apostila - hermenêutica

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O Mundo do Novo Testamento Os Livros do Novo Testamento

COMO UTILIZAR A APOSTILA?Voc est iniciando agora o estudo de uma matria importantssima que, sem dvida alguma, enriquecer o seu conhecimento teolgico e far brilhar em sua mente a luz do esclarecimento de pontos importantes da Palavra de Deus.

A apostila deste curso altamente didtica e voc no ter quase que nenhuma dificuldade para utiliz-la.

Este estudo dividido em vrias sees para facilitar a compreenso do assunto.

No final de cada seo voc encontrar uma planilha de exerccios para testar os conhecimentos que voc adquiriu. No deixe de responder os exerccios, pois eles lhe serviro como canais de memorizao e lhe mostraro o que voc j aprendeu sobre a matria.

No final da apostila colocamos as respostas de cada exerccio para que, aps respond-los, o aluno possa verificar e corrigir possveis erros. As respostas dos exerccios foram colocadas em ordem inversa para que o aluno no corra o risco de olhar as respostas de exerccios ainda no respondidos.

No olhe as respostas antecipadamente. Tente responder ainda que corra o risco de errar. Seja honesto consigo mesmo.

Errar faz parte do aprendizado!

Dedique ao menos 30 minutos por dia e voc ter um excelente desenvolvimento na matria.

Aps terminar o estudo, envie sua prova devidamente respondida para a sede da escola e, em seguida, estaremos lhe remetendo a prxima matria com esta prova devidamente corrigida por um de nossos professores.

Agradecemos por ter escolhido nossa escola e desejamos que voc tenha um bom aprendizado.

ndiceINTRODUO

.........................................3 I A IMPORTNCIA DA MATRIA

.........................................41) A HERMENUTICA ENTRE OS JUDEUS

....................................52) A HERMENUTICA NA IGREJA CRIST

....................................7EXERCCIOS

....................................11 II ORIENTAES PARA UM ESTUDO PRIOVEITOSO1) ESPRITO RESPEITOSO

....................................122) ESPRITO DCIL

....................................123) AMANTE DA VERDADE

....................................134) PACINCIA NO ESTUDO

....................................135) PRUDNCIA

....................................13 III REGRAS DE INTERPRETAO1) REGRA FUNDAMENTAL

....................................162) PRIMEIRA REGRA

....................................183) SEGUNDA REGRA

....................................194) TERCEIRA REGRA

....................................21EXERCCIOS

....................................245) QUARTA REGRA

....................................256) QUINTA REGRA

....................................27EXERCCIOS

....................................34 IV MTODOS LITERRIOS1) PROVRBIOS

....................................352) PARBOLAS

....................................353) ALEGORIAS

....................................40EXERCCIOS

....................................434) TIPOS

....................................445) PROFECIA

....................................47CONCLUSO

.........................................55EXERCCIOS

.....................................56BIBLIOGRAFIA

.........................................57CORREO

.........................................58INTRODUODisse Jesus: Examinai as Escrituras porque vs cuidais ter nelas a vida eterna e so elas que de mim testificam.(Joo 5:39)Essas foram as palavras do Senhor acerca do interesse que devemos ter pelas Escrituras Sagradas. Porm, como entender certas coisas na Bblia que so pertinentes cultura daquela poca a fim de aplic-la a nossa atualidade?Sem dvida alguma qualquer pessoa entenderia que para esta tarefa seria necessria uma ferramenta de auxlio. Pois bem, exatamente o que pretende a Hermenutica. A Hermenutica para o estudante da Bblia aquilo que as ferramentas o so para o construtor. Ela estabelece regras e princpios que possibilitam uma correta interpretao e compreenso dos textos bblicos.

Sem pretender esgotar o assunto, estaremos nesta pequena apostila, apresentando os seguintes pontos sobre a matria: A importncia da Hermenutica

Orientaes para um estudo proveitoso;

Regras de interpretao de textos

Mtodos literrios

I A IMPORTNCIA DA MATRIAPelo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensveis em paz e tende por salvao a longanimidade de nosso Senhor, como tambm o nosso amado irmo Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando disto, como em todas as suas epstolas, entre as quais h pontos difceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua prpria perdio. (2Pe.3:14-16)Desde o princpio da histria da Igreja pessoas que, embora paream estar bem intencionadas, tem produzido verdadeiras heresias no que diz respeito interpretao da Palavra de Deus. O apstolo Pedro reconheceu no texto supra citado que pessoas indoutas estavam cometendo erros de interpretao e torcendo as cartas de Paulo e tambm as outras Escrituras (Antigo Testamento) para a sua prpria perdio.A experincia demonstra que as heresias, que tanto prejuzo trazem a Igreja, tm sido formuladas por pessoas que ou no conhecem as Escrituras ou no se utilizam de mtodos de interpretao, que possibilitem, se no a perfeio, o mximo de preciso possvel na interpretao das Escrituras.

Talvez voc esteja se perguntando: Mas o que Hermenutica, afinal?. Hermenutica a Arte de Interpretar Textos, obedecendo a critrios bem definidos da crtica literria. A palavra hermenutica, do grego hermenevein, significa literalmente interpretar.

Qualquer ensinador ou pregador que ignorar esta matria estar sujeito a incorrer em erros gravssimos que podero, sem dvida alguma, trazer prejuzos tanto ele mesmo, quanto aos que o ouvirem.

No h livro mais perseguido pelos inimigos, nem livro mais torturado pelos amigos, que a Bblia, devido ignorncia da sadia regra de interpretao. Isto, irmos, no deve ser assim. Esta ddiva do cu no nos veio para que cada qual a use a seu prprio gosto, mutilando-a, tergiversando ou torcendo-a para nossa perdio.

A Hermenutica tem como tarefa principal indicar o meio pelo qual possvel determinar as diferenas de pensamento e atitude mental entre o autor duma determinada obra, no caso um livro bblico, e o leitor que a l. E a prpria Hermenutica quem nos conduz a posio de entender que isto s possvel quando o leitor consegue se transpor ao tempo e ao esprito do autor da obra que l. No que concerne ao estudo das Escrituras Sagradas, no bastam entender o que pensam os seus autores humanos; necessrio tambm entender a mente divina quanto ao propsito e mensagem do livro bblico em questo, uma vez que Deus o seu autor principal. Aqui jaz a importncia e a necessidade de um acurado estudo da Hermenutica.Portanto, extremamente necessrio que o cristo sincero e honesto com as verdades da palavra de Deus, seja um estudante e admirador da Hermenutica. A necessidade de se estudar esta matria jaz em dois motivos principais:1) Em virtude da queda, o pecado ofuscou a luz divina que estava no homem, interrompendo, assim, a capacidade que este tinha de reter a revelao original consigo. Desta maneira, impossvel ao homem conseguir uma correta interpretao das Escrituras sozinho, uma vez que ele inclinado para o erro;

2) As diferenas sociais, culturais, polticas e idiomticas dos autores bblicos, tornam obrigatrio o estudo da hermenutica para uma correta interpretao das Escrituras, pois, sem ela a Hermenutica seria impossvel contemporanizar as verdades contidas na Bblia.

1) A HERMENUTICA ENTRE OS JUDEUS universalmente sabido que a Bblia Sagrada, como literatura, uma obra proeminentemente judaica. Portanto, constitui-se de grande valor histrico o estudo dos mtodos de interpretao bblica usados pelos prprios judeus. a) Os Judeus PalestnicosOs judeus palestnicos (os escribas) devotavam o mais profundo respeito Bblia da sua poca (o Antigo Testamento) como a infalvel Palavra de Deus. Consideravam sagradas at mesmo as letras, e sabido que os seus copistas tinham inclusive o hbito de cont-las, a fim de evitar qualquer omisso no ato da transcrio. Era trplice a diviso das Escrituras no seu tempo: Lei, Profetas e Escritura. Eles tinham a Lei em mais alta estima do que os profetas e demais escritos que a compunham. Faziam clara distino entre o mero sentido literal da Bblia e a sua exposio exegtica.

O ponto negativo da Hermenutica destes judeus que ela exaltava a Lei Oral, consistindo de milhares de tradies verbais acumuladas ao longo dos sculos, e desprezava a Lei Escrita, por isso Jesus os condena em Marcos 7:13: invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradio, que vs ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas. Este mtodo arbitrrio de interpretao deu forma a muitos outros tipos de interpretao igualmente condenveis.b) Os Judeus AlexandrinosA interpretao bblica dos judeus alexandrinos era, de certa forma, determinada pela filosofia predominante na grande cidade de Alexandria, no Egito. Eles adotavam o princpio fundamental de Plato, segundo o qual ningum deve acreditar em algo que seja indigno de Deus. Desse modo, quando encontravam alguma coisa no Antigo Testamento que discordava da sua filosofia e ofendia a sua lgica, recorriam s interpretaes alegricas. Filo foi o principal mestre deste mtodo de interpretao entre os judeus. Para ele, a letra das Escrituras era apenas um smbolo de coisas mais profundas, portanto, o significado oculto das Escrituras era o que de mais importante havia.Negativamente, Filo diz que o sentido literal deve ser excludo quando o que ele afirma indigno de Deus, quando envolve contradio, quando a prpria Escritura alegoriza. Positivamente, o texto deve ser alegorizado quando as expresses so ambguas, quando existem palavras suprfluas, quando h repeties de fatos conhecidos, quando a expresso variada, quando h o emprego de sinnimos, quando possvel um jogo de palavras em qualquer das suas modalidades, quando as palavras admitem uma ligeira alterao, quando a expresso rara, quando existe algo de anormal quanto ao nmero e ao tempo gramatical. Essas regras naturalmente abriram caminho a toda espcie de erros de interpretao do texto sagrado entre os judeus alexandrinos.c) Os Judeus Caratas

A Seita dos judeus Caratas foi fundada por Anan Ben David, cerca do ano 800 da nossa era. Historicamente eles so descendentes espirituais dos saduceus. Representam um protesto contra o rabinismo, parcialmente influenciado pelo maometismo. Os caratas, cujo nome significa filhos da leitura, eram assim chamados porque seu princpio fundamental era considerar a Escritura como nica autoridade em matria de f. Isso significava por um lado, desprezo tradio oral e interpretao rabnica, e, por outro lado, um novo e cuidadoso estudo do texto da Escritura. A fim de combat-los, os rabinos iniciaram estudo semelhante, e o resultado deste conflito literrio foi o texto massortico. Sua exegese, como um todo, era mais correta do que a dos judeus palestinicos e alexandrinos.d) Os Judeus Cabalistas

O movimento cabalista do sculo XII era de natureza bem diferente dos at aqui estudados. Representava, de fato, um reduto absurdo do mtodo de interpretao das Escrituras. Admitiam que mesmo os versculos, as palavras, as letras, vogais e at mesmo os acentos das palavras da Lei, foram entregues a Moiss no Monte Sinai, e que o nmero de letras, cada letra de per si, a transposio e a substituio tinham poder especial e sobrenatural.e) Os Judeus Espanhis

