cláusula arbitral nos estatutos sociais - lexpress n°60

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www.machadomeyer.com.br ANO 14 - NÚMERO 60 JANEIRO / FEVEREIRO 2013 Estaria tal acionista vinculado à referi- da cláusula? Tal discussão se dá ainda em companhias abertas, nas quais os investidores dificilmente tomam co- nhecimento dos estatutos sociais no momento da compra das ações. Nesse caso, embora grande parte dos investidores da bolsa de valores não consulte o estatuto social antes de adquirir as ações de certa companhia aberta, é importante dizer que o esta- tuto social está sempre disponível para consulta. Assim, não parece razoável admitir que um investidor que adquira Cláusula arbitral nos estatutos sociais leia mais na página 3 CORPORATIVO - Gilberto Osser e Raissa Fini Desde o momento em que a Lei das S.A. passou a admitir a possibilidade dos estatutos sociais das companhias preverem cláusula compromissória para instituir a arbitragem como meio de re- solução de conflitos (art. 109, §3º, da Lei das S.A.), as cláusulas arbitrais es- tão cada vez mais frequentes nos atos constitutivos das sociedades. Porém, com o aumento da utilização de tal mé- todo, diversas discussões doutrinárias surgem acerca da eficácia e da extensão de referidas cláusulas arbitrais, princi- palmente quanto à obrigatoriedade de um acionista minoritário se submeter a uma cláusula arbitral, ainda que não tenha votado a favor de sua inserção no estatuto social da companhia. Deste modo, o acionista teria seu direito de acesso à justiça limitado, contra sua vontade, a partir do momento da pre- visão de uma cláusula arbitral, tendo o Poder Judiciário sua competência redu- zida para dirimir conflitos que envolvam as partes sujeitas à arbitragem. Outro ponto controverso diz respeito aos acionistas que aderirem ao qua- dro social de companhia que já preveja a arbitragem em seu estatuto social. Institucional Petróleo e Gás Trabalhista Machado Meyer é destaque em rankings nacionais e internacionais Como se preparar para a Rodada 11 Legislação tem novo adicional de periculosidade pág. 2 pág. 3 pág. 4

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Page 1: Cláusula Arbitral nos Estatutos Sociais - Lexpress N°60

w w w . m a c h a d o m e y e r . c o m . b r ANO 14 - NÚMERO 60 JANEIRO / FEVEREIRO 2013

Estaria tal acionista vinculado à referi-da cláusula? Tal discussão se dá ainda em companhias abertas, nas quais os investidores dificilmente tomam co-nhecimento dos estatutos sociais no momento da compra das ações.

Nesse caso, embora grande parte dos investidores da bolsa de valores não consulte o estatuto social antes de adquirir as ações de certa companhia aberta, é importante dizer que o esta-tuto social está sempre disponível para consulta. Assim, não parece razoável admitir que um investidor que adquira

Cláusula arbitral nos estatutos sociais

leia mais na página 3

CORPORATIVO - Gilberto Osser e Raissa Fini

Desde o momento em que a Lei das S.A. passou a admitir a possibilidade dos estatutos sociais das companhias preverem cláusula compromissória para instituir a arbitragem como meio de re-solução de conflitos (art. 109, §3º, da Lei das S.A.), as cláusulas arbitrais es-tão cada vez mais frequentes nos atos constitutivos das sociedades. Porém, com o aumento da utilização de tal mé-todo, diversas discussões doutrinárias surgem acerca da eficácia e da extensão de referidas cláusulas arbitrais, princi-palmente quanto à obrigatoriedade de um acionista minoritário se submeter

a uma cláusula arbitral, ainda que não tenha votado a favor de sua inserção no estatuto social da companhia. Deste modo, o acionista teria seu direito de acesso à justiça limitado, contra sua vontade, a partir do momento da pre-visão de uma cláusula arbitral, tendo o Poder Judiciário sua competência redu-zida para dirimir conflitos que envolvam as partes sujeitas à arbitragem.

Outro ponto controverso diz respeito aos acionistas que aderirem ao qua-dro social de companhia que já preveja a arbitragem em seu estatuto social.

