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CONSIDERAÇÕES GERAES SOBKE O TRATAMENTO PROPHIIMO E CURATIVO DA PHTYSICA PULMOMR DISSERTAÇÃO miJSUEAL PARA ACTO GRANDE SEGUIDA DE NOVE PROPOSIÇÕES APRESENTADA Á ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO E DEFENDIDA SOB A PRESIDÊNCIA DO E X . mo SUB. I M N O E l RODRIGUES DA SILVA PINTO LENTE DE CLINICA MEDICA POE -A-KTTOKriO G-Ol&ES I50S S-A.3STTOS TYP. DE ARTHUR JOSÉ DE SOUSA & IRMÃO 38, Bua das Congostas, 38 1877 ^i^3 tfc

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CONSIDERAÇÕES GERAES SOBKE O TRATAMENTO

PROPHIIMO E CURATIVO DA PHTYSICA PULMOMR

DISSERTAÇÃO miJSUEAL PARA

ACTO GRANDE SEGUIDA DE NOVE PROPOSIÇÕES

APRESENTADA Á

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO E DEFENDIDA SOB A PRESIDÊNCIA

DO E X . m o SUB.

IMNOEl RODRIGUES DA SILVA PINTO LENTE DE CLINICA MEDICA

POE

- A - K T T O K r i O G-Ol&ES I 5 0 S S-A.3STTOS

TYP. DE ARTHUR JOSÉ DE SOUSA & IRMÃO 38, Bua das Congostas, 38

1877

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A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dis­

sertação e enunciadas nas proposições. (Regulamento da escola de 23 d'abril de 1840, art. 155.)

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ESCOLA I D I M U f i G I C A 00 PORTO DIRECTOR

O l I I i . r a o E E X C . m o S N I i .

CONSELHEIRO MANOEL MARIA DA COSTA LEITE SECRETARIO

OILL. m o EEXC. m o SNR.

ANTONIO D'AZEVEDO MAIA

CORPO CÂTHEDRÁTICO

LENTES PROPEIETARIOS OS I L L , . m o s E EXC. 1 " 0 5 SKRS.

i.& Cadeira — Anatomia descriptiva e geral João Pereira Dias Lebre.

2 a Cadeira — Physiologia Dr. José Carlos Lopes Junior. 3.a Cadeira — Historia natural dos me­

dicamentos. Materia Medica João Xavier d'Oliveîra Barros. 4.a Cadeira — Pathologia externa e

therapeutica externa Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5.a Cadeira — Medicina operatória.... Pedro Augusto Dias. 6.a Cadeira — Partos, moléstias das

mulheres do parto "e dos recem-nascidos • Dr. Agostinho Antonio do Souto.

7.a Cadeira — Pathologia interna. — Therapeutica interna Antonio d'Oliveira Monteiro.

8.a Cadeira — Clinica medica Manoel Rodrigues da Silva Pinto. 9.a Cadeira — Clinica cirúrgica Eduardo Pereira Pimenta. 10.a Cadeira — Anatomia pathologica. Manoel de Jesus Antunes Lemos. i l . a Cadeira — Medicina legal, hygiene

privada e publica e toxicologia geral Dr. José F. Ayres de Gouveia Osório.

12.a Cadeira — Pathologia geral, se-meiologia e historia medica. . . Illydio Ayres Pereira do Valle.

Pharmacia Felix da Fonseca Moura.

LENTES JUBILADOS C Dr. José Pereira Keis.

Secção medica ? Dr. Francisco Velloso da Cruz. / Visconde de Macedo Pinto.

José d'Andrade Graraacho.

!Antonio Bernardino d'Almeîda. Luiz Pereira da Fonseca. Conselheiro Manoel M. da Costa Leite.

LENTES SUBSTITUTOS Secção medica E Vaga.

| Antonio d'Azevedo Maia. Secção cirúrgica ( Vaga.

f Augusto H. d'Almeida Brandão.

LENTE DEMONSTRADOR Secção cirurgica "Vago.

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-A. SETTS F ^ L E S

A SEU TIO

J** M A N O E L G O M E S D O S S A N T O S

-A. S E T T XFH&JLO

P. e JOÃO GOBIES DOS SANTOS

Completaram-se finalmente os vossos e oa meus desejos ; e chegou emfim o dia porque eu já dha muito suspirava para mostrar mais ao publico o quanto vos devo e vos sou grato. Consenti pois que vosoffereça este meu trabalho; bem sei que é mesquinha a offerta e pouco para tào grande divida ; mas alegro-me porque não ignoraes também que é infinda a dedi­cação que vos consagra este vosso humilde criado

tSmíonic yvmeá cíod Óanfad

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A SUA EXC.ma MADRINHA..

OFFERECE

ó&nunia yomed má uantoà.

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AO SEU DIGNÍSSIMO PRESIDENTE

O ILL."10 E EXC."10 SNR.

V [itii«|l ftaiçjn^ âii mmi ;J'mií

Com esta humilde offerta quer apenas significar a V. Ex." a sua gratidão pelos benefícios de que lhe é devedor

' 0 vosso humilde discípulo e patrício

Intonio fjonKis Jtos Santos.

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AOS SEUS OOmSCÏPULOS

Condiscípulos e amigos, consenti que vos offereça este pobre trabalho em testemunho da nossa boa camaradagem ; e que elle seja a trombeta que á voz da adversidade de qual­quer dos nossos condiscípulos e collegas nos reúna novamente, apesar de tão dispersos, para, como irmãos, enxugarmos as lagrimas do que softrer.

o vosso CONDISCÍPULO E AMIGO,

ó&nécniu rjotmá doá oantcà.

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INTRODUCÇAO

E* o homem o ente mais perfeito e complexo da creação, como se observa, comparando a sua organiza­ção com a dos outros seres da escala zoológica. Sendo o ente que possue, mais do que outro qualquer, a fa­culdade de conhecer o que se passa dentro e fora de si» tornando-se por isso capaz de admirar as multipliées bellezas da natureza, os explendidos attributes da crea­ção—forçoso é confessar a necessidade (que é também primoroso complemento)—de conhecer a sua organiza­ção, examinando as suas peças minuciosamente, o modo como entre si estão combinadas e funccionam, o meio em que está mergulhado, e a influencia benéfica ou ma­léfica que esse meio pôde ter sobre o seu funecionalis. mo ou modo de viver.

