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CONTROLE GERENCIAL EM EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA:
ESTUDO DO CASO DE UMA HOLDING
Autor: Ruy Bonates de Almeida Junior
Orientador: Professor Dr. Josir Simeone Gomes
Rio de Janeiro
2002
CONTROLE GERENCIAL EM EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA
Ruy Bonates de Almeida Junior
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação em
Administração – COPPEAD – da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Aprovada por:
_________________________
Prof. Dr. Josir Simeone Gomes
_________________________
_________________________
Março de 2002
v
Resumo
O presente trabalho teve por objetivo explorar a relação entre o controle gerencial
presente em empresas do setor elétrico brasileiro e o que a literatura indica como eficaz.
Adicionalmente buscou-se explorar a transição percebida nos sistemas de controle antes
e após a privatização.
Para atingir tal objetivo o trabalho foi elaborado iniciando-se por uma revisão
bibliográfica que abrangeu desde a evolução do conceito de controle até o enfoque em
paradigmas mais recentes, como os que consideram contingências e cultura.
Após a construção de um plano de referência teórico, agregando características
desejáveis segundo a revisão efetuada, determinou-se as variáveis de pesquisa e a forma
de operacionalizá-las – através de questionário semi-aberto.
Foi estudado o caso de uma holding do setor elétrico, que tende a ser representativa
por abranger várias empresas do setor, entrevistando dois executivos na posição de
diretoria estratégica e coordenação de controladoria.
Descreveu-se o caso e a seguir fez-se o batimento entre o plano de referência e os
sistemas verificados, encontrando-se aparente aderência parcial entre ambos.
Interessantemente, verificou-se que há uma clara tendência do controle gerencial do
caso em aproximar-se da indicação teórica.
Por fim, sugestões para pesquisas futuras são apresentadas.
vi
Abstract
This study’s objective was to explore the relationship between the management
control system present in Brazilian companies of the electrical sector and what the
literature indicates as effective. Additionally, the perceived transition in control
systems, before and after the privatization, was also explored.
To accomplish this aim, the present study initiated with a survey of the literature
covering from the control concept evolution to the deepening in recent paradigms, as
those which consider contingencies and culture.
After the construction of a theoretical framework, aggregating desirable features
according to the literature, research variables, and the way of operationalize them –
trough a semi-open questionnaire, were selected.
The case of a holding of the electrical sector, which tends to be representative
because of the companies it controls, was studied trough the interviews of two
executives in high positions.
Description of the case, followed by analyses using comparison with the theoretical
framework, were made resulting in a apparent partial adherence between them.
Interestingly, it was showed a clear trend of the management control system of the case
trough what the theory indicates.
At last, suggestions for further research are presented.
vii
Lista de ilustrações
Figura 1 – Framework estratégico (apud DRURY e MCWATTERS, 1998) 13
Figura 2 –Framework da cadeia de valores (apud DRURY e MCWATTERS, 1998) 14
Figura 3 – Framework dinâmico (apud DRURY e MCWATTERS, 1998) 15
Figura 4 – Representação esquemática de um sistema de controle organizacional (apud
FLAMHLTZ, 1996, p.599) 22
Figura 5 – Diagrama de culturas 24
Figura 6 – Relacionamento Cultura-Sistema de Recompensas (apud SETHIA E
GLINOW, 1985, p.405) 25
Figura 7 – Framework para Culturas (apud SETHIA E GLINOW, 1985, p.409) 27
5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A evolução do conceito de controle
“O que é controle?” não é uma pergunta fácil de ser respondida. Pode até o ser, mas
não se espere encontrar ampla aceitação para a resposta. Como diz Macintosh (1994,
p.1) sobre a palavra controle: “metade do mundo pensa em controle como coerção e
opressão, protestando que nós deveríamos ter menos dele. O resto acredita que a
sociedade está muito fora de controle e que nós precisamos de mais dele.”
Mesmo isolando a conotação social exposta por Macintosh e atendo-se ao controle
enquanto função gerencial, problemas surgirão na concepção do termo. Isto não é
causado por falta de relevância do assunto, pelo contrário. Concordante com a
importância desta função gerencial crítica é a sua relativa abundância em artigos e livros
na literatura sobre administração. Segundo Merchant (1998), apesar do volume de
publicações sobre o tema, o controle ainda é uma função gerencial pouco entendida.
Para este autor, os principais obstáculos com que se deparam os estudiosos são:
! a inexistência de um quadro de referência universalmente aceito,
! a discussão de problemas e soluções de controle em diferentes níveis de análise,
! a diversidade de soluções propostas e
! as diferentes visões temporais: foco no passado e no futuro.
Cada um destes pontos permeará esta revisão bibliográfica que a partir daqui
mostrará sua evolução histórica desde as primeiras publicações, conforme o
levantamento realizado por Gomes (1983) e aprimorado por Gomes e Salas (1997).
Também será mostrada uma outra visão sobre a evolução dos paradigmas de controle: a
de Drury e McWatters (1998).
6
As primeiras menções ao controle encontradas na literatura remontam ao princípio
do século com o primeiro paradigma reinante sendo o taylorismo. Além do próprio
autor, são também nomes contemporâneos e importantes desta escola, segundo Gomes e
Salas (1997), Fayol – o pai da administração científica, Emerson e Church.
Os princípios de controle imperantes baseavam-se na visão mecanicista das
organizações, onde emoções humanas tinham papel secundário e a busca do efeito
motivacional era resumido a aplicação de incentivos, ou sanções, financeiros.
Os seguidores desta visão normativa de controle buscavam um sistema que fosse
universalmente aplicável, desconsiderando, obviamente, as influências contextuais
sobre o funcionamento das organizações.
Gomes e Salas (1997) relatam que ainda neste período surge o trabalho de Elton
Mayo, entitulado “The human problems of an industrial civilization”, que mostra,
baseado em um estudo levado a termo em uma empresa onde dominava o taylorismo,
que os trabalhadores agiam movidos por outros fatores, além dos materiais. Devido a
esta contribuição para o alargamento e melhor compreensão do comportamento humano
nas organizações, claramente de grande importância, o nome efeito Mayo foi dado a este
contraponto do taylorismo.
Seguindo sua revisão, Gomes e Salas (1997) descrevem os primeiros planos de
referência sobre controle de gestão, baseados em Giglione e Bedeian, que seriam:
! o de Urwick que identificou princípios de controle: responsabilidade, evidência,
uniformidade, comparação e utilidade. Este autor classificou os principais
tópicos do controle de gestão1 como: a) a mecânica da administração – a ciência
1 Neste trabalho os termos controle gerencial e controle de gestão serão usados de forma intercambiável.
7
da tarefa, agrupamento e correlação de tarefas e b) a dinâmica da administração
– o ajustamento do indivíduo, direcionamento e motivação do grupo;
! o de Davis que identificou controle de gestão como função orgânica da
administração que é responsável por instruir e guiar a organização assim como
dirigir e regular suas atividades;
! o de Glover e Maze que, baseados na análise de custos, a relacionaram ao
controle de gestão, procurando mostrar instrumentos e métodos de controle
como formas de avaliação de performance, pela comparação a padrões;
! o de Rowland que associou controle a planejamento e
! o de Dent que associou ao controle de gestão o controle orçamentário.
Outros autores são citados por Gomes e Salas (1997) mas, sem caracterização de
demérito para nenhum, não serão citados devido às características básicas deste período
terem ficado suficientemente claras, para o fim deste trabalho, com o já exposto.
Percebe-se, nos trabalhos desta época, a miscelânea conceitual a que Merchant
(1998) se referiu. Entretanto também é possível identificar uma linha de pensamento
que não leva em consideração, ao menos explicitamente (o que demonstra, no mínimo,
menor importância), aspectos culturais, contextuais e mesmo aspectos
comportamentais.
Em período posterior, após a década de 50, a compreensão do controle sofreu mais
influência de estudos sobre o comportamento humano na organização. Um membro de
comitê de 1956 da American Accounting Association expôs (apud MERCHANT, 1984,
p. 4):
8
“Do que consiste realmente o processo de controle?A maior parte das autoridades concordam que controle(...) relaciona-se com a tentativa de dirigir ou controlarações de outras pessoas. Este elemento humano pessoalno processo tornou-se foco central no nossopensamento.”
A mesma associação, através de relatório de 1973 de sua Junta de Conceitos e
Padrões sobre Planejamento e Controle de Gestão (apud GOMES e SALAS, 1997),
confirmam ter sido este enfoque um dos que mais apresentou contribuições ao campo de
controle até então.
A linha clássica, baseada na administração científica, desenvolveu-se até a
atualidade e Gomes e Salas (1997) caracterizam-na como perspectiva racional do
controle. Segundo estes autores esta perspectiva tem encontrado grande impulso através
da introdução de formulações matemáticas, aplicadas especialmente em questões sobre
preços de transferência2 e teoria da agência3. A teoria da contingência também é por
eles incluída nesta perspectiva pois, apesar de contemplar aspectos contextuais,
apresenta forte apelo racional, de modelagem matemático-causal.
Anthony (1995) aborda o controle centrando sua função no goal congruence, a
congruência de objetivos dos indivíduos com os da administração. Seu quadro de
referência é bastante utilizado, embora fique a crítica de não levar em conta os valores
pessoais (culturais) no processo de controle, razão pela qual Gomes e Salas (1997) o
relacionam dentro desta mesma perspectiva.
Outras duas perspectivas que Gomes e Salas (1997) acreditam existir sobre controle
de gestão no momento presente são a psicossocial e a cultural.
2 preços de transferência de bens ou serviços entre unidades da mesma empresa.3 relacionando o comportamento do agente (gerente) com o principal (no caso de controle de gestão – oadministrador; no caso de finanças empresariais – o acionista).
9
A perspectiva psicossocial do controle é a que sofreu influência determinante dos
conhecimentos relativos às relações humanas, processamento humano da informação e
teoria de sistemas abertos. Baseada na psicologia social e sociologia, enfoca o papel das
pessoas no processo de controle.
O estudo sobre cultura, necessário para a criação da perspectiva cultural, teve início
na antropologia, chegando à área administrativa através dos trabalhos sobre cultura
organizacional.
Os autores deste grupo parecem concordar que o controle de gestão se encontra
dentro de um sistema organizacional mais abrangente que o dos aspectos formais e
psicossociais, que compreende os valores organizacionais. Por este motivo, o sistema
de controle deve ser desenhado e utilizado de acordo com uma maior compreensão de
tais valores (GOMES e SALAS, 1997).
Macintosh (1994) também faz uma divisão do que chamou de múltiplos paradigmas
em controle: o funcionalismo estrutural, o interpretativismo, o estruturalismo radical, o
humanismo radical e o pós-modernismo. Esses paradigmas, de forma geral, podem ser
encarados como subconjuntos das três “perspectivas” de Gomes e Salas (1997),
conforme Silva (1998).
Outros autores a desenvolverem uma revisão, com separação de linhas de
pensamento, são Drury e McWatters (1998). Fazem um estudo histórico da evolução
dos principais quadros de referência utilizados e/ou descritos na literatura. Segundo
estes autores, os quatro mais relevantes são: o de feedback, o adaptativo, o estratégico e
o da cadeia de valores. No seu trabalho propõem um quinto, o dinâmico, que agregaria
as vantagens dos anteriores.
10
Desenvolvimento dos frameworks segundo Drury e McWatters (1998)
O quadro de referência de feedback é o primeiro a ganhar representatividade, a
partir dos trabalhos de Taylor e do paradigma da administração científica. O
pensamento de que o trabalho deveria ser totalmente determinado foi a necessidade
geradora de estudos sobre custos padrão e análises de variância. O desenvolvimento da
cibernética nos anos 40 e 50 deu corpo, então, a essa forma de ver o controle: como
gerenciamento pelo princípio da exceção.
Um sistema realimentado possui três etapas principais:
a) planeja e executa uma tarefa;
b) usa sensores para mensurar a execução e seus resultados e
c) compara estas medidas com os valores desejados à priori.
A realimentação é a volta com a informação da etapa “c” para a etapa “a”,
permitindo novos ajustes, nova planificação e execução. Assim, caso haja uma exceção
– um mau desempenho, esta gerará uma nova execução, agora com novos parâmetros
otimizados.
Drury e McWatters expõem que este paradigma é ainda útil, especialmente para
controle de operações de manufatura de cunho estável.
No entanto os autores relatam que, no final dos anos 70, necessidades de
incorporação de outras dimensões de controle se fizeram presentes, particularmente as
dimensões comportamental e do ambiente.
Segundo eles, o paradigma adaptativo começou então a tomar o lugar do modelo de
feedback. O novo modelo embutia a importância de controle comportamental. Além
11
disso diferenciava-se do anterior especialmente por considerar, em acréscimo a
correções sobre condições existentes, a possibilidade destas condições mudarem no
tempo. A força para esta mudança teria se originado do trabalho de Demski (apud
DRURY e MCWATTERS, 1998).
Este modelo consistiria em cinco etapas:
a) Considerações sobre o período vindouro são baseadas em informações
internas e externas (ambientais);
b) Decisões são feitas baseadas em ações ótimas para o período vindouro, como
determinação de orçamento, informado pelo subordinado;
c) Decisões são aprovadas e planos implementados;
d) Relatórios dos resultados obtidos são feitos baseados nos resultados
observados e em informações atualizadas do ambiente e
e) Avaliações ex-ante e ex-post do desempenho são realizadas e o processo é
realimentado.
A mudança nas avaliações, ex-ante e ex-post, possibilita uma maior aderência à
realidade, permitindo verificar o quanto o resultado se afastou do esperado por erro de
atuação ou por erro de determinação – anterior – da forma de atuação.
A chave do modelo é o sistema de avaliação de desempenho. Os autores relatam
que, no entanto, a congruência dos resultados com os objetivos da organização é difícil
(trata-se de um “alvo móvel”) e a imperfeição do sistema de medidas é esperada, bem
como a incorporação de ruídos no sistema de comunicação.
Apesar de reconhecer que os empregados de uma organização precisam ser
motivados, recompensados e apoiados, este modelo ainda é, segundo os autores,
12
limitado quanto à sua adeqüabilidade para os comportamentos humanos na organização:
é mais apropriado a níveis operacionais do que a níveis gerenciais.
A década de 80 é o cenário para o aparecimento de um novo paradigma: o
estratégico.
Neste período os conceitos de estratégia difundidos por empresas de consultoria
como o Boston Consulting Group, Arthur D. Little e A. T. Kearney, por Porter,
Chandler, Milles e Snow, dentre outros, influenciam o pensamento de controle.
Dentro do paradigma estratégico (fig. 1) existe a preocupação da contingência e da
consistência. A primeira acaba com a crença de unicidade de controle: não existe um
sistema de controle certo, mas um apropriado para cada tipo de estratégia escolhida. A
consistência deve ser observada entre estratégia, estrutura, controle e avaliação de
desempenho e recompensas. Uma crítica ao quadro de referência da figura 1 é que o
sistema de recompensas encontra-se em etapa anterior ao desempenho, o que não é
muito razoável a menos que:
! haja uma etapa de mensuração de desempenho dentro da etapa “recompensas” e a
etapa “desempenho” queira significar apenas os resultados e não sua mensuração
ou
! “desempenho” signifique a única etapa operacional do ciclo – todas as outras
sendo etapas de planejamento de (sub) sistemas.
13
Figura 1 – Framework estratégico (apud DRURY e MCWATTERS, 1998 p. 35)
O sistema de recompensas, entre outras inovações, começou a operar baseado num
espectro de medidas de altamente quantitativas à qualitativas. Também se fizeram
sentir o impacto da tecnologia da informação e implementações estratégicas como
alianças, inovações em custo e diferenciação.
O modelo da cadeia de valor (fig. 2) surgiu, segundo Drury e Mcwatters, apoiado
nos trabalhos de Porter e popularizou-se através dos de Govindarajan, dentre outros. A
grande variedade de produtos, serviços e expectativas do consumidor e a percepção da
magnitude dos custos indiretos – que os sistemas de custos tradicionais não
contemplavam satisfatoriamente – foram alavancadores do novo modelo.
Segundo estes autores o maior benefício deste modelo é a mudança de ênfase da
produção para as funções e atividades que realmente agregam valor do ponto de vista do
cliente. Desta forma predispôs ao desenvolvimento do sistema de custeio ABC4 e ao
descobrimento dos verdadeiros cost e revenue drivers. Adicionalmente passaram a ser
usadas novas medidas de desempenho, com força especial para as operacionais tais
4 Do inglês Activity Based Costing
Estratégia
Estrutura
Controle
Recompensas
Desempenho
14
como tempos de produção, qualidade, retrabalho e contribuição adicionada (esta com
base econômica).
Figura 2–Framework da cadeia de valores (apud DRURY e MCWATTERS,1998, p.36)
Anthony (ANTHONY e GOVINDARAJAN, 1998) cita que a cadeia de valor é
somente um novo termo para “esforços organizacionais para melhorar operações”, que
sempre existiram.
