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CONSELHO ESCOLAR: limites e possibilidades no seu funcionamento
Autora: Sirlei Gomes dos Santos Zago1
Orientadora: Gislaine A. Valadares de Godoy2
Resumo
A partir da década de 1990 a educação básica brasileira passou por algumas modificações em sua organização e funcionamento, assumiu como princípio de gerenciamento a Gestão Democrática trazendo para dentro das unidades escolares alterações na conduta organizacional de suas atividades administrativas e pedagógicas. . A estrutura organizacional passou a ter entre os profissionais da educação, membros da comunidade como pais, alunos e moradores do bairro onde a escola se encontra situada. Assim, elaborou-se um estudo com o objetivo de realizar uma análise acerca do Conselho Escolar do Colégio José Faria Saldanha de Munhoz de Melo – Paraná, a fim de identificar seu papel, finalidade e funcionamento dentro da unidade escolar; procurando identificar de que forma essa instância colegiada interfere, de maneira eficaz, na realização das atividades da escola. Seus pressupostos teórico-metodológicos foram baseados na pesquisa bibliográfica e entrevistas o colégio de realização da pesquisa. Com a fundamentação teórica percebeu-se que na escola com modelo de gestão democrática o diretor passa a contar com quatro importantes instâncias colegiadas: Associação de Pais, Mestres e Funcionários – APMF, o Conselho Escolar, o Conselho de Classe e o Grêmio Estudantil. Juntos, comunidade interna e instâncias colegiadas buscam maneiras para promover o bom funcionamento da escola e garantir assim, o aprendizado significativo dos alunos. Dentre essas instâncias, a que tem maior representatividade dentro da escola é o Conselho Escolar que, juntamente com a equipe diretiva delibera, avalia e fiscaliza as atividades desenvolvidas pela escola.
Palavras-chave: Educação, Conselho Escolar, Gestão Democrática.
1 Introdução
1 Pós Graduada em Educação Especial e Educação Escolar – Séries Iniciais. Graduada em Pedagogia. Professora do Colégio Estadual Engenheiro José Faria Saldanha, Munhoz de Mello – Pr.
2 Professora Mestre em Políticas Públicas do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá – UEM – Pr.
Durante a década de 1980, o país vivenciou um período de
efervescência democrática com o fim da ditadura militar e a abertura política. A
educação, por sua vez, passou por um período de mudanças e começaram as
lutas pela garantia de direitos constitucionais voltados para a participação da
sociedade na gestão pública e, uma das pautas de luta dos movimentos sociais
da educação foi a garantia da gestão democrática do ensino. A luta pela gestão
democrática representava a defesa do direito da comunidade escolar de
participar na definição das políticas públicas de educação (CARVALHO, 2005).
A gestão democrática é um processo que deve ser construído
coletivamente no dia-a-dia da escola. Ela é garantida pela legislação vigente e
pelas práticas sociais e caracteriza-se pelo pela descentralização de recursos,
pela eleição de diretores, participação direta de todos os segmentos sociais,
planejamento participativo, avaliação participativa e pelo Conselho Escolar,
considerado o órgão máximo nas tomadas de decisões da escola. Sendo
assim, buscou-se por meio desta pesquisa, compreender as implicações
decorrentes da constituição/operacionalização dos Conselhos Escolares para a
organização de uma escola, analisando os fatores que facilitam ou dificultam o
processo de construção da gestão democrática no COLÉGIO ESTADUAL
ENGENHEIRO JOSÉ FARIA SALDANHA - ENSINO DE 1º E 2º GRAUS.
Assim, foi analisada a estrutura organizacional e a gestão da escola
pesquisada, bem como a maneira como vem se configurando o processo de
democratização das relações sociais em seu interior. Para compreender as
implicações decorrentes dessa situação, foi preciso levar em consideração as
condições que o Conselho Escolar do colégio estudado atua, qual a sua
participação dentro e fora da mesma compreendendo os condicionantes que
facilitam ou dificultam essa participação.
Na tentativa de compreender tais implicações no processo de
construção da gestão democrática da escola pesquisada foi analisado se o
Conselho tem contribuído para uma ampla participação de todos os membros;
se existe participação efetiva de todos os envolvidos nas reuniões realizadas;
se os conselheiros deliberam sobre questões relacionadas à dimensão
pedagógica; como são conduzidas as reuniões e ainda, se todos os
conselheiros participam nas tomadas de decisão. Foi verificado também, se
existe uma ligação entre os conselheiros e os outros segmentos da escola.
