conselho editorial selo Àgora21 - caed-jus · revisado pela coordenaÇÃo do selo Ágora21. grupo...

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  • CONSELHO EDITORIAL SELO ÀGORA21

    pre sid ên cia Felipe Dutra Asensi

    Marcio Caldas de Oliveira

    co ns elh eiros Adriano Rosa (USU, Rio de Janeiro)

    Alfredo Freitas (AMBRA, Estados Unidos)

    André Guasti (TJES, Vitória)

    Arthur Bezerra Junior (UNINOVE, São Paulo)

    Bruno Zanotti (PCES, Vitória)

    Camila Jacobs (AMBRA, Estados Unidos)

    Camilo Zufelato (USP, São Paulo)

    Carolina Cyrillo (UFRJ, Rio de Janeiro)

    Claudia Pereira (UEA, Manaus)

    Claudia Nunes (UVA, Rio de Janeiro)

    Daniel Giotti de Paula (Intejur, Juiz de Fora)

    Eduardo Val (UFF, Niterói)

    Fernanda Fernandes (PCRJ, Rio de Janeiro)

    Glaucia Ribeiro (UEA, Manaus)

    Jeverson Quinteiro (TJMT, Cuiabá)

    José Maria Gomes (UERJ, Rio de Janeiro)

    Luiz Alberto Pereira Filho (FBT-INEJE, Porto Alegre)

    Paula Arevalo Mutiz (FULL, Colômbia)

    Paulo Ferreira da Cunha (UP, Portugal)

    Pedro Ivo de Sousa (UFES, Vitória)

    Raúl Gustavo Ferreyra (UBA, Argentina)

    Ramiro Santanna (DPDFT, Brasília)

    Raphael Carvalho de Vasconcelos (UERJ, Rio de Janeiro)

    Rogério Borba (UCAM, Rio de Janeiro)

    Santiago Polop (UNRC, Argentina)

    Siddharta Legale (UFRJ, Rio de Janeiro)

    Tatyane Oliveira (UFPB, João Pessoa)

    Tereza Cristina Pinto (CGE, Manaus)

    Thiago Pereira (UCP, Petrópolis)

    Vanessa Velasco Brito Reis (PGM, Petrópolis)

    Vania Marinho (UEA, Manaus)

    Victor Bartres (Guatemala)

    Yolanda Tito Puca (UNMSM, Peru)

    REVISADO PELA COORDENAÇÃO DO SELO ÁGORA21

  • G RU P O M U LT I F O C ORio de Janeiro, 2019

  • Copyright © 2018 Klever Filpo, Maria Geralda Miranda, Rogerio Borba da Silva

    e Thiago Rodrigues Pereira (org).

    direção editorial Felipe Asensi e Marcio Caldas

    edição e preparação Felipe Asensi

    revisão Coordenação Selo Ágora 21

    projeto gráfico e capa Carolinne de Oliveira

    impressão e acabamento Gráfica Multifoco

    direitos re s erva d os a

    G R U P O M U LT I F O CO

    Av. Mem de Sá, 126 - Centro

    20230-152 / Rio de Janeiro, RJ

    Tel.: (21) 2222-3034

    [email protected]

    www.editoramultifoco.com.br

    to d os os direitos re s erva d os .

    Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer

    meios existentes sem autorização por escrito dos editores e autores.

    Direitos humanos e fundamentais em perspectiva

    FILPO, Klever

    MIRANDA, Maria Geralda

    SILVA, Rogerio Borba da

    PEREIRA, Thiago Rodrigues

    1ª Edição

    Janeiro de 2019

    ISBN: 978-85-8273-619-7

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Ficha catalográfica elaborada por Amanda Caetano (CRB-2/1666)

    A816d Filpo, Klever Miranda, Maria Geralda Silva, Rogerio Borba da Pereira, Thiago Rodrigues

    Direitos humanos e fundamentais em perspectiva /organização Klever Filpo, Maria Geralda Miranda, Rogerio Borba da Silva e Thiago Rodrigues Pereira. –Rio de Janeiro : Ágora21, 2019.

    802 p. ; 23 cm.

    ISBN 978-85-8273-619-7 Inclui bibliografia.

    1.Direitos humanos I. Título CDD: 341.481

  • Sumário

    Conselho Científico do CAED-JUS ......................................... 13Sobre o CAED-JUS ................................................................... 15

    DIREITOS HUMANOS

    Direitos Humanos em tempos de efemérides: Constituição

    Cidadã (1988-2018) e Declaração Universal dos Direitos

    Humanos (1948-2018) .................................................................... 19

    Aimée Schneider Duarte

    Refugiados: um estudo sobre a cidadania e os Direitos

    Fundamentais ................................................................................... 33

    Amanda Garcia de Oliveira e Cristiano Szymanowski

    Os trinta anos da constituição de 1988: reflexões acerca dos

    refugiados venezuelanos no Brasil ...............................................51

    Arthur Bezerra de Souza Júnior, Fernando R. M. Bertoncello e Isabelle Dias

    Carneiro Santos

    A cidadania entre o passado e o presente: direito à informação

    e à verdade no Brasil ....................................................................... 61

    Daniel Machado Gomes, Aline dos Santos Lima Rispoli e Tiago da Silva Cicilio

  • Cidadania, diversidade e sustentabilidade: um projeto de

    educação em Direitos Humanos no ensino superior. ...............77

    Fillipe Ponciano Ferreira

    O direito social à alimentação adequada: uma análise do

    reconhecimento das obrigações correlativas do estado à luz

    do comentário geral da ONU nº 12 ............................................. 95

    Tauã Lima Verdan Rangel

    DIREITOS FUNDAMENTAIS

    A responsabilização do Estado por ato lícito vista como

    Direito Fundamental ......................................................................115

    Alessandra Tauk Santos

    O exercício da liberdade de expressão sob a perspectiva da

    liberdade religiosa ......................................................................... 129

    Bruno de Assis Pimentel Carvalho e Daiana Seabra Venancio

    Uma análise dos direitos fundamentais e a invisibilidade das

    pessoas com deficiência na aplicação da política pública

    brasileira. ......................................................................................... 145

    Caio Silva de Sousa

    Do Vestibular ao Concurso Público? A ADPF nº 186/DF

    como um precedente para a expansão das ações afirmativas

    raciais no Brasil ...............................................................................161

    Christine Geneveve Silva Elcock Bradford

    Constituição de 1988 e juventude negra: para a desconstrução

    de um dispositivo tanatológico ..................................................177

    Danielle Ferreira Medeiro da Silva de Araújo e Walkyria Chagas da Silva Santos

  • Exclusão social e criminalização da pobreza: análise

    da violação à presunção de inocência a partir teoria das

    janelas quebradas .......................................................................... 195

    Ericleuson Cruz de Araujo, Iasmim Barbosa Araújo, Guilherme Alves de Moura

    Mendes e Kenedy Vieira dos Santos

    Mandado coletivo de busca e apreensão: o direito à moradia

    sob a perspectiva da favela ...........................................................211

    Isabela Moreira Campos

    A busca pela felicidade como direito fundamental implícito na

    constituição federal de 1988 .......................................................225

    Isadora Cortez Lustoza

    A Possibilidade de penhora de salários e a violação do Direito

    Positivo – dos limites entre o ativismo judicial e a usurpação

    das funções dos órgãos legiferantes. ........................................ 241

    Luana de Azevedo Oliveira e Thiago Rodrigues Pereira

    A crescente insegurança jurídica gerada sobre o princípio da

    presunção de inocência em virtude das decisões do supremo

    tribunal federal ............................................................................... 255

    Lucas de Souza Gimenes

    A mitigação da liberdade de expressão em detrimento da

    democracia brasileira. ................................................................... 271

    Manoel Bessa Filho e Eduardo Humberto Deneriaz Bessa

    A fundamentalidade do direito à família ..................................287

    Paloma Braga Araújo de Souza

    Nem toda brincadeira é legal. Bullying: os limites

    da liberdade de expressão e a sua repercussão na infância

    e adolescência................................................................................303

    Raphaella Marques de Carvalho

  • O Princípio da dignidade da pessoa humana frente aos direitos fundamentais elencados na Constituição federal de 1988 ... 315Tatiana C. dos Reis Filagrana

    DIREITO DO TRABALHO

    “Operário em construção”: a mobilização dos direitos trabalhistas do processo constituinte de 1987-1988 ao fenômeno da terceirização ......................................................... 331Aimée Schneider Duarte e Tayssa Botelho dos Santos

    Reforma trabalhista: altos empregados e a afronta ao princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas ..........................347Anne Carolline Rodrigues da Silva Brito e Renata Gomes de Lima Felix

    A análise da possibilidade ou não de cumulatividade dos adicionais de periculosidade e insalubridade. .........................363Caíque Machado Camilo

