conselho escolar: limites e possibilidades no seu ... · a partir da década de 1990 a educação...

16

Upload: vonhan

Post on 12-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,
Page 2: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu funcionamento

Autora: Sirlei Gomes dos Santos Zago1

Orientadora: Gislaine A. Valadares de Godoy2

Resumo

A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento, assumiu como princípio de gerenciamento a Gestão Democrática trazendo para dentro das unidades escolares alterações na conduta organizacional de suas atividades administrativas e pedagógicas. . A estrutura organizacional passou a ter entre os profissionais da educação, membros da comunidade como pais, alunos e moradores do bairro onde a escola se encontra situada. Assim, elaborou-se um estudo com o objetivo de realizar uma análise acerca do Conselho Escolar do Colégio José Faria Saldanha de Munhoz de Melo – Paraná, a fim de identificar seu papel, finalidade e funcionamento dentro da unidade escolar; procurando identificar de que forma essa instância colegiada interfere, de maneira eficaz, na realização das atividades da escola. Seus pressupostos teórico-metodológicos foram baseados na pesquisa bibliográfica e entrevistas o colégio de realização da pesquisa. Com a fundamentação teórica percebeu-se que na escola com modelo de gestão democrática o diretor passa a contar com quatro importantes instâncias colegiadas: Associação de Pais, Mestres e Funcionários – APMF, o Conselho Escolar, o Conselho de Classe e o Grêmio Estudantil. Juntos, comunidade interna e instâncias colegiadas buscam maneiras para promover o bom funcionamento da escola e garantir assim, o aprendizado significativo dos alunos. Dentre essas instâncias, a que tem maior representatividade dentro da escola é o Conselho Escolar que, juntamente com a equipe diretiva delibera, avalia e fiscaliza as atividades desenvolvidas pela escola.

Palavras-chave: Educação, Conselho Escolar, Gestão Democrática.

1 Introdução

1 Pós Graduada em Educação Especial e Educação Escolar – Séries Iniciais. Graduada em Pedagogia. Professora do Colégio Estadual Engenheiro José Faria Saldanha, Munhoz de Mello – Pr.

2 Professora Mestre em Políticas Públicas do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá – UEM – Pr.

Page 3: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

Durante a década de 1980, o país vivenciou um período de

efervescência democrática com o fim da ditadura militar e a abertura política. A

educação, por sua vez, passou por um período de mudanças e começaram as

lutas pela garantia de direitos constitucionais voltados para a participação da

sociedade na gestão pública e, uma das pautas de luta dos movimentos sociais

da educação foi a garantia da gestão democrática do ensino. A luta pela gestão

democrática representava a defesa do direito da comunidade escolar de

participar na definição das políticas públicas de educação (CARVALHO, 2005).

A gestão democrática é um processo que deve ser construído

coletivamente no dia-a-dia da escola. Ela é garantida pela legislação vigente e

pelas práticas sociais e caracteriza-se pelo pela descentralização de recursos,

pela eleição de diretores, participação direta de todos os segmentos sociais,

planejamento participativo, avaliação participativa e pelo Conselho Escolar,

considerado o órgão máximo nas tomadas de decisões da escola. Sendo

assim, buscou-se por meio desta pesquisa, compreender as implicações

decorrentes da constituição/operacionalização dos Conselhos Escolares para a

organização de uma escola, analisando os fatores que facilitam ou dificultam o

processo de construção da gestão democrática no COLÉGIO ESTADUAL

ENGENHEIRO JOSÉ FARIA SALDANHA - ENSINO DE 1º E 2º GRAUS.

Assim, foi analisada a estrutura organizacional e a gestão da escola

pesquisada, bem como a maneira como vem se configurando o processo de

democratização das relações sociais em seu interior. Para compreender as

implicações decorrentes dessa situação, foi preciso levar em consideração as

condições que o Conselho Escolar do colégio estudado atua, qual a sua

participação dentro e fora da mesma compreendendo os condicionantes que

facilitam ou dificultam essa participação.