Com isso, procuramos notar se a criação do Conselho Escolar tem
favorecido o processo de construção da gestão democrática, ou se está sendo
meramente utilizado como mecanismo voltado para a melhora da eficiência e
eficácia da gestão financeira.
Diante disso, desenvolveu-se uma pesquisa com o objetivo de realizar
um estudo acerca do Conselho Escolar a fim de identificar seu papel, finalidade
e funcionamento dentro da unidade escolar; procurando identificar de que
forma essa instância colegiada interfere, eficazmente, na realização das
atividades do Colégio Estadual Engenheiro José Faria Saldanha na cidade de
Munhoz de Melo – Paraná.
O pressuposto teórico metodológico da pesquisa foi baseado na
pesquisa bibliográfica, levantando informações na literatura pertinente sobre
esta temática. Na sequência foi realizada uma coleta de informações e dados,
por meio de questionário, a fim de saber qual é o e o significado que as
pessoas que estão na escola dão aos assuntos no qual se envolvem. Das
escolas existentes na cidade foi selecionada uma, por ser a escola objeto de
intervenção da pesquisa. Os sujeitos da pesquisa são pessoas, direta ou
indiretamente, envolvidas com o Conselho Escolar e que representam os
diferentes segmentos, ou seja, professores, servidores e pais de alunos que
acompanharam o processo de criação desse Conselho ou que atualmente o
compõe. A investigação exigiu, também, a análise da documentação da escola
com a finalidade de identificar informações necessárias para a compreensão do
tema abordado.
A relevância desta pesquisa está em contribuir com as escolas
paranaenses para que estas se utilizem de seus Conselhos Escolares como
instrumento de participação política, administrativa e pedagógica e que garanta
a participação da comunidade em uma escola democrática, no qual todos os
envolvidos participem das decisões para construção de uma escola voltadas
aos interesses da sociedade. Enfim, a escola que tem um Conselho Escolar
atuante quebra a hegemonia neoliberal de administração e fortalece a
participação política e coletiva, dando um novo sentido a gestão escolar.
2 Fundamentação Teórica
Propostas e objetivos para educação vem sendo apresentados e
modificados ao longo de sua existência. A educação cumpriu diversos papéis,
serviu a algumas ideologias e obteve ganhos e perdas ao longo de seu
processo histórico. Para compreender como se deu o processo democrático no
Brasil, torna-se necessário entender a educação desde a ditadura militar, época
no qual se inicia as discussões sobre a participação popular na educação
brasileira.
De acordo com Teixeira (2003), entre 1937 e 1945 o ensino no Brasil
sofre as influências da ditadura militar de Getúlio Vargas. A escola, neste
contexto, tem a pretensão de preparar a mão-de-obra para as novas profissões
decorrentes do crescimento mundial da industrialização. Por um longo período
a escola sofre as influências da ditadura militar. De 1930 até 1970, com uma
tendência conservadora, a administração escolar é rígida, centralizada,
burocrática e formal, traduzidos em um modelo tradicional de organização
escolar.
A partir da década de 70, ainda com o país vivendo em um contexto
político-social influenciado pela ditadura militar, a Lei 5692/71 expressa a
tendência administrativa de organização escolar baseada no autoritarismo.
Instala-se a dimensão técnica de administração escolar. Por conseguinte, em
pleno regime militar os movimentos populares clamam por mais vagas nas
escolas públicas e pela eleição de diretores. A luta era por transformações
sociais, salariais e condições de trabalho. A população se manifestava pela
instauração da democracia (TEIXEIRA, 2003).
As primeiras eleições para diretores acontece em 1976. Após 1978
professores, alunos e sociedade civil organizadas exigem novas práticas
administrativas por meio da descentralização, autonomia e participação nas
decisões da escola. Entretanto, a eleição de diretores não garantiu a gestão
democrática. Pelo contrário, trouxeram novos conflitos, pois o processo de
eleição não era transparente e o diretor não garantia a participação dos demais
segmentos da escola nas tomadas de decisões (TEIXEIRA, 2003).
Segundo Libâneo (2007) a década de 80 marca o fim do regime militar o
Brasil, o mercado de trabalho requer um novo trabalhador, com habilidades de
comunicação, visão de conjunto, flexibilidade para acompanhar o avanço
científico-tecnológico da empresa; a administração passa a ser pensada em
termos de gestão democrática. Nesse sentido, a educação ganha centralidade
nas políticas educacionais, sobretudo nos países subdesenvolvidos.
