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ARTUR ALEIXO NUNO ALMEIDA 1

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Exposição da Paradigma Art Gallery na Feira de Arte Contemporânea (Festival In), Parque das Nações, Pavilhão 3 da FIL, de 14 a 17/11/2013.

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ARTUR ALEIXO

NUNO ALMEIDA 1

A ARTE CONTEMPORÂNEA desde que se descentrou do artista enquanto criador estético e do objecto enquanto criado para se envolver no escândalo e nas provocações de pseudo artistas sobre pseudo realidades, caminha seriamente para o suicídio e para o caos porquanto visam na sua essência acabar com a arte.

Na realidade, na arte actual, o único valor que conta é o valor da exposição mediática, o valor do escândalo, o valor mercantil em detrimento da obra (ela mesma) – o seu valor contextual – as

técnicas, o autor e o seu envolvimento emocional, a verdade autêntica e pura da criação do belo.

Na minha perspectiva tudo começou com Marcel Duchamp. A partir da sua “Fonte” (urinol) passamos para a caixa de merda de Manzoni até à Cloaca – máquina de cagar de Wim Delvoye passando pelas mais estranhas instalações tudo foi feito para aniquilar a Arte. Muito baixo desceu a criação artística quando se centra nestas referências – o Mijar (urinol) e o cagar (caixa de merda e a cloaca).

Não contem comigo nesta arte, niilista, efémera, parasitária, decadente onde o conceito de Belo é substituído pelo da oportunidade ou pelo do escândalo.

Perante este cancro da banalização do belo aqui estamos nós para defender a VERDADE da Arte, libertá-la do túmulo onde se encontra e torná-la autêntica.

“A minha arte não pode ser comprada. Não troco o meu sentimento por qualquer bem terreno. Há quem tudo faça por dinheiro, fama e glória, mas para isso não contem comigo. Prefiro deitar-me na relva ao lado das flores, deixando o vento acariciar-me.”

Otto Muller

A superioridade da arte reside no homem enquanto ser livre e criador, por isso ele pertence à natureza do SER, não do TER, à autenticidade não à falsicação.

CONTRIBUIÇÕES PARA UMA NOVA TEORIA ESTÉTICA

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A criação artística funda-se numa verdade mais pura e na experienciação do sentimento, da emoção que é sentir o SER Perfeito e Absoluto da criação estética. Heidegger na “A origem da obra de arte” referia que os corvos negros de Van Gogh ou a seara ondulante, acedem-nos à verdade mais íntima do artista – ao seu sofrimento e às suas angústias – à essência do ente.

Toda a criação deve decorrer numa atmosfera afectiva num respirar de alma que nos eleva ao Belo mais puro e no caminho do sentido do Mundo e da Verdade.

Através da arte o Homem reencontra o seu lugar no universo, ultrapassa os seus limites, desvenda os seus paradoxos e angústias, reencontra-se com a sua essência – ser livre e feliz.

Falamos certamente de uma felicidade a mais intuitiva e imaterial embora paradoxalmente resulte de uma representação emotiva – envolvimento, sedução e força criativa de um ser que se postula a si mesmo como motor das coisas belas.

Este fascínio do ser pelo belo vem dos primórdios do Homem pré-racional que se afirma na criação artística nas pedras do Côa ou nas grutas de Altamira. Estão lá inscritas de forma indelével há milhares de anos a (re)presentação da experiência

artística que, sendo embora dominada pela categoria da sensibilidade, traduz de forma universal o poder mágico do fenómeno da caça o envolvimento emocional na caçada.

Na verdade, nesta experiência artística pouco importa como ele – Homem primitivo – imaginou ou conceptualizou a origem suprema dos traços, pelo contrário, eles aparecem como uma espécie de dom da fascinação do desejável, do êxtase de possuir ali, junto de si e eternamente o animal capturado.

A arte na sua origem é como que uma manifestação tangível de energia, vibração, excitação dos sentidos um estado de violência e, paradoxalmente de amor.

Apesar dos milhares de anos que nos separam desta “concepção” artística não estamos todavia tão longe assim. Desde Platão – a arte como imitação da ideia – passando pelos expressionistas, pelos freudianos ou até mesmo pelos essencialistas uma obra de arte, só é arte na medida em que um sujeito se envolve emocionalmente com a tradução/(re)presentação de uma realidade interior/exterior a si mesmo.