Na tentativa de compreender tais implicações no processo de

construção da gestão democrática da escola pesquisada foi analisado se o

Conselho tem contribuído para uma ampla participação de todos os membros;

se existe participação efetiva de todos os envolvidos nas reuniões realizadas;

se os conselheiros deliberam sobre questões relacionadas à dimensão

pedagógica; como são conduzidas as reuniões e ainda, se todos os

conselheiros participam nas tomadas de decisão. Foi verificado também, se

existe uma ligação entre os conselheiros e os outros segmentos da escola.

Com isso, procuramos notar se a criação do Conselho Escolar tem

favorecido o processo de construção da gestão democrática, ou se está sendo

meramente utilizado como mecanismo voltado para a melhora da eficiência e

eficácia da gestão financeira.

Page 4: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

Diante disso, desenvolveu-se uma pesquisa com o objetivo de realizar

um estudo acerca do Conselho Escolar a fim de identificar seu papel, finalidade

e funcionamento dentro da unidade escolar; procurando identificar de que

forma essa instância colegiada interfere, eficazmente, na realização das

atividades do Colégio Estadual Engenheiro José Faria Saldanha na cidade de

Munhoz de Melo – Paraná.

O pressuposto teórico metodológico da pesquisa foi baseado na

pesquisa bibliográfica, levantando informações na literatura pertinente sobre

esta temática. Na sequência foi realizada uma coleta de informações e dados,

por meio de questionário, a fim de saber qual é o e o significado que as

pessoas que estão na escola dão aos assuntos no qual se envolvem. Das

escolas existentes na cidade foi selecionada uma, por ser a escola objeto de

intervenção da pesquisa. Os sujeitos da pesquisa são pessoas, direta ou

indiretamente, envolvidas com o Conselho Escolar e que representam os

diferentes segmentos, ou seja, professores, servidores e pais de alunos que

acompanharam o processo de criação desse Conselho ou que atualmente o

compõe. A investigação exigiu, também, a análise da documentação da escola

com a finalidade de identificar informações necessárias para a compreensão do

tema abordado.

A relevância desta pesquisa está em contribuir com as escolas

paranaenses para que estas se utilizem de seus Conselhos Escolares como

instrumento de participação política, administrativa e pedagógica e que garanta

a participação da comunidade em uma escola democrática, no qual todos os

envolvidos participem das decisões para construção de uma escola voltadas

aos interesses da sociedade. Enfim, a escola que tem um Conselho Escolar

atuante quebra a hegemonia neoliberal de administração e fortalece a

participação política e coletiva, dando um novo sentido a gestão escolar.

2 Fundamentação Teórica

Propostas e objetivos para educação vem sendo apresentados e

modificados ao longo de sua existência. A educação cumpriu diversos papéis,

serviu a algumas ideologias e obteve ganhos e perdas ao longo de seu

processo histórico. Para compreender como se deu o processo democrático no

Brasil, torna-se necessário entender a educação desde a ditadura militar, época

Page 5: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

no qual se inicia as discussões sobre a participação popular na educação

brasileira.

De acordo com Teixeira (2003), entre 1937 e 1945 o ensino no Brasil

sofre as influências da ditadura militar de Getúlio Vargas. A escola, neste

contexto, tem a pretensão de preparar a mão-de-obra para as novas profissões

decorrentes do crescimento mundial da industrialização. Por um longo período

a escola sofre as influências da ditadura militar. De 1930 até 1970, com uma

tendência conservadora, a administração escolar é rígida, centralizada,

burocrática e formal, traduzidos em um modelo tradicional de organização

escolar.

A partir da década de 70, ainda com o país vivendo em um contexto

político-social influenciado pela ditadura militar, a Lei 5692/71 expressa a

tendência administrativa de organização escolar baseada no autoritarismo.

Instala-se a dimensão técnica de administração escolar. Por conseguinte, em

pleno regime militar os movimentos populares clamam por mais vagas nas

escolas públicas e pela eleição de diretores. A luta era por transformações

sociais, salariais e condições de trabalho. A população se manifestava pela

instauração da democracia (TEIXEIRA, 2003).

