compêndio de ensaios jurídicos: temas de direitos reais - v. 1, n. 2

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Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em trabalhar, academicamente, determinados assuntos. Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo dogmático. É possível, à luz da tradicional visão empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual não se incluem somente as instituições legais, as ordens legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das mencionadas instituições, ordens e decisões, materializando, comumente, uma “meta direito”. No Direito, a construção do conhecimento advém da interpretação de leis e as pessoas autorizadas a interpretar as leis são os juristas.Contudo, o alvorecer acadêmico que é presenciado pelos Operadores do Direito, que se debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando as experiências empíricas e o contorno regional como elementos indissociáveis para a compreensão do Direito. Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento jurídico como algo dogmático, buscando conferir molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e inquietações produzida durante a formação acadêmica do autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática de Direitos Reais, o presente busca trazer para o debate uma série de assuntos contemporâneos e que reclamam maiores reflexões.

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  • TAU LIMA VERDAN

    RANGEL

    COMPNDIO DE ENSAIOS

    JURDICOS:

    TEMAS DE DIREITOS REAIS

    V.

    01

    N.

    02

  • COMPNDIO DE ENSAIOS JURDICOS:

    TEMAS DE DIREITOS REAIS

    (V. 01, N. 0 2)

    Capa: Lasar Segall , Paisagem Brasileira (1925).

    ISBN: 978-1516932283

    Editorao, padronizao e formatao de texto

    Tau Lima Verdan Rangel

    Projeto Grfico e capa

    Tau Lima Verdan Rangel

    Contedo, citaes e referncias bibliogrficas

    O autor

    de inteira responsabilidade do autor os conceitos aqui

    apresentad os. Reproduo dos textos autorizada

    mediante citao da fonte.

  • A P R E S E N T A O

    Tradicionalmente, o Direito reproduzido por

    pessoas reconhecidas pela comunidade jurdica em

    trabalhar, academic amente, determinados assuntos.

    Assim, o saber jurdico sempre foi concebido como algo

    dogmtico. possvel, luz da tradicional viso

    empregada, afirmar que o Direito um campo no qual

    no se incluem somente as instituies legais, as ordens

    legais, as decises legais; mas, ainda, so computados

    tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das

    mencionadas instituies, ordens e decises,

    Direito, a construo do conhecimento advm da

    interpreta o de leis e as pessoas autorizadas a

    interpretar as leis so os juristas.

    Contudo, o alvorecer acadmico que

    presenciado pelos Operadores do Direito, que se

    debruam no desenvolvimento de pesquisas, passa a

    conceber o conhecimento de maneira prtica, uti lizando

    as experincias empricas e o contorno regional como

    elementos indissociveis para a compreenso do Direito.

  • Ultrapassa -se a tradicional viso do conhecimento

    jurdico como algo dogmtico, buscando conferir

    molduras acadmicas, por meio do emprego de mtodos

    cientficos. Neste aspecto, o Compndio de Ensaios

    Jurdico objetiva disponibilizar para a comunidade

    interessada uma coletnea de trabalhos, reflexes e

    inquietaes produzida durante a formao acadmica do

    autor. Debruando -se especificamente sobre a temtica

    de Direitos Reais, o presente busca trazer para o debate

    uma srie de assuntos contemporneos e que reclamam

    maiores reflexes.

    Boa leitura!

    Tau Lima Verdan Rangel

  • 5

    S U M R I O

    Comentrios ao instituto da anticres e: viso do diploma

    civilista ao direito real de garantia ..................................... 06

    Comentrios s servides prediais: breve painel dos

    direitos reais limitados de gozo ou frui o ......................... 30

    O direito real de habita o: uma singela an lise do tema . 83

    O direito real de superf cie: singelas ponderaes ............. 104

    O instituto do uso em anlise: coment rios ao direito real

    limitado de gozo ou frui o ................................................. 135

  • 6

    COMENT RIOS AO INSTITUTO DA ANTICRESE:

    VIS O DO DIPLOMA CIVILISTA AO DIREITO

    REAL DE GARANTIA

    Resumo: Em uma primeira plana, cuida anotar

    que o vocbulo anticrese deriva da juno de dois

    radicais gregos, a saber: anti (contra) e chresis

    (uso), cujo sign

    isto , uso de soma que tem o devedor contra o uso

    dos frutos e dos rendimentos que tem o credor

    anticrtico. Insta gizar que o Direito Romano no

    conheceu o instituto como modalidade autnoma,

    mas sim como um pacto a nexo ou integrante ao

    penhor ou hipoteca. Era permitido ao credor, cujo

    objeto lhe era entregue, que percebesse os frutos

    com o escopo de amortizar a dvida ou ainda para

    adimplir os juros. A obrigao, todavia, permanecia

    assegurada pelo penhor ou hipot eca. Trata -se, com

  • 7

    efeito, de uma conveno, por meio da qual o credor

    anticrtico, retendo um imvel do devedor, passa a

    perceber, como forma de compensao da dvida, os

    seus frutos e rendimentos com o escopo de alcanar

    a soma do dinheiro emprestada, ab atendo na

    dvida, e at o seu resgate, as importncias que for

    recebendo.

    Palavras -chaves: Anticrese. Imvel Anticrtico.

    Direito Real de Garantia.

    Sumrio: 1 Anticrese: Conceito e Caractersticas; 2

    Direitos e Deveres do Credor Anticrtico; 3 Direitos

    e Obrigaes do Devedor Anticrtico; 4 Extino da

    Anticrese.

  • 8

    1 ANTICRESE: CONCEITO E CARACTERSTICAS

    Em uma primeira plana, cuida anotar que o

    vocbulo anticrese deriva da juno de dois radicais

    gregos, a saber: anti (contra) e chresis (uso), cujo

    signi

    soma que tem o devedor contra o uso dos frutos e dos

    rendimentos que tem o credor anticrtico. Como bem

    anota Venosa, o vocbulo d a ideia de uso do capital

    recebido pelo credor perante a entrega da coisa pelo

    devedor. A expresso no era usual no Direito Romano.

    Suas razes situam -se no direito grego e egpcio 1. Insta

    gizar que o Direito Romano no conheceu o instituto

    como modalidade autnoma, mas sim como um pacto

    anexo ou integrante ao penhor ou hipoteca.

    Era permitido ao credor, cujo objeto lhe era

    entregue, que percebesse os frutos com o escopo de

    amortizar a dvida ou ainda para adimplir os juros. A

    obrigao, todavia, permanecia assegurada pelo penhor

    ou hipoteca. Lecionam Farias e Rosenvald a

    anticrese um contrato de origem grega, que no

    1 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais . 10 Ed.

    So Paulo: Editora Atlas S.A., 2010, p. 615.

  • 9

    funcionada de forma autnoma no direito romano, posto

    utilizada como pacto adjeto ao contrato hipotecrio ou

    pignoratcio 2, sendo uma juno da faculdade de

    perceber frutos com a posse da coisa dada em garantia e

    direito de sequela, que so caractersticos do instituto do

    penhor. Trata -se, com efeito, de uma conveno, por meio

    da qual o credor anticrtico, retendo um imvel do

    devedor, passa a perceber, como forma de compensao

    da dvida, os seus fr utos e rendimentos com o escopo de

    alcanar a soma do dinheiro emprestada, abatendo na

    dvida, e at o seu resgate, as importncias que for

    recebendo. Obtempera, com propriedade, Venosa quando

    destaca que:

    A anticrese desempenha uma dupla funo:

    servir como garantia ao pagamento da

    dvida, porque o credor anticrtico tem

    direito de reteno do imvel at a sua

    extino, bem como servir de meio de

    execuo direta da dvida, pois ao credor

    atribudo o direito de receber os frutos e

    imputar -lhes no pagamento dos juros e do

    capital 3.

    2 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos

    Reais . Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 742. 3 VENOSA, 2010, p. 616.

  • 10

    A Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002, que

    institui o Cdigo Civil 4, ao tratar do tema em comento,

    disps no 1 do artigo 1.506 que permitido que os

    frutos e rendimentos do imvel, em sua totalidade, sejam

    percebidos, de maneira exclusiva, por conta dos juros.

    Aduz, ainda, o Estatuto de 2002, na parte final do

    pargrafo supramencionado, que se o numerrio desses

    frutos e rendimentos for maior do que a taxa permitida

    em lei para as operaes financeiras, o remanescente, ou

    seja, o que extrapola a taxa de juros ser abatido do

    se

    o valor dos frutos e rendimentos ultrapassar a taxa

    mxima permitida em lei para as operaes financeiras,

    ter-se- sua reduo e o remanescente ser imputada ao

    capital [...] amortizando -o 5.

    Conforme se extrai das ponderaes estruturadas

    at o momento, pode-se observar que as partes possuem

    a faculdade de estipular a amortizao da dvida ou

    4 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012. 5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro:

    Direito das Coisas . 26 Ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2011, p.

    559.

  • 11

    somente dos juros pelo percebimento dos frutos . Neste

    passo, a anticrese ser extintiva ou satisfativa, quando

    os frutos servem para amortizar a dvida, dentro de um

    limite, consoante estatudo pelo Codex de 2002, ou

    compensativa, quando os frutos so imputados apenas no

    adimplemento dos juros. Seus pressupostos so, pois, a

    existncia de um crdito em favor do credor anticrtico e a

    tradio de um imvel do devedor ou de um terceiro para

    fruio 6. Tal como ocorre em todos os direitos reais de

    garantia, na anticrese possvel que terceiro subordine

    imvel seu para suportar o crdito, assumindo a posio

    de garante, no s termos insculpidos no artigo 1.427 do

    Diploma Civilista 7 em vigor.

