centros de interesse

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Centros ·de Interesse Estratégia utiliza multidisciplinaridade para desenvolvimento global • NORA CEcíLIA BOCACCIO CINEL Especialista em Lingüística e em Supervisão de Sistemas Educacionais. Porto Alegre/RS. Todas as teorias relacionadas ao processo ensino-aprendizagem, das mais atuais e modernas às con- sideradas muito tradicionais, são produto do trabalho de inúmeros educadores, durante muito tempo, que não deve, sob nenhum argu- mento, ser desconsiderado. O papel da teoria, por vezes, é limitado e, para alguns aspectos do fenômeno educativo,a explicação de relações nele envolvidas pode não ser suficientemente abrangen- te e clara, mesmo porque não há teoria que resista, por sua própria natureza, fins e prioridades, às mudanças sociais, filosóficas e psicológicas do ser humano que a examina, que a utiliza, que parti- cipa do mundo. As teorias pedagógicas tam- bém não são as únicas fontes pos- síveis, completas, incorrigíveis de resposta às indagações eàs dúvi- das dos professores, porém ser-' vem para explicitar, de modo sis-: temático, determinados fenôme- nos pertinentes ao ensinar-apren- der e constituem-se em objeto de permanente análise e discussão, quando postas na prática. E na ação-reflexão-ação diária do pro- fessor que se poderá chegar à su- peração dos problemas que sur- gem nas salas de aula, numa ver- dadeira aproximação entre o dis- curso e a realidade .. Isto significa, então, que o en- sino caracterizado como verbalis- ta, mecânico, mnemônico, de re- produção do conteúdo transmiti- do via professor (aula-expositiva) ou via livro-texto não se aproxi- ma do agir-refletir-agir compatí- vel com os objetivos educacionais a que geralmente nos propomos e Alimentação "O co ::::!.o coco o(j)' u> u> co ro -'0 ::::l.O 3;:t _. -s COro o u> (j) ro.()) L.. L.. +-' ,()) c o.. 8 E ro2 +-'c ::::l._ --lu> eo que visam ao desenvolvimento do indivíduo como cidadão responsá- vel e participante. A educação é um processo de socialização, isto é, de democra- tização das relações sociais, o que implica criar-se, dentro da escola e da sala de aula e fora delas, as condições necessárias à cooperação. A autonomia é condição neces- sária para a prática e a vivência da democracia e a atividade grupal significa um incentivo à integra- ção, onde as relações de recipro- cidade e de cooperação são asse- guradas pela vida social entre os alunos e entre eles e o professor. De qualquer modo, todas as teorias, de uma forma ou de outra, . têm-nos' ensinado queao 'profes- sor compete oportunizar aos alu- nos condições para aprender, criar, resolver problemas e desafios, descobrir soluções, refletir, de- sequilibrar-se e reequilibrar- se com autonomia e auto-con- trole. É deste modo que o aluno poderá observar, experimentar, comparar, estabelecer relações, analisar, justapor, compor, levan- tar hipóteses, argumentar, julgar e conceituar, sendo, portanto, ca- paz de produzir e não de, sim- plesmente, repetir. Para que isso aconteça, qual seria a metodologia mais adequa- da? Que técnica pedagógica pode ser utilizada para que sejam alcan- çados tais propósitos? REVISTA DO PROFESSOR, Porto AJe re,' 20 ", 78:,'~' 32-36;" .~ abr./"uÍl. 2004

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Page 1: Centros de Interesse

Centros ·de InteresseEstratégia utiliza multidisciplinaridade para desenvolvimento global

• NORA CEcíLIA BOCACCIO CINELEspecialista em Lingüística e em Supervisãode Sistemas Educacionais.Porto Alegre/RS.

Todas as teorias relacionadas aoprocesso ensino-aprendizagem,das mais atuais e modernas às con-sideradas muito tradicionais, sãoproduto do trabalho de inúmeroseducadores, durante muito tempo,que não deve, sob nenhum argu-mento, ser desconsiderado.

