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1 COMISSÃO TEMÁTICA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DO ADVOGADO PÚBLICO TÍTULO - TESE: HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS: INSTRUMENTO DE CONCRETIZAÇÃO DE UMA ADVOCACIA PÚBLICA EFICIENTE Autor: VANDERLEI FERREIRA DE LIMA Procurador do Estado de São Paulo, ex-Delegado de Polícia, Mestre em Direito Constitucional pela ITE-Bauru, Especialização lato sensu em Direito Público, professor de Direito Civil e Direito Empresarial no Centro; professor no Centro de Pós Graduação da ITE/Bauru; email:[email protected]; telefone (14) 3223 2353 e (14) 99722 3638. RESUMO: No presente trabalho discorre-se sobre as funções essenciais à Justiça, dentre elas a Advocacia Privada e Pública; discorre sobre a forma de remuneração dos Advogados Público através de salário ou subsídio, aos quais se devem acrescer os honorários sucumbênciais que não se submetem ao teto constitucional, uma vez que não é verba pública. 2014

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Page 1: COMISSÃO TEMÁTICA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL … · RESUMO: No presente trabalho discorre-se sobre as funções essenciais à Justiça, dentre elas a Advocacia Privada e Pública;

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COMISSÃO TEMÁTICA:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DO

ADVOGADO PÚBLICO

TÍTULO - TESE:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS: INSTRUMENTO

DE CONCRETIZAÇÃO DE UMA ADVOCACIA PÚBLICA EFICIENTE

Autor:

VANDERLEI FERREIRA DE LIMA

Procurador do Estado de São Paulo, ex-Delegado de Polícia, Mestre em Direito

Constitucional pela ITE-Bauru, Especialização lato sensu em Direito Público,

professor de Direito Civil e Direito Empresarial no Centro; professor no Centro de

Pós Graduação da – ITE/Bauru; email:[email protected]; telefone (14) 3223

2353 e (14) 99722 3638.

RESUMO:

No presente trabalho discorre-se sobre as funções essenciais à Justiça, dentre elas a

Advocacia Privada e Pública; discorre sobre a forma de remuneração dos

Advogados Público através de salário ou subsídio, aos quais se devem acrescer os

honorários sucumbênciais que não se submetem ao teto constitucional, uma vez

que não é verba pública.

2014

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HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS: INSTRUMENTO DE

CONCRETIZAÇÃO DE UMA ADVOCACIA PÚBLICA EFICIENTE

1. INTRODUÇÃO

Constantemente depara-se com projetos de leis e ações judiciais que buscam suprimir

dos Advogados Públicos o direito indisponível a percepção/distribuição de verba honorária obtida

em ações judiciais nas quais os entes públicos – União, Estados Membros, Distrito Federal,

Municípios e suas autarquias - sejam partes e logram obter vitória em face de criterioso, dedicado

e competente trabalho de advocacia desenvolvido pelos Advogados Públicos.

Utilizam-se para fundamentar tais leis e ações judiciais os mais variados argumentos:

que estes honorários advocatícios são verbas públicas; que os Advogados públicos já percebem

do ente público seus salários, dentre outras premissas equivocadas. Esquecem as pessoas que

invocam tais teses que se não houvesse a competente atuação do advogado Público nas ações, o

ente público perderia o objeto da demanda judicial e ainda teria que arcar/pagar honorários

advocatícios sucumbências da parte contrária e, como consequência, enormes prejuízos para o

cidadão.

No presente trabalho, sem a pretensão de esgotar o tema, pretende-se demonstrar a

diferente entre remuneração do advogado Público e honorários sucumbenciais, bem como, que

este honorários tratam-se de poderoso instrumento de concretização de uma Advocacia Pública

eficiente, de resultado, sem custos para a sociedade, já que irá arcar com esse pagamento é a parte

contrária, sonegadora de tributos, dilapidadora do patrimônio público e não o ente público.

2. ADVOCACIA PÚBLICA

Dispõe o artigo 5o, XXXV da Constituição da República que “A lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Trata-se do direito fundamental a uma

prestação jurisdicional efetiva, implicando, na visão de MARINONI1 no “direito ao provimento e

aos meios executivos capazes de dar efetividade ao direito substancial, o que significa direito à

1

MARINONI, Luiz Guilherme. “O direito à efetividade da tutela jurisdicional na perspectiva da teoria dos

direitos fundamentais”. In GENESIS – Revista de Direito Processual Civil, Curitiba, (28), abril/junho de 2003), p.

303.

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efetividade em sentido estrito.”2 Assim, a jurisdição tem como função primordial de pacificação

social.

