comunicação e linguagem musical

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      E       A       D Texto, Coerência e Coesão 2 1. OBJETIVOS Compreender o que é discurso e o que é t exto. Perceber a importância dos fatores de textualidade para a qualidade de um texto. Identificar os recursos coesivos em um texto. Aperfeiçoar a produção te xtual, de forma que os textos se-  jam dotados de coerência e coesão e bem argumentados. 2. CONTEÚDOS • Conceito de texto e de discurso. Fatores de textualidade: intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade e informatividade. • Coerência. • Coesão: ref erencial e sequencial.

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Texto, Coerência e Coesão

2

1. OBJETIVOS

• Compreender o que é discurso e o que é texto.

• Perceber a importância dos fatores de textualidade para aqualidade de um texto.

• Identificar os recursos coesivos em um texto.

• Aperfeiçoar a produção textual, de forma que os textos se- jam dotados de coerência e coesão e bem argumentados.

2. CONTEÚDOS

• Conceito de texto e de discurso.

• Fatores de textualidade: intencionalidade, aceitabilidade,situacionalidade, intertextualidade e informatividade.

• Coerência.

• Coesão: referencial e sequencial.

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3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE

Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante quevocê leia as orientações a seguir:

1) Leia o Glossário atentamente e tenha sempre em menteo Esquema de Conceitos-chave. Isso favorecerá e facili-tará seu aprendizado e desempenho.

2) Como afirmamos na unidade anterior, a partir desta uni-dade, passaremos a estudar o nosso legítimo objeto deanálise: o texto escrito. Portanto, é de extrema impor-tância que você compreenda o que é um texto. Além dis-so, você deve atentar-se aos sete fatores de textualidadeapresentados, pois são eles que dão ao texto a proprie-

dade de se diferenciar de um "não texto".3) Nesta unidade, afirmamos que as línguas são conce-

bidas como sistemas de signos linguísticos. Mas o quesão signos linguísticos? "Mesa" é um exemplo de signolinguístico. Segundo Saussure (2000), o signo é a união,indissolúvel, de uma imagem acústica (o significante) aum conceito (o significado). Assim, temos a concepção,o conceito de mesa: objeto feito de material rígido, de

diferentes formatos e tamanhos, em torno do qual umaou mais pessoas se sentam para comer, estudar, con-versar, jogar etc. A esse conceito associamos a imagemacústica /'meza/. Você consegue compreender o que éimagem acústica? Pensemos em "cruílido". Isso não éum signo porque acabou de ser criado e não tem umsignificado, mas é uma imagem acústica. Leia "cruílido".Agora, feche os olhos e pronuncie essa suposta palavra

em silêncio, ou seja, sem emitir voz e sem mover os lá-bios. Conseguiu? Certamente! Temos, então, a imagemacústica, que fica gravada no cérebro. Se associarmosum conceito à imagem acústica "cruílido", passaremos ater um signo linguístico. Todas as palavras de uma línguasão signos linguísticos.

4) Para que você compreenda bem os fatores de textuali-dade, é interessante que procure identificar cada um de-les em outros textos, além dos aqui apresentados. Tentealiar, pois, a teoria à prática.

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5) É importante que você se atente, sobretudo, aos concei-tos de coesão e coerência. Esses dois fatores de textuali-dade são os que estão centrados no texto propriamentedito; os outros fatores, segundo alguns linguistas, estãomais voltados ao usuário e à situação de comunicação.

6) Haverá situações, nesta unidade, em que se analisarãotextos, identificando os mecanismos de coesão utiliza-dos. Assim, é necessário, muitas vezes, voltar a essesexemplos, a fim de que se tenha uma melhor compreen-são dessas análises.

7) Para aprofundar os seus conhecimentos acerca do tex-to e dos fatores de textualidade (sobretudo coerência ecoesão), indicamos a obra: ANTUNES, Irandé. Lutar com

 palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.8) Nesta unidade, você aprenderá, no estudo da coesão

textual, as formas de referência anafórica e catafórica.Nesse sentido, "anáfora" e "catáfora" são termos utili-zados pelos linguistas Michael A. K. Halliday e RuqaiyaHasan, em sua obra Cohesion in English (1976).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE

Na unidade anterior, mencionamos o fato de que a comu-nicação acompanha o homem em toda sua vida. A comunicaçãoestá ligada à existência humana. Assim como nossa espécie foievoluindo, os meios de comunicação foram, cada vez mais, sendoaperfeiçoados.

Vimos, também, que a comunicação se efetua por meio daslinguagens. A linguagem verbal, que acompanha o ser humano hámilênios, concretiza-se por meio das línguas (português, francês,

 japonês, grego etc.), concebidas como sistemas de signos linguís-ticos.

Na comunicação, emitimos mensagens, codificadas pelossistemas de signos. As mensagens são estruturadas em textos. O

texto é, em última instância, o produto concreto de uma codifi-

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cação linguística. Em outros termos, podemos dizer que a men-sagem, que veicula informações, concretiza-se no texto  (faladoou escrito). O texto é, portanto, a manifestação concreta de umaatividade discursiva realizada por emissor e destinatário, que têmdeterminados propósitos comunicativos e que estão inseridos emum contexto específico de comunicação situado em determinadoespaço e determinado tempo. Emissor e destinatário são os sujei-tos do discurso. Pertencem a uma sociedade, têm determinadacultura e estão inseridos em algum momento da história.

Você deve observar que destacamos no parágrafo anterioras palavras "texto" e "discurso". O que elas significam? São sinô-

nimas?Alguns teóricos da Linguística, ciência que estuda a lingua-

gem verbal humana e as línguas, não estabelecem distinção entretexto e discurso; outros, sim. Vejamos algumas das diferenças que

se postulam entre texto e discurso. Antes, porém, precisamos falarde enunciação e enunciado.

De acordo com o linguista Benveniste (1989), a enunciaçãoé o ato de produzir um enunciado. A enunciação compreende oemissor (o sujeito enunciador), que se coloca como o eu do dis-curso, o destinatário, eleito pelo sujeito enunciador como o vocêou tu do discurso, e toda a situação de comunicação (situação daenunciação), na qual um eu, que tem alguns objetivos comunicati-vos, interage com um você ou tu em um certo tempo e em deter-minado local. O produto final desse ato de enunciação é o enun-ciado, ou seja, a frase concreta dotada de sentido. Muito teórico?Tomemos um exemplo ilustrativo:

Vai chover.

Essa frase, cada vez que é pronunciada em uma situação deenunciação diferente, ou seja, cada vez que é dita por uma pessoaespecífica para outra pessoa também específica e em uma situa-

ção específica, ganha novos sentidos, tornando-se, em cada caso,um enunciado diferente. Dessa forma, essa frase dita em um lu-

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gar onde reina a seca é um enunciado que tem o sentido de umabênção vinda do Céu; se dita em um local já inundado pela chuva,torna-se um enunciado cujo sentido é o de agravamento do pro-blema; se, ainda, em uma situação doméstica na qual há roupasestendidas no varal, for dita por uma mãe à sua filha, torna-se umenunciado cujo sentido é o de ordem (“vá recolher a roupa”).

Podemos dizer que a frase "Vai chover" é um texto que sóganha sentido, que só se torna enunciado, quando pronunciadaem uma situação de enunciação, ou seja, quando se torna discur-so. O discurso está, portanto, relacionado à enunciação; por isso,é dinâmico, modifica-se a cada momento em que é utilizado e por

quem é utilizado.Para melhor compreender a diferença entre texto e discurso,

busquemos as palavras de Abreu (2002, p 11):Disso tudo, podemos dizer que o texto é um produto da enuncia-ção, estático, definitivo e, muitas vezes, com algumas marcas daenunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo.

O discurso, entretanto, é dinâmico: principia quando o emissor rea-liza o processo de codificação e só termina quando o destinatário

cumpre sua tarefa de decodificação.

O autor utiliza o exemplo da Odisseia, obra do escritor gre-go antigo Homero, para ilustrar esses conceitos. Utilizemos outroexemplo. Pensemos em Os Lusíadas, de Camões, escritor do Clas-sicismo português.

O texto de Os Lusíadas é aquele que Camões escreveu, há

anos, todo em verso e que nos chega como material impresso ou,nos dias de hoje, até por sites da internet. O texto é, pois, mate-rializado, concreto, estático e definitivo. O texto de Os Lusíadas torna-se discurso quando pessoas diferentes, em épocas e lugaresdiferentes, o leem, decodificando-o e atribuindo-lhe novos senti-dos, ou, então, quando uma mesma pessoa o lê mais de uma vezem momentos diferentes de sua vida. O texto é sempre o mesmo,

mas o discurso muda a cada nova leitura desse mesmo texto. Nãose costuma dizer que a cada vez que lemos O pequeno príncipe (Le

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 petit prince, de Antoine de Saint-Exupéry) temos uma nova com-

preensão do livro? Em cada leitura que fazemos de um mesmo tex-to, somos pessoas diferentes, pois vamos sendo modificados pornossas alegrias e tristezas, pelas experiências vividas e, também,por outras leituras que vamos fazendo. Portanto, para cada leiturade um único texto, temos um discurso diferente.

Esperamos que você tenha compreendido a diferença entretexto e discurso. Embora o discurso e a enunciação sejam funda-mentais para a produção e a interpretação de um texto, estuda-remos, nesta e nas demais unidades, o texto propriamente dito:conceito, características, estrutura e tipos.

5. CONCEITO DE TEXTO E FATORES DE TEXTUALIDADE

Já falamos um pouco do texto. Sabemos que ele é concreto,estável e definitivo, mas, afinal, como conceituá-lo?