O papel da teoria, por vezes, élimitado e, para alguns aspectos dofenômeno educativo,a explicaçãode relações nele envolvidas podenão ser suficientemente abrangen-te e clara, mesmo porque não háteoria que resista, por sua próprianatureza, fins e prioridades, àsmudanças sociais, filosóficas epsicológicas do ser humano que aexamina, que a utiliza, que parti-cipa do mundo.

As teorias pedagógicas tam-bém não são as únicas fontes pos-síveis, completas, incorrigíveis deresposta às indagações eàs dúvi-das dos professores, porém ser-'vem para explicitar, de modo sis-:temático, determinados fenôme-nos pertinentes ao ensinar-apren-der e constituem-se em objeto depermanente análise e discussão,quando postas na prática. E naação-reflexão-ação diária do pro-fessor que se poderá chegar à su-peração dos problemas que sur-gem nas salas de aula, numa ver-dadeira aproximação entre o dis-curso e a realidade ..

Isto significa, então, que o en-sino caracterizado como verbalis-ta, mecânico, mnemônico, de re-produção do conteúdo transmiti-do via professor (aula-expositiva)ou via livro-texto não se aproxi-ma do agir-refletir-agir compatí-vel com os objetivos educacionaisa que geralmente nos propomos e

Alimentação

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eo

que visam ao desenvolvimento doindivíduo como cidadão responsá-vel e participante.

A educação é um processo desocialização, isto é, de democra-tização das relações sociais, oque implica criar-se, dentro daescola e da sala de aula e foradelas, as condições necessáriasà cooperação.

A autonomia é condição neces-sária para a prática e a vivência dademocracia e a atividade grupalsignifica um incentivo à integra-ção, onde as relações de recipro-cidade e de cooperação são asse-guradas pela vida social entre osalunos e entre eles e o professor.

De qualquer modo, todas asteorias, de uma forma ou de outra,

. têm-nos' ensinado queao 'profes-sor compete oportunizar aos alu-nos condições para aprender, criar,resolver problemas e desafios,descobrir soluções, refletir, de-sequilibrar-se e reequilibrar-se com autonomia e auto-con-trole. É deste modo que o alunopoderá observar, experimentar,comparar, estabelecer relações,analisar, justapor, compor, levan-tar hipóteses, argumentar, julgare conceituar, sendo, portanto, ca-paz de produzir e não de, sim-plesmente, repetir.

Para que isso aconteça, qualseria a metodologia mais adequa-da? Que técnica pedagógica podeser utilizada para que sejam alcan-çados tais propósitos?

REVISTA DO PROFESSOR, Porto AJe re,' 20 ", 78:,'~' 32-36;" .~abr./"uÍl. 2004

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Uma das vanas estratégiasque podemos utilizar para ofe-recer condições de efetivaaprendizagem aos alunos é a de-nominada Centro de Interesse.

o que é Centro de InteresseEssa estratégia foi criada pelo

médico belga Ovide (Ovídio)Decroly, conhecido pelos seusestudos sobre a psicologia in-fantil, principalmente sobre odesenvolvimento da criança e apreservação da sua liberdade. Abase psicológica desta estraté-gia reside em considerar a vidamental do indivíduo como uni-dade; portanto, os temas ou con- 'teúdos a serem estudados devemser apresentados no seu todo enão repartidos em disciplinas ouáreas do conhecimento.

Esta idéia nos remete à con-cepção de globalização do ensi-no ou ensino globalizado. Tam-bém subsidia a noção de ensinomultidisciplinar, sem, contudo,haver compartimentalização dedisciplinas.

Os temas dos chamados Cen-tros de Interesse surgiram, im-prescindivelmente, das necessida-des vitais da criança, definidas porDecroly, no início do Século XX,como:• de alimentação (alimentar-se,respirar, etc.);• de luta contra as intempéries(frio, calor, vento, umidade, etc.);• de agir, trabalhar solidaria-mente, descansar, divertir-se,desenvolver-se;• de defesa contra perigos e ini-migos vários (falta de limpeza,falta de higiene, moléstias, aci-dentes, etc.).

