confissoes de um protestante

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Confissões de Um ProtestantePrimeira Edição – 2014Todos os direitos reservados e protegidos. É expressamente proibida a repro-dução parcial ou total deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fonográficos, gravação e outros), sem prévia autorização por escrito do autor.

Autor:Pr. Sylas S. Neves

Capa e Diagramação: Equipe Promove

Impressão e Acabamento:Promove Artes Gráficas e Editora(31) 3486-2696www.promoarte.com.br

Pedidos no Blog do Pr. Sylas:sylasneves.blogspot.com.br

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Dedico este livro a todos aqueles que amam verdadeiramente as Escrituras

Sagradas, bem como aqueles que são fiéis protestantes de Cristo, que não se conformam

com o apodrecimento do modelo evangélico – gospel atual.

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Sumário

Agradecimentos .............................................................7

Prefácio ............................................................................9

Introdução – Confissões – Por que e para quê? .......13

Confissão 1 – Quem sou eu?Tributo aos meus trinta anos! ............25

Confissão 2 – Caça ou caçador? Eis a inversão! ......29

Confissão 3 – Novo templo de Salomãoou do Edir Macedo? ............................35

Confissão 4 – Heróis da fé e “heróis”do povo brasileiro ...............................39

Confissão 5 – Eu não preciso serreconhecido por ninguém! .................45

Confissão 6 – Quem tem ouvidos ouça!O que Macedo diz às igrejas! .............51

Confissão 7 – Crédito ou débito?Afinal o que tenho diante de Deus?.....57

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Confissão 8 – Agora é só vitória! Será? .....................63

Confissão 9 – Livrai-nos da segunda divisãoou livrai-nos da superstição? .............71

Confissão 10 – Precisa-se de pastores! ......................79

Confissão 11 – Gospel ou protestante?Eis a questão! ......................................85

Confissão 12 – Junto e misturado ousanto e separado? ...............................99

Confissão 13 – Radicalismo ou defesada Verdade? ......................................105

Confissão 14 – Pentecostal sim, barulhento não! ..115

Confissão 15 – Discipulado ou proselitismo? ........121

Confissão 16 – O “espetáculo” agora é outro ........125

Confissão 17 – Livres, porém,prisioneiros de Cristo! .....................131

Confissão 18 – Torturado na sala de casa ...............137

Confissão 19 – Eu não quero ser um

“homem de Deus” assim! ...............153

Confissão 20 – Nova Reforma:

Possibilidade ou utopia? .................159

Notas e Bibliografia ....................................................165

Adquira Também .......................................................175

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AgrAdecimentoS

Quero registrar meu apreço, com profunda grati-dão, primeiramente a Deus, Senhor absoluto da

minha vida. O Único que é digno de glória, louvor e adoração. Obrigado por confiar a mim o ministério da Palavra. Obrigado pela graça superabundante na vida deste miserável pecador.

Também gostaria de registrar a minha gratidão à minha esposa Diana, pois, sem o seu apoio, incentivo e sua compreensão, essa obra não teria saído da gave-ta, ou melhor, do HD.

Agradeço também de maneira sincera a meu filho, meus pais, irmãos, tios e demais familiares.

Quero também manifestar os meus agradecimen-tos ao pastor Marcos Elias, pela amizade e acima de tudo pela coragem em prefaciar esta obra. (rsrs)

Por fim, quero reconhecer o apoio de todos os meus amigos, que não serão nomeados aqui, en-tretanto, afirmo que são úteis e indispensáveis na

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minha caminhada cristã. E em especial, a todos os meus leitores, pois, a interrogação: “Quando sairá o seu próximo livro?”, é uma injeção eficaz de ânimo para mim.

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PreFácio

A igreja evangélica brasileira experimenta o seu mais expressivo crescimento e, ao mesmo tem-

po, a sua mais profunda crise. Cresce em números, mas decresce em credibilidade. Atrai multidões a seus templos, mas sonega a elas o genuíno Evangelho. O liberalismo, o sincretismo e a ortodoxia morta amea-çam a saúde espiritual da igreja. Pregadores e líderes de movimentos baseiam-se em experiências transcen-dentais, pregando doutrinas extrabíblicas e antibíbli-cas, além de criarem culto contrário ao culto racional, com ordem e decência (1 Coríntios 14.26-40).

Longe da abordagem usual encontrada nos li-vros de auto-ajuda, o objetivo deste livro é alertar os cristãos sobre a necessidade de atentar aos mo-dismos e invencionices que enganam e encantam o meio evangélico por não terem um alicerce bíblico ou filtro teológico. Há crentes hoje sendo “levados

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em roda por todo vento de doutrina” porque não aprenderam a guardar a Palavra de Deus acima de tudo (Efésios 4.14).

Se todo mundo se confessa decepcionado com tudo e com todos, é preciso dar atenção aos desa-bafos pelas quais o autor também está decepciona-do. Muitas de suas decepções são nossas decepções, muitas de suas frustrações são nossas frustrações, muitas de suas lágrimas são nossas lágrimas, e estas causadas pelos ensinos distorcidos, deturpados do movimento “gospel”.

Em Confissões de um Protestante, Sylas Neves se dispõe a falar o que muitos evangélicos não fa-lam. Há abordagem de vários assuntos que contém desvios doutrinários e questões heréticas que invadi-ram as igrejas, causando assim um enorme problema para os membros que desprezam a verdadeira her-menêutica e que fazem descaso de um estudo sério e sistemático da Bíblia.

O sincero desejo do autor é levar o leitor a uma reflexão sobre a nossa realidade à luz da Palavra de Deus, como também oferecer uma contribuição à igreja do Senhor, para edificar os que permane-cem firmes nos ensinos da fé cristã e para desper-tar outros que foram atraídos por um “evangelho diferente”.

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É hora de pararmos para fazer um check-up da igreja. É hora de pararmos e rogar ao Pai que nos aju-de a fazer um autoexame. Precisamos urgentemente de um reavivamento espiritual. Precisamos voltar para Deus e para a Sua Palavra, afinal ela é e sempre será a fonte máxima de autoridade.

- marcos elias CottaPastor da Igreja Casa da Bênção

(Lavras/MG)

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I n t r o d u ç ã o

conFiSSõeS – Por que e PArA quê?

Nas Páginas Sagradas o verbo confessar tanto no hebraico como no grego, segundo alguns estudio-

sos da linguística, possui duas conotações, sendo elas: confissão de fé e confissão de pecado. Em suma, por um lado, confessar é declarar publicamente a própria relação com Deus e a lealdade a Ele, ou seja, é um com-promisso de fé. Já por outro lado, significa reconhecer o próprio pecado à luz da Palavra de Deus, portanto, é um sinal externo do arrependimento e da fé.

Agora, quando saímos do contexto bíblico e partimos para o gramatical, constamos que nos me-lhores dicionários da língua portuguesa o verbo confessar recebe inúmeros significados e sinônimos verbais, dentre os quais, quero enfatizar, além é claro do verbo já mencionado declarar, os também verbos revelar, reconhecer e professar. Entretanto, particu-larmente, de todos os significados que já encontrei para este termo, admito que o meu preferido seja o

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verbo DESABAFAR e acredito que é ele que expressa com mais exatidão a verdadeira intenção desta obra.

Na porção da Bíblia conhecida por nós como An-tigo Testamento, na minha modesta opinião, as mais belas confissões e os mais sinceros desabafos estão re-gistrados nos livros chamados de sapienciais ou po-éticos. Neles, grandes figuras veterotestamentárias como Jó, Davi, Asafe e Salomão, desabafaram, con-fessaram e revelaram sem reservas seus sentimentos, seus medos, suas decepções, angústias e amarguras.

Quando lemos, por exemplo, a intrigante e co-movente história de Jó, um homem reputado pelo próprio Deus de sincero, reto, íntegro, temente e um indivíduo que se desviava do mal, um homem que em primeira instância, não abriu a sua boca1, mesmo diante de perdas quase que irreparáveis, verificamos já no capítulo 3 a sua fragilidade e principalmente a sua humanidade, quando abriu a sua boca e desabafou:ii

“Pereça o dia do meu nascimento e a noite em que se

disse: ‘Nasceu um menino!’

Transforme-se aquele dia em trevas, e Deus, lá do

alto, não se importe com ele; não resplandeça a luz

sobre ele.

Chamem-no de volta as trevas e a mais densa escu-

ridão; coloque-se uma nuvem sobre ele e o negrume

aterrorize a sua luz.

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Apoderem-se daquela noite densas trevas! Não seja

ela incluída entre os dias do ano, nem faça parte de

nenhum dos meses.

Seja aquela noite estéril, e nela não se ouçam brados

de alegria.

Amaldiçoem aquele dia os que amaldiçoam os dias e

são capazes de atiçar o Leviatã.

Fiquem escuras as suas estrelas matutinas, espere ele

em vão pela luz do sol e não veja os primeiros raios da

alvorada, pois não fechou as portas do ventre materno

para evitar que eu contemplasse males.

Por que não morri ao nascer, e não pereci quando saí

do ventre?

Por que houve joelhos para me receberem e seios para

me amamentarem?

“Agora eu bem poderia estar deitado em paz e

achar repouso junto aos reis e conselheiros da terra,

que construíram para si lugares que agora jazem

em ruínas...”

Confesso que ao ler nesta passagem sobre o de-sejo que Jó tinha em jamais ter nascido, ou então, sua vontade de ter morrido por ocasião do seu nascimen-to, me sinto muito mais próximo de Jó e passo a en-tender perfeitamente a razão de Deus o ter reputado como sincero, pois, ele ao contrário de muitos, não

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se escondeu por detrás de uma fantasia ou de uma máscara de “supercrente”. Na verdade, Jó não pode ser considerado culpado, como alguns dizem, sim-plesmente por amaldiçoar o dia do seu nascimento, pois, ele se encontrava numa luta física, emocional e espiritual e ao confessar os seus desejos mortais, es-tava apenas se extravasando e tirando de suas costas um grande e indesejável fardo.

E o que dizer das confissões de Davi? Quando lemos principalmente os seus salmos penitenciais, certamente nos identificamos muito mais com aque-le que era “o homem segundo o coração de Deus”. Todavia, antes de exemplificar uma das confissões de Davi, preciso ponderar e registrar que os teólogos ge-ralmente subdividem as confissões em três classes, a saber: voluntárias, compulsórias (arrancadas à força) e auriculares, onde o faltoso confessa ao padre que se esconde num vestíbulo para não ser visto.

Falando agora sobre as confissões de Davi, por exemplo, no primeiro Salmo considerado penitencial, o de número 6, o grande rei de Israel confessa algumas de suas fragilidades, reconhece humildemente sua di-fícil situação e revela abertamente sua dor, acompanhe:

“SENHOR não me repreenda na tua ira, nem me casti-

gues no teu furor.

Tem misericórdia de mim, SENHOR, porque sou fra-

co; sara-me, SENHOR, porque os meus ossos estão

perturbados.

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Até a minha alma está perturbada; mas tu, SENHOR,

até quando?

Volta-te, SENHOR, livra a minha alma; salva-me por

tua benignidade.

Porque na morte não há lembrança de ti; no sepulcro

quem te louvará?

Já estou cansado do meu gemido; toda noite faço na-

dar a minha cama; molho o meu leito com as minhas

lágrimas.

Já os meus olhos estão consumidos pela mágoa e têm

envelhecido por causa de todos os meus inimigos.”

Não é foco deste livro e seria uma tarefa quase im-possível descrever todas as confissões de Davi, entre-tanto, não há como deixar de mencionar o Salmo 32, onde há a seguinte declaração: “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia.”iii

E o seu mais pungente Salmo, o de número 51, onde Davi revela-se “esmagado” e faz súplicas pro-fundas e inquietantes, como esta: “Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito vo-luntário.” iv

Ainda fazendo menção sobre confissões no livro dos Salmos, o que dizer do desabafo de Asafe no Sal-mo 73? Seria errado afirmar que este salmo retrata um

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dos mais angustiantes dilemas do Antigo Testamen-to? Creio que não. Leia vagarosamente algumas coisas que Asafe pronunciou neste salmo:v

“Verdadeiramente, bom é Deus para com Israel, para

com os limpos de coração.

Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram;

pouco faltou para que escorregassem os meus passos.

Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperida-

de dos ímpios.

Porque não há apertos na sua morte, mas firme está a

sua força.

Não se acham em trabalhos como outra gente, nem

são afligidos como outros homens.

Pelo que a soberba os cerca como um colar; vestem-se

de violência como de um adorno.

Os olhos deles estão inchados de gordura; superabun-

dam as imaginações do seu coração.

São corrompidos e tratam maliciosamente de opres-

são; falam arrogantemente.

Erguem a sua boca contra os céus, e a sua língua per-

corre a terra.”

Perceba que mesmo reconhecendo que Deus era bom para com Israel, e mesmo sendo um dos dirigen-tes dos coros levíticos de Davi, ao desabafar, Asafe

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além de declarar que quase fraquejou, confessou que sentia inveja dos ímpios. Ao pronunciar que “os seus pés quase que se desviaram” o salmista estava reve-lando que quase escorregou para dentro de um ceti-cismo ou para dentro de alguma coisa similar.

Deixando agora o livro dos Salmos e suas inúme-ras confissões e partindo imediatamente para o livro de Eclesiastes, observamos já no segundo capítulo uma das mais tristes confissões de um homem. Um ser humano que resumiu toda a sua existência, até aquele momento, numa expressão tremendamente melancólica: “Correr atrás do vento.”vi

Contrastando as palavras do pregador com as pa-lavras de Cristo, podemos perfeitamente conjecturar que ele tinha ganhado o mundo, mas, em contrapar-tida, havia perdido a sua alma.vii No versículo 10, na NTLH, lemos da seguinte maneira:

“Consegui tudo o que desejei. Não neguei a mim mes-

mo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o

meu trabalho, e essa era a minha recompensa.”

Na King James, lemos assim:

“De tudo quanto meus olhos e meu corpo desejaram

não lhes neguei nada; jamais privei o meu coração de

alegria alguma; sabia desfrutar de todo o meu traba-

lho; essa, pois, foi à recompensa que obtive de todo o

trabalho que realizei dedicadamente.”

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Note que neste segundo capítulo o pregador con-fessa publicamente e abertamente que não havia nega-do nada aos seus olhos, entrementes, ele não resistiu a todas as concupiscências da carne e dos olhos. Entre-tanto, depois de tantas “conquistas” e realizações, sua avaliação foi deprimente: “percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento.”viii

Na década de 90, ao fazer uma análise bíblica desta

passagem, o pastor até então presbiteriano Caio Fábio,

brilhantemente registrou:ix

O primeiro deles, foi a euforia descomprometida, alegria, os

festejos, o carnaval, o “reveillon”, as discotecas, ou seja, ten-

tou tudo que podia produzir num certo sentido, aquela euforia

descomprometida na sua vida, a alegria. (Eclesiastes 2.1-2)

E a conclusão que ele chegou é trágica. Do riso, ele disse: “É

loucura. Ficar achando graça é besteira”. E mais ainda. Da

alegria ele perguntou: “De que serve?”

Em segundo lugar, ele diz que tentou a boemia, o vinho.

Enchia a cara, mas sem perder a lucidez. (v.3)

Ele queria ver se aquele estado de embriaguez podia condu-

zi-lo a alguma percepção da sabedoria. Fez parte de rodas

de cerveja, sentou com os amigos e bebeu muito vinho. Ho-

diernamente, Salomão teria sido um indivíduo que fez uma

incursão profunda no mundo das drogas, do LSD, tentando

ver se sua mente se sensibilizava para descobrir alguma coi-

sa pela sabedoria em meio à embriaguez, que lhe atribuísse

significado à sua existência.

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Em terceiro lugar, ele diz que tentou as grandes realiza-

ções. (vs.4,5,6)

Empreendeu grandes coisas. Construiu casas, plantou vi-

nhas, plantou pomares, regou jardins, construiu açudes,

caiu na megalomania desenvolvimentista e ficou com aquela

ansiedade de se transformar no maior de todos os empresá-

rios do mundo.

Em quarto lugar, ele tentou se satisfazer na existência

como um grande empregador. (v.7)

Teve servos, servas, muitos sob o seu comando. Tinha po-

der, e os homens estavam sob o seu domínio. Mas isso tam-

bém não lhe satisfez o coração.

Em quinto lugar, tentou como especulador do mercado

financeiro. (v.8)

Amontoou ouro, prata. Se fosse em nossos dias, ele estaria

com uma caderneta de poupança rechonchuda, aplicando

no overnight, vivendo de juros. Mas isso também não lhe

satisfez o coração.

Em sexto lugar, Salomão diz que tentou na música e nas

artes. Que ele se proveu de cantores e cantoras, que os artis-

tas frequentavam a sua casa, que ele assistiu shows e tinha

todos os discos da moda, sabia todos os estilos e conhecia o

melhor de toda música e de toda arte. Mas isso não lhe satis-

fez o coração.

Em sétimo lugar, ele diz que tentou no sexo livre, no amor

livre, nas inúmeras mulheres. “Mulheres e mulheres.” (v. 8)

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Casou, descasou, teve casos e amizades coloridas. Ao todo,

setecentas mulheres princesas e trezentas concubinas, mas

isso não lhe satisfez o coração. E após cada experiência,

Salomão, foi ficando numa terrível nostalgia em relação à

vida. E a sua conclusão sobre a existência humana e a sua

trajetória debaixo do sol é que a vida humana não passa de

uma bobagem. Para Salomão, ao olhar a vida de todas es-

sas óticas, de todas essas maneiras, de todos esses prismas,

de todas essas situações as quais ele se colocou, tendo tido

acesso a todos esses observatórios existenciais, depois de ter

visto de todos os lados, de todos os ângulos, ele diz: “A vida

é uma bobagem.” E o que foi que ele viu na vida debaixo

do sol sem o referencial de Deus que o fez concluir que a

trajetória humana, enquanto homem, no curso da própria

história, não passa de vaidade de vaidades.

Pois bem, a exemplo de Jó, Davi, Asafe e Salomão, registrarei nesta obra algumas das minhas confissões. Não confissões de pecados! Pois essas são feitas dia-riamente e diretamente a Deus! Mas, confissões de um protestante apaixonado por Deus e por Sua Palavra. Preciso registrar que durante a minha infância, devi-do à paralisia cerebral que sofri pós-parto, necessitei passar por dezessete anos de tratamento. Neste ínte-rim fui submetido a tratamentos com fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, dentre outros. Em virtude das sequelas e dos inúmeros preconcei-tos que enfrentei, pelo menos uma vez por semana, sentava-me diante de uma psicóloga com o objetivo

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de desabafar. Ainda lembro-me das inúmeras vezes que tentei me calar durante uma sessão, pois, a dor e a vergonha das minhas fragilidades e limitações gera-vam em mim um grande complexo de inferioridade, bem como, um grande desejo de não me abrir com ninguém.

Contudo, também me lembro de que, carinhosa-mente, algumas psicólogas, incentivavam-me a “jogar para fora” tudo o que estava sentindo, pois, sendo as-sim, um peso sairia de minhas costas e um alívio bro-taria em minha alma. Declaro que por algum tempo me hesitei! Tinha a opinião de que ao revelar meus dramas, complexos e frustrações me tornaria ainda mais frágil! Tristemente, durante muito tempo escon-di em meu silêncio, inúmeros absurdos que entala-vam a minha garganta e me faziam chorar. Mas, gra-ças a Deus, ainda há tempo de descobrir a gratificante arte de desabafar!

Estou ciente que ao desabafar e fazer as confissões de um protestante estarei me expondo e acima de tudo, dando a minha “cara a tapas”, afinal de contas, estarei me revelando demais e escancarando a minha alma para todo o tipo de pessoas. E ao fazer tal coisa, sei que nem todos irão concordar e me entender, outros irão julgar e usar como “bode expiatório”, porém, ao desabafar estou me descobrindo e principalmente me desafogando. Preciso urgentemente confessar, pois, quando vejo tantos absurdos a minha garganta coça! Portanto, preciso constantemente limpar a garganta!

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E a melhor maneira que encontrei para isso é: Desaba-fando... Desabafando... Desabafando e Confessando!

Neste livro quero desabafar confessando aberta-mente o que sinto ou penso sobre alguns “temas” gos-pel da pós-modernidade. Farei isto, logicamente, à luz das Sagradas Escrituras, não com o intuito de denegrir ou desmerecer pessoas e coisas, mas, tendo como foco primário a defesa do Evangelho e como foco secundá-rio o alívio de desentalar a minha garganta e aliviar o fardo pesado que estou carregando por muitos anos.

Falando ainda de confissões, no século IV, o bispo e teólogo Agostinho de Hipona, rotulado por muitos como um dos “pais da igreja”, escreveu um livro auto-biográfico intitulado “CONFISSÕES”. Ao comentar a sua própria obra, ele afirmou que a palavra confissões vai além de confessar pecados, significando também adorar a Deus, portanto, quero adorar a Deus com CONFISSÕES DE UM PROTESTANTE e deixar re-gistrado o meu compromisso com os cinco pilares da Reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria!

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C o n f I s s ã o 1

quem Sou eu? tributo AoS meuS trintA AnoS!

O dia 11/12/2011 foi uma data importantíssima na minha vida! Afinal de contas, neste dia, comemorei o meu 30º aniversário! Trinta anos experimentando o sobrenatural de Deus! Inevitavelmente, ao olhar mi-nha face no espelho, vejo marcas surgirem e cabelos brancos emergirem como “joios em meio aos trigos”. Sei que estas marcas me acompanharão pelo resto dos meus dias e, que os cabelos brancos de agora para fren-te não hesitarão em ofuscarem os meus cabelos pretos!

Hoje tenho que novamente dar a “mão a palma-tória” e conformar-me com o veredicto de Cristo: “...não podes tornar um cabelo branco ou preto.” (Ma-teus 5.36). Realmente o envelhecimento é inevitável! Trinta anos de vida! Para quem foi desenganado pelos médicos, no momento do parto, é um número bem ex-pressivo! Portanto, tenho muito a falar, entretanto, em alusão às minhas primeiras três décadas de existência, quero apenas tentar responder: Quem sou eu?

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Quem sou eu?... Eis uma das perguntas mais sim-ples e mais inquietante para nós, meros seres mortais!

Particularmente, lembro-me do receio que sem-pre tive no que tange a esta indagação, durante as inúmeras dinâmicas que participei à procura de um emprego. Para falar a verdade, minhas mãos ficavam trêmulas, o suor escorria pela minha face, o coração palpitava mais forte e a minha voz ganhava um tei-moso ar de rouquidão quando se aproximava a minha vez de responder: Quem sou eu?

Ainda hoje, depois de ultrapassar três décadas de vida, não encontrei uma resposta definitiva para tal pergunta, e creio, sem variações de dúvidas, que ao fechar os meus olhos para esta vida, ainda não terei al-cançado a resposta absoluta e peremptoriamente ver-dadeira. Por hora, cito a sábia colocação de um prega-dor que ao falar de sua existência, esbravejou: Nasci condenado a viver uma só vez assim, portanto, darei a cada instante o valor de uma eternidade.

