contrato psicolÓgico: análise de expectativas na relação...

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1 FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL Maria de Fátima da Cruz Daniel CONTRATO PSICOLÓGICO: análise de expectativas na relação de trabalho em uma empresa de assistência domiciliária, situada no município de Recife Recife, 2011.

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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

Maria de Fátima da Cruz Daniel

CONTRATO PSICOLÓGICO:

análise de expectativas na relação de trabalho em uma empresa

de assistência domiciliária, situada no município de Recife

Recife, 2011.

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Maria de Fátima da Cruz Daniel

CONTRATO PSICOLÓGICO:

análise de expectativas na relação de trabalho em uma empresa

de assistência domiciliária, situada no município de Recife

Dissertação apresentada à Faculdade Boa Viagem, na área de concentração Organizações e Relações Internacionais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientadora: Profª . Drª. Lúcia Maria Barbosa de Oliveira, Ph.D.

Recife, 2011.

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FACULDADE BOA VIAGEM

CPPA – CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA – da

Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações

diretas e indiretas); Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em

conseqüência, restrita a consulta em ambientes de bibliotecas com saída

controlada; Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito,

devendo, por isso, o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se

preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.

Título da Dissertação: “CONTRATO PSICOLÓGICO: análise de expectativas na

relação de trabalho em uma empresa de assistência domiciliária, situada no

município de Recife”

Nome do(a) autor(a): Maria de Fátima da Cruz Daniel

Data da Aprovação: 09 de junho de 2011.

Classificação conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3 Recife, Junho de 2011.

__________________________ Assinatura do(a) Autor(a)

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FOLHA APROVAÇÃO

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Esta dissertação é dedicada especialmente aos amores de minha

vida: Guilherme, Daniel e Marina.

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AGRADECIMENTOS

Esta dissertação faz parte de um sonho profissional conquistado com

muita dedicação.

Agradeço em primeiro lugar à força divina que iluminou meu caminho e

me direcionou para concluir este trabalho.

À minha mãe com seu apoio incondicional e espiritual.

À minha família, marido, filhos, irmãos, cunhadas e sobrinhos por toda

preocupação, ajuda, apoio e incentivo nesta jornada.

Agradeço à Professora Lúcia Barbosa que, com sua sabedoria em

conduzir, me fez sentir apoiada e guiada no caminho da busca, da pesqu isa e

do saber.

Aos Professores do mestrado: Maria Auxiliadora Diniz, Sonia Calado

Dias e James Falk, pela arte de nos conduzir ao caminho da leitura crít ica,

consciente e produtiva.

Aos amigos do mestrado, em especial Waneska, Francineide, Rone e

Eduardo, que participaram, apoiaram, opinaram e contribuíram sempre em

busca da melhoria para o sucesso.

A todos os amigos e amigas, próximos ou distantes, que também

souberam como manifestar seu apoio, com palavras de encorajamento e força,

além de vibração nos momentos de conquistas.

À Faculdade Boa Viagem, por oportunizar a uma profissional da área de

saúde a imersão no Mestrado Profissional de Gestão Empresarial,

contribuindo para o enriquecimento do saber multidisciplinar.

E agradeço também a todos que dispensaram seu tempo para participar

deste estudo, principalmente à equipe da Empresa de Assistência

Domiciliária, que soube como acolher e apoiar o trabalho de pesquisa, desde

sua diretora executiva a todos os demais colaboradores, além das

Cooperativas pela cordialidade em ajudar.

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Os homens que tentam fazer algo e falham são infinitamente melhores do que aqueles que tentam fazer nada e conseguem

Martyn Lloyd Jones

O anseio mais profundo da alma humana é ser compreendida. O anseio mais profundo do corpo humano é de ar. Se você consegue escutar outra pessoa em profundidade, a ponto de ela se sentir compreendida, é como se lhe desse ar

Steven Covey

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RESUMO As relações de trabalho nas organizações vivenciam desafios em seus processos de gestão, devido ao dinamismo crescente ocasionado pelas transformações no ambiente empresarial e na sociedade. As organizações do setor de serviços, por exemplo, da área de saúde, também são afetadas pelos impactos relacionados às necessidades de composição do trabalho através de novas formatações, e ainda contam com dinâmicas peculiares. Os contratos estabelecidos entre empregadores e trabalhadores são modificados ao longo do tempo e a habilidade de gerir esses contratos se faz necessária nos processos laborais. A teoria que embasa o construto do Contrato Psicológico está relacionada com a troca existente entre os elementos que o constituem. Foi através da ótica dos Contratos Psicológicos que esta pesquisa foi desenvolvida, com o objetivo de analisar os Contratos Psicológicos estabelecidos entre os Técnicos de Enfermagem (contratados e cooperativados) e uma Empresa de Assistência Domiciliária no Município do Recife-PE, segundo o modelo de análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande (2004). A metodologia utilizada foi o estudo de caso com entrevistas por pautas, abordando tanto o empregador quanto o trabalhador. Através da análise de conteúdo foram identificadas as expectativas de ambas as partes, analisados os pontos convergentes e divergentes e identificados os tipos de Contratos Psicológicos estabelecidos entre eles. Pôde ser observada a existência de contratos formais diferenciados, com trabalhadores contratados e cooperativados, onde apresentaram algumas similaridades nas expectativas. Para a empresa foram expressas algumas diferenças nas expectativas de certas dimensões, em relação ao tipo de contrato formal, sendo mais altas em termos de desempenho para os contratados do que para os cooperados. A convergência de expectativas foi maior com os contratados e as divergências maiores com os cooperativados. Diferentes contratos foram identificados com tendência para Contrato Forte para contratados e Contrato Fraco ou Desconectado para cooperados. Palavras-chave: Contrato psicológico; Assistência domiciliária; Expectativas; Relações de

trabalho.

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ABSTRACT

Labor relationships in organizations are experiencing challenges in the management processes due to the increase in dynamism caused by changes in the business environment and in the society. Service sector organizations, such as healthcare, are also affected by the impacts related to the needs of the composition of the work through new formats, and still rely on peculiar dynamics. Contracts established between employers and workers are modified over time and the ability to manage such contracts is required in industrial/labour processes. The theory that backs the construction of the Psychological Contract is related to the exchange between the elements that builds it. This survey was developed through the optics of Psychological Contracts with the objective of analyzing the Psychological Contracts established between the Nursing personnel (hired privately and from a cooperative) and a company of home care in the municipality of Recife-PE, using the six dimensions model analysis of Sels, Janssens and Van Den Brande (2004). The used methodology was the case-of-study with interviews by tariffs, addressing both employee and employer. With the content analysis it was identified the expectations from both parties, it was analyzed the convergent and divergent points and identified the types of Psychological Contracts established between them. It was observed differentiated formal contracts with hired workers, and workers from the cooperative, with some similarities in expectations. For the company it was expressed some differences in expectations of certain dimensions, in relation to the type of formal contract, being highest in terms of performance for the ones hired privately, than for cooperative members. The convergence of expectations was greater with hired workers and larger differences with cooperative workers. Different contracts were identified with stronger trends to contracts with hired privately workers and weak or disconnected contracts for cooperative members. Keywords: Psychological Contract. Home Care. Expectations. Working relationship.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA1 Criando um Contrato Psicológico individual ................................................. 33

FIGURA2 Desenvolvimento de Contrato Psicológico. Estrutura para a análise do Contrato

Psicológico de Guest (2008) ............................................................................................. 35

FIGURA3 Tipos de Contratos Psicológicos ..................................................................... 42

FIGURA4 Tipologia de Contratos Psicológicos segundo Shore e Bakersdale ................ 44

FIGURA5 Rede Nomológica para validar as Dimensões do Contrato Psicológico ........ 45

FIGURA6 Arranjos da relação de trabalho ...................................................................... 52

FIGURA7 Diagramação da pesquisa ............................................................................... 59

FIGURA8 Diagramação da análise .................................................................................. 68

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Definições do Contrato Psicológico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

QUADRO 2- Dimensões do Contrato Psicológico segundo Sels, J anssesns e

Van Den Brande (2004) .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

QUADRO 3- Expectativas dos Técnicos de Enfermagem ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

QUADRO 4- Expectativas da Empresa de Assistência Domicil iária . . . . . . . 84

QUADRO 5- Pontos Convergentes e Divergentes das Expectativas dos

Técnicos de Enfermagem e da Empresa de Assistência Domicil iária . . . . . . 92

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LISTA DE TABELAS

TABELA1 Solução de seis clusters e denominações dos Contratos

Psicológicos segundo Janssens, Sels e Van Den Brande (2004) .. . . . . . . . . . . . 49

TABELA2 Distribuição quantitativa de colaborado res da empresa do Locus

de investigação .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.1 Colocação do problema ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1.2 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

1.2. Objetivos específicos .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.3 Justificativa Teórica .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.4 Justificativa Prática .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.1 Contrato Psicológico: conceituação .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.2 Formação do Contrato Psicológico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2.2.1“Contract Makers” .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

2.3 Características do Contrato Psicológico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.4 Tipologias do Contrato Psicológico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

2.5 Relações de Trabalho .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

2.6 Percepção .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

3 METODOLOGIA ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

3.1 Natureza da pesquisa .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

3.2 Delineamento de pesquisa .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

3.3 Locus da Investigação .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

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14 3.4 Características dos pesquisados .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

3.5 Pré-teste .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

3.6 Método de coleta de dados .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

3.7 Análise dos dados .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

3.8 Limites e Limitações .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

4.1 Considerações sobre os pesquisados .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

4.2 Análise do primeiro objetivo específico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.2.1Dimensão 1 - Estrutura Temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

4.2.2Dimensão 2 - Tangibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4.2.3Dimensão 3 - Escopo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

4.2.4Dimensão 4 - Estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.2.5Dimensão 5 - Simetria de Troca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.2.6Dimensao 6 - Nível de Contrato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

4.3 Análise do segundo objetivo específico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

4.3.1Dimensão 1 - Estrutura Temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

4.3.2Dimensão 2 - Tangibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

4.3.3Dimensão 3 - Escopo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4.3.4Dimensão 4 - Estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4.3.5Dimensão 5 - Simetria de Troca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

4.3.6Dimensao 6 - Nível de Contrato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

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15 4.4 Análise do terceiro objetivo específico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

4.5 Análise do quarto objetivo específico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

5 CONCLUSÕES ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

5.1 Recomendações para trabalhos futuros .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

REFERÊNCIAS ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

APÊNDICES ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

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1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação teve como ponto de partida as inquietudes da

pesquisadora no âmbito da experiência pro fissional como enfermeira na

coordenação de profissionais da área da saúde, especificamente da área de

enfermagem na assistência domiciliária.

Essas inquietudes provenientes das problemáticas relacionais de

trabalho, quanto à satisfação, atitudes e compor tamento, provocaram o

interesse em buscar explicações e encontrar caminhos teóricos que pudessem

gerar um desenvolvimento de práticas satisfatórias para os profissionais e as

empresas de assistência domiciliária.

O encontro com uma teoria que pudesse auxiliar nessa investigação se

deu a partir das aulas de Gestão de Pessoas no Mestrado , onde no assunto

entitulado “Gestão de Recursos Humanos e o trabalhador: em direção a um

novo Contrato Psicológico”, escrito por David Guest (2008), houve o

despertar para essa teoria como possibilidade para o desenvolvimento do

estudo.

Através da ótica desses Contratos Psicológicos , foi configurada uma

proposta para a pesquisa das relações de trabalho no âmbito da área de saúde,

entre os Técnicos de Enfermagem e Empresas de Assistência Domiciliária.

As etapas do desenvolvimento deste estudo são apresentadas nesta

seção de introdução, onde são descritos a colocação do problema, as

justificativas teóricas e práticas, bem como os objetivos gerais e específicos

relacionados à análise das expectativas nas relações de trabalho dos Técnicos

de Enfermagem, tanto contratados quanto cooperativados, em uma Empresa de

Assistência Domiciliária, ou Home Care , como também é conhecida no Brasil,

situada no Município do Recife, representados pelos seus Enfermeiros

Supervisores.

A análise da natureza desses contratos está baseada nas seis dimensões

validadas por Sels, Janssens e Van Den Brande (2004), que compõem:

Estrutura Temporal; Tangibilidade; Escopo; Estabilidade; Simetria de Troca e

Nível de Contrato.

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17 1.1 Colocação do problema

As organizações no Brasil e no mundo passam por crescentes desafios

em seus processos de gestão, pois a dinâmica das transformações que ocorrem

no ambiente empresarial e na sociedade influencia esses proces sos.

Globalização, tecnologia e competit ividade geram impactos na gestão das

organizações, levando-as à necessidade de repensar os modelos e formatações

preexistentes (ALBUQUERQUE, 2002).

Os modelos de gestão de pessoas que são elaborados nas empresas para

a organização, gerenciamento e orientação do comportamento humano no

trabalho são distintos e relacionados a diferentes contextos históricos ou

setoriais. Além da necessidade de se estruturar, definir princípios, estratégias,

políticas, práticas e processos de gestão, Fischer (2002) ressalta a existência

de importantes fatores que envolvem o contexto organizacional que devem ser

considerados:

O desempenho que se espera das pessoas no trabalho e o modelo de gestão correspondente são determinados por fatores internos e externos ao contexto organizacional. Dentre os fatores internos, destacam-se o produto ou serviço oferecido, a tecnologia adotada, a estratégia da organização do trabalho, a cultura e a estrutura organizacional. Quanto aos fatores externos, a cultura de trabalho de dada sociedade, sua legislação trabalhista e o papel conferido ao Estado e aos demais agentes que atuam nas relações de trabalho vão estabelecer os limites nos quais o modelo de gestão de pessoas poderá atuar (FISCHER, 2002, p.13).

A influência do contexto em que estão inseridas as empresas interfere

nos objetivos dos empregadores em relação aos processos de gestão de

recursos humanos. Estes, segundo Boxal (2008), podem e devem variar sua

forma de atuar, baseados nos fatores situacion ais de cada empresa, que deve

primar por desenvolver seu estilo próprio de administração.

Os processos de gestão devem ter mecanismos que possam defender e

ser conscientes das preocupações dos trabalhadores, certificando -se de que a

relação de troca estabelecida acarrete em benefícios para ambas as partes

(BOHLANDER, SNELL; SHERMAN, 2005).

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18

Estes mesmos autores defendem que as pessoas desempenham um papel

cada vez mais central para a obtenção da vantagem competitiva, embora

tenham sido sempre fundamentais no ambiente empresarial . É necessário que

os gerentes de recursos humanos se preocupem com as mudanças que ocorrem

na composição do quadro de pessoal e nas expectativas dos trabalhadores, as

quais são importantes nas relações de trabalho estabelecidas com s eus

empregadores.

Um aspecto que vem modificando as relações entre empregadores e

trabalhadores está ligado diretamente às variadas formas de contratação, pois

os contratos têm sido alterados por reestruturações (ex. downsizings ,

terceirizações, trabalho em tempo parcial, entre outros) e novos tipos de

contratos tornam-se necessários para as organizações (KALLEBERG, 2003;

ROUSSEAU, 1995).

Lepak e Snell (2008) destacam que podem existir diversas formas de

composição da arquitetura de recursos humanos nas em presas, formatando

uma divisão dos empregados em grupos, de acordo com as características de

internalização ou externalização, valor estratégico ou exclusividade, sendo

chamados, por exemplo, de empregados contratados, parceiros, “do

conhecimento”, entre outros.

O emprego em tempo integral , de longo prazo e com carteira assinada

não acontece como formatação exclusiva de relação laboral , sendo

compartilhada com alternativas estabelecidas no mercado, tais como

terceirização, trabalhos em tempo parcial, com d uração definida ou de menor

prazo (LOPES; SILVA, 2008).

Deve ser lembrado que o avanço da flexibilização, a explosão do

trabalho informal, a precarização do trabalho e o aumento do emprego

temporário e autônomo são característ icas que permeiam essas diferentes

formas de organização laborais (NOGUEIRA, 2002).

As empresas da área de saúde, por exemplo, que fazem parte do setor de

serviços, também são afetadas pelos impactos relacionados às necessidades de

composição do trabalho através de novas formatações, mas contam com

algumas dinâmicas peculiares (DELUIZ, 2001).

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19

Esse setor apresenta especificidades em função das estratégias

empresariais e mercado com muitas assimetrias e desigualdades, tais como a

imprevisibilidade e a irregularidade da natureza da deman da por cuidados

médicos (SILVA, 2006).

As organizações, tanto dos setores públicos como privados, que mais

absorvem os profissionais da área de saúde são os hospitais, clínicas,

laboratórios, seguradoras de saúde e empresas de assistência domicil iária.

Esta última tem se tornado expressiva pelo seu crescimento e surge como uma

alternativa para o grande problema de lotação nos hospitais e necessidade de

reduzir a exposição aos riscos de infecção hospitalar (DALBEN, 2000).

A Assistência Domiciliária é caracterizada pela efetivação de todo e

qualquer atendimento em domicílio realizado por profissionais que integram a

equipe de saúde e, de acordo com seu objetivo assistencial, pode ser dividida

em algumas modalidades: Atendimento, Internação, Acompanhamento e

Vigilância Domiciliar (LOPES, 2003).

Esse setor vem apresentando crescimento progressivo desde a década de

90, com a criação e expansão de empresas voltadas para esse mercado que

engloba todas as esferas da assistência domiciliária (MENDES, 2001).

Em 2004, o Núcleo de Empresas de Atendimento Domiciliar (NEAD)

referiu que havia a estimativa da existência de 30 mil pessoas sendo atendidas

em casa por mês, com absorção de aproximadamente 15 mil profissionais da

área da saúde. Esse número subiu para 25 mil em 2009, com a perspectiva de

crescimento desse mercado com expansão de 7% ao ano (Cf. DIAGNÓSTICO

WEB, 2009, n. 3).

Em 2006, a ANVISA publicou a RDC (Resolução da Diretoria

Colegiada) nº 11, que dispõe sobre o regulamento técnico de funcionamento

de serviços públicos ou privados dessa natureza, o que também aponta para

uma evidência de crescimento no setor (FIGUEIREDO, 2010; SILVA, 2010).

Os recursos humanos da área de saúde, que são utilizados habitualmente

para atender à demanda que esse mercado oportuniza, são provenientes de

agências empregadoras, cooperativas de trabalhadores e microempresas de

profissionais de saúde (GIRARDI, 1999).

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20

A complexidade das relações de trabalho nesse setor pode ser

demonstrada pela existência de diversos tipos de negociações t rabalhistas,

diferentes dos habituais, com diminuição do número de contratos de

trabalhadores como pessoa física, aumento da quantidade de contratos com

cooperativas e outras empresas criadas para a prestação de serviços nessa área

(VECINA; MALIK, 2007).

Destacando as cooperativas como uma das formas de prestação de

serviços que atuam no modelo de assistência domiciliária, é importante citar

que a cooperativa de trabalho “emerge como uma estrutura de organização

que constrói novas relações de trabalho com o mercado, com perspectiva de

gerar trabalho e renda” (TESCH, 1998, apud CORDEIRO, 2001).

Em outra visão, que se refere ao aspecto do enfraquecimento das

relações de trabalho, existe uma discussão a respeito do uso de cooperativas

de profissionais como uma forma de terceirização relacionada à precarização

dessas relações, mas cabe lembrar a existência de uma regulamentação, que

foi criada em 1994 pela “Lei das Cooperativas”, que legitima essa modalidade

(SILVA, 2006).

Essa complexidade e diversificação das formas de contratação no

âmbito da saúde chamam a atenção para a ampliação de novas competências

que têm que ser desenvolvidas.

No contexto atual, independentemente do sistema adotado, as tendências de mudanças ocasionadas pela era da acumulação flexível (Harvey, 1992) baseadas na divisão do mundo do trabalho - entre o trabalho regular e irregular, o trabalho formal e o informal, o sindicalizado e não sindicalizado, o trabalho estável e o temporário, o contratado e o subcontratado, o trabalho de tempo integral e o de tempo parcial - impõem novos desafios para as relações de trabalho (NOGUEIRA, 2002, p.124).

Nesses novos desafios que surgem para lidar com diferentes tipos de

relações de trabalho, destaca-se a necessidade de haver habil idade na gestão

dos contratos estabelecidos entre os elementos que o compõem (LOPES ;

SILVA, 2008).

A importância do tema em relação ao contrato está na referência que

este instala uma ligação dos indivíduos à organização, além da possibilidade

de regular comportamento e aumentar o desempenho. Existem os contratos

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21 formais, com direitos e deveres mútuos da organização e dos trabalhadores, e

outros que vão além do que está escrito formalmente, sendo influenciados em

grande medida por um Contrato Psicológico (LEIRIA; PALMA ; CUNHA,

2006).

