem define sua identidade (famlia, cl, tribo)

    quanto por alteridade (outros indivduos, outras tribos, outros cls).

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    O sentido se estrutura em dois eixos: o da identidade e o da alteridade. Poderamos

    afirmar, inclusive, que o indivduo existe em e por sua relao com os outros, os homens so

    diferentes uns dos outros, no que diz respeito, por exemplo, a sexo, carter, pertencimento

    tnico, posio social, etc.

    O homem como objeto e sujeito do conhecimento s pode ser analisado mediante este

    jogo duplo entre o eu e o outro. So, portanto, esses dois elementos conjuntos que constituem

    o objeto da Antropologia.3

    Neste sentido, oportuno tambm pensar que existem vrias histrias sobre a origemda Antropologia. Algumas comeam com Plato, outras com o Iluminismo, outras tomam

    como ponto de partida os viajantes; e outras comeam com o trabalho de campo4.

    No entanto, podemos identificar, nessa diversidade de posies, um ponto em comum

    para definir a Antropologia: o trabalho de campo. Mas o que trabalho de campo hoje, se

    atualmente encontramos antroplogos realizando pesquisas em arquivos, estudando tribos

    urbanas e at mesmo laboratrios de Fsica? Voc j ouviu falar em Etnomatemtica?Etnometodologia? Etnohistoriografia?

    E se todo mundo fala sobre cultura, que sada encontram os antroplogos para

    reivindicarem sua especificidade? As perguntas permanecem: o que Antropologia? O que

    diferencia essa disciplina de outras disciplinas? Desapareceu a cultura como paradigma

    antropolgico? Qual o lugar do trabalho de campo na Antropologia?

    O que trabalho de campo hoje: uma tcnica ou um conjunto de tcnicas? Um

    deslocamento geogrfico? Um mtodo central da Antropologia?

    3Para aprofundar esta questo ver o livro Introduo Antropologia, de Franoise Laplantine (1988) e o livroO conceito de cultura nas Cincias Sociais, de Dennys Cuche (2002). Ver, tambm, Kuper (1978) e Harris

    (1979).4Ver Roque de Barros Laraia (1986).

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    Estas so perguntas importantes, porque dizem respeito ao debate infindvel sobre o

    que Antropologia e qual seu universo de estudo, e, principalmente, sobre a relao

    sujeito/objeto, explicao e compreenso no conhecimento cientfico.

    O OLHAR DISTANCIADO

    Em sala de aula costumamos oferecer aos calouros a leitura de textos etnogrficos,

    dentre os quais, Os ritos corporais dos naciremas, de Horace Miner, para que o aluno

    perceba o estranhamento (mesmo que de forma artificial). E, como no poderia deixar de ser,

    a introduo do livro Os Argonautas do Pacifico Ocidental,de Malinowski, cujo objetivo

    mostrar a importncia do trabalho de campo no sentido clssico do termo.

    Vejamos o que diz Malinowski (1976, p.374) sobre este tema:

    H, porm, um ponto de vista mais profundo e ainda mais importante de queo desejo de experimentar uma variedade de modos de vida: o desejo detransformar tal conhecimento em sabedoria. Embora possamos por ummomento entrar na alma de um selvagem e atravs de seus olhos ver omundo exterior e sentir como ele deve sentir-se ao sentir-se a si mesmo.Nosso objetivo final ainda enriquecer e aprofundar nossa prpria viso demundo, compreender nossa prpria natureza e refin-la intelectual eartisticamente. Ao captar a viso essencial dos outros com reverncia everdadeira compreenso que se deve mesmo aos selvagens, estamoscontribuindo para alargar a nossa prpria viso.

    O antroplogo Roberto da Matta (1981, p.150), em seu livro Relativizando: uma

    introduo Antropologia Social, tambm nos fala sobre a importncia do trabalho de

    campo e comenta sobre ofeedbackentre pesquisa e teoria: O nativo qualquer que seja sua

    aparncia, tem razes que a nossa teoria pode desconhecer e -frequentementedesconhece;que o selvagem tem uma lgica prpria e uma dignidade que minha obrigao

    descobrir.

    Para esse autor, a iniciao na Antropologia pelo trabalho de campo est prxima

    daquilo que caracteriza os ritos de passagem, quais sejam: em primeiro lugar, um

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    conhecimento prvio sobre a realidade que pretende estudar, depois um deslocamento para

    outro universo social, e finalmente o retorno sua aldeia 5.

    A partir de Malinowski, as etnografias apontaram para a diversidade do mundo.

    Apontaram para a existncia do outro, do diferente, uma diferena de perspectiva e no de

    evoluo. E, nesta nova perspectiva, aparecem: a denncia do etnocentrismo e a importncia

    do relativismo. Conforme Caldeira (1988), o lugar do pesquisador e do pesquisado est bem

    definido, no aleatrio, mas consciente e marca a introduo do modernismo na

    Antropologia.6

    A meu ver, o trabalho antropolgico resultado de diferentes instncias de campo emum lugar determinado, aps cumprir, trs nveis de investigao: o primeiro momento o da

    descrio; o segundo, o da oralidade; e o terceiro, o da escritura.

