compendio gep meio ambiente

Upload: coordenacao-de-direito-sao-camilo-es

Post on 13-Oct-2015

235 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Compêndio das produções do grupo de estudos e pesquisa Mineração e Meio Ambiente - Centro Universitário São Camilo-ES

TRANSCRIPT

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 2

    COMPNDIO DE PRODUO CIENTFICA DO

    GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA EM

    MINERAO E MEIO AMBIENTE

    BINIO: 2012-2014

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 3

    Andr Arajo Alves da Silva

    Elissandra da Silva Mendona

    Jos Eduardo Silvrio Ramos

    Tau Lima Verdan Rangel

    (Organizadores)

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 4

    COMPNDIO DE PRODUO CIENTFICA DO GRUPO DE ESTUDO E

    PESQUISA EM MINERAO E MEIO AMBIENTE

    Comisso Cientfica

    Andr Arajo Alves da Silva Jos Eduardo Silvrio Ramos

    Elissandra da Silva Mendona Tau Lima Verdan Rangel

    Editorao, padronizao e formatao de texto

    Tau Lima Verdan Rangel

    Tatiana Mareto da Silva

    Contedo, citaes e referncias bibliogrficas

    Os autores

    de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui apresentados.

    Reproduo dos textos autorizada mediante citao da fonte.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 5

    N D I C E

    RESUMO EXPANDIDO p. 06 A TUTELA JURDICA DO PATRIMNIO CULTURAL NA ORDEM DO DIA:

    BREVE ENSAIO ACERCA DA IMPRESCINDIBILIDADE DA SALVAGUARDA

    DA AMBINCIA URBANA TRADICIONAL DA COMUNIDADE DA IGREJA DE

    NOSSO SENHOR DOS PASSOS

    A IMPORTNCIA DO TOMBAMENTO AMBIENTAL PARA A PRESERVAO

    DA HERANA CULTURAL

    A MANIFESTAO CULTURAL DO BOI PINTADINHO: UM CENRIO DE

    TRADIES DO MUNICPIO DE MUQUI

    A TUTELA JURDICA DO PATRIMNIO CULTURAL NA ORDEM DO DIA: A

    SALVAGUARDA DA AMBINCIA URBANA TRADICIONAL DA COMUNIDADE

    DA IGREJA DE NOSSO SENHOR DOS PASSOS

    AS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS: O OFCIO, RELEVNCIAS CULTURAIS E

    A TUTELA ESTATAL COMO FERRAMENTA DE PRESERVAO

    ARTIGO CIENTFICO p. 32 A PROEMINNCIA DA DEFESA DO MEIO AMBIENTE PARA O ALCANCE DE

    INDICADORES PRPRIOS SUSTENTABILIDADE

    A VALORAO DO PRECEITO DA BUSCA PELA FELICIDADE ENQUANTO

    AXIOMA DE INSPIRAO DO DIREITO DAS FAMLIAS

    O PRECEITO CONSTITUCIONAL DA SUPREMACIA DO INTERESSE

    PBLICO ENQUANTO VETOR DE CONFORMAO DA ADMINISTRAO

    PBLICA

    NOTAS AO MEIO AMBIENTE CULTURAL: O IMPACTO DO

    EMPREENDIMENTO HUGO AMORIM RESIDENCIAL NA AMBINCIA DA

    IGREJA NOSSO SENHOR DOS PASSOS

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 6

    O DIREITO MINERRIO COMO POTENCIALIZAO DA DIGNIDADE DA

    PESSOA HUMANA

    O MEIO AMBIENTE CONSOANTE A TICA JURDICA: A CONCREO DOS

    DIREITOS DE TERCEIRA DIMENSO

    O PRINCPIO DA PROTEO DO CONSUMIDOR NO ORDENAMENTO

    BRASILEIRO: A CONSOLIDAO DOS VALORES DE VULNERABILIDADE

    O PSEUDODESENVOLVIMENTO ECONMICO ADVINDO DA INSTALAO

    DAS INDSTRIAS PETROLFERAS: UMA ABORDAGEM DOS CONFLITOS

    SOCIOAMBIENTAIS EM COMUNIDADES PESQUEIRAS TRADICIONAIS DO

    LITORAL SUL-CAPIXABA

    A DIGNIDADE DA PESSOA DO APENADO EM RESGATE: A IMPORTANTE

    CONTRIBUIO DO PROJETO DA ASSOCIAO AMBIENTAL MONTE

    LBANO (AAMOL) NO MUNICPIO DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-ES

    A EFETIVAO DA DOUTRINA DA PROTEO INTEGRAL NO MUNICPIO

    DE CONCEIO DO CASTELO - ES: ROCHAS ORNAMENTAIS E A

    RECUPERAO DA DIGNIDADE DE ADOLESCENTES CARENTES

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 7

    RESUMOS EXPANDIDOS

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 8

    A TUTELA JURDICA DO PATRIMNIO CULTURAL NA ORDEM DO DIA:

    BREVE ENSAIO ACERCA DA IMPRESCINDIBILIDADE DA SALVAGUARDA DA

    AMBINCIA URBANA TRADICIONAL DA COMUNIDADE DA IGREJA DE NOSSO

    SENHOR DOS PASSOS1

    AMARAL, Carolina de Oliveira Souza Gandine2 LOMAR, Pamella3

    RANGEL, Tau Lima Verdan4

    INTRODUO

    O meio ambiente cultural constitudo por bens materiais, que so as

    construes culturais, e imateriais, sendo estes as manifestaes de cultura diversas

    transmitidas por geraes, que agregam caractersticas a uma determinada sociedade.

    Dessa forma, intrnseco sociedade, no somente em decorrncia material e esttica,

    mas por inserir peculiaridades prprias a esta, a sua identidade, abarcada pela poca

    histrica e natural deste bem.

    Por essa razo, considerado como fator crucial cultura brasileira e de

    suma importncia sua preservao, garantida essencialmente pelo Estado, com a

    colaborao da populao. Ademais, o presente, visa proteo do nico cone religioso

    arquitetado no sculo XIX, traado por elementos portugueses e de fulcral relevncia

    histrica A Igreja Nosso Senhor dos Passos. E para conserv-la, foi utilizado o

    mecanismo denominado, tombamento. Em contrapartida, em decurso do capitalismo e

    do expansionismo empreendedor, o meio ambiente cultural foi colocado em segundo

    1 Resumo Expandido apresentado durante a realizao da I Mostra Interdisciplinar de Banner do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES, em 2014. 2 Graduanda do 5 Perodo do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente, sublinha Meio Ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito. 3 Graduanda do 5 Perodo do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente, sublinha Meio Ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito. 4 Professor Orientador. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente e Coordenador sublinha Meio Ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 9

    plano e o monumento sofreu repentina mudana de cenrio, provocada pela construo

    do empreendimento Hugo Amorim Residencial, que impossibilita a visibilidade devida

    do patrimnio.

    Fonte: Jornal Aqui Notcias, 2014.

    METODOLOGIA

    O presente estudo foi estruturado a partir de reviso bibliogrfica, lanando

    mo dos posicionamentos doutrinrios e jurisprudenciais acerca da temtica debatida.

    De igual, foi empregado elementos dotados de cunho tcnico, sobretudo pareceres

    avaliativos apresentados pela Secretaria Estadual de Cultura.

    DESENVOLVIMENTO

    Para preservao do patrimnio histrico e cultural, utiliza-se como

    instrumento o tombamento, que, segundo o IPHAN (Instituto do Patrimnio Artstico e

    Nacional), um ato administrativo realizado pelo poder pblico, podendo ser aplicado

    aos bens mveis e imveis, de interesse cultural ou ambiental. Cumpre ressaltar que o

    tombamento possui carter de guardio do patrimnio, preservando seu aspecto fsico,

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 10

    e, principalmente, a memria e cultura que ali reside. Nesse sentido, o particular que

    proprietrio do bem tombado, no pode usufruir deste livremente, devido ao carter

    social que apresenta. A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, abarcou

    em seu art. 216 o patrimnio cultural, tendo este respaldo estatal para sua proteo no

    dispositivo legal. Alm disto, o Decreto-Lei N 25, de 30 de novembro de 1937 dispe

    sobre a organizao do patrimnio histrico e artstico nacional, reforando o interesse

    do Estado em guardar o bem cultural.

    A partir do entendimento sobre o tombamento, passa-se a questionar sobre

    sua natureza jurdica. Grande parte da doutrina entende ser esta uma forma do Estado

    intervir na propriedade privada, tornando seu uso restrito. A Igreja Nosso Senhor dos

    Passos foi tombada pelo Conselho Estadual de Cultura por meio da Resoluo N 04,

    publicada em 30 de agosto de 1985, estando inscrito no Livro de Belas Artes e no Livro

    Histrico, que constituem o Livro do Tombo do Patrimnio Cultural. Conforme dispe o

    prprio stio eletrnico da parquia, em 1854, o Baro de Itapemirim, Incio de Loiola e

    Silva e Pedro Dias do Prado fizeram a doao do terreno para que nele fosse erguida a

    capela. Assim, em 1882 a edificao foi construda, passando a funcionar como matriz

    de Cachoeiro de Itapemirim em 1884. Cumpre dizer que tal edificao apresenta-se

    como a nica arquitetura religiosa do sculo XIX erguida no municpio em comento.

    A construo apresenta-se como grande marco da cultura local cachoeirense,

    pondo em memria o legado deixado pela arte colonial religiosa. Mais do que o aspecto

    fsico, tal edificao religiosa exprime o sentimento da comunidade que ali reside e se

    formou, devendo seu carter social ser preservado. Como dito, o tombamento limita o

    direito de propriedade, no podendo a vizinhana do bem tombado fazer construo

    que impea sua visibilidade ou qualquer tipo de ao que traga a deteriorao do bem.