As primeiras eleições para diretores acontece em 1976. Após 1978

professores, alunos e sociedade civil organizadas exigem novas práticas

administrativas por meio da descentralização, autonomia e participação nas

decisões da escola. Entretanto, a eleição de diretores não garantiu a gestão

democrática. Pelo contrário, trouxeram novos conflitos, pois o processo de

eleição não era transparente e o diretor não garantia a participação dos demais

segmentos da escola nas tomadas de decisões (TEIXEIRA, 2003).

Segundo Libâneo (2007) a década de 80 marca o fim do regime militar o

Brasil, o mercado de trabalho requer um novo trabalhador, com habilidades de

comunicação, visão de conjunto, flexibilidade para acompanhar o avanço

científico-tecnológico da empresa; a administração passa a ser pensada em

termos de gestão democrática. Nesse sentido, a educação ganha centralidade

nas políticas educacionais, sobretudo nos países subdesenvolvidos.

Com a Conferência Mundial de Educação para Todos realizada em 1990

em Jomtien – Tailândia, organizada por mecanismos internacionais, são

apresentadas ações de gestão, financiamento, currículo, avaliação e formação

de professores, com o objetivo de atender as necessidades básicas de

aprendizagem da América Latina. No Brasil, é eleito o presidente Fernando

Collor de Melo, destituído em 1992 e assumindo Itamar Franco. Itamar Franco

constrói, baseado na Conferência Mundial de Educação para Todos, o Plano

Page 6: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

Decenal de Educação para Todos, cujo modelo de gestão encaminhado pelas

políticas públicas tem características do modelo gerencial. Esse modelo de

gestão pública foi introduzido por meio do Plano Diretor da Reforma do

Aparelho do Estado em 1995 na administração do então presidente Fernando

Henrique Cardoso (LIBÂNEO, 2007).

O Estado deixa de ser o executor dos serviços sociais, mas mantém o

papel de planejador e regulador, com o objetivo de reduzir os gastos públicos e

aumentar a produtividade dos serviços prestados. Nessa época, de acordo com

Carvalho (2005), em parceria com a rede globo, entra o amigo da escola. Com

um modelo de administração gerencial se destaca a transferência de

responsabilidades administrativa, financeira e pedagógica para as instituições

escolares.

O autor ainda coloca que os membros da comunidade passam a atuar

diretamente nos Conselhos Escolares e APMF’s. A ampliação da participação

está relacionada ao interesse de impulsionar a comunidade a se sentir

responsável pelos resultados e encontrar soluções para os problemas

escolares. A escola passa a ser uma empresa prestadora de serviços

educacionais e a gestão democrática satisfaz o cliente, consumidor dos

serviços escolares. É um modelo de gestão associado às novas formas de

controle do Estado: fiscaliza a aplicação dos recursos e cumprimento das

metas.

Pode-se perceber que esse processo histórico modifica o sentido de

gestão democrática. Gerada em um movimento histórico de lutas civis

organizadas que correspondia a democratização da sociedade passa para uma

prática centralizadora e autoritária. Em seu lugar surge a política de Estado-

mínimo.

No Paraná, em 1991 com o governo de Roberto Requião é lançado o

programa “Construindo a Escola Cidadã” que, através da gestão democrática,

incentiva a participação dos Conselhos Escolares e a elaboração e execução

dos projetos pedagógicos nas escolas. Entretanto, ele apresenta alguns limites:

os Conselhos são compostos por indicação dos diretores; as propostas não

são construídas coletivamente não se tornando orientadores das ações

escolares. Acabaram se tornando documentos de “gaveta” para serem

apresentados aos órgãos oficiais.

Em 1995, com o governo Jaime Lerner, é implantada a gestão

compartilhada cujas palavras de ordem são eficiência, modernização e controle

de qualidade. Para isso muitos encontros foram realizados em Faxinal do Céu

com a finalidade de formar diretores e membros da APMF a fim de incentivá-los

Page 7: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

a estabelecer parcerias com Igrejas, entidades não governamentais e

sociedade civil na administração da escola. Entre 1995 a 1998 surge o Plano

de Ação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, onde toda escola

paranaense passa a ser um centro de excelência.

