comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · no que diz respeito à...

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JOÃO BATISTA MOREIRA COMUNICAÇÃO: TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERAÇÃO DOS SABERES E PRÁTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUÁRIOS CAMPOS GERAIS/MG 2010

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Page 1: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

JOAtildeO BATISTA MOREIRA

COMUNICACcedilAtildeO TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERACcedilAtildeO DOS SABERES E PRAacuteTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUAacuteRIOS

CAMPOS GERAISMG 2010

JOAtildeO BATISTA MOREIRA

COMUNICACcedilAtildeO TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERACcedilAtildeO DOS SABERES E PRAacuteTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUAacuteRIOS

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia Universidade Federal de Minas Gerais para obtenccedilatildeo do Certificado de Especialista Orientadora Stela Maris Aguiar Lemos

CAMPOS GERAISMG 2010

JOAtildeO BATISTA MOREIRA

COMUNICACcedilAtildeO TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERACcedilAtildeO DOS SABERES E PRAacuteTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUAacuteRIOS

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia Universidade Federal de Minas Gerais para obtenccedilatildeo do Certificado de Especialista Orientadora Stela Maris Aguiar Lemos

Banca Examinadora

ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG Aprovada em Belo Horizonte _____ ______ _______

CAMPOS GERAISMG

2010

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos do Famiatildeo minhas tias Lita e Maditoninha pelo suporte ao Jovane pelo

companheirismo e fortaleza- sem eles natildeo teria caminhado ateacute aqui e especialmente ao

colega Joatildeo Batista Rodrigues pela contribuiccedilatildeo na busca do conhecimento

Dedico este trabalho aos enfermeiros do Programa de Sauacutede da Famiacutelia de Boa

Esperanccedila - MG pela forccedila do ideal que nos une Em retribuiccedilatildeo agrave Profordf Dr Stela Maris

Aguiar Lemos pela orientaccedilatildeo

ldquoCompreender supotildee antes de tudo perguntar-

se algo e abrir com isso um espaccedilo para novas

significaccedilotildees e sentidosrdquo

Josep Maria Puig

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

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consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 2: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

JOAtildeO BATISTA MOREIRA

COMUNICACcedilAtildeO TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERACcedilAtildeO DOS SABERES E PRAacuteTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUAacuteRIOS

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia Universidade Federal de Minas Gerais para obtenccedilatildeo do Certificado de Especialista Orientadora Stela Maris Aguiar Lemos

CAMPOS GERAISMG 2010

JOAtildeO BATISTA MOREIRA

COMUNICACcedilAtildeO TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERACcedilAtildeO DOS SABERES E PRAacuteTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUAacuteRIOS

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia Universidade Federal de Minas Gerais para obtenccedilatildeo do Certificado de Especialista Orientadora Stela Maris Aguiar Lemos

Banca Examinadora

ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG Aprovada em Belo Horizonte _____ ______ _______

CAMPOS GERAISMG

2010

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos do Famiatildeo minhas tias Lita e Maditoninha pelo suporte ao Jovane pelo

companheirismo e fortaleza- sem eles natildeo teria caminhado ateacute aqui e especialmente ao

colega Joatildeo Batista Rodrigues pela contribuiccedilatildeo na busca do conhecimento

Dedico este trabalho aos enfermeiros do Programa de Sauacutede da Famiacutelia de Boa

Esperanccedila - MG pela forccedila do ideal que nos une Em retribuiccedilatildeo agrave Profordf Dr Stela Maris

Aguiar Lemos pela orientaccedilatildeo

ldquoCompreender supotildee antes de tudo perguntar-

se algo e abrir com isso um espaccedilo para novas

significaccedilotildees e sentidosrdquo

Josep Maria Puig

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 3: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

JOAtildeO BATISTA MOREIRA

COMUNICACcedilAtildeO TECNOLOGIA LEVE PARA A INTERACcedilAtildeO DOS SABERES E PRAacuteTICAS DO CUIDADO - ENFERMEIRO E USUAacuteRIOS

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia Universidade Federal de Minas Gerais para obtenccedilatildeo do Certificado de Especialista Orientadora Stela Maris Aguiar Lemos

Banca Examinadora

ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG ProfXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX________________________________UFMG Aprovada em Belo Horizonte _____ ______ _______

CAMPOS GERAISMG

2010

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos do Famiatildeo minhas tias Lita e Maditoninha pelo suporte ao Jovane pelo

companheirismo e fortaleza- sem eles natildeo teria caminhado ateacute aqui e especialmente ao

colega Joatildeo Batista Rodrigues pela contribuiccedilatildeo na busca do conhecimento

Dedico este trabalho aos enfermeiros do Programa de Sauacutede da Famiacutelia de Boa

Esperanccedila - MG pela forccedila do ideal que nos une Em retribuiccedilatildeo agrave Profordf Dr Stela Maris

Aguiar Lemos pela orientaccedilatildeo

ldquoCompreender supotildee antes de tudo perguntar-

se algo e abrir com isso um espaccedilo para novas

significaccedilotildees e sentidosrdquo

Josep Maria Puig

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

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reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 4: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos do Famiatildeo minhas tias Lita e Maditoninha pelo suporte ao Jovane pelo

companheirismo e fortaleza- sem eles natildeo teria caminhado ateacute aqui e especialmente ao

colega Joatildeo Batista Rodrigues pela contribuiccedilatildeo na busca do conhecimento

Dedico este trabalho aos enfermeiros do Programa de Sauacutede da Famiacutelia de Boa

Esperanccedila - MG pela forccedila do ideal que nos une Em retribuiccedilatildeo agrave Profordf Dr Stela Maris

Aguiar Lemos pela orientaccedilatildeo

ldquoCompreender supotildee antes de tudo perguntar-

se algo e abrir com isso um espaccedilo para novas

significaccedilotildees e sentidosrdquo

Josep Maria Puig

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 5: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

Dedico este trabalho aos enfermeiros do Programa de Sauacutede da Famiacutelia de Boa

Esperanccedila - MG pela forccedila do ideal que nos une Em retribuiccedilatildeo agrave Profordf Dr Stela Maris

Aguiar Lemos pela orientaccedilatildeo

ldquoCompreender supotildee antes de tudo perguntar-

se algo e abrir com isso um espaccedilo para novas

significaccedilotildees e sentidosrdquo

Josep Maria Puig

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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ldquoCompreender supotildee antes de tudo perguntar-

se algo e abrir com isso um espaccedilo para novas

significaccedilotildees e sentidosrdquo

Josep Maria Puig

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

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5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

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Page 7: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

RESUMO

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre atraveacutes de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel O objetivo dessa pesquisa eacute verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura proporciona aspectos relevantes no cuidado quando esta interaccedilatildeo ocorre no uso de tecnologias leves do processo de trabalho da Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede A presente pesquisa tratou de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa de natureza descritiva realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de variadas literaturas nacionais especializadas manuais do Ministeacuterio da Sauacutede e em artigos com embasamento cientiacutefico com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF Com a realizaccedilatildeo dessa pesquisa concluiu-se que a presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees produz um atendimento global onde haacute o resgate da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia Palavras-chave Estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

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bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

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padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

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Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

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humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 8: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

ABSTRACT

The object of health work is not a static process it occurs through a continuous motion with a dynamism that makes light technologies used are effective Within this concept there is a requirement that health professionals especially nurses have a different attitude have a look at the distinguished ability to realize that this dynamism and diversity that challenge the subject of creativity listening flexibility and sensitivity The objective of this research is to examine the contribution that the interaction of knowledge and practices of users health family and the nurse of the FHS permeated by the language culture provides in relevant aspects of care when this interaction occurs in the use of light technology the process of work of the Primary Health Care The present study this was a qualitative study descriptive in nature carried out through a literature review of various national literatures specialized manuals of the Ministry of Health and articles in science-based with respect to subject of care communication and the use of technology strategy at the Family Health - ESF With the completion of this study concluded that the presence of low technology in the work process in health aims to produce health care actions which must be present in relations of reciprocity and interaction The production of these relationships produces an overall care where there is the rescue of singularity where the User acquires citizenship and autonomy Key-words Strategy for family health health care health communication health technologies

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 9: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 9

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO 11

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo 11

22 Natureza da revisatildeo de literatura 12

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos 12

24 Anaacutelise dos dados 13

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

14

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS 14

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e

desigualdades

16

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede 19

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS 22

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo 22

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede 22

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 27

51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede 27

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa 30

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila 32

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO

FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

34

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo 36

7 CONCLUSAtildeO 42

REFEREcircNCIAS 45

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

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consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 10: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede especificamente na Estrateacutegia

de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF ndash articulado pelo enfermeiro rico de normas e saberes

instituiacutedos como verdades quando permeado pela linguagemcultura interage com os

saberes e praacuteticas do usuaacuterio encontro este que subjetivamente produz novos saberes e

praacuteticas que constituem em ampla margem de relacionar interagir e inserir o usuaacuterio como

protagonista na prevenccedilatildeo promoccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo de sauacutede

O presente trabalho tem como proposta focar a linguagemcultura como estrateacutegia

essencial para a produccedilatildeo de tecnologias que permeiam a processo de trabalho do

enfermeiro na assistecircncia ao usuaacuteriofamiacutelia potencializada pela subjetividade produtora de

saberes e praacuteticas de sauacutede na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia

Para a utilizaccedilatildeo dos diversos tipos de tecnologia segundo a classificaccedilatildeo de Merhy

(1997) deve-se entender que a pessoa humana precisa ser visto de forma holiacutestica integral

natildeo deve ser observado somente o estado fiacutesico ou emocional o ser humano eacute um todo e

para isso a atendimento prestado deve estar comprometido com essa visatildeo (ROSSI LIMA

2005)

O objeto do trabalho em sauacutede natildeo eacute um processo estaacutetico ele ocorre de um

movimento contiacutenuo com uma dinamicidade que faz com que as tecnologias leves

utilizadas sejam efetivas Dentro dessa concepccedilatildeo haacute a exigecircncia de que os profissionais

da sauacutede especialmente o enfermeiro tenham uma atitude diferenciada disponham de uma

capacidade diferenciada no olhar a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade

que desafiam os sujeitos agrave criatividade agrave escuta agrave flexibilidade e ao sensiacutevel

Nessa oacutetica o cuidado e a habilidade na comunicaccedilatildeo satildeo ferramentas tecnoloacutegicas

leves de enfoque no gerenciamento das accedilotildees em sauacutede O que se busca nesse contexto eacute

a superaccedilatildeo do tecnicismo e da superficialidade das relaccedilotildees humanas produzidos pela

nova era tecnoloacutegica (ROSSI LIMA 2005)

Objetivo geral

Verificar a contribuiccedilatildeo que a interaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas de sauacutede dos

usuaacuteriosfamiacutelia e o enfermeiro da ESF permeados pela linguagemcultura

proporciona e sua interrelaccedilatildeo com o uso de tecnologias leves do processo de

trabalho na Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 11: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

10

Objetivos especiacuteficos

Conceituar tecnologia em sauacutede

Apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico do SUS e do papel das Unidades Baacutesicas de

sauacutede no processo de assistecircncia agrave populaccedilatildeo

Discorrer sobre o trabalho em sauacutede e a utilizaccedilatildeo das tecnologias leves no cuidado

em sauacutede

Discutir a importacircncia da comunicaccedilatildeo nas accedilotildees em sauacutede

No que diz respeito agrave interaccedilatildeo dos saberes a praacuteticas de sauacutede permeados pela

linguagemcultura a enfermagem dispotildee de aparatos cientiacuteficos teoacutericos consistentes jaacute

que a comunicaccedilatildeo eacute um dos instrumentos para o exerciacutecio de suas competecircncias e

habilidades

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 12: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

11

2 PERCURSO METODOLOacuteGICO

21 Trajetoacuteria no curso de Especializaccedilatildeo

O Curso de Especializaccedilatildeo em Atenccedilatildeo Baacutesica em Sauacutede da Famiacutelia tem contribuiacutedo

para a praacutetica em PSF Rural jaacute que os conhecimentos propostos e adquiridos no moacutedulo I

possibilitaram a implantaccedilatildeo organizaccedilatildeo e a otimizaccedilatildeo de accedilotildees do processo de trabalho

na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e o estiacutemulo agrave compreensatildeo dos modelos assistenciais com

ecircnfase na famiacutelia e coletividade tendo o objetivo da qualidade transdisciplinaridade e o

processo participativo na assistecircncia

As disciplinas do moacutedulo II com a oportunidade de escolha proporcionaram a busca

de habilidades que o conhecimento preacutevio e a praacutetica natildeo fizeram acumular contando

ainda como o material didaacutetico pontuado para os aspectos interpretativos das linhas-guia da

SES-MG e poliacuteticas de sauacutede do SUS no atendimento agrave populaccedilatildeo adscrita na UPSF

A escolha da comunicaccedilatildeo como eixo central deste trabalho de conclusatildeo de curso

foi realizada no sentido de buscar contribuiccedilotildees com a praacutetica no PSF a integraccedilatildeo deste

instrumento de relaccedilatildeo pontuando-a como tecnologia leve na interaccedilatildeo dos saberes e

praacuteticas do enfermeiro e usuaacuterios no processo do cuidado Jaacute que havia observado na

experiecircncia do cuidar que a linguagem da sauacutede eacute marcada por palavras de ordem

pautada em proibiccedilotildees e controle Este certo ―autoritarismo incomoda e destitui a

autonomia do usuaacuterio porque natildeo se tem conhecimento da forma como essa linguagem tem

causado impactos na cultura e saberes das pessoas de quem cuidamos e quais os

significados elas tem para cada um deles Acredito que o cuidado ofertado deve considerar

a cultura do outro respeitar o direito de se ter costumes que haacute tempos estatildeo marcados em

seus pensamentos corpo e memoacuteria

A contribuiccedilatildeo deste trabalho eacute a possibilidade de aprender interagir esta

linguagemcultura com os saberes e praacuteticas de ambos (usuaacuterio enfermeiro e equipe) que

finalizaraacute em praacuteticas de promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede e na prevenccedilatildeo da doenccedila

vivida como expressatildeo da cultura do inconsciente e da ideologia nas condutas pessoais

para refletir na coletividade Sendo que a compreensatildeo seraacute essencial para determinar os

comportamentos e as praacuteticas sociais dos envolvidos

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 13: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

12

22 Natureza da revisatildeo de literatura

Trata-se de um estudo teoacuterico de abordagem qualitativa e natureza descritiva

realizado por meio de levantamento bibliograacutefico de literatura nacional especializada

manuais do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo agrave temaacutetica do cuidado da comunicaccedilatildeo e do

uso das tecnologias na Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia ndash ESF

