colonizaÇÃo, imigraÇÃo e educaÇÃo: as escolas ... · colonização e imigração: o contexto...

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 6312 COLONIZAÇÃO, IMIGRAÇÃO E EDUCAÇÃO: AS ESCOLAS PRIMÁRIAS RURAIS NO MUNICÍPIO DE BIRIGUI - NOROESTE PAULISTA BRASIL 1920-1960 Áurea Esteves Serra 1 Apresentação O objeto de estudo aqui abordado compreende a atividade educativa formal desenvolvida pelo governo municipal e governo estadual no meio rural do município de Birigui 2 , estado de São Paulo, durante o período de 1920 a 1960, levando em consideração os antecedentes de colonização e imigração. Para a analise desse objeto de estudo, procedeu-se à utilização tanto de indicadores do tipo quantitativo (escolas, população, período etc), como qualitativos (âmbito temático, âmbito temporal, âmbito espacial e as características institucionais). O objetivo deste estudo consiste em apontar algumas notas sobre o desenvolvimento da escola primária rural no município de Birigui/SP a partir do resgate da história do ensino primário rural, por meio da localização, reunião e analise de fontes documentais, mediante consultas em acervos e instituições da cidade de Birigui/SP, onde está lotada toda documentação que pertenceu as Escolas Rurais desse município. Mediante esses procedimentos de pesquisa, localizei um total de 307 referências bibliográficas sobre o tema, sendo: 104 referências de livros de atas, 50 referências de livros de matriculas, 91 referências de livros mapa de movimento, 13 referências de livros de chamada, 17 referências de livros de inventário, 15 referências de livros de ponto docente, duas referências de livros de anotações isoladas, 14 referências de livros de Termo de Visita e uma referência de livro de Serviço de Educação de Jovens Adultos. 1 Biriguiense. Graduada em Pedagogia e História, com especialização em Direito Educacional e Gestão Escolar; Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) Campus de Marília. Pós- doutora pelo programa de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Campus de Araraquara tendo desenvolvido o projeto sobre as escolas rurais da região de Birigui. Fundação Municipal de Ensino. Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui. E-mail: <[email protected]>. 2 Birigui está localizada no Noroeste do Estado de São Paulo, distante em 521Km da capital do estado, São Paulo e, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico (IBGE) 2010, conta com 110 mil habitantes. A cidade de Birigui está inserida na 9ª região administrativa do Estado de São Paulo Araçatuba, localizada na porção oeste do Estado, região essa de menor dimensão física.

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 6312

COLONIZAÇÃO, IMIGRAÇÃO E EDUCAÇÃO: AS ESCOLAS PRIMÁRIAS RURAIS NO MUNICÍPIO DE BIRIGUI -

NOROESTE PAULISTA – BRASIL 1920-1960

Áurea Esteves Serra1

Apresentação

O objeto de estudo aqui abordado compreende a atividade educativa formal

desenvolvida pelo governo municipal e governo estadual no meio rural do município de

Birigui2, estado de São Paulo, durante o período de 1920 a 1960, levando em consideração os

antecedentes de colonização e imigração.

Para a analise desse objeto de estudo, procedeu-se à utilização tanto de indicadores do

tipo quantitativo (escolas, população, período etc), como qualitativos (âmbito temático,

âmbito temporal, âmbito espacial e as características institucionais).

O objetivo deste estudo consiste em apontar algumas notas sobre o desenvolvimento da

escola primária rural no município de Birigui/SP a partir do resgate da história do ensino

primário rural, por meio da localização, reunião e analise de fontes documentais, mediante

consultas em acervos e instituições da cidade de Birigui/SP, onde está lotada toda

documentação que pertenceu as Escolas Rurais desse município. Mediante esses

procedimentos de pesquisa, localizei um total de 307 referências bibliográficas sobre o tema,

sendo: 104 referências de livros de atas, 50 referências de livros de matriculas, 91 referências

de livros mapa de movimento, 13 referências de livros de chamada, 17 referências de livros de

inventário, 15 referências de livros de ponto docente, duas referências de livros de anotações

isoladas, 14 referências de livros de Termo de Visita e uma referência de livro de Serviço de

Educação de Jovens Adultos.

1 Biriguiense. Graduada em Pedagogia e História, com especialização em Direito Educacional e Gestão Escolar; Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Marília. Pós-doutora pelo programa de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Araraquara tendo desenvolvido o projeto sobre as escolas rurais da região de Birigui. Fundação Municipal de Ensino. Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui. E-mail: <[email protected]>.

2 Birigui está localizada no Noroeste do Estado de São Paulo, distante em 521Km da capital do estado, São Paulo e, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico (IBGE) – 2010, conta com 110 mil habitantes. A cidade de Birigui está inserida na 9ª região administrativa do Estado de São Paulo – Araçatuba, localizada na porção oeste do Estado, região essa de menor dimensão física.

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A delimitação temporal desse estudo abrange o período de ampliação significativa do

atendimento do ensino primário rural no estado de São Paulo, e particularmente, em Birigui.

Desse modo, este texto trata dos dados de expansão da rede escolar rural e das iniciativas

estaduais e municipais. Conforme indicam Cerecedo, Los Rios e Fernández (2011), falar da

escola rural:

[...] nos permite analizar la relación entre la institución escolar y la ruralidad en el largo plazo, y abrir el paso a la realización de análisis comparativos que transciendan las fronteras de los estados-nación, pero partiendo de la particularidad de las realidades locales, regionales y nacionales3.

Assim sendo, a opção pela análise da criação e expansão das escolas rurais de Birigui foi

motivada por reflexões apresentadas em sessão coordenada durante o VII Congresso

Brasileiro de História da Educação em maio de 2013, na cidade de Cuibá-MT, sobre a Escola

Rural Primária, uma investigação analítica das escolas rurais primária em vários dos estados

da nação apresentadas por Rosa Lydia Teixeira Corrêa (PUC/PR), Alessandra Cristina

Furtado (UFGD/MS), Gilvanice Barbosa da Silva Musial (UEMG), Rubia-Mar Nunes Pinto

(UFGO) e Virginia Pereira da Silva Ávila (UNESP) nas quais apontam a necessidade, entre

outros, de um estudo minucioso sobre uma determinada localidade.

Colonização e imigração: o contexto político, econômico e social de Birigui

Como esta pesquisa trata de uma localidade específica – a cidade de Birigui/SP –, faz-

se necessário lembrar que essa cidade surgiu em decorrência da construção da Estrada de

Ferro Noroeste do Brasil4 e a instalação da Companhia de Terras, Madeiras e Colonização

do Estado de São Paulo5, ambas, estratégias de colonização.

3 [...] que nos permite analisar a relação entre a escola e a ruralidade a longo prazo, e abrir o caminho para as análises comparativas que transcendem fronteiras dos Estados-nação, mas de particularidade das realidades locais, regionais e nacionais. (tradutor google)

4 Também conhecida pela sigla NOB, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil com extensão de 1622 km, partindo de Bauru até a divisa com a Bolívia, em Corumbá/ MS, fazendo a integração com a rede ferroviária boliviana até Sana Cruz de La Sierra, foi construída na primeira metade do século XX. Era uma ferrovia brasileira de bitola métrica. Passou a ser da iniciativa privada antes de ser completada em 1917 e, em 1957, foi incorporada a Rede Ferroviária Federal S.A., como uma de suas regionais. Quando desativada em 1996 (RFFSA), a ferrovia foi doada como Malha Oeste à Ferrovia Novoeste S.A. E, desde 2006, após a fusão da Novoeste S.A. e a Brasil Ferrovias, essa ferrovia passou a pertencer à América Latina Logística S.A..

5 De acordo com Ercilla e Pinheiro (1928) e Soares (2003), a Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo foi fundada com os seguintes sócios: James Mellor (1.760 ações), diretor gerente; Roberto Clark (1.730 ações), ocupando o cargo de diretor técnico; Presciliano Pinto de Oliveira Clark (1.730 ações); Manoel Bento da Cruz (1.730 ações), diretor secretário; Edward Hamer (300 ações), ocupando o cargo de engenheiro e membro do conselho fiscal; Arlindo Lima (150 ações), ocupando o cargo de presidente; Francisco de Marchi (150 ações), José Bento Sampaio (150 ações); Franklin Keffer (150 ações), membro do conselho fiscal; e Augusto Elisio de C. Fonseca (150 ações), membro do conselho fiscal com o propósito de colonizar a vasta extensão de terras do Noroeste paulista registram a Ata de constituição da “The San Paulo Land, Lumber & Colonization Company” no Segundo Tabelião de São Paulo, Capital em 16 de outubro de 1912 com sede em São Paulo.

