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0 0 0 2 2 1 5 2 3 2 0 1 6 4 0 1 4 3 0 0 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO TOCANTINS SEGUNDA VARA FEDERAL AUTOS Nº: 0002215-23.2016.4.01.4300 CLASSE: AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DEMANDANTE: ESTADO DO TOCANTINS, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, UNIAO DEMANDADO: CICERO OLIVEIRA BANDEIRA, EDINALDO ALVES DE LIMA, HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAUDE LTDA, JOSE GASTAO ALMADA NEDER, JOSE WILSON SIQUEIRA CAMPOS, LUIZ RENATO PEDRA SA, MARCO AURELIO VIEIRA DIAS, MARIA LENICE FREIRE DE ABREU COSTA, MATHEUS RIBEIRO CUNHA SALES, MAXIMA COMERCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA, MURILLO VIEIRA QUEIROZ, OMAR BALBINO QUEIROZ, PEDRO RIBEIRO CUNHA SALES, VANDA MARIA GONCALVES PAIVA, WAGNER LUIS DE OLIVEIRA CLASSIFICAÇÃO: SENTENÇA TIPO A SENTENÇA I. RELATÓRIO 1. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou ação civil pública por improbidade administrativa em face de CÍCERO OLIVEIRA BANDEIRA, EDINALDO ALVES DE LIMA, HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., JOSÉ GASTÃO ALMADA NEDER, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, LUIZ RENATO PEDRA SÁ, MARCO AURÉLIO VIEIRA DIAS, MARIA LENICE FREIRE DE ABREU COSTA, MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., MURILLO VIEIRA QUEIROZ, OMAR BALBINO QUEIROZ, MATHEUS RIBEIRO CUNHA SALES, PEDRO RIBEIRO CUNHA SALES, VANDA MARIA GONÇALVES PAIVA e WAGNER LUÍS DE OLIVEIRA alegando, em resumo, o seguinte: 2. (a) entre 2012 e 2014, a Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins institucionalizou o procedimento do “reconhecimento de despesas” para adquirir medicamentos, materiais e produtos hospitalares sem licitação, sem celebração de contrato e por preços superfaturados; 3. (b) nesse procedimento, o pagamento era feito com fundamento no fato de que os insumos já haviam sido entregues pelo fornecedor e em cotações de preço dissimuladas; 4. (c) em 6 de agosto de 2013, o processo 2013.3055.2492/Sesau/TO foi autuado. Nesse processo, na exercício do cargo de Diretor de Apoio à Gestão Hospitalar, LUIZ RENATO PEDRA solicitou o pagamento de materiais hospitalares fornecidos por HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA.; 5. (d) o pagamento foi autorizado por VANDA PAIVA, então Secretária Estadual de Saúde, com justificativas falsas; 6. (e) CÍCERO BANDEIRA, servidor lotado na Diretoria de Aquisição ____________________________________________________________________________________________________________________ ____Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006. A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238. Pág. 1/32

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PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO TOCANTINSSEGUNDA VARA FEDERAL

AUTOS Nº: 0002215-23.2016.4.01.4300CLASSE: AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVADEMANDANTE: ESTADO DO TOCANTINS, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, UNIAODEMANDADO: CICERO OLIVEIRA BANDEIRA, EDINALDO ALVES DE LIMA, HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAUDE LTDA, JOSE GASTAO ALMADA NEDER, JOSE WILSON SIQUEIRA CAMPOS, LUIZ RENATO PEDRA SA, MARCO AURELIO VIEIRA DIAS, MARIA LENICE FREIRE DE ABREU COSTA, MATHEUS RIBEIRO CUNHA SALES, MAXIMA COMERCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA, MURILLO VIEIRA QUEIROZ, OMAR BALBINO QUEIROZ, PEDRO RIBEIRO CUNHA SALES, VANDA MARIA GONCALVES PAIVA, WAGNER LUIS DE OLIVEIRACLASSIFICAÇÃO: SENTENÇA TIPO A

SENTENÇA

I. RELATÓRIO

1. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou ação civil pública por improbidade administrativa em face de CÍCERO OLIVEIRA BANDEIRA, EDINALDO ALVES DE LIMA, HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., JOSÉ GASTÃO ALMADA NEDER, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, LUIZ RENATO PEDRA SÁ, MARCO AURÉLIO VIEIRA DIAS, MARIA LENICE FREIRE DE ABREU COSTA, MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., MURILLO VIEIRA QUEIROZ, OMAR BALBINO QUEIROZ, MATHEUS RIBEIRO CUNHA SALES, PEDRO RIBEIRO CUNHA SALES, VANDA MARIA GONÇALVES PAIVA e WAGNER LUÍS DE OLIVEIRA alegando, em resumo, o seguinte:

2. (a) entre 2012 e 2014, a Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins institucionalizou o procedimento do “reconhecimento de despesas” para adquirir medicamentos, materiais e produtos hospitalares sem licitação, sem celebração de contrato e por preços superfaturados;

3. (b) nesse procedimento, o pagamento era feito com fundamento no fato de que os insumos já haviam sido entregues pelo fornecedor e em cotações de preço dissimuladas;

4. (c) em 6 de agosto de 2013, o processo nº 2013.3055.2492/Sesau/TO foi autuado. Nesse processo, na exercício do cargo de Diretor de Apoio à Gestão Hospitalar, LUIZ RENATO PEDRA solicitou o pagamento de materiais hospitalares fornecidos por HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA.;

5. (d) o pagamento foi autorizado por VANDA PAIVA, então Secretária Estadual de Saúde, com justificativas falsas;

6. (e) CÍCERO BANDEIRA, servidor lotado na Diretoria de Aquisição

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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e Logística, foi o responsável por elaborar o mapa de preços que serviu para justificar a aquisição. Nesse processo, agiu com negligência, deixando de indicar a data e de comparar preços com empresas diversas daquelas que apresentaram as propostas;

7. (f) MARIA LENICE COSTA, Chefe da Assessoria Jurídica, contribuiu com a prática do ato ilegal lavrando parecer no sentido da legalidade do procedimento, fundamentando-se em dispositivo de lei inaplicável à hipótese e ignorando a dispensa de licitação;

8. (g) no mesmo dia de sua lavratura, o parecer foi aprovado por JOSÉ GASTÃO NEDER;

9. (h) VANDA PAIVA, JOSÉ GASTÃO NEDER e LUIZ RENATO PEDRA foram advertidos expressamente pela Controladoria-Geral do Tocantins das ilegalidades do processo. Diante disso, juntaram aos autos nova cotação lavrada pela MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA. Acontece que HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA. e MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA. possuem procuradores em comum. Desse modo, todos os seus sócios sabiam dos preços das cotações e não houve concorrência;

10. (i) o processo continha 19 notas fiscais, no valor total de R$ 989.447,63. De acordo com auditoria do Denasus, não há qualquer registro comprobatório da entrega dos produtos respectivos ao estoque regulador da Sesau/TO. Mesmo assim, WAGNER OLIVEIRA, MARCO AURÉLIO DIAS e EDINALDO LIMA, servidores lotados no estoque regulador da Sesau/TO, certificaram falsamente seu recebimento nas notas;

11. (j) JOSÉ GASTÃO NEDER assinou as notas de empenho e a autorização para pagamento de R$ 989.447,63. A autorização para pagamento foi assinada conjuntamente por SIQUEIRA CAMPOS;

12. (k) HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., cujos sócios são MATHEUS SALES e PEDRO SALES, se beneficiaram das condutas ilícitas das quais tinham ciência, recebendo indevidamente R$ 989.447,63. Ao forjar concorrência, MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., cujos sócios são MURILLO QUEIROZ e OMAR QUEIROZ, contribuíram com a prática do ato ilícito.

