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PROVA APLICADA EM 05/2012 PARA O CONCURSO DO(A) OAB - 2012 - VII EXAME DE 0RDEM UNIFICADO, REALIZADO PELO ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, ÁREA DE ATUAÇÃO JURÍDICA, ORGANIZADA PELA BANCA FGV, PARA O CARGO DE EXAME DE ORDEM UNIFICADO, NÍVEL SUPERIOR , ÁREA DE FORMAÇÃO DIREITO . Questão 59 Baco, após subtrair um carro esportivo de determinada concessionária de veículos, telefona para Minerva, sua amiga, a quem conta a empreitada criminosa e pede ajuda. Baco sabia que Minerva morava em uma grande casa e que poderia esconder o carro facilmente lá. Assim, pergunta se Minerva poderia ajudá-lo, escondendo o carro em sua residência. Minerva, apaixonada por Baco, aceita prestar a ajuda. Nessa situação, Minerva deve responder por. A) participação no crime de furto praticado por Baco. B) receptação. C) favorecimento pessoal. D) favorecimento real. Resposta: (D). COMENTÁRIO: a questão é relativamente simples, na medida em que a hipótese ora versada se subsume ao tipo penal constante do artigo 349 do Código Penal: Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, 1

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Page 1: comentários de 4 a 8 de março de 2013

PROVA APLICADA EM 05/2012 PARA O CONCURSO DO(A) OAB -

2012 - VII EXAME DE 0RDEM UNIFICADO, REALIZADO PELO

ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL,

ÁREA DE ATUAÇÃO JURÍDICA, ORGANIZADA PELA BANCA FGV,

PARA O CARGO DE EXAME DE ORDEM UNIFICADO, NÍVEL

SUPERIOR , ÁREA DE FORMAÇÃO DIREITO .

Questão 59

Baco, após subtrair um carro esportivo de determinada concessionária

de veículos, telefona para Minerva, sua amiga, a quem conta a

empreitada criminosa e pede ajuda. Baco sabia que Minerva morava em

uma grande casa e que poderia esconder o carro facilmente lá. Assim,

pergunta se Minerva poderia ajudá-lo, escondendo o carro em sua

residência. Minerva, apaixonada por Baco, aceita prestar a ajuda. Nessa

situação, Minerva deve responder por.

A) participação no crime de furto praticado por Baco.

B) receptação.

C) favorecimento pessoal.

D) favorecimento real.

Resposta: (D).

COMENTÁRIO: a questão é relativamente simples, na medida em que a

hipótese ora versada se subsume ao tipo penal constante do artigo 349

do Código Penal: “Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou

de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:

Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.”

Em se tratando de favorecimento real, deve se verificar a estrutura do

crime antecedente a fim de aquilatarmos se já se consumaram os atos

executórios de modo a não caracterizar a participação (de Minerva) no

crime antecedente (praticado por Baco), que, no caso, é o crime de furto.

Com efeito, tirando a res furtiva do domínio da vítima, fica caracterizado

a consumação do crime. Em outra abordagem, verifica-se que a Minerva

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praticou o crime de modo a burlar a administração da justiça, não

caracterizando o crime de receptação tipificado no artigo 180 do Código

Pnal, vejamos: “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em

proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir

para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena -

reclusão, de um a quatro anos, e multa.”

O Elemento subjetivo do delito é o dolo, vale dizer, a vontade livre e

consciente de prestar auxílio a criminoso a fim de assegurar que ele

usufrua do produto do crime.

Por fim, é importante registrar que os bens jurídicos tutelados são a

administração da justiça e penitenciária e o sujeito ativo é qualquer

pessoa que realizar a conduta típica ao passo que o sujeito passivo é o

Estado.

Questão 60

John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de bandeira

americana, é assassinado por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido

barco, que se encontrava atracado no Porto de Santos, no Estado de

São Paulo. Nesse contexto, é correto afirmar que a lei brasileira:

A) não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo

José ser processado de acordo com a lei estadunidense.

B) é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade

privada estava atracada em território nacional.

C) é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em

território estrangeiro, foi praticado por brasileiro.

