carvalho age de - ror

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7/25/2019 Carvalho Age de - Ror http://slidepdf.com/reader/full/carvalho-age-de-ror 1/100 aGE  E CARVALHO . ROR 198Ó-1990) . /

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Page 1: Carvalho Age de - Ror

7/25/2019 Carvalho Age de - Ror

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aGE

 E

CARVALHO .

R O R

.  198Ó-1990) .

/

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,

. : N 0 '

c o n ta to i ni c i a l e o m c t r a b a lh o d e

A g ~

e C a r v a -

l h o , p ar e ce d e p o u c a v a l i a t e n t a r v in c u l ã - l o c o m e x c e s s i v a

p r e c i s ã o a a l g u m a d s s t e nd ê n c ia s r e c e n te s d a p o e si a b r a -

si le i ra . F a t o q u e d e r e s t o ' só a p r e se n ta v a n t a g e n s p o i s , s e .

p o r u m la d o , e n c o n tr a r tr a ç o s ' q u e p e r m i t ~ a . i n c l u sã o

e m u m c o n j u n t o , 'v i a d e r eg ra fa c i l l t a a a p r o x i m a ç ã o , p o r

o ur m , t e nd e a . s im p 1 i f i ç á - J a , t o r a a n d a p o p r e r t \ é n t e a c a -

, n h a d a a a m pl i t u de d a le i t u ra e :all o b r a , 0

à

v 6 n t a d e , a

d i s p l i c ê n c i a , o a c h a d o e n t r e 's ú b j t o e c a s u à l , o e v e n t u a l

, h u m o r d e u m t r o c a d i l h o l á o s e u t a nto g ra tu i t o , o r e l a t o

d e e pi só d io s q u e n ã o u l t ra p a s s a m o s l im it e s d o p e s s o a l , '

a t ra n s c ri ç ã o p ur a e s im p le s d e si tu a ç õ e s o r a is t o r a m c om -

p o n d o a o lo n g o d a s d u a s ú lt im a s d é c a d a s u m p a n o r a m a .

· d e d il ui ç ã o e m q u e e r a s e m pr ~ b er n -y i n d o m a i s u m p o e -

t a e s e u t e s r a t n d b ç o t i d i a n o . E b e m v e r d a d e q u e e s ~ a si - ' ,

m a çã o d ão f oi e x € l u siv a , m a s c o nc e m ro u m u it a s a te nç õ e s . '

T a lv ez o m e lh or d a é po ca , n a m a i o ri a 'd os c a so s , n ã o e s te -

j a a i , m a s t a m bé m . n ão e st á r ig id am e n t e l i g ad o a a lg um a

o u tr a t e n dê n c ia .

-, . E n t r e e s s e s c a so s p o d e - s e c o m c e r t e z a in c l u i r o d e A g e

d e C a rv a l h o , . ( ')C ) , u en ã o q u e r d i z er q u e s u a p o e s ia n ã o d e ix e

v is í v ei s s eu s p a r e n t e s c o s , a i n d a ~ u e i s. t o o co rr a d ~ m o d o

'~ .à sv e z es b as ta n t e é n v . i e s a d Q l .o t í t u l o A r q U I t e t u ra d o s o s-

SOi ( t r í p l i c e t í t u lo d e u rr r p o e m a . j i e u m a p a n e q e l i vr o

e d e

u m

l i v r o ), a p r e se n ç a r ec o r re n t e d a p ed r a e u m 'p o e -

m a d ed ic a d o a

joã o

C a b r a l d e M e lo N e to p o d e m d e im e -

d i a t o s u ge ri r c e n a s a s so c ia ç õ e s , N o e n t a n to , o p o e m a

  A I -

- q u i t e t u r ;   d o s o s s o s j á se in i c i a C O / Ila c o n ju g a ç ã o d e c o n s -

t r u ç ã o e a rr e ba ta m eu to n o v e r s o   'E d i f ic o f u ri os o e s ta m a -

n h ã   ~ ; e a p e dr a e st á e o r n n o tá v el f re q ã ê a ci a li g ad a à s om , '

b F a e à i n d a g : J , ç a o . 1S e h á u m m ov im en t o d e a s s o c i a ç ã o e

I

a f as ta m en to e m r el a ç ã o a c e r to s m a r c o s l i t e r á r i o s , m ov i -

• m e n to q u e e m s i i 1 1 j f n in a u m a p r o d u ç ã o P Q é t i q , h á t a m - '

· b ém o u t r o s m o v i m e n t o s t ã o o u m a i s im ~ o n a n te s.

S e g u i n d o ' s u a t r i lh a , a p o e s i a d o a u t o r

de

A re n a , a re i a ,

a p r e s e n ta se n sí v e i s m u d a n ç a s n o p e r c u rs o e n t r e s e u s p r i -

m e ir os e s e u s m a i s r e ce n te s p o e m a s . U m . d is c u r s o m a i s 1 0 n -

, 'g ó , u m d ~ c u r s o ín a dS i 1 i lf l . a m a d o c~ d ( l  l J p O U Ó l > p O l  l C Ou ,

g á r a u ~ a m a io r c o n t e n s â 'o , a u m a m à io r 'd i s c r i ç ã o . Ü r-

r an jo d os v e r s o s , u m o u o ut r o n eo lo g i s m o , ta r a s m a n i p u ,

l a ç õ e s g r á f ic a s p e r m a n e c e m c o m o m ar c a s e x p r e ss i v a s d a

lu ta c om a s p a l av r as . E m o u tr o â m b i to , a i n t e r r o g a ç ã o f l a -

g r a n t e e v e e m e n t e , a s im a g e n s ' s u c e ss i v a s e v i ol en ta s r e -

c u am d ia n te d a s u g e s t ã o e , s ua s r es s o n â n c i a s , d a e li p se e

se u s e n t r e a b e r t o s e sp a ç o s . .E p o ss iv d a rr o la r c o n st an te s t e-

i

I   . \

I r a

3:30

-

-

ROR

(1980·1990)

A redução no preço deste livro foi possível

pela co-edição patrocinada pela Secretaria

de Estado da Cultura de São Paulo.

L {] Livraria

L {]  uas idades

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· . - -  

---~- 

-

AG E D E CA RV ALH O

ROR

(1980 1990)

desenho de Tbomas Kussin

/

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(1980-1990)

Equip e de realização

Projeto de capa  ilustração: Moema Cavalcanti

Projeto grá fico : S ilvia Massaro

Revisão: Herbene Mattioli

Assessoria editorial: Mara Valles

Secretaria editorial: Gisela Creni

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional

(Câmara Brasileira do Livro, SP, B ra sil)

ROR

Carvalho, Age de, 1958-

ROR: 1980-1990 I Age de Carvalho. - São Paulo:

Duas Cidades; Secretar ia d e E stado da C ultura  1990 

(Coleção Claro Enigma)

Bibliografia

ISBN 85-235-0014-6

1 Poesia brasileira L Título 

11 . Sér ie.

90-0891

CDD-869-915

Índices para catálogo sistemático:

1 Poesia: Século 20 : Literatura brasileira 869 915

2  Século 20 : Poesia: Literatura brasileira 869 915

Copyright

©

Age de Carvalho

Direitos desta edição reservados

à Livraria Duas Cidades Ltda.

Rua Bento Freiras, 158 - São Paulo

01220 - Fone: 220-5134 I 220 4702

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P E D R A U M

(1990)

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o

CÍRCULO na areia, o

que no

grão de

grande

há,

sim sens, não nens

a fala sem sentido

que é

isto: menos que

isto, isso

Ao meu filho, Pedra

[9]

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MARAHU REVISIT ADO

alegria de água

ruivo ruído menino

circulando pela sala,

FILHO,

De

palma em palma

abre-se

a bananeira

ilegível, as reconciliadas

portas da cabana, o círculo

em novos círculos de água

que a pedra sonora inaugura

vê: cílio que se arrasta

e queima

vírgula

contra a luz

De palma em palma

ofertado instante presente

floresce um imaturo diálogo

do ramo calado das mãos

(10)

[ 11)

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PAI

uma edra

distante

para chorar,

um argumentado lírio

jacente, sede clara

no jarro sem som,

e esta conversa arvorada

sobre a graça do branco -

  jóias da

mobil idade' ,

( in Marianne Moore)

início da primavera

[12]

A CAMINHO

  o grande Verão, ãa

abre a porta, saúda:

o fumo de rosas

do atriurn parricio,

a contrabandeada estrela síria

que te acena Elena,

guerra

nos cabelos de Louise

torres de álcool folhas d' alba palmas abertas no sempre

Terra 

terra parente nos sapatos de Elias e Abraão

Saúda e agradece

Rernida, consolada

uma pedra

infartada sobrevoa o coração

[13]

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[ 14]

o

MOTOR DE BUDA

BEIRA

de si, mira

o rio contemporâneo

em Gars am Kamp

passando em ando, paisagem

Seguimos a seta - a Leste,

para o alto

leonado de nuvens,

lentas frases do barro

abençoando o caminho

De segunda, Grande

Marcha, roncando

sobe

a montanha

o pequeno Daihatsu

[15

J

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[16]

o PANAMÁ, a gravata

fulva-murmurante

de algas, esquinas

PASSAGEM

para a visita tardia

à rue D'Ulm: estrelas

varridas do gabinete,

verões após, por ti

Era julho

floresciam pedras

carregavas a sombra de um rio

Afogado de abril

(se abril era, data

incerta, Marte)

Chamavam-nos

agosto, norte, ninguém

verões, por ti,

Após

Irreconciliáveis

 

II

[17]

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UNGARETII

ROMA VIGIADA

com a outra busca

aquela, estrelada

que se abre

ao diálogo

  m

guarda, quatro ciprestes

centuriões

fulguram sobre a cidade

Se una tua mano schiva Ia suentura,

Guarda:

ninguém

te espera com a mortalha

dos Sete Mártires Gregos

nem te abrigarão

desconsoladas catacurnbas

escarlates, a rosa branca

tombada à pedra

Da oliveira,

mais gue sombra, tens

com anhia

[18] [19]

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11M onik l1 Grond

FAZERCOM, FAZERDE

A CURA, e sua aura

esvaziada de abismo

.O abismo - o íntimo

ascender

Estar, entre

estrelas e pedras,

interrompido

um estrelar-se infinito

(de boca

contra) ao beijo cru

da queda

Resto de

ervas, tempo, entre dentes

detém-se

a palavra-refém,

réstia

[20]

[2 1]

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[22]

LENÇÓIS, BA

I

 

NEGRO O. Ainda aqui falo

o abismo,

o mstante

dentro da queda

mas

já não guardas

o osso,

o parente óleo noturno

carregando um destino,

o nome

mancha

que no centro

assombrado do corpo

amadurecia a dúvida -

Onde,

por falar em pedras,

fala-se diamante

sob o leito aberto

do rio deflorado

Onde,

ela, em si

a resposta

o que na pedra

é estar,

sobre teu corpo

deita fala

[23]

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[24]

REVENDO P.P. CONDURÚ

CORES

 

I I

no olho

louco de Alfonso

Fou'hall

Ferson, o Velho

Negrores, blau de

esfumado lume,

breus

raivas do branco

à luz ácida

da estrela doente

que nos dá companhia

entre grades e ciprestes

contra a mente - quem

te ouve?