Enfim, tentando não me esquivar desta sindicân-cia, e sabendo da superficialidade da minha resposta, hoje respondo: Sou um brasileiro que não se orgulha mais em cantar o hino nacional, um protestante que ojeriza o rótulo de gospel, por achar que essa qua-lificação é simplista e remonta a um “cristianismo” light e diet.

Sou um cristão indignado com a postura e o ca-ráter de grande parte dos “evangélicos”. Sou um

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ministro que não abre mão de protestar contra as manobras existentes nos gabinetes pastorais.

Sou um eleitor que não acredita mais em promes-sas políticas, e desdenho aqueles que possuindo o tí-tulo de pastor, de maneira gananciosa, se embarcam na carreira política.

Sou um cidadão, que infelizmente desacreditou na credibilidade dos três poderes.

Sou um civil que fica temeroso ao avistar uma via-tura policial, não por estar em dívida com alguém ou com as leis vigentes, mas por saber que aqueles que deveriam nos proteger podem nos prejudicar, fazen-do uso de um autoritarismo incontrolável.

Sou um escritor, que tento eternizar minhas ideias, pensamentos e inquietações, encontrando no ato de escrever, uma graciosa maneira de desabafar, soltar o grito e protestar. E como escritor, sou alguém que não mais acredita na idoneidade das grandes editoras, pois, sei que elas não estão em busca de novos talen-tos, e muito menos à procura de obras que venham contribuir para o crescimento intelectual e teológico. Tristemente, as editoras só visam o mercado e o lucro, entrementes, além de julgarem o livro pela capa, en-fatizam principalmente a popularidade e a fama do escritor.

Como mortal, sou alguém que nasci sem direito a escolhas, não pude escolher os meus pais, o dia do meu nascimento, a minha terra natal, o médico res-

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ponsável pelo parto, o meu nome e sobrenome, etc. Mas, louvo a Deus, pois Ele me presenteou com tudo isto, e mesmo sem merecer, hoje tenho um orgulho “santo” em proclamar: Sou Sylas de Souza Neves, al-guém que ao contrário de muitos se orgulha muito de seu nome, principalmente por saber que este nome significa: “o escolhido de Deus”.

Graças a Deus, sou filho de Josias e Maria, um ca-sal que além de me orgulhar, incessantemente me faz agradecer ao Todo Poderoso por ter sido gerado por eles.

Sou casado com Diana, uma jovem bela, compa-nheira, leal e dedicada, alguém que me dá orgulho em ser rotulado de seu marido.

Sou pai de Yuri Abner, verdadeira herança do Se-nhor, inteligente, meigo, carinhoso e cheio de energia.

Sou alguém que mesmo tendo limitações não me deixo ficar aprisionado a elas e, sei que posso ir além do que já fui e fazer mais do que já fiz.

Sou um jovem pregador, alguém que procura agradar primeiramente a Deus, tendo sempre temor e sabendo que de nada adianta ganhar o mundo e per-der a sua alma.

Sou o que sou, mas, não descarto a hipótese de algum dia mudar o que penso ser!

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C o n f I s s ã o 2

cAçA ou cAçAdor? eiS A inverSão!

O que vem primeiro, o ovo ou a galinha? Essa é uma questão importantíssima quando tratamos

dos ensinamentos bíblicos, em que a ordem dos fato-res altera o produto, ou seja, a propriedade comutati-va da multiplicação matemática não vale para os en-sinamentos bíblicos, pois, quando se inverte a ordem de tais, modifica-se por completo o produto final. A inversão de valores é algo que vem causando muita confusão no meio evangélico, entretanto, o assunto além de antigo é bastante polêmico. Vejamos:

Na carta de Paulo aos Romanos, já no capítulo primeiro, o apóstolo enfatiza algumas inversões cau-sadas pelos “gentios”. Em primeira instância, Paulo afirma que eles (os gentios), “inverteram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível... Mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador...”

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O apóstolo também afirmou que: “...Deus os aban-donou às paixões infames; porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, seme-lhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.”

Encontram-se também nos dias de hoje, muitas “inversões” dentro da “igreja de Cristo”. O valor da criatura está “superando” o valor do Criador; a gló-ria de Deus está sendo “substituída” pelo glamour da fama humana; os símbolos judaicos sendo mais “va-lorizados” do que a explanação da Palavra; a verdade de Deus está sendo “trocada” pelas mentiras do diabo; o conteúdo do RI (regimento interno) sendo pregado como “Palavra de Deus”; os usos e costumes sendo impostos como “regra de fé e conduta” (doutrinas); e assim por diante...

Dentre todas as “inversões” encontradas atual-mente, quero enfatizar uma, que muito me chamou a atenção e, creio que tem passado despercebida aos olhos da comunidade cristã. Quero falar sobre a “as-serção”: Caça ou caçador?

Caça X CaçadorEm todas as livrarias evangélicas do Brasil encon-

tramos um livro de Tommy Tenney, intitulado “Os ca-çadores de Deus”. Não tenho nada contra este escritor,

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não o conheço, não sei nada de sua vida e não tenho pretensão de enegrecer ou colocar em xeque seu minis-tério. Quero apenas tecer uma “crítica” sobre o título do livro e, analisar biblicamente algumas passagens bí-blicas referentes ao assunto. Isto se faz necessário, pois, nós, escritores cristãos exercemos grandes influências sobre os nossos leitores! Aliás, será que existe alguém que nunca fora influenciado por um livro? Ou por uma palavra lançada? Não é diferente com este escritor e com suas obras. Seu livro “Os caçadores de Deus” tem influenciado muitos, já existe bandas, ministérios, mú-sicas, peças e grupos teatrais com este nome. Lembro--me até de uma música que ouvi: “...Eu quero ser um caçador de Deus!...” Infelizmente, assim como nos dias do profeta Oséias, o povo de Deus está “perecendo por falta de conhecimento”. Tommy Tenney, em dado mo-mento diz que: “...Estas trilhas apaixonadas dos Caça-dores de Deus podem ser traçadas desde Moisés, Davi, Jó, Paulo e também por você...” Todavia, não vejo base bíblica para tal afirmação.

Desde o início, vejo Deus à “caça” do homem. No jardim do Éden, após a queda de Adão, o Senhor lhes pergunta: Onde estás? Após o primeiro homicídio terrestre, Deus sai à “caça” e faz a seguinte pergunta a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Nos dias em que Deus se arrependeu de ter criado o homem, não foi diferente, Deus “caçou” um homem e achou Noé. Será que o Onipotente viu graça em Noé, porque ele era um “caçador de Deus?” Claro que não, Noé foi

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“caçado” porque era justo, reto e andava com Deus. Com Enoque aconteceu o mesmo, foi “caçado e apanhado” por Deus, exclusivamente por que andava com Ele. O rei Davi também foi citado como um “caçador de Deus”, entretanto, não vejo assim, pelo contrário, em 1Samuel 16.1 subtende-se que Deus “caçou” e achou Davi. O texto de Atos 13.22 comprova tal afirmação: “...Achei a Davi, filho de Jessé, varão conforme o meu cora-ção, que executará toda a minha vontade.”

No ano de 2003, ao ser indagado sobre o título de seu livro, Tommy respondeu: “Caçador de Deus é o indivíduo cuja fome excede sua capacidade de saciá-la...” Porém, ao analisar a Bíblia, conclui-se que, Cristo “é o Pão da Vida, o Pão Vivo que desceu do céu”, e, quem comer deste Pão será eternamente saciado. Cristo é a Água da Vida e aquele que beber nunca mais terá sede. Medite: “Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna.”

O profeta Isaías disse: “Buscai ao SENHOR en-quanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto.” Como se nota, o profeta usou o verbo “BUSCAR” e não “CAÇAR”.

Traduzindo estes dois verbos “ao pé da letra” veri-fica-se que há uma discrepância entre eles, pois, quem busca sabe onde está e quem “caça” não tem noção de onde está o objeto procurado. Diante disso, se deduz que: Quem sai “caçando” Deus não tem intimidade

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com Ele e, acima de tudo desconhece dois de Seus atributos: a Onipresença (está em todos os lugares) e a Imanência (presença contínua e atuante). Muitos cientistas, filósofos, arqueólogos, estudiosos, ateus, céticos, etc., são verdadeiros “caçadores de Deus”. Mas, por mais que procurem (cacem), suas buscas são inúteis e infrutíferas, eles estão cegos e desconhecem que: “...Perto está o SENHOR dos que têm o coração que-brantado.”

Voltando a questão do diálogo entre Cristo e a mulher samaritana, vê-se a seguinte revelação: “...por-que o Pai procura (caça) a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em es-pírito e em verdade.” Como diz o escritor e amigo José Barbosa Junior: “Um pouquinho só de conhecimento bí-blico já nos faz ver” que o verdadeiro “caçador” é Deus, e está à “caça”, ou melhor, à procura de verdadeiros adoradores.

Por isso, quero passar do “ser para o ter” ou para o “não ser”. Não quero ser caçador, quero ser a “caça” e ser caçado pela Graça... Aliás, afirmo que: Quem re-jeita a Graça, termina caçando Deus!

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novo temPlo de SAlomão ou do edir mAcedo?

Sinceramente, confesso que desde o mês de setem-bro de 2010, gostaria de ter escrito o que estou es-

crevendo agora, entretanto, para tudo há um tempo determinado, e graças a Deus, o tempo de escrever chegou, e recorrendo ao velho jargão, digo: “Antes tar-de do que nunca.”

Num belo e ensolarado domingo de 2010, fui “pre-senteado” com a revista A Visão da Fé, uma publica-ção da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Ao pegar a revista que fora jogada por baixo do portão da minha residência, fui atraído imediatamente pela bela imagem contida na capa e pelos dizeres: DESTAQUE MUNDIAL: Megaprojeto do templo de Salomão! “É o mais ousado da IURD e notícia nos principais jornais do mundo.”

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Ao foliar a revista e ler cautelosamente a matéria em destaque, fiquei boquiaberto com a grandiosidade do mais novo e ousado projeto do Sr. Edir Macedo. Segundo a revista, a grandiosidade da obra ganhou repercussões internacionais, sendo que o Jornal “The Guardian” da Inglaterra ao fazer uma comparação de altura, afirmou que a estátua do Cristo Redentor no Rio ficará “na sombra” do novo templo da IURD.

Sendo formado em Engenharia, revelo que mui-to me admirei das especificações da obra que segun-do a revista “deve empregar, direta e indiretamente, cerca de duas mil pessoas. O espaço disporá de uma grande nave – cuja parte mais alta terá 19m de altu-ra – totalmente climatizada e comportará mais de 10 mil fiéis confortavelmente sentados”. O megatemplo terá 126 metros de comprimento, 104 metros de lar-gura e uma área construída de 73.634,78 m². Um es-tacionamento para 1.133 veículos, um investimento entre 300 a 350 milhões de reais, além de uma Arca da Aliança, colocada sobre o altar de maneira a criar um efeito tridimensional.

Diante da grandiosidade e ousadia do projeto, o Sr. Macedo ressaltou que o Templo de Salomão (en-tenda-se o seu templo), em São Paulo, será o Monte Sinai do povo brasileiro e de maneira pretensiosa e equivocada afirmou que “a obra trará um grande avi-vamento à igreja em todo o Brasil e no mundo”. No final da matéria há uma nota dizendo que a iniciativa da IURD deixou um rabino lisonjeado.

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Mediante a tudo isto, se tivesse a “ingrata” oportu-nidade de me encontrar com o Sr. Edir, olharia bem fir-me em seus olhos e lhe perguntaria: De onde o senhor tirou a ideia de que um projeto egocêntrico traz avi-vamento? Gostaria também de lhe perguntar: Alguma vez na sua vida o senhor leu e meditou no capítulo 17 do livro de Atos? Será que não entendi direito a decla-ração de Paulo quando afirmou que “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não HABITA em templos feitos por mãos de homens?”

Sinceramente, Sr. Edir, apesar de boquiaberto com a grandiosidade do seu projeto, tenho que pro-testar e confessar que o meu Deus - o Deus da Bíblia e o Deus de Paulo - não habitará em seu templo! Além do mais, creio que Ele sendo conhecedor de todos os “megaprojetos” patrocinados pela vossa senhoria, não anda nada satisfeito com os seus megatemplos e suas FAZENDAS.

Por isso, faço minha as palavras de Paulo no areó-pago de Atenas na Grécia e digo: Senhor Edir Macedo em tudo vos vejo um tanto supersticioso!

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HeróiS dA Fé e “HeróiS” do Povo brASileiro

Para quem é amante das Sagradas Escrituras, é quase impossível apontar apenas um texto como

preferido, entretanto, apesar de amarmos loucamente todo o texto canônico, sempre existirá uma passagem bíblica que falará mais aos nossos corações. Particu-larmente, mesmo já tendo lido por inúmeras vezes o capítulo onze do livro de Hebreus, ainda choro, fico arrepiado e impressionado com a descritiva bíblica da “galeria dos heróis da fé”. Confesso que ainda vibro, sou encorajado e faço coro com o escritor dizendo: homens dos quais o mundo não era digno. Sou apai-xonado por este texto! Sem dúvidas é um de meus favoritos! E a paixão por histórias de vencedores me levou a ter outra “paixão”: ler biografias de homens que marcaram a história.

Como não estremecer com a biografia de Jesus Cristo? O carpinteiro de Nazaré que revolucionou a história. E o que dizer de Saulo de Tarso? Depois de

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Cristo, o maior pregador, apóstolo, missionário, teólo-go e escritor de todos os tempos!

Ao ler a história dos primeiros séculos do cristia-nismo, como não ficar boquiaberto com a inteligên-cia de Agostinho e tantos outros “pais da igreja?” Passando pelo período conhecido como REFORMA, como não admirar e até mesmo “invejar” a sabedoria de Calvino e a enorme importância de seus escritos? Ao chegar nos avivalistas, como não amar e emocio-nar com a história de John Wesley, um homem que segundo historiadores seculares respeitados, além de ter sido “a mente de maior influência” do seu século, livrou a Inglaterra do banho de sangue gerado pela Revolução Francesa iniciada dois anos antes de sua morte. O que falar de Martyn Lloyd Jones, o médico que abandonou a profissão para se tornar o maior pre-gador protestante do século XX, um homem que na visão de muitos foi uma das maiores mentes cristãs de todos os tempos.

Estou ciente de que nesta rápida seleção, deixei de fora homens e mulheres que foram notáveis e excep-cionais, contudo, creio que os nomes que citei são in-discutíveis e fariam parte de qualquer lista de “maio-res” daqueles que conhecem um pouco de história.

No ano de 2012, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), baseado no formato criado pela BBC “The Gre-ats”, exibiu um programa cujo intuito era “mobilizar” o país para responder a uma única pergunta: “Quem é

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o maior brasileiro de todos os tempos?” Durante me-ses a pergunta esteve em aberto no site da emissora, com o objetivo de ultrapassar a marca de um milhão de votos, muita propaganda foi feita e uma grande ex-pectativa foi criada. Finalmente, em julho do referido ano, o SBT começou a exibir os resultados e a revelar os nomes escolhidos para a galeria dos “100 maiores brasileiros de todos os tempos”.

Hoje, no momento em que escrevo estas linhas, sinto-me indignado ao ver “a galeria dos 100 maiores brasileiros de todos os tempos”. Acredito que todo bra-sileiro honesto e conhecedor da nossa curta história (afinal o Brasil foi descoberto apenas no ano de 1500) há de concordar que esta pesquisa revela o seguinte:

Primeiro, o resultado parcial já revela que a voz do povo, além de não ser a voz de Deus, é uma voz “mentirosa”, influenciada e “emburrecida”.

Segundo, a pesquisa comprova que o “brasileiro” realmente não sabe votar, além de ser um “analfabeto histórico, teológico, sociológico, etc.” Pois, o objetivo era eleger aqueles que fizeram mais pela nação, os que se destacaram pelo seu legado à sociedade.

Terceiro, diante de um resultado como este, defi-nitivamente, não tem como me orgulhar por ser brasi-leiro! É brincadeira e até mesmo ridículo olhar a maio-ria dos nomes contidos na lista divulgada.

Não quero denegrir a imagem de ninguém, toda-via, o fato de gostar de um cantor, jogador, lutador ou

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humorista, não faz deste um dos “maiores brasileiros de todos os tempos”.

Numa enquete feita, foi perguntado: “O que leva alguém a ser considerado GRANDE?” Alguns artistas e apresentadores responderam: Caráter, coragem, es-pírito de luta, exemplo de vida e cidadania, atos que influenciam toda uma nação, ideias que influenciam multidões, etc. Diante destas respostas, pergunto: Como pode um “povo” eleger: Ana Paula Valadão, Romário, Joelma, Ronaldinho Gaúcho, Michel Teló, Claudia Leite, Ivete Sangalo, Lua Branco, Marcos do Palmeiras, Dedé do Vasco, Rogério Ceni, Tiririca, Luan Santana, entre outros, para a galeria dos “100 maiores brasileiros de todos os tempos?”

Em quarto lugar, o resultado da pesquisa me ajuda a entender o porquê de ainda elegermos polí-ticos como: Maluf, Demóstenes, Arruda, Lupi, den-tre outros.

Confesso que não me espantaria se no lugar do Chico Xavier, ganhador do concurso o “sábio povo brasileiro” elegesse como MAIOR brasileiro, um dos participantes do BBB, ou algum artista de significân-cia irrelevante; ou até mesmo cantores que “explodi-ram” em virtude de uma única “música”, etc.

É lamentável, mas, o que dizer de um país que elege políticos como os nossos? Que transforma em “celebridade” uma tal de “Luiza” que não estava no comercial de TV? Que têm o “ai seu te pego” como

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líder das paradas de sucesso por várias semanas? E que devolve Demóstenes Torres ao cargo de promo-tor de justiça? E que diante de um Cachoeira conti-nua cantando “Para nossa alegria?”

Absolutamente, no Brasil não se pode levar quase nada a sério!

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eu não PreciSo Ser reconHecido

Por ninguém!

Eu não preciso ser reconhecido por ninguém,

A minha glória é fazer com que conheçam a Ti. E que

diminua eu pra que Tu cresças Senhor, mais e mais.

Para aqueles que já ouviram alguns de meus ser-mões, o presente texto não será novidade, pois,

nos últimos anos, de tanto me ‘incomodar’ com algu-mas, ou melhor, com inúmeras músicas ‘evangélicas’, fui comparado com o saudoso pastor presidente de honra de minha igreja; entrementes, quem conheceu o pastor Anselmo Silvestre sabe que ele era ‘chato’ em relação a muitas músicas que vem sendo cantadas atualmente.

É inegável que a letra da música “A TUA GRAÇA ME BASTA” é linda, e ao contrário de muitas outras composições modernas, também possui consistência

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bíblica, todavia, quando medito nas Palavras de Jesus ditas à mulher samaritana: “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” 10, e reflito sobre alguns acontecimentos na atualidade, uma grande interrogação paira sobre a minha mente:

- Será que há VERDADE quando digo que não preciso ser reconhecido por ninguém?

Deve-se adorar a Deus em verdade, portanto, can-tar que não precisa ser reconhecido e ostentar reco-nhecimento é hipocrisia e farisaísmo.

Fazendo uso do velho jargão, digo: Contra fatos não há argumentos! O autoreconhecimento é uma das coisas mais almejadas na atualidade.

Infelizmente, parece que o desejo pela fama, a autovalorização, a fome pelo sucesso e a busca inces-sante pelo ‘estrelato’ está impregnado no DNA desta nova geração.

Tristemente, na atualidade os ‘anônimos’ estão cada vez mais escassos, pois, os títulos, as credenciais e os troféus estão sendo disputados com todas as for-ças no cenário gospel.

Por onde tenho andado não me canso de ouvir pastores afirmarem que em seus rebanhos existem muitos à procura de títulos e quase ninguém à pro-cura de serviço. Muitos querendo atuar nos ‘palcos’ e pouquíssimos para atuar nas vilas, favelas, nos becos e nos corredores dos hospitais.

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A busca pelo reconhecimento é tão grande que muitos ‘evangélicos’ estão enviando vídeos pessoais para os organizadores de reality shows como o Big Brother Brasil.

O reconhecimento é tão almejado que muitos estão fazendo da internet, principalmente do face-book e do youtube, veículos de publicidade pesso-al, pois, afinal de contas, a propaganda é a alma do negócio!

Certo pastor sabiamente afirmou: “O facebook é uma ferramenta poderosa para aqueles que querem aparecer, todavia, não possuem dinheiro para fazerem outdoors ou saírem nas revistas das celebridades.”

É lamentável ver moças e rapazes postarem fotos sensuais nas redes sociais e dentro das igrejas de mãos erguidas e olhos fechados cantarem que: “A minha glória é fazer com que conheçam a Ti.”

É censurável ver cantores e pregadores estufando o peito, dizendo que não precisam ser reconhecidos por ninguém e, por outro lado, tomar ciência que es-tão recebendo R$ 30.000,00 e R$ 40.000,00 para canta-rem ou pregarem no “maior congresso missionário do mundo”.

E mais triste ainda é pensar que um congresso de missões está virando o Big Brother Gospel, ou seja, uma excelente oportunidade de você aparecer, sair do anonimato e arrumar ‘agendas’ para o resto do ano.

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Como podem cantar “a minha glória é fazer com que conheçam a Ti”, se lutam a cada dia para serem famo-sos, para cantarem nos maiores eventos ou pregarem nos maiores congressos?

Se “a minha glória é fazer com que conheçam a Ti”, por que os “pop-stars gospel” estão cobrando R$ 60.000,00, R$ 80.000,00 e até mais para cantarem nos “eventos evangélicos”?

É muito fácil cantar que: “Vou passando pela pro-va dando glória a Deus!”, quando recebem um cachê altíssimo após o show; aliás, melhor ainda deve ser cantar “que diminua eu pra que Tu cresças”, desde que o lindo patrimônio deles também cresça a cada dia.

Não, não, mil vezes não! Chega de hipocrisia, pois, o Pai me sonda e me conhece, de longe Ele entende o meu pensamento, portanto, Ele sabe que além de di-fundir o nome Dele, quero difundir também o meu, quero ser famoso, quero ser honrado pelos homens, quero ouvir o meu nome na hora dos agradecimen-tos finais, quero pregar nos grandes congressos, se possível no GMUH, quero assinar contrato com uma grande gravadora e, por que não, gravar um Cd que venha me render um disco de prata, ouro, diaman-te, etc. Quero também escrever um livro que vire um best-seller e que apareça na lista dos mais vendidos da semana, quiçá do mês, ou melhor, do ano.

Almejo tanto isto, por isso, tenho e-mail, blog, face, twitter, vídeos no youtube, etc. E para falar a

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verdade, quando morrer, almejo que meu nome seja constantemente citado, a exemplo de: Paulo, Lutero, Calvino, John Wesley, etc.