    So esses espaos terico-metodolgicos que auxiliam a construo de uma

    determinada realidade, que s vezes pode estar prxima ou longe da realidade do antroplogo.

    Por esta razo, seu trabalho est amarrado a um conjunto de elaboraes emprico-tericas,

    que possibilitam o fazer antropolgico. Cabe ao antroplogo decifrar, traduzir, explicar einterpretar o que est sendo apresentado o que nossos olhos vem e processam, o que

    ouvimos, o que sentimos e o que vivemos. A esta o elemento diferenciador de outras cincias

    humanas: o estar l, o being there. Fazer antropologia este estar-l- being there-, que

    pode ser em outra sociedade, com um sistema de vida diferente do meu, onde o antroplogo

    ir descobrir o outro.

    O encontro com o outro o quecaracteriza o incio do nosso trabalho, este espaovivencial e descritivo que possibilita o encontro etnogrfico. Olhar o que temos na frente

    o primeiro intercmbio de saberes, para mais tarde aflorarem as emoes. O movimento inicia

    um dilogo intercultural que possibilita o contato, a fala, o ser escutado, a troca de

    5Ver Relativizando, de Roberto da Matta (1981). Sobre conceitos de ritos de passagem, ver os grandestericos clssicos, como Gluckman (1987), Van Gennep (1978) e Turner (1974).6Caldeira (1988, 140) afirma que, ao demarcar a diferena e a distncia entre as culturas, tornou-se impossvelque uma fosse avaliada em funo da outra e isto dificultou a possibilidade de trabalhar a diferena como crticacultural, como, por exemplo, na crtica ao racismo.

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    experincias e o apreender com o outro, para que sua palavra legitime o descobrimento de sua

    cultura.

    Por isso, importante conhecer a especificidade da abordagem antropolgica, para

    entender por que ela capaz de enxergar dimenses da realidade social que no so enfocadas

    por outras disciplinas. Trata-se, portanto, de compreender que os antroplogos so capazes de

    produzir conhecimento sobre temas que tambm so objeto de estudo por parte de outras

    reas do conhecimento.

    Porm nem sempre foi assim. Sabe-se que uma boa parte daquilo que foi descrito

    sobre o outro partiu de uma perspectiva etnocntrica do antroplogo eu vejo o que eu querover. Neste sentido, o que foi descrito sobre o outro pautou-se por conceitos e por uma

    tradio antropolgica baseada em postulados cartesianos7, que bem, ao modo ocidental levou

    a descrever a rotina e as necessidades do outro a partir daquilo que fazia falta nas

    comunidades. O mundo do outro era construdo e explicado atravs da similitude, ou

    melhor, o outro era visto pela similitude. Um grande erro, porque o resultado foi caracterizar

    o outro como uma sociedade cheia de carncias, paralisada no tempo e extica. 8

    SOMOS TODOS NATIVOS

    Dentre vrios autores que problematizam estas questes, encontra-se Geertz, cuja

    caracterstica principal propor a interpretao das culturas, defendendo uma antropologia

    interpretativa, tendo a descrio densa como ponto de partida.

    Para Geertz (1978, p.15), Etnografia no s estabelecer relaes, selecionarinformantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um dirio e

    assim por diante. Para o autor em antropologia social os que os praticantes faze m

    etnografia.

    Fazer etnografia como tentar ler um manuscrito estranho, desbotado cheiode elipse, de incoerncias, emendas suspeitas e comentrios tendenciosos,

    7Ver a este respeito o livro de Bhabha, H. K. The location of culture(1994). 8 Para aprofundar este tema ver os seguintes livros: O que etnocentrismo?, de Everardo Rocha (1994) eAntropologia para quem no antroplogo, de Rafael dos Santos (2005).

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    escritos no com os sinais convencionais do som, mas com exemplostransitrios de comportamento modelado.

    Geertz parte de Max Weber e de sua concepo de cultura no codificvel masinterpretvel, para dizer que o homem um animal suspenso em teias de significados que ele

    mesmo tece ao longo de sua existncia social e histrica. So essas teias que definem a cultura

    e sua anlise no deve se constituir na busca de leis gerais, mas buscar o significado, a

    interpretao.

    Dentro deste contexto, possvel entender melhor como o homem constri o seu

    entorno, uma vez que no se adapta simplesmente a ele. Como a cultura um ingredienteessencial, pois fornece o vnculo entre aquilo de que os homens so capazes de se tornar e

    aquilo em que cada um efetivamente se torna.

    No modo de ver deste autor, a Etnografia deve ser uma descrio densa, que permita a

    anlise da cultura, a interpretao e a busca de significados.

