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Índice Introdução..................................................... 2 A Concorrência Desleal.........................................3 1.1. Na doutrina e na legislação..............................3 1.2. Da Conceptualização......................................5 1.3. Requisitos ou pressupostos da Concorrência desleal.......6 1.4. Sujeitos da concorrência desleal........................12 1.5. Os interesses protegidos nos vários tipos de actos de concorrência desleal.........................................13 1.6. Protecção Jurídica aos Concorrentes Lesados.............13 Conclusão..................................................... 15 Bibliografia.................................................. 16

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Page 1: Concorrencia .........Trabalho

Índice

Introdução.......................................................................................................2

A Concorrência Desleal...................................................................................3

1.1. Na doutrina e na legislação.................................................................3

1.2. Da Conceptualização...........................................................................5

1.3. Requisitos ou pressupostos da Concorrência desleal.........................6

1.4. Sujeitos da concorrência desleal.......................................................12

1.5. Os interesses protegidos nos vários tipos de actos de concorrência desleal........................................................................................................13

1.6. Protecção Jurídica aos Concorrentes Lesados..................................13

Conclusão......................................................................................................15

Bibliografia....................................................................................................16

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Introdução

Nas análises mais recentes, compreende-se a empresa ou actividade do empresário aquela que fabrica produtos, circula os bens ou presta os serviços indispensáveis a vida humana a partir da conjugação dos quatro factores de produção: o capital, os insumos, a mão-de-obra e a tecnologia, de maneira organizada e habitual, com a finalidade específica de auferir lucro.

Assim alguns ordenamentos jurídicos aderiram a teoria da empresa e como no Código Civil brasileiro no artigo 966 que estatui como sendo empresário todo aquele que exerce profissionalmente, com habitualidade, actividade económica organizada, que visa lucro, para a produção ou circulação de bens ou serviços, das mais diversas espécies, excpeto, em regra, a actividade de natureza intelectual, científica ou literária. Contudo, exercer a actividade empresarial e estruturar os fatores de produção que viabilizem a distribuição dos bens e/ou serviços no mercado consumidor, nos dias actuais, com preço e qualidade competitivos não é considerado uma tarefa fácil. O empresário deve possuir vocação, habilidade e experiência, pois o cliente pode não se atrair pelo produto, bem e/ou serviço oferecido ou ainda, ele pode simplesmente não sobreviver há factores externos, como as crises econômicas, a concorrência leal e desleal, casos fortuitos.

Por esta razão que possui especial proteção jurídica esta actividade devendo o empresário possuir uma estrutura económica complexa e reconhecida pelo Estado. É por causa dessas anomalias que tem tido lugar no mercado que cada bem material ou imaterial tem merecido protecção jurídica como salvaguarda da segurança jurídica do comércio jurídico.

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É neste aspecto que este trabalho irá incidir. Falar-se-á do conceito desse instituto, seus requisitos legais, doutrinários, responsabilização dos infractores das normas jurídicas regulamentárias da propriedade intelectual.

Constitui método de trabalho, a micro-comparação a leitura comparada das legislações e doutrinas portuguesa e moçambicana, especialmente, bem como a brasileira, muito desenvolvida neste aspecto.

A Concorrência Desleal1.1. Na doutrina e na legislação

A livre concorrência faz parte da actividade empresarial apresentando-se como factor importante para o crescimento da economia de mercado e como princípio basilar da ordem económica e financeira no país. Isso porque, a concorrência regularmente praticada, beneficia tanto o consumidor, que tende a adquirir produtos e serviços por preços mais baratos, como o empresário, que poderá maximizar a oferta de bens e serviços1.