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A cidade de Birigui cresce rapidamente em decorrência da expansão da cultura de café

para o oeste paulista, particularmente, região Noroeste. No primeiro momento, era somente

uma Chave, onde o trem parava três vezes na semana, sendo o povoado fundado, em 7 de

dezembro de 1911, por Nicolau da Silva Nunes.

A ocupação territorial espacial da região foi feita pela Companhia...6, que tinha como

objetivo adquirir terras nas proximidades da estrada de ferro, que serviriam para o fluxo de

escoamento, tanto de produtos agrícolas, como de passageiros, o que facilitava o loteamento

e a venda da terra para os novos colonos. Para atrair os compradores de terras em Birigui, a

Companhia anunciava nos principais jornais da cidade de São Paulo e do interior do estado e

também nos jornais das colônias dos imigrantes italianos, espanhóis, alemães e japoneses.

Assim nasce Birigui, uma cidade administrada por inglês e escocês e colonizada por muitos

imigrantes, em sua maioria italianos, japoneses, espanhóis e portugueses.

Com relação ao desenvolvimento da temática, utiliza-se a matriz interpretativa cunhada

por Rémond (2003), sobre a história política, e também por Norbert Elias (1997), sobre

civilização. Para esse último autor, civilização e violência são temas constantes e atuais para a

compreensão do movimento na história. Para Elias (1997) o poder é uma característica de

todas as relações humanas e está ligado ao grau de dependência entre os indivíduos, seja

pela força, seja pela necessidade econômica, seja pela de cura, seja pela status, seja pela

carreira ou seja por excitação. É em contexto semelhante a esse descrito por Elias (1997) que

começa a nascer a cidade de Birigui, uma cidade projetada e de certa forma controlada pelos

seus colonizadores.

O processo de colonização e povoamento de Birigui foi marcado pela disputa da terra

primeiramente entre os índios e a empresa de colonização Companhia... e, na sequência,

entre os fazendeiros latifundiários e os posseiros. Cabe esclarecer que o “poder” político

econômico exercido na região se constituiu com os membros da Companhia... Com isso,

infere-se que se não fosse a influência política dessa empresa, o processo de colonização de

Birigui não teria conseguido chegar aonde chegou. Para muitos autores esse foi o fato da

cidade se desenvolver muito rápido nos seus primeiros 20 anos, algo positivo, mas quando

visto do sentido da política local, algo negativo, porque o poder ficou centralizado na mão de

um grupo por mais de 30 anos. Há registros em jornais da época que alguns políticos e

Segundo alguns autores que escreveram sobre a empresa “The San Paulo Land, Lumber & Colonization Company”, o Coronel Manoel Bento da Cruz, este consegue amealhar 30 mil alqueires de terra acompanhando a Linha da CEFNOB por ter sido advogado de grileiros e antigos ocupantes na qual seus honorários eram pagos com terras, “e em alguns casos ficava com a maior extensão, bem como aquelas de localização privilegiada” (MARTINS, 1968, p.68-69).

6 Para evitar repetições desnecessárias, utilizarei a seguinte forma daqui em diante: (Companhia...).

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pequenos agricultores, por vezes, não concordavam como o monopólio exercido pela

Companhia...

Em decorrência da colonização, foram realizadas várias campanhas de incentivo a

venda dos lotes de terra pela companhia... Com isso, chegam à região imigrantes de todas as

partes do país e, principalmente, da Europa.

De acordo com Moreira (2008, p.64) citado por Serra (2014a, p.292-293) “[...] entre

1880 e 1900, desembarcaram no Brasil 1.129.000 europeus – dos quais, 680.000 eram

italianos”. Esse número de imigrantes que chegam a Birigui em sua maioria eram de

procedência italiana. Pisani (1937), ao tratar da colônia italiana em Birigui, afirma que: “La

collettivitá italiana residente in questo Municipio si caleola composta di circa 4.000

persone; i figli d´italiani si fanno ascendere a circa 8.500 dedicano all´ agricultura, in

picolo numero alle industrie, al commercio e al mestieri” (p. 521-522).

Ainda segundo esta autora, são principalmente esses italianos que vão cuidar da

produção de café em suas pequenas propriedades nos bairros rurais, ou vão trabalhar como

arrendatários ou meeiros. Conforme aponta Pisani (1937), são 492 os nomes de famílias

italianos residentes em Birigui. Mas quando se confronta esta informação com a Relação dos

Contribuintes do Imposto Cafeeiro, publicada em 1928, por Ercilla e Pinheiro, encontram-se

muitos outros nomes de italianos que vieram para Birigui, os quais seus descendentes

permanecem na cidade até hoje, 2014.

Ainda com base na obra de Serra (2014a), observa-se que a cultura do café expandiu em

Birigui nas três primeiras décadas do século XX, para onde mudaram imigrantes italianos, a

princípio instalados na região de Ribeirão Preto, e, em seguida, em Birigui. Na corrida para

esse surto agrícola, investiu-se muito dinheiro nos estabelecimentos e máquinas de café dessa

localidade, de modo que a maioria das sociedades instaladas eram anônimas. Muitas foram

às máquinas instaladas para beneficiar o café produzido em Birigui. Esse dado confirma-se,

porque a Zona Noroeste no ano de 1927 plantou cerca de 100 milhões de pé de café e muito

algodão. Porém, o café imperou na primeira terça parte do século XX. Segundo Freitas

(1999), foi a partir de 1881 que começou a ocorrer o “[...] aumento na produção de café no

Oeste Paulista.” (p.78).

De certa forma, a estabilização da monocultura cafeeira em Birigui e o fantasmagórico

surto de enriquecimento produzido pelo café contribuíram para o desenvolvimento muito

rápido da cidade. Milhares de homens migraram à cidade com a esperança de um

enriquecimento rápido e fácil. Com isso, a maior parte desses homens não retornou às suas

origens, formando, assim, a cidade de Birigui.

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Nota-se que a evidencia dessa imigração e migração pode ser constatada nas

estatísticas de 19297, quando Birigui contava com 30 mil habitantes, dos quais somente 4.500

estavam na cidade, zona urbana, e os outros 25.500 estavam na zona rural. Assim, a

economia biriguiense foi essencialmente agrária nesse período; a população de origem

principalmente européia estava em sua maioria instalada na zona rural, no trabalho com a

terra.

Faz-se necessário dizer que Birigui, desde seus primórdios, contava com energia

elétrica, telégrafo, tudo isso em virtude da instalação da Companhia Estrada de Ferro

Noroeste do Brasil e da Companhia... nessa cidade. Birigui ainda contava com três paradas

do trem para o escoamento de sua produção: Coroados, Birigui e Guatambu. Para Rémond

(2003):

O desenvolvimento das políticas públicas sugeriu que a relação entre economia e política não era de mão única: se não há dúvida de que a pressão dos interesses organizados às vezes altera a condução dos negócios públicos, a recíproca não é menos verdadeira: a decisão política pode modificar o curso da economia para melhor ou para pior (p.23).

Cabe destacar que no ano de 1929 o município de Birigui contava com 25.000.000 pés

de café, sendo 900 as grandes propriedades cafeeiras e 3.000 o número de sitiantes. Mas a

grande marca aferida pela morte da economia cafeeira birigüiense se deu primeiramente pelo

fato apontado por Freitas (1999), o colapso do café em 1928, no qual os grandes estoques, a

lavoura endividada e a queda acentuada nas exportações contribuíram para a queda da Bolsa

de Nova Iorque no ano de 1929. Segundo Freitas (1999), uma “quebradeira geral” (p.78),

quando milhares de sacas de café foram queimadas em todo o país, não sendo diferente em

Birigui.

De acordo com Serra (2014b) a crise por que passou nosso país com esse fato e,

particularmente a cidade de Birigui, deixara-lhe profundas marcas até esse mal nacional

arrebentar com a Revolução de 19308. Porém, em Birigui, mesmo o município participando

diretamente da revolução, enviando vários combatentes, suas atividades continuaram a

crescer. Ainda conforme Serra (2014a), de acordo com as informações publicadas na revista

Os Municípios (1939), Birigui contava com uma população de 54.500 habitantes em 1939,

sendo que destes 39.800 estavam na zona rural e os demais nos distritos e município.