Alvorada a

mão entrevista em Colors

entre grades

entre-

laçando confuso um gesto

pássaro, cruz

o mundo nas mãos

Com a chave rebelada

tens a arte, a alva

porta de cil ícios,

torna-te o que és: santo,

flor, dragão

dedo-

revólver

Hóspede de hospícios

[25]

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[26]

HOLDERLIN

A MORTE as festas,

o anel

todo dourado-diâ

para o inédito

de uma vez

Sombra e sombra -

todo o negro

para os dedos

estiolados

de Deus

Pro-

fere

a palavra,

refere

a ferida

[27 ]

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A FAIA VERMELHA DE VINCENT

NA DUDA SE VUELVE MEMORABLE

a Teresita Segui

Era a pedra errada, repetia

Nr. 562 - Fagus silvaticaLaciniata,

o nome da árvore

E:  sob proteção legal 

Uma verdade

instaurada pela dúvida

(ensolarados pomos de pedra)

Floral,

cega-purpúrea,

cor-

rompida irmã, aberta -

 e

para sempre

enferruja a navalha

entre remorso, ervas

Era a pedra repetia

[28] [29]

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IRMANAMENTEilumina

o leão do fósforo

K ópT J  K ópT J 

for tbe six seeds of an errar

The Cantos, LXXIX.

[30] [31]

uma boca, restos de conversa

Sarurno (guarda o anel

que não tivemos, guarda-

o, sombra, por nós)

aceso o tabaco da remissão

fumaça

Cerchio d'ombra (error

de assombrado lustro,

Esplendor )

levanta-se aqui agora

tarde um braço

mão humana mancha

acenando da rurba

a dizer do bardo, dez latas

atadas ao rabo, o que

nem mais interessa: inocente

E

se corrompe, ó

em círculos,

dragões no ar, tempo

*

(Zerou, morreu, ex -

aqui agora tarde

- seis figueiras se erguem

pelo erro do velho Ez)

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PESSOA

NEGATIVO DE RICARDO REIS

.;

Agua-quando, pedr' estar

Ó de fogo ouro ou: o

Bocas roxas (não

de vinho),

sobre a testa

branca cresce a erva

Não te chamo Lídia: nada

. sabemos sobre o rio das coisas

 32 )

[33]

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OCUPADO. Sinais inter-

calados de conversa nenhuma nem

sombra de voz,

a cólera

enroscada na serpente espiralada,

ramo de cifras ardendo nos dedos

para Sy/via, Benedito,

Max e Miche/

Estar, não-estar: três estrelas

de espera zumbem por ti,

três estrelas se negam soando,

chance de ser

APÓS circular o Ring -

Ó

de

[34]

ouro,

alta esfera de louros

se

ocup-

ocupado. Tentar de novo

- éramos nós agora

o real radiante anel

a coroar esta mesa rouca

do Salettl-Pavillon, sol

redor de férias em áustr ias austeras,

a contemplativa t ília de perfumados pensares

dando sombra a vozes,

uma conversa entre árvores

em julho cafés e o poema (mais tarde)

do verão

após

circular o

Ring

[35]

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[36]

[37]

POR MALCOLM LOWRY

REDOR - redor

fala exférica, andar

a, andar em

círculo

devor

ando-se

Duplo, cambaleante

cai o mundo

junto à pálpebra:

*

(Ar,

ar

doze árvores em chamas

respondem' 'Presente , alguém

trouxe o barco na garrafa,

não estás sozinho

contra o muro -

beijamos a

sombra,

pronunciamos cinza

sobre a

experiência da pedra)

Hélices de álcool

ventiladores do inferno,

um corpo de gases

e destino (não estás sozinho)

entra em passagem

*

Pedra,

pedra-um

de ser e sombra,

e desce

urna

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BRASILIENSIS I: LOGOMARCA

Quis

o design da canoa

o diz-que do risco

a Estrela do Norte

hévea letra, mata helvética

para a marca' 'Desenho da Selva

quando duas luas irmãs, reluzunindo

no arco

se desintegram:

o alvo

acerta a flecha

[38]

ROMA, ver notas

(Villa Borghese não visitada,

pedra-alma de Adriano, cosmos)

ou: revê-Ia via Greenaway

(enviando postais ao morto)

n A Barriga do Arquiteto, o

figo envenenado da simetria

reproduzido aos pares

do ventre auri-luminoso

de Xerokopia, o Duplo

última geração, anno 1986

Outras anotações: cinco laranjas

funéreas alourando a mesa do hotel,

Keats' house (por M.i.)

42 graus,

noites brancas

[39]

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OUTRO TOM: OUTONO

Desflorecer, aflorar contra -

bruno rorejante

aponta

o cabelo do futuro,

outro tom outono

a abraçar a

violentada cifra púrpura

quando declino

(falo, far-

falho)

ramos em flama: f,

fls,

has

[40]

(AUSGANG, a saída

Uma porta

se oferta

experiente

para outra porta,

aberta

(por dentro,

onde já não arde

um passo sobre

a neve

ou

o próximo

último, sem despedida)

para outra

porta)

[41]

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DESATOU-SE, o último dia

do Ano - buquês na boca

a celebrar o morto

mestre em desastres, dezembrado

Também por nós,

festejando, berram

as flores da gravata

cristal-

orvalhada

[42]

POR INNSBRUCK

A

cidade em volta -

a cidade, entre o colar

norte e o último

dialeto do branco

Estrela ferida,

adeus, aqui estreitas

o que é neve

e parte do esquecimento

[43]

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JUNTOS. Todas as velas

se apagaram, aceitemos

Confia: filho, não sei

o caminho - só tens

uma palavra, esta

minha

[44]

IN ABSENTIA

E:

ainda uma chance -

uma pedra se refolha

para o repouso,

o instante

é

sempre presença

Ror de erros,

recolho repetidos

o que ainda me pertence

[45]

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[47]

NISSO

SUMA

que ascendeu

se revelou

e esqueceu

Quantas vezes

ainda por repetir?

ponhamos uma pedra

Estão comigo, todas

de segunda mão,

não classificadas

ó anel

círculo mancha ervas

sombra relva irmã

estrela erro tumba

por companhia

[46]

pedra pedra pedra

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A R E N A A R E I A

(1986)

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Ao meu pai, José

Ao João, meu irmão

A Max Martins

DE AREIA, era a sombra

coroando a pedra

ausente,

a ferida do nada

Assoprada semente

celebrada sempre em

ti,

a caminho (sem

ti, tu

sêmen,

rr-

repartida suma: um)

De areia era a sombra,

de areia a

obra

[51]

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DIZ-QUE, e era a dúvida

do retorno

rolando errada na boca

(uma pedra baixando o corpo,

uma palavra perdida

baixando à pedra)

THE AGE OF THE OAK

A idade do carvalho

aflora real na pedra

(ágrafo círculo da pedra,

a sombra e a diferença)

aponta para o deserto,

declina

o ramo do nome

onde espera uma data,

a resposta

dentro, buscando

a abismado caos do instante,

o centro,

a zoada mais íntima, do início: a

[52]

[53]

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BOCA,

a minha e a tua:

o ímã das l ínguas lança promessas,

letra-sobre-letra

À

vera,

a tempestuosa mão da rasura

subjaz

negra no plural dos pêlos

à procura do selo mais profundo,

funda

[54]

VERMELHO

T u a ,

de seda e feno

no transe da metáfora

a fenda soletrada-sol,

vala de luz, vocabulário

Tua, folhagem. O

olho

alcança o Olho,

desce aos infernos:

sonha o cabelo da urna, o

vermelho

da cifra, a ferida

no centro da fogueira

Tua, tua

[55]

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MARÇO 22, três anos

depois

Círculo branco

calcinado

na pedra - ó,

ainda aqui

Vives ,

fora do nome,

todo, ósseo

[56]

A IDADE DO CARVALHO

The age of the oak

blossoms out of stone

(unwritten circle of stone,

shadow and difference)

points to the desert,

articulates

the branch of a name,

awaits a date,

the answer

[57]

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[58]

YOU'VE A SEA TO LIE

OBREUM CORPO

Caixa -de-árvore,

Terra, cabana

do Marahu - sonoro, assim

-falas o claro, o louro incêndio

das folhas, alguma linguagem

Seda de graça

corrompida,

és

Leste a água, a flor na pedra

salina,

duas juras traspassadas no verão:

traçaste

a sentença

palavra a palavra, o poema

Ó

negro, leito

crespo de sombras

circunferido,

água difícil

que esgota-

ralo, poema

- toda mensagem

Onde o mestre, a trilha

estrelas? Outras palavras

tocaste, violento:

tempo, laser,

Tens um mar para mentir,

zen,

Não

és,

ó negro

(azo, azar)

a chave, infinita, mestra

[59]

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OS INCÊNDIOS

(Não cantarei o mar: que ele se vingue

de meu silêncio, nesta concba.)

Carlos Orummond de Andrade

How alike are the groans of loue

to the groans of the dying

Malcolm Lowry

1.

Via-limite.