Heidegger indo mais além da emoção estética coloca a verdade como categoria fundamental da estética. A obra de arte no seu dar-se primordial manifesta-se num enigmático mistério que é próprio do ser no espaço vazio da tela, na partitura

sem notas do compositor, na pedra informe do escultor ou na página em branco do poeta. A criação artística é assim como que uma instância irradiante e provoca o abrir-se à luz de tudo o que em si consigna: o MUNDO, a TERRA, a VERDADE.

continua na página 15.

CRISÁLIDA 2013Mármore Branco de Estremoze Mármore Vermelho de Negrais61 x 29 x 29 cm

NAS ASAS DO DESEJO 2013Mármore Branco de Estremoz e Ferro45 x 51 x 47 cm

DEUSA HERA DEITADA 2013Pedra Verde Donai, Lioz e Mármore Vermelho de Negrais28 x 75 x 25 cm

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ALMA GÊMEA 2013Mármore Branco de Estremoze Mármore Vermelho de Negrais76 x 47 x 48 cm

PANDORA 2013Mármore Branco de Estremoz, Mármore Vermelho de Negrais e Brecha da Arrábida 21 x 47 x 22 cm

MENINA SENTADA 2013Pedra Verde Donai e Lioz42 x 28,5 x 25 cm

SWEETY 2013Mármore Branco de Estremoz e Ferro146 x 34 x 45 cm

PANDORA 2013Mármore Branco de Estremoz e Mármore Vermelho de Negrais30 x 67 x 30 cm

DEUSA HERA DEITADA 2013Pedra Verde Donai, Mármore Branco de Estremoz e Basalto dos Açores 32 x 72 x 29 cm

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CIBELE 2013Alpinina, Mármore Branco de Estremoz e Brecha de Loulé84 x 26 x 26 cm

SWEETY 2013Mármore Branco, Brecha da Arrábida e Ferro134 x 36 x 46 cm

ÊXTASE 2013Mármore Branco com Vergadas, Mármore Vermelho de Negrais e Brecha da Arrábida 84 x 41 x 27 cm

MENINA SENTADA 2013Lioz e Brecha da Arrábida 72 x 32 x 33 cm

ÍSIS 2013Barro polímero, Brecha da Arrábida74 x 30 x 20 cm

ÍSIS 2013Barro polímero e Brecha da Arrábida42 x 15 x 14 cm

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COUPLE 2013Mármore Branco de Estremoze Moca Creme52 x 39 x 20 cm

AFRODITE 2013Mármore Branco de Estremoz e Brecha de Loulé20 x 55 x 15 cm

NU 2013Mármore Branco de Estremoze Amarelo de Negrais40 x 25 x 18 cm

LUNA 2013Alpinina, Brecha de Loulé e Moleano 130 x 30 x 33 cm

AFRODITE (EM SUPORTE) 2013Mármore Branco de Estremoz e Basalto dos Açores64 x 45 x 20 cm

ANJO MÚSICO 2013Barro polímero, Ferro e Basalto dos Açores85 x 23 x 33 cm

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PANDORA 2013Mármore Vermelho de Negrais, Lioz, e Mármore Branco com Vergadas 20 x 60 x 27 cm

DIONE 2013Moca Creme e Basalto dos Açores28 x 70 x 22 cm

MENINA SENTADA 2013Lioz e Brecha da Arrábida 58 x 16 x 20 cm

PRESÉPIO 2012Barro Polímero, Ferro e Pedra76 x 62 x 33 cm

MITO PROMETEU 2012Barro Polímero, Ferro e Pedra46 x 79 x 33 cm

ANJO BUTTERFLY 2012Barro Polímero, Ferro e Pedra75 x 34 x 44 cm

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ELASTICIDADE 2012Barro Polímero, Ferro e Pedra71 x 32 x 20 cm

ANJO 2012Barro Polímero, Ferro e Pedra73 x 56 x 41 cm

EQUILÍBRIO 2012Barro Polímero, Ferro e Pedra54 x 36 x 23 cm

CRISTO 2012Barro Polímero, Madeira, Bronze e Ferro210 x 130 x 60 cm

ÁRVORES 2013Ferro Policromado e Pedra55 x 55 x 22 cm

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A ARTE FAZ BROTAR A VERDADE e não a falsicação. A arte é poesia, é dom e é daí onde o artista, o processo e as circunstâncias da génese da obra ressalta o mais puramente o sentido do mundo. A obra de arte remete para uma verdade que só nela se dá, juntando-se algo de outro que está para lá do seu carácter de coisa: a sua verdade – o seu sentido – os sapatos do camponês desvelam o mundo, a verdade da vida: o seu trabalho, o seu sofrimento, o seu cansaço, a dureza do campo, a sua tenacidade e a sua ligação íntima com a terra fértil.