A autora que mais descreve sobre o conceito de Contrato Psicológico é

Denise Rousseau (ANBREU; SILVA, 2006; LEIRIA; PALMA; CUNHA, 2006;

RIOS, 2007) definindo-o como “crença individual, moldada pela organização,

sobre os termos de um acordo de tro cas entre indivíduos e a organização à

qual estão vinculados” (ROUSSEAU, 1995, p.9). Essa relação de troca entre

as partes, com a visão das promessas de futuro, pode ser vista sob o aspecto

de formatação de expectativas que cada parte tem em relação ao out ro.

Na argumentação de Schein (1982), o termo expectativa é util izado para

expressar a troca existente entre elementos da organização, referindo que

essas expectativas podem variar por parte do trabalhador (desde o salário,

privilégios, tratamento respei toso), e por parte da organização (expectativas

mais sutis, tais como as relacionadas à lealdade, sigilo e contribuição para

uma boa imagem da organização). O aspecto dinâmico e contextual da relação

justificaria essa variação.

A compreensão do Contrato Psicológico pode permitir que o processo

de comunicação entre trabalhadores e empregadores seja mais eficaz,

facili tando o entendimento das necessidades do indivíduo e exigências da

organização, através do levantamento de expectativas. Além disso, os

acordos, muitas vezes restritos a questões legais, não são suficientes para o

entendimento da interface do trabalhador e empregador nas relações de

trabalho estabelecidas (ANBREU; SILVA, 2006).

O interesse sobre o tema reside também na importância que pode

oferecer para uma melhor visão das atitudes e comportamentos dos indivíduos

nas organizações e ajudar a formatar a percepção dos trabalhadores sobre a

relação de troca entre as partes (GUEST, 2008; ROUSSEAU, 1995).

Sendo assim, o Contrato Psicológico pode ser considerado como um

instrumento específico para administrar a relação entre empregadores e

trabalhadores e ser utilizado como uma ferrament a de gestão de pessoas

(MENEGON; CASADO, 2006).

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22

Na evolução dos estudos sobre os Contratos Psicológicos , Rousseau

(1995) criou um modelo de investigação que serviu como base para vários

outros. Ela util izou duas dimensões: a Tangibilidade (ou grau de clareza dos

termos de desempenho) e Estrutura Temporal (ou a duração/prazo) para

definir a t ipologia dos contratos (RIOS, 2007).

Em estudos posteriores, outros autores foram incorporando novas

dimensões, tais como Shore e Bakersdale (1998), Sels, Janssens e Van Den

Brande (2004), com o objetivo de suprimir limitações existentes e classificar

as relações de trabalho em ti pologias conceitualmente mais abrangentes

(RIOS, 2007).

O modelo desenvolvido e validado por Sels, Janssens e Van Den Brande

(2004) foi orientado para as características do Contrato Psicológico fazendo a

identificação de seis dimensões nas quais esses con tratos poderiam ser

estudados: Estrutura Temporal; Tangibilidade; Escopo; Estabilidade;

Simetria de Troca e Nível de Contrato .

Baseado nos argumentos aqui expostos e no interesse em estudar,

através da ótica do Contrato Psicológico, as relações de trabalho de

profissionais da área de saúde, especificamente dos Profissionais de

Enfermagem em uma Empresa de Assistência Domiciliária, formula-se a

seguinte pergunta de pesquisa:

Como se caracterizam os Contratos Psicológicos estabelecidos entre os

Técnicos de Enfermagem (Contratados e Cooperativados) e uma Empresa de

Assistência Domiciliária no Município do Recife -PE, segundo o modelo de

análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande (2004) .

1.2 Objetivo Geral

Analisar as características dos Contratos Psicológicos estabelecidos

entre os Técnicos de Enfermagem (Contratados e Cooperativados) e uma

Empresa de Assistência Domiciliária no Município do Recife -PE, segundo o

modelo de análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande

(2004).

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23 1.2.1 Objetivos específicos

1 . Identificar as expectativas dos Técnicos de Enfermagem

(Contratados e Cooperativados) na relação de trabalho, segundo o

modelo de análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van

Den Brande (2004).

2 . Identificar expectativas da Empresa de Assistência

Domiciliária (representada pelos Enfermeiros Supervisores)

na relação de trabalho, segundo o modelo de análise das seis

dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande (2004).

3 . Analisar os pontos convergentes e divergentes das expectativas

dos Técnicos de Enfermagem (Contratados e Cooperativados) e

da Empresa de Assistência Domiciliária (representada pelos

Enfermeiros Supervisores), na relação de trabalho, segundo o

modelo de análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van

Den Brande (2004).

4 . Identificar os tipos de Contratos Psicológicos estabelecidos na

relação de trabalho entre Técnicos de Enfermagem (Contratados e

Cooperativados) e a Empresa de Assistência Domiciliária

(representada pelos Enfermeiros Supervisores), segu ndo a

Tipologia de Janssens, Sels e Van Den Brande (2003).

1.3 Justificativa Teórica

Uma justificativa teórica para os estudos de Contratos Psicológicos está

baseada, primeiramente, na intenção de contribuir com a publicação nacional

sobre o tema, que vem se elevando nos últimos oito anos, em contrapartida a

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24 publicações internacionais que datam desde 1962, com Argyris e Levinson

(RIOS, 2007).

Apesar de sua relevância como tema relacionado a comportamento

organizacional, há defasagem numérica entre as p ublicações internacionais e

nacionais, sendo as primeiras encontradas em maior número (GONDIM;

RIOS, 2010).

E também a aplicação da metodologia qualitativa , por ser pouco

explorada no contexto dos estudos sobre Contratos Psicológicos , em

contrapartida das abordagens quantitativas (BEYDA, 2008).

De acordo com a pesquisa bibliográfica realizada, a consideração de

expectativas dos empregadores e dos trabalhadores, ao estabelecerem seus

Contratos Psicológicos, é verificada pelo ponto de vista de uma das partes, ou

pela percepção de uma parte pela outra. Este estudo vem considerar, no

levantamento de dados, as expectativas de cada um dos elementos que

compõem o contrato, trazendo assim as duas visões necessárias para uma

comparação efetiva.

Outra justificativa refere-se à necessidade de aprofundar os estudos dos

Contratos Psicológicos nas relações de trabalho, que são caracterizadas por

diferentes tipos de vínculos que não os tradicionais, visando preencher a

lacuna deixada em função do número de trabalhos exist entes ligados às

relações mais formais, que são mais comumente encontrados (RIOS, 2007).

1.4 Justificativa Prática

A área de saúde, por sua especificidade nos processos de gestão de

pessoas, pode ser beneficiada ao conhecer alternativas para aprimorar suas

práticas e processos. Os acordos estabelecidos nas relações de trabalho,

restri tos a questões legais, são insuficientes para o gerenciamento da

interface do trabalhador e empregador.

O entendimento do Contrato Psicológico estabelecido entre

profissionais Técnicos de Enfermagem e uma empresa de Assistência

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25 Domiciliária, representada pelos Enfermeiros Supervisores, pode atuar como

uma ferramenta de gestão, uma vez que opera com o levantamento de

expectativas de ambos os lados. Ao estabelecer -se um processo de

comunicação por meio dessa ferramenta, as possibilidades de entendimento

mútuo podem propiciar melhores acordos em relação às necessidades de cada

parte envolvida no processo.

O estudo dos pontos convergentes e divergentes poderá ser gerenciado

pela empresa de Assistência Domiciliária, e assim aprimoradas as relações d e

trabalho, tornando-se uma contribuição para os processos de Desenvolvimento

Organizacional.

Para as cooperativas, o levantamento de dados relacionados às

expectativas de profissionais de saúde com interesse em atuar na área de

Assistência Domiciliária poderá servir como elemento a ser esclarecido, de

forma coletiva, desde o momento da adesão cooperativista, tornando claro

todos os limites e possibilidades desse modelo de relação de trabal ho.

Outro fator se refere ao fato de vislumbrar que os clientes (pacientes e

familiares) usuários da assistência domiciliária possam ser beneficiados,

através da perspectiva de que, havendo um alinhamento de expectativas nas

relações de trabalho, pode have r também melhorias nos processos de gestão,

com reflexos diretos na assistência à saúde.

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26 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo aborda, na primeira seção, o conceito do construto –

Contrato Psicológico – bem como as raízes históricas e suas definições.

Na segunda seção descreve o processo de formação, e os principais

elementos que fazem o contrato. As característ icas desse construto são

abordadas na terceira seção, e na quarta são apresentadas as diversas

tipologias de Contratos Psicológicos existentes, co m ênfase e detalhamento

do modelo das seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande (2004),

escolhido para o presente estudo das relações de trabalho. A quinta seção

trata das relações de trabalho e na sexta encerra -se a fundamentação com

alguns aspectos sobre o processo de percepção no contexto organizacional .

2.1 Contrato Psicológico: Conceituação

Ao introduzir o assunto sobre Contratos Psicológicos para o estudo dos

relacionamentos entre as organizações e seus trabalhadores, Rousseau (1995,

p.11) considera que “as promessas para o futuro são a essência dos

contratos”. Essa afirmativa pode levar a uma série de reflexões sobre a

complexidade do tema referente ao termo “contrato”.

Uma vez que o termo faz interfaces com tópicos relacionados a diver sos

conceitos elaborados para lidar com as trocas entre trabalhadores e as

organizações, antes de abordar aspectos sobre esse construto é interessante

que sejam pesquisadas inicialmente as definições das palavras “contrato” e

“psicológico” (RIOS, 2007).

Nos dicionários, a palavra “contrato” é definida como: “sm (substantivo

masculino) 1. Acordo legal entre pessoas, com delimitação de seus direitos e

deveres; 2. Documento que sela esse acordo ” (HOUAISS, 2008). “Sm

(substantivo masculino) 1.Ato ou efeito de contratar; 2. Acordo de duas ou

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27 mais pessoas, empresas, etc. , que entre si transferem direito ou se sujeitam a

uma obrigação; 3. Documento que expressa esse acordo ” (AURÉLIO, 2001).

E a definição de “psicológico”: ”adjetivo: 1. Relativo ou pertencente à

psicologia; 2.Concernente aos fatos psíquicos, à mente” (AURÉLIO,

2001).Em Houaiss (2008), encontra-se o termo em psicologia como “campo

das palavras embutidas” (~) com o significado: “sf (substantivo feminino) 1.

Estudo das atividades mentais e do comportamento de um indivíduo ou grupo;

2. O conjunto dessas atividades e dos respectivos padrõ es de comportamento

previsíveis”.

A partir do conceito de “contrato”, interessa questionar se é ou não

psicológico, uma vez que esse adjetivo o qualificaria principalment e dentro

da visão do processo de gestão de pessoas em relação às variáveis subjetivas

que exercem influência nos fenômenos desse processo. A partir do momento

que existe uma relação entre duas partes (seja ela nos âmbitos clínicos,

amorosos ou de trabalho) , existe algum tipo de troca, que pode ser tangível ou

figurada (RIOS, 2007).

Os aspectos legais que a palavra “contrato” pode emitir estão

relacionados à geração de obrigações legais (ROUSSEAU, 1995) e também ao

fato de possuir uma referência direta com aspectos jurídicos no sentido de ser

considerado um acordo formal entre as partes (RIOS, 2007).

Num levantamento sobre o conceito relativo a “Contrato Psicológico”,

feito por Rios (2007), foi verificado que o termo possui três raízes históricas:

1. Origem relacionada às teorias do contrato social com

filósofos da Grécia antiga, chegando a dois tipos de contrato social:

um relacionado à origem do Estado, formando uma sociedade

organizada com noção de “direitos naturais” e outro referente ao

“contrato de governo” sendo um acordo relativo aos direitos e deveres

entre os cidadãos e o Estado.

2. Origem na literatura de administração relacionada à Teoria

do Equilíbrio de C. Barnard em 1938, com a preocupação das trocas

estabelecidas entre as partes envolvidas.

3. Origem proveniente da área clínica, por Karl Menninger em

1958, em seu livro de Teoria da Técnica Psicanalítica, no qual cita que

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há elementos tangíveis e intangíveis numa relação de troca que teria

duração dependente da recíproca satisfação das partes envolvidas .

Os primeiros estudos relacionados ao ambiente de trabalho, na relação

entre empregadores e trabalhadores, com o conceito de Contrato Psicológico,

originam-se em Argyris, (ALMEIDA, 2009; ANBREU; SILVA, 2006;

FERREIRA, 2007; FONTINHA; SILVA; SCHIMIDT, 2008; MENEGON,

2010; RIOS, 2007; SELS; JANSSENS; VAN DEN BRANDE, 2004), além de

McGregor e Herzberg, que podem ser vinculados com a corrente da psicologia

humanista na teoria organizacional, com foco no comportamento humano

(FISCHER, 2002).

Sels, Janssens e Van Den Brande (2004) referem que para Argyris, o

Contrato Psicológico é considerado um acordo implícito e não escri to entre

ambas as partes, respeitando normas recíprocas. Essa natureza implícita é que

diferenciaria esse tipo de contrato (psicológico) do c ontrato formal.

Outro aspecto importante de diferenciação é o fato de que o Contrato

Psicológico pode ser considerado como um conceito mais amplo, abrangendo

crenças e expectativas sobre termos escritos e não escritos, nos acordos

incorporados a um contrato legal (KOH; ANG; STRAUB, 2004).

Já a definição clássica de Rousseau (1995) como a “crença individual,

moldada pela organização, sobre os termos de um acordo de trocas entre

indivíduos e a organização à qual estão vinculados” é uma das mais citadas

em estudos que se referem aos Contratos Psicológicos ( ANBREU; SILVA,

LEIRIA; PALMA; CUNHA, 2006; RIOS, 2007), mas é assunto de algumas

ponderações.

Fazendo uma contestação ao uso do termo “crença” desse conceito,

Menegon e Casado (2006), citam que o Contrato Psicológico, sendo derivado

de uma negociação entre duas partes com acordos implícitos ou explícitos

entre elas, não pode ter uma definição construída sob esse termo, pois tende a

indicar uma convicção e uma “certeza indiscutíveis e de difícil revisão” . As

autoras reforçam ainda que o Contrato Psicológico é passível de mudanças

por ambas as partes, e sendo assim, não poderia ser considerado como crença

individual.

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A definição de Schein (1982), também é caracterizada como clássica

por Menegon (2010), e refere-se à idéia de expectativas: “[. . .] Contrato

Psicológico denota que há um conjunto não explícito de expectativas atuando

em todos os momentos entre todos os membros de uma organização e os

diversos dirigentes e outras pessoas dessa organização”.

A variedade de conceitos do Contrato Psicológico como construto

(Quadro 1) demonstra que não existe um consenso na sua definição. Além

disso, há a necessidade da solidificação da teoria, uma vez que as diferentes

concepções possibilitam importantes implicações para a sua

operacionalização e mensuração (FERREIRA, 2007).

AUTORES DEFINIÇÕES

Argyris ( 1960) Empregados trabalham em sistema de produção elevada com poucas queixas, sob uma liderança, concordando com as regras, se os padrões garantirem e respeitarem as normas da cultura informal dos mesmos.

Levinson, Price, Mandl & Sol ley (1962)

Expectativas mútuas sobre as quais as partes podem não estar conscientes, mas que, no entanto regem as relações entre si. Conjunto de crenças sobre o que cada parte deve receber e está obrigada a dar, em relação à contribuição oposta.

Schein (1972) Expectativas do indivíduo sobre a organização e expectativas da organização sobre o indivíduo.

Kotter (1973) Contrato implícito entre um indivíduo e a sua organização que especifica o que cada parte espera dar e receber da outra, na sua relação (...).

Dunahee e Wangler (1974)

Acordo psicológico entre as duas partes, conceito mais amplo do que o tradicionalmente usado como “contrato” nas relações industriais. Refere-se às expectativas da organização em relação aos empregados como indivíduos e o compromisso desses em atendê-las. Também incluem as expectativas do empregado e a predisposição contínua do empregador em satisfazer suas necessidades.

Portwood e Miller (1976)

Acordo implícito, negociado entre o empregado e a empresa, com base no reconhecimento de obrigações mútuas a serem cumpridas por ambas as partes no decorrer dessa relação.

Guzzo e Noonan (1994) Crenças individuais acerca da troca empregador-empregado.

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Robinson e Rousseau (1994) Crenças em promessas a serem pagas ou obrigações recíprocas.

Rousseau (1995) Crenças individuais, moldadas pela organização, face aos termos de um acordo de troca entre indivíduos e a sua organização.

Schalk (1995)

Expectativas do empregado com relação ao que a organização oferece e o que ela irá oferecer.

Robinson (1996) Percepções dos empregados sobre o que devem aos empregadores e vice-versa.

Herriot e Pemberton (1997) Percepções em ambas as partes que constituem a relação de emprego, organização e indivíduo, das obrigações implícitas nesse relacionamento.

McLean Parks, Kidder & Gallagher

(1998)

Um conjunto idiossincrático de expectativas recíprocas assumidas pelos empregados com relação a suas obrigações e seus direitos

Dopson e Neumann (1998)

Essência do laço entre indivíduo e organização, dado que o emprego implica uma troca implícita de crenças e expectativas acerca do que constituem ações legítimas pela outra parte.

Millward e Brewerton (1999) Crenças tidas pelos indivíduos acerca das obrigações recíprocas (...) nos acordos que o indivíduo percebe que é parte.

Quadro 1 – Definições de Contrato Psicológico Fonte: Adaptado ( FERREIRA, 2007; VAN DEN BRANDE , 2001).

Os conteúdos fundamentais do conceito estão rel acionados às

obrigações, expectativas e promessas. Porém, independentemente de qualquer

polêmica existente sobre os aspectos que caracterizam essas definições, o

Contrato Psicológico considera que há um compromisso (promessa) por parte

de alguém, um oferecimento de alguma coisa em troca desse compromisso e

um consentimento voluntário dos termos do contrato (aceitação) (FERREIRA,

2007).

A definição de Schein (1982) é a escolhida para este estudo, pois se

refere às expectativas do empregador (na representação dos Enfermeiros

Supervisores) e do trabalhador (representados pelos Técnicos de Enfermagem,

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31 que são a maior contingência da força de trabalho assistencial do atendimento

domiciliar de saúde).

Na opinião de Rios (2007), uma das questões mais proeminentes d o

Contrato Psicológico está relacionada ao atendimento, ou não, das

expectativas de ambas as partes e o que isso modifica nesse contrato. Isto é, o

quanto é importante observar as expectativas mútuas e como isso pode ser

trabalhado para que sejam evitadas quebras, comportamentos inadequados,

falta de civismo organizacional ou compromisso, e em contrapartida,

estimulados comprometimento, satisfação no trabalho e outros aspectos

positivos.

Nesta seção foram vistos os aspectos relacionados à conceituação do

Contrato Psicológico para melhor compreensão de suas origens, além de

definir, no âmbito das expectativas, a abordagem direcionadora da

investigação do Contrato Psicológico deste estudo.

A próxima seção irá abordar como os Contratos Psicológicos se formam

e quais são os principais elementos desse processo.

2.2 Formação do Contrato Psicológico

Embora a pesquisa no âmbito da formação dos Contratos Psicológicos

seja referida por alguns autores como não muito explorada (FERREIRA,

2007; BEYDA; WETZEL, 2008), não é negada a sua importância, pois

existem modelos que ilustram esse processo de formação.

Entender esse processo com maior profundidade é importante para que

sejam conhecidos os elementos, as práticas e os agentes que desenvolvem as

expectativas e crenças nas relações de trabalho, pois conforme citam Anbreu e

Silva, 2006: “Os Contratos Psicológicos são formados por todo e qualquer

tipo de informação que esteja disponível aos integrantes da organização no

que concerne a ele, ao seu grupo de trabalho ou à organização como um

todo”.

Para Beyda e Wetzel (2008), as polít icas e práticas de gestão de

recursos humanos são elementos importantes no processo de formação, uma

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32 vez que podem fazer parte do discurso organizacional, enviando mensagens

capazes de criar expectativas nos trabalhadores.

Vários são os fatores que contribuem para o desenvolvimento do

Contrato Psicológico, e Rousseau (1995) desenvolveu um modelo para o

entendimento de sua formação, no qual contempla dois aspectos principais

que interagem entre si: os fatores organizacionais e os fatores individuais.

Os fatores organizacionais estão relacionados às informações das

vivências repassadas pelos colegas ou grupo de trabalho, denominadas

“normas ou pistas sociais”, e às comunicações de promessas por parte da

organização, consideradas como intenções para o futuro, chamadas

“mensagens organizacionais”. Os fatores individuais dizem respeito aos

processos e predisposições que as pessoas elaboram ao codificar e decodificar

as mensagens da organização (ROUSSEAU, 1995).

