informÁtica como instrumento de inclusÃo social...

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INFORMÁTICA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL DE IDOSOS DA ZONA RURAL DO BREJO PARAIBANO- BRASIL Márcia Verônica Costa Miranda 1 ; Ruan dos Santos Silva 2 1 Doutora em Engenharia de Computação. Professora Associado IV do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (DCFS/CCA/UFPB), Areia-PB, Brasil. E-mail: [email protected].; 2 Engenheiro Agrônomo. Mestrando em Ciências Agrárias na Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. E-mail: [email protected]. Eixo Temático: Prática Extensionista Transferência Tecnológica e Produtiva Resumo No Brasil, existem cerca 14,5 milhões de pessoas acima de 60 anos. Diante disso, a realização de políticas públicas e estudos que contribuam para a qualidade de vida, na terceira idade, merecem destaque no contexto atual da sociedade brasileira. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo a Inclusão Digital e Social da comunidade da terceira idade da cidade de Remígio PB, promovendo sua aptidão na realidade do mundo virtual e tecnológico. Para alcançar este objetivo, o projeto “Inserção Social Através da Informática Uma Abordagem Envolvendo Toda Comunidade”, desenvolvido no Centro de Ciências Agrarias da Universidade Federal da Paraíba, reuniu parceiros e promoveu ações de inclusão digital, notadamente, na zona rural do brejo paraibano. Foram ministradas oficinas educativas e cursos de Informática, cujas metodologias de ensino consistiram em aplicativos e exercícios práticos voltados para este público-alvo, bem como testes avaliativos e questionários. Entre os resultados alcançados registraram-se as competências adquiridas pelos idosos, com maior entendimento e conhecimento, do acesso das tecnologias digitais presentes no seu cotidiano, o que reverteu na melhoria de autoestima e sua valorização no meio social. A perspectiva é de continuidade dos trabalhos, uma vez que existe uma demanda crescente da comunidade. Palavras-chave: Extensão rural. Inclusão social. Idosos. Tecnologias da Informação e Comunicação. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, existem cerca 14,5 milhões de pessoas acima de 60 anos (IBGE, 2014). A parcela da população brasileira com mais de sessenta anos de idade cresceu de 4%, em 1940, para 10% na atualidade. A população de idosos representa um contingente de quase

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INFORMÁTICA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL DE IDOSOS DA ZONA

RURAL DO BREJO PARAIBANO- BRASIL

Márcia Verônica Costa Miranda1; Ruan dos Santos Silva2

1Doutora em Engenharia de Computação. Professora Associado IV do Departamento de

Ciências Fundamentais e Sociais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da

Paraíba (DCFS/CCA/UFPB), Areia-PB, Brasil. E-mail: [email protected].;

2Engenheiro Agrônomo. Mestrando em Ciências Agrárias na Universidade Estadual da

Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. E-mail: [email protected].

Eixo Temático: Prática Extensionista – Transferência Tecnológica e Produtiva

Resumo

No Brasil, existem cerca 14,5 milhões de pessoas acima de 60 anos. Diante disso, a

realização de políticas públicas e estudos que contribuam para a qualidade de vida, na terceira

idade, merecem destaque no contexto atual da sociedade brasileira. Neste sentido, este

trabalho teve como objetivo a Inclusão Digital e Social da comunidade da terceira idade da

cidade de Remígio – PB, promovendo sua aptidão na realidade do mundo virtual e

tecnológico. Para alcançar este objetivo, o projeto “Inserção Social Através da Informática –

Uma Abordagem Envolvendo Toda Comunidade”, desenvolvido no Centro de Ciências

Agrarias da Universidade Federal da Paraíba, reuniu parceiros e promoveu ações de inclusão

digital, notadamente, na zona rural do brejo paraibano. Foram ministradas oficinas educativas

e cursos de Informática, cujas metodologias de ensino consistiram em aplicativos e exercícios

práticos voltados para este público-alvo, bem como testes avaliativos e questionários. Entre

os resultados alcançados registraram-se as competências adquiridas pelos idosos, com maior

entendimento e conhecimento, do acesso das tecnologias digitais presentes no seu cotidiano,

o que reverteu na melhoria de autoestima e sua valorização no meio social. A perspectiva é

de continuidade dos trabalhos, uma vez que existe uma demanda crescente da comunidade.