    CONHECER, COMPREENDER E EXPLICAR

    A anlise antropolgica revela o quanto estamos imersos num mundo de cultura e de

    tradies, e quo freqentemente estamos dialogando e nos comunicando a partir de marco de

    referncia. Este dilogo que estabelecemos com o nosso passado e a maneira de lidar com o

    presente e com o futuro, este modo de ver o mundo e estar no mundo precisamente o que

    Hans-Georg Gadamer chama de experincia hermenutica ou a arte de interpretar.

    Dentro deste contexto, compreender o outro um ato hermenutico. Sem o objetivo de

    traar toda a construo dessa problemtica, que j foi amplamente considerada por Roberto

    Cardoso de Oliveira, em vrias de suas obras, apenas trago para reflexo algumas

    contribuies do pensamento hermenutico com relao Antropologia9.

    9Roberto Cardoso de Oliveira (1997,1998) dos principais responsveis pelo dilogo entre a hermenutica nosestudos antropolgicos, vem chamando ateno para esta discusso

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    A noo de compreenso tema central da obra de Gadamer intitulada Verdade e

    Mtodo, publicada em 1960. Esse autor estabelece que a compreenso tem uma dimenso

    histrica atravs da qual qualquer interpretao produto do tempo e espao do intrprete, da

    mesma forma que a obra produto do seu prprio espao e tempo.

    A reflexo hermenutica importante para a Antropologia porque ajuda a entender os

    significados da prpria cultura e a cultura dos outros. Afinal a Antropologia no essa

    incessante busca por nos compreender e compreender os demais? Nesse sentido, o

    pensamento hermenutico introduz um novo estilo de fazer etnogrfico.

    A compreenso no sentido hermenutico se aplica ao trabalho de campo, muito

    embora no deva se restringir apenas a este. O intrprete/investigador tem que perceber que oque ele est entendendo o mesmo que os outros esto entendendo. Compreender o que

    algum diz chegar a um acordo a respeito do que se disse, e no apenas colocar-se no lugar

    do outro e reproduzir suas vivncias.

    Aprendi que, para a Antropologia Interpretativa, o que importa compreender

    determinada cultura luz daquele para quem essa cultura faz sentido. Aprendi tambm que o

    antroplogo deve investigar o universo do outro, procurando compreender esse universo. Ecomo diz Gadamer, uma vez que se compreende algo, se pode explic-lo.

    Podemos reconhecer na obra de Geertz uma forte inspirao hermenutica. As

    consideraes deste autor sobre a briga de galo, o conceito de cultura como texto e as

    mltiplas possibilidades de leituras nos levam a pensar desta forma. A preocupao de Geertz

    buscar a compreenso. Como sugere o autor, toda interpretao de segunda ou terceira

    mo, porque a primeira o ponto de vista do nativo

    10

    .

    Em resumo, cabe ao antroplogo saber ler e interpretar. A Antropologia Tradicional se

    preocupava com o conhecimento para si; o outro era visto atravs do discurso civilizatrio. O

    antroplogo muitas vezes limitava-se a escrever para as instituies e a elaborar manuais que

    serviam como guia. A Antropologia, porm, como a cincia da alteridade, no pode negar as

    10Azzar Junior (1993) discute e compara as semelhanas e diferenas entre Levi Strauss e Geertz. Para o autor,este est mais preocupado em fundar uma antropologia que privilegie o nvel interpretativo em oposio aotradicional - que fundamentar hermeneuticamente as concepes tericas e metodolgicas que propem.

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    diferenas e deveria incorporar, em suas discusses sobre mtodos e tcnicas, uma postura

    mais ousada. O mundo est mudando, assim como a tcnica, as matemticas, a medicina; os

    antroplogos deveriam mudar sua maneira de pensar e incorporar em suas investigaes a

    Hermenutica.

    Sendo assim, o desafio do antroplogo como decidir:

    Que tal fenmeno, en vez del outro, sea portador de la informacin necesriapara la comprensin (...) de descubri lo que he visto y sobre lo que me heperguntado, a riesgo de no hacer ms de lo que es eso (Guidiere, 1986, p.15).

    ETNOGRAFIAS EXPERIMENTAIS

    A Hermenutica introduziu temas que foram explorados pelos chamados

    antroplogos ps-modernos, como o questionamento da autoridade do pesquisador e do

    carter cientfico da prpria Antropologia e tambm da produo textual. Cabe salientar aqui

    alguns pontos da proposta desses antroplogos, que tm como objetivo a construo de

    etnografias experimentais e como modelo a polifonia11.

