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COMISSÃO TEMÁTICA:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DO
ADVOGADO PÚBLICO
TÍTULO - TESE:
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS: INSTRUMENTO
DE CONCRETIZAÇÃO DE UMA ADVOCACIA PÚBLICA EFICIENTE
Autor:
VANDERLEI FERREIRA DE LIMA
Procurador do Estado de São Paulo, ex-Delegado de Polícia, Mestre em Direito
Constitucional pela ITE-Bauru, Especialização lato sensu em Direito Público,
professor de Direito Civil e Direito Empresarial no Centro; professor no Centro de
Pós Graduação da – ITE/Bauru; email:[email protected]; telefone (14) 3223
2353 e (14) 99722 3638.
RESUMO:
No presente trabalho discorre-se sobre as funções essenciais à Justiça, dentre elas a
Advocacia Privada e Pública; discorre sobre a forma de remuneração dos
Advogados Público através de salário ou subsídio, aos quais se devem acrescer os
honorários sucumbênciais que não se submetem ao teto constitucional, uma vez
que não é verba pública.
2014
2
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS: INSTRUMENTO DE
CONCRETIZAÇÃO DE UMA ADVOCACIA PÚBLICA EFICIENTE
1. INTRODUÇÃO
Constantemente depara-se com projetos de leis e ações judiciais que buscam suprimir
dos Advogados Públicos o direito indisponível a percepção/distribuição de verba honorária obtida
em ações judiciais nas quais os entes públicos – União, Estados Membros, Distrito Federal,
Municípios e suas autarquias - sejam partes e logram obter vitória em face de criterioso, dedicado
e competente trabalho de advocacia desenvolvido pelos Advogados Públicos.
Utilizam-se para fundamentar tais leis e ações judiciais os mais variados argumentos:
que estes honorários advocatícios são verbas públicas; que os Advogados públicos já percebem
do ente público seus salários, dentre outras premissas equivocadas. Esquecem as pessoas que
invocam tais teses que se não houvesse a competente atuação do advogado Público nas ações, o
ente público perderia o objeto da demanda judicial e ainda teria que arcar/pagar honorários
advocatícios sucumbências da parte contrária e, como consequência, enormes prejuízos para o
cidadão.
No presente trabalho, sem a pretensão de esgotar o tema, pretende-se demonstrar a
diferente entre remuneração do advogado Público e honorários sucumbenciais, bem como, que
este honorários tratam-se de poderoso instrumento de concretização de uma Advocacia Pública
eficiente, de resultado, sem custos para a sociedade, já que irá arcar com esse pagamento é a parte
contrária, sonegadora de tributos, dilapidadora do patrimônio público e não o ente público.
2. ADVOCACIA PÚBLICA
Dispõe o artigo 5o, XXXV da Constituição da República que “A lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Trata-se do direito fundamental a uma
prestação jurisdicional efetiva, implicando, na visão de MARINONI1 no “direito ao provimento e
aos meios executivos capazes de dar efetividade ao direito substancial, o que significa direito à
1
MARINONI, Luiz Guilherme. “O direito à efetividade da tutela jurisdicional na perspectiva da teoria dos
direitos fundamentais”. In GENESIS – Revista de Direito Processual Civil, Curitiba, (28), abril/junho de 2003), p.
303.
3
efetividade em sentido estrito.”2 Assim, a jurisdição tem como função primordial de pacificação
social.
A elevada missão de exercer a jurisdição3 foi deferida ao Poder Judiciário, que não a
exercer sozinho que, para manter sua imparcialidade, depende de provocação por outras
instituições como o Ministério Público, Advocacia Pública e Privada, e Defensoria Pública,
denominadas pelo legislador constituinte como nobre nome de Funções Essenciais à Justiça.4
Assim, pode-se afirmar que tanto os Advogados Públicos como os advogados
Privados prestam serviços essenciais à Justiça, tanto que o art. 133 da CF/88 dispõe que “o
advogado é indispensável à administração da Justiça...” o que por si só já denota o respeito que o
profissional da Advocacia Pública ou Privada merecem (arts. 131/135 da CF/88).
É no Poder Judiciário, cuja atuação é provocada por Advogados Públicos e Privados,
Ministério Público e Defensoria Pública, que o cidadão vem construindo sua verdadeira
cidadania.
