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Cenários do Desenvolvimento da Amazônia

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  • FUNDAO GETLIO VARGAS

    CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE

    PLURAL CONSULTORIA, PESQUISA E SERVIOS

    Cenrios do desenvolvimento da Amaznia

    Reginaldo Sales Magalhes

    Mestre em Cincia Ambiental

    Pesquisador da Plural

    Membro do Grupo de Pesquisas

    Instituies do Desenvolvimento Territorial - FEA/USP

    www.territorioplural.com.br

    So Paulo, junho de 2006

  • 2

    Sumrio

    1. Introduo 3

    2. Populao e qualidade de vida 4

    3. Os eixos da ocupao 6

    4. As atividades econmicas e os principais conflitos scio-ambientais 8 5.1 O avano da pecuria 9 5.2 A expanso da soja 11 5.3 A agricultura familiar 13 5.4 A minerao 14 5.5 A indstria 15 5.6 O extrativismo 16

    5. As polticas de desenvolvimento 18 6.1 Programas de financiamento 20 6.2 Experincias de desenvolvimento sustentvel 24

    6. Concluses 29

    7. Bibliografia 31

  • 3

    1. Introduo

    O desenvolvimento da regio Amaznica marcado por duas condies especiais: a

    ocupao, apesar de antiga, est ainda em acelerada marcha rumo a regies pouco

    exploradas, e essa marcha se d sobre ambientes de tamanha diversidade e fragilidade,

    nos quais a expanso e a intensificao das atividades agrcolas, industriais e de

    minerao so constantes e severas ameaas sustentabilidade. Por essas condies a

    Amaznia no pode ser vista como uma regio homognea nem esttica, do ponto de

    vista ambiental ou dos processos sociais que nela se verificam. Pelo contrrio, o que se

    observa uma enorme diversidade e dinamismo na regio.

    Para se ter uma idia do vigor das polticas de desenvolvimento para a regio, entre

    1960 e 1995 a atividade econmica da Amaznia cresceu o dobro da economia

    brasileira (Maia e Vergolino, 1997), passando de uma participao de apenas 2% para

    5% do PIB nacional.

    O desenvolvimento da Amaznia foi fortemente determinado por um intenso processo

    de colonizao, com grandes projetos de infraestrutura e explorao financiados pelo

    Estado. At a dcada passada toda a sua dinmica foi influenciada por polticas

    exgenas que visavam ocupao do territrio e expanso de atividades agrcolas, de

    extrao vegetal e mineral e de industrializao. Somente no perodo recente a regio

    comea a demonstrar sinais de um processo autnomo de desenvolvimento. Entretanto,

    so poucas as vantagens locacionais visveis em curto prazo e com potencial para

    substituir gradualmente o subsdio fiscal, a explorao das florestas e as terras baratas.

    As atividades econmicas consideradas sustentveis so ainda de pequena escala e

    abrangncia, porm so de grande importncia e precisam ser consideradas no desenho

    das novas polticas.

    Este documento tem o objetivo de analisar essas dinmicas de desenvolvimento e as

    polticas que buscam inverter a lgica histrica que orienta a explorao dos recursos

    naturais e as populaes locais e migrantes. No um estudo exaustivo, mas visa

    apenas apresentar uma noo dos imensos desafios para o desenvolvimento sustentvel

    da Amaznia. Apresenta com esse objetivo um breve panorama das principais

    condies sociais e econmicas da regio. Nos dois primeiros itens, o texto aborda a

    dinmica populacional, as condies de vida na regio e os principais eixos de ocupao

    do territrio. Na segunda parte o texto apresenta uma viso geral sobre as principais

    atividades econmicas e, dentro dos limites que a disponibilidade de dados impe,

    analisa as conseqncias em termos de gerao de emprego e impacto ambiental. Na

    terceira parte do documento so apresentadas as principais polticas de desenvolvimento

    para a regio, com nfase na apresentao dos mais importantes programas de

    financiamento, do Programa Amaznia Sustentvel e das principais experincias de

    desenvolvimento sustentvel da regio. Por fim, so sintetizadas as principais

    concluses a respeito das possibilidades de promover uma estratgia de

    desenvolvimento sustentvel para a regio.

  • 4

    2. Populao e qualidade de vida

    A base deste processo de ocupao da Amaznia foi o incentivo extrao e ao

    mercado da borracha. Desde o sculo XIX, atraindo levas de migrantes do semi-rido

    nordestino, este processo caminhou com grande vigor at a dcada de 20 do sculo

    passado, quando uma interrupo na atividade econmica levou estagnao

    populacional da Amaznia entre 1920 e 1940.

    A partir de 1960 grandes investimentos pblicos em infra-estrutura realizados a partir da

    dcada de 50 comeam a transformar o cenrio regional, fortalecendo a produo

    agrcola, principalmente de juta, a produo mineral, com a explorao de mangans na

    Serra do Navio, no Amap e a implementao da refinaria de petrleo em Manaus. Com

    esses investimentos e a abertura da rodovia Belm-Braslia iniciaram-se novas frentes

    de povoamento, atraindo principalmente populao da regio Nordeste e formando ilhas

    de adensamento populacional. Na dcada de 60, no Meio-Norte e Leste Paraense,

    principalmente Belm, e em Manaus e Mdio Amazonas.

    Nos anos 70 ocorreu o que Abramovay e Camarano (1999) definiram como o Sul em busca do Norte. Nessa dcada, a maioria das regies brasileiras era fornecedora de migrantes rurais. As regies Nordeste, Sudeste, Sul e Centro Oeste expulsaram

    populaes das suas reas rurais. Alm dos principais destinos que continuavam a ser as

    regies metropolitanas, a regio Norte passou a receber grande parte dos migrantes das

    reas rurais. Foi nessa leva que os gachos ocuparam a Transamaznica e o estado de Rondnia.

    A migrao para a Amaznia diminuiu repentinamente em meados da dcada de 80 e

    ocorreram movimentos de retorno s regies de origem. O processo de desconcentrao

    espacial do desenvolvimento econmico provocou mudanas nos fluxos migratrios,

    reduzindo as migraes para os principais destinos finais (as cidades maiores e a

    Amaznia). O processo contemporneo de povoamento passou a ser mais intenso em

    Rondnia (crescimento de 8% ao ano) e Roraima (9,5% ao ano), mas forte em todos

    os estados (crescimento mdio de 3% ao ano). As principais zonas de adensamento

    populacional passaram a ser o Leste Paraense, Rondnia, Acre e a regio do Mdio

    Amazonas. Surgiram tambm fluxos de migrao temporria para o Sul do Par,

    Roraima e Norte do Mato Grosso.

    Nos anos 90 a regio Norte passou a ter um saldo migratrio negativo, mas ainda assim,

    com grande crescimento de populao devido a sua alta taxa de natalidade. Em 2000, a

    Regio Norte atingiu uma populao de 14,2 milhes, com um crescimento mdio anual

    de 2,6%. Desde os anos 50, as taxas de crescimento desta populao tm sido superiores

    s da mdia nacional, o que resultou num aumento de sua participao no total da

    populao brasileira de 5,8% em 1950 para 12,4% em 2000. Em todos os estados a taxa

    de urbanizao elevada, embora inferior mdia nacional, exceto no Amap, que

    chega a 89%. O crescimento populacional nitidamente urbano, em processo acelerado,

    especialmente pelos movimentos migratrios do tipo rural-urbano, principalmente de

    mulheres, que tem provocado a masculinizao da populao rural e, conseqente

    feminilizao da populao urbana. Par o estado que mais expulsa populao e

    Amazonas o estado com maior taxa de imigrao (Sudam-Pnud, 2001). A populao

  • 5

    morando em cidades e vilas atinge 69,1% na Regio Norte, contudo, pela classificao

    universal adotada pela OCDE para delimitao de municpios rurais e urbanos, apenas 5

    municpios do Par (Ananindeua, Belm, Capanema, Castanhal e Marituba) e a capital

    do Amazonas (Manaus) podem ser definidos como municpios urbanos. Todos os

    demais, devido a sua reduzida populao e a sua pequena densidade demogrfica,

    mesmo que possuam ncleos humanos semelhantes a cidades, so territrios que

    apresentam caractersticas essencialmente rurais. A regio mais populosa corresponde

    ao chamado Arco do Povoamento Adensado, que vai da borda meridional e oriental, do

    sul do Acre ao sul do Amap, incluindo o sudeste e nordeste do Par.

    A distribuio populacional de grande parte da Amaznia poderia ainda ser

    caracterizada como a definiu Josu de Castro: uma populao de tipo homeoptico. Nas imensas reas pouco habitadas, a densidade populacional chega a menos de 1,0

    habitante por km, especialmente na Amaznia Ocidental e na parte setentrional da

    Amaznia Central. Entretanto, alvo de grandes projetos de ocupao e de processos

    migratrios, na Amaznia existem tambm reas com grande concentrao populacional

    e densidades de 1.000 a 2.000 habitantes por km. Dois municpios, as capitais do Par e

    do Amazonas, possuam, no ano 2.000, mais de um milho de habitantes e 11, dos 348

    municpios da regio Norte, possuam mais de 100 mil habitantes.

    H tambm uma grande diversidade tnica, com a maior populao indgena do pas, a

    regio Norte possui 165.907 pessoas residindo em centenas de comunidades que

    formam 35 etnias.

    As condies de vida da populao da regio Norte apresentam o mesmo grau de

    heterogeneidade que caracteriza a distribuio populacional e as atividades econmicas.