    O movimento experimental em Antropologia est ligado ao chamado Seminrio de

    Santa F, em Novo Mxico, Estados Unidos, formado por um grupo de intelectuais ps-

    modernos, cuja idia geral gira em torno do debate da Etnografia como gnero literrio e do

    trabalho do antroplogo como escritor (James Clifford, Georg Marcus, Marilyn Strathern); da

    deslegitimao de fontes tradicionais, do descrdito a significados universalizantes e prticas

    de trabalho de campo (Vicent Capranzano, Paul Rabinow, Dennis Tedlock) e, finalmente, dacrise da cincia (Stephen Tyler e Michael Taussig).

    A proposta aponta para o ato de escrever, do escrever etnogrfico como

    experimentao formal e estilstica, na construo do texto etnogrfico. A concepo

    interdisciplinar, procurando fundir a Teoria Literria com a Etnografia e produzindo formas

    11O debate sobre ps-modernidade amplo e no minha inteno historiar este debate, mas levantar algumasquestes. Ver o sugestivo livro El surgimento de la antropologia posmoderna, com textos de Geertz, Clifford,

    entre outros autores (1992). Contrastar com as resenhas crticas de Peirano (1992), Trajano Filho (1988) Cardosode Oliveira (1988 e 1995), Caldeira (1988) e Sena (1987).

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    experimentais de escritura. O grupo advoga que as verdades so parciais, que o potico e o

    poltico so coisas inseparveis e que o cientfico est implcito neles.

    A discusso sobre a escrita interessante porque comeou com hermenutica e foi

    retomada pelos ps-modernos norte-americanos, que apresentam reflexes sobre o saber

    antropolgico e sobre a singularidade da disciplina.

    Clifford (1988), que questiona a autoridade do autor, afirma que o antroplogo e o

    nativo esto separados de sua produo, e que portanto se inventou um autor genrico para

    dar conta do mundo ou do contexto dentro do qual ele est inserido. Esse autor genrico

    recebe vrios nomes: o ponto de vista dos nativos, os trobiandeses, os Nuer, ou

    expresses similares que aparecem nas Etnografias.

    A Antropologia Ps-Moderna ganhou espao no mundo acadmico, embora tenha

    recebido crticas por reduzir a prtica etnogrfica escrita etnogrfica. Acredito que os ps-

    modernos chamam a ateno para alguns pontos interessantes como o da autoridade textual e

    o conceito de cultura, sugerindo tambm novos caminhos que permitem Antropologia se

    renovar e descobrindo novos padres da experincia humana.

    O antroplogo mexicano Krotz (1991), num belssimo texto sobre Viaje, trabajo de

    campo y antropologia, tece uma analogia entre o trabalho de campo e uma viagem, uma

    viagem pelo mar. Para o autor, esse tipo de trabalho assemelha-se a uma viagem, pois exige

    uma preparao semelhante que se faz em relao a esta. Numa viagem por mar, assim

    como num trabalho de campo, preciso saber sobre o clima, ventos, ondas, sobre as

    necessidades de alimentao, as tenses possveis entre os companheiros de viagem e uma

    idia sobre o tipo de pessoa que se poder encontrar.

    Desse modo a descoberta antropolgica no somente o dilogo entre o observador e

    observado, mas um dilogo entre a teoria acumulada e o confronto com uma realidade que

    traz novos desafios para ser compreendida. O mtodo no algo instrumental, pois contm

    concepes acerca dos fenmenos que se quer investigar e questes relativas tradio

    disciplinar inteira. A cultura vista, assim, como um contexto, algo dentro do qual os

    acontecimentos, os comportamentos podem ser descritos.

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    A CIDADE, FUSO DE HORIZONTES

    Nunca se deve confundir a cidade com o discurso que a descreve. No entanto h uma

    relao entre ambos. Italo Calvino

    Com base nas observaes dos autores citados e de muitos outros que refletiram sobre

    o seu trabalho de campo, assumi a cidade como lugar e objeto privilegiado de estudo.

    Sei que houve mudanas importantes quando se comeou a fazer antropologia das

    sociedades complexas. Cambiaram o lugar e o objeto da pesquisa. O antroplogo passou a

    estudar a sua prpria cultura, que a cultura da cidade, a cultura do urbano.

    Ao pesquisar uma praa pblica, por exemplo, me deparei com inmeros grupos ou

    tribos urbanas que inspiraram diversas antropologias: antropologia das minorias, dos

    desviantes, dos marginalizados, da violncia, da religio, da mulher, entre outras. So

    abordagens que se entrecruzam, inventam e reinventam as diferenas.