    H que se rememorar, ainda, que o credor

    anticrtico tem o direito de reter, em seu poder, a coisa

    enquanto a dvida no for saldada, todavia, em

    consonncia com os princpios gerais constantes do artigo

    6 VENOSA, 2010, p. 616. 7 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.427. Salvo clusula expressa, o terceiro que

    presta garantia real por dvida alheia no fica obrigado a substitu -

    la, ou refor -la, quando, sem culpa sua, se perca, deteriore, ou

    desvalorize

  • 12

    1.423 do Cdigo de 20028, operado o transcurso de quinze

    anos a contar do dia da transcrio, h a extino.

    a restrio temporal parte do

    pressuposto de que, se a obrigao no se extingue em

    prazo to longo, inconveniente que perdure o direito

    real. Nessa hiptese, [...], a extino do direito real no

    implica sistematicamente extino da dvida 9, uma vez

    que o credor permanece como quirografrio. E m razo da

    essncia do instituto em comento, salta aos olhos os

    inconvenientes da instituio da anticrese, notadamente

    em decorrncia da transferncia da coisa ao credor, eis

    que, alm de privar o devedor de sua utilizao, atribui

    quele a obrigao de administrar coisa alheia, com a

    obrigao conjugada de prestar contas.

    Durante a vigncia do Cdigo de 1916 10, o devedor

    anticrtico ficava impedido de contrair novos

    emprstimos assegurados pelo mesmo bem, tal como p

    8 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.423. O credor anticrtico tem direito a reter

    em seu poder o bem, enquanto a dvida no for paga; extingue -se esse

    direito decorridos quinze anos da data de sua constituio 9 VENOSA, 2010, p. 616. 10 BRASIL. Lei N . 3.071 , de 1 de Janeiro de 1916 . Cdigo Civil

    dos Estados Unidos do Brasil. Disponvel em:

    . Acesso em: 08 set. 2012.

  • 13

    bem hipotecado s poderia ser dado em anticrese ao

    credor hipotecrio . Tal problemtica foi suprimida com a

    promulgao do Estatuto de 2002, permitindo, via de

    consequncia, que a hipoteca seja concedida a terceiros,

    nos termos preconizados no 2 do artigo 1.506 11.

    Consoante o festejado esclio a anticrese

    decorre de contrato ou de testamento. Nesses se

    discriminam os valores de dvida, juros, prazos etc. Tm

    as partes toda a amplitude da autonomia da vontade no

    negcio jurdico. No se nega que o testador tambm pode

    institu -la 12.

    Imperioso se faz abordagem dos aspectos

    caractersticos do instituto da anticrese, a fim de se

    compreender, de maneira mais robusta, a espcie de

    direito em lia. Como espancado algures, a anticrese

    constitui direito real de garantia, eis que se adere ao

    imvel para a percepo de seus frutos, rendimentos ou

    utilidades ao credor anticrtico. Ao lado disso, cuida

    11 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.506. [omissis] 2o Quando a anticrese recair

    sobre bem imvel, este poder ser hipotecado pelo devedor ao credor

    anticrtico, ou a terceiros, assim como o imvel hipotecado poder ser

    12 VEN OSA, 2010, p. 617.

  • 14

    anotar que o credor poder opor seu direito ao adquirente

    do imvel dado em garantia, uma vez que detentor de

    ao real e direito de sequela, po dendo, inclusive,

    acompanhar sua garantia em se tratando de transmisso

    inter vivos ou causa mortis, uma vez constituda e

    carecidamente registrada. Deste modo, salta aos olhos

    que qualquer mudana na propriedade no tem o condo

    de alterar a situao do c redor anticrtico 13.

    Em consonncia com o burilado no artigo 1.509 do

    Cdigo Civil 14, poder o credor opor o seu direito de

    utilizar e fruir, tal como o de reteno, aos credores

    quirografrios do devedor e aos hipotecrios. Cuida

    colacionar o ensinamento d e Maria Helena Diniz, quando

    os frutos da coisa gravada no podem ser

    penhorados por outros credores do devedor. Se tal

    penhora se realizar, o anticresista poder utilizar -se dos

    embargos de terceiro para impugnar esse ato 15. A

    anticrese dir eito indivisvel, atentando -se para as

    13 Neste sentido: DINIZ, 2011, p. 559. 14 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.509. O credor anticrtico pode vindicar os

    seus direitos contra o adquirente dos bens, os credores quirografrios

    e os hipotecrios posteriores ao registro da anticrese 15 DINIZ, 2011, p. 559.

  • 15

    disposies norteadoras dos direitos reais e garantia, a

    exemplo do que ocorre com o penhor e a hipoteca.

    Outro aspecto caracterstico digno de nota est

    atrelado necessidade capacidade das partes, at mesmo

    para o devedor anticrtico, de dispor do imvel, todavia

    no obsta que terceiro ceda ao credor o direito de

    perceber frutos e rendimentos de um bem de raiz que lhe

    pertena. Denota -se que o dever anticrtico ou o terceiro

    devero ser proprietrios do bem a ser o nerado, no

    ficando proibidos de alien -lo, contudo o credor

    anticrtico pode ir busc -lo daqueles que o adquiriram, a

    fim de retirar seus frutos e pagar seu crdito. Trata -se,

    com efeito, de clara materializao do direito de sequela

    conferido ao credor a nticrtico. Infere -se, desta sorte, que

    o credor anticrtico ou anticresista investido na posse

    jurdica do imvel, fazendo jus ao percebimento de seus

    frutos e rendimentos , a fim de cobrar o seu crdito, no

    sendo detentor do direito de dispor ( ius disp onendi ) ou de

    alienar ( ius vendendi ) do bem imvel.

    Em ressonncia com a redao do 2 do artigo

    1.506 do Cdigo Civil 16, o credor anticrdito poder ser,

    16 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

  • 16

    concomitantemente, credor hipotecrio e vis a vis, j que

    o diploma legal permite a coexistncia das espcies de

    direito real de garantia em comento. Assinale -se,

    oportunamente, que a anticrese no substancializa

    obstculo para que o imvel possa ser hipotecado,

    podendo constitu -la, inclusive, em imvel hipotecado.

    Nada impede que o devedor hipotecrio d o imvel

    hipotecado em anticrese ao credor hipotecrio, a fim de,

    com os rendimentos, amortizar a dvida e que o devedor

    anticrtico hipoteque o imvel anticrtico ao credor

    anticrtico para maior segurana deste 17.

    Ainda no que se refere caracters tica do instituto

    em comento, pontuar se faz preciso que a anticrese no

    confere preferncia ao anticresista no pagamento do

    crdito com a importncia alcanada na excusso do bem

    onerado. S passvel de opor a excusso sustentando

    direito de reteno, i mprescindvel para solver o crdito,

    com os rendimentos do imvel. Nos termos do 1 do

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.506. [omissis] 2o Quando a anticrese recair

    sobre bem imvel, este poder ser hipotecado pelo devedor ao credor

    anticrtico, ou a terceiros, assim como o imvel hipotecado poder ser

    17 DINIZ, 2011, p. 560.

  • 17

    artigo 1.509 do Cdigo Civil 18, em havendo excusso do

    imvel, devido ao no pagamento do dbito, ou ainda se

    anticresista permite que outro credor promova a

    execuo, sem opor seu direito de reteno ao exequente,

    no subsistir seu direito de preferncia concernente ao

    S lhe

    conferido direito de reteno, que apenas se extingue ao

    fim de 15 anos, contados da data de sua const ituio 19,

    como aclara Maria Helena Diniz.

    Afora isso, o credor anticrtico poder to somente

    aplicar as rendas que obtiver com a reteno do bem de

    raiz em relao ao pagamento da obrigao gratuita. Ao

    lado disso, em decorrncia de integrar o rol taxat ivo de

    direitos reais, a anticrese reclama, para sua constituio,

    escritura pblica, como alarida o artigo 108 do Cdigo

    Civil 20, e registro no Cartrio Imobilirio, sendo defeso ao

    18 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.509 . [omissis] 1o Se executar os bens por

    falta de pagamento da dvida, ou perm itir que outro credor o execute,

    sem opor o seu direito de reteno ao exequente, no ter preferncia

    sobre o preo 19 DINIZ, 2011, p. 560. 20 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 108 . No dispondo a lei em contrrio, a

  • 18

    cnjuge convencion-la sem anuncia da mulher e vice -

    versa, excetuando se vigorar o regime de separao

    absoluta de bens. Outro aspecto que caracteriza a

    o seu objeto recai

    sobre coisa imvel alienvel, pois se incidir sobre bem

    mvel, ter-se- penhor e no anticrese. Esse imvel pode

    ser frudo, direta ou indiretamente, pelo anticresista 21.

    No mais, a fruio indireta se d por meio do

    arrendamento do bem gravado a terceiro, salvo pacto em

    sentido contrrio , situao em que o credor anticrtico

    perceber os frutos civis da coisa, em razo do

    recebimento dos alugueres. Entrementes, com alicerce no

    2 do artigo 1.507 do Estatuto Civilista 22, ser possvel

    estipular, no corpo do ttulo constitutivo, que o

    escritura pblica essencial validade dos negcios jurdicos que

    visem constituio, transferncia, modificao ou renncia de

    direitos reais sobre imveis de valor superio r a trinta vezes o maior

    salrio mnimo vigente no Pas 21 DINIZ, 2011, p. 561. 22 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.507. [omissis] 2o O credor anticrtico pode,

    salvo pacto em sentido contrrio, arrendar os bens dados em

    anticrese a terceiro, mantendo, at ser pago, direito de reteno do

    imvel, embora o aluguel desse arrendamento no seja vinculativo

    para o devedor

  • 19

    anticresista dever, diretamente, fluir do imvel

    onerado. Por derradeiro, a anticrese re quer a tradio do

    bem, eis que, sem a posse direta do credor anticrtico,

    empecilho h para o cumprimento do objetivo contratual,

    em razo dos obstculos para o percebimento dos frutos e

    rendimentos a serem pagos do seu crdito.

    2 DIREITOS E DEVERES DO CREDOR

    ANTICRTICO

    Dentre o rol dos direitos do credor anticrtico,

    sobreleva salientar que esse poder exercer o direito de

    reter o imvel do devedor pelo prazo mximo de 15

    (quinze) anos, se outro menor no estatudo entre os

    pactuantes, como bem sublinh a o artigo 1.423 do Cdigo

    de 200223, ou at que seu crdito seja adimplido. No

    subsiste, realce -se, ao credor anticrtico o direito de

    excutir 24 o imvel, ao contrrio do que ocorre em caso de

    23 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.423. O credor anticrtico tem direito a reter

    em seu poder o bem, enquanto a dvida no for paga; extingue -se esse

    dire ito decorridos quinze anos da data de sua constituio 24 GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionrio Bsico Jurdico . 1 Ed.