7 Estatística publicada na Revista Excelsior. Birigui, 1929. 8 De acordo com Ferreira (1980) a Revolução de 1930 foi um movimento organizado por elementos do

Tenentismo, da classe média e da oligarquia rural, sendo os principais fatores políticos o Coronelismo, o Tenentismo e o sistema eleitoral. Um movimento político militar. Para maiores informações, ver: FERREIRA, Olavo Leonel. História do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1980.

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Existiam no município em 1939, 20.221.763 cafeeiros em produção e, das 2.089 propriedades

agrícolas, 1.191 eram de lavouras cafeeiras, tendo Birigui exportado nos anos de 1937 –

318.153 sacas de café, no ano de 1938 – 402.069 e, no ano de 1939, 188.338 sacas.

A seguir apresento alguns dos dados para se compreender a questão da colonização, o

retalhamento da terra, a venda dos lotes (propriedades) e a questão da imigração

(nacionalidade) em Birigui, que constam na revista “Os municípios”, publicada em 1939.

Constata-se nos dados analisados que os italianos foram os que mais adquiriram lotes

de terra da Companhia.... Porém, em questão do número de pessoas, estes os italianos se

apresentam um pouco menor que os brasileiros, uma porcentagem ínfima. Quanto aos

imigrantes, os japoneses ficam em segundo lugar em termos de povoamento da cidade de

Birigui/SP. Segundo Soares (2003), no ano de 1922, “[...] a Companhia já tinha dividido em

lotes 38.434 alqueires de terra, distribuídos a 2.032 sitiantes, nacionais, portugueses,

italianos e japoneses.” (p.149). Os japoneses vieram para dedicar-se ao cultivo do café, mas

logo diversificam a produção agrícola, dedicando-se a plantação de outros cereais, como o

arroz, milho, feijão, cana, mamona, amendoim etc. Para Souza (2011) “[...] entre os

imigrantes que se fixaram em Birigui, predominaram os italianos, seguidos pelos japoneses,

espanhóis e portugueses” (p.280).

Vale dizer ainda que nos documentos da Companhia... publicados no livro de Soares

(2003) encontram-se informações que os sitiantes pagavam impostos sobre a terra e

produtos dela extraídos e estes sustentavam a Companhia e a prefeitura. Com isso, observa-

se que os donos da Companhia... eram os membros políticos.

Dessa forma, constata-se que a política de colonização assinala, segundo Rémond

(2003), que “[...] nas sociedades contemporâneas, a política organiza-se em torno do Estado

e estrutura-se em função dele: o poder do Estado representa o grau supremo da organização

política; é também o principal objeto de competições.” (p.20).

Ainda para Rémond, “[...] o Estado jamais passa de instrumento da classe dominante;

as iniciativas dos poderes públicos, as decisões dos governos são apenas a expressão da

relação de forças” (p.20). Para Rémond “[...] vamos de uma vez à raiz das decisões, às

estratégias dos grupos de pressão” (p.21). Essa afirmação de Rémond pode ser comprovada

quanto à administração da cidade de Birigui em vários jornais dos anos de 1920 e 1930.

Cabe ressaltar que, como muitos autores que estudam a região já afirmaram, esta se

desenvolve rápido. Há um crescimento em todas as áreas e considera-se esse

desenvolvimento devido ao fato de os administradores apresentarem-se como homens

inteligentes, estudados e conhecedores da “boa vida”. Quanto ao homem que fica na zona

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rural, o pequeno agricultor, as coisas não foram fáceis, fizeram a Birigui dos primeiros 50

anos, porém ficaram no anonimato. Lembro aqui o que apontou Rémond sobre a história da

França:

[...] não foram os 40 reis que primeiro fizeram a França, mas gerações de camponeses e algumas centenas de milhares de burgueses: a grandeza do reino fora edificada sobre o sofrimento dos humildes, a solidez dos regimes apoiava-se na obediência dos povos, e o crescimento da economia no esforço de multidões trabalhadoras (RÉMOND, 2003, p.19).

A partir desta afirmação, identifiquei que esses agricultores foram imprescindíveis para

a economia da cidade de Birigui, gerando seu desenvolvimento. Vale destacar que em sua

maioria vinham da Europa alfabetizados, portanto observa-se uma preocupação destes, nas

quais reivindicaram escolas para seus filhos. Com isso, dá-se inicio a criação de escolas rurais

e urbanas no município.

No entanto, somente na década de 1940, uma década marcada por conflitos

internacionais entre os países do eixo – Alemanha, Japão e Itália – e os países aliados, dentre

eles o Brasil, que declara guerra após ter seus navios afundados pelas forças do eixo foi, que o

ensino primário no Brasil vai ganhar um forte incentivo da esfera governamental.

Retomando a questão da guerra, vale lembrar que, segundo Serra (2014b), milhares de

soldados brasileiros embarcaram para a Itália e lutaram juntamente com os aliados. E na

cidade de Birigui não foi diferente, dez combatentes foram enviados para o front e a cidade

acompanhou com muita atenção o movimento da guerra por meio das notícias que chegavam

de vários jornais distribuídos na cidade. Estes jornais vinham por via férrea da cidade de

Bauru/SP e, dentre eles estavam: O Estado de São Paulo; O Diário de São Paulo; Correio

Paulistano; Folha de São Paulo; Diário da Noite; e o São Paulo Liberal. Neste malote

também vinham às revistas: O malho; Eu sei tudo; A careta; O cruzeiro; e A cena muda. No

jornal local O Biriguyense, entre os anos de 1938 e 1945, constata-se nas edições publicadas

neste período um total de 45 artigos sobre a II Guerra Mundial, na qual confirma os nomes

dos dez soldados birigüienses enviados para o front.

A expansão do ensino primário rural na região de Birigui

A instrução em Birigui9 foi organizada de acordo com o que propõe o projeto de Lei n°.

7, de 12 de setembro de 1914, apresentado a Mesa da Câmara Municipal de Penápolis-SP pelo

9 Birigui em 1908 é somente uma Chave de Estrada de Ferro, em 1911 é considerada um Povoamento, em 1914 elevada a Distrito de Paz (Decreto – Lei N° 1.426 de 10 de novembro de 1914) e em 1921 torna-se município (Lei

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vereador James Mellor. Desse modo, de acordo com o “art. 1° - ficam criadas no Município de

Penápolis as seguintes escolas primárias: § 1° – Masculinas: [...] uma na povoação de Birigui

[...], § 2° - Femininas: uma na povoação de Birigui”. Nesta mesma sessão o vereador James

Mellor propôs que o ensino primário municipal fosse regulamentado pela Lei nº. 49, de 16 de

outubro de 1912, publicada na Comarca de Bauru10 pelo então prefeito José Carlos Freire de

Figueiredo que organiza e regulamenta o ensino primário nos municípios sede dos distritos

de paz11. O Art. 1° da referida lei determina que:

O ensino primário Municipal é obrigatório e comprehende apenas um curso preliminar que será ministrado pelos seguintes estabelecimentos: a) escolas ambulantes; b) escolas provisórias; c) escolas permanentes situadas em bairros ou nas sedes dos distritos de paz. (BAURU, Lei 49/10/1912, p.34)).

Essa Lei foi aprovada por unanimidade. Ainda sobre a Lei nº. 49, de 16 de outubro de

1912, vale lembrar que no Capítulo 3°. - Dos Sub-Prefeitos, Art. 8°., estava estabelecido que

“os Sub-Prefeitos teem respectivamente em seus districtos as mesmas attribuições do

Prefeito e do Inspector Municipal” (p.36). Ressalta-se que nesse período Birigui foi Distrito

de Penápolis, administrado por um Sub-Prefeito, e Penápolis pertenceu à Comarca de Bauru.

Com isso, deu-se início ao ensino primário municipal em Birigui.

De acordo com Ramos e Martins (1961), o primeiro professor de Birigui foi Manoel

Pereira da Silva, nomeado para a Escola do Sexo Masculino Municipal; e a primeira

professora foi Daisy Clark, nomeada para a Escola do Sexo Feminino Municipal. Em relação

aos alunos, os primeiros iniciaram sua vida escolar em 1915 na escola primária de Birigui.

Mesmo tendo em funcionamento escolas organizadas pelo poder público municipal, ainda se

tinham, nesse período, em Birigui, os professores leigos que também ministravam aulas e

alfabetizavam as crianças em suas residências.

