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COOLABBICI: PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PARA SENSIBILIZAÇÃO PARA O USO DA BICICLETA COMO MODAL DE TRANSPORTE Gheysa Caroline Prado 1 , Alexandre Vieira Pelegrini 2 , Ken Flávio Ono Fonseca 1 , José Carlos Assunção Belotto 1 , Silvana Nakamori 1 1. Universidade Federal do Paraná, Brasil 2.Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil RESUMO Este artigo apresenta os resultados preliminares do projeto de extensão universitária CoolabBici, que tem como objetivo sensibilizar para o uso da bicicleta como modal de transporte urbano entre a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), situada na cidade de Curitiba, no sul do Brasil, por meio do resgate, recuperação e empréstimo de bicicletas abandonadas nos campi universitários. O sistema de funcionamento do projeto piloto está em fase de aprimoramento, com a versão inicial desenvolvida a partir de ferramentas do design e do design de serviços. Até o momento o projeto resgatou 38 bicicletas que foram recuperadas e utilizadas no sistema de empréstimo aos estudantes. Os resultados preliminares e o sucesso obtido até o presente momento apontam para sua efetividade como estratégia para o incentivo da comunidade acadêmica na adoção da bicicleta como meio de transporte em Curitiba. Palavras-chave: bicicleta, mobilidade urbana, design, design thinking COOLABBICI: UNIVERSITY EXTENSION PROJECT TO RAISE AWERENESS ABOUT BICYCLE AS URBAN TRANSPORT ABSTRACT This article presents the CoolabBici the first results of university extension project which objective is to create awareness about the bicycle as urban transport among Federal University of Paraná (UFPR), in Curitiba, South Brazil. The project will restore and lend bicycles that otherwise would become trash. The system of this pilot project is under improvement, but it’s development and first version were created using design and service design tools. Until now, the project rescued 38 bicycles which were restored and used at the lending system to the students. The first results and the success of the project until now point to the effectiveness of the strategy as an incentive to promote cycling as transport in Curitiba among university community members. Keywords: bicycle, urban mobility, design, design thinking

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COOLABBICI: PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PARA SENSIBILIZAÇÃO

PARA O USO DA BICICLETA COMO MODAL DE TRANSPORTE

Gheysa Caroline Prado1, Alexandre Vieira Pelegrini2, Ken Flávio Ono Fonseca1, José Carlos Assunção Belotto1, Silvana Nakamori1 1. Universidade Federal do Paraná, Brasil 2.Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados preliminares do projeto de extensão universitária

CoolabBici, que tem como objetivo sensibilizar para o uso da bicicleta como modal de

transporte urbano entre a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Paraná

(UFPR), situada na cidade de Curitiba, no sul do Brasil, por meio do resgate, recuperação e

empréstimo de bicicletas abandonadas nos campi universitários. O sistema de

funcionamento do projeto piloto está em fase de aprimoramento, com a versão inicial

desenvolvida a partir de ferramentas do design e do design de serviços. Até o momento o

projeto resgatou 38 bicicletas que foram recuperadas e utilizadas no sistema de empréstimo

aos estudantes. Os resultados preliminares e o sucesso obtido até o presente momento

apontam para sua efetividade como estratégia para o incentivo da comunidade acadêmica

na adoção da bicicleta como meio de transporte em Curitiba.

Palavras-chave: bicicleta, mobilidade urbana, design, design thinking

COOLABBICI: UNIVERSITY EXTENSION PROJECT TO RAISE AWERENESS ABOUT

BICYCLE AS URBAN TRANSPORT

ABSTRACT

This article presents the CoolabBici the first results of university extension project which

objective is to create awareness about the bicycle as urban transport among Federal

University of Paraná (UFPR), in Curitiba, South Brazil. The project will restore and lend

bicycles that otherwise would become trash. The system of this pilot project is under

improvement, but it’s development and first version were created using design and service

design tools. Until now, the project rescued 38 bicycles which were restored and used at the

lending system to the students. The first results and the success of the project until now point

to the effectiveness of the strategy as an incentive to promote cycling as transport in Curitiba

among university community members.

