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CONSTITUIÇÃO DE UM CATÁLOGO FOTOGRÁFICO DIGITAL COMO FERRAMENTA DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Andreína de Melo Louveira 1 Maria Eduarda Ferro 2 Palavras-chave: Instrumento de Pesquisa; Catálogo; Fotografia; Criança; Infância. “A imagem não fala por si só: é necessário que as perguntas sejam feitas”. Ana Maria Mauad, 2005, p. 144. “Um banco de dados não é um mero ajuntamento de documentos, uma reunião de informações. Há um prévio ajuizamento, uma lógica em sua composição, nas possibilidades de procura de informações, uma certa ação sobre os documentos (...) As operações de concepção e construção de um banco de dados decorrem e, de alguma forma deixam ver, o quadro teórico e as questões de investigação do pesquisador”. Flávia Obino Corrêa Werle, 2000, p. 60. Introdução Este artigo apresenta o itinerário, os desafios e as reflexões provenientes do processo de produção de um instrumento de pesquisa nominado “Catálogo Fotográfico Digital: Crianças e Infâncias do sul de Mato Grosso (1850-1950)”. Na terminologia arquivística “catálogo” é um instrumento de pesquisa organizado segundo critérios temáticos, cronológicos, geográficos, entre outros, reunindo a descrição individualizada de documentos pertencentes a um ou mais “fundos”, de forma sumária ou analítica. Os “fundos” são constituídos por um conjunto de documentos de uma mesma proveniência (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.45). A ideia de desenvolver esse instrumento de pesquisa surgiu de necessidades identificadas no processo de classificação, análise e preservação da documentação fotográfica oriunda de investigações realizadas em nível de iniciação científica por integrantes do grupo 1 Aluna do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS/Dourados). E-mail: [email protected]. 2 Professora orientadora e docente do curso de Pedagogia da UEMS/Dourados. E-mail: [email protected].

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CONSTITUIÇÃO DE UM CATÁLOGO FOTOGRÁFICO

DIGITAL COMO FERRAMENTA DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Andreína de Melo Louveira1

Maria Eduarda Ferro2

Palavras-chave: Instrumento de Pesquisa; Catálogo; Fotografia; Criança; Infância.

“A imagem não fala por si só: é necessário que as perguntas sejam feitas”.

Ana Maria Mauad, 2005, p. 144.

“Um banco de dados não é um mero ajuntamento de documentos, uma

reunião de informações. Há um prévio ajuizamento, uma lógica em sua

composição, nas possibilidades de procura de informações, uma certa ação

sobre os documentos (...) As operações de concepção e construção de um

banco de dados decorrem e, de alguma forma deixam ver, o quadro teórico e

as questões de investigação do pesquisador”.

Flávia Obino Corrêa Werle, 2000, p. 60.

Introdução

Este artigo apresenta o itinerário, os desafios e as reflexões provenientes do processo

de produção de um instrumento de pesquisa nominado “Catálogo Fotográfico Digital:

Crianças e Infâncias do sul de Mato Grosso (1850-1950)”. Na terminologia arquivística

“catálogo” é um instrumento de pesquisa organizado segundo critérios temáticos,

cronológicos, geográficos, entre outros, reunindo a descrição individualizada de documentos

pertencentes a um ou mais “fundos”, de forma sumária ou analítica. Os “fundos” são

constituídos por um conjunto de documentos de uma mesma proveniência (ARQUIVO

NACIONAL, 2005, p.45).

A ideia de desenvolver esse instrumento de pesquisa surgiu de necessidades

identificadas no processo de classificação, análise e preservação da documentação fotográfica

oriunda de investigações realizadas em nível de iniciação científica por integrantes do grupo

1 Aluna do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS/Dourados).

E-mail: [email protected]. 2 Professora orientadora e docente do curso de Pedagogia da UEMS/Dourados. E-mail:

[email protected].

2

de pesquisa História e Memória (UEMS/CNPq)i. Tais pesquisas resultaram na localização,

digitalização e classificação de 176 fotografias de acervos públicos e privados da cidade de

Dourados (MS). Os acervos públicos consultados foram o Museu Histórico e Cultural de

Dourados e o Centro de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande

Dourados (UFGD). Os acervos privados pertencem a famílias que, a convite das

pesquisadoras, aceitaram abrir seus álbuns de família para colaborar com a pesquisa.