    Se nas reas de baixa densidade populacional, a populao sofre com as condies

    tpicas decorrentes do isolamento falta de infraestruturas sociais bsicas nas reas densamente povoadas os problemas so caractersticos da ocupao desordenada e da

    rpida expanso urbana, provocando grande degradao do meio ambiente e da

    qualidade de vida. As periferias urbanas das grandes cidades amaznicas so vtimas de

    graves problemas de saneamento, abastecimento de gua, lixo, poluio, violncia e

    moradias precrias.

    O ndice de Desenvolvimento Humano mdio da regio de 0,707, sendo que todos os

    estados apresentam mdia abaixo da brasileira. A taxa de analfabetismo da populao

    urbana revela que a maioria dos estados da Regio Norte est em melhor situao do

    que a mdia brasileira. J as condies de saneamento esto bem abaixo da mdia

    brasileira, com menos de 30% dos domiclios com esgotamento sanitrio ligado rede

    coletora e menos de 50% dos domiclios com abastecimento de gua ligado rede geral.

    A esperana de vida est abaixo dos 69,0 anos e a taxa de mortalidade infantil em torno

    de 30 bitos de crianas de at um ano por mil nascidos vivos. Embora com maior

    disponibilidade de servios de sade, so as reas metropolitanas que apresentam os

    piores ndices de mortalidade, especialmente devido aos problemas de contaminao da

    gua.

  • 6

    Figura 1 Os melhores indicadores do IDH (2000) esto em municpios do Oeste do Par, Amap, Rondnia e nas regies metropolitanas de Belm e Manaus.

    Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano (2000).

    3. Os eixos da ocupao

    Segundo Thry (2002), o principal fator de transformao da realidade amaznica nos

    anos 2000 foi o surgimento dos novos eixos de deslocamento. Desde os primeiros

    processos de ocupao da regio, quando se utilizavam principalmente os rios e

    posteriormente as precrias estradas constantemente bloqueadas pelas intensas chuvas,

    que os eixos de deslocamento so determinantes para o tipo de explorao e para

    delimitao das diferenas regionais de desenvolvimento dentro da Amaznia. As

    estradas se constituem como os principais eixos de abertura das florestas para a

    colonizao, o desmatamento e a explorao agropecuria.

    Os principais eixos atuais so a Belm-Braslia, a Transamaznica, a BR 364 e as novas

    BR 163, BR 319 e BR 174. Alm disso, grandes extenses de estradas informais

    contribuem significativamente com a ocupao e o desmatamento. O impacto das

    estradas para o estmulo s atividades econmicas na Amaznia de tal envergadura

    que formam de fato um macro-zoneamento das regies (MIN, 2004).

    Mais importante para o planejamento das polticas de desenvolvimento do que as

    assustadoras previses feitas pelo projeto SIMAMAZONIA1 (The Amazon Scenarios

    1 Segundo a simulao feita pelo projeto se nada for feito para mudar as tendncias atuais, a maior

    floresta tropical do planeta estar reduzida no ano 2050 a pouco mais que a metade de sua rea original.

  • 7

    Project) para os cenrios futuros de desmatamento so as correlaes traadas entre

    desmatamento e desenvolvimento. Os estudos realizados pelo projeto destacam o

    impacto que as atividades econmicas estimuladas pela abertura e pavimentao de

    estradas sobre a floresta e mostram que o desmatamento intenso, at 30%, nos 100 km

    de largura dos corredores formados em paralelo s estradas.

    Ao longo da Transamaznica estabeleceu-se uma grande concentrao de migrantes que

    formaram imensas colnias agrcolas e ncleos urbanos, provocando forte presso sobre

    o meio ambiente e os grupos sociais nativos em termos de desmatamento, queimadas e

    conflitos fundirios.

    No chamado Arco de Povoamento, especialmente no leste do Par e em Rondnia, com

    o adensamento da malha viria formaram-se intensas atividades agropecurias, ao longo

    de um cinturo de cerca de 300 a 500 km de largura, que forma, alm de Manaus,

    Belm e das reas de minerao, o ncleo quente da economia regional.

    Nas ltimas dcadas de 80 e 90, as malhas rodovirias duplicaram em extenso,

    passando de 29,4 mil quilmetros, em 1975, para 59,1 mil quilmetros em 1995. As

    estradas pavimentadas foram as que mais cresceram, com taxa de 5% ao ano, e em

    maior extenso, mas com crescimento um pouco menor, 3% ao ano, cresceram tambm

    as estradas no pavimentadas (MIN, 2004).

    Um grande dilema cerca o debate social sobre a construo e a ampliao de estradas.

    Ao mesmo tempo em que as estradas facilitam o desmatamento e o avano da fronteira

    agrcola, so tambm grandes demandas sociais, tanto do ponto de vista econmico

    como para garantir a qualidade de vida das populaes que vivem em semi-isolamento.

    Os conflitos entre demandas coletivas e bens pblicos tm aqui uma expresso

    dramtica. Mas estradas so tambm consideradas uma estratgia importante para a

    intensificao das atividades econmicas e reduo da explorao de novas reas de

    florestas.

    O eixo que mais desperta o debate pblico atualmente aquele formado a partir da BR

    163. A rodovia Cuiab-Santarm foi implantada em 1972 e faltam ser pavimentados

    953 km, obra que dever ser iniciada em 2006. A estrada atravessa uma das regies

    mais importantes da Amaznia, com grande potencial econmico, diversidade tnica,

    cultural e ambiental, cruzando as bacias hidrogrficas do Amazonas, Teles Pires-

    Tapajs e do Xingu. Por esses motivos a pavimentao considerada um dos fatores de

    grande risco para a sustentabilidade da Amaznia. Tanto a regio de Santarm como o

    Noroeste do Mato Grosso, os dois extremos da rodovia j sofrem grandes danos

    ambientais provocados pelas atividades predatrias, especialmente os plos

    agropecurios de produo de soja, gado e madeira. Por outro lado, o asfaltamento da

    rodovia possibilitar a criao de um grande corredor de exportao que representar

    uma grande reduo nos custos de transporte da produo agrcola do norte do Mato

    Grosso at o porto no rio Amazonas, em Santarm. Por esse motivo, uma antiga

    reivindicao das organizaes sociais da regio e foi assumida como prioridade do

    Plano Plurianual do perodo 2004-2007. A importncia, associada aos riscos desse

    empreendimento tem sido objeto de grande discusso pelas organizaes sociais e

    rgos pblicos. Em 2004 foi criado o Consrcio pelo Desenvolvimento Socioambiental

    da BR-163 e durante 2004 e 2005 ocorreram audincias pblicas para a discusso do

  • 8

    Plano de Desenvolvimento Regional Sustentvel da BR-163. O Plano contempla

    polticas de fortalecimento da segurana pblica e promoo da cidadania; ordenamento

    fundirio e territorial; monitoramento e controle ambiental; e fomento a atividades

    sustentveis.

    Um dos futuros e mais importantes eixos de transporte da Amaznia ser a estrada que

    ligar a regio ao Pacfico. O incio da construo do Corredor Virio Interocenico Sul

    foi lanado pelos presidentes do Brasil, Bolvia e Peru, em setembro de 2005. Mil

    quilmetros de asfalto vo completar a ligao entre os oceanos Atlntico e Pacfico na

    Amrica do Sul. A rodovia inicia no estado do Acre e vai at os portos martimos

    peruanos no litoral do Peru. O planejamento estratgico prev uma logstica de

    integrao com a BR 364 e BR 317, que permitir a conexo com Campo Grande e a

    hidrovia do Rio Madeira e BR 364 que possibilitar a ligao com Manaus.

    4. As atividades econmicas e os principais conflitos scio-ambientais

    Provocou grande polmica internacional a divulgao dos dados sobre o desmatamento

    na Amaznia no perodo 2003-2004. Segundo o Projeto de Monitoramento da Floresta

    Amaznica Brasileira por Satlite (PRODES, 2005) ocorreu no perodo uma perda de

    26 mil quilmetros quadrados de floresta. Segunda maior perda ocorrida desde 1988. Os

    primeiros dados registrado em 2005 alimentam uma perspectiva otimista de reduo do

    desmatamento em 2005 (dados ainda no divulgados).

    Figura 2 - Desflorestamento continua crescendo na Amaznia

    As reas mais crticas do desmatamento esto no chamado Arco do Desmatamento, que

    envolve os eixos da Belm-Braslia (BR-010), na regio centro-norte de Mato Grosso,

    na regio central de Rondnia e na regio do Baixo Acre. A partir de 2001, a expanso

  • 9

    da soja e da pecuria ampliaram as frentes de desmatamento para as regies da Terra do

    Meio (Altamira, So Flix do Xingu e Tucum), o oeste do Par ao longo da BR-163, o

    Sudeste e o sul do Amazonas (Souza et alli, 2005).

    O Plano de Ao para Preveno e Controle do Desmatamento na Amaznia,

    implementado em 2003 vem adotando uma srie de medidas de monitoramento e

    controle, com intensificao das aes de fiscalizao, ordenamento fundirio, medidas

    de combate grilagem de terra e fomento s atividades econmicas sustentveis. O

    Plano busca promover a ao integrada de 13 ministrios, sob coordenao da Casa

    Civil. Apesar das importantes medidas efetivamente adotadas, o Plano no est sendo

    suficiente para conter o processo de desmatamento. Aes mais efetivas foram adotadas

    em 2005, como a Operao Curupira, realizada pela Polcia Federal e que resultou na

    deteno de mais de uma centena de madeireiros, fazendeiros, despachantes e

    funcionrios pblicos estaduais e federais, envolvidos no desmatamento ilegal,

    paralisando boa parte das frentes de desmatamento.

