cooperação entre empresas no pólo industrial de manaus

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COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS NO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS Guajarino de Araújo Filho TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Aprovada por: ________________________________________________ Prof a . Anne-Marie Delaunay Maculan, Ph.D. ________________________________________________ Dr a . Conceição Aparecida Vedovello, Ph.D. ________________________________________________ Prof. Elton Fernandes, Ph.D. ________________________________________________ Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D. ________________________________________________ Dr. Léo Fernando Castelhano Bruno, Ph.D. ________________________________________________ Prof a . Lia Hasenclever, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL AGOSTO DE 2005

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Page 1: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS NO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS

Guajarino de Araújo Filho

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS

EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.

Aprovada por:

________________________________________________ Profa. Anne-Marie Delaunay Maculan, Ph.D.

________________________________________________ Dra. Conceição Aparecida Vedovello, Ph.D.

________________________________________________ Prof. Elton Fernandes, Ph.D.

________________________________________________ Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D.

________________________________________________ Dr. Léo Fernando Castelhano Bruno, Ph.D.

________________________________________________ Profa. Lia Hasenclever, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2005

Page 2: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

ii

ARAÚJO FILHO, GUAJARINO DE

Cooperação Entre Empresas no Pólo

Industrial de Manaus [Rio de Janeiro] 2005

XIV, 196 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,

D.Sc., Engenharia de Produção, 2005)

Tese – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1. Pólo Industrial de Manaus - abordagem

socioeconômica. 2. Cooperação. 3. Cluster

Industrial. 4. Eficiência Coletiva. 5.

Governança.

I. COPPE/UFRJ II. Título (série).

Page 3: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

iii

A Deus, por ter permitido a união de meus pais.

A meus pais, por terem persistido até o sétimo filho.

Page 4: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

iv

AGRADECIMENTOS

Esta é uma jornada que supera a intenção única do desenvolvimento de

habilidades para a carreira acadêmica. Há o desejo de contribuir para a compreensão de

uma realidade à qual minha identidade profissional está atrelada; há, também, a

satisfação de concretizar o objetivo há muito estabelecido.

Não posso dizer que houve sacrifício desmedido. Embora exigente, a natureza da

atividade de pesquisa é, para mim, prazerosa. E a ela soma-se, ainda, a satisfação de

contar com o apoio e a cumplicidade de muitos.

É certo que muito me aproveitei da proximidade de tantos. E isto amplia o

sentimento de gratidão e a motivação para registrá-lo a todos os que de alguma forma

me suportaram na caminhada.

À Profa. Anne-Marie Maculan, por ter aceito a empreitada, pela orientação firme

e serena, pavimentada na tolerância e em reiteradas manifestações de confiança. É um

privilégio ter podido usufruir sua experiência em todas as etapas deste projeto, sempre

compartilhando a qualidade de suas reflexões.

Ao Prof. Elton Fernandes, pela voluntariedade, perseverança e capacidade de

articulação, fundamentais para a instituição da cooperação Coppe-UFRJ/Ufam que

tornou possível o doutoramento a um grupo de profissionais.

Ao Prof. Waltair Machado, por aceitar o desafio da coordenação local.

Ao Prof. José Manoel Mello, pelo comprometimento que me permitiu inúmeras

oportunidades de interação, durante as quais muito aprendi.

Ao Prof. Roberto dos Santos Bartholo, pelo estímulo que representa seu

pensamento estruturado e a sua capacidade de crítica.

Ao Prof. Léo Bruno, pela participação na condição de co-orientador.

Aos amigos Dimas José Lasmar e Niomar Lins Pimenta, pela amizade, o

companheirismo na caminhada e, em especial, a cumplicidade no compartilhamento de

sonhos.

Aos colegas de turma, pela convivência.

A todos os que compõem as equipes de apoio dos programas de pós-graduação

em Engenharia de Produção, especialmente à Adelina de Souza Lorio (Coppe/UFRJ),

Ana Cláudia Souza (Ufam), Maria Monteiro de Lima (Coppe/UFRJ) e Vera Nilce

Dourado Campos (Ufam), pela paciência e dedicação.

Page 5: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

v

A Antonio Luiz Maués, Evandro Vieiralves e Fernando Folhadela, pela amizade,

por meio dos quais manifesto o agradecimento por todo o carinho e incentivo dos

demais amigos e colegas da Fucapi.

À Izáida Castro, pela contínua torcida e dedicação.

À Dra. Isa Assef dos Santos, pela confiança sempre renovada e por todo o apoio

prestado.

Ao Prof. Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, pelas reiteradas manifestações de

apreço.

À Maria José Lasmar (Mazé), por sua generosidade e tolerância.

Ao Prof. Cícero Costa e a todos os professores e colegas do Departamento de

Eletrônica e Telecomunicações do curso de Engenharia Elétrica da Ufam, pelo

incentivo.

Ao Prof. Roberto Lavôr, pela fundamental atuação na articulação e viabilização

da cooperação Coppe-UFRJ/Ufam.

À Suframa, por acreditar e investir na formação local de recursos humanos

especializados.

Ao Prof. Antonio Botelho, pela decisiva participação na conquista do apoio

institucional que viabilizou a realização deste ciclo de formação a um grupo de

profissionais.

Ao economista Raimundo Sampaio de Souza e ao engenheiro Carlos Roberto da

Silva, pela disponibilização de informações essenciais ao planejamento e

operacionalização deste projeto de pesquisa.

A todas as empresas e profissionais que participaram da pesquisa de campo, pela

inestimável contribuição.

Às instituições Fucapi e Ufam, por continuarem comprometidas com a formação

de recursos humanos e com o fortalecimento da identidade regional.

À Capes que, com a disponibilização dos Periódicos, transforma parte da rotina

dos pesquisadores, permitindo que os esforços sejam concentrados no objeto de estudo.

Por fim, um agradecimento muito especial a todos os integrantes de minha

estimada família, inspirada no exemplo de minha Mãe, aos quais devo a construção dos

valores que emprestam significado à minha vida.

Cada um a seu modo, todos vocês contribuíram para o que vai aqui apresentado.

Permita-me a vida, em algum momento, de alguma forma, poder retribuí-los.

Page 6: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

vi

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS NO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS

Guajarino de Araújo Filho

Agosto/2005

Orientadores: Anne-Marie Delaunay Maculan

Léo Fernando Castelhano Bruno

Programa: Engenharia de Produção

Por meio da concessão de benefícios fiscais, a Zona Franca de Manaus atraiu

empresas e transformou o perfil da atividade econômica no estado do Amazonas.

Amplamente estruturada a partir de capital e tecnologia exógenos, a indústria surgida

induz à reflexão sobre a perspectiva de sustentabilidade para o desenvolvimento local,

considerando o horizonte limitado para o benefício. Isto remete à necessidade de

aprofundar a compreensão da dinâmica dessa indústria como condição prévia para

implementar estratégias mais eficientes para o fortalecimento do desenvolvimento a

partir de elementos endógenos.

Este trabalho utiliza-se do conceito de eficiência coletiva, associado a cluster

industrial, para avaliar a intensidade e a qualidade das interações cooperativas entre

empresas nos dois mais destacados subsetores da indústria local, Eletroeletrônico e

Duas Rodas. A partir de pesquisa de campo envolvendo a aplicação de questionário em

empresas e a entrevista de importantes atores locais, a análise dos dados evidencia que

apesar da existência de um capital cooperativo capaz de apoiar os esforços em direção

ao aprendizado interativo e à inserção da indústria, há diferenças assinaláveis nos

padrões de cooperação, quando comparados os dois subsetores, com implicações para a

prática da governança econômica e para a formulação de políticas de interesse público.

Page 7: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

vii

Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

INTERFIRM COOPERATION IN THE MANAUS INDUSTRIAL POLE

Guajarino de Araújo Filho

August/2005

Advisors: Anne-Marie Delaunay Maculan

Léo Fernando Castelhano Bruno

Department: Production Engineering

Supported by fiscal advantages, Manaus Free Trade Zone project did attract

industries, changing the nature of economic activity in the Amazonas state. Widely

structured under exogenous capital and technology, such existing industry evokes a

critical thinking concerning local development in a sustainable perspective, considering

that the set of benefits have a well-defined date to expire. This scenario demands a

deeper comprehension of the industry dynamics as a previous condition to implement

more efficient strategies, in order to achieve development since endogenous elements.

This work aims to use both collective efficiency and industrial cluster concepts

to evaluate the intensity and quality of cooperative interactions among firms in

electronic and motorcycle sectors, the most significative fields of the local industrial

activity. Sustained by a fieldwork that includes questionnaire-based survey and

interactions with important local actors, data analysis shows that despite the existence of

cooperative capital to support efforts into the interactive learning and local

embeddedness of firms, there are remarkable inequalities related to cooperation

practices concerning both sectors, deriving some implications to economic governance

practices and even to elicitation of public policies.

Page 8: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

viii

SUMÁRIO

I. A ZONA FRANCA DE MANAUS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO

AMBIENTE LOCAL, 1.

I.1. A Zona Franca de Manaus como "solução" para o desenvolvimento regional, 2.

I.2. A dimensão da atividade industrial da ZFM e sua importância na economia do

estado do Amazonas, 9.

I.3. Características da crescente complexidade da atividade industrial em Manaus,

14.

II. CARACTERIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA E DOS ELEMENTOS DA

PESQUISA, 22.

II.1. A temática da capacitação local na literatura recente relativa à atividade

industrial da Zona Franca de Manaus, 23.

II.2. Delimitação do objeto de pesquisa, 29.

II.2.1. A escolha de um subconjunto para análise, 29.

II.2.2. Os elementos da pesquisa, 36.

II.2.2.1. Das questões iniciais, 36.

II.2.2.2. Dos objetivos estabelecidos, 37.

II.2.2.3. Da hipótese, 38.

III. COOPERAÇÃO EM AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS – UM

INSTRUMENTAL ANALÍTICO, 39.

III.1. Crescimento e desenvolvimento: conceitos e implicações, 40.

III.2. A natureza localizada do crescimento econômico e as aglomerações industriais,

44.

III.3. Clusters e a promoção do desenvolvimento econômico, 48.

III.3.1. Diferentes definições para cluster, 52.

III.3.2. Atributos que caracterizam um cluster, 57.

III.3.3. A análise de clusters e sua versatilidade de uso, 64.

III.4. Eficiência coletiva, uma ferramenta para avaliar a cooperação, 67.

III.5. Gestão do interesse coletivo e o conceito de governança, 71.

III.6. Confiança, inserção e aprendizado segundo uma perspectiva pela dimensão

sociocultural, 73.

III.7. Apropriando os conceitos para uma realidade particular – uma digressão, 76.

Page 9: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

ix

IV. CARACTERÍSTICAS DA METODOLOGIA DE PESQUISA UTILIZADA,

79.

IV.1. Seleção da amostra, 79.

IV.1.1. Conjunto de empresas pesquisadas, 79.

IV.1.2. Perfil dos entrevistados, 88.

IV.2. Descrição dos instrumentos de coleta, 90.

IV.2.1. Estrutura do questionário, 90.

IV.2.2. Roteiro da entrevista, 90.

IV.3. Implementação do plano de coleta, 91.

IV.4. Tratamento dos dados, 93.

IV.5 Dificuldades e limitações, 94.

V. CARACTERÍSTICAS DA COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS NO

SUBSETOR DUAS RODAS, 97.

V.1. Identificação do cluster Duas Rodas, 97.

V.1.1. A representatividade do produto motocicleta, 100.

V.1.2. Cluster Duas Rodas ou cluster Honda?, 102.

V.1.3. A influência de uma cultura estrangeira, 103.

V.2. Cooperação e interação no cluster Duas Rodas, 104.

V.2.1. Assimetrias na cooperação horizontal, 106.

V.2.2. O vigor da cooperação vertical, 109.

V.3. Indicadores de confiança, inserção e aprendizado no cluster Duas Rodas, 113.

V.3.1. A confiança como base nas principais manifestações de governança, 113.

V.3.2. Alguns impactos da produção e do aprendizado para o perfil da mão-de-

obra, 115.

V.3.3. Elementos da inserção local: o relacionamento com outros tipos de agentes,

119.

V.4. Conclusões quanto à eficiência coletiva no cluster Duas Rodas, 120.

VI. A PRÁTICA DA COOPERAÇÃO NO SUBSETOR ELETROELETRÔNICO,

124.

VI.1. Identificação do cluster Eletroeletrônico, 124.

VI.2. Cooperação e interação no cluster Eletroeletrônico, 127.

VI.2.1. Variedade na cooperação horizontal, 129.

VI.2.2. Variabilidade na cooperação vertical, 133.

Page 10: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

x

VI.3. Indicadores de confiança, inserção e aprendizado no cluster Eletroeletrônico,

136.

VI.3.1. O comportamento oportunístico limitando iniciativas, 136.

VI.3.2. Diversidade de associações: mais fóruns, melhor governança?, 137.

VI.3.3. Mão-de-obra qualificada: alguns espaços de aprendizado e a questão da

autonomia, 139.

VI.3.4. Impactos para a inserção, 141.

VI.4. Conclusões quanto à eficiência coletiva no cluster Eletroeletrônico, 143.

VII. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS: ALGUMAS IMPLICAÇÕES DAS

PRÁTICAS DE COOPERAÇÃO, 147.

VII.1. Um resumo dos perfis dos ambientes, 147.

VII.2. Formas de cooperação: uma síntese dos resultados, 150.

VII.3. Implicações para a dinâmica do aprendizado, 153.

VII.4. Proposições para uma agenda local, 157.

VII.4.1. Capacidade de governança, 157.

VII.4.2. Inserção nas cadeias globais, 159.

VII.4.3. Confiança e cooperação, 160.

VII.4.4. Aprendizado e sustentabilidade, 161.

VII.5. Reflexão final, 162.

CONCLUSÕES, 163.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 169.

ANEXO I – PERFIL DOS ENTREVISTADOS, 176.

ANEXO II – QUESTIONÁRIO APLICADO NAS EMPRESAS, 179.

ANEXO III – ROTEIRO DE ENTREVISTA, 195.

Page 11: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

xi

LISTA DE FIGURAS

FIGURA V.1 – Pólo Industrial de Manaus – Identificação das Principais Empresas

do Cluster Duas Rodas, 99.

FIGURA VI.1 – Pólo Industrial de Manaus – Identificação de Relações Entre os

Principais Subsetores do Cluster Eletroeletrônico, 125.

FIGURA VI.2 – Subsetor de Componentes Termoplásticos – Esboço da Rede

Articulada de Empresas Fornecedoras, 132.

FIGURA VII.1 – Possibilidades de Interações em um Cluster, 156.

Page 12: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

xii

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO I.1 – Estado do Amazonas – População e Produto Interno – Evolução

Histórica, 10.

GRÁFICO I.2 – Estado do Amazonas – Composição do Produto Interno (R$ 103 de

2001), 11.

GRÁFICO II.1 – Pólo Industrial de Manaus – Participação Percentual dos Insumos

de Origem Regional nas Aquisições Totais, 34.

GRÁFICO IV.1 – Subsetor Eletroeletrônico – Faturamento Acumulado, por

Empresa, em 2002 (%), 84.

GRÁFICO IV.2 – Subsetor Duas Rodas – Faturamento Acumulado, por Empresa,

em 2002 (%), 84.

Page 13: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

xiii

LISTA DE TABELAS

TABELA I.1 – Pólo Industrial de Manaus – Projetos Industriais Aprovados, por

Subsetor, 12.

TABELA I.2 – Pólo Industrial de Manaus – Faturamento por Subsetor de Atividade,

13.

TABELA I.3 – Pólo Industrial de Manaus – Mão-de-Obra Empregada por Subsetor

de Atividade, 13.

TABELA II.1 – Pólo Industrial de Manaus – Faturamento Anual dos Principais

Subsetores, 30.

TABELA II.2 – Pólo Industrial de Manaus – Mão-de-Obra, Salários e Dispêndios

em 2003, 31.

TABELA II.3 – Pólo Industrial de Manaus – Aquisição de Insumos e Faturamento,

por Origem, 32.

TABELA II.4 – Pólo Industrial de Manaus – Subsetor Eletroeletrônico – Aquisição

de Insumos e Faturamento, por Origem, 33.

TABELA II.5 – Pólo Industrial de Manaus – Subsetor Duas Rodas – Aquisição de

Insumos e Faturamento, por Origem, 34.

TABELA III.1 – Comparação de Atributos para Clusters, Segundo Abordagens de

Diferentes Autores, 65.

TABELA III.2 – Comparação entre Abordagem Setorial e Abordagem por Cluster,

68.

TABELA III.3 – Exemplos de Combinação entre os Diferentes Tipos de

Cooperação, 70.

TABELA IV.1 – Pesquisa de Campo – Estratificação das Empresas da Amostra, por

Subsetor e Natureza dos Produtos, 85.

TABELA IV.2 – Pesquisa de Campo – Origem do Capital Controlador das

Empresas da Amostra, 86.

TABELA IV.3 – Pesquisa de Campo – Hierarquia de Faturamento das Empresas da

Amostra, em 2002, 87.

Page 14: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

xiv

TABELA IV.4 – Pesquisa de Campo – Cronologia das Visitas e Experiência Local

das Empresas da Amostra, 88.

TABELA IV.5 – Pesquisa de Campo – Perfil dos Entrevistados, 89.

TABELA IV.6 – Pesquisa de Campo – Composição do Questionário, Segundo

Assuntos Contemplados nas Questões, 91.

TABELA IV.7 – Pesquisa de Campo – Cronograma das Interações Ocorridas, 92.

TABELA IV.8 – Pesquisa de Campo – Resumo dos Pontos Relevantes da

Metodologia, 95.

TABELA V.1 – Pólo Industrial de Manaus – Empresas e Linhas de Produção do

Subsetor Duas Rodas, 98.

TABELA V.2 – Diversidade da Cooperação no Cluster Duas Rodas, 122.

TABELA V.3 – Extensão da Cooperação no Cluster Duas Rodas, 123.

TABELA VI.1 – Diversidade da Cooperação no Cluster Eletroeletrônico, 145.

TABELA VI.2 – Extensão da Cooperação no Cluster Eletroeletrônico, 146.

TABELA VII.1 – Comparação entre os Ambientes dos Clusters Duas Rodas e

Eletroeletrônico, 148.

TABELA VII.2 – Práticas de Cooperação nos Clusters Duas Rodas (2R) e

Eletroeletrônico (E), 151.

TABELA VII.3 – Avaliação Comparativa das Práticas de Cooperação entre os

Clusters Duas Rodas (2R) e Eletroeletrônico (E), 152.

Page 15: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

1

I. A ZONA FRANCA DE MANAUS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO

AMBIENTE LOCAL.

Este capítulo inicial procura caracterizar o panorama que justifica e ao mesmo

tempo conforma o trabalho da pesquisa.

A criação de um conjunto de benefícios – especialmente os incentivos fiscais –

por meio do projeto Zona Franca de Manaus (ZFM), estimulou a implantação de

empreendimentos industriais na capital do estado do Amazonas. Inicialmente

estruturados a partir de poucas e simples operações, ao longo do tempo esses

empreendimentos cresceram em complexidade, resultando em visíveis impactos na

dinâmica da economia local.

Sofisticação de operações e diversidade de iniciativas combinaram-se para exigir

da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), autarquia federal

responsável pela administração do principal conjunto de incentivos da ZFM, o

desenvolvimento de competências para realizar o que na prática pode ser comparado à

gestão de uma política industrial de abrangência reduzida, pelo menos no que concerne

aos elementos passíveis de serem estabelecidos e influenciados localmente.

Substituição de importações, atração de fornecedores de componentes,

implantação de laboratórios de desenvolvimento e indução à tomada local de decisão

são alguns dos exemplos de ações implementadas que buscaram a consolidação da

atividade industrial, a partir de uma maior integração vertical.

Paralelamente, alterações nas prioridades do País e resistências estabelecidas por

governos e empresas de outras regiões têm cobrado um novo desempenho do modelo

ZFM, não mais frente aos objetivos iniciais de ocupação territorial e integração

regional, mas sim a partir de demandas pelo equilíbrio de sua balança comercial e, em

escala crescente, segundo a perspectiva que caracteriza as recentes disputas inter-

regionais por empreendimentos econômicos, que trazem consigo novos investimentos e

empregos.

Acrescente-se, no ambiente de um comércio internacional em que predomina a

realidade da globalização econômica, uma possível redução de espaços para bens

produzidos sob regime de incentivos fiscais – hoje só tolerados justamente quando

vinculados a uma política de desenvolvimento regional – e antecipa-se, assim, o cenário

de desafios reservado ao futuro próximo.

Page 16: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

2

Completando o quadro, o horizonte aponta para o limite legal de vigência dos

incentivos fiscais que, no caso da ZFM, está estabelecido para o ano de 2023, com toda

a incerteza política que a negociação de futuras prorrogações possa representar.

Em anos recentes, talvez como uma reação a essas dificuldades, a Suframa tem

estrategicamente incorporado ao seu discurso o termo "Pólo Industrial de Manaus", em

preferência a "Zona Franca de Manaus", uma postura que deixa transparecer pelo menos

dois elementos: (i) a assunção do desgaste associado ao termo Zona Franca junto à

opinião pública nacional e (ii) a comunicação de que a atividade industrial atingiu uma

maior maturidade, à qual, então, passa a corresponder uma nova terminologia.

A escassez de estudos sobre essa realidade, e seu potencial de impacto no futuro

da economia local, reforçam a necessidade de ampliar a reflexão acadêmica, sustentada

em fatos, conceitualmente embasada, capaz de contribuir na construção de uma agenda

pública que tenha como elemento polarizador o desenvolvimento local sustentável.

I.1. A ZONA FRANCA DE MANAUS COMO "SOLUÇÃO" PARA O

DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

Especialmente para o habitante natural de Manaus, que tenha nascido no início –

ou antes – da década de 60 do século passado, é difícil imaginar em que patamar de

desenvolvimento econômico encontrar-se-ia a cidade, e mesmo o estado do Amazonas,

sem o advento do fenômeno Zona Franca.

O complexo industrial de Manaus, que faturou US$ 46 bilhões no período 1999-

2003 (SUFRAMA, 2004a), e possui quase 4 centenas de empresas implantadas,

encontra representação em áreas tão distintas como as indústrias da eletrônica de

consumo, mecânica, de brinquedos, química, relojoeira, ótica, naval, de higiene pessoal,

alimentícia, madeireira, de motocicletas e bicicletas, além de indústrias de insumos

como as de componentes eletrônicos, componentes plásticos injetados, metalúrgica e

gráfica.

Praticamente toda atividade econômica local está diretamente relacionada às

empresas do pólo industrial incentivado, ou de alguma forma é uma conseqüência

indireta da existência dessas empresas. O impacto dessa relação torna-se ainda mais

evidente quando se percebe que a criação da Zona Franca foi responsável por encerrar

um longo período de estagnação econômica, resultante do recrudescimento da outrora

Page 17: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

3

pujante economia regional baseada no extrativismo da borracha1, passando, então, a

oferecer novas oportunidades aos habitantes da Região.

A Zona Franca de Manaus tem sua origem na Lei n.o 3.173, de 6 de junho de

1957, posteriormente regulamentada pelo Decreto n.o 47.757, de 2 de fevereiro de 1960,

proposta pelo deputado federal pelo Amazonas, Francisco Pereira da Silva, e concebida

com a pretensão de ser um modelo de desenvolvimento capaz de ocupar e integrar ao

restante do País a região denominada Amazônia Ocidental (que, além do Amazonas,

inclui os estados do Acre, Rondônia e Roraima), uma área de 2.185.202,2 km2 que

corresponde a 56,7% da Região Norte e 25,7% do território brasileiro.

Em seus anos iniciais os resultados alcançados foram modestos. Não há registro

significativo do crescimento da limitada atividade industrial pré-existente, baseada na

extração e processamento de matérias-primas regionais, o que motivou a reformulação

da idéia original, por meio do Decreto 288, de 28 de fevereiro de 1967 (portanto,

transcorridos dez anos após a tentativa original) e para a qual foi explicitado o seguinte

propósito:

"A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia, um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância que se encontram os centros consumidores de seus produtos" (Decreto-Lei n.o 288, Art. 1o).

O objetivo expresso de integração da região ao restante do País teve como

motivação paralela – ou principal, para alguns – a dimensão geopolítica, ancorada no

argumento (verdadeiro ou induzido) da cobiça internacional pela Amazônia. Essa

preocupação ocupava um lugar de destaque na agenda do governo militar que

comandava o País, e que temia pela "internacionalização" da Região, apontada como

uma possível conseqüência da frágil soberania que a ausência física representa. Em sua

gênese, portanto, a ZFM seria uma solução, com fundamento geopolítico, para a

ocupação regional e integração nacional, sinônimos de desenvolvimento.

Nesta fase iniciada em 1967, o comércio foi o primeiro a dar sinais de

revitalização, proporcionando à cidade de Manaus uma intensa e diferenciada atividade

importadora, pelo menos na comparação com os padrões brasileiros. Empresários do

setor comercial foram atraídos de outras regiões, e até mesmo países, agregando-se a

1 Pujante ao final do século XIX, a economia da Região lastreava-se na monocultura extrativa da borracha, revelando-se incapaz de competir com a produção racional asiática (localizada na Birmânia,

Page 18: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

4

empreendedores locais na oferta de artigos que variavam de gêneros alimentícios

industrializados a roupas, incluindo eletrodomésticos e até automóveis utilitários. Em

poucos anos, a sociedade local – ou ao menos a sua parcela mais abastada – passou a ter

acesso a uma série de bens característicos de sociedades mais industrializadas, ditas

desenvolvidas.

Apenas no início da década de 70, com a implantação dos primeiros projetos

industriais incentivados, configurou-se de forma mais significativa a presença de

unidades fabris. A criação do Distrito Industrial Marechal Castelo Branco (ou

simplesmente Distrito Industrial, como é conhecido até hoje), dotado pelo poder público

com infra-estrutura básica em seus 1.700 hectares de área, passou a concentrar a

localização das fábricas, e facilitou a administração da política dos incentivos fiscais por

parte da agência federal legalmente responsável pelo modelo, a Superintendência da

Zona Franca de Manaus – Suframa.

A vantagem dos incentivos fiscais e desses outros benefícios era apresentada aos

interessados como a contrapartida para o risco de empreender em uma região inóspita,

implantando linhas de produção em galpões instalados em terrenos ocupados por

floresta virgem e sem poder contar com uma cultura industrial local de maior

relevância, o que também correspondia à inexistência de mão-de-obra qualificada.

Tratando-se de um modelo baseado em incentivos que incidem sobre tributos

diretos, de natureza fiscal, os benefícios às empresas só se concretizam na medida em

que ocorre a produção e materializa-se na posterior comercialização do bem fabricado.

O arcabouço da ZFM não contempla o incentivo financeiro aos projetos industriais; nem

mesmo a Suframa os intermedia. O risco inerente à atividade empreendedora é,

portanto, exclusivo do empresário.

Para usufruir dos incentivos, todas as iniciativas no setor industrial devem ter

sua viabilidade demonstrada em projeto econômico-financeiro submetido à análise do

Conselho de Administração da Suframa, que atualmente é composto por representantes

de 10 ministérios, governos dos estados da Amazônia Ocidental, prefeituras das capitais

da região, entidades de classes (empresariais e de trabalhadores), além da Secretaria da

Receita Federal. Apenas após a aprovação nesse Conselho, a empresa estará habilitada à

implantação de seu projeto industrial.

Malásia, Ceilão, Índia e Indonésia) que, de 1900 a 1913, partindo de uma produção inexpressiva, dominou o abastecimento do mercado mundial, estabelecendo a fronteira entre fausto e estagnação.

Page 19: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

5

Após implantado o projeto, tem início o seu acompanhamento físico por parte

das unidades operacionais da autarquia. A atividade envolve, dentre outras

responsabilidades, a monitoração da compatibilidade do processo produtivo praticado,

em termos do conjunto de operações realizadas e do nível de desagregação de

componentes e insumos, frente às condições estabelecidas na aprovação do projeto da

empresa. Além da Suframa, o aparato governamental de ação fiscalizadora também é

complementado por rotinas de órgãos estaduais (Secretarias de Fazenda e de

Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas, Instituto de

Proteção Ambiental do Amazonas) e outros órgãos federais (Ministério da Ciência e

Tecnologia, Secretaria da Receita Federal, Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis).

Na dinâmica desse processo, a exclusividade de importar insumos e produtos,

mesmo nos momentos em que o governo do País enfrentava dificuldades em honrar

compromissos internacionais, ao mesmo tempo em que representou o diferencial que

permitiu a aglomeração de empresas industriais em uma localização tão improvável,

provocou reações de insatisfação e o questionamento, por parte de outras regiões,

quanto à legitimidade dessa excepcionalidade.

Evidentemente, na medida em que avançou o padrão de competitividade no

cenário internacional, com conseqüente repercussão na sofisticação dos mecanismos e

processos de produção, acrescido do acirramento da competição inter-regional por

investimentos na legítima defesa do desenvolvimento local, a ZFM passou a conviver

com crescente resistência, oriunda não apenas de regiões mais desenvolvidas,

politicamente articuladas, mas, em períodos recentes, até mesmo de outras regiões que,

de economia mais frágil, também aspiram a um nível mais elevado de desenvolvimento.

Na própria esfera governamental há registro de conflitos de interesses em

posições assumidas por diferentes ministérios. Portarias e regulamentações do

Ministério da Fazenda, originadas, por exemplo, na Secretaria da Receita Federal, por

vezes resultaram, na prática, em entraves e limitações à atividade produtiva. Esse

comportamento, entendido por empresários e governos locais, além de Suframa, como

uma extrapolação indevida de autoridade, que cerceava a utilização de vantagens

previstas no Decreto-Lei 288 e legislação complementar, nem sempre teve uma

discussão aberta, pelo menos no âmbito de maior interesse, o federal, talvez em nome

da preservação da unidade.

Page 20: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

6

Mas outros momentos conflituosos podem ser citados. Um desses episódios

corresponde à implantação das quotas de importação para a Zona Franca de Manaus, já

em meados da década de 70, quando a balança comercial do País e o serviço da dívida

externa levaram o governo federal a estabelecer limites, em dólares, para as empresas

locais, não apenas do setor industrial, mas também para o comércio. Anualmente, após

o anúncio pelo governo federal do montante global equivalente às importações

permitidas, iniciavam as gestões de cada empresa junto à Suframa para a conquista da

maior quota individual possível para, no caso do setor industrial, dar atendimento às

necessidades de produção previstas.

A própria implementação da Política Nacional de Informática também é um

episódio que merece registro, ao proporcionar benefícios a um conjunto amplo de

empresas, independentemente de sua localização geográfica. O objetivo de desenvolver

uma indústria nacional no setor foi contemplado pela promulgação da chamada Lei de

Informática, em 1984, que passou a disciplinar as atividades de projeto, importação,

produção e comercialização de bens, insumos e serviços de informática em todo o País,

o que configurou uma superposição de autoridades entre a Secretaria Especial de

Informática (SEI), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e a Suframa, à

época vinculada ao Ministério do Interior, para o caso das empresas que, ao mesmo

tempo, fabricassem produtos classificados nesse subsetor e estivessem instaladas – ou

pretendessem a instalação – na ZFM.

A compreensível disputa que se configurou alimentou um acalorado debate que

certamente limitou a oportunidade para a construção de relações mais positivas entre as

duas instituições durante praticamente todo o restante da década. Naquele momento

histórico, afinal, a ZFM era interpretada como um modelo antagônico ao projeto

nacional de desenvolvimento de uma capacitação em informática no País. Mas foram os

primeiros anos de implementação da nova política que se revelaram particularmente

difíceis, pois em virtude de uma limitação na legislação – a ausência de uma

formalização conceitual que descrevesse os atributos ou características de um bem de

informática – a SEI estendeu a abrangência de suas operações, ao considerar como bens

de informática – e, portanto, sujeitando àquele órgão a aprovação prévia de guias de

importação de componentes e insumos de empresas da ZFM – alguns produtos que a

indústria local entendia como pertencentes à eletrônica de consumo.

Esse confronto entre a indústria local e a indústria nacional de informática talvez

tenha alcançado seu ápice durante o funcionamento do Assembléia Nacional

Page 21: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

7

Constituinte. Na promulgação da nova Constituição federal, em 1988, a ZFM, que dois

anos antes havia sido "salva" pelos políticos locais, com a prorrogação do prazo de

vigência das isenções tributárias por dez anos (a partir de seu limite original), o que

estabeleceu seu novo limite para 2007, viu esse direito ser ampliado por meio da

inserção do Art. 40 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que garantia

sua manutenção por mais 25 anos (a partir da promulgação), o que representou, na

prática, um aumento real de 16 anos em relação ao prazo originalmente previsto. Como

não poderia deixar de ser, a imprensa local, fazendo coro à opinião de políticos,

considerou vitoriosas essas conquistas de prorrogação, que na prática transferiam uma

"morte anunciada", inicialmente de 1997 para 2007 e, em seguida, de 2007 para 2013.

Um pouco mais à frente, no início da década de 90, a abertura do mercado

nacional às importações, pelo Governo Collor, configurou-se em um dos grandes

desafios enfrentados pela atividade econômica local. Como resultados, o comércio de

produtos importados praticamente sucumbiu, a indústria de componentes eletrônicos

reduziu-se a um nível próximo à inexistência e muitas empresas fabricantes de bens

finais encerraram suas atividades. As que permaneceram, só o conseguiram em

conseqüência da implantação de programas de competitividade, aproximando seus

padrões de eficiência das referências internacionais, a partir da implantação de práticas

que envolveram, dentre outros, programas de redução de custos, implantação de

sistemas da qualidade, terceirização de atividades não fundamentais ao negócio e o

investimento na qualificação de mão-de-obra, tudo isso provocando evidente

repercussão no número de empregos diretos gerados, que em seu ápice superou a casa

de 76.000, em 1990, reduzindo-se a menos de 38.000 em 1993.

Inserido em Emenda ao texto constitucional, promulgada ao final de 2003,

relativa a alterações no Sistema Tributário Nacional, encontra-se o capítulo mais recente

desse histórico: a possibilidade de redução de vantagens comparativas da ZFM, a partir

da proposta de uniformização das alíquotas dos impostos estaduais (ICMS), proposta

pelo governo federal. Mais uma vez, e não sem desgaste político, a Zona Franca de

Manaus alcançou prorrogação de seu funcionamento, desta feita por outros dez anos,

estando o novo prazo estabelecido para 2023. Se comparado ao período de 30 anos

originalmente concedido, o conjunto de prorrogações, ao acrescentar outros 26 anos,

quase dobra o prazo de vigência dos incentivos.

É evidente que a prorrogação não é, por si só, uma garantia de que a estrutura

atual, ou qualquer evolução dela, estará em funcionamento até aquela data. Existem

Page 22: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

8

pelo menos dois grandes temas que se apresentam como fontes concretas de

preocupação. O primeiro deles é a implantação da Área de Livre Comércio das

Américas – Alca que, com potencial para acirrar a competição, na verdade não é uma

preocupação exclusiva da indústria instalada em Manaus; o outro tema é a convergência

digital, que está acelerando a junção, em um único produto, de funções das áreas de

entretenimento e de informática, permitindo antever novas disputas ressurgindo no

âmbito da Lei de Informática. Ao serem reunidas essas funções em um mesmo produto,

e eventualmente este sendo caracterizado como um bem de informática – que

atualmente recebe incentivos da legislação até o ano de 2.019, independentemente da

localização do fabricante no País – estariam criadas condições para que as empresas da

eletrônica de entretenimento buscassem outras localizações que não Manaus, o que

tornaria 2.023 um limite temporal meramente burocrático.

Esse histórico compacto de episódios está aqui apresentado para ilustrar a

constatação de um fato: a fragilidade relacionada à continuidade e consolidação de uma

atividade industrial local que esteja baseada exclusivamente em incentivos fiscais. A

dificuldade em negociar novos – e provavelmente mais curtos – prazos de prorrogação

para a ZFM, deixando de lado a questão do mérito da proposta, exige um dispêndio de

energia cada vez maior, com desgaste igualmente elevado junto à sociedade brasileira,

uma situação cujas conquistas esmaecem frente à convicção de que a prorrogação dos

incentivos fiscais, considerada isoladamente sua contribuição, não resultará de forma

espontânea na inserção e consolidação desejadas, pelo menos em prazos defensáveis

frente ao restante da sociedade.

Esse quadro remete a uma inevitável comparação com aquele correspondente ao

fim do ciclo de fausto associado à economia da borracha. É possível conjecturar que,

sob o panorama atual, e perdurando apenas as condições que hoje estimulam a

existência da atividade industrial em Manaus, aconteça um recrudescimento acelerado

dos investimentos, ainda antes do fim dos incentivos fiscais, em 2023, em virtude do

tempo mais prolongado de maturação que o retorno proporcionado por

empreendimentos industriais exige. Embora extrema, é uma perspectiva possível, capaz

de reavivar na memória coletiva as graves conseqüências sociais que podem ser

causadas por um vazio econômico semelhante àquele sofrido com a perda do mercado

internacional da borracha para a produção asiática.

Page 23: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

9

Contrapor-se ao aparente determinismo dessa trajetória é um esforço que não

pode ser deixado apenas à classe política, mas deve ser compartilhado a partir de um

maior envolvimento dos demais atores da sociedade local.

A cada nova intervenção política que pretenda preservar o futuro do modelo será

provavelmente acrescida a exigência, pela interlocução (governantes, políticos e

empresários de outros estados, bem como representantes do governo central), de uma

consistência em demonstrar os progressos que estão sendo alcançados, e que a região

tem aumentado a sua capacidade endógena de enfrentar seus desafios e decidir pelos

caminhos mais apropriados ao seu desenvolvimento econômico sustentável.

A academia, como um dos componentes dessa sociedade, deve ampliar seu

espaço de atuação, exercitando suas habilidades para contribuir na ampliação da

compreensão do funcionamento do modelo ZFM, a partir da multiplicação de estudos

que aprofundem temas importantes como a dinâmica de suas relações (internas e

externas) e o estabelecimento de capacitação local para gerir uma evolução do modelo e

indicar possíveis soluções que lhe sejam complementares. É grande o potencial da

repercussão social e econômica desses estudos, como poderá ser mais bem avaliado a

partir dos dados apresentados na seção a seguir.

I.2. A DIMENSÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL DA ZFM E SUA

IMPORTÂNCIA NA ECONOMIA DO ESTADO DO AMAZONAS.

O Produto Interno Bruto – PIB do estado do Amazonas no ano de 2001, a preço

de mercado corrente, alcançou R$ 20,7 bilhões, representando 36,4% de todo o PIB da

Região Norte, sendo o 14o colocado no ranking dos estados do País (IBGE, 2003). Se

considerado o PIB per capita do mesmo ano, equivalente a R$ 7.169, foi inferior apenas

aos dos estados da Região Sul, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal,

superando o de estados mais tradicionais como Minas Gerais, Espírito Santo,

Pernambuco e Bahia, uma posição pouco provável, não fora a industrialização

proporcionada pelo incentivo fiscal.

O Gráfico I.1 apresenta a evolução histórica na relação entre população e PIB,

para o estado do Amazonas, em que é possível perceber uma aceleração acentuada no

crescimento de ambos, a partir da década de 70, exatamente no momento em que o setor

industrial, impulsionado pela criação da ZFM, passa a contar com um maior número de

empresas, iniciando a sua trajetória de representatividade na economia local.

Page 24: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

10

GRÁFICO I.1 ESTADO DO AMAZONAS POPULAÇÃO E PRODUTO INTERNO – EVOLUÇÃO HISTÓRICA

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000População

500.000

4.500.000

8.500.000

12.500.000

16.500.000

20.500.000PIB*

População 514.099 721.215 955.203 1.430.528 2.103.243 2.813.085

PIB 522.726 1.085.202 1.839.402 7.918.598 14.416.60 18.612.09

1950 1960 1970 1980 1991 2000

Fonte: Adaptado de SÁ (2004) Obs.: * Valores em R$ 103 de 2001

O crescimento da importância relativa do setor industrial, quando comparado

com o setor de serviços e a agropecuária, está claramente representado no Gráfico I.2,

um compacto da série histórica disponível. Se for considerado o conjunto completo dos

dados, que inicia em 1939, no período que antecede a ZFM o ápice da participação

relativa da atividade industrial no PIB do estado ocorreu no ano de 1960, quando foi

responsável por 18,9% do total do PIB. Com a criação do modelo, e a contínua

implantação de empresas, a atividade industrial, em 2001, torna-se responsável pela

geração de quase 2/3 do total do PIB estadual. Isto é mais que o dobro do que representa

o setor serviços, reservando à atividade agropecuária uma participação pouco expressiva

de apenas 2,2%.

Se, além disso, for considerado que parte das atividades hoje existentes,

inerentes ao subsetor de serviços, é conseqüência direta de demandas geradas pela

própria indústria, ou pelos profissionais que nela estão empregados, uma vez que

passam a ter maior poder aquisitivo em função do aumento da renda, pode-se

depreender a importância da ZFM para a economia do estado e – retomando o diálogo

com o compromisso de um desenvolvimento endógeno, sustentável – as implicações de

uma possível descontinuidade do modelo, após atingido o prazo-limite de vigência dos

incentivos fiscais, evidentemente tendo como pressuposto a ausência de medidas de

intervenção para a implementação de alternativas complementares no decorrer dessa

trajetória.

Page 25: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

11

GRÁFICO I.2 ESTADO DO AMAZONAS COMPOSIÇÃO DO PRODUTO INTERNO (R$ 103 DE 2001)

0%

20%

40%

60%

80%

100%Se

tore

s (pa

rtici

paçã

o %

)

Agropecuária 191.131 360.538 439.062 681.949 1.127.310 421.300

Serviços 280.000 518.987 1.115.948 2.983.600 5.442.922 6.780.019

Indústria 51.595 205.677 284.392 4.253.049 9.410.108 11.410.772

1950 1960 1970 1980 1990 2000

Fonte: Adaptado de SÁ (2004)

A própria natureza da atividade industrial que emergiu com a ZFM é fruto das

características do incentivo fiscal e da localização geográfica desfavorável da cidade em

relação aos principais centros fornecedores e consumidores. A Tabela I.1 mostra que

são vários os subsetores representados, mas poucos deles guardando relação com

possíveis potencialidades regionais. Ao contrário, predominam as atividades

econômicas em que a tecnologia exerce um papel preponderante.

Embora ao longo do tempo, e em função das condições de mercado, cada um

desses subsetores apresente flutuações quanto à representatividade maior ou menor, em

termos de sua importância econômica, o subsetor Eletroeletrônico sempre esteve

liderando os indicadores mais tradicionalmente utilizados, tais como número de

empresas, faturamento, empregos gerados e impostos arrecadados.

O destaque apresentado por esse subsetor é uma condição até certo ponto

compreensível, em função de pelo menos dois elementos intrínsecos à sua natureza: (i) a

dinâmica provocada pelas contínuas pressões impostas pelo mercado, relativas à

atualização tecnológica de produtos, que demanda uma interação mais intensa com os

principais mercados internacionais, mais desenvolvidos em termos de requisitos e

desempenho; (ii) a superior relação preço/peso apresentada por esses mesmos produtos,

que os favorece, comparativamente aos de outros subsetores, quanto à menor

representatividade dos custos de transporte no preço final praticado para a sua colocação

em mercados consumidores distantes.

Page 26: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

12

TABELA I.1 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS PROJETOS INDUSTRIAIS APROVADOS, POR SUBSETOR

Situação do Projeto Implantado

Subsetor No Distrito Industrial

Em outra área de Manaus

Em implantação

Total

1. Eletroeletrônico 77 59 30 166 1.1. Pólo de produtos 50 42 24 116 1.2. Pólo de componentes 27 17 6 50

2. Matérias Plásticas 23 24 16 63 3. Mecânico 23 16 8 47

3.1. Pólo relojoeiro 10 7 0 17 3.2. Outras empresas do subsetor

mecânico 13 9 8 30

4. Químico 15 15 7 37 5. Metalúrgico 13 15 8 36 6. Material de Transporte 12 9 4 25

6.1. Pólo de duas rodas 10 5 2 17 6.2. Outros 2 4 2 8

7. Produtos Alimentícios 0 12 5 17 8. Papel, Papelão e Celulose 7 6 1 14 9. Editorial e Gráfico 3 5 5 13 10. Madeira 3 6 1 10 11. Diversos 18 31 19 68

Total 194 198 104 496 Fonte: Elaborada pelo autor, com base em SUFRAMA (2004b)

A representatividade do subsetor Eletroeletrônico está destacada também na

Tabela I.2, na qual é possível identificar que esse subsetor foi responsável por cerca de

55,0% do faturamento global da atividade industrial nos últimos 5 anos.

Essa tabela, que apresenta os 4 principais subsetores da ZFM, em faturamento,

destacados dos demais que compõem a atividade industrial, oferece uma perspectiva da

concentração do valor da produção: no ano de 2003, cerca de 72,7% do faturamento

global foi oriundo de apenas 2 subsetores (Eletroeletrônico e Duas Rodas).

Em termos do benefício social representado pela geração de empregos, esse

quadro praticamente se mantém (Tabela I.3). Os mesmos dois subsetores, liderando esse

indicador, são responsáveis pela geração de 61,9% dos empregos. Com exceção do

Termoplástico, presente também na tabela anterior, outros subsetores revezam-se nos

primeiros lugares, em termos de importância, na oferta de empregos.

Page 27: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

13

TABELA I.2 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS FATURAMENTO POR SUBSETOR DE ATIVIDADE

Valores em US$ milhões correntes 1999 2000 2001 2002 2003

Subsetor Valor (%) Valor (%) Valor (%) Valor (%) Valor (%)

Eletroeletrônico 3.948 54,7 5.944 57,2 4.917 53,9 4.865 53,4 5.812 55,2 Duas Rodas 1.070 14,8 1.579 15,2 1.554 17,0 1.325 14,6 1.848 17,5 Químico 628 8,7 979 9,4 871 9,5 977 10,7 1.014 9,6 Termoplástico 158 2,2 241 2,3 272 3,0 734 8,1 488 4,6 Outros 1.412 19,6 1.649 15,9 1.516 16,6 1.203 13,2 1.369 13,0

Total 7.216 100% 10.392 100% 9.130 100% 9.104 100% 10.531 100%Fonte: Elaborada pelo autor, com base em SUFRAMA (2004a)

Excetuando-se a mão-de-obra terceirizada e temporária, os 57.159 trabalhadores

empregados pelo Pólo Industrial de Manaus, em média, no ano de 2003, receberam

salários mensais de US$ 17.451,6 mil, o que perfaz US$ 305,32 per capita. Este valor

sobe a US$ 693,18, no mesmo ano, quando incluídos, além de salários, os dispêndios

com encargos e benefícios.

Apesar da restituição de parcela do ICMS, variável com a natureza do

empreendimento com projeto aprovado pela Secretaria de Fazenda, o estado do

Amazonas alcançou R$ 1,9 bilhão em arrecadação de ICMS durante o ano de 2002

(SUFRAMA, 2003).

TABELA I.3 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS MÃO-DE-OBRA EMPREGADA POR SUBSETOR DE ATIVIDADE

1999 2000 2001 2002 2003 Subsetor No % No % No % No % No %

Eletroeletrônico 21.902 50,8 25.870 52,9 28.100 51,3 27.910 48,3 30.937 47,9Duas Rodas 4.943 11,5 5.709 11,7 6.566 12,0 7.490 13,0 9.052 14,0Termoplástico 2.572 6,0 2.933 6,0 3.609 6,6 5.100 8,8 5.436 8,4Mecânico 274 0,6 435 0,9 505 0,9 2.066 3,6 2.912 4,5Metalúrgico 1.102 2,6 1.400 2,9 1.531 2,8 1.861 3,2 2.447 3,8Outros 12.302 28,5 12.532 25,6 14.448 26,4 13.385 23,1 13.807 21,4

Total 43.095 100% 48.879100% 54.759100% 57.812100% 64.591 100%Fonte: Elaborada pelo autor, com base em SUFRAMA (2004a)

A amplitude da atividade industrial fez com que o Amazonas fosse responsável

por 59% de toda a arrecadação de impostos federais na 2a Região (que inclui ainda os

Page 28: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

14

estados do Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima), tendo sido o oitavo maior estado

arrecadador de tributos federais dentre todos os estados da federação em 2002: R$ 2,7

bilhões em arrecadação de impostos para o governo federal (SUFRAMA, 2003),

caracterizando-se como um remetente líquido de recursos para a União, ou seja, o

volume de recursos transferidos para a União, por meio dos impostos arrecadados, é

maior que os recursos dela recebidos pelo estado (CORRÊA, 2002).

Até mesmo uma das principais desvantagens creditadas ao modelo, a

concentração da atividade econômica na capital, acaba resultando em benefício indireto

significativo. Manaus foi responsável por mais que 98,1% da arrecadação tributária do

estado, no período compreendido entre 1997 e 2000, o que se por um lado reflete a

frágil atividade econômica no interior, por outro transformou o Amazonas no estado que

tem a maior área percentual de seu território – estimada em 98% – ainda coberta por

vegetação original. Outros estados da região, em virtude de projetos centrados em

produção agrícola ou de exploração mineral, não lograram o mesmo nível de

preservação.

Essa importância alcançada, pelo setor industrial, em termos de sua participação

relativa na economia do estado do Amazonas, sinaliza que seus eventuais avanços e

retrocessos encontram correspondência direta em termos de repercussões na área social,

fortalecendo a idéia de se implementar ações que evitem possíveis conseqüências

negativas de uma desaceleração da atividade industrial – ou, melhor ainda, a própria

desaceleração – com a proximidade do fim dos incentivos fiscais.

Para materializar essa intenção, transformando-a em realidade, será necessária

uma mudança de atitude por parte de alguns dos agentes mais representativos da

sociedade local. A eficiência de uma postura pró-ativa, entretanto, depende de um maior

conhecimento da realidade subsidiando a tomada de decisão e a eleição de prioridades, e

isto complementa a argumentação em prol da multiplicação dos estudos, em acordo com

o que foi anteriormente sugerido. E na medida em que o tempo avança, percebe-se que

os desafios tornam-se maiores, e a própria realidade cresce em complexidade, conforme

será abordado na seção a seguir.

I.3. CARACTERÍSTICAS DA CRESCENTE COMPLEXIDADE DA

ATIVIDADE INDUSTRIAL EM MANAUS.

Em mais de três décadas de funcionamento, os projetos industriais implantados a

partir do projeto Zona Franca de Manaus ocuparam integralmente os 1.700 hectares

Page 29: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

15

originalmente reservados ao Distrito Industrial, o que demandou a sua ampliação física,

configurada na incorporação de uma área, contígua à original, com dimensão próxima a

5.700 ha, na qual os empreendimentos mais recentes têm se instalado.

Embora a localização da empresa na área física do Distrito Industrial não seja

obrigatória, essa opção acabou sendo adotada por aproximadamente a metade delas (194

dentre 392 projetos implantados, conforme está apresentado na Tabela I.1). Dos

primeiros projetos industriais aprovados em 1968 até hoje, já são contabilizados quase

2.000 projetos2.

A paulatina intensificação da atividade industrial, somada à ampliação da

diversidade dos subsetores representados e o seu crescente adensamento, trouxeram, de

forma associada, uma maior complexidade para a gestão do modelo.

Um reflexo dessa complexidade é a multiplicidade de iniciativas – programas,

políticas e ações – implementadas, em sua maioria, sem que fossem consideradas as

devidas articulações entre seus efeitos. A seguir estão relatados alguns exemplos,

compondo uma lista não exaustiva baseada na experiência individual do autor:

1. Implantação, a partir de 1976, de programas de substituição de componentes

importados por componentes de fabricação nacional (chamados Programas de

Nacionalização), nos quais as empresas deveriam alcançar índices numéricos

mínimos estabelecidos para cada produto, denominados Índices de

Nacionalização – IN’s, calculados a partir do quociente entre os valores gastos

com componentes e outros insumos comprados no País e os valores

correspondentes às compras totais – somatório das compras realizadas tanto no

País quanto no exterior – utilizando para esse cálculo os valores FOB. Após

elaborado o Programa de Nacionalização, pela própria empresa, prevendo as

metas físicas, numéricas e temporais para a nacionalização de insumos e

componentes, a proposta era analisada e, depois de aprovada, passava a compor

um compromisso estabelecido e acompanhado pela Suframa. Essa sistemática

permitiu que a autarquia desenvolvesse competências técnicas associadas à

composição dos produtos fabricados, à identificação e desenvolvimento de

fornecedores nacionais para níveis mais elevados de desempenho, assim como a

2 O número de projetos supera o número de empresas anteriormente apresentado por diversas razões: projetos correspondentes a empresas que não se implantaram, descontinuidade de atividades (falências ou simples encerramentos de empreendimentos), cancelamentos por irregularidades, além do fato de que qualquer alteração em um projeto já aprovado (novos produtos, alteração substantiva nos níveis de produção ou de seus processos) implica na necessidade de aprovação de um novo projeto pela empresa.