Precisa finalmente o homem de apreciar as con­dições de saúde e de doença para saber curar-se, ou evi­tar as causas maléficas que constantemente se insurgem contra o fim para que a natureza o creou.

E ' certo todavia que as causas que attentam contra

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a existência do homem, são muito variadas, sondo varia­

díssimos também os effeitos por que ellas se traduzem nas différentes organizações, pois que cada uma d'estas responde d'um certo modo aos seus estimules, o que quer dizer que cada individuo tem um modo de viver especial.

Em tal conjunctura a sociedade entendeu e enten­

deu excellenteraente que, vista a inconstância do bem estar de cada individuo, e reconhecida também a im­

possibilidade de todos serem medicos (o que seria ainda assim a realização d'um grande desideratum) era pre­

ciso, para que o homem preenchesse melhor o fim para que tinha sido destinado, crear escolas onde se habili­

tassem convenientemente alguns individues, que d'où tra coisa não cuidassem, tornando­se no futuro dignos de se lhes confiar a vida do seu similhante, não só pro­

tegendo a sua saúde á custa de preceitos hygienicos que sobre a humanidade são obrigados moralmente a espa­

lhar, mas curando os indivíduos que estejam sendo vi­

ctimas d'alguma d'essas causas morbificas, a que a sua organização está constantemente exposta.

Ora quiz a sorte que tivesse eu também de carre­

gar com esta cruz, cruz pezada em demazia; com ella e com a minha consciência irei com tudo affrontando os escolhos que a vida clinica me levantar.

Para complemento do meu tyrocinio escolar, é força apresentar uma dissertação inaugural, segundo as prescripções regulamentares d'esta eschola.

E' o que hoje faço, escolhendo para objecto do meu trabalho final—CONSIDERAÇÕES GERAES SOBRE O TRA­

TAMENTO PROPIIYLATICO E CURATIVO DA PIITYSICA PULMONAR. ­■ ,,

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Confesso que a escolha não seria das mais felizes, attenta a clifficuldade do assumpto, e a minha falta de conhecimentos práticos e clinicos que elle requeria; mas confiado na benevolência do illustrissimo jury que tem d'apreciar este meu pobre trabalho, não vacillo em pe­dir pela ultima vez aos meus juizes que sejam ainda agora benévolos para quem ao escrevel-o não deixou de nutrir ardentes desejos de vencei- todas as difficulda-des inhérentes á empreza.

Dividirei este meu trabalho em duas partes: na primeira direi algumas palavras com relação á patho-genia e etiologia da phtysica pulmonar ; e na segunda apresentarei breves considerações sobre o seu trata­mento prophylatico e curativo.

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PRIMEIRA PARTE

A phtysica pulmonar tem sido e será o terror da humanidade, cinquante a errónea crença da sua in­

curabilidade não for completamente apagada da mente dos medicos e os individues phtysicos se não sujeitarem aos meios hygienicos e therapeuticos os mais racionaes, sendo guiados por um hábil medico e especialista, sobre tudo.

Em verdade segundo as ideias anatomo­patholo­

gicas e clinicas que actualmente reinam na sciencia, a phtysica pulmonar não é uma doença incurável, co­

mo outr'ora se julgava, mas não é comtudo das mai ■ fáceis a sua cura.

E' esta uma das muitas doenças em que a anato­

mia pathologica tem mostrado mais claramente e mos­

trará, o quanto a medicina lhe é devedora. Foi a ana­

tomia pathologica que nos veio dizer que no tecido con­

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junctivo dos pulmões podom produzir-se, desenvolver-se e transformar-se pequenas nodosidades cinzentas o, semi-transparentes — tubérculos-1-que, invadindo os pulmões, ou se multiplicam com celeridade e os indiví­duos morrem por uma asphyxia relativamente rápida, ou amolleccm em grande parte e são oxpellidos pela expectoração, promovendo a consumpção orgânica.

Foi a anatomia pathologica que nos veio mostrar que nos pontos que correspondiam aos tubérculos po­dem ficar cavernas, verdadeiras ulceras ocas, cuja suppu-ração consome e arrebata tantos doentes d'esté mundo.

E ' ella que nos diz também que a phtysica pul­monar não tem só por causa a tuberculose, mas tam­bém os processos pneumonicos (como diz Slavjansky.)

E'ainda, finalmente, a anatomia pathologica que descobre no meio do tecido pulmonar as concreções e cicatrizes pulmonares, vestigios das transformações quasi que innocentes dos tubérculos, e que revelam incontestavelmente o esforço da propria natureza con­tra o inimigo que a ataca.

Em vista pois dos conhecimentos anatomo-patho-logioos modernos, e dos factos apresentados por ho­mens tão illustres como: Schenk, Galeno, Alexandre de Tallos, Paulo d'Egina, Morgagni.Laennec, M. An-dral, Bennet, Jacoud e outros muitos, factos tendentes todos a provar a curabilidade da phtysica pulmo­nar, não deve admittir-se essa errónea crença da in-curabilidade, (embora tenha atravessado tantos séculos) porque está simplesmente apoiada em factos clínicos mal observados, e colhidos principalmente em estabe­lecimentos collocados na sua quasi totalidade em más condições hygienicaa,

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Não é pois difficil conceber a curabilidade da phtysica pulmonar, segundo as ideias que actualmente reinam na sciencia e racionalisar a sua medicação.

Na verdade sabendo-se por outro lado que tal doença assenta n'um fundo de fraqueza constitucional, quer este seja legado em património no acto do coito, quer seja adquirido no seio da mãe, ou originado pela má alimentação e viciada atmosphera em que o indi­viduo vivia, e ainda pela sua profissão ou péssimas condições em que a exercia, pelos abusos alcoólicos ou outros quaesquer excessos que são sempre inimigos d'um regrado e harmónico funccionalismo,—n'esta con­formidade a primeira indicação que precisariamos de preencher deveria ser: procurar as causas que deram origem a esse fundo de fraquesa para as remover e le­vantar assim as forças do organismo, contribuindo para que os tecidos recuperem o seu verdadeiro tom physio-logico, e a energia de reacção precisa para arrostar contra as causas mortificas que, em constância malé­fica, attentam contra a conservação do individuo. Epois a falta de reacção normal do organismo, resultante de todas as más condições a que o individuo se sujeita por mezes ou annos que constitue finalmente, segundo a opinião dos melhores pathologistas, essa affecção ge­ral que pode manifestar-se ultimamente nos pulmões, como sede de predilecção.