Convêm registrar que essas investigações foram delineadas a partir de estudos

vinculados ao projeto “Imagens de Crianças e Infâncias no sul de Mato Grosso: final do

século XIX até meados do século XX”ii, precedido pelo projeto interinstitucional “Imagens de

Crianças e Infâncias”iii

.

Nas pesquisas de iniciação científica tivemos a oportunidade de proceder a análises do

material coletado que resultaram na produção de trabalhos publicados em eventos

científicosiv

. Percebíamos, contudo, que estávamos de posse de uma “massa documental

acumulada”, termo empregado na arquivística para documentos que, pela ausência ou precária

organização, têm sua consulta comprometida. Intencionávamos fazer a triangulação de

informações que, dispersas em fichas de papel, demandavam um moroso trabalho.

Constatamos a urgência em produzir um sistema que permitisse o arquivamento

organizado e a recuperação ágil e precisa das fotografias por meio de buscas por critérios

distintos como cronológico, geográfico, temáticos, por procedência (fundos/coleções) e por

palavras-chave. Este era nosso grande desafio: como organizar as fotografias de modo a

facilitar o uso do acervo? Também éramos movidas pelo objetivo de encontrar meios de

socialização do acervo com professores e pesquisadores que poderiam utilizá-las para fins

pedagógicos, científicos e culturais.

Nossas preocupações com a produção da ferramenta de pesquisa iam ao encontro de

discussões realizadas no meio acadêmico, sobretudo nas duas últimas décadas, sobre a

constituição e preservação de acervos na área da História e da História da Educação.

Inicialmente procuramos por sistemas que tivessem sido criados com a mesma

finalidade, mas com o aprofundamento da pesquisa constatamos a necessidade do

desenvolvimento de um sistema próprio, que atendesse as especificidades de nossas análises.

Isso se explica porque as diretrizes de classificação, descrição e arranjo de acervos possui

relações estreitas com os tipos de perguntas que nossas pesquisas pretendem responder.

A produção do sistema colocou-se como urgente quando constatamos que as

instituições públicas responsáveis pela guarda das fotografias digitalizadas, ainda que

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empenhadas na preservação da memória local, não possuíam seus acervos organizados

segundo os princípios da arquivística, o que implica na dificuldade dos consulentes realizarem

suas pesquisas e, o mais agravante, na possibilidade de deterioração, perda ou extravio dos

documentos sob sua custódia.

Diante do exposto assumimos riscos ao nos empenharmos na constituição de uma

ferramenta de preservação de acervo imagético e de acessibilidade a fontes primárias, cuja

operacionalização dependia de um trabalho interdisciplinar. Nesse processo foram de grande

serventia conhecimentos prévios no campo da arquivística e experiências adquiridas com as

pesquisas que temos realizado com documentos fotográficos. Ademais, foi fundamental a

parceria com o programador Douglas Held Pacito que, de modo voluntário, responsabilizou-

se pela criação do sistema que abriga o banco de dados.

Reconhecemos que existem limitações a serem superadas na ferramenta que hoje se

apresenta, ainda há etapas a serem percorridas para atingirmos algumas das metas

vislumbradas, como o refinamento de algumas funções do programa e, até mesmo, o

procedimento a ser adotado para compartilhamento do catálogo com outros pesquisadores

guardadas as devidas precauções com relação à autoria de criação do sistema FotoMemov.

Contudo, podemos afirmar que caminhamos em direção aos objetivos propostos e é sobre este

percurso que o presente artigo discorre.

Para exposição dos desafios enfrentados e dos avanços teórico-metodológicos

alcançados no percurso de produção do Catálogo Fotográfico Digital o artigo foi redigido com

a seguinte estrutura:

1. Manejo das fotografias antes do catálogo.

2. Itinerário de produção e apresentação do catálogo.

3. Considerações finais.

1. Manejo das fotografias antes do catálogo

A princípio mantínhamos as fotografias coletadas por ocasião dos projetos anteriores

armazenadas de forma precárias do ponto de vista da recuperação de informações.

