coordenador: desembargador wellington pacheco barros · catalogação na fonte elaborada pela...

209

Upload: truongliem

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Água na Visão do Direito – 1

Porto Alegre – Julho de 2005

A ÁGUANA VISÃO

DO DIREITO

Des. Wellington Pacheco Barros

Catalogação na fonte elaborada pela Biblioteca do TJRS

B277a Barros, Wellington Pacheco A água na visão do direito / Wellington Pacheco Barros

– Porto Alegre : Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Departamento de Artes Gráficas, 2005.

231 p.

Responsabilidade editorial : Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Centro de Estudos.

1. Águas – Bem Público 2. Águas – Direito 3. Águas – Brasil 4. Águas – Jurisprudência 5. Águas – Legislação 6. Constituição – Brasil – 1988 7. Recursos Hídricos I. Título.

CDU 347.247

Coordenador: Desembargador Wellington Pacheco Barros

Colaboradores:Angela Maria Braga Knorr – Secretaria Administrativa/RevisoraAna Paula Russomano Braun – PesquisadoraDaniela Bermudez Hruby – RevisoraSandro Pacheco da Silva – Voluntário/CapaEditoração e Impressão: Departamento de Artes Gráfica do TJRS

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 7

CAPÍTULO 1 - GENERALIDADES ................................................................... 91.1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 91.2 A IMPORTÂNCIA DAS ÁGUAS .......................................................... 11

1.2.1 ABASTECIMENTOS DOMÉSTICO E PÚBLICO ............................ 121.2.2 USOS AGRÍCOLA E INDÚSTRIAL ............................................. 131.2.3 PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ........................................ 15

1.3 DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO PLANETA ........................................... 151.3.1 O CICLO DA ÁGUA ................................................................. 17

1.4 DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO BRASIL .............................................. 191.4.1 BACIA DO RIO AMAZONAS ..................................................... 201.4.2 BACIA DO TOCANTINS-ARAGUAIA .......................................... 211.4.3 BACIA DO ATLÂNTICO TRECHOS NORTE/NORDESTE ............... 211.4.4 BACIA DO SÃO FRANCISCO .................................................... 211.4.5 BACIA DOS RIOS DA REGIÃO DO ATLÂNTICO SULTRECHO LESTE ................................................................................ 221.4.6 BACIA DO RIO PARANÁ .......................................................... 221.4.7 BACIA DO RIO URUGUAI ........................................................ 221.4.8 BACIA DOS RIOS DO ATLÂNTICO SUL - TRECHO SUDESTE ..... 23

1.5 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS ......................................................... 231.5.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS QUANTO AO USOPREDOMINANTE. ............................................................................. 241.5.2 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS QUANTO À SUALOCALIZAÇÃO COM RELAÇÃO AO SOLO. .......................................... 26

1.6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS.................................................................. 271.7 O AQÜÍFERO GUARANI ................................................................... 29

1.7.1 POLUIÇÃO DO AQÜÍFERO GUARANI ........................................ 321.7.2 DIMINUIÇÃO NO REABASTECIMENTO DOAQÜÍFERO GUARANI ....................................................................... 341.7.3 PROJETO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL DO SISTEMA AQÜÍFERO GUARANI ............................ 37

1.8 A CRISE DA ÁGUA .......................................................................... 381.8.1 POLUIÇÃO .............................................................................. 381.8.2 ESCASSEZ ............................................................................. 40

CAPÍTULO 2 - A ÁGUA COMO BEM PÚBLICO............................................... 452.1 A ÁGUA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ............................................. 45

2.1.1 HISTÓRICO ............................................................................ 452.1.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ......................................... 47

4 – Água na Visão do Direito

2.1.2.1 DOMINIALIDADE DAS ÁGUAS NA CONSTITUIÇÃOFEDERAL DE 1988. ..................................................................... 472.1.2.2 COMPETÊNCIAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ... 50

2.1.2.2.1 COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ............................... 512.1.2.2.2 COMPETÊNCIAS MATERIAIS OU EXECUTIVAS .......... 53

2.2 A ÁGUA NAS CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS ..................................... 542.2.1 A ÁGUA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DORIO GRANDE DO SUL ...................................................................... 55

2.3 A ÁGUA NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL .......................... 582.3.1 HISTÓRICO ............................................................................ 582.3.2 A LEI FEDERAL N.º 9.433/97 .................................................. 622.3.3 A LEI ESTADUAL N.º 10.350/94 ............................................. 63

CAPÍTULO 3 - O GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS .................. 653.1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS .............................. 65

3.1.1 OBJETIVOS ............................................................................ 653.1.2 FUNDAMENTOS LEGAIS .......................................................... 67

3.1.2.1 A ÁGUA COMO BEM PÚBLICO .......................................... 673.1.2.2 A ÁGUA COMO UM RECURSO NATURAL LIMITADO EDOTADO DE VALOR ECONÔMICO ................................................ 703.1.2.3 USO MÚLTIPLO E USO PRIORITÁRIO DOSRECURSOS HÍDRICOS ................................................................ 733.1.2.4 BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADE TERRITORIAL .. 753.1.2.5 GESTÃO DESCENTRALIZADA E PARTICIPATIVA ............... 76

3.1.3 DIRETRIZES DE AÇÃO ............................................................ 783.1.4 INSTRUMENTOS ..................................................................... 80

3.1.4.1 PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS .................................. 803.1.4.2 ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EMCLASSES SEGUNDO OS USOS PREPONDERANTES ....................... 833.1.4.3 OUTORGA DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS ............... 85

3.1.4.3.1 A ÁGUA COMO OBJETO DE DIREITO DE USOONEROSO .............................................................................. 853.1.4.3.2 GENERALIDADES E OBJETIVOS DA OUTORGA ......... 873.1.4.3.3 A OUTORGA ENTRE ADMINISTRAÇÕES. .................. 873.1.4.3.4 A OUTORGA A PARTICULARES COMOCONTRATO ADMINISTRATIVO “SUI GENERIS” ........................ 883.1.4.3.5 QUANDO É NECESSÁRIA A PRÉVIA LICITAÇÃOPARA OUTORGA DO DIREITO DE USO .................................... 893.1.4.3.6 QUANDO É INEXIGÍVEL A LICITAÇÃO .................... 893.1.4.3.7 A DELEGAÇÃO DA OUTORGA................................... 903.1.4.3.8 AS MODALIDADES DE OUTORGAS ......................... 903.1.4.3.9 O USO DA ÁGUA QUE INDEPENDEM DE OUTORGA..... 923.1.4.3.10 OS CASOS DE SUSPENSÃO DA OUTORGA ............. 933.1.4.3.11 PRAZO DE DURAÇÃO DA OUTORGA....................... 96

3.1.4.4 COBRANÇA PELO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS .......... 963.1.4.5 SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOSHÍDRICOS ................................................................................ 100

Água na Visão do Direito – 5

3.2. O SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DERECURSOS HÍDRICOS ........................................................................ 102

3.2.1. CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS - CNRH.... 1023.2.1.1.COMPETÊNCIA DO CNRH .............................................. 1033.2.1.2. COMPOSIÇÃO DO CNRH .............................................. 1043.2.1.3 CÂMARAS TÉCNICAS .................................................... 1053.2.1.4 DELIBERAÇÃO .............................................................. 105

3.2.2. CONSELHOS DE RECURSOS HÍDRICOS DOS ESTADOSE DO DISTRITO FEDERAL .............................................................. 106

3.2.2.1.COMPETÊNCIAS DOS CONSELHOS ESTADUAIS ............. 1063.2.2.2.COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS ESTADUAIS................. 107

3.2.3. COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS................................ 1073.2.3.1. COMPETÊNCIA ............................................................. 1083.2.3.2. COMPOSIÇÃO .............................................................. 108

3.2.4. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS ........................................... 1093.2.5. AGÊNCIAS DE ÁGUA............................................................ 109

3.3 O SISTEMA ESTADUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS -RIO GRANDE DO SUL ......................................................................... 111

3.3.1 COMPOSIÇÃO ....................................................................... 1113.3.1.1 O DEPARTAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS – DRH ..... 1123.3.1.2 COMITÊS DE BACIAS .................................................... 1153.3.1.3 AS AGÊNCIAS DE REGIÕES HIDROGRÁFICAS ............... 1163.3.1.4 FEPAM – FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃOAMBIENTAL .............................................................................. 117

CAPÍTULO 4 – LEGISLAÇÃO ..................................................................... 1194.1 LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. ................................... 1194.2 LEI Nº 10.350, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1994. ............................ 136

CAPÍTULO 5 - GLOSSÁRIO ...................................................................... 151

CAPÍTULO 6 - JURISPRUDÊNCIA .............................................................. 1856.1 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL .................................................... 185

6.2 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ........................................... 1886.3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ... 1936.4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ................. 1976.5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA........ 1976.6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ ......................................... 198

CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA .................................................................. 2017.1 DOUTRINA ................................................................................... 2017.2 SITES VISITADOS ........................................................................ 205

APRESENTAÇÃO

“A água é, hoje, um fator de preocupação agudo e temsuscitado debates acalorados em vários estratos sociais,religiosos e organismos estatais, inclusive na ONU, apesarde cobrir 2/3 da superfície da Terra e com isso aparentarser infinita para a vida humana, animal e vegetal”.

É com esta afirmação que início o livro A ÁGUA NA VISÃO DO DI-REITO e que agora apresento aos prezados leitores.

Na esteira das publicações anteriores editadas pelo CENTRO DE ES-TUDOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Estudos Tópicos sobre OrganismosGeneticamente Modificados e o Servidor Público na Visão do Tribunal deJustiça do Estado do Rio Grande do Sul) o livro aborda tema de importânciasocial com vinculação no direito procurando demonstrar que o poder Judici-ário, como parte do poder social geral outorgado pela sociedade por meio daConstituição Federal, tem preocupações superiores que transbordam as re-soluções de conflitos via processo.

E água é um desses temas que, dia a dia, ganha importância na con-cepção jurídica pelo simples reconhecimento de sua finitude decorrente doaumento da população, da poluição provocada pelas atividades humanas,pelo consumo excessivo e pelo alto grau de desperdício.

O livro está dimensionado em seis capítulos principais.O primeiro capítulo trata da generalidade sobre a água procurando

introduzir o leitor a informações propedêuticas sobre o tema. Assim, o leitortem uma visão sobre a importância da água, sua distribuição no planeta,seu ciclo, sua distribuição no Brasil através das várias bacias hidrográficas,como a água é classificada e, como temas relevantes, estudo sobre o AqüíferoGuarani e sobre a crise da água.

O segundo capítulo trata da água como bem público oferecendo aoleitor uma visão histórica da evolução da água no direito brasileiro, quepassou de uma desimportância inicial, uma importância meramente privadaaté chegar ao reconhecimento de se constituir num bem público de usocomum.

8 – Água na Visão do Direito

O terceiro capítulo trata do gerenciamento dos recursos hídricos,nomenclatura que a legislação infraconstitucional outorgou à água. Aqui olivro aborda temas como a prioridade no uso da água, a bacia como media-da territorial, a gestão descentralizada e participativa, a outorga de seu usoa terceiros, o sistema nacional de gerenciamento, entre tantos temas im-portantes.

O quarto capítulo apresenta ao leitor a legislação infraconstitucionalenvolvendo a água.

O quinto capítulo oferece ao leitor um glossário dos conceitos maisusados sobre a água.

E o sexto capítulo é uma coletânea de jurisprudência daquilo que jáfoi julgado pelos tribunais pátrios sobre a água.

O livro que agora apresento não teria sido viabilizado se não contassecom o denodo de pesquisadora da estagiária ANA PAULA RUSSOMANO BRAUN,dos conhecimento de informática e gráficos do Bel. SANDRO PACHECO DASILVA, da revisão e orientação da Belª DANIELA BERMUDEZ HRUBY e daservidora pública responsável pela administração do CENTRO DE ESTUDOSBela ÂNGELA MARIA BRAGA KNORR. A todos eles meu reconhecimento eagradecimento público.

Porto Alegre, julho de 2005.

Des. WELLINGTON PACHECO BARROSCoordenador-Geral do Centro de Estudos do Tribunal de Justiça

CAPÍTULO 1 - GENERALIDADES

1.1 INTRODUÇÃO

A água é, hoje, um fator de preocupação agudo e tem suscitadodebates acalorados em vários estratos sociais, religiosos e organismos esta-tais, inclusive na ONU, apesar de cobrir 2/3 da superfície da Terra e com issoaparentar ser infinita para a vida humana, animal e vegetal.

Essa preocupação não decorreu de estudos sobre seu poder de causaracidentes como o tsunami que atingiu vários países e causou a morte dealgumas centenas de milhares de vidas e danos patrimoniais imensos, nemna busca de entender seu funcionamento e importância no contexto biológi-co, como a descoberta recente de que ela tem “memória” e que por 50femtosegundos (um femtosegundo é equivalente a um bilionésimo de mili-onésimo de um segundo) armazena as lembranças das propriedades de subs-tâncias que já estiveram nela diluídas, conforme publicação da revista cien-tífica “Nature”1 , de 10 de março de 2005, noticiado pelo jornal Folha de SãoPaulo, no seu caderno FolhaCiência, página A 16, da mesma data ou mesmodas secas periódicas que nos assolam.

A preocupação com a água é mais direta e mais profunda e decorre daconscientização de que, apesar de cobrir quase a totalidade da Terra o volume

1 Water has many unique features that distinguish it from other liquids. A key to these

properties is the dynamic network of hydrogen bonds linking the highly polar water

molecules. Infrared spectroscopy of the hydroxyl (OH) stretching vibration is ideal for probing

the dynamics and structure of this network, but technical limitations have meant that it has

been necessary to use mixtures of isotopically substituted water and observe, for example,

the deuteroxyl (OD) bond in normal water (H2O). Now by using an ultrathin sample cell, the

behaviour of the hydrogen bond network structure has been studied in pure H2O. The results

are surprising: water loses its ‘memory’ of structural correlations within 50 femtoseconds, an

order of magnitude faster than seen previously. This favours rapid relaxation of elementary

excitations, which may contribute to the stability of biological systems that strongly interact

with surrounding water. Disponível na página da Internet: http://www.nature.com/nature/links/

050310/050310-5.html, visitada em 31.03.05.

10 – Água na Visão do Direito

de água doce aqui disponível é insignificante, pois essa quantidade abarcaem sua maior parte as geleiras e neves eternas, as águas subterrâneas, quesão encontradas na umidade do solo, nos pântanos e nas geada, restandoum percentual muito baixo do volume da água doce existente, algo emtorno de 0,1% a 0,3%, os quais estão em rios e lagos e que, portanto, como aumento da população mundial, a poluição provocada pelas atividadeshumanas, o consumo excessivo e o alto grau de desperdício, ela se tornouum bem finito em curto prazo a preocupar toda vida existente na Terra.

O gráfico abaixo demonstra claramente a diminuição da disponibilida-de da água ao passar dos anos:

Disponibilidade de água por Habitante/Região (1000m3):

Retirado da página de Internet: http://www.uniagua.org.br/

default.asp?tp=3&pag=aguaplaneta.htm, visitada em 31.03.05

Essa conscientização, embora já venha de algum tempo em outrospaíses, chegou ao Brasil de forma tênue e com uma certa desimportânciatalvez pelo fato do País abrigar 13,8% das reservas mundiais de água docepara uma população de apenas 2,8% da mundial e aqui se encontrar 71%dos 1,2 milhões de quilômetros quadrados (cerca de 840 mil quilômetrosquadrados) do Aqüífero Guarani, o maior reservatório subterrâneo de águadoce das Américas e um dos maiores do mundo, envolvendo os estados deMinas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná,Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Portanto, o presente estudo, a par desses elementos, analisaráa importância dos mananciais para a humanidade. No primeiro capítulo, tratado uso da água pelo abastecimento, distribuição e escassez. Num segundomomento, aborda a água como bem público e seu trato legal no ordenamentojurídico brasileiro, seguindo para o gerenciamento dos recursos hídricos, noterceiro capítulo. A quarta parte do trabalho reproduz a legislação referenteao tema, quer no âmbito federal, com a lei nº 9.433/97, quanto no estadual,

Água na Visão do Direito – 11

com a nº 10.350/94. Agregando, por fim, no quinto e último capítulo, parafacilitar o acesso à pesquisa, um glossário concernente ao tema.

1.2 A IMPORTÂNCIA DAS ÁGUAS

A água, como já dito, é um elemento indispensável a toda e qualquerforma de vida. Com propriedade, Edis Milaré, definiu a água como umvaliosíssimo recurso diretamente associado à vida. Observou, ainda que:

“(...), ela participa com elevado potencial na composição dosorganismos e dos seres vivos em geral, e suas funções bioló-gicas e bioquímicas são essenciais, pelo que se diz simboli-camente que a água é elemento constitutivo da vida. Dentrodo ecossistema planetário, seu papel junto aos biomas é múl-tiplo, seja como integrante da cadeia alimentar e de proces-sos biológicos, seja como condicionantes dos diferenteshabitats”.2

Em 22 de março de 1992 a Organização das Nações Unidas procla-mou a “Declaração Universal dos Direitos da Água” na qual expôs:

“a água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencialde vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela nãopoderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vege-tação, a cultura ou a agricultura”.

3

Por outro lado, a água está presente em múltiplas atividades do ho-mem e, como tal, é utilizada para finalidades muito diversificadas, entre asquais assumem maior importância o abastecimento doméstico e público, osusos agrícola e industrial e a produção de energia elétrica.4

Assim, fica claro que:

2 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário. 2

ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 126.

3 Disponível em http://:www.aguasdelimeira.com.br/aimportanciadaagua.htm. Acesso em 01

nov. 2004.

4 Dísponível em http://www.geocites.com/Athens/Forum/5265/mundoatu.htm.Acesso em 17

mar. 2004.

12 – Água na Visão do Direito

“a água é um recurso natural essencial, seja como componen-te bioquímico de seres vivos, como meio de vida de várias es-pécies vegetais e animais, como elemento representativo devalores sociais e culturais e, até, como fator de produção devários bens de consumo final e intermediário”.

5

1.2.1 ABASTECIMENTOS DOMÉSTICO E PÚBLICO

O abastecimento doméstico compreende aqueles atos em que aágua é utilizada “como fonte de vida, bebida, no preparo de alimentos, higi-ene pessoal, limpeza na habitação, irrigação de jardins e pequenas hortasparticulares, criação de animais domésticos, entre outros”.6

Já o abastecimento público, por sua vez, é aquele no qual utiliza-seágua nas “moradias, escolas, hospitais e demais estabelecimentos públicos,irrigação de parques e jardins, limpeza de ruas e logradouros, paisagismo,combate a incêndios, navegação, etc.” 7

Entretanto, sabe-se que uma série de doenças pode ser associada àágua, entre elas podemos citar a cólera, a amebíase e a hepatite, ..., porisso, o abastecimento de água com qualidade própria para a ingestão, pre-paro de alimentos e higiene pessoal passou a constar como prioridade entreos direitos de todos os cidadãos.

De acordo com isso, Luiz Antonio Timm Grassi afirma que:

“Por todos esses motivos, o acesso universal à águapotabilizada e distribuída em todos os domicílios deve fazerparte, prioritariamente, da pauta de todas as políticas públi-cas, seja de saúde, ambiental, de bem estar social e de de-senvolvimento urbano e regional. O uso da água para o abas-tecimento humano, sob a forma de sistemas de distribuiçãourbanos é o mais importante e o mais nobre entre os usos daágua e de suas fontes naturais (...)".8

5 Disponível em http://www.brasildasaguas.com.br/conteudo/importancia_agua.html. Acesso

em 08 mar. 2004.

6 Disponível em http://www.sosmatatlântica.org.br/. Acesso em 19 mar. 2004.

7 Idem.

8 GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Re-

cursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

Água na Visão do Direito – 13

A legislação brasileira garante o acesso de água potável emquantidade suficiente para usos pessoais e domésticos. O objetivo 15 daAgenda 21 brasileira, publicada em 16 de julho de 2002, também asseguraque se deve “facilitar o acesso à água, que dá prioridade máxima para aágua de beber e à dessedentação dos animais”.9

Dado importante quanto ao consumo doméstico de água poratividade:10

ATIVIDADE QUANTIDADE (EM LITROS)Descarga no vaso sanitário tradicional 10 a 16Minuto no chuveiro 15Lavar roupa em tanque 150Lavar as mãos 3 a 5Lavar roupa com máquina de lavar 150Escovar os dentes com água correndo 11Lavagem do automóvel com mangueira 100Lavar louça em lava-louça 20 a 25

1.2.2 USOS AGRÍCOLA E INDÚSTRIAL

Em relação à produção agrícola, a água pode representar até 90%da composição física das plantas. A falta de água em períodos de crescimen-to dos vegetais pode destruir lavouras e até ecossistemas devidamente im-plantados.11 Por isso que, em sua maior parte, a água é utilizada para irriga-ção. Ainda é, adicionalmente, “utilizada para tratamento de animais, lava-gem de instalações, máquinas e utensílios, entre outros”.12 Tem-se que aagricultura é a atividade que mais consome água.13

9 Disponível em http://www.mma.gov.br/. Acesso em 15 fev. 2004.

10 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília – DF, 2004. p. 10.

11 Disponível em http://www.brasildaságuas.com.br/conteudo/importancia_agua.html Acesso

em 08 mar. 2004.

12 Disponível em http://www.sosmatatlântica.org.br/. Acesso em 19 mar. 2004.

13 Disponível em http://www.geocities.com. Acesso em 22 abr. 2004.

14 – Água na Visão do Direito

Na indústria a água também tem diversas utilidades, dentre as quais:

“Como matéria-prima, na produção de alimentos e produtosfarmacêuticos, gelo, etc.; em atividades industriais onde aágua é utilizada para refrigeração, como na metalurgia, paralavagem nas áreas de produção de papel, tecido, emabatedouros e matadouros, etc.; e em atividades em que éutilizada para fabricação de vapor, como na caldeiraria, en-tre outros”.14

A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% vai para aindústria, enquanto que apenas 6% destina-se ao consumo doméstico.15

Devido à grande demanda, a Agenda 21 brasileira afirma que:

“Sendo a água um recurso escasso e estratégico e um bemeconômico de grande valor, seu uso para atividades agrícolasou industriais, especialmente as de grande porte, como a irri-gação, deve ser contabilizado como custo para estimular otratamento dos resíduos ou para permitir a reposição”.16

Para se ter uma idéia, observe-se a quantidade de água ne-cessária para produzir alguns bens:17

PARA OBTER QUANTIDADE DE ÁGUA NECESSÁRIA1 kg de arroz 4.5001 kg de trigo 1.5001 kg de aço 3001 kg de papel 2501 kg de pão 1501 kg de batata 1501 kg de cereal 1.5001 kg de carne de vaca 20.0001 kg de verdura 1.000

14 Disponível em http://www.geocities.com. Acesso em 22 abr. 2004.

15 Disponível em http://www.sosmatatlantica.org.br/. Acesso em 03 maio 2004.

16 Disponível em http://www.mma.gov.br/. Acesso em 15 fev. 2005

17 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília – DF, 2004. p. 10.

Água na Visão do Direito – 15

1.2.3 PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

A energia elétrica pode ser obtida através de diversas formas, dentreas mais comuns estão: As usinas atômicas, as termelétricas e as hidrelétricas.A energia decorrente das usinas atômicas, como o próprio nome sugere,são aquelas derivadas dos átomos, em que pequenas quantidades de maté-ria são transformadas em grandes quantidades de energia. Entretanto, ge-ram resíduos indestrutíveis e expõem a população a riscos mortais.18 Asusinas termelétricas “utilizam-se de combustíveis para queimar, produzirvapor e acionar, com esse vapor, turbinas geradoras de energia elétrica.Para essa queima utilizam-se a biomassa, o petróleo ou o gás dele e oscarvões”.19 As usinas hidrelétricas são aquelas em que se utiliza a força daágua para gerar energia elétrica exigindo este tema maior profundidade.

A energia elétrica, como já foi dito, é aquela proveniente do movi-mento das águas. “Ela é produzida por meio do aproveitamento do potencialhidráulico existente num rio, utilizando desníveis naturais, com quedas d’água,ou artificiais, produzidos pelo desvio do curso original do rio”.20

As características físicas e geográficas do Brasil foram determinantespara implantação de um parque gerador de energia elétrica de base predo-minantemente hídrica.21 Por ser privilegiado em recursos hídricos, cerca de95% da energia elétrica brasileira provém de rios.22

1.3 DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO PLANETA

A superfície da Terra tem cerca de 71% de sua superfície coberta porágua, correspondentes a um volume total de aproximadamente 1.380.000km3.23 De toda essa quantidade de água existente no planeta, cerca de 97,3%é água salgada e apenas 2,7% é água doce (37.000 km3). No entanto, con-forme José Álvaro de Vasconcelos Weissheimer, “a busca de dados entre os

18 Disponível em http://www.gpca.com.br/gil/art88.htm/. Acesso em 03 nov. 2004.

19 Idem.

20 Disponível em http://www.ambientebrasil.com.br/. Acesso em 03 nov. 2004.

21 Idem.

22 Idem.

23 Disponível em http://www.aguadechuva.com/index.aguaplaneta.htm. Acesso em 19 mar.

2004.

16 – Água na Visão do Direito

mais diversos autores e materiais mostrou que é relativamente imprecisa adeterminação dos números referentes à água, por ser um elemento de difícilmensuração em função da quantidade”.24

Distribuição de água na Terra

97,3

2,7

Água Salgada

Água Doce

Deste total de água doce disponível na Terra, 77,2% encontra-se emforma de gelo, nas calotas polares (25.564 km3), 22,4% se trata de águasubterrânea (8.288 km3), 0,35% se encontra nos lagos e pântanos (128km3), 0,04% se encontra na atmosfera (16 km3) e apenas 0,01% da águadoce está nos rios (4 km3).25

Distribuição de água doce no mundo

77,2 22,4 0,35 0,04 0,010

20

40

60

80

Calotas

Subterrâneas

Lagos e Pântanos

Atmosfera

Rios

24 WEISSHEIMER, José Álvaro de Vasconcelos. A constituição e o regime das águas. In

Revista Justiça do Direito, Passo Fundo, n. 16, p. 146, 2002.

25 Disponível em http://www.daees.p.gov.br/cultura/distribuição.htm. Acesso em 05 mar.

2004.

Água na Visão do Direito – 17

Contudo, a distribuição da água no Mundo é muito desigual e, umagrande parte do planeta, está situada em regiões com carência de água.26

Atualmente estima-se que mais de 1,1 bilhão de pessoas no mundo sofremcom falta d’água.27

A disponibilidade renovável de água doce nos continentes pode serestimada em porcentagens conforme segue:28

CONTINENTE ÁGUA DOCEÁFRICA 10,00%AMÉRICA DO NORTE 18,00%AMÉRICA DO SUL 23,10%ÁSIA 31,60%EUROPA 7,00%OCEANIA 5,30%ANTÁRTIDA 5,00%

Em relação a esta disponibilidade de água no mundo pode-se obser-var quanto é privilegiada a situação do Brasil, uma vez que dispõe ele de12% de toda a água doce do planeta.29

1.3.1 O CICLO DA ÁGUA

A quantidade de água na Terra é praticamente invariável há centenasde milhões de anos. Ou seja, a quantidade de água permanece a mesma, oque muda é a sua distribuição e seu estado.30

Isto se deve a um processo chamado Ciclo Hidrológico. O ciclohidrológico é um movimento contínuo, um processo natural de reciclagemde moléculas de água da terra ao ar e de regresso à terra, é o caminho queela percorre, é o constante processo de mudança de estado da água.31

26 Disponível em http://www.geologo.com.br. Acesso em 04 nov. 2004.

27 Disponível em http://www.sosmatlantica.org.br/?id_pasta1=0&id_pasta2=112. Acesso em

27 fev. 2004.

28 Disponível em http://www.daee.sp.gov.br/cultura/distribuicao.htm. Acesso em 05 mar.

2004.

29 Idem.

30 Disponível em http://www.geologo.com.br. Acesso em 04 nov. 2004.

31 Disponível em http://www.ecolnews.com.br/água/conteudo.htm. Acesso em 30 nov. 2004.

18 – Água na Visão do Direito

Os processos do Ciclo Hidrológico são: evaporação, transpiração,precipitação e infiltração, além da respiração e combustão. Para Luiz Anto-nio Timm Grassi,32 é a existência da água, sob seus três estados físicos, quetornou possível a vida no Planeta Terra.

O calor vindo da radiação solar provoca sua evaporação, formando-seas nuvens. A água se separa da atmosfera como precipitação, termo que aidentifica, nos seus estados líquido e sólido. Existem quatro tipos principaisde precipitação: chuva, garoa, neve e granizo.33

A chuva, basicamente, é o resultado da água que evapora dos lagos,rios e oceanos, e forma as nuvens. Quando as nuvens estão carregadas,soltam a água na terra, trazendo gás carbônico, nitrogênio e outras subs-tâncias fundamentais à vida dos seres vivos.34

Ao atingir o solo, parte dela promove a recarga de reservas freáticase sua reidratação, alimentando as nascentes dos rios e os reservatóriossubterrâneos, que são as atividades terrestres e biológicas, e a outra parteescoa para os rios, lagos e oceanos. Se cair nos oceanos, mistura-se àságuas salgadas e volta a evaporar, chove e cai na terra novamente.35

A água acumulada por infiltração, em parte, retorna na forma denascentes e o restante reinicia a evaporação e transpiração. A vegeta-ção tem a importante função de acelerar o processo da evaporação, atravésda transpiração na superfície das folhas, repondo o vapor d’água na atmos-fera.36

Estima-se que nos rios o volume aproximado de água seja de 1700quilômetros cúbicos e o tempo de permanência no seu leito de duas sema-nas. No que diz respeito às geleiras e à neve, elas possuem 30 milhões dequilômetros cúbicos e a água deve ficar congelada por milhares de anos. Aágua atmosférica tem o volume de 113 mil quilômetros cúbicos e permane-ce por 8 a 10 dias no ar.37

32 GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Re-

cursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

33 Disponível em http://www.soaresoliveira.br/projetoagua/agua.html. Acesso em 15 maio

2004.

34 Disponível em http://www.casa-al.com.br/ciclo.htm. Acesso em 09 dez. 2004.

35 Idem.

36 Disponível em http://www.ecolnews.com.br/agua/conteudo.htm. Acesso em 30 nov. 2004.

37 Idem.

Água na Visão do Direito – 19

1.4 DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO BRASIL

Dadas suas características geográficas, “o Brasil é o país com maiordisponibilidade de recursos hídricos de superfície e subterrâneos, geradospor precipitações atmosféricas sobre seu próprio território”.38 Detendo cercade 12% (169.000 m3/s) do total de água doce de superfície no mundo.

Mas, apesar da situação muito favorável, sua distribuição não é uni-forme em todo o território nacional. Assim, por exemplo, a Amazônia detéma maior bacia fluvial do mundo, em contrapartida esta região é uma dasmenos habitadas do país. Por outro lado as maiores concentraçõespopulacionais encontram-se nas capitais distantes dos grandes rios brasilei-ros. E há, ainda, o Nordeste que tem a menor quantidade de água do país, oque faz com que tenham secas freqüentes.39

A disponibilidade de água doce nas regiões brasileiras pode ser esti-mada em porcentagens conforme segue: “A região Norte detém 68,5% dosrecursos hídricos de superfície brasileiros, a Centro-Oeste 15,7%, a Sul 6,5%,a Sudeste 6,0 e a Nordeste 3,3%”.40

Distribuição de água nas regiões brasileiras

68,5

15,7

6,5 6 3,3 Norte

Centro-Oeste

Sul

Sudeste

Nordeste

Em termos gerais, como mostra o mapa abaixo, pode-se dividir a redehidrogáfica brasileira em 8 principais bacias, a saber: Bacia do Rio Amazo-nas, Bacia do Tocantins, Bacia do Tocantins-Araguaia, Bacia do Atlânticotrecho Norte, Bacia do São Francisco, Bacias dos Rios da Região do Atlânti-co, Bacia do Rio Paraná, Bacia do Rio Uruguai e Bacia dos Rios do AtlânticoSul trecho Sudeste.

38 PEREIRA JR., José de Sena. Processo Legislativo e Organização Institucional da Ges-

tão de Recursos Hídricos no Brasil. Câmara dos Deputados: Brasília, 2004. p. 3. Disponí-

vel em http://www2.camara.gov.br/publicacoes/estnottec/tema14. Acesso em 20 nov. 2004.

39 Disponível em http://brasildasaguas.com.br/conteudo/importancia_agua.html. Acesso em

08 mar. 2004

40 PEREIRA JR., José de Sena. Processo Legislativo e Organização Institucional da Ges-

tão de Recursos Hídricos no Brasil. Câmara dos Deputados: Brasília, 2004. p. 3. Disponí-

vel em http://www2.camara.gov.br/publicacoes/estnottec/tema14. Acesso em 20 nov. 2004.

20 – Água na Visão do Direito

Mapa das principais bacias brasileiras41

1.4.1 BACIA DO RIO AMAZONAS

Conforme informação disponibilizada através do site da Agência Naci-onal de Energia Elétrica,

“seu principal curso de água é o Rio Amazonas, que com ex-tensão de 6.570 km, nasce em território peruano, no RiachoLauricocha, originário da Lagoa do Ninõ, nas geleiras da cordi-lheira de Santa Anna, cerca de 5.000m acima do nível do mar.O percurso inicial, da ordem de 45 Km, é realizado em que-das, no sentido norte, formando as Lagoas Santa Anna,Cablocacha, Nieveurco, Tinquincocha, Yanacocha e Patarcocha.Após escoar no Lago Lauricocha, toma a denominação deMarañon, ainda nos Andes, onde recebe pequenas contribui-ções, e, após atravessar o Pongo de Manseriché, segue apro-ximadamente a direção leste até a foz, no Atlântico. Entra noBrasil na confluência com o Rio Javari, somente a partir dessaconfluência, próximo à Tabatinga, onde, então, é chamado deSolimões e, somente apartir da confluência com o Rio Negro,passa a ser denominado de Amazonas. Próximo a Manaus,bifurca-se com o Paraná do Careiro, estimando-se aí uma lar-gura da ordem de 1.500m e profundidade em torno de 35 m.

41 Disponível em http://www.aneel.gov.br. Acesso em 04 nov. 2004.

Água na Visão do Direito – 21

Entre a confluência do Rio Negro e a região das ilhas, próximoà desembocadura, é conhecido por Baixo Amazonas”.42

1.4.2 BACIA DO TOCANTINS-ARAGUAIA

A bacia do Rio Tocantins possui uma área de drenagem de 767.000Km2, que representa 7,5% do território nacional; onde 83% da área dabacia distribue-se nos Estados de Tocantins e Goiás (58%), Mato Grosso(24%); Pará (13%) e Maranhão (4%), além do Distrito Federal (1%). Gran-de parte de sua área está na região Centro Oeste, desde as nascentes dosRios Araguaia e Tocantins até sua confluência, na divisa dos Estados deGoiás, Maranhão e Pará. Desse ponto para jusante a bacia hidrográfica entrana Região Norte e se restringe a apenas um corredor formado pelas áreasmarginais do Rio Tocantins.43

1.4.3 BACIA DO ATLÂNTICO TRECHOS NORTE/NORDESTE

A Bacia do Atlântico - trecho Norte/Nordeste banha extensas áreasdos Estados do Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, partedo Estado da Paraíba, Pernambuco, Pará e Alagoas. A Bacia do Atlântico, -trecho Norte/Nordeste, possui uma área de drenagem de 996.000 km² com-posta por dois trechos: Norte e Nordeste. O trecho Norte corresponde à áreade drenagem dos rios que deságuam ao norte da Bacia Amazônica, incluindoa Bacia do Rio Oiapoque. A drenagem da bacia é representada por rios princi-pais, caudalosos e perenes, que permanecem durante o ano com razoávelvazão, se comparados aos da região semi-árida nordestina. O segundo trecho- Nordeste, corresponde à área de drenagem dos rios que deságuam no Atlân-tico, entre a foz do Rio Tocantins e a do Rio São Francisco.44

1.4.4 BACIA DO SÃO FRANCISCO

O Rio São Francisco é o mais importante da bacia, com uma extensãode 2.700 Km, tem suas nascentes na Serra da Canastra, em Minas Gerais.

42 Disponível em http://www.aneel.gov.br. Acesso em 04 nov. 2004.

43 Disponível em http://www.aneel.gov.br. Acesso em 04 nov. 2004.

44 Idem.

22 – Água na Visão do Direito

Atravessando a longa depressão encravada entre o Planalto Atlântico e asChapadas do Brasil Central, segue a orientação Sul-Norte até aproximada-mente a Cidade de Barra, dirigindo-se então para Nordeste até atingir aCidade de Cabrobó, quando inflete para Sudeste para desembocar no Ocea-no Atlântico. A sua importância se deve não só pelo volume de água trans-portada numa região semi-árida mas, principalmente, pela sua contribuiçãohistórica e econômica na fixação das populações ribeirinhas e na criação dascidades hoje plantadas ao longo do vale, bem como pelo potencial hídricopassível de aproveitamento em futuros planos de irrigação dos excelentessolos situados à sua margem.45

1.4.5 BACIA DOS RIOS DA REGIÃO DO ATLÂNTICO SUL TRECHO LESTE

A área da Bacia do Atlântico abrange parte dos territórios dos seguintesEstados: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e os territórios dos Estadosdo Rio de Janeiro e Espírito Santo. A bacia compreende a área de drenagemdos rios que deságuam no Atlântico, entre a foz do Rio São Francisco, aoNorte, e a divisa entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, ao Sul.46

1.4.6 BACIA DO RIO PARANÁ

A área da bacia do Rio Paraná, abrange os territórios dos Estados deMato Grosso, Paraná, São Paulo e partes dos territórios dos Estados de Mi-nas Gerais e Goiás. Geograficamente limita-se com as seguintes baciashidrográficas brasileiras: a Bacia Amazônica, ao Norte; Bacia do Tocantins-Araguaia e Bacia do Rio São Francisco, a Noroeste; Bacia do Atlântico -Trecho Leste, a Sudeste; com a Bacia do Uruguai, ao Sul. Grande parte desua área está na região Sudeste do Brasil.47

1.4.7 BACIA DO RIO URUGUAI

A bacia do Rio Uruguai abrange uma área de aproximadamente 384.000km2, dos quais 176.000 km2 situam-se em território nacional, compreen-

45 Disponível em http://www.aneel.gov.br. Acesso em 04 nov. 2004.

46 Idem.

47 Disponível em http://www.aneel.gov.br. Acesso em 04 nov. 2004.

Água na Visão do Direito – 23

dendo 46.000 km2 do Estado de Santa Catarina e 130.000 Km2 no Estado doRio Grande do Sul. Possui uma vazão média anual de 3.600 m3/s, volumemédio anual de 114 Km3. Para efeito de estudos, a bacia do Uruguai foidividida em sub-bacias: Canoas, Pelotas, Forquilha, Ligeiro, Peixe, Irani,Passo Fundo, Chapecó, da Várzea, Antas, Guarita, Itajaí, Piratini, Ibicuí, AltoUruguai e Médio Uruguai.

1.4.8 BACIA DOS RIOS DO ATLÂNTICO SUL - TRECHO SUDESTE

Fazem parte desta bacia, os Rios Ribeira do Iguape, Itajaí, Mampituba,Jacuí, Taquari, Jaguarão (e seus respectivos afluentes), Lagoa dos Patos eLagoa Mirim. Para efeito de estudo e do gerenciamento dos recursos hídricos,esta bacia foi dividida em um conjunto de 10 sub-bacias enumeradas de 0 a9. Sendo, que a sub-bacia 89 localiza-se fora do Território Nacional. A refe-rida divisão facilita não só o armazenamento e recuperação das informaçõeshidrometeorológicas, mas também o gerenciamento da operação de coletade tais dados e a própria referência geográfica dos cursos d’água nacio-nais.48

1.5 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS

Classificar significa “distribuir em classes e/ou grupos, segundo siste-ma ou método de classificação”.49 Para Maria Luiza Machado Granziera:

“Em matéria de águas, classificar significa estabelecer níveisde qualidade para as águas – doce, salobras e salinas -, emface dos quais priorizam-se determinados tipos de uso, maisou menos exigentes”.50

Diante disso, é possível classificar as águas, conforme preleciona Cel-so Antonio Pacheco Fiorillo: a) quanto à sua localização com relação ao soloe, b) quanto ao seu uso predominante.

48 Disponível em http://www.aneel.gov.br. Acesso em 04 nov. 2004.

49 HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. 2 ed.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p.416.

50 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 146.

24 – Água na Visão do Direito

1.5.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS QUANTO AO USO PREDOMINANTE.

A classificação dos recursos hídricos quanto ao uso predominante eraregida pela Resolução nº 20/86, que foi revogada pela Resolução nº 357/05do CONAMA.

A nova classificação resultou da Lei nº 9.433/97 e dos novos conheci-mentos na área da qualidade de águas, resultando na instalação de umGrupo de Trabalho para revisão da Resolução nº 20/86.51 O texto base foiaprovado em reunião plenária do CONAMA, trazendo como destaques, asinovações referentes à inclusão de novos parâmetros para a classificação dequalidade dos corpos de água, assim como harmonização das competênciasdo CONAMA e do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH).52 Istoresultou na publicação da Resolução nº 357, de 17 de março de 2005.

Segundo esta resolução (Resolução nº 12/2000, do CNRH53), classifi-car é a “qualificação das águas doces, salobras e salinas com base nos usospreponderantes (sistema de classes de qualidade)”.

O critério que se utiliza para distinguir as águas doces, salobras esalinas é a quantidade de sal dissolvido nelas. Assim:

• água salobra é aquela que possui salinidade inferior à oceâ-nica54, ou seja, de acordo com o art. 2º, II, da Resolução nº357/05 do CONAMA, são aquelas com salinidade igual ou in-ferior a 0,5‰ e 30‰;

• água salina é aquela com salinidade oceânica55, isto é, con-forme o art. 2º, III, da Resolução nº 357/05 do CONAMA, sãoaquelas com salinidade igual ou superior a 30‰;

• água doce é aquela desprovida de salinidade.56 De acordocom o art. 2º, I, é aquela que possui salinidade igual ou infe-rior a 0,5‰.

51 Disponível em http://www.ana.gov.br/. Acesso em 26 nov. 2004.

52 Disponível em http://www.mma.gov.br/port/conama/. Acesso em 27 dez. 2004.

53 HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos recursos hídricos no Bra-

sil. Jus Navigande. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em http://www.jus.com.br/.

Acesso em 21 dez. 2004.

54 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2 ed. São

Paulo: Saraiva, 2001. p. 100.

55 Idem.

56 Idem.

Água na Visão do Direito – 25

Diante disso, as águas doces, conforme o art. 4º da Resolução nº 357/05, sedividem em 4 classes, segundo seus usos preponderantes, a saber:

CLASSE USOS A QUE SE DESTINAM

Classe Especial a) ao abastecimento para consumo humano,com desinfecção;b) à preservação do equilíbrio natural dascomunidades aquáticas;c) à preservação dos ambientes aquáticos emunidades de conservação de proteção integral.

Classe 1 a) ao abastecimento para consumo humano,após tratamento simplificado;b) à proteção das comunidades aquáticas;c) à recreação de contato primário (natação,esqui aquático e mergulho)57 ;d) à irrigação de hortaliças que são consumidascruas e de frutas que se desenvolvam rente aosolo e que sejam ingeridas cruas e semremoção de película;e) à proteção das comunidades aquáticas emTerras Indígenas.

Classe 2 a) ao abastecimento para consumo humano,após tratamento convencional;b) à proteção das comunidades aquáticas;c) à recreação de contato primário (esquiaquático, natação e mergulho)58;d) à irrigação de hortaliças e plantas frutíferase de parques, jardins, campos de esporte elazer, com os quais o público possa a vir ater contato direto;e) à aqüicultura e à atividade de pesca.

57 Conforme Resolução CONAMA n.º 274/2000

58 Conforme Resolução CONAMA n.º 274/2000

26 – Água na Visão do Direito

Classe 3 a) ao abastecimento para consumo humano,após tratamento convencional ou avançado;b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferae forrageiras;c) à pesca amadora;d) à recreação de contato secundário;e) à dessedentação de animais.

Classe 4 a) à navegação;b) à harmonia paisagística.

É preciso lembrar que a Lei nº 9.433/97 trouxe o enquadramento doscorpos de água em classes, segundo seus usos preponderantes como um deseus instrumentos. Por essa razão será tratado no tópico Instrumentos daPolítica Nacional de Recursos Hídricos (item 3.1.4.2).

1.5.2 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS QUANTO À SUA LOCALIZAÇÃO COMRELAÇÃO AO SOLO.

As águas, quanto à sua localização ao solo dividem-se em: águassuperficiais e águas subterrâneas.

As águas superficiais são, conforme Fiorillo (2001),

“As que se mostram na superfície da Terra. Dividindo-se em internas (rios, lagos e mares interiores) e externas (marterritorial, alto mar, águas contíguas)”.59

As águas subterrâneas correspondem à água que infiltra no subsolo,preenchendo os espaços formados entre os grânulos minerais e fissuras dasrochas. Essas águas tendem a migrar continuamente, abastecendo nascen-tes, leitos de rios, lagos e oceanos.60

59 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2001. p. 100.

60 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília – DF, 2004. p. 17.

Água na Visão do Direito – 27

Muitos autores apontam as águas subterrâneas como a solução parao problema da escassez deste recurso tão importante, razão pela qual me-rece um maior aprofundamento. Neste sentido, Milaré (2004) sustenta que:

“As reservas subterrâneas, com 0,6% da água doce total, apa-recem como alternativa para satisfação da demanda em esca-la ampliada.Felizmente as águas subterrâneas são abundantes no Brasil.Bastaria recorrer a apenas 10% do volume atualmenteexplorável para se ter um uso sustentado daquelas reservas”.61

1.6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

O art. 2º, II, da Instrução Normativa MMA nº 4/2000 determina queáguas subterrâneas são aquelas que transitam no subsolo infiltradas atra-vés do solo ou de suas camada subjacentes, armazenadas na zona de satu-ração e suscetíveis de extração e utilização. E na Resolução nº 15/2001, oConselho Nacional de Recursos Hídricos, no art. 1º, III, conceitua queaqüífero é o “corpo hidrológico com capacidade de acumular e transmitirágua através dos seus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissoluçãoe carreamento de materiais rochosos”.

Para ser classificada como aqüífero, uma formação geológica deveconter poros ou espaços abertos repletos de água e permitir que a águamova-se através deles.62 Ou seja, conforme Solange Teles da Silva (2003),“enquanto as águas subterrâneas correspondem ao conteúdo, os aqüíferosconstituem o suporte onde elas correm no subsolo”.63

Como citado, as águas subterrâneas, num primeiro momento, podemsignificar a grande salvação para o problema de escassez e da poluição, umavez que geralmente são de melhor qualidade do que as águas de superfície.Todavia, como diz Vladimir Passos de Freitas, apesar de estarem mais pro-tegidas da poluição, as águas subterrâneas levam muito mais tempo para

61 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário. 2ª

ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 177.

