código processo civil cabo verde

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1 MINISTERIO DA JUSTIÇA Após um longo período de reflexão e de demorados estudos no seio de diversas Comissões de Acompanhamento, chamadas a darem-lhe a devida formatação legística, encontra-se agora disponibilizada a versão definitiva do anteprojecto do Código do Processo Civil que no âmbito do Projecto de Reforma do Sector Publico, de 1993 à presente data, se vem preconizando inserir no sector da justiça, com específica incidência na revisão do instrumento normativo que regula os procedimentos destinados à composição jurisdicional dos conflitos de interesses privados no seio da sociedade. Trata-se de um Projecto que nos seus traços mais gerais pretende prosseguir os objectivos de modernização e adequação do processo civil às exigências sociais e económicas do país, à certeza e segurança do Direito e à celeridade; simplificação e desburocratização dos mecanismos normativos que visam o acesso ao direito e à justiça. Entende porém o Ministério da Justiça que a concretização dessa Reforma só terá validade e sólida sustentação se antes da aprovação do correspondente diploma ela seja previamente compartilhada nos seus propósitos e conteúdos de formatação legislativa com os seus futuros destinatários. Assim, todos, em particular os membros da nossa Comunidade Jurídica, são instados a colaborar nessa Reforma, pelo que são convidados a apresentarem as sugestões e comentários que possibilitem a melhor adequação do anteprojecto, que por esta via se divulga, aos anseios da construção de um edifício jurídico capaz de responder em tempo útil ao postulado constitucional da edificação de um regime jurídico que a todos faculte com prontidão e efectividade a tutela jurisdicional dos seu direitos e interesses legalmente protegidos. Sem prejuízo, naturalmente, da utilização de outros meios que se entenda pertinentes, antecipadamente gratificado, solicita o Ministério da Justiça que as contribuições para o enriquecimento do projecto de diploma que será, ulteriormente, submetido à apreciação do órgão constitucionalmente competente para a sua aprovação, sejam encaminhadas para os seguintes endereços de correio electrónico: [email protected] [email protected]

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  • 1

    MINISTERIO DA JUSTIA

    Aps um longo perodo de reflexo e de demorados estudos no seio de diversas Comisses de Acompanhamento, chamadas a darem-lhe a devida formatao legstica, encontra-se agora disponibilizada a verso definitiva do anteprojecto do Cdigo do Processo Civil que no mbito do Projecto de Reforma do Sector Publico, de 1993 presente data, se vem preconizando inserir no sector da justia, com especfica incidncia na reviso do instrumento normativo que regula os procedimentos destinados composio jurisdicional dos conflitos de interesses privados no seio da sociedade.

    Trata-se de um Projecto que nos seus traos mais gerais pretende prosseguir os objectivos de modernizao e adequao do processo civil s exigncias sociais e econmicas do pas, certeza e segurana do Direito e celeridade; simplificao e desburocratizao dos mecanismos normativos que visam o acesso ao direito e justia.

    Entende porm o Ministrio da Justia que a concretizao dessa Reforma s ter validade e slida sustentao se antes da aprovao do correspondente diploma ela seja previamente compartilhada nos seus propsitos e contedos de formatao legislativa com os seus futuros destinatrios.

    Assim, todos, em particular os membros da nossa Comunidade Jurdica, so instados a colaborar nessa Reforma, pelo que so convidados a apresentarem as sugestes e comentrios que possibilitem a melhor adequao do anteprojecto, que por esta via se divulga, aos anseios da construo de um edifcio jurdico capaz de responder em tempo til ao postulado constitucional da edificao de um regime jurdico que a todos faculte com prontido e efectividade a tutela jurisdicional dos seu direitos e interesses legalmente protegidos.

    Sem prejuzo, naturalmente, da utilizao de outros meios que se entenda pertinentes, antecipadamente gratificado, solicita o Ministrio da Justia que as contribuies para o enriquecimento do projecto de diploma que ser, ulteriormente, submetido apreciao do rgo constitucionalmente competente para a sua aprovao, sejam encaminhadas para os seguintes endereos de correio electrnico:

    [email protected]@gmail.com

  • 2

    COMISSO DE REFORMAS LEGISLATIVAS

    ANTEPROJECTO DO CODIGO DO PROCESSO CIVIL DE CABO VERDE

    Tomo I

    Maro de 2009

  • 3

    ANTEPROJECTO DO CODIGO DO PROCESSO CIVIL DE CABO VERDE

    EXPOSIO DE MOTIVOS

  • 4

    I PARTE

    TERMOS DE REFERENCIA E PERCURSO DO

    PRIMEIRO ANTEPROJECTO SUA PRESENTE VII

    VERSO SADA DAS CONTRIBUIES DE COMISSES DE

    ACOMPANHAMENTO DESIGNADAS NO MINISTERIO DA

    JUSTIA PARA O SEU ESTUDO CRTICO

  • 5

    I

    No decurso da IV legislatura (1991/1995) o Governo iniciou

    uma ampla reforma e capacitao do sector pblico.

    Nesse contexto, coube prestar uma peculiar ateno rea da

    Justia, designadamente, no domnio da legislao estruturante do

    ordenamento jurdico nacional, em particular, no respeitante

    reformulao do direito adjectivo vigente.

    Assim, considerando, dentre outras razes, a vetustez do Cdigo

    do Processo Civil vigente, aprovado pelo Decreto-Lei n. 44 129, de

    28 de Dezembro de 1961, posto a vigorar em Cabo Verde pela Portaria

    n. 10 305, de 30 de Julho de 1962, o Ministrio da Justia, ento

    dirigido pelo Dr. Pedro Monteiro Freire de Andrade, decidiu levar a

    cabo, em Abril de 1994, a reforma desse diploma, na linha alis das

    orientaes que haviam sido consignadas nos termos de referncia

    (TdR), estabelecidos para o efeito, pelo seu antecessor, Dr. Eurico

    Correia Monteiro. 1

    Com tal reforma processual, pretendia-se, e pretende-se, ainda

    hoje, volvidos mais de uma dezena de anos, alcanar os seguintes

    resultados:

    - Modernizao e adequao do processo civil s exigncias

    sociais e econmicas do pas;

    - Certeza e segurana do direito, a par da afirmao da

    liberdade e da autonomia da vontade das partes na composio dos

    litgios;

    1 E elaborados pelo Mestre em Direito, Jorge Carlos Fonseca.

  • 6

    - Celeridade nas respostas, confrontando o direito processual

    civil com exigncias de eficcia prtica, de forma a tornar a justia

    mais pronta e expedita;

    - Simplificao e desburocratizao do sistema do

    funcionamento do processo civil.

    Com tais intentos, sob a direco da Unidade de Coordenao

    de Projectos do Banco Mundial (UCP), procedeu-se seleco do

    Consultor para se dedicar elaborao do projecto de um novo Cdigo

    do Processo Civil (CPC).

    Escolha essa, suportada num short list,2 que veio a recair num

    consrcio de Consultores dos Estados Unidos, Graham & James que

    decidiram agregar tarefa que lhes foi adjudicada a sociedade

    portuguesa de advogados Moura Chaves & Associados e o Consultor

    cabo-verdiano, Dr. Geraldo Almeida

    Na sequncia das orientaes contidas nos TdR, o Ministro da

    Justia por essa mesma ocasio, mais precisamente em 16 de Maio de

    1995, entendeu necessrio o estabelecimento de uma ponte entre o seu

    Ministrio e a Consultoria incumbida da elaborao do Projecto do

    CPC, de modo a facilitar o permanente acompanhamento das

    propostas de reforma, medida que elas viessem a ser formuladas,

    E, para o efeito, designou uma equipa formada por dez juristas,

    de que faziam parte magistrados judiciais e do MP, advogados e

    oficiais de Justia, sob a coordenao do ento Presidente do Supremo

    Tribunal de Justia, Dr. scar Gomes.3

    2 De 7 firmas de Consultoria Jurdica, (2 portuguesas, 3 brasileiras, 1 americana e 1 francesa)3 Fizeram parte dessa equipa, alm do Presidente do STJ os Juzes Conselheiros Eduardo Rodrigues e Benfeito Ramos, a Juza de Direito, Carolina Freitas, o Magistrado do Ministrio Publico, Jlio Mascarenhas, os Advogados, Joo Gomes e Henrique Borges, a coordenadora do GELD, Januria Moreira e os Oficias de Justia, Boaventura Semedo e Domingos Pereira.

  • 7

    Essa equipa, porm, acabaria a breve trecho por dissolver-se, ao

    que se presume, por falta de disponibilidade da maior parte dos seus

    membros para se dedicarem demoradamente incumbncia ministerial

    em causa.

    Os Consultores do projecto, em Abril de 1996, apresentaram ao

    MJ, numa verso zero, os preceitos que no seu entender deviam ser

    introduzidos no futuro diploma, aguardando novas orientaes do

    outorgante do estudo que lhes havia sido encomendado.

    A solicitao do MJ, debruando-se sobre essa primeira verso

    do anteprojecto do CPC, o, ento Juiz Conselheiro do Supremo

    Tribunal de Justia, Dr. Benfeito Mosso Ramos produziu um

    exaustivo relatrio, encabeando as razes que no seu entender deviam

    presidir reforma processual em causa e centrando-as, essencialmente,

    nas contidas nos TdR e na necessidade de se dar efectividade ao

    principio constitucional do direito de acesso justia.

    Na sua globalidade, o trabalho desenvolvido pelos Consultores

    foi avaliado como sendo proveitoso, aludindo o referenciado

    Magistrado que no se pode deixar de reconhecer ao anteprojecto a

    vontade de reequacionar a regulamentao de certos institutos,

    sobretudo no sentido de uma abordagem mais actualizada, quer pela

    introduo de aspectos inovadores, quer pela supresso de actos e

    formalidades inteis ou desnecessrios.

    Indicou porm que isso no significa, longe disso alis, que

    no se trata de um documento isento de reparos. Designadamente

    referiu o mesmo Magistrado constar do documento em causa um

    assumido voluntarismo de aumento dos poderes do juiz, que lavaria a

  • 8

    Consultoria a abraar uma concepo do processo que privilegia a

    justia segurana.

    Tais reparos foram dados a conhecer aos Consultores para serem

    tidos em considerao, por ocasio da elaborao da verso definitiva

    do anteprojecto.

    Em Junho de 1997, os Consultores entregaram no MJ a sua

    segunda verso de ante-projecto do Cdigo do Processo Civil, que foi

    acompanhado de uma breve exposio de motivos, onde se faz a

    referncia do acolhimento de um ou outro dos apontados reparos, com

    omisso das razes da no absoro dos restantes.