É por isso e por outras, que mesmo achando esta música linda, reluto-me a cantá-la, pois, Deus é Espí-rito, e importa que os que O adoram, O adorem em espírito e em verdade.

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quem tem ouvidoS ouçA! o que mAcedo

diz àS igrejAS!

No segundo domingo de novembro de 2011, os evangélicos e principalmente os “pentecos-

tais”, foram ou sentiram-se “bombardeados” com uma “grande reportagem” exibida pelo canal de tele-visão do Sr. Edir Macedo. Como já era de se esperar, os contra-ataques começaram e os ditos “grandes” e rotulados “porta-vozes” do movimento pentecostal brasileiro arregaçaram as mangas contra-atacando o “bispo” e líder da IURD, portanto, mais uma vez uma das leis de Newton foi comprovada: Para cada ação, existe uma reação! Creio que os ataques e con-tra-ataques apenas estão no começo, e que muito ain-da estar por vir, a “caixa de maribondos” foi feroz-mente atacada, o calcanhar “pentecostal” foi ferido, uma nova “guerra santa” começou e mais um dos sinais apocalípticos se evidenciou!

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Como amante da Palavra, estudante incansável da teologia e apaixonado pela história da igreja, principal-mente do período patrístico, tenho um sonho que, in-felizmente, sinto ser cada vez mais utópico! Sonho em presenciar um “Concílio Evangélico Brasileiro”, onde os “grandes” líderes cristãos, de maneira pacífica e, à luz das Sagradas Escrituras, possam debater temas ex-tremamente relevantes à fé cristã. Entretanto, como jul-go ser utópico! Tentarei, nas próximas linhas, descrever e relatar aos meus leitores o que penso sobre o assunto, ressaltando, porém, que a minha finalidade é demons-trar o que podemos extrair de positivo de tudo isso.

Primeiramente, gostaria de observar que os meus escritos continuam e, permitindo Deus, continuarão tendo um caráter apologético. Portanto, como apolo-gista, estou sujeito a críticas e objeções, no entanto, não tenho o menor interesse e nem a presunção de querer agradar a todos e coadunar com a maioria. Lembro-me que recentemente um pastor, ironica-mente, inquiriu-me se já havia colocado a “cabeça” no lugar? Para ele, a melhor opção para um prega-dor itinerante como eu, era não tomar partido e me camuflar em todas as ocasiões! A exemplo de Paulo e Martinho Lutero, digo para este e para quem quer que seja: Continuarei defendendo o Evangelho e ex-pondo as minhas ideias, procurando sempre nexo com as Santas Escrituras.

Quanto à reportagem exibida pelo canal de Edir Macedo, deixando de lado os reais interesses e os

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agentes motivacionais que o levaram a fazer tal coisa, creio que nós, “pentecostais”, podemos extrair algo de muito útil em tudo isto. Não quero entrar no mérito se a reportagem (entenda-se denúncia) foi exibida de maneira correta ou não, todavia, creio que a mesma veio em boa hora, pois, a cada dia que passa as histe-rias e os modismos “evangélicos” estão se alastrando pelo mundo afora.

Por mais de uma década tenho pregado a Palavra de Deus e testemunhado as Suas maravilhas por inú-meras denominações brasileiras. Neste período, tive por lema não recusar nenhum convite, independente da placa, do tamanho ou do rótulo (tradicional, pente-costal, etc.). Entretanto, por inúmeras vezes, ao findar de uma reunião, senti-me comovido em mim mesmo, como Paulo em Atenas, ao ver as denominações en-tregues a modismos e superstições de todos os tipos.

Já ministrei em “cultos” onde a “unção do riso”, chamada por eles de “batismo da alegria” foi mais destacada do que a exposição da Palavra. Preguei em cultos onde a “unção do cachorrinho” se fez pre-sente, sinceramente, foi deplorável ver as diaconisas engatinharem como cães e uivarem como lobos. Par-ticipei de uma campanha onde a “unção da escova de dente” foi implantada e sob a ordem da lideran-ça, os “supersticiosos” deveriam levar a escova para aqueles que falam palavrões e proferem maldições. Não posso me esquecer sobre a “unção do palito de picolé” onde fomos orientados a quebrar o palito,

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depois de determinarmos por meio de “orações” que Deus transferisse para o mesmo todas as nossas do-enças e maldições hereditárias. Em uma cidade do interior de Minas e também em duas denominações na capital, presenciei a “unção da bacia”, que após a oração “transformou-se” no tanque de Betesda, onde os “fiéis” enfileirados, alguns portando a “unção do celular” e outros a “unção do helicóptero”, prepara-ram-se para tocar na água e receberem a bênção.

Infelizmente o “cair no Espírito”, os modismos e as invencionices “pentecostais e neopentecostais” são inúmeras e impossíveis de se relatar todas, mas, o pior de tudo é ouvir que todas essas coisas são oriundas do Espírito Santo. Francamente, creio que os líderes deno-minacionais deveriam ler e meditar mais na primeira carta de Paulo aos Coríntios, principalmente, quando ele fala da ordem no culto. Estaria Paulo equivocado? Será que Paulo queria inibir a ação do Espírito no seio da igreja? Será que essa ordem no culto restringiu-se apenas para a igreja em Coríntios? Não acredito que todo “cair” seja errado, contudo, há muita meninice em nosso meio! Há muitos charlatões usando técnicas de hipnose para ludibriar e derrubar o povo! Há mui-tas “campanhas” onde o intuito é apenas impressio-nar e arrancar dinheiro! Há muita coisa errada sendo atribuída ao Espírito Santo de Deus!

É necessário voltarmos às Escrituras! Precisamos ponderar e pensar na hipótese de Deus está usando o Macedo neste quesito, para trazer um alerta à igreja

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evangélica brasileira. Sem dúvidas, precisamos de cul-tos mais racionais e não de encontros sensacionalistas. Particularmente, gosto muito e não pretendo sair do pentecostalismo, mas, reprovo veementemente o sen-sacionalismo e os modismos no “seio da igreja”.

Estou ciente que muitos “líderes” ao lerem este texto poderão me fechar as suas “portas denomi-nacionais”, no entanto, a exemplo de Paulo, reitero que o que importa mais é agradar a Deus do que aos homens!

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crédito ou débito? AFinAl o que tenHo

diAnte de deuS?

Sei que este texto poderá me trazer certos incômo-dos, principalmente porque de uns anos para cá,

o conturbado mundo “gospel” ganhou uma nova ala: os fã-clubes dos artistas gospel. Hoje, infelizmente, quem se atreve a dar a mão à palmatória, analisan-do tudo sob a ótica da Sagrada Escritura é taxado por essa ala de intransigente, importuno e acima de tudo invejoso. Tristemente, os que amam a área da apologé-tica e se prontificam na elaboração de apologias sobre músicas, livros, preleções e etc., não são compreendi-dos, são censurados e até ridicularizados, sobretudo nas redes sociais.

Confesso que já fui escarnecido, zombado e ri-dicularizado em virtude de conjecturas e convicções que elaborei no decorrer do meu ministério. Entretan-to, de uns anos para cá, corroborando com um dos

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poucos pastores “famosos” que ainda gosto de ouvir, afirmo que sinto a necessidade de “bater estacas”, “descer do muro” e assumir posições concernentes a certos assuntos e “ensinamentos” do meio cristão. Hoje, um pouco mais maduro e preparado para lidar com as críticas e o apedrejamento de fanáticos, quero analisar dentro da perspectiva bíblica, se o homem, líder ou não, tem crédito ou débito diante de Deus.

No final da década de 90 “estourou” no Brasil um jovem pregador, carismático, de gentil aspecto e um exímio contador de estórias, como ele próprio já se rotulou várias vezes. Rapidamente, este jovem ganhou espaço, admiradores, fãs e imitadores, e, creio que passou a ter uma das agendas mais dis-putadas do meio “pentecostal”. Nesta época estava saindo da adolescência e apenas engatinhando no ministério, mas pude perceber o alvoroço que este pregador causou no meio da mocidade. Muitos co-meçaram a copiar suas mensagens, seus jargões e até mesmo seu modo de vestir, e espantosamente, uma “nova febre nacional”, agora no mundo gospel, se instaurou no Brasil. No início, tenho que admitir, também fui “tentado” a ceder diante das ministra-ções deste jovem. E a exemplo de muitos, comecei a assistir todas as suas mensagens disponíveis. Entre-tanto, sorrateiramente, o encantamento foi dando lugar à desconfiança, e como “cresci”, deixando de lado as coisas de menino, perdi completamente o vislumbre pelo mesmo.

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É inegável que suas ministrações chamavam aten-ção! Seus jargões “enlouqueciam” inúmeros ouvintes e suas “orações” pedindo a presença de “anjos” nas reu-niões, despertavam frisson no coração de muitos, po-rém, quando ele dizia: “Senhor, se ainda tenho crédito contigo!”... Declaro que por muitas vezes procurei en-xergar com bons olhos tal declaração, aliás, certa vez, ao comentar com um amigo o incômodo que sentia diante dessa colocação, ouvi do mesmo a seguinte ponderação: “Ele ora assim porque paga o preço, tem uma vida irre-preensível e, sendo assim, possui crédito com Deus!”

Não, mil vezes não! Ao olharmos para as Páginas Sagradas veremos que os homens não possuem crédi-tos para com Deus! Possuímos débitos, que a exemplo das financeiras se multiplicam a cada manhã. Revelo que toda vez que ouvia “se ainda tenho crédito con-tigo”, era remetido à oração do fariseu que arrogan-temente dizia: “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo.”xi

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus, assemelham-se aos fariseus que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos e desprezavam os outros.xii

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus se esqueceram de que para sermos justificados diante

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Dele, precisamos reconhecer o nosso estado lastimoso e a exemplo do publicano proferir: “Ó Deus, tem mi-sericórdia de mim, pecador!”xiii

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus, fazem “vista grossa” diante da oração de con-fissão ensinada por Cristo, dizendo: “Perdoa-nos as nossas iniquidades...”xiv

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus se julgam maior do que Paulo, pois, este mesmo pos-suindo tantas credenciais, cidadanias e habilidades, jamais ousou dizer “se ainda tenho crédito contigo”, pelo contrário, ao escrever sua magistral carta aos Ro-manos, ele declarou: “Miserável homem que eu sou!”xv

E por falar em Paulo, todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus devem desconhecer a sua carta a Timóteo, pois nela o maior de todos os apóstolos re-gistrou: “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os peca-dores, dos quais eu sou o principal.”xvi

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus me faz lembrar do início do ministério de Isaías, que saiu dizendo: Ai desses! Ai daquele! Mas, de repen-te, quando teve uma visão do Senhor, reconheceu que também era pecador, entrementes, admitiu que não possuía créditos e diagnosticou: “Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios.”xvii

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus ignoram uma das maiores verdades teológicas: Somos

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justificados pela graça, pela redenção que há em Cris-to Jesus, e não por créditos.xviii

Todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus interpretam de maneira equivocada a ordem dada por Paulo a Timóteo de guardar o bom depósito, pois, o mesmo nada tem a ver com crédito para com Deus.xix

Continuando, todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus são incapazes de admitir que um dos princípios básicos e indiscutíveis do cristianismo ainda está valendo: “Onde o pecado abundou, supe-rabundou a graça.”xx

Finalmente, afirmo que todos aqueles que acredi-tam ter crédito com Deus podem a qualquer momen-to, a exemplo de Belsazar, descobrirem que “foram pesados na balança e achados em falta, em débito.”xxi

Sinceramente, quando olho para minha vida, mi-nha família e para o ministério outorgado a mim por Deus, reconheço que não sou merecedor, não tenho crédito! Na verdade, possuía uma dívida que pare-cia impagável, porém, o sacrifício vicário de Cristo rasgou a cédula que era contra mim, cravando-a na cruz. Aleluia a dívida foi paga e hoje não tenho mais débitos!xxii

Para encerrar, atesto com toda convicção que o verdadeiro chamado jamais se gabará em ter crédito diante de Deus, pelo contrário, a exemplo de Gideão, Jeremias, Moisés e Paulo, o mesmo reconhecerá: im-potência, incapacidade e inexperiência. Não tenho

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créditos! E não tenho débitos! Por isso, alegro-me em saber que as misericórdias do Senhor, se renovam a cada manhã sobre mim, e são elas as causas de eu não ser consumido.xxiii

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AgorA é Só vitóriA! Será?

Agora é só vitória, Agora é só vitória, Agora é

só vitória, só vitória A prova acabou, A luta foi

embora, Agora é só vitória, só vitória!

Ojeriza - creio ser esta a melhor palavra empre-gada para expressar o que sinto ao ouvir grande

parte dos sucessos gospel da atualidade. Infelizmente os “grandes e mega artistas” dessa ala “evangélica e global” estão lançando músicas empolgantes, ricas em arranjos e pobres em consistências bíblicas. Há alguns meses atrás, ao ouvir pela primeira vez a música “UM NOVO VENCEDOR”, cantada por uma das cantoras preferidas da “ala pentecostal” do momento, fiquei bo-quiaberto com a capacidade infeliz com que grande par-te dos “evangélicos” tem em substituir verdades bíblicas por composições mentirosas e sem respaldos bíblicos.

Vaticínio que já estou preparado para lidar com as censuras dos fãs gospel espalhado pelo Brasil afora!

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Aliás, digo que estou pronto para duelar e questionar alguns pressupostos que estão ganhando rótulos de “verdades doutrinárias”. Não dá mais para aguentar canções que só enfatizam bênçãos deixando de lado verdades contundentes que ensinam os cristãos a per-manecerem firmes na fé, a encararem as tribulações, pois, através delas, nos importa entrar no reino de Deus.xxiv

Como um sedento em meio a um deserto tenho andado ávido à procura de músicas com coerências bíblicas! Mas, infelizmente, quando penso que en-contrei um oásis, deparo-me com uma terrível mira-gem utópica. Não quero pegar leve, não ousarei fazer “política de boa vizinhança” e nem pretendo ficar em cima do muro, antes, vou direto ao ponto afirmando que a letra de uma música que não passa pelo crivo das Sagradas Escrituras constitui um falso “evange-lho” cantado, por isso deve ser descartado, pois não são coerentes com as “boas novas”.

Cristo ao libertar a mulher adúltera não disse: Minha filha A PROVA ACABOU, A LUTA FOI EM-BORA, AGORA É SÓ VITÓRIA, SÓ VITÓRIA! Pelo contrário, após salvá-la, Ele a advertiu dizendo: “Vá e não peques mais!”xxv

O mesmo Jesus ao instruir aos Seus discípulos não disse: Vocês foram PROVADOS E APROVADOS, AGORA É SÓ VITÓRIA! Pelo contrário, Ele os adver-tiu afirmando: “Eis que vos envio como ovelhas ao

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meio de lobos; portanto, sedes prudentes como as ser-pentes e inofensivos como as pombas.”xxvi

E não parou por aí, Ele ainda os censurou “leve-mente” dizendo: “Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoita-rão nas suas sinagogas.”xxvii

Sinceramente, não consigo visualizar uma ovelha rodeada por lobos cantando: AGORA É SÓ VITÓ-RIA, SÓ VITÓRIA! Será que Jesus estava brincando? Será que estava sendo irônico? Ou será que Ele havia perdido a noção da realidade? Afinal de contas, UM NOVO VENCEDOR QUE SURGE deve ser conduzi-do ao pódio e não levado como ovelha para o meio de lobos! O NOVO VENCEDOR deve estar no palco, cantando SABOR DE MEL, enquanto os lobos, ou me-lhor, os adversários devem estar na platéia, vislum-brados e cantando: QUEM TE VIU! QUEM TE VÊ!

Se “AGORA É SÓ VITÓRIA! SÓ VITÓRIA!” for verdade, preciso excluir inúmeras passagens da Bíblia, principalmente os ensinos de Cristo e do apóstolo Pau-lo. Creio que o refrão “A PROVA ACABOU, A LUTA FOI EMBORA, AGORA É SÓ VITÓRIA! SÓ VITÓ-RIA!” deveria ser cantando apenas num culto fúnebre, mesmo assim, somente daqueles que morreram em Cristo! Para estes sim: A PROVA ACABOU, A LUTA FOI EMBORA, AGORA É SÓ VITÓRIA! SÓ VITÓRIA!

Se esta música é de Deus, como afirmam muitos “pentecostais”, preciso com muita urgência rever

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meus conceitos e buscar outros modelos para a minha caminhada cristã! Pois, ainda sou fascinado e procu-ro me espelhar naqueles que foram “torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma me-lhor ressurreição; nos que experimentaram escárnios, açoites, cadeias e prisões.”xxviii

Vibro veementemente com os que foram apedreja-dos, serrados, tentados, mortos a fio de espada. Iden-tifico-me com os que “andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltrata-dos e foram considerados como (homens dos quais o mundo não era digno).”xxix

“Infelizmente”, estes gigantes da história não pu-deram cantar que AS PROVAS haviam se acabado! Pelo contrário, a exemplo de Paulo, os Heróis da Fé foram atribulados, angustiados, perplexos, persegui-dos e abatidos. Para estes a vitória somente teve SA-BOR DE MEL no dia em que tombaram nesta vida! Falando em Paulo, se UM NOVO VENCEDOR é aquele cuja “PROVA ACABOU E A LUTA FOI EM-BORA E AGORA É SÓ VITÓRIA!”, então o maior líder do cristianismo foi um grande fracasso, pois, ao descrever para a igreja em Corinto os sofrimentos que havia padecido por amor ao Evangelho, ele enu-merou lutas sobre lutas:

“Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites me-

nos um; três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui

apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um

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dia passei no abismo; em viagens, muitas vezes; em

perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos

dos da minha nação, em perigos dos gentios, em peri-

gos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no

mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e

fadiga, em vigílias, muitas vezes, em fome e sede, em

jejum, muitas vezes, em frio e nudez.”xxx

Pobre apóstolo Paulo, mesmo após passar por tudo isto, inúmeras lutas e infindáveis provas, ele não pôde cantar que AS PROVAS haviam se acaba-do! Na verdade, PROVAS maiores ainda estavam por vir. Rotulando-se o menor entre todos os apóstolosxxxi e sentindo-se PEQUENO, velho e solitário, Paulo foi jogado EM UM VALE ESCURO E FRIO, chamado de masmorra. E dentro desta fria e fétida prisão ele sentiu-se traído, desamparado por Demas, precisando reconciliar-se com João Marcos, ferido por Alexandre o latoeiro e desamparado por todos os irmãos. Pelos olhos da fé, ao ler suas últimas palavras endereçadas ao amigo Timóteo, vejo que SEU GEMIDO DOÍA NA ALMA... TRAZENDO À PELE UM ARREPIO. Saben-do que estava sendo oferecido em libação e que a mor-te velozmente se aproximava, no lugar de cantar “A PROVA ACABOU”, ele declamou: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”xxxii

Após tantas lutas e provas o vencedor não foi conduzido para um pódio, mas foi levado para uma

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guilhotina onde teve sua vida ceifada e sua cabeça de-capitada. Francamente tenho dificuldades em imagi-nar que algum dia em alguma cidade ou em alguma prisão, o nobre Paulo, enquanto ser vivente pensava cantar somente que “A PROVA ACABOU E A LUTA FOI EMBORA E AGORA É SÓ VITÓRIA!” Mas, consi-go vislumbrar o brilho de seus olhos quando afirmou: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação pro-duz para nós um peso eterno de glória mui excelen-te.” Paulo como amante das Sagradas Escrituras sabia que “muitas são as aflições do justo” e que no mundo teria aflições!xxxiii

Não poderia encerrar esta reflexão sem mencionar Davi, alguém citado e inferido na letra dessa música. Se tentarmos fazer uma conexão entre a letra dessa música com a narrativa bíblica da vida do maior rei de Israel, certamente concluiremos que o “AGORA É SÓ VITÓRIA! SÓ VITÓRIA!” tornou-se real para ele somente no dia de sua morte, pois, durante toda a sua existência o “homem segundo o coração de Deus” en-frentou lutas atrás de lutas, provas atrás de provas, gigantes após gigantes, ursos após ursos, chorou, ge-meu, errou, decepcionou-se, teve parte de sua famí-lia destruída, enfrentou incestos, castigos, punições e restrições.

Acredito piamente que Davi como compositor, salmodiador e principalmente amante da Palavra, se tivesse a oportunidade de escolher entre o “AGORA É SÓ VITÓRIA!” e o hino 126 da harpa cristã, ele optaria

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sem titubear pela segunda opção para energicamente cantar:

Quem quiser de Deus ter a coroa, Passará por mais

TRIBULAÇÃO; Às alturas santas ninguém voa,

Sem as asas da humilhação.

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livrAi-noS dA SegundA diviSão ou livrAi-noS

dA SuPerStição?

Quem nunca ouviu em nosso país a exclamação de que Deus é brasileiro! Pois é, este brado pode

ser ouvido em quase todos os ‘quatro’ cantos da ‘pá-tria amada Brasil’, desde as mesas de bares até as me-sas parlamentares. Embora ‘repleta’ de humor, este clamor revela entre outras coisas, a religiosidade do povo brasileiro. Sem sombra de dúvidas, ‘somos’ reli-giosos e, segundo fontes fidedignas “98% dos brasilei-ros acreditam em Deus ou pelo menos admitem Sua existência”.xxxiv

Muitas vezes nossos ‘conterrâneos’ desenvolvem a sua religiosidade de maneira mística e porque não di-zer ‘curiosa’, e infelizmente tais coisas são facilmente notadas até mesmo dentro de muitas igrejas ‘evangé-licas’. É lamentável ver um “cristão” depositar a fé em galhos de arruda, trevo de quatro folhas, ferraduras

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na porta de casa, copos com água em cima do rádio e/ou televisão, amuletos, Bíblia aberta no salmo 91, en-tre outros. As superstições levam o indivíduo a uma idolatria generalizada, pois, os supersticiosos tendem a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus.

Que o brasileiro é religioso não resta dúvida, po-rém, além de possuir uma vasta ‘espiritualidade’, uma grande parte é apaixonada pelo futebol. Orgulhamos de ter o ‘melhor’ futebol do mundo, a única seleção pentacampeã, os melhores craques da história (Gar-rincha, Pelé, Reinaldo, Zico, Tostão) dentre outras coi-sas. O futebol é algo ‘apaixonante’ e nivelador, pois, nele estão inseridos ricos, pobres, pretos, brancos, ho-mens, mulheres, etc. Como brasileiro, desde pequeno, aprendi a gostar do futebol e ainda criança me ‘encan-tei’ com a torcida do Atlético Mineiro: sofredora, mas sonhadora, idealista e fiel. Quando adolescente fugi de um evangelismo de domingo à tarde, fui parar no ‘caldeirão’ alvinegro e estava totalmente ‘idolatrado’ pelo Galo das Minas Gerais! Comprei camisas, ban-deiras, bonés, pôsteres, shorts, CDs e sempre gravava em fitas k7 os gols do Galo narrados pela excepcional voz do locutor Willy Fritz Gonser da rádio Itatiaia.

