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511 XVIII Jornada de Iniciação Científica PIBlC CNPq/F APEAM/INPA Manaus - 2009 BIOATIVIDADE DE AZADIRACHTA INDICA {MELIACEAE} SOBRE NINFAS DE ORTHEZIA PRAELONGA DOUGLAS {HEMIPTERA: ORTHEZIIDAE} EM CITROS NOS ARREDORES DE MANAUS, AM. Maiara da Silva GONÇALVES 1 ; Beatriz Ronchi TELES2. 'Bolslsta PIBIC/INPA; 20rientadora CPEN/INPA. 1. Introdução A cochonilha Orthezia prae/onga Douglas, 1891 (Hemiptera: Ortheziidae), nativa da América Tropical (Gonçalves e Cassino, 1978), teve seu primeiro registro no Brasil em 1938, no estado de Pernambuco. Atualmente, a praga é encontrada em todos os estados do país (Fundecitrus, 2006) e prejudica a planta diretamente ao se alimentar da seiva da planta, pois ao mesmo tempo em que introduz toxinas, provoca a desfolha e queda dos frutos. O dano indireto é causado pela fumagina, uma camada de fungos que impede a fotossíntese das folhas, enfraquecendo a árvore (a fumagina se desenvolve porque o inseto elimina um líquido açucarado, conhecido como "honeydew"). O Brasil é o maior produtor mundial de laranja (Citrus sinensis) e em 2003 participou com 78% do suco de laranja concentrado e comercializado do mundo. Aproximadamente 98% do suco é exportado majoritariamente para os Estados Unidos e União Européia, além do Japão e outros 45 países (Donadio et aI., 2005). As exportações rendem ao país divisas de 1,5 bilhões de dólares/ano, além da criação de empregos diretos e indiretos (Cunha, 2003). Em 2000, o Brasil produziu 22.744 milhões de toneladas, representando 34,4% da produção mundial (Neves et aI., 2001) e dentre as espécies de cochonilha, a Orthezia praelonga é que mais causa prejuízos à citricultura (Embrapa, 2008). Segundo Roel (2001), o emprego de substâncias extraídas de plantas no controle de pragas apresenta algumas vantagens quando comparado ao uso de produtos sintéticos, porque não deixam resíduos, apresentam menores custos de produção e são biodegradáveis. A família Meliaceae foi identificada como um dos grupos mais promissores para o controle de pragas, uma vez que grande parte de suas espécies tem compostos com ação contra insetos e o nim, Azadirachta indica A. de Jussieu, é a espécie mais estudada e utilizada devido a sua alta eficiência e baixíssima toxicidade. Tem ação sobre mais de 400 espécies de insetos e ácaros, por inibir a alimentação dos insetos, afetar o desenvolvimento de imaturos, atrasar seu crescimento, reduzir a fecundidade e fertilidade dos adultos, alterar comportamento, fisiologia dos insetos e causar mortalidade de ovos, larvas e adultos (Martinez, 2002). Justifica-se este trabalho pelo motivo de Ortezia ser uma das pragas de maior importância na citricultura brasileira, sobretudo em virtude do elevado custo dos tratamentos fitossanitários, que, realizados de forma desordenada e como estratégia única de manejo, acabam selecionando o desenvolvimento de populações resistentes da praga. Além disso, os danos diretos e indiretos relacionados às plantas cítricas contribuem para a redução da produtividade e, conseqüentemente, da rentabilidade da atividade agrícola (Benvenga et aI., 2004). O objetivo do estudo foi avaliar o potencial dos extratos aquosos de nim (Azadirachta indica) sobre ninfas de Orthezia praelonga em plantios de citros no município de Manaus. 2. Material e Métodos A avaliação dos extratos aquosos de folhas de Nim sobre ortezia foi feita no Laboratório de Entomologia Agrícola do INPA após três infestações de plantas de limão Tahiti (Citrus latifolia) obtidas no km 25 da estrada AM 010. As fêmeas adultas fecundadas foram coletadas em plantios de citros nos arredores de Manaus e colocadas em 20 mudas de limão Tahiti para infestação. Os extratos foram obtidos nas concentrações 5, 10 e 20%, utilizando respectivamente 5, 10 e 20 gramas de folhas de Nim que foram coletadas ainda verdes na 'perrnacultura da UFAM, secadas em estufa, trituradas e posteriormente diluídas em 100 ml de água destilada. Foram realizadas cinco repetições consecutivas da aplicação para cada concentração, sendo 20 insetos por repetição. A avaliação dos extratos foi feita 14 dias após a aplicação, com auxílio de lupa. 3. Resultados e discussão A mortalidade das ninfas foi maior nos tratamentos aquosos de 5% e 20%, com respectivamente 62% e 81% de mortalidade total (Figura 1).