Concorrendo, sem duvida, as más condições hy-gienicas poderosamente para implantar na organização esse fundo de fraqueza ou doença geral, deve ser á hy. giene que devemos pedir o principal soccorro; deve ser ella o pharol pelo qual o medico e o doente tem de

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guíar-se para ver ao longe os perigos c afastar-so d'elles em quanto é tempo.

Mas não é só á hygiene que nós precisamos de implorar soccorro; ó também á materia medica a qual com os seus agentes variados combate não só esse fundo de debilidade constitucional, mas também as complicações de tal doença, e debclla ou atténua, ao menos, os symptomas que pela sua natureza e intensi­dade podem collocar em risco a vida do doente.

Mas infelizmente attende-se mais aos effeitos do que á causa; porque a maior parte dos medicos, sobo tudo alguns práticos, não admittem ainda hoje a cu-rabilidado da phtysica pulmonar. Esqueccm-se para infelicidade da humanidade c descrédito da medicina, de que não é a hospitaes grandes e nem mesmo aos de pequenas proporções, (onde apenas se pode colher o maior numero de casos desfavoráveis, attenta a má hygiene a que taes estabelecimentos estão sujeitos) que um phtysico deve ir buscar o bálsamo para a sua doença, pois que n'elles encontrará facilmente o pas­saporte que o condusirá mais directamente e sem em­bargo ás portas da eternidade. Não c só n'estes esta­belecimentos especiaes que a doença progride, mas também em outros collocados em idênticas circumstan-cias; e em virtude ainda das más condições em quo os doentes podem estar mergulhados, e sem quererem muitas vezes affastar-se d'ellas e sujeitar-se a um tra­tamento racional, ou ainda por não terem quem oa guie pelo verdadeiro caminho, e lhes corte pela raiz essa errónea crença que de racional não tem nada.

E não obstante ter apparecido um ou outro me­dico que trilhando o verdadeiro caminho, se tenha offc-

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reciclo para a peleja, camtudo o inimigo tom a maior parte das vezes tri ampliado, por que o doente não pode ou não quer sujeitar-se ás suas prescripçoes, não fat­iando nos casos em que esta doença offerece um pro­gnostico gravissimo.

E ' pois, a meu ver, essa errónea crença da incu-rabilidade que tem concorrido e concorrerá sempre, cmquanto se não extinguir completamente da sciencia, para que os casos da cura sejam tão poucos c esses mesmos postos em tanta duvida.

Na verdade são grandes as difficuldades com que é preciso luetar, e jamais se a natureza raedicatriz nos não auxiliar; porque admittindo mesmo a possibi­lidade de pôr em pratica os preceitos liygienicos os mais adequados para debellar a causa e ver desappare-cer os effeitos, a cura da phtysica não pôde muitas ve­zes ser obra de semanas ou mezes, porque essa debi­lidade constitucional não foi também obra de mezes, mas sim ordinariamente obra d'ânuos. Por consequên­cia o doente, não depositando no medico plena con­fiança por ver esta demora, desanima e reage mais ou monos contra o tratamento ainda o mais racional, com­mette excessos, deprecia a medecina e o medico, e sendo d'esta forma desamparada a natureza medica-triz, a doença triumplia e a morte aproxima-se. E c então que o doente vendo a morte bater-lhe á porta, pede soccorro.... mas tarde ! ,

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SEGUNDA PARTE

COM EELAÇÃO Á ALIMENTAÇÃO

Sendo a hygiene um dos ramos da medicina en-oarrcgado de velar pela saúde do homem, e de o en­caminhar e dirigir ao fim para que elle foi creado, é para lamentar que esta seiencia, tendo um fim tão nobre, esteja ainda tão pouco vulgarisada e se veja mesmo calcada a cada passo por aquelles a quem ella não prodigaliza senão bem. Mas que digo! se muitos d'aquelles que mais a conhecem, e mais obrigação tem por conseguinte de a respeitar e de a olhar como a sua propria mãe e amiga, (porque ella só deseja também a sua conservação) são os próprios, não poucas vezes, a despresal-a e a calcal-a aos pés ! cegueira humana que tanto prejudicas a nossa existência! !

Felizes d'aquelles que de seus pães poderam her­dar uma constituição forte, e um gráo de resistência vital, capaz de travar lueta com essas causas que atten-

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tara contra a existência do individuo, porque esses irîto tiúumphando, a muito custo o verdade, até que algu­ma causa benéfica lhe estenda a mão, reforce a sua organização cançada da lueta, e faça entrar o seu func-cionalismo no verdadeiro caminho.

Mas ai ! d'aquclles que de seus pães não conse­guiram herdar senão uma constituição fraca e doentia, c que por força de circumstancias ou desleixo habitual se collocam em condições hygienicas incapazes de re­forçar a sua organização e alentar a frouxa resistência vital que os seus pães lhe legaram como maldita he­rança !

Taes infelizes terão sempre sobre a cabeça esta nova espada de Damocles, cujo golpe nem sempre conseguirão evitar.

E ' pois indispensável, para bem viver, a bôa hy­giene quer do corpo, quer da alma.

E se cila se torna indispensável ao individuo no estado de saúde, com mais razão lhe é indispensável no estado de doença, e por maioria de razão áquelle que adoeceu pelo facto das péssimas condições hygie­nicas a que submetteu a sua organização, as quaes fo­ram capazes de lhe modificar pouco a pouco a craze sanguínea a ponto de constituir n'essa organização um fundo de fraqueza constitucional ou diathese com os carateres d'aquella que estamos apreciando.

Em taes e tão lastimosas condições só um trata­mento essencialmente tónico logrará muitas vezes le­vantar as forças radicaes do organismo, augmentando a força de reacção que as precárias condições hygieni­cas lhe haviam attenuado, e habilitando-o a resistir ás circumstancias etiológicas as mais variadas e nefastas.

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E pois nos îndividaos tuberculosos ou phtysicoa que deve ser realisado o tratamento tónico, do qual se tem tudo a esperar e nada a perder, desde o momento em que seja bemapplicado, e sobre tudo quando o or­ganismo ainda esteja nas condições de ser reparado convenientemente, e de se tonificar com os alimentos e medicamentos mais apropriados para levantar esse fundo de fraqueza.