  • 20

    penhor ou hipoteca. Outro direito ter a posse do imvel

    para que possa gozar e perceber seus frutos e

    rendimentos , podendo usar desse bem direta ou

    indiretamente, inclusive arrendando a terceiro, exceto se

    houver pactuao em sentido diverso. Essa possibilidade

    de arrendamento a terceiro mais um inconveniente a

    desestimular sua instituio 25.

    Igualmente, o credor anticrtico poder pleitear

    seus direitos contra o adquirente do imvel e credores

    quirografrios e hipotecrios posteriores a efetuao do

    registro da anticrese, encontrando escora no artigo 1.509

    do Codex Civil 26 Administrar o imvel, em seu exclusivo

    proveito, pertencendo-lhe tudo o que este produzir , at que

    a obrigao seja solvida 27, devendo, inclusive,

    apresentar anualmente balano, exato e fiel de sua

    Excutir. Buscar satisfao

    da dvida nos bens do devedor por meio do processo de execuo.

    Execuo judicialmente os bens do devedor que sirvam de garantia.

    Depositar em juzo bem que seja objeto de penhora judicial a que se

    achado gravada por penhor ou hipotecar 25 VENOSA, 2010, p. 618. 26 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.509 . O credor anticrtico pode vindicar os

    seus direitos contra o adquirente dos bens, os credores quirografrios

    e os hipotecrios posteriores ao registro da anti crese 27 DINIZ, 2011, p. 562.

  • 21

    administrao, conforme determinao contida no artigo

    1.507 da Lei N 10.406/2002 28. Como bem leciona Maria

    se o devedor anticrtico no concordar

    com o teor do balano, por reput -lo inexato, ou por

    considerar ruinosa a administrao, poder impugn -lo

    e, se o quiser, requerer a transformao em

    arrendamento 29, incumbindo ao juiz a fixao do valor

    mensal do aluguel, que, por seu turno, poder,

    anualmente, ser corrigido monetariamente, com espeque

    nas disposies encartadas no 1 do artigo 1.507 do

    Cdigo Civil Brasileiro 30.

    Outro di reito do credor anticresista o de

    preferncia em relao a todos os outros crditos

    posteriores, de maneira que o credor hipotecrio, com

    28 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.50 7. O credor anticrtico pode administrar

    os bens dados em anticrese e fruir seus frutos e utilidades, mas

    dever apresentar anualmente balano, exato e fiel, de sua

    administrao 29 DINIZ, 2011, p. 562. 30 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1. 507. [omissis] 1o Se o devedor anticrtico

    no concordar com o que se contm no balano, por ser inexato, ou

    ruinosa a administrao, poder impugn -lo, e, se o quiser, requerer

    a transformao em arrendamento, fixando o juiz o valor mensal do

    aluguel, o qual poder ser corrigido anualmente .

  • 22

    registro posterior, no pode executar o imvel, enquanto

    perdurar a anticrese. Com pertinncia, anota Diniz que

    par a que haja esse direito de prelao de anticresista

    preciso que seja previamente oposto o direito de reteno,

    para impedir que outro credor execute o imvel por no

    pagamento da dvida 31. Igualmente, o direito de

    preferncia em relao indenizao de seguro no

    subsistir quando o prdio for destrudo nem sobre o

    valor pago a ttulo de desapropriao, se for o imvel

    expropriado. ao

    contrrio dos direitos similares, no caso de

    desapropriao ou indenizao securitria o credor

    anticrtico no ter preferncia sobre a indenizao 32.

    No h a sub-rogao do anticresista em relao aos

    valores da indenizao proveniente de segurou ou o

    quantum pago a ttulo de desapropriao, extinguindo -se

    a anticrese, remanescendo, entret anto, em relao quele

    o direito creditrio, de carter pessoal, desprovido de

    qualquer garantia real.

    Em ocorrendo a falncia, conquanto no preveja o

    diploma vigor, utilizando -se de analogia, poder o credor

    31 DINIZ, 2011, p. 562. 32 VENOSA, 2010, p. 619.

  • 23

    anticresista haver o valor do que obtiver, para compensar

    o dbito existente, do produto da alienao do bem

    anticrtico at o limite do bem onerado ou, em se

    tratando de venda em bloco, o valor do bem

    E, ainda, poder remir em

    benefcio da massa, mediante autorizao jud icial, bens

    apenhados, penhorados ou legalmente retidos 33. Em

    restada infrutfera a praa, sem que haja lanador,

    poder o credor anticrtico adjudicar o bem, ofertando

    bem inferior ao constante do edital.

    Mediante o manejo dos interditos possessrios, n o

    apenas contra terceiros, mas tambm em desfavor do

    devedor e, at mesmo, credores quirografrios e

    hipotecrios posteriores, poder o credor anticrtico

    defender sua posse que pretendam penhora o objeto

    Como possuidor direto, o credor anticrt ico

    pode valer-se das aes possessrias para defender a

    coisa 34. Por derradeiro, dentre os direitos do credor

    anticrtico, pode -se contabilizar a liquidao do dbito,

    aps o percebimento da renda do imvel do devedor.

    No que concernem s obrigaes do credor

    33 DINIZ, 2011, p. 563. 34 VENOSA, 2010, p. 619.

  • 24

    anticrtico, pode -se sublinhar a guarda e conservao do

    imvel, como se fosse sua propriedade. Diniz elenca,

    responder pelas deterioraes que, por culpa sua,

    o imvel vier a sofrer, bem como pelos frutos que deixar de

    perceber por negligncia, desde que ultrapassem, no

    valor, o montante de seu crdito 35.Dever, igualmente, o

    credor anticrtico prestar contas de sua administrao ao

    proprietrio do imvel, demonstrando ter bem

    empregado todos os frutos e rendimentos que auferiu e

    que no os empregou para atingir fins distintos da

    liquidao da obrigao, exceto as despesas direcionadas

    conservao e reparos da prpria coisa gravada.

    Findado o prazo do contrato ou mesmo havendo a

    quitao do dbito, com baixa no registro, restituir o

    imvel a o seu proprietrio.

    3 DIREITOS E OBRIGAES DO DEVEDOR

    ANTICRTICO

    Dentre os direitos do devedor anticrtico, pode -se

    enumerar a permanncia no imvel dando como

    35 DINIZ, 2011, p. 563.

  • 25

    garantia, sendo permitida, ainda, sua alienao a

    outrem. De igual monta, permitido ao dev edor que exija

    do anticresista a conservao do prdio onerado com o

    gravame, obstando possvel modificao ou

    desvirtuamento de seu escopo. Em havendo deteriorao

    do imvel, o devedor tem o direito de vindicar o

    ressarcimento das deterioraes causadas a o prdio,

    culposamente, pelo credor, assim como o numerrio

    atribudo aos frutos que este deixou de perceber em razo

    da negligncia do credor anticrtico. permitido, ainda,

    ao devedor exigir a prestao de contas da gesto ao

    credor anticrtico, com o f ito de verificar se no houve

    extrapolao no exerccio de seu direito, como assinala o

    caput do artigo 1.507 do Cdigo Civil 36 em vigor. Assim

    que operada a liquidao do dbito, o devedor tem o

    direito de reaver o seu imvel.

    Doutra maneira, afigura -se como obrigao do

    devedor a transferncia da posse do imvel ao credor

    36 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.50 7. O credor anticrtico pode administrar

    os bens dados em anticrese e fruir seus frutos e utilidades, mas

    dever apresentar anualmente balano, exato e fiel, de sua

    administrao

  • 26

    para que este possa fruir de seus rendimentos. Ao lado

    solver o dbito, deixando que o imvel anticrtico

    permanea com o seu credor at que se lhe complete o

    pagamento 37. Incumb ir, ainda, ao devedor ceder ao

    credor o direito de perceber os frutos e rendimentos do

    bem de raiz que lhe pertence. Por derradeiro, dever o

    devedor se atentar para o contrato at o seu trmino , no

    turbando ou obstando que o anticresista se utilize do

    imvel gravado at que seja efetuado, em sua

    integralidade, o pagamento ou at que o prazo avenado

    deflua e se finde.

    4 EXTINO DA ANTICRESE

    Com efeito, uma vez eliminada, integralmente, a

    dvida, resta extinta a anticrese, podendo, deste modo, o

    devedor exigir a devoluo da coisa onerada, tornando -se

    injusta a posse do credor, aps o desaparecimento da

    obrigao. a renncia tambm

    extingue a anticrese. A transmisso da posse da coisa ao

    devedor implica renncia tcita, pois no h anticrese

    37 DINIZ, 2011, p. 563.

  • 27

    sem posse do devedor38. Igualmente, o perecimento da

    coisa ou a desapropriao tm o condo de extinguir a

    anticrese, sem qualquer sub -rogao no percebimento do

    preo. Neste sentido, Diniz, ao sustentar as formas de

    extino do instituto em com ento, pontua, com bastante

    pelo perecimento do bem anticrtico [...]

    em razo da falta do objeto. Se o prdio destrudo estiver

    segurado, o direito do credor no se sub -roga na

    indenizao 39.

    O trmino do prazo legal , qual seja: quinze a nos,

    contados da data do assento da anticrese no Registro

    Imobilirio, tem o condo de findar a anticrese, eis que se

    Ademais, diferentemente

    dos outros direitos da mesma natureza, a lei impe a

    extino da anticrese decorr idos 15 anos de seu registro

    imobilirio, prazo de caducidade 40. Desta feita,

    implementado o decurso do nterim, o credor anticrtico

    perder o direito de reteno do imvel dado em

    garantia, ficando o prdio inteiramente liberado ao seu

    proprietrio, aind a que o dbito no tenha sido, de

    38 VENOSA, 2010, p. 620. 39 DINIZ, 2011, p. 565. 40 VENOSA, 2010, p. 620.

  • 28

    o

    credor, ento, dever, mediante ao prpria, cobrar o

    remanescente de seu crdito se ainda no ocorreu a

    41. Cuida anotar que o prazo

    prescricional s comea a defluir aps a perda da posse

    pelo credor anticrtico.