    O Brasil o maior produtor e consumidor mundial de produtos florestais tropicais. A

    siderurgia, as indstrias de papel e embalagens e a construo civil so setores que

    dependem diretamente da explorao florestal. O setor madeireiro da Amaznia, que

    cresce mais que nas outras regies, o maior empregador, sendo responsvel por 127

    mil empregos diretos em 2.570 empresas distribudas em 72 plos madeireiros voltados

    principalmente para o mercado interno. Da produo do setor, 86% so destinados ao

    mercado interno e 14% so exportados (MIN e MMA, 2004).

    4.1 O avano da pecuria

    A pecuria foi o principal instrumento de ocupao da Amaznia a partir dos anos 1960.

    Com o apoio da Sudam e Basa, os mecanismos de incentivo fiscal, subsdios e

    financiamento de projetos. Normalmente uma estratgia utilizada por grandes

    exploradores, a pecuria passou mais recentemente, a partir dos anos 1980, a ser uma

    estratgia utilizada tambm por agricultores familiares, principalmente para produo de

    leite. Segundo estudo do Banco Mundial (2003) a produo pecuria a partir dos anos

    90 passou a seguir uma lgica eminentemente privada, com fortes cortes dos incentivos

    e subsdios pblicos diretos, a atividade adquiriu uma dinmica autnoma condicionada

    pela sua rentabilidade. Dessa forma, alm dos interesses polticos que orientaram o

    processo de ocupao da Amaznia, fundamental compreender os interesses

    econmicos subjacentes ao processo de ocupao e desmatamento.

    Entre 1990 e 2003, o rebanho bovino da Amaznia Legal quase triplicou, com um

    crescimento de 240%, chegando a 64 milhes de cabeas de gado e uma renda bruta de

    R$ 3,5 bilhes. Os principais estados produtores so o Par, Rondnia e Tocantins e h

    um grande crescimento mais recente da pecuria no estado do Acre. Segundo o IBGE, o

    rebanho amaznico em 2003 era concentrado em quatro estados (Mato Grosso, Par,

    Tocantins e Rondnia) que possuam 86% do rebanho regional. Mato Grosso e Par

    eram os principais produtores somando 59% do rebanho. Entre 1990 e 2003, Rondnia

    passou de quinto para terceiro produtor da regio. Os trs principais estados produtores

  • 10

    em 2003 (MT, PA, e RO) contriburam com 81% do crescimento do rebanho entre 1990

    e 2003. As maiores taxas de crescimento neste perodo ocorreram em Rondnia (14%

    ao ano), Acre (12,6%/ano), Mato Grosso (8%/ano) e Par (6%/ano). Mesmo com a

    reduo contnua de preos, as exportaes de carne cresceram de 350 mil toneladas em

    1999 para aproximadamente 900 mil toneladas em 2002.

    Figura 3 - O rebanho bovino em 2003 ocupava o sul, o leste e o norte do Mato

    Grosso, quase todo o estado de Rondnia, o leste do Acre e toda a metade sul do

    Par.

    Fonte: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaznia

    Uma pesquisa conduzida pela equipe do projeto Cattle Ranching, Land Use and

    Deforestation in Brazil, Peru e Ecuador (Piketty et alli, 2004) identificou cinco grandes

    razes da expanso da pecuria no arco do desmatamento, nas reas de fronteira

    agrcola do estado do Par. A primeira razo o retorno seguro, apesar de pequeno,

    proporcionado pela existncia de mercados para carne e leite em toda a regio,

    combinado com a alta liquidez dos ativos dessa atividade. Segundo pesquisa do Imazon

    (Arima, Barreto e Brito, 2005) a pecuria na Amaznia expressivamente mais

    lucrativa que em outras regies brasileiras. A segunda razo o ambiente favorvel,

    tanto de ordem ambiental, especialmente um regime de chuvas bem adequado criao

    animal, como de ordem econmica, em especial o baixo preo das terras, e de ordem

    institucional, como o fcil acesso a tecnologias para essa atividade. A terceira razo a

    eficincia do sistema braquiaro2 para a alimentao dos animais, uma pastagem de alta

    produtividade e com grande eficincia aps a queimada, resistente a seca e a plantas

    invasoras, o que faz com que seja utilizado em 90% das pastagens. A quarta razo a

    experincia e a valorizao cultural e social que a atividade recebe por parte dos

    2 Brachiaria brizantha.

  • 11

    produtores e da sociedade em geral nessas regies. A quinta razo identificada pela

    equipe da pesquisa a poltica de financiamento pblico.

    Segundo o Banco Mundial (2003), a pecuria de corte na Amaznia Oriental

    altamente rentvel do ponto de vista privado, apresentando taxas de retorno superiores

    s da pecuria nas regies tradicionais do pas. Pesquisa coordenada pelo Imazon

    (Arima et alli, 2005) mostra que a maior rentabilidade da pecuria na Amaznia

    comparada com outras regies do pas e de outros pases produtores explicada

    principalmente pelo baixo preo das terras e ao acesso a crdito com baixas taxas de

    juros oferecidos pelo Fundo Constitucional. Somam-se ao retorno financeiro da

    pecuria, os ganhos secundrios associados atividade como a explorao madeireira,

    muitas vezes ilegal e a valorizao das terras.

    A questo polmica e outros pesquisadores apresentam evidncias contrrias. Existem

    trabalhos que demonstram a insustentabilidade desse modelo, alegando que os retornos

    por hectare so extremamente baixos e que a atividade s encontra sustentao no

    subsdio governamental (Romero, 1995). O baixo custo de implantao da pecuria, a

    alta liquidez do ativo, o baixo nvel de ocupao de mo-de-obra e o papel que a

    atividade cumpre na determinao da produtividade da terra so os fatores

    determinantes da utilizao da pecuria extensiva como estratgia principal da atividade

    econmica na regio.

    Este processo predominante entre os grandes investidores que se tornaram grandes

    proprietrios de terras na Amaznia. Porm, esta estratgia tambm utilizada por

    pequenos proprietrios familiares. Isto pode ser evidenciado, por exemplo, pela

    dinmica de valorizao da terra dos pequenos agricultores, ocasionada pelos

    financiamentos do FNO. Entre 1992 e 1995 as famlias que receberam financiamentos

    atribuam aos seus lotes um valor bem superior ao que estimavam antes, principalmente,

    nas regies de colonizao, onde o desestmulo proporcionado pelo abandono sempre

    provocou a desvalorizao da terra.

    Por ltimo, outro fator que beneficia a expanso dessa atividade que a pecuria

    representa menor risco para os financiamentos bancrios, sendo o acesso ao crdito

    assim mais facilitado para essa atividade. Prova disso que o volume de recursos

    contratados na linha do FNO Agropecuria representa 39% do total de recursos

    contratados pelo crdito rural pelo BASA em 2004 (BASA, 2004).

    4.2 A expanso da soja

    A produo de soja apresentou um imenso crescimento na regio Norte, principalmente

    a partir do ano de 1999. A rea ocupada com lavouras de soja cresceu quase dez vezes

    no perodo de 1990 a 2004, ampliando de 34.760 mil para hectares para 359.434 mil

    hectares. Em 1994 a produo de soja no Norte do Pas se limitava ao Tocantins e ao sul

    de Rondnia. Num primeiro momento, de 1996 a 2000, o principal eixo de expanso da

    soja ocupou quase todo o estado de Rondnia e seguiu rumo ao ocidente e oriente do

    estado do Amazonas. Nesse perodo, a rea mdia oscilava em torno de 30 milhes de

  • 12

    hectares. Aps o ano 2000, houve um recuo na produo de soja no Amazonas e uma

    intensificao maior no estado do Par, chegando a quase 360 milhes de hectares, em

    2004, segundo dados da Pesquisa Agrcola Municipal (IBGE, 1999 a 2004).

    Figura 4 - Expanso da rea plantada de soja na regio Norte cresce

    exponencialmente a partir do ano 2000.

    0

    50000

    100000

    150000

    200000

    250000

    300000

    350000

    400000

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

    Fonte: IBGE Pesquisa agrcola municipal

    O principal fator que estimulou o avano da produo de soja na Amaznia e em todo o

    Brasil a partir de 1999 foi a mudana no ambiente macroeconmico, sobretudo da

    poltica cambial brasileira que valorizou o dlar com relao ao real e aumentou os

    rendimentos da exportao. De 2002 a 2004, a elevao dos preos internacionais de

    soja e dos gros em geral acelerou ainda mais a expanso da produo.

    Segundo o IPEA (2005), o crescimento da produo de soja, diferentemente das dcadas

    anteriores se deu atravs da expanso das reas plantadas e no mais atravs do aumento

    da produtividade. Alm disso, as reas de plantio de soja vem-se expandindo, em sua

    maior parte, atravs da converso de pastagens degradadas. Com a implantao de

    pastagens, a derrubada das florestas ou do cerrado e a calagem do solo, o solo est

    preparado, com baixos custos, para o futuro plantio de soja que por sua vez, recupera os

    solos para futuras pastagens de melhor qualidade. A grande vantagem desse processo

    a intensificao da produo agropecuria e a menor expanso sobre reas de floresta.

    Por outro lado, para outros atores, como os que se reuniram no seminrio sobre a

    Geopoltica da Soja na Amaznia (Museu Emlia Goeldi, 2004) a expanso da soja se deu tambm sobre reas cobertas por florestas, cerrado e campos naturais. A verificao

    emprica dessas hipteses difcil, pela falta de um levantamento sistemtico dos

    territrios ocupados com as atividades agrcolas.