Segundo Marconi e Lakatos (2001) a pesquisa eacute um procedimento formal com

meacutetodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientiacutefico e constitui no caminho

para conhecer ou analisar a realidade ou para descobrir verdades parciais

Para Andrade (2004) a pesquisa qualitativa coleta informaccedilotildees sem instrumentos

formais e estruturados analisa e descreve informaccedilotildees produzidas por outros

pesquisadores de uma forma organizada e intuitiva

Segundo Minayo (2004) a metodologia qualitativa eacute aquela que incorpora a questatildeo

do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas

sociais

As pesquisas qualitativas satildeo caracteristicamente multimetodoloacutegicas ou seja usam

uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Ao contraacuterio

das quantitativas as investigaccedilotildees qualitativas natildeo admitem regras precisas aplicaacuteveis a

uma infinidade de casos por sua diversidade e flexibilidade Diferem tambeacutem quanto aos

aspectos que podem ser definidos no projeto Enquanto os poacutes-positivistas trabalham com

projetos bem detalhados os construtivistas sociais defendem um miacutenimo de estruturaccedilatildeo

preacutevia definindo os aspectos referentes agrave pesquisa no decorrer do processo de

investigaccedilatildeo

―O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando atingir o

conhecimento de um fenocircmeno histoacuterico que eacute significante em sua singularidade (MINAYO

2004 p123)

De acordo com Gil (2007) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento

de relaccedilatildeo entre variaacuteveis

23 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos artigos

Frente ao objetivo do estudo o levantamento consistiu de publicaccedilotildees nacionais

Foram realizadas buscas nos bancos de dados LILACS SCIELO BDENF MEDLINE

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 14: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

13

Biblioteca Virtual em Sauacutede - Enfermagem ndash BVS e no Cataacutelogo de Teses e Dissertaccedilotildees da

Associaccedilatildeo Brasileira de Enfermagem e Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem ndash

ABEnCEPEn Como descritores de assunto palavras e tiacutetulos utilizou-se os termos

estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em

sauacutede Foram utilizados os seguintes criteacuterios de inclusatildeo para seleccedilatildeo dos artigos e livros

Livros nacionais que discutiam sobre a temaacutetica apresentada

Revistas cientiacuteficas de sauacutede puacuteblica e de enfermagem

Artigos publicados em perioacutedicos nacionais

Artigos disponibilizados com texto completo foram incorporados neste estudo

Artigos que respondam ao que foi proposto nos objetivos deste estudo

Perioacutedicos indexados no banco de dados LILACS SCIELO MEDLINE BVS

ABEnCEPEn e BDENF

Artigos desses bancos de dados que datam de 1994 ateacute 2009 selecionados

conforme os descritores apresentados e que tivessem relaccedilatildeo direta com a

temaacutetica desta pesquisa

O levantamento da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema foi realizado entre os meses de

setembro e dezembro do ano de 2009 onde aleacutem da utilizaccedilatildeo de 34 referecircncias de livros

tambeacutem foi realizado um levantamento nos perioacutedicos nacionais por meio de uma pesquisa

na base de dados onde com utilizaram-se para a busca os seguintes descritores estrateacutegia

de sauacutede da famiacutelia cuidado em sauacutede comunicaccedilatildeo em sauacutede tecnologias em sauacutede

Onde foram encontrados 4374 artigos sobre a estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia 35533

artigos sobre cuidado em sauacutede 24047 artigos sobre comunicaccedilatildeo em sauacutede e 934 artigos

sobre tecnologias em sauacutede Obteve-se um total de 64888 artigos nas bases de dados

pesquisadas sendo que destes apenas 20 foram analisados para realizaccedilatildeo desse

trabalho por satisfazerem o criteacuterio de inclusatildeo ou seja artigos produzidos e indexados em

portuguecircs e abordar a temaacutetica especiacutefica

23 Anaacutelise dos dados

1 Apoacutes a seleccedilatildeo foi realizado o fichamento do material que permitiu reunir as

informaccedilotildees necessaacuterias e uacuteteis agrave elaboraccedilatildeo de um texto

2 De posse dos fichamentos foi feito a classificaccedilatildeo a anaacutelise a interpretaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo textual sobre as informaccedilotildees coletadas

3 A elaboraccedilatildeo textual foi realizada confrontando ideacuteias centrais dos autores com

relaccedilatildeo ao tema ora com as ideacuteias concordantes ora discordantes

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 15: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

14

3 SISTEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE E ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA o papel das Unidades de Sauacutede da Famiacutelia

31 Histoacuterico e diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

Posteriormente agrave segunda guerra mundial com a ascensatildeo do estado do bem estar

social e dos sistemas de sauacutede esta uacuteltima vai se consolidar como poliacutetica Antes a sauacutede

natildeo apresentava uma expressatildeo muito setorial e natildeo havia uma importacircncia tatildeo econocircmica

quanto hoje se apresenta Com o surgimento do capitalismo os serviccedilos de sauacutede passaram

a adotar o sistema da concorrecircncia e ―briga pelo menor preccedilo que veio refletir no

surgimento econocircmico da sauacutede

Um olhar mais cuidadoso por parte dos governos soacute veio a acontecer quando a

alocaccedilatildeo de recursos ou seja como se alocam os recursos passou a constituir um dos

problemas centrais da sauacutede

Eacute certo que a alocaccedilatildeo de recursos eacute dependente da alocaccedilatildeo de mercado e que

tem uma excelecircncia e qualificaccedilatildeo muito boa se as duas estatildeo em busca da efetividade

O pensamento de sauacutede no Brasil nunca foi considerado como direito e sim como

um seguro vinculado ao mundo do trabalho Portanto estaacute no acircmbito da previdecircncia que

por assim dizer natildeo obteve sucesso ao longo dos anos

Foi criado desta maneira o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) com base em vaacuterios

princiacutepios como sauacutede como direito integralidade da assistecircncia universalidade igualdade

e equidade Suas diretrizes tambeacutem satildeo trecircs descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos participaccedilatildeo

popular atraveacutes dos conselhos de sauacutede e o atendimento integral ou seja promovendo

accedilotildees curativas e as accedilotildees preventivas necessaacuterias com a participaccedilatildeo popular E para

isso teve que se preparar ou educar os nossos profissionais da sauacutede mais

especificamente os da enfermagem para oferecer um atendimento com qualidade base das

diretrizes e princiacutepios do SUS (COTTA MENDES e MUNIZ 1998)

A compreensatildeo da reforma da poliacutetica de sauacutede no Brasil deve ser entendida a partir

da questatildeo mais ampla da descentralizaccedilatildeo e democratizaccedilatildeo do Estado a qual se inscreve

no contexto das reformas sociais a partir do final da deacutecada de 1970 periacuteodo em que se

colocou em pauta a questatildeo da participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede (COTTA MENDES e

MUNIZ 1998)

A concessatildeo desta participaccedilatildeo popular soacute tornou-se possiacutevel por meio dos

movimentos sociais como os de bairros os de matildees e os de moradores somando-se ao

longo da deacutecada a accedilotildees de outros atores sociais presentes nos serviccedilos puacuteblicos na

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

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ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

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morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

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morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 16: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

15

burocracia do Estado nas universidades e participantes de outros movimentos no setor

sauacutede com o tema ―Sauacutede um direito de todos e dever de Estado Trata-se portanto de

um movimento que se constituiu em bases populares expandindo-se atraveacutes da esfera

puacuteblica

O avanccedilo da sauacutede puacuteblica no Brasil soacute se deu apoacutes a implantaccedilatildeo do Sistema

Uacutenico de Sauacutede regulamentado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede - LOS (Leis 808090 e

814290) com caracteriacutestica universal e passando a ser prestado prioritariamente pelo

Estado Assim deu-se iniacutecio ao processo de descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativo da

poliacutetica social de sauacutede

A constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) se daacute pelo conjunto das accedilotildees e de

serviccedilos de sauacutede sob gestatildeo puacuteblica Sua organizaccedilatildeo se baseia em redes regionalizadas

e hierarquizadas com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional com direccedilatildeo uacutenica em cada

esfera de governo O SUS natildeo eacute poreacutem uma estrutura que atua isolada na promoccedilatildeo dos

direitos baacutesicos de cidadania Insere-se no contexto das poliacuteticas puacuteblicas de seguridade

social que abrangem aleacutem da Sauacutede a Previdecircncia e a Assistecircncia Social

O processo de criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) foi resultado das lutas

empreendidas por entidades do setor agregadas no movimento pela reforma sanitaacuteria em

prol da universalizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede Esse movimento atuou junto ao poder Legislativo

objetivando a inclusatildeo dos princiacutepios da reforma sanitaacuteria na nova Constituiccedilatildeo (PEREIRA

1996)

O SUS ndash Sistema Uacutenico de Sauacutede foi criado pela Lei 808090 e dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede atraveacutes da organizaccedilatildeo dos

serviccedilos de sauacutede em todo o territoacuterio nacional Com base na Constituiccedilatildeo estabeleceu a

sauacutede como um direito fundamental sendo que o dever do Estado consistiu na reformulaccedilatildeo

e execuccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas e sociais que visem agrave reduccedilatildeo de riscos de doenccedilas e

de outros agravos no estabelecimento de condiccedilotildees que assegurem acesso universal e

igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo (Lei

808090 Art 2ordm sect1ordm) (BRASIL 2003)

Algumas disposiccedilotildees com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS e

sobre as transferecircncias intergovernamentais de recursos financeiros para o setor sauacutede

estatildeo relacionadas na Lei nordm 8142 Esta uacuteltima teve um grande avanccedilo na regulamentaccedilatildeo

das conferecircncias de sauacutede e dos conselhos de sauacutede como instacircncias colegiadas do SUS

criando um mecanismo de controle social do sistema (BRASIL 2003)

Desta forma com a comunidade participando do processo criaram-se mecanismos

como conferecircncias e conselhos nos acircmbitos federal estadual e municipal como instacircncias

deliberativas de formaccedilatildeo paritaacuteria - Estado e sociedade civil- organizado para exercer o

controle social na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 17: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

16

A possibilidade de influecircncia da sociedade sobre a gestatildeo puacuteblica eacute concretizada

pelos conselhos e conferecircncias de sauacutede e estes acreditam que desta forma onde a

sociedade assume o papel de orientaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das accedilotildees do Estado no que diz

respeito agrave poliacutetica de sauacutede eacute um ponto positivo para o processo de democratizaccedilatildeo onde

todos tecircm possibilidade de participar das decisotildees contemplando a transparecircncia das accedilotildees

(BRASIL 1995)

Os Conselhos de Sauacutede que constituem a maneira de como eacute organizada a sauacutede

desde a deacutecada de 1950 agora satildeo criados e regulados pela lei e satildeo de grande

importacircncia aos usuaacuterios na medida em que se configuram em canais abertos de

participaccedilatildeo para reivindicaccedilotildees de direitos Satildeo espaccedilos puacuteblicos de disputa e negociaccedilatildeo

para melhores condiccedilotildees de vida e sauacutede compostos por usuaacuterios gestores

governamentais prestadores de serviccedilos e trabalhadores da aacuterea da sauacutede possuem

caraacuteter permanente e deliberativo cujo objetivo principal eacute discutir elaborar e fiscalizar a

poliacutetica de sauacutede nas trecircs esferas de governo

Com realizaccedilatildeo de quatro em quatro anos as conferecircncias satildeo foacuteruns de debate

com representaccedilatildeo de vaacuterios segmentos da sociedade e tecircm a funccedilatildeo de avaliar a poliacutetica

de sauacutede e propor mudanccedilas diretrizes e definiccedilotildees que contemplem os interesses dos

usuaacuterios nas trecircs instacircncias deliberativas

32 Sauacutede da populaccedilatildeo brasileira mudanccedilas superposiccedilatildeo de padrotildees e desigualdades

Ultimamente o paiacutes vem passando por vaacuterias transformaccedilotildees na sua estrutura

populacional e nos padrotildees de morbi-mortalidade Com iniacutecio no final da primeira metade do

seacuteculo atual como consequumlecircncia da queda nas taxas de mortalidade e se intensifica com

uma expressiva queda da natalidade a partir da deacutecada de 70 que se torna mais elevada

que a verificada no componente da mortalidade provocando uma diminuiccedilatildeo nas taxas de

crescimento populacional (BAYER et al 1982)

Alguns pontos importantes deste processo satildeo o aumento da expectativa de vida ao

nascer passando de 46 anos em 1950 para 66 anos em 1991 e o aumento da proporccedilatildeo

de idosos que marcam natildeo soacute uma profunda modificaccedilatildeo na estrutura populacional mas

tambeacutem aponta para um novo conceito de novas prioridades nas poliacuteticas sociais (FIBGE

1992) Na composiccedilatildeo da mortalidade destaca-se a substituiccedilatildeo das doenccedilas infecciosas

por doenccedilas crocircnico-degenerativas

Em relaccedilatildeo agraves morbidades algumas mudanccedilas ocorridas no processo de

organizaccedilatildeo da sociedade ocasionam um crescente aumento dos agravantes da natureza

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

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5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 18: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

17

ambiental ocupacional e aqueles relacionados agrave violecircncia Um ponto importante e que

merece atenccedilatildeo satildeo que nos padrotildees de morbidade natildeo se observa as mesmas mudanccedilas

observadas para a mortalidade sendo este desencontro mais evidente com relaccedilatildeo agraves

tendecircncias das doenccedilas transmissiacuteveis (LESSA MENDONCcedilA E TEIXEIRA 1996)

Ainda segundo Lessa Mendonccedila e Teixeira (1996) como resultado da uniatildeo destes

fenocircmenos eacute obtido o aumento na carga moacuterbida da populaccedilatildeo e demandas crescentes

sobre o jaacute esgotado sistema de assistecircncia agrave sauacutede Todas estas mudanccedilas ocorrem em um

contexto de profundas desigualdades quer sejam entre as diferentes regiotildees do paiacutes quer

sejam entre os grupos sociais apontando para redefiniccedilotildees das poliacuteticas que considerem as

determinaccedilotildees sociais econocircmicas histoacutericas e culturais da situaccedilatildeo de sauacutede observada

Existem fatores que podem contribuir ou natildeo para a evoluccedilatildeo de determinado tipo de

doenccedila Por qualquer que seja o conceito ou indicador socialeconocircmico pelo qual se

estratifica os indiviacuteduos (classe social renda educaccedilatildeo ocupaccedilatildeo etc) observam-se

grandes diferenciais na ocorrecircncia de agravos e doenccedilas Tanto as ditas doenccedilas da

―riqueza como as ditas doenccedilas da ―pobreza ocorrem em geral nas populaccedilotildees mais

pobres

A classificaccedilatildeo de cada doenccedila ou agravo em uma destas teorias estaacute baseada na

dependecircncia de vaacuterios fatores incluindo-se a disponibilidade de tecnologias de prevenccedilatildeo

