cegov - 2015 - suas servicos caderno de estudos

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    1CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    CURSO DE INTRODUO AO

    PROVIMENTOSERVIOSDOS

    DO SUAS

    EBENEFCIOSSOCIOASSISTENCIAIS

    E IMPLEMENTAO DE AES DO

    PLANO BRASIL SEM MISRIA

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    CURSO DE INTRODUO AO

    PROVIMENTOSERVIOSDOS

    DO SUAS

    EBENEFCIOSSOCIOASSISTENCIAIS

    E IMPLEMENTAO DE AES DO

    PLANO BRASIL SEM MISRIA

    MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE FOME - MDSBRASLIA | BRASIL | 2015

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    B823c BRASIL. Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome

    Curso de introduo ao provimento dos servios e benefcios socioassistenciais do SUAS eimplementao de aes do Plano Brasil Sem Misria / Ministrio de Desenvolvimento Social eCombate Fome; autoras Rosa Maria Castilhos Fernandes, Maria Luiza Rizzotti. Braslia: MDS;Porto Alegre: CEGOV/UFRGS, 2015.

    123 p. (CapacitaSUAS)

    1. Brasil : Poltica e governo. 2. Proteo social. 3. Sistema nico de Assistncia Social. I. Fernan-des, Rosa Maria Castilhos. II. Rizzotti, Maria Luiza. III. Ttulo.

    CDD 361.610981

    2015 Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome.Todos os direitos reservados.Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desdeque citada a fonte.Secretaria de Avaliao e Gesto da Informao (SAGI)

    Bloco A | 3 andar | Sala 307 | CEP 70046-900 | Braslia | DFTelefone: (61) 2030-1770www.mds.gov.brCENTRAL DE RELACIONAMENTO DO MDS: 0800 707 2003

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS)Centro de Estudos Internacionais sobreGoverno (CEGOV)

    Campus do Vale, prdio 43322Av. Bento Gonalves, 9500CEP: 91.509-900 Porto Alegre RSFone: (51) 3308-9860

    www.ufrgs.br/cegov

    ELABORAO DE CONTEDOS

    Este material foi produzido com recursos doTED 004/2014, firmado entre a SAGI/MDS ea UFRGS/CEGOV

    Autoras |Rosa Maria Castilhos Fernandes eMaria Luiza Rizzotti

    Equipe MDS

    Ana Paula Gonalves,Angela Siman (ConsultoraPNUD), Antonio de Castro, Denise Mafra, ElianaTeles do Carmo, Elyria Bonetti Yoshida Credidio,Janine Bastos, Lea Lcia Ceclio Braga, JosFerreira da Crus, Lus Otvio Pires de Faria,Marcilio Marquesini Ferrari, Maria Cristina A.M. de Lima, Maria de Jesus Rezende, MichelleStephanou, Patricia A. F. Vilas Boas, PedroTomaz, Rogeres Rabelo, Simone Albuquerque,Telma Maranho Gomes, Thais Kawashima

    Equipe CEGOV

    Coordenao Geral | Aline Gazola HellmannTcnicos |Ana Carolina Ribeiro Ribeiro, AnaJulia Bonzanini Bernardi, Bruno Sivelli, GabrielaPerin, Gianna Reis Dias, Giordano BenitesTronco, Jssica Sulis, Jlia da Motta, ThiagoBorne Ferreira

    Capa | Joana Oliveira de OliveiraProjeto grfico | Gabriel Thier, Joana Oliveirade Oliveira, Liza Bastos Bischoff, Mrcia MyliusDiagramao e figuras |Mrcia Mylius

    EXPEDIENTE

    Presidenta da Repblica Federativa do Brasil | Dilma RousseffVice-Presidente da Repblica Federativa do Brasil| MichelTemerMinistra do Desenvolvimento Social e Combate Fome|Tereza CampelloSecretrio Executivo| Marcelo CardonaSecretrio de Avaliao e Gesto da Informao| PauloJannuzziSecretria Nacional de Assistncia Social| Denise ColinSecretrio Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional |Arnoldo Anacleto de CamposSecretrio Nacional de Renda de Cidadania | Luis Henriqueda Silva de PaivaSecretrio Extraordinrio de Erradicao da Pobreza | TiagoFalco

    Secretaria de Avaliao e Gesto da InformaoSecretria Adjunta | Paula Montagner

    Diretor de Monitoramento| Marconi Fernandes de SousaDiretor de Gesto da Informao| Caio NakashimaDiretora de Formao e Disseminao | Patrcia A. F. VilasBoasDiretor de Avaliao| Alexandro Rodrigues Pinto

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    INTRODUOEste Caderno do Curso de Introduo ao Provimento dos

    Servios e Benefcios Socioassistenciais do SUAS e Implementao

    de Aes do Plano Brasil Sem Misria tem como objetivo geral: capacitar os tcnicos quanto ao conhecimento, s habilidades e

    s atitudes necessrias ao provimento dos servios e benefcios

    socioassistenciais, previstos no SUAS, e implementao das

    aes do Plano Brasil Sem Misria.

    E como objetivos especficos:

    realizar nivelamento do pblico da capacitao quanto ao

    conhecimento e compreenso e defesa da garantia dos

    direitos socioassistenciais institudos pela Constituio Federal

    de 1988, pela Lei Orgnica de Assistncia Social de 1993 e suasatualizaes, consubstanciados no SUAS;

    oferecer ao pblico da capacitao os instrumentos conceituais

    e metodolgicos que os capacitem a realizar registro

    sistemtico, reflexo e avaliao quanto a adequao de suas

    prticas profissionais e processos de trabalho aos princpios

    e diretrizes do SUAS e s reais necessidades apresentadas

    pelos usurios e beneficirios dos servios e benefcios

    socioassistenciais;

    realizar nivelamento do pblico da capacitao quanto ao

    conhecimento e compreenso do desenho e dos meios deoperacionalizao das Agendas Estratgicas de Governo que

    fazem interface com o SUAS (Plano Brasil Sem Misria; Plano

    Crack: possvel vencer! e Plano Viver sem Limite), bem

    como da sinergia que essa interface gera no fortalecimento do

    combate pobreza, aos riscos e s vulnerabilidades sociais.

    O Caderno est organizado emtrs Mdulos, com unidades

    especficas (ao todo so 7 unidades) e comos respectivos contedos

    programticos, perfazendo uma carga horria total de 38 horas-

    aula de Curso (conforme demonstrado no contedo programtico).Tambm como instrumento pedaggico e de fixao dos contedos,

    no final deste Caderno constam exerccios que contribuem com o seu

    processo de aprendizagem. As oficinas propostas no Mdulo 2, sero

    desenvolvidas no Curso Presencial e podero ser disseminadas nas

    equipes de trabalho no mbito do SUAS. Ao longo da leitura deste

    Caderno, voc observar palavras-chave grifadas; estas aparecem

    conceituadas em quadros destacados nas laterais do texto.

    Desejamos a todos um timo curso!

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    CONTEDO PROGRAMTICO

    MDULO 114H/A

    A ASSISTNCIA SOCIAL E A GARANTIA DOS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS POR MEIO DO SUAS.

    Unidade 1

    4h/a

    1.1. A especificidade da Assistncia Social no contexto do Sistema Brasileiro de Proteo

    Social (SBPS);

    1.2. A Assistncia Social no campo da Seguridade Social.

    Unidade 210h/a

    2.1. As bases de organizao e operacionalizao do SUAS:

    Conceitos Fundamentais:Pobreza; Riscos; Vulnerabilidades Sociais; Sireito e Proteo Social;

    Seguranas Sociais: de Acolhida; de Convvio; de Sobrevivncia (Renda);

    Eixos Estruturantes do SUAS:Descentralizao poltico-administrativa; Participao e

    Controle Social; Centralidade na Famlia; Territrio como base de organizao dos servios;

    Rede Socioassistencial; Vigilncia Socioassistencial; Intersetorialidade;A Tipificao Nacional dos Servios Socioassistenciais;

    A Proteo Social Bsica:concepo e equipamento de referncia;

    A Proteo Social Especial:concepo e equipamento de referncia;

    Gesto dos Benefcios Socioassistenciais;

    O Protocolo de Gesto Integrada de Servios, Benefcios e Transferncia de Renda.

    MDULO 214H/A

    O PROVIMENTO DOS SERVIOS SOCIOASSISTENCIAIS: QUE TRABALHO ESSE?

    Unidade 1

    8h/a

    1.1. Caractersticas e especificidades dos processos de trabalho relacionados proviso dos servios socioassistenciais:

    O trabalho em equipes de referncia;

    A interdisciplinaridade;

    A dimenso tica e poltica da relao entre profissional e usurio;

    A dimenso tcnica da interveno profissional;

    Unidade 2

    6h/a

    1.2. Oficina de Aprendizagem 1 (etapa presencial)

    1.3. Oficina de Aprendizagem 2 (etapa presencial)

    MDULO 310 H/A O SUAS E AS AGENDAS ESTRATGICAS: O FORTALECIMENTO DO COMBATE POBREZA, AOSRISCOS E S VULNERABILIDADES SOCIAIS.

