compêndio de ensaios jurídicos: temas de direitos reais - v. 1, n. 2
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Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em trabalhar, academicamente, determinados assuntos. Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo dogmático. É possível, à luz da tradicional visão empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual não se incluem somente as instituições legais, as ordens legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das mencionadas instituições, ordens e decisões, materializando, comumente, uma “meta direito”. No Direito, a construção do conhecimento advém da interpretação de leis e as pessoas autorizadas a interpretar as leis são os juristas.Contudo, o alvorecer acadêmico que é presenciado pelos Operadores do Direito, que se debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando as experiências empíricas e o contorno regional como elementos indissociáveis para a compreensão do Direito. Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento jurídico como algo dogmático, buscando conferir molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e inquietações produzida durante a formação acadêmica do autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática de Direitos Reais, o presente busca trazer para o debate uma série de assuntos contemporâneos e que reclamam maiores reflexões.TRANSCRIPT
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TAU LIMA VERDAN
RANGEL
COMPNDIO DE ENSAIOS
JURDICOS:
TEMAS DE DIREITOS REAIS
V.
01
N.
02
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COMPNDIO DE ENSAIOS JURDICOS:
TEMAS DE DIREITOS REAIS
(V. 01, N. 0 2)
Capa: Lasar Segall , Paisagem Brasileira (1925).
ISBN: 978-1516932283
Editorao, padronizao e formatao de texto
Tau Lima Verdan Rangel
Projeto Grfico e capa
Tau Lima Verdan Rangel
Contedo, citaes e referncias bibliogrficas
O autor
de inteira responsabilidade do autor os conceitos aqui
apresentad os. Reproduo dos textos autorizada
mediante citao da fonte.
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A P R E S E N T A O
Tradicionalmente, o Direito reproduzido por
pessoas reconhecidas pela comunidade jurdica em
trabalhar, academic amente, determinados assuntos.
Assim, o saber jurdico sempre foi concebido como algo
dogmtico. possvel, luz da tradicional viso
empregada, afirmar que o Direito um campo no qual
no se incluem somente as instituies legais, as ordens
legais, as decises legais; mas, ainda, so computados
tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das
mencionadas instituies, ordens e decises,
Direito, a construo do conhecimento advm da
interpreta o de leis e as pessoas autorizadas a
interpretar as leis so os juristas.
Contudo, o alvorecer acadmico que
presenciado pelos Operadores do Direito, que se
debruam no desenvolvimento de pesquisas, passa a
conceber o conhecimento de maneira prtica, uti lizando
as experincias empricas e o contorno regional como
elementos indissociveis para a compreenso do Direito.
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Ultrapassa -se a tradicional viso do conhecimento
jurdico como algo dogmtico, buscando conferir
molduras acadmicas, por meio do emprego de mtodos
cientficos. Neste aspecto, o Compndio de Ensaios
Jurdico objetiva disponibilizar para a comunidade
interessada uma coletnea de trabalhos, reflexes e
inquietaes produzida durante a formao acadmica do
autor. Debruando -se especificamente sobre a temtica
de Direitos Reais, o presente busca trazer para o debate
uma srie de assuntos contemporneos e que reclamam
maiores reflexes.
Boa leitura!
Tau Lima Verdan Rangel
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S U M R I O
Comentrios ao instituto da anticres e: viso do diploma
civilista ao direito real de garantia ..................................... 06
Comentrios s servides prediais: breve painel dos
direitos reais limitados de gozo ou frui o ......................... 30
O direito real de habita o: uma singela an lise do tema . 83
O direito real de superf cie: singelas ponderaes ............. 104
O instituto do uso em anlise: coment rios ao direito real
limitado de gozo ou frui o ................................................. 135
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COMENT RIOS AO INSTITUTO DA ANTICRESE:
VIS O DO DIPLOMA CIVILISTA AO DIREITO
REAL DE GARANTIA
Resumo: Em uma primeira plana, cuida anotar
que o vocbulo anticrese deriva da juno de dois
radicais gregos, a saber: anti (contra) e chresis
(uso), cujo sign
isto , uso de soma que tem o devedor contra o uso
dos frutos e dos rendimentos que tem o credor
anticrtico. Insta gizar que o Direito Romano no
conheceu o instituto como modalidade autnoma,
mas sim como um pacto a nexo ou integrante ao
penhor ou hipoteca. Era permitido ao credor, cujo
objeto lhe era entregue, que percebesse os frutos
com o escopo de amortizar a dvida ou ainda para
adimplir os juros. A obrigao, todavia, permanecia
assegurada pelo penhor ou hipot eca. Trata -se, com
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efeito, de uma conveno, por meio da qual o credor
anticrtico, retendo um imvel do devedor, passa a
perceber, como forma de compensao da dvida, os
seus frutos e rendimentos com o escopo de alcanar
a soma do dinheiro emprestada, ab atendo na
dvida, e at o seu resgate, as importncias que for
recebendo.
Palavras -chaves: Anticrese. Imvel Anticrtico.
Direito Real de Garantia.
Sumrio: 1 Anticrese: Conceito e Caractersticas; 2
Direitos e Deveres do Credor Anticrtico; 3 Direitos
e Obrigaes do Devedor Anticrtico; 4 Extino da
Anticrese.
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1 ANTICRESE: CONCEITO E CARACTERSTICAS
Em uma primeira plana, cuida anotar que o
vocbulo anticrese deriva da juno de dois radicais
gregos, a saber: anti (contra) e chresis (uso), cujo
signi
soma que tem o devedor contra o uso dos frutos e dos
rendimentos que tem o credor anticrtico. Como bem
anota Venosa, o vocbulo d a ideia de uso do capital
recebido pelo credor perante a entrega da coisa pelo
devedor. A expresso no era usual no Direito Romano.
Suas razes situam -se no direito grego e egpcio 1. Insta
gizar que o Direito Romano no conheceu o instituto
como modalidade autnoma, mas sim como um pacto
anexo ou integrante ao penhor ou hipoteca.
Era permitido ao credor, cujo objeto lhe era
entregue, que percebesse os frutos com o escopo de
amortizar a dvida ou ainda para adimplir os juros. A
obrigao, todavia, permanecia assegurada pelo penhor
ou hipoteca. Lecionam Farias e Rosenvald a
anticrese um contrato de origem grega, que no
1 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais . 10 Ed.
So Paulo: Editora Atlas S.A., 2010, p. 615.
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funcionada de forma autnoma no direito romano, posto
utilizada como pacto adjeto ao contrato hipotecrio ou
pignoratcio 2, sendo uma juno da faculdade de
perceber frutos com a posse da coisa dada em garantia e
direito de sequela, que so caractersticos do instituto do
penhor. Trata -se, com efeito, de uma conveno, por meio
da qual o credor anticrtico, retendo um imvel do
devedor, passa a perceber, como forma de compensao
da dvida, os seus fr utos e rendimentos com o escopo de
alcanar a soma do dinheiro emprestada, abatendo na
dvida, e at o seu resgate, as importncias que for
recebendo. Obtempera, com propriedade, Venosa quando
destaca que:
A anticrese desempenha uma dupla funo:
servir como garantia ao pagamento da
dvida, porque o credor anticrtico tem
direito de reteno do imvel at a sua
extino, bem como servir de meio de
execuo direta da dvida, pois ao credor
atribudo o direito de receber os frutos e
imputar -lhes no pagamento dos juros e do
capital 3.
2 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos
Reais . Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 742. 3 VENOSA, 2010, p. 616.
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A Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002, que
institui o Cdigo Civil 4, ao tratar do tema em comento,
disps no 1 do artigo 1.506 que permitido que os
frutos e rendimentos do imvel, em sua totalidade, sejam
percebidos, de maneira exclusiva, por conta dos juros.
Aduz, ainda, o Estatuto de 2002, na parte final do
pargrafo supramencionado, que se o numerrio desses
frutos e rendimentos for maior do que a taxa permitida
em lei para as operaes financeiras, o remanescente, ou
seja, o que extrapola a taxa de juros ser abatido do
se
o valor dos frutos e rendimentos ultrapassar a taxa
mxima permitida em lei para as operaes financeiras,
ter-se- sua reduo e o remanescente ser imputada ao
capital [...] amortizando -o 5.
Conforme se extrai das ponderaes estruturadas
at o momento, pode-se observar que as partes possuem
a faculdade de estipular a amortizao da dvida ou
4 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012. 5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro:
Direito das Coisas . 26 Ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2011, p.
559.
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somente dos juros pelo percebimento dos frutos . Neste
passo, a anticrese ser extintiva ou satisfativa, quando
os frutos servem para amortizar a dvida, dentro de um
limite, consoante estatudo pelo Codex de 2002, ou
compensativa, quando os frutos so imputados apenas no
adimplemento dos juros. Seus pressupostos so, pois, a
existncia de um crdito em favor do credor anticrtico e a
tradio de um imvel do devedor ou de um terceiro para
fruio 6. Tal como ocorre em todos os direitos reais de
garantia, na anticrese possvel que terceiro subordine
imvel seu para suportar o crdito, assumindo a posio
de garante, no s termos insculpidos no artigo 1.427 do
Diploma Civilista 7 em vigor.
H que se rememorar, ainda, que o credor
anticrtico tem o direito de reter, em seu poder, a coisa
enquanto a dvida no for saldada, todavia, em
consonncia com os princpios gerais constantes do artigo
6 VENOSA, 2010, p. 616. 7 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.427. Salvo clusula expressa, o terceiro que
presta garantia real por dvida alheia no fica obrigado a substitu -
la, ou refor -la, quando, sem culpa sua, se perca, deteriore, ou
desvalorize
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1.423 do Cdigo de 20028, operado o transcurso de quinze
anos a contar do dia da transcrio, h a extino.
a restrio temporal parte do
pressuposto de que, se a obrigao no se extingue em
prazo to longo, inconveniente que perdure o direito
real. Nessa hiptese, [...], a extino do direito real no
implica sistematicamente extino da dvida 9, uma vez
que o credor permanece como quirografrio. E m razo da
essncia do instituto em comento, salta aos olhos os
inconvenientes da instituio da anticrese, notadamente
em decorrncia da transferncia da coisa ao credor, eis
que, alm de privar o devedor de sua utilizao, atribui
quele a obrigao de administrar coisa alheia, com a
obrigao conjugada de prestar contas.
