composição interativa - estratégias e relatos de processos

Upload: cristianofigo

Post on 30-May-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    1/84

    Sumrio

    Resumo 8

    Abstract 9

    Introduo 10

    Captulo 1 -Estratgias composicionais na interao homem-mquina 12

    1.1 Jogo Multidimensional 14

    1.2 Processo Composicional versus Gesto Instrumental 15

    1.3 Composio Algortmica e Interatividade 16

    1.4 Interao e Construo Perceptual 19

    1.5 Protocolo MIDI 21

    1.6 Exemplos Histricos do desenvolvimento da Msica Interativa 22

    1.7 Ambiente MAX 23

    1.8 Exerccios Composicionais no Ambiente MAX/MSP 25

    1.8 a) Exerccio 1 25

    1.8 b) Exerccio 2 28

    1.8 c) Exerccio 3 33

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    2/84

    Captulo 2 -

    Relatos de Processos Composicionais 36

    2.1 Enquanto eles riem 37

    2.2 Pequi 41

    2.3 Caminho largo, caminho estreito 45

    2.4 Pea para marimba e computador 51

    Concluso 57

    Referncias Bibliogrficas 60

    Anexos 61

    - Partituras 62

    - Arquivos Csound 76

    - Patchs de MAX/MSP 82

    7

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    3/84

    RESUMO

    Este trabalho fruto da pesquisa durante o mestrado em msica da UFG, na linha

    Composio e Novas tecnologias e compreende um conjunto de composiesacompanhado de um texto e exerccios em desenvolvimento de aplicativos

    computacionais voltados pra composio. O texto se divide em duas partes: a primeira

    uma coleo de idias, teis ao compositor, organizadas sob a forma de estratgias

    composicionais. Onde o compositor interessado em compor msica com nfase na

    interao homem-mquina vai encontrar uma viso geral do desenvolvimento desse ramo

    e algumas estratgias e exerccios desenvolvidos no ambiente MAX/MSP que podem

    auxiliar ou conduzir um processo composicional. Na segunda parte so relatados os

    processos de composio de quatro peas, onde so detalhadas tcnicas de programao

    em Csound, desenvolvimento de material composicional, idiomatismo e escrita

    instrumental.

    8

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    4/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    5/84

    Introduo

    A motivao dessa pesquisa vem do desejo de compreender os ambientes

    composicionais assistidos por computador e sua interao com o universo sonoro dos

    instrumentos tradicionais e dentro dessa perspectiva desenvolver uma conscincia

    composicional e progredir na busca por uma identidade artstica.

    Este trabalho o resultado da pesquisa desenvolvida nos Laboratrios de

    Pesquisa Sonora da Escola de Msica e Artes Cnicas da UFG, no perodo de abril de

    2003 a maro de 2005. O produto final compreende a composio de um conjunto de

    obras eletroacsticas, registradas em suporte udio em CDrom e apresentadas em relato

    de processo composicional na presente dissertao.

    A pesquisa desenvolvida teve como objetivo geral a ampliao da reflexo e a

    aquisio de tcnicas composicionais em que o foco fosse a interao homem-mquina e

    o uso das novas tecnologias na composio e na performance. E como objetivo especfico

    a composio de peas que, de uma maneira livre, se refletissem como eco das tcnicas

    conquistadas.O presente texto divide-se em dois captulos: Estratgias composicionais na

    interao homem-mquina e Relatos de processos composicionais. No primeiro, buscou-

    se traar as referncias tericas mais relevantes e organiz-las sob a forma de estratgias

    e referencial de idias teis ao compositor que deseje trabalhar com interao homem-

    mquina. E, no segundo, foi exposto o processo composicional de quatro peas com

    formaes e caractersticas diferentes, visando a expr os aspectos de escrita

    instrumental, tcnicas de programao e elementos poticos de construo.

    O primeiro captulo dividido em oito partes, respectivamente: Jogo

    Multidimensional, Processo Composicional versus Gesto instrumental, Composio

    Algortmica e Interatividade, Interao e Construo Perceptual, Protocolo MIDI,

    Exemplos histricos do desenvolvimento da msica interativa, Ambiente MAX e

    Exerccios Composicionais no Ambiente MAX/MSP que uma parte destinada

    10

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    6/84

    apresentao tcnica de exerccios desenvolvidos em aula no ambiente Max/MSP, no

    intuito de fornecer ferramentas interativas ao compositor.

    No segundo captulo foi relatado o processo de composio das peas Enquanto

    eles riem, Pequi, Caminho largo, caminho estreito, Pea para Marimba e Computador.

    So expostas as particularidades de escrita musical e uso do idiomatismo do violo, do

    clarinete e da marimba e algumas relaes com as estruturas eletroacsticas. As tcnicas

    de composio empregadas nas peas tambm so discutidas, como procedimentos

    seriais, variaes harmnicas e colagens. Foram mostrados exemplos de programao em

    Csound na construo de Caminho largo, Caminho estreito .

    Ao texto esto anexadas as partituras instrumentais das peas, os cdigos de

    Csound utilizados na construo das composies e os patchs de Max/MSP utlizados

    tanto em uma das composies quanto nos exerccios expostos no primeiro captulo. Oconjunto do trabalho compreende o presente texto e seus anexos e um Cdrom misto

    (udio e dados) em que se encontram as composies em verses mixada e separada para

    performance, o presente texto com as partituras, os algoritmos de Csound e os Patchs de

    MAX. Neste sentido, este texto se apresenta como uma sntese referencial do processo de

    pesquisa.

    11

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    7/84

    1. Estratgias composicionais na interao homem-mquina

    O impulso deste trabalho o desejo de compor msica interativa, onde foi

    buscado o foco na interao homem-mquina, materializada no universo dos

    instrumentos acsticos versus ambientes de composio ao computador. A msica de

    cmara, enquanto forma de interpretao, um bom exemplo de msica interativa em

    que a interao entre os msicos um fator estrutural da composio. No caso da

    interao de msicos com computadores, uma estratgia possvel o mesmo que o da

    msica de cmara que, enquanto estilo e proposta composicional, pretende ser um

    dilogo, com perguntas e respostas, concordncias e discordncias, paralelismo, empatia,

    etc

    A busca por um grau de interatividade uma proposta que pode conduzir um

    projeto composicional em vrios nveis, ou at mesmo ser um parmetro de anlise de

    determinada obra ou situao musical. Podemos classificar o nvel de interatividade

    presente no fazer musical de determinada obra no mbito da composio, da performance

    e da percepo.

    As novas tecnologias, materializadas no advento do computador pessoal acabaram

    por transformar todo o fazer musical, desde a composio (meio, materiais e formas deconstruo), a performance (uso do computador como instrumento ou como

    instrumentista sinttico) e a percepo. Uma meta neste trabalho analisar como as novas

    tecnologias enquanto meios conduzem a nossa percepo e propr alguns elementos de

    reflexo sobre o fazer musical com suporte tecnolgico e traar possibilidades e

    estratgias composicionais na interao homem-mquina.

    Todo trabalho composicional implica numa idia cujo processo de elaborao e

    planejamento toma a maior parte do trabalho. A definio de uma estratgia de trabalho

    torna-se essencial quando a idia original exige esforo para o seu desenvolvimento. Este

    captulo o relato da busca por estratgias composicionais que auxiliaram a elaborar

    estruturas que eram esboos sonoros e algumas idias sobre instrumentos acsticos

    interagindo com processamento ao vivo e sons eletrnicos. So apresentados aqui alguns

    aspectos tericos acerca da msica eletroacstica mista de carter interativo e breves

    12

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    8/84

    reflexes, teis para o trabalho composicional, sobre a percepo. Tornou-se relevante

    adicionar alguns exerccios desenvolvidos no sentido de mostrar qual foi o nvel de

    interao no mbito da performance e da composio. So exerccios que serviram de

    experimentos de possibilidades interativas e podem servir de base a futuros projetos

    composicionais.

    Tendo em vista a alta gama de informaes, de sons, de procedimentos

    disponveis ao artista contemporneo, torna-se necessrio um maior nvel de reflexo

    acerca destes elementos dentro de uma perspectiva de desenvolvimento de estratgia

    composicional. Um tipo de pensamento sobre esta busca pela expresso artstica no

    contexto da sociedade contempornea, que pode ajudar ao compositor, so algumas

    reflexes de Gyrgy Ligeti, descritas em Toop (1999) e citadas em Correa (2003). Duas

    declaraes de Ligeti so decisivas na montagem de uma estratgia composicional ou deum esquema de trabalho:

    Eu sou inclinado a no ter um conceito alto sobre artistas que desenvolvem um nicoprocedimento e depois produzem o mesmo tipo de coisa o resto de suas vidas. No meu prpriotrabalho eu prefiro estar constantemente retestando procedimentos, modificando-os, eeventualmente colocando-os de lado e os substituindo com outros procedimentos. Eu notenho uma idia fixada para onde tudo isso est levando. Eu no tenho uma viso definitiva dofuturo, nem um plano geral; de um trabalho para o prximo, eu vou tateando em vrias direes,como um cego em um labirinto. Assim que um passo frente tenha acontecido, ele j est no

    passado, e depois, h um sem nmero de concebveis ramificaes para o prximo passo.

    A posio de estar sempre buscando novas maneiras de se expressar, com o

    cuidado de deixar o fluxo criativo livre evitando repetir-se, uma referncia importante

    neste contexto.

    Se considerarmos o fazer artstico um jogo, devemos levar em conta que todo

    jogo implica um nvel de interatividade entre duas partes ou mais. No caso da msica, a

    interatividade entre os materiais, o meio, a presena do intrprete e os nveis do fazer

    musical so as partes relevantes do jogo.

    Ao selecionar e se deparar com as tcnicas e os materiais, o compositor entra num

    jogo onde interagem sua bagagem musical e sua subjetividade com os materiais e os

    mecanismos de construo musical. Aparentemente comum na msica contempornea a

    busca pela neutralidade da personalidade do compositor, onde as decises

    composicionais so relegadas a um algoritmo ou ao acaso. Em relao a isso, o jogo

    13

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    9/84

    pode estar no fato da composio algortmica ser um meio de fornecer material e

    flexibilizar a automao natural do repertrio gestual do compositor.