    Unidade 1

    6h/a

    1.1. O Plano Brasil Sem Misria (BSM);

    1.2. A operacionalizao das aes do Brasil Sem Misria (BSM) integradas aos servios e

    benefcios socioassistenciais;

    Unidade 2

    2h/a

    2.1. O Plano Crack: possvel vencer!;

    2.2. A operacionalizao de aes da agenda de enfrentamento do Crack e de outras

    drogas pelo SUAS;

    Unidade 3

    2h/a

    3.1. O Plano Nacional da Pessoa com Deficincia: Viver sem Limite;

    3.2. A operacionalizao de aes do Plano Viver sem Limite pelo SUAS.

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    MDULO 1A ASSISTNCIA SOCIAL E A GARANTIA DOS DIREITOS

    SOCIOASSISTENCIAIS POR MEIO DO SUAS 11

    UNIDADE 1 12

    1.1. A especificidade da assistncia social no contexto doSistema Brasileiro de Proteo Social (SBPS) 12

    1.2. A assistncia social no campo da seguridade social 18

    UNIDADE 2 20

    2.1. As bases de organizao e operacionalizao do SUAS 20

    Conceitos fundamentais: pobreza, riscos, vulnerabilidades sociais, direito e proteo social 22

    Seguranas sociais 28

    Eixos estruturantes do SUAS 30

    A tipificao nacional dos servios socioassistenciais 46

    A proteo social bsica: concepo e equipamento de referncia 48

    A proteo social especial: concepo e equipamento de referncia 53

    Gesto dos benefcios socioassistenciais 58

    O protocolo de gesto integrada de servios, benefcios e transferncia de renda 63

    MDULO 2O PROVIMENTO DOS SERVIOS SOCIOASSISTENCIAIS:QUE TRABALHO ESSE? 67

    UNIDADE 1 68

    1.1. Caractersticas e especificidades dos processos de trabalhorelacionados proviso dos servios socioassistenciais 68

    O trabalho em equipes de referncia 69

    A interdisciplinaridade 71

    A dimenso tica e poltica da relao entre profissional e usurio 73

    A dimenso tcnica da interveno profissional 76

    MDULO 3O SUAS E AS AGENDAS ESTRATGICAS: O FORTALECIMENTO DO COMBATE POBREZA, AOS RISCOS E S VULNERABILIDADES SOCIAIS 83

    UNIDADE 1 84

    1.1. O Plano Brasil Sem Misria (BSM) 84

    1.2. Operacionalizao das aes do Brasil Sem Misria (BSM)

    integradas aos servios e benefcios socioassistenciais 87

    SUMRIO

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    UNIDADE 2 89

    2.1. O plano Crack: possvel vencer! 89

    2.2. A operacionalizao de aes da agenda de enfrentamentodo crack e de outras drogas pelo SUAS 93

    UNIDADE 3 100

    3.1. O Plano Nacional da Pessoa com Deficincia: Viver sem Limite 100

    3.2. A operacionalizao de aes do Plano Viver sem Limite pelo SUAS 103

    EXERCCIOS 107

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    10 CEGOV | UFRGS

    SIGLAS

    B

    BPC Benefcio de Prestao Continuada

    BE Benefcio Eventual

    BSM Brasil Sem Misria

    CCadnico Cadastro nico de Programas Sociais do Governo Federal

    CapacitaSUAS Programa Nacional de Capacitao do SUAS

    CAS/DF Conselho de Assistncia Social do Distrito Federal

    CEAS Conselho Estadual de Assistncia Social

    CEGOV Centro de Estudos Internacionais sobre Governo

    CF Constituio Federal

    CIB Comisso Intergestora Bipartite

    CIT Comisso Intergestora Tripartite

    CMAS Conselho Municipal de Assistncia Social

    CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social

    Conade Conselho Nacional das Pessoas com Deficincia

    Congemas Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistncia Social

    Cras Centro Referncia de Assistncia SocialCreas Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social

    FFEAS Fundo Estadual de Assistncia Social

    FMAS Fundo Municipal de Assistncia Social

    FNAS Fundo Nacional de Assistncia Social

    IIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IFES Instituies Federais de Ensino Superior

    IGD ndice de Gesto Descentralizada

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    ICS Instncia de Controle Social

    LLA Liberdade Assistida

    Loas Lei Orgnica de Assistncia Social

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    11CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    MMDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    N NOB/SUAS Norma Operacional Bsica do Sistema nico de Assistncia SocialNOB-RH Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos

    OONU Organizao das Naes Unidas

    PPaefi Servio de Proteo e Atendimento Especializado Famlias e Indivduos

    Paif Servio de Proteo e Atendimento Integral FamliaPAS Plano de Assistncia Social

    PBF Programa Bolsa Famlia

    PETI Programa de Erradicao do Trabalho Infantil

    PMAS Plano Municipal de Assistncia Social

    PNAS Poltica Nacional de Assistncia Social

    PNEP Poltica Nacional de Educao Permanente

    Pronatec Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e ao Emprego

    PSB Proteo Social Bsica

    PSE Proteo Social EspecialPSC Prestao de Servios Comunidade

    PTR Programas de Transferncia de Renda

    SSAGI Secretaria Nacional de Avaliao e Gesto da Informao

    SBPS Sistema Brasileiro de Proteo Social

    SCVF Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos

    SCVFI Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos do Idoso

    SICON Sistema de Condicionalidades do Programa Bolsa Famlia

    SNAS Secretaria Nacional de Assistncia Social

    SUAS Sistema nico de Assistncia Social

    SUS Sistema nico de Sade

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    13CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    mdulo

    1

    OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMNesta unidade, voc ir compreender a assistncia social a

    partir de uma abordagem scio-histrica, como uma poltica

    social afianadora de direitos, assegurados na Constituio de

    1988. Os debates e as aes que foram desencadeados, desde

    ento, possibilitaram a introduo de novos aportes e de novas

    especificaes na Lei Orgnica da Assistncia Social Loas, em

    1993, pela Poltica Nacional de Assistncia Social de 2004 (PNAS)

    e fundamentalmente pela Norma Operacional Bsica do SUAS

    (NOB-SUAS) em 2005. O reconhecimento das especificidades da

    Assistncia Social permitir ao leitor a compreenso de que a

    incluso da assistncia social no Sistema Brasileiro de Proteo

    Social promoveu importantes rupturas na rea.

    A ASSISTNCIA SOCIAL E AGARANTIA DOS DIREITOS

    SOCIOASSISTENCIAIS PORMEIO DO SUAS

    Vamos iniciar este mdulo I refletindo sobre a assistncia social, enquantopoltica de garantia de direitos assegurados na Constituio de 1988, e sobresuas especificidades no Sistema Brasileiro de Proteo Social Brasileiro (SBPS).Alguns conceitos fundamentais sero abordados: pobreza, riscos e vulnerabi-

    lidades sociais, direito e proteo social. A descrio das seguranas sociaisafianadas, os princpios, as diretrizes, os eixos estruturantes e a arquiteturaorganizacional do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) so trabalhadosao longo do texto. Da mesma forma, ser possvel identificar o lugar e a funodesempenhada pelas diferentes instncias e pelos equipamentos do SUAS; osdiferentes servios e benefcios ofertados, seus pblicos e objetivos; as razese os processos relacionados gesto integrada dos servios e benefcios ofer-tados pelo SUAS.

    Boa leitura!

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    14 CEGOV | UFRGS

    1.1. A ESPECIFICIDADE DA ASSISTNCIASOCIAL NO CONTEXTO DO SISTEMABRASILEIRO DE PROTEO SOCIAL (SBPS)

    A compreenso da poltica de assistncia social, enquanto

    poltica de garantia de direitos assegurados na Constituio

    Federal (CF) brasileira de 1988, exige a sua apreenso em um

    contexto abrangente, ou seja, como uma das POLTICAS SOCIAIS do

    Estado Moderno que vem alcanando centralidade na agenda da

    proteo social do pas. Inserida no campo da Seguridade Social e

    regulamentada pela Loas, em dezembro de 1993, como poltica

    social pblica, a assistncia social inicia sua trajetria para um

    campo novo: o campo dos direitos, da universalizao dos acessos e

    da responsabilidade estatal (YAZBEK, 2008, p.94).

    Para iniciar a reflexo sobre a assistncia social, inserida

    no contexto do Sistema Brasileiro de Proteo Social, vamos

    relembrar alguns aspectos que marcaram nossa histria.

    O processo de redemocratizao vivenciado no Brasil nos anos1980, aps longos anos de ditadura militar, mobilizou diferentes

    segmentos sociais e polticos da sociedade unindo trabalhadores e

    trabalhadoras, movimentos sociais, entidades de toda ordem na luta

    pela liberdade, democracia, justia social e pela constituio de uma

    carta cidad que fosse capaz de afianar os direitos humanos e sociais

    como responsabilidade pblica e estatal (SPOSATI, 2009, p.13).

    Nesse perodo de redemocratizao, o Brasil enfrentou uma

    agenda de reformas no que diz respeito ao papel do Estado no camposocial, no sentido de reverter o quadro insustentvel de violao

    de direitos e excluso social, vivenciado por parte significativa da

    populao brasileira. Nesse contexto, a promulgao da Constituio

    Federal de 1988 impulsionou uma mudana na sociedade brasileira

    ao instituir, no campo da seguridade social, um sistema de proteo

    social definido por um conjunto de iniciativas pblicas, com regulao

    estatal para proviso de servios e benefcios sociais, visando ao

    enfrentamento das situaes de riscos e privaes sociais, alargando

    assim o arco dos direitos sociais (JACCOUD, 2009, p.63).

    UNIDADE1MDULO 1

    POLTICAS SOCIAIS

    Conjunto de iniciativas p-blicas, com o objetivo de re-alizar fora da esfera privada,o acesso a bens, a serviose renda. Seus objetivosso complexos e amplos,

    podendo organizar-se noapenas para cobertura deriscos sociais, mas tambmpara a equalizao de opor-tunidades, o enfrentamentodas situaes de destituioe pobreza, o combate sdesigualdades sociais e amelhoria das condies dapopulao. As polticas so-ciais desenvolvem planos,programas e projetos dire-cionados concretizao

    de direitos sociais (edu-cao, sade, assistnciasocial, habitao, seguranaalimentar, entre outros) queconstituem a condio decidadania (YASBEK, 2008).

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    15CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    1 un idade

    MD

    ULO

    1

    Historicamente, durante dcadas o Sistema Brasileiro de

    Proteo Social (SBPS) foi excludente, deixando de fora de sua

    cobertura significativos segmentos populacionais e grupos sociais,

    no inseridos no mercado de trabalho formal. Na dcada de 1980, foi

    caracterizado como centralizado, institucionalmente fragmentado,marcado pela ausncia da participao populare controle social epelas diferenas e pelos escassos investimentos para a proviso do

    sistema. A assistncia social, por exemplo, em sua trajetria histrica e

    nos anos da ditadura (1964 a 1985), manteve o padro FILANTRPICOe

    benemerente, constitudo de um conjunto variado de aes pblicas

    e privadas (desarticuladas e descontnuas) e de prticas secundrias

    que funcionavam de forma complementar a outras polticas pblicas.

    Essas marcas histricas ampliam ainda mais os desafios de

    consolidar e aprimorar o SUAS no mbito pblico estatal, que tem

    como responsabilidade garantir uma rede de servios nesse campo ereordenar os servios no governamentais.

    Nesse sentido, fundamental compreendermos o quequeremos dizer quando nos referimos seguridade social, poisela compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos

    Poderes Pblicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos

    relativos sade, previdncia e assistncia social (Art.194-

    CF/1988). A seguridade social, na CF de 1988, composta por trs

    polticas de PROTEO SOCIAL: a sade, a previdncia social e a

    assistncia social, sendo esta ltima uma incluso inovadora. A

    primeira, a sade, reconhecida como direito de todos; o textoconstitucional prope a criao de um Sistema nico de Sade, de

    carter universal e no contributivo, para todos os cidados, em

    todo o territrio nacional (SUS/Lei n 8080/1990). A segunda, aprevidncia social, caracteriza-se como uma poltica de proteo

    social contributiva, pois as pessoas que so beneficiadas com sua

    assistncia contribuem com a previdncia social, para que tenham

    acesso aos seus benefcios e servios. E a terceira, a assistncia

    social, ser prestada a quem dela necessitar,independentemente

    de contribuio seguridade social.A assistncia social torna-se, ento, uma poltica de proteo

    social articulada a outras polticas sociais que se destinam promoo

    dos direitos de cidadania, ou seja, um campo em que se consolidam

    os direitos sociais com plena responsabilidade do Estado.

