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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA – ESTADO DO PARANÁ 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE MANGUEIRINHA - ESTADO DO PARANÁ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, pelo Promotor de Justiça desta Comarca de Mangueirinha/PR, no uso de suas atribuições legais e com especial amparo no artigo 129, inciso III da Constituição Federal, no artigo 25 inciso IV, alíneas 'a' e ‘b’, da Lei n° 8.625/93, nos artigos 1° inciso IV, 3º e 5º, todos da Lei n° 7.347/85 e artigo 17, da Lei n.° 8429/92, vêm respeitosamente perante Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA c/c Pedidos Liminares em face de ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, brasileiro, casado, inscrito no CPF

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE MANGUEIRINHA -

ESTADO DO PARANÁ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, pelo Promotor de Justiça desta Comarca de

Mangueirinha/PR, no uso de suas atribuições legais e com

especial amparo no artigo 129, inciso III da Constituição

Federal, no artigo 25 inciso IV, alíneas 'a' e ‘b’, da Lei n°

8.625/93, nos artigos 1° inciso IV, 3º e 5º, todos da Lei n°

7.347/85 e artigo 17, da Lei n.° 8429/92, vêm

respeitosamente perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA c/c

Pedidos Liminares

em face de ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, brasileiro, casado, inscrito no CPF

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sob nº 545.849.579-91, portador do Título de Eleitor nº

33499420604, filho de Ilka Fonseca dos Santos, nascido em

11 de agosto de 1962, residente e domiciliado na Rua Duque

de Caxias, nº 980, Centro, neste Município e Comarca de

Mangueirinha/PR, pelos motivos de fato e de direito a seguir

articulados:

I - DOS FATOS:

No mês de outubro do ano de 2012,

após o término das eleições municipais nesta Cidade e

Comarca de Mangueirinha, diversas pessoas compareceram

nesta Promotoria de Justiça para reclamar que estariam

sofrendo “perseguição política” pelo Prefeito, que acabara de se

reeleger - Sr. Albari Guimorvam Fonseca dos Santos (ora

requerido) -, pelo simples fato de terem apoiado o candidato

adversário, quando das eleições.

Chegaram ao conhecimento deste

Promotor de Justiça diversas irregularidades que teriam sido

praticadas pelo Prefeito Municipal, sobretudo quanto a atos

administrativos praticados contra supostos adversários

políticos, que teriam apoiado o seu adversário, que foi

derrotado nas eleições.

O Sr. Adelmino dos Santos declarou

nesta Promotoria de Justiça que é servidor público municipal

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há aproximadamente 20 (vinte) anos, e desempenha a função

de motorista. Afirmou que exercia a função de motorista de

caminhão, no Departamento de Viação e, no dia 08 de

outubro de 2012, ou seja, um dia após o resultado das

eleições, quando chegou em seu serviço, o chefe “Arezi”

cumprimentou todos os servidores que estavam no local,

menos ele. Disse que com ele “a conversa ia ser diferente”.

Desde então, Adelmino batia o ponto e era ignorado pela sua

chefia, que não o encaminhava para qualquer setor, tendo

colocado outro servidor para desempenhar a função que ele

desempenhava anteriormente (fl. 07- Procedimento

Preparatório).

Adriane de Fátima do Nascimento

relatou que é servidora pública municipal, cargo efetivo,

agente comunitária de saúde. Afirmou que estava em desvio

de função, exercendo o cargo de atendente de farmácia no

Posto de Saúde, sendo que na segunda-feira, após as eleições,

foi informada pela sua chefe que iria ficar apenas atendendo

ao público, a fim de “garantir a segurança dos superiores”.

Tal mudança seria devido à sua posição política favorável ao

candidato adversário do requerido (fl. 08, PP).

Posteriormente, compareceu novamente

nesta Promotoria de Justiça, no dia 04 de junho de 2013,

afirmando que pediu exoneração no mês de março do mesmo

ano, pois não aguentava a perseguição que vinha sofrendo

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dos seus superiores, sendo que atualmente está fazendo

tratamento psicológico (fl. 255, PP).

Leone Luis de Freitas também

compareceu nesta Promotoria de Justiça e afirmou que é

servidor público efetivo do Município de Mangueirinha há

cerca de dois anos e meio, onde desempenha a função de

motorista, lotado no Departamento de Saúde. Declarou que

após as eleições, foi informado pelo chefe, Sr. Luiz Antônio

Ferreira, que deveria entregar o ônibus que conduzia e foi

orientado a permanecer no Departamento de Educação, sem desempenhar qualquer função. Relatou que fica sentado e

esperando, sem nada para fazer (fl. 09 – Procedimento

Preparatório).

Vitória Jantara declarou que é

servidora pública municipal há cerca de 12 anos, onde

desempenha a função de auxiliar administrativa. Afirmou que

após as eleições, pelo fato de ter apoiado o adversário político

do requerido, foi removida para uma escola bem distante de sua residência (fl. 10, PP).

Patrícia da Rocha Vizentim relatou que

é servidora pública municipal há onze anos, onde

desempenha a função de auxiliar administrativa. Afirmou que

após as eleições, foi alocada em uma sala onde não desempenha qualquer função, apenas cumpre horário (fls.

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11,12-PP).

Manoela Mordaski de Almeida declarou

que é servidora pública municipal, ocupante do cargo de

assessora administrativa, lotada no setor de patrimônio

público. Declarou que no ano de 2009, durante a

administração do requerido, ficou três meses sem realizar qualquer função, pelo fato de não ter apoiado a candidatura

de Guimorvam. Afirmou que após as eleições, foi colocada em uma sala juntamente com materiais inservíveis, sofrendo chacotas dos demais servidores. Em determinada

ocasião, o Sr. Osmair Pilatti, então chefe da declarante, disse:

“É assim que tem que ficar a sala dos do contra”. Relatou

que seu chefe Osmair questionou o motivo porque a

declarante foi até o Fórum, dizendo-lhe que se ela não

estivesse contente, que pedisse exoneração (fls. 15/16, PP).

Leonilda Rodrigues da Fonseca, quando

ouvida nesta Promotoria de Justiça, em 23 de outubro de

2012, relatou é servidora pública municipal, ocupante do

cargo de assistente administrativo. Afirmou que trabalhava na

faculdade Unilagos até poucos dias após as eleições, quando

foi comunicada que seu contrato seria rescindido. O Diretor

Administrativo da faculdade, Rafael, lhe disse que seria

demitida porque ela tinha feito uma escolha, e como ela tinha

votado contra o requerido, deveria arcar com as

consequências. Na segunda-feira após as eleições, Leonilda foi

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informada pela sua chefe Mariza que todos os servidores que “votaram no 15” estariam de férias. Afirmou que desde

o término das eleições ficava em sua sala, somente cumprindo horário. Ainda, alguns motoristas que seriam

concursados também não estariam desempenhando qualquer

função, que são “obrigados a ficar sentados o dia inteiro cumprindo horário, enquanto outras pessoas que não são

concursadas estão desempenhando a função de motorista.”

(fls. 17/18, PP).

Posteriormente, em 28 de maio de

2013, Leonilda foi ouvida novamente nesta Promotoria, e

afirmou que continua sem desempenhar qualquer tipo de função, que fica na sua sala o dia inteiro, realizando raras

atividades, como, por exemplo, a confecção de dois ofícios em

uma semana, que devido a esta situação está fazendo

tratamento psiquiátrico, pois está com depressão (fl. 257,

PP).

Quizair de Souza Guimarães declarou

que é servidor público efetivo municipal, cargo de motorista.

Afirmou que prestava serviço no Departamento de

Urbanismo, conduzindo o caminhão de coleta de lixo há cerca

de oito anos. No dia seguinte das eleições, foi informado que

estaria de férias, sem qualquer justificativa para tanto. Alegou

que quando retornou de férias, o colocaram para dirigir um outro caminhão, em péssimas condições, que tem apenas

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três parafusos em uma roda, “o acelerador é como se fosse

um prego”, e não possui chave para dar a partida. Acredita

que tudo isso aconteceu por motivação de perseguição política

(fl. 30, PP).

Mariuza Aparecida Mendes declarou

que é servidora pública ocupante de cargo efetivo, e exerce a

função de atendente de creche. Afirmou que nos últimos dez

anos exerceu sua função na Creche da Mana, mas que no

início do ano de 2013 foi informada que passaria a exercer

suas funções em um local distante de sua residência -

Creche Izabel Ribeiro Finger, no Distrito do Covó, zona rural

do Município de Mangueirinha. Acredita que foi transferida

por razão de perseguição política, pois votou contra o

requerido (fl. 252, PP).

