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CONSELHO DE CLASSE: ANÁLISE, REFLEXÃO E TOMADA DE DECISÕES1
Geni de Lourdes Perineto2 Zuleika Ap. Claro Piassa3
RESUMO Este texto corresponde à finalização do trabalho desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – de responsabilidade da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. A temática aqui proposta é o Conselho de classe. O Conselho de Classe Integrado possibilita a gestão democrática na escola, a qual está prevista na LDBEN 9.394/96 em seu artigo 12. O Conselho de Classe, em uma gestão democrática, desempenha o papel de avaliação dos alunos e da instituição como um todo, assim como a auto-avaliação de suas práticas, visando diagnosticar a razão das dificuldades e apontar as mudanças necessárias nos encaminhamentos pedagógicos para superá-las. Porém, o colegiado, acaba atendo-se somente às questões dos alunos e suas notas e comportamentos, sem avaliar a prática da escola. Para mudar essa realidade é necessário discutir o processo de avaliação à luz da literatura específica, compartilhar as informações, propiciar momentos de reflexão, embasando para a tomada de decisões mais acertadas. Para isso, realizou-se um trabalho de pesquisa-ação, tendo como base teórica os escritos de Dalben (1986), Gentilli (1995) e Luckesi (2006), que privilegiam os processos coletivos de reflexão, com práticas docentes críticas e construtivas. Por meio de estudo em grupo, envolvendo profissionais dos diversos segmentos da escola, quando foram oportunizadas leituras, análises de textos e de dados coletados e reflexões. O resultado obtido permitiu alavancar as reflexões em torno das práticas avaliativas da escola e sua gestão. Tendo em vista que a escola caminha a passos lentos para a efetiva gestão democrática, ainda assim, ocorreram significativas mudanças de atitudes dos professores, as quais refletiram positivamente no andamento do Conselho de Classe, porém ainda há muito para se fazer. Palavras-chave: Conselho de Classe. Avaliação. Participação. Gestão Democrática. ABSTRACT This text corresponds to the completion of the work in the Program for Educational Development - PDE - of responsibility of the State Department of Education of Parana. The theme proposed here is the Council of the class. The Board of Integrated Class enables democratic management in the school, which is expected in LDBEN 9394/96 in 1 Artigo produzido como trabalho final do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. 2Professora da Rede de Ensino Público Estadual; licenciada em Letras Anglo-Portuguesas, especialista em Língua
Portuguesa: Descrição e Ensino – FAFIJAN; cursando o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. 3 Docente do Dep. de Educação da Universidade Estadual de Londrina – UEL, área de Políticas e Gestão de Educação; Orientadora do Trabalho.
Article 12. The Council of class in a democratic, plays the role of student assessment and the institution as a whole, as well as self-assessment of their practices in order to diagnose the reason for the difficulties and point out necessary changes in educational referrals to overcome them. However, the collegiate, by take care only to the questions of students and their grades and behavior, without evaluating the practice of the school. To change this situation it is necessary to discuss the evaluation process in light of the specific literature, share information, provide moments of reflection, provide input for making better decisions. For this, there was a work of action research, based on the theoretical writings of Dalben (1986), Gentilli (1995) and Luckesi (2006), that favor the collective processes of reflection, practices criticism and constructives. Through group study, involving professionals from different segments of the school, were done readings, text analysis and from data collected and reflections. The result allowed leverage reflections on the evaluation practices of the school and its management. Considering that the school moves at a slow pace for the democratic process, however there were significant changes in teachers' attitudes, which reflected positively on the Council of Class, but there is still much to do. Keywords: Evaluation. Reflection. Integration. Democratic Management. Council of class. INTRODUÇÃO
Este artigo é o resultado das reflexões produzidas a partir da participação no
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE4, que foi criado pelo Governo do
Estado do Paraná para atender às necessidades de formação continuada em serviço.
Entre as atividades propostas no Programa, destaca-se a intervenção pedagógica na
escola e os docentes participantes de programa tiveram a liberdade de escolher o tema
a ser abordado e para o qual elaboram um projeto de intervenção integrando a teoria e
a prática.
Elaborei o Projeto com base em um problema diagnosticado na Escola
Estadual José de Anchieta de Londrina, Paraná, com a intenção de contribuir para a
superação das dificuldades encontradas nesta instância. Porém para a efetivação
dessa intenção é necessário que os envolvidos no processo educacional estejam
4 As atividades do PDE estão previstas no Plano Integrado de Formação Continuada – 2008, conforme Orientação nº 02/2008 – PDE/SEED e encontram-se estruturadas em três eixos __atividades de integração teórico-práticas, atividades de aprofundamento teórico e atividades didático-pedagógicas com utilização de suporte tecnológico.
dispostos a aceitarem o dasafio para enfrentamento desses problemas de forma
coletiva, conforme a Orientação nº 02/2008 – SEED/PDE:
Para que a implementação alcance resultados positivos será necessária uma estreita integração entre o Professor PDE, a Direção, a Equipe Pedagógica e Técnico-Administrativa, Professores e Alunos, a fim de que as ações pensadas e planejadas cumpram o seu objetivo. (ORIENTAÇÃO Nº 02/2008-SEED/PDE)
Optei pelo tema, Conselho de Classe, por representar uma instância muito
polêmica, visto que constitui num espaço pedagógico onde todos os envolvidos no
cotidiano escolar - professores, estudantes, funcionários, pais de alunos - devem
participar para refletirem sobre a aprendizagem dos alunos, o desempenho dos
docentes, os resultados das estratégias empregadas no ensino, as adequações
necessárias, a organização curricular, entre outros aspectos referentes a esse
processo, com a finalidade de avaliá-lo coletivamente e sabemos que as escolas, de
um modo geral, não possuem essa prática de Conselho de Classe.
Esse processo é difícil, mediante o problema de não termos o hábito de
trabalharmos em grupo e há certa resistência dos profissionais: cada um delimita seu
espaço, não permitindo abertura para implantação de novas idéias.
O trabalho realizado tinha como objetivo compartilhar informações,
propiciando momentos de reflexão sobre o Conselho de Classe Integrado e embasar
para a tomada de decisões, tendo em vista a melhoria do processo de ensino e
aprendizagem.