Keywords: bicycle, urban mobility, design, design thinking

INTRODUÇÃO

A população mundial passou de 2,6 bilhões de pessoas em 1950 para mais de 7,5

bilhões em 2017. Enquanto na década de 1950 menos de 30% das pessoas moravam em

áreas urbanizadas, em 2010 essa porcentagem saltou para aproximadamente 50% e, em

2050 estima-se que essa estatística ultrapasse os 60% (ONU, 2016; PRB, 2017). No Brasil,

esse processo de urbanização ocorreu ainda mais rápido, e, dados de 2010 mostram que

quase 85% da população de pouco mais de 200 milhões de habitantes está concentrada

nas cidades (IBGE, 2010). Todas essas mudanças tem gerado inúmeros impactos nos

modos de vida das pessoas.

O aumento da urbanização, praticamente no mundo todo e, particularmente no

Brasil, veio acompanhado da priorização de espaços para circulação de automóveis (LINKE,

2015) que de acordo com Gehl (2015), é como um convite a um uso maior dos carros. Gehl

(2015) afirma ainda que é nítida a forma como o planejamento e as estruturas das cidades

exercem influência sobre a forma de uso dos espaços e o comportamento das pessoas

nestes e, como isso traz inúmeras consequências sociais e ambientais (LINKE, 2015).

Da perspectiva ambiental, a queima de combustíveis fósseis ocasionada pela grande

frota de veículos destinada ao transporte individual motorizado é uma das principais causas

da poluição atmosférica nos grandes centros urbanos (SOKHI, 2008). Além das doenças

associadas à poluição e dos custos sociais dos acidentes, os congestionamentos nas

cidades também afetam a qualidade de vida e a saúde das pessoas. De acordo com

Minayo, Hartz e Buss (2000), "o patamar material mínimo e universal para se falar em

qualidade de vida (...) tem como referência noções relativas de conforto, bem-estar e

realização individual e coletiva". Tais elementos podem, entre outras coisas, ser

relacionados à mobilidade diária, como o processo de deslocamento casa-

trabalho/escola/casa. O aumento no tempo de deslocamento nestes trajetos reduz o tempo

disponível para convivência familiar, lazer e prática de atividades físicas (MORIN, 2014;

PACHECO, 2016). Estudos recentes mostram que, na cidade de Curitiba, no sul do Brasil,

os moradores gastam em média 115 minutos no trajeto mencionado, enquanto o ideal, de

acordo com especialistas, seria um máximo de 60 minutos (MARCHIORI, 2015).

Na questão dos congestionamentos, as universidades, por suas características

físicas e de funcionamento, são grandes polos geradores de tráfego nas cidades. Segundo o

Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN, 2001), órgão executivo do sistema

nacional de trânsito brasileiro, estes polos atraem grande número de viagens e causam

problemas na circulação viária em seu entorno, podendo prejudicar a acessibilidade da

região e gerar condições de insegurança a todos os agentes do trânsito – pedestres,

ciclistas e motoristas. Como tal, estas instituições devem também ser responsabilizadas e

buscar alternativas e soluções para essa questão.

Além das questões relacionadas ao trânsito, a urbanização e industrialização

aceleradas do último século, em especial suas décadas mais recentes, tem sido

responsáveis também pelo aumento no volume de lixo produzido e cuja destinação, nos

países em desenvolvimento, ainda é bastante precária (MAZZER e CAVALCANTI, 2004).

Nesse contexto, entendendo que o papel da Universidade pode e deve ir além de

seus muros, interagindo e se relacionando com a comunidade externa através de ações de

extensão, o presente projeto tem o objetivo de sensibilizar e incentivar o uso da bicicleta

como meio de transporte na comunidade interna e externa à Universidade Federal do

Paraná (UFPR) foi desenvolvido um sistema colaborativo de empréstimo e

acompanhamento de uso de bicicletas. A proposta é de, por meio de uma parceria com

instituições privadas como a Bicicletaria Cultural, e associações e ONGs como a

CicloIguaçu e a Bike Anjo, oferecer um sistema colaborativo de compartilhamento de

bicicletas à comunidade interna e externa da UFPR. As bicicletas a serem utilizadas para o

projeto, tendo em vista sua forma de obtenção, conforme previamente mencionado, terão

suas vidas úteis prolongadas, demonstrando um dos pontos de abordagem do projeto

relativos à sustentabilidade, no que tange à reutilização e prolongamento do ciclo de vida

das mesmas (MANZINI e VEZZOLI, 2002). Além de ser uma oferta de nova possibilidade de

deslocamento para a comunidade, o desenvolvimento do sistema colaborativo de

compartilhamento de bicicletas é interdisciplinar e baseado nos princípios do design thinking

de serviços e com uma abordagem dinâmica (STICKDORN e SCHNEIDER, 2014). O projeto

está vinculado ao programa de extensão universitária Ciclovida que trabalha para

transformar a UFPR em um núcleo irradiador de uma cultura de mobilidade urbana mais

saudável e sustentável com ênfase no uso da bicicleta. O Programa UFPR/Ciclovida é um

programa de extensão universitária existente desde 2008 e quem tem por objetivo

transformar a UFPR em um núcleo irradiador de uma cultura de mobilidade urbana mais

saudável e sustentável. É multidisciplinar com a participação de docentes e discentes da

