comida serÁ a do futuro? -...

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SERÁ ESTA A COMIDA DO FUTURO? INSETOS DESIDRATADOS (COMO ESTES GRILOS E LARVAS DA FARINHA}, VACAS FELIZES, ALIMENTOS NATURAIS OU lOGURTES HIPERPROTEÍNADOS ESTÃO ENTRE AS NOVAS TENDÊNCIAS DA ALIMENTAÇÃO.

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SERÁ ESTA

A COMIDADO FUTURO?

INSETOS DESIDRATADOS (COMO ESTES GRILOS E LARVAS DA FARINHA},VACAS FELIZES, ALIMENTOS NATURAIS OU lOGURTES HIPERPROTEÍNADOS

ESTÃO ENTRE AS NOVAS TENDÊNCIAS DA ALIMENTAÇÃO.

O que vamoscomer no futuroInsetos no prato, vacasfelizes, preocupações

ambientais e alimentoshiperproteínados são

algumas tendências daalimentação do futuro.

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EM 2016 VENDERAM-SE EM PORTUGAL MAIS 73% DE lOGURTES

BIOLÓGICOS DO QUE NO ANO ANTERIOR. O LEITE BIOLÓGICO

TAMBÉM VIU AS VENDAS AUMENTADAS EM 26%. NA ESCOLHA DE

PRODUTOS AUMENTARES, OS PORTUGUESES DEMONSTRAM UMA

PREOCUPAÇÃO COM A SAÚDE SUPERIOR À MÉDIA EUROPEIA.

VAMOS ESCOLHER

AUMENTOS

MAIS NATURAIS

NOS ÚLTIMOS MESES, aprocurade alimen-tos mais naturais tem aumentado nos super-mercados portugueses. Sobretudo no querespeita a alimentos biológicos e sem aditi-vos ou nutrientes artificiais. De acordo como estudo Global Health andlngredientSen-timent desenvolvido recentemente pela con-sultora Nielsen, na escolha de produtos ali-mentares os consumidores nacionais de-monstram uma preocupação com a saúdemuito superior à média europeia. E procu-ram evitar os produtos mais artificiais. Alémdisso, as alergias e intolerâncias alimentares

passaram a fazer parte das principais preo-cupações na relação com o que comem (pro-dutos sem glúten ou sem lactose são umarealidade diária nas casas portuguesas).O mesmo estudo indica que 64% dos con-sumidores portugueses escolhem produtoscem por cento naturais, 53% «sem coran-tes» e produtos com pouco ou nenhum açú-car. São várias as cadeias especializadas em

produtos biológicos emais naturais que estão

a abrir nas grandes cidades e mesmo o reta-lho mais convencional aposta na naturalida-de dos alimentos para conquistar o consumi-dor. E o consumo tem aumentado: em 2016venderam-se mais 73% de iogurtes biológi-cos do que no ano anterior e o leite biológi-co também viu as vendas aumentar em 26% .

Mas há motivos para preocupação. Deacordo com o Inquérito Alimentar Nacio-nal e de Atividade Física (lAN-AF - 2017), o

consumo de gordura saturada, açúcar e sal é

inquietante na população geral e em crian-

ças e adolescentes. O consumo de gordurasaturada é superior nas crianças (15,3 %) e

adolescentes (14,4%). O consumo de açúcarsimples é 95% superior ao recomendado pe-la Organização Mundial da Saúde (OMS).A ingestão média de sal é de 7,3 gramas diá-rios - contra os cinco recomendadados.

Célia Craveiro, presidente da direção da

Associação Portuguesa de Nutricionistas,indica que, cada vez mais, os portuguesessão alertados pelos profissionais de saúde

para a necessidade de redefinirem os seushábitos alimentares, atendendo a que as do-

enças crónicas não transmissíveis, como aobesidade e diabetes, são motivadas, entreoutros fatores, por desequilíbrios alimenta-res decorrentes do consumo de alimentos ri-cos em gordura saturada, açúcar e sal. Mas amaior preocupação com a saúde é uma ten-dência crescente e cerca de 11% da popula-ção consome produtos de agricultura bio-lógica como hortícolas e fruta orgânica.Dados da Nielsen revelam ainda uma ten-dência para o consumo de sementes (comolinhaça, sésamo ou cânhamo), cujas vendasaumentaram em 57% no último ano. «Pro-dutos naturais e já preparados estão a sermuito procurados pelo consumidor portu-guês», diz Ana Paula Barbosa, retailer ser-vices director da consultora. O que no fun-do confirma que há uma procura crescente

por produtos naturais, desde que práticos e

adaptáveis ao ritmo da vida atual.

