cópia pre projeto

Upload: lucas-sena

Post on 28-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    1/11

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    2/11

    Com estes dados apresentados, verificamos que a vida dentro destas instituies penais catica, mesmo assim, extremamente comum que o condenado volte arealizar crimes depois do cumprimento de pena, fazendo com que o ndice dereincidncia nas penitencirias brasileiras varie entre 70% a 80%, dependendo daUnidade Federal (IPEA, p. 11, 2015).

    Agravando a situao, a falta de policiamento e administrao adequada possibilita dentro dos presdios o surgimento de lacunas para a criao de poderes paralelos que incitam a violncia e aprimora o crime organizado dentro e fora dascadeias, como o caso do Primeiro Comando da Capital (PCC).

    Contudo, devemos nos atentar aos efeitos subjetivos e psicolgicos que ocumprimento de pena nestes estabelecimentos proporcionam aos presos. Dentro delas otratamento desumano, o descaso para com as necessidades bsicas e a exposio diria auma rotina violenta alteram o a conscincia que o indivduo tem sobre si mesmo. Esta percepo modificada dever ser analisada, j que se perpetua para alm documprimento da pena, esta nova configurao que o detento tem de si e da realidade levada para a sociedade, representando assim um perigo mesma.

    Todavia, como este estudo no se limita somente s experincias brasileiras,trataremos tambm do caso noruegus.

    Naquele pas as instituies penitencirias so famosas na mdia internacional por haver algumas dentre elas com infraestrutura semelhante a de hoteis: celas com nomximo trs pessoas, ambientes para recreao, cozinhas comunitrias e cursos profissionalizantes so disponibilizados para todos os detentos. O tratamentohumanizado e o respeito aos direitos humanos criam um ambiente pacfico. Asatividades manuais, como trabalho em carpintaria e outros, e atividades educacionaisso obrigatrias, profissionalizando o dentento apra o mercado de trabalho quandocumprido completamente a pena.

    Os reflexos desses investimentos so claros quando analisado o ndice dereincidncia nas penitencirias daquele pas, chegando apenas casa dos 20%. Outro ponto que deve ser considerado a falta de rebelies no territrio Noruegus, a ltima

    grande rebelio dentro de alguma cadeia ocorreu em 1915.

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    3/11

    Embora distante da realidade brasileira, o sucesso noruegus parece estardiretamente relacionado com o tratamento humanizado e a preocupao de acompanharo detento durante e aps sua sada do estabelecimento penal. Tais medidas podemexplicar a reduzida taxa de reincidncia dos presos naquele pas, refletindo assim uma poltica eficaz no melhoramento da segurana pblica.

    Frente a estes aspectos aqui apresentado, se faz necessrio compreender, em um primeiro momento, se o tratamento oferecido pela equipe dirigente e as condies doambiente prisional infligem melhoras ou pioras comportamentais nos detentos. Tambmdeve-se analisar se o cumprimento dos direitos humanos tambm exercem influnciasobre o comportamento do prisioneiro. Posteriormente, examinar como tratamento

    intervem na percepo do indivduo sobre si mesmo e de suas atitudes dentro dainstituio em que o detento cumpre a pena, e como esta conscincia se desenvolvequando o detento recebe sua liberdade e volta para a sociedade livre.

    Ademais, h poucos estudos acerca do assunto, tornando o campo de anlise ricoe com poucas produes que revelem as origens da problemtica da segurana pblicade ambos os pases.

    2. Objetivos

    Para que tenhamos resultados profcuos, necessrio que os objetivos sejamespecificados de acordo com o recorte da pesquisa. O objetivo geral compreendercomo os mtodos, polticas e tratamento aos presos interferem na compreenso dodetento sobre si mesmo e seu comportamento tanto dentro das penitencirias, quantocomo estas refletem no seu retorno sociedade, e quais as possveis solues para ossistemas de ressocializao ineficazes. Os objetivos especficos so: a) traar asmetodologias e polticas de ressocializao aplicadas nas instituies carcerrias, bemcomo os atores que as projetam e as aplicam tanto da Noruega quanto no Brasil; b)identificar as consequncias das metodologias e polticas de ressocializao na vida dodetento tanto dentro da penitenciria quanto no seu regresso sociedade; c) identificarcomo as polticas e metodologias de ressocializao modificam a concepo do

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    4/11

    indivduo sobre a realidade e sobre si mesmo e como essa concepo altera o seucomportamento dentro e fora da penitenciria; d) a relao entre o respeito dos direitoshumanos e o tratamento humanitrio ao detento com o sucesso do projeto deressocializao oferecida pelo estabelecimento em que se encontra internado.