No perodo que vai do sculo XII ao XV desenvolveu-se um mtodo mais sadio de interpretao das Escrituras entre os judeus da Espanha. Quando a exegese da Igreja Crist estava em situao de perigo, e o conhecimento do hebraico estava quase nulo, alguns judeus instrudos na Pennsula Perenaica restauraram o interesse por uma hermenutica bblica sadia. Algumas de suas interpretaes ainda hoje so citadas como fonte de referncia por estudiosos da Bblia nos tempos modernos.2) A HERMENUTICA NA IGREJA CRISTA fim de facilitar a compreenso do papel da Hermenutica Sagrada na Igreja Crist, dividiremos a sua atuao nas mais variadas pocas da sua histria:a) O Perodo PatrsticoNo perodo dos pais da igreja, o desenvolvimento dos princpios hermenuticos dependia dos trs principais centros de atividades da igreja da poca: Alexandria, no Egito; Antioquia, na Sria e o Ocidente.A escola de Alexandria

No comeo do terceiro sculo foi influenciada especialmente pela escola catequtica de Alexandria, principal centro cultural e religioso do Egito. Nessa culturalmente famosa cidade, a religio judaica e a filosofia grega se encontravam e mutuamente se influenciavam.Os principais representantes dessa escola foram Clemente e seu discpulo Orgenes. Ambos consideravam a Bblia como Palavra inspirada por Deus, em sentido estrito, e adotavam a opinio do seu tempo de que regras especiais deviam ser aplicadas na interpretao da revelao divina atravs da Escritura. No obstante reconhecerem o sentido literal da Bblia, eram da opinio de que somente a interpretao alegrica contribua para um conhecimento real dela.Clemente foi o primeiro a aplicar de forma efetiva o mtodo alegrico na interpretao do Antigo Testamento. Na sua opinio, o sentido literal da Escritura poderia originar apenas uma f elementar, enquanto que o sentido alegrico conduziria ao verdadeiro conhecimento. Mas foi a Orgenes, sem dvida o maior telogo do seu tempo, a quem coube pormenorizar a teoria da interpretao alegrica pontificada pelo seu mestre, Clemente.A escola de Antioquia

Supe-se que a escola catequtica de Antioquia tenha sido fundada por Doroteu e Lcio, no final do terceiro sculo, se bem que h quem considera Diodoro, primeiro presbtero de Antioquia, e depois de 378 d.C., bispo de Tarso, como o verdadeiro fundador da escola. Diodoro escreveu um tratado sobre princpios de interpretao bblica. O seu maior feito, porm, constitudo de dois discpulos seus Teodoro de Mopsustia e Joo Crisstomo.Apesar de discpulos dum mesmo mestre, Teodoro e Crisstomo, divergiam grandemente quanto interpretao da Bblia. O primeiro sustentou um ponto de vista liberal a respeito da Bblia, enquanto que o segundo a considerou em todas as suas partes como sendo a infalvel Palavra de Deus. A exegese de Teodoro era intelectual e dogmtica; a de Crisstomo, mais espiritual e prtica. Um se tornou famoso como crtico e intrprete; o outro, se bem que fosse um exegeta tambm habilidoso, suplantou todos os seus contemporneos como orador. Da porque Teodoro considerado O Exegeta, enquanto que Joo foi chamado de Crisstomo, que literalmente significa boca de ouro, por causa do esplendor de sua eloqncia. Eles avanaram no sentido de uma exegese verdadeiramente cientfica, reconhecendo, como o fizeram, a necessidade de determinar o sentido original da Bblia.A escola ocidentalA igreja do ocidente desenvolveu uma exegese que era um misto do que esposavam a escola de Alexandria e a de Antioquia. Seu aspecto mais caracterstico, entretanto, encontra-se no fato de haver acrescentado outro elemento que at ento ainda no havia sido considerado, a saber, a autoridade da tradio e da Igreja na interpretao da Bblia. Alm disto, atribuiu valor normativo ao ensino da Igreja no campo da Exegese. Esse tipo de exegese foi representada por quatro grandes mestres da igreja: Hilrio, Ambrsio, Jernimo e Agostinho, principalmente os dois ltimos.Jernimo lembrado pelo fato de haver traduzido a verso bblica chamada Vulgata. Conhecedor das lnguas originais da Bblia, seu trabalho no campo da interpretao bblica consiste principalmente de grande nmero de notas lingsticas, histricas e arqueolgicas. J Agostinho no pode ser lembrado como um exegeta da magnitude de Jernimo, visto que ele possua fraco conhecimento das lnguas originais. No entanto, lembrado como o grande sistematizador da doutrina crist. Era da opinio de que o intrprete das Escrituras devia estar preparado para a sua tarefa, tanto a filosfica como a crtica e histrica, e devia, acima de tudo, ter amor ao autor.b) O Perodo Medieval

Durante a idade mdia, muitos, e at mesmo muitos dos clrigos, viviam na mais profunda ignorncia quanto a Bblia. O pouco que dela conheciam era somente da Vulgata atravs dos escritos de alguns pais da igreja. Nessa poca, para a grande maioria dos chamados cristos a Bblia era considerada um livro de mistrios que s podia ser entendido misticamente. Nesse perodo, o qudruplo sentido da Escritura (literal, tropolgico, alegrico e analgico) era geralmente aceiro, e tornou-se princpio estabelecido que a interpretao bblica tinha de adaptar-se tradio e vontade dos lderes da Igreja. Interpretavam a Bblia partindo dos escritos dos pais da igreja. Para a cristandade dessa poca a Bblia dizia aquilo que os patriarcas da Igreja diziam. Hugo de So Vitor chegou a dizer: Aprende primeiro o que deves crer e ento vai a Bblia para encontrar a confirmao.Nenhum novo princpio hermenutico surgiu nesse tempo, e a exegese estava de mos e ps amarrados pela tradio e pela autoridade dos conclios. Esse estado de coisas se reflete de forma clara na literatura desse perodo negro da histria da Igreja.

c) O Perodo da Reforma

O perodo renascentista que preparou a Europa e o mundo para a Reforma Protestante, chamou a ateno para a necessidade de se estudar a Escritura recorrendo aos originais como forma de se achar o seu verdadeiro significado. Reuchlin e Erasmo, famosos estudiosos do Novo Testamento, foram os apstolos dessa poca urea da hermenutica. Ambos contriburam decisivamente para o estudo e a pesquisa das Escrituras, o primeiro, publicando uma gramtica e um dicionrio da lngua hebraica, enquanto que o ltimo, escreveu a primeira edio crtica do Novo Testamento Grego. O qudruplo sentido da Bblia foi gradualmente abandonado, para dar lugar ao princpio de que a Bblia deve ser interpretada apenas num sentido.Os reformadores tinham inabalvel crena de que a Bblia era a inspirada Palavra de Deus e, em certos aspectos, revelaram notvel liberdade no trato das Escrituras. Contra a infalibilidade dos conclios eles estabeleceram a infalibilidade das Escrituras.

Era posio dos reformadores de que no . a Igreja que determina o que as Escrituras ensinam; pelo contrrio, so as Escrituras que determinam o que a Igreja deve ensinar.Martinho Lutero defendeu o direito do juzo privado; salientou a necessidade de se considerar o contexto e as circunstncias histricas de cada livro; exigiu que o intrprete da Bblia tivesse intuio espiritual e f; e pretendeu encontrar Cristo em toda a Escritura. J Filipe Melanchton, fiel aliado de Lutero, seguiu o princpio de que as Escrituras devem ser entendidas gramaticalmente antes de serem entendidas teologicamente, e que a mesma tem apenas um simples e determinado sentido.Joo Calvino, considerado o maior exegeta da Reforma, considera como primeiro dever de um intrprete, permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invs de lhe atribuir o que pensamos que devia dizer.

d) O Perodo Confessional

Aps a reforma, teoricamente os protestantes conservavam o princpio segundo o qual A Escritura interpreta a Escritura. Mas, medida que se recusavam aceitar a interpretao bblica seguindo normas ditadas pela tradio, tal como havia sido determinado pelos conclios e papas, corriam o risco de ceder diante dos padres confessionais da Igreja. Nesse tempo, quase toda cidade importante tinha o seu credo favorito.Esse foi o perodo das grandes controvrsias doutrinrias. O protestantismo at ento coeso, comeou a se dividir em vrias faces, enquanto que a exegese se tornou serva da dogmtica, se degenerando em mera busca de textos-prova. Estudava-se a Escritura apenas buscando apoio s declaraes de f das Confisses da poca. interessante observar que a maior contribuio para hermenutica dessa poca, no encontrada nas tendncias da Igreja, mas na literatura dos movimentos da reao contra a mesma, dentre as quais se destacam a literatura dos Soncinianos, de Conccejus e dos Pietistas.

e) O Perodo Histrico-Crtico

Se o perodo anterior foi marcado por alguma oposio interpretao dogmtica da Bblia, no perodo ora considerado, o esprito de reao ganhou predominncia no campo da hermenutica. Divergentes pontos de vista foram expressos a respeito do texto sagrado, negando a inspirao verbal e a infalibilidade da Escritura. O elemento humano na Bblia foi reconhecido e enfatizado como nunca antes, e os que acreditavam tambm no elemento divino do livro sagrado, refletiam sobre a mtua relao entre o humano e o divino.O problema da inspirao da Bblia

Os principais telogos do perodo histrico-crtico, comeado no princpio do sculo XX, adotaram o ponto de vista de Le Clerk, segundo o qual a inspirao variava em graus nas diferentes partes da Bblia, admitindo a existncia de erros e imperfeies naquelas partes em que esta inspirao era de graus mais baixo. Dentre as teorias apresentadas nesse perodo que, infelizmente, ainda persistem at hoje, destacam-se as seguintes:

A Teoria da Inspirao Natural Humana. Ensina que a Bblia foi escrita por homens dotados de singular inteligncia;A Teoria da Inspirao Divina Comum. Ensina que a inspirao dos escritores da Bblia a mesma que hoje vem ao crente enquanto ele ora, prega, canta, ensina e anda em comunho com Deus, etc;A Teoria da Inspirao Parcial. Ensina que partes da Bblia so inspiradas, outras no. Ensina ainda que a Bblia no a Palavra de Deus, mas ela apenas contm a Palavra de Deus;

A Teoria do Ditado Verbal. Ensina que a inspirao da Bblia s quanto as palavras, no deixando lugar para a atividade do escritor;

A Teoria da Inspirao das Idias. Ensina que Deus inspirou as idias da Bblia, mas no as suas palavras; ficando estas a cargo dos respectivos escritores.

Alm disso, estabeleceu-se o princpio segundo o qual a Bblia devia ser interpretada como qualquer outro livro. Desse modo o elemento divino da Bblia foi paulatinamente menosprezado, e o intrprete se limitava discusso de questes histricas e crticas.A escola gramaticalEsta escola foi fundada por um telogo de nome Ernesti. Segundo a sua exegese a Escritura deve ser interpretada levando em considerao o seguinte: O sentido mltiplo da Escritura deve ser rejeitado, e somente deve ser conservado o sentido literal; As interpretaes alegricas devem ser abandonadas, exceto nos casos em que o autor indique o que deseja, a fim de combinar com o sentido literal;

Visto que a Bblia tem o sentido gramatical em comum com outros livros, isto deve ser considerado em ambos os casos;

O sentido literal no pode ser determinado por um suposto sentido dogmtico.A Escola Gramatical era essencialmente supernaturalista, prendendo-se s palavras do texto como legtima fonte de interpretao autntica da verdade religiosa.