    Nesse sentido, cita-se o Empreendimento Residencial Hugo Amorim Residencial, que

    est localizado no entorno da Igreja Nosso Senhor dos Passos, afetando diretamente ao

    bem tombado. O avano do capitalismo e a constante busca pela modernizao

    invadem um ambiente histrico e cultural, pondo em desfoque importante bem a ser

    preservado.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 11

    OBJETIVOS

    Demonstrar que a busca desenfreada pelo desenvolvimento e crescimento

    faz com que o antigo seja esquecido, renegado ao patamar secundrio e inferior. Isto

    quer dizer, que a contemporaneidade, com sua dinamizao caracterstica, apresenta-se

    de forma avassaladora, trazendo, imperiosamente, para os debates no meio acadmico

    acerca da proteo da cultura local existente. Neste sentido, o trabalho prisma a

    imprescindibilidade da preservao do patrimnio cultural com enfoque a Igreja Nosso

    Senhor dos Passos, sob a crtica de preserv-los do mercado contemporneo e das

    instalaes de empreendimentos imobilirios que afetam de forma direta os

    monumentos protegidos, visto que, est inteiramente interligado com o ser humano e

    sua trajetria.

    CONSIDERAES FINAIS

    O tema apresentado de extrema relevncia atual, por consistir numa

    problemtica que pe em questo a modernidade x preservao cultural. Tal aspecto

    vai alm do disposto no escopo jurdico, tendo consequncias sociais mais relevantes do

    que o prprio desrespeito ao aspecto legal. Ainda que o desenvolvimento e crescimento

    econmico e imobilirio tenha grande valor, o que realmente deve ser reconhecido, o

    Empreendimento Hugo Amorim Residencial apresenta-se como elemento que interfere

    de forma significativa no ambiente tombado, qual seja, a Igreja de Nosso Senhor dos

    Passos. Nesse sentido, o aspecto a ser observado de forma primordial o equilbrio

    entre o desenvolvimento e a preservao da cultura e movimentos sociais local.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 12

    Fonte: Parquia Nosso Senhor dos Passos, 2014.

    REFERNCIAS BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em: . Acesso em 15 abr. 2014. _______________. Decreto-Lei N 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteo do patrimnio histrico e artstico nacional. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2014. _______________. BRASIL. Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2014. ESPRITO SANTO (ESTADO). Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Esprito Santo. Disponvel em: . Acesso em 15 abr. 2014.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 13

    A IMPORTNCIA DO TOMBAMENTO AMBIENTAL PARA A PRESERVAO DA

    HERANA CULTURAL5

    SOUZA, Pmella Lomar de6 RANGEL, Tau Lima Verdan7

    SILVA, Andr Arajo Alves da8

    INTRODUO

    Cuida salientar que o meio ambiente cultural constitudo por bens

    culturais, cuja acepo compreende aqueles que possuem valor histrico, artstico,

    paisagstico, arqueolgico, espeleolgico, fossilfero, turstico, cientfico, refletindo as

    caractersticas de uma determinada sociedade. Quadra anotar que a cultura identifica as

    sociedades humanas, sendo formada pela histria e maciamente influenciada pela

    natureza, como localizao geogrfica e clima. O meio ambiente cultural decorre de

    uma intensa interao entre homem e natureza, porquanto aquele constri o seu meio,

    e toda sua atividade e percepo so conformadas pela sua cultural. Por essa razo,

    considerado como fator crucial cultura brasileira e de substancial importncia sua

    preservao, garantida essencialmente pelo Estado em colaborao populacional. Em

    conseguinte se fez necessrio a oferta de instrumentos para concretizar os direitos

    inerentes ao patrimnio cultural e ao derredor deste, com a ajuda primordial do

    mecanismo denominado, tombamento.

    5 Resumo Expandido submetido VI EXPOCINCIA do Centro Universitrio So Camilo-ES, em 2014. 6Graduanda do 5 perodo B do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente, sublinha Meio ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural do Grupo de Estudo de Pesquisa Constitucionalizao do Direito, [email protected]; 7 Professor Orientador. Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente e Coordenador da sublinha Meio ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito do Centro Universitrio So Camilo, [email protected]; [email protected] 8 Professor Coorientador. Coordenador da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente do Grupo de Pesquisa e Estudos A Constitucionalizao dos Direitos do Centro Universitrio So Camilo-ES, [email protected];

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 14

    MATERIAL E MTODOS

    O presente estudo teve como embasamento a doutrina e jurisprudncia

    cuja anlise foi realizada mediante reviso bibliogrfica, em livros, peridicos e na

    legislao vigente.

    DESENVOLVIMENTO

    Em uma primeira plana, cuida salientar que o tombamento se apresenta

    como um dos instrumentos utilizveis, pelo Poder Pblico, com o escopo de se tutelar e

    proteger o patrimnio cultural brasileiro. Fiorillo (2012, p. 428-429) anuncia, com

    bastante propriedade, que dizemos tombamento ambiental, porquanto este instituto

    tem a finalidade de tutelar um bem de natureza difusa, que o bem cultural. Desta

    sorte, a utilizao do tombamento como mecanismo de preservao e proteo do

    patrimnio cultural brasileiro permite o acesso de todos cultura, substancializando

    verdadeiro instrumento de tutela do meio ambiente. O instituto em comento se revela,

    em sede de direito administrativo, como um dos instrumentos criados pelo legislador

    para combater a deteriorao do patrimnio cultural de um povo, apresentando, em

    razo disso, macia relevncia no cenrio atual, notadamente em decorrncia dos bens

    tombados encerrarem perodos da histria nacional ou, mesmo, refletir os aspectos

    caractersticos e identificadores de uma comunidade. observvel que a interveno do

    Ente Estatal tem o escopo de proteger o patrimnio cultural, busca preservar a memria

    nacional. Ao lado disso, o tombamento permite que o aspecto histrico seja

    salvaguardado, eis que constitui parte da prpria cultura do povo e representa a fonte

    sociolgica de identificao de vrios fenmenos sociais, polticos e econmicos

    existentes na atualidade.

    Desta feita, o proprietrio no pode, em nome de interesses particulares, usar

    ou fruir de maneira livre seus bens, se estes se traduzem em interesse pblico por

    atrelados a fatores de ordem histrica, artstica, cultural, cientfica, turstica e

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 15

    paisagstica. So esses bens que, embora permanecendo na propriedade do particular,

    passam a ser protegidos pelo Poder Pblico, que, para esse fim, impe algumas

    restries quanto a seu uso pelo proprietrio, consoante o magistrio de Carvalho

    Filho (2011, p. 734). Os exemplos de bens a serem tombados so extremamente

    variados, sendo os mais comuns os imveis que retratam a arquitetura de pocas

    passadas na histria ptria, dos quais podem os estudiosos e pesquisadores extrair

    diversos meios de conhecimento do passado e desenvolver outros estudos com vistas a

    proliferar a cultura do pas. Alm disso, possvel evidenciar que corriqueiro o

    tombamento de bairros ou at mesmo cidades, quando retratam aspectos culturais do

    passado.

    verificvel que a proteo dos bens de interesse cultural encontra respaldo

    na Constituio de 1988, que impe ao Estado o dever de garantir a todos o exerccio

    de direitos culturais e o acesso s fontes da cultura nacional. Por outro lado, nela se

    define o patrimnio cultural brasileiro, composto de bens materiais e imateriais

    necessrios exata compreenso dos vrios aspectos ligados os grupos formadores da

    sociedade brasileira (CARVALHO FILHO, 2011, p. 735). A redao do 1 do artigo 216

    da Carta de Outubro estabelece que o Poder Pblico, com a colaborao da comunidade,

    promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por meio de inventrios,

    registros, vigilncia, tombamento e desapropriao, e de outras formas de

    acautelamento e preservao.

    Resta patentemente demonstrado que o tombamento uma das mltiplas

    formas utilizadas na proteo do patrimnio cultural brasileiro. Como bem anota

    Meirelles (2012, p. 635), tombamento a declarao do Poder Pblico do valor

    histrico, artsticos, paisagstico, turstico, cultural ou cientfico de coisas ou locais que,

    por essa razo, devam ser preservados, de acordo com a inscrio em livro prprio. O

    tombamento um dos institutos que tm por objeto a tutela do patrimnio histrico e

    artstico nacional, que implica na restrio parcial do imvel, conforme se verifica pela

    legislao que o disciplina. Cuida salientar que o tombamento ambiental configura clara

    materializao do corolrio da herana cultural, o qual, conforme construo de Michael

    Decleris (2014, p. 113-115), coloca em especial ateno a imperiosa necessidade de se

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 16

    ofertar, por meio de institutos robustos, preservar os mais importantes conjuntos feitos

    pelo homem, alcanando, pois, os singulares monumentos, conjuntos arquitetnicos e

    stios arqueolgicos. Com efeito, em sede de desenvolvimento, em nvel cultural da

    humanidade, uma vez que por meio daquele que o homem adquire a sua adaptao ao

    meio ambiente natural. Cuida anotar que o princpio da herana cultural visa assegurar

    a estabilidade e a continuidade histrica da espcie humana, logo, admitir situaes

    diversas coloca em risco a identidade cultural dos povos. Assim, o corolrio da herana

    cultural e do patrimnio natural so as condies para a estabilidade dinmica

    (equilbrio) e interdependncia dos ecossistemas e sistemas em seu desenvolvimento

    perene ao longo do tempo pelo homem.

    A conscincia da relao entre os dois princpios relativamente recente,

    enquanto o interesse do homem na preservao da memria do seu passado histrico

    recebeu maior proeminncia na contemporaneidade, tanto em esfera nacional, como na

    rbita internacional. A proteo do patrimnio cultural, compreendendo os

    monumentos, conjuntos arquitetnicos e stios, deve ser completa e deve apresentar um

    objetivo importante no ordenamento do territrio da cidade. O regime jurdico de

    proteo deve ser eficaz, ou seja, incorpora os controles e equilbrios adequados para

    assegurar que o monumento protegido, no permitindo que seja alterado, demolido ou

    destrudo. O meio ambiente cultural reclama proteo contra grande perigo ambiental e

    danos pela poluio, assim como imprescindvel um ambiente de alta qualidade tem

    de ser mantido na rea em torno de monumentos e conjuntos arquitetnicos e dentro

    dos stios arqueolgicos

    CONSIDERAES FINAIS

    A herana cultural brasileira, proveniente do multifacetado patrimnio existente

    do territrio nacional, vem ganhando, gradativamente, destaque no mbito jurdico e

    populacional, em face da sua historicidade, refletindo, corriqueiramente, a identificao

    da populao local. Com efeito, verifica-se que o instituto do tombamento no somente

    proporciona a salvaguarda de um bem dotado de aspectos culturais proeminentes,

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 17

    colocando em destaque a proteo daquele bem e toda a macia identidade nele

    contida para as presentes e futuras geraes. De igual modo, verifica-se que o

    tombamento proporciona a defesa do bem quando se refere ao mutilamento deste, ao

    que se denota com maior significncia, como abrigar indivduos que no possuem

    moradia, bem como dilapidao. Dessa sorte, possvel salientar que o instituto do

    tombamento, na condio de instrumento de salvaguarda do patrimnio cultural,

    apresenta-se como mecanismo imprescindvel para a tutela da memria nacional.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio (1988). Constituio (da) Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, 1988. Disponvel em: . Acesso em 16 jun. 2014.

    CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

    DECLERIS, Michael. The Law of sustainable development: general principles. Disponvel em: . Acesso em 01 mar. 2014

    FIORILLO, Celso Antnio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. So Paulo: Editora Saraiva, 2012.

    MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 38 ed. So Paulo: Editora Malheiros, 2012.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 18

    A MANIFESTAO CULTURAL DO BOI PINTADINHO: UM CENRIO DE

    TRADIES DO MUNICPIO DE MUQUI9

    PRUCOLI, Anglica Porcari Dutra10 RANGEL, Tau Lima Verdan11

    SILVA, Andr Arajo Alves da12

    INTRODUO

    O meio ambiente cultural constitudo por bens materiais, que so as

    construes culturais, e imateriais, sendo estes as manifestaes de cultura diversas

    transmitidas por geraes, que agregam caractersticas a uma determinada sociedade.

    Dessa forma, intrnseco sociedade, no somente em decorrncia material e esttica,

    mas por inserir peculiaridades prprias a esta, a sua identidade, abarcada pela poca

    histrica e natural deste bem. Por essa razo, considerado como fator crucial cultura

    brasileira e de suma importncia sua preservao, garantida essencialmente pelo

    Estado, com a colaborao da populao. H muito tempo que o homem tem uma

    relao social e cultural com os animais, seja para fins de trabalho ou com cunho

    cultural. Dessa forma, comum ver animais protagonizando manifestaes culturais

    presentes em todo o mundo. Neste contexto, encontra-se o Boi Pintadinho, popular em

    diversas partes do Brasil. Em Muqui esta manifestao cultural est presente na

    formao cultural da populao. O Boi foi tombado como Patrimnio Estadual junto ao

    Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN).

    9 Resumo Expandido submetido VI EXPOCINCIA do Centro Universitrio So Camilo-ES, em 2014. 10 Graduanda do 5 perodo A do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente, sublinha Meio Ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito, [email protected]; 11 Professor Orientador. Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante da Linha de Pesquisa Direito Processual e Acesso Justia e Coordenador da sublinha Direito Fraterno e Mediao, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito do Centro Universitrio So Camilo, [email protected] 12 Professor Coorientador. Coordenador da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente do Grupo de Pesquisa e Estudos A Constitucionalizao dos Direitos do Centro Universitrio So Camilo-ES, [email protected];

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 19

    MATERIAL E MTODOS

    O presente estudo foi estruturado a partir de reviso bibliogrfica, lanando mo

    dos posicionamentos doutrinrios e jurisprudenciais acerca da temtica debatida. De

    igual, foi empregado elementos dotados de cunho tcnico, sobretudo pareceres

    avaliativos apresentados pela Secretaria Estadual de Cultura.

    DESENVOLVIMENTO

    Desde os primrdios da civilizao que os animais fazem parte da viva

    humana. Eles auxiliam no trabalho, despertam a curiosidade, fazem companhia, saciam

    a fome. No por acaso, que eles protagonizam algumas lendas e manifestaes

    culturais. Um dos grandes exemplos desta apropriao da figura animal em

    manifestaes culturais o Boi Pintadinho, popular em diversas partes do Brasil,

    comeando pela Amaznia com o famoso e rico Boi Bumb da ilha de Parintins; no

    Maranho o Bumba meu Boi ; no Piau, o Boi Pirilampo; no Sul, em Santa Catarina, o

    Boi de Melo; no norte do Esprito Santo, o Reis de Boi, e no sul do mesmo estado,

    no municpio de Muqui,o Boi Pintadinho.

    Tendo sua origem no Cristianismo, a cultura do Boi Pintadinho surgiu na

    Europa e veio para o Brasil com os portugueses. A brincadeira, geralmente, est

    associada devoo a um santo, So Sebastio (no ms de janeiro) e So Joo Batista

    (em junho). Em Muqui no foi diferente, o mais provvel que o Boi Pintadinho tenha

    surgido no ms de junho (data no definida), por se tratar do ms de So Joo Batista,

    padroeiro da cidade. Segundo o povo local, o primeiro boi de Muqui surgiu na dcada de

    1940, na Rua do Sovaco, no Bairro Boa Esperana pelas mos do mestre Cafuno que o

    batizou de Boi do Cafuno. O movimento que levou o boi para o carnaval s veio na

    dcada de 1970, com o Boi do Bijoca, rompendo com o aspecto religioso da

    manifestao.

    Em Muqui, os quatro dias de folia so regidos pela alegria dos bois

    pintadinhos. As comunidades mais pobres da cidade formam a maioria dos blocos que

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 20

    desfilam sua alegria com a leveza de quem no se d conta da responsabilidade de

    manter viva uma parte da identidade do seu povo. Os bois so mantidos, em sua

    maioria, por comunidades pouco abastadas que retiram dos prprios recursos, pedem

    ajuda aos amigos, e se organizam dividindo tarefas: uns ensaiam a bateria, outros

    trabalham na confeco dos bois, h aqueles que do conta das camisas do grupo;

    outros viabilizam as reformas ou compras de instrumentos. E tudo, no fim das contas,

    passa pelos mestres dos bois, que se destacam pela via do folclore e se tornam

    lideranas comunitrias que afirmam a sua identidade cultural desfilando nos quatro

    dias da folia.

    Todo este esforo tem reconhecimento quando a bateria comea a tocar e os

    fogos de artifcio queimam: exploso! Todos pulam e gritam no s da alegria do

    carnaval, mas tambm, pela indescritvel sensao de ser possuidor da prpria histria,

    de se reconhecer e de se afirmar enquanto cidado cultural. Dessa forma, pode-se dizer

    que o carnaval de Muqui democrtico. No festa de corda que se separa dois

    universos (um que veste abad e outro, no) nem espetculo de passarela com

    carssimas entradas que do direito a ver o jbilo passar. O carnaval de Muqui um

    convite que pode ser aceito ou no. Os que aceitam vo pulando atrs do boi. Os que

    no aceitam podem sentar na beira da praa e ver o boi passar.

    Partindo da premissa que para no morrer preciso se reinventar, pode-se

    dizer que as tradies folclricas permanecem vivas e integradas a vida das pessoas,

    apesar das mudanas sofridas com o decurso do tempo. um processo de adaptao

    contnuo e cuidadoso, a fim de que no se perca a essncia da manifestao cultural.

    Neste contexto, pode-se dizer que o Boi Pintadinho de Muqui constitudo da mesma

    natureza de outras manifestaes semelhantes que envolvem o boi por todo o territrio

    nacional. No entanto, o que se preserva, em Muqui, a forma com que se brinca o

    carnaval. No h relao religiosa ou lendria. A verdade dos donos e integrantes de boi

    , quase sempre, uma s: brincar porque gosta. E se gostar o principal motivo talvez

    seja difcil preservar a essncia folclrica, porm o que se pode notar exatamente o

    contrrio, a festa, a cada ano que passa, cresce e agrega mais grupos culturais e mais

    visitantes cidade. Isso se explica pela vocao cultural do povo muquiense, por

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 21

    constituir o maior Stio Histrico do Estado e por estar em processo de tornar-se

    patrimnio nacional com processo em andamento junto ao Instituto do Patrimnio

    Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) e por ser um povo que est em constante

    reinveno.

    O momento histrico do Boi pintadinho decisivo para a sua manuteno, a

    cada ano novos grupos surgem, e os tradicionais se reinventam e renovam suas culturas.

    Atualmente, o Boi Gaspar (tradio desde 1978) fez o cominho inverso ao do

    descobrimento, desembarcou em Lisboa para uma srie de atividades de intercmbio

    cultural entre Brasil e Portugal. O objetivo deste intercmbio mostrar que 514 anos

    aps a colonizao portuguesa a histria no se perdeu.

    CONSIDERAES FINAIS

    A relao do homem com os animais est presente desde os tempos mais

    remotos. E esta relao tambm est presente na cultura e o Boi pintadinho um

    exemplo disto. Tal manifestao cultural surgiu na Europa enraizada nas crenas dos

    santos cristos e desembarca no Brasil junto com os portugueses na poca do

    descobrimento. Desde ento, se espalhou por todo o pas em diferentes formatos.

    A brincadeira de boi, popular em diversas partes do Brasil, est presente na

    cultura do povo de Muqui, cidade do sul do estado do Esprito Santo. No somente nos

    quatro dias de carnaval, mas durante todo o ano os grupos se organizam e preparam a

    apresentao dos bois. Todos so envolvidos, com a ornamentao, com o levantamento

    de recursos financeiros. Mas, todo este esforo recompensado com o prazer de desfilar

    toda a alegria de um povo que tem o privilgio de possuir sua prpria histria e mant-

    la viva de gerao em gerao.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em: . Acesso em 16 jun. 2014.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 22

    ____________. Decreto-Lei N 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteo do patrimnio histrico e artstico nacional. Disponvel em: . Acesso em: 16 jun. 2014.

    ____________. Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Disponvel em: . Acesso em: 16 jun. 2014.

    CAPAI, Humberto. Muqui: Terra de Reis. Vitria: Ed. Usina de Imagem, 2012.