À

beira do abismo

vazro

de palavras, o clarão do nome

lavra sua chaga em boca

noturna, esplende em erecta paixão:

nome, dois nomes e amantes

(o ideograma sangremo de Sada riscado no corpo bár-

baro e defunto? Yvonne estelar luzindo maligna na

botelha do Cônsul, sobre a barranca sinistra? o anjo su-

jo de Cass espatifado bêbado às botas do poeta? ou

Tu, tu mesma

D.M., arfando histórica na inscrição amorosa da pedra,

furiosos cabelos na tempestade, o ramo transtornado

das mãos sobre o rosto do deserto?)

Nome, dois nomes e amantes

exasperam a urna escura para nosso verbo,

tanta violência, mas tanta ternura:

lume de vero exílio, a morte anunciada

[60]

2.

O sol

rn c id e

no tanque negro e brilha enforcado entre as árvores,

11 sol negro clamando por ti, louco astro subornado

Jlirando neste esplendor de Lowry maldito girando

qui aqui

O Vale da Sombra da Morte

1111 rc constelações, mancha de letra, o azar

(o mar, onde

o Mar?)

bananeiras indecentes alvoroçando suas pernas

rnplarnente às serpentes de pluma: antros

do inferno: as formações cruéis, passando: nuvens

V I ios verbais na paz sonora. A lata

n u lfabe ta enferruja sua metáfora,

/ltl st

cego incendeia uma floresta de vocábulos

p u lavra-vulcão o estrondo da página

v .spera do silêncio

Aqui, ex

[61]

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3.

Cessam os incandescentes signos da luz

Espelhos espaços claridades: tudo

convertido na turva escri ta das pedras

onde piso-

conciso hieróglifo

(o Mar, onde

o mar?)

Daqui, acima da tarde

e seu desastre, dos relâmpagos

destroçados, sobre a grave paisagem

(feno tornado ouro, nunca queimado)

eu

escrevo (meto) gravo

na pele rnonolítica

teu nome incinerado,

Nome

[62]

PEDRA

Erro. Ouro e cinza, aos pares

a grande Irmã trafica suas letras

Nada te revela: relva

rara, uma palavra

cega floresceu no caminho,

azuluz perene na pedra

estrangeira

Ergui-a,

levo comigo, lida

Sem resposta

(ouro e cinza, aos pares)

beijo a pedra,

sua testa indecifrada:

 D.M.

[63]

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ENTRE PEDRAS, serni-

sombras sob o arvoredo, a mão

ofende a falha -

lá,

entre o fresco rumor das folhas

e dos ramos lázaros, Lá

reino azul-redor:

à luz malina, nós, descobertos

[64J

NEGRO, forceja reconhecer a laje

marcada, conspira contra a cripta:

véspera do nome,

véstia da paixão toda paixão,

aqui

cresce uma cruz na última palavra -

A ofertada, irrepetida, ir-

recusável

[65]

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AQUILES, 1982

 Reúno e recuso: ainda

não aceito a oferta,

despojado, fiel a este corpo

exilado de negro e sudário,

os sapatos apartados do barro,

a cruz das mãos assinalando

o coração escuro, o mercado

feral das flores, muros de cinza.

Sim, aberto à relva mais ruiva

e salina, à cidade incendiada

e corrupta do rubro lacre,

onde Heitor, lastro vencido

em defesa ao sítio, abre-me

asportas para fundar omastro. ' ,

[66)

OS JARDINS E A NOITE

Scmoarz ist der Scblaf.

Georg Trakl

Os jardins e a noite,

graves perfumes da noite

E nada. Nada

As feras

dormem nuas em sua severa

inconsciência de músculos. Eternas

estátuas que ornam estes jardins

esquecidos mas reais: esferas do luto

- É s ru,

caranguejeira, quem nos percorre

tremenda o corpo, o sonho negro

onde da janela a morte grita

Tu, bicho obscuro dos números verdes inscri-

tos à pata na parede alva na pele da linguagem na fala

obstruída do fogo e do sexo aberto apagando este astro

ostra que mostro quente agora enquanto as árvores e um

casal e o próprio trópico incendeiam distantes o que resta

da estação o verão que rola alegre inacessível acima de

teus tentáculos rancorosos acima de abril o mais cruel

dos meses num sopro de ternura que desconheces.

Câncer de julho,

são as esfinges que fingem contigo

contigo desde a treva do ventre. A luz te fere

[67)

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- Eu te amo

As feras (heras

de sono) despertam

lentas e lambem-se no eu

A noite acolhe-nos amorosa

E nada,

nada

[68]

MÃE

Eu e tu, sombras ali

Jorge de Lima

Contigo, contigo

em tenebrosa es era

desde a treva do ventre

- véspera, as eras do sangue

Cresce, cresço

dentro,

fruta e nome,

a luminosa lepra da idade

lentamente

conduz o corpo às hastes do ofício

Cresce, cresce

o Nome,

mancha e destino,

o cabelo da letra

errando rumo à residência da palavra:

a palavra crespa

que te adora e espera,

negra,

espera, espera

Ergues a camisa de fogo e crime -

Mãe

(escura selva, Inferno)

- e Lá me tens, promessa

Contigo, contigo

em tenebrosa espera

desde a treva do ventre, amém

[69]

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CUATRO TERRITORIOS PARA JULIO Y HUGO

ou amor, jogos-rituais

com cadeias de luxo,

recintos distantes, flores inúteis

2. recintos com flores

de luxo, jogos inúteis,

cadeias de esquecimento: rituais do amor

3. ou amor

Jogos

distantes

flores rituais

4. cadeias-circuito

rituais de esquecimento

espelhismos

ou amor

[70]

CINZAS, tua boca

de sombras, interditada

Pedra sob a língua,

errante, onde

sempre tens o deserto,

esta página, gueto da letra

perdida, judeu: K

(Tua palavra, tua

mais dura palavra

- muda, irmã)

Cinzas, tu-

a boca

de sombras

[71]

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A LETRA DE SER,

como VIU

Edmond jabês,

do oásis -

sete vezes

aberto o Livro,

sete vezes

a face de Deus

em questão:

I'

être,

lettre

[72]

PODER, ervas da palavra

Raro arvoredo

aquele que enreda

azar e erro

à sua meta:

a pedra e a flor

fraturadas na mesma boca

Aflorar da rocha -

promessa, metáfora

[73]

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[74]

É

a praia que chama,

o mar do sempre, sêmen

o POETA

Vigília, um rio presente

vertido e vertente

ecoa no fórum original:

ruína da careta latina,

Eneida incendiada, morto

o dador de fogo, nomen-numen

Aqui, tua aventura

de ser, o bêbado retorno

nada

azul

entre onda e vaga

água aliterada

aqui, o espelho cifrado

informado rosto

onde

branco, mira-se o alvo nome

- geração amarga do eco,

rasto vero

de

Passa o rio, ex -

sub, solitário

razão e erro

É

a prata

o corporal tempo e leito

que chama

vaga onda nada

[75]

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REINCARNA tION

and the street was narrow

even for a shadow

seven lives, three poets

black

cat

under the wheels of the cab

scrowling

thumps

 

squashing death

escaped

and the subterranean river speaks life

hidden

by force

of a fateful word

turned against itself

springs through flat annihilation

OUI

inheritance -

death   life

life   death

the three into one word: cat

black on white

delivering us

o poema Reencamação/Reinoamasia« tem duas versões, escritas si-

multaneamente durante sua concepção, em inglês e português, pe-

lo poet a norte-americano James Bogan, por Max Martins e por mim,

não exist indo portanto uma versão original do poema entre os dois

idiomas, constituindo-se ambas independentes entre si. (AC)

[76]

REENCARNAÇÃO

e a rua era estreita para a sombra

sete vidas, três poetas

negro

o gato

sob as rodas

do carro,

o grunhido

da atropelada   esmagada morte

e um rio subterrâneo diz da vida,

reclusa

a pulso

numa palavra azarada

voltada contra si

saltando através da perda, aniquilando-a

herdando-a para nós

- morte e vida

vida e morte

os três numa palavra: gato

preto no branco

libertando-nos

[77]

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ENTE

para Belo /a e Zeca

~gua,pedrafundarnent~

de Tales, habita o ser,

Ser de antro: grave,

partes à alegria

do primeiro filho, cesariano

[78]

MÜHLAUER FRIEDHOF

M e -

dita, a

branca

sombra da neve,

o neva

desse silêncio, fendido: Trakl

(Arde,

arde a folha

forasteira, o louro

latim das folhas,

o ce o vento

ledor

das folhas)

Aberta, a

pedra interrogada

[79]

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ENGLISCHER GARTEN, MÜNCHEN

a Ingnd Rõderer

Aérea-

alumbrada

mão do desastre,

que sobrevoou o verão da fruta

e se fechou na sombra

jovem da pedra,

na jura grisalha que nos acolhia

(sem sim

nem não, poesia)

Arvorada em si, assinada

baixou sobre o exilado

jardim, aí,

anônima

[80)

SALZBURG, OUTONO

Fulgor da memória

no tráfico das folhas: queda

o passo

e outro

ressoante neste pátio

da Waagplatz, A-I

eco do mesmo

nome, o

rasto apagado neste pasto de pedras,

a mesma sede subterrânea

que conduz ao velho poço

(água de norurna mecânica

movendo-se em puro estar ,

estanque, o secreto lume do círculo

esplendendo fechado em sua ruína

de urina e sombra)

Cai o passo

(e outro) refolhando o poço

abandonado neste paço

e deito e rastreio

c'o

meu olho, teu olho

o

o

[81]

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EPITÁFIO PARA PAUL CELAN

após a leitura de Grabschrif t für Fran çois

N u m

mesmo outubro, num outro outono

traduzo teu poema

fechado às cinzas

de Francisco, o anônimo

Rogas da pedra

grave o que nela é muda:

Palavra, a que tombou,

a-para sempre, rosa

de ninguém,

de tumba

[82]

De boca no mundo, arfa

a palavra soterrada

de razão e chão,

Grund

[83]

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À

MERDA. Sem que possas florescer,

grita a árvore por ti, muda

Áurea-suja, uma palavra contundida

Jura -

crânio azulado,

estrela - memória cega

à cadela

morta

no asfalto

[84]

NÃO

Desfolhada, mão-

de-sete-erros,

jogas no vazio tua palavra

não. Três subterrâneos

celestes, três sinais

sobre a selva da letra,

palavra

negra, clara: Não,

o soletrado, calcinado

[85]

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o sal

pela mão

do rio-sem

DOIS ESCRITOSDE ÁGUA

para Vicente Cecim

A

JOÃO

CABRALDE MELONETO

só dizer

o que se

e duvido saber,

Vertido

no Rio Vermelho

em muro

indecifrável: Afoxé-Otun-Obá

resposta -

um luxuoso dizer, de vagar sem onda

e vaga, fluvial, não aliterado;

um dizer repetido na diferença,

barrento, semi-dito, em Não fechado;

Fechado o círculo,

outra escrita

encerrava Keats,

26, numa linha d'água:

Here fies one whose name

toas

writ in water

ou o não-dito, rios sem discurso,

nome por dizer ou dizer empedrado;

dizer sim o raro e claro do poema,

dizer difícil e atravessado, com margem

Aérea

camisa incendiada do verão,

corpo

funeral contemporâneo, é

assim

tecido o encarnado

rito entre homens, áfricas

incomunicáveis?

de erro

[86]

[87]

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[88]

Vem,

[89]

CANTO DA URCA

V e m , ó tu

baixar à praia

onde outrora era rasto

das sandálias negras de Ezra

(anno

1885

o alvorado centurião

ó tu

baixar à praia, bel

companho: si dorrnetz o veillatz?