Com a Conferência Mundial de Educação para Todos realizada em 1990
em Jomtien – Tailândia, organizada por mecanismos internacionais, são
apresentadas ações de gestão, financiamento, currículo, avaliação e formação
de professores, com o objetivo de atender as necessidades básicas de
aprendizagem da América Latina. No Brasil, é eleito o presidente Fernando
Collor de Melo, destituído em 1992 e assumindo Itamar Franco. Itamar Franco
constrói, baseado na Conferência Mundial de Educação para Todos, o Plano
Decenal de Educação para Todos, cujo modelo de gestão encaminhado pelas
políticas públicas tem características do modelo gerencial. Esse modelo de
gestão pública foi introduzido por meio do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado em 1995 na administração do então presidente Fernando
Henrique Cardoso (LIBÂNEO, 2007).
O Estado deixa de ser o executor dos serviços sociais, mas mantém o
papel de planejador e regulador, com o objetivo de reduzir os gastos públicos e
aumentar a produtividade dos serviços prestados. Nessa época, de acordo com
Carvalho (2005), em parceria com a rede globo, entra o amigo da escola. Com
um modelo de administração gerencial se destaca a transferência de
responsabilidades administrativa, financeira e pedagógica para as instituições
escolares.
O autor ainda coloca que os membros da comunidade passam a atuar
diretamente nos Conselhos Escolares e APMF’s. A ampliação da participação
está relacionada ao interesse de impulsionar a comunidade a se sentir
responsável pelos resultados e encontrar soluções para os problemas
escolares. A escola passa a ser uma empresa prestadora de serviços
educacionais e a gestão democrática satisfaz o cliente, consumidor dos
serviços escolares. É um modelo de gestão associado às novas formas de
controle do Estado: fiscaliza a aplicação dos recursos e cumprimento das
metas.
Pode-se perceber que esse processo histórico modifica o sentido de
gestão democrática. Gerada em um movimento histórico de lutas civis
organizadas que correspondia a democratização da sociedade passa para uma
prática centralizadora e autoritária. Em seu lugar surge a política de Estado-
mínimo.
No Paraná, em 1991 com o governo de Roberto Requião é lançado o
programa “Construindo a Escola Cidadã” que, através da gestão democrática,
incentiva a participação dos Conselhos Escolares e a elaboração e execução
dos projetos pedagógicos nas escolas. Entretanto, ele apresenta alguns limites:
os Conselhos são compostos por indicação dos diretores; as propostas não
são construídas coletivamente não se tornando orientadores das ações
escolares. Acabaram se tornando documentos de “gaveta” para serem
apresentados aos órgãos oficiais.
Em 1995, com o governo Jaime Lerner, é implantada a gestão
compartilhada cujas palavras de ordem são eficiência, modernização e controle
de qualidade. Para isso muitos encontros foram realizados em Faxinal do Céu
com a finalidade de formar diretores e membros da APMF a fim de incentivá-los
a estabelecer parcerias com Igrejas, entidades não governamentais e
sociedade civil na administração da escola. Entre 1995 a 1998 surge o Plano
de Ação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, onde toda escola
paranaense passa a ser um centro de excelência.
Em 2003 surge o CADEP (Coordenação de Apoio à Direção e Equipe
Pedagógica). Buscando novos modelos de gestão escolar o CADEP
desencadeou as discussões sobre a participação da comunidade escolar nas
decisões da escola e sobre a construção de seu projeto pedagógico. Para isso
realizou atividades como a Semana Pedagógica, cursos para elaboração das
Diretrizes Curriculares Estaduais, reuniões pedagógicas, grupos de estudos
aos sábados, jornadas pedagógicas e discussões nas escolas na hora-
atividade do professor. Atualmente o CADEP é denominado CGE
(Coordenação de Gestão Escolar) (CARVALHO, 2005).
Diante do exposto percebe-se a importância da atuação dos membros
do Conselho Escolar nos encaminhamentos políticos do Paraná. No caminho
da conquista de sua legitimidade esse órgão não deve estar à margem do
processo educacional. Ele deve ser visto por diretores, coordenadores
pedagógicos, professores, pais e alunos como um processo que depende do
envolvimento de todos os integrantes da comunidade escolar.