    A performance musical tradicional traz um nvel de interao entre performer e

    obra que dado por parmetros interpretativos. Apesar do fato de nenhuma performance

    ser igual, podemos identificar, nas interpretaes, muitos maneirismos e idiossincrasias

    prprias dos estilos, constituindo modelos pouco variantes. Zampronha (2000) descreve

    dois mtodos de como trabalhar a escrita de obras que surgem sob a tica da percepo

    ao invs do uso de esteretipos, que so: a escrita como signo incompleto e a escrita

    como signo saturado. Estas tcnicas acabam exigindo uma maior presena criativa do

    performer e um maior nvel de interatividade entre performer e obra.

    A busca pela interatividade na relao do ouvinte com a obra mais complexa

    que a interatividade obtida do compositor com o meio e os materiais, e da obra com ointrprete. Depende de outros fatores como o meio pelo qual est sendo transmitida a

    obra, a bagagem cultural e o nvel de percepo cognitiva do ouvinte. Podemos falar da

    interatividade proporcionada pela percepo e/ou reconhecimento participativo ou da

    interatividade da obra com os parmetros perceptuais do ouvinte. No sentido de aumentar

    a reflexo ao redor da percepo sonora, procuramos fazer um paralelo entre as idias

    sobre meios quentes e frios de Marshal McLuhan (1964) com a mudana de paradigma

    da escrita e da composio musical contempornea, desenvolvida pelo compositor Edson

    Zampronha (2000).

    1.1) Jogo multidimensional

    Programar e compor utilizam raciocnios similares, pois tem o formato de receita

    que quando pronta torna-se um modelo pronto para se copiar, fazer variaes ou fazer

    parte anexa de outro projeto, em todos nveis. As linguagens de programao deixaram

    de ser cdigos secundrios para tornarem-se obras em si mesmas com a sua potica. O

    computador abriu aos compositores o acesso ao nvel do timbre, no s na composio,

    mas tambm na performance. possvel controlarmos parmetros timbrsticos em tempo

    real, fato que acabou por exigir comportamento semelhante dos instrumentos tradicionais.

    14

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    10/84

    Conseqentemente, veio a exigir uma maior amplitude da variao timbrstica nas

    tcnicas contemporneas de execuo e escrita dos instrumentos acsticos.

    Pode-se descrever a interao do compositor com a obra como um jogo dinmico

    com os materiais, em que as regras mudam a cada jogada.Xenakis (1996), aponta o uso

    de um espao multidimensional como auxiliar na representao das caractersticas de um

    som como um grfico que auxilie a composio, ordenando cada caracterstica de um

    som como altura, amplitude, tempo, densidade, desordem, parmetros de timbre, etc..;

    onde cada caracterstica uma linha dimensional, e os sons, pontos paralelos em vrias

    dimenses. Assim o trabalho consiste em distribuir pontos em uma linha, onde podemos

    trabalhar com simetria, assimetria, repetio, variao ou surpresa.

    Em relao a esta proposta, Xenakis (1996) acrescenta:

    "Tradicionalmente a msica tem duas dimenses estabelecidas- tempo e altura. Historicamenteoutras foram adicionadas como, por exemplo, as dinmicas, ainda que estas tenham sido um tantovagamente representadas na msica instrumental. Com o desenvolvimento da msica eletrnica eda msica computacional, a multidimensionalidade da representao do som se tornou ao mesmotempo natural e prtica. Mas a msica vai alm da multidimensionalidade - ela ainda maiscomplexa."

    Com o termo complexidade, ele se refere s correlaes entre os nveis de construo de

    uma pea musical. Mostra um exemplo rpido de trs nveis em que o nvel zero abrange

    altura, intensidade e timbre. No nvel um, frases e acordes e no nvel dois a forma. As

    interaes entre estes nveis transcendem a multidimensionalidade tempo versus espao.

    1.2) Processo composicional versus gesto instrumental

    Com o surgimento da msica eletroacstica, uma das primeiras idias foi a

    imitao da msica instrumental, trazendo o repertrio gestual da msica instrumental

    para as composies eletroacsticas. A composio baseada no trabalho e processo

    composicional, que dispensa o papel da performance humana, como por exemplo, alguns

    casos da msica eletrnica, acaba provocando uma espcie de reverso do interesse

    potico que procura emular o gestual da performance humana, como podemos ver com

    Caesar (1997):

    " No entanto a msica espectral s tem disponibilizado a operacionalidade sobre o que

    15

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    11/84

    quantificvel, tais como o parmetro de altura e o contedo espectral dos sons. Outros parmetros- ou critrios de percepo (na acepo schafferiana) - menos quantificveis, ficaro subtrados do

    processo a menos que sejam colocados em vida acstica por novos dispositivos.[...]o MIDI entrouem muitos estdios como forma de recuperao do gesto instrumental, o controle manualnecessrio para o ato de compor."

    Por outro lado, coloca: "[...]o protocolo MIDI foi tambm um canal para a reao, no

    sentido de que o repertrio gestual das interfaces , e soa, s vezes, por demais

    reminiscente do da msica instrumental." Ou seja, mesmo que os parmetros estticos

    estejam deslocados pelos elementos colocados pela msica espectral e outras vertentes,

    os novos parmetros se adequam em relao aos antigos. Como, por exemplo, a

    influncia de elementos da anlise espectral na concepo harmnica da composio

    instrumental .

    1.3) Composio algortmica e interatividade

    Na composio algortmica, delegamos tarefas ao computador, transformando-o

    em nosso assistente composicional. Segundo Roads (1996) :

    "Modelos de processos so naturais ao pensamento musical. Enquanto escutamos, parte de nsbebe na sensual experincia do som , enquanto outra parte est constantemente colocando umaespera perceptual, e fazendo isso, construindo hipteses de processos musicais. Compositores

    sabem h sculos que qualquer processo musical pode ser formalizado em uma representaosimblica. Uma composio algoritmica formal uma mquina de criao musical; neste caso ocomputador pode servir como um veculo para idias musicais."

    Com a composio algortmica o compositor pode ampliar a sua "personalidade

    musical", descobrindo sons e estruturas que ainda no conhecia. Segundo Burt (1996):

    " ...eu, a qualquer preo, acho muito mais vlido usar mtodos algortmicos como meios

    de descobrir o que eu no sei, antes de fazer o que eu j sei. Para mim, este tem sido um

    mtodo de expanso dos meus gostos, uma ferramenta para o crescimento individual,

    antes de um mtodo de expressar o que eu j senti." Esssa colocao sintetiza a estratgiapessoal do compositor no sentido de se expressar criando um espao de dilogo com a

    subjetividade de seu prprio gosto que um sentimento no-passivo, que se diferencia da

    sensao que modo como nos relacionamos com os objetos externos, sendo portanto,

    receptiva; ao contrrio, o gosto no uma simples faculdade de registro e anlise. Ele

    16

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    12/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    13/84

    Em relao interao que a composio algortmica propicia ao compositor,

    Roads (1996) nos fala:

    "Para um compositor que no um programador, programas de composio totalmenteautomatizados exigem pouco em termos de criatividade. A interao com o compositor limitadaem suprir uma pequena quantidade de dados, como sementes, necessrios a execuo do

    programa[...].Um caminho de passar atravs da estratgia fixa modificar a lgica do programa.Neste caso, um compositor que tambm programador retm toda a responsabilidade."

    Este pargrafo sintetiza o desafio do compositor contemporneo, que o fato de dispr

    de um arsenal sonoro em um computador e ter que aprender a controlar isso de maneira

    que sua inventividade composicional no seja guiada por pr-configuraes de software.

    No sentido de aumentar o nvel de interatividade ao nvel composicional, atravs

    da automao por algoritmos, podemos acrescentar elementos de performance ao sistema.

    Segundo Roads (1996):

    "Ns distinguimos dois nveis de interao: (1) interao relativamente leve com um "ambientecomposicional", baseado em experincia de estdio, onde existe o tempo para editar e retrocederse necessrio; (2) intensa interao em tempo-real baseada em trabalhos com sistemas de

    performance de palco, onde a nfase est no controle de um processo musical em andamento e noexiste tempo para edio."

    No primeiro caso, encontram-se os software que procuram imitar a experincia do

    estdio analgico atravs de metforas, como recortar, colar, mixer, etc

    Software como Pro Tools e Peak se enquadram nesta categoria, assim como software

    concebidos dentro do pensamento permitido pela tecnologia digital como sequenciadores

    Midi, e sintetizadores em linguagem de programao. Reason,Csounde Max so alguns

    exemplos. O ambiente de programao Max se enquadra na segunda categoria tambm

    por possibilitar interao em tempo real em vrios nveis, tanto na manipulao ou

    interveno na performance quanto no nvel composicional. Cada software, por suas

    caractersticas e especificidades, vai conduzir em algum nvel, o pensamento

    composicional.

    Indo radicalmente neste pensamento, podemos citar McLuhan (1964):

    "...Voltemos luz eltrica. Pouca diferena faz que seja usada para uma intereveno cirrgica nocrebro ou para uma partida noturna de beisebol. Poderia objetar-se que estas atividades, de certamaneira, constituem o "contedo" da luz eltrica, uma vez que no poderiam existir sem ela. Estefato apenas serve para destacar o ponto de que "o meio a mensagem", porque o meio queconfigura e controla a proporo e a forma das aes e associaes humanas[...].Os efeitos datecnologia no ocorrem aos nveis das opnies e dos conceitos: eles se manifestam nas relaesentre os sentidos e nas estruturas da percepo, num passo firme e sem qualquer resistncia. Oartista srio a nica pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia, justamente porque ele um

    perito nas mudanas da percepo."

    18

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    14/84

    Esta colocao nos leva a um nvel de reflexo em que colocamos em questo os meios e

    mtodos que utilizamos para nos expressar. Meios e mtodos que sempre nos chegam

    pr-configurados e em que a expresso se torna a transcendncia do que colocado.

