cartas patrimoniais: a tutela jurídica do patrimônio cultural em Âmbito internacional
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Trata-se de uma iniciativa da Sublinha de Pesquisa em "Meio Ambiente, Constituição e Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural", coordenada pelo Prof. Me. Tauã Lima Verdan Rangel, consistente na compilação dos principais documentos internacionais que versam sobre tal objeto.TRANSCRIPT
PROJETO “CARTAS PATRIMONIAIS”
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio
Cultural em Âmbito Internacional
Tauã Lima Verdan Rangel
(Coordenador)
Iniciativa da Sublinha de Pesquisa em “Meio Ambiente, Constituição e Tutela Jurídica do
Patrimônio Cultural” da Linha de Pesquisa em “Mineração e Meio Ambiente”, vinculada ao
GEP “Constitucionalização de Direitos” do Curso de Direito do Centro Universitário São
Camilo-ES.
CARTAS PATRIMONIAIS:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em
Âmbito Internacional
Capa: Tauã Lima Verdan Rangel, Igreja Nossa Senhora do Carmo (Ouro Preto-MG), 2013.
Organização
Tauã Lima Verdan Rangel
Editoração, padronização e formatação de texto
Tauã Lima Verdan Rangel
Wender Pontes Fagundes
Conteúdo, citações e referências bibliográficas
As Cartas Patrimoniais foram compiladas, prioritariamente, do sítio
eletrônico oficial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) e do sítio eletrônico oficial da UNESCO, com adaptações ao novo
acordo ortográfico.
É de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui apresentados.
Reprodução dos textos autorizada mediante citação da fonte.
APRESENTAÇÃO
É certo que o meio ambiente cultural é constituído por bens
culturais, cuja acepção compreende aqueles que possuem valor histórico,
artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico, fossilífero, turístico,
científico, refletindo as características de uma determinada sociedade. Ao lado
disso, quadra anotar que a cultura identifica as sociedades humanas, sendo
formada pela história e maciçamente influenciada pela natureza, como
localização geográfica e clima. Com efeito, o meio ambiente cultural decorre de
uma intensa interação entre homem e natureza, porquanto aquele constrói o
seu meio, e toda sua atividade e percepção são conformadas pela sua cultural.
Ejeta-se que os bens que constituem o denominado patrimônio
cultural consistem na materialização da história de um povo, de todo o caminho
de sua formação e reafirmação de seus valores culturais, os quais têm o condão
de substancializar a identidade e a cidadania dos indivíduos insertos em uma
determinada comunidade. Necessário se faz salientar que o meio-ambiente
cultural, conquanto seja artificial, difere-se do meio-ambiente humano em razão
do aspecto cultural que o caracteriza, sendo dotado de valor especial,
notadamente em decorrência de produzir um sentimento de identidade no
grupo em que se encontra inserido, bem como é propiciada a constante evolução
fomentada pela atenção à diversidade e à criatividade humana.
Nesta perspectiva, o Projeto “Cartas Patrimoniais: A Tutela Jurídica
do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional” substancializa uma proposta
apresentada pelo Professor Tauã Lima Verdan Rangel, na coordenação da
sublinha de pesquisa “Meio Ambiente, Constituição e Tutela do Patrimônio
Cultural”. O escopo principal do projeto supramencionado é reunir documentos
internacionais que versem sobre a proteção do patrimônio cultural, em suas
plurais manifestações e disponibilizar a comunidade acadêmica, a fim de
fomentar futuras pesquisas.
Boa leitura!
Tauã Lima Verdan Rangel
Coordenador da Sublinha de Pesquisa “Meio Ambiente, Constituição e Tutela
do Patrimônio Cultural”
S U M Á R I O
1. Carta de Atenas (1931) ............................................................................................ 7
2. Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em caso de Conflito
Armado (1954) .............................................................................................................. 12
3. Recomendações de Nova Delhi (1956) ..................................................................... 29
4. Recomendações de Paris – Paisagens e Sítios (1962) ............................................. 39
5. Carta de Veneza (1964) ........................................................................................... 48
6. Recomendações de Paris (1964) ............................................................................... 52
7. Declaração dos Princípios da Cooperação Cultural Internacional (1966) ............. 58
8. Normas de Quito (1967) ........................................................................................... 62
9. Recomendações de Paris de Obras Públicas ou Privadas (1968) ........................... 78
10. Convenção sobre as medidas a serem adotadas para proibir e impedir a
importação, exportação e transferência de propriedade ilícita dos bens
culturais (1970) ............................................................................................................ 90
11. Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano
(1972) ............................................................................................................................ 101
12. Recomendações de Paris – Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural (1972) .............................................................................................................. 109
13. Resolução de São Domingos (1974) ....................................................................... 126
14. Declaração de Amsterdã (1975)............................................................................. 130
15. Manifesto de Amsterdã (1975) .............................................................................. 142
16. O Apelo de Granada (1976) ................................................................................... 147
17. Recomendação de Nairóbi (1976) .......................................................................... 152
18. Carta de Turismo Cultural (1976) ........................................................................ 168
19. Carta de Machu Pichu (1977) ................................................................................ 172
20. Carta de Burra (1980) ........................................................................................... 182
21. Carta de Florença (1981) ....................................................................................... 187
22. Declaração de Nairóbi (1982) ................................................................................ 192
23. Declaração de Tlaxcala (1982) ............................................................................... 196
24. Declaração do México (1985) ................................................................................. 200
25. Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Arquitetônico da Europa
(1985) ............................................................................................................................ 2009
26. Carta de Washington (1986) ................................................................................. 220
27. Carta de São Paulo (1989) ..................................................................................... 224
28. Carta de Cabo Frio (1989) ..................................................................................... 226
29. Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular
(1989) ............................................................................................................................ 228
30. Carta de Lausanne (1990) ..................................................................................... 236
31. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) ................... 243
32. Carta de Nara (1994) ............................................................................................. 249
33. Carta de Brasília (1995) ........................................................................................ 252
34. Recomendação da Europa (1995) .......................................................................... 257
35. Declaração de Sofia (1996) .................................................................................... 273
36. Declaração de São Paulo II (1996) ........................................................................ 275
37. Carta de Mar del Plata sobre Patrimônio Intangível (1997) ............................... 277
38. Cartagenas de Índias (1999) ................................................................................. 281
39. Carta sobre o Patrimônio Construído Vernáculo (1999) ...................................... 285
40. Carta de Cracóvia (2000): Princípios para a Conservação e o Restauro do
Patrimônio Construído ................................................................................................ 289
41. Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático (2001) .......... 297
42. Declaração de Budapeste sobre o Patrimônio Mundial (2002) ............................ 325
43. Recomendação de Paris (2003) .............................................................................. 327
44. Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões
Culturais (2005) ........................................................................................................... 345
45. Declaração de Viena (2009): Um Incentivo ao Patrimônio em Período de
Recessão Econômica ..................................................................................................... 368
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CARTA DE ATENAS
Conclusões da Conferência Internacional de Atenas sobre o Restauro dos
Monumentos.
Serviço Internacional de Museus, Atenas, 21 a 30 de Outubro de 1931.
I – Doutrinas. Princípios Gerais
A Conferência ouviu a exposição dos princípios gerais e doutrinas
relativas à proteção de monumentos.
Qualquer que seja a diversidade dos casos específicos, em que cada um
possa comportar uma solução, constatou que, nos diversos Estados
representados, predomina uma tendência geral para abandonar as
reconstituições integrais e evitar os seus riscos, pela instituição de uma
manutenção regular e permanente, adequada a assegurar a conservação dos
edifícios.
Na situação em que um restauro surja como indispensável, como
consequência de degradação ou de destruição, recomenda o respeito pela obra
histórica e artística do passado sem banir o estilo de nenhuma época.
A Conferência recomenda que se mantenha a ocupação dos monumentos,
que se assegure a continuidade da sua vida consagrando-os, contudo a
utilizações que respeitem o seu caráter histórico ou artístico.
II - Administração e Legislação dos Monumentos Históricos
A Conferência ouviu a exposição sobre as legislações cujo objetivo é o de
proteger os monumentos de interesse histórico, artístico ou científico
pertencentes às diferentes nações.
Aprovou unanimemente a tendência geral que consagra nesta matéria
um certo direito da coletividade perante a propriedade privada.
Constatou que as diferenças entre estas legislações provinham das
dificuldades de conciliar o direito publico e o direito dos particulares.
Em consequência, ao aprovar-se a tendência geral destas legislações,
estima-se que elas devem ser apropriadas às circunstâncias locais e ao estado
da opinião publica, de forma a encontrar o mínimo de oposição possível, tendo
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em conta, em relação aos proprietários, os sacrifícios que eles são chamados a
assumir no interesse geral.
Faz votos para que em cada Estado a autoridade pública esteja investida
do poder, em caso de urgência, de tomar as medidas de conservação.
Deseja vivamente que o Conselho Internacional de Museus publique
uma recolha e um quadro comparativo das legislações em vigor nos diferentes
Estados e a mantenha atualizada.
III - A valorização dos monumentos
A Conferência recomenda o respeito, na construção dos edifícios, pelo
caráter e a fisionomia das cidades, sobretudo na vizinhança de monumentos
antigos cuja envolvente deve ser objeto de cuidados particulares. Também
alguns conjuntos e certas perspectivas particularmente pitorescas, devem ser
preservadas.
Há também necessidade de estudar as plantas e ornamentações vegetais
adequadas a certos monumentos ou conjuntos de monumentos para lhes
conservar o seu caráter antigo.
Recomenda, sobretudo, a supressão de toda a publicidade, de toda a
presença abusiva de postes ou fios telefônicos, de toda a indústria ruidosa,
incluindo as chaminés altas, na vizinhança dos monumentos artísticos ou
históricos.
IV - Os materiais do restauro
Os peritos ouviram diversas comunicações relativas ao emprego dos
materiais modernos para a consolidação dos edifícios antigos.
Aprovam o emprego sensato de todos os recursos da técnica moderna e
muito especialmente do betão armado.
Especificam que os elementos resistentes devem ser dissimulados, salvo
impossibilidade total, a fim de não alterar o aspecto e o caráter do edifício a
restaurar.
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Recomendam-nos, muito especialmente, nos casos onde se considere
conveniente evitar os riscos de desmontagem e remontagem dos elementos a
conservar.
V - As degradações dos monumentos
A Conferência constata que, nas condições de vida moderna, os
monumentos do mundo inteiro se encontram cada vez mais ameaçados pelos
agentes atmosféricos.
Para além das precauções habituais e das soluções felizes obtidas na
conservação da estatuária monumental pelos métodos correntes, não se
saberia, tendo em consideração a complexidade dos casos e o estado atual dos
conhecimentos, formular regras gerais, para lá das precauções habituais e das
soluções bem sucedidas que se verificaram na estatuária monumental pelos
métodos correntes.
A Conferência recomenda:
1º- A colaboração, em cada país, dos conservadores de monumentos e dos
arquitetos com os representantes das ciências físicas, químicas e naturais,
para conseguir alcançar métodos aplicáveis aos diferentes casos.
2º- Ao Conselho Internacional de Museus que se mantenha ao corrente
dos trabalhos empreendidos em cada país sobre estas matérias e que lhes dê
lugar nas suas publicações.
A Conferência, no que respeita à conservação da escultura monumental,
considera que a deslocação das obras do enquadramento para o qual elas
tinham sido criadas é em principio indesejável. Recomenda, a título de
precaução, a preservação dos modelos originais, e, na sua falta, a execução de
moldes.
VI - A técnica de conservação
A Conferência constata com satisfação que os princípios e as técnicas
expostas nas diversas comunicações de pormenor se inspiram numa tendência
comum, a saber:
Quando se trata de ruínas impõe-se uma conservação escrupulosa,
recolocando no seu lugar os elementos originais encontrados (anastilose)
Cartas Patrimoniais:
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sempre que o caso o permita; os materiais novos necessários a este efeito
deverão ser sempre identificáveis.
Quando a conservação de ruínas, trazidas à luz do dia no decurso de
uma escavação for reconhecida como impossível, é aconselhado enterrá-las de
novo, depois de, bem entendido, terem sido feitos levantamentos rigorosos.
Deve dizer-se que a técnica e a conservação de uma escavação impõem a
colaboração estreita do arqueólogo e do arquiteto.
Quanto aos outros monumentos, os peritos estiveram unanimemente de
acordo em aconselhar, antes de qualquer consolidação ou restauro parcial, a
análise escrupulosa das patologias desses monumentos. Eles reconheceram,
com efeito, que cada caso constituía um caso especifico.
VII - A conservação dos monumentos e a colaboração
internacional
a) Cooperação técnica e moral
A Conferência, convencida de que a conservação do patrimônio artístico e
arqueológico da humanidade interessa à comunidade dos Estados, guardiões
da civilização;
Deseja que os Estados, agindo de acordo com o espírito do Pacto da
Sociedade das Nações, se prestem a uma colaboração sempre mais vasta e mais
concreta, com o objetivo de favorecer a conservação dos monumentos artísticos
e históricos;
Estima ser altamente desejável que as instituições e agrupamentos
qualificados possam, sem prejuízo do direito público internacional, manifestar
o seu interesse pela salvaguarda das obras primas nas quais a civilização se
exprimiu ao mais alto nível e que pareçam ameaçadas;
Faz votos para que os pedidos submetidos com este fim ao organismo da
cooperação intelectual da Sociedade das Nações, possam ser confiados à
benevolente atenção dos Estados.
Caberia à Comissão Internacional de Cooperação Intelectual, após
informação do Conselho Internacional de Museus e após ter recolhido toda a
informação útil, especialmente junto da Comissão Nacional de Cooperação
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Intelectual interessada, pronunciar-se sobre a oportunidade das diligências a
empreender e sobre o procedimento seguir em cada caso particular.
Os membros da Conferência após terem visitado, no decurso dos trabalhos
e do intercâmbio de estudos que fizeram nessa ocasião, diversos campos de
arqueológicos e monumentos antigos da Grécia, foram unânimes em render
homenagem ao Governo Grego que, durante longos anos, ao mesmo tempo em
que assegurava ele próprio trabalhos consideráveis, aceitou a colaboração de
arqueólogos e especialistas de todos os países. Os referidos membros viram aí
um exemplo que não pode senão contribuir para a realização dos objetivos de
cooperação intelectual e cuja necessidade lhes ocorreu no decurso dos
trabalhos.
b) O papel da educação no respeito pelos monumentos
A Conferência está profundamente convicta de que a melhor garantia de
conservação dos monumentos e obras artísticas vem do respeito e do
empenhamento dos próprios povos e, considerando que estes sentimentos
podem ser grandemente favorecidos por uma ação apropriada dos poderes
públicos, faz votos para que os educadores habituem a infância e a juventude a
abster-se de degradar os monumentos quaisquer que sejam, e lhes transmitam
o interesse, de uma maneira geral, pela proteção dos testemunhos de todas as
civilizações.
c) Criar uma documentação internacional
A Conferência faz votos para que:
1º- Cada Estado, ou as instituições criadas ou reconhecidas competentes
para esse fim, publiquem um inventário dos monumentos históricos nacionais
acompanhado de fotografias e descrições;
2º- Cada Estado constitua arquivos onde sejam reunidos todos os
documentos relativos aos seus monumentos históricos;
3º - Cada Estado deposite no Conselho Internacional de Museus as suas
publicações;
4º- O Conselho consagre, nas suas publicações, artigos relativos aos
processos e aos métodos gerais de conservação de monumentos históricos;
5º - O Conselho estude a melhor utilização das informações assim
centralizadas.
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CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO DOS BENS
CULTURAIS EM CASO DE CONFLITO ARMADO
De 21 de Abril a 14 de Maio de 1954
Adotada pela Conferência de Haia de 1954 sobre a Proteção dos Bens Culturais
em caso de Conflito Armado
As Altas Partes Contratantes:
Considerando que os bens culturais sofreram graves danos durante os
últimos conflitos e que eles se encontram cada vez mais ameaçados de
destruição devido ao desenvolvimento de tecnologia de guerra.
Convencidos de que os atentados perpetrados contra os bens culturais,
qualquer que seja o povo a quem eles pertençam, constituem atentados contra
o patrimônio cultural de toda a humanidade, sendo certo que cada povo dá a
sua contribuição para a cultura mundial.
Considerando que a convenção do patrimônio cultural apresenta uma
grande importância para todos os povos do mundo e que importa assegurar a
este patrimônio uma proteção internacional.
Guiados pelos princípios respeitantes à proteção dos bens culturais em
caso de conflito armado estabelecidos nas Convenções da Haia de 1899 e de
1907 e no Pacto de Washington de 15 de Abril de 1935.
Considerando que, para ser eficaz, a proteção destes bens deve ser
organizada em tempo de paz através de medidas quer nacionais quer
internacionais.Determinados a adotar todas as disposições possíveis para
proteger os bens culturais
Acordam o que se segue:
CAPÍTULO I
Disposições gerais respeitantes à proteção
Artigo 1º
Definição de bens culturais
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Para fins da presente Convenção são considerados como bens culturais,
qualquer que seja a sua origem ou o seu proprietário:
a) Os bens, móveis ou imóveis, que apresentem uma grande importância
para o patrimônio cultural dos povos, tais como os monumentos de arquitetura,
de arte ou de história, religiosos ou laicos, ou sítios arqueológicos, os conjuntos
de construções que apresentem um interesse histórico ou artístico, as obras de
arte, os manuscritos, livros e outros objetos de interesse artístico, histórico ou
arqueológico, assim como as coleções científicas e as importantes coleções de
livros, de arquivos ou de reprodução dos bens acima definidos;
b) Os edifícios cujo objetivo principal e efetivo seja, de conservar ou de
expor os bens culturais móveis definidos na alínea a), como são os museus, as
grandes bibliotecas, os depósitos de arquivos e ainda os refúgios destinados a
abrigar os bens culturais móveis definidos na alínea a) em caso de conflito
armado;
c) Os centros que compreendam um número considerável de bens
culturais que são definidos nas alíneas a) e b), os chamados "centros
monumentais".
Artigo 2º
Proteção dos bens culturais
Para fins da presente Convenção a proteção dos bens culturais comporta
a salvaguarda e o respeito por estes bens.
Artigo 3º
Salvaguarda dos bens culturais
As Altas Partes Contratantes comprometem-se a preparar, em tempo de
paz, a salvaguarda dos bens culturais situados no seu próprio território contra
os efeitos previsíveis de um conflito armado, tomando as medidas que
considerem apropriadas.
Artigo 4º
Respeito pelos bens culturais
§1 - As Altas Partes Contratantes comprometem-se a respeitar os bens
culturais situados quer no seu próprio território quer no território das outras
Altas Partes Contratantes, não se permitindo a utilização desses bens, dos
seus dispositivos de proteção e dos acessos imediatos para fins que poderiam
expor esses bens a uma possível destruição ou deterioração em caso de conflito
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armado, devendo também abster-se de qualquer ato de hostilidade em relação
a esses bens.
§2 - As obrigações definidas no primeiro parágrafo do presente artigo
não poderão sofrer derrogações, exceto no caso em que uma necessidade militar
exija de uma maneira imperativa uma tal derrogação.
§3 - As Altas Partes Contratantes comprometem-se ainda a proibir, a
prevenir e, caso seja necessário, a fazer cessar todo o ato de roubo, de pilhagem
ou de desvio de bens culturais, qualquer que seja a sua forma, bem como todo o
ato de vandalismo em relação aos referidos bens. As Partes impedem a
requisição dos bens culturais móveis que se situem no território de uma outra
Alta Parte Contratante.
§4 - As Partes proíbem qualquer ação de represália que atinja os bens
culturais.
§5 - Uma Alta Parte Contratante não se pode desvincular das obrigações
estipuladas no presente artigo em relação a uma outra Alta Parte Contratante
com fundamento na não adoção das medidas de salvaguarda prescritas no
artigo 3.º por parte desta última.
Artigo 5º
Ocupação
§1 - As Altas Partes Contratantes que ocupem total ou parcialmente o
território de uma outra Alta Parte Contratante devem, na medida do possível,
apoiar os esforços das autoridades competentes do território ocupado de forma
a assegurar a salvaguarda e a conservação dos seus bens culturais.
§2 - Se uma intervenção urgente for necessária para a conservação dos
bens culturais situados em território ocupado e danificados por operações
militares e se as autoridades nacionais competentes não puderem encarregar-
se disso, deve a potência ocupante tomar, quando possível, as medidas de
conservação mais prementes em estreita colaboração com as autoridades.
§3 - Qualquer Alta Parte Contratante cujo governo seja considerado
pelos membros de um movimento de resistência como o seu governo legítimo,
chamará, se possível, a atenção desses membros para a obrigação de observar
aquelas disposições da Convenção referentes ao respeito pelos bens culturais.
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Artigo 6º
Sinalização dos bens culturais
Em conformidade com as disposições do artigo 16, os bens culturais
podem ser munidos de um sinal distintivo de modo a facilitar a sua
identificação.
Artigo 7º
Medidas de ordem militar
§1 - As Altas Partes Contratantes comprometem-se a introduzir em
tempo de paz nos regulamentos ou instituições destinados à utilização pelas
suas tropas disposições próprias para assegurar a observação da presente
Convenção.
Comprometem-se ainda a incutir ao pessoal das suas forças armadas em
tempo de paz um espírito de respeito pelas culturas e pelos bens culturais de
todos os povos.
§2 - As Partes comprometem-se a preparar ou a estabelecer, desde o
tempo de paz, no seio das suas forças armadas, serviços ou um pessoal
especializado cuja missão será velar pelo respeito dos bens culturais e
colaborar com as autoridades civis encarregadas da salvaguarda desses bens.
CAPÍTULO II
Da proteção especial
Artigo 8º
Atribuição de proteção especial
§1 - Pode ser posto sob proteção especial um número restrito de refúgios
destinados a abrigar os bens culturais móveis de grande importância desde
que:
a) Eles se encontrem a uma distância suficiente de um grande centro
industrial ou de qualquer objetivo militar importante que constitua um ponto
sensível, como por exemplo um aeroporto, uma estação de radiodifusão, um
estabelecimento ao serviço da defesa nacional, um porto ou uma gare de
caminhos de ferro com uma certa importância, ou uma grande via de
comunicação;
b) Eles não sejam utilizados para fins militares.
§2 - Um refúgio para bens culturais móveis pode também ser colocado
sob proteção especial, qualquer que seja a sua localização, se tiver sido
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construído de modo que, segundo todas as probabilidades, não seja afetado por
bombardeamentos.
§3 - Um centro monumental é considerado como utilizado para fins
militares quando seja empregue para deslocações de pessoal ou material
militar, mesmo em trânsito. O mesmo se passará quando aí se desenvolvam
atividades que tenham uma relação direta com operações militares, com o
alojamento do pessoal militar ou com a produção de material bélico.
§4 - Não é considerada como utilidade para fins militares a vigilância de
um dos bens culturais enumerados no primeiro parágrafo por guardas armados
e especialmente equipados para esse efeito, ou a presença, próxima desse bem
cultural, de forças de polícia normalmente encarregues de assegurar a ordem
pública.
§5 - Se um dos bens culturais enumerados no primeiro parágrafo do
presente artigo estiver situado próximo de um objetivo militar importante, de
acordo com o sentido deste parágrafo, ele pode, todavia, ser colocado sob
proteção especial desde que a Alta Parte Contratante, que no presente pede
essa proteção, se comprometa a não fazer uso do objetivo em causa em caso de
conflito armado. Se o objetivo se tratar de um posto, de uma gare ou de um
aeroporto, todo o tráfego deve ser desviado. Neste caso o desvio de tráfego deve
ser organizado ainda em tempo de paz.
§6 - A proteção especial é concedida aos bens culturais através da sua
inscrição no Registro Internacional dos Bens Culturais sob proteção Especial.
Esta inscrição só poderá ser efetuada em conformidade com as disposições da
presente Convenção e nas condições previstas no Regulamento de Execução.
Artigo 9º
Imunidade dos bens culturais
As Altas Partes Contratantes comprometem-se a assegurar a imunidade
dos bens culturais sob proteção especial através de interdição, a partir da
inscrição no registro Internacional, de todo o ato de hostilidade em relação a
esses bens e de qualquer utilização dos mesmos ou dos seus acessos para fins
militares, excetuando-se os casos previstos no quinto parágrafo do artigo 8º.
Artigo 10º
Sinalização e controle
No decurso de um conflito armado os bens culturais sob proteção
especial devem ser munidos de um sinal distintivo definido pelo artigo 16 e ser
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abertos a um controle de caráter internacional, como está previsto no
Regulamento de Execução.
Artigo 11
Levantamento de imunidade
§1 - Se uma das Altas Partes Contratantes cometer, relativamente a um
bem cultural sob proteção especial, uma violação dos compromissos assumidos
em virtude do artigo 9.º, no período de tempo em que a violação subsistir, a
outra Parte fica desobrigada de assegurar a imunidade do bem em causa.
Porém, cada vez que esta o possa, deve tomar previamente as diligências de
modo a pôr fim a esta violação dentro de um prazo razoável.
§2 - Em exclusão do caso previsto no primeiro parágrafo do presente
artigo, a imunidade de um bem cultural sob proteção especial não pode ser
levantada a não ser em casos excepcionais de necessidade militar inelutável e
apenas naquele tempo em que essa necessidade subsiste. Esta só poderá ser
constatada por um chefe de uma formação igual ou superior em importância a
uma divisão. Em todos os casos que as circunstâncias o permitam, a decisão de
levantar a imunidade é notificada com uma antecedência suficiente à Parte
contrária.
§3 - A Parte que levanta a imunidade deve informar no mais curto prazo
possível, por escrito, e com indicação dos seus motivos, o comissário-geral para
os bens culturais, tal como previsto no Regulamento de Execução.
CAPÍTULO III
Dos transportes de bens culturais
Artigo 12
Transporte sob proteção especial
§1 - Um transporte exclusivamente afetado à transferência de bens
culturais, seja para o interior de um território, seja com destino a outro
território, pode, a pedido da Alta Parte Contratante interessada, ser efetuado
sob proteção especial, nas condições previstas no Regulamento de Execução.
§2 - O transporte sob proteção especial é realizado sob uma vigilância de
caráter internacional prevista no Regulamento de Execução e deve estar
munido de um sinal distintivo definido no artigo 16.
§3 - As Altas Partes Contratantes proíbem qualquer ato de hostilidade
contra um transporte sob proteção especial.
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Artigo 13
Transporte em caso de urgência
§1 - Se uma Alta Parte Contratante julgar que a segurança de certos
bens culturais exige a sua transferência, e que há uma urgência tal que o
procedimento previsto no artigo 12. não pode ser seguido, nomeadamente no
início de um conflito armado, o transporte pode ser munido de um sinal
distintivo definido no artigo 16., a menos que ele não tenha sido objeto de um
pedido de imunidade no sentido do artigo 12. e que o dito pedido não tenha sido
recusado. Sempre que possível a notificação do transporte deve ser feita às
Partes contrárias. O transporte para o território de um outro país não pode em
caso algum ser munido de um sinal distintivo, se a imunidade não lhe tiver
sido concedida expressamente.
§2 - As Altas Partes Contratantes tomarão, na medida do possível, as
precauções necessárias para que os transportes previstos no primeiro
parágrafo do presente artigo e munidos de um sinal distintivo sejam protegidos
contra atos de hostilidade contra elas dirigidos.
Artigo 14
Imunidade de embargo, captura e apreensão
§1 - Gozam de imunidade de embargo, captura e apreensão:
a) Os bens culturais que beneficiem da proteção prevista no artigo 12 ou
da prevista no artigo 13;
b) Os meios de transporte afetados exclusivamente à transferência
destes bens.
§2 - Nada do presente artigo limita o direito de visita e de controle.
CAPÍTULO IV
Do pessoal
Artigo 15
Pessoal
O pessoal afeto à proteção aos bens culturais deve, na medida do
compatível com as exigências de segurança, ser respeitado no interesse destes
bens e, se ele cair nas mãos de uma Parte contrária, deve poder continuar a
exercer as suas funções desde que os bens a seu cargo caiam também nas mãos
de Parte contrária.
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19
CAPÍTULO V
Do sinal distintivo
Artigo 16
Sinal da Convenção
§1 - O sinal distintivo da Convenção consiste num escudo, pontiagudo
em baixo, esquartelado em aspa em azul-real e em branco (um escudete
formado por um quadrado azul-real tendo um dos ângulos inscritos na ponta
do escudete e de um triângulo azul-real por cima do quadrado, os dois
delimitando um triângulo branco de cada lado).
§2 - O sinal é utilizado isolado ou repetido três vezes em formação
triangular (um sinal em baixo), nas condições previstas no artigo 17.
Utilização do sinal 1 - O sinal distintivo repetido três vezes só pode ser
utilizado para:
a) Os bens imóveis sob proteção especial;
b) Os transportes de bens culturais, nas condições previstas nos artigos
12.º e 13.º;
c) Os refúgios improvisados, nas condições previstas no Regulamento de
Execução.
§3 - O sinal distintivo só pode ser utilizado isoladamente para:
a) Os bens culturais que não estejam sob proteção especial;
b) As pessoas encarregadas de funções de controle em conformidade com
o Regulamento de Execução;
c) O pessoal afeto à proteção dos bens culturais;
d) Os cartões de identidade previstos no Regulamento de Execução.
§4 - Durante um conflito armado é proibida a utilização de um sinal
semelhante ao sinal distintivo para qualquer efeito.
§5 - O sinal distintivo não pode ser colocado sobre um bem cultural
imóvel sem que ao mesmo tempo seja afixada uma autorização devidamente
datada e assinada pela autoridade competente da Alta Parte Contratante.
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20
CAPÍTULO VI
Do campo de aplicação da Convenção
Artigo 18
Aplicação da Convenção
§1 - Além das disposições que devem entrar em vigor desde o tempo de
paz, a presente Convenção será aplicada em caso de guerra declarada ou de
qualquer outro conflito armado que surja entre duas ou mais das Altas Partes
Contratantes, mesmo se o estado de guerra não for reconhecido por uma ou
mais Partes.
§2 - A Convenção será igualmente aplicada em todos os casos de
ocupação total ou parcial do território de uma Alta Parte Contratante, mesmo
se essa ocupação não encontrar nenhuma resistência militar.
§3 - Se uma das potências em conflito não for Parte na presente
Convenção, as potências que façam parte dela ficarão contudo ligadas por esta
nas suas relações recíprocas. Elas estarão ligadas ainda pela Convenção
relativamente à potência que não seja Parte, se esta tiver declarado aceitar as
disposições e desde que as aplique.
Artigo 19
Conflitos de caráter não internacional
§1 - Em caso de conflito armado que não apresente um caráter
internacional e surja no território de uma Alta Parte Contratante, cada uma
das Partes no conflito deverá aplicar pelo menos as disposições da presente
Convenção que obrigam ao respeito dos bens culturais.
§2 - As Partes no conflito procederão no sentido de pôr em vigor, por via
de acordos especiais, todas (ou parte) das outras disposições da presente
Convenção.
§3 - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura pode oferecer os seus serviços às Partes em conflito.
§4 - A aplicação das disposições precedentes não produzirá efeitos sobre
o estatuto jurídico das Partes em conflito.
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CAPÍTULO VI
Da execução da Convenção
Artigo 20
Regulamento de Execução
As modalidades de aplicação da presente Convenção são determinadas
pelo Regulamento de Execução da qual é parte integrante.
Artigo 21
Potências protetoras
A presente Convenção e o seu Regulamento de Execução são aplicados
com a concordância das potências protetoras encarregadas da salvaguarda dos
interesses das Partes no conflito.
Artigo 22
Processo de conciliação
§1 - As potências protetoras prestam os seus bons serviços em todos os
casos nos quais julguem ser útil e no interesse dos bens culturais,
nomeadamente se houver algum desacordo entre as Partes em conflito sobre a
aplicação ou a interpretação das disposições da presente Convenção ou do seu
Regulamento de Execução.
§2 - Para este efeito, cada uma das potências protetoras pode, a convite
de uma Parte, do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura ou espontaneamente, propor às Partes no
conflito uma reunião dos seus representantes e, em particular, das autoridades
encarregues da proteção dos bens culturais, eventualmente em território
neutro escolhido convenientemente. As Partes em conflito devem dar
seguimento às propostas da reunião que lhe sejam feitas. As potências
protetoras propõem, de acordo com as Partes do conflito, uma personalidade
pertencente a uma potência neutra, ou apresentada pelo Diretor-Geral da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que é
chamada a participar nesta reunião na qualidade de presidente.
Artigo 23
Cooperação da UNESCO
§1 - As Altas Partes Contratantes podem fazer apelo à cooperação
tecnológica da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura tendo em vista a organização da proteção dos seus bens culturais, ou a
propósito de qualquer outro problema derivado da aplicação da presente
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22
Convenção ou seu Regulamento de Execução. A Organização acorda esta
cooperação nos limites do seu programa e das suas possibilidades.
§2 - A Organização está habilitada a apresentar, por sua própria
iniciativa, propostas sobre esta questão às Altas Partes Contratantes.
Artigo 24
Acordos especiais
§1 - As Altas Partes Contratantes podem concluir acordos especiais
sobre qualquer questão que lhes pareça oportuno regular separadamente.
§2 - Não pode ser concluído nenhum acordo especial que diminua a
proteção assegurada pela presente Convenção aos bens culturais e ao pessoal
que lhes está afeto.
Artigo 25
Difusão da Convenção
As Altas Partes Contratantes obrigam-se a difundir o mais largamente
possível, em tempo de paz e em tempo de conflito armado, o texto da presente
Convenção e o seu Regulamento de Execução nos respectivos países. Elas
obrigam-se a incorporar o estudo nos programas de instruções militares e, se
possível, civis, de tal maneira que os princípios possam ser conhecidos do
conjunto de população, em particular das forças armadas e do pessoal afeto à
proteção dos bens culturais.
Artigo 26
Traduções e relatórios
§1 - As Altas Partes Contratantes comunicam entre elas, por intermédio
do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura, as traduções oficiais da presente Convenção e do seu
Regulamento de Execução.
§2 - Além do mais, uma vez cada quatro anos elas dirigem ao Diretor-
Geral um relatório dando as sugestões que elas julguem oportunas sobre as
medidas tomadas, preparadas e verificadas pela sua respectiva administração
em aplicação da presente Convenção e do seu Regulamento de Execução.
Artigo 27
Reuniões
§1 - O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura pode, com a aprovação do Conselho Executivo,
Cartas Patrimoniais:
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23
convocar reuniões de representantes das Altas Partes Contratantes. Ele é
obrigado a fazê-lo se pelo menos um quinto das Altas Partes Contratantes o
requisitarem.
§2 - Sem prejuízo de todas as outras funções que lhe são conferidas pela
presente Convenção e seu Regulamento de Execução, a reunião tem como
propósito estudar os problemas relativos à aplicação da Convenção e do seu
Regulamento de Execução e de formular recomendações a este propósito.
§3 - A reunião pode, além do mais, proceder à revisão da Convenção e do
seu Regulamento de Execução se a maioria das Altas Partes Contratantes se
encontrar representada, em conformidade com as disposições do artigo 39.
Artigo 28
Sanções
As Altas Partes Contratantes obrigam-se a tomar, no quadro do seu
sistema de direito penal, todas as medidas necessárias para que sejam
encontradas e aplicadas as sanções penais e disciplinares às pessoas, qualquer
que seja a sua nacionalidade, que cometeram ou deram ordem para cometer
uma infração à presente Convenção.
Disposições finais
Artigo 29
Línguas
§1 - A presente Convenção é redigida em inglês, espanhol, francês e
russo, tendo os quatro textos o mesmo valor.
§2 - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura providenciará traduções nas outras línguas oficiais da sua Conferência
Geral.
Artigo 30
Assinatura
A presente Convenção terá a data de 14 de Maio de 1954 e ficará aberta
até à data de 31 de Dezembro de 1954 para a assinatura de todos os Estados
convidados à Conferência que se reuniu na Haia entre 21 de Abril e 14 de Maio
de 1954.
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24
Artigo 31
Ratificação
§1 - A presente Convenção será submetida à ratificação dos Estados
signatários em conformidade com os seus procedimentos constitucionais
respectivos.
§2 - Os instrumentos de ratificação serão depositados junto do Diretor-
Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura.
Artigo 32
Adesão
A contar do dia da sua entrada em vigor a presente Convenção estará
aberta à adesão de todos os Estados visados no artigo 30 não signatários, assim
como de todos os Estados convidados a aderir pelo Conselho Executivo da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
A adesão far-se-á pelo depósito de um instrumento de adesão junto do
Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura.
Artigo 33
Entrada em vigor
§1 - A presente Convenção entrará em vigor três meses após o depósito
de cinco instrumentos de ratificação.
§2 - Posteriormente, ela entrará em vigor, por cada Alta Parte
Contratante, três meses após o depósito do seu instrumento de ratificação ou
adesão.
§3 - As situações previstas nos artigos 18 e 19 darão efeitos imediatos às
ratificações e às adesões depositadas pelas Partes no conflito antes ou depois
do início das hostilidades ou da ocupação. Nestes casos o Diretor-Geral da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura fará,
pela via mais rápida, as comunicações previstas no artigo 38.
Artigo 34
Aplicação efetiva
§1 - Os Estados Partes na Convenção à data da sua entrada em vigor
tomarão, cada um no que lhe diga respeito, todas as medidas requeridas para a
sua aplicação efetiva num prazo de seis meses.
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§2 - Este prazo será de seis meses a contar do depósito do instrumento
de ratificação ou de adesão para todos os Estados que depositem o seu
instrumento de ratificação ou adesão após a data de entrada em vigor da
Convenção.
Artigo 35
Extensão territorial da Convenção
Qualquer Alta Parte Contratante poderá, no momento da ratificação ou
adesão, ou em qualquer momento posterior, declarar através de uma
notificação dirigida ao Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, que a presente Convenção poderá estender-se
a um conjunto ou a qualquer um dos territórios onde ela assegure as relações
internacionais. A referida notificação produzirá efeitos passados três meses da
data da sua recepção.
Artigo 36
Relação com as Convenções anteriores
§1 - Nas relações entre potências que estejam ligadas pelas Convenções
da Haia respeitantes às leis e costumes da guerra em terra (IV) e respeitantes
ao bombardeamento por forças navais em tempo de guerra (IX), quer se trate
das de 29 de Julho de 1899 ou das de 18 de Outubro de 1907, e que são Partes
na presente Convenção, esta última completará a acima referida Convenção
(IX) e o regulamento anexo à acima mencionada Convenção (IV) e substituirá o
sinal definido no artigo 5.º da acima referida Convenção (IX) pelo sinal definido
no artigo 16.º da presente Convenção para os casos em que esta e o seu
Regulamento de Execução prevejam a utilização deste sinal distintivo.
§2 - Nas relações entre potências ligadas pelo Pacto de Washington de
15 de Abril de 1935, para a proteção de instituições artísticas e científicas e de
monumentos históricos (Pacto Roerich), e que sejam Partes na presente
Convenção, esta última completará o Pacto Roerich e substituirá a bandeira
distintiva definida no artigo III do Pacto pelo sinal definido no artigo 16.º da
presente Convenção, para os casos em que esta e o seu Regulamento de
Execução prevejam o emprego deste sinal distintivo.
Artigo 37
Denúncia
§1 - A cada uma das Altas Partes Contratantes será concedida a
faculdade de denunciar a presente Convenção em seu próprio nome ou em
nome de qualquer território onde ela garanta as relações internacionais.
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§2 - A denúncia será notificada mediante um instrumento escrito
depositado junto do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura.
§3 - A denúncia produzirá efeitos um ano após a recepção do
instrumento de denúncia. Se, todavia, no final desse ano, a Parte denunciante
se encontrar envolvida num conflito armado, o efeito da denúncia ficará
suspenso até ao fim das hostilidades e em todos os casos durante o período de
tempo em que se processem as operações de repatriamento dos bens culturais.
Artigo 38
Notificação
O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura informará os Estados visados nos artigos 30 e 32, assim
como a Organização das Nações Unidas, do depósito de qualquer instrumento
de ratificação, de adesão ou de aceitação mencionado nos artigos 31, 32 e 39, e
ainda das notificações e denúncias respectivamente previstas nos artigos 35,
37 e 39.
Artigo 39
Revisão da Convenção e do seu Regulamento de Execução
§1 - Cada uma das Altas Partes Contratantes pode propor aditamentos à
presente Convenção e ao seu Regulamento de Execução. Qualquer proposta de
aditamento será comunicada ao Diretor-Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que transmitirá o texto da
proposta a todas as Altas Partes Contratantes solicitando-lhes ao mesmo
tempo que deem a conhecer num prazo de quatro meses:
a) Se desejam que seja convocada uma conferência para estudar o
aditamento proposto;
b) Ou se elas são da opinião que se aceite o aditamento proposto sem a
convocação de uma conferência;
c) Ou se elas são da opinião que se registre o aditamento proposto sem a
convocação de uma conferência.
§2 - O Diretor-Geral transmitirá as respostas recebidas, em aplicação do
primeiro parágrafo do presente artigo, a todas as Altas Partes Contratantes.
§3 - Se todas as Altas Partes Contratantes que tenham, no prazo
previsto, dado a conhecer os seus pontos de vista ao Diretor-Geral da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em
conformidade com a alínea b) do primeiro parágrafo do presente artigo,
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27
informarem o Diretor-Geral que elas são da opinião que se deve adotar o
aditamento sem que uma conferência seja realizada, a notificação da sua
decisão será feita pelo Diretor-Geral em conformidade com o artigo 38.º O
aditamento produzirá efeitos em relação a todas as Altas Partes Contratantes
num prazo de 90 dias a partir desta notificação.
§4 - O Diretor-Geral convocará uma conferência das Altas Partes
Contratantes, tendo em vista o estudo do aditamento proposto se o pedido lhe
for feito por mais de um terço das Altas Partes Contratantes.
§5 - Os aditamentos à Convenção ou ao seu Regulamento de Execução
submetidos ao procedimento previsto no parágrafo precedente só entrarão em
vigor após terem sido adotados por unanimidade pelas Altas Partes
Contratantes representadas na conferência e após terem sido aceites por cada
uma das Altas Partes Contratantes.
§6 - A aceitação pelas Altas Partes Contratantes dos aditamentos à
Convenção ou ao seu Regulamento de Execução que tiverem sido adotados pela
conferência referida nos §4 e §5 realizar-se-á mediante o depósito de um
instrumento formal junto do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura.
§7 - Após a entrada em vigor dos aditamentos à presente Convenção ou
ao seu Regulamento de Execução, somente o texto da referida Convenção ou do
seu Regulamento de Execução desta forma modificado ficará aberto à
ratificação ou à adesão.
Artigo 40
Registro
Em conformidade com o artigo 102.º da Carta das Nações Unidas, a
presente Convenção será registrada no Secretariado das Nações Unidas a
requerimento do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura.
Em fé do que os abaixo assinados, devidamente autorizados pelos
respectivos governos, assinaram a presente Convenção.
A referida Convenção foi elaborada na Haia, aos 14 dias do mês de Maio
de 1954, num só exemplar, que será depositado nos arquivos da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, e cujas cópias
Cartas Patrimoniais:
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28
certificadas conforme o original serão remetidas a todos os Estados visados nos
artigos 30 e 32 e ainda à Organização das Nações Unidas.,
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29
RECOMENDAÇÕES DE NOVA DELHI
De Dezembro de 1956
Conferência Geral das Organizações das Nações Unidas para Educação, a
Ciência e a Cultura – 9ª Sessão de 5 de dezembro de 1956 UNESCO – Nova
Delhi.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Nova Delhi de 5 de novembro de
1956, em sua nona sessão,
Estimando a garantia mais eficaz da conservação dos monumentos e
obras do passado reside no respeito e dedicação que lhes consagram os próprios
povos e certa de que tais sentimentos podem ser enormemente favorecidos por
uma ação apropriada, inspirada na vontade dos Estados Membros de
desenvolver as ciências e as relações internacionais,
Convencida de que os sentimentos que dão origem à contemplação e ao
conhecimento das obras do passado podem facilitar grandemente a
compreensão mútua entre os povos e que, para isso, é preciso beneficiá-los com
uma cooperação internacional e favorecer por todos os meios a execução da
missão social que lhes cabe,
Considerando que, se cada Estado é mais diretamente interessado nas
descobertas arqueológicas feitas em seu território, toda a comunidade
internacional participa, entretanto, desse enriquecimento,
Considerando que a história do homem implica no conhecimento das
diferentes civilizações; que é preciso, portanto, em nome do interesse comum,
que todos os vestígios arqueológicos sejam estudados e, eventualmente,
preservados e coletados,
Convencida de que é preciso que as autoridades nacionais encarregadas
da proteção do patrimônio arqueológico se inspirem em determinados
princípios comuns aferidos na experiência e na prática dos serviços
arqueológicos nacionais,
Estimando que, se o regime das pesquisas diz respeito, antes de tudo, à
competência interna dos Estados, é preciso, entretanto, conciliar este princípio
com o de uma colaboração internacional amplamente concebida e livremente
aceita,
Cartas Patrimoniais:
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30
Sendo-lhes apresentadas propostas referentes aos princípios
internacionais a serem aplicados em matéria de pesquisas arqueológicas,
questão que constitui o ponto 9.4.3. da ordem do dia da sessão,
Após haver decidido, durante a sua oitava sessão, que essas propostas
seriam objeto de uma regulamentação internacional, através de uma
recomendação aos Estados Membros,
Adota, neste quinto dia de dezembro de 1956, a seguinte recomendação:
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que apliquem as
disposições seguintes e que adotem, sob forma de lei nacional ou de qualquer
outro modo, medidas que visem a tornar eficazes nos territórios sob sua
jurisdição as normas e princípios formulados na presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que levem a
presente recomendação ao conhecimento das autoridades e órgãos que se
dedicam às pesquisas arqueológicas e aos museus.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que lhe
apresentem, nas datas e na forma que ela determinar, relatórios sobre a
continuidade que derem à presente recomendação.
I – Definições
Pesquisas Arqueológicas
Para efeito da presente recomendação entende-se por pesquisas
arqueológicas todas as investigações destinadas à descoberta de objetos de
caráter arqueológico, quer tais investigações impliquem numa escavação do
solo ou numa exploração sistemática de sua superfície ou sejam realizadas
sobre o leito ou no subsolo das águas interiores ou territoriais de um Estado
Membro.
Bens protegidos
As disposições da presente recomendação se aplicam a qualquer vestígio
arqueológico cuja conservação apresente um interesse público do ponto de vista
da história ou da arte, podendo cada Estado Membro adotar o critério mais
apropriado para determinar o interesse público dos vestígios que encontre em
seu território. Deveriam estar, principalmente, submetidos ao regime previsto
Cartas Patrimoniais:
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31
pela presente recomendação os monumentos, móveis ou imóveis, que
apresentem interesse do ponto de vista da arqueologia no sentido mais amplo.
O critério utilizado para determinar o interesse público dos vestígios
arqueológicos poderia varia segundo se trate ou de sua conservação, ou da
obrigação de declaração das descobertas impostas ao escavador ou ao
descobridor.
a) No primeiro caso, o critério que consiste em proteger todos os objetos
anteriores a uma determinada data deveria ser abandonado e a atribuição a
uma determinada época ou uma ancianidade de um número mínimo de anos
fixado por lei deveria ser adotada como critério de proteção.
b) No segundo caso, cada Estado Membro deveria adotar critérios bem
mais amplos que imponham ao escavador e ao descobrir a obrigação de
declarar todos os bens de caráter arqueológico, móveis ou imóveis, por ele
encontrados.
II – Princípios Gerais
Proteção do patrimônio arqueológico
Cada Estado Membro deveria garantir a proteção de seu patrimônio
arqueológico, levando em conta, especialmente, os problemas advindos das
pesquisas arqueológicas e em concordância com as disposições da presente
recomendação. Cada Estado Membro deveria, especialmente:
a) submeter as explorações e as pesquisas arqueológicas ao controle e à
prévia autorização da autoridade competente;
b) obrigar quem quer que tenha descoberto vestígios arqueológicos a
declará-los, o mais rapidamente possível, às autoridades competentes;
c) aplicar sanções aos infratores dessas regras;
d) determinar o confisco dos objetos não declarados;
e) precisar o regime jurídico do subsolo arqueológico e, quando esse
subsolo for propriedade do Estado, indicá-lo expressamente na legislação;
Cartas Patrimoniais:
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32
f) dedicar-se ao estabelecimento de critérios de proteção legal dos
elementos essenciais de seu patrimônio arqueológico entre os monumentos
históricos.
Órgão de proteção às pesquisas arqueológicas:
Se a diversidade das tradições e as desigualdades de recursos se opõem à
adoção por todos os Estados Membros de um sistema de organização uniforme
de serviços administrativos relativos às pesquisas, alguns princípios,
entretanto, deveriam ser comuns a todos os serviços nacionais:
a) O serviço de pesquisas arqueológicas deveria ser, sempre que possível,
uma administração central do Estado, ou, pelo menos, uma organização que
disponha por força de lei, de meios que lhe permitam adotar, em caso de
necessidades, as medidas de urgência indispensáveis. Esse serviços,
encarregado de administração geral das atividades arqueológicas deveria
prover, em colaboração com os institutos de pesquisa e as universidades, o
ensino de técnicas de escavações arqueológicas. Esse serviço deveria também
criar uma documentação central, com mapas que se refiram a seus
monumentos móveis ou imóveis, assim como uma documentação junto a cada
museu importante, de acervos cerâmicos, iconográficos, etc.
b) A continuidade dos recursos financeiros deveria ser garantida
principalmente com:
1 - o bom funcionamento dos serviços;
2 - a execução de um plano de trabalho proporcional à riqueza
arqueológica do país, nele incluídas as publicações científicas;
3 - a fiscalização das descobertas fortuitas;
4 - a manutenção das escavações e monumentos.
Cada Estado Membro deveria exercer um controle rigoroso sobre as
restaurações dos vestígios e objetos arqueológicos descobertos.
Deveria ser solicitado às autoridades competentes uma autorização
prévia para o deslocamento dos monumentos cuja localização in situ é
essencial.
Cada Estado Membro deveria considerar a conveniência de manter
intactos, total ou parcialmente, determinado número de sítios arqueológicos de
diversas épocas, para que sua exploração possa beneficiar-se dos progressos da
técnica e do avanço dos conhecimentos arqueológicos. Em cada um dos sítios
Cartas Patrimoniais:
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33
arqueológicos importantes em processo de pesquisa, na medida em que o
terreno permita, testemunhos, ou seja, porções de terreno poderiam também
ser reservados em vários locais para permitir um controle da estatigrafia, bem
como da composição do meio arqueológico.
Constituição de coleções centrais e regionais
Sendo a arqueologia uma ciência comparativa, dever-se-ia levar em
conta, na criação e organização dos museus e das coleções precedentes de
pesquisa, a necessidade de facilitar, o mais possível, o trabalho de comparação.
Para isso, coleções centrais e regionais, ou mesmo, excepcionalmente, locais,
representativas dos sítios arqueológicos particularmente importantes, um
pequeno estabelecimento de caráter educativo – eventualmente um museu –
que permita aos visitantes compreender melhor o interesse dos vestígios que
lhes são mostrados.
Educação do Público
A autoridade competente deveria empreender uma ação educativa para
despertar e desenvolver o respeito e a estima ao passado, especialmente
através do ensino de história, da participação dos estudantes em determinadas
pesquisas, da difusão pela imprensa de informações arqueológicas que
provenham de especialistas reconhecidos, da organização de circuitos
turísticos, exposições e conferências que tenham por objeto os métodos
aplicáveis em matéria de pesquisas arqueológicas assim como os resultados
obtidos, da apresentação clara dos sítios arqueológicos explorados e dos
monumentos descobertos, da edição a preços módicos de monografias e guias
em uma redação simples. Os Estados Membros deveriam adotar todas as
medidas necessárias para facilitar o acesso do público a esses sítios.
III – O regime das pesquisas e a colaboração internacional
Autorização de pesquisas concedidas a um estrangeiro
Cada Estado Membro em cujo território as pesquisas necessitam ser
executadas deveria regulamentar as condições gerais às quais está
subordinada a respectiva concessão, as obrigações impostas ao concessionário
principalmente quanto ao controle da administração nacional, a duração da
concessão, as causas que possam justificar a rescisão, a suspensão dos
trabalhos ou a substituição pela administração nacional do concessionário de
sua execução.
Cartas Patrimoniais:
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34
As condições impostas ao pesquisador estrangeiro deveriam ser as
mesmas que se aplicam aos competentes nacionais e, portanto, o contrato de
concessão deveria evitar formular, sem necessidade, exigências específicas.
Colaboração internacional
Para responder aos interesses superiores da ciência arqueológica e aos
da colaboração internacional, os Estados Membros deveriam estimular as
pesquisas através de um regime liberal, assegurando às instituições científicas
e às pessoas devidamente qualificadas, sem distinção de nacionalidade, a
possibilidade de concorrerem em igualdade, à concessão das pesquisas. Os
Estados Membros deveriam estimular as pesquisas executadas, seja por
missões mistas compostas por equipes científicas de seu próprio país e por
arqueólogos que representem instituições estrangeiras, seja por missões
internacionais.
Quando uma pesquisa for concedida a uma missão estrangeira, o
representante do Estado concedente, se for designado, deveria ser também um
arqueólogo capaz de ajudar a missão e de colaborar com ela.
Os Estados membros que não dispõem de meios necessários para a
organização de escavações arqueológicas no estrangeiro deveriam receber todas
as facilidades para enviar arqueólogos para pesquisas abertas por outros
Estados Membros, com a concordância do diretor da pesquisa. Um Estado que
não disponha de meios, técnicos ou de qualquer outra natureza, suficientes
para administrar cientificamente uma pesquisa deveria chamar técnicos
estrangeiros para dela participar ou uma missão estrangeira para conduzi-la.
Garantias recíprocas
A autorização para pesquisas só deve ser concedida a instituições
representadas por arqueólogos qualificados ou a pessoas que ofereçam sérias
garantias científicas, morais e financeiras, sendo as últimas suficientes para
garantir que as pesquisas empreendidas serão levadas a seu termo de acordo
com cláusulas do contrato de concessão e no prazo previsto.
A autorização para pesquisas concedidas a arqueólogos estrangeiros
deveria assegurar reciprocamente garantias de duração e de estabilidade
necessárias a incentivar seu empreendimento e a preservá-las de revogações
injustificadas, especialmente nos casos em que razões reconhecidamente
Cartas Patrimoniais:
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35
fundadas viessem a impor a suspensão de seus trabalhos por um determinado
período.
Conservação dos vestígios
A autorização deveria definir as obrigações do pesquisador no período
em que durar a concessão e a seu término. Deveria ser por ela prevista,
especialmente, a guarda, a manutenção e o restabelecimento das feições do
sítio, assim como a conservação, durante os trabalhos e ao término das
escavações, dos objetos e monumentos descobertos. Por outro lado, a
autorização deveria precisar a possível ajuda com que o pesquisador poderia
contar da parte do Estado concedente para fazer face a suas obrigações, no caso
de elas se revelarem excessivamente pesadas.
Acesso à pesquisa
Aos especialistas qualificados de qualquer nacionalidade deveria ser
permitida a visita a um canteiro de pesquisa antes de haverem sido publicados
seus resultados e, até mesmo, obtida a concordância do diretor da pesquisa,
durante a execução dos trabalhos. Esse privilégio não deveria, em qualquer
caso, redundar em prejuízo ao direito de propriedade científica do pesquisador
sobre sua descoberta.
Destinação do produto das pesquisas
a) Cada Estado Membro deveria determinar claramente os princípios
que, em seu território, regulam a destinação do produto das pesquisas.
b) O produto das pesquisas deveria se destinar, antes de mais nada, à
constituição, nos museus do país em que são realizadas, de coleções completas,
plenamente representativas da civilização, da história e da arte desse país.
c) Com a preocupação básica de favorecer os estudos arqueológicos
através da divulgação de objetos originais, a autoridade concedente poderia ter
em vista, depois da publicação científica, a cessão ao pesquisador habilitado de
um determinado número de objetos provenientes de suas escavações, ou que
consistam de objetos repetidos ou, de um modo geral, em objetos ou grupos de
objetos aos quais essa autoridade possa renunciar, em razão de sua similitude
com outros objetos produzidos pela mesma pesquisa. A cessão ao pesquisador
de objetos provenientes de pesquisas deveria estar sempre a que eles sejam
destinados, em um prazo determinado, a centros científicos abertos ao público,
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36
ficando estabelecido que, se essa condição não for cumprida, ou vier a ser
desrespeitada, os objetos cedidos voltarão à autoridade concedente.
d) A exportação temporária dos objetos descobertos, excluídos os objetos
particularmente frágeis ou de importância nacional, deveria ser autorizada,
mediante solicitação justificada de instituição científica, pública ou privada,
desde que seu estudo seja impraticável no território do Estado concedente
devido à insuficiência de meios para a pesquisa bibliográfica e científica, ou por
tornar-se difícil pelas condições de acesso.
e) Cada Estado Membro deveria considerar a possibilidade de ceder,
trocar ou enviar para depósito em museus estrangeiros, objetos que não
apresentem interesse para as coleções nacionais.
Propriedade científica: direitos e obrigações do pesquisador
a) O Estado concedente deveria garantir ao pesquisador a propriedade
científica de suas descobertas durante um prazo razoável.
b) O Estado concedente deveria impor ao pesquisador a obrigação de
publicar, no prazo previsto pelo contrato de concessão, ou na falta dele, em um
prazo razoável, os resultados de seus trabalhos. Esse prazo não deveria ser
superior a dois anos, no que diz respeito aos relatórios preliminares. Durante
um período de cinco anos após a descoberta, as autoridades arqueológicas
competentes deveriam se empenhar em não liberar para estudo detalhado o
conjunto de objetos provenientes das pesquisas nem a documentação científica
a ela referente, a não ser com autorização por escrito do pesquisador. Essas
autoridades deveriam impedir nas mesmas condições a fotografia ou a
reprodução do material arqueológico ainda inédito. Para permitir, se for o caso,
uma dupla publicação simultânea de seu relatório preliminar, o pesquisador
deveria, a pedido de tais autoridades, colocar a sua disposição cópia do texto
desse relatório.
c) As publicações científicas sobre as pesquisas arqueológicas editadas
em um idioma de difusão restrita deveriam ser acompanhadas de um sumário
e, se possível, da tradução do quadro das matérias e das legendas das
ilustrações em uma língua mais difundida.
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37
Documentação sobre as pesquisas
Observadas as disposições do artigo 24, os serviços arqueológicos
nacionais deveriam facilitar, na medida do possível, a consulta a sua
documentação e o acesso a seus depósitos arqueológicos aos pesquisadores e
especialistas qualificados, sobretudo aos que obtiveram uma concessão para
um determinado sítio ou desejam obtê-la.
Reuniões regionais e sessões de discussões científicas
Com vistas a facilitar o estudo dos problemas de interesse comum, os
Estados Membros poderiam organizar, periodicamente, reuniões regionais com
grupos de representantes dos serviços arqueológicos dos Estados interessados.
Por outro lado, cada Estado Membro poderia suscitar reuniões de discussões
científicas entre os pesquisadores que operam em seu solo.
IV – Comércio das Antiguidades
No interesse superior do patrimônio arqueológico comum, todos os
Estados Membros deveriam considerar a possibilidade da regulamentação do
comércio das antiguidades, para evitar que esse comércio venha a favorecer a
evasão do material arqueológico ou prejudique a proteção das pesquisas e a
formação das coleções públicas. Os museus estrangeiros deveriam poder
adquirir objetos liberados de qualquer restrição legal prevista pela autoridade
competente do país de origem, para responderem a sua missão científica e
educativa.
V – A repressão às pesquisas clandestinas e à exportação
ilícita dos objetos provenientes das pesquisas arqueológicas
Proteção dos sítios arqueológicos contra as pesquisas clandestinas e as
degradações cada Estado Membro deveria adotar as medidas necessárias para
impedir as pesquisas clandestinas e a degradação dos monumentos definidos
nos artigos 2 e 3 acima e a dos sítios arqueológicos, assim como a exportação
dos objetos daí provenientes.
Colaboração internacional para a repressão
Todas as medidas necessárias deveriam ser adotadas para que, quando
ocorrer a oferta de cessão de objetos arqueológicos, os museus possam se
assegurar de que nada autoriza a considerar que tais objetos provenham de
pesquisas clandestinas, de roubos, ou de outras operações consideradas ilícitas
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38
pela autoridade competente do país de origem. Qualquer oferta suspeita e toda
a informação a ela referente deveriam ser levadas ao conhecimento dos
serviços interessados. No caso dos objetos arqueológicos haverem sido
adquiridos por museus, deveriam ser publicadas, assim que possível, as
indicações que permitam identificá-los e que precisem seu modo de aquisição.
Repatriamento dos objetos ao país de origem
Os serviços de pesquisas arqueológicas e os museus deveriam prestar
entre si uma colaboração mútua para assegurar ou facilitar o repatriamento ao
país de origem dos objetos que provém de pesquisas clandestinas ou de roubos,
e de objetos cuja exportação tenha sido feita com transgressão à legislação do
país de origem. É desejável que cada Estado Membro adote todas as medidas
necessárias para garantir esse repatriamento. Esses princípios deveriam ser
aplicados à hipótese de exportação temporária estabelecida no artigo 23, c, d, e
e acima, no caso de não restituição dos objetos dentro do prazo fixado.
VI – Pesquisas em território ocupado
Em caso de conflito armado, qualquer Estado Membro que venha ocupar
o território de um outro Estado deveria se abster de realizar arqueológicas no
território ocupado. No caso de achados fortuitos, sobretudo os que se derem
durante as atividades militares, a potência ocupante deveria adotar todas as
medidas possíveis para protegê-los e deveria enviá-los, ao término das
hostilidades, acompanhados de toda a documentação relativa que detiver, às
autoridades competentes do território anteriormente ocupado.
VII – Acordos Bilaterais
Os Estados Membros deveriam, sempre que necessário ou desejável,
concluir acordos bilaterais para regulamentar as questões de interesse comum
que possam vir a ser colocadas pela aplicação das disposições da presente
recomendação.
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RECOMENDAÇÕES DE PARIS –
PAISAGENS E SÍTIOS
De 12 de Dezembro de 1962
Escritório Internacional dos Museus
Sociedade das Nações – Recomendação da Conferência Geral da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Relativa à proteção da beleza e do caráter das paisagens e sítios
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris, de 9 de novembro a 12 de
dezembro de 1962, em sua décima segunda sessão,
Considerando que em todas as épocas o homem algumas vezes submeteu
a beleza e o caráter das paisagens e dos sítios que fazem parte do quadro
natural de sua vida a atentados que empobrecem o patrimônio cultural,
estético e até mesmo vital de regiões inteiras, em todas as partes do mundo,
Considerando que, ao cultivar novas terras, desenvolver por vezes
desordenadamente os centros urbanos, executar grandes obras e realizar
vastos planejamentos físicos territoriais e instalações de equipamento
industrial e comercial, as civilizações modernas aceleraram esse fenômeno que,
até o século passado, havia sido relativamente lento,
Considerando que esse fenômeno tem repercussão não apenas no valor
estético das paisagens e dos sítios naturais ou criados pelo homem, mas
também no interesse cultural e científico oferecido pela vida selvagem,
Considerando que, por sua beleza e caráter, a salvaguarda das
paisagens e dos sítios definidos pela presente recomendação é necessária à
vida do homem, para quem são um poderoso regenerador físico, moral e
espiritual e por contribuírem para a vida artística e cultural dos povos como o
demonstram inúmeros exemplos universalmente conhecidos,
Considerando, ainda mais, que as paisagens e sítios constituem um fator
importante da vida econômica e social de um grande número de países, assim
como um elemento importante das condições de higiene de seus habitantes,
Reconhecendo, entretanto, que é preciso levar em conta as necessidades
da vida coletiva, sua evolução e o rápido desenvolvimento do progresso técnico,
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Considerando, em consequência, que é altamente desejável e urgente
estudar e adotar as medidas necessárias para salvaguardar a beleza e o
caráter das paisagens e dos sítios em toda parte e sempre que possível,
Havendo-se-lhe apresentadas propostas relativas à salvaguarda da
beleza e do caráter das paisagens e dos sítios, questão que constitui o ponto
17.4.2 da ordem do dia da sessão,
Depois de haver decidido, em sua décima primeira sessão, que propostas
relativas a esse ponto seriam objeto de uma regulamentação internacional
através de uma recomendação aos Estados Membros.
Adota, hoje, onze de dezembro de 1962, a presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que apliquem as
disposições seguintes e adotem, sob a forma de lei nacional ou de alguma outra
maneira, medidas que ponham em efeito, nos territórios sob sua jurisdição, as
normas e princípios formulados na presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que levem a
presente recomendação ao conhecimento das autoridades e organismos
envolvidos com a proteção das paisagens e dos sítios e com o planejamento
territorial, aos organismos encarregados da proteção da natureza, do fomento
ao turismo e às organizações da juventude.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que lhe
apresentem, nas datas e sob a forma que ela determinará, relatórios
concernentes à implementação desta recomendação.
I – Definição
Para os efeitos da presente recomendação, entende-se por salvaguarda
da beleza e do caráter das paisagens e sítios a preservação e, quando possível,
a restituição do aspecto das paisagens e sítios, naturais, rurais ou urbanos,
devidos à natureza ou obra do homem, que apresentam um interesse cultural
ou estético, ou que constituem meios naturais característicos.
As disposições da presente recomendação visam também a
complementar as medidas de salvaguarda da natureza.
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41
II – Princípios Gerais
Os estudos e as medidas a serem adotadas para a salvaguarda das
paisagens e dos sítios dever-se-iam se estender a todo do Estado e não se
limitar a algumas paisagens ou sítios determinados.
Convém levar em conta, na escolha das medidas aplicáveis, o interesse
relativo das paisagens e dos sítios em consideração. Essas medidas poderiam
variar, especialmente segundo o caráter e as dimensões das paisagens e sítios,
sua localização, e a natureza dos perigos de que estejam ameaçados.
A salvaguarda não deveria limitar-se às paisagens e aos sítios naturais,
mas estender-se também às paisagens e sítios cuja formação se deve, no todo
ou em parte, à obra do homem. Assim, disposições especiais deveriam ser
tomadas para assegurar a salvaguarda de algumas paisagens e de
determinados sítios, tais como as paisagens e sítios urbanos, que são,
geralmente, os mais ameaçados, especialmente pelas obras de construção e
pela especulação imobiliária. Uma proteção especial deveria ser assegurada às
proximidades dos monumentos.
As medidas a serem adotadas para a salvaguarda das paisagens e dos
sítios deveriam ter caráter preventivo e corretivo.
As medidas preventivas para a salvaguarda das paisagens e dos sítios
deveriam visar a protegê-los dos perigos que os ameaçam. Essas medidas
deveriam consistir essencialmente no controle dos trabalhos e atividades
susceptíveis de causar dano às paisagens e aos sítios e, especialmente, de:
a) Construção de edifícios públicos e privados de qualquer natureza.
Seus projetos deveriam ser concebidos de modo a respeitar determinadas
exigências estéticas relativas ao próprio edifício e, evitando cair na imitação
gratuita de certas formas tradicionais e pinturescas, deveriam estar em
harmonia com a ambiência que se deseja salvaguardar.
b) Construção de estradas.
c) Linhas de eletricidade de alta ou baixa tensão, instalações de
produção e de transporte de energia, aeródromos, estação de rádio, de
televisão, etc.
d) Construção de autosserviços para distribuição dos combustíveis.
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e) Cartazes publicitários e anúncios luminosos.
f) Desmatamento, inclusive destruição de árvores que contribuem para a
estética da paisagem, particularmente as que margeiam as vias de
comunicação ou as avenidas.
g) Poluição do ar e da água.
h) Exploração de minas e pedreiras e evacuação de seus resíduos.
i) Captação de nascentes, trabalhos de irrigação, barragens, canais,
aquedutos, regularização dos cursos de água, etc.
j) Campismo.
k) Depósitos de material e de matérias usadas, assim como detritos e
dejetos domésticos, comerciais ou industriais.
A salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e dos sítios
deveriam também levar em conta os perigos decorrentes de certas atividades
de trabalho, ou de determinadas formas de vida da sociedade contemporânea,
por causa do barulho que provocam.
As atividades que possam levar a uma deterioração das paisagens e dos
sítios em zonas protegidas por lei, ou de alguma forma protegidas, só poderiam
ser admitidas no caso de exigência imperiosa de um interesse público ou social.
Medidas corretivas deveriam ser destinadas a suprimir o “dano” causado
às paisagens e aos sítios e, na medida do possível, a reabilitá-los.
Para facilitar o trabalho dos diversos serviços públicos encarregados da
salvaguarda da paisagem e dos sítios em cada país, deveriam ser criados
institutos de pesquisa científica para colaborar com as autoridades
competentes a fim de assegurar a harmonização e a codificação das disposições
legislativas e regulamentares aplicáveis à matéria. Essas disposições e os
resultados dos trabalhos dos institutos de pesquisa deveriam ser reunidos em
uma só publicação administrativa periódica, atualizada.
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43
III – Medidas de Salvaguarda
A salvaguarda da paisagem e dos sítios deveria ser assegurada com o
auxílio dos seguintes métodos:
a) Controle geral por parte das autoridades competentes.
b) Inserção de restrições nos planos de urbanização e no planejamento
em todos os níveis: regionais, rurais ou urbanos.
c) Proteção legal por zonas, das paisagens extensas.
d) Proteção legal dos sítios isolados.
e) Criação e manutenção de reservas naturais e parques nacionais.
f) Aquisição de sítios pelas coletividades públicas.
Controle Geral
Um controle geral deveria ser exercido sobre os trabalhos e as atividades
susceptíveis de causar danos às paisagens e aos sítios, em toda a extensão do
território do país.
Planejamento urbano e planejamento territorial das áreas Rurais.
O planejamento urbano ou o planejamento territorial das áreas rurais
deveriam conter disposições relativas às restrições a serem impostas para a
salvaguarda das paisagens e dos sítios – inclusive os que não possuem proteção
legal – que se encontrem no território abrangido por esses planos.
O planejamento urbano ou o planejamento territorial das áreas rurais
deveriam ser estabelecidos em função de sua ordem de urgência, especialmente
para as cidades ou regiões em vias de desenvolvimento rápido, nas quais a
salvaguarda do caráter estético ou pinturesco dos lugares justifique o
estabelecimento de tais planos.
Proteção Legal “por zonas” das paisagens extensas
As paisagens extensas deveriam ser objeto de proteção legal “por zonas”.
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Quando, numa zona protegida por lei, o caráter estético é de interesse
primordial, a proteção legal “por zonas” deveriam abranger o controle de
loteamentos e a observação de algumas prescrições gerais de caráter estético
referentes à utilização dos materiais e sua cor, às normas relativas à altura, às
precauções a serem tomadas para dissimular as escavações resultantes da
construção de barragens, ou de exploração de pedreiras, à regulamentação de
derrubadas das árvores.
A proteção legal “por zonas” deveria ser divulgada publicamente e as
regras gerais a serem observadas para a salvaguarda das paisagens
integrantes de tal proteção deveriam ser editadas e difundidas.
A proteção legal “por zonas” não deveria, em regra geral, possibilitar
direito à indenização.
Proteção Legal de sítios isolados
Os sítios isolados e de pequenas dimensões, naturais ou urbanos, assim
como porções de paisagem que ofereçam um interesse excepcional, deveriam
ser protegidos por lei. Deveriam ser igualmente protegidos por lei os terrenos
de onde se aprecie uma vista excepcional e os terrenos e imóveis que envolvam
um monumento notável. Cada sítio, terreno ou imóvel assim protegido deveria
ser objeto de uma decisão administrativa especial, devidamente notificada ao
proprietário.
Essa proteção legal deveria acarretar para o proprietário a proibição de
destruir o sítio ou alterar seu estado ou aspecto sem autorização das
autoridades encarregadas da salvaguarda.
A autorização eventualmente concedida deveria ser acompanhada de
todas as condições necessárias à salvaguarda do sítio. Não será necessário,
entretanto, requisitar qualquer autorização para os trabalhos de exploração
usual das terras rurais, nem para os trabalhos regulares de manutenção das
construções.
A expropriação pelos poderes públicos, assim como a execução de
quaisquer obras públicas em sítio protegido por lei deveriam estar
subordinadas ao prévio consentimento das autoridades encarregadas da
salvaguarda. Nenhuma servidão convencional deveria ser consentida pelo
proprietário sem a concordância das autoridades encarregadas da salvaguarda.
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45
A proteção legal deveria implicar na proibição de contaminar os
terrenos, o ar e as águas seja de que maneira for, ao passo que a extração de
minerais estaria sujeita a uma autorização especial.
Qualquer publicidade deveria ser proibida nos sítios protegidos por lei e
suas imediações, ou limitada à determinada localização fixada pelas
autoridades encarregadas de salvaguarda.
A permissão de acampar em um sítio protegido por lei deveria, em
princípio, ser proibida e concedida, apenas, em terrenos delimitados pelas
autoridades encarregadas da salvaguarda e submetidos à sua inspeção.
A proteção legal de um sítio deveria poder proporcionar ao proprietário o
direito à indenização, no caso de ocorrer prejuízo certo e direto, devido à
proteção por lei.
Reservas Naturais e Parques Nacionais
Quando for possível, os Estados Membros deveriam incorporar às zonas
e sítios cuja salvaguarda convém assegurar, parques nacionais destinados à
educação e ao lazer do público, ou reservas naturais, parciais ou integrais.
Esses parques nacionais e reservas naturais deveriam formar um conjunto de
zonas experimentais destinadas também às pesquisas sobre a formação e a
restauração da paisagem e à proteção da natureza.
Aquisição dos sítios pelas coletividades públicas
Os Estados Membros deveriam encorajar as coletividades públicas a
adquirirem terrenos que façam parte de uma paisagem ou de um sítio que
convenha salvaguardar. Quando necessário, essa aquisição deveria poder se
realizar através de expropriação.
IV – Aplicação das Medidas de Salvaguarda
As normas e princípios fundamentais que regulam, em cada Estado
Membro, a salvaguarda das paisagens e dos sítios deveriam ter força de lei e as
medidas necessárias a sua aplicação, deveriam ser confiadas às autoridades
responsáveis, dentro das atribuições que lhes são conferidas pela lei.
Os Estados Membros deveriam criar órgãos especializados, de caráter
executivo ou consultivo.
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Os órgãos de caráter executivo deveriam ser serviços especializados,
centrais e regionais, encarregados de aplicar as medidas de salvaguarda. Para
isso, esses serviços deveriam ter a possibilidade de estudar os problemas
relativos à salvaguarda e à proteção legal, efetuar pesquisas de campo,
preparar as decisões a serem tomadas e controlar sua execução. Caber-lhes-ia,
também, propor as medidas destinadas a reduzir os perigos que possa
apresentar a execução de determinados trabalhos, ou a reparar os danos por
eles causados.
Os órgãos de caráter consultivo deveriam ser comissões de caráter
nacional, regional e local, encarregadas de estudar as questões relativas à
salvaguarda e de manifestar seu parecer sobre essas questões às autoridades
centrais ou regionais, ou às coletividades locais interessadas. O parecer dessas
comissões deveria ser solicitado em todos os casos e em tempo útil,
particularmente na fase de anteprojetos, nos casos de obras de interesse geral
e de grande envergadura, como a construção de rodovias, ordenação espacial de
instalações hidrotécnicas, criação de novas instalações industriais, etc.
Os Estados Membros deveriam facilitar a criação e o funcionamento de
órgãos não governamentais – nacionais ou locais – cujas tarefas consistiriam,
entre outras, em colaborar com os órgãos mencionados nos parágrafos 31, 32 e
33, especialmente informando a opinião pública e alertando os serviços
responsáveis pelos perigos que ameacem as paisagens e os sítios.
A violação das normas de salvaguarda das paisagens e dos sítios deveria
redundar em perdas e danos e/ou na obrigação de repor os sítios em seu estado
primitivo, na medida do possível.
Sanções administrativas ou penais deveriam ser previstas no caso de
danos causados voluntariamente às paisagens e aos sítios arqueológicos.
V – Educação do Público
Uma ação educativa deveria ser empreendida dentro e fora das escolas
para despertar e desenvolver o respeito público pelas paisagens e sítios e para
tornar mais conhecidas as normas editadas para garantir sua salvaguarda.
Os professores encarregados dessa tarefa educativa na escola deveriam
receber preparação especial, na forma de estágios especializados de estudos em
estabelecimentos de ensino secundário e superior.
Cartas Patrimoniais:
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Os Estados Membros deveriam também facilitar a tarefa dos museus
existentes, com o objetivo de intensificar a ação educativa já empreendida
nesse sentido e considerar a possibilidade de criar museus especiais, ou seções
especializadas nos museus existentes, para o estudo e a apresentação dos
aspectos naturais e culturais característicos de determinadas regiões.
A educação do público fora da escola deveria ser tarefa da imprensa, das
associações privadas de proteção das paisagens e dos sítios ou de proteção da
natureza, dos órgãos encarregados do turismo e das organizações de juventude
e de educação popular.
Os Estados Membros deveriam facilitar a educação do público e
estimular a ação das associações, e de órgãos dedicados a essa tarefa,
prestando-lhes uma ajuda material e colocando à sua disposição e à dos
educadores em geral os meios apropriados de publicidade, tais como filmes,
emissões radiofônicas ou de televisão, material para exposições permanentes,
temporárias ou itinerantes, folhetos e livros capazes de obter uma grande
difusão idealizados com um espírito didático. Uma ampla publicidade poderia
ser obtida através dos jornais, das revistas e das publicações periódicas
regionais.
Jornadas nacionais e internacionais, concursos e outras manifestações
similares deveriam ser consagrados e ressaltar o valor das paisagens e dos
sítios naturais ou criados pelo homem, para chamar a atenção do grande
público sobre a importância da salvaguarda da sua beleza e de seu caráter,
problema primordial da coletividade.
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CARTA DE VENEZA
De Maio de 1964
II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos
Históricos
ICOMOS – Escritório do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
Carta Internacional sobre conservação e restauração de
monumentos e sítios.
Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais
de cada povo perduram no presente como testemunho vivo de suas tradições
seculares. A humanidade, cada vez mais consciente da unidade dos valores
humanos, as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras,
se reconhece solidariamente responsável por preservá-las, impondo a si mesma
o dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade.
É, portanto, essencial que os princípios que devem presidir à
conservação e à restauração dos monumentos sejam elaborados em comum e
formulados num plano internacional, ainda que caiba a cada nação aplicá-los
no contexto de sua própria cultura e de suas tradições.
Ao dar uma primeira forma a esses princípios fundamentais, a Carta de
Atenas de 1931 contribui para a propagação de um amplo movimento
internacional que se traduziu principalmente em documentos nacionais, na
atividade de ICOM e da UNESCO e na criação, por esta última, do Centro
Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração dos Bens
Culturais. A sensibilidade e o espírito crítico se dirigem para problemas cada
vez mais complexos e diversificados. Agora é chegado o momento de
reexaminar os princípios da Carta para aprofundá-los e dotá-los de um alcance
maior em um novo documento.
Consequentemente, o Segundo Congresso Internacional de Arquitetos e
Técnicos de Monumentos Históricos, reunidos em Veneza de 25 a 31 de maio
de 1964, aprovou o texto seguinte:
Definições
Art.1 - O conceito de monumento histórico engloba, não só as criações
arquitetônicas isoladamente, mas também os sítios, urbanos ou rurais, nos
quais sejam patentes os testemunhos de uma civilização particular, de uma
Cartas Patrimoniais:
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fase significativa da evolução ou do progresso, ou algum acontecimento
histórico. Este conceito é aplicável, quer às grandes criações, quer às
realizações mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o
passar do tempo.
Art.2 - A conservação e o restauro dos monumentos devem recorrer à
colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo
e a proteção do patrimônio monumental.