INSETOS E ALGAS

À MESA - SEM

TORCER O NARIZ

•Larvas da farinhae grilo desidratadosobre trufa deganache com pimentatimut está entre asexperiências que o

chef Francisco Siopavende aos clientes.«É crocante e seco.»

SABlAQUEacervejaque consumimos podeconter até 250 pulgões por cem gramas damesma ou que por cada cem gramas de es-

pinafres são permitidos 50 pequenos inse-tos como larvas de milho e ácaros? Já comeinsetos há uns tempos e não sabia. Mas umadas grandes tendências de futuro será mes-mo sabermos. E querermos. Nutricional-mente, os benefícios são conhecidos: cadacem gramas de insetos tem um valor protei-co equivalente acem gramas de carne. Alémdisso, os insetos são um alimento rico em vi-taminas essenciais, como as do complexo B,

por exemplo, c sais minerais como ferro, cál-cio e zinco. «E são pobres em gordura (é o

caso das larvas da farinha) e contêm umagrande quantidade de fibra - ao contráriode carne», diz João Lacerda, nutricionista

que se tem debruçado sobre os benefíciosdos insetos como alimento.

Mas as vantagens nãõsão-só nutricie- _. iftaJs.jSãa também aJtjTsieljfãjs. rwpdúdi/; Msetiís-itójra^éjws-TeairsíJs So planeta'/'

NUTRICIONALMENTE, OS BENEFÍCIOS SAO BEM CONHECIDOS: CADA CEM GRAMAS DE INSETOS TEM

UM VALOR PROTEICO EQUIVALENTE A CEM GRAMAS DE CARNE. ALÉM DISSO, OS INSETOS SÃO UM

AUMENTO RICO EM VITAMINAS ESSENCIAIS, COMO AS DO COMPLEXO B, POR EXEMPLO, E SAIS

MINERAIS COMO FERRO, CÁLCIO E ZINCO.

«Duzentos metros quadrados de terra ser-vem para produzir 450 gramas de carne, en-quanto 15 metros quadrados produzem 450gramas de grilos», diz o nutricionista. «Co-mer insetos pode vir a tornar-se uma modacomo foi o suahihá uns anos.»

No Mercado de Cascais, o c/ie/pastelei-ro Francisco Siopa começou a comercia-lizar bombons enfeitados com insetos. «Écrocante e seco.» O c^e/costuma usar a lar-va da farinha, o grilo e o casulo do bicho-da--seda, todos desidratados, para as experi-ências. Areação dos consumidores? «Comoos bombons que comercializo já têm sabo-res estranhos, como um com ovas de sardi-nha, quero continuar a provocar o consumi-dor, desta vez com os insetos.» A ideia sur-giu há cinco anos, quando uma amiga lheofereceu trufas de chocolate vindas de São

Francisco, na Califórnia, EUA. «Eram óti-mas e crocantes, mas só quando li a emba-

lagem percebi que eram trufas de grilo.»Esta é uma tendência mundial, diz, mas emPortugal falta «alguma mente aberta» pa-ra comer insetos à refeição. «Comemos pri-meiro com os olhos. Se fizéssemos provas às

cegas comeríamos muita coisa que nos sa-be bem e que nos repugna ao olhar. Mas nóstambém comemos caracóis e noutros paísesacham isso estranho.»