“Na escura abertura do interior gasto dos sapatos, fita-nos a diculdade e o cansaço dos passos do trabalhador. Na gravidade rude e sólida dos sapatos está retida a tenacidade do lento caminhar pelos sulcos que se estendem até longe, sempre iguais, pelo campo, sobre o qual sopra um vento agreste. No couro, está a humidade e a fertilidade do solo. Sob as solas, insinua-se a solidão do caminho do campo, pela noite que cai.” Martin Heidegger, A Origem da Obra de Arte, Edições 70, pp. 24-26.

O criador/artista vai desvelando, sob o enquadramento das formas e a plasticidade das tintas, sob o informe das pedras uma alquimia emocionante, única do real. É como que um sopro mágico que um ser transporta a uma suprema vitória inatingível aos comuns, do espiritual sobre o sensual, do essencial sobre o acidental, caminhando dos espaços sensíveis às vidências ora oníricas ora espectrais, da diferença à identidade, da doxa à intuição extática do Belo.

“Dizia Vieira da Silva: “As pedras duras, pesadas, invadem-me, sinto a morte; quando olho para os meus quadros, acho que não têm força nenhuma em relação às pedras que me cercam” Os degraus-pedras, no seu quadro, são sempre degraus de vida, do seuespírito e tocam quem observa essa sucessão de formas que percorrem um cubo, ondulando e

despertando cumplicidade e variações à sua vola, numa calma e gélida atmosfera.” Fernando Infante do Carmo, Livro de Ouro da Arte Contemporânea em Portugal, vol. I, pp. 31.

A verdade da arte não está no supercial, no aparente, no ícone ou na pele da imagem. Ela está no artista, no tempo, na essência do real (no ENTE), no processo, no sentimento, na busca, em síntese na verdade.

É por isto que a verdadeira obra de arte emociona, impregna, é vibrante e libertadora.

O que se passa hoje na arte é um assalto dos “merdia” ditos prossionais, “marchand” que se auto proclamam como “opinion makers” com desprezo absoluto pelos bons artistas, porquanto se baseiam em valores de mercados e no capricho, na grosseria, na ignorância, no fait-divers em que se transformou a Arte Contemporânea.

Veja-se como exemplo a tão afamada colecção Berardo: “Numa recente visita á colecção exposta no centro Cultural de Belém, em Lisboa, eu pude contemplar uma abundância de exemplos de realismo muito mau, não apenas maus, e grosseiro, com excepção das salas dedicadas a Paula Rêgo, quase sempre assinados por jovens criadores de vários países, muitos deles norte americanos, que não se inscrevem na tradição da realidade” – O Labirinto da Claridade, António Macedo – Tomás Paredes, ed. Cordeiros

Quando a arte não é iluminada pelos filósofos é enganada pelos charlatães. De facto, passando pelo Estado que apoia projectos de qualidade duvidosa, pelos corporativos galeristas que negoceiam réplicas como originais (veja-se o valor exorbitante das reproduções seriadas limitadas de pseudo criadores) que só desnobilitam a verdadeira arte, à nossa volta pulula uma certa política de camarilha ou capelinha depreciando o genuíno,

o autêntico, a obra una, única e irrepetível.

É ao filósofo que cabe a crítica perante o cancro social da banalização da estética e por este andar as galerias e alguns museus virão a ser necrópoles do belo.

Temos de contrariar esta tendência suicidária que visa acabar com a arte: contra a hipocrisia dos pagadores de promessas, o sonho, a sedução e o fascínio.

Contra a autoridade dos “marchands” parasitas vigaristas, a criatividade, a emoção do artista contra os críticos dos “media” a organização dos artistas a cuidarem da sua imagem e a divulgarem as suas produções e a qualidade artística da sua obra.

É preciso pegar na verdadeira arte, libertá-la do túmulo onde se encontra do niilismo das cinzas pisadas do chão de um museu qualquer.

Esta pequena publicação pretende contribuir para a construção de uma nova teoria estética da Escultura em Portugal, ser como que uma lufada de ar fresco daqueles que verdadeiramente amam o Belo, os que experimentam o divino, as flechas do desejo e da emoção, aqueles que criam ao lado das flores ou que se emocionam com as noites estreladas.

email [email protected] tm 919 677 080 / 4

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