    1.4) Interatividade e construo perceptual

    Ao tentar-se entender os processos interativos envolvidos na percepo de uma

    obra musical, devemos levar em conta que a msica , fundamentalmente, um meio de

    comunicao. Segundo McLuhan:

    "H um princpio bsico pelo qual se pode distinguir um meio quente, como o rdio, de um meiofrio, como o telefone, ou um meio quente, como o cinema, de um meio frio, como a televiso. Um

    meio quente aquele que prolonga um nico de nossos sentidos e em "alta definio"[...] A fala um meio frio de baixa definio, porque muito pouco fornecido e muita coisa deve ser

    preenchida pelo ouvinte. De outro lado, os meios quentes no deixam muita coisa a ser preenchidaou completada pela audincia."

    Nessa citao podemos notar claramente a poca em que foi escrito esse texto,

    especificamente por causa da classificao dele em relao a Televiso, e na omisso de

    um meio to em voga como a Internet.Aps esta ilustrao, podemos pensar em msicas

    mais quentes ou mais frias. O fato da msica trabalhar apenas com um de nossos

    sentidos dificulta a aplicao deste conceito no universo da msica. Esta citao entranesse trabalho apenas para fornecer elementos necessrios de reflexo sobre o nvel

    perceptual ao compositor, sem tentar criar situaes de classificao esttica. Sem

    pretender fazer uma interpretao correta deste conceito, pode-se fazer algumas

    analogias teis reflexo composicional. Uma pera de Verdi um bom exemplo

    quente, enquanto que uma fuga de Bach, uma sonata dodecafnica de Schoenberg, as

    peas de Cage com elementos de acaso ou o minimalismo de Reich so exemplos frios,

    por possurem estruturas que requerem o complemento do ouvinte. Com treinamento,

    podemos identificar separadamente cada voz de uma fuga ou a srie de uma pea serial,

    ou chegar a equaes que sintetizem certos padres do acaso, mas a diferena clara

    entre estruturas que saturam a percepo e estruturas que conduzem percepo.

    Devemos levar em conta tambm a mudana de paradigma da composio musical

    19

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    15/84

    ao longo do sculo XX, que cada vez mais se aproximou da construo sobre o perceber,

    muitas vezes, existindo obras concebidas como modelagens perceptuais. Segundo

    Zampronha (2000) :

    " Ao trabalhar sobre o perceber, ao contrrio, a obra no se configura como algo dado, definido eestvel, pronto a ser conhecido. Ela se torna, propriamente dita, um trabalhar sobre o prprioconstruir, sobre o prprio modelar da percepo. Atravs da quebra ou afrouxamento dosesteretipos eliminam-se ou diluem-se os procedimentos de reconhecimento e instauram-se cadavez mais procedimentos de construo perceptual, procedimentos mais ligados ao campo dasqualidades sensoriais propriamente dita."

    O conceito de esteretipo e sua funo na percepo bem ilustrado por Zampronha :

    "A percepo, como j mostramos, uma construo. O que ocorre, no entanto, quegradativamente algumas construes perceptuais passam a se tornar dominantes e gradativamente

    passam a se cristalizar. Tornam-se esteretipos. Ao se entrar em contato com uma obra de arte, aose reconhecer nela tais e tais esteretipos, tem-se a impresso de que se descobriu o que a obraquer dizer. Isso, o que d a impresso de que algo passa na comunicao[...] a prpria obra

    uma comunicao na qual nada passa. A impresso de que algo passa se deve justamente aoemprego, por parte do ouvinte, de representaes estereotipadas que ele aplica sobre uma obra quese d a ler de forma estereotipada."

    A composio de uma obra sob a tica da construo perceptual, em que se

    procura fugir dos esteretipos, possui um baixo nvel de interatividade com o ouvinte em

    si mesma. Pois, ao mesmo tempo que amplia e flexibiliza a Escuta, transferindo o foco do

    reconhecimento para a percepo, cria uma espcie de ditadura perceptual que impe

    etapas no processo perceptual do ouvinte. O paradigma de Escuta s realmente muda

    quando acontecem preparaes, que ocorrem sob a forma de reaes superficiais deempatia ou afeto. Uma possibilidade a busca por uma interatividade perceptual que

    traga o foco do ouvinte para a percepo em si da pea, uma percepo mais

    participativa que passiva. Uma sada para isso que a composio deve dar nfase nas

    suas caractersticas ldicas de dilogo com o receptor, ao invs de um monlogo didtico.

    A bagagem cultural de uma pessoa, as marcas feitas na percepo de um

    indivduo se tornam muito mais relevantes para a percepo do que para a composio.

    No se pode apagar da memria um som escutado, que acaba interagindo com outros

    sons, que no so sons e sim nossas memrias sonoras. Portanto, os nossos paradigmas

    de Escuta so resultados de impresses de sons e impresses das impresses de outros

    sons, ou idias externas que acabam conduzindo nossos limites de empatia e afeto. Para

    compor, podemos dispr de um algoritmo, por exemplo, para trabalharmos fora do

    mbito da nossa personalidade, ampliar nosso gosto e educar nossa percepo. No caso

    20

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    16/84

    da percepo do ouvinte, isso impossvel. No existe ainda como operacionalizar um

    "algoritmo de Escuta", em que a mquina faria as devidas associaes para cada som.

    1.5) Exemplos histricos do desenvolvimento da msica

    interativa

    Uma constante no trabalho composicional de carter interativo o desejo de se

    agregar maior nvel de interatividade tanto no nvel da composio quanto no nvel da

    performance. Segundo Almeida (1997):

    "Tornar um sistema interativo significa dar ao compositor diferentes nveis de acesso, seja nonvel timbrstico, no nvel de construo de eventos sonoros, ou no nvel macro, no planejamentoda estratgia composicional. Sob este ponto de vista, o sistema seria um tipo de assistente musical,cabendo ao compositor a terefa de formular o melhor possvel o problema a ser resolvido, eescolher o assistente mais adequado. Um ambiente interativo de composio musical seassemelha a uma caixa de ferramentas. A flexibilidade destas ferramentas permite aoscompositores o domnio dos processos composicionais".

    O problema est em como fazer o computador responder aos impulsos que o

    msico lhe manda. O histrico de pesquisa em msica computacional nos leva pea

    Hornpipe de Gordon Mumma de 1967. Segundo Nyman (1974):

    Hornpipe uma composio para Trompa solo modificada com console cibersnico. Oconsole um tipo de computador analgico que usado pelo performer e preso ao seu cinto (o que

    possibilita se ver muito claramente como os artefatos eletrnicos podem ser literalmente umaextenso do performer e seu instrumento). A Trompa em si modificada com vrias palhetas emvez do bocal convencional e com chaves rearranjadas que permitem que o som seja ouvido dediferentes partes do instrumento[]o que o circuito do console faz monitorar as ressonncias daTrompa no espao da performance e se ajustar para complementar estas ressonncias[]Estasrespostas, ouvidas atravs dos alto-falantes, por sua vez produzem trs tipos de atividade sonoraalm do som puro da trompa a Trompa em conjunto com sons eletrnicos, sequncias somentede sons eletrnicos de longas respostas cibersnicas, e sons eletrnicos articulados diretamente

    pelos sons produzidos pela Trompa.

    Podemos analisar atravs deste pequeno trecho de um texto j relativamenteantigo, (em relao as possibilidades das novas tecnologias) que os impulsos que levaram

    a composio desta pea so praticamente os mesmos que continuam a nos impulsionar a

    compor msica interativa, ou seja, criar um espao de dilogo entre as estruturas

    acsticas e eletrnicas.

    Muitos trabalhos interativos caminham no sentido da extenso fsica e virtual das

    21

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    17/84

    possibilidades dos instrumentos tradicionais. o caso da pea Mirror-Rite de Jonathan

    Impett (1996), que para "meta-trompete", computador e live-electronics . A composio

    no possui notao nem gravao, mas ela se forma como um complexo de estruturas

    baseadas em regras, transformaes e processos sobre a improvisao de um performer

    em tempo-real. Segundo Impett (1996): "O meta-trompete um sistema interativo de

    integrao instrumento-interface-composio. [...] Aspectos fsicos da performance

    inerente ao trompete so abstrados e estendidos para resultarem tanto em parmetros

    de controle como em material composicional. O sistema tem um conhecimento de seu

    passado, estado presente e, por anlise, aspectos da natureza de seu comportamento." O

    sistema desta pea se alimenta de dados provindos de sensores no palco, nas chaves do

    trompete e dos sons emitidos pelo trompete. Estes dados so filtrados e processados em

    diferentes nveis como a realizao dinmica da forma da composio, parmetros desntese e processamento e acionamento de samples. O performer tem acesso direto ao

    nvel composicional, atravs do seu comportamento, manuseando dinmicamente a forma

    e o carter.

    1.6) Protocolo MIDI

    O protocolo MIDI (Musical Instrument Digital Interface), introduzido pela

    indstria em 1983, possibilitou a criao de alguns sistemas interativos de composio e

    performance. Segundo Almeida (1997): O protocolo MIDI foi criado para controle de

    artefatos musicais em tempo real. A especificao MIDI determina o esquema do

    hardware de interconexo e o mtodo de comunicao de dados, bem como a gramtica

    para codificar a informao da performance musical. A princpio o MIDI foi criado

    para resolver o problema da incompatibilidade de comunicao de dados entre

    sintetizadores de diferentes fabricantes, o que possibilitou usar um teclado controladorem tempo real de vrios outros sintetizadores com diferentes bibliotecas de timbres e at

    mesmo samplers. O que se tornou uma estao de trabalho comum nos estdios, durante

    os anos oitenta.

    O uso do MIDI para comunicao entre teclados e computadores permite um uso

    22

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    18/84

    que extrapola os limites da prtica comum. De acordo com Almeida (1997):

    O conceito de nota musical o fundamento para o paradigma MIDI, de modo a imprimir-se naarquitetura de todos os instrumentos MIDI[...]...O sistema MIDI evita o uso da representao dosinal acstico, substitudo pela representao baseada no conceito de notas, onde so relevantesinformaes do tipo altura e velocidade, tempos de incio e fim. A abstrao MIDI fortementeapegada aos dispositivos de teclado, onde cada tecla poderia ser tratada como um boto liga-desliga.O uso de computador ligado a um sintetizador permite atravs do MIDI, um

    conjunto de procedimentos novos. Como, por exemplo, a simulao de vrios performers

    ao mesmo tempo ou uma programao que realize em tempo real uma anlise da

    performance e detone eventos conforme a programao do compositor (score follower).

