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1 CONSELHO DE CLASSE PARTICIPATIVO: ESPAÇO DE POSSIBILIDADES E SUCESSO NO PROCESSO EDUCATIVO Vânia de Oliveira Kuss 1 Zuleika C .Piassa 2 Resumo Este texto é conclusivo do trabalho desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE - instituído pela Secretaria do Estado da Educação do Paraná e pretende caracterizar os componentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, determinando a função do Conselho de Classe na dinâmica participativa e avaliativa da aprendizagem no contexto atual da instituição escolar. Um dos maiores problemas apresentados na prática avaliativa é a falta de atuação ativa do Conselho de Classe na relação professor-aluno e ação pedagógica, uma vez que desviado de seu papel como instância colegiada, este tem se transformado em espaço de julgamento junto aos professores das turmas, verificando quem merece ficar retido ou não, esquecendo de refletir o que foi proposto ao educando no transcorrer do ano letivo para superar suas dificuldades. Com isso, pretende-se contribuir para que as condutas destes constituintes do processo de ensino e aprendizagem sejam adequadas a sua verdadeira função, auxiliando-os no caminho que percorrer até tornarem-se indivíduos independentes, críticos e participativos e desempenhar seu papel social .Para tanto,adotou-se como procedimentos de estudo a pesquisa-ação que constou de duas fases,sendo a primeira de revisão bibliográfica e a segunda uma pesquisa de campo em que procurou-se,no contexto de uma escola pública estadual do município de Sertanópolis,abrir espaços de discussão coletiva e de construção de uma proposta de Conselho de Classe com a participação de docentes e alunos .Respaldaram a pesquisa bibliográfica as obras de Dalben (1996) e Carrilho (2005).Considerou-se que o conselho de Classe como instância colegiada deve acontecer de forma participativa e para que todos os envolvidos no processo ensino- aprendizagem venham realmente a se comprometer com os resultados . Palavras-Chave: Conselho de Classe;Gestão Democrática;Participação;Avaliação. Abstract This text is conclusive of the work of the Education Development Plan EDP-established by the Secretary of State for Education of Paraná and to characterize the components involved in the teaching process and learning, determining the function of Council of Class in the dynamics participatory and valuative of the learning in the current context of the school institution. One of the largest problems presented in practice valuative is the lack of active performance of Council of Class in the relationship teacher-student and pedagogic action, once diverted of her role as instance collegiate, this has if transformed in judgment space close to the teachers of the groups, verifying who it deserves to be kept or no, forgetting to contemplate what was proposed to the student in elapsing of the school year to overcome their difficulties. With that, it intends to contribute so that the conducts of these constituent of the teaching process and learning are appropriate to theirs true function, aiding them in the road that to travel until they turn her individuals independent, critical and participations and to play theirs social part. For so much, it was adopted as study procedures the research-action that consisted of two phases, being the first of bibliographical revision and second a field research in that it was sought, in the context of a state public school of the municipal district of Sertanópolis, to open spaces of collective discussion and of construction of a proposal of Council of Class with the teachers' participation and students. It backed the bibliographical research the works of Dalben (1996) and Carrilho 1 Docente da Rede Pública Estadual – participante do PDE 2 Docente da Universidade Estadual de Londrina – orientadora do trabalho.

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CONSELHO DE CLASSE PARTICIPATIVO: ESPAÇO DE POSSIBILIDADES E SUCESSO NO PROCESSO EDUCATIVO

Vânia de Oliveira Kuss1

Zuleika C .Piassa2 Resumo Este texto é conclusivo do trabalho desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE - instituído pela Secretaria do Estado da Educação do Paraná e pretende caracterizar os componentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, determinando a função do Conselho de Classe na dinâmica participativa e avaliativa da aprendizagem no contexto atual da instituição escolar. Um dos maiores problemas apresentados na prática avaliativa é a falta de atuação ativa do Conselho de Classe na relação professor-aluno e ação pedagógica, uma vez que desviado de seu papel como instância colegiada, este tem se transformado em espaço de julgamento junto aos professores das turmas, verificando quem merece ficar retido ou não, esquecendo de refletir o que foi proposto ao educando no transcorrer do ano letivo para superar suas dificuldades. Com isso, pretende-se contribuir para que as condutas destes constituintes do processo de ensino e aprendizagem sejam adequadas a sua verdadeira função, auxiliando-os no caminho que percorrer até tornarem-se indivíduos independentes, críticos e participativos e desempenhar seu papel social.Para tanto,adotou-se como procedimentos de estudo a pesquisa-ação que constou de duas fases,sendo a primeira de revisão bibliográfica e a segunda uma pesquisa de campo em que procurou-se,no contexto de uma escola pública estadual do município de Sertanópolis,abrir espaços de discussão coletiva e de construção de uma proposta de Conselho de Classe com a participação de docentes e alunos .Respaldaram a pesquisa bibliográfica as obras de Dalben (1996) e Carrilho (2005).Considerou-se que o conselho de Classe como instância colegiada deve acontecer de forma participativa e para que todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem venham realmente a se comprometer com os resultados . Palavras-Chave: Conselho de Classe;Gestão Democrática;Participação;Avaliação. Abstract This text is conclusive of the work of the Education Development Plan EDP-established by the Secretary of State for Education of Paraná and to characterize the components involved in the teaching process and learning, determining the function of Council of Class in the dynamics participatory and valuative of the learning in the current context of the school institution. One of the largest problems presented in practice valuative is the lack of active performance of Council of Class in the relationship teacher-student and pedagogic action, once diverted of her role as instance collegiate, this has if transformed in judgment space close to the teachers of the groups, verifying who it deserves to be kept or no, forgetting to contemplate what was proposed to the student in elapsing of the school year to overcome their difficulties. With that, it intends to contribute so that the conducts of these constituent of the teaching process and learning are appropriate to theirs true function, aiding them in the road that to travel until they turn her individuals independent, critical and participations and to play theirs social part. For so much, it was adopted as study procedures the research-action that consisted of two phases, being the first of bibliographical revision and second a field research in that it was sought, in the context of a state public school of the municipal district of Sertanópolis, to open spaces of collective discussion and of construction of a proposal of Council of Class with the teachers' participation and students. It backed the bibliographical research the works of Dalben (1996) and Carrilho