O princípio da livre concorrência vem esculpido no art. 170 da Constituição brasileira de 1988 que com o perfil neoliberal baseou-se na livre iniciativa como pilar essencial da ordem económica e financeira, sem o qual a actividade empresarial não alcançaria seus objectivos maiores, como a obtenção de lucros e a captação de clientela e no nosso ordenamento jurídico encontra seu regime jurídico na alínea c) do artigo 97 e artigos 107 e 108 da Constituição da República de Moçambique. 1 PIMENTEL, Carlos Barbosa. Direito Comercial: Teoria e Questões. 7ª Edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p.58

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Dessa forma, concede-se ao particular a liberdade para exercer qualquer actividade, salvo nos casos vedados por Lei ou nas zonas vedadas para uso exclusivo do Estado(artigo 108/CRM). A liberdade é fundamental para a caracterização da concorrência, sobretudo porque é a partir dela que surgem diversos produtores ou prestadores de serviços interessados em praticar igual actividade, “de tal sorte a garantir para sociedade a possibilidade de escolha do melhor produto, preço, condições de pagamento, etc.”2

A livre concorrência acirra a competição entre empresários que lutam bravamente pelos mesmos consumidores. Assim, a disputa pela clientela e pela ampliação de mercado é constante no sistema capitalista e, constituem para o consumidor um óPtimo faCtor, já que estes encontram à disposição no mercado inúmeras opções de escolha entre serviços e/ou bens com qualidade e preços.

Para que melhor se identifique a concorrência é necessário ater-se aos seguintes factores: é necessário que os concorrentes estejam disputando o mercado em momentos temporais paralelos, também, é forçoso que a competição se funde no mesmo bem ou serviço, por fim, tem-se a identidade de mercado, mais abrangente que a expressão identidade territorial, baseado na globalização, que permite a competição entre territórios longínquos, como, por exemplo, o comércio eletrônico (internet)3.

Pelo princípio da livre concorrência é dada liberdade aos empresários para adentrarem na economia no setor ou ramo de indústria ou comércio que melhor lhe aprouverem, competindo com os demais. Contudo, é necessário haver certas restrições impostas pelo Estado, inclusive para que se

2 ALMEIDA, Marcos Elidius Michelli de. Abuso de Direito e Concorrência Desleal. São Paulo: Quartier Latin, 2004, P.111.

3 ALMEIDA, Marcos Elidius Michelli de, op cit , p.101

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mantenha a lealdade empresarial sob pena de caracterização da concorrência desleal ou de infração à ordem econômica, dependendo da abrangência do ato.

O elemento primordial da concorrência é alcançar a clientela em detrimento dos demais competidores que exploram o mesmo tipo de mercado, o objetivo imediato do empresário em competição é simplesmente o de cativar consumidores, através de recursos (publicidade, melhoria de qualidade, redução do preço etc.) que os motivem a direcionar suas opções no sentido de adquirirem o produto ou serviço que ele, e não outro empresário fornece.

O efeito necessário da competição é a indissociação entre o benefício de uma empresa e o prejuízo de outra, ou outras. Na concorrência, os empresários objetivam, de modo claro e indisfarçado, infligir perdas a seus concorrentes, porque é assim que poderão obter ganhos.

1.2. Da Conceptualização O regime jurídico da concorrência desleal contém-se essencialmente nos artigos 174 à 184 do Código da Propriedade Industrial (C.P.I.), aprovado pelo Decreto (de Conselho de Ministros) nº 18/99 de 4 de Maio, que entrou

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em vigor a a 5 de Julho de 1999 ou seja dois meses apos a sua publicação no jornal oficial.

O primeiro destes preceitos compõe-se de um proémio com várias alíneas. Aquele indica a noção legal de concorrência desleal; estas últimas especificam, em desenvolvimento do proémio, as modalidades de actividade proibida que, pela sua maior gravidade ou frequência, o legislador entendeuelencar.

No Código da Propriedade Industrial, a concorrência desleal é encarada exclusivamente na perspectiva de um ilícito de mera ordenação social, sancionado no artigo 174/4 do CPI, sancionada com a aplicação de uma coima, conforme se lê “são punidas com uma multa de cento e doze salários mínimos, caso se trate de pessoa singular e de duzentos e vinte e quatro salários mínimos, caso se trate de pessoa colectiva’’.