Modernamente, após novos.estudos por diferentes teóricos daeducação, na tentativa deencon-trar formas mais eficazes de rea-lizar a tarefa educativa, esta estra-tégia sofreu uma revisão à luz denovos conhecimentos e novas teo-rias; visando à maior adequaçãoaos princípios e às técnicas da di-dáticaoatual.

em que vivem as crianças é possí-vel pôr-se à tona todas as suas ca-pacidades e, com isso, elas pas-sam a enriquecer-se, tornar-semais hábeis e a aplicar conheci-mentos para resolver diferentessituações que lhes são propostas 'ou que, eventualmente, aparecemno seu cotidiano.

_ Segundo Amato, Centros deInteresse são agrupamentos deconteúdos e atividades educati-vas realizadas em torno de temascentrais de grande significaçãopara a criança.

Para a autora, o critério para aseleção dos Centros deixa de serexclusivamente identificado comas necessidades vitais e desloca-se para o seu significado. Nos CaracterísticasCentros, são trabalhados temas Os Centros de Interesse apre-selecionados da realidade próxi- sentam as seguintes característi-.rna da criança, que estão na linha cas, em relação aos alunos: /de seus interesses, não desapare- - satisfazem os interesses do edu-cendo, porém, a consideração das cando, oportunizando-lhe situa-necessidades infantis. çõe.s de melhor integração ao seu

Os temas podem ter relação meio;direta ou indireta com tais neces- - partem de dados, fatos e situa-sidades e surgem da vida da crian- ções concretas e reais, extraídasça no lar, na escola, na comunida- da vida na escola, na família, nade, no bairro, na região onde vive. comunidade, no bairro;

A realização de um Centro de - proporcionam situações para aInteresse oportuniza aprendiza- construção de aprendizagens bá-gem em todas as áreas. \ sicas;

Na área cognitiva, possibilita a - mobilizam o aluno à realizaçãoconstrução de novos conceitos, a das atividades, em experiênciasaquisição de novas informações concretas;que surgem a partir da observação, - permitem a realização de tare-da comparação, do estabeleci- fas variadas, dando chance aos alu-mento de relações, da classifica- nos para que cada um progrida noção, da sistematização, resultados seu próprio ritmo, de acordo comde um processo constante de as-' . as suas possibilidades;similaçãoe acomodação que aju- '.. - promovem a integração afetivada a criança adesenvolver seu da criança na escola;pensamento, organizar sua reali- - estimulam a participação, a ini-dade e atuar nela. ciativa, a descoberta, a criativida-

Na área afetiva, promove o de- de e despertam a curiosidade dosenvolvimento de atividades rela- aluno;cionadas ao ajustamento a normas - facilitam ao aluno o entendimen-e costumes regulados socialmen- to da importância do seu desem-te, propiciando a evolução da de- penho individual em relação aopendência para a autonomia. grupo da escola, aos grupos fami-

Na área das habilidades e ope- liar e comunitário;rações mentais, a estratégia dá - oportunizam a formação doaos alunos a oportunidade de de- sentimento de respeito ao outrosenvolver a coordenação visomo- e ao bem comum e de valoriza-tora, a estruturação do esquema ção dos recursos naturais e docorporal, a expressão verbal oral trabalho.e escrita, plástica e corporal, Em relação ao trabalho do pro-além de facilitar o trabalho em fessor, os Centros de Interesse:grupo e individual. - permitem ao docente a observa-

Geralmente, os temas dos Cen- ção do trabalho do aluno e a avalia-tros de Interesse envolvem todas ção integral e contínua das apren-as aprendizagens. Por meio des- dizagens realizadas;ses temas extraídos do contexto - permitem que o professor or-

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ganize as tarefas no nível do de-senvolvimento da turma de alu-nos e satisfazendo aos interes-ses de todos;- facilitam a organização de umambiente educativo adequado, es-timulante ao desenvolvimento dapersonalidade de cada indivíduodo grupo;- dão oportunidade ao docente depromover, com os alunos, tantotrabalhos individuais quanto empequenos grupos e em grandegrupo.