Desta forma para algumas doenccedilas infecciosas para as quais se dispotildeem de vacinas

eficazes a teoria do germe eacute suficiente para satisfazer agrave rotina de accedilotildees enquanto que para

outras doenccedilas para as quais natildeo se dispotildeem destes recursos tem-se enfatizado as

causas ambientais (por ex coacutelera dengue entre outras) ou do estilo de vida (por ex AIDS

doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis) Aleacutem da aplicaccedilatildeo para algumas doenccedilas

infecciosas uma seacuterie de agravos gerados pela intensificaccedilatildeo dos processos industriais

tem sido tratado no roacutetulo dos problemas ambientais e neste sentido tem gerado natildeo soacute

accedilotildees especiacuteficas como legislaccedilotildees reguladoras das condiccedilotildees do ambiente (LESSA

MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996)

Diversos aspectos relacionados ao estilo de vida tecircm sido responsabilizados por

doenccedilas de diferentes origens e consequentemente tentativas de modificaccedilatildeo dos estilos

atraveacutes de medidas predominantemente educativas tecircm sido apresentadas como soluccedilatildeo

(pex tabagismo e suas consequumlecircncias)

Segundo Mendes (1996) as accedilotildees em sauacutede tecircm sido voltadas para os serviccedilos

curativos o que tem levado a um alto grau de letalidade Este fato se torna muito visiacutevel

para problemas como a coacutelera A epidemia do seacuteculo passado caracterizou-se pela sua alta

letalidade enquanto que a epidemia atual tem apresentado uma letalidade marginal Para

vaacuterios outros agravos e doenccedilas este efeito sobre a letalidade tambeacutem eacute observado ainda

que em graus diferentes poreacutem provocando uma crescente dissociaccedilatildeo entre o padratildeo de

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 19: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

18

morbidade e o da mortalidade Portanto chama a atenccedilatildeo que enquanto as mudanccedilas dos

padrotildees de mortalidade que ocorreram na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX nos

paiacuteses da Europa e Ameacuterica do Norte deveu-se quase que exclusivamente agrave diminuiccedilatildeo da

ocorrecircncia das doenccedilas na atualidade as mudanccedilas nos padrotildees de letalidade estatildeo na

base de muitas das mudanccedilas observadas na mortalidade

A funccedilatildeo destas accedilotildees de sauacutede na diferenciaccedilatildeo dos padrotildees epidemioloacutegicos tem

sido tema de vaacuterios debates e muitas controveacutersias englobando um espectro de estudos

que indicam para a incorporaccedilatildeo de tecnologia como determinantes na melhoria dos

indicadores enquanto que outros estudos desenvolvidos em paiacuteses desenvolvidos satildeo

uniacutessonos em relativizar o papel das tecnologias meacutedicas (MENDES 1996)

Atualmente o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado o elevado aumento

da sobrevida de pessoas que possuem algumas enfermidades crocircnicas como por exemplo

para as neoplasias as doenccedilas cardiovasculares e diabetes Do mesmo modo tem sido

ressaltada a sua utilizaccedilatildeo na prevenccedilatildeo de doenccedilas tendo como exemplo mais claacutessico o

papel desempenhado pelas vacinas na reduccedilatildeo de algumas doenccedilas transmissiacuteveis como

tambeacutem a utilizaccedilatildeo de meacutetodos diagnoacutesticos em procedimento de triagem para cacircncer

cervico-uterino e hipertensatildeo

Uma melhora significante aconteceu nas uacuteltimas deacutecadas no que diz respeito aos

indicadores de sauacutede do paiacutes tanto nas classes favoraacuteveis como nas menos favoraacuteveis

Em relaccedilatildeo ao Brasil tem ocorrido com menos intensidade quando em comparaccedilatildeo com

muitos paiacuteses de economias similares (por ex Meacutexico e Argentina) aumentando as

desigualdades entre estes paiacuteses no que diz respeito aos niacuteveis de sauacutede A tendecircncia do

envelhecimento da populaccedilatildeo eacute uma conquista a ser celebrada vem acompanhada de

mudanccedilas importantes nos padrotildees de morbi-mortalidade e na necessidade de serviccedilos de

sauacutede (BUSS 1995)

Torna-se obrigatoacuterio em locais com elevado iacutendice de doenccedilas crocircnicas uma

intervenccedilatildeo mais eficiente sobre a hipertensatildeo arterial que estaacute na base de um complexo de

problemas ocasionando custos importantes nos serviccedilos curativos e de reabilitaccedilatildeo

(LESSA MENDONCcedilA e TEIXEIRA 1996) O processo de intervenccedilatildeo deve-se dar tanto em

niacutevel da sua prevenccedilatildeo (consumo de sal ingestatildeo de bebidas alcooacutelicas diminuiccedilatildeo dos

fatores estressores entre outros) como de accedilotildees curativas atraveacutes da atenccedilatildeo primaacuteria

Neste campo de doenccedilas respiratoacuterias crocircnicas e vaacuterios tipos de cacircnceres existe consenso

sobre o papel do cigarro como um fator de alto risco A diminuiccedilatildeo do seu consumo tem-se

mostrado apresentar grande impacto sobre a ocorrecircncia destes eventos moacuterbidos

Resumindo satildeo definidas algumas medidas com o objetivo de reduzir de forma

significativa a morbidade por afecccedilotildees crocircnicas e infecciosas cuja prevenccedilatildeo pode ser feita

por accedilotildees simplificadas e de baixo custo Este processo denominado de ―compressatildeo da

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morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

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reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 20: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

19

morbidade aleacutem do significado sobre a sauacutede da populaccedilatildeo representa reduccedilatildeo da

pressatildeo sobre os serviccedilos de sauacutede jaacute que as mudanccedilas nos padrotildees epidemioloacutegicos

brasileiros tecircm-se caracterizado como visto pela superposiccedilatildeo e natildeo pela substituiccedilatildeo de

morbidade

A execuccedilatildeo de todas estas accedilotildees significa em uma reorganizaccedilatildeo do sistema de

sauacutede adequando agraves suas responsabilidades constitucionais reorientaccedilatildeo das poliacuteticas de

sauacutede privilegiando as atividades coletivas de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo da doenccedila

em contraposiccedilatildeo a atual priorizaccedilatildeo das atividades individuais e curativas e buscar a

diminuiccedilatildeo das iniquumlidades sociais e regionais que se refletem nos padrotildees sanitaacuterios o que

soacute poderaacute ser feito atraveacutes das poliacuteticas sociais e econocircmicas implantadas para o paiacutes

33 A Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Unidades Baacutesicas de Sauacutede

Para que pudesse ser criada uma rede de assistecircncia agrave sauacutede que abrangesse a

maioria da populaccedilatildeo foram instituiacutedas algumas diretrizes respeitando as realidades

regionais municipais e locais A Unidade Baacutesica de Sauacutede eacute a porta de entrada no sistema

de sauacutede responsabilizada por realizar atenccedilatildeo contiacutenua nas especialidades baacutesicas com

uma equipe multiprofissional (meacutedico generalista ou de famiacutelia enfermeiro auxiliar de

enfermagem e Agente Comunitaacuterio de Sauacutede) habilitada a desenvolver as atividades de

promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo Em 2001 os profissionais da sauacutede bucal foram

inseridos nessa equipe e as demais profissotildees discutem a sua inserccedilatildeo no SUS (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Cada equipe seria responsaacutevel por ateacute 4000 (quatro mil) habitantes sendo a meacutedia

recomendada de 3000 (trecircs mil) habitantes A equipe eacute responsaacutevel inclusive pelo

cadastramento desta populaccedilatildeo Nesse processo seratildeo identificados os membros da

famiacutelia a morbidade referida as condiccedilotildees de moradia saneamento e condiccedilotildees ambientais

das aacutereas onde essas famiacutelias residem Seratildeo utilizados dados sobretudo oficiais como

IBGE cartoacuterios e DATASUS

As instalaccedilotildees das unidades de Sauacutede da Famiacutelia deveratildeo ser efetuadas nos postos

centros ou unidades baacutesicas de sauacutede jaacute existentes no municiacutepio ou naquelas a serem

reformadas ou construiacutedas de acordo com a programaccedilatildeo municipal

A responsabilidade pela populaccedilatildeo adscrita seraacute dos profissionais designados a ela

trabalhando com inteira dedicaccedilatildeo e devendo residir nas regiotildees onde atuam Os Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede deveratildeo residir na comunidade onde trabalham

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

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elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

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padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 21: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

20

A quantidade de profissionais e consequentemente suas especialidades seriam

definidas pelas caracteriacutesticas da regiatildeo de atuaccedilatildeo Restando a esta equipe desenvolver

uma avaliaccedilatildeo permanente atraveacutes de indicadores de sauacutede da sua aacuterea de atuaccedilatildeo Para

isso eacute necessaacuterio agrave equipe conhecer a realidade das famiacutelias pelas quais lhe eacute atribuiacuteda agrave

caracteriacutestica de criar viacutenculo permanente

Atualmente a equipe miacutenima do PSF eacute direcionada para profissionais que estatildeo

consolidados na sauacutede puacuteblica meacutedico (de famiacutelia ou generalista) enfermeiro auxiliar de

enfermagem Havendo tambeacutem a demanda de projetos para inserir os demais profissionais

da sauacutede Cada profissional tem suas atribuiccedilotildees e em todos haacute o atravessamento de criar o

viacutenculo e se responsabilizar para a resoluccedilatildeo dos problemas e a manutenccedilatildeo da sauacutede dos

indiviacuteduos Aleacutem de atuarem no estabelecimento no caso a Unidade Baacutesica os

profissionais tambeacutem atuam nos domiciacutelios e nos locais onde forem demandados (RIBEIRO

PIRES BLANK 2004)

Sendo parte integrante da rede assistencial de sauacutede tanto o PSFUBS e demais

estabelecimentos de outros niacuteveis de atendimento devem ter um ordenamento das accedilotildees

fazendo uma interlocuccedilatildeo destes niacuteveis no municiacutepio ou regiatildeo e criando formas ou

fortalecendo atividades para que a integralidade na sauacutede constitua uma accedilatildeo permanente

do cuidado

O objetivo do trabalho desenvolvido no PSF constitui em uma ―estrateacutegia

estruturante de um novo modelo assistencial em sauacutede No entanto os estudos sobre a

realidade atual apoacutes nove anos de implantaccedilatildeo do PSF no Brasil mostram que existem

tantos pontos positivos na proposta em direccedilatildeo agrave ruptura com a loacutegica taylorista de

organizaccedilatildeo e gestatildeo do trabalho quanto aos problemas em relaccedilatildeo a condiccedilotildees de

trabalho Aleacutem disso verifica-se a persistecircncia dessas caracteriacutesticas no trabalho em sauacutede

e tambeacutem no trabalho desenvolvido no PSF (RIBEIRO PIRES BLANK 2004) Segundo

Pires

O trabalho em sauacutede eacute um trabalho essencial para a vida humana e eacute parte do setor de serviccedilos Eacute um trabalho da esfera da produccedilatildeo natildeo material que se completa no ato de sua realizaccedilatildeo Natildeo tem como resultado um produto material independente do processo de produccedilatildeo e comercializaacutevel no mercado O produto eacute indissociaacutevel do processo que o produz eacute a proacutepria realizaccedilatildeo da atividade (PIRES 1998 p 85)

Ainda segundo Pires (1998) o trabalho eacute compartimentalizado devendo cada grupo

profissional se organizar e prestar parte da assistecircncia agrave sauacutede separado dos demais

muitas vezes duplicando esforccedilos e ateacute tomando atitudes contraditoacuterias

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 22: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

21

Haacute pleno domiacutenio de conhecimentos necessaacuterios para o desenvolvimento de

atividades por parte dos profissionais envolvidos Tanto por parte dos meacutedicos como dos

enfermeiros nutricionistas fisioterapeutas e demais profissionais Estes executam

atividades delegadas mas manteacutem certo espaccedilo de decisatildeo e domiacutenio de conhecimentos

tiacutepico do trabalho profissional (PIRES 1998)

Conceber o PSF como uma forma de reorientaccedilatildeo do modelo assistencial sinaliza a

fragmentaccedilatildeo com praacuteticas convencionais e hegemocircnicas de sauacutede assim como a

utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de trabalho Uma compreensatildeo ampliada do processo

sauacutede-doenccedila assistecircncia integral e continuada a famiacutelias de uma aacuterea adscrita satildeo

algumas das inovaccedilotildees verificadas no PSF (ALVES 2005)

No entanto ainda haacute muitos desafios a serem superados para que seja possiacutevel sua

consolidaccedilatildeo No contexto de reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede a estrateacutegia da sauacutede

da famiacutelia vai ao encontro dos debates e anaacutelises referentes ao processo de mudanccedila do

paradigma que orienta o modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede vigente e que vem sendo enfrentada

desde a deacutecada de 1970 pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um

novo modelo que valorize as accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo das

doenccedilas e atenccedilatildeo integral agraves pessoas

Com a consolidaccedilatildeo da expansatildeo do PSF foi emitido pelo governo a Portaria Nordm

648 de 28 de Marccedilo de 2006 onde ficava estabelecido que o PSF eacute a estrateacutegia prioritaacuteria

do Ministeacuterio da Sauacutede para organizar a Atenccedilatildeo Baacutesica mdash que tem como uma das suas

finalidades possibilitar o acesso universal e contiacutenuo a serviccedilos de sauacutede de qualidade

reafirmando os princiacutepios baacutesicos do SUS universalizaccedilatildeo descentralizaccedilatildeo integralidade

e participaccedilatildeo da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculaccedilatildeo dos usuaacuterios

Para que seja realizada atuaccedilatildeo efetiva e de qualidade pelos trabalhadores dos

SUS eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de outro tipo de viacutenculo entre estes e seus usuaacuterios no

interior do conjunto das instituiccedilotildees de sauacutede natildeo soacute do ponto de vista da participaccedilatildeo

conjunta nas lutas por melhores condiccedilotildees de assistecircncia mas principalmente na produccedilatildeo

do compromisso cotidiano do trabalhador de sauacutede diante do cuidado Tem que haver

responsabilidade dos trabalhadores por uma boa parte da qualidade da assistecircncia

ofertada pois sendo o trabalho em sauacutede o trabalho vivo em ato dependente podem

colocar todas as suas sabedorias como opccedilotildees tecnoloacutegicas de que dispotildeem para a

produccedilatildeo de procederes eficazes a serviccedilo do usuaacuterio Assim temos que primar pela

―cidadanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede construindo deste jeito tanto a dignidade do

trabalhador quanto a do paciente

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 23: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

22

4 TRABALHO EM SAUacuteDE E A UTILIZACcedilAtildeO DE TECNOLOGIAS

41 Trabalho em sauacutede caracterizaccedilatildeo

O trabalho em sauacutede possui particularidades sendo que este se constroacutei

dinamicamente por meio das relaccedilotildees cotidianas entre os usuaacuterios e os profissionais de

sauacutede Na maioria das vezes ele ocorre quando os usuaacuterios se apresentam portadores de

algum problema de sauacutede e buscam junto aos trabalhadores que ali estatildeo resolvecirc-los O

momento do trabalho eacute ao mesmo tempo de encontro entre esse trabalhador e o usuaacuterio