Acertadamente foi observado desde as primeiras investigações o princípio básico da

arquivística nominado “integridade do fundo”, que consiste em resguardar um fundo de

misturas com outros, de parcelamentos e de eliminações indiscriminadas. Ou seja, foram

assegurados os cuidados de manutenção das fotografias em seus agrupamentos de origem, de

acordo com a procedência. Nominamos esses agrupamentos de Coleçõesvi

que, quando

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provenientes de acervos públicos, foram identificadas pelo nome da instituição de guarda e,

quando provenientes de acervos privados, foram nominadas pelo sobrenome da família

proprietária.

As coleções encontravam-se arquivadas nos computadores pessoais das pesquisadoras

em pastas individuais, para cada coleção uma pasta. As pastas armazenavam arquivos em

programa Power Point nos quais as fotografias estavam dispostas em slides com suas

respectivas fichas catalográficas. Essa era a forma encontrada para o manejo das imagens em

conjunto com o documento textual produzido para sua descrição. O ordenamento das imagens

dentro da coleção era aleatório, correspondendo à sequência do processo de digitalização.

A produção da ficha catalográfica para descrição das fotografias aconteceu em duas

etapas, primeiro foi produzida uma versão piloto posteriormente substituída pela versão

definitiva (Figura 1). As pesquisas realizadas por Kossoy (2009) e Mauad (1996) nos

forneceram pistas para a definição do formato final desse instrumento descritivo. A ficha foi

produzida como suporte para a realização da análise técnica e de conteúdo das imagens com

adaptações para as especificidades de nossas investigações.

Figura 1

Apresentação do catálogo quando armazenado em arquivo Power point

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Figura 2

CATEGORIAS 1 AMBIENTES DE TRABALHO: CAMPO E COMÉRCIO

2 AMBIENTES DE CONVÍVIO: RURAL E URBANO

3 AÇÕES DE ASSISTÊNCIA: SOCIAL E SAÚDE

4 BRINQUEDOS, JOGOS E BRINCADEIRAS

5 COTIDIANO FAMILIAR

6 EDUCAÇÃO: FORMAL E INFORMAL

7 FESTAS: PÚBLICAS E PRIVADAS

8 MIGRAÇÃO: ESTRANGEIRA E NACIONAL

9 MILITARIZAÇÃO

10 MOVIMENTOS POLÍTICOS

11 MORAL E CIVISMO

12 POVOS INDÍGENAS

13 POLÍTICA AGRÁRIA

14 RELIGIOSIDADE

Categorias de análise visualizadas

A ficha era composta por campos que interrogavam sobre aspectos de natureza

distinta, da identificação da fotografia, dos recursos técnicos empregados para a produção

material da imagem e dos elementos nela retratados (conteúdo). É possível observar (Figura

1) que no campo destinado à descrição do conteúdo da imagem produzíamos uma espécie de

síntese dos elementos ali expressos. Por último havia um campo nominado “demais

observações” no qual eram registradas informações que não cabiam em nenhum dos

descritores acima e que, de certo modo acabava por configurar-se, muitas vezes, em uma

análise prévia do documento.

Esse modo de produzir e dispor conhecimentos sobre as fotografias nos colocava

diante de limitações como a dificuldade de fazer uma leitura panorâmica do acervo, a

impossibilidade de quantificar fotografias com elementos de conteúdo semelhantes, a

inexistência de um sistema de recuperação do conteúdo das fichas por palavras-chave, entre

outras.

Mesmo em condições precárias de acesso às informações geradas, a descrição de

elementos de conteúdo das imagens resultou na visualização de 14 potenciais categorias de

análise das fotografias (Figura 2). Tais categorias eram, a nosso ver, provisórias, pois

sabíamos da possibilidade de surgirem outras mediante os olhares e as intencionalidades de

outros pesquisadores. Ademais, era provável que outras categorias fossem observadas na

medida em que o acervo se ampliasse.

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Realizamos análises que resultaram na apresentação de trabalhos sobre algumas das

categorias elencadas inicialmente (vestuário, mundo do trabalho, visibilidades e

invisibilidades da criança nos documentos fotográficos). Mas ainda havia o impasse em

relação à produção de uma ferramenta mais eficiente de armazenamento e consulta das

imagens.