    MUQUI (MUNICPIO). Cmara Municipal de Muqui. Disponvel em: . Acesso em 17 jun. 2014.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 23

    A TUTELA JURDICA DO PATRIMNIO CULTURAL NA ORDEM DO DIA: A

    SALVAGUARDA DA AMBINCIA URBANA TRADICIONAL DA COMUNIDADE

    DA IGREJA DE NOSSO SENHOR DOS PASSOS13

    GANDINE, Carolina de Oliveira Souza14 RANGEL, Tau Lima Verdan15

    SILVA, Andr Arajo Alves da16

    INTRODUO

    O meio ambiente cultural constitudo por bens materiais, que so as

    construes culturais, e imateriais, sendo estes as manifestaes de cultura diversas

    transmitidas por geraes, que agregam caractersticas a uma determinada sociedade.

    Dessa forma, intrnseco sociedade, no somente em decorrncia material e esttica,

    mas por inserir peculiaridades prprias a esta, a sua identidade, abarcada pela poca

    histrica e natural deste bem. Por essa razo, considerado como fator crucial cultura

    brasileira e de suma importncia sua preservao, garantida essencialmente pelo

    Estado, com a colaborao da populao. Ademais, o presente, visa proteo do nico

    cone religioso arquitetado no sculo XIX, traado por elementos portugueses e de

    fulcral relevncia histrica A Igreja Nosso Senhor dos Passos. E, para conserv-la, foi

    utilizado o instrumento administrativo denominado tombamento. Em contrapartida, em

    decurso do capitalismo e do expansionismo empreendedor, o meio ambiente cultural foi

    colocado em segundo plano e o monumento sofreu repentina mudana de cenrio,

    13 Resumo Expandido submetido VI EXPOCINCIA do Centro Universitrio So Camilo-ES, em 2014. 14 Graduanda do 5 perodo A do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente, sublinha Meio Ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito, [email protected]; 15 Professor Orientador. Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante da Linha de Pesquisa Direito Processual e Acesso Justia e Coordenador da sublinha Direito Fraterno e Mediao, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito do Centro Universitrio So Camilo, [email protected] 16 Professor Coorientador. Coordenador da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente do Grupo de Pesquisa e Estudos A Constitucionalizao dos Direitos do Centro Universitrio So Camilo-ES, [email protected];

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 24

    provocada pela construo do empreendimento Hugo Amorim Residencial, que

    impossibilita a visibilidade devida do patrimnio.

    MATERIAL E MTODOS

    O presente estudo foi estruturado a partir de reviso bibliogrfica, lanando mo

    dos posicionamentos doutrinrios e jurisprudenciais acerca da temtica debatida. De

    igual, foi empregado elementos dotados de cunho tcnico, sobretudo pareceres

    avaliativos apresentados pela Secretaria Estadual de Cultura.

    DESENVOLVIMENTO

    Para preservao do patrimnio histrico e cultural, utiliza-se como instrumento

    o tombamento, que, segundo o IPHAN (Instituto do Patrimnio Artstico e Nacional),

    um ato administrativo realizado pelo poder pblico, podendo ser aplicado aos bens

    mveis e imveis, de interesse cultural ou ambiental. Cumpre ressaltar que o

    tombamento possui carter de guardio do patrimnio, preservando seu aspecto fsico,

    e, principalmente, a memria e cultura que ali reside. Nesse sentido, o particular que

    proprietrio do bem tombado, no pode usufruir deste livremente, devido ao carter

    social que apresenta. A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, abarcou

    em seu art. 216 o patrimnio cultural, tendo este respaldo estatal para sua proteo no

    dispositivo legal. Alm disto, o Decreto-Lei N 25, de 30 de novembro de 1937 dispe

    sobre a organizao do patrimnio histrico e artstico nacional, reforando o interesse

    do Estado em guardar o bem cultural. A partir do entendimento sobre o tombamento,

    passa-se a questionar sobre sua natureza jurdica. Grande parte da doutrina entende ser

    esta uma forma do Estado intervir na propriedade privada, tornando seu uso restrito.

    A Igreja Nosso Senhor dos Passos foi tombada pelo Conselho Estadual de Cultura

    por meio da Resoluo N 04, publicada em 30 de agosto de 1985, estando inscrito no

    Livro de Belas Artes e no Livro Histrico, que constituem o Livro do Tombo do

    Patrimnio Cultural. Conforme dispe o prprio stio eletrnico da parquia, em 1854, o

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 25

    Baro de Itapemirim, Incio de Loiola e Silva e Pedro Dias do Prado fizeram a doao do

    terreno para que nele fosse erguida a capela. Assim, em 1882 a edificao foi

    construda, passando a funcionar como matriz de Cachoeiro de Itapemirim em 1884.

    Cumpre dizer que tal edificao apresenta-se como a nica arquitetura religiosa do

    sculo XIX erguida no municpio em comento.

    A construo apresenta-se como grande marco da cultura local cachoeirense,

    pondo em memria o legado deixado pela arte colonial religiosa. Mais do que o aspecto

    fsico, tal edificao religiosa exprime o sentimento da comunidade que ali reside e se

    formou, devendo seu carter social ser preservado. Como dito, o tombamento limita o

    direito de propriedade, no podendo a vizinhana do bem tombado fazer construo

    que impea sua visibilidade ou qualquer tipo de ao que traga a deteriorao do bem.

    Nesse sentido, cita-se o Empreendimento Residencial Hugo Amorim Residencial, que

    est localizado no entorno da Igreja Nosso Senhor dos Passos, afetando diretamente ao

    bem tombado. O avano do capitalismo e a constante busca pela modernizao

    invadem um ambiente histrico e cultural, pondo em desfoque importante bem a ser

    preservado.

    A arquitetura religiosa, durante o perodo colonial do Brasil, representou

    importante elemento edificado caracterizador da paisagem, sobressaindo-se em escala

    e forma em relao s tmidas vilas que se formavam em seu entorno. A influncia do

    urbanismo portugus era preponderante para as elevaes dos templos religiosos,

    encontrando como argumento justificador no apenas a possibilidade defesa contra

    invasores e pela observao privilegiada, mas tambm por materializar a importncia da

    Igreja na vida social colonial, fortalecendo, desta maneira, a influncia da religio,

    enquanto elemento integrante da vida colonial. Ao ambientar o patrimnio cultural em

    comento, construdo ao final do sculo XIX, no perodo imperial, possvel destacar o

    trao caracterizador do urbanismo portugus praticado no Brasil colnia. Durante muito

    tempo a Igreja constituiu a nica opo de prtica do culto catlico em Terras do Itabira.

    Nela foi oficiado o Bispo D. Pedro Maria de Lacerda, em 02 de maro de 1886, conforme

    informaes apresentadas pela Secretaria Estadual de Cultura do Esprito Santo (2014).

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 26

    de se reconhecer que o edifcio encerra o que mais marcante existe na

    arquitetura e arte religiosas locais, configurando verdadeiro cone que resgata e

    preserva a memria local, sobretudo da comunidade que floresceu no entorno da

    edificao. A igreja localiza-se ao final de uma ladeira com sua fachada frontal volvida

    para o Largo Senhor do Passos, espao residual do traado virio e que, de alguma

    maneira, resiste minimamente s presses exercidas pelo adensamento e modernizao

    que incorrem nos ambientes urbanos. Em que pese o Largo Senhor dos Passos no

    assumir, em razo das alteraes sofridas ao longo do transcurso do tempo, tal como

    pela suplantao da referncia do conjunto do entorno, de modo efetivo, a importncia,

    enquanto espao que nutre a identidade da populao local, tal como ambiente o

    observador com os aspectos caractersticos refletidos na construo, o templo religioso

    goza de destaque em razo dos caractersticos simblicos que ostenta, consoante

    informaes ejetadas do Relatrio Tcnico CHI N 001/2012, confeccionado pela

    Secretaria de Estado da Cultura do Esprito Santo (2014). Trata-se, oportunamente, de

    edificao que materializa verdadeiro cone da identidade local, apresenta-se como

    edificao que desdobra aspecto cultural preponderante, notadamente em decorrncia

    de alcanar bem imaterial.

    CONSIDERAES FINAIS

    O tema apresentado de extrema relevncia atual, por consistir numa

    problemtica que pe em questo a modernidade x preservao cultural. Tal aspecto

    vai alm do disposto no escopo jurdico, tendo consequncias sociais mais relevantes do

    que o prprio desrespeito ao aspecto legal. Ainda que o desenvolvimento e crescimento

    econmico e imobilirio tenha grande valor, o que realmente deve ser reconhecido, o

    Empreendimento Hugo Amorim Residencial apresenta-se como elemento que interfere

    de forma significativa no ambiente tombado, qual seja, a Igreja de Nosso Senhor dos

    Passos. Nesse sentido, o aspecto a ser observado de forma primordial o equilbrio

    entre o desenvolvimento e a preservao da cultura e movimentos sociais local.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 27

    REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em: . Acesso em 16 jun. 2014.

    ____________. Decreto-Lei N 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteo do patrimnio histrico e artstico nacional. Disponvel em: . Acesso em: 16 jun. 2014.

    ____________. Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Disponvel em: . Acesso em: 16 jun. 2014.

    ESPRITO SANTO (ESTADO). Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Esprito Santo. Disponvel em: . Acesso em 16 jun. 2014.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 28

    AS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS: O OFCIO, RELEVNCIAS CULTURAIS E A

    TUTELA ESTATAL COMO FERRAMENTA DE PRESERVAO17

    GANDINE, Carolina de Oliveira Souza18 AMARAL, Patrick Costa do19

    RANGEL, Tau Lima Verdan20 SILVA, Andr Arajo Alves da21

    INTRODUO

    Os temas ambientais vm ganhando amplo espao nas discusses nacionais e

    internacionais, destacando a importncia da preservao do meio ambiente cultural.

    Este constitudo por caractersticas materiais e imateriais que representam a

    singularidade de um determinado povo. Sendo assim, inerente sociedade, no

    somente pelos quesitos visveis e materiais, mas por incluir especificidades prprias a

    esta, a sua identidade, transmitidas por geraes. Importante, ainda, dizer que o

    patrimnio imaterial possui valor especial pelo aspecto cultural que apresenta,

    produzindo um sentimento de identificao ao indivduo com o grupo social em que

    este est inserido. Nesse sentido, a Carta Magna brasileira buscou garantir o respeito

    diversidade e proteo ao meio ambiente.