    No mais, o artigo 1.510 do Cdigo Civil 42 em vigor

    permite que o adquirente dos bens dados em anticrese

    possa remi-los, antes do vencimento da dvida, efetuando

    o pagamento da i ntegralidade data do pedido de

    remio, imitindo - Cuida -se de

    possibilidade de pagamento antecipado da obrigao

    facultado pela lei, o que se admite tambm, em princpio,

    nos demais direitos reais de garantia 43. Trata -se, com

    efeito, de instrumento ofertado pelo arcabouo normativo

    com o escopo de promover a extino da anticrese.

    41 DINIZ, 2011, p. 565. 42 BRASIL. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil . Disponvel em: . Acesso

    em: 08 set. 2012: Art. 1.510 . O adquirente dos bens dados em

    anticrese poder remi -los, antes do vencimento da dvida, pagando a

    sua totalidade data do pedido de remio e imitir -se-, se for o

    caso, na sua posse. 43 VENOSA, 2010, p. 620.

  • 29

    REFERNCIAS:

    BRASIL. Lei N. 3.071 , de 1 de Janeiro de 1916 .

    Cdigo Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponvel

    em: . Acesso em: 08 set.

    2012.

    ___________. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.

    Institui o Cdigo Civil . Disponvel em:

    . Acesso em: 08 set. 2012.

    DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil

    Brasileiro: Direito das Coisas . 26 ed. So Paulo:

    Editora Saraiva, 2011.

    FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson.

    Direitos Reais . Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,

    2011.

    GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionrio Bsico

    Jurdico . 1 ed. Campinas: Editora Russel, 2006 .

    HOUAISS, Antnio; VIL LAR, Mauro de Salles;

    FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Minidicionrio

    Houaiss da Lngua Portuguesa. 2 ed. (rev. e aum.).

    Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2004.

    VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Direitos

    Reais . 10 ed. So Paulo: Editora Atlas S .A., 2010.

  • 30

    COMENT RIOS S SERVID ES PREDIAIS: BREVE

    PAINEL DOS DIREITOS REAIS LIMITADOS DE

    GOZO OU FRUI O

    Resumo: O objetivo do artigo em tela repousa na

    anlise dos aspectos caracterizadores, natureza

    jurdica e efeitos jurdicos da servi do predial na

    condio de direito real limitado de gozo ou fruio .

    Neste aspecto, salta aos olhos que o vocbulo

    servitus significa escravido, logo, a noo

    semntica assumida est fundada no sentido de

    submisso de alguma coisa ou pessoa a outrem ou a

    algo. Nas servides prediais afixam -se relao de

    servincia, submisso entre dois imveis,

    independentemente de quem sejam os seus

    titulares. Neste cenrio, um imvel serve a outro.

    Estabelece-se, de maneira permanente, como

    direito real, e no de forma e ventual e transitria

    como direito pessoal. No painel apresentado, infere -

    se que a servido substancializa um direito real de

    fruio ou gozo de coisa mvel alheia, limitado e

    imediato, que comina um encargo ao prdio

  • 31

    serviente em proveito do dominante, pe rtencente a

    outro dono. A servido predial um direito real de

    gozo ou fruio sobre imvel alheio, detentor de

    aspecto acessrio, perptuo, indivisvel e

    inalienvel. Em sendo um direito real sobre coisa

    alheia, seu titular est munido de ao real e de

    di reito de sequela, podendo, ainda, exercer seu

    direito erga omnes, desde que o instituto em

    comento esteja alicerado, de modo regular, no

    Registro Imobilirio competente. Os mtodos de

    pesquisa pretendidos neste artigo partem de uma

    pesquisa qualitativa, a ncorada em reviso

    bibliogrfica e anlise dos diplomas legais

    pertinentes temtica.

    Palavras -chaves: Servides Prediais. Direitos

    Reais. Propriedade.

    Sumrio: 1 Comentrios Introdutrio s sobre as

    Servides Prediais; 2 Princpios Fundamentais; 3

    Natur eza Jurdica das Servides Prediais; 4

    Classificao das Servides Prediais; 5 Modos de

    Constituio; 6 Singelo Quadro sobre os Direitos e

    Deveres dos Proprietrios dos Prdios Dominante e

    Serviente; 7 Proteo Jurdica das Servides

    Prediais; 8 Extino d as Servides Prediais

  • 32

    1 COMENTRIOS INTRODUTRIOS SOBRE AS

    SERVIDES PREDIAIS

    Em um primeiro momento, ao se analisar a

    servido predial ( servitus praediarum ), cuida rememorar

    que as servides notabilizaram -se poca de Roma,

    quando, como espancam Farias e Rosenvald44, um prdio

    j prestava servios a outro, com finalidade de acrescer o

    seu fito de fruio. Neste aspecto, salta aos olhos que o

    vocbulo servitus significa escravido, logo, a noo

    semntica assumida est fundada no sentido de

    submisso de alguma coisa ou pessoa a outrem ou a algo.

    Segundo Venosa45, nas servides prediais afixa m-se

    relao de servincia, submisso entre dois imveis,

    independentemente de quem sejam os seus titulares.

    Neste cenrio, um imvel serve a outro. Estabelece-se, de

    maneira permanente, como direito real, e no de forma

    44 FARIAS, Crist iano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos

    Reais . 7 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 625. 45 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais . 10 ed.

    So Paulo: Atlas, 2010, p. 455.

  • 33

    eventual e transitria como direito pessoal. Em tal

    prediais como sendo os direitos reais de gozo sobre

    imveis que, em virtude de lei ou de vontade das partes,

    se impem sobre o prdio serviente em benefcio do

    46. No painel apresentado, infere -se que a

    servido substancializa um direito real de fruio ou gozo

    de coisa mvel alheia, limitado e imediato, que comina

    um encargo ao prdio serviente em proveito do

    dominante, pertencente a outro dono.

    Venosa47, ainda, esclarece que se a serventia

    no tem utilidade para o prdio, no h que se falar em

    servido, podendo, concretamente, ocorrer mera relao

    jurdica pessoal entre os sujeitos. A partir de tal

    perspectiva, a Lei n 3.071, de 1 de Janeiro de 1916 48,

    46 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro :

    Direito das Coisas. v. 04. 26 ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2011, p.

    418, 47 VENOSA, 2010, p. 456. 48 BRASIL. Lei n 3.071, de 1 de Janeiro de 1916 . Cdigo Civil

    dos Estados Unidos do Brasil. Disponvel em:

    .

    Acesso em 18 jan. 2015. Art. 695 . Impe-se a servido predial a um

    prdio em favor de outro, pertencente a diverso dono. Por ela perde o

    proprietrio do prdio servente o exerccio de alguns de seus direitos

    dominicais, ou fica obrigado a to lerar que dele se utilize, para certo

    fim, o dono do prdio dominante.

  • 34

    que institua o Cdigo Civil dos Estados Unidos do

    Brasil, em seu artigo 695 preconizava que a servido era

    imposta a um prdio em favor de outro, pertencente a

    dono diverso, sendo que, em decorrncia dela, o dono do

    prdio serviente perderia o exerccio de alguns de seus

    direitos dominicais ou, ainda, ficava obrigado a tolerar

    que dele fosse utilizado, para certo fim, o dono do prdio

    dominante. Por seu turno, a Lei n 10.406, de 10 de

    Janeiro de 2002, que institui o Cdigo Civil , bem como

    revogou o diploma legal supramencionado , em seu artigo

    a servido proporciona utilidade para

    o prdio dominante, e grava o prdio serviente, que

    pertence a diverso dono, e constitui -se mediant e

    declarao expressa dos proprietrios, ou por testamento,

    e subsequente registro no Cartrio de Registro de

    49. Slvio de Salvo Venosa 50, ao analisar a

    redao do dispositivo civil vigente, esclarece que a

    estrutura lacunosa em sua extenso, send o sua

    compreenso inferior legislao de 1916.

    49 Idem . Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o Cdigo

    Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. 50 VENOSA, 2 010, p. 456-457.

  • 35

    Maria Helena Diniz 51, ao esquadrinhar o

    instituto em comento, obtempera que necessria a

    presena de especficos requisitos para materializao da

    servido predial. O primeiro conditio faz meno

    existncia de um encargo que pode consistir numa

    obrigao de tolerar certo ato ou mesmo no praticar algo

    por parte do possuidor do prdio serviente. Cuida

    estabelecer que o nus em comento imposto ao prdio e

    no pessoa do proprietrio do prdio serviente. Venosa,

    oportunamente,

    imvel prprio, a qual, no que se refere ao aspecto

    material, vista como simples serventia do imvel, pois o

    52,

    como regra geral a ser observad a. O segundo requisito

    compreende a incidncia num prdio em benefcio de

    outro. Alm disso, insta explicitar que a propriedade

    desses prdios deve ser de pessoas diversas.

    Em tal diapaso, quadra estabelecer que no

    se confundem as servides como o direit o de vizinhana,

    porquanto esse criado por lei, com o escopo de dirimir

    contendas entre vizinhos, ao passo que as servides

    51 DINIZ, 2011, p. 418 -419, 52 VENOSA, 2010, p. 464.

  • 36

    prediais decorrem de lei ou conveno , calcado em

    encargos que um prdio sofre em favor de outro, para o

    melhor aproveitamento ou utilizao do prdio

    beneficirio. Em igual substrato, convm esclarecer que

    as servides prediais, apesar de apresentarem analogia

    com o usufruto, no se confundem com ele, eis que: (i) o

    usufruto implica cesso do direito de uso e gozo da coisa

    ao usufru turio, dos quais o proprietrio ficar,

    temporariamente, privado, j as servides prediais so

    encargos que no tm o condo de privar o proprietrio

    do uso e do gozo de seu bem; (ii) o usufruto recai tanto

    em coisas mveis como imveis, ao passo que as

    servides prediais s cabem a bens imobilirios; (iii) o

    usufruto institudo em favor de uma pessoa, j a

    servido predial estabelecida em benefcio de um

    prdio; (iv) o usufruto temporrio e a servido

    perptua.

    No que se refere ao escopo do insti tuto em

    exposio, denota-se que a servido predial objetiva

    proporcionar uma valorizao do prdio dominante,

    tornando -o mais til, agradvel ou cmodo. Ao lado disso,

    cuida salientar que a finalidade da servido uma

  • 37

    utilidade ou comodidade para o prd io dominante. Existe

    obrigao de seu titular de suportar ou permitir. Nunca

    caber ao proprietrio do prdio serviente uma obrigao

    53. Diniz 54, por sua vez, aponta que a instituio

    da servido predial acarreta, inexoravelmente, uma

    desvalorizao economia do prdio serviente, levando -se

    em considerao que as servides prediais so perptuas,

    acompanhando sempre os imveis quando so

    transferidos. Em decorrncia de tal aspecto que tais

    direitos so nomeados de servides, porquanto a coisa

    onerada serve, ou melhor, presta uma utilidade ou

    vantagem real e constante ao prdio dominante.