    De posse dessa segunda verso do Anteprojecto, o ento

    Ministro, Dr. Simo Monteiro designou uma outra Comisso para

    proceder ao acompanhamento tcnico da reforma, com a expressa

    incumbncia de analisar as alteraes sugeridas pela Consultoria no

    ante projecto que lhe vinha de ser apresentado.

    Essa segunda Comisso de Acompanhamento, coordenada pelo

    ento Director do Gabinete de Estudos do MJ, Dr. Emlio Xavier,

    apreciou longamente todos os preceitos contidos na verso do projecto

    posto sua disposio e, em Agosto de 1998, apresentou ao MJ num

    extenso Relatrio, as suas consideraes finais sobre o estudo

    realizado.

    Nesse Relatrio, do mesmo passo em que se anota que as

    solues contidas no anteprojecto respondem, no essencial, s

    preocupaes da reforma que se pretende introduzir no processo civil

    cabo-verdiano, foram apresentadas um sem nmero de propostas de

  • 9

    alterao aos articulados, tanto de forma com de fundo, sem, contudo,

    se mexer na estrutura e na sistematizao do anteprojecto analisado.

    Veio a acontecer, entretanto, que o compromisso dos

    Consultores com a entidade financiadora do projecto de reforma em

    tela o Banco Mundial chegou a seu termo, sem que tivessem sido

    apreciadas as sugestes de alterao apresentadas pela Comisso de

    Acompanhamento e, consequentemente, sem que chegasse a obter o

    MJ a terceira e definitiva verso de anteprojecto de reviso do CPC

    que as duas anteriores verses, provisrias, faziam supor que seriam

    entregues depois de absorvidas as recomendaes do dono da obra.

    Por despacho de 6 de Julho de 1999, o mesmo Ministro, Dr.

    Simo Monteiro, mandou reactivar a Comisso de Acompanhamento4,

    com vista a melhorar a redaco do ante-projecto dos Consultores,

    introduzindo as alteraes que se mostrarem necessrias e nomeou

    para a sua presidncia o Dr. Benfeito Mosso Ramos.

    Acolhidas as contribuies tcnicas at ento produzidas, essa

    terceira Comisso de Acompanhamento, em Dezembro de 2000, j no

    fim da IV Legislatura, entregou ao MJ, agora sob a direco da Dra.

    Januria Moreira, uma verso reformulada do anteprojecto dos

    Consultores a quem fora encomendado o estudo.

    Esta nova verso do anteprojecto do CPC a terceira, a

    contar da verso zero dos Consultores vem antecedida de uma nota

    explicativa das principais modificaes nela operadas.

    4 Mantendo os nomes dos Juzes Eduardo Rodrigues e Teresa vora, dos Advogados Henrique Borges e Emilio Xavier e do Secretrio Judicial Boaventura Semedo, reforando-a com o Juiz de Direito Manuel Alfredo Semedo, e o Procurador da Republica Dr. Franklin Furtado.

  • 10

    Conforme vem referido neste documento na elaborao do

    projecto foram ponderadas e seguidas, tal qual vinha j da proposta

    dos Consultores, as solues consagradas na reforma operada ao

    Cdigo do Processo Civil Portugus, atravs dos Decretos-Lei

    nmeros 329-A/95, de 12 de Dezembro e 180/96, de 25 de Setembro.

    Em Setembro de 2003, considerando o decurso de um largo

    tempo desde que se decidira pela Reforma do Processo Civil, a nova

    Ministra da Justia, Dra. Cristina Fontes Lima, entregou a uma outra

    Comisso de Acompanhamento - de sete membros - tal como as

    anteriores formada por juzes, advogados e oficiais de justia, dentre

    eles o antigo Ministro Dr. Correia Monteiro - a incumbncia de

    efectuar a reviso global do ante-projecto, no concernente arrumao

    sistemtica e perfeio da redaco dos preceitos contidos na ltima

    verso do CPC.

    Esta IV Comisso de Acompanhamento, entretanto, apenas

    conseguiria rever um tero das disposies do diploma em questo,

    conforme consta do Memorando apresentado Ministra da Justia, em

    Maio de 2004.

    Intui-se desse Memorando que o grupo extravasou a

    incumbncia, limitada reformulao legstica do anteprojecto, pois

    que procedeu a novas modificaes de fundo em muitos dos seus

    preceitos e aditou alguns outros, com a invocao do propsito de

    tornar a tramitao processual, na medida do possvel, melhor

    adaptvel realidade judiciria nacional e evoluo que o normativo

    que lhe serviu de fonte,5 sofrera em Agosto de 2000.

    Entretanto, por razes no editadas mas que se intui

    prenderem-se com a circunstncia de se ter acabado de proceder pela

    5 Como se anotou supra, o CPC de Portugal, na verso sada da Reforma de 1995/1996.

  • 11

    mesma ocasio aprovao e consequente incio da vigncia de um

    novo Cdigo Penal e de um novo Cdigo do Processo Penal que

    aconselhariam um abrandamento no ritmo das reformas legislativas

    estruturantes da administrao da justia para dar tempo adequado na

    absoro pela comunidade jurdica das modificaes operadas mais

    uma vez ficou sustado o andamento do projecto de reforma em tela.

    At que em Dezembro de 2007, o Ministro Dr. Jos Manuel

    Andrade reconstituiu a Comisso de Acompanhamento, entregando-a

    aos Magistrados Dr. Jaime Miranda, Alcindo Soares e Carlos Reis e ao

    Advogado, Dr. Henrique Semedo Borges, cabendo, tal qual acontecera

    na anterior Comisso, a sua coordenao ao antigo Juiz Conselheiro

    do Supremo Tribunal de Justia, Dr. Eduardo Rodrigues.

    A misso desta quinta Comisso de novo ficou balizada mera

    reviso do diploma em termos de legstica formal, tomando o Sr.

    Ministro Andrade como pressuposta a absoro pelo seu Ministrio

    das sucessivas modificaes que at ento haviam sido sugeridas pelas

    anteriores Comisses proposta inicial dos Consultores

    Dando seguimento a essa orientao, a ltima Comisso de

    Acompanhamento, que foi reconfirmada na sua composio e na sua

    misso pela actual titular da Justia, Dra. Marisa Morais, teve como

    primeira tarefa a reconstituio do ante projecto, disperso em vrias

    verses, condensando num nico documento, as propostas de

    correco, eliminao ou aditamento mais recentes, pressupondo a

    invalidao das imediatamente anteriores sobre um mesmo preceito,

    tomando como consolidadas as que se mantiveram inalteradas, no

    projecto entregue ao Ministrio da Justia em 1997 e respeitando,

  • 12

    integralmente a estrutura que j vinha da primeira verso dos

    Consultores.

    Deparou-se porm a Comisso em apreo, tal qual acontecera

    com a imediatamente anterior, perante a necessidade de extravasar a

    incumbncia de reviso de forma do documento em questo e

    debruar-se sobre as novas modificaes trazidas estampa no

    congnere diploma portugus para se aquilatar da convenincia da sua

    adopo na reforma nacional em curso, uma vez que se constatou, que

    mesmo depois de 2000, o CPC de Portugal continuou a ser objecto,

    praticamente todos os anos, de novas modificaes, sinal que ainda

    no se encontrava suficientemente consolidada a reforma do direito

    adjectivo no ordenamento jurdico que se elegeu como matriz para a

    tambm reforma processual civil no nosso Pas. Sem prejuzo do seu

    cotejo com experincias de outros ordenamentos prximos, em termos

    jurdico culturais (por todos, o CPC do Brasil de 1975 e o Cdigo

    Processual Civil - Modelo para a Amrica Latina, de 1988).

    Contou a ltima Comisso de Acompanhamento, a partir de

    Setembro 2008 com a muito til colaborao do Sr. Desembargador da

    Relao de Lisboa Dr. Manuel Tom Gomes, no mbito da cooperao

    do MJ de Cabo Verde com o projecto PIR/PALOP II (da Unio

    Europeia, mais Portugal, com as antigas colnias luso africanas),

    acabando assim por se operar novas alteraes de relevo no

    anteprojecto inicial dos Consultores, sem se afastar porm dos

    propsitos e linhas de fora que deram corpo ao estudo que havia sido

    apresentado por estes ao MJ em 1997.

    Na verdade os sucessivos titulares da Pasta da Justia,

    mantiveram a concretizao da Reforma do Processo Civil no mesmo

  • 13

    sentido que fora traado atravs dos acima mencionados TdR, tal qual

    se conclui do Programa do Governo para o mandato 2006/2011, onde

    se inscreve como uma das prioridades da agenda legislativa a

    alterao das regras processuais civis, tornando-as mais leves,

    desburocratizadas e de acessibilidade imediata.

    O que, se por um lado, deixa implcita como ficou supra

    assinalado a ideia de que se mantm actual e permanente a

    necessidade de uma ampla reforma do processo civil, tomando como

    metas a celeridade, a simplificao e efectividade e a modernizao,

    por outro lado, foroso o ter que se reconhecer que apesar de

    algumas intervenes legislativas avulsas, no essencial tudo est por se

    concretizar no que diz respeito efectiva reformulao dos

    instrumentos normativos destinados justa composio dos litgios.

  • 14

    II

    Continuam, deste modo, vlidas as grandes linhas orientadoras

    que serviram de termos de referncia para a reviso e elaborao de

    um novo diploma do direito processual civil cabo-verdiano.

    Consubstanciam-se tais orientaes, fundamentalmente, nos

    seguintes eixos:

    A. Reformulao dos princpios estruturantes do processo civil:

    1. Afirmao na legislao adjectiva ordinria do direito

    fundamental do acesso justia para a tutela efectiva dos direitos e

    interesses legalmente protegidos, com especial pendor para a

    concretizao da:

    a) Prevalncia da deciso de mrito sobre a mera deciso

    de forma;

    b) Obteno de uma providencia cautelar em prazo

    razovel;

    c) Sanao da falta de pressupostos processuais;

  • 15

    d) Simplificao do regime de admissibilidade de

    pluralidade de partes;

    2. Assuno do direito de defesa e do exerccio do

    contraditrio, como esteios da aco, com especial incidncia no

    estabelecimento de regras segundo as quais:

    a) Nenhuma pretenso pode ser apreciada sem que seja

    facultada a possibilidade de se deduzir oposio mesma, salvo

    ponderosas excepes;

    b) O efeito cominatrio pleno deve ficar restringido ao

    estritamente necessrio;

    c) Deve-se imprimir maior flexibilidade na determinao

    do momento da apresentao das provas;

    3. Enfatizao do princpio da cooperao entre o tribunal,

    as partes e os seus mandatrios, para que se possa obter, com

    brevidade e eficcia, a justa composio do litgio, com as seguintes

    especificidades:

    a) Clarificao e inteligibilidade das notificaes no que

    concerne aos direitos e deveres do notificando;

    b) Acordo prvio, com os mandatrios judiciais, quanto

    marcao das diligncias judiciais;

    c) Oficiosa superao pelo tribunal, sempre que possvel, das

    dificuldades na obteno de documentos ou outros elementos que

    condicionem o exerccio eficaz da faculdade, ou o cumprimento do

    nus ou dever processual.