Outra tendência é a das algas. Não as quejácomemos nos restaurantes chineses ouja-poneses, mas recolhidas na costa portugue-sa e aplicadas em pratos do gosto nacional,como caldeirada, feijoada de choco ou arrozde marisco (onde podem substituir os coen-

tros, intensificando o sabor a mar). É isso

que tem desenvolvido o chefPedro Mendes,equem quiser podeprovar alguns dos pratosno seu restaurante em Cascais. «O meu tra-balho é empírico e tem que ver com o saberbem e com o aroma. As algas são ricas em vi-taminas, ferro e alguma proteína, extrema-mente nutritivas, mas foco-me sobretudo nosabor, pois não as uso nos pratos só por serbonito. Interessa-me o sabor.» Quem come

gosta, garante o chef. «Se ofeedback não fos-se positivo, já tinha parado com os testes.»

CADA VACA DE ANTÓNIO BARÃO PRODUZ, EM MÉDIA, MAIS 1,5 LITROS DE LEITE POR DIA DO QUE

ANTES DAS PREOCUPAÇÕES DE BEM-ESTAR. O LOCAL ONDE O ANIMAL PASSA A MAIOR PARTE

DO TEMPO, CAMAS LIMPAS, ESPAÇOSAS E CONFORTÁVEIS, REMOÇÃO DO ESTRUME DE QUATRO

EM QUATRO HORAS E REGULAÇÃO DA TEMPERATURA AMBIENTE SÃO AGORA TIDOS EM CONTA.

ANIMAIS

MAIS

FELIZES

«OBEM-ESTARANlMALnàocpòrumlaci-nho e tratar os animais de produção comoanimais domésticos. É, isso sim, dar-lhestodas as condições possíveis paraque se sin-tam bem e produzam melhor. » As palavrassão de António Barão, que produz leite decabra e leite e carne de vaca em Benavente.Nasua propriedade, obem-estar animal foi

posto em prática depois de uma consultoria,e os resultados, três anos depois, estão avis-ta: as melhorias permitiram que cada vaca,em média, produza agora mais 1,5 litros pordia do que antes das preocupações de bem--estar. Esse bem-estar é implementado emvários fatores, mas sobretudo no local ondea vaca passa a maior parte do tempo.

É sinónimo de bem-estar camas limpas,espaçosas e confortáveis, a remoção do es-trume de quatro cm quatro horas c umagrande preocupação com a temperaturaambiente. «Esta raça de vacas leiteiras, as

Holstein Frísia, que são as mais comuns, en-tram em stress a partir dos 25 graus, por is-

so temos um sistema de ventilação automá-tica e, quando a temperatura sobe aos 29,temos a ajuda de nebulizadores que traba-lham automaticamente de 15 em 15 minu-tos. E a cobertura dos pavilhões onde estãoos animais - vacas e cabras - é feita de iso-lante térmico.» A água e os bebedouros são

outros dos cuidados extremos desta produ-ção. E em termos de alimentação, um nu-tricionista analisa semanalmente amostra-

gens do que é ingerido pelos animais e con-trolaaquantidade. «Asvacas não se queremnem gordas nem magras», diz o produtor.

O bem-estar animal resulta assim numamaior produção de leite, mas também emmaior qualidade, tanto das vacas como dascabras. Uma vaca de António Barão produzem média 42 litros de leite por dia, cerca de22 litros por cada ordenha. Há vacas quechegam aos 50 litros ou mais por dia. «Hátrinta anos, uma vaca era boa se desse vintelitros por dia», dia António Barão.

Outro exemplo de bem-estar animal é o

projeto Vacas Felizes, animais que andam

livres em pastagem na ilha de São Miguel,nos Açores, num projeto de sete milhões deeuros para a criação de leite de pastagem daTerra Nostra, lançado em 2015. «As nossasvacas vivem ao ar livre 365 dias por ano, cmcomunidade com outras vacas, com acesso

a erva fresca, e não estão fechadas em es-tábulos com alimentação àbase de rações»,diz Paula Gomes, diretora de marketingda empresa. Condições parecidas, apenasna Nova Zelândia ou na Irlanda, garante.A tendência do bem-estar animal veio pa-ra ficar. Os ganhos são quantificados e os

consumidores pedem este tipo de produ-tos diferenciadores. «Sabemos que o mer-cado é regido por tendências, mas tambémsabemos que umas tendências são substitu-ídas ao passo que outras mantêm-se», dizPaula Gomes. «Acredito que esta seja umatendência que se manterá. De facto, esta-mos todos mais atentos, e ao mesmo tempoeducados, para o significado por detrás doconceito de bem-estar animal.»