    A partir da CF de 1988, o Estado brasileiro reorienta suas

    aes, por meio de um conjunto de polticas pblicas voltadas ao

    enfrentamento da pobreza e da violao de direitos, e, para proteger

    o cidado, essas aes percorrem dois caminhos: o da proteo social

    contributivae o da proteo social no contributiva.

    FILANTRPICO uma ao inerente ao voluntria, gratuita,beneficente e assistencial,desenvolvida por altrusmo,responsabilidade social,solidariedade, fraternidadee amor ao prximo.

    PROTEO SOCIAL

    Conjunto de iniciativaspblicas com o objetivo derealizar fora da esfera priva-da o acesso a bens e servi-os e renda. Seus objetivos

    so amplos e complexos,podendo organizar-se noapenas para a cobertura deriscos sociais, mas tambmpara a equalizao de opor-tunidades, o enfrentamentodas situaes de destituioe pobreza, o combate s de-sigualdades sociais e a me-lhoria das condies sociaisda populao (JACCOUD,2009, p.60).

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    16 CEGOV | UFRGS

    O QUE PRECISO SABER SOBRE ISSO?

    PROTEO SOCIAL CONTRIBUTIVA: PROTEO SOCIAL NO CONTRIBUTIVA:

    Refere-se poltica de previdncia social. Trata-sede uma proteo contributiva, pois pr-paga edestina-se aos filiados, e no a toda a populao.Por exemplo: esto protegidos os trabalhadorescom carteira de trabalho assinada, os quecontribuem como autnomos e os trabalhadoresrurais que contribuem parcialmente com aprevidncia social. Dentre os direitos sociaiscontributivos, esto a aposentadoria, a pensopor morte e invalidez e o seguro-desemprego.

    Refere-se ao acesso a servios e a benefcios,

    independentemente de pagamento antecipadoou no ato da ateno. Associa-se s aesfinanciadas a partir da redistribuio da riquezaproduzida pela sociedade, afianando direitossociais a todos os cidados e a todas as cidads.Esto, entre os direitos sociais no contributivos,a sade, a assistncia social, a educao, acultura, o desporto, a garantia de renda, asegurana alimentar e nutricional, entre outros.

    De acordo com o que vimos at aqui, podemos dizer que a CFde 1988 foi um marco histrico no Brasil ao ampliar os direitos sociais.

    Para tanto, foi necessrio que o Estado reconhecesse que a pobreza

    e a vulnerabilidade no so de responsabilidade individual e que sua

    superao, portanto, no est vinculada unicamente ao esforo e

    ao aproveitamento das oportunidades dos indivduos; ela depende

    do compromisso com um modelo de desenvolvimento que articule

    o econmico e o social. Essa aposta que impulsiona a ampliao

    do Sistema Brasileiro de Proteo Social e com ela a poltica de

    assistncia social. Vejamos o que diz o art.203 da Constituio

    Federal de 1988:

    Art. 203. A assistncia social ser prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuio seguridade social, e tem por objetivos:

    a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice;

    o amparo s crianas e aos adolescentes carentes;

    a promoo da integrao ao mercado de trabalho;

    a habilitao e reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria;

    a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idosoque comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno de t-la provida por sua famlia,conforme dispuser a lei.

    Seguindo esta breve contextualizao histrica, no podemos

    deixar de frisar que foram as lutas marcadas por setores polticos

    e acadmicos, sindicatos, rgos de categorias de profissionais,

    organizaes no governamentais e movimentos sociais os quais

    pressionaram o governo, promovendo um conjunto de estratgias,

    na dcada de 1990, para que a assistncia social se efetivasse como

    um direito e para que avanasse na sua consolidao.

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    17CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    1 un idadeVEJAMOS ALGUNS DESTAQUES NA LINHA DO TEMPO DA ASSISTNCIA SOCIALNO BRASIL A PARTIR DE 1990:

    1990 Construo da redao da LEI ORGNICA DA ASSISTNCIA

    SOCIAL LOAS,que foi vetada no Congresso Nacional, o

    que desencadeou um amplo debate nacional visando

    elaborao de um novo Projeto de Lei.

    1993 Aprovao da Lei Orgnica da Assistncia Social (Loas).

    1995 I Conferncia Nacional de Assistncia Social.

    1997 II Conferncia Nacional de Assistncia Social

    2001 III Conferncia Nacional de Assistncia Social.

    Institui-se o Cadastro nico para Programas Sociais

    (Cadnico).

    2003 Em dezembro de 2003, realizou-se a IV Conferncia

    Nacional de Assistncia Social. A principal deliberao

    do evento, precedida de um intenso debate para

    avaliao dos 10 anos da Loas, foi pela implementao do

    Sistema nico da Assistncia Social (SUAS).

    2004 Criao do Ministrio de Desenvolvimento Social e

    Combate Fome (MDS), acelera-se o processo de

    regulamentao da Loas, com a criao do SUAS. Foi

    aprovada a Poltica Nacional de Assistncia Social

    (PNAS) Resoluo n14578, de 22 de junho de

    2004, definindo-se assim o novo modelo de gesto

    que corresponde aos princpios de universalizao,

    descentralizao e participao social.

    Em 2004 o Programa Bolsa Famlia institudo em lei,

    unificando os programas de transferncia de renda

    existentes anteriormente.

    LEI ORGNICA DAASSISTNCIA SOCIAL,A LOAS L EI N.8.742

    Aprovada em 07 de dezem-

    bro de 1993, regulamentaos artigos 203 e 204 daConstituio, definindoclaramente os objetivos eas diretrizes da assistnciasocial, a forma de organi-zao e a gesto das aessocioassistenciais, refor-ando a assistncia socialcomo sistema descentra-lizado, com participaopopular e financiado pelopoder pblico, conformeprescreve a ConstituioFederal de 1988.

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    18 CEGOV | UFRGS

    2005 V Conferncia Nacional de Assistncia Social.

    Em junho de 2005, foi aprovada a Norma OperacionalBsica do SUAS (NOB-SUAS Resoluo n 130 do

    Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS), de 15 dejulho de 2005), que regulamenta a PNAS.

    Criao da Rede SUAS e do Sistema Nacional deInformao do SUAS.

    2007 VI Conferncia Nacional de Assistncia Social.

    Criao da Rede Nacional de CapacitaoDescentralizada.

    2008 Tramitao no Congresso Nacional do Projeto de Lei do

    Sistema nico de Assistncia Social (Projeton3077/08).

    2009 VII Conferncia Nacional de Assistncia Social.

    Aprovao da Tipificao Nacional de ServiosSocioassistenciais (Resoluo n 109 do ConselhoNacional de Assistncia Social (CNAS), de 11 de novembrode 2009) que organiza os servios por nveis de

    complexidade do SUAS: Proteo Social Bsica e Especial.

    Aprovao do Protocolo de Gesto Integrada entre

    servios e benefcios.Implantao do Cadastro Nacional do Sistema nico de

    Assistncia Social.

    2010 Instituiu-se o Censo SUAS, por meio do Decreto n 7.334,de 19 de outubro de 2010.

    2011 VIII Conferncia Nacional de Assistncia Social.

    A Lei 12345 de 06/07/2011, altera a Lei n 8.742 de 07 de

    Dezembro de 1993 Lei Orgnica da Assistncia Social Loas;

    A Resoluo CNAS N 17/2011, ratifica as equipes dereferncias; Reconhece outras categorias para atenders especificidades e particularidades do trabalho sociale s funes de gesto do Sistema. E a ResoluoCNAS N 32/2011, estabelece percentual dos recursos doSUAS, financiados pelo Governo Federal, que podero sergastos no pagamento dos profissionais que integrarem asequipes de referncia, de acordo com o art. 6-E da Lei n8.742/1993, inserido pela Lei 12.435/2011.

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    19CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    1 un idade2012 A NOB/SUAS 2012, rompe com a lgica de adeso dosentes federados ao SUAS; institui o planejamento na

    rea; consolida os principais marcos normativos em

    seu texto e cria mecanismos para o aprimoramento da

    gesto, servios, benefcios, programas e projetos.

    Institucionaliza-se o Programa Nacional de Capacitao

    do SUAS: o CAPACITASUAS. Constitui-se numa estratgia

    de apoio aos Estados e ao Distrito Federal na execuo

    dos Planos Estaduais de Capacitao do SUAS, visando o

    aprimoramento da gesto e a qualificao da oferta dos

    servios e benefcios socioassistenciais.

    2013 Instituda a Poltica Nacional de Educao

    Permanente de Assistncia Social(PENEP/SUAS Resoluo n 4 do CNAS, de 13 de maro de 2013).

    IX Conferncia Conferncia Nacional de Assistncia

    Social.

    Sintetizando o que vimos at aqui, fundamental compreen-dermos que a incluso da assistncia social no Sistema Brasileiro deProteo Social promove importantes rupturas na rea.

    MAS DO QUE TRATAM ESSAS RUPTURAS?

    Da noo de cidado carente ou assistido

    para a noo de cidado de direitos

    De aes sociais

    para a poltica pblica

    De aes isoladas

    para a centralidade do Estado como agente

    executivo, agente regulador e agente de defesa de direitos

    Do paradigma assistencialista

    para o paradigma socioassistencial

    RUPTURAS

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    21CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    1 un idade fundamental compreendermos que a assistncia social, como

    um dos direitos da seguridade social brasileira, responsvel por um

    conjunto de desprotees sociais advindas desde as fragilidades dos

    CICLOS DE VIDA humano at as socialmente construdas nas relaes

    sociais estabelecidas na sociedade. Fragilidades essas que seconstituem em desprotees ou demandas de proteo social que

    exigem a cobertura por seguranas sociais a serem providas pela

    assistncia social (BRASIL, CAPACITASUAS 1, 2013, p.26).

    Assim sendo, a poltica de assistncia social torna-se pblica,

    no porque realizada por um rgo pblico ou estatal, mas porque

    reconhece que superar uma dada necessidade dever do Estado, e

    no uma concesso de mrito eventual em face da fragilidade de um

    indivduo.