Já em relação aos seus aspectos legais a gestão democrática é
traduzida como o processo de democratização da sociedade que impulsionou o
sistema educacional no Brasil. Com isso, várias mudanças ocorreram na área
da gestão escolar. Esse processo iniciou com a Constituição de 1988 que já
garantia como um dos princípios educacionais a “gestão democrática do ensino
público” (art. 206, VI, BRASIL, 1988).
No ano de 1996, com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – Lei nº 9394, o quadro institucional para a gestão da escola foi reafirmado na forma democrática acrescida de denominadores como a participação dos professores e da comunidade e a autonomia pedagógica e administrativa as unidades de ensino (BRAZ, 2010, p. 18).
O tema sobre gestão democrática é atualmente, um dos mais discutidos
entre os educadores, pois representa um importante desafio na
operacionalização das políticas de educação, e no cotidiano da escola. O
detalhamento da gestão democrática é estabelecido em lei, através de
dispositivo que define os limites à expressão deste “valor público”,
determinando que:
Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (LDB/1996, Art.14).
A LDB de 1996, portanto, remete a regulamentação da gestão
democrática do “ensino público na educação básica” aos sistemas de ensino,
oferecendo ampla autonomia às unidades federadas para definirem, em
sintonia com suas especificidades, formas de operacionalização de tal
processo, o qual deve considerar o envolvimento dos profissionais de
educação e as comunidades escolar e local.
Em ambos os casos, a participação refere-se à esfera da escola: a
elaboração de seu projeto pedagógico e a atuação em conselhos escolares ou
equivalentes. Na perspectiva da LDB/96, portanto, a gestão democrática
circunscreve a alguns aspectos da vida escolar, tal como se viu nos
dispositivos referidos e comentados (VIEIRA, 2007).
A LDB/96, no Art. 12, ainda trata de uma importante dimensão da gestão
escolar, que é a relação com a comunidade. A partir dessa parceria, criam-se
processos de integração, informando os pais sobre a frequência e o rendimento
dos alunos, bem como sobre a execução da prática pedagógica. Outro aspecto
a ser observado pela escola é a sua autonomia. A autonomia de uma escola
não é algo espontâneo, mas construído a partir de sua identidade e história
(VIEIRA, 2007).
A sociedade atual espera ter uma escola de qualidade. Nesse processo
a gestão é imprescindível. Ela busca desenvolver metodologias que a auxiliem
trazendo para sua estrutura a participação da comunidade, estabelecendo
parcerias que realizam ações para melhorar a própria estrutura da unidade
escolar. “Essa abertura está amparada na gestão escolar participativa, um
componente que visa democratizar o acesso ao ensino público, não se
reduzindo apenas à sala de aula, mas a própria estrutura da escola” (BRAZ,
2010, p. 18).
Assim, cria-se a mentalidade de que a educação é responsabilidade de
todos. O gestor colabora na tomada de decisões com condições objetivas, ele
cria um ambiente justo e firme nas situações do cotidiano escolar, dividindo
suas responsabilidades.
De acordo com Braz (2010) pesquisas educacionais têm mostrado a
importância da ação do gestor para garantia da efetivação da parte legal e
democratização do ensino. Para que a administração tenha qualidade é
necessário estabelecer metas e melhorias, que deverão ser realizadas em um
período de tempo determinado. Outro fator essencial é melhorar a capacidade
de mobilização das pessoas em torno da educação, sejam elas professores,
pais, alunos ou comunidade. Metas também devem ser estabelecidas para
essa finalidade, como por exemplo, aumentar a participação dos pais nas
reuniões da escola.
[...] a escola tem de ser encarada como uma comunidade educativa, permitindo mobilizar o conjunto dos atores sociais e dos grupos profissionais em torno de um projeto comum. Para tal, é preciso realizar um esforço de demarcação dos espaços próprios de ação, pois só na clarificação destes limites se pode alicerçar uma colaboração efetiva (NOVOA, 1995, p. 35).
Percebe-se assim que, na atualidade o gestor não se preocupa somente
com as questões democráticas, antes de tudo, ele é um educador que faz fluir
todas as ações administrativas ou pedagógicas. É preciso cuidar das
necessidades da comunidade escolar, trabalhar em equipe, compartilhar,
descentralizar poder.
