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RESUMO O estudo visa demonstrar a importância da Contabilidade Rural para o pequeno, médio e grande produtor rural, vista como uma ferramenta gerencial, que permite, por meio da informação contábil, o planejamento e o controle orçamentário para a tomada de decisões, informações estas indispensáveis para o planejamento e a diversificação de culturas e a modernização do setor. Trata-se de estudo de caso realizado com produtores rurais em um município, localizado no Estado do Paraná. Constatou-se que a contabilidade rural ainda é uma ferramenta administrativa, pouco utilizada pelos produtores rurais pesquisados, que, quando a utilizam, ela destina-se, praticamente para fins tributários apenas. A pesquisa demonstrou o desconhecimento e o pouco interesse dos produtores rurais em utilizar a contabilidade gerencial como ferramenta para auxiliar na tomada de decisões. Os proprietários de escritórios de contabilidade demonstraram interesse em elaborar a contabilidade Rural, porém, constatou-se, também, a falta de qualificação profissional para executá-la. A pesquisa evidencia, ainda, que os agricultores, além de apresentarem resistência ao uso da contabilidade, demonstram preocupação com o fisco e, infelizmente, falta de confiança nos profissionais que atuam na elaboração da contabilidade. Palavras-chave: contabilidade rural, ferramenta gerencial, atividade rural ABSTRACT This study aims to show the importance of Rural Accountancy for the small, medium and big rural producers, as a management tool that allows, through the accountancy information, the planning and budget control for the decision making; information that are indispensable for the planning and crops diversity and for the sector modernizing. It's about a case study done with rural producers in a municipality placed in the East region of Paraná. It has been realized that the rural accountancy is still an administrative tool, less used by the researched rural producers, that when use it, apply it only to tributary purpose. The research has showed the lack of knowledge and low interest by the rural producers in using management accountancy as a tool to help on decision making. The accountancy offices owners have showed interest in creating Rural accountancy, but it has also been noted, the lack of professional qualification to execute it. The research also points out the agricultures, beyond showing resistance to the accountancy usage, they have showed worriment with the fisco and, unfortunately, the lack of trust on the professionals that work on the accountancy creation. accountancy, management tool, rural activity. Keywords: 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento tecnológico e as mudanças provocadas pela economia globalizada também afetaram a agricultura, exigindo qualificação dos gestores e fazendo com que a agricultura se tornasse mais competitiva, aumentando a produtividade e reduzindo os custos. Dessa forma, gera-se uma renda maior e criam-se novos empregos, fornecendo a base para implantação de indústrias. Assim, torna-se de suma importância a necessidade de profissionais qualificados para operarem nas atividades rurais, tanto na própria produção quanto na área administrativa, visando buscar um controle econômico-financeiro mais adequado. Nesse contexto, a contabilidade pode desempenhar um importante papel como ferramenta gerencial, por meio de informações que permitam o planejamento, o controle e a tomada de decisão, transformando as propriedades rurais em empresas com capacidade para acompanhar a 5 Pág. 05-16 Vol. 25 - N.3 Setembro-Dezembro/2006 Periodicidade Quadrimestral CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA GERENCIAL PARAA ATIVIDADE RURAL: UM ESTUDO DE CASO* Elza Hofer Salete Polonia Borilli Rejane Bertinatto Philippsen 1 2 3 * 1 2 3 Artigo apresentado no 30º Encontro da ANPAD - Salvador / BA - Brasil - Setembro/2006. Professora e Pesquisadora da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon – PR Professora e pesquisadora da UNIPAR – Campus de Toledo – PR Aluna da Pós-graduação – UNIPAR – Campus de Toledo - PR

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RESUMO

O estudo visa demonstrar a importância daContabilidade Rural para o pequeno, médio e grandeprodutor rural, vista como uma ferramenta gerencial,que permite, por meio da informação contábil, oplanejamento e o controle orçamentário para atomada de decisões, informações estasindispensáveis para o planejamento e a diversificaçãode culturas e a modernização do setor. Trata-se deestudo de caso realizado com produtores rurais emum município, localizado no Estado do Paraná.Constatou-se que a contabilidade rural ainda é umaferramenta administrativa, pouco utilizada pelosprodutores rurais pesquisados, que, quando autilizam, ela destina-se, praticamente para finstributários apenas. A pesquisa demonstrou odesconhecimento e o pouco interesse dos produtoresrurais em utilizar a contabilidade gerencial comoferramenta para auxiliar na tomada de decisões. Osproprietários de escritórios de contabilidadedemonstraram interesse em elaborar a contabilidadeRural, porém, constatou-se, também, a falta dequalificação profissional para executá-la. A pesquisaevidencia, ainda, que os agricultores, além deapresentarem resistência ao uso da contabilidade,demonstram preocupação com o fisco e, infelizmente,falta de confiança nos profissionais que atuam naelaboração da contabilidade.

Palavras-chave: contabilidade rural, ferramentagerencial, atividade rural

ABSTRACT

This study aims to show the importance of

Rural Accountancy for the small, medium and big rural

producers, as a management tool that allows, through

the accountancy information, the planning and budget

control for the decision making; information that are

indispensable for the planning and crops diversity and

for the sector modernizing. It's about a case study done

with rural producers in a municipality placed in the East

region of Paraná. It has been realized that the rural

accountancy is still an administrative tool, less used

by the researched rural producers, that when use it,

apply it only to tributary purpose. The research has

showed the lack of knowledge and low interest by the

rural producers in using management accountancy

as a tool to help on decision making. The

accountancy offices owners have showed interest in

creating Rural accountancy, but it has also been

noted, the lack of professional qualification to

execute it. The research also points out the

agricultures, beyond showing resistance to the

accountancy usage, they have showed worriment

with the fisco and, unfortunately, the lack of trust on

the professionals that work on the accountancy

creation.

accountancy, management tool, rural

activity.