    3. Reviso de Literatura

    Para Goffman (1961, p. 17), a sociedade moderna tende a dividir os locais de

    dormir, brincar e trabalhar diferentes lugares, com diferentes co-participantes, comdiferentes autoridades e sem um nico e mesmo plano racional. Entretanto, em exceoa este fato, as instituies totais quebram este paradigma, unificando tais hbitos em umnico local e uma nica autoridade.

    Inicialmente, antes mesmo de seu total ingresso priso, o indivduo j sofretransformaes estticas como no caso brasileiro, em que os detentos tm seus cabelosraspados bem como de seus bens e propriedades pessoais (GOFFMAN, 1961, 28),

    Entretanto, a instituio deve realizar algumas substituies e relao a estes bemtomados, mas estas ocorrem de modo padronizado, seja dando uniformes, ou bens dehigiene pessoal descartveis, reforando assim a ausncia de bens.

    Quando h a entrada de fato do agora detento, este se torna passvel de uma sriede mudanas internas e externas. Antes de seu ingresso, o detento tem uma concepode si mesmo que foi adquirida por meio de algumas vantagens e posies sociais presente em seu mundo domstico; dentro do espao prisional todo este conjunto lhe tirado, conforme demonstra o autor:

    Na linguagem exata de algumas de nossas mais antigas instituies totais, comea umasrie de rebaixamentos, degradaes, humilhaes e profanaes do eu. O seu eu sistematicamente, embora muitas vezes no intecionalmente, mortificado. Comea a passar poralgumas mudanas radicais em suacarreira moral , uma carreira composta pelas progressivasmudanas que ocorrem nas crenas que tm a seu respeito e a respeito dos outros que sosignificativos para ele. (GOFFMAN, 1969, p 24)

    Alm o aspecto moral, uma vez exposto ao ambiente carcerrio, o detento entra

    em contato com uma realidade bem mais hostil e diferente da vivida em sociedade livre.

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    5/11

    Jogos violentos e brigas so frequentemente ocorridas dentro do espao prisional,tornando o detento passvel de tambm deformaes estticas, como ferimentos ou perda de membros, de acordo com o autor, esse novo cenrio vivido pelo detento lhecausa diferentes sensaes:

    Embora essa mortificao do eu atravs do corpo seja encontrada em poucas intituiestotais, a perda de sentido de segurana pessoal comum, e constitui um fundamento paraangstias, quanto ao desfiguramento (GOFFMAN, 1969, p. 29).

    Outro aspecto a ser considerado, seus direitos, que anteriormente exercia em plenitute, agora ou lhe so proibidos, ou lhe so limitados. Direitos como de ir, vir,alimentar-se, ter notcias, receber visitas so totalmente enquadrados a determinados

    horrios, a determinados modos, a determinadas limitaes. Todas as suas atividadesso determinadas e limitadas, tanto em modo como em durao destas, pela equipedirigente.

    De acordo com o autor, a vida em sociedade livre propicia uma economia deao pessoal, ou seja, o indivduo quando em liberdade pode ajustar as suas atividadesentre elas, como por exemplo, podemos faltar a um compromisso, para realizar outraatividade, chegar mais cedo ao trabalho para sairmos mais cedo afim de encontrarmoscom um amigo posteriormente. Nas instituies totais esta possibilidade inexistente,h uma permanente interferncia por parte da equipe dirigente da instituio penal sobrea vida do detento. Ademais disso, as atividades bsicas que antes poderiam serrealizadas a bel prazer do sujeito, nas instituies prisionais no ocorrem, isto porquetoda a estrutura prisional coloca o indivduo no papel submisso, tal papel totalmenteestranho e no-natural para um adulto. Neste contexto, o interno no tem livre arbtrio para determinar quaisquer atividades que lhe seriam natural em sociedade.(GOFFMAN,

    1969, p. 44).

    Referente s tais interferncias relatadas, so muitas das vezes realizadas demodo humilhante e degradantes. O tratamento destinado aos prisioneiros criam umaconcepo de marginalizao e de desumanizao do prisioneiro, fazendo com que asociedade em geral associe as prises a um local de criminosos e pessoas inferiores. Asituao se agrava quando tratada sobre a cultura brasileira acerca da dignidade do serhumano (BARCELLOS, 2010, p. 52). Diferentemente de outras culturas que tratam adignidade humana como algo inerente a si mesmo, a cultura brasileira trata de saber o

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    6/11

    que o indivduo faz ou deixa de fazer, em outras palavras, uma vez considerado detento,este no pode ser considerado um ser humano propriamente dito, devendo ser levadosua condio atual ao espao da benevolncia (BARCELLOS, 2010, p. 52).