Devido à imensa ‘paixão’ que tinha pelo Atlético passei cerca de sete anos no curso de pré-batismo e não me batizei, pois, me sentia indigno de participar da ceia do Senhor. Procurei primeiro me despojar do velho homem, corrompido pela concupiscência do engano e somente depois de ‘colocar’ Jesus em pri-

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meiro lugar que desci às águas batismais, dando fim ao monte de amuletos que carregava como torcedor. Hoje, muitos anos depois, ainda gosto de ver o Atlé-tico jogar, todavia, não deixo as coisas de Deus por causa de um jogo, não fico triste e nem nervoso por causa de uma derrota. Graças a Deus as coisas velhas se passaram e tudo se fez novo.

Mas, voltando a falar de futebol, no ano de 2004, o Clube Atlético Mineiro escapou de cair para a 2ª di-visão do brasileiro na última rodada do campeonato e este fato, além de ter gerado na ‘massa’ um grande alívio, deu origem ao livro intitulado: Livrai-nos da 2ª divisão, do Pr. Toninho Campos, livreto que traz na capa os seguintes dizeres: “Como a ação de Deus im-pediu a maior tragédia dos 96 anos de história do Clube Atlético Mineiro.”xxxv

Como amante da Palavra, apologista da fé cristã e apreciador de obras literárias, logo me interessei por esse livro e quando passei a fazer a leitura do mesmo, fiquei estarrecido com algumas colocações do autor, verificando a superficialidade bíblica da ‘obra’ e a pai-xão exagerada por um simples time de futebol. Me-diante a isto, expressarei nas próximas linhas a minha opinião sobre tais colocações que, à luz das Escrituras são erradas e sem fundamento bíblico. Todavia, farei isto não com o intuito de denegrir a imagem do autor, pois, além de não conhecê-lo pessoalmente, não sou juiz e inquiridor de ninguém, acreditando que ele es-creveu tal obra fazendo uso apenas do lado da paixão.

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O livro começa apresentando o Pr. Toninho, a data de sua conversão, como largou um bom emprego em prol da obra de Deus, os lugares onde pastoreou, sua família e onde ele pastoreia atualmente. Já na pági-na 7, no primeiro parágrafo da seção de dedicatória e agradecimentos, o autor foi feliz ao dedicar e agrade-cer a Jesus por seu primeiro livro e para isto afirmou: “É Digno de toda glória e que nos salvou do “rebaixamento eterno” com Seu sangue derramado lá na cruz.”

Tal afirmação expressa coerência bíblica, o sábio Salomão disse: “Para o entendido, o caminho da vida leva para cima, para que se desvie do inferno em baixo.”xxxvi A verdade é que se não fora o Senhor, nós seríamos rebaixados eternamente e este rebaixamento ao con-trário do futebol brasileiro, seria irreversível, ou seja, não haveria volta à primeira divisão. Na CBF (Confe-deração Brasileira de Futebol) pode até existir ‘virada de mesa’, entretanto na CC (Confederação Celestial) quem for ‘rebaixado’ não volta mais. Veja as palavras de Abraão na parábola do rico e Lázaro: “E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá.”xxxvii

Em segundo lugar, a afirmativa diz que fomos salvos do rebaixamento, mediante ao sangue de Je-sus derramado na cruz, portanto, nós fomos salvos, não por um pênalti mal marcado pelo juiz e nem tampouco por compra de resultados, malas pretas, etc., fomos salvos pelo sacrifício vicário de Cristo.

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Podemos dizer: Aleluia! “A nossa alma escapou, como um pássaro do laço dos passarinheiros; o laço quebrou-se, e nós escapamos.”xxxviii

Entretanto, particularmente, além do testemunho de sua conversão e desta afirmação analisada ante-riormente, não consegui extrair mais nada de bom no livro, pois o restante somente me serviu para a elabo-ração deste artigo. Vejamos:

No capítulo primeiro, na página 16, ao tentar res-ponder a pergunta “Deus se mistura com o futebol?” o autor não titubeou em dizer que sim e para se defender ele usou o texto de Atos 27.34 que diz: “Porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.” Ora, além de ti-rar este texto fora do seu contexto, o autor desconhece a vontade permissiva de Deus, que mesmo sendo o Con-trolador do universo, respeita o livre-arbítrio humano; responder a pergunta com este texto é classificar Deus como fatalista futebolístico. Será que Deus também predestinou o São Paulo para ser campeão em 2008?

Depois, para piorar ele citou o texto do capítulo 17 de João, onde Jesus pediu a Deus para que não tirasse Seus discípulos do mundo, mas que os livrasse do ma-ligno. Outra vez o autor tirou o texto do contexto para associá-lo ao futebol, esquecendo-se de que o que leva um time de futebol a se dar bem no campeonato não é a intervenção divina, mas, a qualidade do plantel, a estrutura do clube, a capacidade do treinador, a “aju-dinha” do juiz, etc.

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No nono capítulo, na página 46, quarto parágrafo, o pastor Antônio Brandão Campos fez uma analogia entre o possível rebaixamento do Atlético e o naufrá-gio do Titanic: “Se o dono do Titanic impediu o Se-nhor de salvar a grande embarcação por ter dito que nem Deus o afundaria, com o Atlético foi diferente. Esse grande time de uma imensa torcida teve por seu capitão alguém que, colocado por Deus, abriu a porta para que o Evangelho fosse levado a bordo da nau e juntos invocaram ao Senhor, que operou um grande milagre.” Mais uma vez ele errou em associar o Evan-gelho à salvação futebolística. Acredito que a explana-ção da Palavra de Deus pode ter produzido motivação no grupo de jogadores, agora dizer que Deus operou um grande milagre simplesmente pelo fato deles te-rem ouvido o Evangelho... “santo exagero!”

Finalmente, no último capítulo do livro, na pági-na 52, ao tentar responder a existência de cristãos nos demais times do campeonato e com certeza em times que foram rebaixados, ele disse: “A resposta desta per-gunta eu não vou expor aqui de jeito nenhum, pois aguardo como um tesouro para ver o meu time ainda muitas vezes vencer e ser campeão...” Como se pode notar é uma res-posta vaga e descabida, onde como pastor falou como torcedor. A verdade é que Deus jamais ajudaria o Atlé-tico a fugir da segunda divisão e lançaria “Criciúma, Guarani, Vitória e Grêmio” na mesma.

Para encerrar a minha análise, transcreverei a seguir mais duas aberrações que ele escreveu. Na

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página 53 (falando do último jogo: Atlético 3 X São Caetano 0), por ser tão descabidas, não faço questão de comentar:

“O resultado do jogo foi três a zero! Um gol para o Pai, um

gol para o Filho e um gol para o Espírito Santo de Deus!”

“Para nós, o dia do jogo foi, com certeza, o dia em que o

Senhor vestiu a camisa do nosso time!”

Mal sabia o dileto pastor que Deus ia “trocar de time” e lançar já no próximo ano (2005) o Clube Atlé-tico Mineiro na segunda divisão. (rsrsrs)

Em tempo, ao contrário do pr. Toninho, a cada apito inicial do juiz, no lugar de orar “Livrai-nos da segunda divisão!” oro “Livrai-nos Senhor da su-perstição!”

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PreciSA-Se de PAStoreS!

Ao percorrer inúmeros corredores do centro das grandes capitais, pode-se perceber a presença de

incontáveis cartazes com os dizeres: PRECISA-SE de vendedores, balconistas, embaladores, cartazistas, etc. Realmente nota-se a escassez de bons profissionais à disposição para o mercado de trabalho. Falta mão de obra qualificada!

No ano de 2011 a CNI (Confederação Nacional das Indústrias) divulgou uma pesquisa, informan-do que a falta de mão de obra qualificada afeta 69% das empresas brasileiras e que este problema dificulta o aumento da produtividade e o melho-ramento da qualidade do produto.xxxix No setor da construção civil, por exemplo, uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) também de 2011, mostrou que somente 17,8% dos trabalhadores ocu-pados na construção civil frequentaram o curso de educação profissional.

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Infelizmente, o mesmo quadro pode ser observa-do no campo ministerial com uma observação: A falta aqui não é de mão de obra qualificada, mas, vocacio-nada. A argumentação de Cristo registrada no Evan-gelho escrito por Lucas continua atualíssima: “Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos.”

Lamentavelmente, ao desenvolver um ministério itinerante, tenho presenciado a escassez de pastores verdadeiramente e espiritualmente vocacionados. Por inúmeras vezes fiquei boquiaberto diante de homens que se intitulam pastores. Confesso que estou cansa-do de esbarrar em homens que deveriam “dar a mão a palmatória” e procurarem outra coisa para fazerem. Não tenho medo de verberar, e por conhecimento de causa, afirmo que alguns abraçaram o ministério so-mente depois de se frustrarem profissionalmente. São pretensiosos “profissionais” fracassados, que veem no ministério pastoral, uma excelente oportunidade de ganharem dinheiro e refazerem sua vida.

Em 2010 ministrei a Palavra em uma denominação que me deixou de “queixo caído”, pois, após presen-ciar várias aberrações, ainda tive o desprazer de ouvir do “pastor” presidente a história fatídica do início da mesma. Segundo ele, após uma tentativa frustrada de conduzir um açougue, resolveu apostar numa loja de roupas que novamente resultou num insucesso. Ven-deu os balcões e prateleiras e montou uma igreja no mesmo local. Diante de tanta carência, preciso excla-mar: PRECISA-SE DE PASTORES!

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Precisa-se de pastores! Homens que possuem a imagem de Cristo refletida em suas vidas e não ape-nas de líderes com imagens de executivos bem suce-didos, administradores de sucesso ou empresários destacados.

Precisa-se de pastores! Homens com “tempo e compaixão para ouvir o clamor de almas cansadas, aflitas, confusas em busca de orientação, maturidade, transformação”, como assegurou o reverendo Ricardo Barbosa de Souza.xl

Precisa-se de pastores! Homens que possam en-contrar soluções para nossas crises, principalmente na Palavra de Deus, nos escritos da história da igreja e não de líderes que fiquem apoiados em citações de psicoterapeutas modernos e livros de autoajuda.

Precisa-se de pastores! Homens que se prontifi-quem a ajudar as ovelhas com oração, orientação es-piritual e ministração da Palavra e não de homens que apenas fazem uso de conselhos de psicólogos místicos e esotéricos.

Precisa-se de pastores! Homens que lutem por uma integridade vocacional, que resistem aos mode-los e tentações do “mercado gospel” atual, que pos-suam características essenciais da verdadeira vocação pastoral.

Precisa-se de pastores! Homens cuja vocação é orientada pela Palavra de Deus. Sacerdotes que usam a Bíblia como lâmpada para os pés e luz para o caminho.xli

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Precisa-se de pastores! Homens que não transfor-mem a vocação em carreira profissional, que pelejem por uma fé sincera, relevante e verdadeira.

Precisa-se de pastores! Homens que não façam uso da “máscara” da hipocrisia, mas, que expressem uma humanidade verdadeira e uma espiritualidade sincera.

Precisa-se de pastores! Homens cujo intuito maior é o Reino de Deus, o processo histórico da redenção e a glória do nome de Cristo, e não os seus projetos de vida particulares.

Precisa-se de pastores! Homens que verdadeira-mente sejam rendidos a Deus e não subjugados por sistemas inescrupulosos.

Precisa-se de pastores! Homens como Abel, que possam oferecer o melhor para Deus, um sacrifício aceitável e não homens amantes de si mesmos que buscam o melhor para si.

Precisa-se de pastores! Homens como Enoque, que estejam dispostos a andarem literalmente com Deus. E que andar fala de conhecer, ter intimidade e relacio-namento e não apenas ostentar um anel de bacharel ou um título em divindade.

Precisa-se de pastores! Homens como José, que possuem uma visão administrativa de um todo, que saibam poupar com temor na época das vacas gordas, para administrarem com segurança e a favor do Rei-no, no período das vacas magras.

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Precisa-se de pastores! Homens como Moisés, que saibam supervalorizar o essencial e não negociar aquilo que é inegociável, pois, ao contrário do que diz o dito popular, nem tudo tem o seu preço!

Precisa-se de pastores! Homens como Samuel, que após envelhecerem e dedicarem toda uma vida ao ministério possam chegar tranquilamente diante de todos e com paz de consciência perguntar: “A quem defraudei? A quem tenho oprimido e cuja mão tenho tomado presente e com ele encobri os meus olhos?”xlii

Precisa-se de pastores! Homens como o profeta Micaías, que são conhecidos por pregarem a Verdade e ao contrário dos “animadores de auditório” trans-mitem não o que o povo e a liderança querem ouvir, mas, aquilo que Deus quer transmitir.xliii

Precisa-se de pastores! Homens como Daniel, que sejam firmes e constantes e que proponham sempre em seus corações não se contaminarem com as coisas deste mundo.

Precisa-se de pastores! Homens como João Batista, que saibam que além de profetas, são críticos sociais, portanto, mesmo que seja necessário perder a cabeça, nunca se pode abrir mão dos absolutos de Deus.

Precisa-se de pastores! Homens como Paulo, com consciência cristã, que sabem que não podem ser pe-sados para os irmãos. Homens que aprendam a estar contentes com o que têm.

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Precisa-se de pastores! Homens com vidas irrepre-ensíveis, maridos fiéis que abominam a prostituição e fogem apressadamente do adultério.

Precisa-se de pastores! Homens vigilantes, só-brios, honestos, hospitaleiros, aptos para ensinar, não espancadores, não cobiçosos de torpe ganância.

Precisa-se de pastores! Homens moderados, não contenciosos, não avarentos, que governem bem a sua própria casa e possuem os filhos em sujeição, com toda a modéstia.

Precisa-se de pastores! Homens que tenham bom testemunho, para que não caiam em afronta e no laço do diabo.

Precisa-se de pastores! Homens como Tito, cuja missão é colocar em ordem o que está em desordem e tapar a boca daqueles que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém por torpe ganância.xliv

Precisa-se de pastores! Homens que estejam mais dispostos a visitarem as ovelhas, do que fazerem ex-cursões “religiosas”. Homens que se preocupem mais com as viúvas, do que em trocarem de carro todo ano.

Precisa-se de pastores! Homens como Jesus, que estejam dispostos a darem a vida pelo rebanho em vez de explorarem o mesmo.

Precisa-se de pastores!

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goSPel ou ProteStAnte? eiS A queStão!

Rótulos, rótulos e mais rótulos! Sem dúvidas, mesmo sabendo que rótulos podem não ex-

pressar com exatidão a veracidade de algo ou de alguém, não há como negar que eles fazem parte da nossa história e do nosso cotidiano. Como homem casado e tendo um filho, sou rotulado de marido, companheiro, cônjuge e pai. Já no âmbito religioso, pelas múltiplas funções que exerço, recebo também os rótulos de ministro do Evangelho, pregador, pa-lestrante, conferencista, pastor e escritor, portanto, rótulos não me faltam.

Na atualidade, principalmente na esfera religio-sa, não há como negar a importância exacerbada que muitas pessoas têm dado aos rótulos. Principalmen-te após a década de 70, com o surgimento do ne-opentecostalismo, passamos a ouvir rótulos inima-gináveis até então do tipo apóstolo e paipóstolo! E hoje, desgraçadamente no momento em que escrevo

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estas linhas, estou testemunhando o aparecimento de uma nova onda: a dos patriarcas...! Recentemen-te recebi um telefonema e após dizer pronto, fiquei entalado ao ouvir: - Aqui é o patriarca fulano de tal!

Sobre estes novos rótulos, utilizados principal-mente pelos neopentecostais, o pastor Ricardo Gon-dim, registrou:

Ultimamente, fazem-se piadas dos títulos que os líde-

res estão conferindo a si próprios. É que está havendo

volúpia em pastores se promoverem a bispos e após-

tolos. Numa reunião (diz a anedota) um perguntou ao

outro: “Você já é apóstolo?” O outro teria respondido:

“Não e nem quero. Meu desejo agora é ser semideus.

Apóstolo está virando arroz de festa e meu ministério

é tão especial que somente o título de semideus cabe

a mim.” Um outro chiste que corre entre os pastores

é que se no livro do Apocalipse o anjo da igreja é um

pastor, logo, aquele que desenvolve um ministério

apostólico seria um “arcanjo”.

Em algumas ministrações que tenho feito Brasil afora, tenho enfatizado o cuidado que temos que to-mar com certos rótulos, pois, alguns nada têm a ver com o “produto”. E para exemplificar esta minha afir-mação, explico que se tirarmos o rótulo de uma Coca Cola e o colocarmos em outro refrigerante qualquer; este, não se transformará em Coca Cola só porque passou a ter o rótulo da Coca Cola.

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Assevero, sem medo de errar, que o mesmo vale para as questões de cunho religioso, explico: Nem todo marido é companheiro, no sentido exato da palavra e nem toda mulher é adjutora! Nem todo aquele que se diz cristão é cristão! É interessante, portanto, refle-tirmos no que Jesus ensinou sobre os pseudo-rótulos: “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”xlv

Sobre a relevância ou não dos rótulos, o escritor e teólogo alemão Hans Kung, ao comentar sobre a di-ferença do cristianismo de “fachada” e o verdadeiro cristianismo, brilhantemente indagou e ponderou:xlvi

“Sem dúvida, há tanta coisa que é hoje chamada cris-

tã: grupos, escolas, associações, partidos, igrejas...! Mas

será que tudo isso pode ser considerado cristão pelo

fato de ter “cristão” no nome? Não posso nem devo

deixar de lado os questionamentos críticos, sobretudo

às igrejas cristãs. Mesmo aquele que se professa mem-

bro de uma igreja cristã – e eu o professo com plena

convicção – não haveria de afirmar que tudo quanto

os detentores institucionais do cristianismo defendem

seja cristão, ou mesmo especificamente cristão.”

Falando em cristianismo, todo fiel e cauteloso leitor da Bíblia, sabe que o nosso Senhor e Mestre nunca rotu-lou ninguém de crente, católico, evangélico, protestan-te ou gospel. Aliás, Cristo não rotulou ninguém nem

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mesmo de cristão. Na verdade, Cristo ao se referir aos Seus seguidores, utilizou apenas um rótulo: DISCÍPU-LO. “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam Nele: Se vós per-manecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos.”

É interessante observar que Cristo não disse se vocês permanecerem na minha Palavra serão cris-tãos, crentes, católicos, evangélicos, protestantes ou gospel. Entretanto, Ele afirmou: Serão meus discí-pulos! E mais tarde após a Sua ressurreição, Ele or-denouxlvii: “Portanto ide, fazei DISCíPULOS de todas as nações...”

Ser um autêntico discípulo de Cristo é ser muito mais do que crente, católico, evangélico, protestante ou gospel. Ser um autêntico discípulo de Cristo é seguir prontamente e fielmente o único Caminho. É fazer com que os pensamentos de Cristo sejam os seus pensamen-tos. É fazer com que os princípios do Mestre sejam os seus princípios. É morrer para o mundo e assim como Paulo vociferarxlviii: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a Si mesmo por mim.” Para ser um autêntico dis-cípulo de Cristo é necessário olhar para Ele e dizerxlix: “Eu quero que os Teus ensinos me penetrem, tome con-ta das minhas emoções, dos meus pensamentos, das minhas reações, e, sobretudo das minhas decisões de escolher o que Tu chamas vida...”

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Cristo não rotulou os Seus seguidores de outra coisa, a não ser discípulo. Acredito piamente que não podemos desconsiderar o valor bíblico, teológico e histórico de alguns termos, que ao longo da história da igreja foram utilizados para designar os seguidores de Cristo. Vejamos:

O primeiro termo aplicado pelos não cristãos, como uma espécie de apelido aos primeiros seguidores de Jesus foi “Cristãos”. Sendo que a palavra foi empregada pela pri-meira vez na cidade de Antioquia. Conforme registrou o evangelista Lucas: “Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos”. É interessante obser-var que os discípulos foram “designados”, ou seja, não foram eles que cunharam este termo. Eles não conferiram a si pró-prios este rótulo, antes, foram rotulados pelos não cristãos.

No Novo Testamento este rótulo aplicado aos se-guidores aparece por mais duas vezes, sendo mais uma no livro de Atos e a última na primeira epísto-la de Pedro. Veja respectivamente: “E disse Agripa a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!”, “Mas, se padece como cristão, não se enver-gonhe; antes, glorifique a Deus nesta parte.”L

Pela história, entendemos que o rótulo “cristão” passou a ser muito mais aplicado na época do impe-rador Constantino, apesar da fé cristã ter iniciado com a pessoa e com os ensinamentos de Jesus, o Cristo. É preciso deixar claro e para isso vou usar as palavras do reverendo Caio Fábio:

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“Não foi Jesus que fundou o cristianismo! Foi um impe-

rador romano. Jesus nunca fundou religião. Ele ensinou

o caminho, a verdade e a vida! Ele ensinou e ensina o

Evangelho. Ele nos ensina a absorver... a nos fundirmos

Nele, numa relação pessoal... As pessoas se converteram

na época do imperador Constantino, porque era um

bom negócio! O imperador resolveu ungir todos os bis-

pos cristãos, até então pobretões perseguidos, com uma

capilaridade enorme no império e com finalidade de

usá-los como força política para Roma. Enriquecendo-

-os da noite para o dia e em menos de 40 anos, aquela fé

original em Jesus estava toda corrompida. De lá para cá,

o que assistimos foi à história dos dissabores praticados

em nome de Jesus. As pessoas se “convertiam” para pa-

gar menos impostos, “convertiam” para não serem per-

seguidas pela religião oficial do império: o cristianismo

ou se “convertiam” porque era mais vantajoso, do pon-

to de vista da inclusão social. Vinham para dentro da

religião cristã com todos os seus mitos, crenças, deuses

e com todo o panteão que anteriormente ela já possuía.

Ungiam esses ídolos no nome de Jesus e ficavam debai-

xo de um tacame cada vez mais opressivo, de hierar-

quias religiosas, de cardeais que foram inventados, de

bispos que viraram seres super-poderosos, de sacerdo-

tes dominadores, de teólogos com surtos...”

Portanto, podemos afirmar que o Cristianismo perdeu a sua beleza e seu verdadeiro significado quando se tornou a religião do império.

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O segundo rótulo aplicado aos seguidores de Cristo: “Católico”, foi usado pela primeira vez por Inácio de Antioquia, conhecido na história como um dos discípulos do apóstolo João. Em uma de suas fa-mosas frases ele verberou: “Onde estiver Jesus Cristo, ali está a Igreja Católica” e foi a partir desta frase e mais precisamente no final do século II d.C. que o ró-tulo “católico” que significa “universal” ganhou for-ça, tornando-se sinônimo de ortodoxo, permanecendo por longos e duradouros séculos. Todavia, no século XVI com o movimento chamado Reforma Protestante, o rótulo católico passou a designar apenas os fiéis que aderiram ao papado.Li

Já o terceiro rótulo usado para aludir alguns segui-dores de Cristo que fizeram oposição à Igreja Católica Romana no século XVI e provocaram o seu grande e sério cisma, foi o termo “Protestante”. No meu livro “Memórias Póstumas dos Protestantes”, lançado no ano de 2010, registrei que este rótulo quando usado na sua forma prosaica, denota o sentido de perturbador, agitador, fomentador, provocador, etc. Entretanto, não há como desconsiderar o embasamento histórico e te-ológico que há por “trás” deste adjetivo.Lii

Em suma, “o termo protestante vem do documen-to formal de protesto - Protestatio - que os luteranos apresentaram em assembléia no ano de 1529, mani-festando a sua oposição à política religiosa adotada pela Igreja Católica.”Liii Com o passar dos séculos, principalmente no Brasil, os “seguidores” de Jesus

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passaram a ser designados por novos e interessantes rótulos, dentre eles destaco: “crente” (aquele que crê), “evangélico” (seguidor ou anunciador do Evangelho) e gospel.

