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1 FUNDAÇÃO EDUCACIONAL “MANOEL GUEDES” Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes” Curso de Habilitação Profissional de Técnico em Segurança do Trabalho CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE MÓDULO II Tatuí-SP 2019

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL “MANOEL GUEDES”

Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes”

Curso de Habilitação Profissional de

Técnico em Segurança do Trabalho

CONDIÇÕES EMEIO AMBIENTE

MÓDULO II

Tatuí-SP

2019

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SumárioSEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO...............................................................................................4

INDICADORES PRINCIPAIS DE SEGURANÇA...............................................................................6

CLASSIFICAÇÃO....................................................................................................................................8

NBR – 14280.................................................................................................................................................. 13

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO............................................................................................... 13

PPRA - PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS..................................................15

METODOLOGIA................................................................................................................................ 16

OBRIGATORIEDADE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PPRA........................................................ 16

OPÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA.................................................................. 16

PRECAUÇÕES E CUIDADOS........................................................................................................17

PERGUNTAS E RESPOSTAS FREQUENTES (FAQ)............................................................... 17

CRONOBIOLOGIA E SUAS APLICAÇÕES NA PRÁTICA MÉDICA..................................................18

MECANISMOS NEURONAIS DA RITMICIDADE CIRCADIANA................................................. 19

INTERRELAÇÃO ENTRE RITMOS................................................................................................... 21

ONTOGÊNESE DA RITMICIDADE CIRCADIANA..........................................................................22

APLICAÇÕES DA CRONOBIOLOGIA NA PRÁTICA MÉDICA...................................................23

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SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO

INTRODUÇÃOOs indicadores de segurança são instrumentos que permitem avaliar a segurança numdeterminado momento, bem como a sua evolução ao longo do tempo, quer essa segurança sejareferente a elementos diferenciados, como a um conjunto da organização em avaliação.Os indicadores de segurança são determinantes para qualquer plano de Segurança e Higiene noTrabalho: Medem a evolução da condição de segurança; Contribuem para a sensibilização para a problemática da segurança, a todos os níveis de

uma organização; Através da medição da segurança, e possível evidenciar de forma clara que esforços e

investimentos na segurança são rentáveis.

A caracterização dos indicadores de segurança faz-se:

TIPOS DE INDICADORES DE SEGURANÇA

Pelo numero e representatividade; Pelo conteúdo essencial dos aspectos e dos fatores tidos em conta.

Existem vários tipos de indicadores, como vamos examinar em seguida:

Indicadores Principais: Expressam e quantificam fatores fundamentais relativos ao nível desegurança existente, como por exemplo:

Investimento econômico alocado a segurança; Percentagem de pessoal a colaborar na área da segurança (afeto a toda organização); Custo dos acidentes.

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Indicadores Complementares: Demonstram a medida dos aspectos e fatores parciais ousecundários na repercussão do nível de segurança existente.

Por instância Numero de incidentes registrados; Numero de pessoas que participaram em ações de segurança de âmbito geral; Período de tempo decorrido sem paralisação da atividade produtiva provocada por acidentes.

Indicadores Temporais: Estes indicadores englobam os seguintes parâmetros: Período de tempo decorrido sem acidentes com baixa; Período de tempo transcorrido sem avarias ou acidentes; Período de tempo de produção conseguida sem perdas por avarias ou acidentes.

Indicadores de Prevenção: Estes indicadores dividem-se em quatro tipos:

Econômicos: Custo de prejuízos materiais causados por incêndio; Valor médio de perdas por acidente, avarias ou incidentes; Numero e custo das horas de produção perdidas por acidentes, avarias ou incidentes.

Técnico-organizativos: Quantificação de avarias; Quantificação das emissões de produtos e matérias perigosas e ou contaminantes; Características e tipo de maquinas mais geradoras de acidentes; Componentes mais afetados por danos elétricos; Outros dados, variáveis de acordo com a atividade.

Legais – normativos: Numero de reclamações de consumidores; Numero de denuncias efetuadas por trabalhadores.

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Imateriais Prejuízos para a imagem da empresa, motivados por certos tipos de acidentes; Área afetada por eventuais derrames de contaminantes.

Requisitos dos Indicadores de Segurança Serem representativos da entidade, fator ou sistema a medir; Serem objetivos; Serem compreensíveis para quem consulta; Serem quantificáveis; Serem consistentes, estáveis ao longo do tempo; Serem fáceis de obter.

INDICADORES PRINCIPAIS DE SEGURANÇASão varias as formas como podem ser medidos os indicadores de segurança principais:

Índice de Frequência dos Acidentes de Trabalho (If): Representa o numero de acidentespor cada milhão de horas de homem trabalhadas.

Índice ou Taxa de Incidência dos Acidentes de Trabalho (Ii): Representa o numero deacidentes com baixa por cada mil trabalhadores.

Este indicador e utilizado quando não se conhece o numero exato de horas trabalhadas, nem aquantidade exata de trabalhadores expostos. Reporta-se a um período de um ano.

Duração Média das Baixas: Representa o tempo médio, expresso em numero de dias detrabalho, que se perde como consequência dum acidente com baixa.

Perda Média por Acidente: Fornece o custo médio, em unidade monetária, dos acidentesregistrados.

Índice de Gravidade dos Acidentes: Representa o numero de dias perdidos (nãotrabalhados) devido a acidentes de trabalho. Significa o numero de dias perdidos por cada milhoras trabalhadas.

Segurança

Custos Totais da Segurança em relação aos custos totais da empresa: Refletem oempenho econômico da empresa em manter em funcionamento os sistemas de segurança(equipamentos, pessoal, instalações, organização).

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Custo da Segurança por Trabalhador: Quantifica o custo médio por empregado em matériade segurança.

Cobertura de equipamentos de detecção extinção de incêndios: Extinção por meiosautomáticos e manuais - percentagem de superfície construída da empresa coberta pordetecção automática de incêndios.

Meios de Extinção Automática: área coberta por detecção e extinção automática a dividirpela área total construída vezes cem;

Meios de Extinção Manual: área coberta por detecção e extinção manual a dividir pela áreatotal construída vezes cem.

Custo da formação em segurança por trabalhador: Os Custos de Formação em Segurançaequivalem aos custos de formação em segurança a dividir pelo numero total de trabalhadores(que tenham recebido ou não formação).

Cobertura da formação em segurança: Indica a percentagem de trabalhadores quereceberam formação em segurança em relação ao total da empresa.