Palavras-chave: Extensão rural. Inclusão social. Idosos. Tecnologias da Informação e

Comunicação.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, existem cerca 14,5 milhões de pessoas acima de 60 anos (IBGE, 2014). A

parcela da população brasileira com mais de sessenta anos de idade cresceu de 4%, em

1940, para 10% na atualidade. A população de idosos representa um contingente de quase

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15 milhões de pessoas com sessenta anos ou mais de idade, cerca de 8,6% da população

brasileira (SILVEIRA et al., 2010).

Envelhecer, por muito tempo, significou viver excluído da sociedade e ser um peso

para a família. Nos últimos anos, com o avanço da ciência e da medicina, esta etapa da vida

começa a ser vivida com mais qualidade (SILVEIRA et al., 2010). Segundo Kachar (2001), o

perfil do idoso do século XXI mudou: ele deixou de ser uma pessoa que vive de lembranças

do passado, recolhido em seu aposento, para uma pessoa ativa, capaz de produzir,

participante do consumo, que intervém nas mudanças sociais e políticas.

O aumento da expectativa de vida da população gera uma faixa cada vez maior de

pessoas na pré-aposentadoria ou já aposentada. Esses indivíduos idosos demandam cada

vez mais espaço de vida (conhecimento) e atividade (trabalho) em nossa sociedade (RAABE

et al., 2009). Aqui, cabe às Instituições educacionais e Estado, enquanto gestor comunitário,

executar Políticas Públicas e projetos que aproveitem o potencial, cada vez mais renovado,

deste público para impulsioná-los à abertura de aquisição de conhecimentos de novas

tecnologias que promovam novos saberes e fazeres, bem como auxiliem no exercício pleno

de suas cidadanias, tornando-os incluídos e úteis nas suas comunidades (SILVA e MIRANDA,

2016).

A realização de Políticas Públicas e estudos, que contribuam para a qualidade de vida

na terceira idade, validam-se não apenas na valorização da dignidade do idoso, enquanto

cidadão, mas também na medida em que satisfazem às necessidades de uma parcela

significativa da população. Por isso, a tecnologia e a educação irão agir juntas para evitar que

esse contingente de pessoas fique a margem da sociedade (WARSCHAUER, 2006).

A inserção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) em grande parte

das atividades cotidianas, muitas vezes, cria uma barreira para este público idoso. A interação

com equipamentos computadorizados tornou-se praticamente obrigatória em diversas

atividades atuais, como sacar dinheiro, participar das eleições, consultar benefícios como

pensões, aposentadorias, etc. (RAABE et al., 2009). Neste sentido, é fundamental a

realização de esforços que possam evitar a exclusão dos idosos desta sociedade cada vez

mais cercada por tecnologia.

Mas, por que idosos, que já não mais estejam inseridos no mercado de trabalho ou

envolvidos em atividades de estudo, precisam de um computador? A razão da ação do idoso

ao inserir-se em um programa de Inclusão Digital deriva de motivações e necessidades

pessoais, que variam entre os indivíduos (VIEIRA, 2009). Estudos realizados evidenciam que

idosos que procuram por programas de Inclusão Digital, estão em busca de processos de

Inclusão Social, seja pelo sentimento de pertencimento à sociedade que o conhecimento da

tecnologia pode influenciar, seja pela maior quantidade e qualidade de contatos que as

ferramentas de comunicação suportadas pela Internet podem lhes oferecer.

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A inclusão, então, é um processo a partir do qual uma pessoa ou grupo de pessoas

passa a participar de usos e costumes de outro grupo e ter os mesmos direitos e deveres

daqueles; a inclusão digital é vista como uma forma de inclusão social, porque por meio das

tecnologias de informação e comunicação é possível a participação na sociedade através de

outras vias de acesso e pelo desenvolvimento social, cognitivo e afetivo que podem promover

nos sujeitos. (PASSERINO e PASQUALOTTI, 2006).