Para isso, formei um grupo de estudos, denominado pelo programa de Grupo
de Apoio, que em oito reuniões discutiu o processo de avaliação à luz da literatura
específica, para analisar as possibilidades de transformação da prática dos Conselhos
de Classe nas Escolas Públicas. Ao final, elaborei uma cartilha contendo orientações
sobre os aspectos relevantes ao Conselho de Classe e uma proposta de Conselho de
Classe Participativo dentro das normas contidas no Regimento da Escola.
Um dos aspectos que dificultou o processo de implementação foi o
desconhecimento sobre a relevância do Programa pelos gestores da escola associada
à falta de embasamento do pessoal, principalmente no que se refere ao conhecimento
sobre os documentos escolares e o que neles contém, também encontrei dificuldades
quanto ao acesso a estes documentos. Vale, aqui, mencionar a observação feita pela
professora orientadora deste trabalho sobre o que constatou no decorrer da
implementação na escola.
Tal situação nos remete a refletir sobre a necessidade da escola se comprometer com o PDE e não apenas os docentes envolvidos. Toda pesquisa tem limitações, mas se considerarmos que é para melhorar o trabalho da escola, é fundamental que esta se comprometa como um todo. (Professora Zuleika Piassa em reunião realizada na escola no dia 25/08/2009).
O resultado da implementação trouxe elementos diversos para a reflexão,
apesar de que a proposta do Conselho Integrado, apresentada na Cartilha, ainda não
foi aplicada, devido ao despreparo da Comunidade Escolar para esse tipo de Conselho,
considerando que a gestão da escola, na prática, está longe dos parâmetros da
democracia. Ainda assim, a implementação repercutiu positivamente no ambiente da
escola, pois os professores, agora, receberam cópias do Regimento Escolar, do PPP da
Escola e da Cartilha elaborada, apresentando-se nas reuniões com atitudes mais
críticas, idéias mais coerentes, refletindo no andamento do Conselho de Classe.
1 Teorizando sobre o Conselho de Classe
O Conselho de Classe é, a priori, uma instância colegiada da escola, mas
como não há legislação em âmbito federal, ou parecer que o delimite e o padronize,
cada Estado da Federação possui práticas e embasamentos legais específicos e cada
escola, por sua vez, dá o tratamento que corresponde a sua realidade.
Veja a definição de Conselho de Classe de acordo com o Regimento da
escola José de Anchieta que foi o espaço da intervenção:
O Conselho de Classe é órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa em assuntos didático-pedagógicos, fundamentado no Projeto Político-Pedagógico da escola e no Regimento Escolar, com a responsabilidade de analisar as ações educacionais, indicando alternativas que busquem garantir a efetivação do processo ensino e
aprendizagem. (COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, 2008, p. 16)
Agora veja o significado de suas características, conforme o “Dicionário
Aurélio” (2008).
Órgão: Parte de um organismo, autossuficiente, e dotado de função vital específica. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2008, p. 596); Colegiado= corporativo: doutrina ou prática de organização social baseada em entidades representantes de categorias profissionais; ( AURÉLIO, 2008, p. 244); Consultivo: que emite parecer sem voto deliberativo:(corporação).( AURÉLIO, 2008 p. 261) Deliberativo: capaz de deliberar. Deliberar: resolver (-se), após exame, discussão, discutir, examinar. (AURÉLIO, 2008, p. 290)
Tomando como base a definição contida no Regimento Escolar (2008) e os
significados das características, descritos no Dicionário Aurélio (2008) podemos concluir
que o Conselho de Classe tem função vital com relação à organização maior que é a
escola; com representatividade das diversas categorias que formam a comunidade
escolar e sua função maior é defender os direitos desta comunidade em detrimento de
interesses estranhos a ela, podendo emitir pareceres referentes aos assuntos expostos,
os quais devem ser examinados, discutidos e resolvidos, dando uma solução para o
problema.
Percebe-se, pelas características do Conselho de Classe Integrado que, para
haver um perfeito funcionamento, é preciso que a gestão da escola esteja voltada para
a democracia, a descentralização do poder.
Para que haja uma gestão democrática é fundamental a existência de
espaços que propiciem o relacionamento entre pessoas dos diversos segmentos da
escola. Assim, o Conselho de Classe constitui um desses espaços e nesse contexto,
como órgão colegiado, reúne professores gestores e, no caso do Conselho Integrado,
inclui também os alunos para refletirem conjuntamente, conforme afirma Dalben (2004):
Com essa perspectiva funcionalista de avaliação do processo pedagógico, ao Conselho de Classe caberia o papel de aglutinar as diferentes análises dos diversos profissionais, além de possibilitar o seu desenvolvimento, na sua própria capacidade de análise do aluno, do trabalho docente como um todo, numa perspectiva de autodesenvolvimento e de desenvolvimento de novas metodologias para o atendimento do discente. Portanto, o Conselho de Classe teria como papel fundamental dinamizar o processo de avaliação, por intermédio da
riqueza das análises múltiplas de seus participantes, e estruturar os trabalhos pedagógicos segundo essas análises coletivas, permitindo-se um fazer coletivo. (DALBEN 2004, p. 112).
Apesar da importância desse órgão para o processo do ensino e da
aprendizagem, o mesmo não tem sido alvo da atenção dos principais atores da
educação, que agem de forma mecânica, sem clareza, sem critérios bem definidos. Daí
a necessidade de abordar o tema, fazendo referência à origem e a evolução do
Conselho de Classe no decorrer do tempo e seu valor em um contexto democrático.
Para que se compreenda melhor essa instância, faz-se necessário o
embasamento teórico, levando todos os envolvidos a momentos de reflexão para
resignificação da realidade do Conselho de Classe, embasando para que todos
compreendam sua dinâmica, em formato participativo, em conformidade com o
Regimento Escolar e o Projeto Político Pedagógico da Escola, numa perspectiva de
gestão democrática.
Dalben (1986), em seu livro “Trabalho Escolar e Conselho de Classe”,
apresenta um breve histórico sobre o Conselho de Classe, baseando-se em bibliografia
de Rocha.