A escola histricaA interpretao histrica da Bblia alcanou o seu apogeu na pessoa de Semler. Ele salientou o fato de que vrios livros da Bblia e o seu cnon em geral se originaram de modo histrico, e eram, portanto, historicamente condicionados. Partindo do fato de que os livros da Bblia foram escritos por homens provenientes dos mais diferentes nveis da nao judaica, concluiu que as Escrituras tm erros, cabendo ao estudante e intrprete detect-los.Pela maneira abusiva com que Semler se deu a este tipo de estudo, dando a ele exclusividade em detrimento de outros, em certo sentido tornou-se o pai do chamado Racionalismo Cristo.

EXERCCIOS DE HERMENUTICAI

*Responda as palavras cruzadas:

1) Tipo de pessoa que segundo Pedro distorcem as Escrituras.2) Significado literal da Palavra Hermenutica.3) Aquilo que os judeus palestinicos consideravam como tambm sendo sagrado nas Escrituras.4) Aquilo que, de certa forma, determinava a interpretao dos judeus alexandrinos.5) Grupo do qual os judeus caratas eram descendentes espirituais.6) Pas no qual os judeus desenvolveram um mtodo mais sadio de interpretao entre os sculos XII e XV da nossa era.7) Pai da Igreja que foi o primeiro a aplicar de forma efetiva o mtodo alegrico de interpretao do Antigo Testamento.8) Nome cujo significado literal boca de ouro.9) Exegeta conhecedor das lnguas originais da Bblia e autor da traduo Vulgata.10) O maior exegeta da poca da Reforma.7

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II ORIENTAO PARA UM ESTUDO PROVEITO DAS ESCRITURASAssim como para apreciar devidamente a poesia se necessita possuir um sentido especial para o belo e potico, e para o estudo da filosofia necessrio um esprito filosfico, assim da maior importncia uma disposio especial para o estudo proveitoso da Sagrada Escritura. Como poder uma pessoa irreverente, inconstante, impaciente e imprudente, estudar e interpretar devidamente um livro to profundo e altamente espiritual como a Bblia? Necessariamente, tal pessoa julgar o seu contedo como o cego s cores. Para o estudo e boa compreenso da Bblia necessita-se, pois, pelo menos, de um esprito respeitoso e dcil, amante da verdade, paciente no estudo e dotado de prudncia.Para que se possa ter um bom aprendizado das verdades sagradas contidas nas Escrituras, o estudante dever observar os seguintes pontos:

1) ESPRITO RESPEITOSO indispensvel ao estudante das Escrituras ter por elas um esprito respeitoso por que, por exemplo, um filho desrespeitoso, instvel e frvolo, que caso far dos conselhos, avisos e palavras de seu pai? A Bblia a revelao do Onipotente, o milagre permanente da soberana graa de Deus, o cdigo divino pelo qual seremos julgados no dia supremo, o Testamento selado com o sangue de Cristo. Porm, com tudo isso e ante tal maravilha, o homem irreverente se encontrar como o cego ante os sublimes Alpes da Sua, ou pior ainda; talvez seja como o insensato que joga lama sobre um monumento artstico que admirado por todo o mundo. Eis com que esprito, ao mesmo tempo reverente e humilde, contemplam a Palavra de Deus os primitivos cristos. Outra razo ainda temos ns - diz Paulo - para incessantemente dar graas a Deus: que, tendo vs recebido a palavra que de ns ouvistes, que de Deus, acolhestes no como palavras de homens, e, sim, como, em verdade , a palavra de Deus, a qual, com efeito, est operando eficazmente em vs, os que credes..

Receba-se assim a Escritura, com todo o respeito. E como diz o Senhor: O homem para quem olharei este: o aflito e abatido de esprito, e que treme da minha palavra. Estude-se em tal sentimento de humildade e reverncia, e se descobriro, como disse o Salmista, as maravilhas da tua lei. (1Ts.2:13; Is.66:2; Sl.119:18).2) ESPRITO DCILNecessita-se um esprito dcil para um estudo proveitoso e uma compreenso reta da Escritura, pois, que se aprender em qualquer estudo se falta a docilidade? pessoa obstinada e teimosa que intenta estudar a Bblia, lhe acontecer o que disse Paulo do homem natural: Ora, o homem natural no aceita as coisas do Esprito de Deus porque lhe so loucura; e no pode entend-las porque elas se discernem espiritual mente (1Co.2:14). Sacrifiquem-se, pois, as preocupaes, as opinies preconcebidas e idias favoritas e empreenda-se o estudo no esprito de dcil discpulo e tome-se por Mestre a Cristo. Sempre deve ter-se presente que a obscuridade e aparente contradio que se possam encontrar no residem no Mestre, nem em seu infalvel livro de texto, mas no pouco alcance do discpulo. Mas, se o nosso evangelho - diz o apstolo - ainda est encoberto, para os que se perdem que est encoberto, nos quais o deus deste sculo cegou os entendimentos dos incrdulos (2Co.4:3-4). Porm o discpulo humilde e dcil que abandona a este mestre que cega os entendimentos, adota a Cristo por Mestre, ver e entender a verdade, porque Deus promete guiar os humildes na justia, e ensinar aos mansos o seu caminho (Sl.25:9).

3) AMANTE DA VERDADE preciso ser amante da verdade, porque, quem cuidar de buscar com af e recolher o que no se aprecia e estima? De imperiosa necessidade, para o estudo da Escritura Sagrada, um corao desejoso de conhecer a verdade. E tenha-se presente que o homem por natureza no possui tal corao, antes, pelo contrrio, um corao que foge da verdade espiritual e abraa com freqncia o erro. A luz veio ao mundo - disse Jesus de si mesmo - e os homens amaram mais as trevas do que a luz. Ainda mais, disse ele mesmo que a aborreceram (Jo.3:19,20), e eis aqui por que em sua crescente cegueira passam do aborrecimento perseguio e da perseguio crucificao do Mestre.Despojando-vos, portanto, de toda maldade... - disse Pedro - desejai ardentemente, como crianas recm nascidas, o genuno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para salvao (1Pe.2:1,2). O que com este desejo o busca, esquadrinhando as Escrituras, tambm o achar. Porque ao tal o Pai da glria, vos concede esprito de sabedoria e de revelao no pleno conhecimento dele (Ef.1:17). Sim: A intimidade do Senhor para os que o temem, aos quais ele dar a conhecer a sua aliana (Sl.25:14).

4) PACINCIA NO ESTUDOTambm se deve ser paciente no estudo, pois, que vantagem leva qualquer pessoa impaciente, inconstante e mutvel em qualquer trabalho que empreenda? Para tudo necessria esta virtude. Ao dizer Jesus: Examinai as Escrituras, se serve duma palavra que mostra o mineiro que cava e revolve a terra, buscando com diligncia o metal precioso, ocupado numa obra que requer pacincia. As Escrituras, necessariamente, devem ser ricas em contedo e inesgotveis, como as entranhas da terra. Da mesma maneira, sem dvida, Deus props que em algumas partes fossem profundas e de difcil penetrao. Por outro lado, o fruto da pacincia deleitoso e quanto mais pacincia se tiver empregado para encontrar um tesouro, tanto mais se aprecia e tanto mais delcia produz. Leve-se, pois, ao estudo das Escrituras tanta pacincia como s coisas comuns da vida. Manifeste-se, alm disso, essa nobreza que caracterizava aos de Beria, dos quais diz a Escritura que eram mais nobres que os de Tessalnica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias (At.17:11), e se ver como este trabalho leva o prmio em si mesmo. Quo doces so as tuas palavras ao meu paladar! mais que o mel minha boca . . . Admirveis so os teus testemunhos . . . Alegro-me nas tuas promessas, como quem acha grandes despojos . . . Amo os teus mandamentos mais que o ouro, mais do que o ouro refinado (Sl.119:103, 129, 162, 127).

5) PRUDNCIAPara o estudo proveitoso das Escrituras necessita-se, ao menos, da prudncia de saber iniciar a leitura pelo mais simples e prosseguir para o mais difcil. fcil descobrir que o Novo Testamento mais simples que o Antigo, e que os evangelhos so mais simples que as cartas apostlicas. Ainda entre os evangelhos, os trs primeiros so mais simples que o quarto. Principie-se, pois, o estudo pelos trs primeiros. Em continuao ao terceiro pode-se ler, por exemplo, o livro de Atos, que de mais fcil compreenso que o evangelho segundo Joo, cujo contedo mais profundo.Numa palavra, tenha-se a prudncia de saber passar do simples para o difcil a fim de tirar proveito e no deixar o livro de lado por incompreensvel, como tm feito alguns imprudentes. Podem-se resumir todas estas disposies naquele trao caracterstico manifestado pelos discpulos de Jesus nos momentos em que no compreenderam suas palavras: Perguntaram-lhe pelo significado, pediram explicao. E lemos: Tudo, porm, explicava em particular aos seus prprios discpulos (Mc.4:34). Ento lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras (Lc.24:45). Seu exemplo, neste caso, alm de indicar as condies necessrias para o estudo proveitoso das Escrituras, oferece-nos a regra fundamental que se deve observar neste trabalho: a orao, a splica. Nunca se deve empreender o estudo sem haver pedido ao Mestre que abra o entendimento e aclare sua Palavra.A fonte de toda luz e sabedoria Deus, e diz a promessa: Se, porm, algum de vs necessita de sabedoria, pea-a a Deus ... e ser-lhe- concedida (Tg.1:5). Assim fazia Davi: Desvenda os meus olhos, ensina-me os teus decretos, d-me entendimento, porque medito nos teus testemunhos (Sl.119:18,26,34,37,99). E pde cantar o resultado de seu proceder, dizendo: Quo doces so as tuas palavras ao meu paladar! Compreendo mais que todos os meus mestres. (vs. 103 e 99). Siga-se seu exemplo e ser idntico o resultado.