    Neste cenrio busca-se salientar e compreender o importante ofcio das

    Paneleiras de Goiabeiras, que foi registrado no Livro dos Saberes por apresentar uma

    srie de fatores em excepcionalidade, revelados a partir de caractersticas enraizadas no

    mais profundo grau de suas atividades. Apesar de situado no Esprito Santo e 17 Resumo Expandido submetido VI EXPOCINCIA do Centro Universitrio So Camilo-ES, em 2014. 18 Graduanda do 5 perodo A do Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES. Integrante da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente, sublinha Meio Ambiente, Constituio e Tutela do Patrimnio Cultural, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito, [email protected]; 19 Graduando do 3 perodo do Curso de Histria do Centro Universitrio So Camilo-ES. [email protected]; 20 Professor Orientador. Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante da Linha de Pesquisa Direito Processual e Acesso Justia e Coordenador da sublinha Direito Fraterno e Mediao, do Grupo de Estudo e Pesquisa Constitucionalizao de Direito do Centro Universitrio So Camilo, [email protected] 21 Professor Coorientador. Coordenador da Linha de Pesquisa Minerao e Meio Ambiente do Grupo de Pesquisa e Estudos A Constitucionalizao dos Direitos do Centro Universitrio So Camilo-ES, [email protected];

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 29

    representar a ancestralidade de uma comunidade, o ofcio das Paneleiras de Goiabeiras

    reflete em amplitude a identidade cultural brasileira.

    MATERIAL E MTODOS

    O presente estudo foi estruturado a partir de reviso bibliogrfica, lanando mo

    dos posicionamentos doutrinrios e legais acerca da temtica debatida. De igual modo,

    foi empregado elementos dotados de cunho tcnico, sobretudo especificaes do

    Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, IPHAN.

    DESENVOLVIMENTO

    O Direito Ambiental figura como um dos elementos integrantes dos direitos

    fundamentais, tendo como salvaguarda a Constituio Federal de 1988 que, ao inserir

    claramente em seu artigo 225, buscou garantir que este fosse respeitado e devidamente

    aplicado. Ao lado disso, cuida salientar que o meio ambiente cultural nasce da

    constante e intensa interao entre o indivduo e seu povo, em que sua proteo revela-

    se como importante mecanismo de sobrevivncia da prpria sociedade. constitudo

    por bens materiais ou concretos, que so as construes culturais materializadas em

    determinado objeto, e bens imateriais, sendo estes as manifestaes de culturas

    diversas transmitidas por geraes, que agregam caractersticas a uma determinada

    sociedade.

    O meio ambiente cultural imaterial apresenta-se como a cultura de um povo e as

    prticas que tornam aquele meio nico, tais como a linguagem, os costumes e o modo

    como as pessoas vivem e se relacionam. Nesse sentido, o Decreto n. 3.551, de 04 de

    Agosto de 2000, que institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que

    constituem patrimnio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimnio

    Imaterial e d outras providncias, se estabeleceu como importante instrumento de

    proteo aos bens imateriais que constituem o meio ambiente cultural. Tal decreto

    ensejou, ainda, a valorizao e preservao desse patrimnio.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 30

    A cultura apresenta como traos estruturantes elementos espirituais e materiais,

    intelectuais e afetivos, os quais caracterizam uma sociedade ou, ainda, um grupo social

    determinado, compreendendo, tambm, as artes e as letras, os modos de vida, as

    maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradies e as crenas. Neste passo,

    possvel evidenciar que, em sede de meio ambiente cultural, o conjunto de elementos

    que d azo ao patrimnio imaterial se apresenta como um dos mais relevantes traos

    caracterizadores da identidade de uma populao, no somente para a presente e as

    futuras geraes, viabilizando a compreenso da humanidade e toda a sua evoluo

    histrica.

    A fabricao artesanal de panelas de barro o ofcio das Paneleiras de

    Goiabeiras, que foi registrado no Livro dos Saberes por apresentar uma srie de fatores

    que o tornam nico. Desde a produo nas aldeias indgenas at os dias atuais, essa

    prtica, hoje em poder das Paneleiras, vem guardando suas caractersticas originais que

    vo desde suas matrias-primas aos modos e etapas de produo, com o manuseio de

    ferramentas rudimentares, sendo utilizados os mesmos meios quase que inalterados,

    movimentando e sustentando vrias famlias de Goiabeiras Velha. Um ciclo eco-scio-

    cultural, em que toda a matria-prima se encontra apenas naquele local, mantendo a

    comunidade uma forte relao com o manguezal, de onde tiram o barro e as cascas e

    extraem o tanino, corante natural para as panelas. Em virtude das transformaes

    geradas pelos avanos da urbanizao e o propcio esgotamento das fontes, buscou-se e

    incentivou-se a preservao de tal fonte, o manguezal do Vale do Mulemb.

    Alm de se tratar de uma atividade de imensa tradio, esse ofcio e o seu

    produto, a panela de barro, so reconhecidos pela populao capixaba como trao de

    sua identidade cultural, uma marca que se estende ao setor culinrio, onde so

    indispensveis ao preparo da moqueca e da torta capixaba, pratos igualmente tpicos e

    representativos, contribuindo ento para a formao da identidade nacional. Apesar de

    sua grande importncia no cenrio capixaba, e da fama de suas panelas, pouco se sabia

    realmente sobre as Paneleiras, de onde surge ento a importncia de se especificar a

    origem da verdadeira panela de barro, a fim de valorizar e preservar esse saber. Neste

    cenrio, a fabricao artesanal de panelas de barro o ofcio das paneleiras de Goiabeiras,

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 31

    bairro de Vitria, capital do Esprito Santo. A atividade, eminentemente feminina, constitui

    um saber repassado de me para filha por geraes sucessivas, no mbito familiar e

    comunitrio (BRASIL, 2014c, p. 13).

    Ao lado disso, como manifesto patrimnio cultural imaterial do Estado Capixaba,

    o processo caracterstico da produo das panelas de Goiabeiras conserva todos os

    aspectos peculiares e indissociveis com as prticas dos grupos nativos das Amricas,

    antes da chegada de europeus e africanos. No mais, as panelas continuam sendo

    modeladas manualmente, com argila sempre da mesma procedncia e como auxlio de

    ferramentas rudimentares, preservando, pois, o ofcio caracterizador de proeminente

    patrimnio cultural imaterial, encontrando, assim, respaldo e proteo na Constituio

    Federal de 1988. Todas essas razes fazem do ofcio das Paneleiras de Goiabeiras um

    legtimo patrimnio nacional, uma prtica enraizada no mundo popular e na memria

    do passado coletivo, como cita o Iphan em seu parecer: [...] tudo o que toca a dimenso

    crucial da identidade nacional deve merecer particular reverncia de todos e cada um dos

    cidados (BRASIL, 2014c, p. 13).. Nesse mbito histrico e social, atravs de pesquisas

    realizadas pelos respectivos rgos responsveis, constata-se o relevante valor dessa

    prtica, esse saber que perdurou atravs de inmeras geraes como item merecedor do

    registro de Patrimnio Cultural Imaterial no Livro dos Saberes.

    CONSIDERAES FINAIS

    Verifica-se, diante das ponderaes apresentadas, que o ofcio das Paneleiras de

    Goiabeiras, prtica local de uma comunidade que se propaga atravs de geraes e

    reflete os costumes e modo de vida daquele povo. Mesmo em meio a urbanizao, se

    manteve quase que inalterado. Nesse sentido, constitui patrimnio cultura imaterial,

    sendo o primeiro a ser registrado pelo Iphan no Livro dos Saberes como forma de

    preservao de tal prtica. Pensando-se na salvaguarda dos aspectos que caracterizam a

    especificidade da panela de barro, pesquisas foram realizadas quanto s fontes de

    matria-prima, o manguezal e o barreiro, sob a superviso dos tcnicos do Iphan, sendo

    orientado sobre a necessidade de racionalizao das fontes. Assim, o ofcio das

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 32

    Paneleiras de Goiabeiras deve ser valorizado e aes para incentivar e dar condies

    para a prtica da atividade devem ser implantadas. Para isso, deve o Estado, como

    legitimado protetor do meio ambiente cultural, cuidar da preservao dessa importante

    atividade.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, 1988. Disponvel em: . Acesso em 16 jun. 2014a.

    _____________. Decreto N 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimnio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimnio Imaterial e d outras providncias. Disponvel em: . Acesso em 16 jun. 2014b.

    _____________. Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Ofcio das Paneleiras de Goiabeiras. Disponvel em: . Acesso em 15 jun. 2014c.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 33

    ARTIGOS COMPLETOS

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 34

    A PROEMINNCIA DA DEFESA DO MEIO AMBIENTE PARA O ALCANCE DE

    INDICADORES PRPRIOS SUSTENTABILIDADE22

    SILVA, Andr Arajo Alves da23 RANGEL, Tau Lima Verdan24

    GARCIA, Cludia Moreira Hehr25

    Resumo: Na contemporaneidade, principalmente a partir da dcada de 1980,

    observvel a evoluo do pensamento no que concerne ao meio-ambiente,

    notadamente a busca pela adoo de novos paradigmas e postulados que se

    ambicionem conjugar o crescimento econmico com a imprescindvel preservao

    ambiental. No Brasil tal preocupao no foi diferente, sendo consagrado, inclusive, na

    Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, como direito fundamental de

    seus indivduos, o direito a um meio-ambiente ecologicamente equilibrado, tanto para

    as presentes como futuras geraes, valorando, de modo determinante, os iderios de

    solidariedade. Verifica-se a preocupao do legislador constituinte de proporcionar ao

    homem, da presente e futuras geraes, um ambiente com condies para o seu

    desenvolvimento. No entanto, imposto coletividade a responsabilidade da

    preservao e conservao. Nesse plano reservado ao indivduo o direito de usufruir

    dos benefcios fornecidos pelo ambiente e ao mesmo tempo, lhe imposto o dever de

    resguardar esse ambiente de qualquer dano. Essa obrigao de preservar o Meio

    Ambiente, parte do pressuposto de que o prprio homem o responsvel direto pelas

    transformaes que ocorrem no ambiente e que, consequentemente, podem levar a um

    desequilbrio que influenciar todas as formas de vida. Essas mudanas no ambiente

    podem ocorrer quando: se aplica, em tudo, novas tecnologias, so realizadas novas

    22 Artigo completo apresentado no III Seminrio Interdisciplinar em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, no ano de 2013. 23 Mestrando do Programa de Sistema de Gesto da Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected] 24 Bolsista CAPES. Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, vinculado linha de Pesquisa Conflitos Socioambientais, Rurais e Urbanos. E-mail: [email protected] 25 Bolsista CAPES. Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, vinculada linha de Pesquisa Conflitos Socioambientais, Rurais e Urbanos. E-mail: [email protected]

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 35

    experincias sem ter comprovao de consequncias futuras e na prtica de atividades

    sem qualquer tipo de cautela. Observa-se que o conceito tcnico insere o homem

    dentro de ambiente diferente da lei 6.938/81, que traz o conceito de Meio Ambiente.