Rosa Aparecida do Amaral, nesta

Promotoria de Justiça, afirmou que é servidora pública de

cargo efetivo e desempenha a função de assistente de creche.

Declarou que por aproximadamente dezessete anos

desempenhou a sua função na Creche Menino Deus, mas que

após as eleições, foi informada que iria trabalhar em um local distante de sua residência, na Creche Izabel Ribeiro Finger,

no Distrito do Covó, zona rural de Mangueirinha. Acredita que

o motivo da sua transferência foi perseguição política, haja

vista que votou no candidato contrário ao requerido (fl. 258,

PP).

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Constam, ainda, no procedimento

preparatório em anexo, outras reclamações de servidores

públicos municipais, que se sentiram perseguidos pelo

requerido.

Diante de tantas reclamações e de

tamanha insatisfação, foi instaurado o Procedimento

Preparatório autuado sob n.º 0083.12.585-1, com a finalidade

de apurar eventuais desvios de finalidade em atos

administrativos da Prefeitura Municipal de Mangueirinha/PR,

com abuso de poder, motivados por perseguição política,

contra servidores públicos municipais que teriam votado

contra o requerido nas eleições municipais de 2012.

Ficou comprovado no procedimento

preparatório em anexo que ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, na condição de Prefeito Municipal de

Mangueirinha/PR, após ter sido vitorioso nas eleições

municipais do ano de 2012, praticou atos administrativos com desvio de finalidade e com abuso de poder, em detrimento do interesse público, com o único intuito de prejudicar alguns servidores públicos municipais, seus adversários políticos.

Tal situação pode ser comprovada

através das declarações dos próprios servidores públicos

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municipais, e também pela documentação acostada ao

procedimento preparatório em anexo.

O Ministério Público, através do ofício

n.º 143/2013, requisitou informações à Prefeitura Municipal

de Mangueirinha, acerca da situação de alguns servidores

públicos, que estariam sendo perseguidos pelo requerido, e

também de outros, que estariam em desvio de função (fl. 259,

PP).

Em resposta, a Prefeitura Municipal de

Mangueirinha, através do ofício nº 239/2013, informou que a

servidora Vitória Jantara exerce suas atividades no

Departamento de Educação, não havendo registro de

movimentação pessoal. Remeteu cópia de sua ficha funcional

(fl. 261, PP).

Em análise à mencionada

documentação, percebe-se que a Prefeitura Municipal não

informou, como requisitado pelo Ministério Público, o local (a

escola) onde Vitória Jantara estaria exercendo as suas

funções, mencionando apenas que ela exerce suas funções no

Departamento de Educação. Apresentou informações inverídicas, de que não existe registro de movimentação

pessoal.

Quanto à situação da servidora Rosa

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Aparecida do Amaral, a Prefeitura Municipal informou que

exerce suas funções na Creche Maria Inez dos Santos, não

havendo registro de movimentação pessoal. Remeteu cópia de

sua ficha funcional (fl. 261, PP).

Constata-se, novamente, a

inveracidade das informações prestadas pela Prefeitura

Municipal, que afirmou que não existe registro de

movimentação pessoal.

Mais uma vez, apresentou informações falsas, não condizentes com a situação da servidora pública,

haja vista que conforme declaração colhida nesta Promotoria

de Justiça, na data de 24 de julho de 2013, Rosa está

exercendo sim as suas funções na Creche Izabel Ribeiro

Finger, no Distrito do Covó, zona rural de Mangueirinha, local

distante cerca de 12 km de sua residência (fl. 293, PP).

Ainda, de acordo com as informações

prestadas pela Prefeitura Municipal de Mangueirinha,

Mariuza Aparecida Mendes exerceria suas funções na Creche

Meninos Deus, não havendo registro de movimentação

pessoal. Remeteu cópia de sua ficha funcional (fl. 261, PP).

As informações são falsas. De acordo

com depoimento de Mariuza, prestado nesta Promotoria de

Justiça em 24 de julho de 2013, ela continua exercendo as

suas funções na Creche Izabel Ribeiro Finger, no Distrito do

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Covó, zona rural de Mangueirinha, local distante cerca de 12

km de sua residência (fl. 292, PP).

Ainda, nas fichas funcionais dos

servidores públicos, remetidas ao Ministério Público, não

consta nenhuma anotação quanto à concessão de férias,

advertências, suspensões, transferências, remoções etc. As fichas estão em branco.

O motivo dessa atitude do Poder

Executivo local é óbvio: mascarar a ilegitimidade e a ilegalidade dos atos administrativos praticados pelo

requerido, com o intuito único de prejudicar alguns servidores

públicos, seus adversários políticos.

Ademais, a conduta do Diretor de

Departamento de Administração da Prefeitura de

Mangueirinha, que assinou o ofício nº 143/2013 (fl. 262, PP),

é criminosa, haja vista que omitiu dados técnicos

indispensáveis à propositura da presente ação civil pública1.

Em decorrência destas condutas

reprováveis, com o único objetivo de prejudicar terceiros, que

vão desde deixar servidores sem exercer qualquer tipo de

1 Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.

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função, até determinar as suas remoções para locais

distantes de suas casas, é induvidoso que o requerido

afrontou os ditames legais, em especial os princípios da

legalidade, moralidade e impessoalidade, devendo ser

prontamente responsabilizado pelos explícitos atos de

improbidade administrativa praticados.

II – DO DIREITO II.I - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO Quanto à legitimidade do Ministério

Público, trata-se de sua função institucional a propositura de

ação civil pública para a proteção do patrimônio público e

social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos, prevista na Carta Magna:

Art. 129 – São funções institucionais do

Ministério Público:

... omissis ...

III – promover o inquérito civil e a ação

civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio

ambiente e de outros interesses difusos

e coletivos.

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A legitimação do Ministério Público

para a promoção da ação civil pública vem ainda disciplinada,

infraconstitucionalmente, em vários textos legislativos.

A Lei nº 7.347/85 estabelece em seus

arts. 1º e 5º que:

Art. 1º - Regem-se pelas disposições

desta lei, sem prejuízo da ação popular,

as ações de responsabilidade por danos

morais e patrimoniais causados:

I - ao meio ambiente;

II - ao consumidor;

III - a bens e direitos de valor artístico,

estético, histórico, turístico e

paisagístico;

IV- a qualquer outro interesse difuso ou

coletivo;

V - por infração da ordem econômica.

Art. 5º - A ação principal e a cautelar

poderão ser propostas pelo Ministério

Público...

Igualmente, a LOMP (Lei nº 8.625/93) e

LOMPPR (Lei Complementar nº 85, de 27.12.1999) incluíram

dentre as funções institucionais do Ministério Público a

propositura da ação civil pública:

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Art. 25, IV, da LOMP - promover o

inquérito civil e a ação civil pública, na

forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e

reparação dos danos causados ao meio

ambiente, consumidor, aos bens e

direitos de valor artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico, e a

outros interesses difusos coletivos e

individuais indisponíveis e homogêneos;

b) para a anulação ou declaração de

nulidade de atos lesivos ao patrimônio

público ou à moralidade administrativa

do Estado ou de Município, de suas

administrações indiretas ou

fundacionais ou de entidades privadas

de que participem.

Art. 2º, IV, da LOMPPR - promover o

inquérito civil e a ação civil pública, na

forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação

dos danos causados ao patrimônio

público, ao meio ambiente, ao

consumidor, aos bens e direitos de valor

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artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico, e a outros interesses

difusos, coletivos e individuais

indisponíveis e homogêneos;

b) para a anulação ou declaração de

nulidade de atos lesivos ao patrimônio

público ou à moralidade pública do

Estado e do Município, de suas

administrações indiretas ou

fundacionais ou de entidades privadas

de que participem.

Portanto, a matéria não guarda

segredos, o que torna despiciendo tecer outros comentários a

respeito.

II.II - LEGITIMIDADE DO REQUERIDO Os arts. 1º e 2º, da Lei n.º 8.429/92

prelecionam:

Art. 1º - Os atos de improbidade

praticados por qualquer agente público,

servidor ou não, contra a administração

direta, indireta ou fundacional de

qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos

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Municípios, de Território, de empresa

incorporada ao patrimônio público ou de

entidade para cuja criação ou custeio o

erário haja concorrido ou concorra com

mais de 50% (cinqüenta por cento) do

patrimônio ou da receita anual, serão

punidos na forma desta Lei.

Art. 2º - Reputa-se agente público, para

os efeitos desta Lei, todo aquele que

exerce, ainda que transitoriamente ou

sem remuneração, por eleição,

nomeação, designação, contratação ou

qualquer outra forma de investidura ou

vínculo, mandato, cargo, emprego ou

função nas entidades mencionadas no

artigo anterior. (sem grifo no original)

O requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS exerceu o cargo de Prefeito

Municipal de Mangueirinha na gestão de 2009/2012, sendo

reeleito para a gestão de 2013/2016, sendo, portanto, o atual

Prefeito Municipal e agente público pela definição do art. 2º,

da Lei de Improbidade Administrativa estando, por

conseguinte, sujeitos às suas punições.