    Na minha Dissertao de Mestrado sobre a Praa XV de Novembro em Florianpolis,

    o objetivo inicial era mapear os grupos que dela se apropriavam. Entrevistei diferentes grupos,

    bem como indivduos isoladamente, buscando identificar os diversos usos e significados dado

    ao espao e compreender as redes de sociabilidade construdas por eles. Alm disso,

    acompanhei os eventos, em especial, o carnaval, as procisses e as festas cvicas. Como a

    temtica envolvia aspectos da construo do imaginrio social da cidade, utilizei como fonte

    de pesquisa as crnicas sociais e policiais, revistas e jornais locais. Neste trabalho, foi preciso

    exercer um distanciamento, para ter uma viso de conjunto e encontrar um fio condutor no

    uso das mltiplas fontes. Mas foi ao mergulhar naquele universo que compreendi a

    importncia da Etnografia e da relao dialgica de eu/outro. O esforo de compreender o

    horizonte cultural do outro estimula a compreenso da minha cultura, ao mesmo tempo que

    consiste num esforo de compreenso do prprio horizonte do pesquisador12.

    No decorrer desta pesquisa, percebi que o processo de apropriao da Praa , em

    todas as suas dimenses, simblica. Mas, como nos alerta Bourdieu, esta uma etapa

    12Ver Coradini (1994).

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    necessria da apropriao concreta e efetiva de territrios e tambm de pedaos, pois

    representar o espao j uma apropriao.

    Desde a fundao da cidade, a Praa em questo foi referida como o eixo central, a

    partir da qual se expandiu o ncleo urbano, congregando freqentadores assduos ou

    eventuais. Estes, enquanto indivduos e grupos, conjugam diferentes inseres sociais que

    muitas vezes se entrecruzam, vo impondo seus modelos de convivncia, sua esttica, enfim,

    suas representaes, subvertendo ou no as concepes institucionais e oficiais. Este

    interessante jogo da apropriao, - lembrando Foucault: o poder no exclusivo est em

    todo lugar e depende de negociaes constantes. E nestas que se constroem novas e novas

    representaes sobre a Praa.

    Percebi, atravs da Etnografia, que habitualmente s se v a excluso, a

    marginalizao, reduzindo, assim, as diferenas a um denominador comum,

    homogeneizao.

    O trabalho de campo me surpreendeu muito e me levou a perceber que h sim regras,

    classificaes, diferenciaes. Cada um dos freqentadores sabe (mesmo que

    inconscientemente) o que possui e o que no possui. Identificam o seu pedao, que passa aser extenso de si, reconhecem o outro tambm pelo lugar que ele ocupa e nesse jogo de ter e

    dar prosseguem ressignificando a Praa, os outros e a cidade.

    Um outro exemplo vem de um trabalho de campo que realizei nas cidades fronteirias,

    neste caso, Tijuana (Mxico-EUA)13, onde foi possvel descobrir uma nova forma de estilo de

    vida, no prevista pelas hipteses iniciais do projeto original. Uma nova forma de fazer

    msica, uma nova forma de se vestir, uma mescla, um multiculturalismo, como uma novaforma de organizao prpria dessas zonas. Isto tambm foi possvel identificar no contato

    direto com os pesquisados. Foi o olhar paciente do etngrafo que permitiu aprofundar as

    pistas sugeridas, a partir dos arranjos dos prprios atores.

    Percebi tambm que o processo de globalizao tambm um processo cultural. Ao

    mesmo tempo que valores como estilo de vida e viso de mundo se tornam

    13Ver o artigo Cidades, imagens e desordem publicado na Revista Cronos, PPGCS da UFRN,2002.

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    aparentemente homogneos, as singularidades parecem mais fortes. Por isso, os processos de

    mbito mundial, com suas implicaes locais, nacionais, regionais e mundiais, exigem que os

    conceitos, categorias ou interpretaes sejam repensados.

    Marcus (1991), no texto Identidades passadas, presentes e emergentes, requisito para

    uma etnografia sobre a modernidade no final do sculo xx ao nvel mundial, nos mostra com

    maior clareza esta questo. O autor prope o que ele vai chamar de uma Etnografia

    Modernista, em oposio a uma Etnografia Tradicional. Nesse artigo, o autor sugere

    dissolver noes rgidas de identidade tradicionalmente vinculada a uma localidade

    determinada, sugerindo que a investigao d conta de como as identidades so construdas

    no dia-a-dia.

    UM OLHAR DE PERTO E DE DENTRO

    A Etnografia urbana nos mostra como a cidade complexa e como atravs dela

    possvel dar conta da dinmica e das prticas culturais. Na minha pesquisa atual sobre o bairro

    de Ponta Negra, Natal (RN), compreendi melhor esta questo da Etnografia Modernista

    proposta por George Marcus e atravs das leituras de Marshal Sahlins pude perceber por que acultura no um objeto em vias de extino.

    Sahlins (1997), no artigo O pessimismo sentimental e a experincia etnogrfica: por

    que a cultura no objeto em via de extino, mostra a importncia da Etnografia no

    Mundo Contemporneo, com base em vrias pesquisas. Ele aponta o erro que se comete em

    ver comunidades tradicionais como isoladas, pobres e sem contato permanente. Para esse

    autor, os Samoanos que vo para Nova York e os que ficam nas ilhas fazem parte da mesmacultura. O que precisa verificar nesse contexto o que se mantm e o que se transforma.