Ainda segundo Drury e Mcwatters, embora este modelo incentive maneiras válidas
de contabilidade gerencial, ele é introspectivo e tático, tendendo a não considerar o
contexto ambiental.
A solução seria o modelo proposto por eles, que é uma união do anterior ao
estratégico. O modelo criado, que chamaram de dinâmico, é uma expansão espacial. A
Fornecedor
P&D
Design
Processo
Marketing
Distribuição
Cliente
Serviço ao Cliente
15
chave é o fluxo de informações, no sentido vertical e horizontal, englobando toda a
organização.
Figura 3 – Framework dinâmico (apud DRURY e MCWATTERS, 1998,p.37)
Este é um modelo proposto, necessitando portanto de experimentação para uma
melhor avaliação, porém preliminarmente já se pode observar que sua complexidade é
um dificultador para sua implementação. Some-se a complexidade do modelo àquela da
estrutura da própria organização, cada vez maior (podendo inclusive ser matricial), e
atingir-se-á um esquema multidimensional, onde o conhecimento das interações entre os
elementos fica praticamente impossibilitado.
Conforme pode-se notar no estudo feito por Drury e McWatters, não aparecem nos
paradigmas considerações sobre culturas organizacionais, tampouco aprofundamentos
Fornecedor
P&D
Design
Processo
Marketing
Distribuição
Cliente
Serviço ao ClienteR
ecom
pens
as
Des
empe
nho
Estru
tura
Estra
tégi
a
16
de ordem psicossocial. Advém, portanto, que os autores fizeram uma revisão histórica
dentro da linha que Gomes e Salas chamam de perspectiva racional.
2.2 Controle e Cultura
É difícil falar-se de um paradigma mais evoluído em controle. Podería-se falar de
um mais novo, mais recente, sem encontrar as resistências que a palavra “evoluído”
pode gerar. Evolução significa avanço, progresso, e isto é encontrado em quaisquer das
linhas de pesquisa sobre controle que se estude. Mesmo dentro da perspectiva racional,
que tem sua base em pensamentos do início do século, os estudos evoluíram. Anthony,
um seu representante, é autor muito conceituado tanto no meio acadêmico quanto no
empresarial e tem, ao longo do tempo, incluído em seu framework considerações que
teoricamente o tornam mais eficaz .
Há, entretanto, uma corrente mais recente, defensora da importância da cultura para
o sistema de controle. Examina-se a seguir argumentos expostos por autores que
defendem este tipo de abordagem.
Além dos próprios Gomes e Salas (1997), defensores de uma abordagem contextual
– que inclui a cultura organizacional, são representativos os trabalhos de Bartlett e
Ghoshal (1994, 1995a, 1995b), Gomes e Rocha (1996) e Barros e Prates (1996), que
tratam do caso brasileiro.
Bartlett e Ghoshal
Bartlett e Ghoshal (1994, 1995a, 1995b) vão além do uso de uma abordagem que
considere também a cultura. Seus trabalhos defendem a quebra de um paradigma: o de
que a estrutura segue a estratégia e os sistemas suportam a estrutura. Esta seqüência é
17
comum no desenho de organizações. Os autores pregam uma alteração de papéis para
os executivos de topo, deste que era o usual – todavia não mais adequado – para um
papel de dinamizador das seguintes mudanças: do foco em estabelecer estratégia para
definir propósito; de estrutura para processo; de sistemas para pessoas.
Embora nos três trabalhos a importância da cultura seja mostrada, ela é mais
transparente no de 1994. Neste os autores defendem que o executivo (entendido como o
responsável pela estratégia e controle) dê forma a um propósito organizacional5. Antes,
porém, de conseguir realinhar as crenças e comportamentos na organização, o executivo
tem de mudar sua própria forma de pensar.
Segundo Bartlett e Ghoshal (1994) os responsáveis por unidades de negócios
desenvolveram-se profissionalmente com muita confusão sobre seus papéis. As
contorções6 que se fizeram necessárias para encaixar suas estratégias nas corporativas
foram fonte de frustração; visões estratégicas vagas os tornaram cínicos. Deve ser
lembrado que esta é uma conclusão baseada na experiência de empresas americanas,
ainda assim podendo fornecer insight porquanto nas organizações brasileiras os gerentes
podem fazer o mesmo.
Na defesa de que, para alcançar desempenho superior, as empresas precisam de
funcionários que empreguem um esforço extraordinário7, os autores expõe que isso só é
possível se existir uma ligação emocional com a empresa. Construir esse
relacionamento com os funcionários envolve conhecimentos não só relativos à natureza
humana quanto também às particularidades da cultura na qual estão imersos.
5 Um conceito que aproxima-se da “intenção estratégica”, mas diferencia-se pela importância dada aocomprometimento emocional sem o estreitamento de visão.6 No Brasil podería-se chamar “jeitinho” ou “jogo de cintura”.7 Uma utilização de todo o potencial pessoal, não o parcial usual.
18
No tópico em que discorrem sobre a infusão de valores na organização, Bartlett e
Ghoshal (1994) afirmam que existem poucas ferramentas tão poderosas quanto a
medição de desempenho na sinalização do que deseja uma empresa. Ressalte-se aqui a
questão da infusão de novos valores (ou mudança dos valores existentes) que será
tocada mais adiante no presente trabalho.
Identificar, comunicar e ajustar os valores organizacionais desejados é mais difícil,
de acordo com Bartlett e Ghoshal (1994), do que articular uma simples visão
estratégica. A complexidade da primeira tarefa realmente parece ser maior que a da
segunda, mas o motivo exposto por Bartlett e Ghoshal é outro: de que aquela baseia-se
menos no uso de análises e lógica do que em emoções e intuição. Embora as empresas
possuam um conjunto de crenças e filosofias bem estabelecido, os autores dizem que
eles usualmente permanecem implícitos. Essa dificuldade relatada em conhecer a
cultura organizacional mostra o desconhecimento (ou descrença) em métodos de estudo
de cultura, campo próprio da antropologia social. Ainda que desconhecidos por não se
encaixarem nos modelos lógicos dominados pelos executivos, os valores são relevantes,
como mostram as palavras de um executivo da Asea Brow Boveri: “os gerentes não são
leais a um chefe ou empresa, mas ao conjunto de valores em que acreditam e onde
encontram satisfação.” (apud BARTLETT e GHOSHAL, 1994, p.84)
Para tornar claro e consistente o que a empresa quer ser, Bartlett e Ghoshal
identificaram três lições a serem feitas:
a) construir a nova filosofia em volta da cultura existente;
b) manter um alto nível de envolvimento pessoal dos funcionários e
c) traduzir objetivos amplos em medidas visíveis e metas mensuráveis.
19
Gomes e Rocha (1996)
Gomes e Rocha (1996) apresentam um enfoque que procura relacionar os conceitos
antropológicos aos de controle.
No despertar para o universo da cultura recebe-se a compreensão das
“possibilidades, limites e impasses de se dispor de um único sistema de controle para
lidar com as diferenças entre grupos sociais e complexos de valores” (GOMES e
ROCHA, 1996, p. 3).
Para estes autores, a cultura é vista como “um mecanismo de depuração, filtro, mapa
ou roteiro constitutivo de cada ser humano” (GEERTZ apud GOMES e ROCHA, 1996,
p. 3). É possuidora de uma complexa relação com o meio ambiente: o influencia através
dos atores sociais8 e é influenciada – porque os atores tem que mudar seus scripts para
poder interagir com mudanças imprevistas no meio ambiente. Os scripts citados são o
que Gomes e Rocha chamam de regras de um jogo simbólico, as premissas de
pensamentos e práticas que usam os atores. São portanto o primeiro controle a que está
submetido um ser humano.
O desconhecimento do peso da cultura no direcionamento das atitudes das pessoas é
perigoso para quem desenha ou operacionaliza um sistema de controle. Quando há um
choque entre o que aponta o sistema de controle e a cultura interna – ou a abrangente –
os autores classificam como efeito disfuncional.
É fácil imaginar que quando o controle da organização vai contra valores arraigados
do indivíduo uma situação de conflito surgirá, da qual podem surgir comportamentos
inesperados e indesejados.
8 Conceito antropológico aplicável ao ser humano desempenhando um papel determinado por sua cultura.
20
Para o ator individual a administração de conflito entre culturas interna e externa (ou
ainda uma terceira, proposta por um novo sistema de controle) pode ser dolorosa,
levando a concessões que visam diminuir o seu desconforto. Não só essas atitudes
podem ser contrárias ao que deseja a organização, quanto podem ser traumáticas para as
pessoas, gerando um comportamento indesejado no futuro.
No tangente ao controle gerencial deve-se analisar não só a adequação (ou
possibilidade de coexistência) entre a cultura organizacional e a abrangente como
também se a organizacional pode ser mudada para melhor atender aos interesses dos
diversos colaboradores da organização.
No balanceamento entre os sistemas simbólicos (as cultura organizacional e
abrangente, no sentido adotado pelos autores), Gomes e Rocha (1996) relatam que
pode-se encontrar eventualmente predominância de um sistema sobre outro. Ou seja, a
importância da cultura interna ou da externa é relativa. Citam os exemplos da
Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda e da indústria automobilística em
Detroit, onde a cultura organizacional prevalece sobre a abrangente. Relatam que
também é possível uma determinada cultura abrangente, regional ou nacional, alterar ou
mesmo inviabilizar uma outra cultura organizacional.
De acordo com Gomes e Rocha (1996) a cultura organizacional é influenciada pelo
que sinaliza o sistema de controle. Será tanto mais fácil conseguir o engajamento dos
funcionários para os objetivos desejados pelos dirigentes quanto mais estes forem
consoantes com a cultura da organização. A mudança cultural, entretanto, é difícil. Os
autores citam que esta deve ser uma ação planejada, precedida de estudos cuja
profundidade seja suficiente para revelar verdadeiros aspectos culturais e as atuações
21
necessárias para modificá-los. Os elementos citados para atuar-se com esta finalidade
são:
a) a organização formal: estratégia, estrutura e sistema de controle;
b) a política de pessoal: seleção, remuneração, dispensa, promoção;
c) o estilo dos dirigentes: autoritário, participativo;
d) a introdução de símbolos e rituais: a feitura de – e o próprio – orçamento,
decoração, forma de vestir, slogans etc.
Barros e Prates (1996)
Barros e Prates (1996) expõem que a integração econômica cross-cultural, empresas
e operações multinacionais e globais, mostrou a importância da identidade nacional, não
só porque esta influencia na forma de gerenciar como porque o econômico não
conseguiu sobrepujar o social e o cultural. Sobre a influência, cita-se DaMatta (apud
BARROS e PRATES, 1996, p.14): “os valores culturais se exprimem em tudo que a
sociedade produz, de sorte que é possível assumir que as empresas de um dado sistema
social são – tal como ocorre com a música, literatura, com a política e com a família –
expressões desta sociedade”.
Flamholtz
Para Flamholtz (1996), os sistemas de controle não são facilmente visualizados
porque são formados de processos contínuos e complexos. Em seu trabalho, ele
apresenta um quadro de referência que pretende seja utilizado tanto para descrever um
sistema de controle quanto para avaliar sua funcionalidade e eficácia. Segundo ele
22
existe um sistema de controle nuclear, composto de 4 sub-sistemas : planejamento;
operação; medição e avaliação/recompensa. Este sistema de controle central seria
“abrangido” por 3 regiões, conforme a figura 4 a seguir, formando o completo, ou
macro, sistema de controle organizacional.
Como pode ser visto, o autor considera a cultura como estando em um nível
“superior” ao sistema de controle nuclear. De fato, para Flamholtz a cultura é:
“o ponto de partida para o desenho de um sistema de controle
organizacional. A despeito do fato de que ela muda lentamente e
tipicamente com grande dificuldade, a cultura organizacional é uma
variável. Ela está sujeita à modelagem e pode ser produto de decisões
gerenciais.” (FLAMHOLTZ, 1996, p. 604)
Figura 4 – Representação esquemática de um sistema de controle organizacional
(apud FLAMHOLTZ, 1996, p. 599)
A consideração da cultura implicitamente
Apesar de diversos autores considerarem a cultura como variável necessária para o
desenho de sistemas de controle, muitos não a destacam. Sendo a cultura importante
Cultura Organizacional
Estrutura Organizacional
Controle Nuclear
Ambiente Organizacional
23
para o funcionamento do controle, como isso seria possível? A presente revisão fornece
alguns indicativos apresentados a seguir.
Quando uma empresa multinacional (ou organismo internacional) aplica fora de seu
país de origem o sistema de controle (ou parte dele) há obviamente mais de uma cultura
nacional envolvida. Entretanto a internacionalização dos sistemas de controle pode
teoricamente funcionar sem problemas, mesmo que não se releve a questão cultural:
basta que exista proximidade cultural entre o país exportador e o absorvedor dos
sistemas. Por exemplo tome-se aqueles produzidos nos EUA. Com base no trabalho de
Hofstede (apud BETHLEM, 1989) que se baseou em 4 dimensões de valores culturais
para classificar a proximidade cultural entre países, depreende-se que não haveria
grande disfuncionalidade na aplicação em outros países de língua inglesa como
Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Reino Unido.
Outra possibilidade de mascarar a importância da cultura, não considerando-a
explicitamente, é direcionando a atenção à informalidade nas organizações. Nos
mecanismos de controle informais (implícitos) se mostram valores, crenças e normas de
conduta constitutivos da cultura. Portanto, quando se atenta para este tipo de
mecanismos – informais – na verdade se está considerando aspectos culturais, como em
Maciariello e Kirby (1994).
Existe ainda o meio-termo, como o trabalho de Simons (1994) que preocupa-se
somente com rotinas e procedimentos formais, não considerando normas de grupo,
socialização e cultura explicitamente. Entretanto um de seus tipos de controle (ele os
dividiu em 4 tipos) é o de sistemas de crenças: sistemas formais usados pela alta
gerência para definir, comunicar e reforçar valores, propósitos e direção para a
organização. Ou seja, Simons, orientado pela facilidade de visualização, terminou por
realmente considerar a cultura organizacional, mas somente em parte. O risco que
24
decorre de tal abrangência (parcial) é que o sistema formal pode não ser representativo
do que realmente é a cultura da organização, no pior caso pode nem mesmo haver
relação, quando o sistema formal de crenças é rejeitado pelos funcionários.
Apesar de não encontrar explicitamente tal esquema conceitual na literatura revista,
apresenta-se um diagrama esquemático sobre as culturas e seu relacionamento na figura
5, a seguir.
Figura 5 – Diagrama de culturas
O diagrama é fruto de algum aprendizado sobre as culturas envolvidas no desenho e
operacionalização de sistemas de controle. A percepção é de que tratam-se de três, e
não dois, conjuntos de valores, pois quando se fala da cultura organizacional deve-se
separar aquela que efetivamente é da que se deseja (formalizada através do sistema de
controle). A seta indica o processo de mudança, ou influência, exercido pelo conjunto
de valores gerenciais sobre o status quo cultural. É o processo que Gomes e Rocha
(1996) relatam ser complexo e que Bartlet e Ghoshal (1994) consideram uma das bases
para a implementação estratégica.
A sobreposição parcial representa a possibilidade de existência de valores próprios e
não compartilhados de cada conjunto, ambiental e organizacional. Além disto o
Cultura doMeio-Ambiente
Cultura daOrganização
CulturaDesejada para aOrganização
25
pontilhado representa uma permeabilidade entre os conjuntos, mostrando de forma
simplificada a complexa interação entre os mesmos.
Entrando um pouco mais na questão do “gerenciamento” da cultura, ou “como
promover modificações” na cultura organizacional vale menção ao trabalho de Sethia e
Glinow (1985).
Sethia e Glinow (1985)
Os autores, em seu trabalho “Arriving at four cultures by managing the reward
system”, exploram a relação de causalidade, melhor dizendo: interdependência, entre o
sistema de recompensas e o status quo cultural da organização.
Expõem, de forma didática, a constituição de sistemas de recompensas (que serão
abordados em tópico posterior neste trabalho) e um esquema conceitual, apresentado a
seguir (figura 6), que relaciona elementos formadores e dependentes da cultura da
organização.
Figura 6 – Relacionamento Cultura-Sistema de Recompensas (apud SETHIA E
GLINOW, 1985, p.405)
CulturaOrganizacional
Qualidades dosRec. Humanos
Sistema deRecompensas
Filosofia de RH
26
Aparecem neste diagrama alguns elementos ainda não citados na presente revisão: a
filosofia de RH e a qualidade dos recursos humanos. Segundo Sethia e Glinow, a
cultura organizacional afeta o sistema de recompensas tanto diretamente quanto através
de mudanças na filosofia de RH. A explicação do conceito “filosofia de RH” não é
explícita no artigo mas o entendimento do autor deste trabalho é que ela seja os
prepostos de como a organização acredita devam ser tratados os funcionários. Num
exemplo, os autores citam que um aspecto importante da filosofia é a consciência
igualitária versus a hierárquica. O desenho do sistema de recompensas é então baseado
na “consciência” prevalecente.