A representação esquemática dessa autora (Figura 1) pode ser descrita

da seguinte forma: as mensagens enviadas pelos agentes da organização

(gerentes, recrutadores, colegas) comunicam futuras intenções, propostas de

ação e práticas existentes. Essas informações, somadas às normas ou pistas

sociais, são codificadas pelos receptores através de processos individuais de

interpretação. A codificação recebe influência de aspectos da predisposição

individual, principalmente de suas bases cognitiva s e de seus objetivos na

carreira. A partir desse processo acontece a decodificação, formatando então

um Contrato Psicológico individual.

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33

LEGENDA:

A autora justifica ainda que essa formatação irá depender não só de

percepções, mas de signi ficados próprios, levando a uma idéia de

singularidade do processo, como sendo o contrato “um modelo mental que as

pessoas usam para formatar eventos tais como promessas, consentimentos e

confiança” (ROUSSEAU, 1995, p. 27).

Com base na concepção desse esquema, foram exploradas influências

tanto do aspecto individual quanto do organizacional para delinear sua

formação. Beyda e Wetzel (2008) defendem que, do ponto de vista do

indivíduo, vários aspectos se destacam, tais como a experiência anterior, as

expectativas pré-contratação, a motivação para a carreira e o significado do

trabalho. Já para Ferreira (2007), a estrutura do Contrato Psicológico depende

das interpretações subjetivas que os indivíduos fazem, ocorrendo

interferências cognitivas próprias .

Do ponto de vista da organização, tanto a área de atuação quanto o seu

tamanho exercem influência na criação de expectativas, mas as políticas e

práticas de gestão de recursos humanos têm o papel mais relevante na

contribuição para a formação do Contrato Psicol ógico (BEYDA; WETZEL,

2008).

Um aspecto importante é a compreensão de que a formação do Contrato

Psicológico se inicia antes mesmo do trabalhador executar seus serviços na

Figura 1 – Criando um Contrato Psicológico Individual Fonte :(ROUSSEAU, 1995 p. 33).

Predispos ição

Codif icação

Processos Ind ividuais

Contrato Psico lógico Decodificação

Fatores Organizacion ais

Mensagem

Normas Sociais

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34 empresa (BEYDA; WETZEL, 2008), e pode ser devido à influência que sua

imagem externa representa para a sociedade (ANBREU; SILVA, 2006),

muitas vezes advinda da autopromoção para obter uma boa imagem no

mercado (REYES CONTRERAS; MARTÍNEZ LEÓN, 2007), fazendo parte das

mensagens processadas na geração desses contratos.

Também o modo de agir da organização, em seus processos de

recrutamento, avaliação de desempenho, treinamento e gestão de benefícios

representam uma escolha de como será estabelecida a relação com os

trabalhadores, permitindo diferenciar as pessoas. Esses processos exercem

impacto nas escolhas de cada indivíduo, direcionando suas ati tudes e

comportamentos retratados por aceitação do emprego, nível de esforço e

dedicação, o que aprenderá, quanto tempo vai ficar, ou a maneira como tratará

outras pessoas (BEYDA, 2008).

O contexto social também auxilia no processo de formação dos

Contratos Psicológicos, pois suas normas exercem impacto na natureza e

interpretação das promessas, através da cultura, sistemas e insti tuições

nacionais que compõem esse contexto (FERREIRA, 2007).

Esse autor destaca ainda que alguns fatores, enumerados por Westwood,

Sparrow e Leung (2001), podem influenciar o processo de desenvolvimento

do contrato e variar de acordo com o contexto. São eles:

as predisposições individuais;

os valores nacionais que influenciam as normas sociais;

a noção de carreira;

o modelo de gestão de recursos humanos e

a capacidade dos sistemas de gestão na proteção de negociações.

Valorizando as questões contextuais das relações de trabalho, Guest

(2008) elaborou um modelo de desenvolvimento do Contrato Psicológico

(Figura 2), que oferece uma visão mais integrativa e abrangente (LEIRIA;

PALMA; CUNHA, 2006), apresentando uma série de variáveis que ajudam a

moldar esse contexto nos dois níveis: individual e organizacional (BEYDA,

2008).

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35

Para Guest (2008), as novas formas de relações de trabalho são

enfatizadas pela era de mudanças contínuas, que se configuram nessas

relações, através de elementos que envolvem a flexibilização e existência de

diferentes padrões de contratação para o trabalho.

Fazendo uma comparação entre os modelos de formação de Contratos

Psicológicos de Rousseau (1995) e Guest (2008), pode -se constatar que o

primeiro é limitado ao nível organizacional, enquanto o de Guest é centrado

numa visão maior, que envolve os proprietários da organização ou a estratégia

de negócio, pois para ele, o contexto ajuda a modelar o conteúdo e os

resultados desses contratos (LEIRIA; PALMA; CUNHA, 2006).

Posturas

.Compromet imento

.Equi l íbr io

.Segurança

no t rabalho

.Mot i vação

.Stress .Pol í t icas e

prát icas de RH

.Part ic ipação

d i re ta

.Relações de

emprego

.Cl ima e cu l tura

organizac ional

Individual

.Sexo

. Idade

.Educação

.Cargo

.Tipo de

t rabalho

.Horas

t rabalhadas

.Contrato de

emprego

.Raça

.Tempo de

t rabalho

.Renda

Organizacional

.Setor

.Tamanho

.Propr iedade

.Estratég ia do

negóc io

.Poder s ind ica l

Comportamentos

.Presença

. In tenção de f icar

ou sa i r

.Desempenho

.Promessas

rec íprocas

.Recompensas

.Obr igações

Confiança:

.Real i zação

do combinado

.Just iça

Fatores contextuais e fundamentais

Contratos Psico lógicos

Estado do Contrato Psico lógico

Resultados Polí t icas e Prát icas

Figura 2 : Desenvolvimento de Contrato Psicológico Fonte: Estrutura para a análise do Contrato Psicológico de Guest (2008, p.138) .

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36

E, finalmente, é importante saber quais são os elementos en volvidos na

formação dos Contratos Psicológicos, principalmente no que concerne à

representação do empregador, uma vez que qualquer pessoa que possa

comunicar alguma forma de comprometimento ou promessa futura para outra,

será um “contract maker”1 (ROUSSEAU, 1995).

Devido a sua importância, esse assunto será tratado com mais detalhes

na subseção a seguir.

2.2.1 “Contract makers”

Há vários partícipes envolvidos na atividade de estabelecer os

Contratos Psicológicos nas organizações. A importância em enten der a

existência da variedade de elementos que fazem os contratos está na

possibilidade de ocorrerem processos ambíguos de comunicação e

entendimento das mensagens. Diversos significados podem ser dados,

conforme a mensagem é enviada e de quem ela parte (R OUSSEAU, 1995).

Rousseau (1995) classifica do is grupos de “contract makers” ,

chamados de principais que são os proprietários (representando o

empregador) e o próprio trabalhador . O outro grupo é chamado de agentes

que são aqueles que agem pelos outros no sentido de comunicar uma promessa

ou ter comprometimento em nome da organização.

A representação dos agentes pode ser feita pelos gerentes de linha,

(LEIRIA; PALMA; CUNHA, 2006), recrutadores, mentores, colegas de

trabalho e representantes de cooperativas d e trabalho (ROUSSEAU, 1995).

A relevância que os gerentes 2 têm na elaboração dos Contratos

Psicológicos deve ser observada, pois é com eles que acontecem as principais

1 A expressão: “contract maker” tem como tradução literal “fabricante de contrato”, sendo estranha ao contexto gramatical da Língua Portuguesa. Por essa razão, será mantida a expressão na Língua Inglesa com o sentido de ser relacionado às partes que realizam os contratos psicológicos entre si. 2 O termo gerente aqui, pode ser entendido como o gestor ou supervisor direto de um grupo de pessoas de determinado cargo ou função.

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37 negociações na vida cotidiana das organizações (GUEST, 2008; ROUSSEAU,

1995).

Neste estudo serão considerados contract makers por parte dos

trabalhadores, os profissionais Técnicos de Enfermagem que pertencem ao

quadro funcional da empresa, chamados de Contratados, e os que prestam

serviço através de cooperativa, chamados de Cooperados. Repr esentando o

empregador, como agente da empresa, estão as Enfermeiras Supervisoras,

responsáveis pela gestão dessa equipe. São elas que orientam, determinam

atividades, supervisionam o trabalho e avaliam o desempenho desses

profissionais.

Foram vistos nesta seção os aspectos relacionados à formação do

Contrato Psicológico, bem como os indivíduos responsáveis em fazê -los,

fundamentando a escolha dos elementos a serem estudados.

A próxima seção irá abordar as principais características que permeiam

o Contrato Psicológico, cujo entendimento é essencial para o desenvolvimento

do estudo das partes envolvidas no contexto organizacional.

2.3 Características do Contrato Psicológico

As características do Contrato Psicológico podem fornecer uma visão

de como ele se processa na relação de trabalho entre as organizações e seus

colaboradores. Os t ipos de promessas, referências, formas de acordo e

relações de confiança são aspectos que se manifestam nesse processo. O seu

entendimento também pode auxiliar as pessoas en volvidas na relação, a

manter comprometimento e evitar o envio de mensagens inadequadas

(ROUSSEAU, 1995).

De acordo com a revisão de literatura realizada, há várias

característ icas que delimitam o construto do Contrato Psicológico, tais como:

ser individual e único (BEYDA; WETZEL, 2008; CHAMBEL, SOUZA, 2007;

ROUSSEAU, 1995), ser passível de mudanças (FERREIRA, 2007; SCHEIN,

1982), implicar em voluntariedade (FERREIRA, 2007; RIOS, 2007) ter

caráter subjetivo (MENEGON, 2010), idiossincrático e informal

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38 (FERREIRA, 2007), mutualidade e reciprocidade , na idéia de promessas

(FERREIRA, 2007; ROUSSEAU, 1995).

Assim como o conceito, apresentado no capítulo 2.1, verifica -se que

não há um consenso quanto às características definidoras para todos os

autores, mas uma variedade de aspectos que formatam o Contrato Psicológico.

A individualidade e a unicidade estão relacionadas ao fato de que a

expressão e interpretação dos termos do contrato são realizadas de modo

específico (CHAMBEL; SOUZA, 2007), por ser um relacionament o “one-to-

one” (um para o outro) entre o empregador e o trabalhador (ROUSSEAU,

1995). A realidade e a codificação das mensagens produzidas em cada sujeito

desenham um Contrato Psicológico próprio e único (ANBREU; SILVA, 2006).

Em relação ao aspecto de ser considerado sujeito às mudanças , Schein

(1982) defende que, à medida que as organizações mudam, suas necessidades

também se alteram com o tempo, e o mesmo pode ser aplicado aos

trabalhadores, uma vez que, conforme a carreira vai se desenvolvendo, as

expectativas relacionadas ao trabalho vão se transformando.

Há duas formas em que essas mudanças podem ocorrer: internas e

externas. As internas acontecem quando o Contrato Psicológico se transforma

sem muito esforço mental, por meio da alternância do significad o dos termos

gerais e também pela aquisição de novos termos, muitas vezes sem que a

outra parte tenha a mesma consciência (ROUSSEAU, 1995). Isso pode

acontecer devido às tendências cognitivas gerais dos indivíduos, onde o

processamento das informações, os julgamentos e a própria maturidade e

experiência exercem esse efeito de mudança (FERREIRA, 2007).

Já as mudanças externas podem acontecer primeiramente por

acomodação, que ocorre gradualmente dentro de contextos habituais,

normalmente com bons resultados q uando a relação está harmônica. E também

podem suceder por transformação, relacionada, geralmente, à criação de um

novo contrato, que pode não ser muito bem visto, e evoluir para situações de

“quebra ou violação” com conseqüências arriscadas, mas com possi bil idades

de serem gerenciados através dos processos de preparação às mudanças com

resultados mais posit ivos (ROUSSEAU, 1995).

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39

A característica da voluntariedade implica na adesão livre (RIOS,

2007) onde há um consentimento voluntário dos termos do contr ato

(FERREIRA, 2007).

Já a informalidade , subjetividade e idiossincrasia acontecem, pois os

Contratos Psicológicos são resultados de interações sociais complexas, com

limites cognitivos e sujeitos às percepções próprias de cada parte

(MENEGON, 2010), preenchendo as lacunas existentes oriundas dos contratos

formais (FERREIRA, 2007; ROUSSEAU, 1995).

A reciprocidade e mutualidade estão presentes na maioria dos

conceitos, o que reforça a importância dessas características. A

reciprocidade refere-se às expectat ivas ou as obrigações que podem ser

percebidas nos contratos. Ferreira (2007) chama a atenção para o fato que a

percepção da reciprocidade pode ser mais real do que a reciprocidade em si ,

como característica do Contrato Psicológico. Quanto à mutualidade , existe

um aspecto polêmico, pelo teor de subjetividade que apresenta, pois faz

menção aos acordos que são entendidos pelas estruturas próprias de referência

de cada parte, e as expectativas podem não ser tão mútuas quanto se acredita

(ROUSSEAU, 1995).

Rousseau (2004) faz uma diferente classificação das características do

Contrato Psicológico, considerando uma abordagem que procura destacar seus

aspectos básicos e dinâmicos:

1. Escolha voluntária;

2. Crença no acordo mútuo;

3. Incompletude (ser incompleto);

4. Múltiplos fazedores de contratos;

5. Gerenciamento de perdas quando os contratos falham;

6. Contrato como modelo de relação de trabalho.

Menegon (2010, p. 20) apresenta uma abordagem mais funcional e

relacionada ao trabalhador, dos autores Shore e Tetrick (1994) sobre a s

característ icas dos Contratos Psicológicos, ci tando que esse t ipo de contrato

seria um redutor da insegurança, ofereceria parâmetros sobre a carreira na

organização e teria a capacidade de modelar o comportamento do trabalhador

baseado no que a empresa espera dele.

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40

Importa destacar, ainda, um aspecto sobre a relação de poder e

autoridade que caracterizam a hierarquia e subordinação existentes nas

organizações, e que, consequentemente, também fazem parte dos acordos

entre empregador e trabalhador no âmbito do Contrato Psicológico

estabelecido.

[...] a expectativa da organização de que um membro novo irá aceitar o sistema de autoridade dessa organização. A decisão de passar a fazer parte da organização implica aceitação das regras básicas que constituem o sistema de autoridade dessa organização. [...] a pessoa deve estar disposta a aceitar as ordens de uma outra pessoa ou algumas regras escritas, aceitar limites a seu próprio comportamento[...] (SCHEIN, 1982, p.19).

Finalizando a abordagem das característ ica s, é interessante verificar os

estudos de Guest (2008), que citam a existência de uma conexão entre Gestão

de Recursos Humanos e o Contrato Psicológico, que pode ser considerado

como um mediador das atitudes dos trabalhadores, influenciando a satisfação

de uma maneira geral , a satisfação no trabalho e equilíbrio entre a vida

pessoal e profissional.

Esse autor refere também que há influência do Contrato Psicológico nas

atitudes e no comportamento dos trabalhadores, estruturando as promessas, o

sistema de trocas (reciprocidade) e o equilíbrio (equidade) da relação com o

empregador.

Analisando as características do Contrato Psicológico já vistas nesta

seção, alguns autores (ROUSSEAU, 1995; SELS ; JANSSENS; VAN DEN

BRANDE, 2004) construíram tipologias que servem para classificar e melhor

entender as relações de trabalho baseadas nesses contratos.

A próxima seção irá abordar esse assunto que está relacionado aos

arranjos que determinam as variedades dos tipos de Contratos Psicológicos.

2.4 Tipologias do Contrato Psicológico

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41

A partir dos elementos constituintes do Contrato Psicológico é possível

desenvolver estudos dos tipos de contrato que podem auxiliar na compreensão

das relações estabelecidas entre os trabalhadores e empregadores, criando -se

uma tipologia própria (ROUSSEAU, 1995).

O termo tipologia é definido como sendo o “estudo, análise ou

classificação baseada em tipos [.. .]” (HOUAISS, 2008).

A forma como os trabalhadores e empregadores se relacionam podem

determinar uma tipologia relacionada ao Contrat o Psicológico. “[.. .] tipos

específicos de relação de trabalho levam aos diferentes tipos de contrato.”

(LOBO, 2007, p.60).

Os estudos dos elementos que compõem esses contratos possibilitam o

desenvolvimento de alternativas para suas medidas e classificaç ões de suas

tipologias (CUYPER; RIGOTTI; WITTE; MOHR, 2008). Mas n ão há um

consenso entre os pesquisadores a respeito de quais são os elementos, e de

como esses devem ser medidos para a construção de uma tipologia.

Conforme referido por Battisti et al (2007), a heterogeneidade das

pesquisas levou Rousseau e Tijoriwala (1998) a propor uma classificação para

orientar investigações futuras sobre o tema, onde são apresentados três tipos

de orientações para a realização de medidas:

1)Conteúdo-orientada: examina os específicos termos e obrigações

como elementos de caracterização dos Contratos Psicológicos (Ex.

Transacional e Relacional, envolvendo elementos econômicos e

sócio-emocionais);

2)Avaliação-orientada: examina os elementos subjetivos em termos

da manutenção/quebras de promessas e mudanças (muito usada por

pesquisadores que querem analisar resultados organizacionais dos

Contratos Psicológicos, tais como comprometimento afetivo e

satisfação no trabalho);

3)Característico-orientada: examina vários elementos de

diferenciação conceitualmente independentes entre os Contratos

Psicológicos (Ex. estático ou dinâmico, termos explícitos ou

implícitos, escri tos ou não escritos, etc.).

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42

A mais conhecida tipologia, e base para suas sucessoras, é a de

Rousseau (1995), fundamentada em duas dimensões: Tangibilidade e

Estrutura Temporal. A Tangibilidade está relacionada ao grau em que os

termos acordados de desempenho estão definidos e clarificados, e a Estrutura

Temporal é o tempo/prazo de duração do contrato (RIOS, 2007 ). Essa autora

denomina, inicialmente, os contratos como Transacionais (l imitada duração

com termos de desempenho bem especificados) ou Relacionais (indefinida

duração com termos de desempenho não muito bem especificados), mas

afirma que é uma forma muito simplista de análise.

A partir dessas observações, fazendo uma formatação mais detalhada

com um arranjo de “2 x 2” dessas duas dimensões citadas acima, foram

estabelecidos ainda por Rousseau (1995), mais dois tipos de contratos, que

não são frequentemente abordados na literatura dos Contratos Psicológicos,

de acordo com a pesquisa bibliográfica realizada. São os chamados,

Transicional e o Balanceado ou Equilibrado , totalizando então, quatro tipos

diferentes de contratos (Figura 3).

Especificado Não especificado

Duração

Longa duração

Curta duração

TRANSACIONAL Baixa ambiguidad e Saída fáci l /Al to tu rnover Baixo co mpro met imento Lib erd ade p ara novos cont ra tos Pouca aprendizagem Fraca in tegração / id en t i f i cação

TRANSICIONAL

Ambiguidad e/ In cer t eza Al to tu rno ver Ins t ab i l idad e

BALANCEADO Alto co mpro met imento Al ta in tegração / Iden t i f icação Desen volvimento cont ínuo Cooperação mútu a Dinamismo

RELACIONAL Alto co mpro met imento Al to co mpro met imento a fet ivo Al ta in tegração / Iden t i f icação Estab i l idad e

Figura 3 – Tipos de Contratos Psicológicos – Rousseau (1995, p. 98)

Termos de Desempenho

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43

Os contratos do tipo Balanceados mesclam termos tanto Relacionais

quanto Transacionais e ocorrem de acordo com os desejos de cada parte, com

termos de desempenho mais especificados. Os Transicionais se manifestam

pela falta de clareza de aspectos tanto Relacionais quanto Transacionais,

caracterizando-se por uma relação pautada por dúvidas e instabilidade

(ROUSSEAU, 1995).

Em relação à construção da t ipologia de Rousseau (1995), são

apontadas fragilidades por alguns autores, como: Rios (2007); Sels, Janssens

e Van Den Brande (2004), principalmente no que se refere à estabil idade dos

arranjos na comparação de diferentes amostras em estudos empíricos, além do

fato de haver uma exclusão de outras três dimensões importantes, a serem

consideradas: Escopo, Foco e Estabilidade.

Em busca de um modelo menos limitado e com maior flexibilidade, a

tipologia de Shore & Bakersdale (1998, apud RIOS, 2007), apresentada na

Figura 4, tem o foco em características mais generalizadas.

Esse modelo apresenta dois tipos de con tratos mais estáveis ao longo do

tempo (obrigações mutuamente elevadas e obrigações mutuamente baixas), e

dois tipos menos estáveis (empregado com subcarga e empregado com

sobrecarga). Mas, segundo Janssens, Sels e Van Den Brande (2003), também

apresenta algumas fraquezas, sendo que a própria generalização é uma delas,

além de não testar a proposição de que os Contratos Psicológicos menos

estáveis (não balanceados) são necessariamente menos frequentes e

duradouros.