Em verdade, como já tive occasiâo de referir, cada individuo e cada órgão mesmo tem um modo de nutrir-se e de viver próprio ou especial. Por conse­guinte o medico em todas as doenças que houver de tratar, e sobre tudo n'aquellas a que particularmente me refiro, deve esforçar-se por conseguir promenores á cerca do modo de viver especial d'esse organismo^ indagando o seu regimen alimentar, a duração das suas digestões, os seus costumes mesmo, a sua profis­são, idyozincrasias, as doenças que tenha sofírido, a duração d'estas etc.

Finalmente é preciso examinar as condições hy-gienicas em que tem vivido para melhor saber regu­lar o seu tratamento alimentar tónico; e auxiliar este tratamento com estimulantes bem graduados e metho-dicamente applicados.

E ' preciso porem evitar os abusos dos estimulan­tes e sobre tudo do alcool, que com a sua força fictí­cia tanto tem enganado a humanidade e concorrido para arrastar o homem á phtysica e outras doenças.

E para prova dos eifeitos maléficos provenientes do abuso dos estimulantes basta que nos recordemos do estado lastimoso em que se encontram os indiví­duos que se demasiam no uso das bebidas alcoólicas;

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desde logo se reconhece quanto é irracional e preju­dicial a sua administração em excesso; e se não, re» corderno-nos da historia da medicina na parte relativa ao tratamento da phtysica e outras doenças polo alcool ou bebidas estimulantes e n'ella encontraremos os re­sultados negativos que os americanos tiraram ou co* lheram dos seus ensaios therapeuticos com as bebidas espirituosas em excesso. E ' preciso por tanto usar dos estimulantes por conta, poso e medida.

A nutrição do homem é similhante á construcção d'um edifício: se os materiaea de construcção são de boa naturesa, bem dispostos e combinados uns com os outros, de modo a constituir um todo perfeito em har­monia com o seu fim, o edificio resiste, e poderá mesmo fazêl-o por séculos, contra as intempéries das estações c todas as causas que não sejam superiores á sua resistência material, e não destruam a sua or­ganização; se pelo contrario os materiaes são máos e mal combinados, o edificio dentro em pouco começará a desmoronar-se e com difficuldade se reformará, por que se tentam concertos por uma parte, elle arruinar-se-ha pela outra. E demais, se não se escolherem os meios de reparo em harmonia com essa organização material, cae-se no risco de com essa reforma, desde o momento cm que não seja radical, arruinar dentro em pouco todo o edificio.

A organização do individuo tuberculoso ou tysico está nas mesmas condições; quer a sua organização viesse arruinada do seio da mãe, quer ella se arruinasse pelas más condições hygienlcas em que o individuo vi­veu ou pelos hábitos, profisões etc, é certo que todo o tratamento que lhe instituirmos, ou seja só hygienico

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ou também pliarmacologico, deve estar em harmonia com a natureza dos raateriaes de que é constituído o edifício orgânico para lerantar a força de reação or­gânica em harmonia com o estado de doença.

E' preciso pois que o doente confie tanto no medico como o cego no seu guia; que elle deposite no medico plena confiança (o que nem sempre succè­de) ; que o medico guie racionalmente a sua alimen­tação, tanto na quantidade como na qualidade e se­gundo as condições em que as vias digestivas e toda a organização se encontram.

E ' necessário, mesmo no caso de complicações dar uma alimentação tónica e reparadora, seja qual for o gráo em que a doença se ache, embora ellas á primeira vista nos queiram affastar d'esse caminho.

Sendo taes complicações ordinariamente filhas da propria doença, é certo que em quanto esta existir não será demasiado racional combatel-as, sem debel-lar egualmente a causa que as alimenta. Comecemos por combater os desvios das funções digestivas, o que constitue uma das maiores complicações d'esta doença e que mais compromette o individuo; para isso toni­ficaremos methodicamente o apparelho digestivo (que é o primeiro laboratório da economia), com os meios apropriados que a medicina nos faculta, porque em quanto as funcções digestivas se não restabelecerem não poderemos applicar a alimentação conveniente, nem conceber esperanças de curar ou attenuar a doença.

O medico, como já disse, deve apropriar a ali­mentação ao estado das vias digestivas do seu doente, variando a alimentação ao passo que as funcções se vão rogularisaudo; e começando por lhe dar sempre

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aâ que menos modificações exijam para entrar na tor­rente circulatória, partindo do mais simples para o mais complexo; mas tendo sempre cm vista não ap-plicar substancias que fatiguem muito as vias gástri­cas, e das quaes o organismo não possa tirar grande proveito. O prejuízo proviria n'estas condições da maior difficuldade que a economia encontra era tirar d'aquel-las substancias os principies ligitimamente nutritivos, o que também lhe apoucaria as forças de que ella ca­rece especialmente para a eliminação do excreta.

Examinemos a miúdo as urinas do doente, por que quando estas depois da digestão apparecem tur­vas, sem doença que as justifique, devemos crer que as digestões se não fazem bem, que a cbylificação ó defeituosa e que os rins tem eliminado em parte os produetos da digestão, principalmente debaixo da for­ma de saes que perturbam a transparência da urina.

Por este motivo é necessária a intervenção do me­dico,

COM RELAÇÃO AO AR ATMOSPHERICO

O ar atmospherico é um dos elementos princi-paes da vida.

Ninguém actualmente duvida de que a sua falta no apparelho respiratório é mais incompatível cora a vida, que a dos alimentos no tubo digestivo; porque o individuo pôde viver dias áém comer, mas não pôde viver minutos sem, respirar.

A historia da medicina attesta-nos também que os medicos de todas as seitas são concordes na neces­sidade d'um ar puro para os doentes tuberculosos ou

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phtysicos, o que não succède já com o modo d'alimen-taçSo. Mas isso sem duvida está dependente do diffé­rente modo ou prisma porque ss tem encarado esta doença, e do atraso em que se acha ainda a anatomia pathologica a tal respeito.

Mas infelizmente apesar da physiologia moder­na nos fazer vêr tão claramente a importância do ar atmospherico puro, tanto para uma organização sã co­mo para uma doente, mostrando-nos também a prom-ptidão com que a respiração do individuo são (e a doente ainda muito mais) inquina uma atmosphera circumscripta, ainda assim os medicos que tem pelo menos obrigação moral de velar pela saúde dos seus similbantes e a quem os doentes confiam a propria vida, são muitas vezes os primeiros a esquecer e a cal­car mesmo aos pés os preceitos hygienicos os mais sagrados, como já tive occasião de dizer.