Se tivermos uma sequência de frases de qualquer extensão,essa sequência será um texto? Será um texto se, na leitura dessas

frases, percebermos uma unidade de sentido, se tais frases estive-rem, direta ou indiretamente, relacionadas a um mesmo assunto,denominado tópico discursivo.

Um texto não é, pois, uma sequência de frases desarticu-ladas, não é um amontoado de ideias sem nexo. Um texto é umconjunto cujas partes se inter-relacionam do ponto de vista se-

mântico, ou seja, do ponto de vista do significado. Um texto bemorganizado é aquele que compreendemos perfeitamente, é aqueleem que ficam claras as intenções comunicativas de seu produtor.

Vejamos um exemplo de uma sequência de frases que não podeser chamada de texto, pois não há uma unidade de sentido:

Carlos está sentado. Você vai à missa hoje? Cerca de vinte mil pessoasesperam a chegada do cantor. Os navios já partiram, mas a palavra"se bem que" nem era usada naquela época. Este bolo está delicioso.

Parece que vai chover, por isso a menina se chama Patrícia.

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É difícil imaginar uma situação de comunicação em que essa

sequência de frases pudesse ser considerada texto. Talvez pudesse

ser texto no movimento artístico niilista denominado Dadaísmo,

que ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial e em que o non-

sense, ou seja, a falta de sentido, era utilizado para denunciar oabsurdo da guerra.

Vejamos, a seguir, como alguns teóricos conceituam texto.

De acordo com Costa Val (1994, p. 3) “Um texto é ocorrência

lingüística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de uni-

dade sociocomunicativa, semântica e formal”.

Interpretemos essa conceituação:• Um texto pode ser escrito ou falado.

• Um texto não é definido em função de seu tamanho. Um

livro de trezentas páginas é um texto, assim como são tex-

tos pequenas frases nominais, como "Socorro!" e "Aten-

ção!", ou interjeições como "Ufa!" e "Ai!", desde que in-

seridas em um contexto de comunicação.

• Um texto é uma unidade semântica, isto é, tem um sig-

nificado, tem unidade de sentido, tem coerência, e é uni-

dade formal, ou seja, há elementos gramaticais que são

usados para tornar as sequências de frases articuladas,

coesas, ligadas entre si.

• Um texto é unidade sociocomunicativa, isto é, está inse-

rido em um contexto situacional específico e faz sentidopara o produtor e para o receptor.

O texto será entendido como uma unidade lingüística concreta(perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuáriosda língua (falante, escritor / ouvinte, leitor), em uma situação deinteração comunicativa específica, como uma unidade de sentido ecomo preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reco-nhecida, independentemente de sua extensão (KOCH; TRAVAGLIA,1995, p. 8-9).

Interpretemos essa outra conceituação:

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• O texto (falado ou escrito), como já dissemos, é concreto,

podemos visualizá-lo em uma folha de papel ou ouvi-lo,

ao contrário do discurso, que é dinâmico e cuja produção

é um processo que se inicia com o produtor (falante ou

escritor) e termina com a interpretação realizada pelo re-ceptor (ouvinte ou leitor).

• Um texto é texto quando, em determinada situação co-

municativa, faz sentido para o emissor e o receptor e

cumpre os objetivos comunicativos de ambos.

Muito bem! Resumindo, podemos dizer que o texto é uma

construção linguística de extensão variável que tem unidade de

sentido e que resulta de uma atividade discursiva que envolve pro-

dutor e receptor – sujeitos históricos inseridos em um momento

no tempo e em um espaço – e as condições de produção.

Já sabemos o que é texto. Entretanto, surgem duas pergun-

tas:

• O que faz que um texto seja texto, e não um conjunto de

frases desconexas?

• Que fatores estão relacionados a um texto bem estrutu-

rado?

Os teóricos da chamada Linguística Textual, área da Linguísti-

ca que estuda o texto, utilizam a palavra "textualidade".

"Textualidade" é "aquilo que converte uma seqüência lingüí -

-stica em texto" (KOCH; TRAVAGLIA, 1995, p. 45). A textualidade, por

sua vez, é assegurada pela coerência.

Coerência é um dos fatores que conferem textualidade ao

texto. Existem outros seis desses fatores que são estudados por

Beaugrande e Dressler (1983 apud  KOCH, 2004): intencionalidade,

aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade, informativida-

de e coesão. A seguir, estudaremos cada um deles.

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Intencionalidade

A intencionalidade está relacionada ao produtor do texto,que tem objetivos comunicativos, tais como: expressar sentimen-tos (função emotiva da linguagem); convencer, persuadir ou sedu-

zir o destinatário (função conativa); expressar-se pela arte (funçãopoética); explicar a linguagem pela linguagem (função metalinguís-tica); estabelecer contato (função fática); ou informar de maneiraobjetiva (função referencial).

Para atingir esses objetivos, o produtor tenta elaborar umtexto que seja coerente e coeso, que faça algum sentido para oreceptor.

Aceitabilidade

A aceitabilidade é "a contraparte da intencionalidade"(KOCH; TRAVAGLIA, 1995, p. 80). Está relacionada ao receptor, quetenta encontrar no texto uma unidade de sentido, coerência e coe-são e tenta reconstruir as intenções comunicativas do produtor.Diz respeito, portanto, ao esforço do receptor para compreender otexto e para cooperar com o produtor.

Situacionalidade

A situacionalidade está relacionada à situação de comunica-ção. O texto deve ser adequado ao contexto, à situação em que éutilizado. Segundo Koch (1996, p. 70),

Sabe-se que a situação comunicativa tem interferência direta namaneira como o texto é construído, sendo responsável, portanto,pelas variações lingüísticas. É preciso, ao construir um texto, verifi-car o que é adequado àquela situação específica: grau de formali-dade, variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc.

Dessa forma, por exemplo, em uma situação de conversa en-tre amigos em um bar, em uma sexta-feira de verão, às 18h, seriaestranho um deles dirigir-se ao outro de maneira extremamente

formal, dizendo: "Tão logo três sóis se tenham passado, devolver-

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existe um texto único. Todo texto é dialógico, uma vez que estabe-lece um "diálogo" com outro(s).

Informatividade

A informatividade diz respeito ao grau de informação veicu-lada por um texto. Observe a afirmação de Koch (1996, p. 71):

Um texto será tanto menos informativo, quanto mais previsível ouesperada for a informação por ele trazida. Assim, se contiver ape-nas informação previsível ou redundante, seu grau de informati-vidade será baixo [...]; se contiver, além da informação esperadaou previsível, informação não previsível, terá um grau maior de in-formatividade [...]; se, por fim, toda a informação de um texto forinesperada ou imprevisível, ele terá um grau máximo de informati-

vidade, podendo, à primeira vista, parecer incoerente por exigir doreceptor um grande esforço de decodificação [...].

Pense em um texto científico. Imagine uma tese de doutora-do na área de cardiologia. Para os leigos no assunto, dada a altíssi-ma carga de informação, o texto será de difícil compreensão. Veja,a seguir, um trecho de texto científico de conteúdo específico:

Levando-se em consideração a proposta funcionalista de integra-

ção dos níveis sintático, semântico e pragmático na análise dos fa-tos da língua, verificou-se que a relação concessiva pode ocorrerentre orações, entre sintagmas e entre atos de fala, e que, paracada um desses níveis sintáticos, há um conjunto de conectivosmais empregados. Além disso, a oração nuclear pode estabelecercom outra oração que esteja fora da construção concessiva umarelação hipotática, paratática ou de encaixamento. A posição dasfrases, orações e sintagmas concessivos foi associada às diferentesfunções discursivas que cada um desses segmentos desempenhano texto. Observou-se que as construções concessivas analisadas

preenchem o contínuo que vai da menor para a maior integraçãosintática do segmento concessivo ao segmento nuclear. Os dife-rentes segmentos concessivos (frases, orações e sintagmas) foramclassificados em satélites de predicação, satélites proposicionais esatélites ilocucionários.

Nele, faz-se referência a uma teoria linguística específica eutilizam-se termos e conceitos dessa teoria. O leitor que desco-nhecer a linguagem científica utilizada terá dificuldade de com-

preender o texto.

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Veja o caso seguinte, um trecho de conversa pelo Messenger(MSN):

Falante 1 olá!!!!!!!!!!

Falante 2 olá..............................

Falante 1 uhnnnnnnn

Falante 1 rsrsrsrs

Falante 1 faz um tempão

Falante 2 desculpe-me pela demora... rs

Falante 1 tudo bem..

Falante 1 como foi seu dia?

Falante 1 após a conversa ao telefone, claro

(Falante 2 fica algum tempo sem escrever)

Falante 1 que passa?

(mais um tempo)

Falante 2 oi...

Falante 2 imagina só

Falante 2 o velho problema

Falante 1 uhnnnnnnn

Falante 1 rsrsrs

Falante 2 anda a me incomodar..rsFalante 1 duendes, fadas e bruxas existem!

Falante 2 mas tudo sob controle..

Falante 1 certeza?

Nesse pequeno trecho de conversa pela internet, há muitas

informações que ficam implícitas, como, por exemplo, o que fazum tempão e qual é o velho problema. Isso acontece porque os

dois interlocutores têm o que se denomina conhecimento parti-lhado, isto é, ambos se conhecem e sabem do que estão falando,portanto nem tudo precisa ser dito explicitamente. Casos comoesse são típicos de conversa face a face ou pela internet.

Observe outra coisa nesse diálogo: para quem o está lendoe não participou dele, não parece incoerente, ilógico, o falante 2

dizer "o velho problema anda a me incomodar" e o falante 1 res-

ponder "duendes, fadas e bruxas existem!"? Parece, mas, no caso

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de língua falada e de bate-papo na internet, não há incoerência,uma vez que informações ficam implícitas porque são conhecidaspelos interlocutores ou estão na situação de comunicação. Acercadisso, observe o que diz Koch (2000, p. 117): "a coerência não estáapenas no texto, mas resulta de uma construção dos parceiros nasituação interativa".