Em 2003 surge o CADEP (Coordenação de Apoio à Direção e Equipe

Pedagógica). Buscando novos modelos de gestão escolar o CADEP

desencadeou as discussões sobre a participação da comunidade escolar nas

decisões da escola e sobre a construção de seu projeto pedagógico. Para isso

realizou atividades como a Semana Pedagógica, cursos para elaboração das

Diretrizes Curriculares Estaduais, reuniões pedagógicas, grupos de estudos

aos sábados, jornadas pedagógicas e discussões nas escolas na hora-

atividade do professor. Atualmente o CADEP é denominado CGE

(Coordenação de Gestão Escolar) (CARVALHO, 2005).

Diante do exposto percebe-se a importância da atuação dos membros

do Conselho Escolar nos encaminhamentos políticos do Paraná. No caminho

da conquista de sua legitimidade esse órgão não deve estar à margem do

processo educacional. Ele deve ser visto por diretores, coordenadores

pedagógicos, professores, pais e alunos como um processo que depende do

envolvimento de todos os integrantes da comunidade escolar.

Já em relação aos seus aspectos legais a gestão democrática é

traduzida como o processo de democratização da sociedade que impulsionou o

sistema educacional no Brasil. Com isso, várias mudanças ocorreram na área

da gestão escolar. Esse processo iniciou com a Constituição de 1988 que já

garantia como um dos princípios educacionais a “gestão democrática do ensino

público” (art. 206, VI, BRASIL, 1988).

No ano de 1996, com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – Lei nº 9394, o quadro institucional para a gestão da escola foi reafirmado na forma democrática acrescida de denominadores como a participação dos professores e da comunidade e a autonomia pedagógica e administrativa as unidades de ensino (BRAZ, 2010, p. 18).

O tema sobre gestão democrática é atualmente, um dos mais discutidos

entre os educadores, pois representa um importante desafio na

operacionalização das políticas de educação, e no cotidiano da escola. O

detalhamento da gestão democrática é estabelecido em lei, através de

Page 8: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

dispositivo que define os limites à expressão deste “valor público”,

determinando que:

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (LDB/1996, Art.14).

A LDB de 1996, portanto, remete a regulamentação da gestão

democrática do “ensino público na educação básica” aos sistemas de ensino,

oferecendo ampla autonomia às unidades federadas para definirem, em

sintonia com suas especificidades, formas de operacionalização de tal

processo, o qual deve considerar o envolvimento dos profissionais de

educação e as comunidades escolar e local.

Em ambos os casos, a participação refere-se à esfera da escola: a

elaboração de seu projeto pedagógico e a atuação em conselhos escolares ou

equivalentes. Na perspectiva da LDB/96, portanto, a gestão democrática

circunscreve a alguns aspectos da vida escolar, tal como se viu nos

dispositivos referidos e comentados (VIEIRA, 2007).

A LDB/96, no Art. 12, ainda trata de uma importante dimensão da gestão

escolar, que é a relação com a comunidade. A partir dessa parceria, criam-se

processos de integração, informando os pais sobre a frequência e o rendimento

dos alunos, bem como sobre a execução da prática pedagógica. Outro aspecto

a ser observado pela escola é a sua autonomia. A autonomia de uma escola

não é algo espontâneo, mas construído a partir de sua identidade e história

(VIEIRA, 2007).

A sociedade atual espera ter uma escola de qualidade. Nesse processo

a gestão é imprescindível. Ela busca desenvolver metodologias que a auxiliem

trazendo para sua estrutura a participação da comunidade, estabelecendo

parcerias que realizam ações para melhorar a própria estrutura da unidade

escolar. “Essa abertura está amparada na gestão escolar participativa, um

componente que visa democratizar o acesso ao ensino público, não se

reduzindo apenas à sala de aula, mas a própria estrutura da escola” (BRAZ,

2010, p. 18).

Page 9: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

Assim, cria-se a mentalidade de que a educação é responsabilidade de

todos. O gestor colabora na tomada de decisões com condições objetivas, ele

cria um ambiente justo e firme nas situações do cotidiano escolar, dividindo

suas responsabilidades.