1 Docente da Rede Pública Estadual – participante do PDE 2 Docente da Universidade Estadual de Londrina – orientadora do trabalho.

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(2005).It was considered that the piece of advice of Class as instance collegiate should happen of form participating and so that all involved them in the process teaching-learning they really come committing with the results. Word-key: Council of Classe ;Democratic Management ;Participation; Assesment . INTRODUÇÃO

Este texto é fruto do trabalho desenvolvido no Plano de

Desenvolvimento Educacional – PDE, instituído pela Secretaria de Estado da

Educação do Paraná que tem como objetivo principal aprimorar o trabalho

desenvolvido pelos educadores das escolas públicas estaduais. Este projeto

tem possibilitado uma formação continuada pautada no conceito de práxis, ou

seja, a pesquisa teórico-científica aliada à intervenção direta na prática

pedagógica dos estabelecimentos de ensino. Tal feito foi possível devido à com

instituições de Ensino Superior Estadual que fornecem os professores

orientadores do trabalho e organiza a formação para a pesquisa.

Considerando as modificações que se deram nas esferas

sócias - político - econômicas no país a partir da década de 80 e mais

significativamente na década de 90, centradas na abertura política e

democratização das relações sociais, houve um destaque para a

descentralização e participação nas discussões em áreas como: saúde,

educação, assistência social, e habitação e outras. Neste contexto, estabelece-

se uma dinâmica que possibilitou a efetivação de diferentes estruturas

participativas. A descentralização político-administrativa passa a exercer

importante papel na democratização do país. Nesta fase implantaram-se

diversas experiências educativas por parte de alguns estados3 que interferiram

diretamente no trabalho das escolas, uma vez que as mesmas passaram a ter

autonomia didático-pedagógica, podendo construir sua própria proposta

pedagógica e constituir órgãos colegiados legítimos para a tomada das

principais decisões no contexto da escola.

Após a Conferência Mundial de Educação par Todos ,em 1990,

em que cada país estruturou seu Plano Decenal de educação, as linhas de

3 Um exemplo foi o Projeto Escola Cidadã implantada no Estado do Paraná entre os anos de 1990 e 1994 (SILVA, 1998)

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ação estabelecidas enfatizaram a necessidade de novos padrões de gestão

educacional, delegando à escola um importante posicionamento na prestação

de serviços educacionais de qualidade.

A instituição de órgãos colegiados como experiência

participativa nas escolas, de certa forma mascarou as responsabilidades de

competência do Estado relativas à educação, mas não esgotou as

possibilidades de mudanças nesta dimensão, uma vez que está diretamente

ligada aos sujeitos que dela participam. A gestão participativa proporcionou

nova concepção de escola pública, tanto para os que nela estão inseridos,

como para alunos, pais e moradores da comunidade, contribuindo assim para

a formação da cidadania.

Na gestão educacional democrática, a participação das

instâncias colegiadas de decisão coletiva exerce papel fundamental no sentido

de coibir o autoritarismo, a seletividade e a exclusão social. Uma destas

instâncias é o Conselho de Classe, que se constitui como instância avaliativa

do espaço escolar e possibilita a leitura coletiva das práticas escolares e suas

necessidades pedagógicas, estando inserido num contexto que abrange

avaliação, a metodologia e a construção efetiva de uma prática pedagógica

coletiva. Neste sentido, concebe-se, então, a necessidade de destacá-lo como

momento propício para a análise e proposta de intervenção possível no que se

refere às dificuldades presentes no cotidiano escolar.

