conceitos e práticas para refletir sobre a educação inclusiva

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Cadernos da Diversidade Conceitos e práticas para refletir sobre a educação inclusiva Érika Lourenço

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Cadernos da Diversidade

Conceitos e práticas para refletir sobre

a educação inclusiva

Érika Lourenço

Este livro é uma excelente introdução à Série Cadernos da Diversidade. Érika Lourenço produz, com uma linguagem atraente, concisa, sim-ples – sem, em nenhum momento, confundir essa simplicidade com “simplismo” ou superficialidade –, uma obra que expõe conceitos de forma clara e objetiva, tornando-os compreensíveis para leitores de todos os níveis. O livro mantém também excelente coerência interna, seguindo em ordem crescente de complexidade, com exemplos e questões sempre pertinentes ao que já foi visto pelo leitor.Os capítulos são bem organizados, com resumo, objetivos, síntese, orien-tações aos professores, além de haver sempre um quadro com o que a autora denomina “Curiosidade”, como forma de auxiliar a memorização de determinados pontos. Este é um livro com conteúdo extremamente atual e que é valioso para todos os que se interessam pelos temas da diversidade e da inclusão social.

Ana Maria Jacó-VilelaProfessora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e

do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora do Clio-Psyché, Programa de Estudos

e Pesquisas em História da Psicologia.

Érika Lourenço possui graduação em Psico-logia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais, dou-torado em Educação, também pela Universi-dade Federal de Minas Gerais, e estágio de doutoramento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É membro do grupo de pes-quisa do CNPq “História da Psicologia e Con-texto Sócio-Cultural” e do Grupo de Trabalho de História da Psicologia da ANPEPP. Atual-mente é professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em História, Teoria e Sistemas em Psicologia e Psicolo-gia da Educação, atuando principalmente

nos seguintes temas: história da psicologia, história da psicologia no Brasil, história da psicologia da educa-ção no Brasil, psico-logia da educação e educação inclusiva.

Por entender a escola como um locus privile-giado de socialização secundária e de cons-trução de valores e conceitos fundamentais no processo de educação para a cidadania, o Programa de Educação para a Diversidade, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da UFOP, em parceria com a Cátedra UNESCO “Água, Mulheres e Desenvolvimento”, oferece cursos para a formação de professores e professoras para as temáticas da diversidade, dos direitos humanos, da equidade de gênero, das relações étnico-raciais e, ainda, da sustentabilidade am-biental. A Série Cadernos da Diversidade, que publicamos pela Autêntica Editora, com apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfa-betização e Diversidade – SECAD/MEC, tem como objetivo fornecer argumentos teóricos e práticos – de ordem pedagógica, histórica, sociológica, cultural, jurídica, psicossociológica e econômica –, para provocar uma ruptura no ciclo perverso das desigualdades e da destrui-ção dos recursos naturais, incentivando assim o amplo debate e a criação de projetos de in-tervenção com foco na promoção de um am-biente pedagógico inclusivo e ecologicamente sustentável nas escolas da rede pública de educação básica.

Keila DeslandesCoordenadora da Série

VENDA

PRO I B I

DA

9 788575 264904

ISBN 978-85-7526-490-4

CAPA Conceitos e praticas para pensa_100810_Tales.indd 1 10/08/2010 16:14:04

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Érika Lourenço

Conceitos e práticas para refl etir sobre a educação inclusiva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lourenço, Érika Conceitos e práticas para refletir sobre a educação inclusiva / Érika Lou-

renço. -- Belo Horizonte : Autêntica Editora ; Ouro Preto, MG : UFOP, 2010.

-- (Série Cadernos da Diversidade)

Bibliografia.ISBN 978-85-7526-490-4

1. Dinâmica de grupo 2. Educação - Brasil 3. Educação especial 4. Edu-cação inclusiva 5. Inclusão social 6. Pedagogia I. Título. II. Série.