De acordo com Braz (2010) pesquisas educacionais têm mostrado a

importância da ação do gestor para garantia da efetivação da parte legal e

democratização do ensino. Para que a administração tenha qualidade é

necessário estabelecer metas e melhorias, que deverão ser realizadas em um

período de tempo determinado. Outro fator essencial é melhorar a capacidade

de mobilização das pessoas em torno da educação, sejam elas professores,

pais, alunos ou comunidade. Metas também devem ser estabelecidas para

essa finalidade, como por exemplo, aumentar a participação dos pais nas

reuniões da escola.

[...] a escola tem de ser encarada como uma comunidade educativa, permitindo mobilizar o conjunto dos atores sociais e dos grupos profissionais em torno de um projeto comum. Para tal, é preciso realizar um esforço de demarcação dos espaços próprios de ação, pois só na clarificação destes limites se pode alicerçar uma colaboração efetiva (NOVOA, 1995, p. 35).

Percebe-se assim que, na atualidade o gestor não se preocupa somente

com as questões democráticas, antes de tudo, ele é um educador que faz fluir

todas as ações administrativas ou pedagógicas. É preciso cuidar das

necessidades da comunidade escolar, trabalhar em equipe, compartilhar,

descentralizar poder.

[...] talvez este seja o ponto central da nova gestão escolar: valorizar e investir no capital humano, conferir autonomia e responsabilidade aos profissionais envolvidos e conferir autoridade ao líder que atua como organizador, articulador e mobilizador dos diversos processos que se desenvolvem na escola (LARANJA, 2004, p. 242).

O gestor deve reconhecer que é através da sua atuação que se constrói

novas relações e perspectivas dentro da escola, refletindo no espaço escolar e

na sua comunidade. Diante disso, podemos pensar na educação como a base

em que se apoia o grau de desenvolvimento social de uma nação. Fica

Page 10: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

evidente que a gestão democrática é extremamente necessária para que a

escola tenha condições de formar o indivíduo para o trabalho e para a vida.

Segundo Paula (2011) uma das instâncias de vivência democrática na escola e

na comunidade onde esta se insere é o Conselho Escolar.

Segundo Veiga (2005), o Conselho Escolar é um local de debates e

discussões, onde pais, professores, funcionários e alunos podem demonstrar

seus interesses e reivindicações, permitindo uma comunicação vertical e

horizontal entre seus participantes.

O artigo 14 da LDB/96 (Lei nº 9.394/96) estabelece, para que ocorra

gestão democrática, é necessário o funcionamento do Conselho Escolar com a

participação da comunidade escolar. O Plano Nacional de Educação – PNE,

aprovado pela lei nº 10.172/2001 também estabelece como meta a criação

desse Conselho nas escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e

Médio (BRASIL, 1996; 2001).

De acordo com esses documentos o Conselho Escolar é um órgão

colegiado composto por representantes da comunidade escolar, sendo pais,

diretor, professor, funcionários administrativos e estudantes, cuja função é a

deliberação sobre questões pedagógicas, administrativas e financeiras da

escola. De acordo com a SEED (Secretaria de Educação) no Paraná os

representantes são escolhidos por seus pares, mediante processo eletivo. As

eleições são realizadas em reuniões destinadas a este fim para um mandato e

dois (2) anos, admitindo uma eleição consecutiva. Sendo assim, deve compor o

Conselho Escolar segundo CADERNO TEMÁTICO DA SEED – PARANÁ,

2007:

I. Diretor (a);

II. Representante da equipe pedagógica;

III. Representante da equipe docente (professores);

IV. Representante da equipe técnico-administrativa;

V. Representante da equipe auxiliar operacional;

VI. Representante dos discentes (alunos);

VII. Representante dos pais ou responsáveis pelo aluno;

VIII. Representante do Grêmio Estudantil;

IX. Representante dos movimentos sociais organizados da comunidade (APMF,

Associação de Moradores, Igrejas, Unidades de Saúde etc.)

Compete também ao Conselho Escolar a análise das ações a serem

desenvolvidas e os meios utilizados para o cumprimento das finalidades da

escola. Ele representa a comunidade escolar e atua em conjunto, definindo os

caminhos sobre assuntos de sua responsabilidade. Suas reuniões servem para

Page 11: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

discussão e encaminhamentos das questões educacionais, possibilitando a

participação da comunidade e promovendo a gestão democrática (BRASIL,

1996; 2001).