Nosso objetivo neste texto é, justamente, caracterizar a

dinâmica do Conselho de Classe como instância colegiada e relatar a

experiência decorrente de uma pesquisa-ação desenvolvida em uma escola da

rede pública estadual do Município de Sertanópolis.

O texto foi estruturado discutindo-se as seguintes temáticas: a

efetivação do Conselho de Classe participativo, nos moldes da gestão

democrática, sua importância como instância avaliativa do trabalho escolar e a

necessidade de envolvimento do coletivo. A principal consideração através

deste trabalho é a de situar o trabalho realizado pela escola e o direcionamento

de sua prática para uma análise qualitativa desse processo.

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1 Sobre a prática do conselho de classe

Faz-se necessário rever o processo de interação entre corpo

docente e o Conselho de Classe em sua dinâmica bem como suas ações, que

não podem limitar-se a reuniões esporádicas, que se tornam “sessões de

julgamento” com enfoque à resultados especificamente numéricos com uma

séria tendência a restringir-se nos pareceres formais de aprovação e

reprovação. No âmbito escolar, os Conselhos de Classe são estratégias

importantes na busca de alternativas para a superação de problemas

pedagógicos relacionados ao ensino e principalmente à aprendizagem, pois

este momento não está sendo utilizado como espaço de reflexão e definição de

estratégias para o cumprimento do currículo de cada disciplina para garantir a

melhor aprendizagem do aluno. Por ser também nesse momento que os

resultados de cada turma se expõem, refletindo as dificuldades e o trabalho

realizado bimestralmente, há uma visível resistência em revê-los como

oportunidades de tomar direcionamentos diferenciados e significativos para as

práticas diárias dentro e fora da sala de aula.

A escola, em sua prática avaliativa precisa envolver o corpo

docente e discente nas discussões e enfrentamento de problemas referentes

ás práticas pedagógicas escolares, bem como compreender o Conselho de

Classe como espaço de reflexão/ação produtiva para a qualificação do

processo ensino-aprendizagem. Relacionadas a esta mudança de postura,

deverá analisar a prática atual, bimestral e final, considerando se os resultados

apresentam-se satisfatórios à melhoria da aprendizagem do aluno bem como

estudar a fundamentação legal e teórica constante no Projeto Político

Pedagógico que explicita o conceito, as finalidades e a organização dos

Conselhos de Classe,

Esta identificação junto ao corpo docente possibilita identificar

as ações que facilitarão a revisão dos procedimentos avaliativos que

acompanham o processo de construção do conhecimento Assim, poderá então

dinamizar a organização atual do Conselho de Classe da escola, com vistas a

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interferir positivamente no processo ensino-aprendizagem e seus resultados,

proporcionando a participação efetiva do aluno. (DALBEN,1996).

Nesse sentido, o Conselho de Classe é uma importante

estratégia na busca de alternativas para superar problemas pedagógicos e

administrativos da escola, com a participação direta ou indireta da comunidade

nela inserida, para que se construam propostas que permitam uma ação

conjunta, visando saná-los. Também o Conselho de Classe pode ser

instrumento na luta pela democratização do espaço escolar. A escola deve

comprometer-se com os reais interesses de sua comunidade, entre os quais a

aprendizagem, o respeito às diferenças individuais, igualdade de direitos e de

condições à justiça ao diálogo e, portanto á democracia. A transformação da

educação escolar só será realizada por sujeitos auto-reflexivos, esclarecidos e

conscientes de seu papel social.

Considerando o exposto na atual LDB (BRASIL, 1996), seção

IV, artigo 35 º, entre as demais finalidades da escola de nível médio, destaca-

se “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação

ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.”

Em seu artigo 36º, define ainda que o currículo de ensino médio,”adotará

metodologias de ensino e avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes”.

A Deliberação n º 07/CEE ( PARANÁ,2007) estabelece em

relação aos Conselhos de Classe em seu artigo 7º que:

Caberá ao órgão indicado pelo Regimento Escolar, o acompanhamento de avaliação da série, ciclo, grau ou período,devendo debater e analisar os dados intervenientes na aprendizagem “

§1º-O órgão será composto, obrigatoriamente, pelos professores, pelo Diretor e pelos profissionais de supervisão e orientação educacional.

§2º-É recomendável a participação de um representante dos alunos.

§3º-A individualidade do aluno e o seu domínio dos conteúdos necessários deverão ser assegurados nas decisões sobre o processo de avaliação.

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claramente que o foco então de todas as discussões que permeiam o Conselho

de Classe, deverá centrar-se na aprendizagem do aluno, nos procedimentos

avaliativos e principalmente permitir a sua participação na busca de soluções

para problemas apresentados, gerando ações educativas em seu próprio

benefício, não perdendo de vista que o objetivo maior desse processo é a

possibilidade de reorganizar o processo ensino-aprendizagem de cada

disciplina a partir de dados apontados,discutidos e registrados em sua

dinâmica.