A elevada missão de exercer a jurisdição3 foi deferida ao Poder Judiciário, que não a

exercer sozinho que, para manter sua imparcialidade, depende de provocação por outras

instituições como o Ministério Público, Advocacia Pública e Privada, e Defensoria Pública,

denominadas pelo legislador constituinte como nobre nome de Funções Essenciais à Justiça.4

Assim, pode-se afirmar que tanto os Advogados Públicos como os advogados

Privados prestam serviços essenciais à Justiça, tanto que o art. 133 da CF/88 dispõe que “o

advogado é indispensável à administração da Justiça...” o que por si só já denota o respeito que o

profissional da Advocacia Pública ou Privada merecem (arts. 131/135 da CF/88).

É no Poder Judiciário, cuja atuação é provocada por Advogados Públicos e Privados,

Ministério Público e Defensoria Pública, que o cidadão vem construindo sua verdadeira

cidadania.

Enquanto os advogados Privados defendem interesses particulares, muitos dos quais

invocados contra a própria administração pública, os Advogados Públicos defendem interesses

públicos indisponíveis da União (Advogados e Procuradores da União), Estados Membros e

Distrito Federal (Procuradores do Estado e do Distrito Federal) e Municípios (Procuradores

Municipais), portanto, direitos pertencentes a sociedade como um todo.5

Especificamente no que tange as Procuradorias Gerais dos Estados e do Distrito

Federal, representadas por seus procuradores, são instituições de natureza permanente, essencial à

Justiça e à Administração Pública Estadual e do Distrito Federal, são orientadas pelos princípios

da legalidade e indisponibilidade do interesse público e tem como funções institucionais a de

representar judicial, extrajudicial e prestar consultoria jurídica do Estado e do Distrito Federal

aos quais estão vinculadas (art. 132, CF/88)

No exercício das atribuições de seus cargos, os procuradores dos Estados e do Distrito

Federal, através do Contencioso Tributário, atuam em todos os processos judiciais e

administrativos que envolvam matéria tributária, combatendo a sonegação fiscal um piores males

2

Ibid., p.303

3 Júris dictio: dizer o direito

4 Das Funções Essenciais à Justiça: Ministério Público, Advocacia Pública e Privada, Defensoria Pública (artigos

127/135 da CF/88) 5 A Administração Pública trata-se de um bem difuso pertencente a todos os cidadãos.

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que assola este país e que promove enormes desvios ilícitos de recursos públicos, bem combatem

a concorrência desleal daqueles que não pagam os tributos devidos com aqueles que mantém em

dia suas obrigações tributárias; através do Contencioso Geral, intervém nos processos judiciais

de interesse do Erário Público Estadual e do Distrito Federal que tramitam em todas as instâncias

judiciais, inclusive no Supremo tribunal Federal, defendendo o Patrimônio Público Estadual; por

sua Consultoria Jurídica presta assessoramento jurídico ao Poder Executivo Estadual

orientando-o no tocante aos aspectos da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e

eficiência do Serviço Público Estadual, bem como na implantação de políticas públicas que

verdadeiramente atendam o cidadão, notadamente os mais carentes que vivem a margem da

cidadania.

3. REMUNERAÇÃO DOS ADVOGADOS (salário e honorários contratuais) e

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS (honorários decorrentes da

condenação da parte contrária)

Regulamentando a remuneração dos Advogados, dispõe a Lei em seu 8.906/94, artigo

21 que “ A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos

honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência”.6

Os advogados privados, enquanto profissionais liberais, são remunerados por

quantias pagas por seus clientes no momento da contratação de seus serviços (honorários

contratuais ou arbitrados judicialmente se não houver contrato); os advogados empregados serão

remunerados por salários pagos mensalmente por seu empregados.7

Sem prejuízo da percepção dos honorários contratuais ou salário, o advogado privado

também tem direito de receber os honorários sucumbenciais que, conforme já afirmado, são

quantias decorrentes da condenação da parte contrária.

6 Honorários convencionados – são os estipulados pelo advogado e seu cliente através de contrato; Honorários

arbitrados – não havendo convenção contratual e acordo entre o advogado e seu cliente, os honorários serão fixados

por arbitramento judicial; Honorários de sucumbência – independente dos primeiros estes honorários são os fixados

judicialmente cujo pagamento deve ser realizado ao advogado da parte contrária pela parte vencida na demanda

judicial.

7 Art. 18. A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a independência

profissional inerentes à advocacia; Art. 19. O salário mínimo profissional do advogado será fixado em sentença

normativa, salvo se ajustado em acordo ou convenção coletiva de trabalho (Lei 8.906/94).

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Lei 8.906/94

Art. 21. Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este representada,

os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados.

Parágrafo único. Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado empregado

de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a empregadora, na forma

estabelecida em acordo.

Portanto, pode-se concluir que os honorários advocatícios possuem um conceito

amplo consistente na importância paga ao advogado no momento de sua contratação (honorários

contratuais) e aqueles impostos como condenação à parte vencida numa ação judicial (honorários

sucumbenciais).

4. FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBEMCIAIS -

Princípio da causalidade e grau de zelo do Advogado da parte vencedora.