    Esta no inclui o homem como parte integrante do Meio Ambiente Natural, nesse caso,

    a sociedade humana torna-se algo no pertencente ao ambiente em seus componentes

    biticos e abiticos. Assim, necessrio se revela a anlise do meio-ambiente e o

    desenvolvimento de indicadores que conjuguem o desenvolvimento com a

    sustentabilidade.

    Palavras-chave: Meio Ambiente. Sustentabilidade. Indicadores de Desenvolvimento.

    Abstract: In the contemporary world, mainly from the 1980s, is observable evolution of

    thought in regard to the environment, especially the search for the adoption of new

    paradigms and assumptions that are ambitious for combine economic growth with

    essential environmental preservation. In Brazil this concern was no different, being

    consecrated, even in the Constitution of the Federative Republic of Brazil in 1988, as a

    fundamental right of its people, the right to an ecologically balanced environment for

    both present and future generations, valuing, in a decisive way, the ideals of solidarity.

    There is the concern of the constitutional legislator to provide the man of the present

    and future generations an environment conducive to their development. However, tax is

    the collective responsibility of preservation and conservation. This plan is reserved to

    the individual the right to enjoy the benefits provided by the environment and at the

    same time, is imposed the duty to protect this environment from any damage. This

    obligation to preserve the environment, assumes that man himself is directly

    responsible for the changes that occur in the environment and, consequently, may lead

    to an imbalance that will affect all forms of life. These changes in the environment can

    occur when: applies in all, new technologies, new experiments are performed without

    evidence of future consequences and practice activities without any caution. It is

    observed that the concept technician enters the man in different environment law

    6.938/81, which brings the concept of Environment. This does not include the man as

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 36

    part of the Natural Environment, in this case, human society becomes something not

    belonging to the environment in their biotic and abiotic components. Thus, necessary if

    the analysis reveals the environment and the development of indicators that combine

    development with sustainability.

    Keywords: Environment. Sustainability. Development Indicators.

    1 ABORDAGEM DO MEIO AMBIENTE EM UMA ACEPO INTRODUTRIA

    Historicamente, a expresso meio ambiente foi utilizada, pela primeira vez,

    em 1835, pelo naturalista francs Geoffroy de Saint-Hilarie, como bem aponta dis

    Milar (2007, p. 109). Desde ento, busca-se um conceito para a expresso entre os

    especialistas. Necessrio faz-se esquadrinhar a concesso jurdica apresentada pela Lei

    N. 6.938, de 31 de agosto de 1981 (2013), que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio

    Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias.

    Aludido diploma, ancorado apenas em uma viso hermtica, concebe o meio ambiente

    como um conjunto de condies, leis e influncias de ordem qumica, fsica e biolgica

    que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Nesse primeiro momento,

    salta aos olhos que o tema dotado de complexidade e fragilidade, eis que dialoga uma

    sucesso de fatores distintos, os quais so facilmente distorcidos e deteriorados devido

    ao antrpica.

    Jos Afonso da Silva (2009, p. 20), ao traar definio acerca de meio

    ambiente, descreve-o como a interao do conjunto de elementos naturais, artificiais e

    culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas

    formas. Celso Antnio Pacheco Fiorillo (2012, p. 77), por sua vez, afirma que a

    concepo definidora de meio ambiente est pautada em um iderio jurdico despido de

    determinao, cabendo, diante da situao concreta, promover o preenchimento da

    lacuna apresentada pelo dispositivo legal supramencionado. Trata-se, com efeito, de

    tema revestido de macia fluidez, eis que o meio ambiente est diretamente associado

    ao ser humano, sofrendo os influxos, modificaes e impactos por ele proporcionados.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 37

    No possvel, ingenuamente, conceber, na contemporaneidade, o meio ambiente

    apenas como uma floresta densa ou ecossistemas com espcies animais e vegetais

    prprios de uma determinada regio; ao reverso, imprescindvel alinhar o

    entendimento da questo em debate com os anseios apresentados pela sociedade

    contempornea. Nesta linha, o Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ao Direta de

    Inconstitucionalidade N. 4.029/AM, j salientou que:

    [...] o meio ambiente um conceito hoje geminado com o de sade pblica, sade de cada indivduo, sadia qualidade de vida, diz a Constituio, por isso que estou falando de sade, e hoje todos ns sabemos que ele imbricado, conceitualmente geminado com o prprio desenvolvimento. Se antes ns dizamos que o meio ambiente compatvel com o desenvolvimento, hoje ns dizemos, a partir da Constituio, tecnicamente, que no pode haver desenvolvimento seno com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A geminao do conceito me parece de rigor tcnico, porque salta da prpria Constituio Federal. (BRASIL, 2013d).

    Pelo excerto transcrito, denota-se que a acepo ingnua do meio ambiente,

    na condio estrita de apenas condensar recursos naturais, est superada, em

    decorrncia da dinamicidade da vida contempornea, iado condio de tema dotado

    de complexidade e integrante do rol de elementos do desenvolvimento do indivduo.

    Tal fato decorre, sobremodo, do processo de constitucionalizao do meio ambiente no

    Brasil, concedendo a elevao de normas e disposies legislativas que visam promover

    a proteo ambiental. Ao lado disso, no possvel esquecer que os princpios e

    corolrios que sustentam a juridicidade do meio ambiente foram alados a patamar de

    destaque, passando a integrar ncleos sensveis, dentre os quais as liberdades pblicas

    e os direitos fundamentais. Com o advento da Constituio da Repblica Federativa do

    Brasil de 1988, as normas de proteo ambiental so aladas categoria de normas

    constitucionais, com elaborao de captulo especialmente dedicado proteo do

    meio ambiente (THOM, 2012, p. 116).

    Nesta perspectiva, pode-se, ainda, salientar que dis Milar (2007, p. 110), ao

    abordar o meio ambiente, conferindo-lhe uma interpretao conceitual baseada em um

    aspecto essencialmente jurdico, distingue o tema em uma tica estrita e outra ampla,

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 38

    sendo que na primeira o meio ambiente seria uma expressa do patrimnio natural e as

    relaes travadas com e entre os seres vivos, ao passo que na segunda o meio ambiente

    compreenderia toda a natureza original artificial, tal como os bens culturais correlatos.

    Repousa, justamente, nesse contexto mais amplo a diviso do meio ambiente em

    natural que abrange o solo, a gua, o ar, a energia, a fauna e a flora e artificial

    que abrange as edificaes, equipamentos e alteraes produzidas pelo homem. A

    Constituio Federal as Repblica Federativa do Brasil, promulgada em 1988, no

    conceitua expressamente meio ambiente, mas insere indiretamente, o homem no

    contexto, transmitindo uma viso antropocntrica quando expressa:

    Artigo 225: Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes (BRASIL, 2013a).

    Verifica-se a preocupao do legislador constituinte de proporcionar ao

    homem, da presente e futuras geraes, um ambiente com condies para o seu

    desenvolvimento. No entanto, imposta coletividade a responsabilidade da

    preservao e conservao. Nesse plano reservado ao indivduo o direito de usufruir

    dos benefcios fornecidos pelo ambiente e ao mesmo tempo, lhe imposto o dever de

    resguardar esse ambiente de qualquer dano. Trata-se, com efeito, de dispositivo

    constitucional que encerra ncleo denso de direitos oriundos da terceira dimenso dos

    direitos humanos, propagando os valores prprios da solidariedade e fraternidade,

    passando a dispensar preocupao no apenas para a gerao presente, mas tambm

    para geraes futuras. Essa obrigao de preservar o Meio Ambiente, parte do

    pressuposto de que o prprio homem o responsvel direto pelas transformaes que

    ocorrem no ambiente e que, consequentemente, podem levar a um desequilbrio que

    influenciar todas as formas de vida. Essas mudanas no ambiente podem ocorrer

    quando: se aplica, em tudo, novas tecnologias, so realizadas novas experincias sem

    ter comprovao de consequncias futuras e na prtica de atividades sem qualquer tipo

    de cautela. Nesse contexto, assim expressou Marcello Abelha:

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 39

    Bem se v que o legislador teve preocupao especfica com o homem quando disse, ao definir a atividade poluente numa viso antropocntrica, como sendo aquele que afete o bem-estar, a segurana, as atividades sociais e econmicas da populao. Enfim, essa definio de poluio levou em considerao o aspecto finalstico do meio ambiente (proteo da vida) e, mais especificamente ainda, reservou-o para a proteo da vida humana (meio ambiente artificial), numa viso inegavelmente antropocntrica. No sendo assim entendido, no seria mais vago do que o referido enunciado (ABELHA, 2002, apud MILAR, 2007, p. 113).

    Observa-se que o conceito tcnico insere o homem dentro de ambiente

    diferente da Lei N. 6.938, de 31 de agosto de 1981 (2013), que dispe sobre a Poltica

    Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d

    outras providncias, que traz o conceito de meio ambiente. Esta no inclui o homem

    como parte integrante do meio ambiente natural, nesse caso, a sociedade humana torna-

    se algo no pertencente ao ambiente em seus componentes biticos e abiticos. Milar

    (2007, p. 111) traz, em sua obra, uma definio, que ele considera descritiva, de vila

    Coimbra em que se considera meio ambiente a reunio de elementos biticos e

    abiticos, organizados em ecossistemas diversos, sendo o homem inserido, de modo

    individual ou social, num processo de interao que atenda o desenvolvimento das

    atividades humanas e a preservao dos recursos naturais respeitando-se as leis da

    natureza e os padres de qualidade definidos. O Meio Ambiente classifica-se em:

    natural, cultural, artificial e do trabalho. Destaca-se que Trennepohl (2007, p. 27),

    considera essa classificao meramente didtica.