Art.3 - A conservação e o restauro dos monumentos têm como objetivo
salvaguardar tanto a obra de arte como as respectivas evidências históricas.
Conservação
Art.4 - Para a conservação dos monumentos é essencial que estes sejam
sujeitos a operações regulares de manutenção.
Art.5 - A conservação dos monumentos é sempre facilitada pela sua
utilização para fins sociais úteis. Esta utilização, embora desejável, não deve
alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É apenas dentro destes
limites que as modificações que seja necessário efetuar poderão ser admitidas.
Art.6 - A conservação de um monumento implica a manutenção de um
espaço envolvente devidamente proporcionado. Sempre que o espaço
envolvente tradicional subsista, deve ser conservado, não devendo ser
permitidas quaisquer novas construções, demolições ou modificações que
possam alterar as relações volumétricas e cromáticas.
Art.7 - Um monumento é inseparável da história de que é testemunho e
do meio em que está inserido. A remoção do todo ou de parte do monumento
não deve ser permitida, exceto quando tal seja exigido para a conservação
desse monumento ou por razões de grande interesse nacional ou internacional.
Art.8 - Os elementos de escultura, pintura ou decoração que façam parte
integrante de um monumento apenas poderão ser removidos se essa for a única
forma de garantir a sua preservação.
Restauro
Art.9 - O restauro é um tipo de operação altamente especializado. O seu
objetivo é a preservação dos valores estéticos e históricos do monumento,
Cartas Patrimoniais:
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devendo ser baseado no respeito pelos materiais originais e pela documentação
autêntica. Qualquer operação desse tipo deve terminar no ponto em que as
conjecturas comecem; qualquer trabalho adicional que seja necessário efetuar
deverá ser distinto da composição arquitetônica original e apresentar marcas
que o reportem claramente ao tempo presente. O restauro deve ser sempre
precedido e acompanhado por um estudo arqueológico e histórico do
monumento.
Art.10 - Quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a
consolidação de um monumento pode ser efetuada através do recurso a outras
técnicas modernas de conservação ou de construção, cuja eficácia tenha sido
demonstrada cientificamente e garantida através da experiência de uso.
Art.11 - As contribuições válidas de todas as épocas para a construção
de um monumento devem ser respeitadas, dado que a unidade de estilo não é o
objetivo que se pretende alcançar nos trabalhos de restauro. Quando um
edifício apresente uma sobreposição de trabalhos realizados em épocas
diferentes, a eliminação de algum desses trabalhos posteriores apenas poderá
ser justificada em circunstâncias excepcionais, quando o que for removido seja
de pouco interesse e aquilo que se pretenda pôr a descoberto tenha grande
valor histórico, arqueológico ou estético e o seu estado de conservação seja
suficientemente bom para justificar uma ação desse tipo. A avaliação da
importância dos elementos envolvidos e a decisão sobre o que pode ser
destruído não podem depender apenas do coordenador dos trabalhos.
Art.12 - Os elementos destinados a substituírem as partes que faltem
devem integrar-se harmoniosamente no conjunto e, simultaneamente, serem
distinguíveis do original por forma a que o restauro não falsifique o documento
artístico ou histórico.
Art.13 - Não é permitida a realização de acrescentos que não respeitem
todas as partes importantes do edifício, o equilíbrio da sua composição e a sua
relação com o ambiente circundante.
Sítios Históricos
Art.14 - Os sítios dos monumentos devem ser objeto de um cuidado
especial, por forma a assegurar que sejam tratados e apresentados de uma
forma correta. Os trabalhos de conservação e restauro a efetuar nesses locais
devem inspirar-se nos princípios enunciados nos artigos precedentes.
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Escavações
Art.15 - Os trabalhos de escavação devem ser efetuados de acordo com
as normas científicas e com a "Recomendação definidora dos princípios
internacionais a aplicar em matéria de escavações arqueológicas", adotadas
pela UNESCO em 1956. Deve ser assegurada a manutenção das ruínas e
tomadas as medidas necessárias para garantir a conservação e proteção dos
elementos arquitetônicos e dos objetos descobertos. Para além disso, devem
tomar-se todas as medidas que permitam facilitar a compreensão do
monumento, sem distorcer o seu significado. Todos os trabalhos de
reconstrução devem ser rejeitados a priori. Só a anastylosis, isto é, a
remontagem das peças soltas que existam num estado de desagregação, pode
ser permitida. Os materiais utilizados para reintegração deverão ser sempre
reconhecíveis e o seu uso restringido ao mínimo necessário para assegurar as
condições de conservação do monumento e restabelecer a continuidade das
suas formas.
Documentação e Publicações
Art.16 - Os trabalhos de conservação, restauro ou escavação devem ser
sempre acompanhados por um registro preciso, sob a forma de relatórios
analíticos ou críticos, ilustrados com desenhos e fotografias. Todas as fases dos
trabalhos de reparação, consolidação, recomposição e reintegração, assim como
os elementos técnicos e formais identificados ao longo dos trabalhos devem ser
incluídos. Este registro deverá ser guardado nos arquivos de um organismo
público e posto à disposição dos investigadores. Recomenda-se também, que
seja publicado.
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RECOMENDAÇÕES DE PARIS
De 19 de Novembro de 1964
Conferência Geral das Organizações das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura – 13ª Sessão.
Recomendação sobre medidas destinadas a proibir e impedir a exportação, a
importação e a transferência de propriedades ilícitas de bens culturais.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris, de 20 de outubro a 20 de
novembro de 1964, em sua décima terceira sessão,
Estimando que os bens culturais se constituem em elementos
fundamentais da civilização e da cultura dos povos, e que a familiaridade com
esses bens favorece a compreensão e a apreciação mútuas entre as nações,
Considerando que cada Estado tem o dever de proteger o patrimônio
constituído pelos bens culturais existentes em seu território contra os perigos
decorrentes da exportação, da importação e da transferência de propriedades
ilícitas,
Considerando que, para evitar esses perigos, é indispensável que cada
Estado Membro adquira uma consciência mais clara das obrigações morais
relativas ao respeito a seu patrimônio cultural e ao de todas as nações,
Considerando que os objetivos visados não podem ser alcançados sem
uma estreita colaboração entre os Estados Membros,
Convicta de que se deve tomar providências no sentido de estimular a
adoção de medidas adequadas e de aperfeiçoar o ambiente de solidariedade
internacional, sem o que os objetivos propostos não seriam alcançados,
Tendo examinado propostas de uma regulamentação internacional
destinada a proibir a impedir a exportação, a importação e a transferência de
propriedade ilícitas de bens culturais, assunto que constitui o item 15.3.3 da
pauta da sessão,
Tendo decidido, em sua décima segunda reunião, que tais propostas
seriam objeto de regulamentação internacional mediante uma recomendação
aos Estados Membros, e expressando, contudo, esperança de que uma
Cartas Patrimoniais:
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53
convenção internacional possa ser adotada o mais cedo possível. Adota, neste
dia de dezenove de novembro de 1964, esta recomendação.
A Conferência Geral recomenda que os Estados Membros apliquem as
disposições seguintes, adotando, sob forma de lei nacional ou de outra forma,
medidas necessárias a fazer vigorar, no território sob sua jurisdição, as normas
e princípios formulados na presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda que os Estados Membros levem esta
recomendação ao conhecimento das autoridades e organizações relacionadas à
proteção de bens culturais. A Conferência Geral recomenda que os Estados
Membros lhe apresentem, nas datas e da forma por ela determinada, relatórios
a respeito das providências que hajam tomado no sentido de colocar em prática
esta recomendação.
I – Definição
Para efeito desta recomendação, são considerados bens culturais os bens
móveis e imóveis de grande importância para o patrimônio cultural de cada
país, tais como as obras de arte e de arquitetura, os manuscritos, os livros e
outros bens de interesse artístico, histórico ou arqueológico, os documentos
etnológicos, os espécimens-tipo da flora e da fauna, as coleções científicas e as
coleções importantes de livros e arquivos, incluídos os arquivos musicais.
Cada Estado Membro deveria adotar os critérios para julgar mais
adequados para definir, no âmbito de seu território, os bens culturais que
haverão de se beneficiar da proteção estabelecida nesta recomendação em
virtude da grande importância que apresentam.
II – Princípios Gerais
Para garantir a proteção de seu patrimônio cultural contra todos os
perigos de empobrecimento, cada Estado Membro deveria adotar as medidas
adequadas para exercer um controle eficaz sobre a exportação dos bens
culturais nos parágrafos 1 e 2. A importação de bens culturais só deveriam ser
autorizados após haverem sido declarados livres de qualquer restrição por
parte do Estado exportador.
Cada Estado Membro deveria tomar as providências apropriadas para
impedir a transferência ilícita de propriedade dos bens culturais.
Cartas Patrimoniais:
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54
Cada Estado Membro deveria estabelecer normas que regulamentassem
a aplicação dos princípios supracitados.
Qualquer exportação, importação ou transferência da propriedade
efetuada em oposição às normas adotadas por cada Estado Membro em
conformidade com o parágrafo 6 deveria ser considerada ilícita.
Os museus, e em geral todos os serviços e instituições relacionados à
conservação de bens culturais, deveriam abster-se de adquirir qualquer bem
cultural procedente de exportação, importação ou transferência de
propriedades ilícitas.
Para estimular e facilitar os intercâmbios legítimos de bens culturais, os
Estados Membros deveriam empreender os esforços necessários para por à
disposição das coleções públicas dos demais Estados Membros, através de
cessão ou intercâmbio, objetos do mesmo tipo daqueles cuja exportação ou
transferência de propriedade não possam ser autorizadas, ou, por meio de
empréstimo ou depósito, alguns desses mesmos objetos.
III – Medidas Recomendadas
Identificação e Inventário Nacional dos Bens Culturais
Para garantir a aplicação mais eficaz dos princípios gerais enunciados
acima, cada Estado Membro deveria, na medida do possível, estabelecer e
aplicar procedimentos para a identificação dos bens culturais definidos nos
parágrafos 1 e 2 que existam em seu território e estabelecer um inventário
nacional desses bens. A inclusão de um objeto cultural nesse inventário não
deveria alterar de maneira alguma sua propriedade legal. Particularmente,
um objeto cultural de propriedade privada deveria permanecer como tal
mesmo após sua inclusão no inventário nacional. Este inventário não teria
caráter restritivo.
Instituições de Proteção dos Bens Culturais
Cada Estado Membro deveria providenciar para que a proteção dos bens
culturais estivesse sob a responsabilidade de órgãos oficiais adequados e, se
necessário, deveria instituir um serviço nacional para a proteção dos bens
culturais. Ainda que a diversidade de disposições constitucionais e de tradições
e a desigualdade de recursos impossibilitem a adoção por todos os Estados
Membros de uma organização uniforme, é conveniente levar em consideração
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A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
55
os seguintes princípios comuns, caso se julgue necessária a criação de um
serviço nacional dos bens culturais:
a) O serviço nacional de proteção dos bens culturais deveria ser, na
medida do possível, um serviço administrativo do Estado ou um órgão que,
atuando em conformidade com a legislação nacional, dispusesse dos meios
administrativos, técnicos e financeiros que permitissem o desempenho eficaz
de suas funções.
b) As funções do serviço nacional de proteção de bens culturais deveriam
incluir:
(i) A identificação dos bens culturais existentes no território do Estado
e, se necessário, o estabelecimento e a manutenção de um inventário
nacional desses bens, em conformidade com o estabelecido no parágrafo
10, acima;
(ii) Cooperação com outros organismos competentes no controle da
exportação, da importação e da transferência de propriedade de bens
culturais, em conformidade com as disposições da seção 11, acima; o
controle de exportações seria consideravelmente facilitado se os bens
culturais fossem acompanhados, por ocasião de sua exportação, de um
certificado apropriado, mediante o qual o Estado exportador certificaria
haveria autorizado a exportação do bem em que questão. Em caso de
dúvida a instituição incumbida de proteção dos bens culturais deveria
comunicar-se com a instituição competente para confirmar a legalidade
da exportação.
c) O serviço nacional de proteção dos bens culturais deveria estar
autorizado a apresentar às autoridades nacionais competentes propostas de
outras medidas legislativas e administrativas adequadas à proteção dos bens
culturais, inclusive sanções que impedissem a exportação, a importação e a
transferência de propriedades ilícitas.
d) O serviço nacional de proteção dos bens culturais deveria poder
recorrer a especialistas para assessorá-lo em relação a problemas técnicos e na
solução de casos litigiosos.
Cada Estado Membro deveria, se necessário, constituir um fundo ou
adotar outras medidas financeiras apropriadas para dispor dos recursos
necessários a adquirir bens culturais de importância excepcional.
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Acordos Bilaterais e Multilaterais
Sempre que necessário ou conveniente, os Estados Membros deveriam
firmar acordos bilaterais ou multilaterais, por exemplo, dentro da estrutura de
organizações intergovernamentais regionais, para resolver problemas
decorrentes da exportação, da importação ou da transferência da propriedade
de bens culturais, e mais especificamente, de modo a garantir a restituição de
bens culturais ilicitamente exportados do território de uma das partes desses
acordos e localizada no território de outra. Tais acordos poderiam, se for o caso,
ser incluídos em acordo de maior abrangência, tais como os acordos culturais.
Colaboração Internacional para a Detecção de Operações Ilícitas
Sempre que necessário ou conveniente, os acordos bilaterais ou
multilaterais deveriam conter cláusulas que garantissem que, sempre que
fosse proposta a transferência de propriedade de um bem cultural, os serviços
competentes de cada Estado pudessem certificar-se da inexistência de motivos
para considerar o objeto como proveniente de um roubo, de uma exportação ou
de uma transferência de propriedades ilícitas ou de qualquer outra operação
considerada ilegal pela legislação do Estado exportador, como por exemplo, ao
exigir a apresentação do certificado a que se refere o parágrafo 11. Toda oferta
suspeita e todos os detalhes a ela relacionados, deveriam ser levados ao
conhecimento dos serviços interessados.
Os Estados Membros deveriam empenhar-se na assistência mútua
através do intercâmbio dos resultados de suas experiências no âmbito dos
assuntos a que se refere esta recomendação.
Restituição ou Repatriação de Bens Culturais Exportados
Ilicitamente
Os Estados Membros, os serviços de proteção dos bens culturais, os
museus e todas as instituições competentes em geral deveriam colaborar uns
com os outros no sentido de garantir ou facilitar a restituição ou a repatriação
de bens culturais ilicitamente exportados. Essa restituição ou repatriação
deveria ser efetuada em conformidade com a legislação vigente no Estado em
cujo território se encontram os bens.
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Publicidade em caso de Desaparecimento de um Bem Cultural
O desaparecimento de qualquer bem cultural deveria, por solicitação de
Estado que o reclamasse, ser levado ao conhecimento do público, através de
uma publicidade adequada.
Direitos dos Adquirentes de Boa Fé
Cada Estado Membro deveria, se necessário, tomar as providências
adequadas para estabelecer que sua legislação interna ou as convenções quais
possa vir a participar garantissem ao adquirente de boa fé de um bem cultural
a ser restituído ou repatriado ao território do Estado do qual havia sido
ilegalmente exportado a possibilidade de obter a indenização por perdas e
danos ou outra compensação equivalente.
Ação Educativa
No sentido de uma colaboração internacional que levasse em
consideração tanto a natureza universal da cultura quanto à necessidade de
intercâmbios para possibilitar a todos beneficiar-se do patrimônio cultural da
humanidade, cada Estado Membro deveria agir de modo a estimular e
desenvolver entre seus cidadãos o interesse e o respeito pelo patrimônio
cultural de todas as nações. Tal ação deveria ser empreendida pelos serviços
competentes em cooperação com os serviços educativos, com a imprensa e com
outros meios de informação e difusão, com organizações de juventude e de
educação popular e com grupos e indivíduos ligados a atividades culturais.
O precedente é o texto autentico da Recomendação devidamente
aprovado pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e a Cultura, em sua décima terceira reunião, realizada em
Paris e declarada concluída no vigésimo dia de novembro de 1964.
Em fé do qual apensamos nossas assinaturas, neste vigésimo primeiro
dia de novembro de 1964,
O Presidente da Conferência Geral
O Diretor-Geral
René Mahen
Cópia certificada do Assessor Jurídico da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
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DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA COOPERAÇÃO
CULTURAL INTERNACIONAL
De 04 de Novembro de 1966
Conferência Geral das Organizações das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura – 14ª Sessão.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura, reunida em Paris para a sua décima quarta
sessão, neste dia quatro de Novembro de 1966, em que se assinala o vigésimo
aniversário da fundação da Organização,
Recordando que a Constituição da Organização declara que “como as
guerras nascem no espírito dos homens, é no espírito dos homens que devem
ser erguidas as defesas da paz” e que, para que a paz subsista, deverá
assentar na solidariedade intelectual e moral da Humanidade,
Recordando que a Constituição diz também que a difusão da cultura e a
educação da Humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são
indispensáveis à dignidade humana e constituem um dever sagrado que todas
as nações devem cumprir com espírito de assistência e preocupação mútua;
Considerando que os Estados Membros da Organização, acreditando na
procura da verdade e na livre troca de ideias e de conhecimentos, se
declararam determinados e concordaram em desenvolver e multiplicar os
meios de comunicação entre os seus povos,
Considerando que, apesar dos progressos técnicos que facilitam o
desenvolvimento e a difusão de conhecimentos e ideias, a ignorância quanto ao
modo de vida e aos costumes dos povos ainda constitui um obstáculo à
amizade entre as nações, à cooperação pacífica e ao progresso da Humanidade,
Tendo em conta a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a
Declaração dos Direitos da Criança, a Declaração sobre a Concessão de
Independência aos Países e Povos Coloniais, a Declaração das Nações Unidas
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a Declaração
sobre a Promoção entre os Jovens dos Ideais da Paz, do Respeito Mútuo e da
Compreensão Entre os Povos, e a Declaração sobre a Inadmissibilidade da
Intervenção nos Assuntos Internos dos Estados e a Proteção da sua
Independência e Soberania, sucessivamente proclamadas pela Assembleia
Geral das Nações Unidas,
Cartas Patrimoniais:
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59
Convencida, em virtude da experiência adquirida nos primeiros vinte
anos da Organização, de que, para que a cooperação cultural internacional
seja reforçada, é necessário afirmar os seus princípios,
Proclama a presente Declaração dos Princípios da Cooperação Cultural
Internacional, a fim de que os governos, as autoridades, as organizações, as
associações e as instituições se possam constantemente orientar por estes
princípios; e com o objetivo de, conforme consagrado na Constituição da
Organização, promover, através das relações dos povos do mundo nos
domínios da educação, da ciência e da cultura, os objetivos da paz e do bem-
estar definidos na Carta das Nações Unidas.
Artigo I
1. Cada cultura tem uma dignidade e um valor que deverão ser
respeitados e preservados.
2. Cada povo tem o direito e o dever de desenvolver a sua cultura.
3. Na sua rica variedade e diversidade, e nas influências recíprocas que
exercem entre si, todas as culturas fazem parte do património comum de toda
a Humanidade.
Artigo II
As nações esforçar-se-ão por desenvolver os vários sectores da cultura a
par uns dos outros e, tanto quanto possível, em simultâneo, de forma a
estabelecer um equilíbrio harmonioso entre o progresso técnico e o
desenvolvimento intelectual e moral da Humanidade.
Artigo III
A cooperação cultural internacional abrangerá todos os aspectos das
atividades intelectuais e criativas relativas à educação, ciência e cultura.
Artigo IV
A cooperação cultural internacional sob todas as suas formas – bilateral
ou multilateral, regional ou universal – terá como objetivos:
1. Difundir o conhecimento, estimular o talento e enriquecer as
culturas;
2. Desenvolver as relações pacíficas e a amizade entre os povos e
permitir uma melhor compreensão do modo de vida de cada um;
Cartas Patrimoniais:
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60
3. Contribuir para a aplicação dos princípios consagrados nas
Declarações das Nações Unidas recordadas no Preâmbulo da presente
Declaração;
4. Possibilitar que todas pessoas tenham acesso ao conhecimento,
usufruam das artes e da literatura de todos os povos, partilhem os progressos
da ciência alcançados em todas as partes do mundo e os benefícios daí
resultantes, e contribuam para o enriquecimento da vida cultural;
5. Melhorar as condições de vida da pessoa humana, na sua dimensão
espiritual e material, em todas as partes do mundo.
Artigo V
A cooperação cultural é um direito e um dever de todos os povos e de
todas as nações, que devem partilhar entre si os seus conhecimentos e
competências.
Artigo VI
A cooperação internacional, cuja ação benéfica promove o
enriquecimento de todas as culturas, deverá respeitar o caráter diferenciado
de cada uma delas.
Artigo VII
1. Uma ampla difusão das ideias e do conhecimento, com base na mais
livre troca e discussão, é fundamental para a atividade criativa, a busca da
verdade e o desenvolvimento da personalidade humana.
2. Na cooperação cultural, privilegiar-se-ão as ideias e os valores
favoráveis à criação de uma atmosfera de amizade e paz. Deverá evitar-se
qualquer sinal de hostilidade nas atitudes e manifestações de opinião. Serão
feitos todos os esforços, na apresentação e divulgação de informação, para
garantir a sua autenticidade.
Artigo VIII
A cooperação cultural será levada a cabo em benefício mútuo de todas
as nações que a praticam. Os intercâmbios a que dá origem serão organizados
num espírito de ampla reciprocidade.
Cartas Patrimoniais:
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61
Artigo IX
A cooperação cultural contribuirá para o estabelecimento de relações
estáveis e de longo prazo entre os povos, devendo estar o menos possível
sujeita às tensões que podem ocorrer na vida internacional.
Artigo X
A cooperação cultural atribuirá uma especial importância à educação
moral e intelectual dos jovens num espírito de amizade, compreensão e paz
internacional, devendo fomentar a sensibilização dos Estados para a
necessidade de estimular o talento e promover a formação das gerações
vindouras nos mais variados sectores.
Artigo XI
1. Nas suas relações culturais, os Estados terão presentes os princípios
das Nações Unidas. Ao tentar realizar a cooperação internacional, respeitarão
a igualdade soberana dos Estados e abster-se-ão de intervir em matérias que
se prendam essencialmente com a jurisdição interna de qualquer Estado.
2. Os princípios da presente Declaração serão aplicados tendo
devidamente em conta os direitos humanos e liberdades fundamentais.
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NORMAS DE QUITO
Novembro/Dezembro de 1967
Reunião sobre conservação e utilização de monumentos e lugares de interesse
Histórico e Artístico – O.E.A. – Organização dos Estados Americanos.
INFORME INICIAL
I – Introdução
A inclusão do problema representado pela necessária conservação e
utilização do patrimônio monumental na relação de esforços multinacionais
que se comprometem a realizar os governos da América resulta alentador num
duplo sentido. Primeiramente, porque com isso com os chefes de Estado
deixam reconhecida, de maneira expressa, a existência de uma situação de
urgência que reclama a cooperação interamericana, e em um segundo, porque,
sendo a razão fundamental da Reunião de Punta Del Leste o propósito comum
de dar novo impulso ao desenvolvimento do continente, está se aceitando
implicitamente que esses bens do patrimônio cultural representam um valor
econômico e são suscetíveis de constituir-se em instrumentos de progresso.
O acelerado processo de empobrecimento que vem sofrendo a maioria
dos países americanos como consequência do estado de abandono e da falta de
defesa em que se encontra sua riqueza monumental e artística demanda a
adoção de medidas de urgência, tanto em nível nacional quanto internacional,
mas sua eficácia prática dependerá, em último caso, de sua adequada
formulação dentro de um plano sistemático de revalorização dos bens
patrimoniais em função de desenvolvimento econômico-social.
As recomendações do presente informe são dirigidas nesse sentido e se
limitam, especificamente, à adequada conservação e utilização dos
monumentos e sítios de interesse arqueológico, histórico e artístico, de
conformidade com o que dispõe o Capítulo V, Esforços Multinacionais, letra d,
da Declaração dos Presidentes da América.
É preciso reconhecer, entretanto, que, dada a íntima relação entre o
continente arquitetônico e o conteúdo artístico, torna-se imprescindível
estender a devida proteção a outros bens móveis e a objetos valiosos do
patrimônio cultural para evitar sua contínua deterioração e subtração impune
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
63
e para conseguir que contribuam à obtenção dos fins pretendidos mediante sua
adequada exibição, de acordo com a moderna técnica museográfica.
II – Considerações Gerais
A ideia do espaço é inseparável do conceito do monumento e, portanto, a
tutela do Estado pode e leve se estender ao contexto urbano, ao ambiente
natural que o emoldura e aos bens culturais que encerra. Mas pode existir uma
zona, recinto ou sítio de caráter monumental, sem que nenhum dos elementos
que o constitui, isoladamente considerados, mereça essa designação.
Os lugares pitorescos e outras belezas naturais, objeto de defesa e
proteção por parte do Estado, não são propriamente monumentos nacionais. A
marca histórica ou artística do homem é essencial para imprimir a uma
paisagem ou a um recinto determinado essa categoria específica.
Qualquer que seja o valor intrínseco de um bem ou as circunstâncias que
concorram para constituir a sua importância e significação histórica ou
artística, ele não se constituirá em um monumento a não ser que haja uma
expressa declaração do Estado nesse sentido. A declaração do monumento
nacional implica a sua identificação e registros oficiais. A partir desse
momento o bem em questão estará submetido ao regime de exceção assinalado
por lei.
Todo monumento nacional está implicitamente destinado a cumprir uma
função social. Cabe ao Estado fazer com que ela prevaleça e determinar, nos
diferentes casos, à medida que a referida função social é compatível com a
propriedade e com o interesse dos particulares.
III – O Patrimônio Monumental e o Momento Americano
É uma realidade evidente que a América, e em especial a América
Ibérica, constitui uma região extraordinária rica em recursos monumentais.
Aos grandiosos testemunhos das culturas pré-colombianas se agregam as
expressões monumentais, arquitetônicas, artísticas e histórico do extenso
período colonial, numa exuberante variedade de formas. Um acento próprio,
produto do fenômeno da aculturação, contribui para imprimir aos estilos
importados um sentido genuinamente americano de múltiplas manifestações
locais que os caracteriza e distingue. Ruínas arqueológicas de capital
importância, nem sempre acessíveis ou de todo exploradas, se alteram com
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
64
surpreendentes sobrevivências do passado; complexos urbanos e povoados
inteiros são suscetíveis de se tomar centros de maior interesse e atração.
É certo também que grande parte desse patrimônio se arruinou
irremediavelmente no curso das últimas décadas ou se acha hoje em perigo
iminente de perder-se. Múltiplos fatores têm contribuído e continuam
contribuindo para diminuir as reservas de bens culturais da maioria dos países
da América Ibérica, mas é necessário reconhecer que a razão fundamental da
destruição progressivamente acelerada desse potencial de riqueza reside na
falta de uma política oficial capaz de imprimir eficácia prática às medidas
protecionistas vigentes e de promover a revalorização do patrimônio
monumental em função do interesse público e para benefício econômico da
nação.
Nos momentos críticos em que a América se encontra comprometida em
um grande empenho progressista, que implica a exploração exaustiva de seus
recursos naturais e a transformação progressiva das suas estruturas
econômico-sociais, os problemas que se relacionam com a defesa, conservação e
utilização dos monumentos, sítios e conjuntos monumentais adquirem
excepcional importância e atualidade.
Todo processo de acelerado desenvolvimento traz consigo a multiplicação
de obras de infraestrutura e a ocupação de extensas áreas por instalações
industriais e construções imobiliárias que não apenas alteram, mas deformam
por completo a paisagem, apagando as marcas e expressões do passado,
testemunhos de uma tradição histórica de inestimável valor.
Grande número de cidades ibero-americanas que entesouravam, num
passado ainda próximo, um rico patrimônio monumental, evidência de sua
grande passada – templos, praças, fontes e vielas, que, em conjunto,
acentuavam sua personalidade e atração -, têm sofrido tais mutilação e
degradações no seu perfil arquitetônico que se tomam irreconhecíveis. Tudo
isso em nome de um mal entendido e pior administrado progresso urbano.
Não é exagerado afirmar que o potencial de riqueza destruída com esses
atos irresponsáveis de vandalismo urbanístico em numerosas cidades do
continente excede em muitos os benefícios advindos para a economia nacional
através das instalações e melhorias de infraestrutura com que se pretendem
justificar.
Cartas Patrimoniais:
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IV – A Solução Conciliatória
A necessidade de conciliar as exigências do progresso urbano com a
salvaguarda dos valores ambientais já é hoje em dia uma norma inviolável na
formulação dos planos reguladores, em nível tanto local como nacional. Nesse
sentido, todo plano de ordenação deverá realizar-se de forma que permita
integrar ao conjunto urbanístico os centros ou complexos históricos de
interesse ambiental.
A defesa e valorização do patrimônio monumental e artístico não se
contradizem, teórica nem praticamente, com uma política de ordenação
urbanística cientificamente desenvolvida. Longe disso, deve constituir o seu
complemento. Em confirmação a este critério se transcreve o seguinte
parágrafo do Informe Weiss, apresentado à Comissão Cultural e Científica do
Conselho da Europa (1963): “É possível equipar um país sem desfigurá-lo;
preparar e servir ao futuro sem destruir o passado. A elevação do nível da vida
não deve se limitar à realização de um bem-estar material progressivo; deve
ser associado à criação de um quadro de vida digno do homem”.
A continuidade do horizonte histórico e cultural da América, gravemente
comprometido pela entronização de um processo anárquico de modernização,
exige a adoção de medidas de defesa, recuperação e revalorização do
patrimônio monumental da região e a formulação de planos nacionais e
multinacionais a curto e a longo prazo.
É preciso admitir que os organismos internacionais especializados têm
reconhecido a dimensão do problema e vêm trabalhando com afinco, nos
últimos anos, para conseguir soluções satisfatórias. Está à disposição da
América a experiência acumulada.
A partir da Carta de Atenas, de 1932, muitos foram os congressos
internacionais que se sucederam até consolidar-se o atual critério dominante.
Entre os que mais se aprofundam no problema, contribuindo com
recomendações concretas, figuram o da União Internacional de Arquitetos
(Moscou, 1958); o Congresso da Federação Internacional de Habitação e
Urbanismo (Santiago de Compostela, 1961), que teve como tema o problema
dos conjuntos históricos; o Congresso de Veneza (1964) e o mais recente, o do
ICOMOS, em Cáceres (1967), que trazem a esse tema de tanto interesse
americano um ponto de vista eminentemente prático.
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V – Valorização Econômica dos Monumentos
Partimos do pressuposto do que os monumentos de interesse
arqueológico, histórico e artístico constituem também recursos econômicos da
mesma forma que as riquezas naturais do país. Consequentemente, as
medidas que levam a sua preservação e adequada utilização não só guardam
relação com os planos de desenvolvimento, mas fazem ou devem fazer partes
deles.
Na mais ampla esfera das relações interamericanas, reiteradas
recomendações e resoluções de diferentes organismos do sistema levaram
progressivamente o problema ao mais alto nível de consideração: a Reunião dos
Chefes de Estado (Punta del Este, 1967).
É evidente que a inclusão do problema relativo à adequada preservação
e utilização do patrimônio monumental na citada reunião corresponde às
mesmas razões fundamentais que levaram os presidentes da América a
convocá-la; a necessidade de dar à Aliança para o Progresso um novo e mais
vigoroso impulso e de oferecer, através da cooperação continental, a ajuda
necessária ao desenvolvimento econômico dos países membros da OEA.
Isso explica o emprego do termo “utilização”, que figura no ponto 2, A.
capítulo V, da Declaração dos Presidentes:
“Esforços Multinacionais...”
2. Encomendar aos organismos competentes da OEA que: [...]
d) Estendam a cooperação interamericana à conservação e utilização dos
monumentos arqueológicos, históricos e artísticos.
Mais concretamente, na resolução 2 da Segunda Reunião Extraordinária
do Conselho Interamericano Cultural, convocada com a finalidade única de dar
cumprimento ao disposto na Declaração dos Presidentes, dentro da área de
competência do conselho, diz-se:
“...A extensão da assistência técnica e a ajuda financeira ao patrimônio
cultural dos Estados Membros será cumprida em função de seu
desenvolvimento econômico e turístico”.
Em suam, trata-se de mobilizar os esforços nacionais no sentido de
procurar o melhor aproveitamento dos recursos monumentais de que se
disponha, como meio indireto de favorecer o desenvolvimento econômico do
país.
Cartas Patrimoniais:
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67
Isso implica uma tarefa prévia de planejamento em nível nacional, ou
seja, a avaliação dos recursos disponíveis e a formulação de projetos específicos
dentro de um plano de ordenação geral.
A extensão da cooperação interamericana para esse aspecto do
desenvolvimento implica o reconhecimento de que o esforço nacional não é por
si só suficiente para empreender uma ação multinacional que muitos Estados-
Membros em processo de desenvolvimento podem prover-se dos serviços
técnicos e dos recursos financeiros indispensáveis.
VI – A valorização do Patrimônio do Cultural
O termo “valorização”, que tende a tomar-se cada dia mais frequente
entre os especialistas, adquire no momento americano uma especial aplicação.
Se algo caracteriza este momento é, precisamente, a urgente necessidade de
utilizar ao máximo o cabedal de seus recursos e é evidente que entre eles
figura o patrimônio monumental das nações.
Valorizar um bem histórico ou artístico equivale a habilitá-lo com as
condições objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza ressaltem
suas características e permitam seu ótimo aproveitamento. Deve-se entender
que a valorização se realiza em função de um fim transcendente, que, no caso
da América Ibérica, seria o de contribuir para o desenvolvimento econômico da
região.
Em outras palavras, trata-se de incorporar a um potencial econômico um
valor atual; de por em produtividade uma riqueza inexplorada, mediante um
processo de revalorização que, longe de diminuir sua significação puramente
histórica ou artística, a enriquece, passando-a do domínio exclusivo de
minorias eruditas ao conhecimento e fruição de maiorias populares.
Em síntese, a valorização do patrimônio monumental e artístico implica
uma ação sistemática, eminentemente técnica, dirigida a utilizar todos e cada
um desses bens conforme a sua natureza, destacando e exaltando suas
características e méritos até colocá-los em condições de cumprir plenamente a
nova função a que estão destinados.
É preciso destacar que, em alguma medida, a área de implantação de
uma construção de especial interesse torna-se comprometida por causa da
vizinhança imediata ao monumento, o que equivale a dizer que, de certa
maneira, passará a ser parte dele quando for valorizado. As normas
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protecionistas e os planos de revalorização têm que se estender, portanto, a
todo o âmbito do monumento.
De outra parte, a valorização de um monumento exerce uma benéfica
ação reflexa sobre o perímetro urbano em que se encontra implantado e ainda
transborda dessa área imediata, estendendo seus efeitos a zonas mais
distantes.
É evidente que, na medida em que um monumento atrai a atenção do
visitante, aumentará a demanda de comerciantes interessados em instalar
estabelecimentos apropriados a sua sombra protetora. Essa é outra
consequência previsível da valorização e implica a prévia adoção de medidas
reguladoras que, ao mesmo tempo em que facilitem e estimulem a iniciativa
privada, impeçam a desnaturalização do lugar e a perda das finalidades
primordiais que se perseguem.
Do exposto se depreende que a diversidade de monumentos e edificações
de marcado interesse histórico e artístico situadas dentro do núcleo de valor
ambiental se relacionam entre si e exercem um efeito multiplicador sobre o
resto da área, que ficaria revalorizada em conjunto como consequência de um
plano de valorização e de saneamento de suas principais construções.
VII – Os monumentos em Função do Turismo
Os valores propriamente culturais não de desnaturalizam nem se
comprometem ao vincular-se com os interesses turísticos e, longe disso, a
maior atração exercida pelos monumentos e a fluência crescente de visitantes
contribuem para afirmar a consciência de sua importância e significação
nacionais. Um monumento restaurado adequadamente, um conjunto urbano
valorizado constitui não só uma lição viva de história como uma legítima razão
de dignidade nacional. No mais amplo marco das relações internacionais, esses
testemunhos do passado estimulam os sentimentos de compreensão, harmonia
e comunhão espiritual mesmo entre os povos que mantêm rivalidade política.
Tudo quanto contribuir para exaltar os valores do espírito, mesmo que a
intenção original nada tenha a ver com a cultura, há de derivar em seu
benefício. A Europa deve ao turismo, direta ou indiretamente, a salvaguarda
de uma grande parte de seu patrimônio cultural, condenado à completa e
irremediável destruição, e a sensibilidade contemporânea, mas visual que
literária, tem oportunidade de se enriquecer com a contemplação de novos
exemplos de civilização ocidental, resgatados tecnicamente graças ao poderoso
estímulo turístico.
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69
Se os bens do patrimônio cultural desempenham papel tão importante
na promoção do turismo, é lógico que os investimentos que se requerem para
sua devida restauração e habilitação específica devem se fazer
simultaneamente aos que reclama o equipamento turístico e, mais
propriamente, integrar-se num só plano econômico de desenvolvimento
regional.
A Conferência das Nações Unidas sobre Viagens Internacionais e
Turismo (Roma, 1963) não somente recomendou que se desse uma alta
prioridade aos investimentos em turismo dentro dos planos nacionais, como fez
ressaltar que, “do ponto de vista turístico, o patrimônio cultural, histórico e
natural das nações, constitui um valor substancialmente importante” e que,
em consequência, seria urgente “a adoção de medidas adequadas dirigidas a
assegurar a conservação e proteção desse patrimônio” (Informe Final, Doc. 4).
Por sua vez, a Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento das Nações
(1964) recomendou às agências e organismos de financiamento, tanto
governamentais como privados, “oferecer assistência, na forma mais
apropriada, para as obras de conservação, restauração e utilização vantajosa
de sítios arqueológicos, históricos e de beleza natural” (Resolução, Anexo A,
IV.24). Ultimamente o Conselho Econômico e Social do citado organismo
mundial, depois de recomendar à Assembleia Geral designar o ano de 1967
como “Ano do Turismo Nacional”, resolveu solicitar aos organismos das Nações
Unidas e às agências especializadas que dessem “parecer favorável às
solicitações de assistência técnica e financeira dos países em desenvolvimento,
a fim de acelerar a melhoria dos seus recursos turísticos” (Resolução 1109 XL).
Em relação a esse tema, que vem sendo objeto de especial atenção por
parte da Secretaria Geral da UNESCO, empreendeu-se um exaustivo estudo,
com a colaboração de um organismo não governamental de grande prestígio, a
União Internacional de Organizações Oficiais de Turismo. Esse estudo
confirma os critérios expostos e, depois de analisar as razões culturais,
educativas e sociais que justificam o uso da riqueza monumental em função do
turismo, insiste nos benefícios econômicos que derivam dessa política para as
áreas territoriais correspondentes. Dois pontos de particular interesse
merecem ser destacados: a) a afluência turística determinada pela
revalorização adequada de um monumento assegura a rápida recuperação do
capital investido nesse fim; b) a atividade turística que se origina da adequada
apresentação de um monumento e que, abandona, determinaria sua extinção,
traz consigo uma profunda transformação econômica da região em que esse
monumento se acha inserido.
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70
Dentro do sistema interamericano, além das numerosas recomendações
e acordos que enfatizam a importância a ser concedida, tanto em nível nacional
como regional, ao problema do abandono em que se encontra boa parte do
patrimônio cultural dos países do continente, recentes reuniões especializadas
têm abordado o tema específico da função que os monumentos de interesse
artístico e histórico representam no desenvolvimento da indústria turística. A
Comissão Técnica de Fomento do Turismo, na sua quarta reunião (julho-agosto
de 1967), resolveu solidarizar-se com as conclusões adotadas pela
correspondente Comissão de Equipamento Turístico, entre as quais figuram as
seguintes:
“Que os monumentos e outros bens de natureza arqueológica, histórica e
artística podem e devem ser devidamente preservados e utilização em função
do desenvolvimento, como principais incentivos à afluência turística”.
“Que nos países de grande riqueza patrimonial de bens de interesse
arqueológico, histórico e artístico, esse patrimônio constitui um fator decisivo
em seu equipamento turístico e, em consequência, deve ser levado em conta na
formalização dos planos correspondentes”.
“Que os interesses propriamente culturais e os de índole turística se
conjugam no que diz respeito à devida preservação e utilização do patrimônio
monumental e artístico dos povos da América, pelo que se faz aconselhável que
os organismos e unidades técnicas de uma e outra área da atividade
interamericana trabalhem nesse sentido de forma coordenada”.
Do ponto de vista exclusivamente turístico, os monumentos são parte do
equipamento que se dispõe para operar essa indústria numa região
determinada, mas à medida que o monumento possa servir ao uso a que se lhe
destina já não dependerá apenas de seu valor intrínseco, quer dizer, da sua
significação ou interesse arqueológico, histórico ou artístico, mas também das
circunstâncias adjetivas que concorram para ele e facilitem sua adequada
utilização. Daí que as obras de restauração nem sempre sejam suficientes, por
si só, para que um monumento possa ser explorado e passe a fazer parte do
equipamento turístico da região. Podem ser necessárias outras obras de
infraestrutura, tais como um caminho que facilite o acesso ao monumento ou
um albergue que aloje os visitantes ao término de uma jornada de vagem. Tudo
isso, mantido o caráter ambiental da região.
As vantagens econômicas e sociais do turismo monumental figuram nas
mais modernas estatísticas, especialmente nas dos países europeus, que devem
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sua presente prosperidade ao turismo internacional e que contam, entre suas
principais fontes de riqueza, com a reserva de bens culturais.
VIII – O interesse social e a ação cívica
É presumível que os primeiros esforços dirigidos a revalorizar o
patrimônio monumental encontrem uma ampla zona de resistência na órbita
dos interesses privados. Anos de incúria oficial e um impulsivo afã de
renovação que caracteriza as nações em processo de desenvolvimento
contribuem para difundir o menosprezo por todas as manifestações do passado
que não se ajustam ao molde ideal de um moderno estilo de vida. Carentes da
suficiente formação cívica para julgar o interesse social como uma expressão
decantada do próprio interesse individual, incapazes de apreciar o que mais
convém à comunidade a partir do remoto ponto de vista do bem público, os
habitantes de uma população contagiada pela febre do progresso não podem
medir as consequências dos atos de vandalismo urbanístico que realizam
alegremente, com a indiferença ou a cumplicidade das autoridades locais.
Do seio de cada comunidade pode e deve surgir a voz de alarme e a ação
vigilante e preventiva. O estímulo a agrupamento cívicos de defesa do
patrimônio, qualquer que seja sua denominação e composição, tem dado
excelentes resultados, especialmente em localidades que não dispõem ainda de
diretrizes urbanísticas e onde a ação protetora em nível nacional é débil ou
nem sempre eficaz.
Nada pode contribuir melhor para a tomada de consciência desejada do
que a contemplação do próprio exemplo. Uma vez que se apreciam os
resultados de certas obras de restauração e de revitalização de edifícios, praças
e lugares, costuma ocorrer uma reação favorável de cidadania que paralisa a
ação destrutiva e permite a consecução de objetivos mais ambiciosos.
Em qualquer caso, a colaboração espontânea e múltipla dos particulares
nos planos de valorização do patrimônio histórico e artístico é absolutamente
imprescindível, muito especialmente nas pequenas comunidades. Daí que, na
preparação desses planos, deve se levar em conta a conveniência de um
programa anexo de educação cívica, desenvolvido sistemática e
simultaneamente à execução do projeto.
Cartas Patrimoniais:
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IX – Os instrumentos de valorização
A adequada utilização dos monumentos de principal interesse histórico e
artístico implica primeiramente a coordenação de iniciativas e esforços de
caráter cultural e econômico-turísticos. Na medida em que esses interesses
coincidentes se unam e identifiquem, os resultados perseguidos serão mais
satisfatórios.
Não pode haver essa necessária coordenação se não existem no país em
questão as condições legais e os instrumentos técnicos que a tornem possível.
Do ponto de vista cultural, são requisitos prévios a qualquer propósito
oficial dirigido a revalorizar seu patrimônio monumental: a legislação eficaz,
organização técnica e planejamento nacional.
A integração dos projetos culturais e econômicos devem produzir-se em
nível nacional como medida prévia a toda gestão de assistência ou cooperação
exterior. Essa integração, tanto em termos técnicos como financeiros, é o
complemento do esforço nacional. Aos governos dos diferentes Estados
Membros cabe a iniciativa; aos países corresponde a tarefa prévia de formular
seus projetos e integrá-los com os planos gerais para o desenvolvimento. As
medidas e procedimentos que se seguem destinam-se a essa finalidade.
Recomendações (em nível nacional)
Os projetos de valorização do patrimônio monumental fazem parte dos
planos de desenvolvimento nacional e, consequentemente, devem a eles se
integrar. Os investimentos que se requerem para a execução dos referidos
projetos devem ser feitos simultaneamente com os que são necessários para o
equipamento turístico da zona ou região objeto de revalorização.
Compete ao governo dotar o país das condições que tornem possível a
formulação e execução dos projetos específicos de valorização.
São requisitos indispensáveis aos efeitos citados, os seguintes:
a) Reconhecimento de uma excepcional prioridade dos projetos de
valorização da riqueza monumental, dentro do Plano Nacional para o
Desenvolvimento;
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73
b) Legislação adequada ou, em sua falta, outras disposições
governamentais que facilitem o projeto de valorização fazendo prevalecer, em
todas as circunstâncias, o interesse público;
c) Direção coordenada do projeto através de um instituto idôneo, capaz
de centralizar sua execução em todas as etapas;
d) Designação de uma equipe técnica que possa contar com assistência
exterior durante a elaboração dos projetos específicos ou durante sua execução;
e) A valorização da riqueza monumental só pode ser levada a efeito
dentro de um quadro de ação planificada, quer dizer, na conformidade com um
plano regulador de alcance nacional ou regional. Consequentemente, torna-se
imprescindível a integração dos projetos que se venham a promover com os
planos reguladores existentes na cidade ou na região de que se trate. À falta
desses planos, proceder-se-á no sentido de estabelecê-los de forma adequada.
A necessária coordenação dos interesses propriamente culturais
relativos aos monumentos ou conjuntos ambientais, e os de caráter turístico
deverá produzir-se no âmago da direção coordenada do projeto a que se refere a
letra c) do inciso 3, como medida prévia de toda a gestão relativa à assistência
técnica ou à ajuda financeira externa.
A cooperação dos interesses privados e o respaldo da opinião pública são
indispensáveis para a realização de qualquer projeto de valorização. Nesse
sentido, deve-se ter presente, durante a sua formulação, o desenvolvimento de
uma campanha cívica que possibilite a formação de uma consciência pública
favorável.
Recomendações (em nível interamericano)
Reiterar a conveniência de que os países da América adotem a Carta de
Veneza como norma mundial em matéria de preservação de sítios e
monumentos históricos e artísticos, sem prejuízo de adotarem outros
compromissos e acordos que se tornem recomendáveis dentro do sistema
interamericano.
Estender o conceito generalizado de monumento às manifestações
próprias da cultura dos séculos XIX e XX.
Cartas Patrimoniais:
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74
Vincular a necessária revalorização do patrimônio monumental e
artístico das nações da América a outros países extracontinentais e, de
maneira muito especial, à Espanha e a Portugal, dada a participação histórica
de ambos na formação desse patrimônio e a comunhão dos valores culturais
que os mantêm unidos aos povos deste continente.
Recomendar à Organização dos Estados Americanos que estenda
cooperação que se propôs prestar à revalorização dos monumentos de
interesses arqueológico, histórico e artístico a outros bens do patrimônio
cultural, constituídos do acervo de museus e arquivos, bem como do acerco
sociológico do folclore nacional.
A restauração termina onde começa a hipótese, tornando-se, por isso,
absolutamente necessário em todo trabalho dessa natureza um estudo prévio
de investigação histórica. Uma vez que a Espanha conserva seus arquivos farto
material de plantas sobre as cidades da América, fortalezas e grande número
de edifícios, juntamente com copiosíssima documentação oficial, e dado que a
catalogação desses documentos imprescindíveis foi interrompida em data
anterior à da maioria das construções coloniais, o que dificulta extremamente
sua utilização, torna-se altamente necessário que a OEA coopere com a
Espanha no trabalho de atualizar e facilitar as investigações nos arquivos
espanhóis e, especialmente, nos das índias, em Sevilha.
Recomendar que seja redigido um novo documento hemisférico que
substitua o Tratado Interamericano sobre a Proteção de Móveis de Valor
Histórico (1935), capaz de proteger de maneira mais ampla e efetiva essa parte
importantíssima do patrimônio cultural do continente dos múltiplos riscos que
a ameaçam.
Enquanto não se ultima o estabelecido no item anterior, recomenda-se
que o Conselho Interamericano providencie, na sua próxima reunião, obter dos
Estados Membros a adoção de medidas de emergência capazes de eliminar os
riscos do comércio ilícito de peças do patrimônio cultural e que se ative a sua
devolução ao país de origem, uma vez provada sua exportação clandestina ou
aquisição ilegal.
Tendo em vista que a escassez de recursos humanos constitui um grava
inconveniente para a realização de planos de valorização, torna-se
recomendável tomar as providências adequadas para a criação de um centro ou
instituto especializado em matéria de restauração, de caráter interamericano.
Da mesma forma, torna-se recomendável satisfazer as necessidades em
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75
matéria de restauração de bens públicos, mediante o fortalecimento dos órgãos
existentes e a criação de outros novos.
Sem prejuízo do estabelecido anteriormente e a fim de satisfazer
imediatamente tão imperiosas necessidades, recomenda-se à Secretaria Geral
da OEA utilizar as facilidades que oferecem seus atuais programas de Bolsas e
Habilitação Extracontinental e, bem assim, celebrar com o Instituto de Cultura
Hispânica, amparado pelo acordo de cooperação técnica da OEA-Espanha e
com o Centro Regional Latino Americano de Estudos para a Conservação e
Restauração de Bens Culturais do México, amplos acordos de colaboração.
Toda vez que se torne necessário o intercâmbio de experiências sobre os
problemas próprios da América e convém manter-se uma adequada unidade de
critérios relativos à matéria, recomenda-se reconhecer a Sociedade de
Arquitetos Especializados em Restauração e Monumentos, com sede provisória
no Instituto de Cultura Hispânica, Madrid, e proporcionar sua instalação
definitiva num dos Estados Membros.
Medidas Legais
É necessário atualizar a legislação de proteção vigente nos Estados
americanos, a fim de tornar eficaz sua aplicação aos efeitos pretendidos.
É necessário revisar as disposições regulamentares locais que se aplicam
à matéria de publicidade, com o objetivo de controlar toda forma publicitária
que tenda alterar as características ambientais e zonas urbanas de interesse
histórico.
Para os efeitos de legislação de proteção, o espaço urbano que ocupam os
núcleos ou conjuntos monumentais e de interesse ambiental deve limitar-se da
seguinte forma:
a) zona de proteção rigorosa, que corresponderá à de maior densidade
monumental ou de ambiente;
b) zona de proteção ou respeito, com maior tolerância;
c) zona de proteção da paisagem urbana, a fim de procurar integrá-la
com a natureza circundante.
Ao atualizar a legislação vigente, os países deverão ter em conta o maior
valor que adquirirem os bens imóveis incluídos na zona de valorização, assim
como, até certo ponto, as limítrofes.
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Da mesma forma, deve-se tomar em consideração a possibilidade de
estimular a iniciativa privada, mediante a implantação de um regime de
isenção fiscal nos edifícios que se restaurem com capital particular e dentro dos
regulamentos estabelecidos pelos órgãos competentes. Outros desencargos
fiscais podem também ser estabelecidos como compensação às limitações
impostas à propriedade particular por motivo de utilidade pública.
Medidas Técnicas
A valorização de um monumento ou conjunto urbano de interesse
ambiental é o resultado de um processo eminentemente técnico e,
consequentemente, sua execução oficial deve ser confiada diretamente a um
órgão de caráter especializado, que centralize todas as atividades.
Cada projeto de valorização constitui um problema específico e requer
uma solução também específica.
A colaboração técnica dos peritos nas diversas disciplinas que deverão
intervir na execução de um projeto é absolutamente essencial. Da acertada
coordenação dos especialistas irá depender, em boa parte, o resultado final.
A prioridade dos projetos fica subordinada à estimativa dos benefícios
econômicos, que derivariam de sua execução para uma determinada região.
Entretanto, em tudo que for possível, deve-se ter em conta a importância
intrínseca dos bens objeto de restauração ou revalorização e a situação de
emergência em que eles se encontram.
Em geral, todo projeto de valorização envolve problemas de caráter
econômico, histórico, técnico e administrativo. Os problemas técnicos de
conservação, restauração e reconstrução variam segundo a natureza do bem
cultural. Os monumentos arqueológicos, por exemplo, exigem a colaboração de
especialistas na matéria.
A natureza e o alcance dos trabalhos que é preciso realizar em um
monumento exigem decisões prévias, produto do exaustivo exame das
condições e circunstâncias que nele concorrem. Decidida a forma de
intervenção a que deverá ser submetido o monumento, os trabalhos
subsequentes deverão prosseguir com absoluto respeito ao que evidencia sua
substância ou ao que apontam, indubitavelmente, os documentos autênticos
em que se baseia a restauração.
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77
Nos trabalhos de revalorização de zonas ambientais, torna-se necessária
a prévia definição de seus limites e valores.
A valorização de uma zona histórica ambiental, já definida e avaliada,
implica:
a) estudo e determinação de seu uso eventual e das atividades que nela
deverão desenvolver-se;
b) estudo da magnitude dos investimentos e das etapas necessárias até o
término dos trabalhos de restauração e conservação, incluídas as obras
de infraestrutura e adaptações exigidas pelo equipamento turístico para
sua valorização;
c) estudo analítico do regime especial a que a zona ficará submetida, a
fim de que as construções existentes e as futuras possam ser
efetivamente controladas;
d) a regulamentação das zonas adjacentes ao núcleo histórico deve
estabelecer, além do uso da terra e densidade da respectiva ocupação, a
relação volumétrica como fator determinante da paisagem urbana e
natural;
e) estudo do montante das inversões necessárias para o adequado
saneamento da zona a ser valorizada;
f) estudo das medidas preventivas necessárias para a manutenção
permanente de zona a valorizar.
A limitação dos recursos disponíveis e o necessário adestramento das
equipes técnicas requeridas pelos planos de valorização tornam aconselhável a
prévia formulação de um projeto piloto no local em que melhor se conjuguem os
interesses econômicos e as facilidades técnicas.
A valorização de um núcleo de interesse histórico-ambiental de extensão
que exceda as possibilidades econômicas imediatas pode e deve ser projetado
em duas ou mais etapas, que seriam executadas progressivamente, de acordo
com as conveniências do equipamento turístico. Não obstante, o projeto deve
ser concebido em sua totalidade, sem que se interrompam ou diminuam os
trabalhos de classificação, investigação e inventário.
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RECOMENDAÇÕES DE PARIS DE OBRAS
PÚBLICAS OU PRIVADAS
19 de Novembro de 1968
15ª Sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, em sua 15ª sessão, realizada em Paris, de 15
de outubro a 20 de novembro de 1968:
Considerando que a civilização contemporânea e sua evolução futura
repousam nas tradições culturais dos povos e nas forças criadoras da
humanidade, assim como em seu desenvolvimento social e econômico.
Considerando que os bens culturais são o produto e o testemunho das
diferentes tradições e realizações intelectuais do passado e constituem,
portanto, um elemento essencial da personalidade dos povos.
Considerando que é indispensável preservá-los, na medida do possível e,
de acordo com sua importância histórica e artística, valorizá-los de modo que
os povos se compenetrem de sua significação e de sua mensagem e, assim,
fortaleçam a consciência de sua própria dignidade. Considerando que essa
preservação e valorização dos bens culturais, de acordo com o espírito da
Declaração de Princípios da Cooperação Cultural Internacional, adotada em 4
de novembro de 1966, durante a 14 a sessão, favorecem uma melhor
compreensão entre os povos e, consequentemente, servem à causa da paz.
Considerando também que o bem-estar de todos os povos depende, entre
outras coisas de que sua vida se desenvolva em um meio favorável e
estimulante, e que a preservação dos bens culturais de todos os períodos de sua
história contribui diretamente para isso. Reconhecendo, por outro lado, o papel
desempenhado pela industrialização e urbanização a que tende a civilização
mundial no desenvolvimento dos povos e em sua completa realização espiritual
e nacional.
Considerando, entretanto, que os monumentos, testemunhos e vestígios
do passado pré-histórico, proto-histórico e histórico, assim como inúmeras
construções recentes que têm uma importância artística, histórica ou científica,
estão cada vez mais ameaçados pelos trabalhos públicos ou privados
resultantes do desenvolvimento da indústria e da urbanização.
Cartas Patrimoniais:
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79
Considerando que é dever dos governos assegurar a proteção e a
preservação da herança cultural da humanidade tanto quanto promover o
desenvolvimento social e econômico.
Considerando, portanto, que é necessário harmonizar a preservação do
patrimônio cultural com as transformações exigidas pelo desenvolvimento
social e econômico, e que urge desenvolver os maiores esforços para responder
a essas duas exigências em um espírito de ampla compreensão e com
referência a um planejamento apropriado.
Considerando, igualmente, que a adequada preservação e exposição dos
bens culturais contribuem poderosamente para o desenvolvimento social e
econômico dos países e das regiões que possuem esse gênero de tesouros da
humanidade, através do estímulo ao turismo nacional e internacional.
Considerando, enfim, que, em matéria de preservação de bens culturais,
a garantia mais segura é constituída pelo respeito e pela vinculação que a
própria população experimenta em relação a esses bens e que os Estados
Membros poderiam contribuir para fortalecer tais sentimentos através de
medidas adequadas.
Sendo-lhe apresentadas propostas relativas à preservação dos bens
culturais ameaçados por obras públicas ou privadas, questão que constitui o
item 16 da ordem do dia da sessão.
Após haver decidido, em sua décima terceira sessão, que as propostas
sobre esse assunto seriam objeto de uma regulamentação internacional através
de uma recomendação aos Estados Membros,
Adota, neste décimo nono dia de novembro de 1968, a presente
recomendação:
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que apliquem as
disposições seguintes, adotando as medidas legislativas ou de outra natureza,
necessárias para levar a efeito nos respectivos territórios as normas e
princípios formulados na presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que levem a
presente recomendação ao conhecimento das autoridades e órgãos
encarregados das obras públicas ou privadas, assim como ao dos órgãos
responsáveis pela conservação e pela proteção dos monumentos históricos,
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
80
artísticos, arqueológicos e científicos. Recomenda que as autoridades e órgãos
encarregados do planejamento dos programas de educação e de
desenvolvimento do turismo sejam igualmente informados.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que lhe
apresentem, nas datas e na forma a ser por ela determinada, relatórios que
digam respeito às medidas adotadas para levar a efeito a presente
recomendação.
I – Definição
Para os efeitos da presente recomendação, a expressão bens culturais se
aplicará a:
a) Bens móveis, como os sítios arqueológicos, históricos ou científicos,
edificações ou outros elementos de valor histórico, científico, artístico ou
arquitetônico, religiosos ou seculares, incluídos os conjuntos tradicionais, os
bairros históricos das zonas urbanas e rurais e os vestígios de civilizações
anteriores que possuam valor etnológico. Aplicar-se-á tanto aos imóveis do
mesmo caráter que constituam ruínas ao nível do solo como aos vestígios
arqueológicos ou históricos descobertos sob a superfície da terra. A expressão
bens culturais se estende também ao entorno desses bens.
b) Bens móveis de importância cultural, incluídos os que existem ou
tenham sido encontrados dentro dos bens imóveis e os que estão enterrados e
possam vir a ser descobertos em sítios arqueológicos ou históricos ou em
quaisquer outros lugares.
A expressão bens culturais engloba não só os sítios e monumentos
arquitetônicos, arqueológicos e históricos reconhecidos e protegidos por lei, mas
também os vestígios do passado não reconhecidos nem protegidos, assim como
os sítios e monumentos recentes de importância artística ou histórica.
II – Princípios gerais
As medidas de preservação dos bens culturais deveriam se estender à
totalidade do território do Estado e não se limitar a determinados monumentos
e sítios.
Deveriam ser mantidos inventários atualizados de bens culturais
importantes, protegidos por lei ou não. No caso de não existirem esses
Cartas Patrimoniais:
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81
inventários, seria preciso criá-los, cabendo a prioridade a um levantamento
minucioso e completo dos bens culturais situados em locais em que obras
públicas ou privadas os ameacem.
Dever-se-ia ter na devida conta a importância relativa dos bens
culturais em causa ao se determinarem medidas necessárias para assegurar:
a) A preservação do conjunto de um sítio arqueológico, de um
monumento ou de outros tipos de bens culturais imóveis contra os efeitos das
obras públicas e privadas.
b) O salvamento ou o resgate dos bens culturais situados em local que
deva ser transformado pela execução de obras públicas ou privadas, e que
deverão ser preservados e traslados, no todo ou em parte.
As medidas a serem adotadas deveriam variar em função da natureza,
das dimensões e da situação dos bens culturais, assim como do caráter dos
perigos a que estão expostos.
As medidas destinadas a preservar ou a salvar os bens culturais
deveriam ter caráter preventivo e corretivo.
As medidas preventivas e corretivas deveriam ter por finalidade
assegurar a proteção ou o salvamento dos bens culturais ameaçados por obras
públicas ou privadas, tais como:
a) Os projetos de expansão ou de renovação urbana, ainda que respeitem
monumentos protegidos por lei, mas possam vir a modificar estruturas de
menor importância e, assim, destruir as vinculações e o quadro que envolve os
monumentos nos bairros históricos.
b) Obras similares em locais onde conjuntos tradicionais de valor
cultural possam correr perigo de destruição por não se constituírem em
monumentos protegidos por lei.
c) Modificações ou reparos inoportunos de edificações históricas isoladas.
d) A construção ou alteração de vias de grande circulação, o que constitui
um perigo especialmente grave para os sítios, monumentos ou conjuntos de
monumentos de importância histórica.
Cartas Patrimoniais:
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82
e) A construção de barragens para irrigação, produção de energia
hidroelétrica, ou controle de inundações.
f) A construção de oleodutos e de linhas de transmissão de energia
elétrica.
g) Os trabalhos agrícolas, como a aradura profunda da terra, as
operações de ressecação e de irrigação, desmatamento e nivelamento de terras
e reflorestamento.
h) Os trabalhos exigidos pelo desenvolvimento da indústria e pelos
progressos técnicos das sociedades industrializadas, como a construção de
aeródromos, a exploração de minas e de pedreiras e a dragagem e recuperação
de canais e de portos, etc.
Os Estados Membros deveriam dar a devida prioridade às medidas
necessárias para garantir a conservação in situ dos bens culturais ameaçados
por obras públicas ou privadas e manter-lhes, assim, a continuidade e
significação histórica. Quando uma imperiosa necessidade econômica ou social
impuser o traslado, o abandono ou a destruição de bens culturais, os trabalhos
de salvamento deveriam sempre compreender um estudo minucioso desses
bens e o registro completo dos dados de interesse.
Deveriam ser publicados ou, de algum outro modo, postos à disposição
dos futuros pesquisadores os resultados dos estudos de interesse científico e
histórico empreendidos em relação aos trabalhos de salvamento de bens
culturais, especialmente quando os bens culturais imóveis, em grande parte ou
na totalidade, tenham sido abandonados ou destruídos.
As edificações e outros monumentos culturais importantes que tenham
sido trasladados para evitar sua destruição por obras públicas ou privadas
deveriam ser reinstalados em um sítio ou ambiente semelhante ao de sua
implantação primitiva e ao de suas vinculações naturais, históricas ou
artísticas.
Os bens culturais móveis de grande interesse, e especialmente os
espécimes representativos de objetos procedentes de escavações arqueológicas
ou encontrados durante trabalhos de salvamentos, deveriam ser preservados
para estudos ou expostos em museus, inclusive os museus dos sítios ou das
universidades.
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83
III – Medidas de preservação e salvamento
A preservação ou o salvamento dos bens culturais ameaçados por obras
públicas ou privadas deveria ser assegurada pelos meios abaixo relacionados,
cabendo à legislação e à organização de cada Estado precisar as medidas:
a) Legislação;
b) Financiamento;
c) Medidas administrativas;
d) Métodos de preservação e salvamento dos bens culturais;
e) Sanções;
f) Reparações;
g) Recompensas;
h) Assessoramento;
i) Programas educacionais;
Legislação
Os Estados membros deveriam promulgar ou manter em vigor, tanto em
escala nacional quanto regional, uma legislação que assegure a preservação ou
o salvamento dos bens culturais ameaçados pela realização de obras públicas
ou privadas, de acordo com as normas e princípios definidos nesta
recomendação.
Financiamento
Os Estados membros deveriam prever os estabelecimentos de créditos
necessários para as operações de preservação de salvamento dos bens culturais
ameaçados pela realização de obras públicas ou privadas. Ainda que a
diversidade dos sistemas jurídicos e das tradições, assim como a desigualdade
dos recursos, não permitam a adoção de medidas uniformes, deveriam ser
levadas em consideração as seguintes possibilidades:
a) As autoridades nacionais ou regionais encarregadas de salvaguarda
dos bens culturais deveriam dispor de um orçamento suficiente para poderem
assegurar a preservação ou o salvamento dos bens culturais ameaçados por
obras públicas ou privadas; ou
b) As despesas referentes à preservação ou ao salvamento dos bens
culturais ameaçados pela realização de obras públicas ou privadas, inclusive as
investigações arqueológicas preliminares, deveriam constar do orçamento
dessas obras; ou
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84
c) Deveria ser possível combinar os dois métodos mencionados nas
alíneas “a” e “b” acima.
Se a magnitude ou a complexidade dos trabalhos necessários tornarem o
montante das despesas excepcionalmente elevado, deveria ser possível obter
crédito suplementares através de legislação competente, mediante a concessão
de subvenções especiais ou a criação de um fundo nacional para a salvaguarda
dos monumentos, ou por qualquer outro meio apropriado. Os serviços
responsáveis pela salvaguarda dos bens culturais deveriam estar habilitados a
administrar ou utilizar os créditos extra-orçamentários necessário para a
preservação ou para o salvamento dos bens culturais ameaçados pela
realização de obras públicas ou privadas. Os Estados Membros deveriam
encorajar os proprietários de edificações que tenham importância artística ou
histórica, inclusive as que façam parte de um conjunto tradicional, assim como
os habitantes de bairros históricos, de áreas urbanas ou rurais, a preservarem
o caráter e a beleza dos bens culturais de que dispõem e que possam vir a
sofrer danos em consequência de obras públicas ou privadas, através das
medidas que se seguem:
a) Diminuir de impostos; ou
b) Estabelecimento, através de uma legislação adequada, de um
orçamento destinado a ajudar, mediante subvenções, empréstimo ou outras
medidas, as autoridades locais, as instituições e os proprietários privados de
edificações que tenham um interesse artístico, arquitetônico, científico ou
histórico, inclusive os conjuntos tradicionais, a garantirem a manutenção ou a
adequada adaptação dessas edificações ou conjuntos a funções que respondam
às necessidades da sociedade contemporânea; ou
c) Deveria ser possível combinar dois métodos mencionados nas alíneas
“a” e “b” acima.
Se os bens culturais não são protegidos por lei ou de outro modo, o
proprietário deveria ter a oportunidade de requisitar a ajuda necessária das
autoridades competentes.
As autoridades nacionais ou locais, assim como os proprietários
privados, deveriam levar em conta, para fixar o montante dos fundos
destinados à conservação dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou
privadas, o valor intrínseco de tais bens e a contribuição que podem
proporcionar à economia como polos de atração turística.
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85
Medidas Administrativas
A responsabilidade pela preservação e pelo salvamento dos bens
culturais ameaçados por obras públicas ou privadas deveriam competir a
organismos oficiais apropriados. Onde já funcionem órgãos ou serviços oficiais
de proteção dos bens culturais deveria competir-lhes a proteção dos bens
culturais ameaçados por obras públicas ou privadas. Se não houver tais
serviços, órgãos ou serviços especiais deveriam ser encarregados da
preservação dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas;
embora a diversidade dos dispositivos constitucionais e da tradição dos
Estados Membros impeça a adoção de um sistema uniforme, alguns princípios
comuns deveriam ser adotados:
a) Um órgão consultivo ou de coordenação composto de representantes
das autoridades encarregadas da salvaguarda dos bens culturais, das
empresas de obras públicas ou privadas, do planejamento urbano e das
instituições de pesquisa e educação deveria estar habilitado a prestar
assessoria em matéria de preservação dos bens culturais ameaçados por obras
públicas ou privadas, e, em especial, cada vez que entrarem em conflito as
necessidades da execução de obras públicas ou privadas e os trabalhos de
preservação e salvamento dos bens culturais.
b) As autoridades locais (estaduais, municipais ou outras) deveriam
também dispor de serviços encarregados de preservação e do salvamento dos
bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas. Esses serviços
deveriam dispor da possibilidade de obter ajuda dos serviços nacionais, ou de
outros órgãos apropriados, de acordo com suas atribuições e necessidades.
c) Os serviços de salvaguarda dos bens culturais deveriam contar com
pessoal qualificado, especialistas competentes em matéria de preservação dos
bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas: arquitetos,
urbanistas, arqueológicos, historiadores, inspetores e outros especialistas
técnicos.
d) Deveriam ser tomados medidas administrativas para coordenar as
atividades dos diversos serviços responsáveis pela salvaguarda dos bens
culturais e as de outros serviços encarregados de obras públicas ou privadas e
as dos demais serviços cujas funções tenham relação com o problema de
preservar ou salvar os bens culturais ameaçados por obras públicas ou
privadas.
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86
e) Deveriam ser adotadas as medidas administrativas para designar
uma autoridade ou uma comissão encarregada dos programas de
desenvolvimento urbano em todas as comunidades que possuam bairros
históricos, sítios e monumentos de interesse, protegidos ou não pela lei, que
seja preciso proteger contra a ameaça de outras públicas ou privadas.
Por ocasião dos estudos preliminares sobre projetos de construção em
um local de reconhecimento cultural, ou no qual seja provável encontrar
objetos de valor arqueológico ou histórico, conviria, antes que uma decisão
fosse tomada, que se elaborassem diversas variantes deveria basear-se em
uma análise comparativa de todos os elementos com o objetivo de adotar a
solução mais vantajosa, tanto do ponto de vista econômico quanto no que diz
respeito à preservação e ao salvamento dos bens culturais.
Métodos de preservação e salvamento dos bens culturais
Com a devida antecedência à realização de obras públicas ou privadas
que ameacem os bens culturais, deveriam ser realizados aprofundados estudos
para determinar:
a) As medidas a serem tomadas para assegurar a proteção in situ dos
bens culturais importantes.
b) A extensão dos trabalhos de salvamento necessários, tais como a
escolha dos sítios arqueológicos a serem escavados, os edifícios a serem
trasladados e os bens culturais móveis cujo salvamento seja necessário
garantir.
As medidas destinadas a preservar ou a salvar os bens culturais
deveriam ser tomadas com suficiente antecipação ao início de obras públicas ou
privadas. Nas regiões importantes do ponto de vista arqueológico ou cultural,
tais como cidades, aldeias, sítios e bairros históricos, que deveriam estar
protegidos pela legislação de cada país, qualquer nova construção deveria ser
obrigatoriamente precedida de escavações arqueológicas de caráter preliminar.
Se necessário, os trabalhos de construção deveriam ser retardados para
permitir a adoção de medidas indispensáveis a assegurar a preservar ou o
salvamento dos bens culturais.
Deveria ser assegurada a salvaguarda dos sítios arqueológicos
importantes, sobretudo os sítios pré-históricos que estão particularmente
ameaçados por serem difíceis de reconhecer, dos bairros históricos dos centros
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87
urbanos ou rurais, dos conjuntos tradicionais, dos vestígios etnológicos de
civilizações anteriores e de outros bens culturais imóveis que, sem isso, seriam
ameaçados por obras públicas ou privadas, através de medidas que
estabeleçam a proteção legal ou a criação de zonas protegidas:
a) As reservas arqueológicas deveriam ser objeto de medidas de
zoneamento ou de proteção legal e, eventualmente, de aquisição imobiliária,
para que seja possível efetuar escavações profundas ou preservar os vestígios
descobertos.
b) Os bairros históricos dos centros urbanos ou rurais e os conjuntos
tradicionais deveriam estar registrados como zonas protegidas e uma
regulamentação adequada para preservar o entorno e seu caráter deveria ser
adotada, que permitisse, por exemplo, determinar e decidir em que medidas
poderiam ser reformados os edifícios de importância histórica ou artística e a
natureza e o estilo das novas construções. A preservação dos monumentos
deveria ser uma condição essencial em qualquer plano de urbanização,
especialmente quando se tratar de cidades ou bairros históricos. Os arredores e
o entorno de um monumento ou de um sítio protegido por lei deveriam também
ser objeto de disposições análogas para que seja preservado o conjunto de que
fazem parte e seu caráter. Deveriam ser permitidas modificações na
regulamentação ordinária relativa às novas construções, que poderia ser
suspensa quando se tratar de edificações a serem erigidas em uma zona de
interesse histórico. Deveria ser proibida a publicidade comercial através de
cartazes ou anúncios luminosos, mas as empresas comerciais poderiam ser
autorizadas a indicar sua presença por meio de uma sinalização corretamente
apresentada.
Os Estados Membros deveriam impor a qualquer pessoa que encontre
vestígios arqueológicos durante a realização de obras públicas ou privadas a
obrigação de comunicar seu achado o mais rápido possível ao serviço
competente. Esse serviço submeteria a descoberta a um detido exame e, se o
sítio revelasse importante, deveriam ser suspensas as obras de construção
para permitir as escavações completas, previstas indenizações ou
compensações adequadas pelo atraso ocasionado.
Os Estados Membros deveriam adotar disposições que permitam às
autoridades nacionais ou locais ou aos órgãos competentes adquirir os bens
culturais importantes que corram perigo em consequência de obras públicas ou
privadas. Caso necessário, essas aquisições poderiam ser feitas através de
expropriação.
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88
Sanções
Os Estados Membros deveriam adotar as medidas necessárias para que
as infrações cometidas intencionalmente ou por negligência em relação à
preservação ou ao salvamento de bens culturais ameaçados por obras públicas
ou privadas que sejam severamente punidas por seus códigos penais, que
deveriam prever penas de multa ou de prisão, ou ambas.
Poder-se-iam adotar, além disso, as seguintes medidas:
a) Quando for possível, restauração do sítio ou do monumento às
expensas dos responsáveis pelos danos causados.
b) Em caso de achado arqueológico futuro, pagamento de indenização
por perdas e danos ao Estado quando hajam sido deteriorados, destruídos, mal
conservados ou abandonados bens culturais imóveis; confisco sem indenização,
de bens móveis, que tenham sido ocultados.
Reparações
Os Estados Membros deveriam adotar, quando a natureza do bem o
permitir, as medidas necessárias para assegurar a reparação, a restauração ou
a reconstrução dos bens culturais deteriorados por obras públicas ou privadas.
Deveriam prever também a possibilidade de obrigar as autoridades locais e os
proprietários particulares de bens culturais importantes a procederem às
reparações ou às restaurações, sendo-lhes concedida assistência técnica ou
financeira, se necessário.
Recompensas
Os Estados Membros deveriam encorajar os particulares, as associações
e as municipalidades a partir dos programas de preservação ou de salvamento
dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas. Para isso, entre
outras, poder-se-iam adotar as seguintes medidas:
a) Efetuar pagamento, a título de gratificação, às pessoas que
notificarem achados arqueológicos ou entregarem os objetos descobertos;
b) Outorgar certificados, medalhas ou outras formas de reconhecimento
às pessoas – inclusive as que desempenhem funções nos órgãos de governo, em
associações, em instituições ou nas municipalidades – que tenham prestado
Cartas Patrimoniais:
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89
eminente colaboração aos programas de preservação e salvamento de bens
culturais ameaçados por obras públicas ou privadas;
Assessoramento
Os Estados Membros deveriam proporcionar aos particulares, a
associações ou a prefeituras que não dispõem de experiência ou de pessoal
necessário, assessoramento técnico ou supervisão que lhes permitam assegurar
a manutenção de normas adequadas em relação à preservação ou ao
salvamento de bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas.
Programas Educativos
Em espírito de colaboração internacional, os Estados Membros deveriam
empenhar-se em estimular e fomentar entre seus nacionais o interesse e o
respeito pelo seu próprio patrimônio cultural e pelo de outros povos, como
objetivo de assegurar a preservação ou o salvamento dos bens culturais
ameaçados por obras públicas ou privadas.
Publicações especializadas, artigos na imprensa e programas de rádio e
de televisão deveriam divulgar a natureza dos perigos que obras públicas ou
privadas mal concebidas podem ocasionar aos bens culturais, assim como
exemplos de casos em que bens culturais hajam sido eficazmente preservados
ou salvos.
Estabelecimentos de ensino, associações históricas e culturais, órgãos
públicos que se ocupam do desenvolvimento do turismo e associações de
educação popular deveriam desenvolver programas destinados a tornar
conhecidos os perigos que as obras públicas ou privadas realizadas sem a
devida preparação podem ocasionar aos bens culturais e a enfatizar que as
atividades destinadas a preservar os bens culturais contribuem para a
compreensão internacional.
Museus, instituições educativas ou outras organizações interessadas
deveriam preparar exposições especiais para ilustrar os perigos que as obras
públicas ou privadas não controladas representam para os bens culturais e as
medidas que tenham sido adotadas para garantir a preservação ou o
salvamento dos bens culturais ameaçados por essas obras.
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90
CONVENÇÃO SOBRE AS MEDIDAS A SEREM
ADOTADAS PARA PROIBIR E IMPEDIR A
IMPORTAÇÃO, EXPORTAÇÃO E TRANSFERÊNCIA
DE PROPRIEDADE ILÍCITA DOS BENS
CULTURAIS
De 12 de Outubro a 14 de Novembro de 1970
16ª Sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação a Ciência e a Cultura, reunida em Paris, de 12 de outubro a 14 de
novembro de 1970, em sua décima sexta sessão,
Recordando a importância das disposições contidas na Declaração dos
Principais da Cooperação Cultural Internacional, adotada pela Conferencial
Geral em sua décima quarta sessão.
Considerando que o intercâmbio de bens culturais entre as nações para
fins científicos, culturais e educativos aumenta o conhecimento da civilização
humana, enriquece a vida cultural de todos os povos e inspira o respeito mútuo
e a estima entre as nações.
Considerando que os bens culturais constituem um dos elementos
básicos da civilização e da cultura dos povos, e que seu verdadeiro valor só
pode se apreciado quando se conhecem, com a maior precisão, sua origem, sua
história e seu meio-ambiente,
Considerando que todo Estado tem o dever de proteger o patrimônio
constituído pelos bens culturais existentes em seu território contra os perigos
de roubo, escavação clandestina e exportação ilícita.
Considerando que para evitar, esses perigos é essencial que todo Estado
tome cada vez mais consciência de sue dever moral de respeitar seu próprio
patrimônio cultural e o de todas as outras nações.
Considerando que os museus, bibliotecas e arquivos, como instituições
culturais que são, devem velar para que suas coleções sejam constituídas em
conformidade com os princípios morais universalmente reconhecidos,
Cartas Patrimoniais:
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91
Considerando que a importação, exportação e transferência de
propriedade ilícitas dos bens culturais dificultam a compreensão entre as
nações a qual a UNESCO tem o dever de promover, como parte de sua missão,
recomendando aos Estados interessados que celebrem convenções
internacionais para esse fim,
Considerando que a proteção ao patrimônio cultural só pode ser eficaz se
organizada, tanto em bases nacionais quanto internacionais, entre Estados que
trabalhem em estreita cooperação,
Considerando que a Conferencia Geral da UNESCO já adotou em 1964
uma Recomendação em tal sentido.