    1.7) Ambiente MAX

    No sentido de criar uma plataforma composicional, que aliasse o poder de clculo

    e programabilidade do computador com a capacidade de sntese e performance dos

    sintetizadores comerciais, surgiu o ambiente MAX que uma linguagem grfica

    orientada ao objeto e que trabalha com dados MIDI, podendo atuar como controlador de

    qualquer sistema que suporte dados MIDI. O MSP uma coleo de objetos externos que

    possibilitam fazer sntese e processamento de udio em tempo real. O ambiente de

    programao MAX/MSP possibilita ao compositor desenvolver patchs grficos, que

    possibilitam o controle em tempo-real de parmetros de sntese sonora, processamento de

    udio ou controle de hardware atravs de mensagens MIDI. A biblioteca de objetos

    externos pode ser ampliada, os objetos podem ser escritos em C, ou os patchs podem ser

    salvos como objetos.

    No seu livro "Composing Interactive Music - Techniques and Ideas Using Max",

    Todd Winkler nos apresenta uma viso ampla sobre as possibilidades do ambiente MAX,

    alm de considerar a dinmica da composio, onde o ambiente composicional, muitas

    vezes, conduz o pensamento, afastando da idia original ou levando a produzir resultadosdiferentes.

    Segundo Winkler (1996) :

    "A multiplicidade de opes disponveis para a msica interativa deixa a arte de compor maisdifcil. As possibilidades tcnicas sozinhas, podem ser irresistveis: sampleamento, sntese e

    processamento de sinal, estruturas lineares e no-lineares, algortmos improvisacionais,performance improvisacional, partituras totalmente notadas, resposta computacional sequenciada,

    23

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    19/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    20/84

    vem de um compositor com larga experincia em programao e desenvolvimento

    tecnolgico.

    1.8) Exerccios composicionais no ambiente MAX/MSP

    1.8a)Exerccio n 1

    Este um estudo desenvolvido para uma performance para contrabaixo e

    computador. Trata-se de um patch para a realizao de algumas propostas musicais

    utilizando o programa MAX/MSP. Estepatch o tutorial 13 e vem junto com opackage

    do MAX/MSP.Patch uma interface que nos permite a manipulao grfica dos objetos

    externos do MAX, por meio de caixas que podem ser objetos , argumentos de objetos

    ou outras operaes e que se ligam atravs de fios, seguindo a lgica de um

    fluxograma.

    Na figura 1, temos um trecho do patch onde a nica alterao em relao aotutorial 13 original o fato de ter sido adicionado atalho de algumas funes para o

    teclado do computador , facilitando, assim, a manipulao durante a execuo da

    performance.

    25

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    21/84

    fig. 1 : trecho dopatch .

    Esta performance se trata de um improviso notado, que foi sendo trabalhado e

    definido ao longo dos ensaios com o compositor e o contrabaixista. O primeiro impulso

    deste trabalho foi a busca pela interatividade, do compositor com o performer atravs do

    computador. O uso deste recurso foi o primeiro fator estrutural pr-estabelecido .

    O segundo fator foi a necessidade de compreender e manipular tecnicamente ocomputador enquanto instrumento musical de performance em tempo real, materializado

    no ambiente de programao MAX/MSP . Esta performance se caracterizou como um

    estudo, tanto composicional quanto tcnico-performtico, como um compositor-pianista

    que escreve um estudo para o seu instrumento. No caso aqui, o instrumento o

    MAX/MSP um instrumento musical-computacional que possibilita a composio e

    performance de msica interativa ou no.

    Assim, como cada um dosDoze estudos para violo de Villa-Lobos, em que cada

    pea aprofunda um elemento tcnico, este estudo se limita a explorao de um elemento

    tcnico do MAX , o tutorial 13 dos tutoriais que vem no package do MSP . Este

    tutorial ensina a gravar e acionarsamples de 2 segundos, que podem ser captados por um

    microfone conectado placa de som do computador.

    O fato de o instrumentista, durante a performance da pea, produzir o material

    26

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    22/84

    musical acionado atravs do computador durante o duo, nos leva a pensar qual o papel

    do compositor e qual o pensamento composicional que conduz o trabalho da pea.

    Segundo FERRAZ (1999), ...este jogo entre as possibilidades do auxlio do

    computador, no como uma mquina de calcular, nem como um modo de transformao

    e gerao de udio, mas sobretudo como um modo de se pensar a msica . A partir

    desta viso pode-se dizer que um dos pensamentos composicionais que devm do

    ambiente de programao MAX o fato de o compositor ter seu trabalho mais prximo

    do design sonoro da reorganizao e da mixagem de materiais que chegam at ele, do que

    tcnicas de contraponto, harmonia, etc.

    O trabalho do compositor consiste na reorganizao do material captado e a

    criao de uma narrativa e de um dilogo com o instrumentista. Neste sentido, a nfase e

    a provvel transformao de pequenos trechos captados em signos sonoros tornam-se umponto de deciso para o compositor. Que trecho captar? Como se pode usar este trecho?.

    Se, por exemplo, programamos para captar apenas 2 segundos, a trama sonora vai ser

    construda no computador com estas pequenas clulas que, por sua vez, podem ser

    contrastadas com frases longas no contrabaixo ou reforadas e/ou reiteradas pelo mesmo.

    Fig. 2 trecho do improviso notado

    No exemplo acima, pode-se notar como foi desenvolvida de maneira prtica

    algumas destas possibilidades. O computador na pauta superior desenvolve uma textura

    que a soma de um trmolo captado no comeo da pea, mais glissandos que foram

    captados no meio da pea, enquanto o contrabaixo, no comeo do sistema, fica

    reforando esta textura do computador com glissandos curtos. Podemos observar tambm

    a, o modo que foi escolhido para a notao da pea, onde cada clula musical fica

    dentro de uma caixa e se prolonga com possveis variaes ou apenas repeties do

    contedo durante o tempo da linha preta que prolonga a caixa. Nesta figura, notamos

    27

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    23/84

    que o computador mantm a textura resultante de dois elementos durante todo o sistema e

    o contrabaixo inicia com uma linha preta que diz que ele est continuando algo, no caso

    uma caixa no sistema anterior com um glissando dentro. No meio do sistema o

    contrabaixo expe um motivo meldico mais longo, contrastando com o computador que

    mantm sua textura com gestos curtos.

    Este exerccio reflete o desejo de fazer msica de modo que o limite tcnico de

    manipulao da tecnologia no seja um ponto castrador da composio. Mas, ao

    contrrio, um limite bem estreito e com poucos elementos onde se pode explorar, j de

    maneira musical e artstica, as possibilidades e particularidades de cada elementoque se

    encontra ao longo do estudo do ambiente de programao MAX.

    1.8 b) Exerccio n 2

    Neste exerccio, foi escolhido o tutorial n30 do MSP como base da pesquisa,

    onde o trabalho consitiu em analisar e compreender o patch e desenvolver uma interfacepara performance em tempo real. Este estudo foi utilizado para o processamento em

    tempo real de alguns trechos da pea Enquanto eles riem (ver pgina 38).

    Como j vimos, o MAX uma linguagem grfica orientada ao objeto, em que

    podemos interligar e realizar aes em cadeia com os objetos externos atravs de caixas

    que se ligam umas as outras. Neste patch, encontramos dois tipos de caixas: caixas de

    objetos com bordas duplas ou objetos de interface como sliders e dials e caixas de

    mensagem e nmeros com bordas simples . Estas caixas se ligam umas as outras atravs

    de fios que podem ser simples condutores de informaes e comandos, ou condutores de

    dados de udio (fio preto e amarelo).

    O tutorial 30 do MSP vem com o ttulo de "Flange", por causa do conhecido

    efeitoflanging, comum em pedais de guitarra e mdulos de efeito. Estepatch possibilita

    a captura de udio e processamento em tempo real, no qual a idia bsica do efeito

    28

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    24/84

    acrescentar um oscilador como variao de tempo de delay. O que ocasiona um delay

    limpo quando voc posiciona a frequncia do oscilador em zero e um suave efeito

    flangingcom a frequncia abaixo de 0.5Hz, variando a densidade do efeito conforme o

    ndice de modulao.

    A principal estrutura para o entendimento destepatch a operao de modulao

    do oscilador(cycle~) controlando os parmetros de delay (tapout~)(fig. 1). Os objetos

    tapin~ e tapout~ atuam em conjunto criando linhas de delay. O sinal original entra no

    inletesquerdo de tapin~que tem como argumento o tamanho da linha de delay descrito

    em milisegundos e que vai ser lido portapout~que tem como argumento o tempo em

    milisegundos que leva para acionar a primeira linha de tapin~. Neste caso, alm da sada

    de tapin~, somada a entrada de tapout~os dados de um oscilador (cycle~) que realiza

    a modulao do sinal de udio . A sada de tapout~ toma dois rumos: o primeiro vaidireto para a sada de udio e o segundo escalado por um multiplicador varivel ( de 0 a

    1) e reconectado a entrada de tapin~ o que causa um efeito que em pedais de guitarra se

    conhece porfeedbacke se trata de uma repetio contnua das linhas de delay. Segundo o

    Guia de referncia do MSP:

    "The output ofcycle~is multiplied by 0.25 to scale its amplitude. That signal is multiplied by the

    basic delay time of 100 ms, to create a signal with an amplitude 25. When that signal is added to

    the basic delay time, the result is a signal that varies sinusoidally around the basic delay time of

    100, going as low as 75 and as high as 125. This is used to express the delay time in milliseconds

    to the tapout~object."

    Fig.3 : ncleo bsico do efeito flanger.

    O trabalho de programao em si, alm da anlise do tutorial, foi a criao de uma

    29

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    25/84

    interface de uso em performance. Uma interface um dispositivo fsico ou lgico que faz

    a adaptao entre dois sistemas, que no caso foram de um lado o patch do tutorial do

    MSP e de outro um performer com a partitura da composio e a possibilidade de

    improvisar otimizando os recursos do tutorial. A construo de uma interface de uso do

    programa faz parte do processo de aprendizado de uma linguagem. No caso do MAX,

    escrever interfaces, torna-se bsico na aprendizagem, pois toda a estrutura da linguagem

    grfica e voltada para a performance.