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44

Despontando como proposta de minimizar as fraquezas dessas

tipologias, Janssens, Sels e Van Den Brande (2003) pesquisaram uma amostra

representativa de 1.106 trabalhadores, de várias categorias funcionais,

considerando a abordagem “característico -orientada” do Contrato Psicológico

através de dimensões, validando e elaborando um modelo dos tipos de

contratos.

Esses autores consideraram seis dimensões, de modo que quatro são

oriundas de Rousseau e Mc Lean Parks (1993): Tangibilidade; Escopo ;

Estabilidade; Estrutura Temporal ; e as outras duas, Nível de Contrato e

Simetria de Troca são derivadas da revisão de um estudo “cross-national” de

Rousseau & Shalk (2000) sobre Contratos Psicológicos em 13 países.

A validação dessas dimensões foi feita no decorrer de vários proc essos.

Iniciaram com a revisão do “cross-national” citado acima, para identificar os

indicadores das dimensões, e realizaram análises fatoriais com rotação

varimax, duas análises de fator confirmatórias, e uma “ cross-validation”. Em

Obrigações do Empregado

Elevadas Baixas

Obr

igaç

ões

do

Em

preg

ador

Baixas

Elevadas

OBRIGAÇÕES

MUTUAMENTE ELEVADAS

EMPREGADO

COM SUBCARGA

EMPREGADO

COM SOBRECARGA

OBRIGAÇÕES

MUTUAMENTE BAIXAS

Figura 4 – Tipologia de Contratos Psicológicos segundo Shore & Bakersdale Fonte : (RIOS, 2007, p.28)

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45 seguida, por meio da utilização de um “Nomological network”3 (Figura 5),

desenvolveram várias hipóteses, testando a conceituação de cada dimensão

com o contrato formal e com as práticas de recursos humanos. Enfim,

examinaram a influência das seis dimensões em dois resultados

organizacionais: comprometimento afetivo e empregabilidade.

Figura. 5 – Rede nomológica para validar as Dimensões do Contrato Psicológico Fonte : (SELS; JANSSENS; VAN DEN BRANDE, 2004)

3 O termo Nomological network pode ser traduzido como “Rede nomológica”, e foi desenvolvido como uma ferramenta para validação de testes psicológicos, mas pode ser aplicado para validar medidas de desempenho. Quando a “Rede nomológica” hipotética é testada, a evidência é significativa para todas as partes da cadeia que resume, não apenas todas as medidas e fatores, mas também as proposições teóricas referente à relação entre os resultados mensurados e os fatores subjacentes. (Cronbach; Meehl 1955, p.294 apud Lönnqvist, A. & Hannula, M. (s/d))

Contrato formal Tipo do contra to Duração do contra to

Dimensões do Contrato Psicológ ico Tangibi l idade Escopo Estabil idade Formatação do Tempo Simetria de Troca Níve l de Contrato

Práticas de RH Part ic ipação ( influência do empregado) Fluxo de carrei ra interna Autonomia de trabalho Pagamento de recompensas

Resultados Compromet imento afet ivo Controle pessoal perceb ido

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46 Cada dimensão é capaz de medir os elementos conforme detalhamento

demonstrado no Quadro 2, sendo importante ressaltar que nesse estudo foi

considerada a idéia de relações de troca entre empregador e empregado, sob a

percepção do trabalhador, havendo uma oferta e uma contrapartida entre as

partes em cada dimensão pesquisada. Existe uma correspondência entre as

escalas de cada parte, embora o sentido em algumas dimensões seja diferente

(RIOS, 2007).

DIMENSÕES O que o Empregador

oferece

O que o Empregado

oferece

ESTRUTURA TEMPORAL (Curto/Longo prazo)

Duração percebida do relacionamento de trabalho

Investimento de longo prazo no trabalhador

Lealdade: permanência na organização

TANGIBILIDADE (Intangível/Tangível)

Grau de clareza dos termos de desempenho, sem ambigüidade

Clareza em relação às oportunidades, atribuições e

critérios de avaliação

Atitude aberta e clareza em relação às rotinas e questões

relacionadas ao trabalho

ESCOPO (Largo/Estreito)

Grau do quanto o limite entre a relação de trabalho e outros aspectos da vida

pessoal é permeável

Tratamento personalizado, considerando o empregado

como pessoa e não apenas como recurso

Investimento pessoal em relação à organização e às metas

perseguidas

ESTABILIDADE (Estável/Flexível)

Grau no qual o contrato é limitado em relação à habilidade de evoluir e mudar

sem que haja a necessidade de renegociação dos termos

Atenção para com os acordos feitos em relação ao ambiente

de trabalho

Flexibilidade e tolerância em relação aos processos de mudança organizacional

SIMETRIA DE TROCA (Igual/Desigual)

Grau de aceitação das diferenças de trocas, relacionadas à hierarquia e

desigualdade

Estímulo à ascensão funcional e ao plano de carreira

Respeito à autoridade instituída na organização

NÍVEL DE CONTRATO (Individual/Coletivo)

Grau em que se percebe a regulação do contrato de modo individual ou coletivo

Tratamento igualitário e justo Flexibilidade para negociação

Quadro 2 – Dimensões do Contrato Psicológico segundo Sels, Janssens e Van Den Brande, (2004) e adaptado a partir de RIOS (2007, p.33 -34).

Outra maneira de compreender como essas dimensões ocorrem é através

da observação de indicadores nas práticas organizacionais, conforme

apresentadas por Battisti et al (2007):

a) Estrutura Temporal : os indicadores de relacionamento de longo

prazo são promoções baseadas no tempo de serviço, segurança no

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emprego e pequena mobilidade externa; os indicadores de curto

prazo são a alta mobilidade externa e número restrito de contratos de

tempo ilimitado.

b) Tangibilidade: os indicadores são os numerosos acordos escritos,

descrições de trabalho específicas e cri térios de avaliação de

desempenho explícitos; os indicadores de intangibilidade são

aqueles que têm uma definição ampla de funções e pautados em forte

confiança.

c) Escopo: os indicadores de estreitamento são aqueles onde há um

baixo envolvimento do trabalhador e estreita divisão entre vida

pessoal e trabalho; os indicadores de extensão verificam se o

empregador se interessa pela vida pessoal do trabalhador ou este faz

sacrifícios pessoais em prol da organização.

d) Estabil idade: os indicadores se configuram em estreita aplicação

de regras, baixa tolerância às incertezas e pouca flexibil idade; o

oposto pode ser indicado por flexibilidade com maior tolerância na

incerteza e mudanças, além de contínuas modificações das regras.

e)Simetria de Troca: indicadores de equidade demonstram existência

de respeito à ordem e obediência hierárquica, e de inequidade,

desrespeito a esses elementos.

f)Nível de Contrato: os indicadores são as participações coletivas

nas decisões, tratamento igual, papel forte do sindicato; o indicador

de individualização é a possibilidade de existirem negociações

particularizadas.

A partir da validação dessas seis dimensões, Janssens, Sels e Van Den

Brande (2003), descrevem, em outro art igo, a construção de uma tipologi a

para os Contratos Psicológicos, através da aplicação de uma análise de

clusters, usando o Método Ward’s na ferramenta SPSS.

Os resultados encontrados por esses autores são os seis clusters (4

maiores que variam de 203 a 241 respondentes; um médio com 15 1 e um

pequeno com 44 respondentes) que estão representados na Tabela 1. Nele,

estão nominados os tipos de Contratos Psicológicos, de acordo com as

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48 ocorrências e as característ icas das dimensões nos achados de suas

combinações, tanto da parte do empregador, quanto da parte do empregado.

Esses contratos podem ser interpretados nas perspectivas da parte do

trabalhador e do empregador (RIOS, 2007), com a vantagem da identificação

de qual dimensão do cluster é que se apresenta em desequilíbrio (LOBO,

2007) e, consequentemente a isso, qual a dimensão mais saliente em relação

às médias. Esses dados tornam-se importantes para as tomadas de decisões

nas renegociações de contrato, pois pode -se util izar essa abordagem como

uma ferramenta no processo de gestão de pessoas.

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TIPO DO CONTRATO/ OCORRÊNCIA

CARACTERÍSTICAS

Obrigações do Empregador Obrigações do Empregado

INSTRUMENTAL / (19,5 %) Empregados com expectativas altas em relação aos empregadores, mas se percebem como tendo poucas obrigações em retorno

Scores médios em todas as dimensões, exceto Trata -mento igual que obteve score alto.

Scores médios, exceto Fle - xibilidade e Investimento Pessoal que ficaram abaixo da média

FRACO / (19,5%) Ambos (Empregados e Empregadores) com expectativas baixas

Scores baixos em todas as dimensões, principalmente na Tangibilidade, Tratamento Pessoal e Tratamento Igual

Scores baixos em todas as dimensões principalmente na atitude aberta

LEAL / (19,5 %) Enfase em Envolvimento de Longo prazo em troca de Lealdade

Scores médios em Tangi - bilidade, Tratamento Pessoal e cuidados. Scores altos em Tratamento Igual e Envol - vimento de longo prazo

Score muito alto em Leal - dade e muito baixo em Investimento Pessoal. Mé -dios scores em atitude aberta, Flexibilidade e res -peito por autoridade

FORTE / (23,0%) Ambos (Empregadores e empregados) com expectativas altas

Scores altos em todas as dimensões

Scores altos em todas as dimensões (exceto Inves - timento Pessoal)

DESCONECTADO / (4,0%) (trad.de unattached) Ênfase em baixas expectativas de Envolvimento de Longo prazo em troca por pouca Lealdade

Scores baixos em todas as dimensões, principalmente em Envolvimento de longo prazo

Scores baixos em todas as dimensões, principalmente em Lealdade, mas com scores um pouco mais altos em Investimento Pessoal

INVESTIDO / (14,5%) (trad.de investing) Empregados com expectativas mo - deradas em relação aos empre - gadores, mas se percebem como tendo muitas obrigações em retorno

Scores médios em todas as dimensões, exceto Trata -mento Igual, que obteve score alto.

Scores médios,exceto Fle - xibilidade e Investimento Pessoal, que ficaram muito acima da média

Tabela 1 - Solução de seis clusters e denominações dos Contratos Psicológicos segundo Janssens, Sels e Van Den Brande, (2003).

Uma contribuição desses dois estudos dos autores Janssens, Sels e Van

Den Brande em 2003 e 2004, é a possibilidade que surge para a investigação

do Contrato Psicológico através de uma variedade de aspectos fornecidos

pelas seis dimensões, tais como formatação do tempo, níveis de desempenho,

envolvimento com a organização, entre outros. Porém, é considerada por

esses mesmos autores a proposta de expansão desse estudo em outras regiões

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50 e populações, além da inclusão de uma abordagem do empregador em relação

a essas dimensões, uma vez que foi utilizada apenas a percepção do

trabalhador.

Aproveitando essa idéia, o uso dessas dimensões propostas por esses

autores embasa a presente pesquisa dos Contratos Psicológicos na área de

saúde, especificamente assistência domiciliária, através de seus principais

“contract makers”, analisando as percepções do trabalhador e também do

empregador.

As duas seções que seguem tratam de apresentar os aspectos das

relações de trabalho, bem como o processo da percepção organizacional no

contexto que envolve os Contratos Psicológicos.

2.5 Relações de Trabalho

A década de 90 destaca-se na economia brasileira por mudanças

estruturais que geraram uma adaptação competitiva ao mercado global e

iniciaram processos de reestruturação dentro das empresas. Essas

reestruturações aconteceram principalmente através de processos de

reengenharia, terceirização e modernização tecnológica que refletiram na

ocorrência de flexibilização dos regimes de trabalho (COSTA, 2005).

Dentre as alterações introduzidas no sistema de relações de trabalho

brasileiro, destacam-se as novas formas de determinação da remuneração e d a

jornada de trabalho, de contratação da mão de obra, de solução de conflitos e

a descentralização das negociações, “prevalecendo o negociado sobre o

legislado” (SILVA, 2006).

As organizações da área de prestação de serviços de saúde também são

afetadas pelos impactos dos ajustes dessas mudanças. E ainda envolvem

processos de relações de trabalho caracterizados por sua complexidade,

heterogeneidade e fragmentação em decorrência de características peculiares

à esse mercado. Essas característ icas são decorren tes dos atores e cenários

envolvidos na relação laboral em saúde, tais como os profissionais e usuários

dos serviços, as hierarquias e subordinações, as relações sociais, as formas de

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51 organização e do ambiente de trabalho, além das tecnologias empregadas

(DELUIZ, 2001).

O contexto do mercado brasileiro de trabalho na área da saúde é

pautado pela existência de múltiplas formas de contratação, envolvendo o

regime da CLT, contratações temporárias, terceirizações, prestação de

serviços autônomos, por cooperati vas, entre outros, sendo consideradas como

uma tendência à precarização do trabalho (SILVA, 2006).

Essas formas diferentes de contratos podem conviver em um mesmo

ambiente e Rubery et al (2003) chama a atenção para a possibilidade de

ocorrerem algumas dif iculdades com as negociações dos trabalhadores

(inclusive seus Contratos Psicológicos), bem como com o aumento de

demandas e exposição das políticas e práticas de Recursos Humanos.

Esse fato corrobora a opinião de Leiria, Palma e Cunha (2006) de que

essas políticas e práticas podem influenciar a maneira como os trabalhadores

vão interpretar os termos e condições do trabalho que auxiliam na formação

do Contrato Psicológico entre as partes.

Outro fator importante que envolve a flexibilização está relaci onado ao

desempenho do trabalho da equipe, que pode ser afetado por segmentação

entre os insiders (relação de trabalho padrão) e os outsiders (outros tipos de

relação) (KALLEBERG, 2003).

Rousseau (1995) define os arranjos dessas relações de trabalho (Figu ra

6) que considera elementos da flexibilização e as categorias de trabalhadores 4

com diversos t ipos de contratações nas organizações. Com o intuito de propor

uma adequação dessas novas formatações do trabalho nas descrições desses

contratos, releva o aspecto do tipo de contrato formal entre as partes e

considera a combinação de duas dimensões, a Estrutura Temporal (longo

ou curto prazo/duração) e outra, relacionada ao Grau de Internalização ou

Externalização do empregado.

4 A denominação dos trabalhadores utilizada por Rousseau foi traduzida e ajustada pela pesquisadora, para os termos assemelhados em português, levando em consideração as características dos contratos de trabalho definidos pela autora.

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52

Figura 6 – Arranjos das Relações de Trabalho (ROUSSEAU, 1995 p. 105)

Essas denominações podem ser entendidas como: 1. Internos de longo-prazo – Core employees (trabalhadores fixos)

São considerados como os principais trabalhadores na organização,

oferecendo vantagem competitiva em função das competências (muitas vezes

essenciais). Eles são o foco da retenção, e é esperada a lealdade e o

envolvimento, em um contrato tipicamente Relacional, por parte tanto do

empregado quanto da organização.

2. Internos de curto-prazo – Careerists (carreiristas)

São considerados como aqueles que querem desenvolver carreira em várias

organizações, e não somente em uma empresa específica. Eles não assimilam

a cultura da empresa, e o trabalho é como um degrau para um emp rego em

outra empresa, promovendo crescimento individual. Têm maior freqüência de

Curto prazo

Externo à organização

Pooled (periódicos)

Independent Contractors Temporaries

(contratos independentes/ temporários)

Networked/Guest workers alianças / parcerias

Longo prazo

Interno à organização

Core (trabalhadores

fixos)

Careerists and jugglers (carreiristas)

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53 contratos transacionais, que também podem ser interessantes às organizações,

para a sobrevivência num mercado de incertezas.

3. Externos de longo-prazo – Pooled workers (periódicos)

São considerados aqueles que não têm prazo determinado para atuar na

empresa, com vínculos diferentes dos fixos, sem regularidade. Podem ser os

fixos que mudaram seus contratos, flexibilizando carga horária devido a

fatores pessoais (família e estudos), ou necessidades da própria organização

(manter escalas de substituição de férias, por exemplo). Também podem ser

oriundos de cooperativas, agências ou autônomos. Possuem contratos com

elementos Transacionais e/ou Relacionais, de acordo com o tempo que presta

serviços para a empresa e a percepção de quem seja o empregador: a

organização ou ele mesmo.

4. Externos de curto-prazo – Temporaries and Independent Contractors

(temporários e contratantes independentes)

São os temporários e periféricos, que p odem ser contratados e gerenciados

pela organização ou profissionais autônomos procedentes de cooperativas e

agências. Podem atuar em determinados projetos, e com alta flexibilidade.

Possuem benefícios diferentes, normalmente bastante reduzidos, se

comparados aos fixos.

5. Alianças / Parcerias – (Networked/Guest workers)

Esse grupo é considerado um “participante virtual”, assim denominado pelos

autores Miles e Snow (1986), que usam o termo para se referir as pessoas que

trabalham fora da empresa principal, mas com relações dependentes, em

qualquer quadrante da figura e para várias empresas simultaneamente.

Rousseau (1995) também chama a atenção para a necessidade de

observar essas novas e variadas relações contratuais, que tendem a acontecer

nas organizações de forma simultânea, pelo risco de ocorrerem percepções de

inequidade, que poderiam levar ao efeito de quebras ou violações de contrato,

com conseqüências pouco favoráveis para ambas as partes.

O fato de envolver aspectos relacionados à percepção ju stifica a

necessidade de compreender esse processo, abordado a seguir.

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54

2.6 Percepção

A percepção pode ser definida como um processo onde os indivíduos

fazem uma interpretação própria, dando sentido ao seu ambiente. Esse fato é

importante para o cenário organizacional, pois o comportamento das pessoas

que nele atuam sofre influência dessa dinâmica (ROBBINS, 2005).

A interpretação que cada indivíduo atribui a uma determinada situação

sofre a influência do contexto e de suas características pessoais, tais como

suas experiências prévias , ati tudes, motivações e expectativas geradas por

relacionamentos estabelecidos (ROBBINS, 2005).

Os Contratos Psicológicos são sujeitos às percepções próprias de cada

parte, através do esquema mental (ROUSSEAU, 1995) do indivíduo, o que

justifica suas características subjetivas (MENEGON, 2010) e idiossincráticas

(FERREIRA, 2007).

Rousseau (1995) refere que os Contratos Psicológicos são modelos

mentais que as pessoas usam para formatar eventos, tais como promessas,

acordos e relações de confiança. Essas promessas podem significar as

percepções do que está sendo enviado. Não considera como simples

interpretações da realidade, mas o seu significado criado com base em muitos

outros eventos.

Dentro das organizações, a percepção dos processos pelos indivíduos

pode exercer impacto na gestão, principalmente a percepção relacionada ao

Contrato Psicológico existente na relação laboral entre trabalhadores e

empregadores.

Qualquer estratégia de gestão organizacional, hoje e no futuro, terá de incorporar a comunicação, a incerteza e a complexidade, para os quais o Contrato Psicológico (percepção por parte dos colaboradores das obrigações mútuas) contribui fortemente e dos quais também depende (VIEIRA, 2007, p.74).

Neste estudo, a representação da empresa através das Enfermeiras

Supervisoras é remetida às suas percepções como gestoras responsáveis pela

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55 sua equipe, trazendo à tona suas atitudes e principalmente expectativas na

relação de trabalho cotidiana com os Técnicos de Enfermagem.

A fundamentação teórica apresentada aqui procura elucidar, por meio

de revisão na literatura, os aspectos do Contrato Psicológico quanto à sua

conceituação, características, processo de formação com destaque para os

“contract makers”, e as várias tipologias que foram desenvolvidas.

Os aspectos da relação de trabalho e da percepção também foram

destacados como parte desta fundamentação.

Na próxima seção, será apresentada a metodologia util izada para o

desenvolvimento da pesquisa.

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56 3 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos util izados na

investigação da questão de pesquisa, que está relacionada em saber quais são

os Contratos Psicológicos estabelecidos entre os Técnicos de Enfermagem e

uma Empresa de Assistência Domiciliária atravé s do levantamento de suas

expectativas , utilizando as seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den

Brande (2004).

Através desses dados, espera -se fazer a comparação dessas expectativas

e analisar quais são os pontos convergentes e divergentes dessa relação, além

de identificar qual o tipo de contrato existente entre as partes, segundo a

tipologia de Janssens, Sels e Van Den Brande (2003).

Na primeira seção, descreve-se a Natureza da pesquisa, seguida do seu

Delineamento. A terceira seção aponta o Locus da investigação, depois

apresentadas as Características dos pesquisados e em seguida são descritos o

Pré-teste e o Método de Coleta de dados. Na sétima seção é delineado o

procedimento da Análise dos dados coletados e os Limit es e limitações da

pesquisa na oitava seção.

3.1 Natureza da Pesquisa

Na revisão de literatura realizada que aborda o tema sobre Contratos

Psicológicos, a metodologia mais comumente encontrada é a quantitativa, e

segundo Beyda (2008) as pesquisas, em sua maioria, utilizam questionários

com escalas auto-aplicáveis, estando sujeitas às limitações nas coletas de

dados, relacionados à informação que necessita ser lembrada, agregada e

art iculada com um processo de relações dinâmicas.