Conforme a SEED (BRASIL, 1998) são atribuições do Conselho Escolar:

• Elaborar seu regimento interno;

• Elaborar, aprovar, acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico;

• Criar e garantir mecanismos de participação efetiva e democrática da

comunidade escolar;

• Definir e aprovar o plano de aplicação financeiros da escola;

• Participar de outras instâncias democráticas, como conselhos regional,

municipal, e estadual da estrutura educacional, para definir, acompanhar

e fiscalizar políticas educacional.

A atuação das instancias normativas na escola abre espaço para

participação efetiva dos cidadãos na educação, preconizadas pela LDB/96

como estratégia de gestão democrática. As decisões tomadas pelo Conselho

Escolar devem respeitar os princípios e as diretrizes da Política Educacional,

bem como a proposta pedagógica da escola e a legislação vigente. Ele poderá

elaborar seu próprio estatuto com a finalidade de dinamizar sua atuação e

facilitar sua organização.

A SEED – Secretaria de Educação do Paraná organizou um Caderno

Pedagógico que explica o funcionamento do Conselho Escolar. Segundo o

documento o Conselho Escolar é presidido pelo diretor da escola e pode eleger

o vice-presidente dentre os membros que o compõe, sendo maior de 18 anos.

Com tais características, o Conselho Escolar se constitui como órgão

máximo de discussão no nível escolar, tendo a função consultiva, deliberativa e

fiscalizadora. Para isso, é necessário nortear seus limites e possibilidades de

funcionamento. Através do presente estudo, foi possível qualificar a

participação e autonomia do Conselho Escolar do colégio analisado,

verificando se todos os participantes respeitam a diversidade de opiniões e

valores éticos.

3 Implementação Pedagógica

A implementação de um estudo que exige mudanças nas políticas

educacionais exigem uma atualização dos conhecimentos a fim de reestruturar

e conduzir um trabalho. É importante que a tomada de decisões seja conduzida

Page 12: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

de forma que as necessidades diagnosticadas sejam melhoradas após

discussões coletivas, buscando sempre cumprir a finalidade da educação.

Sendo assim, a Implementação Pedagógica, sempre de forma coletiva,

articulou teoria e prática. Ação esta proposta do Projeto de Intervenção

Pedagógica na escola. Essas mudanças foram conquistadas por meio de

estudos realizados com os participantes do Conselho Escolar do Colégio José

Faria Saldanho para melhor atuação em suas funções.

A organização do Grupo de Estudos se deu por conta da professora

PDE, cujos encontros foram realizados aos sábados com uma carga horária de

32 horas. Estudou-se sobre as atribuições do Conselho Escolar segundo a

LDB/96 e os Subsídios para elaboração do estatuto do Conselho Escolar da

SEED/PR do ano de 2009 (PARANÁ, 2009). Através de leituras, discussões e

reflexões os participantes foram entendendo que o processo de gestão

democrática se consolida nos Conselhos Escolares.

Os estudos realizados serviram como propostas de implementar

mudanças nesta instância colegiada, tão importante para o Colégio José Faria

Saldanho.

Para a coleta de dados, foram elaborados roteiros de entrevistas

direcionados aos membros do Conselho Escolar e a comunidade escolar em

geral. A elaboração desses roteiros teve como ponto de referência alguns

elementos: a percepção dos sujeitos no processo de criação/implantação dos

Conselhos Escolares; percepções sobre a constituição e a dinâmica de

funcionamento desse conselho; a percepção quanto à gestão financeira da

unidade executora e a concepção acerca do processo de construção da gestão

democrática.

A princípio, percebeu-se que o Conselho Escolar do Colégio Estadual

Engenheiro José Faria Saldanha foi organizado por meio de uma reunião entre

os funcionários e professores para levantar quais as pessoas gostariam de

participar como membro. Levantado os candidatos elegeu-se um membro da

equipe pedagógica, um professor, um funcionário e um pai. Foram

selecionados, ainda, como membros, os profissionais com padrão na escola

para assim, facilitar a realização de reuniões quando necessário.