II.III – INTERESSE PROCESSUAL

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A respeito do interesse processual, é

mister trazer à baila a lição de Rodolfo de Camargo Mancuso, que segue:

“O interesse processual, interesse de

agir, interesse ‘ad agendum’, tem sido

normalmente qualificado pela doutrina

pelo trinômio ‘necessidade-utilidade-

adequação’, a saber: 1. necessidade do

recurso ao judiciário para obter certo

bem da vida, seja porque não se logrou

obtê-lo pelas vias suasórias (ex: a

satisfação de um crédito), seja porque o

próprio Direito Positivo exige a

intervenção jurisdicional (ação de

divórcio, ações ditas constitutivas

necessárias); 2. adequação do

provimento pretendido, isto é, sua

idoneidade técnico-jurídica para atender

a expectativa do autor (ex: para quem foi

esbulhado em sua posse, não é o próprio

pedido de mero interdito proibitório, visto

que essa medida é inidônea a restituir a

posse perdida) 3. utilidade da via

processual eleita: conquanto haja

alguma dissensão doutrinária a respeito

desse quesito, parece-nos que ele

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integra a compreensão do interesse

processual, já que o acesso à tutela

jurisdicional tem por pressuposto o fato

que a medida pleiteada será útil, na

ordem prática ao autor.” 2 (Negritou-se).

Quanto ao quesito necessidade, é

inconteste que para se obter a responsabilização do requerido

pelos atos ímprobos praticados, é necessário se recorrer à via

processual. No mesmo viés, a adequação está estampada no

fato de a ação civil pública ser o instrumento adequado para

se buscar o resultado que se espera.

No que se refere ao quesito utilidade,

este se justifica diante do fato de que o provimento

jurisdicional trará utilidade prática, pois fará impor as

sanções cabíveis ao requerido.

In casu, há provas da prática de ato de

improbidade administrativa pelo requerido, consistente em

causar prejuízo ao erário (art. 10, da Lei 8.429/92) e

infringência aos princípios que norteiam a Administração

Pública (art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92), conforme

comprovam os documentos que instruem este Procedimento

Preparatório. 2 Ação Civil Pública, 4ª ed., Revista dos Tribunais, p. 36.

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Destarte, a propositura de uma ação

civil pública é perfeitamente cabível, porque existe objetivo

(reparação do dano patrimonial e aplicação de penalidades

por improbidade) a ser alcançado, afigurando-se útil e

adequada esta medida processual.

O art. 37, §4º da Constituição Federal

trouxe consigo a intenção de punir atos ímprobos por parte

do administrador público. Entretanto, era necessária a

criação de lei específica que estipulasse as sanções cabíveis a

essa prática, em razão da própria redação daquele dispositivo

legal, que ao dispor os termos “na forma e gradação previstas

em lei” explicitou que a aplicabilidade de punição aos agentes

públicos desonestos dependeria da publicação de legislação

competente:

Art. 37 – A administração pública direta

e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios

de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência e,

também, ao seguinte:

[...]

§ 4º - Os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

20

dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário, na forma e

gradação previstas em lei, sem prejuízo

da ação penal cabível.

Neste cenário surgiu a Lei nº 8.429/92

(Lei de Improbidade Administrativa).

Tanto a Constituição, em seu art. 129,

quanto a Lei nº 8.429/92, em seus arts. 7º, 14, 15, 16 e 17

autorizam o Ministério Público a tomarem as medidas

necessárias para penalizar os administradores ímprobos.

A improbidade administrativa passa a

existir a partir da realização de qualquer conduta pelo agente

público de modo a contrariar as normas morais, a lei e os

costumes, agindo com falta de honradez e honestidade. Trata-

se da desobediência a preceitos constitucionais básicos que

norteiam a administração pública. Nesse sentido:

“Eis que a idéia de improbidade

administrativa passa pelo

descumprimento, por atos dos agentes

públicos, dos preceitos constitucionais e

legais básicos que regem o setor público,

resumindo-se em duas exigências

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

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fundamentais: legalidade e moralidade

dos atos dos agentes públicos.”3

Verifica-se, pois, que essas obrigações

fundamentais, instituídas pela Constituição Federal em seu

art. 37 caput, foram notoriamente violadas no caso em

epígrafe, que não obedeceu a qualquer princípio

constitucional imputado ao administrador público.

Para que o ato seja revestido de

legalidade, indispensável se faz que o administrador público

esteja, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos

mandamentos da lei, e às exigências do bem-comum, desta

monta, é notório que os atos praticados pelo requerido são

desprovidos destes princípios, uma vez que a perseguição a

alguns servidores públicos, com a intenção de prejudicá-los

profissionalmente, afronta os princípios constitucionais da

legalidade, moralidade e impessoalidade. A Constituição

Federal atribui ao administrador o dever de agir com

moralidade e os atos praticados visam única e exclusivamente

atingir os seus adversários políticos, inexistindo qualquer

relação com as necessidades públicas.

3 OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade Administrativa. Ed. Síntese. 2ªed. Porto Alegre. 2008. p.61.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

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Quanto à moralidade tem-se que o

agente público deve atuar segundo os padrões éticos de

probidade, decoro e boa-fé.

Como doutrina Emerson Garcia e

Rogério Pacheco Alves:

“A moralidade limita e direciona a

atividade administrativa, tornando

imperativo que os atos dos agentes

públicos não subjuguem os valores que

defluam dos direitos fundamentais dos

administrados, o que permitirá a

valorização e o respeito à dignidade da

pessoa humana. Além de restringir o

arbítrio, preservando a manutenção dos

valores essenciais a uma sociedade

justa e solidária, a moralidade confere

aos administrados o direito subjetivo de

exigir do Estado uma eficiência máxima

dos atos administrativos, fazendo que a

atividade estatal seja impreterivelmente

direcionada ao bem comum, buscando

sempre a melhor solução para o caso.” 4

4 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Ed. Lumen Juris. 1ªEd. Rio de Janeiro. 2002. p. 44/45.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

23

O requerido em momento algum

harmonizou seus atos com o princípio da moralidade, vez que

não agiu com probidade, retidão e decência. Muito pelo

contrário, dotado de má-fé, com o único fito de satisfazer o seu ego, praticou atos administrativos com o fito de

prejudicar seus adversários, sem o mínimo de honestidade.

Ante o exposto, conclui-se que não

existe dúvida acerca da improbidade dos atos que motivaram

a presente. Caracterizou-se efetivamente a improbidade

administrativa em razão do desrespeito, por parte do

requerido, aos princípios constitucionais que norteiam toda a

atividade administrativa, sem os quais o Executivo e

Legislativo pairariam em completa desordem.

A Lei nº 8.429/92 instituiu três tipos

de improbidade administrativa:

a) Atos que causam enriquecimento

ilícito (art. 9º);

b) Atos que causam prejuízo ao Erário

(art. 10);

c) Atos que atentam contra os

princípios da Administração Pública (art. 11).

Cada espécie de ato acarreta sanção

própria prevista pelo art. 12 da Lei 8.429/92. A ação civil em

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

24

epígrafe abrange a penúltima e a última possibilidades

(previstas nos arts. 10 e 11, ambos da Lei de Improbidade

Administrativa), tornando-se necessário maior esclarecimento

acerca delas.

II.V – ATOS QUE CAUSARAM PREJUÍZO AO ERÁRIO Dispõe o artigo 10 da Lei nº 8.429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade

administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou

culposa, que enseje perda patrimonial,

desvio, apropriação, malbaratamento ou

dilapidação dos bens ou haveres das

entidades referidas no art. 1º desta lei e

notadamente:

A conduta do requerido, de deixar

servidores sem função, configura atos de improbidade

administrativa previstos nos artigos 10 e 11 da Lei nº

8.429/92.

Ressalte-se que o fato das condutas do

requerido não estarem expressamente previstas no rol do

artigo 10, da Lei de Improbidade Administrativa, não impede

a sua responsabilização, haja vista que o rol é meramente

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

25

exemplificativo.

Nesse sentido, quanto à natureza

exemplificativa do rol do artigo 10, citam-se decisões do

Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL E

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE.

FRAUDE AO PROCEDIMENTO

LICITATÓRIO. DANO AO ERÁRIO. ART.

10 DA LEI 8.429/1992. REVISÃO DO

CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS

AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA

7/STJ. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES.