Enquanto os advogados Privados defendem interesses particulares, muitos dos quais
invocados contra a própria administração pública, os Advogados Públicos defendem interesses
públicos indisponíveis da União (Advogados e Procuradores da União), Estados Membros e
Distrito Federal (Procuradores do Estado e do Distrito Federal) e Municípios (Procuradores
Municipais), portanto, direitos pertencentes a sociedade como um todo.5
Especificamente no que tange as Procuradorias Gerais dos Estados e do Distrito
Federal, representadas por seus procuradores, são instituições de natureza permanente, essencial à
Justiça e à Administração Pública Estadual e do Distrito Federal, são orientadas pelos princípios
da legalidade e indisponibilidade do interesse público e tem como funções institucionais a de
representar judicial, extrajudicial e prestar consultoria jurídica do Estado e do Distrito Federal
aos quais estão vinculadas (art. 132, CF/88)
No exercício das atribuições de seus cargos, os procuradores dos Estados e do Distrito
Federal, através do Contencioso Tributário, atuam em todos os processos judiciais e
administrativos que envolvam matéria tributária, combatendo a sonegação fiscal um piores males
2
Ibid., p.303
3 Júris dictio: dizer o direito
4 Das Funções Essenciais à Justiça: Ministério Público, Advocacia Pública e Privada, Defensoria Pública (artigos
127/135 da CF/88) 5 A Administração Pública trata-se de um bem difuso pertencente a todos os cidadãos.
4
que assola este país e que promove enormes desvios ilícitos de recursos públicos, bem combatem
a concorrência desleal daqueles que não pagam os tributos devidos com aqueles que mantém em
dia suas obrigações tributárias; através do Contencioso Geral, intervém nos processos judiciais
de interesse do Erário Público Estadual e do Distrito Federal que tramitam em todas as instâncias
judiciais, inclusive no Supremo tribunal Federal, defendendo o Patrimônio Público Estadual; por
sua Consultoria Jurídica presta assessoramento jurídico ao Poder Executivo Estadual
orientando-o no tocante aos aspectos da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e
eficiência do Serviço Público Estadual, bem como na implantação de políticas públicas que
verdadeiramente atendam o cidadão, notadamente os mais carentes que vivem a margem da
cidadania.
3. REMUNERAÇÃO DOS ADVOGADOS (salário e honorários contratuais) e
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS (honorários decorrentes da
condenação da parte contrária)
Regulamentando a remuneração dos Advogados, dispõe a Lei em seu 8.906/94, artigo
21 que “ A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos
honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência”.6
Os advogados privados, enquanto profissionais liberais, são remunerados por
quantias pagas por seus clientes no momento da contratação de seus serviços (honorários
contratuais ou arbitrados judicialmente se não houver contrato); os advogados empregados serão
remunerados por salários pagos mensalmente por seu empregados.7
Sem prejuízo da percepção dos honorários contratuais ou salário, o advogado privado
também tem direito de receber os honorários sucumbenciais que, conforme já afirmado, são
quantias decorrentes da condenação da parte contrária.
6 Honorários convencionados – são os estipulados pelo advogado e seu cliente através de contrato; Honorários
arbitrados – não havendo convenção contratual e acordo entre o advogado e seu cliente, os honorários serão fixados
por arbitramento judicial; Honorários de sucumbência – independente dos primeiros estes honorários são os fixados
judicialmente cujo pagamento deve ser realizado ao advogado da parte contrária pela parte vencida na demanda
judicial.
7 Art. 18. A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a independência
profissional inerentes à advocacia; Art. 19. O salário mínimo profissional do advogado será fixado em sentença
normativa, salvo se ajustado em acordo ou convenção coletiva de trabalho (Lei 8.906/94).
5
Lei 8.906/94
Art. 21. Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este representada,
os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados.
Parágrafo único. Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado empregado
de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a empregadora, na forma
estabelecida em acordo.
Portanto, pode-se concluir que os honorários advocatícios possuem um conceito
amplo consistente na importância paga ao advogado no momento de sua contratação (honorários
contratuais) e aqueles impostos como condenação à parte vencida numa ação judicial (honorários
sucumbenciais).
4. FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBEMCIAIS -
Princípio da causalidade e grau de zelo do Advogado da parte vencedora.
Pelo Princípio causalidade, cabe a parte vencida, parte que deu causa ao ajuizamento
da ação, pagar honorários de sucumbência ao vencedor. A condenação nessa verba de
sucumbência deve servir de desestimulo e reflexão para que as pessoas, antes dar causa ao
ajuizamento de uma ação, refletir se realmente é o caso de se opor resistência a pretensão da
outra parte.
CÓDIO DE PROCESSO CIVIL
Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que
antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida,
também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (Redação
dada pela Lei nº 6.355, de 1976)
(...)
§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo
de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: (Redação dada pela
Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
6
a) o grau de zelo do profissional; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
b) o lugar de prestação do serviço; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo
exigido para o seu serviço. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973) [sem grifo
no original]
(...)