    SINTETIZANDO:

    A configurao da assistncia social como polticapblica lhe atribui um campo especfico de ao

    de proteo social no contributiva

    como direito de cidadania

    no mbito da seguridade social.

    CICLOS DE VIDA

    InfnciaAdolescncia

    JuventudeAdulto

    Idoso.

    REFLITA

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    Reflita sobre as afirmaes e problematize-as, considerando seuespao de insero/atuao profissional.

    Ter um modelo brasileiro de proteo social no significaque ele j exista ou esteja pronto, mas que uma construoque exige muito esforo de mudanas (SPOSATI, 2009, p.17).

    No h direito sem a garantia do Estado que se expressa pelaoferta e regulao dos servios e benefcios de proteo social. pela via dos direitos sociais que a proteo social se torna efe-tiva, reduzindo vulnerabilidades e incertezas igualando oportu-nidades e enfrentando as desigualdades (JACCOUD, 2009, p.69).

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    OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMVamos agora, nesta Unidade 2, apresentar os princpios, as

    diretrizes, os eixos estruturantes, a arquitetura organizacional,

    os servios e os benefcios ofertados pelo SUAS e as formas de

    sua operacionalizao. Voc poder refletir a partir de conceitos

    fundamentais, inerentes poltica de assistncia social; descrever

    as seguranas sociais afianadas pela poltica, bem como ir

    compreender as razes e os processos relacionados gesto

    integrada dos servios e benefcios ofertados pelo SUAS.

    2.1. AS BASES DE ORGANIZAO EOPERACIONALIZAO DO SUAS

    Podemos afirmar que a PNAS e o SUAS alteram as referncias

    conceituais, a estrutura organizativa e a lgica de gesto e controle

    das aes no mbito da assistncia social. A consolidao do SUAS,

    como um sistema orgnico em que a articulao entre as trs esferas

    de governo fundamental, implica necessariamente a determina-o de oferta contnua e sistemtica de uma rede constituda e inte-

    grada, com padres de atendimento qualificados e pactuados, com

    planejamento, financiamento e avaliao (COUTO, 2009, p.206).

    Certamente, vivemos em tempos de construo de uma nova

    CULTURA INSTITUCIONAL que exige no somente a apropriao de seus

    princpios, diretrizes, eixos e de sua arquitetura institucional, mas,

    fundamentalmente, a compreenso dos fluxos operacionais e os das

    concepes que orientam o seu processo de gesto. J vimos que o

    SUAS, como um sistema pblico no contributivo, descentralizado

    e participativo tem por funo a gesto do contedo especfico da

    assistncia social no campo da proteo social brasileira (NOB/SUAS,

    2005, p. 86). Portanto, uma poltica social que tem princpios,

    diretrizes e pblico definidos. Vejamos:

    UNIDADE2MDULO 1

    CULTURA INSTITUCIONAL

    Conjunto de comportamen-tos, rituais, normas, costu-mes de uma organizaoou entidade. No processode construo do SUAS, otermo ganha importnciapelo fato de que a unifica-o do sistema implica aintegrao de instituies

    que tm diversas culturasorganizacionais.

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    23CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadePRINCPIOS

    So princpios do SUAS:

    I. supremacia do atendimento s necessidades sociais sobre as exigncias derentabilidade econmica;

    II. universalizao dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatrio da aoassistencial alcanvel pelas demais polticas pblicas;

    III. respeito dignidade do cidado, sua autonomia e ao seu direito a benefcios eservios de qualidade, bem como convivncia familiar e comunitria, vedando-sequalquer comprovao vexatria de necessidade;

    IV. igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminao de qualquernatureza, garantindo-se equivalncia s populaes urbanas e rurais;

    V. divulgao ampla dos benefcios, servios, programas e projetos assistenciais, bemcomo dos recursos oferecidos pelo Poder Pbico e dos critrios para sua concesso.

    DIRETRIZES

    Definem-se como diretrizes estruturantes do SUAS:

    I. primazia da responsabilidade do Estado conduo da poltica de assistnciasocial;

    II. descentralizao poltico-administrativa e comando nico das aes em cada

    esfera de governo;III. financiamento partilhado entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e osMunicpios;

    IV. matricidade sociofamiliar;

    V. territorializao;

    VI. fortalecimento da relao democrtica entre Estado e sociedade civil;

    VII. controle social e participao popular (BRASIL, NOB-SUAS, 2012).

    PBLICO

    O pblico formado por cidados e grupos que se encontram em situaes de

    vulnerabilidade e riscos, tais como: famlias e indivduos com perda ou fragilidade de

    vnculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades

    estigmatizadas em termos tnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante

    de eficincias; excluso pela pobreza e/ou no acesso s demais polticas pblicas; uso

    de substncias psicoativas; diferentes formas de violncia advinda do ncleo familiar,

    grupos e indivduos; insero precria ou no insero no mercado de trabalho formal

    e informal; estratgias e alternativas diferenciadas de sobrevivncia que podem

    representar risco pessoal e social (BRASIL, 2004, p.33).

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    24 CEGOV | UFRGS

    CONCEITOS FUNDAMENTAIS: POBREZA, RISCOS, VUL-NERABILIDADES SOCIAIS, DIREITO E PROTEO SOCIAL

    Tratar sobre a constituio da assistncia social no campo da

    proteo social, por meio das seguranas sociais, traz um importantedebate sobre as desprotees e as diferentes situaes de risco e

    vulnerabilidades sociais vivenciadas pela populao em seus diferentes

    ciclos de vida e nos territrios aos quais pertencem. Neste cenrio,

    precisamos reconhecer a primazia da funo do Estado na defesa e

    garantia dos direitos sociais e no combate pobreza e s desigualdades;

    isso se d, por meio de um conjunto de polticas, programas, servios e

    benefcios socioassistenciais. Para tanto, fundamental que gestores e

    trabalhadores que atuam e que se envolvem com a operacionalizaoda poltica de assistncia social identifiquem as diferentes expresses

    daQUESTO SOCIAL como a pobreza, os riscos e as vulnerabilidades

    sociais existentes no seu territrio de atuao.

    Para tanto, fundamental tratarmos aqui sobre as

    concepes de pobreza, risco, vulnerabilidade social, que so

    considerados por diferentes estudiosos como conceitos complexos

    e multifacetados; ainda se destacam as concepes de direito

    e proteo social. A identificao das diferentes expresses dapobreza, riscos e vulnerabilidades, existentes nos territrios de

    abrangncia da poltica, fundamental para que a proteo social

    se efetive por meio da garantia dos direitos socioassistenciais dos

    usurios do SUAS. Vejamos como se d o dilogo desses conceitos

    com a poltica de assistncia social.

    POBREZA

    Pobreza um fenmeno multifacetado, historicamente

    construdo e que no se enfrenta com iniciativas isoladas. este

    o sentido a ser atribudo pobreza: de que a pobreza se define,

    sobretudo, como um problema social e econmico, encontrando

    nessas duas esferas suas mais arraigadas razes e determinaes

    (JACCOUD, 2009, p.71). Estudos apontam diferentes abordagens

    conceituais e analticas sobre o fenmeno da pobreza que tem

    sido avaliado sobre diferentes perspectivas, tais como: voltada ao

    dimensionamento da pobreza como insuficincia de renda, como

    QUESTO SOCIAL

    A questo social se ex-

    pressa pelo conjunto dasdesigualdades sociais en-gendradas pelas relaessociais constitutivas do ca-pitalismo contemporneo.Tem relao com a questoda explorao do trabalho ecom a organizao e a resis-tncia dos cidados na lutapela apropriao da riquezasocialmente produzida.

    Sobre pobreza consulte:Instituto de Pesquisa Eco-nmica Aplicada-IPEA:http://www.ipea.gov.brPNUD: http://pnud.org.BR/ODM.aspx

    ACESSE

    http://www.ipea.gov.br/http://pnud.org/ODM.aspxhttp://pnud.org/ODM.aspxhttp://pnud.org/ODM.aspxhttp://pnud.org/ODM.aspxhttp://www.ipea.gov.br/
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    25CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadeinsuficincia de acesso a alimentos e de seu consumo, ou ainda

    pobreza como privaes socioeconmicas, entre outras perspectivas

    que so complementares, cada uma com seus mritos e limitaes.

    Entretanto, o seu enfrentamento, complexo e multidimensional,

    necessita mobilizar no apenas os benefcios sociais de manuteno

    de renda, sejam eles os de natureza contributiva ou no contributiva.

    Isso quer dizer que esses benefcios sociais devem se articular com

    polticas sociais que ofertem servios, equalizem oportunidades,

    garantam o acesso aos padres mnimos de bem-estar e que

    mobilizem e ampliem as capacidades dos indivduos que se

    encontram em situao de pobreza.

    H uma relao estreita entre a situao de pobreza docidado ou famlia com o acesso a servios pblicos.Oque isso significa?

    Significa que, para alm da insuficincia ou ausncia de

    renda, a pobreza ainda maior quando a proviso de servios

    precria e as famlias no contam com redes de proteo

    social pblica que viabilizem o acesso a servios sociais bsicos.

    importante observarmos que o crescimento econmico no

    implica a gerao de emprego ou renda em patamares satisfatrios.

    Tambm no corresponde necessariamente a condies adequadas

    de desenvolvimento social; pelo contrrio, dessa engrenagem que

    emergem mltiplas expresses de vulnerabilidade e risco social que

    vivenciam as famlias usurias da Poltica de Assistncia Social.

    RISCOS SOCIAIS

    O campo dos riscos sociaisdiz respeito ao convvio conflituosode diversas formas como das ofensas, da presena de desigualdade,

    do desrespeito equidade e das violaes das integridades fsica

    e psquica. So os riscos que surgem das relaes e que levam

    apartao, ao isolamento, ao abandono, excluso (SPOSATI, 2009,

    p.29). Ainda existem os riscos relacionados violncia fsica e sexual

    nas formas de convvio. Portanto, podemos afirmar que os riscos

    sociais ocorrem no cotidiano das pessoas, na vida como ela , nos

    territrios onde elas vivem.

    Algumas formas de ma-nifestao de risco socialpodem ser identificadaspor meio de: segregao espacial: pre-crias condies de infra-

    estrutura, saneamento; padres de convivnciafamiliar, comunitria e so-cial: violncia domstica,abuso sexual, discrimina-o (de gnero, religio,orientao sexual, entreoutros); contingncias da nature-za: enchentes, vendavais,desabamentos, granizos,estiagens/secas.