Como agia DecrolyQuando Decroly estabeleceu

. os 4 centros de interesse (neces-'sidades de alimentação; de lutarcontra as intempéries; de agir.fra-balhar, descansar, divertir-se; dedefesa contra perigos e inimigos),já situados anteriormente, enten-deu que por meio deles deveriafluir todo o ensino proposto peloprofessor. O autor pensou que, emrelação ao ambiente, deveriam serestudados três pontos de vista.Cada ponto de vista seria explo-rado de quatro modos por meiode três tipos de experiências.

Os três pontos que deveriamorientar o estudo de cada necessi-dade seriam:• as vantagens para o homem e osmeios para utilizar essas vantagens;• os inconvenientes e como evitá-los;• as conclusões de comportamen-to prático para o bem do aluno e

'.da sociedade.Cada ponto de vista deveria ser

examinado de quatro modos:• diretamente, por meio dos sen-tidos e da experiência imediata(percepções, observação);• indiretamente, por meio de recor-dações pessoais (memória);• indiretamente, por meio de exa-me de documentos relativos a ob-

.jetivos e a fenômenos atuais e não-acessíveis à experiência do aluno;• indiretamente, por meio de exa-me de documentos relativos a fa-tos, fenômenos e objetos do pas-sado (análise'e coleta de dados em

referencial de qualquer espécie -fotos, figuras, jornais, livros,etc.).

Cada modo, por sua vez, se de-senvolveria por meio de três tiposde experiência ou atividades:• de observação (exame pessoal);• de associação (exame de obje-tos distantes no tempo e no espa-ço - referenciais e construções);• de expressão (plástica, verbal,outras).

"Novo enfoqueEspecialmente em classes mul-

tis seriadas e sob um novo en-foque, um Centro de Interesse tempor principal objetivo a educaçãointegral, buscando abranger todasas áreas de educação intelectual,social, vital e corporal, emocio-nal, expressiva, criativa, etc.

Para desenvolver um Centro deInteresse, em primeiro lugar é pre-ciso que o professor esteja aten-to aos três tipos de experiências(fases) preconizados por Decrolye que devem ser desenvolvidosadequadamente: observação, as-sociação e expressão.• Na 1ª fase, é preciso considerar:- observação direta é realizadasobre a realidade do aluno - seusobjetos, família, escola, bairro,plantas, animais, pessoas que orodeiam, entre outros. Mesmo.que alguns desses aspectos sejamconhecidos pela criança, é pos-sível que ela não tenha feito umaobservação analítica, metódica,dirigida sobre eles. Na observa-ção orientada pelo professor, elaa fará com a intenção de ver,comparar, descrever, relacionar,ampliando suas percepções e seuvocabulário. Quando observa, acriança toca, apalpa, escuta, vê,in~estiga, questiona, descobre,cna ...

Sempre que possível, seres,fatos e fenômenos devem ser ob-servados onde se encontram ouonde, normalmente, ocorrem;- observação indireta consisteno exame de lâminas, desenhos,gráficos, figuras, fotos, imagens,

vídeos e outros, a fim de evocardados, situações da realidade ouimaginar, levantar hipóteses sobrecomo ocorrem fenômenos oucomo são os objetos.• Na fase da associação (2ª fase),o tema do Centro de Interesse seexpande em diversas áreas do co-nhecimento, sistematizando no-ções. Por meio das associações,os alunos podem fazer uma apre-ensão integral, significativa e vi-tal, construindo noções e realizan-do várias aprendizagens. A habili-dade de fazer associações resultada análise, do estabelecimento derelações e da organização mentalde dados (fatos, situações) queforam coletados a partir da obser-vação. Geralmente, essas associa-ções são temporais, de causalida-de, de utilidade e trabalho, sociais,morais ou éticas, de número equantidade, espaciais.• A expressão é a 3ª fase da es-tratégia, o que não significa queseja realizada ao final do traba-lho. Pelo contrário, durante asatividades de observação e de as-sociação, as expressões verbais,plásticas, gestuais, de toda or-dem devem ser estimuladas peloprofessor. Aos alunos, devemser dadas todas as oportunidadesde expressão por meio da lin-guagem oral· e escrita, dos ges-tos, da mímica, dos jogos, dadramatização, dos títeres e tea-tro de sombras, do desenho, dapintura, da colagem, da modela-gem, das diferentes construçõese manualidades, de modo pessoale espontâneo.