AUSÊNCIA DE

DESPROPORCIONALIDADE. 1. Cuidam

os autos de Ação Civil Pública ajuizada

contra ex-prefeita e servidores públicos

do Município de Santa Albertina, por

suposta prática de improbidade

administrativa decorrente de licitações

irregulares para aquisição de alimentos

e material de limpeza. 2. O Tribunal a

quo julgou procedente o pedido, com

base na comprovada ocorrência de

fraude. Asseverou que o valor da

compra impunha licitação pela

modalidade de concorrência, contudo

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

26

foram feitas várias aquisições diretas. 3.

A situação delineada no acórdão

recorrido enquadra-se no art. 10, VIII, da

Lei 8.429/1992, que inclui no rol exemplificativo dos atos de

improbidade por dano ao Erário

"frustrar a licitude de processo licitatório

ou dispensá-lo indevidamente". 4. O

desprezo ao regular procedimento

licitatório, além de ilegal, acarreta dano,

porque a ausência de concorrência obsta

a escolha da proposta mais favorável

dos possíveis licitantes habilitados a

contratar. Desnecessário comprovar

superfaturamento para que haja

prejuízo, sendo certo que sua eventual

constatação apenas torna mais grave a

imoralidade e pode acarretar, em tese,

enriquecimento ilícito. 5. O Tribunal de

origem consignou que, na hipótese, a

fraude perpetrada pelo recorrente e seus

litisconsortes, que ora figuram como

interessados, provocou evidente prejuízo

ao município. Nesse contexto, a

verificação da alegada inexistência de

improbidade administrativa demanda

reexame dos elementos fático-

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

27

probatórios dos autos, o que é inviável

em Recurso Especial, conforme

inteligência da Súmula 7/STJ. 6. O

argumento de que que não houve

conduta dolosa, além de contrariar as

conclusões lançadas no acórdão

recorrido, é irrelevante in casu. Isso

porque a configuração de improbidade

administrativa por dano ao Erário

prescinde da verificação de dolo, sendo

admitida a modalidade culposa no art.

10 da Lei 8.429/1992. Precedentes do

STJ. 7. A revisão das sanções

cominadas pela instância ordinária, em

regra, é inviável, ante o óbice da já

citada Súmula 7/STJ, salvo se

verificada a inobservância aos limites

estabelecidos no art. 12 da Lei

8.429/1992, ou se na leitura do acórdão

recorrido transparecer falta de

proporcionalidade e razoabilidade. 8. Na

hipótese, as penas foram aplicadas no

patamar mínimo estabelecido no art. 12,

II, da Lei 8.429/1992, e, diante da

afirmação contundente de que houve

fraude mediante conduta dolosa da

então prefeita, de seu marido e demais

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

28

servidores réus, a aplicação cumulativa

das penalidades não se mostra

desproporcional. 9. Recurso Especial

parcialmente conhecido e, nessa parte,

não provido. (REsp 1130318/SP, Rel.

Ministro HERMAN BENJAMIN,

SEGUNDA TURMA, julgado em

27/04/2010, DJe 27/04/2011) (sem

grifo no original)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.

RECURSOS ESPECIAIS. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. MAJORAÇÃO DE

VENCIMENTOS POR MEIO DE

RESOLUÇÃO. CONFIGURAÇÃO DE

LESÃO AO ERÁRIO. FUNDAMENTOS

CONSTITUCIONAIS E

INFRACONSTITUCIONAIS AUTÔNOMOS.

INCIDÊNCIA DA SÚMULA 126/STJ.

ART. 10 DA LEI 8.429/92.

TIPIFICAÇÃO. CARÁTER EXEMPLIFICATIVO, E NÃO TAXATIVO. RECURSO ESPECIAL DA

PRIMEIRA RECORRENTE NÃO-

CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL DO

SEGUNDO RECORRENTE CONHECIDO,

PORÉM DESPROVIDO. 1. Considerando

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

29

que o acórdão recorrido apresenta

fundamentos constitucionais e

infraconstitucionais, a inadmissão do

recurso extraordinário, bem como a não-

interposição de agravo de instrumento

contra a referida decisão, atrai a

incidência da Súmula 126/STJ, que

assim dispõe: "É inadmissível recurso

especial, quando o acórdão recorrido

assenta em fundamentos constitucional

e infraconstitucional, qualquer deles

suficiente, por si só, para mantê-lo, e a

parte vencida não manifesta recurso

extraordinário." 2. "... no caput do art. 10, conceitua-se a improbidade lesiva ao Erário e seus incisos

trazem o elenco das espécies mais freqüentes, que, em face do advérbio notadamente, como já assinalado, é meramente exemplificativo (e não

taxativo)." FILHO, Marino Pazzaglini ("Lei

de Improbidade Administrativa

Comentada", Ed. Atlas, 2005, 2ª edição,

p. 81). 3. No caso dos autos, houve

efetiva configuração de ato de

improbidade administrativa por lesão ao

erário, previsto no art. 10 da Lei

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

30

8.429/92, em face da majoração de

vencimentos por meio de resolução, em

manifesto descumprimento dos preceitos

contidos nos arts. 37, XIII, e 61, § 1º, II,

a, da Constituição Federal. 4. Recurso

especial da primeira recorrente não-

conhecido. 5. Recurso especial do

segundo recorrente conhecido, porém

desprovido. (REsp 435.412/RO, Rel.

Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ

09/10/2006, p. 260) (sem grifo no

original)

Notório que a conduta do requerido

representou prejuízo ao erário, pois à remuneração do agente

público deve corresponder a contraprestação com o respectivo

trabalho em prol do serviço público, de maneira que quando

não há essa contraprestação há prejuízo, há desperdício de

recursos públicos, malbaratamento.

Destarte, em razão das mencionadas

condutas, o requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS praticou ato de improbidade administrativa que

causa prejuízo ao erário, consoante previsão do artigo 10,

caput, da Lei nº 8.429/92, motivo pelo qual deve ser condenado

às penas previstas no artigo 12, II, da mesma Lei. Deve,

outrossim, ressarcir os cofres públicos no tocante ao valor da

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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31

remuneração percebida pelos servidores que estão sem exercer

qualquer função (Adelmino dos Santos, Leone Luis de Freitas,

Patrícia da Rocha Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e

Leonilda Rodrigues da Fonseca), a partir do mês de outubro

do ano de 2012, até a regularização da situação.

II.V - ATOS CONTRÁRIOS AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

São princípios constitucionais da

Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, entre outros, todos

tutelados pela Constituição Federal.

Assim sendo, o art. 4º da Lei de

Improbidade Administrativa dispõe:

Art. 4° - Os agentes públicos de

qualquer nível ou hierarquia são

obrigados a velar pela estrita

observância dos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade

e publicidade no trato dos assuntos que

lhe são afetos.

A Constituição Federal também

enuncia:

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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32

Art. 37 – A administração pública direta

e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios

de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência e,

também, ao seguinte: [...]

Em razão da importância desta matéria,

indispensável se faz um melhor aprofundamento acerca dos

princípios que regem a administração:

Pelo princípio da legalidade, o ato de

todo servidor público, de todo agente público, deve ser realizado

nos termos da lei. Enquanto para o particular o que não é

proibido é permitido, ao administrador e à própria

Administração somente é permitido fazer o que a lei

expressamente autoriza, ou seja, para a Administração, o que

não é permitido pela lei é proibido.

A Lei da Ação Popular (Lei nº

4.717/65), em seu art. 2º, “c”, parágrafo único, considera

nulos os atos lesivos ao patrimônio público quando eivados de

“ilegalidade de objeto”, que ocorre quando o resultado do ato

importa em violação de lei, regulamento ou outro ato

normativo.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

33

Na lição de Celso Antônio Bandeira de

Mello:

“[...] o princípio da legalidade é o da

completa submissão da Administração às

leis. Esta deve não somente obedecê-las,

cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a

atividade de todos os seus agentes,

desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o

Presidente da República, até o mais

modesto dos servidores, só pode ser a de

dóceis, reverentes, obsequiosos

cumpridores das disposições gerais

fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é

a posição que lhes compete no Direito

brasileiro.”5

Diógenes Gasparini, em seu Direito

Administrativo, aduz:

“O princípio da legalidade, resumido na

proposição suporta a lei que fizeste,

significa estar a Administração Pública,

em toda a sua atividade, presa aos 5 Curso de Direito Administrativo, 13 ed., 2001, Malheiros Editores, p. 72

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

34

mandamentos da lei, deles não se

podendo afastar, sob pena de invalidade

do ato e responsabilidade de seu autor.