Quem me conhece ou já ouviu alguns de meus ser-mões, sabe que tenho certa indisposição e porque não dizer uma aversão ao rótulo gospel. Em inúmeras mi-nistrações e principalmente na internet, sempre dei-xei claro que NÃO sou gospel! Contudo, antes de ser “bombardeado” e taxado novamente de radical, propo-nho-me a explicar o porquê de tanta repugnância com esta designação e o porquê que dentre todos os rótu-los, o meu preferido é protestante e dele não abro mão.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é uma palavra americanizada e para falar a verdade, a igreja brasileira já sofreu demais com a teologia enlatada e fraca de alguns americanos. Teologia principalmente da autoajuda que não fede e nem cheira, que não dimi-nui e nem acrescenta. Teologia de macarrão instantâneo.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel soa aos meus ouvidos como um cristianismo “light” e “diet”, entrementes, raso, minguado, fraco e sem con-sistência.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” superficial, neófito, doente teologica-mente e acima de tudo “alicerçado” sobre a areia. Por-tanto, não consegue resistir às tempestades, às chuvas, às inundações e nem está preparado para o dia mal.

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Não sou gospel, sou protestante! Porque gos-pel é um “cristão” absorvido pelo caldeirão cultural supersticioso e neopentecostal, ou seja, ser gospel é substituir O SOLA FIDE (Somente a fé) por galhos de arruda, sal grosso, sabonete ungido, água do rio Jor-dão, banho de descarrego e inúmeras crendices popu-lares sem nenhuma eficácia.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que desconhece e desvaloriza O SOLA GRATIA (Somente a Graça) e desgraçadamente acaba remendando o véu e optando por viver debaixo do jugo da lei e observando preceitos e doutrinas de homens.Liv

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” pós-moderno secularizado. É um religio-so cego pelo “deus” deste século. É uma vítima hip-notizada e abraçada pela jibóia do secularismo. É um religioso que acha que está tudo liberado, que nada tem problema e nada mais é pecado! É um desgraça-do, pois, abusa da Graça para viver no pecado, des-conhecendo tanto o questionamento quanto o posi-cionamento de Paulo em sua carta aos romanos: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?”Lv

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que dá o seu dízimo não por fé ou agra-decimento, mas, porque acha que os 10% é uma moe-da de barganha e o método mais eficaz de estar imune

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contra os ataques do migrador, cortador, devorador e destruidor.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que não sabe o que é SOLA SCRIPTURA (Somente a Escritura), portanto, não conhece o con-junto axiomático das Escrituras Sagradas, nem as co-loca em prática e por isso acaba voltando às fábulas, modismos e aberrações, além de ser levado por todo vento de doutrina.Lvi

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que não dá a mínima importância à frase corretíssima de Lutero que professou: “Qualquer ensi-namento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejei-tado, mesmo que faça chover milagres todos os dias.”Lvii

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que acha que Martinho Lutero se equi-vocou ao dizer “Fiz uma aliança com Deus: Que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou sa-tisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão ins-trução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.” Para um gospel “culto”, bom é aquele onde o pregador fala mais em línguas estranhas e entrega revelações do tipo: Núme-ro de CPF e carteira de identidade.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que dá mais importância a sonhos, vi-sões e profecias, do que a autêntica explanação da Pa-lavra de Deus.

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Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que não sabe o que é SOLUS CHRIS-TUS (Somente Cristo), portanto, quer ainda “pagar” o preço e “violentar” a própria vida para ser salvo, ignorando que o homem nada poderá fazer para sua salvação, pois Jesus Cristo realizou a obra da reden-ção ao ser sacrificado no calvário: “E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas tam-bém pelos de todo o mundo.”Lviii

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que entra em frenesi, quando se depara com uma réplica da “arca da aliança”. Em contrapar-tida, não valoriza e nem reverencia a presença do Es-pírito Santo: A maior evidência da presença de Deus!

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” cuja ênfase está no que ele faz para Deus e não no que Deus faz por ele.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que não tem a mínima ideia da importân-cia do SOLI DEO GLÓRIA (Glória Somente a Deus), por isso, fica elevando “trapos de imundícia” a categoria de astros, estrelas, ídolos e quase semideuses, esquecendo que Deus não divide Sua glória com míseros pecadores que carecem da Sua graça superabundante.Lix

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que não tem a mínima noção da diferen-ça entre “defender a fé” e tocar no “ungido de Deus”. Não sabe a diferença entre julgar e desmascarar à luz

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das Escrituras. Não consegue visualizar a discrepân-cia entre fazer apologética e implicar com o “cisco” no olho alheio.

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que se “amoldou” a este mundo! É um pobre religioso que NÃO foi transformado pela reno-vação do entendimento, não experimentando a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.Lx

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” acomodado. É um infeliz “deitado eter-namente em berço esplêndido”, logo, não sabe que o “Ai” proferido por Cristo foi endereçado NÃO aos que denunciam os escândalos, mas àqueles que prati-cam os escândalos.Lxi

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” camaleão sagaz! É um religioso que se adapta às conveniências! É um sujeito que não desce do muro do oportunismo. E o pior, acha que Paulo “escandalizou” por resistir Pedro na cara.Lxii

Não sou gospel, sou protestante! Porque gospel é um “cristão” apenas nominal, que transformou a expressão histórica do cristianismo em paganismo. É um “crente” equivocado, pois, não sabe distinguir re-ligiosidade de espiritualidade, além de não entender que o novo nascimento vai muito além da aculturação a religiosidade evangélica.

Não sou gospel sou protestante! Porque gospel é um “cristão” que abre a boca e canta “sabor de Mel”

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com tanto “rompante” como se Deus agisse como ho-mem e fosse vingativo ao extremo, a ponto de ter o prazer de colocar alguns na platéia só para te aplaudir no palco!

Definitivamente, não sou gospel! Sou protestante!

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junto e miSturAdo ou SAnto e SePArAdo?

Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que

tem em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão

pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e

Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente?Lxiii

No último dia do ano de 2011, após receber uma notícia rotulada de uma “grande bênção”, pe-

guei o controle da televisão e sintonizei na Rede Glo-bo para presenciar a primeira aparição de “evangé-licos” no programa Caldeirão do Hulk, apresentado pelo apresentador Luciano Hulk.

Apreensivo, temendo por novas “derrapadas” da turminha “gospel” pós-moderna, confesso que fiquei boquiaberto ao ouvir o nobre apresentador, que diz ser judeu, proferir a seguinte frase: “Desta vez, temos o sagrado e o profano, a babel das religiões, passan-do pelo funk carioca, o axé da Bahia e as atrações evangélicas.”Lxiv

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Se isto já não fosse o bastante, após “berrar” o nome da cantora e pastora Ana Paula Valadão e di-vulgar a grande tiragem de cópias vendida por ela, Luciano Hulk continuou a proferir seus absurdos:

“Eu queria dizer que o Caldeirão é palco para todas as

crenças, credos, cores, ritmos. É uma mistura de reli-

giões, mistura de ideais, quer dizer, na minha casa já é

assim: Sou judeu, minha mulher é católica, minha so-

gra é evangélica, então é uma mistureba já em casa.”

Neste momento, minha angústia dobrou, pois, diante disso, a nobre pastora (...) respondeu:

“Acho que o legal é você refletir o que o Brasil é. Tem

espaço para todo mundo. Muito obrigada!”

Não, mil vezes não! Mais uma vez presenciei a oportunidade de “batalhar pela fé” perdida em rede na-cional e o nome de Cristo negado! E o pior ainda é saber que muitos “evangélicos” aplaudiram, quando Hulk esbravejou: “O Santo e o Profano tudo junto e mistu-rado aqui no Caldeirão!!! Quem gostou faz barulho!!!”

Entretanto, ainda restava uma esperança, pois, uma segunda atração gospel estava prestes a ser anunciada, e que “alegria” em saber que se tratava de um pregador! Pena que era o Pregador Luo.

Este “pregador”, após ser introduzido na presença do apresentador, foi questionado se fazia rap gospel?

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E mais uma derrapada pode ser contemplada, pois, o mesmo, com um semblante franzido, respondeuLxv: “Teoricamente, sim.”

Mais lamentável ainda foi assistir o rapper tirando uma fã (de canga) para dançar abraçadinhos no palco da atração e cantar “Som do Verão”, uma música que não fala nada de Cristo e nem menciona a Verdade que liberta.

No final do programa o pior ainda estava por vir, pois, o “judeu” não convertido cercado de ‘co-leguinhas’ (seminuas), como Hulk costuma chamá--las, foi até ao mar fazer suas oferendas à iemanjá, dizendo:

“Vamos lá! Este programa está bem louco. Um apre-

sentador judeu, música evangélica, cheio de gente...,

ou seja, mulçumano, enfim, têm de tudo neste progra-

ma. Então, como não poderia faltar nesta torre de babel

das religiões, a nossa oferenda a iemanjá, que eu gosto

tanto...”

Mudando de programa, não de aberrações (tam-bém deprimente), assisti no ESQUENTA da Rede Globo, a participação de uma “pastora pentecostal” cantando e falando em línguas estranhas, enquanto a apresentadora Regina Casé e inúmeras mães de santo dançavam ao som de uma música que dizia: “Deixa de ser invejoso, que a vitória chega! Deixa de ser inve-joso, que a vitória chega! Diabo sujo...”

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Essa “pastora”, ainda teve o disparate de zom-bar dos sermões, dizendo: “O Aristides tinha essas peças guardadas em casa (tantan e repique) e eu disse, vamos colocar para gemer na igreja... Em vez de você tá dormindo, babando, só escutando sermões, sermões, vamos colocar o povo para levantar da cadeira e saltar do chão...”Lxvi

Para falar a verdade, ao assistir o vídeo posterior-mente na internet, tive a mesma sensação do meu xará Silas Figueira, que sabiamente e acertadamente sin-tetizou: “A macumba gospel comeu solta nesse programa. Os espíritas que estavam ali não notaram nenhuma dife-rença do que ocorre em seus terreiros. Foi um verdadeiro sincretismo religioso.”Lxvii É por essas e outras que não duvido que a intenção do cantor Latino, revelada há alguns anos atrás no programa “Domingo Legal” do SBT, em gravar um CD intitulado “Junto e mistura-do” com alguns cantores gospel seja realizado.Lxviii Ali-ás, hoje já virou rotina os cantores seculares fazerem “participação especial”, cantarem juntos e misturados com os artistas “evangélicos” e vice-versa.

Infelizmente, a moda pegou e duvido muito que vai mudar, afinal de contas, o sonho da maioria dos cantores gospel é migrar para a Sony (gravadora Glo-bal) e fazerem aparições nos programas televisivos para alavancarem ainda mais a carreira! Pois bem... Sei que muitos pensam e rotulam tal abertura da mí-dia de uma “bênção”, entretanto, tal coisa não passa de engodo e enganação. Na verdade essa associação

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não passa de sincretismo religioso e de extrema deso-bediência para com a Palavra de Deus.

Gostaria que você deixasse de lado sua paixão e sua preferência musical e respondesse com sincerida-de: Quando foi que a Rede Globo abriu espaço para a genuína pregação da Palavra de Deus? Ou então: Qual “artista” gospel usou a oportunidade para pro-pagar o verdadeiro Evangelho?

Sei que alguns me taxarão de radical, todavia, para estes quero deixar claro que Cristo foi radical. Paulo também era radical e o genuíno Evangelho é radical, portanto, não há possibilidades bíblicas para o santo se misturar com o profano. Na caminhada cristã não se pode estar junto e misturado! Não existe comunhão entre luz e trevas.

O verdadeiro discípulo de Cristo precisa ter em mente que o profano é o caos, é uma barbárie! O san-to tem um padrão e o profano tem outro. O padrão do santo é justiça, mas, o padrão do mundo é ganân-cia! O padrão do santo é a Verdade, mas, o padrão do mundo é mentira! O padrão do santo é glória de Deus, mas, o padrão do mundo é glória do homem!

O pastor e teólogo Ed René Kwitz no tocante a esse assunto ponderou:Lxix

“Um homem afastado de Deus é tão culpado de pe-

car, quanto um tuberculoso é culpado de tossir!... Um

ser humano afastado de Deus, isto é, não regenerado,

que não nasceu de novo, em quem o Espírito Santo de

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Deus não habita, que não está em relacionamento com

Deus, que não está na luz: Está nas trevas! Ele tem o

seu entendimento obscurecido, ele tem o seu coração

endurecido, ele é ignorante quanto às leis de Deus e as

promessas de Deus, ele é descrito na Bíblia como ho-

mem natural, que sequer pode entender as coisas de

Deus, porque as coisas de Deus se discernem espiritu-

almente.”

E ao mencionar sobre possíveis “associações” com esse homem natural, Ed René apregoou:Lxx

“Por mais bonzinho, por mais correto, por mais ínte-

gro, um não cristão está sempre longe de Deus, vulne-

rável ao mal, ao pecado, a transgressão, sempre! Não

existe quase crente! Não existe quase grávida. Existe

grávida e não grávida, quase grávida não existe! Por

isso, Martin Lloyd Jones disse que impor a ética cristã

ao não cristão é uma blasfêmia contra o Espírito Santo,

porque somente o homem que vive sob o Espírito San-

to de Deus, habitado pelo Espírito Santo de Deus, pode

fazer a vontade de Deus.”

Portanto, nada de juntos e misturados! O dever do cristão é ser Santo e Separado!

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rAdicAliSmo ou deFeSA dA verdAde?

Desde o ano 2000, há 14 anos, quando comecei a pregar o Evangelho e a escrever os meus primei-

ros sermões, assumi o compromisso com Deus de ser um despenseiro da GRAÇA e da VERDADE. Confian-temente assentei no meu coração o propósito de NÃO pregar o que dá certo, mas, o que É certo!

No decorrer dos anos, aprendi que “batalhar” pela fé cristã ou ser um apologista (oriundo do gre-go apologia, “defesa”), além de ser desgastante é algo que inevitavelmente vai desapontar muitas pessoas, pois, algumas não estão interessadas numa explicação racional e bíblica, já outras, estão somente interessa-das no que é importante para elas e não no que é a verdade.

Também com o passar dos anos aprendi que um apologista da fé cristã não consegue agradar nem mes-mo a todos aqueles que se dizem “cristãos”, por isso, a apologética acaba sendo depreciada e os apologistas

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bíblicos, no geral, são rotulados de radicalistas, divi-sores, invejosos, fundamentalistas, legalistas, “atira-dores de pedra”, fariseus (no sentido pejorativo), etc.

Quando Paulo registrou que nos “últimos dias os tempos seriam trabalhosos”71, será que ele imaginava que o mundo ocidental se tornaria pós-cristão? Será que o nobre apóstolo sabia que o Iluminismo, com sua marca de “livre pensamento” introduziria na igreja o fermento do secularismo? Será que ele imaginava que uma pessoa secularizada e relativista acreditaria tanto em Jesus Cristo quanto em fadas e duendes?

Será que o apóstolo dos gentios poderia imaginar que no século XXI apenas 10% dos europeus seriam “cristãos praticantes”, embora a maioria sustente um rótulo de cristão? Será que ele também podia imagi-nar que os “crentes bereanos” quase entrariam em ex-tinção na pós-modernidade?

Por falar em pós-modernidade e caminhando um pouquinho mais na história do cristianismo pergunto: Será que os chamados “pais da igreja” ou posteriormente os “reformadores”, que eram ho-mens intelectuais, pensadores, apologistas e bata-lhadores da fé, imaginavam que no futuro, na “era do conhecimento”, os “cristãos” sofreriam tanto de miopia bíblica e cegueira espiritual? Será? Será? Será?... Sei que são muitos os questionamentos, to-davia, pretendo apenas tentar responder o primeiro deles, entrementes, aquele que deu origem a este

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texto: Será que Jesus, Paulo, João e Tiago eram radi-calistas ou defensores da Verdade?

Serei prolixo, mas tenho que repetir que no “círculo gospel” pós-moderno, quem aponta erros doutrinários em livros, músicas, comportamentos e falas é acusado de “julgar”, “atirar a primeira pedra” e “implicar com o cisco no olho alheio”, além de ser taxado de divisor, invejoso, fundamentalista, legalista, fariseu e radicalista.

No início do meu ministério fui bombardeado, chamado de invejoso e rotulado de fundamentalista religioso quando disse que era totalmente errado o início da música “Com muito louvor” que se tornou, em 1999 e 2000, uma febre nacional no meio pentecos-tal. A letra dizia o seguinte: “Deus não rejeita a oração, oração é alimento. Nunca vi um justo sem resposta ou ficar no sofrimento.”

Pois é, a Bíblia vai nos dizer algumas verdades, vejamos:

1) Existem orações que Deus rejeita, ou seja, que ele não recebe e não ouve. (Salmo 66.18-1, Pe-dro 3.7)

2) Oração não é alimento, a Palavra que é alimen-to (Mateus 4.4)

3) O justo pode ficar sem resposta (Habacuque 1.2, Salmo 22.1, Marcos 15.34)

4) O justo também pode ficar no sofrimento (Jó é um exemplo, que segundo fontes, sofreu

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aproximadamente 10 anos, mesmo Deus fa-lando que ele era justo e temente).

Alguns anos depois fui novamente bombardeado, chamado de fariseu, hipócrita e invejoso, simplesmen-te por afirmar, fundamentado na Bíblia, principal-mente na doutrina da GRAÇA que homem nenhum tem créditos com Deus! Ao contrário do que afirma um famoso pregador pentecostal em suas orações: “Senhor, se ainda tenho crédito contigo!” Fui chama-do de radical, intransigente e legalista por “batalhar pela fé” e dizer que “todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus, se esqueceram de que para sermos justificados diante Dele, precisamos reconhecer o nos-so estado lastimoso e a exemplo do publicano profe-rir: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”Lxxii

No ano de 2012 continuei sendo massacrado por alguns, quando escrevi a confissão: “Agora é só vitória, será?”, onde apontei os graves erros da música gospel cuja letra diz que “a prova acabou, a luta foi embora, agora é só vitória”. Fui chamado de radicalista porque disse que “não dá mais para aguentar canções que só enfatizam bênçãos, deixando de lado verdades con-tundentes que ensinam os cristãos a permanecerem firmes na fé, a encararem as tribulações, pois, através delas nos importa entrar no reino de Deus”.Lxiii

Recentemente, fui novamente chamado por al-guns “irmãos” de fariseu, legalista e radicalista pelo

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fato de combater e repudiar a participação de cantores gospel em novelas ou fazerem parcerias com músicos seculares. “Sou legalista por dizer que a tal “abertu-ra” que a mídia televisiva e principalmente a “Rede Globo” vem dando aos “evangélicos”, nada mais é do que um laço do passarinheiro”. Estou sendo radical demais na opinião de alguns, por não concordar com alianças entre “justos” e ímpios! Por discordar em gê-nero, número e grau, com cantores gospel que fazem “participações especiais” em CDs de músicos secula-res e vice-versa!

Sou também fariseu por desaprovar a participa-ção de dois cantores gospel em um programa de tele-visão, onde o apresentador faz oferendas a Iemanjá e afirmou que o nome do programa é Caldeirão, pois é a mistura do santo e do profano, é a Babel das religiões!

Sou fariseu e legalista em afirmar que no lugar de “juntos e misturados”, precisamos ser santos e se-parados! Sou fundamentalista religioso por acreditar que Deus ainda requer de nós santidade, separação e total rompimento com as trevas e com a roda dos es-carnecedores. Diante de tudo isso e de mais algumas coisas que deixarei para outros textos, cheguei à con-clusão de que Jesus, Paulo, João e Tiago também eram radicalistas! Se não, vejamos, ironicamente é claro:

Será que Cristo não foi “radical” ao extremo, ao expulsar da entrada do templo todos os que vendiam e compravam? E intransigente demais ao derrubar as

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mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas?Lxxiv Será que o correto era não fazer nada? Se conformar? Afinal de contas, aquela prática não era “ganha pão” de muitos? Além do mais, a atitude de Cristo deve ter “escandalizado” os pequeninos!

Será que Ele não foi “radical” ao dizer para os doze: “Quereis vós também retirar-vos?”Lxxv Será que o correto não seria “pegar mais leve”? Ou, fazer um discurso que massageasse o ego da multidão?

Será que o maior Mestre de todos os tempos, não foi “radical” também ao dizer para o jovem rico: “Falta-te uma coisa”? A Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo.” E aos discípulos: “Que é difícil en-trar um rico no reino dos céus.”Lxxvi

Será que Cristo não “viajou na maionese”, sen-do “radical e dogmático” ao afirmar que Ele era a Verdade?Lxxvii Ou será que Ele era coitadinho? Pois, não sabia que no pós-modernismo, no período da igreja chamado de “era gospel”, uma infinidade de “cristãos” se secularizariam e para estes não existe uma verdade absoluta, tudo é relativo.

E o que dizer dos sete “Ais” que Ele descarregou em cima dos doutores da lei em Mateus 23? Será que Ele não pegou muito “pesado”? Afinal de contas, aqueles homens eram dizimistas, oravam, jejuavam e “guardavam a Torá”!

E quanto a Paulo?... Coitado, aos olhos de al-guns crentes pós-modernos e acomodados, o grande

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apóstolo não passaria de um fariseu grotesco e “atirador de pedras”, principalmente por citar que Demas havia se transformado num amante do mundo!Lxxviii E por declarar que havia entregue a Sa-tanás: Himeneu e Alexandre, para que eles apren-dessem a não blasfemar!Lxxix Quanto julgamento não é mesmo? Quanto radicalismo, não acha?

Referente suas orientações nas epístolas, será que Paulo não errou ao rogar que “não devemos nos con-formar com este mundo”?Lxxx Que não devemos tam-bém nos associar com aquele que “dizendo-se irmão, for devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou roubador”?Lxxxi

Quanto “legalismo” e quantos “tiros de pedra” dados por Paulo, quando nos mandou afastar de:

“Homens amantes de si mesmos, avarentos, presunço-

sos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães,

ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis,

caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para

com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais

amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo apa-

rência de piedade, mas negando a eficácia dela.”Lxxxii

E o que dizer dos “jugos desiguais”? Das socieda-des da justiça com a injustiça? Da comunhão entre luz e trevas?Lxxxiii Será que Paulo não sabia que no “mundo gospel” está tudo liberado? Junto e misturado? E que nada tem problema? E que não há nada de errado um

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cantor gospel convidar um “ímpio” para fazer partici-pação “especial” em seu cd e vice-versa? E muito me-nos em um cantor gospel gravar uma cena de novela, onde a ceia do Senhor é profanada?