  • 13

    Figura 5 A soja ocupa todo o Tocantins, o leste e o oeste do Par, avana sobre o sul de Rondnia e o norte de Roraima, mas recua no Amazonas.

    Fonte: IBGE Pesquisa agrcola municipal Elaborao: Plural

    4.3 A agricultura familiar

    A agricultura familiar na regio Norte corresponde a 9,2% do total da agricultura

    familiar do pas e 5,4% do total da fora de trabalho do pas no setor. So 377 mil

    estabelecimentos familiares, sendo que quase metade encontra-se no estado do Par,

    40% dividem-se nos estados de Rondnia e Amazonas e os 10% restantes se distribuem

    nos demais estados. Segundo dados do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, 36%

    dos estabelecimentos familiares possuem renda bruta anual menor que 2 mil reais, 58%

    situa-se no estrato mdio, com renda bruta anual entre 2 mil e 14 mil reais e apenas 7%

    encontra-se no estrato superior, com renda anual acima de 14 mil reais.

    Os sistemas de produo da Amaznia so distintos dos sistemas de produo agrcolas

    tradicionais das outras regies brasileiras. Uma caracterstica, especialmente particular

    dos sistemas tradicionais, a presena das unidades familiares de base agroextrativista

    que renem atividades de subsistncia, de extrativismo e de pesca. A pluriatividade, ou

    seja, a combinao de mais de um tipo de atividade, dentro e/ou fora da propriedade,

    uma caracterstica comum para a grande parte dos sistemas de produo familiares.

  • 14

    Parte da produo consumida dentro da unidade produtiva e parte destinada ao

    mercado. O volume de produo dentro de cada uma dessas categorias depende de

    vrios fatores, entre eles das caractersticas dos produtos cultivados ou extrados, do

    tamanho e da organizao das unidades de produo, das condies do mercado e,

    principalmente, da combinao entre sistemas de cultivo e de extrativismo.

    Figura 6 - Estabelecimentos da agricultura familiar na regio Norte

    Grupo B Grupo C Grupo D

    Total Estado Renda baixa Renda mdia Renda alta

    At 2 mil reais por ano De 2 a 14 mil reais por ano De 14 a 40 mil reais pr ano

    Acre 7.666 11.862 808 20.336

    Amazonas 26.743 44.892 5.348 76.983

    Amap 667 1.468 435 2.570

    Par 64.762 104.720 11.382 180.864

    Rondnia 20.339 37.903 5.711 63.953

    Roraima 1.624 3.104 553 5.281

    Tocantins 12.606 13.799 1.563 27.968

    Total 134.407 217.748 25.800 377.955

    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

    4.4 A minerao

    A produo mineral da regio Norte est fortemente concentrada no Par. O estado o

    segundo maior produtor de minrios do Brasil, perdendo apenas para Minas Gerais, que

    produz um pouco mais que o total da produo da regio Norte. da produo paraense

    que foram comercializados 88% do valor da produo mineral da regio e 24% do valor

    comercializado de minrio do Pas. Esta situao tende a se manter nos prximos anos,

    especialmente pelo volume de investimentos previstos. Nos prximos trs anos devero

    ser investidos quase dois bilhes de reais na indstria de minerao do Par, 90% dos

    investimentos previstos na regio Norte e 27% do total de investimentos previstos para

    o Pas. Ferro e bauxita so os principais produtos da minerao no Par.

    Segundo o diagnstico preparatrio do documento do Plano Amaznia Sustentvel, as

    principais empresas mineradoras da Amaznia esto localizadas na regio do Arco do

  • 15

    Povoamento Adensado, regio onde se localiza o projeto Carajs, para a extrao de

    ferro, e a Albrs, para extrao de alumnio e caulim. A bauxita extrada na regio de

    Trombetas e a cassiterita no Amazonas e Rondnia. As indstrias mineradoras so de

    grande porte, com investimentos da ordem de 7 bilhes de dlares.

    Apesar do grande resultado econmico gerado, a extrao mineral acusada de produzir

    graves externalidades ambientais e sociais negativas. So atividades pouco intensivas

    em mo-de-obra e que, alm de gerar poucos empregos, reduz as condies locais e

    tradicionais de ocupao. So tambm responsveis por grandes danos ambientais de

    longo prazo, no apenas pelo desmatamento, mas, sobretudo pela ao dos resduos

    txicos ao meio ambiente.

    O processamento dos minerais se limita aos primeiros degraus da cadeia. Na regio

    feita a transformao de bauxita em alumnio primrio e produo de ferro gusa,

    exportando produtos de baixo valor agregado. Ainda assim, o consumo de energia

    muito elevado, consumindo grandes extenses de floresta para produo de carvo

    vegetal (MIN, 2004).

    4.5 A indstria

    Como em todo o Brasil, a indstria e os servios vm crescendo a taxas anuais maiores

    que a agropecuria, porm, o processo de industrializao da regio Norte consolidou-se

    basicamente pelos rumos traados pelos investimentos pblicos diretos e pelos

    incentivos fiscais dirigidos especialmente ao Complexo Carajs, localizado no Par, e

    zona franca e de processamento de exportao no Amazonas.

    No ano de 1996, dos 398 municpios da regio Norte, em 209 municpios a atividade

    predominante a agropecuria, em apenas 12 municpios a atividade predominante a

    indstria e em 177 municpios o comrcio e os servios so as atividades

    economicamente mais importantes. A distribuio geogrfica dos municpios segundo a

    atividade predominante pode ser observada na figura 7.

  • 16

    Figura 7 A industrializao na regio Norte se concentra no municpio de Manaus, na regio metropolitana de Belm, na regio do Para Oriental, no estado

    de Roraima e em um municpio de Rondnia.

    Fonte: IBGE Composio setorial do PIB dos municpios (1996)

    A produo industrial altamente concentrada. O estado do Par concentra 38% da

    produo industrial da regio e o Amazonas 34%, segundo dados do Ministrio da

    Integrao Nacional (MIN, 2004). Com exceo da Zona Franca de Manaus, a grande

    maioria das cadeias produtivas so incompletas, limitando a regio a produtos primrios

    e semi-processados de baixo valor agregado e com reduzida gerao de empregos.

    O setor agroindustrial comea a se fortalecer com as cadeias de carne bovina e soja. O

    setor industrial associado pecuria vem apresentando grande crescimento, com muitos

    investimentos em frigorficos, laticnios e curtumes. A produo de soja vem

    estimulando a instalao de servios de transporte e armazenamento ao longo dos eixos

    de exportao, tanto para os gros, quanto para os insumos agrcolas. Comeam a surgir

    indstrias de esmagamento de soja e prev-se a abertura de indstrias ligadas s cadeias

    de aves e sunos

    4.6 O extrativismo

    Com a abertura de rodovias e de nova infraestrutura em geral, cria-se uma oferta

    adicional de terras. O custo de manuteno da terra se reduz nas reas mais prximas s

    frentes de expanso da fronteira agrcola. A atividade extrativista vem assim perdendo

    rapidamente espao para as atividades agrcolas e pecurias e a produo domesticada

    de produtos antes explorados pelo extrativismo. Porm, esta uma atividade que

    garante a sobrevivncia de uma grande parcela da populao rural da Amaznia. A

    expanso da fronteira agrcola ento antagnica atividade extrativa, uma vez que

  • 17

    esta expanso necessita da substituio da cobertura vegetal, o que destri a base de

    sustentao do extrativismo.

    A maior parte dos produtos florestais no madeireiros comercializados vem de sistemas

    extrativistas. Porm, toda a produo extrativista segue um ciclo de expanso e declnio

    (Homma, 1992 e 1994), sendo crescentemente substituda por produtos cultivados.

    Atualmente, muitos produtos antes extrados da natureza, j so totalmente cultivados e

    muitos esto em processo ascendente de substituio dos sistemas tradicionais de

    extrao por sistemas mais complexos de cultivo associado e adensado. Apesar disso, o

    extrativismo ainda de grande relevncia, principalmente para as economias familiares.

    Na primeira fase, o extrativismo se expande favorecido pela existncia de reservas

    relativamente abundantes e por uma posio monopolista dos extrativistas no mercado.

    A segunda fase do extrativismo caracterizada pela estabilizao das condies de

    oferta e demanda e pela aproximao ao limite mximo da capacidade de oferta. A

    necessidade de ampliar a oferta faz com que os custos unitrios aumentem tornando

    invivel a extrao frente aos custos da produo realizada via cultivos. A mudana na

    relao entre custo unitrio de extrao/produo inaugura a terceira fase do

    extrativismo que pode ser caracterizada como um declnio desse sistema de organizao

    da produo. A partir dessa fase, o extrativismo perde o monoplio de mercado e o

    cultivo de espcies domesticadas ganha espao. Na ltima etapa, o extrativismo

    desapareceria dando origem fase de produo por meio de plantas cultivadas. O

    avano da tecnologia e o surgimento de produtos sintticos com preos de mercado

    mais favorveis acelera a substituio do extrativismo pela produo com espcies

    domesticadas.