Há também o caminho inverso: o sistema de recompensas afeta a cultura
diretamente (reforçando comportamentos) e indiretamente (através da qualidade do
pessoal da empresa).
Quando os autores tocam na questão da gerência da cultura, o fazem de forma
simplificada. Assumindo que a filosofia de RH é uma base para a cultura
organizacional, propõem seu mapeamento (da filosofia de RH da empresa) segundo
duas dimensões: enfoque nas pessoas e na performance (figura 7). O espaço formado
define quadrantes, sendo cada um representativo de um tipo de cultura .
Para cada tipo de cultura os autores fazem um resumo dos elementos presentes aos
respectivos sistemas de recompensas, ou seja, cada cultura possuí um sistema próprio de
recompensas.
Segundo os autores após a identificação do quadrante atual da organização, o status
quo cultural, deve-se decidir qual quadrante deseja-se atingir. A transposição entre
culturas se faria através da aproximação do sistema de recompensas atual ao do
característico do tipo de cultura que se deseja.
27
Alto Cuidadosa Integrativa
Enfo
que
nas p
esso
as
Bai
xo Apática Exata
Baixo Alto
Enfoque na performance
Figura 7 – Framework para Culturas (apud SETHIA E GLINOW, 1985, p.409)
Santos(2000)
Santos dissertou sobre os processos de downsizing em três empresas privatizadas,
focando na percepção dos participantes.
Seu estudo é relevante para o presente trabalho pois esta contingência é também
experimentada nas empresas-alvo. Encontram-se então, no trabalho da autora, insights
que podem ser usados no presente, especialmente quanto ao efeito sobre os
participantes.
Em primeiro lugar destaca-se a ligação entre privatização e downsizing. Do ponto
de vista dos participantes, privatização leva a demissão em massa.
O plano de desligamento (voluntário ou não), por sua vez, torna concreta a quebra
do contrato psicológico entre empregado/empresa. Os empregados das antigas estatais
assumiam como certa a não demissão. Segundo Santos, eram a cultura da empresa
estatal, questões políticas e de sindicato, as causas para esta assunção.
28
Além do próprio downsizing9, a autora assume outras duas forças que levam à
transformação do contrato psicológico: pressões da diretoria / da nova cultura
organizacional e pressões do meio ambiente da empresa.
Esta transformação seria “a base fundamental para a mudança de atitude do
funcionário e para sua adesão à nova lógica” (SANTOS, 2000, pg 312). Como “nova
lógica” deve-se entender a forma de pensar do funcionário então mais alinhada com
aquelas de empresas privadas (quanto a lucratividade, proximidade do cliente, etc) e
com uma nova cultura organizacional.
De fato, vale ainda citar:
“Valores e práticas organizacionais também se
alteraram. Se a empresa foi adquirida por empresa com
forte cultura corporativa, esta transferiu seus valores e
práticas para a nova organização (...). Se a empresa foi
adquirida por um consórcio em que os novos acionistas
estão trabalhando juntos pela primeira vez, novos valores
e práticas demoram mais a ser assimilados pelos
funcionários” (SANTOS, 2000, pg 308)
Até este ponto esta revisão cobriu criticamente um espectro significativo da
evolução do conceito sobre controle e sua contingência. A seguir serão enfocados
alguns pontos da ligação entre estratégia e o controle gerencial.
9 No seu texto original, Santos cita “privatização seguida de downsizing”.
29
2.3 O papel – estratégico – do controle gerencial
Autores da área de estratégia relatam que a consistência da estratégia global depende
da consistência de suas subdivisões (ROCHA, 1998 e TILLES, s.d.). Um desenho de
estratégia usualmente possui objetivos estratégicos, missões, metas e políticas para o
alcance destas. Ainda que não haja uma clara determinação dos termos, havendo certa
troca de uso entre autores, fica claro que existem (ou deveriam existir) objetivos
organizacionais e subdivisões dos mesmos. As metas, ou outros objetivos, podem ser
divididos em níveis inferiores até o ponto que se considere relevante. As políticas,
segundo Tilles (s.d.), devem expressar, não exaurindo a resposta, “como” atingir os
objetivos estabelecidos. Na determinação das políticas importantes para cada empresa e
estratégia, Tilles ainda diz que o ponto mais importante é decidir quais são as atividades
tão estrategicamente significativas que façam das regras de decisão explícitas um
imperativo. Assim as estratégias já tocaram, ou possivelmente avançaram sobre, o que
considera-se a fronteira da área de controle gerencial.
Os limites não são tão fixos ou claros. E também não precisam ser. Merchant
(1985) diz que um esquema comum de classificação das funções gerenciais é sua
separação num continuum que envolve escolha de objetivos, formulação de estratégia e
controle. Não obstante a inexistência de limites aceitos em geral, existe concordância
quanto à visão de que o controle é a função final do processo de gerenciamento. A
separação das funções atende mais a requisitos de ordem didática e acadêmica, do que
prática.
O próprio Merchant (1984) reconhece que existem autores que incluem alguns
processos estratégicos dentro do campo de responsabilidade do controle, outros que
consideram processos estratégicos distintamente – porém inseparáveis em termos
30
práticos – dos processos de controle. O autor, entretanto, advoga uma separação entre
controle e estratégia por considerar que muitas vezes o primeiro pode existir
independente do segundo. Considera a formulação estratégica relevante mas fora do
foco principal da discussão de controle.
Muitas características de sistemas de controle podem ser estudadas sem
conhecimento da estratégia. Entretanto, o desenho de um sistema de controle sem esta
consideração pode levar a criação de um excelente carro de corrida, com alto consumo,
para uma estrada que mais a frente não possui postos de gasolina...
A problemática da separação planejamento estratégico / controle / implementação
fica mais clara quando ocorre fisicamente: era prática comum a existência de um
departamento de planejamento dentro das empresas (BETHLEM, 1998). Em anos mais
recentes difundiu-se a idéia que a formulação estratégica seria responsabilidade do
CEO10, segundo Bartlett e Goshal (1994). Estes autores expõem acerca da
divisionalização no planejamento: “Em um ambiente onde o mutável conhecimento e
expertises11 necessários para tomar tais decisões (estratégicas) são normalmente
encontrados nas linhas de frente, esta assunção é insustentável.” (BARTLETT e
GOSHAL,1994, p.81).
Mintzberg (1979), autor de renome no estudo de estruturas organizacionais, ao tratar
do desenho de uma organização diz que ele só se completa quando aos “ossos” da
superestrutura se acrescenta a “carne” dos sistemas de Planejamento de Controle. Eles
possuem a função de “ligar” todo o “corpo” - ou “engraxar as engrenagens do
ajustamento mútuo” (MINTZBERG, 1979, p. 148). Para este autor, o Controle seria
compreendido por dois tipos:
31
! controle de performance
! planejamento de ação
O planejamento de ação seria onde se imporiam decisões específicas em determinados
momentos. Um nível mais básico, ou operacional, de controle. Já o controle de
performance, de nível superior, possui o objetivo maior de regular os resultados de uma
dada unidade.
Mintzberg (1979) fala a respeito do controle de performance que o mesmo pode
servir para medir e para motivar. Defende que o mesmo é o parâmetro chave para o
desenho de estruturas baseadas em mercado e também que, mais que top-down, o
sistema de controle de performance é construído nos dois sentidos: a alta gerência
determina e divide os objetivos, mas as unidades também estabelecem seus próprios
objetivos (que são negociados com a alta gerência). Mintzberg ainda fornece insights
quanto à estruturas funcionais. Para ele, devido ao fluxo de trabalho não ser simples
nesse tipo de estrutura (é seqüencial, paralelo, recíproco) os objetivos organizacionais
não são facilmente ajustáveis à estrutura. “Controles de performance não conseguem
realmente enfrentar as interdependências de unidades funcionais” (MINTZBERG, 1979,
p. 152). O autor cita Chapple e Sayles (apud MINTZBERG, 1979) que dizem que
quando a estrutura interna de uma organização é dividida em divisões funcionais, não
existem padrões de performance “naturais” e a gerência é obrigada a empregar
considerável “ingenuidade” na invenção de controles que possa usar para propósitos
administrativos. Infelizmente, continuam, controles maquinados12 como esses, mais
10 Do inglês Chief Executive Officer.11 Liberdade de tradução de “fast-changing knowledge and expertise” no original.12 Contrived no original.
32
que facilitar a cooperação inter-divisional (que é um dos objetivos centrais),
freqüentemente se tornam fonte de conflito.
Aprofundando o assunto da ligação controle-estratégia, é pertinente discutir a
questão da adeqüabilidade do controle às estratégias em ambientes mutantes, como é o
caso estudado no presente trabalho.
Estrategistas como Porter (1989) e Day (1997) têm exposto que o sucesso de um
empreendimento, no mercado livre, baseia-se na criação e manutenção de vantagem
competitiva frente aos concorrentes. Em ambientes dinâmicos, Day (1997) alerta para a
necessidade das empresas em dispensar maior atenção às estratégias no sentido de
renovar constantemente suas vantagens.
Day (1997) ainda relata que a estratégia deve, porque poucas vantagens podem ser
sustentadas indefinidamente, buscar criar novas vantagens e diminuir o ritmo de
“erosão” das atuais. Em seu trabalho chega a duas perspectivas que, acredita explicam,
se unidas, tais vantagens: uma externa, dada pela posição do negócio na indústria, e uma
interna, determinada pelos recursos e capacidades de cada empresa (resource based
view).
A boa posição em custos ou diferenciação (as estratégias genéricas, segundo
PORTER, 1989) em mercados atraentes levariam a vantagens para seu detentor. Já a
resource based view relata performance superior do que as empresas tem de mais difícil
imitação: suas competências.
O controle de gestão, embora hoje se aconselhe contemplar o relacionamento com o
meio externo, se encontra nas capacidades internas das instituições.
33
De acordo com as mudanças e revisões freqüentes que se fazem necessárias nas
estratégias, os sistemas de controle devem ser abertos o suficiente para comportá-las.
Segundo Day (1997, p.52), os recursos da empresa “- uma combinação de ativos e
capacidades – são cultivados vagarosamente no decorrer do tempo, não podem ser
prontamente negociados e limitam a habilidade da empresa para adaptar-se à mudança”.
Toda a análise é consistente com a literatura sobre controle e cultura, exceto a colocação
“limitam a habilidade da empresa para adaptar-se à mudança”. O papel de dificultador
de mudança, entretanto, não é inaplicável aos sistemas de controle. O controle é
baseado em pessoas, que possuem resistência natural à mudança, mas pode, além disso,
ter sido desenhado de forma tão fechada que não permita que alterações necessárias já
identificadas sejam postas em prática rapidamente.
Diversos autores citam a necessidade urgente de adoção de sistemas de controle
mais flexíveis. Macintosh (1994) faz a defesa de desenhos de sistemas abertos-naturais
para possibilitar uma melhor resposta às alterações, imprevisíveis, das variáveis do
sistema e suas inter-relações.
Maciariello e Kirby (1994) descrevem sistemas de controle que consideram ótimos,
chamados de adaptativos. Estes devem, entre outras coisas, ter sido desenhados de
forma a “permitir aprender o que é efetivo no atendimento contínuo aos desafios
competitivos do ambiente” (MACIARIELLO E KIRBY, 1994, p.8).
Gomes e Salas (1997) abordam o assunto defendendo a particularidade dos sistemas
de controle quanto às organizações para as quais são desenvolvidos, ao tempo (período
histórico) vivido, aos contextos sociais e outras contingências.
34
Simons (1994), fez um estudo de campo do uso do controle gerencial como
ferramenta de renovação estratégica. Objetivou saber como novos gerentes de topo
usaram esta ferramenta e porquê.
A princípio usou uma análise quantitativa, agrupando os casos segundo sua própria
categorização em dois grupos, de acordo com a motivação: os direcionados para uma
mudança estratégica revolucionária e os motivados para uma mudança estratégica
evolutiva.
Em ambos verifica que os sistemas de controle assumiram um papel crucial, sendo
usados para:
a) vencer a inércia organizacional;
b) comunicar o cerne da nova agenda13 da organização;
c) estruturar cronogramas e objetivos;
d) garantir atenção contínua através de incentivos e
e) focalizar o esforço de aprendizagem da organização nas incertezas
estratégicas, associadas com sua visão de futuro.
União
De acordo com a revisão efetuada ficam claras as necessidades da adequação
estratégica da empresa e do suporte que o sistema de controle deve propiciar. O que
não se clarifica são as fronteiras de quando o controle passa do suporte para a
determinação da estratégia. De fato o pensamento simplista e linear não possui muita
aplicabilidade neste ponto visto que as formulações estratégicas e de sistemas de
controle são interrelacionadas e recursivas. O que apazigua a sede humana por
35
compreender é aceitar a existência de uma ligação tão estreita entre controle e estratégia
que torna não produtiva a busca por fronteiras.
2.4 Medidas e recompensas
Conforme a máxima de Eccles (apud FERREIRA, 1997) adaptada: “cuidado com o
que você mede, porque normalmente é o que vai conseguir”, o sistema de medição é um
dos componentes principais do sistema de controle. Nota-se que a preocupação em
desenvolver medidas que possuam real significado para as tomadas de decisões corretas
é atualmente uma das principais na área da contabilidade gerencial.
O tópico recompensas poderia possuir uma participação própria no conjunto deste
trabalho, entretanto optou-se, para otimização da redação, por apresentá-lo junto ao
sistema de medidas.
A ligação entre os sistemas de medição de desempenho e os sistemas de
recompensas é extremamente forte, especialmente se forem considerados os aspectos
informais (de relacionamento pessoal) envolvidos, como acreditam Maciariello e Kirby
(1994).
Utilizando outra definição, Flamholtz (1996) cita que que as recompensas derivadas
de um comportamento esperado podem ser intrínsecas ou extrínsecas. Para ele, o
sistema de avaliação e recompensa deve possibilitar o controle ex-ante e ex-post.
Quando tocando no ponto da adeqüabilidade do sistema de medidas de performance
ao novo modelo organizacional, Fraser e Hope (1998) destacam que dentre as razões
para a falha no contínuo processo de mudança organizacional encontra-se a não
13 “Agenda” com o sentido de programação desejada.
36
compreensão da relação entre medidas, alvos, recompensas e o comportamento dos
gerentes. Os autores relatam ainda que, de forma a aumentar a velocidade de resposta a
mudanças e baixar custos, os empregados devem tomar medidas mais arriscadas para
manter a competitividade da empresa, agindo como proprietários. Se o sistema de
recompensas (ou a “cultura organizacional”, conforme os autores) promove vencedores
e pune perdedores14, a disfuncionalidade será o resultado caso a escolha de metas
(medidas-alvo) não esteja sendo feita em uníssono com as recompensas. Não havendo
um incentivo a tomada de risco por parte da gerência atitudes muito conservadoras
podem surgir. O apelo para a escolha de alvos “desafiadores” terá pouco sentido se a
gerência sentir-se desconfortável para assumir tal compromisso. Como exemplo, citam
que tal escolha (de um objetivo desafiador) aumenta o risco do gerente de não alcançar
suas metas e, mesmo que as ações corretas sejam tomadas, elas podem levar meses para
surtir efeito, levando então somente ao aumento de custos nos resultados do ano
corrente.
Segundo classificações comuns na literatura, as principais naturezas das medidas
são financeiras e não-financeiras. Linhas mais recentes apontam que o sistema ótimo de
medidas deve ser o balanceamento entre os dois grupos (EPSTEIN e MANZONI, 1998,
KAPLAN e NORTON, 1993, 1994, 1996).
A seguir são apresentados, nos itens 2.4.1 a 2.4.4, os tópicos referentes a cada
grupo, com algumas considerações, baseadas na literatura estudada.
14 Com a ressalva de que “vencedores” e “perdedores” já evidencia um aspecto da cultura abrangente, nocaso a Norte-Americana.
37
2.4.1 Medidas financeiras
Vancil e Buddurus (1979) relatam que as medidas financeiras gozam de preferência
devido a 4 características que possuem, nominalmente:
a) a confiabilidade gerada pela regras de contabilidade;
b) a abrangência e penetração que permitem - podem refletir desde atividades de
pequeno porte ao agregado da organização;
c) a difusão por todas as organizações;
d) adaptabilidade ao contexto.
Somem-se a estas ainda a facilidade geral de interpretação das quantidades quando
estas são expressas em moeda, por exemplo quanto a comparabilidade entre atividades
de natureza diversa.
Porém esse tipo de medida possui desvantagens relevantes. Como Gomes (1997)
ressalta, a base em dados contábeis leva o foco ao passado. A contabilidade utiliza
regras que são inadequadas para avaliação do verdadeiro valor de um bem/atividade
(prudência, competência). Além disso valores contábeis ou financeiros não trazem uma
visão operacional.
Como em todo o campo de controle, também quanto a esse tópico tem-se evoluído.
A medição do simples lucro contábil não levava em consideração o capital investido. A
partir desta consideração medidas de rentabilidade são mais adequadas, assim como, por
exemplo, o retorno sobre investimento (ROI).