São elles que muitas vezes mandam fechar as portas ou janellas do quarto ou aposento do doente ás correntes atmosphericas, sem ver que esse aca­nhado recinto não tem outras bocas de respiração, e que se incorre no risco de quasi matar o doente por asphyxia.

E quantos assim terão morrido ha trinta annos atraz, e morrerão ainda hoje em muitos paizes, sobre tudo na Allemanha e em o norte da Europa?

Pobres doentes ! que antigamente devieis ser tan­tas vezes victimas da ignorância, pelo estado em que a physiologia e a medicina se achava, e hoje quantas vezes o sereis ainda do descuido do medico ou da atrevida ignorância do charlatão!

Não nos esqueçamos de que os pulmões foram

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physiologlcamente feitos para respirar tanto o ar quente como O frio; tanto o ar á temperatura de 40 gráos acima de zero como abaixo de zero; que o adulto faz ordinariamente de 18 a 20 respirações por mi­nuto no estado de saúde, e em algumas doenças ain. da mais ; que em cada respiração se consomem 500 centímetros cúbicos dé ar; ou que os pulmões ab­sorvem 21 litros d'oxigenio por hora, a qual quanti­dade é substituída por acido carbónico, vapor d'agua, e outros princípios que se eliminam, principalmente pelas vias respiratórias e que são prejudiciaes á orga­nização. De modo que um individuo em pouco tempo inquina uma vasta porção d'ar, desde o momento em que se lhe fecham as portas ou janellas por onde o ar se renove. Mas o individuo doente ainda mais de­pressa corrompe esse meio ambiente em que está mer­gulhado, por que além dos productos normaes e impró­prios da respiração ha os productos accidentaes, filhos do seu estado de doença. Não fechem por conseguinte as portas ou janellas do quarto aos phtysicos para os não vêr morrer mais depressa ou mesmo d'asphyxia, e se não cahir no erro era que ainda hoje laboram os allemães e outros povos do norte, segundo diz Bennet.

Lembremo-nos de que os phtysicos suportam uma boa ventilação tão bem como os sãos, e tanto de dia como de noite, por que os seus pulmões foram creados, como já disse, tanto para o ar frio como para o quente.

E. segundo diz Bennet e outros medicos de grande saber e experiência, as bronchites habituaes dos phtysicos não se aggravam quando se obriga o doente a respirar constantemente um ar fresco e puro; e nem por este facto lhe sobrevem pharyngites, laryngites)

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pleurisias etc., como outros querem; pelo contrario a experiência de tão abalisados práticos tem mostrado que os doentes soffrem todos estes accidentes quando estão inclausurados n'uma atmosphera aquecida, e res­pirando um ar quente e viciado.

Não nos esqueçamos de que na phtysica pul­monar o apparelho respiratório é levado muitas vezes a esse estado pelo seu máo trabalho durante mezes ou annos consecutivos. Em verdade submettendo o indi­viduo os pulmões e todo o seu organismo a um ar im­próprio ou insufficiente, forçando., sem muitas vezes o saber, os seus pulmões a um trabalho viciado por lhe faltar com o seu alimento ou estimulante especial, na qualidade ou quantidade que a natureza lhe marcou, é claro que a crase sanguínea n'estas condições se hade ir modificando.

Por outro lado as substancias impróprias da or­ganização, deixando de ser convenientemente expul­sas hão de ir modificando-se e acumulando-se mesmo no seio da economia, comprometendo-a cada vez mais a ponto d'esse máo trabalho de mezes ou annos por si só (como diz um medico irlandez no seu trabalho intitulado a—phtysica pela respiração doar já respi­rado), ser capaz de crear no organismo um fundo de fraqueza constitucional ou diathese, que manifestando-se ultimamente nos pulmões toma o nome de tuber­culose pulmonar.

Não olvidemos as precárias circumstancias a que podem ser levados os pulmões; não esqueçamos que em taes circumstancias as superficies respirantes ficam circumscriptas, restricção que se réalisa proporcional­mente aos progressos da moléstia. Não cansemos pois

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o apparelho respiratório com um ar impróprio, quer na quantidade, quer na qualidade; colloquemos o doente sempre n'uma atmosphera pura, e tanto mais pura quanto mais circumscripto se tornar o seu districto res­piratório, para que os pulmões nao trabalhem de bal­de, e se não comprometta mais a crase sanguinea; o fim proposto é obter que cada inspiração contenha em pequeno volume d'ar o maior volume possível d'oxi-genio para satisfazer ás despezas orgânicas.

Retiremos portanto os phtysicos dos grandes centros ; aconselhemos-lhe sempre os pontos do globo em que o ar seja mais puro, e em harmonia com o es­tado em que o individuo se acha, e o clima em que nasceu e tem vivido, quando este reúne as condições indispensáveis.

COM RELAÇÃO Á PELLE

A pelle nao é um simples apparelho de protecção que forra exteriormente o organismo humano e o isola dos meios ambientes ; tem mais importância do que outr'ora se julgava, porque as suas funcções, quando normaes, salvam o organismo dos elementos azotados e carbonados de que a economia tirou já o máximo proveito. E sendo esses elementos já impróprios e ini­migos da organização, a pelle encarrega-se de lhes abrir as portas pelas quaes sejam eliminados, e não embaracem (quando mais não seja senão pela sua pre­sença) o funccionalismo orgânico e obstem a que o san­gue se purifique.

A pelle e o fígado, os pulmões e os rins parecem ser os delegados de saúde da organização humana.

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porque emquanto a pelle e o ligado na estação cal­mosa trabalham cora mais energia, para privar o or­ganismo dos elementos já usados e impróprios, os pul­mões e os rins parecem estar n'um repouso relativo para no inverno trabalharem com mais efficacia, e to^ marem conta d'essas funcções excretorias.

Portanto sendo de tanta importância o papel phy-siologico da pelle, não é racional esquecermo-nos da sua hygiene.

Lave-se a pelle por conseguinte todos os dias na estação calmosa com agua fria, para a tonificar, e nas estações frias do anno com agua morna para rela­xar mais o seu tecido e dar mais fácil sabida aos elementos de que o organismo precisa descarregar-se. D'esta forma os pulmões não serão tão forçados a trabalhar exageradamente, para compensar a falta de funccionalismo da pelle, e evitar as inflammações a que esse trabalho forçado os sujeita, e que compro-mettem cada vez mais a existência do individuo.