    Para entendermos melhor este tutorial, podemos pensar na diviso em que o patch

    se comunica com a interface. So nove objetos inlet~ que conectam variveis do

    algoritmo a objetos grficos de controle na interface. Vamos analisar cada uma das nove

    partes para termos uma viso total destepatch. O nmero 1 o boto on/off do programa,

    est conectado ao objeto adc~ (analog-digital converter) que o objeto que controla aentrada de sinal de udio, especificando qual porta e qual driver apropriado. O objeto que

    faz a mesma funo para a sada de udio o dac~ (digital-analog converter) e est

    conectado ao nmero 2 atravs de uma multiplicao que reescalona o valor total de

    sada.

    Os nmeros 3 e 4 se referem a caixas de nmeros que vo se multiplicar a sada

    do osciladorcycle~e vo ser responsveis pela variao de tempo de delay, substituindo

    o argumento de tapout~, ou seja, so os nmeros que vo controlar o momento em que o

    sinal, que foi lido por tapin~ , vai para a sada . O oscilador tem seus parmetros de

    frequncia e amplitude (no caso depth profundidade - escalonado de 0 a 1) controlados

    pelos nmeros 5 e 6 respectivamente. O objeto dac~ que manda um sinal de udio

    atravs da placa de som, tem quatro entradas, duas (uma para cada canal) de som direto, e

    mais duas de delay. O nmero 7 controla um slide que atravs de uma expresso de

    equivalncia controla a porcentagem entre dry (apenas sinal direto) e wet(apenas sinal do

    delay). Ofeedbackdo delay, ou seja, a quantidade de tempo em que uma linha de delay

    continua se repetindo atravs de sua retro-alimentao, controlado por uma

    multiplicao que tem como ndice os nmeros dos controladores 8 e 9.

    30

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    26/84

    Fig.4: Patcher interface Flanger tutorial MSP n 30.

    Para o uso otimizado deste patch em uma situao musical, foi necessrio odesenvolvimento de uma interface de performance. Onde cada varivel relevante do

    patch, pudeste ser controlada de forma simples pelo usurio. Foram acrescentados

    objetos grficos de controle como botes e sliders verticais, horizontais e em forma de

    caixa de desenho (pictslider - onde o controle feito com o mouse e valor controlado

    pelas quatro arestas da caixa). As ligaes da interface com o patch do tutorial foram

    feitas atravs do objeto patcher que realiza a conexo e o encapsulamento de um patch

    com outro.

    31

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    27/84

    Fig.5: Interface de performance.

    Alguns artifcios foram adicionados aopatch no sentido de ampliar as possibilidades

    interativas do performer com o computador e de facilitar a manipulao do programa

    durante a performance. Foram acrescentadas envoltrias de segmentos lineares (line) ao

    controle de volume, causando assim um efeito de fade in e fade out. Os controles de

    tempo de delay e espacializao do sinal processado respectivamente so controlados

    pelo objeto drunk, que um gerador numrico randmico e que necessita de um

    comando bang para se acionar, que, no caso, fornecido por metro, um metrnomo

    gerador de bangs. O fato de ter alguns parmetros controlados por gerador randmico,

    empurra o performer sempre a interagir mais com a obra, no sentido de que a cada

    performance o processamento ser diferente.

    32

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    28/84

    Fig.6: interface em modo de edio

    1.8 c) Exerccio n 3

    Este exerccio de trata de umPatch para MAX/MSP em que se tentou realizar um

    score-followerque acompanhasse um instrumento acstico com o mximo de economia

    de processamento. O caminho escolhido foi mapear a performance a partir de um

    microfone, transformar estes dados (frequncias) em dados MIDI e deixar na memria do

    programa uma sequncia MIDI que sirva de "espelho" para o acompanhamento.

    A busca pela interatividade com o performer foi a tnica do trabalho. O patch

    supre a necessidade de uma pea que inclui improvisos do performer e alguns pontos

    sincronizados com o acionamento de samples pelo computador. Ou seja, o computador

    espera pelo performer os pontos certos de sincronia, que so uma sequncia de notas. Os

    espaos entre os pontos de sincronia so usados para improviso do performer que deve

    33

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    29/84

    interagir com o universo sonoro que ele mesmo acionou.

    O processo do patch muito simples. O interesse vem da forma prtica e

    econmica da organizao das aes e a portabilidade, podendo fazer parte de um

    complexo de outros elementos ou simplesmente mudarmos a funo do mapeamento dos

    dados que, como vimos, podem ser muitas. Os dados de performance podem ser

    mapeados para o acionamento desamples que estejam na memria do programa, controle

    de parmetros de sntese ou processamento, ou nvel composicional.

    A organizao destepatch pode ser dividida em quatro partes: reconhecimento de

    alturas, transferncia dos dados da performance para dados MIDI, acompanhamento e

    acionamento de samples. A parte do reconhecimento de alturas foi resolvida com o uso

    do objeto fiddle~ , escrito por Miller Puckete (1999). Este objeto um algoritmo que

    fornece alguns dados sobre o reconhecimento da performance que est na sua entrada deudio, como altura e amplitude. No caso, foi usado apenas o reconhecimento de altura,

    que endereado para o objeto midiformat, que transforma um valor de altura em dado

    MIDI.

    Uma vez que o programa faz o reconhecimento de altura da performance e

    transforma isso em dado MIDI, podemos enviar este dado para o objeto follow , que um

    objeto em que podemos sincronizar performances MIDI. Ou seja, o objeto tem uma

    seqncia MIDI na sua memria e consegue acompanhar uma outra seqncia que fica

    sendo mandada a ele com base na parte gravada. A cada nota que reconhecida, o objeto

    manda uma mensagem que aciona um processo, que no caso o playbackde samples, e

    que poderia ser uma srie de aes possibilitando diferentes nveis de interatividade,

    como, por exemplo, o acionamento de estruturas sonoras baseadas no histrico do

    comportamento da performance, sequncias randmicas com parmetros variveis,

    processamentos variados do sinal de entrada, etc.

    34

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    30/84

    Fig.7:patch para MAX que realiza acompanhamento interativo (Score Follower).

    35

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    31/84

    2) Relato de Processos prticos

    Este captulo se dedica a descrever o processo composicional de quatro peas

    desenvolvidas sob a tica da pesquisa em interao homem-mquina, em que trs delas

    representam o desejo de trabalhar com o universo e a sonoridade dos instrumentos

    acsticos em contraste com as possibilidades de produo sonora no computador.

    As peas no foram realizadas como resultados quantitativos direto dos

    referenciais tericos descritos no primeiro captulo. Desde o primeiro projeto, o objetivo

    foi desenvolver composies livres, inspiradas no ambiente de possibilidades

    proporcionadas pela pesquisa em tecnologia.

    A influncia da pesquisa em interao homem-mquina encontra eco no impulsocomposicional das peas, ou seja, no impulso gerador em si. Podemos dizer que estas

    composies se desenvolveram atravs da pesquisa sobre interao, mas no para

    cumprir uma etapa da pesquisa.

    O desenvolvimento do patch de scorefollower conduziu o pensamento

    composicional das peasPequi ePea para marimba e computador, pois so peas que

    tem a caracterstica de a parte do computador ser amostras de som separadas, disparadas

    de acordo com o andamento da partitura do instrumentista, que a funo originalmente

    pensada para oscore-follower. Apesar de ter sido desenvolvido para resolver a realizao

    destas peas, estepatchpode ser utilizado para outras funes, de acordo com a proposta

    composicional.

    A pea Enquanto eles riem teve, em parte, seu pensamento composicional

    conduzido pelo desenvolvimento da interface de uso de um patch do tutorial. Usada

    como delay randmico, esta inteface do tutorial mantm um nvel de interatividade com o

    performer em funo da variao do tempo de delay de acordo com cada performance.

    Uma experincia em interao homem-mquina no nvel composicional foi

    desenvolvida com a pea Caminho largo, caminho estreito, em que o trabalho foi

    submeter um material preparado pelo compositor a um algoritmo pr-definido em que foi

    modificado alguns parmetros aps as primeiras experincias. O resultado do

    processamento do algoritmo foi selecionado e sequenciado em software multi-canal.

    36

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    32/84

    As peas Pequi e Enquanto eles riem foram gravadas em casa com o microfone

    interno do Laptop, respectivamente com o Violonista Leonardo Luigi Perotto e com o

    Clarinetista Jos de Geuss, ambos alunos do Mestrado em Msica da UFG. NaPea para

    Marimba e Computadora parte da Marimba foi gerada em software atravs do arquivo

    MIDI da partitura com Samples (amostras de som) reais de Marimba. As peas foram

    posteriormente mixadas com as estruturas eletroacsticas no softwarePro-tools que

    possibilita a mixagem de canais independentes.

    2.1)Enquanto eles riem, para Clarinete e Computador

    Esta pea se tornou um desafio ao longo do processo, por abranger reas distintas

    como a escrita e performance tradicional e o universo da produo sonora digital com a

    idiomatismo dialtico da msica eletroacstica. Procurou-se no transformar este

    contraste num elemento castrador de uma linguagem ou outra. Mas, ao contrrio, um

    limite bem estreito e onde se possa explorar, de uma maneira consciente e, ao mesmo

    tempo, ldica, as possibilidades, particularidades e idiossincrasias de cada elemento e

    tcnica que se encontram ao longo do estudo tanto dos ambientes de composio ao

    computador como da escrita e idiomatismo instrumental. No texto, iremos enfocar oprocesso de composio da parte do Clarinete.

    A pea se trata de um exerccio composicional, que foi sendo trabalhado e

    definido ao longo dos ensaios entre compositor e Clarinetista. Um dos impulsos

    composicionais foi a busca pela interatividade entre os universos sonoros do compositor

    e do performer atravs do processo composicional, materializado na forma de gravao

    dos materiais da partitura a diversos nveis de elaborao. Gravaes de trechos da pea e

    improvisos foram e continuam contribuindo como materiais e fontes sonoras para o

    desenvolvimento da pea. O uso do recurso da interatividade entre compositor e

    performer foi o primeiro fator estrutural pr-estabelecido . A possibilidade da

    interferncia de informaes do performer no processo composicional foi desejada, ainda

    que esta tenha se concretizado apenas no mbito da escolha de algumas notas e dinmicas

    e algumas frases idiossincrticas de improviso do performer que foram adicionadas

    37

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    33/84

    composio com objetivo de tornar a msica mais orgnica .