    B. Preocupao da simplificao e celeridade, propendendo-se

    para novas formas e tramites pala via de:

    1. Reviso das formas do processo comum, com a

    preocupao de

    a) Reduo ao mnimo de modalidades,

  • 16

    b) Maior poder de interveno do juiz na configurao da causa;

    c) Contacto directo com as partes e eventual prolao da

    sentena na base da conciliao e equidade.

    2. Reformulao da tramitao da aco declarativa,

    atravs de:

    a) Regime regra de apenas dois articulados, salvo em caso de

    reconveno ou para resposta e excepes suscitadas pela defesa;

    c) Reestruturao da fase do saneamento e da

    condensao;

    c) Racionalizao dos incidentes de instncia, em

    particular dos procedimentos cautelares e da interveno de terceiros;

    d) Reforma das vias de impugnao e do recurso das

    decises judiciais.

    3. Modernizao e simplificao da aco executiva, de

    forma a se alcanar a efectiva realizao do direito ou interesse

    jurdico judicialmente declarados ou validamente titulados.

    4. Reduo dos processos especiais ao estritamente

    necessrio em razo da especificidade do pedido,

    No obstante constar dos TdR, uma clara orientao no sentido

    de se proceder reforma do Cdigo do Processo Civil e existir um

    sentimento generalizado de que se deve modificar profundamente a

    tramitao processual, o certo que se desconhece voz autorizada a

    pleitear pela reformulao dos princpios estruturantes do direito

    instrumental civil que vigora entre ns.

    Considera-se deste modo que so de se manter inalteradas as

    tradicionais grandes divises do direito adjectivo: o enunciado de

    princpios orientadores do acesso justia, a consagrao, delimitao

  • 17

    e caracterizao dos tramites respeitantes aos dois tradicionais e

    inevitveis momentos e vias de se alcanar a paz social em situaes

    de desarmonia de interesses o procedimento declarativo e o

    executivo seguidos de formas hbridas de processos e a previso de

    modos provisrios e cautelares de sustao das disputas entre titulares

    de interesses contrapostos.

    Por isso que as sucessivas Comisses de Acompanhamento da

    verso inicial do anteprojecto apresentada pelos assumiram a

    estratgia seguida pelos Consultores no sentido se proceder

    nicamente reviso do Cdigo do Processo Civil que se encontra a

    vigorar em Cabo Verde, desde 1962, ao invs de se envolverem numa

    reforma estruturante desse diploma.

    Diga-se, de resto, que uma mudana total de rumo na concepo

    e no iter do processo requereria que o Pas optasse pela alterao

    integral de todo o seu sistema jurdico, fazendo-o inserir noutra famlia

    jurdica que no, na romano - germnica.

    De se enfatizar, entretanto que vem existindo solicitao da

    comunidade jurdica no sentido de se dar cabal densificao normativa

    acatamento determinao do legislador constitucional no sentido da

    efectividade na realizao do direito do acesso justia e da justa

    composio dos direitos e interesses legalmente protegidos.

    Isso a par da recomendao para a reformatao de todo o

    ordenamento jurdico nacional de molde a poder responder aos novos

    parmetros que a era actual impe nas relaes negociais, com

    prontido e economicidade.

    Aquela determinao e esse novo mundo negocial apontam para

    que a reforma do processo civil em curso, esteja ainda direccionada no

    sentido da adequao da legislao adjectiva s novas exigncias do

  • 18

    desenvolvimento econmico; afirmao e efectivao da certeza e

    segurana dos direitos (privados) dos cidados; celeridade nas

    respostas demanda da Justia; simplificao e desburocratizao do

    sistema processual.

    Nessa saga, os princpios do dispositivo e da precluso so os

    que mais mereceram ateno da presente verso do ante projecto,

    temperando-se aquele primeiro princpio, designadamente:

    a) Com o reforo do dever do impulso processual por parte do

    tribunal, seja pela promoo do juiz no sentido do regular andamento

    do processo, seja com a realizao oficiosa de diligncias pela

    secretaria, sempre que a natureza do acto dispense a interveno de um

    magistrado,

    b) Modificando-se substancialmente o regime de precluso em

    ordem a se permitir tanto quanto possvel a aproximao da deciso

    judicial realidade factual subjacente ao processo, deixando s partes

    mais margem temporal para situarem o objecto da sua discrdia

    perante o juiz; e

    c) Mitigando-se o efeito da no impugnao especificada dos

    factos articulados pela parte contrria, desde que globalmente exista

    uma frontal oposio correspondente pretenso.

    Os princpios do contraditrio da economia processual e da

    cooperao saem reforados, promovendo-se e instigando-se a criao

    de uma nova cultura jurdica, atravs de uma s cooperao entre

    todos os intervenientes processuais, designadamente com a previso

    de preceitos que tendem a:

    a) A sanao decorrente da falta de pressupostos processuais,

  • 19

    b) O alargamento da possibilidade de cumulao de pedidos e

    de ampliao de requisitos da coligao e da reconveno;

    c) Remoo de obstculos na obteno de elementos de facto

    em poder da parte contrria, indispensveis justa composio dos

    litgios.

    Tributrio do princpio de igualdade de armas e preocupado com

    a busca de solues normativas que constituam til contributo para o

    acrscimo do princpio da independncia dos tribunais, h que assumir

    frontalmente a medida de colocao do Ministrio Publico, nas aces

    em que patrocine o interesse estatal, em p de igualdade com as

    demais partes e a da eliminao da fiscalizao da actividade judicial

    por aquela entidade que subsiste no regime ora vigente,

    No que forma e tramitao dizem respeito, preconiza-se a

    consagrao prtica ao desiderato da simplificao processual,

    nomeadamente, com:

    a) Melhor sistematizao e clarificao de tramitao dos

    incidentes de instncia, em especial os referentes ao da interveno de

    terceiros, e dos procedimentos cautelares;

    b) Reduo do processo comum de declarao a uma nica

    forma, admitindo-se embora a existncia dentro desta forma nica de

    uma variante que transita directamente dos articulados para a fase da

    audincia de discusso e julgamento nos pedidos de cumprimento de

    obrigaes pecunirias de valor no superior alada do tribunal de

    Comarca.

    c) Diminuio dos articulados a apenas dois, salvo nos casos de

    reconveno e de excepes aco em que se admite rplica e,

    eventualmente trplica.

  • 20

    d) Reestruturao do saneador e da fase da condensao pelo

    mximo aproveitamento da instncia e pela imposio da

    obrigatoriedade de uma audincia destinada ao debate instrutrio

    c) Actualizao e modernizao dos mtodos de produo de

    provas, com a admissibilidade do seu registo pelos meios tecnolgicos

    e da sua recolha por vdeo-conferncia;

    f) Esforo pelo encurtamento dos trmites do recurso ordinrio e

    expressa previso de um recurso de fixao de jurisprudncia para

    situaes em que no domnio da mesma legislao haja dvidas e

    contradies insanveis entre decises judicias da ltima instncia;

    g) Consagrao de uma nica forma de processo executivo,

    naturalmente de tramitao varivel em funo da finalidade da

    pretenso creditcia, mais do que propriamente do ttulo que lhe serve

    de suporte, reformulao do incidente de liquidao, alterao do

    regime de penhora, eliminao do incidente de sustao processual

    decorrente da moratria forada, reviso das fases de verificao de

    crditos e da venda dos bens em execuo.

    h) Eliminao de alguns processos especiais, sempre que

    passveis da adequada resoluo do litgio atravs do processo comum

    ordinrio, designadamente os respeitantes a aces reais e

    reformulao dos restantes, com realce pelo desaparecimento do

    inventrio orfanolgico obrigatrio.

    As sucessivas Comisses que se debruaram sobre a verso do

    anteprojecto que os Consultores do Banco Mundial deixaram

    apreciao do Ministrio da Justia, em particular a ltima, designada

    em Dezembro de 2007, condensaram essas ideias que se vm de

    mencionar no documento que ora se apresenta pblica apreciao

    crtica de todos quantos se interessam pela correco das leis, em

  • 21

    geral, e da comunidade jurdica, em particular, mxime dos operadores

    forenses do direito.

    III

    Antes de se avanar com uma mais pormenorizada indicao,

    nesta derradeira reviso da verso do anteprojecto do CPC, das

    principais inovaes que vm contempladas nela e que se reitera

    estarem suportadas integralmente na filosofia, estrutura,

    sistematizao e contedos temticos do trabalho apresentado pela

    Consultoria e ulteriores recomendaes das Comisses de

    Acompanhamento em ordem ao seu melhor alinhamento com as

    preocupaes que se julga serem as dominantes no seio da

    comunidade jurdica nacional, importa referir que no obstante,

    persistem ainda posicionamentos no suficientemente

    consensualizados.

  • 22

    Particularmente, em torno das seguintes matrias6:

    - Optou a verso inicial do anteprojecto, e nisso teve o

    seguimento das sucessivas Comisses de Acompanhamento, uma

    sistematizao normativa do processo que comea pelo enunciado, de

    modo indiferenciado no Livro I, das disposies gerais, quer os

    grandes princpios estruturantes da aco quer os que dizem

    nicamente respeito aos trmites que consubstanciam a marcha

    processual e que em regra costuma vir esmiuados nos posteriores

    momentos do Cdigo. Correndo-se com isso o risco de se alcandorar

    em principio hermenutico e dogmtico meras orientaes sobre os

    caminhos possveis de se conseguir alcanar a verdade judicial que se

    busca atravs do processo.

    - Do mesmo modo altera o anteprojecto a tradio processualista

    da normao em primeiro lugar dos princpios, regras e mecanismos

    especficos relativos ao andamento de cada momento, fase ou mesmo

    modalidade de aco, para s depois se ocupar das regras

    procedimentais comuns.

    Aparentemente tal modo de ordenao das matrias

    cronologicamente estar correcto, mas pode dar azo ideia de uma

    reformulao acrtica do ordenamento vigente.

    Algumas Comisses referiram por isso convenincia da

    integral manuteno de tudo quanto no tenha um peso especfico para

    uma nova ordenao que torne o processo civil mais simplificado e

    mais pronto efectiva satisfao do interesse prosseguido na aco.

    Esses reparos entretanto no foram transpostos para as

    concernentes verses sobre as quais foram proferidos, pelo que

    6 Naturalmente, sem as exaurir e tambm sem prejuzo das que se encontram inseridas em nota de rodap no prprio texto que contm o anteprojecto em tela.

  • 23

    acabaram tambm por no conseguir consagrao no presente

    projecto.