13. Requereu, além da condenação dos réus, o deferimento de tutela de urgência a fim de proibir a contratação ou prorrogação de contrato entre a Sesau/TO e a HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA. Pleiteou também que os bens dos requeridos fossem indisponibilizados.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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14. Requereu, ainda, a produção de depoimento pessoal e prova testemunhal.

15. A tutela de urgência foi deferida, com a indisponibilidade de bens e o afastamento do sigilo fiscal dos requeridos. Foi ainda determinada a autuação de petição cível diversa a fim de deliberar sobre os bens indisponibilizados (fls. 538/548). Essa petição recebeu o nº 3574-08.2016.4.01.4300.

16. A UNIÃO informou não ter interesse na lide (fl. 573). Já o ESTADO DO TOCANTINS requereu seu ingresso como litisconsorte ativo (fl. 574). O pedido do ESTADO DO TOCANTINS foi deferido (fls. 892/895).

17. A DPU informou que patrocinaria a defesa de EDINALDO LIMA, MARIA LENICE COSTA, MONALÍCIO ALMEIDA e MARCO AURÉLIO DIAS (fls. 575, 582, 589).

18. SIQUEIRA CAMPOS reiterou pedido de restituição de prazo para interpor agravo de instrumento (fls. 609, 769, 843).

19. Os requeridos foram notificados e apresentaram defesas preliminares. Na ocasião, CÍCERO BANDEIRA alegou o seguinte (fls. 612/639):

20. (a) ausência de dolo, culpa ou má-fé;

21. (b) cerceamento de defesa durante a auditoria do DENASUS;

22. (c) ausência de ato de improbidade;

23. (d) ausência de individualização de responsabilidades.

24. Requereu, ainda, o franqueamento dos benefícios da gratuidade judicial.

25. MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., OMAR QUEIROZ e MURILLO QUEIROZ ilustraram sua defesa preliminar com os seguintes argumentos (fls. 644/654):

26. (a) há provas de entrega dos medicamentos;

27. (b) não há vínculo entre MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA. e HOSPITÁLIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA.;

28. (c) não houve superfaturamento;________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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29. (d) o particular não pode responder pela irregularidade na escolha da modalidade de licitação pela Administração.

30. LUIZ RENATO PEDRA SÁ e JOSÉ GASTÃO NEDER apresentaram defesas preliminares (fls. 703/716 e 720/733). Na ocasião, alegaram o seguinte:

31. (a) ilegitimidade ativa do MPF;

32. (b) incompetência da Justiça Federal;

33. (c) ilegitimidade passiva;

34. (d) ausência de ato de improbidade.

35. Por sua vez, VANDA PAIVA produziu as seguintes alegações na defesa preliminar (fls. 737/767):

36. (a) ilegitimidade ativa do MPF;

37. (b) incompetência da Justiça Federal;

38. (c) ausência dos requisitos autorizadores da tutela de urgência;

39. (d) ausência de interesse de agir por inadequação da via eleita;

40. (e) ausência de indícios da prática de improbidade.

41. Requereu a liberação de valores de empréstimo cuja indisponibilidade foi declarada.

42. Por intermédio da DPU, EDINALDO LIMA apresentou defesa preliminar argumentando ausência de dolo ou culpa (fls. 839/843). No mesmo sentido, as defesas preliminares de MARIA LENICE COSTA (fls. 853/855) e MARCO AURÉLIO DIAS (fls. 1307/1312).

43. VANDA PAIVA e CÍCERO BANDEIRA comunicaram a interposição de agravo de instrumento contra a decisão que decretou a indisponibilidade de seus bens (fls. 773, 856).

44. Foi proferida decisão determinando a inclusão do ESTADO DO TOCANTINS no polo ativo e a intimação do autor para pleitear a citação da UNIÃO, bem como esclarecendo que o prazo para recorrer ainda não começou a contar. Na oportunidade, a decisão agravada foi mantida (fls. 892/895).________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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45. O MPF aditou a inicial para incluir a UNIÃO no polo passivo (fls. 918/919). O pedido foi deferido (fls. 924/925).

46. SIQUEIRA CAMPOS apresentou defesa preliminar argumentando o seguinte (fls. 941/955):

47. (a) praticou ato de gestão governamental e não de ordenador de despesas;

48. (b) ilegitimidade do MPF;

49. (c) ausência de provas e elementos que caracterizem improbidade.

50. Requereu, ainda, a tramitação em sigilo.

51. HOSPITÁLIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., PEDRO CUNHA e MATHEUS SALES alegaram o seguinte em sua defesa preliminar (fls. 988/1012):

52. (a) incompetência da Justiça Federal;

53. (b) ausência de pressuposto de desenvolvimento do processo, uma vez que o relatório do DENASUS iniciou suas análises a partir do ano de 2012, enquanto as vendas realizadas pela empresa ocorreram em 2011;

54. (c) ausência de má-fé;

55. (d) ausência de improbidade.

56. WAGNER OLIVEIRA apresentou defesa preliminar com o seguinte conteúdo (fls. 1231/1268):

57. (a) ausência de individualização das responsabilidades;

58. (b) cerceamento de defesa na auditoria do DENASUS;

59. (c) ausência da prática de atos ilícitos;

60. (d) ausência de dolo ou culpa.

61. Em seguida, o requerido comunicou a interposição de agravo de instrumento em face da decisão que determinou a indisponibilidade de seus bens (fl. 1272).

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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62. A UNIÃO foi notificada para apresentar defesa preliminar. Na ocasião, alegou que manifestou interesse em integrar o feito ao qual estes autos foram distribuídos por dependência. Assim, requereu a reconsideração da decisão que determinou sua inclusão no polo passivo (fls. 1341/1342).

63. As preliminares alegadas foram rejeitadas. A inicial foi recebida. Foi determinada a migração da UNIÃO para o polo ativo (fls. 1344/1356).

64. Os requeridos foram citados. WAGNER OLIVEIRA alegou o seguinte em sua contestação (fls. 1403/1437):

65. (a) os produtos foram entregues;

66. (b) cerceamento de defesa na auditoria do DENASUS;

67. (c) ausência da prática de atos ilícitos;

68. (d) ausência de dolo ou culpa;

69. (e) ausência de individuação de responsabilidades.

70. O requerido comunicou, ainda, a interposição de agravo de instrumento em face da decisão que recebeu a inicial (fl. 1656).

71. CÍCERO BANDEIRA formulou as seguintes ponderações em sua contestação (fls. 1564/1591):

72. (a) os produtos foram entregues;

73. (b) cerceamento de defesa na auditoria do DENASUS;

74. (c) ausência da prática de atos ilícitos;

75. (d) ausência de dolo ou culpa;

76. (e) ausência de individuação de responsabilidades.

77. O requerido comunicou, ainda, a interposição de agravo de instrumento em face da decisão que recebeu a inicial (fl. 1627).

78. HOSPITÁLIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., PEDRO CUNHA e MATHEUS SALES suscitaram os seguintes argumentos na contestação (fls. 1681/1716):

79. (a) incompetência da Justiça Federal;________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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80. (b) ausência de pressuposto de desenvolvimento do processo, uma vez que o relatório do DENASUS iniciou suas análises a partir do ano de 2012, enquanto as vendas realizadas pela empresa ocorreram em 2011;

81. (c) ausência de má-fé;

82. (d) ausência de improbidade.

83. VANDA PAIVA apresentou contestação com o seguinte conteúdo (fls. 1924/1969):

84. (a) ilegitimidade ativa do MPF;

85. (b) incompetência da Justiça Federal;

86. (c) ausência dos requisitos autorizadores da tutela de urgência;

87. (d) ausência de interesse de agir por inadequação da via eleita;

88. (e) ausência de indícios da prática de improbidade.