Page 30: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

16

aspectos da tecnologia de manufatura. Sob um certo ponto de vista, a imposição

da sistemática de Índices e Programas de Nacionalização contribuiu para

ampliar, nas empresas da ZFM, o domínio de tecnologias relacionadas ao

processo de fabricação, uma condição necessária à adoção de estágios mais

avançados de desagregação de componentes, partes e peças com os quais

começavam a lidar;

2. Estímulo a uma maior especialização da indústria local, concentrando a atenção

na atração de empresas aderentes aos subsetores mais relevantes

(eletroeletrônico, relojoeiro, duas rodas e ótico) que passaram a ser denominados

"pólos". Talvez essa tenha sido a tentativa pioneira de disciplinar e planejar a

atividade industrial, contida em um Plano Diretor elaborado em 1978, que

passou a nortear as ações da Suframa, e cujo conjunto de diretrizes pode ser

considerado um arcabouço de política industrial (SÁ et al., 1978). Além da

especialização, o Plano Diretor apresentava como principais elementos a serem

perseguidos: a verticalização da produção industrial; a harmonização dos ramos

industriais da ZFM com os já instalados no centro-sul do País (do qual a própria

seleção dos quatro subsetores pode ser considerada um reflexo); a absorção de

tecnologia; a intensificação do uso de fatores regionais na produção e a

reintegração progressiva da ZFM à normalidade tributária nacional;

3. Exigência de permanência, em Manaus, de um diretor qualificado para cada

empresa com projeto aprovado (formalmente denominado Diretor Residente),

que configurasse a existência de um interlocutor com autoridade para dialogar e

decidir junto aos órgãos locais. Estabelecida no início da década de 80, foi uma

conseqüência de dificuldades enfrentadas pela Suframa, na gestão do modelo

ZFM, em encontrar prontidão nas respostas das empresas às suas indagações, em

virtude do que vinha se caracterizando como um baixo nível de capacidade

decisória local;

4. Criação induzida de instituto tecnológico3 para dar suporte às empresas

industriais em termos de serviços especializados na área de engenharia,

particularmente aqueles relacionados à engenharia industrial e à substituição de

componentes importados (1982), o que talvez possa ser caracterizado como o

3 A Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica – Fucapi, embora criada sob inspiração da Suframa, foi instituída pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas – Fieam e pelo Centro da Indústria do Estado do Amazonas – Cieam.

Page 31: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

17

esforço pioneiro de implementação de uma ação concreta voltada ao tratamento

da questão tecnológica, nesse primeiro momento centrado na ampliação das

atividades de engenharia;

5. Estímulo à realização de atividades locais de desenvolvimento de tecnologia, por

meio da vinculação da aprovação de projetos industriais incentivados – fossem

eles relacionados à implantação de novas empresas ou à modificação nos

padrões das já existentes – à implantação de laboratórios de P&D, uma

exigência estabelecida em 1983. Embora com resultados modestos, a iniciativa

induziu algumas empresas à realização de atividades de engenharia em Manaus,

voltadas à adaptação de projetos dos produtos oriundos de suas matrizes (ou dos

parceiros tecnológicos) às características do mercado nacional. Se, em senso

estrito, não podiam ser configuradas exatamente como atividades de P&D,

tiveram o mérito de iniciar uma demanda local por profissionais com maior

capacitação tecnológica;

6. Implantação de programas de substituição de componentes importados ou

nacionais por componentes de fabricação local (chamados Programas de

Regionalização), cujo objetivo – a integração vertical da produção local – pode

hoje ser interpretado, em uma linguagem atualizada, como uma tentativa de

adensamento local da cadeia produtiva, um esforço que se concentrou na

segunda metade da década de 80. A atração de empresas fabricantes de

componentes e insumos para Manaus, e os interesses por vezes conflitantes entre

essas empresas e os produtores de bens finais, que destacavam os problemas de

qualidade e custo dos fabricantes de componentes locais, preferindo manter suas

rotinas de compras de fornecedores já habilitados, instalados no sudeste ou

exterior, permitiu o acúmulo de uma experiência diferenciada, por parte da

Suframa, na articulação e mediação de interesses público-privados relacionados

à evolução da atividade industrial local;

7. Implementação da política de adoção dos chamados Processos Produtivos

Básicos – PPB’s, na qual os IN’s, cujas exigências de nacionalização baseavam-

se no valor das aquisições, foram substituídos pela indicação do conjunto

mínimo de atividades do processo produtivo, para cada tipo de produto, que

deveria ser realizado localmente pela empresa incentivada (a partir de 1991). Foi

uma conseqüência direta da política do governo federal de abertura do mercado

nacional, com a redução das alíquotas dos impostos de importação dos produtos

Page 32: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

18

em geral, que retirava uma vantagem comparativa dos produtos fabricados na

Zona Franca de Manaus, e resultou em um dos mais críticos episódios para a

continuidade da atividade industrial local, com forte impacto na redução do

número de empresas e, principalmente, de empregos, nos anos que se seguiram;

8. A partir do final da década de 90, exigência legal de aplicação, pelas empresas,

na execução local de atividades de P&D, de percentual de seu faturamento com

a venda dos bens de informática que fabricam. Em proporção regulamentada

pela legislação, o valor global de cada empresa pode ser dividido entre

aplicações internas (ou seja, projetos desenvolvidos exclusivamente por suas

próprias equipes técnicas) e externas, nas quais a atividade de P&D deve, em um

percentual mínimo do total de recursos a serem aplicados pela empresa, ser

necessariamente demandada de instituições locais;

9. Também mais recentemente (a partir de 1998), tentativa de articular a formação

de alianças, parcerias e cooperações entre o setor produtivo e as instituições de

pesquisa, desenvolvimento e formação de recursos humanos, intermediadas pelo

setor público, como meio de se alcançar um novo patamar no processo de

desenvolvimento local, resultando na criação do Centro Tecnológico do Pólo

Industrial de Manaus (CT-PIM).

Esses diversos episódios, ainda que não deliberadamente articulados entre si a

partir de uma ótica de desenvolvimento local sustentável, exemplificam alguns dos

principais momentos vivenciados pela Suframa, em sua tarefa de administrar o modelo

ZFM, que historicamente conformaram a trajetória da atividade industrial local.

A eficácia dessa administração evidentemente esteve influenciada por condições

de contorno inerentes à realidade local, dentre as quais pode ser ressaltada a virtual

inexistência, anterior à ZFM, de uma cultura relacionada à atividade industrial. Isto

implicou não apenas em absoluta escassez de mão-de-obra treinada, inclusive no que

pertine à gerência de nível intermediário, para o setor privado, mas também de

profissionais habilitados à gestão de um complexo industrial como instrumento

propulsor de uma política de desenvolvimento, no caso do setor público.

A crise econômica vivida pelo País a partir dos choques do petróleo, na década

de 70, que estendeu a abrangência da política de substituição de importações até a ZFM,

resultando no seu contingenciamento, a partir do estabelecimento de quotas máximas

anuais autorizadas pelo governo central, um fato aparentemente incompatível com a

proposta original do modelo, se por um lado causou limitações à amplitude da atividade

Page 33: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

19

industrial, por outro fez com que as empresas se tornassem mais seletivas em suas

importações, o que pode ser considerado um fator determinante de estímulo à

estruturação e evolução dessa mesma atividade.

Eventuais conseqüências negativas introduzidas por esses fatos históricos não

chegam a rivalizar com as dificuldades causadas por desarticulações entre os agentes

promotores das políticas setoriais do governo federal, que permitiram contínuos

confrontos entre alguns de seus ministérios, especialmente o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), e seus predecessores, em antagonismo

ao Ministério da Fazenda que, especialmente por meio da Secretaria da Receita Federal,

em diferentes momentos dificultou, e por vezes impediu, utilizando-se de portarias e

outros atos administrativos, o regular funcionamento da atividade industrial da ZFM,

causando retração e até mesmo fuga de capital empreendedor; ou mesmo ao Ministério

da Ciência e Tecnologia, especialmente durante a implementação da Política Nacional

de Informática, que drenou atenção e energias que poderiam ter sido canalizadas pela

liderança local para a tentativa de uma consolidação do desenvolvimento industrial.

Em meio a esse quadro, às dificuldades de gestão do modelo ZFM podem ser

acrescidos (i) o próprio conflito de interesses com as demais regiões do País, ancorado

em motivos como a balança comercial negativa frente ao esforço nacional em busca de

superávits; (ii) a disputa legítima por fábricas – e conseqüentemente empregos – de

outras regiões que também procuram atingir novos estágios na escalada de seu

desenvolvimento e (iii) a imagem negativa, da qual a ZFM tem dificuldade de

desassociar-se, vinculada a "contrabando" e "fábricas de apertar parafusos", que pré-

estabelece uma posição desfavorável em qualquer fórum em que apresente suas

reivindicações.

A singular reunião de episódios aqui descrita, pelo menos em se tratando de um

projeto concebido para funcionar como uma zona franca, auxilia na caracterização da

complexidade que está intrinsecamente ligada ao caminho trilhado pelo modelo e, por

conseqüência, das dificuldades de sua gestão.

À margem da formulação de qualquer juízo de valor associado ao conjunto dos

resultados alcançados pelo modelo, interessa aqui refletir que as dificuldades

enfrentadas decerto demandaram da região a criação e o desenvolvimento de

determinadas competências que, em diferentes graus, foram sendo incorporadas por

seus diversos agentes, públicos e privados, com o passar dos anos.

Page 34: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

20

A Suframa, na qualidade de principal gestora do projeto, pode ser considerada

como um exemplo para aquela assertiva. Na visão de alguns de seus componentes, a

instituição superou seu papel de administrar incentivos, incorporando, em um primeiro

momento, a função de promoção de investimentos e, mais recentemente, empreendeu

esforços em direção ao comércio internacional e à dimensão tecnológica, esta última

materializada na criação, em sua estrutura, de uma unidade organizacional

especificamente dedicada a esse fim (BOTELHO, 2004).

O encontro das pressões ambientais com a evolução na capacidade gestora talvez

tenha sido o combustível que motivou a Suframa a inserir, dentre as ações inscritas no

Plano Plurianual 2000/2003 do Governo Federal, o Programa Pólo Industrial de Manaus

(PIM), um momento que pode ser entendido como de quase "rebatismo" da Zona Franca

de Manaus.

A importância já reconhecida da atividade industrial assume, então, novos

contornos. À parte é conferido o status do todo, e PIM passa a ser livremente utilizado

como um quase-sinônimo para ZFM, este último reservado a partir de então a

documentos oficiais. Na interlocução com a sociedade em geral, de forma sistemática e

crescente, a autarquia utiliza a expressão Pólo Industrial de Manaus, um esforço para o

qual convida o setor privado, e é correspondida.

Uma leitura possível para essa postura aparentemente libertadora ressalta que o

esforço empreendido para fazer prevalecer a nova denominação comunica, ao mesmo

tempo, e por vias paralelas, pelo menos dois importantes fatos: (i) o reconhecimento do

desgaste histórico, pelos motivos já elencados anteriormente, amealhado pela "marca"

Zona Franca de Manaus e (ii) um salto qualitativo alcançado pela atividade industrial, já

que a partir de então passa a ser conjunta e definitivamente rotulada como Pólo.

Em relação ao desgaste histórico, a Suframa e o próprio governo estadual

anteriormente já haviam liderado iniciativas para a reversão dessa imagem. Campanhas

institucionais divulgadas em jornais de grande circulação do Sudeste e em redes

nacionais de televisão, além de diversas feiras promocionais dos produtos fabricados em

Manaus, várias delas realizadas em outros estados, procuravam esclarecer sobre a

realidade local, em contraposição à concepção interpretada como dominante na

sociedade brasileira, correspondente a fábricas com processos produtivos elementares –

quando existentes – e limitada agregação de valor. O selo "Produzido na Zona Franca de

Manaus" que, por força de Portaria da Suframa, era postado na embalagem de todos os

Page 35: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

21

produtos ali fabricados desde o início da década de 80, foi igualmente substituído pela

nova mensagem "Produzido no Pólo Industrial de Manaus".

Mas é o segundo fato comunicado por essa mudança – o salto qualitativo da

atividade industrial – que está associado à inquietação que atua como elemento

motivador para este trabalho de pesquisa.

A par da experiência singular relacionada à implantação do projeto Zona Franca

de Manaus, e da riqueza de sua trajetória, o próprio ambiente em que esta se insere

talvez tenha sido um fator limitante para que, com o passar dos anos, estivesse

disponível uma maior quantidade de estudos relacionados às diversas dimensões de sua

dinâmica, de modo a aprofundar a compreensão de suas fragilidades e potencialidades.

A sensação de que ocorreu uma determinada evolução deve ser enriquecida por estudos

cuja contribuição seja ampliada e compartilhada com aqueles que, profissional ou

socialmente, sentem sua responsabilidade diretamente imbricada à realidade do modelo.

Sob que delimitações este trabalho pretende contribuir para uma maior

compreensão da atividade industrial em Manaus, considerando sua importância para a

economia do Amazonas e a necessidade de identificar e implementar caminhos

sustentáveis para o desenvolvimento regional, em um ambiente de incentivos fiscais

com prazo determinado, é o escopo do que será apresentado no Capítulo II, a seguir.

Page 36: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

22

II. CARACTERIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA E DOS ELEMENTOS DA

PESQUISA.

A pujança econômica refletida nos números da atividade industrial da Zona

Franca de Manaus – ZFM, apresentados em conjunto com uma síntese da evolução do

ambiente local, no Capítulo I deste trabalho, deve ter seu significado avaliado com

cautela. Conforme discutido, ela não se constitui, isoladamente, em condição suficiente

para a sustentabilidade futura de uma indústria local, especialmente quando se considera

sua relação de estreita dependência dos incentivos fiscais.

Embora não seja possível antecipar com absoluta certeza, é bastante razoável

supor que, no caso de descontinuidade dos incentivos, a conseqüente elevação dos

custos de produção, aliada à desvantagem da grande distância dos principais mercados

consumidores, em grande medida provocariam o deslocamento de fabricantes para

outros centros industriais no país ou exterior.

Mas essa talvez seja uma visão simplista. Sob outra perspectiva, esse mesmo

tamanho da atividade econômica pode se constituir em uma robusta plataforma para a

estruturação das próximas etapas de uma política que, capitaneada pelas esferas

governamentais, tenha por eixo condutor a sustentabilidade. Uma tal pré-condição pode

ser encontrada quando se reúnem a um só tempo elementos como a existência de vários

subsetores da atividade econômica; um conjunto de experiências acumuladas nas esferas

pública e privada; a diversidade institucional caracterizada na presença de distintos

agentes econômicos atuando; a disponibilidade de recursos públicos arrecadados a partir

do funcionamento da própria atividade produtiva já existente; e, talvez como uma

conseqüência dessa estrutura social, uma postura que pode ser preliminarmente

traduzida como uma crescente maturidade da sociedade local, revelada pela

demonstração de sua maior capacidade de mobilização.

Conforme discutido, a experiência da ZFM é peculiar, única, construída tendo

como ponto de partida um ambiente associado a uma cultura industrial local mínima, e

em que se sucederam intervenções e pressões externas de diferentes naturezas que, mais

importante que delimitarem a trajetória de seu desempenho, representam um acúmulo

de competências ainda não apropriadamente avaliadas.

Lidar com os episódios de crise e as oportunidades de crescimento que se

apresentaram nestas pouco mais de três décadas de efetiva existência de uma indústria

incentivada transformou – em maior ou menor intensidade – o ambiente local. De uma

Page 37: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

23

certa forma seria equivocado, portanto, considerar que o estado atual do ambiente

industrial local guarda proximidade com aquele correspondente ao momento em que foi

iniciada a implantação do modelo.

A compreensão das fragilidades e limitações de um crescimento econômico

baseado em incentivos fiscais, segundo as características do modelo que foi

implementado, e especialmente das eventuais evoluções alcançadas, é uma tarefa que

para ser adequadamente realizada necessita contabilizar a experiência acumulada na

região (ou, de uma forma reducionista, pelo menos na cidade de Manaus) no desenrolar

deste processo. É uma condição recomendável para a abordagem, em uma perspectiva

mais ampla, da transformação conceitual da ZFM em PIM (Pólo Industrial de Manaus),

e da existência ou não de elementos que dêem suporte a essa postura e possam se

transformar na base para as demandas futuras da sociedade para com o modelo.

Como uma conseqüência imediata, sobressai a necessidade de ser aprofundada a

compreensão da dinâmica da atividade industrial na ZFM e do seu nível de consistência

em relação a uma desejável independência crescente dos incentivos fiscais, para a qual

existe um amplo espaço de contribuição reservado à natureza e intensidade das relações

entre os agentes socioeconômicos locais.

II.1. A TEMÁTICA DA CAPACITAÇÃO LOCAL NA LITERATURA

RECENTE RELATIVA À ATIVIDADE INDUSTRIAL DA ZONA FRANCA

DE MANAUS.

Mesmo a despeito do rico laboratório que representa, e de sua importância para a

economia local, ainda pode ser considerado pequeno o acervo de estudos críticos que

tenham como objeto central o modelo incentivado da Zona Franca de Manaus.

As primeiras reflexões, provavelmente estimuladas pelos desafios iniciais

enfrentados pela ZFM, ocorreram ainda na década de 704. A maioria contou com a

contribuição de profissionais externos à região, mesmo quando a coordenação do

trabalho era local, uma característica que, embora por si só não tenha conotação

negativa, constata que, naquele momento, a dependência de capital intelectual externo,

oriundo ou radicado em outras regiões, não se configurava apenas na ocupação dos

cargos técnicos e gerenciais no ambiente fabril.

4 A natureza desta pesquisa limita os comentários da seção às contribuições mais recentes. Argumentos e pontos de vista apresentados em avaliações pioneiras podem ser encontrados em SÁ (1978; 1984), ANCIÃES (1980), BENCHIMOL (1980), RAMOS (1983) e BENCHIMOL (1988).

Page 38: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

24

Embora observações sobre a fragilidade do modelo já fossem apresentadas

nesses trabalhos pioneiros, a compreensão de sua dinâmica, em um nível que permita

uma ação de política efetiva, é uma perspectiva ainda tratada de forma insuficiente, até a

presente data.

A quantidade de estudos mais aprofundados, que ultrapassem a dimensão

genérica das condições macroeconômicas ou das repercussões sociais do modelo, e

sejam capazes de orientar a implementação de ações em direção à sustentabilidade,

historicamente tem recebido menor atenção da sociedade que os esforços políticos

empreendidos para manter a continuidade do modelo a partir da mera prorrogação de

incentivos.

Desde essas primeiras avaliações, as críticas ressaltam como um elemento

negativo relevante o frágil enraizamento (ou inserção) local da indústria incentivada,

suportadas pela lícita argumentação de que os empreendimentos são constituídos a

partir de capital e tecnologia exógenos, nos quais a utilização de produtos regionais é

marginal. Esta configuração caracterizaria uma alta volatilidade para o conjunto da

indústria, ou seja, na ausência do incentivo, a indústria local teria pouca motivação para

continuar existindo.

Por outro lado, seria irreal imaginar que o quadro atual é o mesmo daqueles

momentos iniciais, e que nenhum avanço foi obtido durante o período de existência da

ZFM. A crítica responsável, para ser consistente, deve estar refinada pela contabilização

da própria experiência acumulada com a implantação do modelo. Identificar o grau

desse avanço, aprofundando a compreensão da formação de uma possível identidade

local para a indústria, ao mesmo tempo em que se apresenta como um desafio, torna-se

uma etapa fundamental para entender e acelerar o grau de enraizamento. Essa é uma

perspectiva de contribuir para a ampliação do desenvolvimento local que apenas agora

começa a ser explorada com o nível de profundidade que as circunstâncias requerem.

A necessidade de se buscar uma capacitação endógena é um dos elementos

recorrentes na produção intelectual de BOTELHO (1996, 2001, 2004) que, há duas

décadas compondo o quadro técnico da Suframa, é um dos poucos que compartilha, de

forma mais ampla, e com alguma continuidade, suas observações reflexivas sobre –

principalmente – os "desencontros" do modelo.

Page 39: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

25

Na contribuição desse autor é possível observar com determinada freqüência a

associação do modelo ao conceito de economia de enclave5, caracterizando a atividade

industrial da ZFM por sua impulsão a partir de fatores exógenos, dentre os quais destaca

capital e tecnologia. Atraídos por vantagens competitivas que denomina estáticas, esses

fatores conformariam um ambiente em que o lucro retorna aos donos do capital, com

poucos benefícios gerados localmente, uma vez que sua maioria é de residentes em

outras regiões. Como reflexo associado a essa condição, destaca ainda que, no âmbito

da competência instalada em Manaus, existiria uma assimetria entre o conhecimento

utilizado pelas empresas incentivadas e aquele dominado pela academia local

(BOTELHO, 2001 e 2004, especialmente às p. 110-1), o que certamente seria um

elemento restritivo importante para o fortalecimento das relações da indústria com o

ambiente em que fisicamente se insere.

Especialização industrial e interiorização do desenvolvimento são dois dos

elementos mais freqüentemente abordados na contribuição desse autor. O primeiro, a

especialização, é uma expectativa já apresentada pelos pioneiros estudos avaliativos da

ZFM, realizados sob demanda da própria Suframa, e que acabaram por resultar na

criação dos chamados "Pólos", que orientaram a sua atuação na atração de novas

empresas, privilegiando subsetores específicos (eletroeletrônico, duas rodas, ótico e

relojoeiro), o que de uma certa forma constituiu-se, na prática, em um instrumento de

política industrial; o segundo elemento, a interiorização do desenvolvimento, é

defendido a partir da desconcentração espacial dos empreendimentos implantados –

historicamente centrados na cidade de Manaus – e que, se construído a partir de

empreendedores locais, calcado no fortalecimento de uma indústria que utilize a

matéria-prima e o potencial regional, funcionaria como um pilar para o

desenvolvimento endógeno, em bases sustentáveis (BOTELHO, 1996, especialmente às

p. 91-2 e 142-4).

Alicerçado em experiência acumulada a partir do exercício de funções de relevo

na própria Suframa, além de uma participação contínua na academia local, outro autor

que recentemente registrou em parte essa percepção é SALAZAR (2004). Abordando o

desenvolvimento a partir de elementos de suas dimensões social e econômica, seu

trabalho ressalta a importância da atividade industrial incentivada de Manaus para a

5 Sempre desempenhando um papel de contraponto à tendência do discurso de pleno êxito do modelo, trazendo à discussão principalmente os seus efeitos negativos, em sua mais recente contribuição o autor

Page 40: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

26

Amazônia Ocidental, mas inclui a visão pessoal, oferecendo alternativas para a

perspectiva de contornar os problemas apresentados pelo condicionamento do

desenvolvimento aos incentivos fiscais.

Em mais de um momento, esse autor também aborda a distorção da não retenção

local de significativa parcela da renda gerada com a atividade industrial, ressaltando

inexistirem mecanismos que estimulem – ou até obriguem – o reinvestimento, na

própria região, dos lucros oriundos da atividade incentivada, categorizando essa

característica como um dos maiores entraves ao êxito do projeto ZFM (SALAZAR,

2004, p. 304 e 354). O reinvestimento local dos lucros, portanto, seria uma alternativa

para aprofundar o que denomina de integração produtiva – ou enraizamento – que,

sugere, poderia ser obtido a partir da criação de um fundo especial, autônomo,

parcialmente capitalizado com recursos do setor privado incentivado, destinado a apoiar

programas e projetos regionais.

Na síntese de sua contribuição, o autor enuncia o que considera as premissas

para uma nova política para a atividade industrial de Manaus (SALAZAR, p. 349-51):

definição e criação de clusters sinérgicos para o fortalecimento da cadeia produtiva

local; desenvolvimento de recursos humanos e promoção de pesquisa para o domínio de

tecnologias avançadas como fator de atração de novos investimentos; elaboração de

políticas e ordenamento de incentivos para a realização de investimentos na implantação

de um pólo de componentes; fortalecimento e ampliação do papel da Suframa. Com

base nessas premissas, propõe um programa de consolidação que contribua para o

desenvolvimento sustentável, a partir do estabelecimento das seguintes prioridades: 1)

fortalecimento das exportações com base na modernização da infra-estrutura; 2)

incentivo à agroindústria da soja, complementada por uma política de exploração de

minerais; 3) criação de um pólo petroquímico a partir do petróleo e gás natural; 4)

fortalecimento das instituições de pesquisa e dos centros regionais de ciência e

tecnologia nos campos da biotecnologia, microeletrônica e da inovação tecnológica

industrial (SALAZAR, 354-8).

A inovação tecnológica como conseqüência do estabelecimento de uma

capacitação local, citada dentre as prioridades propostas por esse autor, é um tema que

apenas recentemente vem ganhando relevância na agenda pública, a partir de uma maior

disseminação do conceito por entre algumas instituições governamentais – Suframa e a

admite que o projeto ZFM tem se tornado cada vez menos um modelo de enclave, citando exemplos do que considera avanços, para assim defender a evolução de seu ponto de vista (BOTELHO, 2004, p. 110).

Page 41: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

27

recém criada Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas, especialmente

– bem como em instituições de ensino e pesquisa.

Um exemplo dessa importância é uma demanda estabelecida por organizações

locais6 que resultou na realização de um estudo sobre as competências tecnológicas da

indústria instalada em Manaus. ARIFFIN e FIGUEIREDO (2003) conduziram pesquisa

para avaliar o estabelecimento de competências técnicas, organizacionais e gerenciais

nessa indústria, considerando ser esse um pressuposto para a inovação contínua de

produtos e serviços, uma capacidade essencial para a competitividade de uma empresa.

Nesse estudo, os autores realizam uma comparação entre as indústrias eletrônicas

instaladas em Manaus e na Malásia, procurando centrar a análise a partir do enfoque de

economias emergentes, nas quais é relativamente comum que um negócio local inicie

tendo por base uma tecnologia adquirida de empresas originárias de outros países.

No referido estudo, o progresso, em termos de desenvolvimento tecnológico, é

avaliado segundo (i) a evolução da capacidade tecnológica rotineira em direção a níveis

progressivamente mais elevados de capacidade criativa e inovadora, e (ii) a evolução, na

fabricação, em direção a produtos cada vez mais complexos e de maior valor.

A partir de referências da literatura especializada no campo da inovação, os

autores elaboram uma estrutura de mensuração baseada em uma matriz bidimensional,

na qual está apresentada uma tipologia classificando os diferentes níveis e tipos de

capacidade tecnológica, configurando um modelo desenvolvido sob medida para a

indústria eletrônica (ARIFFIN e FIGUEIREDO, 2003, p. 70-2).

Na referida matriz, a capacidade de cada empresa, segundo a dimensão tipo, é

avaliada a partir de sua decomposição em competências, classificadas em quatro

grandes grupos, que correspondem a: (1) gestão de projetos, (2) equipamento,

ferramentaria, prensagem em metal, moldagem em plástico, (3) processos e organização

da produção e (4) produtos. Para cada um desses grupos é relacionado um universo de

possíveis capacidades para as quais, em função da pesquisa de campo realizada, foi

identificada, individualmente, nas empresas da amostra, a presença ou ausência de cada

uma dessas capacidades. Por exemplo, no grupo "produtos" estão relacionadas mais de

25 diferentes capacidades, que evoluem da inspeção de qualidade de entrada, abrangem

o design de novos produtos e, no "limite" do que seria a capacitação para esse grupo,

6 O estudo foi apoiado pelas seguintes instituições: Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Fundação Centro de Análise, Pesquisa e

Page 42: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

28

avançam até a execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento em novos

materiais.

Na dimensão nível da matriz estão apresentados os diferentes níveis de

capacidade passíveis de serem alcançados pelas empresas, variando entre as seguintes

categorias: aquelas que dominam apenas operações básicas (subdivididas nos níveis 1 e

2), as que avançam até a inovação básica (nível 3), as que alcançam a inovação

intermediária (nível 4) e as mais evoluídas, com capacidade para realizar inovação

avançada (nível 5) ou, no topo da pirâmide, que apresentam capacidade inovadora

baseada em pesquisa (nível 6).

A identificação da existência de determinado conjunto de práticas, em cada um

dos grupos da dimensão tipo, permite a classificação do estágio mais adequado em que

se encontra a empresa, segundo a dimensão nível.

Essa decomposição é útil na compreensão e inferência sobre os diferentes

estágios evolutivos intermediários alcançados pela indústria, contribuindo na avaliação

de como as empresas se deslocam entre as várias categorias de atividade inovadora,

conformando a sua trajetória de construção de competências tecnológicas. Em termos de

países e regiões em desenvolvimento, é uma abordagem que apresenta evidentes

vantagens frente à forma tradicional de identificar a existência de uma competência,

tomando-se como referência, por exemplo, a avaliação realizada a partir do número de

patentes obtidas, que induz à confrontação dicotômica.

Como principal conclusão do estudo, foi identificado o desenvolvimento de

capacidade tecnológica inovadora em 93% das 29 empresas da amostra, sendo que,

dentre estas, 24% situaram-se no nível de capacidade tecnológica classificada como de

inovação avançada (nível 5). Empresas situadas neste nível têm capacidade para ir além

de usar e operar tecnologias existentes, podendo gerar e administrar mudanças

tecnológicas. Em contrapartida, apenas 7% permaneceram limitadas às operações

básicas, mesmo assim situadas no nível 2 (ARIFFIN e FIGUEIREDO, 2003, p. 87).

Segundo os autores, o resultado do estudo oferece evidências que sugerem que a

internacionalização – ou disseminação – de competências tecnológicas tem ocorrido na

indústria eletrônica em Manaus. De uma certa forma, isto fortalece a argumentação

quanto ao aprendizado que vem sendo alcançado pela indústria local.

Inovação Tecnológica (Fucapi) e Instituto Superior de Administração e Economia do Amazonas (Isae/FGV).

Page 43: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

29

O trabalho também inclui uma avaliação da natureza de como se dá o processo

de aprendizagem nas empresas estudadas. Nesse caso, os autores decompõem os

mecanismos de aprendizado em duas categorias, interorganizacionais e intra-

organizacionais. Para o caso do aprendizado interorganizacional, concluem que mais de

90% das empresas da amostra mantêm vínculos para produção (passagem gradual de

produtos simples para produtos mais complexos) e inovação (desenvolvimento de

atividades tecnológicas cada vez mais complexas) (ARIFFIN e FIGUEIREDO, 2003, p.

120); no aprendizado intra-organizacional, os processos para desenvolvimento de suas

próprias capacidades tecnológicas foram avaliados segundo os aspectos variedade,

intensidade e funcionamento, deixando transparecer, com base em elementos

qualitativos, uma evolução ampla alcançada nos indicadores, quando confrontado o

desempenho nos anos 1980 com o correspondente nos anos 1990 (ARIFFIN e

FIGUEIREDO, 2003, p. 125-8).

Portanto, os trabalhos aqui comentados, se colocados na sucessão histórica de

sua realização, ao serem comparados com os estudos pioneiros sobre o modelo ZFM,

sinalizam um aprofundamento no conteúdo das contribuições, caracterizando uma maior

preocupação com o estabelecimento de uma capacitação local que possa dar sustentação

a um processo de desenvolvimento continuado.

A discussão ao redor dessa temática, além de apresentar um potencial

significativo para avançar na compreensão da dinâmica da atividade industrial

incentivada, acrescenta novos elementos que estimulam a participação de um maior

número de pesquisadores e estudiosos em geral.

II.2. DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA.

II.2.1. A ESCOLHA DE UM SUBCONJUNTO PARA ANÁLISE.

Conforme abordado, em anos recentes, no processo de desenvolvimento local da

cidade de Manaus, o conceito Zona Franca cede espaço à terminologia Pólo Industrial.

A mudança descortina o amplo e rico laboratório que o modelo representa, ensejando a

realização de estudos que aprofundem a compreensão de sua dinâmica.

Essa é uma perspectiva particularmente favorável no que diz respeito à atividade

industrial incentivada, que praticamente corresponde ao próprio universo representado

pelo conjunto da indústria no Amazonas, e que por sua vez é responsável por 61% da

composição do PIB do estado (ver Gráfico I.2). Tamanha representatividade justifica a

expansão das reflexões relativas ao nível de inserção dessa indústria, considerando que

Page 44: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

30

sejam capazes de contribuir para a estruturação de políticas públicas voltadas ao

interesse de ampliar, de modo fundamentado, a sustentabilidade do desenvolvimento

econômico, o que inclui o tratamento de toda a complexidade associada à ambição pela

progressiva independência dos incentivos fiscais.

Conforme visto na seção anterior, os estudos mais recentes sobre a atividade

econômica local iniciam um aprofundamento da discussão sobre a evolução da indústria

ao introduzir temáticas como a identificação de competências tecnológicas já

estabelecidas, a prática da inovação e a natureza do aprendizado inter e intra-

organizacional.

Tendo como premissa a importância dessas questões frente à sustentabilidade,

este trabalho de pesquisa insere-se no esforço de ampliar a discussão, procurando

oferecer novos elementos que caracterizem a dinâmica das empresas, de modo a auxiliar

na construção de uma agenda de interesse social que discuta um modelo futuro de

desenvolvimento.

Apresentado o contexto, em sua forma mais ampla, cabe estabelecer os limites

associados ao desafio, inclusive no que diz respeito ao universo das empresas

abrangidas, considerando a complexidade que seria tratar toda a indústria incentivada.

As Tabelas II.1 a II.5 apresentam os dados que justificam a opção realizada quando da

escolha do conjunto para análise.

A Tabela II.1 reproduz os dados de faturamento global da atividade industrial

incentivada em Manaus, nos últimos cinco anos, discriminando os dois maiores

subsetores. Em resumo, os dados confirmam a importância econômica dos subsetores

TABELA II.1 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS FATURAMENTO ANUAL DOS PRINCIPAIS SUBSETORES

Valores em US$ milhões correntes Eletroeletrônico Duas Rodas Ano A A/C (%) B B/C (%)

PIM (C = 100%)

1999 3.948,4 54,7 1.070,9 14,8 7.216,7 2000 5.944,5 57,2 1.579,4 15,2 10.392,6 2001 4.917,5 53,9 1.554,7 17,0 9.130,8 2002 4.865,5 53,4 1.325,8 14,6 9.104,7 2003 5.812,1 55,2 1.848,8 17,6 10.531,2

Total 25.488,0 55,0 7.379,6 15,9 46.376,0 Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de SUFRAMA (2004a)

Page 45: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

31

Eletroeletrônico e Duas Rodas que, conjuntamente, foram responsáveis por 70,9% do

faturamento global da indústria incentivada, no correspondente ao acumulado do

período 1999-2003.

Um número igualmente significativo é observado quando se avalia a

participação desses subsetores na mão-de-obra total empregada (Tabela II.2). A

representatividade conjunta correspondeu a 61,6% da média mensal de empregos

gerados no PIM em 2003 e 63,9% da massa salarial; se considerados os encargos e

benefícios proporcionados aos trabalhadores, este número é ainda um pouco maior,

alcançando 65,5% do total.

TABELA II.2 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS MÃO-DE-OBRA, SALÁRIOS E DISPÊNDIOS EM 2003

Salário Mensal (US$ 103 correntes)

Dispêndios Mensais** (US$ 103 correntes) Subsetor

Mão-de-obra*

(A) (B) (B/A) (C) (C/A) Eletroeletrônico 26.686 8.127,5 304,56 17.887,1 670,28 Duas Rodas 8.548 3.032,4 354,75 8.065,2 943,52

PIM 57.159 17.451,6 305,32 39.621,5 693,18 Fonte: Elaborada pelo autor, com base em SUFRAMA (2004a) * Média mensal, excetuando mão-de-obra terceirizada e temporária ** Inclui, além de salários, encargos e benefícios

A dimensão da participação relativa desses dois subsetores motivou a sua

seleção para a base do estudo. O nível de faturamento e o volume de empregos gerados,

entretanto, não são os únicos elementos que justificam essa escolha. Alguns dados

adicionais disponíveis apontam para importantes diferenças entre os dois subsetores,

quando se tem como preocupação aprofundar a compreensão sobre o enraizamento da

atividade produtiva, o que pode ser comentado a partir do conteúdo das tabelas e do

gráfico seguintes.

A Tabela II.3 apresenta os valores agregados das compras e vendas realizadas

pelo conjunto da atividade industrial incentivada, no PIM, nos últimos 5 anos, de acordo

com a origem geográfica das transações (compras dos insumos ou faturamento com as

vendas). Nessa e nas tabelas seguintes, de acordo com terminologia utilizada pela

Suframa, 'Regional' é o espaço geográfico correspondente à Amazônia Ocidental,

'Nacional' abrange as transações ocorridas com os demais estados do território brasileiro

(afora os que compõem a Amazônia Ocidental) e 'Exterior' reúne os valores

correspondentes a transações efetuadas com outros países.

Page 46: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

32

A estratificação do dado por região geográfica é possível porque existem

mecanismos de controle informatizados, implementados pela Suframa, a partir dos quais

a autarquia monitora a entrada e saída de mercadorias incentivadas em toda a Amazônia

Ocidental, o que compõe parte de suas responsabilidades na fiscalização das operações

industriais.

TABELA II.3 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS AQUISIÇÃO DE INSUMOS E FATURAMENTO, POR ORIGEM

Valores em US$ milhões correntes Aquisição de Insumos Faturamento

Ano Regional (A)

Nacional (B)

Exterior (C)

Total (A+B+C)

Regional (D)

Nacional (E)

Exterior (F)

Total (D+E+F)

1999 811 938 2.141 3.890 1.111 5.729 375 7.215 2000 1.249 1.221 3.025 5.495 1.800 7.850 741 10.391 2001 1.215 1.041 2.701 4.957 1.682 6.619 829 9.130 2002 1.372 990 2.583 4.945 1.610 6.468 1.025 9.103 2003 1.777 1.076 3.223 6.076 1.909 7.396 1.224 10.529

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de SUFRAMA (2004a)

Segundo os dados disponíveis, a origem Regional dos insumos adquiridos por

todo o PIM iniciou com uma participação relativa de 20,8% das compras totais, em

1999, evoluindo até 29,2% em 2003, o que representa mais que o dobro, considerando

os valores absolutos correntes, do número inicial. A origem Regional de insumos parte

de uma posição inferior para superar, durante o período observado, as compras de

origem Nacional, uma diferença que, na comparação direta, em 2003, é superior a 65%.

As compras de origem Nacional regrediram de 24,1% para 17,7% do total de

aquisições, no período observado. As compras no exterior apresentam participação

percentual com alteração pouco significativa nos 5 anos, alcançando uma média de

53,9% das compras totais, e demonstrando uma grande dependência da indústria

incentivada em relação a insumos de origem externa. Isto dá margem à interpretação de

que houve um relativo deslocamento das compras globais do PIM, da origem Nacional

para a Regional, o que corresponderia a um maior número de interações locais, com

possíveis repercussões na dinâmica do ambiente industrial.

Por outro lado, ainda na Tabela II.3, a avaliação da dimensão do faturamento

indica um menor avanço na importância relativa da região como mercado para os

produtos do PIM. A evolução da participação do faturamento Regional, inicialmente

situada em 15,4% (1999), atinge 18,1% em 2003. No caso do Faturamento, o número

Page 47: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

33

mais significativo corresponde ao aumento das vendas para o mercado externo, em nível

equivalente a 226,4% no período, um dado que reflete ações de fomento às exportações

que vêm sendo implementadas pela Suframa em anos recentes.

As Tabelas II.4 e II.5, com estrutura similar à Tabela II.3, ressaltam os dados

correspondentes aos subsetores Eletroeletrônico e Duas Rodas, respectivamente. Na

avaliação comparativa dos dados apresentados nessas duas tabelas é possível encontrar

argumento adicional para justificar a escolha desses dois subsetores para a realização da

pesquisa.

TABELA II.4 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS SUBSETOR ELETROELETRÔNICO – AQUISIÇÃO DE INSUMOS E

FATURAMENTO, POR ORIGEM Valores em US$ milhões correntes

Aquisição de Insumos Faturamento Ano Regional

(A) Nacional

(B) Exterior

(C) Total

(A+B+C)Regional

(D) Nacional

(E) Exterior

(F) Total

(D+E+F)1999 382 472 1.521 2.375 446 3.372 129 3.947 2000 696 586 2.238 3.520 890 4.746 307 5.943 2001 665 456 1.909 3.030 763 3.681 472 4.916 2002 748 355 1.857 2.960 587 3.510 767 4.864 2003 948 270 2.435 3.653 727 4.208 875 5.810

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de SUFRAMA (2004a)

Embora com um crescimento significativo de 148% para o período, o subsetor

Eletroeletrônico apresenta um volume de apenas 22,1% de compras regionais, em

relação ao total de compras realizado pelo subsetor (Tabela II.4), um valor relativo

inferior ao desempenho agregado do PIM; o mesmo indicador, para o subsetor Duas

Rodas, corresponde a 45,4% (Tabela II.5).

Em termos comparativos, isto significa que as compras regionais têm o dobro de

representatividade relativa, em favor do subsetor Duas Rodas, quando seu desempenho

é confrontado com o do Eletroeletrônico. Embora situado em patamar inferior, o

faturamento com a venda de produtos para o mercado regional apresenta também um

quadro com características similares, com vantagem em favor do subsetor Duas Rodas:

23,8%, no período, contra 13,4% para o subsetor Eletroeletrônico.

Mas se o faturamento é dependente do tamanho do mercado, e o mercado do

PIM, conforme exposto, está em grande parte localizado na região sudeste do País, a

importância comparativa das compras locais ganha destaque. Os números percentuais

apresentados pelos dois subsetores sugerem uma diferença na intensidade das relações

Page 48: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

34

locais e, supostamente, do comportamento de seus agentes, o que potencializa distinções

na intensidade da inserção local.

TABELA II.5 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS SUBSETOR DUAS RODAS – AQUISIÇÃO DE INSUMOS E

FATURAMENTO, POR ORIGEM Valores em US$ milhões correntes

Aquisição de Insumos Faturamento Ano Regional

(A) Nacional

(B) Exterior

(C) Total

(A+B+C)Regional

(D) Nacional

(E) Exterior

(F) Total

(D+E+F)1999 321 204 193 718 289 737 44 1.070 2000 411 272 309 992 380 1.132 66 1.578 2001 434 283 272 989 399 1.080 74 1.553 2002 472 281 239 992 165 1.069 91 1.325 2003 594 346 284 1.224 525 1.184 138 1.847

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de SUFRAMA (2004a)

A evolução dos últimos 5 anos para esse dado está comparada no Gráfico II.1,

que resume o ponto relevante identificado na diferença de comportamento entre os dois

subsetores privilegiados, e é capaz de creditar ao Duas Rodas um maior nível de

integração local da atividade produtiva.

GRÁFICO II.1 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS INSUMOS DE ORIGEM

REGIONAL NAS AQUISIÇÕES TOTAIS

15,0

25,0

35,0

45,0

55,0%

PIM 20,8 22,7 24,5 27,7 29,2

Eletroeletrônico 16,1 19,8 21,9 25,3 26,0

Duas Rodas 44,7 41,4 43,9 47,6 48,5

1999 2000 2001 2002 2003

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SUFRAMA (2004a)

Aprofundar a compreensão das semelhanças e diferenças relativas às dinâmicas

que caracterizam esses dois subsetores, é uma forma de contribuir para o debate de

questões relacionadas à capacidade e enraizamento do próprio PIM.

Page 49: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

35

É evidente que a intensificação dos negócios realizados em um nível regional

pressupõe uma série de fatores que contribuem para uma maior inserção da indústria

local e, de modo associado, para a possibilidade de aceleração do aprendizado e da

capacitação.

De forma mais geral, pode ser dito que as capacitações técnica e gerencial –

incluindo um incremento na autonomia para decidir – tendem a ser ampliadas na

medida em que aumenta a intensidade das transações locais.

Um maior nível de compras de insumos só é possível se existirem fornecedores

instalados; esses fornecedores, em função do porte e exigências de desempenho

demandadas por seus clientes – vários deles empresas transnacionais – necessitam

atender a especificações e padrões de trabalho internacionais; isto leva à necessidade de

adotar, em seus procedimentos operacionais, práticas de classe mundial, com o

conseqüente desenvolvimento de mão-de-obra com maior nível de especialização; com

isso, as empresas envolvidas tenderiam a ampliar seu aprendizado, à medida de sua

inserção nas cadeias globais de manufatura.

Resumindo, há uma potencial influência do volume de transações regionais (aqui

representado através do somatório das aquisições e faturamento regionais comparado ao

somatório total das aquisições e faturamento) na dinâmica das relações locais, com

capacidade de causar, a partir da integração da atividade produtiva, uma repercussão

positiva pelo estabelecimento de maiores níveis de capacitação e aprendizado.

As interações entre os agentes, por sua vez, representam um elemento

importante para a capacidade competitiva em bases endógenas, um indicador da

sustentabilidade da atividade econômica de natureza industrial. A variedade e a

intensidade das interações podem ser determinantes para o avanço do aprendizado local,

o que justifica o aprofundamento na análise do seu comportamento, nos dois subsetores

principais.

A investigação para a compreensão da dinâmica das interações locais entre os

agentes desses dois subsetores, procurando explicitar suas semelhanças e diferenças é,

portanto, o ponto de partida para a delimitação do trabalho de pesquisa. Como o

interesse está voltado para a avaliação de um ambiente propício ao desenvolvimento

sustentável, a partir do aprendizado possível de ser ampliado pela integração local da

atividade produtiva, a perspectiva adotada é a das interações que tenham como

característica uma relação cooperativa.

Page 50: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

36

A cooperação, como uma importante – e valorizada – forma de interação,

portanto, é entendida como uma prática que potencializa a aceleração do aprendizado na

atividade econômica de natureza industrial, justificando a investigação de sua existência

(ou ausência). Entender o dinamismo da cooperação local, sua intensidade e natureza,

amplia a perspectiva de compreensão da capacidade da indústria incentivada de Manaus

em aprender e reagir, a partir de uma base autóctone, endógena, às pressões

competitivas.

II.2.2. OS ELEMENTOS DA PESQUISA.

É desejável que a agenda do desenvolvimento regional, no que diz respeito ao

futuro da atividade industrial, seja influenciada por projetos e programas que

privilegiem a aceleração do aprendizado frente à perspectiva de limitação temporal dos

incentivos fiscais.

A capacitação, em suas diversas formas, necessária ao desenvolvimento

sustentável, deve ser fomentada, e os gargalos para a sua ampliação, removidos. No

caso deste trabalho de pesquisa, o ponto de partida está colocado: a Zona Franca, na

perspectiva do desenvolvimento endógeno, a partir da robustez de seu desempenho

econômico, passou a ser tratada pela denominação Pólo Industrial. Caso esta mudança

esteja assentada em bases apropriadas, deveria corresponder a um maior enraizamento

da atividade produtiva, o que permitiria identificar algum reflexo na natureza das

relações entre os principais agentes que protagonizam esse desempenho econômico

superior.

Sendo a cooperação uma forma de interação cuja existência depende da

construção de um ambiente local e do fortalecimento de relações de confiança, os

esforços deste trabalho de pesquisa estão centrados no mapeamento e na comparação de

seus diferentes tipos e da variabilidade de sua ocorrência, uma vez que configuram uma

importante base para a compreensão da realidade focada.

II.2.2.1. DAS QUESTÕES INICIAIS.

O trabalho de pesquisa foi conduzido de modo a contribuir para responder às

seguintes questões: "Existem interações cooperativas em nível significativo entre as

empresas na atividade industrial de Manaus? Qual a sua intensidade e natureza? A

partir de uma perspectiva evolutiva, é possível identificar uma trajetória para seu

comportamento? Que implicações podem ser preliminarmente creditadas a essas

Page 51: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

37

interações cooperativas – ou sua ausência – no que diz respeito à continuidade da

atividade industrial, em um eventual futuro sem incentivos fiscais?".

A cooperação, dependendo de sua natureza e intensidade, é aqui entendida como

uma prática – não suficiente, evidentemente – que favorece e influencia o

desenvolvimento de uma cultura própria para um ambiente local. Ao fortalecer uma

identidade, o ambiente permite ser individualizado quando de sua exposição

comparativa perante outros ambientes.

Para que exista, a cooperação demanda o estabelecimento de um nível mínimo

de confiança entre os agentes e, na medida em que esta se consolida, estimula o

aprofundamento das relações entre eles, uma condição essencial ao pretendido

enraizamento da atividade produtiva.

Entender a perspectiva institucional da cooperação no PIM é uma tarefa que

pode proporcionar uma maior compreensão da capacidade local para priorizar

problemas, encaminhar soluções e compartilhar aprendizados, o que reforça as bases de

competência para coletivamente reagir às pressões externas (inclusive as de natureza

fiscal) que ameacem a sustentabilidade econômica.

II.2.2.2. DOS OBJETIVOS ESTABELECIDOS.

Portanto, para buscar respostas às questões apresentadas, estabeleceu-se o

seguinte objetivo geral: "Identificar as formas de cooperação praticadas por empresas

da aglomeração industrial de Manaus e suas possíveis implicações para uma dinâmica

do aprendizado".

A realização do objetivo principal será buscada por meio de seu desdobramento

nos seguintes objetivos específicos:

1. Identificar as formas de cooperação praticadas pelas empresas dos

subsetores Eletroeletrônico e Duas Rodas da aglomeração industrial de Manaus;

2. Avaliar as formas de cooperação identificadas quanto à natureza e

intensidade;

3. Identificar possíveis relações entre a prática local da cooperação (ou a

ausência dela) e o estabelecimento de uma dinâmica do aprendizado.

Considerando a problemática descrita, a seleção do conjunto de objetivos

apresentados assenta-se na lógica da existência de relações causais entre

sustentabilidade, competências (aprendizado), enraizamento, interações cooperativas,

confiança etc.

Page 52: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

38

Por outro lado, é importante ressaltar que não se pretende o estabelecimento de

uma estrutura linear, unidirecional, para as relações causa-efeito entre esses diversos

elementos. Não é difícil perceber que a complexidade das relações pode ir além,

incluindo a possibilidade de influências recíprocas (cooperação aumentando a

confiança, que por sua vez volta a estimular a cooperação, para citar apenas um

exemplo).

II.2.2.3. DA HIPÓTESE.

Como hipótese de trabalho a ser testada, lança-se mão dos dados anteriormente

apresentados, que permitem identificar diferenças entre os dois subsetores selecionados,

quanto à intensidade das relações no mercado local, a partir da seguinte assertiva:

"Embora em grande parte circunscritas em um mesmo espaço geográfico, em Manaus,

empresas de diferentes subsetores da atividade industrial incentivada utilizam-se de

intensidades e práticas de cooperação distintas, sugerindo a possibilidade de existência

de diferentes dinâmicas de aprendizado, com implicações particulares para o

enraizamento da atividade industrial".

O arcabouço conceitual que permite o tratamento da problemática contida nos

elementos da pesquisa, dando suporte ao trabalho de investigação, está apresentado no

capítulo III, a seguir.

Page 53: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

39

III. COOPERAÇÃO EM AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS – UM

INSTRUMENTAL ANALÍTICO.

Modernamente entendida como um atributo associado a ambientes industriais

mais evoluídos, considerando o seu potencial para impulsionar a capacidade

competitiva, a cooperação é aqui apresentada como objeto central da pesquisa.