Mesmo com todo o avanço tecnológico ocorrido, ainda existem pessoas que não

sabem utilizar a multiplicidade de serviços oferecidos no mundo virtual, fazendo com que a

preocupação com a inclusão digital de idosos seja cada vez maior. O processo de inclusão

digital proporciona aos idosos a recuperação da autoestima, o exercício da cidadania e

interação social (SILVEIRA et al., 2010). Ademais, o computador, ferramenta mais significativa

das TIC’s, ainda está distante de boa parte da população. A comparação entre os domicílios

nas áreas urbana e rural evidencia uma expressiva diferença na inclusão da tecnologia:

enquanto 35% dos domicílios das áreas urbanas possuem computador, nas áreas rurais o

percentual é de 10%. Nos últimos anos, o uso da TIC na agricultura tem crescido rapidamente.

Para Gelb et al. (2009), a adoção da TIC como um exemplo de inovação tecnológica melhorou

drasticamente a transferência e a gestão da informação no setor agrícola.

Neste contexto, acredita-se que as áreas rurais necessitem de maior ênfase no

processo de Inclusão Digital, devido à exclusão da população rural no acesso a serviços

públicos, a distância das áreas rurais em relação aos centros de disseminação do

conhecimento, bem como a dificuldade de acesso a laboratórios de informática disponíveis

nos centros urbanos, o que torna também essa exclusão bastante evidente.

Os idosos agricultores, moradores da zona rural, têm potencial produtivo e

participativo, e podem viver com qualidade, não devendo ficar presos às lembranças do

passado, muito menos a estigmas negativos. Vale salientar que esta camada da sociedade,

em sua grande maioria, é a responsável principal pelo sustendo financeiro de seus núcleos

familiares. Com isso, verifica-se, dentre os idosos agricultores e moradores das zonas rurais,

a preocupação em buscar subsídios, principalmente no aporte tecnológico, que facilitem o

gerenciamento de suas propriedades rurais, bem como alternativas que melhorem a

produtividade e divulgação de sua produção. O papel das TIC’s na agricultura pode ser

classificado em duas seções gerais. Na primeira, as TIC’s como uma ferramenta para

aumentar diretamente a produtividade, enquanto, na segunda, seria um instrumento indireto

utilizado para a capacitação dos agricultores, a fim de que sejam capazes de auxiliarem no

gerenciamento de suas propriedades, bem como inserir-se na sociedade moderna e

globalizada (ALBERT e ONWUBUYA, 2013).

Diante disso, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), consciente de seu papel

regional, tem buscado desenvolver ações que possam contribuir para a sustentabilidade e

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educação no ambiente onde está inserida. Neste contexto inclusivo, mais especificamente,

na preocupação de promoção da educação e inclusão social, que o Projeto “Inserção Social

Através da Informática – Uma Abordagem Envolvendo toda Comunidade”, desenvolvido pelo

Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPB, Campus II, promove o planejamento e execução

de ações de Inclusão Sócio-digital desde o ano de 2005, ofertando cursos de Informática,

cujas atividades são sempre voltadas para atender toda comunidade carente e de risco do

Brejo Paraibano e cidades circunvizinhas. Neste ano, devido à grande demanda, foram

focadas as comunidades da Terceira Idade do entorno da UFPB.

Este trabalho teve como objetivo principal, realizar a Inclusão Digital e Social na

comunidade de idosos da cidade de Remígio – PB, situada no brejo paraibano, procurando

promover sua aptidão ao encararem a realidade do mundo virtual e tecnológico, afastando-os

da classe de “Analfabetos Digital”, conscientizá-los no exercício pleno de suas cidadanias,

além de prover meios de auxiliá-los a serem produtivos e gerenciarem melhor suas

propriedades rurais, bem como também fornecer alternativas e ferramentas para a divulgação

de sua produção.

2. METODOLOGIA

2.1. Local do Estudo / Público Alvo / Comunidade Atendida

O município de Remígio está localizado na Microrregião Curimataú e na Mesorregião

Agreste Paraibano do Estado da Paraíba. O município foi fundado em 1957, possui uma

população estimada de 19.000 habitantes, uma área territorial de 178 Km2 e Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) 0,607 (IBGE, 2014).

