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Page 1: CONSELHO REGIONAL DOS REPRESENTANTES … · rescisão indireta do contrato de representação comercial e incidência da multa prevista no art. 27-j, da Lei 4.886/65”. (Apelação

CONSELHO REGIONAL DOS REPRESENTANTES COMERCIAIS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AVENIDA BIAS FORTES, Nº 382 - BHTE-MG – Tel: ( 31 ) 3071.3300 [email protected]

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QUANDO É (IN) DEVIDA A INDENIZAÇÃO LEGAL DE 1/12

A indenização é um dos temas com o maior número de consultas no Departamento Jurídico do COREMINAS. Por essa razão, procuramos colocar neste artigo os casos mais comuns de rescisão e os seus efeitos quanto ao direito ou não de recebimento da indenização pelo representante comercial.

A Lei 4.886/65, alterada pela Lei 8.420/92 dispõe, em seu artigo 27, alínea ‘j’, assim dispõe sobre a indenização de 1/12:

“j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação.”

Trata-se de indenização tarifada, ou seja, indenização cujo valor mínimo é fixado em lei, equivalente a 1/12 (8,33%) calculado sobre o total da retribuição (comissões) recebida pelo representante comercial na vigência da representação comercial. Ela é devida pelas perdas e danos provocados pela rescisão na representação comercial, e não pelo tempo de exercício profissional como ocorre no caso do representante empregado (FGTS). A lei exclui a hipótese de seu pagamento, caso a representada alegue em seu favor os motivos justos para a rescisão, conforme o artigo 35 da mesma lei:

“Art. 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação comercial, pelo representado:

a) a desídia do representante no cumprimento das obrigações decorrentes do contrato; b) a prática de atos que importem em descrédito comercial do representado; c) a falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de representação comercial; d) a condenação definitiva por crime considerado infamante; e) força maior”.

Além desses motivos, outros poderão ser alegados, desde que constem em contrato escrito entre o representante e a representada. Não vale aqui o contrato informal ou verbal. Uma leitura apressada da lei leva à conclusão que, se não houve justa causa para a rescisão, por iniciativa da representada, a indenização seria devida em quaisquer outras hipóteses, como, por exemplo, a rescisão injustificada por parte do representante comercial. No entanto, há que se considerar a lei em seu conjunto, já que essa prevê que qualquer uma das partes que pretenda rescindir o contrato por prazo indeterminado, sem justa causa, deverá conceder o aviso prévio à outra com, no mínimo, 30 dias de antecedência, como previsto no artigo 34:

“Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento de importância

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igual a um terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores”. Assim, quem denuncia o contrato – representada ou representante – tem a obrigação legal

de conceder o prazo de 30 dias, ou então pagar uma ‘multa’ no valor de 1/3 (33%) do último trimestre das comissões pagas ou recebidas pelo representante comercial. Com se vê, quem rescinde sem motivo tem obrigação a cumprir em relação a outra parte contratante.

A rescisão por iniciativa do representante não lhe dá direito ao recebimento da indenização como decidiu o Tribunal de Justiça de Minas Gerais – TJMG (Apelação Cível n° 332.483-2):

“EMENTA: CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL RESCISÃO POR INICIATIVA EXCLUSIVA DO REPRESENTANTE – ARTIGO 27, ALÍNEA “J” DA LEI 8.420/92- INDENIZAÇÃO INDEVIDA. A rescisão do contrato de representação comercial , por in ic iat iva do representante, não lhe confere o di rei to à indenização de que t rata o art igo 27 da Lei 8.420/92, a qual somente se torna devida quando a ruptura do pacto é provocada in justamente pelo representado” . Os juizes entenderam que a indenização somente é devida quando a representada causa um

prejuízo ao representante comercial, como se lê no acórdão: “Ora, se fo i a própr ia representante quem teve a inic iat iva de pôr f im ao contrato, af i rmando que este não mais lhe era conveniente, é evidente que a mesma não faz jus a qualquer indenização, posto inexist i r dano algum a ser ressarcido. Resumindo, tendo o autor tomado a iniciativa de por fim ao contrato, confessando que este não mais era do seu interesse, não há como impor à ré o ônus de arcar com qualquer tipo de indenização, seja por falta de amparo legal, seja porque não praticou ela qualquer ato capaz de acarretar prejuízo ao seu ex-representante”. EMENTA: INDENIZAÇÃO – CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – RESCISÃO. A rescisão do contrato de representação comercial a pedido do representante não enseja o pagamento da indenização de 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo do exercício da representação” (Apelação Cível n°410860-7)

Em nosso “Informativo COREMINAS – SIRCON”, n° 14, de março/99, colocamos um artigo sobre o tema, no qual citávamos uma decisão do Tribunal de Alçada do Paraná – TAPR, que concluía ser indevida a indenização quando a rescisão era por iniciativa do representante comercial:

“A indenização de que trata o artigo 27, alínea ‘j’, da Lei 4.886/65, alterada pela Lei 8.420/92, não é devida ao representante comercial que denuncia o contrato de representação sem justo motivo”. (IOB 14.749/3)