    Trabalho escravo contemporâneo no Brasil: a política de combate através da ação civil pública ....................................... 377Carla Sendon Ameijeiras Veloso, Hector Luiz Martins Figueira e Larissa Pimentel Gonçalves Villar

    Trinta Anos à Frente e um Passo para Trás: a reforma trabalhista da lei 13.467/17 e o retrocesso na proteção dos direitos constitucionais trabalhistas .........................................................393Cesar Augusto de Souza Carvalho e Klever Paulo Leal Filpo

    A dupla função dos motoristas rodoviários e a jurisprudência do TST: aspectos fáticos e normativos ......................................409Dario Cartaxo Amorim de Sá

    Negociação coletiva na constituição brasileira de 1988: o reconhecimento das especificidades das categorias no estado democrático de direito ....................................................425Graciane Rafisa Saliba e Márcia Regina Lobato

  • Análise da garantia de direitos humanos no ambiente laboral a partir do movimento sindical ......................................................441Marcelly de Santana Batista

    DIREITO À SAÚDE

    Reflexões sobre a judicialização da saúde no Brasil ...............457Aline do Nascimento Pereira, Thaís Jeronimo Vidal, Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro

    ADPF 442 na luta contra a descriminalização do aborto e o direito efetivo das mulheres diante dos direitos e garantias fundamentais presente na constituição federal brasileira de 1988 .......................................................................... 471Débora Nicodemo

    O movimento sanitário brasileiro e o paralelo com as normas principiológicas do SUS ................................................................487Dorival Fagundes Cotrim Júnior

    Formação histórica sucinta do sistema único de saúde – da década de 80 aos reflexos na assembleia nacional constituinte de 1987/1988 ...........................................................503Dorival Fagundes Cotrim Júnior

    A materialização do direito social à saúde pela via judicial e o confronto entre as teorias da reserva do possível e do mínimo existencial ................................................ 519Ericleuson Cruz de Araujo, Iasmim Barbosa Araújo, Guilherme Alves de Moura Mendes e Kenedy Vieira dos Santos

    Ambiência em uma casa de parto, centro de parto normal e centro obstétrico no Rio de Janeiro: pesquisa avaliativa ...... 533Geiza Martins Barros

  • O sistema único de saúde em julgamento: experiência

    de acadêmicos de enfermagem em um júri simulado ...........545

    Germana Maria da Silveira, Samy Loraynn Oliveira Moura e Emanuela Rodrigues Sales

    Direito a saúde: uma análise das decisões do TJ RJ em tempos

    de crise ............................................................................................ 555

    Isabela Pfister Gonçalves e Felipe Dutra Asensi

    Análise transversal dos impactos e entraves da vigente

    legislação de transplante de órgãos .......................................... 571

    Marcelly de Santana Batista

    A violência obstétrica como uma das múltiplas faces das

    violências contra as mulheres .....................................................583

    Maraísa Laboriê Prata de Almeida, Tatiana Cristina de Freitas, Rozania Bicego

    Xavier e Paulo Alexandre de Souza São Bento

    Uma crítica ao ativismo judicial e a busca e apreensão de

    recursos financeiros dos municípios fluminenses. Direito a

    medicamentos. Por uma releitura do art. 196 da CF à luz do

    nosso federalismo fiscal. ..............................................................601

    Roberto Wagner Lima Nogueira

    Análises arendtiana sobre a agenda política normativa

    da saúde penitenciária no Brasil: a integralidade e a

    responsabilização pública. ........................................................... 621

    Semirames Khattar

    DIVERSIDADE SEXUAL

    Homofobia a luz do ordenamento constitucional

    brasileiro ......................................................................................... 641

    Bruno de Assis Pimentel Carvalho e Daiana Seabra Venancio

  • É Dever do Estado Punir, independentemente da

    “orientação sexual”: a (in)aplicabilidade da Lei Maria da

    Penha na Proteção das Transexuais ...........................................659

    Kaoanne Wolf Krawczak

    “É como esperar por algo além da morte”: as

    principais implicações do direito à saúde na vida

    dos transexuais .............................................................................. 677

    Kaoanne Wolf Krawczak

    Radiografia LGB da assembleia constituinte: uma

    análise quantitativa das emendas contendo o termo

    “orientação sexual” ........................................................................ 701

    Rafael Carrano Lelis

    DIREITO E TECNOLOGIA

    O direito diante do fenômeno das fake news: novos olhares

    sobre a dinâmica entre mídia digital e sociedade no cenário

    político brasileiro ........................................................................... 723

    Alisson Rodrigo de Araújo Oliveira

    Inteligência artificial e a responsabilidade civil........................ 739

    Cláudia Arantes Sales Vargas e Sérgio Henriques Zandona Freitas

    O cyberbullying e a limitação da liberdade de expressão no

    contexto cibernético .................................................................... 755

    Gustavo Mendes de Oliveira Costa

    Enfrentamento à ciberpedofilia para a proteção da criança e

    adolescente ....................................................................................771

    Maria Lenir Rodrigues Pinheiro e Nina Soraya Pinheiro de Jesus

  • A aplicabilidade do direito ao esquecimento no âmbito

    da internet: uma análise jurisprudencial do Superior Tribunal

    de Justiça .......................................................................787Carolina Lopes da Silva

  • 13

    Conselho Científico do CAED-JUS

    Adriano Rosa (Universidade Santa Úrsula, Brasil)

    Alexandre Bahia (Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil)

    Alfredo Freitas (Ambra College, Estados Unidos)

    Antonio Santoro (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil)

    Bruno Zanotti (PCES, Brasil)

    Claudia Nunes (Universidade Veiga de Almeida, Brasil)

    Daniel Giotti de Paula (PFN, Brasil)

    Denise Salles (Universidade Católica de Petrópolis, Brasil)

    Edgar Contreras (Universidad Jorge Tadeo Lozano, Colômbia)

    Eduardo Val (Universidade Federal Fluminense, Brasil)

    Felipe Asensi (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil)

    Fernando Bentes (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil)

    Glaucia Ribeiro (Universidade do Estado do Amazonas, Brasil)

    Gunter Frankenberg (Johann Wolfgang Goethe-Universität - Frankfurt am Main, Alemanha)

    João Mendes (Universidade de Coimbra, Portugal)

    Jose Buzanello (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil)

    Klever Filpo (Universidade Católica de Petrópolis, Brasil)

    Luciana Souza (Faculdade Milton Campos, Brasil)

  • d i r e i to s h u m a n o s e f u n d a m en ta i s e m p er s p ec t i va

    14

    Marcello Mello (Universidade Federal Fluminense, Brasil)

    Nikolas Rose (King’s College London, Reino Unido)

    Oton Vasconcelos (Universidade de Pernambuco, Brasil)

    Paula Arévalo Mutiz (Fundación Universitária Los Libertadores, Colômbia)

    Pedro Ivo Sousa (Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil)

    Santiago Polop (Universidad Nacional de Río Cuarto, Argentina)

    Siddharta Legale (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil)

    Saul Tourinho Leal (Instituto Brasiliense de Direito Público, Brasil)

    Sergio Salles (Universidade Católica de Petrópolis, Brasil)

    Susanna Pozzolo (Università degli Studi di Brescia, Itália)

    Thiago Pereira (Centro Universitário Lassale, Brasil)

    Tiago Gagliano (Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil)

  • 15

    Sobre o CAED-JUS

    O Conselho Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED--Jus) é iniciativa de uma rede de acadêmicos brasileiros e internacionais para o desenvolvimento de pesquisas jurídicas e reflexões de alta qualidade.

    O CAED-Jus desenvolve-se exclusivamente de maneira virtual, sen-do a tecnologia parte importante para o sucesso das discussões e para a interação entre os participantes através de diversos recursos multimídia. Desde a sua criação, o CAED-Jus tornou-se um dos principais congres-sos do mundo com os seguintes diferenciais:

    Democratização da divulgação e produção científicaPublicação dos artigos em livro impresso, cujo pdf é enviado aos

    participantesInteração efetiva entre os participantes através de ferramentas onlineDiversidade de eventos acadêmicos no CAED-JusExposição permanente do trabalho e do vídeo do autor no site para

    os participantesDemocratização da produção científica com forte inclusão socialO Conselho Científico do CAED-Jus é composto por acadêmicos de

    alta qualidade no campo do direito em nível nacional e internacional, tendo membros do Brasil, Estados Unidos, Colômbia, Argentina, Portu-gal, Reino Unido, Itália e Alemanha.