Havendo examinado n ovas propostas relativas às medidas para proibir
e evitar a importação, exportação e transferência de propriedade ilícitas dos
bens culturais, questão que constitui o item 19 da agenda da sessão,
Havendo decidido, em sua décima quinta sessão, que tal questão seria
objeto de uma convenção internacional,
Adota, aos quatorze dias do mês de novembro de 1970, a presente
Convenção.
ARTIGO 1
Para os fins da presente Convenção, a expressão "bens culturais"
significa quaisquer bens que, por motivos religiosos ou profanos, tenham sido
expressamente designados por cada Estado como de importância para a
arqueologia, a pré-história, a história, a literatura, a arte ou a ciência, e que
pertençam às seguintes categorias:
a) as coleções e exemplares raros de zoologia, botânica, mineralogia e
anatomia, e objeto de interesse paleontológico;
b) os bens relacionados com a história, inclusive a história da ciência e
da tecnologia, com a história militar e social, com a vida dos grandes
estadistas, pensadores, cientistas e artistas nacionais e com os acontecimentos
de importância nacional;
c) o produto de escavação arqueológicas (tanto as autorizadas quanto as
clandestinas) ou de descobertas arqueológicas;
Cartas Patrimoniais:
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92
d) elementos procedentes do desmembramento de monumentos
artísticos ou históricos e de lugares de interesse arqueológico;
e) antiguidade de mais de cem anos, tais como inscrições, moedas e selos
gravados;
f) objetos de interesse etnológico;
g) os bens de interesse artístico, tais como:
i) quadros, pinturas e desenhos feitos inteiramente a mão sobre
qualquer suporte e em qualquer material (com exclusão dos desenhos
industriais e dos artigos manufaturados decorados a mão);
ii) produções originais de arte estatuária e de escultura em qualquer
material;
iii) gravuras, estampas e litografias originais;
iv) conjuntos e montagens artísticas em qualquer material;
h) manuscritos raros e incunabulos, livros, documentos e publicações
antigos de interesse especial (histórico, artístico, científico, literário, etc),
isolados ou em coleções;
i) selos postais, fiscais ou análogos, isoladas ou em coleções;
j) arquivos, inclusive os fonográficos, fotográficos e cinematográficos;
k) peças de mobília de mais de cem anos e instrumentos musicais
antigos.
ARTIGO 2
1. Os Estados Partes na presente Convenção reconhecem que a
importação, a exportação e a transferência de propriedade ilícitas dos bens
culturais constituem uma das principais causas do empobrecimento do
patrimônio cultural dos países de origem de tais bens, e que a cooperação
internacional constitui um dos meios mais eficientes para proteger os bens
culturais de cada país contra os perigos resultantes daqueles atos.
2. Para tal fim, os Estados Partes comprometem-se a combater essas
práticas com meios de que disponham, sobretudo suprimento suas causas,
fazendo cessar seu curso, e ajudando a efetuar as devidas reparações.
Cartas Patrimoniais:
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93
ARTIGO 3
São ilícitas a importação, exportação ou transferência de propriedade de
bens culturas realizadas em infração das disposições adotadas pelos Estados
Partes nos termos da presente Convenção.
ARTIGO 4
Os Estados Partes na presente Convenção reconhecem que, para os
efeitos desta, fazem parte do patrimônio cultural de cada Estado os bens
pertencentes a cada uma das seguintes categorias:
a) os bens culturais criados pelo gênio individual ou coletivo de nacionais
do Estado em questão, e bens culturais de importância para o referido Estado
criados, em seu território, por nacionais de outros Estados ou por apátridas
residentes em seu território;
b) bens culturais achados no território nacional;
c) bens culturais adquiridos por missões arqueológicas, etnológicas ou
ciências naturais com o consentimento das autoridades competentes do país de
origem dos referidos bens;
d) bens culturais que hajam sido objeto de um intercâmbio livremente
acordado;
e) bens culturais recebidos a titulo gratuito ou comprados legalmente
com o consentimento das autoridades competentes do país de origem dos
referidos bens.
ARTIGO 5
A fim de assegurar a proteção de seus bens culturais contra a
importação, a exportação e a transferência de propriedade ilícitas, os Estados
Partes na presente Convenção se comprometem, nas condições adequadas a
cada pais, a estabelecer em seu território, se ainda não existiram, um ou mais
serviços de proteção ao patrimônio cultural dotados de pessoal qualificado em
número suficiente para desempenhar as seguintes funções:
a) contribuir para a preparação de projetos de leis e regulamentos
destinados a assegurar a proteção ao patrimônio cultural e particularmente a
prevenção da importação, exporta e transferência de propriedade ilícitas de
bens culturais importantes;
Cartas Patrimoniais:
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94
b) estabelecer e manter em dia, com base em um inventário nacional de
bens sob proteção, uma lista de bens culturais públicos e privados importantes,
cuja exportação constituiria um considerável empobrecimento do patrimônio
cultural nacional;
c) promover o desenvolvimento ou a criação das instituições científicas e
técnicas (museus, bibliotecas, arquivos, laboratórios, oficinas, etc.) necessárias
para assegurar a preservação e a boa apresentação dos bens culturais.
d) organizar a supervisão das escavações arqueológicas, assegurar a
preservação in situ de certos bens culturais, e proteger certas áreas reservadas
para futuras pesquisas arqueológicas;
e) estabelecer, com destino aos interessados (administradores de museus
colecionadores, antiquários etc.), normas em conformidade com os princípios
éticos enunciados na presente Convenção, e tomar medidas para assegurar o
respeito a essas normas;
f) tomar medidas de caráter educacional para estimular e desenvolver o
respeito ao patrimônio cultural de todos o conhecimento das disposições da
presente Convenção;
g) cuidar para que seja dada a publicidade apropriada aos casos de
desaparecimento de um bem cultural.
ARTIGO 6
Os Estados Partes na presente Convenção se comprometem a:
a) estabelecer um certificado apropriado no qual o Estado exportador
especifique que a exportação do bem ou bens culturais em questão foi
autorizada. Tal certificado devera acompanhar todos os bens culturais
exportados em conformidade com o regulamento;
b) proibir a exportação de bens culturais de seu território, salvo se
acompanhados de certificados de exportação acima mencionado;
c) dar publicidade a essa proibição pelos meios apropriados,
especialmente ente as pessoas que possam exportar e importar bens culturais.
ARTIGO 7
Os Estados Partes na presente Convenção se comprometem a:
Cartas Patrimoniais:
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95
a) tomar as medidas necessárias, em conformidade com a legislação
nacional, para impedir que museus e outras instituições similares situadas em
seu território adquiram bens culturais, procedentes de outro Estado Parte, que
tenham sido ilegalmente exportados após a entrada em vigor da presente
Convenção para os Estados em questão; informar, sempre que possível , um
Estado Parte na presente Convenção, sobre alguma oferta de bens culturais
ilegalmente removidos daquele Estado após a entrada em vigor da presente
Convenção para ambos os Estados;
b) (i) proibir a importação de bens culturais roubados de um museu, de
um monumento público civil ou religioso, ou de uma instituição similar
situados no território de outro Estado Parte na presente Convenção, após a
entrada em vigor para os Estados em questão, desde que fique provado que
tais bens fazem parte do inventário daquela instituição;
ii) tomar as medidas apropriadas, mediante solicitação do Estado Parte
de origem, para recuperar e restituir quaisquer bens culturais roubados e
importados após a entrada em vigor da presente Convenção para ambos os
Estados interessados, desde que o Estado solicitante pague justa compensação
a qualquer comprador de boa fé ou a qualquer pessoal que detenha a
propriedade legal daqueles bens. As solicitações de recuperação e restituição
serão feitas por via diplomática. A Parte solicitante deverá fornecer, a suas
expensas, a documentação e outros meios de prova necessários para
fundamentar sua solicitação de recuperação e restituição. As Partes não
cobrarão direitos aduaneiros ou outros encargos sobre os bens culturais
restituídos em conformidade com este artigo. Todas as despesas relativas á
restituição e à entrega dos bens culturais serão pagas pela Parte Solicitante.
ARTIGO 8
Os Estados Partes na presente Convenção e comprometem a impor
sanções penais ou administrativas a qualquer pessoa responsável pela infração
das proibições contidas nos artigos 6 (b) e 7 (b) acima.
ARTIGO 9
Qualquer Estado Parte na presente Convenção, cujo patrimônio cultural
esteja ameaçado em consequência da pilhagem de materiais arqueológicos ou
etnológicos, poderá apelar para os outros Estados Partes que estejam
envolvidos. Os Estados partes na presente Convenção se comprometem, em
tais circunstâncias, a participar de uma ação internacional concertada para
determinar e aplicar as medidas concretas necessárias, inclusive o controle das
exportações e importações do comércio internacional dos bens culturais em
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
96
questão. Enquanto aguarda a celebração de um acordo. Cada Estado
interessado deverá tomar medidas provisórias, dentro do possível, para evitar
danos irremediáveis ao patrimônio cultural do Estado Solicitante.
ARTIGO 10
Os Estados Partes na presente Convenção se comprometem a:
a) restringir, através da educação informação e vigilância, a circulação
de qualquer bem cultural removido ilegalmente de qualquer Estado Parte na
presente Convenção, e, na forma apropriada para cada pais, obrigar os
antiquários, sob pena se sofrerem sanções penais ou administrativas, a manter
um registro que mencione a procedência de cada bem cultural, o nome e o
endereço do fornecedor, a descrição e o preço de cada bem vendido, assim como
a informarem ao comprador um bem cultural da proibição de exportação à qual
possa estar sujeito tal bem;
b) esforçar-se, por meios educacionais, para incutir e desenvolver na
mentalidade pública a consciência do valor dos bens culturais e da ameaça que
representam para o patrimônio cultural o roubo, as escavações clandestinas e a
exportação ilícita.
ARTIGO 11
A exportação e a transferência de propriedade compulsória de bens
culturais, que resultem direta ou indiretamente da ocupação de um país, por
uma potência estrangeira, serão consideradas ilícitas.
ARTIGO 12
Os Estados Partes na presente Convenção respeitarão o patrimônio
cultural dos territórios por cujas relações internacionais sejam responsáveis, e
deverão tomar todas as medidas apropriadas para proibir e impedir a
importação, exportação e transferência de propriedades ilícitas de bens
culturais naqueles territórios.
ARTIGO 13
Os Estados Partes na presente Convenção comprometem-se, também -
obedecida a legislação interna de cada Estado, a:
a) impedir, por todos os meios apropriados, as transferências de
propriedade de bens culturais que tendam a favorecer a importação ou
exportação ilícitas de tais bens;
Cartas Patrimoniais:
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97
b) assegurar que seus serviços competentes cooperem para facilitar a
restituição o mais breve possível, a restituição o mais breve possível, a seu
proprietário de direito, de bens culturais licitamente exportados;
c) admitir ações reivindicatórias de bens culturais roubados ou perdidos
movidas por seus proprietários de direito ou em seu nome;
d) reconhecer o direito imprescritível de cada Estado Parte na presente
Convenção de classificar e declarar inalienáveis certos bens culturais, os quais,
ipso facto, não poderão ser exportados, e facilitar a recuperação de tais bens
pelo Estado interessado, no caso de haverem sido exportados.
ARTIGO 14
A fim de impedir as exportações ilícitas, e cumprir as obrigações
decorrentes da implementação da presente Convenção, cada Estado Parte na
mesma deverá, na medida de suas possibilidades, dotar os serviços nacionais
responsáveis pela proteção a seu patrimônio cultural de uma verba adequada,
e, se necessária, criar um fundo para tal fim.
ARTIGO 15
Nada na presente Convenção impedirá os Estados Partes na mesma de
concluírem acordos especiais entre si, ou de continuarem a implementação de
acordos já concluídos, sobre a restituição de bens culturais removidos, por
qualquer razão, de seu território de origem, antes da entrada em vigor da
presente Convenção para os Estados em questão.
ARTIGO 16
Os Estados Partes na presente Convenção deverão, em seus relatórios
periódicos à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, nas datas e na forma por ela determinadas, prestar informações sobre
as disposições legislativas e administrativas e outras medidas que hajam
adotado para a aplicação da presente Convenção, juntamente com pormenores
da experiência adquirida no setor em questão.
ARTIGO 17
1. Os Estados Partes na presente Convenção poderão solicitar a
assistência técnica da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura, especialmente com relação a:
a) informação e educação;
b) consultas e pareceres de peritos;
c) coordenação e bons ofícios.
Cartas Patrimoniais:
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2. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, poderá, por sua própria iniciativa, realizar pesquisas e publicar
estudos sobre assuntos pertinentes a circulação ilícita de bens culturais.
3. Para tal fim, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura poderá também solicitar a cooperação de qualquer
organização não governamental competente.
4. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura poderá, por sua própria iniciativa, fazer propostas aos Estados Partes
com vistas à implementação da presente Convenção.
5. Mediante solicitação de, pelo menos, dois Estados partes na presente
Convenção que se achem envolvidos em uma controvérsia a respeito de sua
implementação, a UNESCO poderá oferecer seus bons ofícios a fim de qua seja
alcançada uma composição entre eles.
ARTIGO 18
A presente Convenção é redigida em espanhol, francês, inglês, e russo os
quatro textos fazendo igualmente fé.
ARTIGO 19
1. A presente Convenção é sujeita a ratificação ou aceitação dos Estados
Membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, em conformidade com seus respectivos processos constitucionais.
2. Os instrumentos de ratificação ou de aceitação serão depositados
junto ao Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura.
ARTIGO 20
1. As presente Convenção ficará aberta adesão de qualquer Estado não-
membro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura que sejam convidados a ela aderir pelo Conselho Executivo da
Organização.
2. A adesão será efetuada pelo depósito de um instrumento de adesão
junto ao Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação a
Ciência e a Cultura.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
99
ARTIGO 21
A presente Convenção entrará em vigor três meses após do depósito do
terceiro instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão, mas apenas em
relação aos Estados que tenham depositado seus respectivos instrumentos
nessa data ou anteriormente. Ela entrará em vigor para qualquer outro Estado
três meses após a data do depósito de seu instrumento de ratificação aceitação
ou adesão.
ARTIGO 22
Os Estados Partes na presente Convenção reconhecem que a mesma é
aplicável não apenas a seus territórios metropolitanos, mas também, a todos os
territórios por cujas relações internacionais sejam responsáveis; eles se
comprometem a consultar, se necessário, os Governos ou outras autoridades
competentes desses territórios no momento da ratificação, aceitação ou adesão,
ou, anteriormente, com vista a assegurar a aplicação da Convenção àqueles
territórios, e a notificar o Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas
para a Educação a Ciência e a Cultura sobre os territórios aos quais ela se
aplica, devendo a referida notificação produzir efeito três meses após a data do
seu recebimento.
ARTIGO 23
1. Cada um dos Estados Partes na presente Convenção poderá denuncia-
la em seu próprio nome ou em nome de qualquer território por cujas relações
internacionais seja responsável.
2. A denúncia será notifica por meio de um instrumento escrito, que será
depositado junto ao Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura.
3. A denúncia produzirá efeitos doze meses após o recebimento do
instrumento de denúncia.
ARTIGO 24
O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura informará os Estados membros da Organização, os Estados
não-membros da Organização mencionados no artigo 20, bem como as Nações
Unidas, do depósito de todos os instrumentos de ratificação, aceitação e adesão
previstos nos artigos 19 e 20, e das notificações se denúncias previstas nos
artigos 22 e 23, respectivamente.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
100
ARTIGO 25
1. A presente Convenção poderá ser revista pela Conferência Geral da
Organização das Nações para a Educação, a Ciência e a Cultura. A revisão,
entretanto, só vinculará os Estados que se tornarem partes na convenção
revisora.
2. Se a Conferência Geral adotar uma nova convenção que constitua
uma revisão da presente no todo ou em parte, e a menos que a nova convenção
disponha de outra forma, a presente Convenção deixará de estar aberta à
ratificação, aceitação ou adesão a partir da data da entrada em vigor da nova
convenção revisora.
ARTIGO 26
Em conformidade com o artigo 102 da Carta das Nações Unidas, a
presente Convenção será registrada no Secretariado das Nações Unidas a
pedido do Diretor-Geral da Organização das nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura.
Feito em Paris, aos dezessete dias do mês de novembro de 1970, em dois
exemplares autênticos, que trazem as assinaturas do Presidente da décima
sexta sessão da Conferência Geral e do Diretor-Geral da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que serão depositados
nos arquivos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura, e dos quais serão enviadas cópias autênticas a todos os Estados
mencionados nos artigos 19 e 20, bem como ás Nações Unidas.
O texto que precede é o texto autêntico da Convenção aprovada em boa e
devida forma pela Conferência Geral da Organização as Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura em sua décima sexta sessão, realizada em
Paris e encerrada aos quatorze dias do mês de novembro de 1970.
Em fé do que apõem suas assinaturas, neste décimo - sétimo dia do mês
de novembro de 1970.
Atílio Dell'Oro Maini, Presidente da Conferência Geral.
Rene Maheu, Diretor-Geral
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
101
DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE
O MEIO AMBIENTE HUMANO
De 5 a 16 de Junho de 1972 - Estocolmo
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
reunida em Estocolmo de 5 a 16 de junho de 1972, e, atenta à necessidade de
um critério e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo
inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano,
I
Proclama que:
1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que
o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para
desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa
evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças
à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de
transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo
que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e o
artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos
humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma.
2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma
questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento
econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e
um dever de todos os governos.
3. O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e
continuar descobrindo, inventando, criando e progredindo. Hoje em dia, a
capacidade do homem de transformar o que o cerca, utilizada com
discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e
oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existência. Aplicado errônea e
imprudentemente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser
humano e a seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicar-se as provas
do dano causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de
poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de
equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos
insubstituíveis e graves deficiências, nocivas para a saúde física, mental e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
102
social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente naquele em
que vive e trabalha.
4. Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais
estão motivados pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo
muito abaixo dos níveis mínimos necessários para uma existência humana
digna, privada de alimentação e vestuário, de habitação e educação, de
condições de saúde e de higiene adequadas. Assim, os países em
desenvolvimento devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo
presente suas prioridades e a necessidade de salvaguardar e melhorar o meio
ambiente. Com o mesmo fim, os países industrializados devem esforçar-se para
reduzir a distância que os separa dos países em desenvolvimento. Nos países
industrializados, os problemas ambientais estão geralmente relacionados com
a industrialização e o desenvolvimento tecnológico.
5. O crescimento natural da população coloca continuamente, problemas
relativos à preservação do meio ambiente, e devem-se adotar as normas e
medidas apropriadas para enfrentar esses problemas. De todas as coisas do
mundo, os seres humanos são a mais valiosa. Eles são os que promovem o
progresso social, criam riqueza social, desenvolvem a ciência e a tecnologia e,
com seu árduo trabalho, transformam continuamente o meio ambiente
humano. Com o progresso social e os avanços da produção, da ciência e da
tecnologia, a capacidade do homem de melhorar o meio ambiente aumenta a
cada dia que passa.
6. Chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos
atos em todo o mundo com particular atenção às consequências que podem ter
para o meio ambiente. Por ignorância ou indiferença, podemos causar danos
imensos e irreparáveis ao meio ambiente da terra do qual dependem nossa
vida e nosso bem-estar. Ao contrário, com um conhecimento mais profundo e
uma ação mais prudente, podemos conseguir para nós mesmos e para nossa
posteridade, condições melhores de vida, em um meio ambiente mais de acordo
com as necessidades e aspirações do homem. As perspectivas de elevar a
qualidade do meio ambiente e de criar uma vida satisfatória são grandes. É
preciso entusiasmo, mas, por outro lado, serenidade de ânimo, trabalho duro e
sistemático. Para chegar à plenitude de sua liberdade dentro da natureza, e,
em harmonia com ela, o homem deve aplicar seus conhecimentos para criar um
meio ambiente melhor. A defesa e o melhoramento do meio ambiente humano
para as gerações presentes e futuras se converteu na meta imperiosa da
humanidade, que se deve perseguir, ao mesmo tempo em que se mantém as
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
103
metas fundamentais já estabelecidas, da paz e do desenvolvimento econômico e
social em todo o mundo, e em conformidade com elas.
7. Para se chegar a esta meta será necessário que cidadãos e
comunidades, empresas e instituições, em todos os planos, aceitem as
responsabilidades que possuem e que todos eles participem equitativamente,
nesse esforço comum. Homens de toda condição e organizações de diferentes
tipos plasmarão o meio ambiente do futuro, integrando seus próprios valores e
a soma de suas atividades. As administrações locais e nacionais, e suas
respectivas jurisdições são as responsáveis pela maior parte do
estabelecimento de normas e aplicações de medidas em grande escala sobre o
meio ambiente. Também se requer a cooperação internacional com o fim de
conseguir recursos que ajudem aos países em desenvolvimento a cumprir sua
parte nesta esfera. Há um número cada vez maior de problemas relativos ao
meio ambiente que, por ser de alcance regional ou mundial ou por repercutir
no âmbito internacional comum, exigem uma ampla colaboração entre as
nações e a adoção de medidas para as organizações internacionais, no interesse
de todos. A Conferência encarece aos governos e aos povos que unam esforços
para preservar e melhorar o meio ambiente humano em benefício do homem e
de sua posteridade.
II
PRINCÍPIOS
Expressa a convicção comum de que:
Princípio 1
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao
desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade
tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene
obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e
futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid,
a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de
opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas.
Princípio 2
Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a
fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais
devem ser preservados em benefício das gerações presentes e futuras,
mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
104
Princípio 3
Deve-se manter, e sempre que possível, restaurar ou melhorar a
capacidade da terra em produzir recursos vitais renováveis.
Princípios 4
O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar
judiciosamente o patrimônio da flora e da fauna silvestres e seu habitat, que se
encontram atualmente, em grave perigo, devido a uma combinação de fatores
adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico deve-
se atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna
silvestres.
Princípio 5
Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se
evite o perigo de seu futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade
compartilhe dos benefícios de sua utilização.
Princípio 6
Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais
que liberam calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente
não possa neutralizá-los, para que não se causem danos graves e irreparáveis
aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países
contra a poluição.
Princípio 7
Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a
poluição dos mares por substâncias que possam por em perigo a saúde do
homem, os recursos vivos e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de
derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar.
Princípio 8
O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao
homem um ambiente de vida e trabalho favorável e para criar na terra as
condições necessárias de melhoria da qualidade de vida.
Princípio 9
As deficiências do meio ambiente originárias das condições de
subdesenvolvimento e os desastres naturais colocam graves problemas. A
melhor maneira de saná-los está no desenvolvimento acelerado, mediante a
transferência de quantidades consideráveis de assistência financeira e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
105
tecnológica que complementem os esforços internos dos países em
desenvolvimento e a ajuda oportuna que possam requerer.
Princípio 10
Para os países em desenvolvimento, a estabilidade dos preços e a
obtenção de ingressos adequados dos produtos básicos e de matérias primas
são elementos essenciais para o ordenamento do meio ambiente, já que há de
se Ter em conta os fatores econômicos e os processos ecológicos.
Princípio 11
As políticas ambientais de todos os Estados deveriam estar
encaminhadas para aumentar o potencial de crescimento atual ou futuro dos
países em desenvolvimento e não deveriam restringir esse potencial nem
colocar obstáculos à conquista de melhores condições de vida para todos. Os
Estados e as organizações internacionais deveriam tomar disposições
pertinentes, com vistas a chegar a um acordo, para se poder enfrentar as
consequências econômicas que poderiam resultar da aplicação de medidas
ambientais, nos planos nacional e internacional.
Princípio 12
Recursos deveriam ser destinados para a preservação e melhoramento
do meio ambiente tendo em conta as circunstâncias e as necessidades especiais
dos países em desenvolvimento e gastos que pudessem originar a inclusão de
medidas de conservação do meio ambiente em seus planos de desenvolvimento,
bem como a necessidade de oferecer-lhes, quando solicitado, mais assistência
técnica e financeira internacional com este fim.
Princípio 13
Com o fim de se conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e
melhorar assim as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um
enfoque integrado e coordenado de planejamento de seu desenvolvimento, de
modo a que fique assegurada a compatibilidade entre o desenvolvimento e a
necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício de
sua população.
Princípio 14
O planejamento racional constitui um instrumento indispensável para
conciliar às diferenças que possam surgir entre as exigências do
desenvolvimento e a necessidade de proteger y melhorar o meio ambiente.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
106
Princípio 15
Deve-se aplicar o planejamento aos assentamentos humanos e à
urbanização com vistas a evitar repercussões prejudiciais sobre o meio
ambiente e a obter os máximos benefícios sociais, econômicos e ambientais
para todos. A este respeito devem-se abandonar os projetos destinados à
dominação colonialista e racista.
Princípio 16
Nas regiões onde exista o risco de que a taxa de crescimento demográfico
ou as concentrações excessivas de população prejudiquem o meio ambiente ou o
desenvolvimento, ou onde, a baixa densidade d4e população possa impedir o
melhoramento do meio ambiente humano e limitar o desenvolvimento,
deveriam se aplicadas políticas demográficas que respeitassem os direitos
humanos fundamentais e contassem com a aprovação dos governos
interessados.
Princípio 17
Deve-se confiar às instituições nacionais competentes a tarefa de
planejar, administrar ou controlar a utilização dos recursos ambientais dos
estado, com o fim de melhorar a qualidade do meio ambiente.
Princípio 18
Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social
deve-se utilizar a ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os
riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais
e para o bem comum da humanidade.
Princípio 19
É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais,
dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida
atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases
de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das
empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade
sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão
humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas
evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao
contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de
protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos
os aspectos.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
107
Princípio 20
Devem-se fomentar em todos os países, especialmente nos países em
desenvolvimento, a pesquisa e o desenvolvimento científicos referentes aos
problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais. Neste caso, o livre
intercâmbio de informação científica atualizada e de experiência sobre a
transferência deve ser objeto de apoio e de assistência, a fim de facilitar a
solução dos problemas ambientais. As tecnologias ambientais devem ser postas
à disposição dos países em desenvolvimento de forma a favorecer sua ampla
difusão, sem que constituam uma carga econômica para esses países.
Princípio 21
Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de
direito internacional, os Estados têm o direito soberano de explorar seus
próprios recursos em aplicação de sua própria política ambiental e a obrigação
de assegurar-se de que as atividades que se levem a cabo, dentro de sua
jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros
Estados ou de zonas situadas fora de toda jurisdição nacional.
Princípio 22
Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito
internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização às vítimas da
poluição e de outros danos ambientais que as atividades realizadas dentro da
jurisdição ou sob o controle de tais Estados causem a zonas fora de sua
jurisdição.
Princípio 23
Sem prejuízo dos critérios de consenso da comunidade internacional e
das normas que deverão ser definidas a nível nacional, em todos os casos será
indispensável considerar os sistemas de valores prevalecentes em cada país, e,
a aplicabilidade de normas que, embora válidas para os países mais avançados,
possam ser inadequadas e de alto custo social para países em desenvolvimento.
Princípio 24
Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e
cooperação e em pé de igualdade das questões internacionais relativas à
proteção e melhoramento do meio ambiente. É indispensável cooperar para
controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos prejudiciais que as
atividades que se realizem em qualquer esfera, possam Ter para o meio
ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios
apropriados, respeitados a soberania e os interesses de todos os estados.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
108
Princípio 25
Os Estados devem assegurar-se de que as organizações internacionais
realizem um trabalho coordenado, eficaz e dinâmico na conservação e no
melhoramento do meio ambiente.
Princípio 26
É’ preciso livrar o homem e seu meio ambiente dos efeitos das armas
nucleares e de todos os demais meios de destruição em massa. Os Estados
devem-se esforçar para chegar logo a um acordo – nos órgãos internacionais
pertinentes - sobre a eliminação e a destruição completa de tais armas.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
109
RECOMENDAÇÕES DE PARIS – PROTEÇÃO DO
PATRIMÔNIO MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL
16 de Novembro de 1972
17ª Sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas
Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural –
Aprovada pela Conferência Geral da UNESCO em sua décima sétima reunião
em Paris
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris de 17 de outubro a 21 de
novembro de 1972, em sua décima sétima sessão:
Verificando que o patrimônio cultural e o patrimônio natural estão cada
vez mais ameaçados de destruição, não apenas pelas causas tradicionais de
degradação, mas também pela evolução da vida social e econômica que as
agrava através e fenômenos de alteração ou de destruição ainda mais
importantes;
Considerando que a degradação ou o desaparecimento de um bem do
patrimônio cultural e natural constitui um empobrecimento nefasto do
patrimônio de todos os povos do mundo;
Considerando que a proteção desse patrimônio em escala nacional é a
maior parte das vezes insuficiente devido à vastidão dos meios que são
necessários para o efeito e da insuficiência de recursos econômicos, científicos e
técnicos do país no território do qual se encontra o bem a salvaguardar;
Relembrando que o Ato Constitutivo da Organização prevê a ajuda à
conservação, progresso e difusão do saber, promovendo a conservação e
proteção do patrimônio universal e recomendando aos povos interessados
convenções internacionais concluídas para tal efeito;
Considerando que as convenções, recomendações e resoluções
internacionais existentes no interesse dos bens culturais e naturais
demonstram a importância que constitui, para todos os povos do mundo, a
salvaguarda de tais bens, únicos e insubstituíveis, qualquer que seja o povo a
que pertençam;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
110
Considerando que determinados bens do patrimônio cultural e natural
se revestem de excepcional interesse que necessita a sua preservação como
elementos do patrimônio mundial da humanidade no seu todo;
Considerando que, perante a extensão e a gravidade dos novos perigos
que os ameaçam, incumbe à coletividade internacional, no seu todo, participar
na proteção do patrimônio cultural e natural, de valor universal excepcional,
mediante a concessão de uma assistência coletiva que sem se substituir à ação
do Estado interessado a complete de forma eficaz;
Considerando que se torna indispensável a adoção, para tal efeito, de
novas disposições convencionais que estabeleçam um sistema eficaz de
proteção coletiva do patrimônio cultural e natural de valor universal
excepcional, organizado de modo permanente e segundo métodos científicos e
modernos;
Após ter decidido quando da sua décima sexta sessão que tal questão
seria objeto de uma convenção internacional;
Adota, neste dia dezesseis de novembro de mil novecentos e setenta e
dois, a presente Convenção.
I - Definições do patrimônio cultural e natural
Artigo 1.º
Para fins da presente Convenção serão considerados como patrimônio
cultural:
Os monumentos. – Obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura
monumentais, elementos de estruturas de caráter arqueológico, inscrições,
grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista
da história, da arte ou da ciência;
Os conjuntos. – Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em
virtude da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor
universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os locais de interesse. – Obras do homem, ou obras conjugadas do
homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico,
com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético,
etnológico ou antropológico.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
111
Artigo 2.º
Para fins da presente Convenção serão considerados como patrimônio
natural:
Os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas
ou por grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de
vista estético ou científico;
As formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente
delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas,
com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação;
Os locais de interesse naturais ou zonas naturais estritamente
delimitadas, com valor universal excepcional do ponto de vista a ciência,
conservação ou beleza natural.
Artigo 3.º
Competirá a cada Estado parte na presente Convenção identificar e
delimitar os diferentes bens situados no seu território referidos nos artigos 1 e
2 acima.
II - Proteção nacional e proteção internacional do
patrimônio cultural e natural
Artigo 4.º
Cada um dos Estados parte na presente Convenção deverá reconhecer
que a obrigação de assegurar a identificação, proteção, conservação,
valorização e transmissão às gerações futuras do patrimônio cultural e natural
referido nos artigos 1.º e 2.º e situado no seu território constitui obrigação
primordial. Para tal, deverá esforçar-se, quer por esforço próprio, utilizando no
máximo os seus recursos disponíveis, quer, se necessário, mediante a
assistência e a cooperação internacionais de que possa beneficiar,
nomeadamente no plano financeiro, artístico, científico e técnico.
Artigo 5.º
Com o fim de assegurar uma proteção e conservação tão eficazes e uma
valorização tão ativa quanto possível do patrimônio cultural e natural situado
no seu território e nas condições apropriadas a cada país, os Estados parte na
presente Convenção esforçar-se-ão na medida do possível por:
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
112
a) Adotar uma política geral que vise determinar uma função ao
patrimônio cultural e natural na vida coletiva e integrar a proteção do
referido patrimônio nos programas de planificação geral;
b) Instituir no seu território, caso não existam, um ou mais serviços de
proteção, conservação e valorização do patrimônio cultural e natural,
com pessoal apropriado, e dispondo dos meios que lhe permitam cumprir
as tarefas que lhe sejam atribuídas;
c) Desenvolver os estudos e as pesquisas científicas e técnica e
aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitem a um Estado
enfrentar os perigos que ameaçam o seu patrimônio cultural e natural;
d) Tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e
financeiras adequadas para a identificação, proteção, conservação,
valorização e restauro do referido patrimônio; e
e) Favorecer a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou
regionais de formação nos domínios da proteção, conservação e
valorização do patrimônio cultural e natural e encorajar a pesquisa
científica neste domínio.
Artigo 6.º
1 – Com pleno respeito pela soberania dos Estados no território dos
quais está situado o patrimônio cultural e natural referido nos artigos 1.º e 2.º,
e sem prejuízo dos direitos reais previstos na legislação nacional sobre o
referido patrimônio, os Estados parte na presente Convenção reconhecem que o
referido patrimônio constitui um patrimônio universal para a proteção do qual
a comunidade internacional no seu todo tem o dever de cooperar.
2 – Em consequência, os Estados parte comprometem-se, em
conformidade com as disposições da presente Convenção, a contribuir para a
identificação, proteção, conservação e valorização do patrimônio cultural e
natural referido nos parágrafos 2 e 4 do artigo 11.º se o Estado no território do
qual tal patrimônio se encontra o solicitar.
3 – Cada um dos Estados parte na presente Convenção compromete-se a
não tomar deliberadamente qualquer medida susceptível de danificar direta ou
indiretamente o patrimônio cultural e natural referido nos artigos 1.º e 2.º
situado no território de outros Estados parte na presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
113
Artigo 7.º
Para fins da presente Convenção, deverá entender-se por proteção
internacional do patrimônio mundial, cultural e natural a criação de um
sistema de cooperação e de assistência internacionais que vise auxiliar os
Estados-parte na Convenção nos esforços que dispendem para preservar e
identificar o referido património.
III - Comitê intergovernamental para a proteção do
património mundial, cultural e natural
Artigo 8º
1 – É criado junto da Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, um comitê intergovernamental para a proteção do
património cultural e natural de valor universal excepcional denominado
Comitê do Património Mundial. Será composto por quinze Estados parte na
Convenção, eleitos pelos Estados parte na Convenção reunidos em assembleia
geral no decurso de sessões ordinárias da Conferência Geral da Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. O número dos Estados
membros do Comitê será elevado até vinte e um, a contar da sessão ordinária
da conferência geral que se siga à entrada em vigor da presente Convenção
para, pelo menos, quarenta Estados.
2 – A eleição dos membros do Comitê deverá assegurar uma
representação equitativa das diferentes regiões e culturas do Mundo.
3 – Assistirão às sessões do Comitê com voto consultivo um
representante do Centro Internacional de Estudos para a Conservação e
Restauro de Bens Culturais (Centro de Roma), um representante do Conselho
Internacional de Monumentos e Locais de Interesse (ICOMOS) e um
representante da União Internacional para a Conservação da Natureza e Seus
Recursos (UICN), aos quais poderão ser acrescentados, a pedido dos Estados
parte, reunidos em assembleia geral no decurso das sessões ordinárias da
Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, representantes de outras organizações intergovernamentais
com objetivo idênticos.
Artigo 9º
1 – Os Estados Membros do Comitê do Património Mundial exercerão o
seu mandato desde o termo da sessão ordinária da Conferência Geral no
decurso da qual tiverem sido eleitos e até ao final da terceira sessão ordinária
subsequente.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
114
2 – No entanto, o mandato de um terço dos membros designados na
primeira eleição terminará no final da primeira sessão ordinária da
Conferência Geral que se siga à sessão no decurso da qual tenham sido eleitos,
e o mandato de um segundo terço dos membros designados simultaneamente
terminará no final da segunda sessão ordinária da Conferência Geral que se
siga à sessão no decurso da qual tenham sido eleitos. Os nomes de tais
membros serão sorteados pelo presidente da Conferência Geral após a primeira
eleição.
3 – Os Estados membro do Comitê deverão escolher para os representar
pessoas qualificadas no domínio do património cultural ou do património
natural.
Artigo 10º
1 – O Comitê do Património Mundial adotará o seu regulamento interno.
2 – O Comitê poderá a qualquer momento convidar para as suas
reuniões organismos públicos o privados, assim como pessoas privadas, para
proceder a consultas sobre questões específicas.
3 – O Comitê poderá criar órgãos consultivos que julgue necessários à
execução das suas funções.
Artigo 11
1 – Cada um dos Estados parte na presente Convenção deverá submeter,
em toda a medida do possível, ao Comitê do Património Mundial um inventário
dos bens do património cultural e natural situados no seu território e
susceptíveis de serem inscritos na lista prevista no parágrafo 2 do presente
artigo. Tal inventário, que não será considerado exaustivo, deverá comportar
uma documentação sobre o local dos bens em questão e sobre o interesse que
apresentam.
2 – Com base nos inventários submetidos pelos Estados em aplicação do
parágrafo 1 acima, o Comitê deverá estabelecer, atualizar e difundir, sob o
nome de «lista do património mundial», uma lista dos bens do património
cultural e do património natural tal como definidos nos artigos 1.º e 2.º da
presente Convenção, que considere como tendo um valor universal excepcional
em aplicação dos critérios que tiver estabelecido. De dois em dois anos deverá
ser difundida uma atualização da lista.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
115
3 – A inscrição de um bem na lista do património mundial apenas
poderá ser feita com o consentimento do Estado interessado. A inscrição de um
bem situado num território que seja objeto de reivindicação de soberania ou de
jurisdição por vários Estados não prejudicará em nada os direitos das partes
no diferendo.
4 – O Comitê deverá estabelecer, atualizar e difundir, sempre que as
circunstâncias o exijam, sob o nome de «lista do património mundial em
perigo», uma lista dos bens que figurem na lista do património mundial para a
salvaguarda dos quais sejam necessários grandes trabalhos e para os quais
tenha sido pedida assistência, nos termos da presente Convenção. Tal lista
deverá conter uma estimativa do custo das operações. Apenas poderão figurar
nesta lista os bens do património cultural e natural ameaçados de
desaparecimento devido a uma degradação acelerada, projetos de grandes
trabalhos públicos ou privados, rápido desenvolvimentos urbano e turístico,
destruição devida a mudança de utilização ou de propriedade da terra,
alterações profundas devidas a uma causa desconhecida, abandono por um
qualquer motivo, conflito armado surgido ou ameaçando surgir, calamidades e
cataclismos, grandes incêndios, sismos, deslocações de terras, erupções
vulcânicas, modificações do nível das águas, inundações e maremotos. O
Comitê poderá, em qualquer momento e em caso de urgência, proceder a nova
inscrição na lista do património mundial em perigo e dar a tal inscrição difusão
imediata.
5 – O Comitê definirá os critérios com base nos quais um bem do
património cultural e natural poderá ser inscrito em qualquer das listas
referidas nos parágrafos 2 e 4 do presente artigo.
6 – Antes de recusar um pedido de inscrição numa das duas listas nos
parágrafos 2 e 4 do presente artigo, o Comitê deverá consultar o Estado parte
no território do qual esteja situado o bem do património cultural ou natural em
causa.
7 – O Comitê, com o consentimento dos Estados interessados,
coordenará e encorajará os estudos e as pesquisas necessárias à constituição
das listas referidas nos parágrafos 2 e 4 do presente artigo.
Artigo 12
O fato de um bem do património cultural e natural não ter sido inscrito
em qualquer das duas listas referidas nos parágrafos 2 e 4 do artigo 11.º não
poderá de qualquer modo significar que tal bem não tenha um valor
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
116
excepcional para fins diferentes dos resultantes da inscrição nas referidas
listas.
Artigo 13
1 – O Comitê do Património Mundial deverá aceitar e estudar os pedidos
de assistência internacional formulados pelos Estados parte na presente
Convenção no que respeita aos bens do património cultural e natural situados
nos seus territórios, que figuram ou sejam susceptíveis de figurar nas listas
referidas nos parágrafos 2 e 4 do artigo 11.º. Tais pedidos poderão ter por
objeto a proteção, conservação, valorização ou restauro de tais bens.
2 – Os pedidos de assistência internacional em aplicação do parágrafo 1
do presente artigo poderão igualmente ter por objeto a identificação de bens do
património cultural e natural definido nos artigos 1.º e 2.º, sempre que
pesquisas preliminares tenham permitido estabelecer que as mesmas merecem
ser prosseguidas.
3 – O Comitê deverá decidir do andamento a dar a tais pedidos,
determinar, se necessário, a natureza e importância da sua ajuda e autorizar a
conclusão, em seu nome, de acordos necessários com o governo interessado.
4 – O Comitê deverá determinar uma ordem de prioridade para as suas
intervenções. Fá-lo-á tendo em conta a importância respectiva dos bens a
salvaguardar para o património mundial, cultural e natural, a necessidade em
assegurar assistência internacional aos bens mais representativos da natureza
ou do gênio e da história do mundo e da urgência dos trabalhos a empreender,
a importância dos recursos dos Estados no território dos quais se encontrem os
bens ameaçados e principalmente a medida que tais Estados poderiam
assegurar a salvaguarda de tais bens pelos seus próprios meios.
5 – O Comitê deverá estabelecer, atualizar e difundir uma lista dos bens
para os quais tenha sido dada assistência internacional.
6 – O Comitê deverá decidir da utilização dos recursos do fundo criado
nos termos do artigo 15.º da presente Convenção. Procurará os meios de
aumentar tais recursos e tomará todas as medidas úteis para o efeito.
7 – O Comitê deverá cooperar com as organizações internacionais e
nacionais, governamentais e não governamentais, com objetivo idênticos aos da
presente Convenção. Para a aplicação dos programas e execução dos seus
projetos, o Comitê poderá recorrer a tais organizações, especialmente do
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
117
Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro dos Bens
Culturais (Centro de Roma), ao Conselho Internacional dos Monumentos e
Locais de Interesse (ICOMOS) e à União Internacional para a Conservação da
Natureza e Seus Recursos (UICN), assim como a outros organismos públicos ou
privados e a pessoas privadas.
8 – As decisões do Comitê serão tomadas por maioria de dois terços dos
membros presentes e votantes. O quórum será constituído pela maioria dos
membros do Comitê.
Artigo 14
1 – O Comitê do Património Mundial será assistido por um secretariado
nomeado pelo Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura.
2 – O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura, utilizando o mais possível os serviços do Centro
Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro dos Bens Culturais
(Centro de Roma), do Conselho Internacional dos Monumentos e Locais de
Interesse (ICOMOS) e da União Internacional para a Conservação da
Natureza e Seus Recursos (UICN), nos domínios das suas competências e das
suas respectivas possibilidades, deverá preparar a documentação do Comitê, a
ordem do dia das suas reuniões e deverá assegurar a execução das suas
decisões.
IV - Fundo para a proteção do património mundial, cultural
e natural
Artigo 15
1 – É constituído um fundo para a proteção do património mundial,
cultural e natural de valor universal excepcional, denominado Fundo do
Património Mundial.
2 – O Fundo será constituído com fundos de depósito, em conformidade
com as disposições do regulamento financeiro da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
3 – Os recursos do Fundo serão constituídos por:
a) Contribuições obrigatórias e contribuições voluntárias dos Estados
parte na presente Convenção;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
118
b) Pagamento, doações ou legados que poderão fazer:
i) Outros Estados;
ii) A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura, as demais organizações do sistema das Nações Unidas,
nomeadamente o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e
outras organizações intergovernamentais:
iii) Organismos públicos ou privados, ou as pessoas privadas;
c) Qualquer juro devido pelos recursos do Fundo;
d) Produto das coletas e receitas das manifestações organizadas em
proveito do Fundo; e
e) Quaisquer outros recursos autorizados pelo regulamento que o
Comitê do Património Mundial elaborará.
4 – O destino das contribuições feitas ao Fundo e das demais formas de
assistência prestadas ao Comitê será estabelecido por este. O Comitê poderá
aceitar contribuições destinadas apenas a um certo programa ou a um
determinado projeto desde que a aplicação de tal programa ou a execução de
tal projeto tenha sido decidida pelo Comitê. As contribuições feitas ao Fundo
não poderão estar sujeitas a qualquer condição política.
Artigo 16
1 – Sem prejuízo de qualquer contribuição voluntária complementar, os
Estados parte na presente Convenção comprometem-se a pagar regularmente,
de dois em dois anos, ao Fundo do Património Mundial, contribuições, cujo
montante, calculado segundo uma percentagem uniforme aplicável a todos os
Estados, será decidido pela Assembleia Geral dos Estados parte na Convenção,
reunidos no decurso de sessões da Conferência Geral da Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Tal decisão da assembleia
geral requer a maioria dos Estados parte, presentes e votantes, que não
tenham formulado a declaração referida no parágrafo 2 do presente artigo. A
contribuição obrigatória dos Estados parte na Convenção não poderá, em caso
algum, ultrapassar 1% da sua contribuição para o orçamento ordinário da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
2 – Qualquer Estado no artigo 31.º ou no artigo 32.º da presente
Convenção poderá, no entanto, no momento do depósito do seu instrumento de
ratificação, aceitação ou adesão, declarar que não ficará vinculado pelas
disposições do parágrafo 1 do presente artigo.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
119
3 – Qualquer Estado parte na Convenção que tenha formulado a
declaração referida no parágrafo 2 do presente artigo poderá, em qualquer
momento, retirar a referida declaração mediante notificação do Diretor-Geral
da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. No
entanto, a retirada da declaração apenas terá efeito, no que refere à
contribuição obrigatória devida por tal Estado, a partir da data da assembleia
geral seguinte dos Estados parte.
4 – A fim de que o Comitê possa prever as suas operações de forma
eficaz, as contribuições dos Estados parte na presente Convenção que tenham
formulado a declaração referida no parágrafo 2 do presente artigo deverão ser
pagas de forma regular, pelo menos de dois em dois anos, e não deverão ser
inferiores às contribuições que tais Estados deveriam pagar caso se
encontrassem vinculados pelas disposições do parágrafo 1 do presente artigo.
5 – Qualquer Estado parte na Convenção que se encontre atrasado no
pagamento da sua contribuição obrigatória ou voluntária, relativamente ao
ano em curso e ao ano civil imediatamente anterior, não poderá ser eleito para
o Comitê do Património Mundial; tal disposição não se aplica quando da
primeira eleição. O mandato de um tal Estado, já membro do Comité,
terminará no momento de qualquer eleição referida no parágrafo 1 do artigo 8.º
da presente Convenção.
Artigo 17
Os Estados partes na presente Convenção deverão estabelecer ou
promover a criação de fundações ou de associações nacionais, públicas e
privadas, cujos objetivos seja o encorajamento da proteção do património
cultural e natural, conforme definido pelos artigos 1.º e 2.º da presente
Convenção.
Artigo 18
Os Estados partes na presente Convenção deverão contribuir nas
campanhas internacionais de coleta, organizadas em favor do Fundo do
Património Mundial, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura. Deverão facilitar as coletas feitas com tais
objetivos pelos organismos mencionados no parágrafo 3 do artigo 15 –
Condições e modalidades de assistência internacional
Artigo 19
Qualquer Estado parte na presente Convenção poderá solicitar
assistência internacional em favor dos bens do património cultural ou natural
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
120
de valor universal excepcional situados no seu território. Deverá anexar ao
pedido de assistência os elementos informativos e os documentos mencionados
no artigo 21.º, de que dispõe e de que o Comitê necessitará para tomar a sua
decisão.
Artigo 20
Sob reserva das disposições do parágrafo 2 do artigo 13, da alínea c) do
artigo 22 e do artigo 23, a assistência internacional prevista pela presente
Convenção apenas poderá ser concebida a bens do património cultural e
natural que o Comitê do Património Mundial tenha decidido ou decida fazer
figurar numa das listas referidas nos parágrafos 2 e 4 do artigo 11.
Artigo 21
1 – O Comitê do Património Mundial deverá estabelecer as normas para
o exame dos pedidos de assistência internacional que lhe sejam dirigidos e
deverá precisar, nomeadamente, os elementos a figurar no pedido, o qual
deverá descrever a operação a executar, os trabalhos necessários, uma
estimativa do custo dos mesmos, urgência e os motivos pelos quais os recursos
do Estado que tenha formulado o pedido não lhe permitem fazer face à
totalidade das despesas. Os pedidos deverão, sempre que possível, basear-se na
opinião de peritos.
2 – Em virtude dos trabalhos que poderão eventualmente vir a ser
necessários sem demora, os pedidos fundados em calamidades naturais ou em
catástrofes deverão ser urgente e prioritariamente examinados pelo Comitê, o
qual deverá dispor de um fundo de reserva destinado a tais eventualidades.
3 – Antes de tomar qualquer decisão, o Comitê deverá proceder aos
estudos e consultas que julgue necessários.
Artigo 22
A assistência concedida pelo Comitê do Património Mundial poderá
assumir as seguintes formas:
a) Estudos sobre os problemas artísticos, científicos e técnicos
resultantes da proteção, conservação, valorização e restauro do
património cultural e natural, conforme definido pelos parágrafos 2 e 4
do artigo 11.º da presente Convenção;
b) Fornecimento de peritos, técnicos e de mão-de-obra qualificada para
supervisar a boa execução do projeto aprovado;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
121
c) Formação e especialistas, a todos os níveis, nos domínios da
identificação, proteção, conservação, valorização e restauro do
património cultural e natural;
d) Fornecimento de equipamento de que o Estado interessado não
disponha ou não esteja em condições de adquirir;
e) Empréstimos a juro reduzido, isentos de juros ou que possam ser
reembolsados a longo prazo;
f) Concessão, em casos excepcionais e especialmente motivados, de
subvenções não reembolsáveis.
Artigo 23
O Comitê do Património Mundial poderá igualmente fornecer
assistência internacional a centros nacionais ou regionais de formação de
especialistas, a todos os níveis, nos domínios da identificação, proteção,
conservação, valorização e restauro do património cultural e natural.
Artigo 24
Uma assistência internacional de elevada importância apenas poderá
ser concedida após estudo científico, econômico e técnico detalhado. Tal estudo
deverá recorrer às mais avançadas técnicas de proteção, conservação,
valorização e restauro do património cultural e natural e corresponder aos
objetivos da presente Convenção. Deverá pesquisar os meios para a utilização
racional dos recursos disponíveis no Estado interessado.
Artigo 25
O financiamento dos trabalhos necessários apenas deverá, em princípio,
incumbir parcialmente à comunidade internacional. A participação do Estado
que beneficie da assistência internacional deverá constituir parte substancial
dos recursos atribuídos a cada programa ou projeto, exceto se os seus recursos
não lho permitam.
Artigo 26
O Comitê do Património Mundial e o Estado beneficiário deverão definir,
em acordo a conclui, as condições para a execução do programa ou projeto ao
qual é concedida assistência internacional, nos termos da presente Convenção.
Competirá ao Estado que receba tal assistência internacional continuar a
proteger, conservar e valorizar os bens assim salvaguardados, em
conformidade com as condições definidas no acordo.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
122
VI – Programas educativos
Artigo 27
1 – Os Estados partes na presente Convenção esforçar-se-ão, por todos
os meios apropriados, nomeadamente mediante programas de educação e de
informação, por reforçar o respeito e o apego dos seus povos ao património
cultural e natural definido nos artigos 1.º e 2.º da Convenção.
2 – Comprometem-se a informar largamente o público das ameaças a
que está sujeito tal património e das atividades levadas a cabo em aplicação da
presente Convenção.
Artigo 28
Os Estados partes na presente Convenção que recebam assistência
internacional, em aplicação da Convenção, deverão tomar as medidas
necessárias no sentido de dar a conhecer a importância dos bens que
constituem o objeto de tal assistência e o papel desempenhado por esta.
VII – Relatórios
Artigo 29
1 – Os Estados partes na presente Convenção deverão indicar nos
relatórios a apresentar à Conferência Geral da Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura, às datas e sob as formas que entender, as
disposições legais e regulamentares e as demais medidas que tenham sido
adotadas para aplicação da Convenção, bem como a experiência que tenham
adquirido na matéria.
2 – Tais relatórios deverão ser levados ao conhecimento do Comité do
Património Mundial.
3 – O Comitê deverá apresentar um relatório sobre as suas actividades a
cada uma das sessões ordinárias da Conferência Geral da Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
VIII – Cláusulas finais
Artigo 30
A presente Convenção foi redigida em inglês, árabe, espanhol, francês e
russo, fazendo os cinco textos igualmente fé.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
123
Artigo 31
1 – A presente Convenção será submetida à ratificação ou aceitação dos
Estados membro da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura, em conformidade com as suas respectivas normas constitucionais.
2 – Os instrumentos de ratificação ou aceitação serão depositados junto
do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura.
Artigo 32
1 – A presente Convenção fica aberta à adesão de qualquer Estado não
membro da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura convidado a ela aderir pela Conferência Geral da Organização.
2 – A adesão terá lugar mediante o depósito de um instrumentos de
adesão junto do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura.
Artigo 33
A presente Convenção entrará em vigor três meses após a data do
depósito do vigésimo instrumento de ratificação, aceitação ou adesão, mas
unicamente para os Estados que tenham depositado os seus respectivos
instrumentos de ratificação, aceitação ou adesão em tal data, ou
anteriormente. Para qualquer outro Estado, entrará em vigor três meses após
o depósito do respectivo instrumento de ratificação, aceitação ou adesão.
Artigo 34
As disposições abaixo aplicar-se-ão aos Estados parte na presente
Convenção com sistema constitucional federativo ou não unitário:
a) No que se refere às disposições da presente Convenção cuja aplicação
seja da competência da ação legislativa do poder legislativo federal ou
central, as obrigações do Governo federal ou central serão idênticas às
dos Estados parte não federativos;
b) No que se refere às disposições da presente Convenção cuja aplicação
seja da competência da ação legislativa de cada um dos Estados, regiões,
províncias ou cantões que constituem o Estado federal, que não sejam
obrigados, em virtude do sistema constitucional da Federação, a tomar
medidas legislativas, o Governo federal levará as referidas disposições,
acompanhadas do seu parecer favorável, ao conhecimento das
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
124
autoridades competentes dos referidos Estados, regiões, províncias ou
cantões.
Artigo 35
1 – Cada um dos Estados parte na presente Convenção terá a faculdade
de denunciar a Convenção.
2 – A denúncia deverá ser notificada mediante instrumento escrito
depositado junto do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura.
3 – A denúncia tomará efeito doze meses após a data da recepção do
instrumento da denúncia. Em nada alterará as obrigações financeiras a
assumir pelo Estado que a tenha efetuado, até à data em que a retirada tome
efeito.
Artigo 36
O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura informará os Estados membros da Organização e os Estados
não membros referidos no artigo 32, bem como a Organização das Nações
Unidas, do depósito de todos os instrumentos de ratificação, aceitação ou
adesão mencionados nos artigos 31 e 32, e das denúncias previstas pelo artigo
35º.
Artigo 37
1 – A presente Convenção poderá ser revista pelo Conferência Geral da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A revisão
apenas vinculará, no entanto, os Estados que se tornem parte na Convenção
revista.
2 – Caso a Conferência Geral adote uma nova Convenção que constitua
revisão total ou parcial da presente Convenção, e salvo disposições em
contrário da nova convenção, a presente Convenção deixará de estar aberta a
ratificação, aceitação ou adesão a partir da data da entrada em vigor da nova
convenção.
Artigo 38
Em conformidade com o artigo 102º da Carta das Nações Unidas, a
presente Convenção será registrada no Secretariado das Nações Unidas, a
pedido do Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura. Feito em Paris aos 23 dias do mês de Novembro de 1972, em
dois exemplares autenticados contendo a assinatura do presidente da
Cartas Patrimoniais:
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125
Conferência Geral, reunida na sua décima sétima sessão, e do Diretor-Geral
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, os quais serão
depositados nos arquivos da Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, sendo cópias certificadas conforme aos originais entregues a
todos os Estados referidos nos artigos 31 e 32 e à Organização das Nações
Unidas.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
126
RESOLUÇÃO DE SÃO DOMINGOS
De Dezembro de 1974
I Seminário Interamericano sobre Experiências na Conservação e Restauração
do Patrimônio Monumental dos períodos Colonial e Republicano (República
Dominicana).
OEA – Organização dos Estados Americanos e Governo Dominicano
Consciente da importância que, para a defesa do patrimônio
monumental latino-americano, representam tanto a Carta de Veneza como as
Normas de Quito e ante a necessidade atual de roteiros que contemplem
prioritariamente os aspectos operativos que materializem e tomem possível a
defesa destes bens insubstituíveis da cultura, o Seminário Interamericano
sobre Experiências na Conservação e Restauração do Patrimônio Monumental
dos Períodos Colonial e Republicano considera que se faz altamente
conveniente para esse fim a elaboração de um documento onde fiquem
registrados estes serviços operativos; propõe, portanto, as seguintes
recomendações:
a) No plano social:
A salvação dos centros históricos é um compromisso social além de
cultural e deve fazer parte da política de habilitação, para que nela se levem
em conta os recursos potenciais que tais centros possam oferecer. Todos os
programas de intervenção e resgate dos centros históricos devem, portanto,
trazer soluções de saneamento integral que permitam a permanência e
melhoramento da estrutura social existente.
b) No plano econômico:
A iniciativa privada e o seu apoio financeiro constituem uma
contribuição fundamental para a conservação e valorização dos centros
históricos. Recomenda-se a todos os governos estimular essa contribuição
mediante disposições legais, incentivos e facilidades de caráter econômico.
c) No plano da preservação monumental:
Os problemas da preservação monumental obrigam a um trabalho
prévio de investigação documental e arqueológico, devendo levar-se a cabo
estudos integrais para resgatar a maior quantidade de dados relacionados com
a história do sítio.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
127
Respaldados na noção do centro monumental, tais estudos deverão ser
estendidos à proteção dos valores e costumes tradicionais e naturais da área
em questão.
d) Propostas operativas:
Em apoio ao estabelecido nas Normas de Quito, o Centro Interamericano
do Inventário do Patrimônio Histórico e Artístico, recentemente criado em
Bogotá, deve resgatar, de acordo com os governos de Espanha e Portugal, a
documentação de interesse monumental existente em seus arquivos; cabe-lhe,
ainda, realizar, com atividade prioritária, um inventário dos monumentos que,
em território americano, tenham um significado transcendental para o
patrimônio da humanidade.
Criar uma Associação Interamericana de Arquitetos e Especialistas na
Proteção do Patrimônio Monumental, que divulgue o trabalho dos seus
membros mediante uma publicação a cargo de um centro ou instituto
especializado. Essa associação se formou em São Domingos e serão seus
membros fundadores os delegados ao Seminário Interamericano sobre
Experiências na Conservação do Patrimônio Monumental dos Períodos
Colonial e Republicano. Também serão membros os especialistas participantes
que formalizarem sua inscrição de acordo com os regulamentos estabelecidos.
Reconhecendo o trabalho positivo realizado pela Unidade Técnica de
Patrimônio Cultural do Departamento de Assuntos Culturais a cargo do
Projeto de Proteção do Patrimônio Cultural Histórico e Artístico instituído pela
OEA e constatando que, no campo da preservação do patrimônio monumental
da América, existem necessidades que não puderam ser satisfeitas pelo
mencionado projeto devido à falta de recursos adequados, solicitamos que na
próxima Assembleia Geral da OEA se destinem maiores fundos, que permitam
ao mencionado projeto cumprir cabalmente objetivos para os quais foi criado.
Que os Estados Membros da OEA criem um fundo de emergência que
permita a rápida disponibilidade de recursos para a salvação de bens
monumentais americanos nos países de menor desenvolvimento relativo, que
constituem monumentos inalienáveis para ao patrimônio da humanidade e
estão em iminente perigo de desaparecimento.
Os projetos de preservação monumental devem fazer parte de um
programa integral de valorização, que defina não apenas a sua função
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
128
monumental, como também o seu destino e manutenção, e leve
prioritariamente em conta a melhoria socioeconômica de seus habitantes.
Sendo o turismo um meio de preservação dos monumentos, os planos de
desenvolvimento turístico devem constituir uma via mediante a qual, com a
utilização de alto nível técnico, se logrem objetivos importantes na proteção e
preservação do patrimônio cultural americano.
Que o Centro Interamericano de Restauração de Bens Culturais, que
atualmente funciona no México, atue como o organismo que recopile e difunda
as atividades empreendidas pelos países que integram o sistema
interamericano no campo da preservação monumental.
Independentemente da fonte anterior de informação, torna-se
indispensável o intercâmbio pessoal de experiências, devendo realizar-se
seminários como este a cada dois anos, com o patrocínio da OEA, em um dos
seus Estados Membros, o segundo dos quais se realizará na Colômbia, no ano
de 1976.
Que se criem oficinas de ensino nível artesanal para formação de
operários que sejam eficazes auxiliares na tarefa da restauração monumental,
respaldando-se e ampliando-se em nível interamericano a atual escola-oficina
de obras de pedra que funciona no Museu das Casas Reais, na República
Dominicana.
Tendo-se iniciado em São Domingos, antiga Espanhola, o processo
cultural ibero-americano e contando a República Dominicana com um centro
como o Museu das Casas Reais, que se dedica ao estudo científico desse
processo histórico, recomenda-se a ampliação de suas atividades em nível
internacional, procurando que, tanto nos trabalhos de investigação como na
formação acadêmica, orientem-se os seus trabalhos em todo o continente para
a mais cabal compreensão da integração cultural americana.
e) Reconhecimento:
O primeiro Seminário Interamericano sobre Experiência na Conservação
e Restauração do Patrimônio Monumental dos Períodos Colonial e Republicano
quer fazer constar o seu reconhecimento pelo patrocínio assumido pelo Governo
da República Dominicana e pela Secretaria Geral da Organização dos Estados
Americanos (OEA), para realização deste Primeiro Seminário Interamericano,
cujo proveito se fará sentir no âmbito de todo o hemisfério. São Domingos é um
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
129
ponto de partida para o fortalecimento e a integração profissional dos
especialistas em conservação do patrimônio monumental da América.
O Primeiro Seminário Interamericano sobre Experiências na
Conservação do Patrimônio Monumental dos Períodos Colonial e Republicano
quer igualmente fazer constar o trabalho exemplar que o Governo Dominicano
empreende para a preservação e a valorização do patrimônio monumental da
República Dominicana.
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DECLARAÇÃO DE AMSTERDÃ
De Outubro de 1975
Congresso do Patrimônio Arquitetônico Europeu
Conselho da Europa
Ano Europeu do Patrimônio Arquitetônico
O Congresso de Amsterdã, evento chave do ano Europeu do património
arquitetônico de 1975, composto por delegados de todas as partes da Europa,
acolhe de coração aberto a Carta promulgada pelo Comitê de Ministros do
Conselho da Europa que reconhece que a arquitetura única da Europa é
património comum de todos os seus povos e que declara a intenção dos Estados
Membros em trabalharem em conjunto e com os outros governos Europeus na
sua proteção.
De forma semelhante, o Congresso afirma que o património
arquitetônico da Europa é uma parte integral do património cultural do mundo
inteiro e registrou, com grande satisfação, as iniciativas mútuas de promoção
da cooperação e de intercâmbios no campo da cultura contidos na Ata Final do
Congresso sobre Segurança e Cooperação na Europa adotada em Helsinque em
Julho deste ano.
Assim sendo, o Congresso enfatizou as seguintes considerações básicas:
a. Para além do seu precioso valor cultural, o património cultural
Europeu proporciona aos seus povos a consciência da sua história
comum e do seu futuro comum. A sua preservação é, portanto, uma
matéria de importância vital.
b. O património cultural inclui não só os edifícios individuais de
excepcional qualidade e as suas envolventes, mas também todas as
áreas das cidades ou das vilas com interesse histórico ou cultural.
c. Como estes tesouros são propriedade comum de todos os povos da
Europa, estes têm a responsabilidade conjunta de os protegerem contra
os crescentes perigos de que estão ameaçados – negligência ou
degradação, demolição deliberada, construção nova incongruente ou
trânsito excessivo.
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d. No planejamento de uma cidade ou de um país a conservação
arquitetônica deve ser considerada, não como um assunto marginal, mas
como um objetivo principal.
e. As autoridades locais, a quem competem a maioria das decisões
importantes sobre o planejamento, têm uma especial responsabilidade
sobre a proteção do património cultural e devem-se apoiar mutuamente
através do intercâmbio de ideias e de informações.
f. A reabilitação das áreas antigas deve ser concebida e executada de
forma tal que garanta, onde possível, que não se necessite de uma
alteração grave na composição social dos residentes e que todos os
sectores da sociedade possam partilhar dos benefícios dos restauros
financiados pelos fundos públicos.
g. Devem ser fortalecidas e tornadas mais eficazes, em todos os países,
as necessárias medidas legislativas e administrativas.
h. Devem ser disponibilizados apoios financeiros adequados, pelas
autoridades locais, e, de igual forma, devem ser disponibilizados apoio
financeiro e alívio fiscal aos proprietários particulares como ajuda nos
custos do restauro, da adaptação e da manutenção dos edifícios e das
áreas com interesse arquitetônico e histórico.
i. O património cultural só conseguirá sobreviver se for apreciado pelo
público e, em particular, pelas gerações mais novas. Os programas
educacionais para todas as idades devem, portanto, prestar atenção
redobrada a este assunto.
j. Devem ser encorajadas as organizações independentes –
internacionais, nacionais e locais – o que ajudará a potenciar o interesse
público.
k. Como os edifícios de hoje vão ser o património de amanhã, devem ser
feitos todos os esforços para se garantir que a arquitectura actual seja de
elevada qualidade.
Tendo em vista o reconhecimento pelo Comitê de Ministros, na Carta
Europeia do património arquitetônico, de que é obrigação do Conselho da
Europa garantir que os Estados Membros apliquem políticas coerentes num
espírito de solidariedade, é essencial que sejam produzidos relatórios
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periódicos sobre o progresso da conservação arquitetônica em todos os países
Europeus, de forma tal que promovam um intercâmbio de experiências.
O Congresso apela aos governos, aos parlamentos, às instituições
espirituais e culturais, aos institutos profissionais, ao comércio, à indústria, às
associações independentes e aos cidadãos individuais para que deem o seu
apoio total aos objetivos desta Declaração e que façam tudo o que estiver ao seu
alcance para garantirem a sua implementação.
Só desta forma poderá ser preservado o insubstituível património
arquitetônico da Europa, para o enriquecimento das vidas de todos os seus
povos, agora e no futuro.
A partir das suas deliberações, o Congresso submeteu as suas
conclusões e recomendações, conforme se descrevem a seguir.
A menos que seja urgentemente implementada uma nova política de
proteção e de conservação integrada, a nossa sociedade irá, brevemente, ver-se
obrigada a desistir do seu património de edifícios e sítios que formam o seu
ambiente tradicional. Atualmente é necessária proteção para as cidades
históricas, para os bairros antigos das cidades, vilas e aldeias que tenham um
caráter tradicional, assim como para os parques e jardins. A conservação
destes complexos arquitetônicos só pode ser concebida numa perspectiva
ampla, abrangendo todos os edifícios com valor cultural, desde o maior até ao
mais humilde – não esquecendo os construídos nos nossos próprios dias – em
conjunto com as suas envolventes. Esta proteção global deve complementar o
prato de resistência que é a proteção dos monumentos e sítios individuais e
isolados.
O significado do património arquitetônico e a justificação para a sua
proteção são mais claramente compreendidos hoje em dia. É sabido que deve
ser preservada a continuidade histórica no seu ambiente, se quisermos manter
ou criar envolventes que permitam às pessoas encontrarem a sua identidade e
sentirem-se seguras apesar das abruptas alterações sociais. Um novo tipo de
planejamento urbano procura recuperar os espaços fechados, as dimensões
humanas, a interpenetração das funções e a diversidade social e cultural que
caracteriza a fábrica urbana das velhas cidades. Mas também se tem vindo a
compreender que a conservação dos edifícios antigos ajuda a economizar
recursos e combate o desperdício, uma das principais preocupações da
sociedade atual. Tem sido demonstrado que os edifícios históricos podem
receber novas funções que correspondem às necessidades da vida
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contemporânea. Além disso, a conservação necessita de artistas e de operários
altamente qualificados cujos talentos e saberes têm que ser mantidos vivos e
transmitidos para o futuro. Recentemente, a reabilitação das habitações
existentes ajuda a consolidarem-se as incrustações no meio do terreno agrícola
e a evitarem-se, ou a diminuírem-se apreciavelmente, os movimentos da
população – uma vantagem muito importante da política de conservação.
Assim, por todas estas razões, parecendo haver hoje uma justificação
mais forte do que nunca para a conservação do património arquitetônico, esta
deve ser assente sobre fundações firmes e duráveis. Da mesma forma, ela deve
ser o objeto de uma pesquisa de fundamentos e uma matéria para todos os
programas de cursos educativos e de desenvolvimentos culturais.
A conservação do património cultural: um dos maiores objetivos do
planejamento urbano e regional.
A conservação do património cultural deve tornar-se parte integrante do
planejamento urbano e regional, em vez de ser tratada como um assunto
secundário ou como uma ação exigida aqui e acolá, como tem sido tão
frequentemente o caso no passado recente. É, portanto, indispensável um
diálogo permanente entre os conservacionistas e os responsáveis pelo
planejamento.
Os autores do planejamento devem reconhecer que nem todas as áreas
são iguais e que, portanto, elas devem ser tratadas de acordo com as suas
características individuais. O reconhecimento das exigências dos valores
culturais do património arquitetônico deve levar à adoção de exigências
específicas e de regras de planejamento para os complexos arquitetônicos
antigos.
Não chega sobreporem-se, simplesmente, em vez de se coordenarem,
regulamentos de planejamento correntes e regras específicas para a protecção
dos edifícios históricos.
É, portanto, necessário um inventário dos edifícios, dos complexos
arquitetônicos e dos sítios demarcando as zonas protegidas em seu redor, para
se tornar possível a necessária integração. Este inventário deve ser largamente
divulgado, particularmente entre as autoridades regionais e locais e entre os
oficiais encarregues do planejamento urbano e nacional, com o objetivo de
chamar a sua atenção para os edifícios e para as áreas merecedores de
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proteção. Tal inventário irá fornecer uma base realística para a conservação,
constituindo um fator qualitativo fundamental na gestão do espaço.
A política de planejamento regional deve ter em consideração a
conservação do património arquitetônico e para ele contribuir. Em particular,
pode induzir o estabelecimento de novas atividades em áreas economicamente
decadentes para se evitar o despovoamento e, portanto, evitar a deterioração
dos edifícios antigos. Além disso, as decisões sobre o desenvolvimento das
áreas urbanas periféricas pode ser de forma tal que reduzam a pressão sobre
os bairros antigos; aqui as políticas de transporte e de emprego, bem como uma
melhor distribuição dos pontos focais da atividade urbana, podem ter um
impacto importante sobre a conservação do património arquitetônico.
O desenvolvimento total de uma política de conservação contínua requer
uma larga porção de descentralização assim como o respeito pelas culturas
locais. Isto significa que devem existir a todos os níveis (central, regional e
local) pessoas responsáveis pela conservação, por quem sejam tomadas as
decisões de planejamento. Porém, a conservação do património arquitetônico
não deve ser um assunto que só diga respeito aos especialistas. É essencial o
apoio da opinião pública. A população, com base numa informação completa e
objetiva, deve colaborar em todas as fases do trabalho, desde o levantamento
dos inventários até à preparação das decisões.
Recentemente, a conservação do património arquitetônico deve tornar-se
num capítulo da uma nova abordagem a longo prazo que preste atenção a
critérios de qualidade e de justas proporções, que possam ser empregues para
rejeitar algumas opções e objetivos que são, demasiado frequentemente,
governados por considerações de curto prazo, por uma visão estreita de
tecnologia e, em resumo, por uma abordagem obsoleta.
A conservação integrada envolve a responsabilidade das autoridades
locais e apela à participação dos cidadãos.
As autoridades locais devem ter responsabilidades específicas e
alargadas na proteção do património cultural. Na aplicação dos princípios da
conservação integrada, elas devem ter em consideração a continuidade das
realidades sociais e físicas existentes nas comunidades urbanas e rurais. O
futuro não pode e não deve ser construído às custas do passado.
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Para implementarem esta política, que respeita com inteligência,
sensibilidade e economia o ambiente criado pelo homem, as autoridades locais
devem:
• como base, usar o estudo da textura das áreas urbanas e rurais,
especialmente a sua estrutura, as suas complexas funções e as
características arquitetônicas e volumétricas dos seus espaços
construídos e abertos;
• atribuir funções aos edifícios que, enquanto correspondem às
necessidades da vida contemporânea, respeitem o seu caráter e
garantam a sua sobrevivência;
• estar conscientes de que os estudos a longo prazo sobre o
desenvolvimento dos serviços públicos (educação, administração, saúde)
indicaram que o tamanho excessivo põe em risco a sua qualidade e
eficácia;
• dedicar uma parte adequada do seu orçamento a esta política. Neste
contexto, elas devem pedir ao governo a criação de fundos
especificamente destinados a estes objetivos. Os subsídios e
empréstimos, concedidos aos indivíduos privados e às diversas
associações pelas autoridades locais, devem ser destinados a
estimularem o seu envolvimento e o seu compromisso financeiro;
• nomear representantes para tratarem de todos os assuntos
respeitantes ao património arquitetônico e aos sítios;
• organizar agências especiais para proporcionarem ligações diretas
entre os potenciais utilizadores dos edifícios e os respectivos
proprietários;
• facilitar a formação e o eficiente funcionamento de associações de
voluntários para o restauro e para a reabilitação.
As autoridades locais devem melhorar as técnicas de consulta para a
avaliação das opiniões das partes interessadas nos planos de conservação e
devem ter essas opiniões em consideração desde os estados iniciais do
planejamento. Como parte dos seus esforços para informarem o público sobre
as decisões das autoridades locais, estas devem ser publicadas usando-se uma
linguagem clara e universalmente compreensível, para que assim os
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habitantes locais possam aprender, discutir e avaliar os seus fundamentos.
Devem ser disponibilizados locais de reunião para que os membros do público
possam debater entre si. A este respeito, devem tornar-se prática comum
métodos tais como encontros públicos, exposições, sondagens de opinião, o uso
dos meios de comunicação social e outros métodos adequados.
A educação dos jovens sobre as questões ambientais e o seu
envolvimento nas tarefas da conservação é uma das exigências comunitárias
mais importantes. Devem ser estudadas as propostas ou alternativas
avançadas por grupos ou indivíduos como sendo contribuições importantes
para o planejamento.
As autoridades locais podem beneficiar muito a partir das experiências
das outras. Por essa razão, elas devem estabelecer uma troca contínua de
informações e de ideias através de todos os canais disponíveis.
O sucesso de qualquer política de conservação integrada depende de
serem tomados em consideração os fatores sociais.
Uma política de conservação também significa a integração do
património cultural na vida social.
O esforço de conservação a ser feito deve ser medido não só em relação
ao valor cultural do edifício, mas também em relação ao seu valor de utilização.
Os problemas sociais da conservação integrada só podem ser corretamente
equacionados através de referências simultâneas a estas duas escalas de
valores.
A reabilitação de um complexo arquitetônico que faz parte do património
cultural não é necessariamente mais cara do que a construção de um edifício
novo numa infraestrutura existente, ou mesmo a construção de um complexo
novo num local previamente não desenvolvido. Assim, quando se comparam os
custos destas três soluções, cujas consequências sociais são bastantes
diferentes, é importante que não se esqueçam os custos sociais. Estes não
dizem apenas respeito aos proprietários e inquilinos, mas também aos
operários, comerciantes e empreiteiros da construção locais que têm como
objetivo manterem a região viva.
Para se evitar que as leis do mercado tenham liberdade total nas zonas
restauradas e reabilitadas, tendo como consequência que os habitantes
incapazes de pagarem o aumento das rendas sejam expulsos, as autoridades
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públicas devem intervir para reduzirem o efeito dos fatores econômicos, tal
como eles sempre atuam, quando se trata do caso de habitação de baixo custo.
As intervenções financeiras devem ter como objetivo atingirem um equilíbrio
entre a recompensa do restauro para os proprietários, combinado com a fixação
de rendas máximas, e subsídios de arrendamento para os inquilinos que
cubram, em parte ou na totalidade, a diferença entre as rendas velhas e as
rendas novas.
Para se conseguir que a população participe na elaboração dos
programas, tem que se lhe fornecer os fatos necessários para que compreenda a
situação, por um lado através da explicação do valor histórico e arquitetônico
dos edifícios a serem conservados, e por outro entregando-lhe uma informação
completa sobre o realojamento temporário e permanente.
Esta participação é da maior importância porque se trata não só de se
restaurarem alguns edifícios privilegiados, mas de se reabilitarem áreas
inteiras.
Esta forma prática de interessar o público pela cultura pode ser de
grande benefício social.
A conservação integrada carece da adoção de medidas legislativas e
administrativas.
Como o conceito de património arquitetônico tem vindo a ser
gradualmente alargado, desde os edifícios históricos individuais, passando
pelos complexos arquitetônico urbanos e rurais, até aos testemunhos
construídos dos períodos recentes, conseguirem-se reformas legislativas em
conjunto com aumentos nos recursos administrativos é um pré-requisito para
uma ação eficaz.
Esta reforma deve ser guiada pela necessidade de se coordenar a
legislação regional sobre planejamento com a legislação sobre a proteção do
património arquitetônico.
Esta última deve proporcionar uma nova definição de património
arquitetônico e dos objetivos da conservação integrada. Além disso, ela deve
fazer provisões especiais sobre procedimentos especiais respeitantes:
• à designação e delineação dos complexos arquitetônicos;
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• ao mapeamento das zonas periféricas de proteção e das limitações ao
uso a serem impostas, tendo em vista o interesse público;
• à preparação de esquemas de conservação integrados e à inclusão das
respectivas provisões nas políticas de planejamento regional;
• à aprovação das obras e às suas licenças de execução. Além disso deve
ser promulgada a legislação necessária para:
• se garantir uma alocação de recursos orçamentais equilibrada entre a
reabilitação e o redesenvolvimento;
• se garantir aos cidadãos que decidam reabilitar edifícios antigos pelo
menos as mesmas vantagens financeiras de que gozam para a
construção nova;
• se rever o sistema de apoios financeiros estatais à luz da nova política
de conservação integrada.
Tanto quanto possível, ser relaxada a aplicação da regulamentação sobre
construção para se ir ao encontro das necessidades da conservação integrada.
Tendo em vista aumentar-se a capacidade operacional das autoridades,
é necessário rever-se a estrutura da administração para se garantir que os
departamentos responsáveis pelo património cultural estão organizados aos
níveis apropriados e que há suficiente pessoal qualificado e que são postos à
sua disposição os recursos científicos, técnicos e financeiros essenciais.
Estes departamentos devem apoiar as autoridades locais, cooperar com
as repartições de planejamento regional e manter um contacto permanente
com o público e com os organismos privados.
A conservação integrada necessita de meios financeiros apropriados.
É difícil definir-se uma política financeira aplicável a todos os países ou
avaliarem-se as consequências das diferentes medidas envolvidas no processo
de planejamento, por causa das suas múltiplas repercussões. Mais ainda, este
processo é, ele próprio, governado por fatores externos consequentes da atual
estrutura da sociedade.
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139
Compete a cada estado definir os seus próprios métodos e instrumentos
de financiamento.
No entanto, pode-se declarar, com alguma certeza, que praticamente em
nenhum país da Europa são suficientes os recursos alocados à conservação.
Além disso, é aparente que nenhum país da Europa conseguiu ainda
definir a maquinaria administrativa ideal para ir ao encontro dos requisitos
econômicos de uma política de conservação. Para se conseguir resolver os
problemas econômicos de uma política de conservação integrada é importante
– e este é um fator decisivo – preparar-se legislação que submeta os edifícios
novos a certas restrições correspondentes ao seu volume e dimensões (altura,
coeficiente de utilização, etc.) que os faça serem harmoniosos com as
respectivas envolventes.