Pelo Princípio causalidade, cabe a parte vencida, parte que deu causa ao ajuizamento

da ação, pagar honorários de sucumbência ao vencedor. A condenação nessa verba de

sucumbência deve servir de desestimulo e reflexão para que as pessoas, antes dar causa ao

ajuizamento de uma ação, refletir se realmente é o caso de se opor resistência a pretensão da

outra parte.

CÓDIO DE PROCESSO CIVIL

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que

antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida,

também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (Redação

dada pela Lei nº 6.355, de 1976)

(...)

§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo

de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: (Redação dada pela

Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

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a) o grau de zelo do profissional; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

b) o lugar de prestação do serviço; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo

exigido para o seu serviço. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973) [sem grifo

no original]

(...)

Art. 23. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem pelas

despesas e honorários em proporção

CÓDIGO CIVIL

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas

com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,

abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena

convencional. (sem grifo no original)

Portanto, resta claro que em sua sentença o juiz deverá condenar a parte vencida

pagar a parte vencedora os honorários advocatícios sucumbênciais, fixados no importe de 10% a

20%, levando em consideração o grau de zelo do profissional e o trabalho dispendido pelo

advogado.

5. TITULARIDADE PARA RECEBIMENTO DOS HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

Por muito tempo se discutiu a quem pertenceria os honorários advocatícios

sucumbênciais, se a parte contratante ou ao advogado contratado inclusive aqueles que se

submetem à relação empregatícia.

Respondendo essa questão, firmou-se entendimento na legislação e no Poder

Judiciário, de que os honorários advocatícios sucumbenciais pertencem ao advogado, patrono da

parte vencedora, seja ele profissional liberal ou advogado submetido à relação empregatícia.

Nesse sentido, dispõe o Estatuto da Ordem do Advogados do Brasil.

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Lei 8.906/94.

Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência,

pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta

parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu

favor.

Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que o

estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência,

concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.

§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em

que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.

§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários

de sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus

sucessores ou representantes legais.

§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual

ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de

sucumbência.

(sem grifo no original)

O Poder Judiciário, chamado a se pronunciar sobre o assunto, assim vem decidindo:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A

FAZENDA PÚBLICA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA

ALIMENTAR. SUBMISSÃO AO REGIME CONSTITUCIONAL DOS

PRECATÓRIOS, OBSERVADA ORDEM ESPECIAL. 1. Os honorários

advocatícios incluídos na condenação pertencem ao advogado e possuem

natureza alimentícia. A satisfação pela Fazenda Pública se dá por precatório,

observada ordem especial restrita aos créditos de igual natureza. Precedentes: AIs

623.145, sob a relatoria do ministro Dias Toffoli; 691.824, sob a relatoria do ministro

Marco Aurélio; 732.358-AgR, sob a relatoria do ministro Ricardo Lewandowski; e

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758.435, sob a relatoria do ministro Cezar Peluso; REs 470.407, sob a relatoria do

ministro Marco Aurélio; 538.810, sob a relatoria do ministro Eros Grau; e 568.215,

sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia; bem como SL 158-AgR. 2. Agravo

regimental desprovido.

(RE. 415.950 AgR./ RS Rio Grande do Sul; Rel. Min. Ayres Brito; data de

julgamento 16/04/2011; DJE 23/08/2011, VOL-02572-02 PP-00282

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO. CUSTAS E HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. 1. Código de Processo Civil, artigo 21.

Sucumbência recíproca. Custas processuais e honorários advocatícios. Compensação

entre as partes, nos limites da condenação. 2. Honorários advocatícios. Execução

autônoma. Estatuto da Advocacia, artigo 23. Impossibilidade de compensação.

Alegação improcedente. Os honorários advocatícios decorrentes de decisão

transitada em julgado pertencem ao advogado, que poderá executá-los em

procedimento autônomo. Hipótese distinta daquela em que, em razão do julgamento

do recurso interposto, os litigantes são vencidos e vencedores na causa, fato do qual

decorre a responsabilidade recíproca pelas custas e honorários advocatícios, como

acessório dos limites da condenação. Incompatibilidade do artigo 21 do Código de

Processo Civil com o artigo 23 da Lei 8.906/94. Inexistência. Agravo regimental a

que se nega provimento.

(RE 318.540, AgR/ SC – Santa Catarina; AG. RGE NO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO; Rel. Min. Mauricio Correa; data de julgamento 14/05/2002,

publicado em DJ 21/06/2002.

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO

ESPECIAL, REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E

RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DESMEMBRAMENTO DO MONTANTE

PRINCIPAL SUJEITO A PRECATÓRIO. ADOÇÃO DE RITO DISTINTO (RPV).

POSSIBILIDADE. DA NATUREZA DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

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1. No direito brasileiro, os honorários de qualquer espécie, inclusive os de

sucumbência, pertencem ao advogado; e o contrato, a decisão e a sentença que os

estabelecem são títulos executivos, que podem ser executados autonomamente, nos

termos dos arts. 23 e 24, § 1º, da Lei 8.906/1994, que fixa o estatuto da Ordem dos

Advogados do Brasil.