D) não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena,

é competência do Tribunal Penal Internacional processar e julgar os

crimes praticados em embarcação estrangeira atracada em território de

país diverso.

Resposta: (B)

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Comentário: essa questão não apresenta maiores dificuldades uma vez

que nosso Código Penal prevê expressamente que se aplica o princípio

da territorialidade quando o crime é praticado em embarcação

estrangeira de propriedade privada situada em nosso mar territorial em.

Vejamos: Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,

tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território

nacional. (...)

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo

de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,

achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no

espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do

Brasil.

É importante registrar que o princípio da territorialidade, pelo qual se

aplica a lei do Brasil aos fatos puníveis praticados no território nacional,

independentemente da nacionalidade dos sujeitos ativo e passivo e do

bem jurídico vulnerado, é adotado pelo nosso sistema jurídico penal,

ainda que de modo mitigado. A lei penal nacional só é afastada na

medida em que o país ratifique tratados ou convenções internacionais.

No caso do mar territorial, o Brasil ratificou o tratado de Mondego Bay, e

foi promulgada a Lei nº 8.617/93 em que foi fixado a extensão do mar

territorial em 12 milhas.

Questão 61

Assinale a alternativa correta.

A) Aquele que, desejando subtrair ossadas de urna funerária, viola

sepultura, mas nada consegue obter porque tal sepultura estava vazia,

não pratica o crime descrito no art. 210 do Código Penal: crime de

violação de sepultura.

B) O crime de infanticídio, por tratar-se de crime próprio, não admite

coautoria.

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C) O homicídio culposo, dada a menor reprovabilidade da conduta,

permite a compensação de culpas.

D) Há homicídio privilegiado quando o agente atua sob a influência de

violenta emoção.

Resposta: (A)

Comentário: o bem jurídico protegido pelo tipo penal mencionado nesta

questão é o respeito aos mortos e não a sepultura em si. Com efeito, em

consonância com o princípio da lesividade, pelo qual o direito penal só

deve ser empregado quando efetivamente violado o bem jurídico que se

quer proteger, para que se aperfeiçoe o crime ora tratado faz-se

necessário que esteja presente no sepulcro os restos mortais do falecido.

Uma vez ausente a ossada, incide a regra do artigo 17 do Código Penal,

sendo crime impossível por impropriedade absoluta do objeto (sepultura

ou urna funerária).

Questão 62

Filolau, querendo estuprar Filomena, deu início à execução do crime de

estupro, empregando grave ameaça à vítima. Ocorre que ao se preparar

para o coito vagínico, que era sua única intenção, não conseguiu manter

seu pênis ereto em virtude de falha fisiológica alheia à sua vontade. Por

conta disso, desistiu de prosseguir na execução do crime e abandonou o

local. Nesse caso, é correto afirmar que

A) trata-se de caso de desistência voluntária, razão pela qual Filolau não

responderá pelo crime de estupro.

B) trata-se de arrependimento eficaz, fazendo com que Filolau responda

tão somente pelos atos praticados.

C) a conduta de Filolau é atípica.

D) Filolau deve responder por tentativa de estupro.

Resposta: (D)

Comentário: essa questão também não apresenta maiores dificuldades,

porquanto expressamente menciona que o coito não se consumou por

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circunstâncias alheias à vontade do agente consubstanciada na falha

fisiológica padecida por Filolau. Com efeito, fica caracterizada a tentativa,

nos termos do artigo 14, inciso II do Código Penal, não se podendo falar

em desistência voluntária (artigo 15 do Código Penal), posto que, como

dito, a vontade do agente não se tornou fato devido à falha fisiológica.

(Art. 14 - Diz-se o crime: ... II - tentado, quando, iniciada a execução, não

se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente).

Questão 63

Pitágoras foi definitivamente condenado, com sentença penal

condenatória transitada em julgado, à pena de 6 (seis) anos de reclusão

a ser cumprida, inicialmente, em regime semi-aberto. Cerca de quatro

meses após o início do cumprimento da pena privativa de liberdade,

sobreveio nova condenação definitiva, desta vez a 3 (três) anos de

reclusão no regime inicial aberto, em virtude da prática de crime anterior.