Os regulamentos de planejamento devem desencorajar o aumento de
densidade e promover a reabilitação, em vez do redesenvolvimento.
Devem ser encontrados os métodos corretos para se avaliarem os custos
extraordinários provocados pelos constrangimentos dos programas de
conservação. Sempre que possível, devem ser disponibilizados fundos
suficientes para auxílio aos proprietários que sejam obrigados a executarem
este trabalho de restauro, adequados aos custos extraordinários – nem mais
nem menos.
Se o critério dos custos extraordinários for aceite, deve ser prestada
atenção a verificar-se se o resultado não fica diminuído pela tributação.
Deve ser aplicado o mesmo princípio à reabilitação dos complexos
dilapidados que tenham interesse histórico ou arquitetônico. Isto tenderá a
restaurar o equilíbrio social.
Os apoios financeiros e as isenções de taxas existentes para a construção
nova devem ser disponibilizados na mesma proporção para a manutenção e
para a conservação dos edifícios antigos menos, claro, qualquer compensação
por custos extraordinários que lhes tenha sido atribuída.
As autoridades devem preparar Fundos Reembolsáveis, ou encorajar o
seu estabelecimento, proporcionando os necessários capitais às autoridades
locais ou às associações sem fins lucrativos. Isto aplica-se especialmente às
áreas onde tais programas possam tornar-se auto financiáveis, a curto ou a
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longo prazo, graças à subida do valor consequente da elevada procura de
propriedades tão atrativas.
No entanto, é vital encorajarem-se todas as fontes de financiamento
privado, especialmente as que sejam provenientes da indústria. Numerosas
iniciativas privadas têm demonstrado o papel viável que podem desempenhar
junto das autoridades quer a nível nacional, quer a nível local.
A conservação integrada requer a promoção de métodos, técnicas e
competências para o restauro e reabilitação.
Devem ser melhor explorados os métodos, as técnicas e as competências
do restauro e reabilitação dos complexos históricos, e deve ser desenvolvida a
sua abrangência. As técnicas especializadas que têm sido desenvolvidas para o
restauro dos complexos históricos importantes devem ser, a partir de agora,
aplicadas à mais vasta gama de edifícios e complexos com mérito artístico
menos evidente.
Devem ser tomadas medidas para se garantir que permanecem à venda
os materiais de construção tradicionais, e que continuam a ser empregues os
ofícios e técnicas tradicionais.
A manutenção permanente do património arquitetônico vai evitar, a
longo prazo, as dispendiosas operações de reabilitação, como é óbvio.
Todos os esquemas de reabilitação devem ser cuidadosamente estudados
antes de serem executados. Deve ser reunida documentação abrangente acerca
dos materiais e das técnicas, e deve ser feita uma análise de custos. Esta
documentação deve ser coligida e guardada em centros apropriados.
Só devem ser usados novos materiais e técnicas depois da sua aprovação
por instituições científicas independentes.
Deve ser empreendida uma pesquisa para a compilação de um catálogo
de métodos e técnicas usadas na conservação e, para este efeito, devem ser
criadas instituições científicas que devem cooperar apertadamente entre si.
Este catálogo deve ser rapidamente disponibilizado e distribuído a todas as
pessoas interessadas, estimulando-se assim a reforma das práticas do restauro
e da reabilitação.
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141
Existe uma necessidade fundamental de melhores programas de
formação para a produção de pessoal qualificado. Estes programas devem ser
flexíveis, multidisciplinares e devem incluir cursos onde possa ser obtida
experiência de campo.
O intercâmbio internacional de conhecimentos, experiências e
formandos é um elemento essencial na formação de todo o pessoal envolvido.
Ele deve ajudar à criação das necessárias equipes de planejadores,
arquitetos, técnicos e operários que preparem programas de conservação e
ajudem a garantir que vão ser preservados determinados ofícios necessários às
obras de restauro, que estão em risco de desaparecerem.
As oportunidades de qualificação, as condições de trabalho, os salários, a
segurança no emprego e o estatuto social devem ser suficientemente atrativos
para induzirem os jovens a abraçarem e a seguirem as disciplinas relacionadas
com as obras de restauro e de reabilitação.
A partir de agora, as autoridades responsáveis pelos programas
educativos a todos os níveis devem empenhar-se na promoção do interesse dos
jovens pelas disciplinas da conservação.
Cartas Patrimoniais:
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MANIFESTO DE AMSTERDÃ
De Outubro de 1975
Carta Europeia do Patrimônio Arquitetônico – Ano do Patrimônio Europeu
Mil delegados de 25 Países Europeus (ministros, arquitetos, urbanistas, eleitos
locais, funcionários, representantes de associações).
Adotada pelo Comitê dos Ministros do Conselho da Europa, em 26 de setembro
de 1975, a Carta Europeia do Patrimônio Arquitetônico foi solenemente
promulgada no Congresso sobre o Patrimônio Arquitetônico Europeu, realizado
em Amsterdã, de 21 a 25 de outubro de 1975.
O Comitê de Ministros,
Considerando que o objetivo do Conselho da Europa é efetivar uma
união mais estreita entre seus membros, principalmente para salvaguardar e
promover os ideais e os princípios que lhes são patrimônio comum;
Considerando que os Estados Membros do Conselho da Europa,
participantes da Convenção Cultural Europeia de 19 de dezembro de 1954,
acham-se empenhados, em virtude do artigo primeiro dessa convenção, a
adotar as medidas necessárias a salvaguardar sua contribuição ao patrimônio
cultural comum da Europa e a encorajar-lhe o desenvolvimento;
Reconhecendo que o patrimônio arquitetônico, expressão insubstituível
da riqueza e da diversidade da cultura europeia, é herança comum de todos os
povos e que sua conservação compromete, por consequência, a solidariedade
efetiva dos Estados europeus;
Considerando que a conservação do patrimônio arquitetônico depende,
em grande parte, de sua integração no quadro de vida dos cidadãos e de sua
valorização nos planejamentos físico-territorial e nos planos urbanos;
Tendo em vista a recomendação da Conferência de Ministros Europeus
Responsáveis pelo Patrimônio Arquitetônico, realizada em Bruxelas, em 1969,
e a recomendação número 589 (de 1970) da Assembleia Consultiva do Conselho
da Europa, relativa a uma carta do patrimônio arquitetônico;
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Reafirma sua disposição de promover uma política europeia comum e
uma ação adequada de proteção do patrimônio arquitetônico apoiadas nos
princípios de sua conservação integrada;
Recomenda que os governos dos Estados Membros adotem as medidas
de ordem legislativa, administrativa, financeira e educativa necessárias à
implementação de uma política de conservação integrada do patrimônio
arquitetônico e a desenvolver o interesse do público por essa política, levando
em conta os resultados da campanha do Ano Europeu do Patrimônio
Arquitetônico, organizado em 1975, sob os auspícios do Conselho da Europa;
Adota e promulga os princípios da presente carta, preparada pelo
Comitê dos Monumentos e Sítios do Conselho da Europa, abaixo redigidos:
O patrimônio arquitetônico europeu é constituído não somente por
nossos monumentos mais importantes, mais também pelos conjuntos que
constituem nossas antigas cidades e povoações tradicionais em seu ambiente
natural ou constituído.
Durante muito tempo só se protegeram e restauraram os monumentos
mais importantes, sem levar em conta o ambiente em que se inserem. Ora, eles
podem perder uma grande parte de seu caráter se esse ambiente é alterado.
Por outro lado, os conjuntos, mesmo que não disponham de edificações
excepcionais, podem oferecer uma qualidade de atmosfera produzida por obras
de arte diversas e articuladas. É preciso conservar tanto esses conjuntos
quantos aqueles.
O patrimônio arquitetônico dá testemunho da presença da história e de
sua importância m nossa vida.
A encarnação do passado no patrimônio arquitetônico constitui um
ambiente indispensável ao equilíbrio e ao desenvolvimento do homem.
Os homens do nosso tempo, em presença de uma civilização que muda de
feição e cujos perigos são tão manifestos quanto os bons resultados, se
percebem instintivamente do valor desse patrimônio.
É uma parte essencial da memória dos homens de hoje em dia e se não
for possível transmiti-la às gerações futuras na sua riqueza autêntica e em sua
diversidade, a humanidade seria amputada de uma parte da consciência de
sua própria continuidade.
Cartas Patrimoniais:
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O patrimônio arquitetônico é um capital espiritual, cultural, econômico e
social cujos valores insubstituíveis.
Cada geração dá uma interpretação diferente ao passado e dele extrai
novas ideias. Qualquer diminuição desse capital é, portanto, mais um
empobrecimento cuja perda em valores acumulados não pode ser compensada,
mesmo por criações de alta qualidade.
Por outro lado, a necessidade de poupar recursos impõe-se a nossa
sociedade. Longe de ser um luxo para a coletividade, a utilização desse
patrimônio é uma fonte de economias.
A estrutura dos conjuntos históricos favorece o equilíbrio harmonioso
das sociedades.
Esses conjuntos se constituem efetivamente em meios próprios ao
desenvolvimento de um amplo leque de atividades. No passado, eles
geralmente evitaram a segregação das classes sociais. Podem facilitar, de novo,
uma boa repartição das funções e uma integração maior das populações.
O patrimônio arquitetônico tem um valor educativo determinante.
Ele oferece um conteúdo privilegiado de explicações e comparações sobre
o sentido das formas e um manancial de exemplos de suas utilizações. Ora, a
imagem e o contato direto adquirem novamente uma importância decisiva na
formação dos homens. Importa, portanto, conservar vivos os testemunhos de
todas as épocas e de todas as experimentações.
A sobrevivência desses testemunhos só estará assegurada se a
necessidade de sua proteção for compreendida pela maior parte e,
especialmente pelas gerações jovens, que por eles serão responsáveis no futuro.
Esse patrimônio está em perigo.
Ele está ameaçado pela ignorância, pela antiguidade, pela degradação
sob todas as formas, pelo abandono. Determinado tipo de urbanismo é
destruidor quanto às autoridades são exageradamente sensíveis às pressões
econômicas e às exigências da circulação. A tecnologia contemporânea, mal
aplicada, destrói as antigas estruturas. As restaurações abusivas são nefastas.
Afinal e principalmente, a especulação financeira e imobiliária tiram partido
de tudo e aniquilam os melhores projetos.
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A conservação integrada afasta as ameaças.
A conservação integrada é o resultado da ação conjugada das técnicas da
restauração e da pesquisa de funções apropriadas. A evolução histórica levou
os centros degradados das cidades e, eventualmente, as pequenas cidades
abandonadas e se tornarem reservas de alojamento barato. Sua restauração
deve ser conduzida por um espírito de justiça social e não deve ser
acompanhada pelo êxodo de todos os habitantes de condição modesta. A
conservação integrada deve ser, por isso, um dos pressupostos do planejamento
urbano e regional.
Convém nota que essa conservação integrada não exclui completamente
a arquitetura contemporânea nos conjuntos antigos e que ela deverá ter na
maior conta o entorno existente, respeitar as proporções, a forma e a disposição
dos volumes, assim como os materiais tradicionais.
A conservação integrada requer a utilização de recursos jurídicos,
administrativos, financeiros e técnicos.
Recursos Jurídicos
A conservação integrada deve utilizar todas as leis e regulamentos
existentes que possam concorrer para a salvaguarda e para a proteção do
patrimônio, qualquer que seja a sua origem. Quando essas disposições não
permitirem a obtenção do objetivo buscando, é preciso complementá-las e criar
os instrumentos jurídicos indispensáveis a níveis apropriados: nacional,
regional e local.
Recursos Administrativos
A aplicação de um tal política exige a utilização de estruturas
administrativas adequadas e suficientemente valorizadas.
Recursos Financeiros
A manutenção e restauração dos elementos do patrimônio arquitetônico
devem poder se beneficiar, em se apresentando ocasião, de todas as ajudas e
incentivos financeiros necessários, aí compreendidos os recursos fiscais.
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146
É essencial que os recursos financeiros consagrados pelos poderes
públicos à restauração de conjuntos antigos sejam, pelo menos, iguais aos que
se destinam a novas construções.
Recursos Técnicos
Os arquitetos, os técnicos de todas as categoriais, as empresas
especializadas, os artesãos qualificados, capazes de levar a bom termo as
restaurações, são insuficientes em número.
É preciso desenvolver a formação e o emprego dos quadros e da mão de
obra, convocar as indústrias da construção a se adaptarem a essas
necessidades e favorecer o desenvolvimento de um artesanato ameaçado de
desaparecimento.
É indispensável o concurso de todos para o êxito da conservação
integrada.
Ainda que o patrimônio arquitetônico seja propriedade de todos, cada
uma das suas partes está à mercê de cada um.
Cada geração, aliás, só dispõe do patrimônio a título passageiro. Cabe-
lhe a responsabilidade de o transmitir às gerações futuras.
A informação do público deve mais desenvolvida na medida em que os
cidadãos têm o direito de participar das decisões que dizem respeito a sua
condições de vida.
O patrimônio arquitetônico é o bem comum de nosso continente.
Todos os problemas de conservação são comuns a toda a Europa e devem
ser tratados de maneira coordenada. Cabe ao Conselho da Europa assegurar a
coerência da política de seus Estados Membros e promover sua solidariedade.
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O APELO DE GRANADA
A ARQUITETURA RURAL NO ORDENAMENTO DO
TERRITORIO1
Conselho da Europa, 1976.
1. A Arquitetura rural e a sua paisagem estão ameaçadas de extinção.
Por um lado, encontram-se ameaçadas pelo desenvolvimento industrial da
agricultura que provoca reconstituições das parcelas de terreno
excessivamente severas, não se contentando com as antigas construções e, por
outro lado temos o abandono, total ou parcial, das regiões cuja exploração
agrícola já não é considerada rentável.
2. A natureza excessivamente explorada é objeto de desequilíbrios
ecológicos perigosos. A natureza abandonada é igualmente palco de perigosas
erosões. Devemos tomar consciência destes graves perigos e tudo deve ser feito
para alterar uma situação que apenas pode piorar, por falta duma modificação
radical de orientação.
3. A preservação do meio natural europeu de elevada qualidade impõe-
nos o seguinte:
a) obedecer estritamente às leis ecológicas na concepção dos progressos
técnicos;
b) procurar todos os meios de conservação e de utilização do património
arquitetônico rural, o qual está intimamente ligado às paisagens
humanizadas do nosso continente.
4. Os males apresentados resultam das condições socioeconômicas atuais
das comunidades rurais. A procura de soluções implica a divulgação das
origens exatas desta situação. Qualquer correção pressupõe o acordo e o esforço
das comunidades interessadas.
5. Esse esforço passa obrigatoriamente por:
a) uma repartição equilibrada das populações no conjunto do território;
1 Tradução Ana Tavares. CELAM- ULHT. In: Cadernos de Sociomuseologia, n. 15, 1999, p.
209-214. (com adaptações).
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A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
148
b) a criação de empregos e a articulação de atividades diversificadas tais
como a agricultura tradicional, o artesanato, as mini-indústrias, as
atividades de lazer, etc.
O mesmo conduzirá ao pleno desenvolvimento das comunidades e
permitirá a integração dos valores culturais rurais na cultura global do nosso
tempo. A conservação do património arquitetônico e paisagístico é ao mesmo
tempo um elemento e uma consequência essencial para os mesmos.
6. Essa conservação integrada deve, por conseguinte, tornar-se um dos
objetivos do ordenamento do território. A mesma implica uma política a longo
prazo de desenvolvimento da sociedade, baseada no respeito das relações
harmoniosas entre o Homem e a Natureza.
CONCLUSÕES DA CONFRONTAÇÃO
1. Os participantes consideram que é preciso reconhecer no património
arquitetônico rural não apenas valores estéticos, mas também o testemunho
duma sabedoria secular. Os mesmos concordaram em considerar como fazendo
parte desse património todas as construções isoladas ou formando um conjunto
que:
Estejam ligadas a atividades agropastoris e florestais assim como a
pesca; apresentem interesse, quer pelo seu valor histórico, arqueológico,
artístico, lendário, cientifico ou social, quer pelo seu caráter típico ou pitoresco;
se integrem na paisagem de modo coerente.
Esse patrimônio encontra-se atualmente ameaçado. o seu
desaparecimento constituiria uma perda irreparável.
2. Os desenvolvimentos de forma industrializada da agricultura,
justificados pela racionalização da produção, provocam profundas alterações
estruturais dos traços característicos da paisagem (sebes, declives, pequenos
bosques, ribeiros, etc.) e a desfiguração do patrimônio construído, pela
introdução de elementos mal adaptados as antigas construções.
A esta evolução se junta o êxodo rural: este reforça os graves
desequilíbrios demográficos e econômicos a nível regional e nacional; o mesmo
e normalmente acompanhado pelos seguintes aspectos:
O envelhecimento das populações agrícolas, a degradação e por fim o
desaparecimento do patrimônio construído, a invasão das construções
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
149
abandonadas por parte duma população citadina que as desnatura mediante
transformações estranhas ao seu caráter, a proliferação de novas construções
sendo usadas como residência secundaria e concebidas ignorando a tradição.
Esses fenômenos contribuem para o desaparecimento da cultura local
perante a cultura dominante na nossa sociedade industrial, e por consequência
dar-se o empobrecimento do patrimônio cultural geral. Desse modo alguns
camponeses alteram, ou chegam a destruir as suas casas para as substituírem
por modelos urbanos. Por outro lado, as implantações industriais mal
estudadas também podem alterar profundamente o caráter das paisagens.
Finalmente, uma promoção desmesurada do turismo provoca perturbações
profundas na vida rural e uma degradação do panorama geral.
3. Os participantes recordam que:
O ano europeu da natureza 1970, o ano europeu do patrimônio
arquitetônico 1975, mobilizaram a opinião publica europeia porque eram o
reflexo dum vasto fenômeno de recusa duma utilização irrefletida do espaço
natural e construído;
Adotando a carta europeia dos solos do conselho da Europa, os governos
subscreveram a sua proteção perante o desenvolvimento abusivo dum certo
tipo de mecanização incompatível com a preservação da fertilidade da terra;
A conservação do patrimônio arquitetônico inscreve-se numa política de
crescimento gradual baseado nomeadamente na recuperação dos recursos
naturais ou construções existentes.
4. Os participantes sublinham que o espaço rural corresponde a
necessidade dum quadro de vida de qualidade, cuja necessidade e cada vez
maior, quer seja para residência permanente ou para os tempos livres.
5. Por conseguinte, os participantes recomendam aos governos:
Que a política de conservação integrada do patrimônio arquitetônico seja
também aplicada às zonas rurais de modo o mais alargado possível, no quadro
da planificação econômica e de ordenamento do território;
Que se apoie numa política predial ativa;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
150
Que todas as medidas de equipamento sejam tomadas para se reduzir e
finalmente se anular a inferioridade do campo em relação à cidade e reforçar a
atração do meio rural.
Que nesse meio, o urbanismo trate com um cuidado especial todas as
novas implantações importantes (indústria, infraestruturas, etc.);
Que sejam procurados os seguintes objetivos: na situação duma
economia rural competitiva: adaptar as construções existentes a evolução das
suas funções preservando o seu caráter; procurar a integração o mais rigorosa
possível dos novos edifícios considerados indispensáveis; para esses fins dotar-
se dos meios de ajuda e de inspeção (assistência arquitetônica e técnica,
vigilância estética); numa economia rural não competitiva: reforçar as
atividades tradicionais afetando nomeadamente as ajudas públicas para a
modernização de explorações agrícolas dificilmente rentáveis; promover novas
atividades com uma política voluntaria de criação e de repartição territorial
dos empregos. esta deveria, não apenas tentar suster o êxodo dos jovens, mas
também facilitar a sua instalação em zonas onde um envelhecimento ou uma
redução sensível da população se tenham verificado; melhorar a vida
econômica e rural através: da formação e da instalação de artesãos,
especialmente de construção, trabalhando, em caso de necessidade, a tempo
parcial e capazes de repararem os edifícios antigos; a criação de atividades
secundárias e terciárias, de modo a descentralizar melhor a gestão dos
assuntos públicos e privados e utilizando as potencialidades do patrimônio
edificado; da abertura pela criação de estradas e meios de transporte; da
promoção controlada do turismo nomeadamente pela criação de hotéis rurais;
conceder ajudas para os equipamentos coletivos, a melhoria da habitação
existente e a conservação da paisagem.
6. Além disso, os participantes recomendam aos governos que tenham
em consideração o fato da política de conservação, no âmbito do ordenamento
do território, apenas ser possível se existir um levantamento dos bens a serem
conservados.
Esses levantamentos podem assumir diferentes formas: uma lista
sumaria dos sítios naturais e construções apresentando um interesse geral; um
inventário mais pormenorizado que incluiria uma subdivisão tripla:
levantamento dos dados demográficos e socioeconômicos a nível do concelho ou
da região, consoante o caso: população, (estrutura e composição), estruturas
econômicas, estrutura das atividades (emprego, receitas); levantamento dos
sítios, incluindo não apenas a descrição do aspecto espacial, mas igualmente a
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
151
analise da estrutura histórica da paisagem; levantamento dos edifícios, feito a
partir de fichas individuais, incluindo a descrição pormenorizada do objeto,
uma apreciação da sua arquitetura, do seu valor histórico e estético, do estado
de conservação, e da sua localização em relação ao sitio.
7. Os participantes dirigem-se ao poder local:
Para lhes recordar as suas responsabilidades na aplicação inteligente e
flexível de qualquer política de conservação. com efeito, os mesmos constituem
os conselheiros mais ouvidos pela população e podem, pelo exemplo dado na
manutenção dos edifícios públicos, orientar os esforços de todos, para lhes
recomendar que criem os meios propícios de modo a suscitarem a participação
das populações facilitando todas as formas de diálogo e a consulta de
associações representativas; contribuindo para a realização de projetos dessas
associações por meio duma assistência técnica e financeira encorajando as
iniciativas tendentes a sensibilizar os cidadãos para os valores do seu
patrimônio, particularmente através de realizações exemplares que reúnam e
coordenem os fundos públicos e privados, que repartam equitativamente os
recursos em função das opções prioritárias, tendo em conta a importância dos
trabalhos de restauro e as possibilidades financeiras dos proprietários que se
dotem dum sistema de assistência arquitetônica própria para o
aconselhamento dos seus administrados antes da elaboração dos seus projetos
que se reúnam e coordenem a nível de meios o conjunto das possibilidades
jurídicas e financeiras oferecidas pelas legislações em vigor.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
152
RECOMENDAÇÃO DE NAIRÓBI
UNESCO, Novembro de 1976
19ª Sessão UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura
Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na
vida contemporânea.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Nairóbi, de 26 de outubro a 30 de
novembro de 1976, em sua décima nona sessão,
Considerando que os conjuntos históricos ou tradicionais fazem parte do
ambiente cotidiano dos seres humanos em todos os países, constituem a
presença viva do passado que lhes deu forma, asseguram ao quadro da vida a
variedade necessária para responder à diversidade da sociedade e, por isso,
adquirem um valor e uma dimensão humana suplementares,
Considerando que os conjuntos históricos ou tradicionais constituem
através das idades os testemunhos mais tangíveis da riqueza e da diversidade
das criações culturais, religiosas e sociais da humanidade e que sua
salvaguarda e integração da vida contemporânea são elementos fundamentais
na planificação das áreas urbanas e do planejamento físico-territorial,
Considerando que, diante dos perigos da uniformização e da
despersonalização que se manifestam constantemente em nossa época, esses
testemunhos vivos de épocas anteriores adquirem uma importância vital para
cada ser humano e para as nações que neles encontram a expressão de sua
cultura e, ao mesmo tempo, um dos fundamentos de sua identidade,
Considerando que, no mundo inteiro, sob pretexto de expansão ou de
modernização, destruições que ignoram o que destroem e reconstruções
irracionais e inadequadas ocasionam grave prejuízo a esse patrimônio,
Considerando que os conjuntos históricos ou tradicionais constituem um
patrimônio imobiliário cuja destruição provoca muitas vezes perturbações
sociais, mesmo quando não resulte em perdas econômicas,
Considerando que essa situação implica a responsabilidade de cada
cidadão e impõe aos poderes públicos obrigações que só eles podem assumir,
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
153
Considerando que, diante de tais perigos de deterioração e até de
desaparecimento total, todos os Estados devem agir para salvar esses valores
insubstituíveis, adotando urgentemente uma política global e ativa de proteção
e de revitalização dos conjuntos históricos ou tradicionais e de sua ambiência,
como parte do planejamento nacional, regional ou local,
Constatando que em muitos países falta uma legislação suficientemente
eficaz e flexível que diga respeito ao patrimônio arquitetônico e a suas relações
com o planejamento físico-territorial,
Observando que a Conferência Geral já adotou instrumentos
internacionais para a proteção do patrimônio cultural e natural, tais como a
Recomendação que Define os Princípios Internacionais a serem Aplicados em
Relação às Escavações Arqueológicas (1956), a Recomendação Relativa à
Salvaguarda da Beleza e do Caráter dos Sítios Paisagens (1962), a
Recomendação sobre a Preservação dos Bens Culturais Ameaçados pela
Realização de Obras Públicas ou Privadas (1968) e a Recomendação sobre a
Proteção, no Plano Nacional, do Patrimônio Cultural e Natural (1972).
Desejando complementar e ampliar o alcance das normas e dos
princípios formulados nesses instrumentos internacionais,
Tendo-lhe sido apresentadas propostas relativas à salvaguarda dos
conjuntos históricos ou tradicionais e sua função na vida contemporânea,
questão que constitui o ponto 27 da ordem do dia da sessão,
Tendo decidido, em sua décima oitava sessão, que esse assunto seria
objeto de uma recomendação aos Estados Membros,
Adota, em 26 de novembro de 1976, a presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que apliquem as
disposições seguintes, adotando medidas sob a forma de lei nacional ou de
outra forma, destinadas a efetivas, nos territórios sob sua jurisdição, os
princípios e as normas formuladas nesta recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que levem esta
recomendação ao conhecimento das autoridades nacionais, regionais e locais,
assim como às instituições, serviços ou órgãos e associações interessados na
salvaguarda dos conjuntos históricos ou tradicionais e seu entorno.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
154
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que lhe
apresentem, nas datas e na forma que ela determinar, relatórios sobre a
maneira como aplicaram a presente recomendação.
I – Definições
Para os efeitos da presente recomendação:
Considera-se conjunto histórico ou tradicional todo agrupamento de
construções e de espaços, inclusive os sítios arqueológicos e paleontológicos,
que constituam um assentamento humano, tanto no meio urbano quanto no
rural e cuja coesão e valor são reconhecidos do ponto de vista arqueológico,
arquitetônico, pré-histórico, histórico, estético ou sociocultural. Entre esses
“conjuntos”, que são muito variados, podem-se distinguir especialmente os
sítios pré-históricos, as cidades históricas, os bairros urbanos antigos, as
aldeias e lugarejos, assim como os conjuntos monumentais homogêneos,
ficando entendido que estes últimos deverão, em regra, ser conservados em sua
integridade.
Entende-se por “ambiência” dos conjuntos históricos ou tradicionais, o
quadro natural ou construído que influi na percepção estática ou dinâmica
desses conjuntos, ou a eles se vincula de maneira imediata no espaço, ou por
laços sociais, econômicos ou culturais.
Entende-se por “salvaguarda” a identificação, a proteção, a conservação,
a restauração, a reabilitação, a manutenção e a revitalização dos conjuntos
históricos ou tradicionais e de seu entorno.
II – Princípios Gerais:
Dever-se-ia considerar que os conjuntos históricos ou tradicionais e sua
ambiência constituem um patrimônio universal insubstituível. Sua
salvaguarda e integração na vida coletiva de nossa época deveriam ser uma
obrigação para os governos e para os cidadãos dos Estados em cujo território se
encontram. Deveriam ser responsáveis por isso, no interesse de todos os
cidadãos e da comunidade internacional, as autoridades nacionais, regionais
ou locais, segundo as condições próprias de cada Estado Membro em matéria
de distribuição de poderes.
Cada conjunto histórico ou tradicional e sua ambiência deveria ser
considerado em sua globalidade, como um todo coerente cujo equilíbrio e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
155
caráter específico dependem da síntese dos elementos que o compõem e que
compreendem tanto as atividades humanas como as construções, a estrutura
espacial e as zonas circundantes. Dessa maneira, todos os elementos válidos,
incluídas as atividades humanas, desde as mais modestas, têm, em relação ao
conjunto, uma significação que é preciso respeitar.
Os conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência deveriam ser
protegidos ativamente contra quaisquer deteriorações, particularmente as que
resultam de uma utilização imprópria, de acréscimos supérfluos e de
transformações abusivas ou desprovidas de sensibilidade que atentam contra
sua autenticidade, assim como as provocadas por qualquer forma de poluição.
Todos os trabalhos de restauração a serem empreendidos deveriam basear-se
em princípios científicos. Do mesmo modo, uma grande atenção deveria ser
dispensada à harmonia e à emoção estética que resultam da conexão ou do
contraste dos diferentes elementos que compõem os conjuntos e que dão a cada
um deles seu caráter particular.
Nas condições da urbanização moderna, que produz um aumento
considerável na escala e na densidade das construções, ao perigo da destruição
direta dos conjuntos históricos ou tradicionais se agrega o perigo real de que os
novos conjuntos destruam indiretamente a ambiência e o caráter dos conjuntos
destruam indiretamente a ambiência e o caráter dos conjuntos históricos
adjacentes. Os arquitetos e urbanistas deveriam empenhar-se para que a visão
dos monumentos e conjuntos históricos, ou a visão que a partir deles se obtém,
não se deteriore e para que esses conjuntos se integrem harmoniosamente na
vida contemporânea.
Numa época em que a crescente universalidade das técnicas
construtivas e das formas arquitetônicas apresentam o risco de provocar uma
uniformização dos assentamentos humanos no mundo inteiro, a salvaguarda
dos conjuntos históricos ou tradicionais pode contribuir extraordinariamente
para a manutenção e o desenvolvimento dos valores culturais e sociais
peculiares de cada nação e para o enriquecimento arquitetônico do patrimônio
cultural mundial.
III – Política Nacional, Regional e Local
Em cada Estado Membro deveria se formular, nas condições peculiares a
cada um em matéria de distribuição de poderes, uma política nacional,
regional e local a fim de que sejam adotadas medidas jurídicas, técnicas,
econômicas e sociais pelas autoridades nacionais, regionais e locais para
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
156
salvaguardar os conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência e adaptá-
los às exigências da vida contemporânea. Essa política deveria influenciar o
planejamento nacional, regional e local e orientar a ordenação urbana e rural e
o planejamento físico-territorial em todos os níveis. As ações resultantes desse
planejamento deveriam se integrar à formulação dos objetivos e programas, à
distribuição das funções e à execução das operações. Dever-se-ia buscar a
colaboração dos indivíduos e das associações privadas para a aplicação da
política de salvaguarda.
IV – Medidas de Salvaguarda
A salvaguarda dos conjuntos históricos ou tradicionais e de sua
ambiência deveria se ajustar aos princípios anteriormente enunciados e aos
métodos expostos a seguir, determinando-se as medidas concretas de acordo
com as competências legislativas e constitucionais e com a organização social e
econômica de cada Estado.
Medidas Jurídicas e Administrativas
A aplicação de uma política global de salvaguarda dos conjuntos
históricos e tradicionais e de sua ambiência deveria basear-se em princípios
válidos para cada país em sua totalidade. Os Estados Membros deveriam
adaptar as disposições existentes ou, se necessário, promulgar novos textos
legislativos e regulamentares para assegurar a salvaguarda dos conjuntos
históricos e tradicionais e de sua ambiência, levando em conta as disposições
contidas neste capítulo e nos seguintes. Conviria revisar as leis relativas ao
planejamento físico-territorial, ao urbanismo e à política habitacional de modo
a coordenar e harmonizar suas disposições com as das leis relativas à
salvaguarda do patrimônio arquitetônico. Essas legislações deveriam encorajar
a adaptação ou a adoção de disposições, nos planos urbanos, regional ou local,
para assegurar tal salvaguarda.
As disposições que estabeleçam um sistema de salvaguarda dos
conjuntos históricos ou tradicionais deveriam enunciar os princípios gerais
relativos ao estabelecimento e à adoção dos planos e documentos necessários e,
particularmente:
a) as condições e restrições gerais aplicáveis às zonas protegidas por lei e
a suas imediações;
b) a indicação dos programas e operações previstas em matéria de
conservação e de infraestrutura de serviços;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
157
c) as funções de manutenção e designação dos encarregados de empenhá-
las;
d) os campos a que se poderão aplicar as intervenções de urbanismo, de
reestruturação e de ordenação do espaço rural;
e) a designação do órgão encarregado de autorizar qualquer restauração,
modificação, nova construção ou demolição no perímetro protegido;
f) as modalidades de financiamento e de execução dos programas de
salvaguarda;
g) os planos e documentos de salvaguarda deveriam definir
especialmente:
h) as zonas e os elementos a serem protegidos;
i) as condições e restrições específicas que lhes dizem respeito;
j) as normas que regulamos trabalhos de manutenção, restauração e
transformação;
k) as condições gerais de instalação das redes de suprimento e dos
serviços necessários à vida urbana ou rural;
l) as condições que regerão a implantação de novas construções.
A legislação de salvaguarda deveria ser, em princípio, acompanhada de
disposições preventivas contra as infrações à regulamentação de salvaguarda e
contra qualquer alta especulativa dos valores imobiliários nas zonas
protegidas, que possa comprometer uma proteção e uma restauração
concebidas em função do interesse coletivo. Essas disposições poderiam
envolver medidas de planejamento urbano que influam no preço dos terrenos
por construir – tais como o estabelecimento de planos de ordenação distritais
ou de extensão mais reduzida, a concessão do direito de preempção e a um
órgão público, a expropriação no interesse da salvaguarda, ou a intervenção
compulsória em caso de incapacidade ou descumprimento por parte dos
proprietários – e instituir sanções efetivas como a suspensão das obras, a
obrigação de reconstituir e/ou multa apropriada.
O respeito às medidas de salvaguarda deveria ser imposto tanto às
coletividades públicas quanto às particulares. Dever-se-ia estabelecer, todavia,
um mecanismo de recurso contra as decisões legais, arbitrárias ou injustas.
As disposições referentes à construção de edifícios para órgãos públicos e
privados e a obras públicas e privadas deveriam adaptar-se à regulamentação
da salvaguarda dos conjuntos históricos e de sua ambiência.
Em particular, as disposições relativas aos imóveis e quarteirões
insalubres, assim como à construção de habitações sociais deveriam ser
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
158
concebidas ou reformuladas de modo que não apenas se ajustem à política de
salvaguarda, mas que para ela contribuam. O regime de eventuais subvenções
deveria ser, consequentemente, estabelecido e modulado, sobretudo, para
facilitar o desenvolvimento de habitação subsidiadas e de edifícios públicos
através da reabilitação de construções antigas. Só deveriam ser permitidas as
demolições de edificações sem valor histórico ou arquitetônico e as subvenções
ocasionalmente resultantes deveriam ser estritamente controladas. Além
disso, uma parte suficiente dos créditos previstos para a construção de
habitações sociais deveria ser destinada à reabilitação de edificações antigas.
Os efeitos legais das medidas de proteção a edificações e terrenos
deveriam ser levadas ao conhecimento público e registradas em um órgão
oficial competente.
Respeitadas as condições próprias a cada país e a distribuição de
poderes das diversas administrações nacionais, regionais e locais, a execução
de obras de salvaguarda deveria se inspirar nos seguintes princípios:
a) uma autoridade responsável deveria encarregar-se da coordenação
permanente de todos os intervenientes: serviços públicos nacionais,
regionais e locais ou grupos de particulares;
b) os planos e documentos de salvaguarda deveriam ser elaborados
depois que todos os estudos científicos necessários houverem sido
efetuados por equipes multidisciplinares compostas, principalmente de:
especialistas em conservação e restauração, incluídos os
historiadores da arte;
arquitetos e urbanistas;
sociólogos e economistas;
ecólogos e arquitetos paisagistas;
especialistas em saúde pública e assistência social;
c) e, em geral, especialistas em todas as matérias relativas à proteção e
revitalização dos conjuntos históricos e tradicionais;
d) as autoridades deveriam tomar a iniciativa de organizar a consulta e
a participação da população interessada;
e) os planos de salvaguarda deveriam ser aprovados pelos órgãos
designados por lei;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
159
f) os serviços públicos encarregados de aplicar as disposições de
salvaguarda em qualquer nível – nacional, regional e local – deveriam
contar com pessoal necessário e com meios técnicos, administrativos e
financeiros adquiridos.
Medidas Técnicas, Econômicas e Sociais
Dever-se-ia estabelecer, nos níveis nacional, regional ou local, uma
relação dos conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência a serem
salvaguardados. Essa relação deveria indicar prioridades para facilitar uma
alocação racional dos limitados recursos disponíveis para fins de salvaguarda.
As medidas de proteção, de qualquer tipo, que tiverem caráter urgente,
deveriam ser tomadas sem esperar que se estabeleçam planos e documentos de
salvaguarda.
Deveria ser feita uma análise de todo o conjunto, inclusive de sua
evolução espacial, que contivesse os dados arqueológicos, históricos,
arquitetônicos, técnicos e econômicos. Deveria ser produzido um documento
analítico destinado a determinar os imóveis ou os grupos de imóveis a serem
rigorosamente protegidos, conservados sob certas condições, ou, em
circunstâncias absolutamente excepcionais e escrupulosamente documentadas,
destruídos, o que permita às autoridades suspender qualquer obra
incompatível com esta recomendação. Além disso, deveria ser realizado, com a
mesma finalidade, um inventário dos espaços abertos, públicos e privados,
assim como de sua vegetação.
Além dessa investigação arquitetônica, são necessários estudos
pormenorizados dos dados e das estruturas sociais, econômicas, culturais e
técnicas, assim como do contexto urbano ou regional mais amplo. Esses
estudos deveriam abranger, se possível, dados demográficos e uma análise das
atividades econômicas, sociais e culturais, os modos de vida e as relações
sociais, os problemas fundiários, infraestrutura urbana, o estado do sistema
viário, as redes de comunicação e as inter-relações recíprocas da zona
protegida com as zonas circundadas. As autoridades competentes deveriam
atribuir suma importância a esses estudos e compreender que, sem eles, não
seria possível estabelecer planos eficazes de salvaguarda.
Antes da formulação de planos e normas de salvaguarda e depois da
análise acima descrita, conviria, em princípio, estabelecer uma programação
que se leva igualmente em consideração o respeito aos dados urbanísticos,
arquitetônicos, econômicos e sociais, e a capacidade de o tecido urbano e rural
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
160
acolher funções compatíveis com seu caráter específico. A programação deveria
visar à adaptação das densidades de ocupação e a prever o escalonamento das
operações, assim como a necessária acomodação temporária durante as obras e
os locais para realojamento permanente dos habitantes que não puderem
regressar a sua morada anterior. Essa programação deveria ser elaborada com
a maior participação possível das coletividades e populações interessadas. Uma
vez que o contexto social, econômico e físico dos conjuntos históricos e de sua
ambiência está em constante evolução os estudos e investigações deveriam.
Seria essencial, portanto, que a elaboração dos planos de salvaguarda e sua
execução se baseassem nos estudos disponíveis, em vez de serem retardadas
indefinidamente enquanto se aprimora o processo de planejamento.
Uma vez estabelecidos e aprovados os planos e normas de salvaguarda
pela autoridade pública competente, seria conveniente que seus autores fossem
encarregados de sua execução ou direção.
Nos conjuntos históricos ou tradicionais que possuírem elementos de
vários períodos diferentes, a ação de salvaguarda deveria levar em
consideração as manifestações de todos esses períodos.
Quando existirem planos de salvaguarda, os programas de saneamento
urbano ou de beneficiamento que consistirem na demolição de imóveis
desprovidos de interesse arquitetônico ou histórico ou arruinados demais para
serem conservados, na supressão de acréscimos e construções superpostas sem
valor e, até mesmo, na demolição de edificações recentes que rompam a
unidade do conjunto só poderão ser autorizados nos termos do plano de
salvaguarda.
Os programas de saneamento urbano ou de beneficiamento aplicáveis a
zonas que não estão incluídas nos planos de salvaguarda deveriam respeitar os
edifícios e outros elementos que possuam valor arquitetônico ou histórico e
seus acessórios. Se tais elementos estivessem arriscados a sofrer danos com
esses programas deveriam ser elaborados, necessária e previamente, os planos
de salvaguarda pertinentes.
É necessária uma vigilância permanente para evitar que essas
operações beneficiem apenas a especulação ou sejam utilizadas com finalidades
contrárias aos objetivos do plano.
Em qualquer operação ao saneamento urbano ou de beneficiamento que
afete um conjunto histórico deveriam ser observadas as normas gerais de
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
161
segurança relativa a incêndios e catástrofes naturais, desde que sejam
compatíveis com os créditos de salvaguarda do patrimônio cultural. Em caso
contrário, devem ser buscadas soluções particulares em colaboração com todos
os serviços interessados, a fim de garantir o máximo de segurança, sem
ameaça alguma ao patrimônio cultural.
Um cuidado especial deveria ser adotado na regulamentação e no
controle das novas construções para assegurar que sua arquitetura se
enquadre harmoniosamente nas estruturas espaciais e na ambiência dos
conjuntos históricos. Para isso, uma análise do contexto urbano deveria
preceder qualquer construção nova, não só para definir o caráter geral do
conjunto, como para analisar suas dominantes: harmonia das alturas, cores,
materiais e formas, elementos constitutivos do agenciamento das fachadas e
dos telhados, relações dos volumes construídos e dos espaços, assim como suas
proporções médias e a implantação dos edifícios. Uma atenção especial deveria
ser prestada à dimensão dos lotes, pois qualquer modificação poderia resultar
em um efeito de massa, prejudicial à harmonia do conjunto.
Não se deveria autorizar o isolamento de um monumento através da
supressão de seu entorno; do mesmo modo, seu deslocamento só deveria ser
decidido excepcionalmente e por razões de força maior.
Os conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência deveriam ser
protegidos contra a desfiguração resultante da instalação de suportes, cabos
elétricos ou telefônicos, antenas de televisão ou painéis publicitários de grande
escala. Se já existirem, deverão ser adotadas medidas adequadas para suprimi-
los. Os cartazes, a publicidade luminosa ou não, os letreiros comerciais, a
sinalização das ruas, o mobiliário urbano e o revestimento do solo deveriam ser
estudados e controlados com o maior cuidado, para que se integrem
harmoniosamente ao conjunto. Deveria ser feito um esforço especial para
evitar qualquer forma de vandalismo.
Os Estados Membros e as instituições interessadas deveriam proteger os
conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência contra os danos cada vez
mais graves causados por determinados avanços tecnológicos, tais como
quaisquer formas de poluição, através da proibição de se implantarem
indústrias nocivas em sua proximidade e da adoção de medidas preventivas
contra os efeitos destrutivos dos ruídos, dos choques e das vibrações produzidas
contra as deteriorações provenientes de uma excessiva exploração turística.
Cartas Patrimoniais:
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162
Dado o conflito existente na maior parte dos conjuntos históricos ou
tradicionais entre o trânsito automobilístico, por um lado e a densidade do
tecido urbano e as características arquitetônicas por outro, os Estados
Membros deveriam estimular e ajudar as autoridades locais a encontrar
soluções para esse problema. Para consegui-lo e para favorecer o trânsito de
pedestres, conviria estudar com extremo cuidado a localização e o acesso dos
parques de estacionamento não só dos periféricos como dos centrais, e
estabelecer redes de transporte que facilitem ao mesmo tempo a circulação de
pedestres, o acesso aos serviços e o transporte público. Numerosas operações de
reabilitação, tais como, entre outras, a instalação subterrânea de redes
elétricas e de outros cabos, que seriam demasiadamente onerosas se fossem
feitas separadamente, poderiam ser, então, coordenadas fácil e
economicamente com o desenvolvimento da rede viária.
A proteção e a restauração deveriam ser acompanhadas de atividades de
revitalização. Seria, portanto, essencial manter as funções apropriadas
existentes e, em particular, o comércio e o artesanato e criar outras novas que,
para serem viáveis a longo prazo, deveriam ser compatíveis com o contexto
econômico e social, urbano, regional ou nacional em que se inserem. O custo
das operações de salvaguarda não deveria ser avaliado apenas em função do
valor cultural das construções, mas também do valor derivado da utilização
que delas se possa fazer. Os problemas sociais decorrentes da salvaguarda só
podem ser colocados corretamente se houver referência a essas duas escalas de
valor. Essas funções teriam que se adaptar às necessidades sociais, culturais e
econômicas dos habitantes, sem contrariar o caráter específico do conjunto em
questão. Uma política de revitalização cultural deveria converter os conjuntos
históricos em polos de atividades culturais e atribuir-lhes um papel essencial
no desenvolvimento cultural das comunidades circundantes.
Nas zonas rurais todos os trabalhos que impliquem uma degradação da
paisagem, assim como quaisquer mudanças nas estruturas econômicas e
sociais deveriam ser cuidadosamente controlados para preservar a
integridades das comunidades rurais históricas em seu ambiente natural.
A ação de salvaguarda deveria associar a contribuição da autoridade
pública à dos proprietários particulares ou coletivos e à dos habitantes e
usuários, isoladamente ou em grupo, cujas iniciativas e participação ativa
deveriam ser estimuladas. Uma cooperação constante em todos os níveis
deveria, portanto, ser estabelecida entre as coletividades e os particulares,
especialmente através dos seguintes meios: informações adaptadas aos tipos de
pessoas atinentes; pesquisas preparadas com a participação das pessoas
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
163
interrogadas; criação de grupos consultivos nos órgãos de planejamento;
representação dos proprietários, dos habitantes e dos usuários, a título
consultivo, nos órgãos de decisão, de gestão e de revitalização das operações
relacionadas com os planos de salvaguarda, ou criação de órgãos de economia
mista que participem da execução.
Deveriam ser estimuladas a fundação de grupos voluntários de
salvaguarda e de associações de caráter não lucrativo e a instituição de
recompensas honoríficas ou pecuniárias para que sejam reconhecidas as
realizações exemplares em todos os campos de salvaguarda.
Os investimentos públicos previstos pelos planos de salvaguarda dos
conjuntos históricos e de sua ambiência deveriam ser avalizados pela
consignação de créditos adequados nos orçamentos das autoridades centrais,
regionais e locais. O conjunto desses créditos deveria ser administrado de
forma centralizada pelos órgãos de direito público, privado ou mistos
encarregados de coordenar nos níveis nacional, regional ou local todas as
formas de ajuda financeira e de orientá-las a uma aplicação global.
A ajuda pública, em qualquer das formas descritas nos parágrafos
seguintes, deveria pressupor as intervenções da coletividade, onde for
necessário e conveniente, e levar em consideração o custo adicional da
restauração, ou seja, o custo suplementar imposto ao proprietário em relação
ao novo valor venal ou locativo do edifício.
Em geral, esses investimentos públicos deveriam servir, antes de mais
nada, para conservar os edifícios existentes, particularmente as habitações de
baixa renda e somente aplicar-se a novas construções na medida em que elas
não constituírem uma ameaça à utilização e às funções dos edifícios existentes.
Dever-se-iam conceder doações, incentivos fiscais, subsídios ou
empréstimos em condições favoráveis aos proprietários particulares e usuários
que houverem realizado as obras estabelecidas pelos planos de salvaguarda e
de acordo com as normas fixadas por esses planos. Esses incentivos fiscais,
doações, subsídios e empréstimos poderiam ser concedidos, em caráter
comerciais, pois as operações agrupadas se tornam economicamente mais
vantajosas que as ações individuais. As vantagens financeiras a serem
concedidas aos proprietários particulares e aos usuários deveriam estar,
eventualmente, subordinadas ao acatamento de determinadas condições
impostas no interesse do público, tais como garantia da integridade dos
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
164
moveis, possibilidade de visitação aos edifícios, acesso aos parques, jardins ou
sítios, realização de fotografias, etc.
Dotações especiais deveriam ser previstas nos orçamentos dos órgãos
públicos ou privados para a proteção dos conjuntos históricos ou tradicionais
ameaçados por grandes públicas ou privadas e pela poluição. As autoridades
públicas deveriam prever igualmente dotações especiais para a reparação dos
danos causados pelos desastres naturais.
Todos os serviços e administrações que atuam na construção pública
deveriam, ainda, agenciar seus programas e orçamentos de maneira a
contribuir para a reabilitação dos conjuntos históricos ou tradicionais, através
do financiamento a obras que correspondam simultaneamente a seus próprios
objetivos e aos dos planos de salvaguarda.
Para aumentar os recursos financeiros disponíveis os Estados Membros
deveriam incrementar a criação de estabelecimentos financeiros públicos ou
privados para a salvaguarda dos conjuntos históricos e tradicionais e de sua
ambiência, dotados de personalidade jurídica e que pudessem receber doações
de particulares, de fundações e de empresas industriais e comerciais. Os
doadores poderiam desfrutar de isenções fiscais.
As instituições públicas e os estabelecimentos de crédito privados
poderiam facilitar o financiamento a obras de qualquer gênero destinadas a
proteger os conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência, através da
criação de um órgão que se encarregasse da concessão de empréstimos aos
proprietários, com taxas reduzidas e longos prazos de reembolso.
Os Estados Membros e as autoridades interessadas em todos os níveis
poderiam facilitar a criação de associações sem fins lucrativos que se
encarregassem da aquisição e, se for o caso, depois de restaurá-los, da venda
dos imóveis mediante a utilização de fundos de operações especialmente
destinados a manter nos conjuntos históricos ou tradicionais os proprietários
que desejarem protegê-los a preservar suas características.
É essencial evitar que as medidas de salvaguarda acarretem uma
ruptura da trama social. Para evitar, nos imóveis ou nos conjuntos a serem
restaurados, o traslado dos habitantes, com prejuízo dos menos favorecidos,
poderiam ser concedidas indenizações que compensassem a alta do aluguel,
para que os ocupantes pudessem conservar suas habitações e seus pontos de
comércio e produção assim como seus modos de vida e sua ocupações
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
165
tradicionais, especialmente o artesanato rural, a agricultura em pequena
escala, a pesca etc. Essas indenizações, determinadas em função dos
rendimentos, ajudariam os interessados fazer frente ao aumento dos encargos
provocados pelas obras realizadas.
V – Pesquisa, Ensino e Informação
Para aperfeiçoar a competência dos especialistas e dos artesãos
necessários e para fomentar o interesse e a participação de toda a população no
trabalho de salvaguarda, os Estados Membros deveriam doar as medidas que
se seguem, de acordo com sua competência legislativa e constitucional.
Os Estados Membros e as coletividades interessadas deveriam encorajar
as pesquisas e os estudos sistemáticos sobre:
aspectos urbanísticos dos conjuntos históricos ou tradicionais e de
sua ambiências;
as interconexões entre salvaguarda, urbanismo urbano e
planejamento físico-territorial;
os métodos de conservação aplicáveis aos conjuntos históricos;
a alteração dos materiais;
a aplicação das técnicas modernas aos trabalhos de conservação;
as técnicas artesanais indispensáveis à salvaguarda.
Deveriam ser instaurados e desenvolvidos ensinamentos específicos
sobre os temas acima e que compreendesse estágios de formação prática. Além
disso, é indispensável estimular a formação de técnicos e de artesãos
especializados na salvaguarda dos conjuntos e de quaisquer espaços abertos
que os circundam. O desenvolvimento das técnicas artesanais, ameaçados pelo
processo de industrialização, também deveria ser estimulado. Seria de desejar
que as instituições interessadas cooperassem nessa esfera com os organismos
internacionais especializados no assunto, tais como o Centro de Estudos para a
Conservação e a Restauração dos Bens Culturais, em Roma, o Conselho
Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS) e o Conselho Internacional
de Museus (ICOM).
A formação de pessoal administrativo encarregado das operações locais e
salvaguarda dos setores históricos deveria, onde for adequado e necessário, ser
financiada e dirigida pelas autoridades competentes, de acordo com um
programa a longo prazo.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
166
A tomada de consciência em relação à necessidade da salvaguarda
deveria ser estimuladas pela educação escolar, pós-escolar e universitária e
pelo recurso aos meios de informação tais como os livros, a imprensa, a
televisão, o rádio e o cinema e as exposições itinerantes. As vantagens, não
apenas estéticas e culturais, mas também sociais e econômicas que pode
oferecer uma política bem conduzida de salvaguarda dos conjuntos históricos
ou tradicionais e sua ambiência deveriam ser objeto de uma informação clara e
completa. Essa informação deveria ser amplamente difundida entre os
organismos especializados, tanto privados como públicos, nacionais, regionais e
locais entre a população, para que saiba porque e como seu padrão de vida
pode ser melhorado.
O estudo dos conjuntos históricos deveria ser incluído no ensino em
todos os níveis e, particularmente, no de história, para inculcar no espírito dos
jovens a compreensão e o respeito às obras do passado e para mostrar o papel
desse patrimônio na vida contemporânea. Esse ensino deveria utilizar
amplamente os meios audiovisuais e as visitas aos conjuntos históricos ou
tradicionais.
Conviria facilitar o acesso a cursos de aperfeiçoamento e reciclagem para
pessoal docente e para guias, bem como a formação de instrutores para ajudar
os grupos de jovens e de adultos desejosos de se iniciar no conhecimento dos
conjuntos históricos ou tradicionais.
VI – Cooperação Internacional
Os Estados Membros deveriam colaborar, no que se refere à salvaguarda
dos conjuntos históricos ou tradicionais e de sua ambiência, recorrendo, se for
necessário, à ajuda de organizações internacionais, intergovernamentais e não
governamentais, principalmente ao Centro de Documentação UNESCO –
ICOM – ICOMOS. Essa cooperação multilateral ou bilateral deveria ser
judiciosamente coordenada e concretizar-se através de medidas com as
seguintes:
a) intercâmbio de informações de todos os gêneros e de publicações
científicas e técnicas;
b) organização de seminários e de grupos de trabalho sobre temas
específicos;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
167
c) concessão de bolsas de estudos e de viagem, envio de pessoal
científico, técnico e administrativo e fornecimento de material;
d) luta contra todas as formas de poluição;
e) execução de grandes projetos de salvaguarda de conjuntos históricos
ou tradicionais e de sua ambiência e difusão da experiência adquirida.
Nas regiões situadas de um lado e de outro de uma fronteira onde
ocorrerem problemas comuns de planejamento e salvaguarda dos
conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência, os Estados
Membros deveriam coordenar suas políticas e ações para conseguir a
melhor utilização e proteção desse patrimônio;
f) assistência mútua entre países vizinhos para a salvaguarda de
conjuntos de interesse comum, característicos do desenvolvimento
histórico e cultural de região.
De acordo com o espírito e com os princípios da presente recomendação,
nenhum Estado Membro deveria tomar qualquer medida para demolir ou
alterar as características dos bairros, cidades e sítios históricos situados nos
territórios ocupados por esse Estado.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
168
CARTA DE TURISMO CULTURAL
De 1976 - ICOMOS
Introdução:
1) ICOMOS tem como objetivo promover os meios para salvaguardar e
garantir a conservação, realce e apreciação dos monumentos e sítios que
constituem uma parte privilegiada do patrimônio da humanidade.
2) Em virtude dele, sente-se diretamente concernido pelos efeitos – tanto
positivos como negativos – sobre o mencionado patrimônio derivado do
desenvolvimento extraordinariamente forte das atividades turísticas do
mundo. ICOMOS é consciente de que hoje, menos que nunca, o esforço vindo de
qualquer organismo, por muito poderoso que seja em seu âmbito, não pode
influir decisivamente no curso dos acontecimentos. Por essa razão tem que se
levar em conta uma reflexão conjunta com as grandes organizações mundiais
ou regionais que, de uma forma ou de outra, dividem estas preocupações e que
desejam contribuir a aumentar um esforço universal, coerente e eficaz.
3) Os representantes dessas entidades, reunidos em Bruxelas (Bélgica),
em 8 e 9 de novembro de 1976, no Seminário Internacional de Turismo
Contemporâneo e Humanismo, entraram em acordo no seguinte:
Postura Básica
1) O turismo é um feito social, humano, econômico e cultural
irreversível. Sua influência no campo dos monumentos e sítios é
particularmente importante e só pode aumentar, dados os conhecidos fatores
de desenvolvimento de tal atividade.
2) Contemplado com a perspectiva dos próximos vinte e cinco anos,
dentro do contexto dos fenômenos expansivos que afronta o gênero humano e
que podem produzir graves consequências, o turismo aparece como um dos
fenômenos propícios para exercer uma influência altamente significativa no
entorno do homem em geral e dos monumentos e sítios em particular. Para que
resulte tolerável, a dita influência deve ser estudada cuidadosamente, e ser
objeto de uma política concertada e efetiva a todos os níveis. Sem pretende
fazer frente a esta necessidade em todos os seus aspectos, se considera que a
presente aproximação, limitada ao turismo cultural, constitui um elemento
positivo para a solução global que se requer.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
169
3) O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo,
entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos.
Exerce um efeito realmente positivo sobre estes tanto quanto contribui – para
satisfazer seus próprios fins – a sua manutenção e proteção. Esta reforma de
turismo justifica, de fato, os esforços que tal manutenção e proteção exigem da
comunidade humana, devido aos benefícios socioculturais e econômicos que
comporta para toda a população.
4) Sem dúvida, qualquer que seja sua motivação e os benefícios que
possui, o turismo cultural não pode estar desligado dos efeitos negativos,
nocivos e destrutivos que acarreta o uso massivo e descontrolado dos
monumentos e dos sítios. O respeito a estes, ainda que se trate do desejo
elementar de mantê-los num estado de aparência que lhes permita
desempenhar seu papel como elementos de atração turística e de educação
cultural, leva consigo a definição; o desenvolvimento de regras que mantenham
níveis aceitáveis. Em todo caso, com uma perspectiva de futuro, o respeito ao
patrimônio mundial, cultural e natural, é o que deve prevalecer sobre qualquer
outra consideração, por muito justificada que esta se paute desde o ponto de
vista social, político ou econômico. Tal respeito só pode assegurar-se mediante
uma política dirigida à doação do equipamento necessário e à orientação do
movimento turístico, que tenha em conta as limitações de uso e de densidade
que não podem ser ignoradas impunemente. Além do mais, é preciso condenar
toda doação de equipamentos turísticos ou de serviços que entre em
contradição com a primordial preocupação que há de ser o respeito devido ao
patrimônio cultural existente.
Bases de atuação:
1) Fundamentando-se no que foi dito anteriormente:
2) Por uma parte as entidades representativas do setor turístico e, por
outra, as de proteção do patrimônio natural e cultural, profundamente
convencidas de que a preservação e promoção do patrimônio natural e cultural
para o benefício da maioria somente se pode cumprir dentro de uma ordem
pelo qual se integram os valores culturais e os objetivos sociais e econômicos
que formam parte da planificação dos recursos dos Estados, regionais e
municípios;
3) Tomam nota, com o maior interesse, das medidas formuladas nos
apêndices desta declaração, que cada um deles está disposto a adotar em sua
esfera de influência;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
170
4) Fazem um chamamento aos Estados para que estes assegurem uma
rápida e enérgica aplicação da Convenção Internacional para a Proteção do
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural adotada em 16 de novembro de 1972,
assim como a Recomendação de Nairóbi;
5) Confiam em que a Organização Mundial de Turismo, em
cumprimento de seus fins, e a UNESCO, no marco da mencionada Convenção,
realizem o maior esforço possível, em colaboração com os organismos
signatários, e com todos aqueles que no futuro se adirão, para assegurar a
aplicação da política que as ditas entidades têm definido como a única capaz de
proteger o gênero humano dos efeitos do incremento de um turismo anárquico
cujo resultado é a negação de seus próprios objetivos;
6) Expressam seu desejo de que os Estados, por meio de suas estruturas
administrativas, as organizações de operadores de turismo e as associações de
consumidores e usuários adotem todas as medidas apropriadas para facilitar a
informação e formação das pessoas que planejam viajar com fins turísticos
dentro e fora de seu país;
7) Conscientes da extrema necessidade de modificar a atual atitude do
público em geral sobre os grandes fenômenos desencadeados pelo
desenvolvimento massivo do turismo, desejam que, desde a idade escolar, as
crianças e os adolescentes sejam educados em conhecimento e em respeito
pelos monumentos e sítios e o patrimônio cultural, e que todos os meios de
comunicação escrita, falada ou visual exponham ao público os componentes
deste problema, com o qual contribuam de uma forma efetiva à formação de
uma consciência universal;
8) Unanimemente prestos à proteção do patrimônio cultural que é a
verdadeira base do turismo internacional, se comprometem a ajudar na luta
iniciada em todos as frentes contra a destruição deste patrimônio por todo tipo
de contaminação; e, ao efeito, se apela aos arquitetos e experts científicos de
todo o mundo para que os mais avançados recursos da moderna tecnologia
sejam postos a serviços da proteção dos monumentos.
9) Recomendam que os especialistas chamados a planejar e levar a cabo
o uso turístico do patrimônio cultural e natural recebam uma formação
adaptada à natureza multidisciplinar do problema e participem, desde seu
começo, na programação e realização dos planos de desenvolvimento e
equipamento turístico;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
171
10) Declaram solenemente que sua ação tem como fim o respeito e a
proteção da autenticidade e diversidade dos valores culturais, tanto nos países
e regiões em vias de desenvolvimento como nos industrializados, e há que a
sorte do patrimônio cultural da humanidade é realmente idêntica ante a
perspectiva do provável desenvolvimento e expansão do turismo.
Cartas Patrimoniais:
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172
CARTA DE MACHU PICHU
De Dezembro de 1977
Encontro Internacional de Arquitetos
Passaram-se quase 45 anos desde que o CIAM elaborou um documento
sobre teoria e metodologia de planejamento, que recebeu o nome de Carta de
Atenas.
Muitos fenômenos novos emergiram durante esse tempo e exigem uma
revisão da carta que a complemente com um documento de enfoque e
amplitude mundiais, a ser analisado interdisciplinarmente em uma discussão
internacional que inclua intelectuais e profissionais, institutos de pesquisas e
universidades de todos os países.
Houve alguns esforços para atualizar a Carta de Atenas e o presente
documento só pretende ser ponto de partida para tal empresa, devendo
salientar, em primeiro lugar, que a Carta de Atenas, de 1933, é ainda um
documento fundamental para a nossa época. Que pode ser atualizado, mas não
negado. Muitos de seus noventa e cinco pontos são válidos, ainda, como
testemunho da vitalidade e da continuidade do movimento moderno, tanto em
planejamento como em arquitetura.
Atenas, 1933; Machu Pichu, 1977. Os lugares são significativos. Atenas
se ergueu como o berço da civilização ocidental; Machu Pichu simboliza a
contribuição cultural independente de outro mundo. Atenas representou a
racionalidade personificada por Aristóteles e Platão. Machu Pichu representa
tudo o que não envolve a mentalidade global iluminística e tudo o que não é
classificável por sua lógica.
Cidade e Região
A Carta de Atenas reconheceu a unidade essencial das cidades e suas
regiões circundantes. A fraqueza da sociedade ao enfrentar as necessidades do
crescimento urbano e as mudanças socioeconômicas requer a afirmação desse
princípio em termos mais específicos e urgentes.
Hoje, características do processo de urbanização, através do mundo,
tornaram crítica à necessidade de uso mais efetivo dos recursos naturais e
humanos. Planejar, como um meio sistemático de analisar as necessidades,
incluindo problemas e oportunidades e guiando o crescimento e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
173
desenvolvimento urbanos dentro dos limites dos recursos disponíveis, é uma
obrigação fundamental dos governos, no que concerte aos núcleos humanos.
O planejamento, no contexto contemporâneo de urbanização, deve
refletir a unidade dinâmica das cidades e suas regiões circundantes, tanto
como as relações funcionais essenciais entre bairros, distritos e outras áreas
urbanas.
As técnicas e disciplinas do planejamento devem ser aplicadas a toda a
escala de grupos humanos – bairros, cidades, áreas metropolitanas, estados,
regiões e nações – para orientar sua localização, sequência e características de
desenvolvimento.
O objetivo do planejamento geral, incluindo o planejamento econômico, o
projeto e o planejamento urbano e a arquitetura, é, afinal, a interpretação das
necessidades humanas e a realização em um contexto de oportunidades de
formas e de serviços urbanos apropriados para a população. E isso requer um
processo contínuo e sistemático de interação entre os profissionais do projeto,
os moradores das cidades e seus líderes comunitários e políticos.
A desarticulação entre o planejamento econômico em nível nacional e
regional e o planejamento para o desenvolvimento urbano onerou e reduziu a
eficiência de ambos. As áreas urbanas muito frequentemente refletem os
efeitos adversos e específicos de decisões econômicas baseadas em
considerações amplas e relativamente abstratas, assim como em estratégias de
planejamento econômico a longo prazo. E tais decisões, em nível nacional, não
têm considerado diretamente as prioridades nem as soluções dos problemas
das áreas urbanas, nem as conexões operacionais entre a estratégia econômica
geral e o planejamento do desenvolvimento urbano. Por isso, os benefícios
potenciais do planejamento e da arquitetura não chegam à grande maioria.
O Crescimento Urbano
Desde a Carta de Atenas até nossos dias a população do mundo
duplicou, dando lugar à chamada crise tripla: ecológica, energética e
alimentícia. A elas temos que somar as crises de moradia e de serviços
urbanos, agravadas pelo fato de o ritmo de crescimento populacional das
cidades ser muito superior ao demográfico geral. As soluções urbanísticas
propugnadas pela Carta de Atenas não levaram em conta esse crescimento
acelerado, que constitui a raiz do problema de nossas cidades.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
174
Dentro do crescimento caótico das cidades, podemos diferenciar duas
categorias de movimentos: a primeira corresponde à dos países
industrializados, onde se dá a migração das populações mais abastadas em
direção aos subúrbios, consequência do uso de automóveis, abandonando as
áreas centrais das cidades que, assim, tendem a se deteriorar por deficiência
de recursos. A segunda categoria corresponde à das cidades dos países em
desenvolvimento, caracterizando-se pela maciça migração rural, que se instala
em bairros marginais carentes de serviços e de infraestrutura urbana.
Essas transferências quantitativas produzem transformações
qualitativas fundamentais, determinando que o processo urbano se nos
apresente totalmente diferente. Esse fenômeno não pode ser resolvido nem
sequer controlado pelos dispositivos e medidas que estão ao alcance do
planejamento urbano. Tais técnicas podem apenas tentar a incorporação das
áreas marginais ao organismo urbano e, muitas vezes, as medidas que se
adotam para regularizar a marginalização (dotação de serviços públicos, saúde
ambiental, programas de moradia, etc.) contribuem paradoxalmente para
agravar o problema, convertendo-se em incentivo que incrementa os
movimentos migratórios para as cidades.
Conceito de Setor
A Carta de Atenas assinalar que as chaves do urbanismo se encontram
nestas quatro funções básicas: de habitar, trabalhar, divertir-se e circular e
que os planos devem fixar sua estrutura e implantação.
Ela determinou cidades setorizadas em funções, onde um processo
analítico de clarificação tem sido usado como um processo sintético de
ordenação do espaço urbano. O resultado é a existência de cidades com uma
vida urbana amena, no nível de relacionamento humano, onde, afinal, cada
sítio arquitetônico resulta num objeto isolado e onde não se considera que a
mobilidade humana determine um espaço influente.
Atualmente, adquiriu-se consciência de que o processo urbanístico não
consiste em setorizar, mas em criar definitivamente uma integração
polifuncional e contextual.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
175
Moradia
Diferentemente da Carta de Atenas, consideramos que a comunicação
humana é um fator predominante na razão de ser da cidade. O planejamento
da cidade e da moradia, portanto, devem reconhecer este fato.
Consideramos, igualmente, que a qualidade de vida e a integração com o
meio ambiente natural devem ser objetivo básico na concepção dos espaços
habitáveis.
A casa popular não será considerada um objeto de consumo subsidiário,
mas um poderoso instrumento de desenvolvimento social.
O projeto da casa deve ter a flexibilidade necessária para adaptar-se à
dinâmica social, facilitando, portanto, a participação criadora do usuário.
Devem ser projetos elementos construtivos que possam ser fabricados
massificadamente para serem utilizados pelos usuários e que,
economicamente, estejam a seu alcance.
O mesmo espírito de integração que faz da comunicação entre os
moradores da cidade um elemento básico da vida urbana deve regular a
localização e a estruturação de áreas residenciais para diversas comunidades e
grupos, sem impor distinções inaceitáveis para o decoro humano.
Transportes nas cidades
As cidades deverão planejar e manter o transporte público de massa,
considerando-o como um elemento básico no processo de planejamento urbano.
O custo social do sistema de transporte deverá ser apropriadamente avaliado e
devidamente considerado no planejamento do crescimento de nossas cidades.
Na Carta de Atenas está explícito que a circulação é uma das funções
urbanas básicas e implícito que ela depende principalmente do uso do
automóvel como meio de transporte individual. Depois de quarenta e quatro
anos, comprovou-se que não há solução ótima para diferenciar, multiplicar e
solucionar cruzamentos de ruas. É necessário, portanto, enfatizar que a
solução para a função de circulação deve ser pesquisada mediante a
subordinação do transporte individual ao transporte coletivo de massa.
Os urbanistas devem conscientizar-se de que a cidade é uma estrutura
em desenvolvimento, cuja forma final não pode ser definida, razão pela qual
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
176
devem considerar as noções de flexibilidade e expansão urbanas. O transporte
e a comunicação formam uma série de redes interconectadas que servem como
sistema articulador entre espaços interiores e exteriores e deverão ser
projetados de forma que permitam experimentar indefinidamente mudanças
de extensão e forma.
Disponibilidade do solo urbano
A Carta de Atenas mostrou a necessidade de uma legislação que
permitisse dispor, sem impedimentos, do solo urbano para satisfazer as
necessidades coletivas. Para tanto, estabeleceu que o interesse privado devia
subordinar-se ao interesse coletivo.
Apesar de diversos esforços realizados desde 1933, as dificuldades de
disponibilidade de solo urbano que se mantêm como um obstáculo básico para
o planejamento urbano. Por isso, é desejável que se criem e se adotem soluções
legais eficientes capazes de produzir uma melhora substantiva a curto prazo.
Recursos naturais e a contaminação ambiental
Uma das formas mais atentatórias contra a natureza é, hoje, a
contaminação ambiental, que tem se agravado em proporções sem precedentes
e potencialmente catastróficas, como consequência direta da urbanização não
planejada e da excessiva exploração de recursos.
Nas áreas urbanizadas do mundo a população está cada vez mais sujeita
a condições ambientais que são incompatíveis com normas e conceitos
razoáveis de saúde e bem-estar humanos. Entre as características não
aceitáveis se incluem a prevalência de quantidades excessivas de perigosas
substâncias toxicas no ar, na água e nos alimentos da população urbana, além
dos níveis danosos de ruídos. As políticas oficiais que regem o desenvolvimento
urbano deverão incluir medidas imediatas para evitar que se acentue a
degradação do meio ambiente urbano e conseguir a restauração da integridade
básica do meio ambiente, de acordo com as normas de saúde e de bem-estar
social.
Estas medidas devem ser consideradas no planejamento urbano e
econômico, no projeto arquitetônico, nos critérios e normas de engenharia e nas
políticas de desenvolvimento.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
177
Preservação e defesa dos valores culturais e patrimônio histórico-
monumental
A identidade e o caráter de uma cidade são dados não só por sua
estrutura física, mas também, por suas características sociológicas. Por isso, é
necessário que não só se preserve e conserve o patrimônio histórico-
monumental, como também que se assuma a defesa do patrimônio cultural,
conservando os valores que são de fundamental importância para afirmar a
personalidade comunal ou nacional e/ou aqueles que têm um autêntico
significado para a cultura em geral.
Por isso mesmo, é imprescindível que na tarefa de conservação,
restauração e reciclagem das zonas monumentais e dos monumentos históricos
e arquitetônicos, considere-se a sua integração ao processo vivo do
desenvolvimento urbano como único meio que possibilite o financiamento da
operação.
No processo de reciclagem dessas zonas, deve ser considerada a
possibilidade de se construírem edifícios de arquitetura contemporânea de
melhor qualidade.
Tecnologia
A Carta de Atenas referiu-se tangencialmente ao processo tecnológico,
ao discutir o impacto da atividade industrial da cidade.
Nos últimos quarenta e cinco anos o mundo experimentou um
desenvolvimento tecnológico sem precedentes, que tem afetado nossas cidades
e também a prática da arquitetura e do urbanismo.
A tecnologia se desenvolveu explosivamente em algumas regiões do
mundo e sua difusão e aplicação eficaz é um dos problemas básicos de nossa
época.
Hoje, o desenvolvimento científico e tecnológico e a intercomunicação
entre os povos permitem superar as condicionantes locais e oferecer os mais
amplos recursos para resolver os problemas urbanísticos e arquitetônicos. O
mau uso dessa possibilidade determina que, frequentemente, se adotem
materiais, técnicas e características formais como resultado de pruridos de
novidade e complexos de dependência cultural.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
178
Neste sentido, usualmente, o impacto do desenvolvimento tecnológico-
mecânico tem determinado que a arquitetura seja um processo de criar
ambientes artificialmente condicionados a um clima e a uma iluminação não
naturais. Isso pode ser uma solução para determinados problemas, mas a
arquitetura deve ser um processo de criar ambientes condicionados em função
de elementos naturais. Deve-se entender que a tecnologia é meio e não fim e
que ela deve ser aplicada em função de uma realidade e de suas possibilidades
como resultado de um sério trabalho de investigação e experimentação,
trabalho que os governos devem ter em conta.
A dificuldade de utilizar processos altamente mecanizados ou materiais
construtivos eminentemente industrializados não deve significar uma
diminuição de rigor técnico ou de cabal resposta arquitetônica às exigências do
problema a resolver, mas, pelo contrário, um maior rigor no planejamento das
soluções possíveis para o meio.
A tecnologia construtiva deve considerar a possibilidade de reciclar os
materiais fim de conseguir transformar elementos construtivos em recursos
renováveis.
Implementação
O planejamento, os profissionais e as autoridades pertinentes devem ter
presente que o processo não termina na formulação de um plano e em sua
subsequente execução, mas que, sendo a cidade um organismo vivo, é
necessário considerar e prover os processos de sua manutenção.
Deve-se entender também que cada região e cada cidade, no processo de
sua implementação, deve criar e importar suas normas legais, de acordo com
seu meio ambiente, recursos e características formais próprias.
Projeto Urbanístico e Arquitetônico
A Carta de Atena não cuidou do projeto arquitetônico. Aqueles que a
formularam não consideraram necessário, porque concordavam que a
arquitetura era um jogo sábio de volumes puros sob a luz, la Ville Radieuse,
composta de tais volumes, aplicou uma linguagem arquitetônica de origem
cubista, perfeitamente coerente com o conceito que separou as cidades em
partes funcionais.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
179
Durante as últimas décadas, para a arquitetura contemporânea o
problema principal não é mais o jogo visual de volumes puros, mas a criação de
espaços sociais para neles se viver. A ênfase não está no continente, mas no
conteúdo, não na embalagem isolada, por mais bela e sofisticada que seja, mas
na continuidade da textura urbana. Em 1933, o esforço foi para desintegrar o
objeto arquitetônico e a cidade em seus componentes. Em 1977, o objeto deve
ser reintegrar esses componentes, que, fora de suas relações formais, perderam
a vitalidade e significado. Para precisar melhor, a reintegração, tanto na
arquitetura como no planejamento, não significa a integração a priori do
classicismo.
Deve ficar claramente estabelecido que as recentes tendências para o
ressurgimento da tradição das Beaux-Arts são anti-históricas em um grau
grotesco e não têm a importância que justifique sua discussão. Mas são
sintomas de uma obsolescência da linguagem arquitetônica para a qual
devemos ficar alertas, para não voltarmos a um espécie de cínico ecletismo do
século XIX, e sim avançar em direção a uma etapa mais madura do movimento
moderno.
As conquistas dos anos trinta, quando a Carta de Atenas foi
promulgada, são ainda válidas. Elas dizem respeito a:
a) a análise dos edifícios e de suas funções;
b) o princípio da dissonância;
c) a visão espaço-tempo antiperspectiva;
d) a desarticulação do tradicional edifício-caixa;
e) a reunificação da engenharia estrutural e da arquitetura;
A estas “constantes” ou “invariáveis” da linguagem arquitetônica têm se
somado:
f) a temporalidade do espaço;
g) a reintegração edifício-cidade-paisagem.
A temporalidade do espaço é a maior contribuição de Frank Lloyd
Wright e corresponde à visão dinâmica do espaço-tempo-cubista, enfoque
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
180
aplicado não só aos volumes, como também aos espaços humanos, não apenas
ao visual, mas também aos valores sociais. A reintegração edifício-cidade-
paisagem é uma consequência da unidade entre cidade e campo. É tempo de
recomendar aos arquitetos que tomem consciência do desenvolvimento
histórico do movimento moderno e cessem de multiplicar paisagens urbanas
obsoletas, feitas de volumes monumentais, sejam horizontais ou verticais,
opacos, reflexivo ou transparentes. O novo conceito de urbanização pede a
continuidade de edificação, o que implica que cada edifício não seja um objeto
finito, mas um elemento do continuum, que requer um diálogo com outros
elementos para completar sua própria imagem.
O princípio do não-finito não é novo. Foi explorado pelos maneiristas e,
de uma forma explosiva, por Michelangelo. Não obstante, em nossa época não é
apenas um princípio visual, mas fundamentalmente social. A experiência
artística nas últimas décadas, na música e nas artes visuais, tem demonstrado
que os artistas já não produzem um objeto finito, que eles se detêm no meio ou
nas três quartas partes do processo, de maneira que o espectador não seja um
contemplador passivo da obra artística, mas um fator ativo de mensagem
polivalente. No campo construtivo, a participação do usuário é ainda mais
importante e concreta. Significa que o povo deve participar ativa e
criativamente em casa fase do projeto, podendo, assim, os usuários integrar-se
no trabalho do arquiteto.
O enfoque do finito não diminui o prestigio do planejador ou do
arquiteto. As teorias da relatividade e da determinação não diminuíram o
prestígio dos cientistas. Ao contrário, incrementa-o, porque um cientista não
dogmático é muito mais respeitado que o velho deux ex machina. Se o povo for
incluído no processo do projeto, a relevância do arquiteto será enfatizada e a
inventiva arquitetônica será maior e mais rica. No momento em que os
arquitetos se libertarem dos conceitos acadêmicos do finito, sua imaginação
será estimulada pelo imenso patrimônio da arquitetura popular, dessa
arquitetura sem arquitetos, que tanto se tem estudado nas últimas décadas.
Quanto a isso, não obstante, deve-se ser cuidadoso. O fato de reconhecer
os edifícios vernaculares muito contribui para a imaginação arquitetônica não
significa que devam ser imitados. Tal atitude, hoje, é tão absurda como foi a
cópia do Partenon. O problema é totalmente diferente da imitação.
Está provado que o enfoque cultural do projeto arquitetônico, as ordens
vitruvianas e as Beaux Arts, tanto como os Cinco Princípios de Le Corbusier,
de 1921, se encontram e se fundem naturalmente com os idiomas populares. A
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
181
participação dos usuários faz mais orgânico e verdadeiro o encontro entre a
linguagem altamente cultural e a popular.
Algumas vezes se comparam, por sua monumentalidade, as construções
do antigo Peru com as pirâmides do Egito. Fisicamente, pelo grandioso em
ambas as concepções, procede o paralelo. Mas estas foram construídas como
um monumento à morte, exaltando a glória do monarca e, aquelas se
levantaram por obra e para o sustento das comunidades, como um monumento
à vida. Elas expressas volumétrica e espiritualmente o rumo diferente de duas
grandes civilizações que edificaram para a eternidade.