2. A sentença definitiva, ou seja, em que apreciado o mérito da causa, constitui,

basicamente, duas relações jurídicas: a do vencedor em face do vencido e a deste com

o advogado da parte adversa. Na primeira relação, estará o vencido obrigado a dar,

fazer ou deixar de fazer alguma coisa em favor do seu adversário processual. Na

segunda, será imposto ao vencido o dever de arcar com os honorários sucumbenciais

em favor dos advogados do vencedor.

(...)

(REsp 1347736 / RS RECURSO ESPECIAL 2012/0210274-0, Relator Min. p/

acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN; data do julgamento 09/10/2013;

publicação DJe 15/04/2014).

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA PARA COBRANÇA DE

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DE

ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS EMPREGADOS. REPRESENTAÇÃO DOS

INTERESSES COMUNS DOS FILIADOS. AUTORIZAÇÃO LEGAL,

REGULAMENTAR E ESTATUTÁRIA (LEI 8.906/94, ESTATUTO DA

ADVOCACIA E DA OAB - EAOAB, ARTS. 21 E 23; REGULAMENTO GERAL

DO EAOAB, ART. 14, PARÁGRAFO ÚNICO). PREVISÃO ESTATUTÁRIA.

RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. A Lei 8.906/94 - Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil

(EAOAB), em seus arts. 21 e 23, estabelece que os honorários fixados na condenação

pertencem aos advogados empregados.

REsp 634096 / SP RECURSO ESPECIAL 2004/0031883-1, Ministro RAUL

ARAÚJO, data do julgamento 20/08/2013; data da publicação DJe 29/08/2013

RDDP vol. 128 p. 154)

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ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR

PÚBLICO. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. VIOLAÇÃO

AOS ARTS. 458, II, E 535, II, DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. DESISTÊNCIA DE

ALGUNS DOS AUTORES DA AÇÃO DE CONHECIMENTO EM EXECUTAR

SEUS RESPECTIVOS CRÉDITOS. OPÇÃO PELA EXECUÇÃO DE SENTENÇA

COLETIVA. HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. DIREITO DOS ADVOGADOS.

RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

1. Tendo o Tribunal de origem se pronunciado de forma clara e precisa sobre as

questões postas nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a

decisão, não há falar em afronta aos arts. 458, II, e 535, II, do CPC, pois não se deve

confundir "fundamentação sucinta com ausência de fundamentação" (REsp

763.983/RJ, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJ 28/11/05).

2. "O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n.

470.407/DF (DJ 18.7.2007), ao interpretar os arts. 22 e 23 da Lei n. 8.906/94,

asseverou que os honorários advocatícios incluídos na condenação pertencem ao

advogado, consubstanciando prestação alimentícia" (REsp 874.309/PR, Rel. Min.

MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, DJe 27/5/10).

3. "A regra inserta no § 1º do artigo 24 da Lei nº 8.906/94, instituiu para o advogado a

faculdade jurídica de natureza instrumental de executar os honorários sucumbenciais

na própria ação em que tenha atuado, se assim lhe convier" (REsp 595.242/SP,

Rel.Min. CASTRO MEIRA, Segunda Turma, DJ 16/5/05).

4. A opção de alguns dos autores da ação de conhecimento de não executar os

créditos oriundos no título executivo que ampara a presente ação executória não é

capaz de afastar o direito dos respectivos patronos de executarem os créditos

referentes aos honorários advocatícios fixados na sentença exequenda.

5. O Tribunal a quo, ao firmar o entendimento de que somente poderiam integrar os

cálculos da execução os honorários de sucumbência referentes aos créditos daqueles

que efetivamente buscam executar o título exequendo, importa na indevida supressão

do direito dos advogados aos honorários que lhes foram conferidos no título judicial.

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6. Recurso especial conhecido e provido para reformar o acórdão recorrido e

restabelecer os efeitos da sentença de improcedência dos embargos à execução.

(REsp 1209577 / RS RECURSO ESPECIAL 2010/0151870-1; Rel. Min. ARNALDO

ESTEVES LIMA; data de julgamento 16/12/2010; data da publicação DJe

02/02/2011)

Os dispositivos legais da Lei 8.906/94 e os Julgados supra referidos, são de uma

clareza meridiana, deixam claro que os honorários advocatícios sucumbenciais pertencem ao

advogado, seja ele profissional liberal ou contratado mediante vínculo empregatício e, no caso de

seu falecimento, esse direito transmite-se aos seus herdeiros.

6. ADVOGADOS PÚBLICOS E O DIREITO A PERCEPÇÃO DOS HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

Conforme restou cabalmente demonstrado através da lei e de decisões judiciais, os

honorários advocatícios sucumbenciais devem ser percebidos pelo advogado, seja ele profissional

liberal contratado pelo pagamento de honorários contratuais ou advogado com vinculo

empregatício que é aquele que recebe mensalmente salário.