    A Seo A tem quatorze compassos e primeiramente exposta a srie,

    desenvolvida apenas no mbito das alturas atravs de serializao livre, de onde saiu o

    material da pea, j com algumas alteraes da srie e que se tornaram estruturais no

    desenvolvimento. Como o caso da segunda vez em que entra a srie, a nota r

    substituda pela nota mi, o que se torna recorrente na pea.

    Fig.8: compasso 9

    A maior seo da pea a seo B que tem cinqenta compassos e quatro sub-sees,

    distintas. A primeira parte desta seo comea com a mudana de compasso de 2/4 para

    6/8. estabelecido o acorde de mi maior com quinta aumentada como entidade de base

    desta seo, que se contrape as notas da srie que so desenvolvidas, j com algumas

    mudanas que estavam presentes na seo A.

    Fig.9: compasso 16

    A entidade de base o motivo da construo da segunda parte da seo B, que seconsiste apenas de transposies deste acorde, ajustadas numa figurao rtmica quase

    constante (acelerando) e que faz um contraste com a dinmica empregada. O que resulta

    num gestual interestante para realizao de processamento com o MAX.

    38

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    34/84

    Fig.10:compasso29-30, figura rtmica de acelerao em contraponto com a dinmica que vai

    diminuindo.

    A terceira parte da seo B uma seo mais lenta, em que foi usada a entidade de

    base transposta (acorde de sol maior com quinta aumentada) como elemento bsico do

    desenvolvimento meldico e harmnico. A partir de transposio, chegou-se a escala del menor harmnica, que na sua configurao possui trs transposies da entidade de

    base.

    Fig.11: compasso 44-46, constr. meldica em l menor harmnica.

    A quarta parte da seo B um retorno variado segunda parte, com carter de

    cadncia virtuosstica e serve de ponte para o retorno seo A que volta, com variaes,

    no compasso 73. Esta nova seo (A'), se caracteriza por um uso mais efetivo do

    computador e das clulas rtmico-meldicas, propostas pelo performer, que acabaram

    sendo incorporadas na composio enquanto clulas mesmo e no como rgos

    estruturais da composio, o que implicaria em um trabalho composicional mais

    profundo . Como exemplo, foi escolhido um trecho em que, aps uma variao meldicada srie, foi acrescentada uma clula meldica de "risada", em que o performer simula

    uma risada com o Clarinete. Estes elementos implicam uma diferena na execuo, pois o

    mais importante no so as notas e sim o carter especfico do trecho.

    39

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    35/84

    Fig.12: compasso 91, Clarinete rindo

    No compasso 97 comea uma seo que uma ponte para a entrada da seo B'.

    Nesta ponte podemos notar como foi pensada a conduo vocal, pois o Clarinete, apesar

    de ser um instrumento meldico, com sua sustentao de notas permite uma escritapseudo-polifnica.

    Fig.13: compasso 98-101, escrita a duas vozes.

    A seo B' comea no compasso 116 e combina o uso da entidade de base

    interpolada com a srie inteira adaptada ao desenho meldico caracterstico da parte lenta

    da seo B.

    Fig.14: compasso 118-119, interpolao da srie com a entidade de base e o desenho meldico

    O final da pea consiste de uma pequena coda de cinco compassos em que o ltimo

    compasso usa um artifcio tcnico da Clarineta, em que o performer fica assoprando o

    40

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    36/84

    instrumento sem emitir notas definidas, apenas o rudo do sopro. Isso cria uma suspenso

    cnica enquanto o computador tece seus ltimos comentrios.

    2.2)Pequipara violo e computador

    Esta pea foi composta com um carter muito intimista e pessoal, pela combinao

    do violo com o computador, levando em conta o fato do presente autor ser violonista de

    formao e pelas diferenas culturais submetidas, quando da deciso de cursar omestrado em Goinia, 3.000 kilmetros de distncia da cidade natal. Pode-se afirmar que

    esta composio sintetiza uma ruptura no repertrio gestual pessoal, carregado de

    idiossincrasias violonsticas que so trabalhadas com plena conscincia ao longo da pea.

    Alm dos dois mundos contrastantes que so a sonoridade do violo e as possibilidades

    do computador, respectivamente passado e presente do autor, procurou-se trabalhar

    explicitamente elementos presentes na bagagem artstica, como elementos da msica

    folclrica rio-grandense, elementos jazzsticos e o universo sonoro da msica

    eletroacstica e das possibilidades da msica computacional.

    Foram usados diversos procedimentos para a composio desta pea, como

    elementos seriais atravs de serializao livre de alturas, acordes derivados de harmonia

    modal, artifcios de colagem na escrita instrumental e variaes de narrativa no corpo da

    pea. O violo um instrumento de carter intimista por excelncia e de possibilidades

    harmnicas, contrapontsticas e polifnicamente limitado. Tem um amplo uso em

    acompanhamento de carter percussivo e de sustentao harmnica na msica popular.

    Podemos dizer que o prprio timbre do violo carregado deste teor narrativo da msica

    folclrico no imaginrio popular.

    Na construo da trama eletroacstica do computador foram usados

    processamentos de trechos da gravao do violo, processamentos de udio derivado da

    sequncia MIDI criada pelo software de notao musical Finale e trechos de sntese

    41

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    37/84

    criados com softwares sintetizadores como Metasynth e algunspatchs de Max/MSP. Foi

    utilizado tambm umpatch que realiza granulao desamples, em que foi granulado um

    trecho de uma msica folclrica tocada apenas com violo.

    Ao longo do desenvolvimento do conceito da pea, foi escolhida sua escrita sem

    barras de compasso e sem frmula de compasso, o que permite ao performer uma maior

    interatividade e inventividade em relao pea. Outros elementos acabam por conduzir

    a performance como indicao de andamento, articulaes, dinmicas e a prpria base

    com samples tambm direciona a performance para um tipo de gesto. Mas o fato de o

    performer no pensar em manter o pulso e os acentos nos tempos fortes, leva-o a uma

    melhor execuo das articulaes e dinmicas e uma maior tranquilidade na interao

    com ossamples.

    Os primeiros segundos da pea so desenvolvidos com intervalos de stima maior eritmo exposto em forma de espelho que logo aps a primeira exposio se dissolve em

    outras figuraes rtmicas e expandindo a variedade intervalar. Toda a primeira seo se

    caracteriza por uma narrativa irregular, que acaba no conduzindo percepo por tenso

    ou expectativa, foi desejada uma narrativa montona e esttica.

    Fig.15: introduo com ritmo em espelho.

    Aps um breve rasgueado que cria uma pequena tenso, comea uma seo

    baseada numa srie e suas variaes. Na primeira frase so expostas a srie original e sua

    inverso respectivamente, onde podemos notar j duas notas fora da srie original e duas

    notas deslocadas na invertida, mudanas que se tornaram estruturais na pea.

    Fig.16: compasso 18 - exposio da srie original e sua inverso.

    42

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    38/84

    Um dos impulsos composicionais da pea foi o desejo de trabalhar com elementos

    que sintetizam algumas das vrias abordagens estticas do violo, como por exemplo, o

    jazz, a bossa-nova e a msica folclrica. O desafio se tornou interagir com estas

    gramticas, fechadas em si, e equilibrar estes elementos em uma narrativa coerente. Foi

    usado uma tcnica de colagem de escrita instrumental em que o resultado desejado foi o

    uso destes elementos enquanto rgos e no enquanto clulas. Nos acordes jazzsticos

    exposta uma sequncia simples de dois acordes com uma nota em comum em registro

    diferente. Os dois acordes alm de possurem intervalos internos de stima (segunda

    invertida) a sequncia de um acorde para outro se complementa por segundas e stimas

    em relao ao anterior, reforando a sonoridade da stima sensvel exposta na introduo.

    Fig.17: compasso 32 - acordes jazzsticos

    Outra colagem feita com uma sequncia de acordes de uma msica folclrica O

    esquilador. Sequncia que, aps a exposio sbita do violo, tocada pela base

    eletroacstica, modificada por granulao. Este trecho tocado em rasgueado, com ritmo

    de chamam, que um ritmo folclrico que se caracteriza por ser um ritmo ternrio

    simples em que o acento deslocado para um binrio composto, fornecendo uma gama

    de flexibilidade rtmica que permite ao msico variar os acentos mantendo o pulso.

    Fig.18: compasso 41 - rasgueado com ritmo de chamam.

    43

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    39/84

    Enquanto a base aciona os samples granulados, o violonista improvisa com

    harmnicos naturais, uma espcie de improviso conduzido, relegando uma margem de

    deciso ao performer. Aps uma pequena ponte, o ritmo de chamam reaparece, desta

    vez com uma roupagem harmnica diferente, com utilizao de acordes simtricos,

    caracterstica do idiomatismo do violo.

    Fig.19: compasso 63 - chamam com outra roupagem harmnica.

    Um novo trecho de arpejo e escalas com carter virtuosstico encerra esta seo,

    antes de uma pequena reexposio do trecho serial para finalizar a pea. Um trecho de

    arpejos em quartas faz a ponte para a reexposio.

    Fig.20: compasso 84 - arpejos em quartas.

    Aps os arpejos de quarta, desenvolvida uma cadncia no compasso 85 sobre o

    acorde de Mi menor com stima maior mais uma vez explicitando a stima sensvel . A

    reexposio entra no compasso 86, conduzindoa uma coda de quatro compassos onde so

    repetidos os dois acordes jazzsticos expostos anteriormente, diminuindo a dinmica at

    o final.

    44

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    40/84

    2.3) Caminho Largo, Caminho Estreito

    Esta uma pea eletroacstica de vertente "concreta" por ter seu material baseado na

    transformao de sons coletados. A fonte dos sons o registro de um improviso com o"tunning"(dial), de um rdio AM, onde foi tentado buscar inflexes e gestos com a

    mudana de estaes e com os intervalos que ficam entre as faixas de sintonia.

