con[s]ciência - edição especial - janeiro de 2013

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con[s]ciência Informação do Organismo de Bolseiros de Investigação Científica de Coimbra do Revolução científica e tecnológica e globalização neoliberal Neste tempo de grandes con- tradições e de grande deses- pero, mas também de grande esperança, a vida mostra que o homem não deixou de ser o lobo do homem. Mas os ganhos de produtivi- dade resultantes da revolução científica e tecnológica que tem caraterizado os últimos 200 anos de vida da humanidade dão-nos razões para acreditar que podemos construir um mundo de cooperação e de solidariedade, um mundo capaz de responder satisfato- riamente às necessidades fun- damentais de todos os habi- tantes do planeta. Páginas centrais Preservação da FCCN A FCCN constituiu-se como a origem da utilização da rede em Portugal, importante para a sua infraestruturação e é hoje ainda o garante da qualidade, eficácia e potência de um conjunto de serviços prestados principalmente à comunidade científica. Das valências atuais da FCCN, desta- cam-se serviços relacionados com a Rede Ciência, Tecnologia e So- ciedade; serviços de arquivo e ac- ervo de vídeo HD, serviço de videoconferência e voice over in- ternet protocol (VoIP) para a co- munidade científica, inves- tigadores e instituições; agregador de conteúdos multimédia de língua portuguesa, “Zappiens”; repo- sitório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP); gestão da Biblioteca On-line, b-On; arquivo da Web portuguesa; gestão de domínios de topo. PT; denúncia de conteúdos ilegais na rede, entre outros serviços. Pág. 4 Desempenho gratuito de funções de docência por Bolseiros de Investigação - PCP questiona o Governo O PCP tem vindo a denunciar casos diversos de utilização de bolseiros para serviço lectivo não pago. Perante as recentes notí- cias que apontavam como exem- plo concreto a existência na Faculdade de Ciências e Tecnolo- gia da Universidade de Coimbra de bolseiros de doutoramento e de pós-doutoramento a dar aulas gratuitamente, o Grupo Parla- mentar do PCP exigiu esclareci- mentos ao Governo. Em requerimento apresentado evidencia-se que, por um lado, os bolseiros são sobrecarregados (pressionados pela valorização do seu currículo) com tarefas alheias ao seu percurso de for- mação académica e de obtenção de grau, dificultando ainda mais a situação social, pessoal e fami- liar com que se confrontam fruto da política de desvalorização das bolsas a que há muitos anos estão sujeitos, revelando, por outro lado, a incapacidade das Instituições para contratar os re- cursos humanos necessários para os planos de estudos, degradando a qualidade do en- sino. Assim, o Grupo Parlamentar do PCP, solicitou ao Governo, que através do Ministério da Edu- cação e Ciência, esclarecesse se tem conhecimento do caso ex- posto, que entendimento tem sobre regulamentos ou orien- tações internas de instituições que se traduzam na atribuição de serviço lectivo não pago a bol- seiros de investigação científica, e ainda, que medidas tomará o Governo para pôr fim à situação descrita e para assegurar às insti- tuições de ensino superior os meios e recursos adequados à prossecução da sua missão? Texto completo do Requerimento em www.pcp.pt Janeiro 2013 edição especial por António Avelãs Nunes

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Con[s]ciência - Boletim dos Bolseiros de Investigação Científica de Coimbra do Partido Comunista Português Edição Especial Janeiro de 2013

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Page 1: Con[s]ciência - Edição especial - Janeiro de 2013

con[s]ciênciaInformação do Organismo de Bolseiros de Investigação Científica de Coimbra do

Revolução científica e tecnológica e globalização neoliberal

Neste tempo de grandes con-tradições e de grande deses-pero, mas também de grandeesperança, a vida mostra que ohomem não deixou de ser olobo do homem. Mas os ganhos de produtivi-dade resultantes da revoluçãocientífica e tecnológica que temcaraterizado os últimos 200anos de vida da humanidadedão-nos razões para acreditarque podemos construir ummundo de cooperação e desolidariedade, um mundocapaz de responder satisfato-riamente às necessidades fun-damentais de todos os habi-tantes do planeta.