    Uma vez em contato com assunto, faz-se importante aqui o debate tambmacerca dos direitos dos presos nas instituies penais. Mesmo que garantidos porlegislao especfica, raramente os detentos podem usufru-las devido falta deinfraestrutura e de acesso aos prprios direitos. Exemplificamos aqui os direitoshumanos bsicos e outras ocupaes consagradas nas normas constitucionais einfraconstitucionais: o direito sade, educao e outras assistncias, assim tambm agarantia de atividades ressocializadoras. Apesar de todas previstas, rarssimas so as

    unidades prisionais em que h o cumprimento da lei na prtica (BARCELLOS, 2010, p.48). Deveras, h pouca preocupao acerca da concretizao deste, a cultura brasileiratrata o interno como um como um indivduo no portator de direitos e da dignidade.

    Valente resume claramente todos os reflexos desta poltica de despreocupaoem relao ao preso:

    Problemas como superlotao de celas, falta de uma poltica laborterpica e preparao para a vida ps-institucional, maus tratos, baixa qualidade a alimentao fornecida,

    disseminao de doenas infecto contagiosas, falta de atendimento jurdico e mutias outrasmazelas do sistema penitencirio, vieram tona impulsinados em convulses que, no raro,envolviam seqestros de funcionrios e morte de algumas pessoas. A mensagem dos presos eraclara: o sistema penitencirio brasileiro est obsoleto. (VALETE, 2003, p.4)

    O tratamento no humanizado, assim como a violao aos direitos humanos parecem produzir um efeito contrrio ao esperado das penitencirias, a entrada de umnovo preso instituio total pode piorar seu carter, tornando a instituio totalmenteintil, conforme pontuado por Foucault (1999, p.221), a experincia com as prisesdemonstram ao largo do tempo de sua existncia nas sociedades, que tais instituiesno diminuem a taxa de criminalidade. O resultado obtido, entretanto, justamente ocontrrio, um aumento na quantidade de crimes realizados, em outras palavras, a prisonos modelos aplicados na maioria das prises do planeta, fazem com que haja umamultiplicao de eventos criminosos.

    A literatura em geral sinaliza um estado de caos e insucessos referente

    ressocializao do detento, e at mesmo sobre o real sentido da existncia da

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    7/11

    penitencirias, esta orientao no pode ser tomada como uniforme e universal paratodos os casos.

    Diferentemente do ocorrido em grande parte do globo, as instituies penais da

    regio da escandinvia demonstram posturas distintas das que so normalmenteencontradas pelo globo, especialmente na Noruega, no qual o ndice de reincidncia um dos mais baixos do mundo, a parte de haver uma taxa de violncia baixssima dentrodas organizaes penais. A chave para este sucesso, conforme demonstrado nosrelatrios do prprio governo noruegus, reside no fato de haver um enfoque distinto.Enquanto no Brasil a pena focado na punio do condenado, na Noruega o enfoqueest na ressocializao do detento atravs de um tratamento humanitrio e igualitrio,

    ademais de fornecer oportunidades de estudo e profissionalizao do detento para quehaja melhores possibilidades de ingresso ao mercado de trabalho quando este retomar asua liberdade:

    De ella se deduce que existe, desde siempre, una conexinentre lo que se considera como la causa de la criminalidad y el tratamiento que reciben losreclusos. El aprendizaje laboral, la escolaridad, las ofertas culturales, las actividades de ocio yla motivacin para el trabajo son los instrumentos de los que tradicionalmente se sirve laAdministracin Penitenciaria, a los que se suman los derivados del propio cumplimiento de lacondena. Estas medidas son importantes para la reinsercin social de los penados, y el Informelas estudia en profundidad. El objetivo del Gobierno es desarrollar y elevar el nivel de calidadde este importante trabajo. Es decisivo poner a los penados en la va de la insercin, incluso sila sentencia es de poca duracin, ya que es precisamente en el grupo de condenados por losdelitos menos graves donde se encuentra el mayor nmero de reincidentes (NORWEGIANMINISTRY OF JUSTICE AND THE POLICE, 2008, p.5)

    Perante as polticas aqui apresentadas, cabe questionar se estas medidas tm realrelao com o sucesso da ressocializao dos detentos, e como estas polticasinfluenciam na consicncia de realidade dos detentos e na sua viso de configurao desociedade.