Os membros comparecem quando convocados, entretanto não

conheciam a função do Conselho Escolar cumprido apenas uma burocracia.

Há, ainda, uma certa resistência em acionar o Conselho Escolar para auxiliar

nas funções da escola, pois muitos desconhecem as funções desse órgão e

sua importância. Entretanto, quando se tem uma Gestão Democrática tal órgão

indica claramente como é sua atuação na escola, caso contrário, o trabalho

Page 13: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

corre o risco de ficar desarticulado e sem sequência lógica. O Conselho existe

para avaliar tudo o que acontece na escola. Mas para isso, todos devem ter

disposição para saber o que há de errado, o que pode ser melhorado, e propor

ideias e ações para isso, através de discussões, experimentos, sugestões.

Todavia, inadequadamente, o quadro atual de funcionamento das escolas

mostrou que a atuação do Conselho Escolar se dá num nível de subordinação,

onde a maioria das pessoas que o integram não manifestam suas opiniões

diante dos gestores, provavelmente por constrangimento. Os conselheiros

limitam-se a cumprir uma burocracia assinando documentos.

Com uma boa atuação dos Conselhos Escolares é possível construir

uma identidade da escola, gerando uma funcionalidade enquanto instituição

social. Sendo assim, é importante atentar-se mais a finalidade e importância

deste órgão. Para fortalecer os Conselhos Escolares é necessário buscar a

efetivação de uma gestão financeira participativa e transparente, contribuindo

para autonomia das unidades escolares e fortalecer o papel da escola pública

(DOURADO,2006).

Há fatores que facilitam ou dificultam a atuação do Conselho Escolar do

Colégio analisado. Fica mais fácil participar das reuniões, pois os Conselheiros

já fazem parte do quadro da escola. Por conseguinte, em função de outras

atividades que estes realizam, nem sempre podem participar das reuniões.

Com isso, a direção acaba por coletar a assinatura destes membros ausentes

em um segundo momento. Diante disso, observou-se que o Conselho não

conta com a participação de todos os membros em todas as reuniões.

Além de deliberar sobre as questões financeiras, o Conselho Escolar

também atua nas questões pedagógicas e administrativas do colégio. O gestor,

por sua vez, proporciona momentos de debates e coleta opiniões.

As reuniões são marcadas pelo diretor que convoca os Conselheiros.

Nestas, o gestor coloca a situação a ser resolvida e abre para debates. Após

um consenso de opiniões lavra-se em ata e deliberam sobre o assunto.

Enfim, segundo a coleta de informações por meio dos questionários

aplicados, o Conselho Escolar do Colégio Engenheiro José Faria Saldanho

pouco contribui para a construção de uma gestão democrática, pois muitos

membros não participam das reuniões e se limitam apenas ao cumprimento de

uma burocracia. Percebeu-se que ainda há muito a ser revisto para que a

atuação dessa instância colegiada contribua para uma verdadeira gestão

democrática.

Uma sugestão para superar os obstáculos que impedem a atuação do

Conselho Escolar nas escolas públicas do Paraná é ofertar cursos para

Page 14: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

capacitar seus membros, indicando possibilidades de consolidação e

fortalecimento da comunidade e também a garantia de espaços de discussão e

tomadas de decisões no âmbito escolar.

Após a implementação pedagógica, que abordou estudos com os

conselheiros do Colégio Engenheiro José Faria Saldanho sobre gestão

democrática, democracia nas escolas e organização do coletivo com

representatividade por meio das instâncias colegiadas, percebeu-se que os

cursistas puderam entender que a participação da comunidade organizada nos

segmentos de gestão, é consolidada através da atuação do Conselho Escolar e

que, este é o órgão máximo da escola. É por meio dele que passam

discussões importantes como a construção do Projeto Político Pedagógico da

escola, do Plano de Ação e Regimento Escolar; ações estas que tratam da

identidade da escola e que direciona os rumos que a escola vai tomar.

Diante disso, reflexões foram realizadas sobre a importância da garantia

de representatividade das instancias colegiadas. Isso permite que a escola se

torne pública, democrática e participativa, legitimando-a como espaço de

conhecimento.