Mas a concorrência desleal pode igualmente configurar um ilícito civil, gerador de responsabilidade civil extra-obrigacional, desde que verificados os requisitos exigidos pelo artigo 483.° do Código Civil.

Por último, o acto de concorrência desleal pode traduzir-se apenas numa simples desconformidade objectiva aos padrões da lealdade de concorrência, destituída de qualquer actuação finalista por parte do seu autor, não revestindo, por isso, carácter ilícito.

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1.3. Requisitos ou pressupostos da Concorrência desleal

Os pressupostos do conceito de concorrência desleal contêm-se no proémio do artigo 174 do C.P.I. e são os seguintes: a prática de um acto de concorrência; que esse acto seja contrário às normas e usos honestos; de qualquer ramo de actividade económica e que venha ferir a concorrência leal ou licita conforme os ditames legais.

O artigo 174 do actual C.P.I. eliminou do seu proémio a referência ao dolo específico alternativo, em que o acto de concorrência desleal deveria ser praticado com a intenção de causar prejuízo a outrem ou de alcançar, para si ou para terceiro, um benefício ilegítimo. Esta supressão está associada à diferente qualificação do ilícito de concorrência desleal acolhida no presente Código: tratando-se agora de um ilícito de mera ordenação social, e não já de um ilícito criminal, parece razoável que se atenuem os requisitos gerais da ilicitude, sem prejuízo de os mesmos serem exigidos relativamente a algumas modalidades de actos tipificados na lei.

O regime jurídico da concorrência desleal encontram-se previstas nos artigos 173,al.a) e 174 do Código da Propriedade Industrial. Os actos de concorrência desleal violam normas de lealdade, honestidade e bons usos comerciais, tratando-se assim de comportamentos eticamente reprováveis, susceptíveis de prejudicar as legítimas expectativas dos agentes económicos actuantes no mercado. Os efeitos negativos dos atos de concorrência desleal projectam-se em primeira linha sobre a actividade dos agentes económicos, podendo atingir reflexamente o mercado. Acresce que esses atos podem ser praticados por qualquer agente económico independentemente da sua dimensão ou relevância económica. Diferentemente, as práticas restritivas da concorrência constituem comportamentos dos agentes económicos que se traduzam em acordos e

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práticas concertadas entre empresas ou decisões de associações de empresas que tenham por objeto ou efeito restringir, falsear ou impedir o funcionamento concorrencial do mercado ou que constituam um abuso de posição dominante ou de dependência económica4.

Constituem os requisitos da concorrência desleal: expor, vender, colocar à venda ou em circulação um produto, declarando ser objecto de patente depositada ou concedida ou de desenho industrial registado que não o seja, ou mencionar em anúncios de qualquer natureza ou em papel comercial como depositado ou patenteado ou registado sem o ser; expor, vender, colocar à venda ou em circulação um produto com uma marca, um logotipo, um nome comercial ou uma insígnia de estabelecimento, uma recompensa, uma indicação geográfica ou uma denominação de origem declarando ter sido registado ou depositado sem o ser, ou mencionar em anúncios de qualquer natureza ou em papel comercial como depositado ou registado sem o ser; praticar actos susceptíveis de criar confusão, de qualquer modo, com o estabelecimento, produtos, serviços ou actividades industriais ou comerciais de um concorrente; Invocar ou fazer referências, a um nome comercial, insígnia de estabelecimento ou marcas alheios sem a autorização do legítimo titular com o fim de beneficiar do crédito ou da reputação dos mesmos; afirmar ou informar falsamente, no exercício do comércio, de modo a fazer desacreditar o estabelecimento, serviço ou actividade industrial ou comercial de um concorrente; Induzir o público em erro sobre a natureza, a qualidade, o modo de fabrico, as características e a utilização dos produtos e serviços no exercício da actividade comercial; Utilizar directa ou indirectamente uma falsa indicação relativa à proveniência de um produto ou serviço, ou da identidade do produtor, fabricante ou comerciante; Utilizar directa ou indirectamente uma denominação de origem falsa ou imitar uma denominação de origem, mesmo se a origem verdadeira do produto for indicada ou se a denominação for utilizada 4 http://www.concorrencia.pt/vPT/A_AdC/FAQs/Paginas/Os-atos-de-concorrencia-desleal-sao-praticas-restritivas-da-concorrencia.aspx