Qualquer ação estatal, sem o

correspondente calço legal ou que exceda

o âmbito demarcado pela lei, é injurídica

e expõe-se à anulação. Seu campo de

ação, como se vê, é bem menor que o do

particular. De fato, este pode fazer tudo o

que a lei permite, tudo o que lei não

proíbe; aquela só pode fazer o que a lei

autoriza e, ainda assim, quando e como

autoriza.

[...]

A este princípio também se submete o

agente público. Com efeito, o agente da

Administração Pública está preso à lei e

qualquer desvio de suas imposições pode

nulificar o ato e tornar seu autor

responsável, conforme o caso, disciplinar,

civil e criminalmente”.6

Cabe lembrar, ainda, a lição de Sérgio Ferraz e Lúcia Valle Figueiredo:

6 Ed. Saraiva, 1993, 3ª ed., p. 6.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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35

“Quem quer que utilize dinheiros públicos

terá de verificar seu bom e regular

emprego, na conformidade das leis,

regulamentos e normas emanadas das

autoridades administrativas

competentes, ou seja: quem gastar, tem

de gastar de acordo com a Lei.

Isso quer dizer: quem gastar em

desacordo com a Lei, há de fazê-lo por

sua conta, risco e perigos. Pois

impugnada a despesa, a quantia

irregularmente gasta terá que retornar ao

erário público”. 7

Por sua vez, o princípio da impessoalidade, também chamado de princípio da finalidade,

impõe ao Administrador Público somente praticar o ato para

seu fim legal, que é aquele que a norma de Direito indica

expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma

impessoal. Finalidade tem um objetivo certo: o interesse

público, e todo o ato que se apartar desse objetivo sujeitar-se-

á à invalidação por desvio de finalidade, que a Lei da Ação

Popular conceituou como o “fim diverso daquele previsto,

explícita ou implicitamente na regra de competência” do

agente. (art 2º, parágrafo único, “e”). O Administrador fica

7 Dispensa e Inexigibilidade de Licitação, Ed. Malheiros, 1994, 3ª ed., p. 93.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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36

impedido de buscar outro objetivo ou praticar o ato no interesse próprio ou de terceiros. O que o princípio veda é a

prática de ato administrativo sem interesse público, visando

unicamente a satisfazer interesses privados, por favoritismos

ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma

de desvio de finalidade, que constitui uma modalidade de

abuso de poder.

Pelo princípio da moralidade entende-

se que todo e qualquer agente público deve possuir um

contingente mínimo de predicados ligados à moralidade

pública, tais como a honestidade, a lealdade e a

imparcialidade. São qualidades essenciais, naturalmente

exigíveis em qualquer segmento da atividade profissional e,

com muito mais razão, daqueles que integram a

Administração Pública e gerenciam os bens da coletividade,

dos quais não podem dispor e pelos quais devem zelar.

A respeito deste princípio, é propícia a

colocação de Fábio Medina Osório:

“A moralidade administrativa, dentro de

uma concepção mais objetiva, é um

princípio constitucional que guarda

autonomia em relação à legalidade

‘stricto sensu’, com caráter plenamente

vinculante, que direciona os agentes

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

37

públicos aos deveres, dentre outros, de

probidade, honestidade, lealdade às

instituições, preparo funcional mínimo

no trato da coisa pública, prestação de

contas, eficiência funcional,

economicidade.

De outro lado, a imoralidade

administrativa resulta configurada a

partir da agressão a outros princípios

que regem a administração pública, tais

como, razoabilidade, proporcionalidade,

supremacia do interesse público,

impessoalidade, economicidade (em

grau elevado), publicidade (em

gravidade intensa), conjugando-se todos

esses tópicos na formatação da

moralidade constitucional – que é base

da ação popular, da ação civil pública

por ato de improbidade administrativa e

causa de nulidade do ato administrativo

– que se exige do setor público.” 8

Sobre o tema, também destaca

Diógenes Gasparini:

8 Improbidade Administrativa – Observações sobre a Lei 8.429/92, Ed. Síntese, 2ª Ed., 1998, p. 158.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

38

“[...] Para Hely Lopes Meirelles, apoiado

em Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, a

moralidade administrativa está

intimamente ligada ao conceito de bom

administrador. Este é aquele que, usando

de sua competência, determina-se não só

pelos preceitos legais vigentes, mas

também pela moral comum, propugnando

pelo que for melhor e mais útil para o

interesse público. A importância desse

princípio já foi ressaltada pelo Tribunal

de Justiça de São Paulo (RDA, 89:134),

ao afirmar que a moralização

administrativa e o interesse coletivo

integram a legalidade do ato

administrativo.”

E ainda:

“[...] obedecer não só a lei mas a própria

moral, porque nem tudo que é legal é

honesto, conforme afirmavam os

romanos [...]”.

O doutrinador Hely Lopes Meirelles,

por sua vez, anotou que:

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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39

“A moralidade administrativa constitui,

hoje em dia, pressuposto de validade de

todo ato da Administração Pública (CF,

art. 37, caput). Não se trata – diz

Hauriou, o sistematizador de conceito –

da moral comum, mas sim de uma moral

jurídica, entendida como “o conjunto de

regras de conduta tiradas da disciplina

interior da administração”.

Desenvolvendo sua doutrinam explica o

mesmo autor que o agente

administrativo, como ser humano dotado

da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao

atuar, não deve desprezar o elemento

ético de sua conduta. Assim, não terá

que decidir somente entre o legal e o

ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e

o inconveniente, o oportuno e o

inoportuno, mas também entre o honesto

e o desonesto. [...]” 9 (Destacou-se).

Já o princípio da publicidade diz

respeito à obrigação de dar publicidade, levar ao

9 Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores, 2013, 39ª edição, p. 91/92.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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conhecimento de todos os atos, contratos ou instrumentos jurídicos realizados pela Administração Pública. Isso dá

transparência e confere a possibilidade de qualquer pessoa

questionar e controlar toda a atividade administrativa.

Por sua vez, o princípio da eficiência

foi o último introduzido na Constituição, por meio da EC nº

19/98, que deu nova redação ao art. 37 e outros.

Estipula que os agentes públicos devem

agir com rapidez, presteza, perfeição, rendimento. Em relação

à Administração como um todo, esta deve estar atenta às

suas estruturas e organizações, evitando a manutenção de

órgãos ou entidades subutilizados, ou que não atendam às

necessidades da população.

Com o intuito de prevenir a ação dos

agentes públicos de modo desrespeitoso a esses princípios

tutelados pelo legislador, editou-se o art. 11, da Lei de

Improbidade Administrativa, que age em conjunto com o art.

12 da mesma Lei, punindo severamente a desobediência aos

princípios da Administração e enumerando, ainda, em seus

incisos ações que atentam contra eles.

Desta forma, dispõe o art.11, da Lei nº

8.429/92, os seguintes termos:

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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Art. 11 – Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública

qualquer ação ou omissão que viole os

deveres de honestidade, imparcialidade,

legalidade, e lealdade às instituições, e

notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em

lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto, na regra de competência;"

O requerido infringiu o caput e o inciso

I do artigo supratranscrito, consubstanciando imperdoável

ofensa ao princípio da legalidade, impessoalidade e

moralidade pública, repugnando qualquer conceito de

probidade e honestidade, aos bons costumes, às regras de

boa administração, os princípios de justiça e equidade, bem

como a mais efêmera idéia de decência.

Como demonstrado, o requerido feriu

gravemente o princípio da legalidade quando arbitrariamente

ordenou que alguns servidores fossem removidos para exercer

suas funções em locais distantes da cidade, distantes de suas

casas, assim como que outros servidores ficassem sem

exercer qualquer função, prática absolutamente irregular e

desrespeitosa à Lei. Assim, evidencia-se sobremaneira no caso

em testilha, que o requerido atuou, em evidente ilegalidade.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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42

Quanto ao princípio da impessoalidade

nota-se que é intensamente violado pelos atos do requerido, já

que os praticou em interesse unicamente próprio, jamais

correlacionando suas ações ao interesse público. Houve

absoluto desvio de finalidade. Os atos que motivam a presente

actio são desprovidos de qualquer interesse público

consistindo num abuso de poder absoluto.

Outrossim, se antevê nas condutas do

requerido uma total afronta ao princípio da moralidade

administrativa, uma vez que suas atitudes obviamente não

atenderam o interesse público, pois não respeitaram a Lei, o

que fere o princípio da legalidade, além de utilizar-se da

máquina estatal e do seu poder, como Prefeito Municipal, em

benefício próprio, para satisfazer o seu próprio ego, o que

atinge sobremaneira a moral pública.

Essa situação configura assédio moral, pois sobressai nítida a intenção de prejudicar aludidos

servidores, desmoralizando-os e humilhando-os, quer

pessoalmente, quer perante os outros servidores públicos.