[...] talvez este seja o ponto central da nova gestão escolar: valorizar e investir no capital humano, conferir autonomia e responsabilidade aos profissionais envolvidos e conferir autoridade ao líder que atua como organizador, articulador e mobilizador dos diversos processos que se desenvolvem na escola (LARANJA, 2004, p. 242).
O gestor deve reconhecer que é através da sua atuação que se constrói
novas relações e perspectivas dentro da escola, refletindo no espaço escolar e
na sua comunidade. Diante disso, podemos pensar na educação como a base
em que se apoia o grau de desenvolvimento social de uma nação. Fica
evidente que a gestão democrática é extremamente necessária para que a
escola tenha condições de formar o indivíduo para o trabalho e para a vida.
Segundo Paula (2011) uma das instâncias de vivência democrática na escola e
na comunidade onde esta se insere é o Conselho Escolar.
Segundo Veiga (2005), o Conselho Escolar é um local de debates e
discussões, onde pais, professores, funcionários e alunos podem demonstrar
seus interesses e reivindicações, permitindo uma comunicação vertical e
horizontal entre seus participantes.
O artigo 14 da LDB/96 (Lei nº 9.394/96) estabelece, para que ocorra
gestão democrática, é necessário o funcionamento do Conselho Escolar com a
participação da comunidade escolar. O Plano Nacional de Educação – PNE,
aprovado pela lei nº 10.172/2001 também estabelece como meta a criação
desse Conselho nas escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio (BRASIL, 1996; 2001).
De acordo com esses documentos o Conselho Escolar é um órgão
colegiado composto por representantes da comunidade escolar, sendo pais,
diretor, professor, funcionários administrativos e estudantes, cuja função é a
deliberação sobre questões pedagógicas, administrativas e financeiras da
escola. De acordo com a SEED (Secretaria de Educação) no Paraná os
representantes são escolhidos por seus pares, mediante processo eletivo. As
eleições são realizadas em reuniões destinadas a este fim para um mandato e
dois (2) anos, admitindo uma eleição consecutiva. Sendo assim, deve compor o
Conselho Escolar segundo CADERNO TEMÁTICO DA SEED – PARANÁ,
2007:
I. Diretor (a);
II. Representante da equipe pedagógica;
III. Representante da equipe docente (professores);
IV. Representante da equipe técnico-administrativa;
V. Representante da equipe auxiliar operacional;
VI. Representante dos discentes (alunos);
VII. Representante dos pais ou responsáveis pelo aluno;
VIII. Representante do Grêmio Estudantil;
IX. Representante dos movimentos sociais organizados da comunidade (APMF,
Associação de Moradores, Igrejas, Unidades de Saúde etc.)
Compete também ao Conselho Escolar a análise das ações a serem
desenvolvidas e os meios utilizados para o cumprimento das finalidades da
escola. Ele representa a comunidade escolar e atua em conjunto, definindo os
caminhos sobre assuntos de sua responsabilidade. Suas reuniões servem para
discussão e encaminhamentos das questões educacionais, possibilitando a
participação da comunidade e promovendo a gestão democrática (BRASIL,
1996; 2001).
Conforme a SEED (BRASIL, 1998) são atribuições do Conselho Escolar:
• Elaborar seu regimento interno;
• Elaborar, aprovar, acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico;
• Criar e garantir mecanismos de participação efetiva e democrática da
comunidade escolar;
• Definir e aprovar o plano de aplicação financeiros da escola;
• Participar de outras instâncias democráticas, como conselhos regional,
municipal, e estadual da estrutura educacional, para definir, acompanhar
e fiscalizar políticas educacional.
A atuação das instancias normativas na escola abre espaço para
participação efetiva dos cidadãos na educação, preconizadas pela LDB/96
como estratégia de gestão democrática. As decisões tomadas pelo Conselho
Escolar devem respeitar os princípios e as diretrizes da Política Educacional,
bem como a proposta pedagógica da escola e a legislação vigente. Ele poderá
elaborar seu próprio estatuto com a finalidade de dinamizar sua atuação e
facilitar sua organização.
A SEED – Secretaria de Educação do Paraná organizou um Caderno
Pedagógico que explica o funcionamento do Conselho Escolar. Segundo o
documento o Conselho Escolar é presidido pelo diretor da escola e pode eleger
o vice-presidente dentre os membros que o compõe, sendo maior de 18 anos.