2. Produção e apresentação do catálogo

A produção do FotoMemo exigiu que entrássemos em contato com um profissional da

área e a partir de então se iniciou um longo processo de construção coletiva do sistema.

Descrevemos ao programador as necessidades que tínhamos, ouvimos as possibilidades por

ele apresentadas e passamos a discutir qual o melhor modo de constituir o sistema de busca.

Paralelamente à produção do sistema demos início ao processo de revisão da ficha

catalográfica a fim de definir por um modelo composto por descritores mais objetivos. Uma

questão nos preocupava: ao preencher o campo destinado ao conteúdo da imagem

acabávamos por realizar uma análise da fotografia e esse não era nosso objetivo. Nosso

interesse consistia em encontrar um meio adequado de organização das imagens e de

disposição das informações referentes aos seus aspectos técnicos e de conteúdo. A opção por

descritores mais objetivos se deu em virtude da possibilidade de outras análises serem feitas

das imagens, disponibilizar as imagens com nossas impressões não era nossa contribuição no

momento.

A eficiência da busca dependia do estabelecimento de um vocabulário controlado,

objetivo este que nos impôs o levantamento de palavras e termos usados com frequência na

descrição dos elementos de conteúdo das imagens e o estabelecimento de padrões de

sinonímia (ex.: brinquedo ao invés de boneca, brinquedo ao invés de carrinho).

A escolha dos descritores foi outro desafio, embora pudéssemos nos respaldar em

alguns bancos de imagens existentes, no caso de uma ferramenta de pesquisa para fins de

análises acadêmicas, precisávamos nos cercar de descritores pertinentes às questões que

futuramente seriam feitas às imagens (ex.: incidência de fotografias com crianças em espaços

públicos e em espaços privados, para tanto precisávamos garantir a presença de um descritor

referente ao ambiente fotografado). Realizamos testes e após inserções e exclusões chegamos

a 29 descritores (Figura 3), sendo os sete primeiros destinados a identificação da fotografia

(SMIT; KOBASHI, 2003).

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Figura 3

IDENTIFICAÇÃO DA FOTOGRAFIA

COLEÇÃO

ACERVO

PROCEDÊNCIA

REGISTRO DE ENTRADA

REFERÊNCIA

CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

DESCRITORES DAS FOTOGRAFIAS

LOCAL RETRATADO

TEMA RETRATADO

PESSOAS RETRATADAS

TIPOS DE OBJETOS

ATRIBUTOS DAS PESSOAS

GESTO

ANIMAIS RETRATADOS

ATRIBUTOS DA PAISSAGEM

TEMPO

FORMATO DO SUPORTE

TONALIDADE

ACABAMENTO

TIPO DE FOTO

SENTIDO DA FOTO

DIREÇÃO DA FOTO

DISTRIBUIÇÃO DOS PLANOS

PLANO CENTRAL

ARRANJO E EQUILÍBRIO

FOCO

IMPRESSÃO VISUAL

ILUMINAÇÃO

PRODUTOR

Relação dos descritores

Para atender as necessidades de organização do acervo (arquivamento das imagens) e

de disponibilização do sistema para outros usuários, optamos pelo desenvolvimento de dois

sistemas, sendo ambos contemplados pelo mesmo banco de imagens. O primeiro sistema é

destinado ao usuário administrador, autorizado a arquivar as imagens e editar os campos

correspondentes aos descritores da ficha. Já o segundo sistema destina-se a disponibilização

do banco de imagens e de suas respectivas informações, para acesso público do usuário

consulente.

O sistema do usuário administrador é formado por uma janela inicial que possui

quatro botões (Figura 4). O primeiro, ÍNDICE REMISSÍVO, permite acesso ao vocabulário

controlado, no qual as palavras empregadas na descrição das fotografias aparecem em ordem

alfabética com seus respectivos termos relacionados. O segundo botão, ARQUIVAR,

encaminha à opção de cadastro da fotografia e edição dos descritores correspondentes. O

botão PESQUISAR conduz a abertura da janela para busca das imagens e o último,

CONFIGURAÇÕES, contempla opções de configuração da aparência do sistema.