A Cobertura de Formação em Segurança e igual ao numero de trabalhadores com formação emsegurança a dividir pelo numero total de trabalhadores vezes 100.

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Participação voluntária dos trabalhadores em segurançaPercentagem da participação voluntaria e igual ao numero de sugestões em segurança a dividirpelo numero total de trabalhadores vezes cem.

Índice indicativo do número de sugestões e reclamações provenientes dos trabalhadores(excluindo os dos serviços de segurança)

Segurança e

CLASSIFICAÇÃO

Um acidente de trabalho é um acontecimento inesperado, muitas vezes evitável, queinterrompe a continuidade de uma função laboral e pode causar lesões aos trabalhadores. Asua classificação pode ser feita da seguinte forma:

Morte;

Incapacidade permanente - acidentes que resultam para a vítima deficiências físicas oumentais, com caráter permanente;

Incapacidade temporária - acidentes que resultam para a vitima incapacidade de, pelomenos, um dia completo para além do dia em que ocorreu o acidente (sejam dias em que avitima iria trabalhar ou não).

Outros casos - acidentes que resultam em incapacidade para o trabalho por tempo inferior aoestabelecido para a incapacidade temporária, sem que exista incapacidade permanente. Outraclassificação passível de ser dada aos acidentes de trabalho e a relativa a sua forma: Queda de pessoas; Queda de objetos; Marcha, choque ou pancada por ou contra objetos; Entaladela num objeto ou entre objetos; Esforços excessivos ou movimentos em falso; Exposição ou contato com temperaturas extremas; Exposição ou contato com corrente elétrica; Exposição ou contato com substâncias nocivas ou radiações.

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Segundo o agente material, a classificação dos acidentes de trabalho pode ser efetuada doseguinte modo:

Maquinas; Meios de transporte e manutenção; Fornos, escadas, andaimes, ferramentas, etc.; Explosivos, gases, poeiras, fragmentos volantes, radiações; Ambientes de trabalho.

A natureza das lesões provocadas por acidentes de trabalho são inúmeras. De seguida deixamosalguns exemplos:

Segundo a natureza da lesão

Fraturas; Luxações; Entorses e distensões; Comoções e outros traumatismos internos; Amputações; Outras feridas; Traumatismos superficiais; Contusões e esmagamentos; Queimaduras.

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E importante igualmente lembrar os pontos morfológicos mais susceptíveis de ser alvo deacidentes de trabalho:

Cabeça; Olhos; Pescoço (incluindo garganta e vertebras cervicais); Membros superiores; Mãos; Tronco; Membros inferiores; Pés. CAUSAS DOS ACIDENTES DE TRABALHOCAUSA

São muitas as situações que podem provocar um acidente de trabalho. Vamos verificar quais asmais comuns: Ascendência e ambiente social; Falha humana (imprudência, irritabilidade, etc.); Ato inseguro (não utilizar, ou utilizar erradamente, equipamento de Proteção Individual,

estacionar sob cargas, suspensas, usar ferramentas em mau estado, etc.); Condição perigosa - proteções ou suportes de maquinas inadequados, congestionamento

dos locais de trabalho, ruído excessivo ou risco de incêndio;

Pode-se igualmente separar as causas dos acidentes em dois fatores:

FATORES MATERIAIS OU TÉCNICOS

Má organização do trabalho; Deficiente proteção das maquinas; Má qualidade dos equipamentos ou ferramentas; Falta de Equipamento de Proteção Individual; Utilização de produtos perigosos.

FATORES HUMANOS

Ansiedade e stress; Falta de integração do trabalhador no grupo de trabalho; Alcoolismo e sonolência.

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CUSTOS DOS ACIDENTES DE TRABALHOEm caso de acidente causador de morte considera-se 7500 dias de trabalho perdidos. O numerode horas por homem perdidas pode ser calculado pela formula:

Nhh = (Nt x Nd x Nhd) – Nhp

Nhh = Número de horas - homem de trabalho no período coberto pelo estudo.Nt = Número médio de trabalhadores por dia de trabalho.Nd = Número de dias de trabalho no período coberto pelo estudo.Nhd = Número médio de horas trabalhadas, por trabalhador, por dia.Nhp = Número de horas perdidas por feriados e por absentismo, doença e acidentes.

Existem vários índices para quantificar os custos dos acidentes de trabalho. A sua analise só temsignificado se comparados com os valores de períodos diferentes, ou em relação a empresas domesmo sector de atividade.

Por exemplo, o índice combinado de avaliação da gravidade representa o numero de dias uteisperdidos, em media, por acidente. Permite estabelecer prioridades quanto às ações de controlo,constituindo uma tabela de valorização por ordem decrescente.

3.1 Tipos de Custos Custos Diretos: salários, indenizações, gastos de assistência medica.

Custos Indiretos: o tempo perdido pelo acidentado e /ou o tempo consumido na investigaçãodo acidente tempo decorrente de um substituto temporário.

Custos Suplementares: na fase da concepção existem outros custos, resultantes dasintervenções necessárias para restabelecer a normalidade de funcionamento apos aocorrência de um acidente ou incidente.

Despesas com a Proteção do Ambiente: no ambiente exterior a empresa deve ser previstasas a adoção de medidas de controlo necessárias, visando os agentes poluentes emitidos(físicos, químicos e biológicos) de acordo com a legislação em vigor.

Custo Global: custos de prevenção de rotina, que se concretizam antes da ocorrência deacidentes e que resultam da identificação de situações de risco. Englobam as despesasrealizadas na sequencia da ocorrência dos acidentes e as despesas excepcionais deprevenção.

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Despesas Fixas de Prevenção: custos de funcionamento dos serviços de segurança esaúde ocupacional.

Custos Fixos de Seguros: podem ser de vários tipos, para cobertura dos danos materiaiscomo para cobertura das lesões profissionais.

Custos Variáveis de Prevenção: ações complementares de formação e informação,campanhas de sensibilização, ações de motivação, pesquisas, etc.

Custos Variáveis com Seguros: custos relativos aos mecanismos de majoração e deredução dos prêmios em função das variações registadas querem na frequência, quer nagravidade dos sinistros.

Custos Imputáveis às Lesões Profissionais: primeiros socorros administrados naempresa aos sinistrados, transporte das vitimas para os cuidados de prestação decuidados médicos, custos administrativos e judiciais litigiosos.