Esse encontro eacute permeado pela dor o sofrimento as saberes da sauacutede as experiecircncias de

vida as praacuteticas assistenciais subjetividades que afetam os sujeitos trabalhador e usuaacuterio

Enfim haacute um mundo complexo a ser pesquisado que envolve sobretudo a produccedilatildeo do

cuidado

Com relaccedilatildeo ao trabalho executado pelos profissionais de sauacutede pode-se dizer que

haacute certa disciplinaridade na organizaccedilatildeo no que diz respeito agrave disposiccedilatildeo fiacutesica ou seja haacute

lugares especiacuteficos onde certos produtos satildeo realizados Eacute como se no serviccedilo ou seja em

certo estabelecimento de sauacutede houvesse diferentes unidades de produccedilatildeo por exemplo

na recepccedilatildeo produzem-se informaccedilotildees agendas na sala de vacinas produzem-se

procedimentos de imunizaccedilatildeo nos consultoacuterios satildeo produzidas consultas meacutedicas de

enfermagem e assim cada lugar tem uma ―missatildeo dentro de um espectro geral de cuidado

com os usuaacuterios Tudo isso entra em movimento durante o periacuteodo em que o serviccedilo estaacute

disponiacutevel para atender agraves pessoas que procuram por algum motivo resolver ali os seus

problemas de sauacutede

Os trabalhadores de sauacutede executam suas tarefas de forma previamente

determinada buscando sincronicidade entre suas accedilotildees Haacute um relacionamento no

trabalho entre todos os profissionais como o funcionamento de uma ―rede de conversas

mediada pelo trabalho

42 A presenccedila das tecnologias no cuidado em sauacutede

Para a realizaccedilatildeo de um determinado trabalho eacute necessaacuteria uma finalidade para sua

execuccedilatildeo ou seja ele deve atender a uma determinada necessidade da pessoa seja ela de

que tipo for O produto criado com a atividade do trabalho nessa perspectiva tem um ―valor

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

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48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 24: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

23

de uso (CAMPOS 1994) No caso da sauacutede Ceciacutelio (2001) sugere que as necessidades

estatildeo organizadas em quatro grandes grupos

O primeiro diz respeito a ter boas condiccedilotildees de vida () O outro conjunto fala da necessidade de se ter acesso e se poder consumir toda tecnologia de sauacutede capaz de melhorar e prolongar a vida () O terceiro diz respeito agrave insubstituiacutevel criaccedilatildeo de viacutenculos (a) efetivos entre cada usuaacuterio e uma equipe eou um profissional () Um quarto diz respeito agrave necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia no seu modo de levar a vida (CECIacuteLIO 2001 p114-115)

Com relaccedilatildeo ao atendimento das necessidades supracitadas conclui-se que estatildeo

diretamente relacionadas agraves atividades ligadas agrave promoccedilatildeo e prevenccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e cura

Esses conjuntos de necessidades aqui relacionados demonstram que os problemas de

sauacutede satildeo sempre complexos porque envolvem inuacutemeras dimensotildees da vida desde as que

se circunscrevem no corpo ateacute as de ordem social e subjetiva O trabalho em sauacutede por sua

vez para ser eficaz deve responder a essa complexidade e dar sentido agraves intervenccedilotildees nos

diversos campos da sauacutede Abre-se aqui um leque de possibilidades de uso de diversas

tecnologias de trabalho para a produccedilatildeo do cuidado

Em geral as maacutequinas os equipamentos e instrumentos mais modernos estatildeo

diretamente associados agrave palavra ―tecnologia No entanto conforme disposto no dicionaacuterio

―tecnologia eacute o conjunto de conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de

atividade (HOLANDA 1999) Ou seja eacute conhecimento aplicado se pressupotildee que toda

atividade produtiva traz em si um saber utilizado para a execuccedilatildeo de determinadas tarefas

que vatildeo levar agrave criaccedilatildeo de algo ou seja agrave realizaccedilatildeo de certos produtos

No setor industrial a questatildeo tecnoloacutegica estaacute intimamente direcionada agraves maacutequinas

que na maioria das vezes dominam o cenaacuterio produtivo mas estatildeo presentes tambeacutem no

conhecimento do trabalhador utilizado para operar essas maacutequinas e produzir inuacutemeras

coisas tais como sapatos roupas carros etc Esses produtos seratildeo consumidos em algum

momento futuro por algueacutem que o produtor (o operaacuterio que fez o sapato) provavelmente

jamais vai conhecer isto eacute quem produz natildeo interage com o consumidor do seu produto

(CECIacuteLIO 2001)

Ao citar a questatildeo do setor industrial pensa-se em dois determinados tipos de

tecnologia O primeiro tipo estaacute relacionado agrave presenccedila das maacutequinas no processo

produtivo o segundo tipo estaacute relacionado ao conhecimento adquirido em sua relaccedilatildeo com

o produto de seu trabalho agrave habilidade adquirida no processo produtivo operaccedilatildeo da

maacutequina No caso da sauacutede diferente da induacutestria o trabalhador que faz a assistecircncia

podendo ser o enfermeiro meacutedico dentista psicoacutelogo auxiliar ou teacutecnico de enfermagem

entre muitos outros satildeo os produtores da sauacutede e nessa condiccedilatildeo interagem com o

24

consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

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elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 25: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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consumidor (usuaacuterio) enquanto estatildeo produzindo os procedimentos Mais do que isso

esses seratildeo consumidos pelo usuaacuterio no exato momento em que satildeo produzidos Por

exemplo ao fazer um curativo a auxiliar de enfermagem estaacute produzindo algo o curativo

em relaccedilatildeo com o consumidor desse produto o usuaacuterio que o consome no exato momento

de sua produccedilatildeo

Dessa forma observa-se que essencialmente o trabalho em sauacutede ocorre de forma

relacional mediante a relaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o trabalhador seja esse trabalho ocorrido

de forma individual ou coletiva Por exemplo a consulta soacute se realiza quando o profissional

de sauacutede estaacute diante do usuaacuterio e assim com os demais atos produtores de

procedimentos tais como o curativo a vacina os diversos tipos de exames atos ciruacutergicos

reuniotildees de grupos visitas domiciliares entre outras

Aleacutem das duas tecnologias acima citadas (as inscritas nos maquinaacuterios e no

conhecimento teacutecnico) haacute outra tecnologia que estaacute presente no processo produtivo sendo

esta fundamental no processo de trabalho em sauacutede eacute a tecnologia das relaccedilotildees O que

significa que para estabelecer relaccedilotildees de assistecircncia e cuidado agrave sauacutede eacute necessaacuterio um

conhecimento aplicado para tal finalidade porque natildeo satildeo relaccedilotildees com o outro qualquer

tem-se objetivo definido que eacute a garantia da sauacutede

A discussatildeo sobre a temaacutetica das tecnologias em sauacutede vem ocorrendo haacute alguns

anos sendo que inicialmente Gonccedilalves (1994) fez uma diferenciaccedilatildeo entre as tecnologias

que estatildeo presente nas maacutequinas e nos materiais de trabalho e aquelas do conhecimento

teacutecnico tendo o autor chamado as primeiras de ―tecnologias materiais e as outras de

―tecnologias natildeo materiais Essa primeira diferenciaccedilatildeo foi importante por reconhecer o

conhecimento como tecnologia e coloca no centro do debate do trabalho e produccedilatildeo de

sauacutede os sujeitos sociais portadores de conhecimento que satildeo os trabalhadoresprodutores

de sauacutede e por excelecircncia aqueles que tecircm a capacidade de ofertar uma assistecircncia de

qualidade

Logicamente as maacutequinas e os instrumentos de trabalho exercem um trabalho de

grande importacircncia no setor de sauacutede na realizaccedilatildeo do diagnoacutestico e no processo

terapecircutico no entanto importa registrar que o trabalho humano eacute absolutamente

fundamental e insubstituiacutevel Com exemplo dessa assertiva eacute soacute exemplificar alguma

situaccedilatildeo em que houve incorporaccedilatildeo de novas tecnologias assistenciais no trabalho em

sauacutede e que isso tenha acarretado reduccedilatildeo dos postos de trabalho como geralmente

acontece na aacuterea industrial Natildeo haacute situaccedilatildeo como essa a natildeo ser em algumas exceccedilotildees

na aacuterea de laboratoacuterios De resto mantecircm-se os postos de trabalho porque eacute a pessoa

quem de fato realiza o cuidado aos usuaacuterios e interagindo com o mesmo ambos satildeo

capazes de impactar seu estado de sauacutede

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

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A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

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dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

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reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

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elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 26: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

25

Com relaccedilatildeo a outros estudos realizados nessa oacutetica eacute possiacutevel destacar os estudos

realizados por Merhy (1997) que faz uma descriccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do cuidado e suas

tecnologias estabeleceu trecircs categorias para tecnologias de trabalho em sauacutede Chamando

de ―tecnologias duras as que estatildeo inscritas nas maacutequinas e instrumentos e tecircm esse nome

porque jaacute estatildeo programadas prioritariamente para a produccedilatildeo de certos produtos de ―leve-

duras as que se referem ao conhecimento teacutecnico por ter uma parte dura que eacute a teacutecnica

definida anteriormente e uma leve que eacute o modo proacuteprio como o trabalhador a aplica

podendo assumir formas diferentes dependendo sempre de como cada um trabalha e cuida

do usuaacuterio e ―tecnologias leves que dizem respeito agraves relaccedilotildees que de acordo com o

autor satildeo fundamentais para a produccedilatildeo do cuidado e se referem a um jeito ou atitude

proacuteprio do profissional que eacute guiado por certa intencionalidade vinculada ao campo cuidador

ao seu modo de ser agrave sua subjetividade Satildeo tecnologias tambeacutem porque dizem respeito a

um saber isto eacute competecircncias para os trabalhadores de sauacutede lidar com os aspectos

relacionais que envolvem os atos produtivos como jaacute foi citado anteriormente

Para a compreensatildeo do processo de organizaccedilatildeo do trabalho em sauacutede e da

prestaccedilatildeo de cuidado aos usuaacuterios eacute preciso inicialmente verificar qual das trecircs tecnologias

tem prevalecircncia sobre o processo de trabalho no momento em que o trabalhador estaacute

assistindo os usuaacuterios

Na perspectiva de Barra et al (2006) antes de se pensar em tecnologia como

coisas ou artefatos cientiacuteficos deve se pensar na ciecircncia e na tecnologia como valores ou

ateacute mesmo como saberes Eacute tudo isso em complementaridade com o mundo vital num

movimento que soacute pode adquirir significado na sua dimensatildeo eacutetica e poliacutetica A tecnologia

exatamente porque passa a ser entendida como sendo uma dimensatildeo ou um

desdobramento dessa racionalidade cientiacutefica a quem se vem tambeacutem atribuindo uma

gama de ―erros do tratar e do cuidar comeccedila a ser representada como forccedila

desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que

demandam cuidados

Torna-se entatildeo necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo sobre ateacute que ponto o

progresso teacutecnico-cientiacutefico eacute ―saudaacutevel e promove o crescimento e harmonizaccedilatildeo das

pessoas Portanto acredita-se que alguns aspectos merecem uma anaacutelise atenta em

relaccedilatildeo ao emprego de qualquer tecnologia seja ela dura leve-dura ou leve aleacutem da

seguranccedila eficaacutecia eacutetica impacto social e relaccedilatildeo custo-benefiacutecio eacute saber utilizaacute-las de

forma humanizada lembrando sempre que os indiviacuteduos que estatildeo empregando e fazendo

uso das mesmas satildeo seres humanos (BARRA et al 2006)

As tecnologias leves satildeo consideradas como tecnologias das relaccedilotildees uma vez que

eacute na presenccedila delas eacute que ocorre o processo de comunicaccedilatildeo o processo de acolhimento

e a criaccedilatildeo de viacutenculos eacute essencial na produccedilatildeo de autonomia Nas accedilotildees de Enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

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bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

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padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

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Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

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humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 27: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

26

o ato de cuidar estaacute intrinsecamente ligado agrave utilizaccedilatildeo dessas tecnologias As tecnologias

leves estatildeo relacionadas agraves diferentes formas de interaccedilatildeo com o cliente Na perspectiva do

cuidado humano a relaccedilatildeo se expressa interpessoalmente ou seja entre a enfermeira que

presta o cuidado e o cliente que participa deste cuidado A atividade de orientaccedilatildeo

concebida tambeacutem como uma das premissas da accedilatildeo do enfermeiro soacute seraacute caracterizada

como tecnologia leve na medida em que possibilitar a produccedilatildeo de relaccedilotildees reciacuteprocas e

acolhedoras entre os sujeitos que dela participa (BEUTER 2004)

O estabelecimento do viacutenculo pode ocorrer por meio da interaccedilatildeo Assim sendo uma

simples conversa pode se transformar em um processo de interaccedilatildeo com o cliente onde a

accedilatildeo terapecircutica jaacute se inicia Mesmo as conversas ocasionais podem surgir como

possibilidade para que o cliente expresse seus sentimentos suas duacutevidas e preocupaccedilotildees

No campo da enfermagem a conversa vem emergindo como eixo integrador do cuidado

Ela transmite afeto seguranccedila solidariedade aleacutem de expressar a condiccedilatildeo de estar

disponiacutevel ao outro Esses elementos satildeo essenciais agrave efetividade do cuidado uma vez que

resulta em bem-estar e conforto ao cliente Constituem-se como formas de comunicaccedilatildeo

que abrem caminhos agrave interaccedilatildeo auxiliando o cliente no processo sauacutede-doenccedila

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 28: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

27

5 O PAPEL DA COMUNICACcedilAtildeO NAS ACcedilOtildeES EM SAUacuteDE 51 O processo de comunicaccedilatildeo na promoccedilatildeo da sauacutede

Atualmente devido ao avanccedilo tecnoloacutegico os processos de comunicaccedilatildeo sofreram

alteraccedilotildees dessa forma a comunicaccedilatildeo tornou-se ferramenta estrateacutegica nos setores

organizacionais No entanto no acircmbito da sauacutede puacuteblica brasileira ainda eacute preciso superar

a visatildeo instrumental e simplista da comunicaccedilatildeo como um processo de transmissatildeo de

informaccedilotildees de um emissor a um receptor modelo que natildeo confere importacircncia ao restante

do processo como a circulaccedilatildeo das mensagens e suas apropriaccedilotildees pelos diferentes atores

envolvidos (SCHRAIBER 1997)