Entrementes Ferreira (1997) coloca que ao medir-se a rentabilidade do resultado
pode-se obter um valor mais alto tanto pelo aumento do numerador (lucro) quanto pela
diminuição do denominador (investimento). Isso leva ao perigo de que gerentes
38
minimizem o investimento ao máximo de forma a maximizar essa medida,
desperdiçando boas oportunidades de negócios.
Ferreira conclui pela melhor adequabilidade do EVA (Economic Value Added,
método desenvolvido e patenteado pela firma Stern Stewart & Co). De fato as medidas
puramente contábeis têm perdido em importância para o EVA nos últimos anos. O
EVA é segundo a revista Fortune "a idéia financeira mais quente de hoje em dia"
(Apud BRIGHAM et al, 1999).
Os defensores desse tipo de medição apontam como vantagem justamente o
alinhamento de interesses entre a administração e os acionistas. O "novo" fator que o
cálculo do EVA leva em consideração é o custo de oportunidade do capital investido
nas operações. De forma resumida:
EVA = Lucro operacional depois de impostos - Custo do capital
empregado nas operações após impostos
O ponto forte desse método é também seu ponto fraco: qual é o custo do capital é
uma pergunta essencial (não considerada nas medidas contábeis) mas também muito
difícil de ser respondida. O custo de dívidas é relativamente simples de ser calculado
porém o custo do capital acionário não o é. Para este último, mesmo dentro de um
determinado método de cálculo (como o CAPM15) muitas variações são possíveis
(BRIGHAM et al, 1999), tornando o valor final impreciso e, infelizmente, subjetivo.
Outra falha do EVA é que, por ser baseado em medidas contábeis (lucro
operacional), pode ser aumentado com ações que firam a lucratividade futura como
cortes de gastos com P&D ou com salários (EPSTEIN e MANZONI, 1998).
15 Capital Asset Pricing Model
39
Ao autor desse trabalho parece que ainda existe um grande e possível passo para
este tipo de medidas: a consideração do valor futuro das ações e decisões tomadas no
presente. Sem dúvida essa medida seria incerta, pela natureza do que mede, mas seria
extremamente adequada do ponto de vista estratégico. Aparentemente o método SVA
(Shareholder Value Analysis) (apud KAPLAN e NORTON, 1992) caminha nesse
sentido.
2.4.2 Medidas não-financeiras
As medidas não-financeiras podem ser tanto quantitativas quanto qualitativas, o que
significa que possuem potencialmente uma maior abrangência que as puramente
financeiras. Através das mesmas, aspectos estratégicos (e de qualquer outra
denominação) podem ser medidos. Assim a operação da empresa pode ser mensurada
ao nível de detalhamento que se queira segundo quaisquer características.
Além dessa vantagem, esse tipo de medidas podem ser lag ou lead, ou seja, podem
objetivar medir resultados passados ou fatores chaves que acredita-se impactarão no
futuro da empresa.
A grande desvantagem desse tipo de medidas é que podem ser subjetivas e o
critério de objetividade é necessário para que o sistema adquira credibilidade.
2.4.3 Medidas Balanceadas
Balanced Scorecard
Enquanto financeiramente o EVA parece ser atualmente a idéia em maior
evidência, no campo das medições de desempenho organizacional o Balanced Scorecard
40
se destaca. Em 1996 mais de 60% das 100 maiores empresas já o estava utilizando
ligado ao sistema de recompensas dos seus executivos, enquanto outras esperavam
adquirirem mais experiência com o Balanced Scorecard antes de relacioná-lo ao
sistema de recompensas (PERRIM apud EPSTEIN e MANZONI, 1998).
O Balanced Scorecard é um mix proposto por Kaplan e Norton (1992) que agrega
medidas financeiras e operacionais. Sua intenção é fornecer no mesmo lugar “todas” as
informações importantes para a gerência. Nas suas palavras: “O Balanced Scorecard é
como os mostradores em um cockpit de avião: ele dá aos gerentes informações
complexas em um relance”.
Os autores sugerem que se tomem quatro visões diferentes para a escolha das
variáveis que serão medidas:
a) como nós parecemos para os acionistas? – perspectiva financeira;
b) no que nós precisamos ser excelentes? – perspectiva interna ao negócio;
c) nós podemos continuar a melhorar e criar valor? – perspectiva de inovação e
aprendizado;
d) como os clientes nos vêem? – perspectiva do cliente.
Kaplan e Norton relatam que críticos das medidas financeiras apontam que as
mesmas são apenas resultados das atividades e processos que as produziram. No
Balanced Scorecard eles deixam claro sua opção de como contornar esse problema:
apresentam a primeira perspectiva acrescida das outras três (que seriam as
“operacionais”).
No trabalho de 1992, o Balanced Scorecard é apresentado apenas como tradutor da
estratégia da empresa em objetivos específicos mensuráveis. Entretanto, em 1996, os
41
autores mostram uma aplicação mais abrangente e audaciosa: o Balanced Scorecard
como centro de um sistema de gerenciamento estratégico. Neste último trabalho, o
Balanced Scorecard aparece ligando 4 processos de gerência estratégica que são
conseqüentes e cíclicos: tradução da visão; comunicação e ligação; planejamento de
negócio; feedback e aprendizado.
Tableau de Bord16:
Epstein e Manzoni informam que a idéia de se trabalhar com um quadro balanceado
de medidas de desempenho não é novo e que o Tableau de Bord, um método deste tipo,
vem sendo usado na França por mais de 50 anos. Os autores comparam este método
com o Balanced Scorecard, mostram muitas similaridades teóricas e destacam algumas
diferenças de ordem prática.
Assim como o Balanced Scorecard, o Tableau de Bord se baseia na escolha de
fatores chave para o atendimento da estratégia e de variáveis que meçam esses fatores.
Entretanto, quando implementando, os responsáveis pelo Tableau de Bord tendem a
juntar medidas já existentes, ao invés de descobrir quais são as mais importantes
estrategicamente. Assim os livros de Tableau de Bord acabam por ser mais extensos
que deveriam e não englobam aspectos importantes para o sucesso da empresa.
Segundo os autores, o Tableau de Bord freqüentemente é apenas a junção de dados
internos da empresa, desconsiderando a visão do consumidor (cliente). Porém, ainda
segundo eles, existem indicações de que a aplicação desse método está melhorando
rapidamente e que o uso cada vez maior de sistemas integrados de computador como o
SAP ou Oracle auxilia nesse sentido.
42
2.4.4 Seleção das variáveis
Ferreira (1997, p.15) aponta, sobre a seleção das medidas de desempenho: ”...o
principal cuidado a ser tomado é o de que todos os pontos chave para o sucesso da
organização sejam mensurados pelo sistema...”.
Maciariello e Kirby (1994) definem “variáveis chave para o sucesso” como aquelas,
relacionadas ao ambiente externo, que mais afetam a estratégia, os objetivos e metas da
organização.
Cinco fontes provém estas variáveis, de acordo com os autores:
a) características da indústria;
b) estratégia competitiva;
c) forças ambientais;
d) problemas significantes (com stakeholders);
e) questões funcionais.
Os mesmos autores aconselham que o processo de identificação de variáveis seja
repetido para cada nível gerencial, formando o conjunto completo.
Conforme exposto no item anterior, para Kaplan e Norton (1992) as variáveis
devem ser escolhidas segundo visões chave para a empresa. Sugerem quatro
perspectivas:
a) financeira;
b) do cliente;
c) de inovação e aprendizado;
16 O mesmo que cockpit de avião.
43
d) interna.
A consideração do ambiente externo e da estratégia a ser adotada seria contemplada
durante o processo de escolha das variáveis, através de reuniões da alta gerência em que
se promoveria este tipo de discussão.
Também estes autores relatam a recursividade do processo de escolha para os níveis
gerenciais mais baixos, obviamente com adaptações – espera-se que o ajuste de uma
estratégia organizacional seja mais complexo que uma subdivisão da mesma.
2.5 Plano referencial
Sabendo-se que a compreensão do controle depende da abordagem utilizada para
fazê-la e acreditando que a consideração contextual é necessária para a melhor
compreensão possível (GOMES e SALAS, 1997), construiu-se, baseado nos autores
revistos, um plano referencial que possui dois objetivos, relativos aos do trabalho:
! apresentar elementos do controle que possam ser identificados em
cada um dos dois períodos para o estudo da transição e
! apresentar, dados embasamentos teóricos, práticas ótimas (best
practices) para aqueles elementos, para verificação da aderência
destas à realidade empresarial estudada.
Antes de descrever o plano referencial que será utilizado (fundamentado na
literatura revista) vale relacionar outros devido a sua importância acadêmica. Os de
Anthony; Flamholtz; Maciariello e Kirby.
O framework desenvolvido por Anthony (1995), apresenta três níveis hierárquicos
distintos: o planejamento estratégico, o controle gerencial e o controle operacional.
44
Focaliza a operacionalização do goal congruence na divisão em centros responsáveis,
com medições de desempenho separadas e preços de transferência compatíveis com os
objetivos organizacionais.
O plano de referência de Flamholtz (1979), baseia-se na tentativa do sistema de
controle influenciar os membros da organização para que tenham maior probabilidade
de agir em conformidade com os objetivos da mesma. Busca criar uma interseção entre
os objetivos individuais e os organizacionais, sendo a magnitude desta interseção o grau
possível de ser alcançado do goal congruence. Para o autor, são quatro os componentes
do sistema de controle:
a) sistema de planejamento, onde além das metas também se definem os
padrões de desempenho;
b) sistema operacional, onde se desenham as atividades do dia-a-dia;
c) sistema de medidas;
d) sistema de avaliação/recompensa.
Com sua forte ênfase no aspecto comportamental, Flamholtz define os seguintes
critérios para a avaliação do sistema de controle:
a) validade comportamental, como um sistema conduz ao comportamento
proposto;
b) confiabilidade comportamental, se um sistema conduz ao mesmo
comportamento;
c) relevância comportamental, se o sistema de controle reconhece todos os
comportamentos relevantes para o alcance dos objetivos.
45
Maciariello e Kirby (1994) defendem sistemas que possuam duas características
principais: serem adaptativos e fornecedores de suporte mútuo (mutually supportive
management systems). A capacidade adaptativa é a que permite o aprendizado
(conforme já mostrado neste trabalho na revisão de paradigmas de Drury e Mcwatters).
O suporte mútuo desejado é aquele dado pelos sistemas de estruturas, procedimentos e
padrões de respostas (comportamento) ao planejamento e manutenção de estratégias. É
um enfoque de consistência entre sub-sistemas de controle e entre estes e a estratégia,
não separando estas duas funções, como se apresentam no framework de Anthony.
Maciariello e Kirby também atribuem bastante importância aos sistemas informais na
organização. Ao fazer isto conseguem contemplar aspectos culturais, porque os valores
e crenças compartilhados demonstram sua força na informalidade, onde possuem mais
liberdade.
Na construção do plano a ser utilizado deve-se levar em consideração o estado da
arte sobre controle gerencial. Concordante com Gomes (1983) e Gomes e Salas (1997)
cita-se Silva (1998, p.23) no que expõe acerca do assunto:
“A impossibilidade de uma solução universal e até mesmo a
aplicabilidade de várias soluções para um mesmo problema
parece ter ficado clara. Assim a literatura atual tornou-se muito
menos normativa e prescritiva (se é que o é em absoluto) e muito
mais discursiva e conceitual.”
Desta forma o plano de referência deve ser aberto o suficiente para não excluir
aspectos particulares da situação a ser estudada. Devido à importância que o contexto e
características organizacionais possuem no desenho de um controle eficaz, tomou-se por
base o plano referencial adotado por Gomes (1983). A partir do mesmo foram criados
46
os tópicos explorados para o estudo da transição e, baseado nas melhores práticas
indicadas pelos autores estudados, também compreender a relação entre o controle
teoricamente eficaz e a realidade empresarial nas empresas-alvo.
São os seguintes os tópicos explorarados:
1. Ajustamento estratégico
Na revisão feita no capítulo 2, o enfoque dado foi sobre a adeqüabilidade
entre sistema de controle, estratégia e ambiente competitivo.
Entretanto, para verificação de ajustamento estratégico, a divisão dos
objetivos a nível temporal e conceitual é apoiada na literatura.
Anthony (1995) emprega o termo “objetivos” para aqueles que possuem um
limite de tempo para serem alcançados e goals (metas) para aqueles de sentido
mais amplo, sem relação com um período de tempo.
Flamholtz (1996) usa os termos quase de forma inversa: “objetivos”
representam aqueles abrangentes, de coisas que se deseja atingir em determinada
área de desempenho (por exemplo: market, financeiro etc.) enquanto goals são
desdobramentos dos objetivos, de forma quantitativa.
A definição de Gomes (1983), que foi a adotada, é mais próxima desta última,
seus “objetivos” são relativos ao planejamento estratégico de longo prazo e
“metas” seus desdobramentos de curto prazo “aqueles, por exemplo, expressos
no orçamento anual” (GOMES, 1983, p.72).
A primeira característica a ser procurada num sistema de controle é, então, a
clara separação entre objetivos e metas. Separadas porém não desligadas.
47
Dentro da capacidade gerencial de discernimento, as metas devem levar aos
objetivos.
As metas também possuem as finalidades de motivação, estabelecimento de
desempenho e benchmark para o sistema de medidas (FLAMHOLTZ, 1996).
Além destas características, as metas – e mesmo os objetivos, devem ser
revistos freqüentemente, como mostra a revisão do capítulo 2, de modo a
ajustarem-se às estratégias mais adequadas para cada período.
2. Sistemas de medida
Segundo Gomes (1983) seriam características desejáveis a utilização de
dados contábeis que possibilitem uma comunicação clara dos objetivos
organizacionais e medidas de resultados que possibilitem uma avaliação correta,
sendo vistas como justas pelos empregados. Esta linha de pensamento foi
seguida por Faria (1990) e Silva (1998), que estudaram fortemente as medidas
contábeis e o processo orçamentário. Aqui também essa linha será contemplada.
Para sua consideração como justa, uma medida tem que ser controlável.
Esta necessidade permeia a literatura de controle (EPSTEIN e MANZONI,
1998; HAUSER e KATZ, 1998; MACIARIELLO e KIRBY, 1994;
MERCHANT, 1984; dentre outros).
A partir do item 2.4.4, concluí-se que deve existir, em um sistema de
controle eficaz, um esquema - explícito ou não17 - de suporte à escolha das
17 Explicitamente se pode encontrar tal esquema de ligação em relatórios, memorandos etc. ou a mesmaligação pode ser de conhecimento compartilhado na organização, neste caso sem necessidade de serexplicitada formalmente.
48
variáveis a serem mensuradas. Este esquema deve contemplar todos os pontos
chave para o sucesso da organização (com medidas financeiras e não-
financeiras), balizados pela estratégia adotada.
3. Envolvimento da alta gerência
A participação da alta gerência é esperada devido às implicações
estratégicas, já discutidas no presente trabalho, do controle.
A compreensão da importância do papel da alta gerência no desenho (e
revisões) do sistema de controle, de forma explícita, é o indicador do grau de
otimização deste tópico.
4. Divisão de responsabilidade (ou descentralização)
Nenhuma organização de porte pode funcionar sem alguma
descentralização de responsabilidade.
A literatura consistentemente indica que, para fazer frente as freqüentes
mudanças ambientais, as organizações devem ser ágeis. Este incremento na
capacidade criativa e reativa pode ser alcançado com a divisão em centros de
responsabilidade (GOMES, 1983; ANTHONY e GOVINDARAJAN, 1995;
FERREIRA, 1997 e GOMES e SALAS, 1997).
A avaliação de quão próximo do ponto ótimo se encontra este tópico
pode ser dada pelo grau de proximidade dos centros de responsabilidade ao que
se indica para eles na teoria. Os centros devem ser independentes entre si (não
querendo com isso dizer incomunicáveis – caso em que se desprezariam
49
sinergias) e autônomos em relação à administração central. A autonomia total
além de impossível é disfuncional, mas a aplicação, com freqüência, de medidas
centralizadas incompatíveis com aspectos contingenciais de unidades também se
afasta do ideal teórico.
Além disto a transferência de bens ou serviços entre os centros deve ser
regulada por mecanismos justos18. De acordo com Anthony e Govindarajam
(1995) estes poderiam ser os de preços de transferência: o preço contabilizado
sobre o bem ou serviço transferido entre unidades.
5. Fluxo de informações e Feedback
A medição é necessária para que qualquer atuação possa ser avaliada
como positiva ou negativa. Já o reconhecimento do acerto ou erro, para a tomada
de ações de reforço ou corretivas, é a base do processo de aprendizagem.
Qualquer sistema de controle deve orientar-se para o aprendizado –
segundo Day (1997) talvez a única fonte real de vantagem competitiva
sustentável.
O sistema de informações também cumpre o papel de comunicador e
disseminador de conhecimento. Com grande parte das empresas de porte
trabalhando com redes próprias de computadores, é desejável e esperado que a
informação flua adequadamente entre todos os níveis incluindo, e
principalmente partindo de, a linha de frente da empresa (BARTLETT e
GOSHAL, 1995B).