Acorda,

não dorme, vela -

Vem,

baixar os degraus

em febre da pedra, um

e um,

inscrever o grisalho,

o que respira gris-

empedrado, letra

e letra,

lepra soletrada -  A'Z 

nomes contra

o funéreo sopro do azar

branco

um barco

cresce, aurora hélice

incendiada

sobre a praia, onde

outrora era rasto

das sandálias negras

de Ezra

Vem, sigamos

alvos

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onde

ou

COBRA

Folha em-folha, entrelaçados

ao varo tempo

íntimo raro,

um em um éramos

nós,

juventude, num:

era a palavra,

a mais alta

que embaixo rastejava à cova

defendida por ninguém,

mais alta é a estação,

o ereto verão da devora,

o

oco da obra

envenenada, palavra

que se come pelo rabo

(um

em um

éramos

s)

ramos

tensos sobre o grão anel da praia

emblemados contra si contra

um coração de madeira

enredando as toscas iniciais

no lenho torturado

para

o olvido,

cobra

a frase barrenta do rio

o ir, o vindo

se ouvia-se inacabada, indo, in-

do,

água esclarecida em negror

à margem do conhecimento

do rio, rio

sendo

sem solução

[90] [91]

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INTERLUZ.

o

halo bruno da coroa

devora o olho, o sinistro

(Digo: isto

é

o meu corpo

escrito, o doloroso texto

entrevisto no fulgor da carne,

uma ferida)

Inocência do olhar, resto

ao sexo,

teu V-revelado - travessia

[92]

SEM SIM NEM NÃO

Tarde

demais

A flecha

zarp

ou

da corda

[93]

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[94]

NÃO ERAM DOIS

o caminho

da porta ao aberto, dois

o deserto entre a areia e o texto,

entre arena, areia

rastro, rasto

não eram dois um

lOstante '

na pedra da atenção,

mais

sombra sobre

a sombra

mais

umbria

não

À

luz selvagem

de quatro chaves

de areia, eis

a obra,

jogo de sombras -

[95]

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[96)

PEDRO,

[97)

1937-1983

Arena, areia

meu filho, do fósforo

aceso num dia

d'alumbramento per

feito,

In, caminho e campo

de existência interditada, digo

a página destinada,

corpo

doloroso de fórum e fortuna,

o poema e sua experiência de morte

- para sempre

que na língua a-

final assombro,

ror de erros,

à

primeira palestra

Reina sob o número

ardente do nada

que assinalou meu pai,

sob a chave que revolve

a difícil folhagem

neste leito do nome: pedra-um

de ser e sombra, urna

de luz, lz

z

Reina,

reina, rés chão

sob o ínfero pano do exílio,

no vinho extinto da paixão,

sob seteno éter e secreta cinza,

a cada degrau da descida

  Era a cidad e exata , aberta , cla ra ) -

a

ar

auro

ara

Aurora, A última queda.

Arena, areia

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Repond s,  a bsent   , toi-même,

sinon

tu risques de ne pas êt re compns.

René Char

OUTRA VEZ

floresce um comércio

entre homens maduros etc

eu dizia, Não tem saída,

um corpo jogado azar sem dados possíveis irreconhecí-

vel sós e ninguém por nós ardendo num círculo sujo de

luz do batismo ó ao réquiem cirúrgico numa mesa de

operação sem saída

e tu, Mais dez anos

é tudo, fim, fragmentos destruídos diário o poema da

morte a vida inteira visto revisto e inacabado, respon-

dendo ausente  sob todo risco a não ser que,

que

Outra vez

floresce etc

[9 8 1  

A FA LA E NTR E P AR ÊNTESIS

(1982)

Poema escrito com

Max Martins

à moda da

renga

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ParaMari4 Sy/via

e Benedito Nunes

Une amitié, ce n est peut-êtr« qu un échange de l xiqu

Edmond jabês

Eu era dois, diversos?

Guimarães Rosa

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Marque d un signet rouge Ia premiêre page du

livre, car Ia blessure est invisible

ii

son

commencement,

Edmond Jabes

1

Das florestas de Blake aos topos da Ásia

quem, da confusão entre chão e carne

com seu púbis, seu discurso e chamas, QUEM

DEFENDE TEU ROSTO DESTE SUDÁRIO INFERNAL?

Teu nome é Não em cio e som farpados

sinuoso grafito gravado no muro

mudo contra o tem o Arfa

noturno, o olho do astro na memória

Este é o meu céu: numa bandeira turva

incendeia seus últ imos signos

te insinua às sombras (que estão nos antros

e subsistem ao gráfico parêntesis:

Flechas ferindo-se no espelho. Reflexos

Dança indefinida

[103]

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2

E nós dois, dois

fálus críticos, acariciando esta cri ta

que doura em sentidos, caverna

de grades negras, se lva

de pura escrita, rubrica indecifrada:

(poesia)

teu nome é Não em cio e som farpados

cilício escri to, escri ta ardendo (dentro,

se revendo), fera

do silêncio úmido, se lambendo, lábil

labiríntima.. E esta língua

de pura estria ávida se desfraldando

lâmina

e se ferindo, se punindo:

[104]

3

As bananeiras indecentes alvoroçando suas pernas

amplamente às serpentes de pluma: antros

do inferno: as formações cruéis, passando: nuvens

É que vens nu, e as nuvens te amoralçam

assanham ecos, sonham o silêncio atrás dos muros

Mais alto a fala do sol de ensiná às pedras

te insinua às sombras (que estão nos antros

- fendas noturnas)

Claro-escuro

de linguagens subterrâneas, ânus

para a fala de dois espíritos:

Escrirura,

filtro de luz, as marcas inscritas no crânio

da palavra, verão de alfabetos esquecidos,

sílabas, louras mitologias manchadas no muro

Que existe / insiste escuro para manhãs, amanhos, aventuras:

A Ilha do Tesouro, a mala do defunto, o escaravelho

- a fala

se amofina estéril e lisa, espuma

ao gozo de neblinas

[105)

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4

Aludir, aludo:

planto medulas

Meus dédalos dedos de medo

prometem contato

Tento. Ágrafa,

a marginal vagina

subsiste ao gráfico parênresis

Mas a mão assinala o teu centro, teu

último grito de ti - de ti, verdadeiramente

[106]

 .

Os corpos. Pronúncia constelada pelo amor

e morte de Faust ino, entre a crespa coroa

negra

e o teso nervo alojado em olho profundo

Corpos, falo

e vulva - falo

a silva língua genital dos amantes, galo

Para amar /morrer os corpos falam / falham

Um masturba o outro - confabulam

e se simulam

não se assimilam

Pois que a palavra é palha combustível

os corpos

com seu púbis, seu discurso e chamas

se consomem

- não se consumam

Ilhas de si, confundem-se no incêndio

natural (um come o outro), negam-se

no abraço, engastados, em seu idioma encadeado-

solo a dos uoces

- os corpos: os sexos

se dilaceram, calam neste mar de lábios

que se abrem, ébrios, e se desdizem

ou se desgastam nesta praia: esfriam

[107]

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6

Já não há mais sonhos Lá e amamos rastros

gastos no asfalto onde se arrasta a asa, resto

pútrido de um vôo que exalto e cito, excita-me

contra a parede e ex' a la a vício

fala entre parêntesis

(Negro,

negro pêlo caligráfico

que recobre selvagem o sexo escri to,

sinuoso grafi to gravado no muro:

o SONHO ACABOU

O carro-olho velocíssimo. Os girassóis

lançando-se obscenos aos fachos de luz ,

faro luminoso. Na estrada. Seguimos)

[108]

7

Um verde vaginal inscreve-se nesta tarde

- a alma de Bashô a contemplá-Ia

duma gaveta

Paradisíaca musa' ácea, página

em que me iludo ,escrevo , jogo

planto bananeiras

Tarde

-

m gue me acena adolescente, fêmea e pornográfica, a morte

Cinema-camaleão,

desvanece-se, desdobra-se invertebrada em laranja

azul, dourado - panorama

. onde o mar esporra

nas rochas, coxas

pernas seios braços púbis cu cinzelados onde penetro, caule

macio, tenro orifício do mal

azul, adentro

convulso róseo vermelho tremendo

branco branco branco

(A rã mergulha no velho container.

Gozo)

E perco a fala, branco

E o próprio branco apaga tudo, as cores deste gozo

e o próprio gozo

neste poço

cala o som da água

A tarde

fulgura arcaica no fogo de seu próprio pó,

incendeia seus últimos signos,

ilumina,

rara, um rasto inútil de memória, calendário

giz do esquecimento, palavra

[109]

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8

Jardim de escrita rara arar (orar) entre 15 pedras

Flechas ferindo-se no espelho - reflexos

 110 

9

Voam e voltam setas neste escudo

mudo, contra o tempo

Arfa

um coração de pedra e de silêncio entre palavras

secas que se quebram

e se quebrantam

E neste espelho

neste jardim fechado-imóvel

um tigre

é

que nos vê

(puro-feroz)

- não vemos

Nos ouve?