    Em 2018, o CAED-Jus organizou o Congresso Comemorativo “30 anos da Constituição de 1988” (CRFB+30), que ocorreu entre os dias 29 a 31 de outubro de 2018 e contou com 05 Grupos de Trabalho e mais de

  • d i r e i to s h u m a n o s e f u n d a m en ta i s e m p er s p ec t i va

    16

    200 participantes de 34 universidades e 14 programas de pós-graduação stricto sensu. A seleção dos artigos apresentados ocorreu através do pro-cesso de peer review com double blind, o que resultou na publicação dos 03 livros do evento: “Direitos humanos e fundamentais em perspectiva”, “Leituras de direito público” e “Visões constitucionais interdisciplinares”. Os coordenadores dos livros atuaram diretamente no evento como con-ferencistas, avaliadores de trabalhos e/ou organizadores, contribuindo diretamente na seleção, organização e finalização das publicações.

    O CRFB+30 foi um dos maiores eventos comemorativos da Cons-tituição de 1988 no Brasil e contribuiu decisivamente para as análises sobre o passado, presente e futuro da Constituição. Esta publicação é financiada por recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), do Conselho Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED-Jus) e da Editora Multifoco e cumpre os diversos critérios de avaliação de livros nacionais e internacionais.

  • DIREITOS HUMANOS

  • 19

    Direitos Humanos em tempos de efemérides: Constituição Cidadã (1988-2018) e Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948-2018)Aimée Schneider Duarte

    1. Os Direitos Humanos no Processo Constituinte

    A partir do entrelace entre o ontem e o hoje, a importância da Cons-tituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), promul-gada em 05 de outubro de 1988, e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, se torna cada vez mais nítida. O historiador Pierre Nora (1993) já apontava que questionamentos em torno de um evento ou data são, eles próprios, lugares de memória, voltando-se para sua valorização e legitimação. Assim é que se faz importante refletir acerca dos 30 anos dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que desaguou na feitura da Constituição de 1988 – denominada pelo en-tão Deputado Constituinte Ulysses Guimarães (PMDB – SP) de “Cons-tituição Cidadã” – à luz dos 70 anos da Declaração de 1948 no que diz respeito aos Direitos Humanos, haja vista a relevância histórica dessas datas simbólicas, a ensejar as devidas reflexões e balanços.

  • d i r e i to s h u m a n o s e f u n d a m en ta i s e m p er s p ec t i va

    20

    No âmbito da redemocratização da vida política brasileira, as mobili-zações foram fundamentais para a construção dos alicerces dos debates constitucionais. O Congresso Nacional, por exemplo, recebeu, desde o ano de 1986, correspondências de todo o país, seja de forma individual, seja através de entidades sociais. Entre março daquele ano e julho de 1987, o ente estatal, através da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, lançou o plano “Diga Gente e Projeto Constituição”, com o in-tuito de que os cidadãos apresentassem suas sugestões para a vindoura Lei Maior. Cinco milhões de formulários foram distribuídos e disponi-bilizados nas agências dos Correios do Brasil, que os encaminhava, sem custos, para o Senado Federal, que recebeu um total de 72.719 respostas (BACKES; AZEVEDO, 2008, p. 73). Nele, encontram-se frases de incen-tivo à manifestação dos indivíduos: “Você também é Constituinte, parti-cipe!” e “Faça, você também, a nova Constituição”.

    Ao pesquisar o termo “Direitos Humanos”, foram encontrados 1.185 registros, evidenciando que a esfera desses direitos se fazia pre-sente como uma demanda importante da sociedade brasileira. Em boa parte de tais registros, encontra-se o pedido por uma descrição clara dos Direitos Humanos, bem como pela exigência de que sejam respei-tados por todos. Em outras manifestações, por sua vez, faz-se presente a ideia de que tais direitos devem ser restritos apenas aos àqueles que não são “bandidos” ou “ladrões”, entre outros vocábulos utilizados – nesta mesma tônica, constam pedidos extremados de pena de morte para os violadores dos Direitos Humanos (SAIC, 1987).

    Com a instalação da ANC, o art. 13 de seu Regimento Interno fa-cultou a apresentação de sugestões dos próprios parlamentares e de entidades representativas. Este processo totalizou a soma de 12.000 propostas sobre os mais diversos temas, dos quais apenas 81 se relacio-navam expressamente aos Direitos Humanos (SGCO, 1987). Dentre os postulados, destacam-se propostas de criação da figura do “Defensor do Povo” e sugestões referentes à interpretação das normas fundamen-tais reconhecidas em conformidade com a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e tratados internacionais.

    Em paralelo a estas formas de participação, vale registrar o mecanis-mo das emendas populares, que exerceu grande influência na organização

  • k l e v er f i l p o, m a r i a g er a l d a m i r a n d a , r o g er i o b o r b a e t h i a g o r o d r i g u e s p er e i r a (o r g)

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    e mobilização sociais, tornando-se um canal aberto para a abordagem de diversos temas: “(...) 288 entidades diferentes apresentaram 122 emendas populares que angariaram um total de 12.277.423 assinaturas” (BRAN-DÃO, 2011, p. 79). No que se refere aos Direitos Humanos, dois Projetos de Emenda Popular fazem menção direta ao tema, os de números 06 e 21:

    Projeto de Emenda Popular nº 06: “Art. É obrigatório o estudo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a nível curricu-lar, didático e disciplinar, nas Escolas e Universidades, aos inte-grantes das Forças Armadas, aos Policiais Civis e Militares. (...)”. (BRASIL, 1987b).

    Projeto de Emenda Popular nº 21: “Art. Qualquer entidade asso-ciativa, regularmente instituída, é parte legítima para propor ação de desconstituição ou proibição de atos praticados, ou que possam vir a ser praticados, por pessoa de direito público ou privado, quando tais atos, embora formalmente regulares, lesam o patrimônio público, os bens de uso comum do povo, os bens de reconhecido valor artístico, estético ou histórico, os interesse legítimos dos consumidores, a natureza e o equilíbrio ecológico, os meios de vida dos indígenas, a saúde pública, a administração da justiça e os direitos humanos”. (BRASIL, 1987b).

    Nesta seara, a justificativa da Proposta de Emenda Popular nº 06 consistia no reconhecimento de que a Declaração Universal dos Direitos do Homem havia se tornado uma espécie de guia das democracias – e, como no Brasil, “os princípios foram solapados por um longo período de ‘regime autoritário’ do qual, ele está emergindo com grandes sacrifícios” (BRASIL, 1987b), era preciso que os direitos essenciais do ser humano fossem reaprendidos pelo povo e, em especial, pelas Forças Armadas e pelas “polícias e entidades paramilitares de segurança (...), ainda vicia-das com arbitrariedades, com a arrogância, com o despotismo e trucu-lência nas suas ações” (BRASIL, 1987b). A proposta recomendava que a referida Declaração não fosse uma matéria opcional, mas que figurasse, em condição obrigatória, no currículo didático/disciplinar. Por sua vez, a justificativa da Proposta de Emenda Popular nº 21 se apoiava na ideia de ampliação da participação popular nas “decisões de interesse coletivo, na fiscalização dos atos que interferem na vida social, no controle da

  • d i r e i to s h u m a n o s e f u n d a m en ta i s e m p er s p ec t i va

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    gestão dos recursos públicos e no que for preciso para assegurar a eficá-cia das normas constitucionais. (...)” (BRASIL, 1987b).

    O resumo dos teores dos Projetos de Emendas Populares, destaca-dos acima, bem como das sugestões populares e dos próprios Consti-tuintes, elucida alguns dos desejos existentes na sociedade e abre uma fresta para que se examine, também, a importância do diálogo entre os entes estatais e a população. Neste diapasão, duas garantias cons-titucionais surgem como fruto deste diálogo – e, sem dúvida, como verdadeiros atestados de sua importância: o Habeas Corpus e o Habeas Data.1 O primeiro já existia no ordenamento jurídico, assim como o Mandado de Segurança e a Ação Popular, apesar de sufocado ao lon-go dos anos de ditadura; por seu turno, o Habeas Data, bem como o Mandado de Injunção, foi postulado pela primeira vez no ordenamento jurídico pátrio por conta na Constituição Federal de 1988.

    A consagração dos Direitos Humanos no panorama constitucional espelha uma das decisões basilares tomadas ao longo do processo cons-tituinte, na medida em que permite que os principais valores humanos de ordem ética e política alcancem expressão jurídica. À luz deste esfor-ço de valorização e compreensão desses direitos ao longo dos trabalhos constituintes, convém investigar quais as dimensões por eles assumidas três décadas mais tarde. Isto porque somente um entendimento atualiza-do é capaz de garantir uma avaliação precisa de sua relevância – e, mais importante, das medidas necessárias à sua manutenção.

    2. Direitos Humanos: Dimensões Contemporâneas

    O presente estudo não possui a pretensão de tecer uma retrospectiva histórica acerca da origem dos Direitos Humanos, perpassando os tem-pos rumo aos dias atuais. Neste artigo, objetiva-se analisar a Declaração

    1. Artigo 5°, LXVIII da CRFB/88: “Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. LXXII: “Conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo”.