Essa mesma autora encontra justificativa no método qualitat iv o para o

estudo dos Contratos Psicológicos pela pouca exploração do tema e por

permitir que surjam aspectos relevantes no decorrer do processo que podem

ser explorados com maior profundidade.

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57

A metodologia proposta para este estudo está baseada na Pesquisa

Qualitativa, pela sua possibilidade de aprofundamento e capacidade para

analisar o que de fato acontece em ambientes que ocorrem naturalmente

(SILVERMAN, 2009), por procurar entender ou interpretar os significados

que as pessoas atribuem às suas experiê ncias (DRIESSNACK, SOUSA,

MENDES, 2007), e por compreender característ icas si tuacionais das pessoas

envolvidas na pesquisa (RICHARDSON, 2009).

Flick (2009, p.20) corrobora que esse método possui certa “relevância

ao estudo das relações sociais devido à pl uralização das esferas de vida”,

onde relata que é necessária uma nova sensibilidade do pesquisador para

análise dos significados subjetivos da experiência e da prática diária nos

contextos organizacionais.

A busca do entendimento da relação laboral sob a ótica das expectativas

do Contrato Psicológico pode remeter à necessidade de delimitar a quantidade

de sujeitos pesquisados e intensificar o estudo para compreender como ocorre

o processo, estando de acordo com a modalidade qualitativa de pesquisa

(CANZONIERI, 2010).

Além disso, o presente estudo se propõe ao reconhecimento e análise de

diferentes perspectivas que são indicadas por Flick (2009) nas abordagens

qualitativas, fazendo o levantamento de expectativas de cada parte dos

elementos da relação laboral , tanto do trabalhador, quanto do empregador.

Segundo Canzonieri (2010), a pesquisa qualitativa na saúde deve conter

determinados elementos no seu desenvolvimento, tais como: a sig nificação do

fenômeno em si mesmo; o sujeito e a sua significação são os ob jetos de

pesquisa; há a participação do pesquisador através de suas percepções,

conhecimento e observações; e os resultados são apresentados de forma

descritiva. O construto do Contrato Psicológico, dentro dessa visão, torna -se

apropriado para o uso da metodologia qualitativa pela pesquisadora , que

possui experiência profissional na área da Assistência Domiciliária ,

contemplando esses elementos citados.

Segundo a classificação dos tipos de pesquisa proposta por Vergara

(1998), que os qualifica em relação aos fins e aos meios, este estudo é, de

acordo com os fins, exploratório por abordar um contexto pouco explorado da

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58 relação laboral na Assistência Domiciliária, sob a ótica dos Contratos

Psicológicos, e também descritivo , por expor as características e indic adores

das suas dimensões. Em relação aos meios é um Estudo de caso único, por ser

restri to a uma unidade, com caráter de profundidade.

O Estudo de caso, embora possua alguns obstáculos relacionados à

replicação, generalização e complexidade no processo de análise, é muito

usado nas pesquisas em administração, quando se deseja entender como certos

fenômenos atuais acontecem dentro dos contextos específicos que envolvem

as organizações, o que se aplica aos objetivos desta pesquisa (NEVES, 1996).

Para atenuar essas limitações, a busca do rigor e zelo metodológico foi

seguida pela pesquisadora através das etapas do delineamento deste estudo.

Sendo esclarecida a natureza da pesquisa nesta seção, será apresentado

seu delineamento a seguir.

3.2 Delineamento de pesquisa

O delineamento da pesquisa pode fornecer uma visão geral do

planejamento das etapas a serem seguidas no seu desenvolvimento. Quando o

meio de investigação escolhido é o Estudo de caso, não há uma conformidade

da composição dessas etapas, mas é p ossível definir algumas que podem ser

seguidas (GIL, 2002; 2008).

A diagramação é uma das formas de demonstração desse delineamento,

onde se deve apresentar as principais fases e ser estruturada de acordo com o

tipo do problema, ficando o autor responsáve l pela definição de seu estilo de

apresentação (GIL, 2002).

A Figura 7 apresenta a diagramação do delineamento desta pesquisa,

considerando as etapas que mais se adequaram à proposta deste estudo.

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Figura 7 – Diagramação de Pesquisa Fonte: Adaptado de Gil (2002 p.21) .

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60 3.3 Locus da Investigação

A pesquisa tem como Locus, uma empresa da área de saúde com foco

em Atendimento Domiciliar, sediada no Município do Recife – Pernambuco,

que atua no mercado local desde 1997, prestando serviços médicos de

Assistência Domiciliária. Essa empresa foi escolhida, primeiramente, pela sua

expressiva participação no mercado do Recife, participação em associações

nacionais que representam o segmento, pela acessibilidade da pesquisadora e

por haver, por parte da direção execut iva da empresa, a crença nos benefícios

práticos que o resultado da pesquisa possa ter para o desenvolvimento

organizacional.

Segundo dados coletados a partir do si te da empresa, i nicialmente esta

fazia parte (franqueada) de uma rede americana , onde adquiriu o know-how , e

ao longo do tempo foi adaptando as rotinas ao mercado local para melhor

atender às necessidades da realidade do público brasileiro.

A empresa oferece serviços de saúde com abordagem multidisciplinar

24 horas por dia, atuando tanto em casos simples quanto de maior

complexidade. Gerencia e operacionaliza casos de internação e assistência

domiciliária, em que a condição clínica do paciente torna -se parte de um

plano de tratamento global integrado, cuja finalidade é a ação preventiva,

curativa, reabilitadora e/ou paliativa especializada. Para cada paciente

organizam cuidados, tratamentos, produtos, equipamentos e serviços

especializados .

Tem como princípios aspectos de humanização no atendimento à saúde,

baseando-se na integralidade da assistência, além da equidade e participação

do paciente/cliente. Seus valores são relacionados ao atendimento com

presteza; comprometimento; comunicação interna integrada; foco no cliente;

sucesso e superação. O valor relacionado ao sucesso engloba o

reconhecimento de seus recursos humanos, como “base do crescimento

sustentado” e na observação do desejo dos colaboradores em se manter na

empresa.(Cf. site da empresa acessado em 15 ago 2010).

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61

De acordo com a direção executiva da empresa, mais de 700 pessoas

trabalham nas diversas áreas, formando equipes de logística, operacional,

administrativa e a equipe multidisciplinar de saúde, composta por médicos,

enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas e técnicos de

enfermagem. Existem dist intos contratos com esses trabalhadores, que variam

de celetistas a prestadores de serviços autônomos e cooperativados.

Durante o período da pesquisa, a área de Recursos Humanos apresenta-

se em processo de reestruturação, mas é responsável pelo Recrutamento e

Seleção, em conjunto com a Educação Continuada, onde há etapas de

entrevistas com consultor interno da empresa, além da coordenação da área

para a qual o candidato está sendo selecionado. A Enfermeira responsável

pela Educação Continuada realiza uma avaliação técnica do candidato,

classificando-o para atuar em pacientes de baixa, média ou alta complexidade

assistencial .

Há diversos departamentos na empresa que estão relacionados direta ou

indiretamente ao atendimento ao paciente, tais como farmácia, faturamento,

entre outros. Para o presente estudo , é detalhado o setor de Assistência

Domiciliária relacionada ao Home Care , que é caracterizado pela realização

de serviços assistenciais de enfermagem e equipe multidisciplinar.

O setor de Home Care possui uma Coordenadora de Enfermagem,

responsável por 7 Enfermeiras Supervisoras que fazem a gestão da equipe de

Técnicos de Enfermagem e que assumem a supervisão da assistência no

domicílio do paciente, estando subordinadas a uma Gerente Geral de

Enfermagem, ligada diretamente à Diretoria da empresa.

Esse setor é o responsável pelo atendimento dos pacientes internados

em domicílio que necessitem de assistência de enfermagem (também chamado

de plantão de enfermagem) de 6, 12 ou 24 horas. Os plantões são realizados

pelos Técnicos de Enfermagem, sob a gestão do Enfermeiro Supervisor. A

composição da escala de trabalho da equipe de Técnicos é realizada por um

departamento específico para esse fim, chamado de Acionamento.

Esse departamento aciona os Técnicos de Enfermagem contrat ados para

compor a escala de plantão de cada paciente, alinhando os níveis de

complexidade assistencial com as competências técnicas do profissional e

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62 aciona também as Cooperativas para solicitarem a prestação de serviços dos

Técnicos de Enfermagem coopera tivados quando a demanda dos contratados

for insuficiente para cumprir os atendimentos.

Na próxima seção serão detalhadas as características do público -alvo

para a realização do estudo.

3.4 Características dos pesquisados

Foram escolhidos para a pesquisa, dentro da estrutura organizacional da

empresa de Assistência Domicil iária, os Técnicos de Enfermagem contratados

e cooperativados e as Enfermeiras Supervisoras como “contract makers”, que

representam respectivamente o trabalhador e o empregador.

A escolha do Técnico de Enfermagem representando o segmento de

trabalhador ocorreu em função de ser aquele que está diretamente ligado ao

cliente/paciente, que é a principal razão da empresa existir , cumprindo seu

papel de assistência à saúde, dentro de seus objetiv os e estratégias

organizacionais. Esse profissional realiza os plantões nos domicílios,

atendendo-o em suas necessidades assistenciais ditadas pela equipe

multidisciplinar e representa a maior categoria da força de trabalho em termos

numéricos, na Assistência Domiciliária .

Quanto à escolha das Enfermeiras Supervisoras como o segmento do

empregador, é devido ao fato de serem as gestoras responsáveis pelos

Técnicos de Enfermagem, consideradas no estudo como “gerentes de linha”

(denominação citada por vários autores: Rousseau, 1995; Guest, 2008; Leiria

Palma e Cunha, 2006). Elas são as principais representantes da organização,

responsáveis pela condução cotidiana dos Contratos Psicológicos

estabelecidos entre as partes.

Foi levado em consideração o prazo da atu ação dos participantes

contratados em pelo menos um ano dentro da empresa, apesar de não terem

sido encontradas, na literatura pesquisada, referências concretas de quanto

tempo é necessário para haver um Contrato Psicológico formado (BEYDA ;

WETZEL, 2008). É esperado que esse tempo seja suficiente para que sejam

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63 estabelecidas relações de trabalho entre as partes envolvidas nesse contrato,

lembrando também dos aspectos dinâmicos que o compõem.

Com os profissionais cooperativados não foi possível estabelecer e sse

cri tério, uma vez que foi constatado que a prestação de serviços tem duração

máxima de 3 meses.

Com a finalidade de testar o processo da coleta de dados que seria

aplicada aos indivíduos a serem pesquisados, optou -se pela execução de um

pré-teste que é detalhado na seção que segue.

3.5 Pré-teste

O método de entrevista é um processo que, embora esteja sujeito à

motivação do entrevistado e influência de aspectos do entrevistador (GIL,

2009), foi o escolhido como técnica fundamental de coleta de dados, por ser

uma das técnicas mais indicadas em estudos de caso e pela possibilidade de

conseguir as informações sobre o que as pessoas desejam, esperam e

pretendem fazer, além de outros domínios da vida social:

A entrevista é uma técnica eficiente para a obtenção de dados acerca dos mais diversos aspectos da vida social. [...] Quando bem conduzida, possibilita o esclarecimento até mesmo de fatores inconscientes que determinam o comportamento humano. É também uma técnica muito flexível, já que possibilita esclarecer o significado das perguntas e adaptar-se mais facilmente às pessoas e às circunstâncias em que é realizada (GIL, 2009 p.63).

O pré-teste de uma entrevista tem o objetivo de detectar dificuldades

dos respondentes quanto à clareza e precisão dos termos, quantidade de

perguntas, formatação das questões, e ainda possibilita a adequação da melhor

maneira de fazer a introdução para os entrevistados após a análise de suas

reações. (GIL, 2002).

A partir dessas deferências, aumentando a confiança, o senso de

observação e a absorção dos dados (GIL, 2002) foram realizadas 10

entrevistas com um grupo de Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros, que

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64 atuam em outra empresa na área de assistência à saúde domiciliar, e suas

relações de trabalho assemelham -se ao grupo de interesse da pesquisa.

O pré-teste indicou que havia dificuldades dos respondentes quanto ao

entendimento das perguntas, resultando em interrogativas do tipo “Como

assim?” ou “Não entendi” como respostas, evidenciando problemas de

compreensão ao que estava sendo questionado.

Também foi observado um “engessamento” das perguntas que estavam

muito presas às denominações das dimensões, dificultando o entendimento

dos respondentes.

Com essas dificuldades identificadas, a estruturação das entrevistas foi

refeita, e alterado o modelo, que inicialmente era semiestruturado, para

entrevistas por pautas. A mudança ocorreu devido a esse novo modelo

fornecer maior flexibilidade e possibilidade de livre expressão do pesquisado,

com o direcionamento das pautas e diminuição do número de perguntas.

Também foram reconsideradas a linguagem, as interrogativas e as orientações

iniciais aos entrevistados, seguindo assim os procedimentos indicados por Gil

(2002) para a adequação necessária.

A partir dessas considerações identificada s no pré-teste, o detalhamento

do método definido para a coleta de dados é apresentado na seção seguinte.

3.6 Método de coleta de dados

Para Gil (2009), existem diferentes modalidades de entrevistas de

acordo com a sua composição, dividindo -se em entrevistas estruturadas, com

perguntas abertas, guiadas, informais, e por pautas. Esta última é, para o

autor, a mais adequada para estudos de caso, por ser embasada em questões de

pesquisa, onde as entrevistas devam ter direcionamentos a serem seguidos.

As entrevistas por pautas são orientadas por uma lista de pontos de

interesse colocada pelo pesquisador, que faz poucas perguntas diretas,

deixando o pesquisado se expressar livremente, porém sob a condução de

atenção desses pontos (GIL, 2008; 2009).

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65

Com o objetivo de aumentar a confiabilidade e de manter o pesquisador

orientado quanto aos elementos importantes na coleta de dados, Yin (2010),

sugere que seja elaborado um protocolo que contenha uma visão geral do

estudo de caso, os procedimentos de campo, as questõ es da entrevista e um

guia para o relatório desse estudo.

O protocolo desta presente pesquisa consta nos apêndices A e B junto

aos roteiros de entrevista e procurou seguir essas orientações de Yin (2010),

principalmente no que se refere ao fato de esclarec er o papel das Enfermeiras

Supervisoras como representantes da Empresa, enquanto gestoras

responsáveis pela equipe dos Técnicos de Enfermagem.

Os roteiros das entrevistas por pautas foram utilizados para guiar a

coleta de dados relacionados às seis dimensõ es fundamentadas para esta

pesquisa, onde foram abordadas as expectativas que o Técnico de

Enfermagem tanto cooperado, quanto contratado, tem para com a empresa e

também as expectativas que a empresa, representada pela Enfermeira

Supervisora, tem em relação a eles nas atividades laborais.

O período compreendido para a coleta de dados foi de novembro de

2010 a fevereiro de 2011, e os entrevistados foram convidados a participar da

pesquisa por livre adesão e com garantia do anonimato, não sendo solicitada

identificação pessoal e garantido o sigilo das informações, comunicando que

os dados seriam apresentados de modo coletivo, sem identificações.

Houve dificuldade no acesso aos pesquisados, principalmente os

Técnicos de Enfermagem, devido a esses profissiona is realizarem suas

atividades em locais distintos e privativos, sem possibilidade de deixarem de

exercer sua atividade assistencial com o paciente para dispender tempo à

pesquisadora, uma vez que isso poderia implicar risco para esses pacientes em

atendimento.

Para minimizar esse problema, foi realizado contato com o setor de

Recursos Humanos e Educação Continuada da empresa para que fosse

permitida a entrevista em sua própria sede, nos momentos em que esses

profissionais estariam presentes. Porém, foi per cebido que o Técnico de

Enfermagem cooperativado não mantinha contato com a empresa, somente

com o paciente e raramente com a própria cooperativa, confirmando a sua

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66 autonomia no que se refere a não subordinação à empresa onde presta

serviços. Foram necessárias exaustivas idas às cooperativas, na intenção de

aguardar possíveis presenças dos cooperados que prestassem serviços para a

empresa pesquisada e assim efetuada a entrevista.

Na abordagem dos profissionais Técnicos de Enfermagem contratados e

cooperativados, foram questionadas a categoria funcional e tempo de atuação

na empresa, para a garantia de realizar a entrevista com o perfil adequado ao

estudo.

As entrevistas foram gravadas após a anuência do pesquisado. Apenas

uma entrevista do trabalhador não t eve a gravação permitida, mas os dados

foram anotados num diário de campo, que foi criado para serem registradas

observações, reações dos entrevistados e dificuldades encontradas. Também

houve a perda de uma entrevista do trabalhador por dificuldades de

entendimento da gravação, sendo então descartada da análise.

Foi contratado um profissional para realizar a transcrição das

entrevistas gravadas, através do processador de texto Word que foi revisada

pela pesquisadora, para a garantia de uma transcrição fide digna. Uma das

gravações teve que ser desconsiderada devido à impossibilidade de garantir a

confiabil idade da fala ao fazer a transcrição por problemas técnicos da

gravação.

Para o controle e organização dos arquivos das entrevistas na

transcrição, foram adotadas as seguintes denominações:

a) Técnico de Enfermagem contratado: TE I seguida do número da

ordem de sua realização, exemplo: TE I 1 ;

b) Técnico de Enfermagem cooperativado: TE C seguida do número da

ordem de sua realização, exemplo: TE C 21 ;

c) Enfermeira Supervisora: E 1 com numeração seqüencial até E 7 .

Finalizada a descrição da etapa da metodologia de coleta de dados,

segue na próxima seção, a apresentação da análise dos dados.

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67

3.7 Análise dos dados

A Análise Qualitativa de Conteúdo é adotada n esta pesquisa para

analisar os textos das entrevistas cuja principal característica é a utilização da

categorização a partir de modelos teóricos, onde os dados empíricos são

relacionados às categorias escolhidas para o estudo. (FLICK, 2009).

Os motivos que levaram a essa escolha são as possibilidades de

enriquecimento da leitura dos dados gravados da entrevista, a fim de

compreender os sentidos da comunicação e inferir conhecimento, buscando o

rigor científico através do seguimento das regras de homogeneidade,

exaustividade, exclusividade, objetividade e adequação (BARDIN, 2009).

As fases da análise acompanham as referências de ssa autora, que

servem como base de aplicação do método neste estudo e estão divididas em

três partes: pré-análise; análise do material e t ratamento dos resultados.

O esquema de desenvolvimento da análise é demonstrado na Figura 8.

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68

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RES

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AD

OS

EMPREGADOR

Entrevistas Transcritas

TRABALHADOR

Entrevistas Transcritas

EMPREGADOR Compilação dos dados

D 1

D2

D3

D4

D5

D6

TRABALHADOR Compilação dos dados

D 1

D2

D3

D4

D5

D6

EMPREGADOR / TRABALHADOR

Quadro comparativo de Convergências e Divergências

D 1

D2

D3

D4

D5

D6

D 1

D2

D3

D4

D5

D6

EMPREGADOR Recorte de respostas

por Dimensão

D 1

D 6 D 5

D 3 D 2

D 4

TRABALHADOR Recorte de respostas

por Dimensão

D 1

D 6 D 5

D 3 D 2

D 4

Figura 8 – Diagramação da Análise (Autoria própria) Legenda: D1 a D6 = Dimensões do Contrato Psicológico segundo Sels et al, 2004. D1-Estrutura Temporal / D2-Tangibilidade / D3-Escopo / D4-Estabilidade / D5-Simetria de Troca D6-Nível de Contrato.

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69

a) Pré-análise: a lei tura superficial da transcrição das entrevistas.

Nessa fase foram feitas duas leituras, sendo a primeira em conjunto

com a gravação e as anotações do diário de campo, onde foram detectadas

nuances subjetivas que pudessem dar maior significado à fala (ex. maior ou

menor entonação de voz ou alguma manifestação tal como risos) sendo

acrescidas essas observações à transcrição. Uma segunda le itura foi realizada

para iniciar a identificação dos elementos a serem codificados na próxima

etapa.

b) Análise do material: o processo de codificação e categorização dos

dados, representada pelo conteúdo na unidade de contexto da frase

ou palavra transcrita .

Esse processo foi realizado considerando como categorias as seis

dimensões de Sels, Janssen e Van Den Brande (2004) propostas para análise,

com a codificação facilitada pelo modelo da entrevista, que já continha as

pautas, decompostas como categorias. Com a observação dos descritores

dessas dimensões, reforçada por seus indicadores que foram descritos por

Battist i et al (2007), foi possível compilar os dados, fazendo os recortes das

falas, utilizando unidades de contextos frasais.