Alguns anos mais tarde, quando Birigui se tornou município e tem seu primeiro

prefeito, Archibald Clark, esse decreta e promulga a Lei n°. 11, de 20 de maio de 1922. Essa

Lei contém a afirmação de que:

São obrigados em todo município a matricula e a freqüência escolar gratuita, as creanças de 9 e 10 annos de idade, e quando houver vagas a matriculas, as

N° 1.911 de 8 de dezembro de 1921), vindo a ser Comarca somente em 1934 (Lei N° 6.447 de 19 de maio de 1934).

10 A Comarca de Bauru foi criada pela Lei N° 1.225, de 16 de dezembro de 1910 e instalada em 9 de março de 1911. “Na divisão administrativa do Brasil, referente ao ano de 1911, o município de Bauru aparece com os distritos de Bauru, Piatã, Pirajuí, Miguel Calmon, Penápolis e Jacutinga” (Fonte: IBGE. Sinopse Estatística do Município de Bauru. Rio de Janeiro: IBGE, 1948).

11 Nesse período, Birigui depende administrativamente do município de Penápolis. Penápolis se torna Distrito de Paz em 1909, Município em 1911 (Decreto - Lei N° 1.397 de 22 de dezembro de 1911) e Comarca em 1917 (Decreto - Lei N° 1.557 de 10 de outubro de 1917).

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de outras idades, e neste caso de preferência as creanças de 11 e 12 annos, analphabetas. (Art. 9, § Único da Lei Estadoal 3356, 31 de Maio de 1921).

Segundo Ercilla e Pinheiro (1928), no ano de 1926 a instrução em Birigui foi

ministrada:

[...] pelo grupo escolar, onde funcionam 10 classes; Collegio Noroeste; Escola Nossa Senhora de Lourdes; Collegio São Luiz da União dos Moços Catholicos, e Collegio Silvares. Existem também a Escola Noturna da Loja Maçônica “Paz e Progresso e mais duas escolas ruraes mantidas pela municipalidade. (p.498).

São estas as escolas destinadas à educação da população local até os anos de 1930. De

acordo com Priore e Venancio (2010), o “[...] início da República conviveu com crises

econômicas, marcadas por inflação, desemprego, e super produção do café” (p.219). Estas

situações estavam aliadas à concentração de terras e à ausência de um sistema escolar

abrangente.

Para Serra (2011), a organização escolar na zona rural de Birigui se fez necessária

porque a maioria da população residia no campo. Assim foram muitas as escolas criadas no

município. “Escolas de ordem particular nas fazendas e outras criadas pelo município e pelo

governo estadual” (p.52).

Segundo Serra (2007), o ensino na cidade de Birigui aconteceu de acordo com a ênfase

que se deu à expansão da escolarização no Brasil em torno das décadas de 1920 e 1930, como

o movimento escolanovista, no qual a partir da década de 1950 se iniciou no Brasil um

processo desenvolvimentista que explica, em particular no Estado de São Paulo, a expansão

dos grupos escolares, das escolas isoladas, dos ginásios, dos colégios e dos institutos de

educação pela capital, litoral e interior, o mesmo aconteceu na cidade de Birigui com a

criação de várias escolas e de um instituto de educação

Ainda segundo Serra (2007), a cidade de Birigui chegou a ter nas décadas de 1950,

1960 e 1970 mais de 40 escolas rurais entre comum isoladas e de emergência.

Com isso, confirma-se que o ensino em Birigui, assim como nas demais cidades da

região Noroeste, foi municipal e primário até a criação das escolas reunidas, dos grupos

escolares e escolas isoladas pelo governo estadual.

Civera (2011), tratando sobre a educação do campo na América Latina, aponta que

muitas vezes para podermos localizar a escola devemos levar em conta que:

Podemos ubicar la escuela en su entorno tanto local como nacional y global en una relación de complicidad, competencia o conflictividade con otras instituciones culturales, sociales o económicas, o pensar la escuela como processo: como resultado de la acción de diversos sujetos y a la vez como

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estructura que marca los limites de su acción, en una organización específica del tiempo y del espcio que se construye en sus rutinas y ritos diarios. (p.9)12

É nesse sentido que passo a discorrer sobre a legislação que normatizou a escola

pública primária rural municipal.

De acordo com Ávila (2013), “[...] até 1917 não havia no estado paulista uma

classificação quanto à localização das escolas isoladas.” (p.69). Somente com Oscar

Thompsom, a partir da publicação da Lei nº. 1.579, de 19 de dezembro de 1917,

regulamentada pelo Decreto nº. 2.944, de 08 de agosto de 1918, foi que as escolas isoladas

passaram a ser classificadas em “ruraes, districtaes” e urbanas. Ávila (2013) afirma que a

instrução pública paulista foi marcada por constantes reformas ao longo dos anos de 1920 e,

dentre essas reformas, destaca a de Sampaio Dória com a Lei nº. 1.750, de 08 de dezembro de

1920, regulamentada pelo Decreto nº. 3.356, de 31 de março de 1921, que vai tratar do papel

central das escolas isoladas rurais na campanha de alfabetização. Para Ávila (2013), esse era

um problema de urgência em virtude da organização do aparelho escolar amparado pelas

correntes renovadoras do pensamento moderno, nas quais os governantes e reformadores se

depararam com um cenário rural muito desfavorável: escolas precárias e insuficientes,

instabilidade de professores, elevados índices de analfabetismo e, ainda a chegada de

inúmeros imigrantes no estado.

Em Birigui, segundo Ercilla e Pinheiro (1928), a educação local começa a 'ser

organizada em 1912, quando foi instalada a primeira escola para os filhos das pessoas que

vieram morar em Birigui, organizada por pessoas que sabiam ler e escrever. Com isso, “[...]

reuniram-se as crianças da povoação; meninos e meninas para dar-lhes algumas instruções”

(p. 492).

Com o Código de Educação de 193313, a escola pública primária rural passou a ser

denominada de escola isolada e, no artigo 253 da referida lei, aparece o termo escolas

isoladas rurais. O artigo 257 também dessa lei trata da instalação das escolas isoladas

determinando que: “[...] para o provimento de escolas da zona rural, será dada preferência

àquelas em que a municipalidade ou os particulares interessados tomem para si, o encargo da

12 Podemos localizar a escola tanto em seu ambiente local, nacional e global em uma relação de cumplicidade, a concorrência ou conflictividade com outras instituições culturais, sociais e econômicos, ou pensar a escola como processo: como resultado da ação de vários assuntos, bem como estrutura que marca os limites de sua ação em uma organização específica de tempo e espaço que é construído em suas rotinas diárias e rituais. (tradutor google)

13 SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 5.884, de 21 de abril de 1933. Institui o Código de Educação do Estado de São Paulo. Secretaria da Educação e Saúde. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1933.

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instalação, comprometendo-se: a) a doar ao estado terreno e prédio nas condições

especificadas no artigo 256.” (SÃO PAULO, 1933, p.71).

Em Birigui, presume-se que este artigo foi cumprido, porque nessa região foram

instaladas várias escolas isoladas, às quais eram de interesse de particulares, como inúmeros

fazendeiros que doaram terrenos e prédios para o funcionamento destas. Esse foi o caso, por

exemplo, das seguintes escolas: Fazenda Água Branca, Fazenda Boa Esperança, Fazenda Bela

Vista, Fazenda Benes, Fazenda Bertaglia, Fazenda Canellas, Fazenda Santa Helena, Fazenda

Santa Luzia, Fazenda Santo Antonio, Fazenda São José, Fazenda São Marcos, Fazenda Três

Marias, Estância Elaine, Chácara Duas Meninas, Colônia Cinco e Sitio Martelli.

O Código de Educação de 1933 em seu artigo 253 diz que: “[...] para instalação de

escolas isoladas indispensável à existência de pelo menos quarenta (40) crianças em

condições de matrícula, dentro de uma área de dois quilômetros de raio” (SÃO PAULO, 1933,

p.71).

Assim parece ter acontecido em Birigui. Recordo que durante o desenvolvimento da

pesquisa que resultou neste texto, analisando mapas de movimento na Diretoria de Ensino,

chamou-me a atenção o fato de várias escolas terem 40 crianças matriculadas. Isso despertou

certa curiosidade, que levou-me a pensar: era real os dados ou eram maquiados para se

atender a essa legislação.