    - No que respeita uniformizao/ harmonizao dos prazos

    para a prtica dos diferentes actos processuais, propendem alguns,

    pelo alargamento das duraes que vigoram actualmente, tal como

    decorre das reformas do diploma congnere portugus de 1995/1996,

    enquanto outros advogam um radical encurtamento para imprimir

    maior celeridade, acabando porm por prevalecer a manuteno do

    actualmente existente, de cinco dias, para os actos das partes e

    diligncias externas dos oficias de justia e de dois dias para os actos

    de expediente das secretarias (entenda-se prazos gerais).

    - A estruturao e concreta regulamentao processual do

    fenmeno da interveno de terceiros, no Cdigo de Processo Civil

    vigente, presta-se a crticas fundadas, j que ao intrprete e aplicador

    do direito se depara uma excessiva multiplicidade de formas ou tipos

    de interveno de terceiros, delineados muitas vezes com base em

    critrios heterogneos.

    Tal situao determina a existncia de sobreposio parcial dos

    campos de aplicao de diversos incidentes, de que resultam

    verdadeiros concursos de normas processuais, geradores de dvidas e

    incertezas srias na exacta delimitao do mbito reservado a cada um

    deles, com inconvenientes no que respeita certeza e segurana na

    aplicao do direito processual.

    Para colmatar tais constataes o anteprojecto introduziu

    algumas significativas alteraes nessa modalidade de incidentes,

    eliminando o desnecessrio incidente de nomeao aco,

    convolando, respectivamente, e mais apropriadamente para os de

    interveno acessria e de oposio, os incidentes de chamamento

    autoria e de assistncia; transportando o incidente de chamamento

  • 24

    demanda para a interveno principal e clarificando, por ltimo, nesta

    espcie a interveno provocada.

    O anteprojecto bem que pode, ainda assim, ser acusado de

    pouco temerrio, devendo todo esse regime vir a merecer uma mais

    acurada reflexo, j que h que ter ciente que digladiam-se a respeito a

    preocupao do mximo aproveitamento de uma dada aco para a

    resoluo tambm do mximo possvel de litgios e a de se evitar a

    complexizao dos tramites processuais com interesses de terceiros

    que bem poderiam ser impugnados em sede judicial autnoma por

    aqueles que pretendam invocar a titularidade do benefcio jurdico

    correspondente.

    - As providncias cautelares acabaram por no merecer a

    profunda reforma aconselhada, tanto pelos TdR, como pelos

    Consultores e a totalidade das Comisses de Acompanhamento, para

    que se venha a dar cabal cobertura quer s situaes que demandam

    medidas de preveno de um dano eminente, quer a antecipao da

    realizao de um direito j certo em que da sua demora resulte

    prejuzo acentuado para o seu titular.

    De uma outra perspectiva, bem que poder-se-ia assumir a

    formulao de uma nica forma cautelar, na exacta medida em que se

    preconiza o poder de o juiz adoptar a providencia que se mostrar mais

    adequada para acautelar o direito do requerente.

    Melhor ponderao carece a questo do embargo de obras

    pblicas em sede do processo civil e a sua compaginao com o que se

    preconiza relativamente aos embargos administrativos,

    designadamente tendo em conta o que vem de ser decretado para as

    obras nas Estradas. pela Lei n. 22/VII/2008, de 20 de Julho.

    Registe-se ainda a propsito que se introduziu uma garantia

    penal da providncia, que, sem prejuzo das medidas adequadas de

  • 25

    execuo coerciva, nos termos gerais, faz incorrer em crime de

    desobedincia qualificada aquele que infrinja a providncia cautelar

    decretada.

    Incriminao essa entretanto que no congrega absoluta

    unanimidade, j que h quem entenda suficientes os meios e os

    instrumentos da execuo coerciva, contidos na legislao processual

    civil em sede de regulao de conflitos de interesses entre particulares,

    no havendo nenhum bem ou interesse vital da comunidade a merecer

    neste caso tutela penal.7

    - A tramitao processual comum declarativa, com incio numa

    audincia prvia, de tentativa de conciliao das partes antes da

    propositura da aco, que vinha contida na primeira verso do ante

    projecto, desapareceu em ulteriores verses e mereceu aplauso de

    alguns elementos da segunda Comisso de Acompanhamento, mas

    com rejeio da maioria desta e das posteriormente designadas:

    Acabaria por vingar, entretanto na verso agora em apreo, uma

    posio intermdia que aposta na tentativa de conciliao, facultativa,

    em qualquer fase do processo, proclamado no preceituado geral que

    encabea o diploma, dispensando a sua expressa referncia e

    obrigao da sua realizao em outros lugares do diploma;

    - Persiste incerteza quanto ao modo de se dar impulso judicial

    aco logo depois do seu recebimento na secretaria do Tribunal,

    quando esto fundamentalmente em confronto nesta fase, por um lado

    o dever da estrita observncia do contraditrio e por outro a ingente

    necessidade da simplificao dos trmites processuais.

    Designadamente no se registou um suficiente consenso sobre o

    primeiro momento em que o Juiz deve ter interveno para a

    7 Contra: vejam-se o artigo 363 do CPC do Brasil, aprovado pela Lei n 5869, de 11 de Janeiro de 1973 e o artigo 391 do CPC Portugus, na redaco ainda em vigor, dada pelo Decreto n. 329/95, de12 de Novembro.

  • 26

    regularizao da instncia e de um eventual papel oficioso que a

    possa caber s Secretarias judiciais, como fli da congnere reforma

    portuguesa.

    Acabou-se por isso por se retomar a tramitao que se encontra

    ainda em vigor, com a apreciao liminar da aco pelo juiz a quem

    continua a pertencer a faculdade de indeferir, mandar aperfeioar ou

    citar o ru; com a inovao, porm, da possibilidade de se mandar

    tambm que o ru aperfeioe o seu pedido reconvencional.

    - A fase de condensao tambm no mereceu consenso no

    decorrer das diferentes verses por que passou o ante projecto,

    havendo na esteira da primeira verso trazida pelos Cconsultores

    alguma propenso para se postergar o saneamento em favor de um pr

    saneador, que seria destinada ao aperfeioamento das irregularidades

    processuais detectadas e fixao da matria a ser provada para o

    incio do julgamento ou, ao invs, pela realizao de duas ou mais

    audincias, para a tentativa de conciliao, aferio dos pressupostos e

    debate instrutrio.

    A Comisso que elaborou a verso em apreo, propugnou pela

    existncia de uma fase do saneador a mais prxima possvel do que

    ora se encontra em vigor, seguida de uma fase de audio das partes

    para um debate destinado seleco sur place da matria de facto

    relevante para a deciso da causa; e arredada a possibilidade da

    imediata impugnao e subida instncia superior da correspondente

    deciso interlocutria.

    Sem embargo, existem vozes a propender que, seria de

    se admitir que, quando, findos os articulados, a aco prefigure

    revestir simplicidade, o juiz possa dispensar o debate

    instrutrio, fixando a respectiva base no prprio despacho

  • 27

    saneador, cuja reclamao seria apresentada no incio da

    audincia de julgamento.

    Esta abreviao dos trmites no ter sido acolhida,

    apenas pela preocupao de se pretender preservar a mxima

    colaborao entre o tribunal e as partes que recomendaria a

    presena destas ultimas a anteceder uma deciso de to suma

    importncia para o processo.

    -Na formatao das audincias de discusso e

    julgamento, na primeira instncia apenas deu-se configurao

    composio singular dos tribunais, por se afigurar que, mesmo

    para um horizonte temporal alargado, no se antev que possam

    vir a ser instalados tribunais colegiais a esse nvel. Por isso que

    se estabeleceu que a competncia dos juzes para o julgamento

    em tribunais colectivos, na primeira instncia, definida por lei

    prpria., aplicando-se-lhes subsidiariamente as disposies da

    presente seco.

    Razo de peso para que se reitere da necessidade de uma

    ingente reformulao da legislao concernente, sem a qual ficar

    comprometida a cabal vigncia do CPC, mediante a reforma que ora

    se propugna.

    - Propendeu o projecto inicial, seguido por algumas Comisses

    pela recomendao da existncia de uma nica modalidade de recurso

    ordinrio, o que acabou porm por no ser absorvido na verso que ora

    se apresenta por se entender que no haver ganhos de celeridade nem

    de simplificao com a fuso das duas modalidades ora existentes,

    apelao e agravo, sem que haja uma radical modificao da

    finalidade recursal que refractria da que dispuser a respeito a

    estrutura judiciaria a estabelecer na correspondente lei orgnica.

    Entretanto, no se propugna a possibilidade da existncia de um

  • 28

    recurso de revista, por no se vislumbrar uma mudana significativa

    na composio do Supremo Tribunal de Justia, nem a criao de uma

    instancia intermdia de apelao, que venha a libertar a terceira

    instncia para funcionar apenas preocupada com a definitiva

    clarificao do direito aplicvel causa.

    - Relativamente ao tema dos recursos, como se referiu supra

    mantm-se a dualidade - apelao, agravo - pelas razes ento

    aduzidas. Ao que acresce ser possvel, em boa medida, eliminar os

    casos residuais em que se discute qual o tipo de recurso adequado,

    pelo que vem esclarecido, nomeadamente, que cabe apelao da

    sentena ou do saneador que decidem do mrito da causa (ou seja,

    que proferem deciso susceptvel de produzir caso julgado material,

    independentemente da maior ou menor latitude dos poderes do

    julgador para conhecer de tal mrito, abrangendo-se, desta forma, as

    prprias sentenas homologatrias), e estatuindo que decidem do

    mrito a sentena ou o saneador que julgam quer da procedncia quer

    da improcedncia de excepes peremptrias.

    A tal propsito, cabe referir que a eventual implementao de um

    segundo grau de jurisdio, Tribunal de Relao, libertando o STJ para

    que funcione, essencialmente, como Tribunal de Revista, pretendida

    por muitos, obrigar fatalmente a uma grande remodelao do que

    vem preconizado no presente anteprojecto, de molde a encontrar

    outras formas de aligeiramento das tarefas de cada instancia recursal,

    sob pena de se correr o srio risco de um irremedivel bloqueio do

    direito processual a mais do que um grau de jurisdio.

    Dai a convenincia de uma cuidada ponderao a cerca da

    necessidade da criao dessa tal instncia recursal intermdia, em

    termos de opo de fundo; o que, entretanto sai fora do mbito deste

    estudo limitado reformulao do direito adjectivo, que no da

  • 29

    congeminao e criao das estruturas onde se procede realizao da

    justia, no obstante lhe estar umbilicalmente ligado.