Os Advogados Públicos que são aqueles integrantes da Advocacia Geral da União

(Advogados da União e Procuradores Federais), Procuradorias Gerais dos Estados e do Distrito

Federal (Procuradores do Estado ou do Distrito Federal), Procuradorias Gerais dos Municípios

(Procuradores Municipais), Procuradorias das Autarquias (Procuradores Autárquicos), são

contratados pelos entes públicos aos quais pertencem mediante concurso público de provas e de

provas e títulos, assegurado a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases

do concurso.

Os advogados Públicos, dentre eles os procuradores do Estado e do Distrito Federal,

são remunerados por pelo pagamento de salário ou subsídios.8

8 Art. 39, parag. 4º. CF/88: § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os

Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado

o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie

remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº

19, de 1998).

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Não obstante a percepção de remuneração ou subsídios pagos pelos entes públicos

aos quais pertencerem, os advogados Públicos, dentre eles os procuradores dos Estados e do

Distrito Federal, também possuem direito ao recebimento dos honorários advocatícios

sucumbenciais.9

Assim deve ser, posto que expressa determinação legal os Advogados Públicos se

sujeitam aos comandos que emergem do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, que assim

dispõe:

Lei 8.906/94

Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação

de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do

regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da

União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das

Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos

Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional.

Interpretando-se o dispositivo supra referido, conclui-se os advogados públicos

também se sujeitam a forma de remuneração dos advogados privados.10

Desta forma, pode-se

facilmente concluir que os advogados Públicos tem direito a percepção de seus salários ou

subsídios pagos pelos entes públicos, aos quais deve ser acrescidos os honorários advocatícios

sucumbenciais, que são verbas recebidas nas ações judiciais vitoriosas11

patrocinadas e vencidas

Art. 37, XI CF/88: a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da

administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,

pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de

qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal

Federal, aplicando-se como li-mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o

subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no

âmbito do Poder Legislativo e o sub-sídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e

vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tri-bunal Federal, no

âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos

Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) 9 São aqueles pagos pela parte vencida na ação judicial.

10 sejam os advogados privados profissionais liberais que fazem jus aos honorários contratuais e aos honorários

sucumbenciais, ou advogados com vínculo empregatício que recebem salário mais as verbas sucumbenciais. 11

CÓDIO DE PROCESSO CIVIL

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pelo dedicado e competente trabalho desenvolvidos pelos advogados públicos, contra

sonegadores de impostos e malversadores do patrimônio Público.

Nesse sentido, é o comando que emerge do Estatuto da Ordem dos Advogados do

Brasil.

Lei 8.906/94.

Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou

sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para

executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando

necessário, seja expedido em seu favor.

Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que o

estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência,

concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.

§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em

que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.

§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários

de sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus

sucessores ou representantes legais.

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários

advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa

própria. (Redação dada pela Lei nº 6.355, de 1976)

§ 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido. (Redação dada pela Lei nº

5.925, de 1.10.1973)

(...) § 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre

o valor da condenação, atendidos: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

a) o grau de zelo do profissional; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

b) o lugar de prestação do serviço; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973) [sem grifo no original]

(...)

Art. 23. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem pelas despesas e honorários em

proporção

CÓDIGO CIVIL

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária

segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem

prejuízo da pena convencional. (sem grifo no original)

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14

§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual

ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de

sucumbência.

(sem grifo no original).

Nesse contexto, é inegável que os advogados públicos possuem o direito liquido e

certo a percepção dos honorários arbitrados nas causas judiciais por eles patrocinadas em nome

do ente político a qual pertencerem. É o que determina a Lei Federal 8.906/1994.

O Poder Judiciário, chamado a se pronunciar sobre dos advogados Públicos à

percepção dos honorários advocatícios sucumbenciais como direito autônomo, independente de

sua remuneração, já decidiu:

RE 407908 / RJ - RIO DE JANEIRO - RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO

Julgamento: 13/04/2011 Órgão Julgador: Primeira Turma -Publicação

DJe-106 DIVULG 02-06-2011 PUBLIC 03-06-2011 - EMENT VOL-02536-01 PP-

00148

Parte(s)

RECTE.(S) : ESPÓLIO DE SÉRGIO ROBERTO SEVERO PORTILHO

ADV.(A/S): EDUARDO VALLE DE MENEZES CORTES E OUTRO(A/S)

RECDO.(A/S) :CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S/A

ELETROBRÁS

ADV.(A/S) : ALEXANDRE SIGMARINGA SEIXAS E OUTRO(A/S)

ASSIST.(S) CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO

BRASIL - CFOAB

ADV.(A/S) : OSVALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR E OUTRO(A/S)

Ementa

ACORDO – HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS –

AÇÃO DE NULIDADE – PRINCÍPIO DA MORALIDADE. Implica violência ao

artigo 37, cabeça, da Constituição Federal a óptica segundo a qual, ante o princípio da

moralidade, surge insubsistente acordo homologado em juízo, no qual previsto o

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direito de profissional da advocacia, detentor de vínculo empregatício com uma das

partes, aos honorários advocatícios.