    Nesta direo, encontra-se minha pesquisa atual, que enfoca as transformaes

    urbanas no bairro de Ponta Negra e os impactos no cotidiano de seus habitantes.

    No nordeste do Brasil, na Cidade de Natal, uma antiga Vila de Pescadores vive

    atualmente uma nova realidade: a demolio de casa antigas, a construo de flats e de

    condomnios fechados, bem como a verticalizao dos prdios. A antiga Vila de Pescador ou

    Vila de Ponta Negra,que deu origem ao bairro, est sendo transformada num ritmo bastante

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    acelerado. A populao antigamente era constituda de pescadores que construram suas casas

    de palha beiramar, sobrevivendo, durante muito tempo, do pescado e tambm do roado.

    Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que a Vila rompe com seu isolamento, com a chegada

    dos equipamentos urbanos e a instalao de balnerio militar na praia. Mas foi nos anos 60

    que a povoao sofre um processo de urbanizao, tendo como base a casa de veraneio. Esse

    processo intensificou-se nos anos 90, quando o bairro sofre modificaes significativas: a

    verticalizao dos prdios, a especulao imobiliria, o turismo sexual, o trfico de drogas e a

    prostituio.

    Esse novo cenrio tem provocado mudanas significativas na forma de viver e de

    trabalhar dos moradores, bem como em sua sociabilidade e lazer. O nmero de hotis,pousadas, restaurantes, casas noturnas, albergue, locadora de veculos, mercados expressivo.

    Um exemplo bastante visvel dessas transformaes socioespaciais a verticalizao do

    bairro, com a construo de grandes empreendimentos imobilirios, como, por exemplo:

    Corais do Atlntico, Sport Park, Corais de Ponta Negra(empreendimentos imobilirios

    destinados moradia da Classe Mdia Alta, de 20 a 30 andares, com salo de festas

    mobiliado, academia de ginstica equipada, rea de lazer e duplex na cobertura). Tambm h

    um acelerado aumento deflatse de condomnios fechados. Nota-se um forte investimento daconstruo civil nesse espao, o que traz como conseqncia a valorizao de terrenos e das

    residncias e a sada de antigas famlias moradoras da Vila, que passam a vender seus terrenos

    e casas, pela valorizao imobiliria do mercado local.

    Atualmente, o bairro vive outro ritmo, atraindo um nmero de novos moradores,

    muitos deles vindos de outras cidades grandes. Este fluxo, com origem na evaso dos grandes

    centros urbanos, tem se intensificado no Brasil. significativo o nmero de pessoas quebuscam alternativas de vida mais tranqilas em outras cidades e no suportam mais viver nas

    metrpoles (violncia, insegurana, engarrafamentos, poluio, entre outros fatores). Esse

    fenmeno migratrio apontado como tpico da Classe Mdia Brasileira. Em Ponta Negra, a

    partir dos dados coletados em campo, identifiquei um grupo composto por famlias de classe

    mdia (paulistas, cariocas, mineiros, gachos) que tm negcios no local e um grupo

    composto por artistas, intelectuais, professores universitrios, que foi morar l nestes ltimos

    quinze anos. Encontramos, mais recentemente, um outro grupo: turistas estrangeiros que

    acabam fixando residncia e se tornando principais investidores. Tambm foi possvel

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    identificar as famlias de moradores que continuam vivendo da pesca, da renda e com barracas

    na orla da praia; famlias de moradores que modificaram sua situao social com o turismo -

    possuem pequenos negcios (bares, casas para alugar, pousadas) -, e um nmero significativo

    de indivduos solteiros e outros desocupados que so malvistos na Vila porque esto

    vinculados ao trfico de drogas.

    Apesar do forte investimento da Construo Civil e, conseqentemente, a valorizao

    de terrenos e das residncias, estar provocando a sada de antigas famlias moradoras da Vila,

    que passam a vender seus terrenos e casas, pela valorizao imobiliria do mercado local, isto

    no ocorre de modo geral. O depoimento de Ronaldo, morador da Vila e filho de pescador,

    muito significativo: No tem gringo que me tire daqui no. Nasci aqui e vou morrer aqui,com certeza. Nascido e criado e aqui continuarei at morte14.

    Alis, a forte transformao socioespacial que vem atingindo o bairro no impediu um

    movimento de reconstruo ou inveno de identidades coletivas. Um movimento de defesa

    da autenticidade, que refora os atributos identitrios da comunidade local, presente nas

    diferentes manifestaes culturais, como: dana do coco, boi-de-reis, pastoril, festa do

    Padroeiro, festas de So Joo, Carnavila, e as comemoraes no final do ano. interessanteobservar que essas atividades so realizadas pelos moradores mais antigos e contam com o

    apoio de seus filhos e netos.