Atento ao caso narrado, bem como às disposições pertinentes ao tema

presentes tanto no código penal quanto na lei de execuções penais, é

correto afirmar que

A) Pitágoras poderá continuar a cumprir a pena no regime semiaberto.

B) Pitágoras deverá regredir para o regime fechado.

C) Pitágoras deverá regredir de regime porque a nova

condenação significa cometimento de falta grave.

D) prevalece o regime isolado de cada uma das condenações, devendo-

se executar primeiro a pena mais grave.

Resposta: (D)

Comentário: essa questão exige do candidato o conhecimento dos

textos legais. De início, deve saber que o artigo 33, §2º, a, do Código

Penal, estabelece o regime fechado para o cumprimento das penas

fixadas em patamares superiores a oito anos (Art. 33 - A pena de

reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A

de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de

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transferência a regime fechado ... 2º - As penas privativas de liberdade

deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do

condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses

de transferência a regime mais rigoroso: a) condenado a pena superior a

8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) fixa o

regime de cada ...). Depois deverá conhecer o fenômeno da unificação

das penas previsto no artigo 75 do Código Penal e do artigo 111 da Lei

nº 7210/84 (Lei de Execução Penal). Chegar-se-á a uma pena superior a

oito anos, de acordo com os dados mencionados na questão, após a

unificação da penas, em razão da superveniência de outra condenação

no curso do cumprimento de uma da pena, conforme expressamente

prevê o §2º do artigo 75, do Código Penal. Após a unificação dessas

penas ensejando uma pena superior a oito anos dever-se-á suceder a

regressão para o regime mais gravoso, nos termos do artigo 118, II da

Lei nº 7210/84 .

Questão 64

Zenão e Górgias desejam matar Tales. Ambos sabem que Tales é

pessoa bastante metódica e tem a seguinte rotina ao chegar no trabalho:

pega uma xícara de café na copa, deixa-a em cima em sua bancada

particular, vai a outra sala buscar o jornal e retorna à sua bancada para

lê-lo, enquanto degusta a bebida. Aproveitando-se de tais dados, Zenão

e Górgias resolvem que executarão o crime de homicídio através de

envenenamento. Para tanto, Zenão, certificando-se que não havia

ninguém perto da bancada de Tales, coloca na bebida 0,1 ml de

poderoso veneno. Logo em seguida chega Górgias, que também verifica

a ausência de qualquer pessoa e adiciona ao café mais 0,1 ml do mesmo

veneno poderoso. Posteriormente, Tales retorna à sua mesa e senta-se

confortavelmente na cadeira para degustar o café lendo o jornal, como

fazia todos os dias. Cerca de duas horas após a ingestão da bebida,

Tales vem a falecer. Ocorre que toda a conduta de Zenão e Górgias foi

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filmada pelas câmeras internas presentes na sala da vítima, as quais

eram desconhecidas de ambos, razão pela qual a autoria restou

comprovada. Também restou comprovado que Tales somente morreu

em decorrência da ação conjunta das duas doses de veneno, ou seja,

somente 0,1 ml da substância não seria capaz de provocar o resultado

morte. Com base na situação descrita, é correto afirmar que

A) caso Zenão e Górgias tivessem agido em concurso de pessoas,

deveriam responder por homicídio qualificado doloso consumado.

B) mesmo sem qualquer combinação prévia, Zenão e Górgias deveriam

esponder por homicídio qualificado doloso consumado.

C) Zenão e Górgias, agindo em autoria colateral, deveriam responder por

homicídio culposo.

D) Zenão e Górgias, agindo em concurso de pessoas, deveriam

responder por homicídio culposo.

Resposta: (A)

Comentário: agindo em concurso com a prévia combinação de tarefas

entre os agentes ou com a aderência de um agente à conduta do outro

fica caracterizado o crime de homicídio doloso consumado e qualificado

por emprego de veneno, nos termos do artigo 157, §2º, III, do Código

Penal. A quantidade de veneno tornou-se apta a matar a vítima em razão

da união de desígnios e esforços dos agentes.