Durante a vigncia do Cdigo de 1916 10, o devedor
anticrtico ficava impedido de contrair novos
emprstimos assegurados pelo mesmo bem, tal como p
8 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.423. O credor anticrtico tem direito a reter
em seu poder o bem, enquanto a dvida no for paga; extingue -se esse
direito decorridos quinze anos da data de sua constituio 9 VENOSA, 2010, p. 616. 10 BRASIL. Lei N . 3.071 , de 1 de Janeiro de 1916 . Cdigo Civil
dos Estados Unidos do Brasil. Disponvel em:
. Acesso em: 08 set. 2012.
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bem hipotecado s poderia ser dado em anticrese ao
credor hipotecrio . Tal problemtica foi suprimida com a
promulgao do Estatuto de 2002, permitindo, via de
consequncia, que a hipoteca seja concedida a terceiros,
nos termos preconizados no 2 do artigo 1.506 11.
Consoante o festejado esclio a anticrese
decorre de contrato ou de testamento. Nesses se
discriminam os valores de dvida, juros, prazos etc. Tm
as partes toda a amplitude da autonomia da vontade no
negcio jurdico. No se nega que o testador tambm pode
institu -la 12.
Imperioso se faz abordagem dos aspectos
caractersticos do instituto da anticrese, a fim de se
compreender, de maneira mais robusta, a espcie de
direito em lia. Como espancado algures, a anticrese
constitui direito real de garantia, eis que se adere ao
imvel para a percepo de seus frutos, rendimentos ou
utilidades ao credor anticrtico. Ao lado disso, cuida
11 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.506. [omissis] 2o Quando a anticrese recair
sobre bem imvel, este poder ser hipotecado pelo devedor ao credor
anticrtico, ou a terceiros, assim como o imvel hipotecado poder ser
12 VEN OSA, 2010, p. 617.
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anotar que o credor poder opor seu direito ao adquirente
do imvel dado em garantia, uma vez que detentor de
ao real e direito de sequela, po dendo, inclusive,
acompanhar sua garantia em se tratando de transmisso
inter vivos ou causa mortis, uma vez constituda e
carecidamente registrada. Deste modo, salta aos olhos
que qualquer mudana na propriedade no tem o condo
de alterar a situao do c redor anticrtico 13.
Em consonncia com o burilado no artigo 1.509 do
Cdigo Civil 14, poder o credor opor o seu direito de
utilizar e fruir, tal como o de reteno, aos credores
quirografrios do devedor e aos hipotecrios. Cuida
colacionar o ensinamento d e Maria Helena Diniz, quando
os frutos da coisa gravada no podem ser
penhorados por outros credores do devedor. Se tal
penhora se realizar, o anticresista poder utilizar -se dos
embargos de terceiro para impugnar esse ato 15. A
anticrese dir eito indivisvel, atentando -se para as
13 Neste sentido: DINIZ, 2011, p. 559. 14 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.509. O credor anticrtico pode vindicar os
seus direitos contra o adquirente dos bens, os credores quirografrios
e os hipotecrios posteriores ao registro da anticrese 15 DINIZ, 2011, p. 559.
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disposies norteadoras dos direitos reais e garantia, a
exemplo do que ocorre com o penhor e a hipoteca.
Outro aspecto caracterstico digno de nota est
atrelado necessidade capacidade das partes, at mesmo
para o devedor anticrtico, de dispor do imvel, todavia
no obsta que terceiro ceda ao credor o direito de
perceber frutos e rendimentos de um bem de raiz que lhe
pertena. Denota -se que o dever anticrtico ou o terceiro
devero ser proprietrios do bem a ser o nerado, no
ficando proibidos de alien -lo, contudo o credor
anticrtico pode ir busc -lo daqueles que o adquiriram, a
fim de retirar seus frutos e pagar seu crdito. Trata -se,
com efeito, de clara materializao do direito de sequela
conferido ao credor a nticrtico. Infere -se, desta sorte, que
o credor anticrtico ou anticresista investido na posse
jurdica do imvel, fazendo jus ao percebimento de seus
frutos e rendimentos , a fim de cobrar o seu crdito, no
sendo detentor do direito de dispor ( ius disp onendi ) ou de
alienar ( ius vendendi ) do bem imvel.
Em ressonncia com a redao do 2 do artigo
1.506 do Cdigo Civil 16, o credor anticrdito poder ser,
16 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
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concomitantemente, credor hipotecrio e vis a vis, j que
o diploma legal permite a coexistncia das espcies de
direito real de garantia em comento. Assinale -se,
oportunamente, que a anticrese no substancializa
obstculo para que o imvel possa ser hipotecado,
podendo constitu -la, inclusive, em imvel hipotecado.
Nada impede que o devedor hipotecrio d o imvel
hipotecado em anticrese ao credor hipotecrio, a fim de,
com os rendimentos, amortizar a dvida e que o devedor
anticrtico hipoteque o imvel anticrtico ao credor
anticrtico para maior segurana deste 17.
Ainda no que se refere caracters tica do instituto
em comento, pontuar se faz preciso que a anticrese no
confere preferncia ao anticresista no pagamento do
crdito com a importncia alcanada na excusso do bem
onerado. S passvel de opor a excusso sustentando
direito de reteno, i mprescindvel para solver o crdito,
com os rendimentos do imvel. Nos termos do 1 do
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.506. [omissis] 2o Quando a anticrese recair
sobre bem imvel, este poder ser hipotecado pelo devedor ao credor
anticrtico, ou a terceiros, assim como o imvel hipotecado poder ser
17 DINIZ, 2011, p. 560.
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artigo 1.509 do Cdigo Civil 18, em havendo excusso do
imvel, devido ao no pagamento do dbito, ou ainda se
anticresista permite que outro credor promova a
execuo, sem opor seu direito de reteno ao exequente,
no subsistir seu direito de preferncia concernente ao
S lhe
conferido direito de reteno, que apenas se extingue ao
fim de 15 anos, contados da data de sua const ituio 19,
como aclara Maria Helena Diniz.
Afora isso, o credor anticrtico poder to somente
aplicar as rendas que obtiver com a reteno do bem de
raiz em relao ao pagamento da obrigao gratuita. Ao
lado disso, em decorrncia de integrar o rol taxat ivo de
direitos reais, a anticrese reclama, para sua constituio,
escritura pblica, como alarida o artigo 108 do Cdigo
Civil 20, e registro no Cartrio Imobilirio, sendo defeso ao
18 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.509 . [omissis] 1o Se executar os bens por
falta de pagamento da dvida, ou perm itir que outro credor o execute,
sem opor o seu direito de reteno ao exequente, no ter preferncia
sobre o preo 19 DINIZ, 2011, p. 560. 20 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 108 . No dispondo a lei em contrrio, a
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cnjuge convencion-la sem anuncia da mulher e vice -
versa, excetuando se vigorar o regime de separao
absoluta de bens. Outro aspecto que caracteriza a
o seu objeto recai
sobre coisa imvel alienvel, pois se incidir sobre bem
mvel, ter-se- penhor e no anticrese. Esse imvel pode
ser frudo, direta ou indiretamente, pelo anticresista 21.
No mais, a fruio indireta se d por meio do
arrendamento do bem gravado a terceiro, salvo pacto em
sentido contrrio , situao em que o credor anticrtico
perceber os frutos civis da coisa, em razo do
recebimento dos alugueres. Entrementes, com alicerce no
2 do artigo 1.507 do Estatuto Civilista 22, ser possvel
estipular, no corpo do ttulo constitutivo, que o
escritura pblica essencial validade dos negcios jurdicos que
visem constituio, transferncia, modificao ou renncia de
direitos reais sobre imveis de valor superio r a trinta vezes o maior
salrio mnimo vigente no Pas 21 DINIZ, 2011, p. 561. 22 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.507. [omissis] 2o O credor anticrtico pode,
salvo pacto em sentido contrrio, arrendar os bens dados em
anticrese a terceiro, mantendo, at ser pago, direito de reteno do
imvel, embora o aluguel desse arrendamento no seja vinculativo
para o devedor
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anticresista dever, diretamente, fluir do imvel
onerado. Por derradeiro, a anticrese re quer a tradio do
bem, eis que, sem a posse direta do credor anticrtico,
empecilho h para o cumprimento do objetivo contratual,
em razo dos obstculos para o percebimento dos frutos e
rendimentos a serem pagos do seu crdito.
2 DIREITOS E DEVERES DO CREDOR
ANTICRTICO
Dentre o rol dos direitos do credor anticrtico,
sobreleva salientar que esse poder exercer o direito de
reter o imvel do devedor pelo prazo mximo de 15
(quinze) anos, se outro menor no estatudo entre os
pactuantes, como bem sublinh a o artigo 1.423 do Cdigo
de 200223, ou at que seu crdito seja adimplido. No
subsiste, realce -se, ao credor anticrtico o direito de
excutir 24 o imvel, ao contrrio do que ocorre em caso de
23 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.423. O credor anticrtico tem direito a reter
em seu poder o bem, enquanto a dvida no for paga; extingue -se esse
dire ito decorridos quinze anos da data de sua constituio 24 GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionrio Bsico Jurdico . 1 Ed.