Páginas centrais

Preservação daFCCNA FCCN constituiu-se como aorigem da utilização da rede emPortugal, importante para a suainfraestruturação e é hoje ainda ogarante da qualidade, eficácia epotência de um conjunto deserviços prestados principalmenteà comunidade científica. Dasvalências atuais da FCCN, desta-cam-se serviços relacionados coma Rede Ciência, Tecnologia e So-ciedade; serviços de arquivo e ac-ervo de vídeo HD, serviço devideoconferência e voice over in-ternet protocol (VoIP) para a co-munidade científica, inves-tigadores e instituições; agregadorde conteúdos multimédia de línguaportuguesa, “Zappiens”; repo-sitório Científico de Acesso Abertode Portugal (RCAAP); gestão daBiblioteca On-line, b-On; arquivoda Web portuguesa; gestão dedomínios de topo. PT; denúncia deconteúdos ilegais na rede, entreoutros serviços.

Pág. 4

Desempenho gratuito de funções de docência porBolseiros de Investigação - PCP questiona o GovernoO PCP tem vindo a denunciarcasos diversos de utilização debolseiros para serviço lectivo nãopago. Perante as recentes notí-cias que apontavam como exem-plo concreto a existência naFaculdade de Ciências e Tecnolo-gia da Universidade de Coimbrade bolseiros de doutoramento ede pós-doutoramento a dar aulasgratuitamente, o Grupo Parla-mentar do PCP exigiu esclareci-mentos ao Governo.Em requerimento apresentadoevidencia-se que, por um lado, osbolseiros são sobrecarregados(pressionados pela valorização

do seu currículo) com tarefasalheias ao seu percurso de for-mação académica e de obtençãode grau, dificultando ainda maisa situação social, pessoal e fami-liar com que se confrontam frutoda política de desvalorização dasbolsas a que há muitos anosestão sujeitos, revelando, poroutro lado, a incapacidade dasInstituições para contratar os re-cursos humanos necessáriospara os planos de estudos,degradando a qualidade do en-sino.Assim, o Grupo Parlamentar doPCP, solicitou ao Governo, que

através do Ministério da Edu-cação e Ciência, esclarecesse setem conhecimento do caso ex-posto, que entendimento temsobre regulamentos ou orien-tações internas de instituiçõesque se traduzam na atribuição deserviço lectivo não pago a bol-seiros de investigação científica,e ainda, que medidas tomará oGoverno para pôr fim à situaçãodescrita e para assegurar às insti-tuições de ensino superior osmeios e recursos adequados àprossecução da sua missão?

Texto completo doRequerimento em www.pcp.pt

Janeiro 2013ediçãoespecial

por António Avelãs Nunes

Page 2: Con[s]ciência - Edição especial - Janeiro de 2013

2 cons[c]iência - Edição especial Janeiro de 2013

António Avelãs Nunes*

A globalização neoliberal, que a ideologiadominante considera o fruto necessário dodesenvolvimento científico e tecnológico, éapenas uma utilização perversa dele, tal comoa bomba atómica é uma utilização perversado desenvolvimento científico na área daFísica nuclear.A globalização neoliberal é um projeto

político, concebido e levado a cabo de formaconsciente e sistemática pelos grandessenhores do mundo, apoiados, com nuncaantes na história, pelo poderoso arsenal dosaparelhos produtores e difusores da ideolo-gia dominante (o pensamento único’ pro-duzido’ pelo neoliberalismo).E o neoliberalismo não é um fruto exóticoque nasceu nos terrenos do capitalismo, nemé o produto inventado por uns quantos ‘filó-sofos’ que não têm mais nada em que pensar.O neoliberalismo é o reencontro do capita-

lismo consigo mesmo, depois de limpar oscremes das máscaras que foi construindopara se disfarçar.O neoliberalismo é o capitalismo puro e

duro do século XVIII, mais uma vez conven-cido da sua eternidade, e convencido de que

pode permitir ao capital todas as liberdades,incluindo as que matam as liberdades dosque vivem do rendimento do seu trabalho.O neoliberalismo é a ditadura da burgue-

sia, sem concessões. Mais especificamente: aditadura do grande capital financeiro espe-culador.

