comentário sobre a origem etimológica da hermenêutica
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COMENTÁRIO SOBRE A ORIGEM ETIMOLÓGICA DA HERMENÊUTICA
Sebastiana Inácio da Silva1
Nesse texto trabalharemos acerca da origem etimológica da hermenêutica a partir do
texto de Richard Palmer. Os termos hermeneuein e hermeneia, de acordo com Palmer são
comumente traduzidos por interpretar e interpretação. Para compreendermos a origem
etimológica da hermenêutica é necessário entender as origens e orientações significativas de
hermeneuein e hermeneia.
Para Palmer, a palavra grega hermeios fazia referência ao sacerdote do oráculo de
Delfos. O verbo Hermeneuein e o substantivo hermeneia no seu significado mais comum
estão associados ao deus-mensageiro-alado Hermes cujo nome é aparentemente derivado por
essas palavras, Também vale ressaltar que para Palmer é significativo que Hermes esteja
associado a uma função de transmutação, algo que está além da compreensão humana que se
transforma em algo que a inteligência é capaz de apreender.
Um dos pontos fundamentais no que se refere à significação de hermeneuein e
hermeneia é o trazer uma coisa ou situação da inteligibilidade à compreensão, além disso, os
gregos atribuíam a Hermes a descoberta da linguagem e da escrita. Essas duas são as
ferramentas que a compreensão humana utiliza para conhecer o significado das coisas e
transmitir aos outros. Para Palmer, se for até a raiz grega mais remota, a origem atual das
palavras hermenêutica e hermenêutico sugere o processo de compreensão (tornar
compreensível). Esse processo está agregado nas três vertentes do significado de hermeneuein
e hermeneia no seu antigo uso, que são: dizer, explicar e traduzir.
Para Palmer, hermeneuein como dizer relaciona-se com a função anunciadora de
Hermes, já do ponto de vista teológico tem significado uma polêmica no sentido etimológico,
por isso é orientado a usar a palavra interpretação como sendo uma forma de dizer. O autor
destaca a primeira orientação fundamental de hermeneuein como também o dizer no que se
refere a Homero no sentido de um intérprete no significado mais primitivo da palavra. A
segunda orientação significativa é explicar e, enfatiza o aspecto discursivo da compreensão, a
explicação é um complemento do dizer visto que, as palavras não se limitam a dizer algo, elas
explicam, racionalizam e clarificam algo. Já quanto à terceira orientação é o traduzir e é tão
sugestiva para a hermenêutica quanto às outras duas. A tradução é uma maneira especial de
1 Graduada em Licenciatura Plena em Filosofia pela UEPB
tornar compreensível o processo básico da interpretação e torna-nos conscientes da visão
globalizante da própria língua e da necessidade da sensibilidade do tradutor.
Segundo Palmer, as definições modernas de hermenêutica são seis e estão divididas da
seguinte forma: teológica, filológica, científica, psicológica e uma compreensão original e
cultural. Cada uma dessas definições indica um momento ou uma abordagem ao problema da
interpretação, um ponto de vista que embasa como a hermenêutica passa a ser vista.
A hermenêutica teológica é talvez o significado mais antigo e difundido da palavra
hermenêutica e tem haver com os princípios da interpretação bíblica. É possível perceber que
a hermenêutica se diferencia da exegese e enquanto metodologia da interpretação, ela é o
sistema que o intérprete tem para encontrar o significado oculto do texto.
No que se refere à hermenêutica como metodologia filológica, ela surgiu no século
XVIII com o desenvolvimento do racionalismo e o advento da filologia clássica, teria uma
ação profunda sobre a hermenêutica bíblica. E foi a partir daí que os intérpretes racionalistas
começaram a tentar ultrapassar antigos preconceitos, a interpretação das escrituras fez surgir
técnicas de análises gramaticais bastante polidas.
A hermenêutica científica é caracterizada por Schleiermacher como ciência ou arte da
compreensão. Ele procura ir além do conceito de hermenêutica como conjunto de regras e cria
uma hermenêutica sistemática coerente.
Sobre a hermenêutica como base metodológica para os (geisteswissenschaften) ou
psicológica, Dilthey viu na hermenêutica a matéria principal que embasa os
(geisteswissenschaften) e as disciplinas da compreensão da arte, comportamento e escrita do
homem. Ele defendia que a interpretação das expressões essenciais da vida humana implica
um ato de compreensão histórica em qualquer domínio que seja das ciências humanas.
Quanto à compreensão original e cultural da hermenêutica, compreensão nesse
contexto não se refere à ciência ou as regras da interpretação textual, mas a explicação
fenomenológica da existência humana. A hermenêutica heideggeriana é relacionada com as
dimensões ontológicas da compreensão e ao mesmo tempo com a fenomenologia de
Heidegger.
Concluímos falando acerca da hermenêutica no sentido cultural (um sistema de
interpretação: recuperação do sentido versus iconoclasta), Paul Ricoeur adota uma
hermenêutica centrada na exegese textual que considera o elemento distinto e central da
hermenêutica. O estudo de Ricoeur em De I’ Interprétation faz uma distinção entre símbolos
unívocos e equívocos. Em seguida, Palmer fala acerca da análise freudiana de hermenêutica
que, segundo ele é iconoclástica. O autor conclui o texto afirmando que, a filosofia hoje já se
centra na linguagem e já é de certa forma hermenêutica e, é necessário fazê-la criativamente
hermenêutica.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PALMER, Richard. Hermenêutica. Trad. Port. Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: 70,
1969.