Em parceria com a Associação da Terceira Idade de Remígio e a Universidade Federal

da Paraíba (UFPB/CCA), foram planejadas ações que beneficiassem esta população carente,

atendendo à comunidade de idosos. Esta parceria possibilitou o oferecimento das atividades

educacionais e de inclusão digital a um público que há muito já solicitava à academia auxílio

na aquisição de conhecimentos tecnológicos que pudessem aplicar mais efetivamente em

seus cotidianos.

As atividades de Inclusão Digital desenvolveram-se no Laboratório de Computação

Aplicada às Ciências Agrárias do CCA (LACACIA), Campus II da UFPB, localizado no

município de Areia-PB. Além do ensino de graduação e de pós-graduação, o CCA se destaca

na pesquisa e extensão, organizadas de forma interdepartamental e em caráter

multidisciplinar, de modo a otimizar os recursos humanos e físicos disponíveis. Desta forma,

a Universidade, consciente de seu papel regional, tem buscado desenvolver ações que

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possam contribuir para o desenvolvimento do Nordeste e em particular do Estado da Paraíba.

Inserido neste contexto, este trabalho buscou implementar alternativas de beneficiar a

comunidade do seu entorno, destacadamente o público da terceira idade, visando solucionar

os reais problemas que afetam sua cidadania, inclusão social e sustentabilidade.

Foi adotado um procedimento para execução das atividades, consistindo das

seguintes etapas:

Primeira etapa: Inicialmente, foi feita a apresentação do projeto, inscrição dos idosos,

contando com a parceria da Associação da Terceira Idade de Remígio e da Prefeitura

Municipal de Remígio, e a avaliação dos inscritos para a construção do material didático e

pedagógico a ser aplicado durante os cursos e demais atividades do projeto.

Segunda etapa: Ministração dos cursos de Informática. Oferta de palestras motivacionais,

bem como palestras auxiliares para o gerenciamento de produção agrícola e sustentabilidade.

Instrumentos: O cursos de Informática foram oferecidos junto ao LACACIA do CCA-Areia-

PB e tiveram como objetivos específicos:

a) Fornecer os conhecimentos básicos tantos em hardwares (componentes) quanto

softwares (editores de textos e de imagem, planilha de dados, PowerPoint, Internet)

para que o público da terceira idade possa desenvolver interesse pela Tecnologia da

Informação e consiga desenvolver os trabalhos que necessitem do uso do computador

e de seus recursos;

b) Permitir a inclusão digital de idosos de forma a garantir as relações de

autonomia/dependência na construção do sujeito/indivíduo e de sua relação com o

mundo e a tecnologia.

Terceira etapa: Avaliação do projeto e da equipe: analisar e avaliar os dados obtidos a partir

da aplicação de questionários.

2.2. Metodologia dos Cursos de Inclusão Digital

Durante o período de desenvolvimento do trabalho foram ofertados cursos de inclusão

digital: Informática Básica (IB) e Avançada (IA). As aulas foram ministradas por um tutor,

devidamente treinado e instruído para exercer as atividades voltadas para as especificidades

do público-alvo do trabalho. Foram formadas duas turmas de idosos, totalizando 82 alunos,

com um computador para cada aluno. As aulas foram ministradas uma vez por semana para

cada turma, num total de 40 horas/aula para cada curso.

A metodologia de ensino aplicada consistiu em adequar processos de utilização de

recursos básicos de programas e aplicativos de Sistemas Operacionais computacionais de

forma que pudessem ser empregados adequadamente ao público atendido. Programas e

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aplicativos computacionais foram adequados para manipulação e utilização nos seus

cotidianos, a saber: digitação de maneira correta e rápida, utilização do pacote de programas

Microsoft Office Word, PowerPoint, Excel e noções básicas de como navegar na Internet. A

Figura 1 apresenta fotos dos alunos dos cursos durante a realização das aulas no LACACIA.

Figura 1. Turma da terceira idade durante as aulas de inclusão digital.