10-07829 CDD-370.115

Índice para catálogo sistemático:1. Educação inclusiva 370.115

Copyright © 2010 SECAD/MEC, Programa de Educação para a Diversidade – ProEx/UFOP

COOrDENADOrA DA SÉrIE CADErNOS DA DIvErSIDADE

Keila Deslandes

CONSELHO EDITOrIAL

Adriano Roberto Afonso do Nascimento – UFMGAna Maria Jacó-Vilela – UERJCarla Cabral – UFRNÉrika Lourenço – UFMGKeila Deslandes – UFOPMônica Rahme – USPRichard Miskolci - UFSCarSylvia Favarini Mitraud - Yale University

PrOjETO GráFICO

Tales Leon de Marco

EDITOrAçãO ELETrôNICA, rEvISãO E PrODUçãO GráFICA

Autêntica Editora

Sumário

Introdução...............................................................................7

Educação inclusiva: do que estamos falando?.............9

Oficinas em dinâmica de grupo.....................................45

Oficinas em dinâmica de grupo na promoção da educação inclusiva............................................................57

Técnicas para oficinas com foco na educação inclusiva.............................................................75

Referências...........................................................................81

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Estamos vivendo um momento da história da educação brasileira no qual, mais uma vez, a escola se vê diante da ne-cessidade de se transformar. Com as discussões sobre direitos humanos, inclusão social e educação inclusiva, que têm per-passado os movimentos sociais e as políticas públicas, torna-se cada vez mais impossível considerar a escola meramente como lugar de transmissão de conhecimentos. Nesse cenário não podemos mais deixar de refletir a respeito do papel da escola na formação integral do aluno, na formação para a cidadania, na formação para uma sociedade sem preconceitos e na for-mação para uma sociedade em que os direitos fundamentais de todas as pessoas sejam respeitados. Não podemos também deixar de pensar como construir uma escola que se fundamen-te no respeito à diversidade e se configure verdadeiramente como uma escola inclusiva.

Percebo que perante essas novas demandas que se colo-cam para a escola, os professores se sentem perdidos e desam-parados, avaliam a formação acadêmica que tiveram e não se consideram preparados para tantas mudanças, deparam-se com muitas perguntas para as quais não encontram respos-tas prontas. Apesar do mal-estar que as vivências desse tipo podem desencadear, acredito que devemos avaliá-las positi-vamente. São elas que nos fazem buscar novas formas de co-nhecimento que permitem uma reflexão mais profunda e mais crítica das nossas velhas práticas, e nos levam a pensar em no-vas possibilidades de atuação.

Foi pensando sobretudo no impacto que as demandas por uma educação inclusiva têm causado na organização das es-colas e nas atividades desempenhadas pelos professores que

Introdução

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me propus a escrever este volume para a coleção Cadernos da diversidade e tratar do tema Conceitos e práticas para refletir sobre a educação inclusiva. Minha primeira intenção aqui é apresentar algumas concepções que estão nos fundamentos das políticas para a educação inclusiva. Além disso, pretendo apresentar alguns itens da legislação acerca da educação inclu-siva e abordar algumas estratégias para a promoção da inclu-são escolar a partir do uso de oficinas em dinâmica de grupos.

Assim, no primeiro capítulo deste volume da coleção Ca-dernos da diversidade trato do histórico da educação inclusiva nos contextos internacional e nacional e da sua conceituação. No segundo capítulo passo a tratar das oficinas em dinâmica de grupo como instrumentos para a promoção da educação in-clusiva. Faço uma breve introdução ao trabalho com oficinas e explico os passos para a elaboração de uma oficina em dinâ-mica de grupo. No terceiro capítulo apresento um exemplo de oficina em dinâmica de grupo com foco na educação inclusiva. No quarto e último capítulo, buscando subsidiar a formação e a prática de professores, apresento sugestões de técnicas que po-dem ser adotadas para a elaboração de propostas de oficinas em dinâmica de grupo com foco na educação inclusiva.

Ao longo do texto, chamo a atenção para os conceitos que considero mais importantes e apresento algumas questões que visam apontar caminhos para a reflexão sobre as implicações dos conceitos e teorias abordados nas práticas pedagógicas. Ao final de cada capítulo teórico, apresento sugestões de artigos, livros, filmes e sites que podem contribuir para um estudo mais aprofun-dado sobre temas específicos relacionados à educação inclusiva.

Espero que os conceitos, os questionamentos e as propos-tas práticas aqui apresentados se configurem como ferramen-tas com as quais os profissionais da educação possam cons-truir uma escola mais inclusiva, uma escola que se paute cada vez mais no respeito à diversidade e aos direitos humanos.

Érika Lourenço

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Educação inclusiva: do que estamos falando?

ResumoIniciamos este primeiro capítulo com um breve histórico dos debates sobre a educação inclusiva. Em seguida, tratamos dos desenvolvimentos da educação inclusiva no Brasil tomando como referencial a nossa legislação. Encerramos discutindo os conceitos de inclusão e integração, e as condições que possibi-litam a educação inclusiva.