    Vale afirmar que existe mesmo um outro movimento: um processo desencadeado

    pelos prprios moradores de Ponta Negra na defesa da autenticidade, da memria, da tradio.

    Essa defesa do local pode ser traduzida como uma dificuldade de vivenciar os efeitos que a

    Globalizao introduz nos contextos locais. Para alguns autores, a relao entre a identidadelocal e o avano do global propicia um fluxo produtor de conjunes e disjunes (cf.

    Featherstone,1995, Appadurai,1991).

    A minha inteno em centrar a pesquisa em Ponta Negra era, atravs do olhar atento,

    observar todos os tipos de intervenes urbansticas, para entender o simbolismo da

    14Entrevista concedida no dia 31 de agosto de 2005, Natal, RN.

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    resultante, no espao urbano, onde os nexos entre o local e o global se configuram de modo

    mais rpido e intenso.

    Ao conversar com os moradores do bairro, detectei, como fazendo parte do imaginrio

    atual, imagens produzidas no passado. Senti a necessidade de fazer uma pesquisa documental

    e bibliogrfica em livros, jornais, revistas e fotografias, com relao ao local15. A partir da,

    passei a considerar como informantes os autores dos documentos tanto quanto os moradores

    com quem convivi no bairro.

    As investigaes preliminares sobre o passado me levaram a adentrar tambm na

    anlise hermenutica Ao estudar o passado do bairro como uma construo, percebi que havia

    outras maneiras de ler o passado. Percebi que no existe um passado histrico em estado

    puro. Como disse Jurandir Costa Freire (1994): Todo o passado uma interpretao

    retrospectiva feita a partir de crenas presentes. 16.

    Atravs do enfoque escolhido, o bairro e a fotografia acabaram por colocar em

    discusso a problemtica da construo e da perpetuao da memria urbana. Narrativas e

    imagens se entrelaam para contar e recontar a histria do bairro, da cidade.

    E assim em deparei com um outro tema inovador e polmico: o uso da imagem na

    pesquisa social. Cabe aqui fazer algumas referncias a este tema. A utilizao dos recursos

    audiovisuais na investigao de campo, seja em sociedades indgenas, seja em sociedades

    complexas, levantou uma discusso interessante: o prprio descaso com a imagem - a

    fotografia durante muitos anos foi usada apenas como ilustrao. Esta situao tambm

    revelou a origem literria do discurso cientfico. Mas vale lembrar que na Antropologia, desde

    o incio do sculo XX, a fotografia j fazia parte do trabalho de campo dos antroplogos

    15Trata-se de um projeto intitulado Bairros na Memria, cujo objetivo narrar a histria dos bairros de Natalatravs de diferentes geraes. O primeiro bairro escolhido foi Ponta Negra, devido ao intenso processo detransformao urbana que vem sofrendo. Tambm foi produzido um vdeo documentrio intitulado Ponta

    Negra,um bairro em transformao (DVCAM,5min, NAVIS/UFRN,2005).16O pensamento histrico, entendido no sentido moderno, substitui outras formas de se relacionar com o tempo,formas que agora vemos como arcaicas, mas que podem conceber o passado da mesma maneira que o presente.O Capitalismo, por exemplo, requeria uma experincia diferente de temporalidade. Uma memria da mudanasocial e a viso concreta de um passado se completaria atravs do progresso. A partir da, podem-se registraralgumas idias sobre o futuro, partindo do princpio de que o presente, atravs do progresso, se transformaria em

    passado,

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    (Malinowski, Margaret Mead, Gregory Bateson e Evans Pritchard), que utilizavam a imagem

    para anlise cultural do comportamento.

    Atualmente, de forma aprofundada e competente, mas, nem por isso, no menos

    polmica, discute-se a utilizao dos recursos imagticos na pesquisa social, tanto para

    registrar, analisar e interpretar aspectos da cultura, como para divulgar e produzir

    conhecimento antropolgico. O antroplogo Achutti (2004), por exemplo, prope uma

    narrativa fotoetnogrfica, ou seja, uma narrativa na qual as imagens devem ser feitas a partir

    de um trabalho de campo minucioso, apresentadas sem interferncia do texto escrito, para no

    desviar a ateno do espectador.

    A meu ver, a Antropologia Visual assume um papel significativo no prprio fazer daAntropologia, embora haja tambm um outro caminho que pode ser traado diante da

    diversidade de temas e preocupaes que constituem o que denominamos Antropologia da

    imagem. Um tipo de Antropologia que implica o estudo e a interpretao de qualquer

    elemento imagtico culturalmente produzido, de acordo com as teorias e metodologias da

    Antropologia17.