É óbvio que, no texto escrito, ao contrário do falado, é im-

portante que as informações estejam claras e que a coerência es-teja centrada nele, não no contexto. Caso contrário, o leitor terádificuldade de entender o que está sendo dito. Na escrita, o escri-tor produz o texto e somente depois (podem ser séculos depois!)

alguém o lerá, isto é, o texto escrito não é o resultado de um traba-lho de que escritor e leitor participam ao mesmo tempo.

Prossigamos.

Ao contrário desses dois excertos de texto apresentados, oseguinte tem baixa informatividade, já que é redundante. Observeque a última frase destacada repete o que já havia sido dito:

"A formação das línguas neolatinas ou românicas, surgiramdevido ao latim, pois foi ele que originou essas línguas" (extraídode MARINELLI; ZAMPRONEO, 2001, p. 116, grifo nosso).

Além do problema da redundância, há o uso inadequado davírgula separando o sujeito do predicado, a concordância verbalinadequada (o núcleo do sujeito "a formação das línguas neola-tinas" é "formação", portanto o verbo deveria estar no singular:

“surgiu”) e, mais grave ainda, o uso indevido do verbo “surgir”,pois “formação" não surge, o que aconteceu foi que as línguas ro-mânicas (português, francês, italiano, espanhol etc.) surgiram dolatim, e não devido ao latim.

No texto escrito, temos de ser claros e coerentes e temos

de apresentar informações relevantes e pertinentes a fim de quepossamos atingir nossas intenções comunicativas e nosso receptorpossa compreender o que é dito. Nosso objetivo é que você se tor-

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ne um leitor crítico e que consiga produzir textos que realmentesejam unidades de sentido, dotados de coerência e coesão.

Coerência e coesão textuais serão nossos próximos assuntos.

6. COERÊNCIA

A coerência é um fator de textualidade fundamental; pode-mos dizer, o mais importante.

O que é coerência?

Coerência é a ausência de contradição em um texto.

Se tivermos um texto gramaticalmente perfeito (sem proble-mas, por exemplo, de concordância ou pontuação) e coeso (comoveremos, a coesão compreende as conexões que estabelecemosentre as partes do texto), necessariamente ele será coerente? Nãonecessariamente. Podemos ter um texto coeso e perfeito do pontode vista gramatical, mas incoerente; inversamente, podemos ter

um texto com problemas de coesão e problemas gramaticais, mas

coerente.

Embora questões gramaticais e coesão estejam relacionadasà coerência, ela não está na superfície do texto. A coerência é se-mântica, conceitual, e emana da relação harmoniosa entre ideias,argumentos, definições, conceitos ou fatos apresentados.

Leia atentamente o que afirma Koch (1996, p. 21) sobre coe-

rência:[...] a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se es-tabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz comque o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, serentendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteli-gibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidadeque o receptor tem para calcular o sentido deste texto.

Observe a definição de coerência de Fiorin e Savioli (2000,

p. 261):

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Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um textocoerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes seencaixam de maneira complementar de modo que não haja nadadestoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. Notexto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize comas demais.

Veja um exemplo de texto em que há incoerência:Eu estava passeando por uma avenida movimentada de Paris quan-do, de repente, do outro lado da avenida, vi uma pessoa muito pa-recida comigo.

Quando a vi, ela estava entrando em um bar da Avenida Paulista.Tínhamos o mesmo formato de corpo, a mesma aparência, o cabe-lo penteado de lado, o mesmo jeito de andar. Éramos realmentemuito parecidas.

Uma amiga estava comigo. Pedi a essa amiga que fosse até o barem que a pessoa entrou e tentasse conversar com ela com o pro-pósito de descobrir alguma coisa sobre a tal misteriosa pessoa. Eladisse à minha amiga que tinha vindo a São Paulo a passeio (Textoinspirado em redação escolar).

Você conseguiu perceber a incoerência? Fácil, não é verda-de? Onde estavam as três afinal? Em Paris, como se afirma no pri-

meiro parágrafo, ou na Avenida Paulista, em São Paulo, como seafirma nos dois outros parágrafos? Essa contradição é uma incoe-rência do texto.

Vejamos outro caso:

"É um texto não-literário. Apenas traz uma pequena notí -cia real com detalhes importantes e profundos. [...] É um texto noqual há poesia, rima" (extraído de MARINELLI; ZAMPRONEO, 2001,p. 114).

Aqui também você conseguiu perceber a incoerência? É con-traditório, incoerente, afirmar que em um texto que não é literário(não literário) haja poesia e rima.

Esperamos que você tenha conseguido perceber que a coe-rência diz respeito aos significados veiculados pelo texto. Um texto

em que há incoerência tem seu sentido seriamente comprometido.

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Quando você for escrever seus textos, observe com muitaatenção se as ideias apresentadas estão em harmonia, se há coe-rência.

7. COESÃO

Os linguistas costumam dizer que aceitabilidade, intenciona-lidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade sãofatores de textualidade centrados no usuário e na situação de co-municação. Coerência e coesão são fatores centrados no própriotexto.

Vimos que a coerência compreende as relações harmoniosasentre ideias, conceitos, definições, argumentos ou fatos apresen-tados no texto. Diz respeito, pois, à estrutura profunda do texto.

A coesão, por sua vez, embora também seja semântica, estárelacionada à estrutura superficial do texto. Ela está ligada à gra-mática da língua, ou seja, a elementos linguísticos e a expedien-tes sintáticos que estabelecem ligações, conexões, entre as partes

constituintes do texto.São elementos linguísticos que estabelecem a coesão tex-

tual:

• os pronomes relativos (“que”, “quem”, “o(s)/a(s) qual(is)”,“cujo(s,a,as)”, “onde’, “como”, “quanto”);

• os pronomes possessivos (“seu”, “minha”, “nossas”, “vos-sos” etc.);

• os pronomes pessoais (“ele”, “eles”, “ela”” etc.; “os”, “as”,“se”, “lhe” etc.);

• os pronomes demonstrativos (“esse”, “esta”, “isso”, “aqui-lo”, “aqueles’ etc.);

• os artigos definidos e indefinidos (“um”, “uma”, ‘o”, “as”etc.);

• as conjunções ("se", "mas", "e", "ou", "porque", "embo-ra", "logo", "pois", "portanto", "quando" etc.);

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• as preposições ("a", "até", "de", "em", "para" etc.);

• os advérbios ("ontem", "amanhã", "aqui", "lá" etc.).

São expedientes sintáticos que auxiliam o estabelecimentoda coesão:

• a concordância verbal e a nominal;

• a regência verbal e a nominal;

• a coordenação, a subordinação e a pontuação relaciona-da à organização das frases do texto.

Havia, em uma galáxia distante, um planeta chamado "Paz". Tudoera tranquilo, todos se amavam e se respeitavam. Nas guerras, ovencedor era quem distribuía mais amor e carinho. Lá existiam no

vocabulário das pessoas palavras como "por favor", "desculpe-me"e "muito obrigado". Não existiam drogas, porém não havia mortese disputas entre gangues (Texto inspirado em redação escolar).

Nesse trecho, o uso inadequado da conjunção "porém" geraincoerência textual. Por que isso acontece?

Isso acontece porque um problema relacionado à coesãopode comprometer as relações de significado e o sentido do texto,

uma vez que a coesão é a manifestação linguística das relaçõessemânticas e das relações lógicas do texto. Em outras palavras, po-demos dizer que a coesão é a manifestação, por meio de elemen-tos linguísticos (pronomes, conjunções, artigos, advérbios etc.), dacoerência subjacente, mais abstrata.

Leia com atenção estas palavras de Koch e Travaglia (1995,p. 13):

Ao contrário da coerência, a coesão é explicitamente revelada atra-vés de marcas lingüísticas, índices formais na estrutura da seqüên-cia lingüística e superficial do texto, sendo, portanto, de caráterlinear, já que se manifesta na organização seqüencial do texto. Énitidamente sintática e gramatical, mas é também semântica, pois,como afirma [sic] Halliday e Hasan (1976), a coesão é a relação se-mântica entre um elemento do texto e um outro elemento que écrucial para sua interpretação.

Conhecido o conceito de coesão, passemos da teoria à práti-ca. A seguir, analisaremos os expedientes coesivos em textos.

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Coesão referencial

Leia com bastante atenção o texto seguinte e vá observandoos elementos que foram destacados:

Prefácio

Durante dois anos, os professores Xacriabá em formação, no Pro-grama de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, rea-lizaram uma pesquisa, nas suas aldeias, sobre as tradições de seupovo. Esse trabalho resultou na escrita de três tipos de texto:

 – Narrativas, em verso, de acontecimentos e fatos importantes navida da comunidade Xacriabá: a luta pela posse da terra, a mortedo líder Rosalino, a formação dos professores.

 – Narrativas, em prosa, do massacre ocorrido em 1987, na aldeiaSapé, no município de São João das Missões, quando Rosalino Go-mes de Oliveira, pai do professor José Nunes de Oliveira, foi assas-sinado.

 – Coletâneas de contos tradicionais, que pertencem ao extensouniverso ficcional do sertão mineiro, transmitidos, oralmente, degeração a geração.

Os textos foram escritos num esforço conjunto dos professores,que ouviram, Ø gravaram e Ø traduziram, na forma escrita, histó-rias e casos dos seus pais, avós, tios, enfim, daqueles que detêm os

saberes tradicionais na aldeia.Pela escrita, eles pretendem constituir, esteticamente, novas ima-gens de sua comunidade. Escrever, para eles, é antes o ato políticode dar um sentido para sua existência, junto à sociedade brasileira.