    A eventual opo pela criao de mais um grau intermdio de

    recurso ordinrio, vir adicionar-se aos dois graus normais de

    recurso ora existentes - a saber, ao recurso para o tribunal pleno,

    visando a fixao de jurisprudncia, embora com efeitos bastante

    limitados, e ao recurso de constitucionalidade, em sede de fiscalizao

    concreta, passvel, quando instalado o Tribunal Constitucional, de ser

    usado em muitos casos, com fins puramente dilatrios, como acontece

    em outros quadrantes com idntica estrutura judiciria.

    E um dos principais problemas prticos suscitados em sede de

    recursos, com consequncias altamente nocivas em termos de

    celeridade processual a sobreposio de sucessivos graus de

    jurisdio.

    - No que concerne ao processo executivo, as Comisses,

    anteriores abraaram, a ideia dos Consultores no sentido de se pr a

    tnica numa forma do processo que tenha por titulo a sentena

    declarativa, ficando os restantes tributrios desta.

    Todavia reflexo ulterior, que vem de se adoptar, entende que

    indiferente para a determinao da forma processual executiva a sua

    fonte creditcia, sendo que, tal como sucede com a aco declarativa,

    mais importante a agilizao e a simplificao dos trmites para se

    atingir o fim pretendido pelo exequente: a satisfao do seu crdito.

    Embora esteja suficientemente consensualizada a necessidade

    da mxima administrativizao do processo executivo atravs de um

    mais intenso poder de interveno das secretarias e dos oficiais de

    justia, para caber aos juzes apenas funes efectivamente

    jurisdicionais de regulao das controvrsias no desenrolar da

  • 30

    respectiva causa, apenas ter ficado subjacente essa ideia, mas sem um

    posicionamento categrico do modo da sua concretizao.

    .- Contrariamente ao que foi sugerido na proposta inicial dos

    Consultores, as subsequentes Comisses, incluindo a presente, na

    esteira das reformas do CPC Portugus, deixaram de dar consagrao,

    nos processos especiais, s aces de arbitramento.

    Em evoluo de pensamento constata-se que muitas dessas

    aces, tm objectivos exclusivos da preveno que se instale no

    futuro uma controvrsia entre as partes sobre a configurao de uma

    dada situao jurdica e a consequente abertura da instncia judicial

    comum para dirimir um conflito de interesses inexistente. Termos que

    melhor caberia reavaliar essa matria, mantendo-se ao menos a

    respeitante diviso de coisa comum como processo especial.

    Vem, a talhe de foice, referir que tambm no seria de todo

    desaconselhada a manuteno das regras adjectivas referentes as

    avarias grossas nos navios.

    Neste caso porm apenas assim deve acontecer porque no

    existindo entre ns uma jurisdio especfica do direito martimo, ao

    que ora nos interessa em sede de resoluo de conflitos cveis, no se

    afigurou pertinente uma reformulao das questes adjectivas

    inseridas no CPC.

    Tambm a propsito mas agora de sinal inverso, debate-se a

    oportunidade e convenincia em se alargar s relaes jurdicas

    subordinadas navegao area os regimes processuais sobre navios

    constantes do CPC actual e que no sofrerem qualquer alterao. No

    se chegaria, nas Comisses de Acompanhamento, a um estudo

    acabado sobre a questo, no pressuposto que o Cdigo aeronutico,

    recentemente aprovado, comporta as solues adequadas.

  • 31

    A aco de despejo, na verso dos Consultores, foi objecto de

    uma complexa proposta de alterao de tramitao, com eventuais

    reflexos sobre a substantivao do contrato de arrendamento que lhe

    subjacente. Por isso que as sucessivas Comisses de

    Acompanhamento recomendariam o retorno e consequente

    reintegrao, no anteprojecto do mencionado processo de despejo, sem

    qualquer alterao.

    Entretanto vem a entender a Comisso que apresenta o projecto

    nesta verso agora em apreo que mais avisado seguir parcialmente a

    soluo da reforma portuguesa, retirando do Cdigo esta modalidade

    de processo especial.

    Com a diferena, contudo de se relegar para a lei preambular

    de aprovao do futuro CPC, a afirmao da continuao da existncia

    desse modalidade de processo especial, tal qual actualmente decorre

    do Decreto n 43525, de 7 de Maro de 1961.Contrriamente ao que

    acontece em Portugal onde, pelas reformas de 1965/1966, passou a ser

    considerada meramente uma aco comum.

    O processo de falncia, sem prejuzo da reformulao de alguns

    dos seus preceitos para o sintonizar com as recentes reformas na rea

    do direito comercial e tambm penal e processual penal, no foi

    objecto de qualquer anlise crtica, mantendo-se intocada a sua

    tramitao com o argumento da sua reduzidssima (dir-se-ia, sem

    exagerar, nula) utilizao pelos credores no nosso ordenamento

    jurdico.

    No se afigura, porm, que tais razes devam relevar para a no

    inalterabilidade de uma tramitao to complexa como a que vigora

    para o esvaimento da confiana creditcia em sede das relaes

    comerciais e empresariais. Isso, quando certo, por um lado, a patente

    inexistncia de qualquer estudo sobre o mencionado instituto

  • 32

    processual e, por outro lado, por notria a proliferao de sociedades e

    de empresas que se constituem no dia para se dissolverem no dia

    seguinte, com inevitveis prejuzos para terceiros, que entretanto

    estabeleceram com elas relaes creditcias, a demandarem a devida

    tutela judiciria. Ao que acresce a impunidade das falncias entre ns,

    mesmo quando descaradamente fraudulentas.

    Propende-se assim pela recomendao de um estudo autnomo

    desta franja do direito adjectivo.

    Tambm estudos autnomos, mas inteiramente conexos ou

    convergentes com quanto de inovador se apresenta quanto s formas,

    trmites e mesmo contedos do novo processo civil que se congemina

    atravs da presente reviso, e que por outro lado devem incidir

    necessariamente sobre a organizao judiciria ditaro antes do mais

    as competncias orgnicas, e hierrquicas e, eventualmente, podero

    ditar novas formas ou mesmo modalidades de aco (estamos nesta

    caso a pensar em tribunais de competncia especifica ou especializada

    para o julgamento de pequenas causas cveis e da correspondente

    criao de um modelo processual que se aproxime do tipificado no

    direito brasileiro para os juizados especiais cveis, (contidos na Lei n

    9.099 de 26 de Setembro de 1995) para alm de se vir a determinar, de

    vez, quais e a quantos os gruas de recurso admissveis no ordenamento

    jurdico cabo-verdiano.

    Na mesma ordem de prioridade e de conexo com o que ora se

    preconiza o novo panorama dos instrumentos normativos para se dizer

    do direito aplicvel em caso de controvrsia das partes junto de um

    juiz, importar proceder reviso do Cdigo das Custas Judicias, tal

    qual o recomendaram as sucessivas Comisses que se debruaram

    sobre o anteprojecto do CPC, nomeadamente para que seja tomada

  • 33

    uma posio mais incisiva e determinante no sentido da eliminao da

    clusula que nele se manteve da desero dos recursos pela falta de

    preparos ou de pagamento de custas.

    A tutela judicial dos menores atravs de instrumentos de direito

    processual civil, naturalmente que sai fora do mbito da presente

    reviso legislativa. Todavia pela intrnseca conexo inter subjectiva

    entre esta categoria de sujeitos de direito com os demais que compem

    o universo da vida jurdica em sociedade, coseguintemente com

    reflexos permanentes no modo e momento da composio de

    interesses, ser desejvel uma coetnea reviso daquele sub-ramo do

    direito processual civil.

    Tambm no rol das preocupaes equacionadas, encontra-se a

    questo de se saber qual o rgo constitucional em quem se vai

    depositar o encargo da definitiva formalizao do ora anteprojecto em

    diploma legal para passar a vigorar na Repblica de Cabo Verde, em

    substituio do velho Cdigo do Processo Civil, vigente entre ns

    desde Janeiro de 1962.

    Tomando posio, naturalmente, apenas no estrito mbito que

    legstica cabe apurar, fica afastada a possibilidade da concorrncia de

    legiferao do Governo, que derivaria do disposto na alnea a do n2

    do artigo 203 da Constituio da Repblica, face aos poderes

    legislativos reservados Assembleia Nacional

    Na verdade, consta inequivocamente da Lei Fundamental, n 1,

    al. b) do artigo 176, que compete exclusivamente Assembleia

    Nacional, salvo autorizao legislativa concedida ao Governo, legislar

    sobre direitos, liberdades e garantias; matrias essas em que um dos

    seus segmentos - o do acesso justia - constitui a coluna vertebral do

    sistema processual civil.

  • 34

    Igualmente da competncia, relativamente reservada, da

    Assembleia Nacional, o poder de legislar na definio de crimes e do

    processo criminal Sendo aqui certo, no que concerne ao processo civil

    em reviso, que se tipificou como crime de desobedincia qualificada,

    o no acatamento da deciso judicial que decrete uma medida

    provisria numa providncia cautelar, ao mesmo tempo que se

    clarificam em funo das recentes reformas penais os elementos do

    tipo para o crime de falncia fraudulenta e os meios processuais da sua

    perseguio. Par alm do que se descriminaliza, de vez, a

    inadimplncia nas relaes jurdicas civilistas, pondo termo s

    obsoletas regras processuais, ainda vigentes, no obstante cadas em

    desuso, da priso compulsiva do responsvel por alcance de dinheiros,

    do infiel depositrio de bens penhorados e do arrematante remisso de

    bens vendidos em aco executiva.

  • 35

    II PARTE

    AS PRINCIPAIS INOVAES QUE DO CORPO AO

    PRESENTE ANTEPROJRCTO DE REVISO DO CDIGO

    DO PROCESSO CIVIL

    IV

    Analisemos, ento e de seguida, mais detalhadamente aquilo

    que, inovadoramente, consubstancia a reforma do processo civil e se

    acha consagrado no anteprojecto do CPC apresentado ao Governo pelo

    Consrcio Graams & James e seus consultores associados, depois das

    subsequentes revises de que foi alvo, de 1997 presente reviso desta

    data. 8

    8 Segue-se o roteiro do Prembulo do Decreto-Lei n 329/A/95, de 12 de Dezembro que aprovou data a principal e mais profunda reforma operada no Cdigo do Processo Civil Portugus de 1961, pela singela e

  • 36

    Como se exps na parte anterior visa a presente reviso

    do Cdigo de Processo Civil torn-lo moderno e simplificado,

    verdadeiramente instrumental perseguio da verdade

    material, apostado numa leal e s cooperao de todos os

    operadores judicirios, uma ferramenta posta disposio dos

    cidados e das empresas para alcanarem a rpida, mas segura,

    concretizao dos seus direitos junto dos tribunais.

    Por isso que atravs dela se pretende operar uma ruptura

    com a actual legislao, com o estabelecimento de uma

    tramitao mais malevel, de uma linguagem mais clara e

    acessvel e da procura da eliminao de longas querelas

    doutrinrias em torno de questes jurdicas a mais das vezes

    no decisivas para a clarificao da adequada tramitao

    susceptvel de pr fim lide.