Decisão

Após os votos dos Ministros Marco Aurélio, Relator, e Dias Toffoli, que davam

provimento ao recurso extraordinário, pediu vista antecipada do processo o Ministro

Ayres Britto. Falaram: o Dr. Eduardo Valle de Menezes Cortes, pelo recorrente, e o

Dr. João Alberto Romeiro, pela recorrida.

Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. 1ª Turma, 25.05.2010.

Decisão:

Após os votos dos Ministros Marco Aurélio, Relator, e Dias Toffoli, que davam

provimento ao recurso extraordinário, e do Ministro Ayres Britto, que lhe negava

provimento, pediu vista do processo a Ministra Cármen Lúcia. Presidência do

Ministro Ricardo Lewandowski. 1ª Turma, 30.11.2010.

Decisão:

Por maioria de votos, a Turma deu provimento ao recurso extraordinário, nos termos

do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Ayres Britto. Ausente,

justificadamente, o Senhor Ministro Dias Toffoli. Presidência da Senhora Ministra

Cármen Lúcia. 1ª Turma, 13.4.2011.12

HONORÁRIOS DE ADVOGADO - Fazenda Pública - Procurador que faz parte de

seus quadros funcionais - Irrelevância - Direito a verba honorária - Artigo 20 do

Código de Processo Civil - Recurso provido" (JTJ 146/112)

... se convencionou admitir que os Procuradores ou Advogados do Estado têm direito,

além de sua remuneração funcional (que é administrativa), aos honorários de

advogado (que são remuneração profissional específica, e, pois, civil) quando

vencedores na causa, o quadro de situações que se apresenta é este: de direito estrito,

quem faz jus aos honorários da defesa da Fazenda são os Procuradores

12

Embora o advogado de sociedade mista não seja tecnicamente advogado público, não se pode negar que o

patrimônio da dessa pessoa jurídica é formado em sua maioria por capital público. Os honorários advocatícios no

caso sub juduce foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal como pertencente ao advogado de sociedade de

economia mista. Este julgado reforça o entendimento segundo o qual o advogado público também faz jus ao

percebimento dos honorários sucumbenciais.

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vencedores da causa, pessoalmente; pois honorários são a remuneração - a

contraprestação - pela prestação de serviços (JTJ 183/53; sem grifo no original).

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA - Direito do Advogado - Os honorários de

sucumbência, incluídos na condenação do executado pelo Poder Público Municipal,

pertencem ao advogado, na forma do disposto no artigo 23, c/c artigo 21 da Lei

8906/94. Qualquer manobra ou artifício, ou mesmo normas administrativas, tolhendo

ou tentando impedir tal recebimento, são nulas, devendo o prejudicado, se for

necessário, valer-se de ação judicial para fazer prevalecer o seu direito. A receita

proveniente deste recebimento deverá ser objeto de rubrica especial" (OAB - Tribunal

de Ética - Processo E 1.433, Relator Júlio Cardella). 13

CONSULTA FORMULADA POR PROCURADOR MUNICIPAL. RELAÇÃO DE

EMPREGO. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA E HONORÁRIOS

DECORRENTES DE ACORDO EXTRAJUDICIAL. Advogados públicos

submetem-se a duplo regime para disciplinar sua atuação: a Lei nº 8.906/94 e, ainda,

lei que estabeleça regime próprio no âmbito da administração pública. Como

advogados públicos, atuando como representantes de entes públicos, têm direito de

perceber honorários de sucumbência ou decorrentes de acordo extrajudiciais.”

(CFOAB, Órgão Especial, Rec. n°2008.08.02954-05, Rel. Cons. Fed. LUIZ

CARLOS LEVENZON (RS), publ. DJ, 08/01/2010, p. 53).

É importante frisar que os honorários não são pagos pelo cidadão de bem, mas

sim pelas pessoas tidas como devedoras e dilapidadoras do patrimônio público, portanto,

descumpridoras das suas obrigações para com o Erário Público.

13

SANDIM, Emerson Odilon. Procurador Autárquico Federal do INSS/MT. Parecer. Instituto Brasileiro de

Advocacia Pública – IBAP.

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17

7. IGULDADE ENTRE OS ADVOGADOS PRIVADOS E ADVOGADOS PÚBLICOS

Dispõe a Constituição Federal/88 que:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

(...)

XIII – É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as

qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Art. 22. Compete privativamente a União legislar privativamente sobre:

VII - Organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de

profissões.

(sem grifo no original).

Regulamentando o exercício da Advocacia, seja ela pública ou privada, dispõe a

mesma Constituição dispõe que “o advogado é indispensável à administração da Justiça... (art.

133).