Se os Xacriabá perderam, à força, sua língua, agora eles se apode-ram da língua portuguesa, dando-lhe uma entonação cabocla.

Como pesquisadores e professores das escolas Xacriabá, estes no-vos autores apontam para uma outra cena literária: a produção

comunitária do livro, livre do princípio da autoria, enraizada na ora-lidade. A grafia como um gesto de reafirmação da força política dequem, na conquista do próprio território, transforma as penas empoesia:

Para isso eu dou terras,

P'ros índios morar

Daqui para Missões

Cabeceira de Alagoinhas

Beira do Peruaçu até as Montanhas

P'ra índio não abusar de fazendeiro nenhum

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Eu dou terra com fartura p'ro índio morar.

A missão para a morada

O brejo para o trabalho

Os campos gerais para as meladas e caçadas

E as margens dos rios para as pescadas.

Dei, registrei, seleiPago os impostos

Por cento e sessenta réis

Assim é que Ø traduziram, em versos, um documento. Um dia, noCurso de Formação, no Parque Rio Doce, estávamos lendo O que é

literatura, de Marisa Lajolo (Coleção Primeiros Passos, Editora Bra-siliense). Creuza Nunes Lopes, professora Xacriabá, foi encarregadade transmitir oralmente aos colegas os resultados de sua leitura,suas reflexões sobre o tema tratado no livro. O que ela fez? Ø Foi

lá na frente da turma e Ø declamou versos que eram, literalmente,o texto ensaístico de Marisa Lajolo. A turma aplaudiu. Nós, profes-sores da UFMG, entendemos finalmente que a leitura é tambéma tradução do texto em uma cadência, um ritmo que não é outrosenão o Ø da tradição poética à qual pertencemos.

Assim, a História, a Geografia, a Literatura, a Filosofia, as CiênciasNaturais, a Matemática vão entrando pelos ouvidos e saindo emritmo Xacriabá, em forma de livros para Ø serem lidos em voz alta,decorados, recontados, em volta de uma fogueira, nas noites boni-

tas do cerrado, ou, quem sabe, numa boa sala de aula.

Maria Inês de AlmeidaProfª. de Literatura Brasileira na UFMG(SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Dispo-nível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002744.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2003, grifos nossos).

Já sabemos que, quando lemos um texto, esperamos que eletenha algum sentido, que ele nos informe algo. Para que um texto

seja uma unidade semântica, é necessário que ele seja coerente eque haja coesão, ou seja, conexão entre os parágrafos e dentro de-les. A conexão é a ligação, a articulação, entre as partes de um tex-to. Existem elos entre sequências de diferente extensão no texto.

Já mencionamos o fato de que a língua oferece aos falantesdiversos expedientes linguísticos cuja função é estabelecer a cone-xão entre os segmentos textuais. No texto apresentado, analisare-mos os elementos coesivos destacados.

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Se você observar atentamente, verificará que todos esseselementos têm em comum o fato de fazerem referência a outros.É o que Koch (1993) denomina "remissão". Quando, em um texto,um elemento remete a um outro, temos o que a autora chamacoesão referencial. As palavras no texto que têm a função de refe-rir-se a termos nele presentes são como pistas que nos auxiliam nainterpretação, já que é por meio delas que vamos estabelecendoos elos entre partes textuais.

No texto em tela, aparecem diversos elementos coesivosreferenciais. Comecemos nossa análise pelos pronomes  posses-sivos:

• “nas suas aldeias” e “seu povo": "suas" e "seu" fazem re-missão a "professores Xacriabá em formação" ("suas al-deias” = aldeias dos professores Xacriabá em formação;“seu povo” = povo dos professores Xacriabá em forma-ção);

• “seus pais": "seus" remete a "os professores", termo pre-sente no parágrafo em que ocorre "seus pais" ("seus pais”

= pais dos professores);• “sua  comunidade” e “sua existência": "sua", em ambos

os casos, faz remissão a "professores" ("sua comunidade”= comunidade dos professores; “sua existência"= existên-cia dos professores);

• “sua língua": "sua" retoma "os Xacriabá" ("sua língua" =língua dos Xacriabá);

• “sua leitura” e “suas reflexões": "sua" e "suas" fazem re-missão a "Creuza Nunes Lopes" ("sua leitura” = leitura deCreuza Nunes Lopes; “suas reflexões" = reflexões de Creu-za Nunes Lopes).

Em todos esses casos, os pronomes possessivos remetem atermos que já apareceram no texto e substituem-nos a fim de queo texto não fique repetitivo. Essa forma de remissão é chamada

anáfora. Referência anafórica é, portanto, a retomada de algumtermo que apareceu anteriormente no texto.

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Para mostrar a importância dos pronomes, vamos colocar,no lugar de dois deles, os termos que foram substituídos. Observecomo o texto fica redundante e mal elaborado:

Durante dois anos, os professores Xacriabá em formação, no Pro-grama de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, rea-

lizaram uma pesquisa, nas aldeias dos professores de Xacriabá emformação, sobre as tradições do povo dos professores de Xacriabáem formação.

Observe que os pronomes analisados aparecem no textosempre antecedendo um substantivo, como, por exemplo, em"seus pais". Nesse caso, são chamados pronomes adjetivos. Koch(1993) denomina esses pronomes "formas remissivas presas"; re-

missivas porque remetem a outros termos, e presas porque acom-panham substantivos.

Os pronomes possessivos anafóricos podem, entretanto,

ocorrer no texto sem acompanhar substantivos, funcionandocomo pronomes substantivos. Veja a frase:

Eu e Lúcia compramos um par de sapatos cada uma. O meu épreto; o seu, marrom.

Nela, "meu" e "seu" são "formas remissivas livres" (KOCH,1993), já que não acompanham substantivos.

Analisemos, agora, os pronomes pessoais:

• “eles pretendem” e “para eles": "eles" faz remissão a "osprofessores" ("eles pretendem” = os professores preten-dem; “para eles” = para os professores);

• “eles se apoderam": "eles" faz referência a "os Xacriabá"("eles se apoderam” = os Xacriabá se apoderam);

• “dando-lhe": "lhe" faz remissão a "língua portuguesa"("dando-lhe” = dando à língua portuguesa);

• “ela fez”: “ela” retoma “Creuza Nunes Lopes” (“ela fez” =Creuza Nunes Lopes fez).

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Esses pronomes também são anafóricos, pois retomam esubstituem termos que já apareceram.

Os pronomes pessoais oblíquos átonos "o(s)" e "a(s)", quefuncionam como objeto direto de verbo, também fazem coesão

anafórica. Observe:Comprei um livro sobre mitologia grega. Achei-o maravilhoso.

O pronome pessoal oblíquo átono "o" retoma e substitui"um livro sobre mitologia grega": "Comprei um livro sobre mitolo-gia grega. Achei-o maravilhoso (= achei o livro de mitologia gregamaravilhoso)”.

Passemos aos pronomes relativos:• “que  pertencem”: “que” remete a “contos tradicionais”

(“que pertencem” = contos tradicionais pertencem);

• “que  ouviram”: “que” retoma “(d)os professores” (“queouviram” = os professores ouviram);

• “que detêm": "que" faz remissão a "(d)aqueles" ("que de-têm" = aqueles detêm);

• “que eram”: “que” retoma “versos” (“que eram” = versoseram);

• “que não é outro": "que" faz remissão a "um ritmo" ("que

não é outro" = um ritmo não é outro);

• “à qual pertencemos": "à qual" remete a "tradição poéti-ca" ("à qual pertencemos” = pertencemos à tradição poé-

tica).Esses pronomes relativos anafóricos substituem os termos

que eles retomam.

Vejamos os pronomes demonstrativos:

• “esse trabalho": "esse" faz referência ao que se disse an-tes, ou seja, à realização do trabalho de pesquisa pelos

professores Xacriabá;

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• “daqueles que detêm os saberes tradicionais na aldeia":"aqueles" remete à expressão que vem depois "que de-têm os saberes tradicionais na aldeia";

• “estes novos autores": "estes" faz referência a "professo-

res Xacriabá".Enquanto os pronomes demonstrativos "esse" e "estes"

estão funcionando no texto analisado como anafóricos, pois re-metem a um termo que apareceu antes, "daqueles" está atuandocomo catafórico, uma vez que faz referência a um termo que vemdepois. Na referência catafórica (catáfora), remetemos a um ter-mo que aparecerá posteriormente no texto.

Veja outro exemplo de catáfora:

No dia de seu aniversário, desejo-lhe isto: saúde, amor, felici-dade e paz.

O pronome demonstrativo "isto" faz referência ao que vem

depois dos dois-pontos (saúde, amor, felicidade e paz).

Os pronomes demonstrativos, como vimos, podem fazer

anáfora ou catáfora. Em ambos os casos, os elementos a que taispronomes fazem referência estão presentes no próprio texto.

Esses pronomes podem, ainda, fazer dêixis, ou seja, ter comoreferente um elemento que não está no texto, mas na situação deenunciação. Observe a frase:

Você prefere este ou este?

Somente pela situação de enunciação, a qual envolve falan-tes, lugares e objetivos específicos, poderemos saber a que "este"e "este" fazem remissão. Se estivermos inseridos em uma situaçãona qual o falante tem na mão direita um sorvete e na esquerda umchocolate e se ele mostrar ao seu ouvinte a mão direita quandodiz o primeiro "este" e a esquerda quando diz o segundo "este",saberemos que o primeiro faz referência ao sorvete e o segundo,

ao chocolate.