Identificar a existência de cooperação na Zona Franca de Manaus (ZFM), sua

tipologia e intensidade, é uma forma de aprofundar a discussão da inserção local da

indústria incentivada que surgiu em conseqüência desse modelo de desenvolvimento. O

gerenciamento de operações produtivas mais complexas e a maior agregação local de

valor demandam uma maior inserção dos agentes produtivos no ambiente, fortalecendo

o aparato institucional que, com base em relações de confiança e no estabelecimento de

uma identidade própria, dá suporte e estimula o aprendizado e, em conseqüência, o

potencial para desenvolver e aplicar o conhecimento, uma condição necessária à

sustentação do desenvolvimento econômico no longo prazo.

Caso a cooperação seja uma prática estabelecida em níveis significativos, isto

amplia os argumentos que permitem entender a adoção do termo Pólo Industrial de

Manaus (PIM) não apenas como uma aspiração ou um simples – ainda que importante –

esforço de marketing. Mais que isto, refletiria uma base efetiva, real, sobre a qual

poderia ser construído o desenvolvimento sustentável, na hipótese não improvável de

um futuro sem incentivos fiscais.

Por este motivo, a cooperação, considerando o contexto em que se insere este

trabalho de pesquisa, não deve ser entendida como um fim em si mesma. Ao contrário,

pode ser considerada um instrumento que, aliado a outros conceitos que lhe confiram

sentido e propriedade, apresenta um maior espaço de contribuição para a descrição do

ambiente local, ampliando as alternativas e oportunidades de intervenção que incluem –

sem restringirem-se a – a formulação de políticas de interesse público.

É com essa intenção que o aparato conceitual foi estruturado, tendo como ponto

de partida a literatura que analisa o tema das aglomerações industriais, ressurgido com

muita ênfase especialmente a partir da década de 1990, com a nova geografia

econômica e, paralelamente, a impulsão tomada pelo conceito de cluster.

Na vasta literatura associada ao tema, identificou-se o conceito de eficiência

coletiva como uma alternativa que propicia uma forma objetiva de entender a dinâmica

da cooperação em um cluster.

Page 54: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

40

Além destes, e por peculiaridades do ambiente local em Manaus, algumas das

quais já introduzidas nos capítulos iniciais, são ainda apresentadas referências

complementares, relacionadas às questões de governança, confiança e inserção, que

apresentam potencial de uso para a análise e reflexão posterior, neste mesmo trabalho,

sobre os resultados e alguns de seus possíveis desdobramentos.

Os autores e conceitos selecionados são apresentados no conteúdo exposto nas

demais seções deste capítulo.

III.1. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO: CONCEITOS E

IMPLICAÇÕES.

Interpretar e, de alguma forma, interferir no crescimento e desenvolvimento

econômicos de uma determinada região têm exigido um contínuo esforço de

pesquisadores e formuladores de políticas públicas para gerar abordagens conceituais

que sejam, por um lado, de cunho genérico, para serem aplicadas em diferentes

realidades, permitindo análises comparativas que subsidiem a implementação de

melhorias, mas ao mesmo tempo precisas o suficiente para capturarem características

intrínsecas – e por vezes singulares – que justamente conferem identidade própria a uma

realidade particular.

Alcançar ambos os predicados não aparenta ser uma tarefa fácil. E os esforços

para contemplá-los apontam para pelo menos duas tendências em estudos e pesquisas

realizados com esse propósito: a crescente multidisciplinaridade das abordagens

relacionadas à análise de uma determinada economia regional – que será tratada um

pouco adiante, nesta mesma seção – e a valorização dos aspectos qualitativos a ela

associados.

Em relação a esta última – a maior importância que tem sido conferida aos

aspectos qualitativos – é uma tendência apontada pelo menos desde a última década do

século passado (ver MALECKI, 1991). E é a constatação desse fato que impõe a

necessidade de se compreender, inicialmente, a distinção entre os conceitos de

crescimento e desenvolvimento econômico.

A análise comparativa entre crescimento e desenvolvimento é uma discussão

freqüente na literatura que trata do desenvolvimento urbano e regional. Apesar disso, é

comum que os teóricos limitem-se a apresentar um conjunto de elementos que descreva

cada um dos dois fenômenos. Tarefa muito mais árdua – e rara – é arriscar-se a

Page 55: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

41

explicitar conceitos que abranjam e integrem as idéias vigentes com grau de sucesso

suficiente para sobrepujar a crítica e alcançar a aceitação.

Crescimento econômico é algo comumente relacionado a números, aos aspectos

quantitativos, enquanto desenvolvimento econômico tem sido atrelado à dimensão

qualitativa, algo (às vezes até implicitamente) relacionado a mudanças estruturais.

Embora, em termos de demanda por recursos, crescimento e desenvolvimento possam

ser competidores no curto prazo, em casos bem sucedidos tendem a ser complementares

quando se objetiva o longo prazo.

O crescimento é apresentado como uma condição essencial, embora insuficiente,

para o desenvolvimento. Isto se justifica pelo fato de que, se mal manejado, poderá não

resultar em inclusão social (HADDAD, 2001). Quando adequadamente incorporados

seus resultados, o crescimento econômico pode gerar os recursos necessários à

promoção do desenvolvimento que, por sua vez, proporciona novas estruturas técnicas,

organizacionais, comportamentais ou legais que facilitam o crescimento (MALIZIA e

FESER, 1999, p. 21). É uma relação de estímulo de via dupla.

Resumindo, o crescimento incrementa os resultados, mobilizando mais recursos

e utilizando-os de forma mais produtiva; o desenvolvimento muda a combinação dos

resultados, empregando recursos locais para proporcionar diferentes tipos de trabalho

(MALIZIA e FESER, op. cit.).

Outra distinção presente na literatura especializada é a que associa o termo

crescimento a economias e regiões ricas – uma vez que essas já seriam "desenvolvidas"

– e desenvolvimento a países e regiões pobres.

Esse conjunto de característicos é apropriado – e suficiente – para expressar o

significado que se quer conferir ao termo desenvolvimento econômico no escopo deste

trabalho, em que se busca observar a presença (ou ausência) de fatores relacionados a

mudanças estruturais na realidade econômica da indústria incentivada em Manaus.

Apensos ao substantivo desenvolvimento, também têm sido utilizados neste

texto alguns adjetivos que merecem igual atenção.

Local refere-se a um espaço geográfico que, embora nem sempre explicitamente

determinado, facilita as interações face a face em conseqüência das distâncias limitadas,

e cujos agentes nele circunscritos apresentam uma ou mais características comuns que

auxiliam na composição de sua identidade. Na maioria das vezes, quando diretamente

relacionado à problemática da pesquisa, diz respeito ao ambiente industrial de Manaus.

Page 56: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

42

Quando esta segunda situação ocorre, procurou-se fazer com que o próprio contexto em

que se insere permita a interpretação deste sentido.

Como regra geral, Regional é um termo aqui utilizado de forma associada à idéia

genérica de região como um espaço sub-nacional. Para outros significados, menos

freqüentes, refere-se à Amazônia Ocidental, que corresponde à área de abrangência dos

projetos sob a supervisão da Suframa, ou à Amazônia como um todo, mas nesses casos

também valeu-se do próprio contexto em que se insere, para que corresponda à

interpretação pretendida.

Endógeno é utilizado no sentido de que a ênfase está na mobilização de recursos

latentes privilegiando-se esforços "de dentro para fora". Não é empregado, aqui,

associado à naturalidade (local de nascimento), mas sim a localidade. Traduz-se na

capacidade de organização da sociedade de uma região, proporcionada pela

configuração de um ambiente político-institucional apropriado, de conformar o seu

futuro (HADDAD, 2001, p. 6 e seguintes).

Sustentável talvez seja o adjetivo de mais difícil delimitação. Não faz parte do

objetivo deste trabalho aprofundar uma discussão sobre a sustentabilidade do

desenvolvimento. Ademais, os próprios especialistas atestam a dificuldade de se

explicitar um conceito apropriado (BEBBINGTON, 2001; MALIZIA e FESER, 1999).

A sustentabilidade é um predicado para desenvolvimento muitas vezes colocado

(e algumas vezes arraigadamente subentendido) em contraposição a crescimento

econômico. Supostamente, esse fato está vinculado à idéia de que a evolução nos

padrões de consumo dos países desenvolvidos corresponde a um crescimento

econômico sem limite previsível, o que impõe uma maior demanda global por recursos,

mesmo a despeito de eventuais ganhos de produtividade.

Em seu nascedouro, o conceito de sustentabilidade esteve especificamente

atrelado à preocupação com a sustentabilidade ambiental, à qual, mais recentemente, foi

acrescentada a questão da eqüidade social7. Portanto, de uma forma ampla,

sustentabilidade diz respeito a levar em consideração o impacto da dinâmica econômica

sobre as pessoas e a natureza.

7 Um marco dessa mudança, e talvez o conceito mais conhecido para desenvolvimento sustentável, é o exposto no Relatório Brundtland (Delegação Mundial das Nações Unidas sobre Meio-ambiente e Desenvolvimento, 1987): "development which meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs", uma definição tão conhecida quanto difícil de operacionalizar. Para aprofundar uma compreensão sobre a questão, ver BEBBINGTON (2001).

Page 57: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

43

O fato é que a idéia de sustentabilidade tem ocupado cada vez mais espaço na

agenda econômica, deixando de ser um atributo de um desenvolvimento "alternativo"

(no sentido quase romântico empregado para caracterizar a possibilidade de

comunidades desenvolverem-se à parte de uma economia globalizada) para incorporar-

se à própria corrente principal do pensamento econômico sobre desenvolvimento (ver

PIETERSE, 1998).

Para o propósito deste trabalho, todavia, a conotação na qual o termo sustentável

é empregado está associada à idéia de continuidade, à propriedade que o

desenvolvimento de uma economia relacionada a um determinado espaço geográfico

tem de gerar e manter vantagens comparativas em uma perspectiva continuada, a partir

da demonstração de uma capacidade adquirida para enfrentar pressões competitivas no

mercado. Isto implica em ser capaz de adaptar as atividades econômicas atuais a novas

demandas ou mesmo criar novas atividades (negócios) em áreas eventualmente ainda

não exploradas pela atividade econômica local, a partir do uso de sua capacidade

empreendedora e do conhecimento acumulado.

Entende-se que localidade, endogenia e sustentabilidade, nos sentidos que aqui

lhe são conferidos, são importantes elementos relacionados ao contexto econômico e à

problemática tratados.

Ao focar a dimensão qualitativa, o conceito de desenvolvimento permite que a

indicadores quantitativos mais tradicionais, como PIB, renda, número de empregos e

concentração, sejam acrescidos tipos de empregos gerados, perfil de competências

desenvolvidas, estabelecimento de uma capacidade empreendedora para iniciar novas

atividades econômicas, práticas usualmente adotadas para maximizar o benefício

internalizado na própria região, todos eles presentes com freqüência crescente em

estudos mais abrangentes relacionados ao tema. Isto corrobora o fato de que a atenção

não deva estar voltada apenas ao crescimento, mas que também seja considerada a

devida importância às forças que impedem ou permitem que esse crescimento ocorra

(MALECKI, 1991, p. 7), uma perspectiva que certamente enriquece a compreensão da

realidade, qualificando a análise e, de modo associado, a tomada de decisão.

Além do privilégio aos aspectos qualitativos, fez-se referência, anteriormente, a

uma segunda tendência na abordagem do desenvolvimento, que diz respeito à

característica cada vez mais multidisciplinar de seu estudo, lançando mão de conceitos e

conhecimentos originalmente desenvolvidos em distintas áreas. Às tradicionais

inserções em subáreas da economia (como as economias regional e internacional, por

Page 58: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

44

exemplo), somam-se contribuições advindas da geografia, política, sociologia e

psicologia – para citar algumas – o que apenas corrobora o aumento no grau de

complexidade da análise.

III.2. A NATUREZA LOCALIZADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO E

AS AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS.

O fato de o crescimento econômico ser localizado é uma verdade conhecida e

historicamente explorada por vários teóricos da área do desenvolvimento, dentre os

quais citam-se François Perroux, Gunnar Myrdal, Albert Hirschman e John Friedmann,

cujas idéias costumam ser referidas sob o rótulo de teorias da concentração espacial.

Esse é um fenômeno que remete ainda ao final do século XIX, quando foi

introduzido por meio da obra precursora – e hoje clássica – Principles of Economics,

publicada em 1890 por Alfred Marshall.

A partir de observações realizadas nos setores têxtil e metalúrgico na Inglaterra,

Alemanha e França, Marshall apontou três vantagens proporcionadas pela concentração

espacial de empresas, posteriormente associadas ao termo Trindade Marshalliana:

desenvolvimento de um mercado para trabalhadores com habilidades especializadas;

fornecimento local de insumos e serviços em grande variedade e a custos menores e

disseminação mais rápida de invenções e melhorias (MARSHALL, 1920, apud

KRUGMAN, 1991, p. 36-7).

A influência do trabalho de Marshall atravessou o século XX e permanece

grande até os dias de hoje. Eventualmente, as vantagens apontadas por ele podem ser

tratadas e estudadas, na literatura especializada, com o uso de uma linguagem mais

moderna. Por exemplo, criação de recursos especializados, upgrading de fornecedores e

impacto na difusão de novas tecnologias (van KLINK e de LANGEN, 2001, p. 450).

Sob a abordagem clássica, a concentração espacial de empresas justifica-se em

virtude dos maiores retornos que é capaz de proporcionar ao capital, fundamentalmente

porque (i) existem custos que conspiram contra a negociação realizada à distância,

motivando a escolha de locais, para a produção, onde a demanda é maior ou o

abastecimento de matéria-prima é particularmente conveniente e (ii) a produção

concentrada proporciona economias de escala (KRUGMAN, 1991, p. 98).

Esses dois argumentos combinam-se no estabelecimento da seguinte lógica:

economias de escala forçam a produção a se concentrar em um número limitado de

locais; por causa dos custos associados ao ato de negociar à distância, os locais

Page 59: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

45

preferidos por cada fabricante são aqueles nos quais a demanda é grande ou em que o

fornecimento de insumos é particularmente conveniente, e estes em geral já são (ou

passam a ser) locais também escolhidos por outros fabricantes.

A continuidade do processo faz surgir, então, uma aglomeração, um termo de

maior uso nos anos recentes, comparativamente a "concentração". Do espaço geográfico

que delimita a aglomeração nenhuma empresa deseja sair, para assim usufruir as

vantagens alcançadas. Atingido um determinado ponto, o ciclo praticamente se

estabiliza, pois as atividades tendem a agrupar-se nos locais em que os mercados são

maiores e os mercados tornam-se maiores onde as atividades agrupam-se. Uma vez

estabelecida a aglomeração, ela tenderia a se manter (KRUGMAN, op. cit., p. 98).

O retorno recente do tema aglomeração à cena do debate econômico, após um

período em plano relativamente secundário, é creditado por alguns autores à

contribuição do economista Paul Krugman, em virtude de seu esforço para explicar a

natureza localizada do crescimento econômico (SCHMITZ, 1997, p. 6; HELMSING,

2001, p. 278).

Krugman define geografia econômica como sendo a "locação da produção no

espaço", defendendo que é possível compreender a diferença nas taxas de crescimento

dos países e a especialização internacional a partir da investigação das diferenças no

crescimento regional e na especialização local (KRUGMAN, 1991, p. 3). Seu trabalho

tem o mérito de introduzir a discussão das externalidades econômicas em um modelo de

competição imperfeita, o que é uma evolução, se for considerado que até então

predominavam os estudos baseados em ambiente de competição perfeita. Essa evolução

proporcionada à tradicional teoria da localização acabou por caracterizar uma nova área

de estudos na economia, cunhada pelo termo nova geografia econômica (new economic

geography) por seu autor (ver KRUGMAN, 1998), ou economia geográfica

(geographical economics), como sugerem alguns de seus mais destacados estudiosos

(ver FUJITA e THISSE, 1996).

Na literatura de desenvolvimento urbano e regional, as externalidades

econômicas explicam os benefícios alcançados por uma empresa pelo simples fato de

tomar parte em uma aglomeração (industrial ou de outras atividades) em locais

particulares. Também podem ser denominadas economias de aglomeração e

proporcionam economias em decorrência de redução nos custos ou de aumento na

produtividade para empresas individuais. São referidas como "efeitos secundários" da

atividade de um produtor sobre a de outro (MALIZIA e FESER, 1999, p. 95-6).

Page 60: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

46

A literatura especializada oferece ainda a distinção de dois tipos específicos de

economias de aglomeração: (i) economias de localização, ou reduções de custo para

empresas de uma dada indústria que resultaram da concentração espacial do setor; e (ii)

economias de urbanização, ou reduções de custo para todas as empresas em uma dada

localização, que ocorrem quando a atividade econômica em geral se expande naquele

local (MALIZIA e FESER, op. cit., p. 96; BELLEFLAMME et al., 2000, p. 159).

Externalidades econômicas passam a existir somente quando os custos ou

benefícios privados não se igualam aos custos ou benefícios sociais. Se os benefícios

sociais são maiores que os benefícios privados, fica configurada a ocorrência de

externalidades econômicas positivas, situação na qual os agentes econômicos não

conseguem capturar no preço de seu produto todas as vantagens proporcionadas por seu

investimento. Alguns resultados desse investimento "transbordam" (de modo

involuntário, incidental) e acabam sendo capturados por outros agentes.

Uma outra classificação associada a externalidades econômicas é aquela

creditada a Tibor Scitovsky, que distingue externalidades pecuniárias, que

correspondem aos benefícios das interações econômicas no mercado mediadas pela

formação de preço, de externalidades tecnológicas, que dizem respeito a interações não-

mercadológicas que afetam a utilidade percebida por um indivíduo ou a função de

produção de uma empresa (SCITOVSKY, 1954, apud MEARDON, 2001, p. 39). Essa é

uma distinção que pode proporcionar um melhor foco ao analista de uma determinada

realidade econômica, considerando a contribuição cada vez mais significativa

proporcionada pela tecnologia para a dinâmica econômica, um fato que se reflete na

ausência das externalidades pecuniárias como um objeto significativo de análises

econômicas recentes (MALIZIA e FESER, 1999, p. 95).

Por outro lado, algumas abordagens ressaltam que as externalidades tecnológicas

que surgem das interações pessoais são mais importantes para aglomerações de pequena

escala. Para explicar aglomerações de larga escala, entretanto, deveriam ser observadas

outras externalidades tecnológicas, cuja efetividade não se deteriora tão rapidamente

com a distância, ou alternativamente, as externalidades pecuniárias (OTTAVIANO e

PUGA, 1998, p. 708), ou ainda ambas, trabalhando juntas (ver FUJITA e THISSE,

1996). Isto é algo a ser considerado em análises que sejam feitas sobre a atividade

industrial em Manaus, conforme sugere a apresentação do perfil das empresas, em

capítulo à frente.

Page 61: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

47

Na discussão de externalidades econômicas, um ponto a ser destacado é a

conotação de incidentalidade que lhes é associada, por vezes apontada como uma

limitação na utilização ampla do conceito para a promoção do crescimento econômico.

A busca intencional – em contraponto à incidental – de relações entre empresas e

pessoas é cada vez mais ressaltada como um importante instrumento para a melhoria de

desempenho de aglomerações (ver SCHMITZ, 1997 e NADVI, 1997). Considerando a

relação direta entre intencionalidade e a idéia de cooperação, e a posição central que

esta última ocupa no foco deste trabalho, o tema será explorado com mais acuidade um

pouco adiante, quando da apresentação dos conceitos de ação conjunta e eficiência

coletiva, ainda neste capítulo.

Além de Krugman, outro economista a ter reconhecida a importância de sua

contribuição para a recondução do tema aglomerações ao centro do debate econômico é

Michael Porter. A visão desse autor, ao mesmo tempo em que ressalta a importância de

uma competição forte no mercado interno como um fator de sucesso para desenvolver

vantagens competitivas capazes de possibilitar a conquista de novos espaços em

acirrados mercados, aponta que essa competição modernamente ocorre entre as

aglomerações industriais, em substituição – ou complemento – à visão tradicional da

competição estabelecida apenas entre as empresas individuais (ver PORTER, 1990).

Para uma empresa individual, conseqüentemente, alcançar espaços em novos

mercados, mais competitivos, é uma tarefa que exigiria, além da sua própria eficiência

produtiva, uma produtividade adequada do ambiente (aglomeração) em que se insere.

Isto induz ao raciocínio de que o desenvolvimento econômico de uma região

deve ser em parte creditado à capacidade de articulação dos diversos atores que a

constituem, um argumento a mais a corroborar a importância da análise de

aglomerações a partir de um enfoque qualitativo.

No caso da literatura sobre economias de aglomeração é possível identificar uma

mudança no foco dos estudos, que anteriormente privilegiavam principalmente os

benefícios proporcionados pelos tamanhos urbano e da indústria, e mais recentemente

têm conferido maior ênfase às sinergias entre empresas espacialmente próximas

(MALIZIA e FESER, 1999, p. 96). De um certo modo isto expõe uma aparente

contradição e demanda um esforço para a tarefa de compreender e explicar a dinâmica

econômica e o sucesso de empresas e regiões: paralelamente ao fenômeno de

intensidade crescente da globalização econômica, tem ocorrido uma maior valorização

dos aspectos locais.

Page 62: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

48

Mas essa mesma literatura tem utilizado o termo "aglomeração" de forma ampla,

para corresponder a diferentes fenômenos do mundo real e, portanto, aos mais diversos

arranjos de empresas. No intuito de melhor utilizar a sua potencialidade, em função do

objetivo já explicitado de aprofundar uma capacidade de interpretar a realidade local,

foram analisados e explorados outros conceitos disponíveis, relacionados à dinâmica de

aglomerações, resultando no conjunto apresentado no restante deste capítulo.

É evidente que o resultado assim alcançado é fruto da percepção pessoal do

autor quanto a uma expectativa de utilidade dos conceitos selecionados para a tarefa de

compreender um processo particular de interesse, sob os vieses da abrangência e

perspectiva de longevidade da aglomeração industrial de Manaus, uma escolha que,

certamente, não está isenta de juízo de valor.

III.3. CLUSTERS E A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO.

A partir do que foi discutido na seção anterior, torna-se compreensível o tempo

que os formuladores de políticas para o desenvolvimento econômico têm dedicado para

entender o fenômeno das aglomerações, sua dinâmica de funcionamento e os

mecanismos que impulsionam sua evolução.

No caso brasileiro, a utilidade da análise das aglomerações pode ainda ser

reforçada por algumas dificuldades impostas pelas características da economia do País,

tais como a heterogeneidade das diferentes dinâmicas econômicas regionais, que

dificulta a integração econômica, e a diversidade político-ideológica, que conjuntamente

contribuem para a ausência de uma política industrial de alcance nacional, e acabam por

configurar um cenário apropriado para a ocupação de espaços por políticas que atendam

demandas locais e regionais (SUZIGAN, 2001, p. 28).

Não será por restrições de terminologia que o desenvolvimento regional deixará

de ser promovido. Diversos conceitos relacionados à análise de aglomerações

industriais resultaram no surgimento de um variado menu: distritos industriais, pólos

industriais, complexos industriais, cadeias de valor, análises setoriais e clusters, para

citar apenas alguns dos mais disseminados.

Na opção aqui realizada, entende-se que a abordagem por clusters apresenta

algumas vantagens em relação a outras opções. Especialmente se comparada à análise

econômica tradicional de um setor industrial, apresenta uma maior potencialidade

quando o interesse principal refere-se à dinâmica das interações entre os agentes. Isto

Page 63: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

49

permite que sejam contemplados os já referidos aspectos qualitativos, essenciais à

compreensão da influência dessas interações na promoção da cooperação e,

eventualmente, as possíveis conseqüências em termos de repercussões no nível da

estrutura institucional de apoio. Além disso, apresenta uma flexibilidade maior para

tratar diferentes níveis de aglomerações, em distintos estágios de desenvolvimento,

contrariamente ao conceito de distritos industriais, por exemplo, relacionado a

aglomerações de empresas de menor porte e que já pressupõe maiores níveis de

especialização, de divisão do trabalho e a existência de intensas relações de cooperação.

Deve ser ressaltado que o termo cluster é utilizado neste trabalho como uma

forma reduzida de referir-se a um cluster de empresas industriais8. Optou-se pelo uso da

palavra cluster em sua grafia original, em virtude de suas amplas disseminação e

aceitação em nosso País.

A referência pioneira utilizando cluster sob o ponto de vista da análise

econômica é creditada a Joseph Schumpeter, embora o sentido original que esse autor

conferiu ao conceito não abrangesse todas as características que hoje lhe são atribuídas

(MARCEAU, 1994, p. 4).

Modernamente, talvez o principal impulso para a popularização da abordagem

por clusters deva-se a Michael Porter, que aliou o conceito a estudos sobre a

competitividade de empresas (ver PORTER, 1990).

Na medida em que a prosperidade de regiões cujas economias estruturam-se ao

redor de clusters foi descrita em estudos, a divulgação dessas realidades provocou um

crescente interesse de governos nacionais e regionais pelo fenômeno, influenciando a

formulação de políticas públicas. Em um grande número de países, autoridades em

todos os níveis têm, então, mobilizado recursos para favorecer processos que estimulem

– e remover obstáculos que impeçam – a "clusterização" (clustering) (CHORINCAS et

al., p. 43-4).

Inicialmente, deve ser destacado que a própria variedade de terminologias

associadas a cluster é algo que necessita ser observado com atenção. Levantamento

circunscrito a estudos realizados em países que fazem parte da Organisation for

Economic Co-operation and Development (OECD), contabilizou os seguintes termos

sendo utilizados como sinônimos para cluster: rede de produção, rede de inovação, rede

8 Em sua forma mais geral, no que diz respeito à atividade econômica, o termo cluster pode referir-se à aglomeração de qualquer tipo de organização ou recurso. É uma palavra que também encontra uso

Page 64: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

50

de interação, rede de cooperação, distrito industrial Marshalliano, cadeia de produção,

cadeia de inovação, cadeia de cooperação, fluxos de conhecimento interindústria, cadeia

de valor e sistema de inovação, para citar apenas os mais familiares, de uma lista ainda

mais longa (ROELANDT e den HERTOG, 1999a, p. 16).

A diversidade na aplicação prática do conceito, no que tange à inexistência de

uma corrente dominante, também é algo a ser comentado. Existem diferentes níveis em

que análises de aglomerações são realizadas, distintas metodologias utilizadas pelos

países, variações no grau em que políticas baseadas em cluster foram implementadas,

incluindo uma variedade de instrumentos utilizados nessa implementação (ROELANDT

e den HERTOG 1999b, p. 413).

E cabe aqui ressaltar uma questão associada à literatura produzida nos países

desenvolvidos. A utilização do conceito de cluster para o estímulo à aquisição e

manutenção de vantagens competitivas por aglomerações industriais é algo que, nesses

países, está ligado à questão da atualidade tecnológica, o que de forma direta coloca em

evidência uma preocupação quanto à capacidade de inovar. Assim, muitos desses

estudos concentram seus esforços na tentativa de identificar processos de inovação e

estimular a sua ocorrência em nível institucional.

A importância conferida à dinâmica da mudança tecnológica para o sucesso de

políticas de desenvolvimento econômico é algo presente na literatura especializada há

algum tempo (ver, por exemplo, MALECKI, 1991). Utilizar a inovação como alvo

principal de uma tal política, no caso de países em desenvolvimento, requer cautela

adicional, justamente porque alguns elementos da dimensão institucional que

caracterizam esse processo podem não estar presentes na dinâmica econômica

representada pelo cluster, o que poderia implicar na frustração de objetivos não

alcançados, ou na desproporcional utilização de recursos (aí incluída a variável tempo)

para obter os resultados desejados.

Para o caso da aglomeração industrial de Manaus, o interesse aqui manifestado

não é, inicialmente, o de identificar processos de inovação ou precipitar a

implementação mais imediata de uma política que a tenha como foco. Preliminarmente,

a intenção é avançar na compreensão do arcabouço institucional existente, por meio da

investigação do nível de cooperação entre os agentes. Entende-se que essa melhor

compreensão implicará em uma maior capacidade de refletir sobre as limitações da

disseminado em outras áreas do conhecimento, como a ciência da computação, a astronomia e até a medicina.

Page 65: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

51

estrutura real em sua relação com o desenvolvimento econômico pautado em elementos

endógenos, proporcionando informações adicionais para a qualificação da tomada de

decisão por parte de gestores, sejam eles da esfera governamental ou de empresas

privadas.

Os relatos de estudos oferecem evidências de que a sustentação continuada de

um desenvolvimento econômico – pelo menos de uma economia que esteja integrada

(aberta) a mercados mais exigentes – é algo que não prescinde da capacidade de inovar.

E isto não está sendo colocado em discussão. O enfoque aqui adotado, todavia,

privilegia uma compreensão prévia da base sobre a qual uma política de interesse

público que tenha a inovação como um de seus objetos pudesse estar apoiada. Uma

argumentação para isto é que a realidade local, atrelada a uma região menos favorecida

de um país em desenvolvimento, difere substancialmente da realidade de países em que

foram concebidos e são utilizados conceitos como sistemas nacionais, regionais e locais

de inovação, que se valem de abordagens ex-post (LUNDVALL et al., 2002). Na

problemática local, a experiência pessoal do autor aponta justamente para a inexistência

de um sistema, o que afeta o escopo de políticas para o desenvolvimento que se

pretenda formular, aí incluído o horizonte para sua implementação.

Estabelecida essa premissa, convém, então, discutir o que caracteriza um cluster.

Cluster é um fenômeno multidimensional, cujo entendimento tem recebido

contribuições realizadas por profissionais de diferentes áreas do conhecimento. Alguns

deles defendem que uma abordagem integrativa para o fenômeno deveria considerar a

literatura que não inclui explicitamente o termo cluster, especialmente se o objeto de

estudo são as condições para a ocorrência da aproximação espacial, a "clusterização"

(STEINLE e SCHIELE, 2002).

Em geral, as contribuições dos diferentes estudiosos podem ser classificadas em

quatro linhas principais de trabalho (SCHMITZ, 1999, p. 1629; CASSIOLATO e

LASTRES, 2001, p. 2):

1) nova corrente do pensamento econômico, que focaliza os retornos crescentes

proporcionados pelas economias de aglomeração, da qual Paul Krugman é o precursor e

principal representante;

2) economia de empresas, liderada por Michael Porter, que aborda a vantagem

competitiva na economia globalizada como dependente de um conjunto de fatores locais

relacionados ao dinamismo da indústria;

Page 66: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

52

3) ciência regional, especialmente a partir do estudo dos distritos industriais

italianos, valorizando a região como sendo um espaço de relações não-comerciais

interdependentes e

4) a literatura sobre desenvolvimento tecnológico, ao ampliar o estudo da

dinâmica da inovação, da perspectiva da empresa individual para o aprendizado pela

interação (learning by interacting), incluindo o desenvolvimento de conceitos como

sistemas nacional e regional de inovação.

A apresentação dessa classificação, complementando uma visão introdutória

sobre o tema, não tem intenção que vá além de reforçar a idéia da heterogeneidade de

abordagens baseadas em cluster. Uma amostra das definições que exemplificam essa

heterogeneidade é explorada a seguir.

III.3.1. DIFERENTES DEFINIÇÕES PARA CLUSTER.

A extensão da literatura relacionada ao tema, se por um lado dissemina e

populariza uma compreensão mais ampla sobre o sentido conferido ao termo cluster,

por outro torna difícil a convergência para um conceito único, compreensível, que

abranja cada uma das características valorizadas pelos diferentes enfoques e, por isto

mesmo, alcance aceitação e uso universais.

Nesse campo, a diversidade é quase tão pródiga quanto o número dos autores

que militam no tema, sendo que cada um deles procura dar foco às particularidades que

com mais propriedade atendam aos interesses de seu objeto de estudo. Aliado a isso, é

também reconhecido um certo dinamismo para o conceito, pois à medida da

disseminação de seu uso, o próprio significado conferido a cluster tem notadamente

sido ampliado (MALIZIA e FESER, 1999, p. 95).

Por esse motivo, torna-se necessário dedicar maior atenção ao aprofundamento

de um significado para o termo, de modo a aumentar a precisão da interlocução. Na

alternativa aqui adotada, optou-se pela apresentação de conceitos de diferentes autores,

na tentativa de, posteriormente, abstrair os fundamentos que sejam úteis ao propósito da

pesquisa.

A observação mais básica que pode ser apresentada é a de que um cluster é um

tipo de aglomeração com determinadas particularidades. Os resultados proporcionados

por uma aglomeração, apenas em virtude da proximidade espacial dos que a compõem,

não caracterizam a obtenção da clusterização ou "efeito cluster" (van KLINK e de

LANGEN, 2001, p. 451).

Page 67: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

53

Uma definição bastante disseminada é a que associa clusters a "geographic

concentrations of interconnected companies and institutions in a particular field"

(PORTER, 1998, p. 78). Em trabalho mais recente do mesmo autor, o conceito ganha

em detalhamento e avança para "geographic concentrations of interconnected

companies, specialized suppliers, service providers, firms in related industries, and

associated institutions (e.g., universities, standards agencies, trade associations) in a

particular field that compete but also cooperate" (PORTER, 2000, p. 15).

Esse é um bom exemplo de como o conceito tem adquirido abrangência, com a

disseminação de seu uso: além de valorizar o atributo da cooperação, que passa a estar

explícito, Porter relaciona no próprio conceito os diferentes agentes que participam da

diversificada estrutura de um cluster, e que por outros autores sequer são considerados

como componentes obrigatoriamente presentes.

Além de relacionar os fornecedores de insumos especializados (componentes,

maquinaria e serviços) e provedores de infra-estrutura especializada entre os

participantes do cluster, Porter preocupa-se também em identificar a extensão do cluster

na cadeia produtiva (alcance vertical), indicando que muitas vezes pode avançar até

canais de distribuição e clientes, bem como abranger indústrias correlatas (amplitude

horizontal), sugerindo a inclusão até mesmo de fabricantes de produtos complementares

ou empresas que utilizam habilidades, insumos ou tecnologias em comum. Afirma,

ainda, que em muitos clusters estão presentes instituições (governamentais ou de outra

natureza) tais como universidades, agências reguladoras, provedores de treinamento

vocacional e associações comerciais capazes de proporcionar treinamento especializado,

educação, informação, pesquisa e suporte técnico. Ou seja, para Porter, um cluster vai

além de um simples arranjo de empresas, devendo incluir, ainda, os agentes que

considera importantes para enfrentar com sucesso um ambiente de competição

(PORTER, 2000, p. 16-7).

Outro autor que apresenta uma consistente contribuição para o tema é Hubert

Schmitz, que define cluster como "geographical and sectoral concentration of

enterprises" (SCHMITZ, 1997, p. 3).

O trabalho desenvolvido durante a década de 90, diretamente por Schmitz, ou de

alguma forma sob sua liderança ou influência, tem o mérito de incorporar à agenda de

pesquisa as particularidades de países em desenvolvimento, especialmente no que

concerne ao estudo e reflexão sobre clusters de empresas de menor porte (ver NADVI e

SCHMITZ, 1994; HUMPHREY e SCHMITZ, 1995 e 1996; NADVI, 1997, 1999a e

Page 68: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

54

1999b; SCHMITZ, 1997 e SCHMITZ e NADVI, 1999). Alguns dos estudos têm o

Brasil como foco, mais precisamente clusters localizados na região Sul (por exemplo,

MEYER-STAMER, 1997, 1998 e 1999 e SCHMITZ, 1999).

Uma distinção que pode ser feita entre as contribuições de Porter e Schmitz é

quanto ao porte das empresas nas aglomerações de interesse. Enquanto os trabalhos de

Porter, situados na área das estratégias de competição, são conhecidos por terem como

principal objeto de estudo as grandes empresas, muitas delas transnacionais, e sua

inserção em um ambiente de competição internacional, Schmitz – pelo menos até mais

recentemente, como será visto adiante – concentra boa parte de sua análise em empresas

de menor porte e nas interligações dentro do cluster.

Para Schmitz – e alguns dos que com ele colaboram com mais freqüência em

projetos de pesquisa – especialização e cooperação não são atributos que estejam

previamente associados, por definição, a um cluster. Ao contrário, sua existência deve

ser investigada a partir de pesquisa empírica (NADVID e SCHMITZ, 1994, p. 4;

HUMPHREY e SCHMITZ, 1996, p. 1863).

Uma possível explicação para essa postura é a influência exercida nos trabalhos

iniciais de Schmitz, nesta área, pela literatura sobre distritos industriais italianos. No

início da década de 80, os diversos estudos desenvolvidos sobre esse tipo de

aglomeração de empresas de menor porte enfatizavam as relações de cooperação

praticadas. Considerando que o trabalho desse autor esteve em grande parte centrado

justamente nas empresas de menor porte, incluir os atributos da especialização e da

cooperação tornaria por demais próximos os conceitos de cluster e distrito industrial.

A proposição de Schmitz é ao mesmo tempo restritiva, por explicitar

exclusivamente empresas, e também pouco exigente, pois permite classificar como

cluster praticamente qualquer tipo de aglomeração, uma vez que se reduzem a um

mínimo os requisitos para a sua caracterização (apenas a concentração geográfica e a

concentração setorial).

Emil Malizia e Edward Feser apresentam uma definição em que a abordagem

admite uma maior diversidade para os agentes que compõem o cluster, ainda que as

fronteiras de sua delimitação permaneçam pouco definidas. Malizia possui diversos

trabalhos na área do desenvolvimento regional, enquanto Feser tem contribuído para

essa área por meio da realização de estudos e o subsídio à formulação de políticas para a

promoção de clusters, especialmente nos Estados Unidos. Segundo sua definição,

Page 69: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

55

"In theory, clusters are a geographically concentrated group of firms essentially interdependent along one or both of the following dimensions: (1) presence in the same product (or input-output) chain; (2) important similarities in technology or workforce requirements. Clusters might also be characterized by the presence of related organizations (educational institutions, business associations, formal networks)" (MALIZIA e FESER, 1999, p. 226).

Pontuada pela possibilidade de diferentes opções e combinações, essa definição

oferece um bom exemplo para ilustrar como um extenso conjunto de diferentes

aglomerações industriais pode ser abrangido pelo conceito de cluster. Malizia e Feser,

compartilhando a visão de Porter, incorporam aos agentes principais do sistema

produtivo (empresas) a presença de outros atores, o que amplia o universo de análise.

Essa presença, todavia, dessa feita não é indicada com o mesmo senso de

obrigatoriedade.

Privilegiar aspectos qualitativos na análise de clusters talvez seja o principal

impeditivo para a obtenção de uma definição de maior exatidão. Alguns autores

defendem que a ênfase em variáveis como confiança e enraizamento social, de difícil

mensuração, resulta na impossibilidade de formular um conceito preciso, ou mesmo o

estabelecimento de uma linha divisória melhor definida entre o que é uma simples

aglomeração e um complexo cluster com fortes externalidades (ALTENBURG e

MEYER-STAMER, 1999, p. 1694).

Esses mesmos autores, ao analisarem a natureza estrutural de clusters em países

da América Latina, propõem uma definição que denominam de operacional: "A cluster

is a sizable agglomeration of firms in a spattialy delimited area which has a distinctive

specialization profile and in which interfirm specialization and trade is substantial"

(ALTENBURG e MEYER-STAMER, op. cit., p. 1694). Segundo a argumentação

utilizada, a operacionalidade é justificada pelas características que estão explícitas no

conceito, passíveis de mensuração objetiva.

Philip Cooke, cuja produção acadêmica guarda relação com a literatura referente

a sistemas de inovação e, mais recentemente, economia baseada no conhecimento,

estrutura um conceito a partir de crítica na qual reputa uma característica estática à

maioria das definições existentes. Em sua proposição, cluster corresponde a

"[g]eographically proximate firms in vertical and horizontal relationships involving a

localized enterprise support infrastructure with a shared developmental vision for

business growth, based on competition and cooperation in a specific market field"

(COOKE, 2002, p. 121). No caso, o elemento distintivo introduzido pelo autor é a

necessidade de uma visão compartilhada do desenvolvimento futuro do negócio, o que

Page 70: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

56

pressupõe uma identidade para a aglomeração e a existência de um certo grau de

articulação dos atores. Essa característica é convergente com o conceito de governança,

apresentado mais à frente, neste capítulo.

Ainda no campo de definições mais formais, um fenômeno que merece ser

ressaltado é o crescente uso do conceito de cadeia de valor associado a cluster9, por

vezes explicitamente presente na definição formulada por alguns autores. É o caso de

ROELANDT e den HERTOG (1999a, p. 12), que consideram preponderante para a

caracterização de um cluster a interligação dos atores envolvidos em uma cadeia de

valor. Em sua percepção,

"Clusters can be characterised as networks of production of strongly interdependent firms (including specialised suppliers) linked to each other in a value-adding production chain. In some cases, clusters also encompass strategic alliances with universities, research institutes, knowledge-intensive business services, bridging institutions (brokers, consultants) and customers" (ROELANDT e den HERTOG, op. cit., p. 9).

A dimensão dessa importância pode ser aquilatada por um grande número de

trabalhos mais recentes10.

Constatar a diversidade de interpretações para o termo cluster – pelo menos para

um conceito que é empregado com mais intensidade em um período que não vai muito

além de quinze anos – talvez seja um dos motivos que ajudem a explicar a tendência de,

ao invés de buscar uma improvável definição integradora, alternativamente ressaltar as

características, expressas em sua maioria por meio de atributos, que devem estar

presentes em uma determinada aglomeração, para que esta seja classificada como um

cluster.

Como exemplo dessa abordagem pode ser citado o trabalho desenvolvido por

van KLINK e de LANGEN (2001). Com base em uma revisão da literatura, esses

9 O sentido conferido ao termo cadeia de valor pode, por exemplo, ser emprestado da definição elaborada por KAPLINSKY (2000, p. 8): "The value chain describes the full range of activities which are required to bring a product or service from conception, through the intermediary phases of production (involving a combination of physical transformation and the input of various producer services), delivery to final consumers, and final disposal after use". Um panorama mais completo sobre o assunto pode ser obtido em KAPLINSKI e MORRIS (2002). 10 Sem estender a discussão, os conceitos anteriormente creditados a Porter e Malizia e Feser introduziam o assunto, ao fazer referência à cadeia de produção. O termo cadeia de valor é de maior amplitude porque envolve o conjunto das atividades, e não apenas aquelas diretamente relacionadas à produção. Em grande parte, a produção acadêmica recente que relaciona os conceitos cluster e cadeia de valor deve-se aos pesquisadores ligados à Universidade de Sussex (ver HUMPHREY e SCHMITZ, 2000 e 2002; MESSNER e MEYER-STAMER, 2000; SCHMITZ, 2000a; BAZAN e NAVAS-ALEMÁN, 2001; MEYER-STAMER e SEIBEL, 2002 e NADVI e HALDER, 2002). Mas também são identificadas contribuições com outras origens (por exemplo, em BROWN, 2000; BAIR e GEREFFI, 2001 e STEINLE e SCHIELE, 2002).

Page 71: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

57

autores resumem as seguintes características para identificar um cluster: interação

econômica na cadeia de valor; relações estratégicas entre empresas; especialização;

competição cooperativa; inovação e difusão; compartilhamento de uma cultura coletiva.

Essa abordagem alternativa, que considera cluster a partir do exame de alguns de

seus predicados, será, então, utilizada. Com isto, preserva-se uma das vantagens de seu

uso como ferramenta analítica, uma vez que permite avaliar e comparar distintos tipos

de aglomerações, mas sem que seja perdida a qualidade de estabelecer foco no aspecto

central associado ao objeto desta pesquisa.

III.3.2. ATRIBUTOS QUE CARACTERIZAM UM CLUSTER.

Conforme visto, na literatura especializada, distintas abrangências imputadas ao

conceito de cluster permitem a utilização do termo para denominar aglomerações com

diferentes graus de complexidade, se consideradas a variedade dos agentes econômicos

e das atividades presentes na aglomeração como parâmetros.

Mas isso não impede a identificação dos elementos mais importantes para a sua

caracterização. E, neste caso, conclui-se que, em um cluster, as empresas (ou agentes,

pela abordagem mais abrangente) devem estar em um espaço geograficamente limitado

(concentração espacial), desenvolver atividades industriais em um campo particular de

atuação (especialização) e apresentar algum grau de interconexão (interação) entre si. A

importância conferida a cada um destes três atributos do fenômeno cluster é que varia

de acordo com as interpretações ou interesses particulares de cada autor ou analista.

Embora os comentários a seguir explorem os três atributos individualmente,

deve estar claro que existem influências recíprocas de cada um deles sobre os demais,

conferindo um grau de complexidade que merece a atenção dos que de alguma forma

tenham interesse na identificação das relações causa-efeito associadas à trajetória de um

cluster objeto de análise. E este interesse tanto pode ser motivado pela necessidade de

induzir a formação de um cluster, a partir de potencialidades identificadas, como de

robustecer capacidades de clusters já existentes.

Tome-se como exemplo a interação. É uma característica que se fortalece ainda

mais pela intensidade com que ocorrem os demais atributos (concentração e

especialização). A proximidade física (concentração) facilita – embora não seja

condição suficiente para – o contato entre os agentes; a atuação em um escopo

específico de atividade (especialização) contribui para a construção de uma linguagem

comum que impacta na eficiência da comunicação necessária à interação.

Page 72: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

58

Considerações a respeito do atributo Concentração Espacial.

A concentração é primordial até mesmo para o uso do termo aglomeração, visto

que a proximidade física é que possibilita o benefício das externalidades econômicas.

Na discussão desse atributo, o interesse, em termos de desenvolvimento

econômico sustentável, não está em como identificar um limite físico preciso que

circunscreva os agentes que fazem parte do cluster, mas ter sempre em conta que esse

limite existe, e que para além dele deterioram-se as eficiências decorrentes do efeito

proximidade.

Em seu trabalho, Porter, por exemplo, não estabelece um limite espacial de

abrangência, admitindo que um cluster pode alcançar o espaço geográfico de um país11.

Isto não deixa de ser antagônico à sua própria argumentação de que, em uma economia

globalizada, as vantagens competitivas duradouras dependem cada vez mais de

componentes locais, entre os quais incluem-se conhecimento, relações e motivação, que

são de difícil obtenção por concorrentes distantes (PORTER, 1998, p. 78). Se estes

elementos locais assumem características próprias em cada região, mantidas por meio

de relações "face a face", é razoável inferir que as vantagens de proximidade associadas

a um determinado cluster que tenha abrangência nacional estariam enfraquecidas na

medida em que maior fosse o tamanho desse país. Ao invés de utilizar o país como

unidade natural da análise, seria recomendável considerar, por este atributo, a estrutura

geográfica de produção, como sugerem outros autores (KRUGMAN, 1991, p. 87).

A partir da concentração espacial, como condição prévia mínima, tornam-se

possíveis desdobramentos e desenvolvimentos futuros que, conformando a densidade e

a trajetória de um cluster específico, comporão a sua identidade, distinguindo-o de uma

outra aglomeração qualquer. O leque de possibilidades inclui: divisão do trabalho e

especialização entre os produtores; agilidade na oferta de produtos e serviços

especializados; aparecimento de fornecedores de matérias-primas, componentes, partes

e peças, além de serviços especializados; surgimento de agentes distribuidores para a

venda do produto em outros mercados; criação de um ambiente apropriado para a

troca de informações; formação de um contingente de trabalhadores com habilidades

específicas para o setor; organização de consórcios para tarefas específicas (realização

de feiras e participação em eventos, por exemplo); surgimento de associações que

11 A afirmativa está referendada na descrição de vários clusters apresentada em PORTER (1990), nos capítulos 7 e 8.

Page 73: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

59

proporcionam serviços e representam os interesses de seus membros (NADVI e

SCHMITZ, 1994, p. 14; SCHMITZ, 1997, p. 4).

Do ponto de vista da organização espacial, a concentração de um cluster nem

sempre se submete aos limites territoriais impostos pela geografia política: a atividade

econômica pode perfeitamente extrapolar as linhas divisórias de um município, estado

ou país, o que demanda certa atenção quando o interesse está voltado à formulação de

políticas públicas.

Considerações a respeito do atributo Especialização.

A especialização é um atributo que deve ser observado sob dois aspectos.

O primeiro, diz respeito à especialização da própria aglomeração em si, em

termos do objeto da atividade produtiva, capaz de caracterizar um setor específico da

atividade econômica (ou parte dele); o segundo, guarda relação com a divisão do

trabalho entre as empresas da própria aglomeração, ou seja, a divisão do trabalho na

cadeia produtiva.

A especialização da empresa individual tem a vantagem de proporcionar

oportunidades em ganhos de eficiência, pois em geral o desempenho melhora na medida

em que é reduzido o escopo das atividades praticadas. A composição desse conjunto

reduzido de atividades pode, por exemplo, ser conseqüência de uma decisão consciente

da empresa, do aproveitamento de uma oportunidade específica de mercado ou ainda de

sua limitação em termos do conhecimento necessário à prática das demais etapas da

cadeia produtiva. Se a capacidade para empreender é restrita a uma faixa específica de

atividades, isto implica necessariamente em um limitado conjunto para a realização de

escolhas.

Em termos gerais, pode-se supor que atividades que apresentam

complementaridade que dependa de conhecimentos similares têm chances de serem

mais bem coordenadas dentro da própria organização. Se, por outro lado, as atividades

estão baseadas em conhecimentos não similares, a busca desse conhecimento em outras

empresas, por meio de cooperação formal ou informal, pode ser uma melhor opção

(HELMSING, 2001, p. 287).

A divisão do trabalho entre as empresas tende a ser influenciada pelo próprio

perfil do cluster. Se a sua estrutura caracteriza-se por pequenas empresas que fornecem

para uma grande empresa, por exemplo, há uma tendência da grande empresa exercer

maior influência na organização da divisão do trabalho.

Page 74: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

60

Em termos da especialização da aglomeração como um todo, uma questão que

merece ser ressaltada é a relação entre o escopo de atuação e a contínua capacidade de

competir do cluster.

Adaptar ou modificar o escopo de atuação para assumir novos posicionamentos

estratégicos é uma característica essencial de clusters de maior longevidade. O processo

de mudança que incorpora a agregação de valor tem sido referenciado na literatura por

meio do uso do termo upgrading (ver HUMPHREY, 1995; SCHMITZ, 1999 e 2000a;

BAIR e GEREFFI, 2001; BAZAN e NAVAS-ALEMÁN, 2001 e MEYER-STAMER e

SEIBEL, 2002).

Um upgrading pode resultar em processos mais eficientes, na fabricação de

produtos com novas características ou na incorporação de novas etapas da cadeia, com

maior agregação de valor no próprio cluster.

O sucesso de um cluster não é constante ao longo do tempo, e a velocidade da

mudança tecnológica demanda estratégias de upgrading para que seja mantida a

capacidade de competir.

O conjunto dos upgrades resultantes compõe a trajetória do cluster. Essa

trajetória reflete, então, uma capacidade de se adaptar e enfrentar as pressões

competitivas. Compreender a trajetória do cluster, portanto, é por vezes considerado um

instrumento mais útil para a formulação de políticas do que a simples descrição do seu

estado atual (ver a discussão apresentada em HUMPHREY, 1995).

Considerando a unidade produtiva individual, o ponto que cada empresa pode

alcançar, do ponto de vista da mudança tecnológica, é uma função de sua posição

corrente e dos possíveis caminhos alternativos à frente. Por sua vez, a posição atual é

freqüentemente uma conseqüência de escolhas anteriormente realizadas e,

evidentemente, do caminho percorrido – o que tem dado margem ao uso disseminado da

expressão "a história importa". Esta idéia está contida no conceito "dependência da

trajetória" (path dependence), útil para compreender alguns comportamentos de atores

econômicos que aparentam ser irracionais para um observador externo (ver MEYER-

STAMER, 1998).

A explicação lógica para a dependência da trajetória percorrida reside no fato de

que não é sensato considerar todas as possíveis alternativas de evolução, durante todo o

tempo. Existe um custo de mudança, que depende do aprendizado, da rapidez da

mudança e da efervescência do ambiente competitivo, dentre outros fatores. Caso o

custo de mudança seja elevado, isto provoca um efeito denominado "trancamento"

Page 75: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

61

(lock-in) (TEECE et al., 1997, p. 522-3), no qual a empresa se vê limitada a continuar

com as soluções atuais, o que pode ter grande impacto em sua capacidade competitiva.