Para essa etapa foi escolhido o processamento em planilhas Excel, com

a importação dos dados das entrevistas no arquivo Word, para facilitar a

análise e visualização do contexto geral dos dados.

c) Tratamento dos resultados: interpretação advinda do processo de

categorização.

A partir da categorização com as inferências relacionadas à

fundamentação teórica, os dados foram compilados, divididos em empregador

e trabalhador, sendo comparadas e verificadas as convergências e

divergências para cada categoria, isto é, para as seis dim ensões propostas

para o estudo.

Alguns limites e certas limitações permearam o andamento deste

presente estudo, sendo os mesmos apresentados com mais detalhes na próxima

seção.

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70 3.8 Limites e l imitações

Como fator limitante deste estudo, o enfoque transve rsal aplicado não

permite que se avalie o processo dinâmico do Contrato Psicológico. Um

estudo longitudinal poderia trazer mais elementos para essa análise, levando

em conta as mudanças que ocorrem nas relações laborais.

Algumas limitações deste estudo ainda devem ser consideradas, tais

como o fato que não se pode ter o controle das variáveis subjetivas que

impactam o processo das relações de trabalho, como é o caso dos Contratos

Psicológicos. Além disso, os aspectos que os caracterizam são de cunho

individual, idiossincrático, susceptível às mudanças e outros que também não

se podem controlar.

A realização das entrevistas dos Técnicos de Enfermagem na sede da

empresa e das cooperativas também foi uma limitação, pois podem ter sido

influenciadas por questões subjetivas relacionadas a algum estado emocional

receoso ou constrangido em um local de acesso eventual, não rotineiro desses

profissionais. Para minimizar esses sentimentos, o esclarecimento e

explicitação sobre o anonimato (foram orientados a não revel ar seus nomes) e

a postura neutra da pesquisadora fizeram parte dos procedimentos adotados,

além da não obrigatoriedade da participação.

Vale lembrar que, por se tratar de trabalhadores da área da saúde na

assistência domiciliária, o local de trabalho é a residência do cliente/paciente,

onde seria inviável fazer entrevistas, não só por aspectos relacionados à

privacidade, mas também por aspectos técnicos, que poderiam comprometer a

assistência aos pacientes.

Especialmente para os Técnicos de Enfermagem Coo perados, houve

grande dificuldade de acesso, devido à característica de autonomia

relacionada à ausência de vínculo empregatício que possuem, não

comparecendo ou apenas muito eventualmente às sedes da cooperativa ou

mesmo empresa. Para minimizar esse fato, foram pesquisadas com os gestores

das cooperativas todas as datas possíveis em que o cooperado poderia estar

presente na sede, tais como data de pagamento ou treinamentos. A partir

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71 dessas informações foram realizadas exaustivas tentativas de encontro, com

sucesso em algumas delas.

Apesar de todos os aspectos que envolvem os limites e limitações deste

estudo, foi possível verificar quais são as expectativas de cada grupo, no

contexto das relações de trabalho na Assistência Domicil iária.

Após essas observações, finaliza-se a apresentação da metodologia

utilizada e em seguida, na próxima seção, é descrita a análise e discussão dos

resultados encontrados.

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72 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

As análises foram realizadas conforme os preceitos de Bardin (2009),

que incluem a leitura superficial, a categorização e inferências, e

possibilitaram as discussões em relação aos objetivos específicos deste

estudo.

Inicialmente serão apresentadas as análises referentes às características

dos pesquisados e a seguir as análises dos quatro objetivos específicos.

4.1 Considerações sobre os pesquisados

Os profissionais Técnicos de Enfermagem possuem diferentes contratos

de trabalho, sendo a maioria contratada pelo regime da CLT (Consolidação

das Leis Trabalhistas) e outra parte , que atua através de cooperativas de

trabalhadores da área da saúde para prestação de serviços .

A empresa mantém contrato com essas cooperativas, que são acionadas

para a atuação no atendimento aos pacientes quando a demanda contratada

não consiga suprir. Quando há necessidade de cobertura de folgas, férias ou

demandas urgentes, o setor de Acionamento da empresa, que é responsável

pela organização de escalas de trabalho, solicita à Cooperativa os

profissionais Técnicos de Enfermagem para assum irem essas escalas. Não há

vínculo empregatício entre eles e a cada 3 meses o profissional é deslocado

para outro atendimento, em outro cliente da cooperativa.

O número de trabalhadores que atuam na empresa com sua distribuição

quantitativa dos cargos fixos e conforme demanda (sazonais) está

representado na Tabela 2 a seguir.

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73

CARGOS FIXOS

QUANTIDADE

%

Técnico de Enfermagem Assistencial 394 60,5

Enfermeiro Supervisor (Área Assistencial) 7 01,0

Demais profissionais operacionais, administrativos e gerenciais 250 38,4

Total de colaboradores contratados da empresa 651 100

CARGOS SAZONAIS QUANTIDADE % em relação ao total de cargos

fixos

*Técnicos de enfermagem prestadores de serviços via cooperativas

*120 (média mensal) 18,4

Tabela 2 – Distribuição quanti tat iva de colaboradores da empresa do Locus de investigação Fonte : Dados da Pesquisa, nov. 2010

Para esta pesquisa foram contempladas as duas formas de contrato, pois

refletem as novas relações de trabalho , que não estão configuradas a modelos

tradicionais de emprego (LOPES; SILVA, 2008) e refletem as peculiaridades

na área de saúde (DELUIZ, 2001), conforme abordado na contextualização do

problema.

Quanto ao número de pessoas pesquisadas, a opção foi baseada no

cri tério de saturação das entrevis tas, pois, segundo Flick (2009), a decisão de

interromper o processo de coleta de dados a partir do momento em que não

estão sendo encontrados dados adicionais pode ser concebida pelo

pesquisador quando detectar a repetição excessiva dos elementos pesquisa dos.

Foram aproveitados os dias em que o Técnico de Enfermagem contratado

compareceu à sede 5 para treinamentos, recebimentos ou outras eventualidades,

onde foram convidados a participar das entrevistas, perfazendo um total de 19

profissionais e 235 minutos de gravação com média de 13 minutos cada uma,

e variação entre o mínimo de 8 e máximo de 28 minutos.

5 Importante esclarecer que as atividades assistenciais dos Técnicos de Enfermagem são realizadas nas residências dos pacientes. Os mesmos somente comparecem à sede da empresa em datas estipuladas para eventos, treinamentos, ou outras demandas administrativas.

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74

Após exaustivas tentativas de encontro com os Técnicos de Enfermagem

cooperativados nas sedes das cooperativas, foram conseguidas 7 entrevistas,

totalizando 88 minutos de gravação com média de 13 minutos cada uma, e

variação entre o mínimo de 9 e máximo de 17 minutos.

A decisão de interromper as entrevistas com os Técnicos de

Enfermagem contratados se deu efetivamente com o décimo -nono

entrevistado, após as respostas se tornarem repeti tivas já a partir da décima

segunda, porém as entrevistas continuaram pela necessidade da busca de

maiores índices de fidedignidade possíveis.

Com os Técnicos de Enfermagem cooperados, a decisão de interromper

as entrevistas foi tomada pela falta de acessibilidade ao profissional ; foi

constatado que, por ser autônomo, esse profissional segue padrão de vida

laboral exclusivamente nas residências de pacientes em atendimento, local

inapropriado para a execução das entrevistas, c om pouca ou nenhuma

participação de atividades na sede da empresa ou cooperativa .

As Enfermeiras Supervisoras foram pesquisadas na sua totalidade , pois,

apesar de ter sido constatada repetição já na quarta entrevista, foi tomada a

decisão de não interromper o processo pelo fato do número total de pessoas

(sete) ser muito próximo das quatro entrevistas que já haviam sido realizadas.

O tempo total das 7 entrevistas foi de 168 minutos de gravação com

média de 23 minutos cada uma, e variação entre o mínimo de 12 e máximo de

43 minutos.

Houve a predominância do sexo feminino – 23 Técnicas de Enfermagem

e 7 Enfermeiras Supervisoras – sendo apenas 3 Técnicos de Enfermagem do

sexo masculino.

Quanto ao tempo de permanência na empresa, as Enfermeiras

Supervisoras tinham de 1 a 4 anos, os Técnicos de Enfermagem contratados

de 1 a 9 anos e os cooperados 1,5 a 3 meses de prestação de serviços.

Após a análise das características dos pesquisados, segue a descrição d a

análise dos objetivos específicos nas quatro seções a seguir.

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75 4.2 Análise do primeiro objetivo específico

Identificar as expectativas dos Técnicos de Enfermagem (Contratados

e Cooperativados) na relação de trabalho, segundo o Modelo de análise das

seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande, (2004).

A identificação das expectativas dos Técnicos de Enfermagem, tanto

contratados, quanto cooperados, foi realizada através da análise das

entrevistas por pautas, onde as seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den

Brande (2004) foram extraídas das fa las dos entrevistados.

Devido à diferença existente entre o contrato formal desses

profissionais (contratados e cooperados), os dados dessas análises estão

descritos separadamente por dimensão em duas colunas, uma para cada tipo,

conforme pode ser visto no Quadro 3.

Esse quadro foi elaborado a partir da categorização dos achados que

demonstram as expectativas desses trabalhadores, de acordo com cada

dimensão. Esses dados encontram-se detalhadamente apresentados no

Apêndice C desta pesquisa, através dos quadros 6 a 11, que representam cada

uma das seis dimensões do presente estudo.

Sendo assim, através da compilação das semelhantes expectativas de

cada dimensão, dentro da categoria contratual formal, os dados do Quadro 3

permitem visualizar, de um modo gera l , o que é esperado da Empresa de

Assistência Domicil iária pelos Técnicos de Enfermagem contratados e

cooperativados.

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76

Quadro 3 - Expectativas dos Técnicos de Enfermagem (Dados da Pesquisa)

Foram encontradas expectativas na relação de trabalho em todas as

dimensões, independente do contrato formal existente. Em algumas dimensões

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77 há mais manifestações dos contratados, e existem algumas semelhanças em

relação ao que esperam da empresa.

O detalhamento com as principais características de cada dimensão é

apresentado nas subseções a seguir.

4.2.1 Dimensão 1 - Estrutura Temporal

De acordo com o contexto de expectativas da primeira dimensão

(Estrutura Temporal - quanto ao prazo percebido do relacionamento do

trabalho) todas as falas relacionadas à aposentad oria, carreira, oportunidade,

manter vínculo, autonomia, permanecer, ficar, sair, trabalhar na empresa,

foram consideradas no processo de categorização dos dados.

Nessa dimensão, percebe-se que há expectativas altas para o contratado,

pois o prazo desejado é longo, além de benefícios e plano de carreira como

forma de manterem o vínculo. Alguns profissionais contratados verbalizaram

o desejo de fazer carreira e se manter trabalhando na empresa até alcançarem

a aposentadoria ou haver disponibilidade para o tr abalho.

Para o cooperado, a expectativa maior é de oportunidades laborais e

contratação com registro na carteira de trabalho. A tolerância na manutenção

de outros empregos fora da empresa é comum para as duas categorias

profissionais.

Segue um exemplo de expectativa do profissional cooperado (TE C 21)

referente a manter seu trabalho para a empresa:

TE C 21 “... eu sei que é assim, há um rodízio quando dá noventa dias... e eu

vou ter que ir para outro... minha vontade era de ficar pela (nome da

empresa)!” [SIC]

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78 4.2.2 Dimensão 2 - Tangibilidade

Na segunda dimensão, referente à Tangibilidade (grau de clareza dos

termos de desempenho), todas as falas relacionadas aos aspectos de

comportamento, postura, execução de normas e rotinas, assistência ao

paciente, desenvolvimento, organização no trabalho, competência e

responsabilidade, especificidade técnica, cursos, avaliação de desempenho,

foram consideradas para a categorização.

Os exemplos abaixo foram extraídos de algumas falas dos respondentes

(contratados TE I 01 e 07 e cooperado TE C 21) e ilustram parte do que é

esperado por eles:

TE I 01 “.. . eu esperava que como a gente não tem experiência, eu esperaria

que tivesse uma adaptação, tipo assim, eu vou ficar com um paciente, eu vou

pegar a rotina dele, eu estou insegura, tipo assim, ficar uma semana pra

pegar a rotina dele, está entendendo?...” [SIC]

TE I 07 “.. . a gente não tem essa divulgação que tem tipo hospital de grande

porte, mas pode até virar um grande porte. Eu creio que a gente prospere e

cresça, que tenha mais profissionais, com atividades, com mais

responsabilidades. Isso é importante!” [SIC]

TE C 21 “... porque eu tenho que realmente me preparar para estar assim,

apta a fazer o meu serviço, independente do médico, o meu serviço é

totalmente independente. Então eu tenho que arcar com tudo o que eu aprendi

a fazer e fazer pra valer mesmo... e na (nome da empresa), como eu falei, nós

estamos assim, bem organizados”. [SIC]

É possível perceber que enquanto o Técnico de Enfermagem contratado

(TE I 01) está em início de carreira e espera maior apoio da empresa, o outro

(TE I 07) possui a expectativa que perpassa a experiência, esperando um

maior crescimento e desenvolvimento da empresa e consequentemente também

o pessoal. Já o cooperado (TE C 21), esper a ter que ser capaz de se

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79 desenvolver por conta própria, caracterizando bem a sua condição de ser um

profissional autônomo.

Outro aspecto nesta dimensão que pode ser verifica do entre os contratos

formais foi uma semelhança mais significativa a respeito de processos

operacionais onde esperam melhorias (escalas de trabalho, por exemplo) e o

desejo de haver procedimento de avaliação de desempenho.

4.2.3 Dimensão 3 - Escopo

As expectativas da terceira dimensão denominada Escopo (grau do

quanto existe envolvimento no trabalho), são mais altas para os contratados

do que para os cooperados, de acordo com o contexto de todas as falas sobre

relacionamento, tratamento, esforço pessoal, valorização, dedicação,

crescimento.

Os contratados esperam reconhecimento, valori zação profissional,

tratamento adequado com disponibilidade para serem ouvidos. Os cooperados

esperam que a empresa entenda as limitações e limites para o trabalho, além

de permitir que atue como autônomo, mostrando provavelmente um baixo grau

de envolvimento. Seguem os respectivos relatos como exemplo:

TE I 12 “.. . porque eu cresci não só como profissional, mas como pessoa.

Você trabalha, você dá mesmo seu sangue, você tem que trabalhar saber e

mostrar o que sabe. E a (nome da empresa) ela cuida muito dis so, ela busca a

melhoria dos profissionais com relação ao aprendizado, incentiva, dá apoio...

se tem algum equipamento que você não tenha trabalhado, mostram... então

isso é muito bom!...” [SIC]

TE C 22 “.. . eles tem que entender o lado da gente, e a gent e tem que

entender o lado deles...” [SIC]

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80 4.2.4 Dimensão 4 - Estabil idade

Conforme o contexto da dimensão quatro (Estabil idade - grau o qual o

contrato é limitado ou flexível em relação às mudanças), as expectativas

relacionadas à flexibilidade em ambiente de mudanças expressas nas menções

de adaptação, alteração e mudanças foram consideradas para análise.

Foi comum aos Técnicos de Enfermagem a expectativa de comunicação

e preparo para mudanças que possam ocorrer na organização, sendo que o

contratado percebe as mudanças como uma perspectiva de crescimento da

empresa, já os cooperados percebem as mudanças como processos de rotina,

conforme ilustrado nas respectivas falas:

TE I 19 “... eu não espero que tenha muita mudança não. Se por acaso

fizeram alguma coisa eu acho que a gente deve ser comunicado... eu espero

que vá crescer, porque atualmente está aumentando, eles estão investindo

mais...” [SIC]

TE C 21 “.. . olhe, para mim essas mudanças é tranqüilo, porque assim, já

entrei na empresa sabendo que iam ter essas mudanças, não é?A gente já

sabe . . . “[SIC]

4.2.5 Dimensão 5 - Simetria de Troca

Na quinta dimensão, Simetria de Troca (grau de aceitação das

diferenças na hierarquia ou desigualdades no trabalho), todas as falas

relacionadas à discriminação, hierarquia , desrespeito, respeito, tratamento,

foram consideradas.

O item pautado sobre respeito entre os profissionais e entre os clientes

(no sentido de como o cliente trata o trabalhador) foi comum aos dois. Denota

que não esperam problemas significativos de rela cionamento entre colegas,

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81 mas durante a atividade profissional esperam que aconteçam situações difíceis

ou até constrangedoras com os clientes/pacientes. A expectativa maior ainda

nessas situações é a de intervenção dos gestores da empresa, visando à defes a

do profissional, independente do vínculo formal estabelecido.

Os exemplos abaixo traduzem suas expectativas:

TE I 21 “.. . é difíci l a gente conseguir no home care, pela relação com a

família, porque eles não nos tratam de igual para igual. Você, nestas

entrevistas assim, tem muita história, de muita humilhação, não com o

paciente, com a família.. . você nem queira imaginar...não é todos...mas tem

uns que não tem um pingo de respeito por você... tem casa que não dá nem

água .. . ” [SIC]

TE C 23 “... não, assim a expectativa era boa para uma melhora assim, tem

que dar uma palestra para as famílias, porque eles não dão espaço para a

gente trabalhar. Tem casas que dá, mas é raro, mas tem outras que sufocam a

gente...” [SIC]

4.2.6 Dimensão 6- Nível de Contrato

E na última dimensão de expectativas em relação ao Nível de contrato

(grau o qual o contrato é percebido como individual ou coletivo), as menções

de acordos e acessibilidade foram consideradas para a análise. Foi verificado

que os contratados possuem alta s expectativas de acordos, pois percebem que

as gestoras são próximas e acessíveis (conforme exemplo da fala do

profissional TE I 06). Os cooperados, apesar de não manterem vínculos,

esperam timidamente algum acordo e aproximação com as gestoras da

empresa, o que de fato não acontece em função da ausência de vínculo

empregatício e impossibilidade de gerenciamento direto.

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82 TE I 06 “... até hoje não ocorreu, mas eu creio que se houver não tem

problema porque tem o lado comum, já que todo mundo precisa ela (a

gestora) não vai tentar dificultar. Até agora nunca ocorreu, mas se caso eu

precisar, eu acho que ela vai apoiar.. .” [SIC]

Antes de partir para o segundo objetivo específico, cabe fazer algumas

colocações relacionadas aos achados e a fundamentação teóri ca dos Contratos

Psicológicos apresentada neste estudo.

Essas expectativas encontradas condizem com as peculiaridades das

relações de trabalho na área de saúde, tais como sua complexidade (VECINA ;

MALIK, 2007; DELUIZ, 2001) e heterogeneidade (DELUIZ, 2001) , uma vez

que coexistem vínculos diferentes na mesma atividade de trabalho, que podem

influenciar expectativas pessoais.

Além disso, como referido por Schein (1982), elas podem variar

também devido ao seu aspecto dinâmico, o que pode ser percebido por

ocorrerem diferentes expectativas dos trabalhadores, de acordo com suas

necessidades pessoais que podem ser transformadas e variar ao longo do

tempo.

Outro fato relevante é a alusão da palavra “creio” que consta na

definição dos Contratos Psicológicos de Rouss eau (1995) como “uma crença

individual, moldada pela organização, sobre os termos de um acordo de trocas

entre indivíduos e a organização à qual estão vinculados”. Essa definição

sofreu contestações (MENEGON; CASADO, 2006), mas aparece claramente

como manifestação de expectativa, o que denota que essa definição clássica

de Rousseau poderia ser apropriada sem questionamento neste estudo. Segue a

repetição das falas dos Técnicos TE I 06 e 07 citadas, com destaque para o

termo grifado.

TE I 06 “... até hoje não ocorreu, mas eu creio que se houver não tem

problema porque tem o lado comum, já que todo mundo precisa ela (a

gestora) não vai tentar dificultar.. .” [SIC]

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83 TE I 07 “.. . Eu creio que a gente prospere e cresça, que tenha mais

profissionais, com atividades, com mais responsabilidades. Isso é

importante!. ..” [SIC]

4.3 Análise do segundo objetivo específico

Identificar expectativas da Empresa de Assistência Domiciliária

(representada pelas Enfermeiras Supervisoras) na relação de trabalho,

segundo o modelo de análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den

Brande (2004).

Para a identificação das expectativas da empresa, foi realizado o mesmo

procedimento do objetivo anterior, considerando os dados coletados das

entrevistas com as Enfermeiras Supervi soras. Os quadros 12 a 17, que

constam do Apêndice D desta pesquisa, apresentam separadamente os dados

encontrados de cada uma dessas seis dimensões.

Considerando as semelhantes expectativas de cada dimensão, foi

possível reuni -las e assim verificar o que a Empresa de Assistência

Domiciliária espera dos Técnicos de Enfermagem. Os dados também foram

separados por categoria contratual formal, pelo fato de haver expectativas

diferentes, sendo apresentados os dados em duas colunas, para cada dimensão

no Quadro 4.