89. Na oportunidade, a requerida impugnou o valor da causa.

90. A requerida ainda comunicou a interposição de agravo de instrumento em face da decisão que recebeu a inicial (fl. 2045).

91. MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., OMAR QUEIROZ e MURILLO QUEIROZ externaram a argumentação a seguir em sua contestação (fls. 1971/1981):

92. (a) há provas de entrega dos medicamentos;

93. (b) não há vínculo entre MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA. e HOSPITÁLIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA.;

94. (c) não houve superfaturamento;

95. (d) o particular não pode responder pela irregularidade na escolha da modalidade de licitação pela Administração.

96. MARIA LENICE COSTA teceu as seguintes considerações em sua contestação (fls. 1994/2025):

97. (a) ilegitimidade passiva;________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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98. (b) ausência dos elementos caracterizadores de improbidade.

99. Requereu ainda o franqueamento dos benefícios da gratuidade judiciária.

100. SIQUEIRA CAMPOS requereu a restituição do prazo para contestação (fls. 2037/2038). O pedido foi deferido. A decisão agravada foi mantida (fls. 2039/2040).

101. LUIZ RENATO PEDRA SÁ argumentou o seguinte na contestação (fls. 2082/2110):

102. (a) ilegitimidade ativa do MPF;

103. (b) incompetência da Justiça Federal;

104. (c) ilegitimidade passiva;

105. (d) ausência de ato de improbidade.

106. JOSÉ GASTÃO NEDER contestou a ação nos seguintes termos (fls. 2112/2140):

107. (a) ilegitimidade ativa do MPF;

108. (b) incompetência da Justiça Federal;

109. (c) ilegitimidade passiva;

110. (d) ausência de ato de improbidade.

111. SIQUEIRA CAMPOS apresentou contestação com o seguinte teor (fls. 2143/2167):

112. (a) ilegitimidade passiva;

113. (b) incompetência da Justiça Federal;

114. (c) praticou ato de gestão governamental e não de ordenador de despesas;

115. (d) ausência de improbidade.

116. Assistidos pela DPU, MARCO AURÉLIO DIAS e EDINALDO LIMA ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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apresentaram contestação alegando, em resumo, ausência de improbidade e de dolo (fls. 2195/2198).

117. Em sua réplica, o MPF impugnou as questões preliminares suscitadas pelos requeridos. Além disso, requereu a juntada de mídia contendo relatórios de auditorias e pleiteou a produção de prova testemunhal. Requereu, ainda, o aproveitamento das provas produzidas nas medidas cautelares de afastamento de sigilo bancário e de dados telefônicos, em trâmite na Quarta Vara Federal desta Seção Judiciária (nºs. 9633-46.2015.4.01.4300 e 13608-13.2014.4.01.4300) (fls. 2204/2208). A UNIÃO ratificou a manifestação (fl. 2209-v). O ESTADO DO TOCANTINS dispensou a produção de provas (fl. 2200).

118. O pedido de prova emprestada formulado pelo MPF foi deferido (fls. 2217/2218).

119. CÍCERO BANDEIRA, WAGNER OLIVEIRA, VANDA PAIVA, MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., OMAR QUEIROZ e MURILLO QUEIROZ requereram a produção de prova oral (fls. 2241/2242, 2247, 2267/2268, 2271/2272, ). VANDA PAIVA requereu ainda a produção de prova pericial em suas assinaturas. Além disso, requereu os benefícios da gratuidade judiciária.

120. O ESTADO DO TOCANTINS apresentou réplica (fls. 2250/2254).

121. HOSPITÁLIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., PEDRO CUNHA e MATHEUS SALES requereram a expedição de ofício ao Estoque Regulador da Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins a fim de que a autenticidade dos dados constantes em mídia juntada aos autos seja confirmada. Requereram, ainda, a produção de prova pericial a fim de aferir a autenticidade das assinaturas apostas pelos recebedores dos medicamentos. Além disso, requereram a produção de prova testemunhal (fls. 2274/2275).

122. SIQUEIRA CAMPOS opôs embargos declaratórios em face do ato judicial que determinou a indicação das provas. Alega que a indicação das provas só pode ocorrer após o saneamento. Além disso, requereu a produção de prova testemunhal e a prorrogação do prazo para análise do conteúdo da mídia apresentada pelo MPF (fls. 2277/2282).

123. WAGNER OLIVEIRA requereu a juntada de documentos e a produção de prova testemunhal (fls. 2284/2285).

124. EDINALDO LIMA e MARCO AURÉLIO DIAS alegaram não terem provas a produzir (fls. 2298/2299).

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125. JOSÉ GASTÃO NEDER e LUIZ RENATO PEDRA SÁ requereram a produção de prova testemunhal e perícia a fim de demonstrar que os documentos administrativos chegaram às mãos do requerido dentro da normalidade. Requereram, ainda, os benefícios da gratuidade judiciária (fls. 2301/2304).

126. O processo foi saneado. Foi deferida a gratuidade processual a JOSÉ GASTÃO NEDER, LUIZ RENATO PEDRA SÁ, VANDA PAIVA, MARIA LENICE COSTA. Os embargos declaratórios opostos por SIQUEIRA CAMPOS foram rejeitados, com imposição de multa. A impugnação ao valor da causa apresentada por VANDA PAIVA foi rejeitada. Apenas os pedidos de prova documental e aproveitamento das evidências coletadas perante a justiça criminal foram deferidos (fls. 2305/2320).

127. A prova requerida pelo MPF veio aos autos (fl. 2326). O autor foi intimado a respeito e nada requereu (fl. 2329). No mesmo sentido, a UNIÃO (fl. 2334-v).

128. VANDA PAIVA juntou aos autos acórdão do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins (fl. 2337).

129. O TRF da 1ª Região requisitou informações a serem prestadas em mandado de segurança interposto por MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES, OMAR QUEIROZ, MURILLO QUEIROZ em face da decisão que indeferiu a produção de prova testemunhal (fl. 2357). As informações foram prestadas (fls.2365/2378). O pedido de liminar foi indeferido (fls. 2396/2397).

130. O ESTADO DO TOCANTINS informou não possuir provas a produzir (fl. 2382).

131. Os requeridos foram intimados para se manifestarem acerca da prova emprestada. Apenas a DPU e MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES, MURILLO QUEIROZ e OMAR QUEIROZ se pronunciaram. Estes últimos requeridos alegaram que os documentos demonstram a inexistência de vínculo entre eles e os demais (fls. 2386/2387). A DPU, representando EDINALDO LIMA e MARCO AURÉLIO DIAS, reiterou o conteúdo das defesas anteriores (fl. 2393).

132. Os autos vieram conclusos para sentença em 18 de junho de 2018.

133. É o relatório.

II. FUNDAMENTOS________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DO EXAME DO MÉRITO

134. Todas as questões preliminares suscitadas pelos requeridos já foram rejeitadas pela decisão que recebeu a inicial e pela decisão saneadora. Mantenho o entendimento.

135. Concorrem os pressupostos de admissibilidade do exame do mérito.

PREJUDICIAIS DE MÉRITO – DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

136. Não se consumou decadência ou prescrição.

EXAME DO MÉRITO

137. A causa de pedir destes autos diz respeito a irregularidades na aquisição de medicamentos pela Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins (Sesau), por meio do procedimento conhecido como “reconhecimento de despesas”. A defesa alega que o procedimento é legalmente utilizado com vistas a efetuar o pagamento de valores devidos a particulares, com base no princípio da vedação ao enriquecimento sem causa da Administração Pública.

138. As partes não controvertem acerca da existência dos fatos, apenas de seu caráter irregular e do efetivo fornecimento dos insumos adquiridos.

139. A fim de enfrentar a questão debatida em juízo de forma mais didática, a análise será dividida de acordo com os núcleos de atuação dos requeridos.