SNACKS

SIM,MAS DOS

SAUDÁVEIS

O INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA DESENVOLVEU UM

SNACKÀ BASE DE lOGURTE. É RICO EM CÁLCIO, AS BACTÉRIAS

LÁCTEAS CONTRIBUEM PARA O FORTALECIMENTO DO SISTEMA

IMUNITÁRIO, A ÁGUA DE COCO, A FARINHA DE ALFARROBA E AS

SEMENTES DE CHIA TÊM GRANDE PODER ANTIOXIDANTE.

O ESTUDO GLOBAL HEALTH and IngredientSentiment, da Consultora Nielsen, indica

que 41% dos portugueses escolhem ingre-dientes que lhes proporcionem novas ex-periências, 25% preferem os que imitamprodutos existentes e apenas 34% admi-tem não comprar este tipo de artigos. AnaPaula Barbosa, da Nielsen, confirma quea maioria dos produtos dietéticos têm si-do mais consumidos nos últimos anos. ECélia Craveiro, presidente da AssociaçãoPortuguesa de Nutricionistas, acredita que,nos próximos tempos, as tendências na ali-

mentação continuarão assentarna reformu-

lação dos produtos alimentares ao nível daredução de sal, açúcar, gordura saturada e

gorduras trans (altamente processadas, queconferem maior sabor e aumentam o prazodevalidade,usadaspelaindustriaalimentarno fabrico de bolos, pizas ou batatas fritas).

Apesar de aindústriaalimentarjáter inicia-do este percurso, continua a ser indispensá-vel uma redução mais efetiva de produtos,seguindo as recomendações da OMS.

O Instituto Superior de Agronomia(lSA),em Lisboa, temlevadoacabováriosprojetosde investigação no setor agroalimentar, co-mo a criação de «snacks saudáveis». Cristi-naPristaéainvestigadoradolSAresponsá-vel pela iniciativa que criou umaformulaçãode «snacks saudáveis» de iogurte. «Primei-ro procedemos à otimização da formula-ção, selecionando ingredientes saudáveis e

de cores apelativas, nomeadamente àbasede fruta e produtos lácteos. Depois proce-demos à otimização do processamento, umpasso determinante da crocância.»

O consumo de pequenas quantidades de

alimento, tipo snack, ao longo do dia, é umaopção cada vez mais comum nas refeiçõesdiárias dos consumidores. «Os alimentoscom baixo teor de gorduras saturadas e ali-mentos com elevados teores em fibras e/ou

em nutrientes essenciais ao organismo po-dem ter um impacto positivo na saúde hu-mana, como é o caso dos novos snacks de

iogurte», diz a investigadora. Neste caso,o iogurte é uma grande fonte de cálcio e as

bactérias lácteas contribuem para o forta-lecimento do sistema imunitário. Por outrolado, a água de coco, a farinha de alfarrobae as sementes de chia têm um grande poderantioxidante. «Deste modo, o consumo dossnacks de iogurte, juntamente com apráticade uma alimentação saudável, pode contri-buir, por exemplo, para a prevenção de do-

enças cardiovasculares, cuja principal cau-sa são os incorretos hábitos alimentares.»

Em breve poderemos consumir este ti-po de pequenas refeições. «Esperamos quedentro de um tempo razoável possamos aver os nossos snacks no mercado», diz a in-vestigadora.