    Salta aos olhos que o direito real em exame

    no estabelecido tendo em vista uma determinada

    pessoa, contudo em favor daquela que figurar como

    titular do domnio do imvel dominante. O direito do

    titular da servido no se liga a sua pessoa, mas existe

    to somente em razo da relao do domnio que ele tem

    com o prdio dominante e, apenas, enquanto subsistir

    essa relao. De igual maneira, o dono do imvel

    serviente gravado pela servido pelo simples fato de

    53 VENOSA, 2010, p. 464. 54 DINIZ, 2011, p. 419.

  • 38

    sua relao dominical com esse prdio. Tratando -se de

    direito real, a servido adere coisa, apresentando -se

    como um nus que acompanha o prdio serviente em

    favor do dominante. Dessa maneira, a servido serve

    coisa e no ao dono, restringindo a liberdade natural da

    coisa55, por isso um direito real, ao passo que a

    obrigao restringe a liberdade natural da pessoa. Assim,

    no que tange servido predial autorizada em proveito

    de um imvel, no poder ela ter por objeto vantagens

    alheias s necessidades desse mesmo imvel.

    2 PRINCPIOS FUNDAM ENTAIS

    Com alicerce na definio de servido predial,

    possvel extrair seus princpios fundamentais, que

    decorrem no apenas de seus caracteres como tambm

    das normas j urdicas que a regem. O primeiro princpio

    55 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.378. A servido proporciona utilidade para o

    prdio dominante, e grava o prdio serviente, que pertence a diverso

    dono, e constitui -se mediante declarao expressa dos proprietrios,

    ou por testamento, e subsequent e registro no Cartrio de Registro de

    Imveis.

  • 39

    est fincado na premissa que uma relao entre prdios

    vizinhos ( praedia debent esse vicina ), conquanto a

    contiguidade entre prdios dominante e serviente no

    seja essencial, porquanto, apesar de no serem vizinho s,

    um imvel pode ter a servido sobre outro, desde que se

    utilize daquele de alguma maneira . O segundo corolrio

    preconiza que a servido no pode recair sobre prdio do

    prprio titular, logo, possvel afixar que no existe

    servido sobre a prpria cois a (nulli res sua sevit ), em

    razo da existncia da servido implicar a circunstncia

    de que os imveis (dominante e serviente) pertenam a

    donos diversos. Tal fato deriva da premissa que se o

    titular do dominante fosse o do serviente, no haveria

    que se falar em exerccio de alguns dos poderes do

    domnio, mas de todos eles, tornando, dessa maneira,

    intil a servido sobre a coisa prpria, da qual ele

    poderia usufruir, de modo imediato, de todas as

    utilidades produzidas pelo prdio.

    Outro dogma basal, em sed e de servides

    prediais, estabelece que a servido serve a coisa e no o

    dono (servitus in faciendo consistere nequit ),

    distinguindo -se, em decorrncia disso, da obrigao,

  • 40

    porquanto o titular do domnio do imvel serviente no

    se obriga prestao de um fato positivo ou negativo,

    assumindo, porm, o encargo de tolerar certas limitaes

    de seus direitos dominiais em benefcio do prdio

    dominante, tendo o dever de no apresentar oposio

    para que este ltimo desfrute das vantagens que lhe so

    concedidos pela servido. Nunca caber ao proprietrio

    56. Portanto,

    a servido no gera uma obrigao de fazer, ma sim uma

    omisso (non facere) ou uma tolerncia ( pati ),

    materializando o nus que sempre acompanha o prdio

    serviente em proveito do dominante. Tal princpio

    assenta o escopo de proporcionar ao prdio dominante

    alguma utilidade ( servitus fundo utilis esse debet ),

    trazendo melhora para sua situao. Ao lado disso,

    convm, oportunamente, mencionar que so

    denominadas de servides irregulares quando tal

    instituto constituir limitaes ao prdio em favor de

    determinada pessoa e no de outro prdio.

    Outro princpio, no possvel de uma

    servido constituir outra ( servitus servitutis esse non

    56 VENOSA, 2010, p. 464.

  • 41

    potest). Assim, o titular do domnio do imvel dominante

    no tem o direito de promover ampliao da servido a

    outros prdios. O quinto dogma preconiza que a servido,

    uma vez constituda em benefcio de um prdio,

    inalienvel, no podendo ser transferida total ou

    parcialmente, nem sequer cedida ou gravada com uma

    nova servido. Conquanto o imvel dominante e o

    serviente possam ser alienados, a servido permanece

    aderida ao prdio que se liga desde o momento de sua

    constituio. Destarte, o dono do prdio dominante no

    pode ced-la ou transferi -la a outrem , porquanto se o

    dono do prdio serviente consentir que se faa tal coisa,

    estar -se-ia diante de hiptese de extino da antiga

    servido e constituio de nova.

    Em que pese a Lei n 10.406, de 10 de Janeiro

    de 200257 (Cdigo Civil) n o conter disposio similar

    quela contida no artigo 696 da Lei n 3.071, de 1 de

    Janeiro de 1916 58 (Cdigo Civil de 1916), segundo o qual

    57 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. 58 Idem. L ei n 3.071, de 1 de Janeiro de 1916 . Cdigo Civil dos

    Estados Unidos do Brasil. Disponvel em:

  • 42

    no se presume a existncia da servido, mantido est o

    princpio em comento, posto que o artigo 1.378, segunda

    parte , reclama que a constituio se d de modo expresso

    pelos proprietrios ou por testamento, e registrada em

    Cartrio de Imveis. Assim, havendo dvida quanto

    existncia do instituto em comento, deve -se decidir pela

    inexistncia da servido. A servido, p or se tratar de

    limite ao pleno exerccio da propriedade, no se presume,

    sendo sua anlise sempre restritiva, competindo quele

    59.

    Ao lado disso, s deve ser admitida a servido

    predial quando ela pro ver de fonte reconhecida pela lei.

    Segundo Diniz 60, do princpio em comento surge as

    .

    Acesso em 18 jan. 2015. Art. 696 . A servido no se presume:

    reputa -se, na dvida, no existir. 59 MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justia do Estado de

    Minas Gerais . Acrdo proferido em Apelao Cvel n

    1.0049.13.000346-7/003. Apelao Cvel. Reintegrao de Posse.

    Imvel. Servido de passagem. nus da prova. Anlise restritiva.

    Imvel no encra vado. Ausncia de direito possessrio a tutelar.

    rgo Julgador: Dcima Quarta Cmara Cvel. Relator:

    Desembargador Estevo Lucchesi. Julgado em 09 out. 2014.

    Publicado no DJe em 17 out. 2014. Disponvel em:

    . Acesso em 18 jan. 2015. 60 DIN IZ, 2011, p. 423.

  • 43

    seguintes consequncias (i) a servido deve ser

    comprovada explicitamente incumbindo o nus da prova

    ao que alegar a sua existncia; (ii) deve -se interpretar a

    servido restritivamente, eis que ela uma limitao ao

    direito de propriedade; (iii) seu exerccio no deve ser

    muito oneroso ao prdio serviente; e (iv) no conflito de

    provas apresentadas pelo autor e ru, deve -se decidir

    contra a servido, porquanto a interpreta o que vigora

    em relao ao instituto em comento stricti juris.

    3 NAT UREZA JURDICA DAS SERVIDES

    PREDIAIS

    Farias e Rosenvald 61, de plano, concebem a

    servido predial como direito real sobre coisa mvel,

    responsvel por impor restries a um prdio em pr oveito

    de outro, pertencentes a diferentes proprietrios. Trata -

    se, a partir de tal tica, de instituto que envolve uma

    ideia de submisso, com privao de certos poderes

    inerentes ao domnio do prdio serviente. Em tom de

    61 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 626.

  • 44

    complemento, Maria Helena Diniz 62 sustenta que a

    servido predial um direito real de gozo ou fruio sobre

    imvel alheio, detentor de aspecto acessrio, perptuo,

    indivisvel e inalienvel. Em sendo um direito real sobre

    coisa alheia, seu titular est munido de ao real e de

    direito de sequela, podendo, ainda, exercer seu direito

    erga omnes, desde que o instituto em comento esteja

    alicerado, de modo regular, no Registro Imobilirio

    competente. importante destacar que a servido

    predial possuir carter acessrio, porquanto est

    atrelad a a um direito principal, a saber: o direito de

    propriedade que lhe d origem, eis que contrariaria o

    conceito de servido caso fosse admitida sua constituio

    em proveito de quem no tivesse o domnio do prdio

    dominante.

    Venosa63 explicita que as servide s ligam -se

    por vnculo real a imvel alheio, logo, no podem ser

    destacadas dos prdios, sob pena de materializem

    instituto diverso da servido. Ao lado disso, so direitos

    reais acessrios, que no subsistem sem os prdios,

    corporificando uma importante c aracterstica, qual seja:

    62 DINIZ, 2011, p. 423. 63 VENOSA, 2010, p. 464.

  • 45

    a inseparabilidade. Atrela -se a servido ao bem imvel e

    o acompanha, seguindo-o nas mos dos sucessores do

    proprietrio ( ambulant cum domino ). Como decorrncia

    da acessoriedade, tem-se a perpetuidade, indivisibilidade

    e inalienab ilidade, que so seus atribut os inerentes.

    Ademais, obtemperar faz -se carecido que o instituto em

    exame considerado perptuo em razo de ter durao

    indefinida, ou seja, por prazo indeterminado e nunca por

    termo certo , perdurando enquanto existirem os pr dios a

    que esto aderidos. Entretanto, inexiste obstculo para

    que seja constituda, por conveno, servido ad tempus ,

    subordinada a termo determinado ou a condio. Logo,

    em sendo verificado o vencimento do prazo estabelecido

    para sua durao ou ocorrid o o implemento da condio

    ela extingue.