Oh! Paulo! Quanto radicalismo em dizer que “to-das as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.Lxxxiv

E concernente ao apóstolo do amor? Quanto “le-galismo!” Quanta decepção! Oh! João, porque você tinha que dizer: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.”Lxxxv Como pode o apóstolo “amado de Cristo” e pastor da igreja em Éfeso condenar quem ama novelas e reality shows?

E o “radicalismo” não parou, ele também registrou:

“Todo aquele que prevarica e não persevera na doutri-

na de Cristo não tem a Deus; quem persevera na dou-

trina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se

alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não

o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque

quem o saúda tem parte nas suas más obras.”Lxxxvi

Para finalizar a seleção dos “radicalistas e legalis-tas”, vejamos o que outro apóstolo disse:

“Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a ami-

zade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto,

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qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-

-se inimigo de Deus.”Lxxxvii

Até tu Tiago! Como pode chamar um irmão de adúltero, só porque é amigo do mundo? Que “exage-ro”! Que “radicalismo”! Que “farisaísmo”! E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo para dizer de Pedro e de Judas, que dentre outras coisas, afirmaram “radical-mente” que “muitos seguiriam as suas dissoluções, blasfemando o caminho da Verdade.” E que seria nos-so dever “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”.Lxxxviii

Pois bem, posso continuar sendo taxado de ra-dical, fariseu e legalista, mas, a exemplo de Cristo, Paulo, João, Tiago, Pedro e Judas, vou continuar ba-talhando pela fé cristã! Não medirei esforços e não temerei as consequências para impedir que o verda-deiro Evangelho seja adulterado! E enquanto tiver fô-lego, não cessarei de condenar, doa em quem doer, os jugos desiguais, as derrapadas do mundo gospel e os jargões equivocados dos pregadores sensacionalistas pós-modernos!

Encerro aqui, fazendo minhas as palavras de Lutero:

“A menos que eu seja convencido pelo testemunho

das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio, a menos

que eu seja persuadido por meio das passagens que

citei, a menos que assim submetam minha consciência

pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me

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retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a

consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra

coisa, Deus me ajude.”

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PentecoStAl Sim, bArulHento não!

Cresci no meio pentecostal. E apesar das minhas idas e vindas, verdade seja dita, nunca retirei os meus

pés do universo pentecostal. Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez em que falei em línguas estranhas, as mesmas que os teólogos definem como “glossola-lia”. Foi uma noite inesquecível e posso defini-la como um momento único e porque não dizer “arrebatador”.

Confesso, muito envergonhado, que no início do meu ministério no ano 2000, quando comecei a pregar a Palavra de Deus, sentia-me bastante “inferior” frente a outros pregadores da igreja porque pregava a Palavra, mas não tinha o “dom de línguas”. Na época isto era o “calcanhar de Aquiles” de um pregador pentecostal.

Ainda lembro-me de um jovem - o Neimárcio (na época recém-convertido, e por ser ele meu amigo, in-siro o nome dele aqui) que ficava rindo, pois, segun-do ele, quando eu alcançava o ápice de um tópico da mensagem, no momento em que quase todo pregador

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pentecostal até mesmo “por vício” solta uma “rajada de línguas estranhas”, eu apenas gritava “aleluia” e “glórias a Deus”.

Em 2001, quase dois anos mais tarde, minha frus-tração aumentou ainda mais quando um determina-do pregador começou a vociferar em muitos púlpitos Brasil afora que “pentecostal que não faz barulho está com defeito de fabricação”. Revelo que todas as vezes que ouvia este “jargão pentecostal” me sentia frustra-do, cabisbaixo e desmotivado, afinal de contas, eu não era apenas um pentecostal, mas um pregador pente-costal. Santa ignorância!

Não demorou muito e aquele jargão avassalador começou a se espalhar pelo Brasil e desgraçadamente inúmeros pregadores do país começaram a copiá-lo e inseri-lo em suas ministrações “pentecostais”. Com isso a nova onda estava instaurada, a arrogância e o espírito de superioridade de alguns dos que falavam em línguas e ministravam a “Palavra” alçou voo.

Mas graças a Deus, felizmente, o grande dia che-gou e em 29 de julho de 2001 falei em línguas pela primeira vez. Foi uma experiência espetacular, memo-rável e quase indefinível. Na verdade, a “visitação” (o melhor termo que encontrei) do Espírito Santo na minha vida foi tão tremenda e única, que minhas per-nas ficaram trêmulas e só me recordo de ter caído em cima da bateria da igreja e de ter sido levantado pelo saudoso diácono Gerson.

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No final do culto estava arrebatadamente feliz e aliviado, afinal de contas, agora poderia “rechear” minhas ministrações com línguas estranhas, poderia também futuramente ingressar no ministério (falar em línguas é essencial para eles) e poderia provar para todos que meu “defeito de fabricação” fora corrigido! Santa arrogância!

Comecei a usar e abusar das “línguas estranhas”, afinal de contas, pregador bom é pregador que faz barulho e fala em línguas estranhas. E “culto” bom é aquele barulhento, frenético e com muitas línguas e o famoso “thethererethethe” ou melhor reteté. (rsrs)

Equivocadamente já saí de alguns cultos comple-tamente arrebentado e questionando a minha vocação ministerial, simplesmente por não ouvir barulho e nem “línguas estranhas” enquanto ministrava a Pala-vra. E para falar a verdade, acredito que para a grande maioria dos “jovens” pregadores “pentecostais”, pre-gar a Palavra num culto sem barulho é o pior de todos os martírios. E erradamente estes cultos são rotulados por esses indivíduos de “frios” ou gelados.

Mas graças a Deus o tempo passou... E hoje, um pouco mais crescidinho, posso parafrasear o apóstolo Paulo e dizer: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.”Lxxxix

Com o passar dos anos aprendi que “muito baru-lho é sinal de pouca chuva”, que “barulho demais é

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sinal que a lata está vazia”, mas principalmente, com-preendi que o falar em línguas só tem uma finalidade: “Edificar a si mesmo”.xc Também com o decorrer dos anos compreendi e me inquieto muito com a seguinte interrogação de Paulo: “Se, pois, toda a igreja se congre-gar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem in-doutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?”xci

Todavia, antes de continuar, urge confessar uma verdade, antes que eu seja “excomungado” por al-guns do meio: AINDA SOU PENTECOSTAL! E AIN-DA FALO EM LÍNGUAS!

Sou pentecostal e como não poderia ser diferente acredito que milagres acontecem. Acredito que a pre-sença de Deus se manifesta no meio do Seu povo, pro-duzindo sinais que alteram insolitamente determinis-mos naturais. Acredito no revestimento de poder que produz um ardor pela obra missionária e uma paixão exacerbada pela anunciação das Boas Novas.

Sou pentecostal e declaro com toda intensidade e verdade que amo participar de reuniões onde o Espí-rito Santo tem liberdade, onde o “sininho” do pastor é um objeto obsoleto e inutilizado. Também afirmo que vibro veementemente com pessoas que se “entregam” voluntariamente e com isso acabam-se encharcando de lágrimas e suor no culto. Rendo-me ao presenciar súplicas e principalmente ao contemplar o verdadei-ro fervor pentecostal. E para não ser taxado de muito chato, até relevo certos exageros!

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Hoje ao escrever questionando alguns modismos e posicionamentos teológicos que estão deturpando o verdadeiro pentecostalismo, não estou de maneira al-guma desvalorizando ou desmerecendo este segmento da fé cristã. Não sou louco de pensar que tudo no pen-tecostalismo está errado e que todos os pentecostais são meninos “levados por ventos doutrinários”. Entre-tanto, não posso mais aceitar o equivocado conceito de que “pentecostal que não faz barulho está com defeito de fabricação”, principalmente, por saber que “culto”, na verdade, é uma tributação voluntária de louvores e honra ao Criador, sendo que, seu objetivo primário é a adoração a Deus. E que este culto deve ser racional.

Não posso concordar também que “pentecostal que não faz barulho está com defeito de fabricação”, pois aprendi que tudo tem o seu tempo determinado. Há o tempo de sorrir e o tempo de chorar, portanto, muitas vezes, quando o tempo de chorar chega em nossas vidas nos comportaremos como Ana, que es-tava no templo, mas impossibilitada de fazer barulho, pois, a sua tribulação e a sua amargura falavam mais alto, pelo que “só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz...”xcii

Não aceito que “pentecostal que não faz barulho está com defeito de fabricação”, pois não há nenhu-ma base bíblica para isso. E o que caracteriza um ver-dadeiro culto pentecostal não são sons inelegíveis, mas entendimento, edificação e sinais da verdadeira glorificação à Deus.

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Sou pentecostal, mas não tenho como aceitar este misticismo pagão e este paganismo rotulado de “atos proféticos” que mais parecem feitiçaria gospel. Afir-mo que é lamentável e deplorável presenciar indiví-duos gritando como loucos, uivando como cachorros, decretando, determinando, exigindo, amarrando, pu-lando, cambaleando e cada vez mais se distanciando daquilo que a igreja primitiva chamava de “doutrina dos apóstolos”.

Sou pentecostal, mas não posso me conformar que ainda existem em nosso meio “pentecostais” que acre-ditam em “mau olhado”, ferraduras atrás da porta, rosa ungida, lenço espiritual e no poder de um copo d’água em cima do rádio.

Sou pentecostal, mas não posso aceitar que este pregador que afirma que “pentecostal que não faz ba-rulho está com defeito de fabricação”, fique fazendo barulho e ensinando heresias ao povo: “Deus precisa da autorização do homem para agir nesta terra.”xciii

Sou pentecostal, mas não sou barulhento! Alguns dizem que estou virando tradicional, mas afirmo que apenas estou amadurecendo e aprendendo!

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diSciPulAdo ou ProSelitiSmo?

Fundamentado nos textos canônicos neotestamen-tários, enfatizo que o Reino de Deus sempre foi o

foco principal da mensagem de Cristo. Todo estudio-so das Sagradas Escrituras quando se “debruça” sobre o Novo Testamento acaba constatando que a palavra REINO aparece centenas de vezes e isto nos induz a concluir que a igreja de Cristo é, sem sombra de dúvi-das, a comunidade do Reino de Deus.

No Evangelho escrito por Marcos, lemos que a primeira pregação feita por Cristo tinha como foco central o Reino: “E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho do Reino de Deus.” É interessante e fundamental ressaltar que o próprio Cristo, nesta mesma pregação, inseriu dois ingredientes indispensáveis para aqueles que alme-jam “ingressar” neste Reino: ARREPENDIMENTO e CRENÇA no Evangelho.xciv

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Concernente ao arrependimento, Martin Lloyd Jo-nes em um de seus memoráveis sermões, afirmou que o “arrependimento é a porta através da qual todos que desejam entrar no Reino de Deus precisam pas-sar” e que lamentavelmente “o motivo porque tantas pessoas hoje estão fora do Evangelho e do Reino de Deus é o fato de que elas nunca entenderam o papel e o significado do arrependimento nos ensinos do Novo Testamento”.xcv

Quanto à crença no Evangelho, é fundamental e vital mencionar que só um autêntico discípulo é capaz de compreender a relevância fidedigna da mensagem de Cristo. Essa é a posição dos Evangelhos! Por isso, declaro que no Reino de Deus só há espaço para o dis-cipulado, não existindo lugar para o proselitismo.

Antes de prosseguir, é necessário se ponderar que nos melhores dicionários o termo “proselitismo” do gre-go prosélytos é definido como “aquele que se aproxima” ou “alguém que chegou a um lugar”, podendo aludir a alguém que chegou a alguma nova fé religiosa, tendo vindo de algum outro lugar. Hoje, na pós-moderni-dade, este termo ganhou uma conotação negativa e é usado para descrever a suposta agressividade de uma religião (concorrente) em converter novos seguidores.

Pelos escritos do Novo Testamento e principal-mente pelo texto conhecido por nós como “A Gran-de Comissão”, Cristo ordenou: “Ide, ensinai (ou fazei discípulos) todas as nações, batizando-as em nome

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do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado.”xcvi Aprendemos que o discipulado (e não o proselitismo) é a grande MISSÃO deixada para a igreja de Cristo.

Infelizmente o discipulado tornou-se uma práti-ca esquecida, negligenciada e perdida principalmen-te na história da igreja contemporânea. Aliás, não é exagero nenhum afirmar que o discipulado hoje, em muitas comunidades, é mal compreendido, confun-dido e ate mesmo substituído pelo proselitismo, que em suma é uma tática manipulativa, com esforços propositais e equivocados de trazer a fé cristã, novos convertidos.

Precisa-se ponderar que o discipulado não é dou-trinação, treinamento, formatação comportamental ou inserção religiosa. Discipular vai além de ensinar indivíduos as doutrinas da fé cristã. Discipular é en-sinar o Evangelho. Discipular é levar indivíduos ao genuíno arrependimento. Discipular é ensinar a viver a vida como Jesus viveu! Portanto, um autêntico dis-cípulo de Cristo é um indivíduo convertido, regene-rado, transformado, alcançado pela graça e mudado pela Palavra. É alguém que sabe que o Evangelho é lâmpada para os pés e luz para o seu caminho. É um ser que diariamente e verdadeiramente afirma: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.”xcvii

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o “eSPetáculo” AgorA é outro

“Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos,

nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois

somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos

homens.”xcviii

Em sua primeira carta à igreja em Corinto, Pau-lo, o apóstolo da graça, ao elucidar os seus so-

frimentos pela causa de Cristo, emprega a palavra “espetáculo”, deixando transparecer que os seus in-fortúnios prendiam e enchiam de satisfação o olhar de muitos. Ao utilizar este substantivo o apóstolo afirma que os açoites recebidos, as pedradas toma-das e os naufrágios sofridos, na visão de muitos, não passavam de um show, uma exibição divertidíssima. Segundo alguns teólogos, ao afirmar que os “após-tolos foram feitos espetáculo ao mundo”, Paulo se referia provavelmente a um costume romano desu-mano. Provavelmente ele tinha em mente os circos

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romanos, quando, para entretenimento popular, era apresentado um espetáculo final de sofrimento e derramamento de sangue. Segundo R. N. Champlin:

“Nestas ocasiões, os lutadores eram forçados a se com-

baterem uns contra os outros, sucessivamente, até que

restasse um único homem vivo. Noutras oportunida-

des, ainda, os condenados eram forçados a lutar contra

animais ferozes. Seja como for, tornavam-se espetáculo

ignominioso e sangrento, para encher os olhos de um

povo embrutecido.”xcix

É lamentável olhar nos registros históricos e per-ceber que muitos se deliciavam com o sofrimento da-queles que foram alcançados pelo Evangelho. Acre-dito sinceramente que muitos e até mesmo o próprio Paulo, por exemplo, se divertiram com o apedreja-mento de Estevão, o primeiro mártir da igreja. E o que dizer dos mártires do coliseu romano? É de chorar, presenciar mesmo que seja apenas em filmes, a alegria estonteante no olhar daqueles espectadores que iam ao delírio com a queda definitiva de um cristão diante de um animal feroz. E por falar em animal feroz, deve ter sido um verdadeiro “espetáculo” aos olhos de pes-soas insensíveis e possuídas por uma fúria desumana, presenciar os leões devorando Inácio de Antioquia, um dos discípulos do apóstolo João.

Aqueles que foram feitos espetáculos do mundo foram torturados, experimentaram escárnios, açoites,

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cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, ten-tados, mortos a fio de espada, andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados.c Segundo Basílio: “Suas casas eram dei-xadas em ruínas, seus bens pilhados. Seus corpos ca-íam nas mãos de ferozes lictores, que os dilaceravam como bestas selvagens.”ci

Infelizmente, durante séculos e mais séculos, a tor-menta dos discípulos de Cristo e o sangue dos mártires derramados nas arenas serviram de espetáculo para muitos deste mundo, entretanto, agora, o espetáculo é outro... Hoje, na pós-modernidade, principalmente em solo brasileiro, não temos mais notícias de seguidores de Cristo sendo torturados, cerrados ou dilacerados por bestas-feras. Graças ao bom Deus, os jogos e as dis-trações que deliciavam os romanos ficaram no passa-do, e, o coliseu tornou-se apenas um monumento e um importante testemunho do passado. Entretanto, não há como negar que alguns que se dizem “discípulos” de Cristo, continuam servindo de espetáculo a este mun-do! Pena que o espetáculo agora é outro!

O espetáculo hoje é ver o nome de Cristo ser blas-femado! É ver o Evangelho ser mercadejado! É con-templar dentro dos templos a glória de Deus “ofus-cada” pela glória humana! É presenciar o culto ser substituído por um show! É testemunhar a Palavra sendo trocada por heresias e a ortodoxia por modis-mos e aberrações! É ver literalmente o sal se tornar insípido!

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Quando penso em definir em uma só palavra a situação atual de boa parte da igreja evangélica brasi-leira, colapso é o que vem na minha mente. Desgraça-damente os grandes absurdos que diariamente acon-tecem nas inúmeras igrejas evangélicas, nada mais são do que provas incontestes de que estamos enfren-tando um colapso e servindo de escárnio e espetáculo para o mundo.

Excepcionalmente, hoje, por causa de um grande número de animadores de auditório trajados princi-palmente de pastores e pregadores, somos alvos de comediantes, alguns venenosos, que caricaturizam, brincam, zombam e se divertem com as aberrações e insanidades que se proliferam em nosso meio. Decla-ro que quando assisto inúmeros vídeos “evangélicos” que circulam pela internet, fico boquiaberto e estiola-do com as alterações bruscas e danosas que estamos enfrentando.

Recentemente, deparei-me com um vídeo onde um pseudoapóstolo coloca um porco dentro do tem-plo e na frente do púlpito ordena que todo mal, toda doença, toda enfermidade e toda maldição saia do corpo das pessoas e entre no corpo do porco. Uma coisa simplesmente patética e ridícula. Um verdadei-ro “espetáculo”!

Em outro vídeo, um grupo composto por irmãs na sua maioria já “adultas”, faz uma coreografia de uma versão gospel da música “show das poderosas”

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da Anita. Foi sofrível e deprimente assistir o “espetá-culo”, ouvir a letra e perceber que quem deveria tem-perar, tornou-se insípido.

Ainda sobre espetáculo, foi “hilário”, para não dizer outra coisa, ver dois pastores, pretensamente “pregando” a Palavra, vestidos de Fred Flintstone. E, ainda, outros dois, atolados no mangue, convidando os telespectadores para a segunda-feira forte, onde se-ria distribuído um sabonete ungido.

Desgraçadamente, a banalização tomou conta de parte do segmento evangélico e estamos servindo de chacota, zombaria e deboche. Tornamo-nos um espe-táculo novamente para o mundo! Pena que o espetá-culo agora é outro!

Diante de tanta palhaçada, só resta-nos clamar:

Oh meu Deus!

Reaviva Tua igreja de novo

Faz Tua chama arder neste povo

Como eram os primeiros cristãos

Oh meu Deus!

Reaviva Tua Igreja de novo

Faz Tua chama arder neste povo

Começando em meu coração.cii

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livreS, Porém, PriSioneiroS de criSto!

Há vários anos tenho sido um crítico ferrenho de inúmeras músicas cantadas nos mais diversos

templos evangélicos. E particularmente, me junto àqueles que defendem a ideia de que é cada vez maior a escassez de compositores comprometidos com a sã doutrina. Acredito, sem titubear, que um bom compo-sitor cristão, necessita ser primeiramente um amante incansável e um intérprete idôneo das Escrituras Sa-gradas. Todavia, não há como negar, que ainda encon-tramos vestígios de boa música cristã, em meio a tanta porcaria encontrada no mercado fonográfico gospel. E uma das músicas, que a meu ver, passa pela peneira da ortodoxia bíblica, tem no refrão os seguintes dizeres:

Eu sou livre, eu sou livre

Nada além do sangue

Nada além do sangue

De Jesus!

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Incontestavelmente, o sangue de Jesus vertido na cruz do calvário, trouxe para nós a tão sonhada liber-dade. Pela graça de Deus, o escrito de dívida que era contra nós foi rasgado!ciii Fomos então resgatados, pu-rificados, comprados e libertados da escravidão do pecado. Entretanto, de posse da carta definitiva de alforria, submetemo-nos ao senhorio de Cristo e tor-namo-nos Seus prisioneiros.

Através das Escrituras aprendemos que a liberda-de total só nos é concedida através de Cristo, o Filho amado de Deus: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadei-ramente, sereis livres.”civ Em contrapartida, pelas Escri-turas também aprendemos que a pessoa liberta por Cristo, torna-se “escrava” (serva) Dele: “Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado livre, servo é de Cristo.”cv

Sei que muitos, ainda hoje, não compreendem este conceito paradoxal do Evangelho, contudo, foi exata-mente isto que o apóstolo Paulo deixou enfatizado, tanto na carta destinada à igreja em Éfeso, quanto na endereçada a Filemom, e nesta, com uma peculiarida-de: Por três vezes, o velho apóstolo se rotula de “pri-sioneiro” de Cristo:

“Por esta causa, eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cris-

to por vós, os gentios.”cvi

“Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo, ao

amado Filemom, nosso cooperador...”cvii

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“Todavia, peço-te, antes, por caridade (ou amor) sendo eu

tal como sou Paulo, o velho e também agora prisioneiro de

Jesus Cristo.”cviii

Quero chamar a sua atenção para o fato de que o mesmo Paulo, que por três vezes em suas cartas se diz “prisioneiro” de Cristo, é o mesmo apóstolo que de-fende diante da igreja em Corinto a sua “liberdade”: “NÃO sou eu apóstolo? Não sou livre?”cix Portanto, pe-los escritos paulinos, entendemos que o apóstolo da graça nunca duvidou da liberdade proporcionada por Cristo! Fica claro em suas epístolas que ele defendia com tanto afinco tal liberdade, que na sua carta des-tinada aos gálatas ele admoestou: “ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.”cx

Em relação à carta destinada à igreja em Éfeso, sabe-se que no momento de sua escrita, Paulo estava preso, encarcerado numa masmorra de Nero (impera-dor romano). Tendo sido preso em Jerusalém quando estava pregando o Evangelho, acusado pelos enfure-cidos judeus de importar costumes e as tradições dos gentios para dentro do judaísmo, o nobre apóstolo ao sentir que seria morto por estes judeus, apelou para Roma, sendo levado para lá, tornando-se assim, um encarcerado do inescrupuloso imperador.

Dentro da masmorra Paulo estava sob os cuidados da guarda pretoriana, e esta, na época, era conhecida

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como uma espécie de “polícia de elite dos romanos”, uma guarda especial, que se revezava diariamente, tudo isto para guardar o apóstolo: um preso “espe-cial”. E é de dentro deste lugar que Paulo escreve uma carta endereçada aos crentes em Éfeso, dizendo aber-tamente que era um prisioneiro de Cristo.