Keywords:

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento tecnológico e asmudanças provocadas pela economia globalizadatambém afetaram a agricultura, exigindoqualificação dos gestores e fazendo com que aagricultura se tornasse mais competitiva,aumentando a produtividade e reduzindo os custos.Dessa forma, gera-se uma renda maior e criam-senovos empregos, fornecendo a base paraimplantação de indústrias. Assim, torna-se de sumaimportância a necessidade de profissionaisqualificados para operarem nas atividades rurais,tanto na própria produção quanto na áreaadministrativa, visando buscar um controleeconômico-financeiro mais adequado.

Nesse contexto, a contabilidade podedesempenhar um importante papel comoferramenta gerencial, por meio de informações quepermitam o planejamento, o controle e a tomada dedecisão, transformando as propriedades rurais emempresas com capacidade para acompanhar a

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CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA GERENCIAL PARA A

ATIVIDADE RURAL: UM ESTUDO DE CASO*

Elza HoferSalete Polonia Borilli

Rejane Bertinatto Philippsen

1

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3

*

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3

Artigo apresentado no 30º Encontro da ANPAD - Salvador / BA - Brasil - Setembro/2006.Professora e Pesquisadora da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon – PRProfessora e pesquisadora da UNIPAR – Campus de Toledo – PRAluna da Pós-graduação – UNIPAR – Campus de Toledo - PR

evolução do setor, principalmente no que concerneaos objetivos e atribuições da administraçãofinanceira, no controle de custos, na diversificaçãode culturas e na comparação de resultados.Considerando a visão de Martins (2003) sob oenfoque gerencial, a contabilidade de custos temduas funções: o auxílio ao controle e a ajuda nastomadas de decisões.

Este trabalho tem como objetivo analisaralguns aspectos na área rural, com enfoque no usoda contabilidade rural como ferramenta para supriras necessidades de planejar, orçar, organizar eorientar a gestão do patrimônio familiar. A questão-chave que se busca responder é a seguinte: acontabilidade gerencial pode subsidiar osempresários rurais com informações quepossibilitem a melhoria da gestão na atividade,otimizando os resultados que objetivam ocrescimento do patrimônio?

Além desta introdução, a pesquisaapresenta mais quatro tópicos, sendo que osegundo tópico se atém ao referencial teórico quedeu suporte ao estudo. No terceiro tópico, descreve-se a metodologia utilizada para desenvolver otrabalho. No quarto tópico, discutem-se osresultados com base nos dados coletados e, porúltimo, tem-se a conclusão da pesquisa.

Na atividade rural, os termos e asexpressões “produtor rural” variam de região pararegião. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural(SENAR) (2003, p. 21) define: produtor rural como “apessoa física ou jurídica, proprietária ou não, quedesenvolve, em área urbana ou rural, a atividadeagropecuária, pesqueira ou silvicultural, bem comoa extração de produtos primários, vegetais ouanimais, em caráter permanente ou temporário,diretamente ou prepostos”.

Empresário Rural, segundo o artigo 966 daLei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, no novoCódigo Civil (NCC), Brasil (2002), “exerceprofissionalmente atividade econômica para aprodução ou circulação de bens ou serviços”. Essaatividade de produção, realizada de formaprofissional, com a finalidade de gerar riqueza,reconheceu o trabalho do produtor rural como o de

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1ATIVIDADE RURAL

criação de bens e serviços.

De acordo com Ferreira (2000, p. 520), opatrimônio pode ser definido como “herançapaterna, bens de família, riqueza, os bens, materiaisou não, duma pessoa ou empresa”. Hermann Junior(1996, p. 490) afirma que “o patrimônio é umagrandeza real, cuja constituição íntima deve serconhecida e que se transforma e evolui sob o influxoda atividade humana”. Entende-se, que o patrimôniorepresenta as riquezas (bens, valores, direitos eobrigações), colocadas à disposição dosempresários com a finalidade de obter resultadoseconômicos e financeiros. Para Calderelli (2003 p.616), o patrimônio ocorre “quando a riqueza inertese transforma em riqueza operante, pela ação dohomem sobre a matéria. Predomina naadministração, o conjunto de bens econômicos e aação do homem, com o intuito de aumentar ariqueza administrada”.

O Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (INCRA), Brasil (1970) definepequeno produtor como “aquele que detém de 01 a71,9 hectares, médio produtor de 72 a 269,9hectares e grande produtor é aquele que possuiacima de 270 hectares”, O referido institutoconsidera, também, que um módulo de terra é iguala 18 hectares. Um hectare de terra equivale a10.000 m² (dez mil metros quadrados).

Conforme Valle (1987), a atividade agrícolacontinua sendo exercida, em grande parte, porfamílias que atuam no processo produtivo e no deconsumo, constituindo uma entidade de caráterautosuficiente. Porém, com o passar dos tempos,em razão da divisão do trabalho e dodesenvolvimento do comércio, deu-se a dissociaçãoentre o processo produtivo e o de consumo, quandoo agricultor deixou de se limitar a produzir para suasubsistência e o de sua família, mas, em especial,para a venda no mercado consumidor.

As atividades rurais podem ser exercidas devárias formas, desde o cultivo para a própriasobrevivência até em grandes empresas queexploram os setores agrícolas, pecuários, eagroindustriais. Segundo Marion (2002, p. 22),“empresas rurais são aquelas que exploram acapacidade produtiva do solo através do cultivo daterra, da criação de animais e da transformação dedeterminados produtos agrícolas”. A agriculturarepresenta toda a atividade de exploração da terra,seja esta agrícola (vegetal), zootécnica (animais) ouagroindustrial (beneficiamento dos produtos).