[...] pelos resultados de alunos e alunas também se atribuem valores á professora [...] o aluno, tornado objeto expõe que a professor, presumidamente sujeito da ação também se torna objeto (...) a professora sabe que ao recortar alunos e alunas, recorta a si mesma, que ao expô-los, expõe-se, que ao avaliá-los, avalia-se e é avaliada. (ESTEBAN ,2005 p. 21 e 22 )

Nesse contexto, descarta-se apenas a culpabilização do

professor pelos problemas educativos. Todos os segmentos hierárquicos do

sistema educacional têm sua co-responsabilidade pelos sucessos e insucessos

relacionados ao mesmo. Analisar o seu papel na escola atual por ser ele o

sujeito direto de trabalho com o aluno, junto á equipe pedagógica e a família,

esta última que por questões de organização social deixa de inserir-se nesse

processo como atuante, tornado-se omissa e na maioria das vezes,o que é

pior, assumindo sua incompetência diante dos próprios filhos na tarefa de

educar-lhes, não significa colocar somente à ele,a tarefa de enfrentamento dos

problemas escolares. Há também necessidade do resgate da participação da

família, “peça” importantíssima na montagem desse “quebra –cabeça”.

[...] o professor pessoa sofre as conseqüências de uma sociedade em profunda mudança (...)a competência para ser professor passa assim por sua capacidade de acompanhamento das mudanças e das novas condições de trabalho . (MOURA. 2001 p 153 )

Retomando a dinâmica de sua relação com o Conselho de

Classe, docentes e equipe pedagógica, devem estar cientes de que não são

necessárias somente adaptações às mudanças exigidas e sim, uma abertura

em ouvir, interagir com alunos e família com a finalidade de transpor os

resultados quantitativos analisados e considerados nestes momentos para

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resultados qualitativos. Isto se viabiliza, se é descartada a função de terminal

idade pela qual as avaliações são realizadas, para utilizar-se os resultados

obtidos como retomada de procedimentos e formação global do aluno,

lembrando ainda que estes devem refletir o exposto como objetivos nos planos

de trabalho docente e nas Diretrizes Curriculares Estaduais .

Para Isabel Alarcão (2007 p. 15): “a escola como organização,

tem de ser um sistema aberto, pensante e flexível. Sistema aberto sobre si

mesmo, e aberto à comunidade em que se insere.” Assim o Conselho de

Classe como instância colegiada na instituição de ensino só se fará legítimo se

tornar-se um elo de interação entre aluno, docentes e família. Esta participação

poderá se fazer de forma direta e ou indireta, quando alunos e família colocam

suas expectativas e dificuldades pertinentes à escola, nos momentos de

comunicação dos resultados bimestrais e finais e retorno de decisões tomadas

para cada turma, após o Conselho, entre outras. Permitir que o aluno e família

fossem ouvidos e auxiliem nesses momentos, não significa atribuir-lhes

funções específicas do trabalho docente e pedagógico, mas aproveitar suas

contribuições, revertendo-as positivamente no encaminhamento do trabalho

diário escolar. O que importa à escola é saber a proporcionalidade em que esta

participação acontece, além de definir esses momentos..

Se falarmos em gestão democrática, podemos iniciar pelas

atividades escolares que necessariamente exigem a participação do coletivo,

que é o caso dos Conselhos de Classe. As relações de poder que se

perpetuaram no interior da escola, em toda a sua trajetória, através do

autoritarismo imposto pelas práticas pedagógicas conservadoras, precisam

transpor-se para relações de cooperação e experiências diárias produtivas. Os

instrumentos de avaliação sempre foram utilizados como reforçadores de

hierarquia e poder no espaço escolar.

[...] Todo o processo educativo, envolve por um lado,alguém com a pretensão de modificar comportamentos alheios (educador) e alguém cujos comportamentos se supõem passíveis de serem modificados (educandos) . ( PARO.2008, p.45 )

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Paro (2008), em sua interpretação afirma que a relação de

poder - sobre, deva substituir-se pela relação de poder - fazer, a única forma

compatível com a educação democrática que visa a constituição de sujeitos

livres. Se há uma relação pedagógica competente por parte do professor ou da

escola, toda a ação planejada para ensinar resulta na flexibilidade que permite

modificá-la a partir da resposta do educando no processo de ensino. Há

necessidade então, de um maior tempo para que todos os envolvidos no

processo compreendam o sentido do trabalho coletivo para que participem

politicamente do mesmo. Na experiência participativa não se tem ainda clareza

dos limites e possibilidades de cada um, mas esta certeza só se definirá por

experiências que possibilitem essa organização.

Na perspectiva de rever a função do Conselho de Classe na avaliação escolar,intensificando a necessidade das práticas avaliativas serem desvinculadas do conceito tradicional,principalmente no que diz respeito ao fato de ser instrumento bastante utilizado ainda como classificatório para promover o educando, que precisam ser revistas as funções do Conselho de Classe .(HOFFMANN,1991;1994).