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20
penhor ou hipoteca. Outro direito ter a posse do imvel
para que possa gozar e perceber seus frutos e
rendimentos , podendo usar desse bem direta ou
indiretamente, inclusive arrendando a terceiro, exceto se
houver pactuao em sentido diverso. Essa possibilidade
de arrendamento a terceiro mais um inconveniente a
desestimular sua instituio 25.
Igualmente, o credor anticrtico poder pleitear
seus direitos contra o adquirente do imvel e credores
quirografrios e hipotecrios posteriores a efetuao do
registro da anticrese, encontrando escora no artigo 1.509
do Codex Civil 26 Administrar o imvel, em seu exclusivo
proveito, pertencendo-lhe tudo o que este produzir , at que
a obrigao seja solvida 27, devendo, inclusive,
apresentar anualmente balano, exato e fiel de sua
Excutir. Buscar satisfao
da dvida nos bens do devedor por meio do processo de execuo.
Execuo judicialmente os bens do devedor que sirvam de garantia.
Depositar em juzo bem que seja objeto de penhora judicial a que se
achado gravada por penhor ou hipotecar 25 VENOSA, 2010, p. 618. 26 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.509 . O credor anticrtico pode vindicar os
seus direitos contra o adquirente dos bens, os credores quirografrios
e os hipotecrios posteriores ao registro da anti crese 27 DINIZ, 2011, p. 562.
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21
administrao, conforme determinao contida no artigo
1.507 da Lei N 10.406/2002 28. Como bem leciona Maria
se o devedor anticrtico no concordar
com o teor do balano, por reput -lo inexato, ou por
considerar ruinosa a administrao, poder impugn -lo
e, se o quiser, requerer a transformao em
arrendamento 29, incumbindo ao juiz a fixao do valor
mensal do aluguel, que, por seu turno, poder,
anualmente, ser corrigido monetariamente, com espeque
nas disposies encartadas no 1 do artigo 1.507 do
Cdigo Civil Brasileiro 30.
Outro di reito do credor anticresista o de
preferncia em relao a todos os outros crditos
posteriores, de maneira que o credor hipotecrio, com
28 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.50 7. O credor anticrtico pode administrar
os bens dados em anticrese e fruir seus frutos e utilidades, mas
dever apresentar anualmente balano, exato e fiel, de sua
administrao 29 DINIZ, 2011, p. 562. 30 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1. 507. [omissis] 1o Se o devedor anticrtico
no concordar com o que se contm no balano, por ser inexato, ou
ruinosa a administrao, poder impugn -lo, e, se o quiser, requerer
a transformao em arrendamento, fixando o juiz o valor mensal do
aluguel, o qual poder ser corrigido anualmente .
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22
registro posterior, no pode executar o imvel, enquanto
perdurar a anticrese. Com pertinncia, anota Diniz que
par a que haja esse direito de prelao de anticresista
preciso que seja previamente oposto o direito de reteno,
para impedir que outro credor execute o imvel por no
pagamento da dvida 31. Igualmente, o direito de
preferncia em relao indenizao de seguro no
subsistir quando o prdio for destrudo nem sobre o
valor pago a ttulo de desapropriao, se for o imvel
expropriado. ao
contrrio dos direitos similares, no caso de
desapropriao ou indenizao securitria o credor
anticrtico no ter preferncia sobre a indenizao 32.
No h a sub-rogao do anticresista em relao aos
valores da indenizao proveniente de segurou ou o
quantum pago a ttulo de desapropriao, extinguindo -se
a anticrese, remanescendo, entret anto, em relao quele
o direito creditrio, de carter pessoal, desprovido de
qualquer garantia real.
Em ocorrendo a falncia, conquanto no preveja o
diploma vigor, utilizando -se de analogia, poder o credor
31 DINIZ, 2011, p. 562. 32 VENOSA, 2010, p. 619.
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23
anticresista haver o valor do que obtiver, para compensar
o dbito existente, do produto da alienao do bem
anticrtico at o limite do bem onerado ou, em se
tratando de venda em bloco, o valor do bem
E, ainda, poder remir em
benefcio da massa, mediante autorizao jud icial, bens
apenhados, penhorados ou legalmente retidos 33. Em
restada infrutfera a praa, sem que haja lanador,
poder o credor anticrtico adjudicar o bem, ofertando
bem inferior ao constante do edital.
Mediante o manejo dos interditos possessrios, n o
apenas contra terceiros, mas tambm em desfavor do
devedor e, at mesmo, credores quirografrios e
hipotecrios posteriores, poder o credor anticrtico
defender sua posse que pretendam penhora o objeto
Como possuidor direto, o credor anticrt ico
pode valer-se das aes possessrias para defender a
coisa 34. Por derradeiro, dentre os direitos do credor
anticrtico, pode -se contabilizar a liquidao do dbito,
aps o percebimento da renda do imvel do devedor.
No que concernem s obrigaes do credor
33 DINIZ, 2011, p. 563. 34 VENOSA, 2010, p. 619.
-
24
anticrtico, pode -se sublinhar a guarda e conservao do
imvel, como se fosse sua propriedade. Diniz elenca,
responder pelas deterioraes que, por culpa sua,
o imvel vier a sofrer, bem como pelos frutos que deixar de
perceber por negligncia, desde que ultrapassem, no
valor, o montante de seu crdito 35.Dever, igualmente, o
credor anticrtico prestar contas de sua administrao ao
proprietrio do imvel, demonstrando ter bem
empregado todos os frutos e rendimentos que auferiu e
que no os empregou para atingir fins distintos da
liquidao da obrigao, exceto as despesas direcionadas
conservao e reparos da prpria coisa gravada.
Findado o prazo do contrato ou mesmo havendo a
quitao do dbito, com baixa no registro, restituir o
imvel a o seu proprietrio.
3 DIREITOS E OBRIGAES DO DEVEDOR
ANTICRTICO
Dentre os direitos do devedor anticrtico, pode -se
enumerar a permanncia no imvel dando como
35 DINIZ, 2011, p. 563.
-
25
garantia, sendo permitida, ainda, sua alienao a
outrem. De igual monta, permitido ao dev edor que exija
do anticresista a conservao do prdio onerado com o
gravame, obstando possvel modificao ou
desvirtuamento de seu escopo. Em havendo deteriorao
do imvel, o devedor tem o direito de vindicar o
ressarcimento das deterioraes causadas a o prdio,
culposamente, pelo credor, assim como o numerrio
atribudo aos frutos que este deixou de perceber em razo
da negligncia do credor anticrtico. permitido, ainda,
ao devedor exigir a prestao de contas da gesto ao
credor anticrtico, com o f ito de verificar se no houve
extrapolao no exerccio de seu direito, como assinala o
caput do artigo 1.507 do Cdigo Civil 36 em vigor. Assim
que operada a liquidao do dbito, o devedor tem o
direito de reaver o seu imvel.
Doutra maneira, afigura -se como obrigao do
devedor a transferncia da posse do imvel ao credor
36 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.50 7. O credor anticrtico pode administrar
os bens dados em anticrese e fruir seus frutos e utilidades, mas
dever apresentar anualmente balano, exato e fiel, de sua
administrao
-
26
para que este possa fruir de seus rendimentos. Ao lado
solver o dbito, deixando que o imvel anticrtico
permanea com o seu credor at que se lhe complete o
pagamento 37. Incumb ir, ainda, ao devedor ceder ao
credor o direito de perceber os frutos e rendimentos do
bem de raiz que lhe pertence. Por derradeiro, dever o
devedor se atentar para o contrato at o seu trmino , no
turbando ou obstando que o anticresista se utilize do
imvel gravado at que seja efetuado, em sua
integralidade, o pagamento ou at que o prazo avenado
deflua e se finde.
4 EXTINO DA ANTICRESE
Com efeito, uma vez eliminada, integralmente, a
dvida, resta extinta a anticrese, podendo, deste modo, o
devedor exigir a devoluo da coisa onerada, tornando -se
injusta a posse do credor, aps o desaparecimento da
obrigao. a renncia tambm
extingue a anticrese. A transmisso da posse da coisa ao
devedor implica renncia tcita, pois no h anticrese
37 DINIZ, 2011, p. 563.
-
27
sem posse do devedor38. Igualmente, o perecimento da
coisa ou a desapropriao tm o condo de extinguir a
anticrese, sem qualquer sub -rogao no percebimento do
preo. Neste sentido, Diniz, ao sustentar as formas de
extino do instituto em com ento, pontua, com bastante
pelo perecimento do bem anticrtico [...]
em razo da falta do objeto. Se o prdio destrudo estiver
segurado, o direito do credor no se sub -roga na
indenizao 39.
O trmino do prazo legal , qual seja: quinze a nos,
contados da data do assento da anticrese no Registro
Imobilirio, tem o condo de findar a anticrese, eis que se
Ademais, diferentemente
dos outros direitos da mesma natureza, a lei impe a
extino da anticrese decorr idos 15 anos de seu registro
imobilirio, prazo de caducidade 40. Desta feita,
implementado o decurso do nterim, o credor anticrtico
perder o direito de reteno do imvel dado em
garantia, ficando o prdio inteiramente liberado ao seu
proprietrio, aind a que o dbito no tenha sido, de
38 VENOSA, 2010, p. 620. 39 DINIZ, 2011, p. 565. 40 VENOSA, 2010, p. 620.
-
28
o
credor, ento, dever, mediante ao prpria, cobrar o
remanescente de seu crdito se ainda no ocorreu a
41. Cuida anotar que o prazo
prescricional s comea a defluir aps a perda da posse
pelo credor anticrtico.