UFPR e de outras instituições de ensino, de distintos departamentos como: Psicologia,

Arquitetura e Urbanismo, Educação Física, Engenharia Ambiental, Engenharia da Produção,

Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Civil, Comunicação, Direito e

Design. O programa possui reconhecimento e participação da comunidade externa, bem

como de representantes governamentais. O impacto das ações e projetos ligados ao

programa é relevante já que, somente a comunidade interna à UFPR é composta por mais

de 40 mil pessoas (BELOTTO e NAKAMORI, 2013).

No âmbito acadêmico, o projeto busca aproximar os conhecimentos e práticas

pedagógicas desenvolvidas nas disciplinas de projeto do cursos de design como design

thinking e design de serviços dos contextos e demandas apresentados. Neste mesmo

campo o projeto busca também auxiliar na obtenção de dados de pesquisa relevantes sobre

a mobilidade urbana por bicicleta.

Além disso, um projeto de extensão em parceria com atores externos busca atender

à indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão que preconiza que "a formação deve ser

concebida de forma crítica e plural, não podendo se restringir simplesmente à transmissão

de ensinamentos em sala de aula." (FORPROEX, 2006)

MÉTODO

Existe uma demanda premente para a melhoria da qualidade e eficiência na

mobilidade dos alunos, servidores e terceirizados da UFPR, além do fato da UFPR ser um

grande gerador de tráfego que impacta negativamente na comunidade em geral.

Dados iniciais da Pesquisa de Mobilidade Universitária de Curitiba, pesquisa que

vem sendo realizada através de parceria entre instituições brasileiras e holandesas, dentro

do grupo de trabalho formado a partir do Termo de Entendimento assinado em 2015 (MoU -

Curitiba-Holanda) entre a Prefeitura Municipal de Curitiba e as quatro maiores instituições de

ensino superior de Curitiba: UFPR, UTFPR, PUC PR e UP (CURITIBA, 2015), apontam para

a indispensável necessidade de se incentivar o uso de alternativas de transporte por essas

comunidades, com menores impactos negativos e sociais.

A partir das necessidades apresentadas o projeto CoolabBici foi desenvolvido

buscando sensibilizar e promover a mudança de hábitos da comunidade acadêmica da

UFPR em seu deslocamento diário com o uso de meios de transporte menos poluentes,

menos impactantes no trânsito de Curitiba, mais econômicos e saudáveis, no qual entende-

se a bicicleta como sendo uma dessas alternativas. Desta forma, para explicitar a atual

sistemática de funcionamento do projeto CoolabBici, optou-se pelo uso de uma

Representação Gráfica de Síntese – RGS. Conforme visto na Figura 1, tal técnica, é

utilizada como artefato cognitivos para discussão e revisão de conteúdos objetivando a

complementação da informação escrita (PADOVANI, 2012; 2016).

Figura 1 – Visão Geral da sistemática de funcionamento do Projeto CoolabBici

FONTE: Os autores (2018)

A oportunidade identificada como ponto de partida para esse projeto foi em dar uma

nova destinação às diversas bicicletas encontradas abandonadas nos campi da UFPR em

Curitiba. Tais bicicletas são provenientes de abandono e furtos que vem acontecendo

repetidas vezes nos paraciclos nos diversos campi da instituição. O abandono ocorre

quando, muitas vezes, alunos retornam às suas cidades depois de formados e deixam

bicicletas simples ou, no caso dos furtos, uma bicicleta precária é deixada no lugar de uma

bicicleta boa furtada de um aluno ou servidor.

As bicicletas destinadas ao projeto são então recuperadas oferecidas à comunidade

acadêmica, com foco nas pessoas que sabem andar de bicicleta, mas que ainda não

utilizam em seus deslocamentos diários seja por insegurança ou pela falta de informação.