Com efeito, apesar de a Administração

Pública estar despendendo a remuneração, manter servidor

sem funções e sem local de trabalho, com intenção de puni-lo,

é conduta que não está de acordo com a moral comum,

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

43

tampouco com a moral jurídica, não corresponde às regras

internas da Administração Pública e contraria os standards

comportamentais que a sociedade deseja do bom

administrador que não se conduziu com lealdade e boa-fé,

com proporcionalidade e razoabilidade, deixando de observar

a lei e os padrões éticos exigidos; é conduta que não está

autorizada pelo ordenamento jurídico; e, é conduta que não

importa em imparcialidade, haja vista que a intenção é

prejudicar, punir, esse servidor.

Ainda, se a finalidade do ato

administrativo é ilegal ou irregular a moralidade

administrativa é diretamente atingida, os fins e os meios que

circundam o ato administrativo devem ser compatíveis. Deste

modo caracteriza-se desvio de finalidade o ato que não busca

realizar o interesse público (o que evidentemente esteve

presente nos fatos motivadores da presente) e o ato que

almeja concretizar finalidade descoincidente com a prevista

na Lei.

O gênero abuso de poder, de acordo

com Hely Lopes Meirelles, reparte-se em duas espécies bem

caracterizadas: o excesso de poder e o desvio de finalidade:

“O desvio de finalidade ou de poder

verifica-se quando a autoridade, embora

atuando nos limites de sua competência,

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ESTADO DO PARANÁ

44

pratica o ato por motivos ou com fins

diversos dos objetivados pela lei ou

exigidos pelo interesse público. O desvio

de finalidade ou de poder é, assim, a

violação ideológica da lei, ou, por outras

palavras, a violação moral da lei,

colimando o administrador público fins

não queridos pelo legislador, ou

utilizando motivos e meios imorais para

a prática de um ato administrativo

aparentemente legal. Tais desvios

ocorrem, p. ex., quando a autoridade

pública decreta uma desapropriação

alegando utilidade pública, mas

visando, na realidade, a satisfazer

interesse pessoal próprio ou favorecer

algum particular com a subsequente

transferência do bem expropriado (...)10”

Diante do exposto, conclui-se que a

conduta do requerido tipifica o tipo de improbidade elencado

no artigo 11, caput, e inciso I, da Lei nº 8.429/92 e, por isso,

está ele sujeito às sanções previstas no inciso III do art. 12 da

Lei de Improbidade Administrativa.

10 10 Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores, 2013, 39ª edição, p. 101.

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ESTADO DO PARANÁ

45

Em caso muito semelhante ao em tela,

o Superior Tribunal de Justiça assim entendeu:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL

CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO. ATO ADMINISTRATIVO DE TRANSFERÊNCIA DE SERVIDORES. DESVIO DE FINALIDADE.

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO

PÚBLICO. ART. 129, III, DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA

329/STJ. 1. Cuidam os autos de Ação

Civil Pública movida pelo Ministério

Público do Estado de Minas Gerais

contra o Município de Rio Espera, em decorrência de suposta improbidade administrativa que envolve desvio de finalidade na remoção de servidoras públicas aprovadas por concurso público para atender interesse político. 2. A suposta conduta amolda-se aos atos de improbidade

censurados pelo art. 11 da Lei 8.429/1992, pois vai de encontro aos princípios da moralidade administrativa e da legalidade

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ESTADO DO PARANÁ

46

(patrimônio público imaterial). 3. O

Ministério Público possui legitimidade

para ajuizar Ação Civil Pública com o

intuito de combater a prática da

improbidade administrativa. 4.

Condutas ímprobas podem ser

deduzidas em juízo por meio de Ação

Civil Pública, não havendo

incompatibilidade, mas perfeita

harmonia, entre a Lei 7.347/1985 e a

Lei 8.429/1992, respeitados os

requisitos específicos desta última (como

as exigências do art. 17, § 6°).

Precedentes do STJ. 5. Recurso Especial

provido. (REsp 1219706/MG, Rel.

Ministro HERMAN BENJAMIN,

SEGUNDA TURMA, julgado em

15/03/2011, DJe 25/04/2011) (sem

grifo no original)

Registre-se que as sanções, in casu,

devem ser proporcionais à imoralidade crassa dos atos que causaram tantos prejuízos morais e materiais aos servidores públicos que eram seus adversários políticos.

Assim, como o requerido ALBARI

GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS incorreu na hipótese

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

47

prevista no art. 11, caput e inciso I, da Lei de Improbidade Administrativa, devendo responder às sanções elencadas no

inciso III, do art. 12 do mesmo diploma legal:

Destarte, o requerido deve responder

pela improbidade praticada para que não paire dúvidas de

que aquele que trata da coisa pública deve se pautar na lei e

nos princípios do direito, especialmente no da moralidade,

que é a viga mestra de todo administrador probo.

II.VI – DA NULIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PRATICADOS PELO REQUERIDO

Por todo o exposto, verifica-se que os

atos administrativos praticados pelo requerido, em especial os

que determinaram a remoção das servidoras públicas Vitória

Jantara, Rosa Aparecida do Amaral e Mariuza Aparecida

Mendes, são ilegais e nulos, seja pela ausência de motivação, seja pelo desvio de finalidade.

Todos atos administrativos devem ter

por fim mediato o atendimento do interesse público, não se

admitindo ato administrativo que não vise a satisfação do

interesse público11. Além do interesse público geral, muitas

vezes a lei impõe o atendimento a um interesse público

11 - JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, Controle Jurisdicional do Ato Administrativo, p. 233 e 271-272. MIGUEL REALE, Revogação e Anulamento do Ato Administrativo, p. 30.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

48

específico, que se constitui na finalidade imediata do ato

administrativo. Quando isso ocorrer, além do interesse

público geral, o bem comum, o administrador encontra-se

vinculado ao atingimento deste interesse público específico,

dele não se podendo desviar, sob pena de invalidade do ato,

mesmo que persiga outro interesse público12. Ato administrativo que não tem por fim o interesse público ou que se desvia de sua finalidade imediata é ato administrativo inválido, contaminado pelo desvio de

finalidade13.

Na hipótese em verificação, como já

ressaltado, a finalidade dos atos de remoção não foi o

interesse público. O real desiderato foi a vingança, o que contamina de nulidade os atos de remoção por desvio de finalidade. Esses atos não podem ser convalidados, até

porque implicam em ofensa aos princípios da legalidade,

moralidade, impessoalidade, eficiência, economicidade,

supremacia e indisponibilidade do interesse público.

Portanto, a primeira conclusão é que os

atos de remoção são nulos, pois apresentam vícios no objeto,

quanto à sua moralidade; no motivo e na finalidade.

12 - JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, Controle Jurisdicional do Ato Administrativo, p. 233, 274-275 e 276. 13 - JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, Controle Jurisdicional do Ato Administrativo, p. 276.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

49

Porém, deve ser levado em conta que as

três servidoras já estão há algum tempo exercendo as suas

funções nas mencionadas creches, acostumaram-se com os

seus colegas de trabalho e alunos, sendo que apenas a

servidora Mariuza Aparecida Mendes quer retornar a exercer as

suas funções na antiga creche, na qual trabalhou por

aproximadamente 10 anos, antes de ser removida ilegalmente

pelo requerido (fl. 292, PP).

Outrossim, privilegiando a boa-fé das referidas servidoras públicas, e para não lhes causar mais

prejuízos ainda, requer-se, liminarmente, seja declarada

apenas a nulidade do ato administrativo que determinou a

remoção de Mariuza Aparecida Mendes, para que volte a

exercer as suas funções na Creche da Mana, local onde

trabalhou por aproximadamente 10 anos, antes de ser

removida ilegalmente pelo requerido.

II.VII – POSSIBILIDADE DA CONCESSÃO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS INAUDITA ALTERA PARS

A liminar pleiteada também diz respeito

à indisponibilidade dos bens móveis e imóveis do requerido

ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, para

garantia de futura ação executória, pois em casos tais, face à

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

50

morosidade da prestação da tutela jurisdicional (justificada

diante do elevado número de processos), corre-se o risco de

não serem encontrados bens que garantam a execução do

quantum que será apontado na prolação da sentença como

sendo apto ao integral ressarcimento.

Por essa razão o legislador inseriu na

Constituição Federal (art. 37, § 4º), e na Lei n.º 8.429/92 –

Lei de Improbidade Administrativa (art. 7º e parágrafo único),

a possibilidade do Poder Judiciário tornar indisponíveis os

bens do agente cuja ação ou omissão tenha sido maléfica à

administração direta ou indireta de qualquer dos Poderes:

– Constituição Federal Art. 37 – A administração pública direta

e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios

de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência e,

também, ao seguinte:

...omissis...