Art. 23. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem pelas
despesas e honorários em proporção
CÓDIGO CIVIL
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas
com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena
convencional. (sem grifo no original)
Portanto, resta claro que em sua sentença o juiz deverá condenar a parte vencida
pagar a parte vencedora os honorários advocatícios sucumbênciais, fixados no importe de 10% a
20%, levando em consideração o grau de zelo do profissional e o trabalho dispendido pelo
advogado.
5. TITULARIDADE PARA RECEBIMENTO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS
Por muito tempo se discutiu a quem pertenceria os honorários advocatícios
sucumbênciais, se a parte contratante ou ao advogado contratado inclusive aqueles que se
submetem à relação empregatícia.
Respondendo essa questão, firmou-se entendimento na legislação e no Poder
Judiciário, de que os honorários advocatícios sucumbenciais pertencem ao advogado, patrono da
parte vencedora, seja ele profissional liberal ou advogado submetido à relação empregatícia.
Nesse sentido, dispõe o Estatuto da Ordem do Advogados do Brasil.
7
Lei 8.906/94.
Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência,
pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta
parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu
favor.
Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que o
estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência,
concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.
§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em
que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.
§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários
de sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus
sucessores ou representantes legais.
§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual
ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de
sucumbência.
(sem grifo no original)
O Poder Judiciário, chamado a se pronunciar sobre o assunto, assim vem decidindo:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A
FAZENDA PÚBLICA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA
ALIMENTAR. SUBMISSÃO AO REGIME CONSTITUCIONAL DOS
PRECATÓRIOS, OBSERVADA ORDEM ESPECIAL. 1. Os honorários
advocatícios incluídos na condenação pertencem ao advogado e possuem
natureza alimentícia. A satisfação pela Fazenda Pública se dá por precatório,
observada ordem especial restrita aos créditos de igual natureza. Precedentes: AIs
623.145, sob a relatoria do ministro Dias Toffoli; 691.824, sob a relatoria do ministro
Marco Aurélio; 732.358-AgR, sob a relatoria do ministro Ricardo Lewandowski; e
8
758.435, sob a relatoria do ministro Cezar Peluso; REs 470.407, sob a relatoria do
ministro Marco Aurélio; 538.810, sob a relatoria do ministro Eros Grau; e 568.215,
sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia; bem como SL 158-AgR. 2. Agravo
regimental desprovido.
(RE. 415.950 AgR./ RS Rio Grande do Sul; Rel. Min. Ayres Brito; data de
julgamento 16/04/2011; DJE 23/08/2011, VOL-02572-02 PP-00282
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO. CUSTAS E HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. 1. Código de Processo Civil, artigo 21.
Sucumbência recíproca. Custas processuais e honorários advocatícios. Compensação
entre as partes, nos limites da condenação. 2. Honorários advocatícios. Execução
autônoma. Estatuto da Advocacia, artigo 23. Impossibilidade de compensação.
Alegação improcedente. Os honorários advocatícios decorrentes de decisão
transitada em julgado pertencem ao advogado, que poderá executá-los em
procedimento autônomo. Hipótese distinta daquela em que, em razão do julgamento
do recurso interposto, os litigantes são vencidos e vencedores na causa, fato do qual
decorre a responsabilidade recíproca pelas custas e honorários advocatícios, como
acessório dos limites da condenação. Incompatibilidade do artigo 21 do Código de
Processo Civil com o artigo 23 da Lei 8.906/94. Inexistência. Agravo regimental a
que se nega provimento.
(RE 318.540, AgR/ SC – Santa Catarina; AG. RGE NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO; Rel. Min. Mauricio Correa; data de julgamento 14/05/2002,
publicado em DJ 21/06/2002.
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ESPECIAL, REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E
RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DESMEMBRAMENTO DO MONTANTE
PRINCIPAL SUJEITO A PRECATÓRIO. ADOÇÃO DE RITO DISTINTO (RPV).
POSSIBILIDADE. DA NATUREZA DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
9
1. No direito brasileiro, os honorários de qualquer espécie, inclusive os de
sucumbência, pertencem ao advogado; e o contrato, a decisão e a sentença que os
estabelecem são títulos executivos, que podem ser executados autonomamente, nos
termos dos arts. 23 e 24, § 1º, da Lei 8.906/1994, que fixa o estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil.
2. A sentença definitiva, ou seja, em que apreciado o mérito da causa, constitui,
basicamente, duas relações jurídicas: a do vencedor em face do vencido e a deste com
o advogado da parte adversa. Na primeira relação, estará o vencido obrigado a dar,
fazer ou deixar de fazer alguma coisa em favor do seu adversário processual. Na
segunda, será imposto ao vencido o dever de arcar com os honorários sucumbenciais
em favor dos advogados do vencedor.
(...)