Institucional Petróleo e Gás Trabalhista

Machado Meyer é destaque em rankings nacionais e internacionais

Como se preparar para a Rodada 11 Legislação tem novo adicional de periculosidade

pág. 2 pág. 3 pág. 4

Page 2: Cláusula Arbitral nos Estatutos Sociais - Lexpress N°60

BOLETIM INFORMATIVO BIMESTRAL - MACHADO MEYER LEXPRESS JANEIRO / FEVEREIRO 20132

AMBIENTAL – Roberta Danelon Leonhardt e Carolina Castelo Branco

A legislação ambiental tem concedido incentivos para o cumprimento das obrigações impostas, de forma a pre-miar aqueles cujas condutas são posi-tivas ao meio ambiente e à sociedade. Nesse contexto, insere-se a Cota de Re-serva Ambiental (“CRA”), criada pela Lei Federal nº 12.651/2012, intitulada como o “Novo Código Florestal”.

A CRA é um título nominativo represen-tativo de área com vegetação nativa, existente ou em processo de recupe-ração, caracterizada como (i) servidão ambiental; (ii) Reserva Legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que

exceder os percentuais legais; (iii) Re-serva Particular do Patrimônio Natural; ou (iv) localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público, que ainda não tenha sido desapropriada.

O Novo Código Florestal prevê a possibi-lidade de sua transferência, onerosa ou gratuita, para pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, median-te termo assinado pelo titular da CRA e pelo adquirente. Nesse cenário, ins-trumentos têm sido idealizados no país para dinamizar a utilização da CRA, como a Bolsa Verde do Rio de Janeiro, plataforma eletrônica de comércio de

Exposição dos valores de mercadorias importadas em nota fiscal gera controvérsias

TRIBUTÁRIO – Diogo Martins Teixeira e Tatiana Martines

Com o objetivo de acabar com os incen-tivos fiscais do ICMS em operações de importação, foi publicada a Resolução do Senado Federal n° 13, que reduziu para 4% a alíquota interestadual do ICMS nas ope-rações com produtos importados ou com conteúdo de importação superior a 40%.

O Ajuste SINIEF n° 19/2012, que regula-mentou a Resolução, trouxe o dever de informar o valor da importação/parcela importada na nota fiscal para viabilizar o cálculo do conteúdo de importação e definição da alíquota aplicável, caso o produto seja industrializado.

A legislação não traz de forma expressa exceções à obrigação de informar o valor da importação ou da parcela importada na nota fiscal, mas há casos em que tais obrigações carecem de motivação lógica razoável, como na venda de produtos acabados. Neste caso, o valor da impor-tação/parcela importada não é relevante

para o adquirente, que não efetua opera-ções de industrialização com o produto adquirido e não está obrigado a recalcular o conteúdo de importação.

No caso de produtos sem similar nacio-nal ou fabricados conforme Processo Pro-dutivo Básico (PPB), é possível sustentar que também inexiste a necessidade de informar o valor da importação/parcela importada na nota fiscal. Isso porque a alíquota de 4% não se aplica a esses casos, devendo ser o produto considera-do como nacional, inclusive para fins de cálculo do conteúdo de importação pelo adquirente, se for o caso.

Dessa forma, o dever de informar o custo de aquisição é discutível e incoerente em diversas situações, podendo ser questio-nado pelos contribuintes à luz da confi-dencialidade econômica, da livre concor-rência, e da própria lógica da Resolução, com boas chances de êxito.

Cota de Reserva Ambiental: importante instrumento para a preservação ambiental

O início de 2013 chegou acompanha-

do de pesquisas que apresentam o

Machado, Meyer, Sendacz e Opice em

destaque. O anuário Análise Advoca-

cia 500 classificou o escritório em 2º

lugar no ranking geral das bancas

mais admiradas, quando considerado

o número total de advogados citados

pelos entrevistados.

Já no ranking internacional da Mer-

germarket, braço do grupo Financial

Times, o Machado Meyer aparece em

1º lugar por volume de operações de

fusões e aquisições, com envolvi-

mento de países da América Latina,

da América Central, da América do

Sul e do Brasil.

Na pesquisa divulgada pela Thomson

Reuters, o escritório está em 2º lugar

por número de operações brasileiras

anunciadas e em 3º, se consideradas

as completas. No ranking da Bloom-

berg, ocupa a 13ª posição, se consi-

deradas as operações anunciadas no

Brasil, por volume.

Machado Meyer é destaque em rankings nacionais e internacionais

INSTITUCIONAL

títulos de reserva ambiental, inaugu-rada recentemente.