OBSERVAES GERAIS EM RELAO LINGUAGEM BBLICA

Segue-se abaixo vrias orientaes teis com relao linguagem bblica:

Segundo o testemunho da prpria Escritura Sagrada, ela foi divinamente inspirada, til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Em uma palavra, a Escritura tem por objetivo fazer o homem sbio para a salvao pela f em Cristo Jesus (2Tm.3:15,16).Por isso esperamos, e esperamos com razo, que a Bblia fale com simplicidade e clareza.Efetivamente, lendo, por exemplo, o Novo Testamento, encontramos a cada passo em suas pginas os grandes princpios e deveres cristos expressos em linguagem simples e clara, evidente e palpvel. Em cada pgina ressalta a espiritualidade e santidade de Deus, ao mesmo tempo que a espiritualidade e o fervor demandam sua adorao. Em todas as partes nos pintada a queda e corrupo do homem e a conseqente necessidade de arrependimento e converso. Em todas as partes proclamada a remisso do pecado em nome de Cristo e a salvao por seus mritos; a vida eterna pela f em Jesus, e, ao mesmo tempo, a morte eterna pela falta de f no Salvador. A cada passo aparecem os deveres cristos em todas as circunstncias da vida e as promessas de ajuda do Esprito de Deus no combate contra a corrupo e o pecado. Estas verdades brilham como a luz do dia, de sorte que nem o leitor mais superficial e indiferente deixar de v-las.Porm, que sucede? O mesmo que em outros livros. No mais simples livro de escola primria, que se ocupa to-somente de coisas terrenas, encontram-se, por exemplo, palavras e passagens que o homem no compreende sem estudos.Seria, pois, estranho encontrar palavras e passagens de difcil compreenso nas Escrituras Sagradas, que em linguagem humana tratam de coisas divinas, espirituais e eternas? Se numa provncia da Espanha se usam figuras ou modos de expressar-se que em outra no se compreendem sem interpretao, seria estranho encontrar tais figuras e expresses nas Escrituras, que foram escritas em pases distantes e todos diferentes ao nosso? Se todo o escrito antigo oferece pontos obscuros, acaso seria estranho que os tivesse um livro inspirado por Deus a seus servos em diferentes pocas, faz j centenas e milhares de anos? Nada mais natural que contenham as Escrituras pontos obscuros, palavras e passagens que requerem estudo e cuidadosa interpretao.Recordemos aqui que unicamente em tais casos de dificuldade, e no quanto ao simples e claro, precisamos dos conselhos da hermenutica para que seja frutfero nosso estudo e correta nossa interpretao.Pois bem; suponhamos que nos vem um documento, testamento ou legado que nos interessa vivamente e que representa uma grande fortuna, porm em cujos detalhes ocorrem algumas palavras e expresses de difcil compreenso. Como e de que maneira faramos para conseguir o verdadeiro significado de tal documento? Seguramente pediramos, em primeiro lugar, explicao a seu autor, se isso fosse possvel.Porm se prometesse esclarecer-nos contanto que trabalhssemos, esquadrinhando-o ns mesmos, o mais natural e acertado seria, sem dvida, ler e reler o documento, tomando suas palavras e frases no sentido usual e comum. Quanto s palavras obscuras buscaramos, naturalmente, seu significado e aclarao, em primeiro lugar, pelas palavras prximas ou contguas s obscuras, isto , pelo conjunto da frase em que ocorrem.Porm, se ainda ficssemos sem luz, procuraramos a clareza pelo contexto, quer dizer, pelas frases anteriores e seguintes ao ponto obscuro, ou seja pelo fio ou tecido imediato narrao em que se encontra.Se no bastasse o contexto, consultaramos todo o pargrafo ou passagem, fixando-nos no objetivo, intento ou fim a que se dirige a passagem.E se ainda no obtivssemos a clareza desejada, buscaramos luz em outras partes do documento, para ver se haveria pargrafos ou frases semelhantes, porm mais explcitas, que se ocupassem do mesmo assunto que a expresso obscura que nos causa perplexidade.Em resumo, e de qualquer forma, procederamos de maneira que o prprio documento fosse seu intrprete, j que, levando-o a este ou quele advogado, contrariaramos a vontade do generoso autor e, afinal, correramos o risco de interessada e pouco escrupulosa interpretao.Tratando-se da interpretao da Sagrada Escritura, do duplo Testamento de Nosso Senhor, o procedimento indicado, alm de ser o mais natural e simples, o mais acertado e seguro, como a seguir veremos.

III REGRAS DE INTERPRETAO DE TEXTOSUma vez que j temos estudado as verdades fundamentais da Hermenutica, bem como a sua histria, passemos agora a conhec-la profundamente e descobrir como utiliz-la em nossos estudos.1) REGRA FUNDAMENTALPelo dito anteriormente, foi-nos possvel ver como apropriado e mais conveniente, que em qualquer documento de importncia em que se encontrem pontos obscuros se procure que ele seja seu prprio intrprete. Quanto Bblia, o procedimento sugerido no s conveniente e muito factvel, mas absolutamente necessrio e indispensvel.O quanto sabemos, o primeiro intrprete da Palavra de Deus foi o diabo, dando palavra divina um sentido que ela no tinha, falseando astutamente a verdade. Mais tarde, o mesmo inimigo, falseia o sentido da Palavra escrita, truncando-a, isto , citando a parte que lhe convinha e omitindo a outra.Os imitadores, conscientes e inconscientes, tm perpetuado este procedimento enganando a humanidade com falsas interpretaes das Escrituras. Vtimas, pois, de tais enganos e de to estupendos erros, que tm resultado em hecatombes e cataclismas, devemos j conhecer o suficiente dessa interpretao particular. E a ningum deve parecer estranho que insistamos em que a primeira e fundamental regra da correta interpretao bblica deve ser a j indicada, a saber: A Escritura explicada pela Escritura, ou seja: A Bblia interpreta a prpria Bblia.Ignorando ou violando este princpio simples e racional, temos encontrado, como dissemos, aparente apoio nas Escrituras para muitos erros. Fixando-se em palavras e versculos arrancados de seu conjunto e no permitindo Escritura explicar-se a si mesma, encontraram os judeus aparente apoio nela para rejeitar a Cristo. Procedendo do mesmo modo, encontram os papistas aparente apoio na Bblia para o erro do papado e das matanas com ele relacionadas, para no falar da Santa Inquisio e outros erros do mesmo estilo. Atuando assim, acham aparente apoio os espritas para sua errnea encarnao; os comunistas, para sua repartio dos bens; os incrdulos zombadores, para as contradies; os russelitas (Test. de Jeov), para seus erros e enganos, e, finalmente, os Wilson e Roosevelt, para seu militarismo. Se tivessem a sensatez de permitir Bblia que se explicasse a si mesma, evitariam erros funestos.Graas ao abuso apontado ouvimos dizer que com a Bblia se prova o que se quer. A m vontade, a incredulidade, a preguia em seu estudo; o apego a idias falsas e mundanas, e a ignorncia de toda regra de interpretao, provar o que se queira com a Bblia; porm jamais provar a Bblia o que os homens to mal dispostos querem. Tampouco provar nenhum douto de verdade, nem crentes humildes, qualquer coisa com a Escritura.Ao contrrio, porque o discpulo humilde e douto na Palavra sabe que a lei do Senhor perfeita e que no h erro na Palavra, mas no homem, ele sabe que no se tira e se pe, ou se acrescenta e se suprime impunemente Palavra, segundo o estilo satnico, porquanto Deus, mediante seu servo, fez constar: Se algum lhes fizer qualquer acrscimo, Deus lhe acrescentar os flagelos escritos neste livro; e se algum tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirar a sua parte da rvore da vida.

No, certamente a revelao divina, qual Lei perfeita, inspirada por Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra; tal revelao, dissemos, no se presta impunemente a tal abuso.Em vista de tais afirmativas e destas e outras restries, evidente que carece absolutamente de sano divina a interpretao particular do papismo que concede autoridade superior Palavra, interpretao dos pais da Igreja docente ou da infalibilidade papal, como carece tambm de dita sano a Idia da interpretao individual do protestantismo. Nenhuma profecia da Escritura provm de particular elucidao, disse Pedro; e Jesus nos exorta a examinar as Escrituras para achar a verdade, e no a Interpretar as Escrituras para estabelecer a verdade a nosso arbtrio.Nada de estranho tem, pois, que nos eminentes escritores da antiguidade encontremos afirmaes como estas: As Escrituras so seu melhor intrprete. Compreenders a Palavra de Deus melhor que de outro modo, comparando uma parte com outra, comparando o espiritual com o espiritual (1Co.2:13). O que equivale a usar a Escritura de tal modo que venha a ser ela seu prprio intrprete.Se por uma parte, arrancando versculos de seu conjunto e citando frases soltas em apoio de idias preconcebidas, possvel construir doutrinas chamadas bblicas, que no so ensinos das Escrituras, mas antes doutrinas de demnios, por outra parte, explicando a Escritura pela Escritura, usando a Bblia como intrprete de si mesma, no s se adquire o verdadeiro sentido das palavras e textos determinados, mas tambm a certeza de todas as doutrinas crists, quanto f e moral. Tenha-se sempre presente que no se pode considerar de todo bblica uma doutrina antes de resumir e encerrar tudo quanto a Escritura diz da mesma. Um dever tambm no de todo bblico se no resume todos os ensinos, prescries e reservas que contm a Pa lavra de Deus em relao ao mesmo. Como se pronuncia em processos penais: No se pronuncia sentena antes de haver ouvido as partes. Porm cometem o delito de falhar antes de haver examinado as partes todos aqueles que estabelecem doutrinas sobre palavras ou versculos extrados do conjunto, sem permitir Escritura explicar-se a si mesma. Igual falta cometem os que do mesmo modo procedem e falam de contradies e ensinos imorais.Por conseguinte, de suma necessidade observar a referida regra das regras, a saber: A Bblia interpreta a prpria Bblia, se no quisermos incorrer em erros e atrair sobre ns a maldio que a prpria Escritura pronuncia contra os falsificadores da Palavra. Dissemos regra das regras, porque desta, que fundamental, se desprendem outras vrias que, como veremos, dela nascem naturalmente.

2) PRIMEIRA REGRAComo j dissemos, os escritores das Sagradas Escrituras escreveram, naturalmente, com o objetivo de se fazerem compreender. E, por conseguinte, deveriam valer-se de palavras conhecidas e deveriam us-las no sentido que geralmente tinham. Averiguar e determinar qual seja este sentido usual e ordinrio deve constituir, portanto, o primeiro cuidado na interpretao ou correta compreenso das Escrituras.Ser preciso repetir aqui, para maior aproveitamento, alm do auxlio divino, que em tal averiguao h modos de proceder que nenhum leitor da Bblia deve ignorar, sendo sempre necessrio ter em conta o princpio fundamental que o Livro h de ser seu prprio intrprete, de cujo princpio se deduzem outros, que chamamos regras ou pautas de interpretao.Destas diz assim a primeira: preciso, o quanto seja possvel, tomar as palavras em seu sentido usual e comum.Regra sumamente natural e simples, porm da maior importncia. Pois, ignorando ou violando-a, em muitas partes da Escritura no ter outro sentido que aquele que queira conceder-lhe o capricho humano. Por exemplo, houve quem imaginasse que as ovelhas e os bois que menciona o Salmo 8 eram os crentes, enquanto as aves e os peixes eram os incrdulos, donde se conclua, em conseqncia, que todos os homens, queiram ou no, esto submetidos ao poder de Cristo. Se tivesse sido levado em conta o sentido usual e comum das palavras, no teria cado em semelhante erro.Porm, tenha-se sempre presente que o sentido usual e comum no equivale sempre ao sentido literal. Em outras palavras, o dever de tomar as palavras e frases em seu sentido comum e natural no significa que sempre devem tomar-se ao p da letra. Como se sabe, cada idioma tem seus modos prprios e peculiares de expresso, e to singulares, que se for traduzido ao p da letra, perde-se ou destrudo completamente o sentido real e verdadeiro. Esta circunstncia se deve, talvez, ter mais presente ao tratar-se da linguagem das Escrituras, do que de outro livro qualquer, por estar sumamente cheio de tais modos e expresses prprias e peculiares.Os escritores sagrados no se dirigem a certa classe de pessoas privilegiadas, mas ao povo em geral; e, por conseguinte, no se servem de uma linguagem cientfica ou seca, mas figurada e popular. A estas circunstncias se devem a liberdade, variedade e vigor que observamos em sua linguagem. A elas se deve seu abundante uso de toda ordem de figuras retricas, smiles, parbolas ou expresses, simblicas. Alm do citado, ocorrem muitas expresses peculiares do idioma hebreu chamadas hebrasmos. Precisamos ter isso tudo presente para podermos determinar qual seja o verdadeiro sentido usual e comum das palavras e frases.Exemplos: Em Gnesis 6:12, lemos: Porque toda carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra (verso revista e corrigida). Tomando aqui as palavras carne e caminho em sentido literal, o texto perde o significado por completo. Porm tomando em seu sentido comum, usando-se como figuras, isto , carne em sentido de pessoa e caminho no sentido de costumes, modo de proceder ou religio, j no s tem significado, mas um significado terminante, dizendo-nos que toda pessoa havia corrompido seus costumes; a mesma verdade que nos declara Paulo, sem figura, dizendo: No h quem faa o bem (Rm.3:12).Pergunta Jesus: Qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, no acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente at encontr-la? Neste versculo, tomado ao p da letra, embora nos apresente uma pergunta interessante, estamos longe de compreender a verdade que encerra. Porm, sabendo que contm uma parbola, cujas partes principais e figuradas requerem interpretao e designam realidades correspondentes s figuras, no vemos aqui j agora uma pergunta interessante, mas uma mulher que representa a Cristo; um trabalho laborioso que representa um trabalho semelhante que Cristo est levando a cabo; e uma moeda perdida representa o homem perdido no pecado; tudo isto expondo e ilustrando admiravelmente a mesma verdade que expressa Cristo sem parbola, dizendo: Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido (Lc.19:10).Profetizando a respeito de Jesus, disse Zacanas (Lc.1:69) e nos suscitou plena e poderosa salvao na casa de Davi. Dificilmente extrairemos daqui alguma coisa clara se tomarmos a palavra casa em sentido literal. Porm, sabendo que, como smbolo e figura, casa ordinariamente significa famlia ou descendncia, j no estamos s escuras: a se nos diz que Deus levantou uma poderosa salvao entre os descendentes de Davi, como tambm disse Pedro: Deus, porm ... o exaltou (a Cristo) a Prncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remisso dos pecados (At.5:31).Disse Jesus (Lc.14:26): Se algum vem a mim, e no aborrece a seu pai, e me ... no pode ser meu discpulo; ora, tomado ao p da letra, isso constitui uma contradio ao preceito de amar at aos inimigos. Porm, lembrando-nos do hebrasmo, pelo qual se expressam s vezes as comparaes e preferncias entre duas pessoas ou coisas, com palavras to enrgicas como amar e aborrecer, j no s desaparece a contradio, mas compreendemos o verdadeiro sentido do texto, sentido que sem hebrasmo Jesus mesmo o expressa, dizendo: Quem ama seu pai e sua me mais do que a mim, no digno de mim (Mt.10:37).Pelos exemplos citados pode-se compreender a grande necessidade de nos familiarizarmos com as figuras e modos prprios e peculiares da linguagem bblica. Esta familiaridade se adquire, desde logo, por um estudo da prpria Escritura. Porm, para consegui-la com maior brevidade, conviria ter um breve tratado especial.