NÚCLEO DA CÚPULA DA SECRETARIA DE SAÚDE

140. A análise do processo 2013.3055.2492/Sesau/TO demonstra o seguinte (mídia de fl. 67):

141. (a) o processo foi instaurado por LUIZ RENATO PEDRA SÁ, tendo por base a alegação de que houve, em momento anterior, aquisição imediata de materiais e medicamentos para os hospitais regionais do Estado com vistas a evitar seu desabastecimento e garantir o atendimento ao público (fls. 02/03);

142. (b) o mesmo requerido, juntamente com a então Secretária de Saúde VANDA PAIVA, assinou justificativa reforçando as alegações acima e argumentando pela situação emergencial do atendimento à saúde pública do Estado (fls. 04/05);________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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143. (c) VANDA PAIVA assinou termo de reconhecimento da despesa (fl. 06);

144. (d) CÍCERO BANDEIRA fez pesquisa de mercado apenas entre as empresas MÁXIMA PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., PROMTINS PRODUTOS MÉDICOS DO TOCANTINS e HOSPITÁLIA PRODUTOS PARA SAÚDE (fls. 101/114);

145. (e) MARIA LENICE COSTA lavrou parecer opinando pela possibilidade de pagamento da despesa por reconhecimento de despesas )fls. 121/127);

146. (f) a Controladoria-Geral do Estado do Tocantins emitiu parecer advertindo sobre a ocorrência de diversas irregularidades no procedimento. Apontou, inclusive, a incorreção na fundamentação legal, a ausência de “atestos” de recebimento das mercadorias nas notas fiscais e a necessidade de apuração da responsabilidade pela realização da despesa sem a adoção do procedimento correto (fls. 130/133). Em vez de adotar as correções, VANDA PAIVA emitiu despacho se insurgindo contra os apontamentos da CGE/TO (fls. 235/238). Posteriormente, LUIZ RENATO PEDRA SÁ despachou apontando a correção de algumas das irregularidades e alegando que a principal delas, a apuração das responsabilidades, só seria adotada depois do pagamento da despesa. Assim, determinou o prosseguimento do feito (fl. 244);

147. (g) as notas de empenho e autorização para pagamento foram assinadas por JOSÉ GASTÃO NEDER (fls. 246/248).

148. Dessa análise é possível concluir que os envolvidos já tinham em mente a intenção de realizar o reconhecimento de despesas antes mesmo da instauração do respectivo processo administrativo. Afinal, VANDA PAIVA assinou termo de reconhecimento de despesa mesmo diante da ausência de “atestos” de recebimento das mercadorias (fl. 06 do Processo 2013.3055.2492). Também é claro o intento de prosseguir nesse procedimento à revelia de sua legalidade. Isso se observa na obstinação de VANDA PAIVA e LUIZ RENATO PEDRA SÁ em dar prosseguimento ao procedimento, mesmo após os alertas da CGE/TO.

149. Ainda acerca da ilegalidade do procedimento, é importante analisar o conteúdo do parecer jurídico emitido por MARIA LENICE COSTA.

150. A defesa argumenta que o advogado é inviolável no exercício profissional, não podendo responder pela elaboração de parecer de caráter não vinculante. De fato, a jurisprudência tem reconhecido que, quando o causídico ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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emite juízo de valor devidamente fundamentado, não pode ser responsabilizado por ato ímprobo, salvo em caso de culpa ou erro grosseiro e se estiver presente o dolo (STJ, RHC 82.377/MA, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 10/10/2017, DJe 18/10/2017; AgInt no REsp 1590530/PB, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2016, DJe 06/03/2017).

151. Diante disso, é necessário verificar se a tese exposta pela parecerista era minimamente defensável. Em sua peça, ela descreve que o direito à saúde é dever constitucional do Estado e reconhece que as formalidades indispensáveis ao processo de licitação não foram cumpridas. Diz que o reconhecimento de despesas se encontra previsto nos artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64. Ao final, opina pela possibilidade de pagamento da despesa, desde que todas as condições enumeradas sejam cumpridas.

152. O reconhecimento de despesas é de fato um procedimento excepcional do qual a Administração pode lançar mão. No entanto, sua aplicabilidade é muito limitada. O artigo 37 da Lei 4.320/64, citado pela requerida na peça, enumera as hipóteses: (a) despesas de exercícios encerrados para as quais o orçamento previa crédito próprio; (b) Restos a Pagar com prescrição interrompida; (c) compromissos reconhecidos após o encerramento do exercício correspondente.

153. O caso dos autos é de aquisição sem qualquer espécie de procedimento seletivo, justificada por “situação emergencial que ora se encontra o atendimento da saúde pública do Estado do Tocantins” (fl. 04 do Processo 2013.3055.2492). Curiosamente, o parecer não discorreu sobre a hipótese da despesa; limitou-se a destacar que o seu reconhecimento era cabível naquele caso. A análise da situação fática e o estabelecimento de seu liame com o fenômeno jurídico eram indispensáveis à eficácia do parecer.

154. O dispositivo que insere o reconhecimento de despesas no ordenamento jurídico brasileiro não prevê sua aplicação em caso de situação emergencial ou calamitosa. Tais eventos demandam a dispensa de licitação (art. 24, IV, Lei 8.666/93). A dispensa ocorre por meio de processo administrativo, que deve ser deflagrado antes da aquisição.

155. No caso dos autos, ocorreu primeiro a compra sem qualquer formalidade, para depois se dar a formalização da despesa. Esse procedimento subverteu toda a sistemática de processamento da despesa pública. E o que é pior: passou a ser rotina na Administração da Secretaria de Saúde. Por isso mesmo, o reconhecimento de despesa só é admitido nos três casos previstos no artigo 37 da Lei 4.320/64. A hipótese dos autos não se amolda a nenhum dos casos porque a despesa ocorreu no mesmo exercício do pagamento e não se refere a Restos a Pagar.________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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156. Diante dessa análise, fica claro que a situação descrita no parecer foi interpretada de forma dolosa, a fim de justificar os atos de improbidade administrativa. Tivesse a parecerista feito um estudo mínimo dos fatos, a conclusão seria uma só: o reconhecimento de despesas não é aplicável porque a situação fática não se amolda às hipóteses arroladas no artigo 37 da Lei 4.320/64. Nessas circunstâncias, o dolo da requerida no que tange à conduta descrita no artigo 10, VIII, da Lei 8.429/92, é relevante.

157. Mas a atuação de MARIA LENICE COSTA foi apenas uma das diversas irregularidades constatadas no processo administrativo. A situação calamitosa que justifique a adoção de qualquer aquisição à revelia do procedimento regular previsto na Lei de Licitações deve ser comprovada. Para tanto, é necessária a instauração de processo administrativo próprio, instruído com as evidências dessa calamidade e demonstrando a necessidade de se proceder à aquisição pelo procedimento anômalo. Nesse sentido, já havia decisão paradigma do Superior Tribunal de Justiça na época dos fatos:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ATO DE IMPROBIDADE – CONTRATAÇÃO DE CONTADOR – DISPENSA DE LICITAÇÃO – PROCEDIMENTO DA LEI 8.666/93: INOBSERVÂNCIA – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC: INEXISTÊNCIA. 1. A contratação de prestação de serviço sem exigência de licitação é permitida pela Lei 8.666/93, devendo-se observar, para tanto, o disposto no art. 25, II, conjugado com o art. 26, os quais exigem seja a contratação precedida do processo de dispensa instruído, no que couber, com: I) a caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for o caso; II) a razão da escolha do fornecedor ou executante; III) justificativa do preço; e IV) documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados. 2. A contratação de contador pela Câmara Municipal de Cajuri - MG não atende ao disposto no art. 25 da Lei 8.666/93 porque não demonstrada a inviabilidade de competição, a singularidade do serviço e que o trabalho do profissional escolhido é o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato, nem a justificativa do preço, requisito do art. 26, III da Lei 8.666/93. 3. Retorno dos autos ao Tribunal de origem. 4. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido. (REsp 842.461/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/03/2007, DJ 11/04/2007, p. 233)