  • k l e v er f i l p o, m a r i a g er a l d a m i r a n d a , r o g er i o b o r b a e t h i a g o r o d r i g u e s p er e i r a (o r g)

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    Universal dos Direitos Humanos, principalmente sob o enfoque de seus 70 anos em 10 de dezembro de 2018. Trata-se de documento responsá-vel por elevar os Direitos Humanos – fundamentais e intrinsecamente ligados a todos os indivíduos – a um patamar superior, consolidando-os como intransmissíveis e irrenunciáveis. Trata-se de um documento onde a convergência de anseios e esperanças flagrantes no pós-Segunda Guerra Mundial se revela através de um exercício de síntese, posto que incorpora-va direitos e garantias por meio de um consenso universal (BONAVIDES, 2006). À luz do processo histórico de encerramento de governos totalitá-rios, permite aos Direitos Humanos que assumam uma dupla vocação: “afirmar a dignidade humana e prevenir o sofrimento humano” (PIOVE-SAN, 2007, p. 21). Tem-se, assim, um movimento de instrumentalização de tais direitos, consolidado no plano internacional e também na agenda brasileira, tanto na esfera política quanto no campo jurídico.

    Sob tal prisma, a Declaração de 1948 representaria o ápice de um pro-cesso de reconhecimento da igualdade e da dignidade da pessoa humana como valores intrínsecos à condição humana, independentes de condições externas – “Percebe-se, pois, que o fato sobre o qual se funda a titularidade dos direitos humanos é, pura e simplesmente, a existência do homem, sem necessidade alguma de qualquer outra precisão ou concretização” (COM-PARATO, 1997, p. 19). Tem-se, com isso, uma concepção contemporânea de Direitos Humanos que engloba como principais características a igual-dade, a universalidade e a indivisibilidade desses direitos. Com relação ao tema da igualdade, é interessante citar o pensamento do sociólogo Boa-ventura de Sousa Santos acerca de sua dupla função, consolidada em uma ética de reciprocidade que demanda sejam reconhecidas as diferenças e, assim, não sejam (re)produzidas desigualdades – “(...) temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza” (1997, p. 112).

    No Brasil, dentre os fundamentos basilares do Estado Democráti-co de Direito, destaca-se a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CRFB/88). Sua presença neste rol denota a relação de proximidade entre o Estado Democrático e os Direitos Humanos, elementos básicos que são para que se concretize a função democratizadora (PIOVESAN, 2007, p. 26). Tendo em vista a premissa de que a Carta Constitucional deve

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    ser compreendida como um sistema uno, que privilegia certos valores individuais e sociais enquanto direitos basilares, tem-se que o princípio da dignidade humana, devidamente reconhecido como fundamento e fi-nalidade do ente estatal, se irradia sobre todo o cenário constitucional inaugurado em 1988, o Direito Interno e as disposições voltadas para questões internacionais a partir de sua posição de prioridade.

    Junto às normas legais positivadas, encontram-se princípios que trazem, em si, exigências de justiça e de valores éticos. Uma vez im-buídos de tais valores, acabam por cumprir o papel de alicerces axioló-gicos ou teleológicos do sistema jurídico, tornando-o coerente e – por trazerem, em seu sumo, os Direitos Humanos Fundamentais – direcio-nado. A jurista Flávia Piovesan, neste terreno, esclarece que “a conso-lidação das liberdades fundamentais e das instituições democráticas no País, por sua vez, muda substancialmente a política brasileira de direitos humanos, possibilitando um progresso significativo no reco-nhecimento de obrigações internacionais nesse âmbito” (2007, p. 24).

    A Constituição Federal de 1988 consagra, em um ato de verdadeiro ineditismo perante as Cartas Constitucionais anteriores, o respeito aos Direitos Humanos, conformando a abertura do sistema jurídico interno ao campo internacional de proteção dos direitos vinculados ao indivíduo. Assim é que, quando o Brasil assina tratados internacionais, condiciona a soberania estatal às regras jurídicas supranacionais, tendo como parâme-tro obrigatório a prevalência dos Direitos Humanos Fundamentais (PIO-VESAN, 2007, p. 342), o que acaba por conferir amplo reconhecimento a tais direitos – sejam os plasmados em princípios constantes do texto constitucional, sejam aqueles expressamente positivados em tratados in-ternacionais (art. 5º, § 2º da CRFB/88). Ademais, a Constituição Federal de 1988 determina a aplicabilidade imediata de normas pertinentes a di-reitos e garantias fundamentais (art. 5º, § 1º da CRFB/88) e a prevalência dos Direitos Humanos sobre a lei nacional (art. 4º, II da CRFB/88).2

    2. Art. 5º da CRFB/88: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabil-idade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...). § 1º: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decor-

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    Tal prestígio é novamente sublinhado – juntamente ao liame entre o novo ordenamento jurídico pátrio e as diretrizes internacionais – pela força e natureza de norma constitucional reconhecida aos tratados internacionais que versem sobre Direitos Humanos, em contraste com a posição hierárquica infraconstitucional delegada àqueles que tratem

    de outros temas (arts. 5º, § 3º e art. 102, III, b da CRFB/88). A própria

    essencialidade desses direitos fez, ainda, com que fossem retirados da

    esfera de disponibilidade dos poderes constituídos, encontrando-se

    protegidos no rol das cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, IV da CRFB/88).3

    Com base nesse quadro analítico, os Direitos Humanos devem ser

    divididas em três categorias, quais sejam: 1) aqueles expressos na Cons-

    tituição – elencados, a título de exemplo, no artigo 5º da CRFB/88; 2)

    aqueles expressos em tratados internacionais dos quais o Brasil seja sig-

    natário; e 3) aqueles implícitos nas regras e garantias do ordenamento

    jurídico pátrio –, haja vista que o fato de não estarem expressos não

    invalida a sua legitimação, notadamente por remeterem ao ideal promo-

    vido na Assembleia Nacional Constituinte. Tal classificação não se con-

    funde com o posicionamento, tradicionalmente promovido pela doutrina

    jurídica, acerca das gerações (também chamadas dimensões) dos direi-

    tos fundamentais, baseando-se, sobretudo, na ordem cronológica de sua

    positivação em textos constitucionais. Sob esse prisma, os direitos inte-

    grantes da primeira geração são catalogados como direitos individuais

    e políticos clássicos, ligados ao valor de liberdade, e sua presença se faz

    rentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Art. 4º, II da CRFB/88: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípi-os: (...) II - prevalência dos direitos humanos”.

    3. Art. 5º, § 3º da CRFB/88: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu-manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (...)”. Art. 102, III, b da CRFB/88: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão re-corrida (...). b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal”. Art. 60, § 4º da CRFB/88: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV - os direitos e garantias individuais”.

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    sentir através de uma atuação negativa – a abstenção do Estado; os de-correntes da segunda geração, por sua vez, possuem um caráter positivo, demandando uma iniciativa concreta do ente estatal – são eles os direitos sociais, econômicos e culturais, surgidos no início do século XX; já os componentes da terceira geração, os direitos transindividuais, são des-tinados à proteção do gênero humano – em rol exemplificativo, seriam àqueles relacionados à solidariedade ou à fraternidade, englobando meio ambiente equilibrado, qualidade de vida saudável, paz, autodeterminação dos povos e outros direitos difusos; por fim, os direitos de quarta gera-ção consolidam o acesso à democracia, informação e pluralismo.

    Cabe sublinhar, como a própria expansão geracional acima exposta já denota, que os Direitos Humanos não podem ser entendidos como um dado inerte, mas sim um processo de constante reinvenção huma-na – fruto da convergência entre as dialéticas do passado histórico e do presente, através de um espaço de lutas (ARENDT, 1979). Nesse emba-te simbólico, Santos (1997) defende uma concepção multicultural dos Direitos Humanos, inspirada no diálogo entre culturas, com vistas a compor um processo emancipatório. Tal ótica – defendida no presente artigo – implica que tais direitos sejam (re)conceitualizados como mul-ticulturais, em um esforço que constitui “pré-condição de uma relação equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e a legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma política contra-hegemônica de direitos humanos no nosso tempo” (1997, p. 112).

    Tradicionalmente, a agenda dos Direitos Humanos esteve centrada na tutela dos direitos civis e políticos – quais sejam, igualdade, liberda-de e fraternidade, como ficou consignado no artigo I da Declaração de 1948.4 A ampliação deste escopo, incorporando novos direitos de dimen-sões fundamentais, como os de ordem social, econômica e cultural – exemplificados pela saúde, assistência social e direitos transindividuais, tais como meio ambiente e o patrimônio histórico cultural, que, com a ampliação do conceito de cultura, assume também uma dimensão ima-terial –, é um marco de sua evolução contemporânea.