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Na sequência, estudemos os advérbios do texto analisado:

• “Foi lá na frente da turma": "lá" (advérbio de lugar) faz ca-táfora, uma vez que remete a "na frente da turma", termoque vem a seguir;

• “assim é que traduziram": "assim" remete, por anáfora,ao poema anterior e às palavras nele contidas.

Vejamos, agora, o artigo indefinido:

• “apontam para uma outra cena literária": o artigo "uma",auxiliado pelos dois-pontos, faz referência catafórica,remetendo a "a produção comunitária do livro, livre doprincípio da autoria, enraizada na oralidade".

Além do uso catafórico, como nessa ocorrência do texto, oartigo indefinido também é utilizado para introduzir um termo

pela primeira vez. Já o artigo definido geralmente é utilizado comoanafórico, ou seja, faz remissão a algo que já foi mencionado. Ob-serve o excerto de texto seguinte:

Pouco depois viram passar, a alguma distância do lugar em que seachavam, uma velhinha, muito velha, encarquilhada e trêmula,

carregando um molho de lenha que havia catado na floresta. Cur-vada àquele peso, a custo caminhava a pobrezinha.

De súbito, a velha escorregou, e caiu no chão, soltando gritos la-mentosos. [...]

André propôs carregá-la até a casa, mas Miguel sossegou-o. Tiroudo bolso uma pomada, esfregou no lugar fraturado, e a velhinha depressa ficou curada, como se nada houvesse sofrido

(PIMENTEL, s.d., p. 3. Disponível em: <http://www.dominiopublico.

gov.br/download/texto/bn000137.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2008,grifos nossos).

Nele, quando o termo "velhinha" aparece pela primeira vez,ocorre com o artigo indefinido "uma". Depois, passa-se a utilizaro artigo definido "a", uma vez que esse termo já é um elementodado. É interessante verificar que "velhinha" é substituído pelasformas "pobrezinha" e "velha". Tem-se, neste caso, a chamada

coesão lexical, de que falaremos depois.

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Todos esses elementos analisados são gramaticais, ou seja,isolados de seu contexto linguístico, nada significam. Eles só têmsignificados nos textos em que ocorrem. Dessa forma, "lhe", iso-lado, não tem referente, portanto não tem significado específico.Entretanto, inserido no texto analisado, "lhe" passa a significar "àlíngua portuguesa" ("dando-lhe" equivale a "dando à língua por-tuguesa").

Tais elementos coesivos gramaticais, isto é, elementos queadquirem significados no contexto linguístico em que se inserem,são denominados por Koch (1993) "formas remissivas não-referen-ciais", as quais podem ser, como já mencionamos, presas (quando

acompanham substantivos) ou livres (quando não acompanhamsubstantivos).

Os próximos elementos do texto que estudaremos a seguirsão lexicais, isto é, ao contrário dos gramaticais, têm sentido por si

mesmos, pois "fazem referência a algo no mundo extralingüístico"(KOCH, 1993, p. 34). A autora denomina-os "formas remissivas re-ferenciais". Assim, por exemplo, no enunciado "Que animal lindo!

Como é o nome desse cachorro?", "cachorro" é uma forma remis-siva referencial: remissiva, porque remete a "animal"; referencial,porque sua referência (ou referente) é um animal que existe nomundo extralinguístico (o cachorro).

Vejamos, agora, cada um desses elementos lexicais.

Em "esse trabalho", "esse" (um pronome demonstrativo ad-

 jetivo anafórico, uma forma remissiva não referencial presa) re-mete a "uma pesquisa, nas suas aldeias, sobre as tradições de seupovo"; "trabalho", por sua vez, é uma forma nominal (um subs-tantivo) utilizada para fazer referência e dar nome à realização dapesquisa, pelos professores, em suas aldeias, sobre as tradições deseu povo, substituindo toda essa expressão.

"Três tipos de textos" faz referência catafórica aos três tipos

de narrativa elencados na sequência.

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"Acontecimentos" e "fatos" são expressões nominais (subs-tantivos) utilizadas para estabelecer catáfora, pois fazem referên-cia aos termos que virão no texto: "luta", "morte" e "formação".

As expressões destacadas em "a formação dos professores”,

“os textos", "esforço conjunto dos professores”, “pela escrita” e“a turma" remetem a essas mesmas expressões que aparecem an-tes. A repetição da mesma palavra também é um recurso coesivo.

Observe este excerto:

“Ouvi contar que, estando Antônio Carlos a ponto de espi-rar, um indivíduo se apresentara na casa onde se finava o grandeorador, instando por vê-lo" (NABUCO, 2000, p. 16, grifos nossos).

Nele, "o grande orador", uma expressão nominal, faz refe-rência a Antônio Carlos; ou seja, "Antônio Carlos" e "o grande ora-dor" dizem respeito a uma única pessoa.

Podemos, ainda, utilizar um sinônimo para retomar e substi-tuir um termo. Também é previsto o uso de palavra de significadomais abrangente (hiperônimo) ou de palavra de significado mais es-

pecífico (hipônimo). É o que ocorre nos nossos exemplos criados:

O menino  é esperto, inteligente e simpático. Esse guri  faz aalegria da casa. ("menino" e "guri" são sinônimos)

O cachorro não para de latir. Prenda esse animal. ("animal" éo hiperônimo)

Adoro pássaros. Beija-flor é o meu preferido. ("beija-flor" é ohipônimo)

De volta ao texto apresentado anteriormente, em "estes no-vos autores", "estes" remete, por anáfora, aos "professores Xacria-bá", termo que aparece no parágrafo como "pesquisadores e pro-fessores das escolas Xacriabá", e "novos autores" é uma expressão

utilizada para nomear esses professores.

Outro recurso coesivo muito utilizado em textos é o que se de-

nomina elipse. Como lembra Koch (1993, p. 47), a elipse tem valor re-ferencial, ou seja, a ausência de qualquer palavra também faz remis-

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são a termos que já apareceram ou que aparecerão no texto. Vejamoscasos de elipse, marcada pelo símbolo Ø, no texto analisado.

Em "Ø gravaram" e "Ø traduziram", o sujeito desses verbosestá elíptico (suprimido); a elipse, nesses casos, remete a "os pro-

fessores". Observe que o sujeito de "ouviram" é o pronome relati-vo "que", o qual remete também a "os professores".

Outros casos são:

• "Ø traduziram": a elipse remete a "novos autores", que,por sua vez, faz referência a "professores de Xacriabá";

• "Ø foi lá" e "Ø declamou": as elipses remetem a "ela",pronome que faz referência a "Creuza Nunes Lopes";

• "o Ø da tradição": a elipse remete a "ritmo" (o ritmo datradição);

• "para Ø serem": a elipse remete a "livros".

Embora não se trate de coesão referencial, é importante ve-rificarmos o conectivo "assim", conjunção utilizada para introduzir,no último parágrafo, a conclusão do texto.

Os conectivos fazem um outro tipo de coesão, a sequencial,termo utilizado por Koch (1993) e por Fávero (2000). Estudaremos,

a seguir, o que Koch (1993, p. 55) denomina "sequenciação frásti-ca", compreendida como o encadeamento, entre partes do tex-to (palavras, orações, frases e até parágrafos), estabelecido pelosconectivos, responsáveis por estabelecer relações semânticas deadição, adversidade, explicação, conclusão, causa, condição, tem-

po, comparação etc.

Coesão sequencial: sequenciação frástica

Leia os trechos de texto seguintes e observe atentamente osconectivos destacados.

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido queeles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e meti-do consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo.Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a

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minha narração; se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai estemesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardorancor (ASSIS, s.d., p. 1. Disponível em: <http://www.dominiopu-blico.gov.br/download/texto/bn000069.pdf>. Acesso em: 13 jul.2008, grifos nossos).

Ia entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da porta. A casa era a da Rua de Matacavalos, omês novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei detrocar as datas à minha vida só para agradar às pessoas que nãoamam histórias velhas; o ano era de 1857 (ASSIS, s.d., p. 2. Dis-ponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000069.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2008, grifos nossos).

No mais, tudo corria bem. Capitu gostava de rir e divertir-se, e, nosprimeiros tempos, quando  íamos a passeios ou espetáculos, eracomo um pássaro que saísse da gaiola. Arranjava-se com graça e mo-

déstia. Embora gostasse de jóias, como as outras moças, não queriaque eu lhe comprasse muitas nem caras, e um dia afligiu-se tantoque prometi não comprar mais nenhuma; mas foi só por pouco tem-

po (ASSIS, s.d., p. 87. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000069.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2008,grifos nossos).

Já estudamos o papel coesivo dos pronomes relativos. Ve-rificamos que eles retomam e substituem um termo que já apa-

receu no texto. Além disso, também fazem coesão sequencial, ouseja, ligam orações do texto. É o que ocorre com os relativos nostrechos analisados:

• que: liga a oração "Casmurro não está aqui no sentido" àoração "eles lhe dão";

• que: liga "mas no [= aquilo]" à oração "lhe propões o vul-go de homem calado e metido consigo".

• que: liga a oração "para agradar às pessoas" à oração"não amam histórias velhas";

• que: liga a oração "era como um pássaro" à oração "saísseda gaiola".

Observe que um outro "que" aparece no texto. Em "o meupoeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor", "que"

não é pronome relativo, pois não faz referência a outro termo. É

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um conectivo denominado conjunção integrante, já que integra o

objeto direto oracional "não lhe guardo rancor" à oração "o meu

poeta do trem ficará sabendo". O mesmo ocorre com "que" em

"não queria que eu lhe comprasse muitas nem caras”.