E'preciso por tanto entreter as excreções cutâneas por meio da agua morna ou fria combinada com as fricções nos individues phtysicos, tanto de verão como d'inverno, mas ainda mais de inverno que de verão, por que n'esta estação a natureza encarrega-se d'essa eliminação pelas transpirações, as quaes ainda assim não devem ser exageradas para o não debilitar, dando sabida ao que não devem dar, ou antes do tempo em que a eliminação devia effectuar-se.

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COM RELAÇÃO AO EXERCÍCIO E

MOVIMENTOS

A acção necessária e ordinariamente bemfazeja do exercício e do movimento muscular excede ás vezes a sua meta, fatiga os órgãos que ella deve vivificar e os predispõe para numerosas doenças. Produz, além de certos limites, uma verdadeira febre artificial, ca-racterisada pela frequência do pulso e augmente da temperatura animal ; ha um desperdicio notável de car­bone nos alimentos respiratórios, nos elementos dos tecidos que devem desapparecer do corpo no movi­mento de nutrição intersticial, e na gordura do corpo.

A força nervosa esgota-se n'esta acção, e a com­pressão dos filetes nervosos da trama dos músculos de­terminada pela contracção incessante e repetida d'estes órgãos produz a fraqueza, o cansaço e mais tarde o emagrecimento e mesmo a morte.

EJ pois o que succède aos indivíduos tuberculosos ou phtysicos submettidos a um exercício demasiado para o estado de forças da sua organização, '

Todos os medicos são concordes em que o exer­cício aproveita na cura da phtysica; mas é preciso que seja um exercido suave, e não um exercido de­masiadamente activo como uma grande parte dos me­dicos julgam; pois que se um exercício exagerado n'um organismo são o enfraquece e debilita, como a cada passo estamos vendo, como se ha-de admittir que um exercido como alguns medicos querem favoreça uma organização tão arruinada pela intensidade da doença? De modo nenhum. Obrigar o individuo phty-

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sico, anemico e sem forças a um exercício aturado e que o canse, é fazel-o caminhar para o tumulo que traz diante de si, e que a Providencia parece esconder-lhe cada vez mais (porque os phtysicos, quanto mais doen­tes estão, menos doentes se julgam !)

A taes doentes apenas se lhes deve aconselhar um exercicio na maior parte passivo, em carro, barco etc.; ou ao menos um exercicio que mmca os faça suar, ou que os debilite e abale; deve-se aconselhar sempre a estada em lugares em que se possa respi­rar um ar mais puro e fresco e em que a temperatura seja o mais constante possível.

COM RELAÇÃO AOS CLIMAS

Sendo o clima (clima physico) a reunião de con­dições physicas que n'uma dada parte da superficie do globo influem na saúde do homem e em geral na dos seres organizados, é fácil de vêr a necessidade que te­mos de escolher para os phtysicos o clima que mais nos pareça estar em harmonia com a sua natureza e estado de saúde.

E emprego aquella expressão, porque sabemos que os climas tem uma influencia considerável sobre a natureza do individuo, ainda que a sciencia não possa conhecer a.relação intima que ha entre as différentes naturezas e os différentes climas ; porque se a conhe­cesse seria fácil de vêr que a tal natureza correspon­deria tal clima. Poderíamos portanto dizer à priori o clima que mais conviria ao phtysico; porque sendo verdade que esta doença assenta n'um fundo de fra­queza constitucional, seja qual for a causa que a deter-

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mine, é claro que o clima que mais conviria a sirai-Ihante estado, seria aquelle que concorresse tanto quanto possivel para levantar as forças da economia e remover esse fundo de fraqueza.

Portanto será o clima temperado aquelle que mais beneficiará essa organização tão abalada pela doença e não um clima intertropical ou polar, que n'um caso debilitaria ou cansaria ainda mais essa organiza­ção e n'outro a paralysaria.

Será pois um clima cuja temperatura no inverno não seja inferior a 15 gráos centígrados de dia e 8 gráos centígrados de noite, e no verão não seja supe­rior a 22 gráos centígrados de dia e a 14 de noite ; um clima em que haja finalmente um frio moderado e um calor agradável.

E em testemunho d'esté meu modo de ver, filiado na boa razão, abundam as experiências colhidas pelos melhores observadores que tem mostrado que taes doentes se sentem melhor n'um clima temperado e mesmo d'uni frio agradável, que n'um clima húmido e quente; o que é fácil de vêr, pois quanto mais ele­vada for a temperatura mais rarefeito será o ar; o mesmo volume em cada inspiração conterá menos oxi­génio ; o numero das inspirações será maior no mesmo tempo para receber a quantidade d'oxigenio necessá­ria a uma boa hematose; e a organização por conse­guinte cansando-se cada vez mais, a doença progredirá.

Entre nós mesmo ninguém ignora que na estação calmosa as funcções digestivas, musculares etc., não são tão enérgicas e regulares como no próprio inverno ou outra qualquer estação do anno, e comtudo a tem­peratura media da nossa estação calmosa no Porto

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desde 1870 inclusive até 1876 tem sido apenas de 200,3. Ora se isto é verificado, como eu creio, por todos

os povos do mundo sem excepção, dentro de certos li­mites da temperatura, em organizações sãs, com mais razão poderemos vêr á priori a influencia que os cli­mas demasiadamente quentes ou demasiadamente frios, devem ter n'uma organização doente, como a d'um tuberculoso ou phtysico; qual o clima que mais beneficia­rá a organisaçãode taes doentes e concorrerá para levan­tar as forças do organismo e expulsar o inimigo que lhe anda minando a existência; qual finalmente o clima que está mais nas condições de restituir ao organismo o tom physiologico que a doença lhe roubou, e de au­xiliar a natureza medicatriz para um dia triumphar do inimigo e poder fechar-lhe para sempre as portas.

A organização do individuo phtysico não se acha já nas condições de reagir contra as intempéries das estações como a d'outro qualquer que gosa de boa saúde ; por isso precisa fugir, qual outra andorinha, das intempéries das estações ; precisa finalmente pro­curar o clima que mais convenha ao seu estado de doença.

Não pôde ou não deve VÍVQT descuidado no clima que lhe deu origem, porque precisa harmonizar tanto quanto seja possível a sua organização com os modi­ficadores externos ; precisa ir de clima em clima pro­curando as estações em que esses modificadores vão levantando gradual e methodicamente esse fundo de fraqueza constitucional, restituindo aos tecidos o seu verdadeiro tom physiologico ou a força de reacção pre­cisa para expulsar o inimigo e reagir contra as intem­péries das estações.