    Perspectiva-se, pois, um modelo processual de

    simplicidade e de conciso, apto a funcionar como um meio

    eficaz para ser alcanada a verdade material pela aplicao do

    direito substantivo, e no como um instrumento que a cada

    passo impede que seja prosseguida a justia.

    reiterada razo do decalque dessa reforma na reviso que ora se vem de preconizar a sua consagrao no ordenamento jurdico nacional. Naturalmente, o seguimento em apreo, acaba por no seguir integralmente o referenciado documento, patenteando alteraes de redaco e de contedo, sempre que as solues tcnicas preconizadas pelos Consultores ou pelas Comisses de Acompanhamento que se debruaram sobre o nosso anteprojecto abraaram posies dspares da conseguida pela reforma portuguesa.

  • 37

    No estudo e preparao das diversas verses do

    anteprojecto inicial at o presente, ora em apreo, esteve

    sempre no centro da ateno de todos o primado segundo o

    qual os princpios gerais estruturantes do processo civil, em

    qualquer das suas fases, devem essencialmente representar um

    desenvolvimento, concretizao e densificao do princpio

    constitucional do acesso justia.

    Esse princpio no se reduz mera consagrao

    constitucional do direito de aco judicial, da faculdade de

    qualquer cidado propor aces em tribunal, implicando que a

    todos seja assegurado, atravs dos tribunais, o direito a uma

    proteco jurdica eficaz e temporalmente adequada.

    Tal garantia constitucional implica o direito ao patrocnio

    judicirio, sem limitaes ou entraves decorrentes da condio

    social ou econmica, mas, igualmente, a obter, em prazo

    razovel, deciso judicial que aprecie com fora de caso

    julgado a pretenso regularmente deduzida em juzo, a

    faculdade de requerer, sem entraves desrazoveis ou

    injustificados a providncia cautelar que se mostre mais

    adequada a assegurar o efeito til da aco e a possibilidade

    de, sempre que necessrio, fazer executar, por via judicial, a

    deciso proferida e no espontaneamente acatada.

    O direito de acesso aos tribunais envolve, identicamente,

    a eliminao de todos os obstculos injustificados obteno

    de uma deciso de mrito, que opere a justa e definitiva

    composio do litgio, privilegiando-se claramente a deciso

    de fundo sobre a mera deciso de forma.

  • 38

    A obteno de uma deciso judicial que aprecie o mrito

    da pretenso deduzida ou ordene as providncias cautelares

    ou executivas, destinadas a assegur-la ou realiz-la

    coercivamente, depender estritamente da verificao dos

    pressupostos processuais de que a lei faz depender a

    regularidade da instncia.

    Como concretizao desta ideia, importa especial

    referncia circunstncia de com a reviso processual

    conseguida no anteprojecto em apreo, terem sido eliminados

    os preceitos que, no regime vigente, condicionam o normal

    prosseguimento da instncia e a obteno de uma deciso de

    mrito, ou o uso em juzo de determinada prova documental,

    demonstrao do cumprimento de determinadas obrigaes

    tributrias - salvo nos casos em que se trate de transmisso

    de direitos operada no prprio processo, dependente do

    pagamento de imposto de transmisso. Nos restantes casos,

    prescreve-se que o juiz deve limitar-se a comunicar

    administrao fiscal a infraco eventualmente detectada,

    sem que o andamento regular da causa ou a utilizao dos

    meios probatrios resultem prejudicados.

    No mesmo sentido, eliminam-se os preceitos que

    estabelecem reflexos gravosos e muitas vezes

    desproporcionados no andamento e deciso da causa do

    incumprimento de obrigaes pecunirias emergentes da

    legislao sobre custas, pondo-se termo, designadamente,

  • 39

    consagrao, como excepo dilatria, da falta de pagamento

    de custas na aco anterior.

    Entende-se, na verdade, que a conduta violadora de

    preceitos de natureza tributria deve sofrer uma sano

    estritamente pecuniria, traduzida no agravamento, eventual

    e substancial, dos montantes devidos, sem que a falta deva

    ter influncia no andamento do processo e sentido da deciso

    que dirime o litgio - possibilitando a eliminao de tais

    preceitos do Cdigo de Processo Civil a ulterior reviso da

    legislao sobre custas, como mencionada na parte

    introdutria desta nota explicativa.

    No mesmo sentido de privilegiar a deciso de fundo,

    consagra-se, como regra, que a falta de pressupostos

    processuais sanvel.

    Deste modo, para alm de expressamente se consagrar

    como princpio geral, que incumbe ao juiz providenciar

    oficiosamente pelo suprimento das excepes dilatrias

    susceptveis de sanao, praticando os actos necessrios

    regularizao da instncia ou, quando estiver em causa a

    definio das partes, convidando-as a suscitar os incidentes de

    interveno de terceiros adequados, prev-se

    especificadamente a possibilidade de sanao da falta de certos

    pressupostos processuais, at agora tida como insanvel.

    Assim, prescreve-se a possibilidade de sanao da falta

    de personalidade judiciria das sucursais, agncias ou filiais;

    prev-se o suprimento da coligao ilegal, facultando ao autor

  • 40

    a indicao de qual a pretenso que quer ver apreciada no

    processo, quando se constate inexistir conexo objectiva entre

    os pedidos cumulados ou quando o juiz determine a separao

    de causas inicialmente cumuladas; consente-se, em certas

    circunstncias, a sanao da prpria ilegitimidade singular

    passiva, atravs da previso da figura do litisconsrcio

    eventual ou subsidirio e da consequente possibilidade de

    interveno principal provocada do verdadeiro interessado

    directo em contradizer.

    Procura-se por outro lado, obviar a que regras rgidas, de

    natureza estritamente procedimentais, possam impedir a

    efectivao em juzo dos direitos e a plena discusso acerca da

    matria relevante para propiciar a justa composio do litgio.

    Por isso, estabelece-se como princpio geral do processo

    o princpio da adequao, facultando ao juiz, obtido o acordo

    das partes, e sempre que a tramitao processual prevista na lei

    no se adeqe perfeitamente s exigncias da aco proposta, a

    possibilidade de adaptar o processado especificidade da

    causa, atravs da prtica dos actos que melhor se adeqem ao

    apuramento da verdade e acerto da deciso, prescindindo dos

    que se revelem inidneos para o fim do processo.

    Como concretizao desta ideia chave, prev-se a

    possibilidade de cumulao de causas, mesmo que aos pedidos

    correspondam formas de processo que, embora diversas, no

    sigam uma tramitao absolutamente incompatvel, sempre

    que ocorra interesse relevante na respectiva cumulao ou

  • 41

    quando a apreciao conjunta das pretenses se revele

    indispensvel para a justa composio do litgio.

    Elimina-se por esta via - que identicamente se aplica em sede

    de procedimentos cautelares - um dos principais

    inconvenientes ligados criao e previso de processos

    especiais, com campos de aplicao rigidamente estabelecidos

    - tornando eventualmente invivel a cumulao de pretenses,

    substancialmente conexas, cuja apreciao conjunta e global

    ser, em muitos casos, condio sine qua non para o perfeito

    entendimento dos termos do litgio e sua dirimio de forma

    justa e adequada, preceituando-se que o tribunal no est

    adstrito ao tipo da providncia requerida.

    Significativo realce foi dada tutela efectiva do direito

    de defesa, prevendo-se que nenhuma pretenso possa ser

    apreciada sem que outra parte, chamada a juzo, seja

    facultada oportunidade de deduzir oposio.

    O incremento da tutela do direito de defesa implica, por

    outro lado, a atenuao da excessiva rigidez de certos efeitos

    cominatrios ou preclusivos, sem prejuzo de se manter

    vigente o princpio da auto-responsabilidade das partes e sem

    que as solues introduzidas venham contribuir, de modo

    significativo, para a quebra da celeridade processual.

    Afirmam-se como princpios fundamentais,

    estruturantes de todo o processo civil, os princpios do

    contraditrio, da igualdade das partes e da cooperao e

    procura-se extrair deles consequncias concretas, ao nvel da

  • 42

    regulamentao dos diferentes regimes adjectivos.

    Assim, prescreve-se, como dimenso do princpio do

    contraditrio, que ele envolve a proibio da prolao de

    decises surpresa, no sendo lcito aos tribunais decidir

    questes de facto ou de direito, mesmo que de conhecimento

    oficioso, sem que previamente haja sido facultada s partes a

    possibilidade de sobre elas se pronunciarem.

    A anteceder a faculdade do contraditrio reafirma-se a

    necessidade da instalao da controvrsia perante um juiz,

    atravs da regra segundo a qual o tribunal no pode resolver o

    conflito de interesses que a aco pressupes sem que a

    resoluo lhe seja pedia por uma das partes.

    Aproxima-se decididamente o regime adjectivo, que ora

    se prope, da interveno principal do Ministrio Pblico do

    estatuto normal atribudo parte principal, pondo termo aos

    privilgios processuais do Estado nos litgios de direito

    privado em que esteja envolvido: faculta-se a qualquer das

    partes a possibilidade de requerer e obter prorrogao do prazo

    para contestar (ou apresentar os articulados subsequentes

    contestao) em termos paralelos e por perodo idntico ao que

    se prev para o Ministrio Pblico; elimina-se a dispensa do

    efeito cominatrio semipleno quando o ru seja uma pessoa

    colectiva, regularmente representada em juzo; limita-se a

    dispensa do nus da impugnao especificada aos casos em

    que se controvertem situaes jurdicas de que sejam titulares

    incapazes e ausentes; elimina-se o injustificado privilgio

  • 43

    consistente em no poderem ser embargadas obras levadas a

    cabo por entidades pblicas, restringindo-se a actual proibio

    absoluta unicamente s obras do Estado e do Municpio

    realizadas em terrenos do domnio pblico.

    Consagra-se o princpio da cooperao, como uma das

    pedras angulares do processo civil, de forma a propiciar que

    juzes e mandatrios cooperem entre si, de modo a alcanar-se,

    de uma feio expedita e eficaz, a justia do caso concreto,

    designadamente atravs da concertao das respectivas

    agendas, sempre que possvel na marcao de diligncias e na

    averiguao de existncia de bens penhorveis).

    Como reflexo e corolrio do princpio da cooperao,

    consagra-se expressamente o dever de boa f processual,

    sancionando-se como litigante de m f a parte que, no

    apenas com dolo, mas com negligncia grave, deduza

    pretenso ou oposio manifestamente infundadas, altere, por

    aco ou omisso, a verdade dos factos relevantes, pratique

    omisso indesculpvel do dever de cooperao ou faa uso

    reprovvel dos instrumentos adjectivos, e o dever de recproca

    correco entre o juiz e os diversos intervenientes ou sujeitos

    processuais, o qual implica, designadamente, como necessrio

    reflexo desse respeito mutuamente devido, a regra da

    pontualidade no incio dos actos e audincias realizados em

    juzo.