3) SEGUNDA REGRANa linguagem bblica, como em outra qualquer, existem palavras que variam muito em seu significado, segundo o sentido da frase ou argumento em que ocorrem. Importa, pois, averiguar e determinar sempre qual seja o pensamento especial que o escritor se prope expressar, e assim, tomando por guia este pensamento, poder-se- determinar o sentido positivo da palavra que apresenta dificuldade. Portanto, a segunda e tambm importante regra da Hermenutica a seguinte: As palavras devem ser tomadas no sentido que indica o conjunto da frase.Dos exemplos que oferecemos a seguir, ver-se- como varia, segundo a frase, texto ou versculo, o significado de algumas palavras muito importantes, acentuando assim a importncia desta regra.

Exemplos: F: A palavra f, ordinariamente significa confiana; mas tambm tem outras acepes. Lemos de Paulo, por exemplo: Agora prega a f que outrora procurava destruir (Gl.1:23). Do conjunto desta frase vimos claramente que a f, aqui, significa crena, ou seja, a doutrina do Evangelho. Mas aquele que tem dvidas, condenado, se comer, porque o que faz no provm de f; e tudo o que no provm de f pecado (Rm.14:23). Pelo conjunto do versculo, e tudo considerado, verificamos que a palavra aqui ocorre no sentido de convico; convico do dever cristo para com os irmos.Salvao, Salvar: Estas palavras so usadas freqentemente no sentido de salvao do pecado com suas conseqncias; tm, porm, outros significados. Lemos, por exemplo, que Moiss cuidava que seus irmos entenderiam que Deus os queria salvar, por intermdio dele (At.7:25). Guiados pelo conjunto do versculo, compreendemos que aqui ocorre a palavra salvar no sentido de liberdade temporal. A nossa salvao est agora mais perto do que quando no princpio cremos (Rm.13:11). Salvao aqui equivale vinda de Cristo. Como escaparemos ns, se negligenciarmos to grande salvao? (Hb.2:3). Considerando o conjunto, salvao aqui quer dizer toda a revelao do Evangelho.Graa: O significado comum da palavra graa favor; porm se usa tambm em outros sentidos. Lemos, por exemplo: Pela graa sois salvos, mediante a f; e isto no vem de vs, dom de Deus, etc. (Ef.2:8). Pelo conjunto deste versculo se v claramente que graa significa a pura misericrdia e bondade de Deus manifestadas aos crentes sem mrito nenhum da parte deles. Falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graa (At.14:3) significando, a pregao do Evangelho. Esperai inteiramente na graa que vos est sendo trazida na revelao de Jesus Cristo (1Pe.1:13). O conjunto nos diz aqui que a graa equivale bem-aventurana que trar em sua vinda. A graa de Deus se manifestou salvadora a todos os homens (Tt.2:11). A graa aqui se usa no sentido do ensino do Evangelho. O que vale estar o corao confirmado com graa, e no com alimentos (Hb.13:9). Considerando todo o conjunto, graa, neste texto, equivale s doutrinas do Evangelho, em oposio s que tratam de alimentos relacionados com as prticas judaicas.Carne: E vos darei corao de carne (Ez.36:26), isto uma disposio terna e dcil. Andamos outrora, segundo as Inclinaes da nossa carne (Ef.2:3), significa, nossos desejos sensuais. Aquele que foi manifestado na carne (1Tim.3:16), a saber em forma humana. Tendo comeado no Esprito, estejais agora vos aperfeioando na carne? (Gl.3:3), quer dizer, por observar cerimnias judaicas, como a circunciso, que se faz na carne.Sangue: Falando de crucificar a Cristo, disseram os judeus: Caia sobre ns o seu sangue, e sobre nossos filhos! (Mt.27:25). Guiados por nossa regra vimos que sangue, aqui, ocorre no sentido de culpa e suas conseqncias, por matar um inocente. Temos a redeno, pelo seu sangue (Ef.1:7); Sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira (Rm.5:9). O conjunto das frases torna evidente que a palavra sangue aqui equivale morte expiatria de Cristo na cruz.Como facilmente se compreende, esta regra tem importncia especial quando se trata de determinar se as palavras devem ser tomadas no sentido literal ou figurado. Para no incorrer em erros, de grande importncia, neste caso tambm, deixar-se guiar pelo pensamento do escritor e tomar as palavras no sentido que o conjunto do versculo indica.

Exemplos: Tomou Jesus um po, e abenoando-o, o partiu e o deu aos discpulos, dizendo: Tomai, comei; isto o meu corpo (Mt.26:26). Guiados pelo conjunto deste versculo, torna-se evidente que a palavra corpo aqui no se usa no sentido literal, mas figurado; porquanto Jesus partiu po e no seu prprio corpo, e porquanto ele mesmo, santo e inteiro, lhes deu o po, e no parte de sua carne. Usa, pois, Jesus, a palavra em sentido simblico, dando-lhes a compreender que o po representa seu corpo.Diz Cristo a Pedro: Dar-te-ei as chaves do reino dos cus (Mt.16:19). Pelo conjunto desta frase vemos claramente que chaves no se usa no sentido literal ou material, posto que o reino dos cus no um lugar terreno onde se penetra mediante chaves materiais. Deve-se, pois, tomar em sentido figurado, simbolizando as chaves, autoridade; a autoridade de ligar e desligar ou perdoar e reter pecados, que em outra ocasio tambm deu aos demais discpulos (Jo.20:23; veja Mt.18:18).Poder-se-iam multiplicar exemplos como estes, porm bastam os j mencionados, para termos uma idia do uso desta regra e da grande necessidade de ler com ateno as Escrituras.