Extrapolando esse raciocínio, o conjunto das soluções das empresas individuais

repercute coletivamente na trajetória do cluster. Também o cluster, portanto, poderia

apresentar a dificuldade de escapar de um caminho percorrido ao longo de anos,

tornando-se dependente de uma determinada trajetória (path dependent), assim como de

permanecer "trancado" em uma solução tecnológica específica, ambos com

repercussões para a sua capacidade competitiva.

Encontrar novos caminhos e escapar de roteiros previamente concebidos exige

uma maior capacidade de coordenar os interesses coletivos dos diversos agentes que

participam do cluster (ver BAZAN e NAVAS-ALEMÁN, 2001), o que reforça a

interdependência entre os atributos e ressalta a importância da interação.

Considerações a respeito do atributo Interação.

A intensidade da interação entre seus integrantes é, seguramente, um atributo

distintivo para um cluster. Conforme discutido, a proximidade física, sem uma

correspondente interação, limita os benefícios potenciais proporcionados por uma

aglomeração.

A interação modifica a capacidade cognitiva de um indivíduo, suas idéias e

representações; afeta a transmissão do conhecimento. Sua constante prática permite que

se estabeleçam processos que resultam na construção de um ambiente favorável ao

aprendizado coletivo.

E a existência de uma capacidade endógena da economia local para promover o

desenvolvimento sustentável, sem a facilidade dos benefícios fiscais, ponto de partida

para o estabelecimento da problemática tratada nesta pesquisa, tem relação estreita com

a capacidade coletiva de aprender.

O aprendizado coletivo permite o desenvolvimento de competências que se

disseminam mais rapidamente com a proximidade e o contato proporcionado pela

interação entre os agentes do cluster. E isto é considerado particularmente importante na

construção e promoção de conhecimento tácito, não codificado (DE BERNARDY,

1999, p. 344).

Uma informação, que é mais facilmente codificada, pode ser transmitida a

longas distâncias com baixo custo; já o conhecimento, de difícil codificação, tem sua

transferência facilitada a partir de interação face a face, por meio de contatos freqüentes

(ou das redes construídas a partir desses contatos), algo que pode ser mais bem

Page 76: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

62

gerenciado a partir da proximidade física (AUDRETSCH, 1998, apud OELERMANS et

al., 2001, p. 65; STORPER e VENABLES, 2004, p. 352).

A interação não ocorre apenas entre as empresas, mas vai além, envolvendo os

outros agentes do cluster, daí a importância de se fazer uso de um conceito no qual essa

diversidade de agentes se faça presente. Diversidade e intensidade das interações são

indicadores que contribuem para caracterizar o ambiente do cluster, a riqueza e a

complexidade das relações existentes. E também de sua capacidade de aprender, o que

tem relação direta com sua trajetória.

Dentre possíveis tipos de interação entre os agentes, ressalta-se a importância da

cooperação, que possui a característica de ser uma atividade voluntária. Por demandar o

atendimento de um objetivo estabelecido de forma compartilhada entre as partes, a

cooperação comumente exige discussão e intermediação. É, portanto, um tipo mais

elaborado de interação, com propensão para ocorrer com mais intensidade em ambientes

nos quais já está estabelecida uma cultura própria, ou seja, aonde exista um histórico de

relações locais.

A constatação ressalta um ponto importante: se clusters pressupõem

especialização, cooperar não significaria compartilhar iniciativas com os concorrentes?

Essa é justamente uma das mais importantes questões relacionadas a clusters, o

dualismo entre competição e cooperação. Interagir e cooperar com um vizinho de

cluster, para que sejam alcançados objetivos comuns, em alguns momentos pode

significar o compartilhamento de uma iniciativa com um concorrente. Mesmo quando a

relação de cooperação é vertical – com um fornecedor, por exemplo – existe a

possibilidade de que informações sejam capturadas por um concorrente, especialmente

se o fornecedor não é exclusivo.

De uma certa forma, maiores níveis de cooperação podem ser esperados de

clusters que atingiram níveis mais elevados de maturidade, algo que só se configura

caso as relações entre os agentes estejam suportadas por um ambiente que inspire um

nível mínimo de confiança.

A confiança, por sua vez, baseia-se em regras de comportamento e códigos de

conduta informais, que se estabelecem ao longo do tempo, em conjunto com a

construção de uma identidade local, conforme será mais apropriadamente explorado um

pouco adiante. A intensidade das interações, e a diversidade de processos pelos quais as

regras e os códigos de conduta se fortalecem, são elementos que constituem a base

desse processo, e que resultam, posteriormente, na capacidade de empreender ações

Page 77: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

63

conjuntas imprescindíveis para enfrentar os desafios competitivos (tais como as que

seriam necessárias à sobrevivência da atividade produtiva sem incentivo fiscal em

Manaus, por exemplo). Referindo-se a essa capacidade desenvolvida a partir de um

histórico de interações, KENNEDY (1999, p. 1673 e 1687) utiliza-se do termo "capital

cooperativo".

Para um agente em particular, então, a disposição em cooperar é inversamente

proporcional à intensidade do risco, por ele percebido, de não conseguir a apropriação

individual do benefício gerado pelo esforço coletivo. E a dificuldade é maior quando se

dissemina o comportamento oportunístico.

A cooperação entre concorrentes (horizontal) talvez seja a forma mais complexa

de cooperação e a que exige um clima de maior confiança entre as partes, quando

comparada com a cooperação (vertical) com fornecedores ou clientes, por exemplo.

Na abordagem econômica tradicional, a cooperação era, em geral, considerada

danosa à performance global da economia, por permitir a conspiração, que por vezes

resulta na fixação de preços ou estabelecimento de barreiras para a entrada de novas

empresas (MALIZIA e FESER, 1999, p. 226). Hoje, sob algumas condições, é

estimulada por governos, em países desenvolvidos, representando uma mudança de

postura em relação à corrente do pensamento econômico que no passado lhe creditava

apenas os efeitos negativos, levando alguns autores a até defenderem que uma

abordagem da atividade produtiva a partir de clusters deve conferir mais ênfase à

colaboração do que propriamente à competição (MARCEAU, 1994, p. 7).

Para outros autores, ainda que haja cooperação, sem uma vigorosa competição

um cluster fracassará (PORTER, 1998, p. 79). E, argumentando por este ponto de vista,

apontam a necessidade de um ambiente interno extremamente competitivo e desafiador

para que seja mantida a capacidade externa de competir das empresas que compõem o

cluster.

Abstraindo-se de uma discussão que utilize argumentações excludentes, pode-se

dizer que competição e cooperação encontram espaço para coexistir porque ocorrem em

diferentes dimensões.

Considerando a globalização econômica, a interação apresenta ainda uma outra

perspectiva de análise, que diz respeito às relações externas ao cluster. A inserção do

cluster (e seus agentes, individualmente) em cadeias globais apresenta conseqüências

para o ritmo do aprendizado e, em caso da presença de empresas transnacionais, para a

autonomia de decisão. Essas características terão uma maior ou menor influência em

Page 78: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

64

função do perfil das empresas que participam do cluster, inclusive quanto às estratégias

de upgrading. No caso da indústria de Manaus, que apresenta forte presença de

empresas transnacionais, é de se esperar que as decisões corporativas repercutam no

desenvolvimento local, o que deve ser considerado na implantação de qualquer política

que pretenda ser bem sucedida.

Cada um dos três atributos aqui comentados, conforme já observado, influencia

e é influenciado pelos demais, aumentando a complexidade para a compreensão das

relações causa-efeito em ações associadas aos agentes de um cluster.

A Tabela III.1 sintetiza informações sob a perspectiva dos vários autores citados,

organizadas segundo os atributos selecionados para caracterizar um cluster, com

destaque para o item cooperação. Além de resumir informações já discutidas, são

apresentados alguns elementos adicionais.

Ao definir o escopo de estudo, portanto, este trabalho circunscreve a pesquisa a

um dentre os três atributos ressaltados para clusters, a interação. E mesmo assim

estabelecendo o foco em uma categoria específica, particular, a cooperação. Entende-se

que a importância do tema, a complexidade de sua investigação e a inexistência de

trabalhos anteriores abordando a realidade local sob essa perspectiva, são argumentos

que suportam a decisão tomada.

III.3.3. A ANÁLISE DE CLUSTERS E SUA VERSATILIDADE DE USO.

"Análise de cluster" (cluster analysis) é uma forma disseminada de referir-se ao

uso do conceito de cluster para, sob variados interesses, compreender a dinâmica da

atividade produtiva de uma aglomeração que se enquadre no conceito adotado. As

informações obtidas na análise de cluster são fundamentais para ampliar as chances de

sucesso de estratégias formuladas com o objetivo de implementar uma trajetória

desejada.

Ao administrador público, a análise de cluster permite obter uma perspectiva

única e detalhada das características básicas de uma economia regional, enfatizando as

ligações entre indústrias e a interdependência de empresas (BERGMAN e FESER,

1999, p. 244).

A própria versatilidade já ressaltada para o conceito permite seu uso associado a

diferentes objetos de análise, desde o foco mais convencional nas relações comerciais de

Page 79: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

65

TABELA III.1 COMPARAÇÃO DE ATRIBUTOS PARA CLUSTERS, SEGUNDO ABORDAGENS DE DIFERENTES AUTORES

Atributos Autores Concentração

Espacial Especialização Interação Cooperação Características

adicionais

Porter (2000)

concentração geográfica

"campo" particular; inclui empresas de indústrias relacionadas

interconexão entre os agentes

ênfase na competição ("competir, mas também cooperar")

inclui outros agentes: empresas, fornecedores, provedores e instituições

Schmitz (1997)

concentração geográfica concentração setorial

não é um atributo necessariamente presente

- divisão do trabalho (entre empresas) não é condição prévia

Malizia e Feser (1999)

concentração geográfica

presença em uma mesma cadeia de produção; uso de tecnologia ou força de trabalho similar

não explícita

importância da cooperação é ressaltada para a inovação

incluem outros agentes

Altenburg e Meyer-Stamer (1999)

aglomeração "grande", espacialmente delimitada

perfil "distintivo" para a aglomeração; especialização entre empresas

substancial comércio entre empresas

intensidade da cooperação é associada a uma tipologia para clusters

incluem outros agentes, mas admitem a heterogeneidade dessa composição

Cooke (2002)

empresas geograficamente próximas

"campo" específico de mercado

baseada em competição e cooperação; conexões horizontais e verticais

ação econômica colaborativa é considerada essencial

agentes compartilham visão do crescimento do negócio

Roelandt e den Hertog

(1999a)

não citada; subentende-se como pré-condição

redes de produção de empresas interligadas na cadeia de valor

pode incluir alianças estratégicas; essencial para a inovação

para compartilhar necessidades e restrições comuns

admitem a possibilidade de outros agentes

van Klink e de Langen

(2001)

não citada; subentende-se como pré-condição

interação econômica na cadeia de valor; especialização

relações estratégicas entre empresas;

foco na competição cooperativa

inovação e difusão; compartilhamento de uma cultura coletiva

Fonte: Elaborada pelo autor

Page 80: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

66

troca, até estudos que privilegiam as interligações para a inovação ou o fluxo de

conhecimento (ROELANDT e den HERTOG, 1999b, p. 414).

Mas essa mesma versatilidade, sob outro aspecto, pode revelar-se uma

desvantagem. A diversidade das metodologias de abordagem representa um obstáculo

para a comparação de resultados de estudos realizados em distintos clusters

(DeBRESSON e HU, 1999, p. 28) e, de uma certa forma, implica em uma maior

dificuldade de utilizar experiências anteriores para subsidiar e suportar a formulação de

políticas específicas que promovam a indução ou expansão de um cluster (BERGMAN

e FESER, 1999, p. 243-4), justamente as principais aplicações para a análise de cluster

sob o ponto de vista de políticas de desenvolvimento econômico regional.

Na análise de cluster, repete-se uma discussão apresentada anteriormente,

relativa à confrontação das abordagens qualitativa e quantitativa. Privilegiar relações de

troca entre comprador-fornecedor no cluster, por exemplo, induz ao uso de técnicas

quantitativas tradicionais, como a matriz insumo-produto, utilizada em economia para,

por exemplo, expressar o fluxo de comércio entre empresas; enfatizar elos informais,

não comerciais, entre os membros do cluster, qualquer que seja o objeto tratado,

configura uma abordagem qualitativa mais centrada nos aspectos sociais, culturais e

políticos que afetam o processo (MALIZIA e FESER, 1999, p. 226).

Nas contribuições mais recentes, embora sejam ressaltados o dinamismo dos

clusters e sua competitividade no longo prazo, associados a questões de aprendizado e

conhecimento (presentes, por exemplo, em BELL e ALBU, 1999; ZHOU e XIN, 2003 e

MOROSINI, 2004), ou ainda as diversas dimensões da relação entre o local e o global,

conforme comentado anteriormente, permanecem freqüentes os estudos que exploram

taxonomias razoavelmente dedicadas a realidades específicas (ver ALBU, 1997;

McCORMICK, 1999; ALTENBURG e MEYER-STAMER, 1999; BORTAGARAY e

TIFFIN, 2000 e CHORINCAS et al., 2001), que de uma certa forma minoram as

possibilidades de ampliação da aplicação dos resultados.

Qualquer que seja a configuração atual do cluster, ou sua trajetória histórica,

adotar a análise de cluster implica em assumir algumas premissas. Dentre elas, o fato de

que o sucesso de um negócio individual é em parte determinado coletivamente, uma vez

que depende de fatores comuns, melhorias tecnológicas, e até do crescimento da

economia como um todo; no mesmo nível, destaca-se também a necessidade de

abandonar a visão neoclássica padrão de economias de mercado, que promovem ênfase

à competição acirrada entre empresas individuais (MALIZIA e FESER, 1999, p. 226).

Page 81: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

67

Mesmo essas limitações não impediram que a análise de cluster, pelo

crescimento percebido no volume da literatura especializada, tenha ocupado maiores

espaços, comparativamente à análise econômica setorial tradicional.

Ao estabelecer fronteiras estritas para indústrias e setores (quase sempre com

base exclusiva em convenções estatísticas), enfatizando grupos estratégicos de empresas

análogas com posições similares na indústria, a análise tradicional deixa de considerar a

importância das conexões e do fluxo de conhecimento entre os agentes de uma

aglomeração. A análise de cluster, ao contrário, oferece uma abordagem capaz de

capturar a natureza em constante mudança que caracteriza o ambiente empresarial

moderno.

A abordagem setorial privilegia as relações horizontais e a interdependência

competitiva (entendida como as relações entre competidores diretos com atividades

similares operando nos mesmos mercados de produtos), enquanto a abordagem por

cluster também inclui a importância das relações verticais entre empresas não similares

e as associações de interdependência sinérgica entre elas (ROELANDT e den

HERTOG, 1999a, p. 12).

Tendo como fonte original uma apresentação realizada por Michael Porter, em

um congresso ocorrido em 1997, ROELANDT e den HERTOG (1999a, p. 13) efetuam

uma comparação bastante ilustrativa, confrontando a abordagem setorial tradicional e a

abordagem por cluster na análise da indústria, conforme pode ser depreendido da

Tabela III.2.

Como resultado dessa comparação, é possível interpretar que a abordagem

qualitativa baseada no conceito de cluster proporciona uma maior capacidade de

contabilizar os esforços resultantes de ações compartilhadas, dentre os quais incluem-se

os processos de cooperação, um argumento que fortalece o aprofundamento desse

conceito como suporte a este estudo.

III.4. EFICIÊNCIA COLETIVA, UMA FERRAMENTA PARA AVALIAR A

COOPERAÇÃO.

Retomando um conceito apresentado anteriormente, externalidade econômica é

qualquer benefício alcançado passivamente por uma empresa, simplesmente por fazer

parte de uma aglomeração industrial. É, portanto, um fenômeno incidental, não

planejado.

Page 82: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

68

TABELA III.2 COMPARAÇÃO ENTRE ABORDAGEM SETORIAL E ABORDAGEM POR

CLUSTER

Abordagem Setorial Abordagem por Cluster grupos com posições similares na rede

grupos estratégicos com posições principalmente complementares e diferentes na rede

foco em indústrias de bem final

inclui clientes, fornecedores, provedores de serviços e instituições especializadas

foco nos competidores diretos e indiretos

incorpora o arranjo de indústrias inter-relacionadas compartilhando tecnologias comuns, habilidades, informação, insumos, clientes e canais

hesitação em cooperar com rivais

a maior parte dos participantes não é de competidores diretos mas compartilha necessidades e restrições comuns

diálogo com o governo geralmente tende para subsídios, proteção e restrição da rivalidade

amplo espaço para melhorias em áreas de interesse comum que aumentam a produtividade e a competição; um fórum para um diálogo mais construtivo e eficiente entre governo e empresariado

busca pela diversidade nas trajetórias existentes busca por sinergias e novas combinações

Fonte: ROELANDT e den HERTOG, 1999a, p. 13 (adaptado de PORTER, 1997)

A capacidade de competir de um cluster será restringida, e no longo prazo

encontrará dificuldade em ser mantida, caso sua sustentação esteja apoiada

fundamentalmente em vantagens passivas. Para construir vantagens adicionais, e

usufruir os seus benefícios, os participantes da aglomeração devem adotar um

comportamento pró-ativo, intencional, possível a partir do estreitamento das relações

entre as empresas no espaço local.

O estímulo para que essa aproximação ocorra depende de alguns fatores

subjetivos, dentre os quais a confiança exerce um papel reconhecidamente significativo.

Por não ser uma característica facilmente transferível através do espaço, a confiança é

um exemplo típico de vantagem que pode ser impulsionada pelo efeito proximidade

proporcionado por um cluster.

Portanto, fazendo parte de uma aglomeração, uma empresa individual amplia as

oportunidades para expandir sua capacidade de aprender, desde que exista uma cultura e

um ambiente que estimule a cooperação, reduzindo a incerteza a partir do

comportamento transparente e do bloqueio ao comportamento oportunístico. Isto facilita

a troca de informações, a articulação de necessidades e a coordenação de ações. Em

última instância, potencializa o aprendizado coletivo (CAMAGNI, 1991b, p. 130).

Page 83: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

69

Identificar a existência desses comportamentos intencionais em uma

determinada aglomeração, e a intensidade em que ocorrem, auxilia na compreensão do

efetivo estabelecimento de uma identidade que afete positivamente a dinâmica

industrial, com todos os reflexos que isto possa acarretar para o aprendizado local e o

conseqüente desenvolvimento de uma capacidade endógena.

Um conceito útil para auxiliar na compreensão dessa realidade que, em um

cluster, reúne os benefícios incidentais e os planejados, é o de eficiência coletiva,

desenvolvido por Hubert Schmitz. Segundo esse autor, eficiência coletiva é a vantagem

competitiva obtida por empresas que fazem parte de aglomerações, em conseqüência

não apenas de externalidades econômicas, mas também de esforços de cooperação

deliberados, aos quais denomina ação conjunta (SCHMITZ, 1997, p. 9).

Aproveitar os benefícios da externalidade econômica não requer vínculos de

produção ativos ou deliberados com outros agentes dentro ou fora do cluster (NADVI,

1997, p. 20). Porém, externalidades econômicas podem ser consideradas apenas uma

parcela dos benefícios que a aglomeração potencialmente oferece aos produtores locais,

uma vez que a ação conjunta deliberada amplia a perspectiva de ganhos competitivos

posteriores para o cluster. Mas para isto é necessária uma postura de cooperação.

Contrariamente à externalidade econômica, a ação conjunta é conscientemente

perseguida e, portanto, reflete uma efetiva capacidade de interação entre as empresas do

cluster. A existência de ação conjunta em um cluster configura a materialização da

vantagem da proximidade atribuída a aglomerações.

Para caracterizar as vantagens oriundas de externalidades econômicas e da ação

conjunta, ao invés de recorrer aos termos "não planejadas" e "planejadas", NADVI

(1997, p. 6) prefere utilizar "passivas" e "ativas", respectivamente.

Assim, o conceito de eficiência coletiva tenta capturar, a um só tempo, as

seguintes idéias: (i) a prosperidade econômica não pode ser entendida, e nem tampouco

estimulada, apenas enfatizando o desempenho da empresa individual e (ii) os efeitos

incidentais não são uma explanação suficiente para o sucesso competitivo de uma

aglomeração, devendo ser complementados por um segundo componente fundamental,

a ação conjunta (SCHMITZ, 1997, p. 9).

Apresentados dessa forma, pode parecer fácil estratificar externalidades

econômicas e benefícios da ação conjunta. Mas fazer essa separação não é algo simples,

uma vez que a própria ação conjunta pode proporcionar o surgimento de externalidades

econômicas, ou seja, a ação conjunta pode beneficiar mesmo quem não participou

Page 84: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

70

ativamente do esforço de cooperação, o que implicaria na existência de "externalidades

da ação conjunta" (NADVI, 1997, p. 37).

Para facilitar a identificação dos tipos de cooperação, são utilizadas duas

dimensões de análise: segundo o número de empresas que cooperam, pode ser bilateral

ou multilateral, dependendo de que seja um esforço empreendido por apenas duas ou

por mais que duas empresas; segundo a direção da cooperação, pode ser horizontal – se

realizada entre empresas que se encontram no mesmo elo da cadeia produtiva

(competidores) – ou vertical, quando ocorre entre um produtor e um fornecedor de

insumos (backward ties) ou entre esse produtor e um distribuidor de produtos (forward

ties) (SCHMITZ, 1997, p. 8). A Tabela III.3 resume esquematicamente as diferentes

possibilidades de combinação, apresentando alguns exemplos.

Dos diferentes tipos de ação conjunta, a cooperação horizontal é a que

proporciona uma mais clara relação entre competição e cooperação. Se a relação é

construtiva, induz à inovação e abre novos mercados; caso seja destrutiva, pode resultar

em guerra de preços e falência da cooperação horizontal no cluster (NADVI, 1997, p.

28-9).

TABELA III.3 EXEMPLOS DE COMBINAÇÃO ENTRE OS DIFERENTES TIPOS DE

COOPERAÇÃO

Tipo Bilateral Multilateral

Horizontal Compartilhar equipamento Associação setorial

Vertical Produtor e fornecedor desenvolvendo componente

Aliança na cadeia de valor

Fonte: SCHMITZ, 1997, p. 8.

Embora uma maior intensidade da ação conjunta sinalize a existência de um

ambiente favorável na aglomeração e, portanto, de uma cultura estabelecida, as

evidências apontam que, além da esperada variação entre diferentes clusters, ocorre

também uma variação da intensidade da cooperação, em um mesmo cluster, ao longo do

tempo, conforme pode ser visto em SCHMITZ (1997, p. 14; 1999, p. 1628 e 2000b, p.

325). Nos resultados apresentados nesses trabalhos, uma maior intensidade da ação

conjunta é identificada quando o cluster é confrontado com grandes desafios, ou seja,

uma mudança da eficiência coletiva, de passiva para ativa, é tão mais necessária quanto

maior for a mudança exigida pelo ugrading pretendido para o cluster.

Page 85: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

71

A partir deste ponto, este trabalho utiliza-se dos termos ação conjunta,

cooperação e colaboração para, de forma equivalente, traduzir quaisquer desses esforços

que representem iniciativas comuns a duas ou mais empresas. É evidente que a

investigação concentra-se apenas nos esforços praticados com "bons propósitos"

(conforme sugerido em SCHMITZ, 2000b, p. 326), sem interesse nos que provoquem

limitação à competição ou restrição a práticas de livre-mercado.

III.5. GESTÃO DO INTERESSE COLETIVO E O CONCEITO DE

GOVERNANÇA.

A capacidade de administrar o interesse coletivo, harmonizando interesses

individuais eventualmente conflitantes, a partir da mobilização de atores,

compartilhando responsabilidades e tarefas, é a idéia apropriada pelo conceito de

governança.

A qualidade da governança praticada em uma determinada localidade revela não

apenas a capacidade de articulação dos agentes que ali atuam, mas principalmente o seu

potencial de resposta aos desafios que se apresentem.

Contrastando com o que o termo possa induzir a pensar, governança não é uma

prática reservada a agentes de governo. Ao contrário, pode ser – e, modernamente, em

economias desenvolvidas, tem sido – exercitada também por indivíduos, empresas,

associações, organizações não governamentais, enfim, todos aqueles que de alguma

forma sejam capazes de intervir nos processos locais de decisão. Por meio da

governança é possível interferir na organização dos fluxos de produção ou

conhecimento, gerenciando problemas comuns, acomodando interesses e estimulando a

realização de ações cooperativas (LASTRES e CASSIOLATO, 2003, p. 14).

Dependendo do interesse, diferentes dimensões podem ser utilizadas para

analisar a prática da governança em um espaço local específico. Tipos de intervenção,

natureza (pública ou privada) e nível de formalização das relações são algumas dentre

as que têm sido abordadas com mais freqüência na literatura.

Na dimensão que avalia a governança segundo sua natureza, a governança

pública, mais óbvia, pode ser desempenhada por uma ampla gama de agentes

governamentais, nas diferentes esferas de governo, agindo em nome do interesse

público. Uma eventual superposição conflitante de políticas emanadas dessas diferentes

esferas, a descontinuidade de sua implementação ou mesmo a frágil participação de

Page 86: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

72

legítimos representantes da sociedade em sua formulação são indicativos de uma

governança débil.

A governança privada (ou governança do interesse privado), por sua vez, ressalta

uma capacidade de articulação dos agentes econômicos, que se manifesta, por exemplo,

a partir de funções reguladoras desenvolvidas por associações, por meio do

estabelecimento de normas e padrões para produtos, pela recomendação de melhores

práticas, regulamentando códigos de conduta etc. A ausência de associações

representativas dos diversos agentes locais, ou a limitada capacidade de se fazer

expressar das que eventualmente existam, são exemplos que refletiriam oportunidades

de melhoria nos níveis da governança privada.

O fenômeno da economia globalmente desenvolvida, em que sobressaem as

corporações transnacionais, destaca uma forma particular de governança privada, a

chamada governança corporativa. Por via indireta, a articulação dos interesses da

corporação, a partir de decisões tomadas nos centros de comando dessas empresas, em

seus países-sede, é capaz de trazer repercussões para a realidade local, conforme já

comentado, interferindo no ritmo de aprendizado local, com conseqüências para as

possibilidades de upgrading do cluster e, portanto, para sua trajetória.

Governança pública e governança privada não representam, necessariamente,

interesses antagônicos. Ao contrário, ao ser pensado o desenvolvimento econômico

local de forma mais ampla, idealmente podem atuar de forma complementar na

construção do futuro coletivo, revelando-se não apenas por meio da simples

coexistência, mas principalmente como instrumentos úteis na construção de canais de

comunicação que possibilitem a ampliação da interlocução entre os agentes. Esta

percepção é ainda mais significativa à medida que são enfrentados problemas de maior

nível de complexidade, que exigem a interação e a coordenação da atuação de uma

maior diversidade de agentes, demandando o que alguns autores (ver, por exemplo,

HUMPHREY e SCHMITZ, 2000) denominam governança público-privada (no âmbito

da OECD, com alguma freqüência substituído pelo termo parceria), no qual ambos os

perfis de agentes encontram seu espaço de atuação.

A prática de mecanismos de governança em um cluster representa uma

vantagem para a intervenção positiva na construção de sua trajetória,

independentemente do estágio de desenvolvimento em que este se encontre. Admitindo

que mesmo clusters bem sucedidos atravessam crises, torna-se mais adequado entender

o sucesso não como um estado, mas um processo que depende de habilidades coletivas

Page 87: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

73

para saber obter vantagens a partir das oportunidades e estar preparado para combater as

adversidades (ver SCHMITZ, 1997). Em qualquer dessas duas situações, aperfeiçoar e

utilizar continuamente a capacidade de governança contribui para explorar mais e

melhores alternativas de solução, pois os esforços serão mais adequadamente

compartilhados e as responsabilidades na implementação das alternativas poderão ser

mais claramente definidas. A ausência de mecanismos apropriados de governança, por

outro lado, pode comprometer a vitalidade da economia de uma região no longo prazo.

A tendência à descentralização e transferência das responsabilidades públicas

para o nível local, em economias de transição, especialmente quando estas não estão

respaldadas na correspondente transferência de recursos compatíveis com as novas

demandas, amplia a necessidade de que sejam fortalecidas as estruturas locais e, por

conseguinte, impele os governos e a sociedade locais a um novo papel, previsivelmente

mais ativo, para uma adequada condução do processo de desenvolvimento econômico.

Conseqüentemente, é possível que a capacidade de governança seja utilizada

para o estabelecimento de uma conexão mais robusta entre as externalidades

econômicas e o aprendizado coletivo (HELMSING, 2001, p. 277), uma associação que

confere à governança um importante papel no desenvolvimento da desejável

capacitação endógena.

III.6. CONFIANÇA, INSERÇÃO E APRENDIZADO SEGUNDO UMA

PERSPECTIVA PELA DIMENSÃO SOCIOCULTURAL.

Sob um ponto de vista estritamente econômico, o progresso de uma região está

intrinsecamente ligado à sua capacidade de gerar vantagens comparativas de modo

contínuo. Na superação desse desafio, conhecimentos, habilidades e capital, sempre

associados a uma estrutura espacial específica, revelam-se uma fonte endógena dessas

vantagens (MALECKI, 1991, p. 85). E pode-se dizer que pelo menos dois desses

elementos – conhecimentos e habilidades – de particular interesse para este trabalho,

uma vez adquiridos, não desaparecem.

A redescoberta da região como uma importante fonte de vantagem competitiva

está, em parte, baseada em estudos de sucesso de economias regionais de grande

dinamismo que utilizam recursos locais para estabelecer seu nível de competitividade

(AMIN, 1999, p. 368). A diversificada literatura sobre áreas especializadas de produção

evidencia a industrialização como um processo territorial, e ressalta a importância da

Page 88: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

74

aglomeração e de fatores não econômicos (cultura, normas e instituições) para a

performance econômica de regiões.

Se o fenômeno da aglomeração é um conceito capaz de capturar a idéia de que a

mudança está condicionada ao passado e aos modelos de acumulação espacial, o

acréscimo de fatores não econômicos à análise introduz no cenário a importância das

estruturas socioculturais locais, conferindo-lhes um papel de maior relevância na

arquitetura do desenvolvimento regional.

De uma certa forma, entende-se que essas estruturas sejam capazes de acelerar a

dinâmica do desenvolvimento, por meio da criação de um ambiente estimulante, no qual

os agentes interagem, revelam suas experiências e, de uma certa forma, socializam

informações. O resultado dessa interação é o que se denomina aprendizado interativo,

um processo no qual os agentes comunicam e cooperam para a criação e utilização de

conhecimento novo, economicamente útil (LUNDVALL et al., 2002, p. 226).

Estabelecer uma vantagem competitiva, portanto, seria uma conseqüência de um

processo de aprendizado interativo, social e territorialmente inserido (ASHEIM e

COOKE, 1998, p. 145).

Inserção (embeddedness) é um conceito cujo uso tem sido notadamente

intensificado nos últimos 20 anos, graças a uma contribuição realizada por Mark

Granovetter12. Em um sentido amplo, inserção refere-se à estruturação social, cultural,

política e cognitiva das decisões em contextos econômicos, amparada na relação

indissolúvel entre o ator e seu ambiente social (BECKERT, 2003, p. 769).

A utilização do conceito de inserção implica, para a sociologia da economia, na

busca de uma melhor forma de entender e explicar a ação em contextos econômicos,

para além da visão que considera a racionalidade como um comportamento baseado na

maximização da utilidade de um indivíduo. Contrariamente, as estratégias seriam

formuladas a partir da compreensão, pelos atores, do seu contexto social e da construção

de uma racionalidade suportada na interpretação de expectativas do grupo social

(BECKERT, op. cit., p. 782). Isto implica em admitir que o desenvolvimento

econômico não é o resultado de preferências individuais, mas sim um processo

institucional, conformado a partir de forças coletivas (AMIN, 1999, p. 367).

12 Mark Granovetter publicou, em 1985, o trabalho "Economic action and social structure: the problem of embeddedness", no American Journal of Sociology, considerado um marco para a ampla utilização posterior do conceito por parte da sociologia da economia na compreensão "ampliada" da dinâmica do ambiente econômico.

Page 89: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

75

Relacionamentos territoriais, então, ajudam a explicar a dinâmica econômica,

em que as interações, relações e sinergias interpessoais e ações coletivas sociais

influenciam sobremaneira o sucesso econômico de localidades específicas. Criatividade

e inovação contínua – e, portanto, manutenção de vantagens comparativas – podem ser

vistas como o resultado de um processo de aprendizado coletivo. Mais que configurar a

eficiência de sistemas produtivos, os aspectos socioculturais, incluindo o nível de

cooperação, determinam a capacidade de resposta de uma localidade a um ambiente

externo em constante mudança (CAMAGNI, 1991a, p. 1-2).

A relação direta entre a interação colaborativa e o aprendizado local, em um

ambiente que evidentemente inclui outros elementos não-econômicos que caracterizam

essa inserção social, é constantemente reafirmada na literatura. Embora sob diferentes

rótulos, a mensagem comunicada é essencialmente a mesma: a cooperação acelera o

aprendizado coletivo.

Assim, em uma sucessão histórica de contribuições mais recentes, por exemplo,

MALECKI et al. (1998, p. 262), concluem que fluxos de conhecimento, aprendizado e

inovação são facilitados pela maior interação entre os atores; HELMSING (2001, p.

289) considera que além do estabelecimento de regras de comportamento e códigos de

conduta, uma linguagem de compromisso e a colaboração são as pré-condições para o

aprendizado coletivo; GREFFE (2004, p. 270) afirma que parcerias deveriam buscar

promover a cooperação dentro e entre todos os setores da sociedade como um dos meios

para fortalecer a capacidade de aprendizado coletivo da região. Em momento anterior,

LUNDVALL (1992), com trabalhos precursores e um reconhecido pesquisador nesta

temática, enfatiza o aprendizado como um processo predominantemente interativo, que

demanda cooperação e criação coletiva, o que inclusive reforça a propriedade de sua

inserção social.

A estreita relação apontada pela literatura entre inserção e aprendizado,

intermediada pela cooperação, ressalta o terceiro elemento apresentado no título desta

seção, a confiança, brevemente referenciado em uma seção anterior deste mesmo

capítulo.

A existência da confiança na interação entre os agentes é essencial para que haja

a colaboração, pois estimula a aproximação na medida em que reduz a expectativa de

que ocorra o comportamento oportunístico. A confiança ajuda a restringir a incerteza

transacional, criando oportunidades para a troca de bens e serviços para os quais seria

difícil estabelecer um preço (UZZI, 2001, p. 6).

Page 90: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

76

Considerando uma associação direta simples, pode ser dito que uma maior

confiança entre os agentes da aglomeração amplia o potencial colaborativo; na via

contrária, quanto mais intensa for a cooperação, maior o conhecimento que se

estabelece entre os agentes, o que aumenta a confiança. São características que se

estimulam mutuamente.

A importância da confiança para a composição do tecido social que modela a

dinâmica do aprendizado está sintetizada na seguinte contribuição de LUNDVALL et

al. (2002, p. 220):

"Trust is a multidimensional and complex concept which refers to expectations about consistency in behaviour, full revelation of what agents regard as relevant information for the other party and restraint in exploiting the temporary weakness of partners. The institutions that constitute trust are crucial for interactive learning and innovation capabilities. The strength and the kind of trust embedding markets will determine to what degree interactive learning can take place in organised markets."

Como resultado, é possível inferir que apesar de mais facilmente estabelecida a

partir de relações bilaterais, a confiança, em termos institucionais, apresenta impacto

direto na robustez da atividade econômica e, portanto, é uma qualidade a ser nutrida e

conquistada por uma sociedade.

O nível de confiança que regula as relações em um ambiente auxilia na criação

da identidade do espaço local, uma vez que se fortalece mais facilmente entre os que

estão espacialmente próximos, em contraste ao que caracteriza o seu estabelecimento

por meio de vínculos longínquos. Ao estimular e promover trocas não obrigatórias de

recursos e serviços entre os atores, a confiança pode ser entendida como um mecanismo

de governança para relações enraizadas (UZZI, 2001, p. 8).

Evidentemente esses não são os únicos elementos a compor o ambiente

sociocultural com capacidade de interferir no resultado das relações econômicas. Mas,

novamente, estão sendo abordados por serem percebidos como aqueles que estão mais

proximamente relacionados ao tema da cooperação.

III.7. APROPRIANDO OS CONCEITOS PARA UMA REALIDADE

PARTICULAR – UMA DIGRESSÃO.

A importância da inovação para a prosperidade futura de uma nação ou região e

a característica institucional de sua dimensão são elementos previamente ressaltados na

parte inicial deste capítulo, na seção em que foi apresentada a relação entre

"clusterização" e desenvolvimento econômico.

Page 91: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

77

A moderna teoria da inovação demanda uma abordagem mais sociológica para o

processo de inovação, no qual esse mesmo aprendizado interativo discutido na seção

imediatamente anterior é considerado um aspecto fundamental (LUNDVALL apud

ASHEIM & COOKE, 1998, p. 147).

Apesar de não ser o foco central desta pesquisa, a inovação, consideradas essas

condições, configura-se como um elemento inevitável de uma agenda de discussão do

desenvolvimento local em bases endógenas, o que justifica, no mínimo, uma apropriada

explicitação das suas relações (percebidas) com os conceitos selecionados. E é na

perspectiva de ampliar a compreensão da lógica que orientou a adoção dos conceitos

anteriormente apresentados que se optou pela inclusão dos comentários a seguir.

Pode ser dito que pertencer a um cluster contribui para aumentar a

produtividade, o ritmo da inovação e a performance competitiva de uma empresa.

Clusters são um exemplo de como uma região pode reduzir riscos, aproveitando as

externalidades econômicas, a partir do encorajamento das relações verticais e

horizontais, recíprocas e cooperativas (MORGAN, 2004, p. 69).

A atividade industrial espacialmente concentrada alcança e sustenta com maior

dinamismo suas vantagens competitivas a partir da prática da inovação contínua, que,

por sua vez, requer cooperação interna, socialmente interativa (ASHEIM e COOKE,

1998, p. 148 e 174). Interações cooperativas encontram estímulo na proporção direta da

confiança estabelecida entre os agentes.

Os resultados dessas interações podem ser mais amplamente (ou mais

rapidamente) alcançados, do ponto de vista do interesse do desenvolvimento econômico

local, por meio de uma maior sofisticação dos mecanismos de governança, capazes de

contribuir para um melhor foco da trajetória do cluster.

Esse conjunto de elementos, com toda a complexidade de se identificar as

possíveis inter-relações e relações de causa e efeito, certamente contribui para um

ferramental analítico de maior amplitude.

Por uma questão de factibilidade da pesquisa, este trabalho enfatiza os conceitos

de cluster, eficiência coletiva e governança, reunidos e orientados pelo prisma da

cooperação. Mas deve-se ter em conta que a compreensão da dinâmica das relações nos

dois principais subsetores do Pólo Industrial de Manaus não pode se dar de forma

descontextualizada da abordagem institucional diretamente relacionada à inserção

social.

Page 92: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

78

Embora os demais conceitos – que poderiam ser chamados de complementares –

não tenham sido objetivamente tratados a partir de questões na configuração da pesquisa

(e, por essa razão, tampouco possam ser explicitados estatisticamente nos resultados),

influenciaram a construção da abordagem – conforme será visto à frente na discussão da

metodologia – assim como a análise dos resultados.

Evidentemente, a realidade é sempre mais complexa que os modelos a que se

recorre – e que a capacidade de interpretação do pesquisador – conseguem alcançar.

Mas o esforço de reunir os conceitos neste mosaico pode ser justificado por contribuir

para estabelecer mais nitidamente os limites da investigação e, conseqüentemente, seu

potencial de contribuição, assim como por favorecer que novas linhas de pesquisa, ainda

não privilegiadas, ou mesmo outros eventuais desdobramentos futuros, sejam mais

facilmente identificados.

Page 93: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

79

IV. CARACTERÍSTICAS DA METODOLOGIA DE PESQUISA UTILIZADA.

É razoavelmente aceito que, pelo menos nos últimos vinte anos, as abordagens

qualitativas na pesquisa têm conquistado um espaço significativo na produção

acadêmica (ATTRIDE-STIRLING, 2001, p. 385; PATTON, 2002, p. xxi-xxii),

fortalecendo sua capacidade de contribuir para a compreensão de fenômenos antes

reservados ao tratamento quantitativo, durante décadas responsável por um quase

monopólio no uso do adjetivo "científico".

Certamente têm colaborado para essa mudança uma maior sistematização na

descrição dos métodos de pesquisa utilizados e o surgimento de novas tecnologias que

auxiliam na manipulação de dados qualitativos, especialmente aqueles de caráter

textual.

Este capítulo apresenta os procedimentos que, utilizados na coleta e tratamento

dos dados, em seu conjunto caracterizam a metodologia empregada para alcançar os

objetivos estabelecidos para o projeto de pesquisa.

Além de descrever as etapas dessa metodologia, e comentar as decisões

inerentes às opções realizadas, o conteúdo identifica alguns dos obstáculos enfrentados,

incluindo aqueles mais diretamente relacionados à implementação da pesquisa de

campo, com o intuito de que o relato resultante possa ser útil no eventual planejamento

de atividades similares, especialmente no tratamento da problemática local.

IV.1. SELEÇÃO DA AMOSTRA.

Em virtude de esta pesquisa ter utilizado dois conjuntos distintos e bem

delimitados como fontes de informação na investigação de campo, sempre que

pertinente os esclarecimentos apresentados estarão associados de modo particular a cada

conjunto, como é o caso de suas seleção e composição, apresentadas destacadamente

nas seções seguintes.

IV.1.1. CONJUNTO DE EMPRESAS PESQUISADAS.

A opção pelo estudo dos subsetores Eletroeletrônico e Duas Rodas foi justificada

anteriormente, respaldada pelos números da atividade produtiva apresentados

originalmente nos capítulos I e II deste trabalho.

Fundamentalmente, os dois principais motivos que levaram a essa escolha são (i)

a importância dos dois subsetores para a economia do estado do Amazonas e (ii) a

Page 94: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

80

perspectiva de relações enraizadas de naturezas distintas, como conseqüência direta de

diferentes intensidades nas compras locais, quando comparados os dois subsetores.

A identificação das empresas que seriam abordadas, em cada um dos subsetores,

todavia, foi uma tarefa menos imediata.

Repetiu-se, para a definição da amostra, o critério da seleção em função da

expressão econômica, considerada a intenção do estudo de alcançar a maior repercussão

possível, com a análise dos resultados, enfatizando-se a perspectiva do desenvolvimento

econômico sustentável. Esta opção permite contemplar o conjunto das relações de

cooperação com maior potencial de impacto econômico, recorrendo-se ao valor da

produção como "peso" para a ponderação de sua representatividade. Embora deva ser

reconhecido que tal procedimento eventualmente represente uma redução no espectro

das experiências de cooperação passíveis de serem registradas, é uma peculiaridade que

de todo modo estaria associada a qualquer abordagem que privilegiasse uma amostra,

em detrimento do universo das empresas.

Definido o critério, o passo seguinte foi a obtenção de uma listagem com a

indicação do faturamento de cada uma das empresas incentivadas implantadas no Pólo

Industrial de Manaus (SUFRAMA, 2002). Por ser uma informação de acesso restrito, a

listagem só foi obtida em função da natureza e dos objetivos da pesquisa, sendo sua

utilização condicionada à não divulgação de dados personalizados.

Como a listagem apresentava o universo de empresas do PIM, foi necessário

identificar aquelas que faziam parte de cada um dos dois subsetores de interesse. Para

isso, tomou-se como referência as informações apresentadas em duas publicações

oficiais de responsabilidade da Suframa: o Perfil Industrial e os Indicadores de

Desempenho do Pólo Industrial de Manaus.

O Perfil Industrial (SUFRAMA, 2004b) é um cadastro com disponibilidade de

acesso on-line que inclui todas as empresas com projeto aprovado para implantação no

Pólo Industrial de Manaus, indicando o status dessa implantação, a linha de produtos

aprovada para a fabricação incentivada, bem como um conjunto de informações

cadastrais. É um documento de atualização periódica, justificada por motivos diversos:

fusões, alterações de razão social, novos projetos aprovados a cada reunião do Conselho

da Administração da Suframa, encerramento de atividades produtivas de empresas etc.

Observe-se que inclui todas as empresas, estejam elas em funcionamento, paralisadas ou

mesmo que não tenham, ainda, iniciado a produção. A cada ano as empresas devem

Page 95: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

81

renovar seus dados cadastrais, sendo esse, portanto, o intervalo máximo de atualização

dos dados individuais de uma determinada empresa.

Nesse documento, as empresas encontram-se estratificadas em 19 subsetores

industriais, alguns deles com subdivisões, aqui denominadas subgrupos.

A estratificação atualmente utilizada é uma composição histórica tradicional. A

ausência de critérios objetivos formalmente explicitados para a definição dessa

estratificação dá margem a tratamento individual mesmo para subsetores ou subgrupos

que hoje não correspondem a uma maior relevância econômica. Constata-se que pelo

menos 8 deles possuem o número de empresas variando entre zero (ou seja, um subsetor

ou subgrupo que não possui qualquer empresa ativa) e três.

Em virtude de uma alteração na linha de produção ou por qualquer nova

caracterização de interesse da Suframa, a empresa pode ser eventualmente deslocada de

um para outro subsetor. É o que ocorre, por exemplo, quando uma empresa possui uma

linha diversificada de produtos, o que admitiria mais de uma possibilidade de

classificação. Nesse caso, mesmo que a prática comum seja a de classificar a empresa

em função da sua linha de produtos mais representativa, em termos econômicos, este é

um status que pode variar ao longo do tempo em função das condições de mercado, o

que obviamente repercute nos indicadores de produção contabilizados para aquele

subsetor.

O segundo documento de referência, Indicadores de Desempenho do Pólo

Industrial de Manaus (SUFRAMA, 2004a), também se apresenta em formato eletrônico

com disponibilidade para acesso on-line, e configura um conjunto de dados sobre o

setor produtivo, de amplo alcance, cuja série histórica teve sua construção iniciada na

segunda metade dos anos 70, recebendo um tratamento mais elaborado a partir da

década de 80, continuamente aperfeiçoada em termos metodológicos desde então.

Além dos dados de produção e vendas (unidades produzidas e faturamento), esse

documento inclui ainda estatísticas relativas a salários, empregos, compras, impostos

etc. A série histórica dos dados agregados é uma boa referência para se compreender o

comportamento evolutivo da atividade industrial em Manaus, desde que utilizada com a

precaução devida, especialmente quanto às imprecisões já apontadas.

Ainda em relação a esse documento, apenas empresas a partir de um

determinado porte são formalmente obrigadas a submeter seus dados, e isto ocorre

segundo uma freqüência mensal. No período compreendido pelo trabalho de campo da

pesquisa, a quantidade de empresas abrangidas variava entre 300 e 350.

Page 96: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

82

Os dados brutos enviados pelas empresas para a composição destes indicadores,

devidamente manipulados, são a fonte original a partir da qual foi elaborada a listagem

com o ranking de faturamento das empresas para o ano de 2002, base para a escolha da

amostra.

Assim, de posse da listagem, com o auxílio do Perfil Industrial foram

identificadas as empresas que compunham os dois subsetores de interesse.

No caso do Eletroeletrônico, o subsetor identificado no Perfil Industrial é

denominado Material Elétrico, Eletrônico e de Comunicação, subdividido nos seguintes

subgrupos: (i) Pólo de Componentes, (ii) Pólo de Produtos Elétrico, Eletrônico e de

Comunicação exclusive Máquinas Copiadoras e Similares e (iii) Pólo de Máquinas

Copiadoras e Similares. Percebe-se que a reunião dos três subgrupos alcança tanto os

fabricantes de produtos acabados (bens finais) quanto os de componentes eletrônicos.

Em termos metodológicos, considerar o subsetor Eletroeletrônico como a reunião dos

três subgrupos justifica-se não só pela similaridade da natureza do trabalho e dos

processos das empresas que os constituem, mas também no fato de que vários dos

empreendedores – e, portanto, dos padrões de comportamento – possuem presença em

mais de um desses subgrupos.

O subsetor Duas Rodas, por sua vez, é indicado no Perfil Industrial como um

subgrupo do subsetor Material de Transporte. Mais acentuadamente que no caso do

Eletroeletrônico, existem empresas de interesse à análise do Duas Rodas compondo

outros subsetores, como são exemplos o subgrupo Outras Empresas do Subsetor

Mecânico, vinculado ao subsetor Mecânico, e o subsetor Metalúrgico.

O documento Indicadores de Desempenho do Pólo Industrial de Manaus foi

utilizado de forma complementar para que, a partir da análise da importância econômica

dos demais subsetores, e considerando que o foco da abordagem privilegia o conceito de

cluster, fossem identificadas outras empresas que pudessem fazer parte da amostra,

mesmo classificadas em outros subsetores ou subgrupos.

Observadas essas especificidades, a listagem principal deu origem a duas listas

de empresas ordenadas por faturamento decrescente, uma para cada subsetor em análise,

considerando apenas a própria classificação adotada pela Suframa. No subsetor

Eletroeletrônico, foram identificadas 117 empresas; no subsetor Duas Rodas, 19

empresas.

A partir das listas, fez-se uso do que talvez seja a principal distinção entre os

métodos para abordagens quantitativas e qualitativas: a amostra. No caso da pesquisa

Page 97: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

83

aqui descrita, e a partir das listas de empresas, em termos da definição da amostra

utilizou-se como critério a amostragem intencional (purposeful sampling) (PATTON,

2002, p. 237-8).

Enquanto a amostragem estatística, que predomina na abordagem quantitativa, é

uma base confiável e conveniente para que, a partir da identificação da existência de um

fenômeno na amostra, sejam alcançadas generalizações para a população como um

todo, a amostragem intencional privilegia o conteúdo da informação, procurando

selecionar casos particulares que contribuam para esclarecer as questões centrais da

investigação.

Dentre as diferentes possibilidades de estratégia para a realização da

amostragem intencional, optou-se pela denominada chain sampling (ou snowball), na

qual os elementos da amostra são definidos a partir da consulta a pessoas em posição

destacada, e mesmo a outros elementos já determinados para compor a amostra.

Segundo essa estratégia, solicita-se aos interlocutores a identificação de fontes

prioritárias de informação, considerando o contexto de interesse. A citação freqüente de

uma mesma fonte e a pertinência da potencial contribuição para o objetivo da pesquisa

justificam, então, sua inclusão na amostra (PATTON, 2002, p. 237-8).

Além dos casos mais destacados, a pesquisa pretendeu que a amostra atingisse o

equivalente a pelo menos 50% do faturamento de cada um dos dois subsetores, um

percentual que poderia ser ampliado se, após alcançado, ainda restasse prazo disponível

no período abrangido pelo tempo planejado para a realização do trabalho de campo,

correspondente a 10 meses. Esse prazo global, evidentemente, foi o principal elemento

balizador da amplitude da amostra, considerando o envolvimento de um único

pesquisador na condução da atividade de campo.

Uma implicação que resulta da decisão de utilizar o faturamento como um dos

critérios de seleção pode ser apreendida a partir do Gráfico IV.1, que apresenta uma

perspectiva do nível elevado de concentração desse faturamento, em um número

relativamente reduzido de empresas do subsetor Eletroeletrônico. Os 15 maiores

faturamentos, correspondentes às empresas genericamente denominadas de I a XV,

acumulam um quantitativo equivalente a quase 79% do faturamento total do subsetor,

enquanto as restantes 112 empresas, representadas pela coluna Outros, são responsáveis

por pouco mais de 21% do faturamento total.

Page 98: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

84

O nível de concentração é ainda maior no subsetor Duas Rodas, conforme pode

ser observado no Gráfico IV.2: apenas 4 empresas, representadas pelas letras de A a D,

são suficientes para que sejam alcançados 90% do faturamento total do subsetor.

GRÁFICO IV.1 SUBSETOR ELETROELETRÔNICO FATURAMENTO ACUMULADO, POR EMPRESA, EM 2002 (%)

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV Out

Faturamento Acumulado (%)

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos em SUFRAMA (2002).

A dinâmica da atividade industrial e o período até certo ponto prolongado da

pesquisa de campo provocaram a necessidade de alguns ajustes na amostra, como por

GRÁFICO IV.2 SUBSETOR DUAS RODAS FATURAMENTO ACUMULADO, POR EMPRESA, EM 2002 (%)

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

A B C D E F G H I J L Out

Faturamento Acumulado (%)

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos em SUFRAMA (2002).