De acordo com o Annuario do ensino do Estado de São Paulo de 193714, no de ano 1936

no estado de São Paulo o número de escolas isoladas rurais era de 3.356 e o número de

matrículas de 101.624 alunos entre 8 e 11 anos.

Em Birigui, registra-se que no ano de 1946 as matriculas efetuadas em uma classe

feminina de 1º ano ficava em torno de 7 a 13 anos de idade e, no ano de 1963, de 5 a 12 anos.

Em entrevista com ex-professora do município, essa afirma que:

[...] quando eu penso naqueles meus aluninhos, lá de Juritis, eu tinha 52 alunos você sabe o que é Juritis? Que os pais colocaram na carteira e foram para a roça eu fico pensando quanto medo essas crianças sentiram! Então, o que eu fazia primeiro era mostrar toda a alegria de recebê-los, que eu ia ser a mãe deles na escola, se possível, que eles tinham só a mim para recorrer, eles não tinham mãe, pai que eu pudesse telefonar [...] (p.139-140). [...] eu tive crianças de cinco anos que aprenderam a ler e escrever. Como eu tive crianças de 12 anos que não aprenderam (BIGÉLLI, 2011, p.143).

Vale assinalar que a escola primária rural nas décadas de 1930 e 1940 teve um papel

importante na modernização do país e na construção da nacionalidade. No país e em Birigui,

14 SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação e da Saúde Publica. Annuario do ensino do estado de São Paulo: 1936-1937. Organizado pelo Prof. A. Almeida Junior, Director do ensino. São Paulo: Typ. Siqueira, 1937.

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essa expansão do ensino primário rural ocorreu por meio da criação de escolas e,

consequentemente, a ampliação do número de matriculas tem início nos anos de 1920.

Nacionalmente, o objetivo era fixar o homem no campo, trabalhando com noções de técnicas

agrícolas, educação sanitária, como noções de higiene e o combate de doenças, tudo isso

tendo por objetivo levar a modernização à zona rural. Em Birigui, isso pode ser confirmado

com as entrevistas realizadas com as professoras Yolanda Ibanhez D’ Láscio e Iraci Fabri

Sanches Bigélli. Professora Yolanda relatou em depoimento às alunas do curso de Pedagogia

da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB) durante a Semana Cultural do ano

de 2012 que:

Todos os problemas de doenças eram resolvidos pela professora primária que cuidava de tudo, ferimentos, machucados, vacinas etc. Lembro de uma ocasião em que toda semana eu tinha que passar no Posto Médico da cidade pegar os medicamentos e durante um longo tempo ia à casa de um aluno fazer curativos e demais cuidados médicos, até aplicava injeção, pois teve um grave infecção devido a um machucado, acidente (D’LÁSCIO, 2012).

Professora Yolanda afirma que esta escola onde foi lecionar pela primeira vez foi a

Escola Rural Mista da Fazenda Água Branca. “Eu ia de ônibus do então saudoso Pedro

Sanches, descia no Guatambu e andava três quilômetros a pé entre cafezais de um lado e

eucaliptos de outro para chegar à escola” (FRANZÓI, 2011, p.226).

Professora Iraci, ao tratar sobre o combate as doenças, relatou a Serra15, por ocasião de

seu mestrado que em:

[...] Juritis, um núcleo de tuberculosos, nós professores de lá, fomos convocados através do Diário Oficial pra fazer o Teste de Mantu e também pra fazer o Raios-X dos pulmões pra ver se a gente não tinha adquirido a doença e foi feito lá nos alunos também e foi constatado com o Teste de Mantu a tuberculose e nós e que dávamos os medicamentos para os alunos e também se aplicava um tipo de uma vacina, se não acontecer nada, você não tem nada, mas se inflamar eles voltavam daí tantos dias e mediam pra ver o grau que estava avançado na criança o vírus da tuberculose. E levavam os medicamentos nominados, este pra tal aluno, este pra tal aluno e nós é que ministrávamos os medicamentos. (BIGÉLLI por SERRA, São Paulo, 2010/2011, p.148)

Em relação à atuação do professor na educação na zona rural, Minicucci (1948) e

Carramaschi (1948) apontaram que na região de Birigui e no estado de São Paulo as

condições de trabalho levavam a um desestímulo profissional, fator negativo para a atuação

15 SERRA, Áurea Esteves. A formação do professor alfabetizador no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP (1961-1976). 2004. 249 f. Trabalho de Conclusão de Curso de (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2004.

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docente. Esses autores expõem que os professores somente cumpriam o que determinava a

lei, um ano de estágio. Carramaschi (1948) afirma:

Raríssimo é o mestre escola que permanece numa Escola de sitio por mais de um ano. As dificuldades com que depara são enormes: falta de pensão, área cultivável, moléstias, remuneração exígua, incompreensão e outros tantos, que só a abnegação e o patriotismo, que são qualidades inherentes a todos os professores, o farão suportar (p.95).

Nesse contexto, Reis et al (2013), em seu trabalho de conclusão de curso sobre

memórias da escola rural em Birigui, apresenta o depoimento da professora Maria Scarpin,

sobre sua passagem pela escola rural, sobre o que relata várias dificuldades com a higiene,

costumes, moradia entre outros.

Nesse sentido, Minicucci (1948) mencionou em seu artigo “1º Congresso rural de

Birigui: escolas para a zona rural” quais as medidas que deveriam ser postas em execução

para que toda criança da zona rural do estado de são Paulo recebesse os benefícios da

instrução primária. O referido autor assim discorre:

1 – Proceder-se a um planejamento para distribuição de escolas, mediante um estudo meticuloso da concentração demográfica, atividades reinantes, condições de estabilidade do professor. 2 – Diminuir-se o número de crianças exigidos para a instalação de escolas, pois atualmente o Estado só as localiza onde há mais de 40 menores em idade escolar. Desse modo, os pequenos núcleos onde estão é possível atingir esse limite se vêm privados de instrução primária. Somem-se esses conglomerados e teremos uma cifra alarmante de crianças que não freqüentam escolas primárias. 3 – Deixar a cargo das Prefeituras Municipais a instalação de escolas primárias em núcleos com 15 crianças no mínimo. O Estado criaria escolas em lugares onde houvesse, por exemplo, mais de 30 crianças. Assim, toda a zona rural seria beneficiada e favorecer-se-ia a pequena propriedade, que é a maior fonte de produção e riqueza. 4 – Serem fazendeiros responsáveis pelos menores em idade escolar, que deixam de freqüentar as escolas existentes. É muito comum o lavrador utilizar-se do serviço do menor em detrimento da frequencia às aulas, com tácito consentimento do fazendeiro. 5 – Preparar, convenientemente, o professor, para a zona rural, pois é raro aquele que sente inclinação para a vida do campo, fazendo deste apenas um estágio da sua carreira. Isso se reflete no animo da criança, que sente, desde cedo, intensa atração pela cidade. 6 – Proceder-se a um estudo urgente para e estabelecimento dos períodos letivos nas diversas regiões do Estado. Em nossa zona, por exemplo, os contratos agrícolas terminam em setembro ou outubro, meses em que as escolas se despovoam. Os alunos que se retiram de uma escola não encontram mais lugares nas outras, uma vez que as matrículas estão encerradas e o ano letivo quase findo. Diante disso, essas crianças têm um período reduzido de estudo, intercalado por umas férias forçadas muito longas, que influem no aprendizado (p.71-72).

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Minicucci (1948) termina o artigo afirmando que essas foram as suas considerações na

intenção de contribuir para a solução dos preementes problemas da educação no campo em

Birigui e no estado de São Paulo. Todavia, necessário se faz ressaltar que, embora muitos

estivessem preocupados com a educação rural, os problemas persistiam, dentre eles, o

analfabetismo. em muitos estudos se observa que o panorama nacional do analfabetismo ao

longo do processo de escolarização expressa, até a década de 1950, um percentual de mais de

50% de indivíduos analfabetos, embora o governo tivesse criado vários programas. Dessa

forma, constata-se que a política de escolarização caminhou a passos lentos em nosso país.

Isso possibilita confirmar o fato por demais conhecido de que as diferenças econômicas,

sociais e culturais se refletem em desigualdades de acesso e integração escolar. Para Pereira

(2013), “[...] una de las grandes causas de la insuficiencia de oportunidades de escolarización

la dispersión de la población rural” (p183).