62 Disponível em http://www.geocities.com. Acesso em 28 dez. 2004.

63 SILVA, Solange Teles da. Aspectos Jurídicos da Proteção de Águas Subterrâneas. Re-

vista de Direito Ambiental, São Paulo, a.8, n. 32, p. 159-182, dez. 2003, p. 1.62 apud

VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed.,

2005. p. 66

28 – Água na Visão do Direito

retornarem ao status quo ante, enquanto que os rios em 15 ou 20 dias já serenovaram, e os custos para despoluírem são muito caros e praticamenteineficazes.64

Além disso, há os problemas da grande perfuração de poços artesianossem o conhecimento técnico suficiente, o que, fatalmente, deverá diminuir aquantidade de águas subterrâneas. A esse respeito, preleciona Eduardo CoralViegas,

“Ademais, também nos deparamos com a diminuição no rea-bastecimento dos aqüíferos, seja pela super exploração; pelacrescente ocupação humana próxima das áreas de recarga,por onde o aqüífero se realimenta com água da chuva; pelofenômeno da impermeabilização do solo decorrente das pavi-mentações, que impedem a absorção, pela terra, da água queprecipita como parte do ciclo hidrológico; etc”.65

O fato é que as informações sobre águas subterrâneas no Bra-sil ainda são escassas e, quando existentes, atomizadas e dispersas66 . Deforma a preencher parte da lacuna existente, a CPRM desenvolveu o Siste-ma de Informações de Águas Subterrâneas para o país e alguns estadosespecificamente.67

O Governo do Rio Grande do Sul juntamente com o governofederal através da CPRM – Serviço Geológico do Brasil estão realizando olevantamento das águas subterrâneas do Rio Grande do Sul e pretendemconcluí-lo até agosto de 2005. Esta medida visa possibilitar um melhor

64 FREITAS, Vladimir Passos de. Sistema Jurídico brasileiro de controle da poluição das

águas subterrâneas. In Revista de Direito Ambiental, São Paulo, a.6, n. 23, jul-set.2001, p. 56.

65 VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed.,

2005, p. 67

66 “De forma a reunir, divulgar e atualizar o acervo de dados e informações sobre os recur-

sos hídricos no país foi instituído o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos

Hídricos - SNIRH, em 1988. A Agência Nacional de Águas - ANA, que é o organismo respon-

sável pela implementação do SNIRH, desenvolveu a interface <http://hidroweb.ana.gov.br>,

de forma a tornar o Sistema amplamente acessível aos usuários. Os Sistemas Estaduais de

Informações de Recursos Hídricos deverão estar conectados ao HidroWeb dentro de uma fi-

losofia de descentralização e integração”. Disponível em http://www.ana.gov.br. Acesso em

28 dez. 2004

67 Disponível em http://www.ana.gov.br. Acesso em 28 dez. 2004

Água na Visão do Direito – 29

planejamento dos recursos hídricos e será integrada ao Sistema de Infor-mação de Águas Subterrâneas já que se trata de um banco de dados querealiza o mapeamento no Brasil.68

1.7 O AQÜÍFERO GUARANI

Como já se disse, as águas subterrâneas correspondem a 22,4% dototal de água doce disponível no mundo, sendo o Aqüífero Guarani a prin-cipal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos maioressistemas aqüíferos do mundo.

O Aqüífero Guarani recebeu esta denominação pelo geólogo uru-guaio Danilo Anton, em memória do povo indígena que habitava a região.Inicialmente, foi denominado de Aqüífero Gigante do Mercosul, por ocorrernos quatro países participantes do acordo comercial.69 No Brasil, anterior-mente, este aqüífero era conhecido pelo nome de Botucatu, pelo fato de quea principal camada de rocha que o compõe ser um arenito de origem eólica, reconhecido e descrito pela primeira vez  no Município de Botucatu, Estadode São Paulo.70 

O aqüífero ocupa uma área total de 1,2 milhões de km2 na Bacia doParaná e parte da bacia do Chaco-Paraná. Estendendo-se pelo Brasil, Paraguai,Uruguai e Argentina.71 Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro,correspondendo a 2/3 de sua área total, abrangendo os Estados de Goiás,Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, SantaCatarina e Rio Grande do Sul e a população atual do domínio de ocorrênciado aqüífero é estimada em 15 milhões de habitantes.

68 Estado quer planejamento de Recursos Hídricos. Jornal do Comércio, Porto Alegre,

Terça-feira – 16 de novembro de 2004, Economia, p. 7.

69 Disponível em http://www.ana.gov.br/guarani. Acesso em 08 nov. 2004.

70 Disponível em http://www.meioambiente.pro.br. Acesso em 08 nov. 2004.

71 Disponível em http://www.jornalexpress.com.br. Acesso em 07 jul. 2004.

30 – Água na Visão do Direito

Abrangência do Aqüífero Guarani72

Pesquisadores do Paraná realizam diversos estudos para tentar expli-car como se formou esse grande reservatório de água subterrânea. Confor-me o pesquisador Ernani da Rosa Filho existem diversas hipóteses que estãosendo discutidas. Assim:

“Há mais ou menos 180 milhões de anos, ainda no tempo dosdinossauros, a região era um imenso deserto. Em um períodoentre 200 e 132 milhões de anos, o deserto – com área equi-valente aos territórios da Inglaterra, França e Espanha juntos– sofreu uma grande transformação. O mar de areia virou umdos maiores reservatórios de água doce do mundo: o AqüíferoGuarani”.73

Dessa forma, o aqüífero se constitui pelo preenchimento de espaçosnas rochas (poros e fissuras), convencionalmente denominado Guarani. Porisso é errado imaginar o aqüífero como um imenso lago debaixo da Terra. Ogeólogo Eduardo Hindi explica que lá embaixo, seria encontrado apenaspedras, pois – como já foi dito – a água ocupa o espaço entre os grãos deareia.74 Portanto, o aqüífero nada mais é do que uma rocha porosa comcapacidade de absorver água.

72 Disponível em http://www.cienciaefe.org.br/. Acesso em 08 jun. 2005.

73 O Aqüífero Guarani, apresentado no Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televi-

são, exibido dia 18.02.05.

74 Idem.

Água na Visão do Direito – 31

E estas rochas se constituem de um pacote de camadas arenosasdepositadas, cujas espessuras variam de 50 a 800 metros, estando situadasem profundidades que podem atingir até 1800 metros. Em decorrência dogradiente geotérmico, as águas do aqüífero atingem temperaturas relativa-mente elevadas, em geral entre 50° C e 85º C.75

As águas advindas do Aqüífero Guarani têm uma vantagem sobre aságuas de superfícies em decorrência de suas características próprias,

“a proteção contra os agentes de poluição que comumenteafetam os mananciais de água na superfície, que decorre demecanismos naturais de filtração e autodepuração bio-geoquímica que ocorrem no subsolo, resulta numa água deexcelente qualidade. A qualidade da água e a possibilidade decaptação nos próprios locais, onde ocorrem as demandas, fa-zem com que o aproveitamento das águas do Aqüífero Guaraniassuma características econômicas, sociais e políticas desta-cadas para abastecimento da população”.76

No Rio Grande do Sul, a Cidade de Estrela é integralmente abastecidapor água potável oriunda do Aqüífero Guarani. E a cidade de Ribeirão Preto,no interior de São Paulo, com 545 mil habitantes, é a maior cidade brasileiraabastecida 100% por águas subterrâneas do Aqüífero Guarani. Este fatodecorre de uma sorte geográfica, visto que a cidade está em uma das pon-tas onde o aqüífero chega mais perto da superfície. Em uma planície, inclu-sive, ele aflora e a água forma uma lagoa.

Apesar do Rio Pardo, um dos principais rios do estado de São Paulopassar a um quilômetro da cidade nem é tocado. Pois a captação para a redepública é feita por 97 poços que, juntos, fornecem 13 milhões de litros deágua por hora. O custo da produção é 50 vezes mais baixo que se a águafosse retirada do rio. A composição do cloro é baixíssima, só o que a leiestipula, mas os responsáveis dizem que nem isso seria necessário, comoela sai da terra já poderia ser consumida, podendo ser enquadrada, inclusi-ve, como água mineral.77

75 Disponível em http://www.ana.gov.br/guarani. Acesso em 08 nov. 2004.

76 Idem.

77 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

32 – Água na Visão do Direito

O curioso é que a natureza fez uma muralha para proteger o AqüíferoGuarani, pois 90% do reservatório é coberto por uma camada de basalto,uma rocha praticamente impermeável. Entretanto, o basalto não é tãointransponível assim, pois existem rachaduras naturais por onde a água dasuperfície escorre. Este é o chamado caminho da recarga.

Considerando uma espessura média aqüífera de 250 metros eporosidade efetiva de 15%, estima-se que as reservas permanentes doaqüífero (água acumulada ao longo do tempo) sejam da ordem de 45.000Km³.78 Deduz-se que, por ano, o Aqüífero Guarani receba 160 Km³ de águaadicional vindas da superfície, sendo que desta, 40 Km³ constitui o potencialexplorável sem riscos para o sistema aqüífero.79

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Ambiental eAgropecuária, a EMBRAPA, a água contida no Aqüífero Guarani é de excelen-te qualidade e suficiente para abastecer a atual população brasileira por 2,5mil anos.80 E, diante da escassez que ameaça o mundo, a Organização dasNações Unidas propôs que o Aqüífero Guarani fosse transformado emPatrimônio da Humanidade e que suas águas fossem consideradas reservasestratégicas, intocadas, para que no futuro fossem usadas por toda a popu-lação do planeta, mas isso por enquanto é apenas uma proposta.

1.7.1 POLUIÇÃO DO AQÜÍFERO GUARANI

Como se viu, as rachaduras naturais no basalto são o caminho atravésdo qual a água retorna ao aqüífero, garantindo a sua recarga. Por outrolado, este também é o caminho de uma possível contaminação.

De acordo com o geólogo Luiz Marlan, da Universidade Federal doMato Grosso do Sul, “se tiver uma atividade poluidora em cima, essa polui-ção vai escorrer para o aqüífero”.81

Segundo nos ensina Eduardo Coral Viegas,

78 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

79 Disponível em http://www.uniagua.org.br/default.asp?tp=3&pag-aquifero.htm. Acesso em

16 mar. 2004.

80 Estado quer planejamento de Recursos Hídricos. Jornal do Comércio, Porto Alegre, ter-

ça-feira, 16 de novembro de 2004, Economia, p. 7.

81 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

Água na Visão do Direito – 33

“os focos de contaminação são vários, destacando-se a infil-tração da matéria líquida oriunda de ‘lixões’ irregulares e decemitérios; os vazamentos sanitários, de combustíveis, ferti-lizantes, agrotóxicos, resíduos de mineração, produtos oriun-dos de indústrias; a poluição das águas superficiais, que, porvezes, contamina os lençóis freáticos, atingindo as águas sub-terrâneas; dentre outros”.82

Entretanto, o maior risco de contaminação do Aqüífero Guarani estánas regiões onde a rocha que armazena a água aparece, nas chamadasregiões de afloramento do Aqüífero. Isto é, se fosse cortada a terra, a ima-gem do aqüífero seria como uma bacia, a rocha que armazena a água chegaa mais de um quilômetro de profundidade e por cima está o basalto. Nasbordas não tem proteção, e a pedra chega até a superfície.83

Nesses locais se forma a terra roxa, que nada mais é do que umaparte do aqüífero. Segundo o geólogo Luiz Marlan,

“Em cima desse conjunto toda a rocha é alterada, formandoas camadas de terra roxa que cobrem praticamente toda aregião da bacia, principalmente as regiões Sul, Sudeste e Cen-tro-Oeste. A terra roxa é altamente cultivável em razão dafertilidade do solo que essa rocha produz”.84

No entanto, o maior problema que se encontra junto com a produtivi-dade das grandes lavouras é o uso de agrotóxicos. “O Guarani pode seratingido por fontes poluidoras, principalmente por agrotóxicos, dos quais oatrazine é um dos mais prováveis”, afirma o geólogo da Universidade Esta-dual do Rio de Janeiro, Eurico Zimbres.85

Além disso, é sabido que onde tem criações e lavouras, tem matériaorgânica que produz o nitrato. O biólogo Alcides Faria afirma que “o nitratoestá no metabolismo das bactérias. É fundamental para o desenvolvimento

82 VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed.,

2005. p. 67.

83 Idem.

84 Idem.

85 Disponível em http://www.radiobras.gov.br/ct/2000/materia_221200_7htm. Acesso em 20

dez. 2004.

34 – Água na Visão do Direito

das plantas, mas em altas concentrações pode levar à contaminação”.86 Porexemplo, na suinocultura, o nitrato presente nos dejetos é altamentepoluente.

Por outro lado, deve-se estudar quais são as áreas mais vulneráveis emenos vulneráveis e a partir disso determinar que as áreas menos suscetí-veis são as mais indicadas para a disposição de resíduos sólidos e locação deparques industrias, por exemplo. Isso não só no Aqüífero Guarani, como emtodos os demais aqüíferos em área brasileira.

Assim a vulnerabilidade dos aqüíferos pode ser usada para oplanejamento territorial. Isso é possível na medida em que a ocupação pos-sa ser incentivada ou desincentivada a partir do estabelecimento de maiorese mais caras exigências ambientais em áreas mais vulneráveis à contamina-ção.87 No mesmo sentido tem-se os ensinamentos do biólogo Alcides Faria:

“Nós precisaríamos partir de um zoneamento para dizer quetipo de uso pode ter o Aqüífero em cada região, o mais ade-quado, aquilo que é apropriado, o quanto de água pode-seretirar, o tipo de atividade econômica que se pode desenvol-ver em cada uma das regiões que estão sobre o aqüífero, demaneira que ele não seja contaminado. Porque se você conta-mina o aqüífero como é que você limpa? Não limpa. Se vocêcontamina um curso de água superficial você até pode fazerum trabalho de recuperação, agora o aqüífero não há comolimpar”.88

1.7.2 DIMINUIÇÃO NO REABASTECIMENTO DO AQÜÍFERO GUARANI

A diminuição no reabastecimento do aqüífero pode se dar devárias maneiras: pela super exploração, pela crescente ocupação humanaperto das áreas de recarga; pela impermeabilização do solo, decorrente das

86 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

87 Hirata, Ricardo. Reflexões sobre a contaminação e descontaminação de aqüíferos no

Brasil. XIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas. Cuiabá MT – 19 a 22 out. 2004.

ABAS. P. 03.

88 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

Água na Visão do Direito – 35

pavimentações, que impedem a absorção, pela terra, da água que precipitacomo parte do ciclo hidrológico, dentre outros.89

Relativamente à super exploração do aqüífero, ela está intimamenteligada à grande quantidade de perfurações de poços. Os poços, por sua vez,podem ser artesianos, quando a própria pressão natural da água é capazde levá-la até a superfície; semi-artesianos, quando é necessária a insta-lação de aparelhos para a captação da água, visto que não há pressão natu-ral suficiente e há, ainda, o chamado poço caipira, que obtém água doslençóis freáticos90 , mais rasos.

Nos últimos 25 anos foram perfurados por volta de 12 milhões depoços no mundo. No Brasil, observou-se nas últimas duas décadas um au-mento da utilização da água subterrânea para o abastecimento público.91

Tanto em nível mundial como nacional, o aumento crescente da utilizaçãodas reservas hídricas subterrâneas se deve ao fato de que, geralmente, elasapresentam uma excelente qualidade e um custo menor.

Porém a própria natureza começa a dar sinais de que se deve preser-var esse recurso natural. Como se viu, Ribeirão Preto é uma das poucascidades brasileiras abastecida totalmente por águas subterrâneas do AqüíferoGuarani, entretanto,

“há 50 anos, para se conseguir água em um dos poços maisantigos, no centro da cidade, era preciso cavar 35 metros.Hoje, a água não aparece antes dos 75 metros – mais que odobro de profundidade. Para os especialistas, o recado é cla-ro: o nível do aqüífero está baixando”.92

O Diretor de Água e Energia de Ribeirão Preto, Celso AntonioPerticarrari, diz que o problema é o excesso de poços perfurados: mais de

89 VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed.,

2005. p. 67

90 “(...) lençóis freáticos – rios subterrâneos originados em profundidades pequenas. Devido

ao fato de serem rasos, os poços caipiras estão mais sujeitos a contaminações por água da

chuva e até mesmo por infiltrações de esgoto.” Disponível em http://www.sabesp.com.br.

Acesso em 24 fev. 2005.

91 Disponível em http://www.sabesp.com.br. Acesso em 24 fev. 2005.

92 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

36 – Água na Visão do Direito

400 na cidade inteira, autorizados ou não.93 Isto é, com a perfuração demuitos poços há um rebaixamento do lençol freático, diminuindo o nível deágua no subsolo, sendo necessário, assim, o aprofundamento da perfuraçãopara que se alcance água.94

A principal causa dessa ocorrência é o consumo superior aos limitesde recarga do aqüífero. Osmar Sinelli, geólogo que estuda o Aqüífero Guaranihá 49 anos, alerta “a natureza sozinha demora quase 30 anos para recom-por as camadas do lençol d’água. É preciso evitar a qualquer custo asuperexploração do aqüífero”.95

No Rio Grande do Sul, o Decreto nº 42.047/2002 determina que paraser perfurado o solo a fim de captar e operar águas subterrâneas dependede autorização prévia do Departamento de Recursos Hídricos. E depois deconcluída a obra um responsável técnico deverá apresentar relatório porme-norizado contendo os elementos necessários à exploração da água subter-rânea de forma a possibilitar a expedição da outorga, nos termos do DecretoEstadual nº 37.033/96.

Deve-se atentar ao fato de que perfurar poços artesianos sem a ou-torga da autoridade administrativa também traz conseqüências perigosascomo nos lembra Vladimir Passos de Freitas,

“sabidamente, há um limite para que se adote tal proceder.Quando ele não é observado, podem ocorrer conseqüênciasiguais às da Cidade do México, onde o solo está afundando e ometrô, rodovias, edifícios, sofrem rachaduras decorrentes dainstabilidade”.96

Aliás, isso já vem acontecendo no interior do Paraná, em AlmiranteTamandaré, Região Metropolitana de Curitiba, onde o subsolo “mais pareceum queijo suíço, com grutas de rocha calcária, pouco resistente. Nelas se

93 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

94 VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado

Ed., 2005. p. 67

95 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

96 FREITAS, Vladimir Passos de. Água – Considerações Gerais. Responsabilidade Civil.

Cuiabá. Seção Judice. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud5/ águas.htm.

Acesso em 24 fev. 2005

Água na Visão do Direito – 37

formaram os reservatórios de água. Com o bombeamento dos poços, ocor-rem os afundamentos no solo”.97 Em decorrência disso muitas famílias cons-tatam, em suas próprias casas, as conseqüências, onde começam a surgirrachaduras, as calçadas cedem, surgem enormes buracos no chão, etc.98

1.7.3 PROJETO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL DO SISTEMA AQÜÍFERO GUARANI

Um dos principais problemas existentes é o risco de deterioração doaqüífero em decorrência do aumento dos volumes explotados e do cresci-mento das fontes de poluição pontuais e difusas. Esta situação demonstra anecessidade de gerenciamento relativo às condições de aproveitamento dosrecursos do aqüífero.99

Assim, segundo informação da ANA, agência implementadora do pro-jeto nacionalmente,

“o Projeto Aqüífero Guarani visa contribuir para a superaçãoda situação atual, por meio da formulação de um modelo téc-nico-legal e institucional, para a gestão dos recursos do aqüíferode forma coordenada pelo conjunto dos países e organismosenvolvidos”.100

O projeto tem como principal objetivo apoiar a Argentina, Brasil,Paraguai e Uruguai na elaboração de um modelo para preservação egerenciamento do Sistema Aqüífero Guarani para as gerações futuras eatuais.

101

O marco inicial foi uma reunião organizada pela Secretaria de Recur-sos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, que ocorreu em janeiro de

97 O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão, exibido dia

18.02.05.

98 Idem.

99 Estado quer planejamento de Recursos Hídricos. Jornal do Comércio, Porto Alegre, ter-

ça-feira – 16 de novembro de 2004, Economia, p. 7.

100 Idem.

101 Idem.

38 – Água na Visão do Direito

2000, em Foz do Iguaçu, no qual os Governos da Argentina, Brasil, Paraguaie Uruguai aprovaram o documento conceitual do Projeto.

O resultado final a que o projeto pretende alcançar, como já foi dito,é possibilitar que os quatro países disponham de um modelo de gestão parao Sistema Aqüífero Guarani, por meio de um Programa de Ações Estratégi-cas – PAE, incluindo aspectos técnicos, científicos, institucionais, financeirose legais para a sua proteção e uso sustentável. Assim, “O desenvolvimentoconjunto e a instrumentalização de um marco de gestão para o SAG consti-tui o núcleo do projeto”.102

Para isso estão previstas diversas análises, a fim de propiciar maiorconhecimento técnico-científico, incluindo modelos quantitativos e qualitati-vos para fortalecimento das decisões tomadas a respeito do uso sustentáveldo aqüífero, além de firmação de acordos jurídicos, que definam direitos eresponsabilidades pela utilização e proteção do aqüífero, tudo concatenadosao conhecimento alcançado.

1.8 A CRISE DA ÁGUA

Como foi visto anteriormente (item 1.3, apenas 0,01% de água doce nomundo está disponível em ecossistemas aquáticos continentais. O Brasil, ape-sar de sua relativa abundância de recursos hídricos, possui uma distribuiçãoregional muito desigual (item 1.4), fato que também ocorre em nível mundial.

Estes fatores naturais, aliados ao aumento da população mundial, apoluição provocada pelas atividades humanas, o consumo excessivo e o altograu de desperdício de água prejudicam ainda mais a disponibilidade deágua para o uso humano.103 Diante dessa perspectiva torna-se inevitável adiscussão do que se chama de “crise da água doce”.

1.8.1 POLUIÇÃO

Como foi visto, o estado físico e a qualidade da água são fatoresdeterminantes da possibilidade de aproveitamento para cada uso (item 1.5).Em decorrência disso, em muitos casos, como, por exemplo, para o abaste-

102 Estado quer planejamento de Recursos Hídricos. Jornal do Comércio, Porto Alegre,

terça-feira – 16 de novembro de 2004, Economia, p. 7.

103 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília – DF, 2004. p. 14.

Água na Visão do Direito – 39

cimento humano, a condição qualitativa é restritiva. Isto é, não basta teruma grande quantidade de água disponível em determinado lugar, é neces-sário que se tenha a qualidade compatível com os usos que se quer.104 As-sim, a crise da água doce pode se dar em decorrência da falta de qualidadeda água para determinados usos ocasionados pela crescente poluição.

O impacto causado aos recursos hídricos pela atividade humana temprovocado índices de poluição alarmantes. Situação essa que se torna maisgrave nos países pobres, onde as condições ambientais são precárias.

De acordo com os dados constantes do Relatório Mundial sobre o De-senvolvimento de Recursos Hídricos da Unesco, discutido durante o “Tercei-ro Fórum Mundial sobre a Água”, que ocorreu no ano de 2003 em Kioto,Japão,

“mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo não têmacesso à água potável. Mais de o dobro desse número nãoconta com saneamento adequado. As doenças transmitidaspela água matam pelo menos seis mil crianças diariamentenos países em desenvolvimento. Cerca de dois bilhões detoneladas de lixo são jogados em rios e lagos todos os dias.Um litro de água residual polui em média oito litros de águadoce”.105

Na cidade, a água é contaminada por esgoto, monóxido de carbono,produtos derivados de petróleo e bactérias. O cloro utilizado para proteger aágua pode contaminá-la quando em contato com as substâncias orgânicasda água.

A agricultura contamina a água com fertilizantes, inseticidas, fungicidas,herbicidas e nitratos que são carregados pela chuva ou infiltrados no solo,contaminando os mananciais subterrâneos e os lençóis freáticos. A água dachuva se contamina com a poluição constante do ar, como, por exemplo, oarsênico, chumbo, entre outros. A industria, por sua vez, contamina a águaatravés do despejo nos rios e lagos, de desinfetantes, detergentes, metaispesados, derivados do petróleo entre outros.106

104 GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Re-

cursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

105 Disponível em http://www.faperj.br/interna.phtml?obj_id=602. Acesso em 03 maio 2004.

106 Disponível em http://www.5elementos.org.br/2003/acoes/guia.htm. Acesso em 04 mar.

2004.

40 – Água na Visão do Direito

No Brasil, um dos maiores problemas ambientais é a poluição poresgotos. O censo do INGE revela que cerca de um quarto das residências dopaís não conta com serviço de água potável e quase metade não tem serviçode esgoto. A ausência deste saneamento básico é a causa de 80% das doen-ças e de 65% das internações hospitalares, e, segundo dados do SistemaÚnico de Saúde, a cada R$ 1,00 investido em saneamento, as cidades eco-nomizariam R$ 5,00 em medicina curativa da rede de hospitais e ambulató-rios públicos.107

Além disso, as diferenças regionais relativas a domicílios com coletade esgoto são drásticas: enquanto que na Região Sudeste 71% dos domicí-lios têm coleta de esgoto, na Região Norte apenas 2% dos domicílios têmesse serviço, na Região Centro-Oeste esse número sobe para 33%, na Re-gião Sul 18% dos domicílios têm coleta de esgoto e a Região Nordeste 13%dos domicílios são atendidos por esses serviços, de acordo com o Ministériodo Meio Ambiente.108

1.8.2 ESCASSEZ

A situação de escassez de água no mundo é resultado do usodesordenado desse recurso durante várias gerações. Esse desordenamentopassou desapercebido enquanto a população do planeta era relativamentepequena e distribuída em diversas áreas. Entretanto,

“ocorreram profundas transformações no planeta, ocasionan-do o aumento da população e sua concentração em cidades eo desenvolvimento da indústria, dando início ao modelo dedesenvolvimento urbano-industrial”.109

Em artigo publicado na Revista de Direito da Universidade de PassoFundo, José Álvaro de Vasconcelos Weissheimer, observou em relação aoassunto o seguinte:

107 Disponível em http://www.5elementos.org.br/2003/acoes/guia.htm. Acesso em 04 mar.

2004.

108 Idem.

109 Disponível em http://www.ana.gov.br/semanadaagua/navegador.asp. Acesso em 04 mar.

2004.

Água na Visão do Direito – 41

“Demarca-se a Revolução Industrial como ponto de partida dacrise ambiental. Ocorrida nos fins do Século XVIII, proporcio-nou a criação de sistemas econômicos gerados em bases niti-damente antiecológicas, quando a natureza passou a ser vistaapenas como fonte geradora de recursos”.110

Além disso, na maior parte do planeta o próprio dinamismo do ciclohidrológico acarreta também a ocorrência de faltas ou excessos ao longo dotempo. Em outras palavras, não há segurança que se tenha água na quanti-dade adequada onde e quando ela é necessária.111

Há, portanto, uma tendência de escassez – quantitativa – global, de-vido ao uso desordenado de diversas gerações, agravado pelo aumento dapopulação e conseqüente aumento dos usos, combinado com a ocorrênciade escassez localizadas em algumas regiões.

Em trabalho realizado pela organização não-governamental PopulationAction International, Robert Engelman, prevê que haverá crise de abasteci-mento, e estima que no ano 2000 -, 3% dos habitantes da terra (6 bilhões)já se ressentiam da falta d’água potável, e, ainda, em projeção feita para2025, com uma população de 7,82 bilhões, a escassez da água atingirá opercentual de 7%, com 62% de risco.112

Também um dos grandes responsáveis pela escassez da água, dentrodo contexto atual, é o desperdício. De acordo com a Associação Nacional dosServiços de Saneamento, 49% da água captada para o abastecimento é joga-da fora, entre outros fatores, por perdas do próprio sistema de captação113 ,mas, principalmente, pela má utilização por parte dos consumidores.

No Brasil, existe uma “cultura de desperdício”114 , uma vez que as ta-rifas de água são baratas, pois a conta mínima de um consumo de até 10 mil

110 WEISSHEIMER, José Álvaro de Vasconcelos. A constituição e o regime das águas. In

Revista Justiça do Direito, Passo Fundo, n. 16, p. 146, 2002.

111 GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Re-

cursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

112 EVANGELISTA, Eva. A proteção jurídica das águas. In Revista Centro de Estudos Jurí-

dicos. Brasília, n. 12, p. 41, set/dez. 2000.

113 Disponível em http://www.akatu.net/conheca/visualizarConteudo.asp?InfoID=921. Acesso

em 24 mar. 2004.

114 Disponível em http://www.jornaldomeioambiente.com.br. Acesso em 29 mar. 2004.

42 – Água na Visão do Direito

litros é de R$ 9,60.115 Além disso, como se pode observar (item 1.4), o Brasilé um país relativamente privilegiado no tocante à quantidade de água dis-ponível ao uso.

Este fato, fez com que muitas campanhas fossem lançadas no País,com o intuito de alertar para a necessidade de um uso mais racional dosrecursos hídricos. O Estado de São Paulo, por exemplo, lançou o PURA (Pro-grama Estadual de Uso Racional de Água Potável), que tem como objetivoestabelecer uma cultura de uso racional.116 Assim como o Dia 22 de marçofoi celebrado o Dia Mundial da Água, com uma parada de consciência global,objetivando a luta contra o mau uso deste recurso117, no Estado do Rio Gran-de do Sul, na mesma data e com o mesmo objetivo, o Governo instituiu,através do Decreto nº 42.958, o ano de 2004 como sendo o “Ano Estadualdas Águas”.

Inclusive a atualidade do tema levou a Conferência Nacional dos Bis-pos do Brasil (CNBB) a adotá-lo na Campanha da Fraternidade de 2004, quetrouxe como lema: “Água, Fonte de Vida”. Esta Campanha, independente daideologia religiosa, pôde agregar parceiros e, assim, atingir várias classessociais.118

Com toda essa divulgação há uma última pretensão: que chegue até oconsumidor uma idéia de como se obter um uso racional da água na irrigação,uso racional da água na indústria, uso racional da água nas residências, etc.119

Portanto, conforme ensina Luiz Antonio Timm Grassi, a crise da águadoce pode ser compreendida pelos seguintes fatores:

"a) agravamento da escassez quantitativa da água devido à competi-ção com a demanda de outros usos, como a irrigação;

b) aumento da escassez da água de boa qualidade, devido à degra-dação dos mananciais, pela poluição resultante de todas asatividades;

c) deterioração dos próprios corpos de água pelas intervenções in-tencionais ou não (barragens, retificações, desmatamento, mine-ração nos leitos, erosão, perfuração descontrolada de poços);

115 Disponível em http://www.akatu.net/conheca/visualizarConteudo.asp?InfoID=921. Acesso

em 24 mar. 2004.

116 Disponível em http://www.recursoshidricos.sp.gov.br. Acesso em 05 mar. 2004.

117 Disponível em http://www.jornaldomeioambiente.com.br. Acesso em 29 mar. 2004.

118 Idem.

119 Disponível em http://www.recursoshidricos.sp.gov.br. Acesso em 05 mar. 2004.

Água na Visão do Direito – 43

d) desequilibro natural na distribuição das águas, seja especial (regi-ões áridas, regiões úmidas), seja no tempo (períodos de seca, épo-cas de enchentes), que agrava, sob diferentes aspectos, a escas-sez localizada;

e) magnitude da demanda e os infindáveis recursos financeiros, daídecorrentes, são cada vez maiores, devido à piora da qualidadedos mananciais ou da distância, além daqueles recursos que sãoapropriados, como os investimentos que são indispensáveis para ainstalação de equipamentos e para sua operação;

f) desperdício em níveis preocupantes, seja por falhas operacionaisdos sistemas de abastecimento, seja pelo uso descontrolado porparte dos usuários".

120

120 GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Re-

cursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

CAPÍTULO 2 - A ÁGUA COMO BEM PÚBLICO

2.1 A ÁGUA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.1.1 HISTÓRICO

A Constituição do Império de 1824 não fez referência expressa quan-to às águas de superfície. Entretanto, seu art. 179, XXII, assegurava o direi-to de propriedade em toda a sua plenitude, assim, na propriedade de soloestava implícita a de subsolo. Portanto, se nas terras privadas existissemmananciais de águas subterrâneas esses pertenciam ao proprietário da ter-ra. Esta Carta trazia, ainda, a figura da desapropriação pelo poder público, oque incluía os mananciais hídricos existentes em propriedades privadas.

121

A Carta Política seguinte, de 1891, não disciplinou o domínio hídrico,mas definiu as competências para legislar sobre a navegação, sendo doCongresso Nacional, quanto à navegação dos rios que banhassem mais deum Estado, ou se estendessem a territórios estrangeiros (art. 34, 6º) e dosEstados ou da União, quanto à navegação interior (art. 13, “caput”).

122

A primeira Constituição a conter algum dispositivo ambientalista foi ade 1934. Estabelecia em seu art. 5º, XIX, “j”, a competência privativa daUnião para legislar, dentre outros assuntos, sobre água.

123 E, no art. 20, II,

considerava como sendo de domínio da União:

121 POMPEU, C.T. Direito das Águas no Brasil. São Paulo. 2001. p. 121 Apud HENKES,

Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos recursos hídricos no Brasil. Jus

Navegandi, Teresina, a. 7, n. 66, jun. 2003. Disponível em http://www.jus.com.br/doutrina/

texto.asp?id=4146. Acesso em 21 dez. 2004

122 HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos recursos hídricos no Bra-

sil. Jus Navegandi. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em http://www.jus.com.br/.

Acesso em 21 dez. 2004.

123 ALMEIDA, Caroline Corrêa de. Evolução histórica da proteção jurídica das águas no

Brasil . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: http://

www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3421. Acesso em 20 dez. 2004

46 – Água na Visão do Direito

“[...]II - os lagos e quaisquer correntes em terrenos do seu domí-nio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites comoutros países ou se estendam a território estrangeiroIII – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas fronteiriças”.

Essa Constituição determinava que aos Estados pertenceriam “as mar-gens dos rios e lagos navegáveis, destinadas ao uso público, se por algumtítulo não forem do domínio federal, municipal ou particular” (art. 21, II).

Entretanto, ficava claro, ao se observar o art. 119, da citada Consti-tuição, que a maior preocupação relativa à água estava no fato de ser elafonte de energia elétrica

124, estabelecendo que o aproveitamento industrial

das águas e da energia hidráulica, ainda que de propriedade privada, de-pendiam de autorização ou concessão federal. Ainda, estabeleceu no art.118 que “as minas e demais riquezas do subsolo, bem como as quedasd’água, constituiam propriedade distinta da do solo para o efeito de explora-ção ou aproveitamento industrial”.

O constituinte de 1937 manteve o mesmo tratamento dado pela Cons-tituição anterior. Já o de 1946, incluiu entre os bens de domínio dos Estados,os lagos e rios, em terrenos do seu domínio, e os que tivessem nascente efoz no território estadual. Ainda, conforme ensina Silvania Lúcia Henkes,

“manteve-se nesta Carta, o título voltado para o disciplina-mento da ordem econômica e social, no qual o constituintetratava das águas nos arts. 152 e 153. No art. 152, manteve-se as quedas d’água sob o regime de propriedade distinta dado solo para efeito de aproveitamento industrial ou de explo-ração. Enquanto que, o art. 153, determinava que o aprovei-tamento dos recursos minerais e de energia hidráulica depen-diam de autorização e concessão. O aproveitamento de ener-gia hidráulica de potência reduzida, não dependia de autoriza-ção ou concessão”.125

124 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002.

p. 575.

125 HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos recursos hídricos no Bra-

sil. Jus Navegandi. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em http://www.jus.com.br/.

Acesso em 21 dez. 2004.

Água na Visão do Direito – 47

As Constituições Federais de 1967 e 1969126

, não trouxeram modifi-cações relevantes no tratamento das águas em relação às Cartas anterio-res.

127

2.1.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, foi delimi-tado o sistema jurídico ambiental. Isto é, por disposição do art. 225 daConstituição Federal todos os cidadãos têm direito a um meio ambienteecologicamente equilibrado e, com isso, conforme Weissheimer, “a Consti-tuição disciplina o meio ambiente como um todo a que se atribui a naturezajurídica de bem público”.

128

Em decorrência disso, as águas também receberam uma nova regula-mentação legal, a fim de serem preservadas e conservadas para as gera-ções futuras. A Constituição é inovadora ao caracterizar a água como recur-so econômico, e os rios foram compreendidos com base no conceito de baciahidrográfica e não como um elemento isolado.

2.1.2.1 DOMINIALIDADE DAS ÁGUAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERALDE 1988.

Como se pode notar, principalmente nos arts. 20, III e 26, I da CF, aConstituição passou a considerar as águas como bens do Estado, inexistindo,com o novo ordenamento jurídico, águas particulares ou até mesmo águasmunicipais.

129 Dessa forma, a Constituição Federal de 1988 considera de

domínio público todas as águas, preceituando que:

126 “Teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova constituição. A emenda

só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto

integralmente reformulado”. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Posi-

tivo. 10ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 1995, p. 88.

127 ALMEIDA, Caroline Corrêa de. Evolução histórica da proteção jurídica das águas no

Brasil . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: http://

www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3421. Acesso em 20 dez. 2004

128 WEISSHEIMER, José Álvaro de Vasconcelos. A constituição e o regime das águas. In

Revista Justiça do Direito, Passo Fundo, n. 16, p. 167, 2002

129 Paulo Affonso Leme Machado defende que, não obstante a redação do texto constitucional,

é possível a existência de águas municipais, na hipótese de uma corrente de água nascer em

48 – Água na Visão do Direito

“a) ‘são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes de águaem terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado,sirvam de limites com outros países, ou se estendam a territórioestrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginaise as praias fluviais’ (art. 20, ‘caput’ combinado com o inciso III);

b) ‘incluem-se entre os bens dos Estados as águas superficiais ousubterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União’ (art.26, ‘caput’ combinado com o inciso I);

c) ‘são bens da União os potenciais de energia hidráulica’ (art. 20,‘caput’ combinado com o inciso VIII; e ‘...os potenciais de energiahidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeitode exploração e aproveitamento, e pertencem à União...’ (art. 176,‘caput’)”.

130

Como se pode notar, a Carta Política de 1988 ampliou o domínio esta-dual concedendo-lhe o domínio das águas subterrâneas que anteriormentenão tinham titular definido. Assim, as águas subterrâneas serão sempreestaduais, ou até mesmo com gestão compartilhada por outro ou outrosEstados-membros. Pode servir de exemplo, o Aqüífero Guarani que, como jáfoi visto (item 1.7), abrange oito estados brasileiros. Todavia, como lembraEduardo Coral Viegas, há divergência doutrinária acerca do tema e, há aquelesque defendem a dominialidade da União nos casos em que banhem mais deum Estado:

“Jorge Calasans e outros, de um lado, sustentam:’Ora, mes-mo que existam interpretações divergentes quanto àdominialidade sobre as águas subterrâneas, a Constituição nãodeixa dúvidas quanto à dominialidade de águas que banham oterritório de mais de um estado. Estas são, sempre, de domí-

um município e ter a sua foz, junto ao mar, no território do próprio município. (MACHADO,

Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p.

329.)

130 PEREIRA JR., José de Sena. Processo Legislativo e Organização Institucional da

Gestão de Recursos Hídricos no Brasil. Câmara dos Deputados: Brasília, 2004. p. 3. Dis-

ponível em http://www2.camara.gov.br/publicacoes/estnottec/tema14. Acesso em 20 nov.

2004.

Água na Visão do Direito – 49

nio da União’ (CALASANS, Jorge Thierry et al. A Política Naci-onal de Recursos Hídricos: uma avaliação crítica. In: CON-GRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL, 7., 2003,São Paulo. Direito, Água e Vida. São Paulo: Imprensa Oficial,2003, v.1, p. 595)”.131

Contudo, Maria Luiza Machado Granziera preconiza que, “não há baseconstitucional para o entendimento de que as águas subterrâneas,subjacentes a mais de um Estado, sejam de domínio da União”.

132

Com isso, a autora deixa claro a nova situação pós Constituição Fede-ral de 1988, isto é de que não existem mais águas privadas e de que não háqualquer indício de que o poder público deve indenizar aqueles particularesque tinham águas incorporadas ao seu patrimônio.

Fernando de Quadros da Silva situa que:

“Em suma, não mais subsiste o direito de propriedade relati-vamente aos recursos hídricos. Os antigos proprietários depoços, lagos ou qualquer outro corpo de água devem se ade-quar ao novo regramento constitucional e legislativo passan-do à condição de meros detentores de direitos de uso dosrecursos hídricos, assim mesmo, desde que obtenham a ne-cessária outorga prevista na lei citada”.133

Porém, esta idéia não é pacífica. Há os que defendem que o direitoadquirido, expresso no art. 5º, XXXVI, da CF, socorre esses proprietários nosentido de obterem indenizações dos Estados quando estes pretenderem odomínio das águas que, de acordo com o art. 8º, do Código das Águas,seriam de sua propriedade.

134 Neste sentido, está posicionado Paulo Affonso

Leme Machado que defende que:

131 VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado

Ed., 2005. p. 79.

132 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 82

133 SILVA, Fernando Quadros da. A Gestão dos Recursos Hídricos após a Lei nº 9.433, de

08 de janeiro de 1997. In FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Ambiental em Evolução.

Curitiba: Juruá, 1998. p. 83

134 Art. 8º do Decreto n.º 24.643, Código de Águas: “São particulares as nascentes e todas

as águas situadas em terrenos que também o sejam, quando as mesmas não tiverem classi-

ficadas entre as águas comuns de todos, as águas públicas ou as águas comuns”.

50 – Água na Visão do Direito

“Não se pode simplesmente tentar introduzir o regime jurídicodas nascentes privadas, o sistema de outorga e da cobrançado uso desse recurso específico pelo viés da ‘função social’ dapropriedade (art. 5º, XXIII, da CF/88). Houve um inegávelesvaziamento do direito de propriedade (art. 5º, XXII da CF/88), que acarreta a obrigação de indenizar”.135

Por outro lado, lembra José Ribeiro que:

“o entendimento predominante, conforme se colhe em Ferreira(1989, pp. 148 e 149), citando doutrina e jurisprudência, é ode que somente a lei ordinária não pode retroagir em prejuízodo direito adquirido, da coisa julgada ou do ato jurídico perfei-to, mas a Constituição e a Emenda Constitucional podem etêm eficácia revocatória completa desses atos”.136

2.1.2.2 COMPETÊNCIAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O Brasil é um Estado Federado, assim a unidade da Federação semantém em virtude da existência de um ordenamento jurídico federal válidoem todo território nacional; da repartição de competências; de um podercapaz de solucionar conflitos e da possibilidade da União intervir nos esta-dos quando houver ameaça à Federação.137

Nesses termos, a distribuição das competências constitui, como foidito, um dos alicerces do sistema federativo e divide-se em competênciaslegislativas e administrativas ou materiais. E quanto à forma que nossa Cons-tituição divide essas competências, conforme Márcia Dieguez Leuzinger,

“O sistema de divisão de competências adotado pela CF/88,que engloba três níveis diferentes de estatalidade (União, Es-tados e Municípios), consubstancia-se na enumeração taxativa

135 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 423.

136 RIBEIRO, José. Propriedade das águas e o Registro de Imóveis. In FREITAS, Vladimir

Passos de. Águas: Aspectos Jurídicos e Ambientais. Curitiba: Juruá, 2000, p. 41.

137 LEUZINGER, Márcia Dieguez. Competências Constitucionais e Domínio Hídrico. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.2.

Água na Visão do Direito – 51

das competências da União, competências residual ou rema-nescente dos Estados-Membros e competência para disporsobre tudo o que for de interesse local aos Municípios”.138

2.1.2.2.1 COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

Conforme Maria Luiza Machado Granziera,

“A competência legislativa pode ser privativa da União (art.22), concorrente entre União, Estados e Distrito Federal (art.24), dos Estados (art. 25, §1º), dos Municípios (art. 30, I eII) e do Distrito Federal (art. 32, § 1º)”.139

Em se tratando das questões afetas ao meio ambiente a competêncialegislativa vem delimitada basicamente no art. 24 da Constituição Federal,sendo, portanto, concorrente, “cabendo à União a edição de normas gerais,principiológicas, e aos Estados-Membros a de normas específicas,suplementando a legislação federal”.140

Em relação aos recursos hídricos, entretanto, a competência para le-gislar sobre águas é privativa da União. Assim, vem delimitado no art. 22,IV, da CF/88,

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:(...)IV - águas, energia, informática, telecomunicações eradiodifusão”. (grifos nossos)

Entretanto, como bem lembra Maria Luiza Machado Granziera, essacompetência privativa fixada no art. 22 não implica ser indelegável, pois deacordo com o que dispõe o parágrafo único do citado artigo, lei complemen-tar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas.

138 LEUZINGER, Márcia Dieguez. Competências Constitucionais e Domínio Hídrico. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.5.

139 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 67.

140 LEUZINGER, Márcia Dieguez. Competências Constitucionais e Domínio Hídrico. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.5.

52 – Água na Visão do Direito

Não obstante, surge uma contradição aparente: ao mesmo tempo emque o constituinte especifica a competência privativa da União, para legislarsobre a matéria de águas (conforme o art. 22, IV, da CF/88), no seu art. 24,IV, atribui competência concorrente à União e os Estados e Distrito-Federalquando se refere a legislar sobre o meio ambiente e sendo a água um recur-so natural, inclui-se – também - neste inciso.

Conforme Márcia Dieguez Leuzinger, esta contradição está no fato deque a competência privativa da União vai de encontro à competência dosEstados de estabelecer regras administrativas sobre os bens de seu domí-nio.141 Sobre essa questão José Afonso da Silva delimita:

“não é muito coerente atribuir aos Estados o domínio de águassuperficiais e subterrâneas, (...), sem lhes reconhecer a com-petência para legislar, ainda que fosse suplementarmente,sobre águas”.142

A maneira encontrada para solucionar esse impasse, conforme MariaLuiza Machado Granziera:

“foi o entendimento de que a competência para legislar sobreáguas, em sentido genérico é que pertence à União, não deveser confundida com a capacidade de cada ente político brasi-leiro – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – paraestabelecer regras administrativas sobre os bens que se en-contram sob seu respectivo domínio, entendido esse termocomo guarda e administração”.143

Assim o que está vedado é criar o direito sobre águas, este sim, decompetência privativa da União.

No entendimento de Celso Antônio Pacheco Fiorillo, a melhor inter-pretação é aquela extraída com base no art. 24, de modo que a competência

141 LEUZINGER, Márcia Dieguez. Competências Constitucionais e Domínio Hídrico. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.5.

142 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 6 ed. São Paulo, Re-

vista dos Tribunais, 1990, pp. 86-87 apud GRAF, Ana Cláudia Bento. Água, bem mais pre-

cioso do milênio: o papel dos Estados. In Revista Centro de Estudos Jurídicos. Brasília,

n. 12, p. 34, set/dez. 2000.

143 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 68.