(REsp 1347736 / RS RECURSO ESPECIAL 2012/0210274-0, Relator Min. p/
acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN; data do julgamento 09/10/2013;
publicação DJe 15/04/2014).
RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA PARA COBRANÇA DE
HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DE
ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS EMPREGADOS. REPRESENTAÇÃO DOS
INTERESSES COMUNS DOS FILIADOS. AUTORIZAÇÃO LEGAL,
REGULAMENTAR E ESTATUTÁRIA (LEI 8.906/94, ESTATUTO DA
ADVOCACIA E DA OAB - EAOAB, ARTS. 21 E 23; REGULAMENTO GERAL
DO EAOAB, ART. 14, PARÁGRAFO ÚNICO). PREVISÃO ESTATUTÁRIA.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A Lei 8.906/94 - Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil
(EAOAB), em seus arts. 21 e 23, estabelece que os honorários fixados na condenação
pertencem aos advogados empregados.
REsp 634096 / SP RECURSO ESPECIAL 2004/0031883-1, Ministro RAUL
ARAÚJO, data do julgamento 20/08/2013; data da publicação DJe 29/08/2013
RDDP vol. 128 p. 154)
10
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR
PÚBLICO. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. VIOLAÇÃO
AOS ARTS. 458, II, E 535, II, DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. DESISTÊNCIA DE
ALGUNS DOS AUTORES DA AÇÃO DE CONHECIMENTO EM EXECUTAR
SEUS RESPECTIVOS CRÉDITOS. OPÇÃO PELA EXECUÇÃO DE SENTENÇA
COLETIVA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. DIREITO DOS ADVOGADOS.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
1. Tendo o Tribunal de origem se pronunciado de forma clara e precisa sobre as
questões postas nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a
decisão, não há falar em afronta aos arts. 458, II, e 535, II, do CPC, pois não se deve
confundir "fundamentação sucinta com ausência de fundamentação" (REsp
763.983/RJ, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJ 28/11/05).
2. "O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n.
470.407/DF (DJ 18.7.2007), ao interpretar os arts. 22 e 23 da Lei n. 8.906/94,
asseverou que os honorários advocatícios incluídos na condenação pertencem ao
advogado, consubstanciando prestação alimentícia" (REsp 874.309/PR, Rel. Min.
MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, DJe 27/5/10).
3. "A regra inserta no § 1º do artigo 24 da Lei nº 8.906/94, instituiu para o advogado a
faculdade jurídica de natureza instrumental de executar os honorários sucumbenciais
na própria ação em que tenha atuado, se assim lhe convier" (REsp 595.242/SP,
Rel.Min. CASTRO MEIRA, Segunda Turma, DJ 16/5/05).
4. A opção de alguns dos autores da ação de conhecimento de não executar os
créditos oriundos no título executivo que ampara a presente ação executória não é
capaz de afastar o direito dos respectivos patronos de executarem os créditos
referentes aos honorários advocatícios fixados na sentença exequenda.
5. O Tribunal a quo, ao firmar o entendimento de que somente poderiam integrar os
cálculos da execução os honorários de sucumbência referentes aos créditos daqueles
que efetivamente buscam executar o título exequendo, importa na indevida supressão
do direito dos advogados aos honorários que lhes foram conferidos no título judicial.
11
6. Recurso especial conhecido e provido para reformar o acórdão recorrido e
restabelecer os efeitos da sentença de improcedência dos embargos à execução.
(REsp 1209577 / RS RECURSO ESPECIAL 2010/0151870-1; Rel. Min. ARNALDO
ESTEVES LIMA; data de julgamento 16/12/2010; data da publicação DJe
02/02/2011)
Os dispositivos legais da Lei 8.906/94 e os Julgados supra referidos, são de uma
clareza meridiana, deixam claro que os honorários advocatícios sucumbenciais pertencem ao
advogado, seja ele profissional liberal ou contratado mediante vínculo empregatício e, no caso de
seu falecimento, esse direito transmite-se aos seus herdeiros.
6. ADVOGADOS PÚBLICOS E O DIREITO A PERCEPÇÃO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS
Conforme restou cabalmente demonstrado através da lei e de decisões judiciais, os
honorários advocatícios sucumbenciais devem ser percebidos pelo advogado, seja ele profissional
liberal contratado pelo pagamento de honorários contratuais ou advogado com vinculo
empregatício que é aquele que recebe mensalmente salário.
Os Advogados Públicos que são aqueles integrantes da Advocacia Geral da União
(Advogados da União e Procuradores Federais), Procuradorias Gerais dos Estados e do Distrito
Federal (Procuradores do Estado ou do Distrito Federal), Procuradorias Gerais dos Municípios
(Procuradores Municipais), Procuradorias das Autarquias (Procuradores Autárquicos), são
contratados pelos entes públicos aos quais pertencem mediante concurso público de provas e de
provas e títulos, assegurado a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases
do concurso.