  • 44

    Procede-se a uma ponderao entre os princpios do

    dispositivo e da oficiosidade.

    No que se refere exacta definio da regra do

    dispositivo, estabelece-se que a sua vigncia no preclude ao

    juiz a possibilidade de fundar a deciso no apenas nos factos

    alegados pelas partes mas tambm nos factos instrumentais

    que, mesmo por indagao oficiosa, lhes sirvam de base.

    E, aqui cabe realar a consagrao - em termos de

    claramente privilegiar a realizao da verdade material - a

    atendibilidade na deciso de factos essenciais procedncia do

    pedido ou de excepo ou reconveno que, embora

    insuficientemente alegados pela parte interessada, resultem da

    instruo e discusso da causa, desde que o interessado

    manifeste vontade de os aproveitar e parte contrria tenha

    sido facultado o contraditrio.

    Para alm de se reforarem os poderes de direco do processo

    pelo juiz, conferindo-se-lhe o poder-dever de adoptar uma

    posio mais interventora no processo e funcionalmente

    dirigida plena realizao do fim deste, eliminam-se as

    restries excepcionais que certos preceitos do Cdigo em

    vigor estabelecem, no que se refere limitao do uso de

    meios probatrios, quer pelas partes quer pelo juiz, a quem,

    deste modo, incumbe realizar ou ordenar, mesmo

    oficiosamente e sem restries, todas as diligncias necessrias

    ao apuramento da verdade e justa composio do litgio,

  • 45

    quanto aos factos de que lhe lcito conhecer.

    V

    Mantendo embora a estrutura conceitual e sistemtica do

    Cdigo de Processo Civil vigente, relativa tipificao e

    enunciao dos pressupostos processuais nominados,

    introduzem-se modificaes sensveis na sua concreta

    regulamentao, estabelecendo-se designadamente:

  • 46

    -No que se refere personalidade judiciria, procura-se

    articular o regime da personalidade judiciria limitada das

    sociedades irregulares, constante do actual artigo 8. do

    Cdigo de Processo Civil, ao novo regime de aquisio da

    personalidade jurdica pelas sociedades comerciais, decorrente

    do artigo 107 do Cdigo das Empresas Comerciais. E prev-

    se expressamente a personalidade judiciria do condomnio

    resultante da propriedade horizontal.

    Introduzem-se algumas correces e aperfeioamentos

    na matria da representao cumulativa do menor pelos pais

    que exercem o poder paternal;

    Prev-se a possibilidade de o Ministrio Pblico propor

    aces em representao (activa) dos incapazes.

    No que respeita representao do Estado pelo

    Ministrio Pblico, admite-se a possibilidade de o prprio

    Estado - Administrao ser patrocinado por advogado nos

    casos em que a lei especialmente o permitir. Regra essa que

    decorre da actual Lei Orgnica do Ministrio Pblico nos

    casos de conflito de interesses entre entidades ou pessoas que

    o Ministrio Pblico deva representar.

    Uma outra inovao, em sede da legitimidade do MP e

    que vai muito para alm do que at agora a lei vem consentido

    a possibilidade de este rgo da justia ser parte activa nas

    aces de interdio e de inabilitao (agora designado aces

    sobre o estado psquico, somtico e comportamental dos

    indivduos9, quando esteja em causa um interesse pblico

    relevante.

  • 47

    De acordo com o princpio da oficialidade no

    suprimento das excepes dilatrias, concede-se ao juiz

    poderes reforados no sentido de sanar a incapacidade

    judiciria e a irregularidade de representao.

    Tomou-se expressa posio sobre a antiga querela

    relacionada com a determinao do critrio da legitimidade

    adoptando-se a posio pacfica da jurisprudncia nacional, da

    titularidade da relao material controvertida, tal como a

    configura o autor.

    Clarifica-se o controverso problema da legitimidade

    activa e passiva nas aces de preferncia, com a indicao de

    deverem elas ser propostas simultaneamente contra o alienante

    e o adquirente.

    No que se refere coligao, procura-se eliminar

    restries tidas por infundadas sua admissibilidade, baseadas

    no estatudo no artigo 30. do CPC vigente; assim, esclarece-se

    que qualquer relao de prejudicialidade - que no apenas a

    estrita dependncia dos pedidos - integra os requisitos de

    conexo objectiva e consagra-se a admissibilidade da

    coligao quando os pedidos deduzidos contra os vrios rus

    se baseiam na invocao de uma relao cartular, quanto a uns,

    e da relao subjacente, quanto a outros, pondo termo s

    dvidas surgidas na jurisprudncia.

    Como atrs se referiu, procurou-se ainda operar alguma

    flexibilizao das regras de compatibilidade processual,

  • 48

    prescritas no artigo 31. do CPC em vigor, consentindo-se a

    cumulao de aces ou demandas, ainda que as formas de

    processo que lhes correspondam sejam diversas - embora no

    incompatveis -, quando haja interesse relevante na sua

    apreciao conjunta ou esta se configure como indispensvel

    para a realizao do verdadeiro fim de todo o processo.

    Faculta-se ainda - em homenagem ao princpio da

    economia processual - o suprimento da coligao ilegal, tal

    como se reduzem aos seus justos limites os efeitos do uso pelo

    juiz do poder de decretar a separao de causas, facultando ao

    interessado a escolha e indicao de pretenso a que ficar

    reduzido o objecto do processo, em vez de o inutilizar na

    totalidade, em consequncia da absolvio da instncia quanto

    a todos os pedidos deduzidos.

    Dentro da mesma ideia base de evitar que regras de

    ndole estritamente procedimental possam obstar ou criar

    dificuldades insuperveis plena realizao dos fins do

    processo - flexibilizando ou eliminando rgidos espartilhos, de

    natureza formal e adjectiva, susceptveis de dificultarem, em

    termos excessivos e desproporcionados, a efectivao em juzo

    dos direitos - prope-se a introduo da figura do

    litisconsrcio eventual ou subsidirio. Torna-se, por esta via,

    possvel a formulao de pedidos subsidirios - na

    configurao que deles d o artigo 469. do Cdigo de

    Processo Civil ainda em vigor - contra rus diversos dos

    originariamente demandados, desde que com isso se no

    convole para uma relao jurdica diversa da inicialmente

  • 49

    controvertida.

    Supe-se que com esta soluo, inovadora, se podero

    prevenir numerosas hipteses de possvel ilegitimidade

    passiva, permitindo-se ao autor a formulao de um pedido

    principal contra quem considera ser o provvel devedor e de

    um pedido subsidirio contra o hipottico titular passivo do

    dbito (v. g., em situaes em que haja fundadas dvidas sobre

    a identidade do verdadeiro devedor, designadamente por se

    ignorar em que qualidade interveio exactamente o demandado

    no negcio jurdico).

    Quanto ao patrocnio judicirio, no essencial, reafirma-

    se a desnecessidade, que vem desde 1993, da autenticao

    notarial para a passagem de procurao a advogado e procede-

    se a uma reformulao do regime da renncia do mandato

    judicial, procurando alcanar soluo entre a eventual

    inexigibilidade ao mandatrio de prosseguir com o patrocnio

    do seu cliente e o interesse do autor em no ver o possvel

    conflito entre o ru e o seu advogado repercutir-se

    negativamente na celeridade do andamento da causa.

    No que concerne ao pressuposto processual da

    competncia, procedeu-se designadamente ao alargamento da

    competncia internacional dos tribunais caboverdianos,

    alterao, pela inversa, da regra da proibio de celebrao de

    pactos atributivos e privativos de jurisdio, alterao de

    certas regras de competncia territorial, dentre outras a

    concernente aco de cumprimento ou incumprimento do

  • 50

    contrato, definio de certos casos de incompetncia

    territorial que devam ser do conhecimento oficioso do tribunal.

    O captulo referente aos actos processuais comea com a

    procura da adequao do quotidiano da actividade s modernas

    tecnologias que a sociedade da informao faculta,

    estabelecendo-se a permissibilidade da utilizao dos meios

    informticos no tratamento e execuo de quaisquer actos ou

    peas processuais, ressalvadas as regras referentes proteco

    de dados pessoais;

    D-se um passo em frente na reafirmao da Nao

    cabo-verdiana pondo em p de igualdade em todos os actos

    processuais orais a faculdade da utilizao indiferenciada de

    qualquer das duas lnguas oficiais do Pas, a saber: a lngua

    materna cabo-verdiana e a lngua portuguesa.

    Preconiza-se a eliminao de formalismos inteis ou

    desproporcionados de molde a se operar uma real

    simplificao e desburocratizao no andamento das causas.

    Para tanto reafirma-se a regra da continuidade fazendo-os

    correr mesmo nas frias processuais, mas na sua forma

    mitigada pela sua suspenso aos sbados, domingos e dias

  • 51

    feriados, tal qual vem determinado desde 1991, atravs do

    Decreto-Lei n. 159/91, de 30 de Dezembro.

    Faculta-se a possibilidade de prorrogao do prazo para

    apresentao da contestao e dos articulados a ela

    subsequentes.

    Reafirma-se - o que j decorre da modernizao

    introduzida pela Lei n 24/VI/2005, de 10 de Janeiro - a

    possibilidade da prtica de actos mediante telecpia.

    Prescrevem-se, em termos genricos, quais as funes

    das secretarias judiciais, estabelecendo-se expressamente que a

    respectiva actuao processual se encontra na dependncia

    funcional do magistrado competente, incumbindo secretaria

    a execuo dos despachos proferidos, cumprindo-lhe realizar

    oficiosamente as diligncias necessrias a que o fim daqueles

    possa ser pronta e exaustivamente alcanado, e estabelece-se

    um especial dever de correco e urbanidade dos funcionrios

    de justia nas relaes com os mandatrios judiciais e demais

    intervenientes nas causas.

    Maioritria, mas no

    consensual foi a manuteno dos prazos ora existentes para o

    expediente das secretarias e para as diligncias externas a

    cargo dos oficiais de justia, sendo de se salientar porm a

    expressa consagrao, neste caso da sua limitao no mbito

    das providncias cautelares.

  • 52

    Possibilita-se o alargamento do mbito territorial da

    competncia dos oficiais de justia, naturalmente, para alm da

    sua comarca, de forma a abranger a rea de outras

    circunscries judiciais, em funo de normas especficas que

    venham a decorrer da diviso da organizao judiciria do Pas

    Regulamenta-se o acesso ao processo, consagrando-se a

    regra da publicidade, que apenas ceder, nos casos previstos

    excepcionalmente na lei, para garantia do direito dignidade

    das pessoas, intimidade da vida privada e familiar, moral

    pblica ou quando a eficcia da deciso a proferir seja afectada

    pelo acesso de terceiros aos autos.