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182
CARTA DE BURRA
De 1980
Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios - ICOMOS
1. Definições
Artigo 1º. Para os fins das presentes orientações:
- O termo “bem” designará um local, uma zona, um edifício ou outra obra
construída, ou um conjunto de edificações ou outras obras que possuam
uma significação cultural, compreendidos, em cada caso, o conteúdo e o
entorno a que pertence.
- O termo “significação cultural” designará o valor estético, histórico,
científico ou social de um bem para as gerações passadas, presentes e
futuras.
- A substância será o conjunto de materiais que fisicamente constituem o
bem.
- O termo “conservação” designará os cuidados a serem dispensados a
um bem para preservar-lhe as características que apresentem uma
significação cultural. De acordo com as circunstâncias, a conservação
implicará ou não a preservação ou a restauração, além da manutenção;
ela poderá, igualmente, compreender obras mínimas de reconstrução ou
adaptação que atendam às necessidades e exigências práticas.
- O termo “manutenção” designará a proteção contínua da substância, do
conteúdo e do entorno de um bem e não deve ser confundido com o termo
reparação. A reparação implica a restauração e a reconstrução, e assim
será considerada.
- A preservação será a manutenção no estado da substância de um bem e
a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada.
- A restauração será o restabelecimento da substância de um bem em
um estado anterior conhecido.
- A reconstrução será o restabelecimento, com o máximo de exatidão, de
um estado anterior conhecido; ela se distingue pela introdução na
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183
substância existente de materiais diferentes, sejam novos ou antigos. A
reconstrução não deve ser confundida, nem com a recriação, nem com a
reconstrução hipotética, ambas excluídas do domínio regulamentado
pelas presentes orientações.
- A adaptação será o agenciamento de um bem a uma nova destinação
sem a destruição de sua significação cultural.
- O uso compatível designará uma utilização que não implique em
mudança na significação cultural da substância, modificações que sejam
substancialmente reversíveis ou que requeiram um impacto mínimo.
2. Conservação
Artigo 2º. O objetivo da conservação é preservar a significação cultural
de um bem; ela deve implicar medidas de segurança e manutenção, assim como
disposições que prevejam sua futura destinação.
Artigo 3º. A conservação se baseia no respeito à substância existente e
não deve deturpar o testemunho nela presente.
Artigo 4º. A conservação deve se valer do conjunto de disciplinas
capazes de contribuir para o estudo e a salvaguarda de um bem. As técnicas
empregadas devem, em princípio, ser de caráter tradicional, mas se pode, em
determinadas circunstâncias, utilizar técnicas modernas, desde que se
assentem em base científicas e que sua eficácia seja garantida por uma certa
experiência acumulada.
Artigo 5º. Na conservação de qualquer bem deve ser levado em
consideração o conjunto de indicadores de sua significação cultural; nenhum
deles deve ser revestido de uma importância injustificada em detrimento dos
demais.
Artigo 6º. As opções a serem feitas na conservação total ou parcial de
um bem deverão ser previamente definidas com base na compreensão de sua
significação cultural e de sua condição material.
Artigo 7º. As opções assim efetuadas determinarão as futuras
destinações consideradas compatíveis para o bem. As destinações compatíveis
são as que implicam a ausência de qualquer modificação, modificações
reversíveis em seu conjunto ou, ainda, modificações cujo impacto sobre as
Cartas Patrimoniais:
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184
partes da substância que apresentam uma significação cultural seja o menor
possível.
Artigo 8º. A conservação de um bem exige a manutenção de um entorno
visual apropriado, no plano das formas, da escala, das cores, da textura, dos
materiais, etc. Não deverão ser permitidas qualquer nova construção, nem
qualquer demolição ou modificação susceptíveis de causar prejuízo ao entorno.
A introdução de elementos estranhos ao meio circundante, que prejudiquem a
apreciação ou fruição do bem, deve ser proibida.
Artigo 9º. Todo edifício ou qualquer outra obra devem ser mantidos em
sua localização histórica. O deslocamento de uma edificação ou de qualquer
outra obra, integralmente ou em parte, não pode ser admitido, a não ser que
essa solução constitua o único meio de assegurar sua sobrevivência.
Artigo 10º. A retirada de um conteúdo ao qual o bem deve uma parte de
sua significação cultural não pode ser admitida, a menos que represente o
único meio de assegurar a salvaguarda e a segurança desse conteúdo. Nesse
caso, ele deverá ser restituído na medida em que novas circunstâncias o
permitirem.
3. Preservação
Artigo 11º. A preservação se impõe nos casos em que a própria
substância do bem, no estado em que se encontra, oferece testemunho de uma
significação cultural específica, assim como nos casos em que há insuficiência
de dados que permitam realizar a conservação sob outra forma.
Artigo 12º. A preservação se limita à proteção, à manutenção e à
eventual estabilização da substância existente. Não poderão ser admitidas
técnicas de estabilização que destruam a significação cultural do bem.
4. Restauração
Artigo 13º. A restauração só pode ser efetivada se existirem dados
suficientes que testemunhem um estado anterior da substância do bem e se o
restabelecimento desse estado conduzir a uma valorização da significação
cultural do referido bem. Nenhuma empreitada de restauração deve ser
empreendida sem a certeza de existirem recursos necessários para isso.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
185
Artigo 14º. A restauração deve servir para mostrar novos aspectos em
relação à significação cultural do bem. Ela se baseia no princípio do respeito ao
conjunto de testemunhos disponíveis, sejam materiais, documentais ou outros,
e deve para onde começa a hipótese.
Artigo 15º. A restauração pode implicar a reposição de elementos
desmembrados ou a retirada de acréscimos, nas condições previstas no artigo
16.
Artigo 16º. As contribuições de todas as épocas deverão ser respeitadas.
Quando a substância do bem pertencer a várias épocas diferentes, o resgate de
elementos datados de determinada época ou detrimento dos de outra só se
justifica se a significação cultural do que é retirado for de pouquíssima
importância em relação ao elemento a ser valorizado.
5. Reconstrução
Artigo 17º. A reconstrução deve ser efetivada quando constituir
condição sine qua non de sobrevivência de um bem cuja integridade tenha sido
comprometida por desgastes ou modificações, ou quando possibilite
restabelecer ao conjunto de um bem uma significação cultural perdida.
Artigo 18º. A reconstrução deve se limitar à colocação de elementos
destinados a completar uma entidade desfalcada e não deve significar a
construção da maior parte da substância de um bem.
Artigo 19º. A reconstrução deve se limitar à reprodução de substâncias
cujas características são conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou
documentais. As partes reconstruídas devem poder ser distinguidas quando
examinadas de perto.
Artigo 20º. A adaptação só pode ser tolerada na medida em que
represente o único meio de conservar o bem e não acarrete prejuízo sério a sua
significação cultural.
Artigo 21º. As obras de adaptação devem se limitar ao mínimo
indispensável à destinação do bem a uma utilização definida de acordo com os
termos dos artigos 6 e 7.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
186
Artigo 22º. Os elementos dotados de uma significação cultural que não
se possa evitar desmontar durante os trabalhos de adaptação deverão ser
conservados em lugar seguro, na previsão de posterior restauração do bem.
6. Procedimentos
Artigo 23º. Qualquer intervenção prevista em um bem deve ser
precedida de um estudo dos dados disponíveis, sejam eles materiais,
documentais ou outros. Qualquer transformação do aspecto de um bem deve
ser precedida da elaboração, por profissionais, de documentos que perpetuem
esse aspecto com exatidão.
Artigo 24º. Os estudos que implicam qualquer remoção de elementos
existentes ou escavações arqueológicas só devem ser efetivados quando forem
necessários para a obtenção de dados indispensáveis à tomada de decisões
relativas à conservação, do bem e/ou à obtenção de testemunhos materiais
fadados a desparecimento próximo ou a se tornarem inacessíveis por causa dos
trabalhos obrigatórios de conservação ou de qualquer outra intervenção
inevitável.
Artigo 25º. Qualquer ação de conservação a ser considerada deve ser
objeto de uma proposta escrita acompanhada de uma exposição de motivos que
justifique as decisões tomadas, com provas documentais de apoio (fotos,
desenhos, amostras, etc.).
Artigo 26º. As decisões de orientação geral devem proceder de
organismos cujos nomes serão devidamente comunicados, bem como o de seus
dirigentes responsáveis, devendo a cada decisão corresponder uma
responsabilidade específica.
Artigo 27º. Os trabalhos contratados devem ter acompanhamento
apropriado, exercido por profissionais, e deve ser mantido um diário no qual
serão consignadas as novidades surgidas, bem como as decisões tomadas,
conforme disposto no artigo 25 acima.
Artigo 28º. Os documentos consignados nos artigos 23, 25, 28 e 27
acima serão guardados nos arquivos de um órgão público e mantidos à
disposição do público.
Artigo 29º. Os objetos a que se refere o artigo 10 acima serão
catalogados e protegidos de acordo com normas profissionais.
Cartas Patrimoniais:
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CARTA DE FLORENÇA
De Maio de 1981
Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios – ICOMOS
Comitê Internacional de Jardins e Sítios Históricos – ICOMOS/IFLA
1. Preâmbulo
Reunidos em Florença, em 21 de maio de 1981, o Comitê Internacional
de Jardins Históricos e ICOMOS/IFLA decidiram elaborar uma carta relativa
à proteção dos jardins históricos, que levará o nome desta cidade. Essa carta
foi redigida pelo comitê e registrada em 15 de dezembro de 1982 pelo ICOMOS,
visando complementar a Carta de Veneza neste domínio particular.
2. Definição e objetivos
Artigo 1º. Um jardim histórico é uma composição arquitetônica e
vegetal que, do ponto de vista da história ou da parte, apresenta um interesse
público. Como tal é considerado monumento.
Artigo 2º. O jardim histórico é uma composição de arquitetura cujo
material é principalmente vegetal, portanto, vivo e, como tal, perceptível e
renovável.
Seu aspecto resulta, assim, de um perpétuo equilíbrio entre o movimento
cíclico das estações, do desenvolvimento e do definhamento da natureza, e da
vontade de arte e de artifício que tende a perenizar o seu estado.
Artigo 3º. Por ser monumento, o jardim histórico deve ser
salvaguardado, conforme espírito de Carta de Veneza. Todavia, como
Monumento Vivo, sua salvaguarda requer regras específicas que são objeto da
presente carta.
Artigo 4º. Destacam-se na composição arquitetônica do jardim histórico:
- seu plano e os diferentes perfis do seu terreno;
- suas massas vegetais: suas essências, seus volumes, seu jogo de cor,
seus espaçamentos, suas alturas respectivas;
- seus elementos constituídos ou decorativos;
- as águas moventes ou dormentes, reflexo do céu.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
188
Artigo 5º. Expressão de relações estreitas entre a civilização e a
natureza, lugar de deleite, apropriado à meditação e ao devaneio, o jardim
toma assim o sentido cósmico de uma imagem idealizada do mundo, um
paraíso no sentido etimológico do termo, mas que dá testemunho de uma
cultura, de um estilo, de uma época, eventualmente da originalidade de um
criador.
Artigo 6º. A denominação jardim histórico aplica-se tanto aos jardins
modestos quanto aos parques ordenados ou paisagísticos.
Artigo 7º. Ligado a um edifício, do qual será parte inseparável ou não, o
jardim histórico não pode ser separado de seu próprio meio ou ambiente
urbano ou rural, artificial ou natural.
Artigo 8º. Um sítio histórico é uma paisagem definida, evocadora de um
fato memorável: lugar de um acontecimento histórico maior, origem de um
mito ilustre ou de um combate épico, assunto de um quadro célebre etc.
Artigo 9º. A proteção dos jardins históricos exige que eles sejam
identificados e inventariados. Impõe intervenções diferenciadas, que são a
manutenção, a conservação, a restauração. Pode-se, eventualmente,
recomendar a reconstituição. A “autenticidade” diz respeito tanto ao desenho e
ao volume de partes quanto ao seu décor ou à escolha de vegetais ou de
minerais que os constituem.
3. Manutenção, conservação, restauração e reconstituição
Artigo 10. Qualquer operação de manutenção, de conservação,
restauração ou reconstituição de um jardim histórico ou de uma de suas partes
deve considerar simultaneamente todos os seus elementos. Separar-lhes os
tratamentos alteraria os laços que os unem.
Artigo 11. A manutenção do jardim histórico é uma operação primordial
e necessariamente contínua, sendo vegetal o material principal, é por
substituições pontuais e, a longo termo, por renovações cíclicas (corte raso e
replantação de elementos já formados) que a obra será mantida no estado.
Artigo 12. A escolha de espécies de árvores, arbustos, de plantas ou de
flores a serem substituídas periodicamente deve-se efetuar com observância
dos usos estabelecidos e reconhecidos para as diferentes zonas botânicas e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
189
culturais, em uma vontade de permanente conservação e pesquisa de espécies
de origem.
Artigo 13. Os elementos de arquitetura, de escultura ou de decoração,
fixos ou moveis, que fazem parte integrante do jardim histórico, não devem ser
retirados ou deslocados, senão na medida em que sua conservação ou sua
restauração o exijam. A substituição ou restauração o exijam. A substituição
ou restauração de elementos em perigo devem ser feitas conforme os princípios
da Carta de Veneza e a data de qualquer substituição será indicada.
Artigo 14. O jardim histórico deve ser conservado em um meio
ambiente apropriado. Qualquer modificação do meio físico, que coloque em
perigo o desequilíbrio ecológico, deve ser proibida. Essas medidas referem-se ao
conjunto de infraestruturas, sejam elas internas ou externas: canalizações,
sistemas de irrigação, caminhos, estacionamentos, cercas, dispositivos de
vigilância, de exploração etc.
4. Restauração e constituição
Artigo 15. Qualquer restauração e, com mais forte razão, qualquer
reconstituição de um jardim histórico só serão empreendidas após um estudo
aprofundado, que vá desde as escavações até a coleta de todos os documentos
referentes ao respectivo jardim e aos jardins análogos, suscetível de assegurar
o caráter científico da intervenção. Antes de qualquer execução, esse estudo
deverá resultar em um projeto que será submetido a um exame e a uma
aprovação dos colegiados.
Artigo 16. A intervenção de restauração deve respeitar a evolução do
respectivo jardim. Em princípio, ela não deveria privilegiar uma época à custa
de outra, salvo se a degradação ou o definhamento de certas partes puderem,
excepcionalmente, dar ensejo a uma reconstituição fundada sobre vestígios ou
sobre uma documentação irrecusável. Poderão ser, mais particularmente,
objeto de uma reconstituição eventual as partes do jardim mais próximos do
edifício, a fim de fazer ressaltar sua coerência.
Artigo 17. Quando um jardim houver desaparecido totalmente ou
quando só se possuírem elementos conjeturais de seus estados sucessivos, não
se poderia empreender uma reconstituição relevante da noção de jardim
histórico. Os trabalhos que, nesse caso, se inspirariam em formas tradicionais
sobre o terreno de um jardim antigo, ou em lugar onde nenhum jardim tenha
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
190
previamente existido, constituiriam então noções de evocação ou de criação,
excluída qualquer qualificação de jardim histórico.
5. Utilização
Artigo 18. Se todo jardim histórico é destinado a ser visto e percorrido,
conclui-se que o acesso a ele deve ser moderado, em função de sua extensão e
de sua fragilidade, de maneira a preservar sua substância e sua mensagem
cultural.
Artigo 19. Por sua natureza e por vocação, o jardim histórico é um lugar
tranquilo, que favorece o contato, o silêncio e a escuta da natureza. Essa
aproximação cotidiana deve contrastar com o uso excepcional de um jardim
histórico como local de acontecimentos festivos. Convém definir, então, as
condições de visita aos jardins históricos, de tal sorte que tais acontecimentos,
acolhidos excepcionalmente, possam por si mesmos exaltar o espetáculo do
jardim e não desnaturá-lo ou degradá-lo.
Artigo 20. Se, na vida cotidiana, os jardins podem acomodar-se à
prática de jogos tranquilos, convém criar, paralelamente aos jardins históricos,
terrenos apropriados aos jogos vivos e violentos aos esportes, de tal maneira
que se atenda a essa demanda social sem que ela prejudique a conservação de
jardins e dos sítios históricos.
Artigo 21. A prática da manutenção ou da conservação dos jardins
históricos, cuja duração é imposta pela estação, ou as curtas operações que
concorrem para lhes restituir a autenticidade, devem sempre ter prioridade
sobre as servidões de utilização. A organização de qualquer visita a um jardim
histórico deve ser submetida a regras de conveniência adequadas a preservar-
lhe o espírito.
Artigo 22. A retirada dos muros de um jardim cerca não poderia ser
empreendida sem levar em conta todas as consequências prejudiciais à
modificação de sua ambiência e de sua proteção.
6. Proteção legal e administrativa
Artigo 23. Cabe às autoridades responsáveis adotar, sob a orientação de
peritos competentes, as disposições legais e administrativas apropriadas a
identificar, inventariar e proteger os jardins históricos. Essa proteção deve ser
integrada aos planos de ocupação dos espaços urbanos e aos documentos do
Cartas Patrimoniais:
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191
planejamento físico-territorial. Cabe igualmente às autoridades responsáveis
assumir, conforme orientação de peritos competentes, as disposições
financeiras adequadas a favorecer a manutenção, a conservação, a restauração
e, eventualmente, a reconstituição dos jardins históricos.
Artigo 24. Os jardins históricos constituem um dos elementos do
patrimônio cuja sobrevivência, em razão de sua natureza, exige o máximo de
cuidados contínuos por parte de pessoas qualificadas. Convém, pois, que uma
pedagogia adequada assegure a formação dessas pessoas, quer se trate de
historiadores, de arquitetos, de paisagistas, de jardineiros ou de botânicos.
Deve-se também assegurar a produção regular de vegetais que entram na
composição dos jardins históricos.
Artigo 25. O interesse pelos jardins históricos deverá ser estimulado
por todas as ações apropriadas a valorizar esse patrimônio e a torná-lo melhor
conhecido e apreciado: promoção de pesquisa científica, intercâmbio
internacional e difusão de informação, publicação e divulgação, estímulo à
abertura controlada dos jardins ao público, sensibilização para o respeito à
natureza e ao patrimônio histórico pela mídia. Os mais eminentes jardins
históricos serão propostos para figurar na lista do patrimônio mundial.
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DECLARAÇÃO DE NAIRÓBI
De 10 a 18 de Maio de 1982 - Quênia
Assembleia Mundial dos Estados
UNEP – Organização das Nações para o Meio Ambiente
A Assembleia Mundial dos Estados, reunida em Nairóbi do dia 10 ao dia
18 de maio de 1982, a fim de comemorar o décimo aniversário da Conferência
das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, que ocorreu em Estocolmo,
tendo recapitulado as medidas tomadas para implementar a declaração e o
plano de ação adotados naquela conferência, roga solenemente a governos e
povos para agirem construtivamente a partir do processo alcançado até hoje,
embora expressando sua grave preocupação acerca do atual estado do
ambiente, em nível mundial, e reconhece a necessidade urgente de intensificar
esforços em nível global, regional e nacional de modo a protegê-lo e melhorá-lo.
A Conferência de Estocolmo constitui uma força poderosa que
incrementou a consciência e a compreensão públicas quanto à fragilidade do
meio ambiente. Os anos decorridos desde então registraram um progresso
significativo das ciências ambientais: expandiram-se consideravelmente a
educação, os meios de informação e a capacitação profissional: em muitos
países, passou-se a adotar a legislação ambiental e um número relevante de
países incorporou ao contexto de suas constituições, dispositivos relativos à
proteção ambiental. Além do programa ambiental das Nações Unidas, outras
organizações governamentais e não-governamentais foram implantadas em
todos os níveis e vários importantes convênios internacionais relativos à
cooperação ambiental foram concluídos. Os princípios da Declaração de
Estocolmo são tão válidos hoje como em 1972 e proporcionam um código básico
de comportamento para os anos vindouros.
No entanto, o plano de ação inicial foi apenas parcialmente
instrumental, e os resultados respectivos não podem ser considerados
satisfatórios. Com efeito, foram insuficientes a compreensão e a previsão
necessárias para entender o benefício a longo prazo de programas e ações
coordenadas de proteção ambiental. Do mesmo modo, nem os objetivos nem as
ações asseguram a disponibilidade e a distribuição equitativa de recursos
naturais. Eis porque o plano de ação inicial não teve a repercussão requerida
na totalidade da comunidade internacional. Algumas atividades humanas
descontroladas e não programadas determinaram a degradação crescente do
ambiente. O desmatamento, a degradação do solo e a desertificação atingiram
proporções alarmantes e puseram seriamente em risco as próprias condições de
Cartas Patrimoniais:
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193
sobrevivência em vastas regiões do planeta. As doenças associadas às
condições ambientais adversas continuaram a contribuir para o sofrimento
humano. Mudanças havidas na atmosfera, como as ocorridas na camada de
ozônio, a concentração crescente de dióxido de carbono e de chuvas ácidas; a
poluição das águas marinhas e interiores; o descuido a que tem sido votado o
destino final e a reutilização de substâncias perigosas, assim como a extinção
de espécies animais e vegetais constituem ameaças adicionais para o ambiente
humano.
No decurso da última década surgiram novas diretrizes: a necessidade
do levantamento e manejo das complexas e íntimas conexões entre o ambiente,
o desenvolvimento, a população e os recursos naturais por um lado e, por outro,
o impacto ocasionado, particularmente em áreas urbanas, pelo aumento da
população. Esses fatores foram amplamente discutidos. Uma consciência
específica e lúcida em nível regional, que destaque essas relações, pode vir a
contribuir para um desenvolvimento socioeconômico fundamentado e
permanente.
As ameaças ao meio ambiente são agravadas por estruturas coniventes
com a miséria, assim como com um consumismo e um desperdício abusivo:
ambos podem levar à exploração predatória do meio. A estratégia internacional
de desenvolvimento para a terceira década de ação das Nações Unidas e o
advento de uma nova ordem econômica internacional fazem parte, por
conseguinte, dos instrumentos primordiais no sentido do esforço global para
reverte o curso da agressão ambiental. Mecanismos conjugados de mercado e
de planejamento podem também contribuir para a racionalização do
desenvolvimento e do manejo do ambiente e dos recursos naturais.
Seria extremamente benéfico, para o ambiente humano, o
estabelecimento de uma atmosfera internacional de paz e de segurança que
permita ao homem viver livre da ameaça da guerra (especialmente de uma
guerra nuclear), e do desperdício de recursos intelectuais e naturais absorvidos
pelos programas armamentistas. Livre, também do apartheid, da segregação
racial e de todas as formas de discriminação, de colonialismo, de opressão e dos
recursos naturais.
Muitos problemas ambientais transcendem as fronteiras e deveriam,
quando necessário, ser resolvidos, para o bem de todos, por meio de consultas
intergovernamentais e de ações internacionais pertinentes. Para isso, os
Estados passariam a promover a promulgação progressiva da legislação
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
194
ambiental, incluindo convênios e convenções, aumentando ao mesmo tempo a
cooperação no campo da pesquisa científica e do manejo do ambiente.
As deficiências ambientais provenientes do subdesenvolvimento
(incluindo fatores externos que ultrapassam a capacidade de controle dos
países envolvidos) geram graves problemas que se podem combater graças a
uma distribuição mais equitativa de recursos econômicos e técnicos, dentro dos
próprios países e entre Estados. As nações desenvolvidas (ou quaisquer outros
países que se encontrem em condições de fazê-lo) deveriam prestar auxílio aos
países em vias de desenvolvimento afetados pelo desequilíbrio ambiental,
apesar dos seus esforços internos em confrontar seus problemas ambientais
mais sérios. A utilização de tecnologia apropriada, particularmente da
tecnologia elaborada por outros países em vias de desenvolvimento, poderia
compatibilizar o progresso econômico e social com a conservação de recursos
naturais.
Requer-se uma soma maior de esforços para desenvolver a metodologia e
o manejo adequados para a exploração e a utilização de recursos naturais e
para modernizar os sistemas tradicionais de pastoreio. Deve-se prestar uma
atenção particular o papel das inovações técnicas, no sentido de promover a
substituição, a reciclagem e a conservação de recursos naturais. O rápido
esgotamento das fontes tradicionais e convencionais de energia apresenta um
novo e premente desafio quanto ao seu manejo e conservação e à preservação
do meio ambiente. A programação racional e conjunta dos recursos energéticos,
entre as nações ou entre grupos de nações, apresenta possibilidades
promissoras. Medidas possibilitando, por exemplo, a elaboração de novas
fontes renováveis de energia terá um efeito benéfico no ambiente.
A prevenção de agressões ambientais é preferível à recuperação pesada e
onerosa dos danos que já tenham sido causados. Essa ação preventiva deveria
incluir a programação de todas as atividades que possam causar impacto
ambiental. Importa, além disso, incrementar a conscientização pública e
política sobre a importância do meio ambiente, visando aos meios de
informação, à educação e à capacitação profissional. O comportamento e a
participação responsáveis são essenciais para promover a causa do meio
ambiente. As organizações não governamentais têm um papel particularmente
relevante e inspirador nesse campo. Todas as empresas, inclusive as
corporações multinacionais, deveriam ser conscientizadas de sua
responsabilidade ambiental, antes de adotarem novos métodos e novas
tecnologias de produção industrial, ou de procederem à exportação de outros
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
195
países. Uma ação legislativa adequada e oportuna é importante nesse
particular.
A comunidade mundial de Estados reafirma, assim, solenemente, a sua
adesão à declaração e ao plano de ação adotados em Estocolmo, assim como ao
fortalecimento e ampliação de esforços nacionais e de atos de cooperação
internacional, no âmbito da proteção ambiental. Reafirma, igualmente, o seu
apoio no sentido de fortalecer o programa das Nações Unidas para o meio
ambiente, como instrumento catalisador primordial para a cooperação
ambiental global, fazendo apelo para que seja aumentada a disponibilidade de
recursos naturais, em particular, graças a Fundo Ambiental. Conclama todos
os governos e povos do mundo a assumirem, individual e coletivamente, a sua
responsabilidade histórica, de forma a assegurar que o nosso pequeno planeta
seja transmitido às futuras gerações em condições que garantam a vida e a
dignidade humana para todos.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
196
DECLARAÇÃO DE TLAXCALA
De Outubro de 1982
3º Colóquio Interamericano sobre a Conservação do Patrimônio Monumental
“Revitalização das Pequenas Aglomerações” - México
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos Sítios
Os participantes do Terceiro Colóquio Interamericano sobre a
Conservação do Patrimônio Monumental, sobre o tema A Revitalização de
Pequenas Aglomerações, organizado pelo Comitê Nacional do ICOMOS
mexicano e que se realizou em Trindade, Tlaxcala, de 25 a 28 de outubro de
1982, mostraram-se sensibilizados pelas atenções de que foram cercados e
exprimem sua gratidão aos representantes mexicanos pela acolhida calorosa,
pela qualidade dos trabalhos e pelos resultados obtidos nessa reunião.
Agradecem, de modo especial ao Governo do Estado de Tlaxcala por sua
hostilidade e reconhecem os esforços empreendidos para a conservação do
patrimônio arquitetônico e urbano que a historia lhe confiou e que tem grande
interesse para todos os povos da América.
Os delegados, após examinarem a situação atual na América em relação
aos perigos que ameaçam o patrimônio arquitetônico e a ambiência das
pequenas localidades, decidem adotar as seguintes conclusões:
Reafirmam que as pequenas aglomerações se constituem em reservas de
modos de vida que dão testemunho de nossas culturas, conservam uma escala
própria e personalizam as relações comunitárias, conferindo, assim, uma
identidade a seus habitantes.
Lembram que a conservação e realização das pequenas aglomerações
são, por um lado, uma obrigação moral e uma responsabilidade dos governos
de cada Estado e das autoridades locais, por outro, um direito das comunidades
participarem das decisões que dizem respeito à conservação de seu habitat,
intervindo diretamente no processo de realização.
De acordo com o estabelecido na Carta de Chapultepec e levando em
consideração as inquietações manifestadas pelo Colóquio de Morélia e por
outras reuniões de especialistas americanos, a ambiência e o patrimônio
arquitetural das pequenas zonas de habitat são bens não renováveis cuja
conservação deve exigir procedimentos cuidadosamente estabelecidos para
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
197
evitar os riscos de alteração ou de falsificação causados por razões de
oportunidade política.
Reconhecem que as ações que tendem à obtenção do bem-estar das
comunidades dos pequenos lugares de habitat devem fundamentar-se em um
respeito estrito às tradições e ao modo de vida locais. Reconhecem, também,
que a situação de crise econômica que se abate sobre o continente não deve
sobrestar os esforços para salvaguardar a identidade das pequenas localidades,
mas, ao contrário, para superar as circunstâncias difíceis já que se basear no
passado cultural e nas expressões concretas de nossa memória.
Constatam que a introdução de esquemas consumistas e de modo de
vida estranhos a nossas tradições, que advêm graças aos múltiplos meios de
comunicação, favorecem a destruição do patrimônio cultural por facilitarem o
desprezo a nossos próprios valores, particularmente nas pequenas
aglomerações. Por isso, exortam os governos, as escolas de ensino superior e os
órgãos públicos ou privados que se interessam pela salvaguarda do patrimônio
a utilizarem os meios de comunicação a sua disposição para fazer frente aos
efeitos dessa penetração.
Reafirma a importância dos planos de ordenação físico-territorial e de
desenvolvimento para diminuir o processo de abandono dos pequenos lugares
de habitat e a superpopulação das médias e pequenas cidades, fenômeno que
ameaça a própria existência dessas localidades. Recomendam que qualquer
ação que tenda a preservar o ambiente urbano e os valores arquitetônicos de
um lugar deve participar, necessariamente, da melhoria das condições
socioeconômicas dos habitantes e da qualidade da vida dos centros urbanos.
Solicitam também aos governos e organismos competentes uma infraestrutura
e um equipamento integrados, de modo a conter o êxodo das pequenas
aglomerações.
Pensam que, para preservar a atmosfera tradicional nas localidades
rurais e nas pequenas aglomerações e para permitir a continuidade de
manifestações arquitetônicas vernaculares contemporâneas, é necessário
dispor não apenas dos materiais, como da técnica tradicional e, quando isso
não for possível, propõem a utilização de elementos de substituição que não
ocasionem alterações notáveis na forma resultante e que correspondam às
condições psicológicas locais e aos modos de vida dos habitantes da região.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
198
Recomendações
Os participantes do colóquio reiteram os princípios que animam o
Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios, concretizados em
diversos documentos internacionais, assim como as recomendações feitas
durante as precedentes reuniões americanas de Quito, Chapultepec e Morélia
concernentes à conservação dos pequenos lugares de habitat e emitem, por sua
vez, as recomendações seguintes, que devem ser difundidas pelos comitês do
ICOMOS na América e por todos os demais especialistas e apresentadas, em
cada país, às autoridades, às escolas profissionais, aos institutos competentes
na matéria, às universidades, às faculdades de arquitetura e a outros
organismos.
Recomenda-se:
Que qualquer ação que vise à conservação e à revitalização das
pequenas localidades seja inserida em um programa que leve em conta os
aspectos históricos, antropológicos, sociais e econômicos da região e as
possibilidades de revitalizá-la, sem o que a referida ação será condenada à
superfície e à ineficácia.
Que seja encorajada a participação interdisciplinar, condição
indispensável a qualquer empenho em favor da conservação, restauração e
revitalização das pequenas localidades.
Que os órgãos do serviço público, tais como os de comunicação, saúde,
educação, eletrificação e outros, levem em consideração que suas ações e boas
intenções podem causar danos às pequenas comunidades se forem ignorados ou
minimizados os valores do patrimônio cultural e os benefícios que resultam da
conservação desse patrimônio para toda a comunidade.
Que a comunicação de experiências nos diversos domínios relativos à
preservação das pequenas localidades é indispensável para a obtenção de
melhores resultados no que diz respeito não só às políticas nacionais, mas à
legislação específica e ao progresso técnico. A informação é importante tanto no
nível internacional quanto no que é específico do meio americano. Reafirma-se
a necessidade de publicações nesse sentido e propõe-se a criação de grupos de
trabalho americanos para os diversos temas específicos.
Que a utilização de materiais regionais e a conservação de técnicas de
construção tradicionais de cada região sejam indispensáveis para a
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
199
conservação adequada das pequenas aglomerações e não estejam em
contradição com a teoria geral que estabelece que se deixe em evidência nas
intervenções a marca de nosso tempo. O esforço para identificar, encorajar,
manter em vigor e reforçar no espírito das comunidades o prestígio e o valor do
uso de tais materiais e técnicas, juntamente onde eles existem, é urgente.
Recomenda-se encorajar a competência artesanal da construção através de
premiações.
Que os governantes dos países latino-americanos considerem a alocação
de créditos sociais para dar conta da aquisição, manutenção, conservação e
restauração de moradias nas pequenas aglomerações e pequenas cidades, como
meio prático de conservar o patrimônio monumental e os recursos para a
habitação. Com esse objetivo devem ser revistas as normas de crédito para que
considerem como objeto de crédito hipotecário as construções realizadas com
técnicas e materiais vernaculares.
Que as escolas de arquitetura criem e favoreçam mestrados e doutorados
em restauração e levem substancialmente em conta nos programas de base dos
estudos os valores do patrimônio arquitetônico e urbano, os problemas de
conservação e de restauração e o conhecimento da arquitetura vernacular, bem
como as técnicas tradicionais de construção, de maneira que seus diplomados
sejam capazes de se transformar em profissionais úteis às comunidades
necessitadas.
Que é útil que os estabelecimentos de ensino e sociedades de arquitetos
organizem comissões de preservação do patrimônio arquitetônico capazes de
promover maior consciência da responsabilidade que lhes cabe no que diz
respeito à conservação das pequenas aglomerações, de compilar e difundir as
informações relativas a esse problema e de prestar acompanhamento aos
programas e estudos desse gênero.
Que os representantes dos países da região empreendam os maiores
esforços, já que seus governos não os têm feito, e aprovem o protocolo da
Convenção para o Patrimônio Mundial da UNESCO (16 de novembro de 1972)
como um meio de receberem a assistência técnica e o apoio dos organismos
internacionais.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
200
DECLARAÇÃO DO MÉXICO
De 1985
Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos Sítios
O mundo tem sofrido profundas transformações nos últimos anos. Os
avanços da ciência e da técnica têm modificado o lugar do homem no mundo e a
natureza de suas relações sociais. A educação e a cultura, cujo significado e
alcance têm se ampliado consideravelmente, são essenciais para um verdadeiro
desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Em nossos dias, não obstante o acréscimo das possibilidades de diálogo,
a comunidade das nações enfrenta também sérias dificuldades econômicas, a
desigualdade entre as nações é crescente, múltiplos conflitos e graves tensões
ameaçam a paz e a segurança.
Por tal razão, hoje é mais urgente que nunca estreitar a colaboração
entre as nações, garantir o respeito ao direito dos demais e assegurar o
exercício das liberdades fundamentais do homem e dos povos, e do seu direito à
autodeterminação. Mais do que nunca é urgente erigir na mente de cada
indivíduo estes baluartes da paz que, como afirma a constituição da UNESCO,
podem constituir-se principalmente através da educação, da ciência e da
cultura.
Ao reunir-se no México, a Conferência Mundial sobre as Políticas
Culturais, a comunidade internacional decidiu contribuir efetivamente para a
aproximação entre os povos e a melhor compreensão entre os homens.
Assim, ao expressar a sua esperança na convergência final dos objetivos
culturais e espirituais da humanidade, a conferência concorda em que, no seu
sentido mais amplo, a cultura pode ser considerada atualmente como um
conjunto dos traços distintivos espirituais, materiais, intelectuais e afetivos
que caracterizam uma sociedade e um grupo social. Ela engloba, além das
artes e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano,
os sistemas de valores, as tradições e as crenças. Concorda também que a
cultura dá ao homem a capacidade de refletir sobre si mesmo. É ela que faz de
nós seres especificamente humanos, racionais, críticos e eticamente
comprometidos. Através dela discernimos os valores e efetuamos opções.
Através dela o homem se expressa, toma consciência de si mesmo, se reconhece
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
201
como um projeto inacabado, põe em questão as suas próprias realizações,
procura incansavelmente novas significações e cria obras que o transcendem.
Por conseguinte, a conferência afirma solenemente os seguintes
princípios que devem reger as políticas culturais:
Identidade Cultural
Cada cultura representa um conjunto de valores único e insubstituível já
que as tradições e as formas de expressão de cada povo constituem sua
maneira mais acabada de estar presente no mundo.
A afirmação da identidade cultural contribui, portanto, para liberação
dos povos; ao contrário, qualquer forma de dominação nega ou deteriora essa
identidade.
A identidade cultural é uma riqueza que dinamiza as possibilidades de
realização da espécie humana ao mobilizar cada povo e cada grupo a nutrir-se
de seu passado e a colher as contribuições externas compatíveis com a sua
especificidade e continuar, assim, o processo de sua própria criação.
Todas as culturas fazem parte do patrimônio comum da humanidade. A
identidade cultural de um povo se renova e enriquece em contato com as
tradições e valores dos demais. A cultura é um diálogo, intercâmbio de ideias e
experiências, apreciação de outros valores e tradições; no isolamento, esgota-se
e morre.
O universal não pode ser postulado em abstrato por nenhuma cultura
em particular, surge da experiência de todos os povos do mundo; cada um dos
quais afirma a sua identidade. Identidade cultural e diversidade cultural são
indissociáveis.
As peculiaridades culturais não dificultam, mas favorecem a comunhão
dos valores universais que unem os povos. Por isso, constitui a essência mesma
do pluralismo cultural o reconhecimento de múltiplas identidades culturais
onde coexistirem diversas tradições.
A comunidade internacional considera que é um dever velar pela
preservação e defesa da identidade cultural de cada povo.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
202
Tudo isso reclama políticas culturais que protejam, estimulem e
enriqueçam a identidade e o patrimônio cultural de cada povo, além de
estabelecerem o mais absoluto respeito e apreço pelas minorias culturais e
pelas outras culturas do mundo. A humanidade empobrece quando se ignora
ou se destrói a cultura de um grupo determinado.
Há que se reconhecer a igualdade e dignidade de todas as culturas,
assim como o direito de cada povo e de cada comunidade cultural a afirmar e
preservar sua identidade cultural, e a exigir respeito a ela.
Dimensão Cultural do Desenvolvimento
A cultura constitui uma dimensão fundamental do processo de
desenvolvimento e contribui para fortalecer a independência, a soberania e a
identidade das nações. O crescimento tem sido concebido frequentemente em
termos quantitativos, sem levar em conta a sua necessária dimensão
qualitativa, ou seja, a satisfação das aspirações espirituais e culturais do
homem. O desenvolvimento autêntico persegue o bem-estar e a satisfação
constantes de cada um e de todos.
É indispensável humanizar o desenvolvimento; o seu fim último é a
pessoa, sua dignidade individual e na sua responsabilidade social. O
desenvolvimento supõe a capacidade de cada indivíduo e de cada povo de
informar-se a aprender a comunicar suas experiências.
Proporcionar a todos os homens a oportunidade de realizar um melhor
destino supõe ajustar permanentemente o ritmo do desenvolvimento.
Um número cada vez maior de mulheres e homens deseja um mundo
melhor. Não só persegue a satisfação de suas necessidades fundamentais, mas
o desenvolvimento do ser humano, seu bem-estar e sua possibilidade de
convivência solidária com todos os povos. Seu objetivo não é a produção, o lucro
ou o consumo per se, mas a sua plena realização individual e coletiva e a
preservação da natureza.
O homem é o princípio e o fim do desenvolvimento.
Qualquer política cultural deve resgatar o sentido profundo e humano do
desenvolvimento. Requerem-se novos modelos e é no âmbito da cultura e da
educação que serão encontrados.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
203
Só se pode atingir um desenvolvimento equilibrado mediante a
integração dos fatores culturais nas estratégias para alcançá-lo; em
consequência, tais estratégias deverão levar sempre em conta a dimensão
histórica, social e cultural de cada sociedade.
Cultura e Democracia
A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece, no seu artigo
27, que toda pessoa tem direito a tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, a gozar das artes e a participar do progresso científico e dos
benefícios que dele resultem. Os Estados devem tomar as medidas necessárias
para alcançar este objetivo.
A cultura procede da comunidade inteira e a ela deve retornar. Não pode
ser privilégio da elite nem quanto a sua produção nem quanto a seus
benefícios, democracia cultural supõe a mais ampla participação do indivíduo e
da sociedade no processo de criação de bens culturais, na tomada de decisões
que concernem à vida cultural e na sua difusão e fruição.
Trata-se, sobretudo, de abrir novos pontos de entrosamento com a
democracia pela via da igualdade de oportunidades nos campos da educação e
da cultura.
É preciso descentralizar a vida cultural, no plano geográfico e no
administrativo para assegurar que as instituições responsáveis conheçam
melhor as preferenciais opções e necessidades da sociedade em matéria de
cultura. É essencial, por consequência, multiplicar as oportunidades de diálogo
entre a população e os organismos culturais.
Um programa de democratização da cultura obriga, em primeiro lugar,
descentralização dos lugares de recreio e fruição das belas-artes. Uma política
cultural democrática tornará possível o desfrute da excelência artística em
todas as comunidades e entre toda a população.
A fim de garantir a participação de todos os indivíduos na vida cultural,
é preciso eliminar as desigualdades provenientes, entre outras, da origem e da
posição social, da educação, da nacionalidade, da idade, da língua, do sexo, das
convicções religiosas, da saúde ou da pertinência a grupos étnicos minoritários
ou marginais.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
204
Patrimônio Cultural
O patrimônio cultural de um povo compreende as obras de seus artistas,
arquitetos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações anônimas
surgidas da alma popular e o conjunto de valores que dão sentido à vida. Ou
seja, as obras materiais e não materiais que expressam a criatividade desse
povo: a língua, os ritos, as crenças, os lugares e monumentos históricos, a
cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas.
Qualquer povo tem o direito e o dever de defender e preservar o
patrimônio cultural, já que as sociedades se reconhecem a si mesma através
dos valores em que encontram fontes de inspiração criadora.
O patrimônio cultural tem sido frequentemente danificado ou destruído
por negligência e pelos processos de urbanização, industrialização e penetração
tecnológica. Mais inaceitáveis ainda são, porém, os atentados ao patrimônio
cultural perpetrado pelo colonialismo, pelos conflitos armados, pelas ocupações
estrangeiras e pela imposição de valores exógenos. Todas essas ações
contribuem para romper o vínculo e a memória dos povos em relação a seu
passado. A preservação e o apreço do patrimônio cultural permitem, portanto,
aos povos defender a sua soberania e independência e, por conseguinte,
afirmar e promover sua identidade cultural.
Princípio fundamental das relações culturais entre os povos é a
restituição a seus países de origem das obras que lhes foram subtraídas
ilicitamente. Os instrumentos, acordos e relações internacionais existentes
poderiam ser reforçados para aumentar sua eficácia a esse respeito.
Criação Artística e Intelectual e Educação Artística
O desenvolvimento da cultura é indispensável tanto para a
independência dos povos quanto para a liberdade da pessoa. A liberdade de
pensamento e de expressão é indispensável à atividade criadora do artista e do
intelectual.
É imprescindível estabelecer as condições sociais e culturais que
facilitem, estimulem e garantam a criação artística e intelectual, sem
discriminação de caráter político, ideológico e social.
O desenvolvimento e promoção da educação artística compreendem não
só a elaboração de programas específicos que despertem a sensibilidade
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
205
artística e apoiem grupos e instituições de criação e difusão, mas também o
fomento de atividades que estimulem a consciência pública sobre a
importância da arte e da criação intelectual.
Relações entre Cultura, Educação, Ciência e Comunicação
O desenvolvimento global da sociedade exige políticas complementares
nos campos da cultura, da educação, da ciência e da comunicação, a fim de
estabelecer um equilíbrio harmonioso entre o progresso técnico e a elevação
intelectual e moral da humanidade.
A educação é o meio por excelência para transmitir os valores culturais
nacionais e universais, e deve procurar a assimilação dos conhecimentos
científicos e técnicos sem detrimento das capacidades e valores dos povos.
Requer-se atualmente uma educação integral e inovadora que não só
informe e transmita, mas que forme e renove, que permita aos educandos
tomar consciência da realidade do seu tempo e do seu meio, que favoreça o
florescimento da personalidade, que forme na autodisciplina, no respeito aos
demais e na solidariedade social e internacional; uma educação que capacite
para a organização e para a produtividade, para a produção de bens e serviços
realmente necessários que inspire a renovação e estimule a criatividade.
É necessário revalorizar as línguas nacionais como veículos do saber.
A alfabetização é condição indispensável para o desenvolvimento
cultural dos povos.
O ensino da ciência e da tecnologia deve ser concebido principalmente
como um processo cultural de desenvolvimento do espírito crítico e integrado
aos sistemas educativos, em função das necessidades de desenvolvimento dos
povos.
Uma circulação livre e uma difusão mais ampla e melhor equilibrada da
informação, das ideias e dos conhecimentos, que constituem alguns dos
princípios de uma nova ordem mundial da informação e da comunicação, supõe
o direito de todas as nações não só de receber, mas também de transmitir
conteúdos culturais, educativos, científicos e tecnológicos.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
206
Os meios modernos de comunicação devem facilitar a informação
objetiva sobre as tendências culturais nos diversos países, sem lesar a
liberdade criadora e a identidade cultural das nações.
Os avanços tecnológicos dos últimos anos têm dado lugar à expansão das
indústrias culturais. Tais indústrias, qualquer que seja a sua organização,
desempenham um papel importante na difusão de bens culturais. Nas suas
atividades internacionais, no entanto, ignoram muitas vezes os valores
tradicionais da sociedade e suscitam expectativas e aspirações que não
respondem às necessidades efetivas do seu desenvolvimento. Por outra parte, a
ausência de indústrias nacionais, sobretudo nos países em via de
desenvolvimento, pode ser fonte de dependência cultural e origem de alienação.
É indispensável, em consequência, apoiar o estabelecimento de
indústrias culturais, mediante programas de ajuda bilateral ou multilateral,
nos países que delas carecem, cuidando sempre para que a produção e difusão
de bens culturais respondam às necessidades de desenvolvimento integral de
cada sociedade.
Os meios modernos de comunicação têm uma importância fundamental
na educação e na difusão da cultura. Em consequência, a sociedade há de se
esforçar em utilizar as novas técnicas de produção e da comunicação para
colocá-las a serviço de um autêntico desenvolvimento individual e coletivo e
favorecer a independência das nações, preservando sua soberania e
fortalecendo a paz no mundo.
Planejamento, administração e financiamento das atividades culturais
A cultura é o fundamento necessário para o desenvolvimento autêntico.
A sociedade deve realizar um esforço importante dirigido a planejar,
administrar e financiar as atividades culturais.
Cooperação Cultural Internacional
É essencial para a atividade criadora do homem e para o completo
desenvolvimento da pessoa e da sociedade a mais ampla difusão das ideias e
dos conhecimentos, baseada em intercâmbio e em reuniões culturais.
Uma cooperação mais ampla e uma compreensão cultural sub-regional,
regional, inter-regional e internacional são pressupostos importantes para
obter um clima de respeito, confiança, diálogo e paz entre as nações. Tal clima
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
207
não poderá ser alcançado plenamente sem que sejam reduzidos e eliminados os
conflitos e tensão atuais, detida a corrida armamentista e conseguido o
desarmamento.
A conferência reitera solenemente o valor e a vigência da Declaração dos
Princípios da Cooperação Cultural, aprovada na sua décima quarta reunião,
pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura.
A cooperação cultural internacional deve fundamentar-se no respeito à
identidade cultural, à dignidade e ao valor de cada cultura, à independência,
às soberanias nacionais e à não intervenção. Consequentemente, nas relações
de cooperação entre as nações deve evitar-se qualquer forma de subordinação
ou substituição de uma cultura por outra. É indispensável, além disso,
reequilibrar o intercâmbio e a cooperação cultural a fim de que as culturas
menos conhecidas, em particular as de alguns países em vias de
desenvolvimento, sejam mais amplamente difundidas em todos os países.
Os intercâmbios culturais, científicos e educativos devem fortalecer a
paz, respeitar os direitos do homem e contribuir para a eliminação do
colonialismo, do neocolonialismo, do racismo, do apartheid e de todo gênero de
agressão, dominação e intervenção. Da mesma forma, a cooperação cultural
deve estimular um clima internacional favorável ao desarmamento, de
maneira que os recursos humanos e as enormes somas destinadas ao
armamento possam se consagrar a fins produtivos, tais como programas de
desenvolvimento cultural, científico e técnico.
É necessário diversificar e fomentar a cooperação cultural internacional
em um contexto interdisciplinar e com atenção especial à formação de pessoal
qualificado em matéria de serviços culturais.
Há que se estimular, em particular, a cooperação entre os países em vias
de desenvolvimento, de sorte que o conhecimento de outras culturas e de
experiências de desenvolvimento enriqueça-lhes a vida.
A conferência reafirma que o valor educativo e cultural é essencial nos
esforços para instaurar uma nova ordem econômica internacional.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
208
UNESCO
Num mundo convulsionado por diferenças que põem em perigo os
valores culturais das civilizações, os Estados Membros e a Secretaria da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura devem
multiplicar os esforços destinados a preservar tais valores e a aprofundar sua
ação em benefício do desenvolvimento da humanidade. Uma paz duradoura
deve ser estabelecida para assegurar a própria existência da cultura humana.
Frente a essa situação, os objetivos da UNESCO, tal como são definidos
na sua constituição, adquirem uma importância capital.
A Conferência Mundial sobre Políticas Culturais faz um apelo à
UNESCO para que prossiga e reforce sua ação de aproximação cultural entre
os povos e as nações e continue desempenhando a nobre tarefa de contribuir
para que os homens, ultrapassando as suas diferenças, realizem o antigo sonho
da fraternidade universal.
A comunidade internacional reunida nesta conferência considera seu
lema de Benito Juarez: “Entre os indivíduos, como entre as nações, o respeito
ao direito alheio é a paz”.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
209
CONVENÇÃO PARA A SALVAGUARDA DO
PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA EUROPA
De 03 de Outubro de 1985
Os Estados membros do Conselho da Europa, signatários da presente
Convenção:
Considerando que o objetivo do Conselho da Europa é realizar uma
união mais estreita entre os seus membros, nomeadamente a fim de
salvaguardar e promover os ideais e princípios que constituem o seu
património comum;
Reconhecendo que o património arquitetônico constitui uma expressão
insubstituível da riqueza e da diversidade do património cultural da Europa,
um testemunho inestimável do nosso passado e um bem comum a todos os
europeus;
Tendo em conta a Convenção Cultural Europeia, assinada em Paris em
19 de Dezembro de 1954, e nomeadamente o seu artigo 1.º; Tendo em conta a
Carta Europeia do Património Arquitetônico, adotada pelo Comitê de
Ministros do Conselho da Europa em 26 de Setembro de 1975, e a Resolução
(76) 28, adotada em 14 de Abril de 1976, relativa à adaptação dos sistemas
legislativos e regulamentares nacionais às exigências da conservação integrada
do património arquitetônico;
Tendo em conta a Recomendação n.º 880 (1979) da Assembleia
Parlamentar do Conselho da Europa, relativa à conservação do património
arquitetônico;
Tendo em conta a Recomendação n.º R (80) 16 do Comitê de Ministros
aos Estados membros sobre a formação especializada de arquitetos,
urbanistas, engenheiros civis e paisagistas, assim como a Recomendação n.º R
(81) 13 do Comitê de Ministros, adotada no dia 1 de Julho de 1981, sobre as
ações a empreender em benefício de certas profissões, ameaçadas de
desaparecimento, no âmbito da atividade artesanal;
Recordando que é necessário transmitir um sistema de referências
culturais às gerações futuras, melhorar a qualidade de vida urbana e rural e
incentivar, ao mesmo tempo, o desenvolvimento econômico, social e cultural
dos Estados e das regiões;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
210
Afirmando que é necessário concluir acordos sobre as orientações
essenciais de uma política comum, que garanta a salvaguarda e o
engrandecimento do património arquitetônico; acordam no seguinte:
Definição do património arquitetônico
Artigo 1.º
Para os fins da presente Convenção, a expressão “património
arquitetônico” é considerada como integrando os seguintes bens imóveis:
1) Os monumentos: todas as construções particularmente notáveis pelo
seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, social ou técnico,
incluindo as instalações ou os elementos decorativos que fazem parte
integrante de tais construções;
2) Os conjuntos arquitetônicos: agrupamentos homogêneos de
construções urbanas ou rurais, notáveis pelo seu interesse histórico,
arqueológico, artístico, científico, social ou técnico, e suficientemente coerentes
para serem objeto de uma delimitação topográfica;
3) Os sítios: obras combinadas do homem e da natureza, parcialmente
construídas e constituindo espaços suficientemente característicos e
homogêneos para serem objeto de uma delimitação topográfica, notáveis pelo
seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, social ou técnico.
Identificação dos bens a proteger
Artigo 2.º
A fim de identificar com precisão os monumentos, conjuntos
arquitetônicos e sítios susceptíveis de serem protegidos, as Partes
comprometem-se a manter o respectivo inventário e, em caso de ameaça dos
referidos bens, a preparar, com a possível brevidade, documentação adequada.
Processos legais de proteção
Artigo 3.º
As Partes comprometem-se:
1) A implementar um regime legal de proteção do património
arquitetônico;
Cartas Patrimoniais:
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211
2) A assegurar, no âmbito desse regime e de acordo com modalidades
próprias de cada Estado ou região, a proteção dos monumentos, conjuntos
arquitetônicos e sítios.
Artigo 4.º
As Partes comprometem-se:
1) A aplicar, tendo em vista a proteção jurídica dos bens em causa, os
processos de controlo e autorização adequados;
2) A impedir que bens protegidos sejam desfigurados, degradados ou
demolidos. Nesta perspectiva, as Partes comprometem-se, caso não o tenham
já feito, a introduzir nas respectivas legislações disposições que prevejam:
a) A submissão a uma autoridade competente de projetos de demolição
ou de alteração de monumentos já protegidos ou em relação aos quais esteja
pendente uma ação de proteção, assim como de qualquer projeto que afete o
respectivo meio ambiente;
b) A submissão a uma autoridade competente de projetos que afetem,
total ou parcialmente, um conjunto arquitetônico ou um sítio, relativos a obras:
De demolição de edifícios; De construção de novos edifícios; De alterações
consideráveis que prejudiquem as características do conjunto arquitetônico ou
do sítio;
c) A possibilidade de os poderes públicos intimarem o proprietário de um
bem protegido a realizar obras ou de se lhe substituírem, caso este as não faça;
d) A possibilidade de expropriar um bem protegido. Artigo 5.º As Partes
comprometem-se a não permitir a remoção, total ou parcial, de um monumento
protegido, salvo na hipótese de a proteção física desse monumento o exigir de
forma imperativa. Em tal caso, a autoridade competente toma as precauções
necessárias à respectiva desmontagem, transferência e remontagem em local
adequado.
Medidas complementares
Artigo 6.º
As Partes comprometem-se a:
Cartas Patrimoniais:
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212
1) Prever, em função das competências nacionais, regionais e locais, e
dentro dos limites dos orçamentos disponíveis, um apoio financeiro dos poderes
públicos às obras de manutenção e restauro do património cultural situado no
respectivo território;
2) Recorrer, se necessário, a medidas fiscais susceptíveis de facilitar a
conservação desse património;
3) Apoiar as iniciativas privadas no domínio da manutenção e restauro
desse património.
Artigo 7.º
Nas áreas circundantes dos monumentos, no interior dos conjuntos
arquitetônicos e dos sítios, as Partes comprometem-se a adotar medidas que
visem melhorar a qualidade do ambiente.
Artigo 8.º
As Partes comprometem-se, a fim de limitar os riscos de degradação
física do património arquitetônico:
1) A apoiar a investigação científica, com vista a identificar e a analisar
os efeitos nocivos da poluição e a definir os meios de deduzir ou eliminar tais
efeitos;
2) A tomar em consideração os problemas específicos da conservação do
património arquitetônico, na formulação de políticas de luta contra a poluição.
Sanções
Artigo 9.º
As Partes comprometem-se, no âmbito dos respectivos poderes, a
garantir que as infrações à legislação de proteção do património arquitetônico
sejam objeto das medidas adequadas e suficientes por parte da autoridade
competente. Tais medidas podem implicar, se necessário, a obrigação de os
autores demolirem um edifício novo, construído de modo irregular, ou de
reporem o bem protegido no seu estado anterior.
Cartas Patrimoniais:
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213
Políticas de conservação
Artigo 10.º
As Partes comprometem-se a adotar políticas da conservação integrada
que:
1) Incluam a proteção do património arquitetônico nos objetivos
essenciais do ordenamento do território e do urbanismo, e que garantam que
tal imperativo seja tomado em consideração nas diversas fases da elaboração
de planos de ordenamento e dos processos de autorização de obras;
2) Adotem programas de restauro e de manutenção do património
arquitetônico;
3) Façam da conservação, promoção e realização do património
arquitetônico um elemento fundamental das políticas em matéria de cultura,
ambiente e ordenamento do território;
4) Promovam, sempre que possível, no âmbito dos processos de
ordenamento do território e de urbanismo, a conservação e a utilização de
edifícios, cuja importância intrínseca não justifique uma proteção no sentido do
artigo 3.º, n.º 1, da presente Convenção, mas que revistam interesse do ponto
de vista do ambiente urbano ou rural, ou da qualidade de vida;
5) Promovam a aplicação e o desenvolvimento, indispensáveis ao futuro
do património, de técnicas e materiais tradicionais.
Artigo 11.º
As Partes comprometem-se a promover, respeitando as características
arquitetônica e histórica do património:
a) A utilização de bens protegidos, atendendo às necessidades da vida
contemporânea;
b) A adaptação, quando tal se mostre adequado, de edifícios antigos a
novas utilizações.
Artigo 12 º
Sem prejuízo de reconhecerem o interesse em permitir a visita, por parte
do público, dos bens protegidos, as Partes comprometem-se a garantir que as
consequências de tal abertura ao público, nomeadamente as adaptações de
estrutura para isso necessárias, não prejudiquem as características
arquitetônicas e históricas desses bens e do respectivo meio ambiente.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
214
Artigo 13.º
Com vista a facilitar a execução de tais políticas, as Partes
comprometem-se a desenvolver, no contexto próprio da sua organização
política e administrativa, a cooperação efetiva, aos diversos níveis, dos serviços
responsáveis pela conservação, ação cultural, meio ambiente e ordenamento do
território.
Participação e associações
Artigo 14.º
Em ordem a secundar a ação dos poderes públicos em benefício do
conhecimento, proteção, restauro, manutenção, gestão e promoção do
património arquitetônico, as Partes comprometem-se:
1) A criar, nas diversas fases do processo de decisão, estruturas de
informação, consulta e colaboração entre o Estado, as autoridades locais, as
instituições e associações culturais e o público;
2) A incentivar o desenvolvimento do mecenato e das associações com
fins não lucrativos, que atuam nesta área.
Informação e Formação
Artigo 15.º
As Partes comprometem-se:
1) A valorizar a conservação do património arquitectónico junto da
opinião pública, quer como elemento de identidade cultural, quer como fonte de
inspiração e de criatividade das gerações presentes e futuras;
2) A promover, nesse sentido, políticas de informação e de sensibilização,
nomeadamente com auxílio de técnicas modernas de difusão e de promoção,
tendo, especificamente, como objetivo:
a) Despertar ou desenvolver a sensibilidade do público, a partir da idade
escolar, para a proteção do património, qualidade do ambiente edificado
e expressão arquitetônica;
b) Realçar a unidade do património cultural e dos laços existentes entre
a arquitetura, as artes, as tradições populares e modos de vida, à escala
europeia, nacional ou regional.
Cartas Patrimoniais:
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215
Artigo 16.º
As Partes comprometem-se a promover a formação das diversas
profissões e ofícios com intervenção na conservação do património
arquitetônico.
Coordenação europeia das políticas de conservação
Artigo 17.º
As Partes comprometem-se a trocar informações sobre as respectivas
políticas de conservação no que respeita:
1) Aos métodos a adotar em matéria de inventário, proteção e
conservação de bens, atendendo à evolução histórica e ao aumento progressivo
do património arquitetônico;
2) Aos meios de conciliar da melhor forma o imperativo de proteção do
património arquitetônico e as necessidades atuais da vida econômica, social e
cultural;
3) Às possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias, no domínio da
identificação e registro, da luta contra a degradação de materiais, da
investigação científica, das obras de restauro e das formas de gestão e
promoção do património arquitetônico;
4) Aos meios de promover a criação arquitetônica, como forma de
assegurarem a contribuição da nossa época para o património da Europa.
Artigo 18.º
As Partes comprometem-se a conceder-se, sempre que necessário, uma
assistência técnica recíproca, sob a forma de troca de experiências e de peritos,
no domínio da conservação do património arquitetônico.
Artigo 19.º
As Partes comprometem-se a promover, no âmbito das legislações
nacionais pertinentes ou dos acordos internacionais pelos quais se encontrem
vinculadas, as trocas europeias de especialistas em matéria de conservação do
património arquitetônico, incluindo na área da formação contínua.
Artigo 20.º
Para os fins da presente Convenção, um Comitê de peritos, criado pelo
Comitê de Ministros do Conselho da Europa, ao abrigo do artigo 17.º do
Cartas Patrimoniais:
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216
Estatuto do Conselho da Europa, é encarregado de acompanhar a aplicação da
Convenção e especificamente:
1) De submeter periodicamente ao Comitê de Ministros do Conselho da
Europa um relatório sobre a situação das políticas de conservação do
património arquitetônico nos Estados partes na Convenção, sobre a aplicação
dos princípios nela enunciados e sobre as suas próprias atividades;
2) De propor ao Comitê de Ministros do Conselho da Europa qualquer
medida conducente à implementação das disposições da Convenção, inclusive
no âmbito das atividades multilaterais e no domínio da revisão ou modificação
da Convenção, bem como de informação do público sobre os objetivos da
Convenção;
3) De formular recomendações ao Comitê de Ministros do Conselho da
Europa, relativamente ao convite a Estados não membros do Conselho da
Europa para aderirem à Convenção.
Artigo 21.º
As disposições da presente Convenção não prejudicam a aplicação de
disposições específicas mais favoráveis à proteção dos bens previstos no artigo
1.º, constantes de: Convenção relativa à Proteção do Património Mundial,
Cultural e Natural, de 16 de Novembro de 1972; Convenção Europeia para a
Proteção do Património Arqueológico, de 6 de Maio de 1969.
Cláusulas finais
Artigo 22.º
1 - A presente Convenção está aberta à assinatura dos Estados membros
do Conselho da Europa. É submetida a ratificação, aceitação ou aprovação. Os
instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação, são depositados junto do
Secretário-Geral do Conselho da Europa.
2 - A presente Convenção entra em vigor no primeiro dia do mês
seguinte ao decurso de um período de três meses após a data em que três
Estados membros do Conselho da Europa tenham manifestado o seu
consentimento a vincular-se pela Convenção, nos termos do disposto no
número anterior.
Cartas Patrimoniais:
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217
3 - Para os Estados membros que venham ulteriormente a manifestar o
seu consentimento a vincular-se pela Convenção, a Convenção entra em vigor
no primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um período de três meses após a
data do depósito do instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação.
Artigo 23.º
1 - Após a entrada em vigor da presente Convenção, o Comitê de
Ministros do Conselho da Europa pode convidar qualquer Estado não membro
do Conselho, assim como a Comunidade Econômica Europeia, a aderir à
presente Convenção, por decisão tomada pela maioria prevista no artigo 20.º,
alínea d) do Estatuto do Conselho da Europa e por unanimidade dos
representantes dos Estados contratantes com direito de assento no Comitê.
2 - Para os Estados aderentes ou para a Comunidade Econômica
Europeia, em caso de adesão, a Convenção entra em vigor no primeiro dia do
mês seguinte ao decurso de um período de três meses após a data do depósito
do instrumento de adesão junto do Secretário-Geral do Conselho da Europa.
Artigo 24.º
1 - Qualquer Estado pode, no momento da assinatura ou do depósito do
respectivo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, designar
o território ou territórios a que se aplica a presente Convenção.
2 - Qualquer Estado pode, em qualquer momento ulterior, mediante
declaração dirigida ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, tornar
extensiva a aplicação da presente Convenção a qualquer outro território
designado na declaração. A Convenção entra em vigor, para esse território, no
primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um período de três meses após a
data da recepção da declaração pelo Secretário-Geral.
3 - Qualquer declaração formulada nos termos dos dois números
anteriores pode ser retirada, no que respeita a qualquer território designado
naquela declaração, mediante notificação dirigida ao Secretário-Geral. Tal
retirada produz efeito no primeiro dia do mês seguinte do decurso de um
período de seis meses após a data da recepção da notificação pelo Secretário-
Geral.
Cartas Patrimoniais:
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218
Artigo 25.º
1 - Qualquer Estado pode, no momento da assinatura ou do depósito do
respectivo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, declarar
que se reserva o direito de não se conformar, total ou parcialmente, com as
disposições do artigo 4.º, alíneas c) e d). Não é admitida qualquer outra
reserva.
2 - Qualquer Estado contratante que tenha formulado uma reserva nos
termos do número anterior pode retirá-la, total ou parcialmente, mediante
notificação dirigida ao Secretário-Geral do Conselho da Europa. A retirada
produz efeito na data da recepção da notificação pelo Secretário-Geral.
3 - A Parte que tenha formulado a reserva ao abrigo do disposto no n.º 1
supracitado não pode exigir a aplicação de tal disposição por uma outra Parte;
pode, todavia, se a reserva for parcial ou condicional, exigir a aplicação de tal
disposição na medida em que a tenha aceite.
Artigo 26.º
1 - Qualquer Parte pode, em qualquer momento, denunciar a presente
Convenção mediante notificação dirigida ao Secretário-Geral do Conselho da
Europa.
2 - A denúncia produz efeito no primeiro dia do mês seguinte ao decurso
de um período de seis meses após a data da recepção da notificação pelo
Secretário-Geral.
Artigo 27.º
O Secretário-Geral do Conselho da Europa notifica os Estados membros
do Conselho da Europa e qualquer Estado que tenha aderido à presente
Convenção e a Comunidade Europeia, em caso de adesão, de:
a) Qualquer assinatura;
b) Depósito de qualquer instrumento de ratificação, aceitação, aprovação
ou adesão;
c) Qualquer data de entrada em vigor da presente Convenção, nos
termos do disposto nos artigos 22.º, 23.º e 24.º;
d) Qualquer outro ato, notificação ou comunicação, relativos à presente
Convenção.
Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados para o
efeito, assinaram a presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
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219
Feito em Granada, aos 3 de Outubro de 1985, em francês e em inglês,
fazendo ambos os textos igualmente fé, num único exemplar, que será
depositado nos arquivos do Conselho da Europa. O Secretário-Geral do
Conselho da Europa transmitirá cópia autenticada a cada um dos Estados
membros do Conselho da Europa e a qualquer Estado ou à Comunidade
Econômica Europeia, convidados a aderir à presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
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220
CARTA DE WASHINGTON
De 1986
Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos Sítios
1. Preâmbulo e definições:
Resultantes de um desenvolvimento mais ou menos espontâneo ou de
um projeto deliberado, todas as cidades do mundo são expressões materiais da
diversidade das sociedades através da história e são todas, por essa razão,
históricas.
A presente carta diz respeito mais precisamente às cidades grandes ou
pequenas e aos centros ou bairros históricos com seu entorno natural ou
construído, que, além de sua condição de documento histórico, exprimem
valores próprios das civilizações urbanas tradicionais. Atualmente, muitas
delas são ameaçadas de degradação, de deterioração e até mesmo de destruição
sob o efeito de um tipo de urbanização nascido na era industrial e que hoje
atinge universalmente todas as cidades.
Face a essa situação muitas vezes dramática, que provoca perdas
irreversíveis de caráter cultural, social e mesmo econômico, o Conselho
Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) julgou necessário redigir
uma Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas.
Ao complementar a Carta Internacional sobre a Conservação e a
Restauração de Monumentos e Sítios (Veneza, 1964), este novo texto define os
princípios e os objetivos, os métodos e os instrumentos de ação apropriados a
salvaguardar a qualidade das cidades históricas, a favorecer a harmonia da
vida individual e social e a perpetuar o conjunto de bens que, mesmo modestos,
constituem a memória da humanidade.
Como no texto da Recomendação da UNESCO relativa à Salvaguarda
dos Conjuntos Históricos ou Tradicionais e a sua Função na Vida
Contemporânea (Varsóvia – Nairóbi, 1976) e, também, como em outros
instrumentos internacionais, entende-se aqui por salvaguarda das cidades
históricas as medidas necessárias a sua proteção, a sua conservação e
restauração, bem como a seu desenvolvimento coerente e a sua adaptação
harmoniosa à vida contemporânea.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
221
Princípios e objetivos:
Para ser eficaz, a salvaguarda das cidades e bairros históricos deve ser
parte essencial de uma política coerente de desenvolvimento econômico e
social, e ser considerada no planejamento físico territorial e nos planos urbanos
em todos os seus níveis.
Os valores a preservar são o caráter histórico da cidade e o conjunto de
elementos materiais e espirituais que expressam sua imagem, em particular:
- a forma urbana definida pelo traçado e pelo parcelamento;
- as relações entre os diversos espaços urbanos, espaços construídos,
espaços abertos e espaços verdes;
- a forma e o aspecto das edificações (interior e exterior) tais como são
definidos por sua estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e
decoração;
- as relações da cidade com seu entorno natural ou criado pelo homem;
- as diversas vocações das cidades adquiridas ao longo de sua história;
Qualquer ameaça a esses valores comprometeria a autenticidade da
cidade histórica.
A participação e o comprometimento dos habitantes da cidade são
indispensáveis ao êxito da salvaguarda e devem ser estimulados. Não se deve
jamais esquecer que a salvaguarda das cidades e bairros históricos diz respeito
primeiramente a seus habitantes.
As intervenções em um bairro ou em uma cidade histórica devem
realizar-se com prudência, sensibilidade, método e rigor. Dever-se-ia evitar o
dogmatismo, mas levar em consideração os problemas específicos de cada caso
particular.
2. Métodos e instrumentos:
O planejamento da salvaguarda das cidades e bairros históricos deve ser
precedido de estudos multidisciplinares. O plano de salvaguarda deve
compreender uma análise dos dados, particularmente arqueológicos, históricos,
arquitetônicos, técnicos, sociológicos e econômicos e deve definir as principais
orientações e modalidades de ações a serem empreendidas no plano jurídico,
administrativo e financeiro. O plano de salvaguarda deverá empenhar-se para
definir uma articulação harmoniosa entre os bairros históricos e o conjunto da
cidade. O plano de salvaguarda deve determinar as edificações ou grupos de
Cartas Patrimoniais:
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222
edificações que devam ser particularmente protegidos, os que devam ser
conservados em certas condições e os que, em circunstâncias excepcionais,
possam ser demolidos. Antes de qualquer intervenção, as condições existentes
na área deverão ser rigorosamente documentadas. O plano deveria contar com
a adesão dos habitantes existentes na área deverão ser rigorosamente
documentadas. O plano deveria contar com a adesão dos habitantes.
Antes da adoção de um plano de salvaguarda ou enquanto ele estiver
sendo finalizado, as ações necessárias à conservação deverão ser adotadas em
observância aos princípios e métodos da presente carta e da Carta de Veneza.
A conservação das cidades e bairros históricos implica a manutenção
permanente das áreas edificadas.
As novas funções devem ser compatíveis com o caráter, a vocação e a
estrutura das cidades históricas. A adaptação da cidade histórica à vida
contemporânea requer cuidadosas instalações das redes de infraestrutura e
equipamento dos serviços públicos.
A melhoria do habitat deve ser um dos objetivos fundamentais da
salvaguarda.
No caso de ser necessário efetuar transformações dos imóveis ou
construir novos, todo o acréscimo deverá respeitar a organização espacial
existente, especialmente seu parcelamento, volume e escala, nos termos em
que o impõem a qualidade e o valor do conjunto de construções existentes. A
introdução de elementos de caráter contemporâneo, desde que não perturbe a
harmonia do conjunto, pode contribuir para o seu enriquecimento.
É importante contribuir para um melhor conhecimento do passado das
cidades históricas, através do favorecimento às pesquisas arqueológicas
urbanas e da apresentação adequada das descobertas, sem prejuízo da
organização geral do tecido urbano.
A circulação de veículos deve ser estritamente regulamentada no
interior das cidades e dos bairros históricos; as áreas de estacionamento
deverão ser planejadas de maneira que não degradem seu aspecto nem o do
seu entorno.
Cartas Patrimoniais:
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223
Os grandes traçados rodoviários previstos no planejamento físico-
territorial não devem penetrar nas cidades históricas, mas somente facilitar o
tráfego das cercanias para permitir-lhes um fácil acesso.
Devem ser adotadas nas cidades históricas medidas preventivas contra
as catástrofes naturais e contra todos os danos (notadamente, as poluições e as
vibrações), não só para assegurar a salvaguarda do seu patrimônio, como
também para a segurança e o bem-estar de seus habitantes. Os meios
empregados para prevenir ou reparar os efeitos das calamidades devem
adaptar-se ao caráter específico dos bens a salvaguardar.
Para assegurar a participação e o envolvimento dos habitantes deverá
ser efetuado um programa de informações gerais que comece desde a idade
escolar. Deverá ser favorecida a ação das associações de salvaguarda e deverão
ser tomadas medidas de caráter financeiro para assegurar a conservação e a
restauração das edificações existentes.
A salvaguarda exige uma formação especializada de todos os
profissionais envolvidos.
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224
CARTA DE SÃO PAULO
De 1989
Por ocasião da Jornada Comemorativa do 25º aniversário da Carta de Veneza,
em São Paulo, associados do CB/ICOMOS
Analisando o texto normativo, colocaram para discussão e debate, com
vista à IX Assembleia Geral do ICOMOS em Lausanne, as seguintes reflexões:
Que o texto da Carta, embora conciso e claro, apresenta insuficiências
decorrentes do avanço das ciências, que ampliaram o campo de trabalho em
preservação e restauro, tornando necessária uma revisão de conceitos e
obrigando participação efetiva, e não apenas formal, de profissionais de áreas
contemporaneamente desenvolvidas.
Que, em decorrência do progresso tecnológico, é possível estabelecer por
sensoriamento remoto, aerofotogrametria, reprodução a laser, microscopia
eletrônica e outros meios, os levantamentos de grandes e pequenas áreas
naturais críticas, cuja defesa é indispensável, indissociável da conservação dos
sítios históricos urbanos e rurais é fundamental no estudo territorial e
fundiário dos espaços urbanos.
Que a preservação do patrimônio natural deve ser incorporada ao texto,
como entendimento cultural da harmonia entre a proteção dos sítios urbanos e
rurais e preservação da biodiversidade como incentivo em todos os projetos com
a natureza (design with nature).
Que os sistemas de tecnologia avançada prestam aos trabalhos de
restauro em todos os níveis, inclusive materiais, um grau de precisão essencial
à manutenção da substância original dos acervos artísticos e documentais, dos
monumentos e do patrimônio urbano edificado.
Que a análise formulada pela metodologia crítica das ciências sociais e
exatas vem permitir a revisão e atualização de conceitos tradicionais, cuja
limitação profissional e ideológica é preocupante.
Que o desenvolvimento dos meios de comunicação tem atraído, para a
área de conservação, contingentes cada vez maiores de interessados fora dos
campos profissional e acadêmico, demonstrando que essa parcela organizada
da sociedade civil quer participar, e somente buscando seu efeito apoio
garantir-se-á o êxito da política preservacionista.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
225
Que populações marginalizadas, ocupantes dos centros históricos
urbanos de todas as nações, devem poder alcançar melhoria real na qualidade
de vida de seu cotidiano, através de projetos de restauração e reciclagem que
considerem, também, sistemas habitacionais de padrão condizente com a
dignidade e cidadania das populações.
Que é necessário estabelecer a equivalência entre as nações, invalidando
conceitos hierárquicos ultrapassados de valores civilizatórios responsáveis pelo
desprestígio de culturas regionais, cujos testemunhos merecem, por sua
riqueza e variedade, reconhecimento e divulgação.
Que os Comitês Nacionais do ICOMOS devem assessorar ao máximo as
associações civis de defesa cultural, utilizando, para esse fim, seu quadro de
associados e seus recursos informativos, bem como incentivar juntos às
entidades cursos especializados para agentes de preservação.
Que a Carta de Veneza deve permanecer como modelo e fonte de
consulta testemunho documental, no gênero mais relevante de sua época
histórica.
Cartas Patrimoniais:
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226
CARTA DE CABO FRIO
De Outubro de 1989
Vespuciana – Encontro de Civilizações nas Américas
Conclusões e Recomendações do Seminário
No dia 6 de outubro do ano de 1989, o Comitê Brasileiro do ICOMOS
reuniu em Cabo Frio, mui formosa e mui prodigioso sítio da costa sul do Brasil,
conhecedores de arqueologia, arquitetura, botânica, navegação, história,
engenharia e outros saberes, originários de todas as partes do Brasil e de
outras terras da América, como Argentina, Bolívia, Costa Rica, México,
Paraguai e Peru, para, juntando-se às comemorações dos 500 anos da vinda de
Colombo América e homenageando o navegador Américo Vespúcio, que em
1503 aqui esteve, escrever esta carta, que terá o nome de Carta de Cabo Frio.
A história do planeta Terra pode ser lida através das múltiplas
manifestações da natureza. Ao identificá-las e interpretar-lhes o valor, o
homem atribui a esses testemunhos significação cultural.
A defesa da identidade cultural far-se-á através do resgate das formas
de convívio harmônico com seu ambiente.
É preciso rever a história americana, reconhecendo o papel das
populações do continente. Para garantia da autonomia das sociedades e
culturas indígenas, é fundamental assegurar-lhes a posse e o usufruto
exclusivo de suas terras e a preservação de suas línguas – fatores centrais de
sua identidade. O trabalho dos cientistas sociais e dos órgãos responsáveis
deve assegurar a liberdade do desenvolvimento cultural dos povos indígenas.
O sentido de conquista que caracterizou o encontro de culturas na
América resultou em um processo desigual de interação, com o sacrifício de
muitos valores. Os novos encontros de culturas deverão ser direcionados no
sentido do respeito aos contextos locais.
O quinto centenário da chegada de Colombo é a oportunidade para se
rever a história americana, levando-se em conta que a ocupação do continente
precede em muito a fixação do europeu. Nesse sentido, é fundamental a
preservação de todo tipo de testemunhos, como os sítios geológicos,
arqueológicos, fossilíferos e naturais.
Cartas Patrimoniais:
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227
O processo de preservação, por sua complexidade, demanda um concurso
interdisciplinar e uma ação interinstitucional. Para o conhecimento e a
preservação do patrimônio cultural e natural, faz-se necessária a apropriação
de métodos específicos e de novas técnicas disponíveis.
O êxito de uma política preservacionista tem como fator fundamental o
engajamento da comunidade, que deve ter por origem um processo educativo
em todos os níveis, com a utilização dos meios de comunicação. O respeito aos
valores naturais, étnicos e culturais, enfatizados através da educação pública,
contribuirá para a valorização das identidades culturais.
A criação de unidades de conservação ambiental e a preservação de
sítios deverão ser acompanhadas de soluções alternativas, de modo a garantir
a melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas.
A ação de empresas privadas ou estatais em projetos industriais,
extrativos e infraestruturais não pode resultar em danos à vida humana, à
natureza. Cabe ao Poder Público intervir com medidas efetivas de preservação,
controle, fiscalização e atuação.
Sendo a identidade cultural a razão maior e a base da existência das
nações, é imprescindível a ação do Estado nas suas várias instâncias e a
participação da comunidade na valorização e defesa de seus bens naturais e
culturais.