    Nas pginas seguintes fotografias que mostram as transformaes urbanas no bairro dePonta Negra, em Natal18:

    17Ver os instigantes trabalhos de Etienne Samain (1998), Bela Feldman-Bianco e Leite (1998), Achutti (2004),Koury (1998,1999,2001), Rocha (1999),Gurhan(2000), para mencionar apenas alguns estudos. Para entendermelhor a questo, preciso ver filmes, como sugesto: Alcntara, Terra de quilombo,uma dvida histrica, de

    Murilo Santos; Muita terra para pouco ndio? de Bruno Pacheco de Oliveira; As filhas de Mauss, de Miriam

    Grossi e Carmen Rial; os filmes da coleo Cinema e Antropologia coordenada por Clarisse Peixoto da UERJe os vdeos do Projeto Vdeo nas Aldeias, coordenado por Dominique Gallois.18As fotografias que seguem fazem parte do acervo do NAVIS, Ncleo de Antropologia Visual, Base dePesquisa vinculada ao Departamento de Antropologia da UFRN e ao Grupo de Pesquisa do CNPQ. Asfotografias foram coletadas em diferentes etapas da pesquisa (2004,2005 e 2006).

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    Foto I - A Vila com casa de palha beira-mar

    Fotogrfo Esdras - Acervo NAVIS

    Foto IIA Vila comeo dos anos 30.

    Fotogrfo EsdrasAcervo NAVIS

    Foto IIIAnos 40: a chegada dos norte-americanos

    Fonte: Jornal Tribuna do NorteAcervo NAVIS

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    Foto IVIncio dos anos 60: as casas de veraneio.

    Fotgrafo EsdrasAcervo NAVIS

    Foto VAnos 80: a quebra do isolamento da Vila

    Foto : Jornal Tribuna do NorteAcervo NAVIS

    Foto VISculo XXI: verticalizao do bairro

    Foto: Lisabete - Acervo NAVIS

    Retomando as idias colocadas no incio do trabalho, gostaria de reafirmar a opinio

    de autores citados, principalmente quando sugerem que a Etnografia no trabalha apenas com

    aqueles arranjos especficos, forjados pelos atores numa prtica que coletiva, mas tambm

    leva em considerao suas representaes, de forma a elaborar um modelo explicativo mais

    abrangente. Conforme Maganani (2002), a Etnografia transita entre a teoria dos nativos -

    porque eles l tem suas teorias, tem suas explicaes que orientam a suas praticas e a teoria

    e as explicaes do pesquisador, por ele tambm tem seu arcabouo terico. A proposta a

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    Professora do Programa de Ps Graduao em Antropologia e do Programa de Ps GraduaoCincias sociais da UFRN. Coordenadora do NAVIS (Ncleo de Antropologia Visual).

    descoberta de um modelo novo, de uma pista, de reflexo que ultrapassa as idias presentes

    no senso comum.

    Poderia continuar com outros exemplos, mas a inteno aqui trazer exemplos

    produzidos no mbito domstico e sem a pretenso de concluir, j que um ponto final

    representaria uma atitude muito definitiva, entrando em contradio com o esprito

    hermenutico que alimenta o meu olhar.

    Como disse Roberto Cardoso de Oliveira, no seu artigo O trabalho do antroplogo:

    olhar, ouvir e escrever, h uma continuidade do olhar e do ouvir no escrever (...) Olhar, o

    ouvir e o escrever esto sempre sintonizados com o sistema de idias e valores que so

    prprios da disciplina (...) Se o olhar e o ouvir constituem nossa percepo da realidadefocalizada na pesquisa emprica, o escrever passa a ser parte indissocivel do nosso

    pensamento, uma vez que o ato de escrever simultneo ao ato de pensar(2000, p32).

    Assim a funo de escrever mais que uma tentativa de exposio de saber, tambm uma

    forma de pensar, de produzir conhecimento.

    Ainda o mesmo autor:

    Para se elaborar um bom texto etnogrfico, deve-se pensar as condies desua produo a partir das etapas iniciais da obteno dos dados - o olhar e oouvir-, o que no quer dizer que ele deva emaranhar-se na subjetividade doautor/pesquisador. Antes ,o que est em jogo a intersubjetividade - esta decarcter epistmico - graas qual se articulam, em um mesmo horizonteterico, os membros de sua comunidade profissional. E o reconhecimentodessa intersubjetividade que torna o antroplogo moderno um cientistamenos ingnuo. Tenho para mim que talvez seja essa uma das mais fortescontribuies do paradigma hermenutico para a disciplina (CARDOSO DEOLIVEIRA, 2000, p.13).

    A Antropologia, ao longo da sua histria, transformou suas tcnicas e sua maneira de

    escrever sobre as culturas. Se as tcnicas clssicas no so eternas e a critica ps-moderna

    no advoga o fim da cultura, o glamour antropolgico consiste na capacidade de

    autoreflexionar.

    Estes so apenas alguns exemplos da dinmica do processo cientfico da produo do

    conhecimento. interessante pensar que hoje existe um conhecimento, mas que outros viro

    no futuro e que preciso aprender com essas velhas e novas lies.

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