Consultando a escassa bibliografia a respeito do Conselho de Classe, verifica-se que, segundo Rocha (1986), essa instância tem sua origem na França, por volta de 1945, surgindo pela necessidade de um trabalho interdisciplinar com classes experimentais. Por ocasião da reforma de ensino francesa de 1959, foram instituídos três tipos de conselho: o Conselho de Classe, no âmbito da turma; o Conselho de Orientação, no âmbito do estabelecimento; e o Conselho Departamental de Orientação, em esfera mais ampla. Essa reforma almejava declaradamente “organizar um sistema escolar fundado na observação sistemática e contínua dos alunos, com vistas a oferecer, a cada um, o ensino que corresponda a seus gostos e aptidões”. (ROCHA, apud Dalben, 1986, p. 19).
Conforme análise de Dalben (2004), compreende-se que o caráter específico
dos pareceres era orientar a distribuição dos alunos, cujos critérios contemplava a
aptidão e o gosto observado e essas observações eram repassadas às famílias pelos
Conselhos de Orientação. Portanto, leva-se a pensar que a atuação pedagógica nos
Conselhos era direcionada para o sistema de ensino francês de acordo com o momento
histórico da França.
Segundo Rocha (1986, p.17), a experiência francesa foi vivida por dez
educadores brasileiros estagiários em Sèvres, em 1958; entre eles estavam Laís
Esteves Loffredi e Myrthes de Lucca wenzel, que trouxeram a idéia ao Brasil, sendo o
Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro o pioneiro em sua
implantação.
Já no ano de 1932 ocorrera o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”,
quando se documentou idéias escolanovistas como: educação pragmática com
finalidade de servir aos interesses dos indivíduos, a vinculação da escola com o meio
social, a escola como organismo vivo e com estrutura social organizada, aproximação
dos homens, organização em coletividade unânime, difusão das idéias sociais de
maneira imaginada, a extensão do raio visual do homem e o valor moral e educativo.
Portanto, há mais de setenta anos estamos assistindo à luta pela
descentralização do poder e a necessidade de a escola adaptar-se aos seus interesses
e necessidades por meio da valorização do trabalho coletivo, da discussão, da busca e
criação de novos métodos.
As idéias do Manifesto dos Pioneiros inferem à escola democrática, cujas
características são pertinentes ao que pretendemos para o nosso Conselho de Classe
hoje, mas que ainda não ocorre na prática.
Em Minas Gerais surge a lei 5.692/71, com orientação tecnicista, bem ao
modo capitalista, para atender às demandas econômicas e exigências do mercado de
trabalho, visando a treinar e instrumentalizar o indivíduo para a competitividade, de
acordo com os valores do capital. (DALBEN, 2004)
Importa salientar que na década de 1960 houve o acordo entre o Ministério
da Educação brasileiro - MEC e a United States Agency for International Development –
USAID, que visava a estabelecer convênios de assistência técnica e cooperação
financeira, diante do qual a USAID prestaria serviços de consultoria ao MEC e às
secretarias de Estado, objetivando executar o planejamento do ensino secundário no
Brasil.
Segundo Rocha (1995), anteriormente à lei 5.692/71 o Conselho de Classe
já acontecia em algumas escolas voluntariamente, contudo, sua implantação, como
órgão constituinte da escola, só ocorreu porque o Programa de Expansão e Melhoria do
Ensino - PREMEN, instituição resultante do acordo MEC-USAID, assim o apresentou,
determinando a sua implantação por meio da referida lei e posteriormente, os
Conselhos Estaduais de Educação consolidaram a implantação por meio dos novos
regimentos escolares, que passaram a ser elaborados pelas escolas, mas com as
diretrizes de operacionalização traçadas pelos Conselhos Estaduais de Educação.
Estamos vivenciando novos rumos da educação. A sociedade atual clama
por transformações no âmbito escolar e não podemos permanecer parados no tempo
enquanto as políticas da pobreza absoluta mascarada com modelos estranhos à nossa
realidade invadem as escolas, dizendo-se modernas e eficazes, trazendo uma gama de
argumentos para confundir os que realmente pensam e almejam uma educação
inovadora. Daí a importância em revermos a história, fundamentando-nos e
estabelecendo comparações para aclarar as idéias, pois em educação um engano pode
ser muito significativo, visto que envolve seres humanos em pleno desenvolvimento de
suas capacidades.
Gentili (1995), discute, entre outras questões, as estratégias formadoras no
campo das políticas sociais. Em suas colocações, percebe-se a preocupação em por
em funcionamento os recursos humanos que a escola possui, ou seja, alunos,
professores, funcionários e comunidade escolar, inclusive envolvendo os acadêmicos
para, por meio de um pensamento estratégico, realizar mudanças e, assim, vencer a
injustiça que reina nas escolas.
A primeira necessidade é deslocar a elaboração tecnocrata de políticas públicas e colocar em seu lugar um pensamento estratégico. As pessoas nas escolas ___ alunos/as e suas famílias, professores/as e outros/as funcionários___ já estão pensando sobre como superar obstáculos e vencer a injustiça. Tais pessoas não têm de ser aconselhadas a fazer isso! Os/as intelectuais profissionais podem ajudar a circular, orientar, criticar e melhorar esse pensamento. Com o projeto de se apoiar o pensamento estratégico já existente nas escolas, ao invés de substituí-lo, têm-se todas as razões para justificar o envolvimento mais ativo possível dos/as acadêmicos/as com toda a gama de questões existentes.
Se quisermos usar a oportunidade que agora existe de realizar mudanças, o pensamento estratégico sobre a pobreza deve reconsiderar os objetivos de ação, a substância da mudança, os meios e ainda as condições políticas para que essa mudança ocorra. (GENTILI, 1995, p. 31).
Nesse sentido, o espaço ideal para as reflexões, deve ser o Conselho de Classe,
revestido de um formato democrático, onde todos possam colocar em prática,
coletivamente, os referidos pensamentos estratégicos com um novo olhar sobre a
pobreza, para a realização das mudanças e desta forma caminhar para a inclusão e a
efetivação da gestão democrática.