    Compreender as percepes que os indivduos tm sobre si, e identificar asconexes que estas conscincias tm em relao s medidas aplicadas pelas prises achave para entender o desenvolvimento da violncia dentro das instituies penais e a propagao desta para fora delas, chegando sociedade.

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    8/11

    4. Metodologia

    Cabe compreender as formas como as metodologias de ressoacializao soaplicadas nas penitencirias tanto do Brasil quanto da Noruega, bem como os reflexosque estas exercem sobre a concepo de indivduo e realidade do detento. Paraatingirmos este objetivo nos utilizaremos dos recursos do mtodo comparativo. Estaabordagem procede pela investigao de classes, grupos sociais, podendo estarseparados tanto pelo espao quanto pelo tempo (GIL, 2008, p. 17). Atravs desta pode-

    se ressaltar aspectos diferenciais entre os objetos ou enfatizar as similitudes que estasapresentam.

    Ora, se o objetivo de nosso estudo a verificao dos resultados das polticas penitencirias e como estas se desdobram sobre a capacidade de compreenso que odetento tem de si e de todos os demais cenrios no qual se desloca ou poder deslocar,faz-se necessrio a comparao entre ambos os casos, encontrando os motivos para estaalarmante diferena entre os sistemas noruegus e brasileiro.

    Para esta pesquisa utilizaremos as revises bibliogrficas e anlise documentalsobre o tema (PRODANOV, FREITAS, 2013, p. 55), especialmente usando das fontes primrias, tais como livros especializados sobre o assunto, legislaes, relatriosgovernamentais e demais documentos. Ademais, realizaremos questionrios padronizados (PRODANOV, FREITAS, 2013, p. 52) com detentos do sistemacarcerrio brasileiro e noruegus, alm de autoridades ou funcionrios vinculados a

    rgos representantes do Estado brasileiro e noruegus, com o objetivo de colher relatos pessoais que venham contribuir e revelar a realidade prisional, igualmente certificarcomo os mecnismos funcionam na realidade. Todos estes dados sero examinadosatravs de uma anlise quali-quantitativa dos resultados obtidos (CRESWELL, 2003, p.12); julgamos que cinco entrevis tados de cada pas sejam o suficiente.

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    9/11

    5. Cronograma

  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    10/11

    6. Bibliografia

    BARCELLOS, Ana Paula de. Violncia urbana, condies das prises e dignidadehumana. Revista de Direito Administrativo . V. 245, p. 39-65, 2010.

    CRESWELL, John W. Research Design Quanlitative, Quantitative, and Mixed Methods Approaches. 2 ed, Estados Unidos: Sage Publications, Inc. 2003.

    FOUCAULT, Michel.Vigiar e punir: nascimento da priso; traduo de RaquelRamalhete. Petrpolis: Vozes, 1999.

    FREITAS, Ernani Cesar; PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do Trabalho

    Cientfico: Mtodos e Tcnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadmico . 2 ed, NovoHamburgo: Feevale, 2013.

    GIL, Antonio Carlos. Mtodos e tcnicas de pesquisa social . 6 ed, So Paulo: Atlas,2008.

    GOFFMAN, Erving. Manicmios, prises e conventos , 9 ed, So Paulo: Perspectiva,2015.

    INTERNATIONAL CENTRE FOR PRISION STUDIES. Highest to Lowest PrisonPopulation Total 2015. Disponvel em: Acesso em: 29 desetembro de 2015.

    INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA. Reincidncia Criminal no Brasil. Rio de Janeiro: Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica,2015

    NORWERGIAN MINISTRY OF JUSTICE AND THE POLICE.Penas que funcionan menos delincuencia una sociedad ms segura, Informe al Storting sobre la

    Administracin Penitenciaria . Noruega: Norwergian Ministry of Justice and the Police,2008.

    PORTUGUES, Manoel Rodrigues. Educao de adultos presos. Revista Educao ePesquisa . v. 27, n.2, p. 355-374. 2001.

    http://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_region_taxonomy_tid=Allhttp://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_region_taxonomy_tid=Allhttp://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_region_taxonomy_tid=Allhttp://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_region_taxonomy_tid=All
  • 7/25/2019 Cpia Pre Projeto

    11/11

    VALENTE, Osvaldo Rosa.Poder e interao simblicas nas prises brasileiras . In: XICongresso Brasileiro de Sociologia, 2003. Campinas.