    A anlise do extrativismo e de suas variantes, baseada nas condies de oferta e procura

    de mercado, traz contribuies relevantes do ponto de vista da comercializao.

    relevante ressaltar, entretanto, que o debate em torno de um modelo de desenvolvimento

    economicamente vivel e ecologicamente sustentvel deve ir alm de uma anlise a

    partir da valorao dos produtos de acordo com os seus custos de extrao/produo. A

    economia do meio ambiente nos mostra que o valor de um produto ou de um sistema de

    produo derivado no somente do seu mercado potencial, determinado pelas

    condies de oferta e demanda, mas tambm de uma srie de funes que a manuteno

    do mximo da floresta amaznica em p pode ofertar para a sociedade e no apenas

    para os moradores da regio. Neste sentido, a sustentabilidade do modelo de

    desenvolvimento baseado no extrativismo e suas variantes pode encontrar base de

    sustentao na redistribuio de renda dos segmentos da sociedade que utilizam mais

    intensivamente os recursos naturais para aqueles que preservam e multiplicam os

    recursos naturais com seu modelo de extrao/produo. assim importante a

    remunerao dos servios ambientais para a preservao dos recursos naturais.

    Allegretti (1994) sugere que o extrativismo deve ser analisado sob a perspectiva

    econmica e ecolgica, onde recursos naturais so vistos como um capital e sua

    conservao em funo do valor dos recursos escassos e no somente da disponibilidade

    de tecnologia para sua explorao e insero no mercado. Qualquer atividade

    extrativista no pode ser analisada exclusivamente em termos econmicos desde que

    essas atividades tenham tambm funes sociais e ambientais.

  • 18

    As reservas extrativistas podem ser melhoradas usando tcnicas agroflorestais,

    introduzindo tecnologias para promover o enriquecimento de plantas, bem como por

    meio da implantao de projetos que promovam a industrializao dos produtos. Desta

    forma, o extrativismo promoveria a reconciliao entre os interesses de conservao e

    as necessidades sociais e econmicas.

    5. As polticas de desenvolvimento

    As polticas pblicas para o desenvolvimento da Amaznia se orientaram desde os

    primeiros processos de colonizao por processos exgenos baseadas principalmente na

    expanso da fronteira agrcola. As polticas de desenvolvimento e os incentivos fiscais

    foram adotados conjuntamente com o objetivo de implantar grandes lavouras brancas e

    a pecuria extensiva. Atualmente h uma forte expanso da pecuria e implementa-se

    um grande incentivo oficial expanso das lavouras de soja.

    Os principais impactos ambientais globais provocados por este modelo de produo

    implantado na Amaznia so o processo de aquecimento global, provocado pelas

    queimadas, a emisso de CO2, a lixiviao, a eroso hdrica, a perda de nutrientes do

    solo, a eroso elica e a perda de biodiversidade. Implementar na Amaznia um modelo

    de agricultura como aquele implementado em outras regies do Brasil, baseado no

    aumento da produtividade do trabalho por meio da mecanizao extensiva das

    atividades agrcolas e da monocultura, ter as mesmas conseqncias geradas nas

    regies onde este modelo foi implantado, ou seja, expulso dos pequenos produtores

    para atividades urbanas que no oferecem oportunidades suficientes de ocupao (MIN

    e MMA, 2004).

    Na contramo dos processos tradicionais de explorao da Amaznia, h um enorme e

    recente esforo para se consolidar polticas de desenvolvimento sustentvel. O Plano

    Amaznia Sustentvel atualmente a iniciativa mais importante de articulao de

    polticas pblicas para o desenvolvimento sustentvel da regio. Sua principal diferena

    com relao aos antigos planos o reconhecimento da importncia do crescimento dos

    investimentos e do PIB regional, porm baseado num processo de construo de

    instituies adequadas, gerao de capital social e mobilizao de sinergias entre Estado

    e sociedade, descentralizao de polticas pblicas e participao da sociedade.

    O PAS coordenado pelo Ministrio da Integrao Nacional e est organizado em cinco

    eixos temticos: (1) produo sustentvel com inovao e competitividade; (2) incluso

    social e cidadania; (3) gesto ambiental e ordenamento do territrio; (4) infra-estrutura

    para o desenvolvimento; e (5) novo padro de financiamento. O modelo de gesto do

    Plano se baseia em espaos de participao e articulao de dois nveis: as cmaras

    setoriais, em que se mobilizam atores sociais vinculados a setores econmicos, e os

    fruns territoriais que organizam a viso de desenvolvimento de um determinado

    territrio, de forma transversal, como na mobilizao da sociedade na rea de influncia

    da BR 163.

    O PAS tem como objetivo implementar um novo modelo de desenvolvimento na

    Amaznia voltado para a gerao de emprego e renda, a reduo das desigualdades

  • 19

    sociais, a viabilizao de atividades econmicas dinmicas e inovadoras com insero

    em mercados regionais, nacionais e internacionais e o uso sustentvel dos recursos

    naturais com a manuteno do equilbrio ecolgico. O Plano Amaznia Sustentvel

    planeja estratgias de desenvolvimento para trs macrorregies amaznicas: o Arco do

    Povoamento Adensado, a macrorregio da Amaznia Central, e a macrorregio da

    Amaznia Ocidental.

    O Arco do Povoamento Adensado compreende as regies sul e leste da regio

    amaznica, envolvendo o cerrado do Mato Grosso, Tocantins e Maranho e as reas

    desmatadas do sudeste do Par, de Rondnia e do sul do Acre. As estratgias para essa

    regio esto orientadas para a intensificao das atividades dinmicas no predatrias e

    com isso, estancar a expanso da soja pela floresta, atraindo os grandes produtores para

    as reas j desmatadas. Com esse objetivo, as polticas sero direcionadas para o

    aparelhamento dos ncleos urbanos com agroindstria e servios, garantir o escoamento

    da produo, estmulo pecuria e suas indstrias de couro, frigorficos e laticnios,

    investimentos na consolidao da malha viria e na expanso das redes de

    telecomunicaes, estimular a produo de biodiesel, certificao da produo

    madeireira, gerenciamento costeiro e manejo dos recursos hdricos, promover sistemas

    agroflorestais e uso de produtos florestais no madeireiros e fortalecer o mercado

    consumidor de massas na Amaznia. Os instrumentos principais para isso seriam a

    proviso adequada de crdito, acessibilidade aos mercados, capacitao gerencial,

    comercial e tcnica das organizaes de produo e difuso de tecnologias.

    A macrorregio da Amaznia Central compreende o centro do Par e extremo norte de

    Mato Grosso estrada Porto Velho-Manaus e hidrovia do Madeira. A diretrizes do

    PAS para essa regio tm o objetivo estratgico de compatibilizar produo e

    conservao, com o ordenamento da expanso nos eixos, fortalecimento da produo

    familiar na rodovia Transamaznica, promover a explorao florestal sustentvel e

    acelerar o ritmo da ao conservacionista. Os instrumentos de poltica pblica para isso

    so a criao de um Zoneamento Ecolgico Econmico ao longo dos eixos,

    ordenamento territorial, demarcao e proteo das terras indgenas e unidades de

    conservao, manejo florestal sustentvel com certificao, ordenamento da pesca e da

    aqicultura sustentvel, estmulo exportao de produtos das populaes tradicionais,

    bioprospeco e bioindstria apoiada em recursos genticos regionais e apoio aos

    ncleos urbanos prximos aos eixos.

    A macrorregio da Amaznia Ocidental compreende os estados do Amazonas, de

    Roraima e maior parte do Acre. As diretrizes para o desenvolvimento dessa regio so

    a responsabilidade scio-ambiental na construo de estradas e obras de infraestrutura

    que impliquem novos corredores de ocupao, a acelerao do ritmo da criao de

    corredores ecolgicos, o monitoramento da poluio hdrica, a conteno do

    narcotrfico e o controle das fronteiras polticas, o combate biopirataria e proteo do

    conhecimento tradicional, e implementao de aes para atender, nos locais de origem,

    as populaes indgenas. A estratgia promover a expanso orientada de produtos

    certificados, manejo florestal, servios ambientais e seqestro de carbono, produo

    sustentvel da biodiversidade, biotecnologia e bioindstria, e a substituio do uso do

    diesel pelo gs de Urucu e de pases vizinhos e a utilizao de biodiesel.

  • 20

    5.1 Programas de financiamento

    A regio Norte do Brasil a que apresenta os maiores problemas de atendimento

    bancrio. Segundo dados do Banco Central (Unicad, 2006), 332 municpios, dois teros

    dos 449 municpios da regio, no possuam agncia bancria e 233, pouco mais da

    metade dos municpios, no possuam nenhum tipo de atendimento bancrio, no ano de

    2004. Por isso, mais do que em outras regies, adquiriram grande importncia os

    programas pblicos, governamentais e no governamentais de financiamento.

    Tm sido desenvolvidas diversas polticas financeiras de apoio a experincias de

    desenvolvimento sustentvel. As principais so o Pronaf, o FNO, o FNMA, o PD/A, o

    CNPT, o PRONABIO e o Projeto RESEX que financiam projetos de gerenciamento

    ambiental em todo o Pas desenvolvidos por comunidades locais para gerar novos

    referenciais de desenvolvimento sustentvel.

    Segundo dados do Banco da Amaznia, as linhas de crdito mais importantes operadas

    pelo banco em 2004, foram o FNO e o Pronaf. As atividades agrcolas receberam dois

    teros do volume total de crdito para atividades produtivas operado pelo banco e as

    atividades industriais e de servios receberam um tero dos financiamentos.

    A maior parte do FNO Rural, que inclui o Pronaf foi utilizado para a produo pecuria.

    Do FNO destinado s atividades no agrcolas, exportao e indstria receberam 34% e

    30%, respectivamente dos financiamentos. Infraestrutura e comrcio e servios foi o

    grupo de atividades que recebeu cada um em torno de 10% do total de crdito em 2004.