    Os trechos da fonte, escolhidos para sampleamento no processo, so trechos de um

    sermo religioso. No trecho, o orador explica sobre a questo do caminho estreito que

    leva ao Cu e do caminho largo que conduz ao inferno. O trecho foi escolhido pela

    particularidade gestual obtida atravs da eloquncia do discurso. No se pode negar a

    alta carga de teor ideolgico num trecho destes, o que acaba gerando muitas dvidas aocompositor no sentido que um tipo de tratamento pode potencializar a propriedade

    ideolgica da fonte ou ainda gerar interpretaes de carter ofensivo. O que para um

    compositor se constitui de material sonoro, para o pblico alvo do sermo se constitui de

    pea de adorao e louvor. Um material que j venha cheio de esteretipos e significados

    to fortes se torna difcil de ser moldado e colocado em outro contexto.

    O desafio de compr uma pea com este material de uma maneira neutra, nos trouxe

    algumas observaes, como por exemplo, o fato de que o significado de um evento

    sonoro percebido se modifica ao conhecermos a fonte do material usado no evento, ou

    seja: uma idia externa experincia perceptiva acaba por redefinir o significado do

    fenmeno percebido. O que, por seu lado, tambm confirma a afirmao de McLuhan

    (1964) : "O meio a mensagem.", onde o que se faz com um determinado meio no o

    mais importante e sim o significado deste meio em si. Fazendo uma analogia no nvel

    composicional dessa pea, o meio seria o improviso de rdio AM com o trecho do sermo

    usado como fonte sonora na pea, que tem um significado maior (anterior) - um

    esteretipo comum de reconhecimento - do que a construo feita com ele. Ou seja, pormais que se dilua a inteligibilidade da fonte sonora, sua carga ideolgica sempre estar

    presente durante a apreciao da composio.

    Uma srie de processamentos foram realizados antes da pea ser montada, a maioria

    usando os software Csound, Sound Forge e MAX. Aqui, vamos analisar os

    45

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    41/84

    processamentos feitos em Csound, em que se usou a tcnica de sntese granular de vrias

    maneiras, sendo uma destas baseada na pea "Invade Areas Where Nothing is Definite"

    (1998) de Derek Pierce, escrita inteiramente em Csound que um ambiente de

    programao de alto nvel voltado para a produo sonora. Atravs do Csound podemos

    sintetizar sons com vrias formas de onda e dispor de tcnicas de sntese e processamento

    tradicionais ou, at mesmo, criar alternativas. uma ferramenta de composio por

    algoritmos como o MAX, com a diferena da interface com o usurio ser atravs de

    linhas de comando com uma sintaxe parecida com a linguagem C++.

    O Csound precisa de dois arquivos de texto para realizar o processamento, a saber:

    arquivos .ORC (orchestra) e arquivos .SCO (score). No arquivo .ORC especificado o

    comportamento dos timbres de cada instrumento e suas formas de controle. No arquivo

    .SCO descrita a partitura das notas seqncia dos eventos. Nesta pea, Derek Piercefaz uso de quatro instrumentos, sendo que dois so iguais. Neste trabalho, vamos

    descrever o uso e a funcionalidade do instrumento 2, que utiliza o opcode granule, uma

    implementao da tcnica de sntese granular no Csound.

    O conceito de sntese granular parte do princpio de que qualquer som pode ser

    descrito por partculas sonoras (gros). Segundo Lee (2000) : Sntese granular pode ser

    classificada como uma forma de sntese aditiva. Um alto nmero de gros so

    adicionados juntos para produzir o resultado, como ilustra a figura:

    Fig.21: exemplo grfico do resultado do opcode granule.

    O opcode granule foi implementado no Csound por Allan Lee (1996), e se trata de

    uma plataforma de sntese granular, um granulador que l samples gravados na

    memria e os resintetiza com parmetros da sntese granular. Este comando possui 22

    46

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    42/84

    parmetros de controle que podem controlar as seguintes caractersticas : controle de

    amplitude geral, nmero de vozes, velocidade do sample (expanso/contrao), direo

    de leitura dosample, valor mnimo de comparao dosample ( usado para evitar trechos

    de silncio do sample), nmero da funo (pode-se acestar diferentes samples a cada

    momento), controle depitch shift, controle preciso da parte do sample que vai ser usada

    no processamento, tamanho do espao entre os gros, tamanho/durao dos gros (pode-

    se usar um recurso randmico para a gerao de diferentes tamanhos), controle do

    envoltria do gro e gerador randmico para produo de sequncias diferentes para cada

    canal .

    O uso deste processamento na pea criou uma textura granular dinmica em que o

    espao entre os gros e o tamanho dos gros decrescem ao longo de cada nota(evento)

    acionada. Como podemos ver na transcrio do instrumento 2 abaixo, todos osparmetros so controlados no Score (campos p) menos as variveis K. K1 uma

    envoltria de segmentos lineares que controla a amplitude geral de cada evento. K2 e K3

    so envoltrias de segmentos exponenciais que tem suas frmulas atreladas ao tempo de

    cada evento. Estas envoltrias controlam particularmente o espao entre os gros, que

    decresce exponencialmente ao longo do tempo de .20 at .002 milisegundos , e o

    tamanho dos gros que tambm decresce exponencialmente de .30 at .002

    milisegundos.

    47

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    43/84

    instr 2

    k1 linseg 0,20,1,(p3-80),1,60,0

    k2 expseg .20,(p3/8)*2,.2,(p3/8)*6,.002

    k3 expseg .30,p3/2,.03,p3/2,.002

    a1 granule

    p4*k1,p5,p6,p7,p8,p9,p10,p11,p12,p13,k2,p15,k3,p17,p18,p19,p20,p21,p

    22,p23,p24

    a2 granule

    p4*k1,p5,p6,p7,p8,p9,p10,p11,p12,p13,k2,p15,k3,p17,p18,p19,p20+0.07,

    p21,p22,p23,p24

    outs a1, a2

    endin

    Fig.22: instrumento 2 da pea Invade areas where nothing is definite, descrito acima.

    48

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    44/84

    P4 Amplitude geral

    P5 Nmero de vozes (quanto maior este valor, maior a densidade de gros e maior

    o tempo de processamento)

    P6 Define a velocidade de leitura do sample ( um valor de 0.1 ir expandir um

    sample de 1 seg., por exemplo, por um fator de 10, produzindo 10 segundos de

    som, enquanto que um valor de 10 ir comprimir o mesmo sample de 1 seg.

    Para 0.1 seg.)

    P7 Controla a direo de leitura dosample. Valor 1 significa o sentido original do

    sample. Valor 1 a leitura se d na ordem reversa, e um valor 0 significa

    leitura normal e reversa, randmicamente para cada gro.

    P8 Valor de samples na tabela. Samples com valor abaixo deste nmero serao

    excludos. um artifcio para se evitar espaos indesejados com silncio.

    P9 Este o nmero da funo no score em que est armazenado o sample (f-

    table/score).

    P10 Controle de altura/transposio dosample. Valor 0 significa uma oitava abaixo

    e acima do original, randomicamente para cada gro. Quando o valor, em P10

    1, 2, 3 ou 4, em P5 necessria a especificao do respectivo nmero de

    vozes. Se quisermos controlar, separadamente, a transposio de cada voz,

    podemos usar parmetros opcionais (P21, 22, 23, 24, etc). Valor 1 gera a

    altura original. Valor 2 oitava acima e valor 0.5 uma oitava abaixo.

    P11, P12,

    P13

    Valores designados para o fcil controle da precisa localizao nosample a ser

    usado. P11 define o ponto de comeo de leitura. P13 define at onde dentro do

    sample a leitura feita. P12 o valor de off-set, que equilibra a entrada do

    sample e evita cliks (cria fade-in e fade-out). So valores definidos em

    segundos.

    49

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    45/84

    Fig.23: tabela de funes de cada campo p (p-field) do opcode Granule.

    Atravs da quantidade de parmetros de controle, podemos notar a amplitude de

    possibilidades deste opcode que, apesar de ter uma sintaxe difcil, permite um controle

    detalhado do processamento ou uma abordagem intuitiva. Este instrumento foi tomado

    como exemplo para a gerao de diferentes texturas e elementos gestuais que puderam,

    posteriormente, ser editados e montados em seqncia.

    2.4) Pea de Marimba e computador

    K2 Espao/delay entre cada gro, definido por varivel de controle(K) e

    especificado na orchestra por uma funo exponencial.

    P15 Off-set randmico, definido por porcentagem de K2. Usado para o equilbrio

    do espao entre os gros.

    K3 Tamanho dos gros em segundos.

    P17 Off-set randmico, definido em porcentagem de K3, define o tamanho de cada

    gro.

    P18, P19 Definem, respectivamente, o ataque e decay do envoltria de cada gro,

    definidos em porcentagem de K3.

    P20 Parmetro opcional: o valor-semente para o gerador numrico randmico,

    seu valor de preset 0.5, em uma espacializao com multi-canais, seusarmos diferentes valores para cada vez que granule acionado, ir gerar

    uma sequncia randmica diferente para cada canal, produzindo um efeito de

    campo sonoro largo.

    P21, P22,

    P23, P24

    Respectivamente controle de altura/ transposio de cada voz, definida em P5.

    50

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    46/84

    Esta pea surgiu do desejo de se compr utilizando a Marimba e a proximidade

    que os instrumentos de percusso tem com as linguagens da msica contempornea e

    com o universo sonoro da msica eletroacstica e suas possibilidades de sntese,tratamento de sons gravados, performance e estruturao. Foram utilizados materiais

    vindos de experincias com o ambiente de composio Csound mesclados com elementos

    seriais na composio intervalar e de construo livre. Foram desenvolvidos tambm

    elementos idiomticos do instrumento como s, variaes de articulao e de toques e

    polifonia e conduo harmnica.

    A escrita da Marimba, nesta pea, uma escrita tradicional e tem sua frmula de

    compasso variando entre um binrio composto e um binrio simples. Esta pea tem uma

    forma geral simples, como um pequeno rond, com uma parte que sempre retorna com

    outras duas contrastantes. A pea inicia com uma pequena introduo onde exposta a

    srie original apenas de alturas.