No mais, o artigo 1.510 do Cdigo Civil 42 em vigor
permite que o adquirente dos bens dados em anticrese
possa remi-los, antes do vencimento da dvida, efetuando
o pagamento da i ntegralidade data do pedido de
remio, imitindo - Cuida -se de
possibilidade de pagamento antecipado da obrigao
facultado pela lei, o que se admite tambm, em princpio,
nos demais direitos reais de garantia 43. Trata -se, com
efeito, de instrumento ofertado pelo arcabouo normativo
com o escopo de promover a extino da anticrese.
41 DINIZ, 2011, p. 565. 42 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso
em: 08 set. 2012: Art. 1.510 . O adquirente dos bens dados em
anticrese poder remi -los, antes do vencimento da dvida, pagando a
sua totalidade data do pedido de remio e imitir -se-, se for o
caso, na sua posse. 43 VENOSA, 2010, p. 620.
-
29
REFERNCIAS:
BRASIL. Lei N. 3.071 , de 1 de Janeiro de 1916 .
Cdigo Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponvel
em: . Acesso em: 08 set.
2012.
___________. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.
Institui o Cdigo Civil . Disponvel em:
. Acesso em: 08 set. 2012.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil
Brasileiro: Direito das Coisas . 26 ed. So Paulo:
Editora Saraiva, 2011.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson.
Direitos Reais . Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2011.
GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionrio Bsico
Jurdico . 1 ed. Campinas: Editora Russel, 2006 .
HOUAISS, Antnio; VIL LAR, Mauro de Salles;
FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Minidicionrio
Houaiss da Lngua Portuguesa. 2 ed. (rev. e aum.).
Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2004.
VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Direitos
Reais . 10 ed. So Paulo: Editora Atlas S .A., 2010.
-
30
COMENT RIOS S SERVID ES PREDIAIS: BREVE
PAINEL DOS DIREITOS REAIS LIMITADOS DE
GOZO OU FRUI O
Resumo: O objetivo do artigo em tela repousa na
anlise dos aspectos caracterizadores, natureza
jurdica e efeitos jurdicos da servi do predial na
condio de direito real limitado de gozo ou fruio .
Neste aspecto, salta aos olhos que o vocbulo
servitus significa escravido, logo, a noo
semntica assumida est fundada no sentido de
submisso de alguma coisa ou pessoa a outrem ou a
algo. Nas servides prediais afixam -se relao de
servincia, submisso entre dois imveis,
independentemente de quem sejam os seus
titulares. Neste cenrio, um imvel serve a outro.
Estabelece-se, de maneira permanente, como
direito real, e no de forma e ventual e transitria
como direito pessoal. No painel apresentado, infere -
se que a servido substancializa um direito real de
fruio ou gozo de coisa mvel alheia, limitado e
imediato, que comina um encargo ao prdio
-
31
serviente em proveito do dominante, pe rtencente a
outro dono. A servido predial um direito real de
gozo ou fruio sobre imvel alheio, detentor de
aspecto acessrio, perptuo, indivisvel e
inalienvel. Em sendo um direito real sobre coisa
alheia, seu titular est munido de ao real e de
di reito de sequela, podendo, ainda, exercer seu
direito erga omnes, desde que o instituto em
comento esteja alicerado, de modo regular, no
Registro Imobilirio competente. Os mtodos de
pesquisa pretendidos neste artigo partem de uma
pesquisa qualitativa, a ncorada em reviso
bibliogrfica e anlise dos diplomas legais
pertinentes temtica.
Palavras -chaves: Servides Prediais. Direitos
Reais. Propriedade.
Sumrio: 1 Comentrios Introdutrio s sobre as
Servides Prediais; 2 Princpios Fundamentais; 3
Natur eza Jurdica das Servides Prediais; 4
Classificao das Servides Prediais; 5 Modos de
Constituio; 6 Singelo Quadro sobre os Direitos e
Deveres dos Proprietrios dos Prdios Dominante e
Serviente; 7 Proteo Jurdica das Servides
Prediais; 8 Extino d as Servides Prediais
-
32
1 COMENTRIOS INTRODUTRIOS SOBRE AS
SERVIDES PREDIAIS
Em um primeiro momento, ao se analisar a
servido predial ( servitus praediarum ), cuida rememorar
que as servides notabilizaram -se poca de Roma,
quando, como espancam Farias e Rosenvald44, um prdio
j prestava servios a outro, com finalidade de acrescer o
seu fito de fruio. Neste aspecto, salta aos olhos que o
vocbulo servitus significa escravido, logo, a noo
semntica assumida est fundada no sentido de
submisso de alguma coisa ou pessoa a outrem ou a algo.
Segundo Venosa45, nas servides prediais afixa m-se
relao de servincia, submisso entre dois imveis,
independentemente de quem sejam os seus titulares.
Neste cenrio, um imvel serve a outro. Estabelece-se, de
maneira permanente, como direito real, e no de forma
44 FARIAS, Crist iano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos
Reais . 7 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 625. 45 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais . 10 ed.
So Paulo: Atlas, 2010, p. 455.
-
33
eventual e transitria como direito pessoal. Em tal
prediais como sendo os direitos reais de gozo sobre
imveis que, em virtude de lei ou de vontade das partes,
se impem sobre o prdio serviente em benefcio do
46. No painel apresentado, infere -se que a
servido substancializa um direito real de fruio ou gozo
de coisa mvel alheia, limitado e imediato, que comina
um encargo ao prdio serviente em proveito do
dominante, pertencente a outro dono.
Venosa47, ainda, esclarece que se a serventia
no tem utilidade para o prdio, no h que se falar em
servido, podendo, concretamente, ocorrer mera relao
jurdica pessoal entre os sujeitos. A partir de tal
perspectiva, a Lei n 3.071, de 1 de Janeiro de 1916 48,
46 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro :
Direito das Coisas. v. 04. 26 ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2011, p.
418, 47 VENOSA, 2010, p. 456. 48 BRASIL. Lei n 3.071, de 1 de Janeiro de 1916 . Cdigo Civil
dos Estados Unidos do Brasil. Disponvel em:
.
Acesso em 18 jan. 2015. Art. 695 . Impe-se a servido predial a um
prdio em favor de outro, pertencente a diverso dono. Por ela perde o
proprietrio do prdio servente o exerccio de alguns de seus direitos
dominicais, ou fica obrigado a to lerar que dele se utilize, para certo
fim, o dono do prdio dominante.
-
34
que institua o Cdigo Civil dos Estados Unidos do
Brasil, em seu artigo 695 preconizava que a servido era
imposta a um prdio em favor de outro, pertencente a
dono diverso, sendo que, em decorrncia dela, o dono do
prdio serviente perderia o exerccio de alguns de seus
direitos dominicais ou, ainda, ficava obrigado a tolerar
que dele fosse utilizado, para certo fim, o dono do prdio
dominante. Por seu turno, a Lei n 10.406, de 10 de
Janeiro de 2002, que institui o Cdigo Civil , bem como
revogou o diploma legal supramencionado , em seu artigo
a servido proporciona utilidade para
o prdio dominante, e grava o prdio serviente, que
pertence a diverso dono, e constitui -se mediant e
declarao expressa dos proprietrios, ou por testamento,
e subsequente registro no Cartrio de Registro de
49. Slvio de Salvo Venosa 50, ao analisar a
redao do dispositivo civil vigente, esclarece que a
estrutura lacunosa em sua extenso, send o sua
compreenso inferior legislao de 1916.
49 Idem . Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o Cdigo
Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. 50 VENOSA, 2 010, p. 456-457.
-
35
Maria Helena Diniz 51, ao esquadrinhar o
instituto em comento, obtempera que necessria a
presena de especficos requisitos para materializao da
servido predial. O primeiro conditio faz meno
existncia de um encargo que pode consistir numa
obrigao de tolerar certo ato ou mesmo no praticar algo
por parte do possuidor do prdio serviente. Cuida
estabelecer que o nus em comento imposto ao prdio e
no pessoa do proprietrio do prdio serviente. Venosa,
oportunamente,
imvel prprio, a qual, no que se refere ao aspecto
material, vista como simples serventia do imvel, pois o
52,
como regra geral a ser observad a. O segundo requisito
compreende a incidncia num prdio em benefcio de
outro. Alm disso, insta explicitar que a propriedade
desses prdios deve ser de pessoas diversas.
Em tal diapaso, quadra estabelecer que no
se confundem as servides como o direit o de vizinhana,
porquanto esse criado por lei, com o escopo de dirimir
contendas entre vizinhos, ao passo que as servides
51 DINIZ, 2011, p. 418 -419, 52 VENOSA, 2010, p. 464.
-
36
prediais decorrem de lei ou conveno , calcado em
encargos que um prdio sofre em favor de outro, para o
melhor aproveitamento ou utilizao do prdio
beneficirio. Em igual substrato, convm esclarecer que
as servides prediais, apesar de apresentarem analogia
com o usufruto, no se confundem com ele, eis que: (i) o
usufruto implica cesso do direito de uso e gozo da coisa
ao usufru turio, dos quais o proprietrio ficar,
temporariamente, privado, j as servides prediais so
encargos que no tm o condo de privar o proprietrio
do uso e do gozo de seu bem; (ii) o usufruto recai tanto
em coisas mveis como imveis, ao passo que as
servides prediais s cabem a bens imobilirios; (iii) o
usufruto institudo em favor de uma pessoa, j a
servido predial estabelecida em benefcio de um
prdio; (iv) o usufruto temporrio e a servido
perptua.
No que se refere ao escopo do insti tuto em
exposio, denota-se que a servido predial objetiva
proporcionar uma valorizao do prdio dominante,
tornando -o mais til, agradvel ou cmodo. Ao lado disso,
cuida salientar que a finalidade da servido uma
-
37
utilidade ou comodidade para o prd io dominante. Existe
obrigao de seu titular de suportar ou permitir. Nunca
caber ao proprietrio do prdio serviente uma obrigao
53. Diniz 54, por sua vez, aponta que a instituio
da servido predial acarreta, inexoravelmente, uma
desvalorizao economia do prdio serviente, levando -se
em considerao que as servides prediais so perptuas,
acompanhando sempre os imveis quando so
transferidos. Em decorrncia de tal aspecto que tais
direitos so nomeados de servides, porquanto a coisa
onerada serve, ou melhor, presta uma utilidade ou
vantagem real e constante ao prdio dominante.