Por outro lado, Luckcesi (2006) preocupa-se com a forma como vem sendo
conduzida a avaliação, a qual está voltada para o treinamento no sentido de resolver
provas, com alunos e família focados na promoção de série, professores utilizando-as
como instrumento motivador da aprendizagem e como forma de manter o controle dos
alunos indisciplinados, enquanto que o estabelecimento de ensino preocupa-se com os
resultados das provas e o sistema social se contenta com tudo isso, o que importa é
que alcancem notas para a promoção de uma série para outra. A avaliação não é vista
com a importância de um mecanismo de transformação social, como muito bem Luckesi
coloca em seu em seu livro “Avaliação da Aprendizagem Escolar”.
O ato de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina a um julgamento “definitivo” sobre alguma coisa, pessoa ou situação, pois que não é um ato seletivo. A avaliação se destina ao diagnóstico e, por isso mesmo, à inclusão; destina-se à melhoria do ciclo de vida. Deste modo, por si, é um ato amoroso. Infelizmente, por nossas experiências histórico-sociais e pessoais, temos dificuldades em assim compreendê-la e praticá-la. Mas...fica o convite a todos nós. É uma meta a ser trabalhada, que com o tempo, se transformará em realidade, por meio de nossa ação. Somos responsáveis por esse processo. (LUCKESI, 2006, p. 180)
Luckesi (2006) aponta, ainda, a necessidade de abordagem específica sobre
a avaliação, visto que observando e analisando coletiva e continuamente esse
processo, pode-se constatar o juízo de qualidade, a democratização do ensino, o
planejamento, a intencionalidade da ação e a necessidade de novos encaminhamentos
metodológicos que definam meios para a obtenção de resultados positivos, o
diagnóstico e a inclusão e que este envolve mais do que uma obrigação burocrática,
mas requer desejo consciente e explícito.
A ausência do desejo, na construção de resultados, manifesta-se sob um modo apático de conduzir os atos do cotidiano. Não há “garra”; vai-se mais ou menos. E, então, a vida, as práticas, os resultados, tudo se torna linear e comum. Não ocorre resultados significativos, alegres e felizes. (LUCKESI, 2006, p. 153)
No entanto, o que se percebe são práticas avaliativas que não auxiliam na
aprendizagem e ainda podem concorrer para dificultar as relações interpessoais entre
alunos e professores. Com relação a esse aspecto Luckesi (2006) revela.
Os professores elaboram suas provas para “provar” os alunos e não para auxiliá-los na sua aprendizagem; por vezes, ou até em muitos casos, elaboram provas para “reprovar” seus alunos. Esse fato possibilita distorções, as mais variadas, tais como: ameaças, das quais já falamos; elaboração de itens de prova deslocados dos conteúdos ensinados em sala de aula; construção de questões sobre assuntos trabalhados com alunos, porém com um nível de complexidade maior do que aquele que foi trabalhado; uso de linguagem incompreensível para os alunos etc. (LUCKESI, 2006, p. 21).
Em suma, o Conselho de Classe, quando bem compreendido e bem
conduzido, consistirá num espaço de análise e reflexão consistente para reelaboração
de conceitos, conduzindo os participantes à compreensão da importância do ato de
avaliar, objetivando o diagnóstico e a inclusão e que vai além de uma obrigação, mas
envolve sentimentos bem superiores a isso.
2 Desenvolvendo o Projeto de Intervenção Pedagógica
O Projeto de Intervenção Pedagógica ocorreu em fases, indo da exploração
do Projeto político Pedagógico e do Regimento Escolar, passando por observações
sistemáticas da realidade escolar no que tange à gestão até à implementação das
ações previstas.
A Escola Estadual José de Anchieta, onde desenvolvi meu Projeto de
Intervenção Pedagógica, pertence à Rede de Ensino Público do Estado do Paraná e
está situada na região central da cidade de Londrina, mas recebe alunos da periferia,
constituindo estes a maior parte da sua clientela. Oferta as modalidades de Ensino
Fundamental de 1ª a 8ª séries, Ensino Médio Regular e Educação de Jovens e Adultos
Presencial (Ens. Fund. II e Médio) e Educação Especial, funcionando em três turnos.
De acordo com dados do Projeto Político Pedagógico dessa escola, havia
839 alunos matriculados no ano de 2008 e contava com uma Equipe de Direção
composta por Diretora e Diretora auxiliar, Equipe de Pedagogas com 8 (oito)
professoras, Equipe de Auxiliar Administrativos com 6 (seis) funcionários e Equipe de
Auxiliares Operacionais com 10 (dez) funcionárias. Na Equipe de Docentes eram 57
(cinquenta e sete) professores, dos quais somente 20 (vinte) têm especialização.
2.1 O Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola o bservada
Em sua Apresentação o PPP da Escola traz:
Esta Proposta Pedagógica para o ano de 2008, foi elaborada atendendo à Lei de Diretrizes da Educação Nacional (9.394/96), em seu artigo 12, inciso I, prevê que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e a de seu sistema de ensino, tendo incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica” deixando explícita a idéia de que a escola não pode prescindir da reflexão sobre sua intencionalidade educativa. (COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, 2008, p. 3)
Analisando a referida proposta percebi que apesar de, no texto
“Apresentação”, afirmar que o documento foi elaborado para o ano de 2008, na maioria
das vezes, refere-se ao ano de 2006, com base em dados de 2005, não deixando bem
claro se a proposta foi reelaborada ou não, como é possível verificar em um dos
trechos:
Os alunos ao serem questionados em 2005 sobre o que acham do Colégio, no período matutino responderam que embora a escola tenha uma boa qualidade de ensino, ela necessita de uma reforma geral [...]. (COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, 2008, p. 24)
Sabe-se que o funcionamento dos órgãos colegiados tem sido um grande
desafio para a concretização da gestão democrática nas escolas em geral e nesta
escola não é diferente, mas não se pode desconsiderar que a gestão da escola pública
brasileira deve ter como princípio a Gestão Democrática (Art. 3o da LDB 9394/96). No
entanto, nas observações, constatei que há uma desmotivação por parte dos docentes,
pedagogos e funcionários para que tal intenção se efetive. A falta de tempo para o
planejamento e discussões coletivas é um dos maiores entraves.
No PPP da escola, em ”Perfil da Comunidade”, percebe-se a dificuldade em
envolver o pessoal da escola nas ações propostas.