Mas o desenvolvimento de produtos sau-dáveis não se fica por aqui. A equipa do ISAestá a trabalhar noutras ideias que «procu-ram aliar os benefícios nutricionais à diver-sificação do tipo de alimentos disponíveis,dando-lhe um cunho diferenciador, sobre-tudo pelas matérias-primas usadas, maiori-tariamente portuguesas, como o chícharo, o

tremoço ou vários tipos de feijão, e pela for-ma como são produzidos, com base em fer-mentaçõesorientais.Estamosadesenvolverautilização de subprodutos e coprodutos daindústria alimentar, numa ótica de econo-mia circular, contribuindo para aumentar aeficiência das empresas e diminuir apega-da ecológica e, em simultâneo, acrescentarvalor a produtos que tradicionalmente têmbaixo valor no mercado ou são consideradosmeros desperdícios.» Ou seja, atendênciaea apetência dos portugueses por produtossaudáveis e o engenho e a ciência de insti-tuições como o ISA vão potenciar novos ti-pos de alimentos.

COMER MELHOR,

A PENSAR NA SAÚDEJÁ OUVIU FALAR em fitonutrientes e ali-mentos funcionais? «São compostos bioa-tivos encontrados em alguns vegetais», diz anutricionista Natália Cavaleiro Costa. «Po-dem ajudar a prevenir algumas doenças, jáque aumentam as defesas do sistema imuni-tário, são antioxidantes, combatem os pro-cessos oxidativos naturais no organismo e

são ferramentas na prevenção de alguns ti-pos de cancro (do sistema digestivo, prósta-ta ou aparelho respiratório) assim como das

dislipidémias (aumento do colesterol e tri-glicerídeos) e doenças inflamatórias comoartrite reumatoide, asma ou Crohn.»

Os fitonutrientes encontram-se em vá-rios alimentos, nomeadamente os que têmcores vivas, como tomate, morango, maçã,

citrinos, uva e também vinho tinto. Nas su-as consultas, a nutricionista apercebe-se ca-da vez mais daconsciência dos pacientes pa-ra a ingestão destes fitoquimícos e que o seu

consumo regular é benéfico para a saúde.«Os planos alimentares são traçados de ummodo personalizado, tendo em contao obje-tivo final que pode não ser sempre aperca de

peso, mas também o uso dos alimentos co-mo coadjuvantes da medicação para o tra-tamento de várias patologias.»

Os alimentos fermentados são tambémconsiderados funcionais, já que os proces-sos de fermentação permitem obter ali-mentos mais digeríveis e com maior valornutricional do que as matérias-primas com

que são feitos. No caso da fermentação de

leguminosas, «há um aumento da qualida-de das proteínas, uma redução do teor de

gorduras e um aumento do teor em ácidosde tipo ómega 3, um aumento do teor em vi-taminas (nomeadamente do complexo B) e

um aumento da biodisponibilidade de fer-

ro, zinco e outros elementos essenciais ao or-ganismo», diz Cristina Prista, investigadorado Instituto Superior de Agronomia.

Cada vez mais, os consumidores pensamno benefício que determinado alimen-to lhe trará para a saúde, sobretudo paraevitar doenças e ter melhores ferramentas

para combater determinados tipos de can-cro. A consciência só agora está a desper-tar e vai aumentar cada vez mais, acredi-tam os especialistas.

CADA VEZ MAIS, OS CONSUMIDORES PORTUGUESES PENSAM NO BENEFICIO QUE DETERMINADO

ALIMENTO, NATURAL OU PREPARADO, LHE TRARÁ PARA A SAÚDE, SOBRETUDO PARA

EVITAR DOENÇAS. A CONSCIÊNCIA VAI AUMENTAR CADA VEZ MAIS NO FUTURO. UMA

OPORTUNIDADE PARA OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE PODEREM ACONSELHAR OS PACIENTES.

•A ingestão de

pimentos é boa

para o trânsitointestinal e aumentao metabolismo.

os níveis de proteína recomendados sao de um grama por quilo de peso, por dia. num

INDIVÍDUO ADULTO QUE PESE 70 QUILOS, O MÁXIMO RECOMENDADO SÃO 70 GRAMAS DIÁRIOS.

ESTES VALORES SÓ DEVEM SER ULTRAPASSADOS NO CASO DE DESPORTISTAS. SE INGERIMOS

MAIS PROTEÍNA ALÉM DA QUE O ORGANISMO PRECISA, COMPROMETEMOS A NOSSA SAÚDE.