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acompanhada das expressões como “género”, “tipo”, “modo”, “imitação”, ou similares; Suprimir, ocultar ou alterar a denominação de origem ou a indicação geográfica dos produtos ou da marca registada do produtor ou do fabricante em produtos destinados à venda e que não tenham sofrido modificação no seu acondicionamento; subtrair, divulgar, ou utilizar informações ou dados confidenciais sobre a produção ou a utilização de determinados produtos ou processos ou sobre a prestação de serviços de um concorrente sem o consentimento do mesmo de maneira contrária a práticas comerciais honestas, desde que tal informação: seja secreta, no sentido de que não seja conhecida em geral nem facilmente acessível a pessoas de círculos que normalmente lidam com o tipo de informação em questão, seja como um todo, seja na configuração e montagem específicas de seus componentes; tenha valor comercial por ser secreta; tenha sido objecto de precauções razoáveis, nas circunstâncias, pela pessoa legalmente em controlo da informação, para mantê-la secreta5.

No caso dos brasileiros, e com muita afinidade e acolhimento legal no nosso ordenamento jurídico, para a identificação da concorrência desleal fez-se necessário o agrupamento dos actos considerados como indevidos, que turbam o livre funcionamento do mercado, em categorias, cuja classificação varia na doutrina, dentre as quais analisa-se os mais relevantes: actos capazes de criar confusão (a confusão entre produtos ou estabelecimento é considerada pela doutrina e presente na jurisprudência como a forma mais comum de concorrência desleal e quem os pratica se propõe a obter vantagens da confusão provocada intencionalmente entre a empresa ou seus produtos, e a empresa ou os produtos de um competidor, geralmente se aproveitando da homonímia ou provocando-a), também chamada de confusão entre produtos ou estabelecimento; denigração do concorrente (a denigração do concorrente visa desviar a clientela mediante o fomento da depreciação do empresário rival e de seus produtos, bens ou serviços que

5 Artigo 174/2 e 3 do CPI

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são colocados a disposição no mercado, tendo por objetivo prejudicar a reputação de um concorrente ou seu negócio. Tais atos se concretizam por tornar público falsa informação do concorrente a fim de causar-lhe prejuízo. Os actos denegridores podem atingir tanto a pessoa do concorrente como seu negócio ou seus produtos); desrespeito da cláusula contratual ( O Código Civil vigente no art. 1.147 assim dispõe: "Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subsequentes à transferência") e a concorrência parasitária (nesta modalidade de concorrência não se busca a ruína total de seu concorrente, já que para o parasita o importante é que este continue crescendo e inovando em seus produtos. Ademais, o parasita muitas vezes não deseja sequer que haja confusão entre os seus produtos com os originais, justamente para não configurar outras espécies de concorrência desleal, assim, em regra, os produtos do parasita se apresentam de forma distinta, com sua própria marca, cores e sinais distintivos).

Relativamente ao primeiro requisito, refira-se que, e de acordo com Patrício Paul, “O acto de concorrência é aquele que é idóneo a atribuir, em termos de clientela, posições vantajosas no mercado”6.