[...] alguns professores são resistentes às mudanças, nesse sentido realiza-se um trabalho da equipe pedagógica para diversificar as suas metodologias e práticas pedagógicas, uma grande dificuldade para a realização desse trabalho é a rotatividade desses profissionais e a falta de comprometimento de outros, além da insegurança quanto à fixação do quadro de pedagogas que não tem substituição. (COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, 2008, p. 25)
No entanto, no texto sobre “Gestão Democrática”, mais adiante, faz
referência à gestão da escola e a comunidade escolar, mas não explicita essa
dificuldade, como podemos observar:
As relações que se desenvolvem no interior da escola estão sendo democráticas, pois se exige que a comunidade externa em conjunto com a comunidade interna participe da análise, discussão e deliberação a respeito da proposta educativa a ser concretizada. Deve-se firmar na decisão coletiva de um projeto pedagógico elaborado de forma compartilhada com decisões envolvendo toda a comunidade escolar. (...) O colégio conta com a participação efetiva dos colegiados: Conselho Escolar, APMF; no âmbito de suas competências, de forma a articular e contribuir para a unidade do trabalho escolar, dentro do PPP, proporcionando a autonomia da escola nos seus vários segmentos. (COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, 2008, p. 41)
E o texto sobre “Gestão Democrática” é finalizado assim: “A proposta da
gestão escolar é de manter articulações com outros seguimentos da sociedade e
membros da comunidade escolar, tornando-se uma gestão democrática” (PPP 2008, p.
41).
A reformulação do PPP deveria consistir em uma prática reflexiva, coletiva,
mas o que presenciei foi a comunidade escolar afastada da escola e o processo de
realimentação ocorrendo de forma fragmentada, sem a interlocução entre os agentes
educativos. Veiga (2001) afirma que práticas como estas são comuns, uma vez que o
PPP acaba sendo tomado como moda do momento ou como mero procedimento
burocrático.
A avaliação descrita no PPP tem que ser contínua e permanente para
acompanhar, aperfeiçoar o processo de aprendizagem, fazendo diagnóstico dos
resultados, como pode ser comprovado no fragmento a seguir:
A avaliação do aproveitamento escolar será contínua e permanente realizada com a finalidade de acompanhar e aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos alunos, bem como diagnosticar seus resultados positivos, superando os pontos falhos. (COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA, 2008, p. 42)
Tal postulação abre espaço para se discutir formas diferentes, alternativas
para construir um processo avaliativo que realmente forneça dados sobre o
desempenho da escola.
Dados estatísticos da escola demonstram que o número de aprovações por
Conselho de Classe é bastante alto. Nas quintas e nas sextas séries observa-se que
30% dos alunos foram aprovados por Conselho de Classe; esta média sobe para 41%
nas sétimas e oitavas séries. Os dados do ensino médio e da EJA não foram
disponibilizados.
Os dados estatísticos do ano de 2008 sinalizam para a necessidade de
analisar e refletir conjuntamente sobre a prática dessa escola num todo e mais
especificamente sobre a função que o Conselho de Classe tem assumido nesta
realidade. Por que tantos alunos não conseguiram atingir os objetivos e precisaram ser
aprovados pelo Conselho de Classe?
2.2 Como é o conselho de classe na Escola Observada
Descreverei brevemente o Conselho de Classe praticado na escola. O que
ocorre nos Conselhos dessa escola é exatamente o que ocorre na maioria delas como
atestam as pesquisas de Dalben (1986) e a pretensão é procurar transformar esta
realidade que está posta, criando meios para dar ciência à comunidade escolar sobre o
Conselho de Classe numa gestão democrática.
Assisti aos Conselhos de Classe dos períodos da manhã e tarde. No período
noturno funciona somente EJA Presencial e não há reunião de Conselho de Classe
com todos os professores, mas sim uma conferência dos resultados entre cada
professor e a coordenação ao final de cada etapa. Não houve nenhuma reunião
direcionada a esta modalidade.
O Conselho praticado na escola, no período diurno, Ensino Fundamental e
Médio Regular não conta com a presença dos alunos nem dos pais, porém após o
Conselho de Classe é feita uma reunião em cada sala. A princípio, quem coordenava
era o professor denominado de Conselheiro, que é um professor escolhido pelos
alunos, em reunião especifica para este fim. A reunião com os aluno, no terceiro
bimestre, foi coordenada pela diretora e pelas pedagogas.
As reuniões de Conselho de Classe não começaram no horário, os
professores chegaram atrasados e de acordo com comentários dos próprios docentes
esta é uma prática comum no grupo. Não foi permitido que se falasse muito devido ao
tempo que é bem limitado. Iniciou-se com o perfil da turma que foi feito pelo professor
conselheiro. A direção e as pedagogas não fizeram questionamentos, somente
organizaram a ordem das falas.
Na fala dos docentes fica claro a culpabilização dos pais e dos alunos pelos
insucessos na aprendizagem. Os professores estiveram em todos os momentos numa
atitude de justificação e defesa de sua prática pedagógica, mas não têm consciência
sobre a importância da avaliação do coletivo.
Segundo Mattos (2005, p. 215) “é no seio dessas instâncias coletivas de
avaliação que as professoras se sentem mais livres para manifestar suas impressões
sobre seus alunos e alunas. Tais reuniões permitem, assim, reforçar aspectos
individuais da prática docente, através do apoio de seus pares”.
As pedagogas insinuaram que alguns professores não estão sabendo aplicar
novas metodologias, mas não houve uma análise e uma reflexão sobre isso. Nenhuma
proposta viável foi colocada porque tudo foi realizado com muita pressa. A avaliação
que foi questionada pela equipe pedagógica foi a formal. A equipe pedagógica queria
saber como as avaliações foram elaboradas, quantas foram aplicadas e se foram feitas
as recuperações paralelas.