Atrás da pele, acaso no oco abafado de fúria

e mal, sou o outro

inominável? Azul

de Trakl no hospício?

Vozes volam para fora desta frase, corpo

e arrebentam-se no turquesa violento do verão

És um tenebroso corsário no mar salino da melancolia

É

desouvindo que nos ouve, o som negando-nos

E assim nos é, nos há: não somos

nem penetramos e sumimos

nas sombras desse olhar

da areia

Voam e voltam setas neste escudo

mudo, neste campo de riscos subscritos

onde figura tem nome apagado -

ágora telepática

sepulcro verbal

- nesta página

metáfora do Silêncio

[111]

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10

Sob a folhagem

a lua de lábios, as facas interditas

o sub-azul olhar de Lícia M. atravessando-me

Sob a folhagem

agora as cinzas pânicas se enrubescem

num sonho de palavras flagelando-se

Sob a folhagem

(profusão de letras?) rumoreja o nevo

fendido, o obscuro. Quem fala?

quem, da confusão entre chão e carne

- que cova ou boca sinistra conclama o nervo

sob a folhagem?

[112]

11

As bananeiras

loucas

agora dançam prenhas

Não mais às nuvens

púberes

mas para espelhos-

luas,

ensangüentadas

Dançam

e exibem o ventre

desvelam o frusto

o roxo cacho de egoísmo

  ;J  

nossa gula

este coágulo

(Mancha andrógina: mastro

(fruta) em esfola, foda

(gruta) vaginácea

de pé: dança indefinida

Coreografia vegetal)

[113]

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Nascem aranhas louras destas folhas

Aranhas-homens, homens-bananeiras. E

dos lanhos-lábios nasce o nosso mimo

sebo e saliva de palavras ínguas

Dançam

dançam enlouquecidas, defloradas

salientes dançam no vento, verão

azul, as bananeiras alegres

Medusa

anã de turvas palmas múltiplas

mas pura constatação da real

árvore,

contemplação da fix.idade

[114]

 

QUEM DEFENDE TEU ROSTO DESTE SUDÁRIO INFERNAL?

(Na câmara escura, o pássaro

mono petri ficava os despojos sobre a rocha

e teu barroco sexo exposto jazia aprisionado

sob tua juventude, a tua pele

a pele

que deixaste na praia no último verão

a tua pele secava para outra, e caía

Teu rosto era sereno - não vi)

Estes rastros, estas rotas, estes ritos

dos olhos de nuvem, ensangüentados

Estes riscos, estas rugas, estes restos

de oceano e de cinzas pela praia

O sentido e a denúncia desta flauta quebrando-se

A demência irada destes músculos. A ferida -

Quem defende o sudário deste rosto infernal?

[115]

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13

Uma vez mais a aula das cinzas

Desce a estação traficando a folhagem

perdida, o rasto que à tua passagem azula:

grafo: a pedra,  Ana 

Traço

do meu gozo aos gozos de Anaiz - Joana

Arcanjo

de Laarcen

os lábios desta jaula

Teu nome de amargura me instrumenta

funda o que me escreve e nego transferindo-me

dos jardins de mim ao resto de tuas frases

A rendiz das folhas, úmido, o mus o mostra olha

o texto amado, o rosto soletrado

o frio silêncio tátil duvidando-nos

Oh égua aveludada, juventude

arranca do meu beijo este saber, sabor de cinzas 

[116]

(O céu se fecha: chuva na mata

O bambuzal fulminado, a centelha estilhaçando a poça

- estrada para as estrelas

VIDA

o que se funda no corpo, em ti

ser, na raiz destroçada entre as ervas

Noturno, o olho do astro na memória)

[117]

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- eis-me

1 5

4

Este é ue é o sudário. A teia

em que me escrevo e me alivia

do san ue aiante na sua cólera

Este é o meu céu. Numa bandeira turva

Claro ideograma

sob a lanterna de lepra, disco

solar no dorso amarelo-cadeia: tigre

a Palavrasobrevoadapor astros-

constelações de minha vida, uma jura

adorada no silêncio

Amargo Id e ígneo tigre por dentro, sub

escrito risco, seta atravessando atreva

em linho corrompido amordaçando a ilha

amordaçando a chaga, aliciando a carne

anavalhada, a lua

negra na pele - eis

erótico-erosivo, o ideograma da morte

a flor da areia

Tu ésaquele que escrevee que é escrito

das florestas de Blake aos topos da Ásia

Salto relâmpago satori

Ou boustrophédon dentro de jaula rajada,

oco ti' gwer, raio apagado de idas e venidas

O Nome na escritura, eis

a palavra, o deserto da página

e o vero mistério da fé

Eis

o caminho

o branco que firo, a letra

o gueto do signo e suas estrelas

Eis-nos, em abandono

[118}

[119}

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A RQ UIT ET UR A D OS O SS OS

(1980)

I I

i

I

i

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Para Cunca,

Mar ia e Cira

O S Q U IN T A IS

Para Ruy de Bastos Meira

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Tem uma caveira de burro enterrada no mundo.

Cezar Teixeira

OS QUINTAIS

Os quintais do mundo

não estão no mundo. Os quintais

- arquitetura da manhã - é a tarde

que o corpo não regula

ou

um sopro que a terra coagula

noutra tarde banida da esfera.

II

(Um beijo de lepra conduz

o planeta:

sete novos galos mortos: a goela

e a faca dentro do dia.

O Equador é uma linha enfiada na carne da cidade)

[125]

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III

Nestes dias de ódio escuro

tenho um braço no escudo

e a espada na claridade. Tenho

a mão na fronte da noite,

fecundando a noite

com os gametas da eletricidade.

Carrego no corpo a medula da árvore

- bicho de frutos. Batizo a cidade:

Santa Maria de Belém do Grão-Pará,

eu te esquecerei na Praça da República,

longe do Forte e dos canhões,

sem teus ingleses dos alfarrábios da Biblioteca Pública,

perto dos Correios e do funcionário,

na esquina da Riachuelo,

na I? de Março,

na zona.

[126]

IV

Va arei ela inexistência da cidade,

por sobre os telhados

(nunca mais pelos da Palmeira,

que rescendiam a pão,

e hoje resistem noutra tarde) da cidade,

sobre a vida que transpira na pele da idade

dos meus 20 anos

de poeta,

de aprendiz de arquiteto,

menino de sonho

e ossos no universo de um quintal do Norte.

Vagarei soturno por entre as mangueiras

com o coração exilado da cidade

(talvez num quintal de outro país),

como os gases noturnos despreendidos das usinas de

[castanha

perseguindo as nuvens levando uma esperança operária;

como um homem e outro homem

(às duas da tarde);

um homem e seu sonho; um

Brasil, um brasileiro.

[127]

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v

(A vida greva

na neve do coração. Um homem (com sua vida) bebe.

Ri

 

dentro do Bar do Parque.

Vinte minutos depois, vai ao banheiro

[e suicida-se',

Uma mulher (com seu filho) chora em algum canto da cidade).

A vida greva na neve do coração.

VI

Porém, há um universo de estrelas

e rosas perdidas num quintal,

com seus galos matinais e aromas de café ao fogo.

Outro universo, diverso,

os quintais da cidade

de cercas paredes e muros: geografia escolar.

Um terceiro, o indigente universo da miséria

- sol de vermes -

quintais do mundo (que não estão no mundo,

mas naquela barriga inchada da criança nigeriana

ou da Nicarágua,

e, com certeza, dessa que vive no Norte do Brasil),

lágrima de ferro.

Todos, contudo, quintais do homem.

Pois, o mundo é grande,

o quintal é grande.

[128]

VERÃO

As frutas, neste verão,

amadurecem distantes e limpas,

embora as máquinas trabalhem

sob um vento antigo de besouros.

As máquinas do verão

trabalham ao sol do século

pelos fachos da manhã,

ausentes da fruta - cão esférico -

amadurecendo na costa do planeta.

O chão, bandeja de terra

na queda do cometa: fruta.

O mar é o arco

azul para todas as referências.

O verão é móvel

quando a fruta a roda da estação.

[129]

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A CADELA

Caminhava grave pela casa,

a cadela.

A cabeça quieta era sua altivez

quadrúpede no centro da cozinha.

Caminhava. Os olhos, costelas,

o mar de ossos, o coração

pardo e lento - caminhava.

A manhã debruçava-se pela janela: cristais no pó,

o púcaro da china, horas de louça

batendo nas palavras na sala da casa.

A cadela caminhava, dura,

secular.

(Domingo dormia

prolongado como um funcionário feriado).

Vivera demais. Descansava à sombra,

peno ao quarador.

Sonhava farta, invisível,

a cadela azul,

nua

(o sexo velho e molhado,

um caranguejo arcaico sob o rabo).

Dormia, vazia.

Outubro doia longe, na Ásia,

Quando a Fuluca anunciou:  A Catucha morreu .

[130]

A ÁRVORE

Sem rumo remo nem direção

navega a árvore

- um silêncio que a tudo atenta - oclusa

em seu próprio corpo, lenta.

A omoplata do tempo

apóia, plena,

o turvo sonho centrípeto

(mesmo quando seu coração

é uma revolução contida

no escudo do caule), e acena-lhe a eternidade

A árvore estanca-se.

Sujeita, a espinha curva-se;

as nádegas gastas sentam no mundo

Escura,

dorme limitada, a árvore.

[131]

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[132] [133]

CANTO DE GALO

Na madrugada dormida,

onde a chama

(agora apagada) do dia

reclama o fogo das manhãs,

um galo canta

(apodrecendo rígido ao passar das horas)

COMPOSIÇÃO PARA QUEM VIVE

A CASA

Sob o sol do dia,

no sereno do pó lunar,

a casa será construída.

De alvenaria, urna casa

seca, branca.

Dentro do universo (querendo,

no mapa), um retângulo vivo que roda,'

roda, roda.

A ÁRVORE

O fero mar

transcorre veloz e mudo

no interior do corpo: árvore.

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A MUL HE R A que se quer no mundo,

e, por isso, absoluta: tambor

que deflagra a luta

- seja ao pão, ao amor.

A que se quer no homem,

no filho, dividida: uma, violenta,

que se deixa entrar, infinita;

a outra, explodida em carne tenra.

Ainda, a que se posta em si

(como uma árvore ou uma casa),

fitando o mundo, definitiva.