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XVIII Jornada de Iniciação Científica PIBlC CNPq/F APEAM/INPA Manaus - 2009

BIOATIVIDADE DE AZADIRACHTA INDICA {MELIACEAE} SOBRENINFAS DE ORTHEZIA PRAELONGA DOUGLAS {HEMIPTERA:ORTHEZIIDAE} EM CITROS NOS ARREDORES DE MANAUS, AM.

Maiara da Silva GONÇALVES1;Beatriz Ronchi TELES2.'Bolslsta PIBIC/INPA; 20rientadora CPEN/INPA.

1. IntroduçãoA cochonilha Orthezia prae/onga Douglas, 1891 (Hemiptera: Ortheziidae), nativa da AméricaTropical (Gonçalves e Cassino, 1978), teve seu primeiro registro no Brasil em 1938, no estado dePernambuco. Atualmente, a praga é encontrada em todos os estados do país (Fundecitrus, 2006) eprejudica a planta diretamente ao se alimentar da seiva da planta, pois ao mesmo tempo em queintroduz toxinas, provoca a desfolha e queda dos frutos. O dano indireto é causado pela fumagina,uma camada de fungos que impede a fotossíntese das folhas, enfraquecendo a árvore (a fumaginase desenvolve porque o inseto elimina um líquido açucarado, conhecido como "honeydew"). O Brasilé o maior produtor mundial de laranja (Citrus sinensis) e em 2003 participou com 78% do suco delaranja concentrado e comercializado do mundo. Aproximadamente 98% do suco é exportadomajoritariamente para os Estados Unidos e União Européia, além do Japão e outros 45 países(Donadio et aI., 2005). As exportações rendem ao país divisas de 1,5 bilhões de dólares/ano, alémda criação de empregos diretos e indiretos (Cunha, 2003). Em 2000, o Brasil produziu 22.744milhões de toneladas, representando 34,4% da produção mundial (Neves et aI., 2001) e dentre asespécies de cochonilha, a Orthezia praelonga é que mais causa prejuízos à citricultura (Embrapa,2008). Segundo Roel (2001), o emprego de substâncias extraídas de plantas no controle de pragasapresenta algumas vantagens quando comparado ao uso de produtos sintéticos, porque nãodeixam resíduos, apresentam menores custos de produção e são biodegradáveis. A famíliaMeliaceae foi identificada como um dos grupos mais promissores para o controle de pragas, umavez que grande parte de suas espécies tem compostos com ação contra insetos e o nim,Azadirachta indica A. de Jussieu, é a espécie mais estudada e utilizada devido a sua alta eficiência ebaixíssima toxicidade. Tem ação sobre mais de 400 espécies de insetos e ácaros, por inibir aalimentação dos insetos, afetar o desenvolvimento de imaturos, atrasar seu crescimento, reduzir afecundidade e fertilidade dos adultos, alterar comportamento, fisiologia dos insetos e causarmortalidade de ovos, larvas e adultos (Martinez, 2002). Justifica-se este trabalho pelo motivo deOrtezia ser uma das pragas de maior importância na citricultura brasileira, sobretudo em virtude doelevado custo dos tratamentos fitossanitários, que, realizados de forma desordenada e comoestratégia única de manejo, acabam selecionando o desenvolvimento de populações resistentes dapraga. Além disso, os danos diretos e indiretos relacionados às plantas cítricas contribuem para aredução da produtividade e, conseqüentemente, da rentabilidade da atividade agrícola (Benvengaet aI., 2004). O objetivo do estudo foi avaliar o potencial dos extratos aquosos de nim (Azadirachtaindica) sobre ninfas de Orthezia praelonga em plantios de citros no município de Manaus.