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Figura 4

Janela Inicial

O procedimento de alimentação do programa com fotografias tem início no botão

ADICIONAR. Este aciona uma janela para localização do arquivo da fotografia no

computador do usuário administrador, após adicioná-la inicia-se a alimentação do sistema

com a edição das informações da fotografia clicando no botão de EDIÇÃO. Todos esses

procedimentos são restritos ao usuário administrador.

Ao lado da fotografia inserida no sistema existe uma área com duas abas. A primeira,

IDENTIFICAÇÃO DA FOTOGRAFIA, reúne informações referentes à coleção a qual a

fotografia pertence, a procedência do acervo, o responsável por sua digitalização, a data de

incorporação da imagem ao acervo, as condições de armazenamento do documento original e

o estado de conservação (Figura 5).

A segunda aba, DESCRITORES, contém campos para o preenchimento dos 23

descritores da fotografia, como por exemplo, local retratado, pessoas retratadas, tipos de

objeto, atributo da paisagem, tonalidade, acabamento, sentido da foto, distribuição dos planos

entre outros. Quando a fotografia possui algum tipo de marcação em seu verso (dedicatória,

descrição das pessoas retratadas, data e local do evento, entre outras) temos a opção do botão

VERSO que o exibe assim que acionado (Figura 6).

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Figura 5

Aba de identificação da fotografia

Figura 6

Aba dos descritores da fotografia

O terceiro botão da janela inicial, PESQUISAR (Figura 7), destina-se ao

procedimento de busca das fotografias. Nesta área existe um campo para digitar a palavra que

deseja encontrar nas fotografias. Depois de digitar a palavra clica-se no botão que aciona a

pesquisa. O retorno dessa busca consiste em uma relação de fotografias cuja palavra

pesquisada encontra-se vinculada.

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Figura 7

Aba para o procedimento de pesquisa

Por exemplo, ao digitar a palavra brinquedo todas as fotografias que estão

relacionadas ao termo serão listadas. O desenvolvimento do índice remissivo permite que uma

palavra remeta a outra a ela relacionada. Por exemplo, se o usuário consulente procurar por

bonecas, as fotografias que possuem a palavra brinquedo serão exibidas. Essa é uma das

estratégias de refinamento dos resultados de busca, porém o sistema ainda não a contempla, já

que a estruturação do vocabulário controlado não foi finalizada.

O índice remissivo está em construção para que as ligações temáticas sejam

viabilizadas. Até o momento, se digitarmos a palavra brinquedo, já incorporada no índice,

todas as fotografias que abrangem a temática brinquedo serão localizadas no banco de dados

do sistema. Para além desta possibilidade estamos construindo as bases que possibilitarão o

sistema de “busca avançada” que contemplará a correlação de termos e descritores. Ao

digitarmos as palavras brinquedo e casa será possível obter um relatório com todas as

fotografias que apresentam ambos os elementos concomitantemente. No momento o que

ocorre é a localização de fotografias que possuem tanto brinquedo quanto casa como

conteúdo, sem que ambos constem na mesma fotografia.

O quarto botão da janela inicial, CONFIGURAR, contempla opções para personalizar

a aparência do sistema, como a troca dos temas de apresentação e a escolha da tonalidade de

fundo. Essa opção está disponível tanto para o usuário administrador como também para o

usuário consulente. Esta ferramenta de configuração oferece um design agradável e um

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sistema de uso interativo que poderá ser escolhido pelos usuários de acordo com suas

preferências pessoais.

O sistema foi produzido com vistas a contemplar opções inexistentes em outras bases

de dados. Primamos por garantir que houvesse a possibilidade da imagem acessada ser salva

no computador do usuário consulente e para que fosse possível a impressão da fotografia e

do conteúdo textual das abas que trazem a sua descrição.

Para a disponibilização do sistema ao usuário consulente foram observadas algumas

precauções quanto ao armazenamento do banco de dados. Quando o usuário consulente

inserir o CD-R ou DVD-R no computador de uso pessoal será indagado quanto ao interesse

em sua instalação. Ao aceitar que o sistema seja instalado, será criada automaticamente uma

pasta de armazenamento das imagens no seu computador, mas isso não o impedirá de salvar

as imagens onde achar mais conveniente. Este procedimento de criação da pasta é um

caminho que poucas pessoas adotam por salvar a pasta de arquivos do programa em um local

pouco acessado no computador.