A revolução científica e tecnológicanão pode ser confundida com a globa-lização. Nem pode ver-se nesta o resultadoinevitável daquela.

O que está mal na globalização atual não éa revolução científica e tecnológica que tornapossíveis alguns dos instrumentos da ‘políticaneoliberal globalizadora’, mas o neolibera-lismo que a alimenta, a estrutura dos poderesem que ela se apoia, os interesses que serve.

A crítica da globalização neoliberalnão pode, pois, confundir-se com a defesa doregresso a um qualquer ‘paraíso perdido’, ne-gador da ciência e do progresso.

O desenvolvimento científico etecnológico é o caminho da libertaçãodo homem.Sendo a globalização neoliberal um projeto

político, os seus adversários, empenhados emevitar uma nova era de barbárie, têm de sercapazes de alimentar um espírito de resistên-cia, desde logo no terreno do trabalho teórico(que nos ajuda a compreender a realidadepara me-lhor intervir sobre ela) e no terrenoda luta ideológica (que nos ajuda a desmas-carar a ideologia dominante e a combater osinte-resses estabelecidos e as ideias feitas),porque a luta ideológica é, hoje mais do quenunca, um campo decisivo na luta política ena luta social (na luta de classes).E têm de ser capazes de pôr de pé um pro-

Revolução científica e tecnológica e globalização neoliberal

O neoliberalismoé a ditadura daburguesia

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con[s]ciência - Edição especial 3Janeiro de 2013

Revolução científica e tecnológica e globalização neoliberal

jeto político alternativo, que assente na con-fiança no homem e nas suas capacidades, umprojeto inspirado em valores e empenhadoem objetivos que “os mercados” não recon-hecem nem são capazes de prosseguir, umprojeto que rejeite a lógica determinista quenos quer impor, como inevitável, sem alter-nativa possível, a atual globalização neoli-beral, uma das marcas destacivilização-fim-da-história. É hoje claro que a globalização neoliberalveio acentuar as contradições estruturais docapitalismo. A inevitabilidade da globalizaçãoneoliberal é um mito; a tese de que não háalternativa é uma afronta à nossa inteligênciae à nossa liberdade.Sabemos que o desenvolvimento científicoe tecnológico conseguido pela civilização bur-guesa proporcionou um aumento meteóricoda capacidade de produção e da produtivi-dade do trabalho humano, criando condiçõesmais favoráveis ao progresso social. Estedesenvolvimento das forças produtivas (entreas quais avulta o próprio homem, comocriador, depositário e utilizador do conheci-mento) só carece de novas relações sociais deprodução, de um novo modo de organizar avida coletiva, para que possamos alcançar o

que todos buscam: a felicidade. Mas também sabemos que as mudançasnecessárias não acontecem só porque nósacreditamos que é possível um mundomelhor: o voluntarismo e as boas intençõesnunca foram o ‘motor da história’. Essas mu-

danças hão-de verificar-se como resultadodas leis de movimento das sociedades hu-manas.

Mas os povos organizados podemacelerar o movimento da história epodem ‘fazer’ a sua própria história.Eles não sabem nem sonham que o sonho

comanda a vida. Mas nós acreditamos nalição de António Gedeão, no belíssimo poemacantado por Manuel Freire. O sonho “é tela,é cor, é pincel, base, fuste ou capitel, arco emogiva, vitral, pináculo de catedral, con-traponto, sinfonia, máscara grega, magia (…) – tudo criações do homem. Mas é também“retorta de alquimista, rosa dos ventos, in-fante, caravela quinhentista, é cabo da BoaEsperança (…), passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, altoforno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão nasuperfície lunar”.Este é o sonho alimentado pelo desenvolvi-

mento científico e tecnológico da hu-manidade. E nós sabemos que quando oshomens sonham um sonho assim, de olhosbem abertos, o mundo pula e avança! O direito ao sonho tem hoje mais razão deser do que nunca. Afinal, o desenvolvi-mento científico e tecnológico temvindo a confirmar a utopia marxista: ahumanidade há-de um dia saltar doreino da necessidade para o reino daliberdade.