    Fig.24: srie original da pea para marimba e computador.

    O trecho reexpositivo comea com a srie original no compasso 8, acrescida de

    uma mudana que aps sua primeira apario se torna estrutural. Podemos notar a

    variao de densidade rtmica, com vrias pausas propcias para um dilogo com o

    computador.

    Fig.25: compasso 8 - 10 trecho reexpositivo do rond.

    51

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    47/84

    Seguem-se nos compassos 16 - 17 com acordes em trmolo, em que o primeiro

    segue a srie e o segundo uma variao harmnica do primeiro. Neste caso, o primeiro

    acorde serviu como entidade de base para a criao do segundo.

    Fig.26: compasso 16 - 17 trmolos com variao harmnica.

    Os ltimos trs compassos desta seo reexpositiva se seguem respectivamente a

    inverso da srie original ligada transposio da srie uma quinta diminuta acima daoriginal, com variao de articulao e toque, onde as trs ltimas colcheias devem ser

    tocadas com toque abafado, ou seja, o marimbista percute a tecla e automaticamente

    pressiona com a ponta da baqueta impedindo a sustentao da nota, o que causa uma

    sonoridade seca e abafada.

    Fig.27: compassos 19 21, fim do trecho reexpositivo.

    A segunda seo comea no compasso 23 com um tema meldico principal que

    derivado da escala de sol menor com uma inteno meldica de r menor harmnico,

    Fig.28: compassos 23 25, tema da segunda seo.

    52

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    48/84

    Seguem-se duas variaes meldicas deste tema. Na primeira so deslocados e

    transpostos os intervalos de segunda menor e tera menor, como podemos ver no

    exemplo. Na segunda variao adicionada uma segunda voz que comea o primeiro

    tempo em sentido contrrio e segue no segundo tempo em movimento paralelo.

    Fig.29: compassos 26 28, variao meldica e harmnica do tema.

    Um novo elemento apresentado como base para variao que , basicamente, ointervalo de sexta maior, exposto de maneira simples em trmolo e, logo aps, como

    intervalo de sustentao para uma escrita a trs vozes.

    Fig.30: compassos 32 36, trecho com escrita a 3 vozes.

    No compasso 37 encontramos um trecho que a sexta transposio da srie (uma

    quinta diminuta acima) usada na primeira seo, escrita toda em semicolcheias e variando

    o registro, seguida de um trecho da dcima primeira inverso (uma stima maior acima)

    na sua forma retrgrada.

    Fig.31: compassos 37 38, sexta transposio da srie.

    No compasso quarenta e dois buscou-se um contraste entre repetio e no-

    53

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    49/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    50/84

    Dois compassos com ritmo igual so apresentados de maneira que o primeiro se

    torna um repouso por apresentar apenas notas naturais, mesmo que tenha intervalos de

    quinta diminuta, nona e saltos de nona. O segundo compasso gera uma tenso moderada

    por apresentar acidentes na ltima semicolcheia do primeiro tempo e no segundo tempo.

    Fig.35: compassos 57 58, variao de tenso.

    Um trecho de stimas maiores apresentadas em trmolo de duas notas dispostocom variao de dinmica, e serve como ponte para a reexposio da primeira seo.

    Fig.36: compassos 61 63, trmolo com stimas maiores.

    Aps a reexposio, comea uma nova seo que novamente muda de seis por oito

    para dois por quarto, onde exposta a srie original em sua forma retrgrada, onde

    trabalhada a variao e o contraste entre notas longas ou repetidas com figuraes

    rtmicas rpidas.

    Fig.37: compassos 80 85, nova seo, com srie retrgrada.

    Em sequncia srie original retrgrada, entra a quinta inverso (uma tera menor

    a partir da inverso original) com o mesmo sentido de organizao e disposio dos

    55

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    51/84

    compassos e das figuras rtmicas.

    Fig.38: compassos 85 90, srie original retrgrada e a quinta inverso em sequncia.

    As duas ltimas notas da quinta inverso so harmonizadas com acordes

    simtricos, uma caracterstica de harmonizao jazzstica, consistindo de uma colagem de

    outra gramtica inserida em uma narrativa diferente.

    Fig.39: compassos 91 - 94 colagem de acordes jazzsticos.

    No compasso noventa e cinco novamente apresentada a srie original de uma

    maneira bem meldica, imitando um acompanhamento ou um arpejo de violo.

    Fig.40: compassos 95 2000, acompanhamento.

    Aps o reaparecimento dos acordes simtricos, como uma colagem de um

    elemento que foi transformado em signo sonoro, feita a reexposio da primeira seo

    que tambm o final da pea, caracterizando-se por um final sbito.

    56

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    52/84

    Concluso

    Esta pesquisa no se encerra com este texto e com as composies, pelo contrrio,inicia-se uma fase mais madura e consciente das possibilidades e mtodos de trabalho,

    com maior experincia tanto na parte terica, quanto na parte de programao, escrita

    instrumental, performance em concerto e experincia de estdio. Podemos concluir que

    este trabalho, antes de ser um resultado em si, abre possibilidades e ferramentas de

    aprofundamento da proposta.

    Ao final de uma etapa de um trabalho, podemos avaliar os vrios caminhos que

    as propostas podem seguir. Os referenciais tericos utilizados aqui podem se tornar um

    apoio acadmico para novos processos investigativos em composio eletroacstica

    mista, por ser um texto que essencialmente serve ao compositor interessado em

    desenvolver um trabalho prtico em composio interativa.

    Podemos fazer uma sntese dos processos composicionais de escrita e de

    programao que mais foram utilizados: serializao livre de alturas, idiomatismo

    instrumental como ponto estrutural nas composies, contraste entre narrativas diversas,

    colagens, granulaes, interao com intrprete no nvel da performance e da

    composio, estruturao eletroacstica provinda da escrita instrumental.Ospatchs de MAX/MSP, pela prpria caracterstica de programao do ambiente

    MAX, so automaticamente clulas que podem ser incorporadas a novos projetos, ou ter

    detalhes alterados para servir a novas funes. Por vezes, o mesmo patch, com suas

    possibilidades bem exploradas, pode nos fornecer inmeras respostas, muitas que nem

    tinhamos pensado originalmente.

    Oscorefollowerdesenvolvido ainda uma verso instvel, ou seja, ainda no

    uma ferramenta com a qual podemos contar sem o nus de erros. Mas consiste de uma

    estrutura bsica de umscorefollower, pronto para desenvolvimento e implementao em

    composies. Os principais desenvolvimentos so o trabalho, direto no algoritmo do

    objeto fiddle~ , no sentido de estabelecer diferenas entre os timbres dos instrumentos,

    pois um dos maiores problemas de leitura deste objeto o fato dele reconhecer muitos

    harmnicos de cada timbre, enquanto que o interestante para um scorefollowerseria o

    57

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    53/84

    reconhecimento apenas do harmnico fundamental de cada nota, pois para cada timbre ou

    espectro harmnico diferente ele se comporta de maneira diferente. Outro passo o de

    distribuir o processamento, pois, neste caso, o mesmo programa reconhece as alturas e

    realiza o acompanhamento acionando os samples. Se conseguirmos deslocar o

    reconhecimento para um processador e o acionamento do acompanhamento para outro

    processador, podemos chegar mais perto de uma situao estvel. Poderemos tambm

    ampliar a lgica deste patch, pois poder ser includo, por exemplo, a anlise de

    comportamento da performance de maneira que o patch responda de maneiras diferentes

    de acordo com cada performance.

    As composies apresentadas aqui so breves resultados de uma fonte de

    possibilidades avaliadas durante este trabalho. Possibilidades que, longe de terem sido

    esgotadas nestas peas, serviram para a ampliao da viso musical e artstica. Neste tipode proposta, o trabalho composicional se torna o jogo das particularidades idiomticas de

    cada instrumento e a carga de signos sonoros que este idiomatismo carrega em oposio

    gama de possibilidades timbrsticas e gestuais facultadas pelo computador. O trabalho se

    torna a realizao de uma escultura sonora em que devemos levar em conta vrios

    fatores, como, por exemplo, a questo de em que meio vai ser difundida esta composio,

    que pode ser em suporte fixo como em Caminho Largo, Caminho Estreito, ou em

    performance de concerto como emEnquanto eles riem, em que foi planejada uma verso

    mixada para audio. De acordo com o meio de difuso, o enfoque no trabalho vai ser

    diferente.

    Pode-se afirmar que a experincia potica advinda desses processos

    composicionais apresentados aqui se constituiu num avano na busca por uma identidade

    artstica. O contraste de narrativas diversas desenvolvido em Pequi, forneceu elementos

    de organizao composicional em se tratando de lidar com gramticas distintas e

    fechadas em si. O tratamento da fonte sonora em Caminho Largo, Caminho Estreito

    resultou numa ampliao de possibilidades de uso do material sonoro. A interatividade do

    compositor com o intrprete no nvel composicional desenvolvida em Enquanto eles

    riem possibilitou ferramentas para trazer para dentro da obra, de forma orgnica, o

    universo sonoro entre compositor e performer.

    Para finalizar, podemos concluir que o processo composicional de pesquisa serviu

    58

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    54/84

    para o aprofundamento da busca por uma identidade artstica, atravs da ampliao de

    tcnicas de programao e da reflexo ao redor do fazer musical contemporneo e suas

    relaes com as novas tecnologias. Identidade artstica essa que entendemos como uma

    constante busca dinmica da expresso pessoal atravs do universo que engloba nossa

    individualidade. Enquanto etapa de formao artstica para um compositor, pode-se dizer

    que esta pesquisa serviu para a ampliao do repertrio gestual e idiomtico atravs de

    possibilidades de ambientes computacionais voltados para a composio, escrita

    instrumental e combinao de linguagens.

    59

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    55/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    56/84

    Anexos

    - Partituras

    - Arquivos Csound

    - Patchs de MAX/MSP

    61

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    57/84

    62

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    58/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    59/84

    64

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    60/84

    65

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    61/84

    66

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    62/84

    67

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    63/84

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    64/84

    69

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    65/84

    70

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estratgias e relatos de processos

    66/84

    71

  • 8/14/2019 Composio Interativa - Estr