cidade de deus e do diabo luiz eduardo soares
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7/25/2019 Cidade de Deus e Do Diabo Luiz Eduardo Soares
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Cidade de Deus e do Diabo
(08/07/2002)Por Luiz Eduardo Soares
O livro um painel inompar!vel em "ue se #eem$ desde os anos 70$ pe"uenas bio%ra&ias obsuras "ue
ons#ru'ram a is#ria da viol*nia no +io de ,aneiro-O oeano de #ra%dias em "ue$ o.e$nau&ra%amos$ &oi$ um dia$ o drama loalizado de al%uns meninos$ a#ropelados pela
bru#alidade e o despudor venal de poliiais pro#e%idos pela #ruul*nia da di#adura mili#ar$no on#e#o do abandono das peri&erias e &avelas por par#e do poder pblio- Depois da
poa em "ue predominavam &ur#os e roubos "uase inoen#es$ imp1sse o #r!&io de dro%as
e armas$ e o alv!rio "ue oneemos-
O &ilme$ &iel ao livro$ rela#a om sensibilidade e rueza a ompleidade umana e soial
dessa passa%em- O ompor#amen#o dos pro#a%onis#as da &ase 3rom4n#ia3 da viol*nia
urbana era uma varian#e rebelde dos di%os ul#urais "ue prevaleiam na omunidade-5o.e$ os riminosos se%uem re%ras prprias$ inspiradas nos pa#os "ue re%em as
or%aniza6es mar%inais- Os prin'pios &undamen#ais no eram "ues#ionados$ nossen#imen#os e na pr!#ia-9alia a au#oridade dos mais velos- : &am'lia era a re&er*niadeisiva- : vaidade re%alavase om um punado e#ra de ruzeiros e a namorada obi6ada-
O or%ulo e#ra'do da #rans%resso era in&erior ; ver%ona provoada pela r'#ia soial ao
desvio desober#o-
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su&iien#e para disiplinar o uso da &or6a e evi#ar a pr!#ia de rimes- Eis as bases sobre as
"uais se er%uem as #iranias armadas loais$ arbi#r!rias e beliosas$ "ue s ompe#em emrueldade om os se%men#os orrup#os das pol'ias (---)-
no !mais espa6o para a dial#ia bemmal- Ben morre e
A @alina$ "ue ensaia o papel de eri vin%ador$ aaba #ra%ado- Para vin%ar$ rendese ;
oop#a6o e reproduz a din4mia de "ue &1ra v'#ima- ermina a#in%ido por sua prpria#ra.e#ria re&le#ida no espelo> renuniou ao empre%o para vin%ar a rueldade de "ue &1ra
v'#ima$ mas #raiu o ompromisso de .amais a#in%ir inoen#es$ ondenando o &ilo de sua
v'#ima a repe#ir o seu perurso- Os des#inos espeulares ruzamse na mor#e-
9'#ima e al%oz enon#ramse e #roam de posi6o$ on#inuamen#e$ a# "ue a prpria
dis#in6o pera sen#ido$ por"ue a a%*nia mesma "ue se dissolve na reprodu6o
ineor!vel da din4mia aionada- O nio su.ei#o dessa is#ria a voraidade au#o&!%ia ediluidora (de di&eren6as) "ue a desdobra= "ue a desdobra sempre una$ id*n#ia a si$ sem
porosidade$ on#rapon#o$ on#radi6o e dial#ia> no ! sal#o liber#ador$ mudan6a de
"ualidade ou s'n#ese #rans&ormadora- O #riun&o da pol'ia ser!$ &inalmen#e$ a vi#ria de maisuma in&4mia$ "ue on#a%iar! Busap$ o narrador&o#%ra&o$ rplia inema#o%r!&ia do
narradoresri#or do livro de Paulo Lins-
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de ima%ens (---) u.o suesso pro&issional le us#ar! o sil*nio mplie$ a omisso das
&o#os mais reveladoras- Busapnarrador umpre a dolorosa #ravessia das perdas> damenina dese.ada a# a &ama$ u.o pre6o seria o riso de mor#e- :brindo e &eando o &ilme$
numa ena absolu#amen#e memor!vel$ a pomba da paz subme#ese ; briola%e da inven6o
es##ia$ essa ozina de s'mbolos e sensibilidades$ servindo ; sublima6o ul#ural "ue
subs#i#ui a an#ropo&a%ia osaldiana pelo desloamen#o ir1nio psmoderno> #rans&ormasena %alina "ue esapa ; de%ola$ deslizando #orrenialmen#e en#re mos$ &aas e balas
zumbindo desesperada &avela abaio$ driblando$ s1&re%a$ os pneus do amburo para verse
ap#urada pelo narrador$ no momen#o em "ue divide a rua e se divide$ in#ernamen#e$ en#repoliiais e bandidos$ #odos riminosos$ #odos sios desse ne%io in&ernal- Da %alina$ no
sabemos se vol#ou ; &es#a omo repas#o- A @alina no #eve ou#ra ane- Do narrador$
sabemos "ue sari&iou a verdade pela vida sem riso dandonos$ paradoalmen#e$ esse&ilme ines"ue'vel$ em "ue desvenda o "ue enobre- : paz e a liberdade vol#am ao ban"ue#e
para o sari&'io- : pol'ia vende armas e liberdade aos bandidos- as a%ora so as rian6as
"ue assumem o poder para brinar om a mor#e pe"uenas deidades perversas e
&ra%il'ssimas- : sina se%ue sem sa'da$ rua abaio$ %oela abaio$ en#re mos$ &aas e balas$zumbindo desesperada &avela abaio$ a#r!s de "u*F
?ue m!%ia &izeram os dire#ores para onver#er meninos em %randes a#ores$ no sei- Sei"ue uma obraprima omo Cidade de Deus nos d! uma li6o> olando bem de per#o$ pelo
burao da &eadura$ om o voGeurismo persis#en#e do &o#%ra&onarrador$ om a
sensibilidade ; &lor da pele dos dire#ores e do au#or do livro$ poss'vel ompreender "uea#r!s da is#ria om 5 maisulo da viol*nia e do api#alismo ruel brasileiro ! mui#as
is#rias pe"uenas$ do #amano de ada um de ns$ vividas por persona%ens "ue so mui#o
pareidos onoso ou om al%umas de nossas dimenses sub.e#ivas$ e "ue a#ualizamal%umas de nossas possibilidades de ser- O resul#ado on&uso e emaranado das suas #ramas
individuais arre%a a mesma dosa%em de umanidade de "ue #ambm ns somos apazes-
Para o bem e para o mal-