Carramaschi (1948) também escreveu no seu artigo “O problema do ensino primário

na zona rural” que, em toda a região que abrangia a Delegacia de Ensino de Araçatuba,

somente conhecia um professor que optou por permanecer no campo. Também escreveu 13

itens que segundo seus estudos seria necessário para resolver o problema das escolas rurais.

São eles:

1 – Maior entusiasmo do professor, para integrar-se ele na vida do povoado ou bairro onde se encontra a sua escola. 2 – Maior interesse, por parte dos fazendeiros, às coisas do ensino. 3 – Saneamento rural, para elevação do nível econômico do núcleo. 4 – Condições especiais dos trabalhos agrícolas. 5 – Estabilidade de professores e alunos. 6 – Aparelhamento didático apropriado. 7 – Assistência ao professor. 8 - Assistência aos alunos por parte das Caixas Econômicas. 9 - Assistência médico-sanitária, por parte dos Centros de Saúde. 10 – Proibição do trabalho de memores de 14 anos, durante o período escolar. 11 – Área cultivável para a feitura de hortas e jardins. 12 - Ano escolar correspondente ao ano agrícola. 13 – Organização de um programa afeito a zona rural, adaptável as situações do meio (p.95).

Carramaschi (1948) termina essa parte da exposição escrevendo: “Se em nosso

município conseguirmos fixar o professor ao local de sua escola, dando-lhe remuneração e

estabilidade condigna, posso afiançar que o problema do ensino primário na zona rural, será

um ponto solucionado” (p.95). Após essas reflexões, Carramaschi (1948) continua seu texto

discorrendo sobre o professor Lauro Bittencourt, que aportou de longínquas terras para fazer

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estágio e, “[...] encontrando ambiente bastante favorável, até hoje ali se encontra,

integrandos-e na vida do bairro, tornando-se mesmo proprietário agrícola” (p.95).

Carramaschi (1948) teceu uma critica dizendo que o problema do ensino primário no

campo era debatido nos congressos porém não passava de palavreados, uma vez que somente

aconteceu uma melhora com Sud Menucci, em 1932, “[...] num esforço titânico tentou

organisar o ensino rural, tendo sido o mesmo regulamentado pelo governo de então” (p.94),

General Manuel Rabelo e Pedro de Toledo. Continua Carramaschi (1948) discorrendo que o

“posterior governo revogou o decreto e os problemas continuaram” (p.94). Carramaschi

(1948, p.94) afirma: “desde 1943, venho realisando, nas escolas campesinas, os exames finais.

Baixíssimas tem sido a porcentagem de promoção, quase nula a sua freqüência [...]”.

De açodo com os estudos realizados constatei que a criação das escolas isoladas rurais

de Birigui, mantidas pelo poder público municipal e estadual, estavam relacionadas em

grande parte ao grau de desenvolvimento econômico do bairro onde se acham instaladas e ao

número da população ali residente. Segundo Serra (2011), os bairros do Tupi e Moinho

chegaram a ter de três a quatro escolas em virtude da população ali residente.

De acordo com as informações disponibilizadas na revista Birigui em sua 1ª

concentração rural, no ano de 1948 essa cidade tinha-se 22 escolas isoladas estaduais rurais

e 12 escolas isoladas municipais, sendo seis urbanas e seis municipais. Quanto aos grupos

escolares, havia quatro, sendo dois na zona urbana e dois na zona rural. Os da zona rural

foram criados pelo Decreto de 3 de setembro de 1946 e instalados no dia 13 do mesmo mês e

ano. O Grupo Escolar rural do Bairro Taquari no ano de 1948 possuía quatro salas de aula,

com um total de 160 alunos. O Grupo Escolar rural do bairro Baguassú também continha

com quatro salas e um total de 147 alunos. Segundo Souza (1998), grupos escolares era onde

se reuniam várias classes, com alunos divididos em turmas e cada classe sob a regência de um

professor. Essa organização era feita no mesmo estabelecimento.

Outra constatação que vai ao encontro do que é apontado nacionalmente é a evasão e a

repetência. De acordo com Almeida (1945), de cada 100 alunos de escolas isoladas rurais,

somente 40 chegavam até o fim do 2° ano. Almeida (1945) aponta que o percentual de

reprovações ficava em torno de 40%. É alarmante o número de reprovação ou evasão

registrado como se pode visualizar o caso especifico de Birigui compreendido no período

entre a década de 1940 e 1950.

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QUADRO 1 ESCOLAS ISOLADAS ESTADUAIS DE BIRIGUI ENTRE 1940 E 1944

Anos 1940 1941 1942 1943 1944

Sexo M F M F M F M F M F

Matriculas 837 646 907 651 965 639 1001 767 1204 903

Eliminados 242 212 256 192 255 123 268 187 332 242

Restantes 595 434 651 458 710 516 733 580 872 661

Total 1.029 1.109 1.226 1.313 1.533

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Estaduais de Birigui, de 1938 a 1955. (Caixa n. 75).

QUADRO 2 ESCOLAS ISOLADAS ESTADUAIS DE BIRIGUI ENTRE 1945 E 1949

Anos 1945 1946 1947 1948 1949

Sexo M F M F M F M F M F

Matriculas 695 627 642 490 584 447 600 469 490 399

Eliminados 200 261 259 207 129 111 148 117 14 4

Restantes 495 366 383 283 455 336 452 352 476 395

Total 861 666 791 804 871

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Estaduais de Birigui, de 1938 a 1955. (Caixa n. 75) e janeiro de 1945.

(Caixa n. 75).

QUADRO 3 ESCOLAS ISOLADAS ESTADUAIS DE BIRIGUI ENTRE 1950 E 1955

Anos 1950 1951 1952 1953 1954 1955

Sexo M F M F M F M F M M F F

Matriculas 713 582 861 697 986 742 711 604 828 668 815 661

Eliminados 190 192 255 225 347 285 63 44 336 262 260 192

Restantes 523 390 606 472 639 457 708 560 492 406 555 469

Total 913 1.078 1.096 1.268 898 1.024

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Estaduais de Birigui, de 1938 a 1955. (Caixa n. 75).

Analisando os dados que constam nos três quadros acima, quanto aos alunos

eliminados (evadidos), nota-se que a evasão nas escolas isoladas rurais municipais ficava em

torno de 26,83% para o sexo masculino e de 27,90% para o sexo feminino. A partir desta

constatação, cabe assinalar que no interior das escolas as diferenças sociais, culturais e

econômicas se traduzem em desigualdades de acesso, integração e sucesso escolar dos

alunos, apresentando-se no interior das escolas muitas vezes em estratégias de rotulação,

discriminação e situações de desvantagem, que costumam responder ao abandono da escola.

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Perante toda essa situação, sabe-se que a escola rural brasileira no princípio do século

XX era muito incipiente, tanto no aspecto quantitativo, como no qualitativo. Com isso, na

década de 1920, nota-se em Birigui um desajuste entre o número de alunos e o número de

escolas oferecidas. Há necessidade da sociedade era que a instalação do sistema educativo

fosse capaz de atender a todos, um sistema educativo mais abrangente. Percebe-se que a

educação não se expande no ritmo que exige a explosão demográfica, somente no período dos

anos de 1930 é que a expansão do ensino primário rural começa a ocorrer devido à política

intervencionista do governo, pois se sabe que Getúlio Vargas foi presidente do Brasil em dois

períodos, sendo o primeiro por 15 anos ininterruptos, de 1930 a 194516. No segundo período,

em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como Presidente da República,

por três anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de1954. De acordo com Serra

(2014b), foi nesse período que ocorreu a grande expansão do ensino primário rural em

Birigui. Para Souza (2013), dois aspectos marcam a história do ensino primário no estado de

São Paulo no século XX, entre as décadas de 1930 e 1960: “a expansão continua e acelerada

das oportunidades educacionais alicerçada na diferenciação espacial e interna da rede escolar

e a renovação pedagógica instituída pelo Estado com base nos princípios da Escola Nova”

(p.1).

De acordo com Serra (2014b), a edição do jornal O Biriguyense de 30/10/1938 noticia

que Birigui contava com 8.500 habitantes na sede do município; 3.200 habitantes nos

distritos; e 37.500 na zona rural, perfazendo assim um total de 49.200 habitantes. Ora, se

compararmos com o número de escolas na sede do município, podemos concluir que a zona

rural detinha o maior número de escolas, uma vez que a população estava no campo.