As conjunções coordenativas aditivas  “e” e “nem” apare-cem no texto ligando:

• palavras: “calado e  metido”, “rir e  divertir-se", "graça e 

modéstia", "muitas nem caras” ;

• orações: "ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da

porta", "Capitu gostava de rir e divertir-se, e, nos primei-

ros tempos, era como pássaro", "não queria que eu lhe

comprasse muitas nem caras, e um dia afligiu-se tanto”.

A conjunção coordenativa alternativa “ou” liga duas pala-

vras: “passeios ou espetáculos".

A conjunção coordenativa adversativa "mas" estabelece re-

lação de contraste, oposição, entre:

• a oração "que eles lhe dão" e a oração "no que me propôs

o vulgo de homem calado e metido consigo";

• a oração "o ano é que é um tanto remoto" e a oração "eu

não hei de trocar as datas à minha vida";

• a oração "prometi não comprar nenhuma" e a oração "foi

só por pouco tempo".

A preposição "para" é utilizada para indicar finalidade:

• a oração "para atribuir-me fumos de fidalgo" é a finalida-

de da oração "Dom veio por ironia”;

• a oração "só para agradar" é a finalidade da oração ante-

rior, "eu não hei de trocar as datas à minha vida", à qual

se liga.

A preposição “por”, em “Tudo por estar cochilando”, indica

causa.

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A conjunção subordinativa adverbial condicional  "se" co-necta duas orações: "Se não tiver outro daqui até o fim do livro"é a condição que, se satisfeita, implica o fato expresso na outraoração: "vai este mesmo".

A conjunção subordinativa adverbial temporal  “quando”liga:

• a oração "quando ouvi proferir o meu nome", que indicatempo, à oração principal "ia entrar na sala de visitas";

• a oração "quando íamos a passeios ou espetáculos", queindica tempo, liga-se à oração principal "nos primeirostempos, era (como um pássaro)".

A conjunção subordinativa adverbial comparativa  "como"estabelece relação de comparação: "[Capitu] era como  um pás-saro (que saísse da gaiola)" e "Embora [Capitu] gostasse de jóias,como as outras moças [gostavam]".

A conjunção subordinativa adverbial concessiva "embora"indica que o fato expresso na oração iniciada por essa conjunção

não é suficiente para impedir a ocorrência do fato expresso na ora-ção principal. No texto, Capitu não queria que Dom Casmurro lhecomprasse muitas joias caras, apesar de gostar delas.

A conjunção subordinativa adverbial consecutiva "que" in-dica a consequência da causa expressa pela oração em que ocorre"tanto": "um dia afligiu-se tanto [causa] / que prometi não com-

prar mais nenhuma [consequência]".

Você conseguiu perceber a importância de todos esses ele-mentos coesivos? Tente reler o texto e os trechos analisados eli-minando tais elementos. Você perceberá que os textos perdemmuito de seu sentido, o que comprova a importância da coesão naestruturação textual.

Uma vez que nem todos os conectivos ocorreram nos tre-

chos analisados, abordaremos, a seguir, as relações semânticasestabelecidas pelas chamadas conjunções e locuções conjuntivas.

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Conectivos: conjunções, locuções conjuntivas e seus valoressemânticos

Conectivos são elementos linguísticos que ligam partes do

texto, desde palavras até parágrafos, estabelecendo entre eles

diferentes relações de significado. São conectivos as preposições("por", "para" etc.), as conjunções ("e", "mas", "porque", "se",

"embora", "quando" etc.) e locuções conjuntivas ("ainda que",

"logo que", "depois que", "exceto se", "uma vez que" etc.). A se-

guir, vamos fazer uma breve revisão das conjunções, das locuções

conjuntivas e de seus significados.

 Adição

As conjunções “e” e “nem” e a correlativa “não  só...mas/

como também” estabelecem a relação de adição de ideias em um

texto. Observe os exemplos:

Não só estudo como também trabalho.

Não estudo nem trabalho.

No primeiro exemplo, é dito que a pessoa estuda e trabalha.No segundo, afirma-se que a pessoa não estuda e não trabalha.

 Alternância

A conjunção “ou” e as correlativas “ou...ou”, “seja...seja”,

“quer...quer”, “ora...ora”, entre outras, conectam segmentos tex-

tuais apresentados como alternativas. Veja:

Paulo ou José sairá vencedor nesta eleição.

Menino, ou você estuda, ou assiste à televisão.

 Adversidade

As conjunções “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”, “entre-

tanto”, “no entanto”, entre outras, estabelecem oposição, contras-

te e diferença entre argumentos apresentados no texto. Trata-sede argumentos que conduzem a conclusões contrárias. Observe:

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• Você vai à festa?

• Estou cansada, mas não posso perder a festa por nada.

O cansaço é um argumento favorável à conclusão de que apessoa não irá à festa, porém não poder perder a festa é um argu-

mento mais forte, que, portanto, prevalece, que leva à conclusãode que a pessoa irá à festa.

Explicação

Conjunções como “porque”, “pois”, “que”, entre outras,  in-troduzem a explicação para o que se disse anteriormente. Neves(2000) afirma que a explicação se dá entre atos de fala. O ato defala introduzido pelo conectivo justifica o ato de se dizer algo an-

tes. Não se trata, portanto, de relação causa/consequência. Verifi-que os exemplos:

A rua está molhada porque choveu.

Choveu, porque/pois a rua está molhada.

No primeiro exemplo, a chuva é causa de a rua estar mo-lhada. Já no segundo, a partir da constatação de que a rua está

molhada, afirma-se que choveu. Trata-se, pois, de explicar o atode afirmar que choveu (ato de fala anterior): dizer que a rua estámolhada é justificativa para dizer que choveu.

Conclusão

“Logo”, “portanto”, “pois” (após o verbo) etc. introduzem aconclusão. Veja:

Cheguei em casa agora, portanto não sei quem deixou a luz dasala acesa.

Você é homem, logo tem mais força do que eu para carregaras compras.

As relações semânticas de adição, alternância, adversidade,explicação e conclusão são expressas por conectivos que as gra-máticas tradicionais denominam conjunções coordenativas. Asrelações semânticas seguintes são veiculadas pelos conectivos de-nominados subordinativos.

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Tempo

Conjunções como “quando”, “mal” e “enquanto” e locuçõesconjuntivas como “desde que”, “logo que”, “assim que”, “toda vezque” etc. introduzem segmentos do texto que atuam como uma

moldura temporal para algum fato expresso no texto. Observe:Quando você sair, feche todas as portas.

Eu ainda estava em casa quando Mariana chegou.

Mariana saiu de casa somente depois que eu cheguei.

Toda vez que penso naquele jogo, sinto vontade de chorar.

Causa

Conjunções e locuções conjuntivas como “porque”, “como”(sempre com a oração causal anteposta à principal), “porquanto”,“já que”, “uma vez que” etc. introduzem a causa da ocorrência dealgum fato. Existe a relação causa/consequência. Veja:

Não vou à festa (consequência) porque o Cláudio não vai (causa).

Como estava chovendo (causa), ficamos em casa (consequência).

Finalidade

“A fim de que” e “para que” são locuções conjuntivas queexpressam a finalidade, o objetivo, de algo. Observe:

Estude muito para que/a fim de que seja aprovado no concur-so.

Condição

A conjunção “se” e as locuções “salvo se”, “desde que” etc. in-troduzem a condição para a ocorrência de algo. Verifique os exemplos:

Desde que você coma toda a comida, pode comer a sobremesa.

Se você não quiser, não precisa comer a salada.

Concessão

São conectivos concessivos “embora”, “ainda que”, “mes-mo que”, “por (mais/menos/pouco/muito) que”, “apesar de que”,

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“conquanto”, “se bem que” etc. O falante admite algo que, supos-tamente, seria argumento de seu interlocutor, fazendo, então,uma concessão, mas faz prevalecer o seu argumento, o seu pontode vista. Em outros termos, o fato expresso no segmento conces-sivo é admitido, mas é insuficiente para evitar a realização do fato

expresso no outro segmento.

Assim como na relação adversativa, na relação concessivasão apresentados argumentos que orientam conclusões contrá-rias. Observe os exemplos:

Ganhei duas caixas de bombons. Embora eu adore bombons,estou fazendo regime.

Ganhei duas caixas de bombons. Eu adoro bombons, mas es-tou fazendo regime.

Em ambos os casos, adorar bombons é argumento que con-duz à conclusão de que irá comê-los. Contudo, fazer regime é ar-gumento para a conclusão contrária, ou seja, não irá comê-los. Oregime é o argumento mais forte, aquele que prevalece. Na con-cessão, o argumento mais forte é apresentado no segmento deno-

minado tradicionalmente "principal" (que compreende a oraçãosem a conjunção); já na adversidade, o argumento mais forte apa-rece no segmento introduzido por mas.

Comparação, consequência, conformidade e proporcionalidade

Estabelecem comparação de igualdade, inferioridade ou su-perioridade os conectivos “como”, “tanto quanto/como”, menos(do) que”, “mais (do) que” etc. Veja:

Gosto de jazz mais do que você (gosta de jazz).

Ela é forte como você (é forte).

Ela é tão forte quanto você (é forte).

Na comparação, normalmente omitimos o que está entreparênteses.

O conectivo “tão...que”, entre outros, introduz a consequên-cia de algo:

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Estava tão cansado que não levantou do sofá. (estava tão cansada

= causa; que não levantou do sofá = consequência)

As conjunções e locuções conjuntivas “como”, “conforme”,“segundo”, “de acordo com” etc. introduzem segmentos confor-

mativos, como se verifica em:De acordo com o autor, as conjunções dividem-se em coorde-

nativas e subordinativas.

Como eu ia dizendo, a solução para seu problema é simples.