    Residualmente, micro e pequenas empresas, agroindstria e turismo foram os outros

    setores financiados.

    i) O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

    O Pronaf foi criado em 1995 pelo Ministrio da Agricultura como resultado das

    negociaes das mobilizaes dos movimentos sociais. O Pronaf um programa de

    crdito voltado exclusivamente para os agricultores familiares e financia atividades

    agrcolas, pecurias, agroindstrias e atividades rurais no agrcolas.

    Ainda que o Programa atenda ainda apenas 30% da demanda da regio estimada em

    377.955 estabelecimentos familiares, vem ocorrendo um grande crescimento do pblico

    atendido. Novas linhas de financiamento e novas metodologias de relacionamento entre

    os bancos e os clientes tendem a aproximar mais o programa de crdito da sua demanda.

    A partir de 2002, com um grande esforo do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio e

    do Banco da Amaznia, o nmero de contratos cresceu de pouco mais de 30 mil

    subindo para 67 mil contratos em 2003 e 120 mil em 2004.

    Dos contratos operados pelo Banco da Amaznia, 60% do total de recursos do Pronaf

    em 2004 financiou o segmento da agricultura familiar de maior renda (grupo D) e um

    tero foi destinado aos assentamentos (grupo A).

  • 21

    Figura 8 O nmero de contratos de Pronaf na regio Norte cresceu exponencialmente a partir de 2002.

    0

    20000

    40000

    60000

    80000

    100000

    120000

    140000

    1999 2000 2001 2002 2003 2004

    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

    ii) O Fundo Constitucional da Regio Norte

    O Fundo Constitucional de Financiamento do Norte foi institudo em 1989, com

    recursos do tesouro nacional e controlado pelo Banco da Amaznia. O Fundo financia

    custeio e investimento de projetos de pequenos produtores. o principal fundo de

    financiamento da produo familiar rural na regio Norte.

    O Banco da Amaznia vem financiando, com recursos do FNO, investimentos na

    produo de produtos tradicionais da Amaznia atravs de um programa de apoio ao

    extrativismo, o PRODEX. As condies de pagamento so mais favorveis que as de

    mercado. Uma das maiores dificuldades para os agricultores terem acesso a este

    programa so os custos de acesso decorrentes de um sistema de governana ainda

    insuficiente devido falta de organizaes que facilitem o acesso dos extrativistas ao

    banco, da limitada rede de agncias e oferta de outros servios complementares de

    financiamento e a falta de assistncia tcnica. Muitos projetos no esto se viabilizando

    e muitos produtores esto inadimplentes pela falta de projetos adequados sua realidade

    e pela falta de acompanhamento tcnico permanente.

    O Programa de Apoio Pequena Produo Familiar Rural Organizada um sub

    programa do FNO, destinado a mini-produtores organizados em associaes ou

    cooperativas, associaes ou cooperativas de mini-produtores e mini-pescadores

    artesanais.

    A pesquisa da FASE de avaliao do FNO identificou mudanas sociais e econmicas

    importantes para os produtores que tiveram acesso ao crdito. Houve aumento no

    nmero de associaes e proporcionou aumento de renda dos produtores. Porm, as

    limitaes do sistema so muito grandes. Os projetos elaborados so, muitas vezes,

    incompatveis com a realidade local e so projetos com baixa sustentabilidade

    ambiental. Na maioria dos projetos ocorreu reduo da diversidade do uso do solo e o

  • 22

    nvel de resultado econmico dos projetos e capacidade de pagamento so muito baixos.

    As distores entre os projetos e a realidade tambm provocam excluso social, como o

    acesso das mulheres limitado apenas a 10% dos financiamentos contratados. A melhoria

    da assistncia tcnica, a reduo da burocracia dos contratos, a capacitao e o

    desenvolvimento de novas tecnologias so as principais recomendaes desta pesquisa.

    A partir de 1994 houve uma forte queda dos valores aplicados pelo FNO. Em 1996,

    ocorreu uma mudana na metodologia do clculo da taxa de administrao aumentando

    o custo para os produtores. A reduo dos encargos que hoje so superiores aos do

    Pronaf e do Procera, a mudana de classificao dos beneficirios, a negociao das

    dvidas, a criao de um programa de assistncia tcnica e a adequao do crdito s

    realidades locais so as principais propostas das organizaes dos produtores familiares.

    O Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo um sub programa do FNO

    e tem uma linha de crdito voltada especificamente para mini e pequenos produtores

    rurais extrativistas, associaes e cooperativas.

    iii) Programas de crdito para a biodiversidade

    Algumas linhas de crdito so destinadas especificamente para a aplicao em projetos

    de uso sustentvel da biodiversidade.

    O PD/A um programa do PPG7 (Programa Piloto para a Proteo das Florestas do

    Brasil). Este programa financia projetos a fundo perdido para associaes, cooperativas,

    sindicatos, ONGs, prefeituras, etc. O objetivo deste programa o apoio a idias

    inovadoras para o uso sustentvel dos recursos naturais.

    O Programa de Ecoturismo um programa do BID (Banco Interamericano de

    Desenvolvimento) destinado especificamente ao ecoturismo. Metade dos recursos so

    destinados a emprstimos a governos com a finalidade de financiar obras de

    infraestrutura e a outra metade destinada projetos de ecoturismo.

    O Small and Medium Scale Enterprise Program um programa do GEF (Global

    Environment Facility) e do IFC (International Finance Corporation) e financia projetos

    atravs de repasses para ONGs.

    O Fundo Terra Capital um fundo funciona como um capital de risco do Banco Axial

    para financiamento de projetos de investimento em biodiversidade e destinado a

    projetos em parceria.

    O Ecoenterprises um fundo de capital de risco, criado em parceria pelo TNC (The

    Nature Conservancy) e o BID para investimentos em agricultura orgnica, manejo

    sustentvel de florestas e ecoturismo.

    O FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), financiado pelo GEF destinado a

    rgos pblicos, empresas, cooperativas e associaes. O fundo destinado a projetos

    de conservao e uso sustentvel da biodiversidade, pesquisa ou estudo de polticas

    ambientais. O Funbio financia pequenos projetos a fundo perdido e projetos maiores em

    parceria.

  • 23

    Alm desses existem ainda a Fundao Ford que financia principalmente ONGs

    ambientalistas em projetos de pesquisa em biodiversidade e as reas de educao e

    sade, a Fundao Macarthur que financia projetos institucionais de ONGs e

    associaes ambientalistas para projetos na rea de sade, a Fundao o Boticrio que

    financia pequenos projetos de preservao e conservao de recursos naturais, dentre

    diversos outros pequenos fundos pblicos e privados de financiamento de atividades

    baseadas no manejo sustentvel.

    iv) O Fundo Nacional do Meio Ambiente

    O Fundo Nacional do Meio Ambiente uma das principais fontes de financiamento de

    projetos ambientais. A misso institucional do FNMA contribuir, como agente

    financiador e por meio da participao social, para a implementao da Poltica

    Nacional do Meio Ambiente. O FNMA organiza os financiamentos atravs de sete

    linhas temticas.

    A linha temtica de extenso florestal tem como foco o financiamento de atividades que

    priorizem a proteo da diversidade biolgica florestal, o desenvolvimento da

    silvicultura e da agrossilvicultura com espcies nativas e o manejo de florestas nativas e

    estimula a oferta de produtos florestais para os mercados regionais e locais, ampliando

    as oportunidades de gerao de emprego e renda das populaes locais. A maior parte

    dos projetos financiados atravs desta linha temtica de investimentos na construo

    de viveiros, recuperao de reas erodidas, degradadas, matas ciliares, recursos hdricos,

    preservao de florestas nativas, estudos, pesquisas, mapeamentos, monitoramento,

    combate e preveno de incndios florestais, educao ambiental, implantao de

    sistemas agroflorestais, agricultura orgnica, organizao da produo e

    comercializao e manejo de dejetos e lixo domstico.

    A linha temtica de gesto integrada de reas protegidas destina-se a apoiar a

    implantao e o desenvolvimento de unidades de conservao legalmente constitudas,

    pblicas ou privadas.

    O apoio do FNMA s reas protegidas inclui o incentivo a projetos de gesto

    compartilhada em unidades de conservao, atravs do financiamento de estudos de

    viabilidade e implantao de unidade de conservao, implantao de projeto de

    turismo, elaborao e implantao de planos de manejo, programas de pesquisa,

    diagnstico, monitoramento, mapeamento e zoneamento ambiental, implantao de

    trilhas ecolgicas e infraestrutura de parques, projetos de arqueologia, educao

    ambiental, gerenciamento de resduos slidos e elaborao de planos de negcios,

    manejo e industrializao de produtos da biodiversidade.

    A terceira linha temtica do FNMA a de manejo sustentvel da flora e da fauna, cujo

    foco o apoio a projetos de conservao e preservao de espcies silvestres em

    conjunto com aes para a gerao de renda. Nesta rea so financiados projetos de

    pesquisa, inventrios, implantao de infraestrutura e manejo para conservao da fauna

    e flora em ecossistemas naturais, uso de plantas medicinais, estudos de mercado e de

  • 24

    viabilidade econmica e elaborao de planos de negcios para manejo de produtos da

    biodiversidade.

    A linha temtica de uso sustentvel dos recursos pesqueiros apia projetos que busquem

    a gesto integrada dos recursos pesqueiros, por meio da participao social e da

    conservao da biodiversidade aqutica, atravs do financiamento de pesquisa,

    elaborao de planos de negcios de piscicultura, pesca artesanal e manejo sustentvel e

    desenvolvimento de tecnologias, educao ambiental, implantao de reservas

    extrativistas e organizao comunitria.