Page 99: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

85

exemplo a inclusão de uma empresa do subsetor Eletroeletrônico que, por ser de

implantação recente, embora tivesse menor expressão econômica no ano base para a

geração da lista, foi atraída para Manaus em virtude de ser um fornecedor internacional

de vários dos fabricantes ali instalados, tornando-se em pouco tempo uma destacada

empresa local.

A Tabela IV.1 resume o conjunto final das empresas que participaram da

pesquisa de campo, estratificadas por alguns padrões de interesse.

Ressalte-se que por meio da amostragem intencional procurou-se introduzir um

equilíbrio na participação de empresas fabricantes de bem final e fornecedores de

componentes, uma vez que a interação entre elas é um dos elementos de destaque para a

abordagem das relações de cooperação em um cluster.

TABELA IV.1 PESQUISA DE CAMPO ESTRATIFICAÇÃO DAS EMPRESAS DA AMOSTRA,

POR SUBSETOR E NATUREZA DOS PRODUTOS

Natureza dos produtos Subsetor Bens Finais Componentes

TOTAL

Eletroeletrônico 6 2 8 Duas Rodas 3 2 5 Outros - 2 2

TOTAL 9 6 15 Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo e em

SUFRAMA (2004b).

Como a composição de cada subsetor, no Perfil Industrial, é orientada pela

natureza da atividade produtiva, e a interação fornecedor-produtor não se dá apenas

dentro do mesmo subsetor, também foram incluídas na amostra empresas de outros dois

subsetores. Uma delas, que compõe o subsetor Produtos de Matérias Plásticas, o terceiro

em faturamento no Pólo Industrial, foi uma das mais citadas empresas, considerando a

estratégia chain sampling; a outra, foi selecionada do subsetor Metalúrgico que,

conforme comentado, apresenta relação de proximidade com o subsetor Duas Rodas.

Entende-se que essa inclusão favorece a harmonia com os conceitos de aglomeração e

cluster.

Deve ser ressaltado que a classificação das empresas em seus respectivos

subsetores, na Tabela IV.1 e nas seguintes, acompanha as indicações apresentadas no

documento Perfil Industrial.

Page 100: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

86

Uma outra forma de estratificar a amostra pode se dar segundo a origem do

capital controlador do empreendimento, conforme apresentado na Tabela IV.2, sendo

que nesse caso a informação foi obtida a partir das próprias empresas. Em algumas

situações é indicado capital controlador de origem nacional, embora a empresa nacional

associada a esse controle tenha, por sua vez, um controle de capital de origem

estrangeira. Dada a importância da questão cultural para o tema em estudo, para a qual

existe um potencial de contribuição relacionado à cultura do país de origem da empresa

(ou corporação), a Tabela IV.2 apresenta duas colunas, uma com a informação original

e outra com a informação denominada como "corrigida".

TABELA IV.2 PESQUISA DE CAMPO ORIGEM DO CAPITAL CONTROLADOR DAS

EMPRESAS DA AMOSTRA

Quantidade Origem do Capital Controlador Original Corrigida Local 1 1 Nacional 6 3 Coréia 1 1 EUA 2 2 Finlândia 1 1 Holanda 0 1 Japão 4 6

TOTAL 15 15 Fonte: Elabora pelo autor, com base em pesquisa de campo.

A Tabela IV.3 resume a importância econômica das empresas envolvidas na

amostra, na qual está apontada a ordem ocupada por cada uma das empresas em termos

de sua representatividade para o faturamento do subsetor a que pertence e do PIM como

um todo.

Apesar de um menor número de empresas participando da amostra, a maior

concentração do faturamento apresentada pelo subsetor Duas Rodas permitiu que

fossem envolvidas empresas correspondendo a 87,6% do faturamento desse subsetor,

comparativamente a 52,7% do faturamento para o subsetor eletroeletrônico.

Evidentemente esses números não incluem o faturamento das duas empresas

selecionadas de outros subsetores de interesse, apesar de seu ranking também estar

indicado na Tabela IV.3.

Para facilitar as referências aos dados obtidos e a correspondente reflexão sobre

seu significado, ao mesmo tempo permitindo a oportunidade de um tratamento

Page 101: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

87

individualizado, mas sem comprometer o aspecto confidencial das informações

prestadas, as Tabelas IV.3 e IV.4 adotam uma identificação numérica associada às

empresas da amostra, estabelecida a partir de relação direta com a ordem cronológica

efetiva das interações realizadas na pesquisa de campo.

TABELA IV.3 PESQUISA DE CAMPO HIERARQUIA DE FATURAMENTO DAS

EMPRESAS DA AMOSTRA, EM 2002

Ordem de Faturamento Empresa Subsetor

No subsetor No PIM 01 E 12a 19a 02 D 1a 2a 03 D 2a 7a 04 D 11a 158a 05 O 5a 46a 06 E 3a 5a 07 E 4a 6a 08 E 8a 11a 09 E 22a 41a 10 E 2a 4a 11 D 10a 116a 12 D 3a 16a 13 O 4a 100a 14 E 9a 118a 15 E 1a 1a

Fonte: Elaborada pelo autor, com base nos dados obtidos em SUFRAMA (2002; 2004b).

A Tabela IV.4 apresenta a cronologia da realização das visitas, informando o

período de tempo em que cada empresa estava instalada na Zona Franca de Manaus, no

momento da interlocução, bem como a natureza de seus produtos (bens finais ou

componentes), permitindo a estratificação dessa informação segundo o subsetor e por

empresa.

Percebe-se que, em média, as empresas do subsetor Eletroeletrônico envolvidas

na pesquisa estavam desenvolvendo atividade industrial em Manaus há cerca de 16

anos; para o subsetor Duas Rodas essa média atinge 16 anos e 5 meses. O conjunto das

15 empresas pesquisadas, incluindo as 2 empresas de outros subsetores, tem uma média

Page 102: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

88

ainda um pouco superior, correspondente a 17 anos. A mais nova das empresas, no

momento da pesquisa, estava implantada há apenas 2 anos; a com maior experiência, há

32 anos.

TABELA IV.4 PESQUISA DE CAMPO CRONOLOGIA DAS VISITAS E EXPERIÊNCIA

LOCAL DAS EMPRESAS DA AMOSTRA

Empresa Subsetor Natureza Data (mês/ano)

Experiência na ZFM (anos)

01 E F 08/03 27 02 D F 08/03 27 03 D C 08/03 17 04 D C 08/03 11 05 O C 09/03 25 06 E F 03/04 9 07 E F 03/04 31 08 E F 03/04 10 09 E C 04/04 2 10 E F 04/04 32 11 D F 05/04 8 12 D F 05/04 19 13 O C 06/04 20 14 E C 06/04 13 15 E F 04/04 4

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo e em SUFRAMA (2002; 2004b).

Como elemento adicional final, ressalte-se que na composição do subsetor Duas

Rodas, em termos de fabricantes de bens finais, encontram-se principalmente empresas

que produzem bicicletas ou motocicletas. Para a composição da amostra, prevaleceram

as que têm relação com a fabricação de motocicletas, pelos motivos que estão mais

detalhadamente expostos no capítulo V.

IV.1.2. PERFIL DOS ENTREVISTADOS.

Além do questionário aplicado às empresas industriais, a metodologia envolveu

a coleta de dados sob a forma da exploração de informações relacionadas a diferentes

experiências de profissionais que acompanham ou participam da atividade empresarial

local.

Page 103: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

89

A escolha dos profissionais baseou-se na experiência pessoal do autor, mas

também considerou algumas sugestões obtidas durante as primeiras interações,

repetindo-se o uso da estratégia chain sampling.

Como resultado, o grupo de profissionais entrevistados reflete uma extensa

experiência relacionada à ZFM e possui projeção em termos da função que exerce ou

exerceu em empresas e organizações de diversas naturezas. Alguns dos entrevistados

atuam nas próprias empresas em que o questionário foi aplicado, o que permitiu

confirmar, detalhar ou até mesmo confrontar fatos de maior interesse.

Para a definição do grupo, foi buscada a diversidade quanto à experiência dos

profissionais, com o intuito de contemplar possíveis visões complementares sobre a

dinâmica local. No total, foram realizadas 16 entrevistas, estando as principais

características que compõem o perfil dos entrevistados resumidas na Tabela IV.5.

TABELA IV.5 PESQUISA DE CAMPO PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Entrevistado Subsetor Dimensão Data (mês/ano)

Experiência na ZFM*

(anos)

Local de Nascimento

AU E Empresa 10.03 19 S. Paulo

FD Geral Associação de Classe 08.03 18 R.G. Sul

FG Geral Governo 03.04 30 Amazonas GF E Instituição de P&D 03.04 19 Amazonas IX D Empresa 03.04 17 S. Paulo JC D Empresa 08.03 20 Amazonas

JMB E Governo 09.03 20 Amazonas JP E Empresa 04.04 9 Paraíba

JRS E Empresa 08.03 22 Ceará LNK D Empresa 06.04 20 S. Paulo

ML Geral Associação de Classe/ Empresa 12.03 23 R. Janeiro

MS E Empresa 04.04 2 Finlândia OM Geral Empresa 04.04 6 R. Janeiro RL E Consultoria 10.03 19 Amazonas

TY D Associação de Classe/ Consultoria 09.03 36 Japão

UT Geral Empresa 09.03 25 Amazonas Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo. * Contabilizada na data da entrevista

Page 104: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

90

Observa-se que, na média, os entrevistados apresentam aproximadamente 19

anos de atividade profissional relacionada à ZFM.

Embora a pesquisa tenha como foco a cooperação entre empresas, a importância

do ambiente em que se inserem fez com que fossem incluídos na amostra representantes

do setor governamental e de instituições de pesquisa.

O Anexo I apresenta a lista completa dos profissionais entrevistados, incluindo

uma breve descrição de suas credenciais.

IV.2. DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE COLETA.

Os instrumentos utilizados na estratégia de coleta dos dados foram basicamente

um questionário, aplicado nas empresas, e um roteiro de entrevista, utilizado nas

entrevistas dos profissionais.

IV.2.1. ESTRUTURA DO QUESTIONÁRIO.

O questionário utilizado está reproduzido no Anexo II. Sua constituição engloba

78 questões, subdivididas e agrupadas em 15 diferentes seções e tem como base um

questionário similar, utilizado por NADVI e SCHMITZ (1994), principal responsável

pela inspiração, de forma direta ou adaptada, de um quantitativo um pouco superior a

80% do total de questões formuladas.

Sobre esta base agregou-se cerca de 6% de contribuições obtidas a partir de

JARAMILLO et al. (2001), conhecido como Manual de Bogotá, que propõem questões

para a abordagem investigativa de atividades de inovação relacionadas a países

considerados em desenvolvimento.

A Tabela IV.6 oferece uma visão da distribuição das questões formuladas,

segundo os assuntos tratados, tendo como parâmetro o número de questões associadas a

cada assunto. A estratificação dos assuntos apresentados na primeira coluna dessa tabela

está em consonância com os principais conceitos abordados na fundamentação teórica

apresentada no Capítulo III deste trabalho.

IV.2.2. ROTEIRO DA ENTREVISTA.

Para cada profissional entrevistado foi elaborado um roteiro básico de entrevista,

procurando levar em consideração a exploração da sua experiência particular em relação

à atividade industrial incentivada em Manaus. Antes de representar uma limitação para

o conteúdo da entrevista, o roteiro foi adotado com o propósito de atuar como um

check-list para garantir que os temas de interesse fossem efetivamente tratados.

Page 105: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

91

TABELA IV.6 PESQUISA DE CAMPO COMPOSIÇÃO DO QUESTIONÁRIO, SEGUNDO ASSUNTOS

CONTEMPLADOS NAS QUESTÕES

Assunto Número de questões

Seção a que pertence (no questionário)

11 1 Geral/Perfil da empresa 7 2 5 4 3 5 4 9 5 10 4 11

Desempenho

1 15 Aglomeração/Externalidades 4 15

2 6 1 7 2 8

Interação

3 11 2 6 2 7 2 8 2 10 1 11

Cooperação

8 13 Competição 3 12

2 14 Governança 1 15 Inserção 3 3

Fonte: Elaborada pelo autor, com base no questionário utilizado para a coleta de dados nas empresas (Anexo II).

Em todas as sessões foi adotada a prática de permitir ao entrevistado,

considerados os objetivos previamente apresentados, adicionar determinado tema por

ele considerado relevante, e sobre o qual desejasse manifestar seu ponto de vista ou

relatar alguma experiência pertinente.

Um exemplo de roteiro utilizado está apresentado no Anexo III.

IV.3. IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE COLETA.

A coleta de dados ocorreu no período de agosto de 2003 a junho de 2004,

conforme está apresentado na Tabela IV.7, extrapolando em 1 mês o período

inicialmente planejado.

Page 106: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

92

Houve uma proposital interposição entre as aplicações do questionário nas

empresas dos dois subsetores e a realização das entrevistas, de forma a ampliar

eventuais sinergias nas respostas obtidas.

TABELA IV.7 PESQUISA DE CAMPO CRONOGRAMA DAS INTERAÇÕES OCORRIDAS

Número de contatos efetivados Mês/Ano

Entrevistas Aplicação de questionário

08/2003 3 4 09/2003 3 1 10/2003 2 - 12/2003 1 - 03/2004 3 3 04/2004 3 3 05/2004 - 2 06/2004 1 2 TOTAL 16 15

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo.

Embora tenha sido elaborado um planejamento inicial na ordenação das

interações, para o caso das empresas, na prática houve a necessidade de adaptações à

agenda dos profissionais envolvidos, e até de reprogramação de empresas que não

aceitaram a participação na pesquisa.

O quase interregno representado pelos dois últimos meses de 2003 e os dois

primeiros meses de 2004 é conseqüência das características da atividade industrial local.

Nesse período, a desaceleração na demanda provoca uma concentração das férias

coletivas nos setores de produção das empresas, assim como de seus dirigentes, o que de

uma certa forma impediu uma trajetória mais homogênea para o ritmo da pesquisa de

campo.

A aplicação dos questionários e a realização das entrevistas foram conduzidas

pessoalmente e exclusivamente pelo autor, evitando-se com isso possibilidades de dúbia

interpretação das questões formuladas, e até mesmo permitindo o aprofundamento de

temas, pela possibilidade do imediato estabelecimento de conexões com respostas

proporcionadas por interlocuções anteriores, no caso das entrevistas.

Cada aplicação do questionário exigiu um período de tempo variando

aproximadamente entre 60 e 120 minutos; no caso das entrevistas, a média alcançou 75

Page 107: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

93

minutos, mas com uma amplitude de variação maior, entre os limites de 30 e 210

minutos.

A cada interação com empresa, duas cópias do questionário eram utilizadas,

ficando uma sob a guarda do respondente, para melhor acompanhamento das questões

formuladas, e outra sendo preenchida de próprio punho pelo pesquisador.

Algumas vezes a submissão prévia do questionário, por meio eletrônico, foi

necessária para a aprovação da participação na pesquisa. Uma única vez o

preenchimento se deu sem a presença do pesquisador, por opção da empresa, que

submeteu o questionário preenchido por meio de arquivo eletrônico.

Ainda no caso da aplicação dos questionários, algumas empresas optaram por

não responder determinadas questões que, sob a ótica do respondente, envolviam

informação sigilosa. O caso mais comum esteve relacionado às questões de ordem

financeira e mercadológica.

No caso das entrevistas, todos os depoimentos foram gravados em fita cassete.

Das 16 entrevistas realizadas, 15 foram presenciais e apenas 1 foi realizada

remotamente, por telefone.

Todas as interações, seja na aplicação do questionário, seja na realização da

entrevista, iniciaram-se pela apresentação do pesquisador e dos objetivos da pesquisa.

IV.4. TRATAMENTO DOS DADOS.

A capacidade de transformar a massa de dados em descobertas relevantes talvez

não seja o único, mas é seguramente o principal desafio das análises qualitativas. E a

dificuldade instala-se na medida em que não existem fórmulas ou outros meios para

replicar perfeitamente os processos de pensamento analítico de um pesquisador. Com

isso, a identificação de padrões e a comunicação do que de essencial os dados revelam

torna-se um resultado pessoal, dependente da capacidade intelectual, mas também da

honestidade do pesquisador, conforme ressalta PATTON (2002, p. 433):

"[…]Because each qualitative study is unique, the analytical approach used will be unique. Because qualitative inquiry depends, at every stage, on the skills, training, insights, and capabilities of the inquirer, qualitative analysis ultimately depends on the analytical intellect and style of the analyst. The human factor is the great strength and the fundamental weakness of qualitative inquiry and analysis – a scientific two-edge sword".

Essa constatação reflete-se em uma responsabilidade adicional para o

pesquisador que, diferentemente de abordagens lastreadas em ferramentas estatísticas,

deve ampliar o espaço e, conseqüentemente, realizar um esforço suplementar, para que,

Page 108: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

94

além dos resultados, seja reportado e discutido, com a maior precisão possível, seu

próprio processo analítico.

Na tentativa de alcançar uma maior familiaridade com os dados qualitativos,

especialmente aqueles relacionados às entrevistas, a transcrição dos conteúdos das fitas

cassete ("degravação") também foi uma tarefa integralmente realizada pelo próprio

autor.

As respostas aos questionários foram tabuladas em quadros-resumo, agrupadas a

partir do conteúdo e estratificadas segundo o perfil das empresas.

Cabe ressaltar que todas as principais reflexões, mediadas pelos objetivos da

pesquisa, tiveram por base um comportamento que procura separar descrição de

interpretação, orientando-se pelos três balizadores para a avaliação em uma pesquisa

qualitativa: (i) confirmar o que é sabido, suportado em dados; (ii) abandonar concepções

prévias errôneas e (iii) ressaltar elementos importantes que não eram conhecidos, mas

deveriam ser (PATTON, 2002, p. 480).

Finalmente, a Tabela IV.8 oferece uma apreciação resumida dos aspectos

considerados mais importantes sobre a metodologia utilizada.

IV.5 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES.

Não é difícil encontrar, no mesmo fator que revela a fortaleza da abordagem

qualitativa, a sua fragilidade.

A inexistência de métodos amplamente aplicáveis na realização de análises

qualitativas, que tenham sido testados, consolidados e aceitos, de certa forma repercute

na discussão da validade dos resultados. Contornar essa dificuldade é uma tarefa aqui

tratada, conforme recomenda a bibliografia especializada, por meio de uma exposição

mais detalhada dos procedimentos adotados.

Também a opção por um trabalho individual, se por um lado estende a

capacidade do pesquisador de aprofundar-se nos dados e casos em estudo, em

contrapartida estabelece limites para o número de elementos da amostra, que de outro

modo poderia ser mais amplo.

Um fato não esperado – e relevante – na pesquisa de campo foi a dificuldade de

acesso a algumas empresas contatadas. Parte da responsabilidade pela extensão do

cronograma efetivamente realizado deveu-se a tentativas infrutíferas de envolver na

amostra algumas empresas que, pela estratégia do ranking de faturamento, estariam à

frente de outras empresas que acabaram por substituí-las.

Page 109: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

95

Talvez isto seja uma conseqüência de que atividades de pesquisa sejam ainda

muito esporádicas ou mesmo que não tenha se estabelecido uma maior confiança das

empresas quanto ao propósito ou relevância de atividades desenvolvidas pela academia.

TABELA IV.8 PESQUISA DE CAMPO RESUMO DOS PONTOS RELEVANTES DA METODOLOGIA

Objeto da interação Etapa

Empresas Profissionais

Tamanho e seleção da amostra

15 empresas; amostragem intencional (estratégias chain sampling e faturamento)

16 profissionais; amostragem intencional (estratégias chain sampling e experiência pessoal do autor) e estratificada (indústria, governo, instituições de pesquisa, associações)

Instrumento de coleta Questionário padrão

Entrevista baseada em roteiro individual, previamente definido, gravada em fita cassete

Forma de apresentação dos temas

Questões estruturadas, iguais para todas as empresas

Semi-estruturada: temas principais comuns a todos os entrevistados, complementados por temas específicos, adaptados a cada indivíduo; espaço para inclusão de outros assuntos

Definição do momento da interação

Discussão direta prévia (telefone e/ou e-mail) com o principal executivo ou profissional por ele indicado

Discussão direta prévia (telefone e/ou e-mail)

Local da interação

Aplicação in loco (com 1 exceção, em que a empresa optou pelo preenchimento e envio eletrônico dos dados)

Entrevista conduzida no ambiente de trabalho do entrevistado (com 1 exceção, realizada no ambiente de trabalho do pesquisador), presencial (com 1 exceção, realizada por telefone)

Duração da interação

Entre 60 e 120 minutos, em seção única

Entre 30 e 210 minutos, em até 2 seções

Apresentação e abordagem inicial

Apresentação de carta, complementada com exposição presencial, com explicação dos objetivos do trabalho e do compromisso com o sigilo das informações

Exposição presencial de alguns conceitos de trabalho, dos objetivos da pesquisa e do roteiro, previamente ao início da entrevista

Análise dos dados

Tabulação dos dados dos questionários em quadros-resumo; comentários efetuados sobre os resultados percebidos como relevantes

Degravação integral dos conteúdos, pelo próprio autor; análise de conteúdo, tomando-se a citação de palavras-chave como referência, com extração dos dados considerados relevantes; comentários acrescidos com o objetivo de ressaltar e compor perspectivas

Fonte: Elaborada pelo autor, adaptada a partir de SIEGEL et al. (2003, p. 37)

Page 110: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

96

Uma hipótese para que o pesquisador alcance maior aceitação por parte das

empresas, para a realização da atividade de campo, em trabalhos similares, é o seu

encaminhamento também ser efetuado pela Suframa, evidentemente supondo o prévio

interesse dessa instituição no conteúdo da proposta de estudo, ao invés de ser realizado

exclusivamente pela academia.

Page 111: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

97

V. CARACTERÍSTICAS DA COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS NO

SUBSETOR DUAS RODAS.

Os principais resultados obtidos a partir da análise dos dados coletados com a

pesquisa de campo, em relação ao subsetor Duas Rodas, estão descritos nas seções que

se seguem, neste capítulo.

Para facilitar a compreensão de como se estabelecem as relações de cooperação

entre as empresas, no subsetor, optou-se pela exposição dos dados e das inferências a

eles associadas segundo um recorte que os agrupa em dois diferentes níveis de

detalhamento.

Inicialmente, considera-se uma perspectiva mais geral, em que são descritos os

três principais componentes que contribuem para formar a identidade do subsetor,

influenciando a relação de forças que atuam em seu ambiente e, de forma direta,

condicionando sua dinâmica.

Em seguida, avançando no nível de detalhamento, são explorados as interações e

os elementos de cooperação reconhecidos.

V.1. IDENTIFICAÇÃO DO CLUSTER DUAS RODAS.

Excetuando-se as empresas paralisadas, ou que ainda estejam em processo de

implantação, todas as demais empresas que constituem o subsetor Duas Rodas estão

registradas na Tabela V.1.

A composição ali exibida, baseada em uma classificação apresentada em

documento oficial e complementada por dados da pesquisa de campo, não é, todavia,

suficientemente abrangente a ponto de oferecer uma visão adequada do que poderia ser

chamado "cluster Duas Rodas". Para isso torna-se necessário ampliá-la, de modo a

incluir as empresas que, embora classificadas em outros subsetores, participam do que

seria a sua "cadeia produtiva".

Com a ampliação, entende-se que estaria atendida uma condição necessária à

coerência da análise frente aos conceitos tratados no capítulo III, especialmente os de

aglomeração e cluster.

A materialização dessa necessidade repercutiu, inclusive, na composição da

amostra, conforme já discutido, tendo sido objeto de atenção desde o momento

inicial de concepção da abordagem metodológica.

Page 112: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

98

TABELA V.1 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS EMPRESAS E LINHAS DE PRODUÇÃO DO SUBSETOR DUAS RODAS

Empresa Linha de Produção Aprovada Agrale Amazônia S.A. Ciclomotor, motocicleta, motoneta, quadriciclo

ASAP Ciclo Componentes Ltda Componentes para bicicletas: amortecedor, aro, garfo, guidão, cubo da roda, raio para roda, roda

Caloi Norte S.A. Bicicleta, ciclomotor, motoneta, motor de popa, motocicleta, gerador, quadriciclo, bicicleta ergométrica e brinquedo mecânico "patinete"

Companhia Brasileira de Bicicletas S/A

Bicicleta, bicicleta ergométrica, ciclomotor, brinquedo mecânico, motocicleta, esteira rolante elétrica, triciclo, quadriciclo, stepper

Harley-Davidson do Brasil Ltda Motocicleta Honda Componentes da Amazônia Ltda Partes, peças e componentes para motocicleta

HTA Ind. e Com. Ltda. Ferramentas, gerador, motor estacionário, peças e componentes

J. Toledo da Amazônia Ind. e Com. de Veículos Ltda Ciclomotor, motoneta, motocicleta, quadriciclo

Kasinski Fabricadora de Veículos Ltda

Motocicleta, motoneta, triciclo, utilitário não esportivo

Monark da Amazônia S.A. Bicicleta

Moto Honda da Amazônia Ltda Motocicleta, motoneta, quadriciclo, motor estacionário e partes e peças para motocicleta

Prince Bike Norte Ltda Bicicleta

Showa do Brasil Ltda Amortecedor para motocicleta, peças e partes para amortecedor

Yamaha Componentes da Amazônia Ltda Partes e peças para motocicleta

Yamaha Motor da Amazônia Ltda Motocicleta Fonte: Elaborada pelo autor com base em SUFRAMA (2004b) e na pesquisa de campo

O resultado obtido respeitando esta condição está apresentado na Figura V.1, na

qual estão reunidas as principais empresas identificadas para o cluster13 em questão,

mas desta feita não mais em forma de tabela. Assim, além do próprio subsetor Duas

Rodas – considerado segundo a perspectiva adotada pelo Perfil Industrial (SUFRAMA,

2004b) – percebe-se a participação de empresas de outros 4 subsetores (mecânico,

metalúrgico, eletroeletrônico e termoplástico), que com ele interagem em grau mais

significativo.

13 Na revisão conceitual foi possível firmar a idéia de que um cluster abrange outros atores (ou agentes) que não apenas as empresas. A delimitação, no caso da figura, justifica-se porque o foco estabelecido para a pesquisa está na cooperação entre empresas, o que não impede que sejam feitas algumas considerações sobre a participação dos demais atores presentes, conforme será visto à frente, neste mesmo capítulo.

Page 113: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

99

FIGURA V.1 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS EMPRESAS DO CLUSTER DUAS RODAS

MECÂNICO Nippon Seiki Leakless

J C J C ELETROELETRÔNICO Mitsuba Musashi GK&B TERMOPLÁSTICO

J C J C - C Multibras IFER Springer Plást.FCC Denso - C - C - C

J C J C Keihin Showa DUAS RODAS J C J C Honda Comp.

MOTO HONDA Yamaha Yamaha Comp.

J C J M J C HTA

J M J. Toledo Kasinski

METALÚRGICO J C - M - M Metalfino Nissin Brake Harley-Davidson Caloi Monark J C J C - M - M, B - B

Sodécia Scorpios Ava CBB Prince Bike ASAP - C - C - M - M, B - B - C

Tecal Reflect Agrale - C - C - M LEGENDA NOME da Empresa (quando sombreado, indica fornecedor Honda)

IDENTIFICAÇÃO de origem japonesa

PRODUTO fabricado (Motocicleta, Bicicleta

ou Componente)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo

Page 114: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

100

Isto remete à necessidade de que seja ressaltada a diferença entre o "subsetor"

Duas Rodas, conforme tradicionalmente tratado pelos órgãos oficiais, e o "cluster" Duas

Rodas. A partir deste ponto, sempre que for feita uma referência ao cluster, entenda-se o

conjunto de abrangência mais ampla, com a participação de empresas de outros

subsetores, representado pela ilustração contida na Figura V.1.

Ainda em referência à figura, sua concepção tem a intenção de facilitar a

compreensão das características mais relevantes observadas para esse cluster, resumidas

nos seguintes pontos: (i) a importância técnica e econômica do produto motocicleta,

comparativamente aos demais produtos (bens finais) fabricados; (ii) o papel dominante

desempenhado pela empresa Moto Honda da Amazônia e (iii) o predomínio de

empresas de capital e tecnologia de origem japonesa. Essas três características, por

conferirem uma singularidade ao cluster, serão exploradas individualmente, nas seções

a seguir.

V.1.1. A REPRESENTATIVIDADE DO PRODUTO MOTOCICLETA.

Segundo dados oficiais (SUFRAMA, 2004a), a motocicleta14 esteve entre os três

produtos de maior faturamento, dentre todos os fabricados no PIM, em cada um dos

anos do período recente compreendido pelo intervalo 1999-2003, compartilhando essa

primazia com os produtos televisor em cores e telefone celular.

Nesse mesmo período, foi responsável por no mínimo 93,4% do faturamento

anual relativo a bens finais do subsetor Duas Rodas, atingindo um máximo de 96,1%

justamente em 2003, o ano mais recente do intervalo. Tamanha contribuição

corresponde a uma representatividade única do produto, tanto para o subsetor quanto

para o cluster Duas Rodas, naturalmente exigindo, neste trabalho, maior atenção às

relações entre empresas que participam de sua cadeia produtiva na aglomeração local.

Bicicleta, o segundo produto em importância econômica, alcançou apenas 3,9%

do faturamento total do subsetor no ano de 2003; os demais produtos (triciclo,

quadriciclo, patinete etc) correspondem a uma participação não significativa, em parte

um reflexo de uma produção intermitente.

Um segundo argumento que corrobora um tratamento diferenciado ampara-se

nos distintos níveis de complexidade desses dois produtos, tanto em termos de conteúdo 14 O termo é o mesmo utilizado nas estatísticas da Suframa, e será aqui empregado para também representar, além da própria motocicleta, os produtos motoneta e ciclomotor. Embora todos sejam veículos automotores, existem entre eles diferenças técnicas cuja discussão foge aos propósitos deste trabalho. A alternativa "motociclo", talvez a mais adequada, é aqui descartada apenas por seu uso menos familiar.

Page 115: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

101

tecnológico, quanto em termos de infra-estrutura para sua produção (máquinas,

equipamentos, processos e, principalmente, qualificação da mão-de-obra). A

motocicleta é um produto com maior conteúdo tecnológico, que requer conhecimentos,

habilidades e especializações mais diversificadas. Por conseqüência, apresenta potencial

para mais intensas e variadas interações entre empresas.

A distinção, portanto, minimiza o risco de se uniformizar o tratamento de ambos

os produtos e seus respectivos fabricantes, reduzindo a possibilidade de generalizações

equivocadas na interpretação dos dados.

Cabe ressaltar que, a partir das consultas realizadas, foram identificadas apenas

duas empresas que fabricam, ao mesmo tempo, bicicletas e motocicletas (estas, no caso,

do tipo motoneta); todas as demais fabricam exclusivamente um dentre esses dois

produtos, conforme explicitado na Tabela V.1.

A Figura V.1 também incorpora essa informação, sendo possível perceber os

fabricantes de produtos acabados – todos pertencentes ao subsetor Duas Rodas – e as

suas linhas de produção correspondentes, no que dizem respeito a esses dois produtos.

No arranjo concebido, as empresas estão agrupadas pela similaridade das linhas de

produção, o que permite um reconhecimento imediato. Assim, estão agrupadas as 7

empresas que fabricam exclusivamente motocicletas (Moto Honda, Yamaha, J. Toledo,

Kasinski, Harley-Davidson, Ava e Agrale) e, da mesma forma, as 2 que se dedicam

exclusivamente à fabricação de bicicletas (Monark e Prince Bike) e as 2 que fabricam

ambos os produtos (Caloi Norte e Companhia Brasileira de Bicicletas). As demais

integrantes do subsetor Duas Rodas são fabricantes de componentes para motocicletas

(Honda Componentes, Yamaha Componentes, Showa e HTA), com exceção da Asap,

que é fabricante de componentes para bicicletas. As empresas dos demais subsetores

que compõem o cluster também são fabricantes de componentes, sejam eles dedicados

apenas aos produtos de duas rodas (particularmente algumas empresas dos subsetores

Mecânico e Metalúrgico), ou de atendimento mais amplo, como é o caso das empresas

dos subsetores Eletroeletrônico e Termoplástico.

Portanto, em reflexo à influência do produto motocicleta, deve ser considerado

que as conclusões aqui delineadas terão sido obtidas a partir da observação e análise do

comportamento de empresas de um cluster cuja denominação mais específica e

apropriada talvez fosse "Duas Rodas motorizado".

Page 116: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

102

V.1.2. CLUSTER DUAS RODAS OU CLUSTER HONDA?

Uma segunda importante constatação proporcionada pela pesquisa de campo é

quanto à presença dominante da empresa Moto Honda no cluster Duas Rodas,

influenciando e de certo modo determinando sua trajetória, conforme pode ser

exemplificado por alguns números a ela associados.

A Honda15, instalada em um terreno de 500 mil m2, é a maior empresa em área

construída no Distrito Industrial de Manaus, com 125 mil m2, constituindo um

complexo que corresponde a US$ 550 milhões em investimentos acumulados desde a

sua implantação, em 1976, tendo empregado 5,6 mil profissionais em 2004. Segundo

dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores,

Motonetas e Bicicletas (ABRACICLO, 2005), a entidade que congrega as empresas do

segmento de duas rodas, sua produção em 2004 alcançou 895 mil unidades de

motocicletas, o que corresponderia a aproximadamente 84,7% do mercado nacional.

Considerando que a produção brasileira de motocicletas está concentrada em Manaus,

isto qualifica a empresa como um fabricante de expressão nacional, e até mesmo

internacional, pois estima-se que seja a 4a maior fábrica de motocicletas do mundo.

Esse porte faz com que as ações da empresa, em termos de suas relações

industriais, proporcionem uma repercussão sem similar, com influência direta no

comportamento dos demais atores do cluster.

A intensidade de sua influência pode ser aquilatada pelo número de seus

fornecedores locais, conforme demonstram os retângulos sombreados na Figura V.1:

dentre os 21 fabricantes de componentes para motocicletas, 19 são fornecedores Honda.

Em relação à Yamaha, segunda maior empresa do setor, com cerca de 13,5% do

mercado (ABRACICLO, 2005), foram identificados 9 fornecedores locais (incluindo 2

empresas ainda em processo inicial de negociação), sendo 7 deles fornecedores comuns

à Honda (Nissin Brake, FCC, Musashi, Mitsuba, Keihin, Reflect, Metalfino), 1

fornecedor dedicado (Yamaha Componentes) e 1 de atendimento amplo ao pólo

industrial (Springer Plásticos).

O poder atrelado a uma demanda assegurada e contínua de insumos e

componentes é capaz de fazer com que a Honda, em determinados momentos,

desempenhe até um papel a princípio reservado a órgãos governamentais, no qual se

15 A abreviação Honda será preferencialmente utilizada, a partir deste ponto, em substituição à denominação completa da empresa, Moto Honda da Amazônia Ltda.

Page 117: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

103

incluem a promoção de investimentos e a atração de empresas – ainda que as de seu

interesse – com o conseqüente adensamento local da cadeia produtiva a que pertence.

Portanto, as ações protagonizadas pela empresa têm um alcance potencial bem

mais amplo que apenas os eventuais resultados apresentados pelo seu desempenho nos

negócios, e o que se percebe é que os principais momentos da trajetória do cluster têm

estreito vínculo com a trajetória da própria Honda.

V.1.3. A INFLUÊNCIA DE UMA CULTURA ESTRANGEIRA.

A característica que ressalta como a mais singular dentre as associadas ao cluster

Duas Rodas é a elevada concentração de empresas de origem japonesa, talvez um

fenômeno único em termos de um predomínio tão significativo de uma cultura de outro

país, quando observado o conjunto de subsetores do Pólo Industrial de Manaus

Essa característica não está apenas confinada aos dois principais fabricantes de

motocicletas, Honda e Yamaha. Ela também se reflete na composição da rede de

fornecedores de insumos e componentes: no total, metade das empresas de alguma

forma relacionadas à fabricação de motocicletas, no cluster, é de origem japonesa.

Alguns desses fornecedores foram estimulados a instalarem-se em Manaus em

conseqüência da capacidade de compras da Honda, corroborada por um relacionamento

prévio entre as matrizes das empresas, no Japão.

De certa forma, então, houve a transferência de um "capital acumulado" em

relações de negócios, do Japão para Manaus. Juntamente com as relações de negócios,

aportaram em Manaus práticas profissionais, valores e outros elementos da cultura

daquele país, reforçando e ampliando a participação da colônia japonesa na economia

do estado do Amazonas, cuja presença, embora antecedendo em algumas décadas o

advento da Zona Franca de Manaus, anteriormente distinguia-se por uma atuação

concentrada na atividade agrícola.

Em parte, a preservação dos aspectos culturais é mantida pela presença de

técnicos japoneses (ou descendentes de japoneses) na ocupação de cargos e funções nos

níveis mais elevados. Ao ser consultada a informação oficial (SUFRAMA, 2004b),

percebe-se que todos os nomes dos principais executivos ou representantes das 15

empresas com esse perfil revelam a origem japonesa.

A manutenção de uma identidade é suportada, ainda, por interações em

instituições locais, como a Associação Nipo-Brasileira da Amazônia Ocidental e a

Câmara de Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do Amazonas, que respectivamente

Page 118: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

104

privilegiam aspectos sociais e de negócios. Os contatos entre os membros associados

são constantes oportunidades para o fortalecimento dessa cultura, reforçando a

existência desse ambiente específico, particular.

Depreende-se que os padrões culturais assim sedimentados são o principal

responsável por um comportamento entendido como ético e não-oportunístico nas

relações entre empresas, ressaltado por vários dos entrevistados, e cuja existência em

boa parte está alicerçada na confiança mútua que a origem comum proporciona.

V.2. COOPERAÇÃO E INTERAÇÃO NO CLUSTER DUAS RODAS.

Ressaltadas essas três principais características, é possível discutir e aprofundar

a perspectiva para as diferentes formas de cooperação reconhecidas a partir da coleta

dos dados.

Das 15 empresas submetidas ao questionário, 8 fazem parte do cluster Duas

Rodas e, portanto, suas respostas foram utilizadas na análise e comentários inseridos

neste capítulo.

Nesse subconjunto de 8 empresas, e considerando o conceito de origem

"corrigida" do capital, conforme utilizado na composição da Tabela IV.2, foram

identificadas 6 empresas de origem estrangeira (5 japonesas e 1 americana), 1 nacional e

1 local. Em relação à natureza dos produtos, 3 são fabricantes de motocicletas e 5 são

fornecedoras de componentes, partes e peças para motocicletas.

Tomando-se como referência a Tabela IV.1, e as explicações apresentadas na

seção V.1, neste capítulo, além das 5 empresas do subsetor Duas Rodas, as demais

empresas pertencentes ao cluster têm sua origem no subsetor Eletroeletrônico (1) e em

Outros subsetores (2).

Das pessoas que, destacadas pelas empresas, responderam ao questionário, 5 são

naturais do Amazonas e 3 são de outras regiões do país. Em suas respostas, não houve

qualquer vinculação entre o fato de tornar-se empreendedor em Manaus e a necessidade

de ser originário da cidade. Apenas 1 indicou a importância de ser da liderança local,

uma incidência que torna-se ainda mais significativa se for considerada a

representatividade dos respondentes: 5 desempenham funções de gerência, 2 ocupam

funções de diretoria e 1 é o próprio dono da empresa. Por essas respostas, depreende-se

que a cultura do ambiente local não oferece barreira à entrada de novos

empreendedores, independentemente de sua origem.

Page 119: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

105

A preocupação com a qualidade sobressai como um padrão de comportamento

no cluster. Em termos de importância, a "Qualidade" é considerada como o primeiro

fator para a competição para 6 empresas, enquanto o "Preço" e o "Design" foram

apontados no mesmo nível de prioridade por apenas 1 empresa cada.

Os reflexos dessa preocupação podem ser percebidos na organização interna da

produção das empresas: todas mantêm treinamento na área da qualidade para seus

empregados e utilizam-se das técnicas básicas ("Inspeção de recebimento", "Inspeção

final" e "Controle estatístico de processo"); 5 delas (todas japonesas) praticam "Círculos

de controle da qualidade", uma técnica originária e bastante disseminada no Japão; 6

empresas (incluindo 4 japonesas) utilizam-se de "Gestão pela qualidade total".

A "Certificação de qualidade ISO 9000" atinge mais empresas (87,5%) que a

"Certificação ambiental ISO 14000" (62,5%). E todas as empresas, sem exceção,

utilizam-se de "Relações com os clientes para melhoria da qualidade".

Ampliando um pouco mais a perspectiva, também é possível reconhecer esse

compromisso com melhoria contínua na organização da produção: 6 das 8 empresas

alteraram a forma pela qual organizam e controlam a produção, nos últimos 5 anos,

sendo todas as iniciativas "Seguindo novos métodos de organização trazidos de fora" da

fábrica. Em 2 das empresas, pela natureza de seus produtos (componentes), a produção

é organizada exclusivamente por "Arranjo em células/grupos de manufatura"; todas as

demais se utilizam de "Linha de montagem" tradicional ou um arranjo "Misto".

Como conseqüência, confirma-se uma relação entre essa preocupação com os

processos e a percepção de um desempenho superior: 1 empresa avalia que seu produto

"Melhorou um pouco" nos últimos 5 anos e as demais 7 acreditam que "Melhorou

bastante".

Uma prática comum às empresas pesquisadas, com uma única exceção

(justamente a que se revelou com poucas relações locais), é a realização de visitas de

benchmarking a outras empresas locais, atestada como uma importante fonte de

informação e cooperação, em qualquer de suas formas (horizontal ou vertical).

Reunindo-se os dois lados da experiência, "Ser visitada" é uma prática considerada

"Freqüente" por metade das empresas e "Ocasional" pela outra metade; "Realizar visita"

é "Freqüente" para 3 empresas e "Ocasional" para 4. As visitas são compreendidas até

mesmo como fonte principal de informação para a "Inovação de processo", tendo sido,

neste caso, consideradas uma prática "Ocasional" por 6 empresas e "Freqüente" por 1

empresa.

Page 120: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

106

Esses dados sugerem uma postura pró-ativa por parte das empresas do cluster,

que favorece uma dinâmica de contínua evolução nos processos, características que

auxiliam a compreensão dos elementos de cooperação, detalhados a seguir.

V.2.1. ASSIMETRIAS NA COOPERAÇÃO HORIZONTAL.

Honda e Yamaha, juntas, respondem por mais de 98% das vendas de

motocicletas no mercado nacional, além de serem apontadas como as duas únicas

empresas exportadoras (ABRACICLO, 2005). Este é um fator que pode ser considerado

um balizador para as possibilidades da cooperação horizontal no cluster Duas Rodas.

O maior porte dessas duas empresas, quando comparado ao das demais

concorrentes, e o fato de serem ambas de origem japonesa, foram percebidos como os

principais motivos para que apresentem um comportamento local que é considerado por

vários dos entrevistados como bastante distinto daquele atribuído às suas matrizes no

Japão, e aqui interpretado como determinante em termos das possibilidades de

cooperação horizontal no cluster.

A competição direta na disputa pelos mercados brasileiro e internacional não

impediu que Honda e Yamaha tenham construído uma relação de cordialidade, na qual

são encontrados exemplos de cooperação, no caso das unidades fabris de Manaus.

Dentre esses exemplos, ressaltou a ocorrência, em um passado recente, de visitas

mútuas para intercâmbio de experiências em gestão, especialmente nas áreas de

qualidade e meio ambiente.

As atividades relacionadas às práticas de gestão acabam por configurar-se em

maiores oportunidades de cooperação por não serem consideradas pelas empresas como

elementos estratégicos para o sucesso do negócio (ou "de sigilo industrial", conforme

reportado). Essa pré-disposição cooperativa é também sinalizada, por parte da Honda,

para outras áreas, tais como as de responsabilidade social e segurança.

Em fase anterior, talvez o momento mais peculiar do relacionamento tenha sido

alcançado quando a Honda implementou, em seu ambiente de produção, parte de um

processo de fabricação para atendimento à Yamaha, tornando-se sua fornecedora. Isto

ocorreu no período entre 1994 e 1997, em que a Honda forneceu à Yamaha cilindro

externo de amortecedor dianteiro e placa inferior de assento, ambos para motocicleta,

por possuir o único processo em Manaus que poderia, à época, fabricar estes dois itens.

Essa relação de fornecimento implicou em que a Yamaha, motivada pelos

padrões de seu sistema da qualidade, realizasse auditorias periódicas na linha de

Page 121: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

107

produção da Honda, um comportamento que, se nas relações fornecedor-comprador em

um ambiente industrial moderno é relativamente freqüente, torna-se no mínimo

inesperado ao envolver especificamente duas empresas concorrentes.

O relacionamento entre Honda e Yamaha é citado por mais de um entrevistado

como uma característica própria deste ambiente local, uma prática que não acontece

entre suas matrizes no Japão e, provavelmente, permanece até sendo do

desconhecimento destas.

Ao serem argüidos quanto ao motivo que explique esse comportamento, a

resposta típica vincula-o ao isolamento de Manaus, nos anos iniciais da atividade

industrial da Zona Franca, que ajudou a criar uma cultura de aproximação das empresas.

Embora hoje a quase totalidade dos aspectos associados àquele isolamento histórico não

mais exista, teriam permanecido alguns dos hábitos adquiridos durante aquela fase.

O ambiente de respeito e confiança mútuos, entretanto, não é suficiente para

estimular a troca de experiências ou intercâmbio no campo tecnológico. À ausência de

exemplos nessa arena pode ser oferecida a explicação resumida na seguinte assertiva de

um dos entrevistados: "Naquilo que é específico, tecnologia, invenção própria (...) isto é

guardado, pois é o nosso ‘pão’, o nosso diferencial".

Também não foi registrada cooperação horizontal bilateral envolvendo qualquer

outro fabricante de bem final, um panorama que tem pequenas chances de se alterar,

permanecidas as condições atuais: diferenças culturais, de porte e, em conseqüência, de

processos produtivos, funcionam como barreiras, concentrando o universo de exemplos

em Honda e Yamaha.

Em geral, o ponto de partida para a maioria dos esforços de cooperação

horizontal é proporcionado por uma interação em reunião de associação de classe,

especialmente o Centro da Indústria do Estado do Amazonas – Cieam e a Câmara de

Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do Amazonas. Ambas as entidades reúnem

regularmente associados e membros de diretoria.

Novamente, o comportamento das empresas líderes, especialmente da Honda, é

indicado como distinguido, nessas associações, quando comparado ao das demais.

Particularmente no caso do Cieam, que internamente subdivide-se em distintos fóruns,

de funcionamento concomitante, o porte pode mais uma vez ser um motivo, já que a

realidade das empresas menores, associada a um quadro quantitativamente limitado de

recursos humanos, dificulta uma participação mais constante nas várias frentes que se

estabelecem.

Page 122: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

108

Mesmo considerando o status das maiores empresas, apurou-se uma tendência

de que os assuntos de mais amplo alcance sejam tratados inicialmente na Câmara e,

após convergência para posições comuns, apresentados por meio de pleitos e sugestões

no Cieam. Essa hierarquia pode ser uma conseqüência do maior número de associados e

subsetores representados no Cieam, o que se reflete em maior capacidade de expressão

política local para a entidade. Essa vantagem, para que seja desfrutada, necessita da

superação de uma dificuldade pelo associado: a de tornar-se capaz de interferir em uma

agenda que, pelos mesmos motivos, tende a ser mais densa e difícil de ser influenciada

por qualquer empresa isoladamente.

Já no caso da Câmara, embora também seja uma organização aberta, o idioma

japonês, que predomina nos contatos, é diretamente apontado, inclusive por sua

diretoria, como um fator limitante para a conquista e participação de um número maior

de associados.

Em seu conjunto, a menor participação dos demais fabricantes de motocicletas

nesses ou mesmo em outros fóruns, como a Federação das Indústrias do Estado do

Amazonas – Fieam e as reuniões para a aprovação de projetos do Conselho de

Administração da Suframa, reduz a possibilidade do contato face a face e, com ela, as

oportunidades de interação cooperativa.

Apesar disso, ela ainda se manifesta quando os interesses comuns mais básicos

são ameaçados. Esforços de cooperação horizontal multilateral sempre encontram

estímulo nas eventuais alterações na legislação, federal ou estadual, que provoquem

impacto nos benefícios fiscais ou que atribuam novas exigências a processos produtivos.

Um exemplo recente deu-se em 2003, com a reforma da lei que regulamenta o

incentivo estadual, citada como a primeira vez em que, a partir de uma abordagem não

impositiva do governo do estado do Amazonas, um esboço prévio da legislação foi

submetido à apreciação e discussão pelas empresas. Para facilitar a participação, as

empresas mobilizaram-se por meio de câmaras específicas, instaladas com o propósito

de discutir o projeto. Mesmo após a nova legislação estar aprovada, as câmaras

permaneceram ativas, algumas com reuniões de freqüência regular, por vezes

utilizando-se da infra-estrutura da associação de classe. Essas câmaras apresentam-se

como novos fóruns para o tratamento de questões que envolvam um maior número de

interessados, estimulando a aproximação de empresas e profissionais, inclusive

favorecendo relações com outros subsetores da atividade industrial em Manaus, o que

potencializa a disseminação mais rápida de informações.

Page 123: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

109

Um último elemento na composição das interações cooperativas, aparentemente

diferenciado, é uma maior aproximação entre os fabricantes de componentes,

identificada para empresas dos subsetores mecânico e metalúrgico do cluster. Embora

não se enquadre rigorosamente na idéia de cooperação horizontal (uma vez que não se

trata de empresas que disputam um mesmo mercado, com produtos substitutos),

tampouco é vertical (pois não há relação direta comprador-fornecedor entre elas):

registrou-se também a ocorrência de visitas mútuas entre fabricantes de componentes,

para aprendizados em práticas de gestão, desta feita privilegiando temas como a busca

de soluções para tratamento de efluentes de processos produtivos e o aperfeiçoamento

na gestão de recursos humanos.

Em resumo, a prática da cooperação horizontal é intermitente e, em termos de

disseminação, não homogênea. A quase totalidade dos exemplos, quando resultado de

motivação interna das próprias empresas, está centrada na cooperação horizontal

bilateral Honda-Yamaha; quando mais abrangente (multilateral), é resposta a um

estímulo externo sob a forma de "ameaça" ao usufruto de benefícios.

Mas se os dados disponíveis permitem que se conclua pela existência de um

comportamento não uniforme no relacionamento entre concorrentes, também ocorre a

constatação de uma razoável diversidade nas iniciativas de cooperação horizontal

bilateral. E a importância relativa, no cluster, dos que a praticam, amplia o benefício de

seus efeitos.

V.2.2. O VIGOR DA COOPERAÇÃO VERTICAL.

As relações produtor-fornecedor, na indústria brasileira de motocicletas, tendem

a ser de mais longo prazo. A natureza do produto não permite que um fornecedor seja

facilmente descartado ou substituído, em curto prazo, em virtude de pelo menos dois

motivos principais: (i) na maioria das situações, especialmente em se tratando de

componentes, não é possível diluir um pedido entre vários fornecedores, pois as

quantidades são pequenas e, comumente, o fornecedor é único, mesmo considerando

todo o mercado ofertante nacional; (ii) os componentes fabricados por esses

fornecedores não são "de prateleira", pois via de regra foram desenvolvidos em

atendimento a especificações atreladas a um determinado modelo de produto, a partir de

atividades que consumiram tempo e outros recursos para serem realizadas.

Page 124: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

110

A situação de mútua dependência, portanto, tende a tornar os vínculos mais

estáveis. Ainda que por via indireta, é um elemento que se revela como um ponto forte

para o estímulo às relações de cooperação vertical.

E os exemplos nas relações locais são vários, estendendo-se para além de

fornecedores de componentes: foram identificadas iniciativas alcançando empresas

prestadoras de serviços, como por exemplo transportadoras e recicladoras.