Com tais características, o Conselho Escolar se constitui como órgão
máximo de discussão no nível escolar, tendo a função consultiva, deliberativa e
fiscalizadora. Para isso, é necessário nortear seus limites e possibilidades de
funcionamento. Através do presente estudo, foi possível qualificar a
participação e autonomia do Conselho Escolar do colégio analisado,
verificando se todos os participantes respeitam a diversidade de opiniões e
valores éticos.
3 Implementação Pedagógica
A implementação de um estudo que exige mudanças nas políticas
educacionais exigem uma atualização dos conhecimentos a fim de reestruturar
e conduzir um trabalho. É importante que a tomada de decisões seja conduzida
de forma que as necessidades diagnosticadas sejam melhoradas após
discussões coletivas, buscando sempre cumprir a finalidade da educação.
Sendo assim, a Implementação Pedagógica, sempre de forma coletiva,
articulou teoria e prática. Ação esta proposta do Projeto de Intervenção
Pedagógica na escola. Essas mudanças foram conquistadas por meio de
estudos realizados com os participantes do Conselho Escolar do Colégio José
Faria Saldanho para melhor atuação em suas funções.
A organização do Grupo de Estudos se deu por conta da professora
PDE, cujos encontros foram realizados aos sábados com uma carga horária de
32 horas. Estudou-se sobre as atribuições do Conselho Escolar segundo a
LDB/96 e os Subsídios para elaboração do estatuto do Conselho Escolar da
SEED/PR do ano de 2009 (PARANÁ, 2009). Através de leituras, discussões e
reflexões os participantes foram entendendo que o processo de gestão
democrática se consolida nos Conselhos Escolares.
Os estudos realizados serviram como propostas de implementar
mudanças nesta instância colegiada, tão importante para o Colégio José Faria
Saldanho.
Para a coleta de dados, foram elaborados roteiros de entrevistas
direcionados aos membros do Conselho Escolar e a comunidade escolar em
geral. A elaboração desses roteiros teve como ponto de referência alguns
elementos: a percepção dos sujeitos no processo de criação/implantação dos
Conselhos Escolares; percepções sobre a constituição e a dinâmica de
funcionamento desse conselho; a percepção quanto à gestão financeira da
unidade executora e a concepção acerca do processo de construção da gestão
democrática.
A princípio, percebeu-se que o Conselho Escolar do Colégio Estadual
Engenheiro José Faria Saldanha foi organizado por meio de uma reunião entre
os funcionários e professores para levantar quais as pessoas gostariam de
participar como membro. Levantado os candidatos elegeu-se um membro da
equipe pedagógica, um professor, um funcionário e um pai. Foram
selecionados, ainda, como membros, os profissionais com padrão na escola
para assim, facilitar a realização de reuniões quando necessário.
Os membros comparecem quando convocados, entretanto não
conheciam a função do Conselho Escolar cumprido apenas uma burocracia.
Há, ainda, uma certa resistência em acionar o Conselho Escolar para auxiliar
nas funções da escola, pois muitos desconhecem as funções desse órgão e
sua importância. Entretanto, quando se tem uma Gestão Democrática tal órgão
indica claramente como é sua atuação na escola, caso contrário, o trabalho
corre o risco de ficar desarticulado e sem sequência lógica. O Conselho existe
para avaliar tudo o que acontece na escola. Mas para isso, todos devem ter
disposição para saber o que há de errado, o que pode ser melhorado, e propor
ideias e ações para isso, através de discussões, experimentos, sugestões.
Todavia, inadequadamente, o quadro atual de funcionamento das escolas
mostrou que a atuação do Conselho Escolar se dá num nível de subordinação,
onde a maioria das pessoas que o integram não manifestam suas opiniões
diante dos gestores, provavelmente por constrangimento. Os conselheiros
limitam-se a cumprir uma burocracia assinando documentos.
Com uma boa atuação dos Conselhos Escolares é possível construir
uma identidade da escola, gerando uma funcionalidade enquanto instituição
social. Sendo assim, é importante atentar-se mais a finalidade e importância
deste órgão. Para fortalecer os Conselhos Escolares é necessário buscar a
efetivação de uma gestão financeira participativa e transparente, contribuindo
para autonomia das unidades escolares e fortalecer o papel da escola pública
(DOURADO,2006).