18 No sentido de que o chefe de um Centro de Responsabilidade deve ser realmente responsável pelosresultados da sua unidade.
50
Citando Maciariello e Kirby (1994, p.43): “O feedback tem o efeito de
longo prazo de produzir aprendizagem na organização (...)”. Os autores expõem
que as regras de escrutínio e decisão se adaptam à experiência: aquelas
consideradas mais efetivas são priorizadas no futuro e as consideradas menos
efetivas são retiradas do repertório de comportamento.
Um aspecto que não deve ser negligenciado é a velocidade de resposta do
sistema, onde se considere não só o tempo de comunicação (atualmente baixo
devido à tecnologia de informação) mas todo o tempo gasto desde a produção da
informação até sua chegada no nível gerencial interessado.
A existência de mecanismos explícitos de realimentação para a alta
gerência é um indicador de eficácia a ser procurado com relação a este tópico.
Embora a realimentação para outros níveis gerenciais seja também necessária
para a criação da learning organization, o nível mais alto tem a responsabilidade
de formulação estratégica mais importante.
6. Sistema de recompensas
As recompensas são básicas em qualquer sistema de controle para o
direcionamento das ações dos membros das organizações.
Maciariello e Kirby (1994) as citam como motivadoras dos indivíduos
para a perseguição dos objetivos da organização. Um dos campos relativos a
recursos humanos que mais tem despertado atenção é o da remuneração, porém
não há consenso nos estudos deste campo quanto à motivação, exposta pelos
autores acima, poder ser gerada externamente aos indivíduos ou não.
51
Sem entrar na discussão da definição do aspecto motivacional, pode-se
observar na literatura a importância do sistema de recompensa como driver do
comportamento dos membros (indivíduos ou grupos) da organização.
Os próprios Maciariello e Kirby (1994) dizem que o sistema de
recompensas é um meio de comunicação dos valores da organização (sendo
portanto um agente de transmissão cultural) e das formas como os membros são
avaliados pela empresa. Dentro da sua visão de que o sistema de controle é
composto por uma parte formal e outra informal, destacam este conjunto de
recompensas – as recompensas informais provenientes dos relacionamentos dos
membros.
Merchant (1998) revela dificuldades na concepção do sistema de
recompensas porque o mesmo baseia-se nas percepções individuais. Chama a
atenção para o fato de indivíduos de diferentes culturas serem motivados de
forma diferente. Mas relata que a força do direcionamento para o alinhamento
com os objetivos da organização é claramente proporcional à magnitude da
recompensa, ou punição, utilizada.
Ainda se leve em conta aqui o framework de Sethia e Glinow (1998), que
defendem o uso do sistema de recompensas no ajuste (mudança) da cultura
organizacional.
Deve haver, pois, ligação entre o sistema de recompensas, que considere
os aspectos motivacionais e culturais, e os objetivos e metas organizacionais;
passando pelo reforço (positivo ou negativo) das ações dos empregados,
concordante com os valores que a organização objetiva transmitir.
52
Devido a riqueza de visões entre os autores da área, foi construído o presente
quadro de referência, condensando e organizando pensamentos de diversos deles. O
presente quadro foi utilizado, então, como base para o estudo das variáveis de pesquisa
que se apresentarão no item 3.4.
53
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de pesquisa
Adotando o critério proposto por Vergara (1997), a classificação da presente
pesquisa foi feita quanto aos seus fins e quanto aos meios utilizados.
Quanto aos fins pode ser classificada como exploratória e descritiva. O caráter
exploratório e o descritivo vêm do objetivo de investigação de como está se dando uma
transição nos sistemas de controle das empresas-alvo e da sua descrição, com a maior
riqueza de pormenores possíveis. No atendimento aos fins exploratório e descritivo, os
meios de pesquisa escolhidos foram, também segundo classificação de Vergara (1997):
o estudo de caso, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e investigação documental.
O estudo de caso permite o aprofundamento necessário ao descobrimento de
características não esperadas, bem como detalhamento dos sistemas estudados.
A pesquisa foi também bibliográfica, por fazer uso de materiais de acesso público
(livros, revistas especializadas, jornais, internet etc) para a construção do referencial
teórico, ambientação e histórico das empresas. Ainda, segundo Vergara (1997), este
tipo de pesquisa disponibiliza ferramental analítico para as outras formas de pesquisa, o
que se aplica exatamente ao presente trabalho.
A pesquisa in loco é motivada pelo recolhimento das informações, dada a sua
natureza. Por se considerar os aspectos situacionais (contextuais) e culturais das
organizações, os dados objetivados são complexos e marcados por confidencialidade. A
investigação à distância dificultaria, pois, a obtenção de informações confiáveis com
tais características, levando a escolha da pesquisa de campo.
54
Além de entrevistas na pesquisa de campo, utilizou-se como fontes de informação
documentos internos das referidas empresas, caracterizando uma investigação
documental.
3.2 Seleção dos sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa deviam ter acesso às informações estratégicas e dos
sistemas de controle com suficiente detalhamento. Esta necessidade baseia-se no já
exposto sobre a ligação estratégia-controle e na sub-divisão dos sistemas de controle
para o seu estudo. Espera-se que executivos à nível de diretoria possuam tal acesso.
A escolha de pessoas em nível hierárquico superior, presidência, vice-presidência
ou conselho administrativo, possivelmente dificultaria a obtenção de informações mais
detalhadas, mais próximas do nível operacional. Por sua vez níveis hierárquicos
inferiores têm menor conhecimento das estratégias das empresas. Os sujeitos
escolhidos para a pesquisa deveriam então ocupar cargos de diretoria, o que foi
conseguido.
Além do diretor da área de estratégia, com histórico na área financeira de uma das
controladas, foi entrevistado o coordenador da área de controladoria para obtenção de
informações mais detalhadas sobre o sistema contábil.
3.3 Coleta de dados
A coleta de dados foi, em conformidade com a metodologia utilizada:
a) Pesquisa bibliográfica em materiais informacionais de acesso público: livros,
revistas especializadas, artigos, jornais, internet etc. Foi feita para a
55
descrição do posicionamento das empresas dentro dos contextos existentes,
para investigação dos seus históricos e para a construção de referencial
teórico;
b) Pesquisa documental em relatórios internos de mensuração e controle,
disponibilizados pelos entrevistados. Atende a necessidade de verificação de
instrumentos formais e explícitos de controle.
c) Através de entrevistas aos sujeitos da pesquisa. Estas seguiram uma
estrutura, caracterizando uma entrevista com pauta (conforme VERGARA,
1997). Sendo a pauta um questionário na forma semi-aberta, este tipo de
coleta seria, para Vergara, um mix entre as formas “questionário” e
“entrevista”. O questionário semi-aberto visa oferecer uma faixa limitada de
respostas ao entrevistado para determinadas perguntas enquanto dá liberdade
total em outras.
Gomes (1983) cita alguns motivos para o uso do mix descrito: o uso de questionário
permite uma sistematização das respostas, diminuindo a perda de informações
importantes e necessárias para a análise posterior dos dados. Razões para a entrevista
derivam da presença do entrevistador que garante interpretações mais corretas das
perguntas e estimula mais os respondentes no seu desenvolvimento, aumentando a
confiabilidade e validade das informações resultantes. Ressalve-se, porém, o papel do
entrevistador de minimizar sua interferência nas respostas, seja por conduzir a pergunta,
seja por interpretá-la.
A correta interpretação do questionário e sua propriedade para os fins deste trabalho
foram objetivadas em pré-testes com pessoas do meio acadêmico, detentoras de nível de
conhecimento suficiente sobre o tema de controle. A aplicação do mesmo foi feita em
três entrevistas de aproximadamente uma hora de duração cada.
56
3.4 Variáveis da pesquisa
A partir do referencial teórico do item 2.5, derivaram variáveis de pesquisa que
operacionalizaram o levantamento de dados e a construção do questionário. Esta escolha
foi em conformidade com Gomes (1983) e Faria (1990), que adotaram o mesmo tipo de
variáveis em suas metodologias de pesquisa.
O objetivo primário das variáveis é possibilitar a sistematização dos dados,
“reduzindo problemas comuns encontrados em trabalhos que utilizam o método de
estudo de casos” (GOMES, 1983, p.70).
A classificação proposta neste trabalho foi:
A – Variáveis Componentes do Sistema de Controle Gerencial
a) Ajustamento Estratégico
b) Sistema de Medidas
c) Processo Orçamentário
d) Sistema de Recompensas
e) Sistema de Informações
f) Contingências no Sistema de Controle
B – Variáveis Explanatórias/Características Organizacionais
a) Controle Acionário
b) Lucratividade
C – Variáveis Ambientais Externas
a) O impacto da ANEEL
b) Forças Competitivas
57
Tomou-se por base as variáveis utilizadas por Gomes (1983), em número de três,
apresentadas anteriormente. O item “A” é basicamente uma visão do sistema de
controle. Destaque-se neste o sistema de medidas, dentro do qual se deseja estudar as
medidas para avaliação de desempenho e a contabilidade gerencial empregada. O sub-
-item sobre processo orçamentário é aqui incluído devido à importância prática dada a
este processo (GOMES,1983, SILVA, 1998) que trabalha com os objetivos de curto
prazo (ou metas) e pode ser o coração do sistema de controle. Também é importante
que a consideração de fatores específicos (abordagem contingencial) à empresa esteja
contemplada, apesar de difícil operacionalização dada a extensão que este item poderia
assumir. Baseado no desenho de macro-controle de Flamholtz (1996) e na
concordância que os outros autores dão à importância da cultura e da estrutura
organizacionais, estes serão os dois aspectos priorizados nesta variável.
O item “B” busca variáveis explanatórias segundo uma visão interna da empresa.
O item “C”, visa avaliar o efeito da ANEEL sobre as empresas ao mesmo tempo
que a inclusão de variável que mostre o grau de estabilidade (ou instabilidade)
ambiental se faz necessária. Esta última pode partir das mesmas considerações de Silva
(1998), que usou o modelo de 5 forças de Porter.
3.5 Operacionalização das Variáveis
As variáveis componentes do sistema de controle gerencial foram estudadas através
de levantamento de informações publicamente disponíveis e através do questionário em
anexo. Este último é baseado nos utilizados por Gomes (1983) , Silva (1998) e Faria
58
(1990). A seguir apresenta-se a relação entre os itens do questionário e as variáveis a
que mais se relacionam, visto que é possível e provável que respostas dadas à perguntas
abertas entrem no âmbito de diversas variáveis.
VARIÁVEIS ITENS NOQUESTIONÁRIO
Variáveis Componentes do Sistema de ControleGerencial
I - Ajustamento Estratégico
Definição e comunicação de objetivos 1,2,3,4,5,6
Mudanças e revisões nos objetivos 7,10
Integração entre objetivos e metas 9
Avaliação do atendimento dos objetivos 8,11
Intervenções externas no processo de escolha dos objetivos emetas
12
II - Sistema de Medidas e Avaliação
Tipos, conteúdo e importância dos relatórios gerenciais A1
Esquema de suporte à escolha das variáveis a seremmensuradas
A2, A3
Procedimentos formais ou informais usados na avaliação dedesempenho
A4
Conceito de centro de responsabilidade adotado C1, C2
Definição das funções dos chefes dos centros deresponsabilidade
C3, C4
Mecanismos de preços de transferência C6 ... C11
Acompanhamento dos centros de responsabilidade C5
III - Processo Orçamentário
Objetivos do orçamento A1...A3
59
Participação das pessoas no processo B1...B13
Componentes básicos do orçamento C1...C12
IV - Sistema de Recompensas
Tipos de recompensas (ou sanções) explícitas 1, 2, 3, 4, 5
Tipos de recompensas (ou sanções) implícitas 6, 7, 8, 9
Timing das recompensas 10
V - Fluxo de informações e feedback
Velocidade de coleta de dados gerenciais 1
Velocidade de resposta aos relatórios gerenciais 2
Integração na empresa, envolvendo participação ativa 3, 4
VI - Contingências no Sistema de Controle
Estudos/informações culturais disponíveis 1, 2
Utilização das informações culturais no sistema de controle 3
Estrutura organizacional 4, 5, 6
Ambiente organizacional 6, iv-7
Filosofia de RH iv-5, iv-7, iv-11,
iv-12, iv-13
Variáveis Explanatórias/CaracterísticasOrganizacionais
ITENS NOQUESTIONÁRIO
Controle Acionário ______
Composição acionária ______
Lucratividade ______
Lucratividade a partir de 1998 ______
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Variáveis Ambientais Externas
O impacto da ANEEL
Impacto da ANEEL no projeto e processo de controle gerencialda empresa
Forças Competitivas
Ameaça de novos entrantes 1
Poder de negociação de fornecedores 2
Ameaça de produtos substitutos 3
Poder de negociação de compradores 4
Rivalidade entre competidores 5
3.6 Tratamento dos dados
O esquema analítico se iniciou pela descrição dos casos estudados. Seguindo a
mesma opção de Gomes (1983) de separar a análise e a descrição, espera-se poder
apresentar com a maior riqueza de detalhes os casos. A apresentação da análise
conforme o caso vai sendo descrito, forma adotada por alguns autores, pode levar a uma
sumarização das características do caso na descrição, de forma a facilitar a análise. Para
evitar esta possível tendência foi adotada a ordem exposta.
Seguindo a descrição, a análise foi feita pela confrontação do resultado das
entrevistas com o plano de referência. Por se tratarem de dados qualitativos em
essência, e ainda por tratar-se de um estudo de caso, dispensam-se instrumentos de
análise estatísticos elaborados sendo mais apropriada a simples tabulação.
A sistematização dos dados, obtida através do uso de variáveis derivadas do plano
referencial (item 3.4), permite a sistematização da análise. Esta se constituiu da
61
comparação das variáveis, ponto a ponto, com o plano de referência. O uso de variáveis
de pesquisa selecionadas ainda pode tornar factíveis comparações entre as empresas
desta pesquisa e outras exploradas em outros trabalho, melhor dizendo, entre seus
sistemas de controle. 19.
Por não se pretender avaliar de forma quantitativa os sistemas de controle, os frutos
da análise são quanto a proximidade dos itens respondidos ao que indica a literatura
como sendo eficaz. No intuito de minimizar a subjetividade desta avaliação, todas as
conformidades (ou desconformidades) de cada item foram explicitadas.
3.7 Limitações do método
Por se tratar do estudo de caso do controle gerencial de uma holding, ainda que se
obtivesse informações adicionais sobre as controladas, o número reduzido de
observações impediria qualquer tratamento estatístico, não daria suporte a testes de
hipótese ou generalizações.
Como as informações foram coletadas de pessoas participantes nas empresas,
alguma tendenciosidade pode emergir da fonte. Como diz Rodriguez (1993, p.9):
”quando os indivíduos falam ou escrevem a respeito de si
mesmos (...) ou de ações efetivadas por outros dentro da
organização, suas afirmações tendem a refletir mais suas
aspirações e suas concepções pessoais de como deveriam ser as
coisas ...”
Os respondentes podem ainda afastar-se da exatidão e da neutralidade devido a suas
capacidades de memória e coleta de informações serem limitadas e por estarem
19 Apesar da comparação entre empresas não constar dos objetivos da pesquisa, não se pode descartarestes incrementos quando da execução de pesquisa exploratória. De fato, mesmo outras análisesinteressantes podem emergir numa pesquisa deste tipo.
62
inseridos num contexto instável. A instabilidade ambiental pode se refletir num
comportamento estressado onde o nível de pressão sobre os participantes esteja acima
do satisfatório (ARROBA e JAMES, 1988). Além disto existe uma questão ideológica
envolvida, qual seja: “é papel do Estado empresariar nesta área?”. As discussões sobre
a desestatização brasileira são freqüentes nos meios de comunicação públicos. Acaso os
entrevistados não sejam indiferentes a esta questão, suas posições podem introduzir
viéses nas respostas.
Também é importante ressaltar que as considerações culturais serão feitas baseadas
nas percepções dos entrevistados posto que o estudo antropológico, necessário para
caracterização ideal da cultura, estaria fora da possibilidade técnica e/ou financeira do
autor do presente trabalho.
63
4 RESULTADOS DA PESQUISA
4.1 Descrição do caso
4.1.1 Características gerais das empresas
A holding (doravante denominada HOLDING SA, ou somente HOLDING) foi
criada após a privatização do setor elétrico por um consórcio para controlar as diversas
empresas em que este era sócio majoritário (ou único proprietário). É uma empresa
não-operacional e assim sua fonte de receita é a realização da equivalência patrimonial
das controladas. Suas ações ordinárias são concentradas por fundos de pensão e de
investimento e por um grande grupo estrangeiro com experiência no setor (doravante
denominado EXTER SA, ou somente EXTER).
Todas as controladas da HOLDING são ligadas ao setor de energia, com destaque
para três distribuidoras de energia elétrica. Estas atendem a uma parcela significativa da
população brasileira e geram receitas da ordem de alguns bilhões de reais (em 2001).