Objetivos• Apresentar o que a legislação brasileira propõe para a edu-

cação inclusiva.• Apresentar os principais documentos internacionais que

discutem a educação inclusiva.• Apresentar um breve histórico da educação inclusiva no

contexto dos direitos humanos.• Discutir a diferença entre os termos inclusão e integração.• Identificar as principais ideias que fundamentam a educa-

ção inclusiva.

Breve históricoNeste primeiro capítulo vamos conhecer os principais

eventos internacionais que estão diretamente relacionados com as atuais discussões sobre a educação inclusiva e têm guiado a elaboração de políticas sociais na área da educação em vários países. No entanto, antes de entrar na apresenta-ção desses documentos, vale ressaltar que o movimento pela educação inclusiva ocorre em um contexto de debates inter-nacionais bem mais amplo: o dos movimentos de defesa dos direitos humanos.

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CuriosidadeNo Brasil, é comum o termo “educação inclusiva” ser usado como sinônimo de “educação especial”. No contexto deste Caderno, considero que a proposta da educação inclusiva é mais ampla do que a da educação especial e a engloba, na medida em que propõe a construção de um modelo de escola que seja capaz de acolher e educar todas as pessoas, independen-temente de qualquer característica pessoal ou social que elas apresentem. Como nesta Coleção há um volume que trata especifica-mente da educação especial, neste volume falarei da edu-cação inclusiva de uma maneira geral, sem enfocar especi-ficamente a inclusão escolar das pessoas com necessidades educacionais especiais.

CuriosidadePolíticas sociais: decisões governamentais projetadas para garantir as condições bá-sicas de sobrevivência da população, os mínimos sociais. Ao lado das políticas econômicas e das políticas urbanas, com-põem as políticas públicas.Políticas públicas: decisões governamentais projetadas para conciliar as diferenças e os interesses individuais com as necessidades da vida em sociedade (Saadallah, 2007).

Os direitos humanos referem-se às condições necessárias para que as pessoas possam viver com dignidade. Podem ser de-finidos como direitos inalienáveis dos quais cada indivíduo deve se beneficiar, independentemente de idade, sexo, raça, etnia, op-ção religiosa, orientação sexual, ideologia e de qualquer outra

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característica pessoal ou social que apresente. São exemplos de direitos humanos: o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, o direito a uma nacionalidade, o direito à propriedade, o direito à instrução, o direito à liberdade de pensamento e o direito ao trabalho.

CuriosidadeDireitos inalienáveis: direitos intransferí-veis, inegociáveis, dos quais não se pode abrir mão.

Os direitos humanos “são direitos históricos, que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem” (Bobbio, 1992, p. 32). A concepção da existência de direitos fundamentais compartilhados por todos os seres humanos pode ser considerada, de acordo com Campos (1998), como um dos produtos da modernidade e o resultado de sucessivos esforços de reflexão filosófica e política sobre as relações entre os indivíduos e entre instituições e indivíduos.

Como produtos típicos da modernidade, os direitos huma-nos começaram a ser positivados nas primeiras declarações de di-reitos, das quais a mais conhecida e a primeira a trazer o título de declaração de direitos é a Declaração dos direitos do homem e do cidadão, aprovada pela Assembleia Nacional da França em 1789.

CuriosidadePositivados: formalmente declarados, co-locados em declarações.

No entanto, os direitos humanos, tal como os concebe-mos hoje, foram expressos pela primeira vez na Declaração universal dos direitos humanos. Aprovada pela Organização

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das Nações Unidas (ONU) em 1948, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, a Declaração visa um trabalho per-manente pela manutenção da paz entre as nações e a criação de um novo tipo de sociedade, que seja informada por valores éticos e tenha como principais metas a proteção e a promoção da pessoa humana. Vejam a seguir o texto completo da Decla-ração universal dos direitos humanos.

Uma vez que são históricos, os direitos humanos são sus-cetíveis de mudanças, de transformações e ampliações. As-sim, as ideias expressas na Declaração universal dos direitos humanos vêm sendo ampliadas e complementadas através de novos tratados, convenções, cartas e declarações, regionais ou universais, por exemplo, a Declaração americana dos direitos e deveres do homem (1948); o Pacto internacional de direitos econômicos, sociais e culturais (1966); a Convenção americana sobre direitos humanos (1969) e a Declaração de Viena (2003).

De acordo com Dallari (2008), ainda hoje existem focos de resistência à aplicação dos princípios da Declaração univer-sal dos direitos humanos, mas sua existência:

[...] tem servido de apoio significativo para lutas trava-das por meios pacíficos e para denúncias e reivindica-ções buscando a concretização de mudanças nas Consti-tuições, na organização das sociedades e nas práticas da convivência humana constitucionais, visando à elimina-ção das discriminações e a implantação da justiça social (Dallari, 2008, p. 9).