    A linha temtica de educao ambiental financia projetos que visam promover a

    conscientizao e estmulo preservao e participao social, promoo do

    desenvolvimento sustentvel, implantao de manejo sustentvel, difuso de

    tecnologias, desenvolvimento do turismo sustentvel, lazer, reciclagem e artesanato,

    desenvolvimento da agroecologia, agricultura orgnica e agroflorestas, instalao de

    centros de educao ambiental, formao de guias ambientais, dentre outros.

    Atravs da linha temtica de qualidade ambiental, o FNMA estimula projetos que

    contemplem polticas de controle das atividades poluidoras, implantao de planos de

    emergncias ambientais e recuperao de reas contaminadas. Por ltimo, a linha de

    gesto integrada de resduos slidos financia prioritariamente projetos de administrao

    pblica municipal de racionalizao do uso dos recursos e programas de coleta seletiva

    e reciclagem de materiais, implantao de unidades de tratamento e de disposio final

    do resduo remanescente.

    O amplo escopo de iniciativas de cunho social, econmico e ambiental financiadas pelo

    Fundo Nacional de Meio Ambiente, torna-o o principal agente financiador desse tipo de

    projeto. A principal limitao do fundo a pequena preocupao com a viabilidade

    econmica dos projetos financiados, limitando assim a capacidade destes projetos terem

    uma sustentabilidade financeira de longo prazo. Neste caso, parcerias entre o fundo e

    organizaes mais habilitadas para analisar gesto financeira e mercados ampliariam o

    potencial econmico dos projetos ambientais.

    5.2 Experincias de desenvolvimento sustentvel

    As organizaes sociais podem ter um peso determinante nos rumos do

    desenvolvimento, sobretudo das regies onde h um denso tecido social, projetos

    sociais bem estruturados e efetiva capacidade de mobilizao e de representao das

    demandas sociais. Isso o que mostra o trabalho de Mrcia Muchagata (2004). O

    modelo de desenvolvimento da regio de Marab, estudada pela pesquisadora foi

    profundamente modificado pelo papel dos sindicatos de trabalhadores rurais e outras

    organizaes, devido capacidade dessas organizaes de canalizar para a regio

    polticas de crdito e programas de fomento para a agricultura familiar.

    A identificao e anlise das iniciativas de organizao da produo segundo novas

    orientaes baseadas na sustentabilidade uma ao fundamental para que as polticas

  • 25

    de desenvolvimento sustentvel tenham como matriz as experincias j bem sucedidas.

    A atividade econmica sustentvel um processo integrado conservao do meio

    ambiente, como forma de viabilizar financeiramente as populaes tradicionais sendo

    tambm uma forma de financiar o pagamento dos servios ambientais.

    Nos ltimos dez anos surgiram diversas experincias de manejo sustentvel de produtos

    dos ecossistemas amaznicos. A maioria das novas experincias se estruturou para a

    produo e comercializao de produtos da biodiversidade local. Estas experincias so

    os principais demandantes de polticas de desenvolvimento sustentvel

    Uma das experincias especialmente relevante a Cooperativa Agroextrativista de

    Xapuri no Acre. Esta cooperativa organiza a produo e comercializao da regio em

    que se encontra a Reserva Extrativista Chico Mendes que ocupa a rea de antigos

    seringais, habitada por seringueiros e baseada na extrao e beneficiamento da castanha.

    A cooperativa conta com o apoio de diversas organizaes populares como o Conselho

    Nacional dos Seringueiros CNS e do Centro dos Trabalhadores da Amaznia CTA. Financiamentos externos permitiram a construo de infra-estrutura necessria para o

    beneficiamento da castanha. Outras ONGs, entre elas o extinto Instituto de Estudos

    Amaznicos IEA, deram importantes contribuies principalmente para a exportao para os mercados norte-americano e europeu. O Centro Nacional de Desenvolvimento

    Sustentado das Populaes Tradicionais (CNPT), do IBAMA, argumenta que outras

    experincias de comercializao de produtos oriundos da explorao extrativa de

    populaes tradicionais vm sendo conduzidas por cooperativas, como a produo de

    couro vegetal em Boca do Acre a Associao das RESEX do Rio Cajar (Amap) e

    Ouro Preto (Rondnia), baseadas na produo e comercializao da borracha e

    castanha, representam a continuidade do movimento iniciado em Xapuri. Curralinho,

    em Maraj, voltada para a produo e comercializao do aa, conta com o apoio de

    ONGs, de rgos governamentais por meio da EMBRAPA/CNPT/Secretaria Estadual

    de Indstria e Comrcio, bem como do Sebrae. A Caixa Agrcola do Araras (CAAS),

    localizada em So Joo do Araguaia-Marab, que com a participao do Centro de

    Educao, Pesquisa e Assessoria Sindical Popular (CEPASP), visa a produo de

    cupuau, embora no haja registro sobre a origem dos pequenos produtores que a

    atuam. Essas organizaes receberam grande volume de recursos e conquistaram

    importantes mercados, mas a grande fragilidade na gesto limita as possibilidades de

    sustentabilidade e crescimento das experincias.

    O sindicalismo rural do norte vem desenvolvendo experincias de produo sustentvel,

    com iniciativas na organizao da comercializao. Em Rondnia, alguns sindicatos

    esto participando de projetos do PD/A em comunidades rurais, com atividades de

    piscicultura, apicultura e sistemas agroflorestais. Exemplos desses projetos so o projeto

    da APA, projeto de produo e manejo sustentvel e comercializao e o Projeto Padre

    Ezequiel, de formao, assessoria e verticalizao da produo. No Par, destacam-se as

    experincias da COMAG, para verticalizao da produo juntamente com o trabalho

    de formao tcnico profissional, o Mutiro Agroextrativista, a AMTBAM, associao

    de mulheres para a produo de artesanato, a AMC, associao para a industrializao

    de polpas, o CAT, rgo que faz pesquisas e introduo de novas tecnologias, as

    colnias de pescadores, articuladas conjuntamente pelo movimento sindical e pelo

    MONAPE (Movimento Nacional de Pescadores), que organizam a industrializao de

    pescados, e a experincia do Tabuleiro de Tartarugas, para a preservao dos quelnios,

  • 26

    reproduo, povoamento e consumo. No estado do Amazonas, destacam-se o Projeto

    Mamirau, para a preservao de lagos, o Projeto gua Verde, para reflorestamento e o

    Projeto Sagrado Corao, para implantao de sistemas agroflorestais.

    A maior parte dos projetos aprovados no mbito da cooperao entre o Governo

    brasileiro e o G7 no Programa Piloto para Conservao da Floresta Tropical Brasileira

    (PPG-7) e subprograma Projetos Demonstrativos tipo A (PD/A) insere-se dentro desse

    grupo de experincias.

    A avaliao das experincias de comercializao nos projetos financiados pelo PD/A

    evidencia que a desorganizao da produo o principal fator limitante para que estes

    produtores insiram com estabilidade seus produtos no mercado. Alm dos problemas de

    regularidade e qualidade na oferta dos produtos, so citados ainda como desafios a

    serem superados o excesso de burocracia para a legalizao, o registro e licenciamento

    dos produtos e dos estabelecimentos, a falta de infra-estrutura, principalmente energia.

    Do ponto de vista da gesto dos negcios, as maiores limitaes so o pequeno

    aproveitamento das estruturas j instaladas, a necessidade de centralizao de servios

    de comercializao, principalmente para as atividades de marketing, diagnsticos e

    definio de estratgias de mercado. Alguns projetos apoiados pelo PD/A apontam

    como necessria a criao de centrais de comercializao e a integrao dos projetos nas

    regies para viabilizar o processo de produo e comercializao.

    O Projeto RECA, no Acre, iniciou entre 1988 e 1989 por iniciativa de lideranas rurais

    de Nova Califrnia que iniciaram a discusso sobre um modelo alternativo de

    desenvolvimento para a regio. Inicialmente os rgos governamentais no se

    dispuseram a colaborar e a comunidade encontrou apoio em lideranas originrias da

    Diocese de Rio Branco e da CPT. Com financiamento de uma agncia internacional o

    projeto RECA foi dividido em trs subprojetos: organizao dos produtores,

    implantao de culturas, comercializao e industrializao. A experincia do RECA na

    comercializao do cupuau iniciou-se em 1991. O primeiro beneficiamento foi manual

    realizado com o uso de tesouras. Na etapa seguinte foi adquirido uma despoupadeira e

    construdo um barraco para o beneficiamenteo da produo. O cumprimento das

    exigncias do Ministrio da Sade e da Agricultura e a autorizao da Vigilncia

    Sanitria foi o passo posterior. A comercializao da polpa congelada aumenta os custos

    de transporte e as exigncias tcnicas quanto a manuteno da temperatura. Os custos

    ainda so altos e a demora para negociar a produo encarece ainda mais o produto.

    Para agilizar o processo de comercializao o projeto tem buscado profissionais para

    atuarem como representantes comerciais e dinamizar as vendas.