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    26 CEGOV | UFRGS

    PARA TRABALHAR AS SITUAES DE RISCO NECESSRIO PROATIVIDADE E CONHECER:

    VULNERABILIDADE SOCIAL

    As situaes de vulnerabilidade podem decorrer da pobreza,

    da privao, da ausncia de renda, do precrio ou nulo acesso aos

    servios pblicos, da intemprie ou calamidade, da fragilizaode vnculos afetivos e de pertencimento social decorrentes de

    discriminaes etrias, tnicas, de gnero, relacionadas sexualidade,

    deficincia, entre outras.

    Nesse sentido, podemos afirmar que:

    A. a vulnerabilidade um fenmeno complexo e multifacetado, no se manifestando

    da mesma forma, o que exige uma anlise especializada para sua apreenso e respostas

    intersetoriais para seu enfrentamento;

    B. a vulnerabilidade, se no compreendida e enfrentada, tende a gerar ciclosintergeracionais de reproduo das situaes de vulnerabilidade vivenciadas;

    C. as situaes de vulnerabilidade social no prevenidas ou no enfrentadas tendem a se

    tornar uma situao de risco;

    D. a vulnerabilidade no sinnimo de pobreza; a pobreza uma condio que agrava a

    vulnerabilidade vivenciada pelas famlias;

    E. a vulnerabilidade no um estado, uma condio dada, mas uma zona instvel que as

    famlias podem atravessar, nela recair ou nela permanecer ao longo de sua histria.

    Fonte: BRASIL, MDS. Orientaes Tcnicas sobre o Paif. Vol.1, 2012. p. 14-15.

    de reparao e superao o grau de vulnerabilidade

    as incidncias, as causalidades, as dimenses dos danos

    para estimar a possibilidade

    o grau de agresso do risco

    a resistncia ao risco

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    27CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadeA vulnerabilidade do/a cidado/ e de sua famlia estassociada ao conjunto de determinaes de dimenseseconmicas, polticas e sociais historicamente constru-das, mas as especificidades do territrio influenciam na

    construo de estratgias de resistncia. Portanto, a atu-ao com vulnerabilidades significa reduzir fragilidades ecapacitar as potencialidades. Esse o sentido educativoda proteo social que faz parte das aquisies sociais dosservios de proteo (SPOSATTI, 2009, p. 35).

    DIREITO

    Temos o direito a ter direitos...Hanna Arendt

    Conforme j tratado neste texto, cabe reforarmos que

    assistncia social, como poltica pblica, tem fundamento

    constitucional como parte do Sistema de Seguridade Social;portanto

    um direito de seguridade social reclamvel juridicamente

    e traduzvel em proteo social no contributiva devida ao

    cidado. Isso quer dizer que a noo de direito no significa que o

    Estado esteja doando/concedendoalgo para algum receber, mas sim

    de que a ao do Estado est fazendo jus, justia, direito em face desuas responsabilidades sociais com os cidados (BRASIL, 2013).

    Quando tratamos de direitos sociais em uma sociedade

    moderna, no temos como dissociar que o seu alcance possvel

    por meio das polticas implementadas pelo Estado, ou seja, no h

    direito social sem a garantia do Estado, que vai ento se expressar

    pela oferta e pela regulao dos servios e benefcios de proteo

    social. E justamente pela via do direito social que a proteo

    social se efetiva, reduzindo vulnerabilidades e incertezas, igualando

    oportunidades e enfrentando desigualdades (SPOSATTI, 2009, p.69).

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    28 CEGOV | UFRGS

    10 DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS

    1. Todos os direitos de proteo social de assistncia social consagrados em Lei paratodos: Direito, de todos e todas, de usufrurem dos direitos assegurados pelo ordenamento

    jurdico brasileiro proteo social no contributiva de assistncia social efetiva comdignidade e respeito.

    2. Direito de equidade rural-urbana na proteo social no contributiva: Direito, docidado e cidad, de acesso s protees bsica e especial da poltica de assistncia social,

    operadas de modo articulado para garantir completude de ateno, nos meios rural e urbano.

    3. Direito de equidade social e de manifestao pblica: Direito, do cidado e dacidad, de manifestar-se, exercer protagonismo e controle social na poltica de assistncia

    social, sem sofrer discriminaes, restries ou atitudes vexatrias derivadas do nvel

    pessoal de instruo formal, etnia, raa, cultura, credo, idade, gnero, limitaes pessoais.

    4. Direito igualdade do cidado e cidad de acesso rede socioassistencial:Direito igualdade e completude de acesso nas atenes da rede socioassistencial, direta

    e conveniada, sem discriminao ou tutela, com oportunidades para a construo daautonomia pessoal dentro das possibilidades e limites de cada um.

    5. Direito do usurio acessibilidade, qualidade e continuidade: Direito, do usurioe usuria, da rede socioassistencial, escuta, ao acolhimento e de ser protagonista na

    construo de respostas dignas, claras e elucidativas, ofertadas por servios de ao

    continuada, localizados prximos sua moradia, operados por profissionais qualificados,

    capacitados e permanentes, em espaos com infraestrutura adequada e acessibilidade,

    que garantam atendimento privativo, inclusive, para os usurios com deficincia e idosos.

    6. Direito em ter garantida a convivncia familiar, comunitria e social: Direito, dousurio e usuria, em todas as etapas do ciclo da vida a ter valorizada a possibilidade de se

    manter sob convvio familiar, quer seja na famlia biolgica ou construda, e precedncia

    do convvio social e comunitrio s solues institucionalizadas.

    7. Direito Proteo Social por meio da intersetorialidade das polticas pblicas:Direito, do cidado e cidad, melhor qualidade de vida garantida pela articulao,

    intersetorial da poltica de assistncia social com outras polticas pblicas, para que

    alcancem moradia digna trabalho, cuidados de sade, acesso educao, cultura,

    ao esporte e lazer, segurana alimentar, segurana pblica, preservao do meio

    ambiente, infraestrutura urbana e rural, ao crdito bancrio, documentao civil e ao

    desenvolvimento sustentvel.

    8. Direito renda: Direito, do cidado e cidad e do povo indgena, renda individual efamiliar, assegurada atravs de programas e projetos intersetoriais de incluso produtiva,

    associativismo e cooperativismo, que assegurem a insero ou reinsero no mercado detrabalho, nos meios urbano e rural.

    9. Direito ao co-financiamento da proteo social no contributiva: Direito, dousurio e usuria, da rede socioassistencial a ter garantido o cofinanciamento estatal

    federal, estadual, municipal e Distrito Federal para operao integral, profissional,

    contnua e sistmica da rede socioassistencial nos meios urbano e rural.

    10. Direito ao controle social e defesa dos direitos socioassistenciais: Direito, docidado e cidad, a ser informado de forma pblica, individual e coletiva sobre as ofertas

    da rede socioassistencial, seu modo de gesto e financiamento; e sobre os direitos

    socioassistenciais, os modos e instncias para defend-los e exercer o controle social,

    respeitados os aspectos da individualidade humana, como a intimidade e a privacidade.

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    29CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadeE sobre os direitos das famlias usurias dos servios daPoltica de Assistncia Social? Vejamos alguns que de-vem ser assegurados no mbito dos Cras e dos Creas.

    Segundo as orientaes tcnicas do Cras (BRASIL, 2009,

    p.14), as famlias usurias dos servios da PAS tm o direito de: conhecer o nome e a credencial de quem o atende (profissional

    tcnico, estagirio ou administrativo do equipamento);

    dispor de locais adequados para seu atendimento, tendo osigilo e a sua integridade preservados;

    receber explicaes sobre os servios e sobre seu atendimentode forma clara, simples e compreensvel;

    ter seus encaminhamentos por escrito, identificados com onome dos profissionais e seu registro no Conselho ou Ordem

    Profissional de forma clara e legvel;

    poder avaliar o servio recebido, contando com espao deescuta para expressar sua opinio;

    ter acesso ao registro dos seus dados se assim desejar;

    ter acesso s deliberaes das conferncias municipais,estaduais e nacionais de assistncia social, entre outros.

    Essa breve reflexo fundamental, pois um dos objetivosda assistncia social a defesa e garantia dos direitos (ao lado daproteo e da vigilncia social que sero tratadas adiante neste

    caderno), visando garantir o acesso aos servios ofertados pelarede socioassistencial e das demais polticas pblicas de formaigualitria, fortalecendo os indivduos e as famlias na conquistade sua autonomia, dignidade e protagonismos, por meio dodesenvolvimento de potencialidades, valorizando sua identidade e

    seu lugar de pertencimento.

    PROTEO SOCIAL

    Inicialmente, devemos compreender que a proteo social no

    se limita a uma s poltica social ou poltica de assistncia social,

    pois entender a assistncia social, no mbito da seguridade social e

    no campo da proteo social, no a torna a nica a ter ao nesse

    campo (BRASIL, CADERNO 1, 2013). J vimos que so os direitos

    socioassistenciais que respondem por algumas das desprotees

    no campo da proteo social por meio da garantia das seguranas

    sociais que sero tratadas ainda neste Caderno.

    REFLITA

    Ser que os gestores etrabalhadores do SUASconsideram os usuriosds servios ou benefciossociais como sujeitos de

    direitos, como cidados,fazem valer o que pensam,o que reivindicam, incluemnas responsabilidades doEstado a cobertura de suasnecessidades na condiode direito?

    MD

    ULO

    1

    Na concepo do SUASo sentido de quem delanecessitarse materializapor meio das trsfunes: proteo social,vigilncia social e defesae garantia de direitossocioassistenciais (BRASIL,CADERNO 1, 2013).

    ATENO

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    Mas, afinal, qual o sentido de proteo social na assis-tncia social?

    Afirmar a assistncia social como proteo social significa

    olhar para o cidado, usurio dos servios, como sujeito de direitos.

    Significa tambm reconhecer o direito aos benefcios e aos servios

    garantidores de direitos, ofertados pelo conjunto das polticas sociais.

    [...] estar protegido significa ter foras prprias ou de terceiros, que impeam que algumaagresso/precarizao/privao venha a ocorrer deteriorando uma dada condio. Pormestar protegido no uma condio nata; ela adquirida no como mera mercadoria, maspelo desenvolvimento de capacidades e possibilidades. No caso, ter proteo e/ou estarprotegido no significa meramente portar algo, mas ter uma capacidade de enfrentamentoe resistncia (SPOSATI, 2009, p.17).

    Em sntese, podemos afirmar que mbito singular daproteo social de assistncia social:

    ampliar a capacidade protetiva da famlia e de seus membros;

    ampliar a densidade das relaes de convvio e sociabilidade

    dos cidados; instalar condies de acolhida e processos de

    acolhimento como parte do trabalho de ateno e cuidados;

    reduzir as fragilidades da vivncia e da sobrevivncia e reduzir

    e restaurar os danos e riscos sociais e de vitimizaes causados

    por violncia, agresses, discriminaes, preconceitos(BRASIL,CADERNO 2, 2013).