Do ponto de vista económico admite-se que o acto de concorrência possa surgir entre diversos níveis de actividade, desde que o mesmo possa ter como efeito a captação de clientela de um concorrente para outro concorrente. Silva Carvalho afirma inclusivamente que nada tem de extraordinário “considerarmos como havendo concorrência desleal (desde que o público possa atribuir os produtos à mesma origem) em casos em que

6 No entender de Patrício Paúl (a nosso ver bem, não se encontrando qualquer razão que justifique a autonomização desta situação de concorrência desleal) esta situação não deveria surgir autonomizada, mas ser mais uma alínea do artigo 317.º do CPI e, por isso, subordinada ao proémio do mesmo - Cfr. Paúl, Jorge Patrício, Breve análise do regime da concorrência desleal no novo Código da Propriedade Industrial, in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 63, I/II, Lisboa, Abril de 2003, in www.oa.pt.

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poderá não haver afinidade entre ramos de negócio das empresas em causa7.” Também Carlos Olavo defendia que “a proximidade de actividades económicas que é pressuposto de acto de concorrência desleal não se restringe, porém, às referidas relações de identidade, substituição ou complementaridade8”

De uma forma sintética, caracterizarei esses requisitos nos seguintes termos:

O acto de concorrência

O acto de concorrência é aquele que é idóneo a atribuir, em termos de clientela, posições que confiram maiores vantagens aos clientes e, nisso, sai mais a ganhar o empresário que assim age em detrimento doutro empresário concorrente leal às leis do mercado.

A concorrência não é susceptível de ser definida em abstracto e só pode ser apreciada em concreto, pois o que interessa saber é se a actividade de um agente económico atinge ou não a actividade de outro, através da disputa da mesma clientela. É, assim, possível que duas empresas sejam concorrentes quanto a certos actos e não o sejam relativamente a outros actos que praticam, como sucede, por exemplo, quando uma empresa petrolífera ou cimenteira entra em concorrência com as instituições financeiras ao efectuar, através de subscrição pública, o aumento do seu capital social ou a emissão de obrigações.

Do mesmo modo, duas empresas com actividades iguais podem não estar 7 CARVALHO, Américo da Silva, Concorrência Desleal (Princípios Fundamentais), Coimbra, Coimbra Editora, 1984, pág. 39.

8 OLAVO, Carlos, Propriedade Industrial – Sinais Distintivos do Comércio/Concorrência Desleal, Vol. I, 2.ª Edição Actualizada, Revista e Aumentada, Coimbra, Almedina., 2005, pág. 261

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em concorrência se, actuando apenas num âmbito local ou regional, a sua distância geográfica impede que disputem a mesma clientela. Importa, aliás, ter hoje em conta o comércio electrónico e a globalização dos mercados que dele decorre que eliminam ou subvertem o conceito tradicional de espaço físico concorrencial.

O conceito de concorrência é, pois, um conceito relativo, que não pode ser aprioristicamente definido mas apenas casuisticamente apreciado, tendo em conta a actuação concreta dos diversos agentes económicos e a realidade da vida económica actual.

A concorrência pode procurar não a conquista directa da clientela, mas ter como objectivo primordial a disputa de fornecedores, distribuidores, vendedores, ou dos próprios trabalhadores. Estes actos continuam a ser actos de concorrência, porque através deles o que se procura é o melhor apetrechamento da empresa para a conquista de posições vantajosas no mercado.

Há casos em que se obtêm vantagens na concorrência, através da prática de actos que não são, em si mesmos, actos de concorrência, e que, quando ilícitos, são sancionados através de normas legais específicas, como sucede com o não pagamento dos impostos ou das contribuições para o INSS.

No próprio conceito de acto de concorrência está ínsita a sua susceptibilidade de causar prejuízos a terceiros, ainda que tais prejuízos possam efectivamente não ocorrer.

Com efeito, a conquista de posições vantajosas no mercado é feita em detrimento dos outros agentes económicos que nele actuam e cuja clientela, actual ou potencial, é disputada.