O ‘Informativo do Conselho Regional dos Representantes Comerciais de Santa Catarina – CORESC’, n° 50, de novembro/dezembro/05, traz matéria de autoria do Procurador Jurídico, Dr. Eduardo Roberto Vieira, sob o título ‘ A rescisão do Contrato de Comercial por

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Parte do Representante’, com a mesma conclusão, fundamentada em decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - TJRS:

“Ressaltamos ainda que, nos casos em que a rescisão do contrato é realizada pelo representante comercial, somente ocorrendo motivo justo é que poderá o ser pleiteada a indenização prevista no artigo 27 d Lei 8.420/92. Corroborando com esse entendimento, transcrevemos a seguinte decisão: ‘Representação Comercial. Rescisão imotivada do contrato pelo representante. Indevida a indenização. Tendo o denunciante, representante comercial, rescindido o contrato com o representado, não faz jus ao direito de indenização quando a ruptura se deu de forma imotivada. Apelo provido (Apelação Cível n° 599166485)”.

A indenização, repita-se, tem natureza de perdas e danos, ou seja, se destina a reparar os prejuízos causados na rescisão injusta por iniciativa da representada, em duas hipóteses somente: se a representada rescindir sem justa causa ou se o representante rescindir por justa causa, alegando os motivos relacionados no artigo 36:

“Art. 36. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação comercial, pelo representante: a) redução de esfera de atividade do representante em desacordo com as cláusulas do contrato; b) a quebra, direta ou indireta, da exclusividade, se prevista no contrato; c) a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante, com o exclusivo escopo de impossibilitar-lhe ação regular; d) o não-pagamento de sua retribuição na época devida; e) força maior”. Poderão ser alegados outros motivos, desde que constem no contrato de representação

comercial. No caso do atraso comprovado do pagamento das comissões, o representante comercial tem direito à indenização, como se lê na seguinte decisão do TJMG:

“EMENTA: REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – COMISSÕES EM ATRASO – RESCISÃO INDIRETA – INDENIZAÇÃO. O não pagamento das comissões devidas, no prazo legal, constitui justa causa para rescisão indireta do contrato de representação comercial e incidência da multa prevista no art. 27-j, da Lei 4.886/65”. (Apelação Cível n° 414.587-9)

Por outro lado, a rescisão imotivada pela representada confere ao representante o aviso prévio de 30 dias ou 1/3 das três últimas comissões, e também a indenização de 1/12, de acordo com o mesmo Tribunal:

“EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA - CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – RESILIÇÃO IMOTIVADA - LEI Nº 4.886/65 - ARTIGOS 35 E 27- INDENIZAÇÃO DEVIDA. Não f icando del ineado nos autos justo mot ivo para a resi l ição do contrato de representação comercial , o representante faz jus à indenização prevista no art igo 27, “ j ” da Lei nº 4.886/65” (Apelação Cível n° 507924-3)

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“EMENTA: COBRANÇA – REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – RESCISÃO DO CONTRATO – ATO DA REPRESENTADA – INDENIZAÇÃO DE 1/12 (UM DOZE AVOS) A rescisão do contrato de representação comercial, por ato da representada, é fato gerador da indenização de 1/12 (um doze avos) sobre o total da retribuição auferida durante o tempo de exercício da representação” (Apelação Cível n° 468904-1).

Mas, para ter direito a indenização legal, o representante deverá provar:

a) a existência da representação comercial (contrato, carta de nomeação, correspondências, etc.);

b) os valores das comissões recebidas durante a vigência da representação (notas fiscais de serviços, recibos de pagamentos, relatórios de comissões, declaração do imposto de renda, etc.);

c) o motivos da rescisão (dispensa da representada ou justa causa do representante). Se não fizer prova de seu direito (a prova é de quem alega) o representante não terá direito à indenização. Portanto, antes de propor qualquer medida judicial contra a sua representada, é conveniente consultar um advogado ou o Departamento Jurídico do COREMINAS para evitar gastos judiciais e o insucesso da Ação de Indenização. Neste sentido, tem-se os seguintes julgados do TJMG:

“EMENTA: REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – RESCISÃO - JUSTA CAUSA – RESCISÃO INDIRETA – DEFICIÊNCIA DE PROVA – INDENIZAÇÃO AFASTADA. Não sendo provada a rescisão sem justa causa do contrato de representação comercial, nem sendo demonstrada a existência de motivos para a rescisão indireta do contrato, não se reconhece direito à indenização ao representante” (Apelação Cível n° 509.856-8). “REPRESENTAÇÃO COMERCIAL - RESCISÃO DO CONTRATO – ÔNUS DA PROVA - REPRESENTANTE – INDENIZAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE. Não comprovando o representante comercial a iniciativa da denunciação do contrato, somente na hipótese de rescisão do contrato de representação comercial por ato unilateral do seu representado, sem justa causa, terá direito à indenização” (Apelação Cível n° 434.540-2).

Paulo de Tarso do Nascimento Assessoria Jurídica (Elaborado em dezembro/2005)