A questão seria passível de anulação, uma vez que o item (B) também

contém uma assetiva aparentemente correta. Conquanto Zenão e

Górgias ignorassem os propósitos homicidas de cada qual, não atuando,

dessa forma, em coautoria, ainda assim responderiam por homicídio

doloso qualificado e consumado, posto que, mesmo que não tivesse

previamente combinado, o resultado só foi obtido pela soma dos esforços

individuais de cada um. Deve-se utilizar aqui o método hipotético para a

busca da causa adequada ao resultado (“teoria dos antecedentes

causais”). Analisando o caso, verifica-se que se Zenão ou Górgias não

tivessem ministrado as doses do veneno, o resultado morte não teria

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ocorrido. Desta feita, a morte apenas adveio porque o veneno fora

ministrado por ambos, o que configura uma concausa relativamente

independente: eliminado-se uma delas, o resultado pretendido por ambos

individualmente não teria ocorrido. A questão informa explicitamente que

a perícia atestou como fator determinante para a morte de Tales a soma

da dose exata ministrada por cada um. Via de consequência, não há

como se falar em autoria incerta.

PROVA APLICADA EM 07/2011 PARA O CONCURSO DO(A) OAB -

2011 - 1, REALIZADO PELO ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO ORDEM DOS

ADVOGADOS DO BRASIL, ÁREA DE ATUAÇÃO JURÍDICA,

ORGANIZADA PELA BANCA FGV, PARA O CARGO DE EXAME DE

ORDEM UNIFICADO, NÍVEL SUPERIOR, ÁREA DE FORMAÇÃO

DIREITO .

Questão 59

Com relação aos critérios para substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos, assinale a alternativa correta.

(A) A substituição nunca poderá ocorrer se o réu for reincidente em crime

doloso.

(B) Somente fará jus à substituição o réu que for condenado a pena não

superior a 4 (quatro) anos.

(C) Em caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de

direitos, esta será convertida em privativa de liberdade, reiniciando-se o

cumprimento da integralidade da pena fixada em sentença.

(D) Se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser

substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas

restritivas de direitos.

Resposta: (D)

Comentário: a questão não oferece maiores dificuldades, posto que se

resolve apenas pelo conhecimento por parte do candidato do texto legal.

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Com efeito, a questão versa sobre as hipóteses de substituição da pena

privativa de liberdade por restritivas de direitos e multa, nos termos do

artigo 44 do Código Penal o qual transcrevo na sequência: Art. 44. As

penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de

liberdade, quando:

I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o

crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,

qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;

II - o réu não for reincidente em crime doloso

III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade

do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que

essa substituição seja suficiente.

§ 1o (VETADO)

§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser

feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um

ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena

restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.

§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,

desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente

recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da

prática do mesmo crime.

§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade

quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No

cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo

cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de

trinta dias de detenção ou reclusão.

§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro

crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo

deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena

substitutiva anterior.

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Questão 60

À luz da lei que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais (Lei

9.099/95), assinale a alternativa correta.

(A) A competência do juizado será determinada pelo lugar em que se

consumar a infração penal.

(B) A citação será pessoal e se fará no próprio juizado, sempre que

possível, ou por edital.

(C) O instituto da transação penal pode ser concedido pelo juiz sem a

anuência do Ministério Público.

(D) Tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não

sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a

aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser

especificada na proposta.

Resposta: (D)

Comentário: também se resolve essa questão conhecendo-se a letra da

lei. Com efeito, a assertiva (A) está errada, pois a competência dos

Juizados Especiais é determinada pelo lugar em for praticada (teoria da

atividade), e não o local onde se consumou (teoria do resultado) a

infração penal. Nesse sentido, veja-se o artigo 63 da Lei n.º 9.099/95: “A

competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi

praticada a infração penal.”

A assertiva (B) está errada em sua parte final, posto que a citação será

pessoal e se dará no próprio juizado, sempre que possível. No entanto,

se não for possível, a citação deverá ser feita por mandado, não havendo

a previsão da citação por edital. Se o réu não for encontrado na citação

por manado dever-se-á remeter-se os autos ao juízo comum. Nesse

sentido, veja-se o artigo 66 da Lei n.º 9.099/95: (“A citação será pessoal

e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.

Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz

encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do

procedimento previsto em lei.”)

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A assertiva (C) está errada, pois é prerrogativa legal do Ministério Público

o oferecimento da transação penal. O juiz deve apenas apreciar a

proposta oferecida pelo MP ao autor da infração, podendo acolhê-la ou

rejeitá-la, não podendo, no entanto, concedê-la sem a anuência do MP.

Nesse sentido, veja-se o artigo 76 da Lei n.º 9.099/95: “Havendo

representação ou tratando-se de crime de ação penal pública

incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público

poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou

multas, a ser especificada na proposta. (....)

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será

submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério

Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de

direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada

apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco

anos.”)

A assertiva (D) é a certa, nos termos explicitados no artigo 76 da Lei n.º

9.099/95.

Questão 61

Tício praticou um crime de furto (art. 155 do Código Penal) no dia

10/01/2000, um crime de roubo (art. 157 do Código Penal) no dia

25/11/2001 e um crime de extorsão (art. 158 do Código Penal) no dia

30/5/2003. Tício foi condenado pelo crime de furto em 20/11/2001, e a

sentença penal condenatória transitou definitivamente em julgado no dia

31/3/2002. Pelo crime de roubo, foi condenado em 30/01/2002, com

sentença transitada em julgado definitivamente em 10/06/2003 e, pelo

crime de extorsão, foi condenado em 20/8/2004, com sentença

transitando definitivamente em julgado no dia 10/6/2006.

Com base nos dados acima, bem como nos estudos acerca da

reincidência e dos maus antecedentes, é correto afirmar que

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Page 12: comentários de 4 a 8 de março de 2013

(A) na sentença do crime de furto, Tício é considerado portador de maus

antecedentes e, na sentença do crime de roubo, é considerado

reincidente.

(B) na sentença do crime de extorsão, Tício possui maus antecedentes

em relação ao crime de roubo e é reincidente em relação ao crime de

furto.

(C) cinco anos após o trânsito em julgado definitivo da última

condenação, Tício será considerado primário, mas os maus

antecedentes persistem.

(D) nosso ordenamento jurídico-penal prevê como tempo máximo para

configuração dos maus antecedentes o prazo de cinco anos a contar do

cumprimento ou extinção da pena e eventual infração posterior.

Resposta: (B)

Comentário: a reincidência tecnicamente só ocorre quando o agente

pratica outra conduta típica após o trânsito em julgado de sentença

condenatória pela prática de outro crime, nos exatos termos do artigo 63

do Código Penal: “Verifica-se a reincidência quando o agente comete

novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no

estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.” Assim, na hipótese

de haver a prática de crime após a de outros em relação aos quais a

sentença condenatória não transitara em julgado, não fica caracterizada

a reincidência. A prática desse delito posterior pode, no entanto, ser

considerada pelo julgador na primeira fase fixação da pena

(circunstâncias judiciais) a título de maus antecedentes. No entanto,

embora esse tenha sido o entendimento tradicional na doutrina e na

jurisprudência, mais recentemente tem-se entendido que nem como

maus antecedentes esses fatos praticados podem ser considerados. É

que, diante do princípio da presunção de inocência ou de não-

culpabilidade, previsto no artigo 5º, LVII da Constituição, não se pode

considerar como antecedente um fato não atestado de modo definitivo

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Page 13: comentários de 4 a 8 de março de 2013

em uma sentença condenatória. Nesse sentido, veja-se o que dispõe o

seguinte julgado:

(...) PENA-BASE - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS -

MAUS ANTECEDENTES - PROCESSOS EM CURSO E

PROCESSOS EXTINTOS PELA PRESCRIÇÃO DA

PRETENSÃO PUNITIVA - CONSIDERAÇÃO -

IMPROPRIEDADE. Conflita com o princípio da não-

culpabilidade - "ninguém será considerado culpado até o

trânsito em julgado de sentença penal condenatória"

(artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal) - evocar

processos em curso e outros extintos pela prescrição da

pretensão punitiva a título de circunstâncias judiciais

(artigo 59 do Código Penal), exacerbando a pena-base

com fundamento na configuração de maus antecedentes.