    A indivisibilidade ( pro parte dominii

    servitutem adquiri non posse ) est contida, de maneira

    expressa, no artigo 1.386 do Cdigo Civil 64, prescrevendo

    que as servides prediais so indivisveis, subsistindo, no

    64 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Aces so

    em 18 jan. 2015.

  • 46

    caso de diviso de imveis, em benefcio de cada uma das

    pores do prdio dominante e continuam a gravar cada

    uma das partes do prdio serviente, ressalvada a

    hiptese de, em decorrncia da natureza, ou destino, s

    ser aplicarem a certa parte de um ou de outro . Nesta

    toada, consoante esclio apresentado por Maria Helena

    Diniz, a servido estabelece-se por inteiro, gravando o

    prdio serviente no seu todo, sendo um nus uno e

    65. Do aspecto em

    exame, possvel pontuar que a servido no se

    desdobra, no podendo, em razo disso, ser adquirida ou

    perdida por partes . considerada como um todo nico e

    indivisvel, que grava o prdio serviente ainda que este

    ou o dominante sejam divididos, extinguindo -se apenas

    em face de alguns quinhes, se por natureza, ou por sua

    destinao, no puder a eles aproveitar.

    Dessa maneira, ainda que sobrevenha a

    partilha, cada condmino quinhoeiro (caso haja

    pluralidade de titulares da servido) do imvel

    dominante ter o benefcio ntegro da servid o que

    65 DINIZ, 2011, p. 424.

  • 47

    condmino passa a ter o direito de utilizar a servido em

    sua integridade, sofrendo apenas a limitao de no

    poder agravar a situao do prdio serviente nem

    66. O exerccio

    permanece com civilidade, moderao, logo, a servido

    no poder ser instituda em favor de parte ideal de

    prdio dominante, nem onerar parte ideal do prdio

    dominante, nem onerar parte ideal do prdio serviente.

    De igual forma, caso a partilha for do imvel serviente,

    cada condmino estar obrigado pela servido, no

    podendo desdobr-la. Toda servido indivisvel

    (servitutes dividi non possunt ), tanto considerada ativa

    quanto passivamente, a saber: (i) do lado ativo ou de

    quem dela se aprovei ta, somente pode ser reclamada

    como um todo, ainda que o prdio dominante venha a ser

    propriedade de vrias pessoas; e (ii) do lado passivo

    substancializa que o prdio serviente passa a diversos

    donos, por efeito da alienao ou herana, a servido

    una e grava cada uma das partes em que se fracione o

    prdio serviente, salvo se por sua natureza ou destino s

    se aplicar a certa parte de um ou de outro prdio.

    66 VENOSA, 2010, p. 466.

  • 48

    Da indivisibilidade do instituto decorrem as

    consequncias de que: (i) a servido no pode ser

    inst ituda em favor da parte ideal do prdio dominante,

    nem pode incidir sobre parte ideal do prdio serviente;

    (ii) deve ser mantida a servido ainda que o proprietrio

    do imvel dominante se torne condmino do serviente ou

    vis a vis; e (iii) defendida a serv ido por um dos consortes

    do prdio dominante a todos aproveita a ao. Ao lado

    disso, dado o condicionamento da servido a uma

    necessidade do prdio dominante, no possvel a

    transferncia a outro imvel, restando, a partir disso, sua

    inalienabilidade. De maneira que o seu titular no

    poder associar outra pessoa ao seu exerccio nem

    constituir novo direito real ou nova servido. Conquanto

    seja insuscetvel de alienao, passando a outra pessoa

    ou a outro prdio, transmissvel por sucesso causa

    mortis ou inter vivos, desde que acompanhe o prdio em

    suas mutaes subjetivas.

    4 CLASSIFICAO DAS SERVIDES PREDIAIS

    Quando natureza dos prdios, as servides

  • 49

    podem ser agrupadas em rsticas ( servitutes praediorum

    rusticorum ) e urbanas (servitutes praedio rum

    urbanorum ). Venosa67 acrescenta que as servides

    rsticas, em decorrncia de sua importncia para a

    sociedade romana primitiva, essencialmente agrcola,

    eram consideradas res emancipi , com maior proteo

    jurdica. Neste aspecto, possvel assinalar que so

    rsticas as servidos que se referem a prdios rsticos, ou

    seja, aqueles localizados fora do permetro urbano.

    possvel mencionar como exemplo a servido de

    passagem ou de trnsito que, tradicionalmente, se

    dividia, num crescendo, em iter, actus ou via. A servido

    de iter estabelecia o direito de passar a p ou a cavalo

    pelo terreno; o actus permitia a passagem conduzindo

    gato e utilizando carros; a via estabelecia o direito mais

    amplo possvel de passagem, inclusive transportando e

    arrastando materi ais. Ao lado disso, com o escopo de

    robustecer o acimado, possvel transcrever o seguinte

    entendimento jurisprudencial:

    Ementa: Reintegrao de posse - Servido

    de passagem aparente - Direito de

    67 VENOSA, 2010, p. 459.

  • 50

    passagem forada - Institutos Diferentes -

    Exerccio da qu ase posse - Proteo

    possessria - Desmembramento de uma

    propriedade - Existncia de serventia -

    Constituio de uma servido - Perdas e

    danos - Prova - Necessidade. A servido de

    passagem um direito real sobre coisa

    alheia, institudo justamente para

    aumentar a comodidade e a utilidade do

    prdio dominante, no estando

    condicionado, portanto, ao encravamento

    deste imvel. Difere -se do direito de

    passagem forada, que decorre das relaes

    de vizinhana e consiste num nus imposto

    propriedade de um vizinh o para que o

    outro possa ter acesso via pblica, a uma

    nascente ou um porto. A servido de

    caminho descontnua e pode ser

    considerada aparente se deixar marcas

    exteriores de seu exerccio, hiptese em que

    far jus proteo possessria ainda que

    no seja titulada, vez que a aquisio desta

    quase posse d-se a partir do momento em

    que os atos que constituem a servido so

    perpetrados com o intuito de exercer tal

    direito. Quando dois imveis resultarem do

    desmembramento de um imvel pertencente

    a uma s pessoa, no qual havia serventia

    visvel pela qual uma das partes da

    propriedade prestava utilidade outra

    parte, restar constituda uma servido no

    momento em que os prdios passarem a

    pertencer a donos diversos. O xito da

    demanda indenizatria depende,

    exclusivamente, da comprovao dos

    prejuzos sofridos, no bastando que o

    requerente apenas demonstre a existncia

    de um fato que, em princpio, possa causar

    um dano. (Tribunal de Justia de Minas

    Gerais - Dcima Quarta Cmara Cvel/

  • 51

    Apelao Cvel n 1.0434.05.001398-7/001/

    Relator : Desembargador Elias Camil o/

    Julgado em 01.02.2007/ Publicado no DJe

    em 27.02.2007).

    Outro exemplo de servides rsticas a de

    aquaeductus que estabelecia o direito de conduzir gua

    pelo prdio alheio. possvel, ainda, como modalidade de

    servides rsticas, mencionar: (i) o direito de buscar

    gua em nascente do terreno vizinho ( servitus aquae

    haustus ); (ii) o direito de apascentar o gado em terreno

    alheio (servitus pecoris pascendi ); (iii) direito de abeberar

    o gado no terreno vizinho ( pecoris ad quam adpulsusI );

    (iv) direito de queimar a cal ( servitus calcis quoquendae );

    (v) direito de tirar areia ( servitus arenae fodiendae ); e (vi)

    direito de extrair pedra ( servitus cretae lapidis

    eximendae). J as servides urbanas so constitudas

    para os prdios localizados nos limites das cidades, vilas

    ou povoaes e respectivos subrbios. Ao lado disso, tais

    servides podem ser convencionadas conforme as

    necessidades ou convenincias dos proprietrios, se no

    bastarem as regras esta belecidas pelo direito de

    vizinhana. A ttulo de exemplificao, no

    exaustivamente, possvel mencionar: (i) o direito de

  • 52

    escoar gua pluvial de seu telhado atravs de goteiras,

    calhas, canos ou tubos, para o prdio vizinho ( servitus

    stillicidii vel flu minis recipiendi ); (ii) o direito no criar

    obstculo entrada de luz no prdio dominante ( servitus

    ne liminibus officiatur ); (iii) o direito de meter trave na

    parede do vizinho ( servitus tigni immittendi ); (iv) o

    direito de abrir janelas na prpria pared e ou na do

    vizinho para obteno de luz ( servitus luminis ); (v) o

    direito de apoiar sua edificao nas paredes, muro ou

    qualquer parte do prdio confinante, mediante condies

    preestabelecidas (servitus oneris ferendi ); (vi) o direito de

    gozar de vista ou da janela ou do terrao de sua casa

    (servitus prospectu ); (vii) o direito de no construir prdio

    alm de certa altura ( servitus altius non tollendi ); e (viii)

    o direito de passar canais de esgoto no prdio vizinho

    (servitus cloacae).

    Quanto ao modo de exerccio, possvel

    estabelecer trs classificaes distintas. A primeira

    agrupa as servides prediais em contnuas e

    descontnuas. Segundo Maria Helena Diniz 68, as

    servides so consideradas contnuas quando subsistem e

    68 DINIZ, 2011, p. 428.

  • 53

    exercem independentemente de atos hum ano direto,

    conquanto seu exerccio possa interromper -se, a exemplo

    da servido de passagem de gua, de energia eltrica, de

    iluminao ou ventilao; as descontnuas, por sua vez,

    so verificadas quando o seu exerccio de funcionamento

    requer ao humana sequencial, tal como ocorre com a

    servido de trnsito, a de tirar gua de prdio alheio, a

    de extrao de minerais ou a de pastagem. Ainda no

    tocante ao modo de exerccio, uma segunda classificao

    divide as servides em positivas e negativas, sendo que

    nessas o proprietrio do prdio dominante tem direito a

    uma utilidade do serviente, podendo praticar neste os

    atos necessrios a esse fim; j nas negativas o

    proprietrio do prdio serviente deve abster -se de certo

    ato ou renunciar um direito que poderia ex ercer no

    prdio se no houvesse servido. Por derradeiro, a

    terceira classificao agrupa as servides em ativas e

    passivas, sendo que aquelas consistem no direito do dono

    do prdio dominante e essas no encargo do prdio

    serviente.