Água na Visão do Direito – 53

para legislar sobre normas gerais é atribuída à União – entre outros, podendoservir de exemplo, como já foi visto (item 1.5), a classificação e denominaçãodos corpos de água e a prioridade no uso dos recursos hídricos -, cabendo aosEstados e ao Distrito Federal legislar complementarmente e ao município su-plementarmente, com base no art. 30, II, da Constituição Federal.144

Quanto aos municípios, porém, Maria Luiza Machado Granziera afirmaque não sendo eles detentores de domínio hídrico, não há que se falar emfixação de regras sobre a gestão de águas. Mas, a Constituição dispõe que aeles cabe legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I) assim comosuplementar a legislação federal e a estadual no que couber145 (inciso II).Portanto, a sua competência está restrita ao interesse local, relativo aosrecursos naturais e à proteção do meio ambiente.146

2.1.2.2.2 COMPETÊNCIAS MATERIAIS OU EXECUTIVAS

Competência material, pela definição de Fernanda Dias Menezes deAlmeida, é o poder para desempenho de diversas tarefas e serviços, decunho político, administrativo, econômico e social.147 Divide-se em exclusivae comum148 .

No art. 23, VI, a Constituição Federal elenca as matérias cuja compe-tência material (ou executiva) é comum a todos os entes federados, o

144 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2001. p. 101.

145 “A expressão ‘no que couber’ deve ser entendida como o conjunto de matérias relativas

ao predominante interesse local, desde que não se trate de tema de competência de outro

ente político nem fira o ordenamento jurídico posto”. GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Di-

reito de águas: disciplina jurídica das águas doces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 73.

146 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p.72.

147 ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de. Competência na Constituição de 1998. São

Paulo: Atlas, 1991, p. 90.

148 “(...) conferindo à União competência exclusiva para atuar em relação às matérias enu-

meradas no art. 21; aos municípios competência exclusiva quanto aos temas previstos nos

incs. III a IX, do art. 30, bem como competência para atuar quando houver interesse local

predominante; e, aos Estados-membros, competência exclusiva para agir sobre tudo o que

não for de competência exclusiva da União ou dos municípios; em outras palavras, compe-

tência remanescente”. LEUZINGER, Márcia Dieguez. Competências Constitucionais e Do-

mínio Hídrico. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p. 6.

54 – Água na Visão do Direito

que, como se sabe, não envolve poder de legislar, mas somente de execu-ção. Conforme, Ana Cláudia Bento Graf,

“Nesse dispositivo estão insertas as competências para prote-ger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer desuas formas (inc. VI), promover programas de construção demoradias e melhoramento das condições habitacionais e desaneamento básico (inc. IX) e registrar, acompanhar e fiscali-zar as concessões de direitos de pesquisa e exploração derecursos hídricos e minerais em seu território”. 149

Entretanto, embora a competência para proteger o meio ambiente,de modo geral, seja comum a todas as entidades estatais (art. 23, VI, daCF/88), a competência para instituir um sistema nacional de gerenciamentode recursos hídricos e definir critérios de outorga de direito de uso é exclu-siva da União, conforme o art. 21, XIX, da CF/88, e foi a consubstanciaçãodesse dispositivo que gerou a Lei n.º 9.433/97

2.2 A ÁGUA NAS CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS

Como foi visto no item anterior, as águas são de domínio dos Estadose da União, não existindo, após a Constituição Federal de 88, águas particu-lares ou pertencentes aos Municípios. Também foi discutida a competênciamaterial ou executiva, que pode ser comum a todos os entes federados notocante a alguns temas referentes às águas, e à competência legislativaque, mesmo gerando discussões acerca do tema, é privativa da União.

No entanto, apesar da Constituição Federal atribuir privativamente àUnião a competência para legislar sobre águas, várias constituições estadu-ais apresentam dispositivos sobre recursos hídricos. Segundo José Afonsoda Silva,

“[...] As Constituições dos Estados, contudo, não se omitiramna consideração da matéria. Ao contrário, fundados na com-petência comum dos Estados para proteger o meio ambientee combater a poluição em qualquer das suas formas (art. 23,VI), assim como na sua competência para legislar

149 GRAF, Ana Cláudia Bento. Água, bem mais precioso do milênio: o papel dos Estados.

In Revista Centro de Estudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 33, set/dez. 2000.

Água na Visão do Direito – 55

concorrentemente sobre a proteção do meio ambiente e con-trole da poluição (art. 24, VI) e ainda sobre a responsabilida-de sobre dano ao meio ambiente (art. 24, VIII), os constituin-tes estaduais inseriram nas respectivas constituições capítu-los desenvolvidos sobre a matéria, reservando espaço para aproteção dos recursos hídricos”.150

Assim, as Constituições dos Estados do Amapá, Amazonas, Sergipe,Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás,Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e a do Distrito Federal prevêem a criaçãode sistemas estaduais de gerenciamento de recursos hídricos. Já as dePernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e MatoGrosso do Sul determinam a elaboração de planos estaduais de recursoshídricos. As de Alagoas, Bahia, Sergipe, São Paulo, Rio Grande do Sul e MatoGrosso do Sul contêm dispositivos sobre a cobrança do uso do recurso e doRio Grande do Sul sobre critérios de outorga. E as Constituições do Acre,Rondônia, Roraima, Maranhão e Santa Catarina são as que menos se esten-dem sobre a matéria.151

2.2.1 A ÁGUA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL

Assim como a Constituição Federal, a Carta gaúcha também é rica emdispositivos atinentes às questões ambientais. Para a questão das águas,entretanto, o art. 171 da Constituição Estadual é o principal, dispondo assim:

“Art. 171 - Fica instituído o sistema estadual de recursoshídricos, integrado ao sistema nacional de gerenciamento des-ses recursos, adotando as bacias hidrográficas como unidadesbásicas de planejamento e gestão, observados os aspectos deuso e ocupação do solo, com vista a promover:I - a melhoria de qualidade dos recursos hídricos do Estado;II - o regular abastecimento de água às populações urbanas erurais, às indústrias e aos estabelecimentos agrícolas.

150 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Malheiros

Editores Ltda., 2004, p.128.

151 PEREIRA JR., José de Sena. Processo Legislativo e Organização Institucional da Ges-

tão de Recursos Hídricos no Brasil. Câmara dos Deputados: Brasília, 2004. p. 3. Disponível

em http://www2.camara.gov.br/publicacoes/estnottec/tema14. Acesso em 20 nov. 2004.

56 – Água na Visão do Direito

§ 1º - O sistema de que trata este artigo compreende critériosde outorga de uso, o respectivo acompanhamento, fiscaliza-ção e tarifação, de modo a proteger e controlar as águas su-perficiais e subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósi-to, assim como racionalizar e compatibilizar os usos, inclusivequanto à construção de reservatórios, barragens e usinashidrelétricas.§ 2º - No aproveitamento das águas superficiais e subterrâne-as será considerado de absoluta prioridade o abastecimentodas populações.§ 3º - Os recursos arrecadados para utilização da água deve-rão ser destinados a obras e à gestão dos recursos hídricos naprópria bacia, garantindo sua conservação e a dos recursosambientais, com prioridade para as ações preventivas”.

Com a leitura desse dispositivo exurge quatro grandes princípios nagestão das águas estaduais que a Constituição quis assegurar. ConformeEugênio Miguel Cánepa, Isidoro Zorzi, Luiz Antonio Timm Grassi e Percy B.Soares Neto, são eles:

“1º) Gestão das águas através de um Sistema Estadual

de Recursos Hídricos – e não através de um órgão específi-co e centralizado – reconhecendo-se assim, a complexidadetécnica, política e institucional da questão;

2º) Adoção da bacia hidrográfica como unidade básica

de planejamento e intervenção; aqui vai-se ao encontrode princípio bem estabelecido na doutrina internacional dagestão de recursos hídricos;

3º) Estabelecimento da outorga e tarifação dos recur-

sos hídricos – cobrança pela retirada e pelo despejo deefluentes – estabelecendo-se em nível constitucional, pás aságuas de domínio estadual o Princípio Usuário Pagador (PUP),um moderno instrumento econômico utilizado amplamente empaíses do mundo desenvolvimento – especialmente nos paí-ses da União Européia;

4º) Reversão, para a respectiva bacia de arrecadação, dareceita acima, devendo os recursos financeiros ser aplicados

Água na Visão do Direito – 57

na própria gestão das águas da bacia; este dispositivo torna aaplicação do PUP uma operação “casada”: o produto de suaarrecadação fica na bacia para a sua gestão isto é, financiandoo planejamento e a execução das intervenções, sejam estru-turais ou não”.152

Sobre os dois últimos princípios cabe tecer alguns comentários maisespecíficos por seu caráter revolucionário no Brasil, isto é, o Princípio deUsurário Pagador (PUP) e o Princípio da Reversão, bem como da suaaplicação conjunta, uma vez que o produto de arrecadação fica na própriabacia arrecadadora para a sua gestão.

O Princípio do Usuário Pagador (PUP) surge com a necessidadedos Estados de racionarem e, principalmente, racionalizarem o uso das águasem decorrência da atual situação dos recursos hídricos, tema abordado noCapítulo 1 deste livro. Consiste em agregar dois preços ao uso da água: oprimeiro correspondente à retirada, no sentido de frear o consumo e o se-gundo correspondente ao despejo de esgotos e que acompanhará a tarifa deesgoto, no sentido de refrear seu lançamento – aqui consubstanciado o Prin-cípio do Poluidor Pagador.153

No Rio Grande do Sul esse valor cobrado pelo uso das águas é classi-ficado constitucionalmente como tarifa, de acordo com o art. 171, § 1º.Entretanto a nível federal e de outros estados há uma grande discussãoacerca do fato de o pagamento pelo uso da água ser tributo ou preço.

De acordo com Eugenio Miguel Cánepa e Luiz Antonio Timm Grassi:

“(...) o PUP dá origem a um preço. De fato, não estamos dian-te de um tributo (imposto, taxa ou contribuição de melhoria),destinado a financiar serviços públicos. Estamos, isto sim, di-ante de um preço – um preço público mais precisamente –destinado a remunerar o Estado pelo uso de um patrimônio depropriedade estatal que se tornou escasso relativamente às

152 CANEPA, Eugênio Miguel;ZORZI, Isidoro; GRASSI, Luiz Antonio Timm e NETO, Percy B.

Soares. Os comitês de bacia no Rio Grande do Sul: Formação, dinâmica de funciona-

mento e perspectivas. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Recursos Hídricos. Disponí-

vel em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17 fev. 2005.

153 CÁNEPA, Eugênio Miguel e GRASSI, Luiz Antonio Timm. A lei das águas do RS: No ca-

minho do desenvolvimento sustentável. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Recur-

sos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

58 – Água na Visão do Direito

necessidades (...) e que não cabe mais o ‘livre acesso’, sobpena de degradação do recurso”.154

Quanto ao último princípio exposto na nossa Constituição Estadual,tratou-se de um grande avanço, uma vez que dispôs sobre a necessidadedos recursos arrecadados pela utilização da água devessem ser reaplicadosna própria bacia, conforme o art. 171, § 3º. Este fato faz com que o Princípiodo Usuário Pagador seja mais eficaz, porquanto o produto da arrecadaçãoserá utilizado para planejamento e intervenções, estruturais ou não, na ba-cia da qual provieram.

2.3 A ÁGUA NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL

2.3.1 HISTÓRICO

A proteção e a preocupação com os recursos hídricos no Brasil vêm delonga data – desde as Ordenações do Reino -, entretanto essa normatizaçãoevoluiu de acordo com as características próprias de cada época, buscandoconcatenação com as necessidades e, principalmente, com os interessesrespectivos.

Assim, o Código Civil de 1916 (Lei n.º 3.071, de 01/01/1916) dedicouuma das suas seções à água. Nos arts. 563 a 568 dispôs basicamente sobreo direito de utilização das águas, mas não se referiu diretamente ao seudomínio. Limitava-se a uma regulamentação sob o fundamento básico dodireito de vizinhança e da utilização da água como bem essencialmente pri-vado e de valor econômico limitado,155 possibilitando ao usuário utilizar aságuas da forma que melhor o aprouvesse, desde que fossem respeitados osdireitos de vizinhança. 156

154 CÁNEPA, Eugênio Miguel e GRASSI, Luiz Antonio Timm. A lei das águas do RS: No ca-

minho do desenvolvimento sustentável. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Recur-

sos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

155 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002.

p. 582.

156 ALMEIDA, Caroline Corrêa de. Evolução histórica da proteção jurídica das águas no

Brasil . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: http://

www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3421. Acesso em 20 dez. 2004

Água na Visão do Direito – 59

Em seu art. 568, disciplinou ”as águas”; no art. 564 cuidou dos confli-tos entre vizinhos; já em seu art. 565 regulou a forma de consumo, dispon-do que o proprietário da fonte não captada, satisfeitas as necessidades, nãopoderia impedir o curso natural das águas; no art. 566, procurou disciplinaro problema das águas pluviais, estabelecendo que as águas pluviais quecorressem por locais públicos, assim como os rios, poderiam ser utilizadaspor qualquer dos proprietários por onde passassem; no art. 567, previuindenização sobre determinados direitos de proprietários prejudicados e,finalmente, em seu art. 658 estabeleceu normas procedimentais, afirmandoque seriam pleiteadas em ações sumárias à servidão de águas e àsindenizações correspondentes.157

Em 1934, o Governo Provisório - decorrente da Revolução de 30 –promulgou o Decreto nº 24.643, chamado de Código das Águas. As dispo-sições do Código Civil foram recepcionadas quase na sua totalidade por estediploma, completando-as, embora muitas vezes os temas fossem repetidos.

O Código das Águas foi editado com a preocupação de se regula-mentar a apropriação das águas para fins de geração de energia elétrica.Isso se deu porque o Brasil deixava de ser um país essencialmente agrícola.A indústria expandia-se e as águas foram tratadas como um dos elementosbásicos do desenvolvimento por ser matéria-prima para a geração deeletricidade, subproduto essencial da industrialização.158

Didaticamente, Edis Milaré dividiu o Código em duas partes:

“Divide-se o Código em duas partes. A primeira trata das águasem geral e de seu domínio, estabelecendo as normas funda-mentais do que podemos chamar de Direito das Águas. A se-gunda trata do aproveitamento dos potenciais hidráulicos eestabelece uma disciplina para geração, transmissão e distri-buição de energia elétrica. Esta parte é mais extensa do que aprimeira, dado que foi o motivo determinante da decretaçãodo Código”.159

157 WEISSHEIMER, José Álvaro de Vasconcelos. A Constituição e o Regime das águas. In

Revista Justiça do Direito, Passo Fundo, n. 16, p. 171, 2002.

158 ALMEIDA, Caroline Corrêa de. Evolução histórica da proteção jurídica das águas no

Brasil . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: http://

www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3421. Acesso em 20 dez. 2004

159 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário.

2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 383.

60 – Água na Visão do Direito

O Código estabeleceu uma política hídrica bastante moderna e com-plexa para a época, abrangendo vários aspectos, tais como: aplicação depenalidades, propriedade, domínio, aproveitamento das águas, navegação,regras sob águas nocivas, força hidráulica e seu aproveitamento, conces-sões e autorizações, fiscalização, relações com o solo e sua propriedade,desapropriação, derivações e desobstrução.160

A maioria dessas medidas de conservação, proteção e recuperaçãonecessitavam, por sua vez, de normas reguladoras que não foram criadas,não sendo, portanto, implementadas, ao contrário das destinadas à explo-ração energética. Entretanto, muitos desses instrumentos foram adotadosdécadas mais tarde, por outras legislações brasileiras.

Esse é o caso da responsabilidade penal, civil e administrativa, aplica-da conjunta e independentemente ao mesmo crime, presente nos arts. 109e 110 do Código de Águas. Os princípios de poluidor-pagador - disposto nosarts. 111 e 112 do referido diploma legal - e do usuário-pagador – previstoimplicitamente no art. 36, §2º.

Porém, a principal diferença entre o Código Civil e o Código de Águasé que este enfoca as águas como recursos dotados de valor econômico paraa coletividade e, por isso mesmo, seriam merecedores de atenção especialdo Estado, enquanto aquele não reconhecia o real valor econômico desterecurso e a sua regulamentação fundava-se principalmente no direito devizinhança.

O Código das Águas embora seja um texto antigo, têm partes aindavigente, embora muito modificado por leis posteriores. Neste sentido EvaEvangelista, sustentou

“O Código de Águas (...), não foi recepcionado pela Constitui-ção Federal de 1988, permanecendo em vigor a parte quedisciplina as proibições de construções capazes de poluir ouinutilizar a água dos poços e nascentes e a que trata da polui-ção das águas e da responsabilidade dos poluidores,notadamente dos agricultores e industriais”.161

160 GRANZIERA, 2001 apud HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos

recursos hídricos no Brasil. Jus Navegandi. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em

http://www.jus.com.br/. Acesso em 21 dez. 2004.

161 EVANGELISTA, Eva. A proteção jurídica das águas. In Revista Centro de Estudos Jurí-

dicos. Brasília, n. 12, p. 42, set/dez. 2000.

Água na Visão do Direito – 61

O Código Florestal, instituído pela Lei n.º 4.771/65, tratou do assunto“águas” ao determinar a preservação das florestas e demais formas de ve-getação situada ao longo dos rios, cursos d’águas, nascentes, lagos, lagoasou reservatórios, protegendo de forma reflexa a vazão e a qualidade daágua.162

O Código de Pesca (Decreto-Lei nº 221/67):

“estabelece, em seu art. 37, que os efluentes das redes deesgotos e os resíduos líquidos ou sólidos das indústrias so-mente poderão ser lançados às águas quando não as torna-rem poluídas. Este diploma diz ainda que cabe aos governosestaduais a verificação da poluição e a tomada de providênci-as para coibi-la. De resto, vale lembrar que o Código de Pes-ca, aplica-se às águas interiores e ao mar territoriais, nos ter-mos do art. 4º”.163

A Política Nacional de Saneamento, Lei n.º 5.138/67, ao normatizar osaneamento básico, tratando especificamente sobre o sistema de esgoto ede drenagem de águas pluviais, contribui de modo formal para a gestãoqualitativa dos recursos hídricos. A Política Nacional de Irrigação, Lei n.º6.662/79, tinha por objetivo controlar a utilização da água usada na irriga-ção, dentre outros.164

Em 1981, a Lei n.º 6.938, institui a Política Nacional do Meio Ambien-te, posteriormente alterada pela Lei n.º 7.804. Esta lei, tida como uma dasregulamentações ambientais brasileiras mais importantes, trouxe consigo oinício do pensamento holístico165 em relação à proteção ambiental no Brasil,

162 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário.

2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 148.

163 Idem.

164 HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos recursos hídricos no Bra-

sil. Jus Navigande. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em http://www.jus.com.br/.

Acesso em 21 dez. 2004.

165 HOLÍSTICO v. do latim – holismo - 1.Filos. Tendência, que se supõe seja própria do Uni-

verso, a sintetizar unidades em totalidades organizadas; 2.Teoria segundo a qual o homem é

um todo indivisível, e que não pode ser explicado pelos seus distintos componentes (físico,

psicológico ou psíquico), considerados separadamente; holística. HOLANDA FERREIRA, Au-

rélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-

teira, 1985.

62 – Água na Visão do Direito

indo o legislador além da tutela dispersa dos diferentes bens (...) e tratandoo ambiente como um todo.166

Esta Lei instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SINAMA,cujo órgão superior é o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, aoqual compete, entre outras atribuições “estabelecer normas e critérios epadrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambien-te com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente oshídricos”. A esse respeito,Edis Milaré afirma,

“Note-se a ênfase dada aos recursos hídricos entre os demaisrecursos ambientais. Aliás, a mesma Lei também enfatiza aságuas ao definir os recursos ambientais como sendo: ‘a at-mosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, osestuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos dabiosfera, a fauna e a flora’”.167

A Lei n.º 7.347/85, criou o instrumento processual adequado parareprimir ou impedir danos ao meio ambiente, além de outros interessesdifusos e coletivos da sociedade: Ação Civil Pública.

2.3.2 A LEI FEDERAL N.º 9.433/97

O art. 21, inc. XIX, da Constituição Federal estabelece:

“Art. 21. Compete à União:(...)XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursoshídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;(...)”

Assim em 08 de janeiro de 1997 entrou em vigor a Lei Federal n.º9.433/97, conhecida como a “Lei das Águas”. Cabia, portanto, a ela instituira Política Nacional de Recursos Hídricos e criar o Sistema Nacional de

166 ALMEIDA, Caroline Corrêa de. Evolução histórica da proteção jurídica das águas no

Brasil . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: http://

www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3421. Acesso em 20 dez. 2004

167 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário.

2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 387.

Água na Visão do Direito – 63

Gerenciamento de Recursos Hídricos, dando cumprimento ao mandamentoconstitucional supra citado.

A lei é composta de 57 artigos que traçam a Política Nacional de Re-cursos Hídricos, seus fundamentos, objetivos, diretrizes de ação e instru-mentos, dando principal ênfase à outorga e à possível cobrança pelo usodesse recurso. Além de especificar quais são os órgãos que irão compor oSistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Por ter a Lei das Águas trazido transformações no tratamento legislativoda água, concatenado com a nova realidade de que esse recurso natural nãoé infinito, será tratada especificamente no capítulo seguinte deste livro.

2.3.3 A LEI ESTADUAL N.º 10.350/94

Ao mesmo tempo em que a Constituição Federal previa em seu art.21, XIX, a instituição de uma Política Nacional de Recursos Hídricos, a Cons-tituição Estadual do Rio Grande do Sul, em seu art. 171, previa a instituiçãodo Sistema Estadual de Recursos Hídricos.

Assim, a Lei Estadual n.º 10.350/94 veio regulamentar este artigo daConstituição Estadual. Como se pode perceber a lei estadual é anterior à leifederal que data de 1997, este fato, porém não ocorreu apenas em nossoestado. Conforme Silviana Lúcia Henkes citando Maria Luiza MachadoGranziera,

“(...) a mora da União em instituir a Política Nacional de Re-cursos Hídricos e criar o Sistema Nacional de Gerenciamentode Recursos Hídricos e, tendo em vista a competência outor-gada pela CF/88 aos estados para legislar sobre os bens deseu domínio, vários estados começaram a elaborar suas polí-ticas estaduais de recursos”.168

E continua:

“O Estado de São Paulo foi o primeiro estado brasileiro a edi-tar uma política estadual de recursos hídricos, fê-lo através daLei 7.663, de 30/12/1991. Paulatinamente, outros estados

168 GRANZIERA, 2001 apud HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos

recursos hídricos no Brasil. Jus Navegandi. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em

http://www.jus.com.br/. Acesso em 21 dez. 2004.

64 – Água na Visão do Direito

editaram suas políticas estaduais. O Estado do Ceará foi osegundo estado a editar, fê-lo cem 24/07/1992, através daLei 11.996, seguido pelos estados de Minas Gerais, através daLei 11.504, de 20/06/1994; Santa Catarina através da Lei9.748, de 30/11/1994; e o Rio Grande do Sul, através da Lei10.350, de 30/12/1994”.169

Entretanto, o Rio Grande do Sul já vinha apresentado uma maiormobilização no sentido de gerenciamento dos recursos hídricos desde a se-gunda metade da década de 80. Diversos fatores fizeram com que o Estadotivesse os dois primeiros comitês de bacia: o do Sinos e o do Gravataí. Em17 de março de 1988, a partir de um decreto governamental de criação, oComitê Sinos torna-se o primeiro comitê de gerenciamento de bacia de umrio estadual implantado no país. E em 15 de fevereiro de 1989 instalava-seoficialmente o Comitê Gravataí, o segundo a ser instalado. Em meados de1988, um grupo inter institucional, por iniciativa e com liderança da Asses-soria de Recursos Hídricos da CORSAN, foi criada para discutir a respeito dogerenciamento.170

Após a Constituição Federal de 88 e a Constituição Estadual de 1989,começaram os esforços para tentar “modelar um sistema de gestão quealiasse as melhores contribuições da experiência internacional, a experiên-cia até aqui adquirida nas iniciativas voluntaristas locais e nos princípios degrande alcance estabelecidos pelo legislador constitucional”.171

Para finalmente, em 30 de dezembro de 1994, o projeto ser aprovadopor unanimidade pela Casa Legislativa e sancionado pelo então Governadordo Estado do Rio Grande do Sul.172

169 GRANZIERA, 2001 apud HENKES, Silviania Lúcia. Histórico legal e institucional dos

recursos hídricos no Brasil. Jus Navegandi. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em

http://www.jus.com.br/. Acesso em 21 dez. 2004.

170 CANEPA, Eugênio Miguel;ZORZI, Isidoro; GRASSI, Luiz Antonio Timm e NETO, Percy B.

Soares. Os comitês de bacia no Rio Grande do Sul: Formação, dinâmica de funciona-

mento e perspectivas. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Recursos Hídricos. Disponí-

vel em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17 fev. 2005.

171 Idem.

172 Idem.

CAPÍTULO 3 - O GERENCIAMENTO

DOS RECURSOS HÍDRICOS

3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

3.1.1 OBJETIVOS

A Lei nº 9.433/97 em seu artigo 2º determina quais os principaisobjetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecendo:

“Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária dis-ponibilidade de água, em padrões de qualidade adequadosaos respectivos usos;II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos,incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvi-mento sustentável;III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críti-cos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dosrecursos naturais”.

Com a leitura atenta destes dispositivos se extrai que a Lei nº 9.433/97 tem por fim maior a manutenção do desenvolvimento sustentável dosrecursos hídricos, já que a própria Constituição brasileira, em seu art. 225,caput, assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equili-brado, impondo ao Poder Público a obrigação de instaurar o desenvolvimen-to sustentável.

Sobre desenvolvimento sustentável, diz Mieko Ando Ussami:

“A definição mais conhecida é a da Comissão ‘Brundtland’, em1987, que segundo a mesma, conceitua o desenvolvimentosustentado como aquele que satisfaz às necessidades do pre-

66 – Água na Visão do Direito

sente sem comprometer a possibilidade das gerações futurassatisfazerem as suas”.173

Assim a Lei das Águas:

“demarca concretamente a sustentabilidade dos recursoshídricos em três aspectos: disponibilidade de água, utilizaçãoracional e utilização integrada”,

conforme ensina Paulo Affonso Leme Machado.174

Para Luís Paulo Sirvinskas:

“Busca-se, além disso, dar uma qualidade de vida igual oumelhor para as futuras gerações, evitando que esses recursosvenham a faltar no futuro”.175

Outro objetivo da Política Nacional de Recursos Hídricos é a prevençãoe a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decor-rentes do uso inadequado dos recursos naturais”(art. 2º, III). Isto é, evitaras enchentes ou inundações que, normalmente, são decorrentes da açãohumana.

Situando com clareza os objetivo da Lei nº 9.433/97, observa JulianaSantilli, que:

“A nova lei está em sintonia com outros instrumentos legaisnacionais e internacionais que pretendem assegurar a integri-dade e a sustentabilidade a longo prazo dos recursos naturais,estabelecendo limitações e restrições ao seu uso e explora-ção. Afasta-se, portanto, da concepção legal anterior deviabilizar apenas o seu aproveitamento com fins econômicos e

173 USSAMI, Mieko Ando. Gestão dos Recursos Hídricos para o Desenvolvimento Sus-

tentável. In Revista de Direito Difusos: Desenvolvimento Sustentável, São Paulo, vol. 6, p.

807, abril 2001.

174 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 433.

175 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2002,

p.136.

Água na Visão do Direito – 67

de priorizar as demandas do setor elétrico em detrimento dosdemais usos da água (...)”.176

3.1.2 FUNDAMENTOS LEGAIS

A Política Nacional de Recursos Hídricos tem como fundamentos, ateor do art. 1º da Lei nº 9.433/97: I - a água é um bem de domínio público;II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III -em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consu-mo humano e a dessedentação de animais; IV - a gestão dos recursos hídricosdeve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V - a bacia hidrográficaé a unidade territorial para implementação da Política Nacional de RecursosHídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com aparticipação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

3.1.2.1 A ÁGUA COMO BEM PÚBLICO

A Constituição Federal de 1988 já havia promovido a publicização daságuas, inexistindo a partir de então quaisquer águas privadas no âmbito dodireito brasileiro, como já foi visto. Neste sentido, a Lei nº 9.433/97 não sóreafirmou o disposto na Lei Maior, como estabeleceu um de seus fundamen-tos básicos.

Maria Luiza Machado Granziera explica a origem da tendência mundiala publicização dos recursos hídricos, ao definir:

“Quanto maior a importância de um bem à sociedade, maior atendência a sua publicização, com vista na obtenção da tutelado Estado e da garantia de que todos poderão a ele ter aces-so, de acordo com os regulamentos estabelecidos. No que serefere às águas, as coisas não passam de forma diferente”.177

As águas são bens públicos e se classificam entre aqueles de usocomum do povo, entretanto há divergência acerca desta classificação. CesarAntonio Pacheco Fiorillo chega a afirmar que o inc. I, do art. 1º, da referida

176 SANTILLI, Juliana. Aspectos Jurídicos da Política Nacional de Recursos Hídricos. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.2. – verificar página

177 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 88.

68 – Água na Visão do Direito

lei, é inconstitucional face ao art. 225 caput da Constituição Federal, enqua-drando o autor, a água como bem ambiental de natureza jurídica difusa,nestes termos:

“(...) preceituou-se que a água é um bem de domínio público.Tal assertiva padece de inconstitucionalidade, porquanto, con-forme foi demonstrado, a água é um bem tipicamenteambiental, sendo portanto, de uso comum do povo, e, emconformidade com a Lei nº 8.078/90 (art. 81, parágrafo úni-co, I), bem difuso”.178

Não obstante esta parcela da doutrina que considera a água comobem ambiental difuso, a outra corrente defende que os recursos hídricos,por serem elementos constitutivos do meio ambiente, se enquadram no art.225 da Constituição Federal, quando afirma: “Todos têm direito ao meioambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo (...)”.

Ora, se o Legislador Constituinte procedeu à classificação de meioambiente, e sendo a água um de seus elementos constitutivos, a ela seaplica a mesma classificação, sendo, portanto, bem público de uso comumdo povo. Neste sentido, Paulo Affonso Leme Machado dispõe,

“A água como um dos elementos do meio ambiente. Isso fazcom que se aplique à água o enunciado do caput do art. 225da CF”.179

João Hélio Pes mantém essa posição:

“A nossa Constituição Federal, no capítulo do meio ambiente,ao definir todos os bens ambientais como de uso comum dopovo, não exclui desse rol a água – bem fundamental parapreservação da vida no planeta”.180

178 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2001. p. 104.

179 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 421.

180 PES, João Hélio. Água para todos. Zero Hora, Porto Alegre, 14 fev. 2005. Caderno,

p. 17

Água na Visão do Direito – 69

Posição essa compartilhada também por Eduardo Coral Viegas, den-tre outros:

“(...) fácil é perceber que a norma, ao mencionar que o meioambiente, é um bem de uso comum do povo, estava proce-dendo a sua classificação e, logicamente, à da água (...)”.181

Há de se salientar que esse conceito de bem público não importa empropriedade do bem pela administração pública. Não se pode confundir bemde uso comum do povo, do qual a água faz parte, com bem de uso domini-cal. Maria Sylvia Zanella di Pietro ressalta como bens públicos:

“àqueles que, por determinação legal ou sua própria nature-za, podem ser utilizados por todos em igualdade de condi-ções, sem necessidade de consentimento individualizado porparte da Administração”.182

Já quanto aos bens públicos dominicais define como sendo àque-les que:

“constituem o patrimônio da União, dos Estados ou Municípi-os, como objeto de direito pessoal ou real de cada uma dessasentidades, caracterizando por serem alienáveis”.183

Para Paulo Affonso Leme Machado a característica de bem público dosrecursos hídricos é:

“(...) não transforma o Poder Público federal e estadual emproprietário da água, mas torna-o gestor desse bem, no inte-resse de todos”.184

181 VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado

Ed., 2005. p. 89.

182 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Atlas,

2002. p. 560.

183 Idem

184 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 421.

70 – Água na Visão do Direito

E continua, deixando claro que não se trata de bem dominical, nestetermos:

“Indique-se o art. 18 da Lei 9.433/97 para atestar que a águanão faz parte do patrimônio privado do Poder Público, ao dizer:‘A outorga não implica alienação parcial das águas que sãoinalienáveis, mas o simples direito de uso’. A inalienabilidadedas águas marca uma de suas características como bem dedomínio público”.185

No mesmo sentido João Hélio Pes, discorre que:

“esse é um bem ao qual as pessoas não se atrelam por meiodo instituto da propriedade. A propriedade é baseada na idéiade usar, gozar, fruir e fazer o que se bem entende, idéia essaque não é possível aplicar ao ‘bem ambiental”, tanto pelo agen-te público como pelo particular”.186

3.1.2.2 A ÁGUA COMO UM RECURSO NATURAL LIMITADO E DOTADODE VALOR ECONÔMICO

O inciso II, do art. 1º, da Lei nº 9.433/97 traz em seu bojo aconscientização de que a água vem se tornando um bem escasso. Emborapareça abundante é sabido que apenas 2,8% são águas doces, das quais2,15% são geleiras e calotas polares, 0,31% constituem águas subterrâne-as e somente 0,34% da água total existente estão disponíveis para o consu-mo humano imediato, sob forma de rios, riachos, lagos e reservatórios aces-síveis.187

Até pouco tempo sustentava-se que a água era um recurso naturalinesgotável devido à sua condição cíclica. Entretanto, embora seja um re-curso natural renovável, a água é um recurso natural finito, uma vez quevários fatores interferem na sua disponibilidade.

185 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 423

186 PES, João Hélio. Água para todos. Zero Hora, Porto Alegre, 14 fev. 2005. Caderno,

p. 17

187 CABRAL, Bernardo. O ouro do século XXI. In Cidadania e Justiça, Brasília: Diretoria da

Associação Magistrados Brasileiros, n.º 12, p. 89, 2º semestre de 2002.

Água na Visão do Direito – 71

Luiz Antônio Timm Grassi analisa estes fatores que interferem na ques-tão da limitação dos recursos hídricos, nos seguintes termos:

“Hoje com o crescimento demográfico e econômico, multipli-cam-se os usos das águas e crescem rapidamente suas de-mandas, embora a quantidade global disponível seja sem-pre a mesma. Abastecimento humano, dessedentação deanimais, indústria, agricultura, navegação, geração de ener-gia elétrica, pesca, esportes, diluição e biodegradação deesgotos urbanos e industrias, e outros mais, são os usos queestão se intensificando cada vez mais tanto global quantolocalizadamente”.188

Além da questão relativa à quantidade da água, existe também oproblema da poluição dos mananciais. O que leva a crer que a situação daescassez das águas pode ser tanto quantitativa como qualitativa, ou, emalguns casos, incidindo estas duas formas.

Configurada a situação de escassez não se pode mais considerar aágua como um bem inesgotável, mas sim limitado na confrontação de suadisponibilidade com suas demandas. Roberto Luis Troste e Francisco Mochonao conceituarem bem econômico expõem, “os bens econômicos caracteri-zam-se pela utilidade e pela escassez [...]. Os bens livres – [...] são àquelescuja quantidade é suficiente para satisfazer a todo o mundo”.189

Portanto, torna-se clara a classificação de água como bem econômico,uma vez que ela não está disponível nas mesmas condições, tornando-o umrecurso “raro”, seja ela relativa à quantidade ou qualidade. Nesse diapasão,Eldis Camargo Neves da Cunha ensina:

“(...) o legislador pátrio dotou a água de valor econômico. Énecessário lembrar que este propósito está embasado nasconsiderações constitucionais do art. 170, inc. VI, ou seja,entre os princípios econômicos está a defesa do meio ambien-te. Nesse sentido as verificações das metodologias de valoração

188 GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica de Re-

cursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17

fev. 2005.

189 TROSTER, Roberto Luis e MOCHON, Francisco. Introdução à Economia. São Paulo:

Makron Books, 1999. p.7.

72 – Água na Visão do Direito

do bem ambiental devem estar referenciadas nas teoriaseconômicas que abraçam as externalidades”.190

Concatenado a essa nova realidade o legislador dispôs em seu art. 19,I da Lei nº 9.433/97, a obrigatoriedade da cobrança pelo uso dos recursoshídricos. É bom deixar claro que, hoje, o que se paga é o serviço de captaçãode água e seu tratamento, e que, quando começar a ser posto em prática oinstrumento imposto pela Lei das Águas se estará cobrando a utilização emsi do recurso.

Sobre isto Vladimir Passos de Freitas alerta

“é evidente que o termo é polêmico e que acarreta sérias con-seqüências econômicas”

e diz mais

“imagine-se a título de exemplo, uma indústria que venha uti-lizando há anos as águas de um rio e que se veja obrigada,agora, a pagar pelo uso. É óbvio que isso representará umcusto maior e exigirá da empresa um realinhamento de suascontas”.191

O objetivo principal que se busca com o emprego da cobrança de usodos recursos hídricos é “reconhecer a água como um bem econômico e darao usuário uma indicação de seu real valor” (art. 19, I, da Lei nº 9.433/97).Nas palavras de Luis Paulo Sirvinskas:

“(...) fazer com que o usuário não a desperdice, utilizando-ade forma racional. É uma forma de o Poder Público obter osrecursos financeiros necessários para o financiamento dos pro-gramas e intervenções contemplados nos planos de recursoshídricos (art. 19, II e III, da Lei n. 9.433/97)”. 192

190 CUNHA, Eldis Camargo Neves da. Desafios Jurídicos na Gestão dos Recursos

Hídricos m face dos Instrumentos da Política Nacional: Papel da Agência Nacional das

Águas. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.2.

191 FREITAS, Vladimir Passos de. Águas – Considerações Gerais. In _____. Águas: As-

pectos Jurídicos e Ambientais. Curitiba: Juruá, 2000. p.22.

192 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 134.

Água na Visão do Direito – 73

Entretanto, como alerta Paulo Affonso Leme Machado:

“isso não pode e nem deve levar a condutas que permitamque alguém, através do pagamento de um preço, possa usar aágua a seu bel-prazer. A valorização econômica da água develevar em conta o preço da conservação, da recuperação e damelhor distribuição desse bem”.193

A água como bem econômico, portanto, está intimamente relaciona-da com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Busca-se através desteinstrumento uma maior conscientização por parte dos consumidores, utili-zando-a de forma racional a fim de que seja preservada para as geraçõesfuturas. Razão pela qual, pequenos usos, para satisfazer as necessidadespessoais, não estarão sujeitos à cobrança.

3.1.2.3 USO MÚLTIPLO E USO PRIORITÁRIO DOS RECURSOS HÍDRICOS

A Política Nacional de Recursos tem como regra geral de uso o dispos-to no inc. IV, do art. 1º, a saber, “a gestão dos recursos hídricos deve sem-pre proporcionar o uso múltiplo das águas”, em detrimento dos privilégiosque eram dados ao setor hidroenergético. Isto se dá, porquanto, é sabidoque a água não somente é essencial à sobrevivência do ser vivo, especial-mente o homem, como também à toda e qualquer atividade por ele exercida,seja ela comercial, agrícola, recreativa, esportiva, industrial, etc.

Raymundo José Santos Garrido explica o surgimento do princípio dosusos múltiplos nos seguintes termos:

“Ora, o crescimento da população urbana, com o conseqüenteaumento da demanda por produtos, em especial por alimen-tos, deu lugar ao florescimento do princípio dos usos múlti-plos, porque alguns setores – e o carro-chefe desse processofoi a agricultura irrigada – passaram a apresentar seus recla-mos contra a assimetria de tratamento que era conferida peloPoder central aos diversos usuários da água, privilegiando detodas as formas o setor hidroenergético”.194

193 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 427.

194 GARRIDO, Raymundo José Santos. Água, uma preocupação mundial. In Revista Centro

de Estudos Jurídicos, Brasília, n.12, p. 08, set/dez. 2000 p.11.

74 – Água na Visão do Direito

Torna-se notório que a gestão dos recursos hídricos se dê no sentidode garantir os usos múltiplos, ou seja, uso urbano, industrial, geração deenergia elétrica, navegação, lazer, irrigação, etc. Assim, conforme ensinaSilviania Lúcia Henkes, “o Poder Público responsável pela concessão de ou-torgas está proibido de conceder outorgas que favoreçam um uso em detri-mento dos demais”.195

Nas situações de escassez, porém, deve ser observado o estipulado noinciso III do dispositivo legal, ou seja, garantir o uso prioritário dos recursoshídricos, qual sejam: o consumo humano e a dessedentação dos animais.

Sobre isto, Juliana Santilli expõe:

“Os dois fundamentos estão intimamente ligados e dizem res-peito, basicamente, à tendência moderna de legislações naci-onais e tratados internacionais de buscar um equilíbrio entreos diversos usos de águas, estabelecendo-se as prioridades apartir das necessidades sociais vigentes”.196

No entanto, tem-se que observar qual a amplitude dos termos “con-sumo humano” e “dessedentação animal”. Consumo humano compreendesomente o uso para as necessidades mínimas de cada pessoa, isto é, águapara beber, para comer e para higiene, enquanto que dessedentação ani-mal é estrita, não incluindo-se utilização de água para o abate e o processode comercialização de animais, conforme Paulo Affonso Leme Machado.197

As conseqüências jurídicas da escassez deverão ser a suspensão ime-diata da outorga por parte do Poder Público concedente, conforme permissi-vo do art. 15, inc. V ou, ainda, inc. III da Lei nº 9.433/97.

Fernando Quadros da Silva afirma que o Poder Público, com a Lei dasÁguas, têm instrumentos para combater uma atividade muito comum emépocas de seca, qual seja, a atividade ilegal de venda de água.198 Seja ela

195 HENKES, Silviana Lúcia. Política nacional de recursos hídricos e sistema nacional de

gerenciamento de recursos hídricos . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 64, abr. 2003. Dis-

ponível em http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3970. Acesso em: 06 abr. 2005.

196 SANTILLI, Juliana. Aspectos Jurídicos da Política Nacional de Recursos Hídricos. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p. 4

197 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 428

198 SILVA, Fernando Quadros da. A gestão dos recursos hídricos após a Lei 9.433, de 08

de Janeiro de 1997. In FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Ambiental em Evolução.

Curitiba: Juruá, 1998. p. 87.

Água na Visão do Direito – 75

pelo vendedor não ter a respectiva outorga ou tendo, por não ter observadoo uso prioritário, podendo e devendo ser suspensa sua outorga de pronto,como medida cautelar administrativa, e instauração de processo adminis-trativo.

3.1.2.4 BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADE TERRITORIAL

O legislador adotou a bacia hidrográfica como a unidade territorialpara a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuaçãodo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Ao fazer isso oBrasil seguiu uma tendência já consolidada em vários países, principalmen-te o modelo adotado pela França.

A partir da Lei nº 9.433/97 a gestão passa a ser por bacia hidrográficaem detrimento de uma abordagem pontual das águas, não mais se basean-do em fronteiras administrativas e políticas dos entes federados. O princípiode que a bacia hidrográfica é a unidade físico-territorial de planejamento egerenciamento das águas, já havia sido adotado por alguma das leis estadu-ais que antecederam à lei federal, dentre elas a Lei das Águas gaúcha.

Rodrigo Andreotti Mussetti alerta que:

“A bacia hidrográfica deve ser entendida como sendo a unida-de ecossistêmica e morfológica que permite a análise e enten-dimento dos problemas ambientais. Ela também é perfeita-mente adequada para um planejamento e manejo, buscandootimizar a utilização dos recursos humano e natural, para es-tabelecer um ambiente sadio e um desenvolvimento susten-tado”.199

Não obstante a Lei nº 9.433/97 não ter estabelecido um conceitopara bacia hidrográfica ela deve ser entendida como a “área de captaçãonatural da água da precipitação que faz convergir os escoamentos para umúnico ponto de saída, seu exutório”.200 Ao que Paulo Affonso Leme Machadocompleta “a ‘bacia hidrográfica, ao abranger os cursos de água, não

199 MUSETTI, Rodrigo Andreotti. Bacias Hidrográficas no Brasil: Aspectos Jurídico-

Ambientais. Seção Doutrina, Disponível em http://www.universojuridico. com.br . Acesso em

20 jan. 2005.

200 SILVEIRA, André L.L. da. Ciclo hidrológica e Bacia Hidrográfica. In TUCCI, Carlos E.

M. (org.). Hidrologia: ciência e aplicação.2 ed. Porto Alegre:Editora da Universidade Fede-

ral do Rio Grande do Sul: ABRH, 2001. p. 40.

76 – Água na Visão do Direito

está necessariamente abrangendo os aqüíferos, ou seja, a ‘baciahidrogeológica’”.201

Entretanto, quanto a este assunto, Raymundo José Santos Garrido,assim se manifesta:

“O principio da bacia hidrográfica como unidade deplanejamento foi muito questionado, no início, em razão denão abranger as águas subterrâneas, mas veio a ter as dúvi-das dissipadas, quando optou-se, harmonicamente, pela elei-ção de conceito de ‘bacia holística’, ou seja, àquela que con-grega todo o conjunto, toda a universalidade dos problemasque estejam em bacias colidentes e em camadas subjacentesdo solo”.202

A aplicação prática do princípio se dará com os Comitês de BaciasHidrográficas, também criados por Lei, que serão compostos por represen-tantes da União, Estados, DF, Municípios, dos usuários de águas e das enti-dades civis dedicadas à bacia hidrográfica. Tendo como principais objetivosestabelecer metas a serem atingidas pela execução dos Planos de Bacia.

Portanto, a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamentofoi um grande avanço alcançado pelo nosso legislador, mas para ser postoem prática dependerá da efetiva articulação entre os representantes quecomporão os Comitês de Bacia. Neste sentido, conforme Luiz Antônio TimmGrassi203 , a do Rio Grande do Sul está com praticamente todos os seuscomitês instalados ou em fase de instalação, assim como os Estados de SãoPaulo e Ceará.

3.1.2.5 GESTÃO DESCENTRALIZADA E PARTICIPATIVA

O último dos fundamentos da Lei nº 9.433/97 afirma que a gestão dosrecursos hídricos deverá ser descentralizada e participativa. Isto é, para o

201 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 430

202 GARRIDO, Raymundo José Santos. Água, uma preocupação mundial. In Revista Cen-

tro de Estudos Jurídicos, Brasília, n.12, p. 11, set/dez. 2000.

203 GRASSI, Luiz Antônio Timm. Os comitês de bacia. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica

de Recursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso

em 17 fev. 2005.

Água na Visão do Direito – 77

sucesso de uma mentalidade voltada ao uso racional das águas, como dequalquer política ambiental, é fundamental a participação popular.