5 Considerações Finais

A legitimidade da educação vem sendo conquistada após muitas lutas

no cenário da educação. Ela deve ser vista pela comunidade escolar como um

processo que, para ter sucesso, depende do envolvimento de todos, incluindo o

funcionamento das instâncias escolares, como é o caso do Conselho Escolar.

Nessa instância colegiada é que ocorrem as reuniões para demonstrar

os interesses e reivindicações da comunidade, cuja LDB/96 estabelece como

base a gestão democrática. De acordo com essa Lei devem compor o

Conselho Escolar: pais, funcionários, alunos e professores resididos pelo

diretor(a) com a função de deliberar questões pedagógicas, administrativas e

financeiras da escola.

Os representantes do Conselho Escolar são escolhidos por eleição e

pode ser reeleito apenas uma vez. Durante o período em que estão atuando os

conselheiros podem criar um estatuto próprio, dentro das normas da legislação

vigente.

Page 15: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

As decisões tomadas também devem respeitar os princípios e diretrizes

da Política Nacional. Ele é o órgão máximo da escola e tem autonomia para

exercer sua função.

Entretanto, percebe-se que no Brasil a atuação do Conselho Escolar

ainda é muito tímida, onde seus membros participam das reuniões mas, como

o cumprimento de uma mera burocracia. Isso não tem sido diferente no Colégio

Engenheiro José Faria Saldanho, no qual os conselheiros tem pouca

representividade nas tomadas de decisões, segundo as pesquisas realizadas

com seus conselheiros. Com isso, percebeu-se que o conselho não contribui

de forma significativa na construção da gestão democrática.

Após a realização dos cursos direcionados a essa população houve um

fortalecimento nessa instância colegiada, pois seus membros puderam

conhecer as esferas legais da educação, se aprofundando nas políticas

públicas da educação, nas questões pedagógicas e administrativas, para,

desta forma, participar mais conscientemente nas tomadas de decisões.

4 Referências Bibliográficas

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 05 DE OUTUBRO 1988 - DOU DE 05/10/1988. Brasília, 1988.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação a Distância. Salto para o Futuro: Construindo uma escola cidadã, projeto político-pedagógico. Brasília: SEED, 1998.

BRASIL. Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado. Câmara de Reforma do Estado. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília, DF: Presidência da República: Câmara de Reforma do Estado, 1995.

BRAZ, Fernando Diniz Gonçalves. Um bom gestor é sinônimo de qualidade de ensino. In: Rev. Maringá Ensina. Ano 5, nº 16, ago/set/out, 2010. PP. 18-19.

CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Autonomia da Gestão Escolar: Democratização e Privatização, Duas Faces de Uma Mesma Moeda. Piracicaba, Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba, 2005.

Page 16: CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu ... · A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento,

DOURADO, Luiz Fernando. Conselho Escolar e o financiamento da educação no Brasil. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2006.

LARANJA, M. Discutindo a gestão de ensino básico. In: COLOMBO, S. S. Gestão educacional: uma nova visão. Porto Alegre: Artmed, 2004.

NOVOA, A. Para uma análise das instituições escolares. Lisboa: D Quixote, 1995.

PAULA, Ricardo Normando Ferreira. O que são e qual a importância da formação de Conselhos Escolares nas escolas de Ensino fundamental e Médio. Disponível em: HTTP://www.infoescola.com/educacao/conselho-escolar. Acesso em: 23 de abril de 2011.

PARANÁ, Plano de Ação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. 1995.

TEIXEIRA, Lúcia H. G. (coord.). O diretor da unidade escolar frente a tendências presentes na gestão da escola pública de Minas Gerais. Juiz de Fora; UFJF/SEE-MG, 2003.

VEIGA. Z. P. A. As instâncias colegiadas da escola. In VEIGA I. P. A. Escola: espaço do projeto político-pedagógico. Campinas, SP:Papirus, 2005.

VIEIRA; Sofia Lerche. Política (s) e Gestão da Educação Básica: revisando conceitos simples. RBPAE – V. 23, n.1, p. 53-69, jan./abr.2007.