    Quanto sua exterioriza o, as servides

    podem ser aparentes e no aparentes. No primeiro caso,

  • 54

    as servides so mostradas por obras ou sinais

    exteriores, tal como ocorre com a servido de aqueduto

    ou a de travejar parede vizinha; ao passo que as

    servides no aparentes so aquelas que no se revelam

    externamente, a exemplo da servido altius non tollendi ,

    a de no abrir a janela ou a de caminho ( servitus itineris ),

    que consiste meramente no transitar por prdio alheio,

    no contendo, contudo, nenhuma estrada, nem marca

    visvel. Q uanto sua origem, as servides so

    classificadas em legais (advindas de imposio legal, por

    isso so restries propriedade similares servido),

    naturais (so as que decorrem das situaes dos prdios)

    e as convencionais (so aquelas resultantes da vontade

    das partes, exteriorizadas por meio de contratos e

    cdulas testamentrias).

    5 MODOS DE CONSTITUIO

    Em consonncia com o artigo 1.378 do Cdigo

    Civil 69, sabido que a servido no se presume, logo,

    69 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

  • 55

    imprescindvel que, para ter validade erga omnes seja

    comprovada e o ttulo de sua constituio seja registrado

    no Cartrio de Registro de Imveis. O primeiro modo de

    constituio se d por meio de ato jurdico inter vivos ou

    causa mortis . Se for constituda por contrato, s o pode

    ser por quem for ca paz, isto , por quem for proprietrio,

    os atos da vida civil, necessrio que tenha a especfica

    70. Dessa

    forma, todas as servides, contnuas ou des contnuas,

    aparentes ou no aparentes, podem ser estabelecidas

    mediante contrato, que deve ser levado a registro.

    Salientar faz -se carecido que as servides no aparentes

    somente podero ser adquiridas pelo registro do ttulo .

    Ao lado disso, cuida explicit ar, consoante dico do artigo

    1.379 do Cdigo Civil 71, a servido no aparente no pode

    em 18 jan. 2015. Art. 1.378. A servido proporciona utilidade para o

    prdio dominante, e grava o prdio serviente, que pertence a diverso

    dono, e constitui -se mediante declarao expressa dos proprietrios,

    ou por testamento, e subsequente registro no Cartrio de Registro de

    Imveis. 70 DINIZ, 2011, p. 431. 71 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.379. O exerccio incontestado e contnuo de

  • 56

    ser adquirida por usucapio, entretanto tanto servida

    aparente como no aparente aplicam -se os regramentos

    comuns dos Registros de Imveis, eis que sua

    constituio sempre uma alienao parcial de direito de

    propriedade.

    O ato jurdico inter vivos deve ser oneroso,

    porquanto o proprietrio do prdio serviente deve ser

    indenizado pela restrio que imposta ao seu domnio.

    Ademais, pode ser constitudo por testamen to, nos

    termos da parte final do artigo 1.378 do Cdigo Civil,

    caso em que o testador institui servido sobre o prdio

    que deixa a algum beneficirio, que j receber a sua

    propriedade gravada, em favor de outro prdio. O

    segundo modo de constituio est vinculado sentena

    judicial, porquanto a Lei n 5.869, de 11 de Janeiro de

    1973, que institui o Cdigo de Processo Civil, em seus

    artigos 979, inciso II 72, e 980, 2, inciso III 73,

    uma servido aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242 ,

    autoriza o interessado a registr -la em seu nome no Registro de

    Im veis, valendo-lhe como ttulo a sentena que julgar consumado a

    usucapio. 72 BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de Janeiro de 1973 . Institui o

    Cdigo de Processo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 979 . Ouvidas as partes, no prazo comum de 10

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1242
  • 57

    concernente s aes de diviso e de demarcao,

    contempla o caso de constituio, quando necessria, de

    servido com o fito de assegurar a utilizao dos

    quinhes partilhados. Aps a homologao dessa diviso

    do imvel e do assento da sentena judicial no

    competente registro imobilirio, constituda estar a

    servido que passar a produzir todos os efeitos legais.

    Assim, as servides podero ser institudas judicialmente

    pela sentena que homologar a diviso, estando ela

    devidamente registrada.

    O terceiro modo de constituio decorre da

    usucapio, encontrando amparo no pargrafo nico do

    (dez) dias, sobre o clculo e o plano da diviso, deliberar o juiz a

    partilha. Em cumprimento desta deciso, proceder o agrimensor,

    assistido pelos arbitradores, demarcao dos quinhes,

    observando, alm do disposto nos arts. 963 e 964, as seguintes

    regras: [ omissis] II - instituir -se-o as servides, que forem

    indispensveis, em favor de uns quinhes sobre os outros, incluindo

    o respectivo valor no oramento para que, no se tratando de

    servides naturais, seja compensado o condmino aquinhoado com o

    prdio serviente; 73 Ibid. Art. 980 . Terminados os trabalhos e desenhados na planta os

    quinhes e as servides aparentes, organizar o agrimensor o

    memorial descritivo. Em seguida, cumprido o disposto no art. 965, o

    escrivo lavrar o auto de diviso, seguido de uma folha de

    pagamento para cada condmino. Assinado o auto pelo juiz,

    agrimensor e arbitradores, ser proferida sentena homologatria da

    diviso. [omissis] 2o Cada folha de pagamento conter: [omissis] III

    - a declarao das servides institudas, especificados os lugares, a

    extenso e modo de exerccio.

  • 58

    artigo 1.379 do Cdigo Civil 74, preconizando que o

    exerccio incontestado e contnuo de uma servido

    aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242 , autoriza

    o interessado a registr -la em seu nome no Registro de

    Imveis, valendo -lhe como ttulo a sentena que julgar

    consumado a usucapio. Caso o possuidor no tenha

    ttulo, o prazo ser de vinte anos. Maria Helena Diniz 75

    explicita que o entendimento firmado, co ntudo, de que o

    prazo consagrado no pargrafo nico do sobredito

    dispositivo de quinze anos, ao invs do prazo

    estabelecido na redao legal, a fim de assegurar

    conformidade com o sistema geral de usucapio da

    codificao civil. em mesmo sentido, o Enu nciado n 251,

    251

    Art. 1.379: O prazo mximo para o usucapio

    extraordinrio de servides deve ser de 15 anos, em

    conformidade com o sistema geral de usucapio previsto

    no Cdigo Civil 76. Por seu turno, o artigo 941 da Lei n

    74 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. 75 DINIZ, 2011, p. 432. 76 BRASIL. Conselho de Justia Federal . Disponvel em:

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1242
  • 59

    5.869, de 11 de Janeiro de 197377 (Cdigo de Processo

    Civil), concede ao de usucapio ao possuidor de

    servido que, aps preencher os requisitos legais, a

    assentar no registro imobilirio. Cuida anotar que

    apenas as servides aparent es que podem ser

    adquiridas por usucapio ordinria ou extraordinria

    porque: (i) s estas so suscetveis de posse; (ii) s as

    aparentes podem ser percebidas por inspeo ocular; e

    (iii) s a continuidade e permanncia que caracterizam

    a posse para usucapir. Sobre o tema, convm transcrever

    os entendimentos jurisprudenciais:

    Ementa: Agravo de Instrumento - Ao de

    usucapio de servido aparente - Deferimento

    de liminar - Desnecessidade de aferio da

    poca da obstruo da servido - Justificao

    prvi a - Possibilidade de realizao sem

    citao dos requeridos - Provas dos autos

    indicando a presena dos requisitos para

    deferimento da medida - Recurso

    improvido. Em se tratando de ao de

    usucapio de servido aparente, baseada no

    . Acesso em 18 jan. 2015. 77 Idem. Lei n 5.869, de 11 de Janeiro de 1973 . Institui o Cdigo

    de Processo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 941. Compete a ao de usucapio ao

    possuidor para que se Ihe decl are, nos termos da lei, o domnio do

    imvel ou a servido predial.

  • 60

    art. 1.379, do CC/2002, n a qual se pleiteia,

    liminarmente, a desobstruo de estrada, no

    h de se discutir se a posse nova ou velha,

    para fins de se aferir a possibilidade de

    concesso da liminar, posto no se tratar de

    ao possessria. Revelando a medida de

    carter acautelat ria, pode -se realizar a

    audincia de justificao prvia, sem a

    citao do ru, nos termos do art. 804, CPC,

    quando esta puder tornar a medida

    ineficaz. Inexistindo elementos que

    impliquem censura deciso do julgador

    primevo, que, ao valorar as provas co ligidas

    aos autos, vislumbrou a presena do fumus

    boni iuris e do periculum in mora,

    fundamentando devidamente sua deciso

    para deferir a liminar, deve ser negado

    provimento ao recurso. (Tribunal de Justia

    de Minas Gerais Dcima Stima Cmara

    Cvel/ Agravo de Instrumento

    n 1.0514.05.017640-3/001/ Relator:

    Desembargador Eduardo Marin da Cunha /

    Julgado em 02.02.2006/ Publicado no DJe em

    09.03.2006)

    Ementa: Usucapio - Posse - Soma dos

    tempos - Possibilidade - Servido de

    passagem - Acolhimento. Havendo cesso de

    direito, relativo posse e domnio do bem,

    possvel a soma do tempo anterior ao

    posterior, para fins de usucapio. Ainda que

    exista ligao do imvel com a via pblica, h

    que se reconhecer a servido de passagem, se

    ela j utilizada h mui to tempo, facilitando

    ao possuidor, o gozo de seu direito. (Tribunal

    de Justia de Minas Gerais Quinta Cmara

    Cvel do Tribunal de Alada/ Apelao Cvel

    n 2.0000.00.437519-9/000/ Relatora:

    Desembargadora Eulina do Carmo Almeida /

  • 61

    Julgado em 03.02.2005/ Publicado no DJe em

    26.02.2005).