A descentralização se dará no âmbito da gestão dos recursos hídricos,isto na medida em que a Lei das Águas previu a criação dos Comitês deBacias Hidrográficas e das Agências de Águas. Mas, Julio Thadeu SilvaKettelhut, alerta que:

“o princípio da descentralização [...], não se prende somenteaos aspectos de natureza administrativa, mas também aos deordem técnica. Estes dizem respeito aos estudos realizadossem participação e envolvimento dos setores objeto dos mes-mos”.204

Então, como nos ensina Paulo Affonso Leme Machado205 , transferi-ram-se as atribuições tradicionais da União e dos Estados para estes órgãoshídricos. Ao que Raymundo José dos Santos Garrido completa entendendoque o legislador ao consagrar a gestão descentralizada como um dos funda-mentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, baseou-se na seguintefilosofia:

“o gerenciamento de recursos hídricos deve ser feito nosníveis hierárquicos do governo mais baixos e apropriados.Em outras palavras, o que pode ser resolvido na área dabacia hidrográfica não deve ser decidido na capital do Esta-do ou do país por órgãos mais elevados na hierarquia doserviço público”.206

Esta descentralização já havia sido discutida na Agenda 21, além dis-so encontra mais respaldo no Brasil. Decorrente das grandes dimensões dopaís, da sua grande variedade de culturas e principalmente de suas desi-gualdades no que diz respeito à quantidade e qualidade de água disponível,

204 KETTELHUT, Julio Thadeu Silva. Importância da comunicação na implementação dos

recursos hídricos no Brasil. In Revista Centro de Estudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 22,

set/dez. 2000.

205 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 432

206 GARRIDO, Raymundo José Santos. Água, uma preocupação mundial. In Revista Centro

de Estudos Jurídicos, Brasília, n.12, p. 08-12, set/dez. 2000 p.11.

78 – Água na Visão do Direito

o que torna praticamente impossível executar um gerenciamento de formacentralizada, tanto em nível federal quanto estadual207 .

No que diz respeito à participação, a lei procurou garantir que as deci-sões sobre gerenciamento se dêem no âmbito do Comitê de Bacia Hidrográficae, portanto, com a participação dos diversos segmentos interessados. Umavez que são compostas, nos termos do art. 39 da Lei nº 9.433/97 de repre-sentantes “I – da União; II – dos Estados e do Distrito Federal cujos territóriosse situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação; III– dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua áreas de atuação; IV– dos usuários das águas de sua área de atuação e V – das entidades civis dosrecursos hídricos com atuação comprovada na bacia”.

Para garantir uma igualdade entre esses participantes, evitando que oPoder Público se torne o verdadeiro gestor sob um manto de democratiza-ção, o legislador ainda previu que a somatória dos representantes dos trêsníveis do Poder Executivo (Federal, Estadual e Municipal) seja de no máximo50% do total de membros. Entretanto, o Conselho Nacional dos RecursosHídricos, através da Resolução nº 05/00 redimensionou, estabelecendo queos comitês serão formados com 40% de representantes do Poder Executivo,20% de representantes de entidades civis e 40% de representantes dosusuários.208

Entretanto, a doutrina é unânime ao afirmar que o êxito da democra-tização na gestão de recursos hídricos depende de um processo transparen-te, o que se dará com o acesso dos participantes a constantes e organizadasinformações, o que será posto em prática com a criação do Sistema deInformações sobre Recursos Hídricos. Neste sentido encontram-se PauloAffonso Leme Machado, Julio Thadeu Silva Kettelhuut, Juliana Santilli, Gil-berto Valente Canali, dentre outros.

3.1.3 DIRETRIZES DE AÇÃO

As principais diretrizes de ação, que deverão ser observadas por aquelesque irão gerir os recursos hídricos são: I – a gestão sistemática dos recursos

207 CANALI, Gilberto Vicente. Descentralização e Subsidiariedade na gestão de recursos

hídricos – uma avaliação da sua recente evolução em face da Lei 9.433/97.In FREITAS,

Vladimir Passos de. Direito Ambiental em Evolução. Curitiba: Juruá, 1998. p. 126

208 HENKES, Silviana Lúcia. Política nacional de recursos hídricos e sistema nacional de

gerenciamento de recursos hídricos . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 64, abr. 2003. Dis-

ponível em http://www1.jus.com.br/doutrina/texto. asp?id=3970. Acesso em: 06 abr. 2005.

Água na Visão do Direito – 79

hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade; II - aadequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas,demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental; IV- a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setoresusuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;  V - a articu-lação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;  VI - a integraçãoda gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonascosteiras (art. 3º da Lei nº 9.433/97).

Em vista disso, percebe-se que as diretrizes gerais de ação estão deacordo com os objetivos e fundamentos da Política Nacional de Recursos,bem como, com a Constituição Federal que determina o desenvolvimentosustentável. Juliana Santilli explica que:

“a premissa básica é de que a água é necessária em todos osaspectos da vida, e que a escassez generalizada, a destruiçãogradual e o agravamento da poluição dos recursos hídricosexigem o planejamento e a gestão integrada desses recursos,o que a Lei nº 9.433/97 procura consolidar”.209

Estabelecem as diretrizes que a gestão hídrica deve ser concatenadacom a gestão ambiental, como não poderia deixar de ser, uma vez que aágua é um recurso natural e como tal depende de outros recursos para suaexistência sadia. Como exemplifica Paulo Affonso Leme Machado:

“o planejamento ambiental concernente à fauna (aquática eterrestre), as florestas, o uso do solo e de agrotóxicos, a ins-talação de indústrias, a renovação de antigas indústrias e ozoneamento ambiental das bacias hidrográficas são algumasdas matérias que devem ser levadas em conta na gestão daságuas".210

A gestão não dissociará os aspectos da quantidade e da qualidade,com isso, conforme Juliana Santilli, está se entendendo a água a partir dobinômio quantidade/qualidade. Fica claro que estas nuances não podem ser

209 SANTILLI, Juliana. Aspectos Jurídicos da Política Nacional de Recursos Hídricos. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p. 8.

210 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p.435.

80 – Água na Visão do Direito

dissociadas, uma vez que o uso dos recursos hídricos afeta, inegavelmente,ambos padrões.

Édis Milare, por outro lado, observa que estas diretrizes de ação:

“[...] visam à superação da dicotomia entre a gestão da qua-lidade e da quantidade, hoje ainda existente e, de certo modo,persistente na mentalidade de vários setores da Administra-ção Pública, que não acompanharam a evolução da políticaambiental”.211

A gestão ainda deve levar em conta as diferenças físicas, bióticas,demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País,bem como atentar para as diferenças que existem entre bacias hidrográficas,tendo em vista que a gestão dos recursos hídricos depende dessas observa-ções para que se obtenha sucesso. E ainda estabelecem que há a inserçãodo dever para a União articular-se com o Estado para o gerenciamento dosrecursos hídricos de interesse comum, ao que Paulo Affonso Leme Machadoafirma ser de grande relevância, “pois a União não poderá deixar de partici-par dos organismos que vão implementar a política dos recursos hídricos,sejam as águas de seu domínio ou não”. 212

3.1.4 INSTRUMENTOS

A Lei nº 9.433/97 estabelece os instrumentos para possibilitar aimplementação da Política Nacional dos Recursos Hídricos, quais sejam: I –Planos de Recursos Hídricos; II – Enquadramentos dos corpos d’água; III –Outorga de Uso dos Recursos Hídricos; IV – Cobrança pelo Uso da Água e V –Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

3.1.4.1 PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS

Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam funda-mentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricose seu gerenciamento (art. 6º). Isto é, a formulação dos planos de recursos

211 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário.

2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 395.

212 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 436.

Água na Visão do Direito – 81

hídricos tem como fundamento orientar a administração dos recursos hídricos,segundo José Raymundo dos Santos Garrido, e são documentosprogramáticos do setor na área do planejamento.

213

Edis Milaré explica a necessidade dos Planos de Recursos Hídricos,nos seguintes termos:

“a gestão hídrica depende do planejamento institucionalizado,não podendo o uso das águas ser condicionado apenas a pla-nos setoriais e, o que é pior, à decisão de cada caso concreto,sem vinculação com o planejamento de uso dos recursoshídricos da bacia. O Plano visa, entre outras coisas, a evitar oucoibir casuísmo”.214

A confecção dos Planos de Bacia é atribuição das Agencias da Água edeve ser aprovado pelos Comitês de Bacia, conforme os arts. 44, X e 38, IIIda Lei nº 9.433/97. Ressalta-se a importância desse procedimento, pois,conforme Ana Graf, essas são “as instâncias de maior participação social dosistema de gerenciamento de recursos hídricos”.215

Maria Luiza Machado Granziera, quanto à atribuição dos Comitês deBacia para aprovar o Plano, diz:

“como garantia de efetividade do processo de elaboração doplano, está diretamente relacionada com o sistema de decisãoque tiver sido adotado por parte de cada comitê, em sua ins-talação. Em outras palavras, é necessário que o sistemadecisório do Comitê seja de tal forma estabelecido que neces-sariamente seja exarada uma decisão, por maioria, ou poroutro critério que possa representar o desejo predominantede seus integrantes”.216

213 GARRIDO, Raymundo José Santos. Água, uma preocupação mundial. In Revista Centro

de Estudos Jurídicos, Brasília, n.12, p. 08-12, set/dez. 2000 p.11.

214 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário.

2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 396.

215 GRAF, Ana. Enquadramento de corpos d’água de domínio dos Estados e os Planos

de Recursos Hídricos. In Revista de Direitos Difusos. São Paulo:ADCOAS, 2002, v.16,

p.2111-21115, p 2115.

216 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 136.

82 – Água na Visão do Direito

Entretanto, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, precavendo-sedo fato dos locais em que ainda não tenham Agência da Água ou Comitês deBacia, editou a Resolução nº 17, estabelecendo as diretrizes para os Planosde Bacias. Em seu art. 3º, a Resolução reza que:

“enquanto não for criada a Agência de Bacia e não houverdelegação para consórcios ou associações para exercer essepapel, os Planos podem ser elaborados pelas entidades ouórgãos gestores de recursos hídricos, conforme a dominialidadedo corpo hídrico”.217

E continua afirmando que:

“caso não esteja formado o Comitê de Bacia, também as enti-dades gestoras, com a participação dos usuários e da serãoresponsáveis pela proposta do Plano”.218

Estes planos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado epara o País e devem ser devidamente integrados, surgindo, primeiramen-te, nas bacias hidrográficas, demonstrando sincronia com o restante da lei,uma vez que estas são a unidade de planejamento da Política Nacional deRecursos Hídricos, para depois serem elaborados nos Estados levando-seem consideração as prioridades apontadas nos planos de bacia e, enfim,o Plano Nacional de Recursos Hídricos, que agregara as prioridades esta-duais.219

Entretanto, os Planos estaduais não serão um simples somatóriodos Planos de bacia existentes no Estados, assim como o Plano Nacional,dos Planos estaduais. Deverão ser levados em conta os dados e priorida-des apontadas fazendo uma interação, de forma a ficarem em consonân-cia.

Entretanto, esse alcance dos Planos de Recursos Hídricos é alvo demuitas críticas, uma vez que, sua elaboração com áreas ou unidades

217 CUNHA, Eldis Camargo Neves da. Desafios Jurídicos na Gestão dos Recursos

Hídricos m face dos Instrumentos da Política Nacional: Papel da Agência Nacional das

Águas. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.. 9.

218 Idem.

219 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 437.

Água na Visão do Direito – 83

territoriais diversas, fatalmente acarretará conflitos.220 Quanto a isto PauloAffonso Leme Machado afirma que tríplice pode ser a abrangência territorialdo plano e continua:

“O Plano de Recursos Hídricos estadual não ira planejar so-mente para os limites políticos do Estado, mas para a realida-de de todas as bacias e sub-bacias hidrográficas, levando emconta suas relações hídricas com os outros Estados brasileirose até com países vizinhos. Daí caminha-se naturalmente parao Plano Nacional de Recursos Hídricos”.221

O art. 7º dispõe sobre o conteúdo mínimo que deverá conter todos osplanos de recursos hídricos. Conforme salienta Paulo Affonso Leme Macha-do, “o conteúdo do Plano dos Recursos Hídricos é de ordem pública. Quandoa lei diz que há um conteúdo mínimo, ela está indicando a suaindispensabilidade”.222

Assim, são obrigatórios em todos os Planos de recursos hídricos: I –diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; II – análise de alterna-tivas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas ede modificações dos padrões de ocupação do solo; III – balanço entre dispo-nibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qua-lidade, com identificações de conflitos potenciais; IV – metas de racionaliza-ção de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursoshídricos disponíveis; V – medidas a serem tomadas, programas a seremdesenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metasprevistas; VI – (VETADO); VII – (VETADO); VIII – prioridade para outorgade direitos de uso dos recursos hídricos, IX – diretrizes e critérios para acobrança pelo uso dos recursos hídricos e X – propostas para a criação deáreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

3.1.4.2 ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES SEGUN-DO OS USOS PREPONDERANTES

Outro instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos é oenquadramento dos corpos de água em classes segundo os usos preponderantes.

220 SANTILLI, Juliana. Aspectos Jurídicos da Política Nacional de Recursos Hídricos. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.10.

221 Idem, p. 439.

222 Idem, p. 440.

84 – Água na Visão do Direito

Isso visa assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exi-gentes a que forem destinadas e diminuir os custos de combate à poluiçãomediante ações preventivas permanentes.

A classificação das águas é regida pela Resolução CONAMA nº 357/05, conforme já foi visto. Em seu art. 2º, essa Resolução traz as distinçõesentre águas doces, salobras e salinas, de acordo com a qualidade de saldissolvido que cada uma contém.

Assim cada um desses tipos de água é dividido em classes de qualida-de requerida para seus usos preponderantes. Entretanto, poderão ser apro-veitadas em usos menos exigentes, desde que não prejudique a qualidadeda água.

Maria Luiza Granziera salienta que:

”Essa classificação possui um sentido de proteção, não da águapropriamente, mas da saúde pública, pois é evidente a preo-cupação em segregar a água que pode ser utilizada para, porexemplo, irrigar hortaliças que se consomem cruas. Ou, ain-da, a água que serve para abastecimento sem prévia desin-fecção, sem, é claro, expor a população a riscos de contami-nação por vetores hídricos. Mais que isso, nota-se uma preo-cupação com o fator econômico, em relação aos custos dedesinfecção da água para abastecimento público”.223

Assim como nos consideranda a Resolução estabelece que a saúde e obem-estar humano, bem como o equilíbrio ecológico aquático, não devemser afetados pela deterioração para a qualidade das águas, salienta tam-bém que esse enquadramento deve estar baseado não necessariamente noseu estado atual, mas nos níveis de qualidade que deveriam possuir paraatender às necessidades da comunidade.

A importância deste enquadramento, segundo ensinamentos de MariaLuiza Machado Granziera, consiste no fato de que indiretamente acaba trans-formando-se num mecanismo de controle de uso e ocupação do solo. Aopasso que se determinado curso de água doce está enquadrado no nívelespecial, seu trecho fica restrito a empreendimentos que sejam compatíveiscom os tipos de usos.

A competência para propor o enquadramento aos comitês de bacia édas Agências de Água, conforme art. 44, XI, “a”. Após a aprovação pelos

223 GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídica das águas do-

ces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 141

Água na Visão do Direito – 85

Comitês de Bacia, estes encaminharão a proposta para aprovação do Con-selho Estadual ou Federal de Recursos Hídricos, conforme o domínio do res-pectivo curso de água.

Os referidos Conselhos, conforme Paulo Affonso Leme Machado:

“poderão concordar com a atual classificação das águas ouconcordar com as proposições do estabelecimento de novosníveis de qualidade a serem alcançados. A lei comentada, emseu art. 35, não concedeu, contudo, competência a este con-selho para efetuar uma nova classificação”.224

Após a aprovação e adoção do enquadramento, compete aos órgãospúblicos, gestores dos recursos hídricos, fiscalizar, monitorar e controlar paraverificar se as metas estão sendo cumpridas. Trata-se de típico exercício depoder de polícia administrativo do poder público sobre o bem público “água”.

3.1.4.3 OUTORGA DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS

3.1.4.3.1 A ÁGUA COMO OBJETO DE DIREITO DE USO ONEROSO

CONCEITO DE DIREITO DE USODireito de uso é o instituto jurídico de direito administrativo pelo qual

o poder público, União, Estados ou o Distrito Federal, atribui a outrem, entepúblico ou privado, o direito de uso do bem público água de forma onerosa.O uso da água pelo terceiro impõe a obrigação de que este a destine parasua própria finalidade que, no entanto, pode ser limitada pela AdministraçãoPública, porém nunca desvirtuada de seu fim natural. Portanto, no âmbitode exação da outorga não está o direito de disposição, circunscrevendo-seapenas ao simples direito de uso, conforme preconiza o art. 18, da Lei nº9.433/97.

No direito de uso de bem público o usuário sequer pode não usar obem porque, por sua natureza pública, o bem público precisa cumprir a suafinalidade de produzir benefícios para o povo. Se o faz no tempo de trêsanos sofre a sanção de ver suspensa a outorga de forma definitiva (art. 15inc. I da Lei nº 9.433/97), situação típica de rescisão contratual.

O direito de uso, como já mencionado, é instituto típico de direitoadministrativo, o que o coloca no rol temático de direito público e, dessa

224 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 445.

86 – Água na Visão do Direito

forma, não se confunde com os contratos de locação, arrendamento,comodato ou até mesmo o direito real de uso que são contratos tipicamenteprivados.

O direito de uso da água por terceiros surge da conveniência e da opor-tunidade administrativa de delegar a outrem a gestão de um bem que por forçade lei é considerado de domínio público e que, por isso mesmo, deve aqueleque detém a sua titularidade destinar este bem à sua finalidade natural.

Não pode o terceiro exigir da Administração Pública a outorga do di-reito de uso da água porque outorgar é função precipuamente administrati-va e inserida no seu poder discricionário. Mesmo nos casos de outorga indi-vidualizada a Administração Pública deve analisar a conveniência e a opor-tunidade de outorgar o uso tendo sempre presente o primado do interessepúblico sobre o privado.

A água, como um bem de domínio público, deve, como princípio fun-damental, ser administrada pelo próprio ente público a quem a ConstituiçãoFederal legitimou competência para administrá-la. A outorga é a faculdadede repassar esta administração a terceiros.

A Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, quando trata da outorga dodireito de uso da água, apenas formaliza o modus faciende de como deveser operacionalizada a delegação de uso desse bem público ao terceiro. É opoder legislativo legitimando a Administração Pública a repassar a gestão deum bem público, que em princípio seria da própria administração, a outrem.A autorização legislativa não elegeu a forma de como a Administração Públi-ca deva proceder perante o terceiro. Apenas “autorizou” a delegação atra-vés do instituto jurídico que chamou de “outorga”.

A União, o Estado ou o Distrito Federal, nas águas que lhes competeadministrar, é quem, no exercício do típico poder discricionário, decidirá seessa ou aquela água será objeto de direito de uso. Outorgado o uso, contu-do, não perde a Administração Pública concedente o controle da delegação.Em outras palavras, a água será apenas usada pelo outorgado, mas, se estenão cumprir os termos da outorga, não usá-la por três anos consecutivos,houve necessidade premente para atender situações de calamidade, de pre-venção ou reversão de degradação ambiental, houve necessidade para aten-der usos prioritários de interesse coletivo ou navegabilidade do corpo deágua a outorga de direito de uso poderá ser suspensa parcial ou totalmente,em definitivo ou por prazo determinado.

As causas suspensivas da outorga, no entanto, decorrerão de proces-so administrativo em que seja garantido o contraditório, a ampla defesa, amotivação e a possibilidade de recurso, princípios garantistas estabelecidospela Constituição Federal através do art. 5º, inc. LIV e LV.

Água na Visão do Direito – 87

No Rio Grande do Sul é motivo de grande polêmica definir-se se aságuas administradas pelo Estado devem ou não integrar o projeto de lei queestabelece que os serviços de captação, distribuição e tratamento de águapodem ser objeto de parceria público-privada, isso porque o art. 2º, § 2º, doProjeto de Lei nº 027/2004, que vedava essa possibilidade, foi vetado peloSenhor Governador do Estado e que agora se encontra em análise na As-sembléia Legislativa. Parece-me que, pelo princípio da simetria, se a Lei dasÁguas estabeleceu como norma geral à possibilidade de outorga do direitode uso, não poderia o Poder Legislativo Estadual retirar da AdministraçãoEstadual a possibilidade da outorga.

3.1.4.3.2 GENERALIDADES E OBJETIVOS DA OUTORGA

Outorgar, no conceito jurídico tem o significado de conceder. Portan-to, quando a Lei nº 9.433/97, na seção III, do Capítulo IV, do Título I, tratada Outorga de Direitos de Uso dos Recursos Hídricos, em disposição sumá-ria, especifica como e de que forma jurídica o direito de uso da água podeser concedido, não olvidando que esse ato tenha por objetivo assegurar oscontroles qualitativo e quantitativo do uso da água e permitir o efetivo exer-cício do acesso à água.

Em outras palavras, o regramento do legislador disciplina o procedi-mento administrativo de como a Administração Pública deverá agir paravalidamente concretizar a delegação de outorga de uso da água a terceiros.

A outorga pode se operar entre administrações ou entre administra-ção e particular.

3.1.4.3.3 A OUTORGA ENTRE ADMINISTRAÇÕES.

A Administração Pública detentora da competência para administrar ouso da água pode entender de outorgar essa competência à outra adminis-tração. Neste caso, o direito de outorga será instrumentalizado por acordos,ajustes ou convênios, sempre de natureza onerosa.

Embora estes acordos, ajustes ou convênios tenham a estrutura deverdadeiros contratos já que criam direitos e obrigações entre as adminis-trações envolvidas, eles dispensam a prévia licitação porque são contratosentre administrações e não contratos administrativos cujos participantessão, de um lado, uma Administração Pública, e, de outro, particulares, con-soante o disposto no art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93, que insti-tui normas para as licitações e contratos administrativos.

88 – Água na Visão do Direito

3.1.4.3.4 A OUTORGA A PARTICULARES COMO CONTRATOADMINISTRATIVO “SUI GENERIS”

A Lei nº 9.433/97, diferentemente do Código das Águas de 1934, nãoprevê a natureza jurídica da outorga do direito de uso da água. Naquele, háa previsão expressa de concessão administrativa, no caso de utilidade públi-ca, e de autorização, para outras finalidades, sendo que, no primeiro caso,haveria um contrato e, no segundo, um ato administrativo.

Ato administrativo é manifestação de vontade da Administração Pú-blica tendente a produzir efeitos jurídicos. Sendo uma manifestação de es-tado, o ato administrativo tem estrutura formal própria e atributos que otorna diferente dos demais atos jurídicos. Um destes atributos é o de poderser revogado por puro critério de conveniência ou oportunidade da Adminis-tração, sem que sobre isso possa haver controle externo. Querer e nãoquerer é vontade administrativa insuscetível de revisão, mesmo judicial,que se limita tão-somente às ilegalidades.

Já o contrato é um acordo de vontades que cria direitos e obrigaçõesentre os contratantes e assume a denominação de contrato administrativose uma das partes é a Administração Pública. Diferentemente dos contratosprivados, o contrato administrativo tem particularidades próprias e ineren-tes da tipicidade administrativa onde há predomínio das cláusulas exorbitantespró-administração. Sendo um contrato extremamente formal, como regra,somente se instrumentaliza se, antes, ocorrer licitação ou houver incidênciadas exceções de dispensa ou inexigibilidade, tendo sempre presentes osprincípios da moralidade e impessoalidade.

A Lei nº 8.666/93, que institui normas para licitação e contratos ad-ministrativos, no art. 2º, parágrafo único, assim definiu:

“Para os fins desta lei, considera-se contrato todo e qualquerajuste ente órgãos ou entidades da Administração Pública eparticulares, em que haja um acordo de vontades para a for-mação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas,seja qual for à denominação utilizada”.

No caso da outorga de direito de uso da água o legislador da Lei dasÁguas estabeleceu que:

a) a água tem um valor econômico (art. 1º inc. II);b) é possível ser concedido o direito de uso a alguém em casos ex-

pressos (art. 12);

Água na Visão do Direito – 89

c) a outorga deve ser concedida por prazo certo nunca superior a 35anos, passível de renovação (art. 16);

d) para que seja outorgada, é necessária uma contraprestação resul-tante no pagamento de um valor cobrado por quem a usa (art. 19a 22).

3.1.4.3.5 QUANDO É NECESSÁRIA A PRÉVIA LICITAÇÃO PARA OUTOR-GA DO DIREITO DE USO.

Como já se viu, a outorga do direito de uso da água é faculdade dequem tem a competência para administrá-la o seu uso que, com este ato,repassa esta atribuição à terceiro, já que se trata de um bem de domíniopúblico também chamado de bem de uso comum do povo (art 99, inciso I,do Código Civil) onde, de regra, a competência para administrar é do poderpúblico.

No elenco de outorgas do art 12, da Lei nº 9.433/97, direitos de usoexistem que pressupõem a licitação prévia obrigatória para respeitar os prin-cípios da impessoalidade e da moralidade administrativa esculpidos no art.37, caput, da Constituição Federal.

Assim, exigem licitação prévia nos casos de:

a) derivação ou captação de parcela da água existente em um corpode água para consumo final de abastecimento público;

b) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;c) outros usos que tenham utilidade pública que a Administração Pú-

blica pretenda dar à água e que alterem o regime, a quantidade oua qualidade da água existente em um corpo de água. Pode servirde exemplo a outorga para instalação de um parque náutico.

3.1.4.3.6 QUANDO É INEXIGÍVEL A LICITAÇÃO

Sendo a outorga do direito de uso da água instrumentalizável atravésde contrato administrativo sui generis, a licitação é a regra, como já referido.

Caracterizam casos de inexigibilidade licitatória:

a) a derivação ou captação da água existe em um corpo de água queenvolva consumo final restrito ou sirva para insumo do processoprodutivo de pessoa ou pessoas determinadas; Opera-se a exceçãoda inexigibilidade licitatória por aplicação analógica do art. 25, da

90 – Água na Visão do Direito

Lei nº 8.666/93, já que a participação no processo licitatório deoutros interessados é impossível. Pode servir de exemplo a capta-ção de água de um rio para irrigação de uma lavoura de arroz;

b) extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ouinsumo de processo produtivo. Pode servir de exemplo a perfura-ção de um poço para uso de um proprietário.;

c) lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líqui-dos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, trans-porte ou disposição final; A ato de lançamento é individualizado.Daí porque é inexigível a licitação;

d) outros usos que alterem o regime, a quantidade ou qualidade daágua existente em um corpo de água que seja, mas que não sedestine ao uso do público;

Caracterizando-se a alteração de regime, quantidade ou qualidade daágua ato individual inexigível à licitação.

3.1.4.3.7 A DELEGAÇÃO DA OUTORGA

A outorga pode ser concedida de uma Administração Pública a outra,como já foi mencionado. Nesta hipótese, a administração outorgada é meroterceiro e por isso se submete ao pagamento pela outorga recebida.

Na delegação ocorre a transferência do poder de delegar a outorga daórbita federal aos Estados e ao Distrito Federal.

O Poder Executivo Federal, por força do art. 14, § 1º, da Lei nº 9.433/97,pode delegar a qualquer Estado ou ao Distrito Federal a competência deoutorgar o direito de uso de águas de sua competência. O Estado ou oDistrito Federal age em nome do delegante.

Em termos de controle judicial da delegação, o delegado responderápelos atos abusivos a que deu causa.

3.1.4.3.8 AS MODALIDADES DE OUTORGAS

A Lei nº 9.433/97, no seu art. 12, estabelece quais as modalidades dedireito de uso de água que necessitam de outorga.

São elas:

a) na derivação ou captação de parcela de água existente em umcorpo de água para consumo final, inclusive abastecimento públi-co, ou insumo de processo produtivo.

Água na Visão do Direito – 91

Derivação significa desvio e captação significa aproveitamento.Corpo de água é qualquer rio, córrego, riacho, lago, lagoa ou bre-jo. Portanto, o desvio ou aproveitamento de água existe em umrio, córrego, riacho, lago, lagoa ou brejo que se destine ao consu-mo da população ou mesmo que se destine como elemento noprocesso de produção de bens exige outorga de direito de uso porparte da Administração Pública competente.A sua inexistência gera abusividade passível de controle pelo po-der de polícia da administração ou até mesmo por ação civil públi-ca ajuizada pelo Ministério Público ou de ação popular por qual-quer do povo;

b) na extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo finalou insumo de processo produtivo.Aqüífero é uma formação geológica capaz de armazenar e fornecerquantidades significativas de água, representando um reservató-rio de água subterrânea. Assim, extrair essa água para consumofinal ou mesmo para uso no processo produtivo necessita de ou-torga de direito de uso.O uso da água sem a outorga administrativa constitui prática abusivaa ser controlada e impedida pelo poder público, pelo MinistérioPúblico ou por qualquer do povo em defesa do bem público;

c) no lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduoslíquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição,transporte ou disposição final.Lançamento é o ato de lançar, jogar, atirar. Esgotos são escoadourosde dejetos ou águas servidas das casas. Resíduos significa restos.Dessa forma, jogar no rio, córrego, riacho, lago, lagoa ou brejodejetos, águas servidas ou restos, tratados ou não, com a finalidadede misturá-los com a água, utilizar-se dela como meio de transporteou escoadouro final necessita de outorga do direito de uso.A inobservância resulta na prática de ilícito administrativo, penal eambiental todos passíveis dos respectivos controles.

d) no aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;O aproveitamento da água para a geração de energia exige outorgado direito de uso pela Administração Pública competente que, toda-via, deve atender ao que ficar estabelecido no Plano Nacional deRecurso Hídricos e ao que exigir a legislação setorial competente;

92 – Água na Visão do Direito

e) em outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidadeda água existente em um corpo de água.Como requisito final a demonstrar que os outros usos são mera-mente exemplificativos para ocorra outorga do direito de uso daágua estão aqueles usos que alteram a estrutura, a quantidade ou aqualidade da água de um rio, córrego, riacho, lago, lagoa ou brejo.

3.1.4.3.9 O USO DA ÁGUA QUE INDEPENDEM DE OUTORGA

Sempre que a Administração Pública competente pretender outorgaro direito de uso da água a um terceiro, ente público ou não, somente poderáfazê-lo através de um contrato administrativo sui generis, com prévia licita-ção, ou não, dependendo neste caso de que o terceiro seja outra adminis-tração pública ou incida a inexigibilidade licitatória para o outorgado privadopor impossibilidade de concorrência.

A outorga do direito de uso, dessa forma, é a regra geral.A Lei nº 9.433/97, no § 1º, do art. 12, no entanto, fixou os casos em

que o uso da água independe de outorga administrativa enunciando-os deforma abrangente, mas fixando que eles deveriam ser definidos em regula-mento. O legislador vinculou a Administração Pública competente para aoutorga a necessidade de prévia regulamentação. Portanto, não pode a Ad-ministração Pública por ato exclusivo seu, inexigir a outorga do direito deuso da água. Se o faz, pratica ato abusivo passível de controle administrati-vo ou judicial, este através das ações de controle como o mandado de segu-rança, a ação civil pública ou a ação popular.

A lei enumera as seguintes situações que independem de outorga:

a) Uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades depequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural.Os pequenos núcleos populacionais rurais não necessitam de ou-torga de direito de uso da água, desde que use esse bem públicopara suas necessidades. A dimensão desses núcleos rurais e o quesejam satisfação das necessidades deverão ser regrados pelo re-gulamento. Penso, no entanto, que no conceito de necessidadedeve ser incluída a econômica;

b) Derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes.O desvio e o aproveitamento da água, bem como o lançamento deresíduos ou dejetos em quantidades insignificantes sobre um rio,córrego, riacho, lago, lagoa brejo ou mesmo um aqüífero não ne-

Água na Visão do Direito – 93

cessita de outorga. No entanto, a inexigência de outorga não afastaa Administração Pública do dever de fiscalizar a sua desnecessidade;

c) Acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.As barragens e os açudes de volumes insignificantes, assim consi-derados nos termos do regulamento, independem de outorga dodireito de uso. A fiscalização de isenção, todavia, é imposição aque deve a Administração Pública competente exercer.

3.1.4.3.10 OS CASOS DE SUSPENSÃO DA OUTORGA

Concedida a outorga nos termos da lei, passa o outorgado a exercer odireito dela resultante com plenitude, sem que com isso deixe a Administra-ção Pública titular da outorga de exercer vigilância sobre o objeto contrata-do. Próprio de um contrato administrativo sui generis deve, tanto a Adminis-tração Pública outorgante como o terceiro outorgado, primarem pela execu-ção do contratado, por aplicação do princípio contratual clássico do pactasunt servanda.

Suspensa a outorga deve a Administração Pública outorgante anali-sar, caso a caso, sobre a suspensão da contraprestação.

A Lei nº 9.433/97 enumera os casos de suspensão da outorga, nestestermos:

a) Não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga.A outorga do direito de uso da água tem a natureza jurídica de umcontrato administrativo. Embora seja uma especialidade na teoriageral dos contratos, o contrato administrativo de outorga impõedeveres aos contratantes como qualquer outro contrato. Assim,não cumprindo o outorgado qualquer das cláusulas, torna-seinadimplente e, como sanção, pode ver o objeto contratado, que éa própria outorga, suspensa pela Administração Pública outorgante.A suspensão administrativa da outorga não é ato administrativopuro e imotivado. Para ser declarada ela necessita de processoadministrativo prévio em que se garanta ao outorgado o direito aocontraditório, à ampla defesa e ao recurso administrativo, comoprincípios constitucionais garantistas mínimos.A decisão administrativa que concluir pela suspensão da outorgado direito de uso da água necessita de motivação, sopesando atra-vés dos critérios de razoabilidade e proporcionalidade se a suspen-são deve ser parcial ou total, temporária ou definitiva.

94 – Água na Visão do Direito

A suspensão irregular pode ser controlada pelo Poder Judiciáriopor meio de ações de controle, como é o mandado de segurança eensejar indenização;

b) Ausência de uso por três anos consecutivos.A água é um bem público de uso comum do povo. Dessa forma, aágua tem a natureza de se destinar ao uso público, de forma direta,através de consumo, ou indireta, através de insumo de produção.O seu não-uso pelo outorgado de forma contínua por três anosatenta contra a própria destinação natural desse bem. Portanto,não destinar o outorgado a água que recebeu através de outorgapública pratica infração material e formal do contrato cuja sançãoé a suspensão do contrato, total ou parcialmente, temporária oudefinitivamente.Na aplicação da sanção deve a Administração Pública agir comrazoabilidade e proporcionalidade.A suspensão por ausência de uso também necessita de processoadministrativo prévio com asseguramento ao contraditório, ampladefesa e recurso.A suspensão irregular pode ser controlada pelo Poder Judiciário eensejar a responsabilização civil da Administração Públicaconcedente;

c) Necessidade premente de água para atender a situações de cala-midade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adver-sas.A água é um bem de uso comum do povo. Assim, havendo neces-sidade premente para atender a situações de calamidade decor-rentes de condições climáticas adversas, situação mais comumcriada pela seca, surge uma cláusula suspensiva natural do contra-to. O interesse público evidenciado não pode ser impedido pelointeresse privado do outorgado. Penso que o dispositivo legal é atransformação em norma positiva da teoria da imprevisão.A calamidade ou a situação climática adversa deve ser declaradapela Administração Pública outorgante com toda amplitude e dian-te de fatos notórios.Neste caso, a suspensão da outorga deve durar enquanto persistira calamidade podendo abranger parcial ou integralmente o objetoda outorga.

Água na Visão do Direito – 95

Ante a urgência da medida, a suspensão será sempre acautelatória,preventiva ou remediadora, mas exige processo administrativo emque sejam assegurados o contraditório, a ampla defesa, a decisãomotiva e possibilidade recursal.A abusividade da suspensão implica na possibilidade de controlejurisdicional e pode ensejar responsabilidade civil;

d) Necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental.Meio ambiente é o conjunto de condições naturais e de influênciasque atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos. Como aágua, o meio ambiente é um bem de uso comum do povo. Portan-to, mantê-lo em perfeitas condições é dever do Estado e direito detodos. Degradação é deterioração. Por conseguinte, havendo jus-to receio de grave deterioração ao meio ambiente ou tendo este jáocorrido em decorrência do exercício da outorga do direito de usoda água tem a Administração Pública outorgante o dever de sus-pender a delegação pelo prazo necessário para afastar apotencialidade do perigo ou reversão da gravidade já ocorrida.A suspensão da outorga exige prova da potencialidade do perigo dedano ambiental ou que ele tenha ocorrido e necessite ser revertido.Dessa forma não se trata de ato administrativo simples e imotivado.Em quaisquer das situações, a suspensão da outorga pode ser de-terminada cautelarmente, mas exige processo administrativo emque se garanta ao outorgado oportunidade de contraditório, ampladefesa, decisão final motivada com possibilidade de recurso.A suspensão poderá ser total ou parcial, temporária ou definitivadependendo da gravidade da degradação ou do tempo necessáriopara afastar a possibilidade do dano ambiental.A suspensão abusiva pode ensejar o controle jurisdicional e aresponsabilização civil da Administração Pública concedente;

e) Necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo,para os quais não se disponha de fontes alternativas.A outorga também será suspensa quando houver necessidade dese atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quaisnão se disponha de fontes alternativas.A suspensão da outorga, portanto, é decorrência da inexistênciade fontes alternativas, circunstância a ser demonstrada pela Admi-nistração Pública outorgante.

96 – Água na Visão do Direito

O ato administrativo de suspensão, portanto, é decorrência da pré-existência de processo administrativo com todos os consectáriosconstitucionais de contraditório, ampla defesa, decisão motivada erecurso à segunda instância administrativa.Em decorrência da urgência, pode a Administração Pública deter-minar a suspensão da outorga cautelarmente.A suspensão abusiva pode ser controlada pelo Poder Judiciário eensejar indenização; e

f) Necessidade de serem mantidas as características de navegabilidadede corpo de água.Consistindo o corpo de água em um rio, lago ou lagoa onde anavegabilidade é permitida deve a Administração Pública outorgantesuspender a outorga do direito de uso até ser possível o retorno aeste uso.Pela própria natureza da suspensão, observa-se que ela é tempo-ral. Pode ser determinada cautelarmente, mas exige a instauraçãode processo administrativo para que o outorgado possa contraditare oferecer provas, devendo a Administração Pública decidirmotivadamente determinando a suspensão e permitindo o recursodo que foi decido.A suspensão viciada pode ser controlada, inclusive pelo Poder Ju-diciário e ensejar responsabilidade civil da Administração Pública.

3.1.4.3.11 PRAZO DE DURAÇÃO DA OUTORGA

A outorga do direito de uso da água tem prazo limite de até 35 anos,renovável. É o que diz o art. 16 da Lei nº 9.433/97.

A fixação de duração da outorga está limitada apenas ao seu limitemáximo. Pode o regulamento estabelecer prazos para cada tipo de outorgaou deixar isso para a discrição administrativa.

3.1.4.4 COBRANÇA PELO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Outro instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos, conside-rado como um dos mais importantes juntamente com a outorga, é a cobran-ça pelo uso dos Recursos Hídricos. Deve-se esclarecer que o preço que sepaga atualmente sob a rubrica de “água” refere-se ao serviço de tratamentoe captação de água e não o pagamento pelo uso desta.

O pagamento de uso não implica na criação de qualquer tipo de direi-

Água na Visão do Direito – 97

to sobre a água, como já foi visto, por tratar-se de bem público ela éinalienável. Entretanto o direito brasileiro já previa a cobrança pela utiliza-ção de bens públicos de uso comum dispondo que eles podem ser gratuitosou retribuídos, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cujaadministração pertencerem, assim disposto no art. 103 do Código Civil e,nos mesmo termos, no art. 36 do Código das Águas.225

Os objetivos deste instrumento são definidos no art. 19 da Lei 9.433/97, nos seguintes termos: I – reconhecer a água como bem econômico e darao usuário uma indicação de seu real valor; II – incentivar a racionalizaçãodo uso da água e, III – obter recursos para o financiamento de programasprevistos nos planos de recursos hídricos. Maria Luiza Machado Granziera226

afirma que há três finalidade básicas, a primeira é didática, a segunda élógica, uma vez que ao ter de pagar, gasta-se menos e a terceira está rela-cionada com o financiamento de recuperação ambiental dos recursos hídricos.

A cobrança dos recursos hídricos veio a consagrar os princípios, jácontidos na Lei nº 6.938/81, art. 4º VII, a saber: o Princípio do Poluidor-Pagador e do Usuário Pagador, ou seja, conforme Edis Camargo Neves daCunha, “em termos de verificação dos usos múltiplos e vazões disponíveis,quanto cada usuário capta e/ou quanto lança no corpo de água”.227

A aplicação deste instrumento foi a forma adotada pelo legislador pátriopara colocar em prática a internalização dos custos da proteção ao meio am-biente em detrimento da externalização. Conforme Ronaldo Seroa da Matto:

“A teoria econômica diz: se o uso do recurso (bem público)não causa dano a ninguém, não se cobra por isso; causandodano a alguém, gerando essa externalidade, um impacto aterceiro, temos de cobrar”.228

225 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito das águas. Apud. HENKES, Silviana Lúcia.

Política Nacional de Recursos Hídricos e Sistema Nacional de Gerenciamento de Re-

cursos Hídricos . Jus Navegandi, Teresina, a. 7, n. 64, abr. 2003. Disponível em http://

www1.jus.com.br/doutrina/texto. asp?id=3970. Acesso em 06 abr. 2005.

226 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. A cobrança pelo uso da água. In Revista Centro de

Estudos Jurídicos. Brasília, n. 12, set/dez. 2000.

227 CUNHA, Eldis Camargo Neves da. Desafios Jurídicos na Gestão dos Recursos

Hídricos m face dos Instrumentos da Política Nacional: Papel da Agência Nacional das

Águas. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p. 12.

228 MOTTA, Ronaldo Seroa de. Privatização pelo uso da água. In Revista Centro de Estu-

dos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 27, set/dez. 2000.

98 – Água na Visão do Direito

Em outras palavras, Maria Luiza Machado Granziera explica essa rea-lidade, nos seguintes termos:

“Hoje vigora no Brasil, o princípio do ônus social, que é antíte-se do poluidor-pagador. Toda a comunidade paga peladespoluição dos rios, pela sua preservação. O Poder Públicoquando aplica parte de seu orçamento para cumprir um deter-minado plano, ou para realizar um certo programa, está one-rando a comunidade como um todo”.229

A fixação deste instituto levará em conta, consoante o art. 20 da Leinº 9.433/97, a outorga de uso dos recursos hídricos, na medida em que sóserão cobrados àqueles usos que dependem de autorização pelo Poder Pú-blico. Assim sendo, usos insignificantes, estabelecidos pela Lei das Águas,Resolução n.º 16 do CNRH, além do Decreto Estadual do Rio Grande do Suln.º 37.033/96, que independem de outorga, não serão objeto de cobrança.A esse respeito, Eldis Camargo Neves da Cunha estabelece que,

“As normas arroladas preconizam o mesmo enunciado, listandoos usos que independem de outorga: o uso de recursos hídricospara a satisfação das necessidades de pequenos núcleospopulacionais, distribuídos no meio rural; as derivações, cap-tações e lançamentos considerados insignificantes”.230

Decidindo a Administração Pública competente que lhe é convenienteou oportuno outorgar que determinado corpo de água seja administrado porterceiros em benefício próprio ou mesmo em benefício da comunidade, essadelegação do uso do bem público pressupõe uma contraprestação. Mesmoque os terceiros sejam outros órgãos administrativos, já que a lei não esta-belece distinção, quanto mais os particulares, pessoas físicas ou jurídicas,consoante previsão legislativa da Lei nº 9.433/93, que chama estacontraprestação de cobrança pelo uso, nos precisos termos do art. 20 damencionada lei.

229 GRANZIERA, Maria Luiza Macahado. A cobrança pelo uso da água. In Revista Centro

de Estudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 73, set/dez. 2000.

230 CUNHA, Eldis Camargo Neves da. Desafios Jurídicos na Gestão dos Recursos

Hídricos m face dos Instrumentos da Política Nacional: Papel da Agência Nacional das

Águas. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.5.

Água na Visão do Direito – 99

A água, se usada pela própria Administração Pública gestora do corpode água, por evidente, não gera contraprestação. Esta somente decorre daoutorga do direito de uso a terceiros.

Além disso, ao serem fixados os valores deve ser observado o estabe-lecido no art. 21 da Lei das Águas, a saber: I – nas derivações, captações eextrações de água, o volume retirado e seu regime de variação e II – noslançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volumelançado e seu regime de variação e as características físico-químicas, bioló-gicas e de toxidade do afluente231 . Quanto à natureza jurídica dessa cobran-ça é pacífico na melhor doutrina que trata-se de preço público, pago pelouso de um bem público.

O percentual embora uno para as águas de competência da União edo Distrito Federal, poderá variar de estado para estado. O que não pode éo Estado dispensar a sua cobrança. Portanto, será contínua e variável en-quanto durar o prazo da outorga.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos, através da Resolução n.º48, de 2001, estabeleceu os critérios gerais para a cobrança de uso dosrecursos hídricos. Estabeleceu os fatores a que estará condicionada a co-brança e os mecanismos para a definição dos valores de cobrança.

Quanto à aplicação dos valores arrecadados, estabelece o art. 22, quedeverá ser feita prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gera-das e deverão ser utilizadas no financiamento de estudos, programas, projetose obras incluídos nas Planos de Recursos Hídricos, bem como no pagamentode despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidadesintegrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,porém, neste segundo caso, essa aplicação está limitada a 7,5% do totalarrecadado (§1º).

O termo “prioritariamente” deixa claro que não se exclui a aplicaçãofora da bacia hidrográfica. Porém, como ressalta Paulo Affonso Leme Macha-do, a aplicação não cai no campo da discricionariedade, visto que “se houvernecessidade do emprego dos recursos na bacia hidrográfica em que os valo-res foram gerados, o termo ‘prioridade’ determina que é nessa bacia, e nãonoutra, que os valores devem ser aplicados”.232

231 “os lançamentos analisados na sua recepção no corpo de água são afluentes, e os anali-

sados no ponto de sua emissão são efluentes”. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito

Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2000. p 464.

232 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 466.

100 – Água na Visão do Direito

Estabelece ainda o §2º, do referido dispositivo legal que os valoresarrecadados poderão ser aplicados a “fundo perdido”. Quanto a isto, EdisMilare sustenta, “os valores arrecadados destinam-se, ordinariamente, aempréstimo, portanto, com retorno acrescido de juros. Todavia, podem seraplicados a fundo perdido em projetos benéficos à coletividade”.233

Por sua vez, a Resolução nº 49, do Conselho Nacional de RecursosHídricos estabeleceu as prioridades para a aplicação dos recursos proveni-ente da cobrança pelo uso dos Recursos Hídricos, referente ao exercício doano de 2006. A regulamentação implementada pelo CNRH traçou apenas aslinhas gerais para a cobrança pelo uso da água, cabendo aos Comitês deBacia sobre os valores e a sua forma de aplicação.

Segundo o próprio CNRH a cobrança representará um aumento de 2%na conta de cada consumidor final ou R$ 0,02 (dois centavos) por metrocúbico de água.

É bom deixar claro que a cobrança diz respeito à outorga do direito deuso da água, podendo esta cobrança ser ou não repassada para o usuáriofinal no caso de abastecimento.

A competência está relacionada ao Conselho Nacional de RecursosHídricos, aos Comitês de Bacia, as Agências da Água e à ANA. Ao CNRH cabeestabelecer os critérios gerais para a outorga de direito de uso dos recursoshídricos e para a cobrança de seu uso (art. 35, X). Aos Comitês de Baciacompete estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricose sugerir valores a serem cobrados (art. 37, VI). Às Agências da Água cabeefetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursoshídricos, bem como acompanhar de uma maneira geral a aplicação dos re-cursos provenientes da cobrança (art. 41 incs. III, IV e V).