O comércio das CRAs é uma praxe simi-lar ao comércio já existente no mercado de créditos de carbono. Conforme pre-visto no Protocolo de Quioto, determi-nados países que não conseguem atin-gir suas metas de redução de emissões tornam-se compradores de créditos de carbono. Caso consigam reduzir suas emissões para níveis abaixo do que foi determinado no tratado internacional, podem vender o excedente de “redu-ção de emissão” no mercado nacional ou internacional.

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BOLETIM INFORMATIVO BIMESTRAL - MACHADO MEYER LEXPRESS JANEIRO / FEVEREIRO 2013 3

Petróleo e Gás: Como se preparar para a Rodada 11

INFRAESTRUTURA – Leonardo Miranda

As discussões sobre a repartição dos royalties do petróleo seguem seu ritmo no Congresso Nacional. Trata-se de um assunto de cunho preponderantemente político, que não deve afetar as decisões de investimento das empresas que ex-ploram e produzem petróleo.

No que diz respeito à Rodada 11, a lici-tação está finalmente em curso e o lei-lão deverá acontecer nos dias 14 e 15 de maio, com a assinatura dos respectivos contratos de concessão em agosto.

Diante desse cenário, a recomendação é de que as empresas as quais pretendem participar da Rodada, operadoras ou não operadoras, e notadamente as entrantes no país, que tomem contato com as re-gras do setor, com os requisitos da Roda-da 11, e acelerem suas questões comer-ciais e financeiras, como planejamentos fiscais, acordos de parceria, contratação de pessoal, arranjos financeiros, etc.

As empresas estrangeiras, em especial, devem atentar para o tempo e os custos envolvidos com a tradução (juramenta-da) de documentos para o português, bem como eventuais requisitos que não são compatíveis ou não existem nas suas jurisdições de origem.

Há diversos documentos e informações a serem providenciados por todas as em-presas licitantes (em consórcio ou indivi-dualmente), para apresentação durante a fase de qualificação. O volume de docu-mentos é função da condição da empre-sa licitante (operadora, não operadora, nacional, estrangeira). Da mesma for-ma, além da produção de documentos, há requisitos financeiros e técnicos que variam também em função da condição da empresa na licitação e do seu apetite, o que definirá o porte das garantias a se-rem prestadas e, naturalmente, os bônus de assinatura a serem pagos.

Neste ponto, além de se certificar que possui robustez financeira para partici-par da licitação da forma como pretende, a empresa precisa estar preparada para os desembolsos substanciais que terá, mesmo antes de participar da licitação (garantias de oferta, taxa de participa-ção, entre outros), além de outras res-ponsabilidades que serão assumidas, uma vez iniciadas as atividades com a fase de exploração.

Finalmente, para as empresas que pre-tendem formar parcerias para participar da licitação, é necessário entender os tipos de contratos que darão corpo e vida às parcerias, e iniciar as discussões comerciais que serão refletidas nesses contratos. Nesse exercício, as empresas passarão por questões essenciais como a governança das parcerias, os termos e condições para a sua participação na licitação, especialmente em relação a valores, dentre outros.

CAPA – Cláusula arbitral nos estatutos sociais provoca discussão – Gilberto Osser e Raissa Fini

ações de uma companhia aberta pos-sa eleger as cláusulas as quais deseja vincular-se, uma vez que ao adquirir as ações, o investidor está automati-camente aderindo a todos os direitos e obrigações vinculados àquelas ações, que, por sua vez, são regulados pelo es-tatuto social da companhia.

Acerca do assunto, a Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) re-solveu, em agosto de 2012, emitir uma consulta pública (Portaria JUCESP nº 17), a qual dispõe que o estatuto social de companhia que estabeleça arbitragem como forma de resolução de conflitos, só poderá ser registrado se aprovado por todos os acionistas. Desta maneira, a JUCESP rechaça uma presunção absolu-tamente legítima quanto à adesão aos termos do estatuto e, portanto, a acei-

tação da cláusula arbitral, por aqueles que adquirirem ações na bolsa.

Tal posicionamento fomentou ainda mais a polêmica acerca do tema, sob a alegação de que a JUCESP não deveria ter ultrapassado suas competências. Vale ressaltar, ainda, que a Lei das S.A. proíbe a imposição de quorum superma-joritário em companhias abertas, além das hipóteses já previstas. Doutrina-dores também sustentam que seria ilógico que a JUCESP exigisse delibera-ção unânime, uma vez que a legislação societária não criou nenhuma exceção ao princípio pela qual é regida, qual seja o princípio majoritário.