    4. Art. I, da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todos os seres humanos nas-cem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”

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    Passados 30 anos, esse novo perfil constitucional ainda se encontra em processo de afirmação. Segundo Piovesan (2007, p. 33), “[a] nova to-pografia constitucional inaugurada pela Carta de 1988 reflete a mudança paradigmática da lente ex parte principe [o poder de um soberano] para a lente ex parte populi [o poder do povo]”, consolidando, assim, o labor constitucional – e, por conseguinte, a regência da sociedade pautada na Constituição – como res publica, coisa de todos. Sob a lente dessa transi-ção e a partir da busca pela efetivação dos Direitos Humanos, inúmeros Congressos, Seminários e Palestras viabilizaram o debate dos 30 anos da Constituição. Interessante destacar, nesse teor de ideias, que não apenas o corpo acadêmico, mas igualmente a esfera política se encontra aber-ta, em âmbito nacional e regional, ao diálogo – vide o requerimento nº 11.235/2018, de autoria do Deputado Estadual de Minas Gerais, André Quintão e publicado em 23 de março do corrente ano, pela realização de debate público acerca “dos 30 anos da Constituição Federal de 1988 e seus impactos nos direitos sociais no Brasil” (QUINTÃO, 2018).

    Deste modo, um dos principais desafios para a implementação dos Direitos Humanos na ordem contemporânea brasileira vem a ser justa-mente a assimilação deste leque recentemente expandido. A Carta Cons-titucional se depara, assim, no seu trigésimo aniversário, com o desafio de se manter atual através de seus intérpretes.

    Considerações finais

    É preciso, seja por um esforço de homenagem a intuitos relevantes e cruciais efetivados há três décadas, seja pela premente necessidade de se conter as paixões no já inflamável cenário sociopolítico hoje er-guido no Brasil, evitar que a Lei Maior do ordenamento jurídico pátrio seja erroneamente vilanizada. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 possui, não obstante suas limitações, um profundo compromisso com a igualdade; deve-se, assim, ao invés de sacrificá-la, resgatar este compromisso.

    Assim, com todas as críticas que se possa conjecturar, o texto cons-titucional se mostra inegavelmente comprometido com os Direitos Hu-manos. Um sentimento geral de insatisfação acomete a sociedade bra-

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    sileira no tempo presente, mas diz respeito não à própria Constituição

    da República e seus comandos escritos, mas sim à sua interpretação e

    aplicação prática, visíveis na maneira como vem sendo geridas as insti-

    tuições públicas e no modo como vem sendo aplicadas, ou mesmo des-

    cumpridas, as leis. Há, neste momento, uma desigualdade operacional

    em andamento, e não uma norma inadequada à regência do país.

    É a partir desta constatação que se revela a maneira como as efeméri-

    des que marcam o ano de 2018 e inauguram o presente artigo encontram,

    na reação aos símbolos festejados, a via da perpetuação, da continuidade,

    do não-esquecimento: quando são enxergadas como veículos dos valores,

    conquistas e metas promovidos através dos marcos celebrados. É por uma

    força muito superior à mera coincidência que a Constituição da Repú-

    blica Federativa do Brasil de 1988 e a Declaração Universal dos Direi-

    tos Humanos de 1948 merecem ser enaltecidas em conjunto, levando-se

    em consideração o modo como integram uma mesma via rumo à efetiva

    valorização e proteção da vida humana. Quando o próprio episódio de

    rememoração tem reconhecido o seu status de lugar de memória (NORA, 1993), todo ato de lembrança configura, por si só, um resgate.

    Daí a dupla afirmação constante – a título de exemplo entre as ini-

    ciativas voltadas às comemorações – da Portaria nº 179, de 05 de abril de

    2018, do Ministério dos Direitos Humanos, que institui uma Comissão

    responsável pelos eventos pertinentes à celebração do septuagésimo ani-

    versário da Declaração de 1948 (ROCHA, 2018). Se, por um lado, trans-

    parece, às raias da obviedade, com o intuito de celebrar este documento

    universal, a edição de tal norma interna acaba, por outro, pondo em evi-

    dência uma pasta ministerial cuja razão de ser é justamente a Constitui-

    ção Federal de 1988 – ou, sob um olhar mais íntimo e preciso, os valores

    que elege como centrais e invioláveis. Os resgates, portanto, não se ex-

    tinguem nas efemérides; antes tem seus inícios – no plural, aproveitando

    as datas redondas – na exaltação simbólica presente em cada uma delas.

    Deste modo, o duplo aniversário que se observa – e festeja – em

    2018, mais do que um comentário ou aplauso, é um chamado à ação,

    fundado no entendimento de que os Direitos Humanos são a única

    plataforma emancipatória da sociedade estruturada nas fundações da

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    Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, demandando,

    assim, uma sedimentação plena.

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    Refugiados: um estudo sobre a cidadania e os Direitos FundamentaisAmanda Garcia de OliveiraCristiano Szymanowski

    Introdução

    Desde o início da guerra civil síria, milhares de famílias têm que

    escolher entre ficar no país em que nasceram e correrem risco de vida

    diariamente ou deixar tudo que conhecem, o país, a família, a cultura, os

    costumes, e irem para um novo lugar que é estável, mas, também, é com-

    pletamente diferente de tudo que conhecem e onde há discriminação e

    xenofobismo. Ademais, muitos refugiados não conseguem sobreviver à

    travessia de um país para o outro, visto que as embarcações são, muitas

    vezes, lotadas e não têm manutenção. Esse foi o caso de Alan Kurdi, pois

    seu corpo foi encontrado na praia de Bodrum, após a embarcação que

    ele estava ter naufragado, e ele, seu irmão e sua mãe terem se afogado.

    As famílias que decidem sair da zona de guerra e conseguem chegar

    a um país europeu passam pela discriminação e pelo preconceito. Tal

    situação fica visível na ponderação do afegão, população que também

    é afetada por guerras, como o povo sírio, Arash Seddique, em um de-

    poimento para a Organização das Nações Unidas (ONU), no qual ele

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    fala que “(No Afeganistão) Nós temos as casas de nossos familiares, nós

    saímos para curtir. Então, nós temos uma vida que ninguém questiona,

    ou olha para mim e diz: ‹Você não pertence a esse lugar›”. Sendo assim,

    percebe-se que os refugiados saem de seus países por causa de um pro-

    fundo desrespeito aos seus direitos fundamentais, e, quando chegam a

    um novo país, vários de seus direitos continuam sendo violados. Assim,

    o artigo busca responder à seguinte questão-problema: tendo em vista

    o auxílio que os refugiados recebem e a preservação dos seus direitos,

    como os direitos fundamentais dos refugiados são materializados?

    Dessa forma, o estudo da situação dos refugiados é de grande relevân-

    cia para a sociedade, visto que eles são uma numerosa parte da população

    que não deve ser desprezada. Além disso, as guerras em outros países afe-

    tam, mesmo que indiretamente, todos os países, seja economicamente ou

    socialmente, com o aumento da violência/do terrorismo, por exemplo. A

    análise desse tema envolve as matérias de direito constitucional e direito

    internacional, visto que trata de assuntos das disciplinas, os direitos fun-

    damentais e os tratados internacionais, dentre outros. As garantias funda-

    mentais, que serão abordadas no artigo, são a base dos direitos dos seres

    humanos, sendo imprescindíveis para a mínima vivência do indivíduo.

    Para atingir o objetivo do trabalho, serão: conceituados as expres-

    sões “refugiado”, “cidadão”, “cidadania” e “asilo político”; descritos os

    direitos que o refugiado possui; constatado como seus direitos são pre-

    servados nos países que os recebem; exemplificados países que res-

    guardam os direitos dos refugiados; e, apresentados tratados e acordos

    internacionais sobre refugiados.

    A pesquisa, no que se refere à natureza, será pura, ou seja, existe “a

    aquisição do conhecimento de forma teórica” (CORDEIRO, MOLINA,

    DIAS, 2014, p. 126). Já em relação aos objetivos, a pesquisa será explo-

    ratória e bibliográfica, e o seu procedimento prático será documental

    por meio da leitura e do fichamento de autores que discorrem sobre o

    tema. Autores como Wellington Pereira Carneiro, Jeane Silva de Freitas

    e outros autores serão pesquisados para o desenvolvimento do artigo

    científico e serão utilizados para a conclusão do estudo.

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    1. Conceitos iniciais

    O conceito de refugiado foi, ao longo do tempo, transformando-se, e, atualmente, não existe somente um conceito, mas vários, complemen-tando-se. Dessa forma, o refugiado é o que teme “ser perseguido por mo-tivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas” (CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS) ou o que escapou de “conflitos armados ou perseguições” (NAÇÕES UNIDAS) e “devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obriga-do a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país” (FERNANDES, 2015, p. 649/650). Assim, de acordo com Bernardo Gonçal-ves, como não pode regressar a seu país de origem, o refugiado não tem nacionalidade, sendo necessário o refúgio em outros países.