    SEGURANAS SOCIAISOutro aspecto a ser destacado, quando se trata das

    especificidades da polticade assistncia social, so as seguranas

    sociais que a poltica deve afianar como parte das atenes da

    seguridade social brasileira.

    ENTO: QUE SEGURANAS AASSISTNCIA SOCIAL DEVE GARANTIR?

    SEGURANA DE ACOLHIDA

    A segurana de acolhida uma das seguranas primordiais

    da poltica de assistncia social, pois opera com a proviso de

    necessidades humanas que inicia com os direitos alimentao,

    ao vesturio, ao abrigo prprio da vida humana em sociedade.

    A orientao dessa segurana a conquista da autonomia, mas

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    31CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idade possvel que um indivduo no a conquiste por toda a vida ou

    por um perodo, por exemplo: pela idade uma criana ou um

    idoso por alguma deficincia ou por restrio momentnea ou

    contnua da sade fsica ou mental; essa segurana de acolhida

    faz com que o Estado afiance a todos, que, por mltiplas situaesde fragilidades, destituies, discriminaes, agresses humanas

    praticadas ou agresses da natureza tenham perdido sua condio

    de alojamento e abrigo, permanecendo ao relento, em situao de

    abandono e isolamento. Entre outras situaes que demandam a

    acolhida na atualidade esto a necessidade de separao da famlia

    ou da parentela por mltiplas situaes, como violncia familiar ou

    social, drogadio, como o uso do crack e o alcoolismo, desemprego

    prolongado e criminalidade ou, ainda, destituio e abandono.

    Para que haja essa segurana, cabe ao poder pblicomanter a oferta diversificada

    de servios que possibilitem o acolhimento de pessoas, independentemente da idade,

    garantindo condies de sobrevivncia, com alimentao, pernoite, higienizao, roupas,

    cuidados, escuta e medidas de restaurao para pessoas, famlias, adultos, crianas, jovens,

    idosos em situao de rua permanente ou eventual (Caderno 1, CapacitaSUAS, 2013, p. 68).

    SEGURANA DE SOBREVIVNCIA E RENDA

    A segurana de sobrevivncia (de rendimento e de

    autonomia) diz respeito garantia de que todos tenham uma forma

    monetria de garantir sua sobrevivncia, independentemente de

    suas limitaes para o trabalho ou do desemprego, como no caso

    das pessoas com deficincia, dos idosos, dos desempregados, das

    famlias numerosas, das famlias desprovidas das condies bsicas

    para sua reproduo social em padro digno e de cidadania, em

    consonncia aos critrios de elegibilidade do PBF. A segurana de

    sobrevivncia opera tambm por intermdio da poltica de benefciosa idosos com mais de 65 anos ou mais que no tenham acesso ao

    seguro da previdncia social e a pessoas com deficincia, em ambas

    as situaes, que vivam em famlia cujo baixo per capita de renda no

    atinja a de salrio mnimo.

    MD

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    Tambm existem as iniciativas isoladas, de acesso a bens e condies de

    desproteo advindas de ocorrncias de vitimizaes coletivas por calamidades pblicas,

    como deslizamentos, enchentes, incndios, desalojamentos coletivos por ao da justia,

    colocando crianas ao relento e na rua; frentes frias que colocam em risco de morte

    populao em situao de rua; secas contnuas que provocam ausncia de alimentao,

    fome, doenas; h ainda a ateno a migrantes nacionais e internacionais desalojados.

    Nessas atenes, h uma interface com a Defesa Civil (Caderno 1, 2013, p.71).

    SEGURANA DE CONVVIO E CONVIVNCIA

    A segurana de convvio e convivncia (ou vivncia

    familiar)supe a no aceitao de situaes de recluso, de perda

    das relaes, sejam elas por discriminao e mltiplas inaceitaesou por intolerncias; ela diz respeito s barreiras relacionais criadas

    por questes individuais, grupais e sociais. O direito ao convvio

    pressupe considerar as dimenses multiculturais, intergeracionais,

    interterritoriais, intersubjetivas, entre outras; a segurana de convvio

    amplia o campo preventivo da proteo social ao reconhecer a

    importncia do ncleo familiar, expande a proteo social pelo

    alargamento e fortalecimento de vnculos sociais, desenvolve trabalho

    social que amplia o universo de relaes, informaes, referncias de

    pessoas, famlias, grupos, segmentos que se constituem em recursosque contm possibilidades de reduzir fragilidades no enfrentamento

    e nas situaes de desproteo ou risco.

    Esta segurana faz com que o poder pblico mantenha oferta diversificada, capaz

    de alcanar os membros de uma famlia, nuclear ou alargada, de buscar a articulao entre

    os que vivem avizinhados em um mesmo territrio, a aproximao entre aqueles que tm

    traos em comum de identidade humana etria, cultural e tnica, de gnero, entre outros

    aspectos, que garantam a convivncia incluindo as situaes de lutas de reconhecimento

    social (BRASIL,Caderno 1, 2013).

    EIXOS ESTRUTURANTES DO SUASComo j citado anteriormente, o SUAS inaugura no pas a

    gesto compartilhada da poltica de assistncia social como poltica

    pblica e instaura, em todo territrio nacional, a perspectiva de

    responder universalidade de um direito de cidadania. A gesto

    compartilhada contempla alguns eixos estruturantes, que sero

    tratados a seguir.

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    33CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadeDESCENTRALIZAO POLTICOADMINISTR ATIVAAo tratar da descentralizao, no podemos deixar de

    reconhecer inicialmente que a Poltica Pblica de Assistncia

    Social nacional; esse pressuposto indica que as trs esferas tm

    responsabilidades especficas e cooperadas. Uma das principais

    mudanas na forma de gesto da Assistncia Social desde a

    Constituio Federal de 1988 reafirmada na Loas e, posteriormente,

    na PNAS e na NOB/SUAS decorre do princpio da descentralizao

    poltico-administrativa na implementao dessa poltica.

    importante reconhecermos que o processo de descentralizao

    entre as esferas de governo tornou os municpios autnomos e

    independentes no plano institucional, no se limitando somente ao

    reordenamento estatal, mas fundamentalmente valorizao do poder

    local e da participao popular, como fundamentos democrticos

    reconquistados aps dcadas de prticas autoritrias e centralizadoras

    vivenciadas no pas.

    Por outro lado, esse reordenamento aumentou o volume de

    responsabilidades e de encargos municipais; isso permitiu que as

    estratgias de interveno locais caminhassem na direo de maior

    efetividade e democratizao, quando numa maior aproximao

    e adequao s necessidades e demandas locais (BRASIL,

    CapacitaSUAS, 2008, p.17).

    Uma questo a ser considerada que muitos municpios quedesenvolveram um bom planejamento, fundamentado emestudos sobre a realidade local, com gesto efetivamentedemocrtica, oramentos significativos obtidos com o executivoe inovao nas suas prticas, vm alcanando bons resultadosem suas experincias e servem de referncia implementaodos servios e benefcios, em consonncia aos princpios ediretrizes da PNAS e NOB/SUAS. Entretanto, devemos reconhecerque o conjunto dos municpios no homogneo nesse padro;certos municpios tm de superar desafios de ordem conceitual,pois convivem ainda com antigos preceitos e referncias;dficit administrativo e financeiro; capacidade tcnica e definanciamento insuficientes.

    Considerando o exposto at aqui e resguardando as

    peculiaridades regionais e locais do processo de gesto em cada

    esfera de governo, precisamos compreenderque centralizao

    e descentralizao no so processos excludentes, mas sim

    complementares, pois dotar os municpios e estados de autonomia,

    no significa lev-los ao isolamento e total independncia da esfera

    federal (BRASIL, CapacitaSUAS, 2008, p.20).

    TRS ESFERASAs diferentes atribuies

    das trs esferas de governopodem ser acessadas naPNAS (2004, p. 32-33).

    ACESSE

    MD

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    ATENO

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    Por ltimo, do ponto de vista do desenho da gesto da

    poltica de assistncia social, a relevante mudana nacional foi

    a exigncia de implantao de Conselhos, Planos e Fundos de

    Assistncia Social, nos trs nveis de governo (federal, estadual

    e municipal), enquanto instrumentos bsicos da descentralizao

    e democratizao, que possibilitem o acesso ao financiamento

    pblico. Tal exigncia obrigatria, tendo em vista que o SUAS

    integrado pelos entes federativos, pelos respectivos conselhos e

    pelas entidades e organizaes de assistncia social, conforme 2

    do art. 6 da Loas.

    Alm das exigncias j citadas, importante lembrarmos que

    existem instncias de pactuao, como a Comisso Intergestores

    Tripartite (CIT)e as Comisses Intergestores Bipartites (CIBs).

    So espaos privilegiados de pactuao entre os gestores,

    quanto aos aspectos polticos e operacionais da gesto do SUAS com

    o objetivo de implementar e efetivar o SUAS. Promovem consensos

    entre os entes envolvidos, porm no exigem processo de votao

    ou deliberao em suas decises.

    PARTICIPAO E CONTROLE SOCIAL

    Como j apontado anteriormente, a Constituio Federal de

    1988 definiu como diretrizes das polticas pblicas, em especial,

    na organizao da assistncia social, a descentralizao poltico-

    administrativa e a participao popular na formulao das polticas

    e no controle das aes em todos os nveis (nacional, estadual,

    municipal e no DF). Tambm a participao da populao, por meio

    das organizaes representativas, na formulao e no controle

    das aes da poltica de assistncia social, constitui-se na segunda

    diretriz da Loas.

    Ento, o que preciso saber sobre o controle social e so-bre a participao popular?

    O controle social da PAS e do PBF realizado por meio da par-

    ticipao da populao na gesto da poltica, no acompanha-

    mento, na fiscalizao das instituies governamentais e no

    governamentais que os executam e dos recursos destinados

    ao funcionamento dos servios, programas, projetos, benef-

    cios e transferncia de renda.

    Os fruns de polticassociais tambm se consti-tuem como espao para oexerccio do controle socialdemocrtico, na medida emque exercem presso sociale incidncia poltica paraalm do espao institucio-

    nal do Estado.

    ATENO

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    2 un idadeA participao popular na formulao e no controle social est

    expressa na Loas/1993, em seu artigo 16, que institui o Conselho

    Nacional de Assistncia Social (CNAS) e estabelece os Conselhos

    Estaduais de Assistncia Social (CEAS), os Conselhos Municipais

    de Assistncia Social (CMAS) e o Conselho de Assistncia Social

    do Distrito Federal (CAS/DF), como instncias deliberativas do

    sistema descentralizado e participativo, de carter permanente e

    composio paritriaentre governo e sociedade civil.