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Deste modo, o acto de concorrência, para verdadeiramente o ser, tem como seu elemento co-natural, implícito na própria noção, o perigo de dano, ou seja, a sua idoneidade ou aptidão para provocar danos a terceiros.

Contrário às normas e usos honestos

O legislador ordinário não reproduziu, quanto a este requisito, o texto do artigo 10.°-Bis, da Convenção da União de Paris (C.U.P.), pois aos usos neste referidos acrescentou as “normas”.

Numa primeira análise, poder-se-ia considerar que estas seriam as normas jurídicas disciplinadoras da concorrência, mas tal entendimento faria confundir concorrência desleal e concorrência ilícita e a concorrência desleal abrangeria todo o direito da concorrência, o que é inexacto, pois a problemática da concorrência desleal só se coloca relativamente aos actos que sejam previamente qualificados como de concorrência lícita. As normas mencionadas no artigo 173 deverão entender-se como sendo as regras constantes dos códigos de (boa) conduta, elaborados, com cada vez maior frequência, pelas associações profissionais, no exercício da sua autonomia privada, pois estamos em sede de direito privado por excelência, e isso deve ser tomado em consideração a qualquer momento pelos praticantes de direito e por toda sociedade empresarial.

Por sua vez, os usos honestos são padrões sociais de conduta de carácter extra-jurídico. Correspondem a práticas sociais, nem sempre uniformes, pois podem variar consoante o sector.

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De qualquer actividade económica: também neste aspecto a lei moçambicana diverge, e agora de forma significativa, do texto do artigo 10.°-Bis, 2 da C.U.P. que se refere apenas a “matéria industrial ou comercial”. A referência ao carácter económico da actividade, constante do actual C.P.I., não surgia no C.P.I. de 1999. Esta modificação não altera, contudo, o âmbito da aplicação da concorrência desleal, pois a concorrência desleal que aquele anterior Código disciplinava era já uma concorrência indiscutivelmente económica. Mesmo com o actual qualificativo, entendemos que o regime da concorrência desleal é aplicável às profissões liberais, não só pelo normal carácter económico dessas actividades, como porque, doutro modo, se isentariam, injustificadamente, alguns desses profissionais de responsabilidades a que estão sujeitos os demais agentes económicos, como sucederia com os actos de confusão, as referências não autorizadas e as falsas indicações próprias, modalidades de concorrência desleal contempladas no C.P.I.

1.4. Sujeitos da concorrência deslealApreciados que foram os requisitos objectivos da concorrência desleal, interessa identificar quais os sujeitos, activo e passivo, do acto de concorrência desleal, ou seja, quem pode ser o agente ou autor do acto e qual o concorrente atingido pelo acto praticado. Como resulta claramente do C.P.I., o sujeito activo pode ser uma pessoa singular ou colectiva e deve ser, antes de mais, um concorrente, como referem expressamente no art. 173. Deve ser um agente económico actuando no mercado e, em princípio, será um empresário, embora esta qualidade não seja requisito indispensável.

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Se estivermos perante um ilícito civil e forem vários os responsáveis, a sua responsabilidade será solidária, nos termos do artigo 497.° do Código Civil. O artigo 174, n.° 4estabelece, que a sociedade responde solidariamente pelo pagamento das multas, coimas, indemnizações e outras prestações em que forem condenados os agentes das infracções.

Se estivermos perante um acto de concorrência desleal que constitua um ilícito meramente civil, aplica-se a regra geral do artigo 165.° do Código Civil, nos termos da qual a pessoa colectiva responde civilmente pelos actos ou omissões dos seus representantes, agentes ou mandatários, nos mesmos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissões dos seus comissários, remetendo, assim, para a disciplina do artigo 500.° do mesmo Código.

No que se refere ao sujeito passivo do acto de concorrência desleal, a determinação do concorrente atingido varia em função da modalidade do acto de concorrência desleal praticado: nuns casos, o acto afecta um ou vários concorrentes determinados; noutros, é toda a categoria profissional que é atingida.