A avaliação, sobre a orientação da lei vigente sugere a

importância do professor não atuar como único responsável pelo processo

avaliativo, uma vez que este deve estar em consonância com o Projeto Político

Pedagógico, enfatizando juntamente o Regimento Escolar, que não deve ser

considerado com displicência. Embora todas as instâncias colegiadas devam

atuar diretamente nas vivências escolares, o Conselho de Classe apresenta

características que o diferencia das demais, pois os seus constituintes são os

professores das diferentes disciplinas, gestor e professor pedagogo e, ainda

em alguns casos os alunos. Assim, é espaço que apresenta maiores

possibilidades de articular os diversos segmentos da escola, tomando como

objeto de estudo o processo de ensino e a avaliação da aprendizagem.

(DALBEN, 2004)

Nessa direção, este conhecimento praticado e inserido no

coletivo, reafirma o nosso compromisso com a democracia no espaço da sala

de aula e da escola como um todo, destacando o nosso trabalho pedagógico,

desde as ações mais simples, a serviço da aprendizagem dos alunos e de sua

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formação plena .Assim nos tornamos responsáveis pela realização de uma

nova proposta educativa em cada escola .

Se pensarmos as instâncias avaliativas na escola e suas

múltiplas possibilidades educativas, iremos perceber que o nosso trabalho na

escola e em sala de aula poderá compor uma miscelânea de saberes

necessários às práticas educativas e avaliativas, nos mostrando ser possível

uma ação compartilhada entre educadores, alunos e suas respectivas famílias.

2 Procedimentos de estudo Após os estudos realizados sobre a temática do Conselho de

Classe , foi escolhida a metodologia da pesquisa- ação , por ter este trabalho,

a finalidade não só de conhecer de forma mais específica o histórico e

fundamentação dessa prática na instituição escolar , sua dinâmica ,e

resultados no processo educativo , mas também de intervir de forma concreta

para que haja um redirecionamento positivo em suas atividades diárias. Para Franco (2005) a pesquisa-ação em educação permite

considerar a voz dos sujeitos do processo e suas perspectivas e não apenas

registrar e interpretar dados por parte do pesquisador. Como o Conselho de

Classe é uma instância colegiada, não teria sentido, pretender modificar sua

dinâmica sem envolver todo o seu coletivo.

Nesta perspectiva de trabalho, os estudos e análise de dados,

permitem praticar gradativamente as intervenções no universo estudado e

direcionar as ações para o foco teórico desejado com a contribuição efetiva

de seus participantes. 2.1 Os sujeitos

Foram sujeitos desta pesquisa ,docentes e alunos de Ensino

Médio e Ensino Médio Integrado do curso de Técnico em Administração,

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diretor e vice-diretor, membros da Equipe Pedagógica e auxiliares

administrativos .

2.2 Etapas da pesquisa O presente trabalho foi estruturado nas etapas que se seguem,

com o objetivo de transformar a prática de Conselho de Classe instituída

na escola , priorizando as questões referentes à aprendizagem do aluno e

promover momentos de reflexão coletiva e torno do Conselho de Classe;

criar e organizar uma nova proposta de Conselho de Classe, em

conformidade com os princípios estabelecidos na proposta pedagógica da

escola :

I - Apresentação do projeto PDE : foi feita ao coletivo escolar na Semana

de Capacitação Pedagógica no início deste ano letivo ressaltando a

importância do tema escolhido no atendimento às necessidades

pedagógicas da escola e também procedeu-se um levantamento dos dados

do Conselho de Classe Final de 2008, consultando-se as atas produzidas

na ocasião. Houve bastante receptividade por parte dos docentes em participar

do projeto, o que corrobora a idéia de Dalben (2004) de que o Conselho de

Classe é motivo de conflito em muitas escolas e para muitos educadores.

Quanto aos dados do Conselho de Classe do ano de 2008, constatou-se que

há necessidade de diminuir os casos de aprovação por Conselho que

chegaram a 41% e também os de reprova. As atas precisam ser mais

específicas nesses casos. Segundo Dalben (2004) quando discutimos o

Conselho de Classe, discutimos também as concepções de avaliação escolar

presentes em nossa prática e essa leitura conjunta permite mobilizar o

coletivo no sentido de alterar as relações nos diversos espaços da instituição

escola.Dessa forma, essa discussão no início das atividades escolares e da

implementação do projeto na escola abre caminhos para as próximas

etapas do trabalho.