Essas precauções foram adotadas porque quando trabalhamos com imagens não é

recomendado que estas sejam salvas no banco de dados do sistema. Caso não sejam

observadas essas recomendações a extensão do banco de dados poderá ocasionar lentidão ou

interrupção na realização das busca de imagens. Este aspecto ocorre porque quando salva-se a

imagem no banco de dados ela transforma-se em um modo código, e quando solicitada sua

visualização é feito um processo contrário, de conversão de código para imagem. Esse

procedimento que pode causar prejuízo à execução do sistema e consequentemente dificultar

a pesquisa. Por esta razão, optamos por outro meio de arquivamento, o banco de dados será

salvo em uma pasta do programa, que será composta por um caminho, com as imagens e suas

informações, garantindo o melhor desempenho do sistema em tempo de processamento.

Há fotografias cujos campos de descritores não são preenchidos por completo. Isso

ocorre por desconhecermos informações tanto em relação a aspectos técnicos (ex.: autoria da

imagem, localização geográfica, data aproximada do registro fotográfico) como em relação

aos aspectos de conteúdo (ex.: identificação das pessoas retratadas, relação de parentesco ou

amizade entre elas, evento retratado). No momento estamos nos cercando de cuidados que

visam minimizar essas lacunas como a realização de entrevistas com os proprietários dos

acervos particulares nos momentos em que as fotografias nos são franqueadas. Outra medida

adotada refere-se ao registro de informações acerca da história dos documentos fotográficos.

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Inserimos um campo na ficha descritora para nele sejam registradas atualizações de

informações (ex.: o uso de uma imagem em uma publicação).

Figura 8

NÚMERO DE FOTOGRAFIAS POR COLEÇÃO

ARQUIVOS PÚBLICOS

CDR/UFGD 161

Museu 18

ARQUIVOS PRIVADOS

Coleção Flores 11

Coleção Gamarra 11

Coleção Pereira 10

Coleção Silva 13

Coleção Willher 25

Número de fotografias por coleção

Até o presente momento o banco de dados possui 7 coleções organizadas (Figura 8).

Dispomos de descritores que nos permitem fazer levantamentos que respondem às questões

de interesse cientifico. Uma base que abarca fotografias que podem ser utilizadas para fins

pedagógicos no ensino de história. Pode-se afirmar que com isto contribuímos para a

preservação da memória regional. Ainda temos novos desafios a serem enfrentados, como o

estabelecimento de um protocolo de recebimento dos acervos. Outra questão que impõe uma

solução é o registro de criação do FotoMemo para que ao disponibilizá-lo a terceiros não haja

riscos de apropriação indébita.

Considerações finais

Organizar acervos materiais ou eletrônicos é um trabalho minucioso que requer

conhecimentos multidisciplinares. Apostamos nesses esforços, pois eles dão visibilidade à

importância dos acervos, contribuem para a democratização do acesso a fontes e,

consequentemente, para a produção do conhecimento histórico.

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A produção do Catálogo Fotográfico Digital parecia, inicialmente, uma realidade

distante. Com o aprofundar dos estudos nos tornamos ainda mais conscientes da importância

desse trabalho e intensificamos as pesquisas em busca de subsídios para sua construção.

Como fruto desses esforços temos mais duas pesquisas de iniciação científica em andamento

que darão continuidade ao projeto de constituição do acervo, pois preveem dentre suas de

ações o trabalho com documentos fotográficos privados da região sul de Mato Grosso (atual

MS), que serão incorporados futuramente ao Catálogo.

O sistema desenvolvido encontra-se em condições de uso, porém coloca-se para nós

como uma ferramenta em processo de constante melhoramento. Outras necessidades de

reorganização poderão surgir mediante a sua utilização e à soma de novas coleções. O

FotoMemo estará em constante processo de aperfeiçoamento e não será considerado um

trabalho pronto e acabado.

Referências

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de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.