Uma das professoras tentou levantar um assunto para o grupo, mas a
pedagoga pediu para ela resolver com a equipe na hora-atividade. A outra reclamou
sobre um determinado aluno que não fazia suas atividades. A pedagoga falou para
registrar. A professora disse que já havia registrado. A pedagoga disse que um registro
só é pouco. O caso foi encerrado. Segundo Mattos (205, p. 218):
Os Conselhos de Classe avaliam apenas alunos e alunas, não a interação pedagógica: a professora encontra neles poucos mecanismos que incite o questionamento de sua prática. Em segundo lugar, não há propriamente discussão dos casos de alunos e alunas: as professoras parecem esperar de seus colegas apenas um referendo que valide a imagem de alunos e alunas que elas construíram no decorrer do ano letivo. Ora, quem diz referendo, pressupõe emissão de uma forma consensual explícita de julgamento.( MATTOS, 2005, P. 218)
Houve uma ficha para os professores preencherem, mas, de acordo com os
docentes, não funciona muito bem porque é entregue aos professores sem um prazo
adequado para o preenchimento e as devidas reflexões.
Ainda foi possível, nestas observações, constatar problemas com
agendamentos do Conselho de Classe, pois a disponibilidade dos docentes é
complicada, uma vez que para ter vencimentos com o mínimo de dignidade, os
docentes precisam trabalhar em várias escolas e em dois ou três turnos.
A reunião de Conselho foi coordenada pela diretora, na maioria das vezes.
As pedagogas, durante a reunião, fizeram um rascunho das atas que, posteriormente
foram elaboradas e levadas para que os participantes assinassem.
Os assuntos dos conselhos de forma geral versaram sobre problema de
indisciplina, alunos que vão para a escola sem tomar seus remédios, notas baixas e
outros que não refletem verdadeiramente o processo de ensino. O Conselho de Classe,
desta forma torna-se maçante, monótono, gerando insatisfação e descaso ou como
afirma Mattos (2005, p. 18), “verdadeiros ‘diálogos de surdos’, nos quais o relato dos
casos era extremamente entrecortado”. Os professores ficam angustiados, percebendo
que não há solução, pensam somente em terminar para irem embora o mais rápido
possível.
Vale ressaltar que esta não é uma realidade exclusiva desta escola, mas sim
de muitas escolas públicas e privadas espalhadas pelo Brasil, uma vez que, segundo
Mattos (2005), as práticas coletivas e democráticas estão sendo vagarosamente
compreendidas e incorporadas pelas escolas.
3 A Implementação
Foi elaborado um Projeto de Intervenção, seguindo uma linha crítico-
reflexiva, evidenciando quatro ações a serem colocadas em prática, em oito encontros
do Grupo de Apoio5, envolvendo elementos de cada segmento da escola.
O objetivo do trabalho consistiu em elaborar uma cartilha com orientações
sobre o Conselho de Classe Integrado, com o envolvimento de todo o pessoal da
escola. Após a elaboração, o material deveria ser analisando, refletindo sobre a
proposta, nele contida, culminando com a preparação da comunidade escolar, para
depois aplicá-lo com eficiência.
3.1 Etapas do trabalho
Num primeiro momento, por meio de estudo em grupo, envolvendo
profissionais dos diversos segmentos da escola, foram oportunizadas leituras, análises
do caderno temático produzido por mim na fase anterior em 2008.
5 O Grupo de Apoio foi sugestão do próprio programa PDE. Este grupo deveria ter no máximo 15 membros e o professor PDE deveria registrá-lo no sistema eletrônico em formulário próprio constando os nomes dos participantes e um plano de trabalho correspondente a 32 horas de atividade.
Na segunda ação o objetivo maior foi coletar dados sobre as concepções
que os alunos, docentes e funcionários possuíam a respeito do Conselho de Classe.
Na terceira ação estava prevista uma reunião para divulgação dos dados
coletados, no entanto, só foi possível reunirmos o Grupo de apoio. Mas divulguei os
dados na sala dos professores, na hora do intervalo ou na hora-atividade.
A quarta ação seria a Implantação da proposta elaborada no segundo e no
terceiro Conselho de Classe do semestre, mas não foi possível implantar a proposta
pelos motivos já mencionados. Vi que o grupo ainda não estava preparado para uma
mudança nas práticas do Conselho de Classe, mesmo sabendo que as práticas atuais
não contribuíam efetivamente para melhorar o processo educativo da escola.
A proposta do Conselho Integrado, por sua natureza democrática, só poderá
ser aplicada quando toda a Comunidade Escolar estiver preparada para atuar com
eficiência nele e a divulgação dos documentos escolares e da Cartilha Orientadora foi
essencial para facilitar esse trabalho, porém é necessário que haja desejo consciente
de toda essa comunidade em contribuir para melhorar o ensino, atuando efetivamente
nos espaços coletivos da escola. Nas palavras de Souza (2009, p. 58):
O Conselho de Classe, a meu ver, ganhará sentido se vier a se configurar como espaço não só possibilitador da análise do desempenho do aluno e, mais, do desempenho da própria Escola, de forma conjunta e cooperativa pelos que integram a organização escolar (professores e outros profissionais, alunos e pais), como também de proposição de rumos para a ação, rompendo-se com as finalidades classificatória e seletiva a que tem servido.(SOUZA, 2009, p. 58)
3.2 As reuniões do grupo de apoio (GA)
O GA reuniu-se oito vezes, seguindo cada etapa do trabalho e relato
brevemente cada uma das reuniões no intuito de mostrar como o debate e a reflexão
coletivos são fundamentais para o processo de transformação.
Na primeira reunião do GA expus para o grupo, o Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola e também o Caderno Temático __ Trabalho produzido no ano de
2008. Os integrantes do grupo demonstraram entusiasmo em relação ao tema e
motivados para que se desenvolvesse um trabalho voltado à melhoria dos vários
aspectos, levando em conta a condição de um Conselho de Classe que desempenhe o
papel de avaliação dos alunos e da instituição em toda a sua extensão e que seja um
espaço para reflexão e tomada de decisões para transformar a realidade, mediante a
avaliação do processo de ensino e aprendizagem.
Na segunda reunião fizemos análise e discussão sobre os textos, fragmentos
de livros que tratavam da temática do Conselho de Classe e a gestão escolar
democrática.
Na terceira reunião tomamos cuidado no que se refere ao aspecto legal,
sempre trazendo para o contexto escolar a teoria que embasa os trabalhos. Porém os
documentos solicitados à direção do colégio não foram liberados, consistindo em
dificuldade para chegarmos a conclusões. Precisei lançar mão do “Caderno de Apoio
para Elaboração do Regimento Escolar” da SEED/NRE para subsidiar nossos
trabalhos, pelo menos temporariamente.