A troca de informaccedilatildeo e as interaccedilotildees entre os indiviacuteduos e as organizaccedilotildees fazem

da comunicaccedilatildeo um instrumento primordial nas accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede Essa troca

deve acontecer de forma contiacutenua no lar na escola no ambiente de trabalho e em muitos

outros espaccedilos coletivos Hoje a democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo surge como uma das

principais metas para a melhoria da qualidade e a universalidade da sauacutede brasileira O

desafio eacute concretizar um projeto nacional que garanta o fortalecimento do SUS a partir da

descentralizaccedilatildeo e da maior participaccedilatildeo da sociedade

Para que o processo de comunicaccedilatildeo atue de forma a produzir cidadatildeos reflexivos e

formadores de opiniatildeo eacute necessaacuteria a definiccedilatildeo de estrateacutegias mais eficazes com

abordagens especiacuteficas e linguagem adequada a cada situaccedilatildeo para sensibilizar diferentes

atores sociais como empresaacuterios representantes de classes liacutederes comunitaacuterios

(TEIXEIRA 1997)

As poliacuteticas presentes nos princiacutepios do SUS buscam uma praacutetica descentralizada

no entanto observa-se que com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo as poliacuteticas governamentais natildeo

tecircm acompanhado esse processo Em geral trabalha-se com um discurso uacutenico e os atores

apenas reproduzem a mensagem hegemocircnica do governo um modelo tiacutepico das

campanhas Natildeo haacute interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo Atualmente uma nova postura poliacutetica tem

fortalecido a descentralizaccedilatildeo das decisotildees do SUS nos conselhos e conferecircncias espaccedilos

que se consolidam para a discussatildeo e a deliberaccedilatildeo de diferentes interesses e pontos de

vista E a democratizaccedilatildeo torna-se um instrumento fundamental para o efetivo controle e a

promoccedilatildeo da cidadania A partir dela busca-se uma proposta de comunicaccedilatildeo que traduza

as diferentes realidades do Paiacutes reconhecendo os diversos atores e interesses aleacutem das

autoridades sanitaacuterias

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

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bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

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padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

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Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

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humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 29: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

28

A assistecircncia prestada e as chances de tratamento e de sobrevida tecircm melhorado

consideravelmente em vista da melhoria das condiccedilotildees materiais produzidas pelo avanccedilo

tecnoloacutegico e cientiacutefico No entanto essas tecnologias ao inveacutes de serem trabalhadas a

favor da melhoria da interaccedilatildeo comunicativa tecircm enfraquecido os viacutenculos entre

profissionais de sauacutede e pacientesusuaacuterios A anamnese e o exame fiacutesico tecircm sido em

parte substituiacutedos por aparelhos que fornecem informaccedilotildees diagnoacutesticas e indicam

terapecircuticas diminuindo a participaccedilatildeo do doente nesse processo de levantamento das

suas condiccedilotildees de sauacutede

Esse processo de ―tecnologizaccedilatildeo da assistecircncia tem produzido um olhar sobre a

doenccedila e natildeo sobre o indiviacuteduo doente Muitas vezes a individualidade de cada sujeito

(inseguranccedilas preocupaccedilotildees necessidades anguacutestia) passa a ser um ruiacutedo no processo

de comunicaccedilatildeo que para se exercer tende a silenciar o doente realizando-se em uma

uacutenica direccedilatildeo sem espaccedilo para o diaacutelogo e para a participaccedilatildeo do doente como sujeito que

percebe a sua condiccedilatildeo de doente

Esse tipo de comunicaccedilatildeo baseado na utilizaccedilatildeo de tecnologias ―duras ocorre de

forma unilateral (TEIXEIRA 1997) o uso corrente de uma terminologia ancorada em

vocaacutebulos teacutecnicos complicados e termos tiacutepicos do meio hospitalar pelos profissionais

acaba por reforccedilar uma relaccedilatildeo de domiacutenio e opressatildeo Diante disto Gauderer (1991)

lembra que o profissional de sauacutede imbuiacutedo do poder de curar adquire status e prestiacutegios

especiais que quando natildeo compartilhados com o paciente mediante uma discussatildeo mais

ampla sobre as suas condiccedilotildees e possibilidades podem desencadear abuso de poder pela

posse de saberes e de segredos que se tornam inacessiacuteveis aos pacientes

A individualidade de cada sujeito doente ou sadio continua sendo o principal fator de perturbaccedilatildeo para o olhar cliacutenico que precisaraacute entatildeo para poder se exercer silenciar o corpo doente do doente fixando-se no corpo doente geneacuterico (MOYSEacuteS COLLARES 1997 p 6)

Observa-se que o problema comunicacional proveniente da falta de interaccedilatildeo entre

o profissional de sauacutede e o usuaacuterio data das origens das praacuteticas de sauacutede Esse problema

tem se agravado pelo fato de o atendimento ser cada vez mais realizado por equipes que

se servem do anonimato para a tomada de decisotildees unilaterais sobre a vida do paciente

ampliando a impessoalidade desse atendimento como vecircm analisando alguns

pesquisadores (MENDES 1999)

No entanto novas regulamentaccedilotildees tecircm surgido para tentar minimizar esse

distanciamento (BRASIL 2006) Um exemplo disso satildeo as poliacuteticas de humanizaccedilatildeo e as

cartilhas de direitos dos usuaacuterios do SUS promovidas pelo Ministeacuterio da Sauacutede Como parte

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 30: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

29

dessas cartilhas e de programas de busca do cuidado integral algumas garantias dos

usuaacuterios satildeo exemplificadas a seguir

- o cliente deve receber informaccedilotildees sobre exames e condutas a que seraacute submetido alternativas de diagnoacutesticos e terapecircuticas existentes no serviccedilo de atendimento ou em outros serviccedilos - eacute direito do paciente de consentir ou recusar de forma livre voluntaacuteria e esclarecida com adequada informaccedilatildeo sobre procedimentos diagnoacutesticos ou terapecircuticos a serem nele realizados recebendo por escrito o diagnoacutestico e o tratamento indicado com identificaccedilatildeo do nome do profissional e o seu nuacutemero de registro no oacutergatildeo de regulamentaccedilatildeo e controle da profissatildeo (FORTES 2004 p3)

O exerciacutecio da autonomia eacute condiccedilatildeo iacutempar para que a relaccedilatildeo profissionalusuaacuterio

se estabeleccedila em condiccedilotildees de igualdade onde o usuaacuterio se perceba assistido e orientado

para a praacutetica do auto-cuidado e para a responsabilizaccedilatildeo com sua proacutepria vida O

exerciacutecio dessa autonomia se daacute a partir do momento em que o indiviacuteduo no caso o

usuaacuterio deteacutem todas as explicaccedilotildees necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo (riscos envolvidos nas

diferentes alternativas de escolha) e compreensatildeo das informaccedilotildees para tornar factiacutevel a

escolha que melhor atenda agraves necessidades da situaccedilatildeo A autonomia exige cidadania

garantida implica acesso igualitaacuterio agrave educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo

No entanto em paiacuteses onde as desigualdades sociais satildeo muito grandes observa-se

que a autonomia e princiacutepio da beneficecircncia satildeo conceitos vazios uma vez que os

indiviacuteduos na maioria das vezes satildeo desprovidos de conhecimento e do direito agrave liberdade

de escolher e decidir sobre suas vidas e seu bem-estar porque a relaccedilatildeo profissional de

sauacutede e paciente ocorrem com frequecircncia entre pessoas que no plano social representam

autoridades teacutecnicas e cientiacuteficas desiguais Assim tendemos a vecirc-la como uma

interferecircncia de uma soacute matildeo do meacutedico para o paciente do profissional de sauacutede para o

usuaacuterio etc (SCHRAIBER 1997)

A comunicaccedilatildeo em sauacutede surge natildeo soacute como uma estrateacutegia de prover indiviacuteduos e

coletividade de informaccedilotildees pois se reconhece que a informaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para

favorecer mudanccedilas mas eacute uma chave dentro do processo educativo que faz compartilhar

conhecimentos e praacuteticas que podem contribuir na conquista de melhores condiccedilotildees de

vida

Reconhece-se que a informaccedilatildeo de qualidade difundida no momento oportuno com

utilizaccedilatildeo de uma linguagem clara e objetiva eacute um poderoso instrumento de promoccedilatildeo da

sauacutede O processo de comunicaccedilatildeo deve ser eacutetico transparente atento aos valores

opiniotildees tradiccedilotildees culturas e crenccedilas das comunidades respeitando e considerando e

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 31: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

30

reconhecendo as diferenccedilas baseando-se na apresentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de informaccedilotildees

educativas interessantes atrativas e compreensiacuteveis

52 O agir do enfermeiro perante a praacutetica comunicativa

A comunicaccedilatildeo tem sido vista atraveacutes dos tempos como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano como pessoa e como ser social Conceituada basicamente

como produccedilatildeo transmissatildeo e recepccedilatildeo de mensagens ou como todos os procedimentos

pelos quais uma pessoa pode afetar os demais de modo consciente ou inconsciente sob a

forma verbal e natildeo-verbal e definida como experiecircncia social fundamental para o ser

humano Seja qual for o enfoque sob o qual eacute examinada a comunicaccedilatildeo podemos afirmar

que eacute uma atividade intriacutenseca a todos os comportamentos do homem confundindo-se com

a interaccedilatildeo e com o processo de relacionamento interpessoal (SADALA STEFANELLI

1995)

Na enfermagem desde os tempos de Florence Nightingale em meados do seacuteculo

passado a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre enfermeiro e paciente tem sido reconhecida e

enfatizada Com base nessas afirmaccedilotildees podemos considerar a comunicaccedilatildeo como um

dos atributos essenciais do profissional de enfermagem abrangendo o estudo do

comportamento do paciente incluindo todas as suas manifestaccedilotildees verbais e natildeo-verbais

como os modos de comunicaccedilatildeo e o proacuteprio comportamento do enfermeiro

Segundo Sadala e Stefanelli (1995) a comunicaccedilatildeo eacute considerada como sendo uma

das principais ferramentas do trabalho do enfermeiro Dessa forma eacute de grande interesse

da Enfermagem a busca da priorizaccedilatildeo as ferramentas comunicacionais jaacute que satildeo estas

as responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo de resultados eficazes na praacutetica do atendimento

A promoccedilatildeo da praacutetica de assistecircncia em Enfermagem eacute regida por seus proacuteprios

princiacutepios O que se busca na accedilatildeo do assistir eacute promover uma assistecircncia a qual o

indiviacuteduo natildeo possui meios para fazer por si proacuteprio haacute a promoccedilatildeo do atendimento agraves

necessidades baacutesicas o ensinamento do auto-cuidado a recuperaccedilatildeo da sauacutede

restabelecer os equiliacutebrios fisioloacutegicos e humanos e tambeacutem promover e manter a sauacutede

privilegiando uma accedilatildeo interprofissional para que os objetivos advindos do planejamento

sejam alcanccedilados da melhor e mais eficiente forma possiacutevel

A promoccedilatildeo da boa comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute papel vital do enfermeiro que

deve estar envolvido atendimento das necessidades dos pacientes suas famiacutelias e

comunidades

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

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padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 32: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

31

O ser humano deve ser visto soacutecio-historicamente ou seja como pertencente a uma

determinada sociedade em um determinado momento histoacuterico Por esse motivo ele

pertence a uma comunidade com caracteriacutesticas proacuteprias e idiossincrasias que interferem

diretamente nas condiccedilotildees fiacutesicas e emocionais dos indiviacuteduos estabelecendo padrotildees de

comportamento influindo em sua cultura Eacute tarefa do profissional de enfermagem portanto

descobrir como utilizar esses elementos soacutecio-culturais a seu favor causando no cliente a

menor resistecircncia possiacutevel e preferencialmente fazendo com que ele seja atuante no

restabelecimento e manutenccedilatildeo da proacutepria sauacutede (MENDES 1994)

Resume-se em cinco o nuacutemero de etapas a serem realizadas no processo de

enfermagem a abordagem inicial o diagnoacutestico de enfermagem o planejamento a

implantaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo A abordagem inicial visa reunir verificar e comunicar os dados

sobre o paciente de forma que a informaccedilatildeo baacutesica seja estabelecida

Satildeo atraveacutes das accedilotildees de planejamento que satildeo estabelecidas as prioridades de

assistecircncia quais satildeo os objetivos a serem alcanccedilados As atividades de avaliaccedilatildeo

consideram as respostas dos clientes aos procedimentos adotados haacute a anaacutelise das

conclusotildees e dos resultados com base nos objetivos esperados (POTTER PERRY 1998)

As accedilotildees da enfermagem satildeo voltadas para a resoluccedilatildeo de problemas observaccedilatildeo

do estado de sauacutede do paciente sua resposta com relaccedilatildeo agrave terapecircutica empregada

detecccedilatildeo dos problemas Os enfermeiros coletam dados para determinar as necessidades

dos serviccedilos de enfermagem e para auxiliar os outros profissionais na determinaccedilatildeo de suas

atividades

Na concepccedilatildeo de Mendes (1994) os recursos de comunicaccedilatildeo quanto mais

eficazes mais eficientes seratildeo as accedilotildees de busca no provimento do bem-estar nos

pacientes Aqui a ferramenta eacute a comunicaccedilatildeo interpessoal horizontal que se faz presente

tambeacutem em outras profissotildees Entretanto no quotidiano da sauacutede cabe exclusivamente ao

profissional de enfermagem o levantamento da histoacuteria de vida de cada cliente Tratar

apenas dos sintomas sem o conhecimento da situaccedilatildeo do paciente envolve uma maior

probabilidade de que ele retorne ao atendimento pelos mesmos motivos e todo o retrabalho

implica em sobrecarga e inchaccedilo do sistema de sauacutede o que eacute especialmente grave na rede

puacuteblica A eficaacutecia da entrevista portanto eacute um elemento de suma importacircncia muito mais

que mera preocupaccedilatildeo humaniacutestica

Na consulta em Enfermagem o processo de coletagem dos dados atraveacutes da

anamnese detecta natildeo somente estados fiacutesica mas abrange todo o histoacuterico de vida do

paciente suas relaccedilotildees seu modo de vida e os fatores que interferem na sauacutede e no

adoecimento do indiviacuteduo A entrevista de enfermagem visa ainda agrave obtenccedilatildeo de dados

sobre as condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo haacutebitos de sono e repouso atividades esportivas e

recreativas haacutebitos e condiccedilotildees sanitaacuterias situaccedilotildees de estresse e como o cliente lida com

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 33: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

32

elas familiares que morem na mesma casa situaccedilatildeo psicoloacutegica religiatildeo e crenccedilas valores

de vida prioridades vida sexual condiccedilotildees financeiras e situaccedilotildees marcantes na vida