Já o legislador infraconstitucional, regulamentando a percepção de honorários

advocatícios por advogados privados e públicos dispõe que:

Lei 8.906/94,

Art. 3º. O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação

de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

§ 1º. exercem atividade de advocacia no território brasileiro, sujeitando-se ao

regime desta lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da

Advocacia Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria

Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito

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Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e

fundacional. (sem grifo no original)

Ora! Conforme fartamente exposto no presente trabalho, o advogado privado, seja

profissional liberal ou profissional com vínculo empregatício, faz jus à percepção dos honorários

advocatícios sucumbenciais.

Negar este direito aos advogados públicos significar violar o direito a igualdade estes

profissionais.

8. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DO ADVOGADO PÚBLICO E O NOVO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O projeto do Novo Código de Processo que teve regular tramitação na Câmara dos

Deputados sob o número 8.046/2010, foi aprovado e remetido ao Senado Federal, recebendo o

número 166/2010.

No referido projeto de lei, ao regulamentar os honorários advocatícios, restou

aprovado que o advogado público também fará jus ao percebimento de honorários advocatícios,

nos seguintes termos.

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários aos advogado do

vencedor

(...)

Parag. 19. Os Advogados Públicos perceberão honorários de sucumbência, nos

termos da lei.

No Senado Federal, o Senador Vital do Rego já se posicionou favorável ao direito

dos Advogados Públicos receberem honorários de sucumbência:

O relator do novo Código de Processo Civil (CPC), senador Vital do Rêgo (PMDB-

PB), se posicionou a favor da advocacia pública. O parlamentar anunciou que

manterá a garantia da percepção de honorários de sucumbência, nos termos da lei,

como rege o parágrafo 19 do artigo 85 do texto. “Coloco-me ao lado dos advogados

públicos no justo pleito de garantia da percepção de honorários de sucumbência. É

uma importante reivindicação da categoria de profissionais de direito, em pleno

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acordo como o nosso ordenamento jurídico”, declarou o parlamentar. Vital do Rêgo

recebeu o parecer dos juristas do Senado, elaborado em análise conjunta com o

ministro Luiz Fux, no qual constam sugestões ao relatório. “Nosso trabalho tem sido

abastecido e iluminado pela inteligência da comissão de juristas que nos acompanha,

dirimindo os percalços dessa comissão. Esses elementos serão muito importantes para

a formação do meu juízo de valor como relator”, afirmou o senador paraibano.

Fonte: site da Anape, de 11/08/2014.

Pela legislação vigente e o anseio da sociedade retratada no projeto de Novo Código

de Processo Civil, não restam dúvidas de que o Advogado Público tem direito de receber

honorários advocatícios sucumbenciais.

9. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS E VERBAS PÚBLICAS –

LIMITE (TETO) CONSTITUCIONAL

O legislador constituinte derivado, com a finalidade de se colocar limites nos abusos

cometidos em várias administrações públicas, colocou limites nas remunerações – verbas

públicas - pagas pelo Poder Público a seus servidores.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88

Art. 39, parag. 4º. CF/88: § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo,

os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados

exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de

qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra

espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

Art. 37, XI CF/88: a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e

empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros

de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,

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pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não,

incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o

subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-

se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito

Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio

dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos

Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco

centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo

Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros

do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

Ocorre que aqui há uma grande e injusta confusão que merece esclarecimentos:

Remuneração do servidor público, incluindo-se o Advogado Público, é a contrapartida

paga pela Administração Pública a seus servidores pelos serviços prestados. Este pagamento

decorre do dispêndio de verbas públicas, razão pela qual o legislador constituinte derivado agiu

corretamente ao impor-lhe limites.

Verbas públicas pode ser definida como todo valor ou parcela pecuniária, prevista em

lei, paga pelo cidadão ao Poder Público, em decorrência do exercício de sua atividade Estatal,

prevista anualmente em seu orçamento, orçamento público.

Por outro lado, os honorários advocatícios sucumbenciais possuem natureza contratual

e decorrem de condenação de sonegadores de tributos e dilapidadores do Patrimônio Público que

restam vencidos em ações judiciais ajuizadas pelos Advogados Públicos em defesa do patrimônio

Público.

Assim, não se pode confundir verbas públicas que são utilizadas para pagamento da

remuneração dos servidores públicos, como honorários advocatícios. Possuem natureza jurídica

diversas:

O Poder Judiciário já decidiu que os honorários advocatícios sucumbenciais devem

ser pagas diretamente aos advogados Públicos e não se submetem ao limite constitucional pago

pelo Ente Público como remuneração.