3.1.4.5 SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS

O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos está disciplinadonos arts. 25 a 27 da Lei das Águas. Trata-se de um sistema de coleta, trata-mento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricose quaisquer fatores que interfiram na gestão.

Paulo Affonso Leme Machado salienta a importância deste instrumen-to afirmando que sem informação não se poderia implementar a Política deRecursos Hídricos e continua:

233 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário.

2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 403.

Água na Visão do Direito – 101

“Ao criar um ‘Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos’a lei está procurando articular as informações, para que nãofiquem dispersas e isoladas. Os organismos integrantes doSistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricosterão obrigações de fornecer os dados ao Sistema de Infor-mação sobre Recursos Hídricos (art. 25, parágrafo único, daLei 9.433/97). Não haverá, portanto, informações privilegia-das e secretas nos órgãos de recursos hídricos, nem que osmesmos estejam submetidos a regime de Direito Privado”.234

O art. 26 da Lei nº 9.433/97 estabelece os princípios básicos para ofuncionamento do Sistema, quais sejam: I – descentralização da obtenção eprodução de dados e informações; II – coordenação unificada do sistema eIII – acesso aos dados e informações garantidos à toda a sociedade.

Enquanto que o art. 27 estabelece os objetivos do Sistema Nacional deInformações sobre Recursos Hídricos, sendo eles: reunir, dar consistência edivulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa derecursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente as informações sobredisponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo território nacional efornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

Note-se que este artigo trata especificamente do Sistema Nacional deInformações enquanto que os outros (arts. 25 e 26) tratam de Sistema deInformações, tendo como destinatários em âmbito nacional como tambémestadual e do Distrito Federal.235

Compete à Agência Nacional de Águas – ANA – organizar, implantar egerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, de acordocom o art. 4º, XIV da Lei nº 9.984/2000).

Com propriedade Juliana Santilli pontua:

“trata-se de instrumento que visa incorporar definitivamenteà lei o princípio da transparência e publicidade na gestão dosrecursos hídricos, indispensável a uma efetiva gestão com-partilhada entre usuários, sociedade civil e Poder Público Fe-deral, Estadual e Municipal”.236

234 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 470.

235 Idem.

236 SANTILLI, Juliana. Aspectos Jurídicos da Política Nacional de Recursos Hídricos. In

Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p. 13.

102 – Água na Visão do Direito

3.2. O SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RE-CURSOS HÍDRICOS

Os sistemas, tanto nacionais quanto estaduais, de gerenciamento derecursos hídricos são os instrumentos de efetivação da Política Nacional,consoante dicção da Lei nº 9.433/97. Ou seja, através desses mecanismosjurídico-administrativos é que se tornará possível a gestão legítima, válida eeficaz dos recursos hídricos.

O gerenciamento dos recursos hídricos é realizado em três planos e éformado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH; pelo Conse-lho de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; pelos Comitês deBacia Hidrográficas; e pelas Agências de Água, e foi constituído calcado nosseguintes objetivos: a) coordenar a gestão integrada das águas; b)implementar a política nacional de recursos hídricos; c) arbitrar administra-tivamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; d) planejar,regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;e) promover a cobrança pela utilização dos recursos hídricos.

3.2.1. CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS - CNRH

O CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS - CNRH - é umorganismo colegiado, consultivo, normativo e deliberativo composto por re-presentantes dos setores usuários de água, governo e sociedade civil orga-nizada. Tem como competências, dentre outras: promover a articulação doplanejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regio-nais, estaduais e dos setores usuários; arbitrar os conflitos existentes entreConselhos Estaduais de Recursos Hídricos; estabelecer critérios gerais paraa outorga de direito de uso de recursos hídricos; analisar propostas de alte-ração de legislação pertinente a recursos hídricos, e estabelecer diretrizescomplementares para a implementação da Política Nacional de RecursosHídricos.237

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) é o órgão maisexpressivo da hierarquia do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recur-sos Hídricos (o SINGREH, criado pela Lei nº 9.433/97, estabeleceu um ar-ranjo institucional claro e baseado em novos princípios de organização para

237 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos.Brasília – DF, 2004. p. 23.

Água na Visão do Direito – 103

a gestão compartilhada do uso da água). É de sua competência decidir so-bre as grandes questões do setor, além de dirimir as contendas de maiorvulto. Caber-lhe-á também decidir sobre a criação de Comitês de BaciasHidrográficas em rios de domínio da União, baseado em uma análise deta-lhada da bacia e de suas sub-bacias, de tal forma que haja uma otimizaçãono estabelecimento dessas entidades. Para tanto, estabeleceu, através daResolução nº 05 de 10 de abril de 2000, regras mínimas que permitemdemonstrar a aceitação, pela sociedade, da real necessidade da criação deComitês.238

O CNRH pode ser também considerado

“um colegiado que desenvolve regras de mediação entre osdiversos usuários da água sendo, assim, um dos grandes res-ponsáveis pela implementação da gestão dos recursos hídricosno País. Por articular a integração das políticas públicas noBrasil é reconhecido pela sociedade como orientador para umdiálogo transparente no processo de decisões no campo dalegislação de recursos hídricos”.239

O CNRH é o principal fórum de discussão nacional sobre gestão derecursos hídricos, exercendo o papel de agente integrador e articulador dasrespectivas políticas públicas, particularmente quanto à harmonização dogerenciamento de águas de diferentes domínios.240

3.2.1.1.COMPETÊNCIA DO CNRH

O CNRH possui como competências, dentre outras:

• Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursoshídricos; Estabelecer diretrizes complementares paraimplementação da Política Nacional de Recursos Hídricos;

• Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com osplanejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários;

• Arbitrar conflitos sobre recursos hídricos;

238 Disponível em http://www:cnnrh-srh.gov.br. Acesso em 26 abr. 2005.

239 Idem.

240 Idem.

104 – Água na Visão do Direito

• Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricoscujas repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que se-rão implantados;

• Aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica;• Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de

recursos hídricos e para a cobrança por seu uso;• Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua

execução.

3.2.1.2. COMPOSIÇÃO DO CNRH

O CNRH é composto, conforme estabelecido por lei, por representan-tes de Ministérios e Secretarias (Especiais) da Presidência da República comatuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos; representantesindicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; representantesdos usuários dos recursos hídricos (irrigantes; indústrias; concessionárias eautorizadas de geração de energia hidrelétrica; pescadores e usuários daágua para lazer e turismo; prestadoras de serviço público de abastecimentode água e esgotamento sanitário; e hidroviários), e, representantes dasorganizações civis de recursos hídricos (consórcios e associaçõesintermunicipais de bacias hidrográficas; organizações técnicas e de ensino epesquisa, com interesse na área de recursos hídricos; e organizações não-governamentais). É presidido pelo Ministro do Meio Ambiente 241 , e,atualmente, são 57 conselheiros com mandato de três anos. O número derepresentantes do Poder Executivo Federal não pode exceder à metade maisum do total de membros”.242

A representação dos usuários ficou definida para os setores deirrigantes, indústrias, concessionárias e autorizadas de geração hidrelétrica,pescadores e lazer e turismo, prestadores de serviço público de abasteci-mento de água e esgotamento sanitário, e hidroviários. Dentre as organiza-ções civis de recursos hídricos foram definidas: comitês de baciashidrográficas, consórcios e associações intermunicipais de baciashidrográficas; organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interessena área de recursos hídricos e, organizações não-governamentais comobjetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade.

241 Disponível em http://www:cnnrh-srh.gov.br. Acesso em 26 abr. 2005.

242 Idem.

Água na Visão do Direito – 105

3.2.1.3 CÂMARAS TÉCNICAS

O CNRH possui nove Câmaras Técnicas243 e cada uma realiza, emmédia, uma reunião mensal para tratar de assuntos pertinentes às suasatribuições com o objetivo de subsidiar os conselheiros nas decisões emplenário. São compostas por sete a dezessete participantes (sendo um deleso presidente) com mandatos de dois anos. As CTs são constituídas pelospróprios conselheiros ou seus representantes devidamente credenciados.

Essa possibilidade torna-se importante já que permite, a cada reu-nião, a indicação para participação de técnicos especializados de diferentesorganizações, enriquecendo os debates. As reuniões são públicas e mesmoos convidados têm direito à voz. Grupos de Trabalho e reuniões conjuntasentre CTs agilizam os pareceres e promovem a eficácia das deliberações.Para que tudo isso funcione bem, existem regras claras como prazos deencaminhamentos, condutas em reuniões e até penalidades para ausências.

3.2.1.4 DELIBERAÇÃO

As reuniões do Conselho acontecem em sessões ordinárias e extraor-dinárias, onde Moção e Resolução são as formas de manifestação.

Será moção, quando se tratar de recomendação dirigida ao PoderPúblico ou à sociedade civil em caráter de alerta, de comunicação honrosaou pesarosa.

E resolução, quando se tratar de deliberação de matéria vinculada àsua competência ou instituição e extinção de Câmaras Técnicas – CTs ouGrupos de Trabalho. Ambas, antes de serem submetidas ao colegiado, sãoanalisadas e validadas pelas competentes CTs, bem como verificada acompatibilização com a legislação pertinente. Após aprovação, por maioriasimples no plenário, seguem para publicação no Diário Oficial da União,sendo assinadas pelo Presidente e Secretário Executivo do CNRH.

As Resoluções do Conselho têm amplitude nacional e servem parabalizar as ações nos Estados, Municípios e nas bacias hidrográficas, sendopassíveis de adequação às realidades locais. Portanto, as resoluções permi-tem o estabelecimento de um denominador comum que confere unidade àregulação de recursos hídricos no País e, ao mesmo tempo, sua adaptação àvariedade de situações regionais.

Algumas Resoluções aprovadas referem-se à estrutura de funciona-mento do Conselho. Outras se referem às suas atribuições, entre elas:

243 Disponível em http://www:cnnrh-srh.gov.br. Acesso em 26 abr. 2005.

106 – Água na Visão do Direito

• Resolução n.º 5: estabelece diretrizes para a formação e funciona-mento dos Comitês de Bacias Hidrográficas;

• Resolução n.º 14: define o processo de indicação de representan-tes dos Conselhos Estaduais, dos usuários e das Organizações Ci-vis de Recursos Hídricos no CNRH;

• Resolução n.º 15: determina normas para o disciplinamento dagestão integrada de águas subterrâneas;

• Resolução n.º 16: estabelece critérios gerais para a outorga dedireito de uso de recursos hídricos;

• Resolução n.º 19: aprova o valor da cobrança pelo uso de recursoshídricos na bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul;

• Resolução n.º 32: institui a Divisão Hidrográfica Nacional;Resolução n.º 35: estabelece as prioridades para aplicação dosrecursos oriundos da cobrança pelo uso de recursos hídricos, parao exercício de 2005;

• Resolução n.º 37: estabelece diretrizes para a outorga de recursoshídricos para a implantação de barragens em corpos de água dedomínio dos estados, do Distrito Federal ou da União.

3.2.2. CONSELHOS DE RECURSOS HÍDRICOS DOS ESTADOS E DODISTRITO FEDERAL

Os CONSELHOS DE RECURSOS HÍDRICOS DOS ESTADOS E DO DIS-TRITO FEDERAL: da mesma forma que o CNRH, são organismos colegiadosconsultivos, normativos e deliberativos, compostos por representantes dossetores usuários de água, governo e sociedade civil organizada. As compe-tências dos conselhos estaduais, com alguma variação de Estado para Esta-do, acompanham as do CNRH, só que no âmbito estadual.244

3.2.2.1.COMPETÊNCIAS DOS CONSELHOS ESTADUAIS

Os Conselhos Estaduais têm as seguintes competências:• Propor alterações na Política Estadual de Recursos Hídricos;• Opinar sobre qualquer proposta de alteração na Política Estadual

de Recursos Hídricos;

244 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos.Brasília – DF, 2004. p. 23.

Água na Visão do Direito – 107

• Apreciar o anteprojeto de Lei do Plano Estadual de RecursosHídricos;

• Aprovar relatórios anuais sobre a situação dos recursos hídricos;• Aprovar critérios de outorga do uso da água;• Aprovar os regimentos internos dos Comitês de Bacias;• Decidir os conflitos de uso da água em última instância;• Representar o Governo Estadual, através do seu Presidente, junto

a órgãos federais e internacionais, em questões relativas a recur-sos hídricos;

• Elaborar o seu Regimento Interno.

3.2.2.2. COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS ESTADUAIS

O Conselho de Recursos Hídricos Estadual é um órgão colegiado cons-tituído por Secretários de Estado e representantes de Comitês de Bacias edos Sistemas Nacionais de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente, que tem opapel de instância deliberativa superior do Sistema. É atualmente presididopelo Secretário Estadual do Meio Ambiente.245

Os demais órgãos estatais que integram o sistema são: Obras Públi-cas e Saneamento, com a vice-presidência do CRH; Agricultura e Abasteci-mento; Coordenação e Planejamento; Saúde; Energia, Minas e Comunica-ções; Ciência e Tecnologia; Transportes; Casa Civil; e Secretaria do Desen-volvimento e dos Assuntos Internacionais.246

3.2.3. COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

O Comitê de Bacias Hidrográficas é um órgão colegiado, inteiramentenovo na realidade institucional brasileira, contando com a participação dosusuários, da sociedade civil organizada, de representantes de governosmunicipais, estaduais e federal. Esse ente é destinado a atuar como “parla-mento das águas”, posto que é o fórum de decisão no âmbito de cada baciahidrográfica. Os comitês constituem a base do Sistema nacional degerenciamento de Recursos Hídricos.

245 Art.1º, Lei nº 11.560, de 22 de dezembro de 2000, que alterou o artigo 7º da Lei 10.350,

de 30 de dezembro de 1994.

246 Art. 1º, Decreto nº 40.505 de 08 de dezembro de 2000, que alterou o art. 1º do Decreto nº

36.055 de 04 de julho de 1995.

108 – Água na Visão do Direito

3.2.3.1. COMPETÊNCIA

Também conhecidos como “parlamentos das águas”, os comitês podemser de rios federais ou de rios estaduais, conforme a dominialidade de suaságuas. Dentre as atribuições dos Comitês, é importante destacar que elasdevem: promover o debate sobre questões relacionadas aos recursos hídricose articular a atuação das entidades intervenientes; arbitrar conflitos relacio-nados aos recursos hídricos; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia eacompanhar sua execução; estabelecer os mecanismos de cobrança pelo usode recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; entre outras.247

3.2.3.2. COMPOSIÇÃO

Os comitês são compostos por representantes dos governos da União,Estados, Distrito Federal, Municípios, entidades civis de recursos hídricos edos diversos setores de usuários das águas da bacia hidrográfica.

Integrarão os Comitês em rios de domínio da União representantespúblicos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e repre-sentantes da sociedade, tais como, usuários das águas de sua área de atuação,e das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

A proporcionalidade entre esses segmentos foi definida pelo ConselhoNacional de Recursos Hídricos, através da Resolução nº 05, de 10 abril de2000. Esta norma estabelece diretrizes para formação e funcionamento dosComitês de Bacias Hidrográficas, representando um avanço na participaçãoda sociedade civil nos Comitês. A resolução prevê que os representantes dosusuários sejam 40% do número total de representantes do Comitê. A somatóriados representantes dos governos municipais, estaduais e federal  não poderáultrapassar a 40% e, os da sociedade civil organizada ser mínimo de 20%.

Nos Comitês de Bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços, a repre-sentação da União deverá incluir o Ministério das Relações Exteriores e,naqueles cujos territórios abranjam terras indígenas, representantes da Fun-dação Nacional do Índio – FUNAI e das respectivas comunidades indígenas.

Cada Estado deverá fazer a respectiva regulamentação referente aosComitês de rios de seu domínio. Alguns Estados, a exemplo de São Paulo,Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo já estão em estágio bemavançado no processo de regulamentação, com diversos Comitês criados.248

247 Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos. Documento de Introdu-

ção do Plano Nacional de Recursos Hídricos.Brasília – DF, 2004. p. 23.

Água na Visão do Direito – 109

3.2.4. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

A Agência Nacional de Águas (ANA) está vinculada ao Ministério doMeio Ambiente (MMA), cuja função principal é a de implementar os instru-mentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, outorgar, fiscalizar e co-brar o uso dos recursos hídricos de domínio da União.249

A ANA tem como missão regular o uso da água dos rios e lagos dedomínio da União, assegurando quantidade e qualidade para usos múltiplos,e implementar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,um conjunto de mecanismos, jurídicos e administrativos, que visam oplanejamento racional da água com a participação de governos municipais,estaduais e sociedade civil.

Além de criar condições técnicas para implantar a Lei nº 9.433/97,conhecida como Lei das Águas, a ANA contribui na busca de solução paradois graves problemas do país: as secas prolongadas, especialmente noNordeste e a poluição dos rios. A lei institui o princípio dos usos múltiploscomo uma das bases da Política Nacional de Recursos Hídricos para que osdiferentes setores usuários (abastecimento humano, geração de energiaelétrica, irrigação, navegação, abastecimento industrial e lazer, entre ou-tros) tenham acesso à água.250

É uma autarquia sob regime especial com autonomia administrativa efinanceira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, sendo responsávelpela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos.

O projeto de criação da ANA foi aprovado pelo Congresso no dia 7 dejunho de 2000, transformando-se na Lei nº 9.984, sancionada pelo Presiden-te da República em exercício, Marco Maciel, no dia 17 de julho do mesmo ano.

Além de responsável pela execução da Política Nacional de RecursosHídricos, a ANA deve implementar a Lei das Águas, de 1997, que disciplinao uso dos recursos hídricos no Brasil.

3.2.5. AGÊNCIAS DE ÁGUA

As Agências de Água têm por função o desempenho das atividadestécnicas necessárias para que os Comitês de Bacias Hidrográfica possam ver

248 Disponível em http://www:cnnrh-srh.gov.br. Acesso em 26 abr. 2005.

249 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002.

p. 604.

250 Disponível em http://www.ana.gov.br. Acesso em 26 abr. 2005.

110 – Água na Visão do Direito

aplicadas as suas deliberações. Deverão ter sua constituição autorizada pe-los Comitês ou pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos. São condiçõeslegais necessárias para sua constituição a prévia existência do Comitê ouComitês de Bacias que as tenham instituído e a viabilidade financeira asse-gurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua áreas de atuação.Podem prestar serviços para mais de um Comitê. 251

As Agências de Águas em rios de domínio da União previstas na Lei nº9.433, de 1997, atuarão como secretarias executivas do respectivo Comitêde Bacia Hidrográfica.

A criação das Agências está condicionada, em cada bacia, à préviaexistência do respectivo Comitê  de Bacia Hidrográfica e à sua viabilidadefinanceira.

As principais competências da Agência de Água, previstas na Lei dasÁguas, são:

• manter balanço hídrico da bacia atualizado;• manter o cadastro de usuários e efetuar, mediante delegação do

outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;• analisar e emitir pareceres sobre os projetos e as obras a serem

financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso dos re-cursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsá-vel pela administração desses recursos;

• acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadadoscom a cobrança pelo uso dos recursos hídricos em sua área deatuação;

• gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em suaárea de atuação;

• celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para aexecução de suas competências;

• promover os estudos necessários para a gestão de recursos hídricosem sua área de atuação;

• elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respecti-vo Comitê de Bacia Hidrográfica;

• propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica o enquadramentodos corpos de água nas classes de uso, os valores a serem cobra-dos pelo uso dos recursos hídricos, o plano de aplicação de recur-sos e o rateio de custos das obras de uso múltiplo.

251 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002.

p. 604.

Água na Visão do Direito – 111

A figura jurídica das Agências de Água em rios de domínio da Uniãodeverá ser estabelecida por uma lei específica. A criação desses entes  de-penderá da autorização do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, ou dosrespectivos  Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, mediante solicitaçãode um ou mais Comitê de Bacia Hidrográfica. A área de atuação das Agênci-as de Água, em rios de domínio federal, deverá ser a bacia hidrográfica doComitê solicitante. Essa área de atuação poderá se estender a mais de umabacia hidrográfica, se os Comitês dessas bacias assim desejarem.

Cada Estado brasileiro poderá estabelecer, segundo as especificidadeslocais, a figura jurídica que melhor provier, para a Agência de Água (ou deBacia). O Estado de São Paulo, por exemplo, criou através da Lei nº 10.020/98, a figura de Agências de Bacia como Fundação de Direito Privado.252

3.3 O SISTEMA ESTADUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS -RIO GRANDE DO SUL

A busca de soluções para a crise da água253 , instituiu o Sistema Esta-dual de Recursos Hídricos, no Rio Grande do Sul. Este Sistema se fundamen-ta num modelo de gerenciamento caracterizado pela descentralização dasdecisões e pela ampla participação da sociedade organizada em Comitês deBacias. Assim, mesmo que o Estado seja o detentor do domínio das águas(superficiais e subterrâneas) de seu território, conforme determina a Cons-tituição Federal, ele compartilha a sua gestão com a população envolvida.

3.3.1 COMPOSIÇÃO

O Sistema Estadual dos Recursos Hídricos é composto pelo Departa-mento de Recursos Hídricos, os Comitês de Bacias, Agências de RegiõesHidrográficas e a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM).

252 Disponível em http://www:cnnrh-srh.gov.br. Acesso em 26 abr. 2005.

253 A crescente escassez da água foi definida pela UNESCO como o problema ambiental

mais grave deste século. A drenagem indiscriminada e a poluição dos recursos hídricos têm

acentuado os conflitos pelos diversos usos deste bem, tais como: abastecimento de popula-

ções e irrigação de lavouras; diluição de esgoto doméstico e industrial e pesca; geração de

energia e lazer; entre outros.

112 – Água na Visão do Direito

3.3.1.1 O DEPARTAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS – DRH

O DRH é órgão da administração direta, responsável pela integraçãodo Sistema Estadual de Recursos Hídricos, que concede a outorga do uso daágua e subsidia tecnicamente o CRH, notadamente no que tange à coorde-nação, ao acompanhamento da execução e à elaboração do anteprojeto deLei do Plano Estadual de Recursos Hídricos.

São atribuições do DRH: elaborar o anteprojeto de lei do Plano Esta-dual de Recursos Hídricos; coordenar e acompanhar a execução do PlanoEstadual de Recursos Hídricos; propor ao Conselho de Recursos Humanoscritérios para a outorga do uso da água e expedir as respectivas autoriza-ções de uso; regulamentar a operação e uso dos equipamentos e mecanis-mos de gestão dos recursos hídricos; elaborar Relatório Anual sobre a situ-ação dos recursos hídricos no Estado; assistir tecnicamente o CRH.

É importante considerar que a Lei nº 10.350, de 30 de dezembro de1994, em seu art. 10, estabeleceu a criação do DRH na então SecretariaEstadual de Planejamento Territorial e Obras, atual Secretaria Estadual dasObras Públicas e Saneamento (SOPS). Todavia, na época, não foi efetivada acriação do DRH nos moldes definidos pela legislação. Em verdade, foi criadoo Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS), no qual haviaa Divisão de Recursos Hídricos. Essa Divisão ficou com as atribuições doDepartamento preconizado pela Lei das Águas.

A Lei n.º 11.362, de 29 de junho de 1999, introduziu modificações naestrutura organizacional do Estado, e criou a Secretaria Estadual do MeioAmbiente - SEMA. No que tange ao Sistema, a referida lei determinou im-portantes alterações, quais sejam:

• a SEMA passa a atuar como órgão de integração do Sistema Esta-dual de Recursos Hídricos e na coordenação de programas de de-senvolvimento sustentável em bacias hidrográficas;

• são transferidos para a SEMA a Divisão de Recursos Hídricos per-tencente à SOPS, com seus recursos humanos, financeiros,patrimoniais e atribuições.

Assim, somente na SEMA, a Divisão de Recursos Hídricos adquiriu ostatus de Departamento, atendendo, afinal, o estabelecido pela Lei n.º10.350/94. No entanto, a Lei nº 11.362/99 não contemplou o FRH e a Pre-sidência do CRH. Isso, de uma certa forma, dificultou o processo deimplementação do Sistema, uma vez que as atividades inerentes ao Fundo ea Presidência do CRH foram mantidas na SOPS.

Água na Visão do Direito – 113

A Lei nº 11.560/2000 veio corrigir as lacunas anteriormente deixa-das. Introduzindo modificações na Lei nº 10.350/94, a lei em questão esta-beleceu:

• Secretário Estadual do Meio Ambiente como Presidente do CRH e odas Obras Públicas e Saneamento como Vice-Presidente;

• a vinculação do FRH à SEMA.A estrutura do DRH foi estabelecida pelo Regimento Interno daSecretaria Estadual do Meio Ambiente, aprovado pelo Decreto nº10.931, de 02 de agosto de 2001. Assim, na Seção III, que tratados Órgãos de Execução da Secretaria, tem-se o seguinte:

Art. 8º - Ao Departamento de Recursos Hídricos compete:• elaborar o anteprojeto de lei do Plano Estadual dos Recursos Hídricos

através da compatibilização das propostas encaminhadas pelos Co-mitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica com os planos ediretrizes setoriais do Estado, relativos às atividades que interfe-rem nos recursos hídricos;

• coordenar e acompanhar a execução do Plano Estadual de Recur-sos Hídricos;

• propor ao Conselho de Recursos Hídricos critérios para a outorgado uso da água dos corpos de água sob o domínio estadual e expe-dir as respectivas autorizações;

• regulamentar a operação e uso dos equipamentos e mecanismosde gestão dos recursos hídricos, tais como redeshidrometeorológicas, banco de dados hidrometeorológicos, cadas-tros de usuários das águas;

• elaborar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos noEstado para apreciação pelos comitês, na forma do art. 19, IV, comvista à sua divulgação pública;

• assistir tecnicamente ao Conselho de Recursos Hídricos.

Art. 9º - À Divisão de Outorga e Fiscalização do uso dos RecursosHídricos compete:

• implementar ações referentes ao gerenciamento e fiscalização douso dos recursos hídricos;

• conceder a outorga de uso das águas de domínio do Estado;• conceder licença para a execução de obras hidráulicas, a que se

refere a Lei nº 2434/54;

114 – Água na Visão do Direito

• promover a articulação do sistema de outorga com o processo delicenciamento ambiental.Art. 10 - À Seção de Controle e Autorização do uso das Águascompete:

• instruir processos de outorga do uso das águas;• elaborar e manter atualizado o cadastro de usuários das águas;• executar outras atividades correlatas.

Art. 11 - À Seção Fiscalização e controle de obras em recursos hídricoscompete:

• promover e supervisionar as ações de fiscalização e controle douso das águas de domínio do Estado;

• instruir os processos de licenciamento para obras a que se refere aLei nº 2434/54;

• executar outras atividades correlatas.

Art. 12 - À Divisão de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricoscompete:

• planejar e coordenar planos, estudos, programas e projetos queenvolvam os recursos hídricos de domínio do Estado;

• coordenar a elaboração de planos estaduais de recursos hídricos;• planejar e coordenar a rede de monitoramento quantitativo dos

recursos hídricos superficiais e subterrâneos no âmbito do estadodo RS;

• regulamentar a operação e uso dos equipamentos e mecanismosde gestão dos recursos hídricos, tais como redeshidrometeorológicas e o banco de dados hidrometeorológicos ;

• implantar e gerenciar o sistema de informações em recursoshídricos.

Art. 13 - À Seção de Apoio Técnico Operacional compete:• prestar apoio técnico ao Sistema Estadual de Recursos Hídricos;• regulamentar, garantir a operação e a manutenção do banco de

dados hidrometeorológicos;• regulamentar, garantir a operação e a manutenção da rede de

monitoramento quantitativo;• implantar e gerenciar o sistema de informações em recursos

hídricos;• executar outras atividades correlatas.

Água na Visão do Direito – 115

Art.14 - À Seção de Planejamento do Uso das Águas compete:• planejar e coordenar planos, estudos, programas e projetos que

envolvam os recursos hídricos de domínio do Estado;• planejar e implantar o Sistema de Alerta e Controle de Cheias e

Estiagens;• coordenar a elaboração de planos estaduais de recursos hídricos;• executar outras atividades correlatas.

3.3.1.2 COMITÊS DE BACIAS

OS COMITÊS DE GERENCIAMENTO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS –CGBH

Os Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas – CGBH- re-presentam a instância básica de participação da sociedade no Sistema. Tra-ta-se de colegiados instituídos oficialmente pelo Governo do Estado. Exer-cem poder deliberativo, uma vez que é no seu âmbito que são estabelecidasas prioridades de uso e as intervenções necessárias à gestão das águas deuma bacia hidrográfica, bem como devem ser dirimidos, em primeira ins-tância, os eventuais conflitos.

Conforme Grassi (1999), a composição qualitativa dos comitês deveconsiderar as funções e os interesses dos usuários, públicos e privados, e dapopulação da bacia, com referência ao bem público água. Neste particular,os usuários se distinguem pelos “interesses utilitários - econômicos e soci-ais”; a população, pelos “interesses difusos vinculados ao desenvolvimentosócio-econômico local ou regional, a aspectos culturais ou políticos, à proteçãoambiental”, entre outros; e o poder público, como detentor do domínio daságuas.

A Lei n.º 10.350/94, estabelece a proporção de representatividadenos comitê, na qual 40% será destinado aos representantes dos usuários daágua, 40% aos representantes da população e 20% aos representantes deórgãos públicos da administração direta estadual e federal.

Dentre as atribuições dos CGBH estão: encaminhar ao DRH propostarelativa à própria bacia para ser incluída no anteprojeto de lei do PlanoEstadual de Recursos Hídricos; conhecer e manifestar-se sobre o anteprojetode lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos; aprovar o Plano da respectivabacia e acompanhar a sua implementação; apreciar o relatório anual sobrea situação dos recursos hídricos, no Estado; propor ao órgão competente oenquadramento dos corpos de água da bacia; aprovar os valores a seremcobrados pelo uso da água; realizar o rateio do custo das obras a serem

116 – Água na Visão do Direito

executadas na bacia; aprovar os programas anuais e plurianuais de investi-mentos em serviços e obras da bacia; compatibilizar os interesses dos dife-rentes usuários e resolver eventuais conflitos em primeira instância.

3.3.1.3 AS AGÊNCIAS DE REGIÕES HIDROGRÁFICAS

Para implementar a Política de Recursos Hídricos, que representa umdos principais objetivos deste Sistema, o Estado foi dividido em três RegiõesHidrográficas, a do Guaíba, a do Uruguai e a das Bacias Litorâneas, e em 23bacias hidrográficas. Para cada bacia está destinado um comitê, garantindo,desta forma, que os seus respectivos cidadãos participem de um processocontínuo e solidário, ou seja, do gerenciamento de suas águas.

A Lei das Águas prevê a criação de três Agências de RegiãoHidrográfica, uma para cada região hidrográfica: a da Bacia do Uruguai, a daBacia do Guaíba e a das Bacias Litorâneas. Estas serão instituídas por lei eestarão integradas à Administração Indireta do Estado. Sua função principalé a de prestar apoio técnico ao Sistema Estadual de Recursos Hídricos. Entreas atribuições estão: assessorar tecnicamente os comitês de bacias na ela-boração de propostas relativas ao Plano Estadual de Recursos Hídricos, nopreparo dos Planos de Bacia e na tomada de decisões que demandem estu-dos técnicos; subsidiar os comitês na proposição do enquadramento doscorpos de água; manter e operar equipamentos e mecanismos de gestão;arrecadar e aplicar os valores correspondentes à cobrança pelo uso da água.

Mapa das Regiões Hidrográficas do Rio Grande do Sul254

254 Disponível em http://www.sema.rs.gov.br. Acesso em 27 abr 2005.

Água na Visão do Direito – 117

3.3.1.4 FEPAM – FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

Órgão ambiental do Estado que integra o Sistema com atribuiçõesespecíficas, relativas às interfaces com o Sistema Estadual de Meio Ambien-te. Assim, caberá à FEPAM a concessão de outorga quando se referir a usosque afetem as condições qualitativas dos recursos hídricos (art. 29, §2º).Além disso, é atribuição do órgão ambiental a aprovação do enquadramentodos corpos de água, de acordo com os objetivos de qualidade, com base naproposta elaborada pelos comitês de bacias.

CAPÍTULO 4 – LEGISLAÇÃO

4.1 LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997.255

Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o SistemaNacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamentao inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1ºda Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Leinº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICAFaço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

Da Política Nacional de Recursos Hídricos

CAPÍTULO I

Dos Fundamentos

Art. 1 - A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintesfundamentos:I - a água é um bem de domínio público;II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é oconsumo humano e a dessedentação de animais;IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplodas águas;

255 Atualizada até 29.04.2005.

120 – Água na Visão do Direito

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Políti-ca Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos Hídricos;VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com aparticipação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

CAPÍTULO II

Dos Objetivos

Art. 2 - São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade deágua, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o trans-porte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origemnatural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

CAPÍTULO III

Das Diretrizes Gerais de Ação

Art. 3 - Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da PolíticaNacional de Recursos Hídricos:I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectosde quantidade e qualidade;II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiõesdo País;III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setoresusuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemasestuarinos e zonas costeiras.

Art. 4 - A União articular-se-á com os Estados tendo em vista o gerenciamentodos recursos hídricos de interesse comum.

Água na Visão do Direito – 121

CAPÍTULO IV

Dos Instrumentos

Art. 5 - São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:I - os Planos de Recursos Hídricos;II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usospreponderantes da água;III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;V - a compensação a municípios;VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

SEÇÃO I

Dos Planos de Recursos Hídricos

Art. 6 - Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam afundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de RecursosHídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

Art. 7 - Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, comhorizonte de planejamento compatível com o período de implantação deseus programas e projetos e terão o seguinte conteúdo mínimo:I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução deatividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos,em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria daqualidade dos recursos hídricos disponíveis;V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetosa serem implantados, para o atendimento das metas previstas;VI - (VETADO)VII - (VETADO)VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistasà proteção dos recursos hídricos.

122 – Água na Visão do Direito

Art. 8 - Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados por baciahidrográfica, por Estado e para o País.

SEÇÃO II

Do Enquadramento dos Corpos de Água em Classes, Segundo osUsos Preponderantes da Água

Art. 9 - O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usospreponderantes da água, visa a:I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes aque forem destinadas;II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante açõespreventivas permanentes.

Art. 10 - As classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislaçãoambiental.

SEÇÃO III

Da Outorga de Direitos de Uso de Recursos Hídricos

Art. 11 - O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos temcomo objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos daágua e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

Art. 12 - Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguin-tes usos de recursos hídricos:I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo deágua para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo deprocesso produtivo;II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumode processo produtivo;III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ougasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposi-ção final;IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da águaexistente em um corpo de água.

Água na Visão do Direito – 123

§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em re-gulamento:I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de peque-nos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração deenergia elétrica estará subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos,aprovado na forma do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecidaa disciplina da legislação setorial específica.

Art. 13 - Toda outorga estará condicionada às prioridades de usoestabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classeem que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção de condiçõesadequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso.Parágrafo único. A outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar ouso múltiplo destes.

Art. 14 - A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Po-der Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal.§ 1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao DistritoFederal competência para conceder outorga de direito de uso de recursohídrico de domínio da União.§ 2º (VETADO)

Art. 15 - A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensaparcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguin-tes circunstâncias:I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;II - ausência de uso por três anos consecutivos;III - necessidade premente de água para atender a situações de calamida-de, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, paraos quais não se disponha de fontes alternativas;VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade docorpo de água.

Art. 16 - Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á porprazo não excedente a trinta e cinco anos, renovável.

124 – Água na Visão do Direito

Art. 17 - (VETADO)

Art. 18 – A outorga não implica a alienação parcial das águas, que sãoinalienáveis, mas o simples direito de seu uso.

SEÇÃO IV

Da Cobrança do Uso de Recursos Hídricos

Art. 19 - A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicaçãode seu real valor;II - incentivar a racionalização do uso da água;III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e inter-venções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Art. 20 - Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga,nos termos do art. 12 desta Lei.Parágrafo único. (VETADO)

Art. 21 - Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursoshídricos devem ser observados, dentre outros:I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seuregime de variação;II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, ovolume lançado e seu regime de variação e as características físico-quími-cas, biológicas e de toxidade do afluente.

Art. 22 - Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursoshídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que fo-ram gerados e serão utilizados:I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nosPlanos de Recursos Hídricos;II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dosórgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento deRecursos Hídricos.§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é limitada asete e meio por cento do total arrecadado.

Água na Visão do Direito – 125

§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados afundo perdido em projetos e obras que alterem, de modo considerado bené-fico à coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de vazão de umcorpo de água.§ 3º (VETADO)

Art. 23 - (VETADO)

SEÇÃO V

Da Compensação a Municípios

Art. 24 - (VETADO)

SEÇÃO VI

Do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos

Art. 25 - O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistemade coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobrerecursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão.Parágrafo único. Os dados gerados pelos órgãos integrantes do SistemaNacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos serão incorporados ao Sis-tema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

Art. 26 - São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Infor-mações sobre Recursos Hídricos:I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações;II - coordenação unificada do sistema;III - acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.

Art. 27 - São objetivos do Sistema Nacional de Informações sobre RecursosHídricos:I - reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situa-ção qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e de-manda de recursos hídricos em todo o território nacional;III - fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

126 – Água na Visão do Direito

CAPÍTULO V

Do Rateio de Custos das Obras de Uso Múltiplo, de Interesse Co-mum ou Coletivo

Art. 28 - (VETADO)

CAPÍTULO VI

Da Ação do Poder Público

Art. 29 - Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, com-pete ao Poder Executivo Federal:I - tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamentodo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;II - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e fisca-lizar os usos, na sua esfera de competência;III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos,em âmbito nacional;IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestãoambiental.Parágrafo único. O Poder Executivo Federal indicará, por decreto, a autori-dade responsável pela efetivação de outorgas de direito de uso dos recursoshídricos sob domínio da União.

Art. 30 - Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabeaos Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal, na sua esfera decompetência:I - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e regulamentar e fiscali-zar os seus usos;II - realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica;III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos,em âmbito estadual e do Distrito Federal;IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestãoambiental.

Art. 31 - Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, os Pode-res Executivos do Distrito Federal e dos municípios promoverão a integraçãodas políticas locais de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação dosolo e de meio ambiente com as políticas federal e estaduais de recursos hídricos.

Água na Visão do Direito – 127

TÍTULO II

Do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

CAPÍTULO I

Dos Objetivos e da Composição

Art. 32 - Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de RecursosHídricos, com os seguintes objetivos:I - coordenar a gestão integrada das águas;II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursoshídricos;III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dosrecursos hídricos;V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Art. 33 - Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de RecursosHídricos:I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984,de 2000)I-A. – a Agência Nacional de Águas;II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;III– os Comitês de Bacia Hidrográfica;IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal emunicipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursoshídricos;V – as Agências de Água.(caput e incisos com redação alterada pela Lei 9.984, de 2000)

CAPÍTULO II

Do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Art. 34 - O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da Repúblicacom atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;

128 – Água na Visão do Direito

IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.Parágrafo único. O número de representantes do Poder Executivo Federalnão poderá exceder à metade mais um do total dos membros do ConselhoNacional de Recursos Hídricos.

Art. 35 - Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com osplanejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entreConselhos Estaduais de Recursos Hídricos;III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricoscujas repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implan-tados;IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelosConselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de BaciaHidrográfica;V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricose à Política Nacional de Recursos Hídricos;VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da PolíticaNacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação doSistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica eestabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;VIII - (VETADO)IX - acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos e deter-minar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;IX – acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricose determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursoshídricos e para a cobrança por seu uso.(redação do inciso IX alterado pela Lei 9.984, de 2000)

Art. 36 - O Conselho Nacional de Recursos Hídricos será gerido por:I - um Presidente, que será o Ministro titular do Ministério do Meio Ambien-te, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;II - um Secretário Executivo, que será o titular do órgão integrante da estru-tura do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da AmazôniaLegal, responsável pela gestão dos recursos hídricos.

Água na Visão do Direito – 129

CAPÍTULO III

Dos Comitês de Bacia Hidrográfica

Art. 37 - Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia,ou de tributário desse tributário; ouIII - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios dedomínio da União será efetivada por ato do Presidente da República.

Art. 38 - Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de suaárea de atuação:I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e arti-cular a atuação das entidades intervenientes;II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionadosaos recursos hídricos;III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e suge-rir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de RecursosHídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de poucaexpressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitosde uso de recursos hídricos, de acordo com os domínios destes;VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos esugerir os valores a serem cobrados;VII - (VETADO)VIII - (VETADO)IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de usomúltiplo, de interesse comum ou coletivo.Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberárecurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de RecursosHídricos, de acordo com sua esfera de competência.

Art. 39 - Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representan-tes:I - da União;

130 – Água na Visão do Direito

II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda queparcialmente, em suas respectivas áreas de atuação;III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação;IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada nabacia.§ 1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo,bem como os critérios para sua indicação, serão estabelecidos nos regimen-tos dos comitês, limitada a representação dos poderes executivos da União,Estados, Distrito Federal e Municípios à metade do total de membros.§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços etransfronteiriços de gestão compartilhada, a representação da União deveráincluir um representante do Ministério das Relações Exteriores.§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjamterras indígenas devem ser incluídos representantes:I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação daUnião;II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.§ 4º A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica com área deatuação restrita a bacias de rios sob domínio estadual, dar-se-á na formaestabelecida nos respectivos regimentos.

Art. 40 - Os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos por um Presiden-te e um Secretário, eleitos dentre seus membros.

CAPÍTULO IV

Das Agências de Água

Art. 41 - As Agências de Água exercerão a função de secretaria executivado respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica.

Art. 42 - As Agências de Água terão a mesma área de atuação de um oumais Comitês de Bacia Hidrográfica.Parágrafo único. A criação das Agências de Água será autorizada pelo Con-selho Nacional de Recursos Hídricos ou pelos Conselhos Estaduais de Recur-sos Hídricos mediante solicitação de um ou mais Comitês de BaciaHidrográfica.

Água na Visão do Direito – 131

Art. 43 - A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimentodos seguintes requisitos:I - prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de BaciaHidrográfica;II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursoshídricos em sua área de atuação.

Art. 44 - Compete às Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação:I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em suaárea de atuação;II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso derecursos hídricos;IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financia-dos com recursos gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos eencaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração des-ses recursos;V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com acobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área deatuação;VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execu-ção de suas competências;VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação dorespectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricosem sua área de atuação;X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivoComitê de Bacia Hidrográfica;XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encami-nhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Re-cursos Hídricos, de acordo com o domínio destes;b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo usode recursos hídricos;d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum oucoletivo.

132 – Água na Visão do Direito

CAPÍTULO V

Da Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Art. 45 - A Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricosserá exercida pelo órgão integrante da estrutura do Ministério do Meio Am-biente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, responsável pela gestãodos recursos hídricos.

Art. 46 - Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de RecursosHídricos:I – prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacionalde Recursos Hídricos;II – REVOGADO;III – instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Re-cursos Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica;IV – REVOGADO;V – elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentáriaanual e submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.(redação do caput e incisos alterada pela Lei 9.984, de 2000)

CAPÍTULO VI

Das Organizações Civis de Recursos Hídricos

Art. 47 - São consideradas, para os efeitos desta Lei, organizações civis derecursos hídricos:I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área derecursos hídricos;IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interes-ses difusos e coletivos da sociedade;V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Con-selhos Estaduais de Recursos Hídricos.

Art. 48 - Para integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, as organi-zações civis de recursos hídricos devem ser legalmente constituídas.

Água na Visão do Direito – 133

TÍTULO III

Das Infrações e Penalidades

Art. 49 - Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricossuperficiais ou subterrâneos:I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a res-pectiva outorga de direito de uso;II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com aderivação ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos,que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos,sem autorização dos órgãos ou entidades competentes;III - (VETADO)IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacio-nados com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas naoutorga;V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem adevida autorização;VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valoresdiferentes dos medidos;VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regula-mentos administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixa-dos pelos órgãos ou entidades competentes;VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentesno exercício de suas funções.

Art. 50 - Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referen-tes à execução de obras e serviços hidráulicos, derivação ou utilização derecursos hídricos de domínio ou administração da União, ou pelo não atendi-mento das solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competen-te, ficará sujeito às seguintes penalidades, independentemente de sua or-dem de enumeração:I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correçãodas irregularidades;II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$100,00 (cem reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais);III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviçose obras necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga oupara o cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e

134 – Água na Visão do Direito

proteção dos recursos hídricos;IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para reporincontinenti, no seu antigo estado, os recursos hídricos, leitos e margens,nos termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços deextração de água subterrânea.§ 1º Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço público deabastecimento de água, riscos à saúde ou à vida, perecimento de bens ouanimais, ou prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a multa a ser aplica-da nunca será inferior à metade do valor máximo cominado em abstrato.§ 2º No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa,serão cobradas do infrator as despesas em que incorrer a Administraçãopara tornar efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dosarts. 36, 53, 56 e 58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pelaindenização dos danos a que der causa.§ 3º Da aplicação das sanções previstas neste título caberá recurso à auto-ridade administrativa competente, nos termos do regulamento.§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.

TÍTULO IV

Das Disposições Gerais e Transitórias

Art. 51 - O Conselho Nacional de Recursos Hídricos e os Conselhos Estadu-ais de Recursos Hídricos poderão delegar a organizações sem fins lucrativosrelacionadas no art. 47 desta Lei, por prazo determinado, o exercício defunções de competência das Agências de Água, enquanto esses organismosnão estiverem constituídos.(artigo com redação alterada pela Lei nº 10.881, de 2004)

Art. 52 - Enquanto não estiver aprovado e regulamentado o Plano Nacionalde Recursos Hídricos, a utilização dos potenciais hidráulicos para fins degeração de energia elétrica continuará subordinada à disciplina da legisla-ção setorial específica.

Art. 53 - O Poder Executivo, no prazo de cento e vinte dias a partir dapublicação desta Lei, encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dis-pondo sobre a criação das Agências de Água.

Art. 54 - O art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, passa a vigorarcom a seguinte redação:

Água na Visão do Direito – 135

“Art. 1º .............................................................................

........................................................................................

III - quatro inteiros e quatro décimos por cento à Secretaria de RecursosHídricos do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazô-nia Legal;IV - três inteiros e seis décimos por cento ao Departamento Nacional deÁguas e Energia Elétrica - DNAEE, do Ministério de Minas e Energia;V - dois por cento ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

...................................................................................

§ 4º A cota destinada à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério doMeio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal será empregadana implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do SistemaNacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e na gestão da redehidrometeorológica nacional.§ 5º A cota destinada ao DNAEE será empregada na operação e expansão desua rede hidrometeorológica, no estudo dos recursos hídricos e em serviçosrelacionados ao aproveitamento da energia hidráulica.”Parágrafo único. Os novos percentuais definidos no caput deste artigo entra-rão em vigor no prazo de cento e oitenta dias contados a partir da data depublicação desta Lei.