Que espera, no fundo, o fim

- a que não tem pêlos e é sem asas -,

e a árvore é sem sentido e a casa contida

OS CONDENADOS·

José, vê:

a Terra é azul

(como não foi quando nasci),

e o homem pisa em pluma

navegando os mares da Lua.

Maria/Pedro, eu te quero

uma estrela no sonho do capinzal,

minha flor.

[134]

ARQUITETURA DOS OSSOS

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o

mar envolta-se musculoso em todos os seus azuis

enquanto a manhã crepita quente na areia e por entre

o

cajual a poucos quilômetros dali. Nada cessa sua existência

entre a plantação e

o

homem que agora caminha sozinho

à

margem da estrada que leva a essa praia inventada num

século perdido e próxima das frutas .

.Na praia, uma casa amarela ergue-se sobre o areal

deste inferno.

ARQUITE1URA DOS OSSOS

Edifico furioso esta manhã

nascida im rovável or sobre meu ombro

plúmbeo de lutas

(uma serra que se move),

crescida na vergonha argilosa de minhas unhas empobrecidas

em sua carne arruinada, funcionada

pelo motor incessante do mar,

iluminada pelo mar do sol.,

e finda pelo último homem

a tomar lugar no espaço

(suicidando-se o meio-dia),

nesta praia, infinita.

2

A laranja entrega-se em dois sóis líquidos

ao sono da urina de amanhã: é o verão da fruta

que agora serves sem cerimônia nesta jarra velha e sem estilo;

entre o mar e a cozinha da casa, na varanda da manhã,

em pleno julho.

[137]

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3

A água, a mulher arrepiou-se

na eletricidade do mar. Olha

a linha agora: o azul

costura-se em outro azul.

A Terra é redonda, pensa.

4

alavras: sol e câncer.

como em meu

5

Estando a manhã acabada, sujo as unhas de terra e entrego

os cabelos ao sacr if ício de cortá-Ias . A barba cresce em desa-

cordo com o dia. Espuma o oceano em sua raiva azul. Fre-

mem as margens ejaculando para o fim. Cega-se a lâmpada

ver tica l do sol. Amadurece a fruta. Vermelha e amarela.

É meio-dia.

[138]

6

A tarde se inicia

pelo sono, e é lenta e branda

a tarde da varanda.

Uma onda

(a tarde branca)

quebra outra quebra a onda

quebra

7

(Meu bisavô extirpava, de quando em quando,

um artelho podre. Penso que deve ter coisa

de sete dedos no par de pés. Mas

tudo parecia normal).

[139]

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8

11

Começo a decompor-me aos poucos.

9

A noite vem por ruídos

e cheiros trazidos do mar.

Vem também, inversa

(a noite oriental, meu dia),

pela anunciação da manhã

e sua própria morte e minha carne rediviva.

Caem-me as mãos, e consigo sentir-me.

(O nariz, as orelhas, já os perdi).

Depois, na fome do crepúsculo, um homem

magro amaldiçoará a vida, esquartejado:

Ó

partes perdidas, ó postas

fedorentas consumidas na lepra do mundo

Pelos bichos da terra,

pelos vagos desenhos escondidos no muro, vem

arrastada a noite em seus claros e escuros

penetrando a casa, violando

o quarto, adentrando meu corpo

inexistente feito de vapor, de medo,

sem tudo.

dia afogou-se no mar,

desesperado.

Ao mesmo tempo,

uma tristeza pânica pisou a planície do meu peito

12

lição de anatomia: não existo

10

Estou cego.

[140)

[141)

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13

A mulher dorme.

Possuo-a pensando tê-Ia

em minha branca inconsistência

mas estou ausente e não estou em lugar nenhum.

A mulher dorme.

14

Nada me escurece o rosto

enquanto caminho para a entrega de meus ossos

à calcinação desta noite.

Porém, minhas mãos queimam

em minha própria arquitetura.

1 5

Espero.

[142]

16

Es eco reaver-me em mim mesmo.

 7

Desenterro os ossos pensando reconstruir-me

na manhã próxima que pousará absurda nesta praia

à margem do mundo.

Tudo

se dá sob os reinos da invenção: morro

,hoje, nunca concluído (uma escultura na areia),

sem ruído;

amanhã,

como há milhares de anos, estarei vivo

(os cabelos num novo incêndio, o corpo

inconsútil no espaço)

e, recomeçado,

serei inacabado e breve.

[143]

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OS GUINDASTES

Mãos sórdidas, meus guindastes,

nada do que deslocas

é rota para a humanidade.

Não é nave nem guia

na lâmpada do dia.

Nem rumo tampouco mapa

do mundo que te escapa.

Não

é

bússola exata

não é vereda não é nada.

És par sujo e pendular

quando ando e sou sem razão.

[144]

Eis-me sem governo:

o caminho iluminado

é meu traço inacabado.

Meu corpo de evidências

está soterrado sob as pálpebras do mundo: escureço

(Dizem,

há guerras em países que desconheço).

(145]

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o corpo na praia

é uma voz insegura embaixo do sol.

o

corpo na praia

é uma voz insegura embaixo do sol

(como uma fruta pronta).

o

corpo na praia

é uma voz insegura embaixo do sol

(como um fogareiro morto).

o

corpo na praia

é uma voz insegura embaixo do sol

(como a pedra-pomes gasta nos pés).

Uma fruta,

um fogareiro,

uma pedra na praia.

[146]

 

_

o espaço desocupado em inúmeros azuis:

o tempo e o mar: a prata

deflagrada por duas esferas imensuráveis,

quase corpos, em seu perscrutar simétrico:

meus olhos vislumbram o universo efêmero

onde a morte articula-se em seu triângulo

regular de eternidade:

a praia, o tempo,

o homem.

[147]

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Homem, querem teus cabelos

acesos ao sol

como uma flor condecorada

que chora suas par tes perdidas num quintal nordestino

- como um fuzil que o sal

come, esquecido.

Aviso-te,

virão buscar tuas mechas

noturnas em tarde de fome.

(A terra arderá em trezentos sóis

egípcios, desentendidos).

E, sei, porão fim a tua fonascia

quando tua palavra - párvoa

e sepulta aos famintos - resvalar

para um túmulo de absurdos vespertinos.

[148] 

u s palavras de sono e sonho caem súbito

no vasto clarão de pedra do sol,

esquecidas de teu corpo que não come

nenhuma fome porventura sentida nesta tarde

Em abismo,

há muito rolaram tuas espadas da boca

sem que percebessem a necessidade delas, . .

feito vegetais.

[149 ]

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Senão pelo corpo,

o sol engendraria

luz, os fogos na carne?

E do corpo,

como um sistema de sóis

a~~drecidos, apenas uma lâmpada,

. pálida e puntiforme (planta aérea,

um mineral escuro na noite do subúrbio),

aquece o coração do homem.

[150J

Corpo, árvore móvel

abandonada de raiz, pés

indizíveis de tanto rumo.

Corpo, matéria violada na densa

multidão que já se aproxima,

entre o grito próprio e os pássaros de anunciação,

em marcha dentro da manhã incontida

pelo chão, proclamando a miséria humana.

[151

J

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Aqui, em meu país

irremediavelmente nordestino e miserável,

à luz elétrica de meu século,

sob todos os alfabetos do medo e da fome;

aqui.

entre o homem e o homem

(como dois sistemas totais

num universo de águas inacabado),

aqui vivo.

[152]

Ai, cabelos do sono,

viajo azul aos teus reinos, querida.

Permito-me parvo e inútil

nestas tardes de sol

_ caranguejeiras de julho.

o

oceano bate longe nas costas de Salinas.

[153]

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Recolho-te dos escombros como quem remove

flores num inverno infernal. No entanto,

é sob o escárnio incandescente do verão

que te trago à luz por minhas mãos.

Entre o fogo e o fogo,

luz, somente.

[154r

Minha mãe morreu aos 48 anos;

meu ai, aos sessenta. Uma edra,

a cadela morreu dura.

Morreu o João: câncer;

o Carlito suicidou-se

(novo novo).

O Abílio morreu, nunca mais. A Márcia,

a J ane. O Zeca, no Rio.

O esqueleto do volkswagen enferruja

histórico numa praia da Paraíba.

(Enfrento prematuro a idade

onde meus dentes estarão num álbum

e perdidos para sempre

(não sei aonde não sei aonde, meu deusl)

e terei uma lembrança e uma cadeira,

próxima à janela).

[ 155]

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3

8,

salienta o cano

que a vida é medida

- inútil o hálito dos anos.

(Cala-me portanto a todo

motor que dispare aceso

o canto

- ~ toda palavra que lavre o tolo engano:

vagina,

cabelo, vapor).

Pois, como a vida,

a bala arquiteta a mira.

Turvo, feito cão que a bala desvencilha

feito pluma quando o corpo abranda. '

(O tiro escapulido resvala na lembrança).

[156]

Abato o tempo

proclamando o futuro e convocando todos os deuses

enraivecidos que me invadem diariamente e me levam à rua,

os olhos queimando, a carne adormecida.

Tempo,

luz miserável, facho de fome, minha vida te atravessa cotidiana e de-

sapercebida da fúria com que a recebes - fora de mim, que te obser-

vo sublevado, cão odioso, inversão medonha de toda vida. Te amaldi-

'çoarei enquanto tua incidência for desprezível - e mesmo depois,

quando tu, puto, me tomares o corpo e modelares a horrenda escultu-

ra que me quiseste desde meu nascimento. Esperas - esperar, ver-

bo de tua criação - com que paciência pelo final que a ação ininter-

rupta das tuas mãos em pó fazem vislumbrar em matéria tão fraca.

Em vão conferi as idades e as fotografias

iluminadas por manhãs acontecidas; a vida, recordei-a remota mais

do que havia, e quase morro em tuas lâminas de claridade. Mais que ~

tudo, caí irreversível em tua pior invenção, Tempo: membro obsole-

to, objeto histórico, inutil idade futura: o passado.

[157]

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Em vãofoi tentada a vida,

a vida em todas as coisas

pelas quais estive em fato.

As iluminações

que do ouro banhavam a casa - estas, esqueci-as todas. No entanto

a mim foram legadas, e possuo-as no desprezo de seu brilho louro '

de sofismas. Inconciliável.