Os advogados Públicos, dentre eles os procuradores do Estado e do Distrito Federal,
são remunerados por pelo pagamento de salário ou subsídios.8
8 Art. 39, parag. 4º. CF/88: § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os
Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado
o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998).
12
Não obstante a percepção de remuneração ou subsídios pagos pelos entes públicos
aos quais pertencerem, os advogados Públicos, dentre eles os procuradores dos Estados e do
Distrito Federal, também possuem direito ao recebimento dos honorários advocatícios
sucumbenciais.9
Assim deve ser, posto que expressa determinação legal os Advogados Públicos se
sujeitam aos comandos que emergem do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, que assim
dispõe:
Lei 8.906/94
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação
de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do
regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da
União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das
Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional.
Interpretando-se o dispositivo supra referido, conclui-se os advogados públicos
também se sujeitam a forma de remuneração dos advogados privados.10
Desta forma, pode-se
facilmente concluir que os advogados Públicos tem direito a percepção de seus salários ou
subsídios pagos pelos entes públicos, aos quais deve ser acrescidos os honorários advocatícios
sucumbenciais, que são verbas recebidas nas ações judiciais vitoriosas11
patrocinadas e vencidas
Art. 37, XI CF/88: a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, aplicando-se como li-mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o
subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no
âmbito do Poder Legislativo e o sub-sídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tri-bunal Federal, no
âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) 9 São aqueles pagos pela parte vencida na ação judicial.
10 sejam os advogados privados profissionais liberais que fazem jus aos honorários contratuais e aos honorários
sucumbenciais, ou advogados com vínculo empregatício que recebem salário mais as verbas sucumbenciais. 11
CÓDIO DE PROCESSO CIVIL
13
pelo dedicado e competente trabalho desenvolvidos pelos advogados públicos, contra
sonegadores de impostos e malversadores do patrimônio Público.
Nesse sentido, é o comando que emerge do Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil.
Lei 8.906/94.
Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou
sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para
executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando
necessário, seja expedido em seu favor.
Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que o
estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência,
concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.
§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em
que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.
§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários
de sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus
sucessores ou representantes legais.
Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários
advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa
própria. (Redação dada pela Lei nº 6.355, de 1976)
§ 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1.10.1973)
(...) § 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre
o valor da condenação, atendidos: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
a) o grau de zelo do profissional; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
b) o lugar de prestação do serviço; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973) [sem grifo no original]
(...)
Art. 23. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem pelas despesas e honorários em
proporção
CÓDIGO CIVIL
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem
prejuízo da pena convencional. (sem grifo no original)
14
§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual
ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de
sucumbência.
(sem grifo no original).
Nesse contexto, é inegável que os advogados públicos possuem o direito liquido e
certo a percepção dos honorários arbitrados nas causas judiciais por eles patrocinadas em nome
do ente político a qual pertencerem. É o que determina a Lei Federal 8.906/1994.
O Poder Judiciário, chamado a se pronunciar sobre dos advogados Públicos à
percepção dos honorários advocatícios sucumbenciais como direito autônomo, independente de
sua remuneração, já decidiu:
RE 407908 / RJ - RIO DE JANEIRO - RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento: 13/04/2011 Órgão Julgador: Primeira Turma -Publicação
DJe-106 DIVULG 02-06-2011 PUBLIC 03-06-2011 - EMENT VOL-02536-01 PP-
00148
Parte(s)
RECTE.(S) : ESPÓLIO DE SÉRGIO ROBERTO SEVERO PORTILHO
ADV.(A/S): EDUARDO VALLE DE MENEZES CORTES E OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) :CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S/A
ELETROBRÁS
ADV.(A/S) : ALEXANDRE SIGMARINGA SEIXAS E OUTRO(A/S)
ASSIST.(S) CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSVALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR E OUTRO(A/S)
Ementa
ACORDO – HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS –
AÇÃO DE NULIDADE – PRINCÍPIO DA MORALIDADE. Implica violência ao
artigo 37, cabeça, da Constituição Federal a óptica segundo a qual, ante o princípio da
moralidade, surge insubsistente acordo homologado em juízo, no qual previsto o
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direito de profissional da advocacia, detentor de vínculo empregatício com uma das
partes, aos honorários advocatícios.
Decisão
Após os votos dos Ministros Marco Aurélio, Relator, e Dias Toffoli, que davam
provimento ao recurso extraordinário, pediu vista antecipada do processo o Ministro
Ayres Britto. Falaram: o Dr. Eduardo Valle de Menezes Cortes, pelo recorrente, e o
Dr. João Alberto Romeiro, pela recorrida.
Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. 1ª Turma, 25.05.2010.
Decisão:
Após os votos dos Ministros Marco Aurélio, Relator, e Dias Toffoli, que davam
provimento ao recurso extraordinário, e do Ministro Ayres Britto, que lhe negava
provimento, pediu vista do processo a Ministra Cármen Lúcia. Presidência do
Ministro Ricardo Lewandowski. 1ª Turma, 30.11.2010.
Decisão:
Por maioria de votos, a Turma deu provimento ao recurso extraordinário, nos termos
do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Ayres Britto. Ausente,
justificadamente, o Senhor Ministro Dias Toffoli. Presidência da Senhora Ministra
Cármen Lúcia. 1ª Turma, 13.4.2011.12
HONORÁRIOS DE ADVOGADO - Fazenda Pública - Procurador que faz parte de
seus quadros funcionais - Irrelevância - Direito a verba honorária - Artigo 20 do
Código de Processo Civil - Recurso provido" (JTJ 146/112)
... se convencionou admitir que os Procuradores ou Advogados do Estado têm direito,
além de sua remuneração funcional (que é administrativa), aos honorários de
advogado (que são remuneração profissional específica, e, pois, civil) quando
vencedores na causa, o quadro de situações que se apresenta é este: de direito estrito,
quem faz jus aos honorários da defesa da Fazenda são os Procuradores
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Embora o advogado de sociedade mista não seja tecnicamente advogado público, não se pode negar que o
patrimônio da dessa pessoa jurídica é formado em sua maioria por capital público. Os honorários advocatícios no
caso sub juduce foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal como pertencente ao advogado de sociedade de
economia mista. Este julgado reforça o entendimento segundo o qual o advogado público também faz jus ao
percebimento dos honorários sucumbenciais.
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vencedores da causa, pessoalmente; pois honorários são a remuneração - a
contraprestação - pela prestação de serviços (JTJ 183/53; sem grifo no original).
HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA - Direito do Advogado - Os honorários de
sucumbência, incluídos na condenação do executado pelo Poder Público Municipal,
pertencem ao advogado, na forma do disposto no artigo 23, c/c artigo 21 da Lei
8906/94. Qualquer manobra ou artifício, ou mesmo normas administrativas, tolhendo
ou tentando impedir tal recebimento, são nulas, devendo o prejudicado, se for
necessário, valer-se de ação judicial para fazer prevalecer o seu direito. A receita
proveniente deste recebimento deverá ser objeto de rubrica especial" (OAB - Tribunal
de Ética - Processo E 1.433, Relator Júlio Cardella). 13
CONSULTA FORMULADA POR PROCURADOR MUNICIPAL. RELAÇÃO DE
EMPREGO. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA E HONORÁRIOS
DECORRENTES DE ACORDO EXTRAJUDICIAL. Advogados públicos
submetem-se a duplo regime para disciplinar sua atuação: a Lei nº 8.906/94 e, ainda,
lei que estabeleça regime próprio no âmbito da administração pública. Como
advogados públicos, atuando como representantes de entes públicos, têm direito de
perceber honorários de sucumbência ou decorrentes de acordo extrajudiciais.”
(CFOAB, Órgão Especial, Rec. n°2008.08.02954-05, Rel. Cons. Fed. LUIZ
CARLOS LEVENZON (RS), publ. DJ, 08/01/2010, p. 53).
É importante frisar que os honorários não são pagos pelo cidadão de bem, mas
sim pelas pessoas tidas como devedoras e dilapidadoras do patrimônio público, portanto,
descumpridoras das suas obrigações para com o Erário Público.
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SANDIM, Emerson Odilon. Procurador Autárquico Federal do INSS/MT. Parecer. Instituto Brasileiro de
Advocacia Pública – IBAP.
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7. IGULDADE ENTRE OS ADVOGADOS PRIVADOS E ADVOGADOS PÚBLICOS
Dispõe a Constituição Federal/88 que:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
XIII – É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Art. 22. Compete privativamente a União legislar privativamente sobre:
VII - Organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de
profissões.
(sem grifo no original).
Regulamentando o exercício da Advocacia, seja ela pública ou privada, dispõe a
mesma Constituição dispõe que “o advogado é indispensável à administração da Justiça... (art.
133).
Já o legislador infraconstitucional, regulamentando a percepção de honorários
advocatícios por advogados privados e públicos dispõe que:
Lei 8.906/94,
Art. 3º. O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação
de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
§ 1º. exercem atividade de advocacia no território brasileiro, sujeitando-se ao
regime desta lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da
Advocacia Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria
Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito
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Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e
fundacional. (sem grifo no original)
Ora! Conforme fartamente exposto no presente trabalho, o advogado privado, seja
profissional liberal ou profissional com vínculo empregatício, faz jus à percepção dos honorários
advocatícios sucumbenciais.