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Crepaldi (2005) salienta que o agricultor vemdiminuindo o número de atividades em seuestabelecimento rural, dedicando-se apenas a umaou duas delas, especializando-se para melhorar aqualidade de seus produtos, visando um mercadopelo qual recebe um melhor preço.

Por outro lado, Grossi, Souza e SilvaCunha, Shikida e Rocha Junior (2002) apresentamuma nova configuração do meio rural brasileiro,denominado-o como “Novo Rural” e o dividindo emt rês g rupos : a ag ropecuá r i a moderna( ), atividades não-agrícolas (moradia,lazer, serviços) e novas atividades agropecuárias(localizadas em nichos de mercado), integrando umconjunto de atividades de renda, como urbanizaçãodo meio rural, turismo, lazer e prestação de serviços,aluguel de máquinas, pesque-pague, etc. Essacombinação de atividades agrícolas e não-agrícolasé conhecida por pluriatividade, criada como objetode valorização dos capitais. A diferença é que,anteriormente, essas atividades estavam ligadas aoestabelecimento agropecuário, no sentido maiseconômico, enquanto a pluriatividade vincula-se àsfamílias, com uma unidade social e demográfica.

Para um gestor rural, o conhecimentotécnico, a sensibilidade e a competência para odiagnóstico da empresa, determinam grande partedo seu sucesso na agropecuária. Devido àsmúltiplas atividades e o volume financeiro dasoperações, ele se constitui, na realidade como umaempresa, apesar de nem sempre estar estruturado edenominado dessa forma. Conforme Valle (1987),as operações de gestão agrária são consideradassob um tríplice aspecto: o técnico, o econômico e ofinanceiro.

Sob o aspecto técnico, estudam-se apossibilidade de determinada cultura vegetal oucriação de gado na área rural, no que concerne àescolha das sementes, dos implementos a seremusados, tipos de alimentação do gado, rotação deculturas, espécies de fertilizantes e o sistema detrabalho, etc. No aspecto econômico, estudam-sevárias operações a executar quanto ao seu custo eaos seus resultados, isto é, o custo de cadaprodução e sua recuperação através dos quais seobtém o lucro. Considera-se o aspecto financeiroquando se estudam as possibilidades de obtençãode recursos monetários necessários e a sua forma

in

commodities

2.2 GESTÃO DAATIVIDADE

de aplicação, ou seja, o movimento de entradas esaídas de numerários, de modo a manter o equilíbriofinanceiro do negócio.

Para Crepaldi (2005), o gestor deve estarsempre atento às tarefas de planejar, organizar,dirigir seus subalternos diretos e exercer o controleadministrativo, além de apresentar planos eorçamentos que permitam acompanhar oandamento da atividade.

O planejamento e a elaboração deprogramações anuais, mantidas e aprimoradasconstantemente, servem de base ao orçamento,elemento fundamental à administração da atividade,auxiliando na previsão das necessidades, nageração de recursos e no controle do andamento,quando o gestor pode comparar o real com o orçado.Para Nepomuceno (2004, p. 91), “o orçamento éuma ferramenta de aperfeiçoamento daadministração na atividade rural, que permitetrabalhar com os olhos voltados para o que vaiacontecer”.

Da mesma maneira, deve haver umadefinição quanto à estrutura organizacional, com umcontrole de produção e designação das funções eresponsabilidades sobre as atividades. Dessaforma, é possível avaliar os resultados obtidos, qualo verdadeiro custo de produção e onde estes seencontram sob a responsabilidade direta dosadministradores.

No momento em que se avalia a importânciada contabilidade rural, ao gerar informações para atomada de decisões, a empresa, tencionando serbem sucedida, deve se encontrar subordinada auma administração eficiente, requerendoconhecimento do seu negócio, do capital, daespecialização e da modernização da agropecuária.Para Procópio Marion (1996, p. 19), “administraruma atividade agropecuária requer amplaabrangência de informações em termos dedesempenho físico e financeiro”.

Segundo Calderelli (2003, p. 180), aContabilidade Rural é “aquela que tem suas normasbaseadas na orientação, controle e registro dos atose fatos ocorridos e praticados por uma empresa cujoobjeto de comércio ou indústria seja agricultura oupecuária”.

2.3 CONTABILIDADE RURAL: SUA FINALIDADEE SEUSASPECTOS

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CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA GERENCIAL PARA A ATIVIDADE RURAL: UM ESTUDO DE CASO

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Marion (2002) menciona que, na atividadeagrícola, um aspecto importante é o ano agrícola xexercício social. Nessa atividade, porém, a receitaconcentra-se, normalmente, durante ou logo após acolheita, ao contrário de outras atividades em que sedistribui ao longo dos 12 meses. Se o ano agrícolaterminar em março, o exercício social poderá serencerrado em 31/03 ou 30/04 e assimsucessivamente. Dessa forma, evita-se a cultura emformação, por ocasião da apuração do resultado.

Para Crepaldi (2005), uma das ferramentaspouco utilizadas pelos produtores é, sem dúvida, aContabilidade Rural, vista por eles como umatécnica complexa, com baixo retorno na prática,além de ser utilizada apenas para Declaração doImposto de Renda, o que não demonstra interessena aplicação gerencial. Vale ressaltar que aquilo quetem contribuído para esse quadro é a deficiência nossistemas contábeis, responsáveis em retratar ascaracterísticas da atividade agropecuária,considerando, também, a falta de profissionaiscapacitados na transmissão de tecnologiasadministrativas aos produtores rurais, além da não-inclusão da Contabilidade Rural como instrumentode políticas governamentais agrícolas ou fiscais.