BENCOSTTA, M. L. A.; MEIRA, A. Fotografias e culturas escolares: universo digital e

preservação da memória. In: III Congresso Brasileiro de História da Educação, 2004,

Curitiba. III Congresso Brasileiro de História da Educação. Educação Escolar em perspectiva

histórica. Curitiba : PUC-PR, 2004. v. 1. p. 1-12.

KOSSOY, B. Fotografia e História. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 1989.

MAUAD, A. M. Na Mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas

ilustradas cariocas, na primeira metade do século XX. In. Anais do Museu Paulista. São

Paulo. N. Sér. V. 13, n. 1, p.133-174, jan. jun. 2005.

MAUAD, A. M. Através da Imagem: Fotografia e História Interfaces. Tempo, Rio de

Janeiro, v.1, n.2, 1996, p. 73-98

MAUAD, A. M. Sob o signo da imagem: a produção da fotografia e os controles do código

de representação social da classe dominante, no Rio de Janeiro, na primeira metade do século

XX. 1990. 340 f. Dissertação (Mestrado em História) – Centro de Estudos Gerais Instituto de

Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal Fluminense, Niterói RJ, 1990.

SMIT, J. W. KOBASHI, N. Y. Como elaborar vocabulário controlado para aplicação em

arquivos. São Paulo: Arquivo do Estado Imprensa Oficial. 2003. Vol. 10, (Projeto Como

Fazer).

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WERLE, O. F. C. As novas tecnologias e a pesquisa em história da educação. In: FARIA

FILHO, L. M. (org.). Arquivos, fontes e novas tecnologias: questões para a história da

educação. Campinas, SP: Autores Associados; Bragança Paulista, SP: Universidade São

Francisco, 2000.

i Edital PIBIC/UEMS/ 2009: “Documentos fotográficos e imagens de crianças e infâncias do sul de

Mato Grosso (1850-1950)”. Edital PIBIC/UEMS/ 2010: “Documentos Fotográficos e Representações

do Mundo do Trabalho: Dourados (1900-1970)”. Ambos executados por Andreína de Melo Louveira,

sob orientação de Maria Eduarda Ferro. ii Edital FUNDECT / Chamada Universal Nº 07/2007. Coordenação: Profa. Dra. Débora de Barros

Silveira (UEMS). iii Edital CNPq / Chamada Universal de 2004. Coordenação: Profa. Dra. Anete Abramowicz. Esse

projeto contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),

Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

(UEMS) e Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). iv FERRO, M. E. & LOUVEIRA, A. de M. Produção do Catálogo Fotográfico Digital: crianças e

infâncias do sul de Mato Grosso (1850-1950). In: I Seminário Internacional sobre História do

Ensino de Leitura e Escrita (08 a 10/ 09/2010, UNESP/Marília). LOUVEIRA, A. de M. & FERRO,

M. E. Retratos do Vivido: documentos fotográficos e representações de infâncias do sul de Mato

Grosso do Sul (1850-1950). In: VII Seminário em educação e II Colóquio de Pesquisa – Escola e

Família: Implicações Sociais (08 a 12/06/2010, UEMS/Paranaíba). FERRO, M. E. & LOUVEIRA,

A. de M. Anônimos, marginais, invisíveis e esquecidos: o projeto de ampliação do acervo de um

catálogo fotográfico digital. FERRO, M. E. & LOUVEIRA, A. de M. Documentos fotográficos e

representações do mundo do trabalho em Dourados/MT (1850-1950). In: VI Congresso Brasileiro de

História da Educação (16 a 19/05, UFES, Vitória). FERRO, M. E. & LOUVEIRA, A. de M. Imagens

de ordem e progresso na região sul de Mato Grosso (1935-1960). FERRO, M. E.; LOUVEIRA, A. de

M; SOUZA, M. dos S.. Imagens do cotidiano de crianças e infâncias em álbuns de família do sul de

Mato Grosso (1850-1950). In: III Encontro Nacional de Estudos da Imagem (03 a 06/05/2011,

UEL/Londrina). v FotoMemo é o nome atribuído ao sistema criado para abrigar o catálogo fotográfico.

vi Em arquivística Coleção corresponde a um conjunto de documentos com características comuns,

reunidos intencionalmente (ARQUIVO NACIONAL, 2005).