Custos dos Danos Materiais: tipo de custos bastante aleatórios. Não existe relação nemproporção entre a frequência dos acidentes e os prejuízos materiais decorrentes.

Custos de Prevenção de Natureza Excepcional: despesas para fazer face de riscos quepassaram despercebidos e que não foram controlados quando da fase de concepção e doprojeto.

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NBR – 14280CADASTRO DE ACIDENTES

ACIDENTE DE TRABALHOOcorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com a execução dotrabalho, de que resulte ou possa resultar lesão pessoal

CLASSIFICAÇÃO DE ACIDENTES

Acidente sem Lesão: Acidente que não causa lesão pessoal;

Acidente de Trajeto: Acidente sofrido pelo empregado no percurso da residência para o localde trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículode propriedade do empregado, desde que não haja interrupção ou alteração de percurso pormotivo alheio ao trabalho.

CLASSIFICAÇÃO (II)

Acidente Impessoal: acidente cuja caracterização independe de existir acidentado, nãopodendo ser considerado como causador direto da lesão pessoal;

Acidente Pessoal: Acidente cuja caracterização depende de existir acidentado. CAUSAS DO ACIDENTE

Fator Pessoal de Insegurança: Causa relativa ao comportamento humano, que pode levar aocorrência do acidente ou a prática de ato inseguro;

Ato Inseguro: Ação ou omissão que contrariando preceito de segurança, pode causar oufavorecer a ocorrência de acidente.

CAUSAS DO ACIDENTE (II) Condição Ambiente de Insegurança: condição do meio que causou o acidente ou contribuiu

para a sua ocorrência.

DOENÇA DO TRABALHO Doença decorrente do exercício continuado ou intermitente de atividade laborativa

capaz de provocar lesão por ação mediata;

OBS: lesão mediata (lesão tardia): aquela que não se manifesta imediatamente.

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

1- Afinal, o que é PPRA?R: PPRA é a sigla de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Esse programa estáestabelecido em uma das Normas Regulamentadoras (NR-9) da CLT- Consolidação das LeisTrabalhistas, sendo a sua redação inicial dada pela Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994,da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho, do Ministério do Trabalho.

2- Qual o objetivo do PPRA?R: Estabelecer uma metodologia de ação que garanta a preservação da saúde e integridade dostrabalhadores frente aos riscos dos ambientes de trabalho.

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3- Quais são os riscos ambientais?R: Para efeitos do PPRA, os riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicosexistentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ouintensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde dos trabalhadores.

4- Na prática, que agentes de riscos são esses?R: Agentes físicos: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiaçõesionizantes e radiações não ionizantes. Agentes químicos: poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases,vapores, absorvidos pelo organismo humano por via respiratória, através da pele ou por ingestão.Agentes biológicos: bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros.

5- Quem está obrigado a fazer o PPRA?R: A elaboração e implementação do PPRA é obrigatória para todos os empregadores einstituições que admitam trabalhadores como empregados. Não importa, nesse caso, o grau derisco ou a quantidade de empregados. Assim, tanto um condomínio, uma loja ou uma plantaindustrial, todos estão obrigados a ter um PPRA, cada um com sua característica e complexidadediferentes.6- Quem deve elaborar o PPRA?R: A princípio o próprio Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina doTrabalho - SEESMT da empresa ou instituição. Caso o empregador esteja desobrigado pelalegislação de manter um serviço próprio , ele deverá contratar uma empresa ou profissional paraelaborar, implementar, acompanhar e avaliar o PPRA. A Norma Regulamentadora não especificaqual é o profissional, porém as atribuições estabelecidas para a gerência do PPRA nos mostramque ele deverá estar sob a coordenação de um Engenheiro de Segurança do Trabalho ou de umTécnico de Segurança do Trabalho, dependendo das características da empresa ouestabelecimento (As atribuições dos Engenheiros de Segurança do Trabalho estão na Resoluçãonº359 do CONFEA, de 31 de julho de 1991).

7- A CIPA pode elaborar o PPRA?R: Não. A CIPA pode e deve participar da elaboração do PPRA, discutindo-o em suas reuniões,propondo idéias e auxiliando na sua implementação. Entretanto, o PPRA é uma obrigação legaldo empregador e por isso deve ser de sua iniciativa e responsabilidade direta.

8- O PPRA se resume a um documento que deverá ser apresentado à fiscalização doMinistério do Trabalho?R: Não. O PPRA é um programa de ação contínua, não é apenas um documento. O documento-base, previsto na estrutura do PPRA, e que deve estar à disposição da fiscalização, é um roteirodas ações a serem empreendidas para atingir as metas do Programa. Em resumo, se houver umexcelente documento-base, mas as medidas não estiverem sendo implementadas e avaliadas, oPPRA, na verdade, não existirá.

9- O que deve ser feito primeiro, o PPRA ou o PCMSO?R: Sendo programas de caráter permanente, eles devem coexistir nas empresas e instituições,com as fases de implementação articuladas. No primeiro ano, entretanto, o PPRA deverá estar nafrente para servir de subsídio ao PCMSO. “Observe a “letra da lei”: NR-7, ítem 7.2.4 - O PCMSOdeverá ser planejado e implantado com base nos riscos à saúde dos trabalhadores,especialmente os identificados nas avaliações previstas nas demais NR”

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10- O PPRA e o PCMSO abrangem todas as exigências legais e garantem a segurança esaúde dos trabalhadores?R: Não, de forma alguma. Veja, de novo, a "letra da lei": NR-9, ítem 9.1.3 - O PPRA é parteintegrante do conjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da preservação da saúdee da integridade dos trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais NR, emespecial com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO previsto na NR-7."

PPRA - PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOSAMBIENTAIS O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais ou PPRA é: um programa estabelecido

pela Norma Regulamentadora NR-9, da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho, doMinistério do Trabalho.

Este programa tem por objetivo, definir uma metodologia de ação que garanta a preservação dasaúde e integridade dos trabalhadores face aos riscos existentes nos ambientes de trabalho.

A legislação de segurança do trabalho brasileira considera como riscos ambientais, agentesfísicos, químicos e biológicos. Para que sejam considerados fatores de riscos ambientais estesagentes precisam estar presentes no ambiente de trabalho em determinadas concentrações ouintensidade, e o tempo máximo de exposição do trabalhador a eles é determinado por limites préestabelecidos.