    2 SUSTENTABILIDADE: INDICADORES ECONMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS

    J tardiamente, no incio dos anos 1990, a humanidade assistiu a destruio e

    esgotabilidade das mais diversas formas de vida e, no por conscientizao solidria,

    mas por perceber que sem recursos naturais no renovveis a prpria vida humana

    acabaria por ser extinta, pensou-se em aliar o crescimento econmico com a compatvel

    preservao da base de recursos naturais. A esse objetivo global, deu-se o nome de

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 40

    desenvolvimento sustentvel. Como bem assinala Miranda et all (2013), ao abordar a

    temtica do desenvolvimento sustentvel, surgem os primeiros passos para o

    desenvolvimento de uma conscincia ecolgica, concedendo especial enfoque para um

    viso global, atenta com as imensurveis consequncias produzidas por uma possvel

    esgotabilidade do meio ambiente de se autoequilibrar. Paulo Affonso Leme Machado

    destaca, ao esquadrinhar o conceito de desenvolvimento sustentvel, que:

    O antagonismo dos termos desenvolvimento e sustentabilidade aparece muitas vezes, e no pode ser escondido e nem objeto de silncio por parte dos especialistas que atuem no exame de programas, planos e projetos de empreendimentos. De longa data, os aspectos ambientais foram desatendidos nos processos de decises, dando-se um peso muito maior aos aspectos econmicos. A harmonizao dos interesses em jogo no pode ser feita so preo da desvalorizao do meio ambiente ou da desconsiderao de fatores que possibilitam o equilbrio ambiental. (MACHADO, 2013, p. 74).

    Junto com o conceito de sustentabilidade surgiram os indicadores de

    sustentabilidade com o escopo de auferir a relativa evoluo em relao prpria

    sustentabilidade. Indicadores estes, que so ambientais, econmicos e sociais. Uma vez

    conciliados tornam-se um instrumento que quantifica e analisa informaes tcnicas e

    as transmite de maneira simples, para melhor compreenso. Neste diapaso, pode-se

    destacar que os indicadores de sustentabilidade, segundo a viso apresentada por

    Amaral (2003, p. 27), so parmetros ou valores de parmetros que fornecem

    informao sobre um determinado fenmeno. [...]. Podem ser descritivos, quando

    descrevem a situao real [...] ou normativos, indicando as distncias entre as condies

    reais das condies de referncia. Desta feita, os indicadores so, portanto,

    instrumentos essenciais para guiar a ao e subsidiar o acompanhamento e a avaliao

    do progresso alcanado rumo sustentabilidade, como j apontaram Polaz e Teixeira

    (2008, p. 03), em momento oportuno.

    Nesta trilha, os denominados indicadores de sustentabilidade ambiental, em

    razo da clareza que possuem, podem ser traduzidos como propostas que permitem

    que cada pas escolha os mecanismos e instrumentos que considere ser o mais

    importante para sanar problemas ambientais existentes, observando tantos os impactos

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 41

    locais quanto os globais a seres produzidos. Desse modo, verificvel como um dos

    aspectos inerentes a estes indicadores a avaliao da assimilao por parte do meio-

    ambiente em processas e assimilar os poluentes. imprescindvel, tambm, que se

    tenha em mente a eficincia dos recursos naturais explorados e o quanto estes podem

    contribuir no prprio desenvolvimento de determinada atividade ou segmento da

    sociedade. De outra banda, os indicadores sociais representam instrumentos de

    operacionalizao para o monitoramento da realidade que orienta a formula e, quando

    se revela necessrio,a reformulao de polticas pblicas. Trata-se, desta sorte, de uma

    medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo, usado para

    substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito abstrato, de interesse terico

    (para pesquisa acadmica) ou programtico (para formulao de polticas) (AZEVEDO,

    2006, p. 79).

    J os indicadores econmicos analisam os desdobramentos das aes em um

    sistema macro e micro, que demonstrem que os recursos financeiros empregados

    alcanam mxima eficincia e que o projeto desenvolvido tem a capacidade de gerar

    renda suficiente para manter o indivduo na atividade. Ainda neste caminho, deve-se

    destacar que o indicador econmico quando implementado deve ponderar tambm a

    respeito do valores de desenvolvimento sustentvel e se estes esto sendo

    considerados na implementao da atividade, de modo tal que os danos causados ao

    meio-ambiente com a explorao de determinada atividade possam ser compensados

    em uma outra vertente. Corriqueiramente, decises polticas, que, usualmente, at

    ento, eram influenciadas apenas por indicadores sociais e econmicos so aliadas a

    indicadores ambientais. Uma vez que um indicador econmico desconsidera os efeitos

    sociais e ambientais, de modo que se faz a recproca verdadeira. Destarte, faz-se

    imprescindvel a anlise conjunta dos indicadores, uma vez que a sustentabilidade no

    se estende apenas ao meio natural, mas tambm, e no menos importante, ao

    desenvolvimento econmico e social, enfim concretizao da dignidade humana.

    A proteo do meio ambiente indispensvel qualidade de vida das

    presentes e futuras geraes, consubstanciando-se no princpio da dignidade da pessoa

    humana, conforme j ponderaram Abreu e Sampaio (2007, p. 71-81). Ao se adotar uma

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 42

    viso holstica do meio ambiente, o ser humano deixou de estar ao lado meio ambiente

    para inserir-se neste, como parte integrada e, dele, no podendo ser dissociado.

    A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justia, ao apreciar o Recurso

    Especial N 1.094.873/SP, de relatoria do Ministro Humberto Martins, assentou

    entendimento no qual caracterizou, com clareza ofuscante, que o interesse econmico

    no deve prevalecer sobre a proteo ao meio ambiente; ao reverso, em decorrncia da

    proeminncia assumida pelo meio ambiente, em especial aps a promulgao da

    Constituio de 1988, verifica-se que o meio ambiente assume papel de destaque para a

    concreo da pedra angular do ordenamento brasileiro, qual seja: a dignidade da pessoa

    humana. O Direito ambiental contemporneo no possui uma viso estritamente

    jurdica, mas essencialmente ecolgica. A nova abordagem aduz que a complexidade

    ambiental tanta, que o Direito por si s insuficiente para sanar problemas advindos

    de questes ambientais. Da a importncia de um carter interdisciplinar interpretao

    das normas que tutelam o meio ambiente, uma vez que a preservao, por vezes,

    transcende a capacidade dos estudos e prticas existentes.

    Ao mesmo tempo em que os tribunais decidem que o interesse econmico

    no deve prevalecer sobre a proteo ao meio ambiente, crescente e perigoso o

    discurso ecolgico alienado. Na contemporaneidade os mais diversos setores da

    sociedade se manifestam como defensores do meio ambiente e quase uma heresia

    questionar um posicionamento dito ecolgico. Ocorre que, infelizmente e

    previsivelmente, houve a mercantilizao da marca sustentvel, deturpando o conceito

    ideolgico circunscrito em sua definio. O dito selo verde tem sido utilizado como

    fator de incentivo ao consumo desenfreado por uma marca, por estar em evidncia. O

    que sepulta o matiz axiolgico da real sustentabilidade. Agregou-se valor econmico e

    no principiolgico causa ambiental. Compram-se produtos desnecessrios simples e

    puramente por estarem, supostamente, ligados a movimentos ambientalistas, quando o

    verdadeiro vis ecologicamente correto seria no consumir o desnecessrio.

    Dotados de carter neoliberal, os discursos ambientalistas se olvidam do

    modelo capitalista de consumismo desregrado que acabou por se enraizar na noo de

    desenvolvimento sustentvel. Descaradamente empresas abarrotam o mercado com

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 43

    produtos tecnolgicos ao mesmo passo que se aliam a causas ecolgicas. Ora, um

    celular ou computador, pode em sua maioria ter uma vida til bem mais longa que a

    que lhes atribuda. Simplesmente pelo fato do mercado oferecer uma demanda de

    novos aparelhos, ditos superiores, a cada instante, cria-se a iluso de que o aparelho at

    ento, perfeitamente, utilizado est defasado.

    Sem embargo, h que se considerar que grande parte da responsabilidade

    para tal comportamento atribudo aos radicalistas ecolgicos, que maculam a imagem

    de ambientalistas verdadeiramente comprometidos com a causa. Recentemente os

    cientistas do IPPC (painel internacional sobre o clima), adulteraram os dados de suas

    pesquisas para tornar os relatrios mais dramticos e destarte causar maior desespero

    na populao. Populao esta, alienada com um discurso emblemtico e vazio, critica de

    todas as maneiras o efeito estufa, mas no imagina que a vida sem ele seria impossvel

    no planeta Terra. Ou, ainda, desconhece todas as eras climticas j sofridas por este

    planeta. incompreensvel pessoas se comoverem com a matana de baleias, risco de

    extino eminente dos ursos-panda e o trfico de ovos da arara-canind, mas no se

    escandalizarem com a quantidade de lixo produzida por elas mesmas, ou ainda com o

    uso excessivo de sacolas plsticas.

    A efetiva conscientizao ambiental s ter abrangncia eficaz quando a

    postura do humano defensor da causa ambiental transcender o aspecto catastrfico e

    panfletrio, focando assim em polticas de (re)educao ambiental associada ao matiz

    axiolgico da cooperao. Uma vez que no h que se definir como atitude sustentvel

    uma doao para uma entidade supostamente ecolgica e assim criar a iluso de

    colaborao. H sim, que se empregar no ser humano a conscincia que a somatria de

    esforos prximos e possveis dentro de cada realidade produzir um resultado dentro

    de uma microesfera que agregado com as demais esferas transformar a macroesfera,

    que o meio ambiente a nvel global que tanto se almeja equilibrar. Para tal

    imperativo que o homem abandone sua postura egolatria e compreenda que a

    sustentabilidade necessria independentemente dos estragos que sua falta pode

    produzir para a vida prpria ou de seus descendentes.