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II - Organização e implementação do Grupo de apoio ao Projeto PDE na escola para o estudo do projeto e material didático produzido: esta

segunda etapa do trabalho, foi enriquecida com a possibilidade de formar

no colégio , um Grupo de Apoio à Implementação do Projeto PDE na escola

por parte da Secretaria do Estado da Educação , que possibilitou essa

abertura, com o objetivo de criar condições concretas para discutir as bases

teórico-metodológicas que orientam o processo de intervenção, a pertinência

das atividades propostas e a avaliação das mesmas .Este grupo, constituiu-se

por 15 integrantes, entre eles docentes e auxiliares administrativos,

perfazendo uma carga horária de 32 horas de estudo divididas em 16

horas para estudo dirigido do Caderno Temático “Conselho de Classe

Participativo :espaço de possibilidades e sucesso no processo educativo” , e

outras 16 horas para elaboração, aplicação e tabulação dos dados

coletados nos instrumentos de pesquisa aplicados aos docentes e alunos

.

III - Aplicação dos instrumentos de Pesquisa : nesta fase de aplicação e

tabulação dos questionários de pesquisa aos alunos e professores sobre

o Conselho de Classe, pude constatar que o Caderno Temático foi de

grande contribuição para que o Grupo de Apoio pudesse auxiliar na

elaboração das questões com maior conhecimento e objetivos definidos.

Houve bastante interesse dos alunos em manifestar suas opiniões

através dos instrumentos aplicados, em contrapartida os professores

apresentaram uma certa resistência ao responder o instrumento de

pesquisa a eles direcionados, embora tenham correspondido .

III. a -Instrumentos de Pesquisa aplicados os docentes: foi aplicado aos

35 professores integrantes do colégio e fundamentou-se nos seguintes

aspectos :

relação da dinâmica das aulas no desenvolvimento dos objetivos pelo

aluno;

fatores interferentes no desenvolvimento dos objetivos;

possibilidades de participação do aluno nas aulas;

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fatores determinantes do sucesso docente;

estratégias de superação e intervenção pedagógica.

III.b - Instrumentos de pesquisa aplicado aos alunos - foram aplicados

questionários a 150 alunos que representam 25% dos alunos matriculados

dos três turnos de funcionamento do colégio ao e fundamentou-se :

no conceito do Conselho de Classe;

nas atribuições do aluno no Conselho de Classe;

no significado da aprovação por Conselho de Classe;

na necessidade de participação do aluno nas reuniões de Conselho de

Classe.

IV - Resultados obtidos após a tabulação dos dados pelo Grupo de Apoio,

procedeu-se uma análise dos mesmos que apresentamos a seguir.

Numa primeira questão, indagamos os docentes sobre relação

das suas aulas com o desenvolvimento dos objetivos propostos e 65% deles

declararam em suas respostas que a motivação do aluno para aula, a

conscientização da importância dos conteúdos e a aplicabilidade prática dos

conteúdos são fatores determinantes no alcance dos objetivos além da

utilização de atividades diversificadas com discussões,estudos,debates,

proposição de exercícios variados, experimentos, trabalhos de pesquisa e uso

das Tecnologias Educacionais, estes últimos considerados em segunda

instância .

Quanto aos fatores interferentes no desenvolvimento dos

objetivos de cada aula destacaram-se como respostas que a indisciplina e

as faltas interferem significativamente no processo ensino-aprendizagem ,

destacando-se sobre a ausência de pré-requisitos e dificuldades de

aprendizagem por eles apontadas . Assim, deixam transparecer que o docente

se exclui do sucesso de suas aulas, no momento em que considera a

motivação e o interesse do aluno como determinantes principais para atingir os

objetivos de seus objetivos .

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Mesmo que as aulas sejam bem preparadas e eles se utilizem

de instrumentos e técnicas variadas, aspectos estes apontados em 85% das

respostas, quando indagados sobre as possibilidades de participação

proporcionadas ao aluno , a indisciplina é vista como causa e não como

consequência de um sistema de ensino obsoleto que necessita de

intervenções práticas, em que a porcentagem de freqüência dos alunos nas

aulas reflete também a falta de envolvimento e objetivos em relação aos

estudos. (CARRILHO, 2005)

As estratégias de superação apresentadas pelos professores

sugerem tentativas isoladas em solucionar as questões disciplinares e de

aprendizagem, como por exemplo citado em suas respostas, manter o aluno

“ocupado tempo todo” já resolve em grande parte a questão disciplinar,

assim “ao menos estão fazendo algo relacionado à aula.”

Neste contexto escolar,segundo Carrilho (2005), há uma

significativa precedência das questões disciplinares sobre as da aprendizagem,

uma inadequação da prática ao que se propõe ser modificada através das

dinâmicas de Conselho de Classe. Numa perspectiva de participação poderá

se tornar significativo momento de avaliação diagnóstica da ação educativa da

escola, cumprindo a função de auxiliar na formação da subjetividade do

professor e aluno como processo auxiliar na aprendizagem, considerando que

esta ação conjunta auxilia no desenvolvimento de atitudes de cooperação no

ambiente escolar, favorecendo o cumprimento favorável dos objetivos da

instância colegiada em questão .

4.2-Instrumento de pesquisa aplicado aos alunos

Analisando os resultados obtidos, podemos observar no Gráfico

I que os alunos tem uma visão clara dos objetivos do Conselho de Classe. Este

é um fator importante pois vem a favorecer a sua participação no mesmo.