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HONORÁRIOS DE ADVOGADO - Procuradores municipais - Limitação da verba ao

teto previsto no artigo 37, XI da Constituição Federal - Remuneração que tem caráter

pessoal e que, por isso, não se computa na restrição constitucional - Interpretação do

artigo 39, § 1º da Carta Magna - Segurança concedida para exclusão do cômputo -

Recurso não provido. (Apelação Cível n. 269.023-1 - São Paulo - 9ª Câmara de

Direito Público - Relator: Rui Cascaldi - 13.03.96 - V.U.).14

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROCURADORES DO

ESTADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. LEI

COMPLEMENTAR ESTADUAL. PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE

JURÍDICA DO PEDIDO. REJEITADA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO

PAGAMENTO POR SUBSÍDIO. DESNECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA

DO TETO CONSTITUCIONAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME. I - Rejeita-se

a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido tendo em vista que a norma

constitucional inobservada é de reprodução obrigatória na Constituição Estadual. II -

A omissão da Constituição Estadual não constitui óbice a que o Tribunal de Justiça

local julgue ação direta de inconstitucionalidade contra lei que dispõe sobre a

remuneração dos Procuradores de Estado. III - Os Advogados Públicos, categoria

da qual fazem parte os Procuradores de Estado, fazem jus ao recebimento de

honorários advocatícios de sucumbência, sem que haja ofensa ao regime de

pagamento do funcionalismo público através de subsídio ou de submissão ao teto

remuneratório, tendo em vista que tal verba é variável, é paga mediante rateio e

é devida pelo particular (parte sucumbente na demanda judicial), não se

confundindo com a remuneração paga pelo ente estatal. (TJMA, ADI

30.721/2010, Rel. Des. Paulo Sérgio Velten Pereira publ. 15/08/2012) [sem grifo no

original].

14 SANDIM, Emerson Odilon. Procurador Autárquico Federal do INSS/MT. Parecer. Instituto Brasileiro de

Advocacia Pública – IBAP.

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Conclui-se que a distribuição dos honorários advocatícios sucumbenciais não se

submete ao limite constitucional para as remunerações estabelecidas nos art. 37, § 4º. e 39. XI da

CF/88.

10. CONCLUSÕES

Por todo o exposto, conclui-se que o exercício da Advocacia constitui função

essencial à administração da Justiça.

Os Advogados privados, profissionais liberais ou com vínculo empregatício, são

remunerados pelos honorários advocatícios ou por salário pagos pelo contratante ou empregador

respectivamente; aos quais devem ser acrescidos os honorários sucumbenciais que são aqueles

pagos pela parte vencida ao advogado da parte vencedora.

Os Advogados Públicos, dentre eles os Procuradores do Estado e do Distrito Federal,

no exercício das atribuições de seus cargos, defendem o patrimônio público, bem difuso

pertencente a toda sociedade.

Pelo exercício das atribuições de seus cargos, os Advogados Públicos são

remunerados por salário ou subsídios que são pagos pelo Ente Público aos quais pertencem. Não

obstante a percepção de salário ou subsídios, os Advogados Públicos também fazem jus a

percepção dos honorários advocatícios sucumbênciais.

Os honorários sucumbênciais não são verbas públicas posto que não são pagos pelo

cidadão através de seus tributos ou figuram no orçamento como verba pública. Na verdade, quem

paga os honorários sucumbenciais são os sonegadores de tributos, dilapidadores do patrimônio

público, que restam vencidos em ações judiciais graças ao criterioso, dedicado e competente

trabalho de advocacia desenvolvido pelos Advogados Públicos. Ao vencer a causa, o Advogado

Público evita enormes prejuízos ao Ente Público consistente na perda do objeto da demanda

judicial e ainda teria que arcar/pagar honorários advocatícios sucumbências da parte contrária.

Do exposto, denota-se que a percepção dos honorários sucumbenciais pelos

Advogados Públicos trata-se de poderoso instrumento de concretização de uma Advocacia

Pública eficiente, de resultado, sem custos para a sociedade.

Assim, propõe-se que haja esclarecimento à sociedade sobre a natureza dos

honorários sucumbenciais.

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Por derradeiro, deve haver atuação primorosa e eficiente da sociedade, órgãos

representativos da Advocacia Pública e Privada junto ao Senado Federal para a manutenção do §

19 do art. 85 do Projeto do Novo Código de Processo Civil (proj. 166/2010) que assegura o

direito indisponível dos Advogados Públicos de perceberem os honorários sucumbenciais.

Também propõe-se a mesma atuação nas ações judiciais que, de forma equivocada,

tentam suprir do Advogado Público o direito indisponível a percepção dos honorários

sucumbenciais.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFÍCAS

CAHALI, Yussef Said. Honorários Advocatícios. 2ª. Ed. RT: São Paulo, 1990.

LUZ, Waldemar P. da, 15ª. Manual do Advogado. Ed. OAB/SC Editora: Florianópolis, 2002.

MAMEDE, Gladston. Fundamentos da Legislação do Advogado. Atlas: São Paulo, 2002.

MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à efetividade da tutela jurisdicional na perspectiva

da teoria dos direitos fundamentais. In GENESIS – Revista de Direito Processual Civil,

Curitiba, (28), abril/junho de 2003

SANDIM, Emerson Odilon. Procurador Autárquico Federal do INSS/MT. Parecer. Instituto

Brasileiro de Advocacia Pública – IBAP.