Marion (2002) afirma que a contabilidaderural aplicada ao seu ambiente vincula-se às normase conceitos contábeis. As pessoas físicas, tidascomo grandes produtores, são equiparados apessoas jurídicas, devendo estas manter aescrituração regular, por intermédio de umprofissional contábil, utilizando o método daspartidas dobradas. Logo, os pequenos e médiosprodutores rurais estão dispensados, para fins deImposto de Renda da adoção da ContabilidadeRural, uma vez que eles podem utilizar apenas umlivro caixa para efetuar uma escrituraçãosimplificada. O ponto fundamental dessa questãoestá no uso da informação contábil como ferramentapara a administração, por meio de BalançosPatrimoniais, Demonstrações de Resultados eoutros relatórios, como importantes instrumentosgerenciais.

Conforme Padoveze (2000), a informaçãocontábil precisa atender a dois requisitos para quetenha validade integral no processo de gestãoadministrativa:

a) Sua necessidade como informação;

b) Seu planejamento e controle.

Uma informação contábil deve ser clara,

precisa e oportuna. A informação morosa poderáperder sua validade, pois um sistema deinformações contábeis precisa ser rigoroso, objetivoe dinâmico para atender as necessidades dosusuários no menor tempo possível. Portanto, a partirdo momento em que o empresário rural adotar umsistema de Contabilidade Rural Gerencial ele deveestar consciente da relação custo e benefício queisso lhe proporcionará e da própria capacidade decompreender e utilizar tais recursos, o que lhefornecerá dados confiáveis.

Crepaldi (2005) descreve a finalidade daContabilidade Rural como a de orientar asoperações agrícolas e pecuárias; medir e controlar odesempenho econômico-financeiro da empresa ede cada atividade produtiva; apoiar as tomadas dedecisões no planejamento da produção, das vendase investimentos; auxiliar nas projeções de fluxos decaixas; permitir comparações à daempresa com outras; conduzir as despesaspessoais do proprietário e de sua família; justificar aliquidez e a capacidade de pagamento junto aoscredores; servir de base para seguros,arrendamentos e outros contratos e gerarinformações para a Declaração do Imposto deRenda.

A tarefa de gerar informações gerenciaisque permitam a tomada de decisão é umadificuldade para os produtores rurais devido à faltade dados consistentes e reais. Segundo Crepaldi(2005), para obter esses dados referentes aomovimento econômico-financeiro diário dapropriedade, é preciso que o seu administradorconheça a realidade do empreendimento, por meioda classificação e organização dos dados referentesao movimento diário das operações da propriedade,à rentabilidade da atividade produtiva e aosresultados, considerando como estes podem serotimizados.

Outra postura a ser adotada peloempresário rural é a de desvincular-se ao máximoda pessoa física do ponto de vista organizacional.Ele deve assumir uma postura autônomaresponsável por todas as atividades que compõem aadministração financeira e contábil.

Numa visão global, Padoveze (2000)postula que o gerenciamento contábil está ligado às

performance

2.4 CONTROLE GERENCIAL

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informações contábeis necessárias para o controle,o acompanhamento e o planejamento da empresacomo um todo, sendo utilizados pela altaadministração da companhia. A ContabilidadeGerencial está relacionada ao fornecimento deinformações para os administradores. São eles queestão dentro da organização e são os responsáveispela direção e controle de suas operações. ParaAtkinson . (2000, p. 36), a ContabilidadeGerencial “é o processo de identificar, mensurar,reportar e analisar informações sobre eventoseconômicos das empresas”.

Mattos (1996) pondera sobre a importânciados componentes de um sistema contábil gerencialaplicável à atividade rural, ao enfatizar a definiçãoda informação que se deseja e como obtê-la.

Assim, a Contabilidade Gerencial pode sercontrastada com a Contabilidade Financeira;evidenciando o fornecimento de informações aosacionistas, credores e outros usuários externos, queestão fora da organização. Existem fatores que asdiferenciam, conforme pode ser observado a seguir:

· Objetivo dos relatórios;

· Forma dos relatórios;

· Freqüência dos relatórios;

· Bases de mensuração usadas paraquantificar os dados;

· Características da informação fornecida;

· Restrições nas informações fornecidas;

· Perspectiva dos relatórios.

Em resumo: para qualquer modelo decontrole gerencial a ser empregado, seja qual for atécnica adotada, é importante saber qual o nível dedetalhamento e sofisticação que o negócio requer. Adefinição do modelo deve ser a mais condizentepossível. Uma opção é o controle baseado nasmovimentações financeiras. Este não seria tãopreciso, mas é simples e dinâmico, ao apurar osresultados, conforme pode ser observado na Figura1 a seguir:

et al

FONTE: (CREPALDI, 2005, p. 66).Figura - Apuração de resultado pela movimentação financeira

Ressalta-se que o demonstrativo daapuração de resultados pela movimentaçãofinanceira depende de bons controles como, porexemplo, das compras e vendas de produtos emovimentação de caixa, com uma simplesestruturação de um plano de contas, no qualconstem contas de receitas, despesas einvestimentos. O empresário rural poderá cadastraros itens de classificação dessas movimentações eagrupar os lançamentos, o que possibilita obter osresultados.