O concorrente ou concorrentes afectados ou a categoria profissional constituída pelo conjunto dos demais concorrentes são, afinal, as entidades contra as quais o autor do acto de concorrência desleal procura obter vantagens no mercado, indevidas pela natureza desleal do acto que pratica.

A delimitação do sujeito passivo do acto de concorrência desleal tem especial relevância quanto à determinação da legitimidade para desencadear os diversos meios de reacção contra o acto praticado.

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1.5. Os interesses protegidos nos vários tipos de actos de concorrência desleal

Os actos de aproveitamento e de agressão atingem o interesse de um ou vários concorrentes determinados: aquele ou aqueles que foram objecto do aproveitamento (confusão, invocação sem autorização, apropriação e utilização dos segredos) ou da agressão (descrédito, apropriação e divulgação dos segredos). Os actos de indução do público em erro ou de falsa apresentação própria lesam o interesse dos consumidores que foram enganados, tendo sido esse seu engano que permitiu ao agente obter vantagens na concorrência, afectando, com isso, todos os demais concorrentes que integram a mesma categoria profissional.

1.6. Protecção Jurídica aos Concorrentes Lesados

A tutela jurídica de protecção do empresário contra as práticas oriundas da concorrência indevida está disposta no Código de Propriedade Industrial que prevê a responsabilidade civil na forma cabível segundo o direito substantivo e o Código de Processo Civil. Os actos de concorrência desleal podem somente serem sancionados no plano do direito civil, chamados de concorrência genérica.

Deve ser ressalvado que, quanto a classificação genérica o acto deverá ser ilícito, ou seja, somente poderá haver a repressão e condenação do agente, no plano cível daquele que comete acto de concorrência indevida considerado como contrário a lei, ou seja aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, cometendo acto ilícito910.

9 Artigo 186 do Código Civil brasileiro

10 Artigo 174/2 e 3 do CPI

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No actual C.P.I., a prática de concorrência desleal é exclusivamente sancionada como um ilícito contra-ordenacional (art. 174), devendo qualquer situação ser apresentada no IPI ou na jurisdição comum. A ordem jurídica brasileira chega a punir os actos de concorrência desleal, os denominados específicos.

A responsabilidade do agente que comete acto de concorrência desleal e a composição dos danos sofridos pelo empresário prejudicado pode ser obtida por meio de acção pelo procedimento ordinário no juízo cível. Neste caso estar-se diante tanto da concorrência desleal específica quanto da genérica, sendo que em relação a primeira não se encontram muitos problemas para a caracterização da conduta do agente que vem descrita no tipo penal, já a segunda depende da comprovação de que os actos praticados são ilícitos ou manifestadamente contrários aos limites impostos ao direito do agente.

No entanto, não é simples definir os contornos dos meios inidôneos utilizados pelo concorrente que pratica acto de concorrência desleal genérico, posto que a finalidade do mesmo está intimamente ligada a conquista da concorrência alheia que também é inerente à concorrência lícita, sendo que será a idoneidade do meio utilizado que possibilitará a distinção entre o que se permite e o que se condena, na concorrência entre empresas.

É claramente o interesse público que é tido em conta no desencadear deste meio de reacção, que tem essencialmente em vista a protecção de interesses de natureza administrativa, eticamente neutros, mas justificativos de um juízo social de censura, como é característico do direito de mera ordenação social, de aplicação muito frequente em áreas de acentuada intervenção administrativa, como é a actividade económica.