De acordo com Serra (2007), Birigui no ano de 1940 tinha seis escolas urbanas e 21

escolas rurais e, no ano de 1957, nove escolas urbanas e 48 escolas rurais. Concluiu-se, de

acordo com Serra (2014b), que o período educacional na Era Vargas, mesmo com a II Guerra

Mundial, em Birigui, foi significativo para o posterior desenvolvimento desta área.

Buscando compreender todo esse processo de expansão da escola rural em Birigui e a

imigração, se apresentam alguns quadros, que sintetizam algumas informações sobre a

questão aqui discutida.

De acordo com os dados censitários do IBGE (1950), se observa que a maior parte da

população de Birigui até a década de 1950 encontrava-se no campo. Outro dado importante

16 Esse período se divide em três fases: de 1930 a 1934, como chefe do Governo Provisório; de 1934 a 1937, comandou como Presidente da República do Governo Constitucional, tendo sido eleito pela Assembléia Nacional Constituinte de 1934; de 1937 a 1945, implantou o Estado Novo após o golpe de estado.

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que deve ser ressaltado é que o aumento considerável da população de 1920 para 1930, pode

ser atribuído a imigração.

Retomando a questão da implantação das escolas rurais de ensino primário em

Birigui, constata-se que a primeira iniciativa foi municipal, porém, na década de 1930 o

governo estadual também assumiu esse tipo de ensino como se confirma no quadro abaixo.

Para Souza (2013), o Poder Público estadual foi “[...] responsável pela manutenção do maior

número de escolas e matrículas e pela difusão do ensino.” (p.1). Podemos confirmar essa

informação com os dados organizados no quadro abaixo, extraídos de livros de matrículas e

mapas de movimento.

QUADRO 4 ESCOLAS RURAIS DE BIRIGUI

Anos Número de escolas municipais

rurais Número de escolas estaduais

rurais

1920 05 --

1939 20 21

1948 15 20

1957 15 30

Fonte: Livro de Matrículas e Mapas de Movimento.

A análise do quadro acima permite refletir sobre algumas constatações decorrentes dos

estudos realizados. Muitas vezes a “escola” era somente uma classe criada pelo governo

municipal. Em um mesmo prédio se tinha classes criadas pelo governo estadual e pelo

governo municipal. No entanto, cabe assinalar que as designações encontradas nos

documentos curriculares analisados foram mantidas. De certa forma, foi essa fusão entre as

iniciativas municipais e estaduais que contribuíram para a expansão das escolas rurais.

Para Ávila e Souza (2013a), estas afirmam que:

Entre as décadas de 1930 e 1960, o ensino primário rural emergiu como uma das problemáticas fundamentais da educação brasileira, passando a ocupar um lugar de destaque nos discursos de políticos, educadores e administradores do ensino público do país. (p.1).

Estas autoras ainda afirmam que:

[...] o expressivo aumento no número de escolas rurais na década de 1940, não se construiu no Brasil uma ideia uniforme em relação a essa modalidade de ensino. Ora a escola rural foi concebida para instruir, civilizar, moralizar, higienizar, e nacionalizar, ora como instrumento de modernização e fixação do homem ao campo e, ainda, como elemento de estabilidade e de segurança nacional. (ÁVILA, SOUZA, 2013a, p.25).

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Neste sentido, quando se observa o número de escolas, constata-se que grande parte

delas estavam na zona rural, onde está a grande maioria da população. Veja-se o quadro

abaixo:

QUADRO 5 BIRIGUI E SUAS ESCOLAS

Anos N. de

escolas municipais

N. de escolas estaduais

urbanas

N. de escolas particulares (primárias)

Grupo escolar

Ginásio

Ensino secundário

Faculdade

1920 05 -- 01 -- -- --

1939 20 01 02 02 01 01

1948 15 04 03 02 03 01

1957 15 06 03 04 03 --

Fonte: ERCILLA, A. M.; PINHEIRO, Brenno (Org.). O estado de São Paulo: zona noroeste. São Paulo: Propaganda Pan-americana, 1928. OS MUNICÍPIOS. A revista que o Brasil lê. São Paulo, dezembro de 1939. SERRA, Áurea Esteves. A formação

do professor alfabetizador em Birigui/SP (1961/1976). Araraquara: Junqueira & Marin; São Paulo: FAPESP, 2007.

Porém, Minicucci (1948) aponta que:

As estatísticas demonstram que mais da metade de nossa população mora na zona rural. No entanto, esta conta com um número reduzidíssimo de escolas em comparação com os centros urbanos. Para comprovar esta assertiva, não precisamos ir muito longe. Comentemos com o nosso município: Birigui conta, aproximadamente, com 45.000 habitantes, dos quais 14.000 moram na cidade e 31.000 no campo. Há, na cidade, 1.740 alunos matriculados nos grupos escolares, escolas municipais e particulares e, 1345 alunos nos grupos e escolas rurais. Por aí podemos ver que a cidade apresenta a média de 304 habitantes para cada unidade escolar e a zona rural 837 habitantes para cada unidade. A desproporção é flagrante. Note-se ainda que Birigui é um município bem favorecido de escolas, em comparação com os demais da zona noroeste (p. 36).

Sobre esse aspecto, cabe ressaltar a necessidade de se ter mais escolas nos bairros

rurais.

Segundo Barros (2004) e Bezerra (2011) citados por Ávila e Souza (2013b), da

diferenciação espacial das escolas isoladas a partir do pressuposto apontado pelos referidos

autores, que atribuem à palavra bairro “[...] uma porção de território nas proximidades de

um núcleo urbano.” (p. 5.). Ávila e Souza (2013b) concluem, a partir da documentação

examinada, que o uso do termo escola de bairro refere-se “[...] a localização da escola em

povoados localizados nos arrabaldes da cidade ou aquelas situadas em zonas consideradas

propriamente agrárias ou rurais” (p. 5).

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No caso de Birigui, é nos bairros17 rurais que temos a grande maioria das escolas de

ensino primário18.

Referente à criação e fechamento das escolas rurais da região de Birigui, no caso aqui

somente quanto as escolas municipais, foram localizadas quatro leis que tratam deste

assunto e uma citação em um jornal de circulação diária dos anos de 1930.

Nesse estudo, a título de amostragem a partir dessas formulações e também em virtude

da fonte documental localizada, apresenta-se o número de matriculada de 20 escolas

municipais isoladas de Birigui entre os anos de 1931 e 1936 constatando que ocorre um

aumento significativo de 1934 a 1936, e que essa média mantém-se até o ano de 1958. Trata-

se apenas do período em questão, visto que foram localizadas somente duas fontes

documentais, Mapas de Movimento, desses respectivos anos.

QUADRO 6 20 ESCOLAS ISOLADAS MUNICIPAIS DE BIRIGUI

MATRÍCULAS ENTRE 1931 E 1936

Ano 1931 1932 1933 1934 1935 1936

Sexo Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.

Qtd 133 101 47 91 41 34 209 124 203 245 187 123

Total 234 138 75 333 310 448

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Municipais de Birigui de 1931 a 1934. (Caixa n. 57).

QUADRO 7 15 ESCOLAS ISOLADAS MUNICIPAIS DE BIRIGUI

MATRÍCULAS ENTRE 1957 E 1958

Ano 1957 1958

Sexo Masc. Fem. Masc. Fem.

Qtd 271 165 204 158

Total 436 362

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Municipais de Birigui de 1957 a 1958. (Caixa n. 67).

Também quanto às escolas isoladas estaduais, foram localizadas somente duas fontes

documentais, Mapas de Movimento, referentes à década de 1940 e 1950, como podemos

visualizar no quadro abaixo. Observa-se ainda, que nos primeiros anos da década de 1940 o

17 Antonio Candido (1979) define bairro como “uma porção de território subordinado a uma povoação, onde se encontram grupos de casas afastadas do núcleo do povoado, e outras, em distâncias variáveis”, grupos rurais de vizinhança.

18 Este quadro foi elaborado a partir das informações coletadas em Mapa de Movimento das Escolas Municipais Rurais dos anos de 1931, 1945 e 1957, localizados na Diretoria de Ensino de Birigui.

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número de alunos matriculados nas escolas isoladas estaduais de ensino primário e a partir

de 1945 ocorre um decréscimo, voltando a aumentar a partir dos anos de 1951.