A MODA DO CONSUMO

DE PROTEÍNA

OS ALIMENTOS ENRIQUECIDOS com proteí-nas inundam os supermercados. Hábebidascom proteína para substituírem refeiçõesatravés do combate da saciedade e da poucagordura que têm. Na última edição da feiraSIAL Paris, um dos mais importantes cer-tames de alimentação mundiais, apresenta-ram-se inovações como papas para criançascompro LeínaexLra. Uma das mais consumi-das é a proteína whey, derivada do soro doleite. Outro fenómeno curioso é o dos queijosquark (a partir de leite de vaca, usados pararegimes de emagrecimento e de desportis-tas devido ao baixo teor de gordura e alto va-lor proteico) ou dos iogurtes proteínados quetêm esgotado em supermercados.

«Há casos em que devemos aumentar o

consumo de proteína, como nos desportis-tas», diz a nutricionista Natália CavaleiroCosta. «Mas o que se verifica é o uso indis-criminado da proteína no emagrecimento.Já ingerimos proteína numa posta de peixe,num bife, num copo de leite ou iogurte. Se

ainda ingerirmos proteína em suplementos,como a proteína whey, corremos riscos, no-meadamente aníveldo sistemarenal.» O ex-cesso de ureia, que se encontra na proteína,obriga os rins a funcionar mais intensamen-

te, podendo levar, alongo prazo, a hiperten-são, diabetes ou inflamação crónica dos rins.

Apesar de atendência crescer, convém saber

que os níveis de proteína recomendados são

de um grama por quilo de peso por dia. Ora,num indivíduo adulto que pese 70 quilos, omáximo recomendado c de 70 gramas diá-rios. Estes valores só devem ser ultrapassa-dos quando se trata de um desportista.

«As proteínas são usadas para construire reparar o tecido muscular, aumentando o

ganho demassamagra», diz a nutricionista.

Mas nem todos somos desportistas. O pra-ticante de exercício que vai fazer umas au-las de manutenção ou de zumba não conta.

Célia Craveiro, presidente da direção daAssociação Portuguesa de Nutricionistas(APN), reforça que o mercado dos produ-tos alimentares com um conteúdo proteicosuperior tem vindo a aumentar. É uma dastendências de mercado. «Estes produtospodem ser uma mais-valia para indivídu-os com necessidades aumentadas de prote-ína, mas para a generalidade dapopulação é

fundamental que a sua inclusão sejaenqua-drada numa alimentação saudável e que te-nhaem consideração o valorproteico e ener-gético total do dia alimentar do indivíduo.»

Mas hámodas que não se explicam, mes-mo com a influência das redes sociais, comoé o caso da do iogurte islandês, herança dadieta dos vikings, que tem esgotado conse-cutivamente nas prateleiras do supermer-cado Lidl, que o vende. «O produto tem maisde 1100 anos e o seu sucesso deve-se ao ele-vado teor de proteína e cálcio e baixo teor de

gordura e hidrates de carbono, o que o tor-na altamente procurado pelos desportistas,já que favorece o aumento da massa mus-cular», refere fonte do departamento de co-

municação do Lidl Portugal. Amodapegounas redes sociais do retalhista e foram mui-tos os consumidores «e até profissionais daárea àofitness a falar dos benefícios do pro-duto nas suas páginas, o que criou um enor-me buzz, a ponto de alguns consumidores

aproveitarem o prazo de validade alargadopara levarem caixas de uma vez, acabando

por criar situações de rutura de stock.»Para a nutricionista Natália Cavaleiro

Costa, este tipo de produto pode ser consu-mido de modo seguro, por ser natural e nãofórmulas industrializadas de proteína. «Es-tes iogurtes ou queijos podem ser usadosnum pequeno-almoço ou nem lanche emsubstituição de outros lácteos que usamoshabitualmente nestas refeições. Mas o queacontece muitas vezes é um excesso do con-sumo, preterindo a ingestão de frutas e ve-getais numa tentativa desesperada de ema-grecimento.»