Para salvaguarda do patrimônio natural e cultural da América Latina
em suas diversas manifestações, é fundamental um esforço conjunto, a fim de
evitar o isolamento cultural e garantir a integração latino-americana.
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RECOMENDAÇÃO SOBRE A SALVAGUARDA DA
CULTURA TRADICIONAL E POPULAR
15 de Novembro de 1989
Recomendação sobre a salvaguarda da cultura tradicional e popular
Conferência Geral da UNESCO – 25ª Reunião
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris de 17 de Outubro a 16 de
Novembro de 1989, por ocasião da sua 25ª reunião,
Considerando que a cultura tradicional e popular integra o património
universal da humanidade e que é um poderoso meio de aproximação entre os
diferentes povos e grupos sociais e de afirmação da sua identidade cultural,
Constatando a sua importância social, econômica, cultural e política, o
seu papel na história de um povo e o seu lugar na cultura contemporânea,
Sublinhando a natureza específica e a importância da cultura
tradicional e popular enquanto parte integrante do património cultural e da
cultura viva,
Reconhecendo a extrema fragilidade de certas formas de cultura
tradicional e popular, particularmente a dos aspectos que relevam das
tradições orais e o risco de que estes possam perder-se,
Sublinhando a necessidade de reconhecer em todos os países o papel da
cultura tradicional e popular e o perigo que corre em resultado de múltiplos
fatores,
Considerando que os governos deveriam desempenhar um papel decisivo
na salvaguarda da cultura tradicional e popular e atuar com a maior
celeridade possível,
Tendo decidido, na sua 24.ª sessão, que a “salvaguarda do folclore”
deveria ser objeto de uma recomendação aos Estados membros, nos termos do
disposto no artigo IV, parágrafo 4, do Ato constitutivo,
Adota a seguinte recomendação a 15 de Novembro de 1989.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
229
A Conferência Geral recomenda aos Estados membros a aplicação das
seguintes disposições relativas à salvaguarda da cultura tradicional e popular,
através da adoção de medidas legislativas ou de outra índole que sejam
consideradas necessárias, em conformidade com as práticas constitucionais de
cada Estado, com vista a que os princípios e medidas definidos na presente
recomendação produzam efeitos nos seus territórios.
A Conferência Geral recomenda aos Estados membros a divulgação da
presente Recomendação às autoridades, serviços ou organismos com
competências na resolução de problemas colocados pela salvaguarda da cultura
tradicional e popular, assim como a sua divulgação junto das diversas
organizações ou instituições com atuação em matéria da cultura tradicional e
popular, e o incentivo de contactos com as organizações internacionais
adequadas que se ocupam da sua salvaguarda.
A Conferência Geral recomenda que, nas datas e nos modos por si
determinados, os Estados Membros submetam à Organização (UNESCO)
informações sobre o curso que tenham dado a esta Recomendação.
A. Definição de cultura tradicional e popular
Atendendo à presente Recomendação: A cultura tradicional e popular é o
conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural fundadas sobre
a tradição, expressas por um grupo ou por indivíduos, e reconhecidas como
respondendo às expectativas da comunidade enquanto expressão da sua
identidade cultural e social, das suas normas e valores transmitidos oralmente,
por imitação ou por outros meios. As suas formas compreendem, entre outras,
a língua, a literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os
costumes, o artesanato, a arquitetura e outras artes.
B. Identificação da cultura tradicional e popular
A cultura tradicional e popular, enquanto expressão cultural, deve ser
salvaguardada para e pelo grupo (familiar, profissional, nacional, regional,
religioso, étnico, etc.) cuja identidade exprime.
Para o efeito, os Estados membros deveriam fomentar, a nível nacional,
regional e internacional, pesquisas adequadas com vista a:
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
230
a) Estabelecer um inventário nacional das instituições que se ocupam da
cultura tradicional e popular, para fins da sua inclusão nos registros regionais
e mundiais de instituições desta ordem;
b) Criar sistemas de identificação e registro (recolha, indexação,
transcrição) de informação, ou desenvolver sistemas já existentes através de
manuais, guias de procedimentos de recolha, catálogos-tipo, etc., tendo em
consideração a necessidade de uniformizar os sistemas de classificação
utilizados por diferentes instituições;
c) Estimular a criação de uma tipologia normalizada da cultura
tradicional e popular mediante a elaboração de:
(i) um esquema geral de classificação da cultura tradicional e popular,
com o objetivo de fornecer orientações a nível mundial;
(ii) um registro pormenorizado da cultura tradicional e popular;
(iii) classificações regionais da cultura tradicional e popular,
especialmente através de projetos-piloto desenvolvidos no terreno.
C. Conservação da cultura tradicional e popular
A conservação respeita à documentação relativa às tradições que
relevam da cultura tradicional e popular, e tem por objetivo que, em caso de
interrupção ou evolução dessas tradições, os investigadores e os detentores da
tradição possam dispor de dados que lhes permitam compreender o processo de
transformação da tradição. Ainda que a cultura tradicional e popular viva,
dado o seu caráter evolutivo, nem sempre possa ser diretamente protegida,
aquela que tenha sido objeto de documentação através de suportes materiais
deverá ser protegida eficazmente. Para este fim deveriam os Estados membros:
a) Estabelecer arquivos nacionais, com vista à adequada conservação e
disponibilização dos suportes documentais relativos à cultura tradicional e
popular;
b) Estabelecer uma unidade arquivística central nacional para fins de
prestação de determinados serviços (indexação central, divulgação de
informação relativa aos suportes documentais materiais da cultura tradicional
e popular e às normas a ela aplicáveis, incluindo sobre a sua conservação);
c) Criar museus ou secções dedicadas à cultura tradicional e popular nos
museus existentes onde esta possa ser objeto de exposição;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
231
d) Privilegiar as formas de apresentação das culturas tradicionais e
populares que valorizem os testemunhos vivos ou passados dessa cultura
(contextos territoriais, modos de vida e as competências, técnicas e artefatos
que tenham produzido);
e) Harmonizar os métodos de recolha e arquivamento de dados; f)
Promover uma formação abrangente a coletores, arquivistas, documentalistas
e outros especialistas em conservação da cultura tradicional, da conservação
física à análise de dados;
g) Fornecer meios com vista à realização de cópias de segurança e de
trabalho dos suportes documentais da cultura tradicional e popular, bem como
a realização de cópias destinadas às instituições regionais, assim garantindo à
comunidade cultural implicada o acesso aos materiais recolhidos.
D. Preservação da cultura tradicional e popular
A preservação respeita a proteção das tradições que relevam da cultura
tradicional e popular e dos seus detentores, na consideração que cada povo
detém direitos sobre a sua própria cultura e de que sua adesão a essa cultura
pode enfraquecer-se por influência da cultura industrializada difundida
através dos meios de comunicação. De igual modo devem ser adotadas medidas
para garantir o estatuto e apoio econômico das tradições que relevam da
cultura tradicional e popular, tanto no interior como no exterior das
comunidades a que respeitam.
Para este fim, deveriam os Estados-Membros:
a) Elaborar e introduzir nos programas de estudo, quer escolar quer não
escolar, o ensino da cultura tradicional e popular de forma adequada, em
particular destacando o respeito por esta no sentido mais lato possível e tendo
em conta não apenas as culturas campesinas ou das comunidades rurais, mas
também as que, sendo criadas em meios urbanos por diversos grupos sociais,
profissionais, institucionais, etc., favorecem uma melhor compreensão da
diversidade de culturas e de visões do mundo, em particular as que não
participam da cultura dominante;
b) Garantir às diversas comunidades culturais o direito de acesso à sua
própria cultura tradicional e popular, apoiando as suas aditividades em
matéria de documentação, arquivo, investigação, etc., bem como a prática das
tradições;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
232
c) Constituir um Conselho nacional sobre a cultura tradicional e
popular, de base interdisciplinar, ou um organismo coordenador de caráter
análogo no qual se encontrem representados os diversos grupos de
interessados;
d) Apoiar moral e financeiramente os particulares e as instituições que
promovam o estudo, a divulgação e fomentem ou sejam detentores de
elementos da cultura tradicional e popular;
e) Promover a investigação científica com vista à salvaguarda da cultura
tradicional e popular.
E. Divulgação da cultura tradicional e popular
As populações deveriam ser sensibilizadas relativamente à importância
da cultura tradicional e popular enquanto elemento de identidade cultural.
Com vista a promover a tomada de consciência sobre o valor da cultura
tradicional e popular e da necessidade da sua preservação, é essencial proceder
a divulgação alargada dos elementos que constituem esse património cultural.
Contudo, por ocasião de tal divulgação, deve evitar-se qualquer deformação
com vista a salvaguardar a integridade das tradições.
Para promover uma divulgação adequada, deveriam os Estados
membros:
a) Incentivar a organização, à escala nacional, regional ou internacional,
de eventos como feiras, festivais, filmes, exposições, seminários, colóquios,
oficinas, estágios, congressos e outros, apoiando a divulgação e publicação dos
respectivos materiais, documentos e outros resultados desses eventos;
b) Incentivar uma maior divulgação da informação relativa à cultura
tradicional e popular por parte da imprensa, dos editores, da televisão, da
rádio e de outros meios de comunicação nacionais e regionais, por exemplo,
através de subvenções com vista à criação de postos de trabalho para
especialistas em cultura tradicional e popular nestas unidades, ao
arquivamento e à divulgação adequados das informações recolhidas sobre a
cultura tradicional e popular pelos meios de comunicação, e da criação de
departamentos de programas sobre a cultura tradicional e popular no âmbito
destes organismos;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
233
c) Incentivar as regiões, os municípios, as associações e outros grupos
com atuação no âmbito da cultura tradicional popular para a criação de postos
de trabalho a tempo inteiro destinados para especialistas sobre a cultura
tradicional e popular, responsáveis pela criação e coordenação de atividades
sobre esta na respectiva região;
d) Apoiar os serviços existentes de produção de materiais educativos (por
exemplo registros vídeo realizados a partir das últimas recolhas efetuadas no
terreno), bem como a criação de novos serviços, e incentivar a utilização desses
materiais em escolas, museus sobre cultura tradicional e popular, exposições e
festivais, nacionais e internacionais, sobre cultura tradicional e popular;
e) Fornecer informações adequadas sobre a cultura tradicional e popular
através de centros de documentação, bibliotecas, museus e arquivos, bem como
através de boletins e publicações periódicas especializadas sobre a cultura
tradicional e popular;
f) Promover a realização de reuniões e intercâmbios entre pessoas,
grupos e instituições com atuação no âmbito da cultura tradicional e popular,
quer a nível nacional quer internacional, tendo em conta os acordos culturais
bilaterais;
g) Incentivar a comunidade científica internacional a adotar um código
de ética adequado à aproximação e ao respeito pelas culturas tradicionais.
F. Proteção da cultura tradicional e popular
A cultura tradicional e popular, na medida em que é constitutiva de
manifestações de criatividade intelectual, individual ou coletiva, merece
proteção análoga à que se confere às produções intelectuais. Tal proteção da
cultura tradicional e popular revelasse como meio indispensável para o melhor
desenvolvimento, perpetuação e difusão deste patrimônio, quer no país como
no estrangeiro, sem prejuízo dos legítimos interesses nele implicados.
Para além dos aspectos de “propriedade intelectual” relativos à “proteção
das expressões de folclore”, existem várias categorias de direitos que
constituem já objeto de proteção e devem continuar a sê-lo futuramente nos
centros de documentação e serviços de arquivo consagrados à cultura
tradicional e popular. Para esse efeito, deveriam os Estados Membros:
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
234
a) No que respeita aos aspectos de “propriedade intelectual” - apelar à
atenção das autoridades competentes sobre os importantes trabalhos
realizados pela UNESCO e pela OMPI no domínio da propriedade intelectual,
reconhecendo simultaneamente que estes trabalhos se referem exclusivamente
a um dos aspectos da proteção da cultura tradicional e popular e que se impõe
a adoção urgente de medidas específicas para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular;
b) No que respeita aos demais direitos envolvidos:
i) Proteger o informante enquanto detentor da tradição (proteção da vida
privada e do caráter confidencial da informação);
ii) Proteger os interesses dos coletores, assegurando para que os
materiais recolhidos sejam conservados em arquivos, em bom estado e
de forma racional;
iii) Adotar as medidas necessárias com vista à proteção dos materiais
recolhidos contra o uso indevido, quer seja ou não intencional;
iv) Reconhecer aos serviços de arquivo a responsabilidade por assegurar
a utilização dos materiais recolhidos;
G. Cooperação internacional
Tendo em conta a necessidade de intensificar a cooperação e os
intercâmbios culturais, designadamente mediante a partilha de recursos
humanos e materiais, com vista à realização de programas de desenvolvimento
da cultura tradicional e popular com o fim da sua revitalização, bem como de
trabalhos de investigação realizados por especialistas de um Estado membros
noutro Estado membros, deveriam os Estados membros:
a) Cooperar com as associações, instituições e organizações
internacionais e regionais com atuação no âmbito da cultura tradicional e
popular;
b) Cooperar nos domínios do conhecimento, da divulgação e da proteção
da cultura tradicional e popular, designadamente através:
(i) Do intercâmbio de todo o gênero de informações e de publicações
científicas e técnicas,
(ii) Da formação de especialistas, da concessão de subsídios de viagem e
de envio de pessoal e de equipamento científico e técnico,
(iii) Da promoção de projetos bilaterais ou multilaterais no domínio da
documentação relativa à cultura tradicional e popular contemporânea,
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
235
(iv) Da organização de encontros de especialistas, de estágios de
investigação e de grupos de trabalho sobre temas específicos, em
particular sobre a classificação e catalogação de dados e expressões da
cultura tradicional e popular, bem como sobre os atuais métodos e
técnicas de investigação;
c) Cooperar estreitamente com vista a assegurar, no plano internacional,
o gozo dos direitos pecuniários, morais conexos, decorrentes da investigação, da
criação, da composição, da interpretação, da gravação e/ou da difusão da
cultura tradicional e popular, por parte dos seus diversos titulares
(comunidades ou pessoas físicas e jurídicas);
d) Garantir o direito de cada Estado a obter cópia de todos documentos,
registros, vídeo, filmes e outros materiais produzidos por outros Estados
membros que aí tenham realizado trabalhos de investigação;
e) Se abster de todos os atos susceptíveis de degradação dos suportes
materiais da cultura tradicional e popular, de diminuição do seu valor ou de
impedir a sua divulgação e utilização, independentemente de tais suportes
materiais se encontrem no seu território de origem ou no território de outros
Estados;
f) Adotar as medidas necessárias para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular contra todos os riscos humanos ou naturais aos quais se
encontra exposta, incluindo os decorrentes de conflitos armados, de ocupação
de territórios ou de qualquer outra perturbação da ordem pública.
Cartas Patrimoniais:
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236
CARTA DE LAUSANNE
1990
Carta para a proteção e a gestão do patrimônio arqueológico
ICOMOS/ICAHM
É amplamente aceito que o reconhecimento das origens e do
desenvolvimento das sociedades humanas é de fundamental importância para
a humanidade inteira, permitindo-lhe identificar suas raízes culturais e
sociais.
O patrimônio arqueológico constitui testemunho essencial sobre as
atividades humanas do passado. Sua proteção e gerenciamento são, portanto,
indispensáveis para permitir aos arqueólogos e outros cientistas estudá-lo e
interpretá-lo, em nome das gerações presentes e a vir, e para seu futuro.
A proteção desse patrimônio não pode fundar-se unicamente na
aplicação das técnicas da arqueologia. Exige um sólido embasamento de
conhecimentos científicos e competência profissional. Determinados elementos
do patrimônio arqueológico pertencem a estruturas arquitetônicas, devendo,
nesse caso, ser protegidos, respeitando os critérios relativos ao patrimônio
arquitetônico enunciados em 1956 na Carta de Veneza sobre a restauração e a
conservação dos monumentos e dos sítios; outros inserem-se nas tradições
vivas das poluições autóctones, cuja participação é essencial para sua proteção
e conservação.
Por essas razões e outras mais, a proteção do patrimônio arqueológico
deve ser fundada numa colaboração efetiva entre os especialistas de diferentes
disciplinas. Exige, ainda, a cooperação dos órgãos públicos, dos pesquisadores,
das empresas privadas e do grande público. Em consequência, esta carta
enuncia princípios aplicáveis ao inventário, prospecção, escavação,
documentação, pesquisa, preservação, conservação, reconstituição, informação,
exposição e apresentação ao público e uso do patrimônio arqueológico, tanto
quanto a definição das qualificações necessárias ao pessoal encarregado de sua
proteção.
Essa carta foi motivada pelo sucesso da Carta de Veneza enquanto
documento normativo e propõe-se a enunciar princípios fundamentais e
recomendações de alcance global, já que não pode considerar as dificuldades e
especificidades regionais e nacionais. Para responder a essas necessidades a
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
237
carta deveria ser completada nos planos regional e nacional com princípios e
regras suplementares.
Definição e introdução
Art. 1º O “patrimônio arqueológico” compreende a porção do patrimônio
material para a qual os métodos da arqueologia fornecem os conhecimentos
primários. Engloba todos os vestígios da existência humana e interessa todos
os lugares onde há indícios de atividades humanas, não importando quais
sejam elas; estruturas e vestígios abandonados de todo tipo, na superfície, no
subsolo ou sob as águas, assim como o material a eles associados.
Políticas de conservação integrada
Art. 2º O patrimônio arqueológico é um recurso cultural frágil e não
renovável. Os planos de ocupação de solo decorrentes de projetos
desenvolvimentistas devem, em consequência, ser regulamentados, a fim de
minimizar, o mais possível, a destruição desse patrimônio.
As políticas de proteção ao patrimônio arqueológico devem ser
sistematicamente integradas àquelas relacionadas ao uso e ocupação do solo,
bem como às relacionadas à cultura, ao meio ambiente e à educação. As
políticas de proteção ao patrimônio arqueológico devem ser regularmente
atualizadas. Essas políticas devem prever a criação de reservas arqueológicas.
As políticas de proteção ao patrimônio arqueológico devem ser
consideradas pelos planificadores nos níveis nacional, regional e local.
A participação do público em geral deve estar integrada às políticas de
conservação do patrimônio arqueológico, sendo imprescindível todas as vezes
em que o patrimônio de uma população autóctone estiver ameaçado. Essa
participação deve estar fundada no acesso ao conhecimento, condição
necessária e qualquer decisão. A informação do público é, portanto, um
elemento importante de “conservação integrada”.
Legislação e economia
Art. 3º A proteção ao patrimônio arqueológico constitui obrigação moral
de todo ser humano. Constitui também responsabilidade pública coletiva. Essa
responsabilidade deve traduzir-se na adoção de uma legislação adequada e na
Cartas Patrimoniais:
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238
garantia de recursos suficientes para financiar, de forma eficaz, os programas
de conservação do patrimônio arqueológico.
O patrimônio arqueológico pertence a toda a sociedade humana, sendo,
portanto, dever de todos os países assegurar que recursos financeiros
suficientes estejam disponíveis para a sua proteção.
A legislação deve garantir a conservação do patrimônio arqueológico em
função das necessidades da história e das tradições de cada país e de cada
região, garantindo amplo lugar à conservação in situ e aos imperativos de
pesquisa.
A legislação deve fundar-se no conceito de que o patrimônio arqueológico
constitui herança de toda a humanidade e de grupos humanos, e não de
indivíduos ou de nações.
A legislação deve proibir a destruição, degradação ou alteração por
modificação de qualquer monumento, sítio arqueológico ou seu entorno, sem a
anuência das instâncias competentes.
A legislação deve, por princípio, exigir uma pesquisa prévia e o
estabelecimento de documentação arqueológica completa cada vez que a
destruição do patrimônio arqueológico for autorizada.
A legislação deve exigir a conservação adequada do patrimônio
arqueológico, garantindo os recursos para tal.
A legislação deve prever sanções adequadas, proporcionais às infrações
mencionadas nos textos referentes ao patrimônio arqueológico.
Caso a legislação ampare somente o patrimônio tombado ou inscrito em
inventário oficial, dever-se-á criar dispositivos legais que garantam a proteção
temporária dos monumentos e dos sítios não protegidos ou descobertos
recentemente, até que uma avaliação arqueológica tenha sido feita.
Os projetos de desenvolvimento constituem uma das maiores ameaças
físicas ao patrimônio arqueológico. A exigência feita aos empreendedores para
que realizem estudos de impacto arqueológico antes da definição do programa
empreendimento deveria estar enunciada em uma legislação própria, prevendo
no orçamento do projeto o custo dos estudos. Esse princípio deveria também
Cartas Patrimoniais:
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239
estar estabelecido na legislação referente aos projetos de desenvolvimento, de
forma a minimizar seus impactos sobre o patrimônio arqueológico.
Inventário
Art. 4º A proteção ao patrimônio arqueológico deve fundar-se no
conhecimento, o mais completo possível, de sua existência, extensão e
natureza. Os inventários gerais de potencial arqueológico constituem, assim,
instrumentos de trabalho essenciais para elaborar estratégias de proteção ao
patrimônio arqueológico. Por conseguinte, o inventário deve ser uma obrigação
fundamental na proteção e gestão do patrimônio arqueológico.
Ao mesmo tempo, os inventários constituem fontes primárias de dados
para a pesquisa e o estudo científicos. A compilação de inventários deve ser
considerada como um processo dinâmico permanente. Resulta disso também
que os inventários devem integrar a informação em diferentes níveis de
precisão e de fiabilidade, uma vez que o conhecimento, mesmo superficial, pode
fornecer um ponto de partida de proteção.
Intervenções no sítio
Art. 5º Em arqueologia, o conhecimento é amplamente tributário da
intervenção cientificado sítio. A intervenção no sítio abarca uma série de
métodos de pesquisa, como a exploração não destrutiva até a escavação
integral, passando pelas sondagens limitadas e levantamentos por
amostragem.
A coleta de informações sobre o patrimônio arqueológico deve ter como
princípio norteador a não destruição das evidências arqueológicas, além do
necessário, para garantia da proteção ou dos objetivos da investigação
científica. Deve ser encorajada, sempre que possível, a utilização de métodos de
intervenção não destrutivos, tais como: observações aéreas, por superfície,
subaquáticas, coletas sistemáticas, levantamentos, sondagens,
preferencialmente à escavação integral.
A escavação implica sempre uma escolha de dados do que serão
registrados e conservados às custas da perda de outra informação e,
eventualmente, da destruição total do monumento ou sítio. A decisão de
escavar deve ser tomada somente após madura reflexão.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
240
As escavações devem ser executadas de preferência em sítios e
monumentos condenados à destruição, devido a projetos de desenvolvimento
que alterem a ocupação e o uso do solo, em razão de pilhagem, ou da
degradação causada por agentes naturais.
Em casos excepcionais, sítios não ameaçados poderão ser escavados, seja
em função das propriedades da pesquisa, seja visando a sua apresentação ao
público. Nesses casos, a escavação deve ser precedida por uma detalhada
avaliação científica do sítio. A escavação deve ser parcial e preservar um setor
virgem, em vista de pesquisas anteriores.
Ocorrendo escavação, um relatório respondendo a normas bem definidas
deverá ser colocada à disposição da comunidade científica e anexado ao
inventário, num prazo razoável após o término dos trabalhos.
As escavações devem ser executadas em conformidade com as
recomendações da UNESCO (Recomendações definindo os princípios a serem
aplicados em matéria de pesquisas arqueológicas, 1956), de acordo com as
normas profissionais, internacionais e nacionais.
Preservação e conservação
Art. 6º Conservar in situ monumentos e sítios deveria ser o objetivo
fundamental da conservação do patrimônio arqueológico, incluindo também
sua conservação a longo prazo, além dos cuidados dedicados à documentação e
às coleções etc., a ele relacionados.
Qualquer translação viola o princípio segundo o qual o patrimônio deve
ser conservado no seu contexto original. Esse princípio enfatiza a necessidade
da manutenção, conservação e gestão apropriadas. Decorre disso que o
patrimônio arqueológico não deve ser exposto aos riscos e às consequências da
escavação ou abandonado após a escavação, caso não tenham sido previstos os
recursos necessários a sua manutenção e conservação.
O engajamento e a participação da população local devem ser
estimulados como meio de ação para a prevenção do patrimônio arqueológico.
Em certos casos, pode ser aconselhável confiar à responsabilidade da proteção
e da gestão dos monumentos e dos sítios às populações autóctones.
A preservação de sítios e monumentos se dará necessariamente de forma
seletiva, uma vez que os recursos financeiros são inevitavelmente limitados. A
Cartas Patrimoniais:
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241
seleção de sítios e monumentos deverá fundamentar-se em critérios científicos
de significância e representatividade, e não limitar-se apenas ao monumentos
de maior préstimo ou visualmente sedutores.
A recomendação da UNESCO de 1956 deve aplicar-se igualmente à
preservação e à conservação do patrimônio arqueológico.
Apresentação, informação, reconstituição
Art. 7º A apresentação do patrimônio arqueológico ao grande público é
um meio de fazê-lo ascender ao conhecimento das origens e do desenvolvimento
das sociedades modernas. Ao mesmo tempo, constitui o meio mais importante
para fazê-lo compreender a necessidade de proteger esse patrimônio.
A apresentação ao grande público deve consistir na popularização do
estado corrente do conhecimento científico, devendo ser atualizada
frequentemente. Para permitir o entendimento do passado, deve considerar
múltiplas abordagens.
As reconstituições respondem a duas funções importantes, tendo sido
concebidas para fins de pesquisa experimental e pedagógica. Devem,
entretanto, cercar-se de cuidados, de forma a não perturbar nenhum dos
vestígios arqueológicos remanescentes; devem também levar em conta
testemunhos de toda espécie, buscando a autenticidade. As reconstituições não
devem ser feitas sobre os vestígios arqueológicos originais, devendo ser
identificáveis como tais.
Qualificações profissionais
Art. 8º A gestão do patrimônio arqueológico exige o domínio de
numerosas disciplinas em elevado nível científico. A formação de um número
suficiente de profissionais nos setores de competência interessados deve, por
conseguinte, ser um objetivo importante da política educacional de cada país. A
necessidade de se formar peritos em setores altamente especializados exige
cooperação internacional.
A formação universitária em arqueologia deve prever em seus
programas as mudanças ocorridas nas políticas de conservação, menos
preocupadas com escavações do que com a conservação in situ. Deveria
igualmente considerar o fato de que o estudo da história das populações
Cartas Patrimoniais:
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242
indígenas é tão importante quanto o dos monumentos e sítios prestigiosos,
para conservar e compreender o patrimônio arqueológico.
A proteção do patrimônio arqueológico constitui processo dinâmico
permanente. Por conseguinte, todas as facilidades devem ser concedidas aos
profissionais trabalhando nessa área, a fim de permitir sua permanente
reciclagem. Programas especializados de formação de alto nível,
proporcionando amplo lugar à proteção e à gestão do patrimônio arqueológico
deveriam ser implantadas.
Cooperação internacional
Art. 9º Por ser o patrimônio arqueológico uma herança comum de toda a
humanidade, a cooperação internacional é essencial para enunciar e fazer
respeitar os critérios de gestão desse patrimônio.
Existe uma necessidade premente de serem estabelecidos circuitos
internacionais que permitam a troca de informações e a partilha de
experiências entre os profissionais encarregados da gestão do patrimônio
arqueológico, o que implica organização de conferências, seminários,
workshops em escala mundial e regional, assim como a criação de centros
regionais de formação de alto nível. O ICOMOS deveria, por intermédio de
seus grupos especializados, levar em conta essa situação em seus projetos, a
longo e médio prazo.
Programas internacionais de intercâmbio de profissionais deveriam ser
implantados, como forma de elevar o nível de competência no gerenciamento
do patrimônio arqueológico.
Programas de assistência técnica deveriam ser desenvolvidos sob os
auspícios do ICOMOS.
Cartas Patrimoniais:
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243
DECLARAÇÃO DO RIO SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, tendo se reunido no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de
1992,
Reafirmando a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972, e
buscando avançar a partir dela,
Com o objetivo de estabelecer uma nova e justa parceria global mediante
a criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chaves da
sociedade e os indivíduos,
Trabalhando com vistas à conclusão de acordos internacionais que
respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global de
meio ambiente e desenvolvimento,
Reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, nosso lar,
Proclama que:
Princípio 1
Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas
com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e
produtiva, em harmonia com a natureza.
Princípio 2
De acordo com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito
internacional, os Estados têm o direito soberano de aproveitar seus próprios
recursos segundo suas peculiaridades políticas, ambientais e de
desenvolvimento, e a responsabilidade de zelar por que as atividades
realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle, não causem danos ao
meio ambiente de outros Estados ou de zonas que estejam fora dos limites da
jurisdição nacional.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
244
Princípio 3
O direito ao desenvolvimento deve exercer-se de forma tal que responda
equitativamente às necessidades de desenvolvimento e de proteção à
integridade do sistema ambiental das gerações presentes e futuras.
Princípio 4
Com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do
meio ambiente deverá constituir parte integrante do processo de
desenvolvimento e não poderá ser considerada isoladamente.
Princípio 5
Todos os Estados e todas as pessoas deverão cooperar na tarefa essencial
de erradicar a pobreza como requisito indispensável do desenvolvimento
sustentável, a fim de reduzir as disparidades nos níveis de vida e responder
melhor às necessidades dos povos do mundo.
Princípio 6
Dever-se-á atribuir especial prioridade à situação e às necessidades
específicas dos países em desenvolvimento, em particular dos países menos
adiantados, e dos mais vulneráveis do ponto de vista ambiental. Nas medidas
internacionais a serem adotadas com relação ao meio ambiente e ao
desenvolvimento dever-se-iam também levar em consideração os interesses e
as necessidades de todos os países.
Princípio 7
Os Estados deverão cooperar, em espírito de solidariedade mundial,
para conservar, proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema
da Terra. Na medida em que tenham contribuído em graus variados para a
degradação do meio ambiente cultural, os Estados têm responsabilidades
comuns, mas diferenciadas.
Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na
busca internacional do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões que
suas sociedades exercem no meio ambiente mundial, das tecnologias e dos
recursos financeiros de que dispõem.
Princípio 8
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade
de vida para todas as pessoas, os Estados deveriam reduzir e eliminar as
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
245
modalidades de produção e consumo insustentável e fomentar apropriadas
políticas demográficas.
Princípio 9
Os Estados deveriam cooperar para o fortalecimento de sua própria
capacidade de chegar ao desenvolvimento sustentável, aumentando o saber
científico mediante o intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos, e
intensificando o desenvolvimento, a adaptação, a difusão e a transferência de
tecnologias, entre as quais tecnologias novas e inovadoras.
Princípio 10
O melhor modo de tratar as questões ambientais da participação de
todos os cidadãos interessados no nível correspondente. No plano nacional,
qualquer pessoa deverá ter acesso adequado à informação sobre o meio
ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive a informação
sobre os materiais e as atividades que ocasionem perigo a suas comunidades,
assim como a oportunidade de participar nos processos de adoção de decisões.
Os Estados deverão facilitar e incentivar a sensibilização e a participação da
população, colocando a informação à disposição de todos. Deverá ser
proporcionado acesso efetivo a procedimentos judiciais e administrativos, entre
os quais o ressarcimento de danos e os recursos pertinentes.
Princípio 11
Os Estados deverão promulgar leis eficazes sobre o meio ambiente. As
normas ambientais, os objetivos de planejamento e as prioridades ambientais
deveriam refletir o contexto ambiental e de desenvolvimento a que se aplicam.
As normas utilizadas por alguns países podem resultar inadequadas e
representar um custo social e econômico injustificado para outros,
particularmente para os países em desenvolvimento.
Princípio 12
Os Estados deveriam cooperar na promoção de um sistema econômico
internacional favorável e aberto que conduzisse ao crescimento econômico e ao
desenvolvimento sustentável de todos os países, a fim de abordar da melhor
forma os problemas da degradação ambiental. As medidas de política comercial
com fins ambientais não deveriam constituir um meio de discriminação
arbitrária ou injustificável, nem uma restrição velada ao comércio
internacional. Dever-se-ia evitar adoção de medidas unilaterais para
solucionar os problemas ambientais que se produzem fora da jurisdição do país
importador. As medidas destinadas a tratar os problemas ambientais
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
246
transfronteiriços ou mundiais deveriam, na medida do possível, basear-se em
um consenso internacional.
Princípio 13
Os Estados deverão desenvolver a legislação nacional relativa à
responsabilidade e à respectiva indenização das vítimas da contaminação e de
outros danos ambientais. Os Estados deverão cooperar, além disso, de maneira
pronta e mais decidida na elaboração de novas leis internacionais sobre a
responsabilidade e a indenização por efeitos adversos dos danos ambientais
causados pelas atividades realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu
controle, ou em zonas situadas fora de sua jurisdição.
Princípio 14
Os Estados devem cooperar de forma efetiva para desestimular ou
prevenir a realocação e transferência, para outros Estados, de atividades e
substâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais
à saúde humana.
Princípio 15
Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá
ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.
Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza
científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
Princípio 16
As autoridades nacionais devem procurar promover a
internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos,
tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio,
arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem
provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.
Princípio 17
A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será
efetuada para as atividades planejadas que possam vir a ter um impacto
adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam sujeitas à decisão de
uma autoridade nacional competente.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
247
Princípio 18
Os Estados notificarão imediatamente outros Estados acerca de
desastres naturais ou outras situações de emergência que possam vir a
provocar súbitos efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente destes últimos.
Todos os esforços serão envidados pela comunidade internacional para ajudar
os Estados afetados.
Princípio 19
Os Estados fornecerão, oportunamente, aos Estados potencialmente
afetados, notificação prévia e informações relevantes acerca de atividades que
possam vir a ter considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o meio
ambiente, e se consultarão com estes tão logo seja possível e de boa fé.
Princípio 20
As mulheres têm um papel vital no gerenciamento do meio ambiente e
no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial para se
alcançar o desenvolvimento sustentável.
Princípio 21
A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo devem ser
mobilizados para criar uma parceria global com vistas a alcançar o
desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos.
Princípio 22
Os povos indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades
locais, têm um papel vital no gerenciamento ambiental e no desenvolvimento,
em virtude de seus conhecimentos e de suas práticas tradicionais. Os Estados
devem reconhecer e apoiar adequadamente sua identidade, cultura e
interesses, e oferecer condições para sua efetiva participação no atingimento do
desenvolvimento sustentável.
Princípio 23
O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos a
opressão, dominação e ocupação serão protegidos.
Princípio 24
A guerra é, por definição, prejudicial ao desenvolvimento sustentável. Os
Estados irão, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à
proteção do meio ambiente em tempos de conflitos armados e irão cooperar
para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
248
Princípio 25
A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e
indivisíveis.
Princípio 26
Os Estados solucionarão todas as suas controvérsias ambientais de
forma pacífica, utilizando-se dos meios apropriados, de conformidade com a
Carta das Nações Unidas.
Princípio 27
Os Estados e os povos irão cooperar de boa fé e imbuídos de um espírito
de parceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta
Declaração, e para o desenvolvimento progressivo do direito internacional no
campo do desenvolvimento sustentável.
Cartas Patrimoniais:
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249
CONFERÊNCIA DE NARA
De 6 de Novembro de 1994
Conferência sobre autenticidade em relação à Convenção do Patrimônio
Mundial
UNESCO, ICCROM e ICOMOS
Preâmbulo
1. Nós, especialistas reunidos em Nara (Japão), desejamos reconhecer o
espírito generoso e a coragem intelectual das autoridades japonesas em
promover oportunamente este fórum no qual podemos desafiar o pensamento
tradicional a respeito da conservação, bem como debater caminhos e meio para
ampliarmos nossos horizontes, no sentido de promover um maior respeito a
diversidades do patrimônio cultural na prática da conservação.
2. Queremos também reconhecer o valor da estratégia de organizar
discussões, promovidas pelos Comitês do Patrimônio Mundial, no sentido de
colocar em prática o teste de autenticidade, através de caminhos que
demonstrem a concordância com o pleno respeito aos valores sociais e culturais
de todas as sociedades, examinando o valor extrínseco universal atribuído aos
bens culturais listados pelo Patrimônio Mundial.
3. O documento de Nara sobre autenticidade foi concebido no espírito as
Carta de Veneza 1964, desenvolvendo e ampliando esse documento em
resposta ao alargamento dos conceitos referentes ao escopo de que é
patrimônio cultural e seus interesses em nosso mundo contemporâneo.
4. Num mundo que se encontra cada dia mais submetido às forças da
globalização e da homogeneização, e onda a busca de uma identidade cultural
é, algumas vezes, perseguida através da afirmação de um nacionalismo
agressivo e da supressão da cultura das minorias, a principal contribuição
fornecida pela consideração do valor de autenticidade na prática da
conservação é clarificar e iluminar a memória coletiva da humanidade.
5. Diversidade cultural e de patrimônios.
6. A diversidade de culturas e patrimônios no nosso mundo é uma
insubstituível fonte de informações a respeito da riqueza espiritual e
intelectual da humanidade. A proteção e valorização da diversidade cultural e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
250
patrimonial no nosso mundo deveria ser ativamente promovida como um
aspecto essencial do desenvolvimento humano.
7. A diversidade das tradições culturais é uma realidade no tempo e no
espaço, e exige o respeito, por parte de outras culturas e de todos os aspectos
inerentes a seus sistemas de pensamento. Nos casos em que os valores
culturais pareçam estar em conflito, o respeito à diversidade cultural impõem o
reconhecimento de legitimidade dos valores culturais de cada uma das partes.
8. Todas as culturas e sociedades estão arraigadas em formas e
significados particulares de expressões tangíveis e intangíveis, as quais
constituem seu patrimônio e que devem ser respeitadas.
9. É importante sublinhar um princípio fundamental da UNESCO, que
considera que o patrimônio cultural de cada um é o patrimônio cultural de
todos. A responsabilidade por este patrimônio e seu gerenciamento pertence,
em primeiro lugar, à comunidade cultural que o gerou, e secundariamente
àquela que cuida dele. Entretanto, além destas responsabilidades, a adesão às
cartas internacionais e convenções desenvolvidas para a conservação do
patrimônio cultural, obriga a considerar os princípios e responsabilidades por
estes preconizados. Equilibrar suas próprias necessidades com aquelas de
outras culturas é, para cada sociedade, algo extremamente desejável, desde
que, ao alcançar este equilíbrio, não abra mão de seus próprios valores
culturais.
10. Valores e autenticidade.
11. A conservação do patrimônio mundial em suas diversas formas e
períodos históricos é fundamentada nos valores atribuídos a esse patrimônio.
Nossa capacidade de aceitar estes valores depende, em parte, do grau de
confiabilidade conferido ao trabalho de levantamento de fontes e informações a
respeito destes bens. O conhecimento e a compreensão dos levantamentos de
dados a respeito da originalidade dos bens, assim como de suas transformações
ao longo do tempo, tanto em termos de patrimônio cultural quanto de seu
significado, constituem requisitos básicos para que se tenha acesso a todos os
aspectos de autenticidade.
12. Autenticidade, considerada desta forma e afirmada na Carta de
Veneza, aparece como principal fator de atribuição de valores. O entendimento
da autenticidade é papel fundamental dos estudos científicos do patrimônio
cultural, nos planos de conservação e restauração, tanto quanto nos
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
251
procedimentos de inscrição utilizados pela Convenção do Patrimônio Mundial e
outros inventários de patrimônio cultural.
13. Todos os julgamentos sobre a atribuição de valores conferidos às
características culturais de um bem, assim como a credibilidade das pesquisas
realizadas, podem diferir de cultura para a cultura, e mesmo dentro de uma
mesma cultura, não sendo, portanto, possível basear os julgamentos de valor e
autenticidade em critérios fixos. Ao contrário, o respeito devido a todas as
culturas exige que as características de um determinado patrimônio sejam
consideradas e julgadas nos contextos culturais aos quais pertençam.
14. É da mais alta importância e urgência, portanto, que no interior de
cada cultura, o reconhecimento esteja em acordo com a natureza específica de
seus valores patrimoniais e a credibilidade e veracidade das pesquisas
relacionadas.
15. Dependendo da natureza do patrimônio cultural, seu contexto
cultural e sua evolução através do tempo, os julgamentos quanto à
autenticidade devem estar relacionados à valorização de uma grande
variedade de pesquisas e fontes de informação. Estas pesquisas e
levantamentos devem estar relacionados à valorização de uma grande
variedade de pesquisas e fontes de informação. Estas pesquisas e
levantamentos devem incluir aspectos de forma e desenho, espírito e
sentimento, e outros fatores internos e externos. O emprego destas fontes de
pesquisa permite delinear as dimensões específicas do bem cultural que está
sendo examinado, como as artísticas, históricas, sociais e científicas.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
252
CARTA DE BRASÍLIA
De 1995
Carta de Brasília
Documento regional do Cone Sul sobre autenticidade
Nós, representantes dos países do Cone Sul, sentimos a necessidade de
colocar a questão da autenticidade a partir da nossa peculiar realidade
regional, que difere daquela dos países europeus ou asiáticos, de longa tradição
como nações, pois nossa identidade foi submetida a mudanças, imposições,
transformações que geram dois processos complementares: a configuração de
uma cultura sincretista e a de uma cultura de resistência.
Se partirmos da premissa de que a atividade do homem se configurar o
meio ambiente que nos rodeia tem sido algumas vezes caracterizada como a
imagem da realidade de uma sociedade, expressa através de bens tangíveis e
intangíveis, deveríamos começar por analisar nossas formas de organizar essas
imagens.
Percebemos de imediato que neste processo sempre funcionamos em
duas dimensões básicas: a identidade e a diferença.
Assim, ordenamos e interpretamos nossas intervenções sobre a natureza
e a sociedade. Semeamos nossas colheitas, construímos nossas casas, nossas
cidades, nossas paisagens, escrevemos nossos livros, pintamos nossos quadros.
Atribuímos um significado e um valor a cada uma delas e assim vamos
moldando nossa cultura, compreendida como o conjunto das ações criativas de
uma sociedade. Dessa forma, vamos guardando nosso patrimônio cultural.
1. Autenticidade e identidade
Em meados do século passado, Juan Bautista Alberdi dizia: “Prosseguir
no desenvolvimento significa adquirir uma civilização própria, mesmo que seja
imperfeita, e não copiar as civilizações estrangeiras, mesmo que sejam
avançadas. Cada povo deve ter sua idade e seu solo, cada povo deve ser ele
mesmo...”.
No caso de nossos povos latino-americanos e mais especificamente
daqueles que formam o Cone Sul, é possível diferenciar várias heranças. A
primeira é o resultado das culturas pré-colombianas, a contribuição indígena; a
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
253
segunda é o legado europeu inicial; a terceira herança foi a crioula e a mestiça,
a qual se soma a contribuição africana; e finalmente, o legado das diferentes
imigrações a partir do fim do século passado.
Ditas heranças assim como nossos genes, estão sempre presentes em
forma de visões mais gerais ou de valores, apesar de que tendemos a enaltecer
uma ou algumas delas em detrimento das demais. Devemos nos conscientizar
de todas elas, conquistá-las e de aceitá-las.
A autenticidade desses valores se manifesta, se alicerça e se mantém na
veracidade dos patrimônios que recebemos e que transmitimos à posteridade.
Com isso, estamos afirmando que este grau de autenticidade, implícito em
cada legado, deve ser dimensionado em função de ditas heranças.
Portanto, nenhuma delas terá o direito de considerar-se única e
legítima. Nenhum terá o direito de excluir as outras. Todos, em conjunto, farão
com que sejamos o que devemos ser. Enriquecerão nossa gama de valores,
enquanto nos servirão como exemplo de respeito pela diversidade cultural.
Compreendemos a identidade como uma forma de pertencer e participar.
É por isso que somos capazes de encontrar nosso lugar, nosso nome ou nossa
personalidade, não por oposição, mas porque descobrimos vínculos verdadeiros
que nos ligam ao destino das pessoas com as quais compartilhamos da mesma
cultura.
O que ficou dito nos leva a formular algumas perguntas a que é preciso
responder: A que lugar pertencemos e do que participamos? Isto posto, a
pergunta sobre a que lugar pertencemos nos leva à busca da identidade
histórica, à valorização da tradição cultural de nossos povos, que enfrentam, de
modo indissolúvel, um duplo domínio que sem dúvida torna ainda mais
complexa a busca da própria identidade.
O tema da autenticidade passa então pelo da identidade, que é mutável
e dinâmica e que pode adaptar, valorizar, desvalorizar e revalorizar os
aspectos formais e os conteúdos simbólicos de nossos patrimônios.
Em um mesmo país não há uma única identidade e podem existir
identidades conflitantes. As identidades nacionais continuam em processo de
formação, o que dificulta ainda mais o estabelecimento de critérios únicos e
invariáveis para o “autêntico”.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
254
Há de caracterizar a composição diversificada da identidade de nossos
países, que não é hierarquicamente inferior à homogeneidade de outras
culturas e, portanto, devemos reconhecer os valores das maiorias e das
minorias, não apenas das culturas dominantes, como também das formas de
resistir a estas forças. As diferentes vertentes que integram uma sociedade
apresentam leituras de tempo e espaço diferentes, mas igualmente válidas,
que devem ser levadas em conta no momento em que se fizer a avaliação da
autenticidade.
2. Autenticidade e mensagem
O significado da palavra autenticidade está intimamente ligado à ideia
de verdade: autêntico é o que é verdadeiro, o que é dado com certo, sobre o qual
não há dúvidas. Os edifícios e lugares são objetos materiais, portadores de uma
mensagem ou de um argumento cuja validade, no quadro de um contexto social
e cultural determinado, e de sua compreensão e aceitação pela comunidade
convertem-os em um patrimônio. Poderíamos dizer, com base neste princípio,
que nos encontramos diante de um bem autentico quando há correspondência
entre o objeto material e seu significado.
É interessante insistir no tema do significado e da mensagem cultural
desse bem. O objetivo para a preservação da memória e de suas referências
culturais deve ser estabelecido a partir da função de ele se prestar ao
enriquecimento do homem, muito além daquele material. O suporte tangível
não deve ser o único objeto da conservação.
A mensagem original do bem deve ser conservada – quando não foi
transformado e, portanto, permaneceu no tempo -, assim como a interação
entre o bem e suas novas diferentes circunstâncias culturais que deram lugar a
outras mensagens diferentes, porém tão ricas como a primeira. Isso significa
assumir um processo dinâmico e coletivo. Assim é que a autenticidade também
faz alusão a todas as vicissitudes às quais o bem foi sujeito ao longo de sua
história e que, contudo, não alteraram seu caráter.
É preciso sensibilizar as comunidades para o tema da autenticidade do
patrimônio cultural, fornecendo modelos para seu conhecimento adequado e
sua valorização, para sua conservação e proteção, fomentando seu desfrute
artístico, espiritual e seu uso educacional, cuja raiz comum seja a memória
histórica, os testemunhos e a continuidade cultural.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
255
3. Autenticidade e contexto
Conservação da autenticidade dos conjuntos urbanos com um valor
patrimonial pressupõe a manutenção de seu conteúdo sociocultural,
melhorando a qualidade de vida de seus habitantes, é imprescindível o
equilíbrio entre o edifício e seu entorno, tanto na paisagem urbana quanto na
rural. Sua ruptura seria um atentado contra a autenticidade. Para isso, é
necessário criar normas especiais que assegurem a manutenção do entorno
primitivo, quando for possível ou que gerem relações harmônicas de massa,
textura e cor.
4. Autenticidade e materialidade
Uma parte importante de nosso patrimônio, especialmente a que diz
respeito à arquitetura vernácula e tradicional, é constituída por materiais
efêmeros por natureza, como a terra, os elementos vegetais, a madeira etc.,
nestes casos, a renovação de práticas evolutivas, em continuidade cultural
como a substituição de alguns dos elementos através de técnicas tradicionais,
resulta em uma resposta autêntica. Também consideramos válida esta ação
para aquelas zonas e áreas de risco climático e telúrgico.
5. Graduação da autenticidade
Outro aspecto que deve ser levado em conta é a graduação da
autenticidade de um bem e a qualificação da autenticidade no aspecto espacial,
edílico, funcional, decorativo etc., em função das ideias que deram origem ao
bem. Ela será diferente para a arquitetura colonial, para a industrial, para a
acadêmica, para a eclética, para a moderna e assim por diante, tudo isto
retroalimentos por meio de uma interpretação correta ao bem, alicerçado na
investigação, na consulta e na discussão.
6. Conservação da autenticidade
Como modelos para uma estratégia da conservação da autenticidade,
devemos levar em conta a identificação das tradições culturais locais: o
reconhecimento e valorização – tanto geral quanto pormenorizada de seus
componentes – e o estudo das técnicas mais apropriadas para a preservação
desta ou destas autenticidades.
A intervenção contemporânea deve resgatar o caráter do edifício ou do
conjunto – destarte rubricando sua autenticidade – sem transformar sua
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
256
essência e equilíbrio, sem se deixar envolver em arbitrariedades, mas
enaltecendo seus valores.
A adoção de novos usos para aqueles edifícios de valor cultural é factível
sempre que exista reconhecimento apriorístico do edifício e diagnostico preciso
de quais as intervenções que ele aceita e suporta. Em todos os casos, é
fundamental a qualidade da intervenção e que os novos elementos a serem
introduzidos sejam de caráter reversível e se harmonizem com o conjunto.
Em edifícios e conjuntos de valor cultural, as fachadas, a mera
cenografia, os fragmentos, as colagens, as moldagens são desaconselhados
porque levam à perda da autenticidade intrínseca do bem.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
257
RECOMENDAÇÃO DA EUROPA
De 11 de Setembro de 1995
Sobre a conservação integrada das áreas de paisagens culturais como
integrantes das políticas paisagísticas, adotada pelo Comitê de Ministros em
11 de setembro de 1995, por ocasião do 543º encontro de vice-ministros.
Conselho da Europa – Comitê de Ministros
O comitê de Ministros, nos termos do artigo 15b do Estatuto do Conselho
da Europa
Considerando que o objetivo da organização é estreitar a unidade entre
seus membros para facilitar especialmente seu progresso econômico e social;
Tendo em vista a Convenção referente à Proteção da Herança Cultural e
Natural Mundial, adotada em Paris, em 16 de novembro de 1972;
Tendo em vista o sumário da Convenção Europeia sobre Cooperação
além-fronteiras entre Comunidades ou Autoridades Territoriais, aberto a
assinaturas em Madri, em 21 de maio de 1980;
Tendo em vista a Recomendação nº R (80) 16 sobre o treinamento
especializado de arquitetos, urbanistas, engenheiros civis e paisagistas;
Tendo em vista a Carta Regional Europeia sobre Planejamento Espacial,
adotada em Torrimolinos, em 20 de maio de 1983, pela Conferência Europeia
de Ministros Responsáveis pelo Planejamento Regional;
Tendo em vista a Convenção para a Proteção Arquitetural na Europa,
aberta a assinaturas em Granada, a 3 de outubro de 1985;
Evocando a campanha pelas zonas rurais empreendidas pelo Conselho
da Europa, em 1987 e 1988;
Tendo em mente a Diretiva nº 337 das Comunidades Europeias a
respeito da avaliação dos efeitos de alguns projetos públicos e privados sobre o
meio ambiente, adotada em 27 de junho de 1985;
Tendo em vista Convenção Europeia para a Proteção de Herança
Arqueológica, aberta a assinaturas em Malta, em 16 de janeiro de 1992;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
258
Tendo em mente a Diretiva nº 43 das Comunidades Europeias sobre a
conservação de habitats naturais e seminaturais, adotada em 21 de maio de
1992;
Tendo em vista as conclusões da Conferência para as Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, de 3 a
14 de junho de 1992;
Tendo em mente a Regulamentação nº 2.078 das Comunidades
Europeias, que trata de métodos de produção agrícola compatíveis com as
exigências de proteção do meio ambiente e de manutenção das zonas rurais,
adotada em 30 de junho de 1992;
Evocando a necessidade de se atingir um equilíbrio harmonioso de
relações entre a sociedade e seu meio ambiente, com vistas à proteção do
desenvolvimento econômico sustentável;
Constatando que técnicas e práticas de produção agrícola, silvícola e
industrial referentes à construção de moradias, revalorização, turismo e lazer,
assim como mudanças socioeconômicas têm o efeito de modificar a paisagem e
ameaçam a existência de áreas da paisagem cultural europeia;
Observando que a proteção e o realce das áreas de paisagem cultural e a
assistência às paisagens para preservar a memória do povo e a identidade
cultural das comunidades humanas são fatores de aperfeiçoamento de seu
meio ambiente;
Reconhecendo que o meio ambiente é um sistema dinâmico que engloba
elementos naturais e culturais interagindo num determinado tempo e espaço e
passível de ter efeitos diretos ou indiretos, imediatos ou a longo prazo, sobre os
seres vivos, as comunidades humanas e sua descendência, em geral;
Considerando a necessidade de serem desenvolvidas estratégias para
integrar a evolução orientada da paisagem e a preservação das áreas de
paisagem cultural como parte de uma política que abranja a totalidade da
paisagem e que estabeleça a proteção unificada dos interesses culturais,
estéticos, ecológicos e sociais do respectivo território;
Considerando a necessidade de se aproximar pesquisa e cooperação
entre as diversas instituições europeias atinentes a de coordenar a política
local, nacional e interfronteiriça sobre paisagens de maneira mais ligada ao
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
259
planejamento regional, à política agrícola e silvícola e à conservação da
herança cultural e natural no contexto mais amplo de uma política de meio
ambiente;
Recomenda que os governos dos Estados-membros adaptem suas
políticas para conservação e evolução orientada de áreas de paisagem cultural
ao contexto de uma política geral relativa a paisagens, de acordo com os
princípios expostos no anexo a esta recomendação.
Anexo à Recomendação nº R (95) 9
Definições
Artigo 1º
Para os fins desta recomendação, os termos abaixo são empregados nas
seguintes acepções:
Paisagem – expressão formal dos numerosos relacionados existentes em
determinado período entre o indivíduo ou uma sociedade e um território
topograficamente definido, cuja aparência é resultado de ação ou cuidados
especiais, de fatores naturais e humanos e de uma combinação de ambos.
Paisagem é considerada em um triplo significado cultural, porquanto, é
definida e caracterizada da maneira pela qual determinado território é
percebido por um indivíduo ou por uma comunidade; dá testemunho ao
passado e ao presente do relacionamento existente entre os indivíduos e seu
meio ambiente; ajuda a especificar culturas e locais, sensibilidades, práticas,
crenças e tradições.
Áreas de paisagem cultural – partes específicas, topograficamente
delimitadas da paisagem, formadas por várias combinações de agenciamentos
naturais e humanos, que ilustram a evolução da sociedade humana, seu
estabelecimento e seu caráter através do tempo e do espaço e quanto de valores
reconhecidos têm adquirido social e culturalmente em diferentes níveis
territoriais, graças à presença de remanescentes físicos que refletem o uso e as
atividades desenvolvidas na terra do passado, experiências ou tradições
particulares, ou representação em obras literárias ou artísticas, ou pelo fato de
ali haverem ocorrido fatos históricos.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
260
Conservação – a aplicação dinâmica das medidas apropriadas, dos
pontos de vista legal, econômico e operacional, para preservar determinados
espólios ou deterioração e salvaguardar seu futuro.
Política paisagística – todas as estruturas concorrentes definidas pelas
autoridades competentes e relativas a diferentes atividades do poder público,
de proprietários de terras e de outros interessados na evolução orientada de
uma paisagem e em sua valorização, de acordo com os desejos da sociedade
como um todo.
Poluição visual – degradação ofensiva à visualidade resultante de
acúmulo de instalações ou equipamento técnico (torres, cartazes de
propaganda, anuncia ou qualquer outro material publicitário) ou de presença
de plantação de árvores, zona florestas ou projetos construtivos inadequados
ou mal localizados.
Campo de aplicação da Recomendação
Artigo 2º
Os princípios expostos nesta recomendação referem-se particularmente
a áreas de avaria, destruição e transformação prejudiciais ao equilíbrio do meio
ambiente, e dizem respeito especialmente à conservação das áreas de paisagem
cultural.
Muitos fenômenos, que têm um impacto nos complexos vínculos
existentes entre os indivíduos e seu meio ambiente, promovem degradação
física e poluição visual, muitas vezes irreversíveis. As causas podem estar em:
- uso insustentável de recursos naturais do solo, subsolo, água e
atmosfera;
- desenvolvimento descontrolado dos setores da indústria, energia,
turismo e lazer;
- intensificação exagerada e altamente especializada da agricultura e as
silviculturas, acompanhada de objetivos que não levam em conta a terra
e o despovoamento rural;
- desenvolvimento urbano insuficientemente planejado e executado,
sobretudo nas zonas suburbanas;
- instalação de grandes construções ou de infraestrutura de transportes
sem a necessária avaliação a respeito do caráter e da qualidade das
áreas em que estão situadas;
- negligencia ou inadvertência sobre o valor das paisagens culturais,
devidas à falta de informação e educação;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
261
Graças à natureza multidisciplinar dos pontos em comum ao estudo de
paisagens, a aplicação de medidas para a conservação e evolução controlada de
paisagem cultural sugeridas nesta recomendação deveria ser planejada em
conexão com políticas mais abrangentes para as áreas de paisagem,
contemplando todos os interesses do respectivo território: culturais, históricos,
arqueológicos, etnológicos, ecológicos, estéticos, econômicos e sociais.
Medidas para reparar danos cometidos contra paisagens revelam-se
frequentemente como inadequada por causa da gravidade dos efeitos
prejudiciais e da impropriedade do diagnóstico, da informação, do treinamento
e das estratégias de intervenção. Por isso, os procedimentos relativos à
identificação e à avaliação, e os meios de intervenção devem permitir uma ação
flexível e de larga extensão.
Tendo isso em mente, dada a inseparável natureza dos componentes
cultural e natural da paisagem europeia, é necessário providenciar meios de
identificação, avaliação e intervenção capazes de abarcar todos os aspectos das
áreas de paisagem cultural e da paisagem como um todo.
Objetivos da Recomendação
Artigo 3º
1. Esta recomendação propõe meios teóricos e operacionais para a
conservação e evolução controladas das áreas de paisagem cultural em cuja
estrutura se incluam as políticas de uso da terra e da paisagem como um todo.
Essas políticas expressam determinado número de princípios derivados
da tradição dos Estados-membros do conselho da Europa na esfera da proteção
ambiental.
- a finalidade do desenvolvimento econômico sustentável implicando
uma relação harmoniosa entre as necessidades da população, o uso dos
recursos naturais e a organização das atividades humanas em
determinada área;
- a busca de um meio ambiente que contemple tanto a herança cultural
quanto a natural e que leve a natureza evolucionária da paisagem como
um todo;
- a necessária adaptação do desenvolvimento econômico às necessidades
de uma sociedade que dê a devida consideração à qualidade das relações
humanas e à solidariedade entre os setores da população.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
262
2. A política de paisagens considera e harmoniza os interesses culturais,
estéticos, ecológicos, econômicos e sociais. Uma nação concertada das partes
envolvidas deveria ser garantida no estágio de identificação do legado
transmitido pela paisagem e no planejamento e implementação de políticas de
paisagem. Em virtude da natureza multidisciplinar das políticas de paisagem,
a responsabilidade por elas não pode ser imputada apenas aos funcionários
encarregados do planejamento urbano ou regional e da política de silvicultura,
que são responsáveis pelo controle do território em muitos países. Outros
interesses devem também ser incluídos.
3. Esta Recomendação tem dois objetivos:
- estabelecer as linhas de orientação das políticas de paisagem,
respeitando e valorizando as identidades europeias;
- propor medidas para a conservação e a evolução controlada das áreas
de paisagem cultural.
As políticas de sua conservação e valorização devem ser partes
integrantes do planejamento regional e espacial e das políticas de agricultura e
silvicultura e adaptar-se à política geral de paisagens em um sentido geral, das
quais é aspecto determinado.
4. As áreas de paisagem cultural nem sempre se constituem apenas de
bens culturais, mas de valores paisagísticos que podem necessitar de uma
particular proteção legal. Outras categorias de bens paisagísticos merecem
proteção específica devido a seu excepcional valor ecológico ou natural.
O Processo de Identificação e a Avaliação das Áreas de
Paisagem Natural
Artigo 4º
1. Uma abordagem multidisciplinar deveria ser adotada, tanto no
estágio de identificação das paisagens e de seus componentes quanto no da sua
avaliação, o que requer a montagem de documentação capaz de objetivar as
medidas a serem tomadas.
Com relação aos procedimentos de identificação de uma paisagem:
- cabe a cada Estado determinar o nível (local, regional, nacional ou
transnacional) em que o processo de identificação deve ser executado;
- as operações deveriam ser conduzidas por autoridades competentes e
designadas com a assistência de adequados especialistas em diferentes
matérias, de acordo com os programas de ação de cada país.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
263
Esses procedimentos de identificação deveriam ser conduzidos:
- sob a responsabilidade das autoridades competentes, no nível
territorial apropriado;
- por especialistas independentes designados em vista dos aspectos de
que se vai tratar (nos setores de arquitetura, paisagismo, arqueologia,
geografia, planejamento urbano, história, etnologia, antropologia,
geologia, agronomia, economia, sociologia, ecologia, ciências naturais e
direito, por exemplo);
- com a participação da comunidade local;
- membros eleitos e representantes das autoridades envolvidas;
- representantes das principais categoriais profissionais ligadas às
atividades socioeconômicas na área pertinente: fazendeiros, guardas
florestais, artífices, industriais e agentes de turismo;
- representantes dos moradores, de associações capacitadas à proteção
da herança cultural e natural e outras associações.
2. O emprego de métodos coordenados de identificação entre as
diferentes regiões de cada país é desejável para o intercâmbio de informações e
para facilitar a implementação de consistentes políticas nacionais de paisagem.
Coordenação e provisão de aconselhamento e assistência são incumbências de
uma autoridade nacional adequada.
3. Procedimentos de identificação de categorias de paisagens
empregados por diferentes países europeus poderiam ser frequentemente
aplicados no contexto de uma cooperação além-fronteiras.
Os procedimentos de avaliação de uma paisagem deveriam:
- ser baseados em uma abordagem ampla e analítica, que leve em conta
o papel das diferentes disciplinas envolvidas. Essa avaliação pode ser
levada a efeito em nível local, regional, nacional ou internacional;
- visar à divulgação dos valores culturais, históricos, arqueológicos,
estéticos, simbólicos, etnológicos, ecológicos, econômicos e sociais que as
sociedades atribuem às paisagens em vários níveis territoriais;
- considerar as condições históricas em que a paisagem foi configurada e
incluir um estado detalhado dos atributos culturais e naturais de cada
unidade da paisagem, examinada nos termos de um método
interdisciplinar de trabalho, que utilize equipamento técnico e científico
apropriado;
- ser capazes de delimitar zonas autorizada para a implementação de
conservação legal e/ou procedimentos de controle do solo, por serem
Cartas Patrimoniais:
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264
“áreas de paisagem cultural”, ou no interesse de valores naturais ou
ecológicos protegidos por leis específicas;
- ser facilmente compreensíveis e aplicáveis por um grande número de
usuários;
- constituir-se em um instrumento fácil de ser utilizado em diferentes
situações culturais ou geográficas;
- representar um referencial comum para todas as modalidades de
intervenção que possam vir a ser empregadas;
- assegurar a participação efetiva da população nos processos de
avaliação e de manejo da paisagem.
Níveis de Competência e Estratégia de Ação
Artigo 5º
O contexto das políticas de paisagem
As estratégias de ação deveriam refletir a mesma abordagem
multidisciplinar da identificação de paisagens, áreas de paisagem cultural e
seus componentes.
Essas estratégias deveriam ser adaptadas dentro da mesma estrutura
escolhida para os procedimentos de identificação e da avaliação de paisagens,
áreas de paisagem cultural e seus componentes.
Essas estratégias deveriam ser adaptadas dentro da mesma estrutura
escolhida para os procedimentos de identificação e da avaliação de paisagens,
sujeitas ao direito de intervenção do Estado, sob regras de ação definidas por
regulamentos ou decisões administrativas.
Estrutura legal ou reguladora
I. Cabe aos governos nacionais, ou às autoridades responsáveis em
Estados com estrutura federal, realizar a necessária provisão institucional
(exercendo, por exemplo, a coordenação de um conselho ou câmara
multidisciplinar) para a introdução de procedimentos relativos à paisagem e
medidas específicas referentes às áreas de paisagem cultural.
II. Convém impedir a proliferação de uma legislação setorial
descoordenada e algumas vezes contraditória, que realmente não leva ao
estabelecimento de políticas abrangentes de conservação e controle de
paisagens. Dependendo da situação em cada Estado:
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
265
III. Estados com legislação insuficientemente coordenada deveriam
empenhar-se em simplificá-la ou em torná-la coerente;
IV. Um sistema legislativo unificado, que incorpóreos variados aspectos
das políticas de paisagem, deveria ser objetivado onde houver lacunas ou
quando as circunstâncias justificarem a revisão das leis pertinentes.
Implementação de Políticas de Paisagem
Artigo 6º
Princípios Gerais
É importante que as políticas de paisagem se inspirem nos princípios do
desenvolvimento sustentável enquanto meta, com a adoção de medidas
apropriadas para compatibilizar a evolução controlada da paisagem e as
mudanças socioeconômicas que tendem a alterar o meio ambiente.
Tais políticas deveriam corporificar os dados obtidos através da
identificação e da avaliação de paisagens em instrumentos legais ou em
estratégias oficiais. A propósito, quaisquer políticas formuladas em nível
regional, nacional ou internacional que se relacionem a matérias como
agricultura, indústria, diversões públicas, turismo e lazer deveriam ser
consonantes com as políticas de paisagem formuladas nos mesmos níveis.
Estratégias para controlar a evolução da paisagem
I. Tais estratégias deveriam ser delineadas em nível administrativo, ser
consequentes aos procedimentos de identificação e avaliação de paisagens e
redigidas com a colaboração dos mesmos organismos, sob a supervisão das
autoridades responsáveis pelo governo local ou regional da área em questão.
Deverão autorizar qualquer desenvolvimento proposto ou previsível e
esquemas de exploração e intervenção a serem harmonizados com os interesses
da paisagem.
II. Para isso, o alvo das estratégias de evolução controlada das paisagens
consiste em identificar, conservar e valorizar as estruturas paisagísticas.
III. As modalidades de procedimentos de intervenção podem varias
bastante, dependendo das diferentes características da paisagem em questão.
IV. As estratégias de intervenção podem ser implementadas através de
planos paisagísticos formulados para a decisão das associações de operadores
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
266
econômicos e de residentes, para que se levem em conta tanto os interesses das
paisagens locais quanto as medidas de natureza econômica e fiscal.
V. A realimentação advinda das revisões das estratégias de evolução
controladas da paisagem e as medidas que elas necessariamente acarretam
deveriam ser incorporadas ao planejamento urbano e às regulamentações
estabelecidas para o desenvolvimento regional, de acordo com as posturas da
lei municipal e do sistema administrativo de cada país. A experiência obtida
pode ser também aplicada à formulação das estratégias subsequentes ou à
revisão das que já existem.
VI. As indicações derivadas da avaliação da paisagem deveriam ser
levadas em consideração, de forma apropriada, na implementação de medidas
legais relativas ao uso da terra e ao planejamento territorial (permissão para
construir ou demolir, autorização de trabalho que mude a natureza do
território ou altere o meio ambiente) e nos estudos de impacto exigidos pela
legislação ou por atos administrativos regionais ou nacionais.
VII. Penalidades civis, administrativas ou criminais podem ser
introduzidas em cada sistema legal nacional.
VIII. Quando grandes construções ou projetos de desenvolvimento
estiverem sendo planejados, é aconselhável proceder a um estudo do impacto
para avaliar para seus efeitos nas paisagens afetadas.
Proteção Legal e Conservação das Áreas da Paisagem
Cultural como Parte de Políticas de Paisagem
Artigo 7º
1. Procedimentos Específicos de Proteção
Assim como se justifica atribuir proteção legal a locais de particular
valor ecológico ou natural, as paisagens culturais, tal como definidas no artigo
1 desta recomendação, deveriam ser objeto de medidas específicas de
preservação.
As áreas de paisagem cultural que tenham sido catalogadas e
selecionadas durante a identificação e avaliação de uma determinada
paisagem deveriam ser objeto de medidas específicas de proteção e
conservação, baseadas tanto nos procedimentos gerais de uso da terra e de
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
267
planejamento territorial quanto nas normas setoriais relacionadas à herança
cultural. Essas normas serviriam para identificar os sítios a serem protegidos,
seja pela definição de zonas adequadas, seja pelo registro desses sítios em
listagens especiais. Todas as áreas especificamente protegidas que existam
devem ser mencionadas nos documentos de planejamento urbano.
2. Aplicação de Medidas Específicas de Proteção
I. Dependendo do valor das áreas de paisagem cultural protegidas, o
projeto de proteção deveria estabelecer a supervisão de uma autoridade
responsável no território no que diz respeito à concessão de autorização para
construções, demolições ou realização de obras (incluídos projetos de
silvicultura, agrícola ou de infraestrutura) que resultem na transformação das
paisagens. Em algumas áreas ou em partes de áreas a proteção pode acarretar
a proibição de construir.
II. A gerência exercida em regiões delimitadas pode ser um elemento de
política de paisagem implementada em bases multidisciplinares em nível
regional ou local. A autoridade central responsável pelas áreas de paisagem
cultural em nível nacional pode, no entanto, reserva-se o direito de alterar
decisões das autoridades locais nas áreas de paisagens culturais de valor
nacional ou internacional, para assegurar que o desenvolvimento seja
compatível com a preservação da integridade da área de paisagem cultural e
de seu caráter distinto.
3. Medidas Específicas para Conservação e Evolução Controlada
I. As áreas de paisagem cultural consistem em recursos socioeconômicos
que podem ser empregados no desenvolvimento local. Trata-se, contudo, de
recursos não renováveis e seu uso deve ser planejado no sentido de reservar
sua integridade e seu caráter peculiar.
II. O emprego das áreas de paisagem cultural para estimular o
desenvolvimento local é mais eficientemente planejado no interior de uma
estratégia regional, para evitar a repetição de tipos de desenvolvimento dentro
de uma única área. As autoridades locais deveriam trabalhar conjuntamente,
nos termos de programas estabelecidos em acordo.
III. Incentivos podem encorajar os usos apropriados de áreas de
paisagem cultural, incluído, quando for conveniente, um aumento de
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
268
investimento público para apoiar a economia local e a criação de empregos,
através, por exemplo, de:
a) subsídios ou empréstimos a juros baixos para a manutenção,
conservação e valorização da área de paisagem cultural em questão;
b) subsídios para várias iniciativas que encorajem a manutenção das
atividades existentes, incluídas as que ajudem a conservar as áreas de
paisagem cultural;
c) delineação e criação de comodidades e infraestrutura, principalmente
nos setores de novas tecnologias, telecomunicações e transportes,
compatíveis com a manutenção da integridade da feição da área de
paisagem cultural;
d) introdução de medidas a serem tomadas pelos Estados-membros para
encorajar as iniciativas das associações privadas nos sentido de proteger
as áreas de paisagem cultural;
e) esquemas de incentivo no interiro de áreas de paisagem cultural que
promovam boa conservação e adequadas práticas de manejo em
agricultura e silvicultura.
IV. É importante incentivar o acesso público a áreas de paisagem
cultural, embora o fluxo de visitantes e turistas deva ser mantido sob controle.
As autoridades deveriam promover uma apresentação clara e apropriada da
história e da importância de cada local, através de:
a) promoção de projetos de pesquisa e de programas de estudos
centrados nos diferentes aspectos do local;
b) cooperação dos departamentos adequados das universidades locais ou
dos institutos de pesquisas e das autoridades ligadas à conservação e
administração;
c) administração controlada da visitação, que encoraje o acesso a locais
situados fora das maiores rotas turísticas e que restrinja o número de
visitantes a locais que os estejam recebendo número muito elevado;
d) viabilidade do fornecimento de informação adequada e de publicações
destinadas aos visitantes.
Informação e Incremento da Conscientização
Artigo 8º
É recomendável que os Estados-membros empreendam campanhas de
informação e incremento da conscientização às autoridades pertinentes e aos
diferentes setores do público envolvidos.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
269
1. Nessa perspectiva, as campanhas podem variar de acordo com as
categorias sociais e profissionais a serem atingidas:
I. público em geral;
II. usuários diretos dos recursos naturais do território (fazendeiros,
proprietários de terras, industriais, turistas, esportistas, por exemplo);
III. representante eleitos e autoridades públicas que exerçam a
responsabilidade local e nacional quanto ao uso da terra, ao
planejamento espacial ou ao desenvolvimento econômico e social;
IV. profissionais e técnicos envolvidos em diferentes campos de
atividades que digam respeito à aparência física do meio ambiente.
Os Estados-membros deveriam desenvolver ou ampliar ações que
introduzam temas relacionados à dimensão cultural é um aspecto importante
do meio ambiente e deveria, sempre que possível, ser integrada ao campo mais
amplo da educação ambiental.
2. Os métodos escolhidos para a informação e o incremento da
conscientização das partes envolvidas de acordo com as características sociais
ou profissionais de cada grupo alvo. Nessa perspectiva, os Estados-membros
podem escolher o mais apropriado entre os seguintes meios:
I. material de ampla circulação (cartões postais e folhetos ilustrados que
forneçam informação geral sobre os conceitos básicos, as instituições
responsáveis e os fenômenos que mais frequentemente afetem ou
ameacem a paisagem);
II. vídeo e material de propaganda;
III. trabalhos diversos destinados aos leigos;
IV. projeções, seminários e conferências;
V. novas técnicas de informação e comunicação;
VI. manuais técnicos em geral (pesquisa e estudos aprofundados sobre
todos os aspectos da paisagem);
VII. manuais técnicos especializados (monografias sobre itens específicos
da paisagem).
Treinamento e Pesquisa
Artigo 9º
1. A introdução de programas de treinamento e pesquisa deve ser um
objetivo fundamental dos Estados-membros. É necessário a graduados pelas
universidades ou por outras instituições especializadas, pessoal e profissionais
envolvidos no planejamento especial e do uso da terra, planejamento físico-
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
270
territorial e uso controlado da terra, para que adquiram o conhecimento e a
prática necessários para elaborar projetos de uso da terra e de planejamento
territorial ou para executar projetos que atendam às necessidades de
mudanças econômicas, sociais e culturais de modo compatível com as políticas
de paisagem.
Programas específicos deveriam ser proporcionados a estudantes que
desejem trabalhar, e a profissionais já engajados, na conservação de áreas de
paisagem cultural e em políticas gerais de paisagem.
Esses programas de treinamento deveriam:
I. referir-se especificamente às disciplinas relacionadas ao planejamento
espacial do uso da terra;
II. abranger as disciplinas para a conservação do patrimônio cultural e
natural e o controle do desenvolvimento que o afete;
III. reunir estudantes e professores de diferentes áreas geográfica e
disciplinas, respeitando, assim, o princípio interdisciplinar vital para a
estruturação de políticas de conservação e controle de paisagem;
IV. culminar na criação, na Europa, de uma cadeia inter-regional de
centros especializados para capacitar estudantes e estagiários ao
trabalho, e professores e especialistas que atuem como instrutores para
a realização de visitas de intercâmbio;
V. cada curso de treinamento deverá compreender uma parte teórica,
que consista de aulas ou palestras, e de uma parte prática, na forma de
oficinas de trabalho ou de estudos de casos.
2. Os programas poderiam adotar o seguinte padrão:
I. Teoria
a) conhecimento e compreensão de conceitos básicos e de reconhecimento
da diversidade de abordagens nas diferentes disciplinas;
b) história da formação da paisagem e dos fatores que lhe provocam
mudanças;
c) compreensão de como a paisagem tem sido apreendida historicamente
e de seu reflexo na sociedade;
d) história das políticas e da legislação relativa à paisagem nos países da
Europa;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
271
e) informação sobre as fontes e as referências;
f) coleção de referências e sistemas de processamento, sistemas
informativos, cartográficos, fotográficos ou iconográficos.
II. Prática
a) técnicas para a análise de paisagens e para a identificação de
elementos casuais;
b) sistemas para avaliação da importância da paisagem de um território:
técnicas operatórias;
c) identificação de instrumentos para a proteção, conservação e evolução
controlada das áreas de paisagem cultural e para a implementação de políticas
de paisagem, tais como planejamento ou controle e da paisagem;
d) concepção e aplicação de projetos para valorização, manutenção,
conservação e restauração de áreas de paisagem cultural e de paisagem em
geral;
e) programas e seminários de treinamento específico para fornecer aos
estudantes alguma experiência de trabalho efetiva nas esferas do uso da terra
e do planejamento territorial.
3. Programas de pesquisas deveriam ser organizados e encorajados nas
universidades e nas instituições e privadas, para fornecer o conhecimento
necessário ao treinamento básico e adicional no campo do patrimônio cultural e
natural.
Cooperação Internacional
Artigo 10
Os Estados-membros do Conselho da Europa deveriam incumbir-se de
desenvolver a cooperação internacional com o objetivo de progredir em suas
políticas de paisagem, através de um maior intercâmbio de informações e de
experiências.
Essa colaboração tanto pode ser:
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
272
I. bilateral, através de projetos pilotos transfronteiriços para identificar
e controlar a evolução da paisagem, assim como para promover a conservação e
a evolução controlada das áreas de paisagem cultural e de seus componentes;
ou
II. multilateral, no interior das estruturas dos programas de trabalho
intergovernamentais mantidos pelas organizações internacionais de que façam
parte.
III. cooperação multilateral da Europa, pode adotar como propósitos
específicos:
a) a discussão dos objetivos e métodos das políticas de paisagem e das
estratégias para a conservação e valorização das áreas de paisagem cultural e
de seus componentes;
b) a harmonização de regras relativas à conservação dos componentes da
paisagem, como parte da incumbência de construir uma política abrangente de
paisagem baseada no princípio do desenvolvimento econômico sustentável;
c) pode manifestar-se através de:
d) organização de grupos de trabalho multilaterais para fornecer
cooperação e assistência técnica;
e) organização de treinamento comum, de campanhas de informação e de
conscientização a respeito de conservação e da evolução controlada das áreas
de paisagem cultural, como parte de política geral de paisagens.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
273
DECLARAÇÃO DE SOFIA
De 9 de Outubro de 1996
XI Assembleia Geral do ICOMOS
A História ensina e as transformações sociais decorrentes de seu
dinamismo permitem constatar que o conceito de patrimônio cultural se
encontra em constante processo de evolução. Em consequência, a conservação
dos testemunhos tangíveis e intangíveis do passado não constitui apenas uma
questão de juízo atiço e estético, mas também um tema de atuação prática. Isto
implica que não mais se aceite a ideia de que a doutrina da conservação seja
estática e, doravante, sejamos convocados a considerar o patrimônio cultural
em função do contexto geral, levando-se em conta a diversidade e a
especificidade das culturas.
A defesa do pluralismo cultural, do respeito ao patrimônio alheio e do
repúdio à intolerância constituirá, assim, um imperativo ético universal. Esta
defesa, essencial para a manutenção da paz, deve manifestar-se entre os
diversos países e em cada país, respeitando a origem heterogênea das
populações, incluindo as minorias étnicas, religiosas e linguísticas.
Respeitadas estas condições, a prova de autenticidade expressa na Carta
de Veneza, dentro do espírito do conceito de preservação, deverá ser definida
com exatidão. Para resguardar o caráter universal da Carta, cada área cultural
deverá ser objetivo de esclarecimento e aprofundamento. Esta perspectiva
tornará indispensável a exigência de que todo monumento histórico considere o
seu entorno físico e a sua dimensão social.
Isto significa sua inserção nas diversas áreas do contexto histórico
contemporâneo, nas diferentes atividades quotidianas, considerados sempre o
conhecimento empírico e as habilidades da população.