    Contudo, não existe somente uma classificação de refugiado. Tra-ta-se de asilados políticos e de refugiados de guerra. De acordo com Paulo Henrique Portela (apud SOARES, 2012), as diferenças entre esses dois institutos são a obrigatoriedade do refúgio e a discricionariedade do asilo para o Estado. Também não existe foro internacional para ques-tões relacionadas ao asilo, enquanto existem órgãos internacionais que regulam o refúgio, tendo como exemplo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Os motivos também diferem nes-ses dois institutos, sendo políticos os motivos do asilo, e os do refúgio seriam as perseguições por motivo de raça, grupo social, entre outros.

    No ordenamento jurídico internacional, existem diversas legis-lações e órgãos internacionais que protegem o refugiado, como é o exemplo do Estatuto dos Refugiados e da ACNUR, porém ainda não percebemos uma adequação dos refugiados como efetivos cidadãos e sujeitos de direitos dos países que os recebem. A nacionalidade, se-gundo Jacob Dolinger (2014, p. 45), “é o vínculo jurídico que une, liga, vincula o indivíduo ao Estado” e pode ser adquirida pelo refugiado por meio da naturalização, enquanto a cidadania seria a nacionalidade em conjunto com os direitos políticos, o direito de votar e de ser votado, esses direitos são exercidos pelos cidadãos “natos”. Por isso, o refugia-do, que não tem mais pátria, deve se submeter a um longo e difícil pro-cesso para se tornar um cidadão, e, durante o andamento, o refugiado

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    necessita de receber uma “atenção especial”, devido à sua situação de total desrespeito aos seus direitos fundamentais.

    Podemos, assim, perceber uma mudança na finalidade dos direitos fundamentais, que, segundo Gilmar Mendes e Paulo Branco (2016, p. 154), “antes, buscavam proteger reivindicações comuns a todos os ho-mens”, passando a “proteger seres humanos que se singularizam pela influência de certas situações específicas [...] por conta de certas pecu-liaridades, tornam-se merecedores de atenção especial”.

    Com a evolução da percepção dos direitos fundamentais, pode-se per-ceber a necessidade da proteção do indivíduo, que, por eventos alheios a ele, passa a precisar de uma extensão na proteção de seus direitos. A execução dos direitos fundamentais pode proporcionar a integração do “estrangeiro”, ou seja, indivíduo que não pertence à nacionalidade do ter-ritório em que reside. Tal fato tem como consequência a habituação a essa nova nação, fazendo com que o indivíduo passe a pertencer a ela, sem dei-xar as especificidades da sua antiga cultura. Dessa maneira, a proteção dos direitos fundamentais é imprescindível para a realização do sujeito como “Pessoa Humana”, sendo assim, detentor de direitos e de uma vida digna.

    A efetivação do sujeito como “Pessoa Humana” remete-nos à ideia da “Dignidade da Pessoa Humana”, que seria, segundo Motta (2013),

    a dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana pelo simples fato de alguém “ser humano”, se tornando automatica-mente merecedor de respeito e proteção, não importando sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou condição sócio-econômica.

    É um princípio fundamental incidente a todos os humanos desde a concepção no útero materno, não se vinculando e não depen-dendo da atribuição de personalidade jurídica ao titular, a qual normalmente ocorre em razão do nascimento com vida.

    Dessa forma, os refugiados, pelo simples fato de serem humanos, já são detentores de direitos fundamentais para que, assim, sua existência seja no-tadamente respeitada, como por exemplo, nos limites do mínimo existencial.

    Outro conceito correlacionado à dignidade da pessoa humana é o “su-jeito de direito”, esse ente seria “possuidor de direitos que, inclusive, lhes são inerentes e preexistentes a qualquer ordem jurídica positiva” (TOLE-

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    DO, 2015). Por consequência, as pessoas, que, nesse caso específico, se-

    riam os refugiados, não poderiam dispor de seus direitos adquiridos com

    o nascimento e nem ter seus direitos negados por qualquer ordenamento

    jurídico, ou seja, por qualquer país em que estejam residindo.

    2. Direito dos Refugiados

    A “Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados” (1951) dispõe

    em seus artigos diversas proteções e direitos que o refugiado possui,

    como também os deveres que eles têm para com a nação que os recebe.

    Portanto, o presente trabalho tenta demonstrar quais são os direitos des-

    se grupo determinados por convenções e tratados internacionais. Tam-

    bém, utilizaremos uma das declarações mais conhecida pelo mundo, a

    Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).

    No que tange à discriminação, em seu terceiro artigo, o Estatuto dos

    Refugiados trata do direito à não discriminação: “os Estados Contratantes

    aplicarão as disposições desta Convenção aos refugiados sem discrimi-

    nação quanto à raça, à religião ou ao país de origem.” Esse tema também

    é abordado pela “Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas

    as Formas de Discriminação Racial (1969), que, especificamente, trabalha

    com as diversas formas de discriminação racial, tipificando-a como qual-

    quer diferenciação baseada em raça que tem como fim restringir o exer-

    cício de direitos humanos e liberdades fundamentais, enaltecendo, assim,

    o artigo terceiro do Estatuto. A Convenção também prevê a utilização de

    medidas punitivas para as pessoas que cometerem discriminação, tam-

    bém a utilização do ensino, como forma de educar a população.

    Já a respeito da isonomia, no quarto artigo, a Convenção estabelece

    que os Estados receptores não devem tratar diferentemente os refu-

    giados em relação à liberdade de praticar a sua religião, e, também, o

    artigo 33 proíbe a expulsão do país em virtude da religião (OHCHR,

    2017). Ao mesmo tempo, a resolução 211 da 65ª assembleia geral da

    ONU reconhece, em sua oitava cláusula, a situação de pessoas em si-

    tuações vulneráveis, incluindo refugiados, a respeito da capacidade do

    livre exercício do direito da liberdade religiosa ou de crenças (tradução

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    livre) (GENERAL ASSEMBLY OF UNITED NATIONS, 1969), reiteran-do o disposto no Estatuto dos Refugiados.

    No que se refere à moradia, o Estatuto dos Refugiados (1951) destaca no artigo 13, que os refugiados têm os mesmos direitos que os nacionais no aluguel, na aquisição de propriedades, entre outros, e, no artigo 21, que o alojamento deve ser o mais favorável possível e não pior do que os ofertados a estrangeiros em geral. A ONU desenvolveu princípios, The Pinheiro Principles (COMMISSION ON HUMAN RIGHTS, 2005), que protegem a restituição da moradia e das propriedades, o segundo princí-pio declara o direito dos refugiados à restituição de suas casas.

    A proteção jurídica é outro tema fundamental na discussão sobre uma vida ideal para o refugiado. Existe um projeto da UNHCR em con-junto com a Hungarian Helsinki Committee (2014) sobre a instalação de clínicas de direito para refugiados, que teriam as funções de prover uma assistência, sem custos, a esse grupo de pessoas e promover o apren-dizado prático das legislações sobre refugiados aos estudantes e aos advogados que participam do projeto. Ademais, essas duas instituições desenvolveram um livro, The Refugee Law Reader: Cases, Documents and Materials (VEDSTED-HANSEN, 2015), sobre as legislações voltadas aos refugiados, com casos em andamento e já julgados em continentes, como, a África, as Américas, a Ásia e a Europa. Já o Estatuto dos Refu-giados (1951) reverbera, em seu artigo 16, sobre o direito de estar em juízo, o acesso aos tribunais e a assistência judiciária.

    Em relação ao trabalho, os artigos 17, 18 e 19 do Estatuto dos Refugia-dos (1951) protegem as profissões assalariadas, não assalariadas e liberais, respectivamente. O direito ao trabalho é assegurado pelo “Pacto Interna-cional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais” em seu artigo sexto, “o direito ao trabalho, que compreende o direito que têm todas as pessoas de assegurar a possibilidade de ganhar a sua vida por meio de um traba-lho livremente escolhido ou aceite” (1976). Este é fundamental, visto que, é uma outra maneira de integrar o refugiado a sua “nova” nação. Ainda no âmbito do trabalho, o artigo 24 do Estatuto trata sobre as legislações do trabalho, no que diz respeito a regulamentação de horas de trabalho, remuneração, férias pagas, formação profissional e outros, e a previdência

    social, quando há acidentes no trabalho, invalidez, entre outros.