Art. 55 - O Poder Executivo Federal regulamentará esta Lei no prazo decento e oitenta dias, contados da data de sua publicação.

Art. 56 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 57 - Revogam-se as disposições em contrário.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

136 – Água na Visão do Direito

4.2 LEI Nº 10.350, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1994.256

Institui o Sistema Estadual de Recursos Hídricos, regulamen-tando o artigo 171 da Constituição do Estado do Rio Grande doSul.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.Faço saber, em cumprimento ao disposto no artigo 82, inciso IV da Consti-tuição do Estado, que a Assembléia Legislativa aprovou e eu sanciono epromulgo a Lei seguinte:

CAPÍTULO I

Da Política Estadual de Recursos Hídricos

SEÇÃO I

Dos Objetivos e Princípios

Art. 1 - A água é um recurso natural de disponibilidade limitada e dotado devalor econômico que, enquanto bem público de domínio do Estado, terá suagestão definida através de uma Política de Recursos Hídricos, nos termosdesta Lei.Parágrafo único - Para os efeitos desta Lei, os recursos hídricos são conside-rados na unidade do ciclo hidrológico, compreendendo as fases aérea, su-perficial e subterrânea, e tendo a bacia hidrográfica como unidade básica deintervenção.

Art. 2 - A Política Estadual de Recursos Hídricos tem por objetivo promovera harmonização entre os múltiplos e competitivos usos dos recursos hídricose sua limitada e aleatória disponibilidade temporal e espacial, de modo a:I - assegurar o prioritário abastecimento da população humana e permitir acontinuidade e desenvolvimento das atividades econômicas;II - combater os efeitos adversos das enchentes e estiagens, e da erosão dosolo;III - impedir a degradação e promover a melhoria de qualidade e o aumentoda capacidade de suprimento dos corpos de água, superficiais e subterrâne-

256 Atualizado até 29.04.2005.

Água na Visão do Direito – 137

os, a fim de que as atividades humanas se processem em um contexto dedesenvolvimento sócio-econômico que assegure a disponibilidade dos re-cursos hídricos aos seus usuários atuais e às gerações futuras, em padrõesquantitativa e qualitativamente adequados.

Art. 3 - A Política Estadual de Recursos Hídricos reger-se-á pelos seguintesprincípios:I - Todas as utilizações dos recursos hídricos que afetam sua disponibilidadequalitativa ou quantitativa, ressalvadas aquelas de caráter individual, parasatisfação de necessidades básicas da vida, ficam sujeitas à prévia aprova-ção pelo Estado;II - a gestão dos recursos hídricos pelo Estado processar-se-á no quadro doordenamento territorial, visando à compatibilização do desenvolvimentoeconômico e social com a proteção do meio ambiente;III - os benefícios e os custos da utilização da água devem ser equitativamenterepartidas através de uma gestão estatal que reflita a complexidade de inte-resses e as possibilidades regionais, mediante o estabelecimento de instân-cias de participação dos indivíduos e das comunidades afetadas;IV - as diversas utilizações da água serão cobradas, com a finalidade degerar recursos para financiar a realização das intervenções necessárias àutilização e à proteção dos recursos hídricos, e para incentivar a corretautilização da água;V - é dever primordial do Estado oferecer à sociedade, periodicamente, paraconhecimento, exame e debate, relatórios sobre o estado quantitativo equalitativo dos recursos hídricos.

SEÇÃO II

Das Diretrizes

Art. 4º - São diretrizes específicas da Política Estadual de Recursos Hídricos:I - descentralização da ação do Estado por regiões e bacias hidrográficas;II - participação comunitária através da criação de Comitês de Gerenciamentode Bacias Hidrográficas congregando usuários de água, representantes po-líticos e de entidades atuantes na respectiva bacia;III - compromisso de apoio técnico por parte do Estado através da criaçãode Agências de Região Hidrográfica incumbidas de subsidiar com alternati-vas bem definidas do ponto de vista técnico, econômico e ambiental, osComitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica que compõe a respectivaregião;

138 – Água na Visão do Direito

IV - integração do gerenciamento dos recursos hídricos e do gerenciamentoambiental através da realização de Estudos de Impacto Ambiental e respec-tivos Relatórios de Impacto Ambiental, com abrangência regional, já na fasede planejamento das intervenções nas bacias;V - articulação do Sistema Estadual de Recursos Hídricos com o SistemaNacional destes recursos e com Sistemas Estaduais ou atividades afins, taiscomo de planejamento territorial, meio ambiente, saneamento básico, agri-cultura e energia;VI - compensação financeira, através de programas de desenvolvimentopromovidos pelo Estado, aos municípios que sofram prejuízos decorrentesda inundação de áreas por reservatórios ou restrições decorrentes de leis deproteção aos mananciais;VII - incentivo financeiro aos municípios afetados por áreas de proteçãoambiental de especial interesse para os recursos hídricos, com recursos pro-venientes do produto da participação, ou da compensação financeira do Es-tado no resultado da exploração de potenciais hidroenergéticos em seu ter-ritório, respeitada a Legislação Federal.

CAPÍTULO II

Do Sistema de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul

Art. 5 - Integram o Sistema de Recursos Hídricos, o Conselho de RecursosHídricos, o Departamento de Recursos Hídricos, os Comitês de Gerenciamentode Bacia Hidrográfica e as Agências de Região Hidrográfica.Parágrafo único - Para os efeitos desta Lei, integrará ainda o Sistema oórgão ambiental do Estado.

SEÇÃO 1

Dos Objetivos

Art. 6 - São objetivos do Sistema de Recursos Hídricos do Rio Grande doSul:I - a execução e atualização da Política Estadual de Recursos Hídricos;II - a proposição, execução e atualização do Plano Estadual;III - a proposição, execução e atualização dos Planos de Bacias Hidrográficas;IV - a instituição de mecanismos de coordenação e integração doplanejamento e da execução das atividades públicas e privadas no setorhídrico;

Água na Visão do Direito – 139

V - a compatibilização da Política Estadual com a Política Federal sobre autilização e proteção dos recursos hídricos no Estado.

SEÇÃO 2

Do Conselho de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul

Art. 7 - Fica instituído o Conselho de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sulcomo instância deliberativa superior do Sistema de Recursos Hídricos do RioGrande do Sul, a ser presidido pelo Secretário de Estado do PlanejamentoTerritorial e Obras, e integrado por:I - Secretários de Estado cujas atividades se relacionem com a gestão dosrecursos hídricos, o planejamento estratégico e a gestão financeira do Esta-do;II - três representantes dos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica,um para cada região hidrográfica em que se divide o Estado.Parágrafo único - Integrarão, ainda, o Conselho, mediante convite do Gover-nador do Estado, um representante, respectivamente, do Sistema Nacionaldo Meio Ambiente e do Sistema Nacional de Gerenciamento de RecursosHídricos.

Art. 8 - Compete ao Conselho de Recursos Hídricos:I - propor alterações na Política Estadual de Recursos Hídricos a serem enca-minhadas na forma de proposta de projeto de lei ao Governador do Estado;II - opinar sobre qualquer proposta de alteração da Política Estadual deRecursos Hídricos;III - apreciar o anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricospreviamente ao seu encaminhamento ao Governador do Estado e acompa-nhar sua implementação;IV - aprovar os relatórios anuais sobre a situação dos recursos hídricos doRio Grande do Sul;V - aprovar critérios de outorga do uso da água;VI - aprovar os regimentos dos Comitês de Gerenciamento de BaciaHidrográfica;VII - decidir os conflitos de uso de água em última instância no âmbito doSistema de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul;VIII - representar o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através de seupresidente, junto aos órgãos federais e entidades internacionais que te-nham interesses relacionados aos recursos hídricos do Estado;IX - elaborar seu Regimento Interno.

140 – Água na Visão do Direito

Parágrafo único - As deliberações do Conselho serão tomadas pela maioriade seus membros.

Art. 9 - O Conselho será assistido em suas funções administrativas por umaSecretaria Executiva e em suas funções técnicas pelo Departamento de Re-cursos Hídricos da Secretaria do Planejamento Territorial e Obras.

SEÇÃO 3

Do Departamento de Recursos Hídricos

Art. 10 - Fica criado na Secretaria Estadual do Planejamento Territorial eObras, o Departamento de Recursos Hídricos, como órgão de integração doSistema de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul.

Art. 11 - Compete ao Departamento de Recursos Hídricos:I - elaborar o anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricosatravés da compatibilização das propostas encaminhadas pelos Comitês deGerenciamento de Bacia Hidrográfica com os planos e diretrizes setoriais doEstado, relativos às atividades que interferem nos recursos hídricos;II - coordenar e acompanhar a execução do Plano Estadual de RecursosHídricos, cabendo-lhe, em especial:a) propor ao Conselho de Recursos Hídricos critérios para a outorga do usoda água dos corpos de água sob domínio estadual e expedir as respectivasautorizações de uso;b) regulamentar a operação e uso dos equipamentos e mecanismos de ges-tão dos recursos hídricos, tais como redes hidrometeorológicas, banco dedados hidrometeorológicos, cadastros de usuários das águas;c) elaborar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos no Esta-do para apreciação pelos Comitês, na forma do Artigo 19, IV, com vista à suadivulgação pública.III - assistir tecnicamente o Conselho de Recursos Hídricos.

SEÇÃO 4

Dos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica

Art. 12 - Em cada bacia hidrográfica será instituído um Comitê deGerenciamento de Bacia Hidrográfica, ao qual caberá a coordenação

Água na Visão do Direito – 141

programática das atividades dos agentes públicos e privados, relacionadosaos recursos hídricos, compatibilizando, no âmbito espacial da sua respecti-va bacia, as metas do Plano Estadual de Recursos Hídricos com a crescentemelhoria da qualidade dos corpos de água.

Art. 13 - Cada comitê será constituído por:I - representantes dos usuários da água, cujo peso de representação deverefletir, tanto quanto possível, sua importância econômica na região e o seuimpacto sobre os corpos de água;II - representantes da população da bacia, seja diretamente provenientesdos poderes legislativos municipais ou estaduais, seja por indicação de or-ganizações e entidades da sociedade civil;III - representantes dos diversos órgãos da administração direta federal eestadual, atuantes na região e que estejam relacionados com os recursoshídricos, excetuados aqueles que detém competências relacionadas à ou-torga do uso da água ou licenciamento de atividades potencialmentepoluidoras.Parágrafo único - Entende-se como usuários da água indivíduos, grupos,entidades públicas e privadas e coletividades que, em nome próprio ou node terceiros, utilizam os recursos hídricos como:a) insumo em processo produtivo ou para consumo final;b) receptor de resíduos;c) meio de suporte de atividades de produção ou consumo.

Art. 14 - Na composição dos grupos a que se refere o artigo anterior deveráser observada a distribuição de 40% de votos para representantes do grupodefinido no inciso I, 40% de votos para representantes do grupo definido noinciso II e 20% para os representantes do grupo definido no inciso III.

Art. 15 - Os órgãos e entidades federais, estaduais ou municipais que, nabacia hidrográfica, exerçam atribuições relacionadas à outorga do uso daágua ou licenciamento de atividades potencialmente poluidoras terão as-sento nos Comitês e participarão nas suas deliberações, sem direito de voto.Art. 16 - Os comitês serão presididos por um de seus integrantes perten-cente aos grupos definidos nos incisos I ou II do artigo 13, eleito por seuspares, para um mandato de 2 anos, permitida a recondução.

Art. 17 - Todos os integrantes de um comitê deverão ter plenos poderes derepresentação dos órgãos ou entidades de origem.

142 – Água na Visão do Direito

Art. 18 - A indicação da composição dos membros de cada comitê, bem comoas normas básicas de orientação e de elaboração do respectivo regimentointerno, serão estabelecidas por decreto do Poder Executivo do Estado.

Art. 19 - Os comitês têm como atribuições:I - encaminhar ao Departamento de Recursos Hídricos a proposta relativa àbacia hidrográfica, contemplando, inclusive, objetivos de qualidade, paraser incluída no anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;II - conhecer e manifestar-se sobre o anteprojeto de lei do Plano Estadual deRecursos Hídricos previamente ao seu encaminhamento ao Governador doEstado;III - aprovar o Plano da respectiva bacia hidrográfica e acompanhar suaimplementação;IV - apreciar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos do RioGrande do Sul;V - propor ao órgão competente o enquadramento dos corpos de água dabacia hidrográfica em classes de uso e conservação;VI - aprovar os valores a serem cobrados pelo uso da água da baciahidrográfica;VII - realizar o rateio dos custos de obras de interesse comum a seremexecutados na bacia hidrográfica;VIII - aprovar os programas anuais e plurianuais de investimentos em servi-ços e obras de interesse da bacia hidrográfica tendo por base o Plano darespectiva bacia hidrográfica;IX - compatibilizar os interesses dos diferentes usuários da água, dirimindo,em primeira instância, os eventuais conflitos.

SEÇÃO 5

Das Agências de Região Hidrográfica

Art. 20 - Às agências de Região Hidrográfica, a serem instituídas por Leicomo integrantes da Administração Indireta do Estado, caberá prestar oapoio técnico ao Sistema Estadual de Recursos Hídricos, incluindo, entresuas atribuições, as de:I - assessorar tecnicamente os Comitês de Gerenciamento de BaciaHidrográfica na elaboração de proposições relativas ao Plano Estadual deRecursos Hídricos, no preparo dos Planos de Bacia Hidrográfica, bem comona tomada de decisões políticas que demandem estudos técnicos;

Água na Visão do Direito – 143

II - subsidiar os comitês com estudos técnicos, econômicos e financeirosnecessários à fixação dos valores de cobrança pelo uso da água e rateio decustos de obras de interesse comum da bacia hidrográfica;III - subsidiar os Comitês na proposição de enquadramento dos corpos deágua da bacia em classes de uso e conservação;IV - subsidiar o Departamento de Recursos Hídricos na elaboração do relató-rio anual sobre a situação dos recursos hídricos do Estado e do Plano Esta-dual de Recursos Hídricos;V - manter e operar os equipamentos e mecanismos de gestão dos recursoshídricos mencionados no artigo 11, II, b).VI - arrecadar e aplicar os valores correspondentes à cobrança pelo uso daágua de acordo com o Plano de cada bacia hidrográfica.

CAPÍTULO III

Do Planejamento dos Recursos Hídricos

Art. 21 - Os objetivos, princípios e diretrizes da Política Estadual de Recur-sos Hídricos, definidos nesta Lei, serão discriminados no Plano Estadual deRecursos Hídricos e nos planos de Bacias Hidrográficas.

SEÇÃO I

Do Plano Estadual de Recursos Hídricos

Art. 22 - O Plano Estadual de Recursos Hídricos, a ser instituído por lei, comhorizonte de planejamento não inferior a 12 anos e atualizações periódicas,aprovadas até o final do segundo ano de mandato do Governador do Estado,terá abrangência estadual, com detalhamento por bacia hidrográfica.

Art. 23 - Serão elementos constitutivos do Plano Estadual de RecursosHídricos:I - a tradução dos objetivos da Política Estadual de Recursos Hídricos emmetas a serem alcançadas em prazos definidos;II - a ênfase nos aspectos quantitativos, de forma compatível com os objetivosde qualidade de água, estabelecidos a partir das propostas dos Comitês deGerenciamento de Bacia Hidrográfica;III - o inventário das disponibilidades hídricas presentes e das estruturas dereservação existentes;

144 – Água na Visão do Direito

IV - o inventário dos usos presentes e dos conflitos resultantes;V - a projeção dos usos e das disponibilidades de recursos hídricos e osconflitos potenciais;VI - a definição e as análises pormenorizadas das áreas críticas, atuais epotenciais;VII - as diretrizes para a outorga do uso da água, que considerem a aleato-riedade das projeções dos usos e das disponibilidades de água;VIII - as diretrizes para a cobrança pelo uso da água;IX - o limite mínimo para a fixação dos valores a serem cobrados pelo uso daágua.Parágrafo único - O Plano Estadual de Recursos Hídricos contemplará tam-bém os programas de desenvolvimento nos municípios a que se referem osincisos VI e VII do artigo 4º.

Art. 24 - O Plano Estadual de Recursos Hídricos será elaborado com basenas propostas encaminhadas pelos Comitês de Gerenciamento de BaciaHidrográfica, e levará em conta, ainda:I - propostas apresentadas individual ou coletivamente por usuários da água;II - planos regionais e setoriais de desenvolvimento;III - tratados internacionais;IV - estudos, pesquisas e outros documentos públicos que possam contribuirpara a compatibilização e consolidação das propostas a que se refere o “caput”.Parágrafo único - O Plano Estadual de Recursos Hídricos considerará, obri-gatoriamente, a variável ambiental através da incorporação, ao nível doplanejamento de cada bacia hidrográfica, de Estudos de Impacto Ambientale respectivos Relatórios de Impacto Ambiental, de modo a conter um juízoprévio de viabilidade do licenciamento ambiental global, sem prejuízo dolicenciamento nos termos da legislação vigente.

Art. 25 - Com a finalidade de permitir a avaliação permanente da execuçãodo Plano Estadual de Recursos Hídricos, o Poder Executivo, através do De-partamento Estadual de Recursos Hídricos, publicará, até 30 de abril decada ano, o relatório sobre a situação dos recursos hídricos no Estado.

SEÇÃO 2

Dos Planos de Bacia Hidrográfica

Art. 26 - Os planos de Bacia Hidrográfica têm por finalidade operacionalizar,no âmbito de cada bacia hidrográfica, por um período de 4 anos, com atua-

Água na Visão do Direito – 145

lizações periódicas a cada 2 anos, as disposições do Plano Estadual de Re-cursos Hídricos, compatibilizando os aspectos quantitativos e qualitativos,de modo a assegurar que as metas e usos previstos pelo Plano Estadual deRecursos Hídricos sejam alcançados simultaneamente com melhorias sensí-veis e contínuas dos aspectos qualitativos dos corpos de água.

Art. 27 - Serão elementos constitutivos dos Planos de Bacia Hidrográfica:I - objetivos de qualidade a serem alcançados em horizontes de planejamentonão inferiores ao estabelecido no Plano Estadual de Recursos Hídricos, nostermos do artigo 22.II - programas das intervenções estruturais e não-estruturais e sua especi-alização;III - esquemas de financiamento dos programas a que se refere o incisoanterior, através de:a) determinação dos valores cobrados pelo uso da água;b) rateio dos investimentos de interesse comum;c) previsão dos recursos complementares alocados pelos orçamentos públi-cos e privados na bacia.

Art. 28 - Os planos de Bacia Hidrográfica serão elaborados pelas Agênciasde Região Hidrográfica e aprovados pelos respectivos Comitês deGerenciamento de Bacia Hidrográfica.

CAPÍTULO IV

Dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos

SEÇÃO I

Da Outorga do Uso dos Recursos Hídricos

Art. 29 - Dependerá da outorga do uso da água qualquer empreendimentoou atividade que altere as condições quantitativas e qualitativas, ou ambas,das águas superficiais ou subterrâneas, observado o Plano Estadual de Re-cursos Hídricos e os planos de Bacia Hidrográfica.§ 1º - A outorga será emitida pelo Departamento de Recursos Hídricos me-diante autorização ou licença de uso, quando referida a usos que alterem ascondições quantitativas das águas.§ 2º - O órgão ambiental do Estado emitirá a outorga quando referida a usosque afetem as condições qualitativas das águas.

146 – Água na Visão do Direito

Art. 30 - A outorga de que trata o artigo anterior será condicionada àsprioridades de uso estabelecidas no Plano Estadual de Recursos Hídricos eno Plano de Bacia Hidrográfica.

Art. 31 - São dispensados da outorga os usos de caráter individual parasatisfação das necessidades básicas da vida.

SEÇÃO 2

Da Cobrança Pelo Uso dos Recursos Hídricos

Art. 32 - Os valores arrecadados na cobrança pelo uso da água serão desti-nados a aplicações exclusivas e não transferíveis na gestão dos recursoshídricos da bacia hidrográfica de origem:I - a cobrança de valores está vinculada à existência de intervenções estru-turais e não estruturais aprovados para a respectiva bacia, sendo vedada aformação de fundos sem que sua aplicação esteja assegurada e destinadano Plano de Bacia Hidrográfica;II - até 8% (oito por cento) dos recursos arrecadados em cada bacia pode-rão ser destinados ao custeio dos respectivos Comitê e Agência de RegiãoHidrográfica;III - até 2% (dois por cento) dos recursos arrecadados em cada bacia pode-rão ser destinados ao custeio das atividades de monitoramento e fiscaliza-ção do órgão ambiental do Estado desenvolvidas na respectiva bacia.

Art. 33 - O valor da cobrança será estabelecido nos planos de BaciaHidrográfica, obedecidas as seguintes diretrizes gerais:I - na cobrança pela derivação da água serão considerados:a) o uso a que a derivação se destina;b) o volume captado e seu regime de variação;c) o consumo efetivo;d) a classe de uso preponderante em que estiver enquadrado o corpo deágua onde se localiza a captação;II - na cobrança pelo lançamento de efluentes de qualquer espécie serãoconsiderados:a) a natureza da atividade geradora do efluente;b) a carga lançada e seu regime de variação, sendo ponderados na sua carac-terização, parâmetros físicos, químicos, biológicos e toxicidade dos efluentes;c) a classe de uso preponderante em que estiver enquadrado o corpo deágua receptor;

Água na Visão do Direito – 147

d) o regime de variação quantitativa e qualitativa do corpo de água receptor.Parágrafo único - No caso do inciso II, os responsáveis pelos lançamentosnão ficam desobrigados do cumprimento das normas e padrões ambientais.

SEÇÃO 3

Do Rateio de Custo de Obras de Uso e Proteçãodos Recursos Hídricos

Art. 34 - As obras de uso múltiplo, ou de interesse comum ou coletivo, terãoseus custos rateados, direta ou indiretamente, segundo critérios e normas aserem estabelecidos pelo regulamento desta Lei, atendidos os seguintesprocedimentos:I - prévia negociação, realizada no âmbito do Comitê de Gerenciamento daBacia Hidrográfica pertinente, para fins de avaliação do seu potencial deaproveitamento múltiplo e conseqüente rateio de custos entre os possíveisbeneficiários;II - previsão de formas de retorno dos investimentos públicos ou justificadacircunstanciadamente a destinação de recursos a fundo perdido;III - concessão de subsídios somente no caso de interesse público relevantee na impossibilidade prática de identificação de beneficiados para o conse-qüente rateio de custos.

CAPÍTULO V

Das Infrações e Penalidades

Art. 35 - Constituem infrações para os efeitos desta Lei e de seu Regula-mento:I - utilizar os recursos hídricos para qualquer finalidade, com ou sem deriva-ção, sem a respectiva outorga do uso ou em desacordo com as condiçõesnela estabelecidas;II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento ou exercer atividaderelacionada com a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâ-neos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade das águas,sem aprovação dos órgãos ou entidades competentes;III - executar a perfuração de poços ou a captação de água subterrânea sema devida aprovação;IV - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valoresdiferentes dos medidos;

148 – Água na Visão do Direito

V - descumprir determinações normativas ou atos emanados das autorida-des competentes visando a aplicação desta Lei e de seu regulamento;VI - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes noexercício de suas funções.

Art. 36 - Sem prejuízo das sanções civis e penais cabíveis, as infraçõesacarretarão a aplicação das seguintes penalidades:I - advertência por escrito, na qual poderão ser estabelecidos prazos paracorreção das irregularidades, sob pena de multa;II - multa, simples ou diária, de 100 (cem) a 1000 (mil) vezes o valor daUPF/RS, ou outro índice que a substituir, mediante conservação de valores;III - intervenção administrativa, por prazo determinado para execução deobras necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou paracumprimento de normas referentes ao uso, controle e proteção dos recursoshídricos;IV - embargo definitivo, com revogação ou cassação da outorga, se for ocaso, para repor incontinenti, no seu antigo estado, os recursos hídricos,leitos e margens, nos termos dos artigos 58 e 59 do Código de Águas outamponar os poços de água subterrânea.§ 1º - No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa,serão cobradas ao infrator as despesas em que incorrer a Administraçãopara tornar efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dosartigos 36, 53, 56 e 58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pelaindenização dos danos a que der causa.§ 2º - Na aplicação da penalidade de multa, a autoridade levará em conside-ração a capacidade econômico-financeira do infrator, bem como sua escola-ridade.§ 3º - Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço públicode abastecimento de água, riscos à saúde ou à vida, perecimento de bensou animais, ou prejuízo de qualquer natureza a terceiros, independente-mente da revogação ou cassação da outorga, a multa a ser aplicada nuncaserá inferior à metade do valor máximo previsto no inciso II.§ 4º - Em caso de reincidência, a multa será aplicada pelo valor correspon-dente ao dobro da anteriormente imposta.

Art. 37 - Da imposição de multa caberá recurso ao Secretário dePlanejamento Territorial e Obras e, em última instância, ao Conselho deRecursos Hídricos.

Água na Visão do Direito – 149

CAPÍTULO VI

Das Disposições Finais e Transitórias

Art. 38 - Para fins de gestão dos recursos hídricos o Estado do Rio Grandedo Sul fica dividido nas seguintes regiões hidrográficas:I - Região Hidrográfica da Bacia do Rio Uruguai, compreendendo as áreas dedrenagem do Rio Uruguai e do Rio Negro;II - Região Hidrográfica da Bacia do Guaíba, compreendendo as áreas dedrenagem do Guaíba;III - Região Hidrográfica das Bacias Litorâneas, compreendendo as áreas dedrenagem dos corpos de água não incluídos nas Regiões Hidrográficas defi-nidas nos incisos anteriores.Parágrafo único - A subdivisão das regiões de que trata este artigo em Baci-as Hidrográficas será estabelecida por decreto do Governador.

Art. 39 - Os Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica serão criadospor Decreto no prazo de 1 (um) ano contados da promulgação desta Lei.Parágrafo único - O comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Riodos Sinos, criado pelo Decreto n.º 32.774, de 17 de março de 1988, o Comi-tê de Gerenciamento da Bacia do Rio Gravataí, criado pelo Decreto n.º 33.125,de 15 de fevereiro de 1989 e o Comitê de Gerenciamento da Bacia do RioSanta Maria, criado pelo Decreto n.º 35.103, de 1º de fevereiro de 1994,deverão adaptar-se ao disposto nesta Lei, no prazo de 90 dias, a contar dapublicação do Decreto a que se refere o artigo 18.

Art. 40 - A implantação da cobrança pelo uso da água será feita de formagradativa, atendidas as seguintes providências:I - desenvolvimento de programa de comunicação social sobre a necessida-de econômica, social, cultural e ambiental da utilização racional e proteçãoda água, com ênfase para a educação ambiental;II - implantação de um sistema de informações hidrometeorológicas e decadastro dos usuários de água;III - implantação do sistema integrado de outorga do uso da água, devida-mente compatibilizado com sistemas correlacionados de licenciamentoambiental e metropolitano.Parágrafo único - O sistema integrado de outorga do uso da água, previstono inciso III, abrangerá os usos existentes, os quais deverão adequar-se aodisposto nesta Lei, mediante a expedição das respectivas outorgas.

150 – Água na Visão do Direito

Art. 41 - O primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos será elaborado até1 (um) ano após a aprovação desta Lei, observando os seguintes critérios:I - nas bacias hidrográficas onde existam comitês em operação será obser-vado o disposto no “caput” do artigo 24;II - nas bacias hidrográficas onde não estejam ainda em operação Comitês,caberá ao DRH (Departamento de Recursos Hídricos) a coordenação da ela-boração das propostas relacionadas a estas bacias;III - atendimento, no mínimo, do disposto nos incisos III a VI do artigo 23,sem prejuízo do cumprimento integral dos demais dispositivos pertinentesao Plano Estadual de recursos Hídricos, desde que seja viável no prazo a quese refere o “caput” deste artigo.(Retif. DOE de 31.05.95)

Art. 42 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 43 - Ficam revogadas a Lei n.º 8.735, de 4 de novembro de 1988 e asdemais disposições em contrário.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 30 de dezembro de 1994.

CAPÍTULO 5 - GLOSSÁRIO

Abstração inicial - Soma da interceptação e do armazenamento de águanas depressões do solo.Acidez da água - Quantidade de base forte que deve ser utilizada paraneutralizar uma amostra no valor de pH7, expressa em milieqüivalentes porlitro de água.Açude - Conjunto constituído por barragem ou barramento de um cursod’água e o respectivo reservatório ou lago formado.Acumulação - Processo de armazenamento de produtos procedentes daerosão ou abrasão, ou da água, tais como: sais, sedimentos, etc., emmassas de água naturais ou artificiais ou a quantidade de neve, ou qual-quer outra forma de água no estado sólido, que é adicionada a um glaciar,gelo flutuante ou a um coberto de neve.Aditivos do solo – Substâncias químicas que, quando adicionadas ao solo,modificam as suas características físicas e a capacidade de infiltração daágua no mesmo (ABID, 1978).Administração de Água - É o planejamento da distribuição e utilização derecursos hídricos.Adutora - São os condutos destinados a ligar as fontes de abastecimentode água bruta às estações de tratamento de água, situadas além das imedi-ações dessas fontes, ou os condutos ligando estações de tratamento, situa-das nas proximidades dessas fontes, a reservatórios distantes que alimen-tam as redes de distribuição.Aeração - Reoxigenação da água com ajuda do ar. A taxa de oxigêniodissolvido, expressa em % de saturação, é uma característica representati-va de certa massa de água e de seu grau de poluição. Para restituir, auma água poluída, a taxa de oxigênio dissolvido, ou para alimentar oprocesso de biodegradação das matérias orgânicas consumidoras de oxigênio,é preciso favorecer o contato da água e do ar. A aeração pode também ter

A

152 – Água na Visão do Direito

por fim a eliminação de um gás dissolvido na água: ácido carbônico,hidrogênio sulfurado.Afluência local - Água que entra numa linha de água entre duas estaçõeshidrométricas.Afluente ou Tributário - Qualquer curso d’água que deságua em outromaior, lago ou lagoa.Agência de Água - É o organismo que exerce a função de secretaria execu-tiva (técnico-administrativa) do Comitê de Bacia Hidrográfica.Água - Fisicamente, é um líquido transparente, incolor, com um matiz azuladoquando visto em grande massa. Quando em sua forma pura não tem sabor.Apresentam-se nos três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Passandodo estado líquido para o sólido a 0º C, e, após a ebulição a 100º C, a águavaporiza-se. Quimicamente, a água é um composto formado por dois ele-mentos gasosos, em estado livre, o hidrogênio e o oxigênio (H2O). A água éindispensável para a vida.Água agressiva - Água com propriedades de dissolver determinados mine-rais por contato.Água alcalina - Água com pH superior a 7.Água bruta - É aquela encontrada naturalmente nos rios, riachos, lagos,lagoas, açudes ou aqüíferos.Água capilar - Água retida no solo acima do nível freático, devido à ação dacapilaridade, acima da umidade higroscópica e abaixo da capacidade decampo ou, também, trata-se de umidade líquida, presa entre grãos de solo,seja por atração eletrostática entre as moléculas minerais e da água ou porforças osmóticas.Água conata - Água que foi captada nos espaços porosos de rochas sedimentaresdesde à época em que os sedimentos originais foram depositados.Água contaminada - É a que contém substâncias tóxicas, vermes ou mi-cróbios, capazes de produzir doenças. A contaminação pode ser invisível aosnossos olhos ou imperceptível ao paladar. Considerada imprópria até para olazer, por fazer mal à saúde.Água de captação - Qualquer rio, lago ou oceano em que a água servidatratada, ou não, é finalmente descarregada.Água de esgoto - Corrente de água servida que é drenada de um pátio defazenda, de um monte de escória ou de uma rua.Água de reposição - Água requerida para substituir a usada num sistemaou perdida por ele. A água de reposição inclui a usada para substituir a águaque escoa de um sistema de irrigação e, mais comumente, àquela perdidanuma torre de refrigeração usada na geração de energia.Água de superfície - Ocorrência de água na superfície da terra.

Água na Visão do Direito – 153

Água disponível no solo - Água no solo disponível para as plantas. Obtida,freqüentemente, pela diferença entre a capacidade de campo e o coeficientede emurchecimento. Assim, a água disponível no solo é igual à capacidadeútil de armazenamento.Água doce - Água que contém muito pouco sal (menos de 0,05 por cento),em comparação com a água salobra (que tem entre 0,05 e 3 por cento),como a dos rios, lagos e lagoas.Água doméstica - Fonte de água disponível para uso doméstico e, geral-mente, distribuída por um sistema de tubulações.Água dura - Água subterrânea com sais minerais dissolvidos, geralmentecarbonato de cálcio (ou uma combinação de cálcio e magnésio). A água duranão espuma bem com sabão, forma depósitos (escama, CaC03 ou MgCO)em chaleiras e tanques de água quente, e, em casos mais extremos, podeentupir as tubulações, formando depósitos de cálcio nos canos de água,sendo que o tratamento com amaciantes de água remove grande parte docálcio e do magnésio por meio da troca de íons, comumente é misturadacom cloreto de sódio (sal de mesa).Água freática - Água que ocupa os vãos dentro de uma rocha ou solo numnível abaixo do lençol de água.Água gravitacional - Água que se move através do solo sob a influência dagravidade. Um solo não pode se tornar saturado até que a água gravitacionaltenha assentado.Água intersticial - Água contida nos interstícios das rochas.Água mineral - Segundo o Código das Águas Minerais (DNPM, Decreto-Leinº 7.841, de 08/08/1945), águas minerais naturais “são aquelas provenien-tes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas que possuamcomposição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas comuns, com características que lhes confiram uma açãomedicamentosa”. São classificadas segundo suas características permanen-tes (composição química) e segundo as características inerentes às fontes(gases presentes e temperatura).Água poluída - É a que contém elementos químicos não naturais das águas,resíduos industriais, tóxicos, detergentes, plásticos e/ou matéria orgânica,que provêm dos esgotos e dejetos humanos. Esses elementos vão se acu-mulando nos rios, açudes e lagos, diminuindo a capacidade de oxigênio daságuas, prejudicando a vida dos peixes e do homem. A água se torna turvaou tem alterada sua cor, odor ou sabor, tornando-a desagradável.Água potável – É aquela apropriada para consumo humano.Água precipitável - Quantidade de água, expressa em altura ou em mas-sa, que poderia ser obtida se todo o valor de água, contido numa coluna de

154 – Água na Visão do Direito

atmosfera, de seção transversal-horizontal unitária, se condensasse e seprecipitasse.Água salgada - Água que contém concentrações significativas de sal (aci-ma de 3 por cento), como a encontrada nos oceanos.Água salobra - Água que contém sal numa proporção significativamentemenor que a água do mar. A concentração do total de sais dissolvidos estánormalmente compreendida entre 1000-10 000 mgl-1.Água servida - Águas de abastecimento de uma comunidade, rejeitadasdepois de variadas utilizações. Em geral, são os esgotos e podem resultartambém da mistura de resíduos ou despejos domésticos com águas superfi-ciais ou subterrâneas.Água superficial - Toda a água que se escoa ou é armazenada na superfícieterrestre.Águas - Termo usado quando se trata das águas em geral, incluindo àque-las que não devem ser usadas por questões ambientais.Águas de domínio estadual - São águas estaduais os rios, riachos, lagose lagoas pertencentes às bacias dos rios e afluentes dos rios federais, alémdas águas acumuladas nos aqüíferos em todo o território.Águas de domínio federal - São águas de domínio da União para os rios(portanto, águas superficiais) quando atravessam mais de um Estado e/ousão fronteiras com outros Estados ou países, ou águas acumuladas em açu-des decorrentes de obras da União, tais como: os rios, além das águasacumuladas nos açudes construídos pelo DNOCS – Departamento Nacionalde Obras Contra as Secas.Águas de esgoto - Águas de consumo de uma comunidade, rejeitadasapós terem sido contaminadas por diversos usos, como, por exemplo, aságuas com resíduos urbanos do tipo doméstico, municipal e industrial, jun-tamente com as águas subterrâneas, superficiais e pluviais.Águas estagnadas - Água imóvel em determinadas zonas de um rio, lago,reservatório ou aqüífero.Águas interestaduais - Termo aplicado a rios e vertentes ou bacias decaptação que se situam dentro de dois ou mais limites políticos estaduais.Águas residuais - Água que contêm resíduos, ou seja, materiais sólidos oulíquidos, que são rejeitados após serem utilizados, num processo industrial.Águas subterrâneas - São as águas que se infiltraram no solo e que pene-traram, por gravidade, em camadas profundas do subsolo atingindo o nívelda zona de saturação, constituindo-se em um reservatório de águas subter-râneas (aqüíferos), suscetíveis de extração e utilização. A zona saturadapode ser considerada como sendo um único reservatório, ou um sistema dereservatórios naturais, cuja capacidade e volume total dos poros, ou

Água na Visão do Direito – 155

interstícios, estão repletos de água.Alcalinidade da água - Qualidade da água em neutralizar compostos áci-dos, em virtude da presença de bicarbonatos, hidróxidos, boratos, silicatose fosfatos. Esgotos são alcalinos, por receberem materiais de uso domésticocom estas características.Alimentação de um aqüífero - Processo pelo qual a zona saturada de umaqüífero recebe água diretamente do exterior, ou, indiretamente, através deoutra formação.Altura de água doce - Nível da água em determinado ponto de um aqüífero,que seria medida por um piezômetro ligado àquele ponto, se contivesseapenas água doce.Altura de queda de neve - Espessura de uma camada de neve recente-mente depositada.Altura de precipitação – É a quantidade de água líquida procedente daatmosfera, expressa em altura de água sobre uma superfície horizontal.Altura piezométrica - Altura de uma coluna de água que pode ser susten-tada pela pressão hidrostática num determinado ponto.Aluvião - Argila, silte, areia, cascalho ou outro material detrítico, deposita-do pela água.Álveo - Superfície que as águas cobrem sem extravasar para as margens outerreno natural, ordinariamente, enxuto.Amostra de água composta - Combinação, em proporções adequadas, devárias amostras para obter o valor médio de uma característica pretendida,podendo ser colhidas, de forma discreta ou contínua, calculada, normal-mente, em função do tempo ou do caudal.Aqüífero - Formação porosa (camada ou estrato) de rocha permeável, areiaou cascalho, capaz de armazenar e fornecer quantidades significativas deágua.Aqüítardo - Formação geológica de natureza algo impermeável esemiconfinada que transmite água em proporções muito pequenas por com-paração com um aqüífero.Área ativa da bacia - Área da bacia excluindo as zonas não drenadas.Área contaminada - Área onde há comprovadamente poluição causadapor quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados,acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados, e que determina im-pactos negativos sobre os bens a proteger.Área de drenagem - Refere-se a uma bacia hidrográfica onde é a áreaplana (projeção horizontal) inclusa entre seus divisores topográficos. Usual-mente é expressa em km² ou em hectares.Área de influência - Área que rodeia um furo de bombagem ou de recarga,

156 – Água na Visão do Direito

no qual o nível freático (em aqüíferos livres) ou a superfície piezométrica(em aqüíferos confinados) aumenta ou diminui significativamente.Área de proteção ambiental (APA) - É uma categoria de unidade deconservação cujo objetivo é conservar a diversidade de ambientes, de espé-cies, de processos naturais e do patrimônio natural, visando a melhoria daqualidade de vida, através da manutenção das atividades sócio-econômicasda região. Esta proposta deve envolver, necessariamente, um trabalho degestão integrada, com participação do Poder Público e dos diversos setoresda comunidade pública ou privada. É determinada por decreto federal, esta-dual ou municipal, para que nela sejam discriminados o uso do solo e evita-da a degradação dos ecossistemas, sob interferência humana.Área molhada - Área da seção transversal de um curso de água limitadapelas paredes do canal e pela superfície da água.Armazenamento - Retenção de água, em reservatórios de superfície ousubterrâneos, para posterior utilização.Arroio – Denominação dada aos pequenos rios no Sul do Brasil. Correspondeaos igarapés da região amazônica.Ascensão capilar - Movimento ascendente de um líquido num tubo capilarnele submergido, medido a partir da superfície do líquido em seu exterior.Aspersão - Sistema de rega no qual a água é distribuída sob a forma dechuva.Aterro controlado - Aterro para lixo residencial urbano, onde os resíduossão depositados recebendo depois uma camada de terra por cima. Na im-possibilidade de se proceder à reciclagem do lixo, pela compostagem acele-rada ou pela compostagem a céu aberto, as normas sanitárias e ambientaisrecomendam a adoção de aterro sanitário ao invés do controlado.Aterro sanitário - Aterro para lixo residencial urbano, com pré-requisitosde ordem sanitária e ambiental. Deve ser construído de acordo com técnicasdefinidas, como: impermeabilização do solo para que o chorume não atinjaos lençóis freáticos, contaminando as águas; sistema de drenagem parachorume, que deve ser retirado do aterro sanitário e depositado em lagoapróxima, que tenha essa finalidade específica, vedada ao público; sistemade drenagem de tubos para os gases, principalmente os gases carbônico,metano e o sulfídrico, pois, se isso não for feito, o terreno fica sujeito aexplosões e deslizamentos.Atualização da previsão - Revisão da previsão relativa à determinadagrandeza utilizando a informação adquirida ‘a posteriori’.Autodepuração da água - Processo natural de purificação da água, quereduz a poluição orgânica. Por exemplo, há espécies de plantas aquáticasque absorvem poluentes.

Água na Visão do Direito – 157

Avaliação de recursos hídricos - Determinação das nascentes, extensão,fiabilidade e qualidade dos recursos hídricos, com vista à sua utilização econtrole.Aviso de cheia - Difusão de um aviso, face à possibilidade de ocorrência deuma cheia, em curto prazo, em determinada área de um curso de água oubacia hidrográfica.

Bacia de Captação - Mais do que o rio, lago ou reservatório de onde seretira a água para consumo. Compreende também toda a região onde ocor-re o escoamento e a captação dessas águas na natureza. (Fonte: Rede AIPA)Bacia hidrográfica - Conjunto de terras drenadas por um rio principal eseus afluentes. A noção de bacias hidrográficas inclui naturalmente a exis-tência de cabeceiras, ou nascentes, divisores de águas, cursos de águas,principais afluentes e subafluentes, etc. Em todas as bacias hidrográficasdeve existir uma hierarquização na rede hídrica e a água se escoa normal-mente, dos pontos mais altos para os mais baixos. O conceito de baciahidrográfica deve incluir também noção de dinamismo, por causa das modi-ficações que ocorrem nas linhas divisórias de água sob o efeito dos agenteserosivos, alargando ou diminuindo a área da bacia.Baixa mar - É o refluxo da maré.Balanço hídrico - Balanço da água baseado no princípio de que durante umcerto intervalo de tempo as afluências totais a uma bacia ou formação aqu-ática deve ser igual ao total das saídas mais a variação, positiva ou negativa,do volume de água armazenado nessa bacia ou massa de água.Banhado - Setor de uma planície de inundação em que habitualmente acon-tece o transbordamento de águas pluviais e fluviais, durante a estação chu-vosa; várzea, vazante.Barra - Banco de sedimentos, por exemplo areia ou cascalho, depositado noleito do rio ou na foz, que limita o fluxo ou a navegação.Barragem - Construção para regular o curso de rios, usada para prevenirenchentes, aproveitar a força das águas como fonte de energia ou para finsturísticos. Sua construção pode trazer problemas ambientais, como no casode grandes hidrelétricas, por submergir terras férteis, muitas vezes cober-tas por importantes florestas, por desalojar populações que vivem na área.Barreira de gelo - Acumulação de gelo que, sendo num rio, obstrui o esco-amento da água.Biomassa - Massa total de organismos vivos em determinada massa de água.

B

158 – Água na Visão do Direito

Biota - Conjunto de fauna e flora, de água ou de terra, de qualquer área ouregião, que não considera os elementos do meio ambiente.

Cabeceira - Local onde nasce o rio, ou curso d’água. Nem sempre é umponto bem definido, constituindo às vezes toda uma área. Isso se nota, porexemplo, na dificuldade em determinar onde nasce o rio principal, como é ocaso da definição das cabeceiras do Rio Amazonas.Calha - Vales ou sulcos por onde correm as águas de um rio.Canal - Curso de água natural ou artificial, claramente diferenciado, que,permanente ou periodicamente, contém água em movimento ou que formauma ligação entre duas linhas de água.Capacidade de infiltração - Velocidade máxima a que a água pode serabsorvida por um solo em determinadas condições, por unidade de superfí-cie.Capacidade hidráulica - Característica física de um canal superficial, quetem em conta a superfície da seção transversal e sua rugosidade, e quemultiplicada pela raiz quadrada do declive, corresponde ao caudal no canal.Capacidade máxima do rio - Caudal que pode passar num curso de águasem transpor as margens.Capilaridade - Fenômeno associado à tensão superficial de um líquido, par-ticularmente em tubos capilares e meios porosos, onde existem as interfacesgás, líquido e sólido.Carga poluidora - Quando se fala de recursos hídricos, é a quantidade depoluentes que atingem os corpos d’água, prejudicando seu uso. Medida emDBO e DBQ.Cascata - Pequena queda de água natural ou artificial.Catarata - Grande queda de água.Caudal – Volume de água numa seção transversal de um rio ou de umcanal, por unidade de tempo.Celeridade - Velocidade de propagação de uma onda.Charco - Acumulação de água resultante da fusão do gelo, devido principal-mente à neve fundida e, em fases mais avançadas, devido também à fusãodo gelo. A fase inicial consiste em flocos de neve derretida.Cheia - Pequena cheia causada por precipitação intensa ou degelo.Cheia anual - Caudal que é igualado ou excedido em média uma vez porano .