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Não ó pois um clima quente que convém a esta doença, como antigamente se julgava, e julgam ainda hoje alguns pathologistas.

E senão recordemo-nos dos resultados que Brous-sais e seus partidários tiraram da sua tíaerapeutica toda antiphlogistica e dos resultados therapeuticos d'aquelles que n'este ponto ainda actualmente se lhes assimelham —WirchoW, Niemaier e outros, submettendo os indiví­duos já phtysicos só aos agentes pharmacologicos deno­minados antiphlogisticos, a uma alimentação debilitante e a um ar e clima quente,—e veremos que ainda ha bem poucos annos que se não fallava n'um só caso de cura da phtysica, e se julgava portanto incurável similhante doença.

Para os sectários de Broussais todas as phtysicas são resultado de pneumonias, e por conseguinte os antiphlogisticos eram a setta com que pretendiam ma­tar a doença, mas a pratica mostrava-lhes que em lu­gar de matar a doença matavam o doente.

Os allemães, porém, sendo sectários da mesma theoria (que se trata somente de pneumonias), mas não vendo a therapeutica antiphlogistica coroada de bons resultados, tem lançado mão dos tónicos, contra as suas convicções, e colhido d'elles melhores resultados, que outr'ora colheram da sua therapeutica antiphlogistica só; e se não tem colhido mais resultados favoráveis é na maior parte dos casos por não attenderem aos pre­ceitos hygienicos, encerrando os seus doentes n'uma atmosphera corrupta e matando-os na maior parte por asphyxia lenta, como diz Bennet no seu tratado da phtysica pulmonar.

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COM RELAÇÃO AO TRATAMENTO MEDICO OU CURATIVO DA PHTYSICA PULMONAR

Se percorrermos a historia da medicina relativa, mente ao tratamento medico ou curativo da phtysica pulmonar, veremos quasi toda a materia medica em alvoroço, quasi todas as substancias pharmacologicas atacando por todos os lados o inimigo que consome e pretende devorar a victima, mas sem nunca o conseguir, emquanto o doente não estiver mergulhado n'uma boa hygiene e não forem bem racionalisados os agentes pharmacológicos de que a medicina pôde lançar mão.

Debalde pois procuraremos na medicina só o an­tídoto de similhante doença, ou o seu remédio especifico porque não o encontraremos. Não a curam por si só o tão usado óleo de fígado de bacalhau, as pilulas óleo, calcareas, os tão gabados grânulos e tintura de Silfium nem o iodo, ferro, quina, etc., nem os preparados de phosphore e arsénico, nem as aguas medicinaes na-turaes ou artificiaes, nem o leite carregado de chloru-reto de sódio tão recommendado por Rabuteau, nem fi­nalmente esse tão aconselhado remédio o kumis e ou­tros preparados que constantemente estamos vendo an-nunciados nos jornaes. Mas são, todavia, as substancias e preparados que acabo de mencionar os que tem sido co­roados de melhor resultado, quando a physiologia e a boa hygiene Os acompanha. Porém é preciso não lhe dar toda a importância, porque isso seria, a meu vêr, ignorar a natureza intima da doença, ou esquecermo-nos de que a doença que nós no apparelho respiratório encontramos, éfilhad'umadoençajageneralisada,ou her­dada ou augmentada pelas más condições hygienicas

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atmosphera, alimentação c profissão em desharmoniai com a sua organização, ou adquirida por estas mesmas circumstancias, excessos de toda a ordem ou doenças lo-caes ou diathesicas. Por conseguinte procuremos sem­pre as causas que actuaram sobre esse organismo, e que mais podiam comprometter a crase sanguinea para as combater cora o tratamento hygienico e medico ao mesmo tempo, ae assim for preciso, porque na phty-sica ha complicações e desordens nos diversos órgãos que obstam a que o tratamento hygienico o mais ra­cional possivel exerça a sua acção benéfica, e que podem ser combatidas ou modificadas pelo tratamento medico.

E por isso a medicina nunca deve abandonar o-doente, e deve estar sempre d'atalaia para soccorrera hygiene e o organismo poder d'ella tirar o melhor proveito, combatendo as complicações ao passo que fo­rem apparecendo e regularisando as funcções da eco­nomia com os meios mais apropriados de que a scien-cia pôde dispor.

Devemos prevenir os nossos doentes de que a cura d'esta doença não é objecto de mezes, para que elles não descreiam da medicina e do medico; porque sd um tratamento muito demorado e muito bem guiado é que pôde ser coroado de melhores resultados, desde o momento em que a organização se apresentar ainda nas condições de soffrer reparação; em que haja ainda força de reacção orgânica susceptível d'augmento ; em que finalmente a organização ainda esteja nas condi­ções de receber os meios tónicos que se lhe ministra­rem e de se tonificar com elles.

Se passarmos uma vista rápida sobre a saúde dos

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indivíduos do reino vegetal, veremos a cada passo confir­madas as ideias que apresento com relação á curabilidade da phtysica; vereraoií que a planta privada do ar atmospherico estiola e morre ; que a planta filha de pães fracos, vivendo nas mesmas condições que elles é sempre mais fraca que os seus progenitores (se am­bos são fracos) ; e que a planta forte plantada em mau terreno enfraquece e dura pouco.

Mas se uma planta enfraquece, descora ou mur­cha porque proveio d'uma familia doente, ou porque o ar, humidade,, secura, sol, sombra condições de ter­reno etc. são contrários á sua organização., não se lhe restitue a saúde só pelo facto de se juntar uma por­ção d'adubo ao terreno onde ella viver, mas sim estu­dando a natureza etc. da planta, removendo-lhe as causas que a fizeram adoecer, e não a abandonando emquanto que não estiver completamente restabelecida.

Com os medicamentos na phtysica succède pois a mesma coisa, como diz Bennet. Não ha medicamento algum que seja antídoto d'essa doença; não ha medi­camento algum que por si só possa dar uma vida nova a uma organização tão desmoronada, em quanto a ree-dificação do edificio orgânico não for radical.

Não precisávamos, porém, fazer a nossa digressão pelo reino vegetal para mostrar o quanto pôde a edu­cação physica e moral guiada por uma hábil mão ; no reino animal e no próprio homem temos factos de su-bejo para nos attestar esta verdade, e nos dizer que muito pôde quem quer.