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84

Quadro 4 - Expectativas da Empresa de Assistência Domicil iária (Dados da Pesquisa)

O detalhamento com as principais características de cada dimensão é

apresentado nas subseções a seguir.

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85

4.3.1 Dimensão 1 - Estrutura Temporal

Na primeira dimensão, conforme o contexto de expectativas da

Estrutura Temporal (prazo percebido do relacionamento do trabalho), todas as

falas relacionadas à carreira, manter vínculo, autonomia, permanecer, ficar,

sair, trabalhar na empresa, foram consideradas.

Algumas observações podem ser ponderadas nessa dimensão, pois a

empresa, ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade da manutenção de

outros empregos pelos trabalhadores, desconsiderando exclusividade, não

deixa de querer lealdade. Aqui, pode ser percebida uma tendên cia para a

temática da retenção de talentos, pelo fato de perceberem que os

colaboradores desejam permanecer na organização, e ainda consideram como

um fator de sucesso, por ser um item considerado importante nos valores da

empresa.

Para os profissionais cooperados, as rotinas que determinam somente

três meses como período de permanência, reforçam as expectativas de pouco

tempo; porém, o desempenho técnico além do esperado pode gerar uma

expectativa de manutenção de longo prazo para contratação futura, se

questões legais permitirem.

Seguem alguns exemplos dos depoimentos das Enfermeiras

Supervisoras, como representantes do empregador, que remetem a essas

expectativas:

E 01 “... porque a maioria deles, a maioria, tem outros vínculos, a maioria,

principalmente assim, os mais experiente (sic). Tem muito técnico que tem

família, filhos e uma remuneração baixa, que precisa ter dois ou três

vínculos. ..então a gente já trabalha sabendo que eles vão daqui para outro ou

vem de outro para cá...” [SIC]

E 07 “... porque eu procuro realmente que ele (contratado) f ique mais tempo

com a gente e também ser mais fiel com a empresa. Ás vezes a gente não traz

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86 essa fidelidade com o salário que deixa a desejar, mas assim, em relação a

amizade, a uma consideração” [SIC]

E 07 “... a gente sabe que tem um rodízio de três meses (para o cooperado)...

mas quando o Técnico é muito bom, mas muito bom mesmo, a gente pede para

trazer o currículo e dependendo (de questões legais) a gente contrata...”

[SIC]

4.3.2 Dimensão 2 - Tangibilidade

Na dimensão da Tangibilidade (grau de clareza dos termos de

desempenho), as falas relacionadas a aspectos de comportamento e postura,

execução de normas e rotinas, assistência ao paciente, organização no

trabalho, competência e responsabilidade, foram cons ideradas.

Para os contratados elas são mais altas do que para os cooperados, onde

a questão do vínculo parece se manifestar com mais intensidade nesse

aspecto: quanto maior o vínculo, maiores as expectativas de cumprimento de

rotinas, compromissos, treinamentos. O que se mostra contrário nos

cooperados, com baixas expectativas de participação e compromissos

efetivos, como pode ser visto nas falas:

E 02 “... O técnico que trabalha em home care, ele acaba tendo que ser mais

do que num hospital, porque lá tem uma equipe e no HC ele é sozinho até que

chegue o médico e o outro técnico, a enfermeira, eles acabam por realmente

tendo que superar as expectativas. Eu acho que isso é bom! .. .” [SIC]

E 03 “... o cooperado fica mais complicado porque ele roda mais, n ão é

aquela escala fixa. E como ele não tem aquele vínculo então pra eles, eles

não dão tanta importância a isso como o funcionário aqui da empresa. Então

é mais complicado por isso. ..” [SIC]

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87 E 01 “. .. a gente sabe que o cooperado, ele é um profissional q ue ele trabalha

como um profissional liberal, um autônomo, ele trabalha quando quer. Se não

quiser, não vai, não tá contratado. Se faltar não vai ter punição... Então a

gente precisa quebrar isso através da boa relação, então a supervisora, ela

chama para tentar convencer criar aquele vínculo, que mesmo que não haja

um vínculo empregatício conosco, mas que pelo menos, boa relação para que

ele se sinta, né, pelo menos, é como eu posso dizer, estimulado a não faltar,

entendeu, a não chegar atrasado, a gente t enta isso. .. “[SIC]

Outro aspecto esperado dos profissionais é o fato de não se envolverem

com familiares dos pacientes no sentido de aceitarem um gerenciamento deles

em detrimento ao da empresa. Pelo fato de atuarem na residência, se tornarem

muito próximos da família e estarem distantes fisicamente do sistema que

efetivamente os gerencia, há o risco de deixarem de representar a organização

e passarem a não atuar de acordo com as normas estabelecidas pela empresa e

sim pelos desejos da família. Seguem exe mplos:

E 07 “... Então, a minha equipe a gente sempre procura fazer entender que

eles não são funcionários da família, eles são funcionários da empresa. Só

que é muito fácil falar isso. Na hora que a família diz: Está faltando o

material xis, ligue para a empresa imediatamente, insistem.. . Então eu tenho

muito que ver esses dois lados, mas o que eu assim, busco, o que eu espero

deles, é que sejam imparciais. .. Porque ele vai se levando pela família,

porque afinal, quem está próximo a ele é a família, a gen te só visi ta uma vez

por semana.. .” [SIC]

E 04 “... Ele tem que saber naquele momento que ele é a empresa na

residência, ele tem que saber lidar com a família, e não ser da família, ele

não pode confundir isso. Porque muitas vezes o que acontece, diferent e do

hospital, no home care .. . ele passa a maior parte do tempo na residência,

então ele fica muito próximo e cria um elo com a família e que não pode

acontecer porque naquele momento ele é um profissional. ..” [SIC]

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88 4.3.3 Dimensão 3 - Escopo

Analisando a terceira dimensão (Escopo – grau do quanto existe

envolvimento no trabalho), todas as falas referentes a relacionamento,

colaboração, cooperação, esforço pessoal, envolvimento, confiança, foram

consideradas, havendo algumas semelhanças para os dois tipos de c ontratos

formais.

A dedicação ao trabalho é muito esperada pela empresa, apesar de ter

sido relatado um pouco menos em relação aos cooperados. A importância dada

a essa expectativa, provavelmente , é devido ao fato de se tratar de um

trabalho que envolve a assistência a pessoas que necessitam de cuidados

técnicos que o profissional deve executar de maneira contínua, pois a maioria

dos pacientes em atendimento possui escalas de trabalho de vinte e quatro

horas ininterruptas.

Foi citado pelas Enfermeiras Supervisoras:

E 07 “... Eu peço a cooperação de todos, porque quem vem render hoje, tem

que chegar às sete horas, tem que compreender, então tem que ser assim, não

dá para pensar só em si .. .” [SIC]

E 05 “.. . E eu sempre espero que ele seja muito dedicado ao t rabalho, que

façam tudo e todos os procedimentos com muito amor, tratando como se fosse

um familiar dele, um parente. Eu sempre espero muito isso deles, tanto os

cooperados quanto os contratados. ..” [SIC]

4.3.4 Dimensão 4 - Estabil idade

Conforme o contexto da quarta dimensão, a Estabilidade (grau no qual o

contrato é limitado ou flexível em relação às mudanças), todas as menções de

liberdade, mudanças, ajuste, resistência, foram consideradas para análise.

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89 Embora as expectativas para mudanças sejam semelhant es nos dois

tipos de contrato, a dificuldade para aceitá -las se mostrou mais esperada para

o cooperado, conforme se verifica na citação a seguir:

E 02 “... Eles sempre reclamam, qualquer mudança eu já espero a

reclamação. De horário de medicação, tirou da noite, passou pro dia.. .Ah

mas você . . .!! Sempre tem o impacto, mas com o tempo vai se organizando e

vendo que dá tudo certo. Mas sempre reclamam no começo ... aí a gente

conversa, explica que tem que ser d aquele jeito, que vai melhorar.Às vezes a

mudança até é para melhor, mas só pelo fato de ser uma mudança.. . E para o

cooperado.. . é a mesma coisa só.. . as vezes o da gente reclama, mas faz, o

cooperado às vezes reclama e vai deixando...percebo a diferença... É mais

fácil lidar com o técnico da gente do que com o da cooperativa...”

4.3.5 Dimensão 5 - Simetria de Troca

Na dimensão da Simetria de Troca (grau de aceitação das diferenças

hierárquicas ou desigualdades), todas as falas relacionadas a essa temática,

além de respeito e equipe, foram consideradas.

Para os contratados as expectativas foram de aceitação, respeito e

trabalho em equipe, mas para os cooperados, a falta de vínculo diminui o que

é esperado em relação a eles nesse sentido. Segue exemplo:

E 04 “.. . tem uma hierarquia, eles são Técnicos de E nfermagem e eu sou

Enfermeira e eles precisam me respeitar e seguir as ordens. É lógico que isso

pode ter uma comunicação, ele podem concordar ou não com a conduta, isso

pode ser conversado, mas eu acho que respeito deve haver e tem, tanto com o

cooperado quanto do não cooperado. mesmo eu não podendo me dirigir

diretamente a eles, mas que eles respeitem da mesma forma a sua chefia na

cooperativa...” [SIC]

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90

4.3.6 Dimensão 6 - Nível de Contrato

E na sexta e última dimensão (Nível de contrato – grau o qual o

contrato é percebido como individual ou coletivo), todos os aspectos que

envolvem acordos, direitos, negociações, foram considerados para se analisar

o resultado.

Os acordos individuais são muito esperados para os contratados, pois há

um gerenciamento de equipe, por parte das Enfermeiras Supervisoras, onde

procuram ouvir seus colaboradores e ajustar as necessidades individuais. Para

os cooperados, pela falta de vínculo, as expectativas relacionadas ao nível de

contrato são direcionadas para os acordos coletivos com as cooperativas.

As falas que exemplificam essa dimensão são:

E 01 “... Os cooperados, assim, é complicado, porque quando ele pra trocar,

precisa ter uma relação muito boa, entre a equipe. Então os auxiliares da

cooperativa se não tem uma relação boa com o resto da equipe e não

consegue troca, é falta! Porque eles são autônomos! Não vai trazer nenhuma

punição, nenhum prejuízo pra eles não tem, então, falta. .. é difícil porque é

difícil até eles tarem atrás de supervisora para tentar resolver. Ele ten ta

com os colegas, não vai conseguir ele simplesmente falta...” [SIC]

E 04 “... Com certeza, mas assim, nessa área de saúde a gente tem que ser

maleável, mas não pode abrir as portas para todos, tem uma regrinha, mas

sempre que eles me procuram, desde que seja uma justi ficativa adequada

gente procura ser maleável. É melhor que eles cheguem e façam um acordo

do que faltem. Porque faltar aí a gente não tem Técnico de Enfermagem aqui,

há problemas, então assim, sempre que dá, desde que seja tudo certo entre as

duas partes eu procuro liberar. ..mas sempre que dá eu autorizo.. .” [SIC]

Finalizando as observações deste objetivo, chama a atenção o fato das

gestoras dos Técnicos de Enfermagem da empresa terem que gerenciar formas

diferentes de contrato num mesmo ambiente, demonstrado pelas distintas

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91 posições quanto a esses profissionais, em situações semelhantes. Isso

corrobora o que diz Rubery et al (2003), sobre algumas dificuldades de

negociação na convivência com variadas formas de vínculos em uma mesma

atividade, conforme demonstrado na fala:

E 03 “.. . o cooperado fica mais complicado porque ele roda mais, não é

aquela escala fixa. E como ele não tem aquele vínculo, então para eles, eles

não dão tanta importância a isso como o funcionário aqui da empresa.. .”

[SIC]

Part indo das análises das expectativas de cada parte dos envolvidos na

relação de trabalho deste estudo, passa -se ao terceiro objetivo que trata da

comparação entre elas, chegando aos resultados de aspectos divergentes e

convergentes, conforme apresentado na próxima subseção.

4.4 Análise do terceiro objetivo específico

Analisar os pontos convergentes e divergentes das expectativas dos

Técnicos de Enfermagem (Contratados e Cooperativados) e da Empresa de

Assistência Domicil iária (representada pelos Enferm eiros Supervisores), na

relação de trabalho, segundo o Modelo de análise das seis dimensões de Sels,

Janssens e Van Den Brande (2004).

As expectativas do empregador e do trabalhador foram justapostas e ,

através da análise dos fatores que eram comuns a ambo s, chegou-se aos

pontos convergentes, sendo que as divergências foram analisadas pelos pontos

que indicavam oposição. O Quadro 5 representa esses dados:

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92

Quadro 5 -Pontos convergentes e divergentes das expectativas dos Técnicos de Enfermagem e da Empresa de Assistência Domicil iária (Dados da Pesquisa)

Fazendo algumas inferências sobre os pontos convergentes, pode ser

percebido que, de um modo geral, as expectativas convergem mais com os

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93 profissionais contratados do que os cooperados; embora haja alguma

convergência de expectativas com essa categoria, não abrange todas as

dimensões.

Com os profissionais contratados, os pontos convergentes abarcam

todas as dimensões, principalmente no que se refere aos aspectos mais

centrais de cada dimensão: longo prazo d e envolvimento, clareza de termos de

desempenho, dedicação, aceitação de mudanças, respeito e diferenciação

técnica e acordos individuais.

Vale ressaltar outro aspecto interessante que converge sobre o

sentimento de pertencimento à empresa, pois durante a s entrevistas com os

contratados foi percebido certo tom emotivo ao expressarem o valor dado ao

fato da empresa manter a “carteira de trabalho assinada”, como se fosse uma

premiação que esperam que seja mantida.

E os cooperados por sua vez, demonstraram um a vontade de

pertencimento pelo fato de ser vislumbrada a possibilidade de que possam ter

modificada a sua relação contratual para regime celetista. Isso poderia

influenciar seu desempenho positivamente, como relatado pelo empregador.

Seguem exemplos das falas do Técnico de Enfermagem contratado (TE I

05) e do cooperado (TE C 21) expressando sua expectativa de contratação,

além do empregador, representado pelas Enfermeiras Supervisoras (E 01 e E

07):

TE I 05 “... o que eu valorizo muito é terem assinado minha carteira porque é

meu primeiro emprego de carteira assinada, na minha área. Eu prezo muito

desde o início que aqui foi que assinaram minha carteira, então quer dizer

que eles valorizam, porque só em assinar a carteira estão valorizando a

gente.” [SIC]

TE C 21 “... porque, assim, uma é por causa da organização, porque ela

assina a carteira, ela dá uma segurança maior para a gente, estou pensando

em fazer faculdade e eu soube que ela dá vinte por cento de desconto na

faculdade e eu necessito fazer, ent endeu? Eu quero fazer faculdade. E para

isso eu tenho que estar com a carteira assinada.. .” [SIC]

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94

E 01 “.. . Mas agora muitos cooperados vem aqui com o interesse de ser

admitidos. Quer sair da cooperativa e para vir pra empresa. Muuitos! . . .”

[SIC]

E 07 “. .. Tem muito Técnico que eu acho que até pelo fato de saber que a

gente pode contratar, eles estão se empenhando mais...” [SIC]

Em relação aos pontos divergentes, ocorre praticamente o inverso das

convergências, isto é, as expectativas divergem mais com os profissionais

cooperados do que com os contratados. Com os profissionais cooperados as

divergências se manifestam em quase todas as dimensões, sendo a

Estabilidade e a Simetria de Troca as exceções.

Com os contratados, apenas a dimensão de envolvimen to com o trabalho

(Escopo) se manifesta divergente, onde a empresa espera mais atitudes dos

profissionais e em contrapartida os profissionais esperam posicionamento da

empresa. Essa divergência está relacionada a um processo operacional

complexo de gestão de escalas de trabalho nas residências e poderia servir de

exemplo para a execução de uma ação estratégica no alinhamento de

expectativas como uma aplicação prática da teoria dos Contratos

Psicológicos.

Vistas as convergências e divergências, apresenta -se a descrição dos

resultados do quarto e último objetivo específico na seção seguinte.

4.5 Análise do quarto objetivo específico

Identificar os tipos de Contratos Psicológicos estabelecidos na relação de

trabalho entre Técnicos de Enfermagem (Contratados e Cooperativados) e a

Empresa de Assistência Domiciliária (representada pelos Enfermeiros

Supervisores), segundo a Tipologia de Janssens, Sels e Van Den Brande (2003).

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95

Para proceder à identificação dos tipos de Contratos Psicológicos

estabelecidos, deve-se retomar como é a composição da tipologia proposta

para este estudo.

A Tipologia de Janssens, Sels e Van Den Brande (2003) é originária da

pesquisa de uma amostra representativa de 1.106 trabalhadores de várias

categorias funcionais com uma abordagem característico-orientada, por ser

baseada nas características conceitualmente independentes (BATTISTI ET AL ,

2007), como as dimensões. Conforme essas dimensões se manifestam, podem

ser classificados e denominados os tipos existentes.

Vale lembrar que o estudo de Janssens, Sels e Van Den Brande (2003),

foi realizado pelo método quantitativo, portanto não houve intenção de

replicar a análise , devido a este estudo ter caráter qualitativo.

Fazendo um resumo para lembrar a Tabela 1 , que descreve esses tipos

de contratos, temos:

Contrato Instrumental – altas expectativas dos empregados, mas

com poucas obrigações de troca

Contrato Fraco – baixas expectativas em ambas as partes

Contrato Leal – ênfase no envolvimento de longo prazo em troca

da lealdade

Contrato Forte – altas expectativas em ambas as partes

Contrato Desconectado – baixas expectativas principalmente em

envolvimento de longo prazo

Contrato Investido – baixas a moderadas expectativas dos

empregados, mas com muitas obrigações de troca, indicando

algum invest imento pessoal na organização

A pretensão da análise neste estudo é interpretar os dados qualitativos

coletados, através do comportamento das dimensões, divergências e

convergências, pois uma vez que a abordagem dessa tipologia é

característ ico-orientada, poderia se apontar qual tipo de contrato está se

manifestando.

Inicialmente, fazendo uma comparação das expectativas dos

trabalhadores e empregadores encontradas, pode -se dizer que os contratos

entre os Técnicos de Enfermagem Contratados e os Cooperados s ão

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96 diferentes, pois há distinções no comportamento das expectativas em todas as

dimensões. Isso vem ao encontro da referência de Kalleberg (2003) sobre

desempenho do trabalho da equipe que pode ser afetado pela segmentação

oriunda da presença de contratos formais diferenciados.

O tipo de Contrato Psicológico estabelecido entre a Empresa de

Assistência Domiciliária e os Técnicos de Enfermagem Contratados tende a

ser considerado como o Contrato Forte , pois as expectativas apresentadas

convergem nas seis dimensões e divergem apenas em uma: a Dimensão

Escopo; na tipologia de Janssens, Sels e Van Den Brande (2003) os dados

para aquela pesquisa se comportaram de modo semelhante, pois essa mesma

dimensão foi a que atingiu escore mais baixo quando comparada com as

outras cinco.

Em alusão ao t ipo de Contrato Psicológico estabelecido entre a Empresa

de Assistência Domiciliária e os Técnicos de Enfermagem Cooperados, há

tendência para ser um Contrato Fraco , pois as expectativas apresentadas

pouco convergiram, e tendem a ser baixas em todas as dimensões.

Por outro lado, também pode ser considerado um Contrato

Desconectado , onde a dimensão do Escopo (grau do envolvimento no

trabalho), com o desejo manifesto de mudança de contrato de prestação de

serviços autônomos por cooperativas para celetista apresenta alguma

coerência na intenção de aquisição de vínculo. Lembrando que para o

empregador existe essa possibilidade, desde que alguns fatores sejam

considerados, tais como, vigência de vaga, alto desempenho e nenhum

impedimento legal.

Esse fato eleva um pouco as expectativas do investimento pessoal, que

foi uma característica desse tipo de contrato descrito pelos autores Janssens,

Sels e Van Den Brande (2003).

Após a análise e discussão dos resultados nos quatro objetivos

propostos, são apresentadas as conclusões do trabalho na última seção a

seguir.

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97 5 CONCLUSÕES

O objetivo geral deste estudo foi o de analisar os Contratos

Psicológicos através de uma visão baseada em suas características, como as

seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande (2004) em uma relação de

trabalho peculiar no campo da saúde.

A partir das inquietudes profissionais da pesquisadora, mais

especificamente na assistência de enfermagem domiciliária, esta investigação

buscou um maior entendimento de aspectos que envolvem os profissionais de

saúde dessa área, através de uma visão mais aprofundada sobre a dinâmica de

trabalho.

A atividade laboral nesse mercado, como referido por Deluiz (2001),

possui diversas peculiaridades que permeiam o contexto da rel ação entre os

trabalhadores e empregadores que se manifestam na atuação multidisciplinar

das organizações e também pelo fato de lidar com o maior patrimônio do ser

humano, que é a própria vida.