Observe o gráfico:

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GRÁFICO I: conceito de Conselho de Classe

CONSELHO DE CLASSE É :

0,00%20,00%40,00%60,00%80,00%

100,00%

1) Reunião de professores, equipe pedagógica e direção para falar de alunos com problema :disciplina e faltas ;

Reunião de professores, equipe pedagógica e direção para aprovar e reprovar alunos ;

Reunião de professores, equipe pedagógica e direção para avaliar situações de ensino aprendizagem e buscar soluções com vistas a melhorar o trabalho dos professores e o desempenho dos alunos ;Reunião da direção , pais e professores para “detonar os alunos ” e procurar punições para seus atos ;

Notadamente no Gráfico II, consideram que devam realizar esta

participação em algum momento das reuniões de Conselho de Classe para

emitir opiniões e buscar soluções para os problemas apresentados.e que todos

os envolvidos no processo devem assumir as suas responsabilidades na

efetivação do processo ensino-aprendizagem ,uma vez que os objetivos da

escola dependem do trabalho de cada um.

GRÁFICO II - papel do aluno nos Conselhos de Classe

EM RELAÇÃO AOS CONSELHOS DE CLASSE O ALUNO DEVERÁ :

0,00%20,00%40,00%60,00%80,00%

1Participar em algum momento dos Conselhos de Classe,emitindo opiniões e propondo soluções para problemas apresentados ;Ficar aguardando os resultados do conselho de classe , afinal de contas , não é o seu trabalho enem de sua competência;Fazer sua parte em sala de aula e deixar que professores , direção e equipe pedagógica busquem melhorar a escola ,afinal é o trabalho deles ;

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Os alunos consideram também, pelas respostas obtidas no

Gráfico III que a provação por Conselho de Classe, índice que chegou em 41%

no colégio no ano letivo de 2008, como resultado de uma análise real e positiva

de cada caso pelos docentes. Em contrapartida vêem também que esta

aprovação em número considerável dos alunos do colégio por Conselho de

Classe assume o caráter de obrigação da escola em aprovar alunos, mesmo

que não apresentem um resultado satisfatório durante o ano letivo.

GRÁFICO III – significação dos alunos dada à aprovação pelo Conselho de Classe

SER APROVADO POR CONSELHO DE CLASSE SIGNIFICA QUE :

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%

1 Que o aluno faz o que bem entender durante e o ano e depois a escola tem que dar um “empurrãozinho “;"

Que seu caso foi analisado e ele poderá acompanhar a série seguinte;

Que na dúvida , é bom passar mesmo porque no outro ano ele se vira ;

Tirar o mérito daqueles que se esforçam o ano todo ,conseguem bons resultados e são aprovados de forma direta .

Quando indagados sobre a importância de participação nos

Conselhos de Classe, significativamente, justificam-na pela oportunidade de

cooperar, interagir, emitir opiniões, obter informações e em alguns casos até

para se “defenderem” das “acusações” dos docentes. Os que consideram não

haver esta necessidade justificam que há certo corporativismo por parte dos

docentes e que não lhes cabe participar dessas reuniões pelo fato de estarem

sendo avaliados, causando certo constrangimento.

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Sabemos que existe uma resistência inicial à prática do

Conselho de Classe que insere a participação do aluno em algum de seus

momentos, pois se tratando de auto-avaliação do trabalho desenvolvido

por nós educadores, de certa forma estamos desvelando nossas práticas e

refletindo nosso trabalho pelos resultados obtidos. Por isso, Carrilho (2005)

considera ser necessário um clima de confiança e busca coletiva de

transformação da prática educativa pra implantação desse processo,pois não

se soluciona um problema descobrindo culpados, mas agindo sobre a

necessidade que teve como manifestação externa, o problema. Mais do que

a presença do aluno no Conselho de Classe é necessária a sua

participação no processo de avaliação, o que é visto pelo docente como

diminuição de seu poder sobre os alunos .

V – Avaliação da prática atual do Conselho de Classe realizado na escola : nesta etapa foram propostas reflexões do caderno Temático e

apresentados os resultados dos instrumentos de pesquisa. Houve

envolvimento maior por parte do coletivo, o que auxiliou bastante no

estudo e reflexões propostas no material didático. Os docentes

consideraram que a idéia de discutirmos as questões disciplinares do bimestre

por turno, bem como o levantamento de ações para saná-las, possibilitou

que a discussão por área de estudo ocorresse de forma mais voltada para

o ensino aprendizagem, mesmo estas não estando desvinculadas .

No Conselho de classe o 1º bimestre o tempo não foi suficiente

e houve necessidade de estender as discussões para a Reunião Pedagógica,

dando continuidade aos trabalhos. Já no Conselho de Classe realizado no 2º

Bimestre também houve um espaço reservado aos estudos e reflexões, sendo

o tempo suficiente para apresentar propostas de ações pedagógicas por série

e turno. Os professores decidiram a realização de monitoria em turno

alternativo para alunos com dificuldades de aprendizagem, que foi estabelecida

para o 3º bimestre .