Outras controladas encontram-se na atividade de geração de energia mas seu vulto é
muito menor em termos financeiros, tendo importância mais estratégica. Em termos
financeiros as receitas crescentes são resultado de aumento de demanda (até o
racionamento em junho de 2001) e as despesas tem sido fortemente impactadas pela
desvalorização do Real, dado que o endividamento e a geração de Itaipu Binacional são
ambos atrelados a moeda estrangeira.
A lucratividade de HOLDING teve comportamento instável nos últimos anos. Em
1998 terminou com resultado ligeiramente negativo mas em 1999 atingiu prejuízo de R$
400 milhões, impactado pelas despesas financeiras. Em 2000 o lucro líquido obtido foi
de R$ 100 milhões e o resultado de 2002 deve ficar ligeiramente positivo.
64
O mercado em que as empresas atuam vem sofrendo mudanças expressivas nos
últimos anos depois de décadas de estabilidade. O governo vem adotando medidas para
modernizar e expandir as malhas de distribuição, estimulando a competição no setor
através de concessões de exploração. Fazem parte destes esforços a criação do Mercado
Atacadista de Energia (MAE) em 2000, a revisão dos processos de reajuste tarifário, a
segregação das atividades de distribuição e comercialização e, especialmente, a
desregulação gradual (em 25 % ao ano) do setor a partir de 2003. Em outras palavras,
em 2006 as geradoras poderão fazer a venda direta de energia aos seus consumidores ou
a comercializadoras de energia.
4.1.2 Mercado de atuação segundo o modelo Porter
Após a descrição do resultado da parte da entrevista baseada no modelo de Porter, se
traça um resumo quanto à atratividade do mercado/posionamento da empresa.
Ameaça de novos entrantes - baixa com pequeno crescimento
É quase um monopólio natural. Com a nova regulamentação o mercado será
praticamente livre (até 2006) com possibilidade de novas gerações de energia e
distribuição; assim consumidores de algum porte como indústrias, hospitais, etc podem
vir a atuar no segmento.
Grande ameaça existe na comercialização (trader ou broker) que pode 'bypassar" a
distribuidora ou servir como barreira de entrada. Por isso HOLDING SA criou uma
comercializadora.
65
Poder dos fornecedores - baixo e crescente
É um setor muito regulado. Poder de barganha existe quando inexistem contratos de
longo prazo. A situação de mercado atual (escassez) favorece aos fornecedores de
energia. É opinião da empresa que os geradores devem crescer em força dependendo
dos incentivos e intervenção do governo.
HOLDING SA está tentando aumentar o investimento em geração para reduzir os
riscos deste ponto, apesar de assim aumentar a exposição a medidas governamentais.
Os ganhos dos distribuidores deverão estar em intervalo regulado pelo governo. Na
geração deverá haver mais liberdade de preço.
Ameaça de produtos substitutos - baixa e pouco crescente
Todas as fontes de energia alternativas são muito mais caras. Mas existe projeto de
lei obrigando as distribuidoras a comprar 10% de fontes de energia renováveis ou
alternativas. Na distribuição de energia elétrica, formas alternativas (como microondas)
não são economicamente viáveis.
Poder dos compradores - baixo e estável
Mesmo para os maiores compradores o poder é baixo. A capacidade instalada é
vantagem de preço para os distribuidores atuais.
Para os consumidores pequenos o poder é nulo.
Rivalidade entre competidores - baixa e crescente
Existirá alguma rivalidade na comercialização e a Aneel vai obrigar o acesso a rede
de transmissão pelos competidores na distribuição de média e alta tensão (como hoje é
feito nas telecomunicações com os backbones da Embratel).
66
De forma geral, as empresas do grupo estão bem posicionadas em um mercado com
baixa intensidade competitiva. As maiores ameaças vêm da comercialização da energia
por terceiros e da atuação do governo na regulação do setor.
Para o investidor EXTER SA há também a questão do retorno do investimento feito
em moeda estrangeira e portanto sujeito ao risco cambial (na verdade como o Real é
uma moeda soft, há quase certeza de desvalorização). Neste caso, a lucratividade
necessária dependerá bastante do aumento de receitas (que estará restrito pela escassez
de energia no curto prazo) e pela busca de maior eficiência, com ênfase em custos e
redução de perdas, importante neste setor.
4.1.3 Ajustamento estratégico
Os objetivos de longo prazo constam no Planejamento Estratégico do Grupo
HOLDING.
O planejamento estratégico do grupo é aplicado para a gestão de todas as suas
controladas.
Os objetivos de longo prazo são divididos em corporativos e operacionais. São
objetivos corporativos:
• padronização de estrutura de capital;
• criação da estrutura societária padronizada;
• centralização do caixa e otimização fiscal;
• distribuição de dividendos e juros sobre capital;
• expansão para novos negócios (crescimento no setor de geração).
67
São objetivos operacionais:
• redução de perdas comerciais e técnicas;
• alcance de sinergias operacionais;
• melhoria no atendimento ao consumidor;
• redução dos custos operacionais;
• incremento de receitas “não reguladas” (receitas fora do negócio de distribuição
de energia, que são reguladas pela ANEEL).
Segundo o diretor entrevistado, os objetivos acima seriam estabelecidos através do
cumprimento do processo orçamentário e da participação dos comitês de estratégia do
Grupo, mas nas questões relativas ao processo orçamentário alguns pontos controversos
aparecem.
As funções que participam do estabelecimento dos objetivos são as diretorias da
holding, as diretorias das empresas controladas, os gerentes de controle, orçamento,
financeiro, comercial, de operações, entre outros, de cada empresa controlada.
Ainda não existe um documento informando para toda a empresa sobre os objetivos
de longo prazo ou o direcionamento estratégico. Existe a intenção de criação de um
relatório de Gestão do Grupo que será transmitido para todos os responsáveis de cada
empresa em encontros periódicos. Assim, os objetivos de longo prazo ainda não são
informados para os representantes das empresas controladas. A partir desse ano, está
sendo criado o comitê de estratégia que se encarregará de divulgar tais objetivos.
Grande parte das mudanças ocorridas nos objetivos de longo prazo nos últimos anos
decorre do grande desvio existente entre o plano de negócios original de cada empresa e
68
a realidade dos resultados obtidos. Isto decorre, segundo a empresa, de três fatores
principais:
" má avaliação dos negócios quando do investimento (crescimento do mercado,
redução de perdas, redução de custos operacionais, acréscimo de sinergias etc.);
" mudanças regulatórias no setor;
" desvalorização cambial.
Com isso, foi necessária a alteração da estimação de redução de perdas técnicas e
comerciais e dos processos de revisão tarifária.
Até o ano passado, não havia processo formal de avaliação de resultados com base
nos objetivos iniciais dos investidores. A partir de janeiro de 2002, foi criado um
comitê de estratégia que tem o objetivo de definir as políticas de gestão da companhia
(com base no plano de negócio original da empresa). O comitê é formado por
representantes de todas as empresas do Grupo e as revisões estão planejadas para
ocorrer da seguinte forma:
• encaminhamento dos objetivos originais por HOLDING para as controladas;
• discussão do atingimento dos objetivos dentro do comitê;
• encaminhamento por cada participante dos objetivos e eventuais desvios que cabe a
cada um para sua equipe, para discussão e proposição de melhorias;
• nova reunião do comitê para discussão das propostas de melhoria;
• consolidação de todos os resultados propostos por HOLDING;
• encaminhamento ao conselho de administração.
Até o ano passado, as metas eram estabelecidas sem nenhum parâmetro prévio, isto
é, não havia a verificação se a definição das metas iria atingir os objetivos de longo
prazo da Companhia.
69
A partir desse ano, a confecção das metas, que se dá através da criação do
orçamento anual, será feita com base nos business plans originais de cada companhia e
depois tudo será consolidado nas projeções da HOLDING.
O processo formal de revisão nos objetivos de longo prazo será composto de:
• acompanhamento dos resultados com a comparação com o business plan original;
• levantamento de inconsistências;
• busca de ajustes para atingimento dos objetivos (negociação e discussão com todos
os responsáveis das empresas controladas por HOLDING);
• apresentação ao Conselho de Administração (CA) das propostas de melhoria;
• após aprovação do CA, inclusão das revisões dos objetivos de longo prazo nos
orçamentos anuais.
Dada a atuação em um setor altamente regulado (as maiores empresas do Grupo são
geridas através de um contrato de concessão assinado entre o controlador e a ANEEL),
os planos do Governo têm total impacto nos objetivos de longo prazo do Grupo. Isso
motivou a criação de uma área de staff de regulação e tarifas para participar e interferir
eticamente nas decisões do governo.
4.1.4 Sistema de medidas
Variáveis financeiras e não-financeiras
Os principais relatórios gerenciais são, por ordem de importância (com suas
variáveis principais):
70
a) HOLDING
• Relatório de informe de gestão - dados financeiros contábeis e operacionais
comparando variações entre meses e desvio do atual em relação ao orçamento.
Comentários de fatos relevantes. É um relatório predominantemente contábil.
Criado pela EXTER em formato similar aos seus próprios para simplificar a
análise. Feito pela diretoria de controle de gestão.
• Relatório de acompanhamento da empresa em relação aos concorrentes
(existente há 4 meses) - Índices operacionais, por ex.: relação de número de
clientes por número de empregados; GWh por número de consumidores; GWh
por número de empregados; índices de perdas técnicas, índices de perdas
comerciais; dados financeiros como alavancagem, nível de investimento e
exposição à moeda estrangeira. A partir do segundo mês já está sendo
encaminhado para o CA. Foi criado pela diretoria de planejamento estratégico.
b) Nas controladas
• Relatório financeiro (semelhante ao de informe de gestão)
• Relatório de acompanhamento do orçamento
• Relatório de informações operacionais (por ex. número de religamentos,
quantidade de energia comprada, quantidade de energia vendida, inadimplência)
• Índice de satisfação do consumidor (1 vez ao ano). É feito por pesquisa de
mercado mas parece faltar interesse em aprofundar nas causas ("o número por si
só é pouco", nas palavras do entrevistado). Gera bônus na remuneração. Não
tem relevância estatística (por ex. amostragem com número de respondentes
concentrados em determinada área são considerados representativos da
população).
71
c) Em relação ao período anterior à privatização:
• Agora a preocupação é muito maior nos resultados financeiros;
• Existia um relatório sobre investimentos da Eletrobrás. Era importante a
procedência do dinheiro.
A criação de novos relatórios se dá pela visão de necessidade da alta gerência. A
preocupação maior do grupo é com o retorno do investimento. Atualmente se busca
responder se o investimento nos últimos 4 anos terá o retorno esperado. Para tal, as
maiores tarefas são a determinação do custo médio ponderado de capital e o cálculo do
valor econômico agregado (EVA®). O relatório está praticamente montado por um
grupo multi-funcional (inter-diretorias).
Na avaliação do desempenho gerencial todas as companhias acompanham os
objetivos do ano (muito relacionados ao orçamento do ano) mas alguns não são
mensuráveis (por ex.: "melhorar comunicação entre os grupos"). Se o gerente estiver
dentro desses objetivos está "tecnicamente" tendo bom desempenho. Mas a imagem
dos profissionais também é muito importante e direcionada por critérios políticos. Por
ex.: fazer apresentação para o conselho confere status, independente de resultados
obtidos. Assim, relacionamento com o conselho parece ser determinante.
A remuneração20 variável tem um teto. É determinada no final do ano com base nos
objetivos fechados no início. Tem peso relativamente baixo.
Antes da privatização não existia o variável. Os objetivos eram muito menos
mensuráveis e geravam menos preocupação - só serviam para ascender funcionalmente.
72
Sistema contábil
O sistema é praticamente totalmente integrado (Contabilidade, Custos e
Orçamento) em uma plataforma informatizada.
A entrada de dados é descentralizada e feita por diversas áreas da empresa na forma
de digitação. O processo é totalmente informatizado.
Não são preparados relatórios financeiros intermediários e no atendimento dos
requerimentos externos de informação financeira são utilizados os próprios relatórios
produzidos para uso interno.
De um modo geral, na opinião do coordenador da área entrevistado, o atual sistema
de informações contábeis poderia ser mais explorado, dado que são muitas as
alternativas e possibilidades de se gerar relatórios. Considera como principal fator
dificultador para o seu desenvolvimento a falta de conhecimento por parte dos usuários.
Contabilidade por responsabilidade
A maior parte das unidades são centros de custo. As "funções compartilhadas" se
encaixam neste tipo (Compras, Marketing, Engenharia Básica, etc). Existem alguns
centros de lucro: as empresas controladas em si e alguns departamentos.
Não existem centros de investimento. Talvez com a evolução do relatório de valor
agregado se possa evoluir para isso, na opinião do entrevistado.
Antes da privatização era basicamente a mesma situação, porém sem o
compartilhamento das funções corporativas.
20 Optou-se por apresentar os comentários sobre remuneração seguidamente à descrição do processo de avaliação porter sido esta a forma adotada pelo entrevistado e por tentar assim facilitar o acompanhamento do seu pensamento emotivação
73
Algumas funções dos chefes dos principais centros de responsabilidade ainda não
foram definidas e algumas são criadas pelos próprios responsáveis para submeter a
aprovação pelo conselho. Existem superposições porque ainda não há clareza.
A estrutura organizacional das controladas também foi alterada para ficar nos
mesmos moldes da EXTER mas ainda faltam definições. Por ex.: o controle do caixa
era antes feito pelo Financeiro e agora o Comercial reivindica a função.
Funções da diretoria são aprovadas pelo conselho e as funções dos gerentes pelas
diretorias.
Antes da privatização, as diretorias determinavam as funções que eram descritas no
manual de RH. Apesar das similaridades por se tratar de empresas da Eletrobrás, existia
certa liberdade (respondente não soube precisar quanto) em cada empresa.
Alguns centros de custo são controlados através de comitês, por ex.: funções
compartilhadas, departamento de redução de perdas.
Outros centros de custo não possuem mecanismo explícito de controle, por ex.
departamento de coordenação territorial.
Os centros de lucro, se forem consideradas as controladas como tal, também são
controladas por comitês (as diretorias).
74
Nunca existiu um mecanismo formal que regulasse o fluxo interno de bens e
serviços entre os principais centros de responsabilidade nem existe executivo com
responsabilidade específica sobre preços de transferência.. Estão, no momento, criando
um sistema de repasse de custos e receitas inter-departamentos que está sendo trazido
por terceiros (pelo pessoal da plataforma ERP em implantação).
Estes terceiros estão determinando os critérios do novo sistema. Existe um grupo de
pessoas das controladas junto aos mesmos (mas não ficou clara sua função, visto que
podem estar fornecendo subsídios para a implantação de um módulo comercial
customizado a ser integrado ao ERP).
Já estão em uso, há poucos meses, critérios de alocação de custo para os serviços
prestados às unidades operacionais por outras unidades da organização. Antes não
existiam controles de resultado sobre preços de transferência. Os serviços de
informática21 já são “cobrados” (contabilizados) internamente.
Intencionalmente, visto que o controle de preço de transferência ainda está em
projeto/implantação, os objetivos do mesmo seriam principalmente a identificação da
contribuição efetiva de cada centro de responsabilidade ao resultado global da empresa.
Secundário seria a busca de coordenação das atividades desenvolvidas pelos centros de
responsabilidade de modo a que não se afastem das metas determinadas pela alta
direção da empresa.
21 Informática faz parte das funções compartilhadas.
75
Existe pequeno nível de autonomia para escolha de fornecedores de bens e serviços.
Praticamente toda a decisão passa pelo operador controlador estrangeiro. A preferência
é pelo fornecimento interno mas, na falta de capacidade e existindo fornecedores
externos onde o controlador tenha participação acionária, estes serão preferidos.
4.1.5 Processo orçamentário
Filosofia orçamentária
Os principais propósitos do sistema orçamentário, por ordem de importância, são:
Atualmente Antes da privatização
Instrumento de controle financeiro Instrumento de controle financeiro –
vinculado a aporte de recursos do governo
Meio de comunicação das METAS a serem
alcançadas
Medida de avaliação individual
Instrumento de planejamento - em projeto.
Esse ano o orçamento deve atingir o
planejamento e não o contrário
Hoje, integram a filosofia orçamentária da HOLDING principalmente o aspecto de
mecanismo inibidor de gastos supérfluos e a requisição de dados contábeis apropriados
e adequados as necessidades orçamentárias. Antes o orçamento cumpria papel descrito
pela Eletrobrás. Atualmente a ANEEL não interfere nesse nível.
A premissa principal que foi destacada como sendo a responsável por aspecto
positivo do atual sistema orçamentário é a crença em que o mesmo gerará
comprometimento do grupo. Pelo fato de que “se os gerentes souberem o que o
76
investidor espera deles, vão se preocupar mais com os fundamentos das operações,
entendendo que alguém investiu para que o negócio possa existir”, nas palavras do
diretor entrevistado.