    O quarto modo de constituio a destinao

    do proprietrio, ou seja, quando os proprietrios dos dois

    imveis, permanentemente, resolvem estabelecer uma

    serventia entre os prdios, uma vez que no h servido

    se os imveis pertencerem a um s proprietrio. Ao lado

    disso, Diniz, com clareza ofuscante, em seu magistrio,

    destinao do proprietrio no caso de a mesma pessoa ter

    dois prdios e, criada uma serventia visvel de um

    benefcio do outro, venham mais tarde a ter donos

    78, criando -

    se, em tal cenrio, uma servido, sem a manifestao

    formal do instituidor, porm originria de um ato de

    vontade unilateral do proprietrio. Como requisito para

    que se adquira essa servido por esse meio, os

    entendimentos jurisprudenciais tem vindicado que a

    servido seja aparente, com a finalidade de proteger a

    boa-f do adquirente do imvel dominante, pois,

    consoante explicitam os multicitados art igos 1.378 e

    78 DINIZ, 2011, p. 433.

  • 62

    1.379 do Cdigo Civil de 2002, as servides no

    aparentes s podem ser constitudas por registro no

    Cartrio de Registro de Imveis.

    6 SINGEL O QUADRO SOBRE OS DIREITOS E

    DEVERES DOS PROPRIETRIOS DOS PRDIOS

    DOMINANTE E SERVIENTE

    sabido que o exerccio da servido acarreta

    aos proprietrios dos prdios dominante e serviente uma

    srie de direitos e obrigaes que, concomitantemente,

    limitam a utilizao do direito de propriedade do dono do

    serviente e ampliam o uso e gozo do titular do domn io do

    prdio dominante. Assim, o dono do prdio dominante

    tem o direito de: (i) usar e gozar da servido; (ii) realizar

    obras necessrias sua conservao e uso, a fim de poder

    atingir os objetivos da servido, nos termos do artigo

    1.380 do Cdigo Civil 79; (iii) reclamar a ampliao da

    79 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.380. O dono de uma servido pode fazer

    todas as obras necessrias sua conservao e uso, e, se a servido

  • 63

    servido para facilitar a explorao do prdio dominante,

    mesmo contra a vontade do proprietrio do prdio

    serviente, que tem, porm, o direito indenizao pelo

    excesso, na forma capitulada no 3 do artigo 1.385 do

    Cdigo Civil 80. Prima avultar, oportunamente que tais

    disposies so aplicveis, igualmente, s servides

    rsticas; (iv) renunciar servido 81; e (v) remover, sua

    custa, a servido de um local a outro, desde que aumente

    consideravelmente sua utilidade e no pre judique o

    prdio serviente, em consonncia com a parte final do

    artigo 1.384 Cdigo Civil de 2002 82.

    pertencer a mais de um prdio, sero as despesas rateadas entre os

    respectivos donos. 80 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.385. Restringir -se- o exerccio da servido

    s necessidades do prdio dominante, evitando -se, quanto possvel,

    agrava r o encargo ao prdio serviente. [omissis] 3o Se as

    necessidades da cultura, ou da indstria, do prdio dominante

    impuserem servido maior largueza, o dono do serviente

    obrigado a sofr -la; mas tem direito a ser indenizado pelo excesso. 81 Ibid. Art. 1 .388. O dono do prdio serviente tem direito, pelos

    meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora o dono do

    prdio dominante lho impugne: I - quando o titular houver

    renunciado a sua servido; 82 Ibid. Art. 1.384. A servido pode ser removida, de um local para

    outro, pelo dono do prdio serviente e sua custa, se em nada

    diminuir as vantagens do prdio dominante, ou pelo dono deste e

  • 64

    Entrementes, o dono do imvel dominante tem

    o dever de: (i) adimplir e realizar todas as obras para uso

    e conservao da servido83, ressalvada a hiptese de

    existncia de estipulao em sentido contrrio, fazendo

    com que tal obrigao recaia sobre o dono do prdio

    serviente. Maria Helena Diniz aponta

    pertencer a mais de um prdio, tais despesas devero ser

    divididas, em partes iguais , entre os seus respectivos

    donos, exceto se houver estipulao firmada entre eles no

    84; (ii) exercer a

    servido de modo civilizando, evitando que haja qualquer

    agravo ao prdio serviente, uma vez que a servido deve

    estar adst rita apenas s necessidades do prdio

    dominante 85; e (iii) indenizar o dono do prdio serviente

    sua custa, se houver considervel incremento da utilidade e no

    prejudicar o prdio serviente. 83 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel e m:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.381. As obras a que se refere o artigo

    antecedente devem ser feitas pelo dono do prdio dominante, se o

    contrrio no dispuser expressamente o ttulo. 84 DINIZ, 2011, p. 435. 85 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel e m:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.385. Restringir -se- o exerccio da servido

  • 65

    pelo excesso do uso da servido em caso de necessidade

    da cultura ou indstria.

    O proprietrio do imvel dominante ter o

    dever de indenizar o dono do prdio se rviente pelo

    excesso ou agravao do uso da servido em caso de

    necessidade, porquanto o dono do serviente somente

    suportar o necessrio ao exerccio formal e especfico da

    servido, submetendo -se ainda s servides acessrias e

    adminculas. Dessa maneira , em se tratando de servido

    em prdio destinado cultura e indstria, sendo

    carecida, para melhorar o aproveitamento econmico e

    social, a sua ampliao e consequente agravao do nus,

    a legislao vigente, com o escopo de favorecer a

    qualidade da cul tura ou da indstria, admite o

    alargamento da servido, por meio do pagamento de uma

    indenizao pelo excesso do encargo ao dono do serviente,

    que suportar a extenso da servido at o mximo das

    necessidades da cultura ou da indstria. Em tal sentido,

    acena o entendimento jurisprudencial:

    s necessidades do prdio dominante, evitando -se, quanto possvel,

    agravar o encargo ao prdio serviente.

  • 66

    Ementa : Civil. Ao de servido por

    usucapio. Ausncia de irresignao

    recursal quanto ao usucapio propriamente

    dito. Necessidade de alargamento da

    servido evidenciada. - Descabe discutir

    acerca da existncia do usuc apio alegado

    quando tal questo no restou deliberada

    em sede de defesa e na instncia recursal. -

    Impe-se o alargamento da servido de

    passagem quando evidenciada a sua

    necessidade - em face da precariedade do

    local, com o difcil transporte de pessoas e

    veculos, restando comprovadas as

    dificuldades vividas pelos autores.

    (Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Dcima Segunda Cmara Cvel/ Apelao

    Cvel n 1.0056.01.001734-3/001/ Relator:

    Desembargador Saldanha da Fonseca/

    Julgado em 14.11.2007/ Public ado no DJe

    em 01.12.2007).

    Doutra banda, o proprietrio do prdio

    serviente tem o direito de: (i) exonerar -se de pagar as

    despesas com o uso e conservao da servido, quando

    tiver que suportar esse encargo, desde que abandone

    total ou parcialmente a prop riedade em favor do

    proprietrio do prdio dominante, materializando o

    abandono liberatrio, e se este recusar -se a receber a

    propriedade do serviente, ou parte dela, ser cabvel o

    custeio das obras de conservao e uso, consoante dico

  • 67

    do pargrafo nic o do artigo 1.382 do Cdigo Civil 86; (ii)

    remover a servido de um local para outro, que seja mais

    favorvel sua utilizao, sem que isso implique em

    desvantagem ao exerccio normal dos direitos do dono do

    o

    dever comunicar previamente o titular do prdio

    dominante, para que possa tomar as providncias

    necessrias 87. Caso no haja a comunicao, poder o

    proprietrio de o prdio dominante embargar,

    judicialmente, as obras at que as razes de remoo

    sejam esclarecidas; (iii) obstar que o proprietrio do

    dominante efetive quaisquer mudanas na forma de

    utilizao da servido, pois esta deve manter sua

    destinao; (iv) cancelar a servido, pelos meios judiciais,

    conquanto haja impugnao do dono do prdio

    dominante, nos casos de renncia do titular da servido,

    de impossibilidade de seu exerccio em razo de cessao

    86 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.382. Quando a obrigao incumbir ao dono

    do prdio serviente, este poder exonerar -se, abandonando, total ou

    parcialmente, a propriedade ao dono do dominante. Pargrafo

    nico . Se o proprietrio do prdio dominante se recusar a receber a

    propriedade do serviente, ou parte dela, caber -lhe- custear as obras. 87 DINIZ, 2011, p. 436.

  • 68

    da utilidade que determinou a constituio da servido e

    de resgate da servido; e (v) cancelar a servido,

    mediante prova de extino, quando ho uver: a) reunio

    de dois prdios no domnio da mesma pessoa; b)

    supresso das respectivas obras em virtude de contrato

    ou outro ttulo; e c) desuso por dez anos ininterruptos.

    O proprietrio do prdio serviente tem a

    obrigao de: (i) permitir que o dono d o prdio dominante

    realize as obras necessrias conservao e utilizao da

    servido ou efetu -las, se tal dever lhe tiver sido

    acometido pelo contrato ou ttulo constitutivo, hiptese

    em que o dono do prdio dominante poder exigir sua

    execuo, por meio da tutela processual especfica, e o

    pagamento das perdas e danos; (ii) respeitar o exerccio

    normal e legtimo da servido, supedaneado no artigo

    1.383 do Cdigo Civil 88, de forma que se impedir o dono

    do prdio dominante de usufruir das vantagens oriund as

    da servido ou de realizar obras para sua conservao,

    este poder utilizar da ao de manuteno de posse,

    88 BRASIL . Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel em:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.383 . O dono do prdio serviente no poder

    embaraar de modo algum o exerccio le gtimo da servido.

  • 69

    para defender seus direitos. Caso haja esbulho, poder,

    ainda, lanar mo da ao de reintegrao de posse; e

    (iii) pagar as despesas com a remoo da servido e no

    embaraas ou diminuir as vantagens do prdio

    dominante, que decorrerem dessa mudana, com espeque

    no artigo 1.384 89 do diploma civilista.

    7 PROTEO JURDICA DAS SERVIDES

    PREDIAIS

    No sistema jurdico nacional, h um conjunto

    de aes que amparam as servides prediais. A primeira

    a ser mencionada a ao confessria, cujo escopo est

    assentado em reconhecer a sua existncia, quando

    negada, ou contestada pelo proprietrio do prdio

    gravado quando se v contrariado no seu propsito pelo

    dono do prdio serviente, devendo, in concreto, provar a

    89 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 . Institui o

    Cdigo Civil. Disponvel e m:

    . Acesso

    em 18 jan. 2015. Art. 1.384.