Nas respostas ao questionário, em termos gerais pode-se concluir que são boas

as relações entre empresas e seus fornecedores: 87,5% destes "Oferecem assistência

com problemas que surgiram em seus produtos" e 75% "Solicitam sugestões de como

melhorar" e "Explicam as características de seus produtos".

As empresas de bem final citam "Assessoria na organização da produção",

"Empréstimo de máquinas ou equipamentos" e "Treinamento de trabalhadores" como os

benefícios que mais se destacam dentre os que oferecem no relacionamento com os

subcontratados. Ainda assim, a incidência é considerada "Ocasional" (outras

alternativas incluíam "Freqüente" e "Nunca" como opções). Esses tipos de benefícios

são confirmados pelos exemplos obtidos por meio dos relatos dos entrevistados,

conforme será comentado adiante.

Duas unanimidades foram obtidas nas relações com subcontratados: em termos

de benefícios, nenhuma das empresas pratica o "Pagamento adiantado"; em outra frente,

o principal comportamento quando da quebra de um contrato é o que "Solicita que o

trabalho seja refeito".

Um fato que reforça uma tendência à divisão do trabalho entre as empresas do

cluster é que 100% dos fabricantes de bem final e 85,7% do total da amostra

subcontratam em virtude da "Maior eficiência do subcontratado", sinalizando uma

inclinação à especialização. Por outro lado, apenas 1 empresa classificou-se como

subcontratada, dificultando o aproveitamento de suas respostas para a generalização de

um comportamento.

Em sua prática de relacionamento, a Honda utiliza-se do termo parceiros para

referir-se aos fornecedores, proporcionando-lhes apoio em diversos níveis. E isto se

configurou como um elemento distintivo detectado na comparação direta com a

Yamaha: embora os níveis de exigência, em termos de especificações técnicas,

qualidade e pontualidade na entrega, sejam interpretados como equivalentes, a Honda é

percebida, por alguns dos fornecedores, como uma empresa que oferece maiores

oportunidades para cooperação.

Page 125: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

111

Talvez a principal contribuição para explicar essa realidade esteja na utilização

da técnica just in time, pela Honda, no relacionamento com os fornecedores locais:

enquanto o estoque de fornecedores do exterior corresponde em média a 45 dias de

produção, e o de nacionais, a 20 dias, não existe estoque para os componentes

fornecidos localmente. Essa política tem conseqüências econômicas significativas, pois,

embora apenas 19 dos 102 fornecedores da empresa sejam locais, eles respondem por

60% do valor total das suas compras nacionais; por sua vez, o mercado nacional é o

principal abastecedor da Honda, graças a índices de nacionalização que, justamente nos

modelos de motocicleta que apresentam maior volume de produção, são superiores a

90%. Assim, qualquer desarmonia no abastecimento local corresponde a atribulações

para o cumprimento de seus planos de produção, induzindo à aproximação com os

fornecedores e, por conseqüência, favorecendo a cooperação.

Por isso, a cooperação manifesta-se em diferentes níveis e tipos: transferência de

conhecimento tecnológico (a partir da base local ou com o apoio da vinda de

especialistas da matriz japonesa ou de outras empresas da corporação) ou de know how

operacional (metodologias de gestão de produção, logística, suporte legal e burocrático

em operações de importação), avançando até mesmo ao apoio financeiro direto.

Nesse último caso, por exemplo, se um fornecedor não possui disponibilidade de

recursos para investir de forma ágil em resposta a um aumento de demanda da Honda,

ela apóia e viabiliza financeiramente o investimento em máquinas.

Diferentemente do que ocorre em termos da cooperação horizontal, foram

registradas iniciativas no âmbito tecnológico: o Desenvolvimento conjunto de produtos,

uma forma bastante particular de cooperação, foi citada por 3 empresas. Embora, em

termos de aprendizado, seja uma perspectiva promissora, deve ser ressaltado que em

todas elas a própria natureza dos produtos exigia proximidade estreita com os clientes.

De certa forma, então, os fornecedores locais, evidentemente segundo também o

interesse da própria Honda, podem contar com facilidades proporcionadas por uma

empresa que participa de uma corporação com 40 unidades em 37 países.

Um outro tipo de apoio é o envolvimento financeiro por meio da participação na

composição do capital de empresas. Além de manter o controle sobre as empresas

Honda Componentes e HTA, que fazem parte do grupo Honda, a empresa tem

participação no capital de Showa e Keihin. Por vezes, a participação em algumas

empresas é temporária, uma forma de demonstrar comprometimento com o sucesso do

fornecedor de componentes por ela própria atraído, como são os casos de FCC e Nissin

Page 126: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

112

Brake, exemplos em que a Honda deteve participação no capital, desde o momento da

implantação, posteriormente retirando-se quando os empreendimentos alcançaram uma

condição de operação considerada estável.

O apoio à manutenção de equipamentos é mais um exemplo de relação

cooperativa. O setor de manutenção da Honda, reconhecido na comunidade industrial

pelo bom desempenho, alicerçado em conceitos de manutenção produtiva total (MPT),

com alguma freqüência cede técnicos a parceiros que, em virtude do porte, não possuam

equipe de manutenção própria para fazer frente a eventuais contratempos com o

inadequado funcionamento de suas próprias máquinas.

É plausível admitir que o apoio proporcionado seja pautado pelos próprios

interesses atrelados às necessidades de produção da Honda. Em seu conjunto, a

articulação do processo resulta no exercício de uma prática pouco usual, pelo menos

para os padrões locais, que poderia ser denominada "gestão integrada de fornecedores".

Em intervalos quinzenais ou mensais, as diretorias dos fornecedores locais são

reunidas para trocar idéias e relatar dificuldades eventuais no cumprimento da

programação de produção especificada pela Honda. Essa iniciativa não se limita às

questões diretamente vinculadas à produção, mas envolve também problemas do dia-a-

dia (aspectos comerciais e de tributos, especialmente aqueles relacionados aos trâmites

de alfândega, em processos de importação) ou qualquer outra atividade que possa de

alguma forma comprometer o atendimento à produção planejada. A supervisão dos

fornecedores é complementada pelo destacamento de funcionário com responsabilidade

para avaliar e reportar individualmente o atendimento aos pedidos colocados. O

reconhecimento de um problema, real ou potencial, é motivo para que o apoio mais

apropriado seja prestado.

Os depoimentos evidenciam que tal comportamento é ampla e positivamente

favorecido pela origem japonesa dos protagonistas, que proporciona um maior nível

prévio de confiança para o estabelecimento das relações. Por outro lado, de acordo com

um dos relatos, a participação nas reuniões conjuntas realizadas pela Honda estaria

limitada aos fornecedores de origem japonesa, novamente sendo citado o idioma

estrangeiro como uma barreira para a participação mais ampla.

De todo modo, as opiniões permitem concluir que o relacionamento cooperativo

tem se intensificado ao longo dos últimos anos, e há uma percepção de que tende a se

expandir, no futuro, em direção a questões concernentes aos níveis operacionais das

empresas.

Page 127: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

113

Outro fator que fortalece essa tendência é o crescimento recente das atividades

da Yamaha. A empresa tem realizado investimentos na ampliação de suas instalações,

para receber a transferência de linhas de produção que funcionavam na matriz japonesa,

o que implicará em um adensamento local de sua rede de fornecedores, correspondendo

à realização, em Manaus, de mais etapas de seus processos de produção, contribuindo

para novas oportunidades de cooperação.

Assim, o atributo de ter um cliente único, como ainda é o caso de um

representativo grupo de fornecedores do cluster Duas Rodas, tende a ser menos

freqüente, o que ampliaria a possibilidade de apurar as observações e opiniões sobre o

comportamento cooperativo, aprimorando-as por meio de comparações de desempenho.

V.3. INDICADORES DE CONFIANÇA, INSERÇÃO E APRENDIZADO NO

CLUSTER DUAS RODAS.

As principais características atribuídas ao cluster Duas Rodas, no início deste

capítulo, serão agora utilizadas em auxílio a uma análise mais acurada do seu perfil,

mediada por alguns dos conceitos complementares abordados na revisão teórica.

V.3.1. A CONFIANÇA COMO BASE NAS PRINCIPAIS

MANIFESTAÇÕES DE GOVERNANÇA.

No ambiente em que se dá a trajetória do cluster Duas Rodas, é possível

perceber que, além das empresas de maior porte (Honda e Yamaha), dois outros agentes

exercem uma influência diferenciada em termos de práticas e comportamentos.

O primeiro, a Câmara de Comércio Nipo-Brasileira, revelou-se um espaço para a

aproximação de executivos de empresas, especialmente daquelas com origem japonesa

(e não apenas as pertencentes ao cluster Duas Rodas, embora sua presença seja mais

destacada), que percebem ali um canal de comunicação mais eficiente para a busca de

consenso em torno de temas prioritários (particularmente questões institucionais que

envolvam governo, sistema tributário e benefício fiscal), cujas posições serão

posteriormente encaminhadas a outros fóruns apropriados, ou apresentadas diretamente

aos órgãos de governo. Atividades que inicialmente concentravam seus objetivos na

maior integração social, com o tempo evoluíram para a discussão de questões

pertinentes ao desempenho nos negócios.

O Cieam, o segundo desses agentes, é por ampla margem apontado por empresas

e profissionais consultados, relacionados ao cluster Duas Rodas, como a associação

mais ativa, especialmente em questões econômicas, ambientais, de qualidade e de

Page 128: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

114

recursos humanos. A criação de comissões especializadas no tratamento de temas de

interesse das empresas associadas, uma prática da entidade, auxilia na convergência de

opiniões e na discussão e socialização de soluções.

Esses dois agentes, Câmara e Cieam, podem ser considerados os principais

fóruns a abrigar manifestações de governança privada identificadas para o cluster e,

conseqüentemente, aos quais pode ser creditado um papel relevante a ser desempenhado

em qualquer trajetória futura desejada que se pretenda estabelecer.

Nas empresas submetidas ao questionário, as associações de classe são citadas

como sendo utilizadas (de modo "Freqüente") para o acesso a "Cursos e seminários" e a

"Boletins informativos". Também é citado o objetivo do "Aconselhamento em questões

legais" (de modo "Freqüente" ou "Ocasional"). Mas a "Interação na associação de

classe" "Nunca" é fonte de informação para a "Inovação de processo" (no caso,

associada ao maquinário ou à organização da produção) para 6 das 8 empresas, e é uma

fonte "Ocasional" para as outras 2. Este dado confirma os depoimentos quanto à

ausência de discussões e interações sobre questões com viés técnico (ou tecnológico)

nas associações.

A existência da confiança, já ressaltada como uma virtude essencial à ampliação

de um comportamento cooperativo, é explicitamente citada pelos entrevistados,

associada de forma regular à propriedade de facilitar as aproximações. Este predicado é

favoravelmente beneficiado pelo singular predomínio da cultura japonesa, conforme

evidenciado para esse cluster. E o benefício deve ser entendido em toda a sua extensão,

pois não se dá apenas na dimensão das interações internas ao cluster, mas também

influencia as incursões externas deste, seja facilitando a atração de novos atores, seja na

busca de apoio e soluções a partir das próprias relações corporativas da empresa líder,

ambas confirmadas por exemplos a partir da pesquisa de campo.

Igualmente importante é destacar que esse papel ativo da comunidade japonesa,

traduzido em um "espírito local de colaboração", é citado como um diferencial de

Manaus, mesmo quando esta é comparada a outras cidades que no Brasil também

abrigam japoneses e seus descendentes em maior número, como são os casos de Belém

e São Paulo. Diversamente, outras comunidades estrangeiras localmente presentes são

citadas em contra-exemplo, respaldado na hipótese de que não provocariam a mesma

capacidade aglutinadora.

Page 129: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

115

Portanto, uma reflexão em termos mais abrangentes sugere que existem e estão

sendo fortalecidas as condições para o desenvolvimento de um ambiente em que um

processo mais amplo e ativo de governança seja sedimentado.

Essa perspectiva confirma-se até mesmo nas relações entre empresa e governo:

em geral, empresas e entrevistados reconhecem que o acesso à Suframa e às secretarias

estaduais, para consultas e troca de idéias, é uma tarefa que atualmente está mais

facilitada. Canais de comunicação mais eficientes tendem a reforçar que as empresas

continuem evoluindo suas relações nos fóruns aqui descritos, na perspectiva de que suas

sugestões alcancem maior respaldo.

V.3.2. ALGUNS IMPACTOS DA PRODUÇÃO E DO APRENDIZADO

PARA O PERFIL DA MÃO-DE-OBRA.

É interessante observar, também, a influência de diferentes fases vivenciadas

pelo modelo Zona Franca na trajetória de aprendizado do cluster, como pode ser

avaliado a partir das alterações no perfil da mão-de-obra.

Em 7 das 8 empresas pertencentes ao cluster que responderam ao questionário, e

cujos dados de mão-de-obra foram informados, trabalhavam 7.494 pessoas, sendo

11,9% deste total compostos por profissionais com nível superior, uma parcela

significativa, se for observado que a atividade tradicional de manufatura corresponderia

a uma maior geração de empregos em postos de trabalho no chamado "chão de fábrica".

Em 75% das empresas, o número de empregados havia aumentado no período

compreendendo os 5 anos precedentes, sugerindo que as atividades, no cluster,

encontravam-se em crescimento.

Nenhuma das empresas externou dificuldades para a contratação de mão-de-obra

não especializada, um resultado previsível, considerando as mais de 3 décadas de

atividade incentivada contribuindo para o estabelecimento de uma cultura industrial em

Manaus, o que resultou na existência de um contingente de profissionais aptos ao

trabalho na indústria em geral, uma das principais externalidades atribuídas a

aglomerações industriais.

Por outro lado, uma ampla maioria de 75% das empresas alegou dificuldades

com a mão-de-obra especializada, um dado reforçado por alguns dos depoimentos. As

duas únicas empresas que não indicaram essa dificuldade utilizam-se de processos

produtivos simples, para os quais não é exigido um maior preparo técnico na sua

condução, o que torna o dado ainda mais contundente.

Page 130: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

116

Na visão dos entrevistados, embora a totalidade destes perceba uma evolução da

capacitação da mão-de-obra local, a posição sustenta-se na dificuldade enfatizada de

contratar profissionais com determinado perfil. Para exemplificar, tome-se novamente

como referência a Honda.

Na fase crítica da substituição de importações e do estabelecimento de quotas

limitando as compras de insumos e componentes no exterior, a empresa buscou o

desenvolvimento de componentes nacionais, de modo a tornar possível alcançar os

índices de nacionalização exigidos, uma solução bastante particular de adaptação às

realidades brasileira e local.

Esses esforços de nacionalização refletiram-se no desenvolvimento de um

processo produtivo com alto grau de verticalização, em virtude da inexistência de

fornecedores locais e do limitado mercado nacional de motocicletas, cujas demandas

não despertavam interesse de possíveis fornecedores potenciais (como seria o caso, por

exemplo, das empresas que atendem aos fabricantes nacionais de automóveis). A

verticalização que se impôs, então, resultou da necessidade da Honda realizar atividades

que, em outro panorama, poderiam ser executadas por fornecedores.

Os relatos revelam que durante essa fase a empresa recebeu apoio de seus

fornecedores no Japão para implementar as atividades que, tecnicamente, não eram de

seu domínio. O processo como um todo proporcionou um aprendizado que beneficiou

não apenas a empresa em si, mas repercutiu positivamente na formação local de mão-

de-obra especializada.

Assim, os anos iniciais da atividade produtiva podem ser caracterizados por uma

maior demanda pelo profissional com habilidades de cunho genérico, considerando que

o mesmo desempenharia tarefas relacionadas a assuntos distintos, um desafio

compensado pela menor complexidade destas. Com o passar dos anos, o avanço nos

processos tornou mais nítida a necessidade de divisão interna do trabalho, implicando

na busca por profissionais com um maior nível de especialização, por vezes alcançada

apenas a partir de capacitação interna. Além das inúmeras operações na produção,

podem ser oferecidos como exemplos as atividades de metrologia e diversos tipos de

ensaios e testes, incluindo até mesmo a pilotagem de motocicletas, cada uma delas hoje

conduzida por profissional com o preparo específico.

Com a evolução do mercado nacional, a Honda enfrentou a impossibilidade de

manter o crescimento de sua própria infra-estrutura em um ritmo adequado ao

atendimento à contínua demanda por novos modelos, estratificada em função de

Page 131: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

117

diferentes usos desejados para a motocicleta, e ao mesmo tempo correspondendo a uma

crescente sofisticação tecnológica.

Essa condição precipitou a ampliação do número de fornecedores locais,

atendida por meio da estratégia de atrair, preferencialmente, aqueles que, no momento

anterior, haviam lhe proporcionado apoio. Ao mesmo tempo isto disseminou, para

outras empresas, a demanda por algumas especialidades profissionais até então restrita à

Honda. Embora não seja o único, este é um motivo determinante da trajetória e da

configuração atual do cluster, com implicações diretas para seu ritmo de aprendizado.

Além disso, a ocupação de mercados externos contribuiu para acelerar uma nova

configuração. O Brasil registra exportação regular desde 1988 e no ano de 2004 as

exportações corresponderam a 14,7% do total de motocicletas vendidas (ABRACICLO,

2005). A Honda, em 2002, exportou para 34 países. O alcance de tantos mercados seria

um desafio difícil de ser vencido se não houvesse agregação local de valor à produção.

A agregação local é decisiva para a capacidade competitiva de uma empresa que, de

outro modo, teria dificuldades de enfrentar a disputa pelo mercado internacional com os

próprios centros de produção que sejam seus fornecedores.

Se a estratégia de exportar é causa ou efeito do fortalecimento da rede de

fornecedores locais, esta é uma questão que a abordagem da pesquisa não teve a

intenção de investigar. O fato é que, nos últimos 5 anos, ocorreu a implantação de

praticamente metade dos fornecedores locais da Honda, de origem japonesa, que não

fazem parte direta de seu grupo de empresas; paralelamente, nos últimos 3 anos as

exportações brasileiras de motocicletas conseguiram avançar para a casa dos dois

dígitos, em termos de participação percentual no total das vendas das empresas

nacionais.

Um outro contexto reforça uma expectativa favorável quanto ao aumento da

capacitação local é o exemplo da implantação da fábrica de automóveis da Honda em

Sumaré (SP). Além de todos os investimentos necessários à implantação e ampliação da

fábrica originarem-se do desempenho da unidade de motocicletas, em Manaus, a mão-

de-obra amazonense é citada como a responsável pela colocação daquela fábrica em

operação.

Com base nesses elementos, torna-se surpreendente a ênfase imputada por

empresas e depoentes à escassez de mão-de-obra local especializada, que se apóia no

fato de ainda serem recrutados profissionais oriundos de outras localidades,

nominalmente citadas São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará e Minas Gerais.

Page 132: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

118

Segundo essa visão, ainda não há formação local para atendimento ao que consideram

importantes especialidades, como seria o caso da Engenharia Metalúrgica.

Uma prática recente que corrobora a necessidade de sobrepujar essa dificuldade

é a contratação de dekasseguis (brasileiros descendentes de japoneses que emigraram

em busca de trabalho no Japão). Aqueles que desejam voltar ao Brasil são recrutados e

posteriormente treinados em fábrica ainda no próprio Japão. Ao chegar a Manaus,

desempenham suas funções com a vantagem adicional de auxiliar na comunicação entre

a mão-de-obra local e o executivo japonês. Segundo depoimento de dirigente, a maior

parte dessa mão-de-obra é originária do interior de São Paulo, e sua adaptação a Manaus

é alcançada com mais facilidade do que a da recrutada diretamente naquele estado (ou,

como tem sido mais comum, de estados da Região Nordeste).

Mas o tema permite que seja ainda acrescentado um outro elemento à análise.

Quando avaliados os dados relativos à formação de recursos humanos, por meio das

respostas aos questionários, é possível interpretar uma distinção no desempenho

percebido para as instituições formadoras de mão-de-obra.

No nível do ensino técnico e profissionalizante, as relações com as instituições

ocorrem em maior intensidade, por meio de 6 das empresas, todas indicando um grau de

satisfação "Adequado" (outras opções oferecidas foram os graus "Totalmente

Insatisfatório", "Inadequado" ou, no extremo, "Totalmente Satisfatório"). Em princípio,

a disponibilidade de mão-de-obra em nível técnico não seria um problema para as

empresas.

Já no nível superior, apenas 4 empresas assinalam relações com universidades,

com algumas das experiências reportadas de forma negativa, o que evidentemente

reforça uma dificuldade para a evolução no quadro da mão-de-obra especializada.

Outros exemplos que se contrapõem a uma conclusão definitiva são as

atividades técnicas como "Contabilidade e Custeio" de produtos, funções executadas

internamente por todas as empresas; a "Manutenção em máquinas" e o "Recrutamento e

seleção", que foram apontadas como sendo de realização interna pela grande maioria. E

todas elas refletem uma necessidade de utilização de profissional especializado.

Essa aparente confrontação entre percepção e dados pode encontrar uma justifica

no fato de que os interlocutores consideram mão-de-obra especializada apenas aquela

diretamente atrelada à formação em nível superior na área tecnológica, descartando

dessa categoria a mão-de-obra de nível técnico e os demais profissionais de nível

superior. A confirmação dessa suposição, que acarreta o reconhecimento do

Page 133: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

119

subdimensionamento do contingente de profissionais especializados, exigiria uma nova

incursão ao campo.

V.3.3. ELEMENTOS DA INSERÇÃO LOCAL: O RELACIONAMENTO

COM OUTROS TIPOS DE AGENTES.

Se a cooperação entre empresas ocorre em intensidade apreciável, a relação das

empresas com outros agentes do cluster é manifestada pelos entrevistados como ainda

frágil, um fato confirmado pelos dados obtidos com a aplicação do questionário.

Argüidas quanto à existência e grau de satisfação ("Totalmente Insatisfatório",

"Inadequado", "Adequado" ou "Totalmente Satisfatório") na aquisição local de vários

tipos de serviços, alguns pontos podem ser destacados.

Os agentes locais com os quais há maior incidência de relações, citados por 7

das empresas, são "Laboratórios de ensaios e testes", "Centros de treinamento" e

"Consultores independentes/Empresas de consultoria".

A presença da consultoria local, a princípio surpreendente, é compreendida

quando esclarecidas as atividades que lhe são demandadas: 71,4% das vezes dizem

respeito ao atendimento a necessidades de "Treinamento e capacitação". Essa mesma

consultoria local nunca é citada como fonte de inovação, um papel reservado aos

"Consultores de fora", citados como fonte "Ocasional" por 5 empresas (62,5%).

Apenas 3 empresas apontam a interação com Institutos de tecnologia, utilizados

em serviços de "Ensaios, análises e metrologia" e "Treinamento e capacitação", mas o

grau de satisfação foi classificado por todas como "Inadequado", o que aparenta uma

dificuldade adicional para o desejado desenvolvimento de atividades com maior

conteúdo.

Se nesta matriz analítica, o foco voltar-se das linhas (tipos de "Agentes") para as

colunas (tipos de "Serviços"), é possível compreender mais claramente qual o objeto das

interações: a principal incidência está relacionada ao "Treinamento e capacitação de

pessoal". Todas as empresas utilizam-se (não exclusivamente) de serviços externos para

a realização destas atividades, sendo que 75% delas interagem com 2 ou mais diferentes

tipos de agentes para esse fim.

O segundo tipo de serviço mais freqüente são os "Ensaios, análises e metrologia"

que, embora sejam contratados de 4 diferentes tipos de agentes, estão mais concentrados

em "Institutos de tecnologia" e "Laboratórios de ensaios e testes". Esse serviço funciona

como um suporte para atividades de gestão da qualidade e controle de produção e,

Page 134: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

120

portanto, o dado confirma a importância que as empresas conferem a ambos os temas,

conforme comentado anteriormente.

Interações com maior conteúdo tecnológico, traduzidas nas opções "Projetos de

P&D", "Desenvolvimento de produto e processo" e "Assessoria técnica e tecnológica",

têm uma presença marginal. A exceção é a prática generalizada de relações locais por

uma das empresas da amostra, confirmando o acerto de sua inclusão a partir da

estratégia chain sampling.

Um reflexo da inexistência de alguns serviços técnicos especializados em

Manaus é o uso de instituições de fora ou, mais uma vez, a sua verticalização. Grande

parte da calibração dos instrumentos da Honda, por exemplo, é realizada internamente,

uma atividade que a empresa explicita a preferência por não realizar; parte menor é

destinada a alguns prestadores de serviços locais; mesmo assim, permanecem sendo

deslocados instrumentos até instituições em São Paulo.

V.4. CONCLUSÕES QUANTO À EFICIÊNCIA COLETIVA NO CLUSTER

DUAS RODAS.

Uma conclusão inicial importante é o discernimento de que o ambiente, ainda

que tenha etapas a vencer em seu processo de amadurecimento, estimula a cooperação.

Características como a ausência de comportamento oportunístico e o clima de confiança

mútua reforçam a informalidade que amplia as relações: nenhum dos exemplos de

cooperação identificados resultou de relação formal, segundo os interlocutores.

A base instalada da empresa Honda, tendo em conta sua infra-estrutura física, a

importante rede de fornecedores locais, a participação ativa em associações de classe e a

capacidade de interlocução com os órgãos de governo, fazem com que a sua posição de

liderança não encontre paralelo, no cluster Duas Rodas, sendo de difícil comparação até

mesmo com o restante do universo da atividade industrial em Manaus.

Os recentes investimentos da Yamaha sinalizam uma possibilidade, ainda a ser

confirmada, de que um crescimento associado provoque uma distribuição mais

homogênea da participação nas relações de cooperação para o cluster.

Como a Honda não impõe o fornecimento cativo, não é improvável que a

Yamaha, em sua trajetória de ampliação das atividades locais, usufrua algumas

externalidades proporcionadas pela caminhada precedente da sua principal concorrente.

Na configuração atual, porém, é a posição de liderança da Honda que pauta boa parte

das ações relacionadas ao cluster.

Page 135: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

121

O surgimento de novos fóruns e a consolidação da capacidade de expressão

política de entidades já existentes, naturalmente conduzem para maiores oportunidades

de aproximação, ampliando o contato face a face e, considerando o predomínio de um

clima de confiança proporcionado pela prevalência da cultura japonesa, favorecem

iniciativas baseadas em cooperação.

À parte dos exemplos de cooperação horizontal bilateral (Honda-Yamaha),

facilitados pela origem cultural comum, as demais iniciativas (multilaterais) surgem em

diferentes fóruns internos estabelecidos nas associações de classe, demonstrando o

papel relevante que essas entidades podem representar para o fortalecimento da

governança do cluster.

Nas relações mapeadas, todavia, não foi registrado exemplo de cooperação

horizontal que tivesse como foco uma questão tecnológica mais relevante, como por

exemplo um desenvolvimento conjunto, uma temática considerada de caráter

"estratégico" e "sigiloso".

Em anos recentes, relações horizontais multilaterais de cooperação têm estado

atreladas a ações ou demandas de governo vinculadas à legislação de incentivos fiscais.

A ameaça ao usufruto do benefício foi identificada como o único poder capaz de

mobilizar os atores para a ação coletiva.

A cooperação vertical ocorre com mais freqüência quando principalmente

centrada na cadeia produtiva da Honda, e por isso mesmo com capacidade de atingir um

número significativo dos atores, favorecida por sua prática de just in time com os

fornecedores locais.

Várias empresas instalaram-se tendo como objetivo imediato o fornecimento

para a Honda, que por diversas vezes desempenha um papel ativo na sua própria

atração. Credite-se a ela, na figura de mais importante agente individual, a

responsabilidade direta pela trajetória e a configuração atual relacionadas ao cluster

Duas Rodas.

Caso sejam contabilizados os exemplos de cooperação com a participação de

Honda e/ou Yamaha, pode-se dizer que estaria sendo coberta a quase totalidade das

iniciativas do cluster. A essa assimetria de forças, na comparação com os demais atores,

pode ser imputada a inexistência de qualquer exemplo de cooperação vertical

multilateral envolvendo a gestão de algum gargalo da cadeia produtiva (ou, o que seria

mais abrangente, cadeia de valor) como um todo.

Page 136: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

122

A Tabela V.2 apresenta uma síntese das observações quanto à diversidade das

experiências de cooperação identificadas pela pesquisa de campo.

TABELA V.2 DIVERSIDADE DA COOPERAÇÃO NO CLUSTER DUAS RODAS

Tipo Bilateral Multilateral

Horizontal

• Benchmarking em qualidade • Benchmarking em gestão ambiental • Práticas de responsabilidade social • Práticas de segurança • Fabricação e fornecimento regular

de partes e peças para motocicletas • Gestão de recursos humanos

• Avaliação de alteração na legislação estadual de incentivos (ICMS)

• Avaliação de exigências estabelecidas em novas propostas de PPB (especialmente para partes e peças)

Vertical

• Transferência de conhecimentos tecnológicos

• Técnicas para gestão da produção • Técnicas de logística • Suporte legal e jurídico (legislação,

impostos, alfândega, relacionamento com sindicatos de trabalhadores)

• Investimento em equipamentos; importação triangulada de equipamento

• Participação no capital social (implantação de empreendimento)

• Manutenção de equipamentos • Execução interna de processos do

fornecedor, em razão de dificuldade temporária deste

• Gestão integrada do plano de produção com fornecedores

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo.

A situação singular do ambiente de "camaradagem" em Manaus é

constantemente colocada em contraste com outros centros industriais, notadamente São

Paulo, onde as empresas seriam mais reservadas, favorecendo um comportamento

individualista.

Curiosamente, essa posição é sustentada também por exemplos de apoio mútuo e

cooperação com empresas de outros subsetores industriais, viabilizados principalmente

por meio de benchmarking das práticas de gestão. Isto permite supor que, embora a

cultura japonesa predominante possa amplificá-la, não se trata de uma particularidade

do cluster, mas provavelmente de um atributo que também possui um componente de

influência do ambiente industrial de Manaus como um todo.

Page 137: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

123

Essa propriedade de se relacionar com empresas de outros subsetores sugere que

as relações externas do cluster, por paradoxal que possa parecer a afirmativa, começam

ainda em Manaus.

A Tabela V.3 oferece uma avaliação resumida da extensão com que a

cooperação é praticada no cluster, tanto em termos de freqüência no tempo quanto em

termos de disseminação de comportamento, segundo a perspectiva do autor.

TABELA V.3 EXTENSÃO DA COOPERAÇÃO NO CLUSTER DUAS RODAS

Tipo Bilateral Multilateral

Horizontal

• Intermitente, estimulada por proximidade cultural

• Práticas concentradas nas duas maiores empresas do cluster

• Intermitente, subordinada à agenda de governo

• Participação de outros atores sob liderança dos maiores produtores

Vertical

• Contínua, com maior intensidade nos últimos anos

• Freqüência elevada • Ocorrência concentrada

(especialmente entre Honda e fornecedor)

• Contínua • Freqüência elevada • Ocorrência limitada (dois níveis

da cadeia de produção)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo.

A leitura dos resultados permite concluir que o nível da cooperação entre

empresas no cluster não é homogêneo, mas é significativo.

A não homogeneidade justifica-se porque as iniciativas para a cooperação estão

concentradas em apenas 2 empresas. Por outro lado, a significância dos exemplos é

ampliada justamente pela magnitude econômica dessas empresas: a densidade de suas

operações e processos industriais faz com que a reunião de seus comportamentos, mais

que uma amostra, traduza a identidade do próprio cluster.

Portanto, além das externalidades passivas alcançadas pelas empresas, por sua

participação na aglomeração, diversos exemplos de ação conjunta deliberada foram

identificados, independentemente de terem sido originados em oportunidades de

melhoria ou ameaças externas, contribuindo para o seu desempenho competitivo e,

finalmente, caracterizando a existência de elementos de eficiência coletiva no cluster.

Page 138: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

124

VI. A PRÁTICA DA COOPERAÇÃO NO SUBSETOR ELETROELETRÔNICO.

Este capítulo é dedicado à apresentação e interpretação dos dados relacionados

ao subsetor Eletroeletrônico, o segundo dos subconjuntos tratados, complementando,

assim, o objeto de análise proposto para a pesquisa.

A abordagem utiliza-se da mesma estrutura lógica adotada para o capítulo

anterior, em que a caracterização inicial de âmbito geral é seguida por um maior

detalhamento dos resultados alcançados.

Embora já fiquem evidentes, no transcorrer do capítulo, algumas das

semelhanças e divergências, em termos de práticas de cooperação, a análise crítica

comparativa entre os dois clusters, especialmente considerando os objetivos propostos,

está reservada ao capítulo seguinte.

VI.1. IDENTIFICAÇÃO DO CLUSTER ELETROELETRÔNICO.

Avançar a abrangência da análise, do subsetor para o cluster, no caso do

Eletroeletrônico, é uma tarefa que requer um cuidado adicional, em virtude do maior

número de subsetores que dele participam, assim como da diversidade das empresas, em

termos de porte e natureza das linhas de produção.

A eletrônica de consumo, principal concentração dos produtos do subsetor, está

associada a uma dinâmica de produção bastante particular: modelos de produtos que se

sucedem a intervalos cada vez menores, alto conteúdo tecnológico e significativas

mudanças de tecnologia implicando até mesmo na descontinuidade da fabricação de

alguns tipos de produtos (como são os casos do toca-discos de vinil e do videocassete,

para citar apenas dois exemplos).

A publicação oficial utilizada como principal fonte de referência (SUFRAMA,

2004b) apresenta as empresas de produtos eletrônicos reunidas no Subsetor de Material

Elétrico, Eletrônico e de Comunicação, que por sua vez subdivide-se em 3 conjuntos:

Pólo de Produtos (excetuando-se máquinas copiadoras), Pólo de Componentes e Pólo de

Máquinas Copiadoras e Similares. É a reunião desses conjuntos que costuma ser

referida como subsetor (ou pólo) Eletroeletrônico, com uma presença capaz de ocupar

27 dentre os 50 principais postos no ranking de faturamento da indústria incentivada em

Manaus.

A composição desses 3 conjuntos agrega um total de 129 empresas, já excluídas

as que estejam em implantação ou paralisadas por algum motivo, um número que

dificulta a apresentação do subsetor pelo modelo da lista de empresas e suas respectivas

Page 139: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

125

linhas de produção, conforme padrão adotado no capítulo anterior. Essa mesma

dificuldade afeta a composição de uma figura que ilustre o cluster.

Por essa razão, optou-se pela construção de uma ilustração alternativa, conforme

observado na Figura VI.1, que inclui todos os subsetores identificados na composição

do cluster, o número de empresas pertencentes a cada um e a relações industriais

bilaterais entre eles, representadas por meio de setas.

FIGURA VI.1 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS IDENTIFICAÇÃO DE RELAÇÕES ENTRE OS PRINCIPAIS SUBSETORES

DO CLUSTER ELETROELETRÔNICO

Fonte: SUFRAMA (2004b), complementada com base em pesquisa de campo e experiência pessoal do

autor.

Deve ser observado que estão incluídos apenas os subsetores mais significativos

e, dentro deles, contabilizadas somente as empresas que mantêm alguma relação de

negócios com os conjuntos em que tradicionalmente o subsetor Eletroeletrônico é

subdividido. Isto adiciona 4 subsetores e 44 empresas para a formatação do cluster.

Produtos Elétrico, Eletrônico e de Comunicação 84 empresas

Máquinas Copiadoras 4 empresas

Componentes (Eletrônicos) 41 empresas

Componentes Termoplásticos

24 empresas

Papel, Papelão e Celulose 9 empresas

Químico 7 empresas

Metalúrgico 4 empresas

Page 140: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

126

Todas as setas procuram apontar o sentido fornecedor-cliente das relações

industriais. Duas delas, indicadas por traços mais fortes, traduzem uma maior

importância econômica relativa para o cluster.

Dentre as elipses que representam os conjuntos e subsetores, a única que está

sombreada ressalta o que seria o motor da dinâmica da aglomeração, as 84 empresas

fabricantes de bem final reunidas no conjunto de Produtos Elétrico, Eletrônico e de

Comunicação, um termo aqui adotado por ser mais específico e esclarecedor que Pólo

de Produtos. Uma distinção desse grupo é a presença de grandes corporações

transnacionais, várias delas instaladas em Manaus desde o início da atividade industrial

na Zona Franca. São essas empresas que ditam o ritmo das atividades: lançamento de

novos produtos, introdução de novas tecnologias, estabelecimento de padrões para

processos etc., que acabam por repercutir, com diferentes intensidades, no

comportamento e nas decisões dos demais subsetores do cluster. Algumas delas

possuem empresas coligadas que ajudam a compor o conjunto denominado

Componentes (Eletrônicos).

A escolha das empresas pesquisadas e dos profissionais entrevistados procurou

considerar essas várias características: do total de 9 empresas, 6 pertencem ao conjunto

Produtos Elétrico, Eletrônico e de Comunicação, 2 ao Componentes (Eletrônicos) e 1 ao

Componentes Termoplásticos; dentre os 16 depoimentos, 7 foram obtidos junto a

profissionais diretamente envolvidos com a indústria eletrônica e 1 com a de

componentes termoplásticos. Um registro importante é que 2 dentre as empresas

também tiveram suas respostas incluídas na análise do Duas Rodas, uma vez que

participam, simultaneamente, como fornecedores de componentes em ambos os

clusters.

Em termos da performance, nos últimos 5 anos, de 6 empresas que responderam

à questão, 5 indicam aumento no nível de produção e 3 apresentam aumento no nível

das exportações; quanto ao lucro líquido, apenas 5 empresas se manifestaram, sendo que

em 2 dos casos foi relatado um crescimento.

A presença de empresas com origem em vários países faz com que, neste caso,

não haja uma cultura específica predominante. Ao contrário, diversidade talvez seja a

palavra mais adequada para caracterizar o cluster: muitas empresas, diferentes portes,

variados produtos. E é justamente essa diversidade que possibilita as diferentes formas

de cooperação observadas.

Page 141: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

127

VI.2. COOPERAÇÃO E INTERAÇÃO NO CLUSTER

ELETROELETRÔNICO.

Empresas instaladas desde a origem da atividade industrial em Manaus têm

marcada influência na trajetória da cooperação e na adoção de determinados

comportamentos até hoje apresentados pelo cluster Eletroeletrônico.

A permanência dos mesmos profissionais nas principais funções executivas de

algumas das empresas, naturalmente resultou em uma maior aproximação entre eles,

quando em comparação a dirigentes daquelas cuja implantação é mais recente. Essa

particularidade também foi um facilitador para a apuração de registros mais antigos de

cooperação.

Novamente, o principal fator aglutinador apontado para a fase inicial da Zona

Franca é a distância dos grandes centros. Os problemas eram razoavelmente comuns a

todos e, conseqüentemente, induziram às primeiras interações cooperativas, no que pode

ser entendido como um início da formação de seu ambiente.

Duas características já se faziam presentes naquele primeiro momento: (i) a

informalidade das relações e (ii) apesar do dirigente local normalmente estar

subordinado a um nível hierárquico superior (empresa matriz, unidade central de

planejamento e/ou vendas), situado em outro ponto do país, a aproximação constituía-se

em um fenômeno exclusivamente relacionado às unidades produtivas em Manaus,

sendo que em boa parte das vezes as operações sequer chegavam ao conhecimento

dessas outras unidades.

A influência de outras regiões é bastante evidente, inclusive na presença de

executivos e dirigentes que muitas vezes deslocaram-se de suas cidades para trabalhar

na indústria em Manaus. No próprio conjunto dos 9 profissionais que, representando as

empresas, responderam ao questionário, apenas 2 são naturais do Amazonas; 6 são

oriundos de outras regiões do país e 1 é do exterior.

Em termos da representatividade das respostas, esse mesmo grupo de

profissionais é formado por 4 ocupantes de cargos gerenciais, 4 diretores e 1 sócio de

empresa.

Assim como no Duas Rodas, é unânime a posição de que não precisa ser de

origem local para tornar-se empreendedor em Manaus. Porém, expressivos 44,4%

desses profissionais acreditam que é importante pertencer à liderança da comunidade

Page 142: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

128

social, um número que reflete a maior importância conferida, neste cluster, à capacidade

de alcançar melhores resultados a partir da rede de relações e da influência social.

Uma preocupação bastante elevada com a qualidade do produto também é

depreendida das respostas. Dentre 8 empresas, 4 consideram que a "Qualidade" é o

principal fator, em importância, para sobrepujar os rivais e 2 fabricantes de bens finais

indicaram "Novos projetos". O "Preço" só foi identificado como o principal fator por 1

empresa, fabricante de componentes, o que permite inferir que a competitividade

baseada em preço baixo e mão-de-obra barata tende a ser uma exceção.

A totalidade das empresas utiliza-se das técnicas básicas da qualidade ("Inspeção

de recebimento", "Inspeção final" e "Controle estatístico de processo"), de "Gestão pela

qualidade total" e possui "Certificação de sistema da qualidade ISO 9000". "Círculos de

Controle da Qualidade" são uma ferramenta utilizada por 4 delas, enquanto a

"Certificação ambiental ISO 14000" só não foi alcançada por 1 única empresa.

Dentre 8 respondentes, 6 empresas alteraram a "Forma em que a produção é

organizada" nos últimos 5 anos, 5 delas seguindo "Novos métodos de organização

trazidos de fora". "Linha de montagem" é o arranjo que predomina em 60% dos

fabricantes de bem final, enquanto 2/3 dos fornecedores de componentes utilizam-se de

"Arranjo misto". Considerando que a média da presença das respondentes em Manaus é

superior a 16 anos, esses dados sugerem dinamismo para as operações.

E isso se reflete na própria percepção sobre a qualidade global dos produtos que

fabricam: 5 de 7 empresas entendem que a qualidade "Melhorou um pouco" ou

"Melhorou bastante".

"Visitas para troca de informação/benchmarking" são novamente o exemplo

mais recorrente encontrado para a cooperação. Benchmarking deve ser aqui

compreendido pelo sentido mais popular que lhe foi conferido ao longo dos anos,

representando o esforço empregado para aprender a partir da experiência ou

desempenho de outra empresa. Nenhum dos exemplos relatados correspondeu ao uso

rigoroso dos procedimentos metodológicos associados à técnica.

Todas as empresas que responderam à questão confirmaram que "Visitam" e

"São visitadas". Em ambas as situações, 3 delas dimensionam a intensidade da prática

como sendo "Freqüente". Dentre elas, 75% apontam que o objetivo para as visitas é a

"Troca de informações" e o "Benchmarking".

Page 143: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

129

VI.2.1. VARIEDADE NA COOPERAÇÃO HORIZONTAL.

Limitações na logística e as conseqüentes descontinuidades de abastecimento, no

período inicial da indústria na ZFM, revelam-se como os fatores críticos que também

acabaram por se constituir em uma força aglutinadora, motivando o que provavelmente

tenha sido a pioneira iniciativa multilateral de cooperação no cluster – e talvez da

história da indústria local incentivada – em que profissionais de várias empresas criaram

o Grupo dos Administradores de Material de Manaus, que contava com responsáveis

pela administração de materiais atuantes na maioria das grandes empresas instaladas à

época.

Por meio de interações regulares, durante certo período o grupo teve destacada

função na socialização de informações sobre fornecedores (locais ou não) e na

articulação coletiva para obtenção de padrões de fornecimento, especialmente em

meados da década de 80.

Um comportamento surgido nesse período, representativo das dificuldades de

abastecimento impostas pela distância dos grandes centros fornecedores, é o

"empréstimo" de componentes. O não raro atraso na entrega de materiais levou à

instituição da prática da cessão de componentes de uso comum, muitas vezes evitando

ou reduzindo a parada de linhas de empresas desabastecidas, mesmo sendo concorrentes

diretos no mercado. A participação nesse tipo de operação solidária tornou-se

efetivamente comum porque as posições invertiam-se ao longo do tempo, ou seja, em

algum momento a empresa poderia estar em condição desfavorável, na dependência de

seu concorrente.

A análise dos depoimentos permite constatar que empresas pioneiras como

Evadin, Philco, Philips, Semp Toshiba e Sharp são citadas com maior freqüência em

episódios que exemplificam o apoio mútuo estimulado pela dificuldade. Isto sugere que

as empresas que vivenciaram o ambiente inicial da ZFM construíram relações mais

estreitas, tendo maior influência na reprodução dessa e de outras práticas, ao longo do

tempo, inclusive disseminando-as para novos atores.

O empréstimo (componentes, materiais, matérias-primas) foi o segundo tipo de

atividade de cooperação mais lembrado, citado por 60% das empresas de bem final.

Evidentemente, é uma prática menos freqüente entre os fabricantes de componentes,

pelo menor uso de itens comuns. Ainda assim, foi identificada a sua existência no

subsetor de Matérias Plásticas.

Page 144: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

130

Outro exemplo não trivial de cooperação horizontal é a disponibilização

temporária de linhas de produção para atendimento a necessidades de um concorrente.

Por exemplo, após um sinistro de grandes proporções ocorrido na fábrica da Philco, a

empresa conseguiu manter parte de suas operações utilizando-se do apoio prestado por

concorrentes. A Philips disponibilizou um turno completo de sua fábrica de placas

montadas para o atendimento emergencial, assim como ajuda semelhante também foi

proporcionada pela Sharp. Alternando-se os papéis, a Philco já executou parte do

processo de fabricação para concorrentes, como por exemplo a Samsung, que em

virtude de problemas com equipamento, encontrava-se sob risco de não atender a prazos

contratuais.

É interessante observar como essa aproximação, apoiada por executivos locais,

de algum modo desloca parte da responsabilidade da competição, do setor de produção

para outros setores da empresa (vendas, marketing, planejamento etc.) que, pelo menos

no caso das que possuem um maior porte, raramente estão instalados em Manaus, mas

sim próximos ao principal mercado consumidor, na região Sudeste.

Algumas vezes esse comportamento pode até encontrar reforço em políticas

internas das próprias organizações, como é o caso de uma empresa transnacional em que

o setor de vendas, localizado fora de Manaus, tem liberdade para implementar aquilo

que considere ser a melhor solução para atendimento ao mercado interno, desde que

estruturada em produtos da marca. Qualquer unidade industrial da corporação (pelo

mundo ou, no mínimo, dentre as do próprio continente) transforma-se em potencial

fornecedor. Neste exemplo, a unidade industrial de Manaus perdeu recente disputa com

a fábrica instalada no México, cuja proposta tornou-se a opção escolhida pelo setor de

vendas para atender a um negócio específico concretizado no mercado brasileiro.

Assim, suplantar a competição interna na própria corporação, com base na ampliação

dos laços de cooperação com outros atores locais, pode ser uma razão capaz até de

conferir racionalidade para certas condutas anteriormente descritas.

Dentre empresas de maior porte citadas como não apresentando um

comportamento de integração, os exemplos mais comuns são justamente as de

implantação tardia, supostamente por não terem participado do momento inicial que

estimulou a cultura da "camaradagem" ilustrada pelos episódios relatados. Foram

descritas situações em que até mesmo a visita às instalações é bastante restrita.

Na cooperação horizontal multilateral, uma das iniciativas revela a interação de

empresas na área de telefonia móvel. A legislação brasileira em vigor exige que um

Page 145: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

131

percentual do faturamento das empresas, correspondente aos produtos dessa área, seja

aplicado em atividades de pesquisa e desenvolvimento. Ericsson, Motorola, Nokia e

Siemens, empresas que atuam no setor, têm promovido reuniões periódicas em Manaus

para a identificação de programas "não competitivos", objetivando a implementação

conjunta de parte desses investimentos obrigatórios. Dentre elas, Nokia e Siemens são

as únicas instaladas em Manaus, e justamente as que buscaram a aproximação, inclusive

no convite às empresas extracluster. O histórico de projetos conjuntos entre esses

atores, em âmbito internacional, certamente foi um facilitador para a iniciativa, e ilustra

como as práticas corporativas podem influenciar a realidade local.

Outro exemplo diferenciado envolve um subsetor que participa do cluster. Em

uma crise ocorrida no período 1996-97, as empresas de componentes plásticos

reduziram seus quadros e indenizaram alguns profissionais com máquinas, dando

origem à implantação de várias empresas de pequeno porte. Uma das empresas líderes

do subsetor decidiu restringir suas atividades ao trabalho com máquinas de grande

porte, selecionando 3 pequenas empresas para que lhe suprissem as peças menores e

mais simples, por meio de subcontratação. Essa solução, adotada posteriormente por

outras empresas, acabou por multiplicar a cooperação entre elas: as empresas satélites

recebem apoio da empresa líder – treinamento de pessoal e manutenção de moldes e

ferramentas são alguns dos tipos identificados – e, embora tenham uma relação de maior

proximidade com uma empresa específica, não são seus fornecedores exclusivos.

Posteriormente, a solução evoluiu para um estágio de maior integração, quando

as empresas líderes passaram a interagir e distribuir, entre si, eventuais demandas que

excedam à sua capacidade de produção somada à das satélites.

O relato indica que o conjunto é composto por 5 a 6 empresas líderes, cada uma

delas com 2 ou 3 empresas satélites, em uma configuração aproximada à apresentada na

Figura VI.2, em que as letras representam as empresas líderes e os números, as satélites.

Percebe-se que é um exemplo de interação em rede que, associando à tipologia

adotada por este trabalho, seria classificado como uma cooperação multilateral, mas

com características mistas, pois envolve tanto relações horizontais quanto verticais.

Outra iniciativa multilateral identificada, com participação de várias empresas

do cluster, mas sem restringir-se a ele, envolve a discussão de práticas de gestão

relacionadas a vários temas: manutenção, alimentação, transportes (de funcionários e

mercadorias), segurança e recrutamento e seleção. A proposta para formação do grupo

Page 146: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

132

FIGURA VI.2 SUBSETOR DE COMPONENTES TERMOPLÁSTICOS ESBOÇO DA REDE ARTICULADA DE EMPRESAS FORNECEDORAS

Fonte: Elaborada pelo autor.

foi realizada em uma reunião do Cieam, liderada por profissional que está há

relativamente pouco tempo em Manaus, e ocupa função de diretoria em empresa de

atuação global que não pertence ao cluster, a Gillette. De 16 empresas convidadas a

tomar parte no grupo, entre 10 e 12 estariam participando com regularidade. Cada um

dos temas é tratado isoladamente, e a experiência das empresas que apresentam as

melhores soluções para determinado tema é utilizada como referência para o

aprendizado e desenvolvimento das demais. A sistemática, em si, é um exemplo da

socialização de um aprendizado alcançado na trajetória de um profissional, novamente

evidenciando a influência da experiência corporativa na realidade local.

O episódio também demonstra que assim como diretores radicados há mais

tempo oferecem a vantagem de formar, preservar e transmitir uma identidade, a

rotatividade na ocupação de alguns dos cargos executivos, ainda que significando a

perda de parte do capital cooperativo acumulado, tem o mérito de introduzir novas

práticas empresariais, oxigenando o ambiente industrial.

Muitos outros exemplos registrados de cooperação horizontal multilateral estão

em sua maioria relacionados ao esforço de responder a alterações na legislação, federal

A

1 2 3

E

15

14

13

B

4

5

6

D

12

11 10

C

7

89

Page 147: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

133

ou estadual, que provoquem impacto nos benefícios fiscais ou nos processos produtivos

das empresas. Isto implica em ações coletivas como articular em oposição ao aumento

de taxas públicas, pressionar órgãos de governo para contestar alíquotas ou quotas

físicas impostas por outros países que prejudiquem o acesso dos produtos da ZFM a

seus mercados, reivindicar do poder público investimentos em infra-estrutura,

flexibilizar etapas a serem incluídas nos processos produtivos obrigatórios a serem

praticados etc.

A variedade das iniciativas é, portanto, uma característica da cooperação

horizontal no cluster Eletroeletrônico, mediada pela atuação das entidades de classe. A

iniciativa pela cooperação, conforme visto, por vezes suplanta a obrigação da

competição, o que ratifica a visão depreendida dos entrevistados de que o ambiente

facilita a cooperação.

VI.2.2. VARIABILIDADE NA COOPERAÇÃO VERTICAL.

Em termos do suporte mútuo, e assim como já fora identificado para o Duas

Rodas, a pesquisa de campo confirma uma mesma boa relação entre empresas de bem

final e de componentes para o Eletroeletrônico: 87,5% dos fornecedores aproximam-se

para "Oferecer assistência para problemas que surgiram em seus produtos" e 75%

Solicitam sugestões de como melhorá-los".