Assim contextualizado, o patrimônio cultural com certeza enfrentará o
desafio econômico. E sem dúvida, antes de as atividades turísticas serem
supervalorizadas, arriscando-se a transforma-las em ameaça à integridade da
substância do patrimônio cultural, levar-se-á em conta, e cada vez mais, a
relação entre o patrimônio e a comunidade que o herdou.
Convém acrescer que esta relação integra o conjunto dos elementos
históricos, espirituais e afetivos existentes na raiz das transformações sociais.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
274
As atividades turísticas, por outro lado, não podem pretender utilizar o
patrimônio assegurando apenas o respeito ao seu significado e à sua
mensagem. Para que esta fruição seja viável e válida, serão necessários sempre
estudos analíticos e inventários completos, com o objetivo de explicitar os
diversos significados do patrimônio no mundo contemporâneo e justificar as
novas modalidades de uso a que se propõem.
Tal procedimento é o único que poderá contribuir para a melhoria da
qualidade de vida dos habitantes (preservação da ecologia social), dentro do
respeito absoluto às suas referências culturais, cistos como valores que
propiciam condições para um desenvolvimento sustentável. Este processo
deverá, sobretudo, assegurar a participação da sociedade civil – comunidade,
associações de minorias e organizações de profissionais – em conjunto com a
ação das autoridades políticas e administrativas (Estado, entidades públicas e
órgão de governo) na preservação e no desenvolvimento equilibrado dos
recursos culturais e naturais.
Com o objetivo de promover esta ação de importância universal, o
ICOMOS deve prosseguir no exercício sem trégua de sua tríplice missão:
assessoria científica, centro de reflexão e órgão difusor de metodologia e
tecnologia contemporâneas. Atuando neste sentido, interagirá sempre como
organização operacional que é, na maioria dos países do mundo, em sua
condição privilegiada de membro da UNESCO.
Para que isto se realize plenamente, o ICOMOS, organização não
governamental, sem fins lucrativos, que reúne profissionais de diversas áreas,
necessita, além de abnegação, de apoio material adequado para a convocação
permanente do serviço de seus membros a fim de levar adiante, com sucesso,
as suas missões.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
275
DECLARAÇÃO DE SÃO PAULO II
De 1996
Recomendações brasileiras à XI Assembleia Geral do ICOMOS
Reunidos em São Paulo de 3 a 6 de julho de 1996, para discutir o tema
central do Simpósio Internacional “Mudanças Sociais e Patrimônio Cultural”,
realizado durante a XI Assembleia Geral do ICOMOS, em Sófia – Bulgária – os
membros do ICOMOS/Brasil e todos os 210 participantes do Seminário
“Caminhos da Preservação”, considerando a situação crescente do conflito
entre a acelerada expansão urbana e a preservação do Patrimônio Cultural, em
países como o Brasil, e a necessidade de estabelecer e exercitar o
enfrentamento de tal situação, recomendam:
1) A adoção de atitude combativa do ICOMOS, através de permanente
vigilância e contínua atividade participativa dentro das instituições públicas e
dos movimentos sociais reunidos em organizações não governamentais;
2) A utilização pelo ICOMOS dos meios de comunicação impressa e
audiovisuais para denúncias dos atos lesivos ao Patrimônio Cultural, em todo o
mundo;
3) A organização pelo ICOMOS, na discussão específica sobre as
questões da preservação nos grandes centros urbanos dos países em
desenvolvimento, objetivando estabelecer referenciais para a ação de seus
Comitês;
4) A difusão de todos os segmentos sociais, através de linguagem
didática, com vistas à formação de agentes de preservação, dos conceitos acerca
das relações adequadas entre Desenvolvimento Urbano e Proteção do
Patrimônio Cultural;
5) A incorporação nos currículos de todos os níveis de ensino, de cursos
de identificação e de reconhecimento e registro do Patrimônio Cultural,
fundamento da preservação da identidade nacional, seja pela História escrita
do país, seja pela memória das populações de diversas origens, sobretudo, as
mais carentes;
6) A organização das mais diversas ações culturais pela defesa dos bens
naturais e paisagens notáveis, exigindo a institucionalização das reservas da
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
276
biodiversidade e da biosfera, de cuja salvaguarda depende a garantia de
sobrevivência das gerações vindouras;
7) A divulgação dos mecanismos jurídicos existentes no país, a partir dos
preceitos constitucionais, que possibilitam embargar e impedir a destruição
dos testemunhos do Patrimônio natural e cultural, com ações judiciais
específicas e eficientes;
8) Fazer do ICOMOS uma instância de defesa dos Bens Culturais,
entendidos como símbolos das coletividades, em face das ameaças de suas
destruição por ação privada ou mesmo pública.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
277
CARTA DE MAR DEL PLATA SOBRE PATRIMÔNIO
INTANGÍVEL
De Junho de 1997
Documento do MERCOSUL
Os participantes das Primeiras Jornadas do MERCOSUL sobre
Patrimônio Intangível, organizada pelo CICOP Argentina, e o órgão de cultura
da municipalidade de General Pueyrredon, realizadas na cidade de Mar del
Plata, de 10 a 13 de junho de 1997;
Convencidos de que o processo de integração concretizado através do
MERCOSUL, que expressa as legitimas aspirações de nossos povos a uma vida
melhor, deve sustentar-se sobre a diversidade dos sistemas e subsistemas
culturais;
Compartilhando a preocupação sobre as consequências que
eventualmente podem sofrer ditas identidades em um processo de globalização
avassalador, que limita seus horizontes a metas econômicas e financeiras;
Fazendo nossa a preocupação da UNESCO quanto ao tratamento e
salvaguarda do patrimônio intangível que se materializa nas diversas
manifestações culturais de nossos povos e recordando as “Recomendações para
a salvaguarda da cultura tradicional e popular”, assim como as “Disposições
para a proteção de expressões do folclore contra sua exploração ilícita”;
Conhecendo as múltiplas atividades que se vêm realizando há décadas
sobre as expressões culturais que conformam o patrimônio intangível, em
universidades, organismos de pesquisa, fundações e organizações não
governamentais; e reconhecendo uma contribuição fecunda e sustentável em
prol de seu estudo, pesquisa e difusão, deixamos estabelecidos, na entrada do
próximo milênio – que acreditamos será o da unidade na diversidade – os
seguintes
1. Princípios
1) A integração cultural deve ser definida como genuína prioridade do
MERCOSUL e não meta marginal, para a qual irá requerer meios adequados a
seus objetivos, assim como o indispensável respaldo político dos governos;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
278
2) Dita integração deve aceitar a pluralidade de culturas da região como
fato positivo e enriquecedor da nossa visão de mundo e do próprio
desenvolvimento da personalidade humana;
3) O conceito de integração supõe o intercambio e a complementaridade
de partes distintas entre si, e que, portanto, excluem toda a tentação de
uniformizar nossos povos em um modelo cultural único, expresso em uma
deformação ideológica que em alguns casos recebe o nome de globalização;
4) O fato de que o patrimônio cultural da região seja constituído por
grande quantidade de contribuições – as que provêm das diversas e também
muito distintas culturas pré-colombianas, das sucessivas e igualmente
diversas contribuições europeias, seguidas daquelas provenientes da África e
agora da Ásia – que, por sua vez, têm produzido surpreendentes formas de
mestiçagem, define uma fisionomia peculiar que devemos assumir
positivamente como fator de fortalecimento de nosso patrimônio comum;
5) Convencidos igualmente da necessidade de fixar algumas metas
concretas para avançar no caminho assinalado pelos princípios anteriormente
enunciados, aos organismos internacionais e aos organismos da região e às
instituições privadas interessadas em assegurar e gerar ações participativas
que promovam o desenvolvimento material e espiritual de nossos povos,
formulamos as seguintes:
2. Recomendações
1) promover, em caráter urgente, o registro documental e a catalogação
das expressões do patrimônio cultural intangível;
2) criar um banco de dados com todas as publicações da região que se
refiram ao patrimônio intangível e com informações sobre as manifestações
culturais próprias de nossos respectivos países, com a consequente publicação
de Cadernos sobre as distintas expressões culturais;
3) incrementar pesquisas sobre as afinidades, particularidades e fontes
das tradições comuns da região;
4) apoiar pesquisas sobre o patrimônio intangível das culturas indígenas
da região, especialmente as que suportam a pressão da sociedade ocidental e
que, portanto, se encontram ameaçados de extinção;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
279
5) elaborar um modelo de cartilha sobre patrimônio cultural intangível
como meio para informar a população, para ser utilizada pelos Ministérios da
Cultura e da Educação e outras instituições públicas ou privadas envolvidas na
atividade docente, com o objetivo de empregá-la no sistema de educação formal
e informal;
6) organizar uma rede de informações entre especialistas e instituições
dedicadas ao patrimônio cultural intangível, que possibilite o intercâmbio de
conhecimentos e de experiências em programas de ação nos diferentes países;
7) solicitar aos governos e aos organismos financeiros internacionais
que, aos estudos de impacto ambiental, acrescentem outros que ajudem a
identificar o impacto cultural, para o qual devem ser convocados profissionais
de reconhecida experiência na matéria;
8) recomendar aos meios de comunicação de massa ligados ao Estado
que ofereçam espaços para a difusão das expressões culturais dos subsistemas
regionais e étnicos dos respectivos países;
9) estimular os governos a incorporarem os conteúdos de Patrimônio
Cultural Intangível nos currículos escolar a propiciar a realização de oficinas
nas disciplinas afins;
10) fomentar a realização de cursos de formatação de gestores culturais
que possam ser convocados para trabalhar nas diversas áreas da cultura, como
agentes de animação;
11) chamar a atenção para a necessidade de que os projetos de
desenvolvimento cultural sejam elaborados segundo um critério de busca de
qualidade e que, portanto, contenham propostas razoavelmente competitivas;
12) difundir entre os interessados modelos de gestão de financiamento
de planos e projetos pertinentes, dentro do campo do patrimônio cultural
intangível;
13) estimular os governos para que, nas atividades do MERCOSUL
Cultural, incorporem em suas agendas o tema do patrimônio intangível e
consultem organizações que estejam trabalhando sobre ele;
Cartas Patrimoniais:
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280
14) solicitar a colaboração da UNESCO para a realização das Segundas
Jornadas do MERCOSUL sobre o Patrimônio Intangível, evento a ser realizado
na metade do segundo semestre de 1999;
15) fomentar a articulação entre as políticas de preservação patrimonial
e turismo para possibilitar o desenvolvimento social produtivo.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
281
CARTAGENAS DE ÍNDIAS - COLÔMBIA
De 25 de Maio de 1999
Sobre proteção e recuperação de bens culturais do patrimônio arqueológico,
histórico, etnológico, paleontológico e artístico da comunidade Andina.
O Conselho Andino de Ministros das Relações Exteriores da
Comunidade Andina,
Convencido de que a concepção e o estabelecimento de políticas
culturais por parte dos Estados é um fator indispensável para o
desenvolvimento harmônico e de que o patrimônio cultural das nações
constitui um pilar fundamental de tais políticas;
Consciente de que a defesa e a preservação do patrimônio cultural só
podem ser obtidas através de apreço e respeito pelas raízes históricas dos
povos, base de suas identidades;
Preocupado com os efeitos nocivos para esses objetivos acarretam a
importação, exportação ou transferência ilícita de bens culturais, que
incidem negativamente sobre o legado histórico de nossas nações;
Em atenção ao disposto do artigo segundo, terceiro, quinto e trigésimo
nono do Convênio Andés Bello de Integração Educativa, Científica e
Cultural dos países da região Andina;
Levando em conta as disposições da Convenção da UNESCO de 1970
sobre as medidas que se devem adotar para proibir e impedir a importação,
exportação e transferência ilícita de propriedade de bens culturais; o
Convênio da UNDROIT sobre os bens roubados ou exportados ilicitamente,
de 1995; a Convenção de São Salvador sobre a defesa do patrimônio
arqueológico, histórico e artístico das nações americanas, de 1976;
Decide
Artigo 1. A presente decisão tem por objetivo promover políticas e
normas comuns para a identificação, registro, proteção, conservação,
vigilância e restituição dos bens que integram o patrimônio cultural dos
países da Comunidade Andina e também para conceber e pôr em prática
ações que impeçam sua importação, exportação e transferência ilícita entre
os países-membros e a terceiros.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
282
Artigo 2. De acordo com a convenção da UNESCO, aprovada pela
Assembleia Geral em sua décima sexta reunião, em 14 de fevereiro de 1970,
em Paris, para efeitos da presente decisão, entende-se por bens culturais os
que, por motivos religiosos ou profanos, revistam-se de importância para a
arqueologia, a pré-história, a história, a literatura, a arte ou a ciência e que
pertençam a algumas das categorias e numeradas a seguir:
a) coleção e exemplares raros de zoologia, botânica, mineralogia ou
anatomia e objetos de interesse paleológico;
b) bens relacionados à história, inclusive a história das ciências e das
técnicas, à história militar e a história social, assim como à vida dos
dirigentes, pensadores, sábios e artistas nacionais e a acontecimentos
de importância nacional;
c) o produto das escavações e explorações arqueológicas terrestres e
subaquáticas (tanto autorizadas quanto clandestinas) e as
descobertas arqueológicas;
d) os elementos procedentes do desmembramento de monumentos
artísticos ou históricos e de sítios de interesse arqueológico;
e) objetos culturais, tal como inscrições, moedas, selos, gravuras,
artefatos, ferramentas, instrumentos musicas antigos;
f) material arqueológico constituído de objetos rituais, artefatos
utilitários simbólicos e instrumentos musicas autóctones;
g) os bens de interesse artísticos, tais como:
h) quadros, pinturas e desenhos realizados sobre qualquer suporte e
de qualquer material; produções originais de arte estatuária;
gravuras, estampas e litografias originais, conjuntos e montagens
artísticas originais em qualquer material;
i) manuscritos raros e inconábulos, livros, documentos e publicações
antigas de especial interesse (histórico, artístico, científico, literário),
solos ou em coleções; selos de correios, selos fiscais, ou análogos, soltos
ou em coleção;
j) arquivos históricos, incluídas as fonografias e cinematografias;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
283
k) objetos e ornamentos de uso litúrgico, tais como: cálices, patenas,
custódias, cibórios, candelabros, estandartes, incensários, vestuários e
outros.
Artigo 3. Os bens culturais a que se refere o artigo anterior são
reconhecidos a partir da sua propriedade, já que os que pertencem a pessoas
naturais ou jurídicas de caráter privado também estão incluídos, sempre que
os Estados-membros assim os considerem, registrem e cataloguem.
Artigo 4. Os bens descritos nos artigos precedentes serão objeto da
mais ampla proteção em nível comunitário e serão consideradas ilícitas sua
importação e exportação, salvo se o Estado a que pertencem autorizar sua
exportação com o objetivo de promover o conhecimento das culturas de cada
país, no entendimento de que promover a cooperação entre os países
andinos, para o mútuo conhecimento e apreço de seus bens culturais, deve
constituir-se em uma ferramenta imprescindível para o desenvolvimento das
relações bilaterais e comunitárias.
Artigo 5. Os países-membros se obrigam a estabelecer em seu
território os serviços adequados de proteção de patrimônio cultural, dotados
de pessoal competente para garantir eficazmente as seguintes funções:
a) elaboração de leis e regulamentos que permitam a proteção do
patrimônio cultural e especialmente reprimir a tráfico ilícitos de bens
culturais;
b) organizar e manter atualizada uma listagem de principais bens
culturais públicos e privados, cuja exportação constituiria um
empobrecimento considerável do patrimônio cultural dos países;
c) exercer programas educativos para estimular e desenvolver o
respeito ao patrimônio cultural de todos os países;
d) difundir eficazmente entre os países-membros da comunidade de
todos os casos do desaparecimento ou roubo de um bem cultural.
Artigo 6. Os países membros se comprometem a:
a) trocar informações destinadas a identificar quem, no território de
um deles, haja participado de roubo, importação, exportação ou
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
284
transferência ilícita de bens culturais e documentais, nos termos da
relação do artigo 2, assim como em condutas delituosas conexas;
b) trocar informações técnicas e legais relativas aos bens culturais
objetos de roubo e tráfico ilícito, assim como capacitar e difundir tais
informações a suas respectivas autoridades aduaneiras e policiais, de
portos, aeroportos e fronteiras, para facilitar sua identificação e a
aplicação de medidas cautelares e coercitivas a que corresponde cada
caso.
Artigo 7. A pedido de um dos países-membros, o outro ou os demais
empregarão os meios legais a seu alcance para recuperar e desenvolver de
seus territórios, os bens culturais e documentais que tiveram sido roubados
ou exportados ilicitamente do país-membro requerente.
Os pedidos de recuperação e devolução de bens culturais e
documentais de um dos países-membros, com prévia autenticidade e de
denúncia das autoridades competentes, deverão ser formalizados por via
diplomática e transmitidos para fins de registros à Secretaria da
Comunidade Andina.
Artigo 8. Os gastos inerentes aos serviços necessários para a
recuperação e devolução mencionadas serão pagos pelo país-membro
requerente.
Artigo 9. Será concedida isenção total de impostos aduaneiros e de
outros encargos aduaneiros equivalentes, sejam de caráter fiscal, monetário,
cambial ou de qualquer outra natureza, durante o processo de recuperação e
devolução dos bens culturais e documentais até o país de origem, em
aplicação ao disposto presente decisão.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
285
CARTA SOBRE O PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO
VERNÁCULO
De Outubro de 1999
XII Assembleia Geral da ICOMOS
INTRODUÇÃO
O património construído vernáculo ocupa um lugar central no afeto e
no orgulho dos povos. Foi aceite como uma característica e como um produto
atrativo da sociedade; ele surge informal, mas ainda assim ordeiramente. É
utilitário e ao mesmo tempo possui interesse e beleza. É um foco da vida
contemporânea e ao mesmo tempo um registro da história da sociedade.
Apesar de ser o trabalho do homem, também é uma criação do tempo. Seria
indigno do património do homem se não fosse prestada atenção à
conservação destas harmonias tradicionais que constituem o núcleo da
própria existência do homem.
O património construído vernáculo é importante; ele é a expressão
fundamental da cultura de uma comunidade, do seu relacionamento com o
seu território e, ao mesmo tempo, a expressão da diversidade da cultura
mundial.
A construção vernácula é a forma tradicional e natural pela qual as
comunidades habitavam. É um processo contínuo que inclui as necessárias
modificações e adaptações contínuas como resposta às restrições sociais e
ambientais. A sobrevivência desta tradição está mundialmente ameaçada
pelas forças da homogeneização econômica, cultural e arquitetônica. Como
se podem deter essas forças é um problema fundamental que deve ser
abordado pelas comunidades e, também, pelos governos, pelos planejadores,
pelos arquitetos, pelos conservacionistas e por grupos multidisciplinares de
especialistas.
Em consequência da homogeneização da cultura e da transformação
socioeconômica, as estruturas vernáculas são extremamente vulneráveis em
todo o mundo, enfrentando sérios problemas de obsolescência, de equilíbrio
interno e de integração. É, portanto, necessário estabelecerem-se princípios
para o tratamento e para a proteção do nosso património construído
vernáculo, para além da Carta de Veneza.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
286
QUESTÕES GERAIS
1. Os exemplos do vernáculo podem ser reconhecidos por:
a) uma maneira de construir partilhada pela comunidade;
b) um caráter local ou regional reconhecível;
c) coerência no estilo, na forma ou na aparência, ou o uso de tipos de
construção tradicionalmente estabelecidos;
d) sabedoria tradicional no projeto e na construção, que é transmitida
informalmente;
e) uma resposta efetiva às restrições funcionais, sociais e ambientais;
f) a aplicação efetiva de sistemas e de ofícios de construção
tradicionais.
2. A apreciação e a proteção com sucesso do património vernáculo
depende do envolvimento e do apoio da comunidade, da continuidade do seu
uso e da sua manutenção.
3. Os governos e as autoridades responsáveis devem reconhecer o
direito que todas as comunidades têm de manterem as suas tradições de
vida, de as proteger através de todos os meios legislativos, administrativos e
financeiros disponíveis, e de as passar para as futuras gerações.
PRINCÍPIOS DA CONSERVAÇÃO
1. A conservação do património vernáculo deve ser executada por
competências multidisciplinares, embora reconhecendo a inevitabilidade da
mudança e do desenvolvimento, bem como a necessidade de ser respeitada a
identidade cultural estabelecida.
2. O trabalho atual em edifícios, grupos e povoados vernáculos deve
respeitar os respectivos valores culturais e o seu caráter tradicional.
3. Frequentemente, o vernáculo é representado apenas por estruturas
únicas, e é melhor conservado pela manutenção e pela preservação de
grupos de edificações e de povoados com um caráter representativo, região
por região.
4. O património vernáculo edificado é uma parte integral da paisagem
cultural, e este relacionamento deve ser tomado em consideração no
desenvolvimento das abordagens de conservação.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
287
5. O vernáculo abrange não só a forma e a fábrica física dos edifícios,
das estruturas e dos espaços, mas também as formas pelas quais eles são
usados e compreendidos, e as tradições e associações intangíveis que lhes
estão associadas.
LINHAS DE ORIENTAÇÃO PRÁTICA
1. Investigação e documentação
Qualquer trabalho físico sobre um edifício, ou sobre uma estrutura
vernácula, deve ser cuidadoso e deve ser precedido por uma análise
completa da sua forma e da sua estrutura. Este documento deve ser
conservado num arquivo acessível ao público.
2. Localização, paisagem e grupos de edifícios
As intervenções sobre estruturas vernáculas devem ser executadas de
uma forma que respeite e mantenha a integridade da localização, do
relacionamento com a paisagem física e cultural, e das diversas estruturas
entre si.
3. Sistemas tradicionais de construção
A continuidade dos sistemas tradicionais de construção e das
competências artesanais associadas com o vernáculo é fundamental para a
expressão vernácula, e é essencial para a reparação e para o restauro destas
estruturas. Tais competências devem ser retidas, registradas e passadas
para as novas gerações de artesãos e de construtores, através da educação e
da formação.
4. Substituição de materiais e de partes
As alterações que respondem legitimamente às solicitações do uso
atual devem ser efetuadas pela introdução de materiais que mantenham a
consistência da expressão, da aparência, da textura e da forma de toda a
estrutura, bem como a consistência dos materiais de construção.
5. Adaptação
A adaptação, e o novo uso, das estruturas vernáculas deve ser
executada de forma que respeite a integridade da estrutura, o seu caráter e
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
288
a sua forma sendo, ao mesmo tempo, compatível com padrões de vida
aceitáveis. Onde não houver quebra na continuidade de utilização das
formas vernáculas, um código de ética próprio da comunidade pode servir
como ferramenta de intervenção.
6. Alterações e restauro de época
Devem ser apreciadas e compreendidas as alterações ao longo do
tempo como sendo aspectos importantes da arquitetura vernácula.
Normalmente, não deve ser objetivo dos trabalhos sobre estruturas
vernáculas procurar-se a conformidade de todas as partes com um único
período.
7. Formação
Para se conservarem os valores culturais de expressão vernácula, os
governos, as autoridades responsáveis, os grupos e as organizações devem
dar relevo ao seguinte:
a) Programas de educação para conservadores sobre os princípios do
vernáculo.
b) Programas de formação para apoiar as comunidades na
manutenção dos sistemas, materiais e competências artesanais
tradicionais de construção.
c) Programas de informação que aumentem a consciência pública
sobre o vernáculo, especialmente entre a geração mais nova.
d) Redes regionais sobre arquitetura vernácula, para troca de
competências e de experiências.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
289
CARTA DE CRACÓVIA (2000)
PRINCÍPIOS PARA A CONSERVAÇÃO E O
RESTAURO DO PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO
De 26 de Outubro de 2000
Cracóvia (Polônia)
Reconhecendo o contributo dos indivíduos e das instituições que, ao
longo de três anos, participaram na preparação da Conferência
Internacional sobre Conservação “Cracóvia 2000” e na sua Sessão Plenária
com o título “o património cultural como fundamento do desenvolvimento da
civilização”, os signatários, participantes na Conferência Internacional sobre
Conservação “Cracóvia 2000”, conscientes dos profundos significados
associados ao património cultural, submetem aos responsáveis pelo
património os seguintes princípios como orientação dos seus esforços na
salvaguarda desses bens culturais.
PREÂMBULO
Atuando no espírito da Carta de Veneza (1964), tendo em conta as
recomendações internacionais e motivados pelo processo da unificação
europeia, na entrada do novo milênio, os signatários da presente Carta estão
conscientes de viver um tempo no qual as identidades, num contexto cada
vez mais amplo, se tomam mais distintas e singulares. A Europa atual
caracteriza-se pela diversidade cultural e, assim, pela pluralidade de valores
fundamentais associados ao património móvel, imóvel e intelectual, o que
implica diferentes significados que originam conflitos de interesse.
Esta situação requer de todos os responsáveis pela salvaguarda do
património cultural uma maior atenção aos problemas e às decisões a serem
tomadas na prossecução dos seus objetivos.
Cada comunidade, tendo em conta a sua memória coletiva e
consciente do seu passado, é responsável, quer pela identificação, quer pela
gestão do seu património. Os monumentos, considerados como elementos
individuais desse património, possuem valores que se alteram com o tempo.
Esta alteração de valores, que podemos identificar em cada monumento é,
afinal, uma das características do património, ao longo da História. Através
deste processo de mudança de valores, cada comunidade desenvolve uma
consciência e um conhecimento da necessidade de preservar os bens
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
290
culturais construídos, pois eles são portadores dos seus próprios valores
patrimoniais comuns. Este processo não pode ser objeto de uma definição
redutora. Apenas se pode indicar o modo segundo o qual pode ser
identificado.
Os instrumentos e os métodos utilizados para uma correta
preservação do património devem adaptar-se às situações concretas, que são
evolutivas, sujeitas a um processo de contínua mudança.
O contexto particular de escolha destes valores requer a elaboração de
um projeto de conservação e a tomada de uma série de decisões que
constituem o projeto de restauro, de acordo com critérios técnicos e
organizativos apropriados.
Conscientes dos profundos valores da Carta de Veneza, e trabalhando
para os mesmos objetivos, propõem os seguintes princípios para a
conservação e restauro do património construído.
OBJETIVOS E MÉTODOS
1. O património arquitetônico, urbano ou paisagístico, assim como os
elementos que o compõem resultam de uma dialética entre os diferentes
momentos históricos e os respectivos contextos socioculturais. A conservação
deste património é o objetivo desta Carta. A conservação pode ser realizada
mediante diferentes tipos de intervenções, tais como o controlo do meio
ambiental, a manutenção, a reparação, o restauro, a renovação e a
reabilitação. Qualquer intervenção implica decisões, escolhas e
responsabilidades relacionadas com o património, entendido no seu
conjunto, incluindo os elementos que embora hoje possam não ter um
significado específico, poderão, contudo, tê-lo no futuro.
2. A manutenção e a reparação constituem uma parte fundamental do
processo de conservação do património. Estas ações exigem diversos
procedimentos, nomeadamente investigações prévias, testes, inspeções,
controles, acompanhamento dos trabalhos e do seu comportamento pós-
realização. Os riscos de degradação do património devem ser previstos em
relatórios apropriados para permitir a adoção de medidas preventivas.
3. A conservação do património construído é executada de acordo com
o projeto de restauro, que se inscreve numa estratégia para a sua
conservação a longo prazo. O “projeto de restauro” deverá basear-se num
Cartas Patrimoniais:
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291
conjunto de opções técnicas apropriadas e ser elaborado segundo um
processo cognitivo que integra a recolha de informações e a compreensão do
edifício ou do sítio. Este processo pode incluir o estudo dos materiais
tradicionais, ou novos, o estudo estrutural, análises gráficas e dimensionais
e a identificação dos significados histórico, artístico e sociocultural. No
projeto de restauro devem participar todas as disciplinas pertinentes e a
coordenação deve ser levada a cabo por uma pessoa qualificada na área da
conservação e restauro.
4. Devem ser evitadas reconstruções de partes significativas de um
edifício, baseadas no que os responsáveis julgam ser o seu “verdadeiro estilo”
A reconstrução de partes muito limitadas, com um significado
arquitetônico pode ser excepcionalmente aceite, na condição de se
fundamentar, em documentação precisa e irrefutável. Se for necessário para
o uso adequado do edifício, podem-se incorporar elementos espaciais e
funcionais, mas estes devem exprimir a linguagem da arquitetura atual. A
reconstrução total de um edifício, que tenha sido destruído por um conflito
armado ou por uma catástrofe natural, só é aceitável se existirem motivos
sociais ou culturais excepcionais, que estejam relacionados com a própria
identidade da comunidade local.
DIFERENTES TIPOS DE PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO
5. Qualquer intervenção que afete o património arqueológico, devido à
sua vulnerabilidade, deve estar estritamente relacionada com a sua
envolvente: o território e a paisagem. Os aspectos destrutivos das escavações
devem reduzir-se tanto quanto seja possível. Cada escavação deve ser
acompanhada de documentação completa sobre os trabalhos arqueológicos.
Tal como em qualquer intervenção patrimonial, os trabalhos de
conservação de achados arqueológicos devem basear-se no princípio da
intervenção mínima. Os trabalhos arqueológicos só podem ser realizados por
profissionais e a metodologia e técnicas usadas devem ser estritamente
controladas. Para a proteção e apresentação pública de sítios arqueológicos
deve encorajar-se: o recurso a técnicas modernas; a criação de bancos de
dados; a utilização de sistemas de informação e a utilização de técnicas de
apresentação virtual dos sítios.
6. O objetivo da conservação dos monumentos e dos edifícios com valor
histórico, que se localizem em meio urbano ou rural, é o de manter a sua
Cartas Patrimoniais:
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292
autenticidade e integridade, incluindo os espaços interiores, o mobiliário e a
decoração, de acordo com o seu aspecto original. Tal conservação requer um
“projeto de restauro” apropriado, que defina os métodos e os objectivos. Em
muitos casos, requer-se ainda um uso apropriado para os monumentos e
edifícios com valor histórico, compatível com os seus espaços e o seu
significado patrimonial. As obras em edifícios com valor histórico devem
analisar e respeitar todas as fases construtivas pertencentes a períodos
históricos distintos.
7. A decoração arquitetônica, as esculturas e os elementos artísticos,
que fazem parte integrante do património construído, devem ser
preservados mediante um projeto específico vinculado ao projeto geral de
restauro.
Esta metodologia pressupõe que o especialista em restauro do
património construído possua os conhecimentos e a formação adequadas,
para além da capacidade cultural, técnica e prática, para interpretar os
diferentes ensaios e análises nas áreas artísticas específicas. O “projeto de
restauro” deve garantir uma relação correta com o conjunto envolvente,
incluindo o ambiente, a decoração e a escultura e respeitando as técnicas
tradicionais da construção e a sua necessária integração como uma parte
substancial do património construído.
8. As cidades e as aldeias históricas, no seu contexto territorial,
representam uma parte essencial do nosso património universal. Cada um
destes conjuntos patrimoniais deve ser considerado como um todo, com as
suas estruturas, os seus espaços e as características socioeconômicas, em
processo de contínua evolução e mudança. Qualquer intervenção deve
envolver todos os sectores da população e requer um processo de
planejamento integrado, cobrindo uma ampla gama de atividades. Em meio
urbano, a conservação tem por objeto, quer os conjuntos edificados, quer os
espaços livres. A sua área de intervenção tanto pode restringir-se a uma
parcela de um grande aglomerado urbano, como englobar a totalidade de
uma pequena cidade ou mesmo uma aldeia, integrando sempre os
respectivos valores imateriais, ou intangíveis. Neste contexto, a intervenção
na cidade histórica deve ter presente a morfologia, as funções e as
estruturas urbanas, na sua interligação com o território e a paisagem
envolventes. Os edifícios que constituem as zonas históricas podendo não se
destacar pelo seu valor arquitetônico especial, devem ser salvaguardados
como elementos de continuidade urbana, devido às suas características
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
293
dimensionais, técnicas, espaciais, decorativas e cromáticas, elementos de
união insubstituíveis para a unidade orgânica da cidade.
O “projeto de restauro” das cidades ou aldeias históricas deve, não só
verificar a sustentabilidade das opções estratégicas que assume, como
prever o processo de gestão de futuras alterações, ligando as questões da
conservação do património aos aspectos econômicos e sociais. Para além do
conhecimento das estruturas físicas, devem ser estudadas as influências que
futuras alterações poderão provocar, bem como os necessários instrumentos
para gerir essas alterações.
O “projeto de restauro” de cidades e aldeias históricas deve considerar
que os imóveis do tecido urbano desempenham uma dupla função:
a) são elementos definidores da forma urbana, mas também;
b) possuem uma espacialidade interna, que constitui um dos seus
valores essenciais.
9. As paisagens reconhecidas como património cultural são o
resultado e o reflexo da interação prolongada nas diferentes sociedades
entre o homem, a natureza e o meio ambiente físico. São testemunhos da
relação evolutiva das comunidades e dos indivíduos com o seu meio
ambiente.
Neste contexto, a sua conservação, preservação e desenvolvimento
centram-se nos aspectos humanos e naturais, integrando valores materiais e
intangíveis. É importante compreender e respeitar o caráter das paisagens e
aplicar leis e normas adequadas que harmonizem os usos mais importantes
do território com valores paisagísticos essenciais.
Em muitas sociedades, as paisagens possuem uma relação histórica
com o território e com as cidades. A integração da conservação da paisagem
cultural com o desenvolvimento sustentado de regiões e localidades com
atividades ecológicas, assim como com o meio ambiente natural requerem
uma conscientização e uma compreensão das suas relações ao longo do
tempo, o que implica o estabelecimento de relações com o meio ambiente
construído, de regiões metropolitanas, cidades e núcleos históricos.
A conservação integrada de paisagens arqueológicas ou com interesse
paleontológico, bem como o desenvolvimento de paisagens que apresentam
alterações muito significativas, envolvem a consideração de valores sociais,
culturais e estéticos.
Cartas Patrimoniais:
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294
10. As técnicas de conservação devem estar intimamente ligadas à
investigação pluridisciplinar sobre materiais e tecnologias usadas na
construção, reparação e no restauro do património edificado. A intervenção
escolhida deve respeitar a função original e assegurar a compatibilidade com
os materiais, as estruturas e os valores arquitetônicos existentes.
Quaisquer novos materiais ou tecnologias devem ser rigorosamente
testados, comparados e experimentados antes da respectiva aplicação.
Embora a aplicação in situ de novas tecnologias possa justificar-se
para uma boa conservação dos materiais originais, estas devem ser
constantemente controladas tendo em conta os resultados obtidos, o seu
comportamento ao longo do tempo e a possibilidade da sua eventual
reversibilidade.
Deve estimular-se o conhecimento dos materiais e técnicas
tradicionais de construção, bem como a sua apropriada manutenção no
contexto da sociedade contemporânea, considerando-as como componentes
importantes do património cultural.
GESTÃO
11. A gestão das cidades históricas e do património cultural em geral,
tendo em conta os contínuos processos de mudança, transformação e
desenvolvimento, consiste na adoção de regulamentos apropriados, na
tomada de decisões, que implicam necessariamente escolhas, e no controlo
dos resultados. Um aspecto essencial deste processo, é a necessidade de
identificar os riscos, de antecipar os sistemas de prevenção apropriados e de
criar planos de atuação de emergência. O turismo cultural, apesar dos seus
aspectos positivos para a economia local, deve ser considerado como um
risco.
Deve prestar-se uma particular atenção à otimização dos custos
envolvidos. A conservação do património cultural deve constituir uma parte
integrante dos processos de planejamento econômico e gestão das
comunidades, pois pode contribuir para o desenvolvimento sustentável,
qualitativo, econômico e social dessas comunidades.
12. A pluralidade de valores do património e a diversidade de
interesses requerem uma estrutura de comunicação que permita uma
participação efetiva dos cidadãos no processo, para além dos especialistas e
Cartas Patrimoniais:
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295
gestores culturais. Caberá às comunidades adotar os métodos e as formas
apropriadas para assegurar uma verdadeira participação dos cidadãos e das
instituições nos processos de decisão.
FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO
13. A formação e a educação em património cultural exigem a
participação da sociedade e a integração da temática nos sistemas nacionais
de educação a todos os níveis. A complexidade dos projetos de restauro, ou
de quaisquer outras intervenções de conservação, por envolverem aspectos
históricos, técnicos, culturais e econômicos, requer a nomeação de
responsáveis bem formados e competentes.
A formação dos especialistas em conservação deve ser interdisciplinar
e incluir o estudo da história da arquitetura, da teoria e das técnicas da
conservação. Esta formação deve assegurar uma qualificação adequada,
necessária à resolução de problemas de investigação, bem como para
resolver corretamente as intervenções de conservação e restauro de uma
forma profissional e responsável.
A formação de profissionais e técnicos nas disciplinas da conservação
deve considerar a evolução das metodologias e do conhecimento técnico e
participar no debate atual sobre as teorias e as políticas de conservação.
A qualidade da mão-de-obra e o trabalho técnico durante os projetos
de restauro devem também ser valorizados com uma melhor formação
profissional.
MEDIDAS LEGAIS
14. A proteção e conservação do património construído podem ser
melhoradas através da adoção de medidas legais e administrativas. Estas
medidas devem assegurar que os trabalhos de conservação sejam realizados
por especialistas em conservação ou sob sua supervisão.
As disposições legais também podem prever um período de estágios
práticos, no contexto de programas estruturados. Deve conceder-se uma
atenção especial aos recém-formados especialistas em conservação do
património cultural, nomeadamente no momento da graduação como
profissionais independentes. Este grau deveria ser adquirido sob supervisão
de especialistas em conservação.
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296
ANEXO. DEFINIÇÕES
O Comitê de Redação da Carta de Cracóvia 2000 usou os seguintes
conceitos e terminologia:
a) Património: é o conjunto das obras do homem nas quais uma
comunidade reconhece os seus valores específicos e particulares e com os
quais se identifica. A identificação e a valorização destas obras como
património é, assim, um processo que implica a seleção de valores.
b) Monumento: é uma entidade identificada como portadora de valor e
que constitui um suporte da memória. Nele, a memória reconhece aspectos
relevantes relacionados com atos e pensamentos humanos, associados ao
curso da história e, todavia, acessíveis a todos.
c) Autenticidade: é o somatório das características substanciais,
historicamente provadas, desde o estado original até à situação atual, como
resultado das várias transformações que ocorreram no tempo.
d) Identidade: entende-se como a referência coletiva englobando, quer
os valores atuais que emanam de uma comunidade, quer os valores
autênticos do passado.
e) Conservação: é o conjunto das atitudes de uma comunidade que
contribuem para perpetuar o património e os seus monumentos. A
conservação do património construído é realizada, quer no respeito pelo
significado da sua identidade, quer no reconhecimento dos valores que lhe
estão associados.
f) Restauro: é uma intervenção dirigida sobre um bem patrimonial,
cujo objetivo é a conservação, da sua autenticidade e a sua posterior
apropriação pela comunidade.
g) Projeto de restauro: o projeto, resultante das opções de conservação,
é o processo específico através do qual a conservação do património
construído e da paisagem são realizados com sucesso.
Cartas Patrimoniais:
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CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO DO
PATRIMÔNIO CULTURAL SUBAQUÁTICO
De 02 de Novembro de 2001
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris de 15 de Outubro a 3 de
Novembro de 2001, na sua 31.ª sessão:
Reconhecendo a importância do património cultural subaquático
enquanto parte integrante do património cultural da humanidade e
elemento particularmente importante na história dos povos, das nações e
das suas relações mútuas no que concerne ao seu património comum;
Ciente da importância de proteger e preservar o património cultural
subaquático e que tal responsabilidade recai sobre todos os Estados;
Constatando o crescente interesse e apreço do público pelo património
cultural subaquático;
Convicta da importância de que a pesquisa, a informação e a educação
se revestem para a proteção e a preservação do património cultural
subaquático;
Convicta do direito do público de beneficiar das vantagens educativas
e recreativas decorrentes de um acesso responsável e não intrusivo ao
património cultural subaquático in situ e da importância da educação do
público para uma maior conscientização, valorização e proteção desse
património;
Consciente de que as intervenções não autorizadas representam uma
ameaça para o património cultural subaquático e que é necessário tomar
medidas mais rigorosas para prevenir tais intervenções;
Consciente da necessidade de responder adequadamente ao eventual
impacte negativo que certas atividades legítimas podem causar,
fortuitamente, sobre o património cultural subaquático;
Profundamente preocupada com a crescente exploração comercial do
património cultural subaquático e, em particular, com certas atividades que
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visam a venda, aquisição e troca de elementos do património cultural
subaquático;
Ciente de que os avanços tecnológicos facilitam a descoberta do
património cultural subaquático e o respectivo acesso;
Convencida de que a cooperação entre Estados, organizações
internacionais, instituições científicas, organizações profissionais,
arqueólogos, mergulhadores, outras partes interessadas e o público em geral
é essencial para a proteção do património cultural subaquático;
Considerando que a prospecção, a escavação e a proteção do
património cultural subaquático requerem a disponibilização e o recurso a
métodos científicos específicos, bem como o uso de técnicas e equipamentos
apropriados e um alto grau de especialização profissional, tornando-se
necessário aplicar critérios uniformes;
Consciente da necessidade de codificar e desenvolver
progressivamente regras relativas à proteção e preservação do património
cultural subaquático, em conformidade com o direito e a prática
internacionais, nomeadamente a Convenção da UNESCO Relativa às
Medidas a Adotar para Proibir e Impedir a Importação, a Exportação e a
Transferência Ilícita da Propriedade de Bens Culturais, assinada em 14 de
Novembro de 1970, a Convenção da UNESCO Relativa à Proteção do
Património Mundial, Cultural e Natural, assinada em 16 de Novembro de
1972, e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinada em
10 de Dezembro de 1982;
Empenhada em melhorar a eficácia de medidas de âmbito
internacional, regional e nacional com vista à preservação in situ de
elementos do património cultural subaquático ou à sua recuperação cuidada,
se tal se mostrar necessário, para fins científicos ou de proteção;
Tendo decidido, na sua 29.ª sessão, que tal questão deveria ser objeto
de uma convenção internacional:
adota a presente Convenção neste 2.º dia de Novembro de 2001:
Artigo 1.º
Definições
Para os fins da presente Convenção:
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A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
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1 - a) “Património cultural subaquático” significa todos os vestígios da
existência do homem de caráter cultural, histórico ou arqueológico que se
encontrem parcial ou totalmente, periódica ou continuamente, submersos
há, pelo menos, 100 anos, nomeadamente:
i) Sítios, estruturas, edifícios, artefatos e restos humanos, bem como o
respectivo contexto arqueológico natural;
ii) Navios, aeronaves e outros veículos, ou parte deles, a respectiva
carga ou outro conteúdo, bem como o respectivo contexto arqueológico
e natural; e
iii) Artefatos de caráter pré-histórico.
b) Os oleodutos e cabos colocados no leito do mar não serão considerados
parte integrante do património cultural subaquático.
c) As instalações diferentes de oleodutos ou cabos colocados no leito do
mar e ainda em uso não serão considerados parte integrante do património
cultural subaquático.
2 - a) “Estados Partes” significa os Estados que tenham consentido em
ficar obrigados pela presente Convenção e relativamente aos quais a
presente Convenção esteja em vigor.
b) A presente Convenção aplica-se mutatis mutandis aos territórios
mencionados na alínea b) do n.º 2 do artigo 26.º que se tornem Partes na
presente Convenção em conformidade com os requisitos previstos nesse
número que lhes sejam aplicáveis; nessa medida, a expressão “Estados
Partes” é extensível a tais territórios.
3 – “UNESCO” significa a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura.
4 – “Diretor-Geral” significa o Diretor-Geral da UNESCO.
5 – “Área” significa o leito do mar, os fundos marinhos e o seu subsolo
além dos limites da jurisdição nacional.
6 – “Intervenção sobre o património cultural subaquático” significa
uma atividade principalmente direcionada para o património cultural
subaquático e que possa, direta ou indiretamente, prejudicar materialmente
ou danificar de outro modo o património cultural subaquático.
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7 “Intervenção com incidência potencial sobre o património cultural
subaquático” significa qualquer atividade que, não tendo o património
cultural subaquático como seu objetivo principal ou parcial, possa prejudicar
materialmente ou danificar de outro modo o património cultural
subaquático.
8 – “Navios e aeronaves de Estado” significa os navios de guerra e
outros navios ou aeronaves pertencentes a um Estado ou por ele operados e
utilizados, quando do seu afundamento, exclusivamente para fins públicos
não comerciais, que se encontrem devidamente identificados como tal e
estejam incluídos na definição de património cultural subaquático.
9 - “Regras” significa as regras relativas a intervenções sobre o
património cultural subaquático, conforme estabelecido no artigo 33.º da
presente Convenção.
Artigo 2.º
Objetivos e princípios gerais
1- A presente Convenção visa garantir e reforçar a proteção do
património cultural subaquático.
2 - Os Estados Partes cooperarão entre si no tocante à proteção do
património cultural subaquático.
3 - Os Estados Partes preservarão o património cultural subaquático
em benefício da humanidade, em conformidade com as disposições da
presente Convenção.
4 - Os Estados Partes adotarão, individualmente ou, se for caso disso,
conjuntamente, todas as medidas apropriadas, em conformidade com a
presente Convenção e com o direito internacional, necessárias para proteger
o património cultural subaquático usando, para esse efeito, os meios mais
adequados de que disponham e que estejam de acordo com as suas
capacidades.
5 - A preservação in situ do património cultural será considerada
opção prioritária antes de ser autorizada ou iniciada qualquer intervenção
sobre o património.
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6 - Os elementos do património cultural subaquático recuperado serão
depositados, conservados e geridos por forma a assegurar a sua preservação
a longo prazo.
7 - O património cultural subaquático não será objeto de exploração
comercial.
8 - De acordo com a prática dos Estados e o direito internacional,
incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, nada na
presente Convenção será interpretado como modificando as regras do direito
internacional e a prática dos Estados relativa às imunidades ou quaisquer
direitos de um Estado sobre os seus navios e aeronaves.
9 - Os Estados Partes garantem que todos os restos humanos
submersos em águas marítimas serão tratados com o devido respeito.
10 - O acesso responsável e não intrusivo do público ao património
cultural subaquático in situ para fins de observação e documentação deverá
ser encorajado, de modo a promover quer a sensibilização do público para
esse património, quer a valorização e a proteção deste, exceto se tal acesso se
mostrar incompatível com a proteção e a gestão do referido património.
11 - Nenhuma atividade ou ato realizado com base na presente
Convenção constituirá fundamento para fazer valer, sustentar ou contestar
qualquer pretensão de soberania ou jurisdição nacional.
Artigo 3.º
Relação entre a presente Convenção e a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar
Nada na presente Convenção afetará os direitos, a jurisdição e os
deveres dos Estados decorrentes do direito internacional, incluindo a
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A presente Convenção
será interpretada e aplicada no contexto e em conformidade com o direito
internacional, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar.
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Artigo 4.º
Relação com as leis dos salvados e dos achados
Nenhuma atividade referente ao património cultural subaquático a
que seja aplicável a presente Convenção será submetida às leis em matéria
de salvados ou achados, a menos que:
a) Seja autorizada pelas competentes autoridades,
b) Esteja em plena conformidade com a presente Convenção; e
c) Garanta a proteção máxima do património cultural subaquático
durante qualquer operação de recuperação.
Artigo 5.º
Atividades com incidência potencial sobre o património cultural
Subaquático
Cada Estado Parte usará os meios mais adequados de que disponha
para prevenir ou mitigar qualquer efeito adverso que possa resultar de
atividades levadas a efeito sob a sua jurisdição suscetíveis de afetar, de
modo fortuito, o património cultural subaquático.
Artigo 6.º
Acordos bilaterais e regionais ou outros acordos multilaterais
1- Os Estados Partes são encorajados a celebrar acordos bilaterais e
regionais, ou outros acordos multilaterais, ou a aprofundar os acordos já
existentes para fins de preservação do património cultural subaquático.
Todos estes acordos deverão estar em plena conformidade com a presente
Convenção, não lhe retirando o caráter universal. Os Estados poderão, no
âmbito de tais acordos, adotar regras e regulamentos que garantam melhor
proteção do património cultural subaquático do que os previstos na presente
Convenção.
2 - As Partes nos referidos acordos bilaterais, regionais ou noutros
acordos multilaterais podem convidar os Estados com interesse legítimo,
especialmente de natureza cultural, histórica ou arqueológica, no património
cultural subaquático em questão a aderir a tais acordos.
3 - A presente Convenção não altera os direitos e obrigações dos
Estados Partes relativamente à proteção de navios afundados, decorrentes
de acordos bilaterais, regionais ou outros acordos multilaterais celebrados
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antes da adoção da presente Convenção, caso se mostrem conformes aos
objetivos da presente Convenção.
Artigo 7.º
Patrimônio cultural subaquático em águas interiores e
arquipelágicas e no mar territorial
1 - No exercício da sua soberania, os Estados Partes gozam do direito
exclusivo de regulamentar e autorizar as intervenções sobre o património
cultural subaquático nas suas águas interiores e arquipelágicas e no seu
mar territorial.
2 - Sem prejuízo de outros acordos internacionais e regras do direito
internacional aplicáveis ao património cultural subaquático, os Estados
Partes farão respeitar a aplicação das regras nas intervenções sobre o
património cultural subaquático que se encontre nas suas águas interiores e
arquipelágicas e no seu mar territorial.
3 - No exercício da sua soberania e de acordo com a prática geral
observada entre Estados, os Estados Partes, tendo em vista cooperar no
sentido da adoção dos melhores métodos de proteção dos navios e das
aeronaves do Estado, deverão informar o Estado de pavilhão Parte na
presente Convenção e, sendo caso disso, os outros Estados com interesse
legítimo, especialmente de natureza cultural, histórica ou arqueológica, se
ocorrer a descoberta de tais navios ou aeronaves nas suas águas
arquipelágicos ou no seu mar territorial.
Artigo 8.º
Património cultural subaquático na zona contígua
Sem prejuízo e em complemento dos artigos 9.º e 10.º, e em
conformidade com o n.º 2 do artigo 303.º da Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar, os Estados Partes poderão regulamentar e autorizar
intervenções sobre o património cultural subaquático na sua zona contígua,
desde que façam respeitar a aplicação das regras.
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Artigo 9.º
Declaração e notificação na zona econômica exclusiva e na
plataforma continental
1 - Compete aos Estados Partes proteger o património cultural
subaquático na zona econômica exclusiva e na plataforma continental, em
conformidade com a presente Convenção. Consequentemente:
a) Sempre que um seu nacional ou um navio arvorando a sua
bandeira descobrir ou tencionar intervir sobre o património cultural
subaquático situado na sua zona econômica exclusiva ou na sua
plataforma continental, o Estado Parte deverá exigir que o referido
nacional ou o comandante do navio lhe declare tal descoberta ou
intervenção;
b) Na zona econômica exclusiva ou na plataforma continental de outro
Estado Parte:
i) Os Estados Partes exigirão que o nacional ou o comandante do
navio lhes declare tal descoberta ou intervenção, bem como a esse
outro Estado Parte;
ii) Em alternativa, o Estado Parte exigirá ao nacional ou ao
comandante do navio que tal descoberta ou intervenção lhe seja
declarada e assegurará a rápida e efetiva transmissão dessa
declaração a todos os outros Estados Partes.
2 - Ao depositar os respectivos instrumentos de ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão, os Estados Partes especificarão a forma pela qual
serão transmitidas as informações previstas na alínea b) do n.º 1 do presente
artigo.
3 - Os Estados Partes notificarão o Diretor-Geral de qualquer
descoberta ou intervenção que lhes seja comunicada ao abrigo do disposto no
n.º 1 do presente artigo.
4 - O Diretor-Geral facultará prontamente a todos os Estados Partes
qualquer informação que lhe seja notificada ao abrigo do disposto no n.º 3 do
presente artigo.
5 - Qualquer Estado Parte poderá declarar ao Estado Parte em cuja
zona econômica exclusiva ou plataforma continental o património
subaquático estiver situado o seu interesse em ser consultado sobre a forma
de garantir a efetiva proteção desse património cultural subaquático. Tal
declaração deverá ter por base um interesse legítimo, especialmente de
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natureza cultural, histórica ou arqueológica, no património cultural
subaquático em questão.
Artigo 10.º
Proteção do património cultural subaquático na zona econômica
exclusiva e na plataforma continental
1 - Qualquer autorização para uma intervenção sobre o património
cultural subaquático situado na zona econômica exclusiva ou na plataforma
continental só poderá ser emitida em conformidade com o presente artigo.
2 - Qualquer Estado Parte em cuja zona econômica exclusiva ou
plataforma continental esteja situado o património cultural subaquático tem
o direito de interditar ou autorizar qualquer intervenção sobre o património
em causa, a fim de prevenir qualquer interferência nos seus direitos
soberanos ou na sua jurisdição em conformidade com o direito internacional,
incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
3 - Sempre que ocorrer uma descoberta de património cultural
subaquático ou houver intenção de realizar uma intervenção sobre o
património cultural subaquático na zona econômica exclusiva ou na
plataforma continental de um Estado Parte, esse Estado deverá:
a) Consultar todos os outros Estados Partes que tenham declarado o
seu interesse nos termos do n.º 5 do artigo 9.º sobre a melhor forma de
proteger o património cultural subaquático;
b) Coordenar tais consultas na qualidade de Estado coordenador, a
menos que declare expressamente que não deseja assumir essa
função, caso em que os Estados Partes que se tenham declarado
interessados nos termos do n.º 5 do artigo 9.º designarão um Estado
coordenador.
4 - Sem prejuízo do dever de todos os Estados Partes protegerem o
património cultural subaquático mediante a adoção de todas as medidas
consideradas oportunas em conformidade com o direito internacional que
visem obstar a qualquer perigo imediato para o património cultural
subaquático, nomeadamente a pilhagem, o Estado coordenador poderá
tomar todas as medidas adequadas e ou emitir todas as autorizações
necessárias em conformidade com a presente Convenção, antes mesmo de
qualquer consulta, se for caso disso, a fim de obstar a qualquer perigo
imediato para o património cultural subaquático resultante de atividades
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humanas ou outra causa, nomeadamente a pilhagem. Quando da adoção de
tais medidas, poderá ser solicitado o apoio de outros Estados Partes.
5 - O Estado coordenador:
a) Implementará as medidas de proteção que tenham sido acordadas
entre os Estados consultados, incluindo o Estado coordenador, a
menos que os Estados consultados, incluindo o Estado coordenador,
acordem em que estas medidas sejam implementadas por um outro
Estado Parte;
b) Emitirá todas as autorizações que se mostrem necessárias
relativamente às medidas acordadas em conformidade com as regras,
salvo se os Estados consultados, incluindo o Estado coordenador,
acordarem em que tais autorizações sejam emitidas por um outro
Estado Parte;
c) Poderá conduzir qualquer pesquisa preliminar sobre o património
cultural subaquático e emitir todas as autorizações que, em
consequência, se mostrem necessárias, transmitindo prontamente os
resultados de tal pesquisa ao Diretor-Geral, o qual, por sua vez,
facultará prontamente tais informações aos outros Estados Partes.
6 - Ao coordenar consultas, tomar medidas, realizar pesquisas
preliminares e ou emitir autorizações de acordo com o presente artigo, o
Estado coordenador estará a agir em nome dos Estados Partes no seu
conjunto e não no seu próprio interesse. Nenhuma destas acções poderá, por
si só, constituir fundamento para a reivindicação de quaisquer direitos
preferenciais ou jurisdicionais não previstos no direito internacional,
incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
7 - Sob reserva do disposto nos n.ºs 2 e 4 do presente artigo, nenhuma
intervenção sobre navios ou aeronaves do Estado será realizada sem o
acordo do Estado de pavilhão ou a colaboração do Estado coordenador.
Artigo 11.º
Declaração e notificação na área
1 - Os Estados Partes têm a responsabilidade de proteger o
património cultural subaquático na área, em conformidade com a presente
Convenção e o artigo 149.º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar. Consequentemente, sempre que um nacional ou um navio
arvorando o pavilhão de um Estado Parte descobrir ou tencionar realizar
uma intervenção sobre o património cultural subaquático situado na área,
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esse Estado Parte exigirá que o seu nacional ou o comandante do navio lhe
declare a descoberta ou a intervenção pretendida.
2 - Os Estados Partes notificarão o Diretor-Geral e o Secretário-Geral
da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos das descobertas ou
intervenções sobre o património cultural subaquático que lhe foram
declaradas.
3 - O Diretor-Geral facultará, prontamente, a todos os Estados Partes
quaisquer informações que lhe sejam notificadas.
4 - Qualquer Estado Parte poderá comunicar ao Diretor-Geral o seu
interesse em ser consultado sobre a forma de garantir a efetiva proteção do
património cultural subaquático. Tal declaração deverá ter por fundamento
um interesse legítimo no património cultural subaquático em questão,
merecendo particular consideração os direitos preferenciais dos Estados de
origem cultural, histórica ou arqueológica.
Artigo 12.º
Proteção do patrimônio cultural subaquático
1 - Qualquer autorização para uma intervenção sobre o património
cultural subaquático situado na área só poderá ser emitida em conformidade
com o presente artigo.
2 - O Diretor-Geral convidará todos os Estados Partes que tenham
manifestado o seu interesse nos termos do n.º 4 do artigo 11.º a procederem a
consultas mútuas sobre a melhor forma de proteger o património cultural
subaquático e a designarem um Estado Parte para coordenar tais consultas
na qualidade de Estado coordenador. O Diretor-Geral convidará,
igualmente, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos a participar
nessas consultas.
3 - Todos os Estados Partes poderão tomar as medidas que se
mostrem adequadas em conformidade com a presente Convenção, se
necessário antes de qualquer consulta, para prevenir qualquer perigo
imediato para o património cultural subaquático decorrente de atividades
humanas ou de qualquer outra causa, incluindo pilhagens.
4 - O Estado coordenador deverá:
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a) Implementar medidas de proteção que tenham sido acordadas pelos
Estados consultados, incluindo o Estado coordenador, exceto se os
Estados consultados, incluindo o Estado coordenador, acordarem em
que deverá ser outro Estado Parte a implementar tais medidas;
b) Emitir todas as autorizações necessárias relativamente às medidas
assim acordadas em conformidade com a presente Convenção, salvo se
os Estados consultados, incluindo o Estado coordenador, acordarem
em que deverá ser outro Estado Parte a emitir tais autorizações.
5 - O Estado coordenador poderá realizar qualquer pesquisa
preliminar que entenda necessária sobre o património cultural subaquático
e emitir as autorizações competentes, transmitindo prontamente os
resultados ao Diretor-Geral, o qual, por sua vez, facultará essas informações
aos restantes Estados.
6 - Ao coordenar consultas, tomar medidas, proceder a pesquisas
preliminares e ou emitir autorizações em conformidade com o presente
artigo, o Estado coordenador estará a agir em benefício da humanidade, em
nome de todos os Estados Partes. Será concedida especial atenção aos
direitos preferenciais dos Estados de origem cultural, histórica ou
arqueológica no que respeita ao património cultural subaquático em
questão.
7 - Nenhum Estado Parte empreenderá ou autorizará intervenções
sobre navios ou aeronaves do Estado na área sem o consentimento do Estado
de pavilhão.
Artigo 13.º
Imunidades
Os navios de guerra e outros navios do Estado ou aeronaves militares
com imunidade de jurisdição que operem com fins não comerciais, no
decurso normal das suas operações e não estando envolvidos em
intervenções sobre o património cultural subaquático, não serão obrigados a
declarar descobertas de património cultural subaquático nos termos dos
artigos 9.º, 10.º, 11.º e 12.º da presente Convenção. Contudo, os Estados
Partes providenciarão no sentido de que os seus navios de guerra ou outros
navios do Estado ou as suas aeronaves militares com imunidade de
jurisdição que operem com fins não comerciais observem, tanto quanto
possível e razoável, o disposto nos artigos 9.º, 10.º, 11.º e 12.º da presente
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Convenção, através da adoção de medidas apropriadas que não prejudiquem
as operações ou a capacidade operacional de tais navios ou aeronaves.
Artigo 14.º
Controle de entrada no território, comércio e posse
Os Estados Partes tomarão medidas que visem impedir a entrada nos
respectivos territórios, o comércio e a posse de património cultural
subaquático exportado ilicitamente e ou recuperado, sempre que tal
recuperação viole as disposições da presente Convenção.
Artigo 15.º
Não utilização das zonas sob jurisdição dos Estados Partes
Os Estados Partes tomarão medidas com vista a proibir a utilização
do seu território, incluindo os portos marítimos e ilhas artificiais, instalações
ou estruturas sob o seu exclusivo controlo ou jurisdição, para apoio de
intervenções sobre o património cultural subaquático não conformes com a
presente Convenção.
Artigo 16.º
Medidas relativas a nacionais e a navios
Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para
garantir que os seus nacionais e os navios que arvorem o seu pavilhão não
procederão a quaisquer intervenções sobre o património cultural
subaquático que violem a presente Convenção.
Artigo 17.º
Sanções
1 - Cada Estado Parte imporá sanções pela violação das medidas por
si tomadas com vista à implementação da presente Convenção.
2 - As sanções aplicadas por qualquer violação deverão ser
suficientemente severas por forma a garantir a observância da presente
Convenção e a desencorajar a prática de infrações, onde quer que elas
ocorram, e deverão privar os infratores do produto das suas atividades
ilegais.
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3 - Os Estados Partes cooperarão entre si por forma a garantir a
aplicação das sanções previstas no presente artigo.
Artigo 18.º
Apreensão e tratamento de elementos do património cultural
subaquático
1 - Cada Estado Parte tomará medidas que visem a apreensão, no seu
território, de elementos do património cultural subaquático que tenham sido
recuperados com violação da presente Convenção.
2 - O Estado Parte que tenha procedido à apreensão de elementos do
património cultural subaquático em aplicação da presente Convenção
procederá ao respectivo registro e proteção e tomará todas as medidas
apropriadas para garantir a estabilização desse património.
3 - Cada Estado Parte notificará o Diretor-Geral e qualquer outro
Estado com um interesse legítimo, especialmente de natureza cultural,
histórica ou arqueológica, no património cultural subaquático em questão de
qualquer apreensão de elementos do património cultural subaquático a que
tenha procedido ao abrigo da presente Convenção.
4 - O Estado Parte que tiver procedido à apreensão de elementos do
património cultural arqueológico zelará pela sua disponibilização em
benefício do público, tendo em consideração as necessidades de preservação
e de pesquisa, a necessidade de reconstituir uma coleção dispersa, a
necessidade de acesso do público, de exposição e de educação, bem como os
interesses de qualquer Estado com interesse legítimo, especialmente de
natureza cultural, histórica ou arqueológica, no património cultural
subaquático em questão.
Artigo 19.º
Cooperação e troca de informação
1 - Os Estados Partes cooperarão entre si e procederão a consultas
mútuas com vista à proteção e à gestão do património cultural subaquático
nos termos da presente Convenção, incluindo, se possível, a colaboração na
pesquisa, na escavação, na documentação, na preservação, no estudo e na
valorização desse património.
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2 - Na medida em que os objetivos da presente Convenção o
permitam, cada Estado Parte procederá à troca, com outros Estados Partes,
da informação de que disponha sobre o património cultural subaquático,
nomeadamente a que se prende com a descoberta e a localização de
património, com a escavação ou a recuperação de património em violação da
presente Convenção ou de outras disposições do direito internacional, com a
metodologia e a tecnologia científica apropriada e com a evolução do direito
aplicável a tal património.
3 - A informação trocada entre os Estados Partes, ou entre a
UNESCO e os Estados Partes, relativa à descoberta ou localização de
elementos do património cultural subaquático deverá ser mantida
confidencial e reservada às entidades competentes dos Estados Partes, em
conformidade com os respectivos direitos internos, enquanto a divulgação de
tal informação fizer perigar ou colocar em risco a preservação dos elementos
do património cultural subaquático em questão.
4 - Cada Estado Parte tomará todas as medidas que considere
oportunas, incluindo, se possível, a utilização de bases de dados
internacionais apropriadas, para divulgar informações sobre os elementos do
património cultural subaquático escavados ou recuperados em violação da
presente Convenção ou do direito internacional.
Artigo 20.º
Sensibilização do público
Cada Estado Parte tomará todas as medidas que considere oportunas
com vista a sensibilizar o público para o valor e o significado do património
cultural subaquático e para a importância da sua proteção nos termos da
presente Convenção.
Artigo 21.º
Formação em arqueologia subaquática
Os Estados Partes cooperarão entre si a fim de providenciarem
formação em arqueologia subaquática e em técnicas de preservação do
património cultural subaquático, e de procederem, nos termos acordados, à
transferência de tecnologia relacionada com o património cultural
subaquático.
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Artigo 22.º
Serviços competentes
1 - Com vista a garantir a adequada implementação da presente
Convenção, os Estados Partes criarão serviços competentes ou reforçarão os
já existentes, se for caso disso, com o objetivo de criar, manter e atualizar
um inventário do património cultural subaquático, garantir de forma eficaz
a proteção, a preservação, a valorização e a gestão de tal património, assim
como a investigação científica e o ensino pertinentes.
2 - Os Estados Partes comunicarão ao Diretor-Geral o nome e o
endereço dos serviços competentes em matéria de património cultural
subaquático.
Artigo 23.º
Conferência dos Estados Partes
1- O Diretor-Geral convocará uma conferência dos Estados Partes no
prazo de um ano após a entrada em vigor da presente Convenção e,
posteriormente, pelo menos uma vez de dois em dois anos. A pedido da
maioria dos Estados Partes, o Diretor-Geral convocará uma conferência
extraordinária de Estados Partes.
2 - A conferência dos Estados Partes definirá as suas funções e
responsabilidades.
3- A conferência dos Estados Partes adotará o seu próprio
regulamento interno.
4 - A Conferência dos Estados Partes poderá criar um conselho
consultivo científico e técnico composto por peritos nomeados pelos Estados
Partes que respeite os princípios de uma equitativa distribuição geográfica e
de um desejável equilíbrio entre sexos.
5 - O conselho consultivo científico e técnico dará o apoio necessário à
conferência dos Estados Partes em questões de natureza científica ou
técnica relativas à implementação das regras.
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Artigo 24.º
Secretariado da presente Convenção
1 - O Secretariado da presente Convenção será assegurado pelo
Diretor-Geral.
2 - O Secretariado terá as seguintes funções:
a) Organizar as conferências dos Estados Partes conforme previsto no
n.º 1 do artigo 23.º;
b) Apoiar os Estados Partes na execução das decisões tomadas pelas
conferências dos Estados Partes.
Artigo 25.º
Resolução pacífica de diferendos
1 - Qualquer diferendo entre dois ou mais Estados relativo à
interpretação ou aplicação da presente Convenção será objeto de negociações
efetuadas de boa fé ou mediante qualquer outro meio pacífico de resolução
da escolha dos Estados intervenientes.
2 - Se o diferendo não for resolvido através de negociações num
período razoável de tempo, poderá ser submetido à UNESCO para efeitos de
mediação, por acordo entre os Estados intervenientes.
3 - Se não houver lugar a mediação ou não for possível obter a
resolução por mediação, as disposições relativas à resolução de diferendos
enunciadas na parte XV da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar serão aplicáveis mutatis mutandis a qualquer diferendo entre Estados
Partes na presente Convenção relativo à interpretação ou aplicação desta,
independentemente de serem ou não Partes na Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar.
4 - Qualquer procedimento escolhido por um Estado Parte na presente
Convenção e na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar em
conformidade com o artigo 287.º desta, será aplicado à resolução de
diferendos nos termos do presente artigo, salvo se tal Estado Parte, quando
da sua ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à presente Convenção, ou
em qualquer momento posterior, escolher qualquer outro procedimento em
conformidade com o n.º 1 do artigo 287.º da Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar para fins de resolução de diferendos resultantes da
aplicação da presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
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314
5 - Quando da ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à presente
Convenção, ou em qualquer momento posterior, qualquer Estado Parte na
presente Convenção que não seja parte na Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar poderá escolher, através de declaração escrita, um ou
vários dos meios enunciados no n.º 1 do artigo 287.º da Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar com o propósito de resolver diferendos
nos termos do presente artigo. O artigo 287.º será aplicável a tal declaração,
assim como a qualquer diferendo em que esse Estado seja parte e que não
esteja abrangido por uma declaração em vigor. Para efeitos de conciliação e
arbitragem, de acordo com os anexos V e VII à Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar, tal Estado poderá nomear conciliadores e
árbitros a serem incluídos nas listas referidas no artigo 2.º do anexo V e no
artigo 2.º do anexo VII para efeitos de resolução de diferendos resultantes da
aplicação da presente Convenção.
Artigo 26.º
Ratificação, aceitação, aprovação e adesão
1 - A presente Convenção ficará sujeita à ratificação, aceitação e
aprovação dos Estados membros da UNESCO.
2 - A presente Convenção ficará sujeita à adesão:
a) Dos Estados que não sejam membros da UNESCO mas sejam
membros da Organização das Nações Unidas ou de uma instituição
especializada do sistema da Organização das Nações Unidas ou da
Agência Internacional de Energia Atômica, assim como dos Estados
Partes no Estatuto do Tribunal Penal Internacional, e de qualquer
outro Estado convidado a aderir à presente Convenção pela
Conferência Geral da UNESCO;
b) Dos territórios que gozem de total autonomia interna, reconhecida
como tal pela Organização das Nações Unidas, mas que não acederam
à plena independência em conformidade com a Resolução 1514 (XV)
da Assembleia Geral e que tenham competência relativamente às
matérias tratadas pela presente Convenção, incluindo a competência
para celebrar tratados sobre tais matérias.
3 - Os instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão
serão depositados junto do Diretor-Geral.
Cartas Patrimoniais:
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315
Artigo 27.º
Entrada em vigor
A presente Convenção entrará em vigor três meses após a data de
depósito do 20.º instrumento conforme previsto no artigo 26.º, mas somente
no que concerne aos 20 Estados ou territórios que, desse modo, tenham
depositado os seus instrumentos. Relativamente a qualquer outro Estado ou
território, a Convenção entrará em vigor três meses após a data em que esse
Estado depositou o respectivo instrumento.
Artigo 28.º
Declaração relativa a águas interiores
Ao ratificar, aceitar, aprovar ou aderir à presente Convenção, ou em
qualquer momento posterior, qualquer Estado ou território poderá declarar
que as regras se aplicarão às suas águas interiores de natureza não
marítima.
Artigo 29.º
Limitação de âmbito geográfico
Quando da ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à presente
Convenção, um Estado ou território poderá declarar ao depositário que a
presente Convenção não será aplicável a determinadas partes do seu
território, às suas águas interiores, às suas águas arquipelágicas ou ao seu
mar territorial, explicitando as razões de tal declaração. Tal Estado deverá,
se e logo que possível, reunir as condições necessárias à aplicação da
presente Convenção às zonas especificadas na sua declaração, devendo
retirar a sua declaração, no todo ou em parte, logo que as referidas condições
estiverem reunidas.
Artigo 30.º
Reservas
Excetuando-se o disposto no artigo 29.º, nenhuma reserva poderá ser
feita relativamente à presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
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316
Artigo 31.º
Emendas
1 - Qualquer Estado Parte poderá, através de comunicação escrita
dirigida ao Diretor-Geral, propor emendas à presente Convenção. O Diretor-
Geral transmitirá essa comunicação a todos os outros Estados Partes. Se, no
prazo de seis meses a contar da data da transmissão da comunicação, pelo
menos metade dos Estados responder favoravelmente, o Diretor-Geral
submeterá tal proposta à próxima Conferência dos Estados Partes para
discussão e possível adoção.
2- As emendas serão adotadas por uma maioria de dois terços dos
Estados Partes presentes e votantes.
3 - Uma vez adotadas, as emendas à presente Convenção serão objeto
de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão pelos Estados Partes.
4 - Somente em relação aos Estados Partes que as tenham ratificado,
aceite, aprovado, ou a elas tenham aderido, as emendas entrarão em vigor
três meses após o depósito dos instrumentos referidos no n.º 3 do presente
artigo por dois terços dos Estados Partes. Subsequentemente, em relação a
cada Estado ou território que ratifique, aceite ou aprove qualquer emenda,
ou a ela adira, tal emenda entrará em vigor três meses após o depósito, por
essa Parte, do seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou
adesão.
5 - Qualquer Estado ou território que se torne Parte na presente
Convenção após a entrada em vigor de emendas feitas em conformidade com
o n.º 4 do presente artigo, e que não manifeste uma intenção diferente, será
considerado:
a) Parte na presente Convenção, conforme emendada;
b) Parte na presente Convenção não emendada relativamente aos
Estados Partes que não estiverem vinculados por tal emenda.
Artigo 32.º
Denúncia
1 - Qualquer Estado Parte poderá, mediante notificação escrita
dirigida ao Diretor-Geral, denunciar a presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
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317
2 - A denúncia produzirá efeitos 12 meses após a data de recepção da
notificação, a menos que nela se especifique uma data posterior.
3 - A denúncia não afetará, por qualquer forma, o dever de qualquer
Estado Parte cumprir todas as obrigações previstas na presente Convenção
às quais estaria sujeito pelo direito internacional independentemente da
presente Convenção.
Artigo 33.º
As Regras
As regras anexas fazem parte integrante da presente Convenção e,
salvo disposição expressa em contrário, a referência à presente Convenção
abrange as regras.
Artigo 34.º
Registro junto da Organização das Nações Unidas
Em conformidade com o artigo 102.º da Carta das Nações Unidas, a
presente Convenção ficará registrada no Secretariado da Organização das
Nações Unidas.
Artigo 35.º
Textos fazendo fé
A presente Convenção foi redigida em árabe, chinês, inglês, francês,
russo e espanhol, fazendo os seis textos igualmente fé.
ANEXO
Regras relativas a intervenções sobre o património cultural
subaquático
I - Princípios gerais
Regra 1
A preservação in situ, como forma de preservação do património
cultural subaquático, deverá ser considerada uma opção prioritária.
Consequentemente, as intervenções sobre o património cultural subaquático
só deverão ser autorizadas se o procedimento for compatível com a proteção
desse património e só poderão ser autorizadas se, sujeitas a tal requisito,
Cartas Patrimoniais:
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318
contribuírem igualmente, de forma significativa, para a proteção, o
conhecimento ou a valorização desse património.
Regra 2
A exploração comercial do património cultural subaquático para fins
de transação ou especulação, ou a sua irreversível dispersão, é incompatível
com a sua proteção e adequada gestão. Os elementos do património cultural
subaquático não deverão ser negociados, comprados ou trocados como se se
tratassem de bens de natureza comercial. A presente regra não pode ser
interpretada como proibindo:
a) A prestação de serviços de arqueologia profissionais ou de serviços
conexos necessários, cuja natureza e fim estejam em plena
conformidade com a presente Convenção, sob reserva da autorização
dos serviços competentes;
b) O depósito de elementos do património cultural subaquático
recuperados no âmbito de um projeto de investigação em
conformidade com a presente Convenção, desde que tal depósito não
seja contrário ao interesse científico ou cultural ou à integridade do
material recuperado nem resulte na sua irreversível dispersão, esteja
conforme com as regras 33 e 34 e fique sujeito a autorização pelos
serviços competentes.
Regra 3
As intervenções sobre o património cultural subaquático não deverão
afetá-lo negativamente mais do que o necessário para a consecução dos
objetivos do projeto.
Regra 4
As intervenções sobre o património cultural subaquático devem
recorrer a métodos e técnicas de prospecção não destrutivas, devendo dar-se
preferência à recuperação de objetos. Se a escavação ou a recuperação se
revelarem necessárias para o estudo científico ou para a proteção definitiva
do património cultural subaquático, as técnicas e os métodos a usar devem
ser o menos destrutivo possível e contribuir para a preservação dos
vestígios.
Regra 5
As intervenções sobre o património cultural subaquático não devem
perturbar desnecessariamente os restos humanos ou sítios venerados.
Cartas Patrimoniais:
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319
Regra 6
As intervenções sobre o património cultural subaquático devem ser
estritamente regulamentadas por forma que o registro da informação
cultural, histórica e arqueológica seja devidamente efetuado.
Regra 7
Deve ser promovido o acesso do público ao património cultural
subaquático in situ, exceto se tal se mostrar incompatível com a proteção e a
gestão do sítio.
Regra 8
A cooperação internacional em matéria de intervenção sobre o
património cultural subaquático deve ser encorajada, de modo a favorecer
intercâmbios profícuos entre arqueólogos e especialistas de outras profissões
conexas, bem como um melhor aproveitamento das suas competências.
II - Plano do projeto
Regra 9
Antes de qualquer intervenção sobre o património cultural
subaquático deve ser elaborado um plano do projeto, a submeter às
autoridades competentes, com vista à necessária apreciação e autorização.
Regra 10
O plano do projeto deve incluir:
a) Um resumo dos estudos prévios ou preliminares;
b) O enunciado do projeto e seus objetivo;
c) A metodologia a seguir e as técnicas a empregar;
d) O plano de financiamento;
e) A calendarização da execução do projeto;
f) A composição da equipa e as qualificações, funções e experiência de
cada membro da equipa;
g) O programa de análises e outras atividades a efetuar após o
trabalho de campo;
h) Um programa de preservação do material arqueológico e do sítio, a
executar em estreita cooperação com as autoridades competentes;
i) A política de gestão e de manutenção do sítio durante a execução do
projeto;
j) Um programa de documentação;
k) Um plano de segurança;
l) Um plano de incidência ambiental;
Cartas Patrimoniais:
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320
m) As modalidades de colaboração com museus e outras instituições,
em particular instituições científicas;
n) Um plano de preparação de relatórios;
o) As modalidades de depósito dos arquivos, incluindo os elementos do
património cultural subaquático recuperados; e
p) O programa de divulgação.
Regra 11
As intervenções sobre o património cultural subaquático devem ser
conduzidas de acordo com o plano do projeto aprovado pelas autoridades
competentes.
Regra 12
Em caso de descobertas imprevistas ou de alteração de circunstâncias,
o plano do projeto deve ser revisto e retificado, com a aprovação das
autoridades competentes.
Regra 13
Em caso de urgência ou de descobertas imprevistas, as intervenções
sobre o património cultural subaquático, incluindo as medidas ou atividades
de preservação de curta duração, em particular a estabilização do sítio,
podem ser autorizadas na ausência de um plano de projeto, para efeitos de
proteção do património cultural subaquático.
III - Trabalhos preliminares
Regra 14
Os trabalhos preliminares referidos na alínea a) da regra 10 devem
incluir uma avaliação do significado do património cultural subaquático e do
meio natural envolvente, bem como dos danos que possam resultar do
projeto proposto, e ainda quanto à possibilidade de serem recolhidos dados
tendentes à consecução dos objetivos do projeto.
Regra 15
A avaliação deve também incluir estudos de base sobre a informação
histórica e arqueológica disponível, as características arqueológicas e
ambientais do sítio e as consequências de qualquer potencial intrusão para a
estabilidade, a longo prazo, do património cultural subaquático objeto das
intervenções.
Cartas Patrimoniais:
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321
IV - Objetivo, metodologia e técnicas do projeto
Regra 16
A metodologia deve adequar-se aos objetivos do projeto e as técnicas
empregues devem ser o menos intrusiva possível.
V - Financiamento
Regra 17
Antes do início de qualquer intervenção, exceto em casos de urgência
para proteger o património cultural subaquático, deve ser garantida uma
base de financiamento adequada, suficiente para completar todas as fases do
plano do projeto, incluindo a preservação, a documentação e a preservação
do material arqueológico, assim como a preparação e a divulgação dos
relatórios.
Regra 18
O plano do projeto deve garantir a capacidade de financiamento deste
até à sua conclusão, através, por exemplo, da prestação de uma garantia.
Regra 19
O plano do projeto deve incluir um plano de contingência que garanta
a preservação do património cultural subaquático e da documentação
correlativa em caso de interrupção do financiamento.