Negar este direito aos advogados públicos significar violar o direito a igualdade estes
profissionais.
8. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DO ADVOGADO PÚBLICO E O NOVO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
O projeto do Novo Código de Processo que teve regular tramitação na Câmara dos
Deputados sob o número 8.046/2010, foi aprovado e remetido ao Senado Federal, recebendo o
número 166/2010.
No referido projeto de lei, ao regulamentar os honorários advocatícios, restou
aprovado que o advogado público também fará jus ao percebimento de honorários advocatícios,
nos seguintes termos.
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários aos advogado do
vencedor
(...)
Parag. 19. Os Advogados Públicos perceberão honorários de sucumbência, nos
termos da lei.
No Senado Federal, o Senador Vital do Rego já se posicionou favorável ao direito
dos Advogados Públicos receberem honorários de sucumbência:
O relator do novo Código de Processo Civil (CPC), senador Vital do Rêgo (PMDB-
PB), se posicionou a favor da advocacia pública. O parlamentar anunciou que
manterá a garantia da percepção de honorários de sucumbência, nos termos da lei,
como rege o parágrafo 19 do artigo 85 do texto. “Coloco-me ao lado dos advogados
públicos no justo pleito de garantia da percepção de honorários de sucumbência. É
uma importante reivindicação da categoria de profissionais de direito, em pleno
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acordo como o nosso ordenamento jurídico”, declarou o parlamentar. Vital do Rêgo
recebeu o parecer dos juristas do Senado, elaborado em análise conjunta com o
ministro Luiz Fux, no qual constam sugestões ao relatório. “Nosso trabalho tem sido
abastecido e iluminado pela inteligência da comissão de juristas que nos acompanha,
dirimindo os percalços dessa comissão. Esses elementos serão muito importantes para
a formação do meu juízo de valor como relator”, afirmou o senador paraibano.
Fonte: site da Anape, de 11/08/2014.
Pela legislação vigente e o anseio da sociedade retratada no projeto de Novo Código
de Processo Civil, não restam dúvidas de que o Advogado Público tem direito de receber
honorários advocatícios sucumbenciais.
9. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS E VERBAS PÚBLICAS –
LIMITE (TETO) CONSTITUCIONAL
O legislador constituinte derivado, com a finalidade de se colocar limites nos abusos
cometidos em várias administrações públicas, colocou limites nas remunerações – verbas
públicas - pagas pelo Poder Público a seus servidores.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88
Art. 39, parag. 4º. CF/88: § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo,
os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados
exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra
espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
Art. 37, XI CF/88: a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e
empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
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pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-
se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio
dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros
do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
Ocorre que aqui há uma grande e injusta confusão que merece esclarecimentos:
Remuneração do servidor público, incluindo-se o Advogado Público, é a contrapartida
paga pela Administração Pública a seus servidores pelos serviços prestados. Este pagamento
decorre do dispêndio de verbas públicas, razão pela qual o legislador constituinte derivado agiu
corretamente ao impor-lhe limites.
Verbas públicas pode ser definida como todo valor ou parcela pecuniária, prevista em
lei, paga pelo cidadão ao Poder Público, em decorrência do exercício de sua atividade Estatal,
prevista anualmente em seu orçamento, orçamento público.
Por outro lado, os honorários advocatícios sucumbenciais possuem natureza contratual
e decorrem de condenação de sonegadores de tributos e dilapidadores do Patrimônio Público que
restam vencidos em ações judiciais ajuizadas pelos Advogados Públicos em defesa do patrimônio
Público.
Assim, não se pode confundir verbas públicas que são utilizadas para pagamento da
remuneração dos servidores públicos, como honorários advocatícios. Possuem natureza jurídica
diversas:
O Poder Judiciário já decidiu que os honorários advocatícios sucumbenciais devem
ser pagas diretamente aos advogados Públicos e não se submetem ao limite constitucional pago
pelo Ente Público como remuneração.