4º - Os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão

dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens

e o ressarcimento ao erário, na forma e

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

51

gradação previstas em lei, sem prejuízo

da ação penal cabível.

– Lei de Improbidade Administrativa Art. 1° – Os atos de improbidade

praticados por qualquer agente público,

servidor ou não, contra a administração

direta, indireta ou fundacional de

qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos

Municípios, de Território, de empresa

incorporada ao patrimônio público ou de

entidade para cuja criação ou custeio o

erário haja concorrido ou concorra com

mais de cinquenta por cento do

patrimônio ou da receita anual, serão

punidos na forma desta lei.

Art. 5° – Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou

omissão, dolosa ou culposa, do agente

ou de terceiro, dar-se-á o integral

ressarcimento do dano.

Art. 7° – Quando o ato de improbidade

causar lesão ao patrimônio público ou

ensejar enriquecimento ilícito, caberá a

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

52

autoridade administrativa responsável

pelo inquérito representar ao Ministério

Público, para a indisponibilidade dos

bens do indiciado.

Parágrafo único - A indisponibilidade

a que se refere o caput deste artigo

recairá sobre bens que assegurem o

integral ressarcimento do dano, ou

sobre o acréscimo patrimonial

resultante do enriquecimento ilícito.

(negritado e grifado)

Assim, verifica-se que o art. 37, § 4º, da

Constituição Federal, determina que os atos de improbidade

administrativa importam na indisponibilidade dos bens, que é

medida cautelar, a ser concedida antes do julgamento da

demanda.

Saliente-se que nossa Carta Magna não

traça nenhum pré-requisito, razão pela qual se conclui que

basta o recebimento da inicial da ação judicial por ato de

improbidade administrativa para a decretação da

indisponibilidade dos bens, uma vez caracterizados os danos

ao erário.

Conforme se depreende dos dispositivos

legais alhures mencionados, sempre que ocorrer lesão ao

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

53

patrimônio público ou enriquecimento ilícito deverá ser

requerida a indisponibilidade de bens do agente ímprobo,

objetivando o integral ressarcimento dos danos.

O art. 16, da Lei n.º 8.249/92, dispõe

sobre o pedido cautelar de sequestro de bens, quando deveria

tratar, na verdade, de arresto, medida mais abrangente e

irrestrita.

No entanto, como se aplicam

subsidiariamente à Lei de Improbidade Administrativa as

disposições constantes do Código Processual Civil, todas as

medidas cautelares poderão ser exercidas, tais como o

arrolamento de bens e a busca e apreensão de documentos.

Como leciona Rodolfo de Camargo

Mancuso: “Em dois dispositivos trata a Lei

7347/85 sobre a tutela cautelar dos

interesses difusos. Dá-lhes ação

cautelar, propriamente dita, no art. 4º e

prevê a possibilidade da concessão de

tutela liminar, com ou sem justificação

prévia, no art. 12.

... omissis ...

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

54

Conjugando-se os arts. 4º e 12 da Lei

7347/85, tem-se que essa tutela de

urgência há de ser obtida através da

liminar que, tanto pode ser pleiteada na

ação cautelar (factível antes do início da

ação civil pública) ou no bojo da própria

ação civil pública, normalmente em

tópico destacado da petição inicial.

Muita vez, mais prática será esta

segunda alternativa, já que se obtêm a

segurança exigida pela situação de

emergência, sem necessidade de ação

cautelar propriamente dita. (in, Ação

Civil Pública, Editora Revista dos

Tribunais, 1989, pág. 108, 113 e 114).

Portanto, encontra-se superada a

discussão acerca da necessidade de cautelar antes da ação

principal, diante do procedimento ordinário desta, que

permite maiores condições de defesa, bem como pelo

permissivo legal constante da Lei da Ação Civil Pública, art.

12:

Art. 12 – Poderá o juiz conceder

mandado liminar, com ou sem

justificação prévia, em decisão sujeita a

agravo.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

55

É consabido que o pedido de liminar de

indisponibilidade de bens, no bojo da ação principal de

improbidade administrativa e reparação de danos,

obedecendo-se aos requisitos do fumus boni juris e periculum

in mora, é muito mais prático e eficaz.

Vale repisar: a Lei de Improbidade

Administrativa, dando plena eficácia ao mandamento

constitucional a que se fez menção, determinou que a

indisponibilidade dos bens ocorrerá quando se apresentar

lesão ao patrimônio público por ação ou omissão dolosa ou

culposa, do agente ou de terceiro, devendo recair a

indisponibilidade sobre bens que assegurem o integral

ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial

resultante do enriquecimento ilícito.

Para o sustento desta liminar

suplicada, encontram-se presentes os requisitos legais

reclamados, quais sejam:

O fumus boni juris, decorrente da

demonstração cristalina de que o requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS praticou atos de

improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário,

consoante previsão do artigo 10, caput, da Lei nº 8.429/92,

motivo pelo qual deve ser condenado à ressarcir os cofres

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

56

públicos no tocante ao valor da remuneração percebida pelos

servidores que estão sem exercer qualquer função (Adelmino

dos Santos, Leone Luis de Freitas, Patrícia da Rocha

Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e Leonilda Rodrigues

da Fonseca), a partir do mês de outubro do ano de 2012 até

que seja promovida a adequação da situação dos servidores.

O periculum in mora emerge da

necessidade de garantir a reparação do dano causado, eis

que, até mesmo o uso dos mecanismos jurídicos existentes

pode ocasionar a demora da marcha processual,

possibilitando a ocorrência de dilapidação ou mesmo

voluntária disposição do patrimônio do requerido.

Demais disso, o deferimento da liminar

não trará qualquer dano para o requerido, vez que se trata

apenas de uma medida acauteladora que colocará seus bens

particulares em indisponibilidade para garantia de futura

execução.

Este é o entendimento da doutrina

mais abalizada sobre a matéria, conforme, inclusive, o escólio

do eminente publicista gaúcho Fábio Medina Osório:

“A indisponibilidade patrimonial é

medida obrigatória, pois traduz

conseqüência jurídica do processamento

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

57

da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º,

da Constituição Federal.

(...)

Com efeito, o que se deve garantir é o

integral ressarcimento ao erário. Assim,

o patrimônio do réu da ação de

improbidade fica, desde logo, sujeito às

restrições do art. 37, parágrafo 4º, da

Magna Carta, pouco importando, nesse

campo, a origem lícita dos bens. Trata-se

de execução patrimonial decorrente de

dívida por ato ilícito”. (in Improbidade

Administrativa, Editora Síntese, Porto

Alegre, 2007, p. 159).

Ademais, esta matéria atualmente não

comporta mais qualquer discussão, tendo sido assentado este

entendimento pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Providencial, nesse passo, a elucidativa ementa do Recurso Especial nº 1194045/SE, datado de 03/02/2011, oriundo

da Segunda Turma deste Colendo Tribunal, cujo relator foi o

Ministro HERMAN BENJAMIN:

PROCESSUAL CIVIL E

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE.

INDISPONIBILIDADE DOS BENS. POSSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

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INAUDITA ALTERA PARS. REQUISITO.

EXISTÊNCIA DE FORTES INDÍCIOS DE

DANO AO ERÁRIO. SÚMULA 7/STJ.

NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DO

ALCANCE PATRIMONIAL. 1. Cuidam os

autos de Ação Civil Pública proposta

com o fito de combater atos de

improbidade administrativa por dano ao

Erário do Município de Pirambu,

envolvendo Prefeito, Secretária

Municipal de Ação Social, Deputado

Estadual e comerciantes locais . 2.