C

Água na Visão do Direito – 159

Cheia catastrófica – É àquela devido a condições meteorológicas excepci-onais.Chuva - Precipitação de partículas de água líquida, quer sob a forma degotas com mais de 0.5 mm de diâmetro, quer sob a forma de gotas menorese dispersas.Ciclo do nível freático - Período durante o qual é observado um aumentoseguido de uma diminuição do nível freático ou da superfície piezométrica.Ciclo hidrológico - É o comportamento natural da água quanto às suasocorrências, transformações e relações com a vida humana. Inicia com aevaporação da água dos oceanos. O vapor resultante é transportado pelomovimento das massas de ar, sob determinadas condições, o vapor écondensado, formando as nuvens que por sua vez podem resultar em preci-pitação (chuva, neve, etc.). A precipitação que ocorre sobre a terra é disper-sa de várias formas, ficando a maior parte temporariamente retida no solopróximo de onde caiu e, finalmente, retorna à atmosfera por evaporação etranspiração das plantas. Parte da água restante escoa sobre a superfície dosolo, ou através do solo para os rios, enquanto que a outra parte, penetran-do profundamente no solo, vai suprir o lençol d’água subterrâneo. Dos riosas águas são descarregadas no oceano.Ciclone tropical - Ciclone de origem tropical de pequeno diâmetro (algu-mas centenas de quilômetros), com uma pressão de superfície mínima, emalguns casos inferior a 900 hPa, ventos muito violentos e chuvas torrenciais,por vezes, acompanhados de trovoadas.Clima - Conjunto de condições meteorológicas predominantes em determi-nada região que se caracteriza por estatísticas em longo prazo dos elemen-tos meteorológicos nessa região (valores médios, probabilidades de ocor-rência de valores extremos, etc.), influenciado pela latitude, altitude, etc.Cobrança pelo uso dos recursos hídricos - É um dos instrumentos degestão de recursos hídricos, essencial para criar as condições de equilíbrioentre as forças da oferta (disponibilidade de água) e da demanda, promo-vendo, em conseqüência, a harmonia entre os usuários competidores, aomesmo tempo em que também promove a redistribuição dos custos sociais,a melhoria da qualidade dos efluentes lançados, além de ensejar a formaçãode fundos financeiros para as obras, programas e intervenções do setor.Código das águas – Conjunto de legislação fundamentada em DecretoFederal de 10 de julho de 1934, para todo o território nacional.Coeficiente de escoamento - Relação entre o escoamento (expresso emcoluna de água) e a precipitação expressa pela altura da água.Comitê de Bacia Hidrográfica - É um órgão colegiado com atribuições

160 – Água na Visão do Direito

normativas, consultivas e deliberativas e o foro principal para o conheci-mento, debate de problemas, planejamento e a tomada de decisão sobre osusos múltiplos dos recursos hídricos no âmbito da bacia hidrográfica de suajurisdição.Concentração limite - Elemento de planejamento e controle de baciahidrográfica configurada pela concentração de agente poluente especificadano correspondente plano de recursos hídricos, para cada ano do horizontede planejamento, podendo apresentar variação anual partindo das condi-ções atuais para atingir, ao final do horizonte previsto, a concentração metadefinida na Resolução CONAMA nº 20/86 para a classe em que tenha sidoenquadrado o corpo hídrico.Condensação - Passagem da fase de vapor para a fase líquida.Condutividade hidráulica – Propriedade de um meio poroso combinada àdo fluído escoando-se nesse meio saturado e que determina a relação, cha-mada Lei de Darcy, entre a descarga específica e o gradiente hidráulico quea origina.Conduto aberto – Qualquer conduto no qual o escoamento da água seprocessa com superfície livre (em contato com o ar).Confluência - União ou ponto de união de dois ou mais cursos de água.Congelação - Formação de uma capa de gelo na superfície da água devidoao arrefecimento sazonal.Conservação dos recursos hídricos - Medidas tomadas para economizara quantidade de água utilizada para um determinado fim e/ou para protegê-la contra a poluição.Consumo - Água extraída de um reservatório superficial.Consumo de água - Quantidade de água, superficial e subterrânea, absor-vida, transpirada ou utilizada pelas plantas durante a formação do seu teci-do vegetal, assim como pela evaporação do solo cultivado, expressa emunidades de volume por unidade de superfície. Inclui também todas asafetividades que implicam uma diminuição dos recursos hídricos disponí-veis, por exemplo os consumos urbanos e industriais.Contaminação - Termo geral que significa a introdução na água de qual-quer substância indesejável não presente nela normalmente, como por exem-plo, microorganismos, produtos químicos, detritos ou esgoto, que tornam aágua imprópria para a sua utilidade prevista ou uso pretendido.Controle hidráulico - Propriedades físicas de um canal que determinam arelação entre a altura e o caudal em determinado ponto.Corpo d’água - Denominação genérica para qualquer manancial hídrico;curso d’água, trecho de rio, reservatório artificial ou natural, lago, lagoa ouaqüífero subterrâneo.

Água na Visão do Direito – 161

Correição - Alteração que se deve introduzir no resultado observado parater em conta os erros conhecidos de modo a obter-se uma melhor aproxi-mação do valor real.Córrego - Pequeno riacho, ou afluente de um rio maior.Corrente contínua - Curso de água cujo fluxo é ininterrupto no espaço e notempo.Corrente de maré – Trata-se de um movimento horizontal das águas domar registrado durante cada fluxo ou refluxo da maré (ABID, 1978).Crista - Parte superior de uma barragem, dique ou descarregador acima doqual a água deve elevar-se antes de passar sobre a estrutura.Curso d’água - Denominação para fluxos de água em canal natural paradrenagem de uma bacia, tais como: boqueirão, rio, riacho, ribeirão ou córrego.Curso de água - Canal natural ou artificial através do qual a água podefluir.Curso superior - Parte de um curso de água situado na zona superior dabacia de drenagem.Curva de armazenamento - Curva que representa o volume de água ar-mazenado em função do nível ou do tempo.

Datação das águas subterrâneas - Determinação do tempo decorridoentre a alimentação da formação aqüífera e a recolha de amostras de água.DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio. A DBO de uma amostra de água éa quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica pordecomposição microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável. A DBOé normalmente considerada como a quantidade de oxigênio consumido du-rante um determinado período de tempo, numa temperatura de incubaçãoespecífica. Um período de tempo de 5 dias numa temperatura de incubaçãode 20oC é freqüentemente usado e referido como DBO5 , 20 . É a formamais utilizada para se medir a quantidade de matéria orgânica presentenum corpo d’água, ou seja,  mede-se a quantidade de oxigênio necessáriopara estabilizar a matéria orgânica com a cooperação de bactérias aeróbias.Quanto maior o grau de poluição orgânica maior será a DBO. A presença deum alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa extinção do oxigêniona água, provocando o desaparecimento de peixes e outras formas de vidaaquática. Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da micro-flora presente e interferir no equilíbrio da vida aquática, além de produzirsabores e odores desagradáveis e ainda, pode obstruir os filtros de areia

D

162 – Água na Visão do Direito

utilizadas nas estações de tratamento de água.Declive da superfície da água - Inclinação da superfície da água expressacomo a diferença de cota entre dois pontos dividida pela distância entreeles.Deflúvio - Escoamento superficial da água. Aproximadamente um sexto daprecipitação numa determinada área escoa como deflúvio. O restante eva-pora ou penetra no solo. Os deflúvios agrícolas, das estradas e de outrasatividades humanas podem ser uma importante fonte de poluição da água.Degradação hidrográfica - Degeneração de uma rede hidrográfica nasáreas planas de uma bacia, tanto mais marcada quanto mais árido é o clima.Delta - Depósito aluvial na foz de um rio; entidade geográfica egeomorfológica daí resultante.Demanda de água – Quantidade de água necessária para o abastecimen-to, baseada em elementos de tempo e de quantidade, e relacionada com umponto específico ao longo do sistema. Requisição ou ordem das necessida-des totais ou quantidades especificadas de água, em qualquer lugar.Derivação de água - É toda a retirada de água, proveniente de qualquercorpo hídrico, ou seja, é toda água desviada do seu curso natural destinadaa um uso como o abastecimento doméstico, irrigação, industrial, etc.Descida do nível da água - Diminuição local do nível da água num canalde aproximação devido à aceleração do escoamento que passa sobre umobstáculo ou através de uma secção de controlo.Desenvolvimento sustentável - Termo caracterizado como: “desenvolvi-mento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capa-cidade das futuras gerações de satisfazer as suas próprias necessidades”.Desfiladeiro - Vale encaixado, de vertentes abruptas, onde geralmentecorre um curso de água.Despejos domésticos - Despejos decorrentes do uso de água para finshigiênicos.Desperdício - É o desconhecimento ou a falta de orientação das pessoasem suas casas quanto à quantidade de água perdida pelo mau uso dos seusaparelhos e equipamentos hidráulicos, bem como vazamentos nas instala-ções, tais como: deixar a torneira aberta enquanto se escova os dentes oufaz a barba; enquanto se usa o sabonete, no banho; enquanto se ensaboa alouça, ao lavá-la; lavar carro ou calçadas com mangueira; aguar o jardimquando o sol já está alto; torneiras pingando ou vasos sanitários vazando,etc.Dessalinização - Processo de transformação a partir do qual o conteúdo desal da água é reduzido suficientemente para a sua utilização para o consumohumano e animal, usos industriais e outros.

Água na Visão do Direito – 163

Desvio - Derivação das camadas superficiais de um curso de água ou de umcanal, mediante a utilização de um descarregador superficial.Difusividade de um aqüífero - Coeficiente de transmissibilidade de umaqüífero dividido pelo seu coeficiente de armazenamento.Dique natural - Pequeno banco aluvial, contíguo ao canal de um curso deágua, composto por sedimentos depositados por eventos de cheia que trans-bordaram as margens do canal.Direito de uso de Recursos Hídricos - Direito que a lei assegura aostitulares de outorga de serem satisfeitos o aproveitamento da água confor-me seu destino.Divisor de águas - Linha que separa a direção para onde correm as águaspluviais, ou bacias de drenagem. Um exemplo de divisor de água é a montante.Doenças de veiculação hídrica - São as doenças causadas por substânci-as que não fazem parte da composição da água, encontrando-se aí, aciden-talmente, como por exemplo, a contaminação por chumbo, cianetos, mer-cúrio, defensivos agrícolas, etc., ou então pelos micróbios patogênicos comoos vírus, bactérias, protozoários, fungos e helmintos, que são alheios à faunae flora naturais da água e que causam sérias doenças.Drenagem do solo - Movimento de água livre contida no solo que se escoapelo efeito da gravidade.Dureza da água - Propriedade da água originada principalmente pela pre-sença de bicarbonatos, cloretos e sulfatos de cálcio e magnésio, limitando aformação de espuma por ação dos sabões.

Ecosonda - Equipamento que utiliza a reflexão de um sinal acústico dofundo para determinar a profundidade da água.Educação ambiental - Entende-se por educação ambiental os processospor meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a con-servação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à quali-dade de vida e sua sustentabilidade. Para uma sustentabilidade eqüitativa,a educação ambiental é um processo de aprendizagem permanente, basea-do no respeito a todas as formas de vida.Efeito de sifão - Fluxo ascendente de água que se produz numa formaçãoarenosa devido a um desequilíbrio da pressão hidrostática que resulta nasubida do nível de um curso de água próximo ou da diminuição da sobrecargaatravés de trabalhos de escavação.

E

164 – Água na Visão do Direito

Efluente - Água residual que flui de um reservatório ou de uma estação detratamento para a derivação de um curso de água principal ou de um reser-vatório.Eixo do curso de água - Linha que une os sucessivos centros das secçõestransversais de um curso de água.Enchente - É o fenômeno da ocorrência de vazões relativamente grandes(de escoamento superficial) e que, normalmente, causam inundações.Engenharia hidrológica - Ramo da hidrologia relativo ao desenvolvimentoe à gestão dos recursos hídricos.Enquadramento de corpos d’água em classes, segundo os usos pre-ponderantes da água - É um dos instrumentos de gestão de recursoshídricos que visa o estabelecimento do nível de qualidade (classe) a seralcançado e/ou mantido em um segmento de corpo d’água ao longo dotempo, ou seja, objetiva assegurar às águas qualidade compatível com osusos mais exigentes a que forem destinadas, bem como diminuir os custosde combate à poluição das águas mediante ações preventivas permanen-tes.Equação de continuidade - Equação que descreve a conservação da mas-sa no escomanto (por exemplo de água).Erosão fluvial - Ação erosiva - em particular, erosão localizada e intensa -da água num curso de água, por escavação e remoção de materiais do leitoe das margens.Escassez de água - É o resultado do consumo cada vez maior da água, doseu mau uso, do desmatamento, da poluição e do desperdício.Escoamento - É o modo como flui uma corrente de água (sua vazão, sua velocidade, etc.).Escoamento subsuperficial - Parte da precipitação que não atingiu o re-servatório subterrâneo, mas que tem um percurso no solo para atingir ocurso de água, conhecido também como um fluxo de água proveniente dezonas de saturação temporárias, que circula nos extratos superiores a umavelocidade superior à velocidade do escoamento subterrâneo.Escoamento subterrâneo - Qualquer escoamento que ocorre abaixo dasuperfície do solo e que pode contribuir para o escoamento em profundida-de, escoamento de base ou percolação profunda.Escoamento uniforme - Escoamento onde o vetor velocidade é constanteao longo de cada uma das linhas de corrente.Escoamento variável - Escoamento em cursos de água com seção trans-versal e/ou declive do leito variáveis.Escorrência específica - Fluxo médio do escoamento subterrâneo por uni-dade de superfície de um aqüífero ou de uma bacia hidrogeológica.

Água na Visão do Direito – 165

Esgoto doméstico - É aquele que provém principalmente de residências,estabelecimentos comerciais, instituições ou quaisquer edificações que dis-põe de instalações de banheiros, lavanderias e cozinhas. Compõem-se es-sencialmente de água de banho, excretas (fezes humanas e urina), papelhigiênico, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem.Espelho D’água - É a superfície contínua de águas, exposta à atmosfera e visíveis de uma determinada altitude, relacionadas com lagos, lagoas, rios ereservatórios de barragens e açudes.Estação hidrométrica - Estação na qual se obtêm dados relativos à águados rios, lagos ou reservatórios, nomeadamente o nível, caudal, transportee depósito de sedimentos, temperatura e outras propriedades físicas, quími-cas e biológicas da água.Estação pluviométrica - Estação onde se realizam apenas medições daprecipitação observada.Estuário - Parte de um curso de água, geralmente ampla, que fica próximada desembocadura.Eutrofização - Aumento de nutrientes (como fosfatos) nos corpos d’água,resultando na proliferação de algas podendo levar a um desequilíbrioambiental a ponto de provocar à morte lenta do meio aquático. Aeutrofização acelerada é problemática, porque resulta na retirada deoxigênio da água, matando os peixes ou outras formas de vida aquáticanão-vegetais.Evaporação - É a emissão de vapor de água de uma superfície livre, a umatemperatura inferior à do ponto de ebulição.Excedente de água - Diferença (positiva) entre os valores totais da preci-pitação e da evapotranspiração potencial durante um período de tempo,também conhecida como quantidade de água que excede a procura e quepode permanecer armazenada num reservatório ou sistema de abasteci-mento.Extração de água - Extração de água de reservatórios superficiais ou sub-terrâneos.

Filtração - Processo no qual se faz passar um líquido através de um meiofiltrante, com o fim de eliminar as matérias em suspensão ou as substânciascoloidais.Floração das águas - Fenômeno em que um grande número de algas, numcorpo d’água, interfere em outras formas de vida, devido, principalmente,

F

166 – Água na Visão do Direito

ao consumo do O2 dissolvido na água. Esse fenômeno pode ser causadopela eutrofização.Flotação - Processo de elevação de partículas existentes na água, por meiode aeração, insuflação, produtos químicos, eletrólise, calor ou decomposi-ção bacteriana, e respectiva remoção.Fluxo de água subterrânea - Massa de água que se escoa numa condutaaberta ou fechada, ou, um jato de água que emana de um orifício, ou ainda,uma massa de água subterrânea em movimento.Fonte – Lugar onde brotam ou nascem águas. A fonte é um manancial deágua, que resulta da infiltração das águas nas camadas permeáveis, haven-do diversos tipos como: artesianas, termais etc...Formação de uma lagoa - Formação natural de uma lagoa, com águaestagnada, num curso de água.Fossa séptica – Refere-se à fossa subterrânea projetada para receber,manter e decompor os conteúdos de água residual doméstica.Foz - Ponto mais baixo no limite de um sistema de drenagem (desemboca-dura). Extremidade onde o rio descarrega suas águas no mar.Freqüência de cheia ou Probabilidade de cheia - Número de vezes, emdeterminado número de anos, no qual se pode produzir uma cheia cujocaudal ou altura supera um dado nível.Fundo - Parte inferior da secção transversal de um canal ou de outra estru-tura hidráulica.Furo de controle - Furo de observação utilizado para detectar a chegadade uma condição prevista, geralmente indesejável, como o avanço de umafrente de água salgada na área costeira onde ocorra a invasão de águasalgada, ou o movimento de um poluente introduzido num aqüífero.

Galeria - Conduta fechada que permite a drenagem de água sob uma estra-da, via férrea ou outra estrutura.Geada - Depósito de gelo composto por grânulos mais ou menos separadospor bolsas de ar e constituído, por vezes, por ramificações cristalinas.Gelo - Água em estado sólido.GEMS/Água - Projeto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambien-te (PNUMA) que diz respeito ao controle mundial da qualidade da água.Gestão de bacias hidrográficas - Utilização controlada de baciashidrográficas de acordo com objetivos definidos previamente.Gestão participativa - Constitui-se num método que enseja aos usuários,

G

Água na Visão do Direito – 167

à sociedade civil organizada, às ONG’s e outros agentes interessados a pos-sibilidade de influenciar no processo da tomada de decisão, de participardemocraticamente, de defender seus pontos de vista sobre investimentos eoutras formas de intervenção na bacia hidrográfica e na administração dosrecursos hídricos locais.Granizo - Precipitação de glóbulos ou partículas de gelo (granizo), comdiâmetro entre 5 e 50 mm, por vezes maior, que caem isolados ou aglome-rados em fragmentos maiores e irregulares.Grau-dia - Diferença algébrica, expressa em graus centígrados, entre atemperatura média num determinado dia e uma temperatura de referência(geralmente 0 °C). Para um período determinado (meses, anos), é a somaalgébrica dos graus-dia dos diferentes dias desse período.

Hidráulica - Ramo da mecânica dos fluidos que estuda o fluxo da água (oude outros líquidos) em condutas e canais abertos.Hidrologia - É a ciência que estuda as águas superficiais e subterrâneas daterra, sua formação, circulação e distribuição, no tempo e espaço, suas pro-priedades biológicas, físicas e químicas e interações com o ambiente e comos seres vivos.Hidrologia cársica - Ramo da hidrologia que estuda a hidrologia os fenô-menos hidrológicos nas passagens subterrâneas ou fissuras, as quais per-mitem o movimento subterrâneo de grandes quantidades de água.Hidrologia de superfície ou Potamologia - Ramo da hidrologia que estu-da os fenômenos e processos hidrológicos observados na superfície terres-tre, em especial os escoamentos e fluxos que ocorrem na rede hidrográfica.Hidrologia determinística, analítica ou paramétrica - Método de aná-lise dos processos hidrológicos, utilizando uma aproximação determinísticapara analisar a resposta dos sistemas hidrológicos, em função e diversosparâmetros.Hidrologia estocástica - Processos e fenômenos hidrológicos que são des-critos e analisados pelos métodos da teoria das probabilidades.Hidrologia urbana - Ramo da hidrologia que estuda as zonas urbanas emetropolitanas, onde predomina as superfícies quase impermeáveis e umrelevo artificial do solo, analisando em particular o efeito do desenvolvimen-to urbano.Hidrômetro - Partículas de água no estado sólido ou líquido em queda oususpensão na atmosfera.

H

168 – Água na Visão do Direito

Hidrometria - Ciência que se ocupa da medição e análise da água, compre-endendo os métodos, técnicas e instrumentação utilizados em hidrologia.Hidrômetro - É o aparelho destinado a medir e indicar o volume de águaque o atravessa, ou seja, o consumo de água, popularmente conhecido comocontador de água em ligações domiciliares ou prediais.Hidrosfera - À parte da terra coberta de água e de gelo.Higrômetro - Sonda utilizada para medir a umidade do solo.Homotermia - Estado de uma massa de água na qual a temperatura nãovaria com a profundidade.

Icebergue - Massa de gelo de grandes dimensões, destacada de um glaciarou de uma plataforma de gelo, flutuante ou à deriva, que emerge mais de 5metros sobre o nível da água.Ilha - Porções relativamente pequenas de terra emersa circundada de águadoce ou salgada.Impacto ambiental - É qualquer alteração, provocada ou induzida pelohomem, das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-estarda população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condiçõesestéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursosambientais.Índice de infiltração - Taxa média de infiltração obtida a partir de umhietograma de modo a que o volume da precipitação correspondente à partesuperior da ordenada definida pela taxa de infiltração corresponda ao volu-me de escorrênciaÍndice de precipitação antecedente ou Umidade antecedente de solo- Soma ponderada da precipitação diária que se utiliza como índice de umi-dade do solo. O peso atribuído à precipitação diária representa-se atravésde uma função exponencial ou inversa no tempo, por forma a que a precipi-tação mais recente tenha maior peso.Índice de seca - Valor que quantifica um déficit de água prolongado egeneralizado. Em hidrologia um índice de seca considera níveis em rios,lagos, albufeiras e/ou reservatórios subterrâneos por comparação com valo-res de referência. Um índice de seca agrícola refere-se a efeitos de um défi-cit excepcional de evapotranspiração.Índice de vazios - Relação entre o volume de interstícios e o volume departículas sólidas numa dada amostra de um solo poroso.

I

Água na Visão do Direito – 169

Infiltração - Movimento da água da superfície para um meio poroso.Infiltração ou percolação profunda - Água que se infiltra em profundida-de, abaixo da zona radicular, com possibilidade de alcançar o nível freático.Injeção de água Walter bleeding - Água que é injetada através de umafissura numa camada de gelo.Interface água doce/água salgada - Superfície que separa uma massade água doce de uma outra de água salgada ou salobra e que se situa nazona de transição entre os dois fluídos.Interferência nos recursos hídricos - Toda e qualquer atividade, obra ouempreendimento que altere as condições de escoamento das águas, criandoobstáculo, produzindo modificações ou perturbando o fluxo dessas águas.Interstício ou poro capilar - Interstício suficientemente pequeno paramanter a água contra a ação da gravidade, acima do nível freático.Intervalo ou banda de confiança - Zona compreendida entre os limitesde confiança superior e inferior.Inundação - É o fenômeno em que o volume de água de uma enchente (emgeral, por excesso de chuvas) transborda do canal natural do rio. Podem terduas causas: o excesso de chuvas, de tal forma que o canal do rio nãosuporta a vazão da enchente ou existe, a jusante da área inundada, qual-quer obstrução que impede a passagem da vazão de  enchente, como porexemplo, um bueiro mal dimensionado ou entupido.Irrigação - Basicamente, é uma operação agrícola que tem como objetivosuprir artificialmente a necessidade de água da planta.Isoalina - Linha (ou superfície) que une os pontos de igual salinidade daságuas subterrâneas ou das águas superficiais.

Jusante - Uma área ou um ponto que fica abaixo de outro ao se consideraruma corrente fluvial ou tubulação na direção da foz, do final. O contrário demontante.

Kanat - Galeria subterrânea para o fornecimento de água, que se inicia sobo nível freático e se dirige para a superfície do solo, com um declive menorque o declive do nível freático e o declive da superfície.

K

J

170 – Água na Visão do Direito

Lago - Massa de água continental de tamanho considerável. Denominaçãogenérica para qualquer porção de águas represadas circundada por terrasde ocorrência natural ou resultante da execução de obras, como barragensem curso de água ou escavação do terreno. Depressões do solo produzidaspor causas diversas e cheias de águas confinadas, mais ou menos tranqüilas,pois dependem da área ocupada pelas mesmas. As formas, as profundida-des e as extensões dos lagos são muito variáveis. Geralmente, são alimen-tados por um ou mais ‘rios afluentes’. Possuem também ‘rios emissários’, oque evita seu transbordamento.Lagoa - Depressão de formas variadas, principalmente tendentes a circula-res, de profundidades pequenas e cheias de água salgada ou doce. As lago-as podem ser definidas como lagos de pequena extensão e profundidade(...) Muito comum é reservarmos a denominação ‘lagoa’ para as lagunassituadas nas bordas litorâneas que possuem ligação com o oceano.Laguna - Depressão contendo água salobra ou salgada, localizada na bordalitorânea. A separação das águas da laguna das do mar pode se fazer por umobstáculo mais ou menos efetivo, mas não é rara a existência de canais,pondo em comunicação as duas águas.Lavagem da atmosfera pela chuva - Eliminação de substâncias da at-mosfera, como poeiras, aerossóis e gases, por ação da precipitação líquidaou sólida.Leito do rio - Parte inferior de um vale fluvial, moldado pelo escoamento, eao longo do qual se deriva a maior parte do caudal e dos sedimentos trans-portados pelo escoamento em períodos entre cheias.Licenciamento ambiental - É um dos mais eficazes instrumentos da polí-tica ambiental para a viabilização do desenvolvimento sustentado. É um atoadministrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condi-ções, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedeci-das para a liberação da: LP (Licença Prévia), LEU (Licença de Instalação) eLO (Licença de Operação).Lixiviação - Processo que sofrem as rochas e solos, ao serem lavados pelaágua das chuvas (...) Nas regiões intertropicais de clima úmido os solostornam-se estéreis com poucos anos de uso, devido, em grande parte, aosefeitos da lixiviação. A lixiviação também ocorre em vazadouros e aterros deresíduos, quando são dissolvidos e carreados certos poluentes ali presentespara os corpos d’água superficiais e subterrâneos.

L

Água na Visão do Direito – 171

Lodo - Mistura de água, terra e materiais sólidos acumulados, separadospor diversos tipos de águas, que resultam de processos naturais ou artifici-ais.Lodo ativado ou ativo - Lodo que foi aerado e sujeito à ação de bactérias,usado para remover matéria orgânica do esgoto.Lodo bruto - Lodo depositado e removido dos tanques de sedimentação,antes que a decomposição esteja avançada. Freqüentemente chamado lodonão digerido.

Manancial - Qualquer corpo d’água, superficial ou subterrâneo, utilizadopara abastecimento humano, industrial, animal ou irrigação.Manguezal - Ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terres-tre e aquático sujeito a regime das marés.Marcas de cheia - Marcas naturais numa estrutura ou outro suporte, queindicam o nível máximo alcançado pela cheia.Maré - Elevação e diminuição periódicas da água do mar e de grandes lagosdevido à atração gravitacional da Lua e do Sol.Maré baixa - Nível mais baixo atingido pela maré descendente em determi-nado ciclo de marés.Maré morta - Maré de pequena amplitude que ocorre duas vezes por mês,aproximadamente durante o período correspondente à quadratura da Lua.Margem - Orla de um curso de água; margem localizada à esquerda do rioquando nos colocamos no sentido de jusante. É a margem esquerda.Massa de água - Massa de água distinta de outras massas de água.Meandro - Porção curva de um curso de água sinuoso, consistindo em duasvoltas consecutivas, uma na direção dos ponteiros do relógio e a outra nosentido inverso.Meio ambiente - É o conjunto dos elementos e fatores (condições, leis,influências e interações) físicos, químicos e biológicos, naturais e artificiais,que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas e necessários àsobrevivência das espécies. O meio ambiente é formado pelos elementosproduzidos pela própria natureza (água, solo, vegetação, rios, relevo, clima,etc.), e pelos elementos produzidos pelo homem (habitações, fábricas, cam-pos cultivados, etc.).Método racional - Fórmula que exprime o valor máximo do caudal de pon-ta do escoamento superficial como o produto da superfície da bacia, um

M

172 – Água na Visão do Direito

valor máximo da intensidade de precipitação e um coeficiente de escoamen-to.Molinete - Instrumento para medir a velocidade da água num ponto, nor-malmente pela rotação de copos ou hélices.Montante - Um lugar situado acima de outro, tomando-se em consideraçãoa corrente fluvial que passa na região. O relevo de montante é, por conse-guinte, aquele que está mais próximo das cabeceiras de um curso d’água,enquanto o de jusante está mais próximo da foz.

Nascente artesiana - Nascente cuja água provém de um aqüífero artesiano,geralmente através de uma fissura ou outro tipo de abertura da formaçãoimpermeável que delimita o aqüífero.Navegação - Uso de recurso hídrico para o transporte fluvial, demandandoa manutenção de vazões mínimas nos cursos d’água.Necessidade de água de rega - Quantidade de água que é necessárioadicionar à precipitação para uma produção agrícola ótima.Neve - Precipitação de cristais de gelo, em geral aglomerados em flocos,freqüentemente em forma de estrela.Nível da água - Altura da superfície livre de uma massa de água em relaçãoa um plano de referência.Nível da água subterrânea - Cota do nível freático ou superfíciepiezométrica de um aqüífero num determinado local e momento.Nível freático - Superfície na zona de saturação de um aqüífero livre sub-metida à pressão atmosférica.NMP - Número Mais Provável de coliformes por 100 ml de amostra de água.A densidade de coliformes na água bruta é usada como um critério parajulgar as necessidades de tratamento da água. A determinação da qualidadeda água “in natura” e da eficiência do tratamento deve ser condicionada aospadrões de potabilidade que fixam os limites de tolerância das impurezas. Acontaminação bacteriológica é medida em NMP.Número de Froude - Número adimensional que exprime a relação entre asforças de inércia e as forças de gravidade. Num canal o escoamento é rápi-do, crítico ou lento se o número de Froude for inferior, igual ou superior àunidade, respectivamente.Número de Reynolds - Parâmetro adimensional que exprime a relaçãoentre as forças de inércia e as forças de viscosidade.

N

Água na Visão do Direito – 173

Número de Weber - Parâmetro adimensional que exprime a relação entreforças de inércia e as forças de tensão superficial.Nutriente - Substância simples ou composta necessária ao crescimento edesenvolvimento das plantas e animais.

Obra - Construção ou execução de empreendimento que interfira sobre oregime, a quantidade ou a qualidade dos recursos hídricos superficiais ousubterrâneos, consumindo recursos materiais e assumindo a forma de umbem material.Obra hidráulica - Qualquer obra permanente ou temporária, capaz de alte-rar o regime natural das águas superficiais ou subterrâneas, incluídas ascondições qualitativas e quantitativas.Observação hidrológica - Medição ou avaliação direta de uma ou maisvariáveis hidrológicas, como o nível, o caudal, a temperatura da água, entreoutras.OD – Oxigênio dissolvido. Os níveis de oxigênio dissolvido têm papeldeterminante na capacidade de um corpo d’água natural manter a vida aqu-ática. Uma adequada provisão de oxigênio dissolvido é essencial para amanutenção dos processos naturais de autodepuração em sistemas aquáti-cos e estações de tratamento de esgotos. Através de medição do teor deoxigênio dissolvido, podem ser avaliados os efeitos dos resíduos oxidáveissobre as águas receptoras e sobre a eficiência do tratamento dos esgotos,durante o processo de oxidação bioquímica.Olho d’água, nascente - Local onde se verifica o aparecimento de águapor afloramento do lençol freático (Resolução nº 04, de 18.09.85, doCONAMA).Onda - Oscilação da superfície de um lago ou de uma massa de água simi-lar, causada por terremotos, ventos ou variações da pressão atmosférica.Onda cheia - Elevação do nível das águas de um rio até o pico e subseqüenterecessão, causada por um período de precipitação, fusão das neves, rupturada barragem ou liberação de água por central elétrica.Órgão gestor - É a instituição integrante do Sistema de Gerenciamento deRecursos Hídricos que tem como competência realizar a implementação daPolítica Estadual de Recursos Hídricos.Orvalho - Depósito de gotas de água nos objetos próximos do solo, prove-nientes da condensação do vapor de água contido no ar.

O

174 – Água na Visão do Direito

Osmose - Fenômeno produzido quando duas substâncias líquidas, ou dis-solvidas com concentrações desiguais e separadas por membranasemipermeável, a atravessam e se misturam.Outorga - É um dos instrumentos de gestão de recursos hídricos, no qual ousuário recebe uma autorização para fazer uso da água. É um documentoque garante a tomada d’água, de determinada vazão, de certa fonte hídrica,em local definido, para um determinado uso, durante um período de tempo,podendo-lhe ser assegurado o direito de uso desta água.

Parâmetro - Coeficiente de um modelo hidrológico, fórmula ou outro tipode relação, que pode ser ajustado para aplicar um modelo geral, etc. a casosparticulares. Por exemplo, para ajustar o modelo precipitação-caudal a umadeterminada bacia é necessário afetar os parâmetros do modelo de valoresapropriados para essa bacia.Paredão - Muro construído para confinar cursos de água, como medida deprevenção contra inundações.Percentagem de lagos - Percentagem da superfície de uma baciahidrográfica coberta de lagos.Perdas de água - Num balanço hídrico, quantidade de água perdida numadada região, durante um certo período de tempo, pela transpiração dasculturas ou da vegetação natural e formação do tecido vegetal, por evapora-ção da superfície de água, da umidade do solo e da neve, e por intercepção.Piscicultura - É a atividade com o uso de recurso hídrico para a criação,engorda e comércio de peixes, utilizando-se de tanques, viveiros ou açudes.Plâncton - Conjunto dos seres vivos que flutuam sem atividades nas mas-sas de água de lagos ou de oceanos. A parte vegetal é chamada fitoplânctone ocorre até onde chegam os raios de sol (cerca de 100 metros de profundi-dade, dependendo da altitude). A parte da fauna é chamada zooplâncton e éformada basicamente de minúsculos crustáceos. O plâncton é a principalreserva alimentar dos ecossistemas marinhos.Planejamento - É a atividade destinada a resolver os problemas de umacomunidade, através de considerações ordenadas, que envolvem, desdeuma concepção inicial, umPlano de recursos hídricos - Estudo prospectivo que busca adequar ouso, controle e grau de proteção dos recursos hídricos às aspirações sociaise/ou governamentais expressas formal ou informalmente em uma políticade recursos hídricos, através da coordenação, compatibilização, articulação

P

Água na Visão do Direito – 175

e/ou projetos de intervenção. Segundo a lei, os Planos de Recursos Hídricossão planos diretores das bacias hidrográficas que visam fundamentar e ori-entar a implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos e ogerenciamento dos recursos hídricos. São planos de longo prazo, com hori-zonte de planejamento comparável com o período de implantação de seusprogramas e projetos.Plano de referência - Superfície horizontal de referência à medição dacota.Plano de trabalho - É a descrição detalhada das etapas ou fases de umserviço ou obra, segundo determinada metodologia, elaborado tendo emvista o(s) objetivo(s) a atingir.Plano estadual de recursos hídricos - É um dos instrumentos da PolíticaEstadual de Recursos Hídricos que visa fundamentar, planejar e orientar asua implementação e o gerenciamento dos recursos hídricos.Pluviômetro - Instrumento para medir a altura da água da precipitaçãonum ponto.Poço - Obra de perfuração efetuada com o objetivo de extrair água subter-rânea. Se efetuada em profundidade e com maior diâmetro denomina-sefuro.Poço artesiano - Poço que se comunica com o aqüífero artesiano, no qualo nível da água se eleva acima da superfície do solo.Política da água - Conjunto de normas legislativas e legais, decisões go-vernamentais, políticas de gestão e respostas culturais para a conservaçãoquantitativa e qualitativa dos recursos hídricos de uma região, baciahidrográfica ou país.Política Estadual de recursos hídricos - É o conjunto consistente de prin-cípios doutrinários que conformam as aspirações sociais e/ou governamen-tais no que concerne à regulamentação ou modificação nos usos, controle eproteção de recursos hídricos, garantindo sua utilização para gerações futu-ras.Poluente - Substância, meio ou agente que provoque, direta ouindiretamente qualquer forma de poluição.Poluição - É a contaminação ou qualquer interferência danosa nos proces-sos de transmissão e/ou alteração das propriedades físicas, químicas e bio-lógicas do meio ambiente e das águas, pelo lançamento de quaisquer subs-tâncias sólidas, líquidas ou gasosas, que se tornem efetiva ou potencialmen-te nocivas à saúde, à segurança e ao bem-estar públicos, comprometendoseu emprego para uso doméstico, agrícola, pastoril, recreativo e industrial,ou para outros fins justificados e úteis, bem como cause danos ou prejuízosà flora e fauna.

176 – Água na Visão do Direito

Potamologia - Ramo da hidrologia que estuda os cursos de água superfici-ais e o tipo de regime a eles associado. Inclui a hidráulica fluvial e todos osfenômenos relacionados com a erosão e a sedimentação no leito dos cursosde água.Precipitação - Produtos, sob a forma líquida ou sólida, resultantes dacondensação do vapor de água, que caem das nuvens ou que são deposita-dos pelo ar úmido sobre o solo.Precipitação útil - Parte da precipitação que contribui para o escoamentodireto num curso de água.Precisão ou Erro - Qualidade associada ao grau de concordância entre osresultados repetidos de vários cálculos, estimativas ou medições, indepen-dentemente, de o seu valor médio se aproximar ou não do valor real.Preservação - É tornar intocáveis os recursos naturais e o meio ambiente,preservando-os para o deleite das futuras gerações. Não se deve confundircom “proteção” e “conservação” que permitem o uso e aproveitamento raci-onal.Pressão capilar - Diferença de pressão ao longo da interface curva água/ar.Pressão dinâmica - Pressão devida à energia cinética de um fluido.Previsão de cheias - Previsão do nível, caudal, tempo de ocorrência eduração de uma cheia, especialmente do seu caudal máximo em determina-do ponto do curso de água, resultante da ocorrência de precipitação e/oudegelo.Previsão do abastecimento de água - Previsão do volume de água dispo-nível numa área e período de tempo determinado, incluindo, se possível,sua distribuição temporal e as probabilidades correspondentes.Prisma de maré - Volume de água que entra com o movimento da marépara um canal de maré e que dele volta a sair durante um ciclo completo damaré, excluindo os caudais continentais.Processo de ‘Markov’ - Processo estocástico em que a distribuição daprobabilidade condicional do estado do sistema para qualquer instante futu-ro, dado o estado presente do sistema, é independente do conhecimentosuplementar da história anterior.Propagação da onda de cheia - Técnicas utilizadas para calcular o movi-mento e as alterações na forma de uma onda de cheia, que se move atravésde um troço ou de um reservatório.Purificação - Tratamento de águas naturais ou residuais de modo a modi-ficar as propriedades físicas e eliminar as substâncias químicas e organis-mos vivos considerados nocivos e indesejáveis.

Água na Visão do Direito – 177

Qualidade da água - Características químicas, físicas e biológicas, relacio-nadas com o seu uso para um determinado fim. A mesma água pode ser deboa qualidade para um determinado fim e de má qualidade para outro, de-pendendo de suas características e das exigências requeridas pelo uso es-pecífico.Queda de água - Queda de água vertical ou descida com grande declive deum curso de água.

Racionamento - Limitação do consumo dos recursos hídricos, a fim degarantir a distribuição eqüitativa para todos os usuários outorgados de umabacia hidrográfica, bem como para os usos considerados insignificantes, emrazão de situação hidrológica crítica, principalmente as secas prolongadas.Raio hidráulico - Relação entre a área da secção líquida e o perímetromolhado de um curso de água, canal ou conduta fechada.Ravina - Canal profundamente erodido pela ação da água de escorrênciadurante períodos de fortes chuvaradas ou degelo.Recarga - Introdução artificial de águas num aqüífero, após tratamentoadequado.Recarga artificial - Processo de aumentar o fornecimento natural de águaa um aqüífero bombeando água para dentro dele através de perfurações oupara dentro de bacias de captação que drenam a água para dentro do aqüífero.Reciclar - Coletar e processar um recurso de modo que ele possa ser trans-formado em novos produtos, como recuperar garrafas ou latas de alumíniopara processá-las em novas garrafas ou latas. A reciclagem difere dareutilização por envolver processamento; reutilizar significa usar um recur-so novamente em sua forma original, como na lavagem e reutilização de umcontainer.Recife - Proeminência ou massa de rochas ou de coral (ou de um banco deareia estendido) junto à superfície do oceano.Recife artificial - Estrutura construída pelos homens que se ergue acimado fundo do oceano. Ele cria um habitat artificial para atrair organismosmarinhos e bentônicos.Recursos Hídricos - Numa determinada região ou bacia, é qualquer coleção

Q

R

178 – Água na Visão do Direito

d’água superficial ou subterrânea que pode ser obtida e está disponível parao uso humano. Segundo a ONU, não passa de um por cento das águas totaisdo planeta.Recursos Naturais - São o conjunto de riquezas atuais e potenciais exis-tentes na natureza, à disposição do homem.Rede de abastecimento de água ou sistema de abastecimento deágua - Conjunto dos reservatórios, bombas e condutas que são necessáriospara assegurar aos diversos utilizadores um fornecimento de água com aquantidade e a qualidade exigidas.Rede de esgoto - Termo coletivo para o sistema de coleta e usina de trata-mento de esgoto num determinado bairro ou região.Rede hidrográfica - Conjunto de rios e outros cursos de água, permanen-tes ou temporários, incluindo lagos e reservatórios em determinada região.Rede hidrométrica - Conjunto de estações hidrométricas e pontos de ob-servação situados em determinada zona (bacia hidrográfica, região admi-nistrativa), que proporcionam informação para o estudo do regime hidrológico.Redução - Processo químico que leva a uma perda de oxigênio ou a umaumento de eletrões num composto; é o processo contrário à de oxidação.Rega - Aplicação artificial de água com fins agrícolas.Reservatório de água - É toda massa de água, natural ou artificial, usadapara armazenar, regular e controlar os recursos hídricos. A partir da seçãoimediatamente a montante de um barramento, é todo volume disponível,constituído de alturas atingidas pelas águas e respectiva área superficialabrangida (espelho d’água), descritos por curvas cota-volume e cota-área.Resíduo - Quando se ajusta um modelo aos dados, um resíduo é a diferen-ça entre um dos dados e o valor correspondente calculado pelo modelo. Porexemplo, numa regressão linear é a diferença entre um valor observado e ovalor determinado pela equação.Resistência hidráulica - Inverso da condutividade hidráulica.Ressurgência - Reaparecimento ao ar livre, após percurso subterrâneo, deum curso de água superficial que tinha desaparecido a montante.Retenção - Parte da precipitação que cai na área de drenagem de umabacia e que não é parte integrante do escoamento superficial, durante umdeterminado período de tempo.Reuso - Trata-se de uma alternativa mais plausível para satisfazer as deman-das menos restritivas como, por exemplo, utilizar as águas domésticas servi-das mais de uma vez, após tratada, realizar o reuso urbano não potável,  oreuso industrial ou o reuso agrícola, liberando as águas de melhor qualidadepara usos mais nobres, como o abastecimento e consumo humano.

Água na Visão do Direito – 179

Rio - Canal natural de drenagem de superfície que tem uma descarga anualrelativamente grande. Um rio geralmente termina oceano.

Salinidade - Medida da concentração de sais dissolvidos, principalmentecloreto de sódio, em água salina ou água do mar.Salinização - Degradação de terras férteis causada pelo sal. A salinizaçãodas terras agrícolas é comum em áreas que dependem de irrigação: a eva-poração superficial retira sais do solo e das pedras do subsolo, sendo que aredução das águas subterrâneas aumenta o percentual de minerais e sais naágua armazenada.Saneamento ambiental - É a parte do saneamento que se encarrega daproteção do ar, do solo e das águas contra a poluição e a contaminação.Seca hidrológica ou Seca - Período de tempo excepcionalmente seco,suficientemente prolongado para provocar uma considerável diminuição dasreservas hídricas, como a redução significativa do caudal dos rios, do níveldos reservatórios e/ou a descida dos níveis de água no solo e nos aqüíferos.Conseqüência de ausência prolongada ou marcada escassez de precipitação.Sedimentação - Acúmulo de solo e/ou partículas minerais no leito de umcorpo d’água. Em geral, esse acúmulo é causado pela erosão de solos próxi-mos, ou pelo movimento vagaroso de um corpo d’água, como ocorre quan-do um rio é representado para formar um reservatório.Sifão - Conduta fechada uma parte da qual está acima da linha piezométrica.Pelo que neste tramo se verifica uma pressão inferior à atmosférica o queobriga à realização de uma descarga parcial para amortecer o escoamento.O sifão utiliza a pressão atmosférica para produzir ou aumentar o escoa-mento de água que o atravessa. Pode aparecer naturalmente em regiõescársicas.Sistema de abastecimento público de água - É  o conjunto de obras,instalações e serviços, destinados a produzir e distribuir água potável a umacomunidade, em quantidade e qualidade compatíveis com as necessidadesda população, para fins de consumo doméstico, serviços públicos, consumoindustrial e outros usos. Destina-se a melhorar as condições de Saúde Públi-ca, tanto do ponto de vista físico, pela eliminação das doenças de veiculaçãohídrica, como pela social, pela melhoria das condições de comodidade naobtenção e uso da água.

S

180 – Água na Visão do Direito

Solo - Parte superficial da terra formada pelo acúmulo de materialinconsolidado originado do intemperismo das rochas. Para os geólogos, osolo (melhor definido como regolito) compreende tanto o material superfici-al como o subsolo formado por rocha em decomposição. Para os pedólogos(agronomia), observa-se um horizonte A, superficial, que contém muitamatéria orgânica, um horizonte B, mais profundo, onde ocorre o acúmulodos sais lixiviados da superfície e de partículas minerais e,  mais abaixo, osubsolo considerado horizonte C. Para a gestão de recursos hídricos e domeio ambiente, assim como para a engenharia, a acepção usada pelosgeólogos é mais adequada.Sonda - Instrumento desenhado para recolher amostras de solo, argila ououtros materiais relativamente pouco consolidados a profundidade reduzi-da.Submersão - Condição de um descarregador quando o nível de água ajusante é igual ou superior à cota da crista do descarregador.Sumidouro - Em hidrologia, significa uma cavidade, em forma de funil, nasuperfície do solo, que se comunica com o sistema de drenagem subterrâ-nea, em regiões calcárias, causada pela dissolução da rocha. Já, na enge-nharia sanitária, significa um poço destinado a receber o efluente da fossaséptica e permitir sua infiltração subterrânea.

Talvegue - Linha que percorre a parte mais funda do leito de um curso deágua ou de um vale.Tanque - Reservatório escavado com trator em terreno com declive, fora doálveo de curso d’água, formando uma área côncava com uma coroa do ma-terial escavado para armazenamento das águas de chuva.Tempestade - Queda de precipitação muito intensa em forma de chuva,neve ou granizo, acompanhada ou não por vento que está associada a outrofenômeno meteorológico diferenciado.Teor de água na neve - Fração, expressa em peso de água líquida, conti-da nos interstícios existentes entre os grãos de neve, mas que a eles nãoadere fortemente, e que se move livremente por capilaridade ou por gravi-dade.Teor de umidade do solo - Percentagem de água no solo, expressa emrelação ao peso do solo seco ou ao volume.Termoclina - Camada de uma massa de água termicamente estratificadaonde o gradiente de temperatura atinge o valor máximo.