QUADRO 8 ESCOLAS ISOLADAS ESTADUAIS DE BIRIGUI ENTRE 1940 E 1944

Anos 1940 1941 1942 1943 1944

N. de escolas 27 30 30 30 21

Sexo M F M F M F M F M F

Matrículas 837 646 907 651 965 639 1001 767 1204 903

Restantes 595 434 651 458 710 516 733 580 872 661

Total 1.029 1.109 1.226 1.313 1.533

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Estaduais de Birigui, de 1938 a 1955. (Caixa n. 75).

QUADRO 9 ESCOLAS ISOLADAS ESTADUAIS DE BIRIGUI ENTRE 1945 E 1949

Anos 1945 1946 1947 1948 1949

N. de escolas 24 18 18 20 29

Sexo M F M F M F M F M F

Matrículas 695 627 642 490 584 447 600 469 490 399

Restantes 495 366 383 283 455 336 452 352 476 395

Total 861 666 791 804 871

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Estaduais de Birigui, janeiro de 1945. (Caixa n. 75).

QUADRO 10 ESCOLAS ISOLADAS ESTADUAIS DE BIRIGUI ENTRE 1950 E 1955

Anos 1950 1951 1952 1953 1954 1955

N. de escolas 28 31 32 32 30 30

Sexo M F M F M F M F M M F F

Matrículas 713 582 861 697 986 742 711 604 828 668 815 661

Restantes 523 390 606 472 639 457 708 560 492 406 555 469

Total 913 1.078 1.096 1.268 898 1.024

Fonte: DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DE LINS. 3° Distrito escolar de Penápolis. Município de Birigui. Mapa de Movimento das Escolas Isoladas Estaduais de Birigui, de 1938 a 1955. (Caixa n. 75).

Por outro lado, quanto à pesquisa, é interessante registrar que os livros de matrícula

localizados são somente a partir do ano de 194619. Este fato pode ser atribuído a criação da

Delegacia de Ensino de Araçatuba somente no ano de 1947, de acordo com o Decreto nº.

17.698, de 26 de novembro de 1947. Vale lembrar que anteriormente a região de Birigui

19 Foi consultado o Núcleo de Vida Escolar da Diretoria de Ensino de Birigui, responsável Teresa Rosa dos Reis, o Núcleo de Vida Escolar da Diretoria de Ensino de Araçatuba, responsável Marilisa Aparecida Tavelin Ora e o Núcleo de Vida Escolar da Diretoria de Ensino de Lins, responsável Rosane Lins de Castro Ablas, todas as respectivas responsáveis informaram que os acervos não possuem nenhum livro de matrícula referente às escolas rurais da região de Birigui no período compreendido entre 1920 e 1945.

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pertencia a Delegacia de Ensino da cidade de Lins, depois Araçatuba e somente com o

Decreto 7.510, de 29/01/1976, foi criada a Delegacia de Ensino de Birigui.

Entretanto, em um Mapa de Movimento, localizado na Diretoria de Ensino de Birigui,

referente ao Grupo Escolar Rural do Taquari, no período compreendido entre 1946 e 1969,

em relação ao número de matriculas, como apontado por Souza e Ávila, é no final dos anos de

1940 que começa a expansão de matrículas nas escolas rurais, continuamente até o final da

década de 1950.

Como mencionado anteriormente, nos acervos consultados somente localizam-se livros

de matrícula a partir do ano de 1946. Assim, a partir dos livros de matrícula no 1° ano do

ensino primário, classe feminina, do Grupo Escolar Rural do Taquari, foi possível reunir

algumas informações quanto à idade das alunas no ato da matrícula, a nacionalidade dos pais

e respectiva profissão, dados estes observados somente por quatro anos, pois não foi

localizado o livro de matrículas a partir de 1950 até 1964.

QUADRO 11 IDADE DAS ALUNAS NO ATO DA MATRÍCULA

Anos 7 8 9 10 11 12 13

1946 13 9 4 11 3 4 2

1947 3 9 5 2 9 -- 2

1948 2 7 6 3 -- 1 --

1949 1 8 3 4 1 1 --

Fonte: INSPETORIA AUXILIAR DO ENSINO DE BIRIGUI. Divisão Regional de Educação de Araçatuba. Livro de Matrícula da Escola Mista e Municipal de Birigui. Bairro: Taquari, 1946.

QUADRO 11 NACIONALIDADE DO PAI

Anos Brasileiro Japonês Italiano Português

1946 34 7 5 --

1947 30 2 3 --

1948 19 -- -- --

1949 15 1 1 1

Fonte: INSPETORIA AUXILIAR DO ENSINO DE BIRIGUI. Divisão Regional de Educação de Araçatuba. Livro de Matrícula das Escola Mista e Municipal de Birigui. Bairro: Taquari, 1946.

Diante desse panorama, o interessante é observar que mesmo após quase três décadas

da chegada do grande número de imigrantes italianos, ainda registra-se a presença de pais de

alunas vindos da Itália e também de japoneses, sendo que o grande fluxo imigratório se deu

na década de 1920 para os italianos e de japoneses na década de 1930.

Após a tabulação dos dados referente à matrícula no 1° ano do ensino primário, classe

feminina, do Grupo Escolar Rural do Taquari, temos: no ano de 1946, 46 matrículas; no ano

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de 1947, 35 matrículas 35; no ano de 1948, 19 matrículas, e no ano de 1948, 18 matrículas.

Observa-se uma redução no número de matrículas, mas vale lembrar que se trata de uma

classe feminina e que nesse período já havia as classes mistas.

Desse modo, pode-se afirmar que a imigração de europeus alfabetizados em virtude do

surto do café contribui nas primeiras décadas do século XX na cidade de Birigui para a

criação das escolas rurais de ensino primário. E essa criação de escolas e oferta de vagas nos

anos de 1940 se da em virtude da pauta de governo lembrando que segundo Camargo (2010)

[...] o valor da escola rural era traduzido como trabalho cívico, econômico e patriótico, capaz de restituir o sentido de brasilidade, que se cria ameaçado pelas ondas de imigração de raças inassimiláveis (alemães e japoneses, especialmente), e de combater o ‘preconceito urbanista’, fruto de nossa herança cosmopolita (p.104).

Considerações Finais

O processo de colonização e povoamento de Birigui foi marcado pela disputa da terra

na qual o “poder” político econômico exercido na região durante as primeiras década do

século XX ficou a cargo dos membros da Companhia de Terras, Madeiras e Colonização do

Estado de São Paulo, tendo o monopólio do café, este, como já vimos, quebrado em virtude

da queda da Bolsa de Nova York.

Nesse contexto, se faz necessário ressaltar que quanto como imigração e a cultura do

café parece ter ocorrido em Birigui na primeira metade do século XX, o que aponta Molina

(1983) com os estudos sobre a escolarização rural nas décadas de 1970 e 1980 no estado de

São Paulo quanto a evolução da plantação de cana-de-açúcar subsidiada pelo Programa

Nacional do Álcool (PROALCOOL). A referida autora afirma que a evolução de determinadas

culturas provocam “transformações na agricultura, principalmente na composição e

mobilidade da mão-de-obra e, consequentemente, na clientela e desempenho da escola rural”

(p.56).

Nesse sentido, vale lembrar que de acordo com Mendonça (2011) o ensino rural no

Brasil foi fortemente marcado pela dualidade das relações sociais e de poder erigidas pelo

capitalismo sofrendo a educação no século XX profundas alterações. Uma das apontadas pela

referida autora se refere por vezes a iniciativas extremamente contemporâneas sobre a

problemática, e, por vezes a alegada existência de um único modelo de ensino rural em todo o

país, cuja origem está relacionada com a criação por Getúlio Vargas, em 1931 do Ministério

da Educação e Saúde.

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Conclui-se diante de todo estudo realizado que a expansão do ensino primário rural

biriguiense, criação de escolas e número de matrículas no período em foco vai ao encontro do

que já apontou Ávila e Souza. Num primeiro momento de combate ao analfabetismo e

inserção da população aos novos conhecimentos produzidos pela modernidade mediante ao

movimento de renovação educacional difundido no país pela Escola Nova e num segundo

momento em virtude da política implantada pelo Estado Novo, sob o regime autoritário.

Esperamos ter contribuído, na medida do possível, com a discussão sobre o processo de

implantação das escolas primárias rurais e, principalmente, sobre a expansão, criação, e

consequentemente a oferta de vagas.

Referências

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 6337

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