4) TERCEIRA REGRAA terceira diz: necessrio tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versculos que precedem e seguem ao texto que se estuda.s vezes sucede que no basta o conjunto de uma frase para determinar qual o verdadeiro significado de certas palavras. Portanto, e em tal caso, devemos comear mais acima a leitura e continu-la at mais abaixo, para levar em conta o que precede e segue expresso obscura e, procedendo assim, encontrar-se- clareza no contexto por diferentes circunstncias.Exemplos: No contexto achamos expresses, versculos ou exemplos que nos esclarecem e definem o significado da palavra obscura. Ao dizer Paulo: quando lerdes, podeis compreender o meu discernimento no mistrio de Cristo (Ef.3:4), ficamos um tanto indecisos com respeito ao verdadeiro significado da palavra mistrio. Porm, pelos versculos anteriores e posteriores, verificamos que a palavra mistrio se aplica aqui participao dos gentios nos benefcios do Evangelho. Encontra-se a mesma palavra em sentido diferente em outras passagens, sendo necessrio, em cada caso, o contexto para determinar o significado exato.Quando ramos menores, estvamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo (Gl.4:3,9-11). Que so os rudimentos do mundo? O que vem depois da palavra nos explica que so prticas de costumes judaicos. Este vocbulo tambm usado noutro sentido, determinando o contexto sua correta interpretao.s vezes encontra-se uma palavra obscura aclarada no contexto por sinnimo ou ainda por palavra oposta e contrria obscura. Assim que, por exemplo, a palavra aliana (Gl.3:17), se explica pelo vocbulo promessa que aparece no final do mesmo versculo. Assim tambm acham sua explicao as palavras difceis, radicados e edificados pela expresso confirmados na f que vem logo em seguida s mesmas (Cl.2:7). O salrio do pecado a morte, diz o apstolo Paulo. O sentido profundo desta expresso faz ressaltar de uma maneira viva a expresso oposta que a segue: mas o dom gratuito de Deus a vida eterna (Rm.6:23). Outro tanto sucede em relao f, quando Joo diz: quem cr no Filho tem a vida eterna, pintando ao vivo a palavra crer pela expresso oposta: o que, todavia, se mantm rebelde contra o Filho no ver a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (Jo.3:36).s vezes, uma palavra que expressa uma idia geral e absoluta, deve ser tomada num sentido restritivo, segundo determine alguma circunstncia especial do contexto, ou melhor, o conjunto das declaraes das Escrituras em assuntos de doutrina. Quando Davi, por exemplo, exclama: Julga-me, Senhor, segundo a minha retido, e segundo a integridade que h em mim, o contexto nos faz compreender que Davi s proclama sua retido e integridade em oposio s calnias que Cuxe, o benjamita, levantara contra ele (Sl.7:8). Tratando-se do administrador infiel, temos indicada sua conduta como digna de imitao; porm, pelo contexto vemos limitado o exemplo apenas prudncia do administrador, com excluso total de seu procedimento desonesto (Lc.16:1-13). Falando Jesus do cego de nascimento, disse: Nem ele pecou, nem seus pais, com o que de nenhum modo afirma Jesus que no houvessem pecado; pois existe no contexto uma circunstncia que limita o sentido da frase a que no haviam pecado para que sofresse de cegueira como conseqncia, segundo erroneamente pensavam os discpulos. (Jo.9:3). Ao ordenar Tiago no cap. 5:14, que o enfermo chame os presbteros da igreja, e estes faam orao sobre ele, ungindo-o com leo, entendemos pelo contexto que se trata da cura do corpo e no da sade da alma, como pretendem os romanistas que, deixando de lado o contexto, como de costume, imaginam encontrar aqui apoio para a extrema-uno.Advertncias. Tratando-se do contexto, preciso advertir que s vezes se rompe o fio do argumento ou narrao por um parnteses mais ou menos longo, depois do qual volta ao assunto. Se o parnteses curto, no h dificuldade; porm se longo, como sucede seguidamente nas epstolas de Paulo, requer particular ateno. Em Efsios 3, por exemplo, encontramos um parnteses que vai desde o verso 2 at o ltimo, reatando o fio do assunto no primeiro versculo do cap. 4. Vejam-se outros exemplos em Filipenses 1:27 at 2:16; Rom. 2:13, at 16; Efsios. 2:14, at 18, etc., e note-se que a palavra porque aqui, em lugar de introduzir, como de costume, uma razo determinada do por qu de alguma coisa, serve para introduzir um parnteses. Por outra parte, devemos recordar que os originais das Escrituras no tm a diviso em captulos e versculos; assim que o contexto no se encontra sempre dentro dos limites do captulo que meditamos, nem tampouco acaba sempre o fio de um argumento ou de uma narrao com o fim do captulo. preciso ter isso em conta.Por ltimo, no se esquea que, s vezes, to-somente pelo contexto se pode determinar se uma expresso deve ser tomada ao p da letra ou em sentido figurado. Chamando Jesus ao vinho de sangue da aliana, compreendemos pelo contexto que a palavra sangue deve ser tomada em sentido figurado, desde o momento que Jesus, no dito contexto, volta a chamar ao vinho de fruto da videira, embora o tivesse abenoado. Da vemos, alm disso, que no vem de Jesus o ensino da transformao do vinho em sangue verdadeiro de Cristo, como pretendem os que fazem caso omisso do contexto, torcendo as Escrituras para sua perdio (Mt.26:27,29). Havendo dito Jesus: Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna e minha carne verdadeira comida, e o meu sangue verdadeira bebida, etc., os discpulos ficaram assombrados e comearam a murmurar; dessa circunstncia devemos esperar no contexto alguma explicao, se devemos tomar em sentido material ou espiritual estas declaraes. Efetivamente lemos: O esprito (o sentido espiritual das palavras ditas) o que vivifica; a carne (o sentido carnal) para nada aproveita. Comer a carne e beber o sangue equivale, pois, a apropriar-se pela f do sacrifcio de Cristo na cruz, do que, como se sabe, resulta a vida eterna do crente (Jo.6:48-63).Falando Paulo de edificar, se o que algum edifica sobre o fundamento ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, vemos pelo contexto que fala do prprio Cristo como o fundamento do edifcio, devendo-se tomar estas palavras no sentido espiritual, representando, sem dvida, doutrinas legtimas e falsas com suas conseqncias. (1Co.3:12). A expresso: Ser salvo, todavia, como que atravs do fogo, explica-se a si mesma pelo contexto, o qual nos ensina que no se trata de salvar uma alma qualquer, mas a servos de Deus, e que no fogo que se atia em suas pessoas, mas em sua infortunada construo de material, qual feno e palha; alm disso, que no um fogo purificador, mas destruidor, a saber, o fogo do escrutnio rigoroso no dia da manifestao de Cristo; estes cooperadores de Deus salvar-se-o, pois, no sentido de um construtor que, na catstrofe do incndio do edifcio que est levantando, pde escapar, sim, porm perdendo tudo, exceto a vida. O que significa a mesma expresso, dizendo: ser salvo, no mediante a permanncia no fogo, mas como que atravs do fogo. S os cegos ao contexto podem sonhar com o purgatrio nesta passagem (1Co.3:5-15).Dizendo Paulo que a unio entre Cristo e a Igreja to ntima, que somos membros de seu corpo, de sua carne e de seus ossos, e que deve reinar unio to estreita como entre marido e esposa, continua: Grande este mistrio. Que mistrio? O contexto o explica em continuao: mas eu me refiro a Cristo e igreja (Ef.5:32). A unio ntima entre Cristo e sua Igreja , pois, o mistrio, e no a unio entre marido e mulher, que, por certo, no nenhum mistrio. Porm, os romanistas no s fazem um arranjo com o contexto, mas ainda traduzem a expresso assim: Grande este sacramento, acrescentando em nota explicativa que a unio do marido com a mulher um grande sacramento. Deste modo, traduzindo mal e interpretando pior, encontram aqui o fundamento para o que chamam o sacramento do matrimnio.O que acima foi dito basta para compreender a necessidade de ter em conta o contexto a fim de decidir se determinadas expresses devem ser tomadas ao p da letra ou em sentido figurado.

EXERCCIOS DE HERMENUTICA

II

1) Uma das orientaes ao estudante das Escrituras que ele tenha, com relao Bblia:

( ) Um esprito mstico

( ) Um esprito audacioso

( ) Um esprito respeitoso

2) Ao estudante das escrituras tambm necessrio ser:

( ) Amante da verdade

( ) Amante da mentira

( ) Amante do prazer

3) Complete a frase:

O estudante das Escrituras tambm deve ser

, pois que vantagem leva qualquer pessoa impaciente, inconstante e mutvel em qualquer trabalho que empreenda?

4) A prudncia no estudo da Palavra de Deus leva-nos a:

( ) Iniciar o estudo pelo mais difcil e depois ir ao mais fcil

( ) Iniciar o estudo pelo mais fcil e depois ir ao mais difcil

5) Com relao linguagem bblica, devemos sempre esperar que:

( ) Ela fale com simplicidade e clareza

( ) Ela fale com muita dificuldade

( ) Ela fale com muita iluso

6) Embora as Escrituras usem linguagem de fcil compreenso, devido ao fator de ela tratar de coisas divinas, espirituais e eternas, no seria estranho:

( ) Encontrar passagens de difcil compreenso

( ) Encontrar passagens de impossvel compreenso

( ) Encontrar passagens de fcil compreenso

7) Em se tratando de interpretao bblica, a regra fundamenta :

( ) A Bblia interpreta a prpria Bblia

( ) A Bblia no pode ser interpretada

( ) A Bblia s interpretada por Deus

8) Ao tomar as palavras em seu sentido usual e comum na interpretao da Bblia, estamos:

( ) Fazendo uso da 5 regra da Hermenutica

( ) Fazendo uso da 2 regra da Hermenutica

( ) Fazendo uso da 1 regra da Hermenutica

9) Aquilo que determina o sentido da frase :

( ) O Contexto

( ) O Texto

( ) O Anti-texto

10) Ao analisar o contexto devemos ter cuidado:

( ) Com os parnteses

( ) Com as coisas lgicas

( ) Com as regras

5) QUARTA REGRAA quarta regra de interpretao diz: preciso tomar em considerao o objetivo ou desgnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expresses obscuras.Esta regra, como se v, no mais do que a ampliao das anteriores em caso de no oferecer suficiente luz, nem o conjunto da frase, nem o contexto, para remover a dificuldade e dissipar toda dvida.O objetivo ou desgnio de um livro ou passagem se adquire, sobretudo, lendo-o e estudando-o com ateno e repetidas vezes, tendo em conta em que ocasio e a que pessoas originalmente foi escrito. Em outros casos consta o desgnio no livro ou passagem mesmo, como por exemplo, o de toda a Bblia, em Rm.15:4; 2Tm.3:16,17; o dos Evangelhos, em Joo 20:31; o de 2 Pedro no cap. 3:2, e o de Provrbios no captulo 1:1,4.O desgnio alcanado pelo estudo diligente nos oferece auxlio admirvel para a explicao de pontos obscuros, para a aclarao de textos que parecem contraditrios e para conseguir um conhecimento mais profundo de passagens em si claras.Exemplos: evidente que as cartas aos Glatas e aos Colossenses foram escritas na ocasio dos erros que, com grande dano, os judaizantes ou falsos mestres procuravam implantar nas igrejas apostlicas. Por conseguinte, estas cartas tm por desgnio expor com toda clareza a salvao pela morte expiatria de Cristo, contrariamente aos ensinos dos judaizantes, que pregavam as obras, a observncia de dias e cerimnias judaicas, a disciplina do corpo e a falsa filosofia. A cada passo encontraremos luz no estudo destas cartas para a melhor compreenso de passagens, embora claras, em si mesmas, se temos esse desgnio sempre presente. Leremos ao mesmo tempo com mais entendimento, por exemplo, os Salmos 3, 18, 34 e 51, levando-se em conta em que ocasio foram escritos, coisa que consta em seu respectivo encabeamento. Outro tanto dizemos dos Salmos 120 at 134, intitulados Cntico dos degraus, se tivermos presente que foram escritos para serem cantados pelos judeus em suas viagens anuais a Jerusalm.Eis aqui a luz que oferece o desgnio para a explicao de um ponto obscuro, desgnio adquirido tendo em conta a condio de uma pessoa qual se dirige Jesus. Ao perguntar-lhe um prncipe, cegado por justia prpria, que bem deveria fazer para obter a vida eterna (Mt.19:16; Lc.18:18), Jesus lhe respondeu: Guarda os mandamentos. O que ser que Jesus queria ensinar-lhe com esta resposta? Que o meio de salvao a observncia do Declogo? Certamente que no, desde o momento que Jesus mesmo e as Escrituras em todas as partes ensinam que a vida eterna se adquire unicamente pela f no Salvador. Como explicar, pois, que Jesus lhe desse tal resposta? Tudo fica claro e desaparece toda a dvida, se tivermos em conta com que desgnio Jesus lhe fala. Pois, evidentemente, seu objetivo foi valer-se da mesma lei e do mandamento novo de vender tudo o que possua para tirar o pobre cego de sua iluso e lev-lo ao conhecimento de suas faltas para com a lei divina e conseqente humilhao, o que tambm conseguiu, fazendo-o compreender que no passava de um pobre idlatra de suas riquezas, que nem mesmo o primeiro mandamento da lei havia cumprido. O desgnio de Jesus, neste caso, foi o de usar a lei como aio, como disse o Apstolo, para conduzir o pecador verdadeira fonte de salvao, porm no como meio de salvao, e por isso que lhe indica os mandamentos.