Os cursos de Informática Básica e Avançada foram desenvolvidos no período de junho

a agosto de 2017 e setembro a novembro de 2017, respectivamente. A didática de cada curso

envolveu atividades teóricas e práticas, utilizando-se de materiais didáticos como: projetor

multimídia, listas de exercícios práticos, avaliações e apostilas, elaboradas com o conteúdo

abordado em sala de aula.

2.3. Questionários Aplicados

Como forma de avaliar e obter resultados sobre os participantes das atividades

desenvolvidas no presente estudo, foram aplicados questionários no início e fim dos cursos.

O objetivo destes questionários foi coletar dados sobre o perfil dos alunos e avaliar o seu

aprendizado quanto ao que foi proposto durante os cursos, bem como realizar uma constante

avaliação da execução das atividades, tendo como feedback as sugestões dos participantes

deste trabalho.

Neste contexto, na primeira aula do curso de Informática Básica aplicou-se um

questionário que abrangia temas diversos, tais como: Faixa etária; Nível de Escolaridade;

Renda Familiar; Área Residencial; entre outros. Os dados obtidos com estes questionários

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foram tratados através de programas estatísticos, que geraram tabelas e gráficos

representativos de cada objeto questionado.

Após a realização dos cursos, quando os sujeitos deveriam ter no mínimo um total de

75% de frequência, foram submetidos, novamente, a um questionário em situação de pós-

cursos. O mesmo teve o objetivo de obter a avaliação e opinião dos alunos a respeito das

atividades desenvolvidas pelo tutor, o aprendizado adquirido, as dificuldades observadas e

seus resultados quanto ao acesso ao conhecimento e a informação. O questionário foi

respondido de forma online e foi desenvolvido através da ferramenta Google Forms. O uso

desta ferramenta mostrou-se bastante útil na construção da avaliação dos cursos. Ao

responder as perguntas online os alunos puderam tanto treinar seu conhecimento em

recursos de Internet, como também descobrir mais uma opção interessante e versátil para

uso do que aprenderam. Os dados coletados na pesquisa foram tratados em software

estatístico e foram gerados gráficos representativos. Os resultados de ambos os questionários

serão discutidos e demonstrados na seção a seguir.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir do tratamento dos dados em planilha eletrônica, geraram-se gráficos

representativos das características do público-alvo atendido. Os resultados obtidos referentes

ao gênero e faixa etária dos participantes estão demonstrados no Gráfico 1 e Gráfico 2,

respectivamente.

Gráfico 1: Percentual de alunos dos cursos de IB e IA por gênero.

Observa-se, pelo Gráfico 1, um quantitativo maior do sexo feminino, expressando que

as mulheres demonstram interesse maior em participar de novas experiências e procurando

novas oportunidades de se especializarem, deixando de lado o preconceito e quebrando

paradigmas - a exemplo, “de que os idosos não são capazes de aprender algo novo.”

Quando o grupo foi questionado sobre o fato de que a grande parte foi composta por

mulheres, responderam os integrantes que: “a maioria dos homens pensa que passou o

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tempo de aprender, de ter novas experiências, por isso ficam em casa isolados”, daí a suposta

explicação para um baixo número de homens no curso de Informática.

Nos últimos anos, tem sido estimulada, nos quatro cantos do Brasil, a importância vital

de se fazer a inclusão digital para aqueles indivíduos que não têm acesso às TIC’s. Entretanto,

faz-se necessário que as bases ou pilares como sejam comumente conhecidas sejam

reforçadas para que esta inclusão realmente aconteça e são elas: TIC’s, renda e educação,

pois, segundo Silva Filho (2003), sem qualquer um desses pilares, não importa qual

combinação seja feita, qualquer ação estará fadada ao insucesso.

Gráfico 2: Faixa etária dos alunos participantes dos cursos de IB e IA.