A oferta para o empréstimo foi feita por meio da criação de uma página de do projeto

em rede social e utilização da mesma pra divulgação (Figura 2) e cartazes espalhados por

diversos campi da universidade. Os interessados preencheram um formulário de interesse e,

havendo disponibilidade de bicicletas, os mesmos foram contatados para agendamento de

uma entrevista inicial, que busca entender melhor as motivações do usuário. Além da

entrevista, foram passadas orientações e recomendações sobre o projeto, sobre o cuidado

com as bicicletas, e assinados os termos de responsabilidade e de consentimento livre e

esclarecido.

Figura 2 – Página do projeto em Rede Social

Fonte: Os Autores (2017)

Para a coleta de dados durante o uso da bicicleta junto aos alunos (ou durante a

etapa piloto) foi utilizada a técnica conhecida como sonda cultural. A sonda cultural é um

instrumento de coleta de dados de abordagem reflexiva e interpretativa que permitiu obter

informações e ideias inspiradoras dos usuários alvo e possível identificação de usuários

entusiastas (MATTELMÄKI, 2006). Para o Projeto Coolabbici foi elaborada uma sonda

específica visando uma forma distinta de engajamento dos participantes através de tarefas

estimulantes. O objetivo do uso da sonda cultural neste projeto foi manter os participantes

engajados ao longo do tempo do período de uso da bicicleta. Além disso, buscou coletar

dados e percepções mais próximas ao momento em que ocorreram, evitando que fossem

omitidos ou modificados na entrevista, intencionalmente ou não.

Devido às diferenças nos tipos de empréstimos realizados, o período de uso variou

de dois (período de férias) a quatro meses (empréstimos regulares) de utilização, Após o

período estipulado, foi agendada com os usuários a devolução das bicicletas e realização da

entrevista final. Esta entrevista que teve como objetivo obter dados das percepções dos

participantes após o período de teste, bem como informações para aprimoramento do

sistema.

RESULTADOS

Oficialmente o projeto teve início em maio de 2017 com duração até abril de 2018.

No entanto, seu planejamento começou no final de 2015, com a localização de 38 bicicletas

abandonadas ou oriundas de furto nos campi da UFPR em Curitiba pela Superintendência

de Infraestrutura (SUINFRA) - órgão responsável pela infraestrutura da Universidade

Federal do Paraná. Coordenado inicialmente pelo Programa Ciclovida, tais bicicletas, antes

de seu recolhimento, ficaram expostas ao tempo em área descoberta por, no mínimo, um

semestre antes de serem recolhidas e, em 2016, foram encaminhadas para o projeto e

então enviadas à empresa parceira Bicicletaria Cultural (Figura 3) – representante do setor

privado. Das bicicletas recolhidas, houve um esforço por parte da Bicicletaria Cultural para

sua reutilização devido às precárias condições que boa parte delas se encontrava, de modo

que 10 foram utilizadas como fontes de peças por algumas partes estarem bastante

deterioradas, 10 recuperadas e vendidas para obtenção de recursos para que, ao fim, 7

fossem destinadas à UFPR para o desenvolvimento do projeto de extensão, 7 para o

programa de adoção promovido pela própria Bicicletaria Cultural e 2 destinadas ao Instituto

de Energia Humana (IEH) e 2 doadas à Casa da Estudante Universitária de Curitiba

(CEUC). Figura 3 – Bicicletas localizadas pela UFPR

Fonte: Os Autores (2016)

Com a oficialização do projeto em 2017, das 7 bicicletas destinadas diretamente ele,

desde 2016, foi possível emprestar a 15 alunos. Os alunos que fizeram uso das bicicletas

tinham diferentes perfis, desde intercambistas de outros países, já acostumados a utilizar

bicicletas em seu dia-a-dia a alunos cuja participação foi bastante influenciada por colegas

que já utilizam a bicicleta como transporte.

Os empréstimos foram realizados com dois diferentes focos, o de uso regular e, para

que as bicicletas não ficassem muito tempo paradas, o empréstimo de férias (Figura 4).

Figura 4 – Empréstimo de Férias

Fonte: Os Autores (2017)

Para a realização do empréstimo de férias os processos de entrega e devolução das

bicicletas foram feitos coletivamente, com adaptação das entrevistas inicial e final para

respectivamente uma reunião e um questionário online com grande parte das perguntas

abertas.

Ainda durante o período do projeto também foram realizadas atividades

complementares a partir da identificação de necessidades e oportunidades como a

realização de oficina de mecânica básica de bicicletas para mulheres (Figura 5) e também

oficina na semana acadêmica do curso de design de produto (Figura 6) para

desenvolvimento de formas de identificação da bicicleta e do ciclista iniciante.