Diz o artigo 184 qu do CPI que aos direitos da propriedade industrial atribui-se a tutela definida por lei para a propriedade em geral (Código

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Civil), e em especial pelas disposições do presente diploma e demais legislação e convenções em vigor. O processo inicia-se oficiosamente, mediante participação do IPI (artigo 14, alínea f) do Estatuto Orgânico do IPI). Contudo, a concorrência desleal poderá consubstanciar, também, um ilícito civil, conforme arrolado acima, se o acto for praticado com dolo ou mera culpa e dele resultar dano, que pode ter como consequência a obrigação de indemnizar, nos termos previstos no artigo 483.º do Código Civil (responsabilidade civil extracontratual). Neste caso poderá ser intentada a correspondente acção judicial, tendo legitimidade para o fazer o concorrente ou o conjunto de concorrentes que tiver sido efectivamente lesado com o acto de concorrência desleal praticado.

Conclusão

A concorrência é não só importante como salutar para o desenvolvimento saudável da atividade econômica existindo desde os primórdios desta atividade quando os empresários se dividiam em simples comerciantes ou feirantes. Todavia a concorrência precisa ter limites bem definidos para que não reste configurado, tanto a infração a ordem econômica quanto a própria concorrência indevida, ou desleal.

Assim, é fundamental identificar quando a concorrência se torna ilícita e quais os requisitos dão ensejo à sua configuração, bem como definir as proteções jurídicas atribuídas ao concorrente lesado, o que se pretendeu fazer, ainda que de forma bastante resumida, neste trabalho.

Verificou-se que a concorrência desleal se perfaz por uma conduta indevida de concorrente que pretende por meios ilícitos conquistar maior número de clientes e com isso afeta e causa prejuízo não somente aos direitos de outro empresário como também aos direitos dos consumidores que dependem dos

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produtos e/ou serviços colocados a disposição no mercado e são com isso, induzidos ao erro em decorrência das práticas turbadoras.

O Código de Propriedade Industrial tipifica diversas condutas com crimes de concorrência desleal e uma vez configurados geram ao empresário lesado o direito de ver reparado os danos sofridos, também na esfera civil. Contudo, não são apenas as condutas tipificadas como crime que ocasionam danos e configuram concorrência desleal sancionável na esfera civil, devendo no caso concreto ser avaliado se houve os actos de confusão entre produtos ou estabelecimento, denigração do concorrente, desrespeito a cláusula contratual de não-reestabelecimento ou concorrência parasitária.

Dessa forma, o empresário precisa se proteger contra os atos ilícitos perpetrados por competidores desleais, e quando alcançado por atos de concorrência desleal deve procurar juridicamente a abstenção destes atos, buscando as medidas jurídicas cabíveis colocadas a sua disposição, em especial na esfera civil, pois além de essencial para ver reparado seus próprios prejuízos é importante para a economia do país, pois espera-se que permaneça no mercado empresas que sejam criativas, que fabriquem e comercializem produtos de boa qualidade, e não empresas que crescem em virtude de atos ilícitos que prejudicam seus concorrentes.

BibliografiaALMEIDA, Marcos Elidius Michelli de. Abuso de Direito e Concorrência Desleal. São Paulo: Quartier Latin, 2004.CARVALHO, Américo da Silva, Concorrência Desleal (Princípios Fundamentais), Coimbra, Coimbra Editora, 1984OLAVO, Carlos, Propriedade Industrial – Sinais Distintivos do Comércio/Concorrência Desleal, Vol. I, 2.ª Edição Actualizada, Revista e Aumentada, Coimbra, Almedina., 2005

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PIMENTEL, Carlos Barbosa. Direito Comercial: Teoria e Questões. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

Legislação Constituição da Republica de Moçambique constituição da Republica Federativa do Brasil Código da Propriedade Industrial de Moçambique, aprovado pelo Decreto nº4/2006 de 12 de Abril, revogando o Decreto nº 18/99, de 4 de Maio.

Código da Propriedade Industrial de Portugal, aprovado pelo Decreto-lei n.º 143/2008, de 25 de Julho.

Estatuto Orgânico do IPI, aprovado pelo Decreto 50/2003, de 24 de Dezembro