O trabalho foi desenvolvido por meio deestudo de caso elaborado com pesquisa de campo,objetivando contribuir na demonstração daimportância da Contabilidade Rural para o pequeno,médio e grande produtor, vista como umaferramenta gerencial, que permite, por meio dainformação contábil, o planejamento e o controleorçamentário para a tomada de decisões. Apesquisa foi elaborada a partir de dados coletadoscom base nos questionários e entrevistas aplicadasaos gerentes de escritórios de contabilidade eproprietários rurais residentes em Municípiolocalizado no Estado do Paraná. Segundo Gil (2003)e Yin (2001), esse tipo de pesquisa pode serderivado tanto de constatações e percepções - quetêm como norte o desenvolvimento, esclarecimentoou modificação de conceitos e idéias - quanto dedescrição das características de determinadapopulação ou fenômeno.

Trata-se de pesquisa de naturezaqualitativa, tendo em vista que a obtenção dosdados explicativos sobre a importância dacontabilidade rural ocorreu mediante contato diretoe interativo do pesquisador com a situaçãoestudada. Essa integração empática com o objetode estudo possibilita, conforme Godoy (1995) eNeves (1996), uma melhor compreensão dofenômeno/variável pesquisada, visto traduzir umperfil mais completo e real dos fatos que tendem a

3 METODOLOGIA

CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA GERENCIAL PARA A ATIVIDADE RURAL: UM ESTUDO DE CASO

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Tabela 1 - Tempo de atuação dos escritórios no município

Fonte: Dados da pesquisa

A maioria dos escritórios pesquisados,71,43%, presta assessoria na área rural,normalmente, no setor tributário ou escrituraçãocompleta. De acordo com os dados da pesquisa,constata-se que os serviços mais procurados pelosprodutores rurais, nos escritórios contábeis, estãorelacionados à folha de pagamento, Imposto deRenda (IR), Imposto Sobre a Propriedade TerritorialRural (ITR) e Certificado de Cadastro de ImóvelRural (CCIR).

Outro fato que chama a atenção nosescritórios pesquisados é o de que apenas 44produtores rurais do município utilizam aescrituração completa, enquanto os demais clientesusufruíram assessoria contábil por simplesobrigação fiscal. Considerando-se que o município éessencialmente agrícola, percebe-se que osprodutores não fazem uso da contabilidade comoferramenta para a tomada de decisões. Ainda nesseitem verificou-se que 28,57% dos escritórios nãoprestam assessoria contábil rural e informaram nãopossuir profissionais especializados nessa áreapara prestação de tais serviços.

Nas dificuldades encontradas pelosescritórios em atender os produtores rurais,destacam-se as que seguem:

a) os produtores, em geral, não sãoorganizados com os documentosnecessários e, com freqüência,ocorrem atrasos, o que dificulta aprestação dos serviços e olevantamento das informações,além de acarretar um maiora c ú m u l o d e t r a b a l h o e mdeterminados meses do ano. Umexemplo claro para tal são osdocumentos necessários para aelaboração da Declaração doImposto de Renda;

b) resistência a mudanças, ou seja,em assimilar as Leis e aceitá-las; há

caracterizar a problemática analisada. Na pesquisade campo, as informações foram obtidas via dadosprimários.

Foram entrevistados os gerentes deescritórios de contabilidade, que prestam serviços eassessoria contábil no Município. No total, foramouvidos 21 (vinte e um) gerentes de escritórios, deforma que todos pudessem responder à entrevista,sendo de 25 (vinte e cinco) o número total deescritórios no referido município. Essa pesquisa,portanto, corresponde a 84% daquele universopopulacional.

Demais dados foram obtidos via aplicaçãode questionários e entrevistas face a face comprodutores rurais residentes no Município, demaneira aleatória, e desde que estivessemdispostos a responder o questionário/entrevista.Num universo de 3.200 produtores rurais existentesno município, de acordo com dados do INCRA,foram entrevistados 262 (duzentos e sessenta edois), entre pequenos, médios e grandes produtoresrurais, correspondendo, aproximadamente, a 8%daquele universo populacional.

Constatou-se que, 52,38% consideram-seescritórios de pequeno porte; 33,33% escritórios demédio porte; apenas 14,29% consideram-seescritórios de grande porte. O quadro defuncionários dos pesquisados é composto por61,90% de escritórios que possuem de 01 a 10funcionários; 23,81% com 11 a 20 funcionários;14,29% que possuem entre 21 e 40 funcionários.

Verificou-se um número significativo denovos escritórios no município, ou seja, 14,29% dosescritórios entrevistados disseram atuar na áreacontábil entre 01 e 05 anos; 23,81% prestamserviços entre 05 e 10 anos; 19,05% atuam nomunicípio entre 10 e 15 anos; 9,52% atuam entre 15e 20 anos e 33,33% dos entrevistados declararamatuar no município a mais de 20 anos, conformeTabela 1.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 RESULTADOS REFERENTES AOS DADOSOBTIDOS JUNTO AOS ESCRITÓRIOSCONTÁBEIS

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Fonte: Dados da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa

Ve r i f i cou -se que a ma io r i a daspropriedades, 82,06%, possui área entre 01 e 71,9hectares, o que as caracteriza como pequenosprodutores; 15,27% possuem entre 72 e 269,9hectares, podendo ser considerados como médiosprodutores; 2,67% dos entrevistados possuemáreas acima de 270 hectares, sendo estesconsiderados grandes produtores rurais, como seobserva na Tabela 4.

desconfianças em relação àsinformações prestadas sobre alegislação, pois os produtores nãovêem o contador como um aliado,mas como alguém que lhes querimpor a legislação;

c) o produtor rural se considera“superior”, ou seja, auto-suficiente enão reconhece os serviçosprofissionais do contador, o queacaba por inibi-lo ou, até mesmo,em ressalvas dos escritórios, aop r e s t a r s e r v i ç o s a e s s e sprodutores;

d) falta de interesse do produtor naadesão a essa ferramenta contábilgerencial.