Salta aos olhos que o direito real em exame
no estabelecido tendo em vista uma determinada
pessoa, contudo em favor daquela que figurar como
titular do domnio do imvel dominante. O direito do
titular da servido no se liga a sua pessoa, mas existe
to somente em razo da relao do domnio que ele tem
com o prdio dominante e, apenas, enquanto subsistir
essa relao. De igual maneira, o dono do imvel
serviente gravado pela servido pelo simples fato de
53 VENOSA, 2010, p. 464. 54 DINIZ, 2011, p. 419.
-
38
sua relao dominical com esse prdio. Tratando -se de
direito real, a servido adere coisa, apresentando -se
como um nus que acompanha o prdio serviente em
favor do dominante. Dessa maneira, a servido serve
coisa e no ao dono, restringindo a liberdade natural da
coisa55, por isso um direito real, ao passo que a
obrigao restringe a liberdade natural da pessoa. Assim,
no que tange servido predial autorizada em proveito
de um imvel, no poder ela ter por objeto vantagens
alheias s necessidades desse mesmo imvel.
2 PRINCPIOS FUNDAM ENTAIS
Com alicerce na definio de servido predial,
possvel extrair seus princpios fundamentais, que
decorrem no apenas de seus caracteres como tambm
das normas j urdicas que a regem. O primeiro princpio
55 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.378. A servido proporciona utilidade para o
prdio dominante, e grava o prdio serviente, que pertence a diverso
dono, e constitui -se mediante declarao expressa dos proprietrios,
ou por testamento, e subsequent e registro no Cartrio de Registro de
Imveis.
-
39
est fincado na premissa que uma relao entre prdios
vizinhos ( praedia debent esse vicina ), conquanto a
contiguidade entre prdios dominante e serviente no
seja essencial, porquanto, apesar de no serem vizinho s,
um imvel pode ter a servido sobre outro, desde que se
utilize daquele de alguma maneira . O segundo corolrio
preconiza que a servido no pode recair sobre prdio do
prprio titular, logo, possvel afixar que no existe
servido sobre a prpria cois a (nulli res sua sevit ), em
razo da existncia da servido implicar a circunstncia
de que os imveis (dominante e serviente) pertenam a
donos diversos. Tal fato deriva da premissa que se o
titular do dominante fosse o do serviente, no haveria
que se falar em exerccio de alguns dos poderes do
domnio, mas de todos eles, tornando, dessa maneira,
intil a servido sobre a coisa prpria, da qual ele
poderia usufruir, de modo imediato, de todas as
utilidades produzidas pelo prdio.
Outro dogma basal, em sed e de servides
prediais, estabelece que a servido serve a coisa e no o
dono (servitus in faciendo consistere nequit ),
distinguindo -se, em decorrncia disso, da obrigao,
-
40
porquanto o titular do domnio do imvel serviente no
se obriga prestao de um fato positivo ou negativo,
assumindo, porm, o encargo de tolerar certas limitaes
de seus direitos dominiais em benefcio do prdio
dominante, tendo o dever de no apresentar oposio
para que este ltimo desfrute das vantagens que lhe so
concedidos pela servido. Nunca caber ao proprietrio
56. Portanto,
a servido no gera uma obrigao de fazer, ma sim uma
omisso (non facere) ou uma tolerncia ( pati ),
materializando o nus que sempre acompanha o prdio
serviente em proveito do dominante. Tal princpio
assenta o escopo de proporcionar ao prdio dominante
alguma utilidade ( servitus fundo utilis esse debet ),
trazendo melhora para sua situao. Ao lado disso,
convm, oportunamente, mencionar que so
denominadas de servides irregulares quando tal
instituto constituir limitaes ao prdio em favor de
determinada pessoa e no de outro prdio.
Outro princpio, no possvel de uma
servido constituir outra ( servitus servitutis esse non
56 VENOSA, 2010, p. 464.
-
41
potest). Assim, o titular do domnio do imvel dominante
no tem o direito de promover ampliao da servido a
outros prdios. O quinto dogma preconiza que a servido,
uma vez constituda em benefcio de um prdio,
inalienvel, no podendo ser transferida total ou
parcialmente, nem sequer cedida ou gravada com uma
nova servido. Conquanto o imvel dominante e o
serviente possam ser alienados, a servido permanece
aderida ao prdio que se liga desde o momento de sua
constituio. Destarte, o dono do prdio dominante no
pode ced-la ou transferi -la a outrem , porquanto se o
dono do prdio serviente consentir que se faa tal coisa,
estar -se-ia diante de hiptese de extino da antiga
servido e constituio de nova.
Em que pese a Lei n 10.406, de 10 de Janeiro
de 200257 (Cdigo Civil) n o conter disposio similar
quela contida no artigo 696 da Lei n 3.071, de 1 de
Janeiro de 1916 58 (Cdigo Civil de 1916), segundo o qual
57 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. 58 Idem. L ei n 3.071, de 1 de Janeiro de 1916 . Cdigo Civil dos
Estados Unidos do Brasil. Disponvel em:
-
42
no se presume a existncia da servido, mantido est o
princpio em comento, posto que o artigo 1.378, segunda
parte , reclama que a constituio se d de modo expresso
pelos proprietrios ou por testamento, e registrada em
Cartrio de Imveis. Assim, havendo dvida quanto
existncia do instituto em comento, deve -se decidir pela
inexistncia da servido. A servido, p or se tratar de
limite ao pleno exerccio da propriedade, no se presume,
sendo sua anlise sempre restritiva, competindo quele
59.
Ao lado disso, s deve ser admitida a servido
predial quando ela pro ver de fonte reconhecida pela lei.
Segundo Diniz 60, do princpio em comento surge as
.
Acesso em 18 jan. 2015. Art. 696 . A servido no se presume:
reputa -se, na dvida, no existir. 59 MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justia do Estado de
Minas Gerais . Acrdo proferido em Apelao Cvel n
1.0049.13.000346-7/003. Apelao Cvel. Reintegrao de Posse.
Imvel. Servido de passagem. nus da prova. Anlise restritiva.
Imvel no encra vado. Ausncia de direito possessrio a tutelar.
rgo Julgador: Dcima Quarta Cmara Cvel. Relator:
Desembargador Estevo Lucchesi. Julgado em 09 out. 2014.
Publicado no DJe em 17 out. 2014. Disponvel em:
. Acesso em 18 jan. 2015. 60 DIN IZ, 2011, p. 423.
-
43
seguintes consequncias (i) a servido deve ser
comprovada explicitamente incumbindo o nus da prova
ao que alegar a sua existncia; (ii) deve -se interpretar a
servido restritivamente, eis que ela uma limitao ao
direito de propriedade; (iii) seu exerccio no deve ser
muito oneroso ao prdio serviente; e (iv) no conflito de
provas apresentadas pelo autor e ru, deve -se decidir
contra a servido, porquanto a interpreta o que vigora
em relao ao instituto em comento stricti juris.
3 NAT UREZA JURDICA DAS SERVIDES
PREDIAIS
Farias e Rosenvald 61, de plano, concebem a
servido predial como direito real sobre coisa mvel,
responsvel por impor restries a um prdio em pr oveito
de outro, pertencentes a diferentes proprietrios. Trata -
se, a partir de tal tica, de instituto que envolve uma
ideia de submisso, com privao de certos poderes
inerentes ao domnio do prdio serviente. Em tom de
61 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 626.
-
44
complemento, Maria Helena Diniz 62 sustenta que a
servido predial um direito real de gozo ou fruio sobre
imvel alheio, detentor de aspecto acessrio, perptuo,
indivisvel e inalienvel. Em sendo um direito real sobre
coisa alheia, seu titular est munido de ao real e de
direito de sequela, podendo, ainda, exercer seu direito
erga omnes, desde que o instituto em comento esteja
alicerado, de modo regular, no Registro Imobilirio
competente. importante destacar que a servido
predial possuir carter acessrio, porquanto est
atrelad a a um direito principal, a saber: o direito de
propriedade que lhe d origem, eis que contrariaria o
conceito de servido caso fosse admitida sua constituio
em proveito de quem no tivesse o domnio do prdio
dominante.
Venosa63 explicita que as servide s ligam -se
por vnculo real a imvel alheio, logo, no podem ser
destacadas dos prdios, sob pena de materializem
instituto diverso da servido. Ao lado disso, so direitos
reais acessrios, que no subsistem sem os prdios,
corporificando uma importante c aracterstica, qual seja:
62 DINIZ, 2011, p. 423. 63 VENOSA, 2010, p. 464.
-
45
a inseparabilidade. Atrela -se a servido ao bem imvel e
o acompanha, seguindo-o nas mos dos sucessores do
proprietrio ( ambulant cum domino ). Como decorrncia
da acessoriedade, tem-se a perpetuidade, indivisibilidade
e inalienab ilidade, que so seus atribut os inerentes.
Ademais, obtemperar faz -se carecido que o instituto em
exame considerado perptuo em razo de ter durao
indefinida, ou seja, por prazo indeterminado e nunca por
termo certo , perdurando enquanto existirem os pr dios a
que esto aderidos. Entretanto, inexiste obstculo para
que seja constituda, por conveno, servido ad tempus ,
subordinada a termo determinado ou a condio. Logo,
em sendo verificado o vencimento do prazo estabelecido
para sua durao ou ocorrid o o implemento da condio
ela extingue.