A ótica dos Contratos Psicológicos escolhida para o aprofundam ento

pode oferecer uma visão das expectativas que os trabalhadores e

empregadores possuem nessa relação de trabalho estabelecida entre eles.

A fundamentação teórica dos Contratos Psicológicos no que cerne a sua

conceituação, formação, características e tipologias foi capaz de permitir o

entendimento do processo dinâmico que são pertinentes a essas relações

laborais.

De fato, a análise proposta detectou a existência de expectativas dos

indivíduos e da organização, esta sendo representada pelas gestoras

(Enfermeiras Supervisoras), confirmando na prática os aspectos vistos na

teoria que embasa os Contratos Psicológicos.

Primeiramente, na identificação das expectativas dos trabalhadores,

que, neste objeto de estudo, configuraram os profissionais Técnicos de

Enfermagem, foi verificada a existência de contratos formais diferenciados,

com diversas formas de composição da arquitetura de recursos humanos,

como citado por Lepak e Snell (2008), ou ainda por Lopes e Silva (2008) ,

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98 pelo compartilhamento de alternativas estabelecidas no mercado utilizadas

pelas organizações.

A presença de profissionais autônomos ligados às cooperat ivas de

trabalhadores da área da saúde e de contratados pela própria empresa convive

na atividade assistencial prestada no domicílio de clientes /pacientes.

Destaca-se aqui a percepção de que o profissional Técnico de

Enfermagem cooperado trabalha de maneira autônoma, sem vínculos ou

contatos diretos com a empresa através de sua sede ou mesmo suas gestoras.

Ocorre o contato inicial pelo Setor de acionamento da empresa para a

cooperativa, e as visitas das Enfermeiras Supervisoras de rotina, com ênfase

na rotina assistencial ao paciente. Não há qualquer relação de “mando” ou

intervenções dessas supervisoras, que estão centradas no cliente/paciente,

sendo esta relação fortalecida pela obrigatoriedade legal de não haver vínculo

empregatício. Em caso de qualquer falta de conformidade encontrada na

atividade do trabalhador cooperado, é acionada a cooperativa para sua

resolução.

Essa dinâmica de trabalho do profissional autônomo não impede a

ocorrência de um Contrato Psicológico entre as partes, pois foi verificada a

existência de expectativas nessa relação, o que vem ao encontro da teoria de

Schein (1982): “[.. .] Contrato Psicológico denota que há um con junto não

explícito de expectativas atuando em todos os momentos entre todos os

membros de uma organização e os diversos dirigentes e outras pessoas dessa

organização”.

Corroborando com essa teoria, na consideração dos novos arranjos de

trabalho reconhecidos por Rousseau (1995, p.105), mesmo havendo diversas

relações formais de contrato referentes, por exemplo, às dimensões de

Estrutura Temporal e Grau de Internalização ou Externalizaç ão do

profissional, pode ser verificada a existência dos Contratos Psic ológicos.

Outro ponto foi percebido em relação às expectativas dos Técnicos de

Enfermagem, na medida em que os contratados tem maior número de

expectativas do que os cooperados, o que não significa que elas possam ter

menor ou maior importância. Talvez, p elo fato de o cooperado permanecer por

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99 curto período (três meses no máximo, nessa condição) e sem vínculo, não haja

tempo de ocorrer o desenvolvimento de novas expectativas.

De maneira geral as expectativas do contratado e do cooperado se

assemelham quanto a vontade de manter relacionamento de longo prazo,

oferecimento de oportunidades de treinamento, gerenciamento de conflitos

com clientes, reconhecimento do trabalho, aceitação de mudanças, respeito,

cumprimento e acessibilidade de fazer acordos.

A organização da empresa foi um item frequentemente citado nas

entrevistas pelos trabalhadores em geral , como um ponto positivo de orgulho

em trabalhar numa empresa com este conceito no mercado, além de

reconhecida qualidade no atendimento ao cliente/paciente. Essa expectativa já

é formada antes de o indivíduo entrar na empresa, como visto por Beyda e

Wetzel (2008) na formação dos Contratos Psicológicos.

Seguindo a análise proposta no que tange à identificação de

expectativas do empregador verificadas através das Enfermeiras Supervisoras

como agentes da organização, pode ser constatado que foram expressas

algumas diferenças nas expectativas de certas dimensões, em relação ao t ipo

de contrato formal, sendo mais altas em termos de desempenho para os

contratados do que para os cooperados.

As Enfermeiras Supervisoras faziam distinções quando falavam dos

cooperados, com menores expectativas quanto ao comprometimento,

desempenho e cumprimento de rotinas, talvez por serem profissionais

autônomos e não possuírem vínculo com a organização, acarretando em

treinamento deficiente para o desenvolvimento de trabalho de acordo com as

rotinas específicas da empresa.

O fato de também não ser possível fazer cobranças ou aplicar ações de

cunho corretivo em situações de maior criticida de (faltas, atrasos, não

cumprimento de rotinas) foi declarado como uma expectativa frustrada, isto é

espera-se poder fazer isso, mas tem a clareza de que não se pode.

Mesmo assim, essa situação não chega a configurar uma falta de

valorização do profissional cooperado, pois existe a expectativa de, na

vigência de vaga, oportunizar a esse profissional uma alternativa para se

vincular à empresa, caso o mesmo apresente um desempenho melhor que o

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100 esperado para a sua condição de autônomo, com a preocupação de fa zer esse

processo de forma a não ferir os preceitos legais.

Apresentam-se também expectativas da tolerância em não ser exigida a

exclusividade de trabalho na empresa. O compartilhamento da atividade

laboral do empregado, contratado ou não, com outras empr esas se configura

como uma das peculiaridades do trabalho na área de saúde, pela duração da

jornada (doze horas de trabalho para trinta e seis horas de descanso) que

permite que o tempo de descanso possa ser utilizado para assumir outra carga

de serviço. Além da baixa remuneração indexada a essa categoria

profissional, que poderia favorecer a busca para mais oportunidades de

trabalho concomitantes, como foi referido pelos trabalhadores.

Essas circunstâncias também podem remeter ao problema de retenção de

talentos, numa época que se fala muito no “apagão de mão de obra”,

proporcionando que os profissionais conciliem as atividades, mas sem, no

entanto perder a lealdade e a responsabilidade para com a empresa.

Para o processo da análise das convergências e div ergências de todas as

expectativas levantadas, fo i possível coletar os dados de ambos os lados

participantes da relação de trabalho, com dados da percepção própria de cada

lado, uma vez que os estudos existentes sobre os Contratos Psicológicos

relatam como lacuna na literatura a visão bilateral (RIOS, 2007).

A convergência de expectativas foi maior com os profissionais

contratados do que com os cooperados, pois em todas as dimensões propostas

pesquisadas, constataram-se pontos comuns. Para os cooperados, a penas

metade das dimensões foram contempladas pela convergência e ainda em

temas não muito significativos do ponto de vista de vínculos, exceto o de

manter bom desempenho para a contratação posterior.

Destaca-se a ocorrência de algumas expectativas comuns, tais como a

acessibilidade esperada e ao mesmo tempo a preocupação das gerentes de

linha, Enfermeiras Supervisoras, em ouvir os profissionais como pessoas.

Além disso, a capacitação e treinamento também foram valorizados por ambos

os lados, onde a necessidade de aperfeiçoamento técnico, quando se presta

assistência aos seres humanos, condiz com as características peculiares dos

profissionais que atuam na área de saúde, por necessidade de segurança.

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101

Pode ser observado também que essas expectativas caracte rizam alguma

mutualidade e reciprocidade, conforme citado por Ferreira (2007), onde são

percebidos os mesmos itens por ambos os lados e sendo entendidas pelas

estruturas próprias de referência de cada parte, contestando o que diz

Rousseau (1995), que refere que as expectativas podem não ser tão mútuas

quanto se acredita.

Em relação às divergências, a situação é invertida quando comparado o

vínculo contratual formal, onde se contrapõe somente uma dimensão na

relação do contratado. Para o profissional de enf ermagem cooperado, a

maioria das dimensões diverge, com exceção da Estabilidade (grau o qual o

contrato é limitado ou flexível nas mudanças) e Simetria de Troca (aceitação

de diferenças hierárquicas).

A divergência de expectativas com o Técnico de Enfermag em

contratado está relacionada à dimensão de Escopo, que trata do grau do

envolvimento no trabalho, onde parece haver confli to em um processo

operacional de resolução de problemas.

Nas divergências com os cooperados, notam-se algumas características

de mutualidade e reciprocidade. Citando o exemplo da necessidade de

treinamentos, há a expectativa da empresa que ele participe pouco, ou não

participe dos treinamentos, pela sua característica autônoma, mas o mesmo

tem expectativas de poder participar desses tr einamentos. São expectativas

opostas, mas referentes a um mesmo contexto, que mereceria uma avaliação

mais profunda dos processos operacionais relativos a essa questão.

A identificação dos Contratos Psicológicos estabelecidos entre os

Técnicos de Enfermagem contratados e cooperados com a Empresa foi

embasada na interpretação dos dados qualitativos coletados, através da

análise das características das dimensões da tipologia, não havendo intenção

de replicar o método de estudo de Janssens, Sels e Van Den Bra nde, (2003).

Devido aos vínculos contratuais formais serem distintos com as duas

categorias de trabalhadores, era esperado que houvesse diferentes contratos,

uma vez que o tipo de contrato formal tem influência sobre as dimensões do

Contrato Psicológico, de acordo com os autores Sels, Janssens e Van Den

Brande (2004) e Lobo (2007).

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102

As características da tendência para haver um Contrato Forte, segundo a

tipologia proposta para este estudo, foram baseadas nas convergências em

todas as dimensões, com os Técnicos de Enfermagem Contratados e a

Empresa de Assistência Domiciliária. Embora possa haver divergência quanto

à dimensão do Escopo (envolvimento no trabalho), não descaracterizaria essa

tendência de altas expectativas em ambos e ainda, paralelamente a essa

análise, caberia inferir que esse tipo de contrato também denota um forte

vínculo, sentimento de pertencimento, vontade de ver a empresa crescer, que

foram aspectos percebidos nas entrevistas realizadas.

Já os Contratos estabelecidos entre a Empresa de Assi stência

Domiciliária e os Técnicos de Enfermagem Cooperados foram sujeitos a

diferentes interpretações quanto à sua tendência devido as característ icas

apresentadas, com baixas expectativas, muitas divergências e poucas

convergências. Tanto o Contrato Fraco , de baixas expectativas , quanto o

Contrato Desconectado, cuja característica de investimento pessoal se faz

presente, poderiam ser classificados para essa relação.

O fortalecimento do Contrato Psicológico entre os trabalhadores

cooperados poderia merecer uma ação estratégica, com as nuances legais que

o tipo de contrato formal permite e com investimento em expectativas que

pudessem consolidar a uti lização desses recursos humanos, uma vez que

atuam diretamente com o cliente/paciente e também representam a empresa

para esse público.

Sendo assim, especificamente nas organizações da área de saúde, o

olhar sobre os Contratos Psicológicos, independente do contrato formal, não

seria em vão, uma vez que, ao serem observados os pontos que convergem e

divergem em relação às expectativas, poderiam ser direcionadas ações que

buscassem a satisfação mútua, de acordo com a estratégia organizacional de

cada empresa.

Finalizando os aspectos analíticos dos dados da pesquisa e

conjecturando sobre a teoria dos Contratos Psi cológicos, esta poderia fornecer

uma base para aplicabilidade prática nos processos de Gestão de Pessoas, pois

opera com as expectativas que as pessoas e a organização possuem na relação

de trabalho estabelecida entre eles. O fato de poder trabalhar com o

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103 levantamento de expectativas e compar ar convergências e divergências é o

exemplo de um método onde a teoria pode ser aplicada na prática.

A operacionalização desta prática com instrumentos e processos

específicos pode configurar-se num desafio aos gestores das organizações e

de acordo com a proposta de Menegon e Casado (2006), uti lizar o Contrato

Psicológico como uma ferramenta de gestão é organizar um processo que

envolve buscas e resgates do que o ser humano espera em relação ao trabalho.

Este estudo procurou contribuir para aumentar o número de pesquisas

que abordam o construto dos Contratos Psicológicos , trazendo uma visão

bilateral da relação entre trabalhadores e empregadores, mas outras

contribuições ainda são necessárias para reforçar o entendimen to do tema,

conforme sugere a subseção seguinte.

5.1 Recomendações para trabalhos futuros

Vários estudos podem ser explorados para abordar o tema sobre os

Contratos Psicológicos. Uma abordagem longitudinal, que envolva o processo

da dinâmica desses contratos ao longo do tempo na organização, estudos com

as correlações entre as principais peculiaridades das corporações da área de

saúde, e até mesmo a replicação do estudo de Sels, Janssens e Van Den

Brande (2004) para retratar a realidade brasileira pod eriam servir como

sugestão para futuras pesquisas.

Investigar com maior profundidade os aspectos referentes aos Contratos

Psicológicos estabelecidos dentro do sistema cooperativista de relações de

trabalho nas organizações da área de saúde, e a exploração de outras

dimensões relacionadas às suas especificidades poderia ser uma contribuição

para o tema.

E também realizar um estudo de como os Contratos Psicológicos podem

ser relacionados aos temas da Cultura Organizacional e Comprometimento.

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104

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111

APÊNDICE A - PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO

Roteiro de Entrevista I - Expectativa do Trabalhador

Contextualização:

Realização da pesquisa feita pela mestranda da faculdade Boa Viagem -

FBV – Maria de Fátima da Cruz Daniel, com a autorização expressa da

Diretora Executiva da Empresa e viabil izada pelo Consultor interno através

da equipe do Departamento Administrativo.

Pesquisa sobre as expectativas que os Técnicos de Enfermagem (TE), tem em

relação à Empresa e que a Empresa tem em relação a eles.

A coleta de dados é realizada através de uma entrevist a para

profissionais contratados com mais de um ano de trabalho na Empresa, e os

cooperados que estejam atuando ou com atuação recente (até 3 meses) onde

são questionadas as expectativas nessa relação de trabalho, sendo gravada

com a autorização do entrevistado.

A adesão é livre, e há a necessidade da não divulgação do nome do

entrevistado, para garantia do anon imato, além da informação dada a ele de

que as gravações não são divulgadas, sendo analisados os dados de forma

coletiva pela pesquisadora.

As perguntas servem como guia na condução da entrevista, pautando os

assuntos relativos às dimensões que devem ser pesquisadas.

Nesse contexto, sendo um trabalhador importante na organização, que pode

ter expectativas em relação ao seu trabalho na empresa, in teressa saber:

Parte 1 - Questões confirmatórias das característ icas dos pesquisados

1 Há quanto tempo trabalha na empresa?

2 Qual o seu tipo de contrato com a empresa?

3 Qual o seu cargo na empresa?

4 Você tem uma chefia direta ?

Parte 2 - Lista de pautas

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GERAL

Você esperava trabalhar nesta empresa algum dia?

Quais eram as suas expectativas? Elas foram atendidas?

DIMENSÃO 1:Estrutura Temporal – Prazo percebido do relacionamento

do trabalho

Quanto tempo espera trabalhar e o que espera da empresa para que

continue trabalhando aqui

DIMENSÃO 2: Tangibilidade – Grau de clareza dos termos de

desempenho

Como espera que a empresa explique suas obrigações, tarefas e rotinas

e avalie desempenho de que maneira

DIMENSÃO 3: Escopo – Grau do quanto existe de envolvimento n o

trabalho

Como espera se dedicar ao trabalho e espera conciliar vida pessoal e o

trabalho

DIMENSÃO 4: Estabilidade – Grau o qual o contrato é limitado ou

flexível em relação as mudanças

Espera que possam ocorrer mudanças nas obrigações, rotinas e tarefa s e

como espera que seja avisado

DIMENSÃO 5: Simetria de troca – Grau de aceitação das diferenças

hierárquicas ou desigualdades

Espera que todos os profissionais sejam tratados de forma igual,

percebe tratamentos diferentes

DIMENSÃO 6: Nível do contrato – Grau o qual o contrato é percebido

como individual ou coletivo

Espera que haja a possibilidade de fazer algum acordo pessoal com a

supervisora, caso necessite .

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APÊNDICE B - PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO

Roteiro de Entrevista II - Expectativa do Empregador

Contextualização:

Realização da pesquisa feita pela mestranda da Faculdade Boa Viagem - FBV

– Maria de Fátima da Cruz Daniel, com a autorização expressa da Diretora

Executiva da Empresa e viabilizada pelo Consultor interno através da equipe

do Departamento Administrativo.

Pesquisa sobre as expectativas que os Enfermeiros Supervisores tem em

relação aos Técnicos de Enfermagem (TE), e que estes tem em relação à

Empresa.

O papel do Enfermeiro aqui é visto como representante da empresa, pois é um

gestor dos recursos para a realização da atividade assistencial. Em relação à

gestão de pessoas, é responsável direto pela equipe de TE que estão sob a sua

supervisão.

A coleta de dados é realizada através de uma entrevista para profissionais

com mais de um ano de trabalho na Empresa, onde são questionadas as

expectativas nessa relação de trabalho, sendo gravada com a autorização do

entrevistado.

A adesão é livre, e a pesquisadora assume o compromisso com a garantia do

anonimato, pois é um grupo com número reduz ido de Enfermeiros que

impossibilita não saber o nome de cada uma.

Nesse contexto, sendo um representante da organização perante os TE,

interessa saber:

Parte 1 - Questões confirmatórias das característ icas dos pesquisados

1. Há quanto tempo trabalha na empresa?

2. Qual o seu tipo de contrato com a empresa?

3. Qual o seu cargo na empresa?

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4. Qual a sua responsabilidade com os TE?

Parte 2 - Lista de pautas

GERAL

O que espera do TE contratado cooperado

DIMENSÃO 1: Estrutura Temporal – Prazo percebido do relacionamento

do trabalho

Quanto tempo espera que o TE trabalhe na empresa, desenvolva carreira, mantenha trabalhando.

Espera que o TE trabalhe em outras empresas

E o cooperado?

DIMENSÃO 2: Tangibilidade – Grau de clareza dos termos de

desempenho

Como espera que o TE cumpra suas obrigações, tarefas e rotinas e

avalia o desempenho

E o cooperado?

DIMENSÃO 3: Escopo – Grau do quanto existe de envolvimento no

trabalho

Como espera que o TE se dedique, concilie sua vida pessoal e o

trabalho

E o cooperado?

DIMENSÃO 4: Estabilidade – Grau no qual o contrato é limitado ou

flexível em relação às mudanças

Espera que possam ocorrer mudanças nas obrigações, rotinas e tarefas e

como espera que seja avisado

E o cooperado?

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115 DIMENSÃO 5: Simetria de troca – Grau de aceitação das diferenças

hierárquicas ou desigualdades

Como espera que os TE aceitem diferenças da hierarquia ou

desigualdades

E o cooperado?

DIMENSÃO 6: Nível do contrato–Grau o qual o contrato é percebido

como individual ou coletivo

Espera que o TE procure fazer algum acordo pessoal

E o cooperado?

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APÊNDICE C - QUADROS DOS ACHADOS POR DIMENSÃO DAS

EXPECTATIVAS DOS TRABALHADORES

Quadro 6 - Expectativas do Trabalhador relacionadas à Dimensão da Estrutura Temporal (Dados da pesquisa )

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Quadro 7 - Expectativas do Trabalhador relacionadas à Dimensão de Tangibil idade (Dados da Pesquisa )

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Quadro 8 - Expectativas do Trabalhador relacionadas à Dimensão de Escopo (Dados da Pesquisa)

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Quadro 9 - Expectativas do Trabalhador relacionadas à Dimensão de Estabil idade (Dados da Pesquisa)

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Quadro10 - Expectativas do Trabalhador relacionadas à Dimensão de Simetria de troca (Dados da Pesquisa)

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Quadro11 - Expectat ivas do Trabalhador relacionadas à Dimensão de Nível de Contrato (Dados da Pesquisa) .

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APÊNDICE D – QUADROS DOS ACHADOS POR DIMENSÃO DAS EXPECTATIVAS DOS EMPREGADORES

Quadro 12 - Expectativas do Empregador relacionadas à Dimensão da Estrutura Temporal (Dados da Pesquisa) .

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Quadro 13 - Expectativas do Empregador relacionadas à Dimensão da Tangibil idade (Dados da Pesquisa) .

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Quadro 14 - Expectativas do Empregador relacionadas à Dimensão de Escopo (Dados da Pesquisa)

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Quadro 15 - Expectativas do Empregador relacionadas à Dimensão de Estabil idade (Dados da Pesquisa) .

Quadro 16 - Expectat ivas do Empregador relacionadas à Dimensão de Simetria de Troca (Dados da Pesquisa) .

Quadro 17 - Expectativas do Empregador relacionadas à Dimensão de Nível de Contrato (Dados da Pesquisa) .