A mulher

nunc~ me terá um filho. Estou velho em demasia para o trabalho

d.a mação - e nada se reiniciará a partir deste meu corpo de obsolên-

~~ego:me, resoluto e covarde.

. Principio minha ~~ desolação, no imenso desprezo as

mlOhas mãos.

Grave, cai a tarde em seu mármore de abandono

[158]

Agora era

o

sol que vinha por detrás do muro branco e vinha

o céu mais cruel e metálico fundido no azul/cinza/verde claro da

manhã reiniciada em calor.A claridade oblíqua, dentro do arcosolar,

incidia na solidez pétrea do mar, que era calmo e contínuo, e erain-

fjnitamente presente este espelho líquido movendo-se na eternidade.

O tempo inexistia, raro. O relógio, feito de areia e vento, rolavave-

loz para fora do mundo, e as idades estavamperdidas.

Um homem de bicicleta, na estrada, passavacomo uma imagem

terrível aos olhos do outro homem que observava. Instaurava-se ali o

novo dia irreal alascom ahoravermelha na ar anta tem o e ame.

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SETE EX ERC íC IO S

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A FALADIDÁTICA

a P au lo P reire

Aqui me detenho, disposto:

entre homens, a vida pressupõe a FALA,·

mecanismos da boca

_- canto ferial.

Aqui me contento, deposto:

entre falas, a vida presume o VERBO,

flor acesa na boca

- fogo in/transitivo.

Aqui me enfrento, morto:

entre verbos, a vida rompe o SILÊNCIO,

exercícios do mundo

- a vera boca do povo.

[163]

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11

Tbomas Lee

Ml1hon

[164J

o

ATOR

M EXERCÍCIO PARA JOÃO

Que o mar tenha seus azuis

e a terra, dois terços

imersos; que o mundo desande

inverso ao berço:

o pão é do homem,

seja na terra, no sal,

no inferno do terço.

Ontem, julho pleno

um homem chorava-se inteiro

prestes a tomar o avião

(menos os olhos, encenando

uma comédia de Moliere).

[1 65 J

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DISCURSO

Há palavras que a boca não fala

e lutas que o homem desconhece.

Uso da palavra (falha, palha)

como vivo delas: sem mecanismos

- e intensamente.

Das lutas, conheço algumas,

e me desfaço de toda armadura

à dura carícia de suas feras.

Mas,

há palavras que a boca não fala

e lutas que o homem desconhece.

Por isso luto: falo.

E enquanto falo a vida é apenas seu turvo incêndio.

[166]

CARLOS

Chego as tuas primeiras idades, Carlos,

e a dor que me funciona

não é igual a que carregaste,

tampouco semelhante àquela que move

a fome do mundo.

Compreendo lutar com palavras,

fei ta de consistências diárias e azuis,

e, embora talvez ria como em algum tempo

riste, tenha gestos, atitudes,

dores palavras amores;

embora mesmo que chegue a tocar um poema

como tu, a beijá-Ia com pudor

e desprezá-Ia usado na boca errada,

nada será igual nem parecido.

O mundo não é o mesmo.

(Como não será adiante e não foi no passado,

a minha infância e a tua maturidade).

Contudo, Carlos,

caminhamos.

[167]

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RECADO PARA O NATAL DADO EMAGOSTO

Uma voz não se porta

como secarrega uma alegria

ou um filho no ventre

(apesar de todos virem em abril

e do interior do corpo).

Não se traz a voz

senão pelo outro homem

que fala de dentro de nós

(não como um filho ou uma alegria),

posto que dele partimos para a humanidade,

pois o mar não

é

tanto

nem a terra pouca.

[168]

PEQUENO INVENTÁRIO POÉTICO

À

MEMÓRIA

DE OSWALD

ABRIL

Em Algodoal,

abril abria fogo

por sobre os rochedos da Praia da Princesa.

OS JOGADORES

Zeca e Mand,

em marcha, caíram no mato

num sonho de álcool e juventude.

Suas costas riscadas

- dois tabuleiros ardidos -

eram brigas de galo empatadas na rede.

SÉRGIO BRAGA

.- O onanismo está nas mãos

[169]

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SO C IA LISMO

À noitinha, da praia,

o vento trazia ao pátio o mar

e vozes fuzilando a casa . Discutiam.

Uma guerra com cachaça, samba e Lênin.

EU TE AMO

.Ao todo, doze pessoas. Algodoal elétrica no sol artificial, dormia.

Um homem enrolava cigarro. ~éu de gaze e estrelas na janela sem

estilo. Rede de álcool. Mar preto, olho preto junto ao rosto. Ester e

Manel. - Dói . .. Ester / Manel. Man / Est /eer l pentelhinho grosso, ai,

meu amor. Sonho de algodão em Algodoal etérea, rosa de esperma

na perna de Ester, ai, benzinho, que a Terra roda roda sobre ti sobre

nós ai, e não pára não pára a Terra como pára uma revolução ai co-

mo pára uma rev ... ai, fermata minha,

lento amor

desta noite conspirada no ócio de Algodoal

PES ADEL O DE ARR IBA R

Um pé de castanha fica.

Vai - se vai - abarrotado de cachaça

e mala o bote à J ohnnson. Até, mano,

que a lembrança é um músculo estriado do esquecimento

- Até

[170J

A ÚNGUA INSÓLITA

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[173]

A LÍNGUA INSÓLITA

o curare é uma flor

bélica

que brota na boca do homem.

Vermelha,

sua crosta férrea;

ferina, quando da língua uma lança

insólita, verdenta, surge.

Como a prata, o curare

é uma palavra dura

batendo veraz no dorso do tempo.

Curare - ticuna, genocídio adiado,

vooara,

ave líquida, uirari,

os rios paralíticos do sangue.

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a José Mana de Vi/ar Ferre ir a

POEMA COMPLEMENTAR SOBRE O RIO

TERRA NÃO

É

REDONDA

o

mundo revelado amplo,

junção de paralelas, plano

infinito do homem: o índio integral,

a utopia da terra,  Quarto Mundo ,

de Gismonti

o rio consagrado: a vazante

lembrança que escoa em maré

baixa e retoma - água escura

- na reamar.

II

O rio sangrado: invólucro de céu

e margem, e duas visagens

dos caboclos amantes. O rio

O mundo tornado curto,

quadrado percorrido, turva

infância de Galileu: as arestas do vento,

o discurso dos r ios , a Amazônia,

cabeleira do mundo

passado: cismando ria crisma, paresque: _

dumas lembranças que trabalham a solidão:

o paralelo das margens, uma igara partida,

as águas sujas que sempre voltam.

[174]

[175]

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[176]

BESTIÁRIO

GÊNESIS

Algodoal, duna de silêncios,

chão remoto, tua iluminação diár ia

apaga em mim o carvão inconsis tente

que antes pensava alimentar-me, seca

em minha carne gasta (como se exposta ao sol

e curt ida por séculos)

um rio que nunca houve e que hoje

sinto paral ítico e, por vezes , imagino mover-me

sem as águas gerais do sangue

- os sais precipitados e atlânticos, as correntes

quentes, os riachos, o próprio piso de águas

que julgava aos pés quando nunca existiu.

(Nem por isso deixo de descer

aos teus infernos matinais e visitar tuas pirâmides de sal,

Algodoal, quando teu sono ultrapassa a todas as idades

e reside no começo do mundo: eu, navio suicida,

galera do medo, nave ue te ercorre inconsciente

fere teu dorso e te leva a outras eo rafias .

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o homem a mulher do homem (seu sexo) o cãopara a lua as

putas h/ases e prontas os ratos os meninos andróginos os que falam

falam falam os que dormem sozinhos os tolos a corja de advogados

que bebem indecentes o comunismo o colunismo social o mal do sé-

culo

o

cego o cego tocador de sanfona da praça. Aquela perna de

pus que esmola.

O

tirofedido no ouvido dopoeta (quando José Ve-

ríssimo morreu, uma chuva das duas encheu a Presidente Vargas,to-

mou o Teatro, varou soleirase foi parar naPágina policial de um Li-

beral atrasadolido no Maranhão).

Os analfabetos

os meus culhões disseminados - fóm/ elemen-

tar da traição- no coreto no dia num cinema escuro de 1910 à luz

do Halley no obscuro cudo mundo: Grécia obscena de Bunuel, fê-

mur esfrangalhado, arco retesado que não dispara, o universo fodi-

do de Walt Disney: a Amazônia vendida.

[179]

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BIBLIOGRAFIA

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Do autor:

Poesia

Arquitetura dos ossos. Editora Falângola/Semec, Belém, 1980.

A/ala entre parêntesis (renga

com Max Manins). Edições Gráphol Grafisal Semec,

Belém, 1982.

Arena, areia. Grafisa/Edições Grápho, Belém, 1986.

[183)

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Sobre o autor:

ALMEIDA, Miguel de. Max e Age, unidos na renga

à

brasileira . Folha de S.

Paulo, 19 jul 1982.

ARAUJO, Lats Correa de.

°

Estado de Minas, 18 jul 1982.

ÁVILA, Carlos.  A fala entre parêntesis .

°

Estado de Minas, 5 ago 1982.

CASTRO, Acyr.  Cantares de amigos . A Província do Pará, 10 out 1982.

CECIM, Vicenre. Rara consciência . Leia Livros, ago 1981.

·'15 pedras . A Província do Pará, 30 mai 1982.

CUNI IA, Fausto. Revista Status, secção Livros, mar 1983.

CUNHA, Helena Parente. Do Pará, um poema cr iado a quatro mãos . O Globo,

29 ago 1982.

L6BO, Clodoaldo.  Quando a poesia vem doPará . ATarde, Salvador, 4 nov 1986.

MENDES, Francisco Paulo. Comentário crítico in Arena, areia. Grafisa/Edições

Grâpho, Belém, 1986.

MENEZES, Carlos.  Dois poetas paraenses publicam poema escrito a quatro

mãos,

à

moda da renga : O Globo, 25 ago 1982.

NUNES, Benedito.Comentáriocrítico (prefácio) in Arquitetura dos ossos. Semec,

Belém, 1980.

 Jogo marcado , in A/ala entre parêntesis . Grafisa/Edições Grápho/Semec,

--Belém, 1982.