    No que se refere comunicao dos actos elimina-se, no

    regime das cartas precatrias, a dilao, estabelecendo-se, em

    sua substituio, um prazo regra de dois meses para o seu

    cumprimento dentro do territrio nacional e de trs meses no

    estrangeiro, susceptveis de serem encurtados ou alargados

    pelo juiz, atendendo especificidade e s necessidades do caso

    concreto. Em harmonia com o princpio da verdade material,

    consigna-se que, no sendo a carta cumprida a tempo, pode o

    juiz determinar a comparncia na audincia final de quem

    atravs dela devia depor, quando o repute essencial

    descoberta da verdade e tal no represente sacrifcio

    incomportvel.

    Em matria de citaes e notificaes foram

    introduzidas modificaes tendentes a trazer melhor clareza e

    segurana no regime da citao postal que fica reservada

  • 53

    citao das pessoas colectivas e sociedades e aos citandos em

    parte incerta. Introduziu-se a possibilidade de notificao

    postal ao mandatrio judicial.

    De enfatizar tambm a introduo da possibilidade de a

    citao ser promovida por mandatrio judicial, por si prprio,

    por outro mandatrio ou por empregado seu habilitado para

    prestao de servio forense.

    Outra importante inovao a que estabelece a

    possibilidade de, na citao, o juiz determinar uma dilao do

    prazo para a defesa do citando tendo em ateno

    circunstncias relacionadas com a distncia deste Comarca,

    estando ele fora da respectiva circunscrio territorial ou no

    estrangeiro ou ainda por dificuldades de comunicao.

    Os captulos referentes instncia e seus incidentes

    foram objecto de reviso aprofundada.

    Desde logo de referir que foram banidas todas as

    disposies do regime processual em vigor que condicionam a

    normal tramitao da causa prvia observncia dos preceitos

    fiscais. O que naturalmente no impede que a pedido do MP

    mande o juiz extrair certido de peas eventualmente

    comprovativas de tal crdito para a sua cobrana em sede

    prpria.

  • 54

    No que se reporta suspenso da instncia por

    falecimento da parte, prescreve-se que ficam sem efeito

    todos os actos processuais praticados aps a data em que

    ocorreu o falecimento ou extino da parte, em relao aos

    quais fosse admissvel o exerccio do contraditrio,

    inviabilizado pela circunstncia de ter deixado de existir uma

    das partes na causa.

    Razes de economia processual e as decorrentes do

    princpio da prevalncia do fundo sobre a forma que se

    pretende que seja transversal a toda tramitao processual

    impuseram a adopo de mais uma importante inovao - a

    acrescer ao enunciado alargamento do poder de direco do

    processo pelo juiz, atravs do suprimento oficioso de

    pressupostos processuais susceptveis de sanao segundo a

    qual a simples ocorrncia de uma excepo dilatria no

    suprida no dever conduzir irremedivelmente absolvio

    da instncia. Assim no acontecendo quando o pressuposto

    processual em falta se destinar tutela do interesse de uma das

    partes e nenhuma outra circunstncia obstar a que se conhea

    do mrito da causa e a deciso a proferir for favorvel parte

    em cujo interesse o pressuposto fora estabelecido; neste caso

    permitindo-se que o juiz conhea imediatamente do mrito da

    causa.

  • 55

    Na linha do que vem estabelecido no Decreto-Lei n

    7/93, de 1 de Maro, alarga-se a possibilidade de a confisso,

    desistncia ou transaco poderem ser feitas por simples

    requerimento de advogado, no carecendo de autenticao

    notarial, contanto que neles estejam especificados o tipo de

    actos a serem praticados e se certifique o mandatrio da

    efectiva existncia dos poderes do mandante para a sua prtica.

    No domnio do incidente de verificao do valor da

    causa actualizam-se o respeitante s aces de despejo e de

    alimentos.

    Cumpre fazer uma especial referncia reformulao

    da seco atinente interveno de terceiros, objecto de

    profunda reestruturao, quer a nvel sistemtico, quer em

  • 56

    termos substanciais, visando a racionalizao das diversas

    formas de interveno de terceiros em processo pendente, de

    modo a evitar a sobreposio dos campos de aplicao dos

    diferentes tipos de interveno previstos na lei. Assim

    procurou-se a articulao de tais incidentes em funo do

    interesse em intervir que os legitima, dos poderes e do

    estatuto processual conferidos ao interveniente e da

    qualidade (terceiro ou parte primitiva) de quem suscita a

    interveno (espontnea ou provocada) na lide.

    Partiu-se essencialmente, numa primeira linha, da

    anlise dos vrios tipos de interesse em intervir (ou ser

    chamado a intervir) e das ligaes que devem ocorrer entre

    tal interesse, invocado como fundamento da legitimidade do

    interveniente, e a relao material controvertida entre as

    partes primitivas, concluindo-se pela possibilidade de

    reconduzir logicamente a trs as formas ou tipos de

    interveno, distinguindo sucessivamente:

    Os casos em que o terceiro se associa, ou chamado a

    associar a uma das partes primitivas, com o estatuto de parte

    principal, cumulando-se no processo a apreciao de uma

    relao jurdica prpria do interveniente, substancialmente

    conexa com a relao material controvertida entre as partes

    primitivas, em termos de tornar possvel um hipottico

    litisconsrcio ou coligao iniciais: este o esquema que

    define a figura da interveno principal, caracterizada pela

    igualdade ou paralelismo do interesse do interveniente com o

    da parte a que se associa;

    As situaes em que o interveniente, invocando um

    interesse ou relao conexo ou dependente da controvertida,

  • 57

    se apresta a auxiliar uma das partes primitivas, procurando

    com isso evitar o prejuzo que indirectamente lhe decorreria

    da deciso proferida no confronto das partes principais,

    exercendo uma actividade processual subordinada da parte

    que pretende coadjuvar: so os traos fundamentais da

    interveno acessria;

    Finalmente, as hipteses em que o terceiro faz valer no

    processo uma pretenso prpria, no confronto de ambas as

    partes primitivas, afirmando um direito prprio e

    juridicamente incompatvel, no todo ou em parte, com a

    pretenso do autor ou do reconvinte - direito este que, no

    sendo paralelo ou dependente dos interesses das partes

    originrias, no determina a associao na lide que

    caracteriza a figura da interveno principal: o esquema

    que caracteriza a figura da oposio.

    Por sua vez, quaisquer destes tipos ou formas de interveno,

    quando perspectivados em funo de quem tomou a

    iniciativa de a suscitar, podem surgir caracterizados nas

    modalidades de interveno espontnea, se desencadeada

    pelo terceiro que pretende intervir em causa alheia pendente,

    ou de interveno provocada, quando suscitada por alguma

    das partes primitivas, que chamou aquele terceiro a intervir

    na lide.

    A reconduo das diferentes formas de interveno de

    terceiros a alguma daquelas trs modalidades essenciais ditou

    o desaparecimento da previso, como incidentes autnomos,

    da nomeao aco, do chamamento autoria e do

    chamamento demanda, que o Cdigo vigente previne e

  • 58

    regula logo no incio da seco referente interveno de

    terceiros.

    No que se refere ao chamamento demanda, optou-se

    pela sua incluso no mbito da interveno principal

    provocada passiva, j que a doutrina a vem considerando como

    uma sub espcie da interveno principal, provocada pelo ru

    demandado como co-devedor e atravs da qual o mesmo ru

    chama para o seu lado os outros, ou alguns dos outros, co-

    devedores.

    Preocupao fundamental nesta rea foi obstar

    previso de incidentes, legalmente autonomizados, com

    campos de aplicao parcialmente sobrepostos, poupando s

    partes e actividade judiciria os inconvenientes decorrentes

    da existncia de dvidas fundadas - expressos, muitas vezes,

    em correntes doutrinrias e jurisprudenciais divergentes -

    sobre qual desses incidentes , em cada caso, o prprio,

    como inquestionavelmente sucede, no direito vigente, com a

    delimitao do campo de aplicao do incidente de

    chamamento autoria, chamamento demanda e interveno

    principal provocada passiva.

    Com tal objectivo, prope-se uma unificao do

    tratamento processual das situaes susceptveis de integrarem

    quer o actual chamamento demanda, tipificadas no artigo

    330. do actual Cdigo de Processo Civil, quer a interveno

    principal provocada passiva, a requerimento do ru (nos

    termos do artigo 356. do mesmo Cdigo), englobando todos

    os casos em que a obrigao comporte pluralidade de

  • 59

    devedores, ou quando existam garantes da obrigao a que a

    aco se reporta, tendo o ru interesse atendvel em os chamar

    demanda, quer para propiciar defesa conjunta quer para

    acautelar o eventual direito de regresso ou sub-rogao que lhe

    possa assistir.

    Em qualquer caso, o chamamento deve ser deduzido pelo ru

    no momento da defesa.

    Relativamente s situaes presentemente abordadas e

    tratadas sob a gide do chamamento autoria, optou-se por

    acautelar os eventuais interesses legtimos que esto na base e

    fundam o chamamento nos quadros da interveno acessria,

    admitindo, deste modo, em termos inovadores, que esta possa

    comportar, ao lado da assistncia, tambm uma forma de

    interveno (acessria) provocada ou suscitada pelo ru da

    causa principal.

    A fisionomia atribuda a este incidente traduz-se, nesta

    perspectiva, numa interveno acessria ou subordinada,

    suscitada pelo ru, na altura em que deduz a sua defesa,

    visando colocar o terceiro em condies de o auxiliar na

    defesa, relativamente discusso das questes que possam ter

    repercusso na aco de regresso ou indemnizao invocada

    como fundamento do chamamento.

    No que respeita interveno principal - e para alm da

    sua colocao sistemtica cabea dos incidentes de

    interveno de terceiros - as alteraes mais significativas

    situam-se no campo da interveno provocada.

  • 60

    Assim, o mbito deste incidente resulta, desde logo,

    alargado, como reflexo da ampliao do campo de aplicao

    das figuras do litisconsrcio e coligao iniciais, tornando-se

    nomeadamente possvel o chamamento destinado formulao

    de pedido subsidirio contra o interveniente, o que

    possibilitar, em muitos casos, em termos inovatrios no nosso

    ordenamento jurdico processual, o suprimento da prpria

    ilegitimidade singular, trazendo causa e direccionando-a

    contra, afinal, o verdadeiro interessado directo em contradizer.

    Impe-se, por outro lado, ao chamante o nus de indicar a

    causa do chamamento e alegar o interesse que, atravs dele, se

    pretende acautelar, como forma de clarificar liminarmente as

    situaes a que o incidente se reporta e ajuizar com segurana

    a legitimidade e o interesse em agir de quem suscita a

    interveno e chamado a inte