158. No caso dos autos, a aquisição ocorreu com base em uma justificativa da Secretária de Saúde à época dos fatos, VANDA PAIVA, bem como do Diretor do Departamento de Apoio à Gestão Hospitalar, LUIZ RENATO PEDRA SÁ (fls. 02/05). Os requeridos agiram como se bastasse suas declarações, desprovidas de quaisquer evidências, para fundamentar o procedimento. Esta ação é apenas uma de dezenas de outras que tramitam nesta Vara Federal, evidenciando que o procedimento de reconhecimento de despesas transformou-se na regra geral no âmbito da Secretaria de Saúde do Tocantins. ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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159. A análise do processo de reconhecimento de despesas leva à conclusão da ocorrência de pelo menos dois fatos danosos ao erário. O primeiro e mais elementar deles é a aquisição dos produtos à revelia do processo licitatório. Isso torna impossível verificar se a Administração aderiu à proposta mais vantajosa.

160. O segundo fato danoso diz respeito à discrepância entre as datas de fornecimento dos produtos e da emissão da nota fiscal respectiva. No caso dos autos, há nos documentos fiscais indicação clara de que a mercadoria foi adquirida em 2011, mas a data de emissão é de quase dois anos depois (fls. 07/57).

161. Nesse panorama, vislumbram-se duas circunstâncias possíveis. Na primeira delas, a empresa indicaria nas notas fiscais de 2013 o valor praticado por cada produto em 2011. Se fosse esse o caso, a pesquisa de preços realizada em 2013 não teria valor algum. Afinal, os preços das supostas concorrentes já teriam embutidos em si a inflação do período (que, segundo o índice IGP-M, foi de 10,9% e, segundo o ajuste médio da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED, foi de 7,58%).

162. Na segunda circunstância, a empresa indicaria nas notas fiscais o preço atual praticado por cada produto. Nesse caso, o Estado pagaria por produtos adquiridos em 2011 o valor dos mesmos artigos em 2013. É notório que os valores são mais elevados, em função da inflação. Sequer se poderia falar, aqui, em enriquecimento ilícito dos particulares. Teria havido apenas repasse da atualização monetária ao Estado. Na verdade, o atraso no pagamento é altamente prejudicial às empresas, que poderiam, com a aplicação do dinheiro, transformá-lo em investimento e lucros em porcentual bem mais elevado que a atualização monetária.

163. A conduta seria prejudicial ao interesse público porque o dinheiro reservado à aplicação na saúde não é utilizado para investimentos que rendam juros acima da inflação. O Estado não assume papel de instituição financeira, especialmente quando se trata de recursos destinados a cumprir finalidades precípuas. Os recursos da saúde devem ser investidos na saúde o quanto antes. Se isso não ocorre, há desabastecimento de hospitais, falta de leitos, demora no atendimento, mortes, etc.

164. É possível concluir que as condutas dos requeridos causaram dano ao erário. O firme propósito de adotar o reconhecimento de despesas como solução cotidiana para a aquisição de insumos hospitalares, à revelia do que determina a lei e mesmo após alertas da CGE/TO, demonstram a existência de dolo por parte de VANDA PAIVA, LUIZ RENATO PEDRA SÁ e JOSÉ GASTÃO NEDER. Essas pessoas tinham o poder de ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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adotar o procedimento administrativo previsto em lei para a situação, ou de impedir a adoção do procedimento irregular, mas escolheram não fazê-lo. Logo, incorreram no tipo descrito no artigo 10, VIII, da Lei 8.429/92.

165. O acórdão do TCE/TO juntado aos autos por VANDA PAIVA não é capaz de alterar o quadro fático observado. O documento diz respeito ao julgamento das contas da Secretaria de Comunicação do Estado do Tocantins em 2011, pela qual era responsável ARRHENIUS NAVES. O requerido lançou mão do reconhecimento de despesas para pagar despesas supostamente emergenciais. O documento deixa claro que (fl. 2341-v)

“a Lei de Licitações e Contratos prevê possibilidades de contratação direta, para aquelas despesas que não possam se sujeitar ao rito normal de licitação, na qual se inclui a dispensa, inclusive em caso de emergência, o que em tese, tendo como base a alegação, seria o caso ('risco de ver a população do Estado sobre enorme prejuízos'). Assim, presentes todos os requisitos fixados na norma, o Gestor deveria ter usado tal procedimento. Mas, na contramão, o Gestor preferiu não ir de encontro às normas regentes e contratou sem o devido procedimento licitatório, sem cobertura contratual e sem empenho, e realizar despesas por meio do procedimento atacado.”

166. Observa-se que o próprio TCE/TO condenou o uso do reconhecimento de despesas para pagar obrigações supostamente emergenciais. Portanto, a juntada do documento apenas reforça a existência de dolo por parte de VANDA PAIVA.

167. A conclusão deve ser outra em relação a CÍCERO BANDEIRA. Ao contrário do que alegou o MPF, o requerido consignou em seu mapa de pesquisa de preços a data da confecção (fl. 101 do Processo 2013.3055.2492). Foram colhidas três propostas de preços. O legislador invariavelmente entende que esse número é suficiente para se chegar à proposta mais vantajosa para a Administração (art. 22, § 3º, Lei 8.666/93; art. 4º, IX, Lei 10.520/2002). Não há irregularidade intrínseca ao ato de confeccionar o mapa de pesquisa de preços.

168. O requerido atuou no processo administrativo de reconhecimento de despesas como assessor executivo. A partir daí, é razoável inferir que ele não tinha poder de decisão acerca do procedimento a ser adotado com vistas à aquisição de medicamentos. Também não poderia influenciar essa decisão. Nos autos, participou apenas confeccionando o mapa de pesquisa de preços a partir de documentos que já se encontravam juntados. Não havendo evidência em contrário, é seguro entender que o requerido agiu em cumprimento a determinação do Secretário de Saúde na época. Ainda que seja, em algum momento, comprovada a existência de vínculo entre as empresas pesquisadas, não há qualquer indício de seu comprometimento consciente com a prática das irregularidades.________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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169. Constatada a ausência do indispensável elemento subjetivo, CÍCERO BANDEIRA deve ser absolvido das imputações narradas na inicial.

170. No tocante a SIQUEIRA CAMPOS, os autores não se desincumbiram do ônus de provar que o então Governador do Estado do Tocantins contribuiu para a prática dos atos ímprobos descritos na inicial. Pode ter havido determinação para que a situação calamitosa da saúde fosse resolvida o quanto antes. Mas não há evidências no sentido de que o requerido tenha determinado a adoção do reconhecimento de despesas na hipótese dos autos.

171. Na verdade, a inicial imputa ao requerido exclusivamente a conduta de haver assinado a autorização para pagamento das empresas. O ato foi praticado no contexto de um procedimento que havia recebido parecer jurídico favorável. O requerido não trabalhava exclusivamente no ambiente da Secretaria de Saúde. Não tinha condições de saber que a fundamentação do parecer se encontrava equivocada, especialmente após a contundente manifestação contrária de VANDA PAIVA e as alegações de LUIZ RENATO PEDRA SÁ no sentido de que as irregularidades haviam sido sanadas.

172. Em última análise, é lícito ao Chefe do Poder Executivo confiar em seus subordinados. Sendo a improbidade por eles cometida, é necessária prova de que houve ordem ou consentimento do gestor público para que ele também responda pelo ato. O ordenamento jurídico não acolhe hipóteses de responsabilidade objetiva por ato de improbidade.