Função orçamentária
Hoje existe um executivo, o diretor de controle de gestão, com responsabilidade
integral pelo orçamento da empresa. A partir de fevereiro se criará ainda o comitê de
controle de gestão com responsabilidades limitadas a críticas e controle de orçamento.
Antes o orçamento era feito pela diretoria de cada empresa mas já vinha com
bastantes premissas da Eletrobrás.
Atualmente, 7 pessoas a nível de staff no grupo dedicam-se exclusivamente a
funções orçamentárias e possuem o papel básico de prover assessoria aos executivos.
Antes o número era muito superior e descentralizado. Muitas pessoas trabalhavam em
áreas diversas para coletar os dados para as diretorias com um papel visto somente
como de projeção de dados e distribuição de formulários padronizados.
Os mais de 90 gerentes ainda possuem papel informativo no processo, ou seja, não
participam da discussão da proposta orçamentária. Críticas só são feitas quando os
números são claramente irreais. Antes da privatização era da mesma forma.
Hoje quem possui a responsabilidade pelos cortes orçamentários é a alta direção da
empresa, mais fortemente o sócio operador através do conselho de administração e
mesmo da matriz no exterior. A aprovação final do orçamento é hoje também de
responsabilidade da alta direção da empresa.
77
Antes da privatização era a Eletrobrás a responsável pelos cortes e a verdadeira
responsável pela aprovação final do orçamento, embora o conselho de administração
tivesse essa função pró-forma.
O responsável pela divulgação do orçamento aprovado é a alta direção da empresa.
As variações orçamentárias são analisadas atualmente pela diretoria de controle de
gestão. Antes da privatização, dentro da diretoria financeira, existia a gerência de
acompanhamento orçamentário que possuía esta função.
No processo de análise das variações orçamentárias são elaborados relatórios
mensais, já descritos, que são remetidos primeiramente para o conselho de
administração da HOLDING. Este analisa e critica (pró-forma). Depois seguem para a
diretoria de cada empresa.
Características dos orçamentos
As empresas fazem uso dos mais comuns tipos de orçamentos. Dos operacionais
orça despesas, vendas, mão-de-obra, compras, custo de produtos vendidos e estoques.
Dos orçamentos financeiros faz uso do balanço projetado, orçamento de caixa,
orçamento de resultados e projeção de origem e aplicação de recursos.
Usa-se também orçamentos de investimentos.
As informações mais comumente usadas na primeira estimativa do processo de
planejamento orçamentário são, na ordem:
78
Atualmente Antes da privatização
Orçamento do último ano Orçamento do último ano
Dados históricos fornecidos pela
contabilidade
Dados históricos fornecidos pela
contabilidade
Estimativas econômicas Estimativas econômicas
Benchmarking – em desenvolvimento
No processo de discussão e aprovação final do orçamento as informações que são
mais comumente usadas, na seqüência, são:
Atualmente Antes da privatização
Diretrizes da alta direção da empresa Restrições financeiras de orgãos
controladores externos
Restrições financeiras de orgãos
controladores externos
Conjuntura econômica
Conjuntura econômica
Não é comum hoje, nem o era antes da privatização, serem efetuadas revisões no
orçamento antes da aprovação final.
Hoje a execução orçamentária é examinada mensalmente - a alta direção recebe os
relatórios internos sobre as variações orçamentárias com esta freqüência. Antes da
privatização isto era feito trimestralmente: os relatórios eram gerados para a alta direção
mensalmente mas com números aproximados.
Ambas variações orçamentárias, positivas e negativas, são incluídas nos relatórios
de controle orçamentário, porém as negativas recebem maior relevância. Da mesma
forma era feito antes da privatização. Hoje, as responsabilidades pelas variações podem
79
ser apuradas com alguma dificuldade e anteriormente nem mesmo isso era possível
pelos relatórios.
É percebida pela empresa a existência de um compromisso real por parte dos
executivos no tocante ao alcance de suas metas orçamentárias. As razões são o
esquema de recompensas e a garantia de recebimento dos recursos desejados. Antes o
compromisso também existia, só que em menor grau, motivado apenas pelo
recebimento dos recursos desejados.
4.1.6 Sistema de recompensas
Existem duas estruturas para remuneração:
a) Executivos (algumas gerências e as diretorias) – parte fixa negociável no
início do ano e parte variável com teto em relação à fixa, acrescida de
benefícios;
b) Demais funcionários: fixa acrescida da variável (uma parte desta pode ser
incorporada na fixa do ano seguinte)
Antes da privatização só existia a remuneração fixa.
No tocante aos benefícios adicionais, algumas condições para os executivos estão
claras (o que quer dizer que algumas não estão). Os demais funcionários possuem plano
de saúde e previdenciário e demais benefícios trabalhistas (por ex. ticket alimentação).
Herdaram benefícios de empresa estatal.
As promoções são alcançadas através da mesma avaliação que define o bônus mas
sem critérios bem definidos, ainda. Existe uma proposta de contratação de projeto de
RH relativo a este ponto. Antes existiam planos de carreira bem definidos e as
promoções eram, basicamente, por tempo de serviço.
80
Quanto ao timing das recompensas, as mesmas são recebidas no ano seguinte ao
tomado como base para avaliação. As financeiras são pagas nos salários durante o ano
(com possibilidade de incorporação) e as promoções são, via de regra, avaliadas
anualmente.
Um bom ambiente de trabalho e boa perspectiva de carreira, dado tratar-se de um
setor pouco agressivo, seriam, de acordo com o entrevistado, fonte de satisfação para os
empregados, além das recompensas citadas anteriormente.
Antes da privatização existia processo formal de avaliação da satisfação dos
empregados no ambiente de trabalho. As perguntas eram direcionadas (fechadas) e
dados eram agregados e divulgados. Hoje não existe este tipo de pesquisa exceto o caso
já comentado de uma pesquisa pontual em uma das controladas.
O que confere status a um empregado é, por ordem de importância:
Atualmente Antes da privatização
Bons conhecimentos técnicos Bom relacionamento com seus pares e
superiores
Bom relacionamento com seus pares e
superiores
Tempo de empresa
Tempo de empresa Bons conhecimentos técnicos
Bons conhecimentos gerenciais Bons conhecimentos gerenciais
O alcance de resultados positivos no
desempenho de sua função
O alcance de resultados positivos no
desempenho de sua função
81
O que destrói o status de um empregado, por ordem de importância, é:
Atualmente Antes da privatização
Demonstrar desconhecimento técnico Questionar a autoridade do superior
Questionar a autoridade do superior Demonstrar desconhecimento técnico
Errar no desempenho da sua função Ser ambicioso e/ou competitivo
Ser anti-social Errar no desempenho da sua função
Atingir resultados muito abaixo dos
esperados
Ser anti-social
Atingir resultados muito abaixo dos
esperados
O maior objetivo da área de RH é gerar certa padronização das políticas22 (isto é
muito importante porque existem discrepâncias entre as empresas) para então começar a
observar o mercado.
Em números, o efetivo do grupo, desde 1997, variou de 10.000 para 5.000
empregados, mostrando uma fortíssima redução de pessoal.
O perfil básico procurado no recrutamento é definido pela área que solicitou o
preenchimento da vaga.
4.1.7 Fluxo de informações para a alta gerência
Os relatórios gerenciais não são finalizados em tempo hábil. Costumam atrasar dois
meses (está nos objetivos mudar esse quadro). Também as respostas a eles não são
dadas em tempo hábil.
Antes da privatização os prazos eram maiores e os números aproximados, gerando
respostas mais rápidas porém de menor credibilidade.
82
Em raríssimos casos uma informação (ou sugestão) de um funcionário da “linha de
frente” chegaria até o entrevistado: somente quando existe um erro grosseiro. Este tipo
de informação foi recebida duas vezes em 3 anos.
4.1.8 Contingências no sistema de controle
A HOLDING não dispõe de estudo sobre cultura organizacional mas, segundo o
entrevistado, já existe uma pesquisa de satisfação interna23 de pequena credibilidade
(feita dentro de somente uma das empresas controladas em 1999 e não mais repetida).
Informalmente sempre se teve a preocupação com a cultura, devido a presença de
investidor estrangeiro, mas isto não gerou nenhum estudo nem propostas especiais.
São empresas que não conseguiram ter uma interação forte com a cultura do
operador, “os comportamentos não são sinérgicos”, nas palavras do respondente.
Além disso há uma reconhecida rivalidade entre dois estados da federação pela
liderança da região onde se encontram, o que se reflete dentro das respectivas empresas
controladas, sendo que os participantes da empresa do terceiro estado expressam uma
sensação de exclusão.
O entrevistado considera a cultura organizacional relevante para o sistema de
controle da empresa. Nas suas palavras: "Para criar valor dentro da companhia, todos
têm que caminhar. Fluxo de informação é fundamental. Objetivo deve ser uma cultura
única e plural".
22 De Recursos Humanos.23 Ressalte-se que uma pesquisa de satisfação interna pode levantar pontos conflitantes entre culturas, masnão são o instrumento apropriado para seu estudo.
83
Uma contingência da estrutura das controladas é que a mesma foi desenhada
copiando-se a estrutura da EXTER SA24. Isto se baseou na crença de que a mesma
possuía maior know-how (na prática isto elevou o número de diretores mas, em termos
numéricos totais, os quadros das empresas do grupo sofreram forte redução).
Outra contingência que está impactando os diversos sistemas de controle das
empresas é a implantação do ERP, com alguma customização.
Na opinião do entrevistado, o clima organizacional no momento é ruim nas
empresas controladoras (sócias da HOLDING) que passaram por reengenharia. Isto
está sendo refletido para dentro do grupo.
Essa situação, junto com o racionamento de energia e maus cenários macro-
econômicos (fatores externos), além de discordâncias dos controladores (fator interno),
estão gerando insegurança.
Como o acesso à informação não é homogêneo em nenhuma organização, foi
perguntado qual seria a principal fato de conhecimento dos funcionários de linha de
frente. Este seria: “o não-atingimento dos resultados esperados no ano (de 2001)”.
4.2 Análise do caso
O controle gerencial vem se modificando e capturando características do que a
literatura aponta como eficaz. Assim, o caso apóia o quadro de referência adotado por
este trabalho e, a se considerar o mesmo como base, pode-se concluir que o controle
24 Na estrutura da HOLDING só existem funções corporativas.
84
gerencial da HOLDING e de suas controladas vem evoluindo, conforme se vê nos
pontos destacados a seguir.
4.2.1 Ajustamento estratégico
No ajustamento estratégico verificou-se propostas de evolução, especialmente
quanto a formação das metas e objetivos pois faltava ligação entre ambas. A
determinação das metas e dos objetivos gerais das controladas de forma independente,
sem a verificação da congruência com os objetivos corporativos, era claramente um
impeditivo para o alcance destes. A falta de comunicação dos objetivos de longo prazo,
não informados para os representantes das empresas controladas, era uma das causas
para este ponto falho.
Conforme mostra o plano de referência, baseado na revisão do capítulo 2, as metas e
objetivos devem ser revistos freqüentemente, o que tem acontecido de forma reativa no
caso estudado: devido ao não alcance dos resultados previstos é que os objetivos estão
sendo reavaliados. Embora a pro-atividade seja desejável, a reatividade per si não
determina um mau sistema pois, no caso estudado, demonstra-se uma certa capacidade
de aprendizado organizacional, característica da adaptabilidade defendida por
Maciariello e Kirby (1994), dentre outros. Além disso demonstra que o atendimento
dos objetivos está sendo acompanhado.
Há bastante impacto na formação de objetivos de longo prazo por parte do governo.
A mudança das regras estabelecidas afeta diretamente a previsibilidade e levou a criação
de uma área própria com o fim específico de tentar influenciar estas decisões. Assim,
busca-se não só receber as regras externas como input, mas fornecer input para as
mesmas, o que é claramente uma tentativa de reduzir disfuncionalidades nas mudanças
de objetivos.
85
4.2.2 Sistema de medidas e avaliação
O sistema de medidas é fortemente baseado em dados contábeis, o que permite uma
comunicação clara das metas e bastante confiável quanto aos valores. A confiabilidade
advém de características positivas do sistema contábil da empresa estudada como
centralização de processamento (integrando custos, contabilidade financeira e
orçamento) e informatização de todo o processo.
A ligação do sistema de avaliação de resultados às medidas contábeis também
influencia positivamente a confiabilidade dos números conquanto incentiva os
participantes a fiscalizarem os mesmos sob pena de serem mau avaliados.
Entretanto, a existência de medidas altamente subjetivas afeta negativamente a
percepção de justiça no processo de avaliação. Esta percepção é ainda impactada pelas
avaliações de cunho político e relacional verificadas.
Há um possível afastamento do sistema de medidas do caso em relação ao
referencial teórico quanto à escolha de variáveis a serem mensuradas. Melhor dizendo,
quanto ao processo de escolha das variáveis. Se por um lado a alta gerência despertou
para a necessidade de medições mais abrangentes (na sua proposta de relatório de
benchmarks), ainda faltam evidências de que as medidas não-financeiras serão
balanceadas na visão geral. Em outras palavras, faltam evidências de que as mesmas
serão apresentadas em conjunto com as usuais medidas financeiras e terão seu peso
balanceado de acordo com a estratégia adotada.
Não se verificou um esquema de suporte explícito que garanta que todos os pontos
chaves para o sucesso da organização sejam monitorados mas existe uma premissa
adotada pelo executivo entrevistado de que “ se os gerentes souberem o que o investidor
espera deles, vão se preocupar mais com os fundamentos das operações”. Fica a
86
questão se a adoção de um processo de seleção como o descrito por Kaplan e Norton
não proporcionaria a escolha mais eficaz de variáveis-chave e criação de relatórios
gerenciais do que a simples delegação.
Apesar da alta gerência participar ativamente do desenho do sistema de controle,
característica bastante alinhada com o plano de referência deste trabalho, parece faltar a
garantia do seu envolvimento em níveis mais baixos/operacionais. Não se quer com
isso defender a idéia de que a alta gerência deva determinar todos os controles da
empresa (o que iria inclusive contra uma das características defendidas por diversos
autores exposta neste trabalho que é a descentralização administrativa), mas participar
da formatação do mesmo através da criação dos comitês descritos por Kaplan e Norton
e/ou revisão dos controles para garantia de que o atingimento das metas mais baixas
leva ao atingimento das mais abrangentes. Corrobora parcialmente com esta inferência o
exposto pelo responsável da área de controladoria de que o principal empecilho para
desenvolvimento do sistema contábil seria o desconhecimento de seu potencial por parte
dos usuários.
Outra característica que merece destaque é a construção do orçamento, baseada no
orçamento do ano anterior, que assim arrisca-se a não focalizar tendências futuras para
os valores das variáveis e portanto se afastaria do que a literatura indica como eficaz.
Porém, está em desenvolvimento o uso das medidas de benchmark na construção do
orçamento, mais abrangentes e ligadas aos fundamentos da operação, que podem
fornecer também a visão lead desejada.
Contabilidade por responsabilidade
As empresas do grupo estão se aproximando de algumas características defendidas
na literatura como best practices. Formaram centros de responsabilidade e começam a
87
contabilizar resultados da transferência interna de serviços. Mas há ainda uma distância
significativa.
A quase totalidade dos centros é de custo, o que limita a avaliação dos resultados, e
os critérios de preço de transferência ainda estão em desenvolvimento. Destaque-se a
influência dos terceiros que estão implantando um ERP no levantamento da necessidade
e na criação destes critérios, quando a literatura indica que o estabelecimento dos
mesmos é complexa e usualmente envolve disputas entre centros que devem ser
previstas e resolvidas por algum processo de resolução específico (como uso de um
comitê ou de um executivo superior) que ainda não se encontra no caso estudado.
Quanto a escolha de fornecedores, a mesma é extremamente limitada. Se houver
capacidade de suprimento interna a mesma será adotada, caso contrário a EXTER
determina os fornecedores externos, o que tira poder de decisão dos responsáveis pelos
centros e não favorece o comprometimento com resultados e a busca por eficiência
interna.
A avaliação global do desempenho dos centros de responsabilidade é feita em boa
parte por comitês e demonstra ser significantemente AD HOC. Isto não poderia ser
diferente visto que “algumas funções dos chefes dos principais centros de
responsabilidade ainda não foram definidas e algumas são criadas pelos próprios
responsáveis para submeter a aprovação pelo conselho” (transcrito da pg 72) .
4.2.3 Processo orçamentário
O principal propósito do sistema orçamentário ainda é servir como instrumento de
controle financeiro mas outros já são objetivados (meio de comunicação de metas,
88
medida de avaliação individual e instrumento de planejamento) o que aproxima o
orçamento de um instrumento de controle pleno. De fato, anteriormente à privatização,
o sistema orçamentário se propunha tão somente ao controle financeiro.
A filosofia orçamentária foca na inibição de gastos supérfluos, o que está em linha
com a estratégia de redução de custos do grupo, mas relega outras importantes funções
de informação e aprendizado.