O que será que isto significa? Na verdade Paulo está declarando que não era preso do imperador romano, entrementes, ele está dizendo para a igreja em Éfeso que não foi Nero quem o prendeu! Paulo está convicto que era um prisioneiro, um escravo de Cristo. Faz-se neces-sário também registrar que nesta mesma carta, logo no capítulo seguinte, o apóstolo testifica novamente que era um “prisioneiro” de Cristo: “ROGO-VOS, pois, eu, o preso do Senhor...”cxi E não para por aí, pois, em mais duas cartas, destinadas aos irmãos de Felipos e Colos-sos, ele também enfatiza a mesma ideia. Permita-me re-gistrar ambas as afirmações respectivamente:

“Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas

prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso

por Cristo Jesus.”cxii

“Orando também juntamente por nós, para que Deus nos

abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de

Cristo, pelo qual estou também preso.”cxiii

Se levarmos em conta o contexto geral chega-remos à conclusão de que Paulo está claramente afirmando que todos aqueles que foram libertos

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por Cristo, tornaram-se prisioneiros Dele! E ser um “prisioneiro” de Cristo significa estar aprisionado ao centro da vontade Dele, consiste em estar sujeito à Sua vontade.

Existe outro ponto que necessita ser observado: Paulo também na carta aos Efésios usou o artigo de-finido “o” acompanhado do termo “prisioneiro”, “o prisioneiro de Cristo”. E ao usar este artigo, ele estava ratificando com todas as letras, que estava encarcera-do ali por causa de Cristo! Esta é a convicção paulina.

Para finalizar, gostaria de elucidar melhor este conceito paradoxal entre liberdade e aprisionamento, com uma história que li, se não me falha a memória, num livro de sermões de Martin Lloyd Jones, um dos grandes pregadores do século XX e alguém cujos es-critos muito tem influenciado a minha vida:

Conta-se que no tempo da escravidão, nos Esta-dos Unidos, numa movimentada rua de certa cidade, uma multidão de pessoas correram para uma feira de escravos. E estes, amarrados nos pés e mãos aguar-davam os seus compradores. No meio dos escravos, estava uma moça de olhar cabisbaixo, triste, pensan-do na sua condição de escrava. Um cavalheiro passou, olhou para os escravos e teve profunda compaixão por aquela escrava que era tratada como os demais es-cravos, feito animais. Na hora dos lances, o cavalheiro ofereceu o dobro. O leiloeiro bateu o martelo e a moça foi adquirida pelo nobre cavalheiro.

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Imediatamente, soltaram a escrava e o seu liber-tador disse: “Acompanhe-me.” Com raiva, ela cuspiu na cara do seu benfeitor. Ele tirou o lenço do bolso e limpou a cusparada. Terminou a parte burocrática, pegou os documentos e deu à jovem. Era a carta de alforria. A escrava estava livre. Com aqueles papéis ninguém conseguiria mais escravizá-la. Agora ela es-tava livre e podia gozar de sua liberdade!

Todavia, ao ficar ciente de que o seu comprador a libertou prostrou-se aos pés do cavalheiro e suplicou: “Permita-me agora servir-te voluntariamente.”

Glórias a Deus! Hoje sou livre! Entretanto, volun-tariamente, tornei-me prisioneiro de Cristo! E através deste aprisionamento, compreendi o que é verdadei-ramente perder a vida por amor de Cristo e do Evan-gelho.cxiv

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C o n f I s s ã o 1 8

torturAdo nA SAlA de cASA

Aflição, tormento, suplício e tortura, sem sombra de dúvidas, são palavras que não soam bem aos

ouvidos daqueles que prezam por liberdade, dignida-de, hombridade e justiça.

Na verdade, um verdadeiro “ser humano”, (seja ele cristão ou não) fica indignado e não se sente nada confortado ao presenciar cenas de maus tratos do tipo: uma criança sendo espancada dentro de casa por uma babá, uma anciã sendo surrada por uma “cuidadora de idosos” num asilo, ou, um torcedor caído no chão sendo linchado por um grupo de vândalos nas proxi-midades de um estádio de futebol. Definitivamente, cenas de violências como espancamentos e torturas nos causam inquietações, temores e revoltas.

Ao analisarmos, por exemplo, o período da his-tória universal, chamado Idade Média, constataremos quão repugnantes e abomináveis eram as torturas aplicadas aos escravos pelos senhores feudais e pela

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igreja, aos “hereges” na época da “Santa Inquisição”. Sobre tais torturas, o escritor Silva afirmou: cxv

“Na Idade Média a tortura foi institucionalizada pelos

senhores feudais e principalmente pela Igreja. Não raro,

os casos de tortura resultavam em morte. Foi na época

da inquisição que a tortura, as punições e os maus tra-

tos começaram a ser grafados na Idade Média.”

Já na história do Brasil, crimes de torturas são facil-mente constatados desde a chegada dos portugueses no ano de 1500. Fato é, que durante muito tempo, prin-cipalmente os negros e os índios foram torturados com a esfarrapada desculpa de “obtenção de provas por meio da confissão”. Registros históricos afirmam que a prática de tortura foi proibida em face do povo brasilei-ro, com a Constituição de 1824 e mesmo em 1889 com a Proclamação da República, a criminalização da tortura ainda era ignorada. E para falar a verdade, as torturas continuaram a subsistir, perdurando no Estado Novo (1937-1945) e no Regime Militar (1964-1985).

E sobre o “famoso” Regime Militar brasileiro, o li-vro best-seller “O que é isso, companheiro” do polêmico escritor e deputado federal Fernando Gabeira, que no final da década de 60 envolveu-se na guerrilha urba-na, tornando-se um dos homens mais procurados do país, relata com riquezas de detalhes os tipos de tor-turas aplicadas na pátria amada não idolatrada Brasil, nas décadas de 60 e 70. Segundo Gabeira: cxvi

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“A questão da tortura nem sempre foi bem enfren-tada, na medida em que, em muitos manuais, se re-comendava “sorrir com desprezo aos torturadores”. Quem se achava capaz de sorrir com desprezo para os torturadores tinha um conhecimento muito precário de suas limitações. A tortura pedia em muitos casos capacidade de ceder num movimento para ganhar em outro, dissimular em minutos decisivos para recupe-rar a força, enfim, toda uma política que não podia ser a política de oito ou oitenta, só possível para velhos militantes, que conhecem bem sua capacidade de re-sistência.”

Falando ainda sobre as torturas no Regime Mi-litar, a jornalista Vanessa Gonçalves da Silva, afirma que “o primeiro caso de tortura que se tem conheci-mento ocorreu ainda em 1964, tendo como vítima o líder comunista Gregório Bezerra, que foi arrastado pelas ruas de Pernambuco, além das torturas sofridas por ele na prisão.”cxvii Pau de arara, choque elétrico, pimentinha, afogamento, cadeira do dragão, geladei-ra, palmatória e produtos químicos eram os instru-mentos de tortura mais utilizados na Ditadura Militar.

Voltando um pouquinho na história, como não se indignar com as torturas utilizadas pelo militar nazis-ta Adolf Hitler, como por exemplo, as câmaras de gás e as cremações em forno? Como não se revoltar com o “famoso” holocausto? E o que dizer de Auschwitz, quase cinco milhões de mortes – o maior campo de torturas e extermínios da história?

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Ainda sobre as torturas no tempo que abrange a 2ª guerra mundial, o pastor e escritor romeno Richard Wurmbrand, no seu best-seller “Torturados por amor a Cristo”, relatou fatos verídicos de torturas sofridas pelos cristãos na Romênia, por volta do ano de 1950 na época do nazismo. O próprio pastor enfrentou 14 anos de prisão e 25 anos de reclusão por propagar a Verdade. Em alguns de seus impressionantes e lamen-táveis depoimentos, Wurmbrand desabafou:xcviii

“Eram colocadas algemas em nossos punhos as quais

tinham lâminas afiadas na parte interna. Se ficássemos

totalmente parados, elas não nos cortavam. Mas nas ce-

las muito frias quando tremíamos, nossos pulsos eram

cortados pelas lâminas.”

“Crentes eram pendurados em cordas de cabeça para

baixo e açoitados tão severamente que seus corpos ba-

lançavam de um lado para outro sob a força das panca-

das. Éramos colocados em refrigeradores.”

“Nós, crentes, éramos colocados em caixões apenas um

pouco maiores do que nós. Não havia lugar para qual-

quer movimento. Muitas dúzias de pregos com suas

pontas afiadas como giletes eram colocadas por todos

os lados. Enquanto estávamos perfeitamente quietos,

tudo ia bem. Éramos forçados a permanecer nessas

caixas horas a fio. Quando, porém, nos fatigávamos e

tombávamos de cansaço, os pregos entravam em nos-

so corpo. Se nos movêssemos ou estremecêssemos um

músculo — ali estariam os horríveis pregos.”

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“Muitas vezes perguntei aos torturadores: Vocês não

têm piedade no coração? Comumente respondiam com

uma citação de Lenine, de que não se pode fazer ome-

lete sem primeiro quebrar os ovos e não se corta madei-

ra sem fazer os pedaços dela voarem.”

Um pastor, chamado Florescu, foi torturado com atiça-

dores de ferro em brasa e com facas. Foi açoitado hor-

rivelmente! Ratos famintos eram introduzidos em sua

cela através de um cano grosso. Ele não podia dormir,

pois tinha de se defender o tempo todo. Se descansasse

um só momento, os ratos o atacariam.

“Foi forçado a ficar de pé por duas semanas, dia e noi-

te. Os comunistas queriam forçá-lo a trair seus irmãos,

porém não conseguiram. Por fim trouxeram seu filho

de 14 anos e começaram a açoitá-lo na presença do pai,

dizendo que continuariam a bater até que o pastor dis-

sesse o que eles queriam. O homem, coitado, já estava

quase louco. Suportou até onde pôde. Por fim, gritou

para o filho: Alexandre, tenho de dizer o que eles que-

rem! Não posso mais suportar o que lhe estão fazendo!

O filho respondeu: Papai, não me faça a injustiça de ter

um traidor por pai! Resista! Se me matarem, morrerei

com as palavras: Jesus é minha terra natal. A fúria dos

comunistas caiu sobre o menino, em quem bateram até

matá-lo, vendo-se manchas do seu sangue pelas pare-

des da cela. Morreu louvando a Deus. Nosso querido

irmão Florescu nunca mais foi o mesmo, depois do que

presenciou.”

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Confesso que li este livro do reverendo Richard Wurmbrand em lágrimas, assim como visitei em lágri-mas, no ano de 2010 o museu do Holocausto em Israel.

Mas, voltando a falar da terra dos tupiniquins, se-gundo alguns historiadores brasileiros, a prática da tortura foi combatida em sua totalidade com a elabo-ração da Constituição Federal de 1988. Constituição esta que, segundo os mesmos, redemocratizou nosso país, transformando-o num Estado Democrático de Direito, onde se garante direitos e igualdades a todos os que aqui vivem, entretanto, quero fazer uma reve-lação pessoal: AINDA EXISTEM TORTURAS! ESTOU SENDO TORTURADO NA SALA DA MINHA CASA!

Você pode achar estranho, mas, é isso mesmo que você leu! E para não deixar dúvidas, vou repetir: ES-TOU SENDO TORTURADO NA SALA DA MINHA CASA! Todavia, preciso esclarecer, não é uma tortura física! Não estou sendo violentado fisicamente! Não estou sendo afogado e muito menos submetido a cho-ques elétricos! Antes, as agressões que tenho enfrenta-do deixam para o segundo plano à violência física, pois, são torturas psicológicas e porque não dizer teológicas!

Estou sendo torturado, e falando francamente, as torturas começaram há muitos anos! E sendo ain-da um pouco mais preciso, afirmo que comecei a ser torturado no momento em que decidi “priorizar” e tentar assistir na televisão os programas chamados “evangélicos”.

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Estou sendo torturado! Sujeitando-me a aplica-ções de maus tratos mentais e psicológicos de forma continuada e intencional. Preciso ser sincero e con-fessar que muitas das torturas que tenho sofrido são resultados das minhas ações, pois, recorrentemente e erroneamente, tenho ligado a televisão para ouvir um ou outro “pastor evangélico”.

No ano de 2009 fui tremendamente torturado ao ligar a televisão na hora do almoço e ouvir certo mercador da fé, com pompa de profeta pós-moderno, abrir a sua boca e vociferar, dentre outras coisas, as seguintes aberrações:cxix

“Eu vou liberar sobre você a unção da prosperidade e

da riqueza, portanto, ouça a voz de Deus hoje. Se você

for ao telefone e fizer o depósito de R$ 900,00 e dizer:

Deus eu quero dar um passo na minha unção financei-

ra! Eu prometo que antes de chegar o dia 01 de janei-

ro de 2010, todas as promessas que Deus fez para sua

vida e que ainda não foram cumpridas, serão cumpri-

das, mas, para isso você precisa depositar na conta que

aparece em baixo no seu vídeo a quantia de R$ 900,00.”

Neste dia fui tremendamente agredido, tortura-do e açoitado psicologicamente, pois, na tentativa de justificar o porquê de R$ 900,00 reais, fui “obriga-do” a ouvir da boca do referido “doutor” a seguin-te aberração mesclada com numerologia: “São R$ 900,00 porque estamos no ano de 2009 e os números

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são importantes para Deus, além do mais, o número nove significa total e completo.”

A exposição de Morris Cerullo era simples e dire-ta. De acordo com ele “Para você ter o que nunca teve, faça o que nunca fez!”, entrementes, ele sugere que quanto mais fizermos para Deus, mais Deus fará por nós. O mais engraçado é que este mesmo sujeito, para não usar outro termo, certa vez em Belo Horizonte, afirmou no púlpito de uma igreja, que recebeu uma “revelação” de Deus ainda no quarto do hotel em que estava hospedado, que naquela manhã o Todo Pode-roso não aceitaria oferta inferior a R$ 100,00.

Em 2010 fui novamente torturado, pois, cometi a mesma insanidade de ligar a televisão no mesmo programa e ouvir agora da boca de um “mentor es-piritual gospel financeiro”, os seguintes absurdos, en-dereçados àqueles que iriam participar do “Clube de um milhão de almas” com uma “pequena” oferta de R$ 1000,00:

“Mas, existem três milagres que eu agora quero liberar

para este clube de um milhão. Número um - Salvação

para os seus familiares... Eu não sei onde estão os

R$ 1000,00, talvez seja o dinheiro que você separou

para um carro, para umas férias, talvez até um dinheiro

que você separou para a faculdade do seu filho...”

Meu Deus! É muita tortura ouvir que a “salva-ção” de meus familiares depende de uma oferta de

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R$ 1000,00! Diante de tamanha aberração, pergunto: - Será que Paulo errou ao declarar: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”120 Sinceramente, aflijo a minha alma ao saber que estes mercadores da fé gananciosos, agridem o “sermão do monte” pregado por Cristo, sermão este que não enfa-tiza o ter, mas o ser.

Sobre este “mentor espiritual”, o escritor David J. Stewart declarou: “Mike Murdock é um crápula e um impostor! Eu não consegui acreditar no que ele estava di-zendo na TV hoje, quando eu o ouvia. Ele estava vomitando blasfêmias contra Deus, afirmando que Deus desejava criar 300 milionários através de seu ministério.”cxxi

Confesso que ao ser torturado assistindo pedidos de ofertas com garantia de recebimento de bênçãos, vejo novamente a doutrina da Graça, desgraçada-mente ser substituída pelo ensino da ambição des-medida das indulgências! Em seu livro “De pastor a pastor”, o reverendo Hernandes Dias Lopes magis-tralmente declarou:

“Há lideres, hoje, que fazem da igreja uma pequena

empresa particular, em que o Evangelho é um produto;

o púlpito, um balcão, uma praça de negócios; e os cren-

tes, consumidores. Há pastores que embolsam todo o

dinheiro arrecadado na igreja para fins pessoais e se

tornam grandes empreendedores, acumulando fortu-

nas e vivendo no fausto.”cxxii

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Mas, as torturas não pararam por aí... Ed René Kivitz, acertadamente vociferou ao afirmar que “o ví-cio segue o viciado”cxxiii, pois, três anos se passaram e infelizmente, no primeiro sábado de 2013, liguei a televisão no mesmo programa evangélico e ouvi da boca do mesmo “empresário” da prosperidade, as se-guintes aberrações:cxxiv

a) A coisa mais importante que faço a cada dia não é

orar! Não é ler minha Bíblia! A coisa mais impor-

tante que faço a cada 24 horas é escrever perguntas!

b) Todo homem pobre sempre faz o que odeia fazer!

Mas, todo homem rico está fazendo aquilo que ama

fazer!

c) Somente um tolo corrige uma autoridade!

d) Segure em suas mãos uma oferta de R$ 1000,00 e

diga a Deus: Faça negócios comigo! Saiba que Deus

nunca fracassou! Imagine você tendo um sócio par-

ceiro que nunca fracassou!

Preciso confessar que, se não bastasse a enorme tortura sofrida diante de tantos absurdos sem nexos teológicos vociferados, meu suplício ainda foi maior durante todo o discurso deste torturador. A Bíblia não foi utilizada, aliás, neste programa ela não passou de um objeto de decoração colocado na mesa de centro. Honestamente, gostaria muito de saber onde o doutor “sabedoria”, como é rotulado por alguns, tirou a ideia

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de que fazer perguntas é mais importante do que orar e ler a Bíblia? Creio que os muitos chavões criados por ele o fazem delirar!

Graças a Deus, mesmo torturado, ainda tenho a lucidez e ousadia para confessar que discordo em gê-nero, número e grau das declarações deste mercade-jador da fé! Pois, ao afirmar, dentre outras coisas, que “todo homem pobre sempre faz o que odeia fazer e todo homem rico está fazendo aquilo que ama fazer”, este “sábio de araque”, além de generalizar equivoca-damente, demonstra que o seu deus é o dinheiro e que a avareza é a marca de seu “ministério”. E sobre isto, o nosso Mestre por excelência vaticinou: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.”cxxv

Avançando um pouco mais, peço a você que res-ponda com honestidade: Onde este sujeito tirou a ideia de que somente um tolo corrige uma autoridade? Será que ele já leu sobre os profetas no Antigo Testamento? Homens que apontavam o dedo e diziam: Assim diz o Senhor e corrigiam até mesmo as autoridades! E o que dizer de João Batista? Será que ele foi tolo ao apontar os erros da casa de Herodes? Será que os chavões in-fundados deste avarento pós-moderno, têm um valor superior às palavras de Jesus quando afirmou: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista.”cxxvi E por falar em Jesus, será que Ele foi tolo ao corrigir por inú-meras vezes as autoridades religiosas de Sua época?

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Acredito que nem é necessário rebater o quarto desvario enumerado anteriormente: O homem deve fazer negócios com Deus! Recuso-me a ter como Deus, um ser que vive barganhando e cujo lema é toma lá da cá! Definitivamente, este não é o meu Deus!

Por último e para aumentar ainda mais a tormen-ta, ao se referir ao seu livro “O desígnio”, que fora utilizado em toda a preleção televisiva, Murdock diz que ele é poderoso e não há nada como ele no mun-do! Não, mil vezes não! Querer fazer do seu livro de chavões infundados, algo superior à Palavra de Deus, afirmando que no mundo não há nada como ele, ul-trapassa todas as aberrações! Na verdade, configura outro evangelho! E quem faz isto, como diz as Escritu-ras, não passa de um anátema. Francamente, acredito que estes mercenários da fé desconhecem ou arranca-ram de suas Bíblias as palavras de Paulo endereçadas à igreja em Corinto. A tradução contemporânea de Eugene Peterson diz assim:

“Mesmo assim, quero deixar claro que nunca peguei

nada para mim e que não estou escrevendo agora para

exigir alguma coisa. Prefiro morrer a permitir que du-

videm de mim ou questionem meus motivos. Se pro-

clamo a Mensagem, não é para ganhar alguma coisa.

Sou impelido a fazer isso e ai de mim se não o fizer!

Se eu considerasse este trabalho apenas um meio de

ganhar a vida, eu esperaria algum pagamento. Mas

como não penso assim, creio que ele me foi confiado de

modo muito especial. Por que esperaria para ser pago?

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Então, acham que estou ganhando algo com isso? Na

verdade estou: o prazer de proclamar a Mensagem sem

que vocês tenham de pagar por isso. Vocês não preci-

sam nem bancar minhas despesas!cxxvii

Hernandes Dias Lopes ao comentar este texto, re-gistrou:

“Paulo não deseja ser um obstáculo ao Evangelho. Ele

não vê o ministério como uma fonte de lucro, nem o

Evangelho como um produto de mercado. Paulo não

era um mercador do Evangelho. Ele não se servia do

Evangelho, servia ao Evangelho. Não estava no minis-

tério para locupletar-se, mas para gastar-se em favor

das almas. Paulo não via a igreja como um balcão de

negócio. A igreja, para o veterano apóstolo, não era uma

empresa familiar. Paulo não era dono da igreja.”cxxviii

Hank Hanegraaff disse que “chantagens e formas mascaradas de extorsão sob a capa de cristianismo, certamente não constituem nenhuma novidade.”cxxix E como concordo com ele; afirmo que pedidos de ofer-tas com promessa de benesses não passam de charla-tanismo. Na verdade, essas torturas possuem um só objetivo: extorquir o povo.

Confesso que, ao olhar para estes métodos ul-trajantes de mercadejar o Evangelho, lembro-me o quão diferente são dos ensinamentos de Cristo, dos

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apóstolos e dos pais da igreja. Por exemplo, a pará-bola dos trabalhadores na vinha contada por Jesus, joga por terra toda esta ideia absurda de que quanto mais fizermos para Deus, mais Deus fará por nós. Leia esta parábola cuidadosamente, na tradução de Eugene Peterson:

“O Reino de Deus é como o administrador de uma pro-

priedade rural que saiu bem cedo pela manhã, a fim

de contratar pessoas para trabalhar em sua vinha. Eles

concordaram em receber uma moeda de prata por dia,

e foram trabalhar.

Mais tarde, por volta das nove da manhã, o adminis-

trador viu alguns desempregados andando pela praça

da cidade. Ele lhes propôs que fossem trabalhar em sua

vinha a um preço justo. E assim foram.

O administrador fez o mesmo por volta do meio dia

e de novo às três da tarde. Às cinco horas, ele saiu e

ainda encontrou homens desocupados. E perguntou a

eles: “Porque estão aí o dia inteiro sem fazer nada?”

Eles responderam: “Porque ninguém nos contratou.”

Então, ele os contratou também para trabalhar na

vinha.

Quando o expediente terminou, o proprietário da vi-

nha instruiu seu capataz: “Chame os trabalhadores e

pague o salário deles. Comece com os que foram con-

tratados por último e prossiga até os primeiros.”