Vejamos como, tendo em considerao o desgnio, desaparecem as aparentes contradies. Quando Paulo disse que o homem justificado (declarado sem culpa) pela f sem as obras, enquanto Tiago afirma que o homem justificado pelas obras e no somente pela f, desaparece a aparente contradio no momento que levamos em conta o desgnio diferente que levam as cartas de um e de outro. (Rm.3:28 e Tg.2:24). Paulo combate e refuta o erro dos que confiavam nas obras da lei mosaica como meio da justificao, rechaando a f em Cristo; Tiago combate o erro de alguns desordenados que se contentavam com uma f imaginria, descuidando e rechaando as boas obras. Dai que Paulo trata da justificao pessoal diante de Deus, enquanto Tiago se ocupa da justificao pelas obras diante dos homens. O ser justificado (declarado sem culpa) o homem criminoso vista de Deus, realiza-se to-somente pela f no sacrifcio de Cristo pelo pecado e sem as obras da lei; porm o ser justificado (declarado sem culpa) vista do mundo, ou da igreja, realiza-se mediante obras palpveis e no somente pela f que invisvel. Mostra-me a tua f pelas tuas obras, tal o tom e a exigncia da carta de Tiago; tal a exigncia, tambm, das cartas de Paulo. Vemos, pois, que as pessoas so justificadas diante de Deus mediante a f, porm, nossa f justificada diante dos homens mediante as obras. Dai compreendermos que concordam perfeitamente as doutrinas dos apstolos.Lemos em 1 Joo 3:9: Todo aquele que nascido de Deus no vive na prtica do pecado esse no pode viver pecando. Querer o apstolo aqui dizer que o cristo absolutamente incapaz de cometer uma falta? No, porque o prprio objetivo de sua carta o de prevenir para que no pequem, com o que est admitida a possibilidade de poder cair em falta. Como, pois, compreender que os nascidos de Deus no podem pecar? Neste caso tambm nos apresenta luz a considerao detida do desgnio da carta. Pelas Escrituras vemos que nos fins do sculo apostlico existiam certos pretensos cristos enganados que criam poder praticar toda sorte de excessos carnais, sem respeitar lei alguma. Um dos desgnios da carta , evidentemente, prevenir os filhos de Deus contra esse mau tipo de crenas. Diz Joo que, contrariamente a esses filhos do diabo que por natureza cometem pecado, os filhos de Deus no podem viver pecando. Cada um se ocupa nas obras do pai: os filhos de Deus se ocupam em manifestar seu amor a Deus, guardando seus mandamentos (5:2); os filhos do diabo se ocupam em imitar a seu pai, que est pecando desde o princpio. Uns praticam o pecado, os outros no o praticam desde o momento em que nasceram de Deus. Opondo-se a esses dissolutos filhos do diabo, que acreditavam poder pecar e naturalmente com gosto pecavam, afirma Joo que os nascidos de Deus, pelo contrrio, tendo repugnncia e dio ao pecado, no podem pecar; significa, no podem praticar o pecado, ou continuar pecando, como indica o texto original. Pela razo de haverem nascido de Deus, e aspirando, como aspiram, perfeio moral completa, contra sua nova natureza praticar o pecado: no podem continuar pecando; o que supostamente no impede que sejam exortados a guardar-se do mal, desde o momento que no esto fora da possibilidade de pecar.Outro caso de aparente contradio, que tambm aclara o desgnio dos escritos correspondentes, encontramos nas cartas de Paulo. Na que dirige aos Glatas (4:10,11), ele se ope observncia dos dias de festas judaicas, e na dirigida aos Romanos (14:5,6) no faz uma oposio definitiva a tal observncia. Como explicar esta diferena? Simplesmente porque o objetivo geral da Carta aos Glatas era de resistir s doutrinas dos falsos mestres que haviam desviado aos Glatas. Esses mestres lhes haviam ensinado que para a salvao, alm de certa f no Cristianismo, era preciso guardar as prticas judaicas do Antigo Testamento, com o que em realidade atacam o fundamento da justificao pela f, tornando nulo o sacrifcio de Jesus Cristo na cruz. Do grave perigo em que haviam ido parar, queixa-se amargamente o apstolo, e nada h de estranho em que se opusesse com firmeza a essas observncias judaicas que obscureciam o glorioso Salvador e ameaavam arruinar o trabalho apostlico entre eles. Muito diferente o caso que o apstolo trata em sua carta aos Romanos (Rm.15:1-13). A passagem em que isso ocorre tem por objetivo estabelecer a paz perturbada entre um grupo de irmos fracos convertidos do Judasmo que criticavam os crentes mais firmes, os quais, por sua vez, desprezavam os fracos. Estes irmos dbeis, que se haviam imposto no comer carne nem beber vinho e que guardavam as festas judaicas, no se encontravam no grave perigo dos glatas. Assim que o apstolo menciona que uns consideram todos os dias iguais, enquanto outros observam certo dia com preferncia a outro, afirmando que estes o fazem assim para o Senhor, sem opor-se direta e definitivamente a isso. Porm, considerando o repetido encargo, que ato contnuo lhe dirige, de estarem seguros em seu nimo, isto , de submeter a srio exame a coisa at no haver lugar para dvida com respeito ao correto proceder que ambas as partes nos assuntos divergentes deviam observar, e considerando alm disso que seu desejo e desgnio eram que os antagonistas chegassem a um mesmo parecer (15:5,6), para que cessassem as discrdias e se restabelecesse a paz. evidente que o apstolo induz os fracos a avanar em seu critrio, at ao ponto de abandonar a observncia das festas judaicas. Ainda aqui, pois se bem que indiretamente, o apstolo se pronuncia contra o costume antigo destinado a desaparecer, como toda coisa velha que haja cumprido sua misso. Assim que, em vista dos diferentes desgnios dos referidos escritos, encontramos completa harmonia onde primeira vista parece haver divergncia.Poder-se-iam citar outros exemplos da mesma natureza, porm cremos ser suficientes os j referidos para evidenciar a importncia de consultar, em caso de necessidade, o desgnio dos livros ou passagens para conseguir a correta compreenso das expresses obscuras e ainda das que em si so claras.

6) QUINTA REGRAa) Primeira Parte

necessrio consultar as passagens paralelas, explicando coisas espirituais pelas espirituais (1Co.2:13, original).Por passagens paralelas entendemos aqui as que fazem referncia uma outra, que tenham entre si alguma relao, ou tratem de um modo ou outro de um mesmo assunto.No s preciso apelar para tais paralelos a fim de aclarar determinadas passagens obscuras, mas ao tratar-se de adquirir conhecimentos bblicos exatos quanto a doutrinas e prticas crists. Porque, como j dissemos, uma doutrina que pretende ser bblica, no pode ser considerada no todo como tal, sem resumir e expressar com fidelidade tudo o que estabelece e excetua a Bblia em suas diferentes partes em relao ao particular. Se sempre se houvesse tido isto presente, no se propagariam hoje tantos erros com a pretenso de serem doutrinas bblicas.Neste estudo importante convm observar que h paralelos de palavras, paralelos de Idias e paralelos de ensinos gerais.Paralelos de palavras

Quanto a estes paralelos, quando o conjunto da frase ou o contexto no bastam para explicar uma palavra duvidosa, procura-se s vezes adquirir seu verdadeiro significado consultando outros textos em que ela ocorre; e outras vezes, tratando-se de nomes prprios, apela-se para o mesmo procedimento a fim de fazer ressaltar fatos e verdades que de outro modo perderiam sua importncia e significado.Exemplos:Em Glatas 6:17, diz Paulo: Trago no corpo as marcas de Jesus. Que eram essas marcas? Nem o conjunto da frase, nem o contexto no-lo explica. Iremos, pois, s passagens paralelas. Em 2Co.4:10, encontramos em primeiro lugar, que Paulo usa a expresso levando sempre no corpo o morrer de Jesus, falando da cruel perseguio que continuamente Cristo padecia, o que nos indica que essas marcas se relacionam com a perseguio que sofria. Porm ainda mais luz alcanamos mediante 2Co.11:23, 25, onde o apstolo afirma que foi aoitado cinco vezes (com golpes de couro) e trs vezes com varas; suplcios to cruis que, se no deixavam o paciente morto, causavam marcas no corpo que duravam por toda a vida. Consultando, assim, os paralelos, aprendemos que as marcas que Paulo trazia no corpo no eram chagas ou sinais da cruz milagrosa ou artificialmente produzidas, como alguns pretendem, porm marcas ou sinais dos suplcios sofridos pelo Evangelho de Cristo.Na carta aos Glatas 3:27, diz o apstolo dos batizados: de Cristo vos revestistes. Em que consiste estar revestido de Cristo? Pelas passagens paralelas em Rm.13:13,14 e Cl.3:12,14, tudo se esclarece, O estar revestido de Cristo, por um lado consiste em ter deixado as prticas carnais, como a luxria, dissolues, contendas e cimes; e por outro em haver adotado como vestido decoroso, a prtica de uma vida nova, como a misericrdia, benignidade, humildade, mansido, tolerncia e sobretudo o amor cujos atos os cristos primitivos simbolizavam no seu batismo, deixando-se sepultar e levantar em sinal de haverem morrido para essas prticas mundanas e de haverem ressuscitado em novidade de vida, com suas correspondentes prticas novas. Assim que, consultando os paralelos, aprendemos que o estar revestido de Cristo no consiste em haver adotado tal ou qual tnica ou vestido sagrado, mas em adornos espirituais ou morais prprios do Cristianismo simples, santo e puro (1Pe.3:3-6).Segundo Atos 13:22, Davi foi um homem segundo o corao de Deus. Querer a Escritura com esta expresso apresentar-nos a Davi como modelo de perfeio? No, porque no cala suas muitas e graves faltas, nem seus correspondentes castigos. Como e em que sentido, pois, foi homem conforme o corao de Deus? Busquemos os paralelos. Em 1 Samuel 2:35, disse Deus: Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que proceder segundo o que tenha no corao, do que resulta, tomando toda a passagem em considerao, que Davi, especialmente em sua qualidade de sacerdote-rei, procederia segundo o corao ou a vontade de Deus. Esta idia se encontra plenamente confirmada na passagem paralela do cap.13 verso 14, onde tambm verificamos que era em vista do rebelde Saul, e contrrio sua m conduta como rei, que Davi seria homem segundo o corao de Deus.Se bem que Davi, como vemos pela histria e pelos seus Salmos, de modo geral foi homem piedoso, em muitos casos digno de imitao, no nos autorizam de nenhum modo os paralelos de nossa passagem a consider-lo como modelo de perfeio, sendo seu significado primitivo, como temos visto, que Davi, em sua qualidade oficial, o contrrio do rebelde rei Saul, seria homem que procederia segundo o corao ou a vontade de Deus.Um exemplo da utilidade de consultar os paralelos em relao aos nomes prprios, temo-lo no relato de Balao, em Nmeros, captulos 22 e 24, deixando-nos em dvida quanto ao verdadeiro carter de sua pessoa. Foi ele realmente profeta? E, em tal caso, qual foi a causa de sua queda? Consultando os paralelos do Novo Testamento, verificamos por 2 Pedro 2:15,16 e Judas 11, que ele foi um pretenso profeta que atuava levado pela paixo da cobia, e por Apocalipse 2:14, que por suas instigaes Balaque fez os israelitas carem em pecado to grande que lhes custou a destruio de 23.000 pessoas.Convm observar tambm que por este estudo de paralelos se aclaram aparentes contradies. Segundo 1 Crnicas 21:11, por exemplo, Gade oferece a Davi, da parte de Deus, o castigo de trs anos de fome, e segundo 2 Samuel 24:13, lhe pergunta Gade se quer sete anos de fome. Como pde perguntar-lhe se queria sete e ao mesmo tempo lhe oferece trs? Simplesmente porque pelo paralelo de 2 Samuel 21:1, na pergunta de Gade compreendemos que toma em conta os trs anos de fome passados j, com o que esto passando, enquanto no oferecimento dos trs anos s se refere ao porvir.Ateno. Ao consultar-se este tipo de paralelos convm proceder como segue: primeiramente buscar o paralelo, ou seja, a aclarao da palavra obscura no mesmo livro ou autor em que se encontra, depois nos demais da mesma poca e, finalmente em qualquer livro da Escritura. Isto necessrio porque, s vezes, varia o sentido de uma palavra, conforme o autor que a usa, segundo a poca em que se emprega, e ainda, como j temos dito, segundo o texto em que ocorre no mesmo livro.Exemplos:Um exemplo de como diferentes autores empregam uma mesma palavra em sentido diferente, encontramo-lo nas cartas de Paulo e Tiago. A palavra obras, quando ocorre s, nas cartas aos Romanos e aos Glatas, significa o oposto f, a saber: as prticas da lei antiga como fundamento para a salvao. Na carta de Tiago se usa a mesma palavra, sempre no sentido da obedincia e santidade que verdadeira f em Cristo produz. Neste caso, e em casos parecidos, no se aclara, pois, uma pela outra palavra; da compreendemos a necessidade de buscar paralelos com preferncia no mesmo livro ou nos livros do autor que se estuda. Notemos, todavia, que um mesmo autor emprega, s vezes, uma palavra em sentido diferente, em cujo caso tambm uma expresso explica a outra. Lemos em Atos 9:7 que os companheiros de Saulo, no caminho de Damasco ouviram a voz do Senhor, e no captulo 22:9 do mesmo livro, que no perceberam o sentido da voz ou, como diz outra verso, no ouviram a voz. porque entre os gregos, como entre ns, a palavra ouvir se usava no sentido de entender. Ouviram, pois, a voz e no a ouviram, significando: ouviram o rudo, porm no entenderam as palavras. Do mesmo modo distinguimos entre ver e ver, como o faziam os hebreus, usando a palavra em sentido diferente. Assim lemos em Gnesis 48:8, 10, que Israel viu os filhos de Jos, e em seguida, os olhos de Israel j se tinham escurecido por causa da velhice, de modo que no podia ver bem. Significa que os viu confusamente, porm no os podia ver com clareza, sendo necessrio coloc-los perto, como tambm diz o contexto. Busquem-se, pois, os paralelos, com preferncia e em primeiro lugar num mesmo autor, porm no se espere, mesmo assim, que sirvam de paralelos sempre todas as expresses iguais.Prova de como pode mudar o significado de uma palavra segundo a poca em que se emprega, temo-la na palavra arrepender-se. No Novo Testamento usada constantemente no sentido de mudar de pecador, isto , no sentido de mudar de opinio, de convico ntima, de sentimento, enquanto no Antigo Testamento tem significados to diferentes que unicamente o contexto, em cada caso, os pode aclarar. Tanto assim, que no Antigo se diz do prprio Deus que se arrependeu, expresso que nunca empregada pelos escritores do Novo ao falarem de Deus, exceto no caso de citarem o Antigo Testamento. Da ser evidente que ao dizer que Deus se arrepende, no devemos de nenhum modo tomar no mesmo sentido do que ns compreendemos por arrependimento de um homem. Devem-se, pois, buscar os paralelos, em segundo lugar, nos escritos que datam de uma mesma poca de preferncia aos que se puder encontrar em outras partes das Escrituras.