Satildeo informaccedilotildees como essa que tornam possiacutevel a obtenccedilatildeo de dados concretos

para um diagnoacutestico de enfermagem que levaraacute a uma accedilatildeo de enfermagem eficiente e

personalizada o enfermeiro precisa ter em sua formaccedilatildeo bases de relacionamento

interpessoal com atitudes terapecircuticas e teacutecnicas de comunicaccedilatildeo para garantir a fluecircncia

da entrevista Cada cliente eacute um indiviacuteduo iacutempar e as atitudes para com cada um devem ser

sempre as mais adequadas para cada nova situaccedilatildeo

O momento da entrevista eacute o momento em que o enfermeiro faz a sua identificaccedilatildeo

fornece explicaccedilotildees sobre os objetivos da entrevista explica de que forma as informaccedilotildees

obtidas seratildeo analisadas Todo esse processo ocorre atraveacutes do estabelecimento de uma

relaccedilatildeo de confianccedila de empatia Para isso o enfermeiro deve ser capaz de manter uma

comunicaccedilatildeo ativa observando sistematicamente e interpretando dados muitas vezes

subjetivos contando com fontes primaacuterias (relatos do paciente) e fontes secundaacuterias (relatos

da famiacutelia) A validaccedilatildeo dos dados com o cliente auxilia o enfermeiro a evitar a formulaccedilatildeo

de diagnoacutesticos incorretos

Segundo Mendes (1994) o objetivo baacutesico na comunicaccedilatildeo eacute se tornar agentes

influentes eacute influenciarmos os outros nosso ambiente fiacutesico e noacutes proacuteprios satildeo nos

tornarmos agentes determinantes eacute termos opccedilatildeo no andamento das coisas Em suma a

comunicaccedilatildeo existe no intuito de influenciar com intenccedilatildeo A enfermagem eacute basicamente um

processo de interaccedilatildeo humana e a comunicaccedilatildeo eacute parte central nesse processo

constituindo-se um dos instrumentos mais significativos no agir do enfermeiro

53 Comunicaccedilatildeo a linguagem e a cultura no processo sauacutededoenccedila

A sauacutede de um povo eacute permeada pela loacutegica da linguagem do discurso que se tem

sobre o processo de sauacutede e de doenccedila dentro dessa caracterizaccedilatildeo existem diversos tipos

de doentes os doentes do saber os doentes do corpo os doentes da alma e os doentes de

espiacuterito Dentro dessa concepccedilatildeo pensar em linguagem eacute pensar no cuidado da vida

compreendendo o corpo com seu silecircncio e com seus ruiacutedos pensando nos fatores

coletivos e individuais que interferem sobre o dito e o natildeo-dito quando se fala em sauacutede

(LARAIA 2000)

Segundo Orlandi (2003) a enfermagem deve ser rastreadora de condiccedilotildees levando

as pessoas para a liberdade para a alegria para o desejo de se obter sauacutede integral

Assim eacute possiacutevel pensar em uma linguagem que indique que a pessoa precisa conhecer

33

melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 34: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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melhor o seu corpo para cuidar de sua sauacutede e que a sauacutede eacute direito e responsabilidade de

cada um como cidadatildeo

Natildeo se deve ignorar que o corpo nos sinaliza que eacute preciso exercitar uma leitura

detalhada dele o que muitas vezes passa desapercebido O silecircncio corresponde a um

modo de estar no mundo e tem um sentido as palavras transpiram silecircncio e existem muitas

maneiras de dizer as coisas assim sendo o silecircncio faz parte da linguagem

Nas accedilotildees do cuidar muitas vezes a linguagem em sauacutede eacute marcada por palavras

de ordem de proibiccedilotildees e de controle dessa forma torna-se fundamental observar os

efeitos da linguagem nas pessoas e os significados que essa linguagem tem para elas Eacute

necessaacuterio considerar as condiccedilotildees culturais socioeconocircmicas e ambientais das pessoas o

que implica em accedilotildees diferentes olhares diferentes e atendimento individual para cada um

(ORLANDI 2003)

Para avanccedilar na linguagem da sauacutede coletiva nos tempos atuais eacute preciso acreditar

que a sociedade coletividade eacute consumidora de uma linguagem que merece ser pensada e

se essa eacute uma sociedade poacutes-moderna haacute de se considerar que os sujeitos satildeo mais

consumidores do que produtores A linguagem em sauacutede eacute um tema de nosso dia-a-dia

como profissionais de sauacutede e estaacute dentro das relaccedilotildees indiviacuteduo-ordem social jaacute que a

sauacutede neste novo seacuteculo deixa de see um problema individual e torna-se objeto de interesse

dos movimentos sociais dos laboratoacuterios das cliacutenicas de sauacutede das poliacuteticas

socioeconocircmicas e cientiacuteficas

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6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

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bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

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padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

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Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

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humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

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Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

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proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

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7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

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Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 35: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

34

6 A ESTRATEacuteGIA DE SAUacuteDE DA FAMIacuteLIA E O CUIDADO COMO FERRAMENTA TECNOLOacuteGICA RESOLUTIVA

Levando em consideraccedilatildeo a definiccedilatildeo de que ESF eacute um modelo organizativo da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede no SUS novamente haacute a reafirmaccedilatildeo da necessidade de tornar a

praacutetica assistencial no Sauacutede da Famiacutelia (SF) uma praacutetica integral por meio da

responsabilidade cliacutenica e territorial isto eacute uma praacutetica integral na atenccedilatildeo agraves necessidades

dos indiviacuteduos e na co-responsabilidade pela sauacutede da populaccedilatildeo no seu territoacuterio

Os princiacutepios da APS tornam possiacutevel o alcance do cuidado integral Pode-se

entender que a integralidade como proposta por Takeda (2004) a capacidade da equipe de

sauacutede em lidar com os problemas de sauacutede da populaccedilatildeo seja resolvendo-os atraveacutes da

oferta de um conjunto de serviccedilos dirigidos aos problemas mais frequumlentes seja

organizando-os para que o paciente receba os serviccedilos que natildeo satildeo da competecircncia da

atenccedilatildeo primaacuteria E esta praacutetica soacute se torna possiacutevel atraveacutes da presenccedila das

caracteriacutesticas uacutenicas da APS acessoprimeiro contato longitudinalidade coordenaccedilatildeo

orientaccedilatildeo comunitaacuteria orientaccedilatildeo familiar e competecircncia cultural Todas estas

caracteriacutesticas contribuem para o favorecimento do serviccedilo em APS

O exerciacutecio da integralidade deve ser visualizado como espaccedilo para a co-construccedilatildeo

da autonomia dos indiviacuteduos e comunidades como defende Campos (2006) O trabalho

realizado por este autor tem como base a perspectiva de mudanccedilas organizacionais nos

quais os meacutetodos de padronizaccedilatildeo satildeo misturados com outros que vatildeo facilitar uma cliacutenica

singular e uma abordagem que combine elementos bioloacutegicos psiacutequicos e sociais Para ele

eacute importante a criaccedilatildeo de dispositivos organizacionais que facilitem viacutenculo seguimento

horizontal definiccedilatildeo clara de responsabilidade cliacutenica

Em sua praacutetica o processo de integralidade se torna muito mais complexo O

mesmo inicia-se com o sofrimento do indiviacuteduo e vai de encontro agrave teia de relaccedilotildees causais

e do contexto de vida das pessoas gerando uma aproximaccedilatildeo aos determinantes sociais do

processo sauacutede-doenccedila Esta aproximaccedilatildeo muitas vezes originada do encontro de um

integrante da equipe de sauacutede com um usuaacuterio em um contexto cliacutenico deve ser o primeiro

passo para o enfrentamento desses condicionantes em niacutevel individual e coletivo

A realizaccedilatildeo de atividades coletivas e o envolvimento direto da equipe com a

comunidade sob o prisma da Promoccedilatildeo da Sauacutede (BRASIL 2005) satildeo atividades

essenciais

A praacutetica cliacutenico-assistencial individual eou coletiva na ESF deve buscar

bull abordagem holiacutestica do processo sauacutede-doenccedila

bull integraccedilatildeo interdisciplinar e intersetorial

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 36: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

35

bull forte relaccedilatildeo meacutedico-paciente (Meacutetodo Cliacutenico Centrado no Paciente) produtora de

autonomia

bull uso de conhecimentos e ferramentas cientificamente embasadas

bull ecircnfase em promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de doenccedilas

bull diagnoacutestico precoce de agravos e doenccedilas

bull atenccedilatildeo aos novos problemas de sauacutede

bull cuidado continuado dos problemas crocircnicos e

bull prevenccedilatildeo oportuna

A constituiccedilatildeo da APS se daacute atraveacutes da presenccedila de profissionais responsaacuteveis e

comprometidos perante a comunidade O relacionamento deve ser baseado no respeito na

confianccedila muacutetua e nas condiccedilotildees facilitadas de acessibilidade Todo encontro entre um ou

mais profissional de sauacutede e um usuaacuterio uma famiacutelia eou uma parcela da comunidade deve

ser acolhedor amistoso promotor de autonomia sendo caracterizado pela confianccedila muacutetua

ao incluir o usuaacuterio no processo de seu proacuteprio cuidado Desta forma a praacutetica de APS na

ESF seraacute uma praacutetica promotora de sauacutede como prega a Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo de

Sauacutede (BRASIL 2005)

O nuacutemero maacuteximo de famiacutelias que uma equipe de Sauacutede da Famiacutelia se

responsabiliza varia de acordo com o territoacuterio de atuaccedilatildeo da equipe

O termo designado como territoacuterio natildeo se refere apenas a uma aacuterea geograacutefica mas

sim agrave definiccedilatildeo proposta por Santos et al (2003) onde o territoacuterio e conceituado como sendo

um espaccedilo onde ocorrem as relaccedilotildees entre os homens sendo o palco de todas as relaccedilotildees

humanas Esta eacute a definiccedilatildeo de territoacuterio vivo que envolve uma teia de relaccedilotildees humanas

que eacute construiacuteda sobre uma base geograacutefica influenciada por fatores econocircmicos sociais

culturais poliacuteticos e epidemioloacutegicos Esses fatores e suas inter-relaccedilotildees satildeo os

determinantes do processo sauacutede-doenccedila sobre os quais a equipe de sauacutede e a proacutepria

populaccedilatildeo tecircm co-responsabilidade contando com o apoio de outros setores afins ao

sistema de serviccedilos de sauacutede

Eacute essencial e de grande necessidade que a populaccedilatildeo residente no territoacuterio seja

cadastrada pois a equipe de Sauacutede da Famiacutelia eacute responsaacutevel por accedilotildees de vigilacircncia em

sauacutede que vatildeo aleacutem da utilizaccedilatildeo da UBS por cuidado em sauacutede Aleacutem disso a produccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre a sauacutede da populaccedilatildeo faz exigecircncia do conhecimento do total de

moradores da aacuterea de adscriccedilatildeo O cadastramento de toda a populaccedilatildeo eacute realizado pelos

ACS mesmo que uma parcela desta natildeo utilize a unidade de sauacutede

A adscriccedilatildeo eacute definida como sendo um processo concomitante e interdependente da

delimitaccedilatildeo do territoacuterio consolidando-se com o cadastramento das famiacutelias adscritas

realizado pelos agentes de sauacutede Neste processo utiliza-se uma ficha de cadastramento

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

48

TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 37: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

36

padronizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Essa ficha que contecircm dados demograacuteficos sociais

e de utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede deve apoacutes digitaccedilatildeo no banco de dados do SIAB ser

arquivadas dentro do prontuaacuterio familiar no centro de sauacutede (ANDRADE 2006)

No entanto como a interdisciplinaridade eacute condiccedilatildeo primordial do trabalho em equipe

da ESF a utilizaccedilatildeo destes espaccedilos deve ser realizada de forma compartilhada

determinada pelo tipo de accedilotildees em sauacutede a ser realizada e natildeo pelo tipo de profissional

Compartilhamento e rotatividade dos profissionais na ocupaccedilatildeo diaacuteria das salas de acordo

com as atividades desenvolvidas iratildeo permitir a otimizaccedilatildeo dos espaccedilos

O mapeamento da rede de serviccedilos se sauacutede secundaacuterios e terciaacuterios que serviratildeo

de referecircncia para as famiacutelias adscritas devem ser realizadas juntamente com o gestor

municipal e estadual da equipe de Sauacutede da Famiacutelia Aleacutem do reconhecimento da rede de

serviccedilos de referecircncia um sistema de comunicaccedilatildeo efetivo deve ser estabelecido entre os

distintos pontos dessa rede assim como um sistema de regulaccedilatildeo que estabeleccedila criteacuterios

cliacutenicos para a priorizaccedilatildeo de marcaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos consultas com

especialistas focais procedimentos e internaccedilotildees hospitalares

Segundo Andrade (2006) esta mudanccedila de modelo assistencial do SUS por meio da

Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia exige como consequumlecircncia uma mudanccedila no processo de

trabalho da equipe de sauacutede que deixa de focar apenas na atenccedilatildeo agraves doenccedilas e passa a

ter seu foco direcionado agrave promoccedilatildeo e manutenccedilatildeo da sauacutede

Nesta mudanccedila do processo de trabalho as atribuiccedilotildees dos membros da equipe natildeo

satildeo estanques assim como natildeo o eacute o processo sauacutede-doenccedila da populaccedilatildeo sob cuidado

Toda a equipe de sauacutede eacute co-responsaacutevel pelo processo de atenccedilatildeo aos problemas assim

como pelas praacuteticas promotoras de sauacutede respeitando-se os limites de cada categoria

profissional (ANDRADE 2006)

61 O cuidado em sauacutede uma proposta integradora de atuaccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com o cuidado e com a melhoria nos serviccedilos realizados em nome da

sauacutede natildeo eacute recente No Ocidente os europeus somente comeccedilaram a tratar do assunto no

final do seacuteculo XVIII quando estabelecidas as diretrizes para a criaccedilatildeo de uma nova

proposta hospitalar chamada por Michel Focault de hospital terapecircutico (TOLEDO 2007)

Em meados do seacuteculo XIX a enfermeira Florence Nightingale reconhecida por reduzir os

iacutendices de morte por infecccedilatildeo de soldados na guerra da Crimeacuteia e por cuidar desses

soldados de forma humana foi convidada a prestar seus serviccedilos nos hospitais ingleses

com o intuito de humanizar a assistecircncia aos enfermos

37

Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

38

humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

40

atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

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47

MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 38: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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Cassate e Correa (2004) entendem que a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos marco humaniacutestico do seacuteculo XX deveria ocupar lugar central na construccedilatildeo de

um paradigma para a humanizaccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e na formaccedilatildeo dos profissionais

de sauacutede

O termo ―cuidado pode ser colocado como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Tambeacutem pode ser

considerado como uma intervenccedilatildeo na aacuterea hospitalar com a finalidade de integrar valores

de vida e de relaccedilotildees humanas segundo o proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede (CASSATE

CORREA 2004)