Figura 5 – Oficina de Mecânica Básica de Bicicleta

Fonte: Os Autores (2017)

A primeira oficina contou com o envolvimento de 15 mulheres, incluindo a equipe

organizadora e a mulheres participantes, que puderam aprender noções básicas de ajustes

de freio e câmbio e remendo de câmara de ar. O objetivo desta oficina foi oferecer às

pessoas que usam a bicicleta como transporte, nesse caso específico mulheres, a

autonomia de realizar pequenos ajustes que as permitam chegar em casa ou bicicletaria

com a bicicleta em situações de problemas menores.

Figura 6 – Oficina da Semana acadêmica de Design de Produto

Fonte: Os Autores (2017)

A segunda oficina, de identificação da bicicleta e dos ciclistas iniciantes, contou com

a participação de 7 pessoas e teve como inspiração a identificação que os veículos

motorizados possuem durante o período de aprendizado (exemplo: carros de autoescolas),

como forma de sinalizar aos demais usuários do trânsito a inexperiência do condutor, de

modo que os demais motoristas redobrem a atenção. A oficina iniciou oferecendo aos

participantes um panorama da situação dos ciclistas, formas de circulação, por meio de uma

breve apresentação de slides. A partir disso a proposta de identificação dos ciclistas foi

lançada e os participantes fizeram rodadas de geração de alternativas. A partir da seleção

de algumas alternativas os participantes tinham à disposição diversos materiais para

experimentação e construção de mockups em tamanho real. A oficina encerrou com duas

proposições de identificação do ciclista. Uma no próprio selim da bicicleta que, mesmo que o

ciclista esteja carregando uma mochila nas costas estaria visível e outra no guidão, as quais

ainda precisam ser refinadas e detalhadas para testes.

Todas as atividades e empréstimos realizados dentro do projeto buscaram incentivar

o uso da bicicleta como transporte e, também o processo de aprimoramento da própria

forma de funcionamento da iniciativa. Em todo o processo de entrega das bicicletas, tenha

ele sido feito de forma individualizada ou coletiva os novos usuários foram orientados quanto

às questões de segurança de uso da bicicleta em uma cidade grande como Curitiba. Além

disso, também foram mencionados os parceiros do projeto, especialmente o Bike Anjo para

que, caso precisem, busquem suporte para trajetos e demandas específicas de pedalar na

cidade junto ao grupo.

Além disso, dados preliminares das entrevistas apontam para um desejo de

continuar pedalando mesmo após a devolução da bicicleta do projeto, através da aquisição

de bicicleta própria.

Segundo Balsas (2003), trabalhar com o público universitário, especialmente

estudantes é vantajoso quando o objetivo é a mudança de comportamento, uma vez que

este público é normalmente mais aberto a novas ideias e mudanças e, se motivado, tem

potencial de se tornar formadores de opinião e multiplicadores também fora desse ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto CoolabBici tem, ao longo de seu período de atividade, obtido sucesso em

seus resultados e, desta forma, se mostrado bastante promissor e efetivo como estratégia

para o incentivo da comunidade acadêmica na adoção da bicicleta como meio de transporte

em Curitiba.

Da perspectiva extensionista, as ações do projeto tem conseguido integrar ensino,

pesquisa e extensão de maneira indissociada, integrando conteúdos e saberes dos cursos

de graduação e pós graduação da universidade às necessidades apresentadas pela

sociedade.

A oportunidade de testar em um projeto de extensão as estratégias em de um

sistema de compartilhamento de bicicleta que busca além de sensibilizar para o uso deste

modal o reaproveitamento de bicicletas abandonadas, evitando o descarte desnecessário,

pode incentivar ainda mais o desenvolvimento de projetos com foco na melhoria da

qualidade de vida das pessoas e na promoção da sustentabilidade como parte do foco de

atuação da universidade como um todo.

Além disso, o projeto tem trabalhado para a sistematização de um protocolo de

procedimentos replicável em outras universidades e instituições de ensino com condições

similares a partir da formalização e aprimoramento do sistema em questão.

Os bons resultados obtidos até o momento com projeto piloto reforçam sua

factibilidade, com baixos investimentos e potencial para alto impacto social, bem como a

possibilidade de escalonamento do projeto a partir dos aprimoramentos a serem propostos

com base nas dificuldades encontradas. Deste modo, em uma edição futura do projeto

pode-se pensar em sua ampliação, envolvendo novos atores e, consequentemente,

aumentando seu impacto na sociedade.

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