São proporcionais  as locuções conjuntivas “à proporçãoque” e “à medida que”:

À medida que envelhecemos, ganhamos experiência.É importante que você não confunda a locução proporcional

"à medida que" com a locução causal "na medida em que". Elastêm sentidos totalmente diferentes, visto que a primeira indicaproporção, enquanto a segunda indica causa.

A conexão entre partes do texto – palavras, orações, frasese até parágrafos – é estabelecida pelos conectivos (preposições,

conjunções e locuções conjuntivas). Outros elementos tambémasseguram a coesão sequencial: os marcadores de tempo.

Coesão sequencial: marcadores de tempoAo nascer no século XII, a universidade logo se identifica com suasociedade e sua cultura, tornando-se efetivamente o órgão de ela-boração do pensamento medieval. Com o correr dos tempos, an-tes mesmo de terminada a Idade Média, a instituição entra em

decadência, cristaliza-se nas formas de um saber ultrapassado enão compreende o espírito criador dos tempos modernos repre-sentado pelo Renascimento, o Humanismo e a nova ciência experi-mental que desponta nos séculos XVI e XVII. [...]

Em pleno século XVIII os reformadores do Iluminismo advogavam a extinção das universidades como resíduos de uma inútil tradiçãomedieval e propunham, para substituí-las, a criação de escolasespecializadas com objetivos de formação profissional e de acade-mias para a pesquisa científica e o desenvolvimento da alta cultura.

[...]

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E somente no século passado, na Alemanha, que a universidadedesperta de seu torpor intelectual para retomar, pela mão de Hum-

boldt, a liderança do pensamento a tornar-se o grande centro dapesquisa científica. [...]

Se na Inglaterra, na segunda metade do século passado, se fundam novas universidades incorporando as carreiras técnicas, o peso da

tradição de Oxford e Cambridge racionalizada na idéia de Newmanfaz com que a universidade tenha como finalidade predominantepromover o saber universal, formar o gentleman ou o scholar.

Na França a universidade napoleônica se dedica, antes de tudo, àpreparação dos quadros superiores do país em termos de médicos, juristas, professores, altos funcionários, encarregando-se as Gran-des Ecoles do treinamento dos engenheiros e demais técnicos denível superior.

Contudo, nesse mesmo século XIX, a industrialização e o nasci-mento de uma civilização do homem comum, nos Estados Unidos,determinam o primeiro impacto na idéia clássica e aristocrática deuniversidade, própria da tradição européia. Em 1862, o Morrill Act,ao instituir os Land Grant Colleges, lança as bases da universidademoderna de massas, destinada também ao treinamento de agricul-tores, mecânicos, comerciantes que constituem, na linguagem dalei, as classes industriais, enfim, toda uma gama variada de técnicosexigidos pelo rápido desenvolvimento industrial. [...].

Desde então, apesar das resistências acadêmicas, o desenvolvi-

mento industrial e conseqüente democratização crescente da so-ciedade vem impondo transformações mais ou menos profundasàs universidades, obrigando-as a ampliar os seus quadros [...].

Hoje, a universidade constitui uma das grandes instituições de seutempo, de importância vital na aplicação do saber aos problemasda sociedade [...]

(SUCUPIRA, 1972, p. 4-7. Disponível em: <http://www.dominiopu-blico.gov.br/download/texto/me002101.pdf>. Acesso em: 15 jul.2008, grifos nossos).

Observe no texto os seguintes termos destacados: "ao nas-cer no século XII", "com o correr dos tempos", "antes mesmo determinada a Idade Média", "nos séculos XVI e XVII", "em pleno sé-culo XVIII", "somente no século passado", "na segunda metade doséculo passado", "nesse mesmo século XIX", "em 1862", "desdeentão" e "hoje".

Todos esses marcadores de tempo são importantes para acoesão textual, já que são responsáveis por marcar no texto a se-

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quência temporal dos acontecimentos apresentados relativos aotrajeto histórico da universidade.

Se se trata de dados e fatos históricos, seria esperado o usodos tempos verbais de pretérito (perfeito, imperfeito e mais-que-

-perfeito do indicativo). Entretanto, é possível, como faz o autorem trechos do texto, utilizar o presente do indicativo, denomina-do presente histórico (uma metáfora temporal). Veja os verbosque estão no presente histórico: "identifica", "entra", "cristaliza","compreende", "desponta", "desperta", "fundam", "faz", "dedi-ca", "determinam", "lança".

No parágrafo introduzido pelo marcador temporal "em ple-

no século XVIII", o autor faz uso do pretérito imperfeito ("advoga-vam" e "propunham"). É recomendado evitar a "mistura" de tem-

pos verbais, ou seja, deve-se uniformizar o uso, optando-se pelos

tempos de pretérito ou pelo presente histórico.

Observe ainda que, até o parágrafo iniciado por "contudo,nesse mesmo século XIX", os fatos apresentados são do passado, oque justifica o uso do presente histórico e do pretérito imperfeito.

Nos parágrafos seguintes, há uma outra orientação temporal: "des-de então" marca fatos que tiveram início no passado e perduramno presente, o que explica o uso da locução verbal "vem impondo",que indica continuidade no tempo. Já o advérbio de tempo "hoje"

condiciona o uso do presente do indicativo ("constitui").

Podemos, pela análise realizada, verificar a importância dosmarcadores de tempo na estruturação textual e a necessidade deusar os tempos verbais em consonância com tais marcadores.

Chegamos ao fim da segunda unidade. Esperamos que vocêtenha percebido a importância da coerência e da coesão para aprodução de um bom texto escrito.

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8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

Sugerimos que você procure responder, discutir e comentaras questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nestaunidade.

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante paravocê testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades emresponder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para quevocê faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma

cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-bertas com os seus colegas.

Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seudesempenho no estudo desta unidade:

1) No trecho de texto seguinte, identifique e explique asincoerências:

Havia, em uma galáxia distante, um planeta chamado "Paz". Tudo

era tranquilo, todos se amavam e se respeitavam. Nas guerras, ovencedor era quem distribuía mais amor e carinho. Lá existiam novocabulário das pessoas palavras como "por favor", "desculpe-me"e "muito obrigado". Não existiam drogas, porém não havia mortese disputas entre gangues (Texto inspirado em redação escolar).

2) Os textos seguintes apresentam problemas relacionadosà falta de coesão decorrente do mau uso de expedienteslinguísticos. Nosso objetivo com a proposta de análise

desses textos é que você mesmo verifique se conseguedetectar e resolver os problemas. Esse tipo de análisepode contribuir para que você fique mais atento ao usoadequado dos recursos coesivos quando for escrevertextos diversos.

3) Nos segmentos de texto seguintes, verificam-se proble-mas relacionados à coesão referencial. Tente identificá-

-los, explicá-los e saná-los.

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a) O povo está desanimado. Eles não suportam maistantos escândalos políticos.

b) O homem o qual me referi chama-se Clemente.

c) A criança que falei dela tem apenas cinco anos.

d) A nova proposta de reforma educacional trará be-nefícios à população carente, onde os jovens maispobres finalmente terão acesso a uma escola dequalidade.

e) Ele chegou ao Brasil em 1920. Em 1925, ele regres-sou à Itália para rever os familiares.

4) Utilize pronomes relativos para unir a segunda à primei-ra oração:

a) O homem chegou. Falei a você do homem.

b) As flores têm perfume. As pétalas das flores são ver-melhas.

5) No texto seguinte, alguns tempos verbais estão usadosinadequadamente. Identifique-os e utilize outros tem-

pos ou modifique o texto a fim de sanar o problema.

Verificando as contas da empresa, constatando que a situação esta-va crítica. Decidido a salvar o patrimônio deixado pelos meus pais.Resolvi lutar com todas as minhas forças, de forma honesta e ética,a fim de reverter o quadro.

6) Nos segmentos de texto seguintes, há conectivos malempregados. Identifique-os, explique o problema esubstitua a forma inadequada por uma adequada.

a) Estava exausta, portanto ainda foi ao supermercadoe a uma loja de calçados.

b) Não tem chovido há cinco meses, contudo a umida-de do ar está baixa.

c) Nesta etapa da prova, além de ser exaustiva e difícil,ela obteve a melhor pontuação.

7) O conteúdo do segmento textual seguinte é incom-

preensível. Tente identificar e explicar o problema quecausa a incompreensão.

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Os brasileiros que estão indignados com os últimos escândalospolíticos, que, juntamente com os tantos outros já ocorridos, sãomotivo de vergonha para o país, que, por sinal, vive à mercê deinteresses escusos desde sua colonização.

8) No excerto seguinte, identifique e analise todos os ele-mentos coesivos: mencione a que termos do texto elesfazem remissão, que significados os conectivos estabele-cem entre as orações e que tipo de coesão ocorre.

A violência doméstica contra crianças e adolescentes e o abandonoinfantil estavam restritos ao campo legal e dos serviços sociais atéhá bem pouco tempo. Mesmo que centenas de crianças e adoles-centes passassem todos os anos pelos serviços sociais, não haviauma consciência pública sobre esse tipo de violência, que pode

variar de atos de omissão — como não registrar o nascimento ounão garantir acesso a serviços de saúde e educação — a agressõesfísicas, psicológicas ou sexuais.

Somente nas décadas de 1960 e 1970 começou a despontar no Bra-sil uma consciência maior sobre o assunto. A maioria dos países dis-cutia o tema como um problema de saúde pública que trazia gravesconseqüências ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Noentanto, no Brasil, as crianças e os adolescentes continuavam ten-do seus direitos usurpados (FUNDAÇÃO ABRINQ, 2004, p. 11. Dis-ponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fa000010.pdf>. Acesso em: 21 set. 2008).