Segundo consta na petição inicial, ao

longo do período de 2002 a 2006 foram

realizados inúmeros contratos

irregulares para aquisição de alimentos

e material de limpeza, marcados

sobretudo pelo indevido fracionamento

dos valores para burlar a modalidade

licitatória e pela finalidade de uso

pessoal dos produtos adquiridos com

verba pública. O ora recorrente é um dos

réus da ação, tendo sido demandado na

qualidade de sócio-diretor do

supermercado que se sagrou vencedor

em diversas licitações 3. O Juízo de 1º

grau determinou a indisponibilidade dos

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

59

bens dos réus liminarmente, tendo sido

mantida a decisão pelo Tribunal de

Justiça. 4. A tese recursal não encontra guarida na jurisprudência do STJ, firmada no sentido de que a

decretação da indisponibilidade dos bens inaudita altera pars: a) é possível antes do recebimento da petição inicial; b) independe da comprovação de início de dilapidação patrimonial, sendo suficiente a constatação de fortes indícios de improbidade causadora de dano ao Erário; e c) pode recair sobre bens adquiridos anteriormente à conduta reputada ímproba. 5. Na

hipótese, a instância ordinária

considerou presentes os indícios de

improbidade a justificarem a decretação

de indisponibilidade dos bens. Alterar

tal entendimento demanda reexame dos

elementos fático-probatórios dos autos, o

que esbarra na Súmula 7/STJ. 6. Por

outro lado, sem embargo da adequação

da medida, assiste razão ao recorrente

em parte, apenas no tocante à sua

extensão ilimitada. 7. A mesma base

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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60

indiciária que respalda a decretação de

indisponibilidade dos bens deve nortear

a extensão do seu alcance. Com

fundamento nos dados fornecidos na

petição inicial e em outros elementos que

revelem a plausibilidade da

responsabilidade do recorrente, cabe ao

julgador ordinário delimitar o montante

sobre o qual deve recair a

indisponibilidade de seus bens - o que

não significa necessariamente que, ao

final, tal medida não alcançará todo o

seu patrimônio, tampouco que será

reduzida ao valor por ele apontado em

seu apelo. 8. A indisponibilidade dos

bens deve recair sobre tantos bens

quantos forem suficientes a assegurar

as conseqüências financeiras da

suposta improbidade, inclusive a multa

civil. Precedentes do STJ. 9. Impende

anotar que, em consulta realizada no

sítio eletrônico do Tribunal de Justiça,

constata-se ter havido parcial

provimento de Agravos de Instrumento

de outros réus para fins de proceder à

limitação da medida. 10. Recurso

Especial parcialmente provido, apenas

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

ESTADO DO PARANÁ

61

para determinar que seja delimitado o

montante da indisponibilidade dos bens.

(REsp 1194045/SE, Rel. Ministro

HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA

TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe

03/02/2011) (sem grifo no original)

Dessarte, com a prolação da medida

evita-se a possibilidade de uma insolvência que torne a

devolução do quantum retirado dos cofres públicos mera

ilusão, não se olvidando que a verdadeira essência da Lei n.º

8.429/92 é garantir o total ressarcimento ao erário, tornando-

se de pouca ou quase nenhuma importância o incômodo

pessoal dos agentes ímprobos, face à coletividade lesionada.

III – DOS REQUERIMENTOS E

PEDIDOS

Diante do exposto e por tudo mais que

dos autos consta, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

PARANÁ requer:

a) O deferimento do pedido liminar de

indisponibilidade de bens, antes mesmo da oitiva do

requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS;

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ESTADO DO PARANÁ

62

a.1) – Para eficácia da indisponibilidade

requerida sejam tomadas mais as seguintes medidas:

- seja oficiado aos Bancos Itaú, Caixa

Econômica Federal, Bradesco, HSBC, SICREDI, Santander e

Banco do Brasil (e especificamente para as agências das

mesmas instituições bancárias acaso existentes na cidade de

Mangueirinha/PR), noticiando a decretação da medida acima

e solicitando que informem este r. Juízo sobre a existência de

saldos em contas correntes, poupança e aplicações em favor

do requerido, necessários ao ressarcimento dos danos,

bloqueando-os;

- seja oficiado aos Cartórios do Registro

de Imóveis de Mangueirinha/PR, informando a decretação da

medida acima, com a indisponibilidade dos imóveis em nome

do requerido, necessários ao ressarcimento dos danos, de

tudo informando este r. Juízo, sem prejuízo do envio, a este

Juízo, de certidão do Livro Indicador Pessoal (artigos 132, D,

e 138, da Lei n.º 6.015/73), onde conste ou tenha constado

algum bem em nome do requerido, ou seu cônjuge, quando

for o caso;

- seja oficiado à Douta Corregedoria da

Justiça do Estado do Paraná, informando sobre a decretação

da medida e solicitando que a mesma oficie a todos os

Cartórios de Registros de Imóveis do Estado do Paraná,

noticiando a decretação da medida e requisitando

informações sobre a existência de imóveis em nome do

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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requerido, sem prejuízo do envio, a este r. Juízo, de certidão

do Livro Indicador Pessoal (artigos 132, D, e 138, da Lei n.º

6.015/73), onde conste ou tenha constado algum bem em

nome do requerido, ou seu cônjuge, quando for o caso;

- seja determinado o bloqueio de

eventuais contas bancárias em nome do requerido através do

sistema “BACEN JUDICIÁRIO”, ou seja oficiado ao Banco

Central do Brasil para que comunique a todas as instituições

financeiras do país sobre a decretação da indisponibilidade de

eventuais depósitos em nome do requerido antes nomeado, de

tudo informando este r. Juízo;

- seja oficiado à Comissão de Valores

Mobiliários e às Juntas Comerciais de todos os Estados da

Federação, informando-as sobre a decretação da medida

solicitada e para que comuniquem este Juízo sobre a

existência de ações ou cotas sociais em nome do requerido

antes nomeados, bloqueando-as;

- seja oficiado ao DETRAN/PR e

DETRAN-SP, informando sobre a decretação da presente

medida, e determinando o bloqueio de todos os veículos em

nome do requerido, de tudo informando este r. Juízo;

b) O deferimento do pedido liminar de

declaração de nulidade do ato administrativo que determinou

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –

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a remoção da servidora Mariuza Aparecida Mendes, para que

volte a exercer as suas funções na Creche da Mana, local onde

trabalhou por aproximadamente 10 anos, antes de ser

removida ilegalmente pelo requerido;

c) O deferimento de pedido liminar, para

que a Prefeitura Municipal de Mangueirinha providencie que os

servidores Adelmino dos Santos, Leone Luis de Freitas,

Patrícia da Rocha Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e

Leonilda Rodrigues da Fonseca exerçam as atividades

inerentes aos seus cargos;

d) sejam requisitadas à Prefeitura

Municipal de Mangueirinha cópias dos registros dos livros-

ponto das servidoras Vitória Jantara, Rosa Aparecida do

Amaral e Mariuza Aparecida Mendes, assim como os

contracheques dos servidores públicos municipais Adelmino

dos Santos, Leone Luis de Freitas, Patrícia da Rocha

Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e Leonilda Rodrigues

da Fonseca;

e) seja a presente registrada e autuada

como AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO POR DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DE IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,

processando-se o presente feito sob o rito ordinário.

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ESTADO DO PARANÁ

65

f) a notificação do requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS para oferecer

manifestação por escrito, no prazo de 15 (quinze) dias,

conforme disposto no art. 17, § 7º da Lei nº 8.429/92;

g) a citação pessoal do requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS para que,

querendo, ofereça resposta no prazo de 15 (quinze) dias à

presente ação, sob pena de revelia;

h) a produção de todas as provas em

direito permitidas, sem a exclusão de nenhuma delas, em

especial o depoimento pessoal do requerido; ouvida de

testemunhas, cujo rol acompanha a presente inicial; e a

juntada de novos documentos, a ser oportunamente

especificada;

i) a notificação, através de oficial de

justiça, do Município de Mangueirinha para, querendo,

integrar a lide na qualidade de litisconsorte ativo, podendo

suprir eventuais falhas e omissões da petição inicial, bem como

indicar e/ou apresentar provas que entender necessárias, na

forma prevista no artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92;

j) seja julgado integralmente procedente

o pedido, condenando o requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, pela prática de atos de improbidade

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66

administrativa previstos no artigo 10, caput, da Lei 8.429/92,

às penas previstas no art. 12, inciso II, da Lei de Improbidade

Administrativa, notadamente o ressarcimento integral do

dano, perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até

duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o

Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo

de cinco anos, adotando-se critérios de proporcionalidade na

aplicação das mesmas;

k) Caso Vossa Excelência não entenda

pela condenação pelo artigo 10, requer-se a condenação do

requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS

pela prática de atos de improbidade administrativa previstos

no artigo 11, caput, e inciso I, da Lei 8.429/92, às penas

previstas no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade

Administrativa, notadamente a perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos,

pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da

remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por

intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,

pelo prazo de três anos, adotando-se critérios de

proporcionalidade na aplicação das mesmas;

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l) seja o requerido ALBARI

GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS condenado ao ônus

da sucumbência e demais cominações legais, cujo montante

deverá ser destinado ao Fundo Especial do Ministério Público,

criado pela Lei Estadual nº 12.241/98;

m) sejam extraídas cópias da petição

inicial as quais deverão ser remetidas ao Tribunal de Contas

do Estado do Paraná e à Câmara Municipal de Mangueirinha,

para conhecimento e as providências cabíveis.

Atribui-se à presente causa o valor de

R$ 1.000,00 (mil reais), para efeitos fiscais.

Mangueirinha, 25 de julho de 2013.

Rafael Carvalho Polli Promotor de Justiça