VI - Duração do projeto - Calendarização
Regra 20
Antes do início de qualquer intervenção, deve ser estabelecida uma
adequada calendarização de modo a garantir o cumprimento de todas as
fases do plano do projeto, incluindo a preservação, a documentação e a
preservação dos elementos do património cultural subaquático recuperados,
assim como a preparação e a difusão dos relatórios.
Regra 21
O plano do projeto deve incluir um plano de contingência que garanta
a preservação do património cultural subaquático e da documentação
correlativa em caso de qualquer interrupção ou conclusão antecipada do
projeto.
Cartas Patrimoniais:
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322
VII - Competência e qualificações
Regra 22
As intervenções sobre o património cultural subaquático só podem ser
realizadas sob a direção e o controlo, e com a presença regular, de um
arqueólogo subaquático qualificado, com competência científica adequada ao
projeto.
Regra 23
Todos os elementos da equipe do projeto devem possuir qualificações e
competência adequadas às suas funções no projeto.
VIII - Preservação e gestão do sítio
Regra 24
O programa de preservação prevê o tratamento dos vestígios
arqueológicos durante as intervenções sobre o património cultural
subaquático, durante o seu transporte e a longo prazo. A preservação deve
ser efetuada em conformidade com as normas profissionais vigentes.
Regra 25
O programa de gestão do sítio prevê a proteção e a gestão in situ do
património cultural subaquático, no decurso e após a conclusão do trabalho
de campo. O programa inclui a informação ao público, a implementação de
meios razoáveis para a estabilização, a monitorização e a proteção do sítio
contra interferências.
IX - Documentação
Regra 26
Do programa de documentação deve constar a documentação
pormenorizada das intervenções sobre o património cultural subaquático,
incluindo relatórios de progresso, em conformidade com as normas
profissionais vigentes relativas à documentação arqueológica.
Regra 27
A documentação deve incluir, pelo menos, um inventário
pormenorizado do sítio, incluindo a indicação da proveniência dos elementos
do património cultural subaquático deslocados ou removidos no decurso das
intervenções, notas de campo, planos, desenhos, secções e fotografias ou
registros noutros suportes.
Cartas Patrimoniais:
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323
X - Segurança
Regra 28
Deve ser elaborado um plano de segurança adequado que garanta a
segurança e a saúde dos membros da equipa encarregue da execução do
projeto e de outros participantes, em conformidade com os requisitos legais e
profissionais vigentes.
XI - Meio ambiente
Regra 29
Deve ser preparado um plano de incidência ambiental adequado que
obste a qualquer perturbação indevida dos fundos marinhos e da vida
marinha.
XII - Relatórios
Regra 30
Os relatórios de progresso e o relatório final devem ficar disponíveis
na data prevista no plano do projeto e são depositados em arquivos públicos
apropriados.
Regra 31
Os relatórios devem incluir:
a) Um enunciado dos objetivo;
b) Um enunciado dos métodos e das técnicas empregues;
c) Um enunciado dos resultados obtidos;
d) A documentação gráfica e fotográfica essencial de todas as fases da
intervenção;
e) As recomendações relativas à preservação e preservação do sítio e
dos elementos do património cultural subaquático removidos;
f) Recomendações para futuras intervenções.
XIII - Conservação dos arquivos do projeto
Regra 32
As modalidades de conservação dos arquivos do projeto devem ser
acordadas antes do início de qualquer intervenção e devem constar do plano
do projeto.
Cartas Patrimoniais:
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324
Regra 33
Os arquivos do projeto, incluindo qualquer elemento do património
cultural subaquático removido e uma cópia de toda a documentação conexa
devem, se possível, manter-se intactos e em conjunto, sob a forma de coleção,
de modo a ficarem acessíveis aos profissionais e ao público, garantindo-se,
igualmente, a respectiva conservação. Este procedimento deve ser
concretizado tão rapidamente quanto possível, o mais tardar, no prazo de 10
anos após a conclusão do projeto, desde que tal se mostre compatível com a
preservação do património cultural subaquático.
Regra 34
Os arquivos do projeto devem ser geridos em conformidade com as
normas profissionais internacionais e sujeitos à autorização das autoridades
competentes.
XIV - Divulgação
Regra 35
O projeto deve prever, sempre que possível, a realização de ações
educativas e a apresentação dos seus resultados ao grande público.
Regra 36
O relatório final de qualquer projeto deve ser:
a) Tornado público logo que possível, tendo em conta a complexidade
do projeto e a natureza confidencial ou sensível da informação nele
contida; e
b) Depositado em arquivos públicos apropriados.
Feito em Paris, neste 2.º dia de Novembro de 2001, em duas cópias
autenticadas, tendo aposta a assinatura do Presidente da 31.ª sessão da
Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura e do Diretor-Geral, que deverão ser depositadas nos
arquivos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, cujas cópias conformes e autenticadas serão remetidas a todos os
Estados referidos no artigo 26.º, assim como às Nações Unidas.
Em fé do que os abaixo assinados apuseram as suas assinaturas em 6
de Novembro de 2001.
O Presidente da Conferência Geral: (Assinatura.)
O Diretor-Geral: (Assinatura.)
Cartas Patrimoniais:
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325
DECLARAÇÃO DE BUDAPESTE SOBRE O
PATRIMÔNIO MUNDIAL
De 28 de Junho de 2002
O Comitê do Património Mundial:
Notando que em 2002, Ano das Nações Unidas para o Património
Cultural, o Comitê do Património Mundial celebra o trigésimo aniversário
da Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural
que foi adotada pela Conferência Geral da UNESCO em 1972;
Considerando que em trinta anos a Convenção demonstrou ser um
instrumento ímpar de cooperação internacional para a proteção do
património cultural e natural de valor universal excepcional;
Adota a Declaração de Budapeste sobre o Patrimônio Mundial
1. Nós, membros do Comitê do Património Mundial, reconhecemos o
caráter universal da Convenção para a Proteção do Património Mundial,
Cultural e Natural (1972) e, consequentemente, a necessidade de assegurar
a sua aplicação ao património em toda a sua diversidade, enquanto
instrumento de desenvolvimento sustentável de todas as sociedades, pelo
diálogo e pela compreensão mútua;
2. Os bens inscritos na Lista do Património Mundial representam
riquezas que nos são confiadas para serem transmitidas às gerações futuras,
que delas são as legítimas herdeiras;
3. Tendo em conta a vastidão dos desafios a vencer a favor do nosso
património comum, nós:
a) encorajamos os países que ainda o não tenham feito a aderirem,
logo que possível, à Convenção e bem assim aos outros instrumentos
internacionais relativos às proteção do património;
b) convidamos os Estados parte na Convenção a fazerem o inventário
e proporem a inscrição, na Lista do Património Mundial, dos bens do
património cultural e natural em toda a sua diversidade;
c) zelaremos pela preservação de um justo equilíbrio entre a
conservação, a sustentabilidade e o desenvolvimento, de modo a
proteger os bens do património mundial através de atividades
Cartas Patrimoniais:
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326
adequadas que contribuam para o desenvolvimento social e econômico
e para a qualidade de vida das nossas comunidades;
d) uniremos esforços para cooperar na proteção do património,
reconhecendo que qualquer atentado a esse património constitui um
atentado ao espírito humano e à herança comum da humanidade;
e) defenderemos a causa do património mundial pela via da
comunicação, da educação, da investigação, da formação e da
sensibilização;
f) zelaremos por assegurar, a todos os níveis, a participação ativa das
nossas comunidades locais na identificação, proteção e gestão dos
bens do património mundial.
4. Nós, Comitê do Património Mundial, cooperaremos e procuraremos
o apoio de todos os parceiros a favor do património mundial. Para esse
efeito, convidamos todas as partes interessadas a que cooperem e promovam
os seguintes objetivos:
a) reforçar a Credibilidade da Lista do Património Mundial enquanto
testemunho representativo, geograficamente equilibrado, dos bens
culturais e naturais de valor universal excepcional;
b) assegurar a Conservação eficaz dos bens do património mundial;
c) promover a adoção de medidas eficazes com vista a garantir o
desenvolvimento das Capacidades, com vista a promover a
compreensão e aplicação da Convenção do Património Mundial e
instrumentos associados, nomeadamente pelo apoio na preparação de
propostas de inscrição de bens na Lista do Património Mundial;
d) desenvolver a Comunicação para sensibilizar o público e incentivar
a sua participação e o seu apoio ao património mundial.
5. Faremos na nossa 31ª sessão, em 2007, o balanço das ações
desenvolvidas para atingir estes objetivos e respeitar este compromisso.
Budapeste, 28 de Junho de 2002.
Cartas Patrimoniais:
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327
RECOMENDAÇÃO DE PARIS
17 de outubro de 2003
Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial
Conferência geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura doravante denominada "UNESCO", em sua 32ª sessão.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura, daqui em diante denominada “a UNESCO”,
reunida em Paris de 29 de Setembro a 7 de Outubro de 2003 na sua 32ª
sessão,
Referindo-se aos instrumentos internacionais existentes em matéria
de direitos humanos, em particular à Declaração Universal dos Direitos do
Homem, de 1948, ao Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais, de 1966 e ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Políticos, de 1966,
Considerando a importância do património cultural imaterial, crisol
da diversidade cultural e garante do desenvolvimento sustentável, como se
destaca na Recomendação da UNESCO para a Salvaguarda da Cultura
Tradicional e do Folclore, de 1989, na Declaração Universal da UNESCO
sobre a Diversidade Cultural, de 2001 e na Declaração de Istambul de 2002
adotada pela Terceira Mesa Redonda dos Ministros da Cultura,
Considerando a profunda interdependência entre o património
cultural imaterial e o património material cultural e natural,
Reconhecendo que os processos de globalização e de transformação
social, a par das condições que criam para um diálogo renovado entre as
comunidades, trazem igualmente consigo, à semelhança dos fenômenos de
intolerância, graves ameaças de degradação, desaparecimento e destruição
do património cultural imaterial, devido em particular à falta de meios de
salvaguarda deste,
Consciente da vontade universal e da preocupação comum de
salvaguardar o património cultural imaterial da humanidade,
Reconhecendo que as comunidades, em particular as comunidades
autóctones, os grupos e, em certos casos, os indivíduos, desempenham um
papel importante na produção, salvaguarda, manutenção e recriação do
Cartas Patrimoniais:
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328
patrimônio cultural imaterial, assim contribuindo para o enriquecimento da
diversidade cultural e da criatividade humana,
Tendo em conta o grande alcance da atividade desenvolvida pela
UNESCO na elaboração de instrumentos normativos para a proteção do
património cultural, em particular a Convenção para a Proteção do
Património Mundial, Cultural e Natural de 1972,
Tendo em conta também que ainda não existe nenhum instrumento
multilateral de caráter vinculativo visando a salvaguarda do património
cultural imaterial,
Considerando que os acordos, recomendações e resoluções
internacionais existentes em matéria de património cultural e natural
necessitam de ser eficazmente enriquecidos e complementados por novas
disposições relativas ao património cultural imaterial,
Considerando a necessidade de reforçar a conscientização, em
particular das gerações jovens, para a importância do património cultural
imaterial e da sua salvaguarda,
Considerando que a comunidade internacional deve contribuir,
juntamente com os Estados Partes na presente Convenção, para a
salvaguarda deste património num espírito de cooperação e ajuda mútua,
Recordando os programas da UNESCO relativos ao património
cultural imaterial, nomeadamente a Proclamação das Obras-Primas do
Património Oral e Imaterial da Humanidade,
Considerando o papel inestimável do património cultural imaterial
como fator de aproximação, intercâmbio e entendimento entre os seres
humanos,
Aprova, neste dia dezessete de Outubro de 2003, a presente
Convenção.
I. Disposições gerais
Artigo 1º: Finalidades da Convenção
As finalidades da presente Convenção são:
Cartas Patrimoniais:
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329
(a) a salvaguarda do património cultural imaterial;
(b) o respeito do património cultural imaterial das comunidades,
grupos e indivíduos envolvidos;
(c) a sensibilização a nível local, nacional e internacional para a
importância do património cultural imaterial e da sua apreciação
recíproca;
(d) a cooperação e assistência internacionais.
Artigo 2º: Definições
Para efeitos da presente Convenção,
1. Entende-se por “património cultural imaterial” as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e competências – bem como os
instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes estão
associados – que as comunidades, grupos e, eventualmente, indivíduos
reconhecem como fazendo parte do seu património cultural. Este património
cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente
recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio envolvente, da
sua interação com a natureza e da sua história, e confere-lhes um sentido de
identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o respeito
da diversidade cultural e a criatividade humana. Para efeitos da presente
Convenção, só será tomado em consideração o património cultural imaterial
que seja compatível com os instrumentos internacionais relativos aos
direitos humanos existentes, bem como com a exigência do respeito mútuo
entre comunidades, grupos e indivíduos, e de um desenvolvimento
sustentável.
2. O “patrimônio cultural imaterial” tal como é definido no parágrafo I
supra, manifesta-se nomeadamente nos seguintes domínios:
(a) tradições e expressões orais, incluindo a língua como vetor do
património cultural imaterial;
(b) artes do espetáculo;
(c) práticas sociais, rituais e atos festivos;
(d) conhecimentos e usos relacionados com a natureza e o universo;
(e) técnicas artesanais tradicionais.
3. Entende-se por “salvaguarda” as medidas que visam assegurar a
viabilidade do património cultural imaterial, incluindo a identificação,
documentação, investigação, preservação, proteção, promoção, valorização,
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
330
transmissão - essencialmente pela educação formal e não formal – e
revitalização dos diversos aspectos deste património.
4. Entende-se por “Estados Partes” os Estados que estão vinculados
pela presente Convenção e entre os quais ela está em vigor.
5. A presente Convenção aplica-se mutatis mutandis aos territórios
visados no Artigo 33º que dela se tornem Partes, em conformidade com as
condições que o referido artigo especifica. Nesta medida, a expressão
“Estados Partes” refere-se também a esses territórios.
Artigo 3º: Relação com outros instrumentos internacionais
Nada na presente Convenção pode ser interpretado como:
(a) alterando o estatuto ou diminuindo o nível de proteção dos bens
declarados do património mundial no quadro da Convenção para a
Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural, de 1972, aos
quais está diretamente associado um elemento do património cultural
imaterial; ou
(b) afetando os direitos e obrigações dos Estados Partes decorrentes de
qualquer instrumento internacional relativo aos direitos da
propriedade intelectual ou à utilização dos recursos biológicos e
ecológicos de que sejam partes.
II. Órgãos da Convenção
Artigo 4º: Assembleia Geral dos Estados Partes
1. É instituída uma Assembleia Geral dos Estados Partes, daqui em
diante denominada “a Assembleia Geral”. A Assembleia Geral é o órgão
soberano da presente Convenção.
2. A Assembleia Geral reúne-se em sessão ordinária de dois em dois
anos. Pode reunir-se em sessão extraordinária se assim decidir, ou se tal lhe
for solicitado pelo Comitê Intergovernamental de Salvaguarda do
Património Cultural Imaterial ou por um mínimo de dois terços dos Estados
Partes.
3. A Assembleia Geral adota o seu regulamento interno.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
331
Artigo 5º: Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do
Património Cultural Imaterial
1. É instituído junto da UNESCO um Comitê Intergovernamental
para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, daqui em diante
denominado “o Comitê”. É constituído por representantes de 18 Estados
Partes, eleitos pelos Estados Partes reunidos em Assembleia Geral depois da
entrada em vigor da presente Convenção, em conformidade com o Artigo 34º.
2. O número de Estados membros do Comitê será aumentado para 24
quando o número de Estados Partes na Convenção atingir os 50.
Artigo 6º: Eleição e mandato dos Estados membros do Comitê
1. A eleição dos Estados membros deve obedecer aos princípios de
uma repartição geográfica e uma rotação equitativas.
2. Os Estados membros do Comitê são eleitos para um mandato de
quatro anos pelos Estados Partes na Convenção reunidos em Assembleia
Geral.
3. No entanto, o mandato de metade dos Estados membros do Comitê
eleitos na primeira eleição fica limitado a dois anos. Estes Estados são
designados por sorteio na altura da primeira eleição.
4. De dois em dois anos, a Assembleia Geral procede à renovação de
metade dos Estados membros do Comitê.
5. Elege igualmente tantos Estados membros do Comitê quantos os
necessários para preencher os lugares vagos.
6. Um Estado membro do Comitê não pode ser eleito para dois
mandatos consecutivos.
7. Os Estados membros do Comitê escolhem para os representar
pessoas qualificadas nos diversos domínios do património cultural imaterial.
Artigo 7º: Funções do Comitê
Sem prejuízo das demais atribuições que lhe são cometidas pela
presente Convenção, as funções do Comitê são as seguintes:
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
332
(a) promover os objetivos da Convenção, fomentar e supervisionar a sua
aplicação;
(b) dar conselhos sobre as melhores práticas e formular recomendações
sobre as medidas tendentes a salvaguardar o património cultural
imaterial;
(c) preparar e submeter à aprovação da Assembleia Geral um projeto
de utilização dos recursos do Fundo, em conformidade com o Artigo 25º;
(d) esforçar-se por encontrar formas de aumentar os seus recursos e
tomar as medidas necessárias para tal fim, em conformidade com o
Artigo 25º;
(e) preparar e submeter à aprovação da Assembleia Geral diretivas
operacionais para a aplicação da Convenção;
(f) examinar, em conformidade com o Artigo 29º, os relatórios dos
Estados Partes e fazer deles um resumo destinado à Assembleia Geral;
(g) examinar as solicitações apresentadas pelos Estados Partes e
decidir, em conformidade com os critérios objetivos de seleção
estabelecidos pelo próprio Comitê e aprovados pela Assembleia Geral:
(i.) sobre as inscrições nas listas e sobre as propostas mencionadas nos
Artigos 16º, 17º e 18º;
(ii.) sobre a prestação da assistência internacional em conformidade
com o Artigo 22º.
Artigo 8º: Métodos de trabalho do Comitê
1. O Comitê é responsável perante a Assembleia Geral. Presta-lhe
contas de todas as suas atividades e decisões.
2. O Comitê adota o seu regulamento interno por maioria de dois
terços dos seus membros.
3. O Comitê pode criar temporariamente os órgãos consultivos ad hoc
que considere necessários para a execução das suas funções.
4. O Comitê pode convidar para as suas reuniões qualquer organismo
público ou privado, bem como qualquer pessoa física de comprovada
competência nos diferentes domínios do património cultural imaterial, para
os consultar sobre questões específicas.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
333
Artigo 9º: Certificação das organizações consultivas
1. O Comitê propõe à Assembleia Geral a certificação de organizações
não governamentais de comprovada competência no domínio do património
cultural imaterial. Estas organizações terão funções consultivas junto do
Comitê.
2. O Comitê propõe igualmente à Assembleia Geral os critérios e
modalidades desta certificação.
Artigo 10º: O Secretariado
1. O Comitê é assistido pelo Secretariado da UNESCO.
2. O Secretariado prepara a documentação da Assembleia Geral e do
Comitê, bem como o projeto de ordem do dia das respectivas reuniões e
assegura a execução das decisões dos dois órgãos.
III. Salvaguarda do património cultural imaterial à escala
nacional
Artigo 11º: Funções dos Estados Partes
Compete a cada Estado Parte:
(a) tomar as medidas necessárias para garantir a salvaguarda do
património cultural imaterial presente no seu território;
(b) entre as medidas de salvaguarda mencionadas no parágrafo 3 do
Artigo 2º, identificar e definir os diferentes elementos do património
cultural imaterial presentes no seu território, com a participação das
comunidades, grupos e organizações não governamentais pertinentes.
Artigo 12º: Inventários
1. Para assegurar a identificação com vista à salvaguarda, cada
Estado Parte elabora, em moldes que se adaptem à sua situação, um ou
vários inventários do património cultural imaterial presente no seu
território. Estes inventários são objeto de atualização periódica.
2. Cada Estado Parte, quando da apresentação periódica do seu
relatório ao Comitê, em conformidade com o Artigo 29º, presta informações
pertinentes sobre os referidos inventários.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
334
Artigo 13º: Outras medidas de salvaguarda
Com vista a assegurar a salvaguarda, o desenvolvimento e a
valorização do património cultural imaterial presente no seu território, cada
Estado Parte desenvolve esforços no sentido de:
(a) adotar uma política geral orientada para a valorização da função
do património cultural imaterial na sociedade e para a integração da
salvaguarda desse património em programas de planejamento;
(b) designar ou criar um ou mais organismos competentes para a
salvaguarda do património cultural imaterial presente no seu
território;
(c) fomentar estudos científicos, técnicos e artísticos, assim como
metodologias de investigação para uma eficaz salvaguarda do
património cultural imaterial, em particular do património cultural
imaterial em perigo;
(d) adotar medidas jurídicas, técnicas, administrativas e financeiras
adequadas para:
(i) estimular a criação ou o reforço de instituições de formação em
gestão do património cultural imaterial e a transmissão desse
património através de fóruns e espaços destinados à sua
representação e expressão;
(ii) garantir o acesso ao património cultural imaterial respeitando as
práticas consuetudinárias pelas quais se rege o acesso a aspectos
específicos desse património;
(iii) criar instituições de documentação sobre o património cultural
imaterial e facilitar o acesso a elas.
Artigo 14º: Educação, sensibilização e reforço das capacidades
Cada Estado Parte desenvolve esforços, por todos os meios
apropriados, no sentido de:
(a) assegurar o reconhecimento, respeito e valorização do património
cultural imaterial na sociedade, em particular através de:
(i) programas educativos, de sensibilização e difusão de informações
junto do público, nomeadamente dos jovens;
(ii) programas educativos e de formação específicos no âmbito das
comunidades e grupos envolvidos;
(iii) atividades de reforço das capacidades em matéria de salvaguarda
do património cultural imaterial e em particular de gestão e de
investigação científica; e
(iv) meios não formais de transmissão do saber;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
335
(b) manter o público informado das ameaças que impendem sobre esse
património bem como das atividades desenvolvidas na aplicação da
presente Convenção;
(c) promover a educação para a proteção dos espaços naturais e
lugares de memória cuja existência é necessária à expressão do
património cultural imaterial.
Artigo 15º: Participação das comunidades, grupos e indivíduos
No âmbito das suas atividades de salvaguarda do património cultural
imaterial, cada Estado Parte desenvolve esforços no sentido de assegurar a
mais ampla participação possível das comunidades, grupos e, se for caso
disso, indivíduos que criam, mantêm e transmitem esse património, e de os
envolver ativamente na sua gestão.
IV. Salvaguarda do património cultural imaterial à escala
internacional
Artigo 16º: Lista representativa do património cultural imaterial da
humanidade
1. Para melhor dar a conhecer o património cultural imaterial,
conscientizar as pessoas para a sua importância e promover o diálogo no
respeito da diversidade cultural, o Comitê, por proposta dos Estados Partes
interessados, cria, mantém atualizada e publica uma lista representativa do
património cultural imaterial da humanidade.
2. O Comitê elabora e submete à aprovação da Assembleia Geral os
critérios que irão presidir à criação, atualização e publicação desta lista
representativa.
Artigo 17º: Lista do património cultural imaterial que requer
medidas urgentes de salvaguarda
1. A fim de tomar as medidas de salvaguarda apropriadas, o Comitê
cria, mantém atualizada e publica uma lista do património cultural
imaterial que requer medidas urgentes de salvaguarda, e inscreve esse
património na Lista a pedido do Estado Parte interessado.
2. O Comitê elabora e submete à aprovação da Assembleia Geral os
critérios que presidem à criação, atualização e publicação desta lista.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
336
3. Em casos de extrema urgência – cujos critérios objetivos são
aprovados pela Assembleia Geral sob proposta do Comitê – este pode, em
consulta com o Estado Parte interessado, inscrever um elemento do
património em questão na lista mencionada no parágrafo 1.
Artigo 18º: Programas, projetos e atividades de salvaguarda do
património cultural imaterial
1.Com base nas propostas apresentadas pelos Estados Partes, e em
conformidade com os critérios definidos pelo Comitê e aprovados pela
Assembleia Geral, o Comitê seleciona periodicamente e promove os
programas, projetos e atividades de caráter nacional, sub-regional ou
regional de salvaguarda do património que em seu entender melhor refletem
os princípios e objetivos da presente Convenção, tendo em conta as
necessidades específicas dos países em desenvolvimento.
2. Para tal, recebe, examina e aprova as solicitações de assistência
internacional formuladas pelos Estados Partes para a elaboração das suas
propostas.
3. O Comitê acompanha a execução dos referidos programas, projetos
e atividades com a difusão das melhores práticas de acordo com as
modalidades que tiver definido.
V. Cooperação e assistência internacionais
Artigo 19º: Cooperação
1. Para os fins previstos na presente Convenção, a cooperação
internacional compreende em particular o intercâmbio de informações e
experiências, iniciativas comuns e a criação de um mecanismo de assistência
aos Estados Partes nos seus esforços de salvaguarda do património cultural
imaterial.
2. Sem prejuízo das disposições da respectiva legislação nacional e dos
respectivos direitos e usos consuetudinários, os Estados Partes reconhecem
que a salvaguarda do património cultural imaterial é do interesse geral da
humanidade e comprometem-se, para esse fim, a cooperar aos níveis
bilateral, sub-regional, regional e internacional.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
337
Artigo 20º: Objetivos da assistência internacional
A assistência internacional pode ser prestada com os seguintes
objetivos:
(a) salvaguarda do património inscrito na lista do património cultural
imaterial que requer medidas urgentes de salvaguarda;
(b) preparação de inventários no sentido dos Artigos 11º e 12º;
(c) apoio a programas, projetos e atividades conduzidos a nível
nacional, sub-regional e regional, com vista à salvaguarda do
património cultural imaterial;
(d) qualquer outro objetivo que o Comitê considere necessário.
Artigo21º: Formas de assistência internacional
A assistência prestada pelo Comitê a um Estado Parte é
regulamentada pelas diretivas operacionais previstas no artigo 7º e pelo
acordo previsto no Artigo 24º, e pode assumir as seguintes formas:
(a) estudos sobre os diferentes aspectos da salvaguarda;
(b) disponibilização de especialistas e de pessoas com experiência
prática;
(c) formação de todo o pessoal necessário;
(d) elaboração de medidas normativas ou outras;
(e) criação e exploração de infraestruturas;
(f) fornecimento de equipamento e competência técnica;
(g) outras formas de assistência financeira e técnica incluindo, se
necessário, a concessão de empréstimos a juro baixo e de doações.
Artigo 22º: Condições de prestação da assistência internacional
1. O Comitê define o processo de análise das solicitações de
assistência internacional e especifica os elementos da solicitação tais como
as medidas previstas, as intervenções necessárias e a avaliação do
respectivo custo.
2. Em caso de urgência, a solicitação de assistência deve ser analisada
pelo Comitê com caráter prioritário.
3. Para tomar uma decisão, o Comitê procede aos estudos e consultas
que entender necessários.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
338
Artigo 23º: Solicitações de assistência internacional
1. Cada Estado Parte pode apresentar ao Comitê uma solicitação de
assistência internacional para a salvaguarda do património cultural
imaterial presente no seu território.
2. Tal solicitação pode também ser apresentada conjuntamente por
dois ou mais Estados Partes.
3. A solicitação deve comportar os elementos de informação previstos
no Artigo 22º, parágrafo 1, e os documentos necessários.
Artigo 24º: Papel dos Estados Partes beneficiários
1. Em conformidade com as disposições da presente Convenção, a
assistência internacional prestada rege-se por um acordo entre o Estado
Parte beneficiário e o Comitê.
2. Regra geral, o Estado Parte beneficiário deve participar, na medida
das suas possibilidades, no custo das medidas de salvaguarda para as quais
é fornecida a assistência internacional.
3. O Estado Parte beneficiário apresenta ao Comitê um relatório sobre
a utilização da assistência que lhe foi prestada para fins de salvaguarda do
património cultural imaterial.
VI. Fundo do património cultural imaterial
Artigo 25º: Natureza e recursos do Fundo
1. É criado um “Fundo para a salvaguarda do património cultural
imaterial”, daqui em diante denominado “o Fundo”.
2. O Fundo é constituído como fundo fiduciário em conformidade com
as disposições do Regulamento Financeiro da UNESCO.
3. Os recursos do Fundo são constituídos por:
(a) contribuições dos Estados Partes;
(b) verbas destinadas a tal fim pela Conferência Geral da UNESCO;
(c) contribuições, doações e legados que possam ser feitos por:
(i) outros Estados;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
339
(ii) organismos e programas do sistema das Nações Unidas,
nomeadamente o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, bem como outras organizações internacionais;
(iii) organismos públicos ou privados ou pessoas individuais;
(d) juros devidos sobre os recursos do Fundo;
(e) produto das coletas e receitas das manifestações organizadas em
benefício do Fundo;
(f) quaisquer outros recursos autorizados pelo regulamento do Fundo
elaborado pelo Comitê.
4. A utilização dos recursos pelo Comitê é decidida com base nas
orientações da Assembleia Geral.
5. O Comitê pode aceitar contribuições e outras formas de assistência
para fins gerais ou específicos relativos a projetos concretos, desde que se
trate de projetos aprovados pelo Comitê.
6. As contribuições para o Fundo não podem estar dependentes de
qualquer condição política, econômica ou outra que seja incompatível com os
objetivos prosseguidos pela presente Convenção.
Artigo 26º: Contribuições dos Estados Partes para o Fundo
1. Sem prejuízo de qualquer outra contribuição suplementar
voluntária, os Estados Partes na presente Convenção comprometem-se a
entregar ao Fundo, pelo menos de dois em dois anos, uma contribuição cujo
montante, calculado segundo uma percentagem uniforme aplicável a todos
os Estados, será decidido pela Assembleia Geral. Esta decisão da Assembleia
Geral será tomada por maioria dos Estados Partes presentes e votantes que
não tenham feito a declaração prevista no parágrafo 2 do presente artigo.
Em nenhum caso esta contribuição poderá ultrapassar 1% da contribuição
do Estado Parte para o orçamento ordinário da UNESCO.
2. Porém, qualquer dos Estados a que se refere o Artigo 32º ou o
Artigo 33º da presente Convenção pode, no momento em que deposita os
seus instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, declarar
que não ficará vinculado pelas disposições do parágrafo 1 do presente artigo.
3. Um Estado Parte na presente Convenção que tenha feito a
declaração prevista no parágrafo 2 do presente artigo esforçar-se-á por
retirar a referida declaração mediante notificação ao Diretor Geral da
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
340
UNESCO. No entanto, a retirada da declaração só produzirá efeitos sobre a
contribuição devida por esse Estado a partir da data de abertura da sessão
seguinte da Assembleia Geral.
4. Para que o Comitê esteja em condições de planear eficazmente as
suas atividades, as contribuições dos Estados Partes na presente Convenção
que fizeram a declaração prevista no parágrafo 2 do presente artigo devem
ser pagas numa base regular, pelo menos de dois em dois anos, e deverão
aproximar-se o mais possível das contribuições que deviam ter pago se
estivessem vinculados às disposições do parágrafo 1 do presente artigo.
5. Um Estado Parte na presente Convenção que esteja atrasado no
pagamento da sua contribuição obrigatória ou voluntária relativa ao ano em
curso e ao ano civil que imediatamente o precedeu não é elegível para o
Comitê, não se aplicando esta disposição à primeira eleição. O mandato de
um Estado nestas condições que já é membro do Comitê cessará no momento
em que tiver lugar qualquer das eleições previstas no Artigo 6º da presente
Convenção.
Artigo 27º: Contribuições voluntárias suplementares para o Fundo
Os Estados Partes que desejem efetuar contribuições voluntárias para
além das previstas no Artigo 26º informam disso o Comitê logo que possível
para lhe permitir planear as suas atividades em conformidade.
Artigo 28º: Campanhas internacionais de recolha de fundos
Os Estados Partes prestam, na medida do possível, o seu concurso às
campanhas internacionais de recolha organizados em favor do Fundo sob os
auspícios da UNESCO.
VII. Relatórios
Artigo 29º: Relatórios dos Estados Partes
Os Estados Partes apresentam ao Comitê, nos moldes e periodicidade
por este estipulados, relatórios sobre as disposições legislativas,
regulamentares ou outras adotadas para aplicar a presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
341
Artigo 30º: Relatórios do Comitê
1.Com base nas suas atividades e nos relatórios dos Estados Partes
mencionados no Artigo 29º, o Comitê submete um relatório a cada sessão da
Assembleia Geral.
2. Este relatório é levado ao conhecimento da Conferência Geral da
UNESCO.
VIII. Cláusula transitória
Artigo 31º: Relação com a Proclamação das Obras-Primas do
Património Oral e Imaterial da Humanidade
1. O Comitê integra na Lista representativa do património cultural
imaterial da humanidade os elementos proclamados “Obras Primas do
Património Oral e Imaterial da Humanidade” antes da entrada em vigor da
presente Convenção.
2. A integração destes elementos na Lista representativa do
património cultural imaterial da humanidade em nada condiciona os
critérios definidos em conformidade com o Artigo 16º, parágrafo 2, para as
inscrições futuras.
3. Não será feita qualquer outra Proclamação depois da entrada em
vigor da presente Convenção.
IX. Disposições finais
Artigo 32º: Ratificação, aceitação ou aprovação
1. A presente Convenção está sujeita à ratificação, aceitação ou
aprovação dos Estados Membros da UNESCO, em conformidade com os
respectivos procedimentos constitucionais.
2. Os instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação são
depositados junto do Diretor Geral da UNESCO.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
342
Artigo 33º: Adesão
1. A presente Convenção está aberta à adesão de todos os Estados não
membros da UNESCO que a Conferência Geral da Organização convide a
aderir a ela.
2. A presente Convenção está também aberta à adesão dos territórios
que gozem de total autonomia interna, reconhecida como tal pela
Organização das Nações Unidas, mas que não tenham acedido à
independência plena em conformidade com a resolução 1514 (XV) da
Assembleia Geral e que tenham competência para as matérias de que trata
a presente Convenção, incluindo a competência para subscrever contratos
sobre essas matérias.
3. O instrumento de adesão será depositado junto do Diretor Geral da
UNESCO.
Artigo 34º: Entrada em vigor
A presente Convenção entrará em vigor três meses depois da data do
depósito do trigésimo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou
adesão, mas unicamente no que respeita aos Estados que tenham depositado
os respectivos instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão
nessa data ou anteriormente. Para os demais Estados Partes entrará em
vigor três meses depois do depósito do respectivo instrumento de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão.
Artigo 35º: Regimes constitucionais federativos ou não unitários
Aos Estados Partes que tenham um regime constitucional federativo
ou não unitário aplicam-se as disposições que se seguem:
(a) No que diz respeito às disposições da presente Convenção cuja
aplicação seja da competência do poder legislativo federal ou central,
as obrigações do governo federal ou central serão as mesmas que as
dos Estados Partes que não são Estados federativos;
(b) No que diz respeito às disposições da presente Convenção cuja
aplicação seja da competência de cada um dos Estados, países,
províncias ou cantões constituintes, que em virtude do regime
constitucional da federação não estejam obrigados a tomar medidas
legislativas, o governo federal levará, com o seu parecer favorável, as
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
343
referidas disposições ao conhecimento das autoridades competentes
dos Estados, países, províncias ou cantões para adoção.
Artigo 36º: Denúncia
1. Todos os Estados Partes têm a faculdade de denunciar a presente
Convenção.
2. A denúncia é notificada por instrumento escrito depositado junto do
Diretor Geral da UNESCO.
3. A denúncia produz efeito doze meses depois da recepção do
instrumento de denúncia. A denúncia em nada modifica as obrigações
financeiras que o Estado Parte denunciante é obrigado a cumprir até à data
em que a retirada produz efeito.
Artigo 37º: Funções do depositário
O Diretor Geral da UNESCO, na sua qualidade de depositário da
presente Convenção, informa os Estados Membros da Organização, os
Estados não membros a que se refere o Artigo 33ª e a Organização das
Nações Unidas do depósito de todos os instrumentos de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão mencionados nos artigos 32º e 33º, bem como
das denúncias previstas no Artigo 36º.
Artigo 38º: Emendas
1. Qualquer Estado Parte pode, por comunicação escrita endereçada
ao Diretor Geral, propor emendas à presente Convenção. O Diretor Geral
transmite a comunicação recebida a todos os Estados Partes. Se, nos seis
meses que se seguem à data de transmissão da comunicação, pelo menos
metade dos Estados Partes der resposta favorável à emenda solicitada, o
Diretor Geral apresenta a proposta à próxima sessão da Assembleia Geral
para discussão e eventual adoção.
2. As emendas são adotadas por maioria de dois terços dos Estados
Partes presentes e votantes.
3. As emendas à presente Convenção, uma vez adotadas, são
submetidas aos Estados Partes para ratificação, aceitação, aprovação ou
adesão.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
344
4. Para os Estados Partes que as tenham ratificado, aceite, aprovado
ou a elas tenham aderido, as emendas à presente Convenção entram em
vigor três meses depois do depósito dos instrumentos mencionados no
parágrafo 3 do presente artigo por dois terços dos Estados Partes. A partir
daí, para cada Estado Parte que ratifique, aceite, aprove uma emenda ou a
ela adira, essa emenda entra em vigor três meses depois da data de depósito
pelo Estado Parte do respectivo instrumento de ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão.
5. O procedimento previsto nos parágrafos 3 e 4 não se aplica às
emendas introduzidas no Artigo 5º relativo ao número de Estados membros
do Comitê. Tais emendas entram em vigor à data da sua adoção.
6. Um Estado que passe a ser Parte na presente Convenção depois da
entrada em vigor de emendas em conformidade com o parágrafo 4 do
presente artigo e não tenha manifestado intenção diferente é considerado
como sendo:
(a) parte na presente Convenção assim emendada; e
(b) parte na presente Convenção não emendada perante aqueles
Estados Partes que não estejam vinculados pelas referidas emendas.
Artigo 39º: Textos autênticos
A presente Convenção é redigida em árabe, chinês, espanhol, francês,
inglês e russo, sendo os seis textos considerados igualmente autênticos.
Artigo 40º: Registro
Em conformidade com o Artigo 102º da Carta das Nações Unidas, a
presente Convenção será registrada no Secretariado da Organização das
Nações Unidas por solicitação do Diretor Geral da UNESCO.
Cartas Patrimoniais:
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345
CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO E
PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE DAS
EXPRESSÕES CULTURAIS
De 03 a 21 de Outubro de 2005
Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a
Ciência e a Cultura
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para
Educação, a Ciência e a Cultura, em sua 33ª reunião, celebrada em Paris, de
03 a 21 de outubro de 2005,
Afirmando que a diversidade cultural é uma característica essencial
da humanidade, Ciente de que a diversidade cultural constitui patrimônio
comum da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos,
Sabendo que a diversidade cultural cria um mundo rico e variado que
aumenta a gama de possibilidades e nutre as capacidades e valores
humanos, constituindo, assim, um dos principais motores do
desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações,
Recordando que a diversidade cultural, ao florescer em um ambiente
de democracia, tolerância, justiça social e mútuo respeito entre povos e
culturas, é indispensável para a paz e a segurança no plano local, nacional e
internacional,
Celebrando a importância da diversidade cultural para a plena
realização dos direitos humanos e das liberdades fundamentais proclamados
na Declaração Universal dos Direitos do Homem e outros instrumentos
universalmente reconhecidos,
Destacando a necessidade de incorporar a cultura como elemento
estratégico das políticas de desenvolvimento nacionais e internacionais, bem
como da cooperação internacional para o desenvolvimento, e tendo
igualmente em conta a Declaração do Milênio das Nações Unidas (2000),
com sua ênfase na erradicação da pobreza,
Considerando que a cultura assume formas diversas através do tempo
e do espaço, e que esta diversidade se manifesta na originalidade e na
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
346
pluralidade das identidades, assim como nas expressões culturais dos povos
e das sociedades que formam a humanidade,
Reconhecendo a importância dos conhecimentos tradicionais como
fonte de riqueza material e imaterial, e, em particular, dos sistemas de
conhecimento das populações indígenas, e sua contribuição positiva para o
desenvolvimento sustentável, assim como a necessidade de assegurar sua
adequada proteção e promoção,
Reconhecendo a necessidade de adotar medidas para proteger a
diversidade das expressões culturais incluindo seus conteúdos,
especialmente nas situações em que expressões culturais possam estar
ameaçadas de extinção ou de grave deterioração,
Enfatizando a importância da cultura para a coesão social em geral, e,
em particular, o seu potencial para a melhoria da condição da mulher e de
seu papel na sociedade, Ciente de que a diversidade cultural se fortalece
mediante a livre circulação de ideias e se nutre das trocas constantes e da
interação entre culturas,
Reafirmando que a liberdade de pensamento, expressão e informação,
bem como a diversidade da mídia, possibilitam o florescimento das
expressões culturais nas sociedades,
Reconhecendo que a diversidade das expressões culturais, incluindo
as expressões culturais tradicionais, é um fator importante, que possibilita
aos indivíduos e aos povos expressarem e compartilharem com outros as
suas ideias e valores,
Recordando que a diversidade linguística constitui elemento
fundamental da diversidade cultural, e reafirmando o papel fundamental
que a educação desempenha na proteção e promoção das expressões
culturais,
Tendo em conta a importância da vitalidade das culturas para todos,
incluindo as pessoas que pertencem a minorias e povos indígenas, tal como
se manifesta em sua liberdade de criar, difundir e distribuir as suas
expressões culturais tradicionais, bem como de ter acesso a elas, de modo a
favorecer o seu próprio desenvolvimento,
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
347
Sublinhando o papel essencial da interação e da criatividade
culturais, que nutrem e renovam as expressões culturais, e fortalecem o
papel desempenhado por aqueles que participam no desenvolvimento da
cultura para o progresso da sociedade como um todo, Reconhecendo a
importância dos direitos da propriedade intelectual para a manutenção das
pessoas que participam da criatividade cultural,
Convencida de que as atividades, bens e serviços culturais possuem
dupla natureza, tanto econômica quanto cultural, uma vez que são
portadores de identidades, valores e significados, não devendo, portanto, ser
tratados como se tivessem valor meramente comercial,
Constatando que os processos de globalização, facilitado pela rápida
evolução das tecnologias de comunicação e informação, apesar de
proporcionarem condições inéditas para que se intensifique a interação
entre culturas, constituem também um desafio para a diversidade cultural,
especialmente no que diz respeito aos riscos de desequilíbrios entre países
ricos e pobres,
Ciente do mandato específico confiado à UNESCO para assegurar o
respeito à diversidade das culturas e recomendar os acordos internacionais
que julgue necessários para promover a livre circulação de ideias por meio
da palavra e da imagem,
Referindo-se às disposições dos instrumentos internacionais adotados
pela UNESCO relativos à diversidade cultural e ao exercício dos direitos
culturais, em particular a Declaração Universal sobre a Diversidade
Cultural, de 2001,
Adota, em 20 de outubro de 2005 , a presente Convenção.
I. Objetivos e princípios diretores
Artigo 1 – Objetivos
Os objetivos da presente Convenção são:
a) proteger e promover a diversidade das expressões culturais;
b) criar condições para que as culturas floresçam e interajam
livremente em benefício mútuo;
c) encorajar o diálogo entre culturas a fim de assegurar intercâmbios
culturais mais amplos e equilibrados no mundo em favor do respeito
intercultural e de uma cultura da paz;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
348
d) fomentar a interculturalidade de forma a desenvolver a interação
cultural, no espírito de construir pontes entre os povos;
e) promover o respeito pela diversidade das expressões culturais e a
conscientização de seu valor nos planos local, nacional e
internacional;
f) reafirmar a importância do vínculo entre cultura e desenvolvimento
para todos os países, especialmente para países em desenvolvimento,
e encorajar as ações empreendidas no plano nacional e internacional
para que se reconheça o autêntico valor desse vínculo;
g) reconhecer natureza específica das atividades, bens e serviços
culturais enquanto portadores de identidades, valores e significados;
h) reafirmar o direito soberano dos Estados de conservar, adotar e
implementar as políticas e medidas que considerem apropriadas para
a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais em seu
território;
i) fortalecer a cooperação e a solidariedade internacionais em um
espírito de parceria visando, especialmente, o aprimoramento das
capacidades dos países em desenvolvimento de protegerem e de
promoverem a diversidade das expressões culturais.
Artigo 2 - Princípios Diretores
1. Princípio do respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais
A diversidade cultural somente poderá ser protegida e promovida se
estiverem garantidos os direitos humanos e as liberdades fundamentais, tais
como a liberdade de expressão, informação e comunicação, bem como a
possibilidade dos indivíduos de escolherem expressões culturais. Ninguém
poderá invocar as disposições da presente Convenção para atentar contra os
direitos do homem e as liberdades fundamentais consagrados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e garantidos pelo direito internacional, ou
para limitar o âmbito de sua aplicação.
2. Princípio da soberania
De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do
direito internacional, os Estados têm o direito soberano de adotar medidas e
políticas para a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais
em seus respectivos territórios.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
349
3. Princípio da igual dignidade e do respeito por todas as culturas
A proteção e a promoção da diversidade das expressões culturais
pressupõem o reconhecimento da igual dignidade e o respeito por todas as
culturas, incluindo as das pessoas pertencentes a minorias e as dos povos
indígenas.
4. Princípio da solidariedade e cooperação internacionais
A cooperação e a solidariedade internacionais devem permitir a todos
os países, em particular os países em desenvolvimento, criarem e
fortalecerem os meios necessários a sua expressão cultural – incluindo as
indústrias culturais, sejam elas nascentes ou estabelecidas – nos planos
local, nacional e internacional.
5. Princípio da complementaridade dos aspectos econômicos e
culturais do desenvolvimento
Sendo a cultura um dos motores fundamentais do desenvolvimento, os
aspectos culturais deste são tão importantes quanto os seus aspectos
econômicos, e os indivíduos e povos têm o direito fundamental de dele
participarem e se beneficiarem.
6. Princípio do desenvolvimento sustentável
A diversidade cultural constitui grande riqueza para os indivíduos e
as sociedades. A proteção, promoção e manutenção da diversidade cultural é
condição essencial para o desenvolvimento sustentável em benefício das
gerações atuais e futuras.
7. Princípio do acesso equitativo
O acesso equitativo a uma rica e diversificada gama de expressões
culturais provenientes de todo o mundo e o acesso das culturas aos meios de
expressão e de difusão constituem importantes elementos para a valorização
da diversidade cultural e o incentivo ao entendimento mútuo.
8. Princípio da abertura e do equilíbrio
Ao adotarem medidas para favorecer a diversidade das expressões
culturais, os Estados buscarão promover, de modo apropriado, a abertura a
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
350
outras culturas do mundo e garantir que tais medidas estejam em
conformidade com os objetivos perseguidos pela presente Convenção.
II. Campo de aplicação
Artigo 3 - Campo de aplicação
A presente Convenção aplica-se a políticas e medidas adotadas pelas
Partes relativas à proteção e promoção da diversidade das expressões
culturais.
III. Definições
Artigo 4 – Definições
Para os fins da presente Convenção, fica entendido que:
1. Diversidade Cultural
"Diversidade cultural” refere-se à multiplicidade de formas pelas
quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressão. Tais
expressões são transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades.
A diversidade cultural se manifesta não apenas nas variadas formas
pelas quais se expressa, se enriquece e se transmite o patrimônio cultural da
humanidade mediante a variedade das expressões culturais, mas também
através dos diversos modos de criação, produção, difusão, distribuição e
fruição das expressões culturais, quaisquer que sejam os meios e tecnologias
empregados.
2. Conteúdo Cultural
"Conteúdo cultural" refere-se ao caráter simbólico, dimensão artística
e valores culturais que têm por origem ou expressam identidades culturais.
3. Expressões culturais
"Expressões culturais" são aquelas expressões que resultam da
criatividade de indivíduos, grupos e sociedades e que possuem conteúdo
cultural.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
351
4. Atividades, bens e serviços culturais
"Atividades, bens e serviços culturais" refere-se às atividades, bens e
serviços que, considerados sob o ponto de vista da sua qualidade, uso ou
finalidade específica, incorporam ou transmitem expressões culturais,
independentemente do valor comercial que possam ter. As atividades
culturais podem ser um fim em si mesmas, ou contribuir para a produção de
bens e serviços culturais.
5. Indústrias culturais
"Indústrias culturais" refere-se às indústrias que produzem e
distribuem bens e serviços culturais, tais como definidos no parágrafo 4
acima.
6. Políticas e medidas culturais
"Políticas e medidas culturais" refere-se às políticas e medidas
relacionadas à cultura, seja no plano local, regional, nacional ou
internacional, que tenham como foco a cultura como tal, ou cuja finalidade
seja exercer efeito direto sobre as expressões culturais de indivíduos, grupos
ou sociedades, incluindo a criação, produção, difusão e distribuição de
atividades, bens e serviços culturais, e o acesso aos mesmos.
7. Proteção
"Proteção" significa a adoção de medidas que visem à preservação,
salvaguarda e valorização da diversidade das expressões culturais.
"Proteger" significa adotar tais medidas.
8. Interculturalidade
"Interculturalidade" refere-se à existência e interação equitativa de
diversas culturas, assim como à possibilidade de geração de expressões
culturais compartilhadas por meio do diálogo e respeito mútuo. IV. Direitos
e obrigações das partes
Artigo 5 - Regra geral em matéria de direitos e obrigações
1. As Partes, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, os
princípios do direito internacional e os instrumentos universalmente
reconhecidos em matéria de direitos humanos, reafirmam seu direito
soberano de formular e implementar as suas políticas culturais e de adotar
medidas para a proteção e a promoção da diversidade das expressões
culturais, bem como para o fortalecimento da cooperação internacional, a
fim de alcançar os objetivos da presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
352
2. Quando uma Parte implementar políticas e adotar medidas para
proteger e promover a diversidade das expressões culturais em seu
território, tais políticas e medidas deverão ser compatíveis com as
disposições da presente Convenção.
Artigo 6 - Direitos das Partes no âmbito nacional
1. No marco de suas políticas e medidas culturais, tais como definidas
no artigo 4.6, e levando em consideração as circunstâncias e necessidades
que lhe são particulares, cada Parte poderá adotar medidas destinadas a
proteger e promover a diversidade das expressões culturais em seu
território.
2. Tais medidas poderão incluir:
(a) medidas regulatórias que visem à proteção e promoção da
diversidade das expressões cultuais;
(b) medidas que, de maneira apropriada, criem oportunidades às
atividades, bens e serviços culturais nacionais – entre o conjunto das
atividades, bens e serviços culturais disponíveis no seu território –,
para a sua criação, produção, difusão, distribuição e fruição, incluindo
disposições relacionadas à língua utilizada nessas atividades, bens e
serviços;
(c) medidas destinadas a fornecer às indústrias culturais nacionais
independentes e às atividades no setor informal acesso efetivo aos
meios de produção, difusão e distribuição das atividades, bens e
serviços culturais;
(d) medidas voltadas para a concessão de apoio financeiro público;
(e) medidas com o propósito de encorajar organizações de fins não-
lucrativos, e também instituições públicas e privadas, artistas e
outros profissionais de cultura, a desenvolver e promover o livre
intercâmbio e circulação de ideias e expressões culturais, bem como de
atividades, bens e serviços culturais, e a estimular tanto a
criatividade quanto o espírito empreendedor em suas atividades;
(f) medidas com vistas a estabelecer e apoiar, de forma adequada, as
instituições pertinentes de serviço público;
(g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles
envolvidos na criação de expressões culturais;
(h) medidas objetivando promover a diversidade da mídia, inclusive
mediante serviços públicos de radiodifusão.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
353
Artigo 7 - Medidas para a promoção das expressões culturais
1. As partes procurarão criar em seu território um ambiente que
encoraje indivíduos e grupos sociais a:
(a) criar, produzir, difundir, distribuir suas próprias expressões
culturais, e a elas ter acesso, conferindo a devida atenção às
circunstâncias e necessidades especiais da mulher, assim como dos
diversos grupos sociais, incluindo as pessoas pertencentes às minorias
e povos indígenas;
(b) ter acesso às diversas expressões culturais provenientes do seu
território e dos demais países do mundo;
2. As Partes buscarão também reconhecer a importante contribuição
dos artistas, de todos aqueles envolvidos no processo criativo, das
comunidades culturais e das organizações que os apoiam em seu trabalho,
bem como o papel central que desempenham ao nutrir a diversidade das
expressões culturais.
Artigo 8 - Medidas para a proteção das expressões culturais
1. Sem prejuízo das disposições dos artigos 5 e 6, uma Parte poderá
diagnosticar a existência de situações especiais em que expressões culturais
em seu território estejam em risco de extinção, sob séria ameaça ou
necessitando de urgente salvaguarda.
2. As Partes poderão adotar todas as medidas apropriadas para
proteger e preservar as expressões culturais nas situações referidas no
parágrafo 1, em conformidade com as disposições da presente Convenção.
3. As partes informarão ao Comitê Intergovernamental mencionado
no Artigo 23 todas as medidas tomadas para fazer face às exigências da
situação, podendo o Comitê formular recomendações apropriadas.
Artigo 9 – Intercâmbio de informações e transparência
As Partes:
(a) fornecerão, a cada quatro anos, em seus relatórios à UNESCO,
informação apropriada sobre as medidas adotadas para proteger e
promover a diversidade das expressões culturais em seu território e
no plano internacional;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
354
(b) designarão um ponto focal, responsável pelo compartilhamento de
informações relativas à presente Convenção;
(c) compartilharão e trocarão informações relativas à proteção e
promoção da diversidade das expressões culturais.
Artigo 10 - Educação e conscientização pública
As Partes deverão:
(a) propiciar e desenvolver a compreensão da importância da proteção
e promoção da diversidade das expressões culturais, por intermédio,
entre outros, de programas de educação e maior sensibilização do
público;
(b) cooperar com outras Partes e organizações regionais e
internacionais para alcançar o objetivo do presente artigo;
(c) esforçar-se por incentivar a criatividade e fortalecer as capacidades
de produção, mediante o estabelecimento de programas de educação,
treinamento e intercâmbio na área das indústrias culturais. Tais
medidas deverão ser aplicadas de modo a não terem impacto negativo
sobre as formas tradicionais de produção.
Artigo 11 - Participação da sociedade civil
As Partes reconhecem o papel fundamental da sociedade civil na
proteção e promoção da diversidade das expressões culturais. As Partes
deverão encorajar a participação ativa da sociedade civil em seus esforços
para alcançar os objetivos da presente Convenção.
Artigo 12 - Promoção da cooperação internacional
As Partes procurarão fortalecer sua cooperação bilateral, regional e
internacional, a fim de criar condições propícias à promoção da diversidade
das expressões culturais, levando especialmente em conta as situações
mencionadas nos Artigos 8 e 17, em particular com vistas a:
(a) facilitar o diálogo entre as Partes sobre política cultural;
(b) reforçar as capacidades estratégicas e de gestão do setor público
nas instituições públicas culturais, mediante intercâmbios culturais
profissionais e internacionais, bem como compartilhamento das
melhores práticas;
(c) reforçar as parcerias com a sociedade civil, organizações não-
governamentais e setor privado, e entre essas entidades, para
favorecer e promover a diversidade das expressões culturais;
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
355
(d) promover a utilização das novas tecnologias e encorajar parcerias
para incrementar o compartilhamento de informações, aumentar a
compreensão cultural e fomentar a diversidade das expressões
culturais;
(e) encorajar a celebração de acordos de coprodução e de
codistribuição.
Artigo 13 - Integração da cultura no desenvolvimento sustentável
As Partes envidarão esforços para integrar a cultura nas suas
políticas de desenvolvimento, em todos os níveis, a fim de criar condições
propícias ao desenvolvimento sustentável e, nesse marco, fomentar os
aspectos ligados à proteção e promoção da diversidade das expressões
culturais.
Artigo 14 - Cooperação para o desenvolvimento
As Partes procurarão apoiar a cooperação para o desenvolvimento
sustentável e a redução da pobreza, especialmente em relação às
necessidades específicas dos países em desenvolvimento, com vistas a
favorecer a emergência de um setor cultural dinâmico pelos seguintes meios,
entre outros:
(a) o fortalecimento das indústrias culturais em países em
desenvolvimento:
(i) criando e fortalecendo as capacidades de produção e distribuição
culturais nos países em desenvolvimento;
(ii) facilitando um maior acesso de suas atividades, bens e serviços
culturais ao mercado global e aos circuitos internacionais de
distribuição;
(iii) permitindo a emergência de mercados regionais e locais viáveis;
(iv) adotando, sempre que possível, medidas apropriadas nos países
desenvolvidos com vistas a facilitar o acesso ao seu território das
atividades, bens e serviços culturais dos países em desenvolvimento;
(v) apoiando o trabalho criativo e facilitando, na medida do possível, a
mobilidade dos artistas dos países em desenvolvimento;
(vi) encorajando uma apropriada colaboração entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento, em particular nas áreas da
música e do cinema.
(b) o fortalecimento das capacidades por meio do intercâmbio de
informações, experiências e conhecimentos especializados, assim como
pela formação de recursos humanos nos países em desenvolvimento,
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
356
nos setores púbico e privado, no que concerne notadamente as
capacidades estratégicas e gerenciais, a formulação e implementação
de políticas, a promoção e distribuição das expressões culturais, o
desenvolvimento das médias, pequenas e micro empresas, e a
utilização das tecnologias e desenvolvimento e transferência de
competências;
(c) a transferência de tecnologias e conhecimentos mediante a
introdução de medidas apropriadas de incentivo, especialmente no
campo das indústrias e empresas culturais;
(d) o apoio financeiro mediante:
(i) o estabelecimento de um Fundo Internacional para a Diversidade
Cultural conforme disposto no artigo 18;
(ii) a concessão de assistência oficial ao desenvolvimento, segundo
proceda, incluindo a assistência técnica, a fim de estimular e
incentivar a criatividade;
(iii) outras formas de assistência financeira, tais como empréstimos
com baixas taxas de juros, subvenções e outros mecanismos de
financiamento.
Artigo 15 – Modalidades de colaboração
As Partes incentivarão o desenvolvimento de parcerias entre o setor
público, o setor privado e organizações de fins não-lucrativos, e também no
interior dos mesmos, a fim de cooperar com os países em desenvolvimento no
fortalecimento de suas capacidades de proteger e promover a diversidade
das expressões culturais. Essas parcerias inovadoras enfatizarão, de acordo
com as necessidades concretas dos países em desenvolvimento, a melhoria
da infraestrutura, dos recursos humanos e políticos, assim como o
intercâmbio de atividades, bens e serviços culturais.
Artigo 16 - Tratamento preferencial para países em
desenvolvimento
Os países desenvolvidos facilitarão intercâmbios culturais com os
países em desenvolvimento garantindo, por meio dos instrumentos
institucionais e jurídicos apropriados, um tratamento preferencial aos seus
artistas e outros profissionais e praticantes da cultura, assim como aos seus
bens e serviços culturais.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
357
Artigo 17 - Cooperação internacional em situações de grave ameaça
às expressões culturais
As Partes cooperarão para mutuamente se prestarem assistência,
conferindo especial atenção aos países em desenvolvimento, nas situações
referidas no Artigo 8.
Artigo 18 - Fundo Internacional para a Diversidade Cultural
1. Fica instituído um Fundo Internacional para a Diversidade
Cultural, doravante denominado o "Fundo".
2. O Fundo estará constituído por fundos fiduciários, em
conformidade com o Regulamento Financeiro da UNESCO.
3. Os recursos do Fundo serão constituídos por:
a) contribuições voluntárias das Partes;
b) recursos financeiros que a Conferência-Geral da UNESCO assine
para tal fim;
c) contribuições, doações ou legados feitos por outros Estados,
organismos e programas do sistema das Nações Unidas, organizações
regionais ou internacionais; entidades públicas ou privadas e pessoas
físicas;
d) juros sobre os recursos do Fundo;
e) o produto das coletas e receitas de eventos organizados em benefício
do Fundo;
f) quaisquer outros recursos autorizados pelo regulamento do Fundo.
4. A utilização dos recursos do Fundo será decidida pelo Comitê
Intergovernamental, com base nas orientações da Conferência das Partes
mencionada no Artigo 22.
5. O Comitê Intergovernamental poderá aceitar contribuições, ou
outras formas de assistência com finalidade geral ou específica que estejam
vinculadas a projetos concretos, desde que os mesmos contem com a sua
aprovação.
6. As contribuições ao Fundo não poderão estar vinculadas a qualquer
condição política, econômica ou de outro tipo que seja incompatível com os
objetivos da presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
358
7. As Partes farão esforços para prestar contribuições voluntárias, em
bases regulares, para a implementação da presente Convenção.
Artigo 19 - Intercâmbio, análise e difusão de informações
1. As Partes comprometem-se a trocar informações e compartilhar
conhecimentos especializados relativos à coleta de dados e estatísticas sobre
a diversidade das expressões culturais, bem como sobre as melhores práticas
para a sua proteção e promoção.
2. A UNESCO facilitará, graças aos mecanismos existentes no seu
Secretariado, a coleta, análise e difusão de todas as informações, estatísticas
e melhores práticas sobre a matéria.
3. Adicionalmente, a UNESCO estabelecerá e atualizará um banco de
dados sobre os diversos setores e organismos governamentais, privadas e de
fins não-lucrativos, que estejam envolvidos no domínio das expressões
culturais.
4. A fim de facilitar a coleta de dados, a UNESCO dará atenção
especial à capacitação e ao fortalecimento das competências das Partes que
requisitarem assistência na matéria. 5. A coleta de informações definida no
presente artigo complementará as informações a que fazem referência as
disposições do artigo 9.
V. Relações com outros instrumentos
Artigo 20 - Relações com outros instrumentos: apoio mútuo,
complementaridade e não-subordinação
1. As Partes reconhecem que deverão cumprir de boa-fé suas
obrigações perante a presente Convenção e todos os demais tratados dos
quais sejam parte. Da mesma forma, sem subordinar esta Convenção a
qualquer outro tratado:
(a) fomentarão o apoio mútuo entre esta Convenção e os outros
tratados dos quais são parte; e
(b) ao interpretarem e aplicarem os outros tratados dos quais são
parte ou ao assumirem novas obrigações internacionais, as Partes
levarão em conta as disposições relevantes da presente Convenção.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
359
2. Nada na presente Convenção será interpretado como modificando
os direitos e obrigações das Partes decorrentes de outros tratados dos quais
sejam parte.
Artigo 21 – Consulta e coordenação internacional
As Partes comprometem-se a promover os objetivos e princípios da
presente Convenção em outros foros internacionais. Para esse fim, as Partes
deverão consultar-se, quando conveniente, tendo em mente os mencionados
objetivos e princípios.
VI. Órgãos da Convenção
Artigo 22 – Conferência das Partes
1. Fica estabelecida uma Conferência das Partes. A Conferência das
Partes é o órgão plenário e supremo da presente Convenção.
2. A Conferência das Partes se reúne em sessão ordinária a cada dois
anos, sempre que possível no âmbito da Conferência-Geral da UNESCO. A
Conferência das Partes poderá reunir-se em sessão extraordinária, se assim
o decidir, ou se solicitação for dirigida ao Comitê Intergovernamental por ao
menos um terço das Partes.
3. A Conferência das Partes adotará o seu próprio Regimento interno.
4. As funções da Conferência das Partes são, entre outras:
(a) eleger os Membros do Comitê Intergovernamental;
(b) receber e examinar relatórios das Partes da presente Convenção
transmitidos pelo Comitê Intergovernamental;
(c) aprovar as diretrizes operacionais preparadas, a seu pedido, pelo
Comitê Intergovernamental;
(d) adotar quaisquer outras medidas que considere necessárias para
promover os objetivos da presente Convenção.
Artigo 23 – Comitê Intergovernamental
1. Fica instituído junto à UNESCO um Comitê Intergovernamental
para a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais,
doravante referido como “Comitê Intergovernamental”. Ele é composto por
representantes de 18 Estados-Partes da Convenção, eleitos pela Conferência
Cartas Patrimoniais:
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360
das Partes para um mandato de quatro anos, a partir da entrada em vigor
da presente Convenção, conforme o artigo 29.
2. O Comitê Intergovernamental se reúne em sessões anuais.
3. O Comitê Intergovernamental funciona sob a autoridade e em
conformidade com as diretrizes da Conferência das Partes, à qual presta
contas.
4. Os números de membros do Comitê Intergovernamental será
elevado para 24 quando o número de membros da presente Convenção
chegar a 50.
5. A eleição dos membros do Comitê Intergovernamental é baseada
nos princípios da representação geográfica equitativa e da rotatividade.
6. Sem prejuízo de outras responsabilidades a ele conferidas pela
presente Convenção, o Comitê Intergovernamental tem as seguintes
funções:
(a) promover os objetivos da presente Convenção, incentivar e
monitorar a sua implementação;
(b) preparar e submeter à aprovação da Conferência das Partes,
mediante solicitação, as diretrizes operacionais relativas à
implementação e aplicação das disposições da presente Convenção;
(c) transmitir à Conferência das Partes os relatórios das Partes da
Convenção acompanhados de observações e um resumo de seus
conteúdos;
(d) fazer recomendações apropriadas para situações trazidas à sua
atenção pelas Partes da Convenção, de acordo com as disposições
pertinentes da Convenção, em particular o Artigo 8;
(e) estabelecer os procedimentos e outros mecanismos de consulta que
visem à promoção dos objetivos e princípios da presente Convenção
em outros foros internacionais;
(f) realizar qualquer outra tarefa que lhe possa solicitar a Conferência
das Partes.
7. O Comitê Intergovernamental, em conformidade com o seu
Regimento interno, poderá, a qualquer momento, convidar organismos
públicos ou privados ou pessoas físicas a participarem das suas reuniões
para consultá-los sobre questões específicas.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
361
8. O Comitê Intergovernamental elaborará o seu próprio Regimento
interno e o submeterá à aprovação da Conferências das Partes.
Artigo 24 – Secretariado da UNESCO
1. Os órgãos da presente Convenção serão assistidos pelo Secretariado
da UNESCO.
2. O Secretariado preparará a documentação da Conferência das
Partes e do Comitê Intergovernamental, assim como o projeto de agenda de
suas reuniões, prestando auxílio na implementação de suas decisões e
informando sobre a aplicação das mesmas.
VII. Disposições finais
Artigo 25 - Solução de controvérsias
1. Em caso de controvérsia acerca da interpretação ou aplicação da
presente Convenção, as Partes buscarão resolvê-la mediante negociação.
2. Se as Partes envolvidas não chegarem a acordo por negociação,
poderão recorrer conjuntamente aos bons ofícios ou à mediação de uma
terceira parte.
3. Se os bons ofícios ou a mediação não forem adotados, ou se não for
possível superar a controvérsia pela negociação, bons ofícios ou mediação,
uma Parte poderá recorrer à conciliação, em conformidade com o
procedimento constante do Anexo à presente Convenção. As Partes
considerarão de boa-fé a proposta de solução da controvérsia apresentada
pela Comissão de Conciliação.
4. Cada Parte poderá, no momento da ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão, declarar que não reconhece o procedimento de
conciliação acima disposto. Toda Parte que tenha feito tal declaração poderá,
a qualquer momento, retirá-la mediante notificação ao Diretor-Geral da
UNESCO.
Cartas Patrimoniais:
A Tutela Jurídica do Patrimônio Cultural em Âmbito Internacional
362
Artigo 26 - Ratificação, aceitação, aprovação ou adesão por Estados-
Membros
1. A presente Convenção estará sujeita à ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão dos Estados membros da UNESCO, em conformidade
com os seus respectivos procedimentos constitucionais.
2. Os instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão
serão depositados junto ao Diretor-Geral da UNESCO.
Artigo 27 - Adesão
1. A presente Convenção estará aberta à adesão de qualquer Estado
não-membro da UNESCO, desde que pertença à Organização das Nações
Unidas ou a algum dos seus organismos especializados e que tenha sido
convidado pela Conferência-Geral da Organização a aderir à Convenção.
2. A presente Convenção estará também aberta à adesão de territórios
que gozem de plena autonomia interna reconhecida como tal pelas Nações
Unidas, mas que não tenham alcançado a total independência em
conformidade com a Resolução 1514 (XV) da Assembleia Geral, e que
tenham competência nas matérias de que trata a presente Convenção,
incluindo a competência para concluir tratados relativos a essas matérias. 3.
As seguintes disposições aplicam-se a organizações regionais de integração
econômica:
a) a presente Convenção ficará também aberta à adesão de toda
organização regional de integração econômica, que estará, exceto
conforme estipulado abaixo, plenamente vinculada às disposições da
Convenção, da mesma maneira que os Estados Partes.
b) se um ou mais Estados membros dessas organizações forem
igualmente Partes da presente Convenção, a organização e o Estado
ou Estados membros decidirão sobre suas respectivas
responsabilidades no que tange ao cumprimento das obrigações
decorrentes da presente Convenção. Tal divisão de responsabilidades
terá efeito após o término do procedimento de notificação descrito no
inciso (c) abaixo. A organização e seus Estados membros não poderão
exercer, concomitantemente, os direitos que emanam da presente
Convenção. Além disso, nas matérias de sua competência, as
organizações regionais de integração econômica poderão exercer o
direito de voto com um número de votos igual ao número de seus
Estados membros que sejam Partes da Convenção. Tais organizações
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não poderão exercer o direito a voto se qualquer dos seus membros o
fizer, e vice-versa.
c) a organização regional de integração econômica e seu Estado ou
Estados membros que tenham acordado a divisão de
responsabilidades prevista no inciso (b) acima, o informarão às Partes
do seguinte modo:
(i) em seu instrumento de adesão, tal organização declarará, de forma
precisa, a divisão de suas responsabilidades com respeito às matérias
regidas pela Convenção;
(ii) em caso de posterior modificação das respectivas
responsabilidades, a organização regional de integração econômica
informará ao depositário de toda proposta de modificação dessas
responsabilidades; o depositário deverá, por sua vez, informar as
Partes de tal modificação.
d) os Estados membros de uma organização regional de integração
econômica que se tenham tornado Partes da presente Convenção são
supostos manter a competência sobre todas as matérias que não
tenham sido, mediante expressa declaração ou informação ao
depositário, objeto de transferência competência à organização.
e) entende-se por “organização regional de integração econômica” toda
organização constituída por Estados soberanos, membros das Nações
Unidas ou de um de seus organismos especializados, à qual tais
Estados tenham transferido suas competências em matérias regidas
pela presente Convenção, e que haja sido devidamente autorizada, de
acordo com seus procedimentos internos, a tornar-se Parte da
Convenção.
4. O instrumento de adesão será depositado junto ao Diretor-Geral da
UNESCO.
Artigo 28 - Ponto focal
Ao aderir à presente Convenção, cada Parte designará o “ponto focal”
referido no artigo 9.
Artigo 29 - Entrada em vigor
1. A presente Convenção entrará em vigor três meses após a data de
depósito do trigésimo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou
adesão, mas unicamente em relação aos Estados ou organizações regionais
de integração econômica que tenham depositado os seus respectivos
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instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão naquela data ou
anteriormente. Para as demais Partes, a Convenção entrará em vigor três
meses após a data do depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão.
2. Para os fins do presente artigo, nenhum instrumento depositado
por organização regional de integração econômica será contado como
adicional àqueles depositados pelos Estados membros da referida
organização.
Artigo 30 - Sistemas constitucionais não-unitários ou federativos
Reconhecendo que os acordos internacionais vinculam de mesmo
modo as Partes, independentemente de seus sistemas constitucionais, as
disposições a seguir aplicam-se às Partes com regime constitucional
federativo ou não-unitário:
(a) no que se refere às disposições da presente Convenção cuja
aplicação seja da competência do poder legislativo federal ou central,
as obrigações do governo federal ou central serão as mesmas das
Partes que não são Estados federativos;
(b) no que se refere às disposições desta Convenção cuja aplicação seja
da competência de cada uma das unidades constituintes, sejam elas
Estados, condados, províncias ou cantões que, em virtude do sistema
constitucional da federação, não tenham a obrigação de adotar
medidas legislativas, o governo federal comunicará, quando
necessário, essas disposições às autoridades competentes das
unidades constituintes, sejam elas Estados, condados, províncias ou
cantões, com a recomendação de que sejam aplicadas.
Artigo 31 - Denúncia
1. Cada uma das Partes poderá denunciar a presente Convenção.
2. A denúncia será notificada em instrumento escrito depositado junto
ao Diretor-Geral da UNESCO.
3. A denúncia terá efeito doze meses após a recepção do respectivo
instrumento. A denúncia não modificará em nada as obrigações financeiras
que a Parte denunciante assumiu até a data de efetivação da retirada.
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Artigo 32 - Funções de Depositário
O Diretor-Geral da UNESCO, na condição de depositário da presente
Convenção, informará aos Estados membros da Organização, aos Estados
não-membros e às organizações regionais de integração econômica a que se
refere o Artigo 27, assim como às Nações Unidas, sobre o depósito de todos
os instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão mencionados
nos artigos 26 e 27, bem como sobre as denúncias previstas no Artigo 31.
Artigo 33 – Emendas
1. Toda Parte poderá, por comunicação escrita dirigida ao Diretor-
Geral, propor emendas à presente Convenção. O Diretor-Geral transmitirá
essa comunicação às demais Partes. Se, no prazo de seis meses a partir da
data da transmissão da comunicação, pelo menos metade dos Estados
responder favoravelmente a essa demanda, o Diretor-Geral apresentará a
proposta à próxima sessão da Conferência das Partes para discussão e
eventual adoção.
2. As emendas serão adotadas por uma maioria de dois terços das
Partes presentes e votantes.
3. Uma vez adotadas, as emendas à presente Convenção serão
submetidas às Partes para ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.
4. Para as Partes que as tenham ratificado, aceitado, aprovado ou a
elas aderido, as emendas à presente Convenção entrarão em vigor três
meses após o depósito dos instrumentos referidos no parágrafo 3 deste
Artigo por dois terços das Partes. Subsequentemente, para cada Parte que a
ratifique, aceite, aprove ou a ela adira, a emenda entrará em vigor três
meses após a data do depósito por essa Parte do respectivo instrumento de
ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.
5. O procedimento estabelecido nos parágrafos 3 e 4 não se aplicarão
às emendas ao artigo 23 relativas ao número de membros do Comitê
Intergovernamental. Tais emendas entrarão em vigor no momento em que
forem adotadas.
6. Um Estado, ou uma organização regional de integração econômica
definida no artigo 27, que se torne Parte da presente Convenção após a
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entrada em vigor de emendas conforme o parágrafo 4 do presente Artigo, e
que não manifeste uma intenção diferente, será considerado:
(a) parte da presente Convenção assim emendada; e
(b) parte da presente Convenção não-emendada relativamente a toda
Parte que não esteja vinculada a essa emenda.
Artigo 34 - Textos autênticos
A presente Convenção está redigida em árabe, chinês, espanhol,
francês, inglês e russo, sendo os seis textos igualmente autênticos.
Artigo 35 – Registro
Em conformidade com o disposto no artigo 102 da Carta das Nações
Unidas, a presente Convenção será registrada no Secretariado das Nações
Unidas por petição do Diretor-Geral da UNESCO.
ANEXO - Procedimento de conciliação
Artigo 1 – Comissão de Conciliação
Por solicitação de uma das Partes da controvérsia, uma Comissão de
Conciliação será criada. Salvo se as Partes decidirem de outra maneira, a
Comissão será composta de 5 membros, sendo que cada uma das Partes
envolvidas indicará dois membros e o Presidente será escolhido de comum
acordo pelos 4 membros assim designados.
Artigo 2 – Membros da Comissão
Em caso de controvérsia entre mais de duas Partes, as Partes que
tenham o mesmo interesse designarão seus membros da Comissão em
comum acordo. Se ao menos duas Partes tiverem interesses independentes
ou houver desacordo sobre a questão de saber se têm os mesmos interesses,
elas indicarão seus membros separadamente.
Artigo 3 – Nomeações
Se nenhuma indicação tiver sido feita pelas Partes dentro do prazo de
dois meses a partir da data de pedido de criação da Comissão de Conciliação,
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o Diretor-Geral da UNESCO fará as indicações dentro de um novo prazo de
dois meses, caso solicitado pela Parte que apresentou o pedido.
Artigo 4 – Presidente da Comissão
Se o Presidente da Comissão não tiver sido escolhido no prazo de dois
meses após a designação do último membro da Comissão, o Diretor-Geral da
UNESCO designará o Presidente dentro de um novo prazo de dois meses,
caso solicitado por uma das Partes.
Artigo 5 – Decisões
A Comissão de Conciliação tomará as suas decisões pela maioria de
seus membros. A menos que as Partes na controvérsia decidam de outra
maneira, a Comissão estabelecerá o seu próprio procedimento. Ela proporá
uma solução para a controvérsia, que as Partes examinarão de boa-fé.
Artigo 6 – Discordância
Em caso de desacordo sobre a competência da Comissão de
Conciliação, a mesma decidirá se é ou não competente.
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DECLARAÇÃO DE VIENA (2009)
UM INCENTIVO AO PATRIMÔNIO EM PERÍODO
DE RECESSÃO ECONÔMICA
De Maio de 2009
O 4.º Encontro do Fórum Europeu de Responsáveis pelo Património
(FERP), que reuniu 28 países em Viena, em Maio de 2009, apela a todos os
Governos nacionais no sentido de reconhecerem o papel fundamental do
património no desenvolvimento e implementação de políticas de recuperação
econômica sustentável, à semelhança dos exemplos de França, Luxemburgo,
Holanda, Noruega e Eslováquia.
O património cultural tem um contributo essencial a dar à Europa,
não apenas pela sua importância no passado, mas pelo papel primordial que
terá no futuro.
Tudo leva a crer que, a longo prazo, o investimento em património
constitui uma solução sustentável de sucesso garantido para fazer face à
recessão econômica. Sabe-se que o investimento no restauro, ou na
recuperação de edifícios e sítios históricos, gera postos de trabalho,
relançando a economia, ao contrário da construção de novos edifícios; que o
património se encontra no seio das comunidades, estimulando a coesão
social, bem como o sentido de identidade e de pertença a um lugar. O
património faz-nos sentir em casa. O incentivo ao Património encontra-se
ativo em três áreas fundamentais:
• Econômica: a reabilitação/restauro/conservação histórica requerem
uma grande quantidade de mão-de-obra e conduzem à criação de postos de
trabalho, particularmente nas pequenas e médias empresas. Os subsídios ao
sector público e incentivos fiscais na área do património atraem o
investimento do sector privado a um rácio que poderá atingir 1:7. O
investimento em património produz um impacto direto no crescimento do
turismo cultural que, por sua vez, conduz a benefícios econômicos e sociais a
longo prazo.
• Ambiental: é ponto assente que os materiais, bem como as técnicas
de construção tradicionais são amigos do ambiente. A recuperação de
edifícios históricos não só preserva a energia incorporada e os recursos
materiais utilizados no passado, como minimiza a produção de materiais
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novos, mais caros e potencialmente mais prejudiciais do ponto de vista
ecológico.
• Sociocultural: a tomada de consciência e interesse pelo património
continuam a aumentar, indiferentes à incerteza econômica: as pessoas
preocupam-se com o património. A história e o património estão
instintivamente associados ao sentido de identidade local, nacional e
mundial. A partilha do património é uma componente chave da coesão social
e do sentido de comunidade e de integração. Os lugares históricos
constituem um fator importante em termos de qualidade de vida, sendo o
património uma das principais razões que levam à escolha do local de
residência e de trabalho.
O FERP recorda aos governos os compromissos que assumiram em
convenções internacionais de proteção do património cultural e o seu dever
de assegurarem que as políticas nacionais, incluindo as políticas de
recuperação econômica, exerçam um efeito positivo no património.
Considerando os benefícios do investimento em património a curto e
longo prazo, o FERP apela à inclusão de um orçamento específico para a
conservação/reabilitação de edifícios e sítios históricos nas políticas
nacionais de recuperação econômica, na medida em que o património é um
instrumento eficaz no relançamento da atividade econômica e na criação de
emprego.