AGENTES DE RISCO Agentes físicos: são aqueles decorrentes de processos e equipamentos produtivos podem

ser: Ruído e vibrações; Pressões anormais em relação a pressão atmosférica; Temperaturas externas (altas e baixas); Radiações ionizantes e radiações não ionizantes.

Agentes químicos: são aquelas decorrentes da manipulação e processamento de matériasprimas e destacam-se:

Poeiras e fumos; Névoas e neblinas; Gases e vapores.

Agentes biológicos: são aqueles oriundos da manipulação, transformação e modificação deseres vivos microscópicos, dentre eles:

Genes, bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, e outros.

OBJETIVOS DO PROGRAMA

Objetivo primordial e final é evitar acidentes que possam vir a causar danos à saúde dotrabalhador, entretanto existem objetos intermediários que assegurarão a consecução da metafinal.

OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS

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Criar mentalidade preventiva em trabalhadores e empresários. Reduzir ou eliminar improvisações e a "criatividade do jeitinho". Promover a conscientização em relação a riscos e agentes existentes no ambiente do trabalho. Desenvolver uma metodologia de abordagem e análise das diferentes situações (presente e

futuras) do ambiente do trabalho. Treinar e educar trabalhadores para a utilização da metodologia.

METODOLOGIA

O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais deverá incluir as seguintes etapas: Antecipação e reconhecimento dos riscos; Estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle; Avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores; Implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia; Monitoramento da exposição aos riscos; Registro e divulgação dos dados.

OBRIGATORIEDADE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PPRAA Legislação é muito ampla em relação ao PPR, as atividades e o número deestabelecimentos sujeitos a implementação deste programa são tão grandes que tornaimpossível a ação da fiscalização e em decorrência disto muitas empresas simplesmenteignoram a obrigatoriedade do mesmo.

A lei define que todos empregadores e instituições que admitem trabalhadores comoempregados são obrigadas a implementar o PPRA.

Em outras palavras, isto significa que praticamente toda atividade laboral onde haja vinculoempregatício está obrigada a implementar o programa ou seja : indústrias; fornecedores deserviços; hotéis; condomínios; drogarias; escolas; supermercados; hospitais; clubes;transportadoras; magazines etc. Aqueles que não cumprirem as exigências desta normaestarão sujeitos a penalidades que variam de multas e até interdições.

Evidentemente que o PPRA tem de ser desenvolvido especificamente para cada tipo deatividade, sendo assim, torna-se claro que o programa de uma drogaria deve diferir doprograma de uma indústria química.Fundamentalmente o PPRA visa preservar a saúde e a integridade dos trabalhadores pormeio da prevenção de riscos, e isto significa:

Antecipar; reconhecer e controlar riscos existentes e que venham a ser introduzidos noambiente do trabalho.

OPÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA

Para uma grande indústria que possui um organizado Serviço Especializado de Segurança, aelaboração do programa não constitui nenhum problema, para um supermercado ou umaoficina de médio porte, que por lei não necessitam manter um SESMT, isto poderá vir a ser umproblema.

As opções para elaboração, desenvolvimento, implementação do PPRA são:

Empresas com SESMT - neste caso o pessoal especializado do SESMT seráresponsável pelas diversas etapas do programa em conjunto com a direção da empresa.

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Empresas que não possuem SESMT - nesta situação a empresa deverá contratar umafirma especializada ou um Engenheiro de Segurança do Trabalho para desenvolvimentodas diversas etapas do programa em conjunto com a direção da empresa.

PRECAUÇÕES E CUIDADOS

A principal preocupação é evitar que o programa transforme-se no principal objetivo e aproteção ao trabalhador transforme-se em um objetivo secundário.

Muitas empresas conseguem medir a presença de algum agente em partes por bilhão (ppb) eutilizam sofisticados programas de computador para reportar tais medidas, entretanto não evitame não conseguem evitar que seus trabalhadores sofram danos a saúde.

Algumas empresas de pequeno e médio porte, não possuindo pessoas especializadas em seusquadros, contratam serviços de terceiros que aproveitam a oportunidade para vender sofisticaçõestecnológicas úteis para algumas situações e absolutamente desnecessárias para outras (algocomo utilizar uma tomografia computadorizada para diagnosticar unha encravada).

O PPRA é um instrumento dinâmico que visa proteger a saúde do trabalhador e portanto deve sersimples prático, objetivo e acima de tudo facilmente compreendido e utilizado.

PERGUNTAS E RESPOSTAS FREQUENTES (FAQ)1- É possível delegar a CIPA a implementação do PPRA?R: Possível é algumas empresas até adotam esta atitude, entretanto não é legal e muito menosrecomendável. A CIPA pode e deve participar da elaboração do PPRA, discutindo-o em suasreuniões, propondo idéias e auxiliando na sua implementação.

2- A empresa poderá ser multada se não tiver o PPRA implementação?R: Normalmente existe um bom senso, a fiscalização inspecionará estado geral da empresa edependendo deste poderá multar ou advertir para que o programa seja implementado atédeterminada data.

3- Não seria um absurdo exigir PPRA de um supermercado?R: Exigir legalmente pode ser exagero, entretanto é a única maneira de assegurar que haja algumprograma que proteja a saúde dos trabalhadores, assim como a multa foi a única maneira depromover o uso de cinto de segurança em automóveis. Nos supermercados existem riscos emuitos submetem seus trabalhadores a situações que poderão provocar lesões irrecuperáveis(câmara frigorífica; operação com empilhadeiras, etc.)

4- O PPRA, como os livros fiscais, é um documento que deverá estar a disposição dafiscalização?

R: Isto é o que um grande número de empresas e alguns técnicos pensam. O PPRA é umprograma e não um documento para “inglês ver”. Nenhum valor prático tem um documento ricoem detalhes preciso até a quarta casa decimal e adornando a mesa da gerencia, sem quemedidas efetivas de avaliação e controle do risco estejam efetivamente implementadas emonitoradas.

5- Desenvolvendo e implementando adequadamente o PPRA, a empresa terá equacionadotodos seus problemas de segurança e assegurado a integridade da saúde de seusfuncionários?

R: Evidentemente que não, como a própria legislação menciona: “o PPRA é parte integrante doconjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da preservação da saúde e daintegridade dos trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais normasregulamentadoras.”

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6- A empresa deverá contratar terceiros (prestadores de serviço especializados) paragerencias o programa?