173. Não há provas suficientes do envolvimento de SIQUEIRA CAMPOS na prática dos atos ímprobos. O requerido deve ser absolvido.

NÚCLEO DO ESTOQUE REGULADOR DA SECRETARIA DE SAÚDE

174. A acusação posta em face de WAGNER OLIVEIRA, EDINALDO LIMA e MARCO AURÉLIO DIAS é a de que os requeridos, na qualidade de servidores do almoxarifado da Sesau, teriam assinado documentos atestando falsamente o recebimento de medicamentos por aquele órgão. Os documentos comprovando tais assinaturas se encontram no Processo 2013.3055.2492 (fls. 07/76). O fato de que os requeridos efetivamente assinaram as notas fiscais não é controverso.

175. Nestes autos, há evidências claras de que os atestados foram assinados muito tempo depois do suposto recebimento dos produtos. As notas fiscais contêm informação no sentido de que as mercadorias foram adquiridas em agosto de 2011. Além disso, em outubro de 2013, o parecer da CGE/TO registrava que as notas fiscais estavam sem qualquer “atesto” de recebimento ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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das mercadorias (fls. 130/133 do Processo 2013.3055.2492). Mas os “atestos” foram feitos com data de 07 de março de 2013.

176. Fica demonstrado que a data lançada não corresponde à data do efetivo “atesto”. Com isso, também se torna evidente que o atesto não ocorreu no dia do recebimento das mercadorias, ou seja, os requeridos não conferiram os produtos no dia em que eles foram entregues. Logo, não é possível concluir, apenas a partir da análise desses “atestos”, que os insumos foram efetivamente entregues ao Estoque Regulador da Sesau.

177. Ao contrário: não é necessário muito esforço para se chegar à conclusão de que os requerentes, ao assinarem os “atestos”, fizeram declaração falsa. À luz dessas circunstâncias, pouco importa que os produtos tenham ou não tenham sido entregues à Administração. Releva observar que os requeridos atestaram a entrega dos produtos ao Estoque Regulador, quando isso nunca aconteceu.

178. A conduta dos requeridos causou prejuízo ao erário porque foi com base nesses “atestos” que a Sesau determinou o pagamento dos insumos, adotando procedimento ilegal. O elemento subjetivo é o dolo eventual assumiram o risco de assinarem “atestos” com conteúdo falso.

179. WAGNER OLIVEIRA, EDINALDO LIMA e MARCO AURÉLIO DIAS devem ser condenados pela prática de ato ímprobo descrito no artigo 10, XII, da Lei de Improbidade Administrativa.

NÚCLEO DOS PARTICULARES

180. A inicial acusa HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., cujos sócios são MATHEUS SALES e PEDRO SALES, de se beneficiarem das condutas ilícitas das quais tinham ciência. Acusa, ainda, MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., cujos sócios são MURILLO QUEIROZ e OMAR QUEIROZ, de forjar concorrência a fim de beneficiar HOSPITALIA e seus sócios.

181. A prova de vínculo entre HOSPITALIA e MÁXIMA é bastante frágil. Foi eficazmente desconstituída pelas defesas nas oportunidades em que se manifestaram nos autos. O suposto procurador em comum das duas empresas era, na verdade, um sócio antigo que se retirou de DROGARIA DINÂMICA LTDA. antes que ela viesse a se tornar MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA. (fls. 1037/1048).

182. A documentação juntada aos autos pelo MPF não é suficiente para demonstrar que o vínculo entre esse antigo sócio e as empresas perdurou até a época da aquisição dos insumos. Nesse panorama, não é possível concluir no ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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sentido de que MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., MURILLO QUEIROZ e OMAR QUEIROZ contribuíram para dar ares de legalidade ao processo de reconhecimento de despesas. Esses requeridos devem ser absolvidos das imputações contidas na inicial.

183. No que tange a HOSPITÁLIA e seus sócios, a defesa juntou aos autos vasta documentação demonstrando a entrega dos insumos não ao Estoque Regulador da Sesau, mas aos Hospitais Regionais do Estado (fls. 1074/1221). A documentação, inclusive, reforça a observação de que o processo de reconhecimento de despesas foi forjado em 2013 para o pagamento de dívidas contraídas em 2011.

184. O MPF fundamenta a alegação de ausência de comprovação da entrega com base em um relatório preliminar do Denasus. Não foi apresentado o relatório definitivo da auditoria referente aos fatos apurados nestes autos. Diante disso e da contraprova produzida pela defesa, a alegação de prejuízo ao erário consubstanciada no descumprimento da obrigação de entregar os insumos fica fragilizada. Deve-se destacar também que a prova emprestada juntada aos autos não contribui para fundamentar as acusações narradas na inicial. As investigações no âmbito criminal não demonstraram superfaturamento, conluio entre as empresas e os agentes públicos, pagamento de vantagem indevida ou qualquer outra conduta que demonstre cabalmente ato de improbidade por parte dos particulares.

185. É fato incontroverso que os serviços públicos de saúde do Estado enfrentam situação delicada desde antes dos fatos narrados na inicial. Nesse panorama, é razoável entender, a partir do ponto de vista dos empresários, que o Estado possuía poderes para determinar o fornecimento dos insumos com pagamento diferido. Trata-se, no caso, da aplicação do princípio da confiança que, segundo o Superior Tribunal de Justiça, vincula também a Administração Pública, ainda que se trate de atos ilícitos:

RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 138 E 139, I, DO CÓDIGO CIVIL. OCORRÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. EXONERAÇÃO A PEDIDO, COM O FIM DE ASSUMIR CARGO ESTADUAL PARA O QUAL FOI NOMEADO. OCORRÊNCIA DE ERRO ESSENCIAL NA MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DO SERVIDOR. NOMEAÇÃO TORNADA SEM EFEITO. POSSIBILIDADE DE INVALIDAÇÃO DO ATO DE EXONERAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 140 DO CC/2002.(...)5. Incidência do princípio da confiança no tocante à Administração Pública, o qual se reporta à necessidade de manutenção de atos administrativos, ainda que se qualifiquem como antijurídicos (o que não é o caso em exame), desde que verificada a expectativa legítima, por parte do administrado, de estabilização dos efeitos decorrentes da conduta administrativa. Princípio que corporifica, na essência, a boa-fé e a segurança jurídica. 6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido. (REsp 1229501/SP, Rel. Ministro OG

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FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 15/12/2016).

186. Ainda a partir do ponto de vista dos empresários, não é vantajoso promover o fornecimento de insumos sem data para o pagamento. A análise das evidências produzidas na Operação Pronto Socorro indica que os empresários eram compelidos a fornecer os artigos médicos, sem a indicação de uma data em que o pagamento por tais artigos seria feito. No caso dos autos, o fornecimento dos insumos ocorreu em agosto de 2011 mas o pagamento aconteceu apenas em janeiro de 2014 (fls. 07/57 e 252 do processo 2013.3055.2492; fls. 1074/1221 destes autos).

187. A empresa poderia ter vendido esses insumos ao público ou a outros entes políticos, recebendo à vista ou em prazos bem menores. Além disso, os autores não produziram prova efetiva da existência de superfaturamento dos produtos; há nos autos do processo administrativo cotações de preços sinalizando que foram praticados valores compatíveis com os de mercado. A empresa levou quase três anos para receber quantia vultosa, sem poder lançar mão de providências eficazes quando o devedor é particular, como a inscrição de seu nome em órgãos de proteção de crédito.