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    No quesito educação, a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugia-dos (1951), em seu artigo 22, explana sobre a imprescindibilidade da edu-cação pública para essa população. A Agência de Refugiados das Nações Unidas (“The UN Refugee Agency” - UNHCR) realizou um estudo sobre a qualidade, a proteção, o acesso e os desafios da educação, dentre eles es-tão: o acesso limitado, que é reduzido pela metade na educação secundária em comparação à média global, segundo a UNESCO (2011); uma educação que não possibilita o crescimento pessoal e a inserção no mercado de tra-balho; a possibilidade de, na escola, haver “bullying”, ou seja, ser local de discriminação racial e de gênero, de exploração sexual, com torturas, peri-go e ataques; a utilização de índices errôneos, que ocultam os verdadeiros problemas da educação; falta de professores e profissionais qualificados; poucos recursos financeiros e má coordenação destes; evacuação escolar.

    Os documentos de identidade são mais uma proteção prevista no Estatuto dos Refugiados (1951), que, no artigo 27, exige dos Estados re-ceptores a entrega de documentos de identidade para aqueles que estão em seu território e não tenham documentos, e o artigo 28 dispõe sobre a entrega de documentos para permitir que o refugiado viaje para ou-tros países. O documento EC/SCP/33, “Identity Documents for Refugees” (1984), da UNHCR demonstra a importância da documentação pessoal na vida de cada ser humano e, especialmente, na vida do refugiado, visto que pessoas sem documentação são deportadas e detidas, como também a tipificação de refugiado na documentação auxilia a implementação de medidas protetivas às pessoas nessa condição. Portanto, os documentos de identificação possibilitam o exercício da dignidade da pessoa huma-na, pois toda pessoa tem o direito ao documento de identificação para poder pleitear direitos e tornar-se parte de uma pátria.

    Relativamente à situação irregular dos refugiados no país acolhe-dor, o artigo 31 do estatuto discorre acerca da proibição da aplicação de sanções penais quando a permanência do cidadão nesse novo estado possui relação direta com a preservação da sua vida ou da integridade física/psíquica. No tocante à naturalização, o artigo 34 dessa conven-ção requer a simplificação da assimilação do refugiado, como também, a redução do tempo e das despesas desse processo. Contudo, cada país tem procedimentos e legislações próprias, podendo dificultar para os

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    refugiados a compreensão de cada processo e o que deve ser feito para se tornar um cidadão da sua nova nação.

    Sobre a expulsão devido a questões raciais, no artigo 33 desse Esta-tuto, o Estado receptor fica proibido de expulsar ou rechaçar o refugia-do devido a sua raça e sua religião, que já foram citados neste trabalho, sua nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Ademais, o arti-go 32, também, proíbe a expulsão do refugiado “senão por motivos de segurança nacional ou de ordem pública”. O princípio do “non-refoule-ment” estaria ligado a esse tema, visto que proíbe o envio do refugiado à nação em que é ou já foi perseguido.

    Quanto à naturalização, os Estados receptores devem facilitar “assi-milação e a naturalização dos refugiados” e tentar “acelerar o processo de naturalização e reduzir, na medida do possível, as taxas e despesas desse processo” (CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS RE-FUGIADOS, 1951, art. 34). Cada país receptor tem leis internas regu-lando o processo de naturalização, desse modo a forma de assimilação dos refugiados pode variar de um país para o outro. Esse dispositi-vo tenta proteger direitos inerentes ao refugiado, que faria parte da consagração da sua dignidade como pessoa humana, ao passo que a aproximação dos refugiados à nova sociedade na qual ele está vivendo viabilizaria uma socialização e a possibilidade de se sentirem “em casa”.

    O Estatuto dos Refugiados (1951) também estabelece diversos direi-tos, tais como: artigo 14, que faz com que o país receptor proteja pro-duções intelectuais e industriais dos refugiados; artigo 15, o qual dispõe que os Estados devem conceder a possibilidade de associação sem fins políticos e lucrativos, como também, aos sindicatos profissionais; arti-go 20, segundo o qual, na hipótese da existência de um racionamento para uma parte da população, os refugiados devem ser tratados como os nacionais; artigo 29, que proíbe a sujeição dos refugiados a impostos superiores aos dos nacionais; artigo 30, o qual possibilita a transferência de bens para o novo território e requer, dos Estados receptores, a consi-deração com benevolência dos pedidos de transferência de bens.

    O direito à saúde e a uma boa alimentação é assegurado pelo artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948): “toda a pes-soa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua

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    família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica”. Já o Estatuto dos Re-fugiados é omisso nesses temas, visto que eles não aparecem em ne-nhum momento do texto desse documento. A UNHCR desenvolveu uma estratégia global (GLOBAL STRATEGY FOR PUBLIC HEALTH, 2014) para a saúde pública e a segurança alimentar. Trata-se de seis objetivos para a saúde: aumentar o acesso a programas de cuidados primários da saúde, reduzir a mortalidade por doenças e epidemias transmissíveis, melhorar a taxa de sobrevida na infância, facilitar o acesso à prevenção e ao controle das doenças não transmissíveis e outros. De forma análoga, também existem três objetivos para a segurança alimentar: a prevenção efetiva da subnutrição, o tratamento da má nutrição e o fornecimento de comida segura, como também informações e análise da nutrição.

    Sobre o idioma, a “Declaração Universal dos Direitos Linguuísticos” é uma convenção específica, que explana, em seu terceiro artigo, a res-peito da utilização dos direitos de ser reconhecido como membro de uma comunidade linguística, o direito ao uso da língua em privado e em pú-blico, o direito ao uso do próprio nome, entre outros. Já o artigo quarto discorre especificamente sobre os imigrantes, que têm a obrigação e a prerrogativa de estabelecer uma relação de integração, devendo preser-var a cultura de país de origem e, concomitantemente, assimilar valores e costumes do país acolhedor. Dessa forma, a declaração proteje o uso de qualquer forma de expressão cultural (artigo 41).

    Um ponto a ser discutido é a expressão “nas mesmas circunstâncias”, que é abordada no artigo sexto da “Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados” (1951) e muito utilizada nos artigos desse documento:

    Art. 6° - A expressão “nas mesmas circunstâncias”

    Para os fins desta Convenção, os termos “nas mesmas circunstân-cias” implicam que todas as condições (e notadamente as que se referem à duração e às condições de permanência ou de residên-cia) que o interessado teria de preencher, para poder exercer o direito em causa, se ele não fosse refugiado, devem ser preenchi-das por ele, com exceção das condições que, em razão da sua na-tureza, não podem ser preenchidas por um refugiado.

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    O artigo sexto dessa convenção traria o direito, para os refugiados, ao tratamento igual a de um nacional, dessa forma o governo que conce-desse o asilo ao refugido deveria prover condições médicas, alimentares, educacionais, de segurança, de moradia como as que são disponibilizadas para seus cidadãos. Contudo, ainda há uma enorme discrepância entre o tratamento dispensado a um estrangeiro que vai para o país estudar ou trabalhar, e tem o suporte e o auxílio do governo, daquele que vai para se refugiar, mesmo que ele esteja necessitando mais dessa assistência.

    3. A aplicação dos Direitos dos Refugiados

    Segundo a UNHCR (2015), agência das Nações Unidas voltada aos refugiados, em um estudo realizado no final de 2015, os países que mais recebem refugiados (de todas as nacionalidades) são a Turquia (receben-do 2,5 milhões), o Paquistão (1,6 milhões), o Líbano (1,1 milhões), o Irã (979.400), a Etiópia (736.100) e a Jordânia (664.100). Segundo a UNHCR (2015), somando o número de asilos dos dez países que mais recebem refugiados, eles comportam 58% (9,3 milhões) da população global de refugiados registrados na UNHCR.

    Nenhum dos países da Europa ou as Américas fazem parte da lista dos países que recebem mais refugiados, porém, dentre os países da Europa, a Alemanha recebeu 316.115 mil refugiados em 2015, sendo o país europeu que mais recebeu pedidos de refúgios. Já em relação às Américas, o Equa-dor é o país que mais recebeu refugiados (53.191), segundo a pesquisa da UNHCR (2015), e, em seguida, está o Brasil com 8.707 asilados em 2015.

    No que diz respeito à legislação, cada país dispõe de procedimentos e leis distintas, como também protege os direitos dos refugiados de manei-ras diversificadas, seja por meio de políticas públicas, fomento à integração, entre outros. Ademais, existem países que não protegem esses direitos e desprezam necessidades básicas do ser humano. Nessa parte deste estudo, serão analisados como diversos países protegem os direitos dos refugiados.

    3.1. Europa

    Dentre os países que mais recebem refugiados na Europa, a Alema-nha recebeu 316.115 refugiados, como já foi citado acima. Os dez países

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    que mais recebem refugiados estão indicados no gráfico 1, dentre eles se destacam a Rússia em segundo lugar (314.506), a França (273.126) e a Suécia (169.520) (UNHCR, 2015).