R: Esta atitude é adotada por empresários que simplesmente querem ficar livres da incumbêncialegal e que se preocupam nada ou muito pouco com a saúde do trabalhador. Terceiros devem serusados para o desenvolvimento e implementação do programa (na ausência de capacitaçãotécnica na empresa), porém o gerenciamento deve ser da direção e dos funcionários da empresa,pois só assim haverá possibilidade de garantir que medidas efetivas de prevenção estão sendoimplementadas. Terceiros prestadores de serviços podem recomendar medidas efetivas,entretanto raramente conseguem garantir que estas medias serão efetivamente implementadas.

CRONOBIOLOGIA E SUAS APLICAÇÕES NA PRÁTICA MÉDICA

A partir da constatação de que certos fenômenos biológicos ocorriam sistematicamente de formacíclica e regular durante as fases do dia, do ano e do desenvolvimento dos seres vivos, surgiu acronobiologia, a qual vem se destacando nas últimas décadas como um ramo das ciênciasbiológicas. A cronobiologia estuda os determinantes da ritmicidade temporal dos fenômenosfisiológicos e bioquímicos que se relacionam às diversas horas do dia. Nesta revisão, os autoresabordam os conceitos fundamentais da cronobiologia, exemplos de ritmos circadianos, situaçõesclínicas, aplicações em medicina do trabalho, aspectos neuronais anatômicos e do funcionamentodo(s) “relógio(s) biológico(s)”, a interrelação e ontogênese dos ritmos biológicos, além daspossíveis aplicações de tais aspectos fisiológicos da espécie humana na prática médica atual,como a prevenção do infarto agudo do miocárdio nas primeiras horas da manhã.

Unitermos: Cronobiologia, Ritmos circadianos, Relógio biológico

MECANISMOS DE ADAPTAÇÃO TEMPORAL

O entendimento das relações temporais dos fenômenos fisiológicos com o meio ambiente éfundamental para a compreensão dos mecanismos adaptativos dos seres vivos. Deste modo, namaioria das espécies, podemos observar ritmos, que se caracterizam como estados funcionaisque variam periodicamente no tempo.

Muitos ritmos biológicos são associados a um ciclo geofísico, o mais evidente é o cicloclaro/escuro (CE). Este ciclo periódico possui o sinal ambiental luminoso para que o marca-passocircadiano humano seja sincronizado com as 24 horas-dia, sendo que a duração do período doritmo circadiano pode variar de 20 a 28 horas.

Os ritmos não-circadianos são agrupados em: infradianos ou ritmos de baixa freqüência, comperíodos maiores que 28 horas, como, por exemplo, o ciclo menstrual e a produção de plaquetasno sangue de mamíferos. Já os ritmos ultradianos, ou oscilações de repetições rápidas, com

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períodos menores que 20 horas, como, por exemplo, a secreção de insulina e glucagon emhumanos, cujos períodos têm duração entre 70 e 140 minutos.

A endogenicidade dos ritmos proporciona uma capacidade antecipatória, que permite organizarrecursos e atividades antes que seja necessária, como a preparação para a vigília em humanos,que implica na liberação de cortisol e elevação da temperatura interna nas últimas etapas do sono.

Ao fator cíclico ambiental, que promove o arrastamento ou sincronização dos ritmos biológicoscom o ambiente, foi dado o nome de “Zeitgeber”, neologismo alemão que significa “doador detempo”, ou sincronizadores, ou arrastadores. Para a maioria dos organismos, o “Zeitgeber” maisimportante dos ritmos circadianos é o ciclo claro/escuro. No entanto, outros fatores cíclicostambém agem como sincronizadores, como, por exemplo, ciclos sociais, ciclos de temperatura eciclos de alimentação. Os “Zeitgebers” da luz e do fator social são investigados pelos seus papéisna formação, prevenção e tratamento de alterações na saúde.

Em condições ambientais constantes e invariáveis de laboratório, em regiões polares (como aAntártida) ou ainda em indivíduos cegos, diversos ritmos biológicos continuam a se expressardurante dias, meses ou anos, dependendo da espécie e das condições experimentais. Estesritmos são conhecidos como ritmos em livre curso e é a expressão de relógios biológicosendógenos. Nestas condições, o período torna-se ligeiramente diferente daquele exibido emcondições naturais, pois não há nenhum sinal ambiental sincronizador.

Foram observados ritmos em livre-curso da produção e excreção de melatonina, cortisol, sódio epotássio em homens saudáveis, durante o inverno, numa pequena base da Antártida, período esteque não apresenta luz solar. Sendo que na primavera, quando o sol reapareceu, todos os ritmosforam novamente sincronizados de acordo com a luz do dia. Estes resultados ajudam a confirmarque os ritmos circadianos podem cursar livremente, mesmo quando os indivíduos têm oconhecimento da hora do dia; e dentro de grupos pequenos os indivíduos podem manter períodosde livre-curso únicos.

MECANISMOS NEURONAIS DA RITMICIDADE CIRCADIANA

O papel central de geração das oscilações rítmicas nos mamíferos é determinado pelos núcleossupraquiasmáticos (NSQ) do hipotálamo anterior.Numerosos trabalhos, a maioria em roedores, demonstram vários aspectos dos mecanismosfisiológicos pelos quais os NSQ funcionam como marca-passo circadiano, sendo evidenciados poruma atividade metabólica e elétrica rítmica mantida tanto ”in vitro” como “in vivo”. Foi demonstradoque lesões bilaterais nos NSQs de mamíferos alteram ou eliminam os ritmos circadianos desecreção de vários hormônios como cortisol, aldosterona, GH (Hormônio de Crescimento), LH(Hormônio Luteinizante), bem como ritmos de atividade locomotora e de ingestão de água ealimentos, além do ritmo circadiano de temperatura corporal, atividade sexual e ritmo ultradiano dosono de ondas lentas, que também se relacionam com alterações no ciclo sono-vigília. Além disso,o transplante de NSQ fetal (entre roedores), para receptores previamente enucleados é capaz derestaurar a ritmicidade circadiana destes, demonstrando, mais uma vez, o papel relevante, masnão único e exclusivo, dos NSQ na temporização dos ritmos biológicos de mamíferos.Como o ciclo claro-escuro parece ser o principal estímulo ambiental de arrastamento do relógiobiológico em mamíferos, supõe-se que existam vias evidentes entre a retina e o NSQ. Estaprojeção fótica retiniana, parte de neurônios ganglionares retinianos específicos, juntamente comas fibras do nervo óptico, recebem o nome de trato retinohipotalâmico (TRH), conectando-se comquase toda a extensão do NSQ. Existem evidências indiretas de que o neurotransmissor desta viaé o glutamato, agindo em receptores NMDA e AMPA do NSQ.