Em segundo lugar, é necessárioplanejar, cuidadosamente, um Cen-tro de Interesse. Sugerimos, a se-guir, um roteiro que pode ser mo-dificado pelo professor, de acor-do com as suas possibilidades.

CD Escolha do tema para o Cen-tro, que seja retirado da realidadeque cerca a criança, relacionadocom a sua vida, com seus interes-ses, significativo e amplo, a fimde possibilitar o alcance dos ob-

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jetivos em cada um dos níveis naclasse multisseriada, permitir seudesenvolvimento por meio de ta-refas que os próprios alunos pos-sam -executar, em di versas situa-ções de aprendizagem e possibi-litar um desdobramento que ca-racterize multidisciplinaridade.

E sobre esta porção de reali-dade que os alunos farão as ob-servações, as análises, as compa-rações, as relações, as generali-zações, as sínteses e as transfe-rências de aprendizagem. Osdesequilíbrios e as reequilibra-ções estabelecidos por Piaget sefarão sentir neste momento, vi-orão à tona os automatismos, ashabilidades, as compreensões eos valores.

® Formulação dos objetivos doCentro constitui-se na tarefa maisimportante, pois esses objetivosindicarão o sentido que deverãotomar todas as iniciativas paraque a estratégia dê bons resulta-dos. Uma atenção especial deveser dada aos objetivos: que evi-denciem comportamentos quepossam ser observados; que se-jam de alcance dos alunos; queprevejam critérios e condições dedesempenho.

® Seleção de conteúdos queestejam diretamente relaciona-dos com o tema escolhido. Oprofessor deve estar atento àspossibilidades e ao ritmo dosdiferentes grupos de alunos.Nem todos aprenderão do mes-mo modo, ao mesmo tempo,com a mesma eficácia. As dife-renças individuais deverão sertomadas em consideração tantoquanto as necessidades e as di-ficuldades de cada um.

/ @ Situações de experiência es-tão em relação direta com os ob-jetivos definidos e a serem al-cançados. Ao propor as diferen-tes atividades, Ó professor pre:"cisa ter presente as característi-cas de seus alunos, seu desenvol-

virnento biopsíquico do mo-mento, suas condições pararealizar o solicitado.

As atividades devem cons-tituir-se sempre em incentivosque desafiem a criança, a pro-voquem e suscitem curiosida-de, permitindo sua participaçãoativa em todas as tarefas. Alémdisso, devem ser possíveis derealização, no tempo real e noespaço que as crianças dis-põem, obedecendo a um nível

"de gradação de dificuldades,com base em experiências an-teriores e que possibilitem aaprendizagem rica, não-monó-tona, interessante.

Uma ordem cronológicadeve ser estabelecida de tal for- Objetivosma que uma atividade sirva de • Reconhecer-se como indivíduo.suporte à subseqüente, forman- • Identificar seu núcleo familiar, há-do um elo seqüencial que lhe dá bitos,' costumes, comunidade.unidade. • Identificar suas necessidades bá-

Nas situações de experiên- sicas - alimentação, vestuário, se-cia num Centro de Interesse, gurança, higiene, moradia, etc.compete ao professor apresen- • Comparar suas necessidades comtar o tema ou a situação proble- as necessidades dos colegas, dasmática, orientar os alunos para pessoas com quem vive, dos habi-a coleta de dados e informa- tantes de sua comunidade.ções, para a elaboração e a • Analisar o ambiente onde vive, osintegração dos dados, para a recursos oferecidos por esse am-aplicação e as generalizações e biente, os produtos da região, etc.para avaliação do trabalho. • Identificar cada um dos recursos,

Certamente, as tarefas deve- com destaque para a água.'rão estar ordenadas seguindo as • Concluir sobre o valor dos recur-fases ou tipos de experiências sos oferecidos pela região, espe-propostas pelos Centros de In- cialmente o da água, um dos res-teresse (observação, associa ..c'- ponsá veis pela sobrevivência doções, expressão). homem.