Devido ao mau atendimento e suporte teacutecnico precaacuterio prestados aos usuaacuterios foi

que se observou a necessidade da ascensatildeo da terminologia ―cuidado A forma incorreta

de atendimento vem sendo penalizada devido agrave demora e tratamento que a pessoa

recebe De frente agrave importacircncia deste problema torna-se essencial uma reelaboraccedilatildeo no

atendimento efetuado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a este mas abrangendo todas

as aacutereas de assistecircncia com a finalidade de promover uma amenizaccedilatildeo ou erradicaccedilatildeo das

mal exercidas formas de atendimento ao indiviacuteduo (DESLANDES 2004)

Em funccedilatildeo desta reelaboraccedilatildeo percebe-se que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede

vecircm sendo ampliadas com a finalidade de que este cuidado seja concretizado poreacutem seu

investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se comparando os

niacuteveis de atendimento realizados anteriormente pode perceber-se que existe ainda uma

enorme defasagem e completa falta de organizaccedilatildeo na concretizaccedilatildeo no que diz respeito

aos direitos referentes agrave sauacutede (LEacuteVITAS 1993)

Torna-se insuficiente entatildeo a ampliaccedilatildeo da estrutura da rede se natildeo for feita sua

qualificaccedilatildeo Entende-se por qualificaccedilatildeo investimentos em recursos fiacutesicos humanos

equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento na qualificaccedilatildeo

profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees

O profissional de sauacutede acaba sendo prejudicado em virtude da precariedade de

serviccedilos pois eacute ele quem tem contato direto com as pessoas tendo ciecircncia das

necessidades dos indiviacuteduos e sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as

pessoas empregam sobre mesmos mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam

(LEacuteVITAS 1993)

Muitas vezes somente um trabalho natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades de

subsistecircncia do trabalhador sendo este obrigado a exercer outras atividades reduzindo

significativamente as horas destinadas para o lazer e consequumlentemente diminuindo

tambeacutem o tempo de contato com a famiacutelia

Todas as interaccedilotildees que ocorrem entre profissionais de sauacutede e colaboradores tecircm

que ser realizadas levando em consideraccedilatildeo todos os preceitos sobre cuidado mais

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humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

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proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

46

COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 39: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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humanizado pois o paciente jaacute percebe no primeiro contato a forma de tratamento que vai

receber naquele local esta varia de acordo com a forma que eacute cumprimentado

apresentaccedilatildeo pessoal presteza dentre outros Eacute evidente de como estes detalhes

influenciam no resultado geral do tratamento

Observando por este aspecto uma sauacutede mais humana parte da consideraccedilatildeo da

essecircncia do ser o respeitando agrave individualidade e agrave necessidade de contribuiccedilatildeo de um

espaccedilo concreto nas instituiccedilotildees de sauacutede que legitime o humano A implicaccedilatildeo do cuidar

humanizado se ampara na compreensatildeo do significado da vida e na capacidade de

perceber e compreender a si e ao outro A empatia deve ser primordial na humanizaccedilatildeo no

atendimento e deve adequar-se agrave estrutura hospitalar melhorando e idealizando uma ideal

relaccedilatildeo entre meacutedico e cliente

Acredita-se que para haver uma melhoria na qualidade dos serviccedilos de sauacutede eacute

preciso uma abordagem ampla visando agrave capacidade de integraccedilatildeo dos vaacuterios tipos de

avanccedilos avanccedilo teacutecnico-cientiacutefico da medicina avanccedilos derivados das novas teacutecnicas de

administraccedilatildeo hospitalar e todos os avanccedilos que podem advir da adoccedilatildeo de uma eacutetica

universalista de atendimento

Com o objetivo de aperfeiccediloar o contato entre usuaacuterios e profissionais de sauacutede foi

criado pelo Ministeacuterio da Sauacutede o Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo ao Atendimento

Humano Por meio deste programa satildeo oferecidas vaacuterias orientaccedilotildees para trabalhos de

origem humanizadora no acircmbito de atendimento hospitalar A estimulaccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

sustentaccedilatildeo de espaccedilos de comunicaccedilatildeo permanente entre estes setores eacute o principal

objetivo deste programa levando sempre em consideraccedilatildeo a liberdade de expressatildeo o

diaacutelogo o respeito e a diversidade de opiniotildees (BRASIL 2002)

Alguns exemplos de espaccedilos de comunicaccedilatildeo que satildeo estimulados pelo PNHAH

satildeo a constituiccedilatildeo de Grupos de Trabalho Humanizado os (GTH) nas instituiccedilotildees

hospitalares e a formaccedilatildeo de uma Rede Nacional de Humanizaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

publicas de sauacutede Estas duas satildeo instrumentos fundamentais para que possa consolidar

um processo de humanizaccedilatildeo nos hospitais

Os cursos e conferecircncias dentro dos acircmbitos estaduais e interestaduais participados

pelo GTH garantem a possibilidade de estimular na equipe uma educaccedilatildeo crescente para a

importacircncia das accedilotildees relativas ao processo de humanizaccedilatildeo ao atendimento do indiviacuteduo

Estes cursos satildeo ministrados na teoria e na praacutetica sendo oferecidos no final materiais

para estudo e reflexatildeo de praacuteticas de humanizaccedilatildeo (CASSATE CORREA 2004)

Estaacute incluso como funccedilatildeo do Programa tambeacutem a divulgaccedilatildeo de accedilotildees o

desenvolvimento e troca de ideacuteias que estejam dando certo e possam ser utilizadas em

outros locais e a troca de informaccedilotildees

39

Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

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proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

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7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

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Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 40: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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Portanto o significado da palavra ―cuidado no atendimento seria promover a

dignidade eacutetica ou seja atraveacutes do diaacutelogo realizar a construccedilatildeo de uma nova cultura na

assistecircncia na qual o ouvir se faz presente para usuaacuterios e cuidadores Para isso eacute preciso

que haja o aumento da co-responsabilidade dos diversos colaboradores do SUS para que

seja possiacutevel a construccedilatildeo de uma autecircntica rede de cuidado agrave sauacutede onde se obtenha a

qualidade no atendimento como resultado de um processo de trabalho consciente que

produz sujeitos e organizaccedilatildeo

A divergecircncia de ideacuteias os mecanismos de decisatildeo o planejamento as estrateacutegias

de implantaccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo mas principalmente como estes satildeo processados devem

participar na construccedilatildeo de trocas solidaacuterias e comprometidas com a produccedilatildeo de sauacutede

Pode-se traduzir esta co-responsabilidade em um modelo de gestatildeo que esteja em

comprometimento com a democracia institucional onde haja espaccedilo de construccedilatildeo coletiva

formados pelos atores do SUS

Eacute neste Coletivo Organizado que haacute a produccedilatildeo de trabalhos levando em

consideraccedilatildeo as necessidades e prioridades dos sujeitos e em conjunto com a produccedilatildeo da

instituiccedilatildeo tem-se a produccedilatildeo dos indiviacuteduos mais autocircnomos e singulares Por meio da

―poliacutetica do cuidado o setor de sauacutede torna-se mais distante da racionalidade gerencial

hegemocircnica colocada pelo mercado capitalista que atraveacutes da flexibilidade da gestatildeo

proporciona um tipo de seduccedilatildeo que enfeiticcedila os trabalhadores e faz com que os mesmos

permaneccedilam em um ciclo de manipulaccedilatildeo e controle alienante (GENOVEZ et al 2005)

O coletivo no entanto encontra-se comprometido com a participaccedilatildeo dos gestores

trabalhadores e usuaacuterios ou seja com a autonomia do sujeito e seu serviccedilo O caminho a

ser percorrido para que este Sistema se torne qualificado eacute decidido na poacutelis na relaccedilatildeo

entre homens e nas relaccedilotildees sociais de forma que todos os interessados decidem se eacute

prioritaacuteria a ampliaccedilatildeo de um serviccedilo em detrimento de outro ou a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo

fiacutesico hospitalar

Segundo Benevides e Passos (2005) pode-se entatildeo conceituar cuidado em sauacutede

como um processo contiacutenuo visando sempre accedilotildees em defesa da vida na qual todo

momento da histoacuteria precisaria sofrer adaptaccedilotildees e ser aprimorado No mesmo tempo seria

a implantaccedilatildeo de um espaccedilo para aumentar os laccedilos entre os cidadatildeos Portanto de acordo

com esta poliacutetica o termo ―cuidar em sauacutede pode ser considerado como um caminho para

alcanccedilar a qualificaccedilatildeo da atenccedilatildeo e da gestatildeo em sauacutede no SUS no decorrer de sua

existecircncia tendo que caminhar para que se constitua como vertente orgacircnica do mesmo

O SUS instituiacutedo contempla no seu ideaacuterio a organizaccedilatildeo da rede de atendimento agrave

sauacutede a partir da Atenccedilatildeo Baacutesica recomendando como filosofia a praacutetica do atendimento

baseado no cuidado na humanizaccedilatildeo desse cuidado A Atenccedilatildeo Baacutesica enquanto porta de

entrada do cidadatildeo brasileiro ao sistema puacuteblico de sauacutede inclui a humanizaccedilatildeo do

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

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proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

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7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

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Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 41: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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atendimento considerando a ambiecircncia e como uma de suas accedilotildees o acolhimento ao

usuaacuterio (SOUSA 2002)

A palavra ―cuidado pode ser entendida como uma palavra utilizada para falar da

melhoria da qualidade do atendimento aos usuaacuterios na sauacutede Para o Ministeacuterio da Sauacutede

pode ser considerada como uma intervenccedilatildeo a fim de tornar o mesmo consoante e

integrado aos valores da vida e das relaccedilotildees humanas (BOSI UCHIMURA 2007)

A relaccedilatildeo profissional-usuaacuterio deve ser baseada em princiacutepios de atenccedilatildeo e respeito

de acordo com Cohn (1999)

() a desumanizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e paciente tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento das denuacutencias e processos de promoccedilatildeo de responsabilidade juriacutedica e penal contra profissionais de sauacutede (COHN 1999 p 15)

Diante do agravamento desta problemaacutetica surge a necessidade de reelaborar a

atendimento dado aos usuaacuterios da sauacutede ndash natildeo somente a estes mas a todas as aacutereas de

assistecircncia Nota-se atraveacutes disto que nos uacuteltimos anos redes de sauacutede vecircm sendo

ampliadas a fim de que esta humanizaccedilatildeo seja cumprida de um modo concreto no entanto

seu investimento eacute maior perceptiacutevel atraveacutes de uma superestrutura porque se se

nivelando os niacuteveis de atendimento realizados nos uacuteltimos tempos percebe-se que ainda haacute

uma grande defasagem e desorganizaccedilatildeo na efetivaccedilatildeo dos direitos sociais referentes agrave

sauacutede (BOSI UCHIMURA 2007)

Natildeo basta assim ampliar a estrutura de rede mas qualificar a sua estrutura ndash

recursos fiacutesicos humanos equipamentos satildeo importantes e primordiais para o investimento

na qualificaccedilatildeo profissional melhorando otimizando e humanizando suas accedilotildees Na

precarizaccedilatildeo destes serviccedilos aleacutem do usuaacuterio o profissional de sauacutede tambeacutem eacute

penalizado pois eacute ele quem lida todos os dias com as necessidades dos indiviacuteduos

sofrendo represaacutelias e outros condicionamentos que as pessoas empregam sobre mesmos

mediante a situaccedilatildeo de precariedade que passam (HENNINGTON 2008)

Ainda segundo Hennington (2008) diante dos problemas emergentes da poliacutetica

econocircmica na aacuterea social e de emprego (desvalorizaccedilatildeo salarial etc) O trabalhador de

forma geral e mais especificamente da sauacutede natildeo consegue suprir suas necessidades de

subsistecircncia sendo forccedilado a desenvolver outras atividades muitas vezes em dois ou trecircs

hospitais perdendo o contato com a famiacutelia reduzindo as horas distintas ao lazer a casa e

ao descanso

Segundo Puccini e Ceciacutelio (2004) as relaccedilotildees entre usuaacuterio e redes de sauacutede por

meio de seus colaboradores devem ser entendida e praticada por pelos profissionais de

sauacutede de forma respeitosa isto porque o primeiro tratamento que o paciente vai receber

41

proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

42

7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

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Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

45

REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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proveacutem da atitude de como eacute recebido no local da consulta das caracteriacutesticas desse local

suas cores e odores da forma como eacute cumprimentada a intensidade do aperto de matildeo a

verbalizaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo pessoal de quem se coloca agrave disposiccedilatildeo deste ser que sofre

isto tem que ser de forma clara e afaacutevel para influenciar no resultado do tratamento como

um todo

O cuidado em sauacutede deve abranger as dimensotildees fiacutesica psiacutequica soacutecio-cultural e

espiritual onde natildeo atender qualquer uma dessas realidades da vida humana resultaraacute num

desacerto quanto agrave humanizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos pacientes e suas necessidades se natildeo

forem atendidas de formas adequadas podem contribuir para um maior desconforto e

consequentemente podendo levar ao agravamento de sua doenccedila

Considera-se ―cuidado como um conceito que revive para dar mais valor agraves

caracteriacutesticas da pessoa humana Para que a recuperaccedilatildeo seja total e verdadeira eacute

preciso uma equipe que tenha consciecircncia dos obstaacuteculos e desafios a serem enfrentados e

dos proacuteprios limites a serem superados (TEIXEIRA 2005)

De acordo com Arone e Cunha (2007) mesmo com acesso agraves tecnologias

avanccediladas e maiores chances de melhorar a prestaccedilatildeo de serviccedilos hospitalares e sua

humanizaccedilatildeo natildeo eacute isto que vem acontecendo Estes recursos poreacutem parecem estar mais

ligados agraves propostas de investimentos na estrutura fiacutesica de preacutedios e outras aacutereas que

natildeo implicam na mudanccedila e melhoria do processo e humanizaccedilatildeo e da eacutetica Com certeza

tais procedimentos tambeacutem satildeo importantes em uma instituiccedilatildeo poreacutem natildeo podem deixar

de lado a base de toda esta estrutura que estaacute na forma de relacionamento com pacientes

e familiares que se daacute atraveacutes do cuidado

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7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

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Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

Page 43: Comunicação: tecnologia leve para a interação dos saberes ... · No que diz respeito à interação dos saberes a práticas de saúde, permeados pela linguagem/cultura, a enfermagem

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7 CONSIDERACcedilOcircES FINAIS

De acordo com o que foi possiacutevel constatar com a realizaccedilatildeo da pesquisa eacute possiacutevel

verificar que as praacuteticas de sauacutede do enfermeiro da ESF implicam na utilizaccedilatildeo de

tecnologias leves como instrumentos da cultura que permitem a otimizaccedilatildeo do trabalho na

Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Atraveacutes da realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel compreender

que a enfermagem sempre esteve ligada agrave questatildeo do cuidado mas pensar em cuidado

requer antes de tudo a condiccedilatildeo do saber cuidar O saber cuidar implica na prestaccedilatildeo de

assistecircncia de modo que seja possiacutevel minimizar o sofrimento fiacutesico e psiacutequico pela qual

vem passando o assistido

O trabalho humano na atualidade coexiste com a presenccedila das novas tecnologias