    As conferncias e os conselhos, nas trs esferas, so caixas de ressonncia das

    demandas da sociedade. So espaos privilegiados de interlocuo e negociao poltica,

    fundamentais para a democratizao da poltica de assistncia social (BRASIL, Caderno 2,

    2008, p.27).

    Tambm compete aos CMAS acompanharem a execuo

    dos Programas de Transferncia de Renda (PTR), sobretudo o Bolsa

    Famlia e o BPC.

    PODESE AFIRMAR QUE UM DOS DESAFIOSPARA A GESTO DO SUAS

    potencializar, nos espaos de atendimento populao,atividades que desenvolvam a autonomia e o protagonismo

    dos usurios na direo de materializar a participao deles

    no espao de controle social, utilizando mecanismos de

    democratizao da poltica (COUTO, 2009, p.207).

    Resumidamente, esse complexo processo de efetivao da

    participao popular e do controle social, entre muitas iniciativas,

    requer:

    reconhecimento da capacidade de o poder local interferir nagesto pblica;

    fortalecimento do dilogo intergovernamental por meio da

    ocupao democrtica das instncias de participao e deciso;

    promoo da participao da sociedade civil, respeitando sua

    autonomia no processo de interlocuo e pactuao;

    avano na criao de novos espaos e estratgias de participa-

    o cidad, que se faam presentes nos territrios de vulnera-

    bilidade social, possibilitando o protagonismo dos usurios da

    poltica de assistncia social;

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    construo de mecanismos de participao nos Cras, em que

    a populao atendida, as lideranas locais, as entidades e or-

    ganizaes de assistncia social, os tcnicos e os gestores dis-

    cutam os servios, padres de qualidade, problemas locais

    e construam coletivamente alternativas de enfrentamento.

    (BRASIL, 2008, p.27).

    A interveno dos conselhos na formulao e no controle da poltica constitui

    um processo complexo que envolve conflitos, pactuaes e a construo de acordos

    no interior dos prprios Conselhos e na relao destes com os rgos e instncias de

    negociao, pactuao e de deliberao do SUAS.

    Contudo, temos de avanar na construo de espaos

    compartilhados de discusso, de acompanhamento e de fiscalizao

    da PAS, para que trabalhadores e trabalhadoras, usurios, gestores

    e todos os atores sociais interessados possam democraticamente

    refletir acerca do SUAS, visando ao desenvolvimento de prticas mais

    qualificadas e participativas nas mais diversas localidades deste pas.

    MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR

    O foco atribudo no SUAS, a centralidade da famlia,pressu-

    pe romper com a lgica individualista de prestao dos servios

    socioassistenciais, o que significa avanar da ateno individual ou

    ainda por faixa etria e por necessidades especficas, para intervir

    considerando a dinmica familiar. A famlia aqui entendida como

    espao privilegiado de espelhamento dos efeitos da vida social e,

    ainda, potencializadora das mudanas da realidade social.

    No podemos deixar de frisar o quanto a famlia impactada

    pelos reflexos da desigualdade social brasileira, expressando de forma

    objetiva no seu cotidiano no somente suas carncias econmicas,

    polticas e sociais, mas tambm sua RESILINCIAe resistncia diante

    uma dura realidade, ou seja, expressa no s pelos carecimentos,

    mas pelos elementos subjetivos de sua forma de resistncia a esses

    carecimentos (COUTO, 2009, p. 208).

    RESILINCIA

    um conceito psicolgicoemprestado da fsica, defini-do como a capacidade de oindivduo lidar com proble-mas, superar obstculos ouresistir presso de situa-es adversas, como cho-

    que, estresse, entre outras.

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    2 un idadeNo mbito do SUAS, de acordo com o documento O Cras

    que temos, o Cras que queremos,o acompanhamento familiar

    definido como o conjunto de intervenes desenvolvidas em servios

    continuados, com objetivos estabelecidos, que possibilitam famlia

    acesso a um espao em que possam refletir sobre sua realidade,

    construir novos projetos de vida e transformar suas relaes, sejam

    elas familiares ou comunitrias (BRASIL, 2011).

    EM SNTESE:

    a famlia o ncleo social bsico de acolhida, convvio, autono-

    mia, sustentabilidade e protagonismo social;

    a defesa do direito convivncia familiar, na proteosocioassistencial, supera o conceito de famlia como unidade

    econmica, mera referncia de clculo de rendimento per

    capita e a entende como ncleo afetivo, vinculado por laos

    consanguneos, de aliana ou afinidade, que circunscrevem

    obrigaes recprocas e mtuas, organizadas em torno de

    relaes de gerao e de gnero;

    a famlia deve ser apoiada e ter acesso a condies para

    responder ao seu papel no sustento, na guarda e na educao

    de suas crianas e adolescentes, bem como na proteo deseus idosos e pessoas com deficincias;

    o fortalecimento de possibilidades de convvio, educao

    e proteo social, na prpria famlia, no restringe as

    responsabilidades pblicas de proteo social para com os

    indivduos e a sociedade (BRASIL, NOB-SUAS, 2005).

    preciso que os gestores, ao tratarem da centralidade da fam-lia, estejam atentos, pois pode-se cair na armadilha de transferirdo vis individualista, centrado no sujeito, para um vis grupal,transferindo para a famlia a culpabilizao da situao em quese encontra (COUTO, 2009, p.208).

    REFLITA

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    38 CEGOV | UFRGS

    TERRITRIO COMO BASE DE ORGANIZAO DOS SERV IOS

    Ao reconhecermos que o territrio a base de organizao do

    SUAS, temos de explicar que o territrio representa muito mais do

    que o espao geogrfico.

    OS TERRITRIOS SO:

    de trocas de relaes

    de expectativas ede sonhos

    de contradiese conflitos

    espaos de vida...

    ... querevelam

    os significadosatribudos pelos

    diferentes sujeitos.

    de disputas

    de construo edesconstruo de

    vnculos

    O territrio tambm o terreno das polticas pblicas, onde

    se concretizam as manifestaes da questo social e onde se criam

    os tensionamentos e as possibilidades para seu enfrentamento.

    Podemos considerar o municpio um TERRITRIO, porm com

    mltiplos espaos intraurbanos que expressam diferentes arranjos e

    configuraes socioterritoriais (comunidades, favelas, vilas, periferias,

    regies).

    importante considerarmos que o princpio da territorializao

    reconhece a presena de mltiplos fatores sociais e econmicos, quelevam o indivduo e a famlia a uma situao de vulnerabilidade, risco

    pessoal e social. Pensando nisso, as aes da assistncia social devem

    ser planejadas territorialmente, tendo em vista:

    a superao da fragmentao;

    o alcance da universalidade de cobertura;

    a possibilidade de planejar e monitorar a rede de servios;

    a realizao de vigilncia social das excluses e estigmatizaes

    presentes nos territrios de maior incidncia de vulnerabilida-

    des e carecimentos (BRASIL, Caderno SUAS 2, 2008, p.53).

    TERRITRIO

    Quando tratamos de terri-trio, estamos nos referindoao territrio como espaosocial em constante dinmi-ca, que deve ser compreen-dido para alm dos limitesgeogrficos e administrati-vos (KOGA, 2009, p.31).

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    39CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadePor que, cada vez mais, temos de reconhecer a dinmicaque se processa no cotidianodas populaes nos territ-rios onde atuamos?

    Porque a proteo social requer uma maior

    aproximao possvel da vida das pessoas, o que pressupe

    considerar:

    a identificao das efetivas condies de vida das pessoas e do

    territrio, onde elas vivem com suas famlias;

    o municpio, como uma menor escala administrativa governa-

    mental, do ponto de vista federal, onde se operacionalizam pro-

    gramas, projetos, servios, benefcios e transferncia de renda;

    a identificao das diferentes manifestaes e expresses da

    pobreza, dos riscos e vulnerabilidades sociais nos territrios deatuao;

    a localizao dos servios socioassistenciais e sua relao com

    a concentrao da demanda, ou seja, o tipo/perfil de deman-

    das e necessidades que devam ter a ateno nos servios;

    a identificao das necessidades da populao, mas tambm

    fundamental a identificao das potencialidades (das pessoas,

    das famlias e da comunidade) existentes e/ou que devem e

    podem ser potencializadas.

    Importante lembrarmos, ainda, que a poltica de assistncia

    social, ao agir sobre um determinado territrio com base nos dados e

    informaes identificados sobre a dinmica desta realidade, inaugura

    outra perspectiva de anlise, ao tornar visveis aqueles setores da

    sociedade brasileira, tradicionalmente, tidos como invisveis ou

    excludos das estatsticas, tais como: a populao em situao de

    rua, adolescentes em conflito com a lei, indgenas, quilombolas,

    pessoas com deficincias, entre outros peculiares a cada territrio

    (PNAS/2004).

    A PNAS (2004) prope a caracterizao dos territrios com base

    em dados e informaes, considerando a dinmica demogrfica e

    socioeconmica, associadas aos processos de excluso/incluso

    social, s vulnerabilidades, aos riscos pessoais e sociais em curso

    no pas. claro que os dados gerais sobre a situao do pas podem

    e devem ser confrontados com a realidade vivida nos municpios,

    onde se desenvolve a poltica e se assentam as pessoas que dela se

    beneficiam. Essa uma importante iniciativa quando pretendemos

    conhecer o territrio de atuao e construir propostas de gesto, que

    realmente atendam as necessidades sociais dos usurios da poltica.

    O territrio em si, paramim, no um conceito.Ele s se torna um concei-to utilizvel para a anlisesocial quando o considera-mos a partir do seu uso, apartir do momento em quepensamos juntamente comaqueles atores que dele seutilizam

    Milton Santos (2000)

    ATENO

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    Para realizao de um diagnstico claro e objetivo da realidade

    social em que a poltica chamada a intervir, ou melhor, no seu

    territrio de atuao, destacam-se alguns indicadores: os aspectos

    demogrficos (sobre a populao), a concentrao de pobreza, os

    dados referentes s crianas, aosadolescentes e aos jovens, no quese refere violncia domstica, ao trabalho infantil, populao

    em situao de rua, estimativa da populao com algum tipo de

    deficincia, concentrao da populao com mais de 65 anos

    (idosos), entre outros.