Para que esta estratégia pro-duza resultados satisfatórios,importa que o professor selecio-ne os procedimentos embasa-dos nos princípios da metodo-logia, com vistas a favorecer aaprendizagem pela ação do pró-prio aluno, a sua iniciativa, a for-'mação adequada de grupos detrabalho, a colaboração e a res-ponsabilidade de todos e a pos-sível aplicação prática e útil doque foi aprendido.

Por fim, o professor pode-rá selecionar, também, recur-sos para a realização do Cen-

tro que permitam a aprendizagem,despertem interesse, sejam acessí-veis, de fácil manejo, que ajudemna construção de noções e favore-çam a transferência de aprendiza-gens para novas situações.

Uma sugestãoConsiderando a amplitude do

tema sugerido a seguir, lembramosque os objetivos e conteúdos não seesgotam nos apresentados, devendoo professor dar-Ihes a extensãocompatível com os diferentes níveisda classe multisseriada.

Título (Tema)A água e eu

Conteúdos conceituais(Subtemas)• Quem sou eu, como sou, comonasci, como e com quem vivo, o quefaço, o meu corpo, minha história ...• O que é a água, onde se encontra,para que serve ...• Eu preciso da água; a água precisade mim. Por quê?

Conteúdos procedimentaisO quadro apresentado a seguir é

uma sugestão para o professor come-çar a organizar as situações de apren-dizagens num Centro de Interesse.

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A ÁGUA E EU

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• Olhar-se no espelho;olhar os colegas, ospais, o professor, os ir-mãos; olhar os que pas-sam na rua; olhar o am-biente ao redor. .'• Apalpar-se; identificaras partes do seu corpo,do corpo dos coleqas,

• Visitar mananciais,estações de tratamen-to de água ou outroslocais onde ela apare-ça (olhos d'água, mi-nas, riachos, rios, açu-des, lagos).• Realizar entrevistaspara coletar dados so-bre a origem da água,caminhos que ela per-corre (de onde vempara onde vai).• Buscar informaçõessobre os cuidados comas fontes ou minasd'água.

Para concluirOs Centros de Interesse cons-

tituem-se numa estratégia de tra-balho que pode ser desenvolvida,especialmente, nas classes multis-seriadas, tendo em vista o caráterde versatilidade e possibilidade deadequação, sob todos os aspectos,aos diferentes' níveis de adian-tamento numa classe desse tipo.

No entanto, tal estratégia re-quer do professor muito preparoe criatividade para sua realizaçãobem sucedida na aula. E necessá-

• Desenhar-se; modelar-se com massa plástica.• Nomear as partes do seucorpo.• Realizar exercícios deexpressão corporal (dan-ça, ginástica ritmica).• Escrever pequenos textos.

• Confeccionar maquetes;interpretar o movimentodas águas; reproduzir oslocais observados, pormeio de desenhos, cola-gens e outras formas.• Produzir textos orais/escritos.• Preparar perguntas paraentrevista.

• Comparar-se: como eraquando pequeno e como éagora (com 7, 8, 9 anos oumais idade).• Fazer inferências sobre orelacionamento entre os co-legas, entre pessoas da fa-mília, verificando as situa-ções de parentesco.• Estabelecer relações entreos diferentes sistemas do cor-po humano (circulação x res-piração, por exemplo).

rio, também; que o professor con-te com o apoio das famílias dosalunos e da comunidade, em ge-ral, para facilitar a maior varieda-de possível de experiências e deatividades.

Quanto mais oportunidades fo-rem oferecidas aos alunos, melho-res serão as construções, os co-nhecimentos produzidos, os re-sultados obtidos.

REFERÊNCIAS

AMATO, Laura Castro de, Centros de Interés

• Comparar as situações depresença da água nas casasda cidade e no campo.• Estabelecer as diferençasexistentes entre os proces-sos de fornecimento da águana cidade (torneiras) e emoutros ambientes de onde elaé retirada (poços, açudes, la-gos, rios).• Estabelecer conclusõessobre o modo adequado deuso da água.

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