T

Água na Visão do Direito – 181

Tina flutuante - Tina evaporimétrica que flutua numa massa de água.Tomada d’água - É uma estrutura construída em concreto, alvenaria ououtro material num corpo hídrico ou estrutura hidráulica para a captação ouderivação de água para determinada finalidade.Torrente - Curso de água de grande declive que se escoa geralmente a umagrande velocidade e de forma turbulenta.Traçador - Substância facilmente detectável que pode ser introduzida empequenas quantidades na água corrente, de superfície ou subterrânea, paramaterializar as trajetórias das partículas ou medição das características doescoamento, como por exemplo a velocidade do escoamento, tempo de per-curso, diluição, etc.Transposição - Transferência de água e/ou efluentes entre mananciaishídricos pertencentes a bacias hidrográficas distintas.Tratamento - Processo artificial de depuração e remoção das impurezas,substâncias e compostos químicos de água captada dos cursos naturais, demodo a torná-la própria ao consumo humano, ou de qualquer tipo de efluenteliquido, de modo a adequar sua qualidade para a disposição final.Tratamento primário - Operações unitárias, com vistas principalmente àremoção e estabilização de sólidos em suspensão, tais como sedimentação,digestão de lodo, remoção da umidade do lodo.Tratamento químico - Qualquer processo envolvendo a adição de reagentesquímicos para a obtenção de um determinado resultado.Tratamento secundário - Operações unitárias de tratamento, visando prin-cipalmente à redução de carga orgânica dissolvida, geralmente por proces-sos biológicos de tratamento.Tratamento terciário - Operações unitárias que se desenvolvem após otratamento secundário, visando ao aprimoramento da qualidade do efluente,por exemplo à desinfecção, à remoção de fosfatos e outras substâncias.Trecho de corpo hídrico - Segmento de um corpo d’água onde as caracte-rísticas são consideradas uniformes.Troço - Tramo de um canal aberto compreendido entre duas secções trans-versais.Tsunami - Onda marítima de grande amplitude provocada por um terremotono mar (maremoto) ou por uma erupção vulcânica.Tubo de Pitot - Tubo em ângulo reto cujo ramo inferior tem uma aberturaorientada para montante e que se mantém perpendicular às linhas de cor-rente do escoamento. Dispositivo utilizado para medir a velocidade de umlíquido a qual pode ser determinada pela diferença entre a pressão dinâmicae a pressão estática.Turbidez - Medida da transparência de uma amostra ou corpo d’água, em

182 – Água na Visão do Direito

termos da redução de penetração da luz, devido à presença de matéria emsuspensão ou substâncias coloidais. Mede a não propagação da luz na água.Turbulência atmosférica - Fenômeno atmosférico caracterizado por umavariação importante da velocidade do vento que começa bruscamente, duraalguns minutos e diminui rapidamente. É muitas vezes acompanhado deaguaceiro ou trovoada.

Umidade - Medida da quantidade de vapor d’água contido no ar atmosféri-co.Umidade relativa - A uma pressão e temperaturas dadas, é a relaçãopercentual entre a fração molar do vapor de água e a fração molar que o arteria se estivesse saturado de água à mesma pressão e temperatura.Unidade de trítio - Unidade utilizada para exprimir a concentração de trítio.Uma unidade de trítio corresponde a uma concentração de um átomo detrítio em 1018 átomos de hidrogênio.Uso dos recursos hídricos - Toda e qualquer atividade humana que, dequalquer modo, altere as condições naturais das águas.Uso industrial da água - Constitui o uso dos recursos hídricos como maté-ria prima de produção e também de insumo para o processo produtivo in-dustrial, tais como: fonte de energia (vapor), caldeiras, sistemas de refrige-ração, combate a incêndios, fins sanitários e outros.Uso rural da água - É o uso do recurso hídrico para as atividades na zonarural como irrigação, insumo na criação de animais em sistema intensivo deconfinamento ou extensiva ou ainda para a simples dessedentação animal.Usos benéficos da água - São os que promovem benefícios econômicos eo bem-estar à saúde da população. Os usos benéficos permitidos para umdeterminado corpo d’água são chamados usos legítimos de corpos d’água:abastecimento público - “uso da água para um sistema que sirva há, pelomenos, 15 ligações domiciliares ou há, pelo menos, 25 pessoas, em condiçõesregulares”; uso estético - “uso da água que contribui de modo agradável eharmonioso para compor as paisagens naturais ou resultantes da criaçãohumana”; recreação - “uso da água que representa uma atividade físicaexercida pelo homem na água, como diversão”; preservação da flora e fauna- “uso da água destinado a manter a biota natural nos ecossistemas aquáti-cos”; atividades agropastoris - uso da água para irrigação de culturas edessedentação e criação de animais”; abastecimento industrial - uso da águapara fins industriais, inclusive geração de energia.

U

Água na Visão do Direito – 183

Usos múltiplos da água - Coloca todas as categorias usuárias em igualda-de de condições em termos de acesso aos recursos hídricos, sem privilégios.

Vala - Canal artificial de pequena dimensão escavado na terra, utilizadopara conduzir a água.Vazante - O refluxo da maré da preia-mar para a baixa-mar, ou o períododurante o qual tal se dá.Vazão - É o volume de água que passa por uma determinada seção de umconduto por uma unidade de tempo. Usualmente é dado em litros por se-gundo (l/s), em metros cúbicos por segundo (m3/s) ou em metros cúbicospor hora (m3/h).Voçoroca - Processo erosivo subterrâneo. causado por infiltração de águaspluviais, através de desmoronamento e que se manifesta por grandes fen-das na superfície do terreno afetado, especialmente quando este é de en-costa e carece de cobertura vegetal.Volume aleatório - Volume disponível sazonalmente em um corpo hídrico,sob a forma de variável aleatória que assume valor diferente a cada períodode tempo, em função da natural variabilidade hidrológica e do manejo doscorpos hídricos.Volume outorgado - Volume indisponível para novas outorgas em funçãode outorgas já efetuadas no próprio corpo hídrico, ou em outros localizadosà montante, devendo ser sempre igual ou inferior ao volume outorgável.Volume outorgável - Máximo volume que pode ser outorgado em um cor-po hídrico e cujo montante é composto pela soma do volume já outorgadocom o volume ainda disponível para outorga.Vórtice - Turbilhão de grande diâmetro numa massa de água.

Zona árida - Zona onde a precipitação é de tal modo insuficiente que énecessário regar para manter as culturas.Zooplâncton – 1) Refere-se a microorganismos que se alimentam dosfitoplânctons que vivem na água e que por sua vez são alimentos para osvários tipos de peixes; 2) Animais, geralmente microscópicos, que se man-tém flutuando ou nadando na coluna de água (microcrustáceos e larvas depeixes e camarões)

V

Z

CAPÍTULO 6 - JURISPRUDÊNCIA

6.1 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

DIREITO AMBIENTAL – HIDROVIA – ANÁLISE INTEGRADA – ESTU-DO DE IMPACTO AMBIENTAL – PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Ementa: Direito Ambiental. Hidrovia Paraguai-Paraná. Análise integrada.Necessidade do Estudo do Impacto Ambiental em toda extensão do rio, enão por partes. Aplicação do princípio da precaução.1. O Projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná, envolvendo realização de obrasde engenharia pesada, construção de novos portos e terminais, ampliaçãodos atuais, construção de estradas de acesso aos portos e terminais,retificações das curvas dos rios, ampliação dos raios de curvatura, remoçãodos afloramentos rochosos, dragagens profundas ao longo de quase 3.500Km do sistema fluvial, construção de canais, a fim de possibilitar uma nave-gação comercial mais intensa, com o transporte de soja, minério de ferro,madeira etc, poderá causar grave dano à região pantaneira, com percussõesmaléficas ao meio ambiente e à economia da região. É necessário, pois, quese faça um estudo desse choque ambiental em toda a extensão do Rio Paraguaiaté a foz do Rio Apa.2. Aplicação do princípio que o intelectual chama de precaução, que foi ele-vado à categoria de regra do direito internacional ao ser incluído na Declara-ção do Rio, como resultado da Conferência das Nações Unidas sobre o MeioAmbiente e Desenvolvimento - Rio/92. “Mas vale prevenir do que remediar”,diz sabiamente o povo.3. Os serviços rotineiros de manutenção, como, por exemplo, as dragagensque não exijam grandes obras de engenharia, devem continuar. A navega-ção atual, a navegação de comboios de chatas no Rio Paraguai, permaneceda maneira como vem sendo feita há anos, obedecendo-se às normas bai-xadas pela Capitania Fluvial do Pantanal e às orientações do IBAMA.4. Havendo, como há, ordem judicial no sentido de os atuais portos e termi-nais continuarem operando, o funcionamento dos mesmos não constitui cri-me, não podendo, assim, haver abertura de inquérito policial para apurar

186 – Água na Visão do Direito

possível ocorrência de dano ambiental, tão só pelo funcionamento. O nãoatendimento da decisão judicial implica prática do crime dedesobediência. (Agravo Regimental na Petição n.º 200101000015170. Cor-te Especial. TRF – Primeira Região. Relator Juiz-Presidente Tourinho Neto .Julgado em 12/02/2001).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – LANÇAMENTO DEEFLUENTES QUÍMICOS - INDENIZAÇÃO

Ementa: Administrativo. Ação Civil Pública. Dano Ambiental. Procedênciada ação. Sentença confirmada. Improvimento do recurso e da remessa ofi-cial.1. (a) do Dano AmbientalOs autos trazem uma seqüência de fatos que comprovam inequivoca-mente o dano causado pela apelante ao rio Jaguarão, bem como ao seuentorno. A apelante demonstrou desinteresse tamanho em cumprir asexigências determinadas pelo Juízo que foi determinada a paralisação desuas atividades, bem como a instauração de ação penal em face da ape-lante e de seu sócio Ésio Adilton Lavínia. Em junho de 2001, após fiscali-zação do órgão ambiental, o Juízo de 1º Grau assinalou prazo de 45 diaspara que a empresa-ré apresentasse Plano Global de Adequação, sobpena de interdição de suas atividades, ante a constatação de que a réteria lançado efluentes químicos in natura no rio Jaguarão, por problemastécnicos em seus equipamentos de tratamento. Conforme narrado peloMinistério Público Federal no 1º Grau, em inspeção judicial nas instala-ções da apelante (fl. 563/566), a Juíza designou nova data para inspeçãojudicial (15.03.2002) face às péssimas condições do local e da estação detratamento de efluentes (ETE). Nessa ocasião, foram determinadas di-versas providências à apelante, dentre elas a instalação de bomba commaior potência para alimentar o tanque de equalização; instalação deraspador automático do tanque de flotação; limpeza geral do ambientepróximo a ETE, dentre outras.Em Relatório de Vistoria e Viagem confeccionado pela FATMA em 20.02.2002(fl. 590), foi anotado: ... foi realizada uma vistoria para a verificação dealguma benfeitoria necessária, conforme inspeção realizada em conjuntocom o Ministério Público. A empresa ainda não implantou qualquer benfeitoriae o efluente lançado foi registrado por foto (anexo).Em março de 2003, em nova inspeção judicial, constatou-se, ainda, diver-sas irregularidades na atividade fabril da empresa, malgrado todas as deter-minações judiciais e medidas dos órgãos ambientais. Tal fato provocou a

Água na Visão do Direito – 187

decretação de paralisação das atividades da empresa por medida judicialconstante nas fls. 613/615.A alegação de que não há prova do dano ambiental causado diretamentepela atividade da apelante, portanto, não tem nenhum fundamento. Confor-me já demonstrado em diversas oportunidades nos autos, através de suces-sivas vistorias no local pela FATMA e algumas inspeções judiciais realizadascomprovaram o lançamento, por parte da apelante, de efluentes químicosno rio Jaguarão.(b) Valor da indenizaçãoDetermina o art. 30 da Lei 7347/85 que disciplina a ação civil pública deresponsabilidade por danos causados ao meio ambiente: Art. 3º. A ação civilpoderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obri-gação de fazer ou não fazer.Por sua vez, o art. 14, § 1º da Lei 6938/81 : § 1º. Sem obstar a aplicaçãodas penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independen-tementede existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meioambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público daUnião e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidadecivil e criminal por danos causados ao meio ambiente.Verificada a possibilidade da cominação de prestação pecuniária a título dereparação de danos ao meio ambiente em ação civil pública, deve-se anali-sar a razoabilidade dos critérios adotados pelo Juízo de 1º Grau para a fixa-ção do valor dos danos causados (fl. 1092-1093): a) custo de 1 ano para otratamento do lodo decantado e tratado na ETE - R$ 16.800,00; b) gastosmensais com a empresa de consultoria ambiental CAF, até 08.2003 - R$12.960,00; c) gasto anual com a destinação do lodo à aterro industrial licen-ciado - R$ 2.160,00; d) substituição da tubulação de PVC por tubo de con-creto - R$ 1.900,00; e) instalação de temporizador no tanque de flotação -R$ 172,50; f) modificação do sistema automatizado do tanque de flotação -R$ 1.853,00; g) aquisição de tambor e bomba dosadora de descolorante -R$ 3.062,00. Total: R$ 38.907,50. Portanto, é visível a adequação do valorcominado pelo Juízo, pois observou critérios razoáveis para a fixação dovalor da indenização, de acordo com a capacidade financeira do ofensor e,em vista das medidas que deverão ser necessariamente tomadas, para quecesse a atividade danosa ao meio ambiente.2. Improvimento da apelação e da remessa oficial.(Apelação Cível Nº 2000.72.01.004473-0/SC. Terceira Turma. Relator Des.Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz. Acórdão Publicado em03.11.2004)

188 – Água na Visão do Direito

6.2 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

CRIME AMBIENTAL – PESSOA JURÍDICA – RESPONSABILIDADE SO-CIAL – CO-RESPONSABILIDADE

Ementa: Criminal. Crime ambiental praticado por pessoa jurídica.Responsabilização penal do ente coletivo. Possibilidade. Previsão Constituci-onal regulamentada por lei federal. Opção política do Legislador. Forma deprevenção de danos ao meio-ambiente. Capacidade de ação. Existência ju-rídica. Atuação dos administradores em nome e proveito da pessoa jurídica.Culpabilidade como responsabilidade social. Co-responsabilidade. Penasadaptadas à natureza jurídica do ente coletivo. Recurso provido.I. Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado, juntamente com doisadministradores, foi denunciada por crime ambiental, consubstanciado emcausar poluição em leito de um rio, através de lançamento de resíduos, taiscomo, graxas, óleo, lodo, areia e produtos químicos, resultantes da atividadedo estabelecimento comercial.II. A Lei ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou a pre-ver, de forma inequívoca, a possibilidade de penalização criminal das pesso-as jurídicas por danos ao meio-ambiente.III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitosambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de pu-nição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como forma mesmo deprevenção geral e especial.IV. A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na supostaincapacidade de praticarem uma ação de relevância penal, de serem culpá-veis e de sofrerem penalidades.V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico epratica atos no meio social através da atuação de seus administradores,poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível deresponsabilização penal.VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade social, e aculpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seuadministrador ao agir em seu nome e proveito.VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver interven-ção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.VIII. “De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ouindiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante le-gal ou contratual ou de seu órgão colegiado.”IX. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa jurídica é a pró-

Água na Visão do Direito – 189

pria vontade da empresa. A co-participação prevê que todos os envolvidosno evento delituoso serão responsabilizados na medida se sua culpabilida-de.X. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas demultas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liqui-dação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à suanatureza jurídica.XI. Não há ofensa ao princípio constitucional de que “nenhuma pena passa-rá da pessoa do condenado...”, pois é incontroversa a existência de duaspessoas distintas: uma física - que de qualquer forma contribui para a prá-tica do delito - e uma jurídica, cada qual recebendo a punição de formaindividualizada, decorrente de sua atividade lesiva.XII. A denúncia oferecida contra a pessoa jurídica de direito privado deveser acolhida, diante de sua legitimidade para figurar no pólo passivo darelação processual-penal.XIII. Recurso provido, nos termos do voto do Relator.Recurso Especial n.º 564960/SC. Quinta Turma. Superior Tribunal de Justi-ça. Relator Ministro Gilson Dipp. Julgado em 02/06/2005).

DESAPROPRIAÇÃO – TERRENOS MARGINAIS - INDENIZABILIDADE

Ementa: Administrativo. Desapropriação. Terrenos marginais.Inindenizabilidade.1. Os terrenos reservados nas margens das correntes públicas, como o casodos rios navegáveis, são, na forma do art. 11 do Código de Águas, benspúblicos dominiais, salvo se por algum título legítimo não pertencerem aodomínio particular.2. Em se tratando de bens públicos às margens dos rios navegáveis, o títuloque legitima a propriedade particular deve provir do poder competente, nocaso, o Poder Público. Isto significa que os terrenos marginais presumem-sede domínio público, podendo, excepcionalmente, integrar o domínio de par-ticulares, desde que objeto de concessão legítima, expressamente emanadade autoridade competente.3. Por força da Constituição Federal, art. 20, III, os rios que banham mais deum Estado, como é o caso do Rio Paraná, são bens da União, assim como osão os terrenos marginais e as praias fluviais, por isso que afigura-se incabívela indenização pretendida.4. Aplicação da Súmula 479/STF, verbis: “As margens dos rios navegáveissão domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, ex-cluídas de indenização.”

190 – Água na Visão do Direito

5. “São de propriedade da União quando marginais de águas doces sitas emterras de domínio federal ou das que banhem mais de um Estado, sirvam delimite com outros países ou, ainda, se estendam a território estrangeiro oudele provenham” (art. 20, III, da Constituição). Por seguirem o destino dosrios, são de propriedade dos Estados quando não forem marginais de riosfederais.Em tempos houve quem, erroneamente, sustentasse que sobre eles nãohavia propriedade pública, mas apensa servidão pública. Hoje a matéria épacificada, havendo súmula do STF (nº 479) reconhecendo o caráter públicode tais bens, ao confirmar acórdão do TJSP no qual a matéria fora exaustiva-mente aclarada pelo relator, Des. O. A. Bandeira de Mello, o qual, em traba-lhos teóricos anteriores, já havia examinado ex professo o assunto. De res-to, hoje, no art. 20, VII, da Constituição, a questão está expressamenteresolvida. Os terrenos reservados são bens públicos dominicais (art. 11 doCódigo de Águas).” (Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito Ad-ministrativo, 14ª edição, Malheiros, 2002, p. 778).6. Recurso Especial provido. (Resp n.º 617822/SP. Primeira Turma. SuperiorTribunal de Justiça. Relator Ministro Luiz Fux. Julgado em 03/03/2005).

DANO ECOLÓGICO – REPARAÇÃO – ROMPIMENTO DE DUTO – PO-LUIÇÃO - INDENIZAÇÃO

Ementa: Dano Ecológico. Reparação. Rompimento de duto. Poluiçãoambiental. Artigo 14, parágrafo 1. Da Lei n. 6.938/81. Cobrança das despe-sas feitas pela companhia de saneamento. Procedência.É o poluidor obrigado, independentemente de culpa, a indenizar ou repararos danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.Tendo a companhia de saneamento, encarregada de zelar pelo meio ambi-ente e guardiã de um interesse difuso da comunidade, tomado as medidasnecessárias para o combate a poluição ocasionada pelo rompimento de umduto, deve ser ressarcida, como terceira, das despesas correspondentes.(Recurso Especial n.º 20401. Segunda Turma. Superior Tribunal de Justiça.Relator Ministro Hélio Mosimann, julgado em 10/12/93).

DESAPROPRIAÇÃO – PROPRIEDADE – SOLO E SUBSOLO – ÁGUASSUBTERRÂNEAS – TITULARIDADE – BEM PÚBLICO

Ementa: Administrativo. Desapropriação. Indenização. Obra realizada porterceira pessoa em área desapropriada. Benfeitoria. Não caracterização.

Água na Visão do Direito – 191

Propriedade. Solo e subsolo. Distinção. Águas subterrâneas. Titularidade.Evolução legislativa. Bem público de uso comum de titularidade dos Esta-dos-Membros. Código de Águas. Lei n.º 9.433/97. Constituição Federal, arts.176, 176 e 26, I.1. Benfeitorias são as obras ou despesas realizadas no bem, para o fim deconservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo, engendradas, necessariamente, peloproprietário ou legítimo possuidor, não se caracterizando como tal a interfe-rência alheia.2. A propriedade do solo não se confunde com a do subsolo (art. 526, doCódigo Civil de 1916), motivo pelo qual o fato de serem encontradas jazidasou recursos hídricos em propriedade particular não torna o proprietário titu-lar do domínio de referidos recursos (arts. 176, da Constituição Federal)3. Somente os bens públicos dominiais são passíveis de alienação e, portan-to, de desapropriação.4. A água é bem público de uso comum (art. 1º da Lei n.º 9.433/97), motivopelo qual é insuscetível de apropriação pelo particular5. O particular tem, apenas, o direito à exploração das águas subterrâneasmediante autorização do Poder Público cobrada a devida contraprestação(arts. 12, II e 20, da Lei n.º 9.433/97)6. Ausente a autorização para exploração a que o alude o art.12, da Lei n.º9.443/97, atentando-se para o princípio da justa indenização, revela-se au-sente o direito à indenização pelo desapossamento de aqüífero.7. A ratio deste entendimento deve-se ao fato de a indenização por desapro-priação estar condicionada à inutilidade ou aos prejuízos causados ao bemexpropriado, por isso que, em não tendo o proprietário o direito de explora-ção de lavra ou dos recursos hídricos, afasta-se o direito à indenização res-pectiva.8. Recurso especial provido para afastar da condenação imposta ao INCRA oquantum indenizatório fixado a título de benfeitoria. (Resp n.º 518744/RN.Primeira Turma. Superior Tribunal de Justiça. Relator Ministro Luiz Fux. Jul-gado em 03/02/2004).

DANO AMBIENTAL – SANÇÃO ADMINISTRATIVA – COMPETÊNCIA -DERRAMAMENTO DE ÓLEO -

Ementa: Administrativo. Dano ambiental. Sanção administrativa. Imposi-ção de multa. Ação anulatória de débito fiscal. Derramamento de óleo deembarcação estrangeira contratada pela Petrobrás. Competência dos ór-gãos estaduais de proteção ao meio ambiente para impor sanções. Respon-

192 – Água na Visão do Direito

sabilidade objetiva. Legitimidade da exação.1.”(...)O meio ambiente, ecologicamente equilibrado, é direito de todos, pro-tegido pela própria Constituição Federal, cujo art. 225 o considera “bem deuso comum do provo e essencial à sadia qualidade de vida”. (...) Além dasmedidas protetivas e preservativas previstas no § 1º, incs. I-VII do art. 225da Constituição Federal, em seu § 3º ela trata da responsabilidade penal,administrativa e civil dos causadores de dano ao meio ambiente, ao dispor:“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarãoos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrati-vas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Nesteponto a Constituição recepcionou o já citado art. 14, § 1º da Lei n. 6.938/81,que estabeleceu responsabilidade objetiva para os causadores de dano aomeio ambiente, nos seguintes termos: “sem obstar a aplicação das penali-dades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente deexistência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio am-biente e a terceiros, afetados por sua atividade.” “ [grifos nossos] (SergioCavalieri Filho, in “Programa de Responsabilidade Civil”)2. As penalidades da Lei n.° 6.938/81 incidem sem prejuízo de outras pre-vistas na legislação federal, estadual ou municipal (art. 14, caput) e somen-te podem ser aplicadas por órgão federal de proteção ao meio ambientequando omissa a autoridade estadual ou municipal (art. 14, § 2°). A ratio dodispositivo está em que a ofensa ao meio ambiente pode ser bifronte atin-gindo as diversas unidades da federação3. À Capitania dos Portos, consoante o disposto no § 4°, do art. 14, da Lei n.°6.938/81, então vigente à época do evento, competia aplicar outras penali-dades, previstas na Lei n.° 5.357/67, às embarcações estrangeiras ou naci-onais que ocasionassem derramamento de óleo em águas brasileiras.4. A competência da Capitania dos Portos não exclui, mas complementa, alegitimidade fiscalizatória e sancionadora dos órgãos estaduais de proteçãoao meio ambiente.5. Para fins da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art 3º, qualifica-secomo poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, res-ponsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradaçãoambiental.6.Sob essa ótica, o fretador de embarcação que causa dano objetivo aomeio ambiente é responsável pelo mesmo, sem prejuízo de preservar o seudireito regressivo e em demanda infensa à administração, interpartes, dis-cutir a culpa e o regresso pelo evento.7. O poluidor (responsável direto ou indireto), por seu turno, com base namesma legislação, art. 14 - “sem obstar a aplicação das penalidades admi-

Água na Visão do Direito – 193

nistrativas” é obrigado, “independentemente da existência de culpa”, a in-denizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,“afetados por sua atividade”.8. Merecem tratamento diverso os danos ambientais provocados por em-barcação de bandeira estrangeira contratada por empresa nacional cujaatividade, ainda que de forma indireta, seja a causadora do derramamentode óleo, daqueles danos perpetrados por navio estrangeiro a serviço deempresa estrangeira, quando então resta irretorquível a aplicação do art.2°, do Decreto n.° 83.540/799.De toda sorte, em ambos os casos há garan-tia de regresso, porquanto, mesmo na responsabilidade objetiva, o imputa-do, após suportar o impacto indenizatório não está inibido de regredir con-tra o culpado.10. In casu, discute-se tão-somente a aplicação da multa, vedada a incur-são na questão da responsabilidade fática por força da Súmula 07/STJ.11. Recurso especial improvido. (Resp n.º 467212/RJ. Primeira Turma. Su-perior Tribunal de Justiça. Relator Ministro Luiz Fux. Julgado em 28/10/2003).

6.3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDEDO SUL

AUTORIZAÇÃO – USO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA – COMPETÊNCIA

Ementa:  Apelação Cível. Município de Lajeado. Autorização para uso deágua subterrânea para fins potáveis em estabelecimento comercial. Compe-tência. A outorga do uso de águas subterrâneas pode ser concedida atravésde licença de uso, autorização ou concessão. Compete ao Departamento deRecursos Hídricos - DRH - e à Fundação Estadual de Proteção Ambiental -FEPAM - a autorização para uso de águas subterrâneas, e não aos Municípi-os. Inteligência do artigo 18 do Decreto Estadual n. 42.047/02 e artigo 1ºdo Decreto Estadual 37.033/96. Competência municipal apenas para fiscali-zar a qualidade da água utilizada. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. (Ape-lação Cível Nº 70008861767, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça doRS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 14/10/2004)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – RESPONSABILIDADE – DANO AMBIENTAL –SOLIDARIEDADE – “CITZEN ACTION”

Ementa:  Direito Público. Ação Civil Pública - Responsabilidade por danoambiental - Solidariedade dos demandados: Empresa Privada, Estado e

194 – Água na Visão do Direito

Município. “Citizen Action”. 1 - A Ação Civil Pública pode ser proposta contrao responsável direto, o responsável indireto ou contra ambos, pelos danoscausados ao meio ambiente, por se tratar de responsabilidade solidária, aensejar o litisconsórcio facultativo. “Citizen Action” proposta na forma da lei.2 - a omissão do Poder Público no tocante ao dever constitucional de asse-gurar proteção ao meio ambiente não exclui a responsabilidade dos particu-lares por suas condutas lesivas, bastando, para tanto, a existência do danoe nexo com a fonte poluidora ou degradadora. Ausência de medidas concre-tas por parte do Estado do Rio Grande do Sul e do Município de Porto Alegretendentes, por seus agentes, a evitar a danosidade ambiental. Responsabi-lidades reconhecidas. Responsabilidade objetiva e responsabilidade “inommitendo”. Culpa. Embargos acolhidos. (33FLS.) (Embargos InfringentesNº 70001620772, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça doRS, Relator: Carlos Roberto Lofego Canibal, Julgado em 01/06/2001)

AÇÃO DEMOLITÓRIA – EDIFICAÇÃO – ÁREA DE PROTEÇÃO AO MEIOAMBIENTE – CAPTAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

Ementa:  Ação Demolitória. Edificação em área de proteção ao Meio Ambi-ente. Realizada a edificação em área de preservação ambiental, em atenta-do ao disposto em legislação local que proíbe a construção em faixa próximaà bacia de captação de recursos hídricos, deve ser mantida a sentença.Aplicação do disposto na Lei nº 2.452/79 do município de Caxias do Sul.Apelação improvida. (Apelação Cível nº 70005315379, Décima Oitava Câ-mara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Heleno Tregnago Saraiva,julgado em 22/10/2004).

SERVIDÃO DE ÁGUA – CONSTRUÇÃO DE BARRAGEM – INTERRUP-ÇÃO - CURSO DO ARROIO

Ementa:  Agravo de Instrumento. Servidão de água. Reconsideração deliminar pelo juízo “a quo”. Construção de barragem para a formação de açu-de, interrompendo o curso de arroio. Prova fotográfica produzida com acontestação, a demonstrar sua manutenção por meio da instalação de tubu-lação na saída do reservatório. Agravantes que, por outro lado, não de-monstraram sofrer de escassez de recursos hídricos em sua propriedade, ajustificar a demolição de barragem de alto custo. Decisão mantida. Agravoimprovido. Unânime. (Agravo de Instrumento nº 70001065580, Décima Oi-tava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Cláudio Augusto RosaLopes Nunes, julgado em 07/06/2001).

Água na Visão do Direito – 195

AÇÃO DEMOLITÓRIA – AUTARQUIA – EXERCICIO DO PODER DE PO-LÍCIA – ÁGUAS - COMPETÊNCIA

Ementa:  Apelação Cível. Processual Civil. Ação demolitória ajuizada porautarquia, no exercício do poder de polícia das águas. Área de conservaçãode recursos hídricos pertencentes ao município de Caxias do Sul. Direitopúblico não-especificado. Competência absoluta e indeclinável das Câmarasintegrantes dos 1º, 2º e 11º Grupos Cíveis. Exegese do artigo 11, §1º, daResolução n.º 01/98 da e. Presidência desta Corte. Competência declinada.(Apelação Cível nº 70008174880, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal deJustiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, julgado em 27/05/2004).

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA – ÁGUA MINERAL – PADRÕES SANITÁ-RIOS

Ementa:  Constitucional. Competência legislativa. Água mineral. Padrõessanitários. 1. Comporta tutela através do Mandado de Segurança, preventi-vamente, o direito líquido e certo alegado, ou seja, aquele direito que pres-cinde de prova diversa da documental. É da competência exclusiva da Uniãolegislar sobre águas (CF, art. 22, IV), incumbindo o poder de policia ao Mu-nicípio. Porem, também cabe ao Município, na competência material concor-rente do art. 23 da CF/88, quer no tocante a saúde (inc. II), quer no acom-panhamento e fiscalização da exploração de “recursos hídricos e minerais”(inc. XI), suplementar as lacunas da legislação federal, inclusive naquelescasos de competência exclusiva. É compatível a Lei 8.640/01, do municípiode Porto Alegre, com regulamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitá-ria, no controle da comercialização de água com dosagem de fluoreto acimade 2 mg/l, porque, segundo tal norma, ela é imprópria para o consumodiário. Falta de prova da advertência ao consumidor quanto à nocividade doproduto. Legítimo exercício do poder de polícia para impor o cumprimentode padrões sanitários. 2. Apelação provida. (Apelação e Reexame Necessá-rio nº 70003186863, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:Araken de Assis, julgado em 05/12/2001).

DANO MORAL E MATERIAL – CONTAMINAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO –INTERDIÇÃO – ESTABELECIMENTO COMERCIAL

Ementa:  Processual Civil. Ação de danos morais e materiais. Contaminaçãode lençol freático. Pedido de interdição do estabelecimento comercial e produ-ção antecipada de prova pericial. Indeferimento de ambos. Concessão de efeito

196 – Água na Visão do Direito

ativo para propiciar a produção antecipada da prova. 1. Existindo fundado re-ceio de contaminação de água e relatando os autores a existência de perigo demorte em razão da utilização de metais pesados pela empresa, possibilita-se aprodução antecipada da prova pericial e indefere-se o pedido de interdição dacentral de resíduos da demandada, ao menos até o resultado do laudo pericial,quando, então, existirão melhores elementos de prova que ensejem uma deci-são amparada em laudo técnico. 2. Agravo provido em parte. (Agravo de Ins-trumento Nº 70005701453, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de Justi-ça do RS, Relator: Nereu José Giacomolli, julgado em 29/08/2003).

LOTEAMENTO – LICENCIAMENTO AMBIENTAL - COMPETÊNCIA

Ementa:  Apelação Cível. Loteamento urbano. Questão ambiental e atosadministrativos que o licenciaram. Competência. Reexame ex officio. Exclu-são da FEPAM e manutenção da Metroplan. Mata atlântica e vegetação se-cundária. Princípios da prevalência do conteúdo sobre a localização geográ-fica e da densidade mínima das espécies típicas. Área de preservaçãoambiental permanente e de preservação ambiental. Arroio e sua nascente.Canalização e endutamento. Extensão das margens. EIA-RIMA. Validade dosprocedimentos administrativos. 1. Competência. Se o problema do loteamentourbano tem como questão principal o meio ambiente e os atos administrati-vos das autoridades que o licenciaram, e como acessória o parcelamento dosolo (Lei 6.766/79), a competência plena é das Câmaras de Direito Públicopor vis atractiva. 2. Reexame ex officio. Se a sentença, na parte que acolheuo pedido, contrariou interesse do Município, e não há as excludentes dos §§2.º e 3.º do art. 475, do CPC, merece conhecido ex officio o reexame nãoapresentado pelo juízo de primeiro grau. 3. Exclusão da FEPAM. Se o juízode primeiro grau, em decisão interlocutória, excluiu a Fundação de ProteçãoAmbiental - FEPAM, entidade tutora do meio ambiente no Estado, e nãohouve recurso, conclui-se que, relativamente ao fato que lhe imputava, in-dependente dos imputados aos demais co-réus, o que afasta o litisconsórcio,o demandante se conformou. (Apelação Cível e Reexame Necessário n.º7008763955. Primeiro Câmara Cível. Tribunal de Justiça do Estado do RioGrande do Sul, Relator Nereu José Gacomolli, julgado em 03/03/2004).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – DEFEITO – SITEMA DEESGOTO SANITÁRIO - COMPETÊNCIA

Ementa:  Ação Civil Publica. Dano ao Meio Ambiente. Defeitos no sistemade esgoto sanitário. Ação intentada contra a CORSAN e a COHAB julgada

Água na Visão do Direito – 197

procedente. Improvido o recurso da cohab, como responsável pela edificaçãodas moradias e pelo esgoto a nível domestico. Provido o recurso da CORSAN,a quem não incumbia a manutenção do sistema de esgoto, a que se limitoua elaboração e execução dos projetos de abastecimento de água e doscoletores públicos do esgoto, e sua ligação ao emissário. (Apelação Cível Nº592016885, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: ÉlvioSchuch Pinto, julgado em 15/04/1992).

6.4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CRIME AMBIENTAL – POLUIÇÃO DE RIO – CURTUME – LANÇAMENTODE SUBSTÂNCIAS TÓXICAS

Ementa: Penal. Processo penal. Nova definição juridica. CPP, art. 383. Defe-sa. Meio ambiente. Poluição. O rio Parnaíba. Lei n. 6.938, de 981, art. 15. Lein. 7.804, de 1989.I - Não é da classificação do crime que o réu se defende, e sim da imputaçãocontida na denúncia (CPP, art. 383).II - Comete o crime previsto no art. 15 da Lei 6.938, de 31 de agosto de1981, alterado pela Lei n. 7.804, de 18 de julho de 1989, o proprietário decurtume que lança no rio matérias orgânicas putrefactas, matérias nãobiodegradáveis, substâncias tóxicas, poluindo-o, criando assim, uma situa-ção de perigo para a vida, humana, animal e vegetal. (Apelação Criminal n.º95.01.11586-0. Terceira Turma. Relator Juiz Fernando Gonçalves. Julgadoem 25.03.1996)

6.5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTACATARINA

CRIME AMBIENTAL – POLUIÇÃO – RIO – ABATE DE ANIMAIS – LAN-ÇAMENTO DE SUBSTÂNCIAS TÓXICAS

Ementa: Processo Penal. Revisão Criminal. Crime contra o Meio Ambiente(art. 15, § 1º, II, da Lei 6.938/81). Demonstrada a atividade industrialpoluidora. Lançamentos, nas águas de rio, de dejetos oriundos de abate deanimais em frigorífico. Sentença condenatória transitada em julgado (requi-sito do art. 625, § 1º, CPP). “Emendatio libelli” em consonância com a nor-ma do art. 383 do CPP. Apenas definição jurídica diversa da constante na

198 – Água na Visão do Direito

denúncia. Mantidos os mesmos fatos nela descritos. Negada pretensão derevisão em substituição a recurso de apelação intempestivo. Inviabilidadede pretendido reexame das provas e de questões formuladas no apelointempestivo. Afastada a alegação de contrariedade à evidência dos autos(art. 621, I, CPP). Sentença condenatória baseada em laudos conclusivosjustificados pelo instituto ambiental do Paraná IAP e em prova testemunhalidônea. Demonstrada a saciedade à degradação de água potável do rio atin-gido pela atividade industrial do frigorífico. Correta a dosimetria da pena.Pena-base fixada à vista da intensidade do dolo do réu revelada por suapersistente atividade poluidora. Desconsideração de cobranças administra-tivas condutoras do caso à proposição de Ação Civil Pública proposta peloMinistério Público. Majoração da resposta penal diante de condição especialde aumento de pena. Extensão do lapso temporal de poluição industrial comgraves danos a bens e interesses da coletividade. Julgado improcedente opedido revisional. Mantida incólume a sentença objeto da revisão. (RevisãoCriminal n.º 148465-7, de Cianorte Vara Criminal. Relator Juiz ConvocadoLuiz Mateus de Lima. Julgado em 14.10.2004).

6.6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – EXTRAÇÃO DE AREIA –MARGEM DE RIO

Ementa: Ação Civil Pública. Extração de Areia. Dano Causado ao Meio Am-biente. Fato incontroverso. Procedência. Impugnação: Decisão Ultra Petita.Inocorrência. 1. Sendo o fato incontroverso que, ao extrair areia da margemdo rio Iguaçu, produzindo um buraco de grande proporção, a empresa-récausou danos ao meio ambiente, julga-se procedente a ação civil públicaproposto pelo Ministério Público, condenando a ré a repor a área florestaldanificada, restaurando a mata ciliar. 2. A decisão que se restringe a acolheros pedidos formulados na inicial não é ultra petita. (Apelação Cível n.º 20.277-7. Primeira Câmara Cível. Tribunal de Justiça do Paraná. Relator Juiz AcácioCambi, julgado em 01/03/94).

DANO AMBIENTAL – POLUIÇÃO HÍDRICA – LANÇAMENTO DE RESÍ-DUOS – AUSÊNCIA DE PRÉVIO TRATAMENTO

Ementa: Embargos à execução fiscal. Danos ao meio ambiente. Poluiçãohídrica. Lançamento de resíduos líquidos e sólidos em córrego sem prévio

Água na Visão do Direito – 199

tratamento. Presunção (relativa) de certeza e liquidez da divida ativa nãoilidida pela prova inequívoca do executado. Improcedência. Decisão confir-mada. 1. Constatado no auto de infração e multa, pelo IAP (Instituto Ambientaldo Paraná), sucessor da SUREHMA (Superintendência dos Recursos Hídricose Meio Ambiente), que a embargante estava lançando resíduos líquidos esólidos em córrego, sem prévio tratamento, pela presunção de certeza eliquidez da divida ativa (art. 3. Da lei 6.830/80), inverte-se o ônus da prova,cabendo a executada a prova inequívoca da inexistência do dano ambientalimputado. 2. A mera alegação da inexistência da poluição hídrica,desacompanhada da prova inequívoca, implica na confirmação da sentença,que julgou improcedentes os embargos a execução fiscal, possibilitando aaplicação da multa. (apelação n.º 75912-6. Sexta câmara cível. Tribunal dejustiça do Paraná. Relator Des. Accacio Cambi, julgado em 26/05/1999).

CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA

7.1 DOUTRINA

ALMEIDA, Caroline Corrêa de. Evolução histórica da proteção jurídicadas águas no Brasil . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002.Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3421. Acessoem 20 dez. 2004.

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6ed. Rio de Janeiro: LúmenJúris, 2002. p. 575.

O Aqüífero Guarani. Programa Globo Repórter da Rede Globo de Televi-são, exibido dia 18.02.05.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos.Documento de Introdução do Plano Nacional de RecursosHídricos.Brasília – DF, 2004. p. 10.

CABRAL, Bernardo. O ouro do século XXI. In Cidadania e Justiça, Brasília:Diretoria da Associação Magistrados Brasileiros, n.º 12, p. 89, 2º semestrede 2002.

CANALI, Gilberto Vicente. Descentralização e Subsidiariedade na ges-tão de recursos hídricos – uma avaliação da sua recente evoluçãoem face da Lei 9.433/97.In FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Ambientalem Evolução. Curitiba: Juruá, 1998. p. 126.

CÁNEPA, Eugênio Miguel e GRASSI, Luiz Antonio Timm. A lei das águas doRS: No caminho do desenvolvimento sustentável. Porto Alegre. SeçãoCâmara Técnica de Recursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17 fev. 2005.

_______. et al. Os comitês de bacia no Rio Grande do Sul: Formação,

202 – Água na Visão do Direito

dinâmica de funcionamento e perspectivas. Porto Alegre. Seção Câma-ra Técnica de Recursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17 fev. 2005.

CUNHA, Eldis Camargo Neves da. Desafios Jurídicos na Gestão dos Re-cursos Hídricos m face dos Instrumentos da Política Nacional: Papelda Agência Nacional das Águas. In Meio Ambiente, Grandes Eventos.Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.2.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. São Pau-lo: Atlas, 2002. p. 560.

Estado quer planejamento de Recursos Hídricos. Jornal do Comércio,Porto Alegre, terça-feira – 16 de novembro de 2004, Economia, p. 7.

EVANGELISTA, Eva. A proteção jurídica das águas. In Revista Centro deEstudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 41, set/dez. 2000.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasilei-ro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 100.

FREITAS, Vladimir Passos de (org.) Águas: Aspectos Jurídicos eAmbientais. Curitiba: Juruá, 2000. p. 136.

_______. Direito Ambiental em Evolução. Curitiba: Juruá, 1998. p. 83

_______. Água – Considerações Gerais. Responsabilidade Civil. Cuiabá.Seção Judice. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud5/águas.htm. Acesso em 24 fev. 2005.

_______. Sistema Jurídico brasileiro de controle da poluição das águassubterrâneas. In Revista de Direito Ambiental, São Paulo, a.6, n. 23, jul-set.2001, p. 56.

GARRIDO, Raymundo José Santos. Água, uma preocupação mundial. In Re-vista Centro de Estudos Jurídicos, Brasília, n.12, p. 08-12, set/dez. 2000 p.11.

GRAF, Ana Cláudia Bento. Água, bem mais precioso do milênio: o papeldos Estados. In Revista Centro de Estudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 34,set/dez. 2000.

Água na Visão do Direito – 203

_______. Enquadramento de corpos d’água de domínio dos Estados eos Planos de Recursos Hídricos. In Revista de Direitos Difusos. São Pau-lo: ADCOAS, 2002, v.16, p.2111-21115, p 2115.

GRANZEIRA, Maria Luiza Machado. Direito de águas: disciplina jurídicadas águas doces. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 146.

_______. A cobrança pelo uso da água. In Revista Centro de EstudosJurídicos. Brasília, n. 12, p. 73, set/dez. 2000.

GRASSI, Luiz Antonio Timm. Direito à água. Porto Alegre. Seção CâmaraTécnica de Recursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/di-reito-a-agua.htm. Acesso em 17 fev. 2005.

_______. Os comitês de bacia. Porto Alegre. Seção Câmara Técnica deRecursos Hídricos. Disponível em www.abes-rs.org.br/rechid/direito-a-agua.htm. Acesso em 17 fev. 2005.

HENKES, Silviana Lúcia. Política nacional de recursos hídricos e siste-ma nacional de gerenciamento de recursos hídricos . Jus Navegandi,Teresina, a. 7, n. 64, abr. 2003. Disponível em http://www1.jus.com.br/doutrina/texto. asp?id=3970. Acesso em: 06 abr. 2005.

_______. Histórico legal e institucional dos recursos hídricos no Bra-sil. Jus Navegande. Teresina, a.7, n. 66, jun. 2003. Disponível em http://www.jus.com.br/. Acesso em 21 dez. 2004.

HIRATA, Ricardo. Reflexões sobre a contaminação e descontaminaçãode aqüíferos no Brasil. XIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas.Cuiabá MT – 19 a 22 out. 2004. ABAS. P. 03.

HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua por-tuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p.416.

KETTELHUT, Julio Thadeu Silva. Importância da comunicação naimplementação dos recursos hídricos no Brasil. In Revista Centro deEstudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 21-24, set/dez. 2000.

LEUZINGER, Márcia Dieguez. Competências Constitucionais e DomínioHídrico. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004, p.2.

204 – Água na Visão do Direito

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed.São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2000. p. 426.

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – prática – jurisprudên-cia – glossário. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 126.

MOTTA, Ronaldo Seroa de. Privatização pelo uso da água. In RevistaCentro de Estudos Jurídicos. Brasília, n. 12, p. 27, set/dez. 2000.

MUSETTI, Rodrigo Andreotti. Bacias Hidrográficas no Brasil: AspectosJurídico-Ambientais. Seção Doutrina, Disponível em http://www.universojuridico.com.br. Acesso em 20 jan. 2005.

PEREIRA JR., José de Sena. Processo Legislativo e OrganizaçãoInstitucional da Gestão de Recursos Hídricos no Brasil. Câmara dosDeputados: Brasília, 2004. p. 3. Disponível em http://www2.camara.gov.br/publicacoes/estnottec/tema14. Acesso em 20 nov. 2004.

PES, João Hélio. Água para todos. Zero Hora, Porto Alegre, 14 fev. 2005.Caderno, p. 17.

SANTILLI, Juliana. Aspectos Jurídicos da Política Nacional de RecursosHídricos. In Meio Ambiente, Grandes Eventos. Brasília: ESMPU, v. 1, 2004.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 10ªed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 1995, p. 88.

SILVEIRA, André L.L. da. Ciclo hidrológico e Bacia Hidrográfica. In TUCCI,Carlos E. M. (org.). Hidrologia: ciência e aplicação. 2ª ed. PortoAlegre:Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: ABRH, 2001.P. 40 (943 páginas)

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Sarai-va, 2002, p.136.

TROSTER, Roberto Luis e MOCHON, Francisco. Introdução à Economia.São Paulo: Makron Books, 1999. p.7. (401 páginas).

Água na Visão do Direito – 205

USSAMI, Mieko Ando. Gestão dos Recursos Hídricos para o Desenvolvi-mento Sustentável. In Revista de Direito Difusos: Desenvolvimento Sus-tentável, São Paulo, vol. 6, p. 807, abril 2001.

VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria doAdvogado Ed., 2005. p. 66

WEISSHEIMER, José Álvaro de Vasconcelos. A constituição e o regimedas águas. In Revista Justiça do Direito, Passo Fundo, n. 16, p. 146, 2002.

7.2 SITES VISITADOS

http://www.5elementos.org.br/http://www.abes-rs.org.brhttp://:www.aguasdelimeira.com.br/http://www.aguadechuva.com/http://www.akatu.net/http://www.ambiente.sp.gov.br/http://www.ambientebrasil.com.br/http://www.ana.gov.br/http://www.aneel.gov.br/http://www.brasildaságuas.com.br/http://www2.camara.gov.brhttp://www.casa-al.com.br/http://www.cienciaefe.org.br/http://www.daee.sp.gov.br/http://www.ecolnews.com.br/http://www.faperj.br/http://www.geocites.com/http://www.geologo.com.br/http://www.gpca.com.br/http://www.jornaldomeioambiente.com.br/http://www.jornalexpress.com.br/http://www.jus.com.br/.http://www.meioambiente.pro.br/http://www.mma.gov.br/http://mt.trf1.gov.br

206 – Água na Visão do Direito

http://www.radiobras.gov.br/http://www.recursoshidricos.sp.gov.br/http://www.sabesp.com.br.http://www.sema.rs.gov.br.http://www.soaresoliveira.br/http://www.sosmatlantica.org.br/http://www.uniagua.org.br/http://www.universojurídico.com.brhttp://www:cnnrh-srh.gov.br.