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O mecanismo de funcionamento dos NSQs ainda não é inteiramente conhecido, mas sabe-se queenvolve a participação de osciladores autônomos celulares e a interação entre as populaçõesneuronais e gliais. As entradas dos neurônios no NSQ são especializadas para desencadearrespostas duradouras intracelulares de acordo com a variação da luminosidade que ocorre porvolta do amanhecer e do anoitecer.As eferências do NSQ voltam-se para outras áreas do hipotálamo; como regiões do núcleoparaventricular ventro e dorsomedial (NPV), hipotálamo posterior, além de projeções para rafe,tálamo, núcleo arqueado e área pré-óptica. Além disso, há evidencias indiretas de um controle doNSQ sobre a adenohipófise, através de uma população de células da eminência medianacontendo dopamina, que são inervadas pelo NSQ. Isto não implica em nenhum efeito direto doNSQ sobre a adenohipófise, mas oferece uma via indireta através dos sistemas neuraishipotalâmicos que podem regular a secreção hormonal hipofisária, particularmente a de prolactina.

Esquema mostrando a posição dos NSQs no SistemaNervoso Humano (segundo Menna-Barreto. 1995 – Cronobiologia).

O papel dos NSQs na geração dos ritmos circanuais ainda permanece obscuro, mas sabe-se quesua população de neurônios sintetizadores de vasopressina exibe uma ritmicidade tanto diurna,com picos populacionais no início da manhã, como uma ritmicidade sazonal, com picos no verão eoutono. No entanto, esta organização temporal torna-se pouco evidente nas idades maisavançadas do homem.

Os relógios biológicos circadianos são acoplados com outros geradores de ritmos infradianos e omais evidente deles é a glândula pineal, produtora do hormônio melatonina, que age como umpossível sincronizador interno do sistema circadiano. A melatonina é produzida na fase deescuridão ambiental, coincidente ou correspondente com a noite subjetiva do organismo, segundoseu relógio biológico, e tem sua secreção inibida quando há presença da luz. No entanto, a luzfluorescente, presente em casas e locais de trabalho, com uma intensidade de cerca de 200 a 400lux, não suprime a secreção do hormônio. Parece que a foto inibição noturna da pineal é mediada,pelo menos em parte, por conexões desta com o folheto intergeniculado talâmico.

O estresse e o exercício físico em humanos podem aumentar as concentrações plasmáticas demelatonina. Assim, nos mamíferos, a pineal é considerada um órgão endócrino com propriedadesde transdutor neuroendócrino, porque a informação fótica canalizada através de um sinal da viasimpática chega à glândula e regula a secreção de melatonina.

Sugere-se sugerido que a melatonina atue diretamente nos NSQs, provocando diminuição de suaatividade metabólica durante a noite subjetiva, ligando-se possivelmente a receptores Mel 1a, cujoRNAm pode ser detectado em neonatos humanos. O arrastamento dos ritmos circadianos daatividade locomotora e temperatura corporal, pela melatonina ou por agonistas nonindólicos desta,tem implicações terapêuticas em desordens circadianas de “jet lags” (vôos transcontinentais) edesordens do sono de origem circadiana.

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Em certas espécies de mamíferos, a secreção de melatonina tem fortes influências sobre osritmos circanuais da atividade reprodutora, mas ainda não há evidências conclusivas na espéciehumana.

INTERRELAÇÃO ENTRE RITMOS

O conceito de que os ritmos circadianos, infradianos e ultradianos são interdependentes e queocorre uma intermodulação entre estes, de modo que vários ritmos ultradianos, por exemplo,podem resultar num ritmo de maior duração, é bem aceito atualmente e foi proposto,primeiramente, por Franz Halberg, em 1959, sendo esta visão mais abrangente indispensávelpara uma correta compreensão da fisiologia cronológica. Os ciclos de batimentos cardíacos, depulsos hormonais hipofisários, de sono-vigília e o ciclo menstrual reprodutivo são exemplos deritmos de diferentes freqüências que se modulam entre si e com outros ritmos biológicos.

Como já citado, certos ritmos ultradianos como a secreção de GH, LH e prolactina são,caracteristicamente, influenciados pelo ritmo do ciclo sono-vigília, ocorrendo um aumento daamplitude dos picos de secreção de GH, dependendo da hora em que o sono ocorre. Os maiorespicos de GH, durante o sono, estão principalmente no período em que ocorre o sono de ondaslentas (estágios III e IV) nas primeiras horas de sono.

Estudos em humanos e roedores mostraram que injeções de Hormônio Liberador do Hormônio deCrescimento (GHRH) aumentam a quantidade deste tipo de sono e diminuem a vigília.Coincidentemente ou não, a diminuição na secreção de GH, que acontece pela 4a década de vida,ocorre concomitantemente com uma diminuição da quantidade deste tipo de sono. Já os ritmosnoturnos de secreção de insulina e glucagon estão relacionados com os episódios de sono REM esono não-REM.

Ocorrem picos dos 2 hormônios a cada 70-140 minutos, preferencialmente, no início do sono REM,evidenciando uma modulação do Sistema Nervoso Central (SNC) sobre as células a e b dopâncreas endócrino. Ainda sobre os efeitos do ciclo circadiano de sono-vigília sobre os ritmosultradianos, temos que a taxa de sono REM e a latência deste são fortemente influenciados peloritmo circadiano de temperatura, bem como a preferência pela hora de dormir.

Em meninas pré-púberes, ocorre um aumento de cerca de 4 vezes na amplitude dos pulsos de LHapós o início do sono, em relação ao período de vigília, com tendência à estabilização daamplitude destes pulsos entre as fases de sono e vigília nas meninas em fase de puberdade tardia.

Os ritmos reprodutivos humanos, como o ciclo menstrual feminino e a espermatogênese, sofremvariações sazonais, que são evidenciadas pelas diferentes freqüências de nascimentosobservadas em certas épocas do ano.