2. Material e MétodosA avaliação dos extratos aquosos de folhas de Nim sobre ortezia foi feita no Laboratório deEntomologia Agrícola do INPA após três infestações de plantas de limão Tahiti (Citrus latifolia)obtidas no km 25 da estrada AM 010. As fêmeas adultas fecundadas foram coletadas em plantiosde citros nos arredores de Manaus e colocadas em 20 mudas de limão Tahiti para infestação. Osextratos foram obtidos nas concentrações 5, 10 e 20%, utilizando respectivamente 5, 10 e 20gramas de folhas de Nim que foram coletadas ainda verdes na 'perrnacultura da UFAM, secadas emestufa, trituradas e posteriormente diluídas em 100 ml de água destilada. Foram realizadas cincorepetições consecutivas da aplicação para cada concentração, sendo 20 insetos por repetição. Aavaliação dos extratos foi feita 14 dias após a aplicação, com auxílio de lupa.

3. Resultados e discussãoA mortalidade das ninfas foi maior nos tratamentos aquosos de 5% e 20%, com respectivamente62% e 81% de mortalidade total (Figura 1).

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Figura 1 - Índices de mortalidade para os tratamentos testemunha e extratosaquosos de Nim 5%, 10% e 20%

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Manaus - 2009

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A mortalidade total do tratamento testemunha (água destilada) foi 9% e do tratamento Nim 10%foi 38%. As ninfas que sobreviveram, apresentaram um aspecto saudável em sua maioria, (figura2. A), porém algumas se locomoviam com dificuldade e as ninfas consideradas mortas (figura 2. B)apresentavam apenas a carapaça e resquícios de cerosidade. Apesar de ter ocorrido índices demortalidade significativos, também foi observada a sobrevivência de fêmeas fecundadas queconseguiram eclodir suas ninfas nas folhas (figura 3). Com isto, o número inicial de ninfasaumentou e houve reinfestação da planta. Este fato indica que a resistência dos adultos aosextratos foi maior que das ninfas.

Figura 2. A) ninfa viva; B) ninfa morta Figura 3. Fêmea adulta e ninfas recém eclodidas

4. ConclusãoOs resultados indicam que o uso de extratos aquosos de Nim é promissor no controle de ninfas deOrthezia praelonga, mas para ser mais efetivo no sentido de repelir novas posturas dos' adultos,talvez sejam necessários novos estudos com diferentes metodologias, para que haja ação integradadas mesmas visando o controle total da praga.

S. Referências BibliográficasBenvenga, S.R.; Gravena, S.; Silva, J.L.; Junior, N.A.; Amorim, L.C.S. 2004. Manejo prático dacochonilha ortézia em pomares de citros. LARANJA,Cordeirópolis, 25(2): 291-312.

Cunha, M.L.A. da. 2003. Distribuição geográfica, aspectos biológicos e controle químico da moscanegra dos citros, Aleurocanthus woglumi Ashby (Hemiptera: AleyrodidaeJ, nas condiçõesambientais do estado do Pará. Dissertação de mestrado, Universidade Federal Rural da Amazônia,Belém, 56p.

Donadio, L.c.; Alves, F.A.; Mourão Filho, F.A.A.; Moreira, C.S. 2005. Centros de origem,distribuição geográfica das plantas cítricas e histórico da citricultura no Brasil. In: Mattos Junior D.de.; Negri, J.D.; Pio, R.M.; Pompeu Junior, J. (eds.). Citros, Campinas: Instituto Agronômico eFundag. p. 3-18.

Embrapa, 2008. 500 perguntas 500 respostas online(http://www.embrapa.gov.br/publicacoes/tra nsferencia/colecao -500-perg untas-500-respostas/500-perg untas- 500-respostas-citros/?sea rchterm =citros). Acesso: 10/06/09

Fundecitros, 2006. http://www.fundecitros.com.br/doencas/ortezia.html. Acesso: 03/06/09

Gonçalves, C.R.; Cassino, P.C.R. 1978. O problema da Orthezia praelonga na citricultura. In:Encontro Nacional de Citricultura, Rio de Janeiro. Anais. P.5.