188. Todas essas circunstâncias fáticas deixam claro que o procedimento adotado pela Sesau foi extremamente desvantajoso para HOSPITÁLIA. A empresa forneceu imediatamente insumos ao ESTADO DO TOCANTINS e demorou quase três anos para receber a contrapartida financeira respectiva. Ainda que houvesse indícios da prática de sobrepreço, o longo intervalo temporal que separa as datas de fornecimento e de pagamento e o elevado volume dos artigos fornecidos, com vultoso preço total, poderiam ter anulado essa vantagem financeira e até levado a empresa à falência.

189. Por todas essas razões, e diante da insuficiência das provas revelando o envolvimento dos empresários na prática dos atos ímprobos, é seguro entender que HOSPITÁLIA e seus sócios não provocaram a Administração Pública com vistas a fornecer insumos médicos ao ESTADO DO TOCANTINS à revelia do processo licitatório regular. As evidências sinalizam que os empresários não estavam de acordo com o procedimento, mas realizaram o fornecimento seja porque entenderam não ser possível se impor à determinação administrativa, seja porque confiavam na legitimidade do procedimento e no cumprimento da avença em tempo razoável.

190. O elemento subjetivo indispensável à condenação dos particulares (dolo, culpa, má-fé) não está demonstrado. A absolvição é a medida a ser adotada.

DOSIMETRIA DAS PENALIDADES

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191. As penas para a prática de condutas descritas no artigo 10 da Lei de Improbidade Administrativa são “ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos” (art. 12, II).

192. A Lei 8.429/92 não estabelece critérios claros para a dosimetria das penalidades, limitando-se a estabelecer que o juiz levará em conta a extensão do dano e o proveito patrimonial obtido pelo agente para fixar as sanções (art. 12, parágrafo único).

193. O comando legislativo é vago. O direito punitivo exige maiores balizamentos a fim de contornar o elevado grau de subjetividade. O juiz não se exime de sentenciar diante de lacuna ou obscuridade da lei. Deve, nesses casos, recorrer à analogia (art. 140, CPC; art. 4º, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

194. Por isso, levando em conta os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, invoco as circunstâncias previstas no artigo 59 do Código Penal para promover a dosimetria das penas.

195. Ressalto, no entanto, que não há nos autos elementos suficientes para quantificar o valor do prejuízo ao erário ocorrido. Isso impede a aplicação das penalidades concernentes ao ressarcimento integral do dano, na perda de valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio e na multa civil.

LUIZ RENATO PEDRA SÁ

196. A culpabilidade deve ser considerada intensa porque foi advertido pela Controladoria e não fez cessar os atos de improbidade.

197. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha o requerido histórico de prática de atos ímprobos.

198. A conduta social do requerido merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

199. A personalidade do requerido não foi investigada.

200. Os motivos para a prática do ato ímprobo se resumiram à facilitação e aceleração do trabalho burocrático, à revelia do procedimento ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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legal. Devem ser considerados em seu desfavor.

201. As circunstâncias em que o ato ímprobo foi praticado, aproveitando-se do caos que imperava nos serviços públicos de saúde, com prejuízo à população mais pobre e dependente desses serviços, devem ser computadas em desfavor do requerido.

202. As consequências da ação ímproba foram graves porque contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

203. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.

204. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

205. (a) perda da função pública que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

206. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

207. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).

VANDA MARIA GONÇALVES PAIVA

208. A culpabilidade é intensa porque reprovável o fato de ter ignorado as recomendações da Controladoria e persistido na prática dos atos ilegais.

209. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha a requerida histórico de prática de atos ímprobos.

210. A conduta social da requerida merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

211. A personalidade da requerida não foi investigada.

212. Os motivos para a prática do ato ímprobo foram a facilitação e aceleração do trabalho burocrático, à revelia do procedimento legal. Devem ser considerados em seu desfavor.

213. As circunstâncias em que o ato ímprobo foi praticado, ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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aproveitando-se do caos que imperava nos serviços públicos de saúde, com prejuízo à população mais pobre e dependente desses serviços, devem ser computadas em desfavor da requerida.

214. As consequências da ação ímproba foram graves porque contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

215. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.

216. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

217. (a) perda da função pública que a requerida estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

218. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

219. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócia majoritária, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).

MARIA LENICE COSTA

220. A culpabilidade deve ser considerada intensa porque desconsiderou as recomendações da Controladoria do Estado, continuando as práticas ilícitas.

221. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha a requerida histórico de prática de atos ímprobos.

222. A conduta social da requerida merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

223. A personalidade da requerida não foi investigada.

224. Os motivos para a prática do ato ímprobo foram a facilitação e aceleração do trabalho burocrático, à revelia do procedimento legal. Devem ser sopesadas em seu desfavor.

225. As circunstâncias em que o ato ímprobo foi praticado, aproveitando-se do caos que imperava nos serviços públicos de saúde, com prejuízo à população mais pobre e dependente desses serviços, devem ser ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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computadas em desfavor da requerida.

226. As consequências da ação ímproba foram graves porque contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

227. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.

228. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

229. (a) perda da função pública que a requerida estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

230. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

231. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócia majoritária, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).

JOSÉ GASTÃO NEDER

232. A culpabilidade deve ser considerada intensa porque, a despeito das advertências da Controladoria, persistiu na conduta ímproba narrada.

233. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha o requerido histórico de prática de atos ímprobos.

234. A conduta social do requerido merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

235. A personalidade do requerido não foi investigada.

236. Os motivos para a prática do ato ímprobo estão relacionados à facilitação e aceleração do trabalho burocrático, descumprindo o procedimento legal. Devem ser considerados em seu desfavor.

237. As circunstâncias em que o ato ímprobo foi praticado, aproveitando-se do caos que imperava nos serviços públicos de saúde, com prejuízo à população mais pobre e dependente desses serviços, devem ser computadas em desfavor do requerido.

238. As consequências da ação ímproba foram graves porque ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

239. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.

240. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

241. (a) perda da função pública que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

242. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

243. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).

WAGNER LUÍS DE OLIVEIRA

244. A culpabilidade deve ser considerada normal para a conduta ímproba narrada.

245. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha o requerido histórico de prática de atos ímprobos.

246. A conduta social do requerido merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

247. A personalidade do requerido não foi investigada.

248. Os motivos para a prática do ato ímprobo não foram delineados, o que deve ser interpretado em seu favor.

249. As circunstâncias em que o ato ímprobo foi praticado não demonstram gravidade porque se trata de servidor subalterno, cuja atuação limitou-se à assinatura de documentos falsos que facilitaram as práticas ilícitas, sem evidências de que delas tenha se beneficiado pessoalmente.

250. As consequências da ação ímproba foram graves porque contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

251. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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252. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

253. (a) perda da função comissionada ou cargo de confiança que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA), mantendo-se o vínculo efetivo, em observância à proporcionalidade da reprimenda em relação à conduta empreendida;

254. (b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).

EDINALDO ALVES DE LIMA

255. A culpabilidade deve ser considerada normal para a conduta ímproba narrada.

256. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha o requerido histórico de prática de atos ímprobos.

257. A conduta social do requerido merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

258. A personalidade do requerido não foi investigada.

259. Os motivos para a prática do ato ímprobo não foram esclarecidos.

260. As circunstâncias em que o ato ímprobo foi praticado indicam que o requerido, servidor subalterno, não detinha poder decisório. Sua conduta ficou restrita à assinaturas de documentos falsos que tinham potencialidade para causar danos à Administração Pública.

261. As consequências da ação ímproba foram graves porque contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

262. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.

263. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

264. (a) perda da função comissionada ou cargo de confiança que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA). A sanção não ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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implicará perda de cargo de provimento efetivo;

265. (b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).

MARCO AURÉLIO VIEIRA DIAS

266. A culpabilidade deve ser considerada normal para a conduta ímproba narrada.

267. Quanto aos antecedentes não há nos autos informações de que tenha o requerido histórico de prática de atos ímprobos.