A indivisibilidade ( pro parte dominii
servitutem adquiri non posse ) est contida, de maneira
expressa, no artigo 1.386 do Cdigo Civil 64, prescrevendo
que as servides prediais so indivisveis, subsistindo, no
64 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Aces so
em 18 jan. 2015.
-
46
caso de diviso de imveis, em benefcio de cada uma das
pores do prdio dominante e continuam a gravar cada
uma das partes do prdio serviente, ressalvada a
hiptese de, em decorrncia da natureza, ou destino, s
ser aplicarem a certa parte de um ou de outro . Nesta
toada, consoante esclio apresentado por Maria Helena
Diniz, a servido estabelece-se por inteiro, gravando o
prdio serviente no seu todo, sendo um nus uno e
65. Do aspecto em
exame, possvel pontuar que a servido no se
desdobra, no podendo, em razo disso, ser adquirida ou
perdida por partes . considerada como um todo nico e
indivisvel, que grava o prdio serviente ainda que este
ou o dominante sejam divididos, extinguindo -se apenas
em face de alguns quinhes, se por natureza, ou por sua
destinao, no puder a eles aproveitar.
Dessa maneira, ainda que sobrevenha a
partilha, cada condmino quinhoeiro (caso haja
pluralidade de titulares da servido) do imvel
dominante ter o benefcio ntegro da servid o que
65 DINIZ, 2011, p. 424.
-
47
condmino passa a ter o direito de utilizar a servido em
sua integridade, sofrendo apenas a limitao de no
poder agravar a situao do prdio serviente nem
66. O exerccio
permanece com civilidade, moderao, logo, a servido
no poder ser instituda em favor de parte ideal de
prdio dominante, nem onerar parte ideal do prdio
dominante, nem onerar parte ideal do prdio serviente.
De igual forma, caso a partilha for do imvel serviente,
cada condmino estar obrigado pela servido, no
podendo desdobr-la. Toda servido indivisvel
(servitutes dividi non possunt ), tanto considerada ativa
quanto passivamente, a saber: (i) do lado ativo ou de
quem dela se aprovei ta, somente pode ser reclamada
como um todo, ainda que o prdio dominante venha a ser
propriedade de vrias pessoas; e (ii) do lado passivo
substancializa que o prdio serviente passa a diversos
donos, por efeito da alienao ou herana, a servido
una e grava cada uma das partes em que se fracione o
prdio serviente, salvo se por sua natureza ou destino s
se aplicar a certa parte de um ou de outro prdio.
66 VENOSA, 2010, p. 466.
-
48
Da indivisibilidade do instituto decorrem as
consequncias de que: (i) a servido no pode ser
inst ituda em favor da parte ideal do prdio dominante,
nem pode incidir sobre parte ideal do prdio serviente;
(ii) deve ser mantida a servido ainda que o proprietrio
do imvel dominante se torne condmino do serviente ou
vis a vis; e (iii) defendida a serv ido por um dos consortes
do prdio dominante a todos aproveita a ao. Ao lado
disso, dado o condicionamento da servido a uma
necessidade do prdio dominante, no possvel a
transferncia a outro imvel, restando, a partir disso, sua
inalienabilidade. De maneira que o seu titular no
poder associar outra pessoa ao seu exerccio nem
constituir novo direito real ou nova servido. Conquanto
seja insuscetvel de alienao, passando a outra pessoa
ou a outro prdio, transmissvel por sucesso causa
mortis ou inter vivos, desde que acompanhe o prdio em
suas mutaes subjetivas.
4 CLASSIFICAO DAS SERVIDES PREDIAIS
Quando natureza dos prdios, as servides
-
49
podem ser agrupadas em rsticas ( servitutes praediorum
rusticorum ) e urbanas (servitutes praedio rum
urbanorum ). Venosa67 acrescenta que as servides
rsticas, em decorrncia de sua importncia para a
sociedade romana primitiva, essencialmente agrcola,
eram consideradas res emancipi , com maior proteo
jurdica. Neste aspecto, possvel assinalar que so
rsticas as servidos que se referem a prdios rsticos, ou
seja, aqueles localizados fora do permetro urbano.
possvel mencionar como exemplo a servido de
passagem ou de trnsito que, tradicionalmente, se
dividia, num crescendo, em iter, actus ou via. A servido
de iter estabelecia o direito de passar a p ou a cavalo
pelo terreno; o actus permitia a passagem conduzindo
gato e utilizando carros; a via estabelecia o direito mais
amplo possvel de passagem, inclusive transportando e
arrastando materi ais. Ao lado disso, com o escopo de
robustecer o acimado, possvel transcrever o seguinte
entendimento jurisprudencial:
Ementa: Reintegrao de posse - Servido
de passagem aparente - Direito de
67 VENOSA, 2010, p. 459.
-
50
passagem forada - Institutos Diferentes -
Exerccio da qu ase posse - Proteo
possessria - Desmembramento de uma
propriedade - Existncia de serventia -
Constituio de uma servido - Perdas e
danos - Prova - Necessidade. A servido de
passagem um direito real sobre coisa
alheia, institudo justamente para
aumentar a comodidade e a utilidade do
prdio dominante, no estando
condicionado, portanto, ao encravamento
deste imvel. Difere -se do direito de
passagem forada, que decorre das relaes
de vizinhana e consiste num nus imposto
propriedade de um vizinh o para que o
outro possa ter acesso via pblica, a uma
nascente ou um porto. A servido de
caminho descontnua e pode ser
considerada aparente se deixar marcas
exteriores de seu exerccio, hiptese em que
far jus proteo possessria ainda que
no seja titulada, vez que a aquisio desta
quase posse d-se a partir do momento em
que os atos que constituem a servido so
perpetrados com o intuito de exercer tal
direito. Quando dois imveis resultarem do
desmembramento de um imvel pertencente
a uma s pessoa, no qual havia serventia
visvel pela qual uma das partes da
propriedade prestava utilidade outra
parte, restar constituda uma servido no
momento em que os prdios passarem a
pertencer a donos diversos. O xito da
demanda indenizatria depende,
exclusivamente, da comprovao dos
prejuzos sofridos, no bastando que o
requerente apenas demonstre a existncia
de um fato que, em princpio, possa causar
um dano. (Tribunal de Justia de Minas
Gerais - Dcima Quarta Cmara Cvel/
-
51
Apelao Cvel n 1.0434.05.001398-7/001/
Relator : Desembargador Elias Camil o/
Julgado em 01.02.2007/ Publicado no DJe
em 27.02.2007).
Outro exemplo de servides rsticas a de
aquaeductus que estabelecia o direito de conduzir gua
pelo prdio alheio. possvel, ainda, como modalidade de
servides rsticas, mencionar: (i) o direito de buscar
gua em nascente do terreno vizinho ( servitus aquae
haustus ); (ii) o direito de apascentar o gado em terreno
alheio (servitus pecoris pascendi ); (iii) direito de abeberar
o gado no terreno vizinho ( pecoris ad quam adpulsusI );
(iv) direito de queimar a cal ( servitus calcis quoquendae );
(v) direito de tirar areia ( servitus arenae fodiendae ); e (vi)
direito de extrair pedra ( servitus cretae lapidis
eximendae). J as servides urbanas so constitudas
para os prdios localizados nos limites das cidades, vilas
ou povoaes e respectivos subrbios. Ao lado disso, tais
servides podem ser convencionadas conforme as
necessidades ou convenincias dos proprietrios, se no
bastarem as regras esta belecidas pelo direito de
vizinhana. A ttulo de exemplificao, no
exaustivamente, possvel mencionar: (i) o direito de
-
52
escoar gua pluvial de seu telhado atravs de goteiras,
calhas, canos ou tubos, para o prdio vizinho ( servitus
stillicidii vel flu minis recipiendi ); (ii) o direito no criar
obstculo entrada de luz no prdio dominante ( servitus
ne liminibus officiatur ); (iii) o direito de meter trave na
parede do vizinho ( servitus tigni immittendi ); (iv) o
direito de abrir janelas na prpria pared e ou na do
vizinho para obteno de luz ( servitus luminis ); (v) o
direito de apoiar sua edificao nas paredes, muro ou
qualquer parte do prdio confinante, mediante condies
preestabelecidas (servitus oneris ferendi ); (vi) o direito de
gozar de vista ou da janela ou do terrao de sua casa
(servitus prospectu ); (vii) o direito de no construir prdio
alm de certa altura ( servitus altius non tollendi ); e (viii)
o direito de passar canais de esgoto no prdio vizinho
(servitus cloacae).
Quanto ao modo de exerccio, possvel
estabelecer trs classificaes distintas. A primeira
agrupa as servides prediais em contnuas e
descontnuas. Segundo Maria Helena Diniz 68, as
servides so consideradas contnuas quando subsistem e
68 DINIZ, 2011, p. 428.
-
53
exercem independentemente de atos hum ano direto,
conquanto seu exerccio possa interromper -se, a exemplo
da servido de passagem de gua, de energia eltrica, de
iluminao ou ventilao; as descontnuas, por sua vez,
so verificadas quando o seu exerccio de funcionamento
requer ao humana sequencial, tal como ocorre com a
servido de trnsito, a de tirar gua de prdio alheio, a
de extrao de minerais ou a de pastagem. Ainda no
tocante ao modo de exerccio, uma segunda classificao
divide as servides em positivas e negativas, sendo que
nessas o proprietrio do prdio dominante tem direito a
uma utilidade do serviente, podendo praticar neste os
atos necessrios a esse fim; j nas negativas o
proprietrio do prdio serviente deve abster -se de certo
ato ou renunciar um direito que poderia ex ercer no
prdio se no houvesse servido. Por derradeiro, a
terceira classificao agrupa as servides em ativas e
passivas, sendo que aquelas consistem no direito do dono
do prdio dominante e essas no encargo do prdio
serviente.
Quanto sua exterioriza o, as servides
podem ser aparentes e no aparentes. No primeiro caso,
-
54
as servides so mostradas por obras ou sinais
exteriores, tal como ocorre com a servido de aqueduto
ou a de travejar parede vizinha; ao passo que as
servides no aparentes so aquelas que no se revelam
externamente, a exemplo da servido altius non tollendi ,
a de no abrir a janela ou a de caminho ( servitus itineris ),
que consiste meramente no transitar por prdio alheio,
no contendo, contudo, nenhuma estrada, nem marca
visvel. Q uanto sua origem, as servides so
classificadas em legais (advindas de imposio legal, por
isso so restries propriedade similares servido),
naturais (so as que decorrem das situaes dos prdios)
e as convencionais (so aquelas resultantes da vontade
das partes, exteriorizadas por meio de contratos e
cdulas testamentrias).
5 MODOS DE CONSTITUIO
Em consonncia com o artigo 1.378 do Cdigo
Civil 69, sabido que a servido no se presume, logo,
69 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
-
55
imprescindvel que, para ter validade erga omnes seja
comprovada e o ttulo de sua constituio seja registrado
no Cartrio de Registro de Imveis. O primeiro modo de
constituio se d por meio de ato jurdico inter vivos ou
causa mortis . Se for constituda por contrato, s o pode
ser por quem for ca paz, isto , por quem for proprietrio,
os atos da vida civil, necessrio que tenha a especfica
70. Dessa
forma, todas as servides, contnuas ou des contnuas,
aparentes ou no aparentes, podem ser estabelecidas
mediante contrato, que deve ser levado a registro.
Salientar faz -se carecido que as servides no aparentes
somente podero ser adquiridas pelo registro do ttulo .
Ao lado disso, cuida explicit ar, consoante dico do artigo
1.379 do Cdigo Civil 71, a servido no aparente no pode
em 18 jan. 2015. Art. 1.378. A servido proporciona utilidade para o
prdio dominante, e grava o prdio serviente, que pertence a diverso
dono, e constitui -se mediante declarao expressa dos proprietrios,
ou por testamento, e subsequente registro no Cartrio de Registro de
Imveis. 70 DINIZ, 2011, p. 431. 71 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.379. O exerccio incontestado e contnuo de
-
56
ser adquirida por usucapio, entretanto tanto servida
aparente como no aparente aplicam -se os regramentos
comuns dos Registros de Imveis, eis que sua
constituio sempre uma alienao parcial de direito de
propriedade.
O ato jurdico inter vivos deve ser oneroso,
porquanto o proprietrio do prdio serviente deve ser
indenizado pela restrio que imposta ao seu domnio.
Ademais, pode ser constitudo por testamen to, nos
termos da parte final do artigo 1.378 do Cdigo Civil,
caso em que o testador institui servido sobre o prdio
que deixa a algum beneficirio, que j receber a sua
propriedade gravada, em favor de outro prdio. O
segundo modo de constituio est vinculado sentena
judicial, porquanto a Lei n 5.869, de 11 de Janeiro de
1973, que institui o Cdigo de Processo Civil, em seus
artigos 979, inciso II 72, e 980, 2, inciso III 73,
uma servido aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242 ,
autoriza o interessado a registr -la em seu nome no Registro de
Im veis, valendo-lhe como ttulo a sentena que julgar consumado a
usucapio. 72 BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de Janeiro de 1973 . Institui o
Cdigo de Processo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 979 . Ouvidas as partes, no prazo comum de 10
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1242 -
57
concernente s aes de diviso e de demarcao,
contempla o caso de constituio, quando necessria, de
servido com o fito de assegurar a utilizao dos
quinhes partilhados. Aps a homologao dessa diviso
do imvel e do assento da sentena judicial no
competente registro imobilirio, constituda estar a
servido que passar a produzir todos os efeitos legais.
Assim, as servides podero ser institudas judicialmente
pela sentena que homologar a diviso, estando ela
devidamente registrada.
O terceiro modo de constituio decorre da
usucapio, encontrando amparo no pargrafo nico do
(dez) dias, sobre o clculo e o plano da diviso, deliberar o juiz a
partilha. Em cumprimento desta deciso, proceder o agrimensor,
assistido pelos arbitradores, demarcao dos quinhes,
observando, alm do disposto nos arts. 963 e 964, as seguintes
regras: [ omissis] II - instituir -se-o as servides, que forem
indispensveis, em favor de uns quinhes sobre os outros, incluindo
o respectivo valor no oramento para que, no se tratando de
servides naturais, seja compensado o condmino aquinhoado com o
prdio serviente; 73 Ibid. Art. 980 . Terminados os trabalhos e desenhados na planta os
quinhes e as servides aparentes, organizar o agrimensor o
memorial descritivo. Em seguida, cumprido o disposto no art. 965, o
escrivo lavrar o auto de diviso, seguido de uma folha de
pagamento para cada condmino. Assinado o auto pelo juiz,
agrimensor e arbitradores, ser proferida sentena homologatria da
diviso. [omissis] 2o Cada folha de pagamento conter: [omissis] III
- a declarao das servides institudas, especificados os lugares, a
extenso e modo de exerccio.
-
58
artigo 1.379 do Cdigo Civil 74, preconizando que o
exerccio incontestado e contnuo de uma servido
aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242 , autoriza
o interessado a registr -la em seu nome no Registro de
Imveis, valendo -lhe como ttulo a sentena que julgar
consumado a usucapio. Caso o possuidor no tenha
ttulo, o prazo ser de vinte anos. Maria Helena Diniz 75
explicita que o entendimento firmado, co ntudo, de que o
prazo consagrado no pargrafo nico do sobredito
dispositivo de quinze anos, ao invs do prazo
estabelecido na redao legal, a fim de assegurar
conformidade com o sistema geral de usucapio da
codificao civil. em mesmo sentido, o Enu nciado n 251,
251
Art. 1.379: O prazo mximo para o usucapio
extraordinrio de servides deve ser de 15 anos, em
conformidade com o sistema geral de usucapio previsto
no Cdigo Civil 76. Por seu turno, o artigo 941 da Lei n
74 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. 75 DINIZ, 2011, p. 432. 76 BRASIL. Conselho de Justia Federal . Disponvel em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1242 -
59
5.869, de 11 de Janeiro de 197377 (Cdigo de Processo
Civil), concede ao de usucapio ao possuidor de
servido que, aps preencher os requisitos legais, a
assentar no registro imobilirio. Cuida anotar que
apenas as servides aparent es que podem ser
adquiridas por usucapio ordinria ou extraordinria
porque: (i) s estas so suscetveis de posse; (ii) s as
aparentes podem ser percebidas por inspeo ocular; e
(iii) s a continuidade e permanncia que caracterizam
a posse para usucapir. Sobre o tema, convm transcrever
os entendimentos jurisprudenciais:
Ementa: Agravo de Instrumento - Ao de
usucapio de servido aparente - Deferimento
de liminar - Desnecessidade de aferio da
poca da obstruo da servido - Justificao
prvi a - Possibilidade de realizao sem
citao dos requeridos - Provas dos autos
indicando a presena dos requisitos para
deferimento da medida - Recurso
improvido. Em se tratando de ao de
usucapio de servido aparente, baseada no
. Acesso em 18 jan. 2015. 77 Idem. Lei n 5.869, de 11 de Janeiro de 1973 . Institui o Cdigo
de Processo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 941. Compete a ao de usucapio ao
possuidor para que se Ihe decl are, nos termos da lei, o domnio do
imvel ou a servido predial.
-
60
art. 1.379, do CC/2002, n a qual se pleiteia,
liminarmente, a desobstruo de estrada, no
h de se discutir se a posse nova ou velha,
para fins de se aferir a possibilidade de
concesso da liminar, posto no se tratar de
ao possessria. Revelando a medida de
carter acautelat ria, pode -se realizar a
audincia de justificao prvia, sem a
citao do ru, nos termos do art. 804, CPC,
quando esta puder tornar a medida
ineficaz. Inexistindo elementos que
impliquem censura deciso do julgador
primevo, que, ao valorar as provas co ligidas
aos autos, vislumbrou a presena do fumus
boni iuris e do periculum in mora,
fundamentando devidamente sua deciso
para deferir a liminar, deve ser negado
provimento ao recurso. (Tribunal de Justia
de Minas Gerais Dcima Stima Cmara
Cvel/ Agravo de Instrumento
n 1.0514.05.017640-3/001/ Relator:
Desembargador Eduardo Marin da Cunha /
Julgado em 02.02.2006/ Publicado no DJe em
09.03.2006)
Ementa: Usucapio - Posse - Soma dos
tempos - Possibilidade - Servido de
passagem - Acolhimento. Havendo cesso de
direito, relativo posse e domnio do bem,
possvel a soma do tempo anterior ao
posterior, para fins de usucapio. Ainda que
exista ligao do imvel com a via pblica, h
que se reconhecer a servido de passagem, se
ela j utilizada h mui to tempo, facilitando
ao possuidor, o gozo de seu direito. (Tribunal
de Justia de Minas Gerais Quinta Cmara
Cvel do Tribunal de Alada/ Apelao Cvel
n 2.0000.00.437519-9/000/ Relatora:
Desembargadora Eulina do Carmo Almeida /
-
61
Julgado em 03.02.2005/ Publicado no DJe em
26.02.2005).