Observou-se que 66,67% dos entrevistadosdemonstraram interesse em expandir os serviços naárea de contabilidade rural, justificando suasrespostas pelo fato do município deter um setoragrícola extremamente desenvolvido, ocupando aprimeira colocação no Estado do Paraná naprodução agropecuária e um campo ainda poucoexplorado, contabilmente. Além de possibilitarnovas oportunidades de renda, quando se aproveitaa infra-estrutura existente. Contudo, 33,33% dosentrevistados não demonstraram interesse emexpandir ou atuar nessa área contábil.

Em relação à origem do patrimônio, 31,30%dos entrevistados teve seu patrimônio oriundo deherança recebida de seus pais; outros 32,44%embora tivessem recebido parte através de herançada família, conseguiram aumentá-lo com rendaoriunda do próprio patrimônio; 27,86% dosentrevistados obtiveram o seu atual patrimônio comrecursos próprios oriundos de outras atividades,muitas destas ligadas à exploração da terra,realizando, assim, o sonho de possuir “um pedaçode terra” para produzir e tirar dela o sustento dafamília; 4,96% obtiveram a propriedade por parte deherança e também através de financiamentos;outros 1,53% tiveram acesso à terra pelo Programade Assentamento do INCRA, não deixando de seruma forma de financiamento, embora a longo prazoe com juros mais baixos; 1,91% dos produtores nãosão proprietários – possuem áreas arrendadas,conforme demonstrado na Tabela 2.

4.2 RESULTADOS REFERENTES AOS DADOSOBTIDOS JUNTO AOS PRODUTORESRURAIS

Fonte: Dados da pesquisa

A maioria dos produtores entrevistados:61,83%, disseram que atuam a mais de 20 anos;12,60% dos entrevistados atuam entre 15 e 20 anos;11,83% atuam entre 10 e 15 anos; 9,16% disseramatuar de 05 a 10 anos e 4,58% dos produtores atuamentre 01 e 05 anos, conforme Tabela 3.

Tabela 2 - Origem do patrimônio

CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA GERENCIAL PARA A ATIVIDADE RURAL: UM ESTUDO DE CASO

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Tabela 3 - Tempo de atuação na agricultura

Tabela 4 – Tamanho das propriedades

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Na pesquisa, constatou-se que 19,91% dos

entrevistados residem na área urbana do município

e os demais, 80,09%, residem na propriedade rural

(área rural do município). Decorrente disso,

verificou-se que é de preferência das famílias

entrevistadas residir no meio rural, por ser um

ambiente de melhor qualidade de vida, pois o poder

público (estado e município) disponibiliza transporte

escolar para seus filhos. Quase a totalidade das

propriedades possui energia elétrica e água tratada,

além da farta quantidade de alimentos que

produzem. Elas possuem moradias próprias e

utilizam a mão-de-obra familiar. Com isso tem-se

redução dos custos, além de acesso fácil à cidade,

já que a distância da sede do município é

relativamente pequena, de até 30 km.

No que concerne à escolaridade dos filhos

dos entrevistados, observou-se que 46,58% destes

possuem o 1º grau completo; 29,90% cursaram o 2º

grau; 23,20% já concluíram o 3º grau; 0,16% cursou

pós-graduação em nível de especialização; e 0,16%

o doutorado, conforme se vê na Tabela 6.

Constatou-se que 0,76% dos produtoresestão na condição de solteiros, trabalhando em suapropriedade; 96,19% dos entrevistados sãocasados e os que estão na condição de viúvos(as)representam 3,05% dos entrevistados. 7,64% nãotiveram filhos; 78,24% dos entrevistados tiveram de1 a 3 filhos; 10,69% possuem de 4 a 6 filhos; 2,67%disseram ter entre 7 e 10 filhos e 0,76% tiveram maisde 10 filhos, conforme a Tabela 5.

Fonte: Dados da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa

A faixa etária dos entrevistados apresentouos seguintes dados: 2,29% possuem de 20 a 30anos; 23,67% de 31 a 40 anos; 33,97% de 41 a 50anos; 25,57% entre 51 e 60 anos; 11,83% possuemde 61 a 70 anos e 2,67% têm mais de 70 anos. Noentanto, a média de idade dos produtores é de 48anos. Deve-se ressaltar que apenas 5,73% dessesproprietários são do sexo feminino e os demais,94,27%, são do sexo masculino.

Considerando esses dados e reavaliandoas informações referentes à origem do patrimônio(Tabela 2), nota-se a questão da cultura dosmoradores que, quando do casamento, dos filhos, ofilho homem recebia uma “colônia de terra” - áreaequivalente a 25 hectares - e a filha “o enxoval”, queconsistia em utensílios domésticos para a mobília dacasa.

A escolaridade dos entrevistadosapresentou os seguintes resultados: 0,38% deles éanalfabeto; 72,14% cursaram o 1º grau; 22,52%possuem o 2º grau e 4,96% concluíram o 3º grau.Aocomparar a escolaridade dos filhos em relação aospais, constatou-se um aumento significativo,principalmente em virtude da facilidade do acessodos filhos à escola, com transporte gratuito cedidopela prefeitura e governo estadual aos estudantesaté a conclusão do 2º grau.