Estes ritmos reprodutivos parecem sofrer influência de 3 fatores ambientais:

A indisponibilidade de alimento ou o grande gasto energético para obtê-los é o que podeacontecer em comunidades subsistênciais dependentes das épocas de chuva, como emcertas comunidades indígenas e certas comunidades carentes do sertão nordestinobrasileiro – leva a um atraso da menarca, aumento do período de amenorréia lactacional ediminui a freqüência de ciclos ovulatórios;

Altas temperaturas de certas estações do ano agem inibindo a espermatogênese emhomens com roupas que dificultam o resfriamento escrotal e;

Influências do foto período na atividade reprodutiva das comunidades das médias e altaslatitudes, sendo, este último fator, um pouco controverso entre os neuroendocrinologistas.

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Foram avaliados os ritmos circadianos, semanais, menstruais, lunares e anuais da atividademotora em uma mulher saudável e inferiu-se que ocorrem avanços e atrasos de fase,relacionados com os fins de semana, além de alterações no horário de início e fim das atividadesrelacionadas com o ciclo menstrual. Nota-se que ocorre uma diminuição das atividades motoraspor volta do meio do ciclo menstrual (10º ao 17º dia) devido a um despertar mais tardio e a umadormecer mais precoce. A gênese do ciclo sono-vigília no homem é um bom exemplo deinterrelação entre ritmos ultradianos, circadianos e infradianos.No entanto, o modo como cada ritmo age para determinar alterações nos outros ainda é poucoesclarecido.

ONTOGÊNESE DA RITMICIDADE CIRCADIANA

Entende-se por ontogênese a origem e o desenvolvimento de um organismo individual,englobando desde a fecundação até a vida adulta, inclusive as transformações que se sucedemao longo de toda sua vida.

Dentro desse parecer, é importante salientar o estabelecimento da ritmicidade biológica, suasincronização com os eventos ambientais e as transformações que os ritmos biológicos sofrem.Atualmente, existem descrições consideráveis dos padrões rítmicos de algumas variáveisfisiológicas em recém-nascidos e crianças em desenvolvimento.

Estudos em roedores demonstram que o sistema circadiano materno coordena o tempo dedesenvolvimento do relógio para o ciclo claro-escuro presente em fetos prematuros e tardios;existindo, assim, uma comunicação materna que assegura o desenvolvimento fetal. Estedesenvolvimento é coordenado pelos estímulos externos até a maturação da via cronobiológicapara o estímulo luz-escuro em adultos, via retinohipotalâmica, que permite o estímulo fótico diretoem neonatos.

Dados quantitativos de funções fisiológicas, em relação ao sistema circadiano em bebêsprematuros, são relevantes e podem facilitar a avaliação de fatores que melhoram as respostasterapêuticas, recuperações e resultados de pacientes em cuidado intensivo neonatal. Estudorealizado pela Universidade de Stanford verificou o ritmo biológico e a influência de fatoresambientais no tempo e sincronização de diferentes eventos com importantes implicações nasaúde neonatal. Encontrou uma baixa amplitude do ritmo circadiano para temperatura da pele eretal. Em todos os bebês, a ritmicidade circadiana dominou, além disso, algumas variáveisfisiológicas, traçadas durante a alimentação, diferiram significativamente de valores obtidos emperíodos, durante os quais, intervenções médicas não ocorreram.

A possibilidade da existência de um ritmo circadiano endógeno em bebês prematuros humanos foievidenciada em estudos, quando sob condições constantes de luz, alimentação intra-gástrica acada 2 horas e temperatura de incubação constante foi achado um ritmo circadiano significante natemperatura corporal e ritmo cardíaco em mais de 50% dos bebês. Há estudos, em bebêsprematuros, que tornam possíveis algumas deduções sobre a origem dos ritmos fetais no terceirotrimestre de gravidez.

Em relação à sincronização do relógio fetal com o sistema de temporização materna, observou-seque a coordenação materna diminui após a primeira semana de vida pós-natal, à medida que osfilhotes começam a responder diretamente à luz pelo trato retinohipotalâmico, emamadurecimento neste período.

Essa mudança de um sincronizador materno para um ambiental (ciclo claro-escuro) nãorepresenta uma passagem da estabilidade do feto para uma flutuação, mas uma provável

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capacidade de arrastamento fetal com conseqüências adaptativas, visando o preparo doorganismo para características temporais do novo ambiente que irá enfrentar.

Mudança na ritmicidade circadiana, em relação à idade, também tem sido observada em outrosmamíferos. Em hamsters, observou-se que 2 estímulos diferentes (benzodiazepínicos e pulsos deescuro) induzem mudanças no relógio circadiano de animais jovens, resultando em mudança nosníveis de atividade locomotora, porém não induzem mudanças de fase em animais velhos.

Um último tópico, não menos importante, que deve ser analisado ao longo da ontogênese daritmicidade biológica, é a questão das diferenças individuais. A variabilidade individual pode estarrelacionada ao modo de alimentação (mamadeira ou seio materno), sexo, número de filhos nafamília, entre outras possibilidades. A ordem de grandeza dessa variabilidade impede a detecçãode tendências ontogenéticas, quando são comparadas populações distintas, e neste caso,recorre-se aos estudos longitudinais como solução metodológica possível.

APLICAÇÕES DA CRONOBIOLOGIA NA PRÁTICA MÉDICA

A Cronobiologia tem importantes implicações em todas as áreas da medicina. Atualmente, emvista das evidências disponíveis, é imperdoável a indiferença do médico frente a estes “novos”conhecimentos na prática de sua profissão. A cronobiologia pode ser aplicada na organização deatividades sociais, escolares em fábricas e escritórios que necessitam de trabalho em turnos.

Em relação às atividades escolares, verificam-se períodos de menor desempenho intelectual das08h00 às 09h30 e logo após o almoço ou início da tarde. Por outro lado, o desempenho intelectualaumenta em torno das 11h30 e alcança um pico entre às 15h00 e 17h00.

Considerando-se as atividades nas fábricas e escritórios, é importante ressaltar a relação dainversão do horário de trabalho e suas nefastas conseqüências para a saúde. Essa inversãomodifica a ordem biológica interna, os costumes sociais e as relações familiares dos trabalhadores.Foi encontrado, em trabalhadores de turnos alternantes, um maior risco para doença arterialcoronária, provavelmente devido a maiores níveis séricos de triglicérides e maior freqüência detabagismo entre estes trabalhadores.Tais trabalhadores apresentam uma maior sonolênciareferida tanto subjetivamente, como observada fisiologicamente devido a fatores fisiológicoscircadianos.