    Outra experincia importante a de Gurup, no estado do Par. Nesta regio, por

    iniciativa da FASE desenvolve-se o Programa Gurup. O Programa executado em

    parceria com organizaes representativas locais como o Sindicato dos Trabalhadores

    Rurais, associaes de produtores e governo. O objetivo realizar aes organizadas a

    fim de executar e demonstrar a viabilidade de modelos de explorao sustentvel dos

    recursos naturais. A experincia na rea da comercializao realiza-se por meio do

    Projeto Bem-Te-Vi. O benefcio para os produtores a assistncia tcnica das ONGs

    alm da possibilidade de eliminar o intermedirio na venda dos produtos. A construo

    de fbrica de palmito no local tambm permitiu a adio de valor ao produto final. A

    experincia de Gurup interessante porque articula um conjunto de programas que

  • 27

    desenvolvem de forma articulada polticas produo e industrializao, apoio a

    regularizao fundiria, comercializao e programas de alfabetizao.

    Alm das organizaes de produtores em cooperativas e associaes, diversos tcnicos e

    lideranas locais tm apontado as feiras como alternativas importantes para

    comercializao dos produtos da floresta. Um volume significativo de produo

    comercializado em feiras prximas aos produtores nas pequenas cidades principalmente

    nas regies Norte e Nordeste. Outras experincias nacionais ou internacionais como a

    organizao da Expo Amaznia pelo GTA em So Paulo, a Feira da Produo Familiar

    da Amaznia organizada pelo movimento sindical rural e feira internacionais dos

    projetos PD/A e Banco Mundial inserem-se tambm dentro desta perspectiva. As feiras

    atingem trs objetivos relevantes: i) comercializam diretamente a produo; ii)

    divulgam e promovem os produtos da floresta como alternativas scio-ambientais

    sustentveis; e iii) facilitam negcios entre compradores e vendedores. A experincia

    das feiras demonstra, entretanto que elas podem ser melhor aproveitadas desde que

    sejam contornados alguns pontos identificados como falhos nessas atividades. Muitas

    vezes, as estruturas de conservao dos produtos expostos no so adequadas,

    principalmente para aqueles produtos comercializados que exigem congelamento ou

    resfriamento. Muitos produtos no contam com um processo de rotulagem adequado s

    exigncias para a comercializao e no informam o consumidor sobre a procedncia,

    as caractersticas do produto e a apresentao do produto muitas vezes no valoriza o

    seu contedo.

    Outra experincia de grande relevncia aquela realizada por meio da organizao das

    Quebradeiras de Coco de Babau. Na regio dos cocais no Maranho uma parcela da

    produo de coco de babau est integrada com grades firmas produtoras de cosmticos.

    Uma dessas experincias teve incio em 1994 e contou com o apoio de uma ONG

    americana chamada Cutural Survival. Esta ONG comeou a comprar o leo bruto de

    babau feito a partir de prensagem manual pela Cooperativa dos Pequenos Produtores

    de Lago do Junco (Coppalj) para a cadeia de cosmtico da firma inglesa The Body

    Shop. A experincia exitosa levou a Body Shop a fazer o contrato de compra

    diretamente com a organizao dos produtores. O leo sai do porto de Fortaleza para

    Roterd (Holanda) onde refinado e embarcado para a fbrica da Body Shop na

    Inglaterra e usado para a fabricao de produtos conhecidos internacionalmente como

    Ananya Lotion, SPF30 liptsticks e White Musk lotion.

    A Associao das Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR) organiza tambm a

    produo de coco de babau. A AMTR foi responsvel pela instalao de uma fbrica

    de sabonete glicerinado de babau e exporta sua produo para a empresa americana

    naturalista Pacific Sensuals Inc. A aceitao do leo de babau reforada pela

    certificao de qualidade expedida pelo Instituto Biodinmico de Desenvolvimento

    Rural (IBD) de Botucatu.

    Grandes empresas tambm esto articulando redes de comercializao e informao de

    mercado de produtos florestais. A criao da Bolsa Amaznia fruto de uma parceria

    entre a Mercedez Benz e o Poema Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amaznia da Universidade Federal do Par. Esta iniciativa se orienta pela crescente demanda por alimentos produzidos sem o uso de agrotxicos, pela demanda por matrias primas para

    as indstrias farmacuticas, de cosmticos e de outros produtos industriais. Os objetivos

  • 28

    da Bolsa da Amaznia so a identificao dos perfis da demanda de produtos naturais,

    as condies atuais e potenciais da oferta regional, a promoo e intermediao de

    relaes comerciais entre representantes da demanda e da oferta, a capacitao dos

    agentes do programa para ampliar as suas escalas e a agregao de valor sua produo

    e ampliar a articulao das aes entre agncias para o apoio tcnico, financeiro e

    mercadolgico de iniciativas produtivas.

    Estas iniciativas so inovadoras com relao ao sistema de comercializao tradicional,

    principalmente porque apresentam um maior potencial de gerar processos de

    investimento na implantao de indstrias modernas na regio. Alm disso, modificam-

    se tambm as relaes comerciais tradicionais, para sistemas mais modernos de

    integrao entre indstria e produtores. Esta inovao, porm, apesar de oportunizar

    melhores condies de mercado, renda e emprego para as regies onde se situam, so

    limitadas por se tratarem de sistemas de produo muito intensivos, viabilizando um

    pequeno nmero de produtores. Um dos principais entraves ao fortalecimento destas

    experincias a falta de estudos sistemticos que ajudem os agentes a avaliar e formular

    polticas adequadas. Alm disso, estes projetos apresentam nveis muito dispersos de

    investimento tecnolgico e sustentabilidade, h uma grande fragmentao de projetos

    desarticulados entre si, a sua sustentao financeira est ancorada nos mercados locais e

    existe uma grande debilidade gerencial.

    H um relativo consenso entre os produtores, tcnicos e assessores de que um dos

    problemas, especialmente relevante na produo e comercializao de produtos

    florestais no madeireiros, est relacionado com a organizao da produo. Entendida

    como o processo que vai da colheita, passando pelo beneficiamento e pela

    industrializao, at a oferta dos produtos em qualidade e quantidade constante. O grau

    de organizao da oferta diferente em cada produto e depende de vrios fatores. Os

    mais importantes esto relacionados com forma de produo, cultivo ou extrao, a

    integrao da produo indstria processadora ou a firmas especializadas em

    determinados nichos de mercado e s caractersticas de industrializao e

    beneficiamento dos produtos.

  • 29

    6. Concluses

    O processo de desenvolvimento por que passa a regio Amaznica caracterizado por

    uma das situaes mais problemticas e contraditrias do Pas. Um intenso e acelerado

    processo de dinamizao econmica que se baseia, porm na explorao dos recursos

    naturais, no uso de recursos pblicos subsidiados, na fragilidade do poder pblico e na

    desigualdade social. As principais atividades econmicas da regio: minerao,

    pecuria, soja e indstria, bem como os investimentos em infra-estrutura a elas

    direcionados tm sido responsveis pelo forte crescimento econmico da regio, que

    no se traduzem porm, em resultados sociais, em termos de renda, emprego e servios

    pblicos.

    Duas caractersticas do desenvolvimento da Amaznia so os principais fatores dessa

    contradio entre crescimento econmico, degradao ambiental e desigualdade. Em

    primeiro lugar uma concentrada estrutura produtiva e de mercado, que faz com que os

    benefcios do crescimento econmico no sejam acompanhados de um processo

    proporcional de distribuio de renda e gerao de empregos.

    O segundo fator uma grande fragilidade institucional, caracterizada especialmente,

    pela ineficiente capacidade do Estado em fiscalizar e coibir as aes ilegais, a falta de

    direitos de propriedade bem estabelecidos, especialmente com relao terra e a

    existncia de insuficientes instrumentos de incentivos a prticas de desenvolvimento

    sustentvel.

    O cenrio comea lentamente a mudar atravs de um pioneiro e crescente esforo

    institucional para implementar polticas de desenvolvimento sustentvel na Amaznia,

    sobretudo atravs da formao de fruns com a participao de diversos segmentos da

    sociedade para o debate dos rumos do desenvolvimento, como o exemplo do Consrcio

    pelo Desenvolvimento Socioambiental da BR-163, e articulaes inter-institucionais

    como o Plano de Ao para Preveno e Controle do Desmatamento na Amaznia e o

    Plano Amaznia Sustentvel.

    Alm disso, um conjunto de polticas necessitaria ser articulado para que as iniciativas

    ainda isoladas de desenvolvimento sustentvel pudessem adquirir uma dimenso

    regional expressiva. A principal estratgia que os projetos governamentais gerassem

    estruturas produtivas integradas a processos territoriais de planejamento estratgico.

    Para isso precisa ser estimulada a ao de vrios atores sociais em torno de projetos

    territoriais de desenvolvimento. O setor privado poderia ser envolvido, atravs da

    adoo de polticas de responsabilidade scio-ambiental das empresas e a formao de

    ambientes mais favorveis aos negcios e mais adequados s condies sociais e

    ambientais locais. O conhecimento mais profundo da realidade local para isso

    fundamental e pesquisas e desenvolvimento de tecnologias adequadas precisa ser

    incentivado.

    Por ltimo, ampliao e descentralizao da oferta de servios pblicos como

    assistncia tcnica, pesquisa e crdito seria fundamental para o desenvolvimento de

    empreendimentos de pequeno porte, e fortalecimento da capacidade de gesto dos

  • 30

    empreendimentos articulados a projetos de desenvolvimento sustentvel e

    fortalecimento de arranjos institucionais inovadores que criem novos canais de acesso

    aos mercados. A ao dos bancos nesse caso fundamental. Estabelecer sistemas de

    governana que estimulem a racionalidade econmica, o empreendedorismo, a inovao

    e a responsabilidade social e ambiental deveriam fazer parte dos princpios bsicos das

    linhas de crdito tanto para pequenos como para grandes empreendedores.

  • 31

    7. Bibliografia

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