PALMQUIST, Sérgio.  A fala entre parêntesis . A Província doPará, 23 mai 1982.

PONTES, Mário. Uma renga e um álbum . Jornal do Bras il, 6 ago 1982.

[184]

ÍNDICE

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/

PEDR A U M

(1990)

o

círculo 9

Marahu revisitado 10

Filho 11

P~ 12

A caminho 13

À beira 14

O motor de Buda 15

O panamá 16

Passagem 17

Ungaretti 18

Roma vigiada 19

A cura 20

Fazer com, fazer de 21

Negro O 22

Lençóis, BA 23

Revendo P. P. Condurú 24 .

Cores 25

Da morte 26

Hõlderlin 27

Una duda se vuelve memorable 28

ROR

(1980·1990)

*

A faia vermelha de Vincent

Irrnanamente

Cerchio d'ombra

Pessoa

Negativo de Ricardo Reis

Ocupado

Após

Por Malcolm Lowry

Redor

Brasiliensis I: Logomarca

Roma

Outro rom: ourono

Ausgang

Desatou-se

Por lnnsbruck

Juntos

In absentia

Nisso

Suma

29

30

31

32

33

34

35

36

3 7

38

39

40

41

42

43

44

45

46

47

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ARENA, AREIA

(1986)

De areia

Diz-que

The age of the oak

Boca

Vermelho

Março

22

A idade do carvalho

Sobre um corpo

You've a sea to lie

Os incêndios

Pedra

Entre pedras

Negro

Aquiles,

1 9 8 2

Os jardins e a noite

Mãe

Cuatro territorios para

Julio y Hugo

Cinzas

A letra de ser

Poder

O poeta

5 1

5 2

5 3

5 4

5 5

5 6

5 7

5 8

5 9

60

63

6 4

6 5

6 6

67

69

É

Reincarnation

Reencarnação

Ente

Mühlauer Friedhof

Englischer Garten, München

Salzburg, outono

Epitáfio para Paul Celan

Grund

À

merda

Não

A João Cabral de Meio Neto

Dois escritos de água

Canto da Urca

Cobra

Interluz

Sem sim nem não

À

Não eram dois

1 9 3 7 1 9 8 3

Pedro

Outra vez

7 5

7 6

7 7

7 8

7 9

8 0

8 1

82

83

84

85

8 6

8 7

8 8

9 0

92

93

94

95

9 6

9 7

9 8

7 0

7 1

7 2

7 3

7 4

A FALA ENTRE PARÊNTESIS

(1982)

Das florestas de Blaee

Jardim de,

escrita

rara

1 1 0

aos topos da Ásia

1 0 3

Voam e voltam

E nós dois, dois

1 0 4

setas neste escudo

1 1 1

As bananeiras indecentes

Sob a folhagem

1 1 2

alvoroçando suaspernas

1 05

As bananeiras

1 1 3

Aludir, aludo

1 06

Quem defende teu rosto

Os corpos

1 07

deste sudánó infernal?

1 1 5

Já não há mais sonhos Lá

1 0 8

Uma vez mais a aula das cinzas

1 1 6

Um verde vaginal

Este éque éo sudánó, A teia

1 1 8

inscreve-se nesta tarde

1 0 9

Claro ideograma

1 1 9

ARQUITETURA DOS OSSOS

(1980)

OS QUINTAIS

Os quintais

Verão

A cadela

1 25

1 2 9

1 3 0

A árvore

Canto de galo

Composição para quem vive

ARQUITETURA DOS OSSOS

ARQUlTETIJRA DOS OSSOS . 1 37

Os guindastes 1 44

Eis-me sem governo 145

O

corpo na praia 146

O

espaço desocupado em

inúmeros azuis 147

Homem, querem teus cabelos 148

Tuas palavras de sono

e sonho caem súbito 149

Senão pelo corpo 150

Corpo, árvore móvel

Aqui, em meu país

Ai, cabelos do sono

Recolho-te dos escombros

como quem remove

Minha mãe morreu aos

48

anos

38, salienta o cano

Abato o tempo

Em vãofoi ten tada a vida

1 3 1

1 3 2

1 3 3

1 5 1

1 5 2

1 5 3

1 5 4

1 5 5

  1 5 6

1 5 7

1 5 8

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A fala didática

Um exercício para João

O

ator

Discurso

Carlos

A língua insólita

A terra não é redonda

Recado para o Natal

dado em agosto

SETE EXERCÍCIOS

A LÍNGUA INSÓUTA

163

164

165

166

167

O

homem

 

mulher do homem 179

168

PEQUENO INVENTÁRIO pOÉTIco

A MEMÓR lA DE OSW A ID

169

173

174

Poema complementar sobre o rio 175

Gênesis 176

BESTIÁRIO

BIBUOGRAFIA

181

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EXEMPLAR N. 

F.C.

Esta obra

compos ta pe la Paika Realizações Gráficas

Ltda., em Garamond corpo 10, para a Livra-

n a Duas Cidades, acabou de ser impressa,

pela Prol Editora Gráfica, no inverno de

/990, na cidade de São Paulo. Da edição

de 1.500 exemplares, 25 foram impressos

em papel Suzano Classic - com a rubrica

F. C. (Fora de Comércio) -, numerados e

assinados pelo autor.

APOIO CULTURAL: Metal Leve S/A

Indâstries de Papel R. Ramenzoni S/A

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J ú l i o C a s t a ã o n UIff/IJIJfI

m á ti ~ a s , m a s a e s sa v e ri f i c aç ão s e

sobrepõe

u m a a l te r a ç ã o

d e p e r s p e c ti v a . H~o m o q lJ e u m i n c e s s a n te r e f i n a m e n t c '

~o r a to d q po et a c o m s u a m a t é r ia . .

A p o e s i a d e A g e d e C a r v a l h o c a m in h a n u m s e n t i d o e m

q u e , m a is d o q u e s e v a le r d a l i n g u a g e m , r e v e l a e s t a r p e -

n e t ra n d o n a l i n g u a g e m . b '~ A b e i r a d e s i   q u e s e l ê e m

u m d os p oe m a s m a i s r e c e n t e s in d i c i a o p o n tP e x tr e m a d

d e o n d e s e . c on te m p l a m d iv er s a s p a is a ge n s , i n c lu s iv e a~

d o s e r . M á s o e x tr e m o a q u e s e c h e ga s ão o s l i m i t es in I 

v e i se n t r e li n g u a g e m e · s ~ ê n c i o , l im i t e s s ob r e o s q u a i s a tu a m

d e m o d o e s p e c i a l o s ú l t i m o s p o e m a s d e .A g e d e a r v a -

lh o . N o p ri m e i r o p Ç > e m a d e P e d t » . U m , a p lu ra l i z a ç o d e

t e rm o s i n v a r i á v e i s e c om

ac e pção

d e e x c lu s ã o e n f a d z l l  

r e d u ç ã o a q u e - se p o d e c h e g a r n u m a   fa l a s e m

s e n t i d o

. e m q u e   s in í s e n s , n ã o n e n s ; r e d u ç ã o q u e s e r e s u m e n u m

.   i s t o ,

I S S ó  

- . d i~ t i n ç a o / d i g it a l , m í a ir a a

m o d u l a ç n ,

O N

p oe m as a in da p oê rn a q u es tã o d e

o u t ro s

m o d o s. N o m c ~ ,

m o l i v ro , o p o e m a   O u t r o t o m : outono te c e u m a r de

d e

~ s Q ) t : \ â n c j a s q u e e x p õ e o v i g o r d a li n g u a g e m

e aI jusl

n ua u m a f l a m a n r e f a l a fá li c a , m a s, e m s ín te se v i s u a l

d o

m o v i m e n t o o u to n a l , ' f r a 'g m e n t a a p a l a v r a d e r r c l r lr . l '

  f /f ls  /ha s . C a r r e g a d a d e v i ta li d a d e n ã o s6 p o r

Slla~

i ll

. t e r r o g a ç õ e s l li a f ú e d o m u n d o , m a s t ~ b é m p o r s u a d l ~

p o s i ç ã o d ia n t e d e s e u m a te ri a l d ~ o n s tr u ç ã o , a po~

i~

I

A g e d e 'c a r v a lh o g u a r d a s in g u la re s s u r p r e s a s d e s é m ih i

l i d a d e e a r g ú c i a ,

, , \ A G E V E C i 'iR V A L H O n a sc e u e m B e l im d u J l u r J . , , J IH

F o fd  l a d o e m A rq u i t e t u r l / , g r a p h ic d es i g n t r p o r /lru{ tllllu

h/ l

: I O I f a P i lg i n a d e p oe si a

G r á p h o

e m j ( ) m a i II J a r i l ~ l I l f I 11 1

1 9 8 3 · 8 5 .

P u b li c o u

A r q u i te t u r a d os

0 5, I O S

  / 9 H O ) , A h l l u

1 1 1 1 jl

r ê n t e s i s

( 1 9 8 2 ,

rt n g a

c o m

M a x M a rl t  n r)

e

A r e n , ~ (r l ( I V / l r, )

O p ; e s f n l e v o l u m e r eú n e e ss es l í l u l o r d e P O tJ i tu IJ,/ I , n / 1 I 1 d r

U m ( 1 9 8 9 ) . R e s i d e a l ua / m e n te e m VIeIlO o n e l,

/r l lb   'h ~ 10 1

d i r e tó , d e à r l e e m d u a s r e v i t t a s

aUllrí l lCtJr  

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  R   - . :

,l' ,.

, or.,C0rrop~e1a

d~ -

horr~r, reúne q:UaH~livf(l)sde Age d'e 'Carvalho,

dentre os quais, o inédito P edra-U m

 1989 :

Desde

seutrabalho

de es-

tréia, Arq_uitetm :a

t/ ;s@ ssos  1 980},

o autor expressa odesejo €,O~S(ieflte

,

 

dê conciliar pesquisa e construção. Talproc;ura aponta, de modoprogres-

sivo.para o âmbito'da subjetividade, fazendo com que toda experiência

. implique necessariamente em experiment~ção. O crítico Júlici Castaôon'

  I ,

sintetizou de forma definitiva esta operação lírica:  a poesia de Age de

Çar'valm0caminha num sentido em que, mais do qus: sevaler da lingua-

ge D, revelá estar penetrando na linguagem' '.