A partir de análises realizadas nos questionários aplicados, constatou-se, no Gráfico

2, que 52% da turma foi composta por pessoas acima de 65 anos, seguidas por 34% de

pessoas com idades de 55 a 65 anos, e 7% dos alunos tinham idades de 45 a 55 anos, e 7%

entre 35 a 45 anos. Estes dados são relevantes, uma vez que demonstra uma grande

participação e empenho nos estudos de agricultores e moradores da zona rural em adquirir

novos conhecimentos que serão utilizados, cada um em seus objetivos, em suas

propriedades.

Os dados relacionados ao nível de escolaridade dos alunos estão ilustrados abaixo no

Gráfico 3.

7%7%

34%52%

Comunidade Rural da Terceira Idade- Remígio-PB -Faixa Etária

35 a 45 anos

45 a 55 anos

55 a 65 anos

Acima de 65 anos

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Gráfico 3: Escolaridade dos alunos participantes dos cursos de IB e IA.

A grande maioria dos participantes dos cursos possuía o ensino médio incompleto,

perfazendo um total de 50%, seguido por aqueles alunos que possuíam o ensino médio

completo, totalizando 33%, e por fim 17% que possuíam o ensino fundamental. Este último

dado necessita de uma ressalva: são pessoas aposentadas que se distanciaram da utilização

de tecnologias em seus trabalhos, mas que passaram a se motivar com a divulgação dos

cursos deste projeto. Não foi observado nenhum participante com nível superior.

Gráfico 4: Renda Familiar dos idosos dos cursos de IB e IA.

O Gráfico 4 representa os dados dos idosos participantes do projeto quanto à renda

familiar. Vale ressaltar que a grande maioria dos participantes são aposentados e são

considerados os responsáveis financeiros de suas famílias, sustentando todos os filhos,

muitas vezes com netos inseridos e morando em seus núcleos familiares.

Pode-se observar que a grande maioria recebe, oficialmente, um salário-mínimo

nacional, constituindo 65% do total de participantes. 25 % recebem menos de um salário e

17%

50%

33%

0%

Comunidade Rural da Terceira Idade- Remígio-PB - Nível de Escolaridade

Ensino Fundamental

Ensino Médio Incompleto

Ensino Médio Completo

Ensino Superior

25%

65%

10% 0%

Comunidade Rural da Terceira Idade- Remígio-PB - Renda Familiar

Menos de um saláriomínimo

Um salário minímo

Até 3 salários minímos

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10% até 3 salários mínimos. Porém, todos eles procuram complementar suas rendas e

aumentar seus faturamentos com os resultados oriundos de suas produções agrícolas, frutos

da agricultura familiar, vendas nas feiras locais, etc.

O fato de termos atendido alunos da terceira idade fez com que fosse necessária uma

atenção especial com relação à didática de ensino, bem como a construção de material

didático. Raabe et al. (2009), verificou em oficinas realizadas para a inserção do idoso, como

usuário do computador, que grande parte deles apresentam dificuldades de manuseio do

teclado e do mouse. Ciente desta dificuldade, foi oferecida aos alunos uma didática específica

ao longo das aulas. O foco principal concentrou-se nas aulas de digitação, onde utilizaram-se

softwares apropriados e exercícios práticos que ajudaram no desenvolvimento das

habilidades destes alunos (Figura 2).

Figura 2. Alunos realizando a aula prática de digitação.

Houve também uma preocupação em oferecer textos impressos com fontes em

tamanho maior, além do uso de ferramentas de ampliação de tela. Com a continuidade dos

cursos, pôde-se notar uma evolução muito rápida no aprendizado de todos. A partir disso,

observou-se que o uso dos recursos TIC’s puderam proporcionar mudanças nesses

participantes desde o período de implantação das atividades até o seu término. Ademais,

todos os textos, planilhas e demais materiais foram construídos e voltados para a temática

agrícola e seu auxílio às necessidades coletadas pelos questionários aplicados.

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Gráfico 5: Renda Familiar dos idosos dos cursos de IB e IA.

Analisando o Gráfico 5, podemos notar que o interesse prioritário dos participantes

(36%) está relacionado com assuntos que auxiliem no comércio de seus produtos e na

utilização de relações sociais, como explorar a Internet. Observou-se também, um grande

interesse nos assuntos religiosos (18%) e utilização de redes sociais (11 %).