PENA-BASE - MAUS ANTECEDENTES -

INEXISTÊNCIA. Constatada a erronia na fixação da pena-

base, no que ocorrida a partir de processos extintos pela

prescrição da pretensão punitiva, ou ainda em curso, bem

como ausentes circunstâncias judiciais contempladas no

arcabouço normativo, impõe-se a observância da pena

mínima prevista para o tipo. (...) (STF -RHC 80071 RS.

Relator Min. Marco Aurélio. 2ª T. Publicação: DJ 02-

04-2004 PP-00027 EMENT VOL-02146-03 PP-

00679.) (negritos meus)

No caso em tela, o examinador seguiu o entendimento tradicional,

razão pela qual, há reincidência na sentença do crime de extorsão em

relação ao crime de furto e maus antecedentes em relação ao crime de

roubo.

Questão 62

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Page 14: comentários de 4 a 8 de março de 2013

Osíris, jovem universitária de Medicina, soube estar gestante. Todavia,

tratava-se de gravidez indesejada, e Osíris queria saber qual substância

deveria ingerir para interromper a gestação. Objetivando tal informação,

Osíris estimulou uma discussão em sala de aula sobre o aborto. O

professor de Osíris, então, bastante animado com o interesse dos alunos

sobre o assunto, passou também a emitir sua opinião, a qual era

claramente favorável ao aborto. Referido professor mencionou, naquele

momento, diversas substâncias capazes de provocar a interrupção

prematura da gravidez, inclusive fornecendo os nomes de inúmeros

remédios abortivos e indicando os que achava mais eficazes. Além disso,

também afirmou que as mulheres deveriam ter o direito de praticar aborto

sempre que achassem indesejável uma gestação.

Nesse sentido, considerando-se apenas os dados mencionados, é

correto afirmar que o professor de Osíris praticou

(A) a contravenção penal prevista no art. 20 do Decreto-Lei 3.688/41, que

dispõe: “anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar

aborto”.

(B) o crime previsto no art. 286 do Código Penal, que dispõe: “incitar,

publicamente, a prática de crime”.

(C) o crime previsto no art. 68 da Lei 8.078/90, que dispõe: “fazer ou

promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o

consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde

ou segurança”.

(D) fato atípico.

Resposta: (D)

Comentário: da questão se extrai que o professor não age com intenção

de incentivar a prática de crime. De outro giro, a conduta do professor

não configura nenhuma das condutas criminosas previstas nos itens

apresentados. O professor sequer anunciou “processo, substância ou

objeto destinado a provocar aborto” ao expressar sua opinião com

relação ao assunto, porquanto a discussão se deu no âmbito de exercício

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Page 15: comentários de 4 a 8 de março de 2013

do magistério, albergado ainda pela liberdade de expressão e de opinião

de jaez constitucional. Com efeito, o fato é atípico, nos termos da

alternativa (D).

Questão 63

Em relação ao cálculo da pena, é correto afirmar que

(A) a análise da reincidência precede à verificação dos maus

antecedentes, e eventual acréscimo de pena com base na reincidência

deve ser posterior à redução pela participação de menor importância.

(B) é defeso ao juiz fixar a pena intermediária em patamar acima do

máximo previsto, ainda que haja circunstância agravante a ser

considerada.

(C) o acréscimo de pena pela embriaguez preordenada deve se feito

posteriormente à redução pela confissão espontânea.

(D) é possível que o juiz, analisando as circunstâncias judiciais do art. 59

do Código Penal, fixe pena-base em patamar acima do máximo previsto.

Resposta: (B)

Comentário: o cálculo da pena obedece ao sistema trifásico nos termos

do artigo 68 do Código Penal (“A pena-base será fixada atendendo-se ao

critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as

circunstâncias atenuantes e agravantes. por último, as causas de

diminuição e de aumento.”) A transposição dos limites míninos e

máximos previstos nos preceitos secundários dos tipos penais só é

possível na 3ª fase, ou seja, quando da incidência de causa de aumento

ou de causa de diminuição.

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