Quando o contrato é eventualmente quebrado, os comportamentos mais comuns,

utilizados em algum momento por 100% dos clientes, é "Solicitar que o trabalho seja

refeito" e "Oferecer supervisão para evitar problemas futuros". Em termos de apoio, a

"Assessoria na organização da produção" é a assistência prestada com maior

intensidade, utilizada por 4 das 6 empresas de bem final da amostra.

Assim como no Duas Rodas, nenhuma empresa pratica o "Pagamento adiantado"

como forma de apoio ao subcontratado e em caso de quebra de contrato todas

"Solicitam que o trabalho seja refeito".

Comprovando o bom nível das relações, no sentido inverso todos os 3

fornecedores de componentes confirmaram que os clientes "Prestam assistência para a

melhoria da qualidade de seus produtos".

Esse nível geral de aproximação e colaboração, todavia, não impede a existência

de importantes pontos de contraste. Um deles diz respeito à trajetória da cooperação

vertical que, no caso do cluster Eletroeletrônico, não aparenta corresponder a uma

tendência ascendente.

Page 148: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

134

O histórico que evidencia essa afirmativa inicia na segunda metade da década de

80, quando um esforço conjunto de política industrial entre os governos federal

(Suframa) e estadual (à época, a Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo),

objetivando o estímulo à implantação de fornecedores de componentes, resultou na

ampliação e diversificação do mercado ofertante, pressionando uma mudança no

comportamento dos fabricantes de produtos, que já possuíam suas rotinas de

abastecimento estabelecidas. Considerando a inexistência (ou, na melhor das hipóteses,

a incipiência) de um setor de compras local nas empresas, a preferência era sempre pela

manutenção de relações de fornecimento já consolidadas.

Os chamados Programas de Regionalização forçaram uma aproximação entre os

dois elos da cadeia produtiva. No ápice da iniciativa, em 1988, havia cerca de 80

fornecedores em Manaus, nos mais diversos subsetores. A interação destes com os

fabricantes de produtos, para a busca de padrões de qualidade e regularidade no

fornecimento, ocorreu como uma conseqüência direta da obrigatoriedade legal. Se no

primeiro momento a aproximação não foi voluntária, a inevitabilidade fez com que

algumas empresas aproveitassem a oportunidade para implementar programas bastante

consistentes de desenvolvimento de fornecedores. Técnicos especialistas, trazidos de

outras unidades corporativas, orientavam empresas de componentes, das áreas de

injeção plástica, material gráfico, estamparia e ferramentaria, a alcançar um melhor

desempenho, compatível com as expectativas de qualidade do mercado demandante.

Entretanto, a legislação permissiva fez com que os fabricantes de bem final

criassem suas próprias empresas de componentes, para as quais terceirizaram a

montagem de placas, usufruindo benefício adicional que provocou forte impacto

negativo na arrecadação estadual. Isto precipitou uma mudança na legislação, que na

prática inviabilizou a continuidade do programa, esvaziando o que já era reconhecido

como um pólo de empresas de componentes.

Em seguida, o ápice na intensidade da cooperação vertical bilateral talvez tenha

correspondido ao período de abertura do mercado interno às importações, na década de

90, que estimulou uma busca por padrões internacionais de desempenho. A maioria dos

grandes fabricantes criou programas para a competitividade que, dentre outros pontos,

incluíam a qualificação de fornecedores. Se os fornecedores já não eram tantos quantos

os do final da década anterior, em contrapartida o objeto da interação tornou-se mais

amplo.

Page 149: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

135

Uma das mais reconhecidas iniciativas foi o programa de Manufatura Classe

Mundial, desenvolvido pela Sharp e utilizado como referência por várias outras

empresas. A Multibras, um fabricante de peças plásticas injetadas, foi uma delas.

Inspirada no programa, estreitou relações com clientes, visitou empresas matrizes de

alguns deles em seus países de origem e desenvolveu parcerias para o aprendizado com

os pontos fortes percebidos para cada um: Sharp (gestão), Philips (qualidade), Sony

(injeção) e Honda (logística), esta última caracterizando sua participação em mais de

um cluster. Com isso estruturou um programa de melhoria de desempenho que se

desenvolveu por todo o restante da década, fortalecendo a cooperação com essas e

outras empresas, inclusive algumas com as quais não mantinha relações de negócio.

Após esse período, e com algumas empresas consolidando seus próprios

modelos de gestão, prevalece a opinião de que a cooperação vertical bilateral tornou-se

menos freqüente. Empresas com programas para a atração e desenvolvimento local de

fornecedores descontinuaram a abordagem mais sistemática; outras, talvez por terem

sobrepujado o momento da ameaça competitiva mais crítica, desaceleraram o ritmo das

parcerias.

Analisando o conteúdo dos depoimentos, a única exceção identificada para esse

perfil seria a Nokia, que apresenta uma intensa atuação com fornecedores locais em

anos recentes. Assim como a Honda, no Duas Rodas, a Nokia tem evidenciado uma

participação ativa na atração de fornecedores. Em 2001, organizou um seminário, em

Manaus, com o envolvimento de aproximadamente 40 dos parceiros internacionais da

corporação, com o intuito de estimular sua implantação na ZFM. Segundo estimativas,

em 2004 já consumia cerca de 2/3 da produção de sua rede local de fornecedores,

composta por mais de 20 empresas.

Outros exemplos recentes contabilizam apenas interações pontuais, tais como o

desenvolvimento de matérias-primas e acabamentos especiais, dispositivo automático

para máquinas insersoras de componentes etc. Ao avaliar o conjunto, todavia, fica a

interpretação de que o mesmo está aquém do potencial da aglomeração, considerando

seu tamanho e a diversidade de empresas.

Assim, para o conjunto do cluster, embora a interação fabricante-fornecedor seja

amistosa, há evidência de que em momentos anteriores já foi bem mais intensa – ainda

que em decorrência de reação a pressões externas – e que atualmente prevalece uma

acomodação nas relações de cooperação vertical, com a exceção descrita.

Page 150: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

136

VI.3. INDICADORES DE CONFIANÇA, INSERÇÃO E APRENDIZADO NO

CLUSTER ELETROELETRÔNICO.

De forma similar ao que foi realizado no capítulo anterior, também é possível

explicitar algumas características do perfil do cluster Eletroeletrônico, com o apoio dos

conceitos complementares, o que é feito nas próximas seções.

VI.3.1. O COMPORTAMENTO OPORTUNÍSTICO LIMITANDO

INICIATIVAS.

Há um elemento presente no ambiente do cluster Eletroeletrônico e que não foi

identificado no Duas Rodas, que é o comportamento oportunístico aumentando a

resistência a algumas interações.

Um dos principais motivos alegados para a sua existência é a não paridade na

intensidade do benefício fiscal estadual, cuja legislação permitiria a convivência de

distintos níveis de incentivo para empresas com produtos similares. Isto implicaria em

um importante diferencial competitivo que as empresas em vantagem procuram

resguardar, mantendo sigilo sobre a informação. É um fator que se contrapõe ao

estabelecimento da cultura da confiança, e que foi supostamente restringido por uma

modificação da legislação, ocorrida ao final de 2003.

Outro comportamento oportunístico é registrado como motivo para o insucesso

de algumas iniciativas multilaterais. Trata-se da falta de transparência na revelação de

números associados a preços pagos por matérias-primas e serviços. A apresentação de

números incorretos, para preservar conquistas de relações comerciais, é apontada como

motivo da inviabilização de esforços realizados, por exemplo, para a compra conjunta

de componentes.

No próprio exemplo da cooperação multilateral em rede, anteriormente descrito,

é identificado o comportamento oportunístico em tentativas de cooptar clientes das

empresas parceiras.

Trata-se de um contraste evidente com o Duas Rodas, no qual a pesquisa de

campo não se defrontou com qualquer situação similar.

E essa conduta pode, por exemplo, ser um fator que impede a concretização de

outras oportunidades, como foi o caso de recente tentativa de redução nos custos da

cadeia logística. Em esforço multilateral coordenado pelo Cieam, buscou-se o

compartilhamento de modais por empresas de vários subsetores, para o transporte

conjunto de produtos aos devidos centros de distribuição. Apesar da realização de um

Page 151: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

137

estudo indicando a possibilidade de redução do custo de transporte em 33%, as

empresas não demonstraram interesse na solução conjunta, alegando principalmente

dois argumentos: (i) a decisão do modal a ser utilizado não era tomada em Manaus e (ii)

não gostariam de agrupar a sua própria carga com a dos concorrentes.

Relato de um dos entrevistados sinaliza que nesse episódio houve uma nítida

distinção entre o comportamento das empresas do cluster Duas Rodas, dispostas em

participar e "cooperar para competir", e o das empresas do Eletroeletrônico, mais

conservadoras, algumas delas justificando a origem no setor comercial.

VI.3.2. DIVERSIDADE DE ASSOCIAÇÕES: MAIS FÓRUNS, MELHOR

GOVERNANÇA?

Uma vantagem comparativa que pode ser ressaltada é a maior variedade de

associações de classe no cluster Eletroeletrônico: foram 10 as associações citadas

diretamente nas respostas ao questionário. Dessas, o Cieam é a mais freqüente, presente

em 88,9% das respostas; Fieam (77,8%) e Eletros (66,7%) vêm em seguida, sendo que a

sede desta última não é local. O principal uso que se faz das associações é o mesmo

referenciado no Duas Rodas: das empresas que responderam à questão, todas utilizam-

nas para "Aconselhamento em questões legais" (5 delas, "Freqüentemente") e para

acesso a "Cursos e seminários" (3 de modo "Freqüente") e "Boletins informativos" (4

delas, "Freqüentemente").

Em termos de reflexões quanto à atuação para melhores práticas de governança,

uma comparação entre as associações de classe aponta novamente o Cieam como a

principal liderança do Distrito Industrial, uma posição sem divergência entre os

depoentes. A Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) encontraria

dificuldade em exercer um papel de maior representatividade porque congrega todos os

segmentos da atividade industrial do estado, resultando na reunião de interesses mais

amplos, alguns deles de difícil conciliação; ao mesmo tempo, sua estrutura sindical

desfavorece a atuação global organizada, pois além de serem muitos os sindicatos,

vários são de pequeno porte e sem relação direta com a atividade concentrada no

Distrito Industrial. Outras associações tratam um grupo específico de empresas, como é

o caso da Associação das Indústrias e Empresas de Serviços do Pólo Industrial do

Amazonas (Aficam), o que implica em um menor porte. Dois dos principais exemplos

de cooperação multilateral, a iniciativa em logística e o benchmarking coletivo das

Page 152: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

138

práticas de gestão, iniciados nas reuniões do Cieam, ilustram a existência dessa

liderança e sua importância para a disseminação da cooperação.

Apesar de uma percepção geral quanto aos fatores positivos na atuação dessas

associações, há uma crítica, manifestada por uma parcela dos interlocutores, quanto a

uma postura de pouca atenção ao cenário futuro. A queixa relaciona-se à falta de

iniciativa para a discussão da viabilidade da indústria sem os incentivos fiscais. Nas

palavras de um entrevistado, "todas pensam no pão de cada dia, nenhuma em plantar o

trigo". E isto se reflete no comportamento das empresas, e em sua ausência a fóruns

temáticos importantes, como os que são promovidos no âmbito do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio para a discussão de competitividade, nos quais

por vezes são encaminhadas decisões que afetam a realidade local. O governo estadual

também é citado, ressaltando-se que o conteúdo de sua legislação teria mais

preocupações com a arrecadação imediata do que com perspectivas futuras.

Ainda no tema governança, as manifestações sobre as relações com as

instituições públicas reforçam uma posição percebida para o cluster Duas Rodas: a

opinião é de que o diálogo teria sido ampliado, quando comparado ao passado, e as

instituições estariam com maior foco no auxílio à competitividade das empresas. A

Suframa, em especial, é entendida como o agente com potencial de liderar as empresas

para estágios mais avançados da dinâmica industrial. Alguns dos profissionais até

enfatizam a crença de que a Suframa, nesse aspecto, teria evoluído mais que o governo

do estado. Anteriormente, seria uma instituição menos próxima, tratando com sigilo

muitas das questões de interesse do setor produtivo; hoje, adotaria procedimentos mais

transparentes e, com isso, conquista parcerias. No outro lado dessa relação, a própria

Suframa, por meio de seu principal dirigente, também interpreta que a aproximação com

o setor produtivo tem apresentado sinais de avanço.

Uma referência constante utilizada pelos entrevistados para exemplificar como

essa liderança se revela é a realização bienal da Feira Internacional da Amazônia

(Fiam), organizada pela Suframa com o intuito de divulgar a produção e o potencial de

negócios da região e atrair novos investimentos. Embora iniciativas similares tenham

ocorrido de modo esporádico, nas décadas de 80 e 90, àquela época representaram

muito mais um esforço de contrapropaganda à imagem negativa da ZFM. Atualmente, a

Fiam assume conotações de um evento de negócios, focado na viabilização de novos

empreendimentos, ampliação de relações comerciais, e que também inclui seminários

técnicos com programação paralela discutindo temas do interesse da indústria.

Page 153: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

139

Apesar da compreensão de que é mais efetiva a cooperação entre o setor público

e o privado, há manifestação explícita de que os resultados coletivos poderiam ser

melhores. Alguns dos entrevistados ressentem-se de uma maior participação do

governo, por exemplo, na formação direta de profissionais com determinadas

competências, ou mesmo no papel de indutor de programas com esse fim. Desta forma,

pode-se entender que a possibilidade de evoluir a um nível ainda superior de articulação

é um espaço aberto para o desenvolvimento e consolidação de mecanismos adicionais

de governança.

Assim, embora atestando a existência de um maior número de associações, as

interações de campo não permitem concluir que esta vantagem potencial materialize-se

em uma distinção significativa nas práticas de governança, quando comparados os dois

clusters analisados.

VI.3.3. MÃO-DE-OBRA QUALIFICADA: ALGUNS ESPAÇOS DE

APRENDIZADO E A QUESTÃO DA AUTONOMIA.

Em relação à qualificação da mão-de-obra, nas 9 empresas que responderam ao

questionário trabalhavam 8.717 pessoas, sendo que 13,2% deste total correspondem a

profissionais com nível superior, um indicador que praticamente não apresenta

diferença se comparado entre os fabricantes de bem final e as empresas de

componentes, e é apenas 1,3% superior ao do cluster Duas Rodas. Para 75% das

empresas, a rotatividade da mão-de-obra permaneceu a mesma ou decresceu, nos

últimos 5 anos, o que sugere estabilidade.

Dos 7 profissionais oriundos de outras localidades, que responderam pelas

empresas ao questionário, 5 estão na mesma organização desde sua chegada, o que

qualifica especialmente o dado coletado que indica, para 77,8% dos casos, que a

participação de pessoas locais ocupando cargos de gerência ou direção aumentou nos

últimos 5 anos, e em nenhum deles teria diminuído. É um fator indireto importante que

evidencia a evolução na capacitação da mão-de-obra. Por outro lado, essa dimensão

significativa assumida pela contribuição de profissionais de outras regiões e países, no

histórico da direção de empresas, reforça a característica da diversidade que compõe a

identidade do cluster.

Ainda em relação à mão-de-obra, há uma clara convergência para a idéia de que

é abundante, conseqüência da atividade industrial continuada. Os dados revelam que

atividades básicas como "Contabilidade", "Custeio de produtos" e "Recrutamento e

Page 154: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

140

seleção" são desenvolvidas internamente por todas as empresas. "Manutenção de

máquinas" é realizada internamente por 88,9% delas. Também foram identificadas, de

forma mais disseminada, capacitação e autonomia locais para a execução de atividades

como especificação, seleção e compra de máquinas e equipamentos, elaboração de

leiaute fabril e adaptação de projetos de produtos.

A mão-de-obra especializada não é apontada como um problema por

empresários e representantes de empresas, diferentemente do status encontrado para o

Duas Rodas. Em relação ao tema, a única exceção foi reportada em depoimento de

dirigente de instituto de tecnologia, indicando escassez de mão-de-obra especializada

para P&D, uma situação que não pode ser considerada surpreendente, uma vez que são

atividades em fase inicial, de pouca tradição na indústria incentivada em Manaus.

No caso do cluster Eletroeletrônico, a abertura do mercado nacional é

fortemente referenciada como o principal ponto de mudança em uma trajetória de

aprendizado. Se antes as empresas lidavam principalmente com otimização de processos

e aspectos gerais de organização da produção, a partir de 1991 aumentou a percepção da

importância de uma gestão integrada dos diversos processos que compõem a

organização, inclusive expondo a fragilidade de empresas que se ressentiam de lastro

em tecnologia.

Um profissional com muitos anos na liderança de equipes de desenvolvimento,

no campo da eletrônica de entretenimento, envolvido pela pesquisa de campo, afirma

que existe uma capacitação local para a realização de projetos com nível superior à

maioria dos que são contratados no exterior. A exploração do potencial dessa

capacitação dependeria da mobilização dos atores e da organização da demanda, o que

mais uma vez ressalta a oportunidade para a atuação coletiva.

Um espaço para disseminação de informação e aprendizado citado por vários

dos entrevistados são as instituições de ensino superior. Com a multiplicação de seu

número, em anos recentes, a interação na sala de aula, seja em nível de graduação ou

pós-graduação, é uma oportunidade informal para a aproximação de profissionais de

diferentes empresas. Cursos na área de Eletrônica e, especialmente, Produção, são

oferecidos em várias instituições. Enquanto o curso pioneiro de Engenharia Elétrica em

Manaus data de 1976, os primeiros cursos em Engenharia de Produção implantaram-se

em 1998, um nítido contraste com o porte (e a demanda de profissionais) do parque

industrial. A expansão do ensino superior permitindo maior interação entre profissionais

de distintas empresas pode ser o motivo para que os relacionamentos informais,

Page 155: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

141

baseados em amigos ou antigos colegas de curso ou trabalho, tenham sido ressaltados

por 87,5% dos respondentes.

Mas se para o setor produtivo essa evolução vem ocorrendo sob um ritmo

favorável, há um contraponto a ser considerado. Uma das observações ressaltadas pelos

profissionais de empresas entrevistados é a necessidade de que as instituições públicas

invistam na capacitação de seu próprio pessoal, pois, segundo eles, o bem sucedido

esforço que o setor governamental empreendeu para atualizar e automatizar processos

administrativos não teria sido adequadamente acompanhado por uma evolução de seu

corpo técnico.

VI.3.4. IMPACTOS PARA A INSERÇÃO.

A maior autonomia de decisão em decorrência do aumento na capacitação das

unidades locais também pode ser considerada como um indicador do nível de inserção

da indústria. Todos os entrevistados, com especial atenção para empresários e

executivos, destacam que as organizações ganharam autonomia na medida em que a

indústria da ZFM foi se estruturando e as operações tornaram-se mais complexas.

Uma única ressalva apontou que o aumento da autonomia estaria limitado pela

rotatividade dos dirigentes em alguns dos grupos transnacionais, uma afirmativa cuja

comprovação no mínimo demandaria nova incursão ao campo, uma vez que as

capacidades acumuladas na organização evidentemente não estão concentradas

exclusivamente no dirigente principal.

Essa relação entre competência e autonomia torna-se bastante evidente quando,

em alguns casos, a evolução é mais lenta. É o caso da agenda de investimentos

obrigatórios em P&D, em que poucas empresas dispõem de autonomia local de decisão;

também da seleção de fornecedores e a efetivação de processos de compra, em que a

distância dos centros de abastecimento não contribui para a concentração dessas

atividades em Manaus, isso sem considerar que são atividades que representam um

grande poder nas organizações, para as quais seus executores costumam oferecer

resistência à transferência ou delegação de autoridade.

Mesmo assim, exemplos favoráveis podem ser encontrados em empresas como

Nokia e Philips. A Nokia possui autonomia local para a homologação de fornecedores,

com autoridade para habilitá-los ao fornecimento para qualquer das unidades da

corporação, em escala mundial. O mesmo procedimento ocorre com a Philips, um

exemplo ainda mais significativo, pois o seu centro de compras para o Brasil, instalado

Page 156: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

142

em Manaus, possui ascendência hierárquica sobre as compras da unidade da Philips em

Terra do Fogo (Argentina). Os dois exemplos configuram uma condição bastante

improvável de ser concebida há apenas duas décadas, quando a Suframa viu-se obrigada

a exigir em legislação a presença permanente em Manaus de um diretor de cada

empresa, para poder alcançar um nível mínimo de interlocução.

Em termos das relações com outros agentes do cluster, as mais citadas referem-

se a "Instituições de ensino técnico ou profissionalizante", utilizadas por 85,7% das

empresas, com a totalidade delas indicando um nível "Adequado" ou "Totalmente

satisfatório" para a interação. Em segundo lugar são citados os "Laboratórios de ensaios

e testes", utilizados por 71,4% das empresas e apenas 1 delas correspondendo a um

nível "Inadequado" para a relação. Praticamente nesta mesma intensidade de utilização

encontram-se "Centro de treinamento" e "Consultores independentes ou empresas de

consultoria".

As "Instituições de ensino técnico ou profissionalizante" mais uma vez têm uma

maior aproximação com as empresas que as "Universidades", que foram referenciadas

por 57,1% das que responderam à questão. Dentre todos os depoimentos, uma única

citação mais robusta quanto ao relacionamento com o setor acadêmico foi obtida. E

justamente para lamentar a pouca interação entre academia e setor produtivo. Segundo a

perspectiva do interlocutor, o reduzido número das empresas que vão à universidade

buscar algum tipo de apoio ou conhecimento justifica-se pela ausência de uma cultura

para investir com objetivos de longo prazo, a visão de que a universidade não consegue

responder de forma ágil e também pela pretensa dissociação entre necessidades do

mercado e formação acadêmica oferecida.

Assim como no Duas Rodas, o objeto do serviço que é mais comumente

solicitado de outros agentes é o "Treinamento e capacitação", demandado de todos os

outros 8 tipos de agentes (afora as empresas) oferecidos como opção. "Consultores

independentes ou empresas de consultoria" e "Empresa matriz" são os agentes mais

ecléticos, executando 6 dos 7 tipos de serviços relacionados.

A existência de uma maior diversidade de atores, no caso do Eletroeletrônico,

faz com que as iniciativas de cooperação com outros agentes, como é o caso de

institutos tecnológicos, alcancem registros bem mais antigos. Remontam a meados da

década de 80 exemplos em áreas como qualidade (elaboração de procedimento comum

de inspeção de componentes) e transportes (melhoria das condições do transporte de

Page 157: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

143

contêineres), em que a articulação das empresas contou com a intermediação de

instituto tecnológico.

A cooperação com base em matéria técnica ainda é exceção, vista até com

bastante ceticismo por alguns que não pertencem ao setor produtivo, em virtude de

suposta tendência à compra de kits, no mercado internacional, como única alternativa

para competir com o contrabando e a escala da produção asiática.

Em suma, no cluster Eletroeletrônico percebeu-se a existência de expectativa por

uma ação coletiva mais coordenada, para a qual a eleição dos líderes de ambos os

setores, público (Suframa) e privado (Cieam), é resultado de um nítido consenso. O

aperfeiçoamento dos mecanismos de governança pode auxiliar na remoção de algumas

barreiras que limitam o alcance da cooperação e, conseqüentemente, tendem a afetar o

ritmo do aprendizado.

VI.4. CONCLUSÕES QUANTO À EFICIÊNCIA COLETIVA NO CLUSTER

ELETROELETRÔNICO.

A eficiência coletiva no cluster Eletroeletrônico ratifica alguns dos elementos já

observados para o Duas Rodas, no capítulo V, mas reputados ao ambiente industrial de

Manaus como um todo. Dentre eles, destacam-se a capacidade aglutinadora

representada na ameaça ao benefício fiscal e o nível de informalidade que caracteriza a

cooperação que resulta da ação conjunta.

Outra semelhança é a importância da mediação realizada pelas associações de

classe. No caso do Eletroeletrônico, o Cieam é generalizadamente reconhecido como a

entidade líder, em cujos fóruns internos o contato face a face resulta nos mais

significativos exemplos de cooperação horizontal multilateral.

Mas também existem fatores que espelham diferenças assinaláveis na

composição das identidades dos dois clusters analisados.

Um deles é a não polarização da liderança que, para o caso do Eletroeletrônico,

pode-se dizer que está pulverizada em várias empresas. A ausência de uma força

individual em nível significativo estimula a busca do consenso para opiniões

divergentes, facilita a existência simultânea de diferentes iniciativas de cooperação e

certamente contribui para a diversidade das práticas.

Outro fator distintivo é o menor nível de confiança entre competidores diretos,

percebido em mais de um elo da cadeia produtiva. Tanto fabricantes de bens finais

quanto fornecedores de componentes demonstraram desconforto ao reconhecer a prática

Page 158: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

144

de comportamento oportunístico. Se isto não é algo generalizado, uma vez que a

confiança foi evidenciada como um atributo da relação entre as empresas presentes há

mais tempo na ZFM, no mínimo representa um fator limitante às perspectivas de

cooperação. Ou seja, as empresas de implantação mais recente usufruem as

externalidades, mas têm maior dificuldade de se adaptar à cultura da "camaradagem".

A obrigatoriedade de investimentos em P&D, para algumas empresas, tende a

ampliar, no futuro, as experiências de cooperação que tenham como escopo o elemento

técnico, diferentemente da situação associada ao Duas Rodas, cujas atividades não se

submetem à mesma exigência.

Um significativo desdobramento dessa política é o surgimento recente de vários

institutos tecnológicos, alguns deles associados a empresas específicas, outros de

atuação aberta, ambos executando atividades intensivas em mão-de-obra qualificada em

nível elevado. A presença desses institutos significa uma diversificação dos tipos de

agentes existentes no cluster e correspondem a uma expectativa elevada, por parte dos

órgãos públicos, quanto à sua contribuição para a inserção da atividade produtiva, por

meio da qualificação de profissionais.

Outro fator que tende a acelerar a criação de valor local é a tendência crescente

da ocupação de espaços em novos mercados, a partir da exportação. O aumento das

exportações do setor industrial é um objetivo que tem recebido apoio por parte da

Suframa, em consonância com a política praticada pelo ministério ao qual está

vinculada, resultando no aumento do número de empresas exportadoras e do valor das

exportações, especialmente a partir de 2000. Dentre as 9 empresas da pesquisa de

campo, 7 são exportadoras, incluindo todas as fabricantes de bem final, sendo a

América do Sul o destino principal de suas exportações.

A Tabela VI.1 resume os exemplos de cooperação identificados pela pesquisa de

campo. Com exceção da cooperação vertical multilateral, todos os demais tipos de

cooperação transparecem a diversidade já ressaltada como uma característica importante

do cluster.

A cooperação horizontal multilateral talvez seja o principal fator distintivo do

conjunto, pois, apesar das dificuldades apontadas, revela que há uma importante

aproximação entre empresas que competem, e que pode transformar-se em um ponto

forte para a concepção de uma trajetória futura desejada.

Page 159: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

145

TABELA VI.1 DIVERSIDADE DA COOPERAÇÃO NO CLUSTER ELETROELETRÔNICO

Tipo Bilateral Multilateral

Horizontal

• Empréstimo de componentes, materiais e matérias-primas

• Cessão de linha de produção • Benchmarking em qualidade • Benchmarking em gestão

ambiental • Benchmarking em gestão da

produção

• Socialização de informações sobre fornecedores

• Programas não competitivos em telefonia móvel

• Administração de sobredemandas (rede)

• Benchmarking em práticas de gestão

• Discussão de mudança em legislação de incentivos

Vertical

• Treinamento de pessoal • Manutenção de moldes e

ferramentas • Benchmarking em

programas de competitividade

• Desenvolvimento conjunto de componentes

• Desenvolvimento de dispositivo de alimentação para máquina de inserção

• Administração de sobredemandas (rede)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo.

A Tabela VI.2 complementa o resumo da informação sobre a cooperação no

cluster Eletroeletrônico, oferecendo uma perspectiva da extensão da cooperação, ou

seja, o quanto, na percepção do autor, a prática estaria disseminada.

Segundo esse ponto de vista, os resultados evidenciam que a cooperação

horizontal ocorre com mais freqüência, é mais disseminada, e é exercitada de forma

contínua.

Contrariamente, a cooperação vertical revelou-se uma conduta mais discreta,

relativamente à amplitude do cluster, inclusive com flutuações mais nítidas de sua

intensidade, ao longo do tempo, tendo sido possível identificar que o seu ápice ocorreu

em um passado já não tão recente.

Ao final, a ação conjunta deliberada no cluster Eletroeletrônico apresenta uma

maior quantidade absoluta de exemplos, sendo também mais diversificada. A presença

significativa de empresas de grande porte, de alcance global, na sua composição, é um

dos motivos dessa diversidade de práticas, e da influência que a dinâmica da cooperação

Page 160: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

146

TABELA VI.2 EXTENSÃO DA COOPERAÇÃO NO CLUSTER ELETROELETRÔNICO

Tipo Bilateral Multilateral

Horizontal

• Contínua, com características de solidariedade

• Práticas mais intensas entre os precursores

• Intermitente, condicionada à agenda de governo; ativa, em termos de melhores práticas em gestão

• Envolvimento de grandes empresas fortalecendo sua rede de relações

• Transbordamento para relações extracluster

• Influência de decisões e padrões corporativos

Vertical

• Intermitente, com intensidade decrescente nos últimos anos

• Ocorrência significativa recente concentrada em um único fabricante

• Contínua, mas de existência recente (rede)

• Ocorrência pontual

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em pesquisa de campo.

horizontal exerce em sua eficiência coletiva. Todavia, de forma associada, implica

também em uma maior influência das decisões corporativas na realidade local.

Page 161: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

147

VII. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS: ALGUMAS IMPLICAÇÕES DAS

PRÁTICAS DE COOPERAÇÃO.

Após a apresentação dos dados obtidos a partir da pesquisa de campo, realizada

nos capítulos V e VI para cada um dos clusters sob análise, é necessário avaliá-los

segundo a perspectiva dos objetivos propostos para este estudo.

O cumprimento dessa tarefa, concretizado neste capítulo, inicia com uma

abordagem comparativa dos ambientes e das práticas de cooperação identificadas, no

intuito de consolidar uma visão global das principais semelhanças e desigualdades

percebidas para os objetos de estudo.

Em seguida, são retomados de modo crítico os elementos formais estabelecidos

para o estudo, de acordo com a estrutura descrita no capítulo II, a partir dos quais a

análise de mérito sobre os objetivos específicos e algumas implicações para os

principais atores são estabelecidas.

O capítulo finaliza sugerindo desdobramentos e complementações que poderiam

compor uma agenda propositiva de interesse para a temática tratada.

VII.1. UM RESUMO DOS PERFIS DOS AMBIENTES.

Uma das idéias em que se assenta este trabalho de pesquisa diz respeito à estreita

vinculação existente entre a inserção social dos agentes econômicos e a dinâmica do

aprendizado. As relações entre os agentes – e aí não apenas os econômicos –

influenciam o ambiente e são por ele influenciadas. Ao ambiente, portanto, é conferida

uma propriedade de estimular ou dificultar as relações que levam ao aprendizado,

inclusive as de natureza cooperativa.

É conveniente, então, resumir as principais características observadas para os

ambientes dos dois clusters estudados. A Tabela VII.1, que tem esse objetivo, procura

apresentar tais características concentrando-se especificamente nas diferenças

identificadas entre eles, pois são elas que oferecem um maior potencial para explicar as

eventuais particularidades de suas dinâmicas. Características comuns, como a

capacidade de mobilização coletiva contra a ameaça aos incentivos, a existência de

abundante mão-de-obra não especializada ou o comportamento predominante de

companheirismo, não estão registradas.

Evidentemente, os conteúdos da Tabela VII.1, em maior ou menor grau, são

inferências que resultam da apreciação crítica atrelada à visão pessoal do autor.

Também não se pretende afirmar que os itens abordados são os únicos que importam

Page 162: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

148

para a caracterização do ambiente, mas sim aqueles que de algum modo foram

ressaltados com a investigação de campo.

TABELA VII.1 COMPARAÇÃO ENTRE OS AMBIENTES DOS CLUSTERS DUAS RODAS E

ELETROELETRÔNICO

Cluster Característica Observada Duas Rodas Eletroeletrônico

Número de empresas Médio Elevado

Diversidade de produtos Baixa Alta

Diversidade dos agentes Baixa Média

Capacidade de influenciar a trajetória Concentrada Distribuída

Influência cultural Predomínio de uma cultura estrangeira Múltipla

Base de confiança para as relações Alta Maior, entre empresas

pioneiras Disponibilidade de mão-

de-obra especializada Restrita ("importação" de outras regiões ou países)

Limitada, para atividades de maior conteúdo (P&D)

Expectativa futura Integração de novos agentes; ampliação de conexões

Manutenção das conexões existentes; diversificação do

seu escopo Fonte: Elaborada pelo autor.

Ainda que seja incompleta, a comparação é suficiente para destacar um elemento

significativo para a continuidade da análise e seus possíveis desdobramentos: é

necessário reconhecer que existem algumas diferenças não triviais entre os dois

ambientes, com potencial para influenciar o sucesso ou insucesso de iniciativas que lhe

digam respeito.

O porte, por exemplo, é uma questão que se apresenta como crucial. Com

poucas exceções, a cooperação foi evidenciada como uma prática disseminada de forma

mais ampla em empresas de maior porte. Para este indicador, portanto, o cluster

Eletroeletrônico oferece uma maior liberdade em termos de implementação de políticas

estratégicas, uma vez que possui uma quantidade acentuada de grandes empresas,

quando comparada a apenas duas do cluster Duas Rodas. Esta é seguramente uma

indicação de prioridade para a intervenção positiva na ampliação do exercício da

cooperação.

Page 163: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

149

O cluster Eletroeletrônico, comparativamente ao Duas Rodas, tem uma maior

diversidade de agentes, pois inclui várias instituições de P&D (dedicadas ou não) e

maior quantidade de instituições de ensino e treinamento atuando. Isto repercute em

maior variedade na tipologia das interações, e amplia o potencial para a implementação

de soluções coletivas por meio da cooperação.

A diversidade de empresas tem vínculo direto com a capacidade de influenciar a

trajetória do cluster. No caso do Duas Rodas, em que a concentração econômica é

grande, as duas maiores empresas são responsáveis por praticamente todas as iniciativas

de ação conjunta identificadas. Qualquer que seja a trajetória, e o incremento na

capacidade de reagir às pressões competitivas, elas certamente estarão desempenhando

um papel de protagonistas.

Alguns dos códigos de conduta e comportamento são introduzidos a partir da

cultura original da empresa que implanta uma filial em Manaus. No caso do Duas

Rodas, ressalta a influência de uma cultura específica, a japonesa, o que impõe o padrão

de confiança percebido nas relações e estimula diretamente a existência da cooperação.

No caso do Eletroeletrônico, o potencial a explorar é o das múltiplas experiências que

podem ser proporcionadas pelas diferentes origens.

A mão-de-obra especializada é um item a ser tratado com precaução. Em ambos

os casos não foi identificada a carência em assuntos relacionados a profissões ligadas a

atividades de apoio (ou atividades-meio), ou à gestão da produção. No cluster Duas

Rodas, a indicação de carência tem a ver com o objeto técnico da aglomeração,

enquanto no Eletroeletrônico as manifestações sugerem que a fragilidade encontra-se

em um nível mais sofisticado, ligado às atividades de pesquisa e desenvolvimento. É,

sem dúvida, um tema cuja investigação merece aprofundamento. Não há como

desconsiderar que a eficiência de eventuais políticas para a inserção está imbricada à

questão da qualificação da mão-de-obra, cujos gargalos devem ser necessariamente

removidos.

O histórico da cooperação em cada um dos clusters e alguns eventos importantes

em anos recentes, dentre os quais podem ser destacadas a verticalização da Yamaha, no

Duas Rodas, e a implantação da Nokia, no Eletroeletrônico, auxiliam no exercício de

antecipar possíveis tendências.

Para o Duas Rodas, pode ser esperada a integração de novos fornecedores e a

ampliação da quantidade de relações fabricante-fornecedor. Empresas que hoje são

fornecedores exclusivos da Honda poderão ter seu mercado ampliado. Com isso,

Page 164: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

150

também tende a ampliar o alcance da cooperação vertical. Mesmo em relação às

conexões existentes, para o caso da Honda, há expectativa dos próprios parceiros de que

ocorra algum avanço em termos de escopo. Pelos elementos identificados, a cooperação

horizontal, todavia, continuará limitada. Com apenas duas grandes empresas, restará a

cooperação extracluster local, em que diminui a possibilidade do tratamento de questões

tecnológicas, permanecendo as iniciativas nas áreas de gestão e correlatas.

No cluster Eletroeletrônico, o comportamento da Nokia pode causar um

fortalecimento da cooperação vertical, até então aparentemente estabilizada em um

baixo nível de intensidade, quando comparado com o ritmo do passado. A cooperação

horizontal, assim como a interação com outros agentes, tende a ampliar, em

conseqüência de investimentos em P&D. As perspectivas para a ação conjunta com

escopo técnico são favoráveis.

Para a formulação de políticas públicas, esse conjunto de diferenças entre os dois

clusters deve ser admitido como um ponto de partida importante que corrobora a

necessidade do tratamento individualizado, considerando a seleção e consolidação de

trajetórias desejadas em direção ao desenvolvimento endógeno. Se os elementos que

compõem a base em que se firmam as relações sociais (ou a ausência delas) possuem

distinções assinaláveis, seria surpreendente que uma mesma política, generalizadamente

aplicada, alcançasse um grau de eficiência elevado para a aceleração do aprendizado e,

em conseqüência, da inserção local, para diferentes clusters.

VII.2. FORMAS DE COOPERAÇÃO: UMA SÍNTESE DOS RESULTADOS.

Os dois primeiros objetivos específicos propostos nesta pesquisa estabeleceram a

necessidade de identificar e avaliar, segundo a natureza e a intensidade, as formas de

cooperação praticadas pelas empresas dos subsetores Eletroeletrônico e Duas Rodas.

A análise comparativa das práticas de cooperação, a partir dos resultados

apresentados nos dois capítulos precedentes, permite comprovar essa realidade e é

oferecida como base para o juízo de valor sobre o atendimento aos objetivos.

Na Tabela VII.2 estão reunidas as diferentes formas pelas quais a cooperação é

exercitada. Além da utilização generalizada do benchmarking como uma prática

comum, estão ali indicadas as práticas diferenciadas para a ação conjunta observada nos

dois clusters estudados.

É claro que em ambos os conjuntos ocorrem situações de exceção, mas a síntese

apresentada concentra-se nos fenômenos mais significativos evidenciados.

Page 165: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

151

No geral, é possível perceber como são rarefeitos os exemplos de cooperação

vertical multilateral. Isto se dá não só pela dificuldade de reunir várias empresas em

torno de um mesmo interesse comum, mas também da maior sofisticação exigida para a

coordenação, e principalmente porque a competição externa, entre aglomerações locais

e de outras regiões ou países, que seria um forte demandante desse tipo de iniciativa,

ainda não é tratada de forma estruturada, coletiva, ensejando uma clara oportunidade de

avanço para a formulação de estratégias competitivas para o desenvolvimento

econômico local.

TABELA VII.2 PRÁTICAS DE COOPERAÇÃO NOS CLUSTERS DUAS RODAS (2R) E

ELETROELETRÔNICO (E)

Práticas Comuns Práticas Diferenciadas

Bila

tera

l • Visita de benchmarking (qualidade, gestão ambiental)

• Empréstimo (componentes, facilidades de produção) (E)

• Benchmarking (gestão da produção) (E) • Benchmarking (segurança) (2R) • Manutenção (moldes e ferramentas) (E) • Fornecimento de componentes (2R) • Gestão de recursos humanos (2R) • Responsabilidade social (2R)

Coo

pera

ção

Hor

izon

tal

Mul

tilat

eral

• Análise de impacto de mudança em legislação (incentivos, processo produtivo)

• Investimento compartilhado em projeto não competitivo (telefonia móvel) (E)

• Socialização de informações sobre fornecedores (E) • Administração de sobredemandas (rede) (E) • Benchmarking (práticas de gestão) (E)

Bila

tera

l • Visita de benchmarking

• Orientação em técnicas para gestão de produção

• Transferência de conhecimento tecnológico (2R) • Treinamento de pessoal (E) • Desenvolvimento de componentes e dispositivos (E) • Investimento (máquina, equipamento) (2R) • Participação no capital social (2R) • Suporte legal e jurídico (2R) • Manutenção de equipamentos (2R) • Logística (2R) • Execução de processos de fornecedores (2R) • Benchmarking (programas de competitividade) (E)

Coo

pera

ção

Ver

tical

Mul

tilat

eral

- • Gestão integrada de fornecedores (2R) • Administração de sobredemandas (rede) (E)

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 166: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

152

No cluster Eletroeletrônico, por diversos motivos (relações históricas, porte das

empresas, valorização das relações de influência etc.), a aproximação entre concorrentes

está mais presente e é onde estão concentradas as cooperações multilaterais; no Duas

Rodas, o ponto forte da cooperação revela-se por meio das interações fabricante-

fornecedor.

A Tabela VII.3 reúne e sintetiza as conclusões obtidas em relação à dinâmica da

cooperação, de forma comparativa, procurando contemplar as principais dimensões

privilegiadas na análise. A última coluna traduz a interpretação do autor quanto à

existência de eventos em curso, identificados especialmente durante as entrevistas, que

sejam potencialmente capazes de influenciar a trajetória futura da cooperação.

TABELA VII.3 AVALIAÇÃO COMPARATIVA DAS PRÁTICAS DE COOPERAÇÃO ENTRE

OS CLUSTERS DUAS RODAS (2R) E ELETROELETRÔNICO (E)

Alcance Freqüência Impacto

Econômico Diversidade Tendência

2R baixo intermitente, baixa baixo média manutenção do estado

atual

Bila

tera

l

E alto contínua, média baixo média ampliação do escopo

(tecnológico)

2R baixo intermitente, baixa baixo baixa manutenção do estado

atual

Coo

pera

ção

Hor

izon

tal

Mul

tilat

eral

E médio intermitente, média médio alta

ampliação do alcance (interação em

associação de classe)

2R alto contínua, alta alto alta Ampliação

Bila

tera

l

E baixo intermitente, média baixo média ampliação (alcance e

impacto)

2R médio contínua, alta alto média ampliação discreta

(freqüência e escopo)

Coo

pera

ção

Ver

tical

Mul

tilat

eral

E baixo contínua, média baixo baixa manutenção do estado

atual

Fonte: Elaborada pelo autor.

Nas demais colunas, busca-se a expressão da Intensidade da cooperação, por

meio de classificação que se utiliza de uma escala ordinal de 3 níveis (baixo, médio e

alto). Para o "Alcance", a referência é o número de empresas que citam a sua pratica,

Page 167: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

153

relativamente ao tamanho da amostra; a "Freqüência" traduz a quantidade de vezes em

que a cooperação é indicada, tendo por base respostas ao questionário; no caso do

"Impacto Econômico", a informação ali apresentada procura estabelecer um vínculo

entre os exemplos citados (entrevistas) e a importância econômica que representam para

cada cluster. Uma segunda escala, de apenas dois níveis (contínua e intermitente)

complementa a informação para a "Freqüência" da cooperação, procurando traduzir se a

prática tem sido contínua nos últimos 5 anos anteriores à pesquisa de campo (período de

tempo explicitamente abrangido pelo questionário) ou, contrariamente, se apresenta

descontinuidades.

Entende-se que as análises apresentadas nos capítulos V e VI, reunidas às

Tabelas VII.2 e VII.3, representam o atendimento aos dois objetivos referidos. Esse

conjunto oferece evidências quanto à existência de interações cooperativas na atividade

industrial em Manaus, bem como quanto à natureza e variação das práticas.

Resta, então, avaliar que elementos podem ser apreendidos a partir da

constatação dessa realidade, frente ao interesse de contribuir para uma dinâmica mais

acentuada de aprendizado, ou seja, identificar possíveis relações que podem ser

estabelecidas entre os dois fatores, de modo a orientar o desdobramento de

investigações futuras, o que será concretizado na seção a seguir.

VII.3. IMPLICAÇÕES PARA A DINÂMICA DO APRENDIZADO.

Evidentemente, como o foco da pesquisa são as práticas de cooperação, para

cuja compreensão as ferramentas para a investigação de campo foram selecionadas, a

tarefa de identificar relações entre os resultados obtidos e a dinâmica do aprendizado

encontra maiores oportunidades a partir de uma abordagem ex-ante. E é sob essa

perspectiva que foram organizados os elementos apresentados nesta seção.

Os resultados alcançados assemelham-se aos de trabalhos similares relatados na

literatura. SCHMITZ (2000b), ao comparar o desempenho de clusters em Guadalajara

(México), Agra (Índia), Sialkot (Paquistão) e Vale dos Sinos (Brasil), conclui que a

cooperação não é uma prática que se mantenha em níveis estáveis. Ao contrário, varia

não apenas quando são confrontados diferentes clusters, mas também de empresa a

empresa, dentro de um mesmo cluster e, o que talvez seja menos desejável para a

formulação de estratégias para a competitividade, ao longo do tempo.

Ela se intensifica na medida em que há necessidade de responder a maiores

desafios, correspondam eles a oportunidades ou, o que se revelou mais comum nesta

Page 168: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

154

pesquisa, ameaças. Como há distintos motivadores para a ação conjunta, as empresas

tornam-se seletivas, tanto em termos de iniciativas, quanto de parceiros. Para que a

cooperação se efetive, uma empresa deve sentir-se segura quanto à possibilidade de que

parte dos resultados possa ser por ela apropriada e que o tempo e o esforço dedicados à

sua obtenção serão adequadamente recompensados.

Assim, se as externalidades econômicas podem ser aproveitadas por todas as

empresas da aglomeração, a ação conjunta tende a ser não universal. Empresas de maior

porte, dependendo de sua condição de liderança, ditam quando e com quem cooperar;

para o caso daquelas de menor porte, a possibilidade é mais restrita, pois mesmo que

vença as dificuldades inerentes ao tamanho, e demonstre interesse e disposição, a

oportunidade de cooperar em princípio depende com menor intensidade de sua própria

iniciativa.

Essa é uma primeira consideração importante, de interesse aos gestores públicos

e aos líderes de associações de classe: não se pode esperar uma linearidade no

comportamento cooperativo. A pré-disposição cooperativa não é permanente e a

participação contínua não é automática. Para a implementação de um projeto coletivo,

portanto, a cada nova iniciativa, elementos para persuasão e atração dos atores

desejados devem ser ponderados como parte da estratégia.

Se o alcance e a freqüência das iniciativas explicam a intensidade do exercício

da cooperação, a diversidade é um complemento importante dessa informação, uma vez

que reflete a sua riqueza quanto às diferentes práticas utilizadas, esclarecendo como ela

ocorre e qual o seu escopo. Uma maior diversidade implica em mais formas de

interação e oportunidades de aprendizado sendo desenvolvidas e consolidadas no

cluster. Assim, ambas as dimensões, intensidade e diversidade, devem ocupar seu

espaço na análise da relação entre cooperação e aprendizado.

Em alguns casos, uma determinada cooperação oferece menor contribuição para

o aprendizado, orientada pela emergência de uma parada de linha de produção ou pela

ameaça ao benefício fiscal; em outros, o foco é justamente o aprendizado. Para

exemplificar, tome-se a cooperação horizontal: há iniciativas bastante seletivas de

interação, como é o caso do exemplo da rede, no subsetor de Componentes

Termoplásticos do cluster Eletroeletrônico, ou do esforço coletivo de benchmarking das

práticas de gestão. Para os propósitos ressaltados neste trabalho, os dois exemplos são

bem mais significativos que a capacidade de mobilização para discutir uma mudança na

legislação, independentemente da freqüência com que esta mobilização ocorra, ou

Page 169: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

155

mesmo que o disseminado recurso do empréstimo de um componente. E em termos de

esforço orientado para o desenvolvimento endógeno, esta é uma distinção a ser feita

para a ação conjunta, quando mediada pela associação de classe ou pelo poder público,

que resulta em diferentes ganhos para a composição do tecido social.

O nível de aproximação e confiança entre as empresas que cooperam, para os

dois diferentes tipos, revela-se muito mais crítico em situações que objetivem, por

exemplo, as visitas mútuas de aprendizado, nas quais a necessidade de um conduta

transparente pode intimidar a participação em caso de receio quanto a comportamento

oportunístico. Essa constatação sugere, então, que há um nível mínimo de confiança

necessário ao estabelecimento de uma relação cooperativa específica, e que varia com

seu tipo.

Parece razoável admitir que as empresas que trabalham com produtos

complementares, em uma dada cadeia produtiva, tenham uma maior tendência à ação

conjunta que aquelas com produtos similares (ou substitutos). Em outras palavras,

considerado um mesmo ambiente industrial, em um certo momento no tempo, como

regra geral a cooperação vertical deveria ser aquela mais facilmente observável. Isto é

um ponto relevante quando o esforço coletivo está em busca de resultados que permitam

o efeito demonstração.

Para a cooperação horizontal, a confiança é exigida em um nível mais elevado.

E, conforme visto, maiores níveis de confiança só podem ser alcançados com a prática

contínua ao longo de um período de tempo muitas vezes incompatível com a urgência

requerida pela dimensão política.

Cabe, portanto, aprofundar investigações sobre os mecanismos de

estabelecimento de confiança no ambiente local. Esse é um tema cuja importância para

a agenda de pesquisa já está sinalizada, há algum tempo, para o contexto de economias

desenvolvidas: é necessário analisar o papel da coesão social e da confiança como pré-

requisitos para o aprendizado, de modo a entender como este ocorre, no tempo e no

espaço (LUNDVALL e BARRAS, 1998, p. 10).

Essas observações reforçam a idéia da importância da qualidade das relações,

individuais e coletivas, entre os atores locais. No caso desta pesquisa, por razões de

exeqüibilidade, o foco foi estabelecido para a relação entre as empresas. Entretanto,

conforme pode ser notado na Figura VII.1, este é apenas um segmento das interações

que compõem a dinâmica do cluster.

Page 170: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

156

FIGURA VII.1 POSSIBILIDADES DE INTERAÇÕES EM UM CLUSTER

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Figura VII.1, a seta sombreada ressalta em que campo principal as relações

foram investigadas neste trabalho. Além destas, foi possível obter algumas indicações

das interações com os outros atores (empresas-academia e empresas-governo). As

relações internas à academia e internas ao governo, por exemplo, assim como entre eles,

não foram exploradas. E isto para citar apenas as interações que ocorrem dentro dos

limites do cluster.

Para aprofundar a compreensão do impacto dos diversos tipos de relações no

aprendizado coletivo, em uma estrutura com o nível de complexidade em que se

encontra o Pólo Industrial de Manaus, é insuficiente considerar exclusivamente aquelas

de origem interna. Enquanto a capacidade de gerar conhecimento estiver em níveis

frágeis, o foco nas relações locais será útil principalmente para incrementar a

socialização de conhecimentos eventualmente já dominados por empresa(s) do cluster.

Mas, para entender a sistemática de contínua apreensão de novos

conhecimentos, torna-se fundamental a análise das conexões externas, o que, aliás,

mesmo não tendo sido o objeto focal da pesquisa, já pôde ser observado em termos da

influência dos padrões corporativos.

Relações Externas do Cluster

Academia

Governo Empresas

Page 171: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

157

Essas conexões externas são capazes de se estabelecer não apenas entre

empresas do mesmo grupo, mas também entre diferentes empresas, entre governo e

empresas, entre governo e potenciais investidores, entre grupos de empresas a partir de

sua representação associativa etc.

Ampliar a contribuição das relações internas ao aprendizado significa, antes,

alcançar a estruturação de uma base, calcada em recursos humanos e infra-estrutura

educacional e tecnológica, que dê suporte à criação de vantagens competitivas

endógenas, uma tarefa que exige maior investigação para reflexão futura.

A inserção global é, portanto, um contraponto essencial na análise do sucesso de

uma política para o desenvolvimento sustentável.

VII.4. PROPOSIÇÕES PARA UMA AGENDA LOCAL.

A visão estabelecida para este trabalho utiliza-se do conceito de cluster para a

construção do desenvolvimento endógeno de uma região, centrada nas vantagens

proporcionadas pelas economias de aglomeração (ou associação).