    Gráfico 1: Número de Refugiados asilados na Europa no final de 2015

    Fonte: UNHCR (2015)

    A União Europeia, o bloco econômico do qual participam seis dos dez países que mais recebem refugiados, dedica um dos capítulos do “Tratado sobre o funcionamento da União Europeia” (1957) às “Políti-cas relativas aos controlos nas fronteiras, ao asilo e à imigração” (Capí-tulo 2). Nesse capítulo, a união compromete-se a desenvolver uma po-lítica migratória que conceda proteção àqueles que necessitem, como também observe o princípio da não repulsão, a Convenção de Genebra e o Estatuto dos Refugiados (Artigo 78).

    Um dos temas mais polêmicos envolvendo a crise dos refugiados e a União Europeia é a política de quotas. A Comissão Europeia (EURO-PEAN COMMISSION, 2016), no início do ano de 2016, sugeriu algumas mudanças nas regras de asilo (Convenção de Dublin - número C254/1),

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    dentre elas está uma multa de €250,000 (R$ 848.798,44) para cada refu-

    giado recusado, mesmo alterando o valor na multa, o comitê europeu

    aderiria uma pena para esses casos. De acordo com a BBC (2016), essa

    mudança haveria sido gerada pela falta de auxílio de diversos países e

    pela falta de consciência da responsabilidade compartilhada (“Fair Sha-re”) que têm. Diferentes integrantes do bloco já refutaram essa ideia, entre eles estão a República Checa, a Eslováquia, a Polônia e a Hungria.

    A relocação dos refugiados que chegam à Grécia e à Itália é um dos

    problemas que a União Europeia enfrenta, visto que a Grécia já expres-

    sou que sua capacidade de recepção e asilo chegaram ao limite, sendo

    que as transferências para outros estados continuam baixas (EURO-

    PEAN COMMISSION, 2016). Somente alguns países integrantes do blo-

    co retiram, mensalmente, refugiados da Grécia e da Itália, são eles: a

    Alemanha, a França, a Holanda, Portugal e a Finlândia. Segundo um

    relatório da Comissão Europeia (EUROPEAN COMMISSION, 2016), a

    Suíça e a Noruega também têm a intenção de fazer remoções mensais.

    Conclusão

    A primeira parte do estudo explica diversos conceitos, tais como,

    as diferenças entre cidadania e nacionalidade, a definição de refugia-

    do, as mudanças nas finalidades dos direitos fundamentais, como tam-

    bém a correlação entre a dignidade da pessoa humana e os sujeitos de

    direito. Relativamente ao segundo tópico do trabalho, alguns direitos

    fundamentais aos refugiados foram discutidos conjuntamente com as

    legislações que os protegem.

    Além do auxílio de alguns governos da Europa e do mundo, para

    amenizar a situação da Síria e o combate ao terrorismo, existem diversos

    grupos, como o grupo Capacetes Brancos (The White Helmets) e a Cruz Vermelha, que tentam ajudar. O grupo de Capacetes Brancos é composto

    por diversos homens, que dão suas vidas para salvar pessoas presas dentro

    de escombros após bombardeios e já salvaram mais de 78.529 sírios. Vale

    ressaltar que mais de 141 capacetes brancos já morreram salvando vidas

    (SERHAN, 2016). Já a Cruz Vermelha é uma organização mundial de traz

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    assistência médica a países em situações de calamidade. Na Síria, eles já realizaram cinquenta e cinco missões, trouxeram comida e cuidados médi-cos para oito milhões de pessoas, como também, água potável para outras milhões (INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS, 2016).

    Portanto, a crise dos refugiados pode ser amenizada com a coopera-ção dos países ao disponibilizar condições adequadas de refúgio, a fim de integrar os refugiados a sua nação, e também ao prover fundos para as fundações que atuam dentro da Síria para abrandar o cenário de terror presente nas cidades, como Aleppo.

    Contudo, o estudo desse tema não se finda, pois as guerras na Síria ain-da estão acontecendo e tomarão diversos desdobramentos no futuro. Ve-mos, atualmente, uma ascensão das políticas de fechamento de fronteiras e uma redução no auxílio aos refugiados, como por exemplo o decreto do atual Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. Ademais, permanece um questionamento: “porque os refugiados não são tratados da mesma maneira que outros imigrantes?”. Essa distinção e as novas políticas precisam ser estudadas para atenuar a situação da população síria.

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  • 51

    Os trinta anos da constituição de 1988: reflexões acerca dos refugiados venezuelanos no Brasil Arthur Bezerra de Souza JúniorFernando R. M. BertoncelloIsabelle Dias Carneiro Santos

    Introdução

    Este artigo acadêmico visa abordar a crise de refugiados envolvendo venezuelanos que estão fugindo para o Brasil, a fim de escapar de condições desumanas que estão enfrentando em seu país de origem ultimamente.

    A xenofobia não é um sentimento novo em relação aos refugiados, mas o que realmente chama a atenção é o fato de que ela persiste mesmo hoje em dia durante uma crise de refugiados que está acontecendo em todo o mundo.

    Michale Minkenberg (2008) aponta vários sentimentos, que enumera e denomina, entendendo que são os principais vilões daqueles que migram, uma vez que tais sentimentos favorecem práticas hostis a esses migrantes. São eles: racismo, anti-semitismo, chauvinismo, religiocentrismo (funda-mentalismo), xenofobia, nativismo, heteronormatividade e autoritarismo.

    Acredita-se que todos esses sentimentos estão por trás da decisão de fechar as fronteiras de Roraima, a fim de evitar que tantos refugiados chegassem pelo estado ao Brasil; e é por isso que esta discussão é trazida

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    52

    para este artigo, de modo que será possível verificar se tal decisão é ba-seada em qualquer entendimento legal ou apenas sobre os sentimentos acima mencionados.

    Assim, justifica-se a importância de abordar esse grupo de indiví-duos que atualmente é considerado o que mais requer refúgio no Brasil, configurando 33% dos pedidos de reconhecimento do status de refúgio no país, segundo órgãos oficiais do governo (BRASIL, 2017).

    Para isso, será utilizada metodologia baseada em método qualitativo e pesquisa exploratória descritiva, baseada em doutrina, tratados inter-nacionais, além de dados oficiais e não oficiais.

    1. Principais aspectos da migração venezuelana

    Durante a primeira década do século XXI, a Venezuela foi o destino dos migrantes forçados, vindos de boa parte da Colômbia e formados por trabalhadores rurais e ativistas políticos e de direitos humanos, que já haviam passado por um ou mais deslocamentos internos e expulsos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - FARC.

    No entanto, em menos de dez anos isso foi revertido. A Venezue-la, país rico e exportador de petróleo, vive agora uma crise política e econômica que já é notória, com casos de perseguição política de opo-sitores ao governo e de “[...] escassez total de produtos básicos, além de um as maiores taxas de homicídio do mundo e o país com a maior inflação do mundo: 180,9% em 2015, que em 2016 deve chegar a 700%, segundo o FMI (CORREIO BRAZILIENSE, 2016).

    Diante dessa realidade, parte da população da Venezuela vem se mudando para outros países do continente americano, como Argenti-na, Colômbia, Chile, Panamá, Peru e Estados Unidos da América (EUA) devido as condições econômicas e a proximidade geográfica. Algumas migrações têm apenas escopo econômico, enquanto outras solicitam até mesmo asilo político. Assim, a Venezuela como receptora gerou migrantes forçados, a maioria dos migrantes econômicos, formados por um grupo heterogêneo (social, econômico e educacional).

    Na busca por asilo político e especialmente pelo refúgio, os venezuela-nos tentam evitar a violação de seus direitos humanos, como o trabalho se-

  • k l e v er f i l p o, m a r i a g er a l d a m i r a n d a , r o g er i o b o r b a e t h i a g o r o d r i g u e s p er e i r a (o r g)

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    melhante à escravidão ou a falta de acesso a moradia decente, especialmen-te quando não são documentados, além de garantir outros direitos como a aplicação do princípio de não repulsão ou não retorno ou não-expatriação.

    No Brasil, o número de migrantes estrangeiros aumenta a cada ano. Entre eles consta asilos políticos, refugiados, migrantes com visto huma-nitário - como é o caso de haitianos e sírios - e migrantes que trabalham. Salienta-se que, na última década, estrangeiros de mais de oitenta nacio-nalidades diferentes migraram para país.

    Recentemente, os venezuelanos começaram a migrar em maior nú-mero para o Brasil, fugindo da fome que os assola, especialmente os mais pobres, devido à crise econômica e política em seu país de origem.

    Mas, se em 2014 a maioria dos venezuelanos cruzavam a fronteira visando suprir a necessidade de compra, como alimentos e medica-mentos, de 2015 até o presente, devido à recessão econômica, falta de empregos e casos alarmantes de fome entre a população, o número de venezuelanos que pretendem ficar no Brasil e buscar refúgio aumenta-ram consideravelmente e