Não tem o homem conseguido crear animaes do­mésticos á sua feição para satisfazer ás suas commodi-dades e caprichos chegando a crear raças différentes?

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Ora se a vontade do homem tom conseguido fa­zer tanto no reino animal propriamente dito., por que não hão-de os modificadores hygienicos,, sendo conti­nuados o bem dirigidos., reforçar uma constituição fraca e doentia, ou reformar um temperamento de maneira que a acção morbifica fique supplantada e o individuo se torne vigoroso e différente do que outr'oraera? De que estíl pois dependente a vida do homem ? não è do ar que o homem respira? dos alimentos que o nutrem? do clima quo habita? da profissão que exerce? das pai­xões que o atormentam etc. etc.

Por isso a nossa intervenção, mesmo só como hy-gienistas, é indispensável, por que umas constituições, temperamentos etc., são modificadas por uns agentes e outras prejudicadas; e só o medico hygienista é que sabe o que mais convém a esta ou áquella organiza­ção, a esta ou áquella doença.

Obrando d'esté modo,creio muito bem,que as cons­tituições fracas se levantariam, os temperamentos se reformariam, as diatheses se riscariam do quadro pa-thologico, e as doenças haviam de ser mais raras, por­que se o organismo tivesse a força precisa para reagir contra as causas morbificas raríssimas vezes adoeceria, e as vidas seriam mais longas.

. Mas infelizmente estes conselhos são melhores de dar do que de executar. E de mais não se empregam os mais pequenos esforços em harmonisar o organismo humano com os seus modificadores externos; até para cumulo d'infelicidade as famílias favorecidas da for­tuna não cuidam cm collocar a si e seus filhos nas condições physicas e moraes que mais possam favore­cer o desenvolvimento completo das suas faculdades;

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quasi sempre o destino do homem é filho do acaso ! vive descuidado onde nasceu e como lhe apraz. In­feliz d'elle ! se o clima que habita não convém á sua organização, e se a profissão a que o destinaram é con­traria á sua constituição, porque a cada instante o seu edifício se irá desmoronando, e mais breve do que o individuo o pensa terá o seu maior inimigo—a morte, a bater-lhe á porta.

Quantas vezes ainda antes de nascido o filho, e concebido mesmo, os pães tem já traçado na sua mente o plano do seu modo de vida ou o seu destino ! cegueira humana que tanto prejudicas a nossa existência !

Em geral o homem não se previne para as cir-cumstancias exteriores que podem comprometter a sua organização, e soffre como se fossse consequência d'um destino fatal muitos males physicos que poderá evitar, insistindo muitas vezes só nos preceitos, hygienicos e fazendo energicamente reagir o moral sobre o physico (porque diz o rifão que muito pôde quem quer). N'este ponto o homem pôde considerar-se inferior aos sores da escala zoológica,, porque estes apenas com o seu instincto tem a força preciza para fugir dos perigos, quando os vêem ou suspeitam; em quanto que o ho­mem com a sua razão, que o destingue de todos os outros seres, não tem as mais das vezes a força pre­cisa para os evitar.

Por tanto fiquemos sabendo que uma organização, ainda que esteja debaixo d'um vicio constitucional, quer fosse legado quer adquirido, se nem sempre se pôde reformar completamente, ao menos quando se pode melhorar é já um bem para o individuo.

Mas debalde me cançarei em proclamar a cura-

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feilidade cia phtysica omquanto não vir que 6 tri­lhado o verdadeiro caminho ; e se a natureza medica-triz se não encarrega de salvar essa organização do inimigo que a pretende devorar, creio muito bem que os casos de cura continuarão a sêr raros.

Porém a natureza medicatriz por si só é impo­tente na maior parte dos cazos, e jamais n'este, e é por tanto n'estas condições que a medicina pôde pres­tar relevantes serviços á humanidade. Por isso nem o doente deve renegar a medicina, embora a sua doença d'ella pareça zombar por muito tempo, nem o medico deve abandonar o doente, emquanto não tiver esgotado todos os recursos da medicina, acompanhando-o mesmo até ao tumiilojpor que a medicina não tem só por fira o curar, mas também alliviar e consolar o doente até os últimos momentos da sua existência.

Brademos sempre contra a incurabilidade da phty­sica pulmonar, embora vejamos um ou outro dos nossos similhantes tropeçar e cahir no eterno abysmo ! por que estou bem convencido (e melhor do que eu estarão mui­tos medicos a quem a pratica firmada no verdadeiro ca­minho tem querido desenganar) de que se a maior parte dos doentes que tem sido devidamente tratados não tem triumphado d'essa doença, ao menos se lhes terão prolongado consideravelmente os dias da sua exis-

- tencia. Não faltemos pois aos indivíduos phtysicos com

os elementos de que o seu estado mais precisa : ao appa-relho digestivo com os bons alimentos, ao respiratório com o bom ar, á pelle com o asseio, e á doença e suas complicações com os medicamentos.

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PROPOSIÇÕES

-«*-

A n a t o m i a . É contínuo o epithelio na super­ficie interna das vesiculas pulmonares.

P h y s i o l o g i a . Para explicar o desenvolvimento orgânico, achamos preferível a theoria molecular de Bennet ás de Robin e de Virchow.

M a t e r i a m e d i c a . A tão gabada hydro-co-tyla aziatica pouco vale como diurético e sudorifero.

P a t h o l o g i a g e r a l . O poder dos chamados virus rasulta do sea arranjo molecular e não de qual­quer principio solido especial n'elles contido.

P a t h o l o g i a i n t e r n a . Não ha ascites mera­mente dyscrasicas. t

M e d i c i n a o p e r a t ó r i a . O gráo de subordi­nação da medicina operatória á cirurgia conservadora deve fundamentar-se nas condições do doente, do ope" rador e do ambiente.

A n a t o m i a p a t h o l o g i c a . A tuberculose não é a única causa da ulceração do pulmão e da phtysica.

O b s t e t r í c i a . Para explicar a apresentação ce-phalica preferimos a explicação de Cazeaux á de Joulin.

M e d i c i n a l e g a l . O delirio não deve ser con­siderado como caracter essencial das doenças mentaes.

Approvada.

Rodrigues Pinto.

Pode imprimir-se. O CONSELHEIRO DIRECTOR,

Costa Leite.