Segundo a análise realizada a partir da dimensão socioeconômica, uma das

condições essenciais para alcançar esse desenvolvimento é a promoção do diálogo

social e o estímulo ao aprendizado baseado em conhecimento compartilhado e troca de

informação (AMIN, 1999, p. 370-1), algo que certamente pode contribuir, em um

segundo momento, para o fortalecimento de uma cultura da inovação.

Ao introduzir a problemática, na fase inicial deste trabalho, foi ressaltada a

quantidade restrita de estudos que abordem a realidade da indústria de Manaus,

principalmente se for considerada sua importância econômica e, em termos de

sustentabilidade futura, a estrita dependência do benefício fiscal com prazo limitado.

Dos resultados aqui apresentados, bem como de outras questões suscitadas a

partir das interações de campo, podem ser extraídos alguns elementos para a

composição de uma agenda propositiva para desdobramentos, ações e mesmo estudos

futuros, em direção a maiores níveis de inserção e sustentabilidade, o que é exercitado

nas demais seções deste capítulo.

VII.4.1. CAPACIDADE DE GOVERNANÇA.

A apontada característica da inserção social atribuída às decisões tomadas pelos

agentes econômicos distingue a importância da qualidade das relações entre os atores

locais, valorizando a coordenação das ações de desenvolvimento econômico a partir da

base.

Page 172: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

158

Isto implica em que a capacidade coletiva de estabelecer prioridades, além de

discutir e implementar as opções mais adequadas para a satisfação das necessidades da

sociedade, é uma competência essencial a uma economia que pretenda a instituição de

uma plataforma estratégica para o desenvolvimento sustentável.

Esse é, portanto, um ponto inicial a ser destacado, e do qual todos os demais de

alguma forma tornam-se dependentes: a amplitude do desafio que se coloca à atividade

industrial de Manaus exige mais e melhores práticas de governança do que as

atualmente praticadas.

A necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de governança fica evidente

quando, na interação com os interlocutores, durante a execução da pesquisa de campo,

ocorreram várias manifestações de preocupação com a ausência de objetivos de longo

prazo que contemplem a maior independência da economia local frente aos incentivos

fiscais.

Porém, o crescimento do número de associações de classe e a melhoria das

relações entre empresas e governo, conforme indicam os resultados, ainda que não

tenham proporcionado as condições suficientes para que esse nível mais elevado de

coordenação fosse atingido, permitem a abordagem da questão sob uma outra

perspectiva, mais favorável.

Para assumir a liderança necessária ao salto qualitativo nas práticas de

governança, em direção à discussão de uma agenda coletiva, surgem dois potenciais

candidatos, destacados por empresas e entrevistados: Cieam e Suframa.

Em relação ao Cieam, o envolvimento crescente das empresas na associação de

classe é um ponto forte a ser considerado na formulação de estratégias que contemplem

esse objetivo. As atividades desenvolvidas em anos recentes, e a representatividade

política que vem alcançando, provocaram a participação de mais empresas e,

conseqüentemente, um aumento das interações entre elas. Discutir propostas de ação

conjunta com as empresas de maior capital cooperativo, envolver as que sejam menos

atuantes, aproximar-se de outros atores coletivos, articular com o poder público e

ampliar a interação com a academia são, todas, iniciativas com potencial para promover

o avanço pretendido.

No caso da Suframa, alguns elementos adicionais para compreender a atuação

desejada para a autarquia podem ser obtidos a partir dos resultados da pesquisa

conduzida por NOGUEIRA (2002). Utilizando-se de questionário aplicado a 53

empresas incentivadas instaladas no Distrito Industrial, com participação em diversos

Page 173: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

159

subsetores, o estudo concluiu que apesar de uma percepção global favorável sobre o

desempenho da Suframa, situada entre "positiva" e "muito positiva", há ressalvas que

apontam o pouco comprometimento com a Região do seu colegiado máximo, o

Conselho de Administração, bem como uma competência restrita da instituição, imposta

pelo governo federal, para o tratamento de assuntos relacionados ao PIM.

O resultado que apresenta as maiores implicações para a governança, porém, é a

comprovação de que a Suframa teve seu pior desempenho, alcançando uma atuação

classificada apenas como "moderada", nos itens Apoio ao desenvolvimento tecnológico,

Inserção internacional competitiva, Atração de investimentos, Apoio à logística e

Desenvolvimento institucional, justamente aqueles em que um desempenho superior

demandaria a maior capacidade de governança.

Em suma, pode ser dito que fica fortalecida a interpretação de que existe espaço

para que ambas as instituições ampliem sua atuação. Assim como se revelou uma

prática disseminada nas empresas, o benchmarking poderia ser adotado por Cieam e

Suframa, tendo como escopo o aprendizado em governança, para, a partir das relações

extracluster, facilitar a superação desse desafio.

VII.4.2. INSERÇÃO NAS CADEIAS GLOBAIS.

O conjunto das atividades executadas em uma determinada aglomeração é, em

parte, uma conseqüência da sua inserção na respectiva cadeia global de produção. Há

uma tendência, na utilização do conceito de cluster, para concentrar a análise nas

relações internas, o que por várias razões deve ser tratado com precaução, para o caso

da realidade em análise, dentre as quais podem ser apontadas a limitação do mercado

local e a dependência da tecnologia externa.

A concentração de uma razoável quantidade de protagonistas globais em um

espaço geográfico limitado, como é o caso da atividade industrial em Manaus, é outra

justificativa, e implica em algumas possibilidades e conseqüências que restringem as

opções de upgrade para a trajetória futura de clusters locais.

Para algumas dessas empresas, a direção muda em média a cada 5 anos. O

executivo que sai de Manaus normalmente ascende na organização, ocupando uma

função de maior destaque e poder; o profissional que o substitui, especialmente se

oriundo de outra região ou país, traz consigo novas experiências. Ambas as situações

proporcionam novas conexões e oportunidades de aprendizado.

Page 174: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

160

Essas conexões com as estruturas corporativas podem exercer um papel

destacado na adoção de estratégias voltadas à agregação de valor, especialmente quando

o objetivo é o upgrading funcional16, em que se almeja a ampliação vertical a partir da

implementação de novas etapas da cadeia de valor, tais como as de projeto e marketing.

Parte importante das decisões que repercutem na especialização da aglomeração

é tomada fora da região, no comando central das empresas. Portanto, seria apropriado

entender de que forma cada cluster é atingido por essas decisões e ao que isto

corresponde em termos de condicionantes externos para uma trajetória desejada. O nível

de autonomia local como um reflexo da hierarquia corporativa representa um impacto

potencial nas aspirações da sociedade, o que justifica ampliar a sua compreensão a partir

de mais esforços de investigação.

VII.4.3. CONFIANÇA E COOPERAÇÃO.

Uma das principais implicações para o agente de governo, ao assumir a postura

de substituir a intervenção direta pelo papel de fomentar e mediar os agentes

econômicos e as instituições, é o maior esforço de articulação e coordenação de

atividades, que leva à necessidade já ressaltada de adotar formas mais sofisticadas e

eficientes de governança.

Parece claro que, para acelerar resultados, o estímulo às parcerias e a ampliação

do nível de cooperação devem ser tratados como pré-requisitos – ou, na mais

conservadora das hipóteses, paralelamente – à melhor governança.

Se, conforme visto, a confiança é um mecanismo de governança para relações

enraizadas, isto remete à questão de como ampliar o seu nível entre os agentes da

aglomeração.

A análise dos resultados oferece evidências de que o nível de confiança varia

não só entre os dois clusters estudados, mas também entre diferentes empresas de um

mesmo cluster. Se a confiança é uma conquista que se sedimenta a partir do acúmulo de

interações positivas, disseminar essa característica configura-se uma tarefa não trivial.

Nesse caso, a intervenção, seja da associação de classe ou do órgão público,

pode ser produtiva no sentido de propor e induzir a execução de projetos que

privilegiem o estímulo à confiança, com múltiplos participantes, com a autoridade de

quem pode intervir e desestimular o comportamento oportunístico.

16 Para aprofundar a compreensão sobre tipos de upgrading, ver HUMPHREY e SCHMITZ (2002).

Page 175: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

161

Uma oportunidade clara pode ser percebida quando os resultados da pesquisa

apontam a sintomática ausência da cooperação vertical multilateral envolvendo vários

elos da cadeia produtiva. É um tipo de ação conjunta que exige grande esforço de

coordenação e uma maior maturidade dos agentes, pois obriga a pensar o cluster de

modo abrangente e, conseqüentemente, também envolve a superposição de interesses

individuais e coletivos que devem ser revelados e discutidos, o que só será possível em

um ambiente de maior confiança.

Promover iniciativas com essa intenção seria uma forma de exercitar as

capacidades atuais em busca da ampliação de seus limites.

VII.4.4. APRENDIZADO E SUSTENTABILIDADE.

Uma primeira condição óbvia para ampliar o aprendizado e a sustentabilidade é

o imperativo de se aprofundar a compreensão sobre as necessidades atuais e futuras de

mão-de-obra especializada e o efetivo atendimento à demanda existente: entender que

conhecimentos são importantes, quem os domina, como podem ser acessados e qual a

melhor forma de promover a sua difusão.

Estabelecer uma sintonia entre a atuação dos formadores de mão-de-obra e essa

demanda é uma condição essencial ao desenvolvimento endógeno, cujo sucesso não

pode prescindir dos esforços para estreitar as relações entre o setor produtivo e a

academia.

Um importante componente que reflete parte da capacitação alcançada diz

respeito ao desenvolvimento de líderes com habilidades e experiência para ocupar os

níveis hierárquicos mais elevados das organizações. É natural que o profissional de

origem local tenha maior tendência a permanecer radicado em Manaus, o que permitiria

a utilização de suas capacidades no desenvolvimento de novas empresas e negócios,

eventualmente mesmo em subsetores industriais ainda não despontados. Uma pesquisa

que pudesse avaliar a evolução da ocupação dos níveis hierárquicos mais elevados, por

parte de profissionais amazonenses, ofereceria uma contribuição tanto para o

monitoramento do passo em que a qualificação de mão-de-obra avança, quanto para

futuras estratégias que incentivem o empreendedorismo.

Ainda atrelada ao tema, embora menos evidente, existe a questão de

compreender como ocorre a circulação da mão-de-obra e as suas repercussões para o

aprendizado. Para os clusters analisados, os resultados apontaram uma redução na

Page 176: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

162

rotatividade da mão-de-obra, o que traz implicações para a disseminação da informação,

cujo nível de impacto e suas conseqüências poderiam ser submetidos a uma avaliação.

Evidentemente, não se pode desconsiderar a dimensão tecnológica. Na economia

baseada em conhecimento é improvável que seja promovida a capacidade endógena sem

que a absorção e o desenvolvimento de tecnologias sejam contemplados. Para algumas

empresas, o desafio implica em ainda introduzir essa preocupação em nível local.

Para isso, seria apropriado avançar na investigação do tema, tanto do ponto de

vista da empresa individual (processo interno de capacitação tecnológica, base

tecnológica existente etc.), como da abordagem coletiva para cada cluster (aporte de

novas tecnologias, gargalos tecnológicos para a inserção competitiva etc.).

No caso específico, paralelamente à ação positiva poderia ocorrer o próprio

estímulo à inclusão da cooperação com escopo tecnológico nas práticas das empresas,

uma evidente fragilidade identificada pelos resultados obtidos nesta pesquisa.

VII.5. REFLEXÃO FINAL.

A abrangência da discussão iniciada neste trabalho reflete-se no próprio

conjunto de itens de ação e investigação propostos, demonstrando parte da

complexidade associada à temática do desenvolvimento regional, no caso da indústria

incentivada de Manaus.

Na revisão conceitual apresentada anteriormente neste estudo, foi ressaltada a

relação direta entre a dinâmica da mudança tecnológica e o desenvolvimento

econômico, com ênfase nos riscos da utilização da inovação como elemento central de

uma estratégia de desenvolvimento sem que, previamente, sejam compreendidas as

características da dimensão institucional.

Alguns dos principais fatores que compõem essa base institucional, tais como

confiança, cooperação e governança, foram aqui abordados. Os pontos fortes e as

fragilidades apontados podem ser utilizados para otimizar a investigação da inovação

em seus múltiplos aspectos: dos motivadores internos às pressões externas para inovar,

processos de inovação em diferentes empresas e clusters, identificação dos líderes em

inovação etc.

Entretanto, considerando uma perspectiva sistêmica, o que talvez se configure

como mais importante contribuição é a possibilidade de utilizar esses resultados como

subsídio à abordagem ex-ante, na qual a inovação seja também tratada como o alvo em

torno do qual a sustentabilidade futura estaria ancorada.

Page 177: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

163

CONCLUSÕES.

Após um longo período de estagnação, a criação do modelo Zona Franca de

Manaus (ZFM) representou uma retomada do crescimento econômico do estado do

Amazonas, provocando profundas transformações no perfil da atividade produtiva, que

em poucas décadas passou a estar concentrada no setor industrial.

Submetida a solicitações diversas, desde meados da década de 70 a ZFM passou

por adaptações que se refletiram na base produtiva que lhe dá suporte, tornando mais

complexas as operações e resultando em uma diferenciada experiência acumulada pela

sociedade local.

A crescente cobrança por um novo desempenho, oriunda de outros estados ou

regiões, e por vezes de organismos do próprio governo federal, sustentada na

argumentação da balança comercial deficitária, e estimulada pela disputa inter-regional

por investimentos e empregos, tornou-se ainda mais acentuada por uma imagem

historicamente desfavorável, acrescida de condicionantes que incluem a intolerância

crescente ao incentivo fiscal e o seu horizonte limitado.

A realidade dessa indústria incentivada, em grande medida associada a capital e

tecnologia exógenos, causa incertezas quanto ao fato do crescimento estar efetivamente

atrelado a um desenvolvimento sustentável, no sentido aqui utilizado para caracterizar a

existência de capacidade para adaptar a atividade econômica a novas demandas e

pressões competitivas, permitindo, assim, a continuidade da atividade industrial, mesmo

após o encerramento do benefício fiscal de prazo definido.

Em anos recentes, a Suframa adotou o uso do termo Pólo Industrial, em

preferência a Zona Franca, uma iniciativa interpretada como tendo duplo propósito:

desassociar o modelo de sua desgastada denominação original e oferecer a percepção de

um salto qualitativo na atividade industrial incentivada.

Esse cenário estimula e justifica uma melhor compreensão da dinâmica da

atividade industrial na ZFM, de modo a oferecer novos elementos que auxiliem a

construção de uma agenda de interesse social que contemple a discussão de um modelo

futuro de desenvolvimento. Embora contribuições recentes tenham abordado a questão,

entende-se que são escassas, algumas delas de natureza genérica, considerando a

importância do tema.

E esse foi o propósito que motivou a elaboração deste trabalho de pesquisa:

aprofundar uma compreensão sobre a dinâmica da indústria incentivada, centralizando a

Page 178: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

164

discussão na importância de sedimentar o desenvolvimento em bases endógenas,

perante um horizonte temporal limitado para os incentivos fiscais, como forma de

contribuir para a intervenção positiva.

No tratamento da questão, o estudo valeu-se da comprovada importância das

aglomerações industriais para o desenvolvimento econômico local. As vantagens

proporcionadas pelas aglomerações são um fenômeno antigo, mas sob um novo enfoque

têm despertado amplo interesse como instrumento de políticas públicas.

O tema oferece inúmeras opções de abordagem e, no caso desta pesquisa,

buscou-se a produção de evidência sobre dois casos específicos, com a intenção de que

sejam oferecidos elementos para a formulação de políticas públicas e a atuação coletiva.

Dentre as possíveis abordagens para o estudo de aglomerações industriais,

optou-se pelo conceito de cluster, uma ferramenta analítica com acentuada evolução a

partir da década de 90, que apresenta a vantagem de induzir a construção de uma

perspectiva sistêmica, integrando os diversos agentes do processo e, de importância

análoga, deslocando o foco de análise do tamanho para as sinergias.

Atrelada a esse conceito está a idéia de que o desempenho de uma empresa

depende da produtividade da aglomeração em que se insere e que, portanto, a

prosperidade de uma localidade não pode ser creditada apenas à performance da

empresa individual.

A valorização de aspectos qualitativos configurou, então, uma abordagem

socioeconômica para o estudo, em que os relacionamentos territoriais dão suporte à

inserção social que caracteriza as decisões de cunho econômico e, principalmente, que

promove o aprendizado interativo. E é a inserção social e territorial do aprendizado que

instigou a investigação de fatores que, no ambiente local, estimulam ou reduzem a sua

intensidade.

Ao caracterizar um cluster pelos atributos de concentração espacial,

especialização e interação, a justificada ênfase sobre este último, por seu potencial de

contribuição à problemática tratada, estabeleceu uma limitação inicial para a dimensão

da pesquisa.

Uma segunda limitação relaciona-se com o fato de que, embora em um cluster

possam estar presentes diversos tipos de agentes, a atenção principal recaiu sobre as

empresas, motivada por sua importância para a atividade econômica.

Page 179: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

165

Ao instituir o foco nas interações, o estudo teve a pretensão de sobrepujar o

interesse nas externalidades econômicas, passivas, estendendo seu alcance às relações

intencionais de natureza cooperativa.

A cooperação pode ser considerada uma forma mais nobre de interação porque

além de não ser mediada pelo mercado, é voluntária, exige discussão e, por isso,

aprofunda as relações. Tem mais chances de ocorrer onde existe um histórico de

relações e a confiança está estabelecida; ou seja, onde é maior a inserção. Sob esse

prisma, então, é entendida como um vetor importante para a ampliação do aprendizado,

essencial na composição da base efetiva sobre a qual poderia ser arquitetado o

desenvolvimento sustentável.

Assim, a dinâmica das interações entre empresas foi analisada segundo a

perspectiva da cooperação, o que incluiu identificar e avaliar as formas de sua

ocorrência, bem como apontar possíveis relações com a dinâmica do aprendizado. Na

execução dessa tarefa, fez-se uso do conceito de eficiência coletiva, justamente por

contemplar não apenas a vantagem competitiva obtida em conseqüência de

externalidades econômicas, mas também do esforço deliberado de cooperação,

denominado ação conjunta.

Complementando o instrumental de análise, uma terceira ferramenta selecionada

foi o conceito de governança, que tem sido empregado para expressar a capacidade de

uma sociedade tratar, por meio da coordenação e negociação entre os atores sociais, os

problemas e desafios comuns. No contexto do estudo, entende-se que por meio da

governança é possível ampliar os resultados da ação conjunta para o aprendizado.

Portanto, cluster industrial, eficiência coletiva e governança compuseram o

instrumental conceitual utilizado nesta pesquisa para avaliar a intensidade e a qualidade

das interações cooperativas entre empresas na indústria incentivada de Manaus. E isto

ocorreu tomando-se como objeto empresas dos subsetores Eletroeletrônico e Duas

Rodas, os subconjuntos mais representativos do pólo industrial.

Além da importância econômica, uma vez que são os líderes em indicadores de

faturamento e geração de empregos, a justificativa dessa escolha residiu em uma

diferença percebida entre os dois subsetores, que aponta uma maior participação relativa

das compras com origem local para o subsetor Duas Rodas, considerando como

referência o valor total das compras efetuadas para atender à produção do próprio

subsetor.

Page 180: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

166

Para a condução da abordagem utilizou-se de pesquisa de campo que implicou

na aplicação de questionário em 15 empresas e a entrevista de 16 profissionais, para

obter os dados que permitissem comparar os ambientes e as práticas de cooperação, com

a expectativa de que entender as semelhanças e diferenças entre os dois clusters é um

meio adequado ao aperfeiçoamento de mecanismos para sua consolidação.

Na identificação dos ambientes, foram percebidas características que são

comuns a ambos e, mais amplamente, até ao próprio ambiente industrial local como um

todo. Nesse conjunto podem ser destacados o clima geral de apoio mútuo e

camaradagem para situações mais simples, a capacidade de mobilização contra as

ameaças ao benefício fiscal, a participação crescente de empresas nas associações de

classe e a visão compartilhada de que hoje há uma maior aproximação com o poder

público.

Mas são as diferenças que podem enriquecer a análise e demarcar fronteiras para

o uso de iniciativas comuns ou particulares de políticas públicas, ampliando as chances

de sucesso. E algumas diferenças entre os subsetores são bastante evidentes.

No caso do cluster Duas Rodas, que possui menor número de empresas,

identificou-se um ambiente em que a liderança está polarizada em uma determinada

empresa e o poder econômico da produção está concentrado em um produto específico

(motocicleta). Com forte influência de uma cultura estrangeira, a japonesa, possui uma

base de confiança que suporta e estimula as relações cooperativas.

Já o Eletroeletrônico é caracterizado pela diversidade de agentes e por uma

capacidade de liderança distribuída. A possibilidade de individualmente influenciar a

trajetória do cluster é significativamente menor. Se por um lado a maior quantidade de

empresas de grande porte – que são as que regulam a existência e o ritmo da cooperação

– amplia as oportunidades de interação, por outro há o desestímulo provocado por um

comportamento oportunístico que reduz o nível geral de confiança. Ao mesmo tempo,

alguns condicionantes legais apontam para a possibilidade de ampliação na cooperação

com escopo técnico.

Com base nos resultados obtidos, também foi possível identificar o perfil da

cooperação em cada cluster, tomando-se como indicadores o alcance, a freqüência, o

impacto econômico e a diversidade.

Recorrendo à taxonomia utilizada, o conjunto desses elementos ajuda a

evidenciar uma maior intensidade da cooperação vertical (produtor-fornecedor) no

Duas Rodas e da cooperação horizontal (entre competidores) no Eletroeletrônico.

Page 181: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

167

Se a intensidade e o tipo da cooperação são indicadores importantes, também o é

a diversidade, pois reflete como ela ocorre e qual o seu escopo. E nesse aspecto a

diversidade não pode ser colocada em plano secundário, pois, principalmente em função

do escopo, tem importância destacada para o aprendizado interativo.

Em ambos os clusters, os exemplos que demandam maior capacidade de

governança, como é o caso da cooperação vertical multilateral, são escassos e

restringem-se a dois elos da cadeia produtiva. Esta é uma clara evidência de que os

esforços para tratar a aglomeração como um cluster precisam ser ampliados.

Na avaliação global dos registros de ação conjunta é possível concluir que há um

significativo capital cooperativo acumulado pela indústria local, capaz de facilitar a

implementação de estratégias para a inserção e o aprendizado. Mas eles também

ressaltam que, embora tomando parte da grande aglomeração industrial que é a indústria

incentivada em Manaus, os clusters Eletroeletrônico e Duas Rodas têm composição

estrutural e os principais padrões de cooperação com diferenças assinaláveis.

A constatação de ambientes distintos, suportada na descrição de suas

características principais, é um ponto que deve ser ponderado quando da formulação de

políticas de interesse público que tenham como objetivo a consolidação dessa indústria,

considerando a premissa do benefício fiscal com prazo limitado. As instituições,

públicas ou privadas, responsáveis ou interessadas na implementação dessas políticas,

devem ser capazes de olhar para cada cluster e enxergar as suas individualidades,

evitando o caminho fácil da abordagem generalista de uma grande e única aglomeração,

o Pólo Industrial de Manaus. Caso contrário, corre-se o risco de comprometer a

eficiência e/ou a eficácia das estratégias para o desenvolvimento.

A caracterização dos clusters a partir da cooperação, embora restrinja a

descrição da inserção local da indústria incentivada a apenas uma dimensão, configura-

se em um componente com capacidade para refletir com propriedade as relações sociais

que resultam em aprendizado interativo.

A aglomeração industrial de Manaus, tratada pela ótica dos conceitos

selecionados nesta pesquisa, poderia ser configurada como um multicluster. Se esta

abordagem sacrifica parte da vantagem do atributo da especialização com que se

caracteriza um cluster, tem o mérito de (i) apontar a existência de vários clusters inter-

relacionados e (ii) ressaltar a ocorrência de interações entre empresas desses diferentes

clusters, cujo significado, em termos de resultado para a aceleração do aprendizado

Page 182: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

168

coletivo, precisa ser apreendido com maior eficiência, qualquer que seja o instrumento

para a análise.

Assim, apesar dos vários exemplos da atuação institucional, evidenciou-se a

existência de razoável espaço para o exercício da coordenação, da mediação, e o

desenvolvimento da governança. A prática continuada, a partir de uma prévia e

qualificada seleção de exemplos, é um mecanismo recomendado para que essa

governança se fortaleça e ajude a estabelecer uma base concreta que efetivamente

contemple a visão de futuro dos diversos atores que conformam o interesse coletivo.

Ampliar o estudo e aprofundar a compreensão sobre as relações entre as

empresas e outros agentes, assim como considerar as relações externas do cluster são

fundamentais para encontrar os mecanismos para fortalecer a confiança e o aprendizado

que permitirão identificar e perseguir a trajetória mais adequada à inserção competitiva.

Para esse desafio, apesar da grande flexibilidade e utilidade demonstradas pelo conceito

de cluster, a investigação futura pode acrescentar outros conceitos, como é o caso de

cadeia de valor e redes, que apresentam vantagens para a análise de alguns exemplos

específicos, ou mesmo quando o interesse remete a um nível mais operacional.

Vários dos elementos apresentados a partir da análise dos dados da pesquisa de

campo e da experiência pessoal do autor confirmam uma complexidade para a atividade

industrial localmente realizada que vai além do que seria esperado da imagem de

operações simplórias associadas a uma zona franca.

Mas, ao final, o mais importante é que, embora exista um mérito na

transformação conceitual, de Zona Franca em Pólo Industrial, é necessário atentar para

o fato de que essa alteração deveria, na verdade, ser tomada como um ponto de partida

para a intervenção qualificada.

Page 183: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

169

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Page 190: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

176

ANEXO I

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

1. Profissionais com experiência no subsetor Eletroeletrônico.

Alvaro Fumio Usui – paulista, coordenou a transferência da engenharia de

produto da Sharp, de São Paulo para Manaus, a partir de 1984. Liderou equipe pela qual

passaram mais de 100 profissionais, entre estagiários e engenheiros, na mais ampla

iniciativa de atividades de desenvolvimento de produto realizada em Manaus.

Empresário, presta serviços de desenvolvimento a empresas do PIM.

Carlos Geraldo de Britto Feitoza – amazonense, foi professor da Ufam e

técnico da Fucapi e da Suframa. Acompanha a atividade industrial desde 1985. É

Diretor Presidente do Instituto Nokia de Tecnologia - INdT, organização responsável

pelos investimentos obrigatórios da Nokia em atividades de P&D, que possui

estabelecimento principal em Manaus e sede em Brasília.

Jânio Martins Bitar – amazonense, ex-técnico da Suframa (1983) e técnico da

Fucapi desde 1984. Desenvolve, para a Suframa, atividades diversas relacionadas à

formulação e implementação da legislação de política industrial, tais como análise de

viabilidade técnico-econômica de projetos industriais, definição de PPBs, atração de

novas empresas para o PIM etc.

José Petronilo – paraibano, reside em Manaus desde 1995. É Gerente de

Compras da Philips. Lidera equipe com autoridade para desenvolver e homologar

fornecedores que se transformam em potenciais fornecedores de quaisquer das empresas

do grupo, em escala mundial.

José Renato Sátiro Santiago – cearense, trabalha na Philco (Ford) desde 1970.

Está em Manaus desde 1981. Ocupa a função de Diretor Industrial, a mais elevada na

hierarquia local. Responde por todas as operações da empresa desde quando havia a

parceria tecnológica com a Hitachi do Japão, posteriormente substituída pela Itautec, do

grupo Itaú.

Markku Sakkinen – finlandês, Gerente de Compras Sênior da Nokia. Está em

Manaus desde 2002. Identifica, desenvolve e homologa fornecedores para a Nokia,

habilitando-os para fornecimento em nível mundial.

Page 191: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

177

Roberto Bacellar Alves Lavôr – amazonense, ex-técnico da Fucapi, professor

da Ufam, consultor e empresário. Iniciou contato com a atividade industrial do PIM em

1984. Com atuação em órgãos e associações de classe, é consultoria para a aplicação de

investimentos em P&D.

2. Profissionais com experiência no subsetor Duas Rodas.

Ivanildo Xavier Soares – paulista, Assistente de Diretoria e coordenador da

Assessoria Jurídica da Moto Honda, sendo o responsável legal pela Honda. Está em

Manaus, e na empresa, desde 1987. Na Honda, já atuou nas áreas de comércio exterior,

planejamento estratégico, controladoria, RH e treinamento.

Josué Castro Campos – amazonense, consultor sênior e gerente de garantia da

qualidade da Moto Honda. Está na empresa desde 1983, sendo responsável pelas áreas

de qualidade e meio-ambiente, com responsabilidades sobre as certificações ISO 9000 e

ISO 14000.

Luiz Noboru Kato – paulista, diretor da Metalino, empresa da área metalúrgica

que trabalha com peças de metal injetado, fornecedora de Moto Honda e Yamaha.

Trabalha na empresa, em Manaus, desde 1984.

Teruaki Yamagishi – japonês, está em Manaus desde 1967. É Diretor Adjunto

da Fieam e Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do

Amazonas. A partir de 1997 tem trabalhado como consultor, atraindo e orientando

empresas – especialmente as de origem japonesa – para o PIM.

3. Profissionais com experiência em ZFM.

Flávio José de Andrade Dutra – gaúcho, empresário, ex-Diretor de Assuntos

Governamentais da Xerox e ex-Diretor da Fucapi. É Diretor Adjunto das

Coordenadorias da Fieam e possui histórico de atuação em entidades de classe

patronais. Sua experiência com a atividade industrial em Manaus iniciou em 1985.

Flávia Skrobot Barbosa Grosso – amazonense, Superintendente da Suframa.

Está há mais de 30 anos na organização, tendo toda a sua carreira profissional ligada à

autarquia. Já exerceu funções em diversas de suas unidades, tendo assumido o posto

máximo desde 2003.

Page 192: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

178

Maurício Elísio Martins Loureiro – carioca, está na atividade industrial em

Manaus desde 1980. É Diretor da empresa fabricante de relógios Technos e Presidente

do Cieam, entidade com cerca de 190 associados, dentre os quais as principais empresas

transnacionais instaladas no PIM.

Olney Martins Ferreira – carioca, está desde 1998 na Gillette de Manaus, sendo

que há 3 ocupa seu cargo máximo. A experiência internacional no grupo Gillette

contribuiu para uma das principais iniciativas de benchmarking entre empresas, iniciada

em fórum do Cieam.

Ulisses Tapajós Neto – amazonense, Diretor Superintendente da Multibrás,

fornecedora de peças plásticas injetadas para empresas dos subsetores Eletroeletrônico e

Duas Rodas. Dirigente do Cieam, responde pelo projeto de responsabilidade social da

entidade. Participa da atividade industrial, em Manaus, desde 1978.

Page 193: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

179

Universidade Federal do Amazonas – UFAm

Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia -

COPPE

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – PPGEP

Doutorado em Engenharia de Produção

Questionário para Pesquisa em Aglomerações Industriais*

PROPÓSITO DA PESQUISA – As informações a serem registradas por este questionário são essenciais para o

conhecimento do relacionamento entre empresas do Pólo Industrial de Manaus. Os resultados agregados da pesquisa,

após publicados, estarão disponíveis a todos os interessados e podem se constituir em elemento para uma avaliação

de desempenho comparativo.

SIGILO DAS INFORMAÇÕES – Todas as informações coletadas neste questionário serão tratadas em caráter

confidencial, sendo destinadas exclusivamente a fins estatísticos.

Número de Identificação

Data

Entrevistador

1. Informações Gerais.

1.1. Empresa: ___________________________________________________________

1.2. Endereço: __________________________________________________________

1.3. Respondente: _______________________________________________________

1.4. Telefone/ e-mail: _____________________________________________________

1.5. Posição na Empresa:

a) Proprietário/Sócio: Sim ( ) Não ( )

b) Diretor ___________________________________ : Sim ( ) Não ( )

c) Gerente ___________________________________ : Sim ( ) Não ( )

1.6. Desde que ano o respondente trabalha:

a) Na empresa (ou grupo)? _______________

* A realização deste trabalho de pesquisa tornou-se possível graças ao apoio financeiro prestado pela

Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa à iniciativa da UFAm.

ANEXO II

QUESTIONÁRIO APLICADO NAS EMPRESAS

Page 194: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

180

b) Na atividade industrial em Manaus? _______________

1.7. Em que ano a empresa instalou-se em Manaus? _____________________

1.8. Veio transferida de alguma outra cidade/país? Qual? ________________

1.9. Principais produtos fabricados (em % do faturamento total):

a) Produto1: ________________________________________ % ______

b) Produto2: ________________________________________ % ______

c) Produto3: ________________________________________ % ______

1.10. Composição percentual do capital controlador:

a) Local: % ______

b) Nacional: % ______

c) Internacional: % ______ (País de origem: ____________________ )

1.11. Se a empresa não fabrica um bem final completo, em que processo se

especializou?

______________________________________________________________________

2. Mão-de-obra.

2.1. No médio de empregados em 2002: ___________

a) Contratados: _____________ b) Terceirizados: ______________

2.2. Evolução do número médio de empregados nos últimos 5 anos:

a) Aumentou b) Permaneceu o mesmo c) Diminuiu

2.3. No de contratados, segundo a escolaridade:

Básico: ___________

Técnico/Profissionalizante: ___________

Superior: ___________

Pós-graduação: ___________

2.4. No de empregados desligados em 2002: _______________

2.5. No de empregados contratados em 2002: _______________

2.6. A rotatividade nos últimos 5 anos:

a) Aumentou b) Permaneceu a mesma c) Decresceu

2.7. A empresa enfrenta dificuldades em encontrar:

a) Trabalhadores especializados Sim ( ) Não ( )

Page 195: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

181

b) Trabalhadores não especializados Sim ( ) Não ( )

3. Etnia e identidade social.

3.1. De que região você é?

a) De Manaus

b) Do interior do estado do Amazonas

c) De outra Região do País

d) De outro país (Qual? ____________________)

3.2. A fim de ser bem sucedido como empreendedor na indústria local, é importante:

a) Ser de origem local Sim ( ) Não ( )

b) Pertencer à liderança da comunidade social Sim ( ) Não ( )

3.3. Ao longo dos últimos 5 anos, a participação de pessoas locais ocupando cargos de

gerência/direção na sua empresa:

a) Aumentou b) Permaneceu a mesma c) Diminuiu

4. Performance.

Dados de Produção (2002) Tendência dos últimos 5 anos

a) Produção (diária ou mensal): + = -

b) Média de preço (em dólar) + = -

c) % Exportado + = -

d) Ocupação da capacidade instalada + = -

e) Lucro líquido (em dólar) + = -

5. Investimentos.

5.1. Na sua empresa, que percentagem de capital investido nos últimos 5 anos vem de:

a) Recursos próprios? ________

b) Empréstimo? _________

5.2. O percentual de capital emprestado nos últimos 5 anos utilizado por sua empresa:

a) Aumentou b) Permaneceu o mesmo c) Diminuiu

5.3. Em que áreas a empresa tem investido nos últimos 5 anos?

Page 196: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

182

Intensidade do investimento Áreas de investimento

Grande Quantia

Pequena Quantia Nada

Intenções Futuras para Investimento

a) Expansão da capacidade de produção em

Manaus + = -

b) Expansão da capacidade de produção fora de

Manaus + = -

c) Adaptação de projetos de produtos

("tropicalização") + = -

d) Desenvolvimento de novos produtos + = -

e) Melhoria de máquinas e equipamentos + = -

f) Marketing (feiras, propagandas etc) + = -

g) Integração para frente (lojas, distribuidores) + = -

h) Integração para trás (fornecedores) + = -

i) Programas de redução de custos + = -

j) Gestão da qualidade e produtividade + = -

l) Gestão ambiental + = -

h) Bens imóveis + = -

j) Outro (Qual? _______________________ ) + = -

6. Subcontratação.

6.1. Em que extensão a atividade de produção é terceirizada com outras empresas?

Percentagem Operação ocorre em sua fábrica ou na do

subcontratado? Etapa do processo Interna Externa n.d.

F S

a) Injeção de partes e peças plásticas

b) Estamparia de partes metálicas

c) Usinagem

Page 197: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

183

d) Inserção/Montagem de componentes

em PCIs

e) Montagem de cabos, fios e conectores

f) Montagem de outros subconjuntos

g) Outra (Qual? ___________________)

6.2. Sua empresa proporciona algum dos itens a seguir a seus subcontratados?

Tipo de Assistência Freqüentemente Ocasionalmente Nunca

a) Pagamento adiantado

b) Assessoria na organização da produção

c) Empréstimo de máquinas ou

equipamentos

d) Conserto/manutenção de máquinas

e) Treinamento de trabalhadores

f) Transporte de partes ou produtos

g) Outro (Qual? ______________________)

6.3. O que sua empresa faz se o subcontratado quebra o contrato (por exemplo, atrasa a

entrega ou não alcança a qualidade especificada)?

Ação Freqüentemente Ocasionalmente Nunca

a) Solicita que o trabalho seja refeito

b) Deduz parte do pagamento

c) Muda de subcontratado

d) Oferece supervisão para evitar problemas

futuros

e) Outra (Qual? ______________________)

6.4. Por que sua empresa subcontrata?

a) Demanda irregular Sim ( ) Não ( )

b) Economia de espaço ou máquinas Sim ( ) Não ( )

c) Maior eficiência do subcontratado Sim ( ) Não ( )

Page 198: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

184

d) Salários mais baixos do subcontratado Sim ( ) Não ( )

e) Evitar encargos sociais Sim ( ) Não ( )

7. Trabalhar como um subcontratado.

Nos últimos 5 anos sua empresa trabalhou como subcontratada (terceirizada) para outras

empresas? Sim ( ) Não ( )

Se sim, responda às demais questões deste item 7.

7.1. Em que processo(s) você se especializou?

Nível da concorrência Operação ocorre na sua fábrica ou no contratante?Processo

Alto Médio Baixo M C

a) Injeção de partes e peças plásticas

b) Estamparia de partes metálicas

c) Usinagem

d) Inserção/Montagem de componentes em PCIs

e) Montagem de cabos, fios e conectores

f) Montagem de outros subconjuntos

g) Outro (Qual? ________________________)

7.2. Com que freqüência o contratante lhe proporcionou as seguintes facilidades?

Tipo de Assistência Freqüentemente Ocasionalmente Nunca

a) Pagamento adiantado

b) Assessoria na organização da produção

c) Empréstimo de máquinas ou

equipamentos

d) Conserto/manutenção de máquinas

e) Treinamento de trabalhadores

f) Transporte de partes ou produtos

g) Outro (Qual? ______________________)

Page 199: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

185

7.3. Caso você não tenha conseguido atender ao contrato, que tipo de ação o contratante

tomou?

Ação Freqüentemente Ocasionalmente Nunca

a) Requisitou que o trabalho fosse refeito

b) Deduziu parte do pagamento

c) Trocou-o por outro fornecedor

d) Ofereceu supervisão para evitar que os

problemas se repetissem

e) Outra (Qual? ______________________)

8. Relacionamento com fornecedores.

8.1. Localização dos fornecedores:

Que percentagem de itens sua empresa compra, considerando o seguinte:

Localização Disponibilidade

Na quantidade

requisitada

Na qualidade

requisitada Tipo de Item

Local Nacional Exterior

Sim Não Sim Não

a) Matérias-primas?

b) Componentes?

c) Máquinas e

equipamentos?

8.2. Os seus fornecedores locais têm se aproximado de você para:

a) Oferecer assistência com problemas que surgiram nos produtos deles?

Sim ( ) Não ( )

b) Solicitar sugestões de como melhorar produtos deles?

Sim ( ) Não ( )

c) Explicar as características dos produtos deles?

Sim ( ) Não ( )

d) Outros propósitos? (Quais? _________________________________________)

Sim ( ) Não ( )

Page 200: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

186

8.3. Quem executa as seguintes funções para a sua empresa:

Tipos de serviços A própria empresaOutros

(na sua fábrica)

Outros (fora

da sua fábrica)

a) Manutenção de Máquinas?

b) Contabilidade?

c) Custeio dos produtos?

d) Recrutamento e Seleção?

8.4. Assinale a existência e o objeto dos relacionamentos com os seguintes tipos de

agentes locais, nos últimos 3 anos. Determine o grau de satisfação com cada um desses

agentes (totalmente satisfatório - TS, Adequado - A, Inadequado - I, Totalmente

insatisfatório - TI).

Objeto

Agente Local Ensa

ios,

anál

ises

e

met

rolo

gia

Info

rmaç

ão

tecn

ológ

ica

e de

m

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dos

Trei

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ção

Proj

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P&D

D

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Ass

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tecn

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ica

Ass

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ria e

m

mud

ança

s or

gani

zaci

onai

s G

rau

de sa

tisfa

ção

(TS,

A, I

, TI)

a) Instituto de tecnologia

b) Laboratório de ensaios/testes

c) Centro de treinamento

d) Instituição de ensino técnico

ou profissionalizante

e) Universidade pública

f) Universidade privada

g) Consultores independentes ou

empresas de consultoria

h) Empresa matriz

i) Empresas relacionadas (do

grupo)

j) Outras empresas

Page 201: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

187

9. Mercado.

9.1. Especifique para quem você vende seus produtos, em percentagem das vendas

totais:

% das vendas

a) Direto para o consumidor

b) Direto para o varejista

c) Direto para o atacadista

d) Através de um representante de vendas independente

e) Para um agente de exportação

f) Através de um consórcio com outros fabricantes

g) Outro (Qual? __________________________)

9.2. Onde os produtos de sua empresa são vendidos? Dê a sua resposta como uma

percentagem das vendas totais.

% das vendas

a) área local

b) resto do estado

c) resto do país

d) exterior

9.3. Para onde sua empresa exportou em 2002? Dê a sua resposta como uma

percentagem das vendas totais.

% das vendas

a) América do Sul

b) EUA

c) Europa

d) Outros países

9.4. Em 2002, você participou, como expositor, de alguma feira de negócios?

Sim ( ) Não ( )

Page 202: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

188

10. Inovação em processos.

10.1. Suas máquinas, na maioria, são:

a) compradas novas? b) compradas de segunda mão?

10.2. Pelos padrões locais o seu maquinário é:

a) avançado? b) equivalente à média? c) defasado?

10.3. Nos últimos 5 anos, o padrão do seu equipamento melhorou:

a) bastante? b) um pouco? c) nada?

10.4. Geralmente, de onde vêm as inovações relativas ao maquinário?

Fonte da Informação Freqüente-

mente

Ocasio-

nalmente Nunca

a) Adquiridas prontas no mercado nacional

b) Adquiridas prontas no mercado internacional

c) Desenvolvidas internamente

d) Adaptadas internamente

e) Da cooperação com a assistência técnica

f) Da cooperação com o fornecedor de máquinas

g) Da cooperação com outros fabricantes locais

h) Da cooperação com empresas-cliente

i) De sugestões da empresa-matriz

j) Outro (Qual? __________________________)

10.5. Nos últimos 5 anos você mudou a forma em que a produção é organizada e

controlada?

Sim ( ) Não ( )

Se sim, como isto foi feito?

a) Baseado na sua própria experiência e idéias

b) Seguindo novos métodos de organização trazidos de fora

10.6. Qual o tipo de organização da produção que prevalece atualmente?

a) linha de montagem

Page 203: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

189

b) arranjo em células/grupos de manufatura

c) misto (linhas e células/grupos)

d) não estruturada

10.7. Quais são suas fontes de informação para a inovação de processo (maquinário ou

organização da produção)?

Fonte da Informação Freqüente-

mente

Ocasio-

nalmente Nunca

a) Ocasiões sociais (bar, clube etc.)

b) Agentes de exportação

c) Fornecedores de máquinas

d) Exposições / feiras

e) Assistência técnica

f) Empresas-clientes

g) Publicações especializadas

h) Visitas a outras empresas locais

i) Visitas a empresas em outras regiões

j) Trabalhadores anteriormente

empregados em outras empresas

k) Interação na associação de classe

l) Consultores locais

m) Consultores de fora

n) Livrarias ou serviços de informação

o) Treinamento

p) Outro (Qual? ___________________)

11. Inovação de produto e qualidade.

11.1. Os produtos de sua empresa estão baseados em:

a) projetos desenvolvidos internamente

Page 204: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

190

b) projetos obtidos junto à matriz

c) projetos desenvolvidos por um projetista externo

d) projetos especificados por um cliente

e) outro (Qual: ________________________________________________)

11.2. De onde vêm as idéias para novos projetos?

a) visitas a feiras de negócios locais

b) visitas a feiras de negócios em outras partes do país

c) visitas a feiras de negócios no exterior

d) catálogos e revistas

e) orientação da empresa matriz

f) especificações de clientes

g) projetista prestador de serviço

h) outro (Qual: _______________________________________________)

11.3 Nos últimos 5 anos, a qualidade do produto de sua empresa:

a) declinou

b) permaneceu a mesma

c) melhorou um pouco

d) melhorou bastante

11.4. Sua empresa utiliza algum dentre os seguintes procedimentos para garantia da

qualidade?

Sim Não

a) Inspeção de recebimento

b) Inspeção final

c) Treinamento dos trabalhadores em garantia da qualidade

d) Controle estatístico do processo/qualidade

e) Círculos de controle da qualidade

f) Controle total da qualidade/ gestão pela qualidade total

g) Outro (Qual? ____ __________________________________)

11.5. Esses procedimentos foram impostos pelos clientes?

Page 205: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

191

Sim ( ) Não ( )

11.6. Os clientes proporcionam assistência para a melhoria da qualidade?

Sim ( ) Não ( )

11.7. Você possui sistema da qualidade certificado com base nas normas ISO9000?

Sim ( ) Não ( )

11.8. Você possui sistema de gestão ambiental certificado com base nas normas

ISO14000?

Sim ( ) Não ( )

12. Competição.

12.1 Onde estão localizados os principais competidores de sua empresa?

a) em Manaus b) em outras partes do país c) no exterior

12.2. Qual o perfil dos principais competidores de sua empresa?

a) grandes empresas b) médias empresas c) pequenas empresas

12.3. Quais os três principais fatores (em ordem da maior para a menor importância)

que permitem à sua empresa sobrepujar os rivais?

________ a) preço

________ b) qualidade

________ c) novos projetos

________ d) diversidade e entrega pontual

________ e) outro (qual? _______________________________ )

13. Cooperação entre empresas.

13.1. Você tem algum acordo formal com outras empresas?

Sim ( ) Não ( )

Se sim, qual? ______________________________________________

13.2. Outras empresas do mesmo subsetor industrial possuem qualquer participação na

composição do capital de sua empresa?

Sim ( ) Não ( )

Page 206: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

192

13.3. Sua empresa possui qualquer participação na posição do capital de outra empresa

do mesmo subsetor?

Sim ( ) Não ( )

13.4. Você coopera com outros produtores locais na sua indústria de alguma das

seguintes formas?

a) empréstimo de maquinário

b) desenvolvimento de produto

c) marketing

d) treinamento de trabalhadores

e) compra conjunta de insumos e componentes

f) troca de informações/ visitas de benchmarking

g) outro (Qual? ___________________________________________ )

13.5. Você troca idéias ou discute problemas ou estratégias com outros produtores

locais?

a) nunca b) ocasionalmente c) freqüentemente

13.6. Você visita ambientes de produção de outras empresas locais?

a) nunca b) ocasionalmente c) freqüentemente

13.7. Outras empresas visitam sua fábrica?

a) nunca b) ocasionalmente c) freqüentemente

13.8. Como os seus relacionamentos informais com outras empresas usualmente

acontecem?

a) Laços familiares Sim ( ) Não ( )

b) Vizinhos ou proximidade espacial Sim ( ) Não ( )

c) Amigos ou antigos colegas de cursos ou trabalho Sim ( ) Não ( )

d) Outro (Qual? __________________________________________ )

14. Associações de classe.

14.1. Sua empresa participa de alguma Associação? Sim ( ) Não ( )

Se sim, de qual(is)?

1. ____________________________________________________________________

Page 207: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

193

2. ____________________________________________________________________

3. ____________________________________________________________________

4. ____________________________________________________________________

5. ____________________________________________________________________

14.2. Para que sua empresa usa a(s) Associação(ões)?

Serviço Freqüentemente Ocasionalmente Nunca

a) Aconselhamento em questões legais

b) Informação sobre outros

empreendimentos

c) Cursos e seminários

d) Boletins informativos

e) Outro (Qual? _____________________)

15. Política governamental e aglomeração industrial.

15.1. Com o quê as políticas governamentais mais contribuiriam para elevar a eficiência

e inovação na sua empresa? (indique as três mais importantes)

_________ a) Mais e melhor treinamento técnico

_________ b) Melhorias na educação básica

_________ c) Apoio para contratar consultores especializados

_________ d) Linhas de crédito subsidiado

_________ e) Menor regulamentação da atividade produtiva

_________ f) Maior estabilidade macroeconômica

_________ g) Outro (Qual? ______________________________________ )

15.2. Os resultados atualmente obtidos por sua empresa seriam os mesmos se ela não

estivesse localizada em Manaus?

Sim ( ) Não ( )

15.3. Quais são as principais vantagens de estar localizada nesta área?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 208: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

194

15.4. Quais são as desvantagens de estar localizada nesta área?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

15.5. De que forma a proximidade do fim dos incentivos fiscais em Manaus tem afetado

o desempenho de sua empresa?

a) Reduzimos investimentos, aguardando a formalização da prorrogação dos

incentivos

b) Aumentamos os esforços para nos tornarmos competitivos mesmo sem os

incentivos

c) Preocupa muito, pois não é possível ser competitivo em Manaus sem os

incentivos

d) Em nada, ainda. Nossa maior preocupação tem sido a retração da economia

e) Outra (Qual? _____________________________________________________ )

15.6. Quais as possibilidades de sua empresa permanecer em Manaus, caso se configure

o fim dos incentivos fiscais em 2013?

a) Dependeria do sucesso dos esforços para aumentar a nossa capacidade

competitiva

b) Já atingimos um nível em que, aliado a outras vantagens (não fiscais), são boas

as chances de permanecermos aqui

c) Em nosso subsetor não é possível ser competitivo em Manaus sem os incentivos

fiscais atuais

d) Ainda não temos elementos concretos para definir uma posição

e) Outra (Qual? _____________________________________________________ )

Page 209: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

195

ANEXO III

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Apresentação dos objetivos da pesquisa

2. Qualificação do entrevistado

Nome:

Cargo atual:

Cargo anterior:

Data:

3. Cooperação

Relações locais (como se dão, relação competição x cooperação, confiança,

grupos étnicos e outros)

Quais os mecanismos de cooperação mais utilizados, segundo seu conhecimento?

Quais os principais tipos de cooperação vividos ou vistos?

Vertical

Entre empresa e fornecedor

Entre empresa e cliente/distribuidores

Horizontal

Entre concorrentes

As práticas de cooperação são generalizadas?

Qual o nível de confiança existente nas relações de cooperação?

Como está a relação empresa-governo (Suframa, Gov Am)?

Como está a relação empresa-academia?

Qual a relação com instituições de pesquisa e desenvolvimento locais?

De que forma as relações de cooperação têm facilitado o desempenho?

4. Governança

Que associações de classe conhece e a quais pertence?

Como se dá a atuação das associações a que pertence?

Que tipos de apoio prestam aos associados?

Que associação é mais ativa? E mais influente?

Quais as evoluções na relação com o Governo (estadual e federal)?

Page 210: Cooperação Entre Empresas no Pólo Industrial de Manaus

196

O que ainda falta ao ambiente industrial de Manaus?

Qual a agenda das associações e governo para médio e longo prazos?

5. Aprendizado

Por onde circula a informação em Manaus? (associações de classe, reuniões de

Conselho, eventos sociais etc.)

O que mudou em Manaus no período em que acompanha o PIM? Quais os

progressos mais visíveis?

Que novas atividades foram incorporadas localmente?

E quanto ao grau de autonomia? (no caso de ser empresa filial)

Que tipos de serviços/componentes/atividades estão disponíveis hoje e eram de

difícil acesso anteriormente?

Qual sua avaliação sobre a evolução da capacidade competitiva endógena da

indústria local? (Eletroeletrônico, Duas Rodas ou PIM)

6. Outros itens destacados pelo entrevistado

7. Sugestões de outros profissionais a entrevistar