Considerando a necessidade de participação dos alunos em

algum momento do Conselho de Classe, ficou definido que gradativamente

esta inserção seja realizada através dos pré-conselhos, inicialmente nas

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turmas que apresentam maiores dificuldades de aprendizagem e problemas

disciplinares, pois há necessidade de um preparo maior tanto dos alunos, como

dos professores no sentido de compartilhar experiências e buscar soluções

conjuntas para alterar positivamente os resultados apresentados até então .

Já no Conselho de Classe do 3º Bimestre, embora esteja este fora do

período de implementação , houve um retrocesso da prática proposta, uma

vez que os docentes centraram suas discussões nas possibilidades de

aprovação e reprovação do aluno, vinculando-as mais às questões

disciplinares do que as de aprendizagem, o que sugere a necessidade de

uma retomada contínua dos estudos referentes a dinâmica do Conselho

de Classe na escola, além da constante avaliação desse processo. Neste

sentido e neste momento se torna apropriado o conceito de práxis, na medida

em que a prefiguração do Conselho de Classe e sua aplicação foram

constantemente envolvidas pela reflexão e ação concomitantemente (KOSIK,

1976).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este texto teve o objetivo de descrever o trabalho desenvolvido

no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – de responsabilidade

da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Dalben (2004) considera que dependendo do tipo de relação

pedagógica estabelecida entre os sujeitos e sua prática assim como dos

conhecimentos produzidos nessa relação os Conselhos de Classe poderão

permanecer reproduzindo uma cultura escolar apegada ao autoritarismo, à

seletividade e à exclusão social. Precisamos então situar os posicionamentos

de nossa prática profissional diária e determinarmos objetivos. Durante cada

etapa que este trabalho permitiu experienciar, fica claro que temos

contradições claras tanto na fala dos docentes, como dos alunos .

Ao mesmo tempo em que percebem a necessidade da

participação conjunta nos processos avaliativos do trabalho escolar, limitam-se

muitas vezes em atribuir possíveis causas do desenvolvimento

insatisfatório do trabalho escolar, sem apresentar propostas práticas de

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intervenção direta no processo ensino aprendizagem. Existe uma cultura de

acomodação que percorre tanto o trabalho docente como o trabalho do

aluno .È mais fácil atribuir responsabilidades do que assumir

responsabilidades e desafios no meio educacional, pelo fato de que este tipo

de pensamento já se encontra arraigado em nossas práticas. Sabemos

também que a Legislação vigente por si só não garante que a organização

dos Conselhos de Classe na escola aconteça de forma a legitimar os

espaços de participação e que outros conhecimentos são necessários à

nossa prática, além da fundamentação legal.

Em poucos lugares se discutem as questões do ensino-

aprendizagem do aluno e a pertinência dessas dimensões com o Projeto

Político Pedagógico da escola. Existe uma inadequação clara da prática ao que

se propões ser. Precisamos passar da esfera quantitativa para qualitativa, pois

esta última tenta responder a impossibilidade da avaliação quantitativa em

apreender a dinâmica da relação ensino-aprendizagem. Pelos resultados

apresentados no decorrer deda implantação deste trabalho na escola podemos

afirmar que existe possibilidade de alterar de forma gradativa a dinâmica do

Conselho de Classe, através de estudos sistematizados inseridos nas

reuniões pedagógicas, pela própria proposta de modificação sugerida pelos

docentes, considerando também a intenção do aluno de participar em algum

momento dessas reuniões, explícita na pesquisa à eles aplicada .

“Participação que dá certo, gera conflito,”, como ensina Pedro

Demo (1988), mas é um conflito positivo para o crescimento de alunos e

professores.

Este trabalho de pesquisa e intervenção permitiu constatar

ainda que o Conselho de Classe como Instância colegiada é uma das opções

de trabalho pedagógico viável, para efetivar mudanças significativas nas

práticas avaliativas da escola. A oportunidade de participação dos alunos como

“coadjuvantes” e de certa forma, como “parâmetros”, pelos resultados e

considerações que apresentam, permite que sejam diagnosticados, analisados

e revistos os caminhos percorridos no processo ensino-aprendizagem, tanto

pelos docentes e por eles mesmos, com vistas a alcançar os objetivos

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propostos à cada disciplina e aos princípios educativos da instituição

escola.

A Gestão Democrática concretizar-se-á, na medida que

permitirmos espaços de participação coletiva, sem distorcermos as

responsabilidades de cada um nesse processo, nas funções lhe são

pertinentes. O sucesso do coletivo , depende do compromisso e do

empenho individual de todos os envolvidos com a educação.

Nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado. Mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado .

(James Baldwin,EUA,1926-1993)

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