Na quarta reunião pretendíamos analisar o Projeto Político Pedagógico da
Escola e o Regimento Escolar que já deveriam ter sido analisados na reunião anterior,
porém não foi possível, pois os documentos não foram localizados. Os professores
pareciam menos animados do que nas reuniões anteriores, visto que houve mudança
no planejamento por falta dos documentos escolares e precisamos partir para o plano
B, sem analisar o PPP ou o Regimento da Escola. Fizemos a análise dos dados
estatísticos, referentes ao ano de 2008. Constatamos que houve uma alta porcentagem
de reprovação em todas as séries e as turmas do ano de 2008 estavam com um
número de alunos, nas salas de aula, bem menores que em 2009.
Nesta reunião os participantes do grupo refletiram sobre o papel do conselho
de Classe naquela realidade e tomaram consciência da importância desta instância
como momento avaliativo do trabalho da escola.
Partimos para uma análise, no sentido de buscar alguma idéia diferente,
porém tudo esbarra nas leis e numa situação de uma escola onde a gestão democrática
ainda precisa ser trabalhada.
Na quinta reunião passamos ao estudo de textos de Isabel Alarcão sobre a
escola reflexiva. Os professores pareciam desanimados e verbalizavam que a
problemática do Conselho de Classe não teria solução.
Na sexta reunião analisamos os dados da pesquisa de opinião sobre
Conselho de Classe, realizada na escola envolvendo alunos, professores e funcionários
da mesma. Para isso, foram apresentadas questões específicas para cada segmento.
Na sétima reunião realizamos o planejamento da cartilha com a nova
proposta de Conselho de Classe para ser aplicada no segundo semestre deste ano de
2009. Os participantes do grupo pareciam confiantes e empolgados com a expectativa
de mudanças.
Na oitava reunião selecionamos os itens que deveriam compor a cartilha
norteadora do Conselho de Classe idealizado pelo grupo, após os estudos, as análises
e as reflexões realizadas durante os encontros anteriores. Nossa preocupação foi
projetar uma cartilha que orientasse os Conselhos de Classe com a maior clareza
possível, tornando-a um material interessante para os alunos e os pais e assim que o
material fosse concluído seria amplamente divulgado.
Nesta reunião falou-se também em acertar mais algumas palestras com a
Professora Orientadora da IES, Zuleika A. C. Piassa, pois sua palestra do dia 20/05/09
foi muito bem recebida pelos professores do grupo e estes requisitaram novas
oportunidades para entrarem em contato com a teoria por meio de palestras com
profissionais competentes, mas achamos que a escola deve envolver-se para que as
palestras sejam estendidas a todos da Comunidade Escolar.
4 Resultado e discussões sobre a pesquisa
Inicio analisando as respostas dos funcionários e docentes. Quando
questionados sobre a opinião dos mesmos sobre o Conselho de Classe e como, em
suas opiniões, deveria ser o Conselho de Classe e em quais aspectos acreditavam que
poderiam contribuir para melhorar o processo de ensino e aprendizagem, obtivemos as
seguintes respostas de dois funcionários que aceitaram responder ao questionário:
F1 - “Eu não participo dos Conselhos de Classe, como um “estrangeiro”. Creio que é válido como uma reunião do grupo (de professores) que discutem os problemas e soluções das salas de aulas e dos alunos.” F2 - “Acho válido, é uma maneira de esclarecer pontos pendentes do aluno e verificar se há algo que se possa fazer para melhorá-lo.”
Às mesmas questões, veja como responderam os três docentes que
aceitaram participar da pesquisa:
D1 -“O Conselho de Classe deveria servir para obtenção de informações sobre o que foi aprendido e como; reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa; tomada de consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades; obtenção de informações sobre os objetivos que foram atingidos; participação e comprometimento de todos os professores e equipe pedagógica, antes durante e após o Conselho. Nosso Conselho tem que rever sua prática. Quanto á Gestão Democrática, com certeza o Conselho de Classe pode contribuir para a Gestão Democrática, porque durante o Conselho cada professor pode focar os educandos que têm dificuldades sobre o ensino-aprendizagem, inclusive a equipe pedagógica. A gestão só é democrática quando a equipe pedagógica unida com os professores e conscientes dos problemas do ensino e da aprendizagem desenvolver uma prática social de responsabilidade e comprometimento com o ensino-aprendizagem.”
D2 – “Penso que há uma homogeneização dessa instituição nas escolas em geral, não havendo diferenças significativas entre as escolas. O Conselho de Classe deve ser um espaço de discussão sobre casos específicos de dificuldade de desempenho, com sugestões de estratégias para superação das dificuldades.” D3 - “Nunca participei, pois bate com horário de outra escola. Deve ser com a presença de todos os professores; Tempo suficiente para aprofundar todas as discussões; Apresentação detalhada do ambiente familiar de cada aluno.”
Aos alunos foi questionado: a) Em sua opinião, o que acha que acontece no
Conselho de classe? b) como acha que deveria ser o Conselho de Classe?
Todos os alunos, que tiveram acesso às questões, responderam, num total
de 91 alunos, entre 5ª. Série e Ensino Médio.
Para facilitar a análise, separamos as respostas de acordo com os critérios
abaixo. Quanto à primeira questão:
Para passar de ano – 31% (29,12 alunos)
Para avaliar o comportamento – 41% (37,31 alunos)
Para conseguir melhor estrutura física e verbas – 7% (6,3 alunos)
Para discutir problemas gerais relacionados aos alunos -10% (9,10 alunos)
Genéricos / fora do tema – 10% (9,10 alunos)
Cabe ressaltar aqui as respostas de alguns alunos as quais ilustram a
opinião da grande maioria dos alunos:
“Acho que os professores comentam, conversam sobre os alunos e eu acho que falam mais mal do que bem, isso tem que acabar, eles têm que tentar ver em nós, alunos, qualidades, porque temos e muitas.” (Ens. Méd., 1º ano) .
“Eu acho que o Conselho de Classe devia ser para alunos e professores para debaterem, juntamente, medidas que possam melhorar o ensino.”(Ens. Méd., 1º ano) .