268. A conduta social do requerido merece ser considerada boa, tendo em vista que nada restou demonstrado em contrário.

269. A personalidade do requerido não foi investigada.

270. Os motivos para a prática dos atos ímprobos não foram esclarecidos.

271. As circunstâncias beneficiam o demandado porque se trata de servidor subalterno, sem poder de mando e que se limitou a assinar documentos falsos com potencial para causar danos ao patrimônio público.

272. As consequências da ação ímproba foram graves porque contribuíram para a prevalência da situação caótica dos serviços públicos de saúde no Estado por longo período.

273. O comportamento da vítima não possui relevo no caso.

274. Sopesadas essas circunstâncias judiciais, fixo as penas compatíveis da seguinte forma:

275. (a) perda da função comissionada ou cargo de confiança que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA). Em observância ao postulado da proporcionalidade, a sanção não abrangerá perda de cargo efetivo;

276. (b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA).________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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ÔNUS SUCUMBENCIAIS

277. Deixo de condenar os autores ao pagamento de custas e honorários advocatícios, em relação aos requeridos absolvidos, porque não houve má-fé (art. 18, Lei 7.347/85; art. 4º, III e IV, Lei 9.289/96).

278. Os requeridos condenados devem pagar as custas e honorários aos advogados da UNIÃO e do ESTADO DO TOCANTINS. No arbitramento dos honorários advocatícios levo em consideração as seguintes balizas versadas no artigo 85, §§ 2º e 3º do CPC:

279. (a) grau de zelo profissional: o Advogado da União e o Procurador do Estado do Tocantins laboram com zelo profissional em suas manifestações;

280. (b) lugar da prestação do serviço: a União e o Estado do Tocantins têm órgãos de representação processual na sede do juízo, de sorte que não houve gastos extraordinários;

281. (c) natureza e importância da causa: a causas tem importância elevada em razão do valor pretendido ter potencialidade para atingir montante considerável;

282. (d) trabalho realizado pelo advogado: O Advogado da União e o Procurador do Estado do Tocantins articularam manifestações pertinentes e não incorreram em manobras protelatórias;

283. (e) tempo de trabalho realizado pelo advogado: o tempo de trabalho dos advogados públicos foi longo porque o processo é complexo e exigiu análise de farta documentação.

284. O valor dos honorários deve ser fixado segundo o proveito econômico que, no caso dos autos, não se confunde com o valor da causa. Como visto em capítulo anterior, o proveito econômico (concernente no prejuízo ao erário) não pode ser estimado. Desse modo, a fixação dos honorários deve ocorrer por apreciação equitativa (art. 85, § 8º, CPC). Levando em consideração os critérios acima delineados, fixo os honorários em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para os Advogados da União e R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para os Procuradores do Estado do Tocantins. O valor deverá ser pago em partes iguais pelos os condenados.

REMESSA NECESSÁRIA

285. A sentença de improcedência do pedido formulado em ação de improbidade está sujeita a remessa necessária, por aplicação analógica do ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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artigo 19 da Lei 4.717/65 (STJ, EREsp 1220667/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/05/2017, DJe 30/06/2017). Considerando que há sucumbência parcial dos autores, determino o envio dos autos à instância revisora para o reexame necessário.

EFEITOS DE EVENTUAL APELAÇÃO

286. Eventual apelação pela parte sucumbente terá efeito meramente devolutivo, uma vez que a sentença está confirmando a antecipação da tutela em relação aos requeridos condenados e revogando-a em relação aos absolvidos (art. 1.012, § 1º, V, CPC). Em relação aos requeridos absolvidos, as medidas urgentes ficam imediatamente sem efeito.

III. DISPOSITIVO

287. Diante do exposto, resolvo o mérito (art. 487, I, CPC) das questões submetidas da seguinte forma:

288. (I) acolho o pedido dos autores para condenar LUIZ RENATO PEDRA SÁ, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, VIII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

289. (a) perda da função pública que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

290. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

291. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

292. (II) acolho o pedido dos autores para condenar VANDA MARIA GONÇALVES PAIVA, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, VIII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

293. (a) perda da função pública que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

294. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

295. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

296. (III) acolho o pedido dos autores para condenar MARIA LENICE COSTA, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, VIII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

297. (a) perda da função pública que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

298. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

299. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

300. (IV) acolho o pedido dos autores para condenar JOSÉ GASTÃO NEDER, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, VIII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

301. (a) perda da função pública que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

302. (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

303. (c) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

304. (V) acolho o pedido dos autores para condenar WAGNER LUÍS DE OLIVEIRA, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, XII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

305. (a) perda da função comissionada ou cargo de confiança que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

306. (b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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307. (VI) acolho o pedido dos autores para condenar EDINALDO ALVES DE LIMA, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, XII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

308. (a) perda da função comissionada ou cargo de confiança que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

309. (b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

310. (VII) acolho o pedido dos autores para condenar MARCO AURÉLIO VIEIRA DIAS, em razão da prática dolosa das condutas previstas no artigo 10, XII, da Lei 8.429/92, às seguintes sanções:

311. (a) perda da função comissionada ou cargo de confiança que o requerido estiver ocupando à época da execução (art. 12, II, LIA);

312. (b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos (art. 12, II, LIA);

313. (VIII) julgar improcedentes as imputações narradas na inicial em face de CÍCERO OLIVEIRA BANDEIRA, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., MURILLO VIEIRA QUEIROZ, OMAR BALBINO QUEIROZ, MATHEUS RIBEIRO CUNHA SALES, PEDRO RIBEIRO CUNHA SALES, tendo em vista a insuficiência de provas de relação desses requeridos com os atos ímprobos e de existência do indispensável elemento subjetivo;

314. (IX) revogar a tutela provisória concedida em face dos requeridos absolvidos;

315. (X) confirmar a tutela provisória concedida em face dos requeridos condenados, até o valor da condenação.

PROVIDÊNCIAS DE IMPULSO PROCESSUAL

316. A Secretaria da Vara Federal deverá adotar as seguintes providências:

317. (a) publicar e registrar esta sentença;________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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318. (b) trasladar cópia desta sentença para os autos nº 3574-08.2016.4.01.4300 e proceder à imediata liberação das constrições impostas sobre os bens dos requeridos absolvidos (CÍCERO OLIVEIRA BANDEIRA, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, HOSPITALIA PRODUTOS PARA SAÚDE LTDA., MÁXIMA COMÉRCIO DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., MURILLO VIEIRA QUEIROZ, OMAR BALBINO QUEIROZ, MATHEUS RIBEIRO CUNHA SALES, PEDRO RIBEIRO CUNHA SALES);

319. (c) intimar as partes;

320. (d) aguardar o prazo para recurso.

321. Palmas, 04 de julho de 2018.

Juiz Federal Adelmar Aires Pimenta da SilvaTITULAR DA SEGUNDA VARA FEDERAL

NOTA – RECEBIMENTO

O processo foi recebido nesta data com sentença proferida. Palmas, ______ de ___________________ de 2018.

Técnica Judiciária Zulmira Cristina CorrêaSUPERVISORA DA SEPOD

Técnica Judiciária Sheylla Silveira Arruda

ASSISTENTE TÉCNICA

Técnica Judiciária Sílvia Antônia Pereira BorgesSUPERVISORA DA SEAPA

Técnico Judiciário Enedino Gomes Neto

SUPERVISOR DA SEXEC

Técnico Judiciário Tiago Souza VieiraMATRÍCULA TO48108

Técnico Judiciário Dyógenes Gomes Barbosa da Silva

MATRÍCULA TO48112

Técnica Judiciária Eliana Silva InácioMATRÍCULA TO 48128

Técnico Judiciário Daibson Pereira Maciel

ASSISTENTE TÉCNICO

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA em 04/07/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 7362834300238.

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