Este sistema (orçamentário) é sem dúvida nuclear no controle gerencial do caso
estudado. Outros instrumentos, como os relatórios financeiros, são ligados
subordinadamente a este25. A importância também transparece na existência de um alto
executivo com a função integral sobre o orçamento e na criação de um comitê, também
de alto nível, com funções de criticar e controlar a execução orçamentária.
O pessoal de staff da área orçamentária, em número significativo se for considerada
a redução de pessoal ocorrida, possui um papel mais nobre que anteriormente, quando
somente coletavam dados. Agora os mesmos assessoram os executivos. Todavia, os
cerca de 90 gerentes ainda participam do processo apenas superficialmente, como
provedores de informação e sem possibilidade crítica (a não ser quando verificam algum
grande erro no orçamento). Esta característica se afasta do indicado pela teoria pois
reduz a possibilidade de revisão do orçamento, reduzindo a capacidade crítica e de
aprendizado26 e também elimina a negociação do processo, afetando entre outras coisas
o comprometimento esperado dos gerentes.
25 Quando da avaliação de resultado.
89
Um ponto bastante positivo, a se tomar como base o plano de referência, é a
participação da alta gerência no processo. A mesma é responsável pelos cortes, pela
divulgação do orçamento e pela análise de variações.
No processo de análise das variações orçamentárias aparecem algumas
características apoiadas pela literatura. O destaque de variações positivas e negativas é
importante para o aprendizado (o maior destaque para as negativas apenas mostra a
preocupação com a má execução, não subtraindo a possibilidade de perceber
oportunidades), embora as responsabilidades só possam ser apuradas com alguma
dificuldade através dos relatórios.
Na formação dos relatórios existe uma aparente consistência, já que faz parte da
filosofia orçamentária “a requisição de dados contábeis apropriados e adequados as
necessidades orçamentárias”, sendo este sistema integrado ao contábil. Também se
parte dos orçamentos anteriores na formação dos atuais, o que permite críticas aos
números passados que, se bem realizadas, contribuem para a consistência do processo,
embora sejam desprezadas fontes como “informações sobre o mercado e ações da
concorrência” e “estimativas elaboradas pelas unidades operacionais” que deveriam
entrar nesta análise. De fato, quando da elaboração das justificativas para as variações
orçamentárias, as informações sobre o mercado passam a constituir a principal fonte de
dados.
26 A revisão será feita pelo novo comitê a ser criado, aproximando parcialmente este ponto da referênciateórica.
90
4.2.4 Sistema de recompensas
No esquema de recompensas, destacam-se algumas características como a alta
distinção hierárquica, a falta de critérios bem definidos (em evolução) e a ainda pequena
associação com desempenho.
As recompensas para os níveis executivos são mais atreladas ao desempenho
funcional do que aquelas dos níveis operacionais (que “herdaram benefícios de estatal”,
uma visão que levanta dúvidas quanto à percepção dos funcionários), porém diversos
benefícios não estão definidos. Esta indefinição, aliada a já exposta subjetividade do
processo de avaliação, torna o sistema de recompensas instável quanto à produção do
goal congruence.
No nível operacional nota-se a aproximação ao que a literatura indica quanto a
ligação das recompensas ao desempenho (remuneração variável) mas também aqui
faltam critérios onde antes eles eram, de certa forma, demasiados rígidos: as promoções
ainda carecem de regras (estando em estudo a contratação de especialistas para a sua
criação).
As recompensas implícitas são relevantes, como relata o entrevistado quando fala da
importância do relacionamento com o conselho de administração para os executivos.
Em geral, porém, a detenção de conhecimentos técnicos fornece mais status aos
funcionários. As maiores recompensas implícitas seriam “bom ambiente de trabalho e
boa perspectiva de carreira porque é um setor pouco agressivo”. Destaque-se aqui um
ponto controverso: a satisfação dos empregados no ambiente de trabalho não é medida
(acrescendo esta crítica, em outro momento o executivo cita o clima organizacional
como “baixo”) e os planos de carreira não são definidos.
91
Concluí-se que as recompensas implícitas não estão ainda alinhadas com a estratégia
de melhoria desejada e explicitada nos objetivos e metas.
O timing das recompensas possui também algumas características indicadas pela
literatura, se afastando em outras. O recebimento da recompensa no ano posterior é
espaço de tempo suficiente para permitir ao indivíduo ligar mentalmente a mesma à sua
causa (seu próprio bom desempenho no ano anterior). Talvez pelo pouco tempo da
nova administração, as recompensas sejam muito centradas no desempenho de curto
prazo (variável do salário, promoções). Neste ponto a literatura indica que as
contribuições a longo prazo também deveriam ser focadas para recompensa. Algumas
possibilidades para isso seriam a concessão de stock options com regras de conversão
escalonadas e/ou o uso de medidas cumulativas de desempenho.
Ainda quanto a contingência cultural (abordada também mais adiante neste trabalho)
no sistema de recompensas nota-se que houve a ruptura do contrato psicológico que
segundo Santos (2000) possibilita a assimilação de novos valores. Mas o sistema de
recompensas atual, como já exposto, ainda possui muitas lacunas em relação ao que
dispõe a literatura para fazer o melhor uso que esta condição propicia.
4.2.5 Fluxo de informações e feedback
A própria empresa já está ciente que os relatórios são finalizados constantemente
com atraso e também não geram resposta em tempo hábil, havendo contemplado a
mudança deste quadro nos objetivos para o ano corrente.
Demonstra-se também pouca “permeabilidade” de informações (contribuições) entre
a linha de frente e a alta gerência, o que se afasta do referencial teórico.
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4.2.6 Contingências no sistema de controle
Conforme Gomes e Rocha (1996), quatro fatores afetam a cultura da organização,
sendo um deles o estilo de liderança27. Neste caso, a interferência da controladora
EXTER de forma autoritária aparenta ser disfuncional, embora a mesma seja bem vista
de forma geral por analistas financeiros que consideram o know-how e capacidade
gerencial da EXTER como superior28 aos das antigas estatais. Essa interferência se
manifesta sobre outros dois fatores citados por Gomes e Rocha: o sistema formal de
controle e os “ritos” dos processos decisórios e orçamentário.
A questão cultural aliada a outras contingências (redução intensa de pessoal e más
perspectivas macro-econômicas) pesam neste ponto: não seria improvável encontrar no
pessoal operacional, que não foi foco desta pesquisa, uma imagem negativamente
autoritária dos executivos de topo (especialmente os ligados a EXTER). A cultura
paternalista anterior, embora também gere uma distância (ou gap) entre pessoal de linha
e gerência, o que é averso ao exposto por BARTLET e GOSHAL, traz um conforto
maior que esta provável imagem autoritária29. De fato, o gap já confirmado nas
entrevistas (nas partes sobre fluxo de informação e processo orçamentário) pode vir a
ser, ou já ter sido, alargado.
Porém não há dúvida que a posição concomitante da EXTER como operadora e
como investidora leva a dificuldades na tomada de decisões. Como foi evidenciado
com um caso de emissão de debêntures mal sucedida.
27 No sentido de superioridade hierárquica. Não sob o aspecto de liderança inspiradora.28 Ou mais alinhado a resultados.29 Nas palavras de um executivo brasileiro de outra empresa, citado em uma revista semanal de grandecirculação, se referindo aos executivos da nacionalidade da EXTER: "chegaram os conquistadores".
93
A falta de “sinergia” nos comportamentos, como cita o entrevistado quando
perguntado sobre a integração cultural, confirma que falta alinhamento. Com certeza o
goal congruence precisa ser objetivado com medidas mais próprias que considerem o
sistema de valores dos participantes. Algumas crenças, como a de superioridade de
algum estado sobre outro, devem ser desincentivadas.
Contribuem negativamente neste caso a falta de um conjunto de valores e crenças
explícito, intencionado pela organização. Também o sistema de recompensas não é
plenamente utilizado na transmissão cultural, como defendido por Maciariello e Kirby
(1994). Ainda não se faz uso na política de seleção de pessoal da possibilidade de
renovação e mudança cultural citada por Sethia e Glinow (1985). Ressalte-se, porém, o
esforço em unificação das políticas de RH praticadas pelas diversas empresas do grupo,
que contribuirá para que os participantes se vejam como parte de um grupo.
Quanto ao aspecto de clima organizacional (baixo, no caso), não se observou nada
que indicasse que o sistema de controle está sendo preparado para lidar com esta
contingência (nem mesmo para medir o problema).
Por outro lado, a influência da implantação do sistema ERP pode ser encarada como
sendo positiva, se relacionada ao plano de referência deste trabalho. A mesma está se
mostrando como uma das forças que leva a empresa a reavaliar mensurações de
resultado (forçando a criação de políticas para preços de transferência, por exemplo) e
trazendo confiabilidade ao sistema contábil.
94
4.2.7 Variáveis ambientais externas
Forças Competitivas
Conforme já visto no resumo feito na descrição do caso, as maiores ameaças são a
comercialização e a interferência regulatória do governo. Ambas já geraram respostas a
nível estratégico (embora aqui não se tenha estudado particularmente os sistemas de
controle da nova empresa e do novo setor criados como resposta).
Também foi descrito o mercado como sendo razoavelmente estável, o que exerce
influência positiva sobre o controle gerencial, reduzindo problemas encontrados no
atual sistema como a restrita visão de variáveis de mercado e as velocidades de resposta.
Impacto da ANEEL
O governo tem forte influência sobre os objetivos de longo prazo do grupo, bem
como é fonte de incertezas quando das mudanças regulatórias.
Alguns aspectos positivos podem ser destacados:
a) Não há ingerência da ANEEL no desenho do sistema de controle nem na
operacionalização dos objetivos e metas (mas o órgão obrigará a cessão de uso
de ativos do grupo a concorrentes);
b) O grupo criou um setor especialmente para atuar junto ao governo, o que
pressupõe a aquisição de informações mais rapidamente e consistentemente,
bem como objetiva influir no processo decisório.
95
4.2.8 Transição do sistema de controle
De forma geral o sistema de controle da época de estatal era mais afastado do que o
atual em relação ao que a literatura indica como eficaz.
Antes havia menor preocupação com os resultados financeiros das empresas (sem
dúvida uma variável chave para a sobrevivência), bem como o controle externo
exercido pela Eletrobrás se concentrava na origem dos recursos e não na efetividade da
utilização dos mesmos.
“Os objetivos (pelos quais os funcionários eram avaliados) eram muito menos
mensuráveis e geravam menos preocupação” pois serviam parcialmente ao propósito
único de ascensão funcional. Não havia consideração no sistema de recompensas do
desempenho do funcionário (salário totalmente fixo, promoção por tempo de serviço).
A contabilidade por responsabilidade ainda é basicamente a mesma mas está em
desenvolvimento. Faz uso principalmente de centros de custo e falta uma regulação
eficaz quanto ao fluxo interno de bens e serviços (políticas de preços de transferência e
sua contabilização) que está sendo feita, liderada pelo grupo de implantação do ERP.
Uma aparente involução, que por certo será temporária, diz respeito às funções dos
responsáveis pelos centros que antes eram bem definidas (agora estão sendo redefinidas
com bastante liberdade dos próprios responsáveis na sua escolha).
Em termos de confiabilidade dos dados, houve um incremento trazido pela
integração dos sistemas de custo, contábil e de orçamento na plataforma ERP.
O orçamento também aumentou seu papel, deixando de ser somente instrumento de
controle financeiro. O processo orçamentário envolvia maior quantidade de pessoal de
staff que entretanto era visto somente como agregador de dados e agora possui função
de assessoria. Os gerentes também não participavam da discussão e, apesar das
96
diretorias de cada empresa terem função de criação orçamentária, a Eletrobrás já
determinava muitas premissas para o orçamento, funcionando também como a
verdadeira responsável pelos cortes.
As análises das variações orçamentárias são atualmente de responsabilidade da
diretoria de controle de gestão e no passado eram da gerência de acompanhamento
orçamentário, subordinada a diretoria financeira. Por essa mudança, pela melhoria na
definição de responsáveis nos relatórios e pelo aumento de freqüência (os relatórios de
acompanhamento eram gerados trimestralmente30), pode-se inferir que os mesmos se
aproximam mais de instrumentos eficazes de controle de acordo com a literatura.
Corrobora com esta inferência o fato da percepção do compromisso com o
orçamento por parte dos executantes ter aumentado dado que agora o mesmo está ligado
ao esquema de recompensas.
A adoção da remuneração variável aumenta a capacidade de alinhamento dos
objetivos individuais com os organizacionais, de acordo com a literatura revista.
Também quanto aos valores se notam diferenças: embora relacionamento com os
pares e superiores ainda tenha alto peso na conquista de status (característica própria da
cultura abrangente), o tempo de empresa reduziu sua importância, cedendo lugar ao
conhecimento técnico.
30 Mensalmente haviam preliminares com números estimados
97
5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
5.1 Conclusão
A análise do caso a luz do plano de referência utilizado parece mostrar que o
controle gerencial das empresas se encontra parcialmente em linha com o que se
considera eficaz, respondendo a primeira pergunta do estudo.
Distanciamentos significativos do plano referencial ainda se dão:
• Quanto ao ajustamento estratégico, onde falta ligação entre os objetivos
corporativos e as metas e objetivos das empresas;
• Quanto ao processo orçamentário, sem revisões ou participação ativa dos
escalões mais baixos.
Ambos pontos já verificados pelos respondentes e em processo de melhoria.
No futuro próximo, com a evolução esperada dos processos, a superestimação do
potencial do negócio é uma das "armadilhas" que tende a ser evitada, através de uma
maior discussão e transparência na formação dos objetivos e metas. Assim as metas
também estarão mais próximas de cumprirem outras finalidades (como expõe
FLAMHOLTZ, 1996) e melhor funcionarem como motivadoras, estabelecedoras de
desempenho e benchmark, através da maior confiança que os participantes terão nas
mesmas.
Uma variável que se encontra em pleno desenvolvimento, de acordo com o plano de
referência, é a contabilidade por responsabilidade. Os mecanismos de preços de
transferência estão sendo criados (alguns já implantados) e existe a intenção da
passagem do uso de centros de custo para centros de lucro ou investimento.
98
As medidas gerenciais já consideram variáveis abrangentes: financeiras,
operacionais e de mercado, embora o foco ainda esteja nas primeiras, não se
evidenciando o balanceamento entre elas como recomendado por Kaplan e Norton
(1992, 1993,1996), Epstein e Manzoni (1998). Também o processo de determinação
das variáveis não possui indicativos de seleção de acordo com a estratégia adotada.
As avaliações são feitas sobre as metas de curto prazo, expressas no orçamento, e
possuem um componente subjetivo menor, ligado ao relacionamento (e a política),
encarado como pouco justo mas em linha com as culturas envolvidas.
O sistema de recompensas considera a ligação com a avaliação de desempenho,
deixando, entretanto, a concessão de alguns benefícios indefinidos no nível executivo e
concentrando o timing no curto prazo.
A cultura foi considerada relevante mas não gerou nenhum estudo, embora certa
característica conflitante entre culturas envolvidas tenha sido exposta. Tampouco o
clima organizacional recebe medições.
No geral o estilo de liderança observado pode ser considerado autoritário, com
significativa distância hierárquica, o que, de maneira geral, atrapalha o fluxo de
informações defendido por Bartlett e Goshal (1994,1995) mas tem menor efeito em
empresas com forte característica operacional e atuando em mercado estável, como as
presentes.
Concluindo, na resposta da segunda pergunta desta pesquisa, a transição mostrou
que através da mesma o sistema de controle se aproximou ao indicado pelo plano de
referência, o que dá apoio a este, embora trate-se de estudo de caso e, portanto, não se
possa fazer generalizações.
99
5.2 Sugestões para futuras pesquisas
A primeira possibilidade de futuras pesquisas que se sugere é a replicação do
trabalho em outras empresas no país, aumentando a capacidade da literatura em
descrever os controles gerenciais do caso brasileiro, a aproximação dos mesmos ao que
se indica como controles eficazes e as mudança nos controles verificadas (podendo
mesmo criar-se a possibilidade de inferir sobre os próprios processos de mudança,
campo fecundo do estudo de organizações).
Um estudo especificamente nas empresas do grupo HOLDING também seria válido
para reforçar as conclusões deste trabalho. Especialmente se levasse a cabo entrevistas
com um número maior de respondentes de diversos níveis hierárquicos, com uso de
métodos etnográficos para levantamento da cultura.
Outra possibilidade advém do uso de variáveis de pesquisa: com algum esforço
pode-se complementar os estudos sobre controle que seguem esta linha de pesquisa,
iniciado por Gomes (1983), com variáveis comuns, tornando factíveis comparações
entre os sistemas de controle das empresas desta pesquisa e aqueles das exploradas em
trabalhos anteriores.
Poderia-se, além disso, discutir-se e comparar-se os sistemas de controle gerencial
de companhias brasileiras com os de companhias estrangeiras, identificando-se a
relação de proximidade ou afastamento entre elas. A dificuldade para este estudo seria
a busca por um plano de referência comum, mas os resultados poderiam levar a novos
insights, especialmente quanto a adaptações contingenciais.