Há fatores que facilitam ou dificultam a atuação do Conselho Escolar do
Colégio analisado. Fica mais fácil participar das reuniões, pois os Conselheiros
já fazem parte do quadro da escola. Por conseguinte, em função de outras
atividades que estes realizam, nem sempre podem participar das reuniões.
Com isso, a direção acaba por coletar a assinatura destes membros ausentes
em um segundo momento. Diante disso, observou-se que o Conselho não
conta com a participação de todos os membros em todas as reuniões.
Além de deliberar sobre as questões financeiras, o Conselho Escolar
também atua nas questões pedagógicas e administrativas do colégio. O gestor,
por sua vez, proporciona momentos de debates e coleta opiniões.
As reuniões são marcadas pelo diretor que convoca os Conselheiros.
Nestas, o gestor coloca a situação a ser resolvida e abre para debates. Após
um consenso de opiniões lavra-se em ata e deliberam sobre o assunto.
Enfim, segundo a coleta de informações por meio dos questionários
aplicados, o Conselho Escolar do Colégio Engenheiro José Faria Saldanho
pouco contribui para a construção de uma gestão democrática, pois muitos
membros não participam das reuniões e se limitam apenas ao cumprimento de
uma burocracia. Percebeu-se que ainda há muito a ser revisto para que a
atuação dessa instância colegiada contribua para uma verdadeira gestão
democrática.
Uma sugestão para superar os obstáculos que impedem a atuação do
Conselho Escolar nas escolas públicas do Paraná é ofertar cursos para
capacitar seus membros, indicando possibilidades de consolidação e
fortalecimento da comunidade e também a garantia de espaços de discussão e
tomadas de decisões no âmbito escolar.
Após a implementação pedagógica, que abordou estudos com os
conselheiros do Colégio Engenheiro José Faria Saldanho sobre gestão
democrática, democracia nas escolas e organização do coletivo com
representatividade por meio das instâncias colegiadas, percebeu-se que os
cursistas puderam entender que a participação da comunidade organizada nos
segmentos de gestão, é consolidada através da atuação do Conselho Escolar e
que, este é o órgão máximo da escola. É por meio dele que passam
discussões importantes como a construção do Projeto Político Pedagógico da
escola, do Plano de Ação e Regimento Escolar; ações estas que tratam da
identidade da escola e que direciona os rumos que a escola vai tomar.
Diante disso, reflexões foram realizadas sobre a importância da garantia
de representatividade das instancias colegiadas. Isso permite que a escola se
torne pública, democrática e participativa, legitimando-a como espaço de
conhecimento.
5 Considerações Finais
A legitimidade da educação vem sendo conquistada após muitas lutas
no cenário da educação. Ela deve ser vista pela comunidade escolar como um
processo que, para ter sucesso, depende do envolvimento de todos, incluindo o
funcionamento das instâncias escolares, como é o caso do Conselho Escolar.
Nessa instância colegiada é que ocorrem as reuniões para demonstrar
os interesses e reivindicações da comunidade, cuja LDB/96 estabelece como
base a gestão democrática. De acordo com essa Lei devem compor o
Conselho Escolar: pais, funcionários, alunos e professores resididos pelo
diretor(a) com a função de deliberar questões pedagógicas, administrativas e
financeiras da escola.
Os representantes do Conselho Escolar são escolhidos por eleição e
pode ser reeleito apenas uma vez. Durante o período em que estão atuando os
conselheiros podem criar um estatuto próprio, dentro das normas da legislação
vigente.
As decisões tomadas também devem respeitar os princípios e diretrizes
da Política Nacional. Ele é o órgão máximo da escola e tem autonomia para
exercer sua função.
Entretanto, percebe-se que no Brasil a atuação do Conselho Escolar
ainda é muito tímida, onde seus membros participam das reuniões mas, como
o cumprimento de uma mera burocracia. Isso não tem sido diferente no Colégio
Engenheiro José Faria Saldanho, no qual os conselheiros tem pouca
representividade nas tomadas de decisões, segundo as pesquisas realizadas
com seus conselheiros. Com isso, percebeu-se que o conselho não contribui
de forma significativa na construção da gestão democrática.
Após a realização dos cursos direcionados a essa população houve um
fortalecimento nessa instância colegiada, pois seus membros puderam
conhecer as esferas legais da educação, se aprofundando nas políticas
públicas da educação, nas questões pedagógicas e administrativas, para,
desta forma, participar mais conscientemente nas tomadas de decisões.
4 Referências Bibliográficas
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