b) Segunda Parte

Paralelos de idiasPara conseguir idia completa e exata do que ensina a Escritura neste ou naquele texto determinado, talvez obscuro ou discutvel, consultam-se no s as palavras paralelas, mas os ensinos, as narrativas e fatos contidos em textos ou passagens aclaratrios que se relacionem com o dito texto obscuro ou discutvel. Tais textos ou passagens chamam-se paralelos de idias.Exemplos:

Ao instituir Jesus a ceia, deu o clice aos discpulos, dizendo: Bebei dele todos. Significa isto que s os ministros da religio devem participar do vinho na ceia com excluso da congregao? Que idia nos proporcionam os paralelos? Em 1Co.11:22-29, nada menos que seis versculos consecutivos nos apresentam o comer do po e beber do vinho como fatos inseparveis na ceia, destinando os elementos a todos os membros da igreja sem distino. Inveno humana, destituda de fundamento bblico , pois, o participarem uns do po e outros do vinho na comunho.Ao dizer Jesus: Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, constitui ele a Pedro como fundamento da igreja, estabelecendo o primado de Pedro e dos papas, como pretendem os papistas? Note-se primeiro que Cristo no disse: Sobre ti, Pedro. Nada melhor que os paralelos que oferecem as palavras de Cristo e Pedro, respectivamente, para determinar este assunto, ou seja, o significado deste texto. Pois bem, em Mateus 21:42,44, vemos Jesus mesmo como a pedra fundamental ou pedra angular, profetizada e tipificada no Antigo Testamento. E em conformidade com esta idia, Pedro mesmo declara que Cristo a pedra que vive, a principal pedra angular, rejeitada pelos judeus, em Sio, esta pedra foi feita a principal pedra angular, etc. (1Pe.2:4, 8). Paulo confirma e aclara a mesma idia, dizendo aos membros da igreja de feso (2:20) que so edificados sobre o fundamento dos apstolos e profetas, sendo ele mesmo Cristo Jesus, a pedra angular, no qual todo edifcio, bem ajustado cresce para santurio dedicado ao Senhor. Deste fundamento da igreja, posto pela pregao de Paulo, como prudente construtor entre os corntios, disse o apstolo porque ningum pode lanar outro fundamento, alm do que foi posto, o qual Jesus Cristo (1Co.3:10,11).Cotejando estes e outros paralelos, chegamos concluso de que Cristo, neste texto, no constitui a Pedro como o fundamento de sua igreja.O modo de proceder, tratando-se deste tipo de paralelos, pois o de aclarar as passagens obscuras mediante paralelos mais claros: as expresses figurativas, mediante os textos paralelos prprios e sem figura, e as idias sumariamente expressas, mediante os paralelos mais extensos e explcitos. Vejamos a seguir novos exemplos:Acentua-se muito .o amor aos crentes em 1 Pedro 4:8, porque o amor cobre multido de pecados. Como explicar este texto obscuro? Pelo contexto e cotejando-o com 1Co.13 e Cl.1:4, compreendemos que a palavra amor usada aqui no sentido de amor fraternal. Porm, em que sentido cobre o amor fraternal muitos pecados? Em Rm.4:8 e Sl.32:1, vemos o pecado perdoado sob a figura de pecado coberto, sepultado no esquecimento, como ns diramos. Consultando o contedo de Pv.10:12, citado por Pedro neste lugar, compreendemos que o amor fraternal cobre muitos pecados no sentido de perdoar as ofensas recebidas dos irmos, sepultando-os no esquecimento, contrrio ao dio que desperta rixas e aviva o pecado. No se trata, pois, aqui de merecer o perdo dos prprios pecados mediante obras de caridade, nem de encobrir pecados prprios e alheios mediante dissimulaes e escusas, como erroneamente pretendem os que no cuidam de consultar os paralelos, explicando a Escritura pela Escritura.Segundo Glatas 6:15, o que de valor para Cristo a nova criatura. Que significa esta expresso figurada? Consultando o paralelo de 2Co.5:17, verificamos que a nova criatura a pessoa que est em Cristo, para a qual as coisas antigas passaram e se fizeram novas; enquanto em Gl.5:6 e 1Co.7:19 temos a nova criatura como a pessoa que tem f e observa os mandamentos de Deus.Paulo expe sumariamente a idia da justificao pela f em Filipenses 3:9, dizendo que deseja ser achado em Cristo, no tendo justia prpria, que procede de lei, seno a que mediante a f em Cristo, a justia que procede de Deus baseada na f. Para conseguir clareza desta idia preciso recorrer a numerosas passagens das cartas aos Romanos e aos Glatas, nas quais se explica extensamente como pela lei todo homem ru convicto diante de Deus e como pela f na morte de Cristo, em lugar do pecador, o homem, sem mrito prprio algum, declarado justo e absolvido pelo prprio Deus. Rm. 3, 4, 5; Gl. 3, 4.

c) Terceira Parte

Paralelos de ensinos geraisPara a aclarao e correta interpretao de determinadas passagens no so suficientes os paralelos de palavras e idias; preciso recorrer ao teor geral, ou seja, aos ensinos gerais das Escrituras. Temos indicaes deste tipo de paralelos na prpria Bblia, sob as expresses de ensinar conforme as Escrituras, de ser anunciada tal ou qual coisa por boca de todos os profetas, e de usarem os profetas (ou pregadores) seu dom conforme a medida da f, isto , segundo a analogia ou regra da doutrina revelada (1Co.15:3, 14; At.3:18; Rm.12;6).Exemplos:

Diz a Escritura: O homem justificado pela f sem as obras da lei. Ora, se desta circunstncia algum tira em conseqncia o ensino de que o homem de f fica livre das obrigaes de viver uma vida santa e de conformidade com os preceitos divinos, comete um erro, ainda quando consulte um texto paralelo. preciso consultar o teor ou doutrina geral da Escritura que trata do assunto; feito isso, observa-se que essa interpretao falsa por contrariar por inteiro o esprito ou desgnio do Evangelho, que em todas as partes previnem os crentes contra o pecado, exortando-os pureza e santidade.Segundo o teor ou ensino geral das Escrituras, Deus um esprito onipotente, purssimo, santssimo, conhecedor de todas as coisas e em todas as partes presente, coisa que positivamente consta numa multido de passagens. Pois bem, h textos que, aparentemente, nos apresentam a Deus como ser humano, limitando-o a tempo ou lugar, diminuindo em algum sentido sua pureza ou santidade, seu poder ou sabedoria; tais textos devem ser interpretados luz de ditos ensinos gerais. O fato de haver textos que primeira vista no parecem harmonizar com esse teor das Escrituras, deve-se linguagem figurada da Bblia e incapacidade da mente humana de abraar a verdade divina em sua totalidade.Ao dizerem as Escrituras: O Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e at o perverso para o dia da calamidade (Pv.16:4), querero aqui ensinar que Deus criou o mpio para conden-lo, como alguns interpretam o texto? Certamente que no; porque, segundo o teor das Escrituras, em numerosas passagens, Deus no quer a morte do mpio, no quer que ningum perea, mas que todos se arrependam. E, portanto, o significado da ltima parte do texto deve ser que o Criador de todas as coisas, no dia mau, saber valer-se inclusive do mpio para levar a cabo seus adorveis desgnios. Quantas vezes, pela divina providncia, no tiveram de servir os perversos qual aoite e praga a outros, castigando-se a si mesmos ao mesmo tempo!Paralelos aplicados linguagem figuradas vezes preciso consultar os paralelos para determinar se uma passagem deve ser tomada ao p da letra ou em sentido figurado. Vrias vezes os profetas nos apresentam a Deus, por exemplo, com um clice na no, dando de beber aos que quer castigar, caindo estes por terra, embriagados e aturdidos. (Na.3:11; Hc.2:16; Sl.75:8, etc). Esta representao, breve e sem explicao em certos textos, encontra-se aclarada no paralelo de Isaas 51:17,22,23, onde aprendemos que o clice o furor da ira ou justa indignao de Deus, e o aturdimento ou embriaguez, assolaes e quebrantamentos insuportveis.A propsito da linguagem figurada, preciso recordar aqui que alguma semelhana ou igualdade entre duas coisas, pessoas e fatos, justifica a comparao e uso da figura. Assim, pois, se houver certa correspondncia entre o sentido figurado de uma palavra e seu sentido literal, no necessrio, como tampouco possvel, que tudo quanto e