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HONORÁRIOS DE ADVOGADO - Procuradores municipais - Limitação da verba ao
teto previsto no artigo 37, XI da Constituição Federal - Remuneração que tem caráter
pessoal e que, por isso, não se computa na restrição constitucional - Interpretação do
artigo 39, § 1º da Carta Magna - Segurança concedida para exclusão do cômputo -
Recurso não provido. (Apelação Cível n. 269.023-1 - São Paulo - 9ª Câmara de
Direito Público - Relator: Rui Cascaldi - 13.03.96 - V.U.).14
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROCURADORES DO
ESTADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. LEI
COMPLEMENTAR ESTADUAL. PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. REJEITADA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO
PAGAMENTO POR SUBSÍDIO. DESNECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA
DO TETO CONSTITUCIONAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME. I - Rejeita-se
a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido tendo em vista que a norma
constitucional inobservada é de reprodução obrigatória na Constituição Estadual. II -
A omissão da Constituição Estadual não constitui óbice a que o Tribunal de Justiça
local julgue ação direta de inconstitucionalidade contra lei que dispõe sobre a
remuneração dos Procuradores de Estado. III - Os Advogados Públicos, categoria
da qual fazem parte os Procuradores de Estado, fazem jus ao recebimento de
honorários advocatícios de sucumbência, sem que haja ofensa ao regime de
pagamento do funcionalismo público através de subsídio ou de submissão ao teto
remuneratório, tendo em vista que tal verba é variável, é paga mediante rateio e
é devida pelo particular (parte sucumbente na demanda judicial), não se
confundindo com a remuneração paga pelo ente estatal. (TJMA, ADI
30.721/2010, Rel. Des. Paulo Sérgio Velten Pereira publ. 15/08/2012) [sem grifo no
original].
14 SANDIM, Emerson Odilon. Procurador Autárquico Federal do INSS/MT. Parecer. Instituto Brasileiro de
Advocacia Pública – IBAP.
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Conclui-se que a distribuição dos honorários advocatícios sucumbenciais não se
submete ao limite constitucional para as remunerações estabelecidas nos art. 37, § 4º. e 39. XI da
CF/88.
10. CONCLUSÕES
Por todo o exposto, conclui-se que o exercício da Advocacia constitui função
essencial à administração da Justiça.
Os Advogados privados, profissionais liberais ou com vínculo empregatício, são
remunerados pelos honorários advocatícios ou por salário pagos pelo contratante ou empregador
respectivamente; aos quais devem ser acrescidos os honorários sucumbenciais que são aqueles
pagos pela parte vencida ao advogado da parte vencedora.
Os Advogados Públicos, dentre eles os Procuradores do Estado e do Distrito Federal,
no exercício das atribuições de seus cargos, defendem o patrimônio público, bem difuso
pertencente a toda sociedade.
Pelo exercício das atribuições de seus cargos, os Advogados Públicos são
remunerados por salário ou subsídios que são pagos pelo Ente Público aos quais pertencem. Não
obstante a percepção de salário ou subsídios, os Advogados Públicos também fazem jus a
percepção dos honorários advocatícios sucumbênciais.
Os honorários sucumbênciais não são verbas públicas posto que não são pagos pelo
cidadão através de seus tributos ou figuram no orçamento como verba pública. Na verdade, quem
paga os honorários sucumbenciais são os sonegadores de tributos, dilapidadores do patrimônio
público, que restam vencidos em ações judiciais graças ao criterioso, dedicado e competente
trabalho de advocacia desenvolvido pelos Advogados Públicos. Ao vencer a causa, o Advogado
Público evita enormes prejuízos ao Ente Público consistente na perda do objeto da demanda
judicial e ainda teria que arcar/pagar honorários advocatícios sucumbências da parte contrária.
Do exposto, denota-se que a percepção dos honorários sucumbenciais pelos
Advogados Públicos trata-se de poderoso instrumento de concretização de uma Advocacia
Pública eficiente, de resultado, sem custos para a sociedade.
Assim, propõe-se que haja esclarecimento à sociedade sobre a natureza dos
honorários sucumbenciais.
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Por derradeiro, deve haver atuação primorosa e eficiente da sociedade, órgãos
representativos da Advocacia Pública e Privada junto ao Senado Federal para a manutenção do §
19 do art. 85 do Projeto do Novo Código de Processo Civil (proj. 166/2010) que assegura o
direito indisponível dos Advogados Públicos de perceberem os honorários sucumbenciais.
Também propõe-se a mesma atuação nas ações judiciais que, de forma equivocada,
tentam suprir do Advogado Público o direito indisponível a percepção dos honorários
sucumbenciais.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFÍCAS
CAHALI, Yussef Said. Honorários Advocatícios. 2ª. Ed. RT: São Paulo, 1990.
LUZ, Waldemar P. da, 15ª. Manual do Advogado. Ed. OAB/SC Editora: Florianópolis, 2002.
MAMEDE, Gladston. Fundamentos da Legislação do Advogado. Atlas: São Paulo, 2002.
MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à efetividade da tutela jurisdicional na perspectiva
da teoria dos direitos fundamentais. In GENESIS – Revista de Direito Processual Civil,
Curitiba, (28), abril/junho de 2003
SANDIM, Emerson Odilon. Procurador Autárquico Federal do INSS/MT. Parecer. Instituto
Brasileiro de Advocacia Pública – IBAP.