O aprendizado que os cursos de informática propiciaram aos participantes foi muito

significativo. Quando questionados sobre a importância que os cursos trariam para o futuro,

100% dos participantes consideraram de fundamental importância os conhecimentos

adquiridos com o trabalho. O aprendizado torna-se ainda mais significativo, a partir do fato de

que no início das aulas, a maioria dos alunos (72%) nunca haviam tido contato com o

computador. Futuramente, eles poderão atuar como multiplicadores, repassando seu

conhecimento para outras pessoas das comunidades em que residem. Isso mostra que um

dos principais resultados e benefícios das atividades de inclusão digital foi o de desenvolver

nos alunos uma nova mentalidade com relação à maneira de desempenhar suas funções e

ao seu papel como membros atuantes da sociedade.

4. CONCLUSÕES

O Brasil tem experimentado, nos últimos anos, um envelhecimento crescente de sua

população. Tem-se percebido também uma valorização da informação, a qual se expande

progressiva e intensamente na sociedade contemporânea, valendo destacar a participação

crescente do idoso no mundo cibernético. Não obstante, as tecnologias de comunicação e de

informação, estão possibilitando a inserção do idoso no mundo virtual e potencializando a

interatividade e o acesso a informações, o qual vê ampliadas as oportunidades de se incluir

novamente na sociedade.

18%

9%

5%7%

11%14%

36%

Comunidade Rural da Terceira Idade- Remígio-PB - Assuntos de Interesse

Religiosos

Notícias

Pesquisa

Bate-papo

Redes sociais

Divulgar produção

Comercial e social

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Ao entendermos o idoso em toda a sua complexidade, seja ela física, cognitiva e

emocional, acabamos por compreender melhor a relação do idoso e a informática, e o impacto

que esta última pode ocasionar. Dessa forma, a pessoa idosa, ao deter conhecimentos de

informática, possibilita um novo significado à sua vida, indo além das facilidades oferecidas,

cultura, entretenimento ou atividade profissional que esse meio proporciona. Ademais,

focando este público na zona rural, observou-se a motivação em obter mais uma nova

ferramenta que possa ser utilizada para melhorar e divulgar sua produção rural e

gerenciamento dos dados de suas propriedades.

Este trabalho procurou descrever e discutir a importância de possibilitar o acesso das

Tecnologias Digitais de Comunicação ao público da terceira idade da região do brejo

paraibano, no sentido de auxiliá-los no exercício de sua cidadania e a facilitar o acesso ao

mundo digital. Ações como esta são fundamentais para a democratização do conhecimento,

do acesso tecnológico e da inclusão social, fazendo com que, uma vez mais, a Educação

exerça seu papel inclusivo de completude social.

A execução deste projeto teve atuação relevante no brejo paraibano, pois oportunizou

e incentivou a camada da comunidade a se sentirem valorizadas e incluídas digitalmente. É

notório o quanto as atividades e seus conteúdos são gratificantes, tanto para a turma, quanto

para toda a equipe.

O mais surpreendente durante todo o trabalho foi perceber a realização dos objetivos

pessoais de cada um, escutar os depoimentos emocionados no decorrer dos cursos, a

felicidade de perceber que mesmo com idades avançadas eles ainda estavam aprendendo.

Constata-se a partir disto, que não existe a melhor idade para aprender e sim que estamos

em constante aprendizado, que se realiza com a troca de experiências e a interação entre as

pessoas. Uma forma de promover esta valorização e inclusão social foi realizada através das

Tecnologias de Comunicação e Informação.

Entre os resultados alcançados registram-se as competências adquiridas, pelos idosos

participantes do curso, em participar, com maior entendimento e conhecimento do acesso das

tecnologias digitais presentes no contexto atual, com a perspectiva de inseri-las no seu

cotidiano e em suas atividades rurais. O que sem dúvida nenhuma reverteu em uma melhoria

de autoestima e valorização do seu meio social.

A perspectiva é de continuidade dos trabalhos aqui apresentados, uma vez que existe

uma demanda crescente da comunidade, fazendo com que os recursos metodológicos sejam

aprimorados para atender a demanda existente.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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