As principais atividades econômicasdesenvolvidas pelos produtores rurais entrevistadossão as culturas da soja, do milho e do trigo, sendoque o cultivo da soja é praticado em 88,55% daspropriedades, seguido pela cultura do milho, com85,50%, e o trigo com 38,55%. A cultura da aveiaaparece em 7,25% das propriedades; o cultivo dehortaliças em 0,38%; a fruticultura em 0,76%; aerva-mate em 0,38%; o feno em 0,38%; a cana-de-açúcar em 0,38%; a mandioca em 1,53%; o fumo em

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Tabela 5 - Quantidade de filhos

Tabela 6 – Escolaridade dos filhos

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0,38%; 0,79% cultiva o feijão e o triticale é cultivadoem 0,38% das propriedades rurais.

Por outro lado, além do cultivo da terra, osp rodu to res ru ra i s possuem a t i v i dadesagropecuárias diversificadas, ou seja, 52,57% dosentrevistados dedicam-se à atividade leiteira;37,79% à suinocultura; 18,32% à avicultura; 9,54%à piscicultura; 2,29% à pecuária; 0,76% à produçãode mel; 0,38% à produção de ovos; 0,38% produzqueijo; 0,38% empenha-se na produção de rãs. Opesque-pague está presente em 0,38% daspropriedades pesquisadas.

Os dados acima apresentados comprovama pluriatividade nas propriedades rurais domunicípio, o que tem gerado maior estabilidade narenda do trabalhador rural. Nesse contexto, osdados da pesquisa reforçam o estudo realizado porGrossi, Souza e Silva Cunha, Shikida e RochaJunior (2002), no qual a pluriatividade resulta daconseqüência dos esforços de diversificação dospequenos produtores para se inserirem nos novosmercados locais, que se abrem e não podem serconsiderados como partes de um processo deproletarização.

Constatou-se que, a maioria dosprodutores, 53,05%, apresenta um faturamentoanual até R$ 50.000,00, o que evidencia, ascaracterísticas do pequeno produtor. Os dadosreferentes ao faturamento bruto anual daspropriedades podem ser observados na Tabela 7.

in

planejamento para diversificar suas atividadesagrícolas. Os mesmos demonstraram terconsciência da necessidade da diversificação,principalmente por insegurança, ao se vincularem auma única cultura que, com uma frustração de safra– como a que ocorreu na atual safra (2004/2005) –demandaria grandes dificuldades caso nãohouvesse planejamento.

Nesse sentido, os dados vêm a confirmar oque Grossi, Souza e Silva Cunha, Shikida e RochaJunior (2002, p. 99) afirmam: “o Novo Rural noParaná não é somente percebido pelo avanço deterceirização das tarefas agropecuárias. Novasatividades estão invadindo campos, muitas vezesnem tão, novas, mas recriadas como objeto devalorização dos capitais.”

Entretanto, 45,42% dos produtoresdisseram que não planejam para diversificar ou paraaumentar o grau de diversificação pelo fato de jápossuírem tal grau e/ou por não considerá-lo viável,tendo em vista o porte das propriedades - muitopequenas - e por não disporem de condiçõesfinanceiras para investimentos em novas culturas.

Os motivos que leva os produtores rurais adiversificar suas culturas, em ordem de importância,são: a) obter maior rentabilidade; b) preservação dosolo; c) utilização da infra-estrutura existente; d)maximização do uso da mão-de-obra; d) linhas definanciamento.

Averiguou-se que 37,79% dos produtorestêm os controles e as informações de seu negóciosimplesmente guardados em sua memória, ou seja,não anotam os fatos e nem os atos, confirmando asdificuldades encontradas pelos escritórioscontábeis para efetuar os registros; 49,62% dosentrevistados registram em cadernos as suasdespesas, contas e receitas, não se preocupandocom a organização da documentação desses fatos;9,16% dos produtores entrevistados responderamque executam os controles de suas receitas edespesas através de planilhas eletrônicas do0,38% dos entrevistados efetuam controles atravésde fichas e 3,05% dos entrevistados disserampossuir um sistema de controle informatizado eutilizam as informações para a tomada de decisões.

Por outro lado, constatou-se que 42,37%dos entrevistados possuem microcomputadores,porém, segundo suas respostas, estes sãoutilizados pelos filhos, em seus estudos (trabalhosescolares) e não para o auxílio nos controles da

in

Excel;

Fonte: Dados da pesquisa

Os produtores, questionados sobre aelaboração de um planejamento para diversificaçãode culturas, assim se posicionaram: 54,58% dosentrevistados responderam que elaboram

CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA GERENCIAL PARA A ATIVIDADE RURAL: UM ESTUDO DE CASO

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Tabela 7 – Faturamento bruto médio anual

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atividade rural.

5,34% dos entrevistados já possuem algumtipo de assessoria contábil por meio de contadorpróprio; 49,24% dos entrevistados recebemassessor ia prestada por escr i tór ios decontabilidade; 25,57% dos entrevistados utilizamassessoria contábil do Sindicato Rural; 19,85% dosentrevistados responderam que não necessitam deassessoria contábil, por tratar-se de uma pequenapropriedade cujo faturamento se encontra isento depagamento de tributos. Essas percentagensindicam que 80,15% de produtores que já recebem,pelo menos, um tipo de assessoria contábil.Segundo as evidências citadas anteriormente porCrepaldi (2005), uma das ferramentas menosutilizadas pelos produtores é, sem dúvida, aContabilidade Rural, vista como uma técnicacomplexa, com baixo retorno na prática.

Verificou-se que, para 80,15% dosentrevistados, a finalidade da assessoria contábil, épara fins tributários, dados que confirmam asdificuldades manifestadas pelos escritórios decontabilidade em relação à prestação de serviçosaos produtores rurais “que, na maioria das vezes, épara serviços de declaração de Imposto de Renda,elaboração de folhas de pagamentos, ITR e CCIR”,conforme constatado nas entrevistas realizadas,com os contadores, anteriormente explanado.