O quarto modo de constituio a destinao
do proprietrio, ou seja, quando os proprietrios dos dois
imveis, permanentemente, resolvem estabelecer uma
serventia entre os prdios, uma vez que no h servido
se os imveis pertencerem a um s proprietrio. Ao lado
disso, Diniz, com clareza ofuscante, em seu magistrio,
destinao do proprietrio no caso de a mesma pessoa ter
dois prdios e, criada uma serventia visvel de um
benefcio do outro, venham mais tarde a ter donos
78, criando -
se, em tal cenrio, uma servido, sem a manifestao
formal do instituidor, porm originria de um ato de
vontade unilateral do proprietrio. Como requisito para
que se adquira essa servido por esse meio, os
entendimentos jurisprudenciais tem vindicado que a
servido seja aparente, com a finalidade de proteger a
boa-f do adquirente do imvel dominante, pois,
consoante explicitam os multicitados art igos 1.378 e
78 DINIZ, 2011, p. 433.
-
62
1.379 do Cdigo Civil de 2002, as servides no
aparentes s podem ser constitudas por registro no
Cartrio de Registro de Imveis.
6 SINGEL O QUADRO SOBRE OS DIREITOS E
DEVERES DOS PROPRIETRIOS DOS PRDIOS
DOMINANTE E SERVIENTE
sabido que o exerccio da servido acarreta
aos proprietrios dos prdios dominante e serviente uma
srie de direitos e obrigaes que, concomitantemente,
limitam a utilizao do direito de propriedade do dono do
serviente e ampliam o uso e gozo do titular do domn io do
prdio dominante. Assim, o dono do prdio dominante
tem o direito de: (i) usar e gozar da servido; (ii) realizar
obras necessrias sua conservao e uso, a fim de poder
atingir os objetivos da servido, nos termos do artigo
1.380 do Cdigo Civil 79; (iii) reclamar a ampliao da
79 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.380. O dono de uma servido pode fazer
todas as obras necessrias sua conservao e uso, e, se a servido
-
63
servido para facilitar a explorao do prdio dominante,
mesmo contra a vontade do proprietrio do prdio
serviente, que tem, porm, o direito indenizao pelo
excesso, na forma capitulada no 3 do artigo 1.385 do
Cdigo Civil 80. Prima avultar, oportunamente que tais
disposies so aplicveis, igualmente, s servides
rsticas; (iv) renunciar servido 81; e (v) remover, sua
custa, a servido de um local a outro, desde que aumente
consideravelmente sua utilidade e no pre judique o
prdio serviente, em consonncia com a parte final do
artigo 1.384 Cdigo Civil de 2002 82.
pertencer a mais de um prdio, sero as despesas rateadas entre os
respectivos donos. 80 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.385. Restringir -se- o exerccio da servido
s necessidades do prdio dominante, evitando -se, quanto possvel,
agrava r o encargo ao prdio serviente. [omissis] 3o Se as
necessidades da cultura, ou da indstria, do prdio dominante
impuserem servido maior largueza, o dono do serviente
obrigado a sofr -la; mas tem direito a ser indenizado pelo excesso. 81 Ibid. Art. 1 .388. O dono do prdio serviente tem direito, pelos
meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora o dono do
prdio dominante lho impugne: I - quando o titular houver
renunciado a sua servido; 82 Ibid. Art. 1.384. A servido pode ser removida, de um local para
outro, pelo dono do prdio serviente e sua custa, se em nada
diminuir as vantagens do prdio dominante, ou pelo dono deste e
-
64
Entrementes, o dono do imvel dominante tem
o dever de: (i) adimplir e realizar todas as obras para uso
e conservao da servido83, ressalvada a hiptese de
existncia de estipulao em sentido contrrio, fazendo
com que tal obrigao recaia sobre o dono do prdio
serviente. Maria Helena Diniz aponta
pertencer a mais de um prdio, tais despesas devero ser
divididas, em partes iguais , entre os seus respectivos
donos, exceto se houver estipulao firmada entre eles no
84; (ii) exercer a
servido de modo civilizando, evitando que haja qualquer
agravo ao prdio serviente, uma vez que a servido deve
estar adst rita apenas s necessidades do prdio
dominante 85; e (iii) indenizar o dono do prdio serviente
sua custa, se houver considervel incremento da utilidade e no
prejudicar o prdio serviente. 83 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel e m:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.381. As obras a que se refere o artigo
antecedente devem ser feitas pelo dono do prdio dominante, se o
contrrio no dispuser expressamente o ttulo. 84 DINIZ, 2011, p. 435. 85 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel e m:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.385. Restringir -se- o exerccio da servido
-
65
pelo excesso do uso da servido em caso de necessidade
da cultura ou indstria.
O proprietrio do imvel dominante ter o
dever de indenizar o dono do prdio se rviente pelo
excesso ou agravao do uso da servido em caso de
necessidade, porquanto o dono do serviente somente
suportar o necessrio ao exerccio formal e especfico da
servido, submetendo -se ainda s servides acessrias e
adminculas. Dessa maneira , em se tratando de servido
em prdio destinado cultura e indstria, sendo
carecida, para melhorar o aproveitamento econmico e
social, a sua ampliao e consequente agravao do nus,
a legislao vigente, com o escopo de favorecer a
qualidade da cul tura ou da indstria, admite o
alargamento da servido, por meio do pagamento de uma
indenizao pelo excesso do encargo ao dono do serviente,
que suportar a extenso da servido at o mximo das
necessidades da cultura ou da indstria. Em tal sentido,
acena o entendimento jurisprudencial:
s necessidades do prdio dominante, evitando -se, quanto possvel,
agravar o encargo ao prdio serviente.
-
66
Ementa : Civil. Ao de servido por
usucapio. Ausncia de irresignao
recursal quanto ao usucapio propriamente
dito. Necessidade de alargamento da
servido evidenciada. - Descabe discutir
acerca da existncia do usuc apio alegado
quando tal questo no restou deliberada
em sede de defesa e na instncia recursal. -
Impe-se o alargamento da servido de
passagem quando evidenciada a sua
necessidade - em face da precariedade do
local, com o difcil transporte de pessoas e
veculos, restando comprovadas as
dificuldades vividas pelos autores.
(Tribunal de Justia de Minas Gerais
Dcima Segunda Cmara Cvel/ Apelao
Cvel n 1.0056.01.001734-3/001/ Relator:
Desembargador Saldanha da Fonseca/
Julgado em 14.11.2007/ Public ado no DJe
em 01.12.2007).
Doutra banda, o proprietrio do prdio
serviente tem o direito de: (i) exonerar -se de pagar as
despesas com o uso e conservao da servido, quando
tiver que suportar esse encargo, desde que abandone
total ou parcialmente a prop riedade em favor do
proprietrio do prdio dominante, materializando o
abandono liberatrio, e se este recusar -se a receber a
propriedade do serviente, ou parte dela, ser cabvel o
custeio das obras de conservao e uso, consoante dico
-
67
do pargrafo nic o do artigo 1.382 do Cdigo Civil 86; (ii)
remover a servido de um local para outro, que seja mais
favorvel sua utilizao, sem que isso implique em
desvantagem ao exerccio normal dos direitos do dono do
o
dever comunicar previamente o titular do prdio
dominante, para que possa tomar as providncias
necessrias 87. Caso no haja a comunicao, poder o
proprietrio de o prdio dominante embargar,
judicialmente, as obras at que as razes de remoo
sejam esclarecidas; (iii) obstar que o proprietrio do
dominante efetive quaisquer mudanas na forma de
utilizao da servido, pois esta deve manter sua
destinao; (iv) cancelar a servido, pelos meios judiciais,
conquanto haja impugnao do dono do prdio
dominante, nos casos de renncia do titular da servido,
de impossibilidade de seu exerccio em razo de cessao
86 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.382. Quando a obrigao incumbir ao dono
do prdio serviente, este poder exonerar -se, abandonando, total ou
parcialmente, a propriedade ao dono do dominante. Pargrafo
nico . Se o proprietrio do prdio dominante se recusar a receber a
propriedade do serviente, ou parte dela, caber -lhe- custear as obras. 87 DINIZ, 2011, p. 436.
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da utilidade que determinou a constituio da servido e
de resgate da servido; e (v) cancelar a servido,
mediante prova de extino, quando ho uver: a) reunio
de dois prdios no domnio da mesma pessoa; b)
supresso das respectivas obras em virtude de contrato
ou outro ttulo; e c) desuso por dez anos ininterruptos.
O proprietrio do prdio serviente tem a
obrigao de: (i) permitir que o dono d o prdio dominante
realize as obras necessrias conservao e utilizao da
servido ou efetu -las, se tal dever lhe tiver sido
acometido pelo contrato ou ttulo constitutivo, hiptese
em que o dono do prdio dominante poder exigir sua
execuo, por meio da tutela processual especfica, e o
pagamento das perdas e danos; (ii) respeitar o exerccio
normal e legtimo da servido, supedaneado no artigo
1.383 do Cdigo Civil 88, de forma que se impedir o dono
do prdio dominante de usufruir das vantagens oriund as
da servido ou de realizar obras para sua conservao,
este poder utilizar da ao de manuteno de posse,
88 BRASIL . Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel em:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.383 . O dono do prdio serviente no poder
embaraar de modo algum o exerccio le gtimo da servido.
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para defender seus direitos. Caso haja esbulho, poder,
ainda, lanar mo da ao de reintegrao de posse; e
(iii) pagar as despesas com a remoo da servido e no
embaraas ou diminuir as vantagens do prdio
dominante, que decorrerem dessa mudana, com espeque
no artigo 1.384 89 do diploma civilista.
7 PROTEO JURDICA DAS SERVIDES
PREDIAIS
No sistema jurdico nacional, h um conjunto
de aes que amparam as servides prediais. A primeira
a ser mencionada a ao confessria, cujo escopo est
assentado em reconhecer a sua existncia, quando
negada, ou contestada pelo proprietrio do prdio
gravado quando se v contrariado no seu propsito pelo
dono do prdio serviente, devendo, in concreto, provar a
89 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o
Cdigo Civil. Disponvel e m:
. Acesso
em 18 jan. 2015. Art. 1.384.