Esta sonolência aumentada pode representar perigo para os trabalhadores e para a sociedade,podendo ser a responsável por vários acidentes de trabalho. Com relação à adaptação aotrabalho, em turnos alternantes de acordo com o sexo, sabe-se que as mulheres experimentammais distúrbios do sono do que os homens e sofrem mais de sonolência durante o trabalho,especialmente quando trabalham em mudança de turno pela manhã. Além disso,conseqüentemente ou não, sofrem mais de sintomas psiconeuróticos, digestivos e circulatórios doque seus companheiros de trabalho do sexo masculino.

O planejamento de um sistema de turnos deve seguir algumas recomendações:

O trabalho noturno deve ser reduzido o máximo possível; se não for possível, deve-se darpreferência a sistemas com turnos mais alternantes para cada trabalhador do que asistemas lentos (menos rotativos ou alternantes) onde o trabalhador acaba por adaptarseu relógio biológico pouco antes de ser trocado de turno, sofrendo mais ainda com atroca;

Longos períodos de trabalho (9-12hs) devem ser evitados, a menos que a natureza dotrabalho seja sutil;

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Início muito cedo, pela manhã, deve ser evitado, embora se deva manter a flexibilidadeadministrativa para permitir que os trabalhadores façam ajuste de preferências de turno

O número de dias de trabalho deve ser limitado a 5-7 dias antes de cada folga e devehaver sempre alguns finais de semana com, pelo menos, 2 dias livres.

É relevante destacar as aplicações da cronobiologia no diagnóstico e terapêutica de certasdoenças. A imunologia de transplantes mostra ritmos circadianos e semanais na rejeição deórgãos transplantados. Além disso, ritmos de susceptibilidade a uma série de alergenos esintomas de asma brônquica são caracteristicamente cronobiológicos, assim como a recorrênciados sintomas de artrite reumatóide.

A aplicação da cronobiologia no tratamento dos pacientes constitui a cronoterapia. Por exemplo, aocorrência normal circadiana de eventos, tais como as quedas na concentração plasmática deadrenalina e cortisol, que ocorrem por volta das 22h00 até as 4h00 e a elevação na concentraçãode histamina e outros mediadores entre a meia-noite e às 4h00 podem ter um papel crucial napiora da asma durante a noite. Cronofarmacologicamente, sabe-se que fármacos de açãocardiovascular, antiasmáticas, anti-neoplásicas, psicotrópicos, analgésicos, anestésicos locais eantibióticos apresentam variações em suas farmacocinéticas dependendo da hora do dia em quesão administrados. Estas variações devem-se, parcialmente, a mudanças cíclicas circadianas navelocidade de absorção intestinal, metabolismo hepático, eliminação renal e variaçõeshemodinâmicas.

Várias doenças cardio-cerebrovasculares não ocorrem com periodicidade casual, masapresentam um tempo crítico predito de recorrência ultradiana, circadiana ou infradiana em seussintomas iniciais. As horas iniciais da manhã até o meio-dia, os fins de semana e o invernoparecem ser o período de maior risco, já que uma variedade de processos fisiológicos, quepoderiam iniciar o processo patológico, está intensificada, além de condições ambientais ecomportamentais que contribuem para tal. No entanto, observações clínicas têm demonstrado oefeito de b - bloqueadores em modificar a ocorrência circadiana de uma variedade de eventosisquêmicos.

Existe um tipo de depressão que pode ser considerada como uma disfunção primária dos ritmosbiológicos. Os pacientes com síndrome afetiva sazonal demonstram uma resposta exagerada àmudança das estações que, dependendo da estação, pode alcançar severas proporções,enquadrando-se nos critérios usuais de depressão endógena. Este tipo de depressão,possivelmente, manifesta-se quando a quantidade de horas de claro por dia fica abaixo de certovalor crítico. Assim, pelo fato de que, possivelmente, trata-se de um efeito circadiano da luzincidente, usa-se um tratamento baseado na exposição do sujeito a luz artificial, tendo em vistarecuperar suas relações de fase claro-escuro corretas com os ciclos ambientais. Além derecuperar também outros ritmos internos como o de temperatura corporal e o ritmoatividade/repouso, os quais usualmente se encontram desordenados também em certos tipos dedepressão. Já em estados maníacos, ocorrem anormalidades circadianas e neuroendócrinasparecidas com as da depressão, como alterações na atividade corticotrópica e elevação daconcentração plasmática noturna de cortisol, mas tais alterações são menos severas do que as dadepressão maior.

Os tratamentos com luz brilhante também são utilizados para pacientes com desordens do sonodessa natureza, como síndrome de “jet-lag”, trabalhadores noturnos e síndrome do sono de faseatrasada. Estudos têm mostrado que o uso de benzodiazepínicos de curta ação, como o triazolam,pode ter efeitos significativos, tanto nos ritmos comportamentais como nos ritmos circadianosendócrinos, podendo ser usados como auxiliares no tratamento de tais desordens e no tratamento

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da insônia, pois encurtam o tempo necessário para a ressincronização do relógio biológico aonovo ritmo do ciclo claro/escuro. Já o álcool, por outro lado, tem uma ação contrária, causando afragmentação do sono, particularmente no final da noite, e uma diminuição do sono REM.

O padrão de liberação de hormônios sexuais e gonadotróficos também apresenta variaçõescronobiológicas. As mudanças mais surpreendentes, na secreção do GnRH na puberdade,ocorrem de maneira ultradiana e circadiana. A resposta da secreção de LH, à estimulação peloGnRH sintético, está diretamente relacionada à freqüência da estimulação pelos pulsos de GnRHendógeno e fornece um índice muito útil da maturação neuroendócrina em pacientes compuberdade tardia ou puberdade precoce. Além disto, o padrão plasmático de testosterona, noinício da manhã, é um índice preditivo acurado que indica desenvolvimento puberal iminente. Empacientes com níveis maiores ou iguais a 0,7nmol/l, a entrada na puberdade ocorreu dentro de 12meses em 72% e em 15 meses em 100% dos pacientes. Na mastologia são interessantes ostrabalhos relacionando a taxa de recorrência do câncer de mama e a época do ciclo menstrual emque foi feita a primeira ressecção do tumor, chegando-se à conclusão de que os tumoresressecados nos dias periovulatórios foram os que apresentaram menor taxa de recidiva.