Desses, 10,30% responderam dispor deassessoria tanto para fins tributários quanto paracontabilidade. Em virtude dessa escrita contábil, osprodutores disseram obter os seguintes benefícios:a) sistema de custo integrado à contabilidade; b)maior controle dos custos de produção; c)informações precisas para a tomada de decisões; d)possibilidades de redução dos custos; e)possibilidade de planejamento com base nalucratividade; f) maior organização nas atividades.

Entretanto, faz-se necessário uma ressalvanesse ponto: os produtores entrevistados afirmamque, além do planejamento, a lucratividadedepende, também, de uma boa safra. Nesse caso,depende-se do clima-tempo para se ter uma boacolheita. Isso vem ao encontro do que expõe Valle(1987) acerca dos aspectos especiais de umaorganização agrária no momento de suaconstituição e, posteriormente, de eles serem maislimitados que os dos outros organismos produtivos,pois dependem de causas objetivas (condiçõespedológicas e climáticas) e subjetivas (a índolerural, conservadora e pouco propensa a inovações).

Os produtores disseram, também, não estaremsatisfeitos com a assessoria contábil recebida, aqual deixa a desejar.

Deve-se, ainda, ressaltar que osentrevistados que não possuem assessoria contábil- 235 produtores - 22,98% têm interesse em adotá-la, porque acreditam no benefício que a assessoriapode proporcionar: maior controle dos custos,melhor planejamento e gerenciamento dasatividades, auxiliando na tomada de decisões, alémde diagnosticar a lucratividade por atividade.77,02% dos entrevistados disseram não terinteresse, afirmando que a assessoria contábil não énecessária, pois as propriedades são pequenas, arenda é pouca e caso a adotassem só aumentariamos seus custos.

Embora a pesquisa tenha constatadoinsatisfação com relação à rentabilidade daatividade agrícola de alguns entrevistados,verificou-se, também, segundo dados fornecidospelos mesmos, que houve um aumento dopatrimônio, o qual ocorreu por meio da renda geradana própria atividade, nos financiamentos e nadiversificação de culturas. Os entrevistadosdeclararam que, para diversificar as culturas,tiveram que optar por financiamentos, porém foigraças à diversificação que conseguirammanterem-se na atividade.Alguns proprietários, quenão optaram pela diversificação de atividades,tiveram uma redução no patrimônio.

Este trabalho, de natureza exploratória, tevepor objetivo contribuir para a demonstração daimportância da Contabilidade Rural para o pequeno,médio e grande produtor rural, entendida como umaferramenta gerencial, a qual possibilita, por meio dainformação contábil, a elaboração do planejamentoe controle orçamentário para a tomada de decisões.Desenvolveu-se esta pesquisa, a partir de dadosobtidos, via aplicação de questionários/entrevistas agerentes de escritórios de contabilidade eproprietários rurais residentes no município emestudo. A questão-chave definida inicialmente paraesta pesquisa foi a seguinte: a contabilidadegerencial pode subsidiar os empresários rurais cominformações que possibilitem a melhoria da gestãona atividade, otimizando os resultados, queobjetivam o crescimento do patrimônio?

Assim, conclui-se que os conceitos

5 CONCLUSÕES

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estudados e os dados coletados por meio dequestionários evidenciam a resposta à questão emdiscussão, visto que 10,30% dos proprietários ruraisentrevistados responderam que utilizam aassessoria tanto para fins tributários quanto para acontabilidade.

Os entrevistados destacaram benefícioscomo: sistema de custos integrado, controle doscustos de produção, informações precisas para atomada de decisões, possibilidade de planejamentocom base na lucratividade e maior organização nasatividades. As informações geradas pelacontabilidade propiciam subsídios para que osgestores possam analisar a rentabilidade e acompetitividade dos produtos elaborados e tomardecisões acerca dos seus negócios.

Conclui-se também, que os escritórios decontabilidade ainda encontram resistências pelosagricultores em adotar a contabilidade para gerir,controlar e planejar o seu negócio. A contabilidadeainda é vista pelos empresários rurais como umaimposição dos contadores e não como umaferramenta gerencial para auxiliar os gestores.Estes demonstraram não confiarem nos serviçoscontábeis, além de terem medo do fisco, uma vezque a fiscalização está crescendo a cada dianaquela área. Outro aspecto diz respeito àqualificação profissional dos contadores, que aindaapresenta deficiências no âmbito agropecuário.

Sumar i zando , des taca -se que acontabilidade deve assegurar o produtor rural, oqual, por meio dessa ferramenta, possa planejar umorçamento e ter um maior controle do resultado desuas atividades, além de orientar-se na gestão dopatrimônio familiar, buscando a continuidade e amanutenção da atividade com resultadospromissores, tendo em vista que estes serãolegados aos seus sucessores: importante aspectosocial que gera renda, agrega valor na atividade epossibilita qualidade de vida.

Diante do exposto, conclui-se que acontabilidade rural ainda é um campo a serexplorado, principalmente pelos contadores, vistoque esta pesquisa também permite concluir queainda faltam profissionais qualificados nessa área.Apesquisa evidencia, também, um mercado existentecom perspectivas de crescimento, uma vez que jáhá um percentual significativo de empresários ruraisque utilizam essa ferramenta para o gerenciamentode suas atividades. Os avanços tecnológicos e aacirrada competitividade também são fatores que

contribuem para o crescimento e a necessidade dautilização de ferramentas que propiciam melhoria nagestão da atividade rural.

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