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 44

    3 A PROEMINNCIA DA DEFESA DO MEIO AMBIENTE EM TODOS OS SEUS ASPECTOS

    COMO FORMA PARA SE ALCANAR OS INDICADORES PRPRIOS DA

    SUSTENTABILIDADE

    3.1 Breve Anlise Histrica: Da Conferncia de Estocolmo ao Protocolo de Quioto

    Tendo por sedimento, robusto e macio, as ponderaes trazidas at o

    presente momento, pode-se, ainda, salientar que a preocupao com o meio-ambiente,

    em suas mltiplas acepes, aliado ao desenvolvimento sustentvel, ganhou

    substancioso destaque nas ltimas dcadas do sculo XX, fruto da evoluo da

    sociedade global, diante das sensveis modificaes verificveis, tanto no que tange s

    alteraes climticas como comprometimento dos recursos naturais. Como sustentculo

    de tal afirmao, Machado (2006, p. 03) j salientou que o marco para a construo do

    conceito de desenvolvimento sustentvel teve incio na dcada de 70, mais

    propriamente, a partir da Conferncia de Estocolmo (United Nations Conference on the

    Human Environment), realizada em 1972. Na referida conferncia, a discusso orbitava

    em torno de dois assuntos proeminentes, a saber: a poluio e a preservao, tendo

    como balizas o contnuo e incontido crescimento das naes, aumento populacional e o

    uso predatrio dos recursos energticos, hdricos e das fontes de matrias-primas

    naturais que se contrapunham necessidade de preservao e desenvolvimento

    sustentvel. A adoo do paradigma de defesa e preservao do meio-ambiente, neste

    perodo, se revelava um empecilho para o desenvolvimento dos pases, sobretudo

    aqueles tidos como integrantes do Terceiro Mundo.

    [] na medida em que esse paradigma [preservao do meio-ambiente] se opunha a estratgias de desenvolvimento com uso intensivo de recursos, os pases do Terceiro Mundo temiam que preocupaes de cunho ambiental se tornassem obstculos ao desenvolvimento. (MACHADO, 2006, p. 03).

    Todavia, com o passar dos anos, a questo ambiental se revelou eivada de

    grande complexidade, sendo, comumente, atrelada necessidade de um

    desenvolvimento pautado na sustentabilidade, trazendo tona, em contrapartida, um

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 45

    sucedneo de dificuldades no estabelecimento de um dilogo entre os diversos sujeitos

    envolvidos. Entrementes, a construo de um conceito de desenvolvimento sustentvel

    passou a afigurar como um slido axioma sobre o qual se poderia edificar um dilogo

    entre os mais diversos segmentos, como comunidades cientficas, empresrios, governos

    de pases desenvolvidos e em desenvolvimento. Atualmente, o paradigma que se

    encontra em destaque enfatiza o impacto negativo das atividades humanas no meio-

    ambiente, em uma escala global. Pode-se perceber, com clareza, essa mudana de

    paradigmas ao comparar a Declarao de Princpios de Estocolmo com a do Rio de

    Janeiro, vinte anos mais tarde (MACHADO, 2006, p. 05). Tais exposies cingem-se ao

    fato de que quase todos os princpios que se encontravam insertos no texto 1972 fazem

    referncia ao consumo excessivo de recursos, ao passo que em 1992 sobressai o

    problema de gerenciamento coletivo de sistemas naturais em escala global. Diante do

    cenrio pintado, a elaborao de uma nova realidade conceitual que articule o

    tratamento da questo ambiental, o desenvolvimento econmico e o progresso social,

    arrimando-se em um desenvolvimento sustentvel medida carecida.

    Como fruto de tais trabalhos, no ano de 1997 elaborado um acordo

    internacional, o qual consagrava em suas linhas os pilares alicerantes do

    desenvolvimento sustentvel, qual seja: o Protocolo de Quioto. O fito primrio do

    documento mencionado era estabelecer metas pra fomentar a reduo de gases que

    causam e aumentam o efeito estufa, para prevenir as consequncias que o aumento da

    temperatura da Terra podem trazer, como degelo das calotas polares e a consequente

    elevao dos nveis das massas de guas ocenicas. Denota-se, a partir do exame da

    linha tracejada pelo documento internacional, a importncia sem precedentes no que

    atina matria de cooperao internacional que se traduzem em esforos globais para a

    defesa ambiental. Sua adoo resultado dos esforos dos governos ao assumir,

    perante a comunidade internacional, o compromisso de agir dentro de suas fronteiras

    em prol da questo climtica, a partir das determinaes tomadas multilateralmente

    (MACHADO, 2006, p. 06).

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 46

    3.2 O Direito ao Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado como fomento ao

    Desenvolvimento Sustentvel

    O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi entalhado nas

    disposies da Declarao de Estocolmo de 1972 e reavivado, com fortes cores e grosso

    traos, na Declarao do Rio de Janeiro de 1992, assim como elevado a patamar de

    flmula norteadora no art. 225 da Carta de Outubro. O dogma em exame traz como

    macio desdobramento de suas disposies que o meio-ambiente ecologicamente

    equilibrado pilar constituinte do manancial de direitos difusos, j que pertencente a

    todos os indivduos. Alis, de bom alvitre mencionar o caput do referido dispositivo da

    Lei Maior, que assim aduz: Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente

    equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida,

    impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para

    as presentes e futuras geraes (BRASIL, Constituio, 2013).

    Observar-se- a existncia de duas espcies de solidariedade intergeracional,

    tais sejam: uma pautada na atual gerao, denominada, em razo disso, de sincrnica; e,

    outra voltada para as futuras geraes, chamada anacrnica. Com destaque, assinalar

    faz-se imprescindvel, consoante entendimento explicitado por Andria Minussi Facin

    (2002), que possvel enumerar trs formas distintas de acesso a bens materiais, quais

    sejam: acesso visando o consumo do bem, tal como ocorre com a captao de gua e

    instrumentos predatrios de caa e pesca; acesso causando poluio ao meio ambiente,

    a exemplo do que se denota no acesso gua ou ao ar, lanando, para tanto, poluentes

    ou emitindo poluio sonora; e, acesso ao meio ambiente para a contemplao de seus

    elementos e paisagem.

    Verifica-se, deste modo, a existncia do meio ecologicamente equilibrado

    no se traduz somente na preservao para a gerao atual, mas, tambm, para as

    geraes futuras. Logo, se o pavilho desfraldado tremula em direo ao

    desenvolvimento sustentvel, patente faz-se que a concepo albergue o crescimento

    econmico como garantia paralela e superiormente respeitada da sade da populao,

    cujo acervo de direito devem ser observados, tendo-se em vista no apenas as

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 47

    necessidades atuais, contudo, tambm, as que so passveis de preveno para as

    geraes futuras. Neste sedimento cuida apontar, com nfase, que est diretamente

    vinculado ao corolrio em comento o preceito da precauo, j que a necessidade de

    afastamento de perigo, tal como a adoo de instrumentos que busquem a promoo da

    segurana dos procedimentos adotado para a garantia das geraes futuras, efetivando-

    se apenas por meio da sustentabilidade ambiental das aes humanas.

    Denota-se, destarte, que o princpio em comento torna efetiva a busca

    incansvel pela proteo da existncia humana, seja tanto pela proteo do meio

    ambiente como pela estruturao de condies que salvaguardem a sade e a

    integridade fsica, considerando-se o indivduo em sua inteireza. Gize-se que tal fato

    decorre da nova viso reinante, na qual h que se adotar, como poltica pblica, o que

    se faz imprescindvel para antecipar os riscos de danos que sejam passveis de

    materializao em relao ao meio ambiente, tanto quanto o impacto que as aes ou

    as omisses possam produzir. Ora, o artigo 225 da Constituio da Repblica Federativa

    do Brasil de 1988, ao estabelecer o nus em relao coletividade e ao Poder Pblico,

    na condio de dever, de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e

    futuras geraes, inaugura um dever geral arrimado na preveno de riscos ambientais,

    no patamar de um ordem normativa objetiva de antecipao de futuros danos

    ambientais, os quais encontram como sustentculos os dogmas da preveno, quando

    tratar de riscos concretos, e da precauo, quando estiver diante de riscos abstratos.

    A preocupao hodierna da Lex Fundamentallis do Estado Brasileiro foi

    preservar o meio-ambiente para as geraes futuras, preservando os nichos existentes e

    recuperando as reas ambientais que j esto degradadas. Destarte, verifica-se que a

    Constituio da Repblica imps a todos, coletividade como uma unidade e cada

    indivduo que a constitui, uma obrigao de zelo e respeito com o meio-ambiente. Como

    bem aponta Facin (2002), o direito ao ambiente como um dos direitos fundamentais da

    pessoa humana um importante marco na construo de uma sociedade democrtica,

    participativa e socialmente solidria. Desta sorte, a Constituio de 1988, visando

    efetivar o exerccio do direito ao meio-ambiente sadio, fixou o tema em comento como

    direitos pblicos subjetivos, os quais podem ser exercidos a qualquer momento, e que

  • Grupo de estudos e pesquisas em Meio Ambiente e Direito Minerrio 48

    se possa exigir do Estado e dos particulares a proteo devida ao ambiente. A proteo

    ao meio ambiente assume especial relevncia, na proporo em que importante

    preservar a natureza, como meio da prpria subsistncia e existncia da vida humana.

    Ainda nesta linha re raciocnio, bem como fortalecendo todo o sucedneo

    de informaes apresentados, pode-se destacar que os denominados direitos difusos

    (direitos da fraternidade ou solidariedade), do qual o meio-ambiente ecologicamente

    equilibrado se encontra abrangido, tm ntima relao com o humanismo e, por

    extenso, ao iderio de uma sociedade caracterizada por ser mais justa e solidria,

    consubstanciando, dessa monta, a continua busca na autodeterminao dos povos e na

    consolidao da paz universal. Nesta senda, inclusive, possvel citar as ponderaes

    trazidas a lume pelo festejado Bonavides:

    A conscincia de um mundo partido entre naes desenvolvidas e subdesenvolvidas ou em fase de precrio desenvolvimento deu lugar em seguida a que se buscasse uma outra dimenso dos direitos fundamentais, at ento desconhecida. Trata-se daquela que se assenta sobre a fraterni