Gabarito

Questão n. 1

Podemos identificar as seguintes incoerências:

a) Se o planeta era chamado "Paz" e nele tudo era calmo e

todos se amavam e se respeitavam, como poderia ocor-rer guerra? Além disso, é possível em uma situação deguerra o vencedor distribuir amor e carinho (suposta-mente aos vencidos)? São duas contradições.

b) Na frase "Não existiam drogas, porém não havia mortese disputas entre gangues", o mau uso do conectivo (con-

 junção) "porém" gera incoerência. Entre as orações "nãoexistiam drogas" e "não havia mortes e disputas entregangues", não há ideia de oposição (que "porém" ex-pressa), mas de causa e consequência. Portanto, o cor-

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reto seria: "Não existiam drogas, por isso não havia mor-tes e disputas entre gangues". Cabe, entretanto, umapergunta: nesse planeta "Paz", se todos se amavam e senão havia drogas, seria possível haver gangues, disputasentre seus membros e mortes? Esta é outra incoerência.

Questão n. 2

Observe, a seguir, a resolução do exercício n. 2

a) O pronome pessoal "eles" retoma, de forma inadequa-da, a expressão nominal "o povo". Se esta expressãoestá no singular, embora se trate de coletivo, deveriaser retomada por "ele", ou, o que é até mais adequado,deveria ser feita a elipse. Observe a correção: "O povo

está desanimado. Ø Não suporta mais tantos escândalospolíticos".

b) O uso de "o qual" é indevido, já que nos referimos a algo.A forma adequada é "O homem ao qual me referi cha-ma-se Clemente”.

c) "Que falei dela" é uma construção utilizada na variedadenão padrão da língua, devendo, pois, ser evitada na falaformal e no texto escrito. O correto é: "A criança de que

falei tem apenas cinco anos". É necessário usar a pre-posição "de" antes do pronome relativo "que" porquefalamos "de" (ou "sobre") algo.

d) O uso do pronome relativo "onde" está inadequado."Onde" deve ser empregado apenas para retomar esubstituir termos que indicam lugar. Neste segmentoanalisado, "onde" não faz remissão a nada. Em seu lu-gar, deve-se empregar a conjunção explicativa "pois": "A

nova proposta de reforma educacional trará benefícios àpopulação carente, pois os jovens mais pobres finalmen-te terão acesso a uma escola de qualidade".

e) Observe em que situação se usa "onde": A casa onde moro é esta. Neste exemplo, "onde" retoma e substitui"casa", que é palavra que indica lugar ("onde moro" =moro na casa).

f) O texto inicia-se pelo pronome pessoal "ele", cujo refe-

rente não aparece. Não podemos iniciar textos com pro-nomes vazios de significado. "Ele(s)" e "ela(s)" só têm

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significado se seus referentes estão explícitos no contextolinguístico. Veja uma possível correção, em que mencio-namos, no início do texto, o referente de "ele": "Franciscochegou ao Brasil em 1920. Em 1925, ele regressou à Itáliapara rever os familiares". A segunda ocorrência do prono-

me está correta, já que tem como referente "Francisco".

Questão n. 3

Confira a resolução da questão n. 3:

a) O homem de quem lhe falei chegou.

b) As flores cujas pétalas são vermelhas têm perfume.

Questão n. 4

No texto apresentado na questão n. 3, os tempos verbais inade-

quados são o gerúndio, em "constatando", e o particípio, em "de-

cidido". Gerúndios e particípios, quando não ocorrem em locução

verbal (por exemplo, "estou constatando" e "tivesse decidido"),

introduzem orações subordinadas. Toda oração subordinada pres-

supõe uma principal. Onde, então, está a principal?

Uma das possibilidades de correção é: "Verificando as con-

tas da empresa, constatei que a situação estava crítica. Decidido

a salvar o patrimônio deixado pelos meus pais, resolvi lutar com

todas as minhas forças, de forma honesta e ética, a fim de reverter

o quadro".

O verbo "constatei", no pretérito perfeito, faz que a oração

em que ocorre se torne principal da anterior subordinada, que jáapresenta o gerúndio "verificando". Não é necessário alterar o ver-

bo "decidido", pois basta ligar as duas orações com a vírgula.

Questão n. 5

A seguir, observe a resolução da questão n. 5: 

a) O conectivo "portanto" expressa conclusão, mas há con-

traste entre "estar exausta" e "ainda ir ao supermercadoe a uma loja de calçados". Portanto, conectivos adver-

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sativos devem ser empregados: "Estava exausta, mas/porém/contudo/todavia/entretanto ainda foi ao super-mercado e a uma loja de calçados".

b) Aqui ocorre o inverso: usou-se um conectivo adversativoem lugar de um conclusivo. A correção é: "Não tem cho-

vido há cinco meses, por isso/por conseguinte/portantoa umidade do ar está baixa".

c) Verifica-se o uso indevido de "além de" (que indica adi-ção de ideias). O fato de a etapa da prova ser exaustivae difícil contrasta com o fato de ela obter a melhor pon-tuação na prova. É necessário substituir "além de" pelaexpressão concessiva "apesar de": "Nesta etapa da pro-va, apesar de ser exaustiva e difícil, ela obteve a melhor

pontuação".Você deve observar que o mau uso de conectivos, um pro-

blema relacionado à coesão, acaba provocando incoerência tex-tual.

Questão n. 6

Neste caso, temos o que se denomina incompletude sintáti-

ca, ou seja, ocorrem ideias que não são completadas, visto que sótemos orações subordinadas e nenhuma principal. O uso do pri-meiro pronome relativo "que" provoca a subordinação da oração"estão indignados com os últimos escândalos políticos", surgindo,assim, um encadeamento de orações subordinadas sem um pre-dicado para "os brasileiros", que deveria ser o sujeito da oraçãoprincipal. Para resolver o problema, basta eliminarmos o primeirorelativo "que". Observe como fica:

Os brasileiros estão indignados com os últimos escândalospolíticos, que, juntamente com os tantos outros já ocorridos, sãomotivo de vergonha para o país, que, por sinal, vive à mercê deinteresses escusos desde sua colonização.

Questão n. 7 

Os elementos coesivos estão destacados no excerto:

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A violência doméstica contra crianças e adolescentes e o abandonoinfantil estavam restritos ao campo legal e dos serviços sociais atéhá bem pouco tempo. Mesmo que centenas de crianças e adoles-centes passassem todos os anos pelos serviços sociais, não haviauma consciência pública sobre esse  tipo de violência, que  podevariar de atos de omissão — como não registrar o nascimento ou

não garantir acesso a serviços de saúde e educação — a agressõesfísicas, psicológicas ou sexuais.

Somente nas décadas de 1960 e 1970 começou a despontar noBrasil uma consciência maior sobre o assunto. A maioria dos paísesdiscutia o tema como um problema de saúde pública que  traziagraves conseqüências ao desenvolvimento de crianças e adoles-centes. No entanto, no Brasil, as crianças e os adolescentes conti-nuavam tendo seus direitos usurpados (FUNDAÇÃO ABRINQ, 2004,p. 11. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/down-

load/texto/fa000010.pdf>. Acesso em: 21 set. 2008, grifos nossos).

Vejamos:

• mesmo que: é conjunção que conecta orações, estabele-cendo entre elas a relação de concessão; ocorre a coesãosequencial (sequenciação frástica);

• esse  tipo de violência: "esse" (pronome demonstrativo)faz remissão a "violência doméstica contra crianças e ado-

lescentes"; ocorre coesão referencial;

• que pode variar de atos de omissão: "que" (pronome re-lativo) faz remissão a "esse tipo de violência"; ocorre coe-são referencial;

• somente nas décadas de 1960 e 1970: marcador tempo-ral; ocorre coesão sequencial;

• o assunto: expressão nominal (forma remissiva referen-

cial) que faz referência a "violência doméstica contracrianças e adolescentes"; ocorre coesão referencial;

• que trazia graves consequências: "que" (pronome relati-vo) faz remissão a "um problema de saúde pública", ocor-re coesão referencial;

• no entanto: é locução conjuntiva que conecta frases, es-

tabelecendo entre elas a relação de adversidade, oposi-ção; ocorre a coesão sequencial (sequenciação frástica);

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• seus direitos usurpados: "seus" (pronome possessivo) faz

remissão a "as crianças e os adolescentes"; ocorre coesão

referencial.

9. CONSIDERAÇÕES

Nesta unidade, você estudou a conexão dentro do parágrafo

e entre parágrafos, em específico aquela estabelecida por elemen-

tos anafóricos e catafóricos e por conectivos. Você soube o que

é coerência e conheceu os expedientes linguísticos responsáveis

pela coesão textual (pronomes pessoais, possessivos, demonstra-

tivos e relativos, preposições e conjunções). Verificou, ainda, quaisrelações semânticas as conjunções e locuções conjuntivas estabe-lecem e o papel desses conectivos na estruturação textual.

Ainda relacionados à coesão, estão alguns temas da gramá-tica, como a crase, a pontuação, a colocação pronominal e as con-cordâncias verbal e nominal. Portanto, na próxima unidade, vocêestudará esses subsídios gramaticais, bastante úteis para a produ-

ção de bons textos.

Sugerimos que, a fim de aprofundar o estudo dos temas

apresentados nesta unidade, você faça uma leitura dos textos in-

dicados a seguir.

10. SUGESTÕES DE LEITURA

ABREU, A. S. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2002.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,

2000, lições 29, 30 e 31.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, A. S. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2002.

BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral II. Tradução e revisão técnica da traduçãode Eduardo Guimarães et al . Campinas: Pontes, 1989.

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© Comunicação e Linguagem110

COSTA VAL, M. G. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 9. ed. São Paulo: Ática, 2000.

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