Observa-se que muitas vezes ele soacute se torna viabilizado com o entrelaccedilamento dessas

tecnologias em seus espaccedilos A tecnologia pode ser essencial na execuccedilatildeo das accedilotildees em

sauacutede e por esse motivo desvincular sauacutede e tecnologia hoje torna-se impossiacutevel

No decorrer do trabalho conceituou-se o termo tecnologia em sauacutede ressaltando

suas implicaccedilotildees no trabalho da equipe de sauacutede Discutiu-se que as tecnologias em sauacutede

se presentificam ―no fazer nas accedilotildees dialoacutegicas Accedilotildees que se baseiam somente em

equipamentos e em saberes ―esteriotipados produzem a loacutegica de um trabalho morto o que

natildeo coanuda com os princiacutepios de ―fazer sauacutede do SUS e da ESF

Uma das propostas deste trabalho foi apresentar um breve histoacuterico do SUS

apresentando sua relaccedilatildeo com a necessidade de estruturaccedilatildeo de uma praacutetica mais

humanizada onde o cuidado a atenccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo estejam presentes como

tecnologias leves que permeiam as accedilotildees das Unidades Baacutesicas em Sauacutede Por meio desta

discussatildeo constatou-se que estas Unidades de Sauacutede tecircm um papel fundamental na

promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo

Cabe ressaltar que as tecnologias em sauacutede se estruturam em trecircs eixos sendo as

tecnologias duras as leve-duras e as leves Por mais que essas tecnologias se inter-

relacionem a tecnologia considerada essencial para o ser humano eacute a tecnologia das

relaccedilotildees Por esse motivo eacute essencial que o acolhimento seja uma atitude presente na

relaccedilatildeo profissional e usuaacuterio

A presenccedila das tecnologias leves no processo do trabalho em sauacutede objetiva a

produccedilatildeo de accedilotildees de cuidado que devem estar presentes nas relaccedilotildees de reciprocidade e

de interaccedilatildeo A produccedilatildeo dessas relaccedilotildees conduz um atendimento global onde haacute o resgate

da singularidade onde o usuaacuterio adquire cidadania e autonomia

43

Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

44

vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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Diante dos objetivos apresentados pela pesquisa observa-se que as tecnologias em

sauacutede fazem parte da proposiccedilatildeo de uma accedilatildeo integrada em sauacutede uma vez que as

tecnologias leves como o cuidado e a comunicaccedilatildeo se fazem essenciais para que as accedilotildees

das Unidades Baacutesicas em Sauacutede sejam resolutivas pois convidam a populaccedilatildeo a uma

relaccedilatildeo mais estreita com as equipes

Observa-se que a ESF ainda se trata de uma programa recente que data da deacutecada

de 90 e que ainda haacute muito o que ser aprimorado no entanto a utilizaccedilatildeo desses

tecnologias como ferramenta resolutiva da Estrateacutegia de Sauacutede da Famiacutelia podem ser

fundamentais para o sucesso do trabalho das equipes

Para que o cuidador possa assistir o ser humano de uma forma integral se faz

necessaacuterio muito mais do que conhecimento teacutecnico eacute necessaacuterio o desenvolvimento de

habilidades como a comunicaccedilatildeo e a empatia Eacute preciso que as relaccedilotildees sejam mais

horizontais com vistas na efetivaccedilatildeo do viacutenculo entre o profissional e o usuaacuterio

E para isso o profissional tem que ser despido deste algueacutem que eacute o detentor de

conhecimentos e teacutecnicas para ser somente o ser humano aquele que tambeacutem sofre e por

esse motivo sabe compreender o sofrimento do outro Esse profissional deve ser aquele que

natildeo somente assiste mas que tambeacutem acolhe isto sim eacute a promoccedilatildeo de uma assistecircncia

digna impactada positivamente na comunicaccedilatildeo na relaccedilatildeo da equipe e no

desenvolvimento de um processo compartilhado entre os atores do sistema de sauacutede

Eacute nesses momentos de anguacutestia da presenccedila da dor que eacute verificada com maacutexima

precisatildeo da fragilidade da vida e eacute nesse momento que o ser humano necessita de maior

acolhimento

Sabe-se que as instituiccedilotildees todas existem para atender ao ser humanidade no

entanto nem todas elas tecircm a noccedilatildeo do conceito de ―humanidade No caso das instituiccedilotildees

de sauacutede quando satildeo procuradas eacute porque algum tipo de sofrimento jaacute se encontra

instalado

Quando dizemos sofrimento seja mental ou fiacutesico natildeo satildeo somente oacutergatildeos tecidos

ou patologias que estatildeo sendo tratados por traacutes de tudo existe um ser humano que precisa

de atenccedilatildeo e respeito

Cabe aos profissionais de sauacutede e em especial aos profissionais de Enfermagem

foco do presente trabalhar repensar sua atuaccedilatildeo e suas praacuteticas de forma a verificar novas

formas de atendimento que atendam ao princiacutepio eacutetico de atenccedilatildeo aos usuaacuterios dos mais

diversos setores da sauacutede

O profissional da enfermagem pode funcionar como um elo entre a instituiccedilatildeo e as

famiacutelias de forma a tranquilizaacute-las atraveacutes da explicaccedilatildeo dos procedimentos dos

procedimentos utilizados O que realmente tanto famiacutelia quando paciente necessitam eacute de

atenccedilatildeo e acolhimento cabe ao enfermeiro ter sensibilidade certa intencionalidade

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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vinculada ao campo do cuidador ao seu modo de ser a subjetividade reorganizar sua

praacutetica assistencial e estabelecer um novo processo de trabalho com a incorporaccedilatildeo destas

tecnologias leves ao trabalho vivo em ato para prestar uma assistecircncia baseado no cuidado

Espera-se que a realizaccedilatildeo deste trabalho possa contribuir para que noacutes

profissionais de enfermagem possamos refletir um pouco mais sobre nossas accedilotildees de

forma a construir uma praacutetica de atenccedilatildeo ao ser humano com empatia humanizaccedilatildeo

prestando uma assistecircncia digna Cuidar antes de uma necessidade constitui-se numa

obrigaccedilatildeo dos estabelecimentos de sauacutede

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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REFEREcircNCIAS ALVES V S Um modelo de educaccedilatildeo em sauacutede para o Programa Sauacutede da Famiacutelia pela integralidade da atenccedilatildeo e reorientaccedilatildeo do modelo assistencial Universidade Federal da Bahia (ISCUFBA) Salvador Ba Comunic Sauacutede Educ v9 n16 p39-52 set2004fev 2005 ANDRADE L O M et al A Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia In DUNDAN B B SCHMIDT M I GIUGLIANI E R J (eds) Medicina Ambulatorial condutas de atenccedilatildeo primaacuteria baseadas em evidecircncias Porto Alegre Artmed 2006 ANDRADE M M Introduccedilatildeo agrave metodologia do trabalho cientiacutefico 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1999 ARONE E M CUNHA I C K O Tecnologia e humanizaccedilatildeo desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistecircncia Rev bras enferm Brasiacutelia v 60 n 6 dez 2007 BARRA DCC et al Evoluccedilatildeo histoacuterica e impacto da tecnologia na aacuterea da sauacutede e da enfermagem Rev Eletr Enf8(3)422-30 2006 BAYER GF et al Populaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX alguns dados RADISFIOCRUZ Dados 21-8 1982 BENEVIDES R PASSOS E A humanizaccedilatildeo como dimensatildeo puacuteblica das poliacuteticas de sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva v 10 n 3 p 561-571 julset 2005 BEUTER M Expressotildees luacutedicas no cuidado elementos para pensar fazer a arte da enfermagem [tese de doutorado] Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna NeryUFRJ 2004

BOSI MLM UCHIMURA K Y Avaliaccedilatildeo da qualidade ou avaliaccedilatildeo qualitativa do cuidado em sauacutede Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 n 1 Fev 2007 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo n 196 de 10 de outubro de 1996 1996 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Informe sobre a Reforma do Setor Sauacutede no Brasil Brasiacutelia 1995 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede O Desenvolvimento do Sistema Uacutenico de Sauacutede avanccedilos desafios e reafirmaccedilatildeo dos seus princiacutepios e diretrizes Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ndash 2 ed atual ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2003 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de anaacutelise de situaccedilatildeo de sauacutede Sauacutede Brasil 2005 Uma analise da situaccedilatildeo de sauacutede no Brasil Brasiacutelia 2005 BUSS P M Sauacutede e desigualdade o caso do Brasil In BUSS P M LABRA M E (org) Sistemas de Sauacutede continuidades e mudanccedilas Satildeo Paulo - Rio de Janeiro Hucitec - Fiocruz1995

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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COHN A Sauacutede no Brasil poliacuteticas e organizaccedilotildees de serviccedilos 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1999 CAMPOS G W S Cliacutenica e sauacutede coletiva compartilhadas teoria Paideacuteia e reformulaccedilatildeo ampliada do trabalho em sauacutede In CAMPOS G W S et al (eds) Tratado de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro Hucitec 2006 CASSATE JC CORREA AK Humanizaccedilatildeo do atendimento em sauacutede conhecimento veiculado na literatura de enfermagem brasileira Revista Lat Amer de Enfermagem 13(1) p105-111 2004 COTTA RMM MENDES FF e MUNIZ JN Descentralizaccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede ―do imaginaacuterio ao real Viccedilosa UFV 1998 CECIacuteLIO LCO As Necessidades de Sauacutede como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equumlidade na Atenccedilatildeo em Sauacutede Rio de Janeiro ABRASCO 2001 DESLANDES S F Anaacutelise do discurso oficial sobre humanizaccedilatildeo da assistecircncia hospitalar Ciecircnc Sauacutede Colet v9 n1 p7-13 2004 FIBGE Anuaacuterio estatiacutestico do Brasil Rio de Janeiro 1992 FORTES PAC Eacutetica direitos dos usuaacuterios e poliacuteticas de humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo agrave sauacutede Sauacutede soc Satildeo Paulo v 13 n 3 Dez 2004

GAUDERER EC Os direitos do paciente um manual de sobrevivecircncia 3ordf ed Rio de Janeiro Record 1991 GENOVEZ CBA et al Humanizaccedilatildeo no cuidado de enfermagem hospitalar abordagem sobre os programas do Ministeacuterio da Sauacutede Ciecircnc cuid sauacutede 4(3)269-275 set-dez 2005 GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 4ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2007 GONCcedilALVES RBM Tecnologia e Organizaccedilatildeo Social das Praacuteticas de Sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 1994 HENNINGTON E A Gestatildeo dos processos de trabalho e humanizaccedilatildeo em sauacutede reflexotildees a partir da ergologia Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo 42(3) 555-61 2008 HOLANDA A B Novo Aureacutelio Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 LARAIA RB Cultura um conceito antropoloacutegico 13ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2000

LESSA I MENDONCcedilA GAS e TEIXEIRA MTB Doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis no Brasil dos fatores de risco ao impacto social Bol Oficina Sanit Panam 120 (5) 389-413 1996 LEacuteVITAS E Humanismo do outro homem Petroacutepolis Vozes 1993 MARCONI M de A LAKATOS E M Fundamentos de metodologia cientiacutefica 4ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Satildeo Paulo Atlas 2001 p 186-187

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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MENDES E V Uma agenda para a sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1996 MENDES HWB Praacutetica profissional e eacutetica no contexto das poliacuteticas de sauacutede Dissertaccedilatildeo de mestrado Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Faculdade de Medicina de Botucatu Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva Botucatu 1999 175p MENDES IAC Enfoque humaniacutestico agrave comunicaccedilatildeo em enfermagem Satildeo Paulo Sarvier 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido a micropoliacutetica do Trabalho Vivo em sauacutede In MERHY E E ONOCKO R (org) Agir em sauacutede um desafio para o puacuteblico Satildeo Paulo Hucitec 1997 MINAYO M CS O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo HUCITEC 2004 MOYSEacuteS MAA COLLARES CAL Inteligecircncia abstraiacuteda crianccedilas silenciadas as avaliaccedilotildees de inteligecircncia Psicologia USP 8 (1)1-18 1997

ORLANDI E P As formas do silecircncio no movimento dos sentidos 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Unicamp 2003 PEREIRA C A Poliacutetica Puacuteblica como Caixa de Pandora Organizaccedilatildeo de Interesses Processo Decisoacuterio e Efeitos Perversos na Reforma Sanitaacuteria Brasileira - 1985-1989 Dados Rio de Janeiro v 39 n 3 1996 PIRES D Reestruturaccedilatildeo produtiva e trabalho em sauacutede no Brasil Satildeo Paulo Anna Blume 1998 POTTER P A PERRY A G Grande tratado de enfermagem praacutetica cliacutenica e praacutetica hospitalar Satildeo Paulo Livraria Santos Editora 1998 PUCCINI PT e CECILIO LCO A humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e o direito agrave sauacutede Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 20 (5) 1342- 1353 2004 RIBEIRO E M PIRES D e BLANK V L A teorizaccedilatildeo sobre o processo de trabalho em sauacutede como instrumental para anaacutelise do trabalho no Programa de Sauacutede da Famiacutelia Cad Sauacutede Puacuteblica 20(2) 438-446 2004 ROSSI FR LIMA MADS Acolhimento tecnologia leve nos processos gerenciais do enfermeiro Rev bras enferm Brasiacutelia v 58 n 3 Junho 2005 SADALA ML A STEFANELLI M C Desenvolvendo a habilidade de comunicaccedilatildeo RevPaulEnf v14 n23 p66-76 1995 SANTOS M Sauacutede e ambiente no processo de desenvolvimento Ciecircnc Sauacutede Coletiva 2003 vol8 n1 [cited 2010-04-27] pp 309-314 SCHRAIBER L No encontro da teacutecnica com a eacutetica o exerciacutecio de julgar e decidir no cotidiano do trabalho meacutedico Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)123-140 1997 SOUSA M F de Os sinais vermelhos do PSF Satildeo Paulo HUCITEC 2002

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009

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TAKEDA S A organizaccedilatildeo de Serviccedilos de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede In DUNCAM B et al Medicina Ambulatorial Condutas de Atenccedilatildeo Primaacuteria Baseadas em Evidecircncia 3ordf ediccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2004 TEIXEIRA RR Humanizaccedilatildeo e atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 p 585-597 julset 2005 TEIXEIRA RR Modelos comunicacionais e praacuteticas de sauacutede Interface ndash Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo 1(1)7-42 1997 TOLEDO LCM Humanizaccedilatildeo do edifiacutecio hospitalar um tema em aberto (2007) Disponiacutevel em lthttp mtarquiteturacombrHUMANIZACcedilAtildeO_20EDIFICIO_HOSPITALAR pdfgt Acesso em 20 nov 2009