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Os que foram contratados às cinco horas da tarde vie-

ram e cada um deles recebeu o mesmo valor acertado

com os primeiros. Quando os que foram contratados

primeiro viram isso, imaginaram que iriam ganhar

mais. Contudo, receberam o mesmo valor. Revoltados,

reclamaram com o administrador: “O último grupo

trabalhou apenas uma hora, e você pagou o mesmo

que nós, que trabalhamos como escravos o dia inteiro

debaixo de um sol escaldante.”

Ele respondeu ao que falava em nome de todos: “Ami-

go, não fui injusto. Nós concordamos com esse valor, não

concordamos? Então, pegue o seu dinheiro e vá embora.

Decidi dar ao último grupo o mesmo que daria a você.

Será que posso fazer o que quero com meu dinheiro? Você

vai se mostrar mesquinho por eu ter sido generoso?”cxxx

Através desta parábola aprendemos, dentre outras coisas, que não recebemos benesses por nossa produ-tividade, mas, recebemos única e exclusivamente pela generosidade do nosso Deus. Na condição de “chefe da casa”, o Senhor não recompensa os Seus trabalha-dores baseado na meritocracia, mas, fundamentado principalmente no maravilhoso princípio da Graça.

Permita-me ponderar que as torturas que tenho sofrido ao longo dos anos, não são oriundas apenas dos “gringos” que andam visitando a nossa pátria. In-fortunadamente, também fui torturado diversas vezes por televangelistas brasileiros. Um deles, famoso pelo

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uso de um chapéu, me torturou exacerbadamente ao dizer que recebeu uma “inspiração” no ar, de que no mês de dezembro, os seus “seguidores” deveriam entregar 30% de dízimo, sendo 10% para o Pai, 10% para o Filho e 10% para o Espírito Santo.cxxi Em outras ocasiões, fui torturado violentamente ao presenciar o mesmo “apóstolo do chapéu” e seus fiéis escudeiros marqueteiros, vendendo indulgências neopentecos-tais, a saber: fronha ungida, colher de pedreiro ungi-da, meia ungida, etc. Entretanto, estarei abordando todas estas formas de extorsão num próximo livro.

Por hora, preciso confessar que no ano de 2014, re-solvi acabar com as torturas. Decidi irrevogavelmente não mais assistir os televangelistas e seus programas de extorsão, entretanto, as torturas continuaram, pois, inúmeras pessoas conhecendo a minha inclinação apologética, não cessam de me enviar pela internet, vídeos desta turminha cujo deus é o ventre! Cabe a mim ser como Ló, que era justo e “habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre as suas obras injustas.”cxxxii

Estou sendo torturado! No entanto, sei que todas essas coisas foram vaticinadas pelas Escrituras que testificam:

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse

e agora também digo, chorando, que são inimigos da

cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é

o ventre, e a glória deles é para confusão deles mesmos,

que só pensam nas coisas terrenas.”cxxxiii

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C o n f I s s ã o 1 9

eu não quero Ser um “Homem de deuS” ASSim!

Martin Luther King afirmou que “para criar ini-migos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa”. E inevitavelmente, nos últimos anos, tenho sentido na pele a veracidade desta afirmativa. Confesso que conheço no meio “cristão” uma infini-dade de pessoas que não descem do muro em hipó-tese alguma. São indivíduos inertes e camufladores. Seres que agem de acordo com a conveniência, e, que adotaram como estilo de vida o oportunismo prático. Não são contra, nem a favor. Não fedem, mas também não cheiram. E o pior, por causa da passividade, não acrescentam nada e cooperam exacerbadamente para a adulteração das Escrituras.

Entretanto, ao contrário destes, o nosso supremo e único Mestre, sempre teve opinião formada, por isso, como disse Luther King, viveu ‘rodeado’ de inimigos. Jesus Cristo sempre emitiu Sua opinião, independen-temente dos riscos resultantes dela. Ele sempre disse

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a verdade, aliás, Ele é a Verdade. Ao olharmos para os Evangelhos, constataremos que o Filho de Deus en-quanto Verbo Vivo e encarnado, sempre falou o que pensava, por isso, sempre viveu em guerra, principal-mente com os escribas e fariseus. É impressionante o fato de que Cristo nunca conseguiu se relacionar com os religiosos de Sua época, e que estes, por sua vez, além de O odiarem e tramarem a Sua morte, também, nunca souberam se relacionar com Ele.

Através dos mesmos relatos evangelísticos, foi o grupo dos religiosos que inflamou a multidão e que gerou nela o ódio manifesto por Àquele que nunca gerou o mal na vida de ninguém. Está bem explícito nas Escrituras que a verdade que saía da boca de Cris-to, incomodava muita gente e sobre este incômodo, acertadamente, o pensador W.L afirmou: “A verdade sempre incomoda, principalmente os que dependem da mentira para manter uma vida de regalias à custa do povo.”cxxxiv

Procurando seguir o exemplo de Cristo, assevero que não tenho medo em dizer o que penso, e prin-cipalmente em professar publicamente aquilo que entendo das Escrituras, por isso, constantemente, ar-rumo um inimigo aqui e acolá. Recentemente, ao ob-servar a ganância de alguns líderes televangelistas, que estão descaradamente mercadejando a Palavra de Deus, não consegui ficar calado e afirmei com todas as letras que: “Se na construção da Basílica de São Pedro, o papa tivesse cardeais marqueteiros como Valdomiro

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Santiago, Mike Murdock e Edir Macedo, dentre ou-tros, a obra teria sido executada em tempo recorde e não teria demorado 20 anos.”

Imediatamente, após postar esta afirmação na internet, recebi uma correspondência eletrônica com as seguintes colocações: “Até quando você persegui-rá estes homens de Deus?” Diante de uma pergunta como esta, preciso desabafar e registrar sem hesitação, algumas confissões:

1. Se ser homem de Deus é vender indulgên-cias como água ungida, meia ungida, fro-nha dos sonhos, colher de pedreiro abenço-ada e pedir um dízimo de 30%, afirmando que recebeu esta inspiração de Deus no ar e que esta porcentagem é para representar a santíssima trindade como fez o Valdomiro Santiago:cxxxv Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

2. Se ser homem de Deus é prometer salvação de toda a família, mediante a doação de uma ofer-ta simbólica de R$ 1000,00, como fez o Sr. Mike Murdock:cxxxvi Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

3. Se ser homem de Deus é criticar o primeiro milagre de Cristo, preceituando que foi uma perda de tempo transformar água em vinho, como fez o ‘bispo’ Edir Macedo:cxxxvii Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

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4. Se ser homem de Deus é chamar de trouxa aquele que oferta voluntariamente, sem que-rer barganhar com Deus:cxxxviii Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

5. Se ser homem de Deus é confeccionar uma en-xurrada de chavões heréticos, com o único ob-jetivo de extorquir e manipular o povo: Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

6. Se ser homem de Deus é dizer que “quanto mais você fizer para Deus, mais Deus fará por você”, contrariando o ensinamento da Graça contido nas Escrituras Sagradas: Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

7. Se ser homem de Deus é crescer os olhos nos presentes de Naamã como Geazi fez:cxxxix Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

8. Se ser homem de Deus é ‘profetizar’ movido pela ganância e pela conveniência proporcio-nada pelo sistema, como faziam os profetas de Baal: Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

9. Se ser homem de Deus é me mancomunar com aqueles que são mais amigos dos deleites do que amigos de DeuscxL, e não atentar para o ensino paulino que diz: “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é torpe. Mas todas essas coisas se manifes-

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tam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta.”cxLi Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

10. Se ser homem de Deus é acomodar e fazer vis-ta grossa as atrocidades praticadas por inúme-ros líderes evangélicos: Eu não quero ser um “homem de Deus” assim!

11. Se ser homem de Deus é comportar como a maioria esmagadora destes pastores televan-gelistas, definitivamente: Eu não quero ser um “homem de Deus” assim! Etc.

Para finalizar, declaro que o que mais me entris-tece, não é presenciar o crescimento de heresias e o alastramento da apostasia, pois, tais coisas são cum-primento das Escrituras! Na verdade, o que mais me entristece é contemplar alguns que se dizem “discí-pulos” de Jesus, defendendo aberrações e modismos, transformando versículos em chavões infundados, valendo-se de argumentos tolos e sem nexo algum com a ortodoxia bíblica.

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C o n f I s s ã o 2 0

novA reFormA: PoSSibilidAde ou utoPiA?

Ao percorrer pela nação brasileira, andar por cida-des e mais cidades, ministrar em centenas de de-

nominações evangélicas, lido alguns textos pastorais e ouvir alguns expositores da fé cristã, vez por outra, escuto ou leio algo do tipo: PRECISAMOS DE UMA NOVA REFORMA! É inegável que nos dias atuais, muitos clamam e sonham desesperadamente por um acontecimento desta envergadura. Eu era um desses! Devido à proliferação incontrolável denominacional e sectária, creio que a realização deste ‘sonho’ se torna cada vez mais utópica e porque não dizer impossível. Não, não quero que me julguem pessimista, todavia, precisamos nos conscientizar de que, ao contrário do século XVI, as denominações “cristãs” são inúmeras e quase incalculáveis.

Inegavelmente, o crescimento numérico deno-minacional, trouxe ao ‘protestantismo’ graves pro-blemas e inconvenientes, principalmente na área da

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hermenêutica, pois, mesmo ‘cientes’ de que nenhu-ma profecia da Escritura é de particular interpretação (2 Pedro 1.20), inúmeros líderes denominacionais estão ‘adaptando’ a bel prazer a Palavra de Deus, criando modismos e distanciando-se de um dos pilares da primeira reforma: SOLA SCRIPTURA.

Todo estudioso da história da igreja, sabe que um dos belos resultados da Reforma Protestante foi a reti-rada da base hermenêutica da igreja, e a colocação da mesma na Bíblia. Em tese, até o início do século XVI, pensava-se que o verdadeiro princípio hermenêutico estava na autoridade da igreja (Roma locuta est: cau-sa finita est. Roma falou: terminou a causa). Todavia, a Reforma contribuiu para a recolocação do verdadeiro princípio da hermenêutica: “A Bíblia é a melhor intér-prete de si mesma.” Por isso, como disse certo exposi-tor bíblico: “Os maiores inimigos da Bíblia não são seus opositores, mas os seus expositores que tentam encon-trar na Bíblia defesa para as suas ideias absurdas...”

Falando ainda sobre interpretação, muitas das de-nominações a retiram da Bíblia e colocam-na sobre o indivíduo e o que mais se ouve nos dias atuais são coi-sas do gênero: “O Espírito me falou”, “Deus me reve-lou” ou “Não está no texto, mas...”, expressões popula-res e incoerentes teologicamente. Para se começar uma nova reforma, os protestantes deveriam primeiramente colocar a Bíblia no seu devido lugar e proclamarem o verdadeiro Evangelho da Graça e da Cruz de nosso Se-nhor Jesus Cristo. O reverendo Hernandes Dias Lopes

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afirma: “Floresce em nossa Pátria uma igreja que tem extensão, mas não profundidade. Cresce em números, mas não em maturidade. Tem influência política, mas não autoridade moral. Faz propaganda de um pretenso poder, mas transige com o pecado.”cxLii

Um segundo empecilho para uma nova reforma é a

volta ao passado, ou seja, cada vez mais, centenas de

denominações “protestantes” estão edificando suas

bases ministeriais e doutrinárias no Antigo Testamen-

to, contrariando outro importante princípio reformista

(Sola Gratia). Ensinamentos veterotestamentários com

roupagem pós-moderna estão sendo propagados dias

após dias em nossas ‘denominações’, aniquilando por

completo o viver pela Graça e introduzindo cada vez

mais o legalismo e o farisaísmo em nosso meio. Com

isso, equivocadamente, estamos assistindo a “volta dos

levitas”, o retorno das indulgências, o alastramento do

misticismo gospel (sal grosso, galho de arruda, unção

antidengue, vela ungida, lasca da cruz de ‘Cristo’, água

do rio ‘Jordão’, shampoo para maus pensamentos, tra-

vesseiro de Jacó, etc...). Se não bastassem tantas ano-

malias, agora somos ‘forçados’ a testemunhar o ‘culto’

à cebola na França, os adoradores do umbigo em Paris,

a ingestão de excrementos no Brasil (até mesmo o pa-

dre Joseph Dillon, 53 anos, da Paróquia Nossa Senhora

Aparecida/SP, ficou conhecido por dizer em entrevis-

tas que a urina seria a “água da vida”)cxLiii Absurda-

mente, temos ciência da igreja da Eutanásia, dos ado-

radores da luz, dos seguidores da “Bíblia Branca”, etc.

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Para finalizar, sabe-se que todos estes erros não são exclusivos de uma denominação, mas de quase todas elas, por isso, creio que uma nova reforma nos mol-des da anterior não passará de um lindo sonho! Toda-via, ainda acredito que Deus possa suscitar em nossa geração homens como Lutero, Hus, Wycliff, Tyndale, Zwinglio, etc. Homens dispostos a amar a Palavra aci-ma de qualquer tradição, uso, costume e superstição. Homens que possam compreender verdadeiramente os valores espirituais. Homens realmente sinceros, cujo caráter é impecável e cuja conduta é admirável e imitável.

Como amante da Palavra, também sou um so-nhador ‘reformista’! Aspiro ver homens que prefiram morrer inocentes a viver como culpados, que esco-lham perder a cabeça por causa da Verdade, ao invés de ficarem no trono como Herodes e como diz um amigo meu: Homens que são capazes de irem para a guilhotina, mas não querem ser um Nero no palácio. Ainda ‘acredito’ e sonho com uma igreja onde os líde-res motivados pela Palavra e repletos de temor, con-clamem a todos do seu ‘ministério’ a:

a) voltar às origens bíblicas;

b) abandonarem as torpes ganâncias;

c) viverem piamente e pela fé;

d) lutarem contra as concupiscências;

e) excluírem os anátemas;

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f) colocarem à prova aqueles que dizem ser ‘apóstolos’ e não são;

g) trabalharem pelo nome de Cristo incansavel-mente;

h) praticarem o primeiro amor;

i) não negarem a fé, etc.

Parece ser utópico, mas ainda acredito!

Que a graça de Deus continue superabundando em nossas vidas!

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notAS e bibliogrAFiA

notas da introdução1 Jó 1.25

2 Jó 3.3-14 (NVI)

3 Salmo 32.3

4 Salmo 51.12

5 Salmo 73.2-3

6 Eclesiastes 2.17

7 Marcos 8.36

8 Eclesiastes 2.11 (NVI)

9 ARAUJO, Caio Fábio. Quando a vida é uma bo-bagem. Editora Abba. 1993.

notas da Confissão 2 – Caça ou caçador? eis a inversão!

10 João 4.24

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notas da Confissão 7 – Crédito ou débito? afinal o que tenho diante de deus?

11 Lucas 18. 11-12

12 Lucas 18. 9

13 Lucas 18.13

14 Mateus 6.12

15 Romanos 7.24

16 1 Timóteo 1.15

17 Isaías 6.5

18 Romanos 3.24

19 2 Timóteo 1.14

20 Romanos 5.20

21 Daniel 5.27 – (Adaptação do autor)

22 Colossenses 2.14

23 Lamentações 3.22 e 23

nota da Confissão 8 - agora é só vitória! será?24 Atos 14.21-22

25 João 8.11

26 Mateus 10. 16

27 Mateus 10.17

28 Hebreus 11. 35-36

29 Hebreus 11.37-38

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30 2 Coríntios 11.24-27

31 1 Coríntios 15.9

32 2 Timóteo 4.7

33 Salmo 34.19 e João 16.33

nota da Confissão 9 - Livrai-nos da segunda divisão ou livrai-nos da superstição?

34 Frase extraída do livro: Respostas Evangélicas a religiosidade brasileira, editora vida Nova, São Pau-lo, 2004, p. 139.

35 Fonte: Campos, Antônio Brandão: Livrai-nos da segunda divisão, amém!. Belo Horizonte, MG – 2005,56p.

36 Provérbios 15.24

37 Lucas 16.26

38 Salmo 124.7

notas da Confissão 10 – Precisa-se de pastores!39 Lucas 10.2

40 PETERSON, Eugene. A Vocação Espiritual do Pastor. Editora Mundo Cristão. São Paulo. 2006. Pág. 8.

41 Salmo 119.105.

42 1 Samuel 12.3

43 1 Reis 22.14

44 Tito 1.5, 11

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notas da Confissão 11- Gospel ou protestante? eis a questão!

45 Mateus 7.20-21

46 KÜNG, Hans. Por que ainda ser cristão hoje. Verus Editora. 2004. Campinas, SP, pág. 22

47 Mateus 28.19

48 Gálatas 2.20

49 Frase extraída da mensagem “Sal da terra e luz do mundo” do reverendo Caio Fábio – fonte: https://www.youtube.com/watch?v=A81gb9qxHG8

50 1 Pedro 4.16

51 CHAMPLIM, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Vol. 1-8 .Ed. São Paulo: Candeia 1995

52 NEVES, Sylas de Souza. SOUZA, Cícero Ferrei-ra. Memórias Póstumas dos Protestantes. Belo Hori-zonte. 2010, pag. 17.

53 http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-a-diferenca-entre-protestantes-e-evangelicos

54 Colossenses 2. 21

55 Romanos 6.1-2

56 Efésios 4.14

57 http://primascriptura.wordpress.com

58 1 João 2.2

59 Isaías 42.8

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60 Romanos 12.2

61 Lucas 17.1

62 Gálatas 2.11

notas da Confissão 12–Junto e misturado ou santo e separado?

63 2 Coríntios 6.14-15

64 http://www.youtube.com/watch?v=H3ONfwZS__I

65 http://www.youtube.com/watch?v=fnE2O4wVQbI

66 http://www.youtube.com/watch?v=RrKRBbDJPaM

67 http://ministeriobbereia.blogspot.com.br/2012/01/pastora-pentecostal-ana-lucia-da.html

68 http://olharpentecostal.blogspot.com.br/2011/05/latino-junto-e-misturado-3-com-cassiane.html

69 Extraído do sermão: “A oração do Pai Nosso – O medo do mal – parte 1”.

70 Ibdem.

notas da Confissão 13 - radicalismo ou defesa da Verdade?

71 2 Timóteo 3.1

72 Lucas 18: 13

73 Atos 14.21-22

74 Mateus 21.12

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75 João 6.67

76 Marcos 10.21 João 3.7 e Mateus 19.23

77 João 14.6

78 2 Timóteo 4.10

79 1 Timóteo 1.20

80 Romanos 12.2

81 1 Coríntios 5.11

82 2 Timóteo 3.2-5

83 2 Coríntios 6.14

84 1 Coríntios 6.12

85 1 João 2.15

86 2 João 9-11

87 Tiago 4.4

88 2 Pedro 2.2 e Judas 3

notas da Confissão 14 - Pentecostal sim, barulhento não!

89 1 Coríntios 13.11

90 1 Coríntios 14.4

91 1 Coríntios 14.23

92 1 Samuel 1. 14

93 http://www.youtube.com/watch?v=v4jCJiXleJY

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notas da Confissão 15 - discipulado ou proselitismo?

94 Marcos 1.14-15

95 LYOYD, Martin Jones. Sermões Evangelísticos em Aberavon. Editora PES. São Paulo. 1983.

96 Mateus 28.19-20

97 Gálatas 2.20

notas da Confissão 16 - o “espetáculo” agora é outro

98 1 Coríntios 4.9

99 R. N. Champlin. O Novo Testamento Interpre-tado versículo por versículo, vol. 4, São Paulo: Hag-nos.

100 Hebreus 11. 35-37

101 O’REILLY. A. J. Os mártires do Coliseu. Edito-ra CPAD. Rio de Janeiro. 5ª Edição. 2006.

102 Música cantada por Mara Lima

notas da Confissão 17 – Livres, porém, prisioneiros de Cristo!

103 Colossenses 2.13-14

104 João 8.36

105 1 Coríntios 7.22

106 Efésios 3.20

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107 Filemom 1

108 Filemom 9

109 1 Coríntios 9.1

110 Gálatas 5.1

111 Efésios 4.1

112 Filipenses 3.12

113 Colossenses 4.3 (grifo do autor)

114 Marcos 8.35

notas da Confissão 18 – torturado na sala de casa

115 SILVA, Allan Coelho da. A tortura e sua influ-ência na sociedade atual. Signum, n. 7. Vitória: Centro de Ensino Superior de Vitória, 2008.

116 GABEIRA, F. O Que é Isso Companheiro? Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.

117 http://mariafro.com/2009/03/01/tortura-no-bra-sil-e-a-ditabranda-para-nao-esquecer-tortura-nunca-mais/

118 WURMBRAND, Richard. Torturado por Amor a Cristo. Imprensa Metodista, 1976

119 Extraído do youtube - http://www.youtube.com/watch?v=4ZQx5y_7nl0

120 Efésios 2. 8-9

121 http://www.cacp.org.br/mike-murdock-conheca--o-amigo-de-silas-malafaia/

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122 LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor. São Paulo. Hagnos. 2008. pág 147.

123 Extraído do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=OeXrLdHVH-c

124 Extraído do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=0Hujr_Dy3uk

125 Lucas 12.15

126 Mateus 11.11

127 1 Coríntios 9.15-18 (Bíblia A Mensagem)

128 LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor. São Paulo. Hagnos. 2008. pág 146

129 HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em crise. CPAD. 4ª edição. 2004. Pág. 209.

130 Mateus 20.1-15 (Bíblia A Mensagem)

131 Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=_FQNRp-6aOU

132 2 Pedro 2.9

133 Filipenses 3.18-19

notas da Confissão 19 – eu não quero ser, um “homem de deus” assim!

134 http://www.momentoverdadeiro.com/2012/07/verdade-sempre-incomoda-quem-depende-da.html

135 Maiores detalhes no meu dvd: Sou protestante e não abro mão!

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136 https://www.youtube.com/watch?v=tgW4iiA-y9Y

137 https://www.youtube.com/watch?v=o_GZM_ug8xk

138 https://www.youtube.com/watch?v=Dv3dVFwsgik

139 2 Reis 5.20-23

140 2 Timóteo 3.4

141 Efésios 5.11-13

notas da Confissão 20 - nova reforma – Possibilidade ou utopia?

142 http://hernandesdiaslopes.com.br/2009/06/reforma-e-reavivamento/#.U9g9sONdWE4

143 Revista Defesa da Fé, nº 40.

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AdquirA tAmbém:

memórias Póstumas dos ProtestantesEste livro expõe de maneira escancarada algumas das ca-racterísticas que mais deve-riam estar visíveis na vida de um cristão, que são “a trans-parência e o apego à verda-de”; verdade essa que vem sendo dissimulada nas comu-nidades protestantes; verda-des cristãs que não podem ser refreadas ou contidas.

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sexo no CasamentoHá literalmente centenas de livros, DVDs e seminários para ajudar você e seu cônju-ge a melhorarem sua relação sexual e com certeza este livro vai ser mais uma ferramenta de ajuda para todos os casais que se preocupam em melhorarem os seus relacionamentos e saber o que pode e o que não pode diante de Deus.

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