    Isso quer dizer queas anlises mais gerais do Brasil servem

    como subsdios para orientar as anlises locais, o que significa utilizar

    os dados e informaes disponveis nos bancos do Instituto Brasileiro

    de Geografia e Estatstica (IBGE) e Instituto de Pesquisa EconmicaAplicada (IPEA), alm de estudos realizados por universidades e

    centros de pesquisas, assim como os sites do MDS.

    O territrio pode ser fator de proteo e/ou de

    desproteo (SPOSATI, 2009, p.45). Partindo dessa afirmao,

    que iniciativas voc identifica no territrio de sua atuao que

    promovem a proteo e quais fatores tm, ainda, contribudo

    para a desproteo das pessoas que l vivem?

    REDE SOCIOASSISTENCIAL

    O SUAS inaugura um novo desenho de rede socioassistencial

    que est organizada por nveis de proteo. Os centros de referncia

    de assistncia social, vinculados, tanto proteo social bsica

    quanto proteo social especial, operam as garantias de seguranas

    sociais e referenciam (como o nome aponta) toda a rede de servios

    socioassistenciais.

    Os servios que so ofertados e garantidos por meio

    da rede socioassistencial esto caracterizados na tipificao

    nacional (Resoluo do CNAS, n 109 de 2009, da qual trataremos

    mais adiante) que, pela primeira vez na histria da poltica de

    assistncia social, define e estabelece critrios de qualidade para essa

    oferta.

    De acordo com a concepo que consta nas normativas

    do Sistema, a rede socioassistencial um conjunto integrado

    de aes de iniciativa pblica e da sociedade, que oferta e opera

    Voc j leu a TipificaoNacional dos Servios So-cioassistenciais?

    ACESSE

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    41CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idadeprogramas, projetos, servios, benefcios e transferncia de renda

    socioassistenciais que se articulam e se efetivam por meio dos diversos

    equipamentos pblicos, entidades e organizaes de assistncia

    social, complementares do SUAS. Alm disso, a organizao do SUAS

    supe diversos planos de articulao entre os entes federados e

    destes com as instncias de pactuao, de participao e de controle

    social e com as entidades operadoras.

    A ao da rede socioassistencial de proteo bsica e especial

    realizada diretamente por organizaes governamentais ou

    mediante convnios, ajustes ou parcerias com organizaes e

    entidades de assistncia social (PNAS/2004). Nessa regulamentao,

    reconhece-se o carter pblico da oferta das organizaes sem finslucrativos, que realizam, de forma continuada e planejada, servios,

    programas e projetos de proteo social e de defesa e de garantia

    dos direitos socioassistenciais.

    Compreender o significado da rede socioassistencial, no

    mbito do SUAS, fundamental, visto que no se trata de prticas

    parciais, desconectadas e fragmentadas, com padres passveis

    de avaliao, cujos sujeitos integrantes da rede no dialogam e,

    tampouco, garantem a incluso e o acesso dos usurios rede

    hierarquizada e territorializada.

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    SENDO ASSIM, O QUE ENTO PRECISOCOMPREENDER SOBRE O CONCEITO DE REDE?

    Que seu conceito utilizado com significadose possibilidades de intervenes diversas quese fundamentam em prticas e princpiosdemocrticos e se constituem em formas deorganizao e interao. , sem dvida, uma dasformas de construo de alianas, mas que requercomunicao intensa, intercmbio e influnciarecproca (BRASIL, CADERNO 2, 2013).

    A articulao em rede supe a construo deconexes e movimentos. Sua hierarquizao compreendida pela incompletude decada servio em si e sua completude emrede, em que cada unidade e cada nvel deproteo tm seu nvel de competncias e deresponsabilidades.

    FUNDAMENTAL IDENTIFICAR A REDE SOCIOASSISTENCIALDO TERRITRIO DE SUA ATUAO!

    O ponto focal da rede socioassistencial territorial local o Cras

    De uma maneira geral a rede socioassistencial:

    Integra os servios pblicosprestados pelo ente estatal ou por

    organizaes e entidades de assistncia social, cujos participantes

    gozam de autonomia que lhes confere sua natureza jurdica;

    Essas entidades esto vinculadas em rede e, portanto, realizampactos em torno de objetivos comuns para responder s neces-sidades coletivas e garantir direitos de acordo com as diretrizesda poltica de assistncia social (CapacitaSUAS 2, p.88).

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    43CAPACITASUAS | PROVIMENTO DE SERVIOS E BENEFCIOS

    2 un idade O funcionamento da rede socioassistencial constitui

    um espao de relacionamento interorganizacional que

    potencializa esforos, meios e informaes visando a alcanar

    a integralidade e a completude de respostas devidas

    populao usuria;

    a construo da articulao da rede socioassistencial um

    processo de articulao estratgica de sujeitos e cabe ao setor

    pblico estatal a sua construo e coordenao;

    seu fundamento o de partilha de responsabilidades

    pela cobertura das necessidades coletivas, por meio de

    servios operados em rede de ateno, sob os princpios

    da responsabilidade pblica, universalidade, transparncia,

    publicidade, equidade e qualidade das prestaes.

    Podemos concluir,ento, que a rede socioassistencial cumpre um

    importante papel poltico no processo de fortalecimento do SUAS. Por

    exemplo: a articulao da rede de proteo social bsica referenciada

    no Cras consiste no estabelecimento de contatos, alianas e fluxos de

    informaes e encaminhamentos entre o Cras e as demais unidades de

    proteo social bsica do territrio, assim como a articulao da rede de

    proteo social especial referenciada nos Creas.

    Frisa-se aqui a importncia de estabelecer fluxos e articulaoentre os nveis de complexidade do Sistema - Proteo Social B-sica e Especial - Cras e Creas ou Cras e servios regionalizados.

    INTERSETORIALIDADE

    A intersetorialidade um dos eixos que desafiam a poltica de

    assistncia social, pois se refere ao dilogo com as demais polticas

    e setores, garantindo o acesso das famlias aos servios setoriais

    e a outros direitos e oportunidades. As normativas do Sistema

    reconhecem a necessria complementaridade entre os servios das

    diversas polticas pblicas sociais, visando garantir proteo integral

    s famlias e indivduos.

    Isso no poderia ser diferente, pois a complexidade das

    necessidades e demandas trazidas pela situao de pobreza e

    desigualdade social da populao e as disparidades regionais

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    ATENO

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    e locais de estados e municpios requerem da assistncia social

    respostas s questes identificadas. Dessa maneira, a assistncia

    social se coloca na dependncia da integrao no s dos servios

    socioassistenciais, mas do conjunto de servios e programas de

    vrias polticas especficas, quer no mbito estadual ou municipal,

    superando o tradicional confinamento das atenes, que recorta os

    programas sociais em reas estanques e, consequentemente, pouco

    efetivas (BRASIL, CapacitaSUAS 2, 2008, p. 38).

    O prprio carter de proteo social abre assistncia social

    conexes com as demais polticas do campo social, que se voltam

    garantir melhoria das condies de vida da populao empobrecida.

    Entretanto, para que a intersetorialidade ocorra, necessrio que

    os setores dialoguem entre si, e conheam e construam formas detrabalhar conjuntamente.

    Mas como articular a rede interinstitucional em seu mu-nicpio?

    Essa articulao pode ser dar por meio dos seguintes passos:

    criar mecanismos de compartilhamento por meio de um

    sistema de comunicao formal e contnuo entre estruturas

    e rgos para viabilizar iniciativas, recursos, lideranas eprocessos de acompanhamento e controle, com as cmaras

    intersetorias e os conselhos de controle social articulados;

    compreender que a intersetorialidade no um mero arranjo in-

    formal; ao contrrio, necessita ser institucionalizada e normatiza-

    da de maneira que propicie uma ao contnua e efetiva;

    substituir a competio entre as polticas sociais pela

    cooperao, atuando com base em interesses comuns,

    compartilhados e negociados em comum acordo, semprevisando a atender s necessidades da populao usuria, na

    perspectiva do interesse pblico;

    reconhecer as especificidades de cada poltica social. No caso

    da assistncia social, a interlocuo com os demais setores e

    a construo de agendas comuns dependem de uma boa

    compreenso por parte dos demais setores, do campo de

    atuao da assistncia social, suas normativas, bem como das

    funes do Cras, Creas, Centro POP e demais servios ofertados,

    prioridades de acesso e fluxos (BRASIL,Caderno SUAS, 2013).

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    Devemos tambm considerar que a anlise da adequao

    entre as necessidades da populao e as ofertas dos servios e

    benefcios socioassistenciais, vistos na perspectiva do territrio,

    deve constituir-se como objeto central e de permanente reflexoda Vigilncia Socioassistencial.

    Ofertas da Poltica deAssistncia Social

    Riscos eVulnerabilidades

    Necessidades deProteo Social

    Demanda paraServios e Benefcios

    Socioassistenciais;

    Servios

    Benefcios

    Programas eProjetos

    PSB e PSE

    Considerando as referncias da PNAS e da NOB SUAS 2012,depreendemos que a Vigilncia Socioassistencial se organiza a partir

    de dois eixos que se articulam para produzir a viso de totalidade:

    Vigilncia sobre opadro de servios

    Vigilncia de riscos evulnerabilidades

    E MAIS: fundamental compreendermos a vigilncia,como

    parte integrante dos servios que constituem a rede socioassistencial.

    por intermdio dela que a assistncia social chega populao e

    que, simultaneamente, so coletadas informaes que subsidiaro

    o planejamento de futuras aes. Destacamos o papel dos

    trabalhadores do SUAS na coleta e no registro de informaes, por

    meio de instrumentos j disponveis e padronizados, tais como:

    TERRITRIO

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    2 un idadeO CADNICO E O PRONTURIO SUAS.

    Cadastro nico para Progra-mas Sociais do Governo Fe-

    deral (CADNICO) um instru-

    mento de identificao e carac-

    terizao socioeconmica das

    FAMLIAS BRASILEIRAS DE BAIXA

    RENDA. Qual a finalidade dele?

    Manter o registro de todas as

    famlias de baixa renda num

    nico cadastro. Tambm tem

    como finalidade acompanhare ampliar o acesso desse pbli-

    co s polticas sociais, traar o

    perfil socioeconmico e subsi-

    diar o processo de reavaliao

    dos benefcios e transferncia

    de renda.

    PRONTURIOToda a circulao de informa-

    es obriga os profissionais a

    repensarem as relaes entre

    eles e deles com os usurios.

    Os profissionais devem trans-

    crever dados que sero de

    interesse para toda a equipe.

    Lembre-se: as profisses tm

    prerrogativas tcnicas e ticas

    que devem ser respeitadas e

    so tambm responsveis pela

    garantia do sigilo.

    fundamental que haja o conhecimento do cotidiano da vid