* Professor Jubilado da Universidade de Coimbra

O direito ao sonhoe à utopia tem hojemais razão de serdo que nunca

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4 con[s]ciência - Edição especial Janeiro de 2013

O processo de extinção da Fun-dação para a Computação Cien-tífica Nacional (FCCN) e supostaintegração da sua missão eatribuições na Fundação para aCiência e Tecnologia (FCT)reveste-se de grandeimportância: por umlado, não é conhecida aforma como se desen-volverá na medida emque o Governo apenasrefere a incorporaçãona FCT remetendopara futura regulamen-tação os pormenores;por outro lado éconhecida a gritanteincapacidade da FCTpara fazer face às suaspróprias atribuições,afetada sistematica-mente por constrangimentos fi-nanceiros e cuja impreparaçãoserá certamente utilizada para

justificar “externalizações” e pri-vatizações mais ou menos aber-tas ou veladas. Acresce que, alémda atratividade evidente dagestão dos domínios de topo .PT,e do potencial valor económico

de muitos dos outros serviços daFCCN, a ideologia dominante nalinha política do Governo

PSD/CDS, em tudo apontampara um esquema de privatiza-ção de serviços, com granderisco para a qualidade e para aprópria segurança e soberaniado Estado.O PCP entende, por isso que asolução que neste momento sal-vaguarda todas as suas funções evalias da FCCN é a que passapela manutenção do seu regimeatual, com a preservação dosseus serviços sob tutela da co-munidade científica, particular-mente por parte do Conselho deReitores das Universidades Por-tuguesas e dos Laboratórios doEstado. Nestes termos e ao abrigo daalínea b) do artigo 156.º daConstituição e da alínea b) do n.º1 do artigo 4.º do Regimento daAssembleia da República, osDeputados do Grupo Parlamen-

tar do PCP, apresentaram,no dia 23 de Janeiro umProjeto de Resolução querecomenda ao Governoque assegure o carácterpúblico da gestão e daentidade gestora detodos os conteúdos eserviços hoje rela-cionados com a missãoda Fundação para aComputação CientíficaNacional, através dapreservação do mo-delo fundacional semfins lucrativos, como

até aqui se tem verificado.Texto integral do Projeto deResolução em www.pcp.pt

Pela preservação dosserviços da FCCN

Entre aspas"É uma visão idílica imaginarque o Mercado Comum é umaassociação de países ricosfilantrópicos prontos a‘ajudar’ os países maisatrasados”

"Quando defendem ouadmitem o alargamento doMercado Comum a Portugal,Espanha e Grécia, não é paraajudarem os países que estãofora,mas para que a entradadesses países sirva osinteresses dos nove que já láestão dentro"

“O Mercado Comumprocuraria fazer estagnar,submeter, absorver ouliquidar sectores da economiaportuguesa concorrentes comos sectores em crise noMercado Comum"

" Uma tal associação emtermos de desigualdade e semreciprocidade de vantagensnão interessa a Portugal. Porisso estamos contra."

Intervenção de Álvaro Cunhal,na Conferência do PCP Portugal

e o Mercado Comum, Porto, 31 deMaio de 1980, Ed. Avante!,

pp-14-16.

Perante o anúncio de agregação da Fundação para aComputação Científica Nacional na FCT, o PCPapresentou o seguinte Projecto de Resolução

A FCCN é ainda hoje ogarante da qualidade,eficácia e potência deum conjunto deserviços prestadosprincipalmente àcomunidade científica

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