A colocação feita por Dallari (2008) aplica-se também aos documentos regionais e universais que surgiram após a Declaração universal dos direitos humanos. Nesse conjunto de documentos, no qual a Declaração dos direitos humanos está incluída e tem papel central, é que têm se fundamentado os movimentos sociais e as políticas públicas para a promoção do respeito aos direitos humanos.

Vejam, a seguir, o texto completo da Declaração universal dos direitos humanos.

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III)

da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948

PreâmbuloConsiderando que o reco-

nhecimento da dignidade inerente a todos os mem-bros da família humana e de seus direitos iguais e ina-lienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o des-prezo e o desrespeito pelos direitos humanos resulta-ram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do te-mor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Es-tado de Direito, para que o homem não seja compeli-do, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,

Considerando essencial promover o desenvolvi-mento de relações amisto-sas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na digni-dade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso so-cial e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desen-volver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liber-dades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum des-ses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

A Assembléia Geral pro-clama

A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta De-claração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter na-cional e internacional, por assegurar o seu reconheci-mento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territó-rios sob sua jurisdição. Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignida-de e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espí-rito de fraternidade.

Artigo II Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as li-berdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu-rança pessoal.Artigo IV Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamen-to ou castigo cruel, desu-mano ou degradante.Artigo VI Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os luga-res, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo VII Todos são iguais peran-te a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discrimi-nação que viole a presente Declaração e contra qual-quer incitamento a tal dis-criminação. Artigo VIII Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacio-nais competentes remédio

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efetivo para os atos que violem os direitos fun-damentais que lhe sejam reconhecidos pela consti-tuição ou pela lei. Artigo IX Ninguém será arbitraria-mente preso, detido ou exiladoArtigo X Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direi-tos e deveres ou do funda-mento de qualquer acusa-ção criminal contra ele. Artigo XI 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumi-da inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento pú-blico no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituí-am delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.Artigo XII Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua corres-pondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Toda pessoa tem o di-reito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.Artigo XIV 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asi-lo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamen-te motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.Artigo XV 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitra-riamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de na-cionalidade.Artigo XVI 1. Os homens e mulhe-res de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao ca-samento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.Artigo XVII 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitra-riamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.Artigo XIX Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e ex-pressão; este direito inclui a liberdade de, sem inter-ferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmi-tir informações e idéias por quaisquer meios e indepen-dentemente de fronteiras.Artigo XX 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.2. Ninguém pode ser obri-gado a fazer parte de uma associação.Artigo XXI 1. Toda pessoa tem o di-reito de tomar parte no governo de sue país, di-retamente ou por inter-médio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao servi-ço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.Artigo XXII Toda pessoa, como mem-bro da sociedade, tem di-

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reito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acor-do com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indis-pensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimen-to da sua personalidade.Artigo XXIII 1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de tra-balho e à proteção contra o desemprego. 2. Toda pessoa, sem qual-quer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.3. Toda pessoa que tra-balhe tem direito a uma remuneração justa e satis-fatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.4. Toda pessoa tem direi-to a organizar sindicatos e neles ingressar para prote-ção de seus interesses.Artigo XXIV Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.Artigo XXV 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, ves-tuário, habitação, cuidados médicos e os serviços so-ciais indispensáveis, e di-reito à segurança em caso

de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a in-fância têm direito a cuida-dos e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matri-mônio, gozarão da mesma proteção social.Artigo XXVI 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-pro-fissional será acessível a todos, bem como a instru-ção superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orienta-da no sentido do pleno de-senvolvimento da persona-lidade humana e do forta-lecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manu-tenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gê-nero de instrução que será ministrada a seus filhos.Artigo XXVII 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comuni-dade, de fruir as artes e de participar do processo cien-tífico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decor-

rentes de qualquer produ-ção científica, literária ou artística da qual seja autor.Artigo XVIII Toda pessoa tem direito a uma ordem social e inter-nacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente re-alizados.Artigo XXIV 1. Toda pessoa tem deve-res para com a comunida-de, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício de seus di-reitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liber-dades de outrem e de satis-fazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma socie-dade democrática. 3. Esses direitos e liberda-des não podem, em hipó-tese alguma, ser exercidos contrariamente aos pro-pósitos e princípios das Nações Unidas.Artigo XXX Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o re-conhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qual-quer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 15 jun. 2010.

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