“Deve ser aberto, o Conselho de Classe... como diz, é Conselho de CLASSE, os alunos também deveriam participar.” (Ens. Méd. 1º ano) – 25% respondeu de forma semelhante.
“Os alunos deveriam saber o que se passou porque, talvez, refletissem” (Ens. Méd. 1º ano) .
“ Aumenta a carga horária dos alunos, na verdade eu acho que não deveria ter conselho de classe, porque nunca resolve nada, eu pelo menos nunca vi o resultado.” (Ens. Méd., 2º ano) “Eu acho que acontece uma reunião que comenta e passa as notas de cada aluno e regulariza a situação e fala mal dos alunos.” (Ens. Méd., 2º ano)
“ O Conselho de Classe deveria ser momento em que os professores deveriam conversar sobre uma solução para auxiliar os alunos no ponto em que eles estão errando e se prejudicando, em vez de criticá-los e falar as suas falhas, seus erros, com isso ia melhorar o desenvolvimento dos alunos.” (Ens. Méd. 3º ano) “O governo devia ter uma melhor organização sobre isso, pois as atitudes deviam vir de uma autoridade.” (Ens. Méd. 3º ano) “ Eu acho que deveria parar de falar mal dos alunos, ele deve ser melhor cada vez mais, não julgar o aluno sem conhecer a vida dele. Deve ser aberto” (5ª série) “Todo aluno tem que passar, e os pais tem que participar do Conselho” (5ª série) “Eu não posso afirmar com certeza o que eu penso, porque nunca participei, mas creio que as coisas que são ditas no Conselho do aluno poderiam ser ditas a ele.” (5ª série) “Eles têm que fazer estratégia para o aluno aprender, mas se o aluno não aprende é porque ele não quer aprender nada ou o Conselho de Classe falhou a estratégia.” (5ª série) “Eu acho que o Conselho devia ser uma reunião de pais que os pais têm que vir conversar com os funcionários e professores.” (5ª série) “Na minha opinião eu acho que eles deveriam se reunir com uma mulher ou com um homem que cuida da educação” (5ª série) “O Conselho tem que fazer mais estratégias para que os professores possam passar de ano, os alunos.” (6ª série) “O Conselho de Classe tem que se unir e ajudar mais os alunos com dificuldade” (6ª série) “O Conselho deveria ser com a presença dos alunos, eu posso colaborar me comportando, opinando, dando minhas idéias” (6ª série) “Eu acho que antes de ter o Conselho, um professor tinha que falar com a sala, depois passar isso para o Conselho, e então falar com a sala novamente porque, afinal é de nós que os professores falam. Isso ajudaria muito, porque os alunos iam saber o que estão falando da sua sala ou de você” (7ª série)
“Eu não tenho a mínima idéia de como deve ser um Conselho, até porque eu nem sei o que é um Conselho de Classe.” (7ª série) “Pra mim o Conselho deveria juntar todos os professores para saber no que o aluno está em dificuldade no aprendizado.” (8ª série) “ Eu acho que o Conselho devia envolver os professores e os alunos.” (8ª série)
Após analisar as respostas e as omissões, é possível concluir que os alunos,
de forma geral, têm interesse em participar, sabem o que querem, sabem o que ocorre
na reunião de Conselho de Classe desta escola, mas não têm embasamento para
dizerem se concordam com a forma como é realizado. As pesquisas de Mattos (2005)
corroboram estas falas dos alunos.
Os funcionários, em sua maioria, não querem envolver-se em nada além do
trabalho específico da secretaria ou da limpeza da escola e não sabem do que trata no
Conselho e nem da importância de participarem no ato de ensinar e aprender.
Os professores, além dos três que responderam no momento em que as
questões foram apresentadas, alguns preferiram omitir-se, alegando que a opinião
escrita é muito comprometedora, queriam relatar suas opiniões para serem escritas por
mim, sem citar nomes, outros levaram para responder em casa, mas não o fizeram,
afirmando não terem tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola fio elaborado, dentro de uma
linha crítico-reflexiva e em conformidade com as normas da Gestão Democrática.
Pensei ser importante abordar esse tema pelo fato de exercer a função de
Professora Regente, assim, após as leituras e reflexões da literatura específica, o tema
poderia ser abordado com vistas às praticas, pois o Conselho de Classe, na maioria das
vezes, tem sido alvo das pesquisas dos pedagogos, com base em seu trabalho do
cotidiano e no embasamento teórico e na hora das reuniões de Conselho, percebe-se
que para as pedagogas, falta a prática, no que se refere ao dia-a-dia das salas de
aulas, e aos professores, falta a teoria.
Falar sobre Conselho de Classe implica em falar sobre gestão democrática e
os demais órgãos colegiados que a consolidam. A gestão democrática nesta escola,
como em outras mais, encontra-se caminhando a passos lentos e como professora,
encontrei dificuldades para desenvolver o projeto em questão.
Toda mudança causa conflito e medo, requerendo estudo e preparo. Para
preparar todo o pessoal para o Conselho de Classe Integrado, precisamos de reuniões
específicas para esse fim e estas reuniões devem ser realizadas com seriedade e
desejo claro, principalmente da equipe pedagógica. Vale aqui a colocação de Luckesi
(2006) “Fazer de conta que se tem desejo, se, de fato, não se tem, é um desastre para
a própria ação”, portanto o real desejo de todos para a superação dos problemas, é
fundamental para o sucesso da ação.
Analisando criticamente o resultado da Implementação, voltamos a Marx
(1980), para quem o “homem muda, transforma de acordo com as condições que tem”,
o primeiro passo foi dado, as idéias estão sendo disseminadas, porém, sem integração
não haverá sucesso e para haver integração é necessário que todos da Comunidade
Escolar respeitem os espaços da escola como ambiente de trabalho em função do
ensino e da aprendizagem e não espaço de luta pelo poder. Que tomem consciência de
que a escola é de todos e para todos.
O Conselho de Classe, em sua amplitude, dá à escola autonomia para
solucionar seus problemas, visto ser um espaço que permite a análise e a reflexão
conjunta sobre a práxis da escola. No entanto, é necessário que todos compreendam
muito bem o seu significado para, depois, refletirem sobre a sua importância no âmbito
escolar. Caso a comunidade escolar não esteja consciente do funcionamento do
Conselho, este perde sua função.
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