Referida decisão da JUCESP é precipi-tada, considerado o cenário atual da arbitragem no Brasil, já que o proce-

dimento arbitral é cada vez mais bem visto pelas companhias brasileiras e por seus acionistas. Reflexo disso é a exigência da inclusão do compromisso arbitral para obtenção dos níveis dife-renciados de governança corporativa da BM&FBovespa (o Novo Mercado, o Nível 2 e o Bovespa Mais). A necessidade de aprovação unânime para previsão da arbitragem nos estatutos sociais, afas-tando a presunção de aceitação por par-te de um investidor, aumentaria o nível de insegurança de uma companhia que estipula o compromisso arbitral em seu estatuto, uma vez que a aceitação de todos seria inviável. Mais do que isso, tal posicionamento limita o acesso das companhias aos níveis diferenciados de governança corporativa, indo na contra-mão do desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

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BOLETIM INFORMATIVO BIMESTRAL - MACHADO MEYER LEXPRESS JANEIRO / FEVEREIRO 20134

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Conselho Editorial

Comitê de Comunicação e Marketing do

Machado Meyer

Jornalista Responsável

Ana Zenatti (MTB: 3189/SC)

Redação e Edição

Caroline Silva (Edelman Significa)

Patricia Figueiredo (Edelman Significa)

Planejamento Editorial,

Editoração Eletrônica e Revisão

Comunicação Machado Meyer

[email protected]

FONE (PHONE): + 55 11 3150 -7000

Novo adicional de periculosidade na legislação trabalhista

TRABALHISTA – Sólon Cunha, Rodrigo Takano e Jorge Gonzaga Matsumoto

Em dezembro de 2012, o Diário Oficial da União publicou a Lei 12.740/12, a qual altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 193, pre-ceituando novas condições (sujeitos, formas de compensação e pagamento) relativas à concessão do adicional de periculosidade.

Anteriormente, salvo especificidades previstas em norma coletiva, faziam jus ao referido adicional de periculosidade - no percentual de 30% sobre o salário--base - os grupos de empregados dedica-dos a atividades de elevado risco, ou seja, decorrentes da exposição a explosivos, combustíveis ou contato com energia elétrica, que representassem risco à in-tegridade física. Cita-se, como exemplo, frentistas e operadores de manutenção da rede elétrica.

A nova redação alterou de forma relevan-te o artigo 193 da CLT, ao incluir o concei-to de atividade perigosa no trabalho de “segurança pessoal ou patrimonial que, por sua natureza ou método de traba-lho, impliquem em acentuado risco do trabalhador a roubos ou outras espécies de violência”.

Para estas atividades e profissionais foi estabelecido o adicional de periculosida-de de 30% sobre o salário básico, poden-do este montante ser compensado com outros adicionais de mesma natureza eventualmente concedidos aos vigilan-tes por meio de acordo coletivo.

Todavia, esta legislação permite questio-namentos por parte das empresas quan-to a seus efeitos imediatos, na medida

em que induz a necessidade de atuação pelo Ministério do Trabalho para regular os aspectos importantes da aplicação deste adicional. Cita, por exemplo, a de-finição sobre o conceito de “atividades ou operações perigosas” na atividade de vi-gilante e seus consequentes parâmetros como grau de exposição, agentes miti-gadores (ou, até mesmo procedimentos que eliminem o risco acentuado) e, por fim, a definição dos sujeitos passivos e ativos da nova obrigação de pagamento.

Ainda nesse sentido, a Lei n.12.740/12 não pode retroagir a exigência do paga-mento do adicional aos trabalhadores nos anos anteriores, mas, se aplica aos contratos de trabalho vigentes, a partir da publicação da Lei, se não entendida pelo Poder Judiciário como norma de efi-cácia contida - que dependeria de regula-mentação. Deve ser analisado também o impacto do adicional de periculosidade e seus reflexos na folha de pagamento dessas empresas.

Logo, haja vista as lacunas mencionadas, a lei trará período de turbulência nas rela-ções do trabalho, porquanto suas omis-sões podem acarretar imprevisibilidade em relação ao pagamento do adicional de periculosidade e onerar de forma despro-porcional a categoria patronal do setor de vigilância pessoal ou patrimonial. Assim, é necessária a análise criteriosa de sua aplicação, como a atuação do Grupo Téc-nico composto por auditores fiscais do trabalho, a fim de elaborar proposta de regulamentação das alterações legisla-tivas ocorridas, como ação prioritária do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST).