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PODER JUDICIÁRIO Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE 1ª VARA FEDERAL Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada Processo nº Classe 2 - Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa Autor(es) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL MPF Réu(s) : XXX SENTENÇA 1. RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL propôs ação civil pública por ato de improbidade administrativa (f. 2/16) em face de XXX, visando, cumulativamente, à condenação do réu nas sanções do inc. II e III do Art. 12 da Lei n.º 8.429/92 em razão da suposta prática de ato que causou prejuízo ao erário (art. 10, I e XII da Lei n.º 8.429/92) e atentou contra os princípios da administração pública (art. 11, caput e inc. I da Lei n.º 8.429/92). Narrou, em síntese, que: 1) a Caixa Econômica Federal CEF instaurou Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar possíveis irregularidades na liberação de quotas do Programa de Integração Social – PIS, na agência onde trabalhava o réu; 2) no período de 2003 a 2007, o réu, na qualidade de empregado da CEF, praticou, dolosamente e reiteradamente, 219 (duzentos e dezenove) liberações irregulares de pagamentos de quotas do PIS a pessoas que não preenchiam os requisitos legais e normativos para saque, causando um prejuízo no montante de R$ 265.488,67 (duzentos e sessenta e cinco mil, quatrocentos e oitenta e oito reais e sessenta e sete centavos); 3) o modus operandi do réu consistiu em inserir “eventos de saque no sistema SIPAB Sistema de Pagamento do PIS, sem documentação comprobatória dos referidos eventos, em especial a aposentadoria, aposentadoria por invalidez, e benefício assistencial ao idoso deficiente” (f. 5), aceitar certidões do INSS com indícios de falsificação, sendo que, em 82 (oitenta e dois) casos a liberação ocorreu sem “mesmo o preenchimento dos envelopes de Solicitação de Saque de Quotas SSQ” (f. 5); 4) em sede de inquérito policial, o réu admitiu que recebeu dos intermediários quantias em dinheiro como forma de “gratidão” pelas quotas do PIS liberadas; 5) a Resolução nº 008/2008, do Conselho Disciplinar Regional de Salvador decidiu pela rescisão do contrato de trabalho por justa causa, imputando-lhe também a responsabilidade civil; 6) o réu interpôs recurso da decisão, não se tendo notícias acerca do seu resultado; 7) o réu está respondendo criminalmente sob os mesmos fatos perante a 2ª Vara Federal/SE, sob o n.º XXX

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PODER JUDICIÁRIO

Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE

1ª VARA FEDERAL

Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada

Processo nº Classe 2 - Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa Autor(es) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – MPF Réu(s) : XXX

S E N T E N Ç A

1. RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL propôs ação civil pública por ato de improbidade administrativa (f. 2/16) em face de XXX, visando, cumulativamente, à condenação do réu nas sanções do inc. II e III do Art. 12 da Lei n.º 8.429/92 em razão da suposta prática de ato que causou prejuízo ao erário (art. 10, I e XII da Lei n.º 8.429/92) e atentou contra os princípios da administração pública (art. 11, caput e inc. I da Lei n.º 8.429/92).

Narrou, em síntese, que: 1) a Caixa Econômica Federal − CEF instaurou Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar possíveis irregularidades na liberação de quotas do Programa de Integração Social – PIS, na agência onde trabalhava o réu; 2) no período de 2003 a 2007, o réu, na qualidade de empregado da CEF, praticou, dolosamente e reiteradamente, 219 (duzentos e dezenove) liberações irregulares de pagamentos de quotas do PIS a pessoas que não preenchiam os requisitos legais e normativos para saque, causando um prejuízo no montante de R$ 265.488,67 (duzentos e sessenta e cinco mil, quatrocentos e oitenta e oito reais e sessenta e sete centavos); 3) o modus operandi do réu consistiu em inserir “eventos de saque no sistema SIPAB − Sistema de Pagamento do PIS, sem documentação comprobatória dos referidos eventos, em especial a aposentadoria, aposentadoria por invalidez, e benefício assistencial ao idoso deficiente” (f. 5), aceitar certidões do INSS com indícios de falsificação, sendo que, em 82 (oitenta e dois) casos a liberação ocorreu sem “mesmo o preenchimento dos envelopes de Solicitação de Saque de Quotas − SSQ” (f. 5); 4) em sede de inquérito policial, o réu admitiu que recebeu dos intermediários quantias em dinheiro como forma de “gratidão” pelas quotas do PIS liberadas; 5) a Resolução nº 008/2008, do Conselho Disciplinar Regional de Salvador decidiu pela rescisão do contrato de trabalho por justa causa, imputando-lhe também a responsabilidade civil; 6) o réu interpôs recurso da decisão, não se tendo notícias acerca do seu resultado; 7) o réu está respondendo criminalmente sob os mesmos fatos perante a 2ª Vara Federal/SE, sob o n.º XXX

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

II

Arrolou 7 (sete) testemunhas.

Com a inicial, juntou procedimento administrativo sob o n.º XXX em 6 (seis) volumes, os quais foram autuados em apenso (f. 17)

Despacho de f. 18 determinou: 1) a notificação do requerido para apresentar manifestação escrita (art. 17, §7º da Lei 8.429/92); 2) a intimação da CEF para informar o seu interesse no feito ((art. 17, §3º da Lei 8.429/92) e o andamento acerca do Processo Administrativo Disciplinar nº SE 2186.2007.A.0000885.

Intimado (f. 20/21), a CEF informou que, com o término do PAD, houve a rescisão do contrato de trabalho do réu por justa causa (f. 26/28) e que, em razão disso, não intervirá no feito (f. 30).

Notificado (f. 41/42), o réu, assistido pela Defensoria Pública da União, apresentou manifestação preliminar (f. 47/54), alegando: 1) preliminarmente, a ausência de interesse de agir quanto ao pedido de ressarcimento ao erário, uma vez que tal questão será objeto de Tomadas de Contas Especial a cargo do Tribunal de Contas da União; 2) a prescrição, eis que imputados atos de improbidade praticados em 2003 e 2004; 3) no processo administrativo disciplinar, não foi observado o princípio do contraditório e da ampla defesa, pois respondeu sem a assistência de um advogado e foi pressionado a confessar os fatos que jamais cometeu; 4) que não ficou comprovado que os benefícios em questão não eram devidos, nem tampouco a sua efetiva participação nas liberações dos benefícios ditos indevidos, sobretudo quando o único meio de prova é o depoimento do réu.

O MPF se manifestou acerca das defesas preliminares nas f. 56/65, aduzindo que: 1) não merece ser acolhida a preliminar de carência de interesse de agir, tendo em vista a independência das esferas cível e administrativa e a legitimidade institucional do MPF para ajuizar a ação, nos termos da Constituição Federal e legislação infraconstitucional, independentemente do TCU; 2) não merece acolhida a prejudicial de prescrição, visto que: 2.1) os atos se referem aos anos de 2003 a 2007 e que o prazo prescricional, nos termos da Lei nº 8.112/90, restou interrompido com a abertura do PAD, só voltando a correr no dia seguinte à decisão final, ou seja, a partir de 05.03.2008; 2.2) ainda que não houvesse a instauração de PAD, aplicar-se-ia o prazo prescricional do Código Penal em razão da conduta ser tipificada como ilícito penal; 3) não cabia ao requerido adentrar na questão de mérito, pois, para recebimento da petição inicial, cumpre apenas analisar se a ação vem acompanhada de documentos ou justificação que contenham indícios suficientes do ato de improbidade; 4) o requerido não apresentou qualquer documentação em contradição aos argumentos do MPF, daí porque não existem motivos para a petição inicial ser rejeitada; 5) não houve ofensa à ampla defesa a ao contraditório no PAD, mas ainda que houvesse não interfere nesta ação, que é independente.

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III

Na fase de admissibilidade (f. 67/71), este Juízo rejeitou as questões de ausência de interesse de agir e prescrição e recebeu a inicial.

Citado (f. 85/86), o réu apresentou contestação (f. 77/83) com conteúdo praticamente idêntico à manifestação preliminar. Arrolou 8 (oito) testemunhas.

Durante a instrução, o réu foi interrogado e foram ouvidas 6 (seis) testemunhas arroladas pelo autor (f. 151/155 e 209/210) e 5 (cinco) pela defesa (f. 156/160), sendo que as partes requereram a desistência de Jackson Bispo Pereira, Roberto Rocha Madureira, Cleverton Souza Ribeiro, Clarice dos Santos Teixeira e João Rodrigues dos Santos (f. 148/149).

Nas f. 175/193, foram juntadas cópias dos depoimentos tomados em sede da Ação Penal XXX.

Em sede de alegações finais (f. 215/221), o MPF requereu a condenação do réu nas penalidades contidas nos inc. II e III do art. 12 da Lei n.º 8.429/92.

Já a defesa ofereceu alegações finais em que repetiu a questão do cerceamento de defesa, acrescentando, ainda: 1) a precariedade do conjunto probatório, considerando que as únicas provas constam no processo administrativo; 2) a ausência de dolo e de enriquecimento ilícito; 3) “o que houve foi apenas uma antecipação de recebimento dos valores pelos titulares dos direitos e não restou comprovada a participação do réu” (f. 230).

É o relatório. Passo a decidir.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, cumpre relembrar, para fins de eventuais embargos de declaração, que incumbe ao órgão julgador decidir o litígio segundo o seu livre convencimento motivado, utilizando-se das provas, legislação, doutrina e jurisprudência que entender pertinentes à espécie. Assim, o julgador não se encontra obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão. Isto porque a decisão judicial não constitui um questionário de perguntas e respostas, nem se equipara a um laudo pericial a guisa de quesitos. Neste sentido, colacionam-se os seguintes precedentes:

“O não acatamento das argumentações contidas no recurso não implica cerceamento de defesa, posto que ao julgador cabe apreciar a questão de acordo com o que ele entender atinente à lide. Não está obrigado o magistrado a julgar a questão posta a seu exame de acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento (art. 131, do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

IV

pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto.” 1 “Processo civil. Sentença. Função prática. A função judicial é prática, só lhe importando as teses discutidas no processo enquanto necessárias ao julgamento da causa. Nessa linha, o juiz não precisa, ao julgar procedente a ação, examinar-lhe todos os fundamentos. Se um deles e suficiente para esse resultado, não esta obrigado ao exame dos demais. Embargos de declaração rejeitados.” 2 “(....) A função teleológica da decisão judicial é a de compor, precipuamente, litígios. Não é peça acadêmica ou doutrinária, tampouco se destina a responder a argumentos, à guisa de quesitos, como se laudo pericial fosse. Contenta-se o sistema com a solução da controvérsia, observada a res in judicium deducta, o que se deu no caso ora em exame.” 3

As questões relativas à ausência de interesse de agir e de prescrição foram examinadas na decisão de f. 67/71.

2.1. Mérito

Através da presente demanda, o MPF pretende a responsabilização do réu por ato de improbidade administrativa em razão de liberações irregulares do PIS aos seus beneficiários, sem que estes preenchessem as hipóteses de saque.

Para o exame das diversas imputações, é necessário discorrer acerca da natureza jurídica do PIS, das hipóteses de saque e o procedimento normal adotado pela CEF para a liberação ditos valores.

Entre a EC n.º 08/77 até o advento da CF/88, o PIS era uma contribuição social não tributária, cujos recursos pagos pelas empresas formavam um pecúlio em favor dos seus empregados que poderiam sacar nas hipóteses taxativamente previstas em lei 4. Funcionava semelhante ao atual FGTS (Lei n.º 8.036/90).

Lei Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970

Art. 1.º - É instituído, na forma prevista nesta Lei, o Programa de Integração Social, destinado a promover a integração do empregado na vida e no desenvolvimento das empresas.

1 STJ, AgRg no Ag 512437/RJ, 1ª Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, julgado em 16.10.2003, DJ 15.12.2003 p. 210 2 STJ, EDcl no REsp 15450/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, 2ª Turma, julgado em 01.04.1996, DJ 06.05.1996 p. 14399. No mesmo sentido:REsp 172329/SP, 1ª Seção, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS; REsp 611518/MA, 2ª Turma, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, REsp 905959/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI; REsp 807690/SP, 2ª Turma, Rel. Ministro CASTRO MEIRA. 3 STJ, EDcl no REsp 675.570/SC, 2ª Turma, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, julgado em 15.09.2005, DJ 28.03.2006 p. 206 4 A jurisprudência ampliou as hipóteses de saque.

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§ 1º - Para os fins desta Lei, entende-se por empresa a pessoa jurídica, nos termos da legislação do Imposto de Renda, e por empregado todo aquele assim definido pela Legislação Trabalhista. Art. 3º - O Fundo de Participação será constituído por duas parcelas: b) a segunda, com recursos próprios da empresa, calculados com base no faturamento, como segue: (Vide Lei Complementar nº 17, de 1973) 1) no exercício de 1971, 0,15%; 2) no exercício de 1972, 0,25%; 3) no exercício de 1973, 0,40%; 4) no exercício de 1974 e subseqüentes, 0,50% Art. 5º. A Caixa Econômica Federal emitirá, em nome de cada empregado, uma Caderneta de Participação - Programa de Integração Social - movimentável na forma dos arts. 8º e 9º desta Lei. Art. 9º. As importâncias creditadas aos empregados nas cadernetas de participação são inalienáveis e impenhoráveís, destinando-se, primordialmente, à formação de patrimônio do trabalhador. § 1º - Por ocasião de casamento, aposentadoria ou invalidez do empregado titular da conta poderá o mesmo receber os valores depositados, mediante comprovação da ocorrência, nos termos do regulamento; ocorrendo a morte, os valores do depósito serão atribuídos aos dependentes e, em sua falta, aos sucessores, na forma da lei. § 2º - A pedido do interessado, o saldo dos depósitos poderá ser também utilizado como parte do pagamento destinado à aquisição da casa própria, obedecidas as disposições regulamentares previstas no art. 11.

A partir da CF/88, as contribuições sociais destinadas ao PIS/PASEP passaram a ter natureza tributária (art. 149 da CF/88), passando a financiar exclusivamente o programa do seguro-desemprego e o abono anual para os empregados que percebam de empregadores contribuintes do PIS/PASEP até dois salários mínimos de remuneração mensal. Preservou-se o direito dos empregados a sacarem nas hipóteses taxativamente previstas em leis os depósitos acumulados até 04.10.2011, com exceção do motivo de casamento.

CF/88, Art. 239. A arrecadação decorrente das contribuições para o Programa de Integração Social, criado pela Lei Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970, e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público, criado pela Lei Complementar nº 8, de 3 de dezembro de 1970, passa, a partir da promulgação desta Constituição, a financiar, nos termos que a lei dispuser, o programa do seguro-desemprego e o abono de que trata o § 3º deste artigo. § 2º - Os patrimônios acumulados do Programa de Integração Social e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público são preservados, mantendo-se os critérios de saque nas situações previstas nas leis específicas, com exceção da retirada por motivo de casamento, ficando vedada a distribuição da arrecadação de que trata o "caput" deste artigo, para depósito nas contas individuais dos participantes. § 3º - Aos empregados que percebam de empregadores que contribuem para o Programa de Integração Social ou para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público, até dois salários mínimos de remuneração

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mensal, é assegurado o pagamento de um salário mínimo anual, computado neste valor o rendimento das contas individuais, no caso daqueles que já participavam dos referidos programas, até a data da promulgação desta Constituição.

De acordo com informações obtidas no sítio da CEF na internet (http://www.caixa.gov.br/Voce/Social/Beneficios/Pis/saque_cotas.asp ), o saque das quotas do PIS pode ser solicitado pelo seu beneficiário a qualquer momento, desde que comprovados qualquer um dos seguintes motivos: 1) aposentadoria; 2) reforma militar; 3) invalidez permanente; 4) idade igual ou superior a 70 anos; 5) transferência de militar para a reserva remunerada; 6) titular ou dependente(s) portador(es) do vírus HIV(SIDA/AIDS); 7) neoplasia maligna (câncer) do titular ou de seus dependentes; morte do participante; e 8) benefício assistencial à pessoa portadora de deficiência e ao idoso.

“Saque de Quotas

Se você é trabalhador, foi cadastrado no PIS até 04/10/1988 e recebeu Quotas de participação PIS/PASEP, pode ter saldo de Quotas. O saque das Quotas pode ser solicitado a qualquer momento, exclusivamente nas agências da CAIXA, pelos seguintes motivos: Aposentadoria; Reforma Militar; Invalidez Permanente; Idade igual ou superior a 70 anos; Transferência de militar para a reserva remunerada; Titular ou dependente(s) portador(es) do vírus HIV(SIDA/AIDS); Neoplasia Maligna (câncer) do titular ou de seus dependentes; Morte do participante; Benefício Assistencial à pessoa portadora de deficiência e ao idoso. O pagamento pode ser realizado, em casos excepcionais, em até 5 dias úteis após sua solicitação e compreende a atualização monetária e a parcela de Rendimentos do PIS não retirada no correspondente período de pagamento. A atualização do saldo de Quotas de participação é efetuada anualmente, ao término do exercício financeiro – de 1° de julho de um ano a 30 de junho do ano subsequente, com base nos índices estabelecidos pelo Conselho Diretor do Fundo PIS/PASEP.

A rotina normal para a liberação dos valores aos participantes do PIS é a seguinte:

1) o participante comparecia a uma agência da CEF, munido dos seus documentos pessoais (Cédula de Identidade e CPF), comprovante de residência, CTPS e o documento comprobatório da hipótese de saque (Carta de concessão de aposentadoria, pensão, benefício de prestação continuada e etc.);

2) o empregado da CEF verifica se o participante do PIS faz jus ao saque, conferindo a documentação apresentada;

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2) preencher o documento denominado SSQ − Solicitação de Saque de Quotas, cujas hipóteses eram

35 − Transferência para a reserva;

51 − Invalidez permanente ou reforma militar;

60 − Aposentadoria

78 − Morte do trabalhador

86 − SIDA/AIDS;

92 − Neoplasia maligna

95 − Determinação judicial

97 − Benefício assistencial ao idoso ou deficiente

3) liberar no sistema o pagamento;

4) encaminhar o participante para o caixa a fim de realizar o pagamento;

5) guardar os documentos nos envelopes SSQ para serem posteriormente arquivados.

A época dos fatos (2003 a 2007), o réu era empregado da CEF e estava cadastrado no Sistema FICUS (f. 9) sob o n.º C016772, o qual autorizava a liberação dos valores depositados em contas vinculadas do PIS anteriores a 04.10.1988.

A Caixa Econômica Federal, por intermédio da Superintendência Regional, instaurou Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) − apensos 2 a 6 − para apurar possíveis irregularidades na liberação de quotas do Programa de Integração Social – PIS, na agência onde trabalhava o réu. Considerando que as irregularidades no período de 2006 até o início de 01.2007 eram de R$ 171.198,63 e que o prejuízo ultrapassou o limite de alçada (R$ 50.000,00), a apuração do fato foi transferida para Auditoria Regional em Salvador que deu continuidade ao processo (f.153/157 do apenso II e f. 1048/1056 do apenso VI).

“7.1.2. A Comissão originária da Agência Fausto Cardoso solicitou à GISES/AS, relatório contendo todas as liberações de quotas do PIS realizadas pelo empregado XXX, no período de janeiro de 2006 a janeiro 2007 (vide fls. 016), onde foram identificadas 275 liberações. 7.1.2.1 Após análise de todas essas liberações realizadas pelo referido empregado, a Comissão originária constatou 131 irregulares, totalizando o valor de R$ 171.198,63.

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7.1.2.2. Em virtude de o valor apurado ter ultrapassado R$ 50.000,00, o processo foi transferido para a Auditoria Regional Salvador (vide fls. 151), em cumprimento aos subitens 3.3.2.4 e 3.3.2.4.1 do MN AE 079 06, resultando na instauração do Processo de Apuração de Responsabilidade Disciplinar e Civil n.º SE.2186.2007.A.000085” (f. 1052 do apenso VI)

Ao final, embora tenha feito referência ao envolvimento de terceiros, chegou às seguintes conclusões acerca do envolvimento do réu.

“7.1.4.2 Após análise da documentação e dos relatórios disponibilizados, a Comissão constatou que as irregularidades cometidas pelo empregado arrolado já existiam desde o ano de 2003, perpetuando-se até o início de janeiro de 2007, até a instauração da apuração originária e o conseqüente cancelamento de sua senha nos sistemas do PIS. 7.1.4.3 A presente Comissão, após análise dos exercícios de 2003, 2004 e 2005, identificou mais 88 liberações de quotas do PIS irregulares, sendo 20 em 2003, no valor de R$ 14.304,12 (fls. 778), 35 em 2004, no valor de R$ 30.381,68 (fls. 808) e 33 em 2005, no valor de R$ 49.604,24, além das 131 detectadas pela Comissão originária, no valor de R$ 171.198,63 (fls. 254 e 255), perfazendo um total de 219 liberações irregulares no montante de R$ 265.488,67. 7.1.4.4 Das 219 liberações irregulares, 82 ocorreram sem o preenchimento sequer dos envelopes SSQ inexistindo quaisquer tipos de documentos que suportassem os saques efetuados, conforme constatado e relacionado pela Comissão (vide fls. 255, 778, 808 e 828) e conforme declarado pelo próprio empregado arrolado às fls. 1031. 7.1.4.4.1. Também, 103 liberações não possuíam certidão do INSS para os eventos 51 − invalidez permanente ou reforma militar (66 ocorrências); 97 – Benefício assistencial ao idoso ou ao deficiente (27 ocorrências), 60 – Aposentadoria (08 ocorrências) e 78 – Morte do trabalhador (02 ocorrências), conforme demonstrado na documentação constantes nos volumes integrantes deste processo e declaração do empregado arrolado (vide fls. 1030 e 1031). 7.1.4.4.2 Em 26 liberações, constavam certidão do INSS com indícios de falsificação, que levaram a Comissão a efetuar consulta ao sítio da Previdência Social (www.previdenciasocial.gov.br), onde se constatou que os benefícios não existiam. 7.1.4.4.3. Em 07 liberações, não existia documentação comprobatória de saque, apenas o envelope da SSQ vazio e, em alguns, constavam somente documentos de identificação dos sacadores. 7.1.4.4.4. Houve uma liberação de quota, cujo valor foi pago a homônimo do participante (vide fls. 764 a 769)” (f. 1053 do apenso VI).

Em razão disso, o réu foi demitido por justa causa (f. 27/28).

A circunstância de o réu ter sido demitido não conduz automaticamente na sua responsabilidade por ato de improbidade administrativa. A independência das instâncias cível e administrativa e também o caráter indisponível dos bens em conflito assegura uma reanálise do material probatório já coligido em confronto com as que vierem a ser produzidas no curso da instrução.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

IX

Existem indícios de que o réu recebeu dinheiro dos intermediários para liberar o PIS dos beneficiários, contudo os mesmos não se revelaram suficientes. Com efeito, não foram localizados os intermediários, bem assim os beneficiários pagaram diretamente aos intermediários e não ao réu, assim como os beneficiários tomaram conhecimento do fato por ouvir dizer. Ressalte-se também que o Ministério Público não requereu a quebra de sigilo bancário do réu a fim de demonstrar indícios de que o réu possuía uma renda incompatível com os rendimentos recebidos como empregado da CEF. Independente dessa questão, analisando a prova documental e oral produzida em sede administrativa, corroborada pela prova oral em juízo, entendo que existe farto material probatório de que o réu, em certas situações, autorizou o saque de PIS aos seus titulares mediante a assistência de intermediários/terceiros que cobrava propina em razão da liberação dos valores.

Na esfera administrativa, o réu foi mudando a sua versão sobre os fatos na medida em que ia surgindo novas provas acerca de sua participação nos eventos em testilha.

De início, negou a existência de qualquer irregularidade – liberar PIS sem a documentação completa e para pessoas que não eram os titulares do PIS – (f. 40/41 do apenso II), contudo confessou que: 1) Jackson e Walter trazia os beneficiários a fim de sacarem o PIS; 2) liberou tais recursos aos beneficiários mesmo em desacordo com os normativos CEF (sem a comprovação do motivo que autorizasse o saque) porque as “pessoas trazidas estavam com aparência de necessitadas ou com casos de doença na família, tentava ajudá-las” (f. 124); 3) atuou desta maneira desde 2003 até janeiro de 2007, quando então iniciou as investigações.

XXX − f. 120/121 do apenso 2 “2 − Mesmo sabendo que estava em desacordo com os normativos da Caixa? R − Sim. 3 − O senhor conhece Jackson, Walter, Orlando, Marcos Vinícius e João? R − Conheço (...) 5 − Todos eles lhe procuravam com o intuito de liberação de PIS de terceiros? R − Não. Só com Jackson e Walter. 6 − Por que Jackson e Walter sempre procurava o senhor para fazer as liberações? R − Eu acredito que pelo conhecimento que eles tinham comigo. Como eu fiz a primeira vez, eles continuam me procurando XXX − f. 123/124 do apenso 2 “5 − Se você achava que poderia parar de fazer as liberações, o que lhe impediu de parar? R − O momento em eu decidi parar coincidiu com o início da apuração 6 − O senhor disse ‘Para mim, estaria somente antecipando uma coisa que era deles’. Isso quer dizer que o senhor tinha conhecimento de que eles não

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

X

estavam aposentados ou ainda não tinham adquirido o direito de retirar as quotas de PIS? R − Sim. 7 − Qual o interesse em facilitar as liberações como o senhor mesmo afirmou em seu depoimento anterior ao dizer que ‘eles acostumaram a fazer consigo porque eu facilitava’? R − Ao ver que as pessoas trazidas estavam com aparência de necessitadas ou com casos de doença na família, tentava ajudá-las. 8 − Jackson, Walter ou outra pessoa pediram em algum momento para o senhor facilitar a liberação de quotas de PIS sem a recepção do documento principal, a certidão do INSS? R − Sim, os dois.

Em sua defesa administrativa, aduziu que: 1) não via qualquer irregularidade em liberar os valores do PIS ao próprio participante e que estava “somente antecipando uma coisa que era deles” (f. 124 do apenso II); 2) não houve desvio, sem se beneficiou pessoalmente dos valores pagos.

Já, em sede inquisitorial, o réu confirmou novamente os fatos, acrescentando, pela primeira vez, que recebia dinheiro, chamada “cervejinha”, como gratidão pelos serviços prestados:

XXX (f. 69/73) “(...) QUE ratifica todas as declarações prestadas na CEF no processo administrativo disciplina nº SE2186.2007.a.00085; QUE embora tenha sido muito pressionado pela comissão disciplinar, falou a verdade em todas as suas declarações, contudo não teve nenhum preparo nem acompanhamento de advogado no transcorrer daquele processo; QUE confirma a liberação de parcelas do PIS a pessoas que ainda não tinham adquirido o direito, pois não preenchiam os requisitos legais para tanto; QUE acreditava estar fazendo o bem às pessoas agraciadas com o PIS, pois o Interrogado só fazia antecipar um direito futuro; (...) QUE na verdade, o interrogado era procurador por pessoas que se queriam aproveitar de sua bondade e traziam outras pessoas para receberem indevidamente o PIS; QUE os aproveitadores referidos foram: JACKSON, WALTER e MARCOS VINÍCIUS, os quais quase diariamente levavam até a agência CEF − Fausto Cardoso supostos beneficiários ou os documentos de terceiros para que o Interrogado procedesse à liberação do PIS; QUE o Interrogado não conhecia os beneficiários e nunca exigiu qualquer quantia para a liberação do PIS; QUE contudo, JACKSON, WALTER e MARCOS VINICIUS sempre entregavam ao Interrogado determinada quantia em dinheiro, chamada “cervejinha”, como demonstração da gratidão pelo trabalho prestado pelo Interrogado; QUE muitas das vezes o Interrogado se recusava a receber o dinheiro, mas a insistência era grande para que houvesse um elo constante no sentido de que o Interrogado se mantivesse à disposição deles e continuasse providenciando a liberação do PIS; QUE o Interrogado recebia entre R$ 40,00 e R$ 50,00 pela liberação de alguns PIS, contudo não era um valor fixo nem uma porcentagem sobre a cotas liberadas; (...)QUE o Interrogado considera que tais valores eram insignificantes e só se prestavam para reforçar o interesse dos intermediários na continuidade do trabalho do Interrogado; QUE normalmente o

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XI

Interrogado recebia as referidas quantias quando saía da agência para beber uma água de coco ou para fazer algum lanche, porém não ficava esperando por isso, pois os intermediários é que iam ao seu encontro para lhe entregar alguma quantia em atenção pelo atendimento dispensado pelo Interrogado; QUE nunca houve depósito em contra bancário do Interrogado por parte dos referidos intermediários”

No seu interrogatório em juízo 5, o réu alegou que o processo administrativo, especialmente sua confissão administrativa, não valeu porque não foi orientado por um advogado e somente o fez porque sofreu bastante pressão psicológica, falando “o que veio na mente, sem pensar”.

Quanto ao 1º ponto, não merece acolhimento, uma vez que o STF já pacificou o entendimento de que não é obrigatório a defesa elaborada por advogado em processo administrativo disciplinar, nos termos da Súmula Vinculante abaixo transcrita:

Súmula Vinculante n.º 5 − A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição

Acrescente-se que o réu apresentou defesa (f. 1082/1083 do apenso VI), realizou sustentação oral (f. 1094 do apenso VI) e interpôs recurso administrativo (f. 1103/1105).

Em relação ao 2º ponto, o réu alegou a coação, mas não trouxe qualquer prova de sua ocorrência. Tratando-se de fato impeditivo, constitui ônus de o réu provar as suas alegações.

Em verdade, a “suposta coação” decorreu de um “clima ruim” no seu trabalho ao estar sendo apurada a responsabilidade do réu por liberações irregulares do PIS. Qual é o lugar em que clima não fique ruim entre os colegas quando o empregado de uma empresa está sendo acusado de corrupção? Até mesmo os colegas evitam se aproximar com receio de se envolverem. O vício somente existiria se a coação partisse da comissão, retirando a espontaneidade dos depoimentos. Conforme o seu interrogatório, verifica-se que o réu se negou a responder algumas perguntas, o que constitui mais um indício de que não houve coação.

XXX (f. 1030/1032 do apenso VI) “Questionado o depoente se o mesmo recebeu vantagens dos intermediários para efetuar as liberações irregulares, respondeu que prefere não tecer comentários sobre o questionado se recusando a responder a esta questão; que confirma não ter conhecimento se os intermediários que procuravam o depoente para que este efetuasse as liberações irregulares do PIS, recebiam algum tipo de comissão ou propina dos participantes quando do pagamento das quotas”

5 Interrogatório colhido em audiência no dia 01/12/2010, gravado em mídia (f. 161 dos autos).

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XII

Ademais, a testemunha YYY 6, presidente da Comissão apuradora, disse que no processo administrativo foram tomados quanto a observância do contraditório, tendo cientificado o réu de que a todo momento este poderia contratar os serviços de um advogado 7.

Pelo contrário, ao dizer que falou “o que veio na mente, sem pensar”, somente confirma a espontaneidade de seus depoimentos ao admitir alguns fatos à vista das provas produzidas pela comissão, tratando-se de uma tentativa desqualificá-los por entender que lhe são desfavoráveis.

O réu pode até se retratar, mas assim como a sua confissão deve estar em consonância com as demais provas dos autos. As confissões administrativas são recheadas de riqueza de detalhes que afastam qualquer alegação de que foi criação mental. Não é preciso muito esforço para verificar que a sua versão em juízo é inverossímil ante a farta prova documental e oral produzida, além de se tratar uma tentativa desesperada de se esquivar de qualquer responsabilidade.

Assim, se não havia necessidade de defensor e não houve coação, não há qualquer irregularidade na sua utilização.

Independentemente desta questão, existem farta prova documental corroborada pela prova oral que confirmam a prática do ato ímprobo, de modo que a sua confissão perde qualquer relevância.

Analisando as provas documentais constantes nos apensos II a VI, é induvidoso que: 1) o réu liberava os valores do PIS sem que tivesse comprovado o motivo saque e pior, em algumas hipóteses, os recursos eram liberados com a intermediação de terceiros que cobravam uma propina; 2) aceitava que os intermediários retirassem da agência envelopes SSQ para serem assinados pessoalmente pelos beneficiários e depois retornavam com a documentação.

Edilberto Melo Lima (empregado da CEF – f. 61/62 do apenso II) 10 – o Senhor deseja declarar algo mais a esta comissão R – Além das duas pessoas já mencionadas, existe um rapaz, que não seria informar o nome, que costuma ser atendido por XXX, e que cheguei a atender, uma vez para saque de FGTS, porém não finalizei o atendido porque a documentação estava incompleta e era de terceiro Marcelo Machado (empregado da CEF – f. 67/68 do apenso II) “5 – O senhor sabe informar se o empregado XXX autorizava a liberação sem a presença do trabalhador, ou seja, se aceitava documentação trazida por terceiros? R – Liberações do PIS. Tenho conhecimento de liberações de resíduos de FGTS e inativos e planos econômicos efetuadas por Maurício através de terceiros, incluindo dois senhores conhecidos como Orlando e Marcos

6 Depoimento colhido em audiência no dia 01/12/2010, gravado em mídia (f. 161 dos autos). 7 Idem.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XIII

Vinicius, além de outro ligado ao Sindicato dos Petroleiros de quem não me recordo o nome. (...) 8 – O senhor deseja declarar algo mais a esta comissão? R – No final do expediente eu costumava fazer a separação do movimento de PIS e de FGTS, recolhendo nas meses dos colegas, para arquivo e envio à RETPV, e observava que nunca existiam documentos de PIS na carteira de Maurício. Outro fato, é que eu sempre achei que Maurício se arriscava muito efetuando liberações de valores altos através de terceiros, esclarecendo que o terceiro levava a documentação para ser assinada pelos titulares.

Jackson Bispo informou que não era aposentado, somente conseguiu liberar os recursos acompanhado de terceiro (Walter) e reconheceu XXX como a pessoa que o atendeu na CEF.

Jackson Bispo (f. 74/75 do apenso II) “2 – Como foi feito esse saque? R – Eu fui na Caixa do Siqueira para saber se tinha direito ao PIS. A moça olhou e disse que eu tinha uns mil e pouco. Um rapaz se apresentou e disse que tinha colega na agência do centro que podia tirar esse dinheiro para mim. (...) Combinei lhe encontrar no outro dia em frente à agência Fausto Cardoso. Chegando lá, ele estava me aguardando na porta e chamou um outro rapaz que entrou comigo na agência até o setor de FGT/PIS. Um funcionário moreno se dirigiu a este rapaz dizendo: – Walter lhe atendo já. Quando chegou a minha vez de ser atendido, o Walter mandou que eu sentasse na frente do atendente, que me pediu a Identidade e a CTPS, me devolvendo em seguida. Em poucos minutos fui encaminhado ao caixa para receber o dinheiro, acompanhado pelo tal Walter. Chegando lá recebi mais de mil reais, mas só fiquei com oitocentos, entregando o restante ao próprio Walter que me aguardava mesmo ambiente de atendimento do caixa. (...) (...) 5 – O senhor já está aposentado ou é inválido? R – Não. (...) 7 – Apontamos para o empregado José Maurício que se encontra no setor de abertura de contas dessa agência nesse momento e lhe perguntamos se tinha sido ele o empregado que o atendera na recepção dos documentos para o saque, ao que ele respondeu: R – Sim.

José Ailton de Jesus informou que não era aposentado em inválido, somente conseguiu liberar os recursos acompanhado de terceiro e reconheceu José Maurício como a pessoa que o atendeu na CEF.

José Ailton de Jesus (f. 76/77 do apenso II) “ 2 – Como foi feito o saque? R – Eu tenho um cunhado que conhecia um ‘cara’ que conseguia tirar o PIS. Então eu marquei para encontrar o rapaz na loja que meu cunhado trabalha na Rua de Capela. Ele pegou meus documentos, anotou tudo e me devolveu na mesma hora, e viemos para a agência Fausto Cardoso para o stor de

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XIV

FGTS/PIS. Chegando lá, o rapaz que estava me acompanhando mandou eu me sentar, pegou meus documentos outra vez e ficou conversando com um funcionário moreno no balcão. Após uns dez minutos, ele pediu para eu ir ao caixa para receber dinheiro. No caixa eu recebi em torno de R$ 540,00, depois que eu recebi nós saímos juntos, entramos no banco vizinho e tive que entregar a ele R$ 200,00, pois tinha sido combinado um percentual de 40% de comissão. 3 – Apontamos para o empregado XXX que se encontra no setor de abertura de contas dessa agência nesse momento e lhe perguntamos se tinha sido ele o empregado que o atendera na recepção dos documentos para o saque, ao que ele respondeu: R – Sim. (...) 9 – O senhor deseja declarar algo mais a esta comissão? R – Assim que eu fiz o pagamento, ele me disse ‘rapaz aqui todo mundo come um pouqinho’. Adélia Maria Correia de Souza (empregada da CEF – f. 78/79 do apenso II) “8 – A senhora conheceu dois senhores, chamados Orlando e Marcos Vinicius, que vêm sempre ao setor de PIS/FGTS, e são atendidos pelo empregado XXX. R – Sim. Sendo que Orlando eu acho que trabalhava com compra e venda de carros, já Marcos Vinicius acho que é um se recusou a ser atendido por mim, dizendo que estava esperando por Maurício. Existiam mais duas pessoas, uma chamada Walter e outro não sei o nome. Ultimamente não tenho visto o Walter, que costumava vir diariamente à agência. Reginaldo Santos – f. 80/81 do apenso II “1 – o Senhor confirma ter efetuado saque de quotas de PIS em 19/01/2008? R – Sim. (...) 3 – Como foi feito esse saque? R – Um amigo me apresentou uma pessoa que mora na Rua Gumersindo Bessa, próximo à garagem da Fátima, que disse que eu ‘podia’ retirar o PIS e também daria entrada em minha aposentadoria. Nós viemos até a Caixa, eu fiquei esperando e ele foi conversar com alguém da Caixa, voltando em seguida e depois fomos juntos falar com o empregado da Caixa, que me pediu minha Identidade e Cartão do PIS. Depois que falei com essa pessoa, fui até o caixa receber o dinheiro. A pessoa que veio comigo me acompanhou até perto do caixa. Depois nós saímos e eu entreguei o dinheiro todo a ele, e ele me deu algo em torno de R$ 800,00 a R$ 700,00, quando o valor que eu recebi era superior a R$ 1500,00. 4 – O senhor já está aposentado ou inválido? R – Não”.

No tocante a conduta do réu, o Parquet Federal aduziu que o modus operandi do réu consistiu em inserir “eventos de saque no sistema SIPAB − Sistema de Pagamento do PIS, sem documentação comprobatória dos referidos eventos, em especial a aposentadoria, aposentadoria por invalidez, e benefício assistencial ao idoso deficiente” (f. 5), aceitar certidões do INSS com indícios de falsificação, sendo que, em 82 (oitenta e dois) casos a

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XV

liberação ocorreu sem “mesmo o preenchimento dos envelopes de Solicitação de Saque de Quotas − SSQ” (f. 5).

No caso sob exame, o réu era um dos empregados da CEF responsáveis pelo atendimento dos solicitantes de saque do PIS na agência Augusto Cardoso em Aracaju/SE e todas as liberações constantes no apenso II a VI ocorreram com a senha de usuário do réu (C016772).

Examino cada tipo de conduta em separado.

1) diversos requerimentos SSQ instruídos somente com os documentos pessoais dos beneficiários

Constou no relatório da CEF: “7.1.4.4.1. Também, 103 liberações não possuíam certidão do INSS para os eventos 51 − invalidez permanente ou reforma militar (66 ocorrências); 97 – Benefício assistencial ao idoso ou ao deficiente (27 ocorrências), 60 – Aposentadoria (08 ocorrências) e 78 – Morte do trabalhador (02 ocorrências), conforme demonstrado na documentação constantes nos volumes integrantes deste processo e declaração do empregado arrolado (vide fls. 1030 e 1031) (...) 7.1.4.4.3. Em 07 liberações, não existia documentação comprobatória de saque, apenas o envelope da SSQ vazio e, em alguns, constavam somente documentos de identificação dos sacadores”.

Em juízo, o réu disse que somente liberou diretamente para os beneficiários a vista dos documentos apresentados. Ocorreram diversos saques sem que estivesse comprovado o motivo legal do saque, especialmente para fins de aposentadoria (60), morte (78), invalidez permanente (51). Com efeito, diversos requerimentos SSQ estavam instruídos tão-somente com os documentos pessoais dos beneficiários, mas faltava o principal, ou seja, o documento comprobatório do saque (certidão do INSS).

Ora, a dispensa de tais documentos somente ocorreria se a administração tivesse a incumbência de verificar no sistema informatizado o motivo do levantamento, contudo o próprio réu admitia que os sistemas da CEF não eram interligados com o do INSS. Assim, o réu não estava autorizado a dispensar tais documentos. Ressalte-se que, ouvidos alguns beneficiários, confirmaram que não preenchiam os requisitos do saque.

Confira a tabela abaixo:

2003:

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$

Evento 8 Irregularidade °

8 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XVI

1 Elenice Aragão Ribeiro 12069521577 30.04.2003 2.459,02 78 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 38)

2 Lucia Maria dos Santos

Barros 12224775379 09.10.2003 911,23 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 49)

3 Virgílio Rosa 10897398170 24.10.2003 554,69 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 41)

4 Alberto Tenório da Silva 10646530450 05.12.2003 1.518,35 60 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 04 – f. 51)

5 Pedro dos Santos 12036723758 12.12.2003 456,63 92 Ausência de documentos

comprobatórios (AP I, Vol. 04 – f. 60)

2004

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$ Evento

9 Irregularidade °

1 Ubajara Ribeiro dos Santos 10322316178 28.01.2004 741,63 92 Ausência de documentos

comprobatórios (AP I, Vol. 04 – f. 69)

2005:

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$

Evento 10 Irregularidade °

1 Roberto Rocha Madureira 10550121649 04.02.2005 925,31 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 89)

2 Arnaldo Simplício de

Barros 10602899629 24.03.2005 1.602,95 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 95)

3 Marilene Martins

Vasconcelos Madureira 12008389555 30.03.2005 470,78 97 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 105)

4 Carisvaldo V.de Rezende 10238158397 12.04.2005 1.382,44 92 Ausência de documentos

comprobatórios (AP I, Vol. 04 – f. 114)

5 Roberto Machado da

Paixão 10849720858 20.05.2005 1.332,49 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 146)

6 José Sérgio de Souza Baeta 10271979329 07.06.2005 1.879,07 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 168)

7 Renato José Videro Bahia 10563267752 15.06.2005 2.550,12 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 04 – f. 174)

8 Antônio Wamberg

Pedreira Rocha 10440465777 23.06.2005 850,79 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 04 – f. 191)

9 Edson Iglesias 10439102119 01.08.2005 1.824,50 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 04 – f. 206)

10 Rodolfo Cardoso Chagas 10226273951 25.08.2005 1.484,13 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 04 – f. 226)

2006:

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$ Evento

11 Irregularidade °

1 Edvaldo Santos 10677225331 19.01.2006 5.439,43 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 02 – f. 17)

9 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque 10 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque 11 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XVII

2 Antônio Alves de Santana 10089124941 02.02.2006 431,02 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 02 – f. 24)

3 José Carlos Santos 10096171577 15.02.2006 1.021,54 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 02 – f. 31)

4 Jailton Barbosa Santos 12107848477 17.02.2006 922,73 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 02 – f. 35)

5 Valdir Andrade Santos 10104892576 20.02.2006 603,71 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 02 – f. 38)

6 Pedro Alves Feitosa 12071239360 22.02.2006 673,71 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 02 – f. 49)

7 Edilson Andrade Santos 10085808889 24.02.2006 828,28 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 02 – f. 54)

8 Antônio Oliveira Brandão 10639656347 02.03.2006 2.210,69 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 02 – f. 61)

9 Florisvaldo Tavares 10773418552 03.03.2006 911,23 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 02 – f. 65)

10 Sizenando dos Santos 10706281281 10.03.2006 1.001,27 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 02 – f. 72)

11 Jorge Cavalcante Lessa 10744911521 16.03.2006 654,60 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 02 – f. 116)

12 Eleneuza Andrade Santos 12071219726 21.03.2006 468,82 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 02 – f. 121)

13 Miriam Andrade do

Nascimento 10694127482 24.03.2006 1.068,18 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 132)

14 Laurito Santos 10679076090 04.04.2006 3.422,65 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 140)

15 José Pereira dos Santos 276798 13.04.2006 938,89 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– F. 147)

16 Maria Luciene Lima 10730461693 13.04.2006 718,14 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 152)

17 Eduardo Batista dos

Santos 377667 20.04.2006 1.378,28 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 160)

18 José de Jesus Nunes 10873363539 26.04.2006 393,42 60 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 162)

19 Irenilson Florêncio da Silva 10770689997 02.05.2006 856,99 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 167)

20 José Raimundo Fontes 3966 02.05.2006 618,79 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 172)

21 João Soares 071212055 16.05.2006 769,32 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 179)

22 Tito Paulo Santos

Sobrinho 10726813777 16.05.2006 720,13 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 184)

23 José Mario Barbosa 12157415736 17.05.2006 631,62 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 191)

24 Walter Santos Sobral 12071239530 18.05.2006 941,00 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 201)

25 Eli Martins Albuquerque 10614081995 19.05.2006 962,19 97 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 207)

26 Mario Berlaminho dos

Santos 10264093647 19.05.2006 1.718,20 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 212)

27 Clemilton Teixeira

Cerqueira 14856228 25.05.2006 2.538,90 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 217)

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XVIII

28 José Muniz de Oliveira 12015614275 26.05.2006 803,13 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 222)

29 José Nunes Santos 10611971701 26.05.2006 908,17 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 228)

30 Valdemar Isidoro dos

Santos 661898 30.05.2006 1.115,36 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 233)

31 José Edson Matias dos

Santos 12071145722 31.05.2006 829,40 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 240)

32 José Candido dos Santos 10690978062 01.06.2006 568,93 97 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 246)

33 José Ramos dos Reis 10828044918 01.06.2006 802,04 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 248)

34 José dos Santos 10780692982 06.06.2006 725,49 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 256)

35 Ronaldo dos Santos 12296778242 08.06.2006 238,09 78 Falta certidão de óbito (AP. I,

Vol. 02 – p. 15)

36 Samuel Sobral dos Santos 10096125117 08.06.2006 822,15 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 259)

37 Antônio Ferreira da Silva 12042736858 09.06.2006 929,93 97 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 264)

38 Cícero Rodrigues dos

Santos 12107904598 09.06.2006 1.271,64 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 267)

39 Walter Santos da Paixão 10716623835 13.06.2006 1.473,68 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02– f. 272)

40 Antônio dos Santos 12071159456 22.06.2006 646,80 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02– f. 281)

41 José Luciano 10683840743 16.06.2006 670,25 97 Envelope SSQ sem

documentos (AP. I, Vol. 04 - f. 32)

42 Fernando Tavares Faustino 1208921916 23.06.2006 999,60 60 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02 – f. 290)

43 Augusto Bezerra de Souza 10685571812 28.06.2006 3.606,42 97 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02 – f. 293)

44 Augusto Bezerra de Souza 10685571812 28.06.2006 2.441,26 97 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02 – f. 297)

45 Galdino dos Santos 10785897426 29.06.2006 596,01 97 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02 – f. 300)

46 Tarciso Saturnino de

Queiroz 10026328221 29.06.2006 1.887,95 60 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 02 – f. 305)

47 José Rocha dos Santos 10873383025 30.06.2006 880,07 97 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02 – f. 317)

48 Ediginaldo José de Santana 10629714832 11.07.2006 1.421,57 51 Falta certidão do INSS (AP. I, Vol. 02 – f. 323)

49 Valdomiro dos Santos 10226350301 11.07.2006 1.490,23 60 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 06)

50 Carlos Alberto Araujo

Souza 10080771200 12.07.2006 1.313,16 97 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 11)

51 Carlos Alberto de Jesus 10256046635 13.07.2006 1.145,71 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 15)

52 José Carlos dos Santos 10690974644 13.07.2006 1.598,48 60 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 21)

53 João Bispo dos Santos

Filho 10264534473 14.07.2006 2.034,49 97 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 23)

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XIX

54 Maria Olivia Santos 10799555395 14.07.2006 1.192,41 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 27)

55 José Fontes Santana 10828010533 19.07.2006 1.076,84 97 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 30)

56 José Silvano dos Santos 10603816131 25.07.2006 1.437,57 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 36)

57 José Hamilton da Paixão 10702180952 28.07.2006 1.196,92 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 44)

58 José Anderson Cavalcante

dos Santos (?) (PIS ilegível) 01.08.2006 1.141,88 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 49)

59 José Alves Sobrinho 10424918126 03.08.2006 1.039,39 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 56)

60 Hipólito dos Santos 10873318371 04.08.2006 754,65 97 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 58)

61 Cícero Araújo dos Santos 10849770774 07.08.2006 806,15 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 62)

62 José Carlos Barros 10395388543 07.08.2006 1.326,05 97 Envelope SSQ sem documento

(AP I, Vol. 04 – f. 35)

63 José Carlos da Silva Santos 10265333153 08.08.2006 473,83 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 67)

64 Cícero Rozendo dos

Santos 12111120296 09.08.2006 1.344,66 97 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 75)

65 Francisco Assis Fontes

Santos 10857479218 09.08.2006 1.543,08 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 79)

66 Luiz Rene Feitosa 10430703160 10.08.2006 1.433,07 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 84)

67 João Bosco Filicio 12107701549 14.08.2006 983,07 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 91)

68 André Ferreira Coelho 10433119192 15.08.2006 3.363,65 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 94)

69 Luiz Carlos Fagundes

Costa 10617684232 15.08.2006 2.430,66 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 101)

70 Jaime Augusto Alves

Santos 10080587191 17.08.2006 2.365,30 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 106)

71 Claudionor Nunes Lima 12006266251 18.08.2006 932,65 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f.108)

72 José dos Santos Sobrinho 10828019719 18.08.2006 804,79 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 114)

73 Lourival Gomes da Silva 12169618629 21.08.2006 753,89 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 119)

74 José dos Santos 10515264684 22.08.2006 511,05 97 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 122)

75 Eduardo dos Santos 10425001641 23.08.2006 843,93 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 126)

76 Jailton Batista dos Santos 10726889420 24.08.2006 800,63 97 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 136)

77 José Francisco Muniz 10625241158 24.08.2006 684,20 97 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 139)

78 Pedro Jesus Bastos 12089760186 24.08.2006 605,55 51 Falta certidão do INSS (AP. I,

Vol. 03, f. 143).

79 José Gedalvo Assunção

Bento 10801214537 25.08.2006 1.779,78 97 Falta certidão do INSS(AP I,

Vol. 03 – f. 147)

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XX

80 Pedro Guedes Santos 10439281897 29.08.2006 2.172,76 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 156)

81 José Alcântara dos Santos 10818829335 16.10.2006 587,25 60 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 158)

2007

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$

Evento 12 Irregularidade °

1 José Beningno Teixeira de

Souza 10828046325 02.01.2007 1.623,93 51 Falta certidão de óbito (AP I,

Vol. 03 – f. 164)

2 Eronildes Bispo Romao 10226279461 03.01.2007 1.984,76 51 Falta certidão do INSS (AP I,

Vol. 03 – f. 169)

3 Adailton Dantas 10651878729 05.01.2007 1.873,83 51 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 173)

4 Lenaldo Santos 10704709039 08.01.2007 1.336,87 97 Falta certidão do INSS (AP I, Vol. 03 – f. 177)

2) liberação de valores sem sequer preencher o envelope SSQ

Constou no relatório da CEF: 7.1.4.4 Das 219 liberações irregulares, 82 ocorreram sem o preenchimento sequer dos envelopes SSQ inexistindo quaisquer tipos de documentos que suportassem os saques efetuados, conforme constatado e relacionado pela Comissão (vide fls. 255, 778, 808 e 828) e conforme declarado pelo próprio empregado arrolado às fls. 1031.

Quanto a não localização dos envelopes SSQ, este juízo até daria o benefício da dúvida no caso de não encontrar um ou outro documento, contudo uma quantidade de 82 (oitenta e duas) solicitações autorizadas por uma pessoa que, deliberadamente, liberou sem comprovar o motivo do saque ou sem qualquer documento (SSQ vazio) afasta qualquer possibilidade de desorganização. Ressalte-se que a CEF encontrou diversos SSQ (f. 39/40 do AP. I, Vol. 05) e requerimentos datados de 2003 a 2006.

2003 13

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$

Evento 14 Irregularidade °

1 10776530035 10.01.2003 784,13 60 Envelope SSQ não localizado

2 12366415372 02.04.2003 57,22 78 Envelope SSQ não localizado

3 10224159817 06.06.2003 966,39 60 Envelope SSQ não localizado

4 10291604525 17.07.2006 417,36 78 Envelope SSQ não localizado

5 10378586758 18.07.2003 402,08 51 Envelope SSQ não localizado

12 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque 13 Nas tabelas constantes nos apensos, não foi informado o nome de todos os beneficiários. 14 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXI

6 10226378079 24.07.2003 109,53 60 Envelope SSQ não localizado

7 10243825010 25.07.2003 1.616,35 60 Envelope SSQ não localizado

8 10845820769 28.07.2003 97,13 78 Envelope SSQ não localizado

9 10642389052 05.08.2003 1.412,41 92 Envelope SSQ não localizado

10 12356955080 11.08.2003 327,39 78 Envelope SSQ não localizado

11 10642826614 26.08.2003 389,36 78 Envelope SSQ não localizado

12 10224352897 03.10.2003 324,03 60 Envelope SSQ não localizado

13 12003196600 23.10.2003 172,03 51 Envelope SSQ não localizado

14 10259458349 07.11.2003 1.061,80 92 Envelope SSQ não localizado

15 10690980040 10.12.2003 867,06 60 Envelope SSQ não localizado

2004

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$ Evento

15 Irregularidade °

1 10624906628 07.01.2004 503,36 60 Envelope SSQ não localizado

2 12036676695 07.01.2004 599,40 60 Envelope SSQ não localizado

3 12071226994 07.01.2004 322,83 78 Envelope SSQ não localizado

4 10702205203 16.01.2004 669,34 60 Envelope SSQ não localizado

5 10224121178 20.01.2004 3.088,06 60 Envelope SSQ não localizado

6 10683691489 23.01.2004 240,83 51 Envelope SSQ não localizado

7 10049342530 26.01.2004 2.017,26 60 Envelope SSQ não localizado

8 10633260670 27.01.2004 53,85 51 Envelope SSQ não localizado

9 12008371680 03.02.2004 646,63 92 Envelope SSQ não localizado

10 10714973774 04.02.2004 627,55 78 Envelope SSQ não localizado

11 10226274931 06.02.2004 3.550,08 60 Envelope SSQ não localizado

12 12049337215 11.02.2004 281,71 51 Envelope SSQ não localizado

13 10226343380 12.02.2004 415,56 60 Envelope SSQ não localizado

14 12070739270 12.02.2004 128,81 51 Envelope SSQ não localizado

15 10786955799 19.02.2004 501,16 97 Envelope SSQ não localizado

16 12036706667 02.03.2004 627,93 51 Envelope SSQ não localizado

17 10084514024 04.03.2004 225,22 78 Envelope SSQ não localizado

15 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXII

18 12089821142 08.03.2004 420,29 78 Envelope SSQ não localizado

19 10780748201 09.03.2004 456,53 78 Envelope SSQ não localizado

20 10625184545 10.03.2004 726,11 92 Envelope SSQ não localizado

21 10261531600 12.03.2004 4.186,84 60 Envelope SSQ não localizado

22 10253825196 16.03.2004 7,07 60 Envelope SSQ não localizado

23 10237371380 18.03.2004 621,70 78 Envelope SSQ não localizado

24 12071135158 18.03.2004 536,74 97 Envelope SSQ não localizado

25 10828039086 23.03.2004 393,71 60 Envelope SSQ não localizado

25 12271435341 30.03.2004 205,01 51 Envelope SSQ não localizado

26 Roberto José de Oliveira 10562040045 02.04.2004 607,97 51 Envelope SSQ não localizado

(AP I, Vol. 04 – f. 71)

27 12224797429 15.10.2004 98,13 51 Envelope SSQ não localizado

28 10226367972 18.10.2004 967,47 60 Envelope SSQ não localizado

29 10265149840 21.20.2004 552,57 97 Envelope SSQ não localizado

30 10603848084 05.11.2004 1.333,61 78 Envelope SSQ não localizado

31 10744934858 26.11.2004 1.363,07 78 Envelope SSQ não localizado

2005

N° Nome N.° do PIS Data da liberação

Valor em R$ Evento 16

Irregularidade °

1 10751595982 23.08.2005 1.788,42 51 Envelope SSQ não localizado − consta depoimento

2 10381765471 13.09.2005 456,47 60 Envelope SSQ não localizado

3 10435955761 21.09.2005 1.096,06 51 Envelope SSQ não localizado − consta depoimento

2006

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$ Evento

17 Irregularidade °

1 Eribaldo Meneses de

Oliveira 10243846484 02.01.2006 670,78 60 Envelope SSQ não localizado

2 Ancelmo Feitoza Rocha 10867584340 31.01.2006 576,74 97 Envelope SSQ não localizado

3 Armando Monteiro Araujo 10706175031 13.02.2006 1.860,76 51 Envelope SSQ não localizado

4 João de Souza Sobrinho 10330109933 13.02.2006 457,15 51 Envelope SSQ não localizado

5 José Alberto de Souza 12071221305 08.03.2006 821,56 51 Envelope SSQ não localizado

16 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque 17 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXIII

6 Gilvan Nunes da Silveira 10873314597 15.03.2006 1.026,18 60 Envelope SSQ não localizado

7 Manoel Adelino dos

Santos 10849798628 22.03.2006 626,23 60 Envelope SSQ não localizado

8 João A. Santos 10242596255 18.04.2006 1.350,07 51 Envelope SSQ não localizado

9 Cláudio Cibella de Oliveira 10792800246 26.04.2006 1.150,08 51 Envelope SSQ não localizado

10 Luiz Santana 10224600610 10.05.2006 2.482,04 97 Envelope SSQ não localizado

11 José dos Santos Leite 10238177057 16.05.2006 926,23 97 Envelope SSQ não localizado

12 José Waldemar Farias de

Almeida 10702165567 07.06.2006 1.567,45 51 Envelope SSQ não localizado

13 Cícero dos Santos 16.06.2006 583,68 51 Envelope SSQ não localizado

14 Zolaque Caetano Souza 10780705979 23.06.2006 1.065,97 97 Envelope SSQ não localizado

15 Givaldo dos Santos 10727836533 27.06.2006 781,91 97 Envelope SSQ não localizado

16 Leonildo Bastos da Silva 10321993982 29.06.2006 2.914,05 60 Envelope SSQ não localizado

17 Francisco Santos Silva 12318586022 19.07.2006 127,66 97 Envelope SSQ não localizado

18 Reginaldo Antônio da Silva 10685794811 21.07.2006 1.958,76 97 Envelope SSQ não localizado

19 João Moreira de Souza 10242744661 24.07.2006 3.702,13 70 Envelope SSQ não localizado

20 José Carlos Barros 10395388543 07.08.2006 1.326,05 97 Envelope SSQ sem documento

21 José Nascimento da Silva 10563815695 21.08.2006 720,46 78 Envelope SSQ não localizado

22 Jesse Alves dos Santos 10885211828 28.08.2006 845,02 51 Envelope SSQ não localizado

23 José Fernandes de Assis 10746958703 06.09.2006 1.122,62 97 Envelope SSQ não localizado

24 Gilson dos Santos Almeida 12060464651 20.10.2006 2.084,51 51 Envelope SSQ não localizado

25 Valmir Soares dos Santos 10665822720 20.10.2006 2.193,73 51 Envelope SSQ não localizado

26 Antônio Luiz da Silva 10253437021 17.11.2006 1.010,45 51 Envelope SSQ não localizado

27 José Soares de Lima 10780711413 23.11.2006 1.232,20 51 Envelope SSQ não localizado

28 Neilon Conceição dos

Santos 10706174744 28.11.2006 1.065,01 51 Envelope SSQ não localizado

29 Susete Alves Rocha 10679074160 07.12.2006 844,15 51 Envelope SSQ não localizado

30 Eronildes Silva Santos 10493226017 18.12.2006 2.404,34 92 Envelope SSQ não localizado (AP.I, Vol. 03, p. 195)

31 Maria José Oliveira dos

Santos 10776531635 21.12.2006 459,48 60 Envelope SSQ não localizado

3) aceitação de certidão com indícios falsidade

Constou no relatório da CEF: 7.1.4.4.2 Em 26 liberações, constavam certidão do INSS com indícios de falsificação, que levaram a Comissão a efetuar consulta ao sítio da Previdência

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXIV

Social (www.previdenciasocial.gov.br), onde se constatou que os benefícios não existiam.

A comissão concluiu que a certidão do INSS possuía indícios de falsificação, contudo não esclareceu quais eram os vícios.

A função do réu era recepcionar a documentação, verificar se estava em ordem e autorizar o pagamento. Não havia obrigação de consultar o sistema do INSS, uma vez que os sistemas da CEF e do INSS não eram interligados. Tratando-se de documento público, o réu estava obrigado a aceitá-lo, somente podendo recusá-lo se apresentasse indícios.

É certo que as certidões eram trazidas pelos intermediários, contudo estes, ora se fizeram acompanhados dos beneficiários, ora sozinhos. Nas situações em que o beneficiário estava presente e a certidão não ostentasse uma falsificação grosseira, o réu não tinha como desconfiar que aquele documento era falso em si.

Analisando ditos documentos, não ficou esclarecido qual era o vício extrínseco no documento, inclusive o documento continha a assinatura digitalizada de um Presidente do INSS. Não descarto a existência de que tais benefícios foram fraudados, contudo o MPF não logrou demonstrar em que consistiam os indícios de falsidade e que houve um conluio entre o réu e os intermediários para que liberassem a vista de certidões falsas. Neste ponto, cabe fazer uma observação: embora os autos revelem a participação de terceiros com provável enriquecimento ilícito do réu, o MPF preferiu acusá-lo de improbidade que causou prejuízo ao erário, provavelmente porque não ficou estabelecida a relação entre o réu com os intermediários − Jackson, Walter e Marcos Vinicius − em virtude de não terem sido localizados.

Excetuam-se desta situação a liberação de valores sem a participação do beneficiário, na forma abaixo:

2004

N° Nome N.° do PIS Data da liberação Valor em R$

Evento 18 Irregularidade °

1 Marcos Melo Santos 10292317783 09.12.2004 1.797,82 51 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 74)

2 José Alves dos Santos 10238181623 20.12.2004 841,37 51 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 80)

2005

1 Reginaldo Alves Gomes 10776531643 14.04.2005 891,63 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 122)

2 Jailton Simões Ramos 10672443403 18.05.2005 3.760,49 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 131)

18 O motivo do saque pode ser verificado num extrato do saque

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXV

3 José Alfredo dos Santos 10404734615 30.05.2005 4.793,41 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 155)

4 Wilson Santos 12036706748 06.06.2005 1.1184,14 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 162)

5 Ivo Torquato dos Santos 10642868384 23.06.2005 2.339,92 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 198)

6 José da Conceição 10265305656 02.08.2005 1.223,34 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 212)

7 José de Oliveira 10680831956 12.08.2005 2.696,22 60 Certidão com indícios de

falsidade (AP I, Vol. 04 – f. 220)

2006

1 João Marques de Melo 1026536378 06.01.2006 1.335,78 60 Certidão com indícios de

falsidade − DV não confere (AP I, Vol. 03 – f. 185)

2 Reginaldo Santos 10099481100 19.01.2006 1.527,37 51 Certidão com indícios de

falsidade − DV não confere (AP I, Vol. 03 – f. 191)

3 Eronildes Santos

10718730213 17.02.2006 933,17 51

Certidão com indícios de falsidade − Benefício

inexistente (AP I, Vol. 03 – f. 199)

4 Antônio José Marinho 10619665987 27.03.2006 3.891,57 51 Certidão com indícios de

falsidade − DV não confere (AP I, Vol. 03 – f. 206)

5 José Ailton de Jesus 10849739001 22.05.2006 524,07 51 Certidão com indícios de

falsidade − NB com 11 dígitos (AP I, Vol. 03 – f. 210)

6 Manoel Messias dos Santos 10849736290 27.06.2006 920,65 60

Certidão com indícios de falsidade − Benefício

inexistente (AP I, Vol. 03 – f. 200)

7 Antônio Barbosa Silva 10386372893 10.07.2006 1.917,98 51 Certidão com indícios de

falsidade − DV não confere (AP I, Vol. 03 – f. 218)

8 Valdevino Ferreira dos Santos 10763810956 14.07.2006 2.501,69 51

Certidão com indícios de falsidade − DV não confere

(AP I, Vol. 03 – f. 235)

9 Francisco Juca de Campos 10024037378 18.07.2006 2.593,90 60 Certidão com indícios de

falsidade − NB com 11 dígitos (AP I, Vol. 03 – f. 239)

10 Jackson Bispo Pereira 10622575802 19.07.2006 1.636,07 51 Certidão com indícios de

falsidade − DV não confere (AP I, Vol. 03 – f. 244)

11 Gilazio Fernandes da Paixão 10799570912 21.07.2006 4.040,97 51

Certidão com indícios de falsidade − DV não confere

(AP I, Vol. 03 – f. 251)

12 João Luciano 10226360935 31.07.2006 2.003,93 51 Certidão com indícios de

falsidade − DV não confere (AP I, Vol. 04 – f. 09)

13 Virginia Glória do

Nascimento 12008414878 25.08.2006 734,05 51 Certidão com indícios de falsidade − DV não confere

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXVI

(AP I, Vol. 04 – f. 016)

Nota-se que a tentativa do acionado em negar a sua confissão nada acrescenta em sua defesa, pois vai de encontro a toda prova documental e testemunhal colhida nos autos, pois não há como negar que era com sua senha que os saques eram permitidos; nem se pode negar que o réu liberou saques sem os documentos obrigatórios, porque os próprios beneficiários admitem que não tinham tais documentos. Mesmo a prova testemunhal requerida pela defesa não altera o quadro desenhado nos autos.

As testemunhas de defesa se limitaram a falar da boa conduta do réu, mas todas desconheciam os fatos objeto da demanda, não contribuindo em nada para desconstituir o ato de improbidade imputado ao acionado.

O réu poderia ter arrolado como testemunhas seus colegas de trabalho, que presenciavam o cotidiano da agência e poderiam descrever o que realmente acontecia com a liberação do PIS, mas não o fez pela seguinte razão: no Processo Administrativo Disciplinar foram colhidas declarações dos colegas de agência que apontam para a veracidade das alegações do Ministério Público Federal.

Edilberto Barreto Lima, empregado da CEF registrado na Matricula nº 016316-2, da mesma agência do réu, e que também trabalhava na liberação de saques de PIS, sobre as perguntas efetuadas, assim respondeu (f. 58 do PAD):

“existe um rapaz, que não sei lembrar o nome, que costuma ser atendido por Maurício, e que cheguei a atender uma vez para saque de FGTS, porém não finalizei o atendimento porque o documento estava incompleto e era de terceiro” (grifei).

Adélia Maria Correia de Sousa, empregada da CEF com matrícula nº 039632-8, também lotada na Agência Fausto Cardoso, quando perguntada se conhecia os intermediários de nome Orlando e Marcus Vinicius, disse que (f. 79 do PAD):

“Sim. Sendo que, Orlando eu acho que trabalhava com compra e venda de carros, já Marcos Vinicius acho que é um que sempre se recusou a ser atendido por mim, dizendo sempre que estava esperando por Maurício”.

Marcelo Machado, Matrícula nº 621215-7, empregado da CEF na mesma agência do réu, quando questionado sobre a liberação de PIS a terceiros pelo acusado, respondeu (f. 67):

“Liberações de PIS não. Tenho conhecimento de liberações de resíduos de FGTS inativos e planos econômicos efetuados por Mauricio através de terceiros, incluindo dois senhores conhecidos como Orlando e Marcos Vinicius, alem de outro ligado ao Sindicato dos Petroleiros de quem não me recordo o nome.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXVII

A mesma testemunha, quando questionada sobre o recebimento de algum tipo de vantagem pelo réu na prática de irregularidades, asseverou que:

“eu presenciei negociações para vendas de produtos de fidelização na liberação de valores altos, ou seja, Mauricio liberava SSFGTS através de terceiros em troca de compra de produtos da CAIXA (grifei).

E, ao final, declara: “No final do expediente eu costumava fazer a separação do movimento do PIS e de FGTS recolhendo nas mesas dos colegas para arquivo e envio a RETPV, e observava que nunca existiam documentos de PIS na carteira de Mauricio. Outro fato é que eu sempre achei que Mauricio se arriscava muito efetuando liberação de valores altos através de terceiros, esclarecendo que o terceiro levava a documentação para ser assinada pelos titulares” (grifei).

Sendo assim, não há dúvidas quanto a ocorrência da irregularidade: está claro e provado que pessoas que não eram aposentadas, nem doentes, ou inválidas, sacaram quotas de PIS na CEF, sendo que a aprovação do saque com ou sem documentação foi feita pelo réu, conforme matrícula identificada pelos órgãos de auditoria da CEF.

As testemunhas ouvidas em Juízo na audiência do dia 26 de janeiro de 201019comprovam as liberações indevidas de saques por XXX: 1) A testemunha José Ailton de Jesus disse que era desempregado e não tinha qualquer doença nem era aposentado na época do fatos; 2) José Antônio Marinho disse que não era aposentado na época; 3) José Benigno Teixeira não era aposentado, inválido, idoso nem deficiente na época dos fatos.

Ora, se os próprios beneficiários afirmam que não preenchiam os requisitos, por obvio que não apresentaram os documentos devidos quando foram sacar o PIS. E o réu sabia disso.

Assim, estão comprovadas documentalmente todas as infrações constantes das tabelas dos itens 1 e 2 supracitadas, sendo 101 liberações de saques com ausência de certidão do INSS e outros documentos, e 80 liberações de saques sequer com envelopes SSQ. Todos estes saques indevidos, somados, perfazem um total de R$ 205.491,99.

Ressalte-se que não estão comprovados os saques autorizados com base em certidões do INSS com indícios de falsidade, uma vez que, conforme já fundamentado, não ficaram claros quais os indícios de fraude existentes nos referidos documentos.

19 Depoimentos colhidos na audiência do dia 01/12/2010, gravados em mídia colacionada aos autos na f. 161.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXVIII

Quanto ao elemento subjetivo, o dolo é mais do evidente. Com efeito, o réu trabalhava no setor do PIS desde 2003 e, como o próprio asseverou, conhecia plenamente as hipóteses de saque. O réu, deliberadamente, liberou os recursos sem que estivesse comprovada a situação ensejadora dos saques. Com efeito, em diversos envelopes, consta os documentos pessoais sem que o motivo estivesse comprovado. Por sua vez, não há qualquer amparo em liberar antes do evento ensejador, uma vez que somente adquiririam o levantamento a partir de então e não antes.

Por sua vez, embora os saldos das contas vinculadas do PIS até 04.10.1988 pertençam aos segurados, o empregado da CEF somente possuía autorização para liberar os valores depositados aos respectivos segurados, desde que estes preenchessem os requisitos previstos em Lei e nos normativos da CEF. Se o empregado sabendo que a pessoa não preenche os requisitos e mesmo assim libera os recursos, causa prejuízo ao erário, uma vez que tais recursos se encontram indisponíveis aos segurados em razão de estarem vinculados a uma finalidade, qual seja, pagamento de abono anual e seguro-desemprego.

Assim, a conduta do réu se enquadra na modalidade de ato de improbidade causador de prejuízo ao erário ao permitir que terceiro − participante do PIS − obtivesse vantagem indevida, nos termos do art. 10, I da Lei 8.429/92

Lei nº 8.429/92, Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...) I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

O ato doloso praticado pelo réu enquadra-se, sem dúvidas, nas condutas previstas no artigo 10º. Vale ressaltar que, neste caso, fica excluída a aplicação do art. 11 da Lei de Improbidade, já que este artigo é considerado um “soldado de reserva”, conforme afirmava Nelson Hungria em relação a outros diplomas. O artigo 11 da lei de Improbidade somente será aplicado quando a conduta ilegal do agente público não se enquadrar nas duas outras categorias de improbidade (art. 9º e 10), uma vez que nelas sempre haverá alguma ofensa aos princípios administrativos. Sobre o tema, a doutrina de Carlos Frederico Brito dos Santos é elucidativa:

“A importância fundamental da modalidade de atos de improbidade administrativa esculpida no art. 11 (...) está no fato de ser a ‘malha fina’ do sistema, ou seja, aquela capaz de capturar os atos ilícitos que escapam das redes lançadas pelas modalidades mais graves dos artigos 9º e 10º, através da sua aplicação subsidiária”. 20

20 (Improbidade Administrativa – Reflexões sobre a Lei nº 8.429/92, Editora Forense, 2002, pag. 460.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXIX

Deste modo, deve ser excluída a aplicação do artigo 11º ao caso, devendo o réu responder pelas penas aplicáveis apenas ao artigo 10º. Tais penalidades encontram-se previstas no o art. 12, II, da lei 8.429/92. Considerando que as condutas foram reiteradas por diversos anos, impõe-se a aplicação cumulativa das sanções.

Quanto à dosimetria, cumpre examinar se é possível a decretar perda do cargo mesmo após a demissão do empregado/servidor.

Em princípio, a demissão por decisão administrativa conduziria na ausência de interesse de agir.

É sabido que a Administração direta ou indireta pode demitir administrativamente seus empregados/servidores, contudo este ato é passível de revisão do Poder Judiciário. Conforme admitido pelo réu, o mesmo está questionando a sua demissão em outro processo.

A circunstância de o réu ter sido demitido sem justa causa não constitui impedimento para a decretação do cargo.

Mutatis mutantis, aplica-se o entendimento abaixo de que a aplicação do ressarcimento ao erário não afasta a possibilidade de condenação no âmbito da ação de improbidade:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL–AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – CONDENAÇÃO AO RESSARCIMENTO DO DANO – EXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL PROVENIENTE DE DECISÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS-CO-EXISTÊNCIA DOS TÍTULOS EXECUTIVOS – POSSIBILIDADE – NÃO-OCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM. 1. O fato de existir um título executivo extrajudicial, decorrente de condenação proferida pelo Tribunal de Contas da União, não impede que os legitimados ingressem com ação de improbidade administrativa requerendo a condenação da recorrida nas penas constantes no art. 12, II da Lei n. 8429/92, inclusive a de ressarcimento integral do prejuízo. 2. A formação do título executivo judicial, em razão da restrição às matérias de defesa que poderão ser alegadas na fase executória, poderá se mostrar mais útil ao credor e mais benéfica ao devedor que, durante o processo de conhecimento, terá maiores oportunidades para se defender. 3. Ademais, não se há falar em bis in idem. A proibição da dupla penalização se restringe ao abalo patrimonial que o executado poderá sofrer. O princípio não pode ser interpretado de maneira ampla, de modo a impedir a formação de um título executivo judicial, em razão do simples fato de já existir um outro título de natureza extrajudicial. 4. Na mesma linha de raciocínio, qual seja, a de que o bis in idem se restringe apenas ao pagamento da dívida, e não à possibilidade de coexistirem mais de um título executivo relativo ao mesmo débito, encontra-se a súmula 27 desta Corte Superior.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXX

Recurso especial provido.21

Com efeito, existe o risco de anulada a decisão administrativa por qualquer motivo, o réu seja reintegrado aos quadros da CEF, mesmo sendo condenado por ato de improbidade. A fim de evitar esta contradição − reintegração do réu condenado por improbidade − impõe-se a decretação do cargo/emprego.

E mais: caso se reconhecesse a ausência de interesse de agir, seria necessário o autor reingressar com uma nova ação civil pública para alcançar esta finalidade − perda do cargo −, mesmo havendo decisão transitada em julgado. Neste diapasão, carrear-se-ia para o novo processo uma séria de inconvenientes como a questão da coisa julgada e também da prescrição na hipótese da decisão judicial anulatória da demissão transitasse muito tempo do prazo prescricional da ação de improbidade. Além disso, a necessidade de nova ação seria contrário ao princípio da economia processual.

3. DISPOSITIVO

Diante do exposto, julgo procedente o pedido com resolução de mérito (art. 269, I do CPC) para condenar o réu XXX pela prática do ato de improbidade que causou prejuízo ao erário (art. 10, I da Lei 8.429/92), aplicando-lhe as seguintes sanções:

1) ressarcimento integral do dano no valor de R$ 205.491,99.

2) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de oito anos,

3) pagamento de multa civil no valor de duas vezes do dano causado, ou seja, R$ 410.983,98.

4) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

5) fica impedido de retornar ao emprego em caso de anulação da decisão administrativa que lhe aplicou a pena de demissão.

Sem condenação na custas por ser beneficiário da Justiça Gratuita.

No tocante aos honorários advocatícios, não é o caso de condenação em favor do Ministério Público, pois: 1) estes se destinam a remunerar o advogado, dispondo o art. 23 da Lei 8.906/94 [Estatuto da OAB] que “os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado [...]”; 2) o art. 128, § 5º, II, da Carta Magna, veda expressamente a percepção de honorários pelos membros

21 STJ, REsp 1135858/TO, 2ªa Turma, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, julgado em 22/09/2009, DJe 05/10/2009.

Processo nº 0006684-58.2009.4.05.8500

XXXI

do Ministério Público, sendo a interposição de ação civil pública função institucional do “Parquet”; 3) por simetria de tratamento, na hipótese de quando o autor da ação civil pública é vencido, não se fala em honorários, nos termos do precedente abaixo:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – MINISTÉRIO PÚBLICO AUTOR E VENCEDOR. 1. Na ação civil pública movida pelo Ministério Público, a questão da verba honorária foge inteiramente das regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da Lei 7.347/85. 2. Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível na hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet. 3. Dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do ordenamento, não pode o parquet beneficiar-se de honorários, quando for vencedor na ação civil pública. Precedentes. 4. Embargos de divergência providos. 22

Sentença não sujeita ao reexame necessário.

Após o trânsito em julgado:

1) oficiar ao TRE/SE dando ciência da presente sentença para que se proceda à suspensão dos direitos políticos dos réus e perda da função pública de XXX;

2) alimentar o Cadastro Nacional de Condenados por ato de Improbidade Administrativa, nos termos da Resolução n. 44, de 20 de novembro de 2007.

Publicar. Registrar. Intimar.

Aracaju, 05 de agosto de 2011.

Fábio Cordeiro de Lima Juiz Federal Substituto da 1ª vara/SE

22 STJ, EREsp 895530/PR, 1